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WOORTMANN, Klaas, 1997. “Os planetas © os co : a reinvengao do mundo exterior”. Jn Religiio e ciéneia_no Renascimento. Brasilia: Editora UnB, pp. 27-66. Os planetas e os continentes: a reinvencdo do mundo exterior incias para a fl stron foi o impacto da nova concepe! cco, Em seu conjunto, provocaram o Copérnico e os planetas A nova concepeio do Universo proposta por Copémic e da Terra em particular, Mas as idéias copemicanas, mais do uma revolugio, podem ser melhor consideradas como um passo i jo da revolugio que tomaria lugar mais tarde, a partir de Galileu, ia. Para o pensamento medieval, o hor mais significativo que a natureza fisica na obra da Cri iro do Universo, e 0 mundo havia sido eriado p: pensamento modemo, a natureza é mais determinante que o homem Adk matéria que compée 0 Univer nis, ji desde a reinvengao do atomismo por Galileu, & a mesma Jo so mundo exist nem, mas era também plenamente inteli 10s usos humanos desse mundo. As « para uso do ho. stotélico-tomista, eram as de substan le e qualidade. T uubstituidas por tempo, espago, massa, c., enquanto 2 qu le ganha preemtit Burtt A realidad os objetos era o que podia ser percebido pel c frente: 0 vapor eram considerados substancias diferentes. O substincias diferentes, Dado que os sentidos dis. n entre coisa: es dis- se pesitdas, tratava-se de qual a logia medieval, as explicagies relativas a0 props m m tio ve nto aquelas fandaclas nas rele re as 7 uva cai porque benefici jividade agricola do homem era uma explicagio tio verdadei a cai por qi nto medieval em geral (d mundo, em tomo do qual, para uso estético e pratico do homem, gi- > céu com sttas estrels, nfo a muita distinc Aparer © antropocénirico, era um mundo teocéntrico, ‘ ampulheta e 0 reldgio mecinico poderiam ser alegorias da mudan- 7 cepeiio do te undo, Na primeira, temos um tem , psulado: no segundo, um tempo mecfinico sem fim. » Pai pers tadora, de Deus — era também 0 momento em que todo 0 do- iminio do conkecimento humano ganhava significado final. O mundo da natireza existia para que pudesse ser conhecido desieutado pelo homem. Eo homem existia, por sua ver, para {que pudesse “conhecer Deus e deleitar-se com ele para sempy Nesse parentesco, graciosament Razio e 0 Amor e soncedida, e na fil homem, 2 mos reside, ‘fia medieval, uma garantia de que todo 0 mundo ni mais que um momento de um grande drama divino... (Butt 1983: 13; grifos me plo era dado pela Divina € no de Russel mv resumo, mas ainda mais despr6positado, mais &n mundo que a cigncia apresenta d nossa erenga. ‘Que o homem & o produto de causas que nao tinkam qualquer ide sentimento podem pre Jos & extinglo na vasta morte do sistema Cega a0 bem ¢ ao mal, indiferente a dest Russel, B.—A F sm and Logi (© mundo encantado do medievo &, pois, dest cantado pela cién: cia, 20 mesmo tempo em que esta, produto do pensamento humano, matizaveis. De c idades ma: 30 para uso d substitutdo pelo homem, parte da ordem universal. Um propdsito € transformado num mundo sem sentido, Desve nado pi J. A cigneia € como a magi (ou seria a serpente? fabulago biblica Se Copémico, tanto quanto Kepler, acreditava no heliocentris dade (ou sta hipotese, nos termos da 10 que existissem ev (1983) suger por qui ;poca) antes 1m clas empfticas que a sus: em? Bi A teoris cope mas possibilidades, ic a em preciso as pr aseadas na teoria ptolomaica, dados os instrumentos as as navegagbes, que j4 con- favam com técn ntos niuticos aperfeigoados, e que desde nda metade do século XV comegavam a mudar a con- deo européia do mundo terrestre. Inexistindo o telesc6pio, os sen nhecimento tradicional, € nada podia que 0s corpos celestes tém a mesma matéria que a Terra A filosofi poca) satisfazia 6 pensamento ocidental (se € que € possivel falar em Ocidente, ancia Aquele tempo). Os quatro elementos da filosofi ‘em escala ascendente de valor feram pensadas as coisas ina da poe: jeas € instrum tidos pareciam confirmar 0 c natural do Universo (a cigneia da grega — tetra, fgua, ar e foge eram as categorias por meio das qua nimadas, envolvendo a suposi¢ mais méveis (excetuando-se, € claro, as estrelas fixas do céu empi reo) € mais nobi a Terra. Havia também objeedes & teoria copernicana, qu gia astrondmica entdo disponivel. A afir magio de que as estrelas fixas deviam ter uma paralaxe anual — da- dos os trezentos milhdes de quilémetros qi a partir de 1838, quando Bes: Como argumenta Burtt, mesmo na au: jestes eram s que eparam as posigdes da empiricamente discutida 1 descobriv essa paralaxe. fos homens de bom-senso de toda s Europa, especialmente os rmentalidade mais empirica, teriam considerado pelo meno n detrimento das indugSes s6lidas, construdas a. Se tivessem vivido no sécd contemparineas teriam sido os primeiros a desprezar a nova sofia do Universo (Burtt, 1983: 30-31). Por que, entiio, Copémico propds sua nova verdade? Ele poder ter se limitado a responder as eriticas apena mais elegante, do ponto de vista matemtico, Sua order ica da astronomia era mais simples e harmoniosa (reduzindo (08 oitenta epiciclos ptolomaicns a trinta e quatro, e represe fendmenos celestes atr: culos concéntricas em tomo do S: No entanto, pergunta Burtt, como podia tal eleg: tanto as verdad mater as como as objegdes filoséfico rum lado, jd existia na filosofia me natureza é govern: brevissimas: naw n la pela simplicidade: Natura semper necessariis. Foi com ba modelo ptolomaico, ¢ teoria copemicana O pensame de uma filosofia fe nesse principio que Cop le deve ter contribuido para a o europeu operava, de uma m pémiico existiu no contexto do Renascimento, Do ponto de vista in Jectual, o centro de interesse deste : sando um aristotelismo aquinizade ae 0s pri mérdios da arqueologia, Comecar: cial © dh bria-se a Améric: Europa fosse 0 centr Com tudo isso, 08 limites do conhecimento trad er pequenos. Comeg dom iosa, ¢ Roma deixava d ndo terrestre. Ocorria uma rev relig ser 0 centro do mundo tet tau vida que Tibera 0 pensamento, Nicolau de C punha que nao hé nada sem movimento no Universo, qu nito e nao tem centro, Ja que Londres e Paris equiparavai , mais do que isso, se 0 novo continente e o Hemisfério Sul eram habitados, por que no supor que a Terra e os demais corpos partilhassem a mesma matéria A geometria era a ma to era depe dos quais & com 0. In Ja época de Copém de rep cavam uni mbém adotou utros haviam sustentado a mesma opin ida a Wiberdadk nar nio importa que cireulos para explicar os fendmenos, udes geométricas. A época de Copém ométrico. No século XVI, passou-se a fazer uso mais bia que a outras antes de mim fora con: reqiiente da silgebra, mas ainda er a depend 's complexos a termos simples significava pensei que também eu pudes ! " rosaibitidade de. supondo que a Terra tenha algum movimen figuras simples. Essa redugio geométrica se possam compreender Copémico e sta t ia da relatividade do movime: a taetes fonwean caleladon com relagao 2 revolugio At Galle, a astronomia era concebida como geometria celeste Jets plancta [a Tere], oa es fendmenos dos demas deco ceantes de Hobbes a geometria consttufa o espago real, ¢ no um es riam dist, mas também a ordem e a magnitude de todos 0s pago ideal, Por isso, 0 1 verdadeiro para a geometria era vena. pl 2 astronomia. Se a astronomia era um ramo da geometria cies algébricas eram solucionadas pel: tas ¢ as esferas do proprio céu se uniam de tsl modo que fa podla ser alterado em nenhum ponto particular, sem q ometria, 2 redu estabelecesse a confusdo nos demais pontos ¢ em todo o L ser possivel na astronomia, Esta tiltima deve, verso (aud Burtt, 198%: 39; grifos mi dade matemities; conseqilentemente, cia tomado para o sistema como um Copémico reivindicava, portanto,liberdade de_pensamento, ain dda que no plano das hipdteses que “salvavam as aparéncias”. Os t Os nos pré-copemicanos, como observava um conjunty | ™0s grifados pafecem-me suigestives: o Universo era por cle co Je relagies, tomavam seu prprio ponto de observagio como ponto | _ bide como ura in antecipando ji 0 mecanicismo que, a parti iria desembocar em Newton; Deus, 0 Criador, era siste rométrico, tomnando seu préprio planetaa | 4 Galile erido. O que Mitico — si : como afirmaria tealogiay de