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Siqueira 1951 InfluencAmerindMusFolclNE
Siqueira 1951 InfluencAmerindMusFolclNE
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Docente Livre por concurso de títulos e provas da E. N. M.
da Universidade do Brasil
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RIO, 1951
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Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
• www.etnolinguistica.org
BAPTISTA SIQUEIRA
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Docente Livre por concurso de títulos e prqvas da E. N. M.
da Universidade do Brasil
Influência Ameríndia na
Música · Folclórica do Nordeste
Aprovada por unanimidade pelo 1.° Congresso Brasileiro de Folclóre
RIO, 1951
•
• p s ee 4 XX
Direitos reservados pata todos os Paísest da acôrdo com a Convenção de
Berna
• p s ee 4 XX
PARECER DO IlELATOR: IvIARIZA LIRJS...
/lntes de 'inais nada não é justo chamar-se a êsse trabalho de Baptista Si-
queira de tese) caberia com 111ais acerto denorniná-lo - 1\!I.onografia científica)
/10rq ue se trata) na realidade de urna observação eni tôrno de uni fato
cienlí.f ico.
Era, até então, ponto pacífico entre os fol cloristas que versaram o proble-
?t1a rnusica l) a negação da influêricia ameríndia em nossa miísica folclórica,
ln/vez porque não levassern em conta a vastidão do nosso país.
Baptista Si queira contesta essa afirmativa) e procura denionstrar, através
• de docinnentação paralelística, o influxo da 'inúsica a1neríndia na música jJO-
pular da região cha'i?J-ada por Euclides da Cunha de T apuiretama.
Do si1nples exrune dessa 111onograf ia percebe-se que seu autor procurou
jJrinzeiro observar nas tneloclias da 'região citada, certas particularidades dife-
rentes das que ocorreni em outras regiões do país. Experimentou) de várias
'i11aneiras) as linhas 'inelódicas desses cantos do povo) descobrindo riêles, final-
111en te, caracterlsticas gerais que não podia1n deixar de os tornar notórios.
Assi?n descoberto o caniinho) fez as análises e os confrontos à luz dos co-
nhccin1entos tecnicos 1nodernos.
J)essr1s j;esquisas resilltou o seguinte:
a) sisternatização de inte'rvalos ascendentes nas melodias) que devem pro-
cf'der por graus disjuntos, nornialrnente;
b) sisteniatização do abaixamento ou elipse da sensível nos dois modos;
e) alteração ascendente do 4.0 grau do modo maior ou seu correspondent e
G. 0 grau menor, nias) 'resolvendo sem rnodular.
De fato há u1n liniitado 11 úrnero de exe1nplos, mas não é a quantidade
que revela o fenôu1eno científico, rnas o fato de sua confirmação, quando su/J-
111etido à anâlise e compa1·ação.
O conjunto instrurnental que ilustra êste trabalho) tem bastante signifi-
cação) revela que ainda hoje, existeni nos sertões, descendentes tapuios fa-
zendo ?n úsica coni as rnes1nas caracterlsticas que nci1na foi observado .
Nã? é possível negar que a monografia de Baptista Siqu.eira vem abrir no
f olclóre 1nusical brasileiro urna insofisrnável polê1nica.
So1'nos da opini<io que a ?1'1onografia científica do JVIaestro Baptista Si-
queira seja aprovada, publicada e discutida por autoridades no assunto, pois)
1
re presenta na sva rstrutura, u1n te1na que deve ser pôs to ao alcance de espe-
cialistas e estudiosos a f i1n de debatê-lo exaustiva rnenle e dela tirar as con-
rlusões que tais estudos ·oenha11i permitir.
a) i\1Al~IZA LIRA
llio, 19 de julho de 195 1
• p s ee
Há algum tempo, lendo um opúsculo do professor João Bapt-ista Siqueira,
referente ao folclóre do nordeste brasileiro, verifiquei, nas várias lendas colhi·
das ali, à grande influência que poderia, tal livrinho de contos, ter, se viesse
acompanhado dos respectivos temas musicais.
Pedi, então, ao autor, que procurasse trabalhar num outro livro) dando-
nos alguns motivos musicais originários do seu rincão na.tal - a Paraíba.
Esta é a raz.ão da presente tese.
O autor} músico culto} livre·docente da Escola Nacional de Música, da
Universidade do Brasil} foi muito além do meu pedido. Apresentou um ver-
dadeiro libelo contra os que, por descuido ou preguiça de estudar a etmologia
dos povos do nordeste, afirmam que o nosso índio não teve nenhuma interfe-
rência nos seus costumes) índoles e caracteres.
Essa tese, aliás, foi apresentada no 1. ° Congresso Folclórico, realizado, êste
ano, no Brasil} e aprovada, malgrado o desg6sto de alguns despeitados, pela
comissão técnica, da qual era eu representante da Escola N . de Música.
