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Padrões de Atenção Na Esquizofrenia Paranóide Autor Victor Cláudio
Padrões de Atenção Na Esquizofrenia Paranóide Autor Victor Cláudio
Padrões de atenção
na Esquizofrenia Paranóide
Para melhor compreensão das alterações Para H. Ey (1978), a alteração seria re-
dos padrões de atenção na esquizofrenia, sultante de dois fenómenos: a dispersão da
parece-nos importante começar por definir atenção espontânea e a ineficácia da aten-
o conceito de atenção. Segundo o DSM 111, ção voluntária. Para a alteração da aten-
atenção é a «capacidade de se concentrar ção concorreriam, também, factores como
de um modo fixo numa tarefa ou activi- alterações de concentração de pensamento
dade». ( I ) e diferenciação perceptiva.
A capacidade de atenção pode ser alte- Depois desta referência, necessariamente
rada, devido a numerosos factores. Embora breve, às alterações da atenção em geral
o que mais nos interesse, no âmbito deste debrucemo-nos sobre a forma específica
trabalho sejam as alterações da atenção destas alterações da esquizofrenia.
i nos esquizofrénicos, pensamos ser relevante
focar numa primeira abordagem, as altera-
Vários trabalhos foram realizados com o
objectivo de estudar a alteração da atenção
ções da atenção em geral. nos esquizofrénicos. Referimos como exem-
Ainda segundo o DSM 111, há dois tipos plo, os de Medrick e Shakow (1940), que
de atenção: um que se caracteriza por uma através da utilização dos Tempos de Reac-
deficiente capacidade da atenção, acompa- ção, mostraram que os esquizofrénicos ma-
nhada de hiperactividade; o outro, em que nifestam uma incapacidade (provavelmente
esta componente, hiperactividade, não esta- originada pela não utilização de mecanis-
ria presente. mos de atenção adequados) para manter
As manifestações da alteração da aten- uma série mental.
ção seriam:
Os de Goldstein (1942), em que afirma
- Dificuldades em finalizar uma tarefa.
- Distracção na execução da tarefa. a existência, nos esquizofrénicos, de uma
- Dificuldade de concentração. dificuldade em deslocar voluntariamente a
atenção de um para outro aspecto de uma
mesma situação.
(*) Assitente no instituto Superior de Psi-
cologia Aplicada.
Outras teorias, sobre as que nos vamos
v) In DSM 111. American Psychiatric Asso- deter mais em pormenor, já que são nuclea-
ciation, 1980. res para o nosso trabalho, defendem que
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as alterações da atenção na esquizofrenia é um déficit no input de informação. Por
resultado de deficit no input. exemplo a teoria de Mednick (1958) p r e
Para se compreender estas teorias é im- coniza que o déficit dos inputs na esquizo-
portante fazer a distinção entre as duas frenia, seria resultado na fase aguda, de
fases da esquizofrenia, i.e. a fase aguda e a uma hiperactividade e consequente hiper-
fase crónica. generalização de estímulos e na fase cró-
Para Mednick (1958) a fase aguda da nica por uma perda da emocionalidade e
esquizofrenia seria resultado da utilização um afastamento do meio. Esta teoria pode
de defesas irrealistas tendentes a reduzir a ser contrastada com a de Broadbent (1958)
ansiedade consequente da hipergeneraliza- que preconiza que o déficit do input tem
ção de estímulos, que têm origem na hipe- lugar num momento inicial do processa-
ractividade característica desta fase. A fase mento de informação.
crónica seria caracterizada pela perda da No sentido de contribuir para um escla-
emocionalidade e, consequentemente, pela recimento deste problema, desenhamos uma
redução da hipergeneralização de estímulos. situação experimental na qual ao processa-
Para Fish (1961) a fase inicial da esqui- mento de informação seria estudado nestes
zofrenia é resultante da hiperactividade do dois níveis -central e periférico- em
sistema recticular. Outra posição é defen- correlação com as medidas de alerta cor-
dida por Weckwicz (1958), que preconiza tical.
a existência de um aumento excessivo dos Fizemos variar dois tipos de factores - a
inputs sensoriais e hipergeneralização na presença de actividade delirante e de per-
fase aguda, e uma redução da consciência turbações emocionais - evidenciados no
dos estímulos exteriores e afastamento, na exame clínico e nas escalas de avaliação.
