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COXINHA

DE
MACAXEIRA
Pedro Barbosa da Fonseca

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Ilustrações por Bruno Wagner
Pedro Barbosa da Fonseca

Coxinha
de
Macaxeira

Ilustrações por Bruno Wagner

Ceará-Mirim/RN
2015
F676c Fonseca, Pedro Barbosa da.
Coxinha de macaxeira / Pedro Barbosa da Fonseca ; Ilustrações
por Bruno Wagner Barbosa Rodrigues. – Ceará-Mirim, RN : IFRN,
2015.
14 p., il. color.

ISBN: 978-85-8333-216-9

1. Literatura norte-rio-grandense – Poesia popular. 2. Literatura


de cordel. 3. Poesia norte-rio-grandense. 4. Literatura popular
nordestina. 5. Empreendedorismo – Literatura. I. Rodrigues, Bruno
Wagner Barbosa. II. Título.

CDU 82(813.2)-91

Ficha elaborada pela Seção de Processamento Técnico da Biblioteca Sebastião


Fernandes do Campus Natal Central do IFRN.
Ficha técnica
Texto
Pedro Barbosa da Fonseca – Aluno do IFRN/Campus Santa Cruz

Ilustração, Diagramação e Desenvolvimento Web


Bruno Wagner Barbosa Rodrigues – Aluno do IFRN/Campus Ceará-Mirim

Coordenação
Idelmárcia Dantas de Oliveira – Profa. do IFRN/Campus Ceará-Mirim

Colaboradores
Elionai Moura Cordeiro – Prof. do IFRN/Campus Ceará-Mirim
Priscilla Suene de Santana Nogueira Silvério – Profa. do
IFRN/Campus Ceará-Mirim
Rubervanio da Silva Mateus – Bibliotecário do
IFRN/Campus Santa Cruz
Manoel Dantas – Poeta Potiguar

,
Apresentação
Este trabalho foi fruto do desejo de uma profes- desenvolvedor web do cordel, Bruno Wagner Barbo-
sora do interior do Rio Grande do Norte em apre- sa Rodrigues. Também recebeu o apoio voluntário e
sentar aos seus alunos, de forma divertida e lúdica, imprescindível de dois professores da área de
um exemplo de Empreendedorismo, próximo da Informática: prof. Elionai Moura Cordeiro e profa.
realidade das pessoas que moram no interior, Priscilla Suene de Santana Nogueira Silverio, per-
fazendo uso de recursos da cultura regional. Essa mitindo que atingisse novo patamar. Por fim, este
aspiração começou a tomar forma quando a profes- trabalho também contou com a revisão de Peterson
sora ainda trabalhava no IFRN/Campus Santa Cruz, Nogueira, professor de língua portuguesa do
pois o autor do texto é Pedro Barbosa da Fonseca, Campus Ceará-Mirim e do poeta potiguar Manoel
aluno desse Campus, residente na cidade de Santa Dantas.
Cruz. Na mesma época, a professora convidou o O “Coxinha de Macaxeira”, intencionalmente,
bibliotecário do Campus Santa Cruz, Rubervanio da não é um cordel convencional, pois foi concebido sem
Silva Mateus, para elaborar a ficha catalográfica do perder de vista o mundo dos jovens alunos do ensino
produto final, inicialmente, um simples documento médio. Essa foi uma das premissas do projeto: criar
em formato pdf. algo que fosse atraente para um leitor jovem, com
A ideia inicial foi sendo aprimorada e ganhou a linguagem visual leve.
forma de um projeto de extensão no IFRN/Campus Espera-se que este material seja utilizado por
Ceará-Mirim. O projeto “E-cordel: um causo em- todos os professores do ensino médio que anseiem
preendedor” concorreu a edital interno e ganhou explorar o tema Empreendedorismo em sua sala de
um aluno bolsista do Curso de Informática para acu- aula, bem como sirva como fonte de conhecimento
mular várias funções: ilustrador, diagramador e para todos aqueles que desejem.

