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TEXTO DE APOIO DA DISCIPLINA DE SINTAXE - II

3º ano/1º semestre
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UNIDADE TEMÁTICA I: A estrutura interna dos sintagmas (SN, SV, SPREP, SADJ, SADV)

Introdução

Caro estudante, na presente unidade temática abordaremos acerca da estrutura interna dos
sintagmas nomeadamente: Sintagma Nominal (SN); Sintagma Verbal (SV); Sintagma Adjectival
(SAdj); Sintagma Adverbial (SAdv) e Sintagma Preposicional (SP) mantendo – se presente de
que aprendemos nas classes/níveis ou ciclos anteriores.

Objectivos

No fim desta unidade temática, esperamos que o estudantes sejam capazes de:
♦ Reconhecer a estrutura interna dos sintagmas no Português Europeu (PE) padrão:
♦ Identificar a estrutura interna dos sintagmas no Português Europeu (PE) padrão;
♦ Diferenciar os tipos de sintagmas existentes no PE;

Sumário

1.1 A estrutura interna dos sintagmas

Conforme o que supracitamos acima, na parte introdutória da presente unidade temática, o


sintagma pode ser dividido em cinco diferentes tipos. Cada um representará um específico
elemento da oração, tornando-se o núcleo em cada uma destas.

Assim, importa-nos ressaltar, que o sintagma é a designação de uma sequência em hierarquia


de elementos que constituem a linguística aplicada. Sintagma é o conjunto de palavras
subordinadas aos núcleos das orações. Como toda oração é formada pelo sujeito + predicado, o
estudo do sintagma é uma análise do sentido e da função das palavras que acompanham
justamente o núcleo desse sujeito e o núcleo desse predicado. Estas irão compor uma unidade
de sentença em representação.
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Assim, de acordo com o tipo de unidade a qual é constituída, os sintagmas serão denominados
em:

1. 2 Sintagma Nominal
Os sintagmas nominais fazem referência a um nome e/ou aos seus respectivos envolventes. Em
grande parte, estes estarão representados por um sujeito ou respectivos complementos verbais
de uma dada oração.
Exemplo (1) : Os alunos liam os livros.

Na oração acima é possível verificar a presença de dois diferentes sintagmas. A palavra


“alunos”, que é o núcleo, bem como o complemento verbal em que o objecto directo se
destaca, no caso com o núcleo “livros”.

Então, na oração temos dois sintagmas, que são: [SN os alunos] cujo núcleo é “alunos” e o
complemento verbal representado pelo objecto directo, cujo núcleo é “livros”.
Portanto, não nos devemos esquecer que o núcleo de um sintagma é responsável pela
atribuição da etiqueta sintagmática ao respectivo sintagma, por exemplo, se o sintagma é
nominal (SN) então o nucelo deste sintagma tem como categoria gramatical ou lexical um
nome, caso de “alunos”.

1. 3 Sintagma verbal
O Sintagma Verbal (SV) envolve o predicado ou verbo da própria oração. Nele, o núcleo será o
próprio verbo. O exemplo abaixo especifica muito bem esta situação.

Exemplo (2) : Os pais viajaram.


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Constitui-se, assim, um sujeito “pais”; predicado “chegaram”, em que este será representado,
assim, o sintagma em evidência total.

1. 4 Sintagma Adjectival

Este tipo comporta o complemento nominal e seus referentes advérbios de modificação pelo
predicativo. Este, por sua vez, será introduzido por meio de um verbo de ligação.

Exemplo (3) : Este rapaz é gentil.

O sintagma de adjectivo é percebido, assim, ao ser representado pelo predicativo do sujeito da


oração, no caso “gentil”.

1. 5 Sintagma Adverbial
Nesse tipo, há a formação a partir do advérbio e respectivos modificadores da oração. No
exemplo em questão é possível notar, em princípio, a sentença que inicia a frase.

