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.. - File - Revista - Digital - 22.45 Ed 374 Uma Igreja Que Nao Consegue Se Esconder
.. - File - Revista - Digital - 22.45 Ed 374 Uma Igreja Que Nao Consegue Se Esconder
B U S Q U E M O S E N H O R E N Q U A N TO É P O S S Í V E L AC H Á - LO DESDE 1968
FECHAMENTO AUTORIZADO. PODE SER ABERTO PELA ECT.
JL on unsplash
NEM TUDO É FALSO
Jesus disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e (Jo 1.14). A verdade plena, sem mistura alguma
também a Vida. Ninguém chega ao Pai sem mim” com a mentira, veio por meio dele (Jo 1.17). E ele
(Jo 14.6). quer ajudar-nos a sentir segurança quanto a isso.
Jesus seria um falso cristo se não falasse a Por essa razão, criou uma expressão peculiar que
verdade toda, se dissesse apenas o que agrada repete dezenas de vezes: “Em verdade vos digo...”.
ao povo, se escondesse o que poderia assustar Em alguns casos, especialmente em João, essa
ou magoar as multidões. Ele punha a desco- expressão é ainda mais enfática: “Em verdade, em
berto a hipocrisia dos homens, o pecado oculto, verdade vos digo...”.
a fraqueza interior. Ele provocava convicção de A preocupação de Jesus em nos desligar da
pecado e pregava o arrependimento. O amor que mentira e nos aproximar da verdade pode ser vista
demonstrava não era do tipo piegas; era, antes, um neste outro trecho do evangelho: “Na casa de meu
amor libertador, que trazia em seu bojo palavras Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo
cortantes e candentes, sempre com o propósito teria dito” (Jo 14.2).
de despertar, curar e salvar. Ele dizia: “Vinde a mim Jesus não precisou dizer como Paulo, em algu-
todos os que estais cansados e sobrecarregados, e mas ocasiões: “Eu não minto” (Rm 9.1; 2Co 11.31;
eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Por outro lado, dizia tam- Gl 1.20; 1Tm 27), porque ele “não é homem, para que
bém: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo minta” (Nm 23.19). A falsidade é vício do homem, e
se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” não do Deus Trino.
(Lc 9.23). Jesus ofereceu água viva à mulher sama- Por último, é bom lembrar que Jesus denun-
ritana, mas não deixou passar em brancas nuvens ciou a fonte primeira de toda e qualquer mentira:
a sua vida particular (Jo 4.16-18). Mencionava em pé “Quando o diabo profere a mentira, fala do que lhe
de igualdade tanto a vida eterna quanto a morte é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira”
eterna. Falou com Nicodemos que ele precisava (Jo 8.44).
nascer de novo e mandou o jovem rico vender os Nunca “dolo algum se achou em sua boca”
seus bens e dá-los aos pobres (Jo 3.7; Mt 19.21). Não (Is 53.9). Jesus jamais enganou ninguém. Portanto,
tinha medo de perder seguidores. Não traía seus não vamos titubear a vida inteira. Nem tudo é falso.
ouvintes deixando para depois a menção da cruz Há pelo menos um abrigo absolutamente seguro
que todos deveriam carregar e do ódio de que para quem deseja de fato a verdade e nada mais
todos seriam vítimas. Um homem que age assim do que a verdade.
não pode ser acusado de falsidade.
Se alguém não deseja cair nas malhas da Elben César
falsidade e deseja ter absoluta confiança naquilo
que é autêntico, apegue-se a Jesus Cristo. Ele é a MAIS NA INTERNET
verdade encarnada, o Verbo que se fez carne e Legado Elben César
habitou entre nós “cheio de graça e de verdade” ultimato.com.br/sites/elbencesar
ISSN 1415-3165
Revista Ultimato – Ano LI – N° 374
Novembro/Dezembro 2018
www.ultimato.com.br
Publicação evangélica não denominacional destinada à
evangelização e edificação, Ultimato relaciona Escritura
com Escritura e acontecimentos com Escrituras. Visa
contribuir para criar uma mentalidade bíblica e estimular
a arte de encarar os acontecimentos sob uma perspectiva
cristã. Pretende associar a teoria com a prática, a fé com
as obras, a evangelização com a ação social, a oração
com a ação, a conversão com santidade de vida, o suor de
hoje com a glória por vir.
Daniel Tseng
Fundador
Elben M. Lenz César
Resolvemos tratar nesta mesma edição de um tema atual e rele- ADMINISTRAÇÃO/MARKETING: Klênia Fassoni
Amanda Almeida • Ana Cláudia Nunes • Ariane Gomes
vante também relacionado à igreja. O fenômeno dos “sem igreja” é Ivny Monteiro • Lucinéa Campos • Tânia Saraiva
visto hoje como um desafio importante, não só pelo número deles
EDITORIAL/PRODUÇÃO/ULTIMATO ONLINE:
(estima-se que se aproximam dos 10 milhões), mas pela complexi- Marcos Bontempo • Bernadete Ribeiro • Djanira
dade da situação. Confira na seção “Especial” (p. 42) as respostas Momesso César • Jean Mendes • Lívea Araújo
Natália Superbi
de oito pessoas conhecedoras do assunto.
É no contexto de dias difíceis (testemunho cristão questionado FINANÇAS/CIRCULAÇÃO: Emmanuel Bastos
Cristina Pereira • Daniel César • Fábio Freitas
e demandas complexas da sociedade) que a igreja está sendo cha- Filipe Emerick • Karina de Lima • Nayuk Valentim
mada a dar sua contribuição única. Que Deus nos ajude a sermos Thiago Maia
uma igreja que, sem espalhafato, aponte para Cristo. Para a glória VENDAS: Lúcia Viana • Aguida Abreu • Daniela Maciel
de Deus. Érica Oliveira • Jaqueline Soares • Juliani Lenz Fonseca
Romilda Oliveira • Vanilda Costa
Boa leitura!
ESTAGIÁRIOS: Heleny Ribeiro • Laís Silva • Natasha
Lemos Borges
Equipe Ultimato
“Catito”
bowski
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) • Ana
ugustus
laudinei
• Délio
es Filho
Coutinho
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Santos
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Ricardo
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MAR ABERTO
Envato
2
Em seu evangelho, Lucas dá atenção especial evidenciou o poder da Palavra de Jesus. A igreja
à participação do Espírito Santo no ministério cristã continua sendo ordenada a se dirigir ao mar
público de Jesus Cristo. O mesmo destaque dá aberto, às águas mais profundas, onde estão os
o piedoso médico quanto ao protagonismo e à cardumes mais numerosos, mais preciosos e mais
cooperação do Espírito Santo na missão da Igreja difíceis de serem pescados. Esse mar aberto são os U
em Atos dos Apóstolos. A similaridade dos acon- confins da terra, as nações, povos e tribos sem a D
tecimentos chega a impressionar. No batismo, presença efetiva do evangelho, com uma presença de
o Espírito Santo paira, desce sobre Jesus e este quase inexistente de cristãos. A igreja deve dirigir- ig
em
inaugura o seu ministério diante dos homens. Em se a essas águas profundas porque ouviu, acolheu,
o
Pentecostes, o Espírito repousa sobre a igreja e entendeu a Palavra de Deus e, por causa dela, e só co
esta inicia a sua missão para as nações. A missão por isso, deve abandonar o porto das seguranças
do Espírito nos dois livros, embora separados pelo humanas e as águas rasas de um ministério de
cânon, é uma só, fazer com que a Palavra de Deus conservação e de manutenção da vida religiosa
seja ouvida, acolhida, crida e praticada. A igreja do dos crentes. É fácil transformar o ministério e a S
Espírito é antes de tudo a comunidade do Verbo, vida comunitária numa espécie de capelania da
a comunidade da Palavra. O Espírito Santo anima, subcultura cristã.
impulsiona, dirige e corrige a igreja mediante a Onde a Palavra é pregada com fidelidade e
pregação da Palavra de Deus. É sempre em obedi- desassombro, os “ventos do Espírito Santo dão
ência à Palavra que a Igreja se torna uma realidade contra as velas” da Igreja, levando-a a singrar o mar
espiritual. aberto do mundo lançando as redes do evangelho.
O Pentecostes mostra que, onde o Espírito age Devemos declarar, como Pedro, que os nossos
com poder e graça, a Palavra de Deus exposta, esforços dão em nada e, ainda que tenhamos
orada, cantada, sistematizada é desejada, crida, alguma destreza, somos sempre insuficientes para
obedecida, divulgada. No Evangelho de Lucas a obra. E, como ele, devemos obedecer em fun-
encontramos o relato da tentativa de pesca mal- ção da Palavra de Jesus. Pois, onde está a Palavra,
sucedida no lago de Genesaré e a ordem de Jesus está também o Verbo. Sendo assim, se Jesus está
a Simão: “Vá para onde as águas são mais fundas” conosco na barca, a pescaria será um sucesso
e, depois, a todos: “Lancem as redes para a pesca”. estrondoso. Jogar as redes é dever dos discípulos.
Ao que Simão responde: “Mestre, esforçamo-nos a Encher as redes é uma tarefa do Espírito Santo.
noite inteira e não pegamos nada. Mas, por causa Se queremos ver milagres de vidas convertidas e
da tua palavra, vou lançar as redes”. Quando o santificadas, obedeçamos à Palavra e, com Jesus,
fizeram, pegaram tal quantidade de peixe que as enfrentemos o mar aberto.
redes começaram a rasgar-se (Lc 5.1-6). A lógica do
texto é desconcertante, bem como o seu contexto. Luiz Fernando dos Santos é ministro da Igreja
Pedro, pescador de profissão, sabia que o mar não Presbiteriana Central de Itapira, SP, e professor
estava para peixe naquele dia. Ele e seus compa- no Seminário Presbiteriano do Sul, na Faculdade
Internacional de Teologia Reformada (FITREF) e no
nheiros haviam se esforçado quanto puderam e Perspectivas Brasil. AB
viram toda a sua perícia dar em nada. À ordem BJ
de Jesus e em atenção à sua Palavra, lançaram-se da
CV
novamente ao mar. MAIS NA INTERNET de
O milagre está, de modo inseparável, ligado à Estudo bíblico “Jesus e a nossa esperança”
NT
Ve
obediência à Palavra proferida. O milagre apenas goo.gl/Z4KjLU
COLUNAS
O CAMINHO DO CORAÇÃO
32 Eu era cego, mas agora vejo
Ricardo Barbosa de Sousa
FAMÍLIA
34 As drogas não poupam famílias cristãs
Carlos “Catito” e Dagmar Grzybowski
22
Valdir Steuernagel
SEÇÕES REFLEXÃO
50 Disputa de poder: laicismo versus religião
Bráulia Ribeiro
3 ABERTURA
4 CARTA AO LEITOR HISTÓRIA
6 PASTORAIS 52 Sementes da iniquidade
Alderi Souza de Matos
8 CARTAS
12 ULTIMATOONLINE MISSÃO INTEGRAL
54 O testemunho cristão em ação
14 MAIS DO QUE NOTÍCIAS René Padilla
42 ESPECIAL
Vários colaboradores | Desigrejismo – ACONTECEU COMIGO – MEU
“anomalia” ou opção?
ENCONTRO COM JESUS
58 ARTE E CULTURA 65 Uma carta para Deus
Claudinei Franzini
@ultimato @editoraultimato
editora.ultimato editoraultimato
ABREVIAÇÕES: AM – A Mensagem; AS21 – Almeida Século 21; BH – Bíblia Hebraica;
BJ – A Bíblia de Jerusalém; BP – A Bíblia do Peregrino; NBV – Nova Bíblia Viva; CNBB – Tradução
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; CT – Novo Testamento (Comunidade de Taizé);
CV – Cartas vivas; EP – Edição Pastoral; EPC – Edição Pastoral-Catequética; HR – Tradução
de Huberto Rohden; KJ – King James (Nova Tradução Atualizada dos Quatro Evangelhos);
NTLH – Nova Tradução na Linguagem de Hoje; NVI – Nova Versão Internacional; NVT – Nova
Versão Transformadora; TEB – Tradução Ecumênica da Bíblia.
a do pastor Ed René Kivitz estavam muito boas nada hora, parar toda atividade e orar pelo país. A
(sou fã dos dois). Isso deve ser um “ultimato” a todo crente. Só a Q
Flávia Schiavo, Jundiaí, SP oração vai salvar este país. Deus os abençoe a M
continuar cultivando sabedoria na publicação co
O artigo Graças a Deus por Jesus Cristo (“Aber- de artigos que fazem bem a todos nós. nã
tura”) falou muito ao meu coração e me levou a João Gilberto Romano, Andradina, SP ga
preparar um sermão sobre esse ponto de vista pe
teológico. Devemos em tudo dar graças porque SEXO ESTRAGADO W
é a vontade de Deus, mas devemos agradecer a Infelizmente, falar de sexo é um tabu dentro de
Deus por Jesus Cristo, porque o nosso Senhor e muitas igrejas e seus membros acabam não en- H
Salvador vale mais que tudo e todos, aliás nele tendendo o que a Bíblia tem a dizer sobre esse Co
tudo subsiste. Como disse o apóstolo Paulo: “Nele tema. A matéria de capa da edição de julho/ liv
vivemos, nos movemos e existimos” (At 17.28). agosto – Sexo estragado – o que fizemos com gr
Mauro V. Cassiano, Araçatuba, SP o presente de Deus – tira a dúvida dos leitores e cio
mostra aos líderes a importância de falar sobre m
Muito tendencioso o infográfico Em tempo...
o assunto. Co
Questões socioambientais que o Brasil precisa
Lilian Renata C. Moreira, São Paulo, SP pr
SEGUIR A JESUS – UMA TRILHA enfrentar. Só mostrou o lado de quem não tem
Le
GUIADA interesse na produção de alimentos. É impor-
O tema da matéria de capa de julho/agosto pre- Pa
Num tempo de noções tão diluídas do que seja, tante ouvir também outros segmentos como
cisa, urgentemente, ser mais enfatizado, numa
verdadeiramente, seguir a Jesus, é muito rele- Embrapa, Emater, Secretaria de Agricultura,
abordagem biblicamente saudável, pelas igre- SA
vante apontar o passo a passo bíblico, claro e produtores rurais etc.
jas sérias e no meio cristão brasileiro. Qu
evidente desse aspecto que, em si, define o que Gláucio R. Guimarães, Cuiabá, MT
Otávio R. Viana Júnior, Recife, PE no
é ser evangélico de verdade.
no
Cid Mauro A. Oliveira, Rio Branco, AC ORAÇÕES PELO BRASIL Talvez a liderança das igrejas precise adotar uma
qu
Precisamos urgentemente começar a promover política de enfrentamento do tema da matéria de
éf
Adorei a edição de setembro/outubro. A maté- a paz em todos os setores. Parece-me que es- capa de julho/agosto. Porém o assunto chama
Al
ria de capa – Seguir a Jesus – uma trilha guiada tamos assentados sobre um barril de pólvora, os leitores também à responsabilidade pessoal
ni
– está ótima, a começar pelo título. Destaco o que a qualquer instante vai explodir. Temos, diante de uma problemática que há muito tempo
artigo de Paul Freston, que li mais de uma vez. A como cristãos evangélicos, de convocar nosso deixou de ser assunto apenas secular.
