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Revista Brasileira de Ensino de Fisica, vol. 18, n° 4, dezembro, 1996 313 A “Nova Teoria sobre Luz e Cores” de Isaac Newton: uma Tradugéo Comentada (Isaac Newton's “New theory about light and colours’: a commented translation) Cibelle Celestino Silva e Roberto de Andrade Martins” Grupo de Historia e Teoria da Ciéncia, Departamento de Raios Césmicos ¢ Cronologia, Instituto de Fisica “Gleb Wataghin’, UNICAMP, Caiza Postal 6165, 9081-970 Campinas, SP ‘Trabalho recebido em 16 de maio de 1996 Este artigo apresenta e discute o primeiro trabalho publicado por Newton descrevendo sua concepsao sobre a natureza da luz branca e das cores. trabalho de Newton foi impresso nas Philosophical Transactions of the Royal Society of London em 1672. As idéias de Newton tiveram grande repercussdo e levaram a uma intensa discussao, pela sua grande novidade e complexidade. O estudo do artigo original de Newton é util para o ensino de éptica, permitindo verificar dificuldades conceituais associadas & teoria das cores. Abstract This article presents and discusses Newton’s first. published work on the nature of white light and colours. Newton’s paper was published in the Philosophical Transactions of the Royal Society of London in 1672, Newton’s ideas had a strong impact and led to an intense discussion, due to their novelty and complexity. ‘The study of Newton’s original paper is useful for teaching Optics. It allows the teacher to notice some conceptual difficulties of colour theory. I Introducao ‘Todos nés ja tivemos a agradavel experiéncia de ob- servar um arco-iris ou mesmo a formag&o de um es pectro colorido apés a passagem da luz solar pot-um. prisma. O fenémeno de formagio de cores devido a re- fraglo foi esclarecido por Newton em meados do século XVIL O primeiro artigo escrito por Newton sobre esse as- sunto foi publicado em 1672 nas Philosophical Transac- tions of the Royal Society (NEWTON 1762). Apresen- taremos aqui uma tradugao completa, comentada, desse famoso artigo. Conforme o préprio Newton informa nesse trabalho, le nao foi o primeiro a observar as cores produzidas pot um prisma, De fato, o fendmeno ja era conhecido, pois, le afirma que obteve “um Prisma de vidro Triangular Enderegos eletronicos do 1BOYLE, 1964, GRIMALDI, 1665, HOOKE, 1665. para tentar com ele 0 célebre Fenémeno das Cores”. ‘A formagio do espectro colorido apés a passagem da luz por um prisma ja havia sido discutido por pelo menos quatro filésofos naturais: René Descartes em sua La Dioptrique (1637), Robert Boyle em seu li- vro Experiments and considerations touching colours (1664), Francesco Maria Grimaldi em Physico-mathesis de lumine (1665) ¢ Robert Hooke em sua Micrograp- hia (1665). No entanto, esses estudos, que eram qualitativos e sem um aprofundamento matemético geométrico, nao levaram & explicagao atualmente aceita para o fenémeno, ‘A explicagio apresentada por Newton em 1672 para esse fendmeno é a hipétese de que a luz branca é uma mistura heterogénea de raios de todas as cores. O prisma simplesmente separa a luz branca em seus raios watores: cibelle@ifi unicamp br e rmartins@ifixunicamp.br. 314 ‘componentes sem produzir nenhuma mudanga no feixe de luz. branca. Atualmente, 0 estudo da teoria de luz e cores faz, parte do ensino de dptica e esta presente nos livros- texto de Fisica de segundo grau universitarios. Esses livros geralmente descrevem o experimento de dispersio da luz branca por um prisma: quando nm feixe de luz branca incide num anteparo apés passar por um prisma podemos observar nesse anteparo um espectro colorido alongado com as mesmas cores presentes no arco-iris. Esse experimento é apresentado como “prova” de que a luz branca é uma mistura de raios coloridos. © objetivo principal dessa tradugdo comentada é mostrar que a hipétese da composi¢ao da luz branca aceita por todos nao é tao simples como os livros apre- sentam. A anélise do experimento de Newton pode resultar em varias interpretagdes e hipéteses distintas que explicam igualmente bem os fenémenos. Como veremos pelos comentarios feitos ao longo da tradugio, outros elementos experimentais e tedricos so necessérios para se decidir entre as possiveis hipdteses. Os livros-texto nao apresentam uma discussio detalha- da da questo, afirmando a composigao da luz como verdade inquestiondvel. O estudo histérico da questo nos mostra que o de- senvolvimento e aceitagéo dessa hipétese foi altamente problematico’. Logo apés a publicagdo do artigo de Newton em 1672 nas Philosophical Transactions, varias pessoas apresentaram criticas & sua hipétese (entre elas © padre Pardies, Hooke e Huygens). Essas criticas ques- tionaram os préprios experimentos apresentados por Newton, bem como sua interpretagao desses resultados, Somente através do experimento simples de formagio do espectro colorido com um prisma nao é possivel con- cluir que a luz branca ¢ uma mistura heterogénea de raios com cores ¢ refrangibilidades diferentes. . O estudo de um texto histérico como este tem duas importantes fungées. Por um lado, ele permite cap- tar 0 proceso de elaboracao e fundamentagéo de uma nova proposta cientifica, com todas as suas dificulda- des que ficam ocultas nas descrigées didaticas ou po- pulares. E possivel perceber quao complexo é 0 traba- Iho de Newton, ¢ quao distante ele se encontra de um empirismo ingénuo. Por outro lado, hé uma evidente utilidade didética nesse texto. Quando acompanhado por informaces complementares, ele pode ser lido com proveito por estudantes (especialmente de nivel uni- versitatio), proporcionando um vislumbre concreto dos Uma boa obra de referén NEWTON, 1959-1977, vol 1, pp. 92-107. C. Celestino Silva e R. de Andrade Martins 0 trabalho de Newton foi escrito como uma carta a Oldenburg, o editor da revista da Royal Society. O texto dessa carta foi publicado na Correspondence? de Newton e é quase igual ao texto que foi publicado em 1672, A versio usada para esta tradugio é a que foi publicada nas Philosophical Transactions of Royal So- ciety of London em 1672 e reeditada nos Papers & Letters (pp. 47-59). Comparamos a versio publicada nas Transactions com a publicada na Correspondence. Agradecimentos Um dos autores (C. C. S.) agradece ao prof. André Koch Torres de Assis pelos preciosos comentarios ¢ & CAPES-MEC pelo apoio financeiro Il. Tradugio C075) PHILOSOPHICAL TRANSACTIONS. Hebrary 19. Lg Sse esse suena ere bi a Ei Tepeca neers fe ie s eon i) im ieee vo dnat i Easritpran cod ic daa tinbet, Cerin. Palbddew. N. Aseni te Grind INSTITUTIo PHILOSOP FLA fecundteapincpia Reas Den Caress nod mthde aderace 9 erpzae, Ul de Efiy 10 te ddvonement of MUSICK by Thoas Ssleo0 3.4 ‘Adetriommt abet Theo Segrawas, Anodes firth Trelis Gi toe tor. Fat aneea ney eae ieee niger sence “s ih eed cayenne oan fe “Silent pe Len fe sgesteraat ete tend dee eee Serre a treated ae Gere "cetars Figura 1. Primeira pagina do artigo de Newton, publicado em 1672 na revista Philosophical Transactions of the Royal Society of London. ‘sobre a histéria da dptica no perido é SABRA, 1981. Revista Brasileira de Ensino de Fisica, vol. 18, n° 4, dezembro, 1996 315 {p. 3075]* Uma carta do Sr. Isaac Newton, professor de Ma- temética na Universidade de Cambridge; contendo sua Nova Teoria sobre Luz Cores: enviada pelo Autor para 0 Editor de Cambridge, 6 de fevereiro de 1634; para ser comunicada a R. Society®. SENHOR, Para cumprit minha promessa anterior, devo sem mais ceriménias adicionais informar-Ihe que no comeco