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at eS ANTIFASCISTAS FASCISTAS ctxccmostice. PAVINATTO ANTIFASCISTAS FASCISTAS: UM MUSSOLINI QUE NAO OUSA DIZER O SEU NOME Na qualidade de cientista das palavras e das ideias, convém, a fim de comprovar, com absoluta honestidade, o Fascismo daqueles que se autointitulam antifascistas, beber da nascente e nao da agua ainda que nos chegue engarrafada. Como académico, nao posso ignorar os classicos e, por essa razao, devo comegar este capitulo com um certo livrinho em méaos; um livrinho bem menor que este pequeno livro que me propus a escrever. Em maos, Dottrina del Fascismo, de Benito Mussolini. Muito embora a ideia fundamental, a filosofia do Fascismo (e ha quem diga sejao Fascismo uma antifilosofia, tamanha a sua adaptabilidade e capacidade de acomodagao e desenvolvimento em todo tipo de situagao, mesmo nas situagdes mais antag6nicas e heterogéneas entre si), tenha sido construida pelo fildsofo Giovanni Gentile (nomeado Ministro da Educa¢cao italiano por Mussolini), contetdo ideal que representaria uma espécie de equacao da verdade, a doutrina da sua pratica politica e social foi escrita de prdprio punho pelo Duce, que pode ser apontado, assim, como o inventor tanto do fascismo quanto do Populismo moderno. Antes de qualquer aparato pratico como a organiza¢gao partidaria, militar ou de um sistema educacional, ° fascismo apresenta-se como uma concep¢ao da propria vida, um dogma sobre a razao da existéncia humana neste mundo no que revela, portanto, sua genética comunista (chocadeira ideoldgica de Mussolini). A arte do bem viver, assim, requer a supressao do prazer para uma continua e ininterrupta observagao do dever; a arte do ser atrela-se ao habito do abnegar, de sacrificar os prdprios interesses privados. Nesse sentido, traduzo as palavras de Mussolini e Gentile no item VII da primeira parte da Dottrina: “Anti-individualista, a concessdo fascista é pelo Estado; e é para o individuo enquanto coincidir com o Estado (..). E contra o liberalismo classico (...) que negava o Estado no interesse do individuo; o Fascismo reafirma o Estado como a _ realidade verdadeira do individuo. E se a liberdade deve ser um atributo do homem real, e nao daquele fantoche abstrato do liberalismo individualista, o Fascismo é pela liberdade. (...) O Estado fascista, sintese e unidade de todos os valores, interpreta, desenvolve e potencializa toda a vida do povo.” OO Fascismo transmite com mais simplicidade um ideal gémeo aquele construido por Marx, e o fascista se declara um inimigo do socialista nao porque sao antag6nicos, mas, na realidade, porque sao rivais. Ambos os ideais, Fascismo e Comunismo, sao gémeos; compartilham o mesmo Utero: A Republica, de Platao (o titulo A Republica 6 uma escolha arbitraria latina para uma palavra grega que nao tem nenhuma conotagdao deste género; uma tradugao mais correta seria A Constituinte ou A Cidade-Estado ou, ainda, O Estado). A fundamentagao da afirmagao acima ea demonstragcao da relagao intima entre Platonismo, Marxismo e Fascismo encontram-se no primeiro volume de A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos, de Karl Popper (5. ed., Edigdes 70, 2018): Platao, Marx e Mussolini sao exemplos de historicistas; os trés abracam, irresponsavelmente, profecias histdricas de carater generalista que estao inteiramente fora do alcance do método cientifico. Ou seja, o Historicismo é, conforme Popper, um habito perigoso da profecia histdrica ainda difundido entre os nossos lideres intelectuais; uma rea¢gdao contra as pressdes da nossa civilizaga€o e a sua demanda crescente por responsabilidade pessoal. Em apertada sintese, o Historicismo prega que a Histéria 6 dominada por determinadas leis histdricas ou evolutivas cuja descoberta nos permitiria profetizar o futuro do homem. vi Disso decorre que uma vertente historicista naturalista vai tratar a lei da evolug¢ao como uma lei da natureza; a espiritual, como lei da evolu¢ao espiritual; ja um historicismo econdémico, como uma lei da evolucao econémica. Popper ensina que Hesiodo foi o primeiro grego a introduzir uma doutrina mais marcadamente historicista influenciado por fontes orientais: através de uma interpretagdo pessimista da __ historia, acreditava que a humanidade, na sua evolugaéo a partir de uma Idade de Ouro, estaria destinada a degenerar, tanto fisica como moralmente. Com Heraclito, estrutura-se a doutrina do povo eleito através da _ interpretacdo politeista de Homero: a Histdria como produto da vontade divina, mas cujo destino ultimo nao se revela; quer dizer, contrapée ao