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ASSISTÊNCIA DE PROCURADOR

Art. 14. Em se tratando da apuração de fato delituoso de excepcional im-


portância ou de difícil elucidação, o encarregado do inquérito poderá solicitar do
procurador-geral a indicação de procurador que lhe dê assistência.
Este artigo está mitigado em face da Constituição da República vigente, sendo
necessárias, portanto, algumas considerações.
De acordo com o art. 127 e parágrafos, da CF/88, o Ministério Público é
instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis.
São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e
a independência funcional.
Sintetiza Hugo Nigro Mazzilli (1997: 109) que

o principio da independência funcional opõe-se


precisamente ao princípio da hierarquia. típico do
Ministério Público francês, onde o Ministério Público
é uno, indivisível e hierarquizado. Entre nós é mais
acertado dizer que a unidade é o conceito de que o
Ministério Público é um só órgão, com uma só chefia e
uma só função. Por sua vez, indivisibilidade é o
conceito de que, porque é o Ministério Público uno,
torna-se possível a substituição de seus agentes.
Contudo, em vez de hierarquia, no Ministério Público
brasileiro temos independência funcional.

Cada membro do Ministério Público, no exercício de sua nobre função, está


subordinado apenas às leis e à sua consciência, ressalvada, entretanto, a
responsabilidade dos danos concretamente causados pelo uso indevido ou de má-fé,
de suas funções institucionais.
Como a Constituição Federal declara ser função institucional do Ministério
Público dentre outras, exercer o controle externo da atividade policial bem como,
requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial (art. 129,
incs. VII e VIII), e a Lei Complementar 75/93 deferiu ao Ministério Público Militar, a
requisição de diligências investigatórias e de inquérito policial-militar, além do
controle externo da atividade de polícia judiciária militar, o Ministério Público não
mais exerce a função de assistente do IPM, já que pode requisitar sua instauração
e acompanhar seu desenvolvimento, intervindo sempre que necessário.
Atualmente, o Ministério Público Militar, antes de ser o destinatário do inquérito,
é seu fiscal, o custos legis, em sua plenitude. Esta posição, entretanto, não o impede de
orientar (e não assistir) as autoridades de polícia judiciária militar, visando ao correto
exercício da atividade investigatória militar, que inclusive a ele se destina.
O Código de Processo Penal Militar refere-se ao "procurador", já que ao tempo
em que foi editado, oficiavam nas Procuradorias, os procuradores, de 1ª e 2a
categorias. Com o advento da Lei Complementar 75/93, a carreira do Ministério
Público Militar passou a ser constituída pelos cargos de Subprocurador-Geral da
Justiça Militar, Procurador da Justiça Militar e Promotor da Justiça Militar.
Concluindo, podemos afirmar o seguinte: I) Se o encarregado do IPM estiver
apurando fato delituoso de excepcional importância ou de difícil elucidação, poderá
solicitar que um membro do Ministério Público Militar acompanhe o inquérito, e essa
solicitação poderá ser feita diretamente na Procuradoria da Justiça Militar da área onde
esteja se desenvolvendo a investigação. Ao dar entrada na PJM, o pedido de
acompanhamento deverá ser distribuído, na forma regulamentar, para um dos membros
que ali oficiem; 2) Qualquer membro da Procuradoria da Justiça Militar, tomando
conhecimento de inquérito que apure fato delituoso de excepcional importância ou de
difícil elucidação, poderá, de ofício, acompanhar o feito, tornando-se prevento nesse
caso, em relação aos demais membros daquela PJM; 3) O Procurador-Geral da .Justiça
Militar, como Chefe da Instituição, poderá designar qualquer Procurador ou Promotor
da Justiça Militar, para acompanhar inquérito policial-militar que apure fato de
excepcional importância ou de difícil elucidação; 4) Idêntico procedimento se faz em
relação ao Ministério Público dos Estados e do Distrito Federal (Tais considerações
não tem aplicabilidade no Ministério Público Militar do Estado da Paraíba, uma vez
que temos apenas um Promotor de Justiça Millitar, subordinado ao Procurador de
Justiça).

ENCARREGADO DO INQUÉRITO. REQUISITOS


Art.15. Será encarregado do inquérito, sempre que possível, oficial de posto
não inferior ao de capitão ou capitão-tenente; e, em se tratando de infração penal
contra a segurança nacional, se-lo-á, sempre que possível, oficial superior, atendida,
em cada caso, a sua hierarquia, se oficial o indiciado.
Artigo de fácil entendimento, que dispensa comentários, lembrando-se apenas que
as infrações penais contra a segurança nacional (Lei 7.170/83) são apuradas pela Polícia
Federal, competindo à Justiça Federal o julgamento dos crimes políticos.

SIGILO DO INQUÉRITO
Art. 16. O inquérito policial é sigiloso, mas seu encarregado pode permitir que
dele tome conhecimento o advogado do indiciado.
O sigilo do inquérito policial-militar é um de seus principais caracteres, estando
previsto no art. 16 do CPPM.
Note-se que o comando legal (de 21.10.1969) contém uma faculdade
(discricionariedade) no sentido de que o encarregado pode permitir, se quiser, que o
advogado do indiciado tome conhecimento do contido nos autos.
Tal norma, hoje, está mitigada ao extremo.
Os advogados e defensores públicos podem examinar, em qualquer repartição
policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e inquéritos, findos ou em
andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar
apontamentos (Lei 8.906, de 04.07.1994, art. 7°, XV - EAOAB; Lei Complementar 80,
de 12.01.1994, art. 44, VIII - Organiza a Defensoria Pública da União, do DF e dos
Territórios).
Os membros do Ministério Público têm como função institucional, requisitar
diligências investigatórias e a instauração de inquérito e de inquérito policial-militar,
podendo acompanhá-los, além do que, no controle externo da atividade policial e da
atividade de polícia judiciária militar terão livre ingresso em estabelecimento policial e
prisional, e acesso a quaisquer documentos relativos à atividade-fim policial (Lei
Complementar 75, de 20.05.1993, arts. 70, II e 9°, I e II - Estatuto do MPU; Lei 8.625,
de 12.02.1993, art. 26, IV - Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
A não-observância desses dispositivos por parte do encarregado do inquérito
policial-militar pode, em tese, caracterizar o delito de abuso de autoridade, previsto na
Lei 13.869/2019 Lei do Abuso de Autoridade), arts. 15, 20, 32 e 43.
Mesmo com seu sigilo mitigado, o IPM não passou a ser uma investigação aberta.
Como diz Alexandre José de Barros Leal Saraiva (1999: 16), "na maioria das vezes é
necessário que as diligências policiais transcorram da forma mais discreta possível, a
fim de que não se afastem os objetivos da inquisa".
Dentro dessas ressalvas legais, cremos poder-se falar em sigilo das investigações,
até mesmo para que não sejam prejudicadas, jamais em sigilo do inquérito, cujas peças
devem ser reunidas num só processado (CPPM, art. 21), formando os autos que poderão
ser manuseados a qualquer tempo por advogados, defensores públicos, promotores e
procuradores de justiça.
Inquérito policial. Advogado. Acesso irrestrito.
Limites. Em julgamento marcado por intenso debate, a 2ª
Turma do STJ decidiu, por maioria, que o
desenvolvimento das investigações do inquérito policial
pode correr de forma sigilosa, não caracterizandoa
cerceamento de defesa para os envolvidos. (STJ - 2
Turma - Rec. Esp. 12.516, j. em 03.09.2002, Boletim
Informativo, Juruá, v. 327).

