You are on page 1of 6
Printed by: 5097@MPDFT.edu. br. Printing is for personal, private use only. No part of this book may be reproduced. or transmitted without publisher's prior permission, Violators will be prosecuted. 9. INTERPRETACAO JURIDICA E LINGUAGEM: DE KELSEN A DWORKIN, UM POUCO DO JUIZHERCULES EMUITO DO JURISTA DAV! JOSE ROBERTO VIEIRA 4 preciso escolher @Woutiina que nos parega a melhor, a mis resistente 2 refutagao, Apoiandarnos nela, como numa pega de madeira que flutua, devernos navegar pela vida arrostando os perigas, até gue surja a oportuni- dade de encont¥tr alguma coisa maisforteeconfidvel..” (PLATAO)! “A linguagem é um deus ciumento giendo tolera que suas palavras sejam Yorhadas em vio, langando o pecadoy na confusto ena obscuridade” (KARL POPPER}? “Davi. Uma figura da qual ‘nada podemos dizer’ pois sempre se diz muito ‘mas ndo o bastante” (E. AMADO LEVY-VALENSI)* " Apud Kart R. Porrer, Conjecturas e Refutagées (0 Progresso do Conhecimento Cientifico), p. 279. 2 Ihidem, p. 45. * Daviiou Do Itinersrio, in Preeee Brunet (org), Dicionsrio de Mitos Litersrios, p.215. Printed by: 5097@MPDFT.edu.br. Printing is for personal, private use only. No part of this book may be reproduced or transmitted without publisher's prior permission, Violators will be prosecuted. ESTUDOS SOBRE A TEORIA PURA DO DIREITO 1. Hans Kelsen: Prestigio e Polémica Nascido em Praga, entio parte do Império Austro-Htingaro, em 11.10.1881; e falecido em Berkeley, BUA, em 11.04.1973, aos 91 anos; foi filésofo e jurista; e, em poucas palavras, além de membro da Suprema Corte Constitucional Austriaca, KELseN foi professor da Universidade de Viena, da Universidade de Colénia e, por tiltimo, da Universidade da Califérnia’, Embora seu critico, ARNALDO VASCONCELOS, o ex-professor cearense da UEC, reconhece que KELSEN, “..com seu extraordindrio cabedal de conhe- cimentos, marcou de modo indelével o inteiro espaco da cultura juridica do século passada” (grifamos)®. ‘Uma boa primeira explicagio encontra-se no juizdde Kart LaRENz, 0 antigo mestre da Universidade de Munique, de olhos postos em seu mais, conhecido livro: “A sua ‘teoria pura do Direito’ constitula mais grandiosa ten- tativa de fundamentagio da ciéncia do Direito como ciéncia... que 0 nosso -século veio até hoje « conhecer” (grifamos)°; E nao podemos, evidentementeyficat restritos 4 “Teoria Pura”, tio grande é 0 peso de todaa sua obrajha qual deparamos, como depde AGus- TiN SQUELLA NarDucct, o professor da Universidade de Valparaiso, “.. contribuciones al saber cientifieo tan importantes y valiosas, que su prestigio y validez perduran por afios y centurias — sino para siempre...’ De fato, o maior merecimento de KE1SEN esta na suaobfa, bem o sub- linha ITALo PAOLINELL! MONTr, o ex-professor chileno:“La obra de Kelsen ene! plano cientifico constituye, sin duda, el mérito mayor de este notable jurista, y ello no solo porla potterosa influencia ejercida a este respecto en cast todos los patses + AgimiaN SGarnt, Hans Kelsen (Teoria Pura do Direito) ~ Nota Biogrifica, Classicos de Teoria do Direito, p. 63; Haxs Krisex¢Gronologia de Hans Ketsey (1881-1973), ‘Autobiografia de Hans Kelsen, p. 113-121 * Teoria Pura do Direito: Repasse Critico de seus Principais Fundamentos, p. XIIL-XIY, © Metodologia da Ciéneia do Direito, p. 82 * Palabras Preliminares, in Cran Ox1va (ed.), Estudios sobre Hans Kelsen, p. 12. Na ‘mesma direcio, GutLteRMa’MOro Dominos: “rma das mais adminiveiscontribuigtes 0 