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Luis Fernandes Luiz Antonio Machado Orgmizadr Pablo Gentili Perry Anderson Pierre Salama ‘doutrina coerente,autoconsciente, em sua ambico es- ‘rutural e sua extenso internacional”. Perry Anderson, e 5 5 3 a = IsEN TESTS 1SMO — As Politicas Sociais e 0 Estado Democratico e liberal POs neo Digitalizado com CamScanner © Emir Sader Proparasao de originais:Olav0 A. Brito/Carmen Revisdo: Ana M.O.M. Barbosa 4 Cot. ISBN:978-85-7753.0328 Seiad cpp330.22 Indices para catalogo sistemitico L.Neoliberalismo: Economia 330.122 Impreso no Brasil / Printed in Brazil INDICE Apresentagdo, 7 I Balango do ncoliberalismo, 9 Perry Anderson Comentaristas: Francisco de Oliveira, José Paulo Netto, Emir Sader 1 A crise € 0 futuro do capitalismo, 39 Goran Therborn Comentaristas: Pierre Salama, Luis Fernandes m A sociedade civil depois do dilivio neoliberal, 63 Atilio Borén Comentaristas: Kiva Maidanik, José Ricardo Ramalho, Luiz A. Machado Vv A trama do neoliberalismo Mercado, crise ¢ exclusio social, 139 Digitalizado com CamScanner Perry Anders Pierre cee ea Ato Boi, Coordenadores: Pablo Gentili, Luis Fernandes v Pés-ncoliberalismo, 181 Goran Therborn, Atilio Boron, Perry Anderson Sobre os autores, 203 Apresentacao Os textos que compiem este lio originaram-se do semins- rio “Pés-neoliberalismo — As politicas sociais ¢ 0 Estado demo- ritico™, realizado entre os dias 13 ¢ 16 de setembro de 1994 pelo Departamento de Politica Social da Faculdade de Servigo Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro — UERJ. As intervengées foram transcritas, submetidas aos autores, feitas as tradugSes e incluidas sob essa forma no livro, Tendo passado quatro meses entre a realizayio do semindrio ¢ o fechamento do livro para publicagdo, alguns autores incluiram acontecimentos posteriores a setembro de 1994. ‘A reuniio dos textos foi acompanhada por um debate reser vado realizado sob a coordenagio dos professores Pablo Gentil ¢ Luis Femandes. ‘A coordenagio do. seminario esteve sob responsabilidade dos professores Elaine Behring, Claudia Gongalves de Lima, Eduardo Stotz, Pablo Gentili e Emir Sader, ¢ teve 0 decidido apoio da dirego da Faculdade de Servigo Social, na pessoa da diretora, Rosangela Nair C. Barbosa, ¢ do vice-diretor, Ney Luiz TTeixcira de Almeida, Sua realizago se tornou possivel também ‘Bragas a0 dedicado trabalho de Dayse Candida Santos Rocha, coordenadora de fato de tudo 0 que se referiu ao evento. Agrade- ‘cemos igualmente 0 apoio dado pela FAPERS a0 semindrio ¢ pela Sub-Reitoria para Assuntos Comunitarios da UERJ, na pessoa do sub-reitor, o professor Ricardo Vieiralves. O apoio dado pelo pro- 7 Digitalizado com CamScanner Taddei foi igualmente essencial para g I {As tradugdes foram realizadas pelos professores andes e Emir Sader. BALANCO DO NEOLIBERALISMO Perry Anderson .s do que se pode definir do neoli- Comecemos com as orige®: n see ido simples liberalismo classi as logo depois da IL é - O neoliberalismo nasceu logo co, do século passado. 2 ee Norte tado, denunciadas como uma ameaca letal a liberdade, no somente ‘cconémica, mas também politica, O alvo imediato de Hayck, naque- Je momento, era o Partido Trabalhista inglés, as vésperas da elei¢0 geral de 1945 na Inglaterra, que este partido efetivamente venceria. ‘A mensagem de Hayek é dristica: “Apesar de suas boas intengSes, a social-democracia moderada inglesa conduz 20 mesmo desastre que 0 nazismo aleméo —uma servidio moderna”. Trés anos depois, em 1947, enquanto as bases do Estado de bem-estar na Europa do pés-guerra efetivamente se construiam, no somente na Inglaterra, mas também em outros paises, neste momento Hayek convocou aqueles que compartilhavam sua orientago ideolégica para uma reunidio na pequena estagio de Mont Pélerin, na Suiga, Entre os eélebres participantes estavam nfo somente adversirios firmes do Estado de bem-estar europeu, mas também inimigos férreos do New Deal norte-americano. Na 9 Digitalizado com CamScanner Iv A TRAMA DO NEOLIBERALISMO Mercado, crise e excluséio social Perry Anderson, Goran Therborn, Atilio Borén, Emir Sader e Pierre Salama ‘Coordenagio: Pablo Gentili e Luis Fernandes PABLO GENTILI — Pensamos organizar este didlogo sobre @ trama do neoliberalismo em tomo de trés eixos bisicos. No © agravadas pelo neoliberalismo nas nossas sociedades. GORAN THERBORN — Acho que € muito importante ter claro 9 que queremos dizer quando falamos cm “neoliberalis- Mo”. Seno, corremos o risco de transformé-lo num projeto mui- to mais coerente € unificado do que é na realidade. 139 Digitalizado com CamScanner que tem por tris a forca de uma ‘config Quanto ao balango do neoliberal bem comple sio mais estrita advogada por Thatcher np nit cing grou se consolidar nesses pais iberal capaz de exportar suas idcias pars cutee plo, a Argent a, €, antes disso, 0 Chile. Por outro lado, em varios sentidos, to muito exitoso. Se definimmos o nealinate nee perspectivas definidas por Hayek e Friedman, ndo aed ia crista alema, por exemplo, se encaixe aaa vio, Vistas por esse angulo, as prinipaisdreas de vita do - liberalismo tém sido os paises anglo-saxdes, Isto, claro, suscia algumas questdes interessantes sobre as peculiaridades dos pws desses paises. Um outro aspecto M0 foi tanbin Como, por exe. ‘a nova importincia assumida pelos ia, processo que reflete uma mudanga éria do capitalismo, Essa mudanga tem dado eto ica dos partidos ¢ dos intelectuais neoliberais, mas io é um efeito produzido por estes. Por fim, eu queria realgar que a experiéncia tem revelado, mais que nada, a extrema pujanga dos Estados de bem-esi? id Welfare State tem sido muito atacado, tanto pela esquerds aut pela direita ¢ centro. Ataques que vém desde os neoliberais os pessoas como Jurgen Habermas ¢ forgas da extrem’ een Fes talves tenham razio, Em geral, 0 Estado de bene, sido atacado por estar em crise, por estar intcire inev te subjugado por contradigdes internas insolive do ponto de vista hi balango histori numa instituigdo social ‘extremamente Fo! " iti surpreendentemente bem. A comprovagso ma! oom 140 pode ser encontraia na América Latina: ao final do pinocheismo, PeChile ainda mantinha o Estado de bem-estar mais organizado, Gficiente e dispendioso da regio. ‘Ha uma série de razdes para isto, algumas conhecidas, ou- tras no. Em primeiro lugar, a propria magnitude do Estado de