ATUAÇÃO DO ADVOGADO EM INQUÉRITOS


SIGILOSOS:
A 1ª Turma do STF, julgando pedido de habeas corpus
interposto pelo advogado do indiciado a quem se negava
vista dos autos do inquérito, asseverou que a Lei 8.906/94
resolveu em favor da prerrogativa do defensor e contra a
oponibilidade ao advogado do sigilo decretado do
inquérito, uma vez que no inc. XIV do seu art. 7º não fez.
nenhuma distinção entre inquéritos sigilosos e não
sigilosos. Além disso, concluiu-se que essa oponibilidade
esvaziaria a garantia prevista no inc. LXIII, do art. 5º, da
CF ("o preso será informado de seus direitos, entre os
quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado;"), cuja interpretação
alcança o indiciado solto, no sentido de a ele também se
estender o direito ao silêncio e, no mínimo, a faculdade da
assistência técnica do advogado que constituir, a qual, por
sua vez, não seria devidamente prestada se sonegado ao
defensor o acesso aos autos do inquérito. Dessa forma, de-
feriu-se o writ para que aos advogados constituídos pelo
paciente se faculte a consulta aos autos do inquérito
policial e a obtenção de cópias pertinentes antes da data
designada para a sua inquirição. Precedente citado: HC-
79191/SP in RTJ 171/258. (STF 1a Turma - HC 82.354/PR
- Rel. Min. Sepúlveda Pertence. j. em 10.08.2004).
O STF - súmula vinculante nº 14: É direito do defensor, no interesse do
representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO. PRAZO
Art. 17. O encarregado do inquérito poderá manter incomunicável o indiciado,
que estiver legalmente preso, por três dias no máximo.
Por indiciado legalmente preso entenda-se aquele que foi autuado em flagrante ou
encontra-se recolhido por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente, ou encontra-se detido por ordem escrita e fundamentada do encarregado do
inquérito.
Diferiu o Código de Processo Penal Militar do Código de Processo Penal (art. 21),
pois neste, a incomunicabilidade do indiciado depende sempre de despacho
fundamentado do juiz, enquanto naquele, o texto sugere uma faculdade do encarregado (
... O encarregado poderá manter ... ).
Destarte, os dois dispositivos (Art. 17, CPPM e art. 21 CPP) estão revogados pelo
art. 136, § 3º, inc. IV, da CF/88, que, ao tratar do Estado de Defesa e do Estado de Sítio,
dispõe: é vedada a incomunicabilidade do preso.
Como diz Júlio Fabbrine Mirabete, lembrando Tourinho Filho, "não sendo
permitida a incomunicabilidade nas situações excepcionais, em que o Governo deve
tomar medidas enérgicas para preservar a ordem pública e a paz social, podendo para
isso, restringir direitos, com maior razão não se pode permiti-la em situação de
normalidade" (1997:63). No mesmo sentido a posição de Célio Lobão Ferreira
(2000:28) e, de Cláudio Amin Miguel e Nelson Coldibelli (2000:51).
A incomunicabilidade do preso caracteriza abuso de autoridade previsto na
Lei 13.869/2019 (Abuso de Autoridade):
Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com
seu advogado: (Promulgação partes vetadas)
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o
investigado de entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou defensor,
por prazo razoável, antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele
comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso de
audiência realizada por videoconferência.
Em sentido contrário, pela não-revogação do art.17, Alexandre José de Barros
Leal Saraiva (1999:56); Roberto Menna Barreto de Assumpção (1998:63). José da Silva
Loureiro Neto inicialmente admitia a incomunicabilidade cio indiciado (1992:04)
porém, revendo sua posição passou a considerá-la inaplicável, em razão do já referido
art. 136, § 30, IV, da Carta Magna (1999: 16).
DETENÇÃO DO INDICIADO
Art. 18. Independentemente de flagrante delito, o indiciado poderá ficar detido,
durante as investigações policiais, até trinta dias, comunicando-se a detenção à
autoridade judiciária competente. Esse prazo poderá ser prorrogado, por mais vinte
dias pelo comandante da região, distrito naval ou zona aérea, mediante solicitação
fundamentada do encarregado do inquérito e por via hierárquica.
PRISÃO PREVENTIVA E MENAGEM. SOLICITAÇÃO
Parágrafo cínico. Se entender necessário, o encarregado do inquérito solicitará,
dentro do mesmo prazo ou sua prorrogação, justificando-a, a decretação da prisão
preventiva ou de menagem, do indiciado.
A referência à Zona Aérea no caput deste artigo deve ser entendida como
Comando Aéreo.
Prima facie, há que se estabelecer a natureza da detenção preconizada no art. 18
do CPPM.
Por certo não é a detenção-pena, do art. 55, letra 'c', do Código Penal Militar,
posto que esta é aplicada ao final do devido processo legal.
Da mesma forma não é a detenção-punição, do art. 28, do Regulamento
Disciplinar do Exército e seus correspondentes nas demais Forças Armadas, e forças
militares estaduais (Art. 23, RDPM-PMPB) porque agora aplicada em decorrência de
uma transgressão da disciplina.
É, portanto, uma custódia excepcional, melhor dizendo, uma detenção cautelar, e
não prisão cautelar como a ela se referiu José da Silva Loureiro Neto (1992:04), visto
que o termo legal se refere à detenção.
Com o advento da Carta de 1988 tal dispositivo restou mitigado pelo art. 5°, inc.
LXI, quando assevera que ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão disciplinar ou crime propriamente militar, definidos em lei (grifei).
Bem por isso, atualmente, o encarregado do IPM só poderá aplicar a detenção
cautelar em casos de crimes militares próprios (ou puros), que são aqueles que só estão
previstos no Código Penal Militar, em seu art. 9°, inc. I, v.g., crimes contra a
autoridade ou disciplina militar, contra o serviço militar e o dever militar. Da mesma
forma, entendemos que a detenção cautelar não sofre os limites do art. 20 (prazos para
terminação do inquérito) deste Código, já que é a própria Constituição Federal que
ressalva a prisão decorrente dos crimes militares próprios (art. 5°, LXI).
O encarregado do IPM que aplicar a detenção cautelar em casos de crimes
militares impróprios (homicídio ou roubo, p. ex.) incorrerá em abuso de autoridade (Lei
13.869/2019).
Nesses casos, dos crimes militares impróprios (por extensão) - e desde que preen-
chidos os seus requisitos, o encarregado do inquérito poderá representar ao Juiz
Presidente pela decretação da prisão preventiva do indiciado (CPPM, arts. 254 e 255).
Uma vez decretada a detenção, o encarregado do Inquérito deverá comunicar o
fato imediatamente ao juiz a quem caberá decidir acerca da manutenção ou não da
prisão.
Malgrado pouco comum o uso da detenção na fase de Inquérito Policial Militar,
nada obsta a sua aplicação, desde que satisfeitos os requisitos, fundamentada a decisão e
observado o limite constitucionalmente imposto.
A possibilidade, pois, de decretação de prisão por encarregado de Inquérito,
independentemente de flagrante delito ou ordem escrita e fundamentada da autoridade
judiciária, não deixou de existir com o advento da Constituição Federal em vigor. Em
verdade, o que houve foi uma limitação do campo de sua incidência que, hoje, só tem
cabimento no caso de delitos propriamente militares, por força da natureza especial que
estes guardam na sua essência.
Em relação aos civis, ainda que pratiquem crime militar, contra as instituições
militares federais, não se sujeitam à detenção do art. 18, CPPM, uma vez que não
praticam crimes militares de natureza própria (crimes militares próprios), e sim crimes
de natureza imprópria.
Segundo Aranaldo Alves de Alvarenga
(http://www.jusmilitaris.com.br/novo/uploads/docs/detencaocautelar%281%29.pdf)
caso o encarregado do IPM queira se valer desse dispositivo legal, é de bom grado, que
se comunique ao juiz, à Defensoria Pública, ao Ministério Público, à família além de se
dar a nota de culpa ao preso, além dos demais procedimentos a serem adotados no
âmbito das Corporação Militares.
O Superior Tribunal Militar, órgão máximo da Justiça Militar Federal, não tem
hesitado em decidir em derredor da temática, sempre pronunciando entendimento
favorável, como não poderia deixar de ser, ao cabimento da espécie de prisão
examinada, conforme se pode ver na decisão abaixo transcrita:
PROC: HCOR NUM: 032456-9 UF: RJ DECISÃO:09/02/1998
EMENTA: prisão de militar apoiada no Art. 18 do CPPM. Inexistência de
constrangimento ilegal a ser corrigido pelo remédio constitucional. Habeas Corpus
indeferido. Acórdão. STM.
Por tudo o quanto exposto, reitero assertiva no sentido de que é perfeitamente
possível no ordenamento jurídico pátrio a decretação da prisão na fase de Inquérito
Policial por seu presidente ou encarregado, desde que observados os limites
constitucionais, fundamentada o ato, e respeitados os requisitos inerentes a toda e
qualquer decisão que objetive cercear a liberdade do cidadão.
Márcia Luís Chila Freyesleben (1997:211/220) chama a detenção cautelar do
indiciado de prisão para averiguação, cuja finalidade é a de possibilitar a custódia do
indiciado na fase de investigação, quando os requisitos da prisão preventiva ainda não
foram suficientemente recolhidos.
E afirma o autor mineiro que a prisão para averiguações, nos moldes do art. 18 do
CPPM, poderá ser decretada sempre que o encarregado do IPM se deparar com certas
situações em que a custódia do indiciado surja como uma necessidade inafastável à
investigação policial-militar; sempre que se lhe afigurar a necessidade inelutável de agir
rapidamente, de impedir que o indiciado destrua vestígios do crime ou desvirtue a prova
e ainda a evitar-lhe a fuga ou ocultação; sempre que se lhe revele útil à conveniência de
proteger a liberdade individual contra o arbítrio e a prepotência do indiciado.
Conclui pela necessidade de motivação do encarregado, asseverando que a ordem
escrita se perfaz via despacho fundamentado nos autos, em que constará a "motivação"
da autoridade. A motivação tem natureza de princípio constitucional e visa a resguardar
o direito do indiciado de pedir ao Judiciário que apure a medida (CF/88, art. 5°, inc.
XXXV).
O encarregado motivará seu despacho apontando o fato gerador da prisão e o
dispositivo legal adequado, bem como, expondo os motivos que o levaram à adoção da
medida extrema.
Sobre a concessão de menagem (prisão sem rigor) ao indiciado, vide o art. 263 e
seguintes, do CPPM.
INQUIRIÇÃO DURANTE O DIA
Art. 19. As testemunhas e o indiciado, exceto em caso de urgência inadiável,
que constará da respectiva assentada, devem ser ouvidos durante o dia, em período
que medeie entre as sete e as dezoito horas.
INQUIRIÇÃO. ASSENTADA DE INÍCIO, INTERRUPÇÃO E
ENCERRAMENTO
§1º O escrivão lavrará assentada do dia e hora do início das inquirições ou
depoimentos; e da mesma forma, do seu encerramento ou interrupções no final
daquele período.
INQUIRIÇÃO. LIMITE DE TEMPO
§2º A testemunha não será inquirida por mais de quatro horas consecutivas,
sendo-lhe facultado o descanso de meia hora, sempre que tiver de prestar declarações
além daquele termo. O depoimento que não ficar concluído às dezoito horas será
encerrado para prosseguir no dia seguinte em hora determinada pelo encarregado do
inquérito.
§3º Não sendo útil o dia seguinte, a inquirição poderá ser adiada para o
primeiro dia que o for, salvo caso de urgência.
A assentada a que se refere o artigo, nada mais é do que o Termo que é lavrado
pelo escrivão do inquérito, do depoimento da testemunha e assinado pelo Encarregado,
Testemunha, Escrivão, acusado e advogado deste (se houver).
O Código fixou limites para a inquirição de testemunhas, que só poderão ser
extrapolados em casos de urgência inadiável, quando se fará constar da assentada.
RECUSA DA TESTEMUNHA OU VÍTIMA EM DEPOR PERANTE A
PRESENÇA DO ACUSADO
Nesse caso aplica-se a regra do Art. 358 do CPPM.
No caso de constrangimento da testemunha, o Art.358 do CPPM afirma:
Se o juiz verificar que a presença do acusado, pela sua atitude, poderá influir
no ânimo de testemunha, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará
retirá-lo, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor. Neste caso,
deverá constar da ata da sessão a ocorrência e os motivos que a determinaram.
OBS. Também poderá ser aplicada no IPM, Sindicância, APF.
NÃO COMPARECIMENTO PARA DEPOR
Efetua-se um termo de não comparecimento, que vai assinado pelo encarregado,
escrivão e duas testemunhas instrumentárias do ato.
COMPARECIMENTO COM RECUSA EM DEPOR
Efetua-se um termo de comparecimento, que vai assinado pelo encarregado,
escrivão, pela própria testemunha ou vítima e duas testemunhas instrumentárias do ato.