referéncia matemitico- Terra Fir Copémico fez foi uma redugio nificaria isso que ele agia segundo as leis da ia modemizante d hista? Mas 0 mundo havia sido criado “em nosso favor” — dos m 10 qual tudo o mais era re atemitica di Do ponto de vista matemitico, nflo se trata de discutir sometria complexa inspiracio calvi temiticos inovadores, ou seria ainda a concepgaio m 2 uso do homem, criag Copémico, a questio nao 0s fas, mas o de Copémico & mais simples e h Jeiro; ambos © S20, pois representam, mundo criado par Pi moniaso. era colocada em termos de falso nha nos prudentes limit da hipstese, Ele apenas ampliow a pergunta feita por Pt ma ptolomaica nao havia sido 0 tinico a ser aceito, Em seu De ito aos compos celestes, incluindo o movimento da Portia, apds considerar fongamente esta incerteza da mi nia geometria mais simples. Copémico, en perinatal, pac 4 inrigarme o fato de que nfo exis. | inseriu seu pensimento nos desenvolvimentos matemiticos que 0 renee ve oe tilésofor _. uma explicagdo definida do movi. | haviam precedido e, por isso, considerava que apenas os matemyiticos mento da mdquina do mundo, estabetecida em nosso favor pelo poderiam aprecier seu sistema, Signifi e, seus principais hor e mais sistemtico dos criadotes. Por tal razio, tomei a | defensores foram matemiticos. mim a incumbéncia de reler as livros de todos 0s fil6sofos que Copémico perguntara se era legitimo tomar outro ponto de refe: ie obter, com vistas a verificar se qualquer deles alguma vez a que no a Terra, De um ponto de vista estrita jecturara que os movimentos das esferas do Universo eram | ¢o, a resposta seria: sim. Mas 0 aristotelismo cristio p if supostos pelos que ensinavam a matemitica nas anu di = aetrenoenla ed Bett A ic ' as se astronomia era g A qu cet tara que a Terra tivesse movimento rafunds: pois indsgava sea Terms e 0 Universo ram Mas a elegincia matemtica tinha uma implicagio teolégico: sica fundamental: a Terra ni m, naturalme fundamentalmente uma estratura mater Jagag3o que subver era diferente dos demais corpos a toda a cosmotogia aristotélica celestes, d intelectuais como um pano de fundo altemativo para o pensamento | metafisico, propicio ao desenvolvimento das inovagSes mateméticas Em parte, as novas concepgdes sobre o Universo foram anteck Tratava-se do pitagorismo presente em Plato. A filosofia medieval | padas por Nicolau de Cusa no clima de tolerincia do Renascimento, O era b » necpatdniea, até que, a partir do século XI, Aris autor de Sobre a dowa ignortncia, escrito ainda em 1440, propunt eles viesoe ase tomar, por assim dizer, hegemdnico, a reforma moral da Igreja e o entendimento com os hussitas (hereg: © neoplatonismo pitagorico, porém, permaneceu influenciando | 40:éculo XV) e com o Ist8, Defendia a ideia de que outros planetas imuitas das mais brilhantes mentes, como Bacon, Da Vinci, Nicolau | Tam habitados. De certa forma, suas idéias eram mais audaciosas y wa na teoria dos que as de Copémico, no plano cientfico, e jf antecipava alguns dos Je Cusa, Giordano Bruno e outros, € a énfase e nuimeros; para Nicolau de Cusa, componente Platio, Tanto para Giordano Bruno como para Nicolau de Cusa 0 tral da fllosofla de: principios morali 0, 0 qh cardeal. mundo er uma harmonia infinita de proporgées matemsiticas, Nio Seu livro expressa seu ceticismo quanto 2 possibilidade d lelo das homem alcangar a verdade: “Quanto mais sébio se toma © homem, fel x0 homem de maneira segura, Mas para Giordano Bruno era 0 fey © tobgelive divelehcanslirmitioxe, Garicomtaidar ap mnascimento do platonismo, como na academia de Florenga, patroci beue a bate : mao : ar, professor de Copémico e critco da concepgo astro- 7 rapt e de analisar ax aparen ata Sob tas influgncias, Copémico desenvolveu 0 ponto de vista proper dos elements de forma que dst jue o Universo & inteiramente composto de niimeros, Em decor ee eaaoel ne jo que fosse_matematicamente verdadeiro seria também constituidos por Deus segundo wma ordem admirdve mente verdideiro. O prinespio da relatividade dos valo- Sha cols So peso e medid aplicavacse tanto ao dominio humano quanto a da da artic he a i outra parte do me ado astrondmico, A “..nova visto do Hoi, | i 9 era mais que uma redugdo matemitic um sistema harmonioso, ¢ ncorajamento propiciado pelo Deus er racional, Mais do que isso, 0 Deus criad er do cientista era medir todas as coisas, quantificar os elementos. inovadoras, como ocorria, ademais, com a maior parte de Nio obstante seu ceticismo, pela raziio 0 homem poderia chegar 2 res da época, Filosofia da natureza e magia, passando pela alqui mia, interper em Pico della Mirande Sobre astronomia foram revolucionérias em outro dano Bruno, Campanella e outros. Mesmo aqueles considerados fn. dadores do métcdo experimental e do conhecimento positivo no ligiea da Criagii0, uma vez desvendad Gior Suas id sentido ainda: o Universo nem & finito nem infinito, ele & indefinido, reendido pela li tavam livres dessa ambigtid sem centro nem circunferéncia, Ele niio pode si como Tycho Brahe e Copémico. mitada percepeio de tempo e espaco entiio v perigo de tais ‘Seu pensamento no era “cientifico” no sentido moderno do ias para a concepgiio teolégica tradicional do mundo € evidente, termo, Deus estava sempre presente em sua obra, Para ele, apenas abso nchisive para a concepeiio da ordem socia vendo-se em Deus, seria possfvel ter a intuigao da verdade, Mas era cientificamente antecipatsrio e teolegicam ne perigoso, negando a F impossivel, considerando os movimentos variados des Gebitas existéncia de portos fixos, Se nfo foi condenado pela lereja, isto se elestes, atribuir 2 midguina do mundo qualquer centeo fix0 & deve a0 espirito de tolerincia da época e ao fato de formular suas iver, sja ele nossa terra senstvel ov 0 ar, ot 0 Fogo, ou qu idéias sob o eariter de “puras hipsteses” para as aparéncias clemento qe deseais .. Se o mundo tivesse umm centro, ele Gees a sce Valent be Indalc chants eel lomdaina para Pealvar en teria tambéin uma eircunfer eria nele comego e fim, idéins” (e freqiientemente pi Se o Renascimento no foi propriamente uma revolugio, foi € cent nem da tana ener nem de eer suns «Onde sem ckivida, um momento fundamental no desenvolvimento das idé de tdo {apne Minois, 1990: 323: grifos meus) a8 ¢ da cultura ocidental, Contrastado ao pensamento mediev embora neste, como foi visto, ii se antecipava a mode Mais do que isso, 2 prpria Criaglo, tal como tradicionalmente con expressio de Gusdorf (1967). cebida, ei posta em xeque. Seu relativism (“Onde quer que se situe A propria imagem de “renascimento” implica a consciéneia dk Nicolad de Cusn, jf se constiuufa um domfnio experimental — inde retoma a cultura antiga em sua autenticidade, agora livre das distor pendente da ontologia teol6gica que englobava toc Tidade Ses impostas pelo pens: A. p06 que expressa uma autonomia da criagio intelectual hi também um retomo as fontes eva aténticas. novia teoria do conhecimento. H4 nele una rupt Mas foi um retomo eritico i Antiguidade, como se viu, pelo ata que A cosmologia aristotélica. Ademais, camo ressaltou Gusdorf (1967), a ruptura tina mais o carter de um “sincretismo’ O século XIV jit havia sido um século de diividas come da dogmitien ¢ da ciéneia aristotélico-tomista, notadamente no iz. ress le sintese” imaginada por Tomés de Aquino, Para 1 f6 dleve limitar-se 2s questBes espirituais e sobre explicar a natureza, Os; dividia.se em verdades espirituais e verdades mento divino e © humano, este ditimo exclufdo di apet-lhe. Sua teoria eritica do conhecimento co utopia da sintese medieval que tentava inscrever 0 todo, do cé po do conhecimento possfvel para o hom m, por ser limitado, 6 (08 nominal Mas isso nfo signifien que Nicolau de Cusa, embora seu pensa: entificas. Estavam mento fos livre, fosse um livre-pensador. Suas representagdes, geri ser ares 0, eram clérigos, e suas especulagées (ices) Ws eReh en aE FepeSeTinaghes| HolOpleas: Temaio cas sobre o mundo tural derivavam do axioms de que, sendo tudo pe erica tral entrelacayamese com suas repweserdagtes mais ara Deus, se poderia especuilar sobre a s 1 etemidade do mundo. Ao mesmo tempo, ensaiava-se urna mudanga Je linguagem: mas apenas do particular conereto, adotaram uma ling ando a