Trata-se como se pode ver, de um estudo de real valor, com rico documen-
tário, que vern mais uma vez. acabar com a malquerença aos pobres indígenas.
O professor ] oão Baptista, além de expor as lendas, costumes populares}
etc., estuda muito a fundo, as escalas em que se baseiam tais melodias.
i' erifiea.-se que o entrelaçamento das várias raças, que povoaram aquelas
partes do Brasil, legou-nos um grande manancial para composições musicais de
vulto; buriladas com "ciência e arte") dar-n.os-ão obras padrões, necessárias
à música erudita brasileira.
A "Influência Ameríndia na Música Folclórica do Nordeste" é um trabalho
que deve ser publicado e divulgado.
Rio, 17 de novembro de 1951
ASSIS R E P UBLI CANO
• p s te
•
A JOAQUIM RIBEIRO
• p s te
•
L
• p s te
•
ALGUMAS PALAVRAS
•
INTRODUÇÃO
•
E adiante afirnia:
IJ esla quen10-las:
16
dias, se1n raias, avassalando a terra. A custo tolera!·am a inter-
venção da própria metrópole.
A carta régia de 7 de fevereiro de 1701 foi, depois, uma me-
dida supletiva dêsse insulamento. Proibira, culminando severas
penas aos infratores, quaisquer comunicações daquela parte dos
sertões com o sul, co1n as rninas de S. Paulo.
Nem mesmo as relações cornerciais foram toleradas_; inte'-,,ditris
às mais simples trocas de produtos.
A flora agressiva, o clinia inipiedoso, as sêcas periódicas, o
solo esteril, crespo de serranias, desnudas, insulado entre os esplen-
dores do majestoso araxá, (lugar de onde se avista, P'rirneiro, o sol)
do centro do planalto e as grandes matas, que acompanham e or-
lam a curvatura das costas. Esta região ingrata para a qual o
próprio tupi tinha um têrmo sugestivo - para-pora-iema (lugar
esteril) remanescente ainda nurna das serranias que a fecham pelo
levante (Borburema) foi o asilo do tapuia (1). B atidos pelo por-
tuguês,, pelo negro e pelo tupi, coligados, refluindo, ante o nú-
•
mero, os indômitos Carirfs encontraram proteção singular naque-
le cólo duro da terra, escalavrado pelas tormentas, endurado pela
ossamenta rígida das pedras, ressequido pelas soalheiras, esvllr-
mando espinheirais e caatingas.
Ali se amorteciam, caindo no vácuo das chapadas, onde, adf·
mais, nenhuns indícios se mostravani dos niinérios a1Jetecidos. os
L
(1) - "Os tupis são mais bronzeados do que os t.apuias" - Oliveira Viann a -
"Evoluç~o do Povo Brasileiro". ,.
17
••
18
1
21
briagante netar fabricado de fôlhas de jurerna, a uns ameaçando de morte,
a outros, de bôas e más venturas, no que, tudo, firmemente, acreditava tôda
a gente, como revelação de algum profeta, ou ditame de alguma divindade".
Era a liturgia da jurema, de funestos efeitos nas mãos dos mamelucos
da Pedra Bonita.
O trabalho da poderosa Companhia de Jesus, ficou, no entanto, apenas
iniciado, em virtude da interferência oportuna da Metrópole, pela voz do
Marquês de Pombal.
O Brasil ga11hou com isso duplamente: os padres jesuítas haviam ani-
. quilado o poder destruidor das bandeiras vindas do sul, agora, Pombal sal-
vava do desaparecimento, alguns restos das tradições aborígenes.
"'
Gilberto Freire em "Casa Grande e Senzala" é de opinião que a in-
fluência jesuítica foi perniciosa.
Damos abaixo o trecho que Estevão Pinto inseriu, dês se çrutor, em sua
obra "Os Indígenas do Nordeste".
22
"Além de Anchieta, Navarro e Alvaro Lobo foram tarnbém
instituidores e propagadores da escala tonal e diatônica de sete
graus, na Bahia, Fr. Euzébio de Matos, irmão do célebre re-
pentista e exímio trovador Gregório de Matos; Fr. Antão de San-
ta Elias e Fr. Francisco Xavier de Santa Tereza, que foram ex-
'
celentes músicos e ótimos organistas, os quais concorreram com
os seus vastos conhecimentos para o desenvolvimento do en-
sino da música nos tempos coloniais".
23
ª i
•
tos de percussão em acentos sincopados dão os primeiros passos no ce~ário
da senzalas.
O meio social dos engenhos, favoreceu de maneira considerável o de-
senvolvimento da música afro-brasileira, pois os senhores feudais considera-
vam os cantos como maneira de distração dos negros escravos.
A música ameríndia ficou insulada, como o próprio caboclo, nas
áreas povoadas dos currais, progredindo lentamente com as classes ru-
rais (pastorís).