Exemplo (4) : Jamais deixarei você.

Nesse caso, há a presença do advérbio de negação, representado pelo “jamais”. Este estará
referenciando um sintagma adverbial.

1. 6 Sintagma Preposicional
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Dentre os sintagmas, este talvez seja o mais complexo de ser observado. É constituído a partir
de uma locução prepositiva, a qual serve como modificadora de qualquer outro tipo de
sintagma da oração.

Exemplo (5) : Ela é a responsável pelo cumprimento do regimento.

A locução [SP pelo cumprimento do regimento] representará o sintagma preposicional, em


virtude da locução prepositiva em representação.

UNIDADE TEMÁTICA II: Relações estruturais entre os constituintes: dominância e precedência

Introdução

Depois de reconhecermos e identificarmos os cinco sintagmas existentes no português


europeu padrão, na presente unidade, falaremos acerca das relações estabelecidas entre os
constituintes no interior das sentenças linguísticas, bem como para a sua formação.

Objectivos

No fim desta unidade temática, esperamos que o estudantes sejam capazes de:
♦ Compreender a estrutura dos constituintes frásicos;
♦ Identificar a estrutura das sentenças linguísticas;
♦ Distinguir as relações de dominância e precedência.

Sumário

2.1 Estrutura dos constituintes

A concepção crucial da sintaxe é a de que as orações estão dotadas de uma estrutura interna
que se rege por princípios de hierarquia e linearidade. Isso equivale a conceber a frase como
resultado de combinação de níveis distintos, unidades sintácticas inferiores (os constituintes).
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Raposo (1992) designa estrutura de constituintes como sendo “ a organização de uma frase em
grupos hierárquicos complexos construídos por uma inclusão sucessiva de elementos de nível
inferior e grupos maiores, começando pelos itens lexicais”
Segundo Hernanz & Brucart (1987:26) se a frase fosse uma mera justaposição de palavras, o
vínculo que manteria entre si todas as unidades lexicais que a formam seria idêntico. O
pensamento do autor acima equivale a dizer que não haveria nenhuma estrutura.
Assim, as regras da sintaxe determinam a ordem correcta das palavras numa frase. As palavras
dentro de uma frase podem ser divididas em dois ou mais grupos e dentro de cada grupo em
subgrupos, e assim, sucessivamente, até ficar apenas uma única palavra. Os grupos e subgrupos
constituem agrupamentos “naturais” de palavras.

Exemplo (6): O menino comprou uma bicicleta nova com a mesada.

Na frase acima, as palavras o e menino juntam-se para formar um grupo hierarquicamente


superior (o mesmo acontecendo com uma bicicleta nova e a mesada). A palavra com e a
sequência a mesada, por sua vez, formam outra unidade de nível superior. O verbo comprou e
as duas sequências uma bicicleta nova e com a mesada formam a sequência, comprou uma
bicicleta nova com a mesada hierarquicamente superior aos seus elementos constituintes.
Finalmente, a sequência o menino comprou uma bicicleta nova com a mesada forma a
sequência estruturalmente mais elevada, ou seja, a frase.
A estrutura de constituintes de qualquer combinação de palavras pode representar-se de várias
maneiras: caixa de Hockett, parentetização e diagrama em árvore (ou árvore sintagmática).
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Assim, usando a caixa de Hockett, a estrutura da frase acima é representada da maneira


seguinte:

O menino comprou uma bicicleta nova com a mesada


O menino comprou uma bicicleta nova com a mesada
O Menino comprou uma bicicleta nova com a mesada
O Menino Comprou uma bicicleta nova com a mesada
uma bicicleta nova com a mesada
bicicleta nova a Mesada

(7) Transformando o diagrama obtido, numa árvore (invertida), teríamos o seguinte:


F

SN 1 SN

Art N V SN2 SP

Art N Sadj Prep SN3

adj Art N
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O menino comprou uma bicicleta nova com a mesada