fatalismo direto de Hesiodo a ideia da mudan¢a fatal. Nesse sentido, os escritos de Parménides, Demiocrito, Platao e Aristételes podem ser entendidos como tentativas de resolver os problemas desse mundo em mudanca que Heraclito descobrira. Heraclito era herdeiro da familia real de reis-sacerdotes de Efeso e a sua teoria da mudanga deu expressao a esse sentimento de perda da estabilidade e da rigidez na vida social; de uma _ aristocracia tribal, determinada que era por tabus sociais e religiosos, na qual toda gente ocupa o lugar que lhe foi atribuido no conjunto da estrutura social e na qual todos sentem que o lugar que ocupam é, de fato, o seu lugar mais apropriado, o seu lugar natural neste mundo (lugar atribuido pelas forgas que governam este mundo). Dai a _ sua resisténcia inconsciente a ideia de mudanga, teoria levada a Estado da Arte pelas mdos de Platao. Platao viveu num periodo de guerras e discdrdia politica ainda mais agitado do que aquele que perturbara Heraclito. Na sua juventude, a derrocada da vida tribal dos gregos conduzira a um periodo de tirania vi em Atenas, sua cidade natal, e, mais tarde, ao estabelecimento de uma democracia que tentou proteger-se contra um novo governo das principais familias aristocraticas e tiranas (contra a sua inclusive). Nascido durante a guerra, Platao tinha perto de 24 anos quando ela acabou. A guerra trouxe epidemias terriveis e, no seu ultimo ano, a fome, a queda da cidade de Atenas, a guerra civil e um reino de terror, normalmente designado por governo dos Trinta Tiranos; estes eram dirigidos por dois tios de Platao, que perderam, ambos, a vida, na tentativa va de defenderem o seu regime contra os democratas. Seu mestre, Socrates, foi julgado e executado por esses mesmos democratas. Mais tarde, em sua primeira visita a Sicilia, Platao viu-se envolvido nas intrigas politicas tecidas na corte de Dionisio, o Velho, tirano de Siracusa, € mesmo depois do seu regresso a Atenas e da fundacao da sua VIL propria Academia, continuou a tomar parte ativa e, em Ultima analise, fatal nas conspirac6es e revolucdes de que era feitaa politica de Siracusa. Através de sua obra e tal como Heraclito, Platao reduziu a sua experiéncia social a uma lei da evolucao historica e, segundo essa lei, toda mudanga_ social foi considerada corrup¢gao, decadéncia ou degeneracao. A unica salvagao estaria na vinda de um grande legislador cujos poderes de raciocinio e vontade moral seriam capazes de pdr termo a esse periodo de decadéncia politica. Platao acreditava que a lei do destino universal, a lei da decadéncia, poderia ser quebrada pela vontade moral de um sd homem, o engenheiro social da Providéncia, capaz de estabelecer um Estado tao perfeito que nao poderia ser degenerado. Na Republica, a forma de sociedade que mais se aproxima da Forma ou Ideia de um Estado (o melhor dos Estados) é 0 reinado VIII dos sabios e mais divinais dos homens. Essa cidade-estado ideal esta tao perto da perfeicao que é dificil compreender como pode alguma vez mudar. O programa politico de Platao, longe de ser moralmente superior ao totalitarismo, élIhe fundamentalmente idéntico, pois o seu Fildsofo-Rei ja nao €@ oO modesto pesquisador, mas o orgulhoso detentor da verdade, pois esta proximo da onisciéncia e da onipoténcia - e ninguém, a nao ser o proprio Platao, conheceria o segredo da verdadeira ciéncia para a construcéo de um Estado perfeito em que cada cidadao seja realmente feliz. Tal como Platao, Mussolini via, diante do espelho, o Homem da Providéncia e, por esse motivo, definiu o Fascismo, em oposigéo a doutrina liberal, como uma democracia organizada, centralizada e autoritaria no item VII da segunda parte da sua Dottrina, segundo a qual, ja mencionei, o Estado é absoluto. Ora, que posso eu dizer de uma militancia que se reputa antifascista e, para tanto, investe autoritariamente contra o direito do voto livre e secreto, qualificando como correta, boa e democratica apenas uma unica escolha dentre todas as alternativas legitimas? Que, tal como Mussolini, anseiam por uma democracia autoritaria. Mais ainda: que posso eu pensar do lider ungido por tais antifascistas quando ele comemora o fato de a natureza ter criado o Coronavirus e, assim, permitido que até os cegos enxergassem que apenas o Estado é capaz de solucionar os problemas naturais da exist6éncia Numana? Que, tal como Mussolini, vé o Estado como Unico ente capaz de desenvolver e potencializar toda a vida do povo. Por fim, se esse lider se arvorar em autoelogios, apresentando-se como Unico, incomparavel, primus inter pares, nao poderei concluir