24
ll - DOCUMENTARIO AMERíNDIO
'
As controvérsias dos autores, nesse particular, são de maneira flagrante
Luciano Gallett, nega que possa haver influência ameríndia na músicC!
brasileira; e Renato Almeida, em "História da Música Brasile:ra" o acom-
panha, dizendo textualmente ao encerrar capítulo a êsse respeito:
27
E, adiante:
28
Informam os escritores coevos, que todos os atos sociais das tribus ta-
p u i:::rs eram re alizados ao som de músicas dansadas.
A documentação de valor musical é, infelizmenta, de u.1.na insignificân-
cia aberrante. O povo que nos soube garantir pcrtrimôn]') tão vasto de
terra, era mais afeito ao comércio que à cultura.
Por sorte nossa, aportou ao Brasil um Jean Lery, que, tendo embora
pequeno contacto com nossos indígenas, visto que acompanhava a expec.h-
ção francesa de Villegaignon, nos legou dois exemplares autênticos de can-
to tupi:
Observações:
a) Intervalos disjuntos no movin1ento ascendente;
b) Repetição, até três vêzes, do mesmo som;
e) Intervalo conjunto, descende11te predominante;
d) Quadratura rítmica perfeita.
Observações:
Nota:
Os exemplos musicais, que aqui incluimos, estão insertos em "A Mú-
sica no Brasil", de Guilherme de Melo, em notação antiga, tendo sido por
29
nós modernizada. Coincidem com os da edição francêsa de 1611.
Vejamos agora a contribuição preciosa de J. B. Spix e Martius em "Bre-
silianische Volkslieder Indianische Melodien, pertencente à Biblioteca Na-
cional (Seção de Obras raras).
\.,
•
b
p
Observações:
a) Sentido descendenfei
b) Graus disjuntos no plano ascendente;
e) Repetição de som até três vêzes;
d) Repetições expressivas substituindo a quadratura.
30
Daremos, a seguir, outro trecho dos mesmos autores que, no original,
também está no tom de sol menor.
"Tanze der Purís"
Maestoso qrave
a)
p
• • •
a) Síncopas;
b) Sons repetidos até quatro vêzes;
e) Modulação ao relativo;
d) Incisos e membros de frase assimétricos.
Do motivo principal
...
surge por imitação e ampliação, a ídéia geral em todo o seu explendor.
31
Grave Moderato
>
b)
Observações:
32
Fonograma 14 . 594 e 14. 595
(índios Parecís)
o) f
Observações:
ModMato
e . . . . .. . ~ ..
.. ...... ---- --
Observações:
J
33
Fonograma 14 . 602
(índios Pdrecís)
I
·b
e) •.
'·
•
---
.-.
Observações: '
34 '
m- ENTRADAS SERTANISTAS
(
A penetração dos altos sertões do .n ordeste se operou por dois cami-
nhos principais:
As bandeiras vindas do sul, que se foram postar à margem do Piauí;
As entradas que, vindas do oriente, iriam dominar, porque acompanha-
varn a marcha do sol levante.
Façamos um retrospecto histórico dos fatos mais importantes, começ1.:c.1-
do por Oliveira Viana em "Evolução do Povo Brasileiro":
37
caminho através das tribus bravias que infestam os altos ser·
tões do S. Francisco, do Itapicurú, do Piranhas, do Parnaíba e
das chapadas da Borborema.
Os colonos brancos têm de fazer caminho através da massa
belicosa dos "caetés" dos "potiguaras", dos "tupinambás" e
dos "aimorés" que barram pelo litoral a entrada dos sertões,
em Pernambuco, na Bahia, em Sergipe, nas Alagoas, no Rio
Grande do Norte, na Paraíba, no Ceará, no Piauí e no Mara-
nhão. No interior, encontram pela frente, a feroci~ade irresis-
tível das grandes tribus "carirí" que defendem palmo a palrr10,
os rincões agrestes contra a invasão dos novos conquistadores".
:t: possível admitir que a maioria dos homens tenha caído na luta, porém,
o mesmo não deve ter sucedido com as mulheres e crianças.
Conquistados os campos, surgiam os currais, onde um vaqueiro, no
geral, um índio domesticado, ou um mameluco, ficava no rancho improvisado.
Isso foi resolvido porque os dominadores reconheceram que a zona não
era agrícola. Grande número de poovadores foi levado do médio S. Fran-
cisco para essa eventualidade.
A ereção de um curral era coisa de pouca monta. Dí-lo à documenta-
ção coeva. Por isso, êles ficaram em grande número, dando motivo aos
pontos de apôio das entradas vindas do litoral.
O que se consegue apurar de tudo isto, é que os vaqueiros, (índios do·
mesticados no sul, ou seus descendentes, os mamelucos), são os principais
elementos povoadores do sertão nordestino.