bom-ostar dificulta a desmontagem das suas instituigdes fimda- raentais. Nos paises de capitalismo avancado, por exemplo, entre {0 o 65% da populagéo adulta tem no Estado de bem-estar a sua principal fonte de renda. Essa ciffa é de 40% nos Estados Unidos pide cerca de 65% em alguns dos paises pequenos no continente Europeu. Nao se pode simplesmente despachar uma instiuigso ddessa importincia. Se analisarmos a questio do tamanho do Esta~ do — um dos principais alvos das critics neoliberais — veremos {que em todos os paises da OCDE 0 tamanho relativo dos gastos piblicos & hoje maior do que era em 1979. Essa rlaséo se man- tém mesmo se fizermos um ajuste ciclico para descontar os efti- tos da recente depressio. tucional do capitalismo (Empresas, Mercados ¢ Estados). Em termos muito esquemiticos, podemos assinalar que, no comeyo do século, se produziu um crescimento relative das empresas que culminou em duas guerras mundiais. Era uma época de monopélios, cartelizagdo e enfraqueci- mento do comércio mundialmente. Depois da Segunda Guerra ‘Mundial, os mercados mundiais se abriram e o comércio interna- cional comegou a crescer mais do que a propria produgio. Até ‘mesmo as grandes empresas se tomaram dependentes dos merea- dos, Mas a0 mesmo tempo em que isto ovorria, aumentava o {3 ‘manho dos Estados com o surgimento do Welfare State. O processo que caracteriza os iltimos dez ou quinze anos de desenvolvimen- ta 6 precisamente uma extensio enorme das mercados Imente os monetarios ¢, ainda mais, 0s financeiros), que 141 Digitalizado com CamScanner 08 iculdades geradas por e: acelerado do d Vo, a necessidade de m inte anos! E nio devemos esque / ita ditadura pinochetista, dute pete feretee tanto, nilo paramos de ouvir loas ¢ mais loas ag “milage No cn Em face do impacto negativo dessas poliicas —— " colocar varias questBes. Em primero lugar o problems de eet flo, Niio defendemos o Estado corupto, Defendemor sey cepgio politica nos marcos da qual aintervengio estat deve se vente se basear na solidariedade social, Ou seja, ny igo das desigualdades e no somente na eiica ont Por outro lado, devemos nos perguntar: quas si os ob ticos desse Estado? Em que projcto de social cle ipl? Em face do desastre do neoliberalismo — ou, mas precisament, das medidas neoliberais que tém sido implementdas nos nosos paises — este problema adquire uma importincia cent. Por iiltimo, & um dado evidente que a pobreza tem crescido ‘enormente nos paises do Terceiro Mundo, mas nio soments ne- les. Os efeitos das politicas neoliberis, no entanto, ro pan por ai, Ainda mais grave & fato de as desigualdads trem se intensificado entre os préprios pobres, Estamos dante de um pro- ‘eesso novo: a pauperizago da pobreza de stores que si, bos, muito mais pobres do que antes. As politica liberais, tl como sendo aplicadas, conduziram certas socicdades a uma ripida ica de desagregagio. As fratuas socias Por . sho reveladoras dos efeitos extremamente negativos do neoliberalismo. ss MO tbalango que fago se baseia muito mas mas consahe2° coneretas das politicas neoliberais do dessa provongada be faze um ele dade que soa wives - cago desis poi ic es dient nentament®s conta de que elas foram implementadas MT.) gas Estalos alguns paises europous (sobretwlo 08 8 ina, APPS ste Unidos, no Canad e,basicaments A 143 Digitalizado com CamScanner rece a ter uma certa penct mento, na formulagio de tissimo como o Japio é um em foros como o Banco Mundial ¢ © FMI. O govemo japonts publicado matérias pagas no Journal of Commerce ¢ no yn Sieet Journal advogando um papel mais ativo do Estado eae! selhando uma postura caut vezes critica) diante do che. im geral, 0s paises de maior — China, Japa, Coréia, Taian to a ver com o neoliberalismo. De tods forma, é necessirio admitir que 0 impacto dessas politicas no contnente americano tem sido muito forte. Feita essa ressalva, podemos nos perguntar qual é 0 balango de trés qiinginios de hegemonia neoliberal. Por um lado, essas politicas evidentemente colheram éxitos na luta antinflacionéria. O neoliberalismo imps uma ferroz dis ciplina fiscal com bons resultados no que conceme o controle da inflagdo (mesmo se 0 prego pago por esse sucesso — a pauperi- zagio das massas — seja inaceitavel para os seus criticos). Na América Latina isto é mais do que claro, sendo paradigmiticos os casos da Argentina, Bolivia, México e, mais recentemente, o Bra- sil. A estabilidade monetaria, no entanto, foi insuficiente para Jangar esses paises numa nova via de crescimento econémico prolongado. Nesse sentido, os fracassos da ortodoxia na Boliviae 20 México sio patéticos. Os ajustes selvagens ali produzidos no a © prelidio de uma nova fase de desenvolvimento. Argentina os resultados foram melhores, mas no hé que ¢° quecer que, ali, a economia havia afundado num fosso sem prece” dentes entre 1988 © 1990 ¢, por conseguinte, grande parte 4° Gesscimento tem sido, na verdade, uma recuperagio depois cat queda. Por fim, como ignorar que a economia chilena caoe svt sUperaralgumas das marcas aleangadas no intcio dos © esti nt os anos 80, depois de quase vinte anos de rn eabou se oO” Em outras palavras, a famosa Curva de Lat bre or rig vClando um subterfigio engenhioso: os impostos $°° "05 foram reduzidos ¢ estes puderam, assim, acumulat 144 atrar maiores lucros, Sem que volassem a investr cone como ef espera dees A taxa doivent nas or nevatou significativamente, © que acabou reprcutndo negate. meme sobre erescimento econdmico, O que sim se obeve fr iii dos objetivos estratésicos do programa neoliea: const urtjedades mais desiguais a partir da crenga de que, dese moo, seepvuliados fecuts0s que ficavam nas mios dos ros pudesem dar origem a uma auténtica torrente de investments. (0 problema é que o programa neoliberal nfo leva em conta, adequadamente as mudangas culturais vividas pelo capitalsmo, Tato &, 0 velho modelo liberal pressupunha uma condutaasética por parte dos burgueses. Dava-se como certo que, dada adisponi- bilidade de recursos, estes burgueses investiram mais ¢ conzola- riam seus gastos. Descartava-se apriorsticamente a hipitese de que tais setores pudessem entrar numa corrda desafreada de consumo dispendioso, conducente ao desperdicio e ao desinvest- mento. Mas foi precisamente isto 0 que ocorrea. Nos Estalos Unidos, varios estudos indicam como 0 setor mais rico da soce- dade norte-americana