outra coisa: tal como Mussolini, esse lider se vé e € visto como o Homem da Providéncia. E indisfargavel, portanto, o espirito fascista desses_ antifascistas que patrulham pensamentos e palavras, atos e omissdes, sempre com implacavel ira, desde a corrida eleitoral presidencial brasileira de 2018, cujo cenario acabou por se repetir quatro anos depois. Todavia, falar em Fascismo dos antifascistas nao € novidade nacional. Trata-se da expressaéo do absurdo ja observada e criticada na Hist6ria moderna por marxistas de envergadura como o polémico Pier Paolo Pasolini, que identificava o novo Fascismo como uma forma de prepoténcia pelo poder, especialmente de setores autointitulados antifascistas na_ Italia, durante a década de 1970 (II fascismo degli antifascisti, Garzanti, 2018). Seus textos se voltavam, ¢€ claro, contra aquilo que chamava de neocapitalismo e o ideal da sociedade de consumo entao nascente; embora sua artilharia estivesse voltada XI contra o Fascismo daqueles que chamava de demo cristos, nado deixou de langar pedras contra liderangas comunistas de seu tempo (nominalmente Belinger, precursor do movimento antimanicomial no mundo), os quais, por minha conta e risco, passo a denominar demo comunistas. Na esteira de Pasolini, o fendmeno do Fascismo antifascista decorre da brusca transigado de uma cultura arcaica para uma cultura moderna massificada no consumo, cultura que 0 fortifica e catalisa, bem como traz a tona toda forma de analfabetismo e corrompe o humanismo. Logo, se somente as palavras contam, pode-se reconhecer a essa militancia a qualidade antifascista; mas, se, contudo, o que conta sao os fatos, entao a resposta so pode ser negativa: nao serao antifascistas, pelo contrario. Diante desse cenario, fascistas e antifascistas tornaram-se intercambiaveis, iguais em seus comportamentos, sem diferencas expressivas a nao ser aquelas XII que emergem das gesticulacdes durante um esquema eleitoral natimorto. Cultural- mente, psicologicamente, somaticamente... nao ha nada que distinga os atuais fascistas dos antifascistas a nao ser uma decisao ap- rioristica e abstrata que, mesmo assim, deve ser dita em voz alta ou escrita com simplici- dade eclareza sob o risco de acabar descon- hecida. Quando um antifascista discursa e ataca em “defesa” da sua democracia autoritaria, quando ofende, marca e ostraciza aquele que nao adere ao seu plano Unico antifas- cista, comporta-se conforme o raciocinio a gauche de Pasolini, como um racista (predi- cado indispensavel ao fascista). A creng¢a do antifascista de que aqueles que nao se sub- metem ao seu ideal estao racialmente fada- dos a serem fascistas e que, portanto, devem ser, inevitavel mente, representantes do mal, é, ao fim € ao cabo, a mesma creng¢a que motiva e orienta qualquer fascista. Nao importam nomenclaturas de ideolo- xlll gias, nem direita nem esquerda nem centro, os fascistas sempre estardo no poder, no Governo. Elasticos, podem se co- locar em qualquer posi¢ao e, dessa maneira, os fascistas sempre estarao seguros da sua vitéria avassaladora. Tao seguros que even- tual derrota sera, necessariamente, alardea- da como golpe. Ao lado dos fascistas nominais (puros e auténticos nazistas), tanto os “democris- taos” quanto os “democomunistas” que reivindicam para si e somente para si, a luta antifascista nado passam, acompanhando ainda os escritos de Pasolini, de fascistas com ar de donas de casa que aquecem coragédes com sorrisos sinceros de uma velha felicidade campesina. Esses Mussolin- is que nao ousam dizer o nome apropri- am-se da dignidade popular, dos valores mais caros ao seu eleitorado e, degradan- do-os, nele inserem o medo: a ideia fascista de que so havera justicga, paz e prosperidade através daquilo que pregam e exigem (e da maneira que exigem). XIV Cativo, esse eleitorado composto de desti- natarios de boa-fé, aceita participar de um jogo que é praticado de ma-fé por quem nao sabe jogar e, assim, cria um comporta- mento tétrico forg¢ado. Olhando para a corrida presidencial brasilei- ra de 2022, o que se vé, na esséncia, € 0 mesmo que se viu quatro anos antes: direita e esquerda jogam, cada um ao seu estilo, para a criagaéo de comportamentos forca- dos do eleitorado através de atos de terroris- mo ideolégico cruzado (de um lado, o perigo do totalitarismo comunista e, de outro, o perigo do totalitarismo fascista, per- doem-me a redundancia), sob a justificativa antidemocratica de que sao os Unicos ca- pazes de bem exercer 0 poder e promover a justica. Trata-se de Fascismo cruzado e quase igualmente condenavel — “quase”, pois, a esquerda, o