Eram os agentes diretos dos grandes latifundiários que os escravisavam,
baseandc-se na fôrça e na ignorância. O elemento ne';íro mais a prcprlado
à lavo"0ra, foi deixado no litoral, na zorla cgrícola (1). J6 nê:c havir.l !:lil"'a3
nos sPrtões a ex}:'lorar.
Domingo Jorge Velho ·liquidou a penetração do africano para o inte-
rior, quando deu o tiro de graça nos "Palmares".
Gustavo Barróso, no seu interessante livro "Ao Som da Viola", àiz tex-
tualmer.te, referindo-se às entradas dos sert~es:
(1) Vide Boletim comemorativo da Exposição Nacional de 1908, página 83, citado
por Oliveira Viana.
38
Barbosa Rodrigues, descobriu no meio dos selvívolas um Upo de poesia
/
Côco Paraná
(versão do interior pernambucanoJ
Chuva! chuveu!
Paraná!
As goteiras me molhan,:l·::> ...
Paraná! •
Tá chuvendo tá relampiando
Paraná!
As goteiras me molhando
Paraná! •
,
Chu-va Chu -veu Pa-ra- na 'º -tei-ras me
t
,
mo -lhan-do •••.. Pa-ra - na ta chu-vondo ta re-la.m-pe ~ an•
39
ropéia (1). A origem dêles parece ser a do litoral, onde o fruto do mesmo
nome se produz abundantemente.
Inversamente há canções cuja música é de inspiração ameríndia e os
versos demonstram certa cultura de seus autores:
Pulga maldita
Levada do cão (diabo)
Mordeu no meu peito
Foi no coração.,·
...
hl-ga aa1 - d.1 -'ta le-va- do "e&o" cr-deu no m9u
.foi ao co - ra - ção.
(~ste tema está registrado e pertence à série brasileira).
Dois importantes motivos nos levaram a incluir, neste capítulo, o "côco
Cajueiro".
O primeiro é que êle fala justamente de uma árvore frutífera que era
cultivada pelos Gês ou Tapuias.
O segundo é o de ser o "côco" uma dança evidentemente de origem
ameríndia, embora remota.
Neste caso particularíssimo, o verso do côro é repetido corno erc cos-
tume no canto selvagem, que usava abusivamente um mesmo vocábulo de-
pois da apresentação de cada verso:
Cajueiro o Norte (1) abalou . ..
Cajueiro o Norte abalou ...
Versos:
Quem roubou meu carneiro
Dêste chiqueiro
Por fav·or me diga onde demora
Quero dêle fazê uma "buchada"
Carne dêle tá muito aperriada
Assim mesmo ainda como ela
Inda falta comprá uma panela
Aguardente de cana "imaculada''
40
(versão musical do interior pernambucano)
41
•
IV - FOLCLORE CAMPESTRE
43
J
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
a) Ciclo do vaqueiro
ABOIOS
uma de .curral,
outra de despedida.
ABOIO DE CURRAL
(Recolhido no sertão paraibano)
... ....
2. ..........•. · vacomans abo- -m. 1-ta .. i . .. lo ... o •••
-.
47
ABOIO DE DESPEDIDA (l)
A- deU8 Li - - - ta A-deu~-us
48
l I ] 1 1
•
•
,
•
Zé do Vale
(Versão do alto sertão que D. Maria Lima Siqueira guardava de men1ória
há mais de meio século).
"Senhor presidente
Se dinheiro vale
Tome sete contos
Solte Zé do Vale
ó minha senhora
Eu não solto não
Seu filho é malvado
Tem má condução".
Andantino
:\
a) .. lo.
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n.ao •••••••••••• Seu t 1-lhoe uml -va - do tem macon-d.u-
. .
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_...
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•
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va - le ••••••••••••••••••••••••
çao ••••••••••••• , •••••••••••••••
Observações:
• a) Intervalos disjuntos no plano ascendente;
b) Sensível abaixada;
e) 6.0 grau elevado no modo menor;
d) Som repetido até duas vêzes;
e) Melodia de sentido descendente;
f) Quadratura regular.
51
Nota: Empreguei êste terna na composição de Cantiga, cujos vE;rsos c;5o
de autoria do poeta Wilson Rodrigues.
Mulher rendeíra
b)
e) d)
Observações:
a) Intervalo disjunto no plano ascendente;
b) Som repetido até duas vêzes;
e) Sentído descendente da melodia;
d) Quadratura perfeita;
e) Ambiguidade modal entre fá maior e ré menor.
:t:ste fato da ambiguidade modal entre os tons relativos parece cor.sti!uir
um dos processos de expressão do sistema nordestino.
