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TCC 11.12 Impressao Taisa
TCC 11.12 Impressao Taisa
Três de Maio/RS
2022
TAÍSA EDUARDA WEDDIGEN
Três de Maio/RS
2022
Aos meus pais, Clério e Clarice, dedico
este trabalho, pois sem vocês nada disso
seria possível.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, agradeço pelo apoio durante estes cinco anos de
graduação, por acreditarem cegamente em meu sucesso, me incentivando
quando eu mesma deixei de crer. Aos meus amigos, agradeço por
compreenderam a minha ausência e por terem ressignificado nossa amizade,
que hoje se fortalece a cada momento que passamos juntos. Aos professores da
instituição, agradeço por terem feito parte da minha caminhada acadêmica,
auxiliando cada um à sua maneira, em meu crescimento pessoal e profissional.
À minha orientadora Danielli Regina Scarantti, agradeço pela paciência e
atenção ilimitada. Pelos ensinamentos que transmitiu no decorrer deste ano e
pela dedicação que coloca em todas as coisas que faz. Existem pessoas que
passam por nossas vidas e nos mudam completamente, tenho certeza que não
sou a mesma pessoa que era quando entrei na graduação, pois no decorrer dela
admirei muitas pessoas e a admiração nos muda, nos faz querer evoluir. Hoje
eu admiro muitas pessoas e especialmente a minha orientadora, que não mediu
esforços para me auxiliar em todos os momentos.
“A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano
da razão; começo a suspeitar que é um continente.”. – Machado de Assis
RESUMO
LISTA DE GRÁFICOS
INTRODUÇÃO
que o Estado tem o dever de garantir à população o acesso à saúde, pois este
está diretamente relacionado à vida e à dignidade da pessoa humana.
(FERREIRA, 2020). Conceitualmente, os direitos sociais “são direitos que
garantem a eficácia e a supremacia do princípio da dignidade da pessoa
humana”. (FERREIRA, 2020, p. 31).
O Preâmbulo da Constituição Federal já demonstra a preocupação do
constituinte em fornecer a justiça social, o que se reforça ainda mais pelos
princípios fundamentais elencados no texto constitucional, no qual se destaca a
dignidade da pessoa humana. O referido princípio possui grande força, pois se
conecta com diversos outros preceitos normativos, assim como o direito à saúde,
à alimentação, à moradia e entre outros. (SARLET; MARINONI; MITIDIERO,
2021).
Nesse viés, ressalta-se que:
Tais direitos foram vistos por muito tempo como sendo meramente
programáticos, ou seja, não possuíam caráter prestacional, assim como os
direitos fundamentais de primeira geração. O Estado não estava vinculado à
prestação do direito à saúde, pois a Constituição apenas elencava as ações que
deveriam ser realizadas e não obrigava o Estado a observá-las. Tais direitos
eram compreendidos como sendo apenas uma faculdade e não um dever.
(FERREIRA, 2020).
Dito isso, faz-se necessária uma análise acerca da evolução do direito
constitucional à saúde ao longo dos anos, com o fito de demonstrar quais foram
as principais mudanças sofridas pelo referido direito e como os seres humanos
lidaram com isso ao passar dos anos. A saúde ocupava um papel importante na
vida dos indivíduos antes mesmo de ser compreendida como algo fundamental,
assim como se demonstrará no tópico que segue.
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1https://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/mineira-que-lutava-para-receber-remedio-de-
alto-custo-do-estado-morre-apos-seis-anos-esperando-decisao-que-ainda-tramita-no-stf.ghtml
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Nesse sentido, necessária a observância dos custos dos direitos, pois não
basta a implementação de diversas políticas públicas e infindáveis direitos
prestacionais sem que haja a contraprestação estatal e um planejamento
econômico apto a suprir essas demandas. A distribuição dos recursos
orçamentários deve ser realizada de forma racional, visando atingir os direitos
fundamentais estabelecidos constitucionalmente. (FREITAS, 2018). “Além disso,
as políticas públicas relativas ao direito à saúde deverão ser executadas
integralmente, sob pena de o ente responsável incorrer em omissão”.