fase crónica. A finalidade do nosso trabalho é testar
Onde estas teorias diferem, é na base as seguintes hipóteses como sendo relevan-
explicativa para este tipo de fenómenos. tes, na sua contribuição para o déficit de
Assim, por um lado, para Mednick e Fish, rendimento cognitivo na esquizofrenia.
existe na fase aguda uma hiperactividade Colocamos como estando relacionadas
ou uma elevada actividade recticular, que com o déficit de atenção na esquizofrenia
se vai reduzindo com a evolução para a fase as seguintes hipóteses:
crónica, por outro lado Weckowick preco-
niza a existência, na fase aguda, de uma 1.“ - Existência de um déficit no input
hiperactividade parasimpática que se des- de informação.
loca para uma hiperactividade simpática 2.”- Existência de um déficit no pro-
na fase crónica. Esta hiperactividade sim- cessamento central de informação.
pática dificultaria a recepção dos inputs 3.”- Existência de uma modificação no
sensoriais e segundo Callaway e Thompson estado de alerta cortical.
(1953), iria restrigir a atenção.
Várias são as posições sobre este assunto, Neste estudo utilizamos três grupos:
contudo há um pouto de acordo: Na esqui-
zofrenia existe uma limitação da atenção -Um grupo de trinta sujeitos com o
que advem de uma disfunção do input. diagnóstico de esquizofrenia para-
A partir da revisão que fizemos dos es- nóide .
tudos referentes h atenção na esquizofrenia, -Um grupo de controle de quinze su-
concluimos serem os resultados da litera- jeitos com distúrbios distímicos.
tura extremamente contraditórios, princi- - Um grupo de controle de trinta sujei-
palmente no que se refere A existência de tos voluntários normais.
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Com o objectivo de analisar a influência Como teste de Controle utilizamos a
da actividade delirante nos padrões de aten- Memória de Digitos.
ção na esquizofrenia, dividimos o grupo de Explicaremos agora a razão da escolha
doentes esquizofrénicos em dois subgrupos: destas provas:
- Uin subgrupo de quinze sujeitos es- Teste de Stroop - Este teste concebi-
quizofrénicos paranóides produtivos, do por Stroop (1935), permite medir de
i. e., que no momento da observação uma forma exacta e eficaz as diferenças
apresentavam actividade delirante. individuais ocorridas nas realizações sim-
-Um subgrupo de quinze sujeitos es- ples. fi um instrumento valioso na medi-
quizofrénicos paranóides não produ- ção da atenção, já que coloca o sujeito
tivos, i.e., que não apresentavam acti- numa situação de discriminação de estí-
vidade delirante no momento da obser- mulos, cujo tempo de realização é tanto
vação. melhor, quanto mais adequados os meca-
nismos de atenção interveníentes.
Para avaliarmos os sujeitos esquizofréni-
cos paranóides utilizamos o Presant Stata Neste trabalho aplicamos uma das ver-
Examination - P. S. E. - (9." ed. tradu- sões deste teste, em que utilizamos dois car-
ção portuguesa). tões. O primeiro cartão é constituído por
Na avaliação dos sujeitos com distúrbios grupo de cruzes de quatro cores-verme-
distímicos utilizamos a Escala de Depressão lho, preto, verde, azul-. O segundo car-
de Beck e a história clínica. tão é formado pelos nomes das cores utili-
O critério de inclusão dos sujeitos esqui- zadas. As cores podem estar escritas com
zofrénicos nos subgrupos foi o seguinte: tinta de cor diferente daquela a que se re-
fere: por exemplo a palavra «vermelho»
-Sujeitos com cotação 2 (dois) em escrita com tinta verde. Tanto a escolha
qualquer dos sintomas relacionados da disposição das palavras quanto a cor a
com actividade delirante e sem crítica que foram escritas foi aleatória.
2 doença foram incluídos no sub- Cada grupo do primeiro cartão, tinha um
grupo de esquizofrénicos paranóides número de cruzes idêntico ao número de
produtivos. letras da palavra correspondente do segun-
-Sujeitos com cotação O (zero) ou 1 do cartão e a mesma cor com que esta era
(um) nesses sintomas e que faziam crí- escrita: por exemplo se no segundo cartão
tica ii doença, foram incluídos no sub- estava a palavra «azul» escrita a tinta ver-
grupo de esquizofrénicos paranóides melha, estaria no primeiro cartão no local
não produtivos. correspondente um grupo de quatro cruzes
vermelhas.
