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Isto não é Filosofia

Introdução Geral à Filosofia


Aula 31 – Introdução à Metafísica Contemporânea
Prof. Vitor Ferreira Lima
Licenciado em Filosofia (UFRRJ)

Sumário
1. A ideia de contemporaneidade ............................................................................................ 2
1.1 A crise do pensamento moderno no séc. XIX ............................................................. 2
1.2. Crítica à subjetividade .................................................................................................... 2
1.3 Ênfase na linguagem....................................................................................................... 3
1.4 Crítica ao antropocentrismo ........................................................................................... 3
2. Os ataques à Metafísica ....................................................................................................... 4
2.1 Nietzsche contra a duplicação de mundos .................................................................. 4
2.2 Heidegger e o esquecimento do ser ............................................................................. 5
2.3 Círculo de Viena e os pseudoproblemas da Metafísica ............................................ 6
2.4 Wittgenstein e os equívocos da linguagem ................................................................. 7
3. A Metafísica hoje .................................................................................................................... 8
Bibliografia ................................................................................................................................... 9

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1. A ideia de contemporaneidade1

Há uma dificuldade intrínseca em estudar a contemporaneidade. Falta


distanciamento histórico para avaliar a durabilidade da influência do que é produzido,
critério que costuma ser predominante na escolha do que ser mencionado nos manuais
oficiais. No entanto, é preciso correr o risco, uma vez que a produção filosófica em
nossos dias é intensa e abrangente, sendo possível dizer que nunca houve tantos
filósofos, em tantas vertentes diferentes produzindo ao mesmo tempo na História
humana. É sempre possível cometer a injustiça de deixar de mencionar alguém
relevante.

1.1 A crise do pensamento moderno no séc. XIX

A Filosofia Contemporânea pode ser vista como resultado da crise do


pensamento moderno do séc. XIX. Mas o que é o projeto moderno? Em linhas gerais,
Segundo Marcondes (p. 255), é a
“...busca da fundamentação da possibilidade do conhecimento e das teorias científicas na análise
da subjetividade, do indivíduo considerado como sujeito pensante, como dotado de uma mente ou
consciência caracterizada por uma determinada estrutura cognitiva, bem como por uma
capacidade de ter experiências empíricas sobre o real, tal como encontramos no racionalismo e
no empirismo, embora em diferentes visões.”

Em suma, em três grandes eixos o pensamento moderno se fundamenta: na


centralidade da subjetividade, na ênfase do indivíduo e na valorização do homem.
No séc. XIX, esse projeto entra em crise a partir de Hegel e de Marx. A
contraposição proposta pelos dois filósofos é a de que o processo histórico precisa ser
levado em consideração quando se analisa a consciência. No primeiro, essa crítica
acontece numa vertente idealista. No segundo, numa vertente materialista.
Soma-se a isso a desconfiança da possibilidade de uma investigação filosófica
sistemática, de modo a cobrir todos os campos do saber. Tal empreitada passa a ser
vista como irrealizável, dada a crescente especialização do saber em diferentes ciências
e em suas ramificações. O último filósofo, talvez, a adotar essa visão de todo foi Hegel.

1.2 Crítica à subjetividade

Há uma crítica em muitas frentes à centralidade atribuída à noção de


subjetividade, o “eu penso”, que tem seu ponto de partida em Descartes. De um lado,
há a crítica tributária de Marx e Hegel. De outro, há a crítica tributária de Leibniz e Kant.
Hegel defende que a subjetividade é resultado de um processo de formação
histórica, não podendo ser considerada prévia ao contexto temporal e espacial. O que
era considerado o fundamento de nossa possibilidade de conhecer o real passou a não
mais ser localizado no mundo transcendente.

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Ver Apostila da Aula 26, Introdução à Filosofia Contemporânea, do Curso de História da Filosofia do
INÉF.

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Marx parte dessa posição e acrescenta uma interpretação materialista,


enfatizando o papel do trabalho e das relações de produção na constituição da
subjetividade.
Leibniz e Kant levam em conta as contribuições dos estudos da linguagem e da
lógica. A conexão entre sujeito e objeto se dá via representação, e a representação
passa a ser vista, de certo modo, como uma construção subjetiva – ainda que relativa a
um sujeito transcendental e não individual –, não objetiva. O problema a ser atacado
passou a ser o de construir uma alternativa à redução da realidade à experiência
subjetiva – ora interpretada em termos de sujeito transcendental, como pretendia Kant,
ora interpretada em termos de sujeito psicológico, individual, diferente do projeto
kantiano.

