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UMA DEFESA DO PRÉ-MILENISMO HISTÓRICO E DO PÓS-TRIBULACIONISMO

Evelim Sieben1

Antes de apresentar os argumentos a favor do Pré-Milenismo Histórico e da


visão Pós-Tribulacionista, faz-se necessário esclarecer as formas de interpretação
da escatologia bíblia que, de modo geral, são quatro: preterista, histórica, idealista e
futurista. A interpretação preterista considera que os acontecimentos do libro tenham
ocorrido quando o livro foi escrito. A interpretação histórica considera que esses
acontecimentos eram futuros quando o livro foi escrito, porém ocorriam no decurso
da história da igreja. A interpretação idealista ou simbólica elimina a historicidade
desses acontecimentos, tornando-os puramente símbolos de verdades atemporais
em seu caráter. A interpretação futurista, por sua vez, considera que esses
acontecimentos ocorrem sobretudo no tempo do fim.
Ademais, convém ainda apresentar o consenso de todas as visões
escatológicas apresentadas em aula no que se refere aos pontos principais da
escatologia, quais sejam, segundo Erickson (2010, p. 13):

Todos os seres humanos (exceto os que ainda estiverem vivos na


volta do Senhor) devem passar pela morte física e, nesse momento,
passam para um estado intermediário apropriado a sua condição
espiritual. Os que se entregaram à obra salvadora de Jesus Cristo
irão para um lugar de bem-aventurança e galardão; mas os que não
se entregaram irão para um lugar de castigo e tormento. Em algum
tempo futuro, Cristo voltará de modo corpóreo. Então todos os
mortos serão ressuscitados e entregues ao seu destino final – o céu
ou o inferno. Lá permanecerão eternamente numa condição
inalterável.
Assim, a principal discussão gira em torno de variações presentes dentro
desse mesmo esquema geral: primeiro no que concerne à posição e natureza do
milênio (um reino de Jesus Cristo na terra por mil anos) em relação à volta de Cristo
e, segundo, no que se refere à presença ou ausência da igreja no período
denominado como “a grande tribulação”.
Primeiramente, quanto à posição e natureza do milênio, a perspectiva
defendida neste trabalho, como já dito anteriormente, é o Pré-Milenismo Histórico.
Muitos pontos desta visão escatológica são pontos compartilhados pelo Pré-

1
Seminarista do Curso Médio em Teologia do Seminário Teológico Batista Nacional (SETEBAN), pólo de Nova
Brasilândia D’Oeste/RO.
Milenismo de forma geral. Os principais pontos do Pré-Milenismo Histórico são:
Quanto à forma de interpretação, a posição combina as visões historicista, idealista
e futurista. Assim, os pré-milenistas históricos ficam entre os amilenistas, os quais
reafirmam uma interpretação histórica e idealista e os dispensacionalistas, os quais
favorecem uma interpretação futurista (FERREIRA E MYAT, 2007, p. 1130, 1143).
Assim, a interpretação de Apocalipse não deve ser exclusivamente literalista, ou
seja, há porções do livro que são carregadas de simbolismo. Quanto à natureza do
milênio, crê num reino de Cristo terreno, político (alguns consideram este reino um
período literal, outros o entendem como expressão simbólica para um longo período
GRUDEM, 1999, p. 949), porém, diferente, dos Dispensacionalistas, os Pré-
Milenistas Históricos não veem o milênio como o cumprimento das promessas de
Deus de forma literal a Israel, ou seja, o milênio não tem um tom muito judaico. Para
estes, o fator essencial é que este reino será na terra e Jesus Cristo estará
fisicamente presente em Seu corpo ressurreto e dominará como Rei sobre toda a
terra. Os crentes ressuscitados e os que estiverem sobre a terra quando Cristo voltar
receberão o corpo glorificado da ressurreição, que nunca morrerá, e nesse corpo da
ressurreição viverão sobre a terra e reinarão com Cristo. No início deste período de
tempo, satanás será preso e lançado no abismo, de maneira que não terá influência
sobre a terra durante o milênio (GRUDEM, 1999, p. 949). Quanto à posição deste
milênio em relação à volta de Cristo, como o próprio nome expressa, a volta de
Cristo se dará antes deste reino, ou seja, o reino será inaugurado pela Segunda
Vinda de Cristo. Os pré-milenistas históricos creem, como todos os pré-milenistas,
que uma “grande tribulação” imediatamente precederá o milênio. Creem ainda em
duas ressurreições físicas (corpóreas), distinguidas com base nos seus participantes
e não na sua natureza, ou seja, os crentes serão ressuscitados na primeira
ressurreição para reinar com Cristo durante o milênio juntamente com os que
estiverem vivos quando Cristo voltar, enquanto o restante da raça humana, os
ímpios, serão ressuscitados na segunda ressurreição a fim de serem levados a
julgamento (ERICKSON, 2010, p. 113). Ainda de acordo com o pré-milenista
histórico:
(...), no final dos mil anos Satanás será solto do abismo e unirá as
forças com muitos incrédulos que se submeteram externamente ao
reinado de Cristo, mas por dentro revolvem-se em revolta contra ele.
Satanás reunirá esse povo rebelde para batalhar contra Cristo, mas
serão derrotados definitivamente. Cristo então ressuscitará todos os
incrédulos que tiverem morrido ao longo da história, e estes
comparecerão diante dele para o julgamento final. Uma vez realizado
o juízo final, os crentes entrarão no estado eterno (GRUDEM, 1999,
p. 949).
Em segundo lugar, quanto à presença ou ausência da igreja no período
denominado como “a grande tribulação”, a posição defendida aqui é o pós-
tribulacionismo. O pós-tribulacionista acredita que a igreja permanecerá na terra
durante a tribulação, embora talvez seja protegida de alguns aspectos mais severos
da tribulação.

