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cristina.paludo@iffarroupilha.edu.br
1. Introdução
Vivemos em uma sociedade em rede onde o novo paradigma conferido para essa nova
cultura se entrelaça com a produção e disseminação da informação. Essa onda de
disseminação da informação em um mundo cada vez mais conectado tem seus prós, pois
gera oportunidades e facilidades para organizações e indivíduos, mas tem um efeito
oculto.
Se por um lado a cultura digital potencializa novas formas de interação, novos
tipos de sociabilidade, novas possibilidades e oportunidades, por outro viabiliza também
novos riscos. É um palco onde diariamente se experimentam “oportunidades arriscadas”
(Livingstone, 2013). Este fato é extraordinariamente evidente no mundo juvenil.
Evidências empíricas, obtidas por meio de alguns estudos, nacionais e internacionais,
revelam que para a net generation, os digital natives, millennials ou a thumb tribe o
digital é a vida em tempo real (Eisenstein e Da Silva, 2016; Livingstone et al, 2014;
Madden et al, 2015). Em um nível global, registram-se padrões comuns no mundo
digital: a massificação do acesso é impressionante e a intensidade do uso da internet é
surpreendente. É um dado incontestável: a vida dos jovens é/está profundamente
midiatizada e essa midiatização passa, em larga escala, pelo digital.
Apesar do uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs)
proporcionar indiretamente o desenvolvimento social e cultural, paralelamente a esta
evolução, vê-se surgir pessoas que têm usado esse avanço para a prática de atos danosos.
Roubo de dados, perseguições, uso indevido de imagem, cyberbullying, são apenas
alguns dos riscos aos quais os internautas estão expostos todos os dias. Esses crimes têm
como principal elemento a falta de conhecimento dos usuários das redes. Sem o
conhecimento necessário para aferir sobre quais atitudes tomar diante dessa nova
realidade, o usuário torna-se facilmente manipulável.
Consoante a esta realidade, percebe-se oportuno fomentar no âmbito escolar
reflexões envolvendo o tema Segurança da Informação, disseminando e popularizando
novas posturas e boas práticas no mundo digital entre os jovens. E é nesse cenário que se
insere este artigo, que apresenta o relato de uma experiência realizada com alunos do
ensino médio de uma escola pública com vistas à educação em prol da formação de um
cidadão conectado e ciente dos riscos e vulnerabilidades que a sociedade em rede oferece.
Tal trabalho insere-se no rol de estratégias existentes que visam fortalecer a
educação digital. Entre os trabalhos relacionados pode-se citar o jogo para auxílio no
ensino de conceitos relacionados a Segurança na Internet para Crianças e Adolescentes
proposto por Farias (2019), bem como a história em quadrinhos elaborada por Cruz
(2017) em que é abordado o enfoque social da segurança da informação. Carvalho et al
(2017) propõem uma reflexão sobre a necessidade de um melhor embasamento sobre a
Segurança da Informação pela comunidade escolar, bem como fundamenta a necessidade
de debates, capacitações e até mesmo a criação de disciplinas para tratar adequadamente
o assunto.
Cabe destacar, por oportuno, que a abordagem adotada neste trabalho se difere das
propostas por Farias (2019) e Cruz (2017), mas convergem com as ideias apresentadas
por Carvalho et al (2017), uma vez que promove uma Campanha de Conscientização
junto à comunidade escolar com estratégias que compreendem a produção de material
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informativo, entrevistas em rádio, divulgação em redes sociais, dentre outros. Além disso,
às ações alinham-se às competências e premissas específicas da Computação na Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) em que a exposição de conceitos inerentes à
Segurança Digital perpassa pelos diversos níveis da Educação Básica a fim de
desenvolver as habilidades necessárias do século XXI.
Uma descrição mais detalhada das práticas desenvolvidas é apresentada nas seções
subsequentes. A seção 2 descreve os procedimentos metodológicos adotados. A seção 3
apresenta os resultados do diagnóstico realizado e o plano de ação proposto, enfatizando as
práticas sendo desenvolvidas e/ou em desenvolvimento. Por fim, a seção 5 apresenta as
considerações finais.