1.3 Ênfase na linguagem

Uma alternativa encontrada pelos filósofos contemporâneos foi recorrer à


linguagem para explicar a relação entre mente e mundo. Ao tentar investigar o processo
de significação, várias vertentes inauguraram projetos de pesquisa distintos, mas
partindo da mesma ideia: a análise do processo de atribuição de significados, de
símbolos, de sinais que utilizamos em nossa relação com a realidade. Tal empreitada
aconteceu em duas direções.
A primeira direção partiu da noção de que os processos mentais subjetivos
dependem de linguagem, de significados, de um sistema simbólico. A partir daí, a
relação entre linguagem e mundo poderia ser estudada de modo a compreender as
regras e princípios envolvidos nessa atividade. Fazem parte dessa vertente, a
Semiótica, de Charles Sanders Peirce, a Hermenêutica, de Schleiermacher e Gadamer,
e o Estruturalismo, de Saussure e Claude Lévi-Strauss, por exemplo.
A segunda direção partiu da noção de que a linguagem pode ser vista a partir de
um ponto de vista lógico, como constituída de estruturas formais independentes dos
processos mentais subjetivos. A partir daí, a relação entre linguagem e mundo poderia
ser estudada sem levar em consideração a consciência individual. Fazem parte dessa
tendência a Filosofia Analítica da Linguagem e o Positivismo Lógico do Círculo de Viena,
por exemplo.

1.4 Crítica ao antropocentrismo

Diferentes pontos de vista também questionam na contemporaneidade o


antropocentrismo. De acordo com essa noção tipicamente moderna, o homem tem uma
natureza portadora de direitos naturais, que é dotada de racionalidade, entendida como
consciência autônoma, com capacidades cognitivas e éticas não presentes nos demais
animais. Há, ao menos, três abalos a considerar nessa noção – cosmológico, biológico
e psicológico.
Em primeiro lugar, a ruptura pode ser remontada à teoria heliocêntrica de
Copérnico (1473-1543), a partir de sua obra Da revolução das esferas celestes (1543).
Copérnico retirou a Terra de seu lugar ao deslocá-la, como era no modelo cosmológico
antigo e medieval, do centro do universo para colocá-la em movimento ao redor do Sol.

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De estável e perfeita em sua posição, passou a ser instável e imperfeita – dado que, do
ponto de vista da cosmologia anterior, a própria ideia de movimento já denotava
imperfeição. O modelo cosmológico heliocêntrico abala as crenças tradicionais do
homem tanto em relação à ordem do universo, quanto em relação ao seu lugar nessa
ordem.
Em segundo lugar, a ruptura pode ser encontrada também na teoria da evolução
das espécies de Charles Darwin (1809-1882), a partir da publicação de A origem das
espécies pela seleção natural (1859). O homem passou a ser entendido como mais uma
espécie natural entre outras, que resultam de um processo de seleção natural, com
ancestrais comuns. A crença da superioridade humana em relação aos demais seres
passou a ser amplamente questionada também no âmbito biológico.
Em terceiro lugar, a ruptura também está presente na teoria psicanalítica de
Sigmund Freud (1856-1939), principalmente com o conceito de inconsciente, com sua
formulação inicial em A interpretação dos sonhos (1900). Depois das investigações
freudianas e das que dela derivaram, a concepção de que o homem se define pela
racionalidade clássica e pela consciência passaram a perder força. Segundo Freud, os
desejos e os valores humanos são fortemente influenciados por uma dimensão psíquica
da qual não temos plena consciência e que, ainda que reprimida, manifesta-se à revelia
de deliberação nos sonhos, no pensamento, na linguagem, na ação cotidiana.
A essas três rachaduras na noção de homem tal qual herdada da tradição,
somam-se problemas típicos do séc. XX que também continuam presentes no séc. XXI.
Ambos são provenientes da revolução da informática – em que se ocupa a Filosofia da
Mente – e da engenharia genética – em que se ocupa a Bioética.

2. Os ataques à Metafísica

No séc. XX, autores como os filósofos do Círculo de Viena e Wittgenstein


opuseram-se à Metafísica. O mesmo fizeram autores como Nietzsche e Heidegger. Mas
as tendências filosóficas de cada um desses pensadores são muito distintas. Tão
distintas a ponto de o que cada um entende por Metafísica não ser o mesmo. Vamos
examinar cada um.