A
coluna de Gladir Cabral sobre Rachel Carson e povo para um dia específico, em uma determi- Eduardo F. Silva, Queimados, RJ
Ag
É
tão especial da Editora Ultimato. Que Deus preendido nesta minha colocação pessoal. Em pessoa com jornais à mão e disposta a fazer
(b
continue abençoando a todos. Cristo, nosso Salvador. algo pela folha.
mi
Rute Salviano de Almeida, Campinas, SP José Antonio A. Friggi, São José dos Campos, SP Augusto Gotardelo, Juiz de Fora, MG
tan
Dezembro de 1968
co
– O Dia “U” aconteceu em 25/9/2018 como par-
(e
te das celebrações pelos 50 anos de Ultimato. HÁ 50 ANOS CARTAS DA PRISÃO mo
Nesse dia, toda a equipe da editora lembrou
pe
e agradeceu a bênção de Deus durante a ca- Jornalzinho deveras interessante, devido às con- Ultimato é uma revista que difere de todas as
hu
minhada histórica de Ultimato e por ter-nos tribuições importantes de incontestáveis perso- demais revistas que já conheci. Seu conteúdo
pr
permitido trilhá-la ao lado de muitos amigos. nalidades do mundo evangélico. Desejo que Ul- evangélico ajuda os cristãos na edificação de
me
O principal objetivo do Dia “U” foi dizer “muito timato se torne um grande jornal de vanguarda, sua fé. Ao fazer a leitura dos artigos, temos o
Di
obrigado!” a esses amigos. cada vez mais atraente. conhecimento ampliado e uma ampla visão de
Terezinha Lyra, Niterói, RJ assuntos que são de extrema importância, não
Or
SINTO FALTA DOS CATÓLICOS NA Dezembro de 1968 somente para os evangélicos, mas também
No
REVISTA para toda a sociedade.
Pa
Assinei Ultimato anos atrás. Depois deixei de Li Ultimato, que melhora dia a dia. Leio-o com W. O. P., Itaperuna, RJ
bé
assinar e, há pouco tempo, renovei a assinatu- prazer, principalmente depois de tirar os olhos
da
ra. Gostava de ler a opinião dos leitores, entre de folhas mundanas repletas de crimes e notas Agradeço por me enviarem Ultimato durante
Ma
os quais havia bispos católicos, padres e enti- de convulsões num mundo em crise. A folha os três anos em que estou preso. Eu e outros
dades católicas. Ficava feliz por essa unidade pode penetrar nos altos meios sociais, já pela que estamos nesta prisão temos lido, aprendi-
ecumênica. A revista citava fatos e dados da sua apresentação, já pela mensagem que trans- do e sido edificados com a revista. Ultimato é
Igreja Católica. Hoje percebo que isso não mite. Nunca esqueça a razão do título – Ultimato. uma joia para a alma que almeja crescer na gra-
existe mais. Tenho consciência de que a re- Revista sempre de alta importância o conteúdo ça e desenvolver a salvação em Cristo Jesus. Fa
vista é de procedência evangélica. Como ca- desse ultimato e a pessoa humana a quem ele F. B. P., Casa Branca, SP co
tólico – sou religioso, diácono permanente –, se dirige. Deus o abençoe e conduza! Domingo, En
leio os artigos dos pastores, homens de Deus, de manhã, saí mais cedo de minha “paróquia” e PORTAL ULTIMATO co
pessoas cultas, mas fico triste pela ausência falei aos crentes da Igreja Presbiteriana de Juiz cri
dos católicos. Espero, sinceramente, ser com- de Fora em favor do jornal. Já havia à porta uma Não consigo colocar em palavras o que o texto so
ARTIGOS
ALGUNS DOS
LIDOS
C. S. Lewis em tempo
de eleição: Os cristãos
e a moralidade
Paulo F. Ribeiro
Os evangélicos estão
com medo? O que
eles temem perder?
Michael Horton
Tom Pumford
Como construir um
país mais justo
William Lane SUICÍDIO E O GEMIDO DOS PASTORES E
Setembro está se tornando nacionalmente atentados contra a própria vida entre
Escândalos, sabedoria
conhecido como o mês da prevenção pastores e apresenta cinco questões que
e perseverança
ao suicídio por causa da campanha “Se- pesam no ministério pastoral e devem ser
Josué Campanhã
tembro amarelo”, que promove eventos, levadas a sério pela igreja na prevenção
divulga o tema e incentiva a discussão desse grande mal. Segundo o autor, “es-
sobre o assunto. No artigo Suicídio e o ge- tamos chegando num momento em que
mido dos pastores, Jorge Henrique Barro não será fácil esconder a humanidade dos
denuncia o crescimento do número de pastores”.
LIVROS
ALGUNS DOS
QUEM PRECISA DE UM
VISTOS Ac
ESTUDO BÍBLICO?
Daiga Ellaby
ELES CONHECEM A SUA VOZ
Eugene Peterson
Assim como as ovelhas se familiarizam com a voz de seu pastor,
os cristãos também se familiarizam com a voz de seu Senhor. A
longa associação em uma aliança de amor concretiza a fidelidade.
ais
Não
ara
eus
/editora.ultimato Mais de 85 mil pessoas já “curtiram” a página da Editora Ultimato no Facebook. Junte-se a nós!
re-
@ultimato Quer saber o que a Editora Ultimato e seus blogueiros estão falando? Simples. Siga-nos no Twitter. Mais de 34 mil já são nossos seguidores.
@editoraultimato Acompanhe o dia a dia, os bastidores e as promoções da Editora Ultimato no Instagram. Mais de 43 mil pessoas já nos seguem.
V
tim eletrônico Análise Global de Lausanne, publicado
pelo Movimento Lausanne. Tal crise eclesiástica abriu
espaço para Walking with Jesus Movement (Movimento
Andando com Jesus, ou WJM, na sigla em inglês), que
15 ANOS DE UNIDADE EM FAVOR propõe o desafio de viver 24 horas por dia sentindo a
presença de Deus por meio de um tipo de diário espi-
co
Arquivo Pessoal
so
e- AMOLEÇAM A TERRA
DURA DE SEUS
V
do
iu ale a pena investir no sertão? Para o casal de missionários suíços
to
ue
Beat e Ursula Katrin Roggensinger, vale, sim, mas exige perseve-
rança, humildade e muito amor. As palavras são de quem dedi-
CORAÇÕES, SENÃO
a
pi-
cou quase trinta anos de trabalho missionário no Nordeste brasileiro.
Ambos formados em teologia e missiologia, Beat, mecânico, e
A BOA SEMENTE VAI
o-
a,
Ursula, pedagoga, chegaram ao Brasil em janeiro de 1990. Começaram
seu trabalho missionário em Belém do Pará, onde receberam os primei-
SER DESPERDIÇADA
lo
e
ros estudos da nova língua, mas foi no Piauí que eles firmaram raízes
e desenvolveram suas atividades missionárias.
ENTRE OS
ês Entre as dificuldades enfrentadas quando chegaram ao Brasil,
Beat destaca a comunicação e a ausência dos familiares. “No sertão o
ESPINHOS.
M Jeremias 4.3
ço povo não é acostumado com estrangeiros e o sotaque de estrangeiro.
o, Acredito que muitas vezes não entenderam as minhas pregações.
o” Também sentimos a falta de amigos e familiares, principalmente
as durante a criação dos nossos filhos”, conta o pastor suíço.
mo Além de trabalhar na plantação, organização e pastoreio de igrejas,
Beat participou da coordenação e direção de organizações como a Quanto mais você olhar para Jesus,
Associação das Igrejas Cristãs Evangélicas do Brasil (AICEB) e da Missão
mais desejará servi-lo neste mundo.
Cristã Evangélica do Brasil (MICEB). Como executivo da PróSertão, de N. T. Wright
2010 a maio de 2018, Beat influenciou e capacitou muitas pessoas a se Teólogo
dedicarem à obra missionária. O pastor conta que não só ensinou aos
sertanejos, mas também aprendeu sobre simplicidade, generosidade, Dos funcionários que encontrei
amizade profunda e otimismo.
em janeiro do ano passado restam
poucos: saíram os que faziam política
Em maio deste ano, após 28 anos servindo no Brasil, Beat e Ursula e os que não faziam coisa nenhuma
retornaram ao país de origem, com o sentimento de “missão cum- [...] Os atuais não se metem onde
prida” e novas perspectivas de atuação missionária. O casal pretende não são necessários, cumprem as
promover missões no meio de igrejas brasileiras na Suíça e facilitar a suas obrigações e, sobretudo, não se
chegada de missionários brasileiros à Europa e outros continentes. PR enganam em contas. Devo muito a
eles.
Guilherme Romano
MAIS NA INTERNET
Vale a pena investir no sertão? Graciliano Ramos
goo.gl/t7cLS2 Autor de Vidas Secas, ao assumir a prefeitura
de Palmeiras dos Índios, AL, em 1928
R,
or
i-
o
m
a-
e
o-
a
s-
s
i-
m
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s
a
o
m
a
s-
a
oonline.
o
019
o
+ FRASES
O DEVOTO
DOSTOIÉVSKI
“Venho de uma família russa devota. É PRECISO DRENAR O
[...] Em nossa família, sabíamos o VASTO PÂNTANO DOS
evangelho quase desde o berço.”
Essas palavras são do famoso escritor LUGARES COMUNS.
russo Fiódor Dostoiévski em 1873 e
republicadas na edição condensada Karl Kraus
da biografia Dostoiévski – Um escri- Jornalista do fim do século 19
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tor em seu tempo, de Joseph Frank,
recém-lançada no Brasil pela
Companhia das Letras. Frank usa a
história cultural da Rússia como pano
de fundo para reconstituir a vida e a “QUEM PLANTA O melhor ideal é a verdade e outra
verdade é inútil. Toda glória seja
obra de um dos grandes escritores
do século 19. A citação acima aparece
TÂMARAS NÃO dada ao santo Três em Um.
Cecilia J. D. Reggiani
Jornalista
MEIO AMBIENTE
DEUS SALVE AS BALEIAS
M
oro em Vitória, no Espírito Santo. A primeira
capela construída na cidade, no século 14,
Igreja de Santa Luzia, ainda está de pé. Além
dela, outras construções antigas como o famoso
Leonardo Merçon
seus blocos de pedra colados por uma massa de cal,
areia e óleo de baleia. Naquela época, as baleias eram
também fonte de energia, uma vez que as lamparinas
das cidades eram alimentadas com seu óleo. Aqui, a
Há mais de vinte anos, o Brasil e outros países
carne delas nunca foi um prato comum como é em
membros da CIB tentam criar um santuário de baleias
alguns países nórdicos, onde comunidades tradicio-
no Atlântico Sul, protegendo diversas espécies cuja
nais esquimós ainda dependem dela para se nutrir.
caça já é proibida apenas nas águas territoriais dos
Em todo o mundo, as baleias viraram um símbolo
países da região. Na última reunião da CIB, realizada
grandioso e carismático da diversidade e da beleza
em Florianópolis, SC, em setembro de 2018, o bloco
marinha, exceto para alguns japoneses. Após a
de países contra a caça perdeu novamente em uma
Segunda Guerra Mundial, a carne de baleia passou a
votação que se ganha com 75% dos votos. Os países
ser parte da merenda escolar e a alimentar uma boa
que ganharam foram o Japão, a Rússia e os países
parcela da população daquele país destruído. Hoje não
nórdicos, que lideram um bloco de 25 países estranha-
é mais, porém a caça continua.
mente aliados, como a Mongólia (que nem tem mar),
Há uma convenção que rege a caça das baleias no
alguns países africanos, caribenhos e sul-americanos
mundo, que foi criada pela Comissão Internacional da
que recebem do Japão recursos para a pesca. Na
Baleia (CIB), instalada em 1946. Em 1986 uma moratória
prática, um pequeno grupo de japoneses orientados
foi estabelecida proibindo a caça, exceto para pesquisa
pela ganância e falta de respeito pela criação coloca
científica. Com essa justificativa, o Japão mantém a
diversos países contra o interesse comum e o benefí-
caça de milhares de baleias desde então. Contudo, a
cio da maioria para manter a indústria baleeira, que é
carne de baleia não é apreciada no Japão, tampouco
completamente descontextualizada.
se utiliza óleo em construções e luminárias. Noventa e
Por que insistimos em atitudes consideradas pela
cinco por cento da população nem consome a carne,
maioria como inadequadas ou que representam um
que fica armazenada aos milhares de toneladas em
atraso e até mesmo um malefício para o próximo?
grandes frigoríficos. Perante a comunidade internacio-
nal essa atitude chega a ser constrangedora. Marcelo Renan D. Santos
DATAS
HÁ 54 ANOS HÁ 311 ANOS
Os rebeldes simbas massacraram trinta homens, Nasceu, no dia 18 de dezembro, Charles Wesley,
mulheres e crianças europeias, quando seiscen- o 18º filho de Samuel e Susanna Wesley. Ele e seu
tos paraquedistas desceram em Stanleyville (hoje irmão John Wesley, quatro anos mais velho, foram
Kisangani), na República Democrática do Congo, no os fundadores do metodismo. Charles Wesley era
dia 25 de novembro de 1964. Entre as vítimas, havia um gênio lírico, conhecido como o Trovador de
onze missionários evangélicos. No ano seguinte, um Deus. Compôs mais de 6 mil hinos, dos quais John
missionário estrangeiro e um pastor congolês pre- dizia: “Alguns são bons; alguns são inferiores; alguns
garam o evangelho do perdão a cerca de sessenta são excepcionalmente ótimos”. O maior compositor
rebeldes que estavam encarcerados. Com surpresa de hinos da história cristã compôs muitos de seus
e alegria, viram alguns deles se interessarem pela hinos quando viajava a cavalo. Frequentemente, ao
pregação. No apelo feito, onze simbas se decidiram chegar ao destino, desmontava do animal e corria
por Cristo. O número de decisões coincidiu com o à porta para pedir com urgência: “Pena e tinta!”,
número de missionários que eles haviam assassinado como se a sua vida dependesse disso.
um ano antes.