No diagrama acima cada ponto em que a árvore se ramifica há um grupo de palavras que
formam uma parte de um constituinte estrutural. Para além de mostrar a ordem linear das
palavras e outras partes estruturais da frase, uma árvore de constituintes apresenta uma
estrutura hierárquica.
Em certos casos, as árvores de constituintes podem ser usadas para, explicitar certas
construções que se consideram ambíguas.
No diagrama acima, podemos notar que os constituintes mantém entre si, dois tipos de
relações, nomeadamente:
a) Dominância – no sentido vertical
b) Precedência – no sentido horizontal.

A relação de precedência (plano horizontal) acontece quando um determinado constituinte


frásico precede ou aparece antes do outro.

Exemplo:
O constituinte SN1 precede o SV, logo o SV é precedido por SN1. O V precede o SN2, logo o SN2
é precedido por V.
No que diz respeito a relação de dominância (plano vertical) entre os constituintes, aqui
estamos ao nível de hierarquia, acontece quando um determinado constituinte se situa num
nível hierarquicamente superior em relação ao inferior, ou seja domina o seu constituinte
hierarquicamente inferior.
Exemplo:
O constituinte hierarquicamente superior, que é a frase (F) domina os seus constituintes
imediatos, SN e SV, que são constituintes hierarquicamente inferiores ao nó F. Por sua vez, o
SN domina os constituintes hierarquicamente inferiores a este, que são Det. E Nome. O SV que
em termos dominantemente hierárquicos desempenha a função de constituinte superior
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domina três constituintes, a saber: V, SN e SP. Na estrutura de constituintes, a relação de


dominância vai acontecendo de forma sucessiva.
Existem dois tipos de dominância, que são: directa e indirecta. Conforme as terminologias
atribuídas, a relação de dominância directa acontece quando um constituinte que pela sua
natureza é hierarquicamente superior domina directamente um constituinte inferior.
Como forma de demonstrarmos, retomamos o exemplo da frase (F) que domina directamente
os seus constituintes imediatos SN e SV.
Em relação à dominância indirecta acontece quando um constituinte hierarquicamente
superior domina mas não directamente um constituinte inferior, estando para tal, um
constituinte de categoria intermediária, ou seja a ramificação não sai directamente do
constituinte superior, mas sim do seu intermediário, que domina outro constituinte inferior,
havendo deste modo, uma dominância indirecta entre o constituinte máximo e o mínimo.
Como forma de demonstrarmos o que dissemos, o constituinte F domina directamente o SN(
constituinte intermediário) e este por sua vez domina o Determinante (Det.) ou Nome. Uma vez
que estes dois constituintes são dominados directamente pelo SN, então são dominados
indirectamente pela frase .

Exemplo (8): “ O menino comprou uma bicicleta nova coma mesada”. A sentença acima além
de representarmos em árvore, também podemos representá –la parenteticamente ou em
forma de parentetização etiquetada:
[F[SN1O menino][SVcomprou[SN2 uma bicicleta nova [SPcom[SN3um pano]]]]]

2.2 Evidências de Estrutura dos Constituintes

No Português Europeu padrão, a estrutura dos constituintes pode ser validada através dos
testes seguintes:

- Topicalização - deslocamento de um constituinte para a posição inicial. Partimos da frases


básica, a seguir.

Exemplo (9): O João vai comprar o último livro do Chomsky na Borders' amanhã.
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a) Amanhã, o João vai comprar o último livro do Chomsky na Borders'.


b) Na Borders', o João vai comprar o último livro do Chomsky amanhã.
c) O último livro do Chomsky, o João vai comprar na Border's amanhã.
d) Do Chomsky, o João vai comprar o último livro na Borders' amanhã.
e) Comprar o último livro do Chomsky, o João vai amanhã, na Borders'.

- Clivagem: deslocamento de um constituinte para a posição inicial com a utilização do verbo


ser e do conectivo que.