acumulou uma massa impressionante de r- quezas ¢ rendas durante a “era Reagan”, sem que isto se ‘tradu- zisse em maiores investimentos. Vimos ocorrer 0 mesmo aqui 1 América Latina. Em termos de balango, podemos dizer que o neoliberalismo Produziu um retrocesso social muito pronunciad, om 9 a5" mento das desigualdades em todos os lugares em que ele foi im- plementado. Nao obstante, cle logrou éxitos relativos no que con come ao controle da inflagdo ¢ a imposigio de cetos mecha! de disciplina fiscal (embora nos Estados Unidos nfo ste 22° ‘gerado cm demasia esta questo). oe Em relagio a este ultimo aspecto, cabe enon? acai salvas regionais. A Itilia, por exemplo, manteve um ¢& ordem de 10% do PIB na década de 10 6 ne aceleradamente. No entanto, quando um pals 8470 vem ‘mula um défcit fiscal comespondente 2 15 08 2% d9 To, mnissBes do FMI ou do Banco Mundial exiginfo 3 gsc” dem nas contas fiscais. Assim, 0 critério a os ds cont sdotado pelo neoliberalismo varia muito em 145 Digitalizado com CamScanner regionais. Isto tem que ser enfocado interacional em que uma classe dominant, térios diferenciados segundo o pais em pauta: 9 ‘6 tabelece gi cupa se os que incorrem nele so 0s paises desenyeti st" Pico. transforma numa grave patologia econémica quando 94S trios so os paises da periferia. 08 deficit, UM sistem Devemos também telativizar os casos de “sy beral no que conceme gentina ¢ do Chile so examinados dentro de uma mais longo prazo (por exemplo, de 1970 a 1990) nos obrigam a relativizar a euforia gerada pelos 03” desses programas de ajuste. Em contrapartida, 0 resultado mais duradouro do neolibers limo tem sido a constituigo de uma sociedade dua em duas velocidades que se coagulam num verdad. ue vio ficando inteiramente excluidas, provavelmente de foma irrecuperivel no curto prazo. Aqui se coloca uma questio nada mar- ginal para a consolidagdo do regime demoeritico: o que fazer com as vitimas produzidas pelo ncoliberalismo, para as quais este mio teve —e nao tem — qualquer solugdo? Como construir uma demo cracia sdlida ¢ estivel sobre fundamentos sociais tio precirios? EMIR SADER — Me parece que 0 essencial € caracterizar neoliberalismo como um modelo hegemsnico. Isto é, uma form? de dominagdo de classe adequada is relagBes econémicas, ors icas contemporineas, Se bem ele nasce de wm: lo mais econdmica, ao Estado de bem-esta, em 5 constituido um corpo doutrinario que desemboca num relagdes entre classes, em valores ideolgicos ¢ num do modelo de Estado. cass, Existe um processo de reprivatizagio das relagdes d° FE antes fortemente permeadas pelo Estado, segundo 0 Pals 1” também, um avango generalizado das relag6es mereantis 0, Pressam sem mediagao alguma. Nao é em vio que # der determin 146 como a do carvao na Inglaterra e da Fat na Iii si cade Breve resultados ¢alavancas do avano neal, ; Jo atraso econémico passam a sr os sindcnos ¢ pals: O° cles, as Conguistas sociais © tudo o que tenkaa ver om a Jum jae, em aeaidade ¢ com ajustia social, Aomesn po, iia "os conservadores, se reconvertem & modemidade na sua vero neoliberal, via privatizagdes ¢ um modelo de Estado Minimo. Esta globalidade requer, como altemativa, um modelo nio apenas econémico (ainda que com raizs na visite ccnémi- 2) que surja da crise real do Estado de bem-ostay, para desdo- brarse numa nova forma de ideologia demoeritca, num novo modelo de Estado, em novas relagbes sociais. O debate tem de ttanscender seus estreitos limites econémicos, ainda que, por a, 0 neoliberalismo tenha se transformado ‘no senso comum do nosso i a sua maior vitbria. to EET ANDERSON — Eu concordo com os iiltimos pon jor Atilio Boron. . automa ., no entanto, fazer alguns breves ‘comentarios evantados por Géran Therbom na abertura desta ris Estados, ¢ também dos mercados vis-¢> 1 sas, Em fungdo, sobretudo, da concorréncia ineracosl° ba de empresas dominantes tem decliado, jum Om as res de mercado individuais. O poder dos ‘do sugiment9, Sus economias também tem decinado em funkier poy Pela primeira vez, de um mercado genuinament’ to. E dbvio iteiramente de acordo com 0 Goran quanto 88%. C59 yo sta mudanga cria condigdes mais propia a sistematica- eoliberalismo, como doutrina teérica QU 5 pmbém das ‘mente © papel do mercado as custas 60 Es ‘Srandes empresas, 147 Digitalizado com CamScanner segundo lugar, concordo que o Estado foi, aaa alguma, desmantelado nos paises bemestr nig soa “apesar da ofensiva neoliberal, os gastos pl oeto Bes tiveram, mesmo, um ligeio erescimento, embora a na ecimento tena sido restringida peas politica neolib eves processos destacados por Therbom sio fundamen Concondo com suas observagGes. No que cu rio estou plenamen cic acordo —e talvez seja esta uma questi teérica ainda mais —6 no que conceme a importancia de idéias tedricas interessante para as mudangas e sociais no século XX. Todos v vem conhecer 0 famoso comentario de Key. nes de que todo politico pritico ou administrador que pensa sim. plesmente agindo de acordo com senso comum esti, na verda- de, implementando as idéias de algum economista maluco jé falecido. Ou seja, nfo da para escapar da teoria — cla guia as ages das ‘em posigdes de comando no Estadi tenham consciéncia disso ou nio. O proprio Hayek, por sina, aque este era o tinico comentirio de toda a teoria geral de Keynes com 0 qual ele concordava, No que conceme a experiéncia do séeu- Jo XX, considero que Keynes estava absolutamente certo ao fazer este comentario nos anos 30. E Hayek demonstrou grande largueza de visio 20 captara importincia desse comentario de Keynes. Neste ponto, creio estar em desacordo com Goran. Acredito que 0 neoliberalsimo foi e é uma doutrina completa ¢ coerente Faayek é um pensador muito mais importante do que Fried tica da his- rtantc, Fred porque desenvolve toda uma cpistemologia ¢ teoria téria. Ainda que tenha desempenhado um papel impo ‘man era muito mais um ‘écnico e um propagandista. ‘Assim, do ponto de vista intelectual, acredito que © neoibe ralismo é uma forga muito mais formidavel do que G8ran PS ramente verdadeiro que a dousina 208 na verso austiaca, quanto na versio de Chica ada integralmente por qualquer 8% tentes, ao estilo de Hayek taram com Thatcher por ser um tanto © com o presidente Reagan por nfo ter feito todas #6 148 parece haver um enorme vazio (gap) entre ts mentee rica Pr regimes epic. bem ip, num sentido mais fundamental, sess