U
ltimato convida o leitor a reavivar a
alegria pelo privilégio de sermos parte
fé, a desatenção aos programas e às agendas eclesi-
ásticas locais e denominacionais.
U
Q
do Corpo de Cristo. Jesus é o Senhor da Possivelmente um dos únicos consensos que há
Igreja. A Igreja está no centro do propó- entre os crentes hoje é que os dias são difíceis. E a
sito de Deus, e ele é o mais interessado Igreja está sendo chamada a dar sua contribuição
em uma Igreja viva e atuante. única neste contexto. G
A
Refletir sobre a identidade – as marcas que mos- Resta-nos, como igreja, nos humilharmos diante
tram o que é “ser igreja” – certamente nos levará à de Deus e pedir ao Senhor da Igreja que – por meio
oração, à confissão e ao compromisso com a reno- de seu Espírito – aproxime nossas comunidades
vação da Igreja. Para alguns pode ser também uma das características da Igreja que ele pretendeu:
convocação ao retorno a uma comunidade local. “Como crianças recém-nascidas, somos chamados
Não faltam bons livros, cursos, métodos e eventos a crescer. Como pedras vivas, somos chamados à
que se propõem a ajudar as igrejas a traçarem suas comunhão. Como sacerdotes santos, somos cha- m
agendas. Este não é o objetivo desta edição. As maté- mados à adoração. Como povo de propriedade qu
rias a seguir focam na identidade da Igreja. “Ser” pre- exclusiva de Deus, somo chamados ao testemunho. a
cede o falar, o fazer, a agenda. São um chamado à Como estrangeiros e peregrinos, somos chamados à en
contemplação da natureza da Igreja. santidade. Como servos de Deus, somos chamados in
Para tirar o máximo proveito da leitura dos à cidadania” (John Stott, O Discípulo Radical, p. 83). ob
artigos, sugerimos que temporariamente façamos Uma Igreja assim não consegue se esconder: ao
estes exercícios: a suspensão do espírito crítico, o sem gritaria, sem espalhafato, ela vai apontar para re
esquecimento das feiuras de nossas comunidades de Cristo. Para a glória de Deus. re
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Envato
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io doração na Bíblia é sempre uma resposta. e nossa ordem de culto não estão invertidos. Não seria
es Deus se revela e o homem responde. o caso de começarmos com a Escritura e, em seguida,
u: Qualquer outra ideia ou forma de ado- a resposta, ou seja, adoração? Cantamos para preparar
os ração é mera religiosidade, essa atem- o coração para ouvir a Deus. Não deveria ser o con-
à poral e universal ideia de que podemos trário? Não seria o caso de, em vez de usarmos “música
a- manobrar a divindade com palavras e rituais, algo complexa e desempenho profissional, transformarmos
de que fazemos para que os deuses se vejam obrigados as nossas congregações em um grande coral bem trei-
o. a nos favorecer. Cristianismo não é isso. O cristão nado” (Mark Noll), todos, em uníssono, respondendo
à entendeu por revelação inquestionável e instrução ao Deus que se revela e redime? Pena que a dança ao
os insistente que adoração não é algo que fazemos para redor do bezerro de ouro do entretenimento religioso
). obrigar o Deus vivo a agir. Adoração é a nossa reação seja mais atraente (Êx 32). A boa performance venceu
r: ao que Deus fez em Cristo por nós. Adoração é a cor- a boa teologia.
ra reta resposta ao Deus que toma a iniciativa em se Reconhecer é conhecer de novo. É conhecimento
revelar. “No princípio, Deus.” Em seguida, altar. O que se atualiza, supera. “Então conheçamos, e pros-
bispo Wright comenta: “Quando começamos a per- sigamos em conhecer ao Senhor” (Os 6.3). Minha
ceber a realidade de Deus, nossa reação natural é preocupação como pastor e dirigente da adoração
adorá-lo. Quando isso não acontece, é porque ainda dominical não deveria ser “como a congregação pode
não compreendemos de fato quem ele é e o que tem adorar melhor”, mas “como podemos conhecer mais e
feito”. Adoração como resposta ao Senhor e depen- mais o Deus a quem adoramos ou dizemos adorar”. A
dência do Senhor. associação de conhecimento à mera informação, algo
Que Deus nossa igreja adora? Adoração verdadeira que diz respeito a fatos, conceitos, ideias, é ocidental.
requer conhecimento do Deus verdadeiro. Jesus deixou No pensamento bíblico, na forma hebraica de pensar,
isso claro à mulher samaritana: “Vocês, samaritanos, conhecimento é relacionamento. Não conheço a
sabem muito pouco a respeito daquele a que adoram. Deus por recitar, corretamente e de cor, credos, cate-
Nós adoramos com conhecimento, pois a salvação vem cismos e confissões. Conheço a Deus quando me
por meio dos judeus” (Jo 4.22). Nossas congregações relaciono com ele, “conversacionalmente”, como
só adorarão se conhecerem o Deus a quem adoram. dizia Dallas Willard a respeito da oração. Conheço
Esse é o requisito. Adoração não requer música virtuo- a Deus quando consigo ouvir sua voz e responder a
Envato
sística ou uma estética emocionante. Adoração requer ela orando, servindo-o, obedecendo-lhe, amando-o –
conhecimento de Deus. Quando o Senhor se revela e adorando-o, enfim.
nós o conhecemos e o experimentamos então existe
culto. Construímos altares como Abraão (Gn 12.7-8), Gerson Borges, carioca do subúrbio e paulista do ABCD, é
caímos de joelhos a exemplo do profeta Isaías (Is 6), educador, escritor, músico, poeta e pastor na Comunidade
irrompemos em cânticos como Maria (Lc 1.46-55). de Jesus em São Bernardo, SP. Casado com Rosana Márcia e
Muitas vezes me pergunto se nosso roteiro de liturgia pai de dois meninos.
A
Ziel Machado
C
resci ouvindo muitas histórias
de minha mãe, era sua forma
predileta de me preparar para
a vida. Certa vez ela me contou na
a história de um lavrador que co
estava preparando a terra para a semeadura. ga
Após ter colocado o arado no animal, ele esta- ap
beleceu como referência uma pedra branca que “L
avistava ao longe. Com tudo pronto, passou a cu
sulcar a terra com o arado até o limite do ter- no
reno. Ao olhar para trás, percebeu que o que cr
deveria ser uma linha reta tinha um traçado se
completamente sinuoso. Ele revisou os ajustes em
do arado e voltou a sulcar a terra buscando e
ter um traçado apropriado para a semeadura,
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mas, apesar de seus repetidos e contínuos qu
esforços, o resultado final era sempre sinuoso. no
De repente o inesperado aconteceu: ele percebeu que a Jesus, é possível citar a Bíblia sem, contudo, ser bíblico. lá
pedra branca estava se movendo. Foi quando descobriu Tenho a impressão de que o inimigo de nossas almas fo
que o que supunha ser uma pedra fincada no terreno não não mudou a sua metodologia e continua a trazer con- di
passava de uma vaca pastando lentamente no campo. fusão no meio do povo de Deus. Quando o livre acesso à N
Uma igreja que persevera na verdade é aquela que Escritura é entendido como sendo uma permissão para se
encontrou uma referência firme para sua vida de ado- a sua livre interpretação, o resultado disso tem produ- pa
ração e testemunho. É este o ensino da Escritura ao zido grandes males para a vida e testemunho da Igreja, (“
afirmar que toda ela é “inspirada por Deus e útil para o que tem comprometido o compromisso de perseverar
nos ensinar o que é verdadeiro e para nos fazer perceber na verdade. qu
o que não está em ordem em nossa vida. Ela nos corrige É certo que ao longo da história grandes debates ca
quando erramos e nos ensina a fazer o que é certo. Deus têm surgido em torno de temas importantes, para os op
a usa para preparar e capacitar seu povo para toda boa quais, nem sempre, foi possível que a Igreja chegasse a da
obra” (2Tm 3.16-17). Este é o testemunho da igreja que um consenso, mas é também verdade que Deus não nos ac
em seus primeiros dias se dedicou de todo coração “ao deixou só com nossos dilemas. O Espírito Santo, que é gr
ensino dos apóstolos, à comunhão, ao partir do pão e o Espírito da Palavra, tem conduzido o seu povo nesses m
à oração” (At 2.42). Foi também com base nessa con- processos de discernimento de forma a manter o teste-
vicção que os apóstolos, diante do rápido crescimento munho de unidade do Corpo de Cristo. Os momentos
da igreja, que ampliou as necessidades a serem aten- em que essa unidade se revela impossível não podem
didas, evitaram a tentação de perder o foco ministerial, ser atribuídos a uma falha do Espírito, mas a uma falha
dedicando-se ao ensino da palavra de Deus e à oração de nossa incapacidade de ouvir o que o Espírito diz à
(At 6.1-7). Igreja e de nossa insistência de escolher outros parâme-
O desejo de perseverar na verdade não se mantém tros de referência que não aqueles contidos na própria
apenas por boa intenção. Desde o início do registro Escritura. Sem esses critérios, nosso testemunho na his-
bíblico, já se podem ver as iniciativas para fazer com tória seguirá sendo sinuoso, não permitindo uma boa
que o ser humano, o povo de Israel e a igreja se des- semeadura nem uma boa colheita.
viassem da verdade. Jesus mesmo foi tentado por meio
de afirmações contidas na Escritura, porém citadas de Ziel Machado é pastor da Igreja Metodista Livre da Saúde em
tal forma que o conduzissem à desobediência a Deus. São Paulo, SP, e vice-reitor do Seminário Servo de Cristo. Por
Isso nos faz pensar que, assim como o Diabo fez com mais de trinta anos serviu a ABUB e a IFES em diferentes funções. S
A
igreja é o campo natural da comunhão. igreja onde as pessoas são cimentadas pela alegria do
Comungamos ideais, expectativas e pertencimento mútuo. Admiro, por exemplo, a paci-
lutas. Usamos o termo “comunhão” ência dos idosos durante uma longa (e, eventualmente,
para designar a alegria das reuniões torturante) seção de cânticos no culto, já que da sua
da igreja e a unidade na adoração, memória afetiva sobre a igreja muito pouco sobre-
na Santa Ceia, na oração, na confissão de fé e nas vive na liturgia atual. Mas eles estão lá. E cedem o seu
contribuições (At 2.42-47). Especialmente, comun- espaço, nem sempre prazerosamente, para as novas
gamos o nosso pertencimento à família de Deus. O gerações, “que precisam mais do que nós”, dizem. A
apóstolo Paulo recomendou à igreja dos Gálatas: sua presença cumpre um papel importantíssimo na
“Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, vida da comunidade: testemunhar a respeito da per-
cumpram a lei de Cristo” (Gl 6.2, NVI). Essa imagem severança na carreira cristã. A sua presença ensina:
nos remete ao êxodo: durante a caminhada da vida leio nos seus gestos a receita de que uma parte do meu
cristã, alguém se mostra cansado e abatido, e outro tempo semanal precisa ser gasto na comunidade dos
se abaixa para ajudá-lo com o fardo, para seguirem irmãos e irmãs em Cristo.
em frente, pois a jornada é longa. Temos companhia A comunhão me faz pensar na igreja como a extensão
e nossas vidas estão entrelaçadas. da minha casa. Lá não há cantinho tão sagrado que não
Para haver comunhão é preciso, primeiramente, fre- esteja também presente na minha casa. Frequento o
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quentar o lugar das reuniões da igreja – acordar cedo espaço com a naturalidade e com a alegria de quem tran-
no domingo de manhã é possível e vale a pena –, pois sita no próprio lar. Posso andar vestido de um jeito sim-
o. lá está aquele que precisa de ajuda com o fardo. Não ples e não preciso sugerir uma “imagem melhorada” de
s fomos chamados para ficar em casa por causa de algum quem sou. Meus filhos sentem-se acolhidos e não vão
n- divertimento, ou por causa de algum rancor, ou mágoa. para lá emburrados como quem recebe um castigo. Lá
à Nem vamos à igreja por causa do peso de um dever. E, não há cartão de ponto e não sou julgado se eventual-
a se estamos lá, nossa comunhão precisa ser mais do que mente chego atrasado. Posso ser eu mesmo, sentir-me
u- participar da Santa Ceia olhando para o irmão ao lado livre para o abraço e para a conversa amiga na roda do
a, (“como é mesmo o nome dele?”). cafezinho, para rir das opiniões políticas dos amigos e
r Comunhão exige disposição para acolher. Mais do deixar que riam das minhas. Sou livre para levantar a
que dividir os recursos e o tempo, em nosso mundo mão e balançar o corpo durante o cântico, ainda que
s cada vez mais multiforme precisamos aprender a dividir todos ao meu lado se pareçam como postes. Constato
s oportunidades de autoexpressão e dar acolhida à varie- que a nossa comunhão tudo cura, tudo suporta e, incri-
a dade presente na comunidade. Feliz é a igreja que sabe velmente, resiste.
s acolher pessoas diferentes e não se apresenta como um
é grupo uniformizado quanto a modos de vestir, cultura Délio Porto é professor no Departamento de Engenharia
s musical, opiniões sociopolíticas, escolaridade etc. Uma Civil da Universidade Federal de Viçosa.
e-
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Regina Schwenck
A
se
palavra grega ekklesia, que é traduzida Costumamos confessar a fé cristã dentro do templo, qu
por “igreja”, é uma combinação das pala- porém do lado de fora vivemos, muitas vezes, do mesmo 3.
