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Gramática Do Tupi Antigo
Gramática Do Tupi Antigo
Tupi Antigo
A Língua da Costa
do Brasil em 1500
tupiperiodico.tumblr.com
TUPI ANTIGO
A LÍNGUA DA COSTA DO BRASIL
EM 1500
2021
tupiperiodico.tumblr.com
TUPI ANTIGO
A LÍNGUA DA COSTA DO BRASIL
EM 1500
2021
ÍNDICE
Fonologia
I. Vogais
II. Consoantes
III. Nasalidade
IV. Perda de sílaba átona
V. Ortografia
Saudações
Substantivos
I. Pronomes pessoais
II. Pronomes demonstrativos
III. Posposições e Sufixos
IV. Negação
V. Advérbios de lugar
VI. Pluriformes
VII. Verbo “ter”
Adjetivos
I. Uso de adjetivos
II. Incorporação
III. Negação
IV. Comparação
Verbos
I. Indicativo
A. Intransitivos
B. Transitivos
C. Intransitivos posposicionados
D. Incorporação do objeto
E. Forma negativa
F. Forma Interrogativa
G. 2ª classe
H. E opcional
I. Forma futura
II. Orações Subordinadas
A. Infinitivo
B. Agente
C. Modo
D. Passivo
E. Condicionais e Temporais
III. Gerúndio
IV. Modos
A. Vontade e Capacidade
B. Permissivo e Imperativo
C. Mutualidade, Reflexividade e Reciprocidade
D. Causatividade
Conteúdo Adicional
I. Partículas e Interjeições
II. Indicativo Circunstancial
III. Fauna e Flora
Textos próprios
SUGESTÕES DE ESTUDO
Livros:
NAVARRO, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo.
BARBOSA, Lemos. Curso de Tupi Antigo.
Fontes:
Vocabulário na Língua Brasílica.
VIÉGAS, A. P. Vocabulário Português–Tupi.
de CARVALHO, Moacyr Ribeiro. Dicionário Tupi (antigo)–Português.
BARBOSA, Lemos. Pequeno Vocabulário Tupi–Português.
Biblioteca Digital Nimuendaju
Cursos de Tupi e Nheengatu na FFLCH–USP
Blogs:
Abánhe'enga rupi/resé xe remikûatîara
Língua Brasílica
Xe mba'e
Tupi Periódico
Aprender a Língua Tupi
Ame o Brasil
O QUE É O TUPI E O QUE NÃO É
FONOLOGIA
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Tupi Antigo – A Língua da Costa do Brasil em 1500 © Ariel L. de O.
I. Vogais
Antes de qualquer coisa, é importante entender os sons e a escrita da língua.
Aqui, vou começar explicando as qualidades das vogais em tupi, suas consoantes e
mudanças fonéticas que vão afetar as palavras em diversos casos. O tupi e outras
línguas da família apresentam uma tendência a espalhar sons nasais pelas palavras, ou
seja, se uma sílaba é nasal, todas são nasais, dependendo da sílaba tônica. Esse
fenômeno dá uma beleza à língua assim como a harmonia vocálica do turco e do
finlandês, a metafonia no alemão e até os plurais metafônicos do português
(“ôvo”→“óvos”).
A língua tupi tem 12 vogais: 6 sonoras e suas variações nasais. Todas são
abertas, ou seja, o “e” tem som de “é” (/ɛ/), o “o” tem som de “ó” (/ɔ/), e o “a” tem
som aberto mesmo quando é nasal (/ã/, e não /ɐ/ɐ , como em português).
O tupi tem a vogal /ɨ/, representada pela letra “y”. Algumas pessoas dizem que
esse som é entre o /i/ e o /u/, ou o contrário do “u” francês e do “ü” alemão. Para
produzir esse som, pronuncie /iuiuiu/ e perceba o movimento da língua de frente pra
trás no céu da boca. A língua deve ficar bem no meio. Perceba também que os lábios
ficam arredondados para pronunciar /u/, mas abertos para pronunciar /i/. Mantenha-os
abertos como em /i/. Assim se faz o som /ɨ/.
II. Consoantes
A língua tupi tem 19 consoantes: 3 nasais, 4 surdas, 3 prenasalizadas, 2
fricativas, 1 palatalizada, 1 líquida e 3 aproximantes. Antes de tudo, vamos entender
esses termos. Uma consoante pode ser surda ou sonora. As sonoras fazem as cordas
vocais vibrarem na gargante e as surdas não – sinta a diferença entre /s/ e /z/. Tanto
em português quanto em tupi, todas as consoantes nasais são também sonoras.
Consoantes também podem ser oclusiva ou fricativa. As oclusivas param totalmente a
passagem de ar, como /t/, enquanto as fricativas permitem que passe um pouco de ar,
como /s/. Algumas são aproximantes, quando a boca se articula para fazer o som,
mas não obstrui o ar. Uma aproximante labial é o /w/. Vamos ver agora os sons só
tupi:
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Tupi Antigo – A Língua da Costa do Brasil em 1500 © Ariel L. de O.
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Tupi Antigo – A Língua da Costa do Brasil em 1500 © Ariel L. de O.
III. Nasalidade
Como foi comentado, ambientes nasais modificam a fonologia. Por exemplo:
îandé pode ser pronunciado como nhandé. Isso serve para diversos prefixos: îe/nhe,
îo/nho. Na verdade, toda vogal ao lado de uma consoante nasal fica nasalizada:
amana lê-se “ãmáɐnã”.
Várias consoantes mudam em ambientes nasais. As labiais “b” e “p” tornam-se
“mb” ou “m;” “t” torna-se “nd;” “r” torna-se “nd” ou “n;” “s” torna-se “nd;” “k”
torna-se “ng.”
• p → mb, m
• b → mb, m
• t → nd
• s → nd
• r→n
• k → ng
Assim, o sufixo -pe pode vir a ser -me, e -ramo pode vir a ser -namo. Essas
mudanças nasais acontecem com a junção de morfemas numa só palavra no caso de
apenas uma das palavras ser nasal. Caso ambas as palavras sejam nasais, a mudança
não acontece. Por exemplo: kunhã + puku = kunhãmuku; kunhã + porang =
kunhãporanga.
Repare que o som nasal do lado de uma sílaba tônica não-nasal se torna
m→mb e n→nd. Por exemplo: emi + 'u→embi'u, etãma + etá→etãmetá.
É possível haver exceções para a mudança. Por exemplo, enquanto que
“trovão” é Tupã, “relâmpago” pode ser dito como Tupãberaba.
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V. Ortografia
A acentuação em tupi segue as regras do português. Isto é, oxítonas terminadas
em “a(s)”, “e(s)” e “o(s)” recebem acento. Ditongos terminados em “i” ou “u”
recebem acento.
Para fins didáticos, é comum usar do hífen (-) ou manter os acentos próprios
dos morfemas ao juntar palavras. Por exemplo:
Vírgula usa-se para separar orações, mas não para fazer enumerações. Apesar
das partículas “pe” e “serã” indicarem pergunta por si próprias, ainda faz-se o uso do
ponto de interrogação (?).
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SAUDAÇÕES
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Saudações
Como podemos conversar em tupi? Yves, Léry e vários
outros autores registraram diálogos em tupi dos quais podemos
tirar algumas expressões do dia-a-dia.
O verbo ikó:
Um primeiro verbo importante apareceu: ikó, que significa
“ser,” “estar” ou “viver.”
eu estou → aîkó
você está → ereîkó.
As outras conjugações estarão nas aulas de verbos.
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Tupi Antigo – A Língua da Costa do Brasil em 1500 © Ariel L. de O.
Perceba:
A palavra para “nome” é era (t-, r-, s-). “Meu nome” é xe rera e
“seu nome” é nde rera. Veremos mais sobre essas consoantes t-, r- e
s- posteriormente.
Como podemos pedir favores, pedir desculpa, agradecer, etc.? Nem todas
essas expressões têm registros. Especialmente “obrigade” e “por favor” não têm
anotações. Apesar do guarani paraguaio ter aguyje para agradecer, tampouco tem
palavra para “por favor” (usa-se o castelhano “por favor” ou ikatúramo, lit. se puder).
• Ta xe repîakĩ îepé (com licença; lit. que não preste atenção em mim)
• Aîeruré ndébe [mba'e resé] ou aporandub ndébe [mba'e resé] (por favor, lit. te
peço de coisas, te pergunto de coisas)
• Aûîé, aûîébeté, aûîé ipó (obrigade, lit. está pronto, está bom, chega)
• Aîkuab [endé xe pytybõ] (obrigade, lit. sei/reconheço que me ajudaste)
• Nde nhyrõ (desculpe, lit. teu perdão)
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Exercícios
1. Verta para o tupi:
a) Boa tarde!
b) Boa noite!
c) Tudo bem?
d) Que pensas?
e) Bom dia!
f) Qual o seu nome?
g) De onde você vem?
h) Eu venho de Nhoesembé.
i) Meu nome é Pindobusu.
j) Meu nome é Ybotyra.
k) Vou agora.