Por que defender o Pré-Milenismo Histórico?

1 – Referencias bíblicas ao Milênio como um período totalmente diferente sobre a


terra

FERREIRA E MYATT, 2207, p. 1144, o AT contém várias profecias sobre a


restauração do reino, que devem se encaixar em algum período da história.
Observamos primeiro que o mandato cultural de Gênesis 2, junto com o proto-
evangelho de Gênesis 3, não são sugestões hipotéticas, mas expectativas concretas
sobre a responsabilidade do homem no projeto histórico do reino de Deus. Isto é
consistente com a esperança de que, durante algum momento da história, haverá a
manifestação objetiva do reino com implicações para toda a sociedade, inclusive
para o governo. No Salmo 2, temos a descrição do reino terrestre do Filho, que se
encaixa bem no período de história anterior ao estado eterno. O Rei messiânico terá
as “nações por herança” até “as extremidades da terra”. Sobre elas reinará com vara
de ferro (Sl 2.8,9). A imagem é de um reino político, e não apenas um reino
espiritual. No estado eterno, não haverá a necessidade de reinar com vara de ferro.
Essa imagem sugere também que, pelo menos no início, os que se sujeitaram ao
reino não o fizeram voluntariamente, o que também não seria consistente com o
estado eterno. O salmo 22 continua nessa mesma linha de argumento, mostrando
que, após o sofrimento do Messias, as nações serão convertidas para servi-lo (Sl
22.27). Assim, ele governará as nações (Sl 22.28), e a sua descendência também
será instruída e servirá ao Senhor (Sl 22. 29,30). A imagem é de um reino político
que sobrevive durante várias gerações. Isto não cabe no estado eterno, e nem na
época presente. O profeta Isaías levanta estes pontos novamente, na discussão do
reinado futuro do Messias. Isaías 11 descreve um futuro glorioso para a terra, na
qual ‘a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar
(Is 11.9)”. Mesmo neste estado de glória, ainda existirá o mal na terra (Is 11.4). o
mal será reprimido, mas não totalmente eliminado, como o será no estado eterno.

P. 1145, as profecias falam de um período em que haverá a realização concreto do


reino no mundo, mas, pela descrição feita, isso não se encaixa nem na época
presente nem no estado eterno. Indica, sim, a necessidade de outra época, quando
essas profecias possam ser cumpridas (GRUDEM, P 962, 965). Em apocalipse 20,
encontramos a revelação específica desse período – o milênio – que ocorrerá entre
a vinda de Cristo e a consumação do reino, no novo céu e na nova terra.

2 – Evidências de duas ressurreições físicas, uma de justos e uma de injustos

FERREIRA E MYATT (2007, P 1146) No início do milênio, quando Jesus vier,


ocorrerá a primeira ressurreição, que é a dos “mortos em Cristo”. Paulo afirma que
essa ressurreição acontecerá junto com o arrebatamento, no fim da tribulação (1 Ts.
4:13-17). A interpretação mais natural das duas ressurreições entende que ezesam
(viveram) significa o mesmo tipo de ressurreição em Apocalipse 20. 4,5.
Nitidamente, a ressurreição dos incrédulos em Apocalipse 20.5 é física. Por isso, a
ressurreição de Apocalipse 20.4, a primeira ressurreição, deve ser física também.