possibilidade de uma ciéncia das esséncias, para o desenvolvimento de uma légica formal prec intecipava a passigem de uma fisica das quatidades para outra, das Guitherme de Occam foi, por certo, um dos principais expoentes Jesse nominalismo, pa a o qual as coisas devem ser distinguidas das azo deveriam ser inteiramente visto que nfio podem lidar com palavras (sinais) e par’ quem f& lades, Para ele, a ciéncia diz respeito apenas 20 indivi. dual, 2o particular, ao imediatamente percebido. Géneros 0 existem em si mesmos, siio apenas vocsbulos, contrariamente 20 que afirmava a filosofia tradicional, que atribufa existéncia real a ais “substincias segundas”. O espitito s6 conhece objetos individu ais. Os termos universais so abstragies, so signos que compdem a linguagem simbélica da eiéncia, que dela se serve pura © 2 concepeo do mundo e da mente que o representa jé apont natureza quanto sociedade, constitu no campo ideoldgico da. representagio pen: nitica eexistente no plano da lin falmente indemonstrive A iinica existéncia de que se pode ter cer ccebida intuitivamente. A prova da existéncia So as verades religiosas. Dé za € aquela que é je Deus, dada ps cosmologia de Tom a s de Aquino, b » Universo, isto & sobre an Je de um primeito movi tuma Causa Primeira, Tampouco se podem provar os atti buttos de Deus, como a unicidade, a imutabilidade, © todo poder e a finitude, v i 1e $6 podemos conhecer os opostos desses atribut , a plur mudanga, a limitagdo do poder e a finitude. Tam. Dot + criago do mundo, pois: nos encontrarfamos Fant a Haale ant pois dele, o que seria absuirde Podlemos apenas crer na existéncia de Deus ou na eriagdo do mund S6.a fé nos pode dar certeza nesse dominio, mas nio a razao No entanto, Guilherme de Occam permanece inequivocamente ccontradiz uma verdad de fé, & esta dltima que deve prevalecer A critica & fisica aristotélico-tomista abre caminho a novas pets pectivas: a possitilidade de um Universo infinito, derivado do pré- prio poder divino; a relacZo entre o todo e a parte; a possibilidade de que © mundo seja composto da mesma ma corpos celestes qaanto os inferiores (con Be tanto os a que compi tradicional de que os compos inferiores so corruptiveis, em contrapo- sigfo aos celestes); a possibilidade de uma nova teoria do movimento que ant informa ipa a nogio de inéreia, e de uma teoria da qu dos corpos a nio pela explicagao aristotélica de que os graves procuram encontrar seu lugar natural (o que tem implicagties para uma te hierirquics d da soctedade), mas pela existéncia de uma atragdo exerci para ele, & provavel que a Ten essidade l6gica Bem antes de Copémico, & circulavam idgias “mx oposigdes por parte da Igrej mas ais ipo papado pela massa terrestre. Se, 1 seja imé- no se trata de uma ainda de Galileu, portanto, formuladas por teslog De um I ido, esta ditima tinha proble Avignon. De outro lado, tratava-se apenas de idéins desti nadas Se 0 éncia di ar as aparéncias’ am s6 aceitava como certera aquilo que resulta da experi 1, tudo 0 que podemos fazer, em fungi de nossa experién cia, & admit hipéteses que déem conta, melhor possivel, das apa rncias sensiveis. Ainda que apenas no pl ino das hipsteses, abrem-se novas possibilidades: em face do mundo imu nto ar definido numa ordem rquica, 0 mundo de Occam é mével e aberto num tempo e num espaco infinitos e num progresso indefinido. Se nio existe nature2: medieval, onde todos os seres tém um uy hi explicagio de hipdteses dando conta da exper nitiva, mas ape ncia de forma cada ve Occam foi seguido por virios pensadores criticos, Nice Autrecourt, disefpulo parisiense do nominalista briténico, por mesmo que no se pudesse ter a esperanca d a verdade, puna, por meio de sua teoria atomista, hipéteses bastante audaci- osas em face dos dogmas da Igreja: 0 mundo compie-se de incessante que os leva a combi jombinar-se para formar as substincias. Se os dtomos se saparece a forma. Geragdo e corrupgo nada mais so jue movimentos de stomos. Uma teoria que reduzia o Universo a ps ftomos indivisiveis dotados ¢ Jissociam, tfculas simples e idénti- ceas contrariava a doutrina que afirmava a diferenga de natureza entre sub- stincias nobres e inferiores. Mais perigoso ainda era 0 atomismo, proprio mistério da Eucaristia, como quando langava dividas sob mais tarde com Galileu, Buridan, occamista moderado, foi outro proponente de idéias modemas, Precavidamente, atacava a fisica de Aristételes, partindo Jo prinefpio de que a cigncia devia recorrer 8 Fé nas questiies que ul trapassassem a razio, Assim, se Aristételes afirmara a impossibilida de da exisiéncia de maltiplos mundos, tal afirmagio € verdadeira nos mos da fisica aristotélica, Mas Deus no era aristotélico. Se a existéncia de outros mundos nflo é possivel desde o ponto de vista da razdo natural, ela € possivel, contudo, de maneira absoluta, pois, se Deus criou este mundo, ele pod © movimen riado varios outros. os levou-o a formular a hipdtese do impe te 2 hipstese de Occam: para o tomismo aristotélico, os, stFos sfio movidos, cada um, por uma inteligéncia divina (Toms de Aquino havia transformado essas inteligéncias em anjos), Buridan je dessas inteligéncias: Deus imprimiu o imperus resistencia no meio ambiente, os ma se mover, Nao deixa de haver nessa melhanga com a futura concepeio newtoniana do Universo: se as esferas celestes se movem por si mesmas em decor: hipdtese um: réncia de um principio da fisica, 0 Universo toma-se mecinico, Nicolau Oresme, em seu Tratadlo dlo céu e do mundo, de 1377, demonstrara, por meio de argumentos fisicos, que ¢ a Ter an émico, € acrescenta outros argumentos, teo- 's. para mostrar que no hd motivos para que a I 1 seut ponto de vista. Se as Escrituras falam do nascer € cipando Co} ja se oponh do par do Sot 9 da famosa passage em que Deus parou o Sol em seu movimento, trata-se da mesma Tinga que fala do arrependimento de Deus, de st acalmou. Isto &, trata-se de uma linguagem que no deve ser tomada Titeralmente Na verdade, diz ele, 6 mais razodivel supor que Deus parou a Ter rae nao o Sol, pois, quando Ele faz um milagre, o faz de maneira a interferir 0 menos possivel na ordem d com ar ddo que imensas esferas celestes. Deus agiria, ento, de acordo com 0 principio “cientifico” da simplicidad (© que ele propunha tem o mesmo sentido do que afirmou Joo Paulo II, em 1981: a Biblia no é um tratado cientifico a ser tomado a pé da letra, Deus, por intermédio da Biblia, expressava do com a cosmologia da época, Mas Nicolau de Oresme propunha ainda outra coisa: Deus céler ou que Ble se jureza. E mais de acordo 10 mimisculo como a Terra » supor que ele parou um cor Suas propostas vio ainda mais longe: para além do céu, existe tum espago in £0, indivisfvel que nada mais & efinido, ine © propria Deus, - imensidade de Deus intemporal e indivisivel. A semelhanga com 0 espago absoluto de Newton € clara Se ele nunca foi incomodado, ape mo € 0 Uni n de anunciar 0 heliocentris. nito, isto se deve, de um lado, ao fato de apre sentar suas idéias, precavidamente, como hipéteses destinadas a sal var as aparéncias e no como verdades comprovadas. Mas h da outra razio par a tolerdneia: a impossibilidade de demonstragio cia do. profundo experimental das hipéteses propostas, em decom hiato entre os intelectuais que produzem especulag? ‘ursos téenicos, Como mostra Le Gof? (1988), Buridan estava priximo a0 “impeto de Galileu e da “quantidade de movimento” de Deseartes; Alberto de Saxe, disefpulo de Guilherme de Occam, influenciou a estitica até 0 século XVII. Quanto a Nicolau Oresme, ele teria sido o predecessor mediato de Copémico, e suas demonstragées baseavam-se em a 108 € precisos que os do préiprio Cop émico, Mas, nda que esses sabios tenham tide essas intuigBes elas permianeeeram ntos de estrangulamente da « xlaas Woortmann raluzir em fGrmulas claras € suscetiveis rtido das descobertas da teolog ia 08 “antstas” de dispor de no 8: 104) gue impe ificas claras (Le Gof proprio carter hierdrquico € estamental da sociedad que \érigos), sola neficiava socialmente os intelectuais (em sua maioria c pava o progresso d rsitérios constitu cigncia, Recrutados segundo principios heredits Eles transformam seus habitos e as atributos ¢ pit, tura eada vex. mais senhorial, iso! ce. O