(CARVALHO; FARIA; OLIVEIRA, 2020, p. 93).
As necessidades da população ultrapassam os recursos públicos e os
valores que seriam destinados para a aplicação de políticas públicas. A
Constituição Federal prevê a realização de prestações que promovam a
população o mínimo existencial, visando fornecer-lhes uma vida com dignidade.
Entretanto, o Estado não possui os recursos necessários para garantir
integralmente estes direitos, o que acarreta a latente necessidade de realizar
escolhas, administrando os recursos limitados e por vezes utilizando-se da
aplicação da reserva do possível. (FREITAS, 2018).
O Estado tem o dever de garantir o mínimo existencial a população,
fornecendo prestações de caráter emergencial. Entretanto, se deve levar em
conta que a abrangência de tais prestações é diretamente proporcional aos
recursos públicos disponíveis. Nascendo deste impasse a utilização do princípio
da reserva do possível em detrimento ao mínimo existencial dos cidadãos e a
garantia da dignidade da pessoa humana. (PAIXÃO FILHO, 2020). “Assim
sendo, quando se tratar do caráter individual do direito à saúde, essa garantia
não poderá ser negada ao cidadão, ao argumento de que viola o preceito de
universalidade da saúde”. (CARVALHO; FARIA; OLIVEIRA, 2020, p. 95).
O princípio da reserva do possível pode ser utilizado para restringir o
fornecimento de direitos fundamentais, tais como os medicamentos e os
tratamentos médicos. No entanto, caberá a observância do mínimo existencial
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outros direitos. Outro ponto a ser levado em conta é o caráter sensível das ações
de saúde, por se tratarem de prestações relacionadas a manutenção da vida,
fazendo-se necessário que o magistrado deixe de lado os aspectos emocionais
e julgue com a razão. (CURY, 2020).
Não se pode deixar de considerar que o Sistema Único de Saúde fornece
diariamente a população uma vasta gama de atendimentos assistenciais.
Inclusive, a implementação do sistema modificou demasiadamente o tratamento
da saúde no Brasil, assegurando a população o acesso universal, igualitário e
descentralizado a atendimentos médicos, ambulatoriais, assistenciais e entre
tantos outros dispendidos pela ferramenta. (PIVETTA, 2022).
O Sistema Único de Saúde possui um papel de grande relevância quando
se fala em fornecimento de medicamentos e tratamentos médicos, sendo uma
ferramenta indispensável para o tratamento e recuperação da saúde dos
brasileiros. No entanto, mesmo considerando todas as atividades dispendidas
pelo Sistema Único de Saúde não a como despender administrativamente todos
os tratamentos e medicamentos necessários para salvaguardar a vida dos
cidadãos. Diante disso, faz-se necessária a judicialização do acesso à saúde.
(DUARTE; VIDAL, 2020).
Considerando a latente expansão do rol de direitos sociais, trazida pela
Constituição Federal de 1988, foi necessária uma readequação da infraestrutura
utilizada para o fornecimento das políticas públicas. As limitações financeiras do
Estado para a aplicação universal dos direitos fundamentais, em especial o da
saúde, fez com que o Poder Judiciário ingressasse nas demandas para o fim de
determinar a concretização do acesso à saúde. (BUCCI; DUARTE, 2017).
As ações relacionadas à saúde começaram a tomar espaço no Poder
Judiciário, com fundamento no artigo 196 da Carta Magna. Isso porque, as
pessoas começaram a solicitar tratamentos e medicamentos, pois o tinham como
direito subjetivo. As demandas para o tratamento do HIV foram as primeiras a
tomar espaço no Judiciário, logo após a promulgação da constituição cidadã. O
custo dos chamados “coquetéis antivirais”, utilizados para o tratamento da
doença possuíam um valor muito alto, impossibilitando que muitas pessoas o
adquirissem, surgindo daí a necessidade de judicializar as demandas.
