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Brinquedo terapêutico instrucional: preparando a criança para a


quimioterapia endovenosa

Article · August 2020

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3 authors, including:

Anajás Cantalice
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
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Sumário/Contents
editorial / editorial

841 Editorial

Artigos originais / Original Articles

843 Repercussões da implantação de um núcleo interno de


regulação de leitos no processo de trabalho de enfermeiros
Repercussions of implementation of an internal regulation core in
the nursing work process

Luciane Cristine Ribeiro Rodrigues, Patrícia Ribeiro Mattar Damiance,
Shirlene Pavelqueires, Wilza Carla Spiri, Carmen Maria Casquel Monti Juliani

861 Qualidade de vida dos cuidadores de crianças de 0 a 12


anos atendidas na clínica de terapia ocupacional
Quality of life of caregivers of children from 0 to 12 years attended
in the occupational therapy clinic
Tamiris Fernanda Sorratini, Juliana Vechetti Mantovani Cavalante, Lyana
Carvalho e Sousa, Solange de Oliveira Braga Franzolin, Cristina Maria
da Paz Quaggio

881 Qualidade de vida de protetizados de membro inferior


Quality of life of protected lower members
Tamiris Costa Lourenço, Cristina Maria da Paz Quaggio, Gabriel Rampazzo
Rodrigues, João Honorato Neto, Luis Henrique Simionato, Maria Amélia Ximenes

899 Níveis pressóricos de hipertensos e normotensos após sessão


de fisioterapia em solo e hidroterapia
Blood pressure levels of hypertensive and normotensive individuals
after physical therapy and hydrotherapy session

Daiane Kelle S. Silva, Elisabete Aparecida Braga, Lucas Lima Ferreira
Atividade antitumoral da melatonina sobre o tumor
911
de Ehrlich implantado em camundongos Swiss
Melatonin antitumor activity on the Ehrlich tumor implanted
in Swiss mice
Danielle Dutra Pereira, Wanessa Noadya Ketruy de Oliveira, Priscila
Maria do Santos Oliveira, Laíse de Souza Elias, Jeine Emanuele Santos da
Silva, Thaís Heloise da Silva Almeida, George Chaves Jimenez, Joaquim
Evencio Neto

Potencial de cicatrização da Psidium guajava e Myrciaria


939
cauliflora em feridas cutâneas: avaliação histológica em
estudo de modelo experimental
Potential healing of Psidium guajava and Myrciaria cauliflora
in skin wounds histological evaluation in experimental
model study
Jéssica Maria Gomes de Faria, Analina Furtado Valadão, Leonardo Ramos
Paes de Lima, Patrícia Gonçalves da Motta, Juan Fillipe da Siva Monteiro,
Raquel Alves Costa, Jaqueline Melo Soares

Avaliação da atividade antifúngica dos extratos etanólicos


959
do melão-de-são-caetano (momordica charantia l.) Frente a
diferentes espécies de candida
Evaluation of the antifungal activity of ethanolic extracts of the
bitter melon (Momordica Charantia l.) Against different species
of candida
Thauana Sanches Paixão, Márcia Aparecida Nuevo Gatti, Geisiany
Maria de Queiroz-Fernandes, Márcia Clélia Leite Marcelino, Fernando Tozze
Alves Neves, Bruno Fernando da Silva

977 Avaliação da equivalência farmacêutica de comprimidos de


ibuprofeno por meio do teste perfil de dissolução
Evaluation of the pharmaceutical equivalence of ibuprofen tablets
by dissolution profile test
Caroline Caldas, Fernando Tozze Alves Neves

987 Brinquedo terapêutico instrucional: preparando a criança


para a quimioterapia endovenosa
Instructional therapeutic toy: preparing child for intravenous
chemotherapy
Valeska Silva Souza Santos, Fernanda Lucia da Silva, Anajás da Silva
Cardoso Cantalice
1001 O impacto positivo na promoção de saúde bucal em
jovens adolescentes
The Positive Impact on Oral Health Promotion in Young
Adolescents
Jéssica Cristina Braz dos Santos, Karolyn Sales Fioravanti, Karin Cristina
da Silva Modena, Camila Lopes Cardoso, Thiago Amadei Pegoraro, Patrícia
Pinto Saraiva, Joel Ferreira Santiago Júnior

Atividade física de aventura na natureza (afan) nas aulas


1019
de educação física do ensino fundamental i:
uma perspectiva cultural
Physical activity of adventure in nature (afan) in classes of
physical education of elementary school: a cultural perspective
Vinicius Aparecido Galindo, Jederson Garbin Tenório

relato de caso / case report

1039 Reabilitação oral com prótese total em paciente prognata:


relato de caso
Julia de Oliveira dos Santos Cavestro, Daniela Porto da Cunha

1061 Abordagem cirúrgica de lesões vasculares da cavidade oral


Surgical approach of vascular lesions in the buccal cavity
Thiago Ballalai Lopes, Nathalia de Souza Oliveira, Letícia Fantin Ferreira,
Maria Flávia Milagre Rodrigues, Andréia Aparecida da Silva, Paulo Domingos
Ribeiro-Júnior, Camila Lopes Cardoso

1075 Tratamento da má oclusão de classe ii assimétrica com


propulsor mandibular
Treatment of an asymmetrical class ii malocclusion with
mandibular protraction appliance
Renan Morais Peloso, Renata Cristina Gobbi De Oliveira, Ricardo Cesar
Gobbi De Oliveira, Karina Maria Salvatore Freitas, Fabricio Pinelli Valarelli.
ARTIGO
DE REVISÃO / REVIEW ARTICLES

1093 Terapia fotodinâmia como coadjuvante no tratamento


da osteonecrose dos maxilares associada ao uso de
medicamentos (omam)
Photodynamic therapy as a coadjuvant in the treatment of
medication-related osteonecrosis of the jaw (mronj)
Smyrna Luiza Ximenes de Souza, Manoel Pereira de Lima, José Almeida
de Lima Júnior, Ruth Venâncio Fernandes Dantas, Raimundo Euzébio
da Costa Neto

Repercussão da anquiloglossia em neonatos:


1107
diagnóstico, classificação, consequências clÍnicas
e tratamento
Repercussion of ankyloglossia in neonates: diagnosis,
classification, clinical consequences and treatment.
Érica Maria Gomes de Arruda, Fernanda Campos, Rodrigo Gadelha
Vasconcelos, Marcelo Gadelha Vasconcelos

1127 Os efeitos das metaloproteinases da matriz extracelular -


mmps e clorexidina no mecanismo de adesão dentária
The effects of metaloproteinases of the extracellular matrix -
MMPs and chlorexidine in the dental adhesion mechanism
Ayala Formiga Medeiros, Wellinton Venâncio Avelar, Dayannara Alípio
da Silva Lima, Andreza Mirelly de Queiroz, Fernanda Campos, Rodrigo
Gadelha Vasconcelos, Marcelo Gadelha Vasconcelos

Abordagem das técnicas diagnósticas da dtm como uma


1151
doença biopsicossocial: uma revisão de literatura
Approach of diagnostic techniques of the DTM as a
biopsychosocial disease: a literature review
Geovanna Caroline Brito da Silva, Marcelo Gadelha Vasconcelos,
Rodrigo Gadelha Vasconcelos
Editorial

No quarto e último número de 2019 temos a satisfação de


apresentar uma variedade de artigos originas, relatos de caso e
revisões que, certamente, irão satisfazer nossos leitores em seu
desejo de variedade e qualidade.
Seguindo sua linha editorial multidisciplinar e aberta à produção
da universalidade acadêmica, apresentamos neste número um
conjunto importante de tópicos na área das ciências biológicas e da
saúde. Iniciamos com um muito útil relato de experiência gerencial
em saúde envolvendo a implantação de um núcleo de regulação de
leitos no processo de trabalho de enfermeiros em um importante
hospital especializada na área de reabilitação física. Em seguida,
as questões da qualidade de vida são examinadas em dois grupos
distintos, mas muito enriquecedores para o conhecimento dessa
área: cuidadores de crianças e pessoas protetizadas de membro
inferior. Na área da fisioterapia, o próximo artigo discute os níveis
pressóricos de hipertensos e normotensos após hidroterapia.
Após, a atividade antitumoral da melatonina é discutida quando
experimentada em tumor de Ehrlich implantado em camundongos
swiss. Muito atual e importante é a discussão sobre o potencial
de cicatrização da Psidium guajava e da Myrciaria cauliflora em
feridas cutâneas, o que nos é apresentada através de avaliação
histológica em modelos experimentais. Da mesma forma, lemos
sobre a avaliação da atividade antifúngica dos extratos etanólicos
do melão Momordica charantia L. em face a diferentes espécies
de cândida. Um outro artigo nos remete a avalição da equivalência
farmacêutica de comprimidos de ibuprofeno por meio do teste de
perfil de dissolução. Um problema atual, de interesse e prevalente
é o cuidado da criança sob quimioterapia. O assunto é muito bem
abordado no artigo que discute o papel do brinquedo terapêutico
instrucional como preparação para a quimioterapia endovenosa. Da
mesma forma, o impacto positivo da promoção em saúde bucal nos é
apresentado por um estudo em grupo de muito interesse para o tema,
isto é, os adolescentes. Por fim, no grupo de artigos originais, temos
um interessante relato da atividade física de aventura na natureza

841
(AHAN) nas aulas de educação física do ensino fundamental, em Editorial
termos de sua perspectiva cultural.
Passamos, então, a relatos de casos, iniciando com a reabilitação
oral com prótese total em paciente prognata, a abordagem cirúrgica
de lesões vasculares na cavidade oral e o tratamento da má oclusão
classe II assimétrica com propulsor mandibular. Todos os casos são
de muito interesse e a abordagem dos autores nos permite ampliar a
visão sobre cada um dos tópicos em estudo.
Com política editorial, continuamos a prestigiar as revisões
de literatura como forma de oferecer aos nossos leitores uma
visão analisada, atualizada e prática sobre importantes áreas do
conhecimento em saúde e biologia. Neste número trazemos a
questão da terapia fotodinâmica como coadjuvante no tratamento
da osteonecrose dos maxilares associada ao uso de medicamentos
(OMAM), a repercussão da anquiloglossia em neonatos em seus
aspectos diagnósticos, classificatórios, suas consequências clínicas
e tratamento. Da mesma forma, podemos ler sobre os efeitos das
metaloproteinases da matriz extracelular – MMPS e clorexidina nos
mecanismos de adesão dentária e, por fim, a abordagem das técnicas
diagnósticas da DM como uma doença biopsicossocial, através de
uma revisão de literatura.
Ficamos muito satisfeitos em poder concluir mais um
volume de SALUSVITA com um conjunto robusto de artigos
e contribuições que vem, certamente, agradar a nossos leitores
e contribuir para ampliar o conhecimento na área das ciências
biológicas e da saúde, meta que nos propomos há mais de 20 anos
enquanto editor. Para tal, importante o apreço, confiança e alto
interesses de nossos autores que sempre prestigiaram e continuam
a prestigiar este importante periódico, aos quais deixamos nosso
mais reconhecido agradecimento.

Marcos da Cunha Lopes Virmond


Editor

842
REPERCUSSÕES DA IMPLANTAÇÃO DE
UM NÚCLEO INTERNO DE REGULAÇÃO
DE LEITOS NO PROCESSO DE TRABALHO
DE ENFERMEIROS
Repercussions of Implementation
1
Doutora em Saúde Coletiva
pela Universidade Estadual
of an Internal Regulation Core in
Paulista, docente na graduação the Nursing Work Process
em medicina da Fundação
Educacional do Município de
Assis, Assis/SP, Brasil.
2
Doutora em Ciências pela Luciane Cristine Ribeiro Rodrigues1
Faculdade de Odontologia de
Bauru (FOB/USP), docente Patrícia Ribeiro Mattar Damiance2
na graduação em medicina Shirlene Pavelqueires3
e enfermagem da Fundação
Educacional do Município de Wilza Carla Spiri4
Assis, Assis/SP, Brasil. Carmen Maria Casquel Monti Juliani5
3
Doutora em Enfermagem
pela Escola de Enfermagem
de Ribeirão Preto, docente
na Faculdade de Medicina
de Marília, no curso de
Enfermagem e Obstetrícia,
Marília/SP, Brasil.
4
Livre docente pela Escola de
Enfermagem da Universidade RODRIGUES, Luciane Cristine Ribeiro et al. Repercussões da
de São Paulo, professor implantação de um núcleo interno de regulação de leitos no processo
associado do Departamento
de trabalho de enfermeiros. SALUSVITA, Bauru, v. 38, n. 4, p. 843-
de Enfermagem da Faculdade
de Medicina de Botucatu/SP, 859, 2019.
Botucatu/SP, Brasil.
5
Livre docente pela Escola de
Enfermagem da Universidade
de São Paulo, professor
RESUMO
adjunto do Departamento de
Enfermagem da Faculdade Introdução: Na efetivação do Sistema Único de Saúde observam-
de Medicina de Botucatu/SP, se propostas e regulamentações que visam normalizar o acesso
Botucatu/SP, Brasil. aos serviços de saúde e o processo de trabalho dos profissionais.
Recebido em: 30/07/2019
Entre essas propostas, encontram-se a descentralização das funções
Aceito em: 13/12/2019 e a regulação do sistema de saúde, entendida como alternativa

843
assistencial que estabelece a relação entre a gestão e a atenção RODRIGUES, Luciane
à saúde. Nesse contexto, a regulação de leitos compreende uma Cristine Ribeiro et
estratégia capaz de adequar os fluxos e os processos de trabalho al. Repercussões da
nos serviços de saúde. Objetivo: Este estudo buscou compreender implantação de um
as repercussões da regulação de leitos no processo de trabalho núcleo interno de
de enfermeiros. Método: Foram realizadas 13 entrevistas com regulação de leitos no
processo de trabalho de
enfermeiros que vivenciaram a implantação de um núcleo interno de
enfermeiros. SALUSVITA,
regulação de leitos em um complexo assistencial do interior de São Bauru, v. 38, n. 4,
Paulo. Resultado e Discussão: A análise do material possibilitou p. 843-859, 2019.
a extração de duas temáticas: “o contexto histórico de inserção do
enfermeiro na regulação de leitos hospitalares” e “as repercussões
da implementação da regulação de leitos no processo de trabalho
dos enfermeiros”. Conclusão: Na compreensão dos participantes a
implantação do núcleo propiciou a desconstrução da distribuição de
leitos como uma ação técnica e operacional exclusiva do enfermeiro,
impactando positivamente no seu processo de trabalho, na macro e
na microgestão dos leitos hospitalares.

Palavras-chave: Regulação. Administração hospitalar. Trabalho.


Enfermagem.

ABSTRACT
Introduction: Upon the implantation of the Sistema Único de Saúde
(Brazilian Unified Health System), it is possible to observe proposals
and regulations which aim to normalize the access to health services
and their professional’s work process. Among these proposals,
there is the decentralization of the functions and regulations of the
health system, which is viewed as an alternative that establishes a
relation between management and health care. Thus, the hospital
beds regulation is a strategy capable of regulating the influx and
work processes in the healthcare. Objective: This study aimed
to understand the repercussion of the regulation of hospital beds
on the nurses’ work process. Methods: We interviewed 13 nurses
that experienced the implantation of an inner core of hospital beds
regulation in the countryside of São Paulo. Results and Discussion:
Two themes arose from the analysis of the material: “the historical
context of the nurse among the bed regulation in hospitals” and “the
repercussion of the regulation of hospital beds on the nurses’ work
process”. Conclusion: The participants reported the implantation
of the core allowed a deconstruction of the bed distribution as a
technical and operational activity that was exclusive to the nurse,

844
RODRIGUES, Luciane positively impacting on their work process and on the macro and
Cristine Ribeiro et micromanagement of the hospital beds.
al. Repercussões da Keywords: Regulation. Hospital administration. Work. Nursing.
implantação de um
núcleo interno de
regulação de leitos no INTRODUÇÃO
processo de trabalho de O CONTEXTO, O PROBLEMA E A
enfermeiros. SALUSVITA, INTENCIONALIDADE DO ESTUDO
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 843-859, 2019.
Ao longo da história, transformações e reformas na Política
Nacional de Saúde (PNS) subsidiaram a ação regulatória no setor
por meio de um conjunto de leis e normas que estabeleceram a
descentralização e a regionalização da assistência à saúde no Brasil,
tais como: a Lei 8080/90, regulamentada pelo Decreto 7508/2010
e a Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS) 01/93
(BRASIL, 1990, 1993, 2010). Posteriormente, a portaria 1559/GM/
MS/2008 instituiu a Política Nacional de Regulação do SUS (PNRS),
organizando a regulação em saúde em três dimensões: regulação
dos sistemas de saúde, da atenção à saúde e do acesso ou regulação
assistencial (BRASIL, 2008).
A regulação em saúde é compreendida como um mecanismo de
gestão, que possui diversos objetivos dentre eles a regulação das
profissões em saúde como a do enfermeiro – um dos protagonistas
das ações de regulação em saúde no Brasil (ALBIERI; CECÍLIO,
2015).
No cenário da gestão em saúde, o enfermeiro assumiu um papel
inerentemente gerencial/administrativo, influenciado pelo Modelo
Nigthingaliano de controle do ambiente, das relações e das ações
de enfermagem no ambiente hospitalar e pelo arcabouço teórico,
filosófico, técnico e legal da profissão, expresso pela Lei do Exercício
Profissional - Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, artigo 8º (BRASIL,
1986; AGRAMONTE DEL SOL, 2008). Focalizando-se o Modelo
Nigthingaliano, este se cristalizou com a institucionalização das
práticas de saúde no hospital em um movimento de empoderamento
social, político e administrativo do médico; de concessão do cuidado
à equipe de enfermagem e da incorporação pelo enfermeiro da
promoção das condições para o êxito da relação terapêutica médico-
doente fundamentalmente por meio do controle do ambiente físico
e cultural, da disciplina, da hierarquia e dos ritos de pertinência
(AGRAMONTE DEL SOL, 2008).
Considerando-se as atuais tendências regulatórias, o Conselho
Federal de Enfermagem (COFEN) discute com críticas bastante
pertinentes os modelos estruturantes da profissão e a atuação
do enfermeiro na regulação por entender que este profissional

845
desempenha papéis variados que abrangem desde as ações de RODRIGUES, Luciane
controle do ambiente até as de gestão e de cuidado, na tentativa de Cristine Ribeiro et
desconstruir o Modelo Nigthingaliano e as funções historicamente al. Repercussões da
atribuídas ao enfermeiro, como, por exemplo, o dimensionamento ou implantação de um
a distribuição dos leitos hospitalares (COFEN, 2017). núcleo interno de
A regulação de leitos insere-se no espaço de gestão institucional e regulação de leitos no
processo de trabalho de
de gerenciamento de leitos no hospital, propiciando a otimização dos
enfermeiros. SALUSVITA,
leitos. Nesse espaço, surge a proposta de criação e implantação de Bauru, v. 38, n. 4,
Núcleos Internos de Regulação (NIR) de leitos como uma ferramenta p. 843-859, 2019.
gerencial capaz de compreender a multiplicidade dos cenários,
dos sujeitos, das ações e dos interesses, com vistas a atender às
necessidades dos usuários e das organizações de saúde (BRASIL,
2011; REGIS; BATISTA, 2015).
A temática envolvendo a regulação e a enfermagem tem sido
pouco explorada por gestores e profissionais de saúde e se apresenta
incipiente na literatura, apesar do protagonismo do enfermeiro no
campo da regulação em saúde, o que justificou o desenvolvimento de
uma tese de doutorado sobre o processo de implantação de um NIR
em um Hospital Universitário de Referência e a busca por respostas
a seguinte questão: qual o impacto da implantação de um NIR no
processo de trabalho do enfermeiro?
Este artigo se constitui em um recorte da tese de doutorado
supracitada e teve o objetivo de compreender as repercussões da
regulação de leitos no processo de trabalho de enfermeiros inseridos
em um Complexo Assistencial de uma Instituição de Ensino Superior
(IES) de caráter público quanto às potencialidades e às fragilidades
advindas da implantação de um NIR de leitos.

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O NIR

O NIR é uma unidade técnico-administrativa que possibilita o


monitoramento do usuário do serviço de saúde desde a sua chegada
à instituição, durante o processo de internação e de transferências
internas e externas até o óbito ou a alta hospitalar. Justifica-se a
sua criação pela necessidade da gestão do acesso e da capacidade
instalada. Os hospitais possuem perfil de complexidade muito
variável, não apresentando a infraestrutura, os recursos materiais e
humanos necessários para atender todas as demandas dos usuários
dos serviços de saúde (BRASIL, 2017).
O núcleo propicia a aplicação de critérios técnicos na distribuição
das internações por leitos, assim como a redução do tempo médio
de permanência e a superlotação hospitalar. O NIR propicia também

846
RODRIGUES, Luciane a interface com a Rede de Atenção à Saúde (RAS), pactuando e
Cristine Ribeiro et controlando os leitos de retaguarda; a média de permanência e a taxa
al. Repercussões da de ocupação; as altas e agendamentos de consultas especializadas
implantação de um e a procura por serviços de urgência para a solução de questões
núcleo interno de eletivas. O dimensionamento humano e organizacional deve levar
regulação de leitos no em conta o grau de complexidade da instituição de saúde e o quadro
processo de trabalho de
de pessoal composto, minimamente, por um médico horizontal ou
enfermeiros. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, diarista, enfermeira diarista e assistente social (BRASIL, 2017;
p. 843-859, 2019. RODRIGUES; JULIANI, 2015).
Os profissionais de saúde que constituem o NIR possuem
atribuições e competências comuns e específicas, de acordo
com Brasil (2017). Têm-se como competência da equipe médica
acompanhar a avaliação dos usuários dos serviços de saúde e
identificar com as equipes assistenciais aqueles com potencial para
a transferência a outros setores da unidade hospitalar e/ou leitos
de Retaguarda pactuados na RAS. Assim como, identificar as
pendências (avaliações médicas, exames, marcação de cirurgias) e
providenciar junto à equipe assistencial a sua resolução e pessoas
com critérios de Alta Hospitalar e discutir o caso com a equipe
assistente (BRASIL, 2017).
Atribui-se ainda aos médicos(as) a busca e a disponibilização
de leitos de internação para os indivíduos que se encontram de
alta da UTI junto a equipe multiprofissional; a regulação dos leitos
disponíveis no próprio hospital de acordo com as especialidades; o
apoio e a reavaliação dos casos de reinternação e reospitalização
dos usuários. A equipe médica deve também realizar a interface
entre as especialidades médicas e os setores da unidade hospitalar
com o objetivo de promover as interconsultas de modo mais
eficiente e ágil; ampliar espaços de atuação do médico em projetos
de pesquisa e extensão, objetivando a produção acadêmica e
qualificação profissional e participar de todas as reuniões que
envolvam a equipe do NIR.
A equipe de enfermagem é responsável por apoiar a equipe
assistencial na avaliação dos usuários dos serviços de saúde e
verificar os dados do monitoramento do Kanban, viabilizando as
vagas e as transferências para as enfermarias, os leitos de retaguarda,
UTI e/ou mesmo de alta para casa ou Serviço de Atenção Domiciliar.
O desenvolvimento da interface entre a Regulação e a equipe da
emergência também se constitui como uma atribuição da equipe de
enfermagem. Após a avaliação médica, o enfermeiro(a) seleciona os
usuários elegíveis para ocupação de leitos internos e externos e auxilia
a equipe do NIR na definição, avaliação e priorização dos pacientes
na ocupação dos leitos disponíveis internamente e externamente,

847
conforme contato com a regulação, e nos casos que não houver RODRIGUES, Luciane
regulação com a unidade que possua leitos disponíveis, assim como Cristine Ribeiro et
realizar busca ativa de leitos disponíveis no sistema informatizado al. Repercussões da
ou em visita aos setores da unidade hospitalar (MATTOS, 2016; implantação de um
BRASIL, 2017). núcleo interno de
Cabe ao enfermeiro(a) adequar os leitos disponíveis por regulação de leitos no
processo de trabalho de
especialidade e gênero (feminino/masculino); monitorar os leitos
enfermeiros. SALUSVITA,
atentando para o Tempo Médio de Permanência (TMP); identificar Bauru, v. 38, n. 4,
e notificar mediante relatório mensal os entraves pertinentes ao p. 843-859, 2019.
processo de transferência e atuação do NIR, contribuir com o
desenvolvimento do NIR e participar de todas as reuniões que
envolvam a equipe do NIR. A alimentação da planilha dos indicadores
deve ser feita conforme levantamento realizado pelo Kanban, a fim
de proporcionar dados para a tomada de decisão da Alta Liderança;
assim como se se espera uma atuação direta no monitoramento do
Kanban, apoiando a equipe assistencial na avaliação dos dados e
no apoio à busca de soluções para a oferta dos serviços necessários
aos usuários e ampliando espaços de atuação do enfermeiro em
projetos de pesquisa e extensão, objetivando a produção acadêmica e
qualificação profissional (MATTOS, 2016; BRASIL, 2017).
A equipe de assistência social compete abordar e orientar
usuários e familiares para as transferências internas e externas;
orientar, informar e sensibilizar os usuários com indicação clínica
para os leitos de retaguarda, buscando assinatura do indivíduo
ou seu responsável no Termo de Consentimento para posterior
transferência. A tarefa de apoiar e esclarecer toda e qualquer dúvida
do usuário e/ou familiar com relação à transferência para os Hospitais
de Retaguarda, explicando sobre o funcionamento e normas do
Hospital de Retaguarda. Realizar investigação social do paciente,
nos casos pertinentes também é de sua responsabilidade. A equipe
também é responsável pelos seus objetos e documentos pessoais;
apoiar no aprimoramento dos canais de comunicação internos e com
a Central de Regulação (comunicação externa), por meio de melhor
divulgação de atividades do NIR (murais, ofícios, jornais internos,
site etc.) e explicar as particularidades da questão social e construir
propostas de trabalho capazes de preservar e efetivar direitos dos
usuários, conforme legislação específica (BRASIL, 2017).
Considerando-se Brasil (2017), a participação no cuidado da
saúde do indivíduo em sua totalidade biopsicossocial e espiritual,
potencializando a orientação social com vistas à ampliação do
acesso aos direitos sociais e o apoio junto à equipe de atenção
psicológica do hospital questões referentes à necessidade de terapia
familiar e individual são fundamentais ao bom funcionamento do

848
RODRIGUES, Luciane trabalho do NIR, assim como a ampliação dos espaços de atuação
Cristine Ribeiro et do Serviço Social em projetos de pesquisa e extensão, objetivando a
al. Repercussões da produção acadêmica e qualificação profissional, contribuindo com o
implantação de um desenvolvimento do núcleo e das reuniões da equipe.
núcleo interno de
regulação de leitos no
processo de trabalho de O PERCURSO METODOLÓGICO QUE
enfermeiros. SALUSVITA, DETERMINOU A BUSCA PELA EXPERIÊNCIA
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 843-859, 2019. DOS ENFERMEIROS
Pesquisa de natureza exploratória e descritiva com delineamento
qualitativo. O estudo foi desenvolvido em um Complexo Assistencial
de uma IES de caráter público do interior do Estado de São Paulo,
inserido no Departamento Regional de Saúde (DRS – IX) do estado
de São Paulo, que atende 62 municípios do interior do estado e
aproximadamente 1.072.139 pessoas (SECRETARIA DO ESTADO
DA SAÚDE, 2018).
Os participantes da pesquisa foram selecionados de uma população
de 120 enfermeiros que compunham o quadro de funcionários do
Complexo Assistencial, no ano de 2014, totalizando uma amostra
de 13 participantes. Estes foram selecionados por conveniência,
em um processo que considerou: a) todas as 05 unidades de
internação, urgência e emergência, centro cirúrgico e ambulatório
que participavam do processo de regulação de leitos; b) os turnos
de trabalho matutino e vespertino, excluindo-se o noturno, pois no
momento da pesquisa ainda não havia sido implantada a regulação
de leitos no período e c) pelo menos um enfermeiro de cada turno,
nas unidades submetidas à regulação de leitos.
As entrevistas foram áudio-gravadas após autorização e aceite dos
participantes. As questões norteadoras da entrevista foram: Como
você compreende as potencialidades e fragilidades do NIR? Como
você compreende o processo de implantação e de implementação do
NIR de leitos?
A transcrição dos áudios ocorreu imediatamente após a sua
realização. Os depoimentos foram codificados pela letra P de
profissional, por números (1, 2, 3 [...]), respeitando-se a ordem das
entrevistas e pelos fragmentos de texto selecionados dos depoimentos.
A análise de conteúdo, na modalidade temática, norteou as fases
de pré - análise, de exploração, de tratamento dos resultados e da
interpretação do material empírico (BARDIN, 2009).
Após os depoimentos terem sido integralmente transcritos e
codificados, mantendo o sigilo do entrevistado, foram levantadas as
unidades de significado para a maior aproximação com a temática

849
em questão, e destacados os temas que emergiram nos depoimentos, RODRIGUES, Luciane
considerando-se as representações em relação aos núcleos de sentido Cristine Ribeiro et
evidenciadas nos discursos, chegando às categorias temáticas que al. Repercussões da
expressam a essência do fenômeno. implantação de um
O estudo foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da núcleo interno de
Faculdade de Medicina de Marília protocolo de aprovação n. 563/11, regulação de leitos no
processo de trabalho de
de 27 de junho de 2011; atendeu aos requisitos formais contidos
enfermeiros. SALUSVITA,
nos padrões regulatórios nacionais e internacionais de pesquisa Bauru, v. 38, n. 4,
envolvendo seres humanos e não apresentou conflito de interesses p. 843-859, 2019.
(BRASIL, 2012).

TEMAS, INTERPRETAÇÕES E ANÁLISES


A figura um ilustra os sujeitos, os temas e a quantidade de citações
das unidades de significados da pesquisa por participantes.

Figura 1 - Sujeitos, temas e participantes/quantidade de citações das


unidades de significados
Participantes/quantidade de citações
SUJEITOS TEMAS P P P P
P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9
10 11 12 13
Implantação do
NIR e a vivência 03 03 03 00 06 02 00 00 00 01 00 00 00
do novo

Papel sócio
histórico do
enfermeiro
04 01 05 02 00 02 04 13 00 00 01 00 00
em relação à
regulação de
leitos

Processo de
06 04 02 02 04 01 05 03 01 01 02 02 00
trabalho

Gestão do
08 05 03 01 00 04 02 00 01 00 02 03 00
Enfermeiros cuidado

Equipe médica 00 02 03 00 03 00 00 01 00 06 01 00 00

Processo de
03 00 04 00 02 00 01 00 00 00 00 00 00
trabalho do NIR

Problemas
03 04 04 03 00 00 00 02 04 00 00 00 00
Estruturais
Fonte: quadro elaborado pelas autoras.

850
RODRIGUES, Luciane Os depoimentos dos participantes que vivenciaram a
Cristine Ribeiro et implementação da regulação de leitos revelaram duas temáticas
al. Repercussões da para análise e reflexão: 1 - “O contexto histórico de inserção do
implantação de um enfermeiro na regulação de leitos hospitalares” e 2 - “As repercussões
núcleo interno de da implementação do núcleo de regulação de leitos no processo de
regulação de leitos no trabalho dos enfermeiros”.
processo de trabalho de
Os próximos parágrafos ilustram as temáticas um (1) e dois (2),
enfermeiros. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, seguidas pelos respectivos núcleos de sentido - ordenados por letras
p. 843-859, 2019. do alfabeto; pelos depoimentos expressos pela letra P de profissional;
por números que expressam a ordem das entrevistas (1, 2, 3 [...]) e
das narrativas (1, 2, 3 [...]), assim como as análises dos autores.

TEMA 1: O CONTEXTO HISTÓRICO DE INSERÇÃO


DO ENFERMEIRO NA REGULAÇÃO DE LEITOS
HOSPITALARES.

a) O “controle” dos leitos tradicionalmente realizado pelos


enfermeiros.
P 8.1 - [...] historicamente, antes a gente (enfermeiros) tinha que
estar correndo atrás de leito, administrando a questão de quem
vai para qual ala.
P 3.1 - Antes de ter o núcleo de regulação, quem regulava os leitos
acabava sendo os enfermeiros junto com os médicos e não via o
todo da instituição. Acabava só discutindo as alas que precisava
trocar o leito.

b) “Regulação” pelos enfermeiros sem definição de critérios.


P 3.6 – É [...] ficava o que eu achava, o que o outro achava.
Depois de muitos conflitos, é que se sentou e explicou, porque
que queria mesmo.

P 3.8 - Então ele segura um paciente que não precisava nem estar
aqui, nem estar tomando antibiótico, andando e fumando, lá fora,
para ter tempo de internar outro paciente à noite. Então ele dava
alta no final da tarde, e depois ele internava o que ele queria. Então
acabava não dando vazão de novo para altas da UTI e pra..., para
a internação do PS.

P 11.4 - Porque antes, a gente tinha que, ficar disputando um leito,


entre todas as especialidades cirúrgicas, para conseguir internar
um paciente para uma cirurgia.

c) A “regulação” do enfermeiro gerava conflitos.

851
P 3.2 [...] isso gerava conflito, também entre os enfermeiros, RODRIGUES, Luciane
porque às vezes tinha enfermeiro que achava que você queria Cristine Ribeiro et
fazer troca, não por necessidade do paciente, mais por que aquele al. Repercussões da
paciente era grave [...]. implantação de um
núcleo interno de
d) O controle de leitos absorvia o tempo de trabalho dispensado regulação de leitos no
processo de trabalho de
ao cuidado.
enfermeiros. SALUSVITA,
P 2.10 [...] tirou um pouco do enfermeiro de estar fazendo essa Bauru, v. 38, n. 4,
regulação de leito, ficava um pouco mais demorado, e gastava p. 843-859, 2019.
um pouco mais do nosso tempo, quanto de cuidado, de gerenciar
a unidade.

Os depoimentos dos participantes apontaram que a regulação


dos leitos na instituição estudada sempre foi desenvolvida
pelos enfermeiros, no entanto, sem que houvessem critérios
preestabelecidos para essa atividade. Por conseguinte, o que se
fazia era uma distribuição de leitos e não exatamente a regulação
dos mesmos. Essa regulação dos leitos, na ausência de um protocolo
preestabelecido, assumiu características próprias, atendendo às
demandas sem qualquer classificação ou de acordo com a visão
dos profissionais da unidade de internação, sem um olhar ampliado
sobre a organização macrohospitalar, o que gerava conflitos entre
os profissionais envolvidos e dispendia tempo excessivo de trabalho,
dificultando a organização do processo de trabalho dos enfermeiros,
que se viam em meio à organização dos leitos em detrimento ao
planejamento do cuidado.
Considerando-se o caráter gerencial da regulação de leitos, torna-
se compreensível a inserção do profissional enfermeiro nessa função,
uma vez que se destaca a função gerencial destes, num processo
operacional gerencial do cotidiano do trabalho das unidades
hospitalares que, na prática, não é exclusivo ao serviço de enfermagem,
o qual acaba acumulando papéis diversos, fundamentais para a vida
do hospital. Dessa forma, muitas vezes, o processo de trabalho
do enfermeiro é permeado por contradições e assincronismos que
perpassam a autonomia, a liderança e a tomada de decisão nos
serviços de saúde (DALL’AGNOL et al, 2013; AMISTOY et al, 2013;
HAYASHIDA et al, 2014).
Observando-se a literatura, alguns estudos, com distintos
referenciais teóricos e metodológicos, também salientaram
discrepâncias entre a situação real e a desejada quanto ao processo
de regulação realizado por enfermeiros nos quesitos falta de
conhecimento funcional de teorias, de modelos e de estruturas teóricas
de administração e gestão capazes de impactar no planejamento, na

852
RODRIGUES, Luciane implementação e na avaliação da regulação de leitos (ORTIZ, 2006;
Cristine Ribeiro et GRABOIS, 2009; BITENCOURT et al, 2009; BITENCOURT, 2010;
al. Repercussões da SILVA et al, 2011).
implantação de um Diante desse cenário e da atribuição sócio-histórica da distribuição
núcleo interno de de leitos aos enfermeiros, crescem nos cursos de graduação e pós-
regulação de leitos no graduação em enfermagem o ensino de teorias e de modelos teóricos
processo de trabalho de
de gestão e regulação em saúde com o intuito de transformar a práxis
enfermeiros. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, do profissional e, consequentemente, o cuidado e a organização dos
p. 843-859, 2019. serviços de saúde e de enfermagem (MCEWEN; WILLS, 2016).
Os modelos teóricos supracitados colocam a regulação em saúde
no escopo do controle social formal, que é o “controle exercido
pelas organizações mais estáveis da sociedade como, por exemplo,
instituições estabelecidas e a lei” (DESCRITORES EM CIÊNCIAS
DA SAÚDE, 2019). Nesse escopo, a efetividade e a eficiência da
gestão dos sistemas e dos serviços de saúde dependem quase que
exclusivamente da incorporação de códigos e de atos administrativos
explicativos ou supletivos que visam especificar e normalizar
situações, processos e fenômenos sociais que impactam no exercício
do direito à saúde (KUSCHNIR; CHORNY; LIRA, 2010).

TEMA 2 – AS REPERCUSSÕES DA IMPLANTAÇÃO


DO NÚCLEO DE REGULAÇÃO DE LEITOS NO
PROCESSO DE TRABALHO DOS ENFERMEIROS.

e) Redução dos conflitos entre enfermeiros e destes para com


outros membros da equipe.
P3.9 - Com a vinda do NIR, eu senti que o meu papel melhorou,
tinha que ficar discutindo com o enfermeiro para tirar paciente da
unidade. Aí ele falava que não tinha leito, eu tinha que acreditar,
porque se eu viesse olhar a enfermaria, aí já virava outro conflito.

f) Redirecionamento da função de transferências de pacientes


entre os leitos.
P 2.6. - Porque quando descia paciente da UTI, eu tinha que fazer
troca com a Ala [...] eu tinha que fazer contato com a enfermeira
da UTI, com a enfermeira da Ala [...], e hoje o NIR faz tudo isso,
eu acho que melhorou.

g) Melhor organização do processo de trabalho do enfermeiro.


P1.11 – [...] de vantagens, que acho que tem, que, do NIR que veio
para agregar, essa parte de tirar a responsabilidade, do enfermeiro,
de estar dando os leitos.

