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Análise Psicológica (1988), 2 (VI): 235-244

Padrões de atenção
na Esquizofrenia Paranóide

VICTOR CLAUDIO (*)

Para melhor compreensão das alterações Para H. Ey (1978), a alteração seria re-
dos padrões de atenção na esquizofrenia, sultante de dois fenómenos: a dispersão da
parece-nos importante começar por definir atenção espontânea e a ineficácia da aten-
o conceito de atenção. Segundo o DSM 111, ção voluntária. Para a alteração da aten-
atenção é a «capacidade de se concentrar ção concorreriam, também, factores como
de um modo fixo numa tarefa ou activi- alterações de concentração de pensamento
dade». ( I ) e diferenciação perceptiva.
A capacidade de atenção pode ser alte- Depois desta referência, necessariamente
rada, devido a numerosos factores. Embora breve, às alterações da atenção em geral
o que mais nos interesse, no âmbito deste debrucemo-nos sobre a forma específica
trabalho sejam as alterações da atenção destas alterações da esquizofrenia.
i nos esquizofrénicos, pensamos ser relevante
focar numa primeira abordagem, as altera-
Vários trabalhos foram realizados com o
objectivo de estudar a alteração da atenção
ções da atenção em geral. nos esquizofrénicos. Referimos como exem-
Ainda segundo o DSM 111, há dois tipos plo, os de Medrick e Shakow (1940), que
de atenção: um que se caracteriza por uma através da utilização dos Tempos de Reac-
deficiente capacidade da atenção, acompa- ção, mostraram que os esquizofrénicos ma-
nhada de hiperactividade; o outro, em que nifestam uma incapacidade (provavelmente
esta componente, hiperactividade, não esta- originada pela não utilização de mecanis-
ria presente. mos de atenção adequados) para manter
As manifestações da alteração da aten- uma série mental.
ção seriam:
Os de Goldstein (1942), em que afirma
- Dificuldades em finalizar uma tarefa.
- Distracção na execução da tarefa. a existência, nos esquizofrénicos, de uma
- Dificuldade de concentração. dificuldade em deslocar voluntariamente a
atenção de um para outro aspecto de uma
mesma situação.
(*) Assitente no instituto Superior de Psi-
cologia Aplicada.
Outras teorias, sobre as que nos vamos
v) In DSM 111. American Psychiatric Asso- deter mais em pormenor, já que são nuclea-
ciation, 1980. res para o nosso trabalho, defendem que

