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INSTITUTO SUPERIOR MUTASA

DELEGAÇÃO DE CHIMOIO

Responsabilidade Civil da Administração Pública

O trabalho é de Direito Administrativo,


de carácter avaliativo a ser entregue ao
docente da cadeira de Direito
Administrativo do Curso Direito – 2o Ano

LICENCIATURA EM DIREITO

2ºANO – 2° SEMESTRE – LABORAL – 2° GRUPO

CADEIRA: DIREITO ADMINISTRATIVO

Chimoio, 2023
INSTITUTO SUPERIOR MUTASA

DELEGAÇÃO DE CHIMOIO

Responsabilidade Civil da Administração Pública

Discentes:

Acaina Aizeque

Eliseu Armando Botão

Madalena da Piedade

Michaela Agostinho

Docente:

MS’c. Abias Armando

LICENCIATURA EM DIREITO

2ºANO – 2° SEMESTRE – LABORAL – 2° GRUPO

CADEIRA: DIREITO ADMINISTRATIVO

Chimoio, 2023
Índice

Capítulo I. Introdução................................................................................................................5

1. Objectivos e metodologia................................................................................................6

1.1. Objectivo geral.........................................................................................................6

1.2. Objectivos específicos.............................................................................................6

1.3. Metodologia.............................................................................................................6

Capítulo II. Responsabilidade Civil da Administração Pública.................................................7

2. Conceitos básicos............................................................................................................7

3. Evolução histórica da responsabilidade civil..................................................................8

4. Espécies da responsabilidade civil..................................................................................9

4.1. Responsabilidade civil subjectiva e objectiva.........................................................9

4.2. Responsabilidade Civil contratual e extracontratual.............................................10

5. Pressupostos gerais da responsabilidade civil...............................................................10

5.1. Conduta..................................................................................................................11

5.2. Dano.......................................................................................................................12

5.3. Nexo de causalidade..............................................................................................13

5.4. Culpa......................................................................................................................13

6. A Evolução Histórica da Responsabilidade civil do Estado.........................................13

7. Irresponsabilidade total do Estado................................................................................14

8. Responsabilidade Subjectiva: Culpa Civilista e Culpa Administrativa........................15

9. Responsabilidade Objectiva..........................................................................................16
10. Princípio da responsabilidade da Administração Pública.........................................18

Conclusão.................................................................................................................................19

Bibliografia..............................................................................................................................20
Capítulo I. Introdução

O Presente trabalho de pesquisa trata da Responsabilidade civil do Estado no âmbito da


Administração Pública que se encontra a sua acomodação Constitucional de forma
inequívoca nos termos do n.º 2 do artigo 58° da CRM e também nos termos do art. 13° das
NFSAP.

Bem sabe-se que nos tempos remotos o Estado não respondia pelos actos danosos que
seus funcionários causassem as vítimas, no entanto, através da Revolução Francesa houve
uma queda do autoritarismo monárquico e o povo começou uma forma de repressão aos
desmandos do rei. Diante disto surgem diplomas que instituíam responsabilidade ao Estado
devido aos prejuízos causados, mediante o pagamento de indemnização a vítima. A partir daí
o Estado sai da posição de completamente irresponsável civilmente e avança para a fase da
Responsabilidade Subjectiva até chegar à fase da Responsabilidade Objectiva.

No que refere a responsabilidade Civil do Estado queremos explicar sob prisma da


Administração Pública, visto que seria vago apenas referirmos o Estado porque ele possui
muitas instituições concernente aos diferentes poderes que ele detém. De acordo com o
módulo em alusão, importa referir que vamos abarcar a origem da responsabilidade civil e do
Estado em particular e os seus pressupostos gerais o conceito de responsabilidade civil,
responsabilidade civil do Estado, o conceito do Estado, Administração Pública, a espécie da
responsabilidade civil no geral, e os seus processos evolutivos no seu campo histórico.
Também vamos debruçar sobre os fundamentos da responsabilidade que são a subjetiva e
objetiva.

Neste caso, importa salientarmos que quando o Estado começou a ser


responsabilizado, também no caso atinente de Moçambique sendo um Estado de Direito
Democrático, mas concernente a Administração Pública no ordenamento jurídico
Moçambicano consagra com exactidão o princípio da responsabilidade dessa (Administração
Pública).

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1. Objectivos e metodologia
1.1. Objectivo geral
 Compreender de forma sólida a Responsabilidade civil da Administração
Pública.

