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Matheus Cassiano Teixeira

Economia da China

Resenha - Carlos Aguiar de Medeiros

O capítulo 9, escrito por Medeiros, intitulado Padrões de Investimento, Mudança Institucional


e Transformação Estrutural na Economia Chinesa, é introduzido numa breve contextualização
histórica do desenvolvimento chines. A partir de 1949, momento em que a república popular foi
criada, o país foi fundamentalmente transformado devido não só ao seu processo de industrialização
contínuo e acelerado, que desencadeou uma grande taxa de crescimento econômico, mas também
graças a mudanças institucionais, responsáveis por transformar sua economia centralmente planejada,
num capitalismo de estado. Em 1978, com o fim das comunas, e um rápido processo de urbanização,
se formou um mercado de trabalho, junto ao comércio do direito de uso das terras, e a privatização do
excedente social, ações que levaram cada vez mais ao surgimento de uma classe capitalista. Neste
momento de grandes transformações, a China torna-se um grande centro manufatureiro, sendo um dos
maiores mercados internacionais e o segundo maior exportador do mundo, mas ainda assim, sem que
se interrompa a trajetória de acumulação liderada pelo Estado.
A China persiste na industrialização devido à sua estrutura econômica única, com uma grande
população agrícola e excedente de mão de obra. A industrialização foi necessária para aumentar a
produtividade agrícola e absorver o excedente de mão de obra. Ao contrário de outras economias
asiáticas, a China focou no mercado interno, modernização agrícola e aumento da renda média para
impulsionar o crescimento econômico. O Estado chinês manteve controle sobre investimentos na
indústria e coordenou o desenvolvimento através de planos quinquenais, semelhante às abordagens
adotadas por Coreia do Sul e Taiwan em seus estágios iniciais de industrialização.
Este trabalho analisa as transformações econômicas na China desde as reformas de Deng
Xiaoping. Após essas reformas, o país passou de uma sociedade socialista igualitária para uma com
crescente desigualdade de renda, beneficiando os novos capitalistas e as classes médias urbanas.
Apesar disso, houve um aumento no padrão de consumo devido à urbanização, expansão do crédito e
mobilidade ocupacional.
Este texto analisa o desenvolvimento econômico da China desde 1949, dividindo-o em
diferentes períodos. Antes de 1978, houve três fases distintas, incluindo a coletivização das terras e a
revolução cultural. Após as reformas de 1978, a China seguiu três estratégias de acumulação: aumento
da produtividade agrícola, expansão e diversificação dos investimentos e, posteriormente, foco na
indústria pesada e urbanização. Apesar das variações nas interpretações dos economistas sobre os
fatores do crescimento chinês, há consenso de que o rápido crescimento após 1978 foi impulsionado
pela acumulação de capital industrial e mão de obra excedente, combinados com o catching up
tecnológico e deslocamentos intersetoriais de mão de obra.
Desde 1978 até os anos 1990, o aumento da produtividade e do crescimento na China foi
impulsionado pelo deslocamento da mão de obra e reformas institucionais. Um regime inicial focado
na abertura gradual e transferência da população rural para áreas urbanas impulsionou o crescimento
interno. Posteriormente, entre 1991 e 2006, ocorreu uma fase de aumento intensivo de uso de recursos
e capital, com menor ênfase na produtividade agrícola e crescimento industrial limitado. Alguns
atribuem o crescimento chinês recente ao aumento nas exportações, enquanto outros destacam o
investimento doméstico e estatal como principal motor do crescimento desde 1950, embora tenham
ocorrido mudanças significativas na sua composição ao longo do tempo.
O desenvolvimento chinês foi significativamente influenciado pelo tamanho da sua
população, disponibilidade de terras agricultáveis e base energética. Em 1952, cerca de 90% da
população era rural. Após um grande processo de urbanização, em 1995, aproximadamente 30% da
população era urbana, e em 2007, esse número aumentou para 45%. Uma peculiaridade da China é a
relativa autonomia entre a população rural e a população empregada na agricultura. Devido ao
crescimento do emprego rural não agrícola, a população rural ocupada fora da agricultura aumentou
de 5% em 1952 para quase 40% em 1995, enquanto a população empregada na agricultura diminuiu
de 83% para 51% do emprego total no mesmo período. Em 2007, a população chinesa total era de
1.321.000 milhões, com cerca de 55% da população sendo rural. O desenvolvimento chinês foi
moldado por desafios únicos, como sua vasta população rural, disponibilidade limitada de terras
agricultáveis e alta demanda por energia. A baixa produtividade agrícola, em contraste com a
produtividade industrial, contribuiu significativamente para a desigualdade de renda. A China
tornou-se um grande consumidor de energia e importador de petróleo devido ao rápido crescimento da