3 – Argumento de satanás amarrado e lançado no abismo pelos amilenistas é fraco

FERREIRA E MYATT P. 1145, Após a volta de Cristo, satanás é preso no abismo,


onde não pode enganar as nações (Ap 20.3). embora, a primeira vinda de Cristo
tivesse posto limitações na atividade de satanás, a história dos últimos dois mil anos
oferece muitas provas de que ele não foi amarrado no sentido aqui exposto. O
século XX foi o mais violento na história, com a matança de centenas de milhões de
pessoas. Existem povos e nações inteiros sendo enganados por falsas religiões.
Mesmo com o avanço em missões mundiais nos últimos séculos, a estimativa do
Centro de Pesquisa de Evangelização Mundial é de que 67% do povo que viveu
entre o ano 30 a. C. e a atualidade nunca ouviu falar no nome de Jesus Cristo. A
grande maioria dos povos hoje – mais de 3 bilhões de pessoas – ainda não teve
oportunidade de ouvir o evangelho. A interpretação de Apocalipse 20 não depende
desses fatos, mesmo assim, a evidência favorece a interpretação de que satanás
continua enganando as nações e que a época de seu encarceramento no abismo
dever ainda ser futuro. Por outro lado, é óbvio que o milênio de Apocalipse 20 não é
o estado eterno. O milênio p. 1146 deve, então, encaixar-se entre a época presente
e o estado eterno.

4 – Distinção entre igreja e Israel, restauração literal da nação de Israel e


reestabelecimento do sistema sacrificial não é bíblico: (FERREIRA E MYATT, 2007,
P. 1135) As Escrituras falam de uma futura conversão de Israel, e isto parece estar
relacionado com a culminação da hsitória da redenção. Este sinal não significa que
haverá uma conversão de toda a nação de Israel ou a restauração do antigo lugar
de Israel nos propósitos de Deus. Este sinal lembra que o endurecimento da maior
parte de Israel ainda não é o fim. Segundo o propósito de Deus, esse endurecimento
é um meio para levar a salvação aos gentios, a fim de que estes, por sua vez,
provoquem o ciúme de Israel. Por isso, o endurecimento de Israel sempre será
parcial, pois sempre haverá alguns deles que creêm em Cristo. No decorrer da
história, Deus já está reunindo os seus eleitos remanescentes em Israel. Ao se
completar a plenitude dos gentios, podemos ter a expectativa de que, por meio de
um grande derramamento do Espírito, todo o Israel, entendido não como toda a
nação, mas como o número total dos eleitos entre o povo da antiga aliança, venha a
ser salvo.

5 – Em certo sentido a posição está de acordo com a iminência da volta de Cristo:


Ferreira e Myatt (2007, p. 1134, 1135) (...) podemos afirmar que haverá sinais que
ocorrerão antes da vinda de Cristo, que pode ser iminente, numa hora que não
esperamos e que devemos aguardar com santa expectativa. Ao considerarmos a
exortação de vigilância (Mt 24:32,33), não precisamos interpretá-la como uma
exortação a buscar sinais imediatos do aparecimento do Senhor. “Antes devemos
ver nela uma admoestação para estar despertos, alertas, preparados, ativos na
realização da obra do Senhor, para não sermos surpreendidos (BERKHOF, 2001, p.
643)” por sua vinda. P 1138 A vinda de Cristo está para acontecer, é certo que ele
voltará; mas não sabemos exatamente quando se dará a sua volta. Por isso,
devemos viver em constante expectativa e prontidão para a vinda do Senhor.

6 – A vinda será um evento único: FERREIRA E MYATT P. 1138 O NT prediz a volta


extraordinária, visível e repentina de Cristo. A segunda vinda de Cristo será um
evento único. Não será um evento sercreto; será visto por todo o mundo. o NT não
dá margem para crermos que a vinda de Cristo se dará em duas etapas. Devemos
destacar quatro palavras empregadas no NT que mostram ser única esta vinda de
Cristo. A primeira expressão é hemera, o dia (1 TS 5.4, 1 CO 3.13, 2TM 1.12, 18;
4.8; 1 TS 5.2; 2 TS 2.2; FL 1.6). Este termo tem origem no AT, onde se refere ao dia
do Senhor como significando a futura revelação de seu poder. No NT, o dia do
Senhor ocorre com a vinda de Cristo, sendo que a expressão “dia do Senhor” refere-
se especialmente à sua vinda em glória. Uma segunda expressão que ressalta que a
vinda é única é apokalypsis, que significa desvendamento ou revelação, indicando
que Cristo está agindo na criação agora, entretanto não de forma pessoal e visível,
mas que um dia ele próprio será revelado. Uma terceira expressão é epiphaneia,
que significa aparecimento ou manifestação, sendo que geralmente este termo é
empregado exclusivamente para a vinda definitiva de Cristo em glória. E a
expressão mais comum é parousia, que significa presença, como resultado da
chegada. Essa expressão era, algumas vezes, empregada para descrever a
chegada de um rei. “vinda do Senhor denota a manifestação esperada de Cristo,
como a revelação definitiva e final de sua glória (Herma Ridderbos, p. 588-589”. O
fato de estes termos serem intercambiáveis destaca claramente que a vinda de
Cristo será um evento único. P. 1139, neste contexto, devemos considerar o
arrebatamento, que ocorrerá por ocasião da segunda vinda de Cristo. Será único o
arrebatamento. O arrebatamento não será secreto ou silencioso. Paulo revela que a
vinda do Senhor será pública e audível (1Ts. 4.16). Da mesma forma que o retorno
de Cristo será claramente visível, assim será o arrebatamento (Ap. 1.7).

