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1as Jornadas de MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO 83

PATOLOGIA DA PEDRA. CASOS DE OBRA

ARLINDO BEGONHA
Professor Auxiliar
FEUP - UP
Porto - Portugal

SUMÁRIO

O Património Arquitectónico abrange um conjunto muito diversificado de estruturas. A sua


defesa deverá incluir não só o respeito pela dignidade que os edifícios merecem, mas também a
sua manutenção, conservação e medidas de intervenção adequadas. Neste trabalho,
apresentam-se dois casos de estudo relacionados com a Patologia da Pedra: o diagnóstico,
propostas de intervenção e as intervenções realizadas nas Igrejas Matriz de Caminha e de
Nossa Senhora da Lapa, no Porto.

1. INTRODUÇÃO

A salvaguarda do Património não se deve cingir a um número restrito de edifícios considerados


de interesse e a Monumentos Nacionais. O Património inclui todos os edifícios comuns, jardins
e espaços públicos com valor artístico ou arquitectónico que devem ser preservados e que
testemunham os gostos e correntes artísticas de tempos passados.

A defesa do Património inclui não só o respeito pela dignidade que os edifícios merecem, mas
também a sua manutenção, conservação e medidas de intervenção necessárias para manter o
seu bom estado de utilização/conservação.

Assim, quando se pretende intervir num edifício ou monumento, é indispensável efectuar o


estudo patológico da pedra, isto é, fazer o diagnóstico e propor medidas que venham a eliminar
e corrigir as anomalias de que os mesmos estão afectados. A Patologia da Pedra constitui assim
uma das componentes mais importantes na defesa, conservação e intervenção no património,
uma vez que a maior parte dos edifícios e estruturas antigas são em pedra.
84 JMC’2011

No diagnóstico, identificam-se as anomalias e as causas que lhes estão subjacentes. Sem um


diagnóstico correcto, não é possível propor medidas interventivas que sejam eficazes e
conduzam a uma reabilitação do edifício.

Para realizar o diagnóstico, utiliza-se um conjunto de técnicas, análises e ensaios que ajudam
os diversos técnicos de diferentes áreas do conhecimento a estabelecer os danos e sua génese,
isto é, os mecanismos de degradação.

Com base no diagnóstico, é possível indicar as técnicas e produtos adequados com o propósito
de: eliminar as causas que provocaram as anomalias; corrigir e/ou eliminar os danos causados
pelas mesmas; tomar medidas e/ou aplicar produtos de protecção e conservação que impeçam
ou atrasem o mais possível o processo de deterioração da pedra.

2. DESRESPEITO PELO PATRIMÓNIO

As sociedades humanas frequentemente não respeitam a herança recebida de gerações


anteriores. Esse desrespeito manifesta-se por exemplo através de acções extremamente
agressivas como as guerras ou revela-se por deficiente planeamento, ausência de
manutenção/desleixo/destruição propositada, submissão ao economicismo, vandalismo, falta de
sensibilidade e intervenções inadequadas em edifícios e monumentos.

A Figura 1 refere-se ao Mosteiro da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, estudado por
Madureira (2008) [1]. Apresenta uma gravura alusiva aos bombardeamentos que decorreram
nos dias 13 e 14 de Outubro de 1833, em que foram disparadas cerca de 3000 granadas e
bombas vindas das baterias Miguelistas localizadas no Porto e em Gaia, aquando do cerco do
Porto pelas tropas Absolutistas durante as Guerras Liberais. Na mesma figura, mostram-se
marcas de canhão ainda hoje evidentes em diversas fachadas do Monumento Nacional.

O desrespeito pelo Património Arquitectónico revela-se igualmente por um deficiente


planeamento, ausência de manutenção e desleixo. A Figura 2 mostra dois exemplos obtidos na
Avenida de Fernão de Magalhães e na Praça das Flores no Porto.

A ausência de manutenção pode ter como objectivo a destruição propositada de imóveis como
sucede num conjunto de edifícios em banda na Rua de 5 de Outubro, onde foram retiradas as
fiadas de telhas sobre as paredes exteriores de modo a acelerar o apodrecimento das coberturas
(Figura 3).

O desrespeito pelo património traduz-se também pela submissão ao economicismo associada a


uma falta de sensibilidade. A Figura 4 mostra duas imagens da Praça do Infante, na Cidade do
Porto, obtidas no início do século XX e em 2006. A construção de um parque de
estacionamento subterrâneo conduziu à destruição do jardim, incluindo o corte de todas as
árvores até então existentes. Situações idênticas ocorreram nas Praças de Gomes Teixeira,
Carlos Alberto e Gonçalves Zarco. A transformação e/ou destruição de jardins sem qualquer
respeito pela época em que foram desenhados e construídos ocorreu por exemplo no Jardim da
Cordoaria e nas Avenidas dos Aliados e de Montevideu.
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Figura 1: Mosteiro da Serra do Pilar em Vila Nova de Gaia - Gravura alusiva aos
bombardeamentos de 13 e 14 de Outubro de 1833 e marcas actuais de balas de canhão.

Avenida de Fernão de Magalhães Praça das Flores


Figura 2: Exemplos de deficiente planeamento, ausência de manutenção e desleixo em dois
locais da Cidade do Porto (Setembro de 2010).

A facilidade actual na obtenção de materiais, como tintas à base de aerossóis e marcadores de


feltro, associada ao seu baixo custo e ao grande impacto visual que têm nas superfícies,
significa que todos os tipos de superfície estão potencialmente sujeitos a ataques com graffiti.
Os edifícios históricos não são excepção e os graffiters actuais geralmente não respeitam este
legado histórico-cultural, resultado de ignorância ou vandalismo (Resende, 2010) [2].
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Figura 3: Ausência de manutenção com o objectivo de destruição propositada - Rua 5 de


Outubro, na Cidade do Porto (Setembro de 2010).

Imagem obtida no início do século XX Imagem obtida em 2006


Figura 4: Praça do Infante, na Cidade do Porto – Exemplo de submissão ao economicismo
associada a uma falta de sensibilidade.

Os graffiti são percepcionados pela sociedade em geral como uma forma de vandalismo,
contributiva para a degradação local das zonas onde são instalados. É opinião de muitos, que os
graffiti podem até sugerir que se está em presença de locais violentos ou mal frequentados,
especialmente se estes forem de natureza obscena, racista ou sectarista. No entanto, é usual o
cidadão distinguir entre graffiti que podem ser considerados como uma forma de arte,
nomeadamente desenhos que servem para “dar vida” a superfícies “cinzentas”, com o
propósito de transmitir uma mensagem, seja de cariz político, social, económico ou até
publicitário, de outros nos quais as superfícies são literalmente desfiguradas com tags ou
rabiscos (Figura 5).

A insensibilidade é igualmente uma forma comum de revelar a total ausência de respeito pelo
património e a dignidade de um edifício ou Monumento Nacional. A Figura 6 exibe um
conjunto de estruturas provisórias de carácter lúdico, integradas nas comemorações do
Carnaval na Cidade do Porto, totalmente inadequadas e despropositadas para serem montadas
junto à estátua de D. Pedro IV na Praça da Liberdade e na placa central da Avenida dos
Aliados.
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Viaduto na Rua Domingos Sequeira – Maio 2010 Monumento a Camilo – Janeiro 2006
Figura 5: Porto – Tags em estruturas de betão e num monumento em cálcário.

Praça da Liberdade Avenida dos Aliados


Figura 6: Desrespeito para com o património, demonstrando ausência de sensibilidade
(Porto, Março de 2011).