PRAZOS PARA TERMINAÇÃO DO INQUÉRITO


Art. 20. O inquérito deverá terminar dentro em vinte dias, se o indiciado estiver
preso contado esse prazo a partir do dia em que se executar a ordem de prisão; ou no
prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver solto, contados a partir da data em
que se instaurou o inquérito.
OBS. Tal prazo se inicia a partir da Portaria de instauração da autoridade
(normalmente delegante). Se a autoridade delegada não receber a Portaria e demais
documentos de imediato, deverá ser contado o prazo a partir do recebimento destes
(mediante recibo).
Estando o indiciado preso, o inquérito policial-militar deverá, obrigatoriamente
ser concluído em vinte dias, sob pena de caracterizar constrangimento ilegal, sanável
pela via do habeas corpus. A contagem do prazo é feita a partir do dia em que se
executa a prisão, seja ela decorrente de flagrante delito, seja por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente.
O Código Penal comum asseverou em seu art. 798, §1°, que não se computará no
prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento. O CPPM não tem
dispositivo correlato, mas é claro que tal norma pode ser aplicada ao processo penal
militar nos termos do art. 3°, letra ‘a’ deste Código (Art. 3º Os casos omissos neste
Código serão supridos: a) pela legislação de processo penal comum, quando aplicável
ao caso concreto e sem prejuízo da índole do processo penal militar;).
Estando solto o indiciado, o prazo inicial para a conclusão do IPM é de quarenta
dias.
De acordo com o CPP comum, o inquérito policial deve terminar em dez dias, se
o indiciado estiver preso, e em trinta, se estiver solto (art. 10). Por aí se infere que o
prazo dado à autoridade de polícia judiciária militar é mais do que suficiente para
concluir sua investigação.
PRORROGAÇÃO DE PRAZO
§ 1º Esse último prazo poderá ser prorrogado por mais vinte dias pela
autoridade superior, desde que não estejam concluídos exames ou perícias já
iniciados, ou haja necessidade de diligências indispensáveis à elucidação do fato. O
pedido de prorrogação deve ser feito em tempo oportuno, de modo a ser atendido
antes da terminação do prazo.
DILIGÊNCIAS NÃO CONCLUÍDAS ATÉ O INQUÉRITO
§ 2° Não haverá mais prorrogação além da prevista no § 1º, salvo dificuldade
insuperável, a juízo do Ministro de Estado competente. Os laudos de perícias ou
exames não concluídos nessa prorrogação, bem como os documentos colhidos depois
dela, serão posteriormente remetidos ao juiz, para a juntada ao processo. A inda, no
seu relatório, poderá o encarregado do inquérito indicar, mencionando, se possível, o
lugar onde se encontram, as testemunhas que deixaram de ser ouvidas, por qualquer
impedimento.

DEDUÇÃO EM FAVOR DOS PRAZOS


§ 3º São deduzidas dos prazos referidos neste artigo, as interrupções pelo
motivo previsto no § 5º do art. 10.
A prorrogação do prazo é feita pela autoridade que delegou tais poderes para a
instauração do inquérito, desde que imprescindível para a conclusão da investigação.
Alexandre José de Barros Leal Saraiva, com apoio em Eliezer Pereira Martins e
Evandro Fabiani Capano, traz à discussão a seguinte hipótese:
Instaurado o IPM com o indiciado solto, o prazo para seu encerramento é de 40
dias. Ocorre que no 39º dia o indiciado foi preso. A partir dessa data, inicia-se nova
contagem de prazo? À evidência que não, até porque, dessa forma, estaríamos elegendo
o cerceamento da liberdade do indiciado como uma forma de extensão do já longo
período para as investigações da polícia judiciária militar, e o encarregado menos
diligente e mais malicioso guardaria a representação destinada à prisão preventiva ou
mesmo determinar a prisão de que trata o art. 18, para momento próximo ao término
do prazo legal.
Portanto, ‘se no curso do IPM der-se a detenção do indiciado ou decretar-se a
sua prisão preventiva, a autoridade terá vinte dias a partir deste ato para concluir o
IPM, desde que não tenham passado mais de vinte dias da data da instauração',
(1999:57/58)
Se passaram mais de vinte, por exemplo, 23 dias, o encarregado terá apenas 17
dias para concluí-lo.
Não se admite mais prorrogação além da prevista no § 1° do art. 20. A referência à
dificuldade insuperável a juízo do Ministro de Estado (Comandante da Força)
competente nos parece derrogada pela nova ordem institucional e estatutária que
outorgou ao Ministério Público, além da exclusividade da ação penal pública, a função
institucional de requisitar e acompanhar inquéritos policiais, inclusive militares, além
do controle externo da atividade policial e da atividade de polícia judiciária militar.
Desta forma, entendemos que a autoridade militar não tem poder para decidir
sobre a prorrogação do IPM além do prazo máximo de 60 dias (que já é elástico por si).
Encerrado o IPM já prorrogado inicialmente, mesmo que seu encarregado entenda
que necessita ainda de alguma diligência, deve apenas demonstrar suas conclusões em
seu relatório, indicando, além das testemunhas que não foram ouvidas (se existirem), as
diligências que não foram realizadas e os motivos para tanto, ou aquelas perícias das
quais não recebeu o laudo definitivo e assim não pode juntá-los aos autos da inquisa.
O representante do Ministério Público Militar não está vinculado ao entendimento
do encarregado do IPM e assim, pode entender que os autos já estão suficientemente
instruídos e oferecer a denúncia ou, entendendo necessárias novas diligências, as
requisitará à autoridade militar, ocasião em que o inquérito baixará à origem para o
cumprimento da requisição ministerial.
O prazo a ser deduzido com base no § 3° do artigo em comento é o prazo
decorrente da verificação, pelo encarregado do inquérito, de indícios contra oficial de
posto superior ao seu, ou mais antigo, quando a autoridade que delegou deverá designar
outro oficial para prosseguir no feito. Ex: O IPM está sendo realizado por um Capitão
que, na metade do prazo (20 dias) vem a verificar indícios contra um Major, que
encontra-se em liberdade. Não podendo mais prosseguir na investigação face à
preservação da hierarquia e disciplina, deverá informar a autoridade delegante para a
substituição. Tendo sido feita a substituição do encarregado, agora por um Tenente-
Coronel ou Major mais antigo que aquele que será investigado, restarão mais 20 dias
para a conclusão do inquérito, independentemente do prazo que levou para que o
encarregado do IPM fosse substituído.
HC pretendendo trancamento da Ação Penal por inépcia da denúncia. Se a
denúncia relata fatos que comprovam, materialmente, demora absurda na elaboração
do IPM e afirma que tal demora foi provocada para satisfazer interesse pessoal do
encarregado do IPM, não pode ser, tal peça, inquinada de inepta na via angusta do
remédio heróico, vez que a proposta ministerial é exatamente provar o elemento dos
tipos em que enquadrou tal conduta descritas. Denegada a ordem por maioria.
(TJM/RS - HC 694/98 - Rel. Juiz Dr. José Luiz Vieira, j. em 18.02.1998).