853
Com a implantação do NRI, percebe-se durante a vivência dos RODRIGUES, Luciane
participantes, o potencial positivo e o impacto direto do núcleo no Cristine Ribeiro et
processo de trabalho dos enfermeiros. Alguns pontos fundamentais al. Repercussões da
foram sinalizados nos depoimentos, tal como a redução de conflitos implantação de um
entre os profissionais, que anteriormente eram causados pela núcleo interno de
distribuição e não regulação de leitos. Outro aspecto percebido regulação de leitos no
processo de trabalho de
foi a repercussão direta no cuidado ao paciente, tanto no aspecto
enfermeiros. SALUSVITA,
qualitativo quanto no quantitativo. Especificamente em relação ao Bauru, v. 38, n. 4,
aspecto quantitativo, as narrativas dos participantes indicaram um p. 843-859, 2019.
aumento do tempo e das atividades de enfermagem direcionadas ao
cuidado com os pacientes, uma vez que ocorreu uma diminuição
do tempo gasto na distribuição de leitos e, consequentemente, a
resolução dos conflitos, assim como com a troca/transferências de
pacientes dos leitos, que antes da implantação da regulação acabava
sendo realizada sem critérios técnicos e logísticos. Acrescenta-se a
esses achados uma observação sobre o quanto a transferência de leitos
consome tempo de trabalho do enfermeiro, prejudicando a gestão do
cuidado e da equipe de enfermagem, provocando desdobramentos
para diversos setores do hospital, com utilização significativa de
recursos materiais e humanos e, ainda, acarretando desconforto
físico e psíquico ao paciente e sua rede de apoio social.
O impacto da validação do setor de regulação de leitos e
do direcionamento da ação do enfermeiro junto a esse setor
materializou-se pelo sentimento de “perda de poder”. Acredita-se
que esse sentimento se relaciona ao deslocamento do controle dos
leitos para NIR. O estudo de Ortiz (2006) fortalece a inferência, pois
o autor encontrou o mesmo sentimento em relação aos profissionais
que também passaram por esse processo de reestruturação da
regulação de leitos. Aprofundando-se a discussão, a valorização
do controle e do poder no ambiente de trabalho dos enfermeiros
relaciona-se ao caráter polivalente desses profissionais e por suas
múltiplas responsabilidades (SANTOS; ERDMANN, 2015). Essa
ideia é reafirmada por um estudo que evidenciou que a percepção de
enfermeiros sobre o seu papel na regulação de leitos, compreende,
entre outros, o de liderança, a tomada de decisão, o planejamento,
o gerenciamento de pessoal e o trabalho em equipe, que são
instrumentos para atuação autônoma no contexto gerencial (PEITER;
LANZONI; OLIVEIRA, 2016).
É importante também ressaltar a percepção dos enfermeiros
em relação aos avanços com a implantação da regulação.
Existem diversos aspectos positivos da regulação, demonstrando
melhorias significativas em áreas consideradas prioritárias no
ambiente hospitalar, racionalizando a oferta e a demanda e

854
RODRIGUES, Luciane impactando favoravelmente na gestão dos recursos hospitalares,
Cristine Ribeiro et o que, consequentemente, impactaram positivamente no processo
al. Repercussões da de trabalho do enfermeiro (RODRIGUES; JULIANI, 2015;
implantação de um BARBOSA; BARBOSA; NAJBERG, 2016). Destacou-se, nos
núcleo interno de depoimentos, a satisfação dos enfermeiros com o núcleo de
regulação de leitos no regulação de leitos por estabelecer maior possibilidade de atenção
processo de trabalho de
ao ambiente assistencial, por meio da gerência do cuidado de
enfermeiros. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, enfermagem, o que corrobora com a afirmação de que o importante
p. 843-859, 2019. papel do profissional de enfermagem em serviços de auditoria e
regulação protagoniza novas formas de se fazer saúde, uma vez que
a regulação em saúde serve de base para um melhor gerenciamento
de recursos e efetivação dos princípios do SUS (ALBUQUERQUE
et al, 2013; CECCON et al, 2013).
Enfatiza-se, também, que o processo de trabalho em enfermagem
é a essência da prática da enfermagem e caracteriza-se por cinco
processos intitulados: assistir, administrar, ensinar, pesquisar e
participar politicamente; e seis componentes inter-relacionados:
objeto, agente(s), instrumentos, finalidades, métodos e produto
(SANNA, 2007; SANTOS; ERDMANN, 2015; SANTOS et al,
2013a,b). A operacionalização desses processos de trabalho é
condição fundamental para a garantia da qualidade de seus produtos,
da realização pessoal e profissional de seus agentes, do acesso à
saúde e da qualificação do cuidado nos serviços de saúde (SANNA,
2007; PEITER; LANZONI; OLIVEIRA, 2016).
Para Santos et al. (2015) existe um certo grau de sofrimento
psíquico no exercício do trabalho de enfermeiros, pois a
excessiva carga de atividades diárias e a responsabilidade pela
tomada de decisões administrativas e/ou gerenciais e as relativas
ao cuidado com o usuário e sua família interferem tanto na
compreensão e aplicação dos cinco processos de trabalho
em enfermagem e de seus componentes quanto na avaliação
dos resultados e produtos desses processos. Nesse sentido, é
necessário pensar em estratégias que visem à integralização
dos atores sociais inseridos nos sistemas de saúde e a definição
de responsabilidades e competências de cada um desses atores
nos processos de administrativos, de regulação hospitalar e de
leitos, a fim de que os enfermeiros direcionem suas ações para a
organização dos serviços de enfermagem e para o gerenciamento
e execução do cuidado no ambiente hospitalar (MCSHERRY et
al, 2012; DALL’AGNOL et al, 2013; FACKLER; CHAMBERS;
BOURBONNIERE, 2015; BUGÊS et al, 2017).

855
CONSIDERAÇÕES FINAIS RODRIGUES, Luciane
Cristine Ribeiro et
al. Repercussões da
Este trabalho priorizou a compreensão dos enfermeiros sobre a implantação de um
regulação de leitos por entender seu papel historicamente determinado núcleo interno de
nessa função. Salienta-se que uma compreensão mais abrangente se regulação de leitos no
atrela a escuta de outras vozes inseridas na atenção e na gestão em processo de trabalho de
saúde em busca da identificação dos pontos de tangência e das bases enfermeiros. SALUSVITA,
teóricas que sustentam o processo e as ações regulatórias. Bauru, v. 38, n. 4,
O estudo não apresenta um aprofundamento sobre o processo p. 843-859, 2019.
de trabalho do enfermeiro e a sua interface com a cultura
institucional tanto no cenário da administração hospitalar quanto da
institucionalização das práticas de saúde e do cuidado ao longo da
história. Os autores salientam e reconhecem que o entendimento das
condições que permeiam o processo de trabalho assistir/cuidar no
ambiente hospitalar, sob o ponto de vista sociohistórico e cultural,
faz-se necessário no contexto da regulação de leitos em decorrência
dos conflitos de interesses e das representações sociais intrínsecas as
práticas de enfermagem e ao processo de regulação.
Em virtude do exposto, acredita-se que o estudo não foi capaz
de desvelar às repercussões negativas tanto na implantação do NIR
no processo de trabalho de enfermeiros quanto na determinação
e reconhecimento do seu papel social, mas foi capaz de validar a
tese de que a proposta de regulação de leitos enquanto uma nova
ferramenta gerencial agrega benefícios regulatórios voltados à
gestão da produção do cuidado, impactando diretamente no processo
de trabalho do enfermeiro, ampliando sua capacidade de ação
assistencial e de incorporação de novos papéis.

856
RODRIGUES, Luciane REFERÊNCIAS
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859
QUALIDADE DE VIDA DOS
Terapeuta Ocupacional pela Universidade
1

do Sagrado Coração (2017). Realizados


CUIDADORES DE CRIANÇAS
cursos de Integração Sensorial, Reabilitação
Cognitiva, Bandagem Neuromuscular –
Fisiotaping e Atualização em Tecnologia
DE 0 A 12 ANOS ATENDIDAS
Assistiva. Atualmente atua como Terapeuta
Ocupacional na APAE de Limeira - SP e
na casa de repouso Espaço Bem Cuidar,
NA CLÍNICA DE TERAPIA
2
localizada na cidade de Brotas - SP.
Graduada em Terapia Ocupacional
pelo Centro Universitário Salesiano de
OCUPACIONAL
Lins (2000), com Especialização em

Quality of Life of Caregivers of


Educação Especial pela Puc de Campinas
(2003), Mestrado em Educação, pela
PUC de Campinas (2006) e Doutorado
em Educação Especial pela Universidade
Federal de São Carlos, UFSCar (2015).
Children from 0 to 12 Years Attended
Atualmente é docente do Curso de Terapia
Ocupacional da Universidade do Sagrado
in the Occupational Therapy Clinic
Coração (USC, Bauru, SP).
Terapeuta Ocupacional pela Universidade
3

Sagrado Coração (USC) Bauru - SP (2009).


Mestre em Terapia Ocupacional pela
UFSCar (2012). Doutora pelo programa Tamiris Fernanda Sorratini1
de Pós- Graduação em Ciências da
Reabilitação do Hospital de Reabilitação de Juliana Vechetti Mantovani Cavalante2
Anomalias Craniofaciais da Universidade
de São Paulo (USP). Atualmente é
Lyana Carvalho e Sousa3
docente no curso de Terapia Ocupacional
na USC, atuando na área de infância,
Solange de Oliveira Braga Franzolin4
desenvolvimento infantil e neurologia. Cristina Maria da Paz Quaggio5
4
Graduação em Odontologia pela
Faculdade de Odontologia de Bauru, USP
(1978), mestrado em Odontologia pela
Universidade Sagrado Coração (2003),
mestrado em Biotecnologia Médica pela
Faculdade de Medicina, Botucatu, UNESP
(2004) e doutorado em Fisiopatologia em
Clínica Médica pela Faculdade de Medicina
Botucatu, UNESP (2009). Atualmente
SORRATINI, Tamiris Fernanda et al. Qualidade de vida dos
é professora da Faculdade de Medicina cuidadores de crianças de 0 a 12 anos atendidas na clínica de terapia
da Universidade Nove de Julho. Tem
experiência na área de Odontologia, com
ocupacional. SALUSVITA, Bauru, v. 38, n. 4, p. 861-880, 2019.
ênfase em Odontopediatria, e Bioestatística.
Terapeuta Ocupacional pela Faculdade
5

Dom Bosco – Lins (1984), Mestrado em


Ciências pela Coordenadoria de Controle
de Doenças/SES (2005), Doutoranda
RESUMO
em Biologia Oral pela Universidade do
Sagrado Coração, Conselheira Suplente no Introdução: Atualmente a definição de qualidade de vida mais
Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional- CREFITO 3 - Gestão 2016- utilizada é a descrita pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
2020, Terapeuta Ocupacional do Instituto em 1998, que relaciona o termo com a “percepção do indivíduo
Lauro de Souza Lima.
de sua posição na vida no contexto cultural e sistema de valores
Recebido em: 26/06/2019
em que vivem e sobre os seus objetivos, expectativas, padrões e
Aceito em: 12/12/2019 preocupações”. Já o cuidador, é todo aquele que se responsabiliza

861
pelo ato de cuidar de um indivíduo suprindo suas necessidades. SORRATINI, Tamiris
Objetivo: avaliar a qualidade de vida dos cuidadores de crianças Fernanda et al.
de 0 a 12 anos atendidas na Clínica de Terapia Ocupacional da Qualidade de vida dos
Universidade do Sagrado Coração. Métodos: tratou-se de uma cuidadores de crianças
pesquisa descritiva-exploratória com caráter quantitativo que de 0 a 12 anos atendidas
utilizou para a coleta de dados um questionário sociodemográfico na clínica de terapia
ocupacional. SALUSVITA,
construído pela autora e o Questionário de Qualidade de Vida – SF
Bauru, v. 38, n. 4,
– 36. Resultados: Observou-se prevalência de cuidadores do sexo p. 861-880, 2019.
feminino entre 31 a 40 anos e crianças do sexo masculino entre 7
a 9 anos, sem hipótese diagnóstica definida. Além disso, observou-
se que a soma dos resultados de todos os cuidadores na avaliação
por meio do Questionário de Qualidade de Vida – SF 36 atingiu
escores acima de 50, podendo considerar como “muito boa”, com
destaque para o domínio Capacidade Funcional com o melhor escore
e Vitalidade com o pior. Conclusão: Apesar disso, nenhum escore
atingiu 100, deixando transparecer que mesmo o resultado tendo sido
significativo, existem intercorrências que afetam de alguma maneira
a qualidade de vida desses cuidadores.

Palavras-chave: Terapia Ocupacional. Qualidade de vida.


Cuidadores.

ABSTRACT
Introduction: Currently the adopted definition of quality is that
provided by the World Health Organization (WHO) in 1998 that
express it as “the individual´s perception to its life position in the
cultural content and value system in which they live and on their
goals, expectations, standards and concerns. In its turn, the definition
of caregiver means every one that is liable for the act of taking care
of an individual attending to your needs. Objectives: to evaluate the
quality of life of caregivers of children 0 to 12 met in the Clinic of
Occupational Therapy the University Sagrado Coração. Methods:
This was a descriptive-exploratory quantitative study using for data
collection a sociodemographic questionnaire constructed by the
author and the Questionnaire of Quality of Life - SF 36. Results:
it was observed a prevalence of female caregivers between 31 to
40 years and male children between 7 to 9 years without a defined
diagnostic hypothesis. In addition, it was observed that the sum
of the results of all the caregivers in the assessment through the
Questionnaire of Quality of life - SF 36 has reached scores above
50 what can be considered “very good”, with the featured pair to

862
SORRATINI, Tamiris domain Functional Capacity with the best score, and Vitality with
Fernanda et al. the worst. Conclusion: Despite some good findings, no score has
Qualidade de vida dos reached 100, revealing that , despite the significant results, there are
cuidadores de crianças still aspects that may affect the quality of life these caregivers.
de 0 a 12 anos atendidas
na clínica de terapia Keywords: Occupational therapy. Quality of life. Caregivers.
ocupacional. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 861-880, 2019.
INTRODUÇÃO
Há tempos vem se buscando uma definição específica para o
termo qualidade de vida. Existem indícios de que o termo surgiu
pela primeira vez na literatura médica na década de 30, por meio de
estudos com objetivo de definir o termo e criar métodos de avaliação
para o mesmo. (SEIDL; ZANNON, 2004).
Fleck et al. (1999) relatam que a expressão qualidade de vida
foi utilizada pela primeira vez no ano de 1964, pelo presidente dos
Estados Unidos, Lyndon Johnson, ao declarar que objetivos não
podem ser mensurados por meio do balanço dos bancos, mas por
meio da qualidade de vida que oferecem às pessoas.
Estudo refere que podem existir quatro tipos de classificação
para o termo qualidade de vida, como sendo: definições globais,
definições por componentes, definições focalizadas em um ou
mais componentes e definições combinadas. (FARQUHAR, 1995;
PEREIRA; TEIXEIRA; SANTOS, 2012).
As definições globais que se referem ao termo da qualidade de
vida se destacaram no campo científico nas décadas de 60 e 70 devido
ao fato de utilizarem conceitos gerais que transmitiam ideias de
satisfação ou insatisfação e de felicidade ou descontentamento, sendo
assim o conceito se torna individual e abstrato. (FARQUHAR,1995;
PEREIRA; TEIXEIRA; SANTOS, 2012).
As definições por componentes, muito utilizadas na área da saúde
pelo fato de realizar uma divisão no conceito qualidade de vida,
abrangem questões objetivas, como o estado de saúde e subjetivas,
como a interpretação pessoal sobre a satisfação com a vida.
(FARQUHAR, 1995; PEREIRA; TEIXEIRA; SANTOS, 2012).
As definições focalizadas são caracterizadas por aspectos
específicos de patologias que podem interferir na qualidade de vida.
(FARQUHAR, 1995; PEREIRA; TEIXEIRA; SANTOS, 2012).
E por fim as definições combinadas, sendo aquelas que
não se encaixam em nenhum tipo de abordagem específica da
qualidade de vida. (FARQUHAR, 1995; PEREIRA; TEIXEIRA;
SANTOS, 2012).

863
A definição de qualidade de vida mais utilizada é a elaborada pela SORRATINI, Tamiris
Organização Mundial da Saúde e citada no Glossário de Promoção Fernanda et al.
da Saúde de Genebra (1998, p. 28), como: “a percepção do indivíduo Qualidade de vida dos
de sua posição na vida no contexto cultural e sistema de valores cuidadores de crianças
em que vivem e sobre os seus objetivos, expectativas, padrões e de 0 a 12 anos atendidas
preocupações.” Este é um conceito amplo e complexo que engloba na clínica de terapia
ocupacional. SALUSVITA,
a saúde física, estado psicológico, nível de independência, relações
Bauru, v. 38, n. 4,
sociais, crenças pessoais e relação com as principais características p. 861-880, 2019.
do meio ambiente.
Essa definição explicita o fato de que qualidade de vida é um termo
referente não só à saúde como bem-estar físico, mental, emocional
e funcional, mas também a outros elementos, tais como família,
amigos, trabalho e diversas outras situações do cotidiano, contanto
que se leve em consideração a percepção pessoal do indivíduo sobre
si mesmo. (GILL; FEISNTEIN, 1994; PEREIRA; TEIXEIRA;
SANTOS, 2012).
Na saúde pode-se definir a qualidade de vida em dois aspectos:
um conceito global da qualidade de vida e outro relacionado à saúde
e podem associar-se à enfermidade ou intervenções em saúde.
(SEIDL; ZANNON, 2004).

CUIDADOR E QUALIDADE DE VIDA


Diversos autores buscam em seus estudos uma definição clara
para o termo cuidador, utilizando o seu ponto de vista ou resultados
de suas pesquisas, o que torna a definição subjetiva. (ALTAFIM;
TOYODA; GARROS, 2015).
Leitão e Almeida (2000) referem que cuidador é aquele que
assume a responsabilidade de cuidar, dar suporte ou assistir alguma
necessidade da pessoa cuidada, visando à melhoria de sua saúde.
Assim sendo, o cuidador pode ser um membro da família ou
um integrante da equipe da saúde. O primeiro pode ser intitulado
por delegação familiar ou por necessidade de emprego, assumindo
as responsabilidades do cuidado e renunciando a outros afazeres
ou interesses, já o segundo vende seu trabalho ao cuidar do outro.
(CARVALHO, 2003; ALTAFIM; TOYODA; GARROS, 2015).
Há também outras duas divisões de nomenclaturas quando se
trata do termo cuidador, são os cuidadores formais e cuidadores
informais. O cuidador formal se trata do indivíduo que é contratado
pelo próprio paciente e/ou familiares e que é remunerado para exercer
determinadas atividades de cuidado, podendo ter uma especialização
para realizar tal trabalho, já os cuidadores informais são pessoas

864
SORRATINI, Tamiris da própria família, amigos, vizinhos ou voluntários que assumem a
Fernanda et al. responsabilidade do cuidado com o indivíduo necessitado do auxílio,
Qualidade de vida dos sendo que estes geralmente não possuem especialização ou preparo e
cuidadores de crianças não recebem remuneração. (DUARTE, 1997; STONE; CAFFERATA;
de 0 a 12 anos atendidas SANGL, 1987; ALTAFIM; TOYODA; GARROS, 2015).
na clínica de terapia Os cuidadores podem ainda ser divididos em cuidador primário
ocupacional. SALUSVITA,
ou principal e cuidador secundário. O cuidador primário é a
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 861-880, 2019. principal pessoa envolvida nos cuidados diários e na assistência de
um indivíduo e o cuidador secundário é aquele que também fornece
cuidados e atenção ao indivíduo, porém não tão intimamente, mas
promovendo auxílio em atividades complementares. (MEDEIROS;
FERRAZ; QUARESMA, 1998; STONE; CAFFERATA; SANGL,
1987; ALTAFIM; TOYODA; GARROS, 2015).
Pesquisa aponta que quanto maior o tempo dedicado ao cuidado,
pior será a qualidade de vida do cuidador, em controvérsia outros
autores pontuam a capacidade de alguns cuidadores em se adaptarem
e descobrirem novas habilidades para lidar com a situação ao
passar do tempo. Essas duas formas de respostas do cuidador são
definidas como teoria do desgaste e teoria da adaptação. (PAZIN;
MARTINS, 2007).
Azevedo e Santos (2006) destacam o fato de que os cuidadores
podem vivenciar um misto de sentimentos, por terem que enfrentar
situações e tarefas nunca desempenhadas anteriormente e que
exigem recursos físicos, psíquicos, intelectuais, sociais e financeiros,
que em algumas vezes nem mesmo possuem. Há também momentos
que levam a sentimentos contraditórios, como amor e ódio, alegria e
sofrimento, euforia e depressão, aceitação e rejeição.
Nem sempre a atividade de cuidar se torna prazerosa e com
poucas dificuldades físicas e emocionais, portanto esses fatores
podem levar o indivíduo a um quadro de estresse. (NERI, 2003;
OLIVEIRA, et al., 2008).
Quando um membro da família demanda de cuidados específicos,
pode ser uma situação que refletirá nos aspectos emocionais, físicos
e ambientais, ou seja, na qualidade de vida das demais pessoas
envolvidas em seu cotidiano, principalmente na do principal
responsável por ele. (ZERBETO; CHUN, 2013).
Quando o indivíduo que demanda de cuidados a uma criança,
é importante se atentar ao fato de que alterações na noção de
qualidade de vida de seu cuidador, principalmente nos componentes
relacionados ao isolamento social e questões emocionais, podem
afetar também o ambiente das crianças por eles assistidas, com
consequências na participação social e no funcionamento das
mesmas em seus ambientes. (PAZIN; MARTINS, 2007).

865
Se a criança em questão apresentar alterações em seu SORRATINI, Tamiris
desenvolvimento, no que diz respeito aos aspectos motores, Fernanda et al.
cognitivos, sensoriais, emocionais ou sociais que afetem sua rotina Qualidade de vida dos
e seu desempenho em atividades de vida diária, são demandas que cuidadores de crianças
podem ser orientadas e acompanhadas por um terapeuta ocupacional, de 0 a 12 anos atendidas
esse profissional pode atuar junto ao indivíduo com alguma alteração na clínica de terapia
ocupacional. SALUSVITA,
em seu desempenho ocupacional, sendo capaz de selecionar atividades
Bauru, v. 38, n. 4,
ou criar modificações que promovam uma melhora na aquisição de p. 861-880, 2019.
comportamentos desejados. (DE VITTA, 2001).
A investigação sobre aspectos de qualidade de vida de cuidadores
de crianças é recente, visto que, na década de 80 estudiosos voltaram
- se para pesquisas relacionadas ao papel social dos cuidadores e
os impactos das doenças e das atividades de cuidado voltadas às
crianças, bem como estratégias de enfrentamento utilizadas por eles.
(MATSUKURA et al., 2007).
Diante desses fatos, fica explícita a necessidade de que os
cuidadores, além de promover o cuidado, também precisam ser
cuidados e vistos como sujeitos e não somente como responsáveis
pelas crianças com alterações em algum aspecto do desenvolvimento.
(ZERBETO; CHUN, 2013).
À vista disso, o objetivo do trabalho em questão foi avaliar a
qualidade de vida dos cuidadores de crianças de 0 a 12 anos atendidas
na Clínica de Terapia Ocupacional da Universidade do Sagrado
Coração, em Bauru – SP.

MATERIAL E MÉTODO
O trabalho trata-se de uma pesquisa descritiva - exploratória
com caráter quantitativo. Uma pesquisa descritiva demonstra
características de determinada população ou um fenômeno e
estabelece correlações entre variáveis e define sua natureza. A
pesquisa descritiva em conjunto com a pesquisa exploratória é a
mais citada por autores em seus trabalhos. (VERGARA, 2000;
FERNANDES; GOMES, 2003).
A pesquisa exploratória visa proporcionar maior familiaridade com
um determinado problema, tornando-o mais conciso ou construindo
hipóteses, tendo como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou
a descoberta de intuições. (GIL, 1991; FERNANDES; GOMES, 2003).
Entende-se por pesquisa de caráter quantitativo, aquela que se
baseia em métodos lógico-dedutivos, que busca explicar relações de
causa/efeito e utiliza análises estatísticas, realizando uma seleção de
amostras e a frequência de contato entre o pesquisador e o objeto de
estudo. (BERTO; NAKANO, 2000).

866
SORRATINI, Tamiris O campo de estudo se deu no espaço da Clínica de Terapia
Fernanda et al. Ocupacional, localizada na Universidade do Sagrado Coração, na
Qualidade de vida dos Rua Irmã Arminda, 10-50, Jardim Brasil, em Bauru-SP, sendo o
cuidadores de crianças telefone da universidade: (14) 2107-7000 e o da clínica de Terapia
de 0 a 12 anos atendidas Ocupacional: (14) 2107-7391.
na clínica de terapia A clínica fornece atendimentos gratuitos a indivíduos de todas as
ocupacional. SALUSVITA,
faixas etárias que possuem alguma demanda física, psicológica, de
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 861-880, 2019. aprendizagem, emocional ou social.
Os critérios de inclusão para esta pesquisa foram: cuidadores
de crianças de 0 a 12 anos que são atendidas na clínica de Terapia
Ocupacional da Universidade do Sagrado Coração em Bauru -
SP, que aceitarem participar da pesquisa assinando o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, contendo informações acerca
do projeto e da disponibilidade em transmitir informações pessoais.
Os participantes desta pesquisa foram selecionados por meio
de uma amostra por conveniência, constituída por cuidadores
de pacientes atendidos por alunos estagiários do último ano
do curso de Terapia Ocupacional, como competência dos
estágios que contemplam as áreas de desenvolvimento infantil e
aprendizagem escolar.
Os critérios de exclusão para esta pesquisa foram: cuidadores
de pacientes com mais de 12 anos atendidos na Clínica de Terapia
Ocupacional e cuidadores de crianças de 0 a 12 anos ou mais que são
atendidas pelos estagiários fora do ambiente da clínica de Terapia
Ocupacional da Universidade do Sagrado Coração.
Para esse estudo foram avaliados 29 cuidadores de crianças de 0 a
12 anos atendidos na clínica de Terapia ocupacional da Universidade
do Sagrado Coração, USC - Bauru. O período de aplicação dos
questionários se deu nos meses de setembro e outubro de 2017.
Os procedimentos de coleta e análise de dados se deram por meio de
um questionário sociodemográfico, construído pela autora, contendo
13 perguntas compostas por itens de identificação do cuidador e da
criança: idade do cuidador e da criança e hipótese diagnóstica da
criança, informações acerca da rotina diária de cuidados prestados:
total de horas responsável pelo cuidado da criança, principais
dificuldades no cuidado, qualidade do sono e disponibilidade para
atividades de lazer e o nível de independência da criança: principais
demandas da criança.
Além disso, foi aplicado o Questionário de Qualidade de Vida
SF-36 (Medical Outcomes Study 36 – Item Short - Form Health
Survey), que é um instrumento genérico de avaliação de qualidade
de vida. O questionário é multidimensional e composto por 36 itens,
distribuídos em 8 domínios, sendo eles: capacidade funcional,

867
aspectos físicos, dor, estado geral da saúde, vitalidade, aspectos SORRATINI, Tamiris
sociais, aspectos emocionais e saúde mental. A análise foi realizada Fernanda et al.
de acordo com cálculo dos escores do questionário de qualidade de Qualidade de vida dos
vida, utilizando-se a raw scale, assim chamada porque o valor final cuidadores de crianças
não apresenta nenhuma unidade de medida, variando de 0 a 100, de 0 a 12 anos atendidas
tendo zero como o resultado de pior estado de saúde e 100 o melhor. na clínica de terapia
ocupacional. SALUSVITA,
(CICONELLI et al., 1999).
Bauru, v. 38, n. 4,
Ambos os questionários e o Termo de Consentimento Livre e p. 861-880, 2019.
Esclarecido foram entregues e preenchidos pelos cuidadores no
período de espera da terapia das crianças na Clínica de Terapia
Ocupacional.
Quanto aos procedimentos éticos, o projeto de pesquisa
foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade do Sagrado Coração, sob o número do parecer 2.234.119
e CAAE 68140517.0.0000.5502 (Anexo 1). A pesquisa foi realizada
após aprovação.
Os resultados foram registrados em planilhas do programa
computacional Excel (Microsoft® Word) e apresentados em tabelas e
gráfico, por meio da frequência absoluta (n), frequência relativa (%),
e soma dos escores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Atualmente a Clínica de Terapia Ocupacional da Universidade
do Sagrado Coração fornece atendimentos semanais e gratuitos a
33 crianças, sendo que dentre essas, 17 são participantes do Estágio
Supervisionado em Terapia Ocupacional Aplicada ao Desenvolvimento
Infantil e 16 são participantes do Estágio Supervisionado em Terapia
Ocupacional Aplicada ao Cotidiano Escolar. Desse total, cuidadores
de 3 crianças não se encaixaram nos critérios de inclusão, devido ao
fato das crianças terem mais de 12 anos.
Foram entrevistados 29 cuidadores de 27 crianças atendidas
na Clínica de Terapia Ocupacional da Universidade do Sagrado
Coração, sendo estes cuidadores informais, primários e secundários.
As informações mais prevalentes quanto aos dados
sociodemográficos dos cuidadores foram: sexo feminino (82,76%) e
faixa etária de 31 a 40 anos (41,38%). Quanto ao grau de parentesco
com a criança, 89,66% são pai/mãe.
O estudo demonstrou que a maioria dos cuidadores se trata de
mulheres (82,76%), sendo grande parte delas mães, pois acabam por
interagir por muito mais tempo nesse processo.

868
SORRATINI, Tamiris Braccialli et al. (2012) apontam que independente da faixa etária
Fernanda et al. do indivíduo cuidado ou de seu tipo de patologia, geralmente é a
Qualidade de vida dos mulher que assume a função de cuidadora principal, o que também
cuidadores de crianças foi demonstrado nesse estudo.
de 0 a 12 anos atendidas Na literatura, frequentemente os dados também apontam a mãe
na clínica de terapia como principal cuidadora, visto que ela é quem geralmente passa
ocupacional. SALUSVITA,
mais tempo com a criança, possuindo a responsabilidade de viabilizar
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 861-880, 2019. os tratamentos necessários. (MATSUKURA et al., 2007).
Ainda em comparação ao estudo de Braccialli et al. (2012), a
grande parcela de mães cuidadoras pode ser justificada pelo fator
cultural do país, suposição essa referida também por Padilha et al.
(2017) associando além do fator cultural, fatores históricos e sociais
que atribuem a mulher à função de cuidadora da família e do lar.
Além disso, é culturalmente esperado que o cargo de cuidador seja de
familiares próximos, devido a questões como residir com ou próximo,
afetividade e reciprocidade. Essa comparação está de acordo com o
estudo em questão, que apresenta a mãe como participante ativa do
processo de desenvolvimento do seu filho.
A porcentagem de homens atuando como cuidadores neste
trabalho foi de 17,24%, o que comparado ao número de mulheres
foi um número pequeno, assim como na pesquisa de Anjos, Boery
e Pereira (2014), em que a porcentagem de homens foi de 15,5%,
indicando que apesar de serem minoria, estes também contribuem
como cuidador principal.
Quanto a faixa etária dos cuidadores entrevistados, houve variação
de 23 a 73 anos de idade, sendo a faixa etária de maior prevalência
de 31 a 40 anos (41,38%) o que corrobora com o estudo de Braccialli
et al. (2012), no qual a faixa etária média foi de 39,5 anos de idade,
sendo o cuidador mais novo de 17 anos e o mais velho 71 anos.
Costa et al. (2015) ressaltam que quanto mais novo for o
cuidador, mais há possibilidades de impactos na sua qualidade de
vida, devido ao fato de deixarem a vida profissional e social para
exercerem o cuidado.
As informações mais prevalentes sobre os dados sociodemográficos
das crianças foram: sexo masculino (70,37%), faixa etária de 7 a 9
anos (48,15%), sem hipótese diagnóstica definida (44,44%), porém
das hipóteses diagnósticas citadas, há três casos de autismo, dois
de paralisia cerebral, um caso de atraso no desenvolvimento motor,
um caso déficit de atenção, um de deficiência auditiva, um de déficit
intelectual, um de esclerose tuberosa, um de hemiplegia, um de
Síndrome de West, um de Síndrome de Down, um de transtorno de
déficit de atenção com hiperatividade e um de tumor pineal.

869
Quanto à identificação e hipótese diagnóstica das crianças, nota- SORRATINI, Tamiris
se prevalência de meninos entre 7 a 9 anos e sem hipótese diagnóstica Fernanda et al.
definida, o que vem em contra partida ao trabalho de Oliveira e Qualidade de vida dos
Poletto (2015), que utilizando 19 artigos em sua revisão bibliográfica cuidadores de crianças
sobre vivências emocionais de mães e filhos com deficiência, de 0 a 12 anos atendidas
apontou prevalência de casos de deficiência intelectual, sendo seis, na clínica de terapia
ocupacional. SALUSVITA,
cinco de deficiência visual, quatro sobre deficiência auditiva, dois
Bauru, v. 38, n. 4,
de deficiência física e somente um de deficiência não especificada p. 861-880, 2019.
e deficiência múltipla. Nesse estudo observou-se que o maior
índice está relacionado aos atendimentos realizados sem hipótese
diagnóstica definida e a segunda maior incidência está relacionada
com o autismo em 10,35%. Entende-se que as intervenções variam
em proporcionar o tratamento visando às necessidades e demandas
aparentes de cada caso atendido, possibilitando a independência das
atividades do dia a dia.
Sobre os aspectos relacionados às atividades do cuidador nos
cuidados com a criança, houve prevalência no item sobre cuidado
integral (31,04%) como a atividade que a criança exige maior cuidado.
Dos 29 cuidadores, 20 (68,96%) relataram não ter dificuldade em
cuidar; dos 9 que citaram alguma dificuldade, 3 se referiram ao
comportamento (10,35%), 2 a comunicação (6,89%) e 1 em cada 1 dos
outros aspectos: alimentação, energia, impaciência e por pra dormir.
A pesquisa aponta que a maioria (41,38%) atua na função de 4 a 6
anos e que a mesma porcentagem realiza essa atividade 12 horas ou
mais diariamente. Características semelhantes foram encontradas na
pesquisa de Garrido e Menezes (2004) com cuidadores de idosos, na
qual 51,7% relataram cuidar por mais de 8 horas diariamente, bem
como no trabalho de Murphy et al. (2007), no qual os cuidadores de
crianças relatam passar até 14,7 horas por dia dedicadas à criança
com deficiência.
Dentre os cuidadores, 68,96% relatam não ter dificuldade no
cuidado com a criança, ao contrário de dados obtidos na pesquisa de
Mascarenhas, Barros e Carvalho (2006), em que de 12 cuidadores,
todos relatam dificuldades financeiras, 11 relatam falta de trabalho e
de lazer, 6 relatam dificuldade com a higiene, 4 com a mobilidade, 3
com a alimentação, 2 com transferências e 1 com vestuário.
No que refere às condições de sono e lazer do cuidador, 75,86%
responderam que dormem bem, sendo que 62,07% relataram que
têm de 6 a 8 horas de sono por dia. Quanto ao lazer, a resposta mais
frequente foi não realiza (31,04%).
No que se referem a atividades de lazer dos cuidadores, o
estudo avaliou que 31,04% não realizam nenhuma atividade de
lazer, por passarem a maior parte do tempo dedicado às crianças.

870
SORRATINI, Tamiris Comparando à pesquisa de Altafim, Toyoda e Garros (2015), foi
Fernanda et al. possível identificar por meio de entrevistas com cuidadores atuantes
Qualidade de vida dos há em média cinco anos, que os mesmos passam grande parte do
cuidadores de crianças dia prestando cuidados às crianças e que a maioria deles não realiza
de 0 a 12 anos atendidas atividades de lazer, sendo observado como característica marcante
na clínica de terapia dos cuidadores, que de fato acabam dedicando sua maior parte do
ocupacional. SALUSVITA,
tempo aos cuidados da criança.
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 861-880, 2019. Achados semelhantes são citados na pesquisa de Mascarenhas,
Barros e Carvalho. (2006), em que 50% dos cuidadores relatam não
realizar atividades de lazer.
Quanto ao Instrumento de Qualidade de vida, propriamente dito,
utilizado para a avaliação dos cuidadores, foi o Questionário de
Qualidade de Vida SF-36, este é composto por 36 itens subdivididos
em 8 domínios: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado
geral da saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e
saúde mental.
O Domínio Capacidade Funcional, é composto pela questão 3
do questionário, sendo as perguntas: a) Atividades Rigorosas, que
exigem muito esforço, tais como correr, levantar objetos pesados,
participar em esportes árduos, b) Atividades moderadas, tais como
mover uma mesa, passar aspirador de pó, jogar bola, varrer a
casa, c) Levantar ou carregar mantimentos, d) Subir vários lances
de escada, e) Subir um lance de escada, f) Curvar-se, ajoelhar-
se ou dobrar-se, g) Andar mais de 1 quilômetro, h) Andar vários
quarteirões, i) Andar um quarteirão e j) Tomar banho ou vestir-se
e as alternativas de resposta: “Sim, dificulta muito”, “Sim, dificulta
um pouco” e “Não, não dificulta de modo algum”. Observou-
se prevalência de respostas na alternativa “Não, não dificulta de
modo algum” em 9 das 10 perguntas, sendo que dentre essas, a que
apresentou maior porcentagem foi a relacionada ao banho e vestir-se,
com 96,55% e apenas na pergunta sobre atividades rigorosas e que
exigem muito esforço houve prevalência de resultados na alternativa
“Sim, dificulta um pouco”, com 51,72%.
Nota-se que esse domínio apresenta os melhores escores em
comparação aos outros 7, porém não foi encontrado na literatura
dados específico sobre as perguntas, apenas artigos em que esse
domínio também se destaca, como os estudos de Ferreira et al. (2014).
O Domínio Limitação por Aspectos Físicos é composto pela
questão 4 do questionário, que corresponde as perguntas: a) Você
diminui a quantidade de tempo que se dedicava ao seu trabalho ou a
outras atividades?, b) Realizou menos tarefas do que você gostaria?,
c) Esteve limitado no seu tipo de trabalho ou a outras atividades e
d) Teve dificuldade de fazer seu trabalho ou outras atividades (p.