Vejamos o terna dêsse "côco'" que foi usado por José Siqueira em um
de seus trabalhos de sentido nacionalista:
To •O.& - no - la ,. a.n -
e)
•
To •e& t• -10 .na pa-ne-la d.o&D- CU·•
Observações:
a) Intervalo disjunto no plano ascendente;
b) Som repetido até duas vêzes;
e) Sentido d escendente da melodia;
d) Quadratura perfeita.
• 't 1 _ .. _ . . . , -
..
52
e) - Ciclo Pastoril
JANDAIA
(versão do interior pernambucano)
Essa música que usamos em nossa série brasileira, está incluída na fase
evolutiva. Nela se encontram certas particularidades que determinam o
processo de desenvolvimento da música tonal européia para a nordestina
do alto sertão.
Os mesmos sons repetidos, como st1cede nos "côcos", algumas síncopas,
e, sendo o tema no modo menor, o 6.0 grau não foi alterado ascendente-
mente. Sua criação se operou na época da transição das idéias temáticas.
O cavalo e a macacaria
(Versão do interior paraibano)
55
Mal viram o cavalo estirada no meio da roça acharam qúe estava morto
e que a carniça iria atrapalhar o socêgo em que viviam.
A narração é fluente e fe ita em versos corno êstes que consegui guar-
' , '
aar na memoria:
''Alerta rapaziada
Tira cipó sem preguiça
Pra arrastar ê sse cavalo
Que não aguento carniça".
t
A história, em versos, é completa desde a l1ora em que o cavalo, me-
tendo os pés leva a macacaria prêsa até a chegada à casa do dono. Na
corrida um macaco grita para outro:
. .. . . . . . . . . . . .. . . . . .. .
'faz fincopé tomé
r
f}
A ONÇA E OS COMPADRES
Chega! meu cumpadre . ..
...'r
Os cachorro acuaram uma onça
Estou com rnêdo da onça ..
A A A /\
r. co . . . e. . . co ...
~ l"':"-t
•
1
- .
57
qURIATAN
Meu pai, João Baptista Siqueira, que era músico de grandes dotes (exe-
cutava bem o violino, a clarineta e tocava violão por música), tentou reco-
lher o tema do Guriatan, em Triu~fo, no p rincípio dêste século, mas não o
conseguiu por ser música dos roceiros. Conhecia a importância dos can tos
populares por ter lido Sílvio Romero, e o valor do folclóre, através d as obras
famosas de João Ribeiro. Tudo fêz para "pegar" a n1Úsica, tal como se diz
no sertão, sendo infrutífero seu esfôrço. Sempre que pegava no violão
para ler grandes métodos (eu na ignorância de pequeno, não sabia o nome
d os autores) falava de desafios _como aquêle do cantador mascarado, qli.:~
estando elegantemente vestido, competia com um famoso re pe ntista n~ :i l
trapilho.
O tipo insinuante titubeia nas rimas e não respo11de aos ataques suces-
sivos do pobre repentista, quando a assistência rompe e m formidá vel v a :a .
() cantador elegante engasgou-se e o repentista aproveitou:
"A gente vê o saco cheio
Mas não sabe o que tem dentro! "
Somente um desafio era capaz de fazer meu pai pass.a r a noite
acordado.
Certo dia, em Conceição, estava êle fala ndo sôbre a beleza d e um
canto chamado Guriatan; que os romeiros cantavam no rancho, a caminho
do Joazeiro do Padre Cícero.
Tentou repetir no v iolão, porém, a memória falhou . . . Pequenas passa-
gens ainda se esboç°:ram, porém, êle não estava compondo, mas, tentando
lembrar um canto do povo ...
Fiquei curioso para aprender a música que tanto embevecera meu pai.
Era meu propósito recolher a melodia para surpresa sua, como fizera escre-
vendo o dobrado Marechal Oiama, por ouvir executado no g·r amofone.
Para que ninguém soubesse o que eu estava fazendo, e as sucessivas
repetições não incomodassem às pessoas de casa! resolvi colocar a agulha
numa caixa de fósforo vazia, e foi idéia admirável, porque trabalhei sem
•J
ser molestado.
Quando em 1919, mal ouvi, nas areias do Paj6Ú, uma cabocla lavadeira
cantarolando o Guriatan corri pressuroso para lhe pedir que mo ensína~se.
Um pouco encabulada, a princípio p retestando não possuir dotes, aca-
bou cedendo, por não poder resistir à sofreguidão de um adolescentE?-. C~an-
tarolou a música porque os versos não sabia, com' certeza.
58
Com que tristeza saí dalí, com a música integral memorizada mas im-
possível de transmití-la a meu pai falecido exatamente um ano antes.
Acho que com isto ganhei um complexo: Para escrever a música de
t1m canto é preciso suprimir-lhe as palavras, em primeiro luga r.
Foi a seguinte a melodia que ouvi na s areias do PajeÚ de Flôres, rio
que foi cantado em versos maravilhosos por Emídio de Miranda, o saudoso
poeta paraibano:
.