REUNIÃO E ORDEM DAS PEÇAS DE INQUÉRITO


Art. 21. Todas as peças do inquérito serão, por ordem cronológica, reunidas
num só processado e datilografadas, em espaço 2, com as folhas numeradas e
rubricadas pelo escrivão.
JUNTADA DE DOCUMENTO
Parágrafo Único. De cada documento junto, a que precederá despacho do
encarregado do inquérito, o escrivão lavrará o respectivo termo, mencionando a data.
A partir da portaria de nomeação e dos documentos que vieram inclusos, as peças
que serão juntadas sucessivamente irão formar os autos do inquérito policial-militar.
Esses autos, que constituem a materialização da investigação criminal, poderão
ser manuseados por advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público.
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Conforme já dissemos quando da análise do art. 16 deste Código, o sigilo do
inquérito policial atualmente está mitigado; entretanto, tal não ocorre com o sigilo das
investigações, que o encarregado do inquérito pode e deve manter, sob pena de frustrar
a finalidade do IPM.
O inquérito policial-militar será sempre registrado em livro próprio, numerado e
capeado. Na capa constará, obrigatoriamente, a autuação da portaria e dos documentos
que vieram anexos, contendo ainda, a assinatura do escrivão.
Via de regra, o encarregado do inquérito determina as providências que entende
necessárias através de despachos, que o escrivão cumpre, certificando a seguir nos
próprios autos.
A lei fala em peças datilografadas. Com o avanço da informática, elas passaram a
ser, em regra, digitadas.
RELATÓRIO
Art. 22. O inquérito será encerrado com minucioso relatório, em que o seu
encarregado mencionará as diligências feitas, as pessoas ouvidas e os resultados
obtidos, com indicação de dia, hora e lugar onde ocorreu o fato delituoso. Em
conclusão dirá se há infração disciplinar a punir ou indício de crime, pronunciando-
se, neste último caso, justificadamente, sobre a conveniência da prisão preventiva do
indiciado, nos termos legais.
SOLUÇÃO
§ 1º No caso de ter sido delegada atribuição para abertura do inquérito, o seu
encarregado enviá-lo-á à autoridade de quem recebeu a delegação, para que lhe
homologue ou não a solução, aplique penalidade, no caso de ter sido apurada
infração disciplinar, ou determine novas diligências, se as julgar necessárias.
AVOCAÇÃO
§ 2º Discordando da solução dada ao inquérito, a autoridade que o delegou
poderá avocá-lo e dar solução diferente.

CUIDADO COM OS AUTOS DE IPM !


Em princípio, os autos ficam sob a guarda do escrivão, mas a responsabilidade é
do encarregado, a não ser que este os entregue mediante recibo ao escrivão.
Em caso de perda dos autos, o responsável responderá por crime de Extravio de
documento: Art. 321. Extraviar livro oficial, ou qualquer documento, de que tem a
guarda em razão do cargo, sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: Pena -
reclusão, de dois a seis anos, se o fato não constitui crime mais grave (CPM).
O IPM é encerrado com um minucioso relatório onde se concluirá se uma infração
disciplinar a punir ou indícios de crime militar.
O encarregado do inquérito não deverá fazer tipificação penal, nem querer
qualificar ou desclassificar crime, pois essa atividade é própria do Promotor de Justiça e
do Juiz de Direito do Juízo Militar. A chamada opinião do delito compete
exclusivamente ao autor (titular) da ação penal pública, o Promotor de Justiça do Juízo
Militar (art. 77, “g”, CPPM). (OBS. Sempre classifiquei).
Havendo conclusão pela prática de transgressão disciplinar, deve ser juntada aos
autos do inquérito a cópia autenticada da nota de punição ou do boletimn que a
publicou.
Como a regra na Administração Militar é a delegação de poderes para a
instauração de IPM seu encarregado, após elaborar o relatório final, encaminha os autos
à autoridade delegante, sendo que é esta quem soluciona o feito, publicando-se, sempre,
tal solução.
Em vista disso, o § 2° do art. 22 não tem sentido (sua redação é confusa), já que a
autoridade delegante sempre irá solucionar o inquérito. O que pode ocorrer é que ela
não concorde com a conclusão a que chegou o encarregado em seu relatório,
solucionando o feito, então, de acordo com seu entendimento.

INQUÉRITO SEM SOLUÇÃO


Em que pese na prática a regra ser a delegação de poderes, qualquer uma das
autoridades relacionadas no art. 7° do CPPM, pode instaurar inquérito policial-militar,
sob seu encargo direto, sem delegação de poderes a outro oficial que sirva consigo.
Nesse caso, o inquérito encerra-se com o relatório minucioso da autoridade de
polícia judiciária militar (que passa à condição de encarregado do feito), não havendo
necessidade de solução, que na exata dicção da lei processual, só existe em caso de ter
sido delegada atribuição.

REMESSA DO INQUÉRITO À AUDITORIA DA CIRCUNSCRIÇÃO


Art. 23. Os autos do inquérito serão remetidos ao auditor da circunscrição
judiciária militar onde ocorreu a infração penal, acompanhados dos instrumentos
desta, bem como dos objetos que interessem à sua prova.
REMESSA A AUDITORIAS ESPECIALlZADAS
§ 1º Na circunscrição onde houver auditorias especializadas da marinha, do
exército e da aeronáutica, atender-se-á, para remessa, à especialização de cada uma.
Onde houver mais de uma na mesma sede, especializada ou não, a remessa será feita
à primeira auditoria, para a respectiva distribuição. Os incidentes ocorridos no curso
do inquérito serão resolvidos pelo juiz a que couber tomar conhecimento do inquérito,
por distribuição.
§ 2º Os autos de inquérito instaurado fora do território nacional serão re-
metidos à 1ª auditoria da circunscrição com sede na capital da União, atendida,
contudo, a especialização referida no § 1º.
Acerca da remessa dos autos de IPM ao Juiz Presidente (antes chamava-se
Auditor), importante assinalar que, com o advento da Constituição Federal de 1988, da
Lei Complementar 75/93 - Estatuto do Ministério Público da União e, da Lei 8.625/93 -
Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, passou a fortalecer-se corrente que
defende a remessa dos autos de inquérito policial diretamente ao Ministério Público, em
face de sua condição de promotor privativo da ação penal pública (CP, art. 129, inc. I), e
por isso, destinatário exclusivo das informações recolhidas pela autoridade policial ou
autoridade de polícia judiciária militar com vista à formação do convencimento
necessário para o oferecimento ou não, da denúncia. Cabe ao agente ministerial valorar
a prova produzida pela investigação policial.
Não se esqueça ainda que o Ministério Público pode requisitar não só a
realização de diligências investigatórias como também de inquérito policial-militar;
com a observação de que a diligência ou o IPM seja entregue diretamente na
Procuradoria da Justiça Militar, e isso há de ser feito diretamente à autoridade de
polícia judiciária militar, que estará obrigada a cumprir a requisição.
Recentemente (em 14/05/2015), através de decisão unânime da 2ª Turma do STF
pode, inclusive, efetuar investigações sobre crimes (RHC 97926-STF).
A nova ordem constitucional e a legislação específica do Ministério Público
sobrepõem-se ao art. 23 do CPPM, o qual poderia ser necessário há trinta anos passados
mas que agora não mais se justifica.
Também pensamos desta forma. Além do mais, o magistrado deve zelar pela sua
neutralidade e imparcialidade, requisitos essenciais para o exercício de uma boa
jurisdição e que podem ficar comprometidos pela sua participação direta nos autos do
inquérito. Por outro lado, este entendimento não afasta a participação judicial no sentido
da prestação jurisdicional cautelar, v.g., na decretação da prisão preventiva, na
expedição de mandado judicial de busca domiciliar e de busca e apreensão etc.
Todavia, na prática, os inquéritos ainda estão sendo remetidos às Auditorias, onde
são registrados em livro próprio, para posteriormente ser dada vista ao Ministério
Público.
De acordo com o art. 11, da Lei 8.457, de 04.09.1992 - Lei da Organização
Judiciária Militar da União, a cada Circunscrição Judiciária Militar corresponde uma
Auditoria, com exceção da 1ª CJM que possuía seis e foi reduzida a quatro pela Lei
10.333, de 19.12.2001; da 3ª CJM com três e; da 2ª CJM e da 11ª CJM com duas
Auditorias.
Não existem mais Auditorias especializadas (LOJMU, art. 11, § 20), sendo todas
de competência mista. A distribuição dos feitos, onde houver mais de uma Auditoria na
mesma sede, caberá ao Juiz Federal da Justiça Militar mais antigo (LOJMU, art. 11º, §
3°).
A nossa instituição possui acesso ao PJE (Processo Judicial Eletrônico) onde
alguns militares lotados nas Corregedorias tem acesso ao referido Sistema do TJPB e
através dele, após a conclusão do procedimento, enviam os IPM, IPD e APFD para
Justiça Militar.
Em alguns Estados as Corregedorias efetuam a comunicação instantaneamente, ou
seja, assim que tais procedimentos são instaurados a Justiça Militar e Ministério Público
Militares Estaduais tomam conhecimento de imediato.

ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO. PROIBIÇÃO


Art. 24. A autoridade militar não poderá mandar arquivar autos de inquérito,
embora conclusivo da inexistência de crime ou de inimputabilidade do indiciado.
A formação da opinio delicti é prerrogativa exclusiva do Ministério Público
Militar.
Mesmo que conclua pela inexistência de crime ou pela inimputabilidade do
indiciado, a autoridade militar deve remeter o inquérito à Justiça, uma vez que o seu
entendimento não vincula o representante do Parquet.
De outro lado, o arquivamento indevido de inquérito policial, qualquer que seja a
sua solução, poderá implicar responsabilidade da autoridade que o determinou, pela
prática, em tese, do crime de prevaricação (art. 319) ou de inobservância de lei,
regulamento ou instrução (art. 324), todos previstos no Código Penal Militar.

Remédio heróico visando ao trancamento da ação


penal sob a alegação de constituir-se em perseguição,
já que o encarregado do IPM, ao concluí-lo, afirmou
não haver provas, mas somente indícios de prática de
delito militar, o que tornaria descabida a remessa dos
autos à Justiça.
Não pode a autoridade administrativa arquivar autos de
IPM, pelo que a remessa a juízo é obrigatória,
independentemente das conclusões a que tenha chegado o
encarregado do IPM ou a solução a ele dada pelo
comandante.
Na formação da convicção, não está o órgão do
Ministério Público adstrito às conclusões a que chegou o
encarregado do IPM que se constitui mera peça
informativa, pelo que, encerrando a denúncia os
requisitos, seu oferecimento não se constitui
constrangimento ilegal. Ordem denegada, à unanimidade.
(TJM/RS - HC 709l9S - Rel. Juiz Cel. Antonio Cláudio
Barcel1os de Abreu).

INSTAURAÇÃO DE NOVO INQUÉRITO


Art. 25. O arquivamento de inquérito não obsta a instauração de outro, se novas
provas aparecerem em relação ao fato, ao indiciado ou a terceira pessoa, ressalvados
o caso julgado e os casos de extinção da punibilidade.
§ 1º Verificando a hipótese contida neste artigo, o juiz remeterá os autos ao
Ministério Público, para os fins do disposto no art. 10, letra c.
§ 2º O Ministério Público poderá requerer o arquivamento dos autos, se
entender inadequada a instauração do inquérito.
O tema desarquivamento de inquérito é polêmico na Justiça Militar.
O Código de Processo Penal comum tem dispositivo semelhante em seu art. 18.
O arquivamento de inquérito se faz por despacho judicial, a pedido do Ministério
Público, já que é peça que interessa exclusivamente ao órgão de acusação.
O MPM requerendo o arquivamento e o Juiz Militar concordando, o mesmo será
arquivado, não havendo concordância, o Juízo encaminhará ao autos ao procurador
Geral de Justiça para que este ofereça a denúncia ou designe um outro Promotor para
oferecê-la, caso o Procurador concorde com o arquivamento, o IPM será arquivado pelo
Juiz.

STM. O Juiz-Auditor não pode arquivar IPM, sem prévio requerimento do MPM
(arts. 25, § 2° e 397, combinados, do CPPM). Sobrestar não significa arquivar, mas
suspender temporariamente, demorar ou retardar. Inaplicação do art. 397 e seus
parágrafos do CPPM. Cassação da Decisão de arquivamento, sem interferência do
doutor Procurador-Geral. Unânime. (Correição Parcial 1.198-9/SP - Rel. Min. Jorge
Alberto Romeiro, j. em 04.06.1980).
Acerca do arquivamento do IPM, a Câmara de Coordenação e Revisão do
Ministério Público Militar editou os seguintes enunciados:
ENUNCIADO 2 - O arquivamento de inquérito policial-militar,
Instrução Provisória de Deserção e Instrução Provisória de
Insubmissão, exige o prévio e expresso pedido do órgão do
Ministério público, sendo incabível mero pronunciamento
opinativo.
ENUNCIADO 3 - Arquivamento implícito ou tácito.
Inadmissibilidade. A nova ordem constitucional exige que o
representante do Ministério Público manifeste-se, expressa e
fundamentadamente, sobre fatos e agentes indiciados ou não,
quer seja no oferecimento da denúncia, ou no pedido de
arquivamento.
ENUNCIADO 4 - O pedido de arquivamento de IPM exige o
exaurimento de todas as alternativas de apuração, em relação
aos fatos delituosos noticiados e agentes envolvidos, não sendo
suficiente a conclusão da autoridade militar que afirma a
inexistência de indícios de autoria ou de prova de fato que, em
tese, constitua crime militar.

TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO DE ARQUIVAMENTO


Via de regra, não há trânsito em julgado da decisão de arquivamento do inquérito
policial ou inquérito policial-militar.
Segundo a Súmula 524 do STF, "arquivado o inquérito policial por despacho do
juiz, a requerimento do procurador de justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem
novas provas".
O arquivamento do inquérito não cria preclusão, É, como diz Júlio Fabbrine
Mirabete,

decisão tomada rebus sic stantibus. Nada impede que


novas provas modifiquem a matéria de fato, dando ensejo
ao procedimento penal. Por isso, o Código permite que a
autoridade policial proceda a novas pesquisas, mesmo
após o arquivamento do inquérito. Não se reveste de
eficácia de coisa julgada o despacho de arquivamento,
interlocutório de natureza terminativa, o desarquivamento
diante de novas provas é possível, possibilitando-se o
oferecimento da denúncia. Essas novas provas, capazes de
autorizar o recebimento da ação penal são somente
aquelas que produzem alteração no panorama probatório
dentro do qual foi concebido e acolhido o pedido de
desarquivamento do inquérito. A nova prova há de ser
substancialmente inovadora, e não apenas formalmente
nova (1991:95).

Devidamente fundamentado, o pedido de arquivamento demonstra as razões de


convicção do agente ministerial. Pode ocorrer que o fato seja típico, antijurídico, porém
está extinta a punibilidade do agente (CPM, art. 123); ou porque, mesmo sendo típico e
antijurídico o fato, a autoria permanece desconhecida ou mesmo a materialidade não
está suficientemente provada.
Outras vezes, o fato é típico e antijurídico, mas não caracteriza crime de
competência da Justiça Militar. Mesmo que identificado o agente, há que se remeter o
inquérito para o juízo competente (CPPM, arts. 78, b e 398).
Há casos, porém, em que a decisão de arquivamento irá fazer coisa jugada, sendo
exemplo mais claro o daquele em que o Promotor entende que o fato constante naquele
IPM está suficientemente apurado, mas não constitui crime, no que é secundado pelo
juiz. Em petição fundamentada, ele requer o arquivamento do inquérito, o juiz, também
em decisão fundamentada (CF, art. 93, IX) defere o pedido.
O Supremo Tribunal Federal já se manifestou sobre a quaestio.