2. Leia o seguinte diálogo:
Îasy: Tîa nde ko'ema!
Îagûanharõ: Tîa nde ko'ema! Marãpe nde rera?
Îasy: Xe rera Îasy. Marãpe nde rera? Mamõsuípe ereîur?
Îagûanharõ: Xe rera Îagûanharõ. Aîur Nheterõîa suí.
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Traduzir ≠ verter
Traduzir – passar um texto de outra língua para a sua língua própria.
Verter – passar um texto da sua própria língua para outra.
Interpretar – traduzir uma fala em tempo real.
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SUBSTANTIVOS
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I. Pronomes pessoais
Os pronomes em tupi são poucos, e são divididos em duas classes.
1ª classe 2ª classe
Eu ixé xe
Você endé nde
Ela, ele, elas, eles a'e i o
Nós (incl.) îandé îandé
Nós (excl.) oré oré
Vocês peẽ pe
Nós (genérico) asé i o
Alguém (genérico) gûá i o
Para perguntar “quem?” usamos a mesma palavra que significa “pessoa”: abá.
Não se esqueça que perguntas têm uma de duas partículas: pe ou serã. Pe é usado
depois daquilo sobre o que você está fazendo a pergunta. Serã é usado no final da
pergunta para confirmar com “sim” ou “não.”
Como em tupi não há verbo para “ser” ou “estar,” apenas com os pronomes
você pode fazer algumas frases simples:
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Assim também podemos falar de membros da família em tupi. Tupi tem vários
nomes para membros da família, e muitos deles são diferentes de acordo com o
gênero.
• mãe – sy
• pai – uba (t-, r-)
• tio paterno – uba (t-, t-)
• tia paterna – aîxé
• tia materna – sy'yra
• tio materno – tutyra
• avó – aryîa
• avô – amũîa (t-, r-)
• esposa – emirekó (t-, r-, s-)
• esposo – mena
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• cabeça – akanga
• cabelo da cabeça – 'aba
• olhos – esá (t-, r-, s-)
• nariz – tĩ
• orelha – nambi
• boca – îuru
• lábios – embé (t-, r-)
• braço – îybá
• mão – pó (mb)
• dedo da mão – posã (mb)
• perna – etymã (t-, r-, s-)
• pé – py
• dedo do pé – pysã
• dente – ãîa (t-, r-, s-)
• língua – apekũ
Retrato de tupinambás por John White • vulva – embé (t-, r-)
• seio – kama
• testículos – api'a (t-, r-, s-)
• pênis – akûãîa (t-, r-, s-)
• corpo – eté (r-, s-)
• alma – 'anga
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Tupi Antigo – A Língua da Costa do Brasil em 1500 © Ariel L. de O.
A palavra mais comum que você vai encontrar para “amigue” é irũ, que
significa colega, companheire. Daí vem irũnamo (na condição de ser companheire, de
acompanhar) que se usa como o “com” do português. Com irũ criam-se atairũ para
companheire de viagem e maranirũ para companheire de guerra.
No filme Hans Staden (1999), foi muito usado o termo îekotyasaba, que é
algo como camarada. Se usa muito apixara (t-, r-, s-), que significa semelhante, e
aûsupara (t-, r-, s-), que ama, e há também registros de atûasaba para colega,
compadre. Leia os exemplos:
Retrato de Kunhambeba
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Assim:
visível invisível
Perto do falante ikó, kó 'ã, 'iã
Perto do ouvinte ebokûé, ebokûeî, ebogûĩ aîpó
Longe kûé, kûeî a'e, akûé, akûeî
Algum (inespecífico) amõ
Qual? umã
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Para dizer “isto” ou “aquilo,” mas sem mencionar o que é isto ou aquilo, use:
visível invisível
Isto ikóba'e, kóba'e 'ãmba'e, 'iã
Isso ebokûé, ebokûeîa aîpóba'e
Aquilo kûé, kûeîa a'e, akûé, akûeîa
Alguma coisa mba'e
Qual? umãba'e
Quando não souber a resposta de uma pergunta, aprenda a responder com sé.
Abápe kûé abaré? Sé! (quem é aquele padre? Sei lá)
Umãba'epe Tebiresá remirekó? Sé! (quem é a esposa de Tebiresá? Sei lá)
Dando ênfase
É muito comum usarmos a partícula ipó ou o ne (nipó em
conjunto). O ne vem antes ou depois de um pronome demonstrativo:
ne + ikó → nikó; ikó + ne → ikóne. Essa partícula tem o papel de dar
ênfase ao objeto demonstrado. É bastante útil para responder
perguntas:
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Exercícios
1. Traduza do tupi:
a) Abápe a'e? A'e ipó xe ruba.
b) Abápe nde rendyra? Xe rendyra kûeîne.
c) Kûeîa i mena serã? Sé.
d) Ebokûeîa nde rykera serã? Aã, kóba'e xe pyky'yra.
2. Verta para o tupi:
a) Quem é ele? Ele é meu avô.
b) Esse é o pajé? Sim, este é o pajé.
c) Aquele é o português? Sim, aquele é o Pedro.
d) Essa é sua mãe? Não, esta é minha vó.
e) Onde você vai? Vou para Rerityba.
PE
Usa-se para lugares. Algo como “em” e “para.” Essa posposição torna-se “me”
depois de sílabas nasais. Em palavras que terminam em consoante ou em a átono,
acrescenta-se um y. Palavras que terminam em pa, ba ou ma átonos perdem essa
última sílaba. Assim:
SUÍ
Suí significa “a partir de.” Usamos para dizer de onde vem alguém ou alguma
coisa. Nenhuma mudança fonética está envolvida:
Karagûatátýba suí.
SUPÉ
Supé significa para usado com pessoas e como posposição de alguns verbos.
Por exemplo:
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Embora se use supé para pessoas, com os pronomes ocorre uma interação
diferente:
PUPÉ
Pupé significa “dentro de.” Por isso:
Tatu onhemim o kûara pupé
O tatu se esconde em sua toca
IRŨNAMO
Irũnamo (às vezes só irũmo) significa literalmente “na condição de colega.” É
muito usado para indicar quando mais pessoas fazem uma ação junta, como a
preposição “com” do português. Também é possível usar o sufixo ndi e ndibé, mais
parecidos com o guarani ndi/ndive. Por exemplo:
Aîkó xe tápe xe anama irũnamo
Fico em minha aldeia com minha família
Ereîkó nde ruba irũnamo
Você fica com seu pai
Asó Karagûatátýpe xe syndi
Vou para Caraguatatuba com minha mãe
TYBA
Tyba não é uma posposição, mas é uma terminação comum em diversos
topônimos do Brasil. Dá o sentido de ajuntamento de alguma coisa. Devido à
ausência de uma vogal equivalente ao y tupi no português, essa terminação têm várias
formas:
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Karagûatátýba – Caraguatatuba
Mboîtyba – Boituva
Kuri'ytyba – Curitiba.
É notável que, com esse sufixo, perde-se a última consoante átona. Isso mostra
que o topônimo de Pacatuba não é tupi, mas de outra língua do ramo (talvez uma
língua geral) ou até uma invenção.
ETÁ
Etá também acontece em topônimos, como Paketá – Paquetá e Gûyrátingetá –
Guaratinguetá. Na verdade, etá (r-, s-) é um adjetivo que significa “muitos.” Pode ser
usado como indicador de plural para evitar ambiguidade. Para dizer “pouco,”
podemos usar mbobyr.
YGÛARA
Põe-se depois de um topônimo para falar de alguém de lá. Por exemplo:
Nheterõîa → Nheterõîygûara
Rerityba → Reritybygûara.
Até mesmo Hans Staden diz que é Hessen-ygûara.
RAMA/PÛERA
Rama e pûera são sufixos bastante úteis para substantivos em tupi. Significam
“futuro” ou “antigo.” Dão sentido de algo que ainda não existe ou que já está extinta.
Por exemplo:
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IV. Negação
A negação em tupi é feita com circumposições, isto é, adicionando uma
palavrinha antes e depois do substantivo. Isso depende se é a negação de um
adjetivo/verbo ou de um substantivo. Para negar substantivos, usa-se nda … ruã. Já
para negar verbos e adjetivos, usamos nda … i, como será tratado nas seções
seguintes.
Também negamos usando a terminação -e'ym para dizer “sem.” Isso aparece na
esperança da Terra sem Males – Yby Marãe'yma.