vras chamar e fora. Chamados para fora. jeito que um não cristão, e assim o evangelho perde o qu
A igreja como comunidade dos salvos se impacto e chega a ser rejeitado. da
reúne para a adoração, o ensino-aprendi- Fi
zagem e a comunhão, que são aspectos da vida interior O valor do lar cu
da igreja, os quais certamente se desdobram em ações “Diariamente partiam o pão de casa em casa” (At 2.46). pe
para fora. A igreja recebeu o mandato divino para sair e As barreiras sociais, raciais e religiosas foram quebradas, ve
cumprir a missão dada por Jesus: “Ide e fazei discípulos a vida cristã se desenvolvia em família. A comunhão ao le
de todas as nações” (Mt 28.18-10). “Ide por todo mundo redor da mesa é a melhor forma de preservar a unidade,
e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). Porém, pois a divisão do pão equitativamente igualava todos nã
há muitos desafios para o cumprimento dessa ordem em uma só condição social. O necessitado recebia sua fix
na sociedade contemporânea. O relativismo, a seculari- porção e ninguém ficava insatisfeito. O amor era vivido de
zação e o pluralismo religioso influenciam a igreja e difi- de forma concreta. co
cultam a evangelização. Quando o Senhor Jesus enviou os setenta, disse-lhes
A própria igreja tem confundido sua natureza. para entrar nas casas e levar a sua paz (Lc 10.5). O após- S
Chamamos de igreja o templo – lugar físico – e até o sacra- tolo Paulo realizou seu ministério indo de casa em casa p
mentamos. Institucionalizamos a igreja e perdemos a (At 20.20). Hoje, nos grandes centros é complicado bater O
noção de que ela é a comunidade dos salvos. Confundimos às portas, como fazemos no interior. Porém, o culto nos aç
igreja com empresa: enfatizamos a organização em detri- lares, o modelo de pequenos grupos (células) em que ev
mento do organismo, criamos normas e estatutos para um anfitrião oferece sua casa e o povo traz seus vizi- do
adesão dos nossos membros e os elegemos como doutrina nhos e visitantes para um tempo de comunhão, confra- cl
cristã. Limitamos a relação com Deus à liturgia; decla- ternização e exposição da Palavra, tem sido confirmado a
ramos religião o que Jesus chamou de vida abundante, a como um modelo eficaz para alcançarmos os que neces- de
dinâmica da vida cotidiana. Não priorizamos a vida comu- sitam da graça salvadora. Devemos ir às casas e oferecer E
nitária centrada no amor revelada na Cruz, conforme o nossas casas, onde as pessoas podem gozar o aconchego ti
perfil descrito em Atos (2.42-47). Preferimos chamar para do lar e um ambiente fraterno e amigo. Sa
dentro a ir para fora. Jesus nos mandou ir! m
Em uma breve reflexão, veremos como a igreja pri- O conhecimento da verdade bíblica, para fazer E
mitiva vivia e evangelizava, cujos métodos ainda são a defesa da fé cristã o
válidos para os nossos dias. A igreja primitiva tinha grandes apologistas, homens za
preparados para responder às indagações dos opositores. qu
O testemunho dos cristãos Eles se propuseram a demonstrar e escrever a verdade de
Cada cristão era um discípulo que testemunhava do da própria doutrina, defendendo-a de teses contrárias e re
Cristo ressurreto. Era grande o impacto produzido pelas ataques dos opositores. Nos primeiros séculos grandes av
pessoas transformadas pelo poder do evangelho. A igreja estudiosos faziam a defesa argumentativa de que a fé E
era a comunidade dos santos. Cada um vivia os valores pode ser comprovada pela razão, dentre eles: Inácio
do reino de Deus, como ensinados por Jesus no Sermão de Antioquia, Policarpo, Justino o mártir, Clemente de di
do Monte (Mt 5–7). Cada salvo procurava imitar a vida Roma, Orígines, Tertuliano. (A
de Cristo não apenas no falar, mas também no agir. Por A sociedade mudou. Adultos, jovens e até mesmo su
isso, a sociedade de Antioquia chamou os discípulos as crianças têm acesso ao conhecimento. A internet as
de Cristo de cristãos – um pequeno Cristo (At 11.26). colocou o mundo das ciências em nossas mãos. Para ser tr
Esta é a proposta de Deus para o cristianismo: “Para ouvido, o comunicador deve contextualizar o evangelho
sermos conformes à imagem do seu Filho” (Rm 8.29). e falar com argumentação bíblica, científica e compro- Du
Não é um testemunho apenas dito, mas também vivido. vação histórica a verdade do cristianismo. Br
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o que liberta, devemos evangelizar fazendo a defesa
da nossa fé de maneira clara e inteligível. Como
Filipe, temos de nos aproximar dos que estão pro-
6).
as,
curando entender a verdade, como o eunuco, e
perguntar: “Entendes o que lês?”. O Espírito da
verdade irá nos guiar e dar as respostas certas, para
UMA IGREJA QUE
ao
e,
levar as pessoas a crer no evangelho (At 8.29-39).
Francis Schaeffer argumenta que a apologética SERVE A DEUS
os não deve ser usada como um conjunto de regras
ua
do
fixas e impessoais, mas que a explanação da fé
deve estar sujeita à direção do Espírito Santo e à NO MUNDO
consciência do indivíduo. Christian Gillis
es
J
s- Ser sensível à liderança e depender do
sa poder do Espírito Santo esus ensinou que é melhor servir do que
er O Espírito Santo foi dado a nós, dentre outras ser servido. Declarou que ele mesmo veio
os ações na igreja, para nos conduzir na expansão para servir e para dar a sua vida em res-
ue evangelística. Alguns teólogos designam o Atos gate de muitos (Mc 10.45) e não ficou só
i- dos Apóstolos como atos do Espírito Santo. É no blá-blá-blá. Ele deu exemplo: pegou
a- claro entender isso, porque somos chamados uma bacia, toalha e lavou os pés dos seus discípulos.
do a dar continuidade à obra de Jesus, conforme Disse que era um símbolo da sua disposição radical de
s- descrita em Isaías 61.1-2. Se ele foi ungido pelo servir, modelo que seus seguidores deveriam imitar.
er Espírito e não liberou os discípulos para con- Jesus decidiu não se apegar à sua condição divina,
go tinuar a sua obra, até serem cheios do Espírito em vez disso preferiu esvaziar-se, assumir a condição
Santo, é porque não podemos cumprir sua humana, fazer-se servo humilde e obediente e entregar
missão, senão pela direção e poder que vêm dele. a própria vida para a redenção dos que nele creem –
er Eles obedeceram, ficaram em Jerusalém e, após processo que foi estabelecido como modelo existen-
o dia do Pentecostes, deram início à evangeli- cial a ser copiado por seus seguidores, tanto no plano
ns zação, havendo no primeiro dia uma colheita de pessoal como coletivo (Fp 2.5).
es. quase 3 mil pessoas de diversas partes do mundo Em Jesus, Deus se revela como o “Deus que
de de então, as quais levaram a Boa Nova para suas serve”. É natural que quem se aproxima, adora e
e regiões (At 1.8; 2). O apóstolo Paulo atribuiu o segue o “Deus que serve” seja inspirado a servir, a
es avanço e os frutos do seu ministério ao poder do dar a sua vida, a generosamente doar tempo, bens e
fé Espírito Santo (Rm 15.18-21). serviço para abençoar o próximo. É uma existência
io Lucas escreve: “Enquanto isso o Senhor, dia a “outrocentrada”.
de dia, acrescentava-lhes os que iam sendo salvos” A igreja do “Deus que serve” segue e dá continui-
(At 2.47). A obra é do Senhor. Se obedecermos a dade à agenda e prioridades que refletem a mente e
mo sua voz e permitirmos que o Espírito Santo use os valores do “Deus que dá sua vida” em favor dos
et as nossas vidas, certamente veremos o Senhor outros. A celebração da Ceia traz à memória as mara-
er trazendo os pecadores ao arrependimento. vilhosas bênçãos redentoras que o Senhor comunica
ho ao seu povo, mas também ensina aos seguidores que
o- Durvalina B. Bezerra é diretora do Seminário Betel o sentido ético de existir é dar a vida e gastar-se para
Brasileiro em São Paulo. abençoar outros.
Quando Jesus andou às boas obras (Tt 2.14). No Novo Testamento, a ordem
entre nós, disse que na para fazer o bem é mais enfatizada do que os impor-
existência daqueles que o tantes mandatos para compartilhar o evangelho. Não
seguem deveriam brotar que as ordens do segundo conjunto de mandamentos
obras reluzentes. Elas sejam menos importantes, mas parece que os manda-
seriam o produto normal mentos do primeiro grupo são mais esquecidos.
e perceptível na vida dos O fato é que, ao aderirmos ao reino de Deus,
que aderem a Jesus e fomos também chamados para o serviço a Deus. A
gerariam exclamações de vida cristã é descrita como serviço a Deus (1Ts 1.9;
louvor a Deus. Rm 7.6; 12.11). E servir a Deus significa, de modo
Assim como nos ale- amplo, uma vida onde toda a conduta é orientada a
gramos ao ver um pé Deus (mais do que um tempo restrito devotado à cele-
P
cheio de jabuticabas bri- bração cultual num santuário) e, de modo especial, a
lhantes, Jesus gostaria dedicação do povo em aliança com Deus (Dt 6.13; Êx
que cada seguidor seu 20.5) para realizar as obras e trabalho que seu Deus
fosse um galho cheio da executa. R
jabuticabeira cheio de Muitas igrejas que se perdem em ativismo reli-
E
belas jabuticabas. Jesus gioso, enredadas em entretenimento gospel, desco-
orientou o olhar dos seus nectadas do contexto e da vida real, carecem de um
discípulos aos que têm projeto claro de serviço e cuidado com os mais vul-
fome e sede, aos estran- neráveis da própria comunidade e do entorno. É pre-
geiros, aos que sentiam ciso verificar se a igreja sutilmente se deixou orientar
frio e precisavam de por fins econômicos, buscando acumular dinheiro e
vestes, aos que estavam patrimônio (às vezes, há fortunas em aplicações ban- G
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s,
A
Regina Schwenck
Regina Schwenck
9;
do
a
e-
PEREGRINOS
a
Êx
us
Ronaldo Lidório
i-
E
o-
m stive em contato com etnias peregrinas em A fé dos peregrinos bíblicos produz resultados na
l- dois momentos de minha vida. Visitei bre- terra e, assim, eles fizeram ruir as muralhas de Jericó,
e- vemente um grupo tuaregue na região desér- subjugaram reinos, obtiveram promessas e fecharam
ar tica do Saara e, de forma mais prolongada, bocas de leões. Pela fé o impossível pode acontecer, se o
e convivi com três famílias fula no nordeste de Senhor assim desejar.
n- Gana. Fiquei impressionado com as características que Há, porém, o outro lado da vivência da fé, pois
ez marcam uma sociedade nômade e destacaria três. Eles Hebreus afirma que os que creram foram torturados,
is mantêm uma vida material simples, com bens e posses passaram pela prova de açoites, foram apedrejados,
n- que podem ser facilmente transportados, descartando provados, serrados pelo meio, mortos ao fio da espada
o supérfluo. Orientam sua vida pelos relacionamentos e andaram sem rumo. Trata-se de uma fé impregnada
m pessoais e não pelo território, mantendo um alto nível de de esperança, que não apenas desagua em livramentos
os compromisso relacional que subsista a diferentes cená- e feitos no presente, mas também prepara o cristão para
te rios. E, por fim, as motivações que os levam à peregri- enfrentar o vale do sofrimento sem deixar de crer – a
do nação passam por diversas vertentes, sendo uma delas casa do Pai o aguarda.
do a esperança de encontrar algo melhor em outra terra. Alegre-se com as maravilhas da criação de Deus
É Hebreus nos fala sobre estrangeiros e peregrinos que neste mundo, lembrando que elas apontam para a per-
de viveram na esperança e morreram na fé, buscando uma feição que há de vir. Chore todas as lágrimas pelos que
pátria celestial e, por isso, Deus se manifestou como seu partem ou sofrem nesta vida, com a doce convicção de
Deus e lhes preparou uma morada (Hb 11.13-15). Um que não haverá choro na casa do Pai. Envolva-se com a
desses peregrinos, Abraão, movido por uma promessa proclamação do evangelho de forma intensa, sabendo
o de Deus, trocou a cidade pelas tendas, o certo pelo des- que na eternidade não haverá evangelização, apenas
conhecido, a casa de seus pais pela esperança em Deus. adoração. Fortaleça a cada dia a sua fé, pois no porvir
Fé e esperança são valores essenciais para os cris- não precisaremos dela para crer – veremos face a face
tãos peregrinos e conduzem a uma vida paradoxal. Em o nosso Senhor. Sofra as dores que lhe são impostas,
Cristo, somos chamados a viver como responsáveis sem deixar que a ansiedade ou a amargura o cativem.
cidadãos da terra, mas orientados pela cidadania dos Jesus pagou o preço por todos os nossos pecados e car-
céus. Sem apego às coisas deste mundo, mas nos ale- regou sobre si as nossas dores. Peregrino, a cada passo
grando com a criação de Deus. Não mais dominados fortaleça-se na fé e alimente-se da esperança, vivendo
pela carne, pelo mundo e pelo diabo, mas ainda em de forma plena os seus dias e lembrando que a casa do
luta contra todos eles. Proclamando o evangelho que Pai o aguarda.
nos dá salvação, mas não nos tira do mundo ou do
caos. Convidando as nações a crerem em Deus, mesmo Ronaldo Lidório é teólogo, antropólogo e missionário
sabendo que, em muitos casos, seremos perseguidos (APMT e WEC) entre grupos pouco ou não evangelizados.
pela nossa fé. Inconformados com a injustiça na terra, É organizador de Indígenas do Brasil – Avaliando a missão
sabendo que a plena justiça vem de Deus. da igreja e A Questão Indígena – Uma luta desigual.