beni i au anado, isto é, nfo tm conseguio coloar a mquia da i avjagao de volta em funcionamento na esealaesperada por seus ofensores. Nao temos visto nada como o boom econémico fa anos 50 ¢ 60. “Acredito, no entanto, que seja possivel flar ainda hoje de ‘uma hegemonia neoliberal continua Ito porque sio as ids neoliberais que fixam os parimetros de toda a politica econdmi- ta. Elas fixam esses parimetros no sentido em que no existe mais qualquer concepedo altemativa coerente de como as econo fnias capitalistas modemnas devem ser conduzida. A tatigéo eynesiana esta quebrada ¢ desmoralizada. Alguns economists individuais, € claro, podem se insurgir contra isto afimmando que Keynes foi ‘“‘mal-entendido”, ou qualquer tradugio disto numa reafirmago cocrente de um keynesianismo atualizado. Eu diria que, deste ponto de vista, o keynesianismo é um cachoro mort (dead duck). ‘No passado, houve uma segunda alte to das economias capitalistas distinta da variante keynesians 0° social-democrata — a alternativa do socialismo integral. Estaera uma idéia presente no espago politico, uma possibilidade que t ia. a sério inclusive pelos seus inimigos Hoe es altemativa simplesmente no opera nesses t1m0s. ‘Nilo estou dizendo que estou de acordo com is, ara nas reconhego 0 fato de que hoje ela no tem mas oa smativa ao ordenamen- Ver como isso repercute em paises onde a tiie i 4 comrelagio de forgas nio ¢ partculamente favordvel & imp! ™entago do neoliberalismo. emo ‘Therbom disse que é dificil vercomo 0 8% a ctistio da Alemanha possa ser indicado oot OT Aeoliberal, Em relagio a iso, 20 esPo™4 149 Digitalizado com CamScanner sant Ovidentaltove a sua propri te ¢ muito original do ncoli oncordavam com Hayek em tudo, tinh Exkon, les mi, mas certamente podiam ser deserts eo sus proprias ioe cortonte, Havi, assim, um componente de importante moldando 0s arranjos institucionais ¢ tenpicos dos anos 50 na Alemants, que no foram mera scope pragmatics. Em segundo lugar, eu diria que, hoe, ada setae podemos idetiicar no Bundesbank o mecanismo insiy. ‘cional mais poderoso para a imposi¢lo de certas normas ncolibe. aire estcitas ¢ rigorosas, como podemos também observar como tim govemo inicialmente compromissado com uma tradiefo so. cial catélica tmpurrado cada vez mais para o caminho das Este é um ponto sobre o qual cu queria prvatizagdes tem sido monumental em nivel m ey absoluto, de uma questo menor, A transferéncia de giganteseos stivos de empresas piblicas para mos privadas esti reconfigurando de forma fundamental todas essas sociedades. Na Franga hi um pro- tama de privatizagdes enorme. Na Itlia também. Quando digo qu ‘ dinimica do neoliberalismo nao esta esgotada € porque estou ceo de que, dentro de cinco anos, estes paises ainda estario vivendo processos de venda de ativos pablicos fundamentals. Se alguém me disser, hoje, que o neoliberalismo nao ¢ Ho poderoso assim, que ele esti desacreditado ¢ esgotado, eu resporr do, a Escola de Estocolmo, o keynesianismo ou a 0% cialista. A propria social-democracia desempenha, ho} essencialmente defensivo na Europa Ocidental. Isto suscita uma terceira questzio que quero para discussio. Alguém podera dizer — “Est esté tudo muito certo, mas ¢ uma posigo lectualisia, Do ponto de vista histdrico, sempre 150 tou uma crise fundamental ou dificuldades ont na sua operagdo, ele sempre encontou song daricas. Na pritica, ele sempre foi tateandoe encanta ae goes “AS cogas’”. De certa forma, podemos dizer que foi ws fue ocorreu na América Latina nos anos 30, como no prime} Q fovemo Vargas no Brasil. Ndo havia qualquer tora See oveomo reorienla a economia bili, mas aeaouse se do, com relativo sucesso, um caminho, Nao poderiamas i fig semelhante acontecendo hoje? eae Trata-se de uma questio real e importante. Em relagéo a isto, eu gostaria simplesmente de dizer que o melhor exempo de uma formula econémica altemativa, claramente nioiberal,paa a administragao do capitalismo é dado pelo Japi0, O Japdo é, de fato, a economia capitalista de maior sucesso no mundo, Nao hi, no entanto, qualquer teoria japonesa sobre a superioridade da sua forma de capitalismo em relagio as experiéncias europa e nor te-americana, O que existe, por outro lado, é um nexo institucio- nal extremamente especifico no Japio, que inclui uma configura- 40 particular do Estado, uma configuragio particular das fimas, uma configurago particular do mercado de trabalho etc. Tudo 6 integrado por uma cultura nacional muito fore — uma for- “cimento” que sustenta 0 todo, cumprindo o mesmo papel das idéias econémicas formais nas outras partes do mundo capi lista. © problema com isto é que se trata de um arranjo tio especi- fico ¢ particular que: a) ele no sabe muito bem como se defender da ofensiva politica slectual comandada pelos Estados Unidos, ue parecem determinados a quebrar 0 nexo institucional japonés ‘Mediante fortes incursdes neoliberais em areas como a Bolsa d= Va- lores, a area de seguros e muitas outras areas; b) por ser tio maco- prespecitico, niio se pode reproduzir 0 nexo japonés, nfo se tata cult modelo universal, Apesar de poder parecer uma PRE fa aaalvamente racionalista ou iluminists, cu dia qu? quae intelectual ou politica que assume uma perpectiva univers wt ‘Vantagem estratégica em relago a altemaivas particulars sos pC ORAN THERBORN — Perry Anderson jé ressaliou 05 105° Ge POM0S de desacordo, Anda que eria que no sejam mul * eles remetem & questio da importnciarelaiva de wn das 151 Digitalizado com CamScanner ea i Ivimento de i nto e especifiea para o desenvo an cal rye Concordo que no hé qualquer altemativa tes. fBrmulas POT ainda no surgiu um sucessor a0 neolib eam vista ¢ que ainda. nan ~ rica a vista qu tirio de Keynes é muito pertinente, Ha, cevidentemente, um 0 sr pundo. Ito, no entanto, no me preocupa tanto, Se tomarnos, por exemplo, a questio da privatizagio, eu isa que, para alm do impulso ideoldgico, boa parte da cuforia privatizante se relaciona com as novas relagdes estruturais entre Exado e Mercado. Os mercados de capitais podem gerar muito we fundos, hoje, do que os proprios Estados. A discussio mais pragmitica sobre a prvatizagdo na Europa nao é tanto que cla fem maior eficiéacia, quebra a espinha dorsal dos sindicatos, ou exis coisas no género, mas que ela se justifica principalmente fem termes de capitalizago — isto é, que é mais facil obter os