Intervenções históricas no Património, nomeadamente em Monumentos Nacionais, são hoje,


em alguns casos, consideradas como atentados à originalidade e integridade de um imóvel. De
acordo com as teorias em voga nas décadas de 30 e 40 do século XX, introduziram-se
alterações profundas em numerosos monumentos na generalidade dos países europeus.
Portugal não foi excepção. A Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
(DGEMN), integrando-se na filisofia do Estado Novo, promoveu intervenções profundas em
grande número de monumentos nacionais, muitos em avançado estado de ruína. Procurou-se
repôr a originalidade de um monumento de acordo com a época em que foi construído,
retirando-se todos as estruturas e motivos introduzidos posteriormente ao longo dos séculos.
Derrubaram-se paredes e contrafortes, retiraram-se rebocos e pinturas, eliminaram-se altares
em talha e pormenores maneiristas e barrocos, deslocaram-se torres sineiras e “inventaram-se”
absidíolos, frestas e ameias. Estes actos, considerados louváveis na época, são hoje inaceitáveis
em intervenções contemporâneas.

A Figura 7 apresenta duas imagens do Mosteiro de Paço de Sousa antes e após a intervenção
realizada pela DGEMN na década de trinta do século XX [3].
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Antes da intervenção Após a intervenção


Figura 7: Vista geral do Mosteiro de Paço de Sousa antes e após a intervenção dos anos trinta
do século XX [3].

3. IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO, MATRIZ DE CAMINHA:


DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

3.1 Introdução

Segundo o Inventário do Património Arquitectónico, a Igreja de Nossa Senhora da Assunção,


Matriz de Caminha, foi construída nos séculos XV e XVI, sob traço do arquitecto biscainho
Tomé de Tolosa. O lançamento da primeira pedra realizou-se a 10 de Março de 1428 e a
celebração da primeira missa a 4 de Abril de 1488, estando ainda a igreja inacabada. No século
XVI, D. Manuel I contribuiu generosamente para a sua construção, vindo em 1511 a ser
edificada a capela do Bom Jesus dos Mareantes e, em 1556, impulsionada por D. André de
Noronha, a ser concluída a torre sineira por Domingos Ruas e Diogo Enes (Direcção Geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais, 2001) [4].

De acordo com o mesmo inventário, a Igreja Matriz de Caminha é de transição entre o estilo
gótico tardio e o renascentista (Figura 8), integrando-se na tipologia das igrejas de estilo
Manuelino de três naves, com cobertura de madeira, de dois andares na nave central e
cabeceira abobadada, seguindo assim o esquema das igrejas mendicantes do gótico português.
A torre sineira é recuada relativamente ao frontispício orientado para poente.

Na construção da Igreja Matriz de Caminha, utilizaram-se diversos tipos de granitos de duas


micas de cor cinzenta clara. Nos portais Oeste e Sul, bem como nos púlpitos, em duas pias e no
arco da capela do Bom Jesus dos Mareantes, empregou-se um aplito de cor cinzenta muito
clara.
1as Jornadas de MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO 89

Figura 8: Igreja Matriz de Caminha- Vista geral (década de 70 do século XX).

3.2 Intervenções realizadas no passado

No Boletim número 6 da revista Monumentos da DGEMN (Direcção Geral dos Edifícios e


Monumentos Nacionais, 1936) [5], são referidos alguns danos e diversas intervenções
realizadas nos séculos XVI, XVII e XVIII. Durante a regência da rainha D. Catarina, viúva de
D. João III, a parte superior da igreja, mal defendida durante meio século dos terríveis
vendavais da costa, foi várias vezes beneficiada por obras de reparação mais ou menos
importantes. Em Janeiro de 1636, um grande furação, que assolou toda a costa Noroeste da
Península, causou grandes estragos ao templo, então com oitenta anos de existência. A
platibanda rendilhada foi completamente despedaçada em vários lanços. Nos anos da Guerra da
Restauração, a artilharia da época deixou assinalado o seu poder destruidor. No século XVIII,
as duas janelas da fachada principal foram substituídas por quatro, rectangulares e de
dimensões diferentes (Figura 9).

Figura 9: Igreja Matriz de Caminha – Vista Geral antes dos trabalhos realizados pela DGEMN
na década de 30 do século XX, observando-se ainda as janelas abertas no século XVIII [5].

A Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais procedeu a diversas intervenções na


década de 30 do século XX. A igreja foi objecto de uma profunda intervenção de reabilitação e
restauro à luz das teorias da época, procurando-se reconstituir o imóvel, então arruinado,
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preenchendo-se lacunas e libertando-se a igreja de todos os elementos considerados não


conformes ao seu estilo original.

Assim, segundo o mesmo Boletim nº 6 da revista Monumentos [5] e atendendo apenas às obras
relacionadas com a pedra, referem-se seguidamente apenas alguns dos muitos trabalhos
efectuados: demolição dos edifícios que mascaravam exteriormente a ábside; demolição de
uma capela e seu anexo existente na fachada Norte, reconstruindo-se a parede primitiva com os
modilhões e cornija; demolição de um pequeno edifício acrescentado à capela do Bom Jesus
dos Mareantes (Figuras 10a, 10b), reconstruindo-se com silhares de cantaria a parede testeira
da capela que havia desaparecido; demolição de dois altares encaixados na parede da nave Sul
(Figura 10c), reconstruindo-se a mesma parede em cantaria; derribamento do pórtico
improvisado no segundo tramo da arcada do lado Norte, por debaixo do orgão e do grande coro
que ocupava toda a parte inferior da igreja, compreendendo o contraforte exteriormente
construído para aguentar o impulso dos respectivos arcos de cantaria.

Figura 10: a) b) Demolição de um pequeno edifício acrescentado à capela do Bom Jesus dos
Mareantes; c) Demolição de dois altares encaixados na fachada Sul [5].

3.3 Estudo do granito de grão médio de duas micas e do aplito de duas micas

Estudou-se a composição mineralógica e identificaram-se os minerais secundários resultantes


do processo de meteorização. Os dois tipos de rochas graníticas mais utilizados na Igreja
Matriz de Caminha têm composições mineralógicas semelhantes, sendo constituídos pelos
seguintes minerais: quartzo, feldspato potássico, plagióclase sódica, moscovite e rara biotite.
Numa amostra de aplito, identificou-se um cristal de monazite por microscopia electrónica de
varrimento (MEV).

Analisadas por difracção dos raios (DRX-rocha total), as duas rochas apresentam-se
meteorizadas, contendo pequena percentagem média de minerais secundários (percentagem de
argila entre 2,0% e 2,1%). A observação por MEV revelou a presença de cristais meteorizados
de plagióclase sódica e de moscovite e dos minerais de meteorização gibsite (Al(OH)3) e
caulinite (Al4(Si4O10)(OH)8). De acordo com Sequeira Braga (1988) [6], Begonha (2001) [7],
Sequeira Braga et al. (2002) [8] e Begonha e Sequeira Braga (2002) [9], a caulinite e a gibsite,
1as Jornadas de MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO 91

minerais representativos de um elevado grau de evolução mineralógica, constituem os produtos


finais de meteorização dos feldspatos, biotite e moscovite nos granitos do Noroeste de Portugal
continental. Assim, as pedras dos dois tipos de rochas já se encontravam meteorizadas aquando
da construção da igreja, facto usual nos monumentos do Norte de Portugal construídos com
granitos de duas micas, a que se deve não só à grande profundidade dos perfis de meteorização
na região Norte do país, dificultando a extracção de rocha sã, mas também à maior facilidade
em trabalhar pedras já meteorizadas mais brandas do que as de granito são.