1.2. Objectivos específicos


 Conceituar a Responsabilidade civil da Administração Pública;
 Destacar as espécies da responsabilidade civil;
 Expor a responsabilidade civil subjectiva e objectiva;
 Trazer os pressupostos gerais da responsabilidade civil.

1.3. Metodologia

Na elaboração deste trabalho foi usado o método de procedimentos bibliográficos.

Quanto a técnica foi usada a documentação indireta que é constituída pelas técnicas
documental e bibliográfica:

 Técnica Documental: aquisição de conhecimentos a partir do emprego de


informações retiradas de material sem tratamento analítico;
 Técnica Bibliográfica: com recurso a fontes bibliográficas (material já
publicado e com direitos autorais).

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Capítulo II. Responsabilidade Civil da Administração Pública

2. Conceitos básicos

De acordo com Rui Stoco a ideia de responsabilidade civil está relacionada à noção de
não prejudicar outro.

A responsabilidade pode ser definida como a aplicação de


medidas que obriguem alguém a reparar o dano causado a
outrem em razão de sua acção ou omissão.

Segundo Sílvio Rodrigues “a responsabilidade civil é a obrigação que pode incumbir


uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por facto próprio, ou por facto de pessoas ou
coisas que dela dependam’’, o termo responsabilidade é Dever jurídico, em que se coloca a
pessoa, seja em virtude de contrato, seja em face de facto ou omissão, que lhe seja imputado,
para satisfazer a prestação convencionada ou para suportar as sanções legais, que lhe são
impostas. Onde quer, portanto, que haja obrigação de fazer, dar ou não fazer alguma coisa, de
ressarcir danos, de suportar sanções legais ou penalidades, há a responsabilidade, em virtude
da qual se exige a satisfação ou o cumprimento da obrigação ou da sanção.

“No direito actual, a tendência é de não deixar a vítima de actos


ilícitos sem ressarcimento, de forma a restaurar seu equilíbrio
moral e patrimonial”. O lesionamento a elementos integrantes
da esfera jurídica alheia acarreta ao agente a necessidade de
reparação dos danos provocados. É a responsabilidade civil, ou
obrigação de indemnizar, que compele o causador a arcar com
as consequências advindas da violadora, ressarcindo os
prejuízos de ordem moral ou patrimonial, decorrente de facto
ilícito próprio, ou de outrem a ele relacionado.

Em seu sentido etimológico e também no sentido jurídico, a responsabilidade civil está


atrelada a ideia de contraprestação, encargo e obrigação. Entretanto é importante distinguir a
obrigação da responsabilidade. “A obrigação é sempre um dever jurídico originário e
responsabilidade é um dever jurídico sucessivo consequente à violação do primeiro”.

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“A responsabilidade Civil do Estado como define com
acurácia Celso António Bandeira de Melo entende-se por
responsabilidade Civil do Estado como a obrigação do Estado
que lhe incumbe de reparar economicamente os danos lesivos à
esfera juridicamente garantida de outrem e que sejam
imputáveis em decorrência de comportamentos unilaterais
lícitos ou ilícitos, comissivos ou omissivos, materiais ou
jurídicos”.

Conceito de Administração pública é um conceito da área do Direito que descreve o


conjunto de agentes, serviços e órgãos instituídos pelo Estado com o objectivo de fazer a
gestão de certas áreas de uma sociedade, como Educação, Saúde, Cultura, etc. Administração
pública também representa o conjunto de acções que compõem a função administrativa.

3. Evolução histórica da responsabilidade civil

A responsabilidade civil é matéria viva e dinâmica que constantemente se renova de


modo que, a cada momento, surgem novas teses jurídicas a fim de atender às necessidades
sociais emergentes. A responsabilidade civil é o instituto de direito civil que teve maior
desenvolvimento nos últimos 100 anos. Este instituto sofreu uma evolução pluridimensional,
tendo em vista que sua expansão se deu quanto a sua história, a seus fundamentos, a sua área
de incidência e a sua profundidade.

O conceito de responsabilidade, em reparar o dano injustamente causado, por ser


próprio da natureza humana, sempre existiu. A forma de reparação deste dano, entretanto, foi
transformando-se ao longo do tempo, sofrendo desta forma uma evolução.