871
ex. necessitou de um esforço extra), podendo ser respondidas com SORRATINI, Tamiris
Sim ou Não. A maioria dos cuidadores relata não sofrerem alterações Fernanda et al.
em suas rotinas devido a aspectos físicos, sendo a pergunta que Qualidade de vida dos
teve maior porcentagem de respostas “Não” a relacionada com cuidadores de crianças
a diminuição de tempo dedicado ao trabalho e outras atividades, de 0 a 12 anos atendidas
contudo, vale ressaltar que ao responder, os cuidadores foram na clínica de terapia
ocupacional. SALUSVITA,
orientados a refletirem sobre suas últimas 4 semanas.
Bauru, v. 38, n. 4,
Diante disso, pode se observar que a maioria dos cuidadores p. 861-880, 2019.
não se encontra limitada na realização de suas atividades devido a
aspectos físicos, contudo não foram encontrados dados semelhantes
na literatura.
O Domínio Dor é composto pelas questões 7 e 8 do questionário.
A questão 7 corresponde a pergunta: Quanta dor no corpo você teve
durante as últimas 4 semanas? e pode ser respondida com: Nenhuma,
Muito leve, Leve, Moderada, Grave ou Muito Grave e a questão 8
corresponde a pergunta: Durante as últimas 4 semanas, quanto a
dor interferiu com seu trabalho normal (incluindo o trabalho dentro
de casa)?, que pode ser respondida com: De maneira alguma, um
pouco, moderadamente, bastante e extremamente.
Nesta pesquisa, nota-se que o domínio dor não foi de grande
relevância na interferência da qualidade de vida dos cuidadores,
visto que poucos apresentam nível de dor grave (14%) e que intervém
bastante no trabalho normal e em casa (10%), ao contrário da
pesquisa de Mascarenhas, Barros e Carvalho (2006), em que 63,6%
dos cuidadores referem sinais de sobrecarga, como a dor.
O Domínio Estado Geral da Saúde é composto pelas questões
1 e 11 do questionário. A questão 1 é composta pela pergunta: Em
geral você diria que sua saúde é, que pode ser respondida com:
Excelente, Muito boa, Boa, Ruim ou Muito Ruim e a questão 11 é
composta pelas afirmações: a) Eu costumo obedecer um pouco mais
facilmente que as outras pessoas; b) Eu sou tão saudável quanto
qualquer pessoa que eu conheço; c) Eu acho que a minha saúde vai
piorar e d) Minha saúde é excelente, que podem ser relacionadas
com: Definitivamente verdadeiro, A maioria da vezes verdadeiro,
Não sei, A maioria da vezes falso e Definitivamente falso.
Sobre a questão 1 foi possível constatar que 41,38% dos
cuidadores classificam sua saúde como muito boa, seguido por
31,03% dos cuidadores que consideram como boa. Nenhum dos
entrevistados classificou sua saúde como muito ruim, mas 13,79%
deles classificaram como ruim e sobre a questão 11 observa-se que
41,38% dos cuidadores relatam que na maioria das vezes obedecem
mais facilmente que outras pessoas, 31,03% dizem não saber se são
tão saudáveis quanto qualquer outra pessoa que conheça, 51,72%

872
SORRATINI, Tamiris acreditam definitivamente que sua saúde não vai piorar e 34,48%
Fernanda et al. dizem ser definitivamente verdadeiro que a sua saúde é excelente.
Qualidade de vida dos Somente 1 dos cuidadores (3,45%) relata ser definitivamente
cuidadores de crianças verdadeiro que a sua saúde vai piorar e a mesma porcentagem relata
de 0 a 12 anos atendidas ser definitivamente falso que a sua saúde é excelente.
na clínica de terapia Nesse domínio, apenas 12 dos cuidadores (41,38%) referem ter
ocupacional. SALUSVITA,
uma saúde muito boa, ou seja, é um número reduzido comparado
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 861-880, 2019. ao total de 29 entrevistados e 13,79% relatam ter uma saúde ruim, o
que corrobora com a pesquisa de Mascarenhas, Barros e Carvalho
(2006), na qual 50% dos cuidadores realizavam algum tratamento
de saúde específico, o que deixa transparecer que esses possuíam
alterações em aspectos relacionados à sua saúde.
Dados semelhantes foram encontrados na pesquisa de Gonçalves
et al. (2006) em que de 115 entrevistados, apenas 33,9% referem ter
uma boa saúde e 4,3% referem ter uma saúde ruim.
Mendes, Miranda e Borges (2010) em sua pesquisa sobre a saúde
do cuidador de idosos relacionam os problemas de saúde do cuidador
ao fato de o mesmo negligenciar se cuidar por ter que passar grande
parte do tempo se dedicando a um próximo.
O Domínio Vitalidade corresponde as perguntas a, g e i da
questão 9 do questionário, sendo elas: a) Quanto tempo você tem se
sentindo cheio de vigor, de vontade, de força?, e) Quanto tempo você
tem se sentido com muita energia?, g) Quanto tempo você tem se
sentido esgotado? e i) Quanto tempo você tem se sentido cansado?,
que podem ser respondidos com: Todo Tempo, A maior parte
do tempo, Uma boa parte do tempo, Alguma parte do tempo, Uma
pequena parte do tempo ou Nunca.
Os maiores resultados obtidos foram que 41,38% relatam nunca
se sentirem esgotados, 34,48% relatam que a maior parte do tempo
se sentem cheios de vigor, vontade e força, 27,59% se sentem com
muita energia todo tempo e 24,14% se sentem uma pequena parte do
tempo cansados.
Nesse domínio nota-se que a atividade de cuidar gera resultados
variados quanto a aspectos relacionados à vitalidade. Sobre o
cansaço, 24,14% dos cuidadores referem se sentir uma pequena parte
do tempo cansados, o que não ocorre no estudo de Gonçalves et al.
(2006), no qual 33,6% relatam estar sempre cansados.
O Domínio Aspectos Sociais é composto pelas questões 6 e 10 do
questionário. Sendo a questão 6 formada pela pergunta: Durante as
últimas 4 semanas, de que maneira sua saúde física ou problemas
emocionais interferiram nas suas atividades sociais normais, em
relação à família, amigos ou em grupo?, que pode ser respondida
com: De forma nenhuma, Ligeiramente, Moderadamente, Bastante

873
e Extremamente e a questão 10 é formada pela pergunta: Durante SORRATINI, Tamiris
as últimas 4 semanas, quanto de seu tempo a sua saúde física ou Fernanda et al.
problemas emocionais interferiram com as suas atividades sociais Qualidade de vida dos
(como visitar amigos, parentes, etc)?, que pode ser respondida com: cuidadores de crianças
Todo Tempo, A maior parte do tempo, Alguma parte do tempo, Uma de 0 a 12 anos atendidas
pequena parte do tempo e Nenhuma parte do tempo. na clínica de terapia
ocupacional. SALUSVITA,
Na questão 6 foi possível notar que 51,72% dos cuidadores
Bauru, v. 38, n. 4,
relatam que durante as últimas 4 semanas, tanto a saúde física p. 861-880, 2019.
quanto problemas emocionais, não interferiram de forma nenhuma
nas suas atividades sociais normais. Observa-se que nenhum
cuidador referiu interferência extrema. Na questão 10 verificou-
se que 27,59% dos entrevistados referem que durante as últimas 4
semanas a saúde física ou problemas emocionais não interferiram
nenhuma parte do tempo em suas atividades sociais, porém, 13,79%
relatam ter interferido todo tempo.
Entende-se que os cuidadores buscam continuar a realizar
rotineiramente as suas atividades, porém em algumas vezes se sentem
limitados por aspectos emocionais ou físicos. Mascarenhas, Barros
e Carvalho (2006) ressaltam que o cuidador, mesmo em período de
descanso tende a se manter alerta, pois a qualquer momento a criança
pode necessitar de auxílio e isso pode gerar diminuição de atividades
que gostariam de realizar.
O Domínio Limitação por Aspectos Emocionais é composto pelos
itens da questão 5 do questionário e também está relacionado com
as últimas 4 semanas do cuidador. As perguntas correspondentes
são: a) Você diminui a quantidade de tempo que se dedicava ao seu
trabalho ou a outras atividades?, b) Realizou menos tarefas do que
você gostaria? e c) Não realizou ou fez qualquer das atividades
com tanto cuidado como geralmente faz?, que pode ser respondida
com sim ou não.
Constatou-se que as respostas mais prevalentes foram que 75,86%
referem não ter sofrido alterações no cuidado na realização das suas
atividades, 62,07% não diminuíram a quantidade de tempo que se
dedicavam ao trabalho e demais atividades e 58,62% referem não
ter realizado menos tarefas do que gostariam, contudo, vale ressaltar
que 41,38% dos cuidadores relatam ter realizado menor número de
tarefas do que gostariam.
Sendo assim, nota-se que a maioria dos cuidadores não se
encontra limitada na realização de suas atividades devido a
aspectos emocionais, o que vem em contra partida a pesquisa
de Mascarenhas, Barros e Carvalho (2006) que refere que dos
cuidadores entrevistados nenhum relatou exercer atividade
remunerada e apenas 13,6% referiram ter abandonado o emprego

874
SORRATINI, Tamiris para assumir os cuidados do familiar, o restante (86,4%), mesmo
Fernanda et al. não relatando abando do emprego para tornarem-se cuidadores, não
Qualidade de vida dos exerciam atividade profissional remunerada.
cuidadores de crianças O Domínio Saúde Mental é composto pelas perguntas b, c, d, f
de 0 a 12 anos atendidas e h da questão 9 do questionário, sendo as perguntas: b) Quanto
na clínica de terapia tempo você tem se sentido uma pessoa muito nervosa?, c) Quanto
ocupacional. SALUSVITA,
tempo você tem se sentido tão deprimido que nada pode anima-
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 861-880, 2019. lo?, d) Quanto tempo você tem se sentido calmo ou tranquilo?,
f) Quanto tempo você tem se sentido desanimado ou abatido? e h)
Quanto tempo você tem se sentido uma pessoa feliz?, que podem
ser respondidas com: Todo Tempo, A maior parte do tempo, Uma
boa parte do tempo, Alguma parte do tempo, Uma pequena parte do
tempo ou Nunca.
Notou-se prevalência de respostas em 34,48% sobre se sentir uma
pessoa nervosa uma pequena parte do tempo, 58,62% em nunca se
sentir deprimido que nada pode animar, 24,14% em se sentir calmo
ou tranquilo o tempo todo, 48,28% em nunca se sentir desanimado
ou abatido e 31,03% em se sentir uma pessoa feliz o tempo todo.
Vale ressaltar que 10,34% dos cuidadores referem nunca se sentirem
felizes, 13,79% nunca se sentirem calmos ou tranquilos, 6,90%
se sentirem uma pessoa muito nervosa todo tempo e a mesma
porcentagem refere se sentir deprimida ou desanimada.
Mascarenhas, Barros e Carvalho (2006) relacionam a questão da
sobrecarga dos cuidados com interferência nos seus sentimentos, o
que afeta a qualidade de vida e torna as tarefas do cuidado mais
pesadas. Em comparação ao estudo em questão, nota-se que nos
aspectos de saúde mental, a maioria dos cuidadores não se encontra
nervosos, deprimidos ou desanimados, mas também existem aqueles
que se encontram, pois esses sentimentos são reflexos dos impactos
gerados pelo cuidado contínuo.
O resultado total de cada domínio do Questionário de Qualidade
de Vida SF-36 está apresentado na Figura 1. Nos cálculos dos escores
de todos os cuidadores o melhor resultado foi para o componente
“Capacidade funcional” (82,5), seguido de “Limitação por aspectos
físicos” (74,1). Os piores escores foram para “Vitalidade” (57,8) e
“Estado geral da saúde” (58,3). Observou-se que os “Aspectos
sociais” (68,5), “Saúde mental” (67,4), “Dor” (68,2), “Limitação por
aspectos emocionais” (66,7) tiveram valores muito próximos.
Ressalta-se que no Domínio Capacidade funcional, 1 cuidador
não respondeu as questões e no domínio Limitações por aspectos
físicos 2 cuidadores não responderam as questões correspondentes.

875
SORRATINI, Tamiris
Fernanda et al.
Qualidade de vida dos
cuidadores de crianças
de 0 a 12 anos atendidas
na clínica de terapia
ocupacional. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 861-880, 2019.

Figura 1 - Questionário de Qualidade de Vida SF-36- Escore total das respostas

Fonte: elaborado pelos autores

Em relação à qualidade de vida dos cuidadores, este trabalho


apontou escores acima de 50 para os oito domínios avaliados
no Questionário de Qualidade de Vida SF-36, sendo o domínio
Capacidade Funcional o que obteve score mais elevado (82,5) e o
domínio Vitalidade o menor (57,8), bem como em dados obtido na
pesquisa de Ferreira et al. (2014), sobre qualidade de vida de crianças
com deficiência na escola, na qual a média dos melhores resultados
foi associada a Capacidade Funcional (84,34), e os piores resultados
ao Estado Geral da Saúde (62,82) e Vitalidade (66,53).
Visto que os escores variam de 0 a 100, tais resultados apontam
que os cuidadores percebem sua qualidade de vida como “muito
boa”, o que corrobora com informações obtidas na pesquisa de
Braccialli et al. (2012), na qual a coleta de dados realizada por meio
do questionário WHOQOL - bref apontou que 49 dos 90 participantes
relatam ter um bom estado de saúde.
Dados semelhantes foram encontrados na pesquisa de Padilha
et al. (2017), na qual, os resultados sobre a interpretação dos
cuidadores acerca de sua qualidade de vida e sobrecarga foram bons.
Os elevados resultados podem ser justificados pelo fato de que todos
os cuidadores entrevistados são integrantes da família das crianças
e provavelmente preferem não assumir a responsabilidade de cuidar
como algo que sobrecarregue ou interfira negativamente em suas
vidas, mas sim como algo gratificante. Outra justificativa pode ainda
ser o receio ou constrangimento em responder os questionários.
Ainda em concordância, Anjos, Boery e Pereira (2014) apontam
que a responsabilidade de cuidar, mesmo que seja desgastante, é

876
SORRATINI, Tamiris capaz de despertar sentimentos positivos e sensação confortadora,
Fernanda et al. como dignificação e dever cumprido.
Qualidade de vida dos Porém, na soma dos scores de todos os cuidadores, verificou-se
cuidadores de crianças que nenhum deles atingiu o valor máximo de 100, podendo constatar
de 0 a 12 anos atendidas que existem alguns aspectos que interferem, mesmo que pouco, na
na clínica de terapia interpretação de qualidade de vida de cada cuidador.
ocupacional. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 861-880, 2019.
CONCLUSÃO
O presente estudo buscou avaliar a qualidade de vida de
cuidadores de crianças de 0 a 12 anos atendidas na Clínica de Terapia
Ocupacional, por meio do Questionário de Qualidade de Vida SF-36.
Nesse aspecto observou-se que mesmo com a grande quantidade
de responsabilidades e sobrecargas acima do cuidador, sua qualidade
de vida pode ser considerada “muito boa”, principalmente no aspecto
relacionado à capacidade funcional, tal fato pode estar relacionado ao
vínculo entre cuidador e criança cuidada, que pode gerar benefícios
para a qualidade de vida de ambos, bem como pode relacionar-se
ao fato de todos os cuidadores serem familiares próximos e não
assumirem a responsabilidade de cuidar como algo desgastante, mas
sim como algo prazeroso e dignificante.
Apesar dos altos scores obtidos no Questionário de Qualidade
de Vida – SF 36, nenhum domínio atingiu o score máximo de 100,
podendo se constatar que todos possuem alguma interferência,
mesmo que pouca, em sua qualidade de vida. Sendo assim, se
ressalta a importância de que o cuidador deve receber suporte junto
à criança por ele cuidada, suprindo a demanda de ambas para um
melhor funcionamento e contribuição no tratamento.
No entanto, ocorreu dificuldade na busca de literatura relacionada
à avaliação da qualidade de vida de cuidadores de crianças,
abrangendo aspectos semelhantes ao cuidadores entrevistados e
questões apontadas nos questionários, o que ressalta a importância
do tema e a relevância científica do mesmo, bem como a contribuição
para novas pesquisas e oportunidade de valorizar essa clientela
que tanto interfere favoravelmente na evolução dos pacientes que
realizam acompanhamento terapêutico ocupacional.

877
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Fernanda et al.
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880
1
Discente do curso de Terapia

QUALIDADE DE VIDA DE
Ocupacional, UNISAGRADO,
Bauru, São Paulo, Brasil.
2
Terapeuta Ocupacional pela
Faculdade Dom Bosco – Lins
(1984), Mestrado em Ciências
PROTETIZADOS DE
pela Coordenadoria de Controle
de Doenças/SES (2005), MEMBRO INFERIOR
Doutoranda em Biologia Oral
pela Universidade do Sagrado
Coração, Conselheira Suplente no
Conselho Regional de Fisioterapia
Quality of life of lower limb
e Terapia Ocupacional- CREFITO prosthetized subjects
3 - Gestão 2016-2020, Terapeuta
Ocupacional do Instituto Lauro
de Souza Lima.
3
Discente do curso de
Fisioterapia, UNISAGRADO,
Tamiris Costa Lourenço1
Bauru, São Paulo. Cristina Maria da Paz Quaggio2
4
Discente do curso de Gabriel Rampazzo Rodrigues3
Fisioterapia, UNISAGRADO,
Bauru, São Paulo. João Honorato Neto4
5
Fisioterapeuta pela Universidade Luis Henrique Simionato5
de São Carlos (1988),
Especialização em Administração Maria Amélia Ximenes6
em Serviços de Saúde e em
Psicopedagogia (1996),
Mestrado em Biologia Oral
pela Universidade do Sagrado
Coração (2004), Doutorado em
Bases Gerais da Cirurgia pela
Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (2017).
Atualmente é docente do curso
de Fisioterapia da Faculdade
Integrada de Bauru (FIB) LOURENÇO, Tamiris Costa et al. Qualidade de vida de protetizados
Terapeuta Ocupacional pela de membro inferior. SALUSVITA, Bauru, v. 38, n. 4, p. 881-897, 2019.
6

Universidade de Fortaleza
(1985), Especialista em Psicologia
da Saúde pela Universidade
Júlio de Mesquita Filho, Mestre RESUMO
em Gerontologia pela Pontífica
Universidade Católica de São
Paulo (2005), Doutora em Introdução: Atualmente nota-se muitas pessoas com algum tipo
Ciências Sociais pela Pontífica deficiência, sendo a física a segunda maior causa com 1,3% dos
Universidade Católica de São acometidos por acidentes que podem levar a amputações. O Instituto
Paulo (2011). Analista de do Nacional do Seguro Social (INSS) reabilita profissionalmente os
Instituto Nacional.
beneficiários incapacitados para a sua atividade profissional em
Recebido em: 13/08/2019
decorrência de doença ou acidente e portadores de deficiência,
Aceito em: 29/12/2019 com finalidade de promoção dos meios para a sua reinserção no

881
mercado de trabalho e sociedade. Para entender a qualidade de vida LOURENÇO, Tamiris
dessa população e partindo da definição da OMS sobre qualidade Costa et al. Qualidade
de vida entende-se que a amputação influencia nos aspectos físico, de vida de protetizados
psicológico, cultural e social. Objetivo: Este estudo teve como de membro inferior.
objetivo avaliar a qualidade de vida de amputados protetizados de SALUSVITA, Bauru, v. 38,
membro inferior segurados do Instituto Nacional do Serviço Social n. 4, p. 881-897, 2019.
(INSS) a partir das dificuldades apresentadas da rotina de vida
diária. Método: Aplicação do protocolo de avaliação da qualidade
de vida em amputados (Prostthesis Evalution Questionnaire”(PEQ).
Foram avaliados 13 sujeitos homens, jovens adultos com idade
média de 39 anos, etiologia mais evidente foi acidente de trabalho,
nível de amputação transfemoral (59%) e incidência do lado direito.
Resultados e Discussão: Foi possível verificar boa qualidade dessa
clientela, com maioria dos resultados dos grupos do questionário
com média acima do mínimo (5,0), porém apresentam dificuldades
quanto à realização das atividades de vida diária, justificadas pelo
fato da instituição somente ter como objetivo a volta ao trabalho.
Conclusão: Por meio de uma somatória de resultados apresentados
pelos participantes da pesquisa foi possível evidenciar que a
população amputada protetizada do INSS- Bauru possui qualidade
de vida classificada média dentro do padrão (média do score 5,0)
avaliada nessa população.

Palavras-chave: Qualidade de Vida. Amputados. Prótese. Avaliação.

ABSTRACT
Introduction: Nowadays, there are a large number of people
with some type of disability, with physics being the second largest
cause with 1.3% of those affected by accidents that can lead to
amputations. The National Institute of Social Security (INSS)
professionally rehabilitates beneficiaries who are incapacitated
for their professional activity as a result of illness or accident and
with disabilities, with the purpose of promoting the means for their
reintegration into the labor market and society. To understand the
quality of life of this population and starting from the definition
of the WHO on quality of life is understood that the amputation
influences in the physical, psychological, cultural and social aspects.
Objective: The objective of this study was to evaluate the quality
of life of the protected socially assisted amputees of the National
Institute of Social Work (INSS), based on the difficulties presented
in the daily life routine. Methods: It was used the Quality of life

882
LOURENÇO, Tamiris assessment protocol (Prosthetics Evaluation Questionnaire - PEQ).
Costa et al. Qualidade A total of 13 male subjects, young adults with a mean age of 39
de vida de protetizados years, the most evident etiology was work accident, transfemoral
de membro inferior. amputation level (59%) and right-side incidence. Results and
SALUSVITA, Bauru, v. 38, Discussion: It was possible to verify good quality of this clientele,
n. 4, p. 881-897, 2019. with most of the results of the groups of the questionnaire with a mean
above the minimum (5.0), but they present difficulties regarding the
accomplishment of daily life activities, justified by the fact that the
institution only aims to return to work. Conclusion: Through a sum
of results presented by the research participants, it was possible to
show that the prosthetized amputated population of the INSS-Bauru
has quality of life, classified as average within the standard (average
score 5.0) as evaluated in this population.

Keywords: Quality of Life. Amputees. Prosthesis. Evaluation.

INTRODUÇÃO
Atualmente é possível notar muitas pessoas com algum tipo
deficiência, sendo visual, auditiva, física ou intelectual. Segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
essa incidência é de 6,2% da população brasileira. A deficiência
física, é considerada a segunda maior causa, sendo essa em 1,3%
desta população, que são acometidas por acidentes de trabalho e
automobilísticos, podendo levar a amputações. (IBGE, 2010)
Segundo Silva et al (2017), as amputações de membros,
seja no nível dos pododáctilos, ou envolvendo a perda parcial ou
total do membro, trazem consigo desafios clínicos e sociais para
os pacientes a elas submetidos, mesmo que em diferentes níveis.
Determinar as características clínicas e os fatores de risco de cada
grupo é fundamental para compreender o processo que leva à perda
do membro.
Na amputação, consideram-se importantes três pontos:
motor, sensorial e corporal. Esse foco possibilita diminuir o curso
da enfermidade que poderá ocorrer no processo de cicatrização e de
funcionalidade, sendo relevante a atenção na preservação máxima
possível do membro acometido (PEDRINELLI, 2004).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) descreve qualidade
de vida como a “percepção do indivíduo de sua posição na vida no
contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em
relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”.
Partindo desta definição, é possível perceber que a amputação

883
influencia não apenas fatores da biofísica e fisiologia, como também LOURENÇO, Tamiris
questões psicológicas, culturais e sociais. (OMS, 1995). Costa et al. Qualidade
Abgdalla et al (2013) aponta que existe um comprometimento da de vida de protetizados
autoestima, da mobilidade e da capacidade de realizar atividades de membro inferior.
de vida diária (AVDs), de trabalho e de lazer, com maior impacto na SALUSVITA, Bauru, v. 38,
limitação à capacidade de executar a marcha de forma adequada, n. 4, p. 881-897, 2019.
acarretando dificuldade na realização das atividades funcionais
necessárias para a independência pessoal. Esse apontamento tem
ligação direta com a qualidade de vida dessas pessoas tendo em
vista tais complicações e limitações que podem repercutir de
forma negativa.
A limitação causa dependência dessa clientela, ou seja, uma
limitação pessoal, além de econômica e/ou inadequação das políticas
públicas entre outras modificações causadas pela cirurgia e a perda
da integridade física. (CARVALHO, 1999).
Para que seja desenvolvido um trabalho efetivo da qualidade de
vida em amputados, é importante a atenção desde o preparo para
a cirurgia de amputação, o processo cirúrgico, o pós-operatório,
incluindo orientações sobre a sensação fantasma, dores e posterior
reabilitação. Para que isso aconteça, é necessária uma relação
equipe-paciente satisfatória que contribua para a redução do tempo
de internação e acelere o retorno ao lar. (KUHN, 1997)
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em caráter
obrigatório, independentemente de carência, reabilita
profissionalmente os beneficiários que estão parcial ou totalmente
incapacitados para a sua atividade profissional em decorrência de
doença ou acidente de qualquer natureza ou causa, e ainda aos
portadores de deficiência, tendo por finalidade a promoção dos
meios para a sua reinserção no mercado de trabalho e na sociedade.
(PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2015)
Os segurados que estão no programa de reabilitação, após o
processo cirúrgico (amputação) são encaminhados pela perícia
médica do INSS a uma avaliação por uma equipe multidisciplinar,
que determina se ele está elegível ou inelegível para voltar ao
trabalho. Se o segurado for avaliado como elegível para voltar
ao trabalho, ele é direcionado para o programa de protetização
e, posteriormente, é recolocado no mercado de trabalho.
(PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2015)
O objetivo desse estudo foi avaliar a qualidade de vida de
segurados amputados e protetizados de membro inferior com, no
mínimo, seis meses de atendimento no Instituto Nacional do Serviço
Social (INSS) da gerência de Bauru.

884
LOURENÇO, Tamiris MATERIAIS E MÉTODO
Costa et al. Qualidade
de vida de protetizados
de membro inferior.
O tipo de pesquisa é descritivo com enfoque quali-quantitativo. O
SALUSVITA, Bauru, v. 38, campo de estudo foi o Instituto Nacional do Serviço Social (INSS)
n. 4, p. 881-897, 2019. da gerência de Bauru.
Para critérios de inclusão, foram selecionados amputados por, no
mínimo, seis meses e protetizados de membro inferior, com idade
mínima de 18 anos atendidos no INSS da gerência de Bauru.
Foram excluídos da pesquisa sujeitos não segurados pelo INSS da
gerência de Bauru, não amputados protetizados de membro inferior,
e com menos de seis meses de atendimento no INSS. A população
identificada foi de 80 segurados do serviço do INSS da gerência
de Bauru, porém, 13 aderiram à pesquisa, por comparecerem à
Instituição para realização do estudo. A coleta de dados aconteceu
no período de agosto/2017 a outubro/2017 de maneira individual.
Foram aplicados dois instrumentos para a coleta de dados, um
caracterizado com dados sociodemográficos. O segundo instrumento
foi o Prosthesis Evalution Questionnaire– PEQ, que emprega 85
questões referentes às últimas quatro semanas, com opções que
variam de “muito” a “nem um pouco”. Estas questões são divididas
em 7 grupos, sendo: Grupo 1: Referente à prótese do segurado,
Grupo 2: referente a sensações corporais bastante específicas, tais
como pressão, cócegas, dor, membro fantasma e membro residual
(coto), Grupo 3: referente a aspectos sociais e emocionais na
utilização de uma prótese mais experiências positivas e negativas com
pessoas próximas do protetizado, Grupo 4: referente à capacidade
de deslocação, Grupo 5: referente a satisfação com situações
particulares, Grupo 6: referente a capacidade para realização de
atividades cotidianas com a prótese, Grupo 7: referente à avaliação
da importância de diferentes aspectos (ou qualidades) da experiência
com a prótese. Estes grupos são compostos por testes alternativos,
um número adicional de perguntas individuais e uma escala não
estruturada, constituída por uma linha com 100 mm, em que o lado
direito apresenta maior valor e, portanto, maior positividade. Seus
resultados serão transformados em variáveis numéricas e tabulados
em planilhas do Excel avaliados pela análise de variância – ANOVA,
teste de Tukey (VIEIRA, 1980).
As questões abrangem temas sobre satisfação, dor, transferência,
cuidado com a prótese, auto eficiência e importância. As escalas
avaliadas são: Utilidade, Aparência, Sons e Saúde do membro
residual, Mobilidade e Transferência e Deambulação; Frustração,
Resposta Percebida e Peso Social; Bem-Estar.

885
resUltados e discUssÃo LOURENÇO, Tamiris
Costa et al. Qualidade
de vida de protetizados
caracterização da amostra de membro inferior.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
Foi possível concluir que os sujeitos amputados avaliados e n. 4, p. 881-897, 2019.
protetizados de membro inferior são do sexo masculino, com idades
que variam entre 24 e 71 anos, com média de 39 anos. No entanto,
segundo dados do IBGE, a maioria dos sujeitos amputados no
Brasil são jovens adultos com idade entre 18 e 40 anos. No estudo
de Lima et al (2016) os resultados apresentados foram semelhantes:
atingiu a idade média de 30 a 40 anos, resultado também referido
nesse trabalho.
O tempo de amputação apresentado nesse estudo foi de 1 a 16 anos,
com a média de 6 anos dos sujeitos avaliados, tempo relativamente
longo o que permeia a ideia de um período satisfatório para
recuperação e reabilitação (Figura 1). Atrelado ao estudo de Baraúna
et al (2006; 2010) que refere em seu estudo que, de maneira geral, os
segurados estão reabilitados de forma favorável e são encaminhados
ao setor de reabilitação o mais breve possível, essa prerrogativa está
favorecendo um melhor resultado funcional.

Figura 1 - Distribuição do tempo de amputação, em anos.

Fonte: os autores

Quanto à lateralidade, o lado direito aparece com 57% nos


sujeitos avaliados, e o lado esquerdo atingiu 43%, o que direciona
a ideia de que o lado de dominância são alvos de maior risco de
amputados (Figura 2). Teixeira e Novak realizaram estudo do nível
de independência física dos amputados de membro inferior, no qual
apresentaram, em seus resultados, que 58% dos indivíduos possuíam

886
LOURENÇO, Tamiris amputação do lado direito, enquanto 29% eram do membro esquerdo,
Costa et al. Qualidade reafirmando a lateralidade com maior incidência.
de vida de protetizados A causa de amputação está como maior incidência relacionado
de membro inferior. ao acidente de trânsito, com 54%, acidente de trabalho, com 38%
SALUSVITA, Bauru, v. 38, dos entrevistados e apenas 8% dos casos estão relacionados a
n. 4, p. 881-897, 2019. problemas vasculares. Segundo estudos do IBGE (2010), o acidente
de trabalho corresponde à segunda causa de amputação. Em estudo
feito por Muhlen et al (2012), dentre as etiologias da amputação, as
traumáticas apresentaram segundo maior índice de 43%, perdendo
apenas para etiologia vascular de 46%. Essas características dos
avaliados corroboram o estudo em questão.
Em relação ao nível de amputação com a maior incidência, foi
caracterizada pela amputação transfemoral, com 69%, e 31% tipo
transtibial. O resultado desse estudo está semelhante ao estudo de
Santos et al (2010), o qual apresentou que o nível transfemoral tem
maior número de 43% em sua amostra. Houve também resultado
semelhante no estudo de Cassefo et al (2003), no qual o nível
transfemoral (52%) também foi mais evidente, contribuindo com
nosso estudo.

Prosthesis Evaluation Questionnaire – PEQ.

Segue abaixo os resultados referentes ao questionário Prosthesis


Evalution Questionnaire– PEQ, de acordo com o Grupo 1:
Dentre as questões abordadas no Grupo 1, a que mais apresentou
impacto foi a questão (I), que diz respeito à facilidade de colocação
da prótese, com média de 6,85 e desvio padrão de 3,11. Em seguida,
as questões que apresentaram maior impacto foram a questão (P),
relacionada às limitações de escolha de vestuário impostas pela
prótese, com média de 6,91 e desvio padrão de 2,76, e a questão
(O), relacionada à capacidade para usar sapatos da preferência do
protetizado, com média de 6,82 e desvio padrão de 3,5. A questão
com menor impacto foi a questão (Q), que diz respeito à transpiração
dentro da prótese, com média de 2,52 e desvio padrão de 2,78.
Em sua maioria, o grupo avaliado apresentou independência na
realização das atividades, mesmo com as dificuldades pontuadas
no questionário. É de suma importância a seleção da prótese mais
adequada ao segurado, atendendo as necessidades apontadas e
favorecendo mobilidade, função e bem-estar. Pastre et al (2005),
em estudo, descreve que a prótese deve ser leve para minimizar o
gasto energético e esforço muscular, tendo em vista as alterações
biomecânicas da marcha que ocasiona maior gasto de energia.

887
Contudo, ainda que consiga colocar a prótese, os mesmos elencaram LOURENÇO, Tamiris
dificuldade na realização da utilização da prótese com outros Costa et al. Qualidade
utensílios, como de vestuário, mas não deixam de realizar. Essa de vida de protetizados
informação norteia a ideia de que frente às necessidades apresentadas, de membro inferior.
grande parte dos amputados protetizados se adapta à rotina e realiza SALUSVITA, Bauru, v. 38,
suas atividades. n. 4, p. 881-897, 2019.
Em seu estudo, Biffi et al (2017) fizeram um levantamento sobre
os problemas do dia a dia de um grupo de amputados, avaliando as
dificuldades pontuadas pelos mesmos, no qual foi apresentado que,
na categoria Autocuidado, a variável com maior impacto foi o vestir
membro inferior (42,9%). Entende-se que a perda do membro inferior
pode acarretar comprometimentos principalmente relacionados a
equilíbrio e deslocamento, bem como nas transferências, podendo
justificar a dificuldade no vestuário e a necessidade de atividades que
favoreçam o treinamento de atividades de vida diária com enfoque
no vestuário e, não apenas na deambulação, o que na maioria das
vezes é mais empregado no processo reabilitativo.
A utilização da prótese em questões relacionadas ao vestuário
pede atenção não apenas na adaptação e trabalho dessa habilidade,
mas também em relação ao material da roupa e sapato que farão uso
e a um modelo mais adaptativo à sua necessidade, além de opções
que agradem o consumidor protetizado.
Dentre as questões abordadas no Grupo 2, a que mais apresentou
impacto foi a oitava questão (M), que diz respeito ao quão
incomodativa foi a dor na outra perna ou pé. Em seguida, a questão
(P) apresentou maior significância, referente a quão incomodativa
foi a dor nas costas e em terceiro a questão (O), que diz respeito a
avaliação da intensidade medida de dor nas costas. A questão com
menor impacto foi a questão (B), referente à sensação não dolorosa
do membro fantasma e sua intensidade média, com média de 1,05 e
desvio padrão de 3,47. Uma das questões mais impactantes na vida
do amputado protetizado é a do equilíbrio, visto que a perda de um
membro ocasiona a diminuição do peso, bem como a sua distribuição,
exigindo do sujeito readaptação da postura e um trabalho com foco
no equilíbrio, que se verá com alterações a serem reconstruídas.
Segundo Enoka (2000), a postura mecânica está relacionada
com a sua manutenção. Com isso, muitas vezes pode ter falta de
continuidade da reabilitação no seu contexto de ambiente e nos
lugares que compõem sua rotina, acarretando dor no lado não
afetado e nas costas, pela má postura e a compensação de peso
que comumente é notada. Isso pode ser resultado da postura dos
amputados protetizados nos serviços, que por sua vez devem ter uma
atenção especial no contexto do equilíbrio do protetizado.