Exemplo (10): O João vai comprar o último livro do Chomsky na Borders' amanhã.

a) É o João que vai comprar o último livro do Chomsky na Borders' amanhã.

b) É o último livro do Chomsky que o João vai comprar na Borders' amanhã.

c) É na Borders' que o João vai comprar o último livro do Chomsky amanhã.

d) É amanhã que o João vai comprar o último livro do Chomsky na Borders'.

- Passivização : consiste na transformação ou passagem de uma sentença da forma activa para


passiva.

Exemplo (11): O João vai comprar o último livro do Chomsky na Borders' amanhã.

Transformando a frase acima para a forma passiva seria:

a) O último livro do Chomsky foi comprado pelo João amanhã na Borders'.

Exemplo (12): O João contou toda a história sobre aquele terrível mal-entendido para a Maria.

Tal como a sentença anterior, podemos transformar a frase acima para a forma passiva:

a) Toda a história daquele terrível mal-entendido foi contada pelo João para a Maria

-Fragmentos de sentenças: que consiste na fragmentação de sentenças sem quebrar o sentido


global da mesma.
Exemplo (13): O João vai comprar o último livro do Chomsky na Borders' amanhã.
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Exemplo (14): A: Quem vai comprar o último livro do Chomsky amanhã?


B: O João.
Exemplo (15): A: O que o João vai comprar amanhã?
B: O último livro do Chomsky.
Exemplo (16) A: De quem o João vai comprar o último livro amanhã?
B: Do Chomsky.
Exemplo (17) A: Quando o João vai comprar o último livro do Chomsky?
B: Amanhã.
Exemplo (18): A: Onde o João vai comprar o último livro do Chomsky?
B: Na Borders'.
Exemplo (19): A: O que o João vai fazer?
B: Comprar o último livro do Chomsky.
Exemplo (20) A: O João vai comprar o último livro do Chomsky amanhã?
B: Vai.

- Pronominalização: consiste na substituição das proformas pelos constituintes sintácticos.

Exemplo (21): O João vai comprar o último livro do Chomsky na Borders' amanhã.
a) Ele vai comprar o último livro do Chomsky na Borders' amanhã. (o João)
b) O João vai comprá-la na Borders' amanhã. (o último livro do Chomsky)
c) O João vai comprar o último livro do Chomsky lá amanhã. (na Borders')
d) O João vai fazê-Io amanhã. (comprar o último livro do Chomsky na Borders')
e) O João vai fazê-Io. (comprar o último livro do Chomsky na Borders' amanhã)

UNIDADE TEMÁTICA III : Noção de estrutura argumental do verbo; a noção de selecção


categorial ou subcategorização

Introdução
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Caro estudante depois de estudarmos aspectos atinentes as relações entre os constituintes, e


testes de identificação de constituintes, nesta unidade vamos recordar um dos temas que
abordamos na disciplina de Sintaxe-I, a selecção categorial ou subcategorização também
conhecida por regência.

Objectivos
No fim desta unidade temática, esperamos que o estudantes sejam capazes de:
♦ Compreender a estrutura argumental dos verbos e outras categorias;
♦ Compreender a noção de selecção categorial dos itens lexicais
♦ Identificar a selecção categorial dos itens lexicais;
♦ Distinguir categorias regentes e categorias regidas;
♦ Distinguir diferentes tipos de complementos seleccionados ou regidos por diferentes itens
lexicais.

Sumário

3.1 Regência

Derivado de reger ˈ governar, comandar, dirigir,ˈ. Em gramática o termo é empregue tanto no


sentido amplo, como no restrito. Assim, no sentido amplo, regência equivale a subordinação
em geral.