Conforme a doutrina maioritária lecciona, a maior evolução do instituto ocorreu com o


advento da Lex Aquilia, que deu origem a denominação da responsabilidade civil delitual ou
extracontratual, que é também chamada de responsabilidade aquilina. Como ensina Pablo
Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho: “Um marco na evolução histórica da
responsabilidade civil se dá, porém, com a edição da Lex Aquilia, cuja importância foi tão
grande que deu nome a nova designação da responsabilidade civil delitual ou
extracontratual”.

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Esta legislação destacou-se por trazer a substituição da multa fixa por uma pena
proporcional ao dano causado.

“A indemnização permanecia substituindo o carácter da pena,


sendo que os textos relativos à acções de responsabilidade se
espraiaram de tal forma que, em último grau do direito romano,
já não mais faziam menção apenas aos danos materiais, mas
também aos danos morais.”

Na legislação francesa, mais precisamente no Código Civil de Napoleão, a culpa foi


inserida como pressuposto da responsabilidade civil aquiliana, influenciando diversas
legislações, até mesmo o Código Civil Moçambicano.

4. Espécies da responsabilidade civil

A responsabilidade civil costuma ser classificada pela doutrina em razão da culpa e


quanto a natureza jurídica da norma violada.

Quanto ao primeiro critério a responsabilidade é dividida em objectiva e subjectiva. Em


razão do segundo critério ela pode ser dividida em responsabilidade contratual e
extracontratual.

4.1. Responsabilidade civil subjectiva e objectiva

Denomina-se responsabilidade civil subjectiva aquela causada por conduta culposa lato
sensu, que envolve a culpa stricto sensu e o dolo. A culpa (stricto sensu) caracteriza-se
quando o agente causador do dano praticar o acto com negligência ou imprudência. Já o dolo
é a vontade conscientemente dirigida à produção do resultado ilícito.

Até determinado momento da história a responsabilidade civil subjectiva foi suficiente


para a resolução de todos os casos. Contudo, com o passar do tempo, tanto a doutrina quanto
a jurisprudência passaram a entender que este modelo de responsabilidade, baseado na culpa
não era suficiente para solucionar todos os casos existentes. Este declínio da responsabilidade
civil subjectiva se deu principalmente em função da evolução da sociedade industrial e o
consequente aumento dos riscos de acidentes de trabalho.

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“A necessidade de maior proteção a vítima fez nascer a culpa
presumida, de sorte a inverter o ónus da prova e solucionar a
grande dificuldade daquele que sofreu um dano demonstrar a
culpa do responsável pela acção ou omissão, o próximo passo
foi desconsiderar a culpa como elemento indispensável, nos
casos expressos em lei, surgindo a responsabilidade objectiva,
quando então não se indaga se o acto é culpável.

Nesse contexto surge a denominada responsabilidade civil objectiva, que prescinde da


culpa. A teoria do risco é o fundamente dessa espécie de responsabilidade, sendo resumida
por Sérgio Cavalieri nas seguintes palavras: “de acordo com Carvalho Filho Todo prejuízo
deve ser atribuído ao seu autor e reparado por quem o causou independente de ter ou não
agido com culpa”. Resolve-se o problema na relação de nexo de causalidade, dispensável
qualquer juízo de valor sobre a culpa.

4.2. Responsabilidade Civil contratual e extracontratual

A responsabilidade civil pode ser classificada, de acordo com a natureza do dever


jurídico violado pelo causador do dano, em contratual ou extracontratual.

Na primeira, configura-se o dano em decorrência da celebração ou da execução de um


contrato O dever violado é oriundo ou de um contrato ou de um negócio jurídico unilateral.
Se duas pessoas celebram um contrato, tornam-se responsáveis por cumprir as obrigações que
convencionaram.

Na prática, tanto a responsabilidade contratual como a extracontratual dão ensejo à


mesma consequência jurídica: a obrigação de reparar o dano. Desta forma, aquele que,
mediante conduta voluntária, transgredir um dever jurídico, existindo ou não negócio
jurídico, causando dano a outrem, deverá repará-lo.

5. Pressupostos gerais da responsabilidade civil

Os actos ilícitos são aqueles que contrariam o ordenamento jurídico lesando o direito
subjectivo de alguém. É ele que faz nascer à obrigação de reparar o dano e que é imposto
pelo ordenamento jurídico.

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O Código Civil Moçambicano estabelece a definição de factos ilícito em seu artigo
483: “Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou
qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o
lesado pelos danos resultantes da violação”.