Idelmárcia Dantas
Comecei vender na feira,
nem sei quanto tempo faz;
eu vendia macaxeira
na banca de seu Tomaz;
mesmo eu sendo muito novo
já gritava para o povo:
vem, minha gente, comprar!
Chegue logo, oh freguesia,
traga o dinheiro, a bacia,
e vamos negociar.

Tinha gente que parava


para ouvir meu rito fino;
um outro que se admirava
de ver somente um menino
a gritar em plena feira,
olhe aí a macaxeira, Assim passei muito tempo
coma cozida ou assada: vendendo pra seu Tomaz,
alimento nutritivo, porém chegou um momento
saboroso, digestivo que eu pensei assim: rapaz!
e o seu preço é quase nada. Estou fazendo besteira,
pois vendendo aqui na feira,
eu não saio do lugar.
Passo o dia dando murro,
trabalhando feito burro,
pra ver outros enricar.
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Então eu pensei assim:
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meu Deus, o que vou fazer?!
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Quero trabalhar pra mim,

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mas não me vem o saber...
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Passei minha vida inteira,

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sendo vendedor na feira,
sem ter outra profissão!
Contudo minha vontade
é procurar novidade,
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? tá tomada a decisão. ?

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Sem rumo, desci a rua,
não tendo destino certo...

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Fui ao bar do Tõi da Lua

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que continuava aberto,

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e lá dentro do bar tinha
um vendedor de galinha
que assim conversou comigo:
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vá montar um galinheiro
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na área do seu terreiro,
realize o sonho antigo.