2.1 Nietzsche contra a duplicação de mundos2

Demolidor dos valores tradicionais e anunciador do homem que ainda está por
vir, Friedrich Nietzsche (1844-1900) é um pensador cuja obra deixou marca decisiva na
modernidade e no início da contemporaneidade. O filósofo propõe ao seu leitor múltiplas
provocações.
Uma das mais famosas é o combate à metafísica, entendida duplicação de
mundos. Além deste mundo, há o que nós podemos chamar de mundo transcendente,
de mundo suprassensível, de mundo que está no além. Toda a filosofia – na
interpretação de Nietzsche – nada mais fez do que desprezar esta vida tal como nós

2
Ver Apostila da Aula 25, Nietzsche, do Curso de História da Filosofia do INÉF.

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vivemos aqui e agora em nome de uma outra vida, em nome de um outro mundo. Este
mundo seria ilusório, efêmero e transitório. O outro mundo – que, no entender de
Nietzsche, é fictício – seria essencial, imutável, eterno. Nesse seu combate à metafísica,
exerce uma crítica devastadora de noções consagradas pela tradição filosófica: a noção
de sujeito, de substância, a própria concepção de verdade.
Nessa linha, seu filosofar se faz no sentido de implodir dicotomias – pares
conceituais que se opõem um ao outro. Essa tentativa visa a desestabilizar a nossa
lógica, a nossa própria maneira de raciocinar. Estamos habituados a pensar em
verdadeiro e falso, certo e errado, bem e mal. Nietzsche escreve um livro intitulado Para
além de bem e mal.

2.2 Heidegger e o esquecimento do ser3

Os estudiosos de Heidegger costumam separar sua obra em duas etapas: antes


e após cerca de 1930.
Antes, a obra que se coloca em relevo é Ser e tempo, com o seu propósito de
alcançar o sentido do ser. Pergunta Heidegger: “Quem faz a pergunta pelo sentido do
ser?” e, a partir daí, faz uma analítica existencial, isto é uma análise da estrutura da
existência desse ente que faz para si mesmo a pergunta sobre o ser.
Em seguida, os escritos do filósofo abandonam a proposta anterior, de modo a
analisar o próprio ser em uma perspectiva diferente da analisada pela ontologia
tradicional. Em vez de saber como o ente capta uma exata representação do ser, propõe
que o ser é capaz de se revelar por si mesmo. Trata-se do que comumente se designa
como a reviravolta do pensamento heideggeriano.
Em Introdução à metafísica (1953), Heidegger empreende uma crítica radical à
tradição metafísica ocidental. Isso porque, de Platão a Nietzsche, a metafísica fez o que
a analítica existencial argumentou ser impossível: buscar o sentido do ser mediante a
indagação da existência de o ente. A metafísica (isto é, o além da física) se constituiu
em física meramente, exatamente porque retirou a possibilidade de ir além.
Platão teria sido o primeiro responsável pela degradação da metafísica em física.
Os primeiros filósofos – Anaximandro, Heráclito, Parmênides – conceberam a
verdade como alétheia, em que lantháno (velar) é precedido de uma partícula de
negação. A verdade seria desocultamento e dependeria não só do sujeito que desoculta,
mas do próprio ser que se deixa desocultar.
Platão, entretanto, na visão de Heidegger, fez com que verdade não fosse mais
entendida como desocultamento, mas como um atributo do pensamento que julga e
estabelece relações entre os próprios conteúdos e a realidade. Assim, o ser não se
apresentaria mais por si mesmo, mas teria que se circunscrever na linguagem humana,
moldar-se a ela.
Porém, a linguagem, em suas regras sintáticas, morfológicas, semânticas e
pragmáticas estabelece limites ao que podemos dizer. A linguagem pode falar dos

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Ver Apostila da Aula 27, Heidegger, do Curso de História da Filosofia do INÉF.

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entes, mas não do ser. Nesse sentido, a revelação do ser não pode se dar por meio da
linguagem do ente, mas apenas por meio da linguagem do próprio ser. Mas onde ocorre
esse desvelar-se do ser?
Não seria na linguagem meramente preocupada com os entes – a linguagem
científica, a linguagem do palavrório. A linguagem vislumbrada por Heidegger é a da
poesia. Em Carta sobre o humanismo, o filósofo escreve: “A linguagem é a casa do ser.
E nessa morada habita o homem. Os pensadores são os guardiães dessa morada”. O
homem não pode desvelar o sentido do ser, mas tem que ser “o pastor do ser” e se
tornar livre para a verdade, porque ela depende do desvelamento do ser e não de sua
tentativa de dominação sobre ele.