(MOURÃO; HIROSE, 2019).
Sobre a judicialização do tratamento do HIV, é importante ressaltar que:
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o judiciário por vezes deixa de observar as limitações dos orçamentos que são
despendidos para cada setor. (CARVALHO; FARIA; OLIVEIRA, 2020). “Isso,
pois, desconsidera o fato de que essas políticas públicas foram definidas pelo
Poder Executivo num cenário orçamentário específico”. (CARVALHO; FARIA;
OLIVEIRA, 2020, p. 82).
O Poder Executivo possui a incumbência de realizar a implementação das
políticas públicas, utilizando-se da receita tributária disponível. De outro norte, o
Poder Legislativo irá gerir os recursos públicos disponíveis, realizando a gestão
das receitas e definindo qual será a verba destinada a implementação das
políticas públicas, por exemplo. (CARVALHO; FARIA; OLIVEIRA, 2020, p. 82).
O Poder Judiciário, a seu turno, ingressará nas demandas quando acionado,
com o fito de efetivar o acesso aos direitos fundamentais, quando da falta de seu
fornecimento.
Sobre o assunto, traz-se à baila a questão da separação dos poderes,
considerando que na situação narrada acima o Poder Judiciário estaria
invadindo as competências do Poder Executivo. Assim, o judiciário, na medida
em que estaria efetivando direitos prestacionais previstos na Constituição,
também estaria adentrando na atuação do executivo. Ainda, a de se dizer que
um dos motivos para o exorbitante número de demandas relacionadas à saúde
que são ingressadas no Poder Judiciário decorre da ineficácia do fornecimento
dos tratamentos pelo Poder Executivo, responsável por administrar e fornecer as
políticas públicas. O fenômeno da judicialização do acesso à saúde decorre da
previsão constitucional que não somente implementa as políticas públicas, mas
também obriga o Estado a fornece-las aos cidadãos. (CURY, 2020).
A aludida apelação foi interposta pelo Estado do Rio Grande do Sul e pelo
Município de Cachoeira do Sul, em face de sentença que julgou procedente o
pedido formulado por Bruna Marques da Silva, que postulava o fornecimento dos
tratamentos acima referidos. A decisão fundou-se no entendimento de que a
saúde é direito de todos e dever do Estado, não havendo ofensa ao princípio da
reserva do possível, posto que prevalece, no presente caso, o direito humano à
saúde.
Salientou-se, ainda, a existência de documentos que comprovam a
necessidade de fornecimento do tratamento postulado pela apelada, visto que a
ausência de sua realização poderia causar significativos danos à saúde da
paciente. Ressaltando-se, quanto a isso, que não se fez necessária a
demonstração de risco à vida para o deferimento do atendimento cirúrgico, mas
apenas a comprovação de risco a saúde, o que restou comprovado no presente
caso.
A terceira argumentação mais expedida pelo TJRS diz respeito ao
fornecimento de medicamentos de alto custo, havendo, no período analisado, 3
(três) ementas nesse sentido. O Tribunal entende que o alto custo dos
medicamentos não é argumento capaz de afastar a necessidade de
fornecimento dos fármacos, tendo em vista que a saúde é direito fundamental
assegurado pela Constituição Federal, direito este vinculado diretamente com a
dignidade da pessoa humana.
Foi realizada, ainda, a análise da decisão da Apelação Cível n° 500026-
54.8.2017.8.21.0037, proferida pela Oitava Câmara Cível do Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul, pelo Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos, no dia 03
de fevereiro de 2022, nos autos de medida de proteção de internação
compulsória requerida pelo Ministério Público em favor de Zilá, a qual foi julgada
procedente para o fim de determinar a internação da protegida na Casa Flores
de Maria. Ementa abaixo colacionada:
Constou no julgado que o direito a saúde deve ser assegurado pelos entes
públicos: federal, estadual e municipal, conforme o art. 23, II, e art. 198, § 1°,
ambos da Constituição Federal. Entendimento fundado na responsabilidade
solidária dos entes. Ainda, argumentou-se que a saúde dos cidadãos deve
prevalecer sobre o direito patrimonial do Ente Público, porquanto elementar à
vida e a dignidade da pessoa humana.