2. Procedimentos Metodológicos
A inspiração para o desenvolvimento do presente trabalho surgiu a partir da aplicação de
uma atividade diagnóstica no escopo da disciplina Segurança em Sistemas de
Informação, ofertada para uma turma do 3º ano de um Curso Técnico Integrado em
Manutenção e Suporte em Informática. Ao analisar os resultados da atividade constatou-
se que, em uma turma com 24 alunos, apenas 5 deles possuíam conhecimentos básicos
em relação às medidas de segurança da informação.
Este fato incitou reflexões sob diversos aspectos que podem ser expressos por
meio das seguintes questões: (a) quais são os conhecimentos dos jovens a respeito do uso
seguro da Internet e seus recursos? (b) como se estabelece a articulação dos professores
para a promoção de práticas pedagógicas, independente da área e/ou curso, que envolvem
o tema segurança da informação?
Tais indagações e reflexões impulsionaram o desenvolvimento de um projeto que
abarcou uma equipe composta por 24 alunos do 3º ano e a docente e que repercutiu em
toda a comunidade escolar. O tema foi inicialmente abordado junto aos integrantes da
equipe para que pudessem compreender a importância da Segurança da Informação, seus
principais conceitos e exemplos de riscos e vulnerabilidades. Além das aulas expositivas,
diversos recursos multimodais foram explorados com o intuito de ampliar o horizonte de
conhecimento dos alunos, a citar, vídeos, documentários, depoimentos de casos reais,
notícias, palestra com especialista e cine-debate envolvendo o filme “Privacidade
hackeada”.
Após a exploração dos conceitos fundamentais que permeiam o contexto da
Segurança da Informação, a equipe foi desafiada a realizar um diagnóstico envolvendo a
comunidade escolar com o objetivo de estimar o nível de maturidade dos alunos em suas
práticas de segurança da informação e, principalmente, fundamentar a necessidade de um
tratamento mais adequado ao tema nessa instituição de ensino.
Nesta etapa, o projeto fundamentou-se numa pesquisa aplicada, objetivando gerar
conhecimentos para tomada de ações relacionadas ao uso seguro de dispositivos
computacionais conectados em rede. Utilizou-se uma abordagem social empírica
participativa estabelecendo relações comunicativas com discentes e docentes do 1º, 2º e
3º anos do ensino médio, que formaram o espaço amostral.
A fim de inferir sobre as medidas de segurança adotadas pelos participantes, bem
como seus conhecimentos e experiências em relação ao uso e disseminação de
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informações que trafegam pela rede. Este último índice merece atenção se considerarmos
que o não uso do mecanismo pode expor dados sensíveis do usuário, tais como número
de cartões de créditos, senhas de acesso, número de documentos, dentre outros.
O funcionamento dos cookies, utilizados, geralmente, para rastrear a navegação
do usuário, não foi identificado por 65% das pessoas pesquisadas, com esse percentual
chegando a 52% entre os alunos do Ensino Médio. Considerando que nem todo tipo de
cookie é seguro, essa é uma estatística perigosa. Tais índices são preocupantes e
evidenciam a necessidade de direcionamentos mais específicos para amenizar a falta de
informação.
A análise dos dados foi realizada considerando o público como um todo, com
ressalvas relacionadas ao perfil específico de docente que levou em consideração as
questões acrescidas ao questionário com vistas a averiguar a atuação docente em relação
à Segurança da Informação. A pesquisa mostra que apesar de 100% dos professores
considerem importante a discussão sobre o tema com o público jovem, apenas 35% deles
afirma ter abordado sobre o tema com seus alunos. Os demais justificam o fato de não se
sentirem preparados para debater o assunto (53%) ou julgar que o assunto foi tratado em
alguma outra disciplina (3%). Além de aproximadamente 9% alegar que nunca havia
pensado sobre essa questão.