3.4 Caracterização macroscópica das deteriorações da pedra

Begonha (2004) [10] refere que no exterior do monumento, a ascensão capilar é importante.
Com efeito, o monumento está fundado sobre uma antiga praia fluvial do Rio Minho e o nível
freático encontra-se a menos de dois metros de profundidade, oscilando de acordo com o nível
das marés.

A desagregação granular e a colonização biológica eram os tipos de deterioração que


afectavam maior número de pedras. A desagregação granular afectava grande número de
pedras de todas as fachadas, sendo muito intensa em pedras das fachadas Sul da igreja e da
torre sineira, com recuo da superfície por vezes superior a seis centímetros e nos frisos com
arabescos que percorrem as fachadas laterais Norte e Sul. Os danos eram sobretudo
preocupantes nos portais Sul e Oeste onde provocou a queda abundante de material no aplito
(Figuras 11a, 11b) e nos granitos de duas micas. O número de pedras que exibe placas ou
plaquetas é diminuto, quando comparado com o número de pedras afectado por desagregação
granular.

c)

a) b)

d)
Figura 11: a) b) Desagregação granular afectando pedras de aplito no Portal Oeste;
c) d) Colonização liquénica na fachada Oeste (c) e na platibanda rendilhda (d).
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A actividade biológica era muito intensa na Igreja Matriz de Caminha com desenvolvimento de
líquenes, algas, musgos, fetos e fanerogâmicas. Havia desenvolvimento generalizado de vários
tipos de líquenes, incluindo variedades incrustantes (Figuras 11c, 11d), em todas as fachadas
desde a base até ao topo. O seu crescimento impedia frequentemente e por completo a
observação da pedra e a leitura dos pormenores escultóricos em diversos sectores,
nomeadamente na platibanda rendilha (Figura 11d).

Observavam-se alguns filmes biológicos de cor negra ou castanha escura, de pequena


espessura e fortemente aderentes ao material pétreo que revestiam algumas pedras da fachada e
Portal Oeste junto ao pavimento. Estes filmes tinham aspecto idêntico ao dos filmes negros.
Correspondiam às áreas que se encontravam ou soterradas antes dos trabalhos realizados pela
DGEMN nos anos trinta do século XX ou que se situavam imediatamente acima das mesmas.

Havia juntas abertas em todas as fachadas do monumento. Grande número de juntas


encontrava-se preenchido com argamassas de cimento Portland, sendo evidente a sua acção
prejudicial nas zonas adjacentes das pedras, contribuindo para o incremento da queda de
material pétreo e conduzindo a uma desagregação granular diferencial. Na ábside da fachada
Este, na fachada Oeste e no lado Este da torre sineira existem fissuras.

No interior da igreja, a ascensão por capilaridade era igualmente muito importante. Muitas
pedras do pavimento encontravam-se quase saturadas, exibindo inestéticas manchas
acastanhadas e elevado número de pedras das paredes mostravam-se húmidas ao tacto,
incluindo também as dos dois púlpitos. Os elevados índices de humidade no interior
resultavam de a Igreja de Nossa Senhora da Assunção estar fundada numa antiga praia, de o
nível freático se encontrar a pequena profundidade e de o meio poroso das pedras de granito
meteorizado permitir uma transferência rápida das soluções, tal como referido por diversos
autores noutros edifícios e monumentos de granito (Begonha et al., 1994 [11], Begonha 2004
[12], Moutinho, 2005 [13], Costa Leite, 2008 [14], Bré, 2008 [15]). A desagregação granular
era a deterioração dominante à qual se associavam por vezes plaquetas. As plaquetas apareciam
associadas a algumas das pedras mais intensamente afectadas por desagregação granular. A
coesão das plaquetas era muito fraca, pulverizando-se facilmente ao simples tacto.

A maior parte das eflorescências era pulverulenta, de cor branca ou beige, formando-se
predominantemente nas zonas mais baixas das paredes submetidas a ascensão por capilaridade,
estando frequentemente ligadas a áreas com desenvolvimento de algas. No entanto,
observaram-se eflorescências pulverulentas a cerca de 5 metros de altura acima do pavimento
da igreja resultantes da cristalização de minerais de sais solúveis a partir de infiltrações da
cobertura. Eflorescências pulverulentas formam-se igualmente nas juntas do pavimento. Na
base do arco da capela do Santíssimo Sacramento, haviam-se formado eflorescências de tipo
fluffy de cor branca acinzentada.

3.5 Estudo mineralógico das deteriorações da pedra

Os resultados por DRX e MEV permitiram identificar diversos minerais de sais solúveis,
nomeadamente: cloretos - halite (NaCl), sulfatos - gesso (CaSO4⋅2H2O), nitratos - nitratite
1as Jornadas de MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO 93

(NaNO3) e carbonatos - calcite (CaCO3). Observou-se por MEV um fosfato de cálcio em que
não foi possível identificar a fase mineral. Na Tabela 1, apresentam-se os minerais de sais
solúveis identificados por DRX e por MEV.

Tabela 1: Minerais de sais solúveis identificados por DRX e por MEV [10].
DETERIORAÇÃO LOCALIZAÇÃO MINERAIS DE SAIS SOLÚVEIS
Halite + calcite
Portal Oeste
Halite + gesso
Desagregação granular
Halite + nitratite + gesso
Interior da igreja
Gesso + nitratite + calcite
Portal Oeste Halite + nitratite + gesso + calcite
Plaquetas afectadas por Torre sineira – lado Sul Calcite
desagregação granular Halite + gesso
Interior da igreja
Gesso + halite + niter
Portal Oeste Calcite
Plaquetas
Torre sineira – lado Norte Calcite
Placas Fachada Oeste Gesso + calcite
Fachada Oeste Gesso + calcite
Eflorescências
Interior da igreja Gesso + calcite
Pó Púlpito Nitratie + gesso + calcite + fosf. cálcio
Filme biológico Portal Oeste Gesso + calcite
Paramento corpo central Halite
Colonização biológica
Torre sineira – escada Halite + calcite

A cristalização dos minerais de sais solúveis na rede porosa das rochas graníticas utilizadas na
Igreja Matriz de Caminha está na origem da maior parte das deteriorações da pedra. A acção
destes minerais é tanto mais destrutiva quanto maiores as suas solubilidade e higroscopicidade,
quanto maiores as forças de cristalização que desenvolvem no seu processo de crescimento,
bem como quanto maior o número de ocorrências de ciclos de cristalização/dissolução ou
cristalização/deliquescência (Hammecker, 1993 [16], Begonha, 2001, [7]). Na Figura 12,
apresentam-se imagens obtidas por MEV da cristalização de halite no meio poroso do aplito de
duas micas. Na Figura 13, exibem-se alguns dos diferentes hábitos cristalinos dos minerais de
sais solúveis identificados e, na Figura 14, alguns aspectos de material biológico observado.

Figura 12: Cristalização de halite (H) ao longo de fissuras intragranulares em cristais de


plagióclase (P). Imagens obtidas por MEV.
94 JMC’2011

Halite – cristal prismático Halite sobre feldspato potássico Halite com figuras de dissolução
sobre material biológico

Cau

Halite (H) – “véus transparentes” ao Gesso – Cristais lamelares com Gesso – Cristais lamelares com
MEV sobre caulinite (Cau) hábito pseudo-hexagonal hábito pseudo-hexagonal

Gesso com figuras de dissolução Nitratite sobre plagióclase Nitratite sobre plagióclase

Calcite – cristais isométricos Calcite – cristais isométricos Calcite – cristais aciculares


Figura 13: Minerais de sais solúveis identificados por MEV.
1as Jornadas de MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO 95

Líquenes Fungos Material biológico


Figura 14: Material biológico – Alguns aspectos observados por MEV.