do Ano de 1666° (época em que me dedicava a polit vidros épticos de formas diferentes da Esférica), obtive um Prisma de vidro Triangular para tentar com ele 0 célebre Fenémeno das [p. 3076] Cores”. Para esse fim, tendo escurecido meu quarto e feito um pequeno buraco na minha janela para deixar entrar uma quantidade conveniente de luz do Sol, coloquei meu Prisma em sua entrada para que ela [a luz] pudesse ser assim refratada para a parede oposta. Isso era inicialmente um diverti- Elas terminavam dos lados em linhas retas, mas nas extremidades o enfraquecimento da luz era téo gradual que era dificil determinar corretamente qual era a sua 10 forma; no entanto pareciam semicirculares. Comparando 0 comprimento deste Espectro [Spectrumf* colorido com sua largura, encontrei-o aproximadamente cinco vezes maior, uma despro- porgéo tio acentuada que me excitou a uma curio- sidade mais que ordindria de examinar de onde ela poderia proceder!?, Pensei que dificilmente as varias Espessuras de vidro, ou a terminagio com sombra ou escuridao, poderiam ter qualquer Influéncia na luz para produair tal efeito. Entretanto pensei que nao era im- procedente examinar aquelas citcunstancias, ¢ assim testei o que aconteceria transmitindo luz através de partes do vidro de diversas espessuras, ou através de buracos na janela de diversos tamanhos, ou colocando © Prisma fora, para que a luz pudesse passar através mento muito prazeroso: ver as cores vividas e intensas _ ele € ser refratada antes de ser limitada pelo buraco assim produzidas; mas depois de um tempo dedicando- ‘Mas nao encontrei nenhuma dessas circunstancias sig- nificativa. A aparéncia das cores era em todos esses casos a mesma. me a consideré-las mais seriamente fiquei surpreso por vélas em uma forma oblonga que, de acordo com as leis aceitas da Refracéo®, esperava que deveria ter sido circular? Entao suspeitei se por alguma irregularidade no vi- dro ou outra irregularidade contingente essas cores po- “Para permitir uma fil comparagio com o original, o inicio de cada pagina do artigo (conforme a paginagdo da revista Philesophicel Transections of the Royal Society of London) ser& indicado entre colchetes. VAté 1762 o ano novo comesata em 25 de margo na Inglaterra. Enquanto grande parte da Europa jé havia adotado o calendério sregoriano. Inglaterra persistiu no xo do calendécio juliano até 1762. Para indicar datas até o dia 25 de margo usava-se uma indicagio de ano na qual apareciam dois nimeros,o primeiro indicando o ano no calendario juliano e o outro no ealendario gregoriano. Apés 25 de marco usava-se apenas o ano comum a ambos os ealendvos. Nessa cpoce (1666), Newton estava eatidando no Trinity College. © tom biogréfico com o qual Newton apresentou suas experigncias com prismnas gerou uma discussdo entre historiadores da ciéncia tas como Ruppert Hall e Thomas S. Kuhn. Antes de 1666 Newton jé fazia experiéncias com Iuz, cores e prismas. Bssas experiéncias estZo descritas no livro de anotagies que Newton mantinha nessa época (veja Me GUIRRE e TAMNY, 1983). Hall acredita que Newton descobriu a relagao entre cor e indice de refragio observando dois fos de cores diferentes através de um prisma, enquanto Kubn acredita que Newton chegot a essa relagio passando um feixe de luz branca través de umn prisma, Sobre essa divergéncia veja a Introduséo de Thomas S. Kuhn para os escrtos épticos de Newton, em COHEN & SCHOFIELD, 1978, p. 92. TMantivemos o uso de Newton das letras maiésculase itdlico em algumas palavras Newton extd se referindo lei dos senos (sen i / sea t = n), descoberta por Willbrord Snell (1591-1626) entre 1621 ¢ 1625 e publicada primeiramente por Descartes em sia Le Dioptrique em 1637, quate mile quinhentes anos apés Ptolomeu tentar estabelecer uma ‘experimental de refragao. As investigagGes de Ptolomen continuaram com os arabes Tbn al-Haytham e Witelo e com Kepler que teceu consideragSes LeGricas sobre a refragao. Existe uma discussie sobre se Descartes viu ou néo os manuscritos de Snell antes de publicar sua Ieida refracéo. Como nio existe documentagao suficiente para se decidir sobre a prioridade da descoberta da lei dos senos, a descoberta ¢ atribuida a ambos independente. Sobre os estudos da refragio de Descartes, Fermat seus antecessores veja SABRA, 1981, cap. SHIRLEY, 1951 e LOHNE 1958. ‘Este é um ponto fundamental de todo o trabalho de Newton, mas que nao fica muito claro no artigo. Por que motivo Newton csperaria que a marcha huminosa produida pela refragio da luz solar no priama fosse circular endo alongada? A resposta detalhada, {tie nio ¢ apresentada neste artigo de Newton, foi desenvolvida por ele em outros escritos (NEWTON, 1964). Nas condigSes em que Newton realizava o seu experimento, é possivel provar que o feixe emergente do prisma deveria ser cénico, com a mesma abertura que o cone subentendido pelo disco solar, caso todos os tipos de raio sofresem a mesma refragio no prisma. 10) aparéncia visual do espectro nao é exatamente como Newton descreve. Sua descrigio parece ser baseada mais em expectativas teéricas do que em mera observagio. Visualmente, 0 espectro tem uma aparéncia parecida com uma gota. Sobre a forma do espectro abservado por Newton veja LOHNE, 1968. 1B latim, no original. Newton foi o primeiro a usar a palavra spectrum com o significado de uma banda colorida formada por um fee de luv branca apée atravessar um prisma, Até entho'a palavra spectrum era Usada para designar uma aparigSo ou um fantasma (The compact edition of the Osford English Dictionary, vol 2. p. 2952), "Neste artigo, Newton ests migerindo que sua investigagio se originou da anélise de alongamento do espectro luminozo ¢ do es- tudo de varian explicagées possivels para o fendmeno. Os manuscrites de Newton que foram conservados (Me GUIRRE e TAMNY, 1083) indicam que stas primeirasidéias sobre relagho entre cores e diferenca de refrangibilidade se originaram de um modo diferente ~ sproximadamente como indicado na proposigao 1 do livro Optics (NEWTON, 1952). 316 deriam ser dilatadas assim'®, E para testar isso, tomei outro Prisma semelhante ao primeiro ¢ coloquei-o de tal modo que a luz passando por ambos piudesse ser refratada de maneiras contrérias e assim, pelo ultimo, retornar ao caminho do qual o primeiro a desviou. Pois Por essa maneira pensei que os efeitos regulares do pri- meiro Prisma seriam destrufdos pelo segundo Prisma, ‘mas os irregulares mais aumentados, pela multiplici- dade de refragées. Aconteceu que a luz que era difun- dida pelo primeiro Prisma em uma forma oblonga, foi reduzida pelo segundo a uma [forma] arredondada com tanta regularidade como quando nao passava por eles. Assim, fosse qual fosse a causa daquele comprimento, nao era qualquer irregularidade contingente.-[p. 3077] Entao prossegui a examinar mais criticamente o que poderia ser afetado pela diferenca na incidéncia dos Raios vindos de diferentes partes do Sol. E para esse fim medi as varias linhas e angulos pertencentes & ima- gem. Sua distancia do buraco ou Prisma era 22 pés; seu comprimento maximo 13} polegadas; sua largura 23 ; 0 diametro do buraco } de polegada; os raios que se diri- giam ao meio da imagem formavam o Angulo de 44° 56” com as linhas em que teriam avangado sem refragio!* Eo Angulo vertical do Prisma, 63° 12°. Também as Refragdes em ambos os lados do Prisma, isto 6, dos Raios Incidentes e Emergentes, eram tao préximas quanto pude fazé-las!® e con- E os Raios inci- diam perpendicularmente!” sobre a parede!