O critério de inclusão de sujeitos com Cada cartão continha, cem palavras ou
distúrbios distímicos foi o obterem na Es- grupos de cruzes, dispostos em dez linhas
cala de Depressão de Beck, um resultado verticais e dez linhas horizontais.
total de pelo menos 15 (quinze) pontos. O teste foi aplicado da seguinte forma:
Para testarmos as nossas hipóteses utili-
zamos: 1 .O - Apresentava-se o primeiro cartão
ao sujeito e pedia-se que dissesse
-Teste de Stroop a cor dos diferentes grupos de cru-
-Frequência Crítica de Fusão zes, lendo na horizontal, da es-
-Tempos de Reacção. querda para a direita.
237
2."-Apresentava-se o segundo cartão N o teste de Stroop
dizendo ao sujeito que deveria di-
zer as cores a que as palavras esta- - Os sujeitos esquizofrénicos paranói-
vam escritas, na mesma ordem que des produtivos apresentam uma dificuldade
no primeiro cartão. significativamente maior que os sujeitos vo-
luntários normais, em seleccionar e eliminar
Registava-se os tempos de ambas as lei- estímulos, que contêm informação contra-
turas, sendo o resultado final obtido atra- ditória - por exemplo, palavra verde es-
vés da diferença entre o tempo realizado na crita a tinta vermelha -, não discriminan-
leitura do segundo cartão e o tempo de do a informação visual perceptiva da infor-
leitura do primeiro cartão. Este resultado mação verbal do significado. Esta discrimi-
é o que melhor permite observar o factor nação dar-se-ia em estádios não periféricos
interferência no teste de Stroop. do processamento de informação.
- Os esquizofrénicos paranóides não
Frequência Crítica de Fusão - Esta produtivos, comparados com os sujeitos vo-
prova foi utilizada por permitir avaliar luntários normais, apresentam um maior
qual a interferência da modificação do deficit no processamento central de infor-
estado de alerta cortical, nos padrões de mação.
atenção. - Não se observam diferenças significa-
Tempos de Reacção - A medida dos tivas, comparando os esquizofrénicos para-
tempos de reacção permite-nos avaliar o nóides produtivos com os não produtivos,
tempo dispendido para reconhecer o estí- ainda que estes apresentem melhores reali-
mulo (Display 1) e para responder ao zações.
estímulo (Display 2). Através deste teste -Na comparação entre esquizofrénicos
podemos avaliar o déficit do input de paranóides produtivos e sujeitos com dis-
informação. túrbios distímicos, a diferença não é signi-
Memória de Digitos - Este teste per- ficativa, sendo o nível de realização sensi-
mite-nos controlar a existência de alte- velmente igual.
rações da memória imediata e conse- - Comparando esquizofrénicos paranói-
quentemente a relação entre o déficit de des não produtivos com os sujeitos com
memória imediata e as alterações dos pa- distúrbios distímicos, as diferenças obser-
drões de atenção. Este teste permite-nos vadas também não são significativas. Con-
também avaliar o déficit no input de in- tudo o nível de realização dos esquizofré-
formação. nicos é superior.
-Na comparação entre esquizofrénicos
Para o tratamento estatístico dos resul, paranóides deprimidos e esquizofrénicos
tados utilizamos o teste não paramétrico de paranóides não deprimidos, a diferença não
Mahn-Witney e a Análise de Variância é significativa. O nível de realizações tam-
(ANOVA). bém não é diferente.
- Entre os esquizofrénicos paranóides
deprimidos e os sujeitos com distúrbios dis-
RESULTADOS tímicos as diferenças não são significati-
vas, embora o nível de realização seja supe-
Vamos seguidamente analisar os resulta- rior no primeiro grupo.
dos obtidos pelos diferentes grupos nos tes- -Na comparação entre esquizofrénicos
tes aplicados. Para esta análise optamos paranóides em geral e sujeitos com distúr-
por comparar os grupos dois a dois. bios distímicos a diferença não é signifi-
238
cativa. Regista-se contudo uma melhor rea- cativas (Quadro 1) neste teste. Contudo os
lização por parte do grupo de esquizofréni- esquizofrénicos paranóides produtivos apre-
COS . sentam um índice de sucessos mais ele-
-Comparando esquizofrénicos paranói- vado (Quadro 2). Estes resultados apontam
des em geral e sujeitos voluntários normais, para um déficit da memória imediata se-
observa-se uma diferença significativa. Este melhante para os dois grupos.