Inquérito Policial. Decisão que defere o arquivamento.


Quando faz coisa julgada. CPP, arts. 16,18 e 43, I. Lei
9.099/95, art. 77, § 3º. Súmula 524/STF.
A eficácia preclusiva da decisão que defere o
arquivamento do inquérito policial, a pedido do
Ministério Público, é similar à decisão que rejeita a
denúncia e, como a última se determina em função dos
seus motivos determinantes, impedindo - se fundada na
atipicidade do feito - a propositura ulterior da ação penal,
ainda quando o denúncia se pretenda alicerçada em novos
elementos de prova"
Recebido o inquérito - ou na espécie, o termo
circunstanciado de ocorrência - tem sempre o promotor a
alternativa de requisitar o prosseguimento das
investigações, se entender que delas possa resultar a
apuração de elementos que dêem configuração típica ao
falo. (CPP, ar/. 16, Lei 9.099/95, art. 77, § 3O).
Mas, ainda que os entenda insuficientes e opte pelo pedido
de arquivamento, acolhido pelo juiz, o desarquivamento
será possível nos termos do artigo 18 da lei processual.
O contrário sucede se o promotor e o juiz acordam em
que o fato está suficientemente e apurado, mas não
constitui crime.
Aí- a exemplo do que sucede com a rejeição da denúncia
na hipótese do art. 43, I, CPP_ a decisão de arquivamento
é definitiva e inibe que sobre o mesmo episódio se venha a
instaurar ação penal, não importa que os outros
elementos de prova venham a surgir posteriormente ou
que erros de fato ou de direito hajam induzido ao juízo de
atipicidade. (HC 80.560-GO - Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, j. em 20.02.2001, TCU, 30.03.2001).

RHC. Pedido de arquivamento. Fatos novos.


Desarquivamento. Possibilidade. Inexistência de
constrangimento. Para o desarquivamento do inquérito,
a lei exige que surjam novas provas, não necessariamente
que sejam fatos novos ou supervenientes. Art. 18, do CPP
e Súmula 524/STF. Recurso improvido. (STJ – 5ª Turma -
Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini, DJU 15.08.1994, p.
20.343).
IPM. Reinstauração. Impedimento. Exceção. Há
impedimento de reinstauração de inquérito policial-
militar, em que figura o mesmo indiciado, para apuração
de fato já apreciado pela Justiça, em decisão transitada
em julgado que concluiu pela inexistência de crime. Não
obsta a renovação do procedimento iuquisitório se
surgirem novas prova em relação ao falo, ao indiciado ou
a terceiros pessoa (art. 25 do CPPM). Unânime.
(TJM/MG - HC 1.183 - Rel. Juiz Cel PM Laurentino de
Andrade Filocre, j. em 14.09.1995).
Coronel da Polícia Militar, indiciamento. Pedido de
arquivamento do inquérito policial-militar. Competência
palra decidir. Cabe ao Presidente do Tribunal de Justiça
Militar decidir sobre o pedido de arquivamento de IPM,
feito pelo Procurador de Justiça, quando este não vê
elementos suficientes para a propositura da ação penal
contra indiciado Coronel da Polícia Militar. Nesse caso,
concordando com o pedido de arquivamento do Ministério
Público, compete ao Presidente remeter os autos ao crivo
do Corregedor de Justiça Militar, órgão encarregado de
representar contra o arquivamento irregular em inquérito
ou processo, nos precisos termos do art. 498, letra b, do
Código de Processo Penal Militar. Concordando de sua
vez o Juiz Corregedor com a decisão de arquivamento,
cabe-lhe homologar o a mesma. (TJM/MG -
Representação 01 - Rel. Juiz Dr. .Juarez Cabral, data do
acórdão 08.09.1989).

Inaplicáveis as disposições da Lei 9.099/95 aos delitos


militares, não há como admitir-se pedido do Ministério
Público, no sentido de arquivamento do IPM, com fun-
damento na ausência de representação da vítima, e, em
conseqüência, o despacho judicial que o indefere e
determina a remessa dos autos ao Procurador-Geral de
Justiça, embora atacável via recurso em sentido estrito,
não merece ser modificado. ( ... ).
Embora equivocada a decisão no que nega a admissão do
recurso em sentido estrito, por economia processual,
indefere-se a correição parcial, mantendo-se o despacho
atacado e a remessa ao Procurador-Geral, de vez que, de
fato, os fundamentos do recurso em sentido foram trazidos
nos autos da correição. Unânime. (TJM/RS - Correições
parciais 794/96 a 799/96 - Rel. Juiz Cel. Antônio Cláudio
Barcellos de Abreu, j. em 27.11.1996).

DEVOLUÇÃO DE AUTOS DE INQUÉRITO


Art. 26. Os autos de inquérito não poderão ser devolvidos a autoridade policial-
militar, a não ser:
I - Mediante requisição do Ministério Público para diligências por ele
consideradas imprecindíveis ao oferecimento da denúncia;
II - Por determinação do juiz, antes da denúncia, para o preenchimento de
formalidades previstas neste código, ou para complemento de prova que julgue
necessária.
Parágrafo Único. Em qualquer dos casos, o juiz marcará prazo não excedente
de vinte dias, para a restituição dos autos.
A Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Militar deliberou
emitir informação técnico-jurídica, relativa aos diversos procedimentos adotados em
formulação de requisições, da qual se extrai o seguinte:
"Requisição de Diligências - 1. Antes do oferecimento
da denúncia - 1.1. Ao requisitar diligências consideradas
imprescindíveis, deve o Representante do Ministério
Público Militar fazê-lo, em princípio, diretamente à
autoridade militar ou civil encarregada do cumprimento,
fixando prazo para a sua conclusão. Se necessário o
encaminhamento dos autos, informar-se-á à autoridade
judiciária respectiva, através de ofício, as providências
adotadas. No caso de a requisição à autoridade militar ou
civil ser feita por meio de ofício, requerer-se-á ao juízo
respectivo a juntada deste e a abertura de vista dos autos
no prazo assinado para a realização das diligências. - 1.2.
Não é cabível dirigir requisição de diligências ao Juiz-
Auditor junto ao qual oficie. Entendendo conveniente à
instrução do feito encaminhá-las à autoridade militar ou
civil, através do juízo, recomenda-se destacar
expressamente o destinatário final- a autoridade militar ou
civil -de forma a não suscitar qualquer interpretação
equívoca acerca de a quem incumba realizar as
diligências. Como sugestão, segue fórmula referente à
hipótese em comento: "MM Juiz-Auditor, Tendo em vista
a necessidade de realização de diligências que considero
imprescindíveis ao oferecimento da denúncia, cujo
fazimento requisito ao (Sr. Cel Cmt do 107 BIMTZ);
Solicito a V. Exa., remeter os presentes autos àquela
autoridade militar, para no prazo de ... dias atender a
diligência adiante enumerada: / - Exame de Corpo de
Delito Indireto; II - Laudo Pericial do local de
arrombamento; III - Omissis etc. "". (CCRMPM,
Informação Técnico-Jurídica n. 01/95).

Correição Parcial. Ilegalidade de despacho de juiz-


auditor que indeferiu requisição do MPM a outra
autoridade. Falece competência legal ao juiz-auditor,
ainda mais por não ter sido o juízo provocado a examinar
o mérito da requisição. O Ministério Público tem a função
institucional de instaurar IPM, a teor do inc. VIII do art.
129 da Carta Fundamental. Aplicação também da letra 'c'
do art. 10 do CPPM. Por unanimidade, o Tribunal deferiu
a correição parcial requerido pelo MPM para, cassando o
r. despacho do juiz-Auditor, determinar o envio dos autos
à OM para a instauração do competente IPM. (STM -
Correição parcial 1993.01.001 420-1/PE - Rel. Min. Jorge
José de Carvalho, j. em 06.05.1993, DJU 16.06.1993).