Direto de todos os tempos” ~ Fundamentos Filos6ficos de Hans Kelsen na Teoria da Inter- pretagio de Normas Tributirias, in Deaerervs NicHeLt Mackt ¢ FRaNctsco Dr Assis E St.va (coord,),e Fernaxvo Gustavo KNorrne ANDREA ManiGHErTo (org.),Direito ‘Tributirio e Filosofia, p. 258. Printed by: 5097@MPDFT. edu. br. Printing is for personal, private use only. No part of this book may be reproduced, or transmitted without publisher's prior permission, Violators will be prosecuted. INTERPRETACAO JURIDICA E LINGUAGEM: DE KELSEN A DWORKIN, UM POUCO DO JUIz de la tierra, sino también, por los méritos objetivos que es posible verificar en dicha obra..." E o Prof. Paolinelli conclui sua avaliagio: “..un autor cuyo aporte a la ‘moderna filosofiajuridica ha sido comparado, con justicia, al que Kant, por su parte, realizé respecto de lafilosofia general” Justificam-se plenamente, pois, as palavras de TéRcto SAMPAIO FER- Raz Jr., da USP e da PUC/SP: “Hans Kelsen... foi um divisor de dguas para toda a teoria juridica contempordnea” (grifamos)”; palavras, alias, no mesmo sentido das de MiGueL REALE: “..Kelsen... a sua contribuigdo fileséfico-juri- dica funciona como uma espécie de Meridiano de Greenwich pata determinar 4 posigao dos nossos pensadores. E-se isto ou aquilo conform se esta mais perto ou ‘mais longe de Kelsen” (grifamos)°, Em suma, sio das mais eloquentes as apreciagdes de alguns dos mais respeitados juristas, sobre HANS KELSEN, ADRIAN SGARBI: “um dos maiores nomes da teoria juridica do século XX"", NORBERTO BowsIO: “.. un jurista de ta estatura de Kelsen - estatura, quigrase 0 no, imponente...", ROSCOE Pounn: “..incuestionablemente elptincipal jurista de su tiempo". MiGurt. REALE: “..maior juriscunsulto out... thaior jurisfilésofo do nosso século™* Horst Deter: *..0jurista do século™®. Contudo, como todgs os juristas de muito relevo, ele ni@'eScapou de controvérsias e censtiras, ¢ claro, mercé das teses que defenideu, das polé- micas que provotowe das criticas que atraiu, Entre Glas, alguns nitidos excessos, como o\de ALEXANDER HOLD-FERNECK:'“..sumo sacerdote do ‘culto monoteista do dever-ser”; ou como o de Cafe. Scumrtt: “Beato de um Palabrasdel Decano dela Facultad, in CLavo1d Ouiva (ed.), Estudios sobre... op. cit, p.15. ° Prologo: Por Que Ler Kelsen, Hoje?, irAnfo Utttoa Corto, Para Entender Kelsen, p13. © 0 Terceiro Kelsen (A Propésito da Teoria Geral das Normas, obra péstuma de Hans Kelsen), in Nova Fase do Direito Moderno, p. 195-196. 4 Hans Kelsen (Teoria Pura do Direito), in Classicos... op. cit, p.31. * Lg Teoria Pura del Derecho y sus Crticos, in CLAUDIO OLtva (ed.), Estudios sobre... op. cit, p.379. 8 Apud AGustix Squetta Nannvcct, Palabras Preliminares... op cit, p. 9. 0 Terveiro Kelsen... op. ct, p. 195. °S Apud José Axtonto Dias Torrout ¢ Oravio Lutz Ropricues Junton, Hans Kelsen, 9 Jurista e suas Circunstincias (Estudo Introdutério para a Ediclo Brasileira da “Auto- biografia” de Hans Ketsex), Has Keises, in Autobiografia.. op. ci, p. XIV, nota n°. Printed by: 5097@MPDFT. edu. br. Printing is for personal, private use only. No part of this book may be reproduced, or transmitted without publisher's prior permission, Violators will be prosecuted. ESTUDOS SOBRE A TEORIA PURA DO DIREITO normativismo cego”®; € outros que chegaram a motivar RUDOLF ALADAR Mérax1, seu discipulo, amigo e bidgrafo, a apontar, entre os “..enemigos del pensamiento de Kelsen..”, *..algunos trogloditas racistas empedernidos””. Mas a