888
LOURENÇO, Tamiris Batista et al (2012) afirma que a amputação traz consigo
Costa et al. Qualidade transformações na vida do sujeito e alterações no seu cotidiano,
de vida de protetizados tornando-o mais limitado em comparação ao padrão de normalidade
de membro inferior. e participante de novas vivências dentro do campo físico na
SALUSVITA, Bauru, v. 38, adaptação da prótese, por exemplo. Alguns dos sujeitos avaliados
n. 4, p. 881-897, 2019. no estudo de Baraúna et al (2006) têm relativamente pouco tempo
de uso da prótese, ponto importante a ser considerado, visto que a
adaptação com o peso do material exige tempo. O sujeito protetizado
que participa de exercícios e atividades terapêuticas reabilitadoras
o quanto antes, pode ter, consequentemente, melhores condições
relacionadas ao equilíbrio postural para realizar suas atividades
estática e dinâmica, por isso é de suma importância verificar o
peso do indivíduo e da prótese a ser utilizada para que haja melhor
distribuição de peso mutuamente e sem desvios. Dornelas (2010)
reforça essa informação por meio de um estudo feito com amputados
protetizados, na qual sujeitos que foram encaminhados para a
reabilitação mais precocemente apresentaram menor intervalo de
tempo de retorno ao trabalho.
Dentre as questões do Grupo 3, as que obtiveram valor com
maiores relevâncias foram questão (H), que diz respeito à avaliação
da reação do familiar dois referente à prótese, com média de 7,96
e desvio padrão de 2,64; em seguida a questão (D), relacionada à
avaliação da reação do companheiro (cônjuge) em relação à prótese,
com média de 7,78 e desvio padrão de 2,21. Por conseguinte, a
questão (I), referente à avaliação do quanto à prótese tem sido um
fardo para o companheiro ou os familiares, com média de 7,33 e
desvio padrão de 2,62. A questão com menor valor de relevância
foi a questão (C), que diz respeito ao sentimento de frustração com
a prótese, no acontecimento mais frustrante, e como o segurado se
sentiu na altura, com média de 6,03 e desvio padrão de 3,45.
Os números mostram que a reação dos familiares foi positiva
e acolhedora, mas que ainda assim os protetizados sentem-
se para a família como um fardo. Muito desse olhar pode estar
relacionado a como o próprio segurado compreende sua limitação
e a disposição que pessoas próximas a ele têm para consigo, no
sentido de que o fardo é visto mais pelo protetizado e não tanto
pelo parente, tanto que a questão de menor impacto foi justamente
a de frustrações com a prótese. A qualidade de vida engloba
não só aspectos físicos, mas sociais e psicológicos, o que torna
necessária a atenção quanto ao suporte social dessas pessoas,
pois muitas se veem em situação de vulnerabilidade. O apoio que
o amputado tem contribuirá para que o mesmo tenha um olhar
positivo quanto a suas capacidades e autoestima, e influenciará

889
diretamente na sua qualidade de vida, bem como na compreensão LOURENÇO, Tamiris
da mesma para com ele. (GABARRA et al, 2007) Costa et al. Qualidade
Dentro da coleta, foram selecionados participantes de ambos os de vida de protetizados
sexos (feminino e masculino), porém os participantes efetivamente de membro inferior.
foram do sexo masculino no total (100%), condizendo com os dados SALUSVITA, Bauru, v. 38,
do IBGE (que apontam maior prevalência no sexo masculino), a n. 4, p. 881-897, 2019.
idade média dos amputados protetizados é de 39 anos. A média
de tempo de amputação é de 6,2 anos. Houve maior prevalência
de amputação de nível transfemoral com 69% e, posteriormente,
nível transtibial. A lateralidade da amputação com maior incidência
foi o lado direito, com 57%, e subsequente o lado esquerdo com
43%, tendo em vista que a maior parte da população é destra. A
etiologia mais presente foi acidente de trânsito, com 54%, acidente
de trabalho, com 38%, e por último problema vascular, com 8%. Em
2013, de acordo com o IBGE, 3,1% da população brasileira sofreu
acidente de trânsito, sendo 4,5% do sexo masculino e 1,8% feminino.
Dentro dos acidentes de trabalho entre homens e mulheres, 5,1% é
do sexo masculino e 1,9% do sexo feminino, sendo 4,4% no grupo
de idade de 18 a 39 anos, norteando e justificando os resultados da
avaliação com amputados protetizados.
No Grupo 4, a questão que apresentou maior resultado foi a (M),
referente à capacidade de tomar banho em segurança, com média de
7,33 e desvio padrão de 3,37. Em seguida, a questão (I), referente
à capacidade de entrar e sair do carro utilizando a prótese, com
média de 6,55 e desvio padrão de 3,26 e a questão (K), referente
à capacidade de sentar ou levantar de uma cadeira baixa ou mole,
com média 6,24 e desvio padrão de 3,45. O pior resultado foi da
questão (B), referente à capacidade de andar em lugares apertados,
com média de 5,04 e desvio padrão de 3,09.
A média de capacidade de deslocamento com a prótese é superior
a 5.00 no score, o que leva a subentender que, de maneira geral, os
amputados protetizados têm uma boa adaptação com o dispositivo e
sua utilização, mas as dificuldades em determinados pacientes são
evidente devido a ajustes incorretos ou a próteses não permanentes.
É possível que o sujeito possa ter uma boa qualidade de vida, pois
é amparado por situação civil estável, tem uma renda mensal,
junto com aposentadoria ou trabalho (CHAMLIAN; 2007), mas
um grande desafio quando o mesmo é protetizado, visto que, após
a reabilitação protética, não é fácil elucidar a capacidade de andar
do paciente levando em conta fatores que podem afetar o resultado
(SAMSAN, 2012). Ludwig et al (2014) fizeram um estudo avaliando
a funcionalidade de amputados protetizados, no qual verificou-se
melhor adaptação com a prótese em jovens-adultos e que o tempo de

890
LOURENÇO, Tamiris prótese não é tão importante quanto a idade, mas sim a sua capacidade
Costa et al. Qualidade de adaptar-se com uma nova rotina. A média da idade dos avaliados
de vida de protetizados é de 39 anos, dentro da classificação jovem adulto, o que favorece a
de membro inferior. vertente do estudo de Ludwig. Logo, a capacidade de deslocação está
SALUSVITA, Bauru, v. 38, diretamente ligada mais à idade do sujeito que a seu tempo de uso da
n. 4, p. 881-897, 2019. prótese. Conseguir prever ou prescrever quais seriam as condições
necessárias para o sucesso do uso da prótese após o processo de
reabilitação, seria melhor para reduzir os gastos com a confecção do
dispositivo e com os gastos da reabilitação e facilitaria condutas e
adaptações para a prótese, além de causar uma menor frustação ao
paciente que espera pela prótese (PAIVA, L.L., GOELLNER; 2008),
o que viabiliza a aplicação do referido questionário para tal.
No Grupo 5, as questões com maiores resultados foram a (F),
referente às informações que foram recebidas quanto a prótese atual,
com média de 7,45 e desvio padrão de 2,79, seguindo a questão (E),
referente à satisfação com a pessoa que ajustou a prótese, com média
de 7,25 e desvio padrão de 3,64 e a questão (G), referente ao andar,
e informações protéticas desde a amputação, com média de 5,95 e
desvio padrão de 3,35. O pior resultado foi da questão (B), referente à
satisfação quanto à forma que caminha, com média de 5,33 e desvio
padrão de 3,21.
Esse resultado mostra a média acima de 5, mostrando que os
sujeitos estão satisfeitos com o uso da prótese e seus ajustes. Aceitar
a amputação não é nada fácil e requer muita força vinda dos dois
lados, tanto da equipe que vai trabalhar na reabilitação, quanto do
sujeito amputado, visto que a retirada parcial de um membro não
é nada aceitável pelas pessoas (GABARRA; CREPALDI, 2009).
Essa dificuldade na aceitação pode ter relação com o relativo
baixo resultado quanto ao andar, pois por mais que o protetizado
tenha uma boa adaptação e na utilização da sua prótese, não será
da mesma maneira como se tivesse o membro até então amputado,
aumentando a chance possíveis traumas no que dizem respeito a
questões psicológicas. Os profissionais da saúde devem atuar de
acordo com a necessidade do paciente, e tendo em mente todas as
etapas da reabilitação a curto, médio e longo prazo (LIU et al, 2010).
A prótese devolve ao paciente uma independência, fazendo com
que ele volte a realizar atividades de vida diária e restaurando sua
funcionalidade (DIOGO, 2003). Chini (2005) relatou, em seu estudo,
que a prótese devolve a capacidade de realização para qualquer
atividade, melhorando a autoestima do sujeito. Contudo, por mais
que o protetizado consiga realizar a deambulação – habilidade mais
tratada durante a reabilitação –, a maioria dos sujeitos pontua certa
insatisfação quanto ao caminhar e a seu estado atual.

891
No Grupo 6, dentre as três questões, a que apresentou maior LOURENÇO, Tamiris
impacto foi a (C), referente à realização de atividades cotidianas sem Costa et al. Qualidade
a prótese, com média de 5,02 e desvio padrão de 3,08. Em segundo de vida de protetizados
lugar, a questão (A), referente à realização de atividades cotidianas de membro inferior.
com ajuste inadequado da prótese, apresentando média de 4,31 e SALUSVITA, Bauru, v. 38,
desvio padrão de 3,39. Por último, a questão (B), referente à capacidade n. 4, p. 881-897, 2019.
de realizar atividades cotidianas com a prótese desconfortável, com
média de 3,76 e desvio padrão de 3,36.
Na realização das atividades cotidianas, a média ficou abaixo
de 5, ultrapassando apenas em uma das questões. Isso indica que
há dificuldade em realizar atividades do cotidiano fazendo uso da
prótese. O atraso no encaminhamento do amputado a um programa
de reabilitação está relacionado ao baixo retorno dos amputados
ao trabalho (DORNELAS, 2010). Lopes et al (2010), em estudo,
evidenciaram a dependência de amputados na realização das
AVDs, assim como nos resultados apresentados pelo instrumento
de avaliação.
Diogo (2003) relata que a visão da sociedade sobre um amputado
pode mudar de acordo com sua capacidade funcional para a realização
de atividades de vida diária. As maiores dificuldades encontradas
na realização de atividades de vida diária são: transferências,
deambulação e uso de escadas.
Já no estudo de Debastiani (2005), também é relatado que existe uma
grande porcentagem de indivíduos independentes para tomar banho,
comer, beber, usar o banheiro e se vestir, assim como nos resultados
apresentados no presente estudo. Atividades desempenhadas com
maior frequência e que não carecem de exposição do sujeito possuem
melhores resultados que as atividades que expõem os protetizados
em meio à sociedade, o que se subentende que é considerado o olhar
que o sujeito tem da sociedade para consigo no seu desempenho,
além do olhar que ele mesmo tem de si quando está em público e
quando não está.
A importância da prótese se dá principalmente quanto às questões
estética e funcional para auxiliar o protetizado nas suas atividades
de vida diária.
Com base nos resultados do Grupo 7, a média se manteve
acima de 6.00, e apenas duas perguntas ficaram abaixo da média.
O atendimento deve ser de maneira global, visando o retorno da
sua funcionalidade e socialização (ARAÚJO, 2008). É necessário
tomar cuidado com o esforço demandado por atividades físicas, pois
o esforço e o gasto energético são enormes por conta da sua nova
condição de protetizado. Normalmente, o transporte público é uma
das suas principais queixas (OLIVEIRA, 2009). Muitos pacientes

892
LOURENÇO, Tamiris relatam sobre o mau cheiro de sua prótese. Então, é necessário
Costa et al. Qualidade tomar alguns cuidados durante o preparo da pele, como degermação
de vida de protetizados do campo operatório e antissepsia com soluções alcoólicas ou
de membro inferior. clorexidina (LIMA, et al 2013).
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 881-897, 2019.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo mostrou que os segurados tinham um tempo de
amputação relativamente longo, o que levou a deduzir que o espaço
de tempo causado pelo processo de encaminhamento ao serviço de
reabilitação física após a amputação pode ter contribuído para uma
boa recuperação e adaptação com o dispositivo. Tal fato colabora
diretamente na avaliação, principalmente na questão da utilização da
prótese, transferências, conscientização e reabilitação do instrumento
protético e recepção da família para com o protetizado.
Por outro lado, a realização das Atividades de Vida Diária é um
ponto a ser trabalhado com mais ênfase, devido ao baixo score. Desta
forma, deve-se considerar a importância do Terapeuta ocupacional,
como parte integrante da equipe multiprofissional a fim de reabilitar
de forma integrativa as demandas relacionadas à rotina de cada
usuário atendido nessa Instituição.
De maneira geral, foi possível notar que os amputados
protetizados possuem independência satisfatória, devido ao
tratamento de reabilitação, mas o aspecto psicossocial ainda é um
lado a ser trabalhado com a clientela, o que pode ser feito por meio
de atividades expressivas e atividades grupais desempenhadas pela
Terapia Ocupacional e atendimento psicológico, visto que os mesmos
apresentam-se inseguros em momentos de socialização e possível
exposição da prótese.
Por meio de uma somatória de resultados apresentados pelos
participantes da pesquisa, foi possível evidenciar que a população
amputada protetizada do INSS-Bauru possui qualidade de vida
classificada como média dentro do padrão (média do score 5,0).
No entanto, houve dificuldade de busca literária relacionada aos
amputados nos aspectos psicossociais e, desta forma, fica evidente a
necessidade de estudos futuros voltados a essa clientela.

893
REFERÊNCIAS LOURENÇO, Tamiris
Costa et al. Qualidade
de vida de protetizados
ARAÚJO, R. A.; ANDRADE, P. K. F. L.; TÔRRES, B. R. Principais de membro inferior.
recursos fisioterapêuticos utilizados em amputados transfemorais SALUSVITA, Bauru, v. 38,
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Docência. 28, Paraíba: UFPB-PRG, 2008.
ABDALLA, A.A.; GALINDO, J.; RIBEIRO, S.C.; RIEDI, C.; RUARO,
J.A.; FRÉZ, A.R..; Correlação entre qualidade de vida e capacidade
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897
NÍVEIS PRESSÓRICOS DE HIPERTENSOS
E NORMOTENSOS APÓS SESSÃO
DE FISIOTERAPIA EM SOLO E
HIDROTERAPIA
Blood pressure levels in hypertensive and
normotensive individuals after physical therapy and
hydrotherapy session

Daiane Kelle S. Silva1


Elisabete Aparecida Braga1
Lucas Lima Ferreira2

Graduada em Fisioterapeuta,
1 SILVA, Daiane Kelle S., BRAGA, Elisabete Aparecida e FERREIRA,
União das Faculdades dos Lucas Lima. Níveis pressóricos de hipertensos e normotensos após
Grandes Lagos (UNILAGO). sessão de fisioterapia em solo e hidroterapia. SALUSVITA, Bauru, v.
2
Mestre em Fisioterapia, 38, n. 4, p. 899-910, 2019.
Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho”
(UNESP). Coordenador e
docente do curso de Fisioterapia, RESUMO
União das Faculdades dos
Grandes Lagos (UNILAGO).
Introdução: A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é um dos maiores
problemas de saúde pública da atualidade. Objetivo: Comparar
os níveis pressóricos de uma sessão de fisioterapia tanto em solo
Recebido em: 06/10/2019
quanto em hidroterapia em pacientes normotensos e hipertensos.
Aceito em: 30/12/2019 Método: Trata-se de um estudo documental que envolveu coleta de

899
dados em prontuários de pacientes com e sem HAS, atendidos na SILVA, Daiane
Clínica Escola de Fisioterapia de uma instituição de ensino superior Kelle S., BRAGA,
privada. Foi utilizada uma ficha padronizada pelos autores para Elisabete Aparecida e
coleta dos dados: idade, sexo, frequência cardíaca, pressão arterial FERREIRA, Lucas Lima.
sistólica (PAS) e diastólica (PAD) dos prontuários. Os protocolos de Níveis pressóricos
atendimento fisioterapêutico em solo e hidroterapia tiveram duração de hipertensos e
normotensos após sessão
de 50 minutos. Foram aplicados testes t pareado e não pareado de
de fisioterapia em solo e
Student para comparar as variáveis de desfecho. Consideraram- hidroterapia. SALUSVITA,
se estatisticamente significativos valores de p<0,05. Resultados: Bauru, v. 38, n. 4,
Foram analisados dados de 31 pacientes, 10 no grupo hipertenso e p. 899-910, 2019.
21 no grupo normotenso. Houve maior prevalência do sexo feminino
(60%) entre os hipertensos e do sexo masculino (52%) entre os
normotensos. Na comparação da pressão arterial antes e depois das
sessões de fisioterapia em solo e hidroterapia, verificou-se que os
hipertensos apresentaram PAS significativamente maior (p<0,0001),
tanto antes quanto depois das intervenções, e apresentaram
PAD significativamente maior (p=0,03) depois das intervenções
fisioterapêuticas. Conclusão: Uma sessão de fisioterapia em solo
e hidroterapia causou incremento da PAD apenas em pacientes
hipertensos.

Palavras-chave: Hipertensão arterial. Fisioterapia. Exercício físico.

ABSTRACT
Introduction: Systemic arterial hypertension (SAH) is one of the
biggest public health problems nowadays. Objective: To compare the
blood pressure levels of a physical therapy session in both soil and
hydrotherapy in normotensive and hypertensive patients. Method:
This is a documentary study that involved data collection in medical
records of patients with and without hypertension, attended at the
Clinical School of Physical Therapy from a private higher education
institution. A standardized form was used by the authors to collect
data: age, gender, heart rate, systolic (SBP) and diastolic (DBP) blood
pressure from medical records. The protocols of physical therapy
in soil and hydrotherapy lasted 50 minutes. Paired and unpaired
Student’s t-tests were applied to compare outcome variables. P values​​
<0.05 were considered statistically significant. Results: Data from
31 patients were analyzed, 10 in the hypertensive group and 21 in the
normotensive group. There was a higher prevalence of females (60%)
among hypertensive patients and males (52%) among normotensive
individuals. When comparing blood pressure before and after the

900
SILVA, Daiane ground physiotherapy and hydrotherapy sessions, it was found that
Kelle S., BRAGA, hypertensive patients had significantly higher SBP (p<0.0001) both
Elisabete Aparecida e before and after the interventions, and had significantly higher DBP
FERREIRA, Lucas Lima. (p=0,03) after physical therapy interventions. Conclusion: A session
Níveis pressóricos of ground physiotherapy and hydrotherapy caused DBP increase
de hipertensos e only in hypertensive patients.
normotensos após sessão
de fisioterapia em solo e
hidroterapia. SALUSVITA, Keywords: Hypertension. Physiotherapy. Physical exercise.
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 899-910, 2019.
INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é um dos maiores
problemas de saúde pública da atualidade. É um dos principais
fatores de risco para as doenças cardiovasculares, que na última
década representaram as principais causas de mortalidade em todo
o mundo. As doenças cardiovasculares foram responsáveis por cerca
de 30% de todas as mortes (GOULART, 2011).
A HAS é definida pela persistência de pressão arterial sistólica
acima de 140 mmHg e diastólica acima de 90mmHg, sendo hoje
considerada um dos principais fatores de risco para doenças
cardiovasculares e cerebrovasculares. É uma condição clínica
multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de
pressão arterial (PA). Associa-se frequentemente a alterações
funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins
e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, com consequente
aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2006).
É fator de risco para insuficiência cardíaca, infarto agudo do
miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência renal crônica,
aneurisma de aorta e retinopatia hipertensiva. Quando associada
a outros fatores de risco (como diabetes mellitus, obesidade,
sedentarismo e tabagismo), os níveis pressóricos podem ser ainda
mais elevados e as consequentes lesões de órgãos-alvo ainda mais
graves (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2006).
A hipertensão arterial é responsável por 40% das mortes por acidente
vascular cerebral (AVC) e 25% das mortes por doença coronariana,
sendo que esta porcentagem aumenta proporcionalmente aos valores
pressóricos (JAMA, 2003; CARDOSO et al., 2008).
Cerca de 30% da população adulta apresenta níveis de HAS acima
de 140 x90mmHg, porém riscos cardiovasculares começam a existir
em níveis ainda menores (SERRANO JR. et al., 2008).

901
Sabe-se que aproximadamente 50% dos hipertensos são sensíveis SILVA, Daiane
a ingestão de sal e o uso exagerado deste está associado ao maior Kelle S., BRAGA,
risco de hipertensão. No que diz respeito à obesidade, calcula-se que Elisabete Aparecida e
de 20 a 30% dos casos de hipertensão estejam diretamente associados FERREIRA, Lucas Lima.
ao excesso de peso e que 75% dos homens e 65% das mulheres Níveis pressóricos
apresentem hipertensão diretamente atribuível ao sobrepeso ou de hipertensos e
normotensos após sessão
obesidade (PEDROSO & OLIVEIRA, 2009). O sedentarismo
de fisioterapia em solo e
aumenta o risco de hipertensão em 30% quando comparado com hidroterapia. SALUSVITA,
indivíduos ativos, e a atividade aeróbica tem efeito hipotensor mais Bauru, v. 38, n. 4,
acentuado em indivíduos hipertensos do que em normotensos p. 899-910, 2019.
(DUSTAN, 2006).
A fisioterapia na HAS pode elaborar e conduzir um programa de
atividade física que alcance os objetivos propostos, sem lesões que
possam limitar ou impedir a prática regular de exercícios como medida
de modificação de estilo de vida com benefícios cardiovasculares
(CARDOSO et al., 2008). Neste contexto, cabe ao fisioterapeuta,
em consonância com a equipe de saúde e com os gestores locais,
planejar e desenvolver estratégias para contemplar tanto as ações
de reabilitação, que não podem deixar de ser desenvolvidas, quanto
as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças (BISPO
JÚNIOR et al., 2010).
Entre as opções de tratamento da fisioterapia, a hidroterapia, é
difundida como prática de exercício físico, favorável por ser realizada
em um meio agradável, em que o baixo impacto articular favorece
a prática e possibilita o treinamento àqueles que não podem realizar
um programa de treinamento em solo. Dessa forma, o meio aquático
se apresenta como uma alternativa atraente (LAURENT et al., 2009).
Atualmente, se tem pesquisado métodos alternativos de
treinamento físico, a fim de aumentar a adesão dos pacientes,
visto que um dos grandes desafios da reabilitação é a prática em
longo prazo. Dessa forma, a hidroterapia, além de ser convidativa,
apresenta vantagens que parecem estar relacionadas com a soma
dos efeitos benéficos do treinamento físico em solo, aos benefícios
promovidos pela imersão em água aquecida. (SCHMID et al., 2007).
Esses resultados sugerem que a hidroterapia se apresenta como um
potencial tratamento adicional para pacientes hipertensos. Contudo,
as evidências disponíveis demonstram os efeitos benéficos de
protocolos de hidroterapia e não existem evidências sobre os efeitos
agudos de uma sessão de fisioterapia sobre a PA.
Tendo em vista a ausência de evidências sobre as possíveis
alterações fisiológicas agudas sobre a PA decorrentes do treinamento
físico convencional, o presente estudo pretende comparar os níveis

902
SILVA, Daiane pressóricos de uma única sessão de fisioterapia tanto em solo quanto
Kelle S., BRAGA, em hidroterapia em pacientes normotensos e hipertensos.
Elisabete Aparecida e
FERREIRA, Lucas Lima.
Níveis pressóricos
de hipertensos e METODOLOGIA
normotensos após sessão
de fisioterapia em solo e Trata-se de um estudo documental que envolveu coleta de dados
hidroterapia. SALUSVITA, em prontuários de pacientes com e sem HAS, atendidos na Clínica
Bauru, v. 38, n. 4, Escola de Fisioterapia da União das Faculdades dos Grandes Lagos
p. 899-910, 2019. (UNILAGO), no período de fevereiro a dezembro de 2017. Para
realização deste estudo, foram incluídos prontuários de indivíduos
maiores de idade, de ambos os sexos, normotensos e hipertensos,
confirmado por diagnóstico médico anexado ao prontuário. Foi
adotado como critério de exclusão prontuários com informações
incompletas.
O projeto do estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) local para autorização.
Foi utilizada uma ficha padronizada pelos autores para coleta de
dados dos prontuários. A coleta de dados foi realizada com base em
informações como: gêneros, idade, diagnóstico médico, peso em
quilogramas (kg), sinais vitais: PA sistólica (PAS) e diastólica (PAD)
e frequência cardíaca (FC) imediatamente antes e após a sessão
fisioterapêutica.
Os prontuários foram divididos em dois grupos distintos: grupo
hipertenso (GH) e grupo normotenso (GN). Estes, por sua vez,
foram subdivididos em mais dois subgrupos: GH solo versus GH
hidroterapia e GN solo versus GN hidroterapia.
O protocolo na hidroterapia consistiu em movimentos ativos
livres, respeitando a dor e limitação de movimento de cada paciente.
O aquecimento foi realizado caminhando em diferentes direções
associando ao fluxo turbulento por cinco minutos, e em seguida
alongamentos dos principais grupos musculares por 10 minutos.
Os exercícios de fortalecimento incluíram movimentos dinâmicos
em membros superiores e inferiores. Adução e abdução horizontal,
adução e abdução de ombro, flexão e extensão do ombro/joelho,
movimentos de abrir e fechar as pernas com auxílio do espaguete,
exercícios abdominais, exercício de equilíbrio, coordenação e
agilidade por 20 minutos, com três repetições cada série. Circuito
com step, bambolê, jump, caneleira e bola por 10 minutos. Finalizando
com exercícios de relaxamento e alongamento global associado com
a respiração por cinco minutos (KISNER, 1992).
O protocolo no solo foi realizado alongamento global com auxílio
de bastão, espaldar e bola. Aquecimento na bicicleta ergométrica por

903
15 minutos, caminhada na esteira por cinco minutos, exercício de SILVA, Daiane
fortalecimento, coordenação, equilíbrio e agilidade com auxílio do Kelle S., BRAGA,
bosu, caneleira, barras paralelas, halteres, escada de canto, gangorra, Elisabete Aparecida e
theraband e trampolim por 20 minutos. Finalizando com alongamento, FERREIRA, Lucas Lima.
e caminhada associada a respiração por cinco minutos. Foi orientado Níveis pressóricos
aos pacientes que continuem um programa de hidroterapia em grupo de hipertensos e
normotensos após sessão
após alta do protocolo, para manter e prevenir com o objetivo de uma
de fisioterapia em solo e
vida equilibrada e saudável. hidroterapia. SALUSVITA,
Foi realizada estatística descritiva e os dados foram apresentados Bauru, v. 38, n. 4,
em valores de média, desvio-padrão, percentuais e números p. 899-910, 2019.
absolutos. Também foi aplicada estatística inferencial por meio
dos testes Kolmogorov-Smirnov para analisar a normalidade de
distribuição dos dados, teste t de Student não pareado ou teste de
Mann-Whitney para comparar os valores pressóricos entre o início
e o fim das sessões em solo e na água. As análises estatísticas
foram realizadas no programa Instat 3.0 para Windows®. Foram
considerados estatisticamente significativos valores de p < 0,05.

RESULTADOS
Foram analisados dados de 31 pacientes, 10 no grupo hipertenso
e 21 no grupo controle, atendidos na Clínica-escola de Fisioterapia
UNILAGO. Houve maior prevalência do sexo feminino (60%) no
GH e do sexo masculino (52%) no GC. Não houve diferença para
idade (p = 0,05) entre os grupos (Tabela 1).

Tabela 1 - Características sociodemográficas dos pacientes.


Variável Grupo Hipertenso (n=10) Grupo Controle (n=21)
Idade (anos) 63,1±11,66 52,33±14,65
Sexo (M/F) 40% (4) M 52% (11) M
60% (6) F 48% (10) F
GH solo GH hidro p* GC solo GC hidro p*
Idade (anos) 60,2±11 65±12,6 0,55 52,4±17,5 52,2±12,3 0,98
Sexo (M/F) 50% (2) M 17% (1) M - 70% (7) M 36% (4) M -
50% (2) F 83% (5) F 30% (3) F 64% (7) F
M – masculino; F – feminino; GH: grupo hipertenso; GC: grupo controle; hidro:
hidroterapia; *teste t não pareado.

Na comparação da PA e da FC antes e depois das sessões de


fisioterapia em solo e hidroterapia, verificou-se que o GH apresentou
PAS significativamente maior (p<0,0001) tanto antes quanto

904
SILVA, Daiane depois das intervenções. Além disso, o GH também apresentou
Kelle S., BRAGA, PAD significativamente maior (p=0,03) depois das intervenções
Elisabete Aparecida e fisioterapêuticas (Tabela 2).
FERREIRA, Lucas Lima.
Níveis pressóricos Tabela 2 - Comparação da pressão arterial e frequência cardíaca
de hipertensos e antes e depois das intervenções fisioterapêuticas entre GH e GC.
normotensos após sessão
de fisioterapia em solo e Grupo Hipertenso Grupo Controle
Antes Valor de p*
hidroterapia. SALUSVITA, (n=10) (n=21)
Bauru, v. 38, n. 4,
PAS (mmHg) 154,7±14,69 127,52±11,38 < 0,0001
p. 899-910, 2019.
PAD (mmHg) 85,8±10,21 79,19±9,90 0,09
FC (bpm) 82,9±12,17 86,33±16,26 0,55

Grupo Hipertenso Grupo Controle


Depois Valor de p*
(n=10) (n=21)

PAS (mmHg) 155,8±19,49 123,04±9,04 < 0,0001


PAD (mmHg) 86,7±15,06 76,04±11,53 0,03
FC (bpm) 80,6±12,79 83,42±10,82 0,52
GH: grupo hipertenso; GC: grupo controle; PAS: pressão arterial sistólica;
PAS: pressão arterial diastólica; FC: frequência cardíaca; mmHg: milímetros de
mercúrio; bpm: batimentos por minuto. *teste t não pareado.

Já na comparação de cada grupo antes e depois das sessões


de fisioterapia, não houve diferença estatística significativa no
comportamento da pressão arterial (Tabela 3).

Tabela 3 - Comportamento da pressão arterial no GH e GC antes e


depois da fisioterapia.
Variável Grupo Hipertenso (n=10) Grupo Controle (n=21)
Antes Depois p* Antes Depois p*
PAS (mmHg) 154,7±14,69 155,8±19,49 0,85 127,52±11,38 123,04±9,04 0,10
PAD (mmHg) 85,8±10,21 86,7±15,06 0,79 79,19±9,90 76,04±11,53 0,31
PAS: pressão arterial sistólica; PAS: pressão arterial diastólica; mmHg: milímetros
de mercúrio.
*teste t pareado.

Na comparação do comportamento da pressão arterial, antes e


após as intervenções fisioterapêuticas, nos diferentes ambientes de
reabilitação, solo e hidroterapia, não foram observadas diferenças
significativas (p>0,05) para PAS e PAD (Tabela 4).

905
Tabela 4 - Comparação da pressão arterial no grupo hipertenso nos SILVA, Daiane
diferentes ambientes de reabilitação antes e após as intervenções. Kelle S., BRAGA,
PAS (mmHg) antes PAD (mmHg) antes Elisabete Aparecida e
FERREIRA, Lucas Lima.
GH solo GH hidro p* GC solo GC hidro p*
Níveis pressóricos
163,5±16,76 148,83±10,79 0,12 86,25±7,04 85,5±12,56 0,91 de hipertensos e
PAS (mmHg) depois PAD (mmHg) depois
normotensos após sessão
de fisioterapia em solo e
GH solo GC solo p* GH solo GC solo p* hidroterapia. SALUSVITA,
156±16,34 155,5±26,36 0,97 90,75±7,04 84±18,88 0,55 Bauru, v. 38, n. 4,
p. 899-910, 2019.
PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; GH: grupo
hipertenso; mmHg: milímetros de mercúrio; *teste t não pareado.

DISCUSSÃO

A aplicação de uma única sessão de fisioterapia em solo e


hidroterapia provocou incremento significativo da PAD apenas nos
pacientes hipertensos, sugerindo que uma sessão de fisioterapia,
desde que aplicada corretamente, pode trazer benefícios físicos sem
alterar significativamente sinas vitais como PA e FC dos pacientes.
Entende-se que a fisioterapia em sessões prolongadas de hidroterapia
contribui para normalização e redução de níveis pressóricos de
pacientes submetidos ao tratamento, o que evidentemente impactará
diretamente em sua qualidade de vida.
Gimenz e Carvalho (2008) avaliaram o comportamento da
pressão arterial de idosos submetidos a sessões de fisioterapia
(hidroterapia) por um período de 12 semanas compostas por duas
sessões de fisioterapia aquática por semana com duração de 45
minutos de tratamento, semelhante ao protocolo do estudo realizado,
porém com diferenças no número de sessões. Os resultados obtidos
no estudo demonstraram que em um período maior de tratamento
fisioterapêutico os níveis pressóricos destes pacientes apresentaram
redução significativamente expressiva, sendo que a média da PAS
pré-protocolo no primeiro e último dia foi insignificante (p =
0,3726). Já a média da PAS pós-protocolo no primeiro e no último
dia evidenciou uma diminuição estatisticamente significante (p =
0,0486). A média da PAD pré-protocolo no primeiro e último dia
não mostrou significância estatística (p = 0,5359), assim como a
média pós-protocolo (p = 0,9149). Concluindo que o protocolo
fisioterapêutico proposto beneficiou os grupos estudados,
comparando-se o primeiro e o último dia de atendimento, após três
meses de aplicação do protocolo.

906
SILVA, Daiane Candeloro e Caromano (2008) avaliaram os efeitos de um
Kelle S., BRAGA, programa de hidroterapia na frequência cardíaca e pressão arterial
Elisabete Aparecida e de mulheres idosas e sedentárias, o programa foi constituído por 32
FERREIRA, Lucas Lima. sessões. As medidas de PA e FC foram coletadas ao final de cada
Níveis pressóricos fase, em quatro momentos: repouso fora da água, em repouso 3
de hipertensos e minutos após imersão, em imersão ao final dos exercícios, e três
normotensos após sessão
minutos após a saída da piscina. Da sessão de base para a última
de fisioterapia em solo e
hidroterapia. SALUSVITA, (32ª), foram observadas quedas significantes de 5,6 mmHg na média
Bauru, v. 38, n. 4, da PA sistólica de repouso e de 9,7 mmHg na média da PA diastólica
p. 899-910, 2019. de repouso, tendo a classificação do nível da PA das participantes
passado de normal-limítrofe para normal; e um aumento, não
significativo, de 1,0 bpm na média da FC de repouso.
Entende-se que a fisioterapia em sessões prolongadas de hidroterapia
contribuiu para normalização e redução de níveis pressóricos de
pacientes submetidos ao tratamento, o que evidentemente impactará
diretamente em sua qualidade de vida.
Moraes et al. (2012) investigaram os efeitos de exercícios de um
treinamento (aeróbico, força, flexibilidade e equilíbrio) na PA, aptidão
física e capacidade funcional de idosos com HA. Trinta e seis idosos
com HA e tratamento clínico otimizado foram submetidos a um
programa de exercícios físicos multicomponente, com duas sessões
semanais de 60 minutos cada, durante 12 semanas. Os achados
clínicos sugeriram redução de 3,6% da PA sistólica (p<0,001), de
1,2% da PA diastólica (p<0,001). Observou-se melhora em todos os
domínios da aptidão física, como força muscular (testes de levantar
da cadeira e flexão de cotovelos, p<0,001); equilíbrio estático (teste
de apoio unipodal, p=0,029), capacidade aeróbica (teste de marcha
estacionária, p<0,001), com exceção da flexibilidade (teste de sentar
e alcançar), o que leva a acreditar que a fisioterapia no solo com
as mesmas competências pode atribuir os mesmos benefícios aos
pacientes normotensos e hipertensos.
Schenkel et al. (2011) avaliaram o efeito de uma única sessão
de caminhada e dança de salão sobre os efeitos pressóricos de oito
hipertensos sedentários e obtiveram uma conclusão muito semelhante
aos resultados desse estudo. O comportamento da pressão arterial
foi semelhante ao aferido no dia sem exercício, após única sessão
de caminhada e de dança de salão, sendo que não houve alterações
significativas na pressão arterial dos participantes após um protocolo
estabelecido, o que infere que para que os efeitos benéficos da PA
respondam aos tratamentos, torna-se necessário mais do que uma
única sessão de fisioterapia.
O trabalho apresentou algumas limitações em relação aos
prontuários, que não foram totalmente nem corretamente

907
preenchidos, além de o número amostral ter sido pequeno. Contudo, SILVA, Daiane
observou-se que a fisioterapia apresenta resultados benéficos em Kelle S., BRAGA,
relação a redução e normalização da PA de pacientes hipertensos/ Elisabete Aparecida e
normotensos, porém esses resultados não podem ser obtidos em uma FERREIRA, Lucas Lima.
única sessão de fisioterapia, tornando assim o tratamento benéfico Níveis pressóricos
apenas a longo prazo. de hipertensos e
normotensos após sessão
de fisioterapia em solo e
CONCLUSÃO hidroterapia. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
Uma sessão de fisioterapia em solo e hidroterapia causou p. 899-910, 2019.
incremento da pressão arterial diastólica apenas em pacientes
hipertensos.

908
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Elisabete Aparecida e
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910
ATIVIDADE ANTITUMORAL DA
MELATONINA SOBRE O TUMOR
DE EHRLICH IMPLANTADO EM
CAMUNDONGOS SWISS
Melatonin antitumor activity on Ehrlich tumor
implanted in Swiss mice

Danielle Dutra Pereira1


Laíse de Souza Elias1
Thaís Heloise da Silva Almeida1
Wanessa Noadya Ketruy de Oliveira1
Priscila Maria do Santos Oliveira2
Jeine Emanuele Santos da Silva3
1
Doutora em Biociência George Chaves Jimenez4
Animal, Universidade Federal
de Pernambuco, Recife, Joaquim Evencio Neto5
Pernambuco, Brasil.
2
Mestre em Biociência Animal,
Universidade Federal Rural
de Pernambuco, Recife,
Pernambuco, Brasil.
3
Professora Doutora da área de PEREIRA, Danielle Dutra et al. Atividade antitumoral da melatonina
Biofísica, Universidade Federal sobre o tumor de Ehrlich implantado em camundongos swiss.
Rural de Pernambuco, Recife, SALUSVITA, Bauru, v. 38, n. 4, p. 911-938, 2019.
Pernambuco, Brasil.
4
Professor Doutor da área de
Farmacologia, Universidade
Federal Rural de Pernambuco, RESUMO
Recife, Pernambuco, Brasil.
5
Professor Doutor da área de Introdução: Um mecanismo proposto para a ação oncostática da
Histologia, Universidade Federal melatonina no tumor de mama é a inibição do hormônio liberador
Rural de Pernambuco, Recife, das gonadotrofinas (GnRH), dificultando assim a liberação dos
Pernambuco, Brasil.
hormônios luteinizante (LH) e folículo estimulante (FSH) e,
Recebido em: 16/09/2019
consequentemente, reduzindo a produção ovariana de estradiol.
Aceito em: 26/12/2019 Objetivo: Avaliar a atividade antitumoral da melatonina sobre o

911
tumor de Ehrlich em camundongos fêmeas Swiss, através de sua PEREIRA, Danielle
interação com o aparelho reprodutor. Método: Foram utilizados Dutra et al. Atividade
56 camundongos fêmeas Swiss (Mus musculus), de 60 dias de antitumoral da
idade, divididas em sete grupos experimentais (n = 8 animais/ melatonina sobre
grupo): A- Pinealectomizados tratados com melatonina; B- Sham- o tumor de Ehrlich
pinealectomizados tratados com melatonina; C- Pinealectomizados implantado em
camundongos swiss.
sem tratamento; D- Sham-pinealectomizados sem tratamento; E-
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
Pinealectomizados tratados com veículo da melatonina; F- Sham- n. 4, p. 911-938, 2019.
pinealectomizados tratados com veículo da melatonina; G- Controle.
Resultados e Discussão: Alterações ovarianas foram significativas
entre os grupos, observando-se um aumento no peso dos ovários e
no número de folículos ovarianos dos animais pinealectomizados,
enquanto os animais sham-pinealectomizados apresentaram um
maior número de corpos lúteos. Os animais pinealectomizados
apresentaram maior taxa de crescimento tumoral quando
comparados aos animais tratados com melatonina, tendo estes
últimos apresentado também uma percentagem de inibição tumoral.
Conclusão: A análise destes resultados nos permite concluir que
a melatonina, através de sua atuação no ovário, interfere nos
mecanismos regulatórios dos processos de crescimento do tumor de
Ehrlich. Pode-se conjecturar que eventuais alterações nos padrões
de ritmicidade endógena para a melatonina pode predispor os
organismos a uma maior incidência de tumor.