E
e
m artigo anterior, tratamos do fascínio cristã. O princípio da distribuição dos dons do fa
pela figura cativante de Cristo. Não Espírito deve ser a base para a autoconsciência da tr
é comum falar da igreja nos mesmos igreja. o
termos! Parece que, na transição de Em Romanos 12 e 1 Coríntios 12, percebemos
Cristo para a comunidade cristã, algo (ou duas coisas: em primeiro lugar, a diferença enorme cl
muito!) se perde. O Deus trino, o Deus que é comu- entre as duas listas de dons (a corintiana, “carismá- ex
nidade, nem sempre é vislumbrado na comunidade tica”; e a romana, “prosaica”), a ponto de darem a so
dos seguidores; o caráter de Jesus, o Deus encar- impressão de comunidades radicalmente diversas de
nado, expresso tão vivamente nos Evangelhos, nem entre si; e, em segundo lugar, a ênfase nos dois textos ta
sempre é retratado na vida comunitária dos cristãos no princípio da distribuição, a ponto de darem a m
e na presença cristã na sociedade. impressão de que a compreensão desse princípio é da
“Ninguém vem ao Pai senão por mim”, disse mais importante do que a compreensão dos dons cr
Jesus, referindo-se à maneira como o divino e o em si. nu
humano podem se relacionar (“por Cristo”), mas Segundo esses textos, o Deus bíblico dá dons do aq
muitas vezes tomado como reivindicação de uma Espírito a todos, não a alguns. Ele poderia ter dado qu
adesão exclusivista (“pelo cristianismo”). Em con- dons a alguns poucos e deixado os outros sem nada; de
sequência, foram sobrevalorizados o pertencimento mas, se fizesse isso, seria um deus diferente e dese- ci
institucional e a confissão de fórmulas jaria criar uma igreja diferente, com claras demar- Sa
proposicionais, e subvalorizadas a cações hierárquicas inseridas na própria origem. aç
Os princípios que ética e a imitação dos valores vividos Também, seria possível que desse a cada indivíduo lid
devem reger o por Jesus. o complemento pleno de dons; mas, novamente, pi
comportamento Na época do domínio político seria outro deus criando outro tipo de comunidade, de
do discípulo de e cultural das instituições cristãs (a na qual cada membro seria autônomo e espiritual- ta
Cristo no interior cristandade), as desvantagens disso mente autossuficiente. O Deus bíblico não faz isso;
da comunidade ficavam ocultas. Hoje, estão cada ele dá dons a todos, mas não dá todos os dons a nin- sé
cristã se aplicam vez mais evidentes. Os críticos da fé guém. Porque a maneira de Deus distribuir os dons do
também ao cristã já não se preocupam tanto em reflete o seu caráter e, portanto, deve ser normativa tu
comportamento alegar que ela é intelectualmente falsa, para a vida da igreja. Quando a vida da igreja não En
cristão na mas que é moralmente repreensível. E reflete esse princípio da distribuição dos dons, dis- hu
sociedade muitas vezes a inspiração (reconhe- torce o caráter do Deus que apresenta à sociedade. m
cida ou não) dessa crítica é a vida do É desnecessário dizer que o princípio da distri- “V
próprio Jesus. buição é largamente ignorado nas igrejas, inclusive nã
O hiato entre Cristo e a comunidade cristã, e naquelas que põem ênfase no cultivo dos dons do le
como diminuí-lo, podem ser analisados de muitas Espírito. A igualdade e interdependência que esse to
maneiras. Aqui, destacaremos apenas três prin- princípio prega são esquecidas. Há um paralelismo ra
cípios, cuja maior observância faria muito para aqui com a distribuição das coisas materiais, como le
minimizar o hiato: o princípio da distribuição; o reconheceram alguns autores cristãos antigos. Deus
princípio da não discriminação; e o princípio da distribui igualitariamente as suas dádivas, tanto as de
prioridade da pessoa humana. espirituais como as materiais. Mas, nos dois casos, to
a injustiça humana interpõe a desigualdade – o que in
O princípio da distribuição (Rm 12; 1Co 12) nos leva ao segundo princípio... ta
Trata-se aqui da distribuição dos dons do Espírito, da
segundo Romanos 12.3-8 e 1 Coríntios 12.4-11. Não O princípio da não discriminação (Gl 3.28) Je
da teologia dos dons em si, mas da maneira como Em Gálatas 3.28, Paulo faz uma afirmação estu- e
Deus os distribui. Esses dois textos constituem, de penda: “Em Cristo não há judeu nem grego, escravo ca
certa forma, a carta constitucional da comunidade nem livre, homem nem mulher”. a
EU ERA CEGO,
MAS AGORA
VEJO
Josh Calabrese
L
endo há pouco tempo um de reflexão humilhante para mim chamado para sermos discípulos
artigo de Steven Garber, A lembrar que eu já fui um instru- de Cristo pouco ou nada têm a ver
disposition to dualism [Uma mento ativo em um negócio sobre com as nossas escolhas políticas. A
disposição para o dualismo], o qual meu coração hoje treme”. identidade de muitos é determinada
encontramos um detalhe da vida Estes detalhes de sua biografia não em primeiro lugar por sua opção
de John Newton, compositor do mudam a grande contribuição dele ideológica, e não por sua fé. Salomão,
famoso hino Amazing Grace, que para a abolição da escravidão nem, em sua oração de consagração do
até então eu desconhecia. John de modo particular, o maravilhoso templo, termina dizendo: “Seja per-
Newton, antes de sua conversão, foi testemunho pessoal que cantamos feito [íntegro] o vosso coração para
por muitos anos capitão de navios no hino Amazing Grace. com o Senhor, nosso Deus, para
negreiros. Não é difícil imaginar o O que me chama a atenção andardes nos seus estatutos e guar-
que ele quis dizer em seu hino: “Eu neste relato é a mesma dificul- dardes os seus mandamentos, como
era cego, mas agora vejo”. O que ele dade que encontramos de conectar hoje o fazeis” (1Rs 8.61). O povo de
fez nos anos em que nossa fé com as demais realidades Deus é chamado para ter um coração
transportou homens do dia a dia e viver de forma coe- inteiro, não dividido.
Integrar a fé e mulheres da África rente. Separamos o domingo do Como Newton, demoramos para
com todas as para a América está resto da semana, o secular do reli- compreender a graça maravilhosa
dimensões além de nossa ima- gioso, o espiritual do mundano. A de Deus. Éramos cegos, mas ainda
da vida não ginação. Após a herança grega do dualismo é mais vemos muito pouco, como aquele
é natural sua conversão, ele presente entre nós do que imagi- cego que Jesus curou e, num pri-
insistiu para que namos. Alguns cristãos chegam a meiro momento, via homens como
para nenhum seu jovem amigo dizer que a religião nada tem a ver se fossem árvores. Desejamos ser
cristão. É mais William Wilberforce com o “mercado”, que os princípios íntegros, mas ainda lutamos com
fácil e seguro permanecesse na que regem a fé não valem para os nossas ambiguidades. A graça que
viver a fé num política a fim de negócios. John Newton experimentou atuou
ambiente lutar pelo fim da O comportamento de John em toda a sua vida e, por fim, ele
escravidão. Newton não é diferente do nosso. pôde dizer com toda a clareza: “Eu
onde nos Segundo Garber, Integrar a fé com todas as dimen- era cego e agora vejo”.
sentimos John Newton, mes- sões da vida não é natural para
confortáveis mo depois de sua nenhum cristão. É mais fácil e
conversão, conti- seguro viver a fé num ambiente
nuou trabalhando onde nos sentimos confortáveis.
como capitão de navio por vários A igreja ou a família nos propor-
anos, transportando escravos e, cionam um ambiente favorável para
ironicamente, conduzindo estudos viver a fé. Porém, quando deixamos
bíblicos com sua tripulação no este espaço seguro e entramos no Ricardo Barbosa de Sousa é pastor
deque do navio. Ao que parece, ele ambiente do trabalho, onde a fé não da Igreja Presbiteriana do Planalto e
coordenador do Centro Cristão de Estudos,
era incapaz de conectar sua fé com é compreendida e nossos valores em Brasília. É autor de, entre outros, A
seu trabalho. Ele só deixou o tra- são questionados, recolhemo-nos Espiritualidade, o Evangelho e a Igreja,
balho de capitão de navio escravo e, muitas vezes, agimos de forma Pensamentos Transformados, Emoções
Redimidas e O Caminho do Coração.
cinco anos após a sua primeira expe- incoerente.
riência de conversão. Somente trinta Escrevo este artigo a pouco
anos depois fez sua primeira decla- menos de duas semanas para MAIS NA INTERNET
ração pública de arrependimento. o primeiro turno das eleições. Maravilhosa graça
Ele disse: “Será sempre um assunto Impressiona-me como a fé e o goo.gl/6UD1xQ
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AS DROGAS
NÃO POUPAM
FAMÍLIAS
CRISTÃS
Louis Hansel
O
casal chegou abatido tentativa mal adaptada de solução deve permanecer “até que a morte
ao meu consultório. do processo de separação da família os separe”. Assim, os pais jamais
Descobriram que a filha de origem pelo adolescente.2 Da devem deixar de investir na relação
adolescente estava usando mesma forma, Sudbrack e Doneda conjugal. Devem ter tempo de diá-
drogas. Não sabiam há quanto (1992) entendem o uso de drogas logo profundo (não só sobre as
tempo nem quais tipos de droga pelo adolescente como resultado contas a pagar ou o projeto das pró-
ela usava, porém encontraram em de um processo de redefinição das ximas férias) e expressão frequente
uma gaveta de seu quarto um paco- relações familiares em que o adoles- de carinho (com abraços, beijos,
tinho de maconha. cente busca sua autonomia e os pais cafunés), mostrando aos filhos que
Naturalmente que, mostram-se inaptos para viven- o casamento não é só uma sociedade
ao ser confron- ciarem essa separação do filho. limitada estabelecida para gerarem e
A droga é tada, Ana1 negara Em outras palavras, quando criarem filhos, mas uma unidade de
um sintoma, afirmando que o o adolescente chega à época de se amor que permanece após a emanci-
uma espécie pacote pertencia tornar plenamente adulto e identi- pação dos filhos.
de febre que a uma amiga que fica que os pais não estão aptos para Desta forma, os pais facilitam aos
teria pedido a ela enfrentarem o “ninho vazio”, ele filhos cumprirem um dos primeiros
aponta para para escondê-lo. passa a se drogar para se manter em mandamentos bíblicos, “Deixar
algo que Entretanto, sob a uma posição “infantilizada” e conti- pai e mãe” (Gn 2.24), e evitam que
está além do pressão dos pais, nuar sendo cuidado pelos pais. estes busquem formas sintomáticas
aparente confessou que vinha De modo geral, isso acontece de infantilização a fim de manter a
usando drogas havia porque os pais, ao longo do ciclo família unida, como o uso de drogas.
algum tempo. vital da família, não souberam equi-
Ana foi criada librar de forma correta os papéis
na igreja desde a mais tenra idade de pais com os papéis conjugais, Nota
e aparentemente não tinha motivos dando mais ênfase ao primeiro e 1. Nome fictício.
que justificassem o comporta- colocando a relação conjugal em 2. VAN SCHOOR, E. P., BEACH, R. (1993). Pseudoin-
mento autodestrutivo. Os pais segundo plano. Assim, se o filho dependence in adolescent drug abuse: a family sys-
sempre haviam provido do bom deixa o “ninho”, os pais “perdem” tems perspective, Family Therapy, 20, (3), 191-201.
e do melhor para ela: as melhores suas únicas funções (parentais) e
escolas, roupas, passatempos – muitas vezes não veem mais sentido
incluindo dispendiosas viagens à em continuarem juntos. Logo, o
Disney. “Por quê?” – perguntavam filho, permanecendo infantilizado, Carlos “Catito” e Dagmar são casados,
os pais. dá um motivo para os pais conti- ambos psicólogos e terapeutas de casais e
Na perspectiva da terapia fami- nuarem controlando a vida dele e de família. São autores de Pais Santos, Filhos
liar, a droga é um sintoma, uma a família segue toda junta – unida Nem Tanto. Acompanhe o blog: ultimato.
com.br/sites/casamentoefamilia/
espécie de febre que aponta para pelo problema.
algo que está além do aparente. Por mais preciosos que os filhos
Pesquisadores como Van Schoor e sejam, eles estão sob os cuidados MAIS NA INTERNET
Beach (1993) consideram o uso de dos pais por cerca de vinte anos Faça o que eu digo, mas…
drogas pelo adolescente como uma e depois se vão. Já o casamento goo.gl/4W4Gvp
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DAVI: UM HOMEM
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Rei Davi em oração, Pieter de Grebber, 1635-1640 m
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m certos cursos de liderança Uma espiritualidade que dê conta Ele fez uma aliança eterna comigo” su
é comum levar as pessoas a da vida e que a oriente por inteiro (2Sm 23.2-5).
se imaginarem diante do seu e na qual ser, dizer e fazer andam A caminhada de Davi começou
túmulo escrevendo o seu epi- juntos e adquirem credibilidade no cedo. Nem o pai considerava seu
táfio. Nessa hora, como eu próprio decorrer do tempo. Assim nasce caçula (1Sm 16.11) uma resposta
experimentei, muitas cenas passam uma liderança real, inspirada na provável à busca de Samuel por um
diante de nós e cresce a tentação trajetória da vida e não apenas em novo rei para Israel, como Deus o
de elaborar algo bonito e técnicas aprendidas. orientara fazer. Na época, Davi teria
relevante que aponte para 15 anos e pelos 15 anos seguintes ele
o impacto que causamos Caminho longo e direção perambulou por diferentes lugares,
Davi termina na vida de outras pessoas certa sendo o favorito do rei Saul até ser
bem. Ele e na sociedade. Um epi- Este é o último de uma série de caçado por este como um inimigo
vive e táfio que impressione. artigos sobre a vida e a liderança a ser eliminado. Não foram tempos
morre sob o da Ao voltar ao cotidiano de Davi. Uma liderança que, como fáceis. Foram anos em que Davi
vida, no entanto, a vimos, nasce do encontro com Deus firmou a imagem de guerreiro líder,
cuidado de lápide é esquecida. A rea- e por isso torna-se, de forma cons- capaz não só de lutar e vencer os ini-
Deus e sua lidade toma conta e a ten- trutiva, relevante para o seu con- migos do seu povo, mas também de
lápide traz dência é voltar ao que se texto e sua geração. Uma liderança cercar-se de pessoas que respondiam
o epitáfio era. Afinal, a vida é mais que responde à vontade de Deus à sua liderança. A jornada chegou
que todos complexa do que assép- e faz tudo o que requer essa von- ao fim quando, aos 30 anos, ele se
ticos cursos que pro- tade. Uma liderança que, depois de tornou rei sobre Judá, uma pequena
gostariam põem caminhos de difícil viver assim, está pronta para passar parte da nação, até que, após sete
de ter conexão com a realidade o bastão para a geração seguinte anos e meio, foi coroado rei sobre
e aos quais se responde e morrer (At 13.22, 36). Este é o todo o Israel, totalizando 40 anos de
com promessas que não registro das suas últimas palavras: reinado (2Sm 5.4-5).
vão além daquelas de “O Espírito do Senhor falou por A trajetória de Davi não foi
noite de fim de ano. Para que a meu intermédio; sua palavra esteve linear nem fácil. Sua própria casa
vida tenha fundamento, signifi- em minha língua. O Deus de Israel foi palco de fortes conflitos e dores.
cado e direção, é preciso mais do me disse: ‘Quem governa o povo Ele adulterou num momento de
que cursos e técnicas. Precisa-se de com justiça, quem o governa com expansão e afirmação do seu rei-
uma espiritualidade que dê susten- o temor de Deus, é como a luz da nado e viu morrer o filho deste ato.