V. Advérbios de lugar
Para dizer “aqui” em “ali” em tupi, usamos geralmente os mesmos pronomes
demonstrativos que já conhecemos com a posposição -pe, como podemos ver nas
poesias do Pe. José de Anchieta, com a exceção de que “aqui” diz-se iké. Assim:
Natureza Aldeia
• Sol – Kûarasy • aldeia – taba
• Lua – Îasy • casas – oka (r-, s-)
• Estrela – îasytatá • praça central – okara
• Céu – ybaka • barro vermelho – tagûá
• Nuvem – ybatinga • cerca – ybyrá, ka'aysá
• Chuva – amana • roça – kó, kopixaba
• Trovão – Tupã, Tupana • cacique – morubixaba
• Relâmpago – Tupãberaba • pajé – paîé, karaíba
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Exercícios
1. Experimente apontar esses elementos nas imagens seguintes:
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VI. Pluriformes
Diversos substantivos tupi são pluriformes, isto é, têm mais de uma forma. A
diferença nas formas do substantivo são normalmente a primeira consoante, que
muda de acordo com o possuidor do objeto. Várias dessas palavras apareceram nesta
seção. Vamos ver o exemplo de embi'u (t-, r-, s-) – comida:
• tembi'u – a comida
• xe/nde/îandé/oré/pe rembi'u – minha/tua/nossa/vossa comida
• sembi'u – sua comida (3ª pessoa)
• o embi'u – sua (própria) comida
• xe aryîa rembi'u – a comida da minha vó
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dizer i membyr é dizer “ela tem filhe.” Devido a isso, o verbo “ter” (erekó) é pouco
usado em tupi, e fazemos frases como as seguintes:
Esta construção vai ser para dizer quantos de alguma coisa alguém tem. Posso
dizer, por exemplo, xe reîmbabetá para dizer “tenho muitos animais de criação” ou
a'e i ta'yretá para dizer “ele tem muitos filhos.” Se quiser usar números, não há
muitos em tupi:
• oîepé
• mokõî
• mosapyr
• irundyk
Então posso dizer também nde reîmbaba ambó para “você tem 5 animais de
estimação” (lit. seus animais de estimação são 5).
Exercícios
1. Com as palavras relacionadas à vida na aldeia mencionadas anteriormente e
outras palavras que você já conheça, experimente listar coisas que você tem e não
tem, e faça o mesmo para as pessoas do seu lado.
▄
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ADJETIVOS
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I. Uso de adjetivos
Todo adjetivo em tupi deve ter um sujeito que seja um pronome de 2ª classe.
Quando mencionamos um nome, é obrigatório usar o pronome i. Alguns adjetivos
serão pluriformes. Isto é, terão formas diferentes. Essas formas terão uma consoante
acrescentada ao início do tema.
Embora exista eburusu (t-, r-, s-) para “grande,” é mais comum usar o sufixo
gûasu/usu (paroxítona recebe usu, oxítona recebe gûasu). Embora haja mirĩ, também
é possível usar o sufixo 'ĩ como diminutivo (a pausa glotal some em paroxítonas).
Assim:
a) gûyrá→gûyrá'ĩ
b) îagûara→îagûarĩ
c) mboîa→mboîusu
d) îakaré→îakarégûasú
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II. Incorporação
É possível incorporar o adjetivo e o substantivo numa palavra. Isso é a
diferença entre a onça está brava e a onça brava. Para isso, devemos seguir as regras
de nasalidade e da queda da sílaba átona. Para adjetivos que não terminem em vogal,
acrescentamos um -a ao final.
III. Negação
A negação do adjetivo é bem parecida com a do substantivo, mas usamos o
sufixo -i no lugar da posposição ruã. Pela característica átona da preposição nda, ela
pode se juntar aos pronomes.
Assim:
Exemplos:
• A mulher não é bonita – kunhã ndi porãngi
• Minha mãe não está triste – xe sy ndi aruruî
• A goiaba não está verde – arasá ndi 'akýri
• Eu não estou sujo – nda xe ky'aî
IV. Comparação
A comparação em tupi é, por natureza, sempre do maior pro menor. Digo,
sempre melhor que, mais bonito que, e nunca menos alto que ou menos quente que. A
comparação é feita acrescentando -eté (verdadeiramente, muito) ao final do adjetivo e
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suí depois do substantivo. Assim: agûará i porangeté tu'ĩ suí (o lobo-guará é mais
bonito que o papagaio).
Se quiser comparar para dizer que uma coisa é tanto quanto uma outra coisa,
use a posposição îabé, que significa “como.” Por exemplo: nde sy i nharõ îagûara
îabé (sua mãe está brava como uma onça).
Sabores:
• é (r-, s-) – ter sabor
• e'ẽ (r-, s-) – doce, salgado, temperado
• aî (r-, s-) – azedo, picante
Perceba que são poucas as palavras para sabores. O guarani paraguaio
permite diferenciar o que é doce do salgado usando he'ẽ juky (relacionado ao tupi
îukyra para sal). Talvez se possa usar e'ẽ (r-, s-) îukyra îabé para “salgado” e até aî
(r-, s-) ky'ynha îabé para “apimentado.”
Cores:
As cores em tupi são poucas:
Vermelho – pytang
Amarelo – îub
Azul, verde – oby (r-, s-)
Branco – ting, há registro de moroting em São Vicente
Preto – un (r-, s-)
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Línguas com poucas cores não são um fenômeno incomum. O japonês antigo
tampouco diferenciava azul de verde, e, por isso, até hoje chamam a grama ou uma
floresta de “azul.” Se você quiser falar de uma coisa laranja, marrom, roxa ou de
outra cor, escolha a cor mais próxima (por exemplo, um canino avermelhado é
chamado de îagûapytanga, lit. onça vermelha). Você também vai perceber que às
vezes é melhor chamar de preto ou branco, porque o mais importante é o tom, e não a
cor em si.
Exercício
1. Verta para o tupi:
a) O papagaio é pequeno
b) A pedra está quente
c) Eu não estou triste
d) Você não é fedida
e) A aldeia bonita
f) O peixe amarelo está feliz
2. Preencha:
a) Gûyrá __ mboîa __ (porang)
b) Xe mena __ paîé __ (kyrá)
c) Kururu __ sygûasu __ (nem)
d) Murukuîá __ arasá __ (aî (r-, s-))
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VERBOS
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I. Indicativo
A. Intransitivos
Os verbos intransitivos são aqueles que têm um sujeito mas não um objeto. São
verbos como “dormir” e “andar.” Em tupi, simplesmente acrescentamos um prefixo
de pessoa à esquerda do verbo, diferente de flexioná-lo, como fazemos em português.
ur 'e, 'i
(vir) (dizer)
Ixé aîur a'e
Endé ereîur eré
A'e our e'i
Oré oroîur oro'e
Îandé îaîur îa'e
Peẽ peîur peîé
Note que ao usar o verbo 'e devemos usar o discurso direto. Isto é, jamais
“fulana disse que você está gordo,” mas sim “você está gordo, disse fulana.” Não
conhecemos registros de discurso indireto em tupi. Por outro lado, ele existe no
guarani paraguaio. Exemplo:
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Tupi Antigo – A Língua da Costa do Brasil em 1500 © Ariel L. de O.
• Tereîukatu, e'i tabygûara i xupé (as pessoas da aldeia lhe deram boas vindas)
• Nde kating, e'i nde sy xebo (sua mãe me chamou de fedido)
• Eîori xe tápe, a'e i xupé kûesé (eu lhe convidei pra minha aldeia ontem)
Exercícios
1. Verta para o tupi:
a) Eu nado dentro do rio
b) A tartaruga nada no mar
c) Você caminhou pela Serra ontem
d) Nós (incl.) vamos a Nhoesembé (Porto Seguro)
e) Nós (excl.) viemos de Nheterõîa (Niterói) hoje
f) Meu pai fica em Karagûatátýba (Caraguatatuba)
g) Eu vou em direção a 'ypa'ũgûasu (Ilha Grande) dentro da canoa
2. Leia em voz alta e traduza:
a) Aîkó xe anama irũnamo Karagûatatýpe
b) Ere'ytab Paranãme
c) Iperu omanõ raka'e Paranãrembe'ype
d) So'oetá onhe'eng ka'ape
e) Tu'ĩ obebé ybytyra koty
f) Pekaru xe rókype oîeí
B. Transitivos
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Paçoca
Se a palavra sok pareceu semelhante ao português,
não é coincidência. Socar ou triturar algum alimento vem
daí. Isso se faz com o ungûá (pilão) ou até com tepiti para
amassar e tirar o suco da mandioca ou do caju. Se for para
socar com a mão especificamente, podemos dizer pósók
(pó + sok), daí a paçoca.
Pilão de pedra
Note que eî (s-) é específico para lavar com água. Há outros verbos para lavar:
• îasuk – banhar-se
• moîasuk – lavar a outra pessoa
• petek – lavar roupa, bater para tirar pó
• syb – lavar o que está sujo de lama, molhado
• kitingok – tirar ferrugem
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Quando acontece do objeto que sofre a ação ser um pronome, não se esqueça
de que devemos usar o pronome de 2ª classe. Então nunca diga *Ereîpytybõ a'e (a'e
não pode ser o objeto do verbo).