fundos necessirios para investimentos na Lufthansa ou no siste- ma de telecomunicagdes alemao no mercado privado de capitais do que no Estado. Isso é uma mudanga histérica. Nos anos 30 ¢ 40 houve uma onda de nacionalizagdes, como no sistema bisico de telocomunicagées, fundamentalmente porque o capital privado era pequeno demais para gerar o capital de investimento necessério. ‘Me parece que algumas das diferengas entre as nossas pers~ pectivas se relacionam ao proprio conceito de neoliberalismo. ‘No me sinto muito 4 vontade com a forma com que tanto Perry como Atilio Borin e Pierre Salamanca empregam 0 conceito. Por popmedah avanga uma definigao do neoliberalismo bem a O texto-chave trabalhado aqui é o de Hayck (de fato ee — formidavel, mas cujo grau de influéncia ie ser uma questo menor que remeto para discus~ rm outra ocasiéio). Nesses termos, 0 neoliberalismo é uma principal, sepuido de i pal, Seg Profetas secundarios, Uerlismo € confinddo com qualquer conconéncn n Como parimetro, a nova forga do Mercado © da 4a intemacional. Néo estou muito convencido da vali- dade dessa se “gunda abordagem do . ‘io parent uma abordagemesoulne ‘Acho que temos stro lado, 0 neO~ econdmica que 152 Se o neoliberalismo ¢ concebido como uma doutrina mui specifica, ole tem um apelo politico relativamente initado ond sa forma “pura”, cle nunca foi integralmente implementado provavelmente nunca sa. Por out lado, seo neolibe Poneebido como algo muito geral, nfo podemos atribu mente a Hayek a sua patemidade, Permitam-me levantar alguns pontos muito espectficos so- bre a Alemanha ¢ 0 Japao. E verdade que o Bundesbank & uma jnstituigo monetaria extremamente poderosa, Se defininnas o neoliberalismo como uma espécie de ortodoxia de mercado que é ‘comum tanto ao velho como ao novo liberalismo, é claro que 0 ‘Bundesbank se encaixa nessa definicao. (0 caso de Ludwig Ethard é, de fto, muito interessante. El fo 0 arquiteto do chamado “milagre alemao-ocidental”. Conseguiu, inclu- sive, se transformar no dirigente de um partido do qual nem sequer era membro — a Democracia Crist (pouca gente, inclusive na Europa, ssabe que ele se tomou membro do partido apenas poucos dias antes do Congreso que o elegeu como dirigente maximo). Erhard fi, de ito, ‘uma figura muito poderosa, mas também um fracasso, Ele fracassou em duas batalhas absolutamente fundamentais que travou, ¢ que n0s remetem questéio da sua importincia na Democracia Crista. ‘Uma destas batalhas foi em relagao a extenséo do Estado de bem-estar na Alemanha, sobretudo a reforma das pensbes intro- duzida nos anos 50 — experiéncia previdencidria pioneira em todo o mundo, Trata-se do primeiro sistema modemo de pensoes no mundo. Ethard, é claro, foi um opositor ferenho aestarefor- ‘ma, Mas foi simplesmente esmagado. Adenauer também no 69S- tava muito do esquema, mas deve ter pensado que sera polltica © cleitoralmente desastroso se opor o novo sistema de pensbes. No frigir dos ovos, portanto, o neoliberalismo acabou ‘ndo predomi- nando na Democracia Crist alema. . ‘A segunda batalha foi a questio da Comunidade PHP Ethard tinha uma posigo muito contriria & Comunity, 'uma espécie de thatcherista na sua visio da Europe, nada neoliberal, a visto de Comunidade Europe 5 an Predomtinando na Demoeracia Crist slem fo, de ot epg de Comunidade (em opasigao asimples Me 153 Digitalizado com CamScanner im lagi a0 Japo, concordo com tudo © que foi g ea 5 gostaria de adicionar & que ha, de fato, ty us o qv pode até reforgar 0 seu argumento na discussie ry nexte caso, eu Ihe ofeego de graga..). © paradoxo é que ga quer importar 0 modelo macroccondimico do Suge? co ot do apo porque estes sfo demasiado nacional-espet, feos, Pelo menos ninguém nos paises de capitalismo avangadg ‘Alguns paises em desenvolvimento esperam se transformar om, novos Taiwans ou Coréias, mas esta é outra questo. Por outro Indo, muitas idéias japonesas esto sendo incorporadas por con, cepgaes ocidentais de administragio. Nesse sentido, muita japonesas sobre produgo enxuta, trabalho em equipe, admi ‘ragio empresarial etc. esto sendo importadas, Em termos micro- econémicos, portanto, a experiéncia do Japdo no ¢ tio nacional- ca. Pelo contririo. O Japio sc tomou o modelo para a administrago microeconmica, tanto na Europa como na Améri- cado Norte Concluo com uma iltima reflexdio. Acho que estamos todos de acordo de que as politicas ¢ priticas neoliberais tém gerado um desastre social — desintegragao social numa escala massiva. ‘Me parece que um dos ¢lementos importantes que mina a viat dade do neoliberalismo a longo prazo é sua incapacidade de des- moralizar ¢ derrotar de maneira definitiva as lutas sociais de re- sisténcia. Mesmo no que conceme aos sindicatos, nfo devemos squecer que, embora o movimento sindical tenha se enfraqueci- do, a vasta maioria de trabalhadores ¢ emprogados na Europa Eyaihe ae Por acordos coletivos. Isso vale mesmo para a laglo € anion ‘onde apenas uma pequena minoria da popu- Utides, S28 sindicatos, Em toda a Europa ¢ nos Estados teria eat i# Latina também, os custos socinis do neol se tomando cada vez mais ameagadores para 0S pi Peel go existncia E nesse sentido que nao se pode ttiamen le uma concepgao econémica altemativa in tinica Ne coetente como um a a sara 1a precondigao absoluta para c cent det 8 bases do neoliberalismo, A ineapacidade cres- Modelo neoligen ys 42 Poder em produzir os resultados que © ‘ral promete, acoplado a preocupagso erescente 154 com os seus custos, pode minar scriamente a projeto, Concordo, no entanto, qu essa vid PIERRE SALAMA — Me intressria tazet para enert i los. Se atribui era do, aqui, alguns exemp ui 20 neoliberalismo um apa emte sucesso inconteste No controle dainllago. Isto & conte ay que conceme & algumas politicas ncoliberais, mas falso em rela- Gao a outras. Nossa defensiva diane desse projet é amanha que $e vezes nos falha a meméria. Segundo entendo, as pliticas neo. fiberais adotadas pela maior parte dos paises, ¢ em especial na ‘América Latina, precipitaram ¢ acentuaram a inflayio, Como jé afirmei, em certa medida a forga do neoliberalismo reside na nos- ‘a propria debilidade. Nossa atitude defensiva néo nos permite ‘yer os fracassos do modelo e, de repente, comegamos a acteditar no seu discurso. Temos perdido referéncias e precisio nos nossos discursos. ‘Sempre existe no capitalismo a possibilidade de uma “crise redentora”. Ou seja, uma crise que seja capaz de gerar certo nivel de crescimento econémico com um alto grau de custo social “Apesar disso, devemos ser capazes de sublinhar tanto os limites como os fracassos que 0 neoliberalismo vem enfrentando. Temos de sair da atitude defensiva, A forga do neoliberalismo reside no fato de se apresentar como dogma. Aparentement, éainica sai- da possivel para a crise. O que nos falta é es Teituraaltemativa. Mc parece ser este um ponto muito importante. ; Se analisarmios com preciso o que tem sido (eso) a po ticas neoliberais, concluiremos que elas foram (¢ sio) a talmente politicas econémicas de exclusdo social. Mesto sos em que este modelo tem desfrutado um certo xo ie ra de um tremendo custo social, como na Argentina ¢ no MENS” trata-se de politicas muito frageis. Se bem que eae socaise inflagao, o fizeram ao prego de erescentes desigy De tal mancira muito elevado da balangs comer Pe es vitaidade desse lade ainda persist, assim, que hoje a politica depende estreitamente do que ocorre ne Nova York. Basta que haja fugas massivas © N. politicas Seorreu ha doze anos na América Latina, PAR ualdades fracassem abruptamente, agudizando ainda ma 155 Digitalizado com CamScanner sive no México durante a recente campanha eleitory pode observar que a autodenominada corrente de esquerda tinha praticamente a mesma politica coondmica que o PRI. A esquerda Penegava a questionar suas premissas inclusive © acordo com og Setblee Unidos — que parccia uma saida possivel para a crise esa falta de criticidade faz com que se ignore ou subestime os riltiplos perigos que a liberalizago a todo custo do mercado feareta para a populag%o mexicana, sobretudo os mais pobres, iberalismo comegam a ficar mais evidentes. Q ‘que nos cabe é re ‘Ja nfo € possivel pensar numa social democracia “‘a-keyne- siana”, Me parece ser necessiria uma volta a Polanyi. Devemos rechasar o reducionismo de pensar o Estado por um lado e o mer- cado por outro. Como Polanyi, devemos demonstrar que esta combinagdo pode ser realizada historicamente. Sem diividas, hoje é mais necessirio recuperar Polanyi do que Rawls ou Hayek. ‘LUIS FERNANDES — Acho que a discusso desenvolvida aqui sobre a definigéo do neoliberalismo é, de fato, crucial. Eu gostaria de perguntar se vocés consideram valido e/ow itil dife- rte” do conecito de neoliberalismo é aqui no debate, as transformagées eco- que vém se desenvolvendo no mundo compéem um processo extremamente contraditério. Por um lado, consolidam-se mercados globais — como os mercados moneta- ros ¢ financeiros — que reduzem a capacidade de os Estados is regularem as sua proprias economias. Por outro, a PrO- orgio dos gastos piiblicos dos Estidos nacionais para os scus Tespectivos PiBs nio para de crescer. Por um lado, se desmontam bareiras monctirias ¢ alfandegirias em nivel nacional em nome “Este didlo se realizou em setembro de 1994, antes que se desenendeasse ‘onhecida ée vet cana. Com efeito, em dezembyo desse mesmo afo, 0 8° 10 do Metco se viu obgale cone seme sor ‘moed e, wo me brigado a efetuar uma importante des lose ie mesino tempo, prem marcha uma igorosa politica ‘Como conseqQéncia da fuga massiva de capitais, 156 dle uma integragdo econdmica mundial ineyn Por outro, se generalizam barns sae grandes blocos ¢ territérios econdmicos com Teen onside mente protecionistas. logicas eminente- [Em meio a essas contradisées, 6 ismo na versio forte de pied Meee Be olen. existe em lugar algum. Na ultima década © meia, no edd mos testemunhado no mundo mudangas substance on ceme as politicas econémico-sociais. Esas se matesah bretudo, em dois pilates fundamentas:aofeaina prsienn movimento para retrair programas universais de protee seg em prol de eritérios mais partcularistas de acesso a benches Estes dois aspectos se fizeram sentir com muita fora no Basil, sobretudo a partir da elei¢do do presidente Collor em 1989, No caso especifico brasileiro, isto representou uma primeira poli. camente fracassada) tentativa de aplicagdo do projet neoliberal no nosso pais. ‘Me parece que esses desenvolvimentos conformam una resposta determinada as condigdes e contradigées enfreatadas pelo capitalismo neste final de século, ¢ no um resultado ineviti- vel destas, Nesse sentido, embora possa encontrar fonte de inspi- ago no neoliberalismo xiita de Hayek, a aplicagio pritica do Projeto neoliberal ndo se confunde com ele (assim como a aplica- 40 histrico-pritica do corporativismo no se confunde com as formulagées originais dos idedlogos do corporativismo) - mente por se tratar de uma resposta entre visas possi | ¢ imeversvel, tampouco se confunde com as transformagées estrutursis em cur so no capitalismo. . A pergunta que fago, enfim, é justamente cesta — estes dois Pilares no podem ser assumidos como chave para uma defnigio ‘mais operacional e conereta do neoliberalsme,refltindo 2 < 8Encia e consolidagdo de um novo modelo que s¢ fori (t nante na Europa, nas Américas ¢ em partes da Asa ¢ d3 no final dos anos 80? ATILIO BORON — Creio haver arguments ea Leis finir © neoliberalismo num sentido mais estiioe Wy Plano das idéias. Ainda assim, também acredio $°° 157 Digitalizado com CamScanner existincia de uma onda neoliberal que vem se alas fnundo, Nao obstante, a afirmag&o feita por Perry na sug réncia do Seminario do Rio — no sentido de que esta eg fogrou uma penetragao mais profunda do que a velha gore” liberal —ndo me parece de todo correta, pelo menos no que — come a América Latina. eon. PERRY ANDERSON — Sim, é verdade. De qualquer fo nao estava pensando na América Latina quando fiz: quel afimagag® ATILIO BORON — Assim mesmo, tens razio numa coisa: no século XIX, 0 liberalismo clissico nio chegava muito além do Canal da Mancha, Em contrapartida, 0 neoliberalismo hoje se dissemina por todo mundo. Este é um ponto fundamental, En- quanto que no século XIX todos os governos da América Latina aderiam ao credo liberal ¢ os argumentos do liberalismo inglés se cexpandiam rapidamente na regio, na Europa —c especialmente ma Europa do Leste — este fendmeno no se produziu. Para pouco trando peg todas as sociedades sejam igualmente vulneraveis a sua mensagem. Neste caso, a categoria de neoliberalismo é itil porque resu- ‘me o senso comum da época, 0 senso comum imposto pelas clas- ses dominantes. O senso comum da época é neoliberal. Gostemos o, ele se implantou