Palavras-chave: Melatonina. Neoplasia. Pinealectomia

ABSTRACT
Introduction: A proposed mechanism for the oncostatic action
of melatonin in breast tumors is the inhibition of gonadotropin-
releasing hormone (GnRH), thus hindering the release of luteinizing
hormones (LH) and stimulating follicle (FSH) and, consequently,
reducing ovarian estradiol production. Objective: This study aim
was to evaluate the melatonin antitumor activity on the Ehrlich tumor
in female Swiss mice, through its interaction with the reproductive
system. Method: we used 56 female Swiss mice (Mus musculus), 60
days of age, were divided into seven experimental groups (n = 8
animals/group): A- Pinealectomized melatonin treated; B- Sham-
pinealectomized melatonin treated; C- Pinealectomized no treated;
D- Sham-Pinealectomized no treated; E- Pinealectomized melatonin
vehicle treated; F- Sham-pinealectomized melatonin vehicle treated;
G- Control. Results and discussion: Ovarian changes were

912
PEREIRA, Danielle significant between the groups, observing an increase in ovarian
Dutra et al. Atividade weight and follicles number in pinealectomized animals, whereas
antitumoral da the sham-pinealectomized animals exhibited greater numbers of
melatonina sobre corpus luteum. The pinealectomized animals had higher rate of
o tumor de Ehrlich tumor growth than melatonin treated animals, the last having also
implantado em presented a percent inhibition of the tumor. Conclusion: Analysis of
camundongos swiss.
these results allows us to conclude that melatonin, through its actions
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 911-938, 2019. in the ovary interfere with regulatory mechanisms of the processes
of Ehrlich tumor growth. May conjecture that any changes in the
patterns of endogenous rhythmicity for melatonin, can predispose
organisms to a higher incidence of tumor.

Keywords: Melatonin. Neoplasia. Pnealectomy

INTRODUÇÃO
O interesse na obtenção de conhecimentos mais específicos
sobre tumores de mama na espécie canina vem crescendo devido
ao aumento na frequência de ocorrência desse tipo de neoplasia
subjacente ao diagnóstico tardio, que compromete o tratamento e
reduz a taxa de sobrevida dos animais (CAVALCANTI; CASSALI,
2006). Nesta espécie, configura-se como o segundo tipo de ocorrência
mais observado, excedido apenas pelas neoplasias cutâneas. No
entanto, quando consideradas somente as fêmeas, apresenta-se como
a maior ocorrência (DE NARDI et al., 2002).
A observação de que o crescimento das neoplasias mamárias pode
ser regulado pelos estrógenos tem sido considerado um importante
fator na abordagem terapêutica desse grupo de tumores (COTE;
TAYLOR, 1994). Entretanto, evidências sugerem que a melatonina
tem atributos para ser considerada um fármaco antiestrogênico,
podendo controlar a produção de hormônios gonadais, levando
a um efeito inibitório sobre tumores hormônio-dependentes,
limitando assim, o potencial metastático de células tumorais
(SRINIVASAN et al., 2008).
Um mecanismo proposto para a ação oncostática da
melatonina no tumor de mama é a inibição do hormônio
liberador das gonadotrofinas (GnRH), dificultando assim a
liberação dos hormônios luteinizante (LH) e folículo estimulante
(FSH) e, consequentemente, reduzindo a produção ovariana de
estradiol. Dessa forma, ocorre a redução da resposta mitogênica
do tumor ao estradiol, o que pode explicar os efeitos protetores
do hormônio neste tipo de vetor patológico (SCALDAFERRI;

913
SOUSA-NETO, 2005). Deve-se também mencionar que a PEREIRA, Danielle
melatonina possui a capacidade de sequestrar diferentes tipos de Dutra et al. Atividade
radicais livres, como o radical superóxido (O2-), hidroxila (-OH), antitumoral da
peroxila (LOO-) além do ânion peroxinitrilo (ONOO-); podendo melatonina sobre
também estimular a síntese de diferentes sistemas enzimáticos, o tumor de Ehrlich
como a superoxicodismutase (SOD), a glutationa peroxidade implantado em
camundongos swiss.
(GPX) e outras enzimas associadas à síntese da glutationa
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
(SRINIVASAN, 2002). Considerando-se que o processo de n. 4, p. 911-938, 2019.
desenvolvimento neoplásico contribui para o aumento de radicais
livres no hospedeiro, pode-se acreditar que a melatonina pode
desempenhar um importante efeito protetor no organismo.
Em virtude de similaridades biológicas com as neoplasias
mamárias caninas, tumores experimentais transplantáveis, como o
tumor de Ehrlich, tem sido despertado o interesse de pesquisadores
para empregá-los como modelo de abordagem. A vantagem de estudar
o tumor de Ehrlich está no conhecimento prévio da quantidade de
informação disponível, e da facilidade de manipulação quanto às
condições do implante, além do desenvolvimento rápido da neoplasia,
que permite a obtenção de resultados confiáveis em tempo reduzido
(PALERMO-NETO et al., 2003).
É possível que em animais portadores do tumor de Ehrlich,
pinealectomizados, ocorram transformações significativas nos
mecanismos de desenvolvimento desta neoplasia, correlacionados
à presença de melatonina exógena. Portanto, o principal objetivo
deste trabalho foi de avaliar a atividade antitumoral da melatonina
sobre o tumor de Ehrlich em camundongos Mus musculus, Swiss,
fêmeas, considerando-se as modificações morfológicas associadas
ao aparelho reprodutor.

MATERIAL E MÉTODOS
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética no Uso de Animais
da Universidade Federal Rural de Pernambuco (CEUA / UFRPE),
sendo autorizado sob o número 147/2014.
Os experimentos foram realizados entre os meses de fevereiro
e agosto. Foram utilizados 56 camundongos fêmeas Swiss (Mus
musculus) de 60 dias de idade (30±2g), provenientes do Biotério
do Laboratório de Farmacologia do Departamento de Morfologia e
Fisiologia Animal da UFRPE, alojadas em caixas padronizadas para
a espécie (41x34x16 cm). Os animais foram alimentados com água e
ração ad libitum, sendo mantidos sob um programa de luz contínua,
com ciclos de 12h/dia, considerando o período de luz das 6:00 às

914
PEREIRA, Danielle 18:00 horas, utilizando lâmpada fluorescente, luz do dia, de 40 W. A
Dutra et al. Atividade temperatura média da sala foi ajustada para 22 ± 1ºC.
antitumoral da Os camundongos foram distribuídos em delineamento de blocos
melatonina sobre inteiramente casualizados (DBC), sete tratamentos e oito animais
o tumor de Ehrlich por unidade experimental (Tabela 1). A pinealectomia foi realizada
implantado em segundo o método preconizado por Maganhin et al. (2009b). A
camundongos swiss.
glândula pineal, depois de retirada, foi fixada em líquido de BOUIN
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 911-938, 2019. e processada para inclusão histológica em parafina para confirmação
à microscopia de luz. Para eliminar falsos resultados devido ao ato
cirúrgico, o mesmo procedimento foi realizado nos animais do grupo
Sham, mas sem a retirada da glândula pineal.
A melatonina foi administrada durante 60 dias antes da
implantação do tumor e 12 dias após o implante tumoral, na dose
de 2µg/g de peso corporal, entre 18h00 e 19h00 (Prata-Lima et al.
2004), por via subcutânea. A melatonina cristalina (Sigma Chemical
Co, Et. Louis, Mo., USA) foi dissolvida em 0,1ml de NaCl a 0,9%,
contendo 5% de etanol. O grupo controle recebeu inoculações diárias
de 0,1ml do veículo por via subcutânea (REDINS et al., 2000).
Os tumores foram obtidos a partir de matrizes doadoras, após
os devidos procedimentos de eutanásia com aprofundamento
anestesiológico mediante a associação cetamina e xilazina, na dose
de 100 mg/kg ip cada (SANTOS et al., 2006). Amostras do tumor
foram obtidas e posteriormente fragmentadas até o volume de 1 cm3,
mantidas em solução de Ringer mamífero pH 7,4 mais 20.000 U de
penincilina G potássica, temperatura de 18° C.

Tabela 1 - Tratamento dos grupos experimentais


Tratamento Pinealectomizados Sham-pinealectomizados

Melatonina A B
Sem tratamento C D
Veículo da melatonina E F
Controle G

Os animais receptores, após os devidos procedimentos


anestesiológicos com xilazina (14 mg/kg ip) e cetamina (70 mg/kg ip),
recebiam subcutaneamente o fragmento de tumor de 1 cm3 na região
axilar direita. Após o período de quatro dias, a variação de volume
do tumor foi acompanhada diariamente, obtendo-se as medidas de
diâmetro correspondente, com auxílio de paquímetro. O volume do
tumor foi obtido pela fórmula V = 4/3. π. (R1.R 2.R3), onde R1, R2
e R3 são os raios do tumor (Boursot et al. 2009). O percentual de
inibição tumoral foi calculado no 12º dia após a inoculação do tumor,

915
segundo a equação % I = [(C - T)/C] × 100 proposta por Sousa et al. PEREIRA, Danielle
(2010), em que C = peso médio dos tumores dos grupos controle; T= Dutra et al. Atividade
peso médio dos tumores dos grupos tratados. antitumoral da
A taxa de sobrevida foi estimada considerando-se o período melatonina sobre
de observação dos animais tumorados e a ocorrência de óbitos o tumor de Ehrlich
nos diferentes grupos, segundo metodologia proposta em implantado em
camundongos swiss.
Qureshi et al. (2001).
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
Ao final dos experimentos, os animais foram eutanaziados
n. 4, p. 911-938, 2019.
mediante aprofundamento anestesiológico (SANTOS et al.,
2006), providenciando-se em seguida, a coleta de material
biológico, tais como ovários e tumores. Esse material foi fixado e
processado conforme os procedimentos de rotina para inclusão
em resina histológica, obedecendo-se os protocolos disponíveis
nos Laboratórios de Histologia do Departamento de Morfologia e
Fisiologia Animal e Laboratório de Microscopia do Centro de Apoio
à Pesquisa da Universidade Federal Rural de Pernambuco. O material
devidamente processado foi posteriormente cortado em micrótomo
ajustado para 1mm, sendo os cortes histológicos corados pela técnica
da Hematoxilina/Floxina e avaliados em microscópio de luz.
Na avaliação histopatológica do tumor levou-se em consideração
a observação de atividade mitótica, pontos de necrose, infiltrados
inflamatórios, índice apoptótico, presença de células gigantes,
pleomorfismo nuclear e áreas com edema.
A avaliação quantitativa dos folículos, corpo lúteo e vasos sanguíneos
dos ovários foi realizada utilizando uma objetiva de 10X, e uma ocular
de 10X contendo internamente um retículo de Weibel (WEIBEL,
1966), em que contou-se seis campos aleatórios e em sentido horário,
considerando-se 100 pontos por campo, totalizando 600 pontos.
Os dados foram expressos em termos de média e desvio padrão
e, quando necessário, em termos percentuais. A análise estatística
foi realizada aplicando-se o teste de Kolmogorov-Smirnov para
verificar a normalidade da distribuição dos dados obtidos (p > 10%);
e para a distribuição gaussiana realizou-se uma análise de variância,
com o teste post-hoc de Tukey. Os dados com distribuição não
gaussiana foram analisados pelo teste de Kruskal-Wallis e post-hoc
de Dunn. Para avaliação das diferenças dos valores médios obtidos,
considerou-se o nível descritivo equivalente a um valor de p < 0,05.

RESULTADOS
Como principais resultados, observou-se inicialmente que o peso
médio dos ovários dos diferentes grupos experimentais variou de
forma significativa, conforme mostra a Figura 1.

916
PEREIRA, Danielle Pode-se observar que os valores médios referentes à massa
Dutra et al. Atividade dos ovários dos animais dos grupos pinealectomizados (A, C e
antitumoral da E) foi maior do que a massa dos ovários dos animais dos grupos
melatonina sobre sham-pinealectomizados (B, D e F), sendo os valores no grupo E
o tumor de Ehrlich estatisticamente significativo em relação aos grupos A (p < 0,05),
implantado em B (p < 0,001), F (p < 0,01) e G (p < 0,05), respectivamente. Houve
camundongos swiss. também uma redução importante no peso médio dos ovários dos
SALUSVITA, Bauru, v. 38, animais do grupo pinealectomizado tratado com melatonina (A)
n. 4, p. 911-938, 2019. em relação aos animais dos demais grupos pinealectomizados (C
e E), e os animais do grupo sham-pinealectomizados tratados com
melatonina (B) quando comparados aos animais dos outros grupos
sham-pinealectomizados (D e F).

Figura 1 - Peso médio e desvio-padrão dos ovários dos animais nos


grupos experimentais. * Diferença significativa em relação ao grupo E. A-
Pinealectomizado tratado com melatonina. B- Sham-pinealectomizado tratado
com melatonina. C- Pinealectomizado sem tratamento.
D- Sham-pinealectomizado sem tratamento. E- Pinealectomizado tratado com
o veículo da melatonina. F- Sham-pinealectomizado tratado com o veículo da
melatonina. G- Controle.

A figura 2 apresenta o número de folículos primários, folículos


secundários, folículos terciários, folículos atrésicos, corpos lúteos e
vasos sanguíneos observados nos ovários dos animais nos grupos
experimentais. Pode-se observar que o grupo E apresentou uma
maior frequência de folículos terciários quando comparado ao grupo
B (p < 0,01), D (p < 0,01), F (p < 0,01) e G (p < 0,05). Já o grupo
C exibiu maior frequência que A (p < 0,05), B (p < 0,001), D (p <
0,001), F (p < 0,001) e G (p < 0,001). O grupo A mostrou uma média
maior que B (p < 0,01), D (p < 0,05) e F (p < 0,05), conforme os
dados assinalados na figura 2C.

917
Se tratando de folículo atrésico, o grupo E apresentou média PEREIRA, Danielle
maior que A (p < 0,01), B (p < 0,001), D (p < 0,001), F (p < 0,001), e Dutra et al. Atividade
G (p <0,001), e o grupo C apresentou maior frequência que A (p < antitumoral da
0,001), D (p < 0,001), F (p < 0,001), e G (p < 0,001) (Fig. 2D). Quando melatonina sobre
se observou a frequência de corpo lúteo, o grupo B apresentou maior o tumor de Ehrlich
quantidade quando comparado ao grupo C (p < 0,01) e E (p < 0,05) implantado em
camundongos swiss.
(Fig. 2E). O número de vasos foi visto em maior quantidade no grupo
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
E quando comparado ao grupo A (p < 0,01), B (p < 0,001), D (p < n. 4, p. 911-938, 2019.
0,001), F (p < 0,001) e G (p < 0,001). O grupo C também apresentou
uma frequência maior que o grupo B (p < 0,05), D (p < 0,05), F (p <
0,05) e G (p < 0,05) (Fig. 2F).
A figura 3 mostra a região cortical dos ovários dos animais dos
diferentes grupos experimentais. Observar folículos ovarianos
em diversos estágios de desenvolvimento, com predominância
de folículos terciários, além de alguns corpos lúteos, nos grupos
pinealectomizados (Fig. 3A, C e E). Houve uma redução significativa
no número de folículos terciários e folículos atrésicos nos grupos
sham-pinealectomizados quando comparados aos pinealectomizados,
além de grande predominância de corpos lúteos (Fig. 3B, D e F).
O número de corpo lúteo mostrou-se ainda maior no grupo B, no
qual os animais além de produzirem espontaneamente melatonina
endógena, receberam aplicação exógena.

918
PEREIRA, Danielle
Dutra et al. Atividade
antitumoral da
melatonina sobre
o tumor de Ehrlich
implantado em
camundongos swiss.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 911-938, 2019.

Figura 2 - Número de folículos primários, secundários, terciários e


atrésicos, corpo lúteo e vasos sanguíneos nos ovários dos animais nos grupos
experimentais: A- Pinealectomizado tratado com melatonina.
B- Sham-pinealectomizado tratado com melatonina. C- Pinealectomizado sem
tratamento. D- Sham-pinealectomizado sem tratamento. E- Pinealectomizado
tratado com o veículo da melatonina. F- Sham-pinealectomizado tratado com o
veículo da melatonina. * Diferença significativa em relação ao grupo G.

O desenvolvimento tumoral ocorreu de forma característica


conforme o tipo de tratamento empregado, como se pode visualizar
na figura 4. Os parâmetros de regressão logarítmica das funções
que descrevem a variação de volume do tumor em função do tempo
podem ser observados na tabela 2. Nesta tabela, pode-se verificar
que todos os coeficientes angulares foram negativos, caracterizando
funções crescentes, com coeficientes de determinação R 2 > 0,8,
indicando que as funções matemáticas obtidas são razoáveis
para a descrição da variação temporal de crescimento do tumor
de Ehrlich. A razão obtida entre os coeficientes angulares dos
diferentes grupos de tratamento em relação ao grupo controle

919
revelou que em alguns grupos (C e E) a taxa de crescimento foi PEREIRA, Danielle
maior, para um valor de p<0,05. Dutra et al. Atividade
antitumoral da
melatonina sobre
o tumor de Ehrlich
implantado em
camundongos swiss.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 911-938, 2019.

Figura 3 - Fotomicrografia de ovário de camundongos fêmeas nos grupos


experimentais: A- Pinealectomizado tratado com melatonina. Folículos em
diversos estágios de desenvolvimento (setas). B- Sham-pinealectomizado
tratado com melatonina. Diversos corpos lúteos (*) e folículos (setas).
C- Pinealectomizado sem tratamento. Presença de folículos atrésicos (seta
longa). D- Sham-pinealectomizado sem tratamento. Presença de corpos
lúteos (*) e folículos (setas). E- Pinealectomizado tratado com o veículo da
melatonina. Região medular bastante desenvolvida com presença de inúmeros
vasos sanguíneos (V). F- Sham-pinealectomizado tratado com o veículo da
melatonina. Presença de corpo lúteo (*) e folículos em diferentes estágios de
desenvolvimento (setas). Hematoxilina-Floxina: 100X.

Na tabela 3, observa-se que no 5º dia pós-transplante os animais


do grupo B apresentaram a menor taxa de crescimento tumoral em
relação aos demais grupos, fato também observado para os animais
do mesmo grupo no 12o dia. Ainda nesta tabela, observou-se que os
animais pinealectomizados tratados com melatonina apresentaram
uma taxa de crescimento tumoral inferior à encontrada para
os animais dos grupos C, pinealectomizados sem tratamento
e para os animais do grupo E, pinealectomizados tratados com
veículo da melatonina, para um valor de p < 0,05. É interessante
assinalar que os animais dos grupos C e E apresentaram uma taxa
de crescimento tumoral significativa em relação à taxa obtida
para os animais do grupo controle. Em linhas gerais, ainda na
tabela 3, verificou-se que todos os animais, de todos os grupos
apresentaram um aumento na taxa de crescimento tumoral no
12o dia em relação ao 5o dia, sendo que, em alguns grupos, este
crescimento apresentou-se menor, como pode ser visualizado na

920
PEREIRA, Danielle coluna das diferenças entre as taxas. Curiosamente, os animais do
Dutra et al. Atividade grupo B apresentaram a menor razão entre as taxas de crescimento
antitumoral da em relação aos animais dos demais grupos.
melatonina sobre
o tumor de Ehrlich
implantado em
camundongos swiss.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 911-938, 2019.

Figura 4 - Evolução do crescimento tumoral do 5º ao 12º dia após o implante do


tumor.A- Pinealectomizadotratado com melatonina. B- Sham-pinealectomizado
tratado com melatonina. C- Pinealectomizado sem tratamento.
D- Sham-pinealectomizado sem tratamento. E- Pinealectomizado tratado
com o veículo da melatonina. F- Sham-pinealectomizado tratado com o veículo
da melatonina. G- Controle.

Os dados referentes ao percentual de inibição tumoral podem ser


visualizados na figura 5. Nesta figura, verificou-se que os tumores
dos animais dos grupos A (%I= 45,9 ± 31,3 %) e B (%I= 55,7 ±35,02
%) apresentaram um percentual de inibição superior em relação ao
grupo controle, para um valor de p<0,05.

921
Tabela 2 - Parâmetros de regressão logarítmica das funções que PEREIRA, Danielle
descrevem a variação média de volume ao longo do tempo do tumor Dutra et al. Atividade
de Ehrlich nos diferentes grupos de tratamento. Razão entre o antitumoral da
coeficiente angular de cada grupo em relação ao grupo controle. melatonina sobre
o tumor de Ehrlich
Grupos Coeficiente Coeficiente Coeficiente de
Razão implantado em
experimentais linear (b) angular (a) determinação (R2) camundongos swiss.
-5,81 ± 0,90 ± SALUSVITA, Bauru, v. 38,
A 3,95 ± 0,82 0,90 n. 4, p. 911-938, 2019.
(-)1,52 0,30
-1,82 ± 0,28 ±
B 1,23 ± 0,78 0,86
(-)1,34 0,67
-11,39 ± 1,0 ±
C 7,05 ± 1,59 0,94
(-)2,57 0,31 *
-5,49 ± (-)3,35 0,77 ±
D 0,86
3,39 ± 1,95 0,62
-11,79 ± 1,60 ±
E 7,04 ± 1,27 0,95
(-)2,30 0,28 *
-5,66 ± 0,78 ±
F 3,45 ± 0,72 0,87
(-)1,09 0,30
-7,35 ±
G 4,4 ± 0,96 0,91 1±0
(-)1,51
A- Pinealectomizado tratado com melatonina. B- Sham-pinealectomizado
tratado com melatonina. C- Pinealectomizado sem tratamento. D- Sham-
pinealectomizado sem tratamento. E- Pinealectomizado tratado com o veículo da
melatonina. F- Sham-pinealectomizado tratado com o veículo da melatonina. G-
Controle. * Diferença significativa (p<0,05), teste T de Student, respectivamente
T=2,144 e T=2,367 (gl=8), T tabelado=1,96.

A análise histológica dos tumores dos animais dos grupos


experimentais (Fig. 6) revelou a presença de células neoplásicas
pleomórficas, com núcleos bastante volumosos, alterando-se a relação
núcleo-citoplasma, com intenso grau de hipercromasia e nucléolos
proeminentes (Fig. 6D). Células gigantes multinucleadas e figuras
mitóticas apresentaram-se muito frequentes (Fig. 6D). Também se
verificou a ocorrência de extensas áreas de necrose de coagulação
(Fig. 6B), com células mostrando o citoplasma mais eosinofílico,
refletindo perda da basofilia e aumento da afinidade das proteínas
citoplasmáticas pela eosina, com núcleos picnóticos e às vezes com
acentuado grau de cariorrexe.

922
PEREIRA, Danielle Tabela 3 - Taxa de variação infinitesimal do volume do tumor em
Dutra et al. Atividade função do tempo (cm3/dia).
antitumoral da Grupo 5º dia 12º dia Diferença entre as taxas
melatonina sobre
o tumor de Ehrlich A 0,90 ± 0,30 4,00 ± 0,51 3,10 ± 0,97
implantado em B 0,28 ± 0,67 1,23 ± 0,59 0,95 ± 0,98
camundongos swiss.
C 1,60 ± 0,31 6,13 ± 1,37 4,53 ± 2,09
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 911-938, 2019. D 0,77 ± 0,62 2,93 ± 1,50 2,16 ± 2,46
E 1,60 ± 0,28 5,71 ± 0,85 4,11 ± 1,53
F 0,78 ± 0,30 2,91 ± 0,71 2,13 ± 1,01
G 1,00 ± 0,00 3,58 ± 0,88 2,57 ± 1,30
Pinealectomizado tratado com melatonina. B- Sham-pinealectomizado
tratado com melatonina. C- Pinealectomizado sem tratamento. D- Sham-
pinealectomizado sem tratamento. E- Pinealectomizado tratado com o veículo
da melatonina. F- Sham-pinealectomizado tratado com o veículo da melatonina.
G- Controle.

Figura 5 - Percentual de inibição do crescimento do tumor de Ehrlich.


A- Pinealectomizado tratado com melatonina. B- Sham-pinealectomizado
tratado com melatonina. C- Pinealectomizado sem tratamento. D- Sham-
pinealectomizado sem tratamento. E- Pinealectomizado tratado com o veículo
da melatonina. F- Sham-pinealectomizado tratado com o veículo da melatonina.

No geral, os tumores dos animais dos grupos experimentais


apresentam um padrão histológico similar ao que foi observado
no grupo controle, entretanto figuras de mitose se apresentaram

923
de maneira mais intensa nos animais pinealectomizados sem PEREIRA, Danielle
tratamento e nos animais tratados com veículo da melatonina (C e Dutra et al. Atividade
E, respectivamente). Em contrapartida, os animais que receberam antitumoral da
melatonina apresentaram maior índice apoptótico. Os vasos tumorais melatonina sobre
dos grupos experimentais apresentaram uma organização caótica, o tumor de Ehrlich
com diâmetros variados, exibindo forma tortuosa. implantado em
camundongos swiss.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 911-938, 2019.

Figura 6 - Fotomicrografia do Tumor de Ehrlich. A- Extensa área de necrose


(seta). B- Presença de necrose (N). C- Área com edema (E). D- Células em
mitose (setas) e células gigantes com núcleos proeminentes (*). E- Presença de
vasos sanguíneos (V). F- Vasos sanguíneos (V) e células em apoptose (setas).
Fig. A: 100X; Fig. (B, C, D, E e F): 400X. Hematoxilina-Floxina.

D E
Na Figura 7, pode-se comparar a sobrevida cumulativa dos animais
dos grupos experimentais em função do tempo de experimento. Não
há representação dos grupos A e B, pois os mesmos apresentaram
sobrevida cumulativa semelhante ao grupo controle. A sobrevida
cumulativa no grupo C foi de 88% no 7º dia e de 75% do 9º ao 12º dia.
No grupo D, a sobrevida cumulativa foi de 75% no 12º dia e no grupo
E foi de 75% no 10º dia. A sobrevida cumulativa foi de 88% no 11º dia
para o grupo F. Apesar dos animais pinealectomizados apresentarem
uma redução no tempo de sobrevida, quando comparado ao demais
grupos, foi observado através do teste de log-rank, a não ocorrência
de diferença significativa entre os grupos experimentais (p < 0,05).

924
PEREIRA, Danielle
Dutra et al. Atividade
antitumoral da
melatonina sobre
o tumor de Ehrlich
implantado em
camundongos swiss.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 911-938, 2019.

Figura 7 - Sobrevida cumulativa dos animais nos grupos experimentais após o


implante do tumor. C- Pinealectomizado sem tratamento.
D- Sham-pinealectomizado sem tratamento. E- Pinealectomizado tratado com
o veículo da melatonina. F- Sham-pinealectomizadotratado com o veículo da
melatonina. G- Controle.

discUssÃo
Dentro das condições de realização experimental, foi possível
observar a redução no peso dos ovários dos animais dos grupos
tratados com melatonina, o que corrobora os achados de Prata-Lima
et al. (2004). Esses autores verificaram que ratos com apenas um
ovário, tratados com melatonina por quatro meses consecutivos, mais
exposição à luz contínua durante oito meses, apresentavam redução
significativa dos ovários remanescentes. Atribuíram esses efeitos à
provável ação anti-gonadotrófica da melatonina sobre o hipotálamo
anterior desses animais. É possível que nos nossos experimentos
tenha ocorrido algo similar em decorrência da administração de
melatonina em animais pinealectomizados. Resultados parecidos
também foram encontrados em Chuffa et al. (2011), que relataram
uma redução do peso dos ovários em ratas não pinealectomizadas,
que receberam 1μg/g PV de melatonina durante 60 dias consecutivos.
Alguns autores parecem associar as alterações metabólicas do tecido
ovariano com mudanças na expressão dos receptores para melatonina
neste tipo de tecido (SIROTKIN; SCHAEFFER, 1997, TAMURA et

925
al., 2009), sugerindo uma importante participação da melatonina na PEREIRA, Danielle
modulação de fatores que regulam os mecanismos do sistema genital Dutra et al. Atividade
(MAGANHIN et al., 2009a). antitumoral da
Um outro aspecto importante é que sendo a melatonina um produto melatonina sobre
derivado da via metabólica do triptofano associada aos compostos o tumor de Ehrlich
do tipo metoxi-indol, estes parecem atenuarem ações protagonizadas implantado em
camundongos swiss.
pelas vias glutamatérgicas, especialmente a atividade da óxido nítrico
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
sintase - NOS, responsável pela produção do óxido nítrico, como n. 4, p. 911-938, 2019.
fazem também os metabólitos derivados da via das quinureninas,
associada também à metabolização do triptofano. Por sua vez o
óxido nítrico, de forma autócrina e parácrina, estimula a liberação de
glutamato e de melatonina, envolvendo a participação de mediadores
integrados à função das mitocôndrias, cuja atividade pode ser
modulada pelos níveis de estresse oxidativo local (CASTROVIEJO
et al., 2002; SOUZA et al., 2013).
Basicamente três formas de NOS foram descritas, sendo
uma induzida iNOS e duas constitutivas cNOS, sendo a eNOS
endotelial e a nNOS neuronal. Estas formas constitutivas parecem
ser dependentes de íons de cálcio e calmodulina, participando nos
eventos de sinalização celular. Já a iNOS é produzida por macrófagos
e outros tipos celulares ativados por citocinas (PIRES, 2009, DIAS
et al., 2011).
Pallares et al. (2008) verificaram que camundongos knockout-
NOS-3 (eNOS), apresentavam deficiências importantes em processos
como ovulação, fertilização, implantação e desenvolvimento
embrionário. Na verdade, as iNOS e eNOS podem ser encontradas
no tecido ovariano, mais especificamente nas células luteínicas
e endoteliais, aumentando a expressão durante a fase luteal e
redução na fase de regressão lútea, podendo o óxido nítrico
participar na foliculogênese, atresia, esteroidogênese, biossíntese
de prostaglandinas, ovulação, luteólise e maturação de oócitos
(SHIRASUNA et al., 2010, PANCARCI et al., 2012).
Folículos menores parecem produzir mais óxido nítrico em
relação aos maiores, indicando que a atividade NOS varia durante
o desenvolvimento folicular. Os folículos subordinados parecem ter
concentrações de óxido nítrico maiores e taxas de Prostaglandinas
PGE2 e PGF2α menores em relação aos folículos dominantes
(PANCARCI et al., 2011). Assim, o papel do óxido nítrico será
dependente do estágio do ciclo estral, podendo assumir uma condição
luteolítica ou luteotrófica (SHIRASUNA et al., 2010).
Os dados obtidos neste trabalho mostraram que animais sham-
pinealectomizados que recebiam o veículo da melatonina, como
também os animais do grupo controle, apresentaram, em ambos os

926
PEREIRA, Danielle grupos, uma redução significativa do peso dos ovários em relação aos
Dutra et al. Atividade animais pinealectomizados sem tratamento com melatonina; bem
antitumoral da provavelmente, em decorrência dos níveis endógenos espontâneos
melatonina sobre de melatonina nesses animais. Já nos animais pertencentes ao grupo
o tumor de Ehrlich sham-pinealectomizado sem tratamento com melatonina, não foi
implantado em observada redução dos ovários, talvez devido a eventuais baixos
camundongos swiss.
níveis de melatonina, protagonizados pela ocorrência de uma relação
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 911-938, 2019. de dominância não resolvida dentro do grupo experimental, ou ainda
problemas relacionados à sincronização dos ritmos circadianos neste
grupo experimental; uma vez que a produção de melatonina na
glândula pineal, por exemplo, acompanha as variações de atividade
do sistema enzimático coordenado pela N-acetiltransferase devendo
estar aumentada no período noturno (ARENDT, 2005).
Um elevado número de corpo lúteo foi encontrado nos animais
sham-pinealectomizados tratados com melatonina, resultado que
está de acordo com os dados encontrados por Smith et al. (1975). A
partir da interpretação de seus estudos, relataram que a formação
do corpo lúteo, normalmente, alcança sua máxima expressão na
fase de diestro, quando há um decréscimo nos níveis de estrógeno.
Aumento na frequência de ocorrência do corpo lúteo correlacionado
com o aumento dos níveis de melatonina também foi destacado
por Santos et al. (2006), cujos resultados reiteraram a ação anti-
gonadotrófica da melatonina, destacando o seu afetamento sobre o
trem de pulsos do hormônio liberador das gonadotrofinas (GnRH),
e por sua vez, a liberação de hormônios gonadotróficos (FSH e LH),
e consequente produção de estrógeno e progesterona no tecido
ovariano (ADASHI, 1991).
Sabe-se que os estrógenos podem regular diretamente a
foliculogênese ovariana assim como a formação do corpo lúteo,
além do aumento da expressão de receptores para gonadotrofinas
nas células da granulosa, a apoptose das células da granulosa e a
produção de esteróides pelas células da teca, da granulosa e luteais
(SOUZA et al., 2008). Estas podem estar associada às ações do
óxido nítrico, que juntamente com as concentrações de estrógeno
e prostaglandina do tipo PGF 2α, define a qualidade da dinâmica
folicular (PANCARCI et al., 2012).
Em alguns ovários dos grupos pinealectomizados, observou-se
uma extensa área vascularizada. Isto se deve à reorganização dos
capilares sanguíneos, a fim de suprir as necessidades teciduais
durante as fases de crescimento e atresia folicular, segundo Barboni
et al. (2000). As gonadotrofinas apresentam um papel crucial na
vascularização ovariana, influenciando a produção do fator de
crescimento endotélio-vascular (VEGF), principal fator angiogênico

927
(FERRARA et al., 1992); muito embora as alterações no fluxo PEREIRA, Danielle
sanguíneo folicular tenham relação também com as variações no Dutra et al. Atividade
nível de óxido nítrico local (PANCARCI et al., 2011). antitumoral da
Com relação ao crescimento do tumor de Ehrlich, considerando-se melatonina sobre
que este pode ser descrito por uma equação do tipo y = a . ln x + b, em o tumor de Ehrlich
que “y” é o volume de tumor, “a” o coeficiente angular, “x” o tempo implantado em
camundongos swiss.
e “b” o coeficiente linear, verificou-se, em todos os tratamentos, que a
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
taxa infinitesimal de variação do volume tumoral era dependente do n. 4, p. 911-938, 2019.
tempo, uma vez que a derivada primeira da função acima é do tipo
y’= a/x . De certa forma, isto significa que o tecido tumoral apresenta
dinâmicas de crescimento diferentes conforme o tumor se desenvolve.
Assim, para um mesmo intervalo temporal, pode-se comparar o
coeficiente angular das respectivas expressões obtidas e assim se ter
uma ideia da rapidez com que o tumor de Ehrlich se desenvolveu em cada
grupo de tratamento. Este é um parâmetro genuinamente associado à
forma como cada tipo de tumor estabelece a sua relação com a matriz
extracelular, considerando-se toda a complexidade envolvida no jogo
de sinalizações trocadas entre o tumor e os diferentes tipos celulares
que perfazem cada tipo de tecido.
A razão entre os coeficientes angulares, assim como a diferença
entre as taxas infinitesimais de crescimento tumoral obtidas para dois
momentos temporais distintos, permitiu verificar que o tratamento
com melatonina de animais não pinealectomizados, na dose de 2µg/g,
parece ter surtido importante efeito sobre o metabolismo das células
tumorais, em especial os mecanismos reguladores da multiplicação
celular. Este resultado também foi observado por Srinivasan et
al. (2008), que assinala o papel da melatonina de gerar um efeito
antiproliferativo sobre células cancerígenas. O fato de animais
pinealectomizados tratados com melatonina apresentarem uma taxa
de crescimento tumoral inferior à de animais pinealectomizados sem
tratamento e tratados com veículo da melatonina, de certa forma
reforça a ideia de que a presença da melatonina pode realmente afetar
os mecanismos associados à multiplicação das células tumorais.
Aqui, também é importante destacar que a presença de melatonina
parece proteger os tecidos contra danos oxidativos induzidos por
radicais livres, geralmente liberados em grande profusão ao longo
do desenvolvimento de neoplasias, promovendo um aumento
na disponibilidade de sistemas enzimáticos que exercem ações
antioxidantes, especialmente, a redução dos níveis de peroxidação
lipídica (ANTOLÍN et al., 1996, REITER et al., 2000, KERMAN et
al., 2005, AKCAY et al., 2005).
Destacamos que, curiosamente, ocorreu um aumento na taxa de
crescimento do tumor de Ehrlich nos animais dos grupos C e E em

928
PEREIRA, Danielle relação aos animais do grupo controle, provavelmente devido a uma
Dutra et al. Atividade potencialização das respostas protagonizadas pela pinealectomia,
antitumoral da favorecidas, em decorrência da presença de álcool etílico, que
melatonina sobre pode atuar como eluente facilitador quanto ao acesso aos domínios
o tumor de Ehrlich intracelulares, amplificando sinais moleculares importantes para
implantado em o desenvolvimento tumoral. Também se deve considerar que a
camundongos swiss.
retirada da pineal tem consequências importantes sobre os sistemas
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 911-938, 2019. temporizadores endógenos, afetando padrões de sinalização da
matriz extracelular, que por sua vez podem estimular um aumento na
taxa de divisão celular, como também de diferenciação, favorecendo
o desenvolvimento de tecidos tumorais (MENNA-BARRETO;
WEY 2007; RANG et al., 2007).
Seja como for, considerando-se a origem inicial do tumor de
Ehrlich, oriundo de tecido mamário, pode-se também admitir que
a melatonina possa suprimir a proliferação de células cancerígenas
induzidas por estrógeno, assim como se observa em células
de câncer de mama humano (HILL; BLASK, 1988). Deve-se,
entretanto, observar que o óxido nítrico pode também assumir
importante papel nos mecanismos de neovascularização tumoral
(BUTTERY et al., 1993), se considerarmos a sua importância
como mediador nos mecanismos de defesa do organismo contra
infecções, inflamações e neoplasias; lembrando que a sensibilidade
de cada célula ao óxido nítrico pode variar conforme a sua condição
metabólica (MONCADA et al., 1991).
Macrófagos residentes podem também produzir o óxido nítrico
mediado pelas iNOS, sendo que este difunde-se para o exterior,
invadindo diferentes tipos celulares e destruindo-os, através da
inibição de centros enzimáticos do tipo Fe-S, geralmente associadas
aos mecanismos da respiração celular. Por outro lado, há evidências
de que o óxido nítrico pode participar como agente de inicialização
da carcinogênese, principalmente quando as células apresentam
deficiências em produzir óxido nítrico. Este fato, associando-se à
presença de certos fatores potencializadores, pode proporcionar um
descontrole na citoestase e sobre os mecanismos de diferenciação
celular, favorecendo a propagação de clones celulares malignos
(WINK et al., 1998).
Assim, várias explicações poderiam ser aventadas para esclarecer
esta diferença de comportamento do tumor entre os animais nos
diferentes grupos. Uma interessante é a de que estas variações podem
estar associadas a diferenças na constituição do Complexo Maior
de Histocompatibilidade (MHC), uma vez que os camundongos
utilizados neste trabalho não eram isogênicos. Ashewell et al. (1994)

929
assinala a diferença de desenvolvimento de tumores em camundongos PEREIRA, Danielle
não isogênicos. Dutra et al. Atividade
Considerando-se, enfim, apenas a massa do tumor na etapa antitumoral da
final da experimentação com os diferentes grupos de tratamento, melatonina sobre
o tumor de Ehrlich
verificou-se que o percentual de inibição tumoral obtido para
implantado em
os animais dos grupos A e B, que recebiam o suprimento de camundongos swiss.
melatonina, foi bastante expressivo em relação ao grupo controle, SALUSVITA, Bauru, v. 38,
ratificando o papel da melatonina no processo de inibição tumoral. n. 4, p. 911-938, 2019.
Aqui, é importante esclarecer que a inibição tumoral avaliada desta
forma, não considera a maneira como o tumor se desenvolveu ao
longo de um processo, assinalando a contribuição da população
de células tumorais num determinado momento sobre a dinâmica
de crescimento como um todo, bem como a sua relação com o
contexto bioquímico do hospedeiro. A massa final do tumor retrata
mais o resultado macroscópico de uma relação entre tumor e
hospedeiro que se desenvolve na medida em que o tumor cresce
num determinado contexto tecidual, em que o acesso aos recursos
nutricionais nem sempre é facilmente obtido. Assim, um tumor de
rápido crescimento se autolimita por não ter muitas vezes uma rede
circulatória favorável que lhe permita tirar os recursos necessários
para o seu desenvolvimento.
Seja como for, os dados referentes ao crescimento tumoral
estão de acordo com os resultados apresentados na morfometria e
morfologia do ovário, onde os animais pinealectomizados geralmente
apresentavam modificações na estrutura do ovário devido ao
aumento no nível de estrógeno e, por conseguinte, foram aqueles
que apresentaram maior crescimento tumoral. Em contrapartida, a
administração de melatonina, contribuindo para a redução do nível
de estrógeno, favoreceu a inibição do crescimento dos tumores.
Histologicamente, a observação de áreas de necrose no
tumor justifica-se devido ao rápido crescimento, o que dificulta a
vascularização no interior da massa tumoral. Esses achados são
semelhantes aos estudos realizados por Belo et al. (2004). O elevado
número de mitose observado nos grupos pinealectomizados, deve-se
à diminuição da melatonina e consequente aumento de estrógeno,
cuja função é a indução de mitoses em células iniciadas (LEE; LEE,
2001). Em contrapartida, o elevado número de apoptose em animais
que receberam melatonina corrobora os estudos realizados por Sainz
et al. (2005).
Há evidências de que o estrógeno interfere na expressão do
gene bcl-2, que controla o processo de apoptose via mitocôndria
(SUH, 2003). Associado ao processo apoptótico, também se tem

930
PEREIRA, Danielle a participação do óxido nítrico, estimulado pela participação de
Dutra et al. Atividade proteínas pró-apoptóticas, como Fas, bax e caspases; mobilização
antitumoral da do cálcio intracelular (FAES et al., 2007); e presença de moléculas
melatonina sobre como as citocinas TNF-α, interferon γ e endotelina (SKARZYNSKI
o tumor de Ehrlich et al., 2008).
implantado em De certa forma, a morte celular mediada por óxido nítrico
camundongos swiss.
pode ocorrer tanto por necrose como por apoptose. Os processos
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 911-938, 2019. apoptóticos parecem ser dependentes de cGMP, enquanto a
necrose não (TAIMOR et al., 2000). Há evidências de que o
óxido nítrico induz apoptose em diferentes linhagens e tipos
celulares (ALBINA et al., 1989); porém, evidências também
existem assinalando que a apoptose em linhagens celulares de
rápido crescimento e diferenciação parecem não estar mediadas
pelo óxido nítrico (KRÖNCHE et al., 1997). De qualquer forma,
células de sarcomas, mastocitomas e melanomas sofrem apoptose
em grande intensidade quando expostas ao óxido nítrico, enquanto
outros tipos celulares não exibem o mesmo tipo de resultado
(DIMMELER; ZEIHER, 1997).
Evidências apontam que macrófagos de camundongos portadores
de fibrossarcoma apresentavam aumento de síntese de óxido nítrico,
que por sua vez afetava a proliferação de células tipo T CD4 (ALLEVA
et al., 1994). Assim como evidências apontam que o óxido nítrico
produzido por tumores sólidos parece facilitar a permeabilidade
vascular, contribuindo para o acesso nutricional, favorecendo o
rápido crescimento do tumor (MAEDA; AKAIKE, 1998).
Disso tudo, verifica-se a complexidade, inerente aos processos
de sinalização, que envolve a relação tumor/hospedeiro, tratando-se
de um processo multifatorial, mas que pode ser seriamente afetado
quando os mecanismos de sincronização temporal do metabolismo
são perturbados, gerando circunstâncias fisiológicas críticas, que
contribuem para o desenvolvimento do estado patológico.
Finalmente, a sobrevida cumulativa observada nos nossos
achados corrobora os estudos realizados por Lissoni et al. (1992),
nos quais pacientes com câncer de pulmão tratados com melatonina
apresentaram tempo médio de sobrevida maior. Na maior parte dos
ensaios combinados, em que a melatonina foi utilizada em conjunto
com drogas terapêuticas, a presença da indolamina mostrou prolongar
o tempo de progressão livre da doença e a sobrevida global, bem como
amenizar o sofrimento do paciente (VIJAYALAXMI et al., 2002).