rdétulo antifascista merece uma condenagao adicional quando promove a intolerancia disfargada de tol- erancia, que acaba subvertida e, porque € essencial a democracia, subverte todo o XV regime. Umberto Eco, em conferéncia proferida na Columbia University em abril de 1995, alerta- va para o chamado Fascismo Eterno. Ele era crianca quando, cinquenta anos antes, em abril de 1945, os partigiani executaram Mus- solini e tomaram Milao; naquele ano, diz ter “aprendido que liberdade de palavra signifi- ca libertar-se da _ retdrica” (O Fascismo Eterno, Record, 2018, p. 11). Conta a historia de Franchi, seu herdi preferido da libertacao. italiana, da resisténcia antifascista e cujo nome verdadeiro era Edgardo Sogno, que, depois disso, foi acusado de participar de um golpe de Estado reacionario. Ensina Eco que, enquanto 0 nazismo é, nec- essariamente, pagao, politeista e anticris- tao, o Fascismo, ao contrario, permite jogar de muitas maneiras sem que mude o nome do jogo. Diante dessa percep¢ao fatica, ele apresenta uma lista de catorze caracteristi- cas fascistas que podem, inclusive, ser con- traditorias entre si, mas que, mesmo isola- XVI damente, sao suficientes para indicar a for- magao de uma nebulosa fascista em um determinado sistema. Sao elas: oculto a tradigao; a recusa da modernidade; o culto da acao pela acao (irracionalidade); a contrariedade como trai¢ao; a busca da unicidade e o medo da diferenga; o apelo as frustragées populares; o privilégio da nacionalidade e a obsessdo pela conspiracgao internacional; - Aexploracao do sentimento de humilhacao dos seus adeptos diante da riqueza ou da forca do inimi- go; a substitui¢ao da lei natural da luta pela vida e pela ordem da vida para a luta; o elitismo popular; a cultura do heroismo; a exploracdo das questées sexuais; o lider como intérprete da vontade popular; e, fi- nalmente, a novilingua, ou seja; a reducao argumentativa at- ravés de um léxico pobre e de sintaxe elementar a fim de limitar 0 raciocinio complexo e critico. XVII Logo, Umberto Eco conclui que o Fascismo pode resistir ao tempo e se apresentar com as vestes mais inocentes, sendo nossa a missao (também eterna) de desmascarar os fascistas disfarcados. E o caso dos nossos antifascistas. Em entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo (06.08.2022, p. Cl e C3), o escritor italiano Antonio Scuratti, autor da aclamada trilogia biografica de Benito Mussolini em forma de romance documental, é enfatico ao afirmar que: "A habilidade politica de Mussolini é inques- tionavel. Foi o primeiro a pressentir 0 que a politica se tornaria na era das massas, e fez uso inescrupuloso dessa intuicao. Ele nao foi apenas o fundador do fascismo, mas também o inventor do populismo, que ainda hoje é desenfreado. A expectativa de um “homem da providéncia”, ou seja, de um lider que promete resolver todos os prob- lemas com um gesto brusco, eliminando a XVIII complexidade da vida moderna, reduzin- do-a a uma oposi¢ao basica e brutal entre amigo e inimigo, faz parte da ilusdo e da seduc¢ao populista." Ora, que pensar do lider da esquerda anti- fascista brasileira, uma vez que foi ele (e nenhum outro politico na nossa Historia re- cente), o arquiteto do “nds contra eles” e, mais ainda, quando insiste em ser apresen- tado como “homem da providéncia” nas eleic¢des de 2022? Que pensar, por outro lado, da lideranga rival, beneficiario direto da cisdo social criada a partir do menciona- do lema “nos x eles” (habilmente transfor- mado em “comunistas corruptos x patriotas trabalhadores” e vulgarizado em “comunis- tas x fascistas”), e que se apresenta como unico capaz de derrotar esse “homem da providéncia”, qualificando-se também, ao fazé-lo, como “homem da providéncia’? Reconhecem-se, em muitas das agdes dos nossos politicos autointitulados “de direita” (especialmente quando exercem o poder), as caracteristicas do Fascismo; contudo, XIX esse fato, por si 6, Nao qualifica as agdes da oposi¢ao a esses politicos como “luta anti- fascista”. Tivéssemos garrafas de veneno nos cantos direito e esquerdo de uma ban- cada, continuariam sendo veneno mesmo sob o rétulo de vitamina; mas convém de- stacar que aquele que coloca o rdétulo de vi- tamina numa garrafa de veneno e a oferece para consumo € muito mais desumano; melhor seria que somente arrancasse da garrafa o rdotulo. llustrando de outro modo: um estupro nao deixa de ser um crime hediondo se, ao invés de usar palavras de baixo calao, o estupra- dor declamar sonetos de amor. ANTIFASCISTAS FASCISTAS citccmoStnone.

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