®. Ora, subtraindo 0 diametro do buraco do comprimento e seqiientemente cerca de 54°46 C. Celestino Silva e R. de Andrade Martins largura da Imagem, restam 13 polegadas de compri- mento ¢ 23 de largura, compreendidas por aqueles Raios que passaram através do centro do dito buraco e conseqiientemente 0 angulo do buraco correspondente Aquela largura era 31’, compativel com o Diametro So- lar. Mas o Angulo que esse comprimento subentendia era mais que cinco veres tal diametro, ou seja, 2°49! 0, para o primeizo experimento descrito em seu artigo de 1672: um feixe de luz solar passa por um prisma ¢ forma uma mancha colorida alongada na parede oposta de um quarto ‘Tendo feito essas observagdes, primeiro computei delas 0 poder refrativo do vidro e encontrei-o medido pela razéo dos senos, 20 para 311°. E entdo, por aquela 15 hipbtese que Newton vai discutir agora é a: do prisma, como bolhas de ar no vidro ou imperfe sto é, 0 desvio sofrido pelos raios incidentes era 6 = 44°56! 2Quando os angulos de incidéncia e de emergéncia séo iguais dizemos que o prisma est ajustado na posigio de minimo desvio dos raios. Nessa posicdo, pequenas variagies no angulo de incidéncia néo afetam o Angulo de emergéncia de raio luminoso. A demonstracio deste fato em linguagem moderna pode ser encontrada em varios livros bsicos de éptica, por exemplo em ALONSO & FINN, 1972, vol 11, pp. 407-8. \8Provavelmente Newton calculou o valor dos angulos de incidéncia e emergéncia de acordo com a éptica geométrica que estabelece que 6+ A= i+r, onde 6 € 0 desvio sofrido pelo raio incidente, A o angulo vertical do prisma, i o Angulo de incidénciae ro angulo de ‘emergéncia. Como i = r temos que 26 = 5+ A = 108°8'. *7Quando a luz nao incide perpendicularmente sobre o anteparo a imagem formada é oblonga independentemente da constituigio da lus, *8No comeco do ano de 1666 no calendério juliano (veja nota 1) é inverno no hemisfério norte. Na Inglaterra, nessa época do ano, o ‘Sol nunca fica 44° 56” acima do horizonte como requer o experimento descrito por Newton. Além disso, ¢ muito dificil satisfazer ambas 1s condigées (prisma ajustado na posicio de minimo desvio e a incidéncia normal dos raios na parede) simultaneamente pois a posigio do Sol est sempre variando. O azimute solar varia cerea de 15" por minuto devido #o movimento diurno. Sendo assim o Sol estaré na posigao correta durante um pequeno intervalo de tempo. Além disso a altura do Sol muda varios minutos por dia devido ao movimento anual (exceto préximo aos equinécios). Ha uma maneira de se manter ot raios ineidentes na posigao correta independentemente do dia, eda hora. Para isto basta que um espelho externo mével reflita a luz para o lugar adequado através do buraco na janela. Um assistente ‘externo pode mudar a orientagéo do espelho compensando a variacao da posigao do Sol. Newton apresentou uma outr resolver 0 problema da incidéncia normal do feixe defletido. Numa versio mais antiga do experimento ele sugere que ser formada tanto na parede quanto num papel mével. E claro que é muito mais fécil mover o papel e manter a incidéncia normal dos alos solares nesse papel. No entanto torna-se dificil fazer as medidas necesssrias, nesse caso, Embora Newton nao tenha discutido os detalhes ¢ dificuldades presentes na reprodugao de seu primeiro experimento, elas existem e foram enfrentadas por varias pessoas que tentaram reproduzi-lo 19Como Newton usava a relacdo entre os senos invertida em relacio & usada hoje, obteve que sen i / sen r = 20 / 31. Isso significa ‘em linguagem atual que o indice de refragio do vidro usado por Newton era aproximadamente $1 / 20 = 1,85. E fécil verificar 0 jue o fendmeno de formacio de um espectro alongado ¢ causado por irregularidades es de suas superficies. Revista Brasileira de Ensino de Fisica, vol. 18, n° 4, dezembro, 1996 3i7 raxéo, computei as Refragées de dois Raios provindos de partes opostas do disco Solar, diferindo em 31’ em sua obliquidade de incidén ja, € encontrei que os Raios emergentes deveriam compreender um angulo de cerca de 31’ como faziam antes de incidir [no prisma]”” Basse célculo estava fundamentado na Hipstese da proporcionalidade dos senos da Incidéncia e da Re- fragdo. Por minha prépria experiéncia, eu nao pode ria imaginar que ela fosse to erronea que fizesse aquele Angulo de apenas 31’, quando na realidade era 2° 49°? Assim, minha curiosidade fez-me novamente tomar meu Prisma. E tendo colocado-o na minha janela, como an- tes, observei que girando-o um pouco em torno de seu eizo para um lado e para outro, para variar sua obli- guidade em relagao & luz, de um angulo de mais de 4 ou 5 graus, as Cores nao eram sensivelmente transla- dadas de seus lugares na parede e conseqiientement pela variagéio da Incidéncia, a quantidade da Refragio nio era sensivelmente variada®®, Por esse Experimento portanto, bem como pelo céleulo anterior, era evidente que a diferenca na incidéncia dos Raios provindos de di versas [p. 3078] partes do Sol, nao poderia fazé-los apés a interseccao divergir em um Angulo tao sensivelmente ‘dlculo de Newton: nas condigdes do experimen maior que aquele com 0 qual convergiram. Como ele era no maximo cerca de 31 ou 32 minutos, ainda res- tava alguma outra causa para ser encontrada, pela qual ele pudesse ser 2° 49°. Entéo comecei, a suspeitar se os Raios, apés sua passagem através do Prisma, néo se moveriam em li- nnhas curvas e de acordo com sua maior ou menor cur- vatura tendessem para diversas partes da parede™ E minhas suspeitas aumentaram quando lembrei que freqiientemente vi uma bola de Ténis, golpeada com ‘uma Raquete obliqua, deserever tal linha curva. Pois, sendo comunicado tanto um movimento circular como um progressivo a ela pelo golpe, suas partes daquele Jado onde os movimentos se unem devem pressionar ¢ ater o Ar contiguo mais violentamente do que no ou- tro, e ld excitar uma relutancia e reagio no Ar propor- cionalmente maior. B pela mesma razao, se os Raios de luz fossem possivelmente corpos globulares ¢ por sua passagem obliqua de um meio a outro adquirissem um, movimento circular, eles deveriam sentir a resistencia, maior do Eter ambiente naquele lado onde os movimen- tos se unem ¢ por isso serem continuamente encurvados 0 Angulo de incidéncia da luz na primeira face do prisma era de 54° 4’ ¢ 0 angulo de relracio era a metade do Angulo do vértice do prisina, ou seja, 31° 36°, Calculando-se o indice de refracio do vidro, obtém-se 1,545 ou, aproximadamente, 1,55 = 31/20, conforme calculado por Newton. ipenas indica o tipo de célculo que efetuon, sem os detalhes. Provavelmente ele realizou uma série de céloulos bastante \do sobre a primeira face do prisma, com angulos um pouco diferentes de 54° 4, de tal forma a formarem um dngulo de 31" entre si (ou seja, um deles s Newton magantes: consideron dois raios luminosos, inci dos raioe refratadlos pela primeira superficie do prisma, depois os angulos de incidéncia (internos) na segunda face do prisma, 0 angulos dos raios refratados (externos) que saem do prisima. A diferenca obtida entre esses dois tiltimos angulos foi de 31 Jbertura do feixe incidente ¢ igual & abertura do feixe que sai do prisma, nessas condiges. Note-se que Newton apenas se preocupa °'19,5" ¢ 0 outro 52° 48,5"). Calculou, entio, as fm discutir o angulo vertical formado pelos raios ¢ nao 4 abertura horizontal do feixe. Implicitamente, Newton supées que o Angulo horizontal nao poderia sofrer mudanca ao passar pelo prisina. 