indústria pesada e ao aumento da urbanização. O país também investiu na formação de recursos
humanos, alcançando altos níveis de educação básica e produzindo um grande número de doutores em
ciência e engenharia. Além disso, a China desenvolveu tecnologias militares avançadas e investiu em
pesquisa e desenvolvimento, estabelecendo um sistema nacional de inovação que envolve empresas
nacionais e multinacionais. A construção de parques tecnológicos e o envolvimento de universidades
de ponta no esforço de pesquisa tecnológica foram elementos-chave desse sistema.
Durante o período de 1952 a 1978, a China passou por uma transformação econômica e social
intensa sob um regime socialista, com um crescimento anual do PIB de 4,4% e uma liderança
econômica da indústria, que cresceu a uma taxa de 9,6% ao ano. A agricultura, embora tenha crescido
a uma taxa modesta de 2,2%, ainda ocupava uma grande parte da força de trabalho.
A partir de 1978, com as reformas econômicas lideradas por Deng Xiaoping, a China
experimentou uma rápida expansão econômica. Entre 1978 e 1995, o PIB cresceu a uma taxa anual de
7,5%, com uma forte ênfase na industrialização e um notável dinamismo na agricultura, que cresceu a
uma taxa anual de 5,15%. A introdução do "sistema de responsabilidade familiar" na agricultura,
juntamente com investimentos públicos e mudanças no sistema de incentivos, levou a um aumento
significativo da produtividade agrícola. Além disso, a China passou por uma transformação nas
relações externas, especialmente no comércio internacional, com um crescimento anual médio de
exportações.
Período Socialista (1952-1978): A China adotou o modelo socialista soviético, com
crescimento modesto liderado pela indústria. A produtividade agrícola permaneceu baixa.
Reformas e Abertura (1978-1995): Reformas econômicas em 1978 resultaram em rápido
crescimento. Houve um deslocamento significativo de trabalhadores rurais para áreas urbanas,
impulsionado pelas Zonas Econômicas Especiais.
Exportações e Cadeias Globais de Suprimentos: A China se tornou um grande exportador,
especialmente na indústria de tecnologia. Integração nas cadeias globais de suprimentos foi crucial
para o crescimento das exportações.
Política Tecnológica: A China promoveu a transferência de tecnologia em troca de acesso ao
mercado interno, levando a investimentos estrangeiros e desenvolvimento de capacidades
tecnológicas locais, especialmente na indústria eletrônica.
Substituição de Importações: O país buscou reduzir a dependência de importações em
setores-chave, como semicondutores, impulsionando o crescimento de empresas chinesas na indústria
eletrônica.
Mudança na Pauta de Exportações: Houve uma mudança nas exportações chinesas para
produtos de maior valor agregado, como tecnologia, ao longo do tempo.
Saldo Comercial: O saldo comercial chinês cresceu devido ao aumento das exportações e à
substituição de importações em setores estratégicos.
Essas transformações econômicas destacam o papel das reformas, das políticas de tecnologia e das
exportações na ascensão da China como uma potência econômica global.
O Estado chinês exerceu controle amplo sobre o investimento, utilizando políticas
macroeconômicas, tecnológicas e de crédito. Antes de 1978, o governo decidia diretamente a taxa e a
composição do investimento, com foco na indústria pesada. A poupança era estatizada e obtida
principalmente do excedente agrícola.
Após 1978, reformas introduziram o "sistema de trilhas duplas", combinando controle
centralizado e mercado. A poupança foi privatizada, reduzindo a influência direta do governo.
Empresas estatais tiveram maior autonomia e surgiram empresas locais de propriedade coletiva.
Empresas privadas também cresceram significativamente, resultando numa economia mista com
maior diversidade de propriedade e descentralização nas decisões de investimento.
A concentração de renda na China resulta das altas taxas de crescimento econômico e da
redução substancial da pobreza, especialmente nas áreas rurais. No entanto, essa redução da pobreza
veio acompanhada de uma crescente disparidade entre a renda urbana e rural. As diferenças entre
essas rendas não se limitam apenas ao aspecto monetário, mas também incluem o acesso desigual a
bens e serviços sociais. As áreas rurais têm acesso limitado a benefícios sociais em comparação com
as áreas urbanas. Além disso, as disparidades salariais dentro da agricultura e entre os trabalhadores
urbanos, especialmente entre os migrantes e outros trabalhadores, também contribuem para essa
concentração de renda. O sistema de registro domiciliar divide os cidadãos em status urbano e rural,
resultando em diferentes condições salariais e benefícios sociais para trabalhadores urbanos,
migrantes permanentes e migrantes temporários. Apesar dessas disparidades, o consumo moderno na
China tem se expandido tanto em áreas urbanas quanto rurais, possivelmente devido ao nivelamento
inicial das condições sociais e ao gradualismo na transição econômica do país.

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