3.6 Diagnóstico e proposta de tratamento

As deteriorações da pedra na Igreja de Nossa Senhora da Assunção, Matriz de Caminha,


resultam essencialmente da cristalização de minerais de sais solúveis na rede porosa dos
diversos tipos de granitos meteorizados. O processo de meteorização conduziu à formação de
uma rede porosa fissural muito bem interligada que possibilita a rápida e eficaz transferência
de soluções salinas por capilaridade a partir do solo ou da chuva e a fortes fluxos de
evaporação dessas soluções.

A proximidade do Oceano Atlântico e do Rio Minho, a pequena profundidade do nível freático,


a natureza arenosa do solo de fundação, a presença de elevado número de sepulturas no interior
da igreja e no exterior, junto à mesma, associadas às condições de elevada precipitação,
variações da humidade relativa do ar, os ciclos alternados de cristalização e
dissolução/deliquescência e a forte ventilação do local são responsáveis pela origem, acesso e
eficácia dos minerais de sais solúveis identificados nas pedras afectadas por desagregação
granular, plaquetas, eflorescências e placas.

As condições geográficas e climáticas e a ausência de níveis significativos de poluição


atmosférica favorecem o desenvolvimento de seres vivos nas pedras, particularmente de
diversos tipos de líquenes que em muitos locais recobrem a totalidade ou grande parte da
superfície do material pétreo.

A metodologia da limpeza e tratamento da pedra proposta compreendeu as seguintes fases:


implementação de medidas que evitassem a ascensão capilar das águas freáticas; limpeza da
pedra; limpeza e preenchimento das juntas; eliminação da colonização biológica; consolidação
das áreas mais intensamente afectadas por desagregação granular; hidrofugação das superfícies
tratadas; colocação de dispositivos electrostáticos contra a acção dos pombos.

3.7 Intervenção

Trabalhos de limpeza e conservação decorreram no monumento entre 2002 e 2004 sob a


direcção do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR). Os trabalhos de
96 JMC’2011

Arqueologia prolongaram-se até 2007. Foi montada uma cobertura provisória que protegeu
todo o corpo central da igreja (Figura 15).

Figura 15: Cobertura provisória montada para protecção da igreja durante a intervenção.

Ferreira (2004) [17] descreve a metodologia aplicada na intervenção realizada sobre os


materiais pétreos da Igreja Matriz de Caminha nos anos de 2002 a 2004, incluindo as seguintes
fases: Fase 1 - aplicação de biocidas para eliminação das manifestações de colonização
biológica, principalmente de líquenes, nos paramentos; aplicação de herbicidas para eliminação
de ervas e pequenos arbustos; limpeza com remoção das sujidades existentes nos vários locais
de intervenção; remoção das argamassas de cimento em desagregação (as que apresentavam
forte coesão não foram removidas por se entender que os danos seriam superiores aos
benefícios); Fase 2 - consolidação do suporte granítico com o objectivo de tentar travar a
deterioração da pedra, nos locais onde se verificava a queda de material; Fase 3 - fixação com
colagem, onde necessário, de elementos em destacamento ou já destacados; Fase 4 - tratamento
das juntas com argamassa à base de cal nos locais onde haviam sido removidas as argamassas
em desagregação; Fase 5 - tratamento ou remoção dos elementos metálicos em ferro de ligação
entre os vários elementos de cantaria, como por exemplo coruchéus; Fase 6 - tratamento das
fissuras existentes à superfície das pedras com recurso a micro-estucagem; Fase 7 -
reintegrações com argamassa nas zonas em falta.

Nas paredes exteriores foram injectadas caldas de cimento e sob o pavimento da igreja foi
implementado um sistema de ventilação de modo a diminuir a ascensão por capilaridade das
águas freáticas. Provisoriamente, foram colocados pregos no Portal Sul, em substituição dos
dispositivos electrostáticos propostos, de modo a impedir a presença de pombos.

3.8 Estudo da aplicação de consolidantes e hidrófugos em pedras graníticas da Igreja


Matriz de Caminha

Um ano após a intervenção, verificou-se o reaparecimento de colonização de algas na fachada


Norte. Por outro lado, devido ao valor histórico e artístico dos portais Oeste e Sul, o IPPAR
optou pela interrupção dos trabalhos nos mesmos, decidindo-se pelo estudo da acção e eficácia
de produtos consolidantes antes da sua aplicação no aplito dos referidos portais.

Fojo (2006) [18] realizou um estudo com o objectivo de avaliar a eficácia da aplicação de
produtos consolidantes e hidrófugos em pedras graníticas da Igreja Matriz de Caminha.
Procurou estudar os efeitos imediatos resultantes da aplicação dos produtos de tratamento, bem
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como a sua acção com o tempo mediante a realização de ensaios de envelhecimento acelerado
através de um conjunto de ensaios, nomeadamente: determinação da densidade aparente,
porosidade livre às quarenta e oito horas, porometria com o porosímetro de mercúrio, absorção
de água por capilaridade, evaporação e profundidade de penetração em amostras sem e com a
aplicação de produtos de tratamento e também após a realização de ensaios de
envelhecimento.O estudo teve ainda como propósito encontrar o produto de tratamento
hidrófugo adequado ao tratamento do granito de duas micas de grão médio presente na fachada
Norte da Igreja Matriz de Caminha e o produto consolidante a aplicar no aplito de duas micas
existente nos portais Oeste e Sul do monumento.

As Figuras 16, 17 e 18 apresentam, respectivamente, os resultados do ensaio com o


porosímetro de mercúrio na patela IMC 3.1 de granito de grão médio, do ensaio de absorção de
água por capilaridade no provete IMC 1.3T e do ensaio de evaporação no provete IMC 7.1.

0,014 11,27 µm
AMOSTRA IMC 3.1.1
12,95 µm
AMOSTRA IMC 3.1.2
9,18 µm 12,95 µm
0,012 AMOSTRA IMC 3.1.3 3,83 µm
log DIFERENCIAL VOLUME (ml/g)

3,74 µm
3,22 µm
0,24 µm
0,010

0,008

0,28 µm
0,006

0,004

0,002

0,000
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000 1000,000
DIÂMETRO DOS POROS (µm)

Figura 16: Porometria da patela IMC 3.1 antes (IMC 3.1.1) e depois (IMC 3.1.2) da aplicação
do consolidante Tegovakon V e após o envelhecimento (IMC 3.1.3).

0,60 7 0,10 7
PROVETE IMC 1.3T
0,09
6 dW/S 6
0,50 N48
0,08 ALTURA
dW/S = 0,0056 t-1/2 + 0,0131 r2 = 0,9927
5 0,07 5
0,40 L = 0,0000 t-1/2 + 0,2000 r2 = 1,0000
dW/S (g/cm2 )

dW/S (g/cm2 )

A = 0,0056 g cm-2 h-1/2


PROVETE IMC 1.3 0,06
4 B = 0,0000 cm h-1/2 4
L (cm)

L (cm)

0,30 dW/S 0,05


ALTURA 3 3
0,04
0,20 dW/S = 0,5798 t-1/2 + 0,0485 r2 = 0,9973
L = 9,1060 t-1/2 + 0,4670 r2 = 0,9996 2 0,03 2
-2 -1/2
A = 0,5798 g cm h
0,02
0,10 B = 9,1060 cm h-1/2 1 1
0,01

0,00 0 0,00 0
0 2 4 6 8 10 12 14 0 3 6 9 12 15
-1 /2 -1 /2 -1 /2 -1 /2
TEMPO (h ) TEMPO (h )

Antes da aplicação do hidrófugo HB Siliker S101 Depois da aplicação do hidrófugo HB Siliker S101
Figura 17: Diagramas do ensaio de absorção de água por capilaridade – provete IMC 1.3T de
granito de grão médio.