tação e direção para a vida, mode- manhã ao nascer do sol, numa Uma de suas filhas foi violentada
lada por pessoas que a partir de um manhã sem nuvens. É como a cla- por um irmão que, por sua vez, foi
encontro com Deus aprenderam a ridade depois da chuva, que faz assassinado por outro. Dois de seus
viver e a ajudar outros, num exer- crescer as plantas da terra’. A minha filhos tramaram golpes para usurpar
cício de saudável liderança cidadã. dinastia está de bem com Deus. o trono. Apesar de tudo, Davi
sob o risco de se adequar à liderança e consistente. Em momentos tensos, Valdir Steuernagel é pastor luterano e
visando resultados rápidos de apa- deixou-se exortar para o reencontro integrante da Aliança Cristã Evangélica e
rente sucesso, sem o amadureci- com Deus em confissão, arrepen- da Visão Mundial.
mento que vem com o decorrer dos dimento e graça. Sua fidelidade a
anos. Davi termina bem. Ele vive Deus se transformou num roteiro MAIS NA INTERNET
e morre sob o cuidado de Deus e de vida digno de ser lembrado na Marcas de uma liderança inteira e integral
o” sua lápide traz o epitáfio que todos história do seu povo. goo.gl/D3ghMG
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A IGREJA E
O CUIDADO
DA TERCEIRA
IDADE
Marco Zuchi
O
envelhecimento da população como ouvir com paciência a mesma meu saudoso paizinho. Aprendi
mundial e nacional é fato história, várias vezes, devido ao ao levá-lo três vezes por semana
perceptível e inegável. vacilar da memória, e, assim, dimi- para fazer hemodiálise. Aprendi ao
Hoje, no Brasil, o número nuir o passo, para fazer companhia esquentar sua comida e colocá-la
de idosos cresce 55% por década, a quem hoje anda mais lentamente. sobre a mesa, ao levá-lo ao médico
indicando um contingente de mais Viver o que a Bíblia diz em e para passear, ao trazer o bolo que
de 12% da população. O número relação aos idosos revela não apenas ele gostava, ao estar ao seu lado pelas
de idosos dobrou nos últimos vinte que sabemos cuidar da terceira manhãs apenas para lhe fazer com-
anos. Portanto, estatis- idade, mas também que estamos panhia. Aprendi que é na velhice,
ticamente, o Brasil não dando um testemunho público do quando a funcionalidade diminui,
pode mais ser con- amor de Deus, já que a comunidade que o real caráter do amor é provado,
Aprendi que siderado um país de do Rei busca valorizar quem a socie- pois nos interessamos pela pessoa
é na velhice, jovens. dade comumente marginaliza. apenas por “ser pessoa”. Aprendi
quando a Entre as fronteiras Em 2012, em parceria com a com o meu pai idoso a considerar
funcionalidade missionárias trilhadas Editora Ultimato, implantamos o uma nova fronteira missionária.
diminui, que pelos caminhos da projeto Paralelo 10 em São Luís, Que Deus tenha misericórdia de
missão – sejam elas MA. Posteriormente, ele se desdo- nós e nos ajude, como seus filhos, a
o real caráter geográficas, étnicas, brou no projeto Honra – uma ini- honrar nossos idosos e a atravessar a
do amor é socioeconômicas, edu- ciativa que visa resgatar a dignidade fronteira etária, dando-lhes a opor-
provado, cacionais ou trans- dos idosos que vivem numa comu- tunidade de continuar caminhando
pois nos culturais –, uma nova nidade em situação de vulnerabi- com o Senhor durante o tempo que
interessamos fronteira surge: a fron- lidade social. Nessa iniciativa, os eles ainda têm pela frente.
teira etária. Uma fron- filhos são orientados a cultivar uma
pela pessoa teira relacional que atitude de honra em relação aos
apenas por “ser não começa neces- seus pais idosos, por meio de ações
pessoa” sariamente em outro conjuntas realizadas em encon- Edilson é pastor da área de ensino da Igreja
lugar, em outra cul- tros mensais. Um exemplo disso é Evangélica Renovo e coordenador do pro-
tura, mas dentro da o Encontro de Gerações, onde os jeto Honra. É mestre em missiologia pelo
nossa própria casa. Uma fronteira idosos são estimulados a levarem Centro Evangélico de Missões (CEM).
que nos leva a ver com estima, com um filho e um neto para refletirem
honra, quem não está mais dentro juntos sobre temas diversos, a fim MAIS NA INTERNET
dos padrões de estética e beleza de fomentar “a cultura da honra”, Experiência e esperança na velhice
vigentes, que nos impulsiona a ouvir que diz: “Levantem-se na presença goo.gl/RoNC8G
quem não fala mais tão forte e arti- dos idosos e honrem os anciãos” “Na velhice ainda darão frutos...”
culadamente, que nos faz ser suporte (Lv 19.32). goo.gl/1tCv4y
para quem não mais se sustenta por Aprendi a cuidar da terceira Um Brasil mais grisalho
meio de suas próprias pernas, bem idade dentro de casa, cuidando do goo.gl/yk4qiP
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VOCAÇÃO CONTRA
A CORRUPÇÃO
Arquivo Pessoal
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etro Coutinho tem 27 anos, é casado com Ana Elen e trabalha como auditor federal de
controle externo no Tribunal de Contas da União (TCU) desde os 22 anos. Sua atri-
buição é fiscalizar os recursos públicos federais e verificar se eles têm dado resultado.
Ele costuma dizer que foi vocacionado por Deus para combater a corrupção.
Para você o que representa ser tão jovem e tenho, portanto isso não é motivo de priorizando as coisas importantes e
estar envolvido em um cargo como este? soberba, mas, sim, uma oportunidade investindo tempo nelas.
Representa a graça de Deus. Tanto na de exercer minha vocação para a gló-
orientação, na preparação, nas horas de ria de Deus. O valor não está em nós, Que conselhos você daria para alguém
estudo, quanto no exercício da função. está no sacrifício que Cristo fez por que tem dúvidas quanto à vocação?
O fato de ser jovem é uma vantagem, nós. Essa verdade bíblica coloca as O primeiro passo é perguntar para
pois as pessoas não esperam muita coisas em perspectiva. aquele que o vocaciona. É Deus
coisa de você. Quando você é vocacio- quem chama e é ele quem designa.
nado, é Deus trabalhando por meio de Quais os principais desafios em servir a Portanto, buscar a Deus em oração
você, o que faz com que as pessoas se Deus onde você trabalha? e na leitura da Bíblia é a base para o
surpreendam com seu trabalho e re- Ser justo nas posições é o maior desa- exercício da vocação. Outro conselho
considerem a imagem que elas têm fio. Outro desafio relevante é influen- é observar seus dons e talentos. Suas
de você. Porém, tudo é graça de Deus. ciar positivamente. Estou aqui por preferências têm a ver com o propó-
Não tenho mérito nenhum nisso. um motivo e há autoridades com as sito para o qual Deus o criou. O úl-
quais mantenho contato. Não posso timo conselho é conversar com seus
Como você descobriu a área em que gos- me omitir e, sempre que a oportu- pais e com seus líderes.
taria de atuar? nidade surgir, preciso influenciar de
Lendo a Bíblia, o texto de Tiago 4.17 forma positiva. Com frequência me Como os jovens podem lutar contra a cor-
me chamou a atenção. Estava na pergunto onde e como posso ser mais rupção no Brasil hoje?
época de um escândalo gigantesco de relevante para o reino de Deus. Não A corrupção vem da natureza pecami-
corrupção e Deus falou comigo que eu há tempo a perder. nosa do homem. É um problema espi-
deveria fazer alguma coisa a respeito. ritual, e só o Senhor Jesus Cristo pode
Eu só não sabia como, nem quando. Conciliar trabalho, estudos, família, igreja sanar problemas espirituais. O com-
Esperei Deus me orientar. Sete anos e vida devocional... como não se perder bate à corrupção se dá nas esferas pú-
depois descobri onde deveria estar. no meio disso tudo? blica e privada, mas principalmente na
É um baita desafio! Precisamos en- espiritual. Se o jovem seguir os prin-
É possível buscar sucesso profissional tender que não há separação entre cípios bíblicos e não se corromper, já
e reconhecimento sem se envaidecer? vida secular e vida espiritual. Nós vi- estará fazendo diferença. Outra forma
Como você lida com isso? vemos uma vida só e para nós cris- de luta é o combate na esfera pública,
Sim, plenamente possível. Segundo tãos essa vida é a vida de Cristo. denunciando aos órgãos competentes
o “mundo”, sucesso é medido pelo Considerando isso, temos o princípio ações de governantes ou de empresá-
quanto você ganha, quanto po- da mordomia cristã, que estabelece rios que contrariam as leis. Há tam-
der você tem e quão famoso você é. que Deus outorga bens, recursos, ap- bém diversas ONGs que fiscalizam o
Sucesso segundo a Bíblia é: se arre- tidões ao homem e que nós devemos dinheiro público.
pender dos pecados, ser salvo por cuidar bem daquilo que ele nos dá.
MAIS NA INTERNET
Cristo, viver para ele e perseverar até Um dos recursos é o tempo. E nós,
Versão completa da entrevista
o fim. Quanto mais eu subir na hie- como cristãos, precisamos aprender “Vocação contra a corrupção”
rarquia, mais responsabilidade eu a cuidar melhor do nosso tempo, goo.gl/JAiXBY
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DESIGREJISMO –
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”ANOMALIA” OU OPÇÃO?
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resce o número daqueles que inten- na igreja do Senhor. Estou na igreja porque fui “fa
cionalmente não se ligam a uma colocado nela pelo Espírito Santo. É possível bl
igreja ou que deixaram as igrejas que viver o evangelho na comunidade, apesar de cio
frequentavam. Estima-se que sejam todas as suas ambiguidades, para balizarmos
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quase 10 milhões. Este grupo não é homo- aqui e ali sinais do reino de Deus”. Ultimato os
gêneo. Há desde os que deixaram a igreja por reafirma que a igreja é projeto de Deus (veja
terem sofrido decepções com a liderança aos páginas 22 a 31). Mas, ao mesmo tempo, quer Id
que se apegam a uma teologia que ataca a se aproximar com misericórdia dos sem-igreja su
sit
igreja institucionalizada. e entender melhor este universo. O debate
nã
Esta realidade está relacionada também entre “igrejados” e “desigrejados” assumiu con- en
ao modo de vida na sociedade contempo- tornos de polarização. Há zombarias, desres- so
rânea. Em todo o mundo a quantidade dos peito, acusações generalizadas e falta de amor na
“sem-igreja” cresce em países secularizados cristão entre os dois lados. A reação dos crentes qu
e também em cidades maiores de países que deveria ser outra: “Quando um irmão se afasta de
ainda possuem maioria cristã, como o Brasil. da igreja, devemos lamentar e sentir saudades”
Stott usa uma palavra dura para descrever (Lissânder Dias). Ultimato publica as respostas Os
a situação dos crentes que estão fora da de oito entrevistados que já estudaram o fenô- vir
co
Igreja: “anomalia”. Nelson Bomilcar, autor de meno, acompanharam pessoas fora da Igreja
pe
Os Sem-Igreja, declara: “Continuo acreditando e que até viveram a condição de desigrejados.
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A intencionalidade
e o compromisso como acontece numa família nuclear po
dos pais em nutrir comum. E nela temos que resolver es
nossos problemas relacionais. Temos co
relações comunitárias também que ajustar expectativas e re
são fundamentais reconhecer a ambiguidade presente m
para que [as crianças] na vida da igreja. Somos uma comu- tr
compreendam a nidade de pecadores, ambiente onde a vi
importância da graça deveria ser vivenciada. Quando fo
a igreja não vive os valores e a cul- de
comunidade como tura do reino, não prioriza o aspecto te
espaço de comunhão e relacional, a simplicidade e profundi- a
ensino da Palavra dade do que Jesus ensinou no Sermão em
do Monte, ela vai se tornando apenas lo
uma instituição religiosa com relacio- nã
namentos superficiais e sem saúde ou si
sanidade espiritual. Quando a igreja
vive seu pior, ela machuca e destrói. C
Quando, porém, vive o seu melhor, de
Phelipe Reis
A ética do mercado – marca da É possível prescindir da igreja? enfrentar todo e qualquer desafio
sociedade contemporânea – tem a ver para o fenômeno de distanciamento
Augustus Nicodemus – Eu não
com o fenômeno dos desigrejados? da igreja local. Os crentes, natural-
tenho ilusões quanto ao estado atual
mente, amarão mais a Igreja quando
Ricardo Bitun – Creio que em parte da igreja. Ela é imperfeita e conti-
amarem mais o Senhor dela. Quanto
sim. As relações se tornam cada dia nuará assim enquanto eu for membro
mais conhecermos Cristo através de
mais utilitaristas, clientelistas. A dela. A teologia reformada não deixa
sua Palavra, mais o amaremos.
lógica da oferta e procura acaba de dúvidas quanto ao estado de imper-
uma maneira ou outra interferindo feição, corrupção, falibilidade e
na relação fiel–Igreja. O fiel começa miséria em que a igreja militante O senhor pode relatar histórias de
a procurar a igreja que lhe “cabe” se encontra no presente, enquanto desigrejados que regressaram?
melhor; por sua vez, a igreja, cons- aguarda a vinda do Senhor Jesus, oca-
Ricardo Moreira – O grupo dos evan-
cientemente ou não, procura oferecer sião em que se tornará igreja triun-
gélicos sem igreja não é estático, tam-
facilidades e conforto ao fiel. Por fim, fante. Ao mesmo tempo, ensina que
pouco hermético. Está aberto para
depois de consumidas todas as pos- não podemos ser cristãos sem ela.
receber novos desigrejados e também
sibilidades (ofertas), o fiel acaba por Que apesar de tudo, precisamos uns
está perdendo os que retomam a vida
optar pela não ida à igreja. Não tendo dos outros, precisamos da pregação
eclesiástica. Na caminhada pastoral
compromisso, ele se sente à vontade da Palavra, da disciplina e dos sacra-
testemunhei muitos regressando à
para ir e vir e até não ir. As relações, mentos, da comunhão de irmãos e
comunidade local. Infelizmente nem
agora superficiais e descompromis- dos cultos regulares. Acho que eles
todos permaneceram, mas algumas
sadas, acabam permitindo a possibi- [os desigrejados] querem mesmo é
histórias ainda me trazem muita ale-
lidade para o desigrejado. liberdade para serem cristãos do jeito
gria. Estas histórias sempre envolvem
deles, acreditar no que quiserem e
uma comunidade amorosa, que ajuda
Entre as lideranças das igrejas que viver do jeito que acham correto, sem
a quebrar barreiras e curar traumas.
lamentam e que “condenam” o desi- ter que prestar contas a ninguém.
grejismo, há aqueles que o fazem por Pertencer a uma igreja organizada,
Augustus Nicodemus é professor do
receio de perder prestígio e poder? especialmente àquelas que histori- Centro Presbiteriano de Pós-Graduação
camente são confessionais e que têm Andrew Jumper, pastor da Primeira Igreja
Ricardo Bitun – Não tenho certeza
autoridades constituídas, conselhos e Presbiteriana de Goiânia e pastor auxiliar na
quanto a essa relação. Pessoalmente, Primeira Igreja Presbiteriana do Recife.
concílios, significa submeter nossas
acredito que prestígio e poder não se
ideias e nossa maneira de viver ao Idauro Campos é ministro congregacional
encaixam no perfil de um líder espiri-
crivo do evangelho, conforme enten- e autor do livro Desigrejados – Teoria, história
tual; seria quase uma contradição de
dido pelo cristianismo histórico. Para e contradições do niilismo eclesiástico (BV
termos. Caso o líder se permita entrar Books).
muitos, isto é pedir demais.
nesta equação, ele ficará refém do Karen Bomilcar trabalha como psicóloga clí-
seu público, dando ao povo somente nica hospitalar em São Paulo, SP. É mestre em
Como ajudar os crentes a amar
aquilo que ele deseja. Isso é muito teologia e estudos interdisciplinares - Regent
a igreja e a enfrentar juntos pro- College/UBC (Canadá).
desgastante, pois o alimento que você
blemas que favorecem o afasta-
dá ao povo é aquilo que você sempre Marcos Botelho é fundador e líder do minis-
mento e aumentam o número dos
terá que fornecer; caso contrário, as tério JV na Estrada e do ministério Terra dos
desigrejados? Palhaços Brasil. É pastor de jovens e adoles-
pessoas irão embora (Jo 6).
centes da Igreja Presbiteriana de Alphaville,
Ricardo Moreira –
São Paulo.
