Nas Minas Gerais coloniais, por exemplo, o que a Coroa chamava de
“terras proibidas” no século XVIII – área interdita aos colonos,
compreendida entre os distritos mineradores e a costa atlântica – não passava de uma fronteira culturalmente construída. Inicialmente, os índios habitantes chamados Botocudo – termo genérico que designava diferentes grupos indígenas “inimigos” no sertão do leste – serviam aos propósitos da política fiscal portuguesa evitando como obstáculos o contrabando do ouro e diamantes. À época a terra era inculta, uma barreira natural, e o índio era um selvagem. Todavia, com o esgotamento gradual das áreas mineradoras, ao longo do século, novas terras deviam ser exploradas o que impeliu uma mudança substantiva no discurso das autoridades 53 colonialistas . Então, uma série de documentos fora construída valorizando os recursos naturais nas terras proibidas. Os índios, assim, de antigos obstáculos que evitavam o contrabando passaram a ser demonizados sob a justificativa da antropofagia. A relação direta entre índios e territórios a conquistar estava também rabiscada na cartografia usada pelas tropas de Entrada. Logo, a fronteira não é apenas resultado da expansão européia, mas uma área em constante interação entre culturas, com significados diferentes, inclusive, de mudanças de significação ao longo do tempo. Para os índios, as terras proibidas eram áreas de vivência e de refúgios, assim permanecendo até a mudança dos objetivos da Coroa na região. Como aponta Langfur a constituição da fronteira do sertão leste – de terra de refúgio para um refúgio incerto - não começou nem se resolveu com a ação isolada do príncipe regente que do Rio de Janeiro, em 1808, declarou “guerra justa” e “guerra defensiva” até o fim aos Botocudo “canibais”. A política de guerra aberta estendeu-se até 1831, porém as nuances desse processo de construção cultural da fronteira em relação direta aos índios remontava, inicialmente, aos anos de 1763-1768, 54 no governo de Luiz Diogo Lobo da Silva .