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Normas Constitucionais

1 – Normas constitucionais

1.1 – Disposições gerais

As normas constitucionais, em relação ao conteúdo, são classificadas em formais e


materiais, de maneira que as formais são caracterizadas por serem veiculadas no texto
constitucional, independentemente de sua natureza, enquanto as materiais possuem natureza
essencialmente constitucional, independentemente de veiculação no texto constitucional.

1.2 – Características

As normas constitucionais possuem como características principais a superioridade


hierárquica formal, a natureza política dúplice e o conteúdo e linguagem específicos. Nesse
sentido, a superioridade formal garante que as atividades estatais legislativa, executiva e
judiciaria sejam parametrizadas pela Constituição, a natureza política dúplice é caracterizada
pela dupla função de legitimação e de limitação do poder político, o conteúdo específico
consiste na finalidade básica de organização do Estado e previsão de direitos, e a linguagem
específica no alto grau de abertura e baixo grau de densidade, com os valores concretizados
pelo interprete.

1.3 – Bloco de constitucionalidade

O bloco de constitucionalidade, proposto por Louis Favoreu, é caracterizado pelo


controle de constitucionalidade parametrizado pela Constituição material, no sentido de
conjunto de normas constitucionais materiais. (Conselho Constitucional da França; ADIN 595 e
514)

2 – Hierarquia e classificação

2.1 – Disposições gerais

As normas constitucionais não possuem hierarquia, independentemente do conteúdo,


natureza originária ou derivada ou intangibilidade conferida às cláusulas pétreas, com base no
fato de que todas as normas retiram seu fundamento de validade da norma hipotética
fundamental, ainda que as normas originárias, ao contrário das derivadas, não possam ser
submetidas ao controle de constitucionalidade, com base natureza jurídica ilimitada.

2.2 – Normas constitucionais inconstitucionais


A teoria das normas constitucionais inconstitucionais, apresentadas pelo alemão Otto
Bachof, defende a possibilidade de existência de normas constitucionais originárias
inconstitucionais, com base na existência de dois tipos de normas constitucionais, as cláusulas
pétreas e as originárias. Nesse sentido, as cláusulas pétreas são consideradas como superiores
às demais normas originárias e, portanto, serviriam de parâmetro para o controle de
constitucionalidade destas. (inadmissibilidade no ordenamento constitucional brasileiro)

2.3 – Tratados internacionais

Os tratados e convenções internacionais internalizados no ordenamento jurídico


brasileiro, em regra, adquirem natureza hierárquica de norma infraconstitucional federal.
Entretanto, os tratados e convenções sobre direitos humanos são internalizados com status
supralegal, quando aprovados sem quórum de emenda constitucional, ou constitucional,
quando aprovados com quórum de emenda constitucional.

2.4 – Normas de organização

As normas de organização são caracterizadas pela divisão do exercício do poder


político, no sentido de organização territorial ou vertical e funcional ou horizontal. Nesse
sentido, a organização territorial consiste na divisão do poder entre os entes federativos, que
caracteriza a forma federativa de Estado, enquanto a funcional consiste na divisão do poder
entre órgãos, que caracteriza a tripartição orgânica das funções do Estado, de maneira que o
Estado é organizado inicialmente pela incidência da divisão vertical e posteriormente pela
horizontal.

2.5 – Normas definidoras de direitos

As normas definidoras de direitos são caracterizadas pela finalidade de intervenção do


Estado na ordem político-social, no sentido de afirmar direitos, prescrever garantias e
disponibilizar de remédios. Nesse sentido, as normas definidoras de direitos se diferenciam
pelo momento de consubstanciação, de maneira que a afirmação dos direitos constitui o
primeiro momento, a prescrição das garantias, o segundo, e a disponibilização dos remédios, o
terceiro, no sentido de que todo direito afirmado possui uma garantia prescrita que o
assegura, e toda garantia possui um remédio disponibilizado que a torna eficaz.

2.6 – Normas programáticas

As normas programáticas são caracterizadas pela finalidade de prescrição de programa


de atuação estatal na ordem econômica e social, de maneira que geram uma pretensão de
direitos subjetivos negativos, com base na reserva do possível. (eficácia limitada)
3 – Eficácia das normas constitucionais

3.1 – Disposições gerais

A eficácia das normas constitucionais é caracterizada pela sua aptidão potencial para a
produção de efeitos, de maneira que a aplicabilidade e a efetividade constituem qualidades da
eficácia para a aplicação concreta e efetiva da norma. Nesse sentido, a aplicabilidade, segundo
José Afonso da Silva, consiste na realizabilidade da norma, com base na sua adaptação ao caso
concreto, e a efetividade, segundo José Roberto Barroso, no seu cumprimento efetivo pela
sociedade, que também é abordada por Hans Kelsen como eficácia social.