Ex: chuva grossa, o substantivo chuva rege , ou , subordina, o adjectivo grossa, e em trabalha
muito, verbo trabalha subordina o advérbio muito. LUFT (2003)

Chuva e trabalha são palavras regentes (subordinantes); grossa e muito, são as palavras
regidas (subordinadas).
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Artigos, pronomes, adjectivos, numerais e (nomes) adjectivos são regidos pelos substantivos,
que lhes comandam a forma pelo processo da concordância nominal.

Ex: o seu primeiro LIVRO encadernado/ a sua primeira OBRA encadernada, os seus primeiros
livros encadernados.

Para Gonçalves & Raposo (2013) regência é a relação de dependência existente entre o núcleo
de um sintagma e os seus complementos. Deste modo, nesta relação o núcleo do sintagma que
é verbo pleno é a categoria regente e os complementos seleccionados por esse núcleo
constituem as categorias regidas.

Parafraseando Simões (2009) A regência cuida das relações que se estabelecem entre os
elementos dentro duma frase. Quando a dependência é directa o verbo é transitivo directo,
porque exige que a ele se concatene um objecto directo (sem ajuda de uma preposição).
Quando a dependência não é directa /indirecta exige que a ele se ligue um objecto indirecto
(com auxilio de uma preposição). De seguida, apresentamos alguns casos de regência:

(i) Atender (no sentido de atenção, ouvir, receber, acolher) usa – se a construção directa
para pessoas e indirecta para objectos, coisas (chamadas, exigências, intimações,
pedidos, reivindicações).
Exemplo (22) : O Edil do município atendeu [ a população].
Exemplo (23) : O Edil do município atendeu [aos clamores da população].

(ii)Precisar (no sentido de tornar preciso rege (OD), no sentido de ter necessidade rege (OI).

Exemplo (24): O mecânico precisou [o motor do carro].


Exemplo (25): Preciso [de um bom mecânico].
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(iii) Aspirar (no sentido de absorver) pede OD, (no sentido de almejar, objectivar) pede OI.
Exemplo (26): A raiz aspirou [a água].
Exemplo (27): Ele aspira [ao cargo de chefia].

(iv) Recorrer (no sentido de pedir socorro ou lançar mão de) pede OD, (no sentido de
interpor recurso, apelar usa se de e para) rege OI.

Exemplo (28): Recorri [a Deus].

Exemplo (29) : Recorri [ para o tribunal administrativo].


Exemplo (30): Recorri [da decisão do tribunal administrativo].

(v) Responder (Nos textos formais usa – se a forma indirecta regida de preposição a,
quando o sentido do verbo for dar resposta a alguma coisa ou alguém)
Exemplo (31): Responda [às questões abaixo].
( Se for para exprimir “teor” a regência é directa).
Exemplo (32) : Tu só respondes [asneiras]. Respondi [o que estava ao meu alcance].

(vi) Namorar.

Exemplo (33): A Sandra namora [o Paulo]. Namorar v: [SN/OD].

(vii) Morar (more, resida, situe - se em).

Exemplo (34): Moro [na rua Capitães de Sena].

(viii) Lembrar e esquecer (usam - se sem preposições quando não estiverem


acompanhados de um pronome na frase).
Exemplo (35) : Lembra [os bons momentos].
Exemplo (36) : Esquece [que ela não te ama].

No entanto, quando os verbos acima estiverem acompanhados de pronomes, então a


preposição de aparece.
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Exemplo (37): Lembras – te [de mim]?


Exemplo (38) : Não te esqueças [de passar por aqui].

(ix) Pôr – selecciona dois complementos obrigatórios, onde um é OD com o papel


temático de tema e outro oblíquo e semanticamente locativo.
Ex:
Há casos que o locativo é realizado como OD.
Ex: pôr a mesa, que significa “ pôr a toalha, os pratos, os talheres, os copos, na mesa.