• oroaûsub – te amo
• oroaûsubusu – te amo muito
• oroamotar – te quero bem
• oroepîaka'ub – tenho saudades de você
• opoenõî – chamo vocês
Usei ali o verbo epîaka'ub (s-), que é sentir saudades de alguém. Perceba que
existe, sim, palavra para “saudades” em tupi, em guarani (hechaga'u) e em outras
línguas também.
Perceba como o tema endub se mantém, mas a consoante passa a ser r-.
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Exercícios
1. Verta para o tupi:
a) Eu como amendoim pela mata
b) Você colheu goiaba pela Serra hoje
c) Ela viu um jacaré no rio
d) O português queimou o canavial
e) Eu te amo
2. Complete:
a) Peẽ __ (epîak) gûyrátingetá
b) Xe sy __ (tym) aîpĩ
c) Oró __ ('ok) akaîu ka'a rupi
d) Ixé __ (endub) aîuru nhe'enga
e) Îandé __ (pytybõ) (peẽ)
f) Piráakãîuba __ (ybõ) taîtitu
C. Intransitivos posposicionados
As posposições são palavras que vêm depois do substantivo. Por si só, são
muito úteis para qualquer verbo para indicar que algo aconteceu itá 'ári (em cima de
uma pedra) ou taba pupé (dentro da aldeia).
YPYPE
Significa “perto de”:
I membyra oîkó iî ypype memẽ – su filhe está sempre junto dela.
'ÁRI, 'ÁRYBO
Significa “acima de.” A palavra 'árybo é “acima de” ou “sobre,” mas não
diretamente acima. Algo como “mais acima” ou “mais alto.”
GÛÝRI, GÛÝRYPE
Significa “a parte de baixo” ou “abaixo de.”
KOTY
Koty significa direção. Usamos para dizer em que direção alguém vai. Por
exemplo: gûyrátingetá obebé Paranã koty (muitas garças voaram em direção ao
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mar).
Essa posposição também está presente em amõngoty e marãngoty. Amõngoty
pode ser usado depois de um substantivo para dizer “além de” ou “depois de.” Por
exemplo, ybaka amõngoty – além do céu. Já marãngoty é para perguntar “em que
direção.”
(R)ESÉ/RI
Resé significa sobre ou porque. Por exemplo:
• Paîégûasú peró oîmbo'e tekókatú resé
O grande pajé ensina ao português sobre as virtudes
• I tyb ybyrá rogûera yby resé
Há folhas de árvore sobre o chão, pelo chão
(R)UPI
Rupi signfica “através de.” Usamos, por exemplo, para dizer por onde alguém
passa ou em que idioma estamos falando.
• Tatámirĩ ogûatá ybytyra rupi (Tatámirĩ caminha pela Serra)
• Marã e'ipe asé aîpóba'e abanhe'enga rupi? (Como a gente diz isso em tupi?)
RAMO
Ramo significa “na condição de.” Usamos para vários adjetivos e substantivos.
Depois de sons nasais, o r torna-se n. Se a palavra anterior não for oxítona, -amo se
incorpora à última sílaba. Por exemplo:
• Peróetá oré robaîáramo oîkó
muitos portugueses estão como nossos inimigos
• Nãnamo...
assim/então...
Daí vem a escolha de usar “aîeruré ndébe mba'e resé” (peço a ti por coisas)
para substituir “por favor.” Repare nas frases seguintes:
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a) Oré rekó
nossos costumes
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• tekokatu: virtude
• tekopoxy/tekoaíba/ekomemûã: pecado, maldade, enganação, vício
• tekoporanga: vida boa, vida virtuosa
• tekoeté: determinação, coragem
• tekoete'ym: covarde
• tekokuab: conhecedore
• tekokuabe'ym: ignorante
• motekokuab: fazer ser conhecedore
D. Incorporação do objeto
Objetos de um verbo transitivo podem ser indicados pelo -î/îo-, mas também é
possível incorporar o objeto e seguir as regras de perda de sílaba átona. Um exemplo
claro disso é: kama (seio) + 'u (tomar) = kambu (mamar). Isso continua existindo em
alguns verbos fossilizados no guarani paraguaio: y'u→hay'u (tomo água). Daí vem
a palavra em tupi para sede, que é 'useî, provavelmente de 'y'useî – querer tomar
água. Se eu capturo uma onça, por exemplo, posso dizer ixé aîagûapysyk (note a
perda da sílaba átona). Experimente as próximas combinações:
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Tupi Antigo – A Língua da Costa do Brasil em 1500 © Ariel L. de O.
dizer a quem estamos despindo. Por exemplo: gûarinĩ oîaobok peró 'y kûápe, osabok
abé (os guerreiros despiram ao português na enseada do rio, lhe cortaram o cabelo
também).
Por sua vez, mombe'umbe'u pode ter o significado próprio de tornar público ou
anunciar publicamente aqui que antes não se sabia, como aponta Lemos Barbosa. O
mesmo pode acontecer com -usu/gûasu no final do verbo; e o oposto, isto é, coisa
mal feita ou feita num instante, com -ĩ/'ĩ.
Asaûsubusu xe sy xe ruba
Amo demais minha mãe e meu pai
Ourusu tobaîara
Vieram muitos inimigos
Asepîakĩ iîukápyrãma
Dei uma olhadinha no que vai ser morto
E. Forma negativa
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F. Forma interrogativa
Note que -pe não segue nenhuma regra de sílabas átonas ou de nasalidade. Se
um verbo termina com consoante, é possível removê-la ou acrescentar um -y- antes
da partícula. Perceba também que quando dizemos marã eré/peîé/e'i o -pe vem
depois do verbo 'e.
A partícula serã usamos para perguntas de “sim” ou “não,” isto é, quando
queremos conferir a verdade do que dizemos.
a) Kûé 'y pupé peîasuk serã? – Naquele rio vocês se banharam, né?
b) Ebokûé nde remîmonhanga serã? – Isso é seu trabalho, né?
c) Endé Ybotyra mena serã? – Você é o marido de Ybotyra, né?
G. 2ª classe
Com essas formas, veja que você já pode falar sobre comida em tupi. Vamos
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nos manter aos registros do séc. XVI e ver como era a dieta tupi da época:
Carnes
• ... ro'o – carne de...
• ... rupi'a – ovo de ...
• taîasu – porco-do-mato
• îagûara – onça
• sygûasu – veado
• pirá – peixe (muitas variedades: kandiru, parati, karamuru)
• potĩ – camarão
• îakaré – jacaré
• teîú – lagarto, teiú
• gûyrásapukáîa – galinha (não nativa)
Lembre-se que sempre é preciso dizer de que animal é o ovo – upi'a (t-, r-, s-),
a carne – o'o (r-, s-) (sendo que to'o é carne humana) e de que é feito o suco ou caldo
– ypûera (t-, r-, s-).
Tente agora encontrar de que comidas você gosta ou não gosta e se você as
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Repare que disse pirámixýra îetyka abé (lit. peixe assado e batata-doce
também) para dizer “peixe assado com batata-doce.” Talvez seja possível dizer
pirámixýra îetyka resé (algo como “peixe assado sobre a batata-doce”), imitando o
guarani paraguaio (que seria pira mbichy jetýre). O infixo angá dá ênfase à negação
de não ter comido carne de jacaré. Aqui, decidi traduzi-lo com o sentido de “nunca.”
Exercícios
1. Traduza do tupi:
a) Xe nhyrõ nde mena supé
b) I xy ndi ma'endûári îandé resé
c) Akûé kunhã o'u apŷabetá
d) Xe rendúpe îepé?, a'e ndebe.
e) Kunhã onhotym mandubi îurumũ kó resé
f) Oroîasuk paranãme oîeí
g) Kó 'ybá i aûîé, e'i xebo.
h) Kó kunhã oîapó kaûĩ, kûéîba'e oîme'eng apŷaba supé
i) Ndasepîáki Tupã, e'i gûarinĩ xebo
2. Preencha:
a) Mamõpe endé __ (îasuk) kûesé?
b) __ (endé, kuab, interrog.) kûé kunumĩ ruba?
c) __ (peẽ, gûasem, interrog.) îagûareté __ ka'a rupi?
d) Oré __ (me'eng) piráka'ẽ peẽme.
3. Verta para o tupi:
a) Sua irmã me conhece
b) Você ajudou meu avô ontem pela Serra
c) Vocês conhecem o cacique?
d) Ela gosta de feijão
e) Meu pai perguntou se há piranhas no rio
f) Aquela (vis.) mulher se banhou no rio, e esta (vis.) na cachoeira
g) A sua esposa é a Piráakãîúba, né?
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H. E opcional
• (e)rasó – levar
• (e)rur – trazer
• (e)rekó – ter consigo, cuidar, ter
• (e)robîar – acreditar
I. Forma futura
O tupi não tem conjugação especial nem para o passado nem para o futuro. No
passado, podemos especificar com um advérbio de tempo.