2.3 Círculo de Viena e os enunciados vazios de sentido empírico

O Círculo de Viena foi uma associação fundada, na década de 1920, por um


grupo de filósofos e lógicos da ciência, tendo por objetivo fundamental chegar à
unificação do saber científico pela eliminação dos conceitos vazios de sentido e dos
pseudoproblemas da Metafísica. Pretendiam fazer isso por intermédio do critério da
verificabilidade.
Segundo esse parâmetro, ciência, para ser ciência, precisa ter proposições
verificáveis empiricamente (Ex: a água ferve a 100 ºC nas Condições Normais de
Temperatura e Pressão). Nesse sentido, a Metafísica nãos seria uma ciência, porque
possui proposições não verificáveis (Ex: o sujeito transcendental é composto de formas
a priori da sensibilidade e do entendimento). Assim, todos os enunciados científicos
devem ser a posteriori, isto é, dependentes da experiência. Não seriam outra coisa
senão constatações de enunciados postulados.
A Metafísica seria o campo dos pseudoproblemas, porque levantaria questões
não passíveis de resposta empírica. Seus conceitos seriam vazios, porque o significado,
em última instância, é dado pelo conteúdo empírico dos enunciados.
O papel da Filosofia seria trabalhar com a lógica simbólica. Mas a lógica
simbólica, segundo os filósofos do Círculo de Viena, nada ensina sobre o mundo, pois
não é uma teoria sobre o mundo empírico, mas um sistema de convenções linguísticas.
Nesse sentido, caberia à Filosofia elaborar o estudo das relações entre uma linguagem
lógica e os sistemas de objetos ou interpretações que tornam os enunciados
verdadeiros.
O papel da Filosofia seria, por fim, clarificar a natureza da linguagem da ciência
em três aspectos:

• Sintaxe: teoria das relações entre os signos


• Semântica: teoria das interpretações
• Pragmática: teoria da relação da linguagem com o locutor e com o ouvinte.
Forma-se, assim, o neopositivismo, que reduz o papel da Filosofia à clarificação
da linguagem científica.

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2.4 Wittgenstein e os equívocos da linguagem4

Há duas grandes fases no pensamento de Wittgenstein (1889-1951), filósofo


vienense. A primeira é influenciada pela concepção de análise lógica da linguagem.
A segunda é influenciada pela concepção de investigação dos usos da linguagem. São
duas concepções com aproximações, mas também com diferenças profundas. Tal
ruptura conduz seus intérpretes a designá-lo com duas nomenclaturas: o Wittgenstein I
e o Wittgenstein II.
O objetivo de Wittgenstein – tanto na primeira, quanto na segunda fases – é
mostrar que os problemas de Filosofia podem ser solucionados quando se chega a uma
compreensão adequada de como a linguagem funciona. Essa adequada compreensão
da linguagem sofre transformações durante a vida do autor, mas a ideia básica
permanece. Os problemas da Metafísica seriam solucionados quando
compreendêssemos o adequado funcionamento de nossa linguagem. Mas o que quer
dizer “problemas da Filosofia”?
Os tópicos da Filosofia costumam ser

• Realidade
• Conhecimento
• Valor
As questões costumam aparecer da seguinte maneira:

• Que tipos de coisas existem em última análise?


• O que é o conhecimento e como o obtemos?
• Qual é, em termos morais, a forma correta de viver e agir, e por quê?
Tais problemas não podem ser resolvidos por observação empírica, seja em
telescópios, seja em microscópios. São problemas conceituais que requerem
investigação conceitual. No decorrer da história, os filósofos tentaram fornecer repostas
a essas perguntas. De um lado, repostas mediante teorias explicativas de âmbito muito
geral. De outro lado, respostas por intermédio de elucidações e análises mais pontuais
e meticulosas.
Wittgenstein, no entanto, vai contra essa tradição de temas e de metodologia.
Caso se pergunte sobre os temas e perguntas mencionados, alguém pressuporá
problemas ilusórios que resultam de mal-entendidos acerca da linguagem. Para
Wittgenstein, a Filosofia, ao invés de se debruçar sobre esses problemas, deve tornar
clara a natureza tanto da linguagem, quanto do pensamento, de modo a mostrar que os
problemas tradicionais não são problemas genuínos.

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Ver Apostila da Aula 28, Wittgenstein, do Curso de História da Filosofia do INÉF.