931
CONCLUSÕES PEREIRA, Danielle
Dutra et al. Atividade
antitumoral da
Diante dos resultados encontrados no presente estudo, pode-se melatonina sobre
concluir que a melatonina, através de sua atuação no ovário, interfere o tumor de Ehrlich
nos mecanismos regulatórios dos processos de crescimento do implantado em
tumor de Ehrlich, apresentando ação inibitória e podendo propiciar camundongos swiss.
um prolongamento na sobrevida dos pacientes. Em contrapartida, SALUSVITA, Bauru, v. 38,
pode-se conjecturar que eventuais alterações nos padrões de n. 4, p. 911-938, 2019.
ritmicidade endógena para a melatonina podem predispor os
organismos a uma maior incidência de tumor, bem provavelmente
em decorrência de alterações importantes nos mecanismos
sinalizadores que dimensionam, por exemplo, os eventos que
controlam as características físico-químicas da matriz extracelular.
Por se tratar de um mecanismo complexo e multifatorial, espera-se
que novos estudos pormenorizem os detalhes direta e indiretamente
associados a estes mecanismos, oferecendo a oportunidade para o
desenvolvimento de novas tecnologias e estratégias terapêuticas para
que se controle ou erradique patologias como o câncer.

932
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938
1
Acadêmica do curso
de Medicina do Instituto
Metropolitano de Ensino
POTENCIAL DE CICATRIZAÇÃO
DA PSIDIUM GUAJAVA E
Superior/IMES - Univaço,
Ipatinga, Minas Gerais, Brasil.
2
Farmacêutica. Doutora em
Bioquímica e Imunologia pela
Universidade Federal de Minas
MYRCIARIA CAULIFLORA EM
Gerais, ICB/UFMG. Professora
Titular do Instituto Metropolitano FERIDAS CUTÂNEAS:
de Ensino Superior/ IMES -
Univaço, Ipatinga, MG, Brasil. AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA
3
Químico. Doutor em Bioquímica
Agrícola pela Universidade
Federal de Viçosa,
EM ESTUDO DE MODELO
Professor Titular do Centro
Universitário do Leste de EXPERIMENTAL
Minas Gerais e do Instituto
Metropolitano de Ensino
Superior/ IMES - Univaço,
Ipatinga, MG, Brasil.
Potential healing of Psidium guajava
4
Odontóloga. Doutora em and Myrciaria cauliflora in skin wounds
Ciências da Saúde pela
Universidade Federal de Minas
histological evaluation in experimental
Gerais, ICB/UFMG. Professora
Titular do Instituto Metropolitano
model study
de Ensino Superior/ IMES -
Univaço, Ipatinga, MG, Brasil.
5
Acadêmico do curso de Ciências
Biológicas da Universidade
Jéssica Maria Gomes de Faria1
Federal de São João del Rei /UFSJ Analina Furtado Valadão2
– São João del Rei, MG, Brasil.
Leonardo Ramos Paes de Lima3
6
Bióloga. Pós-doutora, doutora e
mestre em Biologia Celular pela Patrícia Gonçalves da Motta4
Universidade Federal de Minas Juan Fillipe da Siva Monteiro5
Gerais, ICB/UFMG. Professora
adjunta da Universidade Raquel Alves Costa6
Federal de São João Del Rei Jaqueline Melo Soares7
no departamento de Ciências
naturais, MG, Brasil
FARIA, Jéssica Maria Gomes de et al. Potencial de cicatrização da
7
Veterinária. Doutora em Biologia
psidium guajava e Myrciaria Cauliflora em feridas cutâneas: avaliação
Celular pela Universidade
Federal de Minas Gerais, ICB/ histológica em estudo de modelo experimental. SALUSVITA, Bauru,
UFMG. Professora Titular do v. 38, n. 4, p. 939-958, 2019.
Instituto Metropolitano de
Ensino Superior/ IMES - Univaço,
Ipatinga, MG, Brasil.
RESUMO
Recebido em: 06/05/2019
Aceito em: 04/10/2019 Introdução: O uso de plantas na medicina fitoterápica é uma
alternativa à medicina tradicional, por cota de seus efeitos anti-

939
inflamatórios, antimicrobianos e antioxidantes, potencialmente FARIA, Jéssica Maria
eficazes no auxílio do processo cicatricial. Objetivo: O estudo Gomes de et al. Potencial
avaliou, por análise histológica, o potencial dos extratos aquosos da de cicatrização da
Psidium guajava e da Myrciaria cauliflora no reparo de feridas de psidium guajava e
segunda intenção. Método: Foram utilizadas 20 ratas Wistar adultas, Myrciaria Cauliflora
distribuídas aleatoriamente em quatro grupos de 5 animais, com em feridas cutâneas:
avaliação histológica
tratamento tópico diário das lesões de 6 mm de diâmetro: Controle
em estudo de modelo
Positivo (CP) - solução aquosa de Bepantol® 5%; Controle Negativo experimental.
(CN) - água bidestilada estéril; e Grupos Experimentais (GO) - extrato SALUSVITA, Bauru, v. 38,
aquoso da casca do caule da goiabeira 10% e (JU) - extrato aquoso n. 4, p. 939-958, 2019.
da folha da jabuticabeira 1 g/mL. Cinco e dez dias após a lesão, os
fragmentos de tecido contendo a ferida foram coletados e fixados em
formalina tamponada. Foram realizados cortes histológicos de 5 mm
e as lâminas foram coradas com Hematoxilina-Eosina para serem
analisadas por microscopia de luz. Por uma análise qualitativa,
percebe-se que há diferenças na cinética de fechamento das feridas,
pois o uso dos extratos e do Bepantol®, possibilitaram reepitelização
mais rápida e menor quantidade de células inflamatórias agudas.
Aos 10 dias, nos animais JU sugere-se processo de reparo avançado,
com boa vascularização e pouca inflamação, e no grupo GO
sugere-se formação de cicatriz menor em comprimento que a dos
demais grupos, com deposição de fibras de colágeno mais próximas
topograficamnete da pele intacta. Conclusão: Considerando-se
os resultados obtidos no presente estudo, com 5 e 10 dias não há
evidências de que qualquer tratamento foi de fato impactante e
mudou de forma expressiva a cicatrização das feridas.

Palavras-chave: Cicatrização de feridas. Fitoterapia. Reparo.

ABSTRACT
Introduction: The use of plants in herbal medicine is an alternative
to traditional medicine due to its anti-inflammatory, antimicrobial
and antioxidant effects, potentially effective in the healing process.
Objective: The study evaluated, by histological analysis, the
potential of aqueous extracts of Psidium guajava and Myrciaria
cauliflora in the repair of second intention wounds. Method: Twenty
adult female Wistar rats were randomly assigned to four groups of
five animals each. The animals received daily topical treatment in
6 mm diameter lesions. The groups were: Positive Control (CP) -
aqueous solution of Bepantol® 5%; Negative Control (CN) - sterile
bidistilled water; Experimental Groups (GO) - aqueous extract of

940
FARIA, Jéssica Maria guava stem bark at 10% and (JU) - aqueous extract of jabuticaba
Gomes de et al. Potencial leaf at 1 g/mL. Five and ten days after injury, tissue fragments
de cicatrização da containing the wound were collected and fixed in formalin. Sections
psidium guajava e of 5 μm thickness were performed and stained with Hematoxylin-
Myrciaria Cauliflora Eosin for analysis by microscopy. From a qualitative analysis there
em feridas cutâneas: are no differences in the kinetics of wound closure, since the use
avaliação histológica
aqueous extract and Bepantol®, allowed faster reepithelization and
em estudo de modelo
experimental. fewer acute inflammatory cells. At 10 days, in JU group, an advanced
SALUSVITA, Bauru, v. 38, repair process was observed, with good vascularization and low
n. 4, p. 939-958, 2019. inflammation, and in the GO group, scar formation is suggested to
be smaller than that of the other groups, with deposition of collagen
fibers closer to the intact skin. Conclusion: Considering the results
obtained in the present study, at day 5 and day10, there is no evidence
that any treatment was in fact impacting and significantly altering
the woud healing.

Keywords: Wound Healing. Phytotherapy. Repair.

INTRODUÇÃO
O processo de cicatrização na pele envolve uma série de mecanismos
em três fases ou períodos sobrepostos: fase inicial, exsudativa ou
inflamatória, fase proliferativa e fase de remodelação ou maturação
tecidual. Cada uma é caracterizada macro e microscopicamente
pela presença de infiltrados de células em locais específicos, que
ocorrem de forma integrada e coordenada por mediadores químicos,
fenômeno que, macroscopicamente, se caracteriza pelo tecido
reparado (TRESVENZOL et al., 2013; SILVA, 2016).
Conforme Freitas (2014), a fase inflamatória inicia-se logo após a
lesão do tecido e dura cerca de três a sete dias; inicialmente ocorre a
hemostasia da lesão por ação das plaquetas e cascata de coagulação
e, a seguir, surgem as células inflamatórias. Os primeiros tipos
celulares que aparecem são os neutrófilos (polimorfonucleares),
consideradas células da fase aguda da inflamação, pois possui
meia vida mais curta e pico de atividade nas primeiras 24-48
horas da lesão; nos dias seguintes, há maior aporte de macrófagos,
linfócitos e plasmócitos, consideradas células inflamatórias crônicas
(MEDEIROS; DANTAS-FILHO, 2016).
A fase proliferativa tem início por volta do terceiro dia e pode
durar de 14 a 21 dias. Nesse período, ocorrem quatro importantes
eventos: a angiogênese - formação de novos vasos sanguíneos a
partir de vasos preexistentes; a fibroplasia - substituição do tecido

941
de granulação (infiltrado inflamatório e neovasculatura) por matriz FARIA, Jéssica Maria
extracelular a partir da ação dos fibroblastos; a contração da ferida Gomes de et al. Potencial
- reaproximação das bordas por ação dos miofibroblastos; e a de cicatrização da
epitelização - proliferação e migração de células endoteliais para psidium guajava e
a formação de novo epitélio (TARDELLI; SOUTO, 2011; ROSSI Myrciaria Cauliflora
et al., 2018). em feridas cutâneas:
avaliação histológica
A fase final da cicatrização é a de maturação ou remodelamento
em estudo de modelo
do colágeno, que se inicia após a reepitelização completa da ferida experimental.
por volta da terceira semana após a lesão, e pode durar meses a anos SALUSVITA, Bauru, v. 38,
(FREITAS, 2014). Nessa fase, o tecido de granulação é substituído n. 4, p. 939-958, 2019.
por tecido cicatricial. As células das fases anteriores sofrem apoptose,
a matriz provisória é substituída principalmente por colágeno tipo
I, e as fibras colágenas se alinham de maneira a aumentar a força
tênsil do tecido reparado, o mais próximo possível ao tecido original
(MEDEIROS; DANTAS-FILHO, 2016).
Visando melhor tratamento das feridas, muitos estudos e
experimentos são realizados buscando-se um produto eficiente
que tenha bons resultados no processo de cicatrização, com custo-
benefício satisfatório e acessível à população geral, tornando o uso
de recursos naturais uma alternativa promissora para esses fins
(SILVA, 2016).
Segundo Damasceno et al. (2016), a flora brasileira, por possuir
grande biodiversidade vegetal, favorece o estudo de extratos que
podem contribuir na ampliação do conhecimento da medicina
fitoterápica. Pertencentes à família Myrtaceae, os gêneros Psidium e
Myrciaria são de vasta distribuição no país e destacam-se no âmbito
fitoterápico, devido a seus diversos compostos fenólicos e derivados
polioxigenados que possuem efeitos antioxidante, antinflamatório e
antimicrobiano (BALDIN, 2016).
Como os extratos de goiabeira e jabuticabeira são utilizados
popularmente como anti-inflamatórios, avaliou-se o potencial
cicatrizante dos extratos aquosos de cascas do caule de Psidium
guajava L. e da folha da Myrciaria cauliflora em reparo de feridas
de segunda intenção, em ratas Wistar adultas.

MÉTODO
Aspectos Éticos

Para a realização deste estudo, foram seguidas as premissas


do CONCEA (Conselho Nacional de Controle de Experimentação
Animal) e protocolos aprovados pelo CRMV (Conselho Regional

942
FARIA, Jéssica Maria de Medicina Veterinária). Este estudo foi aprovado pela Comissão
Gomes de et al. Potencial de Ética no Uso de Animais do Instituto Metropolitano de Ensino
de cicatrização da Superior/IMES-Univaço (CEUA/IMES), sob protocolo nº 01.001.13.
psidium guajava e
Myrciaria Cauliflora
em feridas cutâneas:
avaliação histológica Coleta e identificação das plantas
em estudo de modelo
experimental. Ramos das espécies P. guajava e M. cauliflora foram coletados
SALUSVITA, Bauru, v. 38, em um sítio no município de Santana do Paraíso, Minas Gerais.
n. 4, p. 939-958, 2019. Os ramos foram removidos com auxílio do podão, colocados em
bandejas plásticas, individualmente, para o transporte. O material
coletado foi enviado para o Herbário do Centro Universitário do
Leste de Minas Gerais, para identificação botânica e preparo dos
extratos. As exsicatas foram incorporadas ao acervo da instituição.
Partes selecionadas de cascas do caule da P. guajava foram secas
em estufa de ventilação forçada, a 60 ºC, por 48 horas, enquanto as
folhas de M. cauliflora foram secas a 45 oC, por 7 dias. O procedimento
foi realizado para retirada da água e, com isso, impedir reações de
hidrólise e crescimento de microrganismos. Posteriormente, foram
trituradas em moinho de faca e tamisadas a 20 mesch.

Preparo do extrato aquoso

Para o preparo dos extratos, foram utilizados 20 g da planta (casca


do caule da goiabeira tamisada ou folha da jabuticabeira tamisada)
para cada 150 mL de água destilada. Cada preparação foi fervida
por 60 minutos. Após esse período, foram submetidos à filtração.
O filtrado, extrato aquoso, foi concentrado em evaporador rotatório
para concentração do extrato, até aproximadamente 10% do volume
inicial. O extrato foi armazenado em frasco escuro e mantido
refrigerado em temperatura de até 10ºC.
A escolha por extrato aquoso tem como base a menor interferência
nos resultados, uma vez que a utilização do extrato alcoólico pode
promover a desidratação tecidual e dermatites, induzindo alterações
no processo cicatricial (PEDERSEN et al., 2005).

Grupos Experimentais

Foram utilizadas 20 ratas Wistar (Rattus norvegicus) adultas,


pesando aproximadamente 250g, fornecidas pelo biotério do IMES.
Durante as etapas experimentais, os animais foram mantidos no

943
biotério, acomodados em caixas apropriadas de polipropileno, com FARIA, Jéssica Maria
um animal por caixa, em condições de temperatura e umidade Gomes de et al. Potencial
controladas, ciclos noite/dia bem definidos, ração própria para a de cicatrização da
espécie e água “ad libitum”. Respeitou-se o período de aclimatação psidium guajava e
de sete dias antes do início do experimento. Myrciaria Cauliflora
Os animais foram distribuídos aleatoriamente em quatro em feridas cutâneas:
avaliação histológica
grupos de 5 animais: Controle Positivo (CP) - solução aquosa de
em estudo de modelo
Dexpantenol 5% (Bepantol® 5%); Controle Negativo (CN) (água experimental.
bidestilada estéril) e Grupos Experimentais (GO) (extrato aquoso da SALUSVITA, Bauru, v. 38,
casca do caule da goiabeira 10%) e (JU) (extrato aquoso da folha da n. 4, p. 939-958, 2019.
jabuticabeira 10%).

Produção da ferida cutânea

Antes da produção das feridas, cada animal foi pesado e identificado


na cauda, utilizando uma caneta dermográfica. Identificou-se
o número do animal e o grupo experimental. Posteriormente
foram alojados em caixas individuais, também etiquetadas, com a
identificação do animal e do grupo experimental. A ferida cutânea
foi realizada sob anestesia, por meio da aplicação intraperitoneal
de ketamina a 10% (80 mg/Kg/animal) e xilazina a 2% (15 mg/Kg/
animal). Após anestesia, foi realizada tricotomia no dorso do animal
e antissepsia da região, com solução de álcool iodado a 2%.
A incisão cirúrgica foi feita com auxílio de punch de 6 mm,
utilizando-se a linha média como referência, incluindo a epiderme,
derme e a fáscia conjuntiva do dorso do animal. A profundidade
do ferimento da pele foi padronizada em função da visualização
do plano muscular. Foram feitas duas excisões cirúrgicas, na região
torácica, sendo uma de cada lado da linha média. As feridas foram
confeccionadas na região torácica esquerda e direita, com o intuito
de dificultar interferências (lambedura e mordedura). Para analgesia,
os animais receberam pós-procedimento cirúrgico solução aquosa
de dipirona sódica (1 gota/100 mL).

Tratamento

Após o procedimento cirúrgico, todas as feridas de cada grupo


experimental foram tratadas com aplicação tópica de 100 µL/
ferida com as soluções propostas; água bidestilada estéril (CN);
Dexpantenol 5% líquido (CP); extrato aquoso de Psidium guajava.

944
FARIA, Jéssica Maria 10% (GO) e extrato aquoso da folha de M. cauliflora 10% (JU),
Gomes de et al. Potencial conforme o grupo ao qual pertenciam, por um período de dez dias.
de cicatrização da O uso da água bidestilada, como controle negativo, fundamentou-
psidium guajava e se na sua pouca interferência na lesão e sua ampla utilização em
Myrciaria Cauliflora estudos de cicatrização em ratos (GARROS et al., 2006; BATISTA
em feridas cutâneas: et al., 2014).
avaliação histológica
A escolha do Dexpantenol 5%, como controle positivo, deveu-
em estudo de modelo
experimental. se ao uso desse medicamento em diversas pesquisas semelhantes.
SALUSVITA, Bauru, v. 38, Esse alivia o prurido e auxilia a cicatrização de lesões de pele por
n. 4, p. 939-958, 2019. estimular a epitelização e granulação em eczemas e dermatoses
discretos, picadas de insetos e escoriações de pouca gravidade
(KOROLKOVAS, 2006; MARTORELLI et al., 2011).

Eutanásia

No quinto e décimo dia após o procedimento cirúrgico, os


animais foram eutanasiados por sobredose da associação anestésica
de ketamina e xilazina. As carcaças foram coletadas por empresa
especializada no gerenciamento e destinação de resíduos biológicos.

Análise microscópica da ferida

A análise microscópica foi realizada por meio do estudo


histológico dos fragmentos, os quais foram recolhidos nos dias 5 e
10 após a lesão, com uso de punch de 6mm. Os fragmentos foram
fixados em formalina 10%, com amostragem identificada de todos
os animais, para que as áreas cicatriciais pudessem ser conferidas
inteiramente.
O processamento histológico e aquisição de imagens foi realizado
no laboratório de microscopia da Universidade Federal de São João
del Rei (UFSJ) e submetido a processamento histológico, incluído
em parafina, cortado na espessura de 5 micrometros (cinco micras) e
corado com Hematoxilina e Eosina (HE).
As lâminas obtidas foram analisadas por microscopia de luz,
num aumento de 40 e 400X. Avaliou-se o infiltrado inflamatório,
analisando a presença de leucócitos, fibroblastos e tecido conjuntivo
e realizada análise qualitativa do processo cicatricial.

945
RESULTADOS FARIA, Jéssica Maria
Gomes de et al. Potencial
de cicatrização da
A cinética no processo de reparo mostrou-se similar em todos os psidium guajava e
grupos durante o experimento. No décimo dia, as feridas de todos Myrciaria Cauliflora
os animais, dos quatro grupos, apresentavam fechamento completo. em feridas cutâneas:
Como esperado, todos os grupos experimentais apresentaram no avaliação histológica
processo de reparo de feridas excisionais 5 dias após a lesão. Há em estudo de modelo
presença do tecido de granulação com presença de crosta, leucócitos, experimental.
fibroblastos e deposição de matriz extracelular vascularização dos SALUSVITA, Bauru, v. 38,
tecidos durante o processo de cicatrização. n. 4, p. 939-958, 2019.
Apesar da cinética no processo de reparo não ter diferença,
verifica-se diferença no tempo de tratamento, pois a maioria dos
animais do grupo controle negativo não estava revitalizada após
cinco dias de tratamento da ferida, com água bidestilada. Na Figura
1, é possível verificar a evolução da ferida desses animais. Percebe-se
infiltrado inflamatório vasto, com predomínio de leucócitos (Figura
1B), sendo observada ainda a presença de neutrófilos em alguns
animais desse grupo. O tecido encontra-se com angiogênese normal
e a área da ferida extensa. A presença de tecido adiposo evidencia
a profundidade que atinge até a hipoderme e que a deposição de
matriz extracelular ainda não foi suficiente para formação da derme
e epiderme (Figura 1A). Com cinco dias do processo, não é mais
esperada presença excessiva de células inflamatórias, visto que a
fase prevista nesse tempo é proliferativa e não mais inflamatória.
Aos dez dias após a lesão, começa a se formar o tecido de
remodelamento. Observa-se uma diminuição no tamanho da
ferida e redução do infiltrado inflamatório. Como previsto para
esse tempo do reparo da ferida, há células inflamatórias crônicas,
principalmente linfócitos, e fibroblastos. Há inclusive presença de
tecido de granulação com deposição de matriz extracelular, fibras
colágenas bem alinhadas, de acordo com a orientação das células do
tecido, típicas do processo natural de cicatrização (Figuras 1C e 1D).

946
FARIA, Jéssica Maria
Gomes de et al. Potencial
de cicatrização da
psidium guajava e
Myrciaria Cauliflora
em feridas cutâneas:
avaliação histológica
em estudo de modelo
experimental.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 939-958, 2019.

Figura 1 - Análise histológica do processo de reparo 5 (A e B) e 10 (C e D)


dias após lesão excisional na pele do dorso de ratas Wistar. GRUPO CN-
Lâminas A e C - objetivas de 4X, escala da barra = 100 μm; Lâminas B e D
- objetivas de 40X, escala da barra= 20 μm. Letras indicam: ep – epitélio; tg –
tecido de granulação; ta – tecido adiposo; c- crosta.

No grupo controle positivo (Figura 2), praticamente todos os


animais estavam reepitelizados após cinco dias, usando o Bepantol®
nas lesões, indicando uma melhora no processo de reparo de
feridas, pois acelera o processo de reepitelização e diminui o
infiltrado inflamatório. Há infiltrado inflamatório com predomínio
de linfócitos. Há presença de crosta na superfície da ferida (Figura
2A) e, abaixo dessa, registra-se tecido de granulação com deposição
de matriz extracelular, com fibras colágenas bem alinhadas (Figura
2B), como esperado para a descrição da cinética inflamatória no
modelo excisional com cinco dias após a lesão. O tecido encontra-
se bem vascularizado, e a área da ferida é extensa. Ao décimo dia,
considera-se uma diminuição no tamanho da ferida e no número de
células do infiltrado inflamatório, e aumento da deposição de matriz
extracelular (Figuras 2C e 2D).

947
FARIA, Jéssica Maria
Gomes de et al. Potencial
de cicatrização da
psidium guajava e
Myrciaria Cauliflora
em feridas cutâneas:
avaliação histológica
em estudo de modelo
experimental.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 939-958, 2019.

Figura 2 - Aplicação de Bepantol melhora a reepitelização e diminui o


infiltrado inflamatório 5 (A e B) e 10 (C e D) dias após lesão excisional na
pele do dorso de ratas Wistar. GRUPO CP: Lâminas A e C - objetivas de 4X,
escala da barra = 100 μm; Lâminas B e D - objetivas de 40X, escala da barra=
20 μm. Letras indicam: ep – epitélio; tg – tecido de granulação; ta – tecido
adiposo; c- crosta.

Ao comparar a evolução dos grupos controle, percebe-se que há


uma aceleração no processo de reparo com o uso do Bepantol®,
pois a reepitelização ocorreu de forma mais rápida e o infiltrado
inflamatório apresentou-se com menos leucócitos. A ferida possui
uma área de tecido de granulação, qualitativamente, sem diferença
no tamanho da sua extensão.
No grupo JU, tratados com o extrato de jabuticabeira, praticamente
todos os animais não estavam reepitelizados no quinto dia. Como
se verifica nas Figuras 3A e 3B, há tecido de granulação, com uma
deposição de matriz extracelular mais lenta que os grupos controle,
pois há ainda grandes áreas de tecido adiposo. Há presença de
infiltrado inflamatório de leucócitos e fibroblastos, entretanto bem
menos inflamado que os grupos controle; angiogênese normal no
reparo e área da ferida extensa. Com cinco dias é esperada deposição
de matriz extracelular na lesão, que nesse grupo se apresenta atrasada
em relação aos controles, mas ao mesmo tempo menos inflamado
que os demais.
Portanto, observa-se que, no décimo dia, o grupo JU está menos
inflamado que o grupo GO, com celularidade menos intensa, e
evidencia-se que o processo de reparo parece mais adiantado que
nos demais grupos (Figuras 3C e 3D).

948
FARIA, Jéssica Maria
Gomes de et al. Potencial
de cicatrização da
psidium guajava e
Myrciaria Cauliflora
em feridas cutâneas:
avaliação histológica
em estudo de modelo
experimental.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 939-958, 2019.

Figura 3 - Extrato de Jabuticabeira interfere no processo de reparo 5 (A e


B) e 10 (C e D) dias após lesão excisional na pele do dorso de ratas Wistar.
GRUPO JU: Lâminas A e C - objetivas de 4X, escala da barra = 100 μm;
Lâminas B e D - objetivas de 40X, escala da barra= 20 μm. Letras indicam: ep –
epitélio; tg – tecido de granulação; ta – tecido adiposo; c- crosta.

No grupo GO, tratados com o extrato de goiabeira, praticamente


todos os animais estavam reepitelizados ao fim do experimento.
No quinto dia, a maioria dos animais apresentava bastante matriz
extracelular depositada (Figura 4A), muitos leucócitos com
predomínio de linfócitos, e alguns animais ainda em processo de
substituição de tecido adiposo (Figura 4B).

Figura 4 - Extrato de goiabeira retarda o processo de reparo 5 (A e B) dias


após lesão excisional na pele do dorso de ratas Wistar. GRUPO GO: Lâmina
A - objetiva de 4X, escala da barra = 100 μm; Lâmina B - objetiva de 40X,
escala da barra= 20 μm. Letras indicam: tg – tecido de granulação.

949
Ao comparar a evolução dos grupos experimentais, percebe-se FARIA, Jéssica Maria
que o grupo JU apresentou processo inflamatório menos intenso, Gomes de et al. Potencial
enquanto a deposição de matriz extracelular no grupo GO foi mais de cicatrização da
precoce e, possivelmente, possibilitou uma cicatriz menos extensa. psidium guajava e
Pode-se inferir que ambos apresentam vantagens no processo de Myrciaria Cauliflora
reparo de feridas cutâneas em relação ao grupo CN, mas não são em feridas cutâneas:
avaliação histológica
superiores aos resultados obtidos com o grupo CP.
em estudo de modelo
experimental.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
DISCUSSÃO n. 4, p. 939-958, 2019.

Conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS),


cerca de 20.000 espécies de diferentes plantas já foram catalogadas
e são utilizadas para fins terapêuticos em todo o mundo (SILVA,
2016). No Brasil, foram implementadas pelo Ministério da Saúde,
a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF)
e a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
(PNPIC), ambas no ano de 2006, com o intuito de estimular o acesso
às práticas complementares e às plantas medicinais, para o cuidado
na atenção primária à saúde pública, de forma eficaz e segura (PIRIZ
et al., 2014; DAMASCENO et al., 2016).
Neste estudo, utilizou-se o extrato aquoso de duas plantas muito
comuns no país, utilizadas empiricamente no tratamento de diversas
enfermidades: a goiabeira (Psidium guajava) e a jabuticabeira
(Myrciaria cauliflora), ambas da família Myrtaceae, ricas em
compostos fenólicos, flavonoides e taninos, com potentes propriedades
antioxidantes, antimicrobianas e anti-inflamatórias (AMADOR,
2015; HAIDA et al., 2015; BALDIN, 2016; MEIRA et al., 2016).
A família Myrtaceae é composta por mais de 100 gêneros e quase
4000 espécies, presentes especialmente em regiões tropicais; no Brasil
são descritos 26 gêneros e em torno de 1.000 espécies (HAIDA et al.,
2015; LEIPELT, 2016). O gênero Psidium possui cerca de 92 espécies
e 60 dessas espécies podem ser encontradas no país (OLIVEIRA,
2013). O gênero Myrciaria é composto de aproximadamente 236
espécies, sendo 40 delas nativas do Brasil (LEIPELT, 2016).
Além do uso alimentício dos frutos (in natura ou processados
na forma de sucos, geleias e doces), todas as partes das plantas
são utilizadas para fins terapêuticos ou industriais (cosméticos,
conservantes alimentícios, farmacêuticos), cascas, folhas, brotos,
sementes, raízes e caule são utilizados nas mais diversas preparações
e vias de aplicação (MEIRA et al., 2016; BRAGA, 2016).
Na medicina popular, a goiabeira é utilizada para cólicas, colite,
diarreia, dor de garganta e doenças bucais, inclusive se encontra

950
FARIA, Jéssica Maria no Memento Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira, dentre outras
Gomes de et al. Potencial plantas medicinais catalogadas para uso na saúde pública (ANVISA,
de cicatrização da 2016). Estudos científicos demonstraram a eficácia da Psidium guajava
psidium guajava e com propriedades antioxidante (AMADOR, 2015; HAIDA et al.,
Myrciaria Cauliflora 2015), antibacteriana (BONA et al., 2014), antifúngica (MARTINS
em feridas cutâneas: et al., 2016), antiprotozoária (BRAGA, 2016), antitumoral (LEIPELT,
avaliação histológica
2016) e cicatrizante (SILVA, 2016).
em estudo de modelo
experimental. A jabuticabeira é utilizada empiricamente para tratar algumas
SALUSVITA, Bauru, v. 38, doenças como asma, inflamações, problemas gastrintestinais
n. 4, p. 939-958, 2019. e irritações da pele (MEIRA et al., 2016). Muitos estudos têm
demonstrado os potentes resultados da Myrciaria cauliflora por conta
de seus efeitos antioxidante (BALDIN, 2016; MEIRA et al., 2016),
antibacteriano (BONA et al., 2014; OLIVEIRA, 2016), antifúngico
(MARTINS et al., 2016), antitumoral (WANG et al., 2014; LEIPELT,
2016), hipotensor e vasodilatador (ANDRADE et al., 2016).
Quanto ao efeito cicatrizante dos extratos dos gêneros Psidium
e Myrciaria, são escassos os estudos na literatura atual, embora
muitos trabalhos sobre cicatrização tenham sido desenvolvidos
com diversas outras plantas. Assim como foi realizado neste
experimento, outros estudos em modelo experimental avaliaram,
através de análise histológica, a cicatrização por segunda intenção
de feridas em dorso de ratos, utilizando extratos vegetais como
tratamento tópico diário (SANTOS et al., 2014; BATISTA et al.,
2014; ARAÚJO et al., 2015; BEZERRA et al., 2015; LOPES, 2015;
CAPELLA et al., 2016).
No quinto dia do presente experimento, todos os animais, tanto
dos grupos controle quanto dos grupos tratados com os extratos
aquosos de Psidium e Myrciaria, apresentavam formação de crosta
e no décimo dia apresentavam fechamento das feridas (epitelização
completa). Tempos análogos foram observados por Capella et al.
(2016), no estudo com extrato de urucum (Bixa orellana L.), em que
todos os grupos se encontravam na fase inflamatória no quarto dia,
nos dias 7 e 14 estavam na fase proliferativa, em transição para a fase
de maturação no 14º dia.
O tempo final de cicatrização entre os grupos foi aparentemente
o mesmo, mas o processo de reparo de feridas cutâneas dos grupos
experimentais apresentou algumas diferenças, embora sutis, que
auxiliaram na deposição tecidual. Com resultados semelhantes aos
encontrados neste estudo, Batista et al. (2014) utilizaram o extrato
aquoso do aveloz (Euphorbia tirucalli) em diferentes concentrações
e verificaram que não houve redução no tempo final de cicatrização
das feridas, em comparação aos grupos controle, entretanto o
aveloz produziu menor hiperemia e exsudação, resultando em

951
uma cicatriz esteticamente melhor, sendo observado também nos FARIA, Jéssica Maria
extratos deste experimento. Gomes de et al. Potencial
Neste estudo, no grupo experimental JU, evidenciou-se que a de cicatrização da
resposta inflamatória foi menos intensa que nos outros grupos e que, psidium guajava e
no décimo dia, o processo de reparo parecia ter-se acelerado, visto Myrciaria Cauliflora
que, até o quinto dia, a deposição de matriz estava mais lenta que nos em feridas cutâneas:
avaliação histológica
demais grupos, porém no décimo dia apresentava adequada deposição
em estudo de modelo
de matriz extracelular e colágeno. Bezerra et al. (2015) descreveram experimental.
os mesmos resultados com o uso do óleo de pequi (Caryocar SALUSVITA, Bauru, v. 38,
brasiliense) em feridas cutâneas. Em contrapartida, Santos et al. n. 4, p. 939-958, 2019.
(2014) encontraram resultados inversos em seu experimento com o
urucum (Bixa orellana L.), o qual apresentou aumento do infiltrado
inflamatório e menor quantidade de fibroblastos no processo de
reparo tecidual.
A fase inflamatória inicia-se logo após a lesão do tecido. Dura, em
média, de três a sete dias e é de suma importância para a cicatrização.
Entretanto, quando a reação inflamatória é intensa ou há persistência
de células inflamatórias durante o processo de remodelação da
ferida, a inflamação pode prejudicar o processo de reparo, por
promover edema e quantidade excessiva de exsudato. Esses fatores,
por sua vez, podem provocar deiscência, crescimento bacteriano e
consequente inibição da proliferação de fibroblastos e da deposição
de colágeno (BEZERRA et al., 2015; SANTOS et al., 2014).
Menor reação inflamatória com uso de Myrciaria cauliflora é
esperado, visto que a jabuticabeira é de uso popular para o tratamento
de inflamações e irritações de pele. Ademais, discute-se a propriedade
anti-inflamatória das plantas ricas em compostos fenólicos, utilizadas
para potencializar o processo de cicatrização em feridas e úlceras,
pois tais plantas agem como antioxidantes, combatendo os radicais
livres, e apresentam atividade antimicrobiana e moduladora do
sistema imune (AMADOR, 2015; HAIDA et al., 2015; BALDIN,
2016; MEIRA et al., 2016).
O grupo GO do presente experimento, no quinto dia, sinaliza
que, provavelmente, ocorrerá uma formação de cicatriz menos
extensa ou com deposição de fibras de colágeno mais próxima da
pele intacta, pois menor é a área da ferida e o tecido de granulação
está praticamente tomado por matriz extracelular. No décimo dia,
todos os animais apresentam reepitelização completa e epitélio
espesso, podendo-se inferir que o tratamento com Psidium guajava
promoveu uma fibroplasia mais intensa, vasta epitelização e
adequada contração da ferida.

