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Rev. Inst. Med. trop. Sto Paulo 36 (5): 459-403, setembro-outubro, 1994, HISTOPATOLOGIA DA FORMA LOCALIZADA DE LEISHMANIOSE CUTANEA POR LEISHMANIA (LEISHMANIA) AMAZONENSIS Miro A. P. MORAES & Fernando. SILVEIRA RESUMO Siio descritas as alteragdes microscépicas presentes na forma localizada (ulcerada) da Leishmaniose cutinea produzida por Leishmania (Leishmania) amazonensis. Nesse tipo de manifestagio, menos conhecido do que a forma anérgica ou difusa devida ao mesmo agente, as lesbes so clinicamente ‘dénticas as de leishmaniose cutinea causada por espéci sub s outras de Leishmania, pertencentes 20 ero Viannia, Na infeesao localizada por L. (L.) amazonensis, entretanto, hi um aspecto peculiar, s6 recentemente conhecido, ou seja, cerea de 50% dos individuos atingidos nio reagem ao teste de Montenegro. A principal caracteristica histologica observada foi a acumulagio na derme, quase sempre focal, de numerosos macréfagos contendo no citoplasma um grande vactiolo cheio de amastigotas. O quadro & semelhante a0 da forma difusa, porém sem o aspecto histiocitomatdide, proprio da Ultima. Afora esses grupos de mactéfagos, véem-se também, na forma localizada, muitas ‘élulas mononucleares da inflamagio, principalmente plasmécitos e macr6fagos nio parasitados. Os aciimulos de macréfagos com amastigotas, quando volumosos, podem sofrer necrose na parte central; 1 parasitos, contidos nas células, so destruidos com elas ou liberados, ¢ sua eliminagio através da lilcera deve contribuir para a cura do processo. Esse tipo de necrose nunca foi descrito em casos da forma difusa. Nio houve grande diferenga, no quadro histolégico, entre pacientes Montenegro- negativos e positivos. Apenas em alguns casos, do grupo Montenegro-positivo, havia granulomas formados por histidcitos epitelidides sem parasitos. Quanto a persisténcia das células com parasitos nas leses, observou-se que aos seis meses ou mais de evolugdo, em ambos os grupos, ainda estavam clas presentes. Tal achado no é comum na leishmaniose tegumentar por J. (¥,) braziliensis. UNITERMOS: Leishmania. Leishmania mexicana amazonensis; Leishmania (Leishmania) amazonensis; Leishmaniose cutinea localizada; Histopatologia da leishmaniose. INTRODUGAO Das trés espécies principais de Leishmania causa- doras de leishmaniose tegumentar humana no Brasil - Leishmania (Viannia) brasiliensis, Leishmania (Vian- nia) guyanensis € Leishmania (Leishmania) amazo- nnensis -, apenas L. (L.) amazonensis tem sido encontrada em associagio com a chamada forma anérgica ou difusa Instituto Evandro Chagas - FNS/MS - Belém, Peri, Brasil da doenga, um tipo de manifestagio pouco freqiiente ¢ de cura dificil. A partir das primeiras observagSes sobre essa forma clinica, ficou mesmo a impressio de que L. (L) amazonensis, por sua natureza, sempre determinaria © tipo difuso de infecgdo nos induviduos afetados. Pos- teriormente, no entanto, foi ela também isolada de casos Endereso para correspondénela: FemandoT. Sliven, lstituto Evandro Chapss, Av, Almirante Rarraso, 492, Caixa Postal 1128, 66090-000 Belém, Pri, Brasil 459 MORAES, MA. & SILVEIRA, E:T. -Histepatologia deforma local Inst, Med, trop. S. Paulo, 36 (5):459-463, 1994. nda de Ieishmaniosecutinea por Leishmania (Leishmania) amazonenss. Rev. a forma cuténea localizada (ulcerada), por LATNSON et al. ?e SILVEIRA et al. *, 0 que veio indicar nio ser tio escasso, como a principio admitido, seu parasitismo no homem. Ainda assim, nfo é comum a infecgio por Z. (L,) amazonensis, fato relacionado por SILVEIRA et al. * 0s hibitos do vetor - Lutzomyia (Nyssomyia) flavis- ceutellata: além de zodfilo, tem ele atividade estritamen- te notuma. Outros fatores limitantes seriam o