Através da análise deste artigo é possível identificar os elementos da responsabilidade


civil, que são: ilicitude, a conduta culposa do agente, nexo causal, dano e culpa. Este
artigo é a base fundamental da responsabilidade civil, e consagra o princípio de que a
ninguém é dado o direito de causar prejuízo a outrem.

Na lição de Fernando Noronha, para que surja a obrigação de indemnizar são


necessários os seguintes pressupostos:

1. Que haja um facto (uma acção ou omissão humana, ou um facto humano, mas
independente da vontade, ou ainda um facto da natureza), que seja antijurídico, isto é, que
não seja permitido pelo Direito, em si mesmo ou nas suas consequências;

2. Que o facto possa ser imputado a alguém, seja por dever a actuação culposa da
pessoa, seja por simplesmente ter acontecido no decurso de uma actividade realizada no
interesse dela;

3. Que tenham sido produzidos danos;

4. Que tais danos possam ser juridicamente considerados como causados pelo acto ou
facto praticado, embora em casos excepcionais seja suficiente que o dano constitua risco
próprio da actividade do responsável, sem propriamente ter sido causado por esta.

5.1. Conduta

O elemento primário de todo acto ilícito, e por consequência da responsabilidade civil é


uma conduta humana. Entende-se por conduta o comportamento humano voluntário, que se
exterioriza através de uma acção ou omissão, produzindo consequências jurídicas.

No entendimento de Maria Helena Diniz a conduta é:

“A acção, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser


o acto humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito,
voluntário e objectivamente imputável do próprio agente ou de

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terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause
dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do
lesado.”

A responsabilidade decorrente do acto ilícito baseia-se na ideia de culpa, enquanto a


responsabilidade sem culpa baseia-se no risco. O acto comissivo é aquele que não deveria,
enquanto a omissão é a não observância de um dever.

A voluntariedade é qualidade essencial da conduta humana, representando a liberdade


de escolha do agente. Sem este elemento não haveria de se falar em acção humana ou
responsabilidade civil.

O acto de vontade, em sede de responsabilidade civil, deve ser contrário ao


ordenamento jurídico. É importante ressaltar que voluntariedade significa pura e
simplesmente o discernimento, a consciência da acção, e não a consciência de causar um
resultado danoso sendo este o conceito de dolo. Cabe destacar ainda, que a voluntariedade
deve estar presente tanto na responsabilidade civil subjectiva quanto na responsabilidade
objectiva.

5.2. Dano

A existência de dano é requisito essencial para a responsabilidade civil. Não seria


possível se falar em indemnização, nem em ressarcimento se não existisse o dano.

“O acto ilícito nunca será aquilo que os penalistas chamam de crime de mera conduta;
será sempre um delito material, com resultado de dano. Sem danos pode haver
responsabilidade penal, mas não há responsabilidade civil. Indemnização sem danos
importaria enriquecimento ilícito; enriquecimento sem causa para quem a recebesse e pena
para quem a pagasse, porquanto o objectivo da indemnização, sabemos todos, é reparar o
prejuízo sofrido pela vítima, reintegrá-la ao estado em que se encontrava antes da prática do
acto ilícito. E, se a vítima não sofreu nenhum prejuízo, a toda evidência, não haverá o que
ressarcir. Daí a afirmação, comum a praticamente todos os autores, de que o dano é não
somente o facto constitutivo mas, também, determinante do dever de indemnizar”.

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O Código Civil Moçambicano estabelece no seu n° 1 do art. 564: “O dever de
indemnizar compreende não só o prejuízo causado, como os benefícios que o lesado deixou
de obter em consequência da lesão”.

Cabe citar Agostinho Alvim: “pode-se dizer que o dano ora produz o efeito de diminuir
o património do credor, ora o de impedir-lhe o aumento, ou acrescentamento, pela cessação
de lucros, que poderia esperar”.

O dano emergente consiste no efectivo prejuízo suportado pela vítima, ou seja, o que
ela efectivamente perdeu em razão da lesão. É o dano que vem à tona de imediato, em razão
de um desfalque concreto do património da pessoa lesada, e, por esse motivo, não há grandes
dificuldades para a mensuração da indemnização.

5.3. Nexo de causalidade

O nexo de causalidade é a relação de causa e efeito entre a conduta praticada e o


resultado. Para que se possa caracterizar a responsabilidade civil do agente, não basta que o
mesmo tenha praticado uma conduta ilícita, e nem mesma que a vítima tenha sofrido o dano.
É imprescindível que o dano tenha sido causado pela conduta ilícita do agente e que exista
entre ambos uma necessária relação de causa e efeito.