Com a análise constatou-se que o Tribunal de Justiça de Santa Catarina
firma-se no entendimento de que a saúde deve prevalecer em detrimento aos
interesses patrimoniais dos Entes Públicos. Gize-se, ainda, que não foram
localizadas ementas que se utilizaram da cláusula da reserva do possível para
indeferir o fornecimento de medicamentos e tratamentos médicos. Isso
considerando os julgados proferidos no período pesquisado.
de fevereiro de 2022, pela Relatora Manuela Tallão Benke, decidiu pela não
aplicação do princípio da reserva do possível em detrimento ao acesso a
tratamento de retinopatia diabética com edema macular em ambos os olhos.
Segue a ementa:
CONCLUSÃO
constatar que nenhum dos Tribunais utilizou o princípio analisado para indeferir
prestações relacionadas à saúde, durante o período pesquisado.
Com presente a pesquisa se pode auferir quais são os parâmetros
utilizados pelos Tribunais de Justiça do Sul do pais quando se trata da aplicação
da cláusula da reserva do possível em ações que postulam pelo acesso à saúde.
A dignidade da pessoa humana é um do argumento comumente utilizado, sendo
uma das principais correspondências verificadas nas decisões expedidas pelos
três Tribunais durante a análise. Pode-se perceber que o Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul utilizada o princípio com mais frequência do que os outros,
possuindo, por este motivo, argumentações diversas quando se trata da reserva
do possível. Os outros dois Tribunais, em que pese utilizem-se do argumento, o
fazem com menos frequência.
A partir disso pode-se responder ao questionamento inicialmente realizado,
acerca da constitucionalidade ou não da utilização do princípio da reserva do
possível para suprimir o acesso à saúde aos cidadãos. Como se viu acima, os
Tribunais de Justiça do Sul do país entendem pela não utilização do princípio
quando se fala o acesso à saúde, bem como que para a supressão deste direito,
o Estado precisaria estar devidamente motivado, não bastando a mera alegação
genérica de insuficiência de recursos.
Por outro lado, é necessário esclarecer que cada situação deve ser
analisada de acordo com as suas peculiaridades, posto que o acesso à saúde é
um assunto delicado, que perpassa por diversas outras questões. Como
estudado, o orçamento público é limitado e a má gestão da receita tributária
existente acaba por retirar dos cidadãos o acesso a outros direitos fundamentais,
visto que não se pode fornecer a todos tudo aquilo que necessitam. Por este
motivo pesquisas sobre o assunto se fazem necessárias, visando discutir o
direito à saúde e sua aplicação prática, dada a complexidade da temática.
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REFERÊNCIAS
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2016. Disponível em:
<https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclus
ao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=4149200>. Acesso em:
08 maio 2022.
CARVALHO, Silzia Alves; FARIA, Carolina Lemos de; OLIVEIRA, Antônio Flávio
de (Coord.). Processo e políticas públicas de acesso à justiça. Belo
Horizonte: Fórum, 2020.
IBGE, Agência. PNS 2019: sete em cada dez pessoas que procuram o mesmo
serviço de saúde vão à rede pública. 2020. Disponível em:
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-
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procuram-o-mesmo-servico-de-saude-vao-a-rede-publica>. Acesso em: 09 out.
2022.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 37. ed. São Paulo: Atlas, 2021.
MOTTA, Sylvio. Direito Constitucional. 29. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021.
<https://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/html.do?q=&only_ementa=&frase=&id=
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28 ago. 2022.