anel de oura e 0 capur que recebem no dia do ¢ sua fang oberto por um doss simbolos de nobreza. O de al: licus ow do incep neo 1 ver mais emblemas de prestigio. Eles portam uma longa spur de pele atientemente uma gola de arminho e, » na Tdade Média le nivel social ¢ de poder... As festas de doutorado so companhadas de comemoragdes tudo, aquelas longas Tuvas, que nm cada vez mais s que dio os nobres: bales, repre Got, 1988) ado do titulo de mest va: no © chefe da oficina, 14 no século XIV, alente a dominus, senhor. Os mestres de er primari cives (“homens nobres e princi- dantes. chamavam seus prof 1s ("meu senor”), evocando lagos de vassalag Em contraste, 0s século XI, 0 ma Bolonha eram no/ dios"); 08 sores de domi ma um estamento inferior, na desvalorizagio do trabalho. Os intelectuais viam ‘om profundo despre7o 0 trabalho manual, o que vei pelo humanismo, completando o divércio j4 proposto pela escolistica boticério-e wtistas” pertenc Na medicina, © médico erudito opde-se 10 ». Enquanto os primeitos organizam-se na confraria santo Sepulero tima a separagio hierirquica. A divisto social e indos agrupam-se na do ‘cos € priticos foi um entrave par HG, pois, um paradoxo: se boa parte dos intelectuais tinha idéias inovadoras, eles eram, contudo, prisioneiros de uma orem social- ideol6gica conservadora, Seria necessirio que avangasse mais 0 pro- cesso ideoldgico que, num movimer to secular, conduzia & passagem de uma ordem hierdrquica — expressa até mesmo na utopia tomist de uma concepgao de mundo totalizante e unificada dem individualista Universo. E q ve correspondle a uma percepeo atomista do se instaurasse a reavaliagz0 da nog de trabalho. A. separago entre fé.e ciéncia, para se completar, demandaria. uma re: volugio Conceitual, que iria realizar-se , a partir do século XVI, no interior do-prSprio campo da teolo ia. Mais adiante, vere do tomado pela Referma neste particular Por paraciio entre especulagio tedrica e exp enquanto, a separag de met sua teoria, Durante mit cia do século XIV Mas as mate provas conere nois, 1990: 270). A fal idéias inovadoras o sist finalist a na de Aristételes, que unia uma metafis senso comum, Contudo, no se pe ta de provas experimentais, sempre podia opor 2 mmizar o signific do por leis de: Essa percepgio transfor pedo matematica do Unive Renascimento, o do mundo, de De se do pre prio homem. Mas, por out re cla no f resolvida pelos “renascentes”, nem mais tarde pelos “iuminados Ela prosseguiu até o século XIX, inclusive no campo da antropologia, Ao tempo de Copémic -quico apontado por L Goff ainda prevalescia, Mas, se o humanismo 0 preservo lado trouxe a tolerincia, Além disso, os Descobrimentos abalai tum bom cristo. Mas, a maioria dos teslogos niio percebia em 1a teoria mais do que uma ficgao que possibilitava melhores calcu Tos, como sugerita Osiander. De fato, foi apenas em 1728 que Bra de sua teoria, confirmada de cencontraria a primeira prov ni nente apenas no século XI Doutor em diteito candnico, elérigo num bispado medieval alta- mente envolvido em questées politicas, Copémico foi durante muito mipo secretirio e médico, administrador dos bens do Capitulo a que pertencia (ao qual retomou apés anos de estudo em Bolonha e Pé ). Além de praticar a medicina, esc Ja, Lent yew um tratado sobre a moe: rente, em meio a suas outras atividades, foi desenvolvendo Como mostra Koyré (1961), a teoria de Copémico foi, a bem di algumas hipéteses continuava sendo um mundo fi las fixas; niio era ainda o espago infinito, e o céu em: norada de Deus, Copémico niio foi um co: nicano, Se o centro do mundo mudara, por raz na smticas, ele continuava sendo um ponto fixo, Seu argumento cout tha, ademais, componentes teoldgico-estéticos: © Sol deveria ser 0 rau superior de perfeigao, j4 que era a fonte da luz. O mundo tinha que ser esférico porque a forma esfética era a igo do mundo expressava-se também_pela mobilidade das estrelas. fixas, em contraste com 0 movimento de fer, uma “meia-revolugo”, menos radical q cetera das est pireo continuava a se pe 's purament mais. perfeita, A. pe nundo inferior, corruptivel ho Bral ‘sincretismo” de que fal lores, como Tyc continu pler, também conti- Gusdorf. O primei- senvolvia céleulos precisos, continuou preso a motivag 1 prisioneiros di lentais. © segundo, se propunha leis matemticas rigoro: sas, inspirava-se também na mitologia antiga, identificando os astros s divindad {que controlavam 0 mundo. De fato, a critica a Copémico comegou com Brahe, nfo sé por motives cientificos, mas também pelo motivo religioso dado pela fificuldade de concitiar seu modelo com as Eserituras Copémico niio foi um observador, embora tivesse realizado um 10 nvimero de obs 5 quais utilizadas em seu De vahutionibn Jesta, publicadas num Almanague, de 1535 Contudo, sua impe oncepeio de ima nova teoria dados de Ptolomeu (que no ignoray fa em larga medida n teorias heliocSntricas jé formuladas em seu 1 npo), mais do que em novas observagéés, Por isso m mo, para os efeitos priticos do cl culo das posigdes dos planetas, a astronomia de Copémico no era muito mais precisa que a de Ptolomeu. De fato, os navegndores nave- gavam tanto seguindo 0 sistema ptolomaico quanto 0 opemicano tanto assim que aque iriam trans formar o mundo, sistema ptolomaico, ademais, era d diz Koyré (1961), uma das mais belas c ito humano, Combinando movin ncia mate- nedes do rande excéntricos e epiciclos, era capaz, de representar curvas fechadas e relages matemaiticas entre dados de observagto quase to bem como a matemitica moderna. E verdade que Copémi culos e aperfeigoou a teoria da Lua. Mas a volu : sé no sentido fisicn co do temo — uma nova “visio Je mundo”. Do ponto de vista da técnica matemiitica, Copémico ino- vou pouco. Desloc 40.0 centro do mundo para o Sol (ov, mais pre- cisamente, pura o centro da Grbita da Terra), ele criow uma comogii s6smica: colocou © mund Jo, por assim dizer, de “ponta-cabega”, mas Mas a astronomia no é apenas matemitica, pois os compos ce: lestes so objetos reais. Do ponto de vista mater cou a estrutura matemética da astronomia, ram em tomo de si mesmas sem que seus centros sejam ocupados por nada. Isso contradiz a cosmologia aristotélica mentos para a qual tais movi: n impossiveis. Colocando a Terra no centro dos movi mentos, era possfvel atribuir aos movimentos dos planetas um con: oncéntricas, Por isso, tentava-se eliminar a contra ca, representando a astro- sfera G0 entre calculos e cosmologia aristo nomin como uma pura questo de efleulo e nfo como uma tent de representar a realidade — uma “hipstese Os axiomas do sistema de Copémico partiram da sua percep: Jo de urna imperfeigio no sistema ptotom: no jf ° E esse contexto de idéias que se inscreve Copé iocénttico. Sua telago com os dois cristianismos foi curiosa, De inicio, foi encorajado pelo alto clero catélica, até ser conde- nado pela Contra-Reforma, em 1616, Foi encorajado também, entusi sticamente, por reformados como Rheticus, mat Universidade de Wittemberg, que em 1543 imprime sua teoria; mas foi duramente condenado por Lutero, em 15 Melanchton, humanista reformado, em 1541 Mas Osiander, teélogo reformado encarregado por Rheticus de cuidar da edi¢io, era precavido e sugeriu um preficio que deixasse claro que a teoria copemicana ndo pretendia explicar a realidade, mas apenas fornecer uma hipstese destinada a possibilitar melhores cél- xulos do movimento, Protest tanto quanto cat am manter separadas as hipsteses da reatidade, no s6 para salvar as fendimenos, mas para salvar também as Escrituras, ico e professor 9, assim como por Para Koyré (1961), Copémico foi um revolucionétio, se visto no contexto intelectual de seu tempo. Ble & um simbolo do fim de um fim da dade Wade Média com sninado por Copérn Média, Ele marca 0 fim de um perfodo que abare: Je clissica, pois € so ydenado em toma dele, idee que 0 Cosmo dein de esta E uliffcil, hoje, compreender € orga inte sentados pela obra de Copémico. Para o fazer, devemos esq im mors alizar um esforgo para voltar atris, para a certeza ingén\ ante da imobilidade da Terra Koyré, 196 do movimento dos Mais adiante, veremos que Copémico nfo foi tio “revolucion: io” assim, Outros, antes de Copémico, ja haviam proposto cortes tio fou mais audazes, No entanto, se Nicolau de Cusa propunha um mun- do indefinido e sem centro (0 « info era aceito por Copémico), nfio do Sol. Nicolau de Oresme mpouco admitia tal movimento. Se nenhum dos dois pode ser con: rrado precursor de Ce que jf haviam abalado as certezas de um imobilista e teoeéntrico, Com algumas ex (nico disejpulo qu dade da conce lo XVI continuava x hip6tese, no sentido prudente dado a esse termo. Uma hipdtese que permitia aos astrino: mos-matemsticos utilizar 0s métodos de Copémico e, ao mesmo tempo, rejeitara verde cosmoligica de seu sistema As id am, Nicolau de Cusa e outros precursores niio tiveram repercussio fora de um pequeno circulo de intelectuais, em es, como a de Tycho Brahe e R Copémico teve em vida ), que defendiam a ver ana, a opiniao predominante no s a ser de que se tra bora fossem 0 ponto inicial de um movimento qui lance, ¢ esdle outro fingulo, como serd visto depois. Por outro lado, 0 ter revolucionsrio do sistema de Copémico sé foi percebido bem mats tarde, quando se tornou evidente que el antropocéntrico. Foi s6 qua implicagbes metafisi pensamento conservador te Jestinava ape- ido Giordano Bruno tomou evidentes as indo i € teol6gicas do sistema de Copémico que 0 Reapreciado p ado pel: 1 Contra-Reforma, num espago mental caracteri pla autoridade do ealculo, do raciocinio e da revelagio espécie de “triplice alian ia coeréncia entre a Filosofia, a cigncia e a tea » aristotelismo ame- reinstauray agado —, Copémico foi redescoberto como reve Copémico iniciava a desorg homem e criado paraele, s nizacio de um mundo centrado no ndo a reformulagio erista da ciéncia de Arist6teles. O geocentrismo deste tltimo no era, em si mesmo, an tropocéntrico/teoc8ntrico, Foi o cristianismo que fez da Terra o pale do drama e6smico-divino da Queda, da Encamagiio e de Redencio, dando um sentido A criagiio do mundo (que para Aristételes nao havia sido criado), que e pocentrismoi a a fusio entre geocentrismo e antro: Copémico reivindicava para a ciéneia o direito de buscar a ver omamente, argumentando que apenas os matemsticos po- lear sua obra e que, para ser um bom astrdnomo, no hasta objetivo de Copémico era o de tomar r ulares os movimentos apa. Ibstrdo que os corpos celestes, sen cos (e por isso perfeitos), niJo se movessem. rentes dos planetas, Para ele ei do absolutamente de maneira uniforme (em érbitas circulares), O problema de Copémico era, entio, o de introduzir uma ordem no Universo — um ordenamento de motivaglio metafisiea — ni presente no sistema plolomaico, incapaz de representar os movimen {os planetirios como movimentos circulares uniformes sem recurso a certos expedientes conceituais (como os “equantes reciam conformes & razfo. ) que nfo The Deve-se notar aqui que Copémico era movido por uma espécie igiosa, e ndo apenas por uma eleg’ncia matemética, forma, mais do que ciilculos priticos, ele estava recriando (reinventando) © mundo, ou re-representando a C divin 1 dois prineipios metaffsicos fundamentais: a Cringto Crepresentagio) tinha de ser conforme & razo; a Cri perfeita, A pe fe > tinha de ser jeicio dos corpos celestes (absolutamente esféricos, 2 1 perfeita) devia corresponder a perfeiiio das érbitas, iar seu sistema mais conforme Ai razio e & Criaglo (para. de certos axioms: existe um tinico centro comum de todas as érbitas tado por isso ecessitava celestes; 0 centro da Terra ni é o centro do Universo, mas apenas da gravidade e da Grbita lunar; todas as érbitas g m em torno do Sol de seu ponto central, ¢ & por isso que 0 Sol é 0 centro do Universo: a distincia que separa a Terra do Sol é insignifieante quando compara mento comum dos corpos iquela entre o Sol ¢ as estrelas fixas; o movi lestes € devido ao movimento da Terra e no do firmamento; o Sol é imével, e seu movimento aparente resulta do movimento da Terra apa mento anual dit Terra. Essas idéias no causaram esedinda fio, Em 1523, 0 proprio as estagdes ¢ os movimentos dos planetas 9 no mundo catilico de en- ardeal arcebispo de Capua incentivava-o a jas. Copémico, contudo, “como bom p que os ensinamentos dificeis e sublimes d: 1 0¢ essiveis apenas a uma elite” (Koyré, 1961: 30), As idéias de Copémico foram pela prime’ reformado Rheticus, sob 0 titulo Narratio Pri b 1 ver. pul postular inovagGes temerdrias, enfatizando que sua astronomi Fiel ao principio teolégicofastronémico da circular Grbitas, assim como a Plato e aos pitagsricos. Mais importante, seu sistema confirmava o prinefpio metafisico da ordem da naturezs: Os matemiticos, tanto quanto os médicos, devem convir qui a Naturera nada faz, que nosso Autor & tio ime mente sdbio que cada uma de suas obras nio uso, mas dois ou ts, ¢ freqilentemente mais. P mos que este dnico movimento da Terra € suficiente para pro- duir um quase infinito de fenémenos aparentes, nio devemosatribuir a Deus, 0 criador di 2, a habilidade que bservamos mos. simples. fabri de Rhet Narratio Prima: 461) ‘A imagem do Deus relojoeiro, que iria fazer histéria, ser mada pot Kepler, que identificava o mecanismo da 1 Aquele de um reldgic Outro dos defensores de Copérnico foi o reformado Osiander Juterano um tanto herético, condenado por Lutero e que, dada su cia com a rabies theologorum, percebia 0 perigo repre: sentado pelo sistema copemicano em face da verdade das Escritu ras, Seu conselho ao astronomo s salvare apparentias. O valor da hi sm sua vere G2, mas em sua elegdncia: a melhor hipstese nfo ¢ verdadeira, mas a mais simples, € que permite os melhores estcu: los. Em xistir muitas; toda pessoa é livre para inventar as hip6teses mais convent deve ser felicitada se for bem- sucedida’ Se Rh ro € de Melanchton, Osiander fora obrigado a deixar sua igreja de Niiremberg. Por isso, se estava encantado com o sistema copemicano — e pouco impor pémico fosse um clérigo catdlico, assim como pouco importava Ficus temia a reagio de Lu ‘a que Co teste dltimo que seus defensores fossem reformados — a pont O préprio Copémico, contudo, era mais corajoso, a ponto de defender a mathematicis scribuntur, isto & que s6 208 maticos cabia discutir io bastava ser um te6 120 para entender questBes astrondmi Na carta em que apre tou sua obra ao Papa Paulo III, Copémi matemiticas, como, por exemplo, a mia de movimentos, mas também por se m jo do movimento circular dos planetas, e, 0 que lhe era fundamental, imetria dos corpos constituintes do mundo, Seu sistema, dizia permitia construir um Universo perfeitamente ordenado; a partes 50 inteiro, 9 que ocorria justamente Terra no centro do mundo, Mer fiel a0 prinef- qualquer ndraria a confusfio do Uni com 0 erro de se colocar ico em alguma dk Copémico afirmava, pois, 0 principio da ordem. Tamto a ciéncia quanto a teotogia objetivam ordenar o mundo & ao mesmo tempo ot denar a si mesmas. Tanto quanto a ciéneia, a religiio é uma constru- io do mundo, O sistema de Copémico, longe de ser uma negagio do ondenamento teolégico, buscava afirmi-lo, assim como ao ordena- mento cientifico, mediante sua insisténcia na circularidade (movi mento perfeito), na esfericidade (forma perfeita) e na simetria. Seu fato, apenas proclamava a perfeigaio da Criagio e eriava tuma imagem imperial a? Para que 0 Sol nfio tenha idade de viajar através do mundo para exercer seu pod como o Imperador no corre de um lado para o outro a fim de impor gundo Rheticus, tendo criado o Sol, “Deus colocot-o no centro da cena, govemador da natureza, rei do Universo inteiro, splandescente em seu britho divino”. Mais ousado, Osiander pro: punha uma renovagio da verdade biblica, em face de uma verdade Par 0 observador, o sistema de Copémico € mais complicado ficil © piblico, mas aos matemiticos. Para jicano era superior, nfo porque red stes, Mas por stit uniformizagto e re Jue 0 de Ptolomeu, e o proprio Galileu afirmara que ele era A principal objecio dé ° movimento da Terra era a de que € absurdo que en Este mesmo argum por Newton: € absurdo tornar mével contram as coisas. Este é, de fato, um argumento aristotél para 0s aristotélicos, o Universo € finite (enquanto para Copérnico ele € imenso, nio-mensurdvel, ainda que nio-infi Além disso, para os aristotélicos, hé uma di fundamental entre a Terra e os corpos tém peso. Para 08 aristotélicos, se 0 argumento copemicanc pémico ao aristotelismo que negav nto seria mais tarde utilizado ena qualitativa aplic pois, ps munal, n gicamente a outros contextos, isso nilo ocorre ne: iria uma forga exterior desco: a mover a Terma, s eles se movem por sua propria natureza e perfeigio, ou melhor, sio movidos por forgas espirituas. Ademais, como a Terra é um , ela nao poderia mo. ver-se em tomo do centro do mundo, pois, se o fizesse, tenderia par tal centro, ao contririo dos astros que nilo sfio graves, Para os aristo- ordlem permanet licos, 0 sistema copernicano introduziria uma. no mundo. Seria mundo, seu “lug A res} xara Terr Copémico est pela afirm va na rejeigdo da nogdo eésmica Faves para set es, inclusive a Terra, formarem tendéncia de todos os corpos cel um todo, mse pata for e uma velha doutrina de Empé docles ou de Plato por certo, da sal, Mas ela abresThe 0 eaminho e, por out oda nogio de “lugar natural” (Koyr Ji se vé, portanto, que o sistema de Ce implic val inclufa um “pensamento social” estamental para 0 qual era bi a idgia de lugar natural, para as coisas e para os homens, orde: nado po le um ponto de vista antropol6gico, seu pensamento foi re rio; tirando 0 homem do centro do mundo, criado pat uso do préprio homem na visio teleoldgica tradicional, alterou nd > significado do mundo, mas também 0 do homem. Ainda que disfa adas. nas “hipéteses” — e por isso toleradas pelo humanismo dos 's de Copérnico inclufam implicitamente uma revo- € por isso antropol6gica lugio teolégi Como ji mencionado, a cosmolog a copemicana negava dife gas qualitarivas entre a Terra e 0 mundo que Ihe era exterior. Afir- mando que as mesmas leis se aplicam tanto aos céus como & Terra, profunda transformago do pensamento huma no que a Histéria veio a chamar de Revolugio Copemicana” (Koyré, ele coloca “a base onomia de Copémnico implicava també into de vista pressio — relativista: do ponto de vista da dtica, & impossivel discemir se € o observador ou aquilo que ue, se levado para mais modo p um p no sentido literal da observa que se move, Um ponto de vista fém de su literalidade Gtica, poderia ser ine ma con. ‘epgdo do mundo absolutista. Se C listin pPEmnico retém a nogio de nat fe da nog tradicional. Si ca implica tima transformagiio na nogio de forma: para fere-se a formas substan: ontririo, ela diz respeito a formas a dos compos, ela se 1¢ radicalmes estét jogtio de forma r jais; para Copér icas, 0 que oncepeao quilitativa para outra, quan mite a passagem de uma ra fisica tradicional, a forma substancial especifica e sua ria correspondente determinavam 0 movimento natural de um corpo (retilineo para os corpos sublunares celestes). Para Cops circular para os corpos forma geométrica que determina o mo- ais perfeita, € buscada a da propria perfeicio. Tal 1 forma esférica penas a mais apta ao movimento, mas & também sua ssmas leis de mo Isso tem conseqi ray mento dos corpd ando da mesma forma e do mesmo movimento, a Tera nfo esti em oposigiio aos demais plaetas como o ta compos celestes} um $6 e iso mundo, cloaca dl corrupsii, mas forma com eles [os Linico Universo A geometrizagiio do 0 a a Terra entre as ito da forma co estrelase a eleva, por assim dizer, aos c A concepgio de Copémico ji é mecinica, e 0 movimento cir- de sua mec (e essa forma) que coloca em funcionamento a machina m Niio hi da for geométriea perfeita) ¢ ica celeste, como causa suficiente. F esse movimento i qualquer motor exteno, nem atrico” sistema copemnicano € “helioc colocou © Sol no centro do U vimenios celestes. © centro dos movimentos celestes nti localizado no Sol aristotelicamente), 0 esta © estivesse, Copémico continuaria a pensar tro da Srbita da Terra, O cen ntllo puramente matemtico, ou gear Seu sistema diferia do de Tycho Brahe, pois, para este tltimo, os planeta ‘ol, ¢ © Sol, com todos os outros plane. tas, gira em tomo da Terra imével. Brahe imaginou sew proprio sis: movimentos torma-se rico. tema para permitir o melhor 4 fiel A vertade literal da Brblia. A nova imagem do mundo gerou um sentimento desespe} astronomia invertia 0 mundo, por a0 céus € colocando 0 Sol no I xo do mundo, onde deveria estar o inferno. mais ba A leitura das idéias de Copémico revoluciona a hierarguia me; onkle a posigio central € a mais indi ‘mitologia” da Queda, Na imagem tradicional do mundo, « posigio central & a mais ba eval dos Tu na, de forma ontraposigio & perfeigio do mais alto di imperfeigao di Terra, em 1 celeste, logo seguida pelo Parafso, enquanto logo abaixo da omen. nos-antros;planets, comme: noite: 4 superficie da Terra estava o inferno (o provado pelo fogo ex- ql en ere oom peer mn nents anes: ae ' 7 por outa, pelos vuledes). | vel. sobre una Terra fete para ele por ina divindade bor ¢ perplexidiade resultante do novo modelo césmico foi expressa ipotente? Ademais, como. poderiam os homens em outros 6 de John Donne (Conclave Jenati), citado por Nicolson planetas conhecer 0 Salvador que Thes abriu a possibilidade d 6 vida eterna? (Kuhn, 1987: 193) New philosophy puts all in doubt, ‘Tratava-se de um problema que afligia até mesmo os home The element of fire is quite put out, como Huygens, jé no século XVI. Preso, ainda, & con he sun is lost, and the Earth, and no man’ cepeio de que o mando existia para uso do homem, ele conclu tirect rere to looke for it que, se Galilew havia observado quatro luas em tomo de Jipiter elas certamente teriam a mesma u ain LAG Bin Tudo € colocacdo em divide: talwez tenha sido este 0 sentido do em torno da Terra, isto &, auxiliar os marinheiros em suas navega R nto, 6poca das audcias, O homem no tem mais 0 que o gies. Ses sui quatro lua, ais razio ainda dever ijn: talvez essa tenha sido a revolugto, existir navegadares naquele planet Para a ciéncia também — e para nés, “modemos” —, 0 pensa Colombo e os continentes Hos ¢ curiosas, Nad 1 ngs mais afastado de nos Com ane (1989), a astronomia copernicana no 4 fo de mundo de Nicolau Copsémico, Sem foi a Gnica “tevolugio paradigmatica” do Renascimento. Deixando i ino teria existido (Koyré, 1961: 69). de lado possiveis discusses sobre esse conceito de Kuhn (1970), . a idgiay de Copémico operaram sobre © pensamento ocidental A afirmacao de Koyré pode ser complementada pela de Kuhn junto com as consegiiéncias das descobertas de Colombo e dos na porte fj na, 1a do Novo Mundo invengdo de um mundo novo. A descoberta da América, Estavam em jogo mais do que algumas linhas das Eserivur: tele 7 ae Gee cae fe mais do que wm do Universo. O drama da vida eristi e bole eonsiderada “politicamente ing : Jn moralidade que Jia no se adaptaria facilmente a cado na época em q eseniels Umea uum Universo, no qual a Terra era apenas um entre muitos pla continente, represente nto da Europa, netas ..Quando a proposta de Copémico passou a aa As duas “revolugée astrondimica e geografica — tiveran séio, ela criow problemas gigantescos para o crente cristo. Pot duas conseqiiéncias fundamentais, como mostra McGrane: a homo: plo, sea Terra fosse uum dos seis planetas, como geneizagio do espago e 0 descentramento do mundo, Com Copémni preserva as estérias da Queda e da Salvage, com seu imenso 0, a Terra e os demais planetas sfio da mesma natuireza e esto sub: in nny vida eristi? Se existiam outros compos essencial metidos &s mesmas leis, € se assim é, em todos os lugares pode te iguais &T nade de Deus certan ee existir homens, o qe colocava o problema, anteriormente referid ia qu mv fossem hiibitados, M: tire ame do texto biblico. Com Colombo su : homens, © que » plano geogrifico, 9 mesmo problema rela fazem com Europa se tome um continente entre outros, assim como a Terra nas geogrificas do perfodo renascent ira a cosmologia medieval aristotélica, que expre eta entre outros. uma concepgio hierérquica do mundo, os seres ou objetos, sejam aqueles {rondimico-teoligico ou aquele da Terra cormupttvel, deriva vam sia natureza do lugar onde estavam. rmaneina slguma, & indiferente a 0 compo, d iF em que es. 1 envolvia; pelo conti relagio real e causal com ele ent procura 0 ‘ 0 lugar que Ihe pertence orresponde a ele, ¢ Finge de quiver out que posto (Cassiner, 1972: 1 Com ae Jo Renascimento, hé uma profunda transforma relagio do objeto com seu lugar toma-se indi Unne das tarefas mais importantes da Filosofia © da matemstica Jo Renascimento foi a ctiago, passo a passa, das eondigdes de 10. A arefa ct pelo espace sisrema, isto & substituir 0 espago en: mm ro pelo espago enquanto finngdo. O espago devia sua objetividade, de sua natureza substancial © se to como umn livre complexe de linhas ideais. O Na cosmo a medieval, nfo existiam continentes nem oceanos, ea imagem que se tinha do mundo era a de uma ilha, o Orbis Terra rum. O mundo era percebido, a partir da experiéncia imediata, como uma ilha cereada pelo O4 no, um vazio profundo, escuro e contrario de monstros, no apenas desconhecido \ incognoscivel. Vale lembrar que a palvra Oceano vem do ° Africa ha da Terra” envolvida pel: “Noite do Oceano de entio era limitado ao conjumto de Europa, » era Jerusalém. Havia, pois, uma homologia teocéntrica entre a imagem astronomica e a geogrifica: se a Terra , mundo, lugar da Criagao do homem, a Cidade Santa ta Terra, onde o homem foi criado. Essa imagem do mundo era, por outro lado, coerente com a pro: pria imagem do homem, Desde os tempos anti Jo era per cebido como restrito & Terra. O proprio corpo humano seria, em sua. nada mais que terra — “do p6 vieste € a0 po irs re e seu elemento apropriado a terra. Portanto, o “ugar natura!” par indo habits a vida humana era a terra, stava contido no O bis Terrarum (O'Gorman, 1961 © Oceano antes dos Descobrimentos era 0 limite do mundo. O para além do Orbis Te homem e no poderia vir a f er parte de seu mundo, O Oceano era de exercicio de soberania, No clima geral do Renascimento, idade das ambigtiidades e das audicias, € também, em boa medida, das tolerincias, os Descobr ‘mentos provocaram considerivel inquietagik ovo. cada por Copémico e ja antes dest ida a um continente entre outros, A Europa nfo podia n trangiiilamerve de uma continuidade com Jo que participay afia da Antiguidade povoada de monstrus e de povos bizarros. P: grafia quinhentista percebe-se como realizando uma ruptura com A imaginagio geogrficn foi permanentemente alterads; a natu rez do espaco geogritico foi permanentemente transformada, ¢ com essa transformagio a natureza dos objetos possfveis de se i ansformagao igualmente profunda, Para o discurso Jo século XVI, a Tdade dos Monstras ests mona, & que acreditava em monstros (McGrane, | Mas essa descoberta de novas te fica que outras transformaga uita, 0 que signi- 6 jf estavam em curso, Os descobrido ravam sem propésito, Ao contrario da Idade Média, des: cobrir era um empreendimento intencional. Se a astronomia coperi cana obedecia a necessidades intelectuais, matemiticas ou misticas, 05 navegadores queriam encontrar algo: riquezas, e era com relago a essa busca que fazia sentido a busca do conhecimento de outras terras € outros povos. A revolugio geogrifica do Renascimento estava um: bilicalmente fi ida a uma outra revolugZo, que também marca a rup- tura com a visto de mundo medieval: o mercantilismo q ‘Grande Transformagao que viria a solapar 0 equilfbrio Je tradicional (Polanyi, 1957). «era da explorago estava impregnada de comerciatismo, De fato, foi 0 comercialismo ¢ seu stibsidisrio o “desejo de conhe- cimento” que colocou as fundagbes desse empreendimento e de sua prépria possibilidade. A exploragio no s€culo XVI (a Idade de Ouro) no pode ser entendida independentemente do comer cio... e quando ela produz. um conhecimento revolucionstio, como ela faz. na ontologia da geogratia, onde ocorre uma tremenda transformagio na natureza. estrutura, fungo © objetos do conhecimento geogrifico ... no foi por uma busca positiva pelo conhecimento, mas por acidente, por circuns novas perturbadoras (“anomalias” no sentido de Kuhn) re Jo projeto de estabelecer o maior empreendimento comer vel (McGrane, 1989: 24), O Renascimento € mareado, entio, por ‘revolugtes” que, articulando-se entre si, embora de forma ndo necess: ente, transformam o mundo: a revolugio astrondi iamente consci opémico e a revolugio geogrifica associada a Colombo. Se o pri- meiro era em boa medida conservador e até mesmo ptolomaico, pois seu Universo permanecia finito e fechado, 0 segundo nao 0 era me que se seguiram a ele revolucionaram a “imaginagio geo: into quanto @_mecdnica pés-copernicana revolucionou o discurso sstronémico — ¢ em conjunto revolucionaram o discurso teolégico As descobertas geogrificas revelaram que os mapas que os anti {205 legaram ao século XVI estavam errados. Mas o p colocava no ert uma mera questio de erro empirico. A ruptura, em face da imagem do mundo dos antigos, foi uma ruptura diante de um padrio de autoridade, no contexto mais geral da critica ao conheci mento escolistico: no Renascimento, a experiéncia da ler oblema qu comeca a ser substituida pela autoridade da exper pode ver na sintética réplica de Leonardo aos escolist ‘Se nd posso citar autores, como vés podeis, citarei algo muito maior e vali (0s0, pois me refiro a experigncia, o mestre de vossos mestres”. Mais Jinda, talvez, que o modelo copemicano, que podia ser “digerido’ ‘como mera hipéiese, a falta de evidéncias empiricas, o descobrimento ntidos. da América impanha-se aos Es Se ain cartas astronémico-astrolé mento pritico, Os mapas medievais, Providén« formagao expressa-se no Novo significado dos mapas. any um sfmbolo a ser decifrado (como o eram tamb 28), agora eles se tormam um in -am comentirios sobre a Divina usakém no centro da Criagio, Male, 1967: 336). Os novos mapas tornaram-se um mo do novo discurso suiais do Génese instrum yerifico, destinado a descrever e medir 0 mundo e nfo mais a especular sobre sua natu za Os Descobrimentos foram menos 2 percepeao de ma nova percepg tanto a América diam ser constrafdos, © importante nao foi o fato de que a América tivesse sido descoberta, mas que tal descoberta tivesse permitido tn ‘quanto 0 mundo que contém essa nova entidade po: reinvengio do mundo”, a formulacZo, junto com a a tum novo sistema de idé também ao mundo humano, s, no apenas relative no mundo fisico, mas As revolugdes astrondmica ¢ geogrifiea [que realizam 2 fungiio fica de prover um novo sitio para a existéncia) maream a srofunda invengiio de um nove lugar, um nove esp al hhomen” poe viver. A gradual infinitizagio e h Jo espago astrondmico no século XVI procedem... em este anslogia com a gradativa expansio e homogeneizngto do espa § ifiew (MeGrane, 1989: 32), Como sugere Whitefield (1993), 0 discurso cientifico — e a iografia — reflete o sistema d Jia, © formato T-O dos mapas m decorréncia de um sab de uma época, Durant fazia referéncins Gbvias A baseado na éncia atemporal das Escrituras. Conhecimentos topogrificos eram desprezados em favor de representag Apocalipse Tais mapas representavam o Orbis Terrarum dividido em trés partes por um T, que representava rios ¢ 0 Mediterraneo, Os mapas rant circundados por um anel, 0 O, que representava 0 Oceano. Por vezes, os mapas podiam ser retangulares, como referéneia ao texto biblico que falava de quatro anjos nos quatro cantos da Terra > R indo Whit olgicas tenderam a ser substituidas por cosmoligicas, como © Pecado Original e 0 ield, as motivagdes te representagées da racionali nham pouca utilidade para os nave objetivo prit dade. Se lores, pois, apesar do ‘0, a8 coordenadas eram bastante deformadas, sua fun G20, digamos, metafisiea, era propor um mundo geometti do, Com o Renascimento, Ptolomeu, destronado da astronomia pot foi reentronizado na cartografia, apds longo esquecimento medieval. Plolomeu, no século Il, jf criticava a concepgio to Oc we a Terra seria uma ilha envolvida sposigao da forma esférica para o plano, Curio- te, na carta de Wald de 1507 Ptolomeu & retratado a AS novas astronomia € aia so, sobretudo, ‘olombiana, © Orbis Terrarum sofre uma rea: nto at mudanga de status da Terra — agora astronomia pos-copernicana, Na Introd 1 da Academia de St. Die, de 1507, surge pela primeira vez. a categoria “continente”, e o Orbis Terrarum passa a incluir todo orp ridlosiveicioveand, quecdeina’de se7°0'vazilt rire nanreza humana, Mais importante, so incluidas no apenas as terras recém: descobertas, mas quaisquer novas te tas no futuro) uma racic "que toma possivel 0 conheci ratado de Tordesithas. A mudanga do singular para o plural Oce eanos — significou uma mudanga, de limite mundo, para caminho entre 0 velho € os novos