3.2 – Doutrina clássica

A doutrina clássica classifica a eficácia das normas constitucionais em auto-aplicáveis e


não auto-aplicáveis, com base na necessidade de interposição legislativa para a aplicação
concreta da norma. Contudo, a doutrina clássica foi superada pela doutrina moderna, com
base na ausência de auto-aplicabilidade ou de não auto-aplicabilidade absoluta das normas,
em virtude do fenômeno da contenção da eficácia e dos efeitos revogatório e inibitório.

3.3 – Doutrina moderna

A doutrina moderna classifica a eficácia das normas em plena, contida e limitada.


Nesse sentido, as normas de eficácia plena são caracterizadas pela aplicabilidade direta,
integral e imediata, as normas de eficácia contida, pela aplicação direta, restringível e
imediata, de maneira que mantém a eficácia plena até que seja materializado o fator de
restrição, e as normas de eficácia limitada, pela aplicação indireta, integral e mediata ou
diferida. (José Afonso)

De fato, as normas constitucionais de eficácia contida gozam de eficácia plena enquanto não
houver restrição. Entretanto, diferentemente do que afirma o enunciado, seus efeitos podem
ser restringidos não só pela lei, mas também pela própria Constituição e por conceitos ético-
jurídicos indeterminados. Questão errada.

3.4 – Princípio institutivo ou organizatório

O princípio institutivo é caracterizado por definir a finalidade de instituição de órgãos,


entes e competências públicas das normas de eficácia limitada. Nesse sentido, as normas
definidoras de princípios institutivos ou organizativos podem ser impositivas, quando
impuserem ao legislador a obrigação de elaborar a lei regulamentadora, ou facultativas,
quando estabelecem mera faculdade ao legislador.

3.5 – Princípio programático


O princípio programático é caracterizado por definir a finalidade de instituição de
programa de governo ou fins sociais a serem desenvolvidos pelo legislador infraconstitucional
das normas de eficácia limitada, fundamentadas na realidade socioeconômica. (artigo 7, XXVII)

3.6 – Efeitos negativo e vinculativo das normas limitadas

As normas de eficácia limitada, ainda que tenham sua aplicabilidade condicionada à lei
infraconstitucional, produzem efeitos jurídicos negativo e vinculativo imediatos. Nesse sentido,
o efeito negativo consiste na revogação das disposições anteriores e proibição de leis
posteriores em sentido contrário, de maneira que podem servir como parâmetro de
constitucionalidade, e o efeito vinculativo, na obrigação do legislador ordinário de editar as leis
regulamentadoras, sob pena de omissão inconstitucional, que confere legitimidade ao
mandado de injunção e à ação direta de inconstitucionalidade por omissão, e ainda, na
obrigação de concretização das normas programáticas. (eficácia inibitória e revogatória ou ab-
rogativa)

3.7 – Doutrina contemporânea

A doutrina contemporânea é caracterizada pela prevalência da efetivação concreta dos


direitos fundamentais sobre a classificação abstrata, de maneira que a violação dos direitos
pela ausência de interposição legislativa seja coibida com base na prestação cabível, na
ponderação de interesses, no mínimo existencial e na reserva do possível. (Virgílio Afonso da
Silva; Sérgio Fernando Moro; ADPF 45; medicamento hipossuficientes; obrigação de fazer do
Estado)

3.8 – Maria Helena Diniz

A eficácia das normas constitucionais, segundo Marias Helena Diniz, pode ser absoluta,
quando não puderem ser suprimidas por emenda, de eficácia plena, relativa restringível e
relativa complementável ou dependentes de complementação, no mesmo sentido da
classificação de José Afonso da Silva.

3.9 – Normas de eficácia exaurida

As normas constitucionais de eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada são


caracterizadas pelas normas cujos efeitos cessaram após sua aplicabilidade, de maneira que
não possuem mais eficácia jurídica e não poderão ser objeto de controle de
constitucionalidade. (ADCT)

3.10 – Transporte urbano gratuito


O artigo 230, 2º, da Constituição Federal prevê a garantia de gratuidade dos
transportes coletivos urbanos aos maiores de sessenta e cinco anos, de maneira que,
consoante entendimento firmado no julgamento da ADPF 3768, o dispositivo possui eficácia
plena.

4 – Hermenêutica constitucional

4.1 – Disposições gerais

A palavra hermenêutica deriva do termo grego hermeneuein, que significa interpretar,


de maneira que, no contexto científico, é caracterizada pela disciplina que estuda a
interpretação, e no contexto constitucional, pela atividade intelectual de revelação do sentido,
alcance e conteúdo das normas constitucionais.

4.2 – Supremacia e unidade constitucional

A supremacia da Constituição é caracterizada pelo atributo que a estabelece como a lei


fundamental do Estado, no sentido de fundamento formal de validade do ordenamento
jurídico, e a unidade da Constituição, pela sua natureza ordenada e sistematizada, que
estabelece a interligação harmônica entre as normas, no sentido de ausência de hierarquia e
de solução dos conflitos mediante ponderação de interesses.