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3. A Metafísica hoje

A história da Metafísica – que de certo modo, confunde-se com a história da


própria Filosofia – empenha-se, esquematicamente, em responder três questões:

• O que é? (ênfase na realidade)


• Como sabemos o que é? (ênfase no conhecimento)
• Como falamos sobre o que é? (ênfase na linguagem)
Inicialmente a resposta foi a do realismo, tese de que o que existe independe
do conhecimento humano e pode ser pela cognição humana captado adequadamente.
São exemplos a resposta de Platão – mundo inteligível – e Aristóteles – Ser enquanto
Ser.
Posteriormente, a resposta foi a do idealismo, tese de que a realidade só existe
na medida em que é concebida pelo intelecto, ora humano, ora um intelecto que abarca
a realidade como um todo. É um exemplo o sistema filosófico de Hegel que defende ser
a realidade não um objeto, mas um sujeito que se coloca a si mesmo e se conhece a si
mesmo.
Tentativas de superar essa dicotomia apareceram na Fenomenologia e nas
diversas Filosofias da Linguagem. Enquanto a primeira buscou superar a dicotomia
entre representação e mundo reconfigurando a noção de consciência (consciência
passou a ser não uma substância, mas uma intencionalidade), a segunda tentou focar
na análise de como a linguagem é constituída para falar da realidade.
Os principais conceitos da Metafísica, de ontem e de hoje, podem ser assim
esquematizados:

• Ser, sensibilidade, inteligibilidade, substância, essência, acidente


• Origem e estrutura da realidade
• Infinito e finito
• Espírito e matéria
• Espaço e tempo
• Vida e morte
• Alma e corpo
• Mente, consciência e mundo
• Essência, existência, natureza e condição humanas
• Deus
Em manuais de Metafísica5, típicos do mundo anglo-saxão, influenciados pela
Filosofia Analítica, os problemas metafísicos tipicamente estudados são:

• Universais e objetos abstratos


• Naturalismo e fisicalismo
• Mente

5
Por exemplo, MANSON e BARNARD (2012); JAEGWON, SOSA e ROSENKRANTZ (2009); POIDEIN,
SIMONS, McGONIGAL e CAMERON (2009).

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• Constituição material da realidade


• Identidade pessoal
• Livre-arbítrio
• Deus

Bibliografia

CASANOVA, Marco Antonio. Compreender Heidegger. (Série Compreender). 5ª ed.


Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
GRAYLING, A. C. Wittgenstein. Tradução de Milton Camargo Mota. São Paulo:
Edições Loyola, 2002.
JAEGWON, Kim, SOSA, Ernst, ROSENKRANTZ, Gary (eds.). A Companion to
Metaphysics. 2ª ed. Oxford: Blackwell, 2009.
JAPIASSÚ, Hilton, MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Tradução revisada e apresentação de Marcia Sá
Cavalcante. Posfácio de Emmanuel Carneiro Leão. 10ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes;
Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2015.
KENNY, Anthony. Uma nova História da Filosofia Ocidental (vol. 4) – Filosofia no
mundo moderno. 2ª ed. Tradução de Carlos Alberto Bárbaro. Revisão de Marcelo
Perine. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
LIMA, Vitor. Nietzsche. Apostila da Aula 25. Curso de História da Filosofia, INÉF, 2020.
_________. Introdução à Filosofia Contemporânea. Apostila da Aula 26. Curso de
História da Filosofia, INÉF, 2020.
_________. Heidegger. Apostila da Aula 27. Curso de História da Filosofia, INÉF, 2020.
_________. Wittgenstein. Apostila da Aula 28. Curso de História da Filosofia, INÉF,
2020.
MANSON, Neil A., BARNARD, Robert. W (eds.). The Continuum Companyon to
Metaphysics. London: Continuum, 2012.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a
Wittgenstein. 2ª ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.
NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal ou o prelúdio de uma filosofia do futuro.
Tradução de Márcio Pugliesi. São Paulo: Hemus Editora, 1981.
POIDEVIN, Robin Le, SIMONS, Peter, McGONIGAL, CAMERON, Ross P. (eds.). The
Routledge Companion to Metaphysics. London and New York: Routldge, 2009.

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REALE, Giovanni, ANTISERI, Dário. História da Filosofia (vol. 56) – de Nietzsche à


Escola de Frankfurt. Coleção História da Filosofia. Tradução de Ivo Storniolo. 1ª ed.
[2008]. 2ª reimpressão [2016]. São Paulo: Paulus, 2016.
SCARLETT, Marton. Friedrich Nietzsche: uma filosofia a marteladas. 3ª Ed. São
Paulo: Brasiliense, 1984.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Tractactus logico-philosophicus. Tradução, apresentação
e ensaio introdutório de Luiz Henrique Lopes dos Santos. Introdução de Bertrand
Russell. 3ª ed. 4ª reimp. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2020.

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