maior parte dos seus criticos é composta por aqueles que se aproxi- mam dele, como registra Bonnto, “..con desconfianza preconcebida...", inclu- sive, sem mesmo lé-lo, ou fazendo-o de modo superficial, e assim, por ébvio, nio o compreendendo"’. Interessam-nos, porém, aqueles que, seguisido-o ou combatendo- -0, 0 fazem de forma consciente, ou seja, refletindo e criticando-o. E exatamente 0 caso de Bossi, para quem/. la téoria pura del derecho resiste a las criticas..”, desde que “..la mayor parte...es el resultado de confusion men- tal.” Luminosa , no particular, a stigestao do fildsofo do direito italiano: “Para limitarnos a indicar las direcciomes en las que creo que una erttica a Kelsen seria fructifera y constructiva,sigiero... la relacién entre teoria pura del derecho ¢ investigacién del contenidé de fas normas..."°. Em outras palavras, BOBBIO recomenda explorarva conexio entre Teoria Pura ¢ Interpretagio Juridica 2. Interpretiigio Juridica Kelseniana 2.L1fie6modo: Egsa_sugestio bobbiana vai precisamente ao encontro das nossas inclinagoes. HA trés décadas, em nosso livre de 1993, “A Regra-Matriz de Incidén- cia do IPI: Texto ¢ Context6”, fruto de nossa dissertagio de mestrado, dentro do segundo capitulo, relativo as “Perspectivas”, quando enunci ‘mos nossas “PrimeirasIntengdes”, mencionamos nossos apelos intelectuais, declarando-nos guiados “..pelas penas inspiradas de fldsofos e juristas como...” E 0 primeiro dos nomes lembrado foi exatamente o de KELSEN™. Logo % Apud Marrmuas Jestarpr, Introdugio, in Hans Kersex, Autobiogeafia. op. cit, p.3. © Hans Kelsen y su Escuela Vienesadela Teoria del Derecho in CLAwD0 Ot1va (ed.), Estudios sobre... of ity p24. % La Teoria Pura... op cit, p.378. Ibidem, p. 408. © A Regra-Matriz de Incidéncia do IPI: Texto ¢ Contexto, p. 27 Printed by: 5097@MPDFT. edu. br. Printing is for personal, private use only. No part of this book may be reproduced, or transmitted without publisher's prior permission, Violators will be prosecuted. INTERPRETACAO JURIDICA E LINGUAGEM: DE KELSEN A DWORKIN, UM POUCO DO JUIz no item seguinte, ao providenciarmos a “Demarcagito do Objeto Cientifico”, seguimos o modelo kelseniano no “...delimitar com preciso o objeto de suas cogitagdes cientificas..”, com o intuit inspirado por ele de produzir “..m conhecimento apenas dirigido ao Direito...”2\ Essa ascendéncia kelseniana, que nos induziu fortemente na directo do normativismo, ji encontrava, entdo, um estorvo altamente inc6- modo no capitulo VIII da Teoria Pura, dedicado ’ “Interpretagdo”, que sempre se nos afigurou frustrante. E segue assim: rizio mais do que sufi- ciente para que acatemos a recomendacio de Bons, 2.2 Proposta Kelseniana filésofo denomina de “Interpretagie’Auténtica” aquela levada a cabo pelo érgio que aplica o Direito, E chama de “Interpretagio Nao Autén- tica” aquela realizada por uma pessoa, inclusive pela Ciéncia do Direito”. A Interpretagio Cientifiearedunda na“. fixagdo da moldura que representa 0 Direito a interprétar ¢, consegiientemente, 0 conhecimento das vdrias possibilidades...” (sic) significativas, todas elas solugbes que se apresentam com “.. (gual valor.."8. Nao cabe ao intérprete da ciéncia identificar a posstbilidade correta, pois isso constituiria um ato de vontade, enquanit6'@ interpretagio do cientista nao: passaria de um ato de conhecimento”. Nio é da competéncia do ientista tal identificagio porque est@™indo éum problema de teoria do Diréito, mas um problema de poli- tica do Direito”*. Com essa atitude, o cientista cruzaria a fronteira entre 0 juridico 0 politico (GUILHERME MOK DomincoS**), determinando at,,perda da ctentificidade..” do seu trabalho (WiLSON ENGELMANN”). Eis que, na éptica de KELSEN, nio € liGito ao jurista langar-se nessa aventura “at titulo de la ciencia del derecho como con frecuenica se hace” (ANTONIO Bas- 2 ibider, p. 29. Teoria Pura do Direito, p. | ® Teoria Pura... pct, p. 388. 