DILIGÊNCIAS REQUISITADAS PELO JUIZ AO ENCARREGADO


DO IPM
O inc. II do art. 26 do CPPM permite ao juiz requisitar diligências diretamente ao
encarregado do inquérito, durante a fase de investigação, dirigidas ao preenchimento de
formalidades legais ou “para complemento de prova que julgue necessária".
Tal procedimento, em nosso modo de sentir, na esteira de Carlos Frederico
Coelho Nogueira (2002:387), atenta contra a imparcialidade que deve marcar a atuação
jurisdicional.
As atribuições do Juiz Federal da Justiça Militar estão exaustivamente previstas
no art. 30 da LOJMU, nela não se encontrando quaisquer atividades de investigação
posto que incompatíveis com a Magistratura.
A esse respeito, pondera Eugênio Pacelli de Oliveira:

configuram, portanto, vícios possíveis de nulidades


absolutas, as violações aos princípios fundamentais do
processo penal, tais como o do Juiz Natural, o do
contraditório e da ampla defesa, o do imparcialidade do
Juiz, a exigência de motivação das sentenças judiciais
etc., implicando todas elas a nulidade absoluta do pro-
cesso.
E não só quando se tem violação a princípios
expressamente acolhidos na Constituição é que se poderá
falar de nulidade absoluta. Há outros a serem inferidos do
sistema de garantias constitucionais. que, embora não
explicitados, integram a estrutura do novo modelo
processual penal brasileiro, ainda que como decorrência
lógica daqueles expressamente assegurados.
Um exemplo do que vem de se afirmar: a instituição do
Juiz Natural e da reserva da função acusatória ao
Ministério Público tem como conseqüência a
reformulação do sistema inquisitorial do CPP de 1941
(incluímos o CPPM de 1969), de modo a poder falar-se na
instituição de um modelo acusatório público, no qual fica
o Juiz. afastado das funções investigatórias e da iniciativa
de propositura da ação penal. Haverá nulidade absoluta
quando a atividade estatal dos citados órgãos públicos
ultrapassar os limites das funções a ele reservada na
Constituição da República. É o que ocorrerá nas
hipóteses de atividades investigatórias desenvolvidas pelo
Juiz da causa na fase pré-processual. É necessário, como
em qualquer outro de nulidade absoluta, repita-se,
afetação de interesses eminentemente públicos, atinente à
validade da função jurisdicional. isto é, de atividade
essencial do Poder Público, daí resultando a nulidade
absoluta do processo. ainda que já submetido aos efeitos
da coisa julgado. (2004:781/782).
O exemplo mais atual de rechaço à possibilidade de o juiz proceder a
investigações ao seu talante, ou dar orientações aos órgãos envolvidos na apuração do
delito no processo ou do indiciado na investigação, ocorreu com o julgamento, pelo
Supremo Tribunal Federal, da Ação Declaratória de Inconstitucionalidade 1.570,
julgada em 12.02.2004, quando a Excelsa Corte declarou inconstitucional O art. 3° da
Lei 9.034, de 03.05. 1995, que dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a
prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. O referido art.
3° permitia ao juiz de Direito ampla investigação nos casos do art. 2°, III, da mesma lei.
Interessa sublinhar, no texto do voto do e. Rel. Min. Maurício Correa, o seguinte:

"O art. 3º criou um procedimento excepcional, não


contemplado na sistemática processual penal
contemporânea, dado que permite ao juiz colher
pessoalmente provas que poderão servir, mais tarde,
como fundamento fático-jurídico de sua própria decisão"
... Ninguém pode negar que o magistrado, pelo simples
fato de ser humano, após realizar pessoalmente as
diligências, fique envolvido psicologicamente envolvido
com a causa, contaminando sua imparcialidade ..." "A
neutralidade do juiz é essencial, pois sem ela nenhum
cidadão procuraria o Poder Judiciário para fazer valer
seu direito ".

SUFICIÊNCIA DO AUTO DE FLAGRANTE DELITO


Art. 27. Se, por si só, for suficiente para elucidação do fato e de sua autoria, o
auto de flagrante delito constituirá o inquérito, dispensando outras diligências, salvo
o exame de corpo de delito no crime que deixe vestígios, a identificação da coisa e sua
avaliação, quando o seu valor influir na aplicação da pena. A remessa dos autos, com
breve relatório da autoridade policial-militar, far-se-á sem demora ao juiz competente
nos termos do art.20.
A parte final do presente dispositivo diz respeito à diligências que ainda não
foram concluídas (ex. perícias, oitiva de pessoa que estava enferma, etc.) e que, tão logo
se ultimem, devem ser remetidas com breve relatório para a autoridade justiça militar
para o acostamento ao APF.
O procedimento legal a ser seguido por ocasião da prisão em flagrante está
discriminado a partir do art. 243 e seguintes do CPPM, resguardados, é óbvio, os
direitos constitucionais do preso.
Se os autos de prisão em flagrante - APF - forem suficientes por si só (v.g., prisão
em flagrante por porte de maconha no quartel, com a devida apreensão da droga e seu
exame de mera constatação concomitantemente ao envio do material para laudo
definitivo, garantia dos direitos constitucionais, oitiva do condutor, do preso e
testemunhas se houver), fica a toda evidência, dispensado o IPM, já que este tem por
finalidade investigar o delito e quem seja seu autor, o que, no caso do APF suficiente já
se encontra investigado.
Todos os laudos dos exames requisitados serão encaminhados a posteriori para a
Auditoria, com breve relatório, a fim de serem juntados ao processo.
Igualmente se diga em relação à coisa que não puder ser identificada e avaliada de
imediato.

DISPENSA DE INQUÉRITO
Art. 28. O inquérito poderá ser dispensado sem prejuízo das diligências
requisitadas pelo Ministério Público:
a) quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos por documentos ou
outras provas materiais;
b) nos crimes contra a honra, quando decorrerem de escrito ou publicação, cujo
autor esteja identificado;
c) nos crimes previstos nos arts. 341 e 349 do Código Penal Militar.
O Inquérito não é conditio sine qua non para o oferecimento da denúncia.
Conquanto a maioria das ações penais tenha por base o inquérito policial-militar, a
denúncia pode ser ofertada em face de uma sindicância administrativa, de uma
diligência investigatória requisitada pelo próprio Ministério Público, ou quando tanto o
fato como sua autoria estejam esclarecidos por documentos ou outras provas materiais.
O conceito de documento está no art. 371 deste Código.
Nos crimes contra a honra previstos no Código Penal Militar (calúnia, art. 214;
difamação, art. 215; injúria, art. 216; injúria real, art. 217), o inquérito será dispensado
se a ofensa constar de escrito ou publicação, como panfletos, livros, revistas, ou mesmo
uma carta endereçada ao ofendido, desde que o autor esteja devidamente identificado.
Em razão de a ação penal militar ser sempre pública, os crimes contra a honra
dispensam queixa ou representação.
Dispensa, igualmente o inquérito, o cometimento do crime de desacato à
autoridade judiciária militar (CPM, art. 341), no exercício de sua função ou em razão
dela, ou seja, contra o juiz militar togado no recinto da Auditoria ou, contra o juiz
militar togado e os juízes sabres quando reunidos e integrando o Conselho de Justiça.
Nesse caso, a competência para autuar em flagrante é do Presidente do Conselho de
Justiça, nos termos do art. 29, inc. IV, da Lei 8.457/92 LOJMU, remetendo-se em
seguida o APF para o Ministério Público.
Diferentemente, na JME a competência para autuar em flagrante é do Juiz Militar
Estadual (ele é o Presidente do Conselho de Justiça), de acordo com a LOJE-PB (art.
190, II e III).
OBS. No caso do Juiz Militar Estadual autuar em flagrante alguém, deverá ser
substituído por outro, quando do processamento e julgamento do respectivo processo.
Por fim, o cometimento do crime de desobediência à decisão judicial (CPM, art.
349) também dispensa o inquérito, bastando para oferecimento da denúncia a ordem
judicial, dirigida a destinatário determinado e a certidão de sua desobediência a ser
lavrada pelo serventuário da Justiça com fé pública.

VÍCIOS DO INQUERITO POLICIAL-MILITAR


O inquérito policial-militar é a apuração sumária de fato considerado como crime
militar, caracterizando-se como atividade investigatória.
Sua finalidade é a de fornecer ao Ministério Público os elementos necessários para
o oferecimento da denúncia.
Como explicitado acima, em várias situações o IPM poderá ser dispensado, o que
nos leva a concluir que eventuais vícios decorrentes de seu desenrolar não irão afetar o
processo penal-militar no qual a denúncia já foi recebida pelo juiz. Trata-se de mera
irregularidade, convalescida pela instauração do processo.