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Eu comprei cinco galinhas Faltou-me planejamento
e segurei pela asa, para ser vendedor de ovo.
já era quase noitinha, Saí no mesmo momento
quando eu cheguei em casa. atrás de emprego de novo...
No amanhecer do outro dia, Voltei a vender na feira
Minha mãe disse: o que é isso?
havia um ovo somente. a bendita macaxeira,
Pra que esse rebuliço?
Eu disse: Virgem Maria! com que eu tinha cismado;
O que você vai fazer?
Ô negócio decadente! porém agora eu sabia
Respondi: chame o povo
Eu pensava que galinha que o comércio exigia
e diga que terei ovo
passava a noite todinha um cabra bem informado.
amanhã para vender.
os ovinhos fabricando;
e depois que ela botava
o trabalho que me dava
era só sair juntando.
Dirigi-me à padaria Enquanto eu caminhava, Com o sabor da coxinha Não vendo o tempo passar,
na hora de comprar pão, lembrando do meu passado, me veio uma ideia nova: já preparava o pastel,
aí notei que havia o tanto que trabalhava vou fazer uma igualzinha a coxinha para assar,
uma estufa no balcão, sem nunca ver resultado, para ver se o povo aprova; douradinha, cor de mel;
dentro dela umas coxinhas, comendo aquela coxinha, pensando seguir em frente, croissant, risole, empada,
coradas, bem assadinhas, lembrei-me lá das galinhas fui falar com seu Vicente, tudo de massa folhada,
deu vontade de comer; e meu fracasso com ovo... o dono da padaria. até a queijada eu fiz.
eu comprei uma na hora Não podia desistir, Um emprego arranjei; Primando no aprendizado,
e saí de mundo afora, deveria mesmo insistir, e eu dali só sairei eu me senti preparado
pensando no que fazer... começar tudo de novo. pra minha pastelaria. e não mais era aprendiz.
Depois de um certo tempo,
procurei novo destino,
porque naquele momento
não era mais um menino;
queria ganhar dinheiro,
viajar pro estrangeiro,
quem sabe, um dia casar...
Pelo pouco que ganhava,
naquela hora não dava
sequer pra me sustentar.
Começo a vender de tudo:
cabo de enxada, bujão;
vendi caderno de estudo,
corda, capa de fogão;
incenso, vela, CD,
muda de planta, LP,
machado, escova de dente,
vendi mala, faca, pote,
estribo, lima, caixote, Muitas coisas eu vendia,
veneno de rato e pente. muito tempo trabalhava,
o dinheiro não rendia,
em nada me adiantava.
Eu já estava sem plano,
me bateu um desengano,
vontade de desistir,
pois era muito trabalho,
porém só quebrava galho,
não dava pra prosseguir.
Eu disse agora tô pronto, No quiosque limpei canto, Convidei toda a cidade Afirmei ser de oito horas
pode estender o tapete, troquei a porta, o balcão, pra grande inauguração. que a brincadeira começa
não sou mais aquele tonto, e na estante do recanto Eu estava com vontade e falei para as Senhoras
agora tenho o macete; botei a televisão de causar boa impressão. não precisar terem pressa.
aprendi com seu Vicente para o povo se entreter Chamei o Padre, o Prefeito, Se tem jantar na panela,
um negócio diferente... na hora de vir comer, mais o Juiz de Direito quando acabar a novela
E ao ter hoje o que não tinha, vendo na Globo a novela. a minha Pastelaria; e a meninada garfar,
vou montar o meu quiosque Comprei os ingredientes Sendo hoje dia de festa, você fala com jeitinho,
na via principal do bosque, e, de forma inteligente, você come e diz se presta vamos ali meu benzinho
só para vender coxinha. fiz bom uso da panela. o sabor da iguaria. a inauguração olhar.
Pela décima sexta hora, Só sei que comeram tudo Fiquei só para a limpeza,
o bosque já estava cheio, que eu havia preparado, pensando no movimento,
eu disse, Nossa Senhora! do pequeno e do miúdo, aí disse assim: beleza!
Esse povo donde veio? de pronto foi devorado, Vou fazer outro orçamento
Era menino e mulher, quando a comida acabou, das coisas que vou vender,
com garfo, faca e colher, o povo se levantou, do que o povo vai comer,
todos querendo jantar. um disse farei agora preciso estar preparado;
Gritei agora lascou: a oração do seu Raimundo: não fazer muito nem pouco,
tudo que se preparou “bucho cheio, pé no mundo,” quem faz muito, fica louco,
não dá nem pra começar. deu nos calos, foi embora. com comer desperdiçado.
Assim eu fui começando Testei coisa diferente,
na minha pastelaria, recheei com camarão,
o povo foi se chegando, mas não foi suficiente,
aumentando a freguesia... teve pouca aceitação.
Eu, porém, insatisfeito, Disse eu: é brincadeira!
queria arrumar um jeito a coxinha é de primeira
da minha venda crescer. e as vendas não estão boas;
Quando mudava a receita, irei dar uma de artista,
após a coxinha feita, preparar uma entrevista
ninguém queria comer. e indagar das pessoas.

Quando o povo ía chegando, Uns diziam que era bom.


eu pegava a conversar, Outros sequer comentavam.
ao me ir aproximando, Alguns mudavam do tom
jamais sem incomodar; da conversa e disfarçavam;
ao expressar o BOM DIA, outros, porém, já diziam
dizia é com alegria que a comida que comiam
que recebo você aqui. era boa até demais,
Gostaria de saber contudo em nada mudava,
o que deseja comer em outros cantos se achava
deste cardápio daqui. as comidas sempre iguais.
FA A
NH
RI
Aí eu disse é agora Na feira ía observando
que aproveito o momento. as muitas coisas que tinha,
A ideia veio na hora, a cabeça fervilhando,
eu tive um deslumbramento: sempre pensando em coxinha,
vou fazer uma coxinha, lembrei-me do tempo atrás
não apenas com farinha, que a banca de seu Tomaz
hoje terei algo novo. era no fim da ladeira;
E de tanto caminhar, desci sentindo saudade
fazer planos, ensaiar, lá da minha mocidade
voltei pra feira do povo. na venda de macaxeira.

Eu não sabia o porquê Depois da chegada em casa,


e nem o que me guiava, cozinhei a macaxeira,
mas eu tinha que fazer e numa tigela rasa
aquilo que planejava. juntei farinha brejeira;
Comprei então macaxeira depois eu fui amassando
e voltei logo da feira e a massa misturando,
com aquele pensamento: provando logo o tempero
pra juntar ingrediente e disse tá bom demais;
de maneira diferente igualzinho ninguém faz,
e fazer o cozimento. afirmo sem exagero.
Rapidamente a coxinha
foi sucesso na cidade
e de todo canto vinha
gente ver a novidade:
a coxinha de primeira,
com massa de macaxeira,
todos querendo provar.
Além de ser bem sequinha,
corada, quando assadinha,
crocante no mastigar.

Não estando satisfeito,


procuro sempre inovar,
porque é grande defeito
o cabra se acomodar,
pensando ser mesmo o tal,
que nunca vai ficar mal
ao se achar superior.
Do jeito que o sucesso vem,
o mesmo se vai também,
é lei do empreendedor.
FIM
O Autor
PEDRO BARBOSA DA FONSECA

Pedro Barbosa da Fonseca nasceu em São Bento do barracas cedidas pelo exército e, em seguida, no conjunto
Trairí/RN, no dia 29 de junho de 1971, dia de São Pedro, Cônego Monte, construído pelo governo.
de onde vem o nome Pedro. Pedro é filho de agricultores Em 1989, Pedro se alistou no Exército e serviu às Forças
e morou na zona rural de São Bento do Trairí até comple- Armadas em Natal/RN. Nesse período, fora da instituição
tar 10 anos de idade. militar, ele se iniciou na capoeira. Quando retornou à Santa
Em 1981, seus pais foram morar em Santa Cruz/RN. Cruz, tornou-se professor dessa arte marcial.
Então, Pedro, conhecido por Dudu entre amigos e famili- Aprendeu sobre cultura afrodescendente, fez dissertações,
ares, foi aventurar-se em uma cidade mais desenvolvida, músicas e ensaios sobre capoeira e sobre a vida dos negros
uma vez que mal conhecia a casa da fazenda onde na escravidão. Na mesma época, trabalhou em projeto
morava. social com jovens carentes por 10 anos.
Em Santa Cruz, Pedro estudou o primeiro grau e tra- Em 2008, concluiu o ensino médio e no ano de 2010
balhou fazendo o transporte das compras da feira livre à iniciou o curso de licenciatura em Física no IFRN/Santa Cruz.
casa dos clientes, também vendeu dindim, picolé, pipoca Desde o ensino médio, Pedro Barbosa da Fonseca, o
e ajudou em uma banca de confecções. Dudu, sempre gostou de literatura de cordel, inspirado por
Viveu o drama da enchente de 1° de abril de 1981, per- seu tio repentista e por sua mãe que o fazia dormir, quando
dendo sua casa levada pela água do Rio Trairí. Morou em criança, cantarolando cordéis.
As atividades editoriais do que hoje denominamos Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte - IFRN iniciaram em 1985, no contexto de funciona-
mento da ETFRN. Nesse período, essas atividades limita-
vam-se a publicações de revistas científicas, como a revista
ETFRN, que em 1999 tornou-se a revista Holos.

Em 2004, foi criada a Diretoria de Pesquisa, atual Pró-Reitoria


de Pesquisa e Inovação, que fundou, em 2005, a Editora do
IFRN. A Editora nasceu do anseio dos pesquisadores da Insti-
tuição que necessitavam de um espaço mais amplo para
divulgar suas pesquisas à comunidade em geral.

Com financiamento próprio ou captado junto a projetos apre-


sentados pelos núcleos de pesquisa, seu objetivo é publicar
livros das mais diversas áreas de atuação institucional bem
como títulos de outras instituições de comprovada relevância
para o desenvolvimento da ciência e da cultura universal,
buscando, sempre, consolidar uma política editorial cuja
prioridade é a qualidade.

INSTITUTO FEDERAL
Rio Grande do Norte

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