resultado aponta para a existência de um -Comparando esquizofrénicos paranói-
déficit do processamento central da infor- des não produtivos com sujeitos com dis-
mação, nos esquizofrénicos paranóides. túrbios distímicos, a diferença encontrada
é significativa (Quadro í),sendo o nível
Analisando os resultados do teste de Me- de sucessos do primeiro grupo bastante su-
mória de Digitos temos que: perior a do segundo grupo (Quadro 2). Es-
tes resultados apontam para uma maior di-
-Na comparação entre esquizofrénicos ficuldade da memória imediata nos sujeitos
paranóides produtivos e sujeitos voluntá- com distúrbios distímicos.
rios normais a diferença é significativa
(Quadro i), o que aponta para um deficit
da memória imediata nos esquizofrénicos No teste de Frequência Crítica de Fusão
produtivos. A menor capacidade de reten-
ção imediata que se observa nos esquizofré- -Não se observam diferenças significa-
nicos paranóides produtivos (Quadro 2) vai tivas entre esquizofrénicos paranóides pro-
ao encontro da hipótese de que neste grupo dutivos e sujeitos voluntários normais (Qua-
estaria associada uma alteração da memó- dro l). Este resultado é contrário 5 hipótese
ria imediata ao deficit do processamento de de existência de uma alteração do estado
informação. de alerta no grupo de esquizofrénicos para-
-Na comparação entre esquizofrénicos nóides produtivos.
paranóides não produtivos e sujeitos volun- -Entre os esquizofrénicos paranóides
tários normais a diferença não é significa- não produtivos e os voluntários normais,
tiva (Quadro 1). Sendo o nível de sucessos as diferenças também não são significati-
muito similar nos dois grupos (Quadro 2). vas (Quadro 1).
Estes resultados contrariam a teoria do de- Este resultado vem reforçar a hipótese
~
ficit do input, no que se refere aos esqui- de que as alterações do estado do alerta
zofrénicos paranóides não produtivos. não são significativas nos esquizofrénicos,
-Entre os grupos de esquizofrénicos pa- quer produtivos quer não produtivos. Sur-
ranóides produtivos e não produtivos, re- gem também grandes reservas quanto as hi-
gista-se uma diferença significativa nos póteses que relacionam alterações do estado
resultados deste teste (Quadro 1). Os esqui- do alerta com o déficit de atenção.
zofrénicos produtivos apresentam um ín- -Não se registam entre os esquizofré-
dice de sucessos inferior (Quadro 2). Estes nicos paranóides produtivos e não produ-
resultados apontam para uma maior dificul- tivos, diferenças significativas (Quadro 1).
dade dos esquizofrénicos paranóides pro- Este resultado pode indicar que a activi-
duzidos na memória imediata o que estaria dade delirante não tem influência na modi-
relacionado com alterações da concentração ficação do alerta cortical.
da atenção. -Entre os esquizofrénicos produtivos e
-Entre os esquizofrénicos paranóides os sujeitos com distúrbios distímicos as di-
produtivos e os sujeitos com distúrbios dis- ferenças registadas não são significativas
tímicos não se observam diferenças signifi- (Quadro 1).
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-Na comparação entre esquizofrénicos não se observam diferenças significativas
não produtivos com sujeitos com distúrbios no tempo de resposta ao estímulo nem no
distímicos, a diferença é significativa (Qua- tempo de reconhecimento do estímulo (Qua-
dro l ) . Situando-se o resultado obtido pelo dro l ) . Contudo em qualquer dos dois casos
grupo de esquizofrénicos mais próximo do os não produtivos obtém melhores tempos
valor considerado normal, i.e., o obtido que os produtivos (Quadro 2). Estes resul-
pelo grupo de controle de sujeitos voluntá- tados vão contra a hipótese de que a activi-
rios normais, do que o resultado do grupo dade delirante prejudica os padrões de aten-
de sujeitos com distúrbios distímicos (Qua- ção.
dro 2). Estes resultados apontam para a - Entre os esquizofrénicos produtivos e
existência de uma relação entre as altera- os sujeitos com distúrbios distímicos, as di-
ções emocionais da linha depressiva e a ferenças registadas não são significativas
modificação do estado de alerta. para qualquer dos tempos medidos - tem-
po de resposta ao estímulo e tempo de re-
conhecimento ao estímulo (Quadro 1). Con-
No teste de Tempos de Reacção tudo o grupo de esquizofrénicos apresenta
tempos ligeiramente melhores (Quadro 2).