5.4. Culpa

A culpa não é definida e nem conceituada no Código Civil de Moçambique. A regra


geral do Código Civil Moçambicano para caracterizar o acto ilícito, contida no artigo 483,
estabelece que este somente se materializará se o comportamento for culposo. Neste artigo
está presente a culpa lato sensu, que abrande tanto o dolo quanto a culpa em sentido estrito.

Por dolo entende-se, em síntese, a conduta intencional, na qual o agente actua


conscientemente de forma que deseja que ocorra o resultado antijurídico ou assume o risco de
produzi-lo.

6. A Evolução Histórica da Responsabilidade civil do Estado

No passado o Estado não respondia pelos seus actos, principalmente na época do


absolutismo, cujos monarcas julgavam-se estar acima da lei, o que originou a expressão
L’État c est moi, traduzindo significa o Estado sou eu. O que havia eram acções dos

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administradores contra o funcionário público causador do dano não cabendo ao Estado
responsabilidade alguma pela acção de seus funcionários.

A Revolução Francesa de 1789 teve um papel fundamental para o surgimento do


direito administrativo rompendo com os excessos, com o autoritarismo decorrente do
despotismo monárquico, ocasião em que a hipótese de se atribuir qualquer falha ou dano ao
Estado por reflexo significaria responsabilizar o rei impingindo-lhe falibilidade, o que de
certo modo representaria uma afronta, percebe-se assim, que a ideia de responsabilidade
patrimonial por parte do Estado toma força a partir da implantação das teorias pregadas
durante o Iluminismo favorável à separação dos poderes ao constitucionalismo, República e
democracia.

É neste século que começou a existir por parte da população uma repressão contra os
desmandos dos absolutistas, prova disso é que as comunas passaram a responder pelas
atitudes das forças policiais e essa manifestação da população teve repercussão nos demais
países.

7. Irresponsabilidade total do Estado.

Esta fase se desenvolve durante o período em que a forma de governo adoptada pelos
Estados era a monarquia absolutista, ocasião em que o monarca reunia nele próprio o
comando de todos os poderes estatais e que toda conduta desempenhada pelo monarca tinha
necessariamente inspiração divina, deste modo ficava claro que o rei jamais cometia faltas, se
Deus é perfeito a conduta real também o era, com base na inspiração divina dos actos do
monarca, é que surge a máxima de “The King can do no wrong”, “ Le roi ne peut mal faire”
fazer com que o Estado simplesmente imputasse a própria vítima a responsabilidade pelos
actos danosos que cominava com a impossibilidade de ressarcimento ou indemnização.

Tal fase começou a perder força com a queda do absolutismo e o advento do


Iluminismo e também pela própria função do Estado que é guardar o Direito e zelar pelo
bem-estar dos cidadãos, sendo assim não se justifica o facto de a população não poder
recorrer quando se sentirem prejudicadas pelo Estado.

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8. Responsabilidade Subjectiva: Culpa Civilista e Culpa Administrativa

1) Culpa Civilista: baseada nas teorias do Direito Civil tomando por base o código civil
Francês, chamado código napoleónico, percebe-se uma evolução, pois o Estado sai de uma
condição irresponsável civilmente, para a condição de possível responsável a depender da
comprovação da culpabilidade do agente público, tarefa esta atribuída por lei ao
administrado, que tinha contra si a estrutura estatal e o imenso ónus de contra ela pelejar.

Esta evolução foi resultado das teses iluministas e do movimento revolucionário


surgido na França a partir de 1789, com a superação do absolutismo monárquico e com a
inserção da Teoria da Tripartição das funções do Estado, dando origem ao chamado direito
administrativo, tornado a administração pública laica, descaracterizada de toda e qualquer
interferência divina ou clerical.

Em Moçambique teoria encontra-se expressa no artigo 12 da CRM (Constituição da


República de 2018).

2) Culpa Administrativa: A responsabilidade subjectiva apesar de avanço ainda


representava uma carga sobre modo pesada posta pela lei nas costas do administrado, haja
vista que, a comprovação da culpa do agente público se mostrava extremamente complicada
para a vítima que não raro tinha que se resignar frente à impossibilidade de provar a
culpabilidade citada, acabando assim, por ficar irressarcida e amargar sozinha seu prejuízo.

Deste modo, percebe-se que a lei feita usando a produção da justiça muitas vezes não
alcançava o seu escopo por mera inadequação a realidade fáctica no âmbito da Administração
Pública. Tal situação movimentou no século XIX os publicistas franceses, no sentido de
resguardar os interesses de vítimas de danos administrativos retirando-lhes, a incumbência da
prova da culpa do agente público, para a prova da culpa da própria administração pública
manifesta em uma das seguintes hipóteses:

(2.1) Inexistência de serviço público que por lei devesse ser prestado pelo Estado: neste
caso a omissão do poder público em não realizar um serviço previsto em lei gerava ao
destinatário dos serviços inexistentes um direito subjectivo de pleitear um dano causado pelo
Estado decorrente na inércia do poder público, cabendo à vítima a prova do dano e ao Estado
provar a existência do serviço, conforme entendimento do doutrinador Celso Bandeira de
Melo, de acordo com a citação abaixo:

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A responsabilidade estatal por acto omissivo é sempre
responsabilidade por acto ilícito. E, sendo responsabilidade
por ilícito, é necessariamente responsabilidade subjectiva, pois
não há conduta ilícita do Estado (embora do particular possa
haver) que não seja proveniente de negligência, imprudência
ou imperícia (culpa) ou, então, deliberado propósito de violar
a norma que o constitua em dada obrigação (dolo).

(2.2) Serviço público existente, mas prestado com defeito pelo Estado: nesta hipótese,
tem-se que, o Estado actuou mediante a prestação de serviço que lhe fora atribuído por lei,
todavia, o fez sem zelo, de modo defeituoso tendo por isto, causado dano ao administrado.

É importante lembrar que há casos que além de não poder individualizar o agente
causador do dano, fica também dificultoso para a vítima provar que sofreu o dano em
decorrência de uma má prestação do serviço, cabendo nesse caso a presunção de
responsabilidade, transferindo para o Estado o ónus de provar que o serviço foi prestado de
forma esperada.

(2.3) Serviço público prestado em atraso: neste caso tem-se o perfeito cumprimento das
duas hipóteses supracitadas, ou seja, tem-se que o serviço público existe e é prestado com
qualidade, todavia, o momento de sua prestação é inoportuna por ser tardia, não atendendo
assim, as necessidades do administrado que acabou por ser prejudicado em virtude da não
celeridade do aparato estatal.

A culpa administrativa, diferente das demais espécies de culpa, não está pautada em
atribuir responsabilidade a um agente público nominado, basta à presença de um agenciador
geral inominado que preste um mau serviço e que cause dano capaz de ser imputado.

9. Responsabilidade Objectiva

Esta fase representa o ápice da evolução da responsabilidade patrimonial do Estado e


tem por base não mais a teoria da culpa e sim a chamada teoria do risco, bem mais favorável
a vítima.

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A teoria objectiva surge na França em resposta à teoria subjectiva, por tornar
sobremodo dificultosa a comprovação por parte da vítima da culpa do agente público na
ocorrência do dano.

Esta teoria encontra-se respaldada no Direito Moçambicano no artigo 499 do Código


Civil.

“Art. 501° do CC” O Estado e demais pessoas colectivas públicas, quando haja danos
causados a terceiro pelos seus órgãos, agentes ou representantes no exercício de actividade de
Gestão Privada, respondem civilmente por esses danos nos termos em que os comitentes
respondem pelos danos causados pelos seus comissários’’.

Art. 13 do Decreto n.º 30/2001 de 15 de Outubro: A Administração Pública


responde pela conduta dos seus agentes dos seus órgãos e instituições de que resulte danos a
terceiros, nos mesmos termos da responsabilidade civil do Estado, sem prejuízo do seu direito
de regresso, conforme as disposições do Código Civilʺ

Na acção regressiva sempre cabe ao Estado provar a culpabilidade de seu agente e isto
não condiciona a hipótese indemnizatória referente à vítima, o contrário é o que se dá após a
constatação efectiva da responsabilidade estatal tendo por resultado a satisfação
indemnizatória da vítima é que se tem lugar à acção regressiva, ocasião em que o Estado
tentará recobrar de seu agente o que gastara com a indemnização.

Essa teoria determina a inversão do ónus probandi, ou seja, cabe agora ao Estado
provar a sua não responsabilidade, tendo facilitado o direito de reparação da vítima.