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as alterações da atenção na esquizofrenia é um déficit no input de informação. Por
resultado de deficit no input. exemplo a teoria de Mednick (1958) p r e
Para se compreender estas teorias é im- coniza que o déficit dos inputs na esquizo-
portante fazer a distinção entre as duas frenia, seria resultado na fase aguda, de
fases da esquizofrenia, i.e. a fase aguda e a uma hiperactividade e consequente hiper-
fase crónica. generalização de estímulos e na fase cró-
Para Mednick (1958) a fase aguda da nica por uma perda da emocionalidade e
esquizofrenia seria resultado da utilização um afastamento do meio. Esta teoria pode
de defesas irrealistas tendentes a reduzir a ser contrastada com a de Broadbent (1958)
ansiedade consequente da hipergeneraliza- que preconiza que o déficit do input tem
ção de estímulos, que têm origem na hipe- lugar num momento inicial do processa-
ractividade característica desta fase. A fase mento de informação.
crónica seria caracterizada pela perda da No sentido de contribuir para um escla-
emocionalidade e, consequentemente, pela recimento deste problema, desenhamos uma
redução da hipergeneralização de estímulos. situação experimental na qual ao processa-
Para Fish (1961) a fase inicial da esqui- mento de informação seria estudado nestes
zofrenia é resultante da hiperactividade do dois níveis -central e periférico- em
sistema recticular. Outra posição é defen- correlação com as medidas de alerta cor-
dida por Weckwicz (1958), que preconiza tical.
a existência de um aumento excessivo dos Fizemos variar dois tipos de factores - a
inputs sensoriais e hipergeneralização na presença de actividade delirante e de per-
fase aguda, e uma redução da consciência turbações emocionais - evidenciados no
dos estímulos exteriores e afastamento, na exame clínico e nas escalas de avaliação.
fase crónica. A finalidade do nosso trabalho é testar
Onde estas teorias diferem, é na base as seguintes hipóteses como sendo relevan-
explicativa para este tipo de fenómenos. tes, na sua contribuição para o déficit de
Assim, por um lado, para Mednick e Fish, rendimento cognitivo na esquizofrenia.
existe na fase aguda uma hiperactividade Colocamos como estando relacionadas
ou uma elevada actividade recticular, que com o déficit de atenção na esquizofrenia
se vai reduzindo com a evolução para a fase as seguintes hipóteses:
crónica, por outro lado Weckowick preco-
niza a existência, na fase aguda, de uma 1.“ - Existência de um déficit no input
hiperactividade parasimpática que se des- de informação.
loca para uma hiperactividade simpática 2.”- Existência de um déficit no pro-
na fase crónica. Esta hiperactividade sim- cessamento central de informação.
pática dificultaria a recepção dos inputs 3.”- Existência de uma modificação no
sensoriais e segundo Callaway e Thompson estado de alerta cortical.
(1953), iria restrigir a atenção.
Várias são as posições sobre este assunto, Neste estudo utilizamos três grupos:
contudo há um pouto de acordo: Na esqui-
zofrenia existe uma limitação da atenção -Um grupo de trinta sujeitos com o
que advem de uma disfunção do input. diagnóstico de esquizofrenia para-
A partir da revisão que fizemos dos es- nóide .
tudos referentes h atenção na esquizofrenia, -Um grupo de controle de quinze su-
concluimos serem os resultados da litera- jeitos com distúrbios distímicos.
tura extremamente contraditórios, princi- - Um grupo de controle de trinta sujei-
palmente no que se refere A existência de tos voluntários normais.

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Com o objectivo de analisar a influência Como teste de Controle utilizamos a
da actividade delirante nos padrões de aten- Memória de Digitos.
ção na esquizofrenia, dividimos o grupo de Explicaremos agora a razão da escolha
doentes esquizofrénicos em dois subgrupos: destas provas:

- Uin subgrupo de quinze sujeitos es- Teste de Stroop - Este teste concebi-
quizofrénicos paranóides produtivos, do por Stroop (1935), permite medir de
i. e., que no momento da observação uma forma exacta e eficaz as diferenças
apresentavam actividade delirante. individuais ocorridas nas realizações sim-
-Um subgrupo de quinze sujeitos es- ples. fi um instrumento valioso na medi-
quizofrénicos paranóides não produ- ção da atenção, já que coloca o sujeito
tivos, i.e., que não apresentavam acti- numa situação de discriminação de estí-
vidade delirante no momento da obser- mulos, cujo tempo de realização é tanto
vação. melhor, quanto mais adequados os meca-
nismos de atenção interveníentes.
Para avaliarmos os sujeitos esquizofréni-
cos paranóides utilizamos o Presant Stata Neste trabalho aplicamos uma das ver-
Examination - P. S. E. - (9." ed. tradu- sões deste teste, em que utilizamos dois car-
ção portuguesa). tões. O primeiro cartão é constituído por
Na avaliação dos sujeitos com distúrbios grupo de cruzes de quatro cores-verme-
distímicos utilizamos a Escala de Depressão lho, preto, verde, azul-. O segundo car-
de Beck e a história clínica. tão é formado pelos nomes das cores utili-
O critério de inclusão dos sujeitos esqui- zadas. As cores podem estar escritas com
zofrénicos nos subgrupos foi o seguinte: tinta de cor diferente daquela a que se re-
fere: por exemplo a palavra «vermelho»
-Sujeitos com cotação 2 (dois) em escrita com tinta verde. Tanto a escolha
qualquer dos sintomas relacionados da disposição das palavras quanto a cor a
com actividade delirante e sem crítica que foram escritas foi aleatória.
2 doença foram incluídos no sub- Cada grupo do primeiro cartão, tinha um
grupo de esquizofrénicos paranóides número de cruzes idêntico ao número de
produtivos. letras da palavra correspondente do segun-
-Sujeitos com cotação O (zero) ou 1 do cartão e a mesma cor com que esta era
(um) nesses sintomas e que faziam crí- escrita: por exemplo se no segundo cartão
tica ii doença, foram incluídos no sub- estava a palavra «azul» escrita a tinta ver-
grupo de esquizofrénicos paranóides melha, estaria no primeiro cartão no local
não produtivos. correspondente um grupo de quatro cruzes
vermelhas.
O critério de inclusão de sujeitos com Cada cartão continha, cem palavras ou
distúrbios distímicos foi o obterem na Es- grupos de cruzes, dispostos em dez linhas
cala de Depressão de Beck, um resultado verticais e dez linhas horizontais.
total de pelo menos 15 (quinze) pontos. O teste foi aplicado da seguinte forma:
Para testarmos as nossas hipóteses utili-
zamos: 1 .O - Apresentava-se o primeiro cartão
ao sujeito e pedia-se que dissesse
-Teste de Stroop a cor dos diferentes grupos de cru-
-Frequência Crítica de Fusão zes, lendo na horizontal, da es-
-Tempos de Reacção. querda para a direita.

237
2."-Apresentava-se o segundo cartão N o teste de Stroop
dizendo ao sujeito que deveria di-
zer as cores a que as palavras esta- - Os sujeitos esquizofrénicos paranói-
vam escritas, na mesma ordem que des produtivos apresentam uma dificuldade
no primeiro cartão. significativamente maior que os sujeitos vo-
luntários normais, em seleccionar e eliminar
Registava-se os tempos de ambas as lei- estímulos, que contêm informação contra-
turas, sendo o resultado final obtido atra- ditória - por exemplo, palavra verde es-
vés da diferença entre o tempo realizado na crita a tinta vermelha -, não discriminan-
leitura do segundo cartão e o tempo de do a informação visual perceptiva da infor-
leitura do primeiro cartão. Este resultado mação verbal do significado. Esta discrimi-
é o que melhor permite observar o factor nação dar-se-ia em estádios não periféricos
interferência no teste de Stroop. do processamento de informação.
- Os esquizofrénicos paranóides não
Frequência Crítica de Fusão - Esta produtivos, comparados com os sujeitos vo-
prova foi utilizada por permitir avaliar luntários normais, apresentam um maior
qual a interferência da modificação do deficit no processamento central de infor-
estado de alerta cortical, nos padrões de mação.
atenção. - Não se observam diferenças significa-
Tempos de Reacção - A medida dos tivas, comparando os esquizofrénicos para-
tempos de reacção permite-nos avaliar o nóides produtivos com os não produtivos,
tempo dispendido para reconhecer o estí- ainda que estes apresentem melhores reali-
mulo (Display 1) e para responder ao zações.
estímulo (Display 2). Através deste teste -Na comparação entre esquizofrénicos
podemos avaliar o déficit do input de paranóides produtivos e sujeitos com dis-
informação. túrbios distímicos, a diferença não é signi-
Memória de Digitos - Este teste per- ficativa, sendo o nível de realização sensi-
mite-nos controlar a existência de alte- velmente igual.
rações da memória imediata e conse- - Comparando esquizofrénicos paranói-
quentemente a relação entre o déficit de des não produtivos com os sujeitos com
memória imediata e as alterações dos pa- distúrbios distímicos, as diferenças obser-
drões de atenção. Este teste permite-nos vadas também não são significativas. Con-
também avaliar o déficit no input de in- tudo o nível de realização dos esquizofré-
formação. nicos é superior.
-Na comparação entre esquizofrénicos
Para o tratamento estatístico dos resul, paranóides deprimidos e esquizofrénicos
tados utilizamos o teste não paramétrico de paranóides não deprimidos, a diferença não
Mahn-Witney e a Análise de Variância é significativa. O nível de realizações tam-
(ANOVA). bém não é diferente.
- Entre os esquizofrénicos paranóides
deprimidos e os sujeitos com distúrbios dis-
RESULTADOS tímicos as diferenças não são significati-
vas, embora o nível de realização seja supe-
Vamos seguidamente analisar os resulta- rior no primeiro grupo.
dos obtidos pelos diferentes grupos nos tes- -Na comparação entre esquizofrénicos
tes aplicados. Para esta análise optamos paranóides em geral e sujeitos com distúr-
por comparar os grupos dois a dois. bios distímicos a diferença não é signifi-

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cativa. Regista-se contudo uma melhor rea- cativas (Quadro 1) neste teste. Contudo os
lização por parte do grupo de esquizofréni- esquizofrénicos paranóides produtivos apre-
COS . sentam um índice de sucessos mais ele-
-Comparando esquizofrénicos paranói- vado (Quadro 2). Estes resultados apontam
des em geral e sujeitos voluntários normais, para um déficit da memória imediata se-
observa-se uma diferença significativa. Este melhante para os dois grupos.
resultado aponta para a existência de um -Comparando esquizofrénicos paranói-
déficit do processamento central da infor- des não produtivos com sujeitos com dis-
mação, nos esquizofrénicos paranóides. túrbios distímicos, a diferença encontrada
é significativa (Quadro í),sendo o nível
Analisando os resultados do teste de Me- de sucessos do primeiro grupo bastante su-
mória de Digitos temos que: perior a do segundo grupo (Quadro 2). Es-
tes resultados apontam para uma maior di-
-Na comparação entre esquizofrénicos ficuldade da memória imediata nos sujeitos
paranóides produtivos e sujeitos voluntá- com distúrbios distímicos.
rios normais a diferença é significativa
(Quadro i), o que aponta para um deficit
da memória imediata nos esquizofrénicos No teste de Frequência Crítica de Fusão
produtivos. A menor capacidade de reten-
ção imediata que se observa nos esquizofré- -Não se observam diferenças significa-
nicos paranóides produtivos (Quadro 2) vai tivas entre esquizofrénicos paranóides pro-
ao encontro da hipótese de que neste grupo dutivos e sujeitos voluntários normais (Qua-
estaria associada uma alteração da memó- dro l). Este resultado é contrário 5 hipótese
ria imediata ao deficit do processamento de de existência de uma alteração do estado
informação. de alerta no grupo de esquizofrénicos para-
-Na comparação entre esquizofrénicos nóides produtivos.
paranóides não produtivos e sujeitos volun- -Entre os esquizofrénicos paranóides
tários normais a diferença não é significa- não produtivos e os voluntários normais,
tiva (Quadro 1). Sendo o nível de sucessos as diferenças também não são significati-
muito similar nos dois grupos (Quadro 2). vas (Quadro 1).
Estes resultados contrariam a teoria do de- Este resultado vem reforçar a hipótese
~
ficit do input, no que se refere aos esqui- de que as alterações do estado do alerta
zofrénicos paranóides não produtivos. não são significativas nos esquizofrénicos,
-Entre os grupos de esquizofrénicos pa- quer produtivos quer não produtivos. Sur-
ranóides produtivos e não produtivos, re- gem também grandes reservas quanto as hi-
gista-se uma diferença significativa nos póteses que relacionam alterações do estado
resultados deste teste (Quadro 1). Os esqui- do alerta com o déficit de atenção.
zofrénicos produtivos apresentam um ín- -Não se registam entre os esquizofré-
dice de sucessos inferior (Quadro 2). Estes nicos paranóides produtivos e não produ-
resultados apontam para uma maior dificul- tivos, diferenças significativas (Quadro 1).
dade dos esquizofrénicos paranóides pro- Este resultado pode indicar que a activi-
duzidos na memória imediata o que estaria dade delirante não tem influência na modi-
relacionado com alterações da concentração ficação do alerta cortical.
da atenção. -Entre os esquizofrénicos produtivos e
-Entre os esquizofrénicos paranóides os sujeitos com distúrbios distímicos as di-
produtivos e os sujeitos com distúrbios dis- ferenças registadas não são significativas
tímicos não se observam diferenças signifi- (Quadro 1).

239
-Na comparação entre esquizofrénicos não se observam diferenças significativas
não produtivos com sujeitos com distúrbios no tempo de resposta ao estímulo nem no
distímicos, a diferença é significativa (Qua- tempo de reconhecimento do estímulo (Qua-
dro l ) . Situando-se o resultado obtido pelo dro l ) . Contudo em qualquer dos dois casos
grupo de esquizofrénicos mais próximo do os não produtivos obtém melhores tempos
valor considerado normal, i.e., o obtido que os produtivos (Quadro 2). Estes resul-
pelo grupo de controle de sujeitos voluntá- tados vão contra a hipótese de que a activi-
rios normais, do que o resultado do grupo dade delirante prejudica os padrões de aten-
de sujeitos com distúrbios distímicos (Qua- ção.
dro 2). Estes resultados apontam para a - Entre os esquizofrénicos produtivos e
existência de uma relação entre as altera- os sujeitos com distúrbios distímicos, as di-
ções emocionais da linha depressiva e a ferenças registadas não são significativas
modificação do estado de alerta. para qualquer dos tempos medidos - tem-
po de resposta ao estímulo e tempo de re-
conhecimento ao estímulo (Quadro 1). Con-
No teste de Tempos de Reacção tudo o grupo de esquizofrénicos apresenta
tempos ligeiramente melhores (Quadro 2).
-A diferença entre esquizofrénicos pa- - Entre esquizofrénicos não produtivos
ranóides produtivos e sujeitos voluntários e os sujeitos com distúrbios distímicos,
normais, é significativa tanto no tempo de observamos diferenças significativas nos
resposta ao estímulo, como no tempo de re- dois tempos medidos - tempo de resposta
conhecimento do estímulo (Quadro 1 ) . Em ao estímulo e tempo de reconhecimento do
qualquer dos casos o grupo de esquizofré- estímulo (Quadro 2). Estes resultados apon-
nicos é significativamente mais lento (Qua- tam para um déficit mais acentuado, no
dro 2). Estes resultados estão de acordo input de informação, por parte dos sujeitos
com a hipótese de existência de uma hiper- com distúrbios distímicos.
estimulação nos esquizofrénicos produtivos. Concluída a síntese dos resultados, pas-
Esta hiperestimulação seria resultado da samos a expor os Padrões de Atenção dos
interferência de estímulos internos, relacio- grupos estudados.
nados com a actividade delirante, e iria
estar na base de um deficit do input de
informação e consequentemente de uma Esquizofrénicos paranóides produtivos
alteração das respostas aos estímulos, por
parte deste grupo de esquizofrénicos. Os sujeitos esquizofrénicos paranóides
-Entre os esquizofrénicos paranóides produtivos apresentam um déficit significa-
não produtivos e os sujeitos voluntários tivo no processamento central da informa-
normais, as diferenças são significativas no ção, que decorre de uma grande dificul-
tempo de resposta ao estímulo e no tempo dade em discriminar e seleccionar os estí-
de reconhecimento do estímulo (Quadro 1) mulos que contêm informação contraditó-
observando-se também uma lentificação por ria. Este déficit é observável pelos resulta-
parte do grupo de esquizofrénicos (Qua- dos obtidos no teste de Stroop.
dro 2). Estes resultados apontam para a Neste grupo é notória a influência nega-
existência de um corte com os estímulos ex- tiva, no sentido de um retardamento na res-
teriores, realizado pelos esquizofrénicos não posta aos estímulos exteriores, de uma hi-
produtivos em provas do tempo de reacção. perestimulação resultante dos estímulos in-
-Na comparação entre esquizofrénicos ternos ligados h actividade delirante. Esta
paranóides produtivos e não produtivos, hiperestimulação seria responsável por um