'
>
.. .. . --
-
3
Aqui 'é o original, tal como era cantado p elos roceiros. No rá dio r•.::-·EJ-
r beu certas influências praianas que se caracterizam pelo e mprêgo de
,
~·1 n c opas.
59
..
\
. 1
e) Cantadores e repenüstas
-
l
. 1
"Assubí de céu a cima
a procura do truvão
e descí de céu abaixo
.
com sete relampo na mão"
II
Assubi na bananeira
Fui até o mangará
65
1
Pisei na taba de cima
Ví a de baixo morgá
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . "'
. . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . .
O carne ro da lã fina
É do colo de Ya yá
'
' . .'
66
Rompe o desafio em que o cantador procura todos os meios de anular
o adversário.
São assuntos adrede escolhidos, repassados de certas malícias, capazes
de levar o contendor a se atrapalhar com elas.
Adivinhações, motejos, trocadilhos, prosódia de conteúdo onomatopáico,
tudo o repentistq usa para levar a palma da vitória na luta tjo martelo. da
ligeira. como das .décimas e carriiilhas.
CANTIG.A DE DESAFIO
"Plantei batata
Nasceu macaxêra
!'Jego macho fede
'
Nega fême. . . cl1êra
b)
•J
e
-
67
Paradígma:
a) movimentos ascendentes por graus disjuntos;
b) repetição do mesmo som no máximo três vêzes;
c) intervalo d escendente por graus conjunto:5 predominantes;
d) 7.0 grau abaixado;
e) Intervalo de 3.ª final entre as tônicas dos 1ons relativos;
f) quadratura perfeita.
Fragmento do desafio da jurema preta que é a árvore dos sortilégios
indígenas.
(Versão do inte rior pernambucano r€colhido da tradição oral de J\.ntô-
nio Gonçalves).
(décimas)
68
CEGOS CANTADORES
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FOLCLóRE GERAL
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'CANTIGA DE CEGUINHO NA FEIRA"
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Ílm;i11-
Observações:
70
•
II
Moderato
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·-
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d
' -··" "' ....
\. . ,)
Observações :
A mudança de compasso nos sons prolongados q ue o professor Abàon
Lira ouviu e registrou , é um fenôn1eno mui.to conhecido, pe rtencente à ex-
pressã o musical. O cantor não espe ra o tempo necessário à quadratura
rítmica, e entra a ntecipadame nte.
Quanto ao valor da melodia, como d etermina n te do sistema que s1.~r-:,.1iu
:no a lto sertão, dí-lo o paradígma que estamos levantando:
a ) Intervalos disjuntos no plano ascendente;
b) 4. 0 grau elevado no tom maior q ue corresponde a o 6.0 d o medo
menor;
e) Sentido descende nte da melodia;
d) Ambiguidade modal entre escalas relativas.
Os dois números que me foram gentilmente cedidos são preciosos do~
cumentos pertencentes ao folclóre ge ral, visto q ue eu já os ouvira cantar
nas feiras da cidade de Cajazeiras d o Rolim por mendigos cegos.
O primeiro e stá composto no princípio do a baixamento da sensível, e o
segundo no da ambiguidade modal entre escalas relativas. (Alteracão ,, do
4.. 0 grau). Todos os demais aspéctos, calham perfeitame nte no pa ra-
dígma que estamos usando para confron to d a s melodias tradiciona is da
tapuiretama { 1).
• 71
"BAIÃO DE VIOLA" (2).
b)
•
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(2) "Bater baião de vio1<1 " - Josué Romano.
(3) Luiz da Câmara Cascudo - "Vaqueiros e Can tadores", pág. 113.
(1 ) Agu.c,n:dcn±e =--= gfribiia.
,,, -
Além das características gerais que norteiam . as músicas nordestinas,
como seja: s étin10 grav. abaixado, tendência ascendentes por disjunção dos
graus, e quadra tura regular, o baião tem a particularidade interessante de
começar por frases decapitadas. O rítmo é seguido e invariável com a
seguinte figuração musical:
~
=a=! y
D li E.4 r li 'z E v 1
1 ·1
i.r "1~
·= "
Achamos lugar aqui para regisirar uma passagem do livro "Vaqueiros
e Cantadores" de Câmara Cascudo, no qual o ilustre escritor diz de maneira
eloqüente de onde veio o boião:
Daremos a baixo u1n trecho musical que aparE:)ce no folclóre 1e:-...:.cl tendo
1
'
(2) Tema usado por José Siqueira em "Uma Festa na Roça".
73
Como
•
·Embolada de Sanfona (2)
(versão paraibana)
_,
. . •
(fí,
?'
:f J . _: 1
l
Aqui a ambiguidade modal é o meio de expressão estética da melódica
:lordestina. A ambiguidade se dá e ntre fá maior e ré menor, isto é, entre
tons relativos.