-A diferença entre esquizofrénicos pa- - Entre esquizofrénicos não produtivos
ranóides produtivos e sujeitos voluntários e os sujeitos com distúrbios distímicos,
normais, é significativa tanto no tempo de observamos diferenças significativas nos
resposta ao estímulo, como no tempo de re- dois tempos medidos - tempo de resposta
conhecimento do estímulo (Quadro 1 ) . Em ao estímulo e tempo de reconhecimento do
qualquer dos casos o grupo de esquizofré- estímulo (Quadro 2). Estes resultados apon-
nicos é significativamente mais lento (Qua- tam para um déficit mais acentuado, no
dro 2). Estes resultados estão de acordo input de informação, por parte dos sujeitos
com a hipótese de existência de uma hiper- com distúrbios distímicos.
estimulação nos esquizofrénicos produtivos. Concluída a síntese dos resultados, pas-
Esta hiperestimulação seria resultado da samos a expor os Padrões de Atenção dos
interferência de estímulos internos, relacio- grupos estudados.
nados com a actividade delirante, e iria
estar na base de um deficit do input de
informação e consequentemente de uma Esquizofrénicos paranóides produtivos
alteração das respostas aos estímulos, por
parte deste grupo de esquizofrénicos. Os sujeitos esquizofrénicos paranóides
-Entre os esquizofrénicos paranóides produtivos apresentam um déficit significa-
não produtivos e os sujeitos voluntários tivo no processamento central da informa-
normais, as diferenças são significativas no ção, que decorre de uma grande dificul-
tempo de resposta ao estímulo e no tempo dade em discriminar e seleccionar os estí-
de reconhecimento do estímulo (Quadro 1) mulos que contêm informação contraditó-
observando-se também uma lentificação por ria. Este déficit é observável pelos resulta-
parte do grupo de esquizofrénicos (Qua- dos obtidos no teste de Stroop.
dro 2). Estes resultados apontam para a Neste grupo é notória a influência nega-
existência de um corte com os estímulos ex- tiva, no sentido de um retardamento na res-
teriores, realizado pelos esquizofrénicos não posta aos estímulos exteriores, de uma hi-
produtivos em provas do tempo de reacção. perestimulação resultante dos estímulos in-
-Na comparação entre esquizofrénicos ternos ligados h actividade delirante. Esta
paranóides produtivos e não produtivos, hiperestimulação seria responsável por um
240
deficit no input de informação caracterís- Sujeitos com distúrbios distímicos
tico dos esquizofrénicos paranóides produ-
tivos, como foi comprovado pelo teste de Os sujeitos deste grupo de controle apre-
Tempos de Reacção. sentam as seguintes características no pa-
O déficit que apresentam na memória drão de atenção:
imediata, estará, possivelmente relacionado
com um déficit no input e no processamento -Déficit muito acentuado no processa-
central de informação. mento central de informação, com a
Em resumo, os esquizofrénicos paranói- consequente dificuldade em discrimi-
des produtivos apresentam: nação de estímulos.
-Déficit muito acentuado da memória
-Déficit do processamento central de imediata associada a um deficit no
informação. input de informação.
-Déficit no input de informação que - Significativo retardamento, em rela-
pode ser resultado de uma interferên- ção aos outros grupos, nas respostas
cia ou hiperestimulação por estímulos aos estímulos exteriores.
não relevantes.
Estes déficits são significativamente su-
periores aos dos esquizofrénicos paranóides
Esquizofrénicos paranóides não produtivos de qualquer subgrupo, o que nos leva a
concluir o padrão de atenção que hipoteti-
O padrão de atenção deste grupo é se- camente seria característico dos esquizofré-
melhante ao dos esquizofrénicos paranóides nicos paranóides, é, através dos resultados
produtivos, embora com déficits menos sig- obtidos neste trabalho, adoptado predomi-
nificativos. E caracterizado por: nantemente pelos sujeitos com distúrbios
distímicos.