952
FARIA, Jéssica Maria A fase proliferativa inicia-se após o terceiro dia da lesão tecidual
Gomes de et al. Potencial e pode durar de 14 a 21 dias. O tipo celular predominante dessa fase
de cicatrização da é o fibroblasto, fundamental para a formação da cicatriz. Tardelli
psidium guajava e e Souto (2011) e Rossi et al. (2018) descrevem quatro eventos
Myrciaria Cauliflora importantes que compõem essa fase: angiogênese, fibroplasia,
em feridas cutâneas: contração da ferida e epitelização, observadas no presente
avaliação histológica
experimento em todos os grupos experimentais, embora o GO tenha
em estudo de modelo
experimental. apresentado melhor fibroplasia e, possivelmente, maior vantagem
SALUSVITA, Bauru, v. 38, no processo de remodelamento.
n. 4, p. 939-958, 2019. Silva (2016) avaliou a ação cicatrizante e a atividade antibacteriana
da Psidium guajava, utilizando o extrato etanólico da planta em
feridas cutâneas de ratos, com análises histológicas nos dias 5, 10,
15, 20 e 25 do experimento, e encontrou resultados semelhantes
aos do presente estudo. De acordo com Silva (2016) a avaliação
histoquímica demonstrou que, nos grupos dos animais que receberam
o extrato como tratamento, houve reepitelização da epiderme e uma
derme com presença de fibras colágenas espessas, mais densas que
as encontradas nos grupos controle e placebo.
Quanto mais fibras colágenas (fibras colágenas espessas), maior a
resistência tênsil e, portanto, há um reparo tecidual mais eficiente, o
que foi evidenciado nos animais tratados com o extrato de goiabeira.
Assim, sugere-se que os compostos químicos encontrados na planta
poderão representar grande potencial antimicrobiano e cicatrizante
na constituição de novos medicamentos e tratamentos.
Resultados similares foram encontrados por Araújo et al. (2015)
e Lopes (2015), utilizando os extratos de batiputá (Ouratea spp.) e
babaçu (Orbignya phalerata), respectivamente. O tratamento com o
óleo de Ouratea spp. apresentou retração da ferida mais precoce e
uma colagenização mais acentuada, quando comparado aos outros
tratamentos; já o grupo tratado com babaçu apresentou maior
proliferação fibroblástica (fibroplasia) e colágeno mais maduro que
os demais grupos.
Desse modo, mediante os resultados encontrados no
estudo apresentado, e em demais estudos com plantas de uso
terapêutico, constata-se que a flora é uma fonte potencial para
novos fármacos. Diante da ausência de relatos de toxicidade
da jabuticabeira e da goiabeira, e da ampla distribuição dessas
plantas no Brasil, faz-se necessária a ampliação dos estudos para
comprovar a atividade terapêutica desses produtos e consolidar
seu uso em benefício da população.

953
CONCLUSÃO FARIA, Jéssica Maria
Gomes de et al. Potencial
de cicatrização da
Considerando-se os resultados obtidos no presente estudo, com 5 psidium guajava e
e 10 dias não há evidências de que qualquer tratamento foi de fato Myrciaria Cauliflora
impactante e mudou de forma expressiva os eventos inflamatórios e o em feridas cutâneas:
início de deposição de matriz extracelular. De forma geral, no grupo avaliação histológica
experimental GO a deposição de matriz extracelular aconteceu mais em estudo de modelo
precocemente e, possivelmente, possibilitou uma cicatriz menos experimental.
extensa em comparação aos demais grupos. No grupo experimental SALUSVITA, Bauru, v. 38,
JU, o processo de reparo se acelera em relação aos demais grupos e n. 4, p. 939-958, 2019.
apresenta-se menos inflamado. Apesar das vantagens evidenciadas
na cicatrização, dos animais tratados com os extratos propostos, não
há superioridade em relação aos controles.
Importante ressaltar, também, que ainda não há na literatura
consenso quanto a concentração, via e frequência de aplicação do
fitoterápico, havendo necessidade de padronização.

954
FARIA, Jéssica Maria REFERÊNCIAS
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de cicatrização da
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958
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE
ANTIFÚNGICA DOS EXTRATOS
ETANÓLICOS DO MELÃO-DE-SÃO-
CAETANO (Momordica charantia L.)
FRENTE A DIFERENTES ESPÉCIES
DE CANDIDA
Evaluation of the antifungal activity of ethanolic
extracts of the bitter melon (Momordica Charantia L.)
Against different species of candida

Bruno Fernando da Silva1


Thauana Sanches Paixão¹
Márcia Aparecida Nuevo Gatti²
Geisiany Maria de Queiroz-Fernandes³
Márcia Clélia Leite Marcelino4
¹Enfermeira graduada pela Fernando Tozze Alves Neves5
Universidade do Sagrado
Coração. Bauru-SP, Brasil.
² Professora Doutora da
Universidade do Sagrado
Coração. Bauru-SP, Brasil. PAIXÃO, Thauana Sanches et al. Avaliação da atividade antifúngica
³ Professora Doutora da dos extratos etanólicos do melão-de-são-caetano (Momordica
Faculdade São Leopoldo Mandic. Charantia L.) Frente a diferentes espécies de candida. SALUSVITA,
Araras-SP, Brasil. Bauru, v. 38, n. 4, p. 959-976, 2019.
4
Professora Doutora da
Universidade Nove de Julho.
Bauru-SP, Brasil.
5
Professor Mestre da RESUMO
Universidade do Sagrado
Coração. Bauru-SP, Brasil. Introdução: Leveduras do gênero Candida são reconhecidas por
serem as espécies mais comuns envolvidas na etiologia das micoses.
Recebido em: 15/05/2019
Objetivo: avaliar a atividade antifúngica dos extratos etanólicos do
Aceito em: 16/09/2019

959
Melão-de-São-Caetano (Momordica charantia L.) frente a diferentes PAIXÃO, Thauana
espécies de Candida. Metodologia: após aprovação pelo Comitê de Sanches et al. Avaliação
Ética em Pesquisa, a coleta dos frutos e das folhas do Melão-de-São- da atividade antifúngica
Caetano foi realizada na região da zona rural de Bauru-SP. Os frutos dos extratos etanólicos
in natura e as folhas foram levados à estufa com circulação forçada do melão-de-são-
de ar por 96 horas a 45°C, sendo, após esse período, submetidos ao caetano (Momordica
Charantia L.) Frente a
processo de moagem em turbólise. Os triturados foram pesados e a
diferentes espécies de
cada 10g foram acrescentados 85mL de álcool 70%. Os macerados candida. SALUSVITA,
foram armazenados em erlemeyer, ficaram em repouso por 21 dias, Bauru, v. 38, n. 4,
foram devidamente embalados para que a luz não penetrasse na p. 959-976, 2019.
solução. Na sequência, o líquido foi filtrado a vácuo e o solvente
evaporado em capela para obtenção dos extratos etanólicos. Os
testes foram realizados em triplicata. Resultados: o extrato do fruto
não apresentou capacidade fungistática (CIM) nem fungicida (CFM)
na máxima concentração avaliada (1250µg/mL) sob as espécies de
Candida utilizadas. Já o extrato da folha demonstrou ação fungistática
(CIM) frente a todas as espécies de Candida, mostrando padrões
diferentes nas concentrações (312,5µg/mL para C. albicans e 625µg/
mL para C. krusei, C. tropicalis e C. glabrata). O mesmo extrato
demonstrou capacidade fungicida (CFM) nas espécies C. albicans
e na C. tropicalis, nas concentrações 625µg/mL e 1250µg/mL
respectivamente. Conclusão: o extrato da folha do Melão-de-São-
Caetano foi eficaz sobre todas as linhagens de Candida ensaiadas,
sugerindo uma ótima alternativa terapêutica.

Palavras-chave: Momordica Charantia L. Fitoterapia. Candida.

ABSTRACT
Introduction: Yeast of the candida gender are mostly related to
etiology of mycosis. Objective: evaluate the antifungal activity
of ethanolic extracts of the Bitter melon (Momordica charantia
L.) against different species of Candida. Methodology: after the
approval by the Research Ethics Committee, fruits and leaves of
the Bitter melon were collected in the rural area of Bauru-SP. The
fruits and leaves were taken to a greenhouse and kept with forced
air circulation for 96 hours at the temperature of 45 °C. After
that period, the samples were submitted to a grinding process in
turbolysis. The grindings were weighed and each 10g received 85mL
of alcohol 70%. The macerates were stored in an Erlenmeyer flask
and were kept at rest for 21 days; after that, they were appropriately
packed so that no light would penetrate in the solution. In the

960
PAIXÃO, Thauana sequence, the liquid suffered a vacuum filtration and the solvent was
Sanches et al. Avaliação evaporated in a hood to obtain the ethanolic extracts. The tests were
da atividade antifúngica performed in triplicate. Results: The extract of the fruit did not show
dos extratos etanólicos fungistatic (CIM) nor fungicidal capacity (CFM) in the maximum
do melão-de-são- concentration evaluated (1250µg/mL) against the species of Candida
caetano (Momordica used. On the other hand, the extract of the leave showed fungistatic
Charantia L.) Frente a
activity (CIM) against the other species of Candida, presenting
diferentes espécies de
candida. SALUSVITA, different patterns in the concentrations (312.5µg/mL for C. albicans
Bauru, v. 38, n. 4, and 625µg/mL for C. krusei, C. tropicalis and C. glabrata). The same
p. 959-976, 2019. extract showed fungicidal capacity (CFM) in the species C. albicans
and C. tropicalis, in the concentrations 625µg/mL and 1250µg/mL,
respectively. Conclusion: the extract of the leave of the Bitter melon
was effective against all Candida strains studied, suggesting this is
a great therapeutic alternative.

Keywords: Momordica Charantia L. Physiotherapy. Candida.

INTRODUÇÃO
Leveduras do gênero Candida são reconhecidas por serem as
espécies mais comuns envolvidas na etiologia das micoses. Define-se
candidíase como uma infecção micótica, sendo seu agente etiológico
mais frequente a C. albicans. Entretanto, existem outras espécies do
gênero Candida que também podem estar envolvidas na etiologia da
candidíase, entre elas C. tropicalis, C. glabrata (LIMA et al. 2006).
A utilização de vegetais ou substâncias à base de vegetais como
remédio acontece desde os tempos mais antigos. Desde a Declaração
de Alma-Ata, em 1978, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
reconhece a necessidade do uso de plantas medicinais com finalidade
profilática, curativa, paliativa ou com fins de diagnóstico (BRASIL,
2009). Além disso, muitas pesquisas comprovam a eficácia de
inúmeras plantas medicinais no combate a microrganismos como
bactérias e fungos (CELOTO et al., 2008; JAGESSAR, R. C.;
MOHAMEDA, A.; GOMES, G, 2008).
O Melão-De-São-Caetano (Momordica charantia L.) é integrante
da família das Cucurbitáceas, flores amarelo-pálidas ou brancas
e fruto. (PEREIRA et al., 2006). Apresenta propriedades anti-
inflamatória, antisséptica, antidiarreica e teratogênica. O extrato
aquoso e etanoico apresenta também ação antibacteriana, antifúngica
e antihelmíntica. Também é usado popularmente contra eczemas,
ferimentos, furúnculos, tumores, incômodos das hemorroidas, como
pesticidas e, recentemente, como agente inibidor da multiplicação do

961
vírus da imunodeficiência humana (HIV) (GRENAND et al., 1987; PAIXÃO, Thauana
YANG, WALTERS, 1992; MATOS, 1997; ROBINSON, DECKER- Sanches et al. Avaliação
WALTERS, 1997). da atividade antifúngica
A presente pesquisa objetivou avaliar a atividade antifúngica dos extratos etanólicos
dos extratos etanólicos do Melão-De-São-Caetano (Momordica do melão-de-são-
charantia L.) frente a diferentes espécies de Candida. caetano (Momordica
Charantia L.) Frente a
diferentes espécies de
candida. SALUSVITA,
MATERIAL E MÉTODOS Bauru, v. 38, n. 4,
p. 959-976, 2019.
O projeto foi encaminhado para apreciação do Comitê de Ética em
Pesquisa em seres humanos da Universidade do Sagrado Coração e
aprovado com protocolo 1.031.257, atendendo as exigências éticas o
trabalho foi submetido ao comitê com pedido de dispensa do Termo
de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).

COLETA DA ESPÉCIE DO VEGETAL

A planta Melão-de-São-Caetano (Momordica charantia L.) foi


obtida na região rural de Bauru-SP e em seguida, enviada para o
Herbário BAUR da Universidade do Sagrado Coração (USC), onde
foi realizada sua exsicata e identificação botânica com número de
registro 5586.

MÉTODO DE EXTRAÇÃO ETANÓLICA


Transformação da planta in natura em droga vegetal
Primeiramente foram retirados os frutos com presença de fungos
ou que não estavam em bom estado. Em seguida, as folhas e os frutos
foram colocados em bandejas específicas e encaminhados para a
estufa de marca FANEM com circulação forçada de ar por 96 horas
a 40°C. Após a secagem, foram retiradas as sementes dos frutos e
os mesmos foram submetidos ao processo de moagem em moinho
de facas. O triturado dos frutos e das folhas foi acondicionado em
recipientes diferentes e revestido com papel alumínio, a fim de
bloquear a entrada de luz.

Maceração da droga vegetal

Para a preparação do macerado, foram pesados 10g do triturado


dos frutos em um erlemeyer e acrescentando 85mL de álcool 70%.

962
PAIXÃO, Thauana O mesmo procedimento foi realizado com o triturado das folhas. Os
Sanches et al. Avaliação macerados foram armazenados em erlemeyer diferentes e de forma
da atividade antifúngica que a luz não penetre na solução. Os mesmos ficaram em repouso
dos extratos etanólicos por 21 dias, os quais foram homogeneizados todos os dias. Após o
do melão-de-são- repouso das soluções, o líquido foi filtrado a vácuo com aparelho da
caetano (Momordica marca TECNAL e o solvente evaporado em capela para obtenção
Charantia L.) Frente a
dos extratos etanólicos.
diferentes espécies de
candida. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, Determinação dos compostos fenólicos totais da
p. 959-976, 2019. tintura do fruto e da folha da Momordica charantia L.

Os compostos fenólicos, considerados os antioxidantes de maior


ingestão, são característicos em alimentos de origem vegetal.
Podem ajudar a limitar os danos celulares, agindo diretamente
sobre espécies reativas de oxigênio, estimulando sistemas
endógenos de defesa. Os grupos fenólicos, ao aceitar elétrons,
formam complexos relativamente estáveis, inibindo reações de
oxidação em cadeia de componentes celulares (MOURE et al.,
2001; SCARLBERT et al., 2005).
Além da atividade antioxidante que essa classe de compostos
apresenta, outros autores têm relatado uma vasta gama de atividades
biológicas atribuída a eles, incluindo efeito antibacteriano,
antitrombótico, vasodilatador, anti-inflamatório e anticarcinogênico
mediados por diferentes mecanismos de ação, associados com os
compostos fenólicos (KNEK et al., 2002; GIBELLINI et al., 2011).
Vários métodos espectrofotométricos para quantificação de
compostos fenólicos em alimentos têm sido desenvolvidos. O
método de Folin-Ciocalteau é um dos mais utilizados para a
determinação de fenólicos totais em vegetais e bebidas. Este
método descrito por Swain e Hills baseia-se na redução do
ácido fosfomolíbdico-fosfotúngstico pelas hidroxilas fenólicas,
originando óxidos azuis. Absorve entre 620 e 770nm com um
comprimento de onda máximo em 750nm. A reação ocorre em
meio alcalino e a solução saturada de carbono de sódio é a base
mais indicada (ANGELO, JORGE, 2007; GEÔCZE, 2007). A
metodologia empregada para determinação dos fenólicos totais foi
adotada segundo Geôcze (2007), e realizadas algumas adaptações
em relação às amostras avaliadas neste trabalho. Foi empregado o
reagente Folin Ciocalteau e o padrão foi o ácido gálico. Também foi
utilizada solução saturada de carbonato de sódio. O resultado foi
expresso em MG de ácido gálico/100mL do extrato.

963
Curva padrão PAIXÃO, Thauana
Sanches et al. Avaliação
da atividade antifúngica
A solução padrão utilizada na construção da curva padrão foi
dos extratos etanólicos
obtida com 15mg de ácido gálico solubilizados em 50mL de metanol. do melão-de-são-
Foram adicionadas em cada tubo primeiramente as frações de caetano (Momordica
água destilada e solução mãe (extrato do fruto e da folha), e em Charantia L.) Frente a
seguida os 700μL do reagente Folin Ciocalteau. Cada tubo foi agitado diferentes espécies de
uma única vez, para homogeneizar o conteúdo. Os mesmos foram candida. SALUSVITA,
colocados em banho-maria a 37°C, por 20 minutos, e, em seguida, Bauru, v. 38, n. 4,
foi adicionado em cada tubo 1,0 mL da solução de carbonato de p. 959-976, 2019.
sódio (NaCO³), a 10% em água destilada, e foi agitado cada tubo
mais uma única vez para homogeneização. Aguardou-se 15 minutos
para a leitura da absorvância a 765nm. Com os dados obtidos das
absorbâncias, foi construída a curva padrão, apresentada na Figura
1, a qual apresentou um coeficiente de correlação positivo e foi então
empregada no cálculo do teor de fenólicos totais dos extratos.

Figura 1 - Construção da curva padrão.


Fonte: elaborado pelos autores.

Amostras

Para análise das amostras foram colocados primeiramente em


tubos de ensaio 500μL de amostra de cada tratamento (triplicata),
adicionado em seguida 10mL de água destilada e 700μL do reativo
de Folin Ciocalteau. Foi agitado uma vez cada tubo e logo após,
foram colocados por 20 minutos em banho-maria. Na sequência,
foram adicionados 1,0mL da solução carbonato de sódio. Cada tubo
foi agitado mais uma única vez e após 15 minutos foram realizadas

964
PAIXÃO, Thauana as leituras. As avaliações espectrofotométricas foram realizadas
Sanches et al. Avaliação em aparelho espectrofotômetro da marca FEMTO modelo 800
da atividade antifúngica XI. O delineamento experimental ocorreu em blocos inteiramente
dos extratos etanólicos casualisados (DIC) em que os resultados foram determinados em
do melão-de-são- MG de ácido gálico/100 mL de extrato, em triplicata.
caetano (Momordica
Charantia L.) Frente a
diferentes espécies de Identificação qualitativa de Tanino
candida. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, Tanino é denominado um grande grupo de substâncias complexas
p. 959-976, 2019. que podem estar presentes em determinadas partes das plantas,
como fruto, folha ou caules. Esses compostos são solúveis em
água e possuem propriedades especiais, tais como capacidade para
precipitar alcaloides, gelatina e outras proteínas (MARCHINI,
2015). Os taninos são classificados em hidrolisáveis e condensados.
Os hidrolisáveis são constituídos por diversas moléculas de ácidos
fenólicos. Possuem esse nome devido a suas ligações ésteres serem
passíveis de sofrer hidrólise por ácidos ou enzimas. Em solução com
cloreto férrico, os taninos hidrolisáveis desenvolvem a coloração
azul. Os taninos condensados são moléculas bem mais resistentes à
fragmentação e possuem ação antioxidante. Em solução de cloreto
férrico apresentam coloração verde (SOCIEDADE BRASILEIRA
DE FARMACOGNOSIA, 2009).
A identificação qualitativa do tanino foi realizada segundo
Mouco, Bernardino, Cornélico (2003), com algumas modificações
que serão citadas a seguir.

Extração dos taninos

Foi pesado um grama do fruto e da folha pulverizados.


Posteriormente, foram adicionados 50ml de água destilada em
proveta e vertido no béquer. Com um bastão de plástico, foi
misturado o solvente (água) com a planta (fruto e folha), em seguida,
foram fervidos durante 5 minutos e observado a liberação do odor
adstringente (característica organoléptica de plantas que apresentam
taninos). Filtrou-se em papel de filtro e utilizado o filtrado para a
reação de identificação dos taninos.

Reações de Identificação de Taninos

a) Reação com Cloreto Férrico 2%


Em um tubo de ensaio colocou-se 1ml da solução extrativa
(fruto e folha), 5ml de água destilada e 0,5ml da solução de cloreto

965
férrico a 2%. Em seguida, foi observada a formação de precipitado e PAIXÃO, Thauana
alterações na coloração azul ou verde. Sanches et al. Avaliação
da atividade antifúngica
b) Reação Acetato de Chumbo 10% dos extratos etanólicos
Em um tubo de ensaio, colocou-se 2ml da solução extrativa (fruto do melão-de-são-
e folha) e com o auxílio de uma pipeta adicionado 1ml de acetato de caetano (Momordica
Charantia L.) Frente a
chumbo a 10%, observou-se a formação de precipitado.
diferentes espécies de
candida. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO p. 959-976, 2019.
INIBITÓRIA MÍNIMA (CIM)
As técnicas para a determinação da atividade antifúngica foram
realizadas segundo QUEIROZ et al. (2015), com adaptações,
conforme descrições:

Diluição do extrato etanólico de Momordica


charantia L.

Após os extratos etanólicos obtidos da folha e fruto serem pesados


com o auxílio de uma balança analítica digital, foram diluídos em
dimetilsufóxido (DMSO) na concentração de 50mg/mL. Em seguida,
foram diluídos 1:10 em caldo RPMI. O DMSO foi utilizado para as
diluições por ser considerado o melhor solvente, pois não permite a
precipitação do extrato. As faixas de concentrações avaliadas para
ambos os extratos foram de 1250 a 1,2 µg/mL.

Linhagens de Micro-organismos

Os micro-organismos foram doados pelo Instituto Oswaldo Cruz:


Candida albicans (INCQS 40260), Candida krusei (INCQS 40095),
Candida tropicalis (INCQS 40042), Candida glabrata (INCQS
40136). Estes foram mantidos em freezer, na coleção do Laboratório
de Biociências da Universidade do Sagrado Coração.

Preparo do inóculo

Como a densidade do inóculo influencia no resultado dos


experimentos, foi padronizada a quantidade de inóculo a ser
utilizada, a fim de assegurar a reprodutibilidade dos ensaios. As
suspensões de Candida foram obtidas a partir de culturas de 48h
incubadas a 35°C (±2 °C) e padronizadas aproximadamente na

966
PAIXÃO, Thauana concentração de 106 leveduras/mL, de acordo com a turbidez do tubo
Sanches et al. Avaliação 0,5 de McFarland. A escala 0,5 de McFarland da marca PROBAC foi
da atividade antifúngica adquirida comercialmente (LIMA et al., 2006).
dos extratos etanólicos
do melão-de-são-
caetano (Momordica Preparo dos controles
Charantia L.) Frente a
diferentes espécies de Anfotericina B foi o antifúngico usado como controle para as
candida. SALUSVITA, cepas de Candida na faixa de concentração 32 a 0,01µg/mL. Também
Bauru, v. 38, n. 4, foram realizados os controles de esterilidade do meio de cultura,
p. 959-976, 2019. dos extratos etanólico de Momordica charantia L. (Melão-de-São-
Caetano) obtidos da folha e do fruto e do solvente (DMSO).

Método da microdiluição em caldo e determinação


da Concentração InibitóriaMínima (CIM) (CLSI, 2008)

O método de determinação da CIM foi realizado por microdiluição


em microplaca. Foram utilizadas microplacas de 96 orifícios e
depositado um total de 100µL do caldo RPMI, das soluções dos
compostos a serem avaliados: extrato etanólico (folha e fruto),
anfotericina B e DMSO, que foram diluídos seriadamente. Em
seguida, as suspensões de Candidas foram adicionadas aos poços.
As microplacas foram incubadas a 35±2ºC por 48h. Seguido este
período de incubação, foram adicionados em cada orifício, 30µL de
solução de resazurina a 0,01% em solução aquosa estéril para análise
dos resultados do crescimento fúngico.

Método de determinação da Concentração Fungicida


Mínima (CFM)

Para a determinação desta concentração, foram empregadas as


séries utilizadas para a determinação de CIM. Após o período de
incubação e antes de realizar a revelação, com o auxílio de uma
pipeta multicanal, cada poço da microplaca foi subcultivado e meio
ágar Sabouraud com cloranfenicol em placa de Petri de 150mm de
diâmetro, determinando assim o valor da concentração fungicida
mínima. As placas de Petri foram incubadas a 35±2ºC por 48h e em
seguida avaliados os pontos de crescimento (QUEIROZ et al., 2015).

RESULTADOS
No teste avaliou-se a ação antifúngica dos extratos etanólicos da

967
folha e do fruto do Melão-de-São-Caetano, os resultados obtidos PAIXÃO, Thauana
estão representados na Tabela 1. Sanches et al. Avaliação
O extrato do fruto não apresentou capacidade de inibir o da atividade antifúngica
crescimento (ou seja, ação fungistática (CIM)) e capacidade de dos extratos etanólicos
fungicida (CFM) na máxima concentração avaliada (1250 µg/ do melão-de-são-
mL) frente a todas as espécies de Candida utilizadas neste estudo. caetano (Momordica
Charantia L.) Frente a
Enquanto o extrato da folha demonstrou ação fungistática frente
diferentes espécies de
a todas as espécies de Candida analisadas, mostrando padrões candida. SALUSVITA,
diferentes apenas quanto às concentrações. Frente à C. albicans, Bauru, v. 38, n. 4,
observou-se CIM igual a 312,5µg/mL e frente às outras espécies p. 959-976, 2019.
(C. krusei, C. tropicalis e C. glabrata), CIM igual a 625µg/mL.
Em relação à CFM, o extrato da folha foi eficaz somente frente às
espécies C. albicans e C. tropicalis, no entanto, em concentrações
superiores às encontradas no método de CIM. Frente à C. albicans, o
extrato mostrou CFM igual a 625µg/mL e a C. tropicalis CFM igual
a 1250µg/mL. A resazurina é um revelador que permite verificar a
presença ou não de crescimento microbiano. A coloração azul indica
ausência de crescimento, enquanto a cor vermelha ou rosa indica
presença de células viáveis em crescimento (ALVES, et al. 2008).
A Anfotericina B foi o antifúngico sintético utilizado como
controle. A CIM e CFM da mesma estão representadas na Tabela 1.
Nota-se que o crescimento de C. albicans foi inibido na concentração
de 4µg/mL. Na C. krusei, a concentração foi de 1µg/mL, enquanto
nas espécies de C. tropicalis e C. glabrata o crescimento foi inibido
a 0,5µg/mL. No que se refere à CFM, a Anfotericina B mostrou
ação fungicida somente frente a duas espécies de Candidas e em
concentrações iguais ou maiores do que as observadas na ação
inibitória, CFM igual a 4µg/mL frente a C. glabrata e 8µg/mL frente
a C. albicans, conforme demonstrado na Figura 8.
Observou-se ainda que não houve crescimento de micro-
organismos nos controles de esterilidade dos extratos e do meio de
cultura e que o DMSO não influenciou no crescimento das espécies
de Candida.

Fonte: elaborada pelos autores.

968
PAIXÃO, Thauana Além dos extratos do Melão-de-São-Caetano, foram utilizados
Sanches et al. Avaliação outros componentes no teste, entre eles estão o DMSO (solvente) e
da atividade antifúngica o RPMI (meio de cultura). E para que se tenha certeza de que esses
dos extratos etanólicos componentes não estão agindo sobre as espécies de Candida, foram
do melão-de-são- realizados testes de esterilidades sobre os mesmos.
caetano (Momordica
Charantia L.) Frente a
diferentes espécies de DETERMINAÇÃO DOS COMPOSTOS FENÓLICOS
candida. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, Quanto à determinação dos compostos fenólicos, os resultados
p. 959-976, 2019. obtidos se encontram na Tabela 2. Na amostra de 150µl do macerado
do fruto, a concentração média de compostos fenólicos é de
21,28mg/100ml. Já na amostra de 150µl do macerado da folha a
concentração média foi de 26,43mg/100ml.

Fonte: elaborada pelos autores.

IDENTIFICAÇÃO QUALITATIVA DE TANINO

Os resultados obtidos através da identificação qualitativa de


tanino nos extratos do fruto e da folha do Melão-de-São-Caetano se
encontram na Tabela 3.

Fonte: elaborada pelos autores.

A reação do extrato da folha com o Cloreto Férrico 2% resultou


no surgimento da coloração verde, o que indica a presença de tanino

969
condensado. Na reação do mesmo extrato com o Acetato de Chumbo PAIXÃO, Thauana
10%, houve formação de precipitado bastante evidente, o qual Sanches et al. Avaliação
determina a presença de tanino. da atividade antifúngica
Já na reação do extrato do fruto com o Cloreto Férrico 2% não foi dos extratos etanólicos
possível a identificação do tipo de tanino. E na reação do extrato com do melão-de-são-
o Acetato de Chumbo 10% também houve precipitação indicando caetano (Momordica
Charantia L.) Frente a
também a presença de tanino.
diferentes espécies de
candida. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
DISCUSSÃO p. 959-976, 2019.

A utilização de plantas com finalidade terapêutica denomina-


se fitoterapia. A Medicina Complementar e Alternativa tem como
principal recurso o uso de plantas medicinais e fitoterápicos. Essa
prática vem sofrendo grandes avanços científicos, principalmente
relacionados ao combate de doenças bacterianas, parasitárias e virais
(JÚNIOR et al, 2016).
Neste sentido, os resultados do presente estudo foram positivos
quanto à ação antifúngica do extrato da folha de Momordica
charantia L. O extrato etanólico do fruto de Momordica charantia
não apresentou ação contra nenhuma das espécies de Candida
estudadas. Já o extrato da folha demonstrou ser antifúngico e
fungicida em todas as espécies de Candida estudadas. No estudo de
Mwambete (2009), foi verificado que o extrato da folha obteve ação
contra C. albicans e Celoto (2011) relata que há ação antifúngica
também do extrato da folha, porém em outra espécie de fungo.
Em contrapartida, Silva (2012) em seu estudo verificou que o
extrato da folha não apresentou ação contra nenhuma das espécies
de Candida estudadas, visto que fatores importantes como técnica
de extração, meio de crescimento, data da colheita podem influenciar
na extração do princípio ativo da planta.
Os resultados mostraram que as atividades de potenciais dependem
do método de extração e dos solventes utilizados (ILAGAN, Y;
ILAGAN, F; RAMOS, 2015).
Segundo Gomes et al. (2011), os taninos são considerados
compostos secundários responsáveis pela defesa da planta contra
fungos patogênicos, bactérias e vírus. As atividades bactericidas
e fungicidas ocorrem devido a três características gerais dos
taninos: complexação com íons metálicos; atividade antioxidante
e sequestradora de radicais livres; habilidade de complexar com
outras moléculas, principalmente proteínas e polissacarídeos.
Alguns autores afirmam que os taninos hidrolisáveis e condensados
não apresentam diferenças significantes frente a fungos e bactérias.

970
PAIXÃO, Thauana Apenas alguns trabalhos realizam a diferenciação do tipo de tanino
Sanches et al. Avaliação presente no extrato, o que ajudaria esclarecer as dúvidas quanto aos
da atividade antifúngica efeitos observados (CASTEJON, 2011).
dos extratos etanólicos No presente estudo, observou-se no extrato da folha a presença de
do melão-de-são- tanino condensado e no extrato do fruto de tanino hidrolisável. Porém,
caetano (Momordica apenas o extrato da folha obteve ação fungicida e fungistática, a qual
Charantia L.) Frente a
pode estar relacionada com a presença de taninos condensados em
diferentes espécies de
candida. SALUSVITA, sua propriedade. Em seu trabalho, Gomes (2011) também constata
Bauru, v. 38, n. 4, a presença de taninos no Melão-de-São-Caetano (Momordica
p. 959-976, 2019. charantia L.).
Auricchio et al. (2007) realizaram um experimento para verificação
de possíveis ações antimicrobianas, antioxidantes e tóxicas do extrato
hidroalcoólico de Eugenia uniflora L, composto por flavonoides
e taninos. O extrato demonstrou atividade antimicrobiana frente
à Staphylococcus aureus, Salmonela cholerasuis, Pseudomonas
aeruginosa e Candida albicans. O efeito foi atribuído aos compostos
fenólicos, principalmente os taninos, o que corrobora os resultados
obtidos nesse estudo.
Além dos taninos, outros compostos importantes (os quais estão
relacionados com as propriedades das plantas) são os fenólicos.
Neste estudo, o valor médio de compostos fenólicos em uma amostra
de 150µl do macerado do fruto foi de 21,28mg/100ml, o qual difere
do resultado encontrado por Silva, Gatti e Marcellino (2015b), que
encontraram um valor médio de 30,3 e o de Fassina e Tombini (2012),
que detectaram 0,37mg/100mL.
No macerado das folhas, o valor médio obtido em uma amostra de
150µl foi de 26,43mg/100ml, menor do que o encontrado em Silva,
Gatti e Marcellino (2015a) que obteve 53,43mg/100ml. É importante
ressaltar que as variações de compostos químicos das plantas
determinados por fatores extrínsecos e intrínsecos, podem apresentar
diferenças nas ações farmacológicas das espécies vegetais, daí a
importância de estudos quanto às diferenças químicas das plantas
obtidas em variadas localidades (RODRIGUES, et al 2010).
A Anfotericina B é um fármaco que foi descoberto em 1953. É
considerado um dos principais fungicidas, sendo muito utilizado
no tratamento de micoses e também como profilaxia fúngica em
pacientes neutropênicos (FILIPPIN; SOUZA, 2006). No presente
estudo, a Anfotericina B se mostrou bastante eficaz contra todas as
espécies de Candida e, o mais importante, em baixas concentrações.
Em seu estudo, Crocco e colaboradores (2004) relatam que as C.
albicans e C. krusei mostraram susceptibilidade a Anfotericina B.
Em outro estudo, realizado por Ferrazza e colaboradores (2005)
constatou-se que a CIM da Anfotericina B contra C. albicans, C.

971
glabrata e C. tropicalis variaram de 0,25 a 1,0µg/mL. Os estudos PAIXÃO, Thauana
citados anteriormente corroboram os resultados adquiridos no Sanches et al. Avaliação
presente estudo. da atividade antifúngica
dos extratos etanólicos
do melão-de-são-
caetano (Momordica
CONSIDERAÇÕES FINAIS Charantia L.) Frente a
diferentes espécies de
Dos extratos avaliados, o extrato da folha do Melão-de-São- candida. SALUSVITA,
Caetano foi eficaz sobre todas as linhagens de Candida ensaiadas, Bauru, v. 38, n. 4,
sugerindo uma ótima alternativa terapêutica. Entretanto, observa- p. 959-976, 2019.
se a necessidade de aprofundar esse estudo no que se refere à
utilização de plantas medicinais, obtendo maiores resultados quanto
à sua toxicidade, podendo resultar no desenvolvimento de novos
antifúngicos como meios alternativos, de baixo custo, com menos
efeitos adversos ao organismo e mais acessíveis à população.
Além disso, estudos como esse permitem ao profissional da saúde
obter maiores conhecimentos sobre a utilização de fitoterápicos,
para que, como educadores em saúde, possam ensinar e conservar
o saber tradicional.

AGRADECIMENTOS
Ao CNPq pelo fomento à pesquisa.

972
PAIXÃO, Thauana REFERÊNCIAS
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976
AVALIAÇÃO DA EQUIVALÊNCIA
FARMACÊUTICA DE COMPRIMIDOS
DE IBUPROFENO POR MEIO DO TESTE
PERFIL DE DISSOLUÇÃO
Evaluation of the pharmaceutical equivalence of
ibuprofen tablets by dissolution profile test

Caroline Caldas1
Fernando Tozze Alves Neves2

1
Graduada do Curso de Farmácia CALDAS, Caroline e NEVES, Fernando Tozze Alves. Avaliação da
2
Docente do Curso de Farmácia equivalência farmacêutica de comprimidos de ibuprofeno por meio
do teste perfil de dissolução. SALUSVITA, Bauru, v. 38, n. 4, p. 977-
985, 2019.