profundamente nas massas. O mercado é ; 0 Estado ¢ demonizado; a empresa privada ¢ exaltada larwinismo social de mercado” aparece como algo desei# vel e eficaz do ponto de vista econdmico. No entanto, em termos de policy making (politica politica econémica etc.), ha que se destacar uma particul da América Latina, Diferentemente dos Estados Unidos, nha, Inglaterra, Franga ou Suécia, se os nossos govemos no for rem classificados pelo Banco Mundial c 0 FMI como “gemle sen € responsavel, cumpridora dos seus deveres”, cles dificilment? conseguem recursos nos mercados mundiais. O ej, industrial, aridade Alema- regio foi agravada pelo novo endi Pelos desequilibrios nas balangas comercial ¢ de paises como o México, a Argentina, a Venezuel 158 Je (onde também se observa o mesmo fendmeno, materalza- com importante aumento do endiviamento exer), pee goo ¢ claro € evident Em nossos paises “neoliberalsno” quer Sfeer aplicar o que dita a ortodoxia econdmica do Banco Mun. Grade do FM, aplicar 0 “Consenso de Washington”. Nossosdii- ents noliberais nunca leram Hayek nem esto muito peocupa genom os problemas teéricos da servidéo e da opressio do Estado totalitério. Suas preocupagdes sio muito mais mesqui- has: levantar dinheiro, “fechar” as contasfiscais eter acesso 20 ‘nereado internacional. Para um pais como a Argentina, por cxemplo, que precisa de 10 bilhes de délares por ano de “di- heiro fresco” para evitar 0 colapso do modelo econémico, o elo de aprovagao de instituigdes como o Banco Mundial e 0 FM é decisivo. Por isso o idolo do momento é Friedman, ¢ nio Hayek. ‘Em uma reunio recente celebrada em Washington, os fun- ciondrios destes organismos intemacionais diziam que thes en- cantaria ser recebidos na Asi A ica Latina. Eles tém consciéncia do clevado ‘grau de influéncia que gozam em nossos paises. Ao olar para 0 impacto do neoliberalismo, o que se encontra é um terivel dogma tismo econdmico que foi assumido, também, pela propria esque. ito, a esquerda da América Latina (ndo toda, mas uma parte dela) assumiu com demasiada irresponsabilidade os principios keynesianos de manejo do deficit fiscal. O que Keynes dizia cra que o déficit fiscal era manejével ¢ podia até ser viroso quando estava restrito a certos limites. Se 0 déficit se convertesse ‘numa tendéncia acumulativa e erescente, seu racocinio mudava por completo, Isto é, ele supunha que o défcit era um fendmeno ave ‘ou cinco anos, ¢ que, ¢ ele no fosse dema vel adotar medidas coretivas eficazes. A es- — que no esta imune 4 tradigdo do popu lismo — distorceu o significado do keynesianismo e o tansfomoe ‘uma politica iresponsivel de manejo do gas piblico. inpdend insenstez pensar que ainflagdo € um problema exclusive me ‘burguesa’”? J nos damos conta de que ainflagio n° oe” cine um problema da economia burguesa. Precisamos das velhas tradigdes a que ainda estamos atades. 159 Digitalizado com CamScanner vyer com o marco strides que carac : rial Me ae an exist NOS NOS80S paises qualquer mink too de Estado que possa tomar ura decisio macroccondmica dg tf sem o consentimento eenocraas (OEM sempre, Thantes) do Banco Mundial ¢ do FMA, E impossivel. GORAN THERBORN — Quero me remeter as questies Ie. vvantadas na pergunta do Luis. Acredito que nio deveriamos pole. wiyar em toro de definigdes. O importante é que cada um teaha ue as defnigbes que emprega ¢ deixar isso transparente para og STamais, ao mesmo tempo em que deixa claro as diferengas das suns definigBes para as que sfo empregadas por outros. Eu pref firia, pessoalmente, falar da emergéncia de uma nova etapa de ), com um novo papel ¢ uma nova dinami- ‘ta nova ctapa do “capitalismo de merca- parimetros de atuagio para os politicos © para as indo hoje. O neoliberalismo emerge como stamente, uma corres Esta compreenstio da questio enfatiza as frudangas institucionais ¢ estruturais em curso no ¢ sem identificar tais mudangas como fruto de um projeto toe politico determinado, Nao nego, no entanto, que forgas poi tieas ¢ideoldgicas possam ter conribuido para a emergéncia ds sas mudangas ¢ sua continuidade. Em termos de comparagio, o periodo do especial os anos 30 foram marcados pelo capitalism ors, ‘alizava numa série de variantes. Havia, em admiraio pelaexperiéncia dos pianos a e it v De Inidos, aS a o New Dea! nos Estados Unidos, 5s Escandindvia, as politics sécio-econémicas adotadas coe nor sucesso) pelo governo da Frente Popular na Frans’ eos. poca, era o capitalism organizado que fixava 0S PAT. ped formulagées do tipo de Hayek pareciam coisa °° year dos no deserto, Havia nese petiodo una varedsde entreguerras ¢ em lismo organized, 160 ¢ ideolégicas em disputa no ambito dos pari do capitalismo organizado, Todos tinham de se fie te se go institucional particular que conformava o eapiisno wy poca. Isto no quer dizer que no hava opges reais em disputa, Existiam, por exemplo, grandes difereneas politicas e ideoliew no que conceme aos conceitos de democracia ¢ repressio ass hazismo teenocratico de Schacht, o New Deal, os acordos na Es- candinavia ¢ a administragao dos planos qiiingiienais soviéticos, ‘Mas os parimetros estavam fixados pela propria natureza do ca- pitalismo organizado que caracterizou 0 periodo em questo, Vejo dlguns paralelos entre essa situagdo © a de hoje, s6 que hoje os pardmetros so fixados por um novo tipo de capitalismo compe- titivo, A esquerda tem relutado muito em ver ou reconhecer este novo dinamismo do mercado. Outro tema levantado na pergunta do Luis foi a questio do Estado de bem-estar ¢ as tentativas de retroceder para padres ‘mais seletivos ¢ particularistas de direitos. Isto é, de fato,carate- ristico da corrente neoliberal. maximo que eles conseguem conceber é uma rede de proteciio (safety net) apenas para os mais pobres dos pobres. Eles no tém tido, no entanto, muito sucesso nessas tentativas. Agora comegam a ficar claras as razies desse insucesso, A persisténcia do desemprego, a tendéncia a elevagdo do desemprego estrutural ¢ a precariedade dos vinculos nas mar- gens do mercado de trabalho provocam problemas sociais mili- plos. A prépria abrangéncia destes tem acarretado a manuten¢0 de esquemas institucionais do Estado de bem- religions Ege ome RS Estados Unidos, fundamentals "sta conta todas cco” formados na sociedade c@Pi- slensBes e perigos. A doutrina neoliber™ 168 sica, ¢ claro, no tem qualquer resposta ‘ . cla as os