hat dessa espécie - florestas ‘imidas e alagadas - e uma variago sazonal na quantidade de femeas, a qual res- tinge a uma parte do ano - durante a estagio seca - a possibilidade de transmissio do agente, Curiosamente, nos casos da forma cutinea localiza~ da por L, (L.) amazonensis, cerca de 50% dos pacientes apresentaram-se negatives a intradermorreagio de Montenegro. LAINSON et al. *, em uma série de 26 pacientes, cencontraram 15 (57,6%) negativos, afora 6 (23,1%), cuja resposta foi tida como duvidosa. SILVEIRA et al. , em 62 casos, diagnosticados de 1986 a 1990, constataram 30 (48,3%) negativos; no mesmo periodo, dentre 116 pes- soas com infecgao por outras espécies de Leishmania, observaram eles apenas 15 (13%) negativas a reagio de Montenegro. © resultado da intradermorreasio parece no ter influéncia sobre a evolugio da doenca; todos os pacien- tes de SILVEIRA et al. §, & excegdo de um que nio aceitou a medicacio proposta, foram tratados com Glucantime, intravenosamente, ¢, embora alguns casos tivessem exigido de duas a trés séries, todas as lesbes acabaram por cicattizar, no ocorrendo evoluio para a forma difusa. Por outro lado, nenhum deles apresentou recidiva dentro do prazo de um ano apds a cura da esaparecem junto zona de nerose, 4 esquerda, na qual anda se véem restos dos parasites. 4003. 460 doenga. © paciente que recusou 0 tratamento, € nio permitiu a bidpsia, ao ser reexaminado, tinha também as lesdes jé cicatrizadas - segundo afirmou - esponta- neamente. Sua resposta ao teste de Montenegro era positiva Devido a essas peculiaridades, procurou-se, no pre- sente trabalho, estudar a histopatologia dos casos de infecgio localizada por L. (L.) amazonensis; além de definir as principais caracteristicas do quadro microscé- pico, tentou-se estabelecer as proviveis diferengas exis- tentes entre este, o da forma difusa e 0 da infecgio causada por L. (V.) braziliensis. MATERIAL E METODOS © estudo compreendeu material de 33 casos da forma cutdnea ulverada, por L. (L,) amazonensis, sendo que 28 faziam parte da série de SILVEIRA et al. °. Dos 33 pacientes, 25 pertenciam a0 sexo masculino e 8 20 feminino, O tempo de evolugio variou de um a dez meses, € quanto 2 intradermorreagio de Montenegro, havia 17 (51,5%) negatives e 16 (48,5%) positivos. Para cada sexo, 0 niimero de positivos ¢ de negativos foi aproximadamente igual. A idade se estendeu de 8 a 65 anos; nos individuos com menos de 20 anos pre- dominou a resposta negativa ao teste de Montenegro (8/ 11) e nos maiores de 20, a resposta positiva (13/22), diferenga, entretanto, no significativa. A maioria dos pacientes tinha somente uma tlcera; apenas um jovem de 17 anos apresentou sete lesdes - € uma resposta a0 teste de Montenegro de 13 mm, a mais forte encon- trada, Tal como acontece na forma difusa da doenga, a resposta humoral, na forma localizada, nio sofre maior alteragio, Os titulos de anticorpos da classe IgG, usan- do-se testes de imunofluorescéncia, variaram de 1/80 a 17640, em 11 individuos que foram assim testados. Na caracterizagdo da espécie do parasito, levou-se em conta: a) a morfologia dos amastigotas em esfre- gagos; b) 0 desenvolvimento dos microrganismos na pele de hamsters e em meio de cultura (agar-sangue); ©) a eletroforese de enzimas; e d) a reagio a anticorpos monoclonais para promastigotas de L. (L.) amazo- ‘As bidpsias, para fins de exame histol6gico, foram praticadas com “punch” de 6 mm, na margem das lesdes, sob anestesia local, e os fragmentos obtidos, apas fixa- MORAES, MA.P. & SILVEIRA, FT -Histopstologa da forma localiza de leishmaniooecutines por Leishmania (Leishmania) amazonensis. Rev. Inst, Med. trop. S. Paulo, 36 (5): 9-463, 1994,

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