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Enquanto Eu Te Esperava (Irmaos - Giovanna L Piao
Enquanto Eu Te Esperava (Irmaos - Giovanna L Piao
1ª edição 2023
foi a melhor coisa que você poderia ter feito por mim.
Nota da Autora
Com amor,
Giovanna L Pião.
Playlist
Perfect, Ed Sheeran
Talk, Hozier
Instagram: giovannalpiao
Tiktok: autoragiov
Prólogo
Raffaela
16 anos atrás
Não sei bem se as pessoas percebem o momento exato em que
se apaixonam, mas também não sei se eu reconheço o instante em
que me apaixonei. Atena e eu sempre brincávamos sobre com quem
nos casaríamos, falávamos sobre os meninos bonitos da escola, mas
aquele sentimento… aquele sentimento real parecia ter acontecido
uma única vez, e por uma pessoa que eu sabia que não me queria.
Matteo Esposito Ricci.
Nos conhecemos quando Rocco, meu irmão, trouxe o melhor
amigo para casa. Os dois estavam com o olho roxo, e eu sabia que
Rocco não costumava brigar na escola. Ele era o filho perfeito:
Sendo apenas alguns anos mais velho que eu – quatro para ser mais
exata – sua conduta impecável era tema comum em casa, embora
nós nunca nos víssemos na escola.
Por isso, quando Rocco apareceu machucado, eu corri para o
meu irmão que estava com um sorriso campeão no rosto, e tentei
entender o que tinha acontecido. Nossos pais iam matar Rocco e eu
não sabia como sobreviveria sem um irmão...
Seria melhor? Sim. Eu teria que parar de dividir tudo com outra
pessoa? Com certeza. Eu sentiria falta do babaca? Nem tanto. Ok,
talvez fosse melhor mesmo.
Mas o que me chamou atenção foi o cara parado atrás de
Rocco. Encarei seu rosto, que estava um pouco pior que o de Rocco,
com uma mancha mais escura que sua pele em volta dos olhos e os
lábios grossos cortados. Mesmo machucado, ele parecia um Deus.
De repente, percebi que estava encarando demais e senti
minhas bochechas ficarem vermelhas. Notei que o cara me encarava
como se eu fosse uma grande idiota, mas o que eu podia fazer
quanto meu coração parecia querer sair voando do meu peito? Dei
um passo para frente, mas ao notar que seu rosto se fechava, recuei
de volta.
O cara ainda não tinha sido apresentado, mas ele tinha uma
atitude maior que o Coliseu. Puxei a blusa para baixo, apenas para
cobrir a minha barriga saliente que aparecia através da blusa mais
curta, que eu usava para aplacar o calor que fazia em Roma. Eu não
tinha problemas com as dobras em minhas barrigas, ou com minhas
pernas e braços grossos, e nem ele parecia de todo interessado. Eu
só não queria ser motivo de piada.
Dei mais um passo para trás, e acabei batendo na poltrona que
ficava na sala, caindo sentada. Parecendo cansado da situação, o
garoto revirou os olhos e fez alguma piada na orelha de Rocco. Meu
irmão não mudou de expressão, mas me encarou como se eu
estivesse incomodando os dois.
— Raffa, esse é meu amigo... a gente se conheceu hoje, Matteo.
Matteo continuava me olhando com cara de poucos amigos, ele
parecia ser alguém com muita raiva dentro dele. Seus olhos verdes
me julgavam, e não parecia com muita vontade de me conhecer, o
que fazia com que eu quisesse me esconder. Mas eu não era assim.
Continuei encarando seu rosto e tudo que eu podia pensar era
em como ele era bonito. Seus olhos verdes claros contrastavam com
sua pele negra, o cabelo era bem aparado e seu corpo era magro.
Eu já sabia como ele tinha apanhado. Dei uma leve risada e seu
rosto se fechou ainda mais, como se fosse possível.
— Prazer, Matteo. Você quer tomar uma água? Um suco? —
Olhando para o meu rosto pela primeira vez, o garoto negou.
— Toma alguma coisa, você vai precisar para encarar sua mãe
com esse lábio cortado — Rocco falou.
— Eu aceito um pouco de gelo para colocar no meu rosto, ou
amanhã vai ficar super inchado.