(x) Passar (verbo com maior número de regência no PE embora mantenha em todos os
seus usos um sentido básico de travessia no âmbito espacial ou temporal).
Exemplo (39): O Cristiano Ronaldo passou [a bola] [ao/para Deco].
Exemplo (40):A bola passou [do Cristiano Ronaldo] [para o Deco].
Exemplo (41):A Svetlana passou [a Lurdes Mutola].
Exemplo (42):Eu passei [por Inhambane].
Exemplo (43):Eu passei [no exame de conclusão].
Exemplo (44):Os meninos passaram [as férias em Inhambane].
Exemplo (45):Aquele acontecimento passou – se [há uma semana], [ em Inhambane].
Exemplo (46):Eu passei [a viver] [em Inhambane].
Exemplo (47):A Marta gosta de passar por [modelo].

3.1.1 Tipos de verbos

Transitivos e intransitivos. Verbos transitivos subdividem – se em transitivos directos e


indirectos.

3.2 Quadros de Regência

No quadro de regência existem diferentes tipos de verbos, a saber:


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(i) Verbos que não seleccionam nenhum argumento – são os que denotam fenómenos
meteorológicos e mudança de uma parte do dia para outra. Ex: chover, nevar, trovejar,
amanhecer, anoitecer.

Exemplo (48): Chove imenso!

Exemplo (49): Anoiteceu cedo.

(ii) Verbos que seleccionam só um argumento – são os que seleccionam um argumento que
normalmente se realiza como sujeito, podendo ser um SN ou uma oração.

Ex: correr, morrer, nascer, tossir, passear, desmaiar, suar.

Exemplo (50): Ele morreu.

Exemplo (51): O Paulo desmaiou.

Exemplo (52): Acontece que as coisas não se passaram exactamente assim.

(iii) Verbos que seleccionam dois argumentos, um com a função de sujeito com a função de
complemento directo, indirecto ou oblíquo.

Exemplo (53:) O Paulo fechou as janelas.

Exemplo (54): Este livro pertence ao professor.

Exemplo (55): O concerto durou duas horas.

(iv) Verbos que seleccionam três argumentos, onde um deles realiza – se como SN sujeito,
enquanto a função e a classe estrutural dos complementos (entre parênteses rectos depende
das propriedades de selecção funcional e de subcategorização do verbo).

Exemplo (56): A Joana ofereceu [um brinde bonito] [ao Paulo].

Exemplo (57): O Professor guardou [o livro] [na estante].


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(v) Verbos que seleccionam quatro argumentos – são os que denotam movimento espacial ou
transacções permitindo a expressão conjunta do agente, do tema, da origem e do destino ( com
verbos de movimento, como transportar e passar) e do agente/origem, do tema, do
destinatário e do valor da transacção (com verbos de transacção, como vender e comprar).

Exemplo (58): O motorista transportou [a minha mobília] [da Beira] [para Maputo].

Exemplo (59): O Pedro vendeu [o telefone]

A regência não somente se circunscreve na categoria verbo, diversas categorias também


podem reger ou seleccionar complemento(s).

Regência Nominal é o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjectivo ou


advérbio) e os termos regidos por esse nome. Essa relação é sempre intermediada por uma
preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em conta que vários nomes
apresentam exactamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo:

- Obedecer a algo/ a alguém.


- Obediente a algo/ a alguém.

A seguir apresentamos vários nomes acompanhados da preposição ou preposições que os


regem. Observe-os atentamente e procure, sempre que possível, associar esses nomes entre si
ou a algum verbo cuja regência você conhece.

Substantivos

Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de

Aversão a, para, por Doutor em Obediência a

Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por

Bacharel em Horror a Proeminência sobre


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Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

Adjectivos

Acessível a Diferente de Necessário a

Acostumado a, com Entendido em Nocivo a

Afável com, para com Equivalente a Paralelo a


Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios

Longe de
Perto de
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Obs.: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são
formados: paralela a; paralelamente a; relativa a; relativamente a.