74
t) Conjunto Inst?mnental.
.1
!
. 1
OS PIFEIROS
(Conjunto instrumental)
O conjunto de que ora nos ocupamos, recebe nomes vários, sendo co-
nhecido em todo o sertã o.
Assim, Zabumbeiros, Pifeiros, Cutilada e Banda Cabaçal, significam a
mesma coisa, isto, um conjunto operando nos centros populosos e ganhan-
do a vida folgada mente.
Os doís últimos apelativos, evidentemente, têm maís remota origem, e,
Banda Cabaçal1 parece indicar que havia nêle instrumento feito de cabaça .
Certa vez pedi informação a um dos pifeiros do conjunto, sôbre a origern
do têrmo cutilada. Não soube precisa r bem, mas, do que ouvi, pude concluir
que se origina de cutilar, isto é, bater com o cutelo.
Tendo o referido pifeiro, indicado que era devido ao pauzinho que bate
r.o couro op osto ao da b a tida da maçaneta, achei a origem.
É que :> 4:.abumb eiro, com a mão direita, mc~rca o ten1i_o forte do co1n·
passo a, com a esq uerdo., o contratempo.
Uma varinha tão flexível (uns dizem ser de pereiro, outros de cipaúba
e fi~almE?.nte outros de oiticlca) que chega a aca mar no couro oposto ao da
maçaneta percute completando a ca dência.
É ê sse fato que deu motivo ao nome quase paradoxa l.
Mas, não é. Cutilada é uma palavra figurada.
Ouvimos outra s opiniões contrárias a essa q ue acima expusemos.
Dizia-se que o têrmo cuülada era pejorativo. Alguém, intriqado com o
bJrulho do zabumba , bradou revoltado:
77
- "Isto é uma cutilada! (Quer dizer bater de cutelo).
11
Pc.1radígma:
a) 7.0 grau baixado; b) tendência descendente; c) quadratura perfeita. '
78
O mais ilnportante dos tema s é o. que vai abaixo, e que José Siqueira
empregou em uma de suas danças.
Todos os zabumbas do nordeste o conhecem e fazem o motivo princi-
pal de sua organização. É uma espécie de canto mágico de certas ceri-
mônias religiosas. Mas não é com êsse aspecto que êles, os pifeiros, o
executam. Não. É que nunca o ouvimos em instrumento algum que não
fôssem os pífanos:
calmo
e.}
w-
•
Paradíma:
a) 7. 0 grau baixado; b) tendência descendente; c) graus disjuntos no
plano ascendente; d) quadratura perfeita.
He rmenggildo Siqueira conseguiu coligir uma estrofe bastante ingê11ua
, .
com essa musica.
''Meu amô me deixou la no fogo
Para o fogo pudê 1ne queimá
tle me queima e me a rranca os pedaço
:tv1ais o amô dela e u não posso deixá"
- •
Com esta melodia os pifeiros fazem louvação dos santos na porta da
iqreja. Enquanto vão tocando, ensaiam passos co1no se fôra uma quadri-
l
-- _,_-
- --
lha, e trocam de lugar fazendo mezuras para o lado da porta principal. O
têrmo próprio é mesmo mezura, porque não chega a ser a genuflexão d o
riío r:atólico.
O conjunto tal!1bém dramatiza certos aspectos da vida do caboclo.
Há uma represenlação de luta do homem com o jaguar, porém, não é
fécil r·~presentar-se em notação musical.
A zabumba imita o esturro da onça e, os pífanos o ganir dos cachorros.
A ~eguir tocam alegremente, pela morte da fera temível.
Veiamos outro tema que tanto pode ser de pifeiros como de um bc-.. cião:
?aradíg1na:
a} 7.ª baixada; b) tendência descendente; e) graus disjuntos no pl0no
rtscendente; d) quadratura perfeita.
80
Zabumba de Santanna do Município de Princeza.
A sanfona come ça a se infiltrar em alguns conjuntos típicos do nordeste,
,
como e prova a fotografia q ue d amos aba ixo.
81
tendo por base modelar o tom frígio, e1n nova forma é testemunho disto.
Exe1nplifique1nos para n1elhor entendimento:
Motivo p1incipal:
(Fragrhento)
r4) b)
82
ESCALAS RESULTANTES DOS TEMAS ANTERIORMENTE APRESENTADOS
Escala maior sem 7.0 grau 1.0 Tipo
~ 1 l
e > ~g • q e C( ~
-f9- (::>
-
Escala do modo menor ambígua com o 1.0 tipo 4. 0 Tipo
(1) Não raras vêzes, o 2. 0 ou 7.0 graus dessas escalas deixam de aparecer ,
•
... 83
A colocação dos meios tons naturais, está em pleno desacôrdo, não
somente corn os modos litúrgicos, mas ainda com o sistema grego que lhe
deu origem.