— Tudo bem, eu pego — gritei.
Saí correndo da sala, fugindo dos olhos que continuavam me
encarando como se eu fosse a pior pessoa que ele já tinha visto.
Desbloqueei meu celular assim que cheguei à cozinha esbaforida,
mandando uma mensagem para Atena. Se ela fosse tão curiosa
quanto eu, logo estaria aqui.
Abri a geladeira e achei a forma de gelo que estava metade
vazia por culpa de Rocco, ele vivia enchendo garrafas com gelo e
nunca repunha. Peguei dois panos de prato velhos na gaveta e
coloquei alguns cubos dividindo em quantidades iguais. Enrolei os
dois e molhei um pouco para que o gelo fizesse efeito mais rápido.
Talvez tivesse algum remédio que pudesse ajudar, mas não
sabia onde minha mãe guardava a caixa de primeiros socorros, e é
claro que eu não daria uma de enfermeira. Apenas a ideia de ficar
próxima o suficiente de Matteo fazia meu estômago retorcer.
Peguei os panos com gelo e corri de volta para a sala. Mas,
antes de entrar, estanquei.
— Sua sorella não parava de me encarar, qual o problema dela?
Nunca viu uma pessoa na vida dela? Ou vocês não conviveram com
pessoas negras? Se me encarasse um pouco mais era capaz de
criar asas. — Sua voz era mesquinha e eu quase chorei, apertando
mais forte os panos em minhas mãos.
— Matteo.
— O quê? — De alguma maneira sabia que ele estava dando de
ombros. — É verdade, eu estava ficando incomodado, se ela voltar
aqui e fizer a mesma coisa, saiba que eu vou sair embora. Não vou
aceitar isso.
Juntei toda a coragem que eu tinha, e saí de trás da parede que
separava a sala da cozinha. Andei até onde os dois estavam,
passando pelo espaço pequeno entre o sofá e a mesa de centro.
Joguei a toalha com gelos em seu colo e o encarei furiosa.
Matteo não tinha expressão nenhuma em seu rosto e aquilo parecia
apenas mais uma segunda-feira para ele, enquanto para mim
parecia o pior dia da minha vida.
— Eu estava te olhando porque você é bonito, seu stronzo!
Mesmo com essa cara toda estragada, babaca.
Virei para Rocco que ria de mim e joguei o pano em seu colo
também. Se eles eram grandes o bastante para brigarem na rua, que
fossem para se cuidar. Eu era mais nova que eles, não era minha
responsabilidade cuidar do meu irmão e do seu amigo que tirava
conclusões precipitadas das pessoas.
— E só pra você saber, eu também vi você me encarando. Sim,
eu sou gorda, qual o problema? Não quero nunca mais te olhar, você
não é bem-vindo na minha casa! — gritei e saí batendo os pés em
direção ao meu quarto.
É claro que minhas palavras não valeram de nada, afinal, mais
tarde meus pais chegaram e viraram grandes amigos de Matteo, que
ficou o jantar todo contando sobre como ele seria um grande
advogado algum dia. Minha vida a partir daquele dia começou a girar
em torno de Matteo e de como meu coração não podia responder por
si mesmo quando estava perto dele.
Enquanto Atena se apaixonou alguns anos depois de uma
maneira calma por meu irmão, mesmo que eu achasse que eles se
gostavam há muito tempo, eu me apaixonei como uma tempestade e
era por isso que eu não podia me envolver com mais ninguém.
Matteo tinha meu coração desde os treze anos, e nada o tirava
daquele lugar.
1
Raffaela
Senti meu corpo dolorido por causa da noite que eu tinha tido.
Eu conseguia lembrar pequenos pedaços aqui e ali, podia jurar que
alguém tinha ficado cuidando de mim, mas isso só podia ser loucura.
Virei, encostando minhas costas ensopadas no colchão que
também parecia molhado. Algo encostou em meu pescoço e olhei
para o meu lado, com medo de ser uma alucinação.
Raffaela estava encolhida, quase caindo da cama, de frente
para mim, dormindo de boca aberta e em sua mão estava a toalha
que tinha encostado em mim. Encarei seu rosto, percebendo que
não tinha sido uma alucinação, alguém tinha mesmo ficado cuidando
de mim.
Tentei me sentar na cama, sem fazer qualquer movimento
brusco para não acordá-la. Peguei o remédio que estava na mesa de
canto e o olhei, era algo para dor, enfiei um comprimido na boca e
engoli sem água.
Olhei o celular que tinha algumas mensagens não respondidas e
ignorei, apenas querendo saber o horário, que já passava das dez da
manhã de um sábado. Tentei levantar da cama, mas minha cabeça
girou e senti as forças das pernas se esvair e caí sentado.
Raffaela deu um pulo e sentou na cama. Seus olhos pequenos
se abriram ainda com sono e ela me encarou com preocupação. Seu
cabelo estava completamente bagunçado e a roupa amassada do
sono.
— Matteo… — Raffaela encostou a mão em minha testa e por
algum motivo, eu não a parei. — você está melhor?
— Você ficou aqui a noite toda? — questionei, sentindo uma
sensação estranha no meu coração.
— Sim… — Raffaela abaixou a cabeça, e começou a enrolar o
dedo no cabelo e morder os lábios, eram hábitos que ela tinha
quando ficava nervosa. Eu tinha convivido o suficiente com ela para
saber coisas assim. — Você… você começou a passar… você ficou
muito mal e eu não… eu não podia te deixar sozinho.
Raffaela me olhou, seu rosto demonstrando um nervosismo que
ela só deixava que eu visse quando estávamos sozinhos.
— Mas eu vou embora.
Raffaela levantou, arrumando sua roupa. Não conseguia pensar
em nada para dizer. Quando Raffaela estava quase atravessando a
porta do quarto, ela virou a cabeça para dentro do quarto e me
encarou por mais um minuto.
— Raffaela — Fechei os olhos. — fica, por favor.
— Não quero te atrapalhar… tenho certeza que você…
— Por favor, eu preciso te agradecer.
Fiquei de pé, me segurando no encosto da cama. Raffaela,
vendo minha dificuldade, se aproximou de mim. Sua mão tocou
minha barriga e senti um choque elétrico me fazendo sentar na cama
novamente.
— Você me deixou pelado? — perguntei com medo da resposta.
— Não, depois do banho foi o único momento em que você ficou
lúcido.
— Me troquei?
— Sim.
— Eu quero ir para a sala, consegue me ajudar? — Raffaela
confirmou com a cabeça e me encostei em seu corpo.
Sua estatura menor que a minha me dava o apoio necessário
para conseguir andar sem que fosse desconfortável. Raffaela andava
devagar para não me derrubar e eu sabia que meu peso estava todo
jogado sobre ela, mas ainda não tinha forças para nada.
A sala estava arrumada pela primeira vez desde que mudei para
cá, a cozinha também estava organizada. Não tinha lixo algum no
chão e quase tudo brilhava. Raffaela me colocou sentado e foi até a
cozinha, esperei por ela e recebi um copo de água.
— Você que arrumou aqui? — Minha garganta estava seca, não
sabia como ela sabia disso.
— Claro, estava imundo. Desculpa… eu fiquei ansiosa e
precisava fazer algo enquanto você não acordava. — Raffaela se
sentou ao meu lado e eu podia ver aquele fogo que ela tinha
voltando para me atacar.
— Bom, acho que é a primeira vez em muito tempo que eu vejo
esse lugar assim, então, obrigado. Por tudo.
— Não podia deixar o melhor amigo do meu irmão morrer…
Dei uma gargalhada, sentindo uma dor nas costas. Raffaela riu
comigo e seus olhos brilharam. Eu podia ver que ainda tinha alguma
coisa escondida, mas logo eu conseguiria tirar dela.
— Eu estou me sentindo ensopado.
— Você suou muito, e por horas. Eu te dei muita água, mas não
sei se foi o suficiente, então beba todo esse copo de água.
Fiz como ela mandou, engolindo forçado a água que ela tinha
trazido. Raffaela puxou o controle que estava enfiado entre as
almofadas do sofá e ligou a TV em uma série de romance que se
passava em Paris.
— Você quer comer alguma coisa? — Raffaela perguntou.
— Acho que eu que devia estar oferecendo…
— Sim, mas no momento você não serve muito para muita coisa,
por isso, vou ser uma boa pessoa e te ajudar.
— E aí está a Raffaela que eu conheço. — Dei um sorriso e ela
revirou os olhos, passando as mãos pelo cabelo e tentando consertá-
lo. — Não adianta… só uma escova para arrumar a bagunça que
você está.
— Bom, nem sei por onde começar a dizer o que precisa
melhorar em você.
— Vamos focar na comida, Polpetta.
Raffaela me encarou e eu podia ver o brilho que o apelido que
eu dei quando ainda era uma adolescente trazia para seus olhos,
mesmo ela ficando brava.
— O que você quer comer?
— Tem uma padaria ótima aqui perto que entrega, daria tudo por
um cornetto, podíamos pedir sfogliatella…
— Vamos fazer assim, eu peço a comida e você vai tomar um
banho, ok? — Raffaela decidiu. — Consegue ficar em pé?
— Vai me dar um banho, se eu disser que não consigo? — Vi as
bochechas de Raffaela ficarem vermelhas, e senti meu coração se
aquecendo.
— Te coloco lá fora e ligo a mangueira para dar banho.
Levantei, deixando Raffaela brava na sala e saí rindo, porque eu
sabia que ela tinha coragem de fazer exatamente isso. Peguei meu
celular e abri uma das vinte mensagens que Rocco havia me
enviado, o que só podia significar que ele estava desocupado.
“Como assim você está namorando a minha sorella?”
Encarei a mensagem, sem saber o que ele queria dizer com
aquilo. Eu nunca namoraria Raffaela. Continuei lendo as mensagens
e todas tinham o mesmo cunho. Voltei para a sala, e encarei Raffaela
que estava com o telefone na mão, a testa franzida enquanto comia
o canto da unha.
Fiquei em silêncio olhando para ela. Raffaela fez um ruído e
olhou para a porta do quarto, me encontrando parado ali.
— Que história é essa de que estamos namorando?
15
Raffaela
— Não estou...
— Claro...
— Você está tão lubrificada, bella... meu pau vai deslizar tão
gostoso dentro de você...
Respirei fundo, e os olhos de Matteo foram atraídos para meu
peito que subia e descia em desespero. Um sorriso surgiu em seu
rosto e Matteo deitou em cima de mim para me beijar.
— Você é safada demais para alguém que era virgem até alguns
minutos atrás.
— Para, você vai quebrar sua coluna com o meu peso. — revirei
os olhos e lambi sua orelha. — Nojento.
Não queria falar sobre coisas tristes, mas sabia que em algum
momento teríamos que falar sobre sua família. Eu sabia que logo
Rocco ia querer entender a irmã, e Atena devia estar explicando
muita coisa para ele, por isso, eu ia aproveitar de Raffaela pelo
tempo que a tivesse.
— Espero que você não diga que eu preciso perder uns quilos. —
Passei minha boca em seu pescoço, chupando perto da sua orelha e
senti Raffaela se derreter em meus braços.
— Você vai achar bobo, — Matteo não falou nada, mas virou para
mim, segurando uma pequena peça entre os dedos. Seus olhos
verdes me encaravam e me senti insegura pela primeira vez em
muito tempo, uma insegurança que era quase palpável. — lembra
que uma vez você foi dormir em casa? E você sempre fazia isso.
Devia ter seus dezenove anos, eu, meus quinze completos, estava
naquela fase estranha, enquanto você já era lindo…
— Você não era uma garota boba de quinze anos… era mais
inteligente que eu, e mais carinhosa que eu, mais legal que eu… e
você sempre provou isso.
— Eu sei.
Passei minhas mãos por seu rosto, sentindo a barba por fazer
que começava a crescer e pinicava minha pele. Matteo me puxou
com mais vontade para perto dele. E eu não sabia se ele tinha noção
de como eu estava me sentindo, mas parecia que sim. Afinal, Matteo
me deu o beijo dos meus sonhos.
— A gente não…
— Eu sei… quando a gente levantar, eu te levo pra comprar um
remédio…
Respirei mais aliviada, levantando correndo para o banheiro.
Ouvi os passos de Matteo, mas gritei para ele.
— Fica aí, estou fazendo xixi, quando eu entrar no chuveiro te
chamo.
Não demorou muito para que ele estivesse lá dentro junto
comigo, me olhando enquanto a água caia em meu corpo. Esses
dois dias trancada dentro de uma casa com ele não tinha feito nada
de bom para mim, descobri coisas que seriam impossíveis de
esquecer e só confirmei que a paixão que eu sentia por ele era pior
do que eu imaginava.
Eu amava Matteo e ele não era meu.
42
Matteo
Raffaela não tinha parado de falar sobre o que faria na casa dela
durante todo o caminho. Conseguia inclusive ouvir agora sua voz em
minha cabeça, mesmo que ela tivesse cochilado encostada na
janela. Estacionei o carro em frente à minha casa e notei que o sol
que antes iluminava todo o céu, agora já se escondia atrás da minha
casa.
Olhei para Raffaela, que não parecia preocupada em acordar,
seu ressonar baixinho. Puxei o celular, encarando a tela que
mostrava uma foto dela na minha cozinha lavando a louça. Senti a
pontada que vinha me acompanhando nos últimos tempos e respirei
fundo. Abri a câmera e tirei uma foto para depois tirar sarro dela.
— Stella, vamos… chegamos em casa.
Raffaela resmungou, afastando minha mão de seu cabelo e
virando para o lado, seu pescoço ficou em uma posição estranha e
ela fez uma careta. Seus olhos abriram procurando pelo motivo da
dor e quando percebeu que eu a olhava, Raffaela abriu o maior
sorriso do mundo.
— Eu tenho uma casa, Matteo.
Tentei parar o sorriso que nascia em meu rosto, mas não
consegui. Ela estava tão feliz que era contagiante e mesmo que eu
não tivesse nada a ver com aquele sorriso, era bom demais poder
fazer parte da felicidade dela.
— Vamos, polpetta… nós precisamos de um banho.
Raffaela se espreguiçou dentro do carro, levantando os braços e
batendo no teto com as mãos.
— Juntos? — questionou, quando me pegou olhando para seus
seios que quase pulavam para fora da regata.
Dei uma risada baixa, sentindo meu pau ficando duro dentro da
calça jeans. Raffaela baixou os olhos dos meus para meu pau. Abri a
porta, sentindo o vento frio batendo em meus braços e esperei por
Raffaela, que saia do carro.
— Uh, está frio demais! Por que você me deixou sair de regata?
— Eu não tenho muito controle sobre o que você faz, Raffaela…
Raffaela revirou os olhos e correu para a porta de casa, fechei
as portas e fui atrás dela, vendo-a esfregar os braços e me
encarando como se eu fosse o culpado do frio.
Dentro da casa, o vento abafado esquentou a pele e eu a puxei
para mim, esfregando seus braços, enquanto a abraçava, tentando
aquecê-la melhor do que ela fazia antes. Encostei minha cabeça
entre o ombro e o pescoço de Raffaela e dei um beijo em sua pele
gelada.
Raffaela passou os braços pelos meus, nos deixando presos.
Suas unhas seguravam meus braços no lugar. Fechei os olhos
sentindo sua presença tão grande em mim que quase era como se
ela fosse dona de mim. Raffaela virou de frente para mim.
— Eu não agradeci, não é? — perguntou com a voz baixa e
sensual. — Por ter me ajudado com a semi mudança…
Raffaela passou seu rosto pelo meu, suas mãos subiram por
meu corpo por baixo da camiseta, parando por mais tempo na minha
barriga. Raffaela se aproximou de meu rosto, tocando seus lábios em
minha pele, espalhando pequenos beijos, enquanto tirava a mão da
minha pele.
Puxei Raffaela para mais perto de mim, colando os nossos
corpos, e abri os olhos, apenas para ver em seu rosto refletido o
sentimento que estava me consumindo nos últimos dias. Aproximei
nossas bocas e falei:
— Raffaela… como eu vou fazer… como eu vou ficar…
Raffaela grudou nossas bocas antes que eu pudesse terminar
de falar e invadiu minha boca com a sua língua, me tomando em um
beijo. Puxei suas pernas, a levantando do chão. Caminhei com
Raffaela pela casa, enquanto não parávamos de nos beijar. Suas
mãos puxavam minha camiseta e, sem conseguir olhar para onde eu
ia, acabei batendo na mesa. Sua risada quase me fez largar seus
lábios, mas a suguei de volta para o beijo. Caminhando como se não
tivesse quebrado algo, sem tempo para nada que não fosse ela.
Raffaela não largava de mim, rebolando em meu colo. Eu queria
rasgar suas roupas, colar seu corpo a mim permanentemente, tudo
para que eu nunca precisasse deixá-la.
— Matteo… — Meu nome parecia um canto em seus lábios,
quando ela se afastou de mim.
Abri meus olhos, sentindo meu pau babando por ela. Raffaela
tinha os seios cheios, os bicos marcados em sua regata. Mordi o bico
que estava bem de frente para mim e Raffaela jogou a cabeça para
trás, gemendo.
— Matteo… mais forte.
Apertei seu seio em minha boca, puxando-o com os dentes por
cima da blusa. Desci seu corpo para o chão com cuidado, e quando
vi que Raffaela estava segura o suficiente para que eu a soltasse,
comecei a despi-la.
Afastei suas pernas, puxando a calça jeans que ela usava.
Passei as mãos por sua pele, subindo de encontro a sua boceta que,
como eu imaginava, estava melada por mim.
— Você está tão molhada, Raffaela, que se eu quisesse comer
você agora mesmo, eu não teria problema nenhum em dobrá-la
sobre essa bancada e te foder gostoso.
Passei o dedo por seu clitóris, movendo o dedo de cima para
baixo, provocando a sua entrada. Raffaela se grudou em meu braço,
e senti sua boceta se contraindo de encontro a minha mão, sentindo
o líquido vazar e molhar meus dedos.
— Porra, Raffaela.
Puxei sua mão, tirando-a do êxtase do orgasmo, em direção a
minha cama. Raffaela me encarou assustada. Deitei na cama e puxei
para cima de mim, seu corpo bateu com tudo no meu e, por estar
sensível do orgasmo, Raffaela gemeu.
— Senta na porra da minha cara!
Raffaela arregalou os olhos, podia ver a preocupação em seu
rosto. Seu corpo se afastou um pouco do meu e eu a puxei de volta,
segurando suas coxas com força, marcando a pele com meus dedos.
— Matteo… eu sou… não acho que… eu vou te sufocar…
Sorri para ela, podia sentir o sorriso sacana crescendo em meu
rosto.
— Raffaela, você vai sentar na minha cara, eu quero me afogar
com a sua buceta. Então, por favor, senta na minha cara.
Raffaela engatinhou até o meu rosto e, com cuidado e
preocupação, sentou em minha cara com sua boceta aberta para
mim. Aquilo era o paraíso. Puxei seu corpo em direção a minha
boca, apertando suas coxas e dando a primeira linguada em sua
boceta aberta e deliciosa de encontro a mim.
Os sucos de seu último orgasmo ainda estavam ali, molhando
meu rosto. Raffaela ainda parecia insegura e por isso, continuei
brincando com sua boceta. Apertando sua coxa, tentando fazê-la se
sentir segura.
Sua boceta molhada parecia o paraíso, me sufocando, enquanto
eu estava pronto para atravessar o oceano a nado por aquela
mulher. Raffaela parecia mais confiante, começando a rebolar
devagar e senti meu pau apertado na calça jeans, mas eu não
pediria para Raffaela virar.
Olhei para cima e pude ver sua mão começando a tocar seu
seio, enquanto se movia para frente e para trás. Enfiei minha língua
em sua boceta, sentindo Raffaela esfregar o clitóris no meu nariz
com vontade.
Sua perna começou a apertar minha cabeça e eu conseguia
sentir meu pau bombeando. Apertei as coxas de Raffaela mais forte
e ouvi seu grito abafado pelas pernas que apertavam minha cabeça.
Eu podia sentir o quanto aquela posição estava sendo gostosa
para ela, com seu corpo em um vai e vem que parecia o paraíso para
ambos. Sua boceta inchada na minha cara estava tão lubrificada que
parecia escorrer.
Raffaela olhou para baixo, para mim, enquanto continuava
rebolando em meu rosto, espalhando sua lubrificação por minha cara
e eu sorri, passando a língua por sua boceta e brincando com ela. Eu
podia sentir que ela estava perto, apenas por como ela grudou no
travesseiro e se movimentou mais rápido.
Seu corpo tremeu e suas pernas me apertaram mais forte,
enquanto seu corpo gozava, molhando meu rosto. Raffaela não
parou de se mexer, até que tivesse terminado e senti meu pau indo
para o mesmo caminho, enquanto eu gozava junto com ela na minha
calça.
Raffaela respirou fundo e me encarou, seu peito subindo e
descendo. Seus olhos estavam nublados pelo tesão e pelo orgasmo.
— Isso… foi… — Raffaela se moveu, saindo de cima do meu
rosto. — insano.
— Acho que eu tenho minha nova posição favorita — respondi.
Raffaela se abaixou, me beijando, espalhando por seu rosto o
orgasmo que tinha acabado de ter.
Eu não podia deixar aquela mulher escapar.
45
Raffaela
Matteo baixou os olhos, parecia que ele tinha feito algum pedido
para as estrelas. Eu, no entanto, não pediria nada para ninguém:
nem ao céu, nem ao universo e nem à pessoa à minha frente. Eu
não imploraria pelo amor de mais ninguém.
— Raffa, você quer começar a falar?
— Eu? Quem armou todo um plano pra me trazer aqui foi você,
Matteo.
— Tem razão.
Caminhando até um dos buquês que Atena tinha espalhado,
Matteo pegou um com lírios e me entregou. Resisti a vontade de
revirar os olhos, e coloquei a mão sobre a sua que estava estendida
para mim.
— Você parece feliz.
Matteo não tinha noção de como aquilo era uma fachada. Sim,
eu estava melhor, melhor do que eu já imaginei estar. Não sabia que
sair de casa e ter meu próprio espaço me faria tão bem, mas fez. E
mesmo assim parecia que faltava algo.
Algo que fazia meu coração acelerar e bater contra minha caixa
toráxica. Matteo sorriu me olhando e puxou minha mão para perto de
seu peito, enquanto andávamos.
Aquela palavra ficava rondando minha cabeça e eu quase queria
gritar com ele para que explicasse o que ela significava. Infelizmente.
Tentei afastar meus pensamentos daquilo e a única coisa que eu
conseguia pensar foi que estar no Coliseu vazio era meio macabro.
— Tinha que ser no Coliseu à noite? — perguntei, sentindo os
pelos em meu braço se arrepiando com um assobio alto que ouvi. —
Não podia ter sido em um jardim?
— Eu gosto muito do Coliseu, sabia? Foi aqui que minha mãe me
trouxe assim que mudamos para Roma.
— Não sabia…
— Tem muita coisa sobre mim que você ainda não sabe,
Raffaela, mas você vai saber tudo. Nós vamos ter muito tempo para
que eu descubra todos os seus segredos e você, os meus.
Puxei minha mão da sua e o encarei.
— Matteo, não é assim, eu ouvi o que você disse… eu sei que
estar comigo era um peso que você não conseguia mais suportar.
Era um namoro falso, e só isso. Acabou, por que me machucar
mais?
— Raffaela… quando você vai entender que a parte falsa desse
relacionamento durou apenas alguns dias? Nem sei se foi realmente
um namoro falso… no momento que eu te beijei na empresa, eu já
era completamente seu.
— Você diz isso agora, Matteo, mas eu te ouvi. Eu sei o que eu
ouvi, você estava com aquela mulher linda e dizendo que
“infelizmente estava em um relacionamento”, você não tem noção de
como aquilo me deixou. Eu sei que você não estava naquele
relacionamento por vontade, e que… eu nem posso te cobrar nada.
Nós dois sabíamos que era assim, mas quando transamos, eu achei
que tinha se tornado algo maior. Eu sou só uma boba.
Matteo deu um passo para frente e levantou minha cabeça.
Encarei seus olhos e seu rosto, pensando no quadro que estava em
casa. Mordi meu lábio, tentando parar o choro que eu não conseguia
mais segurar.
— Bella… eu nem sei como começar a pedir desculpas pelo que
você ouviu. Eu prometi para mim mesmo que nunca ia te machucar e
aí Atena me contou como você tinha ficado desolada. — Matteo fez
um carinho em minha bochecha e se aproximou mais de mim. — Eu
passei todos os dias pelo seu prédio, torcendo para que nos
encontrássemos, porque eu não podia tocar na sua porta quando eu
sabia que você estava tão mal e eu tinha sido o causador daquilo.
Ouvi as primeiras pessoas entrando no Coliseu e não percebi
que já estávamos ali há tanto tempo. Matteo percebeu que eu estava
tremendo por estarmos em uma parte mais alta. Senti seu sobretudo
sendo colocado sobre meus ombros e sua cabeça encostou na
minha. Ficamos abraçados em silêncio.
Parecia um fim, eu não sabia o porquê, mas parecia. Tomei
coragem e falei o que precisava.
— Ti amo. — Não olhar em seus olhos facilitava tudo. — Talvez
eu ame por mais mil anos, talvez amanhã eu acorde curada, mas
Matteo… saiba que, enquanto estivemos juntos, eu te amei com toda
a minha alma.
Matteo me virou para ele e seu rosto mostrava uma confusão
que eu mesma sentia.
— Você está louca, Raffaela? Nós não estamos terminando. Quer
dizer, estamos.
Franzi a sobrancelha, esperando por aquela explicação. Aquela
sim era uma explicação que eu queria muito ouvir.
— Estamos terminando o nosso namoro sob o termo de “namoro
falso”, pode excluí-lo da sua cabeça. Não existe nada falso no
sentimento que eu tenho por você. Você me ama? Ótimo. Eu vou
fazer valer cada gota desse sentimento que você depositou em mim.
Mas eu não vou apenas te amar, eu vou te adorar, eu vou construir
altares para você. Raffaela, sei la mia vita. Então, eu preciso saber…
você aceita ser minha namorada? E em algum momento, não muito
longe, minha esposa? Porque eu não estou ficando mais novo e eu
já pensei em pelo menos três crianças com você.
— Você me ama? — Não consegui parar o sorriso em meu rosto.
— Completamente, Raffaela.
Passei os braços por seu pescoço, puxando Matteo para perto
de mim. Nossas bocas se encontraram no meio do caminho, como
se não aguentassem mais ficarem distantes. Meu coração parecia
que ia sair pela boca, voando em queda livre em direção ao solo que
os romanos lutaram, ganharam e perderam batalhas. A minha estava
vencida. Matteo me amava.
Nossas línguas se enroscaram, e suas mãos me apertaram mais
forte de encontro ao seu corpo. Uma chuva fina começou a cair, mas
aquilo não nos parou. Senti meu corpo sendo levantado e Matteo me
puxou para uma parte coberta, impedindo que a chuva nos
consumisse.
Respirei fundo, parando o beijo, suas mãos entraram por baixo
da minha blusa e eu me arrepiei com o quanto elas estavam geladas.
— Raffaela, eu tenho um presente para você.
— Um presente?
— Sim, eu estou tentando me esquentar, sabe? — disse rindo em
meu pescoço, enquanto me beijava. — Então, você pode colocar a
mão dentro do bolso esquerdo e pegar o presente?
Concordei com a cabeça, enquanto sua boca continuava me
beijando. Notei o pequeno objeto redondo e o puxei. A luz refletiu no
vidro e eu tive certeza do que era.
Um pequeno globo de neve da Torre di Pisa igualzinho ao que
eu tinha quebrado. Matteo parou de me beijar quando sentiu que eu
tinha parado de responder aos seus carinhos.
— Essa é a que eu te dei?
— Não, a que você me deu está no mesmo lugar de sempre, no
meu escritório, onde eu posso lembrar da mulher que eu amo
sempre quando estou sozinho… esse eu consegui indo até a Torre di
Pisa, e escolhendo a dedo um que fosse idêntico ao que você
quebrou… — Matteo colocou a mão sobre o objeto e sorriu para
mim. — Isso é uma coisa nossa, amore mio, e ninguém pode
quebrar o que nos liga há anos, arte, amor e o Rocco.
— Ti amo tanto, Matteo.
— Ti amo, bella.
56
Matteo