Fuga de preso (CPM, art. 178). Imprestabilidade das


provas. Vícios. Fase extrajudicial. É entendimento pacífico
entre os doutrinadores e em nossa jurisprudência que os
vícios acaso existentes no inquérito não afetam a ação
penal a que deu origem por aquele representar mero
procedimento informativo.
No mérito. decisão condenatória firmada no princípio do
livre convencimento do juiz tomada pela livre apreciação
das provas colhidas nos autos. Apelo improvido.
Unânime. (STM - Apelação 2002.01.049103-1-SP - Rel.
Min. Domingos Alfredo Silva, sessão de 03.12.2002).
Habeas corpus. Nulidade de IPM, de ação penal e de
Conselho de Disciplina. Alegado constrangimento ilegal.
Receio de perda da função pública. Ordem denegada.
Tendo o IPM dado origem à denúncia, já recebida,
iniciada a ação penal 1ª Auditoria não cabe ao Tribunal,
mormente pela via do habeas corpus, examinar alegação
de nulidade, sob pena de supressão de instância.
A submissão de praça ao Conselho de Disciplina é
atribuição legal dos comandos militares Não cabe à
Justiça Militar interferir no exercício dessa atribuição, na
estreita via do habeas corpus, e examinar causa de
nulidade de ato administrativo em decorrência da alegada
nulidade de IPM e alegado cerceamento de defesa.
Unânime. (TJM/MG - HC 1.323, Rel. Juiz José Joaquim
Benfica, j. em 18.06.2002, O Minas Gerais (de
13.08.2002).

DETALHES PROCESSUALÍSTICOS PARA EVITAR ERROS DE


ELABORAÇÃO (REGRAS GERAIS):
a) O IPM não poderá ser encadernado (usar espiral): Deve-se se usar o fixador
removível e perfuração do papel em dois pontos, à esquerda da folha;
Obs. A JME ainda não adotou PJE (Processo Judicial Eletrônico).
b) O investigado (acusado), no final do IPM pode vir a ser designado indiciado
(quando presentes indícios de que tenha cometido o delito). Ofertada a denuncia pelo
MPM, o indiciado passa a condição de denunciado, aceita a denúncia pelo juiz, na fase
judicial, é designado de réu.
Obs.: O IPM pode iniciar e terminar sem investigado, ou iniciar sem investigado e
terminar com o indiciamento de alguém.
c) Aplicando-se analogicamente o artigo 161 do Código de Processo Civil (CPC),
é vedado aos oficiais e escrivães de Inquérito Policial Militar o lançamento de “cotas”
e/ou marcações nos autos, ou seja, sublinhar ou marcar com caneta destaca-texto;
d) De acordo com o artigo 11 do Código de Processo Penal Militar, não se deve
nomear para escrivão, oficiais do posto superior ao de tenente. O correto será (1º, 2º
tenente, sub-tenente ou sargento) (Obs. Não gera nulidade se nomear acima de
Tenente);
e) O oficial encarregado do Inquérito Policial Militar não poderá ser de posto
inferior ao do indiciado. Não sendo possível a designação de oficial de posto superior ao
do indiciado, poderá ser feita a de oficial do mesmo posto, desde que mais antigo;
f) Quando o Inquérito Policial Militar atingir 200 (duzentas) folhas deve-se abrir
novo volume;
g) Nos termos do artigo 391 do Código de Processo Penal Militar, deverão ser
juntado aos autos do Inquérito Policial Militar apenas o extrato dos assentamentos dos
militares estaduais e não de forma integral;
h) É entendimento pacífico que nos termos do artigo 20 do Código de Processo
Penal Militar, o início da contagem do prazo para o encerramento do Inquérito Policial
Militar data do recebimento da portaria de designação;
i) O pedido de prorrogação de prazo deve ser devidamente motivado e realizado
antes de findarem os 40 (quarenta) dias, a contar da data da portaria de instauração
(portaria do encarregado), como medida de segurança;
j) Não prestarão compromisso os menores de 14 anos e os doentes, inclusive os
mentais, nem as pessoas elencadas no artigo 354 do Código de Processo Penal Militar
(parentes em geral, o cônjuge ou ex-cônjuge);
k) Lacrar-se-á o volume do Inquérito Policial Militar com os seguintes dizeres:
material apreendido em poder de (especificar a pessoa), conforme auto de busca e
apreensão de fl. _____.
l) Observar se todas as folhas foram numeradas e rubricadas pelo escrivão;
m) Evitar rasuras nas folhas numeradas;
n) O encarregado deve utilizar, se possível, papel de um só tamanho em todo o
Inquérito Policial Militar. Se for anexar recibo ou outros documentos de tamanho menor
ao da folha utilizada no procedimento, deverá colar o documento na folha de tamanho
padrão colocando o termo “Em Branco” nas partes não preenchidas;
o) Cuidado com as falhas de digitação e os erros de português;
p) O relatório deverá ser datado e assinado pelo encarregado;
q) Quando o militar estadual for punido, juntar aos autos o boletim que publicou o
enquadramento disciplinar;
r) Antes de encaminhar o Inquérito Policial Militar, o encarregado tem a
obrigação de observá-lo minuciosamente, para se certificar de que não faltaram
assinaturas, rubricas e/ou documentos a serem apresentados posteriormente, através de
ofício;
s) Antes de remeter o Inquérito Policial Militar a autoridade nomeante, o escrivão
deverá certificar-se que não faltam assinaturas dentro do procedimento inquisitorial;
t) Quando forem solicitados laudos (perícias, exames, etc), e estes não chegarem
até o final do prazo, deverá ser informado no relatório de que serão encaminhados
posteriormente.

EXEMPLO DE UM SEQUÊNCIA DE ATOS EM UM IPM:

1. CAPA;
2. TERMO DE ABERTURA DE VOLUME;
3. AUTUAÇÃO;
4. PORTARIA;
5. DESIGNAÇÃO DE ESCRIVÃO;
6. COMPROMISSO DE ESCRIVÃO;
7.CONCLUSÃO;
8. DESPACHO;
9. RECIBO, CERTIDÃO E JUNTADA;
10. OF. 001-2014-IPM (OITIVAS);
11. TERMO DE INQUIRIÇÃO (DECLARAÇÃO) DO OFENDIDO (VÍTIMA);
12. TERMO DE INQUIRIÇÃO DO ACUSADO (TERMO DE DECLARAÇÃO DO
ACUSADO, TERMO DE PERGUNTAS AO INDICIADO; AUTO DE
QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO DO INDICIADO);
13. TERMO DE INQUIRIÇÃO (OITIVA) DE TESTEMUNHA (DECLARAÇÃO);
14. OF. 015-2014-IPM-PRORROGAÇÃO;
15. TERMO DE ENCERRAMENTO DE VOLUME;
16. TERMO DE ABERTURA DE VOLUME (QUANDO O IPM FOR EXTENSO,
MUITOS ATOS);
17. ...;
18. RELATÓRIO;
19. TERMO DE ENCERRAMENTO DE VOLUME;
20. OF. 030-2014-IPM (REMESSA)
21. SOLUÇÃO DO IPM (FEITA PELA AUTORIDADE DELEGANTE).
Obs. O reconhecimento de pessoas, coisas, acareações, exame de corpo de delito,
perícias, avaliações identificação de coisa, buscas, apreensões, medidas destinadas à
proteção de testemunhas, peritos, ofendido (quando se fizer necessários), bem como a
Reconstituição dos fatos, são medidas que devem ser tomadas quando necessárias e no
decorrer do IPM, ou seja, de acordo com oportunidade e conveniência da instrução dos
autos.

Obs. Na oitiva das pessoas, a expressão “Aos costumes, disse nada”: cuja frase
completa é «Prestou o juramento legal e aos costumes disse nada», significa que jurou
dizer a verdade e declarou ao tribunal que não tinha qualquer parentesco, afinidade
especial ou conflito em relação a nenhuma das partes (acusado e vítima). Se o tiver,
então isso terá de ficar registado nos autos, e já não se escreverá a expressão «disse
nada», mas, por exemplo, «disse ser tio do réu».

ORDEM FORMAL DAS PEÇAS BÁSICAS DE UM IPM:


1. Autuação – são autuados no processo todos os itens em ordem cronológica
2. Portaria do Encarregado
3. Portaria do delegante - Delegação de poderes -
4. Documento(s) que noticia(m) o fato, e anexo
5. Designação do escrivão
6. Termo de compromisso do escrivão ( o escrivão e o encarregado assinam)
7. Certidão - certifica que o termo acima foi providenciado
8. Conclusão - que poderá ser junto da certidão, conclui as ordens dadas até então. E
vai para o encarregado que despachará novas ordens.
9. Despacho – ordens para que o escrivão providencie determinados documentos, ou
que venha a indiciar determinado militar, etc.
10. Recebimento – o escrivão recebe os autos do encarregado com as novas ordens... e
deve ainda certificar que tudo foi providenciado conforme ordens.
11. Conclusão e mais o art. 22 do CPPM
12. Relatório - neste o encarregado dá sua conclusão
13. Remessa ( art. 23 CPPM)
14. Solução do IPM ( art. 22 §1º CPPM) – manifestação do Cmt (autoridade judiciária)
acerca do IPM. Na prática, no caso da PMPB, efetuada pela Corregedoria (Geral ou da
OPM), que examina o aspecto formal e o mérito do IPM, e depois é assinada pelo Cmt
(Geral ou de Unidade).

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