Não é preciso ser técnico para compreender isso que dizemos:
Na escala do 1.0 tipo o semitom só aparece uma. vez.
Nas do 2. 0 tipo, os semitons aparecem duas vêzes, mas não somente '
ern lugares diferentes, como um, não é naturaL nem modulante.
Nas do 3. 0 tipo, não há o semitom natural, nem modulação.
As duas escalas do modo menor, sendo ambíguas das maiores, s~us
intervalos são iguais.
Convém destacar o seguinte caso que é freqüente e bastante curioso:
O · sist~ma modal proscreve o intervalo cromático, porém, da mistura
das duas escalas dos .tipos 1.0 e 3.0 , surge o 4.0 grau, ora natural, ora alterado.
No geraL porém, o 4. 0 grau alterado ascendenternente, é atingido por
grau conjunto e resolve descendo.
Êsse fato tem contacto evidente com outro quase idêntico dos modos
gregorianos.
Vejamos como o caso sucede, segundo ensina M.gr L. Lootens em "O
Canto Gregoriano", ao concluir o estudo das escalas; ""
(0 caso é modulante):
-
• • • • • • • • • • ~ • • • • o ~ • • • • •
·
, ...
Lã ae.ncr
84
'
O sistema nordestino tem outra referência particular que lhe aproxim.a
· do sistema tonal. É o de poder ser reproduzido em tons dilerentes, tendo
por base a 5.ª justa superior e a 5.ª justa inferior.
Há infinidades de músicas no tom de fá maior por ser considerado cam-
pestre, porém, isso é o mesmo que dó maior, visto constituir, apenas, 0b-
jeto de transposição.
Com o intuito de provar melhor o aparecimento dessÇts escalas, indica-
remos as melodias de onde elas surgiram:
Escalas do 1.0 tipo:
., número das melodias: 6, 7, 12, 32, 35 {n.0 18 mistura do 1.9 e 4. 0 tipos) .
Escalas do 2.0 tipo:
melodias números: 9, 11, 21, 22, 23, 24, 25, 28, 30, 31, 33, 34 e 36.
Escalas do 3.0 tipo:
número das melodias: 26, 27.
Escalas do 4.0 tipo:
número das melodias: 5, 14, 17 e 19.
Escalas do 5.0 tipo:
número das melodias: 3, 16, 20, 29 (27 mistura do 5.0 e 3.0 tipos).
Modos ambíguos, isto é, confusão relativa entre o 1.0 e o 4. 0 tipo:::
número dexs melodias: 2, 17, 18, 19 etc.
Mário de Andrade, que era um. grande observador e argut0 pesqulza-
àor, nos deu, em sua "Pequena História da M11sica", três exemplos de es-
calas, as quais declarou serem ocorrentes no Brasil. Não precisou, no en-
tanto, se essa ocorrência se verificou nas regiões onde iri'veu a gente Tapuia.
Há também um reparo a fazer de suas escalas: É que no geral, quando
o 4.0 grau aparece alterado, o 7.0 não participa do canto. Damos como
prova disto as Cantiqas de cego, nún1eros 26, 27 e da Macacaria, que rece-
/)eu o número 20. Outro reparo a fazer, é o de não ter o saudoso escritor,
tomado conhecimento da existência do modo menor e do jogo de passagem
entre modos relativos, que a nossa música da Tapuiretama, usa, em substi-
tuição às modulações. Exemplo frisante disto é a melodia que, neste tra
balho, tomou o número 19, a qual, passa, de si bemol maior, a sol menor,
com a mais elegante naturalidade.
Compete-nos, ainda, falar da maneira imprevista como terminam as
melodias do nordestei jamais encontramos em música de qualquer país,
coisa semelhante. t uma estética nova que surge na cadência terminativa
dessa música admirável.
A arte que nos legaram as civilizações da Europa ocidental, tem, para
terminar os seus cantos, 11otas que devem pertencer às cadências perfeitas e
plagais. As músicas orientais, ou dali procedentes, terminam sempre pelo
4. 0 grau descendo ao primeiro. É uma indicação sugestiva da cadência pla-
85
•
gaL Também isso é o que ocorre no canto gregoriano originário dos modos
gregos.
Porém, na música do caboclo nordestino, a terminação, ou se faz pola
repetição esteriotipada da tônica, ou, por intervalo de terceira, entre as tô-
nicas dos tons relativos.
-
Cantos terminados por êsse processo:
86
As fíguraçõe·s rítmicas mais importantes, são, nas principais danças:
,
:> .
.......
4
Por meio de contratempos acentuados.
>
,
l
t
> •
87
!
. 1
BIBLIOGRAFIA
89
!
. 1
1NDICE DA ILUSTRAÇÃO MUSICAL
91
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org
•
•
Composto e Impresso
na Oficina Grãfica da
Universidade do Brasil
••
•
l
...