240
deficit no input de informação caracterís- Sujeitos com distúrbios distímicos
tico dos esquizofrénicos paranóides produ-
tivos, como foi comprovado pelo teste de Os sujeitos deste grupo de controle apre-
Tempos de Reacção. sentam as seguintes características no pa-
O déficit que apresentam na memória drão de atenção:
imediata, estará, possivelmente relacionado
com um déficit no input e no processamento -Déficit muito acentuado no processa-
central de informação. mento central de informação, com a
Em resumo, os esquizofrénicos paranói- consequente dificuldade em discrimi-
des produtivos apresentam: nação de estímulos.
-Déficit muito acentuado da memória
-Déficit do processamento central de imediata associada a um deficit no
informação. input de informação.
-Déficit no input de informação que - Significativo retardamento, em rela-
pode ser resultado de uma interferên- ção aos outros grupos, nas respostas
cia ou hiperestimulação por estímulos aos estímulos exteriores.
não relevantes.
Estes déficits são significativamente su-
periores aos dos esquizofrénicos paranóides
Esquizofrénicos paranóides não produtivos de qualquer subgrupo, o que nos leva a
concluir o padrão de atenção que hipoteti-
O padrão de atenção deste grupo é se- camente seria característico dos esquizofré-
melhante ao dos esquizofrénicos paranóides nicos paranóides, é, através dos resultados
produtivos, embora com déficits menos sig- obtidos neste trabalho, adoptado predomi-
nificativos. E caracterizado por: nantemente pelos sujeitos com distúrbios
distímicos.
-Déficit no processamento central de Pode concluir-se em relação às hipóteses
informação menos significativa. colocadas que, na amostra de esquizofréni-
-Déficit no input de informação, que COS paranóides que estudámos, existe um
pode ser resultado de um corte com déficit de atenção que não está relacionado
os estímulos exteriores o que levaria com alterações no estado de alerta cortical.
a um retardamento no tempo de res- Este déficit pode ser caracterizado como
posta ao estímulo. resultante de alterações, pelo menos em
dois estádios do processamento de informa-
O que diferencia os esquizofrénicos pa- ção - um estádio periférico de limitação
ranóides não produtivos dos produtivos é no input de informação e um estádio cen-
a ausência de alterações da memória ime- tral de impossibilidade em seleccionar os
diata, nos primeiros, em relação a qual estímulos irrelevantes e a informação con-
apresentam resultados semelhantes aos su- traditória. G de assinalar que os esquizofré-
jeitos voluntários normais. Este resultado
nicos paranóides, quando estão deprimidos,
poderá indicar que nos esquizofrénicos pa-
ranóides não produtivos o déficit do input embora obtenham melhores resultados nos
de informação não se deve a uma hiper- testes de memória e atenção, revelam uma
estimulação e consequente dificuldade em significativa modificação do estado de
discernir os estímulos a responder, mas ao alerta cortical - no sentido do abaixamento
corte com os estímulos exteriores já refe- do alerta. Pelo contrário, os esquizofrénicos
rido. paranóides quando não estão deprimidos

241
têm maiores déficits no plano da atenção e variáveis relacionadas com a eficiência in-
da memória, mas não revelam modifica- telectual, etc.
ções do estado de alerta - apresentam re- O nosso trabalho fez salientar a impor-
sultados próximos dos sujeitos normais. tância de controlar os factores motivacio-
Parece que há na esquizofrenia, na amos- nais e emocionais, eventualmente com a uti-
tra que estudámos, uma relação directa en- lização de outros instrumentos de medida,
tre o factor depressivo e modificações no nos estudos sobre o rendimento cognitivo
estado de alerta. A influência deste factor na esquizofrenia. Provavelmente a impor-
não parece susceptível de ser mais anali- tância deste factores tem sido negligenciada
sada com os dados de que dispomos. nas tentativas de compreensão e de expli-
Outra conclusão que pode ser retirada cação do estado deficitário habitualmente
deste trabalho é a de que os sujeitos depri- descrito como característico da esquizofre-
midos apresentam uns déficits cognitivos nia, quer seja o que surge em concomitân-
muito acentuados, que poderiam ser objecto cia com o surto psicótico, quer seja o que
de um estudo isolado com o controle de caracteriza a esquizofrenia residual -es-
outras variáveis, tais como: tipo e doses de tado de defeito para a psicopatologia clí-
antidepressivos, nível de motivação, outras nica.