mundos, tommou cessirio o acréscimo da América 2 Europa, Asia e Africa, em pé dl igualdade e em contigiiidade, pois o sentido primeiro cle continente & tronomia como a cosmografia assumem entio 0 cari Os disc € astronémico tomnaram-se crucialmente eriticos ¢ lagi & meta ambiente discursive « 2 cosmologia teoldgica, Esse ico foi constitutive de sua propria formagao, de maneie: ue ocorreria séculos mais tarde com a geolog biologia evolucicnist anto pari a astronomia como para a cosmogratia, a Fangio er tuma centralidade essencial, astrondmica, geogrifica (e tal ria es uma centralidade moral, a de ser 0 ponto si f 4 de todos os outros pontos da perif va assergio de um periferisma essencial. Com no Universo no existe centro nem cireun 0 todo é © caminho trthado foi aquel etntrica para outra heliocéntrica, para uma an ras © povos dispersos sok per A revolugdo na concepgao do espago, que agora & habit k Zo do homem, e a nogao tradic onal de cristandade veio a ser substitufda, gradativamente, € nfo Jades, pela nogao de humanidade, Na mesma medida em que 0 espago & homogeneizado, em que o Céu e a Terra émico ainda mantivesse a oposigio entre © nam iguais (embora Co plano dos planetas méveis e das e: deixa de existit uma pluralidade de mundos, a Europa torna-s rio homens nfio-europeus, diferen elas fixas iméveis), em que ontinente entre outros, € exi ss, mas também iguais. Comeca a colocar-se 0 diffcil problema da alteridade e da uni- Jade da humanidade, que encontrou diferentes solugdes ao longo Jo Huminismo, do Evolucionismo novecentista e da Antropologia Se Bacon e outros imaginavam a existéncia de lugares habita Jos ao sul do Equador, a opinif predominante era contrdria. Por stro lado, afirmava-se que tais homens niio teriam podido conhe- cer o Salvador. No entanto, a procura de uma possivel humanidade perdida foi um dos motivos das grandes navegagSes, na esperanga de encontrar 0 reino do padre Joio. Se as navegagbes tiveram m fia e a teolo. ssa tanto quanto mercantis; se a. geo 1s uma A outra, os descobrime » Reisch, prior de um retiro préximo a Fri xistir havia sido bur ncia dos ‘antipodas, cujo negado por Santo Agostinho, Mercator inicia a revisio cartogriifica Jo mundo. O grande problema era conciliar a teologia com a nova jeografia. Seu primeiro mapa ainda 6 centrado na Palestina, mas ja nfo era mais uma carta teoligica, como as dos séculos anteriores: . cientifica, Depois, sintomaticamente, centro sagrado, Jerusalém, era substituldo pela Europa que con- Um deslocame ficativo, no contexto da ali tomara-se uma carta pritica mais geral da afirmagao do poder secular sobre o da Tgreia, sado por Dumont (1985) Os indios, a religiao e a ciéneia Para a teologia, colocava-se um novo problema: os habi desse mundo novo recém-descoberto, Se os amerindios eram huma: Nivio? A questo no era fécil para dade, ainda plenos de autoridade — aquela autoridade contra a qual se manifestava Leonardo —, eram povoados de monstros cinocéfa- los, de seres com um s6 pé en préprios relatos d am até 0 novo continente? Como escaparam a0 Di- 68 tedlogos: 0s eseritos da Antigui me, de pigmeus e de amezonas. Os Colombo realimentavam esse imaginsrio, com sua crigdo de nativos canibais de aparéncia rep Rapidamente, porém, os missiondrios descobriram nos dios uma humanidade capaz de ser convertida, Nao obstante o mas: saere dos primeiros “selvagens”, comparivel a0 dos lo XIX — os Tasmanianos (Stocking, 1987) —, os amerfndios foram de Deus. Como observa Minois (1990: 331), o critério de humanidade Itimos “pri mitivos” do sée sdos humanos, em 1537, pela bula Sublimis dado nfo pela capacid: critérios que, notemos, viriam a informar a discussio andloga no sé culo XIX —, mas pela capacidade de se tornarem cristios. Humani: dade ainda se confundia com cristandade c «le cerebral ou pelo uso de instrumentos rindios eram humanos potenciais. A diferenga dos séculos po: res, ainda cabia 2 teologia, € no 2 ciéncia, decidir a distancia entre 0 hhumano e 0 animal, distincia essa, que, por demais, pouco sensibili Zava os conquistadores, como se vé pel Las Casai (1984), A teologia — tanto contudo, da cid coberta d Ja para explicar certos fatos perturbadores. A des lum novo continente colocava um problema que ia para habitavam a fio cientifica por como mostra a ate mon m da fisica: de onde vieram os homens qui América? Essa questio iria assombrar a imagina ‘muito tempo, inclusive a ima etnologia go antropolég ritchardiana do século XIX, com od nese, Seria possivel conciliar a exist versus poli ia dos amerin dios com 0 relato biblico, cuja autorid Jo 0 mundo (limitado, lembremas, ao Orhis Terran) havia sido submergido pelo Dilivio? Se Noé havia colocado em sua rea um casal de cada espécie animal existente desde a Criagio, como explicar a presenga de o mé enti Jos? Teria havido mais de uma Criagio? Quando se che; tralia, havia quem atribuisse a exist mento entre uma camela e um pardal! ‘Tomava-se urgente, entdo, estudar a fauna, a flora e a populagio humana daquele mundo novo que desestabilizava o saber tradicional Criou-se um contexto que exigia perguntas & cogit pondidas Wa Aus- a dos avestruzes las — e que, como disse, continuaram a ser pergu © século XIX, quando se defr ntaram uma gia biblica” criacionista e um evolucionismo neodarwinista O jesuita Acosta, depois de t amerindios, chegou, em sua Hi de 1590, Dilivio wn: apés 0 Diliivio; ou ai antropolo: pesquisado as tradigdes orais dos aria Natural y Moral dle las Indie i inconclusiio de que possivelmente niio tivesse ocorrido 0 América; ou que as novas espécies tivessem sido criadas a que os am > apenas ant diluvianos, m eriores a Ado, Confessando su per plexidade, escandalizou boa parte da “opinio pensante” da época, liz Minois (1990: 332), “Pela primeira vez, a icia uma questo séria para a qual niio di tuma resposta ji dada outra, Até reja colo. cava ps unha de obrimentos cra A situagio erinda pelos de clicitava ao cientista (que » um teGlogo, pelo menos um membro ara as explicagdes relativas ao mundo, Os fatos, em si, no do clero) um respaldo téenico estavam em que 1 eiéncia era secundiria, subordinada 2 teolo: gia. Mas agora 8 prOprios fatos, relativos tanto & natureza como tos homens, que contradiziam as Eserituras, ¢ nfo era possivel Jescartar esses fatos estavam imediatamente disponiveis & Os fndios ow © Dilivio? Cotocar a alternativa jé et posta, pois os indios Ii estavam, visiveis e palpiveis ... Pela primeira ve7, pois, no so os intérpretes do livro da nature: >. Man radicional da i poderiam aportar umm lo. A pripria necessidade teoléeica est Minois, 1990: 333: Nesse a Se Vésal biente, também a medicina comega a se € Servetus foram condenado: morte, as pesqui ma nova concepeio do homem € a possibilidade d ‘uma cigncia do homem. No contexto g: mologia tradicional, das dl as dos na pela Reforma. ana do mundo exterior e & redescoberta da fi ‘0 homem també n & repensado. A anatomia é tio revoluciondria quanto a nova cosmografia. Com o enfraquecimento da interdigi0, eoldgica ao estudo experimental do corpo, comiega a processar-se ama dessacralizagio do corpo: o he 1m passa a ser considerado um ser natural aberto & pesquisa anatémica. Nao obstante a 1 ideol6gi do D. Coxporis Hun is, Vésale publica, en s Orblum C stiwm, de Copemica smo ano d Revolution eu De i Fabrica, 0 aa um piblico amplo © espirito de observagio que m S6 em 1595 seria publicado 0 Atla anatémico que pie modema, inclusive a d de Mercato As mesinas idéias, ou a nova metafisica relativa ao macrocosmo astrondmico e . mano. Pouco depois, as leis de Kepl inaugurar um novo tempo pari a ciéneia, oria da circulagiio do sumgue de Harvey princi ar Nesse ambiente, comega a formar-se un nd mental Jistinta da concepgiio implicada na ia de ser: a Terra esti para os phanetas como a Europa p: i fo homem pata os animais e (com Lutero) as linguas vemdeulas para Tati, A perplesidade trazida pelos descobrim relativa abertura da Igreja a novas idéi caracteristicas do humanism renascentista e q da histéria do pensamento europeu un época dle auidscin também de ambigilidades. Como di pripri , 7 ONES Se ——— A redescoberta do mundo interior: a reforma e a ciéncia Reform see

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