111Na versio manuscrita publicada na Correspondence existem 28 justado na posigdo de mi Como 0 prisma de Newton estav Jlavras “c outras”, se referindo & experiéncia de outras pessoas, imo desvio, de acordo com a lei da refragio de Snell-Descartes (‘Hipétese da proporcionalidade dos senos") a pequena variacdo de 31’ entre os angulos de incidénci Sol nio deveria afetar o formato circular da imagem, ou s¢ja, 0 angul ‘devido a0 didmetro finito do Jo formado pelos raios emergentes deveria ser 31’. O argument tuado por Newton nessa demostragio € muito bonite e tinico pois no encontramos nada semelhante nos livros modernos de Sptica. ‘A demonstragao geométrica da formagao de uma imagem circular apés o feixe atravessar um prisma ajustado na posigao de minimo deavio é bastante complexa. Essa demonstracio esta feitasem NEWTON 1984, vol. 1, pp. 53-4. Como podemos perceber pelo seu texto, Newton nio enfatiza a grande importancia do posicionamento adequando do prisma em seus experiments, logo é natural que dle tenha sido mau entendido. Ao gitar um pouco o prisma, Newton esti alterando o Angulo de incidéncia dos raios sobre a primeira face. Ele observa que a mancha luminova na parede nao muda sensivelmente de ugar. Portanto, 0 desvio total sofrido pelos raios ao passar pelo prisma, nas CondigSes do experimenta (posigao de desvio minimo do prisma), é quase constante quando o angulo de incidéncia do raio no prisma ‘aria pouco (4 5 graus). Portanto, os raios provenientes de diferentes pontos do Sol que atingem 0 prisma (e que formam entre si lngulos de no méximo 31°) deveriam também sofrer desvios praticamente iguais e, portanto, conservar o angulo que formavam entre si. Ease é um novo argumento para indicar que a mancha produzida na parede deveria ser circular. 7 Quando 0 prisma esta ajustado numa posicao qualquer diferente da posicio de minimo desvio a imagem formada ¢ oblonga pois a diferenca entre os angulos de incidéncia dos raios provenientes das partes opostas do disco solar é significativa a ponto de causar 0 Slongamento da imagem. O descuido de Newton ao explicar a posigdo correta do prisma em seu experimento resultou em criticas por parte de Ignace Pardies que nao compreendeu 4 necessidada da introducao de novas hipdteses sobre a constituigio da luz branca. Veja ‘ correspondéncia entre Newton e Patdies: COHEN & SCHOFIELD, 1978, pp. 86-92 ¢ 104-109. SuGrimaldi havia descoberto o fendmeno de difracao da luz, e para explicé-lo havia proposto que os raios da luz, apés passar por uma fenda estzeita out por um fio fino, descreviam trajetérias curvas. Para saber mais sobre a teoria ondulatéria de Grimaldi veja HALL, 1987, Se, apse pastar pelo prisma, os raios se encurvassem de modo a aumentar a abertura do feixe no sentido vertical manter a abertura no sentido horizontal, isso explicaria o formato alongado do espectro. 318 0 plausivel de suspeita, quando o examinei nao pude observar tal cur- para o outro®®. Mas apesar desse mot vatura neles. E além disso (o que era suficiente para meu propésito) observei que a diferenga entre 0 com- primento da imagem eo didmetro do buraco através do qual a luz era transmitida era proporcional & sua distancia?” Figura 3. Esquema de Newton (no publicado em 1672) que mostra uma das variantes do ezperimentum crucis, A Inz proveniente do Sol é decomposta por um primeiro prisma. Uma lente, colocada antes do prisma, focalizada sobre um anteparo, permite produai um espectro fino e com cores bem definidas. Um furo no anteparo permite que uma pe- ‘quena faixa do espectro passe por um segundo prisma, Esse C. Celestino Silva e R. de Andrade Martins € atrés do prisma de tal forma que a luz pudesse pas- sar através de um pequeno buraco feito nela para esse propésito, ¢ incidir na outra prancha, a qual coloquei a uma distancia de cerca de 12 pés, tendo primeiro feito um pequeno buraco nela também, para um pouco da luz Incidente passar através dele. Entao eu coloquei outro Prisma atrés dessa segunda prancha, de tal modo que luz que atravessou ambos os anteparos pudesse passat através dele também e ser novamente refratada antes de atingir a parede. Isto feito, tomei o primeiro Prisma na minha mio ¢ o girei de um lado para o outro lenta- mente em torno de seu Fizo de modo a fazer as diversas partes da Imagem, langadas sobre o segundo anteparo, passarem sucessivamente através de seu buraco, para que pudesse observar para quais lugares na parede 0 segundo Prisma as refrataria [p. 3079]. E vi? pela va- riagio daqueles lugares na parede] que a luz, tendendo para aquela extremidade da Imagem em dirego & qual a tefragdo do primeiro Prisma foi feita, sofreu no se- gundo Prisma uma Refracao consideravelmente maior que a luz tendendo para a outra extremidade. E as- sim a verdadeira causa do comprimento da Imagem foi detectada nao ser outra, sendo que a Luz consiste em segundo prisma nao decompée a luz em novas cores, apenas __-Raios diferentemente refrangiveis®® que, sem qualquer produz uma mancha da cor selecionada. diferenga em suas incidéncias, foram, de acordo com A remogao gradual dessas suspeitas finalmente levou-me ao Experimentum Crucis’, que era este: to- mei duas pranchas ¢ coloquei uma delas perto da janela 2° Basa hipétese sugerida por Newton é semelhante & explicagio de Descartes para o surgimento de cores. Segundo Descartes a luz é lum movimento transmitido através do éter compostos por pequenos glébulos que penetram todos os corpos. Antes da luz ser refratada esses glébulos tém apenas um movimento retilineo na direcéo de propagagio, Quando atingem obliquamente uma superficie refratora 6 glébulos adquirem um movimento de rotagdo em torno de seus préprios eixos. A velocidade da rotacao é afetada pela velocidade dos gldbulos vizinhos. Assim os glbulos dos raios vermelhos do espectro pressionam 0s globulos vizinhos da regido de sombra (gidbulos ‘com velocidade de rotagao pequena) e sio pressionados pelos do outro lade cuja velocidade é maior. A diferenga de velocidade entre oF s}dbulos vizinhos provoca um desvio dos raios. O efeito dos glébulos vizinhos & extremidade violeta do espectro é contrario ao produzide nos raios vermelhos. As outras cores sao resultado de velocidades intermediarias dos glébulos. Para maiores detalhes na teoria de Descartes sobre luz ¢ cores veja SABRA, 1981, cap. 2. 37Se os raios luminosos descrevessem trajetdrias curvas apés passar pelo prisma, 0 feixe emergente nao seria conico e no valeria a roporcionalidade entre o tamanho da mancha e sua distancia ao orifico, 20 uso do termo Ezperimentum Crucis para designar um experimento decisivo & devido & influéncia da obra Novum Oryenon de Francis Bacon (BACON, 1972, Il, XXXV). Bacon usa o termo inslantiae crucie como uma situacéo crucial na qual deve-se excolher entre dois caminhos diferentes ou entre duas hipéteses distintas. Iaso 46 pode ser feito através de um experimento que mostre qual das hipéteses ¢ a correta. Hooke cita Bacon em sua Micrographia (HOOKE, 1665, p. 54). Como provavelmente escreve de meméria usa f frase errada: experimentam crucis ao invés de instentiae crucis. Newton usa 0 termo empregado por Hooke sob influéncia de sua leitura da Micrographia, Sobre o papel do termo ezperimentum erucis para Bacon, Hooke e Newton veja LOHNE, 1968. 280 Experimentum Crucis é um experimento qualitativo, isto é, nele nio se faz medidas para estudar a relacdo entre cor ¢ refrangi- bilidade, embora a refrangibilidade seja um conceito quantitativo. Através de experimentos qualitativos pode-se estabelecer um relagio entre cor ¢ refrangibilidade que nao é precisa pois pode acontecer de uma cor ser sempre a menos refratada mesimo tofrendo refragses diferentes. Para se estabelecer uma relagio exata sio necessérios experimentos quantitativos. Newton nao os fen, °Newton utiliza a palavra “refrangibilidade” para indicar uma prppriedade dos raios luminosos: os raios mais refrangiveis s30 os que ‘do mais desviados na refragio. Por outro lado, 0 termo “refringéncia” se refere a uma propriedade das substncias transparentes: uma substancia mais refringente é a que produz. um maior desvio da luz * através do Experimentum Crucis Newton nio associou cor com refrangibilidade. No entanto, suas intengSes com o Ezperimentum Crucis mudain durante as discussGes com seus criticos. Em sua resposta a Hooke, Newton afirma que o objetivo de seu Ezperimentum ‘mostrar “que Raios de cores diferentes considerados separadamente sofrem, com incidéncias iguais, refracoes diferentes sem Crucis Revista Brasileira de Ensino de Fisica, vol. 18, n° 4, dezembro, 1996 319 Quando entendi isso, deixei meus trabalhos com Vi- dro acima mencionados; pois vi que a perfeigao de Te- lescépios era limitada®*, nado tanto devido & necessi- dade de vidros com formas exatas de acordo com a prescrigdo de Autores Opticos*® (0 que todos tinham imaginado até aqui) mas porque a Luz é ela propria uma Mistura heterogénea de Raios diferentemente re- frangiveis, Ou seja, mesmo se um vidro fosse formado to exatamente que coletasse qualquer tipo de raios em 08 raios que vem de um ponto de um objeto para fazé- los reunirem-se em seu foco num espago menor que um. espago circular cujo didmetro seja de 1/50 do Diametro de sua Abertura®, 0 que é uma irregularidade algu- mas centenas de vezes maior do que aquela que uma Lente de forma circular, de uma segdo tio pequena como sio as lentes Objetivas de um longo Telescdpio, poderia causar pela inadequagao de sua forma, se a Luz Fosse uniforme®®, um ponto, ele nao poderia coletar também no mesmo a ‘a oe i ponto aqueles que, tendo a mesma Incidéncia sobre o eels aeecale aap aaa mesmo Meio, sio aptos a softer uma reftagao diferente, __%8 T#8ulares, de modo que o Angulo de Reflexao de to- Mais ainda, maravilhei-me vendo que a diferenca da re- 108 9 Yipes de Raios era igual aos seus Angulcs de In- cidéncia, entendi que por seu intermédio os instrumen- tos épticos poderiam ser levados até qualquer grau de perfeigao imaginavel, contanto que uma substincia Re- fletora pudesse ser [p. 3080] encontrada que pudesse ser polida tao finamente quanto 0 Vidro e refletisse tanta frangibilidade era tao grande como encontrei, e 08 Te- leseépios pudessem atingir aquela perfeicao a que che- garam atualmente. Pois, medindo a refragéo de um de meus Prismas, encontrei que, supondo 0 seno comum da Incidénci da refragio dos Raios extremos na extremidade verme- sobre um de seus planos 44 partes, o seno luz quanto o vidro transmite, e a arte de comunicar- the uma figura Parabélica também fosse atingida. Mas Iha das Cores, feitos do vidro para o Ar, seria 68 partes pareciam existir dificuldades muito grandes ¢ quase as 0 seno da refragio dos raios extremos na outra extre- idade 69 partes, ou seja, a diferenca é cerca de 1/24.0u __Pensei insuperdveis, quando além disso considerei que 1/25 da refragdo total”, E conseaiientemente a lente eee nas superficies refletoras faz 0s raios abjetiva de qualquer Teleseépio nfo pode coletar todos _eeViarem-se 5 ou 6 veres mais fora de seu devido curso que semelhantes numa refratora’”, de tal modo que se- Serem separados, rarefeitos ou dilatados de qualquer maneira" (COHEN & SCHOFIELD, 1978, p. 194). Em sua resposta a Lucas ‘afrma que 0 objetivo de seu Experimentum Crucis é mostrar a “refrangibilidade diferente da luz” (COHEN & SCHOFIELD, 1978, p. 174) sem qualquer relacio com outras propriedades. ‘S2Basa limitacdo se deve & certeza de Newton da impossibildiade de se construir lentes acrométicas. Uma lente acromética é uma lente eomposta por combinacao de materials com poder dispersivo diferentes. Newton afirma em sua Opticts (NEWTON, 1952 pp. 1129-132) que a construgao de tais lentes acrométicas era impossivel. A confianga de Newton na impossibilidade da construcéo de lentes acromaticas retardou o desenvolvimento desee tipo de lente até o século XVIII quando foram construidas por Chester Moor Hall e John. Dolland. Sobre essa fatha de Newton veja o artigo BECHLER, 1973, SNewton esté se referindo a superacio da aberragio esférica que é um defeito de focalizagio inevitével em lentes com o formato talérica, A aberragio esférica ocorre porque o Angulo de incidéncia dos raios que atravessam a periferia da lente é diferente do angulo de incidéncia dos raios que atravessam a regio préxima ao eixo de simetria da lente, sendo assim sao focalizados em pontos diferentes. Lentes com formatos diferentes do esférico sao dificeis de se construit pois 0 polimento tem que se dar em diregoes preferenciais de acordo com a forma desejada, René Descartes, por exeniplo, havia estudado varias formas especiais de lentes na sua Dioptrigue. “Mf dificil entender o que Newton quer dizer aqui. A diferenga entre os indices de refracio para a extremidade azul e para a extre dade vermelha seria de 1/68 ou 1/69 e nao 1/24 ow 1/25. Possivelmente Newton estaria se referindo & diferenga entre os desvios sofridos pelos raios extremos ao passarem pelo prisma. No entanto, fazendo-se esse célculo, obtém-se uma diferenga de 1/20 entre 0s desvios langulares totais softidos pelos dois raios. Outra possibilidade é que Newton esteja se referindo ao desvio de um raio que passe do vidro pata o ar, medindo esse desvio pelo seno do Angulo (e nao pelo angulo). Nesse caso, como o seno de “44 unidades e 0 seno de refragao é de 68 ou 69 unidades, a variagio de direcio do raio & dada por 24 ou 25 unidades, com uma diferenga de uma parte em 24 ow 25, "SUtilizando o dado anterior de Newton, suponhamos que um feixe cilindrico de luz branca incide paralelamente ao eixo de uma lente simples. Na lente, os raios extremos (vermelho e violeta) sofrerio desvios diferentes e se concentrarao em focos colocados em pontos diferentes. Seja Fl a distancia focal para os raios vermelhos e F2 a distancia focal para os raios violetas extremos. Teriamos Fl (141/25).F2. A regiao onde a hiz proveniente da lente estaria mais concentrada nao seria em nenhum desses dois focos, mas em um onto intermedigrio, ou seja, a uma disténcia F” & (1-+1/50).F2, E fécil verficar, geometricamente, que nesse ponto os didmetros dos tones extremos (violeta e vermelhio) produzidos pela lente terao um didmetro que seré 1/50 do diametro da lente. Portanto, esse seré 0 diametro minimo da imagem de um ponto luminoso (branco) distante produzida pela lente Aqui, 1d se referindo a problemas causados pela aberragao esférica de lentes - que ¢ um problema muito menor do que 0 de aberracao cromatica, 7f diffe, novamente, reconstruir o raciocinio de Newton neste ponto. Uma imperfeicéo angular 6a em um ponto de uma superficie refletora produz uma variagdo 6 = 26a na diregao de tum raio relletido. No caso de uma lente de vidro fina, de grande distancia focal, teo indice de refragao do vidro for cerca de 3/2, entao o desvio do raio huminoso, ao atravessar uma superficie com uma variagio angular Sa terd uma variagao de desvio de aproximadamente 1/2 6a. Portanto, os defeitos em espelhos produzem efeitos quatro vezes maiores 320 ria exigido aqui um cuidado muito maior do que para dar forma aos vidros para Refragio. Entre esses pensamentos fui forgado a sair de Cam- bridge pela Praga Interveniente® e foram-se mais de dois anos antes de eu prosseguir além. Mas entao, tendo pensado num modo suave de polimento proprio para Po- deria ser corrigida até o iiltimo [grau); comecei a ten- metal, pelo qual, como imaginei, a forma tambét tar o que poderia ser efetuado nessa linha e gradual- mente aperfeigoei tanto um Instrumento (em suas par- tes essenciais, semelhante ao que enviei para Londres), que por ele pude discernir 4 [luas] Acompanhantes de ‘Tépiter e mostrei-os diversas vezes para outros dois co- nhecidos meus. Pude também discernir as fases de Vénus semelhantes 4s da Lua, mas nao muito distin- tamente nem sem alguma adequagao na disposigio do Instrumento™. Fui interrompido daquele tempo até esse tiltimo Ou- tono quando fiz, 0 outro instrumento] e como aquele era sensivelmente melhor que o primeito (especialmente para Objetos Diurnos) entdo nao duvidei que eles ainda sero levados a uma perfei 0 muito maior pelos es- forcos daqueles que, como vocé me informou, esto cui- dando disso em Londres. Pensei algumas vezes em fazer um Microscépio que de maneira semelhante tivesse, ao invés de uma lente Objetiva, uma pega Refletora de metal. E espero que eles também tomem isso em consideragio pois aqueles Instrumentos parecem to suscetiveis de aper- feigoamento quanto os Telescdpios e talvez mais, por- que 56 é necessério um pedaco de metal refletor neles, como vocé perceberd pelo diagrama anexo onde AB re- presenta a objetiva de metal, CD 0 vidro ocular, F seus Focos comuns ¢ O 0 outro foco do (endo 6 ou 6 vezes maiores) do que os defeitos em lentes, tal no qual o ob- C. Celestino Silva e R. de Andrade Martins jeto é colocado, {p. 3081] Mas, para voltar dessa digressao, informei- Ihe que a Luz nao ¢ similar ou homogénea, mas con- siste de Raios diformes, alguns dos quais so mais re- frangiveis que outros; de tal modo que, daqueles que incidem de modo semelhante no mesmo meio, alguns serio mais refratados que outros, e nfo por qualquer virtude do vidro ou outra causa externa, mas por uma predisposigéo que cada Raio particular tem de sofrer um grau particular de Refragio. Figura 4. Desenho do artigo de Newton (1672), mos trando esquema para microscépio refletor. AB ¢ um espelho, préximo a cujo foco € colocado o objeto O. CD é uma lente ocular, Agora prosseguirei para informé-lo de outra difor- midade mais notavel nesses Raios, pela qual a Origem da Cores é revelada*. Relativamente a ela, irei pri- meito apresentar a Doutrina e entao, para seu exame, dar-lhe um ou dois exemplos de Ezperimentos, como amostras do restante. A Doutrina o senhor encontraré compreendida e ilustrada nas seguintes proposigées: 1. Como os Raios de luz diferem em graus de Re- frangibilidade, eles também diferem em sua disposigao para exibir essa ou aquela cor particular. Cores no sio Qualificagées da Luz derivadas de Refracées ou Re- flexdes dos Corpos naturais ( como é geralmente acre- ditado) mas propriedades Originais e inatas que sio di ®*Devido & praga que atingiu a Inglaterra entre 1685 ¢ 1666 a Universidade de Cambridge foi fechada ¢ Newton voltou a morar em Woolsthorpe. Enquanto, nesse periodo de praga, outros estudantes de Cambridge organizaram grupos de estudo com tutores, Newton, ccontinuou seus estudos sozinho. Esse periodo em que Newton permaneceu em Woolsthorpe (1664-1666) ficou conhecido como anni mirabiles devido & grande produsao de Newton em matemética, mecanica, gravitagao e seus estudos em Sptica. Sobre esse perfodo veja WESTFALL, 1995, cap. 3 8?Newton enviou seu telescépio & Royal Society no final de dezembro de 1671. Devido ao grande interesse ¢ sucesso alcancados por seu instrumento Newton foi nomeado sécio da sociedade em 11 de janeiro de 1673 1 (WESTFALL, 1995, p. 83), ‘Na versio publicadana Correspondence hé um trecho que foi omitidona publicacso da Philosophical Transactions: “Um naturalista raramente esperaria ver a ciéncia daquelas [das cores] tomar-se matemética, contudo ouso afirmar que hé tanta certeza nisso quanto ‘em qualquer outra parte da éptica. Pois, o que afirmarei sobre elas nao & uma Hipdtese suposta simples outra maneira ou porque ela satisfaz todos os fendmenos (08 TépicostFiloséfices universais), mas a mais r pelo intermédio de experimentos ¢ concluida imediatamente e sem qualquer suspeita de dvida. Para continuar a narragio histérica esses experimentos poderia fazer um discurso igualmente tedioso e confuso ¢ portanto (...)” (NEWTON, 1959-77, vol. 1, pp. 96-7). ‘1 Aqui Newton propée a relagao entre cores e indices de refragio. Evidentemente, o indice de refracéo depende nao apenas da cor, ‘mas também da substancia considerada. Por outro lado, somente existe uma relagao entre cor ¢ indice de refragao para as cores simples. ‘A distingao entre cores simples e compostas, que é nova e easencial na teoria de Newton, aparece apenas no proposigio 5. Revista Brasileira de Ensino de Fisica, vol. 18, n° 4, dezembro, 1996 321 ferentes nos diversos Raios**. Alguns Raios sao dispos- tos a exibir uma cor vermelha ¢ nenhuma outra; alguns uma amarela e nenhuma outra, alguns uma verde ¢ ne- nhuma outra e assim por diante. Nem ha apenas Raios res esforgos para mudé-la. Refratei-o com Prismas ¢ refleti-o com corpos que na luz do Dia eram de outras cores. Interceptei-o com filmes colotidos de Ar entre duas placas de vidro comprimidas; transmiti-o através proprios ¢ particulares para as cores mais importantes de Meios coloridos e através de Meios irradiados com termedidrias®. outros tipos de Raios, ¢ limitei-o de varias formas; ¢ mas mesmo para todas as cores contudo nunca pude produzir qualquer nova cor dele. 2. Ao mesmo grau de Refrangibilidade sempre per- aa . Ele poderia, por contragao ou dilatagao, tornar-se mais tence a mesma cor e & mesma cor sempre pertence 0 , Te neta mesmo gran de Refrangibilidade™. Os Raios menos (7¥9 09 10 fo oeeee cay «ne 10s Raios, muito obscuro e escuro; mas nunca pude ver Refrangiveis sio todos dispostos a exibir uma cor Ver- 1 i roi ms a melha, e contrariamente aqueles Raios que so dispos- Ts/aver mudanga tm specie ir uma cor ha sio todos os menos re- 5 tos a exib Verme $ meno’ [4]! No entanto, podem ser feitas transmutagées frangiveis. Da mesma forma os Raios mais refrangiveis vee h Se oat reetanig mpatentes de Cores, onde ha qualquer mistura de di sio todos acexibir uma C leta profunda a or Vrotets versos tipos de Raios. Pois em tais misturas as co- ¢ contrariamente aqueles que so aptos a exibir tal cor x Sontranh . res componentes nao aparecem, mas constituem uma violeta sio os mais Refrangiveis. E assim a todas as co- dri i A . cor intermedidria pela miitua combinagéo uma com a res intermediarias, em uma série continua, pertencem a 5 ecwaidvios de refvansibitidade, B wa A outra*”, E portanto, se por refragio ou qualquer ou- sraus intermedidrios de refrangibildade. Bessa na ‘tra das causas acima mencionadas os Raios diformes logia entre cores e refrangibilidade ¢ muito precisa © * latentes em tal mistura forem separados, emergirdo co- estrita: os Raios sempre concordando exatamente em zo". Ts 5 res diferentes da cor da composigao"®, ‘Tais cores nfo ambas ou discordando proporcionalmente em ambas. . so Novamente geradas mas apenas se fazem Aparen- 3. A espécie de cor e o grau de Refrangibilidade proprio de qualquer tipo particular de Raio nao sio mutaveis pela Refragio, pela Reflexdo de corpos natu- rais nem por qualquer outra causa que pude observar até agora®. Quando qualquer tipo de Raios foi bem [p. 3082] separado daqueles de outros tipos, ele depois reteve obstinadamente sua cor, apesar de meus maio- tes por serem separadas; pois se forem novamente in- teiramente misturadas e mescladas juntas, elas iro no- vamente compor aquela cor que compunham antes da separagio. E pela mesma razdo, as Transmutacdes"® feitas pela convergéncia de diversas cores nao sao reais pois quando os Raios diformes forem novamente corta- dos eles exibirao as mesmas cores que exibiam antes de Ou seja: as cores dos raios luminosos no podem ser alteradas por refragdes ou reflexes. I claro que isso também 36 se aplica ds cores simples. ‘Newton provavelmente esté se referindo a teoria de Hooke de formago das cores. Em sua Micrographia (HOOKE, 1665 p. 54-59), Hooke descreve sua teoria de formacio das cores, Segunda cle, a luz branca é um pulso simples ¢ homogéneo que se propaga no éter. Quando esse pulso atinge uma superficie refratora ele ¢ modificado pela aco dessa superficie, resultando duas cores bisicas (o azul ¢ 0 vermelho), as outras cores sao resultado da mistura do azul e vermelho em diferentes proporsées. Atualmente sabemos que combinando diferentes proporgées de azul espectral préximo da regiao verde do espectro com vermelho préximo do amarelo é possivel produzir um grande nimero de tonalidades de azul, verde, vermelho, amarelo ¢ cores intermedidrias. Como vemos, esta teoria nao é to absurda como pode parecer num primeiro instante, Sobre estudos modernos com cores espectrais veja o artigo HELMHOLTZ, 1852. “Newton deveria ter explicitado que a relagSo entre cor e grau de refrangibilidade s6 pode ser estabelecida para cores simples ou puras. Existem diferentes vermelhos no espectro luminoso e cada um deles tem uma refrangibilidade diferente. Por outro lado, uma luz ‘vermelha comum (nao pura) contém raios de diferentes refrangibilidades. “‘SNovamenteé preciso assinalar que a cor da luz pode ser alterada por reflexio€ refrac&o, se a luz néo for pura ou simples (homogénca). 49No artigo original, foi omitido o nimero desta proposicao. 47 visio nao permite identificar se uma cor é simples ou uma mistura de cores simples. Nesse sentido, a visio se comporta de um ‘modo diferente da audicao, pois a estrutura do ouvido nos permite distingiiir diferentes sons ouvidos simultaneamente. Quando 0 ouvido recebe sinais de duas freqiiéncias diferentes, a sensagio produzida nao se assemelha & que é causada por um som simples de freatiéncia intermediaria, O fato de, no caso da visio, nao conseguirmos perceber a existéncia de diversas cores em uma mistura torna a teoria de Newton pouco intuitiva, exigindo a introdugio do conceito de cores componentes inobservaveis. “SNao € pelos sentides, mas através de um priama que se ode identificar se uma cor é simples ou composta. © uso de prismas proporciona, portanto, um tipo de definigdo operacional dos tipos de cores: as cores que ndo so decompostas ou separadas por um riama slo simples; as que so decompostas ou separadas por um prisma sio compostas. Segue-se, portanto, da defini¢éo operacional de cores compostas que a luz branca é composta, ‘Em NEWTON, 1959-77, vol 1, p. 98, nota 21, Turnbull se refere a uma parte do manuscrito encontrada recentemente consistindo de 8 paginas numeradas de 9 a 16, comegandona segunda metade da palavra “Transmu-tations”. Depois dessas paginas a carta prosseguc, 322 entrarem na composigao. Como o senhor vé, pés Azuis € Amarelos quando finamente misturados aparecem a olho nu Verdes e entretanto as Cores dos corprisculos Componentes nao sao desse modo realmente transmuta- das mas apenas mescladas. Pois, quando vistas com um bom Microscépio, elas ainda aparecem Azuis e Amare- las intercaladamente™ 5. Ha portanto dois tipos de Cores: um original ¢ simples, 0 outro composto dessas. As cores Originais ou primérias sio Vermetho, Amarelo, Verde, Azule um Pérpura-violeta, junto com Laranja, indigo e uma v riedade indefinida de gradacées Intermediarias™ 6. As mesmas cores em specie com essas Primérias podem também ser produzidas por composicio, pois uma mistura de Amarelo e Azul forma Verde, de Ver- melho e Amarelo forma Laranja, de Laranja e Verde amarelado forma amarelo, Bem geral, se so mistura- das duas Cores quaisquer que na série daquelas geradas pelo Prisma nao [p. 3083] so muito distantes uma da outra, elas por sua miitua mistura compdem aquela cor que na dita série aparece no meio caminho entre elas, Mas aquelas que esto situadas a uma distancia muito grande nio o fazem. Laranja e [ndigo nao produzem o Verde intermedidrio nem Escarlate e Verde 0 amarelo intermediatio™. 7. Mas a composigéo mais surpreendente ¢ ma- ravilhosa foi aquela da Brancura. Nao ha nenhum Celestino Silva e R. de Andrade Martins tipo de Raio que sozinho possa exibi-la, Ela é sem- pre composta, e para sua composigio so necessérias todas as Cores primérias citadas anteriormente mistu- Freqiientemente te- mho observado que fazendo convergit todas as Cores do radas numa proporgio devidaS? Prisma. sendo desse modo novamente misturadas como estavam na luz antes de sua Incidéneia sobre o Prisma, reproduziram luz inteiramente e perfeitamente branca, © nao diferindo sensivelmente™ da Luz direta do Sol, a o ser quando os vidros que usei nao eram suficiente- mente claros; pois entao elas poderiam se inclinar um pouco para suas [dos vidros] cores. 8. Disso portanto ver que Brancura é a cor usual da Luz, pois a Luz é um agregado confuso de Raios do- tados de todos os tipos de Cores, como elas fas cores] sio promiscuamente langadas das varias partes dos cor- os luminosos. E de tal agregado confuso, como disse, é gerada Brancura, se houver uma devida proporgdo de Ingredientes, mas se algum predominar a Luz deve ten- der para aquela cor, como acontece na chama Azul do Enxofte, na chama amarela de uma Vela e nas varias cores das estrelas Fixas. 9. Consideradas essas coisas, a maneira como as co- tes sio produzidas pelo Prisma é evidente. Pois dos Raios que constituem a luz incidente, como aqueles que diferem em Cores diferem proporcionalmente em Refrangibilidade, eles por suas refragées diferentes de- 5°0 verde produzido pela mistura de pigmentos azul e amarelo é resultado de um processo subtrativo de mistura de cores, um processo diferente do que ocorze com a mistura de luz com cores diferentes. A mistura de pigmentos de todas as cores resulta uma cor cinzenta, enquanto que a mistura de luz de todas as cores resulta branco. °1Em seus primeiros trabalhos, Newton nao elabora a idéia de que o espectro luminoso pode ser dividido em 7 cores principais. © espectro inicialmente descrito por Newton em suas Optical Lectures continha 5 cores (vermelho, amarelo, verde, azul e piirpura). Como ‘Newton faz uma analogia entre o niimero de cores espectrais e aescala musical, introduz mais duas cores no espectro (laranja e indigo) (NEWTON, 1984, p. 543). Sobre esse assunto veja BIERSON, 1972 e TOPPER, 1990. “2Na verdade, a uniao de luz vermelhia com luz verde produ luz amarela. Esse é o processo utilizado nos cinescépios de televisores coloridos, que empregam apenas trés cores principais (vermelho, verde e azul) para produtir a sensacio de todas as outras. S®Nio ¢ verdade que sejam necessirias todas as cores do espectro para produzir o branco. Huygens discutiu esse ponto com Newton ‘em duas cartas (COHBN & SCHOFIELD, 1978, pp. 136-47). Huygens defende a possibilidade da existéncia de braneo produsido pela mistura de amarelo ¢ azul espectrais. Newton discorda e comenta que mesmo que se esse branco existisse teria propriedades diferentes do branco solar. Sobre essa discussio veja SHAPIRO, 1980. Do ponto de vista fisioldgico Huygens estava correto, em terminologia ‘moderna as luzes azul e amarela aio complementares, isto é, quando misturadas resultam luz branca, Veja o artigo de HELMHOLTZ, 1452. ese “sensivelmente” é no sentido visual. Newton apresenta experimentos para provar que o branco produsido pela convergéncia dos raios é igual ao branco solar apenas na resposta as criticas feitas por Hooke & sua teoria (COHEN & SCHOFIELD, 1978, pp. 110-37). Apresenta um experimento bastante interessante no qual os raios decompostos por um prisma atravessam uma lente convergente € convergem para um ponto onde a cor branca é gerada. AA diferenca desse para o experimento que apresenta em seu artigo ¢ que agora, alguns raios coloridos so interceptados por uma roda dentada que gira rapidamente, impedindo que todos os raios estejam presentes ‘a0 mesmo tempo no foco da lente. Mesmo assim, quando a roda gira rapidamente observa-se a formacao de luz branca no foco da lente Essa luz branca quando decomposta por um segundo prisma gera cofes que munca sio iguais as geradas pelo primero prisma. Notarse ‘8 auséncia das cores que foram interceptadas pelo primeiro prisma. Para Newton esse experimento mostra que o branco formado no foco da lente convergente é uma impressio visual ¢ néo uma miitua destruicio de todos os Taios coloridos gerando uma luz uniforme. Sendo assim, para Newton, o branco solar também é uma impressdo visual pois néo difere em nada do branco formado pela mistura de cores. Para afirmar que os dois brancos sio iguais Newton faz uso de um argumento metodologico medieval conhecido como Navalha de Oceam: nao se deve multiplicar as entidades sem necessidade por isto escolhe a hipstese de que os brancot Revista Brasileira de Ensino de Fisica, vol. 18, n° 4, dezembro, 1996 323 ‘vem ser separados e dispersados em uma forma oblonga numa sucessao ordenada, do Escarlate menos refratado até o Violeta mais refratado. B pela mesma razio que quando olhamos os objetos através de um Prisma, eles aparecem coloridos, pois os Raios diformes, por suas Refragdes desiguais, divergem em diregio a diferentes regides da Retina e 14 expressam as Imagens das coi- sas coloridas, como no primeiro caso elas fazem & Ima- gem do Sol sobre a parede, E por essa desigualdade das refragdes elas se tornam no apenas coloridas mas também muito confusas e indistintas. 10. Por qué as Cores do Arco fris aparecem nas go- tas cadentes [p. 3084] de chuva é também evidente a partir disso, Pois as gotas que refratam os Raios dis- postos a aparecerem piirpura em maior quantidade para os olhos dos Observadores, refratam os Raios de outros tipos muito menos e os fazem passar ao lado deles; e tais so as gotas no interior do Arco Primério e no lado externo do arco Secunddrio ou exterior. Assim aquelas gotas que refratam em maior quantidade os Raios aptos ‘a aparecerem vermelhos em diregiio ao olho dos Obser- vadores, refratam as dos outros tipos muito mais, de modo a fazé-los passar ao lado dele; e tais sfio as gotas na parte exterior do Arco Primdrio e parte interior do Arco Secundério®®, 11. Os Fenédmenos impares de uma infusao de Lig- num Nephriticum®®, folha de ouro, fragmentos de vidros coloridos ¢ alguns outros corpos transparentes coloridos que aparecem em uma posigio de uma cor e em outra posigio de outra cor, ndo so mais enigmaticos quando s7 sio substancias aptas a refletir um tipo de luz e trans- mitir outro, como pode ser visto num quarto escuro, iluminado-as com luz similar ou ndo composta. Pois entio elas aparecem apenas daquela cor com a qual fo- ram iluminadas mas em uma posigéo, mais vividas e luminosas que em outra, conforme elas sejam mais ou menos dispostas a refletir ou transmitir a cor incidente. 12. A partir dai também aparece a razio de um Ex- perimento inesperado que o Sr. Hook, em algum lugar de sua Micrographia, relata ter feito com dois recipi- entes transparentes em forma de cunha, um cheio com um liquido vermelho e 0 outro com azul: a saber, que ambos individualmente eram suficientemente transpa- rentes, entretanto ambos juntos tornaram-se opacos®®; pois se um transmite apenas vermelho e o outro apenas azul, nenhum raio pode passar através de ambos®? 13, Poderia adicionar mais exemplos dessa natureza mas concluirei com esse geral, que as Cores dos Corpos naturais nfo tém outra origem sendo esta: que eles so variadamente qualificados a refletit um tipo de luz em maior quantidade que outros. E isso experimentei em um Quarto escuro, iluminando esses corpos com luz no composta de diversas cores. Por esse meio pode-se fazer qualquer corpo aparecer de qualquer cor. Eles no tem cor prépria, mas sempre aparecem da cor da lu Tangada sobre eles, mas no entanto com essa diferenca, que eles sio mais brilhantes ¢ vividos na luz de suas proprias cores luz do dia. Minium® apareceu lé indiferente- mente de qualquer cor com o qual foi iluminado, mas ainda mais luminoso no vermelho; ¢ da mesma forma, analisados de acordo com essa base”, Pois aquelas _[p. 3085] 0 Bise®! apareceu indiferentemente de qual- "Newton nao fol o primeiro a explicar o arco-fris com base na refracio. Descartes jé havia proporcionado uma explicagio semelhante quando observou que os arco-iris eram produzidos pelas gotas de gua da atmosfera e fer experimentos utilizando vasos esféricos cheios Ge dgua observados sob a luz solar para estudar as refragies ¢ reflexes da luz solar causadas por superficies desse tipo (DESCARTES, 1637). Para mais detalhes veja TIEMERSMA, 1988, 58Planta cujo nome cientifico é Moringa pterygosperma usada em infusio para o tratamento de pedras nos rins. 1 relevante indicar que atualmente se sabe que esta substancia é fuorescente, emitindo portanto luz diferente da incidente. Se Newton tivesse estudado mais. ‘cuidadosamente essa substancia, teria encontrado uma excecao ao seu conceito de raios lumminosos que nunca alteram suas propriedades. 57Bsses experimentos jé haviam sido discutidos por Boyle em (BOYLE, 1664) pp. 198-212, ¢ estudados por Newton em (Me GUIRRE TAMMY, 1983) pp. 466-67, 58m sua Micrographia p. 738 (HOOKE, 1665), Hooke apresenta um experimento para provar que as outras cores podem ser com- postas pela mistura de azul vermelho. Ele usa dois recipientes de vidro em forma de cunha, um com tintura vermelha de aloes e outro om tintura azul de cobre, Olhando através de diversas espessuras das cunhas Hooke observou varias tonalidades de azul e vermelho que te sobrepunham quando as cunhas deslizavam uma sobre a outra, resultando numa grande variedade de cores. Mas quando sobrepés 0 saul mais intenso ao vermelho mais intenso, o conjunto tornou-se opaco. "4 explicagao dada por Newton ¢ incompleta, Por um ¥idro azul, passam raios de diferentes cores, mas principalmente os “de maior refrangibilidade”. Por um vidro vermelho, passam também raios de diferentes cores, mas predominam os de “menor refrangibilidade” Colocando-se um vidro azul ¢ um vermelho juntos, eles vio ser atravessados por uma parcela da luz branca incidente, pois nenhum delesfltra de modo perfeito tuma faixa do espectro correspondente & cor percebida visualmente, ‘IPigmento de éxido de chumbo, de coloracio vermelha usado na fabricagéo de tintas, ©1Em inglés também é “blue bice” , designando um tipo de esmalte de uma cor azul.

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