-Déficit no processamento central de Pode concluir-se em relação às hipóteses
informação menos significativa. colocadas que, na amostra de esquizofréni-
-Déficit no input de informação, que COS paranóides que estudámos, existe um
pode ser resultado de um corte com déficit de atenção que não está relacionado
os estímulos exteriores o que levaria com alterações no estado de alerta cortical.
a um retardamento no tempo de res- Este déficit pode ser caracterizado como
posta ao estímulo. resultante de alterações, pelo menos em
dois estádios do processamento de informa-
O que diferencia os esquizofrénicos pa- ção - um estádio periférico de limitação
ranóides não produtivos dos produtivos é no input de informação e um estádio cen-
a ausência de alterações da memória ime- tral de impossibilidade em seleccionar os
diata, nos primeiros, em relação a qual estímulos irrelevantes e a informação con-
apresentam resultados semelhantes aos su- traditória. G de assinalar que os esquizofré-
jeitos voluntários normais. Este resultado
nicos paranóides, quando estão deprimidos,
poderá indicar que nos esquizofrénicos pa-
ranóides não produtivos o déficit do input embora obtenham melhores resultados nos
de informação não se deve a uma hiper- testes de memória e atenção, revelam uma
estimulação e consequente dificuldade em significativa modificação do estado de
discernir os estímulos a responder, mas ao alerta cortical - no sentido do abaixamento
corte com os estímulos exteriores já refe- do alerta. Pelo contrário, os esquizofrénicos
rido. paranóides quando não estão deprimidos
241
têm maiores déficits no plano da atenção e variáveis relacionadas com a eficiência in-
da memória, mas não revelam modifica- telectual, etc.
ções do estado de alerta - apresentam re- O nosso trabalho fez salientar a impor-
sultados próximos dos sujeitos normais. tância de controlar os factores motivacio-
Parece que há na esquizofrenia, na amos- nais e emocionais, eventualmente com a uti-
tra que estudámos, uma relação directa en- lização de outros instrumentos de medida,
tre o factor depressivo e modificações no nos estudos sobre o rendimento cognitivo
estado de alerta. A influência deste factor na esquizofrenia. Provavelmente a impor-
não parece susceptível de ser mais anali- tância deste factores tem sido negligenciada
sada com os dados de que dispomos. nas tentativas de compreensão e de expli-
Outra conclusão que pode ser retirada cação do estado deficitário habitualmente
deste trabalho é a de que os sujeitos depri- descrito como característico da esquizofre-
midos apresentam uns déficits cognitivos nia, quer seja o que surge em concomitân-
muito acentuados, que poderiam ser objecto cia com o surto psicótico, quer seja o que
de um estudo isolado com o controle de caracteriza a esquizofrenia residual -es-
outras variáveis, tais como: tipo e doses de tado de defeito para a psicopatologia clí-
antidepressivos, nível de motivação, outras nica.
QUADRO 1
Análise da varidncia (ANOVA) dos resultados obtidos pelos grupos nos diferentes testes
Gnipos
Testes
Memória
-
Frequência
Tempos de reacção
II
Stroop de crítica Display 2 Display 1
digitos de fusão
EPP
vs F = 10.09 ** F = 19.77 *** F = 0.13 F = 26.17 *** F = 16 ***
NOR
EPF
vs F = 4.72 * F = 2.74 F = 2.51 F = 8.71 *** F = 6.75 *
NOR
EPP
VS F = 1.51 F = 4.47 * F = 3.61 F = 3.59 F = 3.25
EPP
EPP
vs F = 0.001 F = 3.78 F = 1.31 F = 0.03 F = 0.02
D.D
EPP
vs F = 1.96 F = 10.75 ** F = 9.23 ** F = 6.65 * F=4.54*
D.D
242
QUADRO 2
Quadro das médias obtidas pelos grupos, nos testes aplicados
I
Tempo crítico
Stroop de de fusão Display 2 Display 1
digitos
~ ~~ ~~~ ~-
EPP
D.D
NOR
54.8
74.87
39.8
10.13
11,2
7.33
33.83
30.38
32.15
0.79
1.077
0.62
i ;; 0.47
243
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