O tupi tem um jeito distinto de falar do tempo. “Hoje” pode
ser dito de três formas diferentes: ko 'ara (lit. este dia; é assim que
se diz em guarani), kori (hoje, a partir de agora) e oîeí (hoje, antes
de agora). Ao longo do dia é dito como ko 'ara pukuî. “Amanhã”
também tem três formas: ko'eme (lit. de manhã), oîrã/oîrandé.
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Ontem pode ser dito como kûesé/kûeseîa. Daí, provavelmente, vem a expressão
kûesenhe'ym para “muito tempo atrás.” Também existem raka'e e erimba'e com o
mesmo sentido de um passado distante.
Para dizer “agora,” usa-se ko'yr. Também há ko'yré para “de agora em diante.”
Para indicar “já,” usamos ymã/ymûã depois do verbo; korite'ĩ e koromõ são jeitos de
dizer “logo;” 'angiré significa “daqui pra frente” ou “doravante;” e para indicar
“ainda” em orações negativas usamos ranhẽ ao final do período. Ranhẽ depois de um
pronome significa primeiro, antes de todos. Para dizer “antes” ou “anteriormente,”
usamos îanondé como um sufixo. Já “depois” é (r)iré, também como sufixo.
“Sempre” é dito como îepi ou memẽ; “todo dia” ou “diariamente” é dito como 'ara
îabi'õ; frequentemente pode ser dito como py'i ou como îaby; e “nunca” como aã,
igual à palavra para “não.”
O tempo é contado pelos ciclos da natureza. Podem-se contar os verões e
invernos como 'ara puku/'apuku (dias longos, verão) e ro'y (frio, inverno). Para medir
o ano solar, olhando para o céu, é possível reconhecer Plêiades, chamada de Seîxu. O
caju também aparece uma vez por ano, sendo akaîu uma medida do ano solar.
Hans Staden também registra o uso do piraka'ẽ (churrasco de peixe) como um
ciclo para medir o tempo.
A Lua pode ser um ciclo para medir o tempo, tendo registradas
três fases no lugar de quatro: Îasysema (saída da Lua), Îasyobagûasu
(cara grande da Lua) e Îasyangaîbara (Lua magra). Para quem vive no
litoral, as marés sobem e descem. As marés crescentes são 'yura, e
quando descem são 'ysyryka.
No futuro, porém, mesmo que digamos oîrã (amanhã) ou kori (hoje a partir de
agora), o uso da partícula ne é obrigatório. Essa partícula vai ao final da oração, ou
seja, não especificamente depois do verbo.
a) Aka'amondó xe ruba irũnamo korine – vou caçar hoje com meu pai
b) Apŷaba oka'une – os homens vão beber cauim
c) Kûarasy reîké riré, asendub paîé mombegûábane – depois do por-do-Sol, vou
ouvir as histórias do pajé
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Exercícios
1. Escolha um advérbio de tempo e passe para o futuro:
a) Aîasuk kûé 'y kûápe
b) Asó Ybotyra taba koty
c) Oro'u aîpĩmimõî
d) Nde resaraî peró nhe'enga suí
e) Ere'ytab xe irũnamo akûé ytupe
f) I xy oîapó abati ku'i îandébo
2. Passe para a forma negativa:
a) Kûé kunhã oîme'eng kaûĩ gûarinĩ supé
b) Maíra ogûerasó Itapuku o ygarusu pupéne
c) Opombo'e peró Tupana reséne
d) Abaré our Rerityba suíne
e) Asó paranã koty
f) Xe ruba oîapókatú so'o moka'ẽ
3. Verta para o tupi:
a) Ela não gosta do português
b) O guerreiro esqueceu da ybyrapema
c) Você vai caçar onça amanhã e eu vou ficar na roça
d) Ybotyra vai dar cauim ao Paragûasu
A. Infinitivo
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verbo. Seria como dizer “quero sua conversa com o pajé” no lugar de “quero que
você converse com o pajé.” Vejamos alguns exemplos:
Perceba que o verbo manõ foi trocado pelo substantivo e'õ (t-, r-, s-), que
significa morte. Também veja que o pronome na oração subordinada está sempre na
2ª classe, e que verbos pluriformes ficam com a consoante r- (ou s-). Há, porém,
verbos irregulares. Vejamos dois deles:
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Exercícios
1. Verta para o tupi:
a) A onça quer que o tatu saia futuramente da toca
b) O padre vê que você está sem roupas
c) Vocês veem que os portugueses estão vindo
d) Jurupari quer que nós tenhamos medo dele
e) Eu queria que você tivesse me escutado
f) Nós sabemos que vocês detestam o Curupira
2. Complete:
a) Agûará oîpotar gûyrá'ĩ __ ('ar)
b) Asepîak kunhã kaûĩ __ (apó)
c) Abáetá osepîak tupinakyîa __ (ur)
d) Nde resaraî nde sy __ suí (pytybõ)
e) Oré ma'endûar tembi'u __ peẽme resé (me'eng)
f) Xe sy oîkuab xe __ (aûsub)
B. Agente
Primeiro, vamos ver ba'e. Repare que também pode ser usado para adjetivos e
verbos de segunda classe. Quando usamos esse sufixo, mantemos o verbo conjugado
na 3ª pessoa, por exemplo: ogûatába'e – agente que caminha; oîagûápysýkyba'e – o
agente que capturou a onça (nada impede também de ser îagûara oîpysýkyba'e).
o + [tema] + ba'e
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b) mo + oryb + ara
Kûé peró pitanga moorypara
Aquele português é o alegrador das crianças
c) enõî + ara
Paîé Îurupari renõîndara
O pajé é o invocador de Jurupari
d) aso'i + ara
Ta nde resaraî umẽ nde robá asoîara suí
Não se esqueça da sua máscara
e) pûaî + ara
A'e nda xe pûaîtara ruã
Ele não é meu chefe
f) ka'u + ara
Xe kybyra kagûara
Meu irmão é um beberrão
g) poro + apiti + ara
Akûé porapitîarusu oîpotar îandé re'õnama
Aquele genocida quer que a gente morra
Vamos ver as outras mudanças causadas pelo ara. Percebemos também que o b
final de verbos se torna p: saûsupara, kuapara, moorypara. Também vimos que 'i e 'u
no final do verbo se tornam 'i→î; 'u→gû. Apesar de eu ter usado tobá asoîara para
“máscara” (lit. cobertor facial), tobá asoîaba e îuru asoîaba também existem e tem
uso mais comum. Daí também o verbo transitivo asoîabok para “descobrir,” “tirar
cobertura.”
Quando o verbo termina em î, acrescentamos um t, e não um s. Esse t, por sua
vez, pode ficar nasalizado em nd. E, um último comentário, a palavra com ara é um
substantivo que pode recebes os sufixos (r)ama, (p)ûera, usu, ĩ, etc.
E quando não estamos descrevendo nem com um verbo nem com um adjetivo?
Normalmente, nesses casos estamos apenas usando uma posposição (pe, resé, 'ári,
etc.), e acrescentamos o sufixo sûara (eventualmente pora/bora, sûera e ygûara
também servem). Isso serve, por exemplo, para dizer
aîpysyk tatu ybytyrixûara – capturei o tatu da Serra
no lugar de
aîpysyk tatu ybytýrype oîkóba'e – capturei o tatu que vive na Serra.
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Veja que pora/bora serve para falar de pessoas: mara'abora – a pessoa doente,
ka'apora – a pessoa da mata. Também é possível adicionar esse sufixo a verbos
intransitivos ou verbos transitivos com o objeto incorporado: moraûsubora – quem
ama as pessoas.
Ygûara é um sufixo que já vimos para “habitante”: U'ubatybygûara,
Karagûatátýbygûára, Nhoesembéygûára.
O sufixo sûara/ndûara é usado depois de posposições para criar um
substantivo: nhũ reséndûára – pelo campo; maraká pupéndûára – dentro do
chocalho.
Outro sufixo foi o sûera (que vira ixûera depois de consoantes), que vem
depois de verbos intransitivos para indicar o sujeito que os faz frequentemente, com
sentido quase idêntico ao -bora/pora: kerixûara – dorminhoco, atásûéra – andarilho.
Veja que também pode ser um adjetivo se usarmos apenas sûer/ixûer: nde pukasûer –
você é risonha.
C. Modo
O próximo sufixo é o aba, que é bastante similar ao ara. Esse sufixo indica
modo ou lugar. Em geral, usamos aba para coisas e conceitos e ara para pessoas.
Vamos ver alguns exemplos:
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Perceba como o aba pode até servir para responder perguntas, já que pode
explicar causa ou finalidade. Por exemplo: îasukápe com o sentido de “para se
banhar;” kesápe com o sentido de “porque estava dormindo.”
D. Passivo
i + [tema] + pyr
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Nas orações acima, você deve ter percebido que não falamos do agente do
verbo. Por exemplo, ninguém é o escritor em “o escrito fica.” Não é possível, por
exemplo, dizer “xe kûatîarypyra” para “minha escrita.” Sempre será somente “a coisa
escrita.”