4.3 – Eficácia integradora

O princípio da eficácia integradora, ou efeito integrador, é caracterizado pela atividade


interpretativa fundamentada na primazia da unidade política promovida pela Constituição, de
maneira que a doutrina considera a eficácia integradora como a aplicação do princípio da
unidade da Constituição.

4.4 – Máxima efetividade

A máxima efetividade é caracterizada pela consideração da dignidade humana na


atividade interpretativa das normas constitucionais, no sentido de efetivação dos direitos
fundamentais com base na ponderação entre o dever estatal de prestação e a reserva do
possível.

4.5 – Correção ou conformidade funcional

O princípio da correção ou conformidade funcional, ou da justeza, é caracterizado pela


limitação da atividade interpretativa pelas competências conferidas pela Constituição, no
sentido de impedir que os órgãos responsáveis pela interpretação constitucional subvertam o
projeto constitucional, caracterizando a mutação inconstitucional.

4.6 – Interpretação conforme a Constituição

A interpretação conforme a Constituição tem como objeto a legislação


infraconstitucional polissêmica ou plurissignificativa, no sentido de interpretações diversas, de
maneira que deve ser considerada a que esteja em consonância com a Constituição. Nesse
sentido, a interpretação conforme a Constituição não é aplicável às normas unívocas, e ainda,
não pode violar a literalidade do texto normativo, no sentido de legislar por meio da atividade
interpretativa.

4.7 – Presunção de constitucionalidade

O princípio da presunção de constitucionalidade é caracterizado por atribuir às normas


infraconstitucionais a presunção relativa de compatibilidade com o ordenamento jurídico, com
fundamento na legalidade estrita, de maneira que adquire natureza absoluta com a declaração
de constitucionalidade da norma.

5 – Métodos de interpretação

5.1 – Interpretação quanto à origem

A interpretação quanto à origem pode ser legislativa, judicial ou administrativa. Nesse


sentido, a interpretação legislativa é exercida mediante apreciação do veto presidencial por
inconstitucionalidade, a judiciária, pelo controle de constitucionalidade e aplicação dos
remédios constitucionais, e a administrativa, pela inaplicabilidade de lei inconstitucional.

5.2 – Interpretação quanto ao meio

A interpretação quanto ao meio é classificada em gramatical, lógica, teleológica,


histórica e sistemática. Nesse sentido, a interpretação gramatical é baseada na literalidade do
texto normativo, a lógica, na concordância estabelecida entre as normas, a teleológica, na
finalidade da norma, a histórica, no processo histórico-evolutivo de formação da norma, e a
sistemática, na natureza sistematizada do ordenamento jurídico,

5.3 – Interpretação quanto à finalidade

A interpretação quanto à finalidade é classificada em declarativa, restritiva e extensiva,


de maneira que a interpretação declarativa consiste na declaração de correspondência entre o
texto normativo e o significado da norma, e a restritiva e a extensiva na necessidade de
restrição ou ampliação do significado do texto normativo, respectivamente.

5.4 – Método científico-espiritual

A interpretação científico-espiritual, proposta por Rudolf Smend, é caracterizada pelo


método de interpretação baseado no espírito da Constituição, no sentido de consideração dos
valores que fundamentam o texto constitucional. Nesse sentido, a atividade interpretativa
deve apreciar o texto constitucional de forma global, não isolada ou abstrata, visando
considerar a realidade de fato.

5.5 – Método tópico-problemático

A interpretação tópico-problemático, proposta por Theodor Viehweg, é caracterizada


pelo método de interpretação baseado na prevalência do problema sobre a norma. Nesse
sentido, a interpretação constitucional possui natureza prática, no sentido de solução do
problema mediante a atividade de interpretação da norma, que possui significado
indeterminado.

5.6 – Hermenêutico-concretizador

A interpretação hermenêutico-concretizador, proposta por Konrad Hesse, é


caracterizada pelo método de interpretação baseado na prevalência da norma sobre o
problema. Nesse sentido, o método é constituído pela pré-compreensão da norma pelo
intérprete e pela análise das circunstâncias do problema concreto, promovendo uma relação
entre texto e contexto.

5.7 – Normativo-estruturante

A interpretação normativo-estruturante, proposta por Friedrich Muller, é caracterizada


pela produção de uma norma aplicada ao caso concreto mediante a conjunção entre o
enunciado linguístico e a situação de fato. Nesse sentido, o método considera o texto
normativo menos amplo que norma jurídica, com base na agregação das atividade jurisdicional
e administrativa à atividade legislativa, de maneira que a norma jurídica consiste no resultado
da interpretação do texto aliado ao contexto.

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