A partir dos resultados do processo de análise foi possível definir um conjunto de
ações embasado no diagnóstico sobre as carências de conhecimento ou habilidades do
público-alvo em relação ao tema abordado, o que nos permite produzir uma abordagem
de conscientização dos problemas existentes relacionados ao mundo digital. Assim o
plano de ação proposto abarca práticas que se complementam com a intencionalidade de
produzir conhecimento crítico necessário para gerar medidas de amadurecimento que
viabilizem dirimir os problemas diagnosticados.
A proposta de tais práticas se respalda nas competências e habilidades previstas
pela BNCC e incluem atividades que buscam estimular o desenvolvimento das seguintes
habilidades:
Analisar criticamente artefatos computacionais, sendo capaz de identificar as
vulnerabilidades dos ambientes e das soluções computacionais buscando garantir
a integridade, privacidade, sigilo e segurança das informações;
Acessar as informações na Internet de forma crítica para distinguir os conteúdos
confiáveis de não confiáveis;
Entender como mudanças na tecnologia afetam a segurança, incluindo novas
maneiras de preservar sua privacidade e dados pessoais online, reportando
suspeitas e buscando ajuda em situações de risco;
Reconhecer o potencial impacto do compartilhamento de informações pessoais ou
de seus pares em meio digital;
Conhecer as possibilidades de uso seguro das tecnologias computacionais para
proteção dos dados pessoais e para garantir a própria segurança e,
Reconhecer a importância de verificar a confiabilidade das fontes de informações
obtidas na Internet.
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todos aprendem com todos e fazer emergir boas possibilidades de uso da Segurança da
Informação pelo grupo.
Ainda, dentro das estratégias presentes no plano de ação do projeto em
desenvolvimento, está a produção de uma peça teatral. A peça é uma adaptação da
história do chapeuzinho vermelho e tem por objetivo explorar os conceitos básicos sobre
cibersegurança junto ao público infanto-juvenil. O roteiro da história está sendo escrito
com apoio com a professora de Artes da escola, com a participação de 10 alunos do 3º
ano que integram a equipe do projeto.
4. Considerações Finais
Na BNCC, define-se competência como a mobilização de conhecimentos
(conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais),
atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana (Brasil, 2018).
Entre as dez competências gerais relacionadas no documento, destaca-se, na discussão
deste artigo, as seguintes competências:
Competência 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e
comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas
sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações,
produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida
pessoal e coletiva;
Competência 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis,
para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que
respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo
responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao
cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
Ambas as competências reforçam o papel da escola no desenvolvimento da
competência informacional e evidenciam a importância de compreender a abrangência
que a temática “segurança da informação” alcança. Neste sentido, este artigo apresenta
um plano de ação que, apesar de denominado “Campanha de Conscientização”, abarca
práticas que abordam o tema utilizando-se de variadas estratégias a fim de explorar a
diversidade de assuntos que envolvem a temática.
Os dados apresentados apontam o caminho: a educação como estratégia para
minimizar riscos e maximizar capacidades e competências digitais colocando em
evidência a necessidade urgente de alertar os indivíduos para reconhecer situações de
segurança da informação e agir corretamente, garantindo a sua inclusão digital de forma
competente, responsável e segura.
Sob essa perspectiva, além da campanha em si, realizada a partir da elaboração de
produtos educacionais como cartazes, folders, publicações e entrevistas, são propostas
ações de formação de professores por meio de cursos e oficinas, desenvolvimento de
solução computacional por meio dos chatbots e, também atividades culturais de cunho
educativo na forma de peça teatral. Com esse arsenal de possibilidades busca-se preparar
alunos e professores para fazerem análises críticas sobre as tecnologias a que têm acesso,
sendo capazes de identificar os riscos a que estão expostos, seja por meio do
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Referências Bibliográficas
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
Castells, M. (2006). A Sociedade em Rede: do Conhecimento à Política. In Castells, M.,
& Cardoso, G. (orgs.). A Sociedade em Rede: do Conhecimento à Acçaõ Polit́ ica
(pp.17-30). Lisboa: Debates, Presidência da República.
CRESPO, Marcelo Xavier de Freitas. Crimes digitais. Rio de Janeiro: Saraiva. 2011.
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