No entanto, é possível mencionar o agente usando o outro passivo: (e)mi (t-, r-,
s-). Veja que, diferente de pyra, neste caso o prefixo é que nasaliza palavras não-
nasais. Assim: mi + potar → mimotara. Se a sílaba logo depois do mi for tônica, ele
se torna mbi. Por isso comida é embi'u (t-, r-, s-) e caça é embîara (t-, r-, s-). Vejamos
exemplos:
Perceba que esse passivo é praticamente a mesma coisa do i...pyr, com a adição
de poder mencionar o sujeito.
Lembre-se de como (e)mi acontece em alguns substantivos de forma fixa:
tembi'u (comida), mityma (plantação) ou mikûatîara (escrita, carta, livro). Daí vem o
termo (e)miaûsuba (t-, r-, s-), que significa literalmente “pessoa amada,” mas que já
foi usado para falar de servos e escravos. Daí a frase usada nos registros jesuítas:
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nenhuma. Dizemos:
a) Xe îeruresagûera komandámirĩ é
O que eu pedi era o feijão
b) Aîmombe'u nde resaraîtábane
Vou te contar o que você esqueceu
Exercícios
1. Preencha usando os sufixos ba'e e aba:
a) Kunumĩ ogûatá__ ybytyra rupi
b) Apŷaba oka'ú__ osykyîé Kurupira suí
c) Asó nde rekó__ koty
d) Amõ marakaîá oker nde rup__ resé
e) Kûé kunhã o'ytáb__ oîmonhang ygarama
f) Abá okér__ i kyrá
g) Xe ma'endûar îandé nhomongetá__ resé
h) Kunhã abati onhotým__ i porang
2. Preencha usando o sufixo de agente adequado:
a) Nde ramũîa nda iké__ ruã
b) Akûé peró oré raûsup__
c) Pitanga ndosepîáki te'õmbûera tym__
d) Peîkuápe ka'aasap__?
e) Abaré nda opákatú mba'e kuap__ ruã
f) Mba'ekûatîa__ our oré tápe
g) Eregûasẽmype îandé irũetá îuká__ supé?
3. Escolha o passivo adequado:
a) Ebokûé ipó xe sy __ (tym)
b) Umã gûarinĩpe nde __ (îuká)?
c) Mba'epe ebokûé __ (kûatîar)?
d) Ikó ipó xe __ (ar)
e) Mba'eeté ka'ugûasu. Aîpó __ (aûsukatu) – Monólogo de Gûaîxará
f) Marãpe nde __ (aûsub) rera?
g) Kûé inĩ xe __ (monhang)
E. Condicionais e Temporais
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Sol;” não dizemos “depois de guerrearmos,” mas “depois da guerra.” Para isso, nos
aproveitamos do infinitivo dos verbos em tupi, e não é necessário conjugar o verbo.
O sufixo (r)eme em tupi também pode ser usado para indicar motivo, isto é,
“porque.” Perguntamos “por quê?” dizendo marãnamope ou mba'erama resépe, e
respondemos fazendo uma oração com o sufixo (r)eme – veja também que o (r)esé
pode ser usado nas respostas (“porque”) depois de um substantivo.
Antes: îanondé
Durante: (r)eme
Depois: (r)iré
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Assim:
Com o (r)eme, podemos dizer coisas como “ao longo da tarde” ou “ao longo da
noite.” Além disso, existem também as posposições îabi'õ e pukuî para esse sentido.
Veja os exemplos:
Além disso, sempre evitei usar a oração com o iré/îanondé/eme antes da oração
principal quando o sujeito era alguém de terceira pessoa. Isto é, posso dizer “xe karu
îanondé, aîepoéî,” mas não “*o karu îanondé, oîepoéî.” Nesse segundo caso,
teríamos usados o modo indicativo circunstancial, que está no final do livro.
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Exercícios
1. Escreva o que você faz antes, durante e depois do seguinte:
a) Xe pakyîanondé
b) Xe anama (xe ruba, xe sy...) pakiré
c) Xe karu îanondé
d) Xe karu riré
e) Kûarasy reîké riré
f) Pytúneme
g) Xe keryîanondé
h) Xe raûsupara mongetáreme
2. Verta para o tupi:
a) Depois de eu vir pra casa, eu tomo banho
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III. Gerúndio
O gerúndio é parte importante da gramática tupi. Quando fazemos uma oração,
se nela houver mais de um verbo, apenas um deles pode estar na forma indicativa,
que é a que vimos até agora. Se há mais de um verbo na frase, o outro verbo estará no
gerúndio, no infinitivo ou nalgum outro modo. Nesta seção, veremos frases em que o
sujeito do verbo no gerúndio e do verbo principal são o mesmo. Vamos ver as regras
para passar os verbos para o gerúndio.
VERBOS INTRANSITIVOS
Verbos intransitivos no gerúndio recebem um prefixo para cada pessoa e uma
terminação que depende de como termina o tema original. Os prefixos são: gûi, e, o,
îa, oro e pe.
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VERBOS TRANSITIVOS
Os verbos transitivos sempre devem mostrar qual o seu objeto. Sendo assim,
para colocá-los no gerúndio, basta escrever seu objeto junto a eles e seguir as mesmas
regras para a terminação do verbos intransitivos, e não é necessário mais indicar o
sujeito no caso de já estar claro na oração. Se for um verbo pluriforme, é necessário
lembrar de qual consoante usar.
gûatá karu
Ixé gûigûatábo gûikarûabo
Endé egûatábo ekarûabo
A'e ogûatábo okarûabo
Oré orogûatábo orokarûabo
Îandé îagûatábo îakaruabo
Peẽ pegûatábo pekarûabo
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PRESENTE CONTÍNUO
in ikó ub 'am
sem sair do lugar em movimento deitando-se em pé
Ixé gûitena gûitekóbo gûitupa gûi'ama
Endé eína eîkóbo eîupa e'ama
A'e oína oîkóbo oúpa o'ama
Oré oroína oroîkóbo oroîupa oro'ama
Îandé îaína îaîkóbo îaîupa îa'ama
Peẽ peína peîkóbo peîupa pe'ama
Assim:
Com o gerúndio, podemos dar muitos usos ao verbo 'e/'i. Lemos Barbosa
apontou como ele pode ser usado para expressar julgamentos e pensamentos,
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'e
Ixé gûi'îabo
Endé e'îabo
A'e o'îabo
Oré oro'îabo
Îandé îa'îabo
Peẽ pe'îabo
Podemos usar esse verbo para citar perguntas, pensamentos, convites, etc.:
Tanto na forma negativa quanto na afirmativa, é possível usar o verbo 'e (dizer)
para dar ênfase ao verbo, e, para isso, o verbo fica no gerúndio. Isso equivale ao uso
do “do” para reforçar o verbo principal em inglês. Por exemplo:
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Exercícios
1. Preencha com o verbo no gerúndio:
a) Orogûatá ybytyra koty __ (ka'amondó)
b) Asem 'ypa'ũgûasu suí nde __ (epîak)
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IV. Modos
A. Vontade e Capacidade
Para expressar sua vontade ou capacidade de realizar uma ação em tupi, temos
quatro verbos à nossa disposição: seî, potar, kuab, 'ekatu.
Seî só é usado com o verbo 'u. Assim: a'useî ebokûeîa – quero comer isso;
a'y'useî – quero tomar água. Para os outros verbos, usamos potar, sem esquecer das
regras de nasalidade e perda de sílaba átona.
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Removendo ambiguidade
Kuab:
a) Paîé onhe'enguab perónhe'ẽnga rupi
O pajé sabe falar português
b) Kunumĩ ndo'ytákuábi ranhẽ
O menino ainda não sabe nadar
c) Kûé kunhã kaûĩ oîapókuáb
Aquela mulher sabe preparar o cauim
d) Ixé inĩ kamusi aîmonhanguab
Eu sei fazer redes e cestas
'ekatu:
e) Ixé a'ekatu gûigûatábo pe irũnamo kûeîpe
Eu posso andar com vocês até ali
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Exercícios
1. Traduza do tupi:
a) Ebokûé paîé e'ikatu xe mena mombûeraba serã?
b) Xe tupã opákatú mba'e monhanga e'ikatúba'e, e'i peró orébo
c) Amõ kunumĩ o'ytakuab ymã
d) Kunhãmuku kaûĩ oîapókuáb
e) Aîkûatîakuab peronhe'enga rupi
f) Oromongetapotar, xe rapixar
g) Apŷaba nhõ e'ikatu kagûabo
2. Verta para o tupi:
a) Meu pai sabe fazer redes
b) (dito por mulher) meu irmão sabe preparar churrasco/moquém
c) Só eu posso falar ao cacique
d) Só o pajé pode escutar o Jurupari
e) O Curupira não sabe fazer cestas
f) Eu quero ir a Rerityba
g) Queremos ficar na roça
B. Permissivo e Imperativo
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nhe'eng
afirmativo negativo
Endé enhe'eng enhe'eng umẽ
Peẽ penhe'eng penhe'eng umẽ
ur (t-, r-) só
eîori ekûá
Endé
eîor ekûãî
peîori ekûá
Peẽ
peîor pekûãî
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Exercícios
1. Verta para o tupi usando o modo imperativo
a) Vá para Bertioga encontrar o Iperuguasu
b) Dê-me comida, por favor
c) Conte ao padre sobre o Curupira
d) Ajude sua mãe a trazer o milho
e) Venha para nossa (excl.) aldeia para dançarmos (permissivo, incl.)