3. 3 Propriedades de selecção semântica (Selecção –S)

3.3.1 Papéis temáticos

Campos & Xavier (1991:90) papéis temáticos são as relações semânticas ou temáticas que os
argumentos estabelecem com o predicado, visto que estas relações pressupõem a existência de
uma relação semântica central – o Tema.

Toda frase tem um tema, e os verbos podem ser classificados semanticamente em dois grupos:

(i) Verbos de Deslocação ou Movimento e verbos de Localização ou Estativos.

a) A função semântica Deslocação implica a existência de um Tema, Fonte e Alvo. Nestes


verbos observa – se a deslocação de um Tema desde uma Fonte, que é o ponto de partida, para
um Alvo ou estado final.

Exemplo (60): A Rita ofereceu um anel ao Paulo. < Fonte Tema e Alvo>

Exemplo (61): A Rita herdou os bens do pai. <Alvo Tema e Fonte>

A função semântica Deslocação envolve também a ideia de Mudança de estado.

Exemplo (62): A Rita passou de monitora a docente. < Tema Fonte e Alvo>

b) A função semântica Localização implica a existência de um Tema e um Lugar.

Exemplo (63): O Fernando mora na baixa. <Tema e Lugar>

Ela também pode exprimir o estado de posse.

Exemplo (64) : O Fernando tem o telefone. < Tema e Lugar>


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A um complemento está associada somente uma das funções temáticas que integram um
conjunto finito e universal que são:

1. TEMA – entidade sob efeito de uma determinada acção.


Exemplo (65) : A Maria desmaiou. A Maria está a ler um livro.

2. AGENTE – entidade instigadora de uma dada acção.


Exemplo (66) : A Maria comprou um livro. O livro foi comprado pela Maria.

3. EXPERENCIADOR – entidade que é sede de um dado processo psicológico.


Exemplo (67): A Maria ficou triste. Esta notícia entristeceu a Maria.

4. BENEFICIÁRIO – entidade que beneficia de alguma acção.


Exemplo (68): A Maria comprou um livro ao João. O João recebeu um presente.

5. INSTRUMENTO – meio que permite a concretização de algo.


Exemplo (69) : A Maria cortou o pão com a faca.

6. LOCATIVO – local onde está situado ou acontece.


Exemplo (70) : A Maria comprou esse livro em Londres. <Fonte Tema alvo/Locativo>

7. DESTINO – entidade em direcção à qual algo se desloca ou é deslocado.


Exemplo (71) : O Pedro passou a manteiga à Maria. Alvo/locativo

8. ORIGEM – entidade a partir do qual algo se desloca ou é deslocado.


Exemplo (72) : A Maria regressou de Paris. Origem ou fonte
A Maria comprou o carro ao António. Origem ou fonte
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UNIDADE TEMÁTICA IV: A Sintaxe X – Barra/Teoria X'

Introdução
Na presente unidade vamos abordar acerca da Sintaxe X-Barra também conhecida por Teoria
X'. Antes de compreendermos o conteúdo da presente unidade gostaríamos de realçar que a
esta teoria é semelhante a representação tradicional da frase embora se distingam nos níveis
de representações.

Objectivos

No fim desta unidade temática, esperamos que o estudantes sejam capazes de:
♦ Compreender a teoria X-Barra;
♦ Identificar os elementos constitutivos da teoria X-Barra;
♦ Identificar os níveis de representação dos sintagmas segundo a teoria X-Barra;
♦ Reconhecer e identificar Estrutura Geral das Categorias Sintagmáticas

♦ Distinguir a representação X-Barra da representação tradicional.

Sumário
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4. 1 A Sintaxe X – Barra/Teoria X'

Desenvolvimento teórico dentro da gramática generativa proposto por Chomsky (1970) que
consiste na inclusão de categorias de nível intermédio posicionadas entre as categorias
mínimas (as categorias lexicais) e as categorias máximas (as categorias sintagmáticas). Estes
desenvolvimentos reflectiram-se numa alteração do formalismo de representação sintáctica
pré-existente, que passou a ser designada por convenção X-Barra.