2 idem, p. 390. % Ibidem, p. 394-396. 2° Idem, p. 393. % A Teoria da Interpretagdo em Hans Kelsen, in Karva Kozict e Vera Karau De Cuuuxtns (coord), Estudos em Direito, Politica e Literatura: Hermenéutica, Justiga ¢ Democracia, p. 21. ” Critica a0 Positivismo Juridico: Principios, Regras e 0 Conceito de Direito, p. 60. Printed by: 5097@MPDFT. edu. br. Printing is for personal, private use only. No part of this book may be reproduced, or transmitted without publisher's prior permission, Violators will be prosecuted. ESTUDOS SOBRE A TEORIA PURA DO DIREITO CUSAN V2), porque se trata de tarefa politica. Ademais, nao Ihe é per- mitido, uma vez que apontar a interpretagio correta constitui uma ficgio apenas “.,para consolidar o ideal da seguranga juridica’™; que, como adverte BASCUSAN, se torna ilusério®. ‘Tao somente a Interpretagio Auténtica, levada a efefto pelo érgio oficial, quando realiza “..o processo de aplicagao do Direito no seu progredir de um escaldo superior para um escalao inferior.” & que, num verdadeiro ato de vontade, seleciona a interpretagao certa,apés haver estabelecido a moldura, com todas as alternativas possiyeis, mum ato de conhecimento que oantecede*!. Razio seja dada, pois, a MAR10 G. Losano, da Universi- dade de Turim: “..la interpretacién cientifica es uno de los presupuestos para que pueda realizarse la interpretactén auténtiéa..”™. De sorte que a contraposicio entre as duas espécies interpretativas no é assim “..tan radicilcomo Ke.- SEN sostiene”™*. Depois de asseverar, com toda logicidade, “..guie é conforme a0 Direito todo ato que se vitantenha dentro deste quadro ou sadldura..”, 0 filé- sofo admite, incompreensivel e surpreendentemente;que, “..pela via da interpretagdo auténtica...¥o somente se realiza uma das possibilidades reveladas pela interpretacato Goghoscitiva da mesma norma, como também se pode produ- zir uma norma que se situe completamente fora désmoldura que a norma a apli- car representa”®*, Posicionamo-nos, aqui, completamente de acordo com Mario Losano: “...é! drgano que aplica la-riorma no puede mds que atenerse a los posiblesSignificados della, puestos en elaro por la interpretacion cientifica’®. 38a Fumctin Judicialen la Teoréa Putadel Derecho, in CLaroro Ourva (cd), Estudios sobre... Ope cit, p. 313, Teoria Pura... op.cit, p. 396° ® La Funcién Judicial... op. cit, p. 318. 3 Teoria Pura... op. cit, p. 387. ® Teoria Pura del Derecho: Evolucién y Puntos Cruciales, p. 117. % hidem, p.118. * H. Ketsex, Teoria Pura... op. cit, p.390.¢ 394. Confirmam-no Dinirrar Dimoutts, Positivismo Juridico: Teoria da Validade ¢ da Interpretagio do Direito, p. 131-132; Famto Urrioa Corto, Para Entender...op.cit,p.63;e Idem, Hermenéutica Kelseniana, in Beatriz Dt Grorct, Crtso FERNANDES CAMPILONGO € FLAVIA P1ovEsAN (coord), Direito, Cidadania e Justica: Ensaios sobre Logica, Interpretagio, Teoria, Sociologia «Filosofia Juridicas, p. 54. % Teoria Pura... op. ci, p. 119. BascuSan parece acompanhar Losano ~ La Funcin Jull- ‘ial... op-cit,p. 31.

You might also like