2. Verta para o tupi usando o modo permissivo
a) Não se esqueça de ter medo do Jurupari
b) Perdoem-me, por favor
c) Vá para Caraguatatuba
d) Traga caju e mandioca (imperativo) para que eu prepare cauim (permissivo)
e) Me ajude, por favor
f) Que o padre não fique bravo
Mutualidade: îo
a) Kyre'ymbaba onhomongetá maranyîanondé
os guerreiros conversam entre si antes da guerra
b) Kunhã onhopytybõ tembi'urama tyma
as mulheres de ajudam plantando comida
c) Tîaîoepîákyne
que nos vejamos no futuro
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Reflexividade: îe
d) Amõ apŷaba onhemombe'u abaré supé
um homem se confessou para o padre
e) Eîepoéî
lave suas mãos
f) Teîú onhemoakub ybyku'i resé oína
o lagarto se esquenta ficando na areia
Reciprocidade: (e)ro
g) Ogûerosyk o a'yra
fez seu filho chegar consigo
h) Anosem Ka'ioby
fiz Ka'ioby sair comigo
i) Arogûeîyb xe sy Ybytyra rupi
fiz minha mãe descer comigo pela Serra
Veja que îo pode aparecer com posposições com o sentido de reflexividade. Por
exemplo: arur ikóba'e xe îoupé – eu trouxe para mim; nde apysyk nde îoesé – você
gosta de si.
D. Causatividade
a) sykyîé → mosykyîé
Kurupira oîmosykyîé kunumĩ
O Curupira assusta o menino
b) paîé → mombaîé
Paragûasu onhemombaîé
Paraguasu se fez pajé
c) pak → mombak
Xe mombak xe sy
Minha mãe me acordou
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d) pab → mombab
Pe Tupã e'ikatu amana mombaba serã?
O deus de vocês pode parar a chuva?
e) oryb (t-, r-, s-) → mooryb
Moraseîa oîmooryb gûãîbĩ
A dança alegra as velhas
f) apysyk → moapysyk
Xe moapysyk akaîu rypûera
Eu gosto de suco de caju
g) kyrirĩ → mokyrirĩ
Enhemokyrirĩ paîé nhe'enga rendupa
Cale-se para ouvir o que diz o pajé
h) kyrá → mongyrá
A'e onhemongyrá oû obaîara gûabo
Ele engordou comendo seus inimigos
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Exercícios
1. Verta para o tupi:
a) Eu mandei ir para Iperu 'y
b) Ela alegrou o marido plantando milho
c) Eu te mostrei minha rede
d) Você me fez te ouvir
e) O Jurupari não assusta o homem valente
f) Ela te mandou colher a mandioca
2. Crie uma frase com o causativo do verbo/adjetivo/substantivo:
a) pak
b) endy (s-, r-)
c) só
d) me'eng
e) kyrá
f) tabygûara
g) ikobé
h) iké
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CONTEÚDO
ADICIONAL
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I. Partículas e Interjeições
O tupi é uma língua que permite a expressão de nuances com simples
partículas. Essas partículas têm o papel de indicar uma coisa feita em vão, de mostrar
determinação, contradição, etc. Já vimos lá no começo, por exemplo, o uso do ipó e
do ne para dar ênfase em um substantivo. Além disso, algumas delas são diferentes de
acordo com o gênero de quem as diz, oferecendo também a possibilidade da pessoa
se expressar conforme sentir-se melhor.
KÁ/KY
Repare que mulheres usam ky e homens usam ká. Dão ideia de decisão ou
ordem, e atuam como um ponto de exclamação:
TE
Te é uma partícula átona que indica complementação ou até contradição.
Normalmente é o equivalente ao “mas” do português. Colocamos te depois da palavra
para a qual queremos dar atenção. Por exemplo:
TÉ
Diferente do te átono, o té é tônico, e vem no começo da oração. Dá sentido de
“enfim” ou “finalmente” ou até “ah” para falarmos de algo que tínhamos esquecido.
Por exemplo:
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NHÕ
O nhõ significa “só” ou “apenas.” Comumente é acompanhado de um te átono,
fazendo nhõte. Por exemplo:
AMẼ
Colocamos essa partícla logo após o verbo para indicar costume de uma ação.
Pode dar tanto a ideia de costume no presente quanto no passado dependendo do
contexto. Por exemplo:
Veja o angá entre o verbo 'u e o sufixo i da forma negativa. Esse infixo dá
ênfase à negativa. Aqui, deu o sentido de “nunca mais,” mas nada impede desse
infixo ser usado para o passado também.
NHẼ
Tenhẽ (outras vezes apenas nhẽ) dá o sentido de algo que acontece em vão ou
acidentalmente. Outras vezes tem um sentido parecido com “efetivamente.” Por
exemplo:
No entanto, não confunda com katutenhẽ, que é uma forma de dizer “muito
bom” ou “excelente:” Ereîkókatútenhẽ – fez muito bem!
Também existe o anhẽ (às vezes aîé na ortografia do padre Lemos Barbosa),
que significa “de verdade” ou “na verdade.” Por exemplo:
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BIÃ
Indica que a ação não tem resultado, que é inútil ou em vão. Também indica
coisa mal feita. Por exemplo:
RE'Ĩ/RE'A
Essa partícula vai no final do período e indica expectativa ou suposição.
Usamos quando queremos indicar nosso desejo para o futuro ou o que supomos ter
acontecido, mas não temos certeza. Veja que re'ĩ é dito por mulheres e re'a dito por
homens. Por exemplo:
RA'E
Enquanto re'a/re'ĩ equivale à sua própria expectativa da realidade, ra'e é usado
para mostrar o que as pessoas dizem. Por exemplo:
BYTER
Byter é como se fosse a versão afirmativa de ranhẽ. Enquanto ranhẽ é “ainda”
para orações negativas, byter pode ser usado no final de orações afirmativas para
falar de algo que continua acontecendo. Também é comum usá-la com o verbo
auxiliar 'e. Por exemplo:
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TEMÕ... MÃ
Essa partícula composta dá o sentido de desejo. É equivalente ao “tomara” ou
“oxalá” do português. Pode-se usá-la usando o -mo condicional depois de um verbo e
o mã ao final da oração, ou com temõ depois da primeira palavra da oração, seja qual
for, ou eté'ĩ depois do verbo mais o mã no final da oração. Na forma negativa, é
necessário usar o xûé. Por exemplo:
a) Ourete'ĩ xe ruba mã
Fico felicíssimo quando vem meu pai
b) Xe sy ogûerúrymo îandé maraká mã
Quem dera minha mãe traga nosso chocalho
c) Korite'ĩ temõ marana pábi mã
Tomara que a guerra acabe logo
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Exercícios
1. Passe as seguintes frases para o modo indicativo circunstancial:
a) Abaetá omanõ Maíra ruriré
b) Agûatá ybytyra rupi xe aryîa repîapotá
c) I membyra ogûerur komandá i xupé pepýkeme toîapó sembi'urama
d) Oroepîak ikó ybyrápukú suí
e) Semirekó ndoîapóî kaûĩ oîeí
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ÁRVORES E FRUTOS
ybyrá – árvore (genérico), madeira
akaîu – caju
arasá – goiaba, goiabeira, araçá,
araçazeiro
aratiku – araticum
gûapara'yba – mangue
îabotikaba – jaboticaba
îykytybá – jequitibá
kupu'ygûasu – cupuaçu
kuri, kuri'y – pinheiro, araucária
murukuîá – maracujá
pindoba, inaîá, îusara, mburiti –
variedades de palmeiras
tukũ – tucum, ticum
tukumã – tucumã
uruku – urucum, urucuzeiro
'ybákamusí – cambuci
'ybápytãnga – pitanga
ybyraygara, munduruku –
figueira
▄
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TEXTOS PRÓPRIOS
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Texto em Português
A VIDA EM CARAGUATATUBA
Você conhece Caraguatatuba?
Lá, podemos ouvir o som do Mar. Quando vou para a praia, tem muitas
conchas na areia. Sobre alguma pedra eu sento pra olhar a Ilhabela. Dali salto pra me
banhar antes de comer. Quando estou com fome, posso comer comidas gostosas:
peixe assado, mandioca e suco de caju. Depois disso, descanso debaixo de uma
palmeira. Ao longo da tarde, vou para a Serra. Vejo muitos animais no meu caminho:
cotia, jacu, macacos.