RESUMO
Introdução: Em formas farmacêuticas sólidas orais como
comprimidos, o perfil de dissolução comparativo representa o
principal teste de avaliação da equivalência farmacêutica. Objetivo:
Recebido em: 15/05/2019
Aceito em: 16/09/2019
comparar os perfis de dissolução de comprimidos de ibuprofeno

977
600mg nas formas de referência, genérico e similar. Material CALDAS, Caroline
e método: Uma curva de calibração de ibuprofeno foi construída e NEVES, Fernando
com cinco pontos (2, 3, 5, 10 e 15 ppm) com o objetivo de se obter Tozze Alves. Avaliação
os coeficientes linear, angular e de correção. A partir disto, foram da equivalência
realizados os ensaios de perfil de dissolução em sextuplicata, farmacêutica de
segundo parâmetros farmacopéicos com 900 mL de tampão fosfato comprimidos de
ibuprofeno por meio do
pH 7,2, cesta como aparato, velocidade de rotação de 150 rpm
teste perfil de dissolução.
e amostras coletadas em intervalos de 5, 10, 15, 20 e 30 minutos. SALUSVITA, Bauru, v. 38,
As alíquotas obtidas foram filtradas e diluídas para a concentração n. 4, p. 977-985, 2019.
adequada e analisadas em comprimento de onda de 221 nm, para
a determinação da porcentagem de dissolução em cada intervalo
de tempo amostrado. Resultados: Todos os tipos de medicamentos
estavam de acordo com as especificações farmacopeias quanto
à porcentagem de dissolução (mínimo 60%) em até 30 minutos.
Além disso, segundo os parâmetros da RDC nº 31 de 11 de agosto
de 2010 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, os valores de
coeficiente de variação no tempo de 10 minutos não excederam a
10%, indicando assim equivalência farmacêutica entre as amostras
avaliadas. Conclusão: Com base nos resultados obtidos através dos
valores de coeficiente de variação, conclui-se que há equivalência
farmacêutica entre as amostras.

Palavras-chave: Ibuprofeno. Perfil de dissolução. Comprimidos.

ABSTRACT
Introduction: in solid oral dosage forms as tablets, the comparative
dissolution profile represents the main test for the evaluation of
pharmaceutical equivalence. Objective: compare the dissolution
profiles of ibuprofen 600mg tablets in reference, generic and similar
forms. Material and method: a calibration curve of ibuprofen
was constructed with five points (2, 3, 5, 10 and 15 ppm) in order
to obtain the linear, angular and correction coefficients. From this,
dissolution profile assays were carried out in sixfold, according
to pharmacopoeial parameters with 900 mL of pH 7.2 phosphate
buffer, basket as apparatus, rotation speed of 150 rpm and samples
collected at intervals of 5, 10, 15 , 20 and 30 minutes. The obtained
aliquots were filtered and diluted to the appropriate concentration
and analyzed at a wavelength of 221 nm to determine the percent
dissolution at each sampled time interval. Results: all drug types
were in accordance with the pharmacopoeial specifications for
percent dissolution (minimum 60%) within 30 minutes. In addition,

978
CALDAS, Caroline according to the parameters of the RDC nº 31 of August 11, 2010
e NEVES, Fernando of the National Agency of Sanitary Surveillance the values of
Tozze Alves. Avaliação coefficient of variation in the time of 10 minutes did not exceed 10%,
da equivalência thus indicating pharmaceutical equivalence among the evaluated
farmacêutica de samples. Conclusion: based on the results obtained through
comprimidos de the coefficient of variation values, it is concluded that there is a
ibuprofeno por meio do
pharmaceutical equivalence between the samples.
teste perfil de dissolução.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 977-985, 2019. Keywords: Ibuprofen. Dissolution Profile. Tablet.

INTRODUÇÃO
Os anti-inflamatórios não esteroides (AINES) reduzem a
produção de prostaglandinas ao inibirem a atividade das enzimas
ciclooxigenases (COX-1 e COX-2), afetando as vias da dor de três
maneiras diferentes: diminuem a exacerbação da sensibilidade à dor
inflamatória, diminuem o recrutamento dos leucócitos e produção
de mediadores inflamatórios derivados deles e atravessam a barreira
hematoencefálica impedindo a geração de prostaglandinas que
atuam como neuromoduladores produtores de dor no corno dorsal
da medula espinhal. (GOLAN et al., 2014).
Dentre os AINES, o ibuprofeno é considerado um fármaco
derivado do ácido propiônico amplamente prescrito para analgesia,
com principal ação anti-inflamatória, mas também apresentando
efeito antipirético. Possui a vantagem de ter menos efeitos adversos
que outros anti-inflamatórios como a aspirina, por exemplo.
(SILVA, 2010).
Além ser um medicamento isento de prescrição, ou seja, que
pode ser adquirido livremente nas drogarias em suas diferentes
apresentações (genérico, similar ou referência), o ibuprofeno faz
parte da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME)
e é amplamente utilizado em programas de atenção básica nas
unidades públicas de saúde nas formas de comprimido e suspensão
oral (BRASIL, 2017).
No contexto histórico, em 1999, com a alteração da Lei nº 6.360,
de 23 de setembro de 1976, entra em vigor a Lei nº 9.787, de 10 de
fevereiro de 1999, conhecida como a Lei dos Genéricos, que dispõe
sobre os medicamentos em três diferentes apresentações: referência,
genérico e similar. Segundo esta norma, o medicamento referência
é um produto inovador que obteve registro e que comprovou junto
à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) a sua
segurança, eficácia e qualidade. Já o genérico deve ser intercambiável

979
e só pode ser produzido após a expiração ou renúncia da patente CALDAS, Caroline
do medicamento referência, com comprovada segurança, qualidade e NEVES, Fernando
e eficácia, sendo designado pela Denominação Comum Brasileira Tozze Alves. Avaliação
ou, na sua ausência, pela Denominação Comum Internacional. O da equivalência
medicamento similar, por sua vez, sempre vem identificado por nome farmacêutica de
comercial ou marca e é produzido com o mesmo princípio ativo, comprimidos de
ibuprofeno por meio do
concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e
teste perfil de dissolução.
indicação terapêutica, preventiva ou diagnóstica, do medicamento de SALUSVITA, Bauru, v. 38,
referência, sendo diferente apenas em tamanho e forma do produto, n. 4, p. 977-985, 2019.
prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículos
(BRASIL, 1999).
Para que exista intercambialidade entre estes três tipos de
medicamentos citados, faz-se necessária a realização de testes
físicos químicos que comprovem a equivalência farmacêutica e
também testes clínicos para a bioequivalência. Dentre os testes de
equivalência farmacêutica, o perfil de dissolução comparativo é
considerado a análise de escolha para a demonstração de como o
princípio ativo dentro de uma formulação farmacêutica sólida oral
irá apresentar a sua liberação. Sendo assim, este trabalho analisou
o perfil de dissolução de comprimidos de ibuprofeno de 600 mg nos
três tipos de apresentação (referência, genérico e similar).

MATERIAL E MÉTODOS
Para construção da curva de calibração foram pesados 10 mg do
padrão de ibuprofeno e transferido para balão volumétrico de 100
mL, sendo diluído em tampão fosfato pH 7,2, tornando-se a solução
estoque para as demais diluições (concentração de 100 ppm). Foram
realizadas, a partir desta solução estoque, diluições em triplicata que
resultaram nas concentrações 2, 3, 5, 10 e 15 ppm. Tais diluições foram
avaliadas em espectrofotômetro, utilizando como branco tampão
fosfato pH 7,2 no comprimento de onda de 221 nm. A partir das
absorbâncias médias obtidas e por meio da regressão linear obteve-
se equação da reta e o valor do coeficiente de correlação (Tabela 1).
Com auxílio dos valores de absorbância e da concentração obtidos
anteriormente na construção da curva de calibração, foi possível
elaborar a apresentação gráfica do resultado (Figura 1).
Para a realização do teste de dissolução, 6 comprimidos foram
testados individualmente em 6 cubas de 1000 mL contendo 900 mL
de tampão fosfato de sódio pH 7,2, previamente desgaseificado e
estabilizado em temperatura de 37,0±0,5ºC. Segundo Farmacopeia

980
CALDAS, Caroline Americana (USP 38) o aparato de análise de escolha foi o cesto, e a
e NEVES, Fernando velocidade de rotação 150 rpm.
Tozze Alves. Avaliação Nos intervalos de 5, 10, 15, 20 e 30 minutos foram retiradas
da equivalência alíquotas de 5 mL da zona média, sem reposição de meio. Estas
farmacêutica de alíquotas foram filtradas individualmente para tubos de ensaio, sendo
comprimidos de que, posteriormente, 2 mL foram transferidos volumetricamente
ibuprofeno por meio do
para balão de 100 mL. O volume final do balão volumétrico foi
teste perfil de dissolução.
SALUSVITA, Bauru, v. 38, completado com tampão fosfato pH 7,2.
n. 4, p. 977-985, 2019. Após a diluição das alíquotas em cada um dos tempos analisados,
foram realizadas as leituras em espectrofotômetro no comprimento
de onda de 221 nm, utilizando o tampão fosfato pH 7,2 para o ajuste
de zero. O cálculo da porcentagem de dissolução dos comprimidos
de ibuprofeno 600 mg foi realizado a partir da equação da reta
previamente calculada. Segundo a Farmacopeia Americana (USP
38), a porcentagem mínima de tolerância após decorrido tempo de
30 minutos não deve ser inferior a 60%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo a RDC nº 31 de 11 de agosto de 2010 da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA), para permitir o uso de médias
em avaliações de perfil de dissolução comparativo, os coeficientes
de variação para os primeiros pontos de coleta não podem exceder
20%. Para os demais pontos, considera-se o máximo de 10%.
Tais parâmetros foram observados e respeitados para garantir a
confiabilidade desta análise. (Tabela 2).
Comparando com as especificações da Farmacopeia Americana
(USP 38), observou-se que os medicamentos referência, genérico
e similar de comprimidos de ibuprofeno estão dentro do limite da
porcentagem, o qual admite uma tolerância mínima de 60% depois
de decorrido o tempo de 30 minutos (Tabela 3).
Em relação ao perfil de dissolução comparativo, observou-se que
houve um diferença significativa nos intervalos de tempo de 5 e 10
minutos, entre as amostras referência, genérico e similar. No intervalo
de 15 minutos essa diferença diminuiu e, a partir dos 20 minutos,
todas as amostras já apresentaram porcentagens de dissolução acima
de 90% e com valores mais próximos (Tabela 4).
Resultados diferentes foram demonstrados por Ferraz (1993),
o qual realizou um estudo com oito (8) formulações diferentes de
ibuprofeno desenvolvidas em laboratório na concentração de 200
mg. Nos ensaios de dissolução, destas oito (8) formulações, apenas
duas não apresentaram porcentagem de dissolução adequada após

981
30 minutos, principalmente por conta de características, quantidades CALDAS, Caroline
e tipos de excipientes utilizados durante a formulação. Da mesma e NEVES, Fernando
forma, Storpirtis et al. (1999) analisando comprimidos comerciais Tozze Alves. Avaliação
de ibuprofeno nas concentrações de 200 e 600 mg, utilizando duas da equivalência
marcas comerciais de cada concentração, com dois lotes diferentes farmacêutica de
cada, encontrou diferenças significativas entre as marcas comerciais comprimidos de
ibuprofeno por meio do
testadas, sendo que, apenas uma das marcas comerciais apresentou
teste perfil de dissolução.
porcentagem de liberação do princípio ativo de acordo com as SALUSVITA, Bauru, v. 38,
especificações farmacopéicas. n. 4, p. 977-985, 2019.
Já Barros (2010), em uma avaliação com comprimidos de
ibuprofeno na concentração de 600 mg, declara que todas as amostras
testadas (referência, 1 genérico e 4 similares) apresentaram valores
de porcentagem de dissolução dentro dos parâmetros aceitáveis
farmacopéicos. Resultados semelhantes foram encontrados neste
trabalho, no qual todas as amostras avaliadas estavam de acordo
com as especificações farmacopéicas. Assim como Sousa (2011),
em um processo de desenvolvimento de uma formulação de
comprimidos de ibuprofeno na concentração de 600 mg, observou
valores de perfil de dissolução e equivalência farmacêutica de acordo
com as especificações farmacopéicas e conforme os parâmetros
estabelecidos pela RDC 31/2010.
Segundo Abdou, Hanna e Muhammad (2004), durante a década
de 1960, vários estudos demonstraram que a má formulação de
comprimidos alterava sua resposta clínica e a biodisponibilidade.
Foi demonstrado também que existiam diferenças significativas nas
taxas de dissolução do princípio ativo de comprimidos geralmente
idênticos, porém, fabricados por diferentes indústrias farmacêuticas.
Esses fatos foram cruciais para que as agências reguladoras de
medicamentos e autoridades científicas instituíssem o teste de
dissolução como exigência legal para a maior parte das formas
farmacêuticas sólidas.
Diversos fatores são capazes de exercer influência direta na
velocidade de dissolução de fármacos em formas farmacêuticas
sólidas, tais como: características físico-químicas do próprio
fármaco (solubilidade, polimorfismo, tamanho e forma da partícula);
excipientes utilizados na formulação; processo de fabricação.
(ALLEN; POPOVICH; ANSEL, 2007; FERREIRA, 2008).
Outro parâmetro de qualidade importante a ser observado é
declarado pela RDC nº 31 de 11 de agosto de 2010 da ANVISA, a
qual define como dissolução muito rápida, aquela dissolução média
de no mínimo 85% da substância ativa em até 15 minutos e dissolução
rápida a dissolução média de no mínimo 85% da substância ativa
em até 30 minutos. Nesses casos, a resolução considera que se deve

982
CALDAS, Caroline comprovar a dissolução muito rápida dos produtos por meio do
e NEVES, Fernando gráfico da curva, realizando coletas em, por exemplo: 5, 10, 15, 20 e
Tozze Alves. Avaliação 30 minutos. Neste o coeficiente de variação no ponto de 15 minutos
da equivalência que não pode exceder 10%. (BRASIL, 2010a).
farmacêutica de Baseado no perfil de dissolução observado nas amostras testadas,
comprimidos de verificou-se que todas se enquadram na classificação de dissolução
ibuprofeno por meio do
muito rápida (Figura 2) e atendem a especificação do coeficiente de
teste perfil de dissolução.
SALUSVITA, Bauru, v. 38, variação no ponto de 15 minutos (Tabela 2).
n. 4, p. 977-985, 2019. Sendo assim, considera-se que os medicamentos testados
referência, genérico e similar, apresentaram valores adequados de
equivalência farmacêutica dentro do que estabelece a legislação
brasileira quanto ao perfil de dissolução comparativo.

CONCLUSÃO
Diferentes testes físico químicos de qualidade devem ser
realizados para se comprovar a equivalência farmacêutica entre
comprimidos. Entretanto, a avaliação do perfil de dissolução
comparativo representa o principal ensaio conforme RDC 31/2010,
pois apresenta a relação direta entre tempo e porcentagem de
dissolução do princípio ativo das amostras analisadas. Sendo assim,
as amostras testadas apresentaram-se dentro dos valores normativos
para a determinação da equivalência farmacêutica.

983
REFERÊNCIAS CALDAS, Caroline
e NEVES, Fernando
Tozze Alves. Avaliação
ABDOU, H. M.; HANNA, S.; MUHAMMAD, N. Dissolução. In.: da equivalência
GENNARO, A. R. A ciência e prática da Farmácia. 20 ed. Rio de farmacêutica de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. comprimidos de
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farmacêuticas e sistemas de liberação de fármacos. 8 ed. Porto
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
Alegre: Artmed, 2007. n. 4, p. 977-985, 2019.
BARROS, B. C. R. Avaliação do perfil de dissolução de
comprimidos de ibuprofeno. 2010. 38f. Trabalho de Conclusão de
Curso. (Bacharel em Farmácia) - Universidade do Sagrado Coração.
Bauru. 2010.
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Altera
a Lei no 6.360, de 23 de setembro de 1976, que dispõe sobre a
vigilância sanitária, estabelece o medicamento genérico, dispõe
sobre a utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos
e dá outras providências. Lei nº 9.787, de 10 de fevereiro de 1999.
Diário Oficial da União n 1, seção 1, 11 fev. 1999
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Dispõe
sobre a realização dos Estudos de Equivalência Farmacêutica e
de Perfil de Dissolução Comparativo. Resolução RDC n° 31, de 11
de agosto de 2010. Diário Oficial da União n 1, seção 1, p. 36-39, 11
fev. 2010.
BRASIL. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais:
RENAME 2017 / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência,
Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência
Farmacêutica e Insumos Estratégicos – Brasília: Ministério da
Saúde, 2017. 210p.
FERRAZ, H. G. Comprimidos de ibuprofeno: formulação e
avaliação do perfil de dissolução. 1993. 124f. Dissertação (Mestrado
em Ciências Farmacêuticas) - Universidade de São Paulo. São
Paulo. 1993.
FERREIRA, A. de O. Guia prático de farmácia magistral. 3 ed.
São Paulo: Pharmabooks, 2008. v. 1.
GOLAN, D. E. et al. Princípios de farmacologia: a base
fisiopatológica da farmacoterapia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2014.
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984
CALDAS, Caroline SOUSA, L. S. Desenvolvimento de formulação de ibuprofeno
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da equivalência Católica de Brasília, Brasília, 2011.
farmacêutica de
comprimidos de STORPIRTIS, S. et al. Estudo comparativo da cinética de dissolução
ibuprofeno por meio do de ibuprofeno em comprimidos de liberação imediata comercializados
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SALUSVITA, Bauru, v. 38, v. 35, n. 2, 1999.
n. 4, p. 977-985, 2019.
USP. THE UNITED STATES PHARMACOPEIA. USP 38/NF
33. Twinbrook Parkway: Rockville. 2015. v. 3, p. 7443-5.

985
BRINQUEDO TERAPÊUTICO
INSTRUCIONAL: PREPARANDO A
CRIANÇA PARA A QUIMIOTERAPIA
ENDOVENOSA
Instructional Therapeutic Toy: preparing child for
Intravenous Chemotherapy

Valeska Silva Souza Santos¹


Fernanda Lucia da Silva2
Anajás da Silva Cardoso Cantalice3

¹Enfermeira. Preceptora de SANTOS, Valeska Silva Souza, SILVA, Fernanda Lucia da e


estágio da Faculdade Integrada CANTALICE, Anajás da Silva Cardoso. Brinquedo terapêutico
de Patos, Patos, Paraíba, Brasil.
instrucional: preparando a criança para a quimioterapia endovenosa.
2
Estudante de Bacharelado em SALUSVITA, Bauru, v. 38, n. 4, p. 987-1000, 2019.
Enfermagem. Universidade
Federal de Campina Grande,
Cuité, Paraíba, Brasil.
3
Professora Drª da Universidade RESUMO
Federal de Campina Grande,
Cuité, Paraíba, Brasil.
Introdução: O câncer merece destaque entre as doenças que
causam transtornos em adultos e crianças, pois continua sendo um
Recebido em: 05/07/2019
diagnóstico dos mais temidos da atualidade. Vincula-se a um estigma
Aceito em: 31 /10/2019 de sofrimento, mutilação e morte, envolvendo uma série de ameaças

987
e dificuldades, que afetam não só a criança, mas sua família como SANTOS, Valeska
um todo, ao longo do processo de diagnóstico e tratamento Objetivo: Silva Souza, SILVA,
Comparar os comportamentos de crianças durante a quimioterapia Fernanda Lucia da e
endovenosa antes e após a aplicação do brinquedo terapêutico CANTALICE, Anajás da
Silva Cardoso. Brinquedo
instrucional (BTI). Materiais e Métodos: Pesquisa não controlada terapêutico instrucional:
do tipo “antes e depois”, realizada na oncopediatria de um hospital preparando a criança
público. Foram avaliadas 10 crianças submetidas a quimioterapia para a quimioterapia
endovenosa. Na coleta de dados, utilizou-se um questionário com endovenosa. SALUSVITA,
questões sociodemográficas, clínicas, comportamentais e reações Bauru, v. 38, n. 4,
p. 987-1000, 2019.
esboçadas durante o tratamento, antes e após a sessão de BTI. A
análise de dados foi feita no programa SPSS, sendo realizado o
teste de Mc Nemar, considerando um intervalo de confiança de
95%. Resultados: O câncer infantil mais frequente foi a Leucemia
Linfoide Aguda (40%). Dos comportamentos analisados, percebeu-
se redução significativa após o uso do BTI do comportamento
“postura retraída”. Conclusão: O BTI representou uma ferramenta
importante no controle da ansiedade e sofrimento gerado pelo
tratamento quimioterápico endovenoso.

Palavras-chave: Jogos. Brinquedos. Criança Hospitalizada. Terapia


Combinada.

ABSTRACT
Introduction: Cancer plays a notable role among diseases that afflict
adults and children. Its diagnosis is still much feared and connects to
a stigma of suffering, mutilation and death. It is related to difficulties
and treats that affects not only the child but also his whole family
during the long process of diagnosis and treatment. Objective: to
compare the behaviors of children during intravenous chemotherapy
before and after the application of therapeutic instructional toy (BTI).
Materials and methods: Uncontrolled search such as “before and
after”, held in oncopediatria of a public hospital. Ten children were
evaluated, subjected to intravenous chemotherapy. For collection, it
was used a questionnaire asking for sociodemographic, clinical and
behavioral questions, as well as issues and reactions outlined during
treatment, before and after the session of BTI. The data analysis
was done in SPSS program, being carried out the Mc Nemar test,
assuming a confidence interval of 95%. Results: the most frequent
childhood cancer was Acute Lymphoblastic leukemia (40%). Among
the behaviors examined, it was significantly reduced after the use of

988
SANTOS, Valeska BTI “retracted posture” behavior. Conclusion: the BTI represented
Silva Souza, SILVA, an important tool in the control of anxiety and suffering generated
Fernanda Lucia da e by intravenous chemotherapy treatment.
CANTALICE, Anajás da
Silva Cardoso. Brinquedo Keywords: Games. Toys. Child. Hospitalization. Combination
terapêutico instrucional: therapy.
preparando a criança
para a quimioterapia
endovenosa. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, INTRODUÇÃO
p. 987-1000, 2019.
As doenças crônicas têm gerado repercussões traumáticas não
apenas entre adultos, como no público infantil. Dentre estas, o
câncer merece destaque, pois continua a ser uma das doenças de
diagnóstico mais temido da atualidade. Vincula-se, na maioria das
vezes, a um estigma de sofrimento, mutilação e morte, envolvendo
uma série de ameaças e dificuldades, que afeta não só a criança,
mas sua família como um todo, ao longo do extenso processo de
diagnóstico e tratamento (Salci, Marcon, 2011; DUARTE,
ZANINI, NEDEL, 2012).
A terapêutica do câncer infantil é complexa e invasiva. Dentre as
várias categorias de tratamento existentes (cirurgia, hormonioterapia,
radioterapia, quimioterapia (QT) e terapia-alvo específica), a QT se
sobressai, pois a maioria das neoplasias pediátricas obtém melhor
resposta com essa categoria, por serem quimiossensíveis (Bonassa,
2005; Thompson, 2003). Entretanto, os quimioterápicos acarretam
sintomas que comprometem a qualidade de vida da criança, como:
fadiga, diarreia, leucopenia, inapetência, mucosites, náuseas,
vômitos, desconfortos no geral (SILVA et al., 2013).
As respostas nocivas não intencionais do tratamento
quimioterápico na criança as fazem vivenciar rupturas em seu
estilo de vida, podendo afastar-se de seu ciclo social, alterar seus
hábitos alimentares e sua imagem corporal. Sendo assim, entende-
se que há necessidade do ato de brincar como forma de diminuir
o estresse e o sofrimento gerado pela doença e pela terapêutica
(ARTILHEIRO et al., 2011).
O brincar pode ser responsável por minimizar o sofrimento
causado por todo o processo de tratamento de doenças como o
câncer, por produzir vínculos de maneira espontânea, em que as
crianças partilham entre si experiências e situações peculiares ao seu
universo (ROCHA, MENESES, 2016). As brincadeiras permitem
também a interação e o diálogo, tanto com a família quanto com
os profissionais que estão sendo responsáveis pelo seu bem-estar,
oportunizando à criança questionar sobre o tratamento ao qual está

989
submetida, para melhor compreensão da sua doença, tratamento e SANTOS, Valeska
prognóstico (BEUTER, ALVIM, 2010) (8). Silva Souza, SILVA,
O uso do brinquedo terapêutico (BT) pode representar uma Fernanda Lucia da e
intervenção eficaz para lidar com os impactos advindos do tratamento CANTALICE, Anajás da
quimioterápico, pois ameniza os efeitos dolorosos e estressantes Silva Cardoso. Brinquedo
causados pela hospitalização e ajuda a criança no processo de terapêutico instrucional:
preparando a criança
adaptação e aceitação da internação. Estes fatores fazem do hospital
para a quimioterapia
um ambiente agradável e descontraído, dentro de suas possibilidades endovenosa. SALUSVITA,
(ROCHA, MENESES, 2016). Vale ressaltar que existem três tipos Bauru, v. 38, n. 4,
de BT: o Dramático (BTD), o Capacitador de Funções Fisiológicas p. 987-1000, 2019.
(BTCFF) e o Instrucional (BTI) (FERRARI et al., 2012).
A equipe de enfermagem que atua na área de pediatria pode
inserir o BT na assistência à criança e à família hospitalizada, visto
que é uma prática recomendada e regulamentada pelo Conselho
Federal de Enfermagem, conforme a resolução Cofen n° 0546/2017,
que autoriza a utilização da técnica do BT, por Auxiliar ou Técnico
de Enfermagem, desde que esteja sob prescrição e supervisão do
Enfermeiro. Ainda segundo o documento, após sua aplicação, o
profissional deverá registrar no prontuário do paciente, datar e assinar
como autor da ação, conforme as etapas do processo de enfermagem
(CFE, 2017).
Diante do já mencionado, justifica-se a escolha do BTI antes
da QT endovenosa por ser esse tratamento invasivo e doloroso,
provocando diversas alterações emocionais e físicas nas crianças.
Desta forma, dificulta sua adesão e de sua família para a terapêutica
proposta, agravando e retardando o reestabelecimento de sua saúde,
na intenção de minimizar os traumas sofridos e cooperar para uma
maior aceitação do tratamento endovenoso. Esse estudo, portanto,
teve como objetivo comparar os comportamentos expressos pelas
crianças durante a quimioterapia endovenosa antes e após da
aplicação do BTI.

MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória, de abordagem
quantitativa, não controlada do tipo “antes e depois”, realizada no
setor de oncologia pediátrica de um hospital público, referência no
ensino e assistência médica para tratamento oncológico pediátrico,
localizado na cidade de Campina Grande, Paraíba, Brasil.
A amostra da pesquisa foi constituída por 10 crianças hospitalizadas
submetidas a QT endovenosa, do sexo feminino e masculino, em
idade pré-escolar e escolar, atendidas no período de maio e junho de

990
SANTOS, Valeska 2017. Não foram incluídas na amostra as crianças impossibilitadas
Silva Souza, SILVA, de manipular objetos durante a sessão de BTI, as que estavam sob
Fernanda Lucia da e efeito de anestésicos, durante o período pós-operatório imediato ou
CANTALICE, Anajás da sedadas, as que apresentaram desorientação alopsíquica e as que não
Silva Cardoso. Brinquedo quiseram participar da sessão de BTI.
terapêutico instrucional: Utilizou-se para a coleta de dados um questionário específico
preparando a criança
(APÊNDICE A), dividido em duas partes. A parte I, coletada junto
para a quimioterapia
endovenosa. SALUSVITA, ao prontuário, versou sobre as características sociodemográficas e
Bauru, v. 38, n. 4, condições clínicas da criança: sexo; idade; tempo de permanência
p. 987-1000, 2019. na unidade de internação; tipo de tumor; estado geral; horário da
quimioterapia e frequência de sessões quimioterápicas. A parte
II do instrumento apresentou o formato de checklist e tratou
de aspectos comportamentais e reações esboçadas durante o
tratamento quimioterápico antes e após a sessão de BTI, tendo
como base para sua formulação um estudo já validado (CORREIA,
LINHARES, 2008). Foi utilizada, ainda, folha em branco com
lápis e canetas coloridas antes e após a sessão do BTI para que a
criança exteriorizasse suas emoções e logo após ser submetida ao
procedimento de QT endovenosa.
As crianças foram avaliadas em dois momentos antes do BTI:
no primeiro momento, as crianças e responsáveis foram informados
sobre os procedimentos de coleta de dados e, em concordância,
assinaram o Termo de Assentimento e o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). Ainda neste momento, coletou-se as
características sociodemográficas por meio do prontuário da criança.
Em seguida, a criança foi convidada a exteriorizar o que estava
sentindo através de desenhos BTD, processo que levou em média
10 minutos. Depois, foi observada a realização do procedimento
de punção venosa para a infusão da QT, e foram registrados os
comportamentos esboçados pelas crianças antes do BTI na parte II
do formulário. No segundo momento, foi solicitado à criança que
observasse, juntamente com seu acompanhante, a demonstração
da técnica de punção venosa para quimioterapia, utilizando-se
uma sessão de BTI, antes de ser submetida ao novo procedimento
quimioterápico. Esse segundo momento, cuja duração foi de cerca de
45 minutos, no qual se esclareceu dúvidas a respeito do procedimento
e do próprio tratamento.
Os materiais utilizados durante a sessão de BTI seguiram
o protocolo: bandeja, máscara, garrote, algodão, álcool 70%,
jelco ou escalpe, seringa, esparadrapo, fita, bonecas e bonecos
(confeccionados pela pesquisadora) e luvas de procedimentos. Ao
finalizar a demonstração, a criança foi convidada a reproduzir o
procedimento na (o) boneca (o), sendo estimulada a expressar suas

991
dúvidas e medos, além de esclarecer o que não foi compreendido SANTOS, Valeska
adequadamente por ela. Solicitou-se, ainda, que a criança utilizasse Silva Souza, SILVA,
uma folha em branco com lápis e canetas para exteriorizar por meio Fernanda Lucia da e
de desenhos suas emoções. CANTALICE, Anajás da
Logo após, a criança foi submetida à QT endovenosa e foi Silva Cardoso. Brinquedo
novamente observada de forma sistemática durante o procedimento. terapêutico instrucional:
preparando a criança
As reações e comportamentos expressados foram novamente
para a quimioterapia
registrados na parte II do instrumento. endovenosa. SALUSVITA,
A análise dos dados foi feita por meio do Statistical Package for Bauru, v. 38, n. 4,
the Social Sciences (SPSS). Realizou-se, inicialmente, a análise das p. 987-1000, 2019.
frequências absoluta e relativa, as características epidemiológicas
das crianças incluídas no estudo e, posteriormente, as variações de
comportamento antes e após a realização de BTI, utilizando-se o
teste de Mc Nemar e considerando um intervalo de confiança de
95%. Os dados foram apresentados através de proporções, médias,
desvios-padrão (DP), tabelas de contingência e p-valor. Os desenhos
foram analisados como representação das emoções expressas,
apresentados em gráfico.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos da Universidade Federal de Campina Grande
mediante o parecer nº 2.065.101.
RESULTADOS
Participaram da sessão do BTI 05 meninos e 05 meninas, sendo a
média de idade 5,4 ± 2,71 anos, destas 60% realizaram duas sessões
diárias de quimioterapia endovenosa. Os diagnósticos identificados
foram: Leucemia Linfoide Aguda (LLA) (40%), Neoplasia Renal
(30%), Leucemia Mielóide Aguda (20%) e Neoplasia ovariana (10%),
conforme especificado na tabela 1.

Tabela 01 - Caracterização da frequência absoluta e relativa das


variáveis socio demográficas e clínicas da criança.
VARIÁVEIS N %

SEXO

Masculino 05 50

Feminino 05 50

FAIXA ETÁRIA

Pré-escolar 05 50

Escolar 05 50

992
SANTOS, Valeska DIAGNÓSTICOS IDENTIFICADOS
Silva Souza, SILVA,
Fernanda Lucia da e Leucemia Linfoide Aguda 04 40
CANTALICE, Anajás da
Silva Cardoso. Brinquedo Neoplasia Renal 03 30
terapêutico instrucional: Leucemia Mieloide Aguda 02 20
preparando a criança Neoplasia Ovariana 01 10
para a quimioterapia
Fonte: Dados da pesquisa, 2017.
endovenosa. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 987-1000, 2019. Os dados da Tabela 02 apontam uma redução significativa, após
a aplicação do BTI, no comportamento: “postura retraída”. Observa-
se ainda que os comportamentos “evita olhar para o profissional” e
“tensão muscular” apresentaram redução, embora, sem significância
após o BTI, considerando o número total da amostra e o valor de p.

Tabela 02 - Comportamentos referentes à aplicação do BTI Antes e


Depois da Quimioterapia Endovenosa.

993
SANTOS, Valeska
ANTES DEPOIS Silva Souza, SILVA,
COMPORTAMENTO DO BTI DO BTI P Fernanda Lucia da e
N % N % CANTALICE, Anajás da
Solicita presença materna 08 80 06 60 0,500 Silva Cardoso. Brinquedo
terapêutico instrucional:
Evita olhar para o profissional 05 50 01 10 0,125 preparando a criança
para a quimioterapia
Aperta os lábios 02 20 02 20 - endovenosa. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
Grita 03 30 01 10 0,500
p. 987-1000, 2019.
Solicita interrupção do 02 20 02 20 -
tratamento
Comportamento protetor 06 60 05 50 -

Tensão muscular 08 80 04 40 0,125

Choro 04 40 03 30 -

Postura retraída 06 60 01 10 0,053

Cerra os olhos 04 40 02 20 0,500

Soluço 01 10 01 10 -

Franze a testa 04 40 02 20 0,500

Suspira 01 10 01 -

Colabora passivamente 05 50 08 80 0,500

Permanece calado 05 50 03 30 0,500

Comportamento regressivo 01 10 01 10 -

Postura indiferente 01 10 01 10 -

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.


*Teste de McNemar-Teste de Rejeição da hipótese de Nulidade (p<0,05)

Quando analisados os comportamentos expressos pelas crianças


de acordo com a faixa etária após o BTI, as crianças em idade pré-
escolar apresentaram comportamento protetor e tensão muscular
significativamente mais presentes que as crianças na faixa etária
escolar como exposto na tabela 03, considerando o valor de P.

Tabela 03 - Comportamentos referentes ao procedimento da


Quimioterapia Endovenosa depois do BTI.

994
SANTOS, Valeska
Silva Souza, SILVA, VARIÁVEIS DEPOIS DO BTI FAIXA ETÁRIA P
Fernanda Lucia da e
CANTALICE, Anajás da PRÉ-ESCOLAR ESCOLAR
Silva Cardoso. Brinquedo N % N %
terapêutico instrucional:
preparando a criança Solicita presença materna
5 83,3 1 16,7 0,065
para a quimioterapia
endovenosa. SALUSVITA, Evita olhar para o profissional
1 100 0 0,0 0,389
Bauru, v. 38, n. 4,
Aperta os lábios
p. 987-1000, 2019. 2 100 0 0,0 0,197
Grita
1 100 0 0,0 0,389
Solicita interrupção do tratamento
2 100 0 0,0 0,197
Comportamento protetor 5 100 0 0,0 0,010
Tensão muscular 4 100 0 0,0 0,035
Choro
3 100 0 0,0 0,091
Postura retraída
1 100 0 0,0 0,389
Cerra os olhos
2 100 0 0,0 0,197
Soluço
1 100 0 0,0 0,389
Franze a testa
2 100 0 0,0 0,197
Suspira
1 100 0 0,0 0,389
Colabora passivamente
4 50,0 4 50,0 0,197
Permanece Calado
3 60,0 2 40,0 1,000
Comportamento Protetor
1 100 0 0,0 0,389
Postura indiferente 1 100 0 0,0 0,389
Fonte: Dados da pesquisa, 2017.
*Teste de McNemar-Teste de Rejeição da hipótese de Nulidade (p<0,05)

DISCUSSÃO
O tratamento oncológico e a própria hospitalização geram na
criança um desconforto emocional e físico, caracterizado por
intenso estresse, tristeza, incerteza, angústia, medo e dor física.
Estes sintomas se devem aos procedimentos invasivos necessários à
terapêutica e à dor emocional, por ter sua imagem corporal modificada

995
(queda de cabelo, perda de peso, apatia) e por ver o sofrimento dos
pais/familiares diante de sua situação (SANTOS, 2016).
Os resultados apontam que a maioria das crianças apresentou
como diagnóstico mais prevalente a LLA, assim como foi mostrado
na literatura (ARTILHEIRO et al., 2011), em que de 30 crianças
pré-escolares submetidas à quimioterapia ambulatorial, 60%
apresentaram a LLA. Esses dados testificam a incidência da LLA
como a neoplasia mais comum na infância (FERREIRA et al.,
2012). Durante o tratamento quimioterápico, é comum a criança
apresentar comportamentos que evidenciam tensão muscular e
medo através da expressão facial, uma vez que está submetida a um
processo invasivo.
De modo mais específico, antes da aplicação do BTI, as crianças
apresentavam dificuldade na comunicação (introversão) e após o
BTI fizeram questionamentos, tornando-se menos inibidas diante
dos profissionais durante o procedimento de QT endovenosa.
Em consonância com o resultado de um estudo (PALADINO
et al., 2014), que apontou também a introversão como uma das
reações em tratamentos dolorosos em crianças hospitalizadas
antes do BTI. No estudo de Paladino et al. (2014), também foi
constatado que, após o uso da técnica do brinquedo, as crianças
ficaram mais espontâneas e fizeram questionamentos a respeito
do procedimento, entraram prontamente na sala operatória,
participaram ativamente das brincadeiras e até colaboraram com o
procedimento. Nesse sentido, o BTI possibilitou a implementação
de um cuidado atraumático à criança .
Em uma pesquisa realizada por Pontes et al. (2015), com 60 crianças
na faixa etária de 3 a 6 anos , objetivou-se identificar e comparar
os comportamentos das crianças durante a vacinação, preparadas
ou não para o procedimento com o BTI. O grupo experimental
demonstrou estatisticamente que as crianças preparadas com o BTI
não apresentaram reações de menor aceitação ao procedimento
submetido: rigidez muscular, empurrar, morder, puxar a mão do
profissional, agarrar-se aos pais e pedir colo.
Considerando ainda contribuições do brincar em tratamentos
dolorosos, um estudo quantitativo, realizado por Campos et al.
(2010) em um hospital de porte extra no município de Santos/SP, com
30 crianças pré-escolares recém-admitidas na unidade pediátrica,
aplicou-se uma escala comportamental antes e depois da sessão
de BT. O procedimento revelou que as crianças se interessavam
pelas brincadeiras aplicadas, respondiam prontamente perguntas e
conