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ALDO LAVAGNINI (MAGISTER) MANUAL DO COMPANHEIRO MACOM Porto Velho — RO — 2007 Sintese simbolica do Grau de Companheito Magom ‘Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini APRESENTACAO Os manuais de Aldo Lavagnini sto, talvez, os eseritos magénicos mais difundidos em lingua castelhana, Apesar de alguns objetarem sobre a dtica as vezes moralista, as vezes racionalista de algumas partes desses manuais, sto, entretanto, poderosos auxiliares no conhecimento de nossa Ordem e uma biissola que norteia as possibilidades do conhecimento magénico. As suas consideragdes sobre o simbolismo da magonaria e dos aspectos esotéricos do ensinamento so, segundo nossa étiea pessoal, um balsamo. Cada vez mais a forma tem prevalecido sobre a esséncia, muitas vezes deconente do desconhecimento do sentido da iniciagao magdnica, e de quais objetivos a Organizagao deve manter como prineipais. © Grau de Companheiro, muito bem contemplado no presente manual, é o inicio do aprofimdamento tebrico na magonaria, haja vista que seus ensinamentos, em data mais remota, eram 0 épice do conhecimento operative. Com a criagiio de um terceiro gzau independente, apesar das adaptagdes que o Grau de Companheiro sofreu, ainda assim manteve diversos ensinos que sio extremamente necessirios aquele que busca a efetivagio do conhecimento magénico em seu proprio ser. Devemios declarar, expressando nossa visto particular -partilhada por outros tantos Inniios, que a magouaria, em primeizo lugar, deve ser vista fundamentalmente como uma sociedade esotérica’ e iniciatica, cuja transmissao do conhecimento propicia a libertagao gradual do homem, objetivando sua Realizagto espiritual, nao confundindo espiritualidade com religiao, como soe acontecer na atualidade, sendo esta apenas um. aspecto, ainda que importante, daquela Obvio esta que o superior sempre contera, em termos de espiritualidade, o inferior. E que o conhecimento esotérico, seudo superior ao conhecimento exotérico, tem sua perspectiva muito mais aprofundada do que este. Portanto, “busca o Reino de Deus ¢ sua Justica e todas as outras coisas Ihe serio dadas por acréscimo”. E. corroborando com o que dissemos, Chuang Tse diz no “Grande Supremo”. Aquele que sabe 0 que é do Cén ¢ 0 que sabe 0 que é do Homem alcancou verdadeiramente 0 cimo (da sabedoria). Aquele que sabe 0 que é do Céu, moida sua vida segundo o Céu. Aquele que sabe 0 que é do Homem, pode ainda usar sua ciéncia para desenvolver 0 conhecimento do desconhecido, vivendo até o fim dos seus dias e nao perecendo jovem, eis a perfeigdo do saber. Nisso, entretanto, hi uma falha, O saber correto depende dos objetos, mas os objetos da ciéncia sao relativos e incertos (nnutiveis). Como se pode saber que o natural néio é realmente do *0 esotérico nada tem a ver com magias ou feitigarias, ou sequer com ocultismo, como a vulgo eostuma twatar, ‘Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini homem, e 0 que & do homem nao é realmente natural? Nés devemos, antes de tudo, ter homens verdadeiros antes de termos a ciéncia verdadeira. (grifo nosso) © manual de Lavagnini nos espelha esta possibilidade, inclusive fazendo as inter-relagdes tao caras a alguns macons, entre a simbélica e a moral. Contudo, o vigor deste manual esta, precisamente, nos momentos em que mostra a pureza da simbélica magénica como extremamente ligada aos aspectos metafisicos. sendo aqnela proveniente destes. E, a partir do momento em que o magom Iangar a verdadeira luz sobre seu coragio, out melhor, deixar que sua Luz Interior realmente se expresse e se estabeleca. vai saber moldar sua vida conforme 0 “Céu”. E ao moldar sua vida conforme o “Céu”, mais possibilidades de tomar efetiva sua felicidade e da que os rodeiam, pois “Aquele que segue o Caminho Perfeito nao deseja estar cheio de coisa alguma’” SOBRE A TRADUCAO. Existem, atualmente, tradugdes circulando pelos meios eletrénicos deste manual. Contudo, nao contém as figuras traduzidas e, portanto, sao tradugdes incompletas. Quando buscamos utilizar destas tradugdes, que julgamos terem sido de vital importincia no nosso conhecimento magénico, percebemos que estavam truncadas. faltando partes dos escritos e, até, faltando um capitulo completo! Por este motivo, decidimos realizar novamente a tradugao, desde o comego, além de inseritmos as figuras e fazermos uma edigao mais cuidadosa Nao encontramos interesse das editoras brasileiras em publicar a obra de Lavagnini. Por este motivo, dispusemos de nossas tradugdes em meio eletrénico. objetivando que chegue a um mimero maior de Inmaos, solicitando, sempre, que mantenham a obra imperturbada, sem alteragdes consideraveis ao serem transmitidas ou expostas em estudos. Algumas figuras foram retrabalhadas, outras completamente redesenhadas quando julgamos necessério (como no caso das figuras que precisavam ser traduzidas). sempre buscando seguir o espitito da obra original. Decidimos manter 0 texto sobre a histéria da maconaria com os detalhes originais, conforme sua época, até como expressio da situagao histérica que acontecia ‘no mundo na época em que foi escrito (décadas de 1930 e 1940). Em alguns momentos, apenas, buscamos informar alguns dados atuais (2008), apenas para serem utilizados como termo de comparagao aos dados apresentados pelo autor. Todas estas intervengdes estardo mareadas com “N.T.". O Tradutor Lao Tau Tao Te King ~XV ~ A Exibigao da Qualidade, Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini DEDICADO AOS IRMAOS COMPANHEIROS Este segundo grau no qual fostes admitido, & 0 resultado natural dos. vossos esforgos; primeiramente: tendo aprendido, tereis de provar, ou seja, demonstrar na pratica, com uma atividade fecunda, os vossos conhecimentos e reconhecimentos interiores. Nisso essencialmente se insere a qualidade de Companheiro, ou obreiro da inteligencia construtora, no qual se converteu como resultado de um aprendizado fiel e perseverante. Sua iniciagao efetiva nessa arte, como obreizo ou artista, o faz companheiro de todos os que praticam em comunhio de ideais e objetivos, compartilhando o pio dos conhecimentos ¢ capacidades, adquiridos por meio do estudo e da experiéneia, como resultado dos esforgos numa atividade itil e construtiva © sentimento de solidariedade ou companheirismo que nasce de tio intima comunhao, é ¢ deveria ser, a caracteristica fimdamental deste gran magdnico. O aprendiz, em virtude de seus conhecimentos ainda rudimentares, ¢ de sua incapacidade simbélica para uma obra realmente eficiente, por nfo ter sido ainda provadas sua perseveranca e firmeza de propésitos, nao pode sentir ainda esta solidariedade que nasce do sentimento de igualdade com os que praticam a Arte; sendo que deve esforgar-se constantemente para estar alinhado com os Principios, e poder chegar assim em nivel com aqueles que se estabeleceram nos mesmos. A liberdade é 0 ideal e a aspiragio do Aprendiz, cujos esforgos se dirigem principalmente a libertar-se dos julgo das paixdes, dos erros e vicios: j4 que cada vicio ¢ um vinculo que o detém, retardando seu progresso. Por meio do esforgo vertical simbolizado pelo prumo (em sentido oposto 4 gravidade das propensdes negativas que constituem a polaridade inferior de seu ser), chega a conquistar aquela liberdade que sé se encontra na fidelidade aos Ideais, Principios e AspiracOes mais elevados de nosso ser. A igualdade deve ser a caracteristica principal do Companheiro que aspira elevar-se interiormente até o seu mais elevado Ideal ¢, em conseqiténcia, ao nivel dos que se esforcam no mesmo caminho e para as mesmas finalidades. Enquanto para a fraternidade nio pode ser. se nao o resultado de haver-se identificado de uma maneira ainda mais intima com seus irmaos, quaisquer que sejam as diferengas exteriores que, como barreiras, aparentam elevar-se algumas vezes entre os homens. Sem diivida, o aprendizado que o Aspirante terminou simbolicamente, a0 ser admitido no segundo grau, ainda nao esta concluido: onde quer que estejamos e em qualquer condigao, em qualquer grau magénico nao deixamos de ser aprendizes, porque sempre temos algo a aprender. E este desejo ou atitude para aprender & a condigao permanente de toda possibilidade de progresso interior. Porém 4 qualidade de aprendiz deve agregar-se algo mais: a capacidade de demonstrar ¢ colocar em pritica em atividade construtiva os conhecimentos adquiridos, e por meio desta capacidade realizadora é como se chega a converter-se em verdadeitos Companheiros. Igualmente, a capacidade de aleangar um estado mental de firmeza, perseveranga e igualdade nao os dispensa da necessidade de seguir esforgando-se para estar constantemente em prumo com os seus ideais, principios e aspiragdes espirituais. ‘Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini Cada grau magénico simboliza, pois, uma condicao, qualidade, prerrogativa. dever responsabilidade que se somam as precedentes sem que nos dispensem de cumprir com as mesmas. Portanto, 4 qualidade de Companheiro deve agregar-se a de Aprendiz de maneira que, sem que cesse o esforgo de aprender e progredir. esta atividade se faga fecunda e produtiva, segundo o expressa o sentido da palavra que indica a passagem do primeiro ao segundo grau. Assim, pois, por haver sido admitido em um grau superior, nao deveis esquecer vossa instrugao de Aprendiz, nem tampouco deixar de continnar estudando e meditando © simbolismo do primeiro grau: 0 malho, o cinzel e © esquadro nio sto menos necessirios pelo fato de que aprendestes também 0 uso do compasso, da alavanea e da 1égua, que os complementam, porém nao os substituem, Cada grau magénico 6, sobretudo, um novo grau de compreensio da mesma doutrina, um grau situado além da capacidade no uso dos mesmos instrumentos, cujas infinitas possibilidades dependem somente de nosso desenvolvimento interior. Com o mesmo malho e cinzel, faré o humilde canteiro ao prineipio de sua carreira, uma pedra toscamente lapidada; 0 obreiro esperto um trabalho muito mais proveitoso para os objetivos da construgio; um artista de maior habilidade saber fazer dela um capitel on outra obra ornamental. Porém o escultor que sabe expressar na mesma pedra um ideal de beleza, fara dos mesmos instrumentos um uso infinitamente superior, e o valor de sua obra sera por certo muito maior. © mesmo ocorre com os graus magénieos, earacterizados tanto por uma maior capacidade no uso dos primeitos ¢ fundamentais instrumentos da Arte, como por novos instrumentos simb6licos desconhecidos nos primeiros graus, Porém, 0 uso sempre perfeito dos instrumentos elementares, € 0 que toma iiteis e proveitosos os demais instrumentos, que de nada servitiam, para aqueles que nao tivessem aprendido ainda a ‘manejar os primeiros Nao esquegais, portanto, ao ingressar nessa segunda etapa de vossa carreira magdnica, que todo vosso progresso ela, como nas posteriores, depende de vossa crescente eapacidade de interpretar os elementos fundamentais do simbolismo da Arte, aprendendo a vivé-los e realizé-los de uma forma sempre mais perfeita e proveitosa; ja que cada grau nfo é outza coisa que uma melhor, mais iluminada, elevada e profunda compreensio ¢ realizagao do programa de Aprendiz, que sera para sempre a base do Edificio Magénico, dado que no seu simbolismo esta concentrada toda a doutrina que se desenvolve e se explica nos graus posteriores, Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini PRIMEIRA PARTE O DESENVOLVIMENTO HISTORICO DA MACONARIA MODERNA Assim como ao grau de Aprendiz, buscando responder a pergunta "De onde viemos?”, 6 atribuido o estudo das origens primevas de nossa Ordem, conforme o esbogamos no primeiro Manual desta série, assim igualmente é especial competéncia do segundo gran simbélico responder pergunta "Quem somos?” estudando a histéria da ‘Magonatia Moderna Os inicios da Magonaria, segundo atnalmente a conhecemos, devem-se prineipalmente ao estado de decadéneia em que se encontravam nos fins do século XVII as antigas guildas de construtores, assim como as demais corporagoes de oficio, que tinham florescido nos séculos anteriores, aleangando seu apogeu cerea do fim da Tdade ‘Média, As causas desta decadéncia foram, por um lado, a diminuigaio do ardor religioso que se seguiu 4 Reforma, de maneira que a construgao das igrejas foi dando lugar a de outros edificios profanos, tanto piblicos como privados; e por outro, um grau maior de especializagao dos operirios em seus respectivos trabalhos, ¢ a falta de conveniéneia por parte destes de seguizem se reunindo em grémios organizados para a pritica de uma arte determinada. Precisamente por esta razio, no mesmo século XVII se propagou a pritica de serem admitidos nessas guildas de construtores membros honoririos (ow magons aceitos), ainda totalmente estranhos 4 pritica da arte de construir, mas que cooperavam, para sustenti-las material e moralmente. O dia em que estes magons aceifos comecaran a prevalecer sobre os de oficio, e se Ihes concederam cargos de diregao (dos quais a prineipio estavam excluidos), foi justamente aquilo que sinalizou a transformagao conhecida com o nome de magonaria operativa em especulativa; ainda que o desenvolvimento desta caracteristica houvesse que ser bem gradual, n&o estando de maneira uenhuma necessariamente comprometida pela presenga de membros honordvios, apesar do nimero destes. A "GRANDE LOJA" DE LONDRES Assim foi que, em 1717, os eseassos membros remanescentes de quatro lojas londrinas, que tinham os seus lugares de encontro (segundo o costume naquela época), em quatro diferentes estalagens’, decidiram celebrarem juntos na estalagem da Macieira sua reuniao anual de 24 de junho (dia de Sao Joao Batista). Nessa reunitio, depois tomada tradicional por essa 1az40 histOrica, sem que os seus participantes pudessem dar-se conta disso, tratando de buscar uma solugao para as suas condigdes, que nos iiltimos tempos se encontravam cada vez menos prdsperas, os presentes decidiram se Juntar na que depois (em 1738) passaram a chamar “Grande Loja”, elegendo para ‘As quatro diferentes estalagens eram as seguintes: 1) The Goose and Gridiron (o Ganso ¢ 0 Grilo): 2) The Crown (A Coron); 3) The Apple Tree (A Macieira); e 4) The Rummer ane! Grapes (A Taga e as Uvas) -(N. Tl. ‘Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini presidi-la oficiais especiais, que deviam promover a sua prosperidade. Esses foram: Anthony Sayer, homem desconhecido e de modesta condigao, inteiramente estranho a0 oficio de pedreira, que foi nomeado Grao-Mestre: Jacob Lamball, carpinteiro: Joseph Elliot, capitao; foram eleitos grandes vigilantes’. Dado que essas Lojas nao eram as tinicas entao existentes (algumas das outras, como a de Preston, chegaram até os nossos dias), nao ha diivida de que de nenhuma ‘maneira poderiam tratar, entio, de escolherem um "Grao Mestre dos Magons", pois para tal nao tinham autoridade, mas apenas [para eleger um Grao-Mestre] dessas quatro Lojas, nao se podendo sequer assegurar que tal titulo foi efetivamente utilizado nessa oeasitio, ainda que o pudesse muito bem ter sido, com esta atribuieo especifica. Sem davida, somente depois, e por mérito de homens que, sob diversas cixcunstincias foram atraidos a essa "Grande Loja", que as denominagdes de Grio Mestre e Grande Loja adquiriram real significado e importincia O desenvolvimento fituro de nossa Instituigao, a partir dessa modesta reunifo, nao estava de nenhuma forma condicionado & mesmna, e s6 se deve a Forga Espiritual que aproveitou e vivificou esse pequeno e modesto agrupamento do qual brotow um, movimiento que se estendeu para toda a superficie da terra, Sempre so, pois, as idéias que operam no mundo, acima dos individuos que se fazem seus meios, veiculos & instrumentos; e a forga das idgias, que animam e inspiram os homens, se deve todo o progresso e toda a obra ou instituig’o de alguma importincia, por traz daqueles que aparecem exteriormente como seus fundadores e expoentes. ‘No que particularmente se refere 4 Magouaria, nao ha diivida que suas origens mais verdadeiras, melhor que nesses homens de boa vontade e de inteligéneia mediocre que unicamente se preocupavam em salvar suas lojas da decadéneia que as ameagava, por meio da unido das mesmas. Devemse buscar essas origens na Idéia Espiritual central, que oculta no seu ceme, o verdadeiro segredo macénico, assim como das demais idéias relacionadas com aquela, das quais se fez, em diferentes momentos & circunstincias especiais. A essa idéia central, ainda oculta e secresa para a maioria de seus adeptos, também devemos © conjunto de tradigdes, alegorias, simbolos e mistérios, que tem vindo se apropriando, e em parte criando e modificando, para embelezar ¢ dar maior britho a seus trabalhos, cujas origens, como a de seus cerimoniais, so antiqiiissimos, tendo nos sido transmitindo através de diferentes eivilizagdes que se desenvolveram sucessivamente sobre o nosso planeta, Desse ponto de vista esta perfeitamente justificado o empenho dos primeiros historiadores. magdnicos, comecando com ‘Anderson, ¢ dos que fizeram ou adaptaram os seus rituais, para relacionar nossa instituigao com todos os movimentos espirituais ¢ tradigées misticas iniciaticas da Antigiiidade, segundo tambem tratamos de fazé-lo no manual do Aprendiz. Pois se ¢ certo que a Magonaria Modema tem sua iniciagiio nessa fortuita agremiagao de quatro Lojas que se juntando, puderam salvar-se da dissolugao a que pareciam inevitavelmente destinadas - como sii todas as coisas que nao sabem renovar- se quando chega 0 momento oportuno - e que, dessa maneira prosperaram muito além de suas expectativas, no é menos certo que souberam recorrer em segredo a heranea de * Estes dados s6 aparecem na segunda edigao (de 1738) do “Livro das Constituigoes”, de Anderson, Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini todos os segredos, mistérios ¢ tradigdes, assim como souberam fazer-se o receptaculo das grandes e nobres idéias que constituem um fermento vital e um impulso renovador ‘no meio em que atuavam. E se pela natureza da Obra pode se reconhecer 0 Artista que soube conceber & realizar, se julgamos a Maconaria pela mistica beleza de seu conjunto simbélico- ritualistico, a essa Obra nao se pode dar outro qualificativo senao o de magistral, Em sua esséncia mais intima e profunda, e qualquer que possa ser sta filiacao exterior e aparente, nio pode ser senio Obra de Mestres na acepeao mais profunda da palavra. Esta esséncia intima ¢ o Logos. ou verdadeira palavra que deve ser buscada em toda Loja justa e perfeita, a Tdéia Espiritual que na mesma deve se realizar. Esta mesma Idéia, cujas latentes possibilidades depois vieram se desenvolvendo -e maiores que estas esperam ainda a oportunidade para poder vir & luz- foi a semente da Arvore poderosa que representa a Maconaria Moderna: um meio destinado ao reconhecimento e pritica da fiatemidade, um crisol de idgias e ideais, e um movimento Libertador das consciéneias e dos povos. PRIMEIROS DIRIGENTES ‘Nas posteriores assembléias solsticiais de 1718 e 1719, foram eleitos Grao- Mestres da Grande Loja de Londres, respectivamente, George Payne e Jean Theophile Desaguliers, o primeiro dos quais tomon novamente o malhete presidencial de 1720. A estes dois homens deve a nascente Grande Loja o impulso espiritual renovador; assim como as linhas ideolégicas que depois caracterizaram a Magonaria moderna. O primeiro, ex-funcionario governamental, homem muito ativo, enérgico e de posigao desafogada, parece ter sido levado Sociedade, qual levou o prestigio de sua personalidade e de suas numerosas relagdes sociais, por sua afeicio para as antiguidades. O segundo, nascido em La Rochelle ¢ filho de um pastor huguenote. tedlogo e jurista, amigo pessoal de Newton e vice-presidente da Real Sociedade de Londres, contribuiu, sobretudo, especialmente em colaborag’o com Anderson, com 0 desenvolvimento de sua parte ideologica Estes também foram que atrairam @ Sociedade outras eminentes personalidades como o Duque de Montague quem. em 1721, aceiton a nomeagio de Grao-Mestre. sucedendo a G. Payne. A eleigao, feita com a representagdo de doze Lojas, de um. membro da nobreza, foi sem diivida muito acertada em seu objetivo de assegurar a Ordem prestigio e prosperidade material: ficou na moda, pois, o pertencer 4 Magonaria. Duseando-se nela uma espécie de patente de reputagao e honradez. Fez-se entio necessario formular de uma maneira mais clara e completa tanto os prineipios como os estatutos e regulamentos da Ordem, sobre a base das antigas Constituigdes colecionadas por G. Payne, e das General Regulations compiladas por este no segundo ano de sua presidéncia. Desta maneira, o Duque de Montague encarregou o Rev. James Anderson, que foi valiosamente assistido em sua obra por G. Payne e J. T. Desaguliers, de colocar "is Antigas Constituigdes Gétieas numa forma nova e melhor". ‘Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini Assim nasceu o "Livro das Constituigdes dos Franco-macons" tratando da "Historia, Deveres e Regulamentos daquela Antiqiissima e Mui Veneravel Fraternidade". © mamuscrito foi examinado pela primeira vez por uma comissio de 14 irmaos, nomeada a fins do mesmo ano de 1721 pelo Duque de Montague, ¢ foi aprovado em 25 de margo seguinte, com as emendas sugeridas por estes, depois do que se ordenou sta impressao, estando 24 Lojas representadas na assembléia. 0 livro foi publicado e apresentado solenemente por Anderson na assembléia da Grande Loja que se verificou em 17 de janeiro de 1723, sendo entio confirmado e proclamado Grio-Mestre 0 Duque de Wharton, que se havia feito nomear como tal em 24 de junho do ano anterior, numa assembléia convocada itregularmente por este. Sucedeurlhe o Conde de Dalkeith, continuando-se depois com o mesmo costume de eleger para 0 cargo de Grio-Mestre um membro distinto da nobreza. A CONSTITUICAO DE ANDERSON A obra de Anderson tem sido sempre considerada nos ambientes magénicos com muita benevoléncia, sem indagar-se até que ponto seu proprio Livro das Constituigdes corresponderia com "as Antigas Constituigdes Géticas" que nao nos foram transmitidas’, e pasando por cima das faltas, enganos, omissdes e invengdes que possa conter A historia legendaria das origens magénicas que aqui se relata descansa, como & natural, sobre a Biblia, livro que para os povos anglo-saxdes foi sempre objeto de especial veneragao. Caim e os descendentes dele, como de Seth, sao considerados como os primeiros edificadores, mencionando-se a seguir a Arca de Noé, que "embora de madeira, foi fabricada segundo os principios da Geometria e das regras da Magonaria" Noé e seus trés filhos foram, assim, "verdadeiros magons que, depois do dilivio, conservaram as tradigdes e artes dos antediluvianos e as transmitiram amplamente a seus filhos". Depois do que sio meneionados os Caldeus e os Egipeios, e os descendentes de Jafet que emigraram "is ithas dos gentis", como [sendo} todos igualmente habeis na Arte Magéniea. Consideram-se 0s istaelitas, ao sairem do Egito, como "todo um povo de magons, bem instruidos sob a guia de seu Grao-Mestre Moisés, que s vezes os reuniu em uma Loja geral e regular" Finalmente se fala da construgao do Templo de Jerusalém, por Salomao, sendo Hiram 0 "Mestre da Obra". Também Nabucodonosor, depois de ter destruido e saqueado esse mesmo Templo, se Ihe é atribuido ter posto "seu coragiio na Magonatia", construindo as muralhas e os edificios de sua cidade, secundado pelos habeis artifices que da Judgia e de outros paises tinha levado cativos a Babildnia Também sto citados os Gregos, Pitigoras, os Romanos e os saxdes que, "com natural disposigao 4 Magonaria, muito em breve imitaram os asiaticos, gregos 5 Nos anais magonicos. diz-se haver queimado em 1720 (sendo Payne o Griio-Mestre) virios antigos ‘manuscritos “para prevenir de que pudessem cair em maos estranhas" 10 ‘Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini romanos na instalacao de Lojas", tvacando uma historia sumaria sobre 0 desenvolvimento da Arte Magénica na Inglaterra. Somente na segunda edigao da obra, redigida no ano de 1738, sto dadas escassas, noticias sobre a fundacao da primeira Grande Loja que teve lugar em 1717, dizendo-se unicamente na primeira que naquela época, em Londres como em outros lugares, “floresciam diversas e dignas lojas individuais que celebravam um conselho trimestral © ‘uma junta geral anual pata nelas consetvar sabiamente as formas e os usos da muito antiga e venerdvel Ordem, cuidar devidamente da Arte Real e conservar a argamassa da confraternidade, a fim de que a Institnicao se parecesse com uma abébada bem ajustad: DEVERES MACONICOS Segue uma recopilagio dos Deveres de um Franco-macom “recolhidos de antigos documentos", que tratam: (1) de Deus e da Religiao, (2) do Chefe de Estado e seus subordinados, (3) das Lojas, (4) dos Mestres, Vigilantes, Companheiros @ Aprendizes, (5) dos trabalhos da Oficina, ¢ (6) da conduta na Loja como fora da mesma, em passos perdidos, em presenga de profanos, no lar e na vizinhanga. No que conceme a Deus e 4 Religiao diz: "Um magom esta obrigado, como tal, a obedecer & lei moral: e, se compreende a Arte, nunca se fara um aten estipido, nem um. libertino irreligioso" “Embora, nos tempos passados, 0s Magons estivessem obrigados, em cada pais. a praticar a correspondente religiao®, qualquer que fosse, estima-se agora mais oportuna que nto se Ihes imponha outra religito, fora daquela sobre a qual todos os homens esto de acordo, thes deixando toda liberdade quanto a suas opinides particulares. Assim. pois, é suficiente que sejam homens bons e leais, honrados e probos, quaisquer que sejam as confissées ou conviccdes que os distinguirem" “Assim a Magonaria se fara o centro de uniao e © meio para estabelecer uma sincera amizade entre pessoas que, fora dela, houvessem sempre se mantido mutuamente afastadas" Sobre o assunto da autoridade civil escreve: "0 Macom é um stidito pacifico ante os poderes civis, em qualquer Ingar em que resida ou trabalhe: munca deve estar comprometido em complés ou conspiragdes contra a paz e a prosperidade da naga, nem comportar-se incorretamente com os magistrados subalternos, porque a guerra, a efusto de sangue e as insurreigdes foram em todo tempo fimnestas para a Magonaria” "Entio, se um Irmio se rebelar contra o Estado, ele nao devera ser estimulado em sua rebelido, entretanto ele pode ser digno de pena por ser um homem infeliz: e, se nao condenado por qualquer outro crime, a leal Inmandade precisa e deve repudiar a sua rebelifio, nao deixando margem para qualquer desconfianga politica perante o Governo § Conforme o costume exterior dos iniciados de todos os tempos. Tera que notar que este ponto constituia ‘uma reforma das antigas obrigagdes magénicas, as que especificavam fidelidade “a Santa Tareja” catblica u Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini vigente: mas nao devem expulsé-lo da Loja, permanecendo inalienavel a sua relagao com esta”, E sobre a conduta na Loja nos recomenda: "Que seus desgostos ¢ pleitos nao assem munca a soleira da Loja; mais ainda: evitem as controvérsias sobre religides nacionalidades e politica, pois, em nossa qualidade de Magons nao professamos mais que a religiao Universal antes mencionada. Por outro lado, somos de todas as nagdes, de todos os idiomas, de todas as ragas, e se excluimos toda politica é pela razio de que munca contribuin no passado a prosperidade das lojas, nem o faré no futuro”. A "ESSENCIA" DA MACONARIA MODERNA Destes exttatos se depreende a orientagio tomada naguele tempo pelo movimento que produzin a Magonaria Modema, cujos principios findamentais podem formular-se como segue 1) Um reconhecimento implicito da Universalidade da Verdade acima de toda opiniao, crenca, confusao ou conviecao. 2) A nevessidade de obedecer & Lei Moral, como caracteristica ¢ conditio sine qua non da qualidade de Magom. 3) A pratica da tolerdueia em matéria de crengas, opinides e conviegdes. 4) © respeito, reconhecimento e obediéncia A Autoridade Constituida, desaprovando-se toda forma de insurreigao ou rebeldia, embora nao se considere como crime que merega a expulsio da Loja. 5) A necessidade de fazer nas Lojas um trabalho construtivo, procurand © que ‘una aos imiios e fugindo daquilo que os divida. 6) A pritica de uma fraternidade sincera e efetiva, sem distingaio de raga nacionalidade ¢ religido, deixando fora das Lojas toda disputa, questao ou diferenga pessoal, 7) Considerar e julgar os homens por suas qualidades interiores, espitituais, intelectuais e morais, mais que pelas distingdes exteriores de raga, posigio social, nascimento e fortuna A promulgacéio destes principios realmente universais (que constituem a esséucia do /umanismo e cuja perfeita aplicago faria desaparecer todas as diferengas entre os homens, todo motivo de luta e de inimizade, fazendo reinar onde quer a Harmonia ¢ a Paz), no livro de Anderson foi o que atraiu @ Sociedade um nimero crescente de simpatias e ocasionou sua rapida expansio e difusio em todos os paises. Todos os idealistas se sentiram no dever de colaboragao [com a Magonaria], encontrando nesta um campo de ago e uma fortuna exterior apropriados para expressar e realizar seus particulares propésitos e idéias. Assim foi como convergiram nela os 12 Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini homens mais distintos da época e se fundiram muitos esforgos até entio isolados desagregados. MULTIPLICACAO DAS LOJAS Pelo duplo impulso da exposig&io dos Prineipios e do prestigio pessoal de seus Grdio-Mestres, assim como dos que se agruparam ao movimento, as Lojas se multiplicaram rapidamente: as doze Lojas que tinham tomado parte na eleigao do Duque de Montague ascenderam a 20 ao fim do ano, e 49 Lojas foram representadas na assembléia de 1725. Mas nao se deve acreditar qne neste mimero fossem compreendidas todas as Lojas entio existentes: muitas das que existiam em 1717 nfo se aderiram ao movimento iniciado pela nascente Grande Loja por varias razdes, dentre clas a de acreditar usurpadora a autoridade desta, e preferiram permanecer independentes. Algumas Lojas nao aprovaram as novidades introduzidas uo Livro das Constituigdes, sustentando a obrigagao da crenga em Deus ¢ a fidelidade as praticas religiosas; e isto, assim como outras razdes, produziu, como veremos, um cisma que conduziu a fundagao de outra Grande Loja. Além de incrementar-se na Inglaterra, Escécia e Irlanda, 0 niimero de Lojas assou mito em breve a multiplicar-se sobre o continente, estendendo o movimento em todo mundo eivilizado. As primeiras Lojas que se constituiram fora da Inglaterra, com base no modelo das inglesas (seja antes quanto depois da fundagao da Grande Loja), foram constituidas em geral por magons isolados; desejosos de propagar o Ideal magdnico, em virtude do direito que acreditavam inerente a esta qualidade Toda vez que um magom isolado, desejoso de formar uma Loja, nao podia juntar-se com outro, ou com outros dois para formar uma loja magénica simples. procedia a iniciar privadamente a um profano que acreditava digno de pertencer a Ordem; os dois juntos procediam A iniciagao de um terceiro, formando-se assim a Loja simples, que posteriormente podia fazer-se justa e perfeita. Assim, pois, no primeiro periodo, a maioria das Lojas se formou simplesmente em virtude deste natural direito magénico. independentemente de toda carta patente on da autorizagdo de uma Grande Loja, cuja autoridade nem todos reconheciam, reservando-se outras Lojas o fazer-se expedir mais tarde uma patente regular Um local qualquer, disposto para 0 caso, com a condigao de que pudesse fechar- se e estar ao abrigo das indiserigoes profanas, era tudo o que se necessitava para as reunides, tragando-se no chao cada vez, com giz, os desenhos simbélicos que o transformavam no Templo dos mistérios magénicos. Assim, pois, muitas destas Lojas, que contribuiram a formagao de magons e 4 rapida propagacao da Ordem em sua nova orientagao, puderam formar-se e dissolver-se sem deixar nenhum vestigio ou lembranga. Por conseqaéneia & muito dificil fixar com Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini seguranca a data do comeco da Magonaria Moderna nos diferentes paises: como sempre, as origens se acham envoltas na obscuridao. O irabatho das Lojas, segundo o costume inglés, consistia essencialmente nas recepcdes ou iniciacdes, que se faziam com maximo cuidado e atengao, e as que se alternavam com muita freqténcia festividades e Agapes fraternais consolidando-se ao redor de uma mesa comum o espirito de igualdade e a solidariedade entre seus membros. Nao se havia ainda introduzido 0 costume de tatar diferentes temas, & especialmente se furtavam de todas as discussdes que pudessem comprometer a harmonia e © bom entendimento entre os irmaos. Entretanto, sempre se praticava alguma forma de beneficéncia Por esta razio as Lojas se constituiram especialmente nas estalagens que costumavam ser freqientadas por pessoas distintas. Ali se allemava a vida exterior de sociedade com os intimos trabalhos do ritual. Como na Inglaterra, também na Franga encontramos as primeiras Lojas das que se tém noticias histéricas, instaladas em estalagens. Duas delas foram constituidas, respectivamente em 1725 e 1729, em Paris, na casa de um dono de estalagem inglés cuja estalagem levava o nome de "Au Louis d’4rgent" a tiltima destas obteve em 1733 a carta patente nimero 90 da Grande Loja de Londres. Nesse mesmo ano as Oficinas pertencentes 4 Grande Loja chegaram ao nimero 109. Nestas Lojas também se renderam homens eminentes, e durante 0 grao-mestrado do Duque de Wharton, os Magons comegaram a se mostrar em. piblico com suas insignias simbélicas. O DESENVOLVIMENTO NA INGLATERRA A Loja de York foi talvez a mais importante dentre as que no reconheceram a autoridade da Grande Loja londrina e se mantiveram separadas. Considerava-se como a Oficina mais antiga, fazendo remontar suas origens ao ano 600, no qual o Rei Edwin sentou-se nela "como Grao-Mestre". Em 1725 assumin o titulo de "Grande Loja de York", dizendo que a seu Grao-Mestre correspondia ser reconhecido como tal em toda a Inglaterra: mas nao fundou nem teve outras Lojas sob sua dependéncia até 40 anos depois. Esta Grande Loja, que professava e praticava os mesmos principios que a Grande Loja de Londres, nio foi para esta causa de dificuldades; mas foi o suficiente aquela que se Ihe opés em 1751 e se constituin virtualmente em 1753: Nascen esta prineipalmente pela iniciativa de um itlandés, Lorenzo Dermot (a Trlanda, desde 1724, JJ se tinha baseado uma Grande Loja a semelhanga da de Londres), inicindo em Dublin em 1740, que, visitando uma Oficina londrina em 1748, ndo esteve muito satisfeito com. as inovagdes que eticontrou nos rituais. Formou entao um movimento que tinha por objetivo uma maior fidelidade aos usos antigas, e sete Lojas se Ihe uniram em Londres em 1751, fundando uma Grande Loja da qual foi Grande Seeretitio. 4 Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini A nova Grande Loja distinguia a seus membros com 0 nome de Ancient Masons. em contraposigao com os Modern Masons, da que se constituiu em 1717, apoiando sua constituigao sobre outra supostamente datada do ano 926. Nao prosperou esta Grande Loja menos que a outra, 4 qual fez uma séria concorréncia (dado que a denominagao de antigos conduzia maiores simpatias que a de modernos), chegando a ter em 1813, quando finalmente se uniram as duas Grandes Lojas, entre as quais ja quase nao havia nenhuma diferenga, 359 oficinas sob sua jurisdigao. Foram constituidas por estas duias Grandes Lojas nmitas Lojas regimentais, formadas por militares e que se transladavam com eles, e também algumas Lojas maritimas, a bordo dos navios de guerra Aléin das Grandes Lojas citadas existia em Edimburgo a Grande Loja da Eseécia, fundada por 34 Lojas em 1736. A MACONARIA NA FRANCA Depois da Inglaterra, foi a Franga o primeiro pais no qual fincon suas raizes a Maconaria Modema. Lojas isoladas fundadas por ingleses, parecem ter existido neste pais antes de 1700; mas disto nao se tem a seguranca histérica As primeiras quatro Lojas parisienses, sobre as que se acham noticias certas, reuniram-se em 1736, estando presentes cerca de 60 membros, e procedendo-se pela primeira vez a eleigao de um Grao-Mestre na pessoa do Charles Radcliff, Conde de Derwentwater, fundador que foi da primeira Loja na estalagem Au Louis d'Argent. Devendo este abandonar o pais, foi eleito em 1738, numa segunda assembléia, como Grao-Mestre ad vitam, Louis de Pardaillon, Duque de Antin, que aceitou 0 cargo, apesar de que o Rei Luis XV tivesse ameacado com a Bastilha o francés que a aceitasse. Comecam nesta época as primeiras graves hostilidades contra a Magonaria, tanto de carater politico quanto religioso. As primeiras suspeitas nasceram quando esta ja nao se limitava a reunir entre si elementos estrangeiros, mas admitia igualmente a membros da nobreza e cidadaos ordindrios, confratemizando mutuamente com toda aparéncia de conspiragao. Entio as Lojas foram vigiadas e se chegou até a suspendé-las, prendendo os Magons ¢ aqueles que os hospedavam: entretanto, tudo isto nao obstaculizon seu proceso, e as Lojas seguiram reunindo-se, aumentando as precaugdes, e até 0 petigo a que se expuseram fez mais atrativo o pertencer a elas Tamponco impediram seu progresso a bula de Clemente XII e os meios que se usaram para difamar a Magonaria e pé-la em ridiculo, como jé havia sido feito na Inglaterra; quando em 1743 morreu prematuramente o Duque de Antin, havia na Franga mais de 200 Lojas, 22 das quais atuavam em Paris. Remonta-se a esta época, e precisamente aos 21 de marco de 1737, 0 famoso discurso de Andrew Michael de Ramsay, Grande Orador da Ordem, promuneiado durante uma recepgao, e que tanta importincia teve depois por suas miiltiplas repercussées, as que ocasionaram por um lado a concepgao e criacao daquela famosa ‘Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini obra que foi a Enciclopédia, e pelo outro movimento conhecido com o nome de Mestres Escoceses, que comegaram por juntar um quarto grau privilegiado (isto também tinha sido feito pela Grande Loja dissidente fimdada na Inglaterra em 1751, com o nome de Real Arco), que depois se multiplicou em uma série de graus suplementares que queriam reproduzir as antigas Ordens cavalheirescas, crescendo até os 33 graus atuais do Rito Escocés Antigo e Aceito’ Esta iiltima novidade nao foi a principio muito bem acolhida, e um artigo dos Regulamentos Gerais da "Grande Loja Inglesa da Franga" (como assim se chamava entio) nao reconhecia aos Mestres Escoceses direito ou privilégio acima dos trés graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. Entretanto, doze anos mais tarde, repudiando o nome de Grande Loja Inglesa pelo simples de "Grande Loja da Franga", e revisando os Estatutos, reconheceu-se aos Mestres Escoceses, tal como aos Mestres das Lojas, 0 privilégio de permanecer cobertos nas sessdes, assim como o direito de inspecionar as Lojas restabelecendo a ordem quando fosse necessitio. © Conde de Clermont, que em 1743 tinha sido eleito em substituigao ao Duque de Antin, nao levou a sério 0 cargo aceito, ¢ até transcorridos os primeiros quatro anos nao se atreveu a ostentar o titulo de Grande Mestre, Para se esquivar de sua responsabilidade escolheu a prineipio um substituto que nao foi mais ativo que ele, ¢ depois a um intrigante "mestre de baile" que levantou veementes protestos, recusando- se a maioria dos compouentes da Grande Loja a se reunir sob sua presidéncia. Apesar de ter sido, em 1762, destituido de seu cargo e substituido pelo Deputado Grao-Mestre ¢ no obstante a boa ventade deste, nao se pode evitar a anarquia, que levaram as Lojas a completa autonomia, dissolvendo-se virtualmente a Grande Loja: esta, por mandato do rei, ficou suspensa em 1767, quatro anos antes da morte do Conde de Clermont Nesta ocasidio foi novamente convocada, sendo eleito Grao-Mestre o Duque de Chartres. E como a principio nao se faziam muitas ilusdes os magons franceses sobre suas fmgdes essencialmente honorificas, nomeou-se também, como Administrador General, ao Duque de Luxemburgo, destinado a substitui-lo efetivamente © Duque de Luxemburgo, que tinha ento 33 anos, tomou com muito zelo e ardor seu cargo, elaborando um plano completo de reorganizagiio, convocando em Assembléia, para aprové-lo, os representantes de todas as Lojas da Franga. Ficou assim constituida a Grande Loja Nacional, sendo representadas permanentemente na mesma, por meio de deputados, todas as Lojas, junto & autoridade central diretiva que tomou 0 nome de Grande Oriente da Franga. Também se pos fim ao privilégio dos Mestres de Lojas, que se consideravam até entao vitalicios, estipulando-se que todas as oficinas escolhessem anualmente a seus oficiais. Como nem todas as Lojas reconheceram estas reformas, formou-se, também, em oposigao com 0 Grande Oriente, a Grande Loja de Clermont, que recouhecia igualmente como Griio-Mestre ao Duque de Chartres, Também tiveram existéncia na Franca, nesta época, varios ritos e ordens mais ou menos relacionados com a Magonaria, entre os quais 0 rito dos Escolhides Cohen* ‘Vejanse para estes nosso Manual do Mestre Secreto, * Cohen significa “sacerdote”, em hebraico, 16 ‘Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini fundado por Martinez de Pasqually, que teve entre seus adeptos 0 celebrado Louis Claude de Saint Martin chamado 0 Fildsof Desconhecido. Igualmente deve ser notado © rito de Menfis-Misraim ou Maconaria Egipcia fundado por José Balsamo, mais conhecido com o nome de Conde de Cagliostro, que admitia 4 mulher e compreendia 96 graus, Varias associagdes destinadas a dar 4 nmlher participagio nos trabalhos magéonicos foram criadas cerca da metade do século XVII; e em 1774 a Magonaria concordou oficialmente em reconhecer a Maconaria de Adocéo, com um tito especialmente elaborado para a mulher, constituindo-se entao muitas Lojas femininas. De 1773 a 1789 tomou a Magonaria na Franca um impulso formidavel, passando de 600 o mimero das Lojas, sem contar perto de 70 Lojas regimentais. Fizeram-se inieiar nela os homens mais conhecidos da época, dentre eles Voltaire, & idade de oitenta anos, que foi recebido em 1778, apresentado por Franklin e Court de Gebelin, sendo a assembléia presidida pelo célebre astrénomo Lalande. Com a Revolugao, a Magonaria suspendeu na Franga suas atividades. Atribui-se- Ihe erroneamente ter tomado nesta uma participagao direta, embora seja certo que a teve na revolucdo intelectual que a precedeu, com a afirmagio do trinémio fiberdade- igualdade-fraternidade que, interpretado profanamente, péde ter sido causa indireta de muitos excessos. Mas um conhecimento mais profundo da verdadeira esséncia da Instituigao, e de como deva realmente interpretar-se esse trinémio, pde-na acima de toda efetiva responsabilidade naquele cataclismo, de que foi também uma das vitimas. PRIMEIROS ANATEMAS O primeiro anatema coutra a Magouaria foi langado como o dissemos, em 1738, pelo papa Clemente XII, havendo-se preocupado muito o clero de entao de que "homens de todas as religides ¢ de todas as seitas, satisfeitos com a pretendida aparéneia de certa classe de honradez natural, fossem aliados em estreito e misterioso iaco”. O segredo ‘macénico (cuja verdadeira natureza tratamos de por em evidencia nestes mamuais) foi 0 ponto de acusagao fundamental contra a Ordem. Os homens em geral, ¢ até mais as autoridades, soem desconfiar e ter medo de tudo aquilo que no chegam a compreender: 2 crenca no mal (0 verdadeiro pecado original do homem) faz-Ihes supor que ali deva esconder-se algo mau e indesejavel e, portanto, atribuem facilmente mis intengdes até onde nao ha © menor vestigio delas. Assim nasce a suspeita, e desta passa alguém. facilmente & acusagio, a condenagao e 4 persegnicao. A enciclica nao teve 0 mesmo efeito em todos os paises: enquanto nos Estados Pontificios e na Peninsula Ibérica, a qualidade de magom se castigou até com a pena de morte (¢ no Ihe faltaram & Magonaria seus mértires), na Franga, pelo contrario, nem esta eneiclica nem a seguinte (que o Parlamento franeés recusou registrar) foram, tomadas em consideragio: prelados e sacerdotes seguiram sendo recepcionados nas Lojas, dado que tal qualidade thes abria facilmente suas portas. 7 Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini Uma segunda bula papal. langada em 1751, por Bento XIV, foi também causa, nos paises acima mencionados, de perseguigdes sangrentas, considerando-se nestes como se fora um crime, o privilégio de pertencer 4 Ordem. O EXORDIO NA ITALIA A Magonaria conforme 0 uso inglés foi introduzida na Italia ao redor de 1733, por Charles Sackville, em Florenga, a principio unicamente entre os ingleses que visitavam as Academias, aos quais ndo demoraram em se juntarem varios italianos dentre os mais cultos. A idéia se propagou rapidamente primeiro em Toscana, ¢ depois em toda a peninsula, Fundou-se uma Loja em Livorno, na qual trabalhavam harmonicamente catélicos, protestantes e judeus e que, precisamente por tal razio, nao demorou em excitar as Suspeitas do clero romano, preocupado pela nascente sociedade na qual via. sobretudo, um perigo para sua hegemonia espiritual, E isto foi a origem da enciclica irr ceminenti da qual acabamos de falar. © anatema pontifical nao péde rebater o auge da Magonaria, que seguin difundindo-se, naquela mesma época, pelas prineipais cidades da Itélia setentrional. ‘Mas um Macom florentino, Tommaso Crudili. denunciado involuntariamente pela indiscrigao entusiasta de um abade companheiro de Loja, teve que pagar com a tortura & com a morte a conseqtiéncia da mesma (apesar de ter sido posto em liberdade pela enérgica intervengao do Duque Francisco Esteban, iniciado em Haia em 1731) o crime de pertencer a Sociedade Em Napoles, a Magonaria floresceu notavelmente, constituindo-se ali, em meados do século [XVIII], uma Grande Loja, enquanto outras oficinas da peninsula dependiam da de Londres. Nao teve nenhuma restri¢ao sob o reinado do Carlos VII. mas nao ocorreu o mesmo com seu sucessor Fernando IV, que chegou a odiar 4 Instituigao por sua propria debilidade de caréter, temendo as provas da iniciagao. Entretanto, os magons napolitanos receberam durante certo tempo a ajuda e amparo inesperado da rainha Carolina, que fez a principio revogar o decreto, suprimindo as sangdes penais contra os magons (1783); mas, depois, a morte de sua ima Maria Antonieta na revolugao francesa foi a razio desta simpatia se alterasse totalmente. NA PENINSULA IBERICA A peninsula ibérica tem, indubitavelmente, a primazia no mattirologio magénico, embora o privilégio de ter iniciado a perseguigao contra os magons corresponda mais ao clero catélico da Holanda que, desde 1734, incitou com suas caliinias as massas ignorantes, fazendo com que fora invadida uma Loja em Amsterda, destruindo os méveis e cometendo-se violéncias com as pessoas. Devido perseguigao de que foi objeto, embora as primeiras lojas fossem constituidas em 1726 e 1727, respectivamente em Gibraltar e Madrid, demorou-se para a Espanha quase meio século antes que pudesse constituir uma Grande Loja, sob o 18, ‘Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini reinado de Carlos III, mais liberal que seu predecessor, que tinha antorizado 0 desterro dos magons e dado carta branea Inquisicao. Quase simultaneamente 4 Espanha (1727), foi introduzida a Magonaria em Portugal pelo capittio escocés sir George Gordon: mas desde 1735 se comegou a derramar sangue dos magons pela obra de um frade fanstico que denuncion 17 irmaos por conspiracao e heresia. Desde entio os pedreiros livres foram cagados, condenados a morte e atormentados nas formas mais barbaras, até o reinado de José 1 Em Madrid, os primeiros magons foram presos e conduzidos aos cérceres da Inquisigao em 1740: oito deles foram condenados as galés, outros a diferentes penas. A Magonatia foi tolerada e pide prosperar unicamente durante o meneionado reinado de Carlos II (1759-1788), depois do qual se proibiu todo trabalho magénico até a entrada dos fianceses em 1808. No ano de 1750 também floresceu a Magonaria por algum tempo em Portugal, sendo primeiro-ministro do rei José I, Sebastito de Carvalho, depois marqués de Pombal, que tina sido iniciado em Londres em 1744. Este ministro foi muito benéfico para o pais ao qual deu uma constituicao mais liberal, abolindo a Inquisicao e desterrando os jesuitas. Mas com a morte do rei, estes se vingaram fazendo-o cai em. desgraga com a rainha Maria I e, depois de ter sido condenado a morte e anistiado, teve © ex-ministro que abandonar Lisboa com a idade de 78 anos, Tendo a rainha Maria I repristinado a lei de Joao V contra os magons, estes foram novamente perseguidos: alguns puderam escapar, mas outros tiveram que sofier por varios anos as penas da Inquisigao, Apesar disto, algumas Lojas seguiram trabalhando em certos navios ingleses ancorados no porto, um dos quais se fez célebre como Fragata Macénica, Embora nio se ousasse proceder de uma maneira direta 4 execugio dos magons apreendidos, muitos destes morreram nas masmorras, NA ALEMANHA E AUSTRIA Embora Lojas de carater mais transitério tivessem existido na Alemanha também anteriormente (sem falar, naturalmente, das antigas corporagdes de construtores de igrejas), @ primeira que teve certa importancia e duragio parece ter sido a que foi fundada em Hamburgo. em 1737, com o nome francés de Société des acceptés Macons Libres de Ia Ville d'Hambourg. O Bario de Oberg, Venerivel desta, teve no ano seguinte a sorte e a honra de iniciar na Ordem ao principe herdeiro Frederico da Prissia Enquanto o pai deste, entao reinante, havia sempre se oposto 4 introdugao da Magonaria em seus estados, Frederico se fez desde 0 comego seu protetor, e ao subir ao trono em. 1740 declaron publicamente sua qualidade de Magom. A iniciativa do jovem imperador se deveu a fundag%o em Berlim da Loja Os rrés Globos, que em 1744 foi elevada A categoria de Grande Loja Desde entio a magonaria pade se desenvolver livremente nesse pais e se estabeleceram Lojas nas prineipais povoagdes alemis. 19) ‘Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini Em Viena foi findada em 1741, pelo bispo de Breslau, a Loja Os trés Canhoes, 4 qual pertencen o imperador Francisco I, que tinha sido iniciado em Haia, em 1731, por Desagulliers, recebendo mais tarde na Inglaterra o grau de Mestre. O imperador protegeu a Maconaria da qual se fez garante numa ocasitio quando, em 1743, foram presos por ordem de Maria Teresa os membros de uma Loja. Durante a segunda metade do século, na Alemanha como na Franga, houve um especial ardor na criagho de graus suplementares aos trés simbélicos e magénicos propriamente ditos, relacionando a Magonatia com a Ordem do Templo, & qual se pretendeu reconstruir, e com outras tendéncias misticas da mesma época. Nasceu assim, dentre outras, a Ordem da Estrita Observancia, fimdada em 1754, por Karl von Hund, que embora nao tena sobrevivido 4 morte de seu fimdador (em 1776), nao deixou de ter certo éxito e ampla ressonaneia, também fora da Alemanha, durante sua breve existéncia, ¢ seguiu exercendo sua influéncia em outras ordens, como na Martinista, que Ihe sucederam, Todas estas ordens, de efémera duragao, tiveram, entretanto, uma influéneia decisiva na criagio do Rito Escocés, primeiro em 25, e em seguida em 33 graus, cuja instituigao foi falsamente atribuida ao mesmo imperador Frederico, que parece mio haver nunca possuido outros graus que os trés primeiros, desaprovando, além disso, a introdugao de outros graus Entre os homens mais eélebres que, no século XVIII, iniciaram-se na Magonaria na Alemanha, @ escreveram entusiasticamente sobre a Ordem, citamos a Lessing ¢ Goethe, que foram recebidos nela em 1771 e em 1780, respeetivamente. EM OUTROS PAISES DA EUROPA Na Bélgica, a primeira Loja segundo o uso inglés foi a Perfeita Unido, estabelecida em 1721, que se converteu depois em Grande Loja Provineial. ‘Na Holanda jé havia Lojas em 1725, que se regularizaram dez anos mais tarde sob a jurisdigdo da Grande Loja de Londres. Em 1757, a Grande Loja Provineial tinha tteze oficinas e em 1770 se fez. independente. Na Suiga, a cidade de Genebra ¢ seu cantio foram os primeiros onde se formaram Lojas; a vida da Sociedade foi ali muito ativa, mas nao menos agitada por causa das cisdes interiores em que se malgastaram suas energias. Na Suécia, a primeira Loja foi constituida por volta de 1735 pelo Conde Axel Ericson Vrede-Sparre, que tinha sido iniciado em Paris quatro anos antes. Como conseqtiéneia da enciclica papal, o rei Frederico I ameagou castigar com a morte a patticipagao em reunides magénicas, retardando-se assim o desenvolvimento da Tnstituigao. Depois, entretanto, os reis da Suécia se distinguiram em proteger a Ordem, sendo atualmente uma de suas caracteristicas que os monatcas daquele pais unam a esta qualidade a de Grao-Mestres. Uma Grande Loja se constituiu em 1761, reorganizando- se em 1780 com um tito especial de 12 graus, que rege na atualidade, 20 ‘Manual do Companheiro Magom ~ Aldo Lavagnini Na Polonia, introduzida em 1739, foi proibida pouco depois ¢ demorou em propagar-se até o ltimo quarto do século. As Lojas reconheciam a principio a autoridade do Grande Oriente da Franca, e em 1785 se fundou em Varsévia um Grande Oriente nacional, que chegon a ter em poncos anos mais de 70 oficinas Tem-

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