Não há milagres ou
Maurício Zágari é teólogo, editor da Editora
métodos revolucio- Mundo Cristão, autor de nove livros publi-
nários. O ensino da cados, comentarista bíblico e jornalista.
Escritura é o melhor Nelson Bomilcar serve há quarenta anos no
caminho. O fenô- Brasil como pastor, músico, compositor, pro-
Não há milagres meno dos desigrejados dutor musical. Autor do livro Os Sem-Igreja –
é o efeito colateral de Buscando caminhos de esperança na
ou métodos uma igreja que des- experiência comunitária (Mundo Cristão).
revolucionários. conhece a Bíblia em Ricardo Bitun é coordenador do curso de
pós-graduação do Programa de Ciências
O ensino da sua riqueza e profun- da Religião da Universidade Presbiteriana
Escritura é o didade. Precisamos Mackenzie e pastor da Igreja Evangélica
melhor caminho ensinar o que é ser Manaim.
igreja não baseados Ricardo Moreira é pastor presbiteriano.
em livros e propostas
de administração ecle- MAIS NA INTERNET
siástica. Precisamos Entre dores e amores: comunhão na comunidade
goo.gl/FrZEue
ouvir o texto sagrado
Um recado aos desigrejados
sobre o que é a Igreja, o goo.gl/WTpvGg
que significa ser parte
Estudo bíblico “Desigrejismo – crentes caindo fora
dela e sua importância. da igreja”
Cristãos maduros, goo.gl/eR2YsL
Marcia Foizer
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A FORÇA DOS
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Para quem são e para onde realmente apontam as bem-aventuranças? p
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s bem-aventuranças de Jesus es
Cristo estão presentes em ti
quaisquer listas que pre- re
tendam selecionar as pala- é
vras mais inspirativas da Bíblia d
Sagrada. Os Dez Mandamentos, o ir
Salmo 23, a oração do Pai-Nosso, o(s) m
fruto(s) do Espírito e 1 Coríntios 13, o
o hino ao amor, completam o ranking é
Fancycrave.com
do compêndio de sabedoria espiritual re
revelada na tradição judaico-cristã.
As bem-aventuranças, entre- a
tanto, celebradas como inspiração endemoninhados, epiléticos e paralí- como principalmente ressignificam le
para muitas pessoas, ao longo do ticos; e ele os curou. Grandes multi- tais promessas apontando para o P
tempo, têm também servido de dões o seguiam, vindas da Galileia, reino eterno, conforme prometido a
pedra de tropeço para outras tantas. Decápolis, Jerusalém, Judéia e da ao Messias, descendente de Davi: a
Dallas Willard, filósofo cristão, relata região do outro lado do Jordão” “Quando a sua vida chegar ao fim e n
que após pregar sobre o tema ouviu (Mt 4.23-25). você descansar com os seus antepas- lí
uma mulher contar-lhe que o filho Em seu Sermão do Monte, Jesus sados, escolherei um dos seus filhos a
havia desistido da igreja por causa dirige-se de modo especial à mul- para sucedê-lo, um fruto do seu pró-
das bem-aventuranças: “Isso não tidão de miseráveis e desgraçados prio corpo, e eu estabelecerei o reino
sou eu, jamais conseguirei ser isso”, que se aglomera ao seu redor em dele. Será ele quem construirá um
teria dito o jovem desanimado com o busca de cura e libertação. O povo de templo em honra do meu nome, e eu
retrato de cristão ideal supostamente Deus estava mais uma vez oprimido firmarei o trono dele para sempre”
apresentado por Jesus aos seus pri- por uma potência estrangeira. Nos (2Sm 7.12-13).
meiros discípulos. dias de Moisés, o Egito impôs muitos O reino de Deus, que Jesus
Esse parece ser um grande equí- males à descendência de Abraão. Nos anuncia e demonstra com sinais e pro-
voco, tratar as bem-aventuranças dias de Jesus, esse “profeta seme- dígios, é aquele profetizado por Daniel
como uma lista de virtudes que devem lhante a Moisés” (Dt 18.15), é Roma quando interpretou o sonho em que
caracterizar as pessoas espiritual- quem aflige os filhos de Israel. Os Nabucodonozor viu uma estátua
mente amadurecidas. As eventuais romanos invadiam e conquistavam que representava a sucessão de reis e
virtudes seriam uma espécie de requi- territórios com sua violência, estu- reinos: “Na época desses reis, o Deus
sitos para a felicidade espiritual, como prando mulheres, matando idosos e dos céus estabelecerá um reino que
se a vida em plenitude fosse possível escravizando jovens. Roma impunha jamais será destruído e que nunca será
apenas para pessoas pobres de espí- pesados tributos às populações das dominado por nenhum outro povo.
rito, mansas, que choram, têm fome e suas colônias e se tornava rica às custas Destruirá todos esses reinos e os exter-
sede de justiça, e as puras de coração, do empobrecimento dos povos colo- minará, mas esse reino durará para
misericordiosas e pacificadoras. nizados. Os filhos de Abraão estão na sempre. Esse é o significado da visão
As bem-aventuranças não terra prometida, mas não desfrutam da pedra que se soltou de uma mon-
apontam uma condição louvável ou a abundância, fartura e prosperidade tanha, sem auxílio de mãos, pedra que
mesmo desejável, mas são uma des- como seus antepassados, os patriarcas esmigalhou o ferro, o bronze, o barro,
crição da condição humana, seguida e os profetas, ensinaram-lhes a crer e a prata e o ouro” (Dn 2.44-45).
das promessas do advento do reino de esperar. Reivindicam poder viver à As pessoas não são bem-aven-
Deus. O evangelista Mateus compõe luz de sua história, sua identidade, turadas porque são pobres de espí-
o cenário de sua narrativa afirmando servindo ao seu Deus. No entanto, rito, mansas, choram, têm fome e
que Jesus “foi por toda a Galileia, Roma mantém sobre eles sua pata sede de justiça, ou mesmo porque
ensinando nas sinagogas deles, pre- maldita e seu império do mal. são puras de coração, misericor-
gando as boas novas do Reino e As bem-aventuranças não des- diosas e pacificadoras. As pessoas são
curando todas as enfermidades e crevem, portanto, virtudes a serem bem-aventuradas porque, embora de
doenças entre o povo. Notícias sobre desenvolvidas pelos discípulos de tudo empobrecidas, delas é o reino dos
ele se espalharam por toda a Síria, e o Jesus. Retratam a condição em que céus; embora tenham sofrido a usur-
povo lhe trouxe todos os que estavam estão os herdeiros das promessas de pação de suas propriedades, herdarão
padecendo vários males e tormentos: Deus a Israel, e não apenas renovam, a terra. São bem-aventuradas porque
reino dos céus a todos os que creem”. entrega à morte e se deixa matar,
Para o mundo de então, Roma era mas não mata. O reinado de Deus
a “cidade luz” e as conquistas romanas se manifesta por meio dos segui-
m levavam a luz aos povos bárbaros. dores do Príncipe da Paz, aqueles Ed René Kivitz é pastor da Igreja Batista
de Água Branca, em São Paulo, SP. É mestre
o Porém, Jesus diz que a luz do mundo é e aquelas que viram a outra face em ciências da religião e autor de, entre
do a comunidade daqueles que acolhem quando agredidos, entregam mantos outros, O Livro Mais Mal-Humorado da
Bíblia. facebook.com/edrenekivitz
vi: a chegada do reino de Deus. A comu- e túnicas, e caminham milhas e
e nhão das pessoas de toda raça, tribo, milhas para evitar sucumbir à vio- MAIS NA INTERNET
s- língua e nação, que se submetem lência, perdoam setenta vezes A formação de discípulos
os a Jesus Cristo, Rei dos reis, Senhor sete, amam indiscriminadamente, goo.gl/5F21dP
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DISPUTA DE PODER: m
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ideia do Estado laico, limpo não parou mais, causando o apare- século da era cristã, época da queda sid
da “ignorância” que lhe atri- cimento de ideologias seculares que do segundo templo, cultiva a tra- po
buiria a confissão religiosa, continuaram a inspirar ditadores dição de interpretação das escri- te
é recente na humanidade. facínoras e genocídios nos séculos turas conhecida como Midrash. A fu
Até pouco tempo atrás, governo e que se seguiram. Tudo debaixo da principal característica dessa tra- cr
religião eram termos complemen- bandeira da política da “racionali- dição eram as discussões intensas tra
tares. As sociedades organizavam dade” laica. Todos os grandes mas- sobre as minúcias do livro sagrado, e
seus representantes e seu estilo de sacres do século 20 aconteceram sempre procurando a melhor inter- ta
governo de acordo com sua moral e sob a égide de governos seculares. pretação possível para ser aplicada 4º
tradição religiosa. Foi na Revolução Mas a crítica que fazem à tra- de maneira prática no momento. a
Francesa que se inaugurou a era da dição judaico-cristã não tem fun- Respeito mútuo e paixão nos argu- ce
exclusão da religião da esfera do damento? Não são essas religiões mentos são essenciais. Desacordos Aq
governo e da pretensão de que sem responsáveis pelo obscurantismo são esperados e bem-vindos. O so
valores transcendentes, pela mera e ignorância? Não é por isso que Midrash nada mais é do que uma da
razão humana, a sociedade poderia o laicismo é necessário? Tenho coleção de desacordos documen- pe
gerar uma política mais tolerante de argumentar que não, come- tados. O engajamento intelectual do Ag
e inteligente. O que aconteceu, no çando pela religião judaica, por fiel com as escrituras era visto como
entanto, foi um banho de sangue que exemplo, que, desde o primeiro uma tradução da fé. tim
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Até que ponto a ideologia do “cada um pode ser o que quiser” vai nos levar? se
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um episódio da novela po
Malhação veiculado em 14 vi
de setembro de 2018, um ni
grupo de adolescentes, todos un
de smartphone em punho, se reúnem ou
numa sala para ouvir um casal m
também jovem. As falas se alternam
entre um rapaz de aparência deli- pe
cada e uma bonita mulata: “Gente, é ca
muito fácil não pagar mico quando o A
assunto é gênero e sexualidade. Basta ci
saber quatro coisinhas muito simples é
e totalmente diferentes: sexo bioló- se
gico, identidade de gênero, expressão
de gênero e orientação sexual”.
A seguir, vêm as definições. Sexo
biológico é a classificação como
masculino e feminino com base nos
órgãos sexuais com que se nasce.
Expressão de gênero é como a pessoa
se mostra para o mundo. A essa
Dean Shim
altura, o rapaz declara: “Por exemplo,
eu nasci com um sexo biológico mas-
culino, me identifico como homem, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, Vivemos neste início do século 21
mas a minha expressão de gênero é transexuais, e mais quem vier”. Os o pleno desabrochar da pós-moder-
feminina”. A identidade de gênero é adolescentes aplaudem e dão gritos, nidade. Essa mentalidade prega o
como a pessoa se vê no mundo, quem embevecidos com tanta sapiência. questionamento de todos os valores
ela é. Aí surge um neologismo: quem O que acaba de ser descrito é a e formas de pensar tradicionais. O que
nasce e se identifica com o seu sexo chamada “ideologia de gênero”, um impera é o total relativismo e subje-
biológico é uma pessoa “cisgênero”. conjunto de ideias pretensamente cien- tivismo. Cada um tem a sua própria
Finalmente, orientação sexual é a tíficas que, com propósitos políticos, verdade. Não existem absolutos e
capacidade de sentir atração, a sexu- desconecta a sexualidade humana da todas as normas e regras da socie-
alidade de cada um. A moça per- sua realidade natural e procura expli- dade devem ser questionadas. Nem
gunta: “Se uma mulher pode amar um cá-la somente em termos culturais. Em mesmo a razão serve de critério, mas
homem, por que essa mesma mulher outras palavras, a sexualidade seria sim os desejos do coração de cada
não pode amar uma outra mulher?”. determinada ou condicionada pela um. Portanto, não há mais limites,
Nesse momento surge a explicação sociedade, pela cultura. É uma cons- e a palavra de ordem é transgredir,
filosófica: “Gênero é uma construção trução social ou cultural opressora, da ousar, ser radical. Com isso, tudo é
social, como dizer que meninas têm qual as pessoas precisam se libertar, possível em matéria de preferências e
que gostar de rosa e boneca e meninos para serem “quem elas quiserem ser, condutas. Diversidade a mais ampla
têm que gostar de azul e de futebol. quem elas nasceram para ser”. Os indi- possível é o alvo. Cada um tem a liber-
Isso é padronizar as pessoas”. Por fim, víduos são livres para terem a orien- dade – e o direito – de se identificar
chega-se à conclusão: “Diversidade – tação sexual que desejarem e isso seria como quiser.