governos neoiberas de sucesso, pincipene cher € Reagan, acharam uma resposta — 0 nacionalismo. A cifjoria dos govemos liberais jogou com muita forga a “enea™ fo nacionalismo. Isto levanta uma questio interessante para as perspectivas do neoliberalismo na América Latina. Do ponto de vista logico, a politica econémica neoliberal nestes paises tem de Jer antinacional — ela dificilmente sera acompanhada do nacio. nal is implica a adogio de medidas como a abertura de mercado. O nacionalismo, aqui, surge como doutrina do Estado, ¢ 0 neoliberalismo como adversirio do Estado. E improvavel, ou pelo menos dificil, portanto, que o neoliberalismo se associe a formas tradicionais de nacionalismo nos paises latino-america- nos, como fez em algumas nagdes européias ¢ nos Estados Unidos. ‘ATILIO BORON — S6 queria fazer um breve comentirio com referéncia 4 intervengao do Perry. Creio que, na América Latina, Friedman é muito mais conhecido do que Hayek. A difu- so do pensamento de Friedman como um dos principais expoen- tes do pensamento neoliberal tem a ver com outro fenémeno que aparece com caracteristicas bem nitidas: a ascensio dos econo- mistas a lugares-chaves do poder politico. Eles comegam, na ver- dade, a cumprir um papel semelhante ao que os advogados de- sempenharam nos Estados nacionais da América Latina no século XIX, ¢, muito antes disso, os religiosos na ordem medieval. Os economistas se converteram em politicos e até em presidentes. Salinas de Gortari é um exemplo expressivo desta tendéncia, Fer- nando Henrique Cardoso no é um economista clissico por sua formagio, mas, de todas as maneiras, & um intelectual muito fa me izado com a ciéncia econémica. Domingos Cavallo eee lorado “presiden na Argentina, Alejandro Foxley, president da Democracia Cristi no Chile, tem boas chances de ser o candidato Official & presidéncia no préximo pleito. O que parece muito caro é {8° © pensamento liberal na América Latina tem mul 0 hae pratig Plarzagto (e também a vulgarizagio) era fioweee Friedman do que com a ee neal eral dana St Abordagem por Hayek. Cie as do que balbu- da América Latina dificilmente conseguiri mais 40 a 169 Digitalizado com CamScanner cir algumas tes ‘Jateoria ncocléssica. omonetarisn de FAT Creio que 0 Atilio formulou antes um Penne bém tem surpido na Franga: se a esquerda api. paradoso que AMY? jroduz um desequilibrio econémico; se aplicg ara tarde as elegbes. A esquerda,ento, est con. spac porder, ou aaplicar a politica dos outros | Haguere reek pouco esse problema. O FMI ¢, sobre- tudo, o Banco Mundial tém ‘mudado bastante em relagio 4 Amé- rina Ta faz dois anos que comegaram a pregar a nccessida- ree puma intervengdo mais ativa do Estado. Nao faziam isso na oe Jo dscuso ffiedmaniano. Segundo este novo discurso, 0 eeedo deve intervie no setor da infra-estrutura, na educago e na eeide, A corrente ncocléssica trata de redefinir a intervengdo es- fat, limitando-a a estes Ambitos. No que conceme a estas ques- tbes 0 Banco Mundial mudou. Tampouco devemos esquecer que tia algum tempo este organismo chegou a ser keynesiano. Acredi- to que ainda existem margens de manobra em face da politica dessasinttuiges. Estas margens passam por uma redefinigio do Estado e do mercado. ‘Nesse sentido, hoje so necessérias duas coisas. Primeiro, ‘uma intervengéo do Estado contra as desigualdades sociais, man- tendo-se o reconhecimento do novo papel do mercado. Depois, 0 reconhecimento de que © mercado nio pode gerar empresétios de forma espontinea. Isto se tomou uma tarefa impossivel diante da crescentesofisticagdo industrial. O Estado deve intervir, mas no da forma que o fazia antes. Essa intervengao deve favorecer cof tas estrturasindustrais. Isto se chama politica industrial. Creio que uma corrente social-democrata de esquerda pode ser absol= SE Cmpatvel com as privatizagbes se estas contemplaren Codey st Scales forem acompanhadas — 20 CO intl mea "8 Argentina e no México — de uma police tica industrial, 10s perftitamente ter, entio, privatizagdes com po! Taito com intervengdo dreta por parte do Estado. lagées cee hunea, & necessirio reinventar novas fe 10 o Estado, Para que cair no simplismo 170 corrente hayeckiana? Poderemos, ass ‘ ‘encontramos € escapar a certas clasitearbe, do dilema em gue nos Alguns liberais me consideram um ker ou leas, la, Outros, um neomarxista empedemida, 0a até a med tos keynesianos © muitos marxistas me considesn «Ue ‘Talvoz. seja porque eles se encontram numa posigio ree Creio que a redefinigo do papel do Esado enon set tarefa central para a esquerda, Nesse sentido, G nessa om sar melhor 0 rumo que deve tomar uma politica nda oe ; : : stil asso- ciada a uma nova modalidade de intervengo esta volt climinar as desigualdades na distribuigdo do ingreso sec isto implique a ampliagdo da burocracia eae GORAN THERBORN — 0 Perry spontou par inporantes conexdes, ou “‘correias de transmissio”, existentes entre doutri- nas ¢ politicas. E verdade que a doutrina econdmica predominan. te € a do neoliberalismo. Isso nos permite examina que con®. es slo necessirias para que a doutrina neoliberal coniga efetivamente penetrar na esfera politica. Onde os partidos de massa ¢ a sociedade civil sio fortes, 0s politicos tendem a estar enraizados na sociedade civil. Onde isto ocore, seria de se espe- rar uma influéneia menor da doutrina neoliberal. Ness cas0, os poderes dos ministros de Finangas (como, social-democracia sueca, a quem o Perry dos porque a social-democracia se apsia num movimento muito bem estruturado, assim como a democracia crsti alema. Paises que carecem de uma estrutura partidéria sélida, como aqui na América Latina, enfrentam riscos muito maior. Isso expla por que a doutrina neoliberal péde triunfar na Espanha, onde a estrutura Partidaria é mais frigil. O poder dos ministrs de Finangas, nesses casos, & menos limitado pela ago de outros ministos que tém de atender a outros interesses, O Helmuth Kohl certaments nunca aSSi- ™miu por completo a doutrina neoliberal, porque, © 0 Hivesse feito, Seu projeto de reunificago alema tera ido poréguaabiso. ATILIO BORON —Com base em todas as intervenes tas até aqui, fica evidente que estamos em face de ums HE Caracterizada pelo surgimento de uma nova ortodoxin Que tem se expandido no plano universal. Esse proc nio foi 171 Digitalizado com CamScanner

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