Ferreira e Myatt (2007):

p. 1153 Talvez a doutrina mais proeminente do dispensacionalismo seja sua visão


do arrebatamento pré-tribulacional. A noção de que os crentes escaparão do tempo
da grande tribulação pode ser uma das razões de sua grande popularidade. Será
que esta visão é bíblica? Uma interpretação que encontramos nos argumentos pré-
tribulacionistas refere-se à promessa de Jesus à igreja de Filadélfia: “Porque
guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da
provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam
sobre a terra” ap 3:10. Eles entendem esta passagem como um apoio à ideia de que
a igreja não passará pela grande tribulação, sendo arrebatada antes dela. Existe
uma grau de inconsistência na afirmação de alguns dispensacionalistas aqui, pois
alguns dizem que a mensagem à igreja de Laodicéia representa o estado da igreja
imediatamente antes da tribulação. Porque essa promessa aparece antes? A
questão principal tem a ver com o que significa “guardar de”. Douglas Moo nota que,
na única outra vez em que essa expressão aparece no NT, o sentido não é de
“remover”, mas de “preservar”. O texto é João 17:15, na oração de Jesus por sua
igreja: “Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal”. Moo afirmar
que nos demais textos paralelos que empregam tereo tendo Deus ou Cristo como
sujeito, e o crente como objeto, o sentido é de preservação espiritual. Não há
necessidade de tirar as pessoas da terra para protege-las da ira de Deus que está
por vir. A promessa, como vimos em relação à igreja de Esmirna, não é a garantia
de que o povo de Deus não sofrerá a ira do diabo e do mundo. Com certeza, sofrerá!
A promessa é que, apesar disso, as consequências do pecado e da ira de Deus não
cairão sobre os crentes, mesmo em meio intensa perseguição. Certamente Deus é
capaz de cumpri-la!

De maneira semelhante, o chamado que João ouviu na sua visão, “sobe para aqui”
(Ap. 4.1), significa somente o começo das visões acerca dos julgamentos que virão
à Terra. P. 1154 Não há referência ao arrebatamento da igreja, o que seria impróprio
neste texto, já que, como os dispensacionalistas admitem, o assunto em vista não é
a igreja.

A vinda de Cristo é acompanhada por vários eventos e sinais que não dão a
impressão de ser um evento dividido em duas partes – um secreto e outro visível.
Este evento corresponde a uma única volta. Já notamos que haverá grande barulho
quando Cristo vier em glória. Ele será visto. Este é o evento descrito por Paulo
“Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do
arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo
ressuscitarão primeiro: depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados
juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim,
estaremos para sempre com o Senhor” (1 Ts 4:16,17). Como foi visto, Cristo será
plenamente visível no momento de sua volta. Se houver o arrebatamento após a
tribulação, um ensino-chave do dispensacionalismo está errado. Por causa disso,
acreditamos que o amilenismo e o pré-milenismo são opções mais coerentes com as
Escrituras.

BERKOFF , p. 645Paulo descreve claramente a grande apostasia como anterior à


segunda vinda, 1 Ts 2.3, e lembra a Timóteo o fato de que tempos difíceis
sobrevirão nos últimos dias, 1 Tm 4.1,2; 2 Tm 3.1-5. Em Ap 7.13,14, se diz que os
santos no céu saíram da grande tribulação, e em Ap 6.9 vemos esses santos orando
por seus irmãos que ainda estavam sofrendo perseguição.

Os dispensacionalistas acreditam que Cristo administrará um reino judaico político, e


esse reino durará por exatamente mil anos. Durante esse tempo, satanás será
preso, o templo será reconstruído, e o sistema de sacrifícios do AT será reinstituído
(Sproul, 2017, p. 443).

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