Na era moderna, tem-se em Moçambique, desde a Constituição de 1975, vestígios da


possibilidade de se responsabilizar o Estado quando houvesse dolo ou culpa. Com o advento
da Constituição de 2004 e a posterior de 2018 ficou consagrado à atribuição ao Estado da
responsabilidade sem discutir a culpa, possibilitando ao mesmo a acção regressiva em face do
funcionário que tivesse agido com dolo ou culpa.

A responsabilidade Civil do Estado recebe várias outras denominações, como


Responsabilidade da Administração Pública, Responsabilidade Patrimonial do Estado. Assim
como ocorre com os particulares, pessoas físicas e jurídicas, as pessoas jurídicas de direito
público e de direito privado que compõe a estrutura do Estado também se responsabilizam

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com base na lei pelos danos decorrentes do comportamento de seus agentes quando da
prestação dos serviços públicos cujo destinatário é a população de modo geral.

10. Princípio da responsabilidade da Administração Pública

Nos precisos termos do artigo 13 das NFSAP, “A administração Pública responde


pelos actos ilegais dos seus órgãos, funcionários e agentes no exercício da suas funções de
que resulte danos a terceiros, nos mesmos termos da responsabilidade civil do Estado, sem
prejuízo do respectivo direito de regresso, nos termos da lei”.

A responsabilização do Estado, na actualidade, pelos prejuízos causados pelo seu


pessoal não sofre contestação a nível mundial, estruturando Estado, e daí a sua consagração a
nível da lei fundamental. Este princípio, por lado, é uma garantia dos particulares contra as
actuações danosa do pessoal do Estado.

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Conclusão

Ao concluir este trabalho importa salientar que Segundo Sílvio Rodrigues “A


responsabilidade civil é a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo
causado a outra, por fato próprio, ou por facto de pessoas ou coisas que dela dependam”.
Olhando este conceito de forma mais profunda importa salientar que de forma mais clara se
notabiliza uma proibição de causar prejuízos ao outrem, caso acontecer carece a uma
responsabilidade como exposto pelo autor.

Portanto, não seria possível falar deste magnífico tema sem abordar sobre a
responsabilidade civil e os seus pressupostos gerais.

Conforme ao exposto, não há dúvida de que actualmente tem-se a aplicabilidade da


Responsabilidade Civil ao Estado de forma mais benéfica já existente para a vítima, e isso
tudo se deve a repressão por parte da população, que inconformada com o descaso do Estado
e seus pressupostos, lutou para chegarmos à situação que se está instalada, como a
Responsabilidade Civil Objectiva baseada na teoria do risco administrativo, na qual a vítima
não precisa provar a culpa da Administração Pública, nem identificar o servidor público
causador do dano para ter o seu prejuízo reparado pelo Estado.

Tal Teoria adoptada não podia ser diferente, tendo em vista, o grande poder lesivo que
o Estado concentra, além de ser notória a dificuldade da vítima demonstrar o dolo ou a culpa
da Administração Pública, entretanto, na acção regressiva do Estado contra o seu funcionário
(causador do dano) tem-se presente a perquirição da culpa ou dolo, configurando assim a
culpa subjectiva.

O outro elemento muito importante, importa salientar que a responsabilidade civil é


comparativamente com a responsabilidade Civil do Estado que as suas raízes embrionárias se
notabilizam pela primeira vez com advento da Revolução Francesa.

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Bibliografia

ALVIM, Agostinho, Da inexecução das obrigações e suas consequências. São Paulo:


Saraiva, 1980.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Direito Administrativo. Ed 10ª. Rio de Janeiro, 2003.

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9ª. Ed, Atlas Editora, São
Paulo, 2010.

MACIE, Albano, Lições de Direito Administrativo vol 1, Editora escolar, Maputo,


Moçambique, 2012.

PRATA, Ana, Dicionário Jurídico, 5ªedicao, Almedina Editores, Coimbra, 2013.

TELLES, Inocêncio Galvão, Direito das Obrigações, 7.ª Edição, Coimbra Editora, Coimbra,
2014.

Legislações

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República de Moçambique, Escolar


Editora, 2018.

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código Civil, actualizado pelo (Decreto-Lei n.º 47 344,


de 25 de Novembro de 1966, e Portaria n° 22 869, de 4 de Setembro de 1967).

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto 30/2001 de 15 de Junho.

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