Antes do pôr-do-Sol, fica trovejando. Gosto muito do barulho do trovão. Por
isso, olho pro céu pra ver os relâmpagos.
De noite, a Lua cheia nasce. Eu deito na minha rede para dormir. Eu sou daqui;
Caraguatatuba é minha casa.
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-pe. Para dizer que podemos fazer alguma coisa, usamos o verbo ‘ekatu e o verbo
principal no gerúndio. Para dizer se ou quando, usamos o sufixo -eme (r-) no verbo
no infinitivo e com o sujeito na 2ª classe. Assim: xe gûatáreme (quando eu vou). Para
dizer que há alguma coisa, usamos o verbo de 2ª classe tyb. Para algo que está sobre a
terra (ou a areia, ou a grama), usamos a posposição esé (r-, s-). O tupi não tem artigos
definido e indefinido. A palavra amõ significa algum ou aquele. Para dizer a
finalidade de uma ação, usamos o gerúndio: ‘ypa’ũporanga repîaka (para ver a
Ilhabela). Para dizer finalidade, também podemos usar o prefixo permissivo ta. Em
tupi, antes é îanondé e depois é riré. O pôr-do-Sol é a entrada do Sol: Kûarasy
reîké(saba). O nascer-do-Sol é a saída do sol: Kûarasy sema(ba). O trovão em tupi é o
mesmo nome do deus do trovão Tupã/Tupana. Para dizer do que você gosta, você usa
o verbo de 2ª classe apysyk (satisfeito) com a posposição esé (r-, s-) ou o verbo
transitivo moapysyk (satisfazer, agradar). De noite em tupi é pytúnybo, e a Lua cheia
é Îasýobágûasú (lit. cara grande da Lua).
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Descobri uma vez uma lista de “mandamentos” do Pe. Cícero sobre cuidar da
Caatinga. São verdadeiras lições de ecologia essenciais não só à vida na roça como à
qualquer sociedade.
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ABÁPORÚ
Senhor do Mar, és muito bondoso, homens novos mandando para nossa terra.
Comamo-os todos, nossos guerreiros fortalecendo.
Depois da futura comida chegar, as moças fazem o cauim.
Nós está terra honraremos.
Nós somos gente desta terra.
Não temeremos a Jurupari, Anhangá, nem a Curupira, estes homens comendo.
Assim, nós estamos muito felizes!
Aqui estamos, nós vos mataremos!
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Estas histórias são inspiradas no livro “Lendas dos Nossos Índios” (Clemente
Bradenburger, 1931).
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homem pelo Cerrado dizendo “que morra” em seus corações). Na verdade, a parte de
o py'ápe é até opcional; apenas o'îábo já tem a função de pensar ou julgar. Perceba
como chamei o Cerrado: ka'aatãndyba (ajuntamento de mata dura; igual ao nome da
cidade de Catanduva).
KUNHÃ OMENDÁPOTÁBA'E
“Xe ambyasy. Tasem xe menama reká” e’i erimba’e kunhã o sy supé. Kunhã
semiré, mosapyr pé repîáki. “Umãba’epe inaîé rapé?” e’i opy’amongetábo. I tyb
inhambuaba amõ pé resé. “Ne’ĩ, kûéiba’e” e’i ogûatábo.
I gûatá riré, amõ gûãîbĩ roka supé i gûasẽmi. “Endépikó inaîé sy?” e’i
oporandupa i xupé. “Eẽ” e’i gûãîbĩ. “Aîur gûimendápotá nde membyra resé” e’i
kunhã i xupé. “Xe membyra i nharõ. Eîori enhemima” e’i kunhã supé o emo’ẽmamo.
Gûãîbĩ nda inaîé sy ruã. Sarigûéte i membyra. Karúkeme, i membyra rúri. Sembîara
gûyra’ĩ. Gûãîbĩ gûyra’ĩ moîybiré, “eîori ekarûabo” e’i kunhã supé. Sarigûé sesãî
kunhãporanga repîaka. Kunhãte ndi apysýki “nde kating” o’îabo sarigûé supé.
Ko’eme, “ne’ĩ, asó ikó gûiîepe’abá” kunhã i ‘éû oîebyre’yma. A’e riré, kunhã
oîpysyrõ amõaé pé. Kunhã osepîak amõ gûãîbĩ roka pé rupi. “Endépikó inaîé sy?”
e’i oporandupa i xupé. “Eẽ” e’i gûãîbĩ. “Aîur gûimendápotá nde membyra resé” e’i
kunhã i xupé. “Xe membyra i nharõ. Eîori enhemima” e’i kunhã supé o emo’ẽmamo.
Gûãîbĩ nda inaîé sy ruã. Yrybúte i membyra. A’e riré, yrybu rúri o embîara reru:
ybyrasoka. Gûãîbĩ sembi’urama oîapó ybyrasoka pupé. “Eîori ekarûabo” e’i kunhã
supé. Yrybu sesãî kunhãporanga repîaka. Kunhãte ndi apysýki yrybu katinga resé.
Té, kunhã oîabab amõaé pé pysyrõmo.
Aîpó pé rupi, gûãîbĩ roka supé i gûasẽmi. “Endépikó inaîé sy?” e’i
oporandupa i xupé. “Eẽ, xe membyra inaîé” e’i. “Aîur gûimendápotá nde membyra
resé” e’i kunhã. “Eîori enhemima. Xe membyra i nharõeté” e’i gûãîbĩ. Karúkeme,
inaîé rúri o embîara reru: gûyrá’ĩ. I xy gûyrá’ĩ oîmimõî. “Eré xébo, xe membyr”, e’i
oporandupa gûãîbĩ, “mamõygûara rúrememo, marã erémope i xupé?” “Eîori
ekarûabo oré irũnamo.” Nã e’i inaîéangaturãma. “Eîori, kunhã îu, ekarûabo oré
irũnamo” e’i gûãîbĩ senõîa. Inaîé sesãî kunhãporanga repîaka. Kunhã i apysyketé
inaîé kuapa resé.
Ko’eme, yrybu our sókype kunhã reká. Inaîégûasú oîakab yrybu saboka. A’e
riré, yrybu îababi, kunhãte opytá inaîé remirekóramo oína.
“Estou com fome. Que eu saia procurando meu futuro marido” disse uma vez
uma mulher para sua mãe. Depois da saída da mulher, viu ela três caminhos. “Onde
está o caminho do inajé?” pensou. Tinha penas de inhambu sobre um caminho. “Eia,
ali está” disse caminhando.
Depois de caminhar, encontrou a casa de uma velha. “Você é a mãe do inajé?”
perguntou a ela. “Sim” disse a velha. “Venho para me casar com seu filho” disse a
mulher a ela. “Meu filho é bravo. Venha se esconder” disse à mulher mentindo. A
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Tupi Antigo – A Língua da Costa do Brasil em 1500 © Ariel L. de O.
velha não era a mãe do inajé, mas seu filho era o saruê. De tarde, seu filho veio. Sua
caça eram passarinhos. Depois da velha cozinhar os passarinhos, chamou a mulher
para comer. O saruê estava feliz vendo a moça bonita. Mas a mulher não estava
satisfeita e disse que o saruê era fedido.
De manhã, a mulher saiu para apanhar lenha e não voltou. Depois disso, a
mulher escolheu o outro caminho. A mulher viu a casa de uma velha no caminho.
“Você é a mãe do inajé?” perguntou-lhe. “Sim” respondeu a velha. “Venho para me
casar com seu filho” disse-lhe a mulher. “Meu filho é bravo. Venha se esconder” disse
à mulher mentindo. A velha não era a mãe do inajé. Mas seu filho era o urubu. Depois
disso, veio o urubu trazendo sua caça: vermes. A velha fez a sua comida com os
vermes. “Venha comer” disse à mulher. O urubu estava feliz vendo a moça bonita.
Mas a mulher não gostou do fedor do urubu. Bem, a mulher fugiu escolhendo o outro
caminho.
Por aquele caminho, encontrou a casa de uma velha. “Você é a mãe do inajé?”
perguntou-lhe. “Sim, meu filho é o inajé” disse. “Venho para me casar com seu filho”
disse a mulher. “Venha se esconder. Meu filho é muito bravo” disse a velha. De tarde,
o inajé veio trazendo sua caça: passarinhos. Sua mãe cozeu os passarinhos. “Diga-me,
meu filho”, perguntou a velha, “se viesse alguém de longe, o que você diria?” “Venha
para comer conosco.” Assim diz o inajé gentil. “Venho, ó moça, para comer conosco”
disse a velha chamando-a. O inajé estava feliz vendo a mulher bonita. A mulher ficou
muito feliz por conhecer o inajé.
De manhã, o urubu veio para a sua casa procurando a mulher. O grande inajé
brigou com o urubu depenando-o. Depois disso, o urubu fugiu, mas a mulher ficou
como esposa do inajé.
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