essa é uma palavra que significa um direito, algo que deve ser respei- Levando isso a suas consequên-
tantas diferenças que é impossível tado. Muitos concordam de modo cias lógicas, existem indivíduos, por
estabelecer um padrão. As pessoas ingênuo com essa postura aparente- exemplo, que já se percebem como
podem ser quem elas quiserem ser, mente razoável, sem perceberem as um determinado animal, algo deno-
quem elas nasceram para ser. LGBT+: implicações terríveis que ela pode ter. minado “transespécie”. No Canadá,
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O TESTEMUNHO
CRISTÃO EM AÇÃO
Boas obras são o testemunho cristão na prática
O
testemunho cristão mais
convincente é o que se
dá não somente pelo que
dizemos, mas também pelo
que somos e pelo que fazemos. “Dar
testemunho” de Jesus Cristo não é
somente falar dele e do que ele tem
feito por nós e em nós. É, na ver-
dade, viver e agir de maneira tal que
aqueles que nos rodeiam queiram
saber qual é o segredo de nossa vida
e, então, as palavras se façam neces-
sárias para explicar o segredo ver-
dadeiro que lhe dá sentido: Cristo
em nós. Os ingredientes do teste-
munho cristão integral são: ser, agir
e falar, ou seja, o estilo de vida que
reflete valores cristãos, as boas obras
por meio das quais se torna evidente
que cumprimos nossa vocação de luz
Artem Bali
do mundo e a palavra que explica
por que vivemos como vivemos e
fazemos o que fazemos. o apóstolo Paulo, “Pela graça sois versículos citados: um aspecto essen-
Dos três aspectos do teste- salvos! E isto não vem de vós; é dom cial do propósito para o qual fomos
munho cristão mencionados, o de Deus, não de obras, para que nin- salvos e “criados em Cristo Jesus”.
que mais se destaca na missão inte- guém se glorie” (Ef 2.5, 8-9). Esta é Elas são o testemunho cristão em
gral é, sem sombra de dúvida, o a mensagem central do apóstolo em ação, o testemunho que praticamos
da ação em termos de boas obras. várias de suas cartas, especialmente e que demonstra de forma visível a
Lamentavelmente, este tema é quase aos Romanos e Gálatas, em que ele verdade da boa nova de Jesus Cristo,
sempre relegado nos círculos evan- contesta o judaísmo. Não podemos que encarnamos em nosso estilo de
gélicos. Uma razão para isso pode alcançar o perdão de Deus mediante vida e que proclamamos em palavra.
ser o fato de a prática das boas obras obras que nos tornem merecedores Nossa tarefa não é fazer boas obras
ter um alto custo, não somente em de sua aceitação. Assim toda van- para alcançar a salvação, mas sim
termos econômicos, mas também, e glória é totalmente excluída. discernir as boas obras que Deus
às vezes muito mais, em termos de Entretanto, esse é somente um preparou para que andássemos nelas
dedicação pessoal e compromisso lado da moeda. O outro lado é o que como expressão do nosso amor por
de tempo. Outra razão, talvez de o próprio apóstolo diz: “Pois somos ele e ao próximo.
maior peso, é o problema que o teó- feitura dele, criados em Cristo Jesus
logo Bonhoeffer chamou de “graça para boas obras, as quais Deus de Traduzido por Vera Jordan.
barata”, a graça de Deus que dá tudo antemão preparou para que andás-
de forma gratuita (inclusive a sal- semos nelas” (Ef 2.10). Por seu amor C. René Padilla é fundador e presidente
vação), mas nada exige. O erro está imerecido, mediante a fé em Jesus da Rede Miqueias, e membro-fundador da
em não reconhecer a enorme dife- Cristo, somos salvos, não por obras, Fraternidade Teológica Latino-Americana e da
Fundação Kairós. É autor de Missão Integral
rença que há entre fazer as boas obras mas para boas obras. A troca da pre- – O reino de Deus e a igreja. Acompanhe seu
em busca de méritos para ganhar a posição por, que indica causa, pela blog pessoal: kairos.org.ar/blog.
salvação e fazê-las como resultado preposição para, que indica propó-
da salvação operada por Jesus Cristo sito, é absolutamente essencial nessa MAIS NA INTERNET
e recebida gratuitamente mediante a passagem. As boas obras não são A motivação para a missão
fé, como dom de Deus. Como afirma opcionais; elas são a continuação dos goo.gl/1gKJEf
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LITERATURA E CULTURA
GLADIR CABRAL
pela dinâmica das relações que família da fome ao trazer um preá para o jantar, A
estabelecem, pela dificuldade é paciente, espera seu momento, sua parte da liz
na articulação da linguagem, refeição, isto é, os ossos. Baleia tem sonhos, sonhos en
Graciliano Ramos pela aspereza dos sentimentos. de cão. Sua vida e morte são heroicas em proporção. at
Fabiano, por exemplo, “[e]ra Em tempos atuais de tantas formas de embrute- pr
bruto, não fora ensinado [...] Um cabra [...] Bruto, cimento, Vidas Secas segue sendo um chamamento po
sim senhor [...] não sabia ler (um bruto, sim à consciência humana, à consciência ambiental e ci
senhor)” (1986, p. 93). ao respeito pelos animais não humanos. G
Fabiano tem momentos excruciantes de sofri- lig
mento na tentativa de organizar o pensamento Gladir Cabral é pastor, músico e professor de letras de
na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc).
e articular uma fala que seja. Ele “[p]endia para Acompanhe o seu blog pessoal: ultimato.com.br/sites/ B
um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. gladircabral.
Às vezes utilizava nas relações com as pessoas a re
mesma língua com que se dirigia aos brutos – MAIS NA INTERNET m
exclamações, onomatopeias. Na verdade falava A vida, ainda que severina ap
pouco” (p. 20). goo.gl/ZA4uSm re
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IPSIS LITTERIS e
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As coisas mais bonitas são as mais em
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NOVOS ACORDES
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SAULO E RENATA OBRA-PRIMA
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CALANTONE LUCELIA GUEDES
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Saulo mora em Suzano, SP. É casado com Renata. Em Esse é o segundo CD de Lucelia Guedes. O
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2000, o casal participou de um festival de música no primeiro, Palavras da Vida, foi lançado em 2011.
O
Alto do Tietê e recebeu os prêmios de primeiro e ter- Além de compositora e intérprete, Lucélia é artista
Si
ceiro lugares. Desde então foram vencedores em outros plástica. Desenvolve com seu esposo, Gabriel Araújo,
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festivais. Em 2010, começaram a registrar suas canções o projeto Quintal das Artes, um espaço para shows
em estúdio. Novas composições surgiram, fazendo intimistas e aulas de pintura. Esse quintal ins-
N
nascer o primeiro CD, o Revoada. Essa cronologia pira. Ali já aconteceram muitas parcerias musicais.
N
de oito anos é perceptível no álbum: na sonoridade, Obra-Prima é um dos seus frutos. Produzido por
Se
nos detalhes da gravação – desde a evolução técnica Gilson Barboza e Gabriel Araújo, o álbum reúne dez
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ao aprimoramento das composições. Saulo e Renata canções de variados estilos. Os arranjos limpos e bem
não formam uma dupla caipira. Na verdade, Saulo é colocados exaltam a voz cristalina de Lucelia. No
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o compositor e utiliza a viola como instrumento base; repertório, três regravações: a clássica “A roseira”, de
Se
Renata é a intérprete da maioria das faixas. As can- Aristeu Pires, “(In) vento”, de Tiago Vianna e Gladir
O
ções lembram as MPBs regionais, como as obras de Cabral, e “Outra vida”, de Rubão Lima. As demais são
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Renato Teixeira, entre outros. O casal é acompanhado autorais. Destaques para “Beleza da vida”, “Lamento”,
X
pelo Casa de Barro, grupo formado por parceiros de “A paz” (com a participação de Tiago Vianna) e “Minha
longa data. Os arranjos são do Casa e do violeiro Zé do alegria”, que encerra o CD com um pop funk. A arte
A
Cravo, que também executa a viola em algumas faixas. do CD é do artista plástico piauiense Antônio Amaral.
Se
Contatos pelo WhatsApp (11) 99721-3884. Mais informações pelo luceliaguedes35@gmail.com.
M
É
C
UM ACORDEOM QUE FARÁ MUITA FALTA corpo. Mas, naquela noite, apesar do corpo comba- É
lido pela doença, tocou como nunca. Era colocar o C
fole na sua mão e ele se transformava. Exibia destreza Se
com notas rápidas, precisas, bem colocadas, e uma
harmonia complexa e impecável.
A conversão de Cézar se deu em setembro de
1998. Marta, sua esposa, o convidou para um culto
na Igreja Batista. A música foi a porta que Deus usou
para que o evangelho entrasse no seu coração. Em
dezembro de 1998 foi batizado.
Na fria noite de agosto de 2018 ouvimos uma
Cris Tozzi
Carlinhos Veiga é pastor, músico e jornalista. Ouça trechos dos álbuns apresentados nesta seção visitando o Programa Novos Acordes
no blog novosacordes.com.br.
PALAVRAS
Pensou. Com atenção
Escreveu. Com paciência.
Pensou que escreveu
O que pensou. Sem pressa.
Palavras de, palavras para, palavras.
O que é? Cadê o autor?
O que quis ser? O leitor?
O que será? E a mensagem?
Vamos ver.
Perigo constante:
O
Não é só questão de Deformar, disformar, reformar.
1.
Ortografia, morfologia Mas não se conformar.
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Sinonímia, homonímia Ser persistente.
o,
Heteronímia, toponímia. Ir ao dicionário.
ws
s-
Não basta saber a origem Sem pretexto.
s.
Nem como chegou. Olhar o contexto.
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Se por derivação ou composição Ser pró-texto,
ez
Justaposição ou aglutinação. Quem sabe, hipertexto.
m
Texto.
o
Não é só descobrir
de
Se tem cara de mau Ambiguidade?
ir
Ou se é um cara do mal. Garimpar e trocar.
o
É preciso saber escolher: Pernas longas para ideias curtas?
o”,
Xícara ou chávena? Cortar sem compaixão.
ha
Com paixão.
te
Agora, cuidado:
al.
Seção, sessão ou cessão? Bernadete Ribeiro é ex-menina da roça que
Mora, habita ou reside? adora pitanga e jambo amarelo. Gosta de ler, de
É igual? Eufônico? romance a dicionário, de fazer livros e de criar as
filhas na roça.
Claro? Irônico?
Ana Tavares
Que transborde a poesia
Sem preguiça goo.gl/q8JqVe
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CLAUDINEI FRANZINI
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OBRIGATÓRIO
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á pouco tempo, um juiz de São Luís de conflitos, amenizar as amarguras e ajudá-los a
Montes Belos, GO, condenou um pai a achar um caminho de reencontro? Não sei dizer.
pagar 100 mil reais à filha mais velha, a O que sei é que toda essa dor se materializou em
título de dano moral por abandono afe- dinheiro expiatório.
tivo. A sua ausência teria ocasionado depressão e Pagos os 100 mil reais, o que restou? Afeto e
prejuízos morais à filha.1 proximidade, afinal? Não acredito. A sentença terá
A moça afirmou nunca ter recebido afeto, amor selado destinos inconciliáveis. O divórcio se con-
nem oportunidade de convivência verteu em separação de bens, o afeto paternal se
com o pai, tendo sido desampa- desobrigou em moeda corrente e o afeto filial se
Embora rada afetiva e materialmente por conformou em “cheque-adeus”.
sabendo que ele. Alegou que durante a infância Diante da dureza dos fatos, fico a me perguntar
desencontros e adolescência morou na mesma se esse pai teria escapado se tivesse podido provar
são comuns, cidade do pai, porém este nunca que, durante esse tempo, deu cinco beijos e quatro
compareceu às festas de aniver- abraços na filha e que esteve presente em três reu-
não me sário, datas comemorativas, reu- niões da escola. Não estou brincando com dosime-
conformo com niões e momentos festivos na tria, estou apenas atônito com o rumo que as coisas
tanta dor, sem escola e que, por causa do descaso, estão tomando entre nós. Diante da incapacidade
que nenhum chegou a sofrer bullying. Disse de vivermos as alegrias do amor, passamos a tentar
gesto reparador também que o pai, por diversas salvar algumas moedas do incêndio.
vezes, deixou de pagar pensão É nesse momento que tenho vontade de
ou reconciliador alimentícia, só tendo voltado a gritar (no deserto de hoje) como João Batista:
tenha sido fazê-lo por pressão da Justiça. “Arrependei-vos porque vos é chegado o reino de
digno de nota Mesmo tendo atingido a maio- Deus!” (Mt 3.2). E, se conseguisse chamar a atenção
ridade, a filha processou o pai. E da família, dizer-lhe que há esperança em Cristo;
o juiz entendeu que as lesões afe- que nele o cego pode ver, o coxo pode andar, o
tivas não cessam: “O sofrimento surdo pode ouvir; que nele até a morte – o final de
que se segue é a perpetuação dos efeitos passados”, toda esperança – foi vencida na ressurreição; que
afirmou acrescentando que “a dor e o sofrimento nele o vaso quebrado pode ser restaurado; e que o
experimentados não só se reforçam, mas renascem seu amor torna a lei dos homens – essa lei que não
a cada dia em que acorda e se vê sozinha, sem traz vida – desnecessária.
direito ao abraço, atenção, cuidado e companhia
paterna”.
O pai alegou, sem sucesso, que nutria afeto pela Nota
filha, porém, separado da mãe dela, tinha dificul- 1. Pai deverá pagar à filha indenização de 100 mil por abandono
dades de se aproximar. E que, nesse período, ela afetivo. Disponível em: <http://kleberruddy.jusbrasil.com.br/noti-
havia sido vítima de alienação parental por parte cias/522434282/pai-devera-pagar-a-filha-indenizacao-de-100-mil-por-
da mãe. abandono-afetivo>
Não sei o que se seguiu à sentença judicial.
Olho apenas para mais esse relato com espanto e Rubem Amorese é presbítero na Igreja Presbiteriana do
tristeza. Embora sabendo que a vida é assim e que Planalto, em Brasília. Foi professor na Faculdade Teológica
esses desencontros são comuns, não me conformo Batista por vinte anos e também consultor legislativo
com tanta dor, sem que nenhum gesto reparador no Senado Federal. É autor de, entre outros, Fábrica de
Missionários e Ponto Final. Acompanhe seu blog pessoal:
ou reconciliador tenha sido digno de nota. ultimato.com.br/sites/amorese.
As falências relacionais estão patentes, seja na
separação do casal, seja na relação entre pai e filha.
No entanto, teria havido a procura de um pelo MAIS NA INTERNET
outro? Teria havido alguma ajuda reconciliadora? Versão ampliada do artigo “Afeto obrigatório”
Teria havido alguém que pudesse intermediar os goo.gl/JyFQz5