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Jornal Asiático de Psiquiatria 53 (2020) 102227
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Jornal Asiático de Psiquiatria
Página inicial do jornal:www.elsevier.com/locate/ajp
Carta para o editor
COVID-19 e violência doméstica contra a mulher
Caro senhor,
Enquanto o mundo está tentando lidar com a atual crise da Doença do
Vírus Corona de 2019 (COVID-19), muitos países recorreram a ordens de
'ficar em casa'. A Índia sendo um desses países, ordenou um bloqueio
completo nacionalmente. Embora medidas como essas sejam essenciais
para conter a pandemia global, essa 'escolha de Hobsons' trouxe algumas
consequências negativas não intencionais. Uma delas é a Violência
Doméstica (VD) contra a mulher (Tandon (2020)).
Os incidentes de violência contra as mulheres aumentaram em todo o mundo
desde que os bloqueios foram implementados (ONU Mulheres, 2020). A hashtag
#antidomesticviolenceduringepidemic foi pesquisada mais de 3000 vezes nas
redes sociais chinesas (Moutafis (2020)). De acordo com as estatísticas divulgadas
pela Comissão Nacional para Mulheres (NCW) Índia no início de abril de 2020,
houve um aumento de 100% nas queixas relacionadas à violência contra as
mulheres após o bloqueio nacional ter sido imposto em março de 2020. Esse
aumento de duas vezes levou a NCW a anunciar Linhas de ajuda de saúde mental
para aqueles que testemunham qualquer forma de DV (Chandra (2020)).
'Violência Doméstica' é definida na Lei de Proteção às Mulheres contra a
Violência Doméstica (Índia, 2005) como “qualquer ato de comissão ou
omissão ou conduta que resulte em abuso físico, verbal, emocional, sexual e
econômico” e isso pode variar de xingamentos , insulto, humilhação,
comportamento controlador, violência física a violência sexual (Governo da
Índia., 2005). Estudos anteriores mostraram associação entre exposição a
desastres naturais ou outros eventos extremos e aumento nas taxas de VD. (
Gearhart et ai. (2018)). A causa da VD durante qualquer desastre natural é
multifacetada, precipitada por múltiplas causas interdependentes, como
estresse devido ao confinamento físico, ruptura econômica, negócios lentos,
possível desemprego, escassez de provisões básicas, apoio social limitado.
Embora os precedentes para a situação atual (bloqueio) sejam limitados,
estudos de desastres passados e seus efeitos podem esclarecer os fatores
por trás da tendência atual de aumento da VPI.
A perda de renda, especialmente para os homens, leva a um menor controle
sobre a segurança econômica e, ao fazê-los exercer mais controle sobre suas
parceiras, esse cenário é pior se a esposa estiver empregada e o homem estiver
desempregado. Já para as fêmeas, atua em vias diferentes. Emprego e fonte de
renda para as mulheres atua como um amortecedor contra a violência, uma vez
que sua renda sustenta a família para ser financeiramente melhor, o desemprego
das mulheres tira esse amortecedor e as torna vulneráveis à violência nas mãos
dos cônjuges. Desemprego para as mulheres também significa depender do
cônjuge masculino, perder os laços sociais e ficar presa com o agressor 24 por 7, o
que novamente as torna vulneráveis à violência (Schneider et ai. (2016)).
O aumento da VD também pode ser atribuído à disparidade relacionada ao trabalho
doméstico. A Índia sendo uma sociedade patriarcal, o trabalho doméstico é considerado
principalmente o trabalho das mulheres. Ausência de ajuda doméstica e pessoas jogadas em
locais fechados aumentam a carga de trabalho e a febre da cabine se segue, acrescentando
https://doi.org/10.1016/j.ajp.2020.102227 Recebido
em 4 de maio de 2020
1876-2018/ © 2020 Elsevier BV Todos os direitos reservados.
combustível para o atrito contínuo entre o casal e resulta em maiores
chances de DV (EPW Engage, 2020).
Além do exposto, entre as famílias afetadas pelo transtorno por uso de
substâncias, o COVID 19 piorou a VD. O próprio estresse da instabilidade
econômica resultou no aumento do consumo de álcool, aumentando assim
a VD de forma independente. Durante o confinamento, o agressor pode
infligir violência ao cônjuge exigindo cumprir suas necessidades de consumo
de álcool ou consumir álcool em casa, na presença de seus familiares, pois
as lojas de bebidas estão fechadas. Em ambos os cenários acima, o DV piora.
A violência sexual também deve aumentar durante o bloqueio. A Índia observou um
aumento no uso de pornografia e venda de preservativos e brinquedos sexuais,
refletindo o aumento da atividade sexual, indicando indiretamente o aumento das
chances de violação dos direitos sexuais (Dédia (2020)). Como as autoridades estão
ocupadas em conter a propagação da infecção, os perpetradores muitas vezes correm o
risco de serem os agressores incontestados de seu parceiro.
Embora seja compreensível que as provisões de necessidades básicas e
medidas para conter a pandemia possam ter precedência sobre a vigilância
da VD, as consequências a longo prazo da VD podem ser igualmente
devastadoras, portanto, medidas ativas para vigilância e gestão da VD
precisam ser parte indispensável luta contra o COVID-19. A implementação
efetiva da Lei de Proteção às Mulheres contra a Violência Doméstica, de
2005, é uma necessidade urgente. A lei acima exige ampla publicidade por
meio de diferentes mídias (impressas e televisivas) para conscientizar o
público em geral, o que pode incluir informações sobre o Ciclo de Violência
Interpessoal, medidas de redução da situação em casa, linhas de ajuda,
casas de abrigo e assistência jurídica disponível para mulheres . Um arranjo
improvisado de espaços seguros (espaço longe do agressor) pela criação de
casas de abrigo temporárias também deve ser considerado. Educar e usar
recursos humanos disponíveis, como trabalhadores da ASHA e outros
profissionais de saúde, que atualmente estão realizando pesquisas porta a
porta sobre a covid-19, na identificação de sinais sutis de DV seria prudente.
Enquanto o mundo e os formuladores de políticas estão focados no 'aqui e
agora' no momento, como disse Mohammed Naciri (Diretor Regional da ONU
Mulheres, Ásia e Pacífico), "as necessidades diferenciais de mulheres e homens
nos esforços de recuperação de médio e longo prazo também devem ser
considerados" (Owen (2020)).
Contribuição do autor
Todos os autores contribuíram e aprovaram o manuscrito final.
Financiamento
Esta pesquisa não recebeu financiamento específico de nenhuma agência de
financiamento nos setores público, comercial ou sem fins lucrativos.
Carta para o editor Jornal Asiático de Psiquiatria 53 (2020) 102227

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⁎Autor correspondente.