No âmbito da Gramática Generativa, a parte da gramática que regula a estrutura dos sintagmas
denomina – se Teoria X'.
De acordo com a convenção X' apresentada por este autor é de que todas categorias
sintagmáticas baseadas em categorias lexicais principais são as realizações de um único
esquema sintáctico abstracto, em que se reconhecem três níveis hierárquicos, ao invés de dois,
ou seja, duas projecções sucessivas das categorias lexicais.
Concretizando o pensamento de Chomsky (1970) propõe que os elementos modificadores das
categorias lexicais pertencem a duas classes distintas, que são: a dos Complementos e
Especificadores.

4.2 Estrutura Geral das Categorias Sintagmáticas

Raposo (1992:159) afirma que “ as categorias lexicais principais como Nome, Verbo, Preposição
,Adjectivo e Advérbio são os elementos centrais das categorias sintagmáticas que lhes
correspondem: SN, SV, SP, S adjectival e S adverbial.”
Por conseguinte, as categorias ora mencionadas podem ser representadas através do esquema
ou fórmula seguinte:
X''
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Espec, (α) X'

X Complemento (β)

Núcleo

Onde : X'' = Especificador + X'


X' = X + Complemento
De acordo com o esquema acima, podemos assumir que:
1. Existem três (3) lugares disponíveis, que são: de especificador, núcleo e complemento.
2. Existem três (3) níveis hierárquicos, que são:
Nível º − X
Nível 1 − X'
Nível 2 − X''
3. Todas categorias sintagmáticas são compatíveis a um esquema geral e único, o que varia
é o conteúdo. Ex:
a) N'' b) V'' c) P'' d) Adv ''

…. N' …. V' ….. P' …. Adv'

N ….. V … P ….. Adv …..


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4. O núcleo de um sintagma é o único que dá nome ao sintagma enquanto os


especificadores e complementos podem ser vários.
5. Existem diferentes níveis hierárquicos entre os elementos. O complemento subordina –
se directamente ao núcleo (N, P, Adj, Adv) e não a ( SN, SP, SAdj, SAdv) e o
especificador especifica não somente o núcleo, como também o bloco que o constitui.

Representações das Categorias Sintagmáticas


a) O Sintagma Nominal [[O Rei da Suazilândia] [chegou]]
N''
D N'

N P''

P'
P N''
N'
D N
O Rei de + a Suazilândia

b) O Sintagma Verbal [O Carlos [tem lido os jornais ]]

V''

V.aux V'

V.princ N''

D N'

tem lido os jornais


25

c) Sintagma Adjectival [ [O jogadores estão [muito satisfeitos com o prémio]]


Adj''
Adv Adj'
Adj P''
P'
P N''
D N'
muito satisfeitos com o N prémio
d) O Sintagma Preposicional [ Ela está [totalmente contra a proposta]]
P''
Adv P'
P N''
D N'
N

totalmente contra a proposta


26

BIBLIOGRAFIA

ABRAHAM, Werner. Diccionario de Terminologia Lingüística Actual. Editorial Gredos, Madrid,


1981.
CAMARA JR., J.M. Dicionário de Linguística e Gramática. 14ª edição, Vozes, Petrópoles,1988.
CAMPOS, M.H

CAMPOS E XAVIER,M.F. Sintaxe e Semântica do Português. Universidade Aberta, Lisboa, 1991.


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Portuguesa. Caminho, Lisboa, 1996.
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HERNANZ, M.L. & BRUCART, J.M. La Sintaxis. Editorial Crítica, Barcelona, 1987.
RAPOSO, E.P. Teoria da Gramática: A Faculdade da Linguagem. Editorial Caminho, Lisboa, 1992.
27

VILELA, Mário. Gramática da Língua Portuguesa. Almedina, Coimbra, 1999.

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