QUADRO 1
Análise da varidncia (ANOVA) dos resultados obtidos pelos grupos nos diferentes testes

Gnipos
Testes
Memória
-
Frequência
Tempos de reacção
II
Stroop de crítica Display 2 Display 1
digitos de fusão

EPP
vs F = 10.09 ** F = 19.77 *** F = 0.13 F = 26.17 *** F = 16 ***
NOR

EPF
vs F = 4.72 * F = 2.74 F = 2.51 F = 8.71 *** F = 6.75 *
NOR

EPP
VS F = 1.51 F = 4.47 * F = 3.61 F = 3.59 F = 3.25
EPP

EPP
vs F = 0.001 F = 3.78 F = 1.31 F = 0.03 F = 0.02
D.D

EPP
vs F = 1.96 F = 10.75 ** F = 9.23 ** F = 6.65 * F=4.54*
D.D

0.01 > p > 0.05 EPE - Esquizofrénicos paranóides produtivos


** 0.01 < p < 0.001 EPP - Esquizofrénicos paranóides não produtivos
*** p < 0.001 D.D - Sujeitos com distúrbios distimicos
NOR - Sujeitos voluntários normais

242
QUADRO 2
Quadro das médias obtidas pelos grupos, nos testes aplicados

Testes Tempos de reacção


Grupos Memória

I
Tempo crítico
Stroop de de fusão Display 2 Display 1
digitos
~ ~~ ~~~ ~-

EPP 74.2 8.67 31.75 1.O53 0.55

EPP

D.D

NOR
54.8

74.87
39.8
10.13

11,2
7.33
33.83

30.38

32.15
0.79

1.077

0.62
i ;; 0.47

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Ultimas publicações periódicas recebidas:

INTERNATIONAL J. OF SMALL GROUP RESEARCH -Vol. 4(1), 1988


JORNAL DE PSICOLOGIA-Ano 6, n." 5, 1987
JOURNAL DES PSYCHOLOGUES - NP 56, 1988
JOURNAL OF CHILD LANGUAGE-VOI. 15(I ) , 1988
-
JOURNAL OF INSTRUCTIONAL PSYCHOLOGY Vol. 14(4), 1987
-
JOURNAL OF ORGANIZATIONAL BEHAVIOR Vol. 9(2), 1988
NEUROPSYCH. DE L'ENFANCE ET DE L'ADOLESCENCE -
Ano 36(1),
1988
NOUVELLE REVUE DE PSYCHANALISE- N; 36, 1987
ORIENTAMENTI PEDAGOGICI- Ano 34, n.0 6, 1987
-
ORIENTATION SCOLAIRE ET PROFESSIONNEL Ano 17, n.0 I,1988
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PSYCHIATRIE DE L'ENFANT VOI. 30(2), 1987
RELIGION Y CULTURA-NP 167, 1987
REV. IBEROAMERICANA AUTOGESTION Y ACCIÓN COMUNAL -
N." 10-11, 1987
REVISTA DE CIENCIAS DE LA EDUCACION-N." 133, 1988
REVISTA DE COMUNICAÇÃO E LINGUAGENS-N." 4, 1986
REVISTA DE INFORMATICA- VOI. 6(7), 1988
REVUE BELGE DE PSYCHOL. ET DE PEDAGOGIE-Tome 49, n.0 199-
-200, 1987
REVUE FRANÇAISE DE PSYCHANALYSE-Tome 51(41, 1987
SOCIOLOGIE DU TRAVAIL-N." 1, 1988
TRAVAIL HUMAIN-Vol. 50, façc. 4, 1987
VALUES -VOI. 2(3), 1987

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