A partir dos resultados obtidos e da análise dos mesmos, Fojo [18] concluiu que:
98 JMC’2011

- A aplicação de qualquer um dos produtos hidrófugos Sikagard 700 S ou HB Siliker S 101 no


tratamento das pedras graníticas da Igreja Matriz de Caminha conduziu a resultados idênticos
no granito de grão médio, não introduziu qualquer alteração cromática neste tipo de granito e a
sua eficácia em termos de hidrofugacidade era excelente, mesmo depois de realizados os
ensaios de envelhecimento acelerado;

TEMPO (h) TEMPO (h)

0 100 200 300 400 500 600 700 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200
0,0 0,0

PROVETE IMC 7.1 PROVETE IMC 7.1T


Sc
dW/S dW/S

dW/S = - 0,0026 t - 0,0047 r2 = 0,9969 -0,1 dW/S = - 0,0026 t - 0,0036 r2 = 0,9990


-0,1
q = - 0,0026 g cm-2 h-1 q = - 0,0026 g cm-2 h-1
dW/S (g/cm2 )

dW/S (g/cm2 )
Sc Sc = 42 % Sc = 73 %
tS c = 50,73 h tSc = 22,2 h

-0,2 -0,2

-0,3 -0,3

Antes da aplicação do consolidante HMK S 41 Depois da aplicação do consolidante HMK S 41


Figura 18: Diagramas do ensaio de evaporação – provete IMC 7.1 de aplito.

- A aplicação dos dois hidrófugos dificultou o processo de evaporação, prolongando-o muito


no tempo. Após a realização dos ensaios de envelhecimento acelerado, o processo tornou-se
ainda mais lento. Assim, se qualquer um dos dois produtos hidrófugos for aplicado em pedras
situadas em zonas afectadas pela ascensão capilar de soluções salinas a partir do solo, a franja
capilar deverá atingir cotas mais elevadas, conduzindo à deterioração de pedras que
anteriormente não estavam submetidas a este fenómeno;

- A profundidade de penetração atingida pelos produtos consolidantes Tegovakon V e HMK S


41 não foi muito elevada nos dois tipos de rochas. Não se observou qualquer alteração
cromática no granito de duas micas de grão médio e no aplito de duas micas após a aplicação
de qualquer um dos dois consolidantes e/ou depois dos ensaios de envelhecimento. A
consolidação com qualquer um dos dois produtos diminuiu em cerca de um quarto a
porosidade total ao mercúrio, mas não alterou significativamente a proporção dos microporos
nas redes porosas das duas rochas estudadas;

- O consolidante Tegovakon V comportou-se melhor que o consolidante HMK S 41 no que


concerne à entrada e à velocidade de transferência da água por capilaridade, sendo, no entanto,
muito mais sensível aos ensaios de envelhecimento. O produto HMK S 41 conduziu, assim, a
um resultado mais favorável a longo prazo, depois de realizados os ensaios de envelhecimento
acelerado;

- A aplicação dos dois consolidantes em estudo acelerou o processo de evaporação, mas o facto
de a saturação crítica ter aumentado após a consolidação pode contribuir para a deterioração da
pedra, dado que uma maior quantidade de água poderá evaporar no interior da rede porosa.

Em consequência deste estudo [18] e em virtude de não ter sido possível eliminar
completamente o fenómeno de ascensão capilar a partir do solo, não foram aplicados produtos
consolidantes e hidrófugos nos Portais Oeste e Sul.
1as Jornadas de MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO 99

3.9 Aspecto da Igreja Matriz de Caminha após a intervenção realizada entre 2002 e 2007

A Figura 19 apresenta algumas imagens obtidas após a intervenção realizada entre os anos de
2002 e 2007.

Vista geral Platibanda rendilhada

Friso sobre o Portal Oeste Pormenor do Portal Sul

Pormenor do Portal Sul Rosácea e friso sobre o Portal Oeste Pormenor do Portal Sul
Figura 19: Imagens obtidas na Igreja Matriz de Caminha após a intervenção de 2002-2007.
100 JMC’2011

4. IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LAPA: DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

4.1 Introdução

A Igreja de Nossa Senhora da Lapa situa-se no Monte de Germalde no centro da cidade do


Porto, caracterizado por elevados níveis de poluição do ar. Foi construída com granito do
Porto. Begonha (2001) [7] classifica esta rocha como um granito de duas micas, de grão médio,
com textura hipidiomórfica granular, por vezes com tendência porfiróide. Apresenta cor
cinzenta clara e aspecto muito homogéneo. É constituído por quartzo, microclina,
frequentemente pertítica (composição média 92,8% Or – 5,7% Ab – 1,5% An), albite
(composição média 0,7% Or – 90,3% Ab – 9,0% An), moscovite e biotite, tendo como
minerais acessórios o zircão, a apatite, a silimanite (fibrolite) e a monazite. A moscovite é a
mica dominante. O estudo geocronológico U-Pb sobre fracções de monazite e de zircão
efectuado por Almeida (2001) [19] permitiu obter uma idade mínima de 318 Ma para a
instalação do granito do Porto.

A igreja começou a ser construída em 1756. As torres, com cerca de 56 metros de altura
(Figura 20), foram terminadas entre 1855 e 1863.

Figura 20: Igreja de Nossa Senhora da Lapa – Fachadas principal e laterais das torres.

O nível freático, medido num poço existente perto da cabeceira da Igreja da Lapa, situa-se,
conforme a época do ano, entre os 5 metros e os 6,3 metros de profundidade. No entanto,
durante a fase de intervenção no monumento, medições realizadas em sondagens executadas
junto à torre Sul mostraram que o nível freático se encontrava a cerca de 2 metros de
profundidade e, consequentemente, em contacto com as fundações da igreja.

4.2 Estudo do granito do Porto aplicado na Igreja da Lapa

As observações por MEV em amostras da Igreja de Nossa Senhora da Lapa revelaram a


presença de cristais meteorizados de plagióclase sódica e de moscovite, bem como dos
minerais secundários gibsite + caulinite. Tal como na Igreja Matriz de Caminha, as pedras de
granito do Porto utilizadas na Igreja da Lapa apresentavam assim meteorização herdada da
pedreira, aquando da sua construção.
1as Jornadas de MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO 101

Realizaram-se na amostra LAPA 8 de desagregação granular de intensidade forte e nas


amostras LAPA 17 e LAPA 18 de pedras de granito do Porto que caíram de cornijas da
fachada principal da Igreja da Lapa ensaios para a determinação da porometria, tendo sido
determinadas a porosidade total ao mercúrio (NHg), a microporosidade (Nμ - porosidade relativa
às fissuras com diâmetros inferiores a 7,5 μm), a macroporosidade (NM - porosidade relativa às
fissuras com diâmetros superiores a 7,5 μm), a percentagem da microporosidade relativamente
à porosidade total ao mercúrio (Nμ/NHg) e os diâmetros de acesso das principais famílias de
fissuras (da). Os valores determinados são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2: Resultados obtidos com o porosímetro de mercúrio.


AMOSTRAS da (μm) NHg (%) NM (%) Nμ (%) 100×Nμ/NHg (%)
0,40
LAPA 18 4,27 1,28 2,99 70
9,50
1,17
LAPA 17 5,18 1,92 3,26 63
9,96
16,32
LAPA 8 6,11 3,60 2,51 41
5,20

Os valores de NHg, variam entre 4,27% e 6,11%. Nas duas amostras LAPA 17 e LAPA 18 de
pedras de granito do Porto que caíram de cornijas da fachada principal, a microporosidade Nμ
domina em relação à macroporosidade NM. Assim, a microporosidade representa cerca de 63%
a 70% da porosidade total do mercúrio. Pelo contrário, na amostra de desagregação granular de
intensidade forte LAPA 8, a macroporosidade NM domina relativamente à microporosidade Nμ.
(Nμ representa cerca de 41% de NHg).

Nas três amostras, verifica-se a existência de duas famílias dominantes de fissuras (Tabela 2).
Na Figura 21, apresentam-se as distribuições bimodais dos diâmetros de acesso às fissuras das
amostras LAPA 18 e LAPA 8.

0,008 0,016
0,40 μm
AMOSTRA LAPA 18 AMOSTRA LAPA 8 16,32 μm
0,007 0,014
log DIFERENCIAL VOLUME (ml/g)

log DIFERENCIAL VOLUME (ml/g)

0,006 0,012
9,50 μm
0,005 0,010
5,20 μm
0,004 0,008

0,003 0,006

0,002 0,004

0,001 0,002

0,000 0,000
0,0010 0,0100 0,1000 1,0000 10,0000 100,0000 1.000,0000 0,00 0,01 0,10 1,00 10,00 100,00 1000,00

DIÂMETRO DE ACESSO ÀS FISSURAS (μm) DIÂMETRO DE ACESSO ÀS FISSURAS (μm)

Figura 21: Distribuição dos diâmetros de acesso às fissuras das amostras LAPA 18 e LAPA 8.

Os valores dos diâmetros de acesso da família principal de fissuras (0,40 – 1,17 μm) das duas
pedras de cornijas de granito do Porto (amostras LAPA 18 e LAPA 17) são muito inferiores
aos dos da segunda família de acesso às fissuras (9,50 – 9,96 μm). Na amostra de desagregação
102 JMC’2011

granular (LAPA 8), verifica-se o oposto, isto é, o diâmetro de acesso às fissuras da família
principal (16,32 μm) é muito superior ao do da família secundária (5,20 μm).

4.3 Deteriorações da pedra na fachada principal

Na fachada principal da Igreja da Lapa, Begonha (2005) [20] identificou as seguintes


deteriorações: desagregação granular, filmes negros, crostas negras, colonização biológica,
placas, plaquetas, fissuras e fendas. A Figura 22 mostra algumas imagens de deteriorações.

Desagregação granular Filme negro

Filme negro Crosta negra – grande cornija

Desagregação granular – Estátua de Colonização liquénica Placa


Judite
Figura 22: Imagens de alguns tipos de deteriorações da pedra.
1as Jornadas de MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO 103

A desagregação granular é, a par dos filmes negros, o tipo de deterioração da pedra mais
importante. Afecta grande número de pedras desde o rés-do-chão às torres. A desagregação
granular é muito intensa em muitas pedras do rés-do-chão sobretudo entre as cotas de 3 metros
a 5 metros, com recuo da superfície da pedra por vezes superior a três centímetros, resultado da
queda de material pétreo.

Em diversas zonas, a forte perda de material pétreo, devido à desagregação granular, levou à
reconstituição da geometria inicial das pedras com a aplicação de quantidades por vezes
significativas de argamassas de cimento Portland que, para além do aspecto inestético,
contribuem para a aceleração do processo de deterioração do granito do Porto. A deterioração
das antigas argamassas de cal das juntas conduziu ao emprego de argamassas de cimento
Portland nas mesmas.

Os filmes negros afectam um elevadíssimo número de pedras, sendo, conforme o nome indica,
formações superficiais muito finas, de cor negra ou castanha muito escura. Recobrem e aderem
fortemente à superfície das pedras graníticas, mantendo, devido à sua reduzida espessura, a
rugosidade superficial das mesmas. São constituídos por depósitos superficiais e não por
fragmentos de granito. Usualmente baços, homogéneos e duros, podem exibir brilho metálico.
Devido à forte aderência à superfície das pedras graníticas, a remoção dos filmes negros em
trabalhos de limpeza só é possível com a aplicação de produtos de pH ácido com ácido
fluorídrico na sua composição ou por métodos abrasivos.

As crostas negras caracterizam-se pela sua cor negra. Tal como os filmes negros, não são
formadas por fragmentos de pedras de granito do Porto, mas por depósitos que cobrem as
superfícies das pedras e argamassas das juntas. A superfície das crostas negras é mais ou
menos irregular e raramente acompanha a rugosidade superficial das pedras que recobre. Na
Igreja da Lapa, as crostas negras têm grande expressão. A sua espessura varia dos 2 aos 7 mm.
Podem apresentar superfície com relevo com forma dendrítica característica, idêntica à forma
de couve-flor, aparecendo em zonas abrigadas da chuva, sobretudo sob as largas cornijas da
fachada principal, simetricamente dispostas e a alguns centímetros das juntas abertas por onde
se faz a percolação das águas das chuvas.

O número de pedras afectado por placas ou por plaquetas afectadas por desagregação granular
é diminuto, quando comparado com o número de pedras afectado pela desagregação granular
ou filmes negros.

A actividade biológica é pouco intensa no rés-do-chão devido aos elevados índices de poluição
atmosférica. Verifica-se a ausência de líquenes e o desenvolvimento de algumas plantas
superiores. Sobre as cornijas constata-se o desenvolvimento de plantas superiores.

No topo da frontaria e nas torres, verifica-se o crescimento de várias espécies de líquenes de


cores cinzenta, verde, amarela alaranjada e negra, musgos e plantas superiores (fanerogâmicas
e fetos). Alguns líquenes são de variedades incrustantes, outros de variedades folhosas. Os
líquenes negros, de reduzida dimensão, têm geralmente diâmetro inferior a 3 mm,
confundindo-se com grãos de biotite.

Algumas fissuras e fendas estão presentes sobretudo nas duas torres e nas padieiras de algumas
janelas.
104 JMC’2011

4.4 Estudo mineralógico das deteriorações da pedra na fachada principal

Os estudos por MEV, permitiram identificar diversos minerais de sais solúveis,


nomeadamente: cloretos - halite, sulfatos - gesso, nitratos - nitratite, fosfatos - brushite
(CaHPO4⋅2H2O) e carbonatos - calcite. Na Tabela 3, apresentam-se os minerais de sais solúveis
identificados, estando representados em maiúsculas os minerais dominantes e que aparecem em
quantidades significativas. Na Figura 23, apresentam-se imagens obtidas da cristalização de
gesso e halite no interior do meio poroso do granito do Porto.

Tabela 3: Minerais de sais solúveis identificados nas deteriorações da Igreja da Lapa.


LOCALIZAÇÃO DETERIORAÇÃO MINERAIS DE SAIS SOLÚVEIS
HALITE + gesso + brushite ± nitratite ± calcite
Desagregação granular GESSO + halite + brushite ± nitratite
GESSO + brushite + calcite
Placas GESSO + calcite + brushite
Fachada principal Plaquetas afectadas por GESSO + halite + brushite + calcite
desagregação granular GESSO + nitratite + halite
Gesso
Filmes negros
Não se identificou qualquer mineral de sal solúvel
Crostas negras GESSO

G
Q
M
G G
Q
G
B B
M H
G

Gesso (G) entre folhetos de biotite (B) Cristais de gesso (G) entre folhetos de Halite (H) em fissura intragranular no
moscovite (M) quartzo (Q)
Figura 23: Cristalização do gesso e da halite no interior do meio poroso do granito do Porto.

Na Figura 24, ilustram-se imagens de minerais de sais solúveis identificados por MEV em
amostras de deteriorações, assim como o aspecto de um filme negro e dois tipos de cinzas
volantes associadas à poluição do ar. Os minerais de sais solúveis tanto cristalizam sob formas
simples típicas (Figuras 24a, 24c, 24d, 24e, 24f, 24g) como exibem hábitos cristalinos muito
diferentes dos habituais (Figuras 24b, 24f, 24h, 24i), resultado das condições espaciais a que
estão sujeitos quando cristalizam na rede porosa do granito. As amostras de filmes negros são
constituídas por um agregado homogéneo que reveste totalmente o granito. Os filmes negros
exibem aspectos distintos: superfície mais ou menos lisa (Figura 24j) ou uma superfície
granulada, nitidamente mais rugosa que a do tipo anterior. Observaram-se ainda os seguintes
tipos de cinzas volantes: carbonosas, porosas, ricas em S (Figura 24l); de superfície rugosa de
óxido de Fe (Figura 24m); de superfície lisa, constituídas por Si e Al.
1as Jornadas de MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO 105

a) Cubos de halite sobre albite b) Cristais de halite sobre microclina c) Cristais de gesso sobre microclina

G
G

d) Cristais lamelares de gesso e) Cristais tabulares de gesso f) Cristais de calcite (C) e gesso (G)

H Br

Br G

g) Cristal acicular de brushite (Br) e h) Cristal prismático de brushite (Br) i) Cristal acicular de niratite sobre
cubos de halite (H) sobre plagióclase sobre gesso (G) e quartzo (Q) albite

j) Aspecto geral do filme negro com l) Cinza volante porosa, carbonosa e m) Cinza volante de superfície rugosa
superfície mais ou menos lisa rica em enxofre constituída por óxido de ferro
Figura 24: Imagens por MEV de minerais de sais solúveis, filme negro e cinzas volantes.
106 JMC’2011

4.5 Diagnóstico e proposta de tratamento

Begonha (2005) [20], no estudo diagnóstico, conclui que:

As deteriorações da pedra na Igreja de Nossa Senhora da Lapa resultam essencialmente da


cristalização de minerais de sais solúveis na rede porosa do granito do Porto meteorizado. O
processo de meteorização conduziu à formação de uma rede porosa de tipo fissural muito bem
interligada que possibilita a rápida e eficaz transferência de soluções salinas por capilaridade a
partir do solo ou da chuva, bem como a fortes fluxos de evaporação dessas soluções.

A desagregação granular e os filmes negros são os dois tipos de deteriorações mais importantes
na Igreja de Nossa Senhora da Lapa.

Os factores responsáveis pelo avançado estado de deterioração da pedra no monumento são: a


proximidade do Oceano Atlântico e do Rio Douro, associadas às condições de elevada
precipitação, elevada humidade relativa do ar e forte ventilação do local; os elevados índices de
poluição do ar na cidade do Porto; a permanência e acumulação de dejectos de pombos nas
cornijas da fachada.

A halite, presente nas pedras afectadas por desagregação granular e plaquetas, tem como
principal origem a água da chuva devido à proximidade do Atlântico. O gesso, identificado em
amostras de desagregação granular, plaquetas, placas e crostas negras, está associado à água da
chuva contaminada pelos elevados índices de poluição do ar na cidade do Porto. A brushite e a
nitratite presentes nas pedras que exibem desagregação granular, plaquetas e placas têm origem
na lixiviação, pela água da chuva, dos dejectos de pombos acumulados nas cornijas da fachada.

Os filmes negros resultam da acumulação na superfície das pedras de Granito do Porto de


numerosas partículas de composições muito diversas, na sua grande maioria constituídas por
compostos de carbono associados à poluição do ar.

Nas zonas mais altas da fachada, as mesmas condições geográficas e climáticas e a diminuição
dos índices de poluição atmosférica favorecem o desenvolvimento de seres vivos nas pedras,
particularmente de diversos tipos de líquenes. No rés-do-chão da fachada, os elevados índices
de poluição do ar que aí se registam impedem o desenvolvimento dos mesmos.

A metodologia da limpeza e tratamento da pedra proposta [20] compreendeu as seguintes


fases: limpeza da pedra; limpeza e preenchimento das juntas com argamassa de cal; eliminação
da colonização biológica; remoção dos filmes negros; remoção das crostas negras com água
nebulizada; consolidação das áreas mais intensamente afectadas por desagregação granular
com um consolidante à base de ortossilicato de tetraetilo; hidrofugação das superfícies tratadas;
protecção das cornijas de grande largura com chapas metálicas; colocação de dispositivos
electrostáticos contra a acção dos pombos.

Nas zonas mais baixas do monumento, sujeitas à ascensão de soluções salinas a partir do solo,
a metodologia proposta só conduzirá a uma diminuição ou eliminação do processo de
decaimento da pedra, se forem implementadas medidas que evitem a ascensão capilar da água.
1as Jornadas de MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO 107

4.6 Intervenção na Igreja da Lapa (Dezembro de 2007 – Julho de 2009)

A equipa que procedeu à intervenção na pedra era composta exclusivamente por técnicos de
restauro, sendo chefiada por um técnico superior de restauro. A intervenção decorreu em três
fases sucessivas: a primeira fase incidiu sobre a torre Norte, a segunda sobre o corpo central da
igreja e a terceira sobre a torre Sul. A Figura 25 mostra as diferentes fases da intervenção.

Abril 2008 Setembro 2008 Novembro 2008 Julho 2009


Figura 25: Diferentes fases na intervenção na Igreja de Nossa Senhora da Lapa.

O método de eliminação dos fimes negros mereceu alguma discussão, não só pelo elevado
número de pedras afectado por esta degradação, mas sobretudo pelos riscos envolvidos na
aplicação dos métodos de remoção: o método químico com o produto Heavy Duty que inclui
ácido fluorídrico na sua composição; o método abrasivo patenteado Exastrip/Hdo® de
projecção de água e partículas de carbonato de cálcio precipitado.

Com o propósito de avaliar os riscos inerentes a cada um dos métodos, realizaram-se


previamente ensaios para remoção dos filmes negros através de água nebulizada (Figura 26a),
do método químico com o produto ácido Heavy Duty (Figura 26b) e do método abrasivo
Exastrip/Hdo® (Figura 27). Concomitantemente, efectuou-se o estudo por MEV das partículas
utilizadas no método Exastrip/Hdo® (Figura 28).

a) Remoção através de água nebulizada b) Remoção com o método químico ácido Heavy Duty
Figura 26: Ensaios prévios de remoção de filmes negros.
108 JMC’2011

Figura 27: Ensaios prévios de remoção de filmes negros com o método abrasivo patenteado
Exastrip/Hdo® de projecção de água e partículas de carbonato de cálcio precipitado.

Figura 28: Método Exastrip/ HDO® - Imagens de partículas de carbonato de cálcio precipitado
obtidas por MEV.

O método de remoção dos filmes negros através de água nebulizada mostrou-se totalmente
ineficaz.

Pelo contrário, os dois outros métodos revelaram-se eficazes e rápidos. Do ponto de vista
visual, os resultados foram muito semelhantes e satisfatórios, tendo-se obtido uma coloração
final do granito do Porto que agradou aos dois projectistas, Senhor Arqº. Joaquim Massena e o
autor deste trabalho, aos elementos do IPPAR que acompanharam a obra, Senhoras Engª.
Margarida Lencastre, Drª. Adriana Amaral, Drª. Isabel Dias Costa e Arqª. Mafalda Carneiro, ao
responsável pela fiscalização, Senhor Engº. Filipe Almeida, ao empreiteiro, Senhor Engº.
Filipe Ferreira da firma AOF e ao técnico superior de restauro Dr. Pedro Antunes da firma
CaCO3. A segurança da obra esteve a cargo da Senhora Drª. Laura Pereira.

A escolha inicial recaiu sobre o método abrasivo Exastrip/Hdo®. No entanto, devido aos
elevadíssimos custos inerentes a esse método, incorportáveis para o orçamento da obra e,
atendendo igualmente às posições invocadas pela digníssima Mesa da Venerável Irmandade de
Nossa Senhora da Lapa, Dono da Obra, optou-se por uma situação de compromisso.

Dado que as pedras de granito do Porto, localizadas acima da cornija que separa os primeiro e
segundo andares, apresentavam, de um modo geral, um razoável estado de conservação,
decidiu-se que a remoção dos filmes negros seria efectuada pelo método químico com o
produto ácido Heavy Duty, muitíssimo mais económico. Abaixo da mesma cornija, as pedras
apresentavam pior estado de conservação, pelo que se decidiu que a eliminação dos filmes
negros seria aí realizada pelo método abrasivo Exastrip/Hdo®.
1as Jornadas de MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO 109

A utilização dos dois métodos poderia conduzir a diferenças de tonalidade do granito, após a
remoção dos filmes negros, pelo que foi necessário um acompanhamento, controlo e avaliação
permanentes dos resultados.

A metodologia da limpeza e tratamento da pedra compreendeu as seguintes fases: limpeza da


pedra e remoção dos dejectos de pombos por escovagem a seco com escovas macias de nylon;
limpeza da pedra com água nebulizada; remoção das argamassas de cimento das juntas e de
colmatação de lacunas (Figura 29a); remoção das argamassas antigas de cal deterioradas das
juntas; limpeza (Figura 29b), preenchimento (Figura 30a) e acabamento (Figura 30b) das juntas
e das aberturas dos andaimes utilizadas na construção da igreja (Figura 30c) com argamassa de
cal; eliminação da colonização biológica com produtos biocida e herbicida; eliminação de
elementos metálicos não estruturais e substituição dos estruturais por outros em aço inoxidável;
remoção dos filmes negros situados acima da cornija do rés-do-chão com o método químico
ácido Heavy Duty; remoção dos filmes negros localizados abaixo da cornija do rés-do-chão
com o método Exastrip/Hdo® (Figura 30d); remoção das crostas negras com água nebulizada
(Figura 30e); consolidação das áreas mais intensamente afectadas por desagregação granular
com consolidante à base de ortossilicato de tetraetilo; estabilização e reforço estrutural da
grande cornija (Figura 30f) e das padieiras de algumas janelas segundo as propostas de Arêde
et al. (2008) [21]; hidrofugação das superfícies tratadas à pistola (Figura 30g); protecção das
cornijas com chapas de zinco (Figura 31a) ou com a aplicação de chumbo nas juntas;
colocação de dispositivos electrostáticos contra a acção dos pombos (Figura 31b);
monitorização estrutural da torre Sul através da instalação de fissurómetros, declinómetro e
termómetro conforme indicação de Arêde et al. (2008) [22].

Em virtude de constrangimentos de natureza financeira, não foi possível implementar medidas


que evitassem o fenómeno da ascensão por capilaridade a partir do solo, pelo que se decidiu
por não consolidar nem hidrofugar as pedras do primeiro andar da igreja, de modo a evitar que
a progressão da franja capilar atingisse cotas ainda mais elevadas do que as actuais.

a) b)
Figura 29: a) Remoção das argamassas de cimento de colmatação de lacunas; b) Limpeza de
juntas.
110 JMC’2011

a) Enchimento de juntas com argamassas de cal b) Acabamento de juntas com argamassas de cal

e) Remoção de crostas negras com água nebulizada

c) Acabamento das aberturas dos andaimes

f) Reforço estrutural na grande cornija

d) Remoção de filmes negros pelo método Exastrip/Hdo

g) Aplicação do produto hidrófugo à pistola


Figura 30: Diversas operações realizadas durante a intervenção na Igreja da Lapa.
1as Jornadas de MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO 111

a) Colocação de chapas de zinco numa b) Dispositivos electrostáticos anti-aves


cornija -
Figura 31: Diversas operações realizadas durante a intervenção na Igreja da Lapa.

A Figura 32 apresenta algumas imagens obtidas após a intervenção no monumento.

Figura 32: Imagens da Igreja de Nossa Senhora da Lapa após a intervenção.


112 JMC’2011

REFERÊNCIAS

[1] Madureira, M.C.V. – “Diagnóstico e proposta de tratamento da pedra do Mosteiro da


Serra do Pilar”. Tese Mestrado, Inst. Politécnico Porto – Inst. Sup. Engenharia Porto,
Porto, 2008, 200 pp.
[2] Resende, J.A.M. – “Análise dos efeitos de produtos preventivos e correctivos anti-graffiti
no granito do Porto”. Tese Mestrado, Univ. Minho, Guimarães, 2010, 266 pp.
[3] Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais – “Igreja de Paço de Sousa”.
Monumentos – Boletim da Dir. Geral Edif. Monumentos Nacionais, 17, 1939, 28 pp.
[4] Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais – “Ficha número 1602070002 –
Igreja Matriz de Caminha / Igreja de Nossa Senhora da Assunção”. Inventário do
Património Arquitectónico, Paula Noé, 2001, 4 pp.
[5] Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais – “Igreja Matriz de Caminha”.
Monumentos – Boletim Dir. Geral Edif. Monumentos Nacionais, 6, 1936, 28 pp.
[6] Sequeira Braga, M.A. – “Arenas e depósitos associados da bacia de drenagem do rio
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Minho, Braga, 1988, 325 pp.
[7] Begonha, A. – “Meteorização do granito e deterioração da pedra em monumentos e
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[8] Sequeira Braga, M.A., Paquet, H., Begonha, A – “Weathering of granites in a temperate
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[9] Begonha, A, Sequeira Braga, M.A. – “Weathering of the Oporto granite: geotechnical and
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[10] Begonha, A. – “Igreja de Nossa Senhora da Assunção, Matriz de Caminha: Estudo da
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[11] Begonha, A., Jeannette, D., Hammecker, C., Sequeira Braga, M.A. – “Physical
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[12] Begonha, A. – “Convento de São Gonçalo de Amarante: Estudo diagnóstico e proposta de
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[15] Bré, J.M.O. – “Capela do Senhor da Pedra: Diagnóstico e proposta de tratamento da
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[17] Ferreira, J.F.O. – “Caracterização da acção da água em edifícios de pedra”. Tese
Mestrado, Univ. Minho, Guimarães, 2004, 177 pp.
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1as Jornadas de MATERIAIS NA CONSTRUÇÃO 113

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[21] Arêde, A., Costa, A., Neves, F. – “Igreja de Nossa Senhora da Lapa no Porto –
Estabilização de padieiras sobre janelas das torres na fachada principal e da cornija
traseira da torre poente”. Relatório FEUP / Instituto da Construção / NCR’EP, Porto,
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[22] Arêde, A., Costa, A., Neves, F. – “Igreja de Nossa Senhora da Lapa no Porto –
Estabilização de padieiras sobre janelas das torres na fachada principal e controlo das
patologias estruturais da torre nascente”. Relatório FEUP / Instituto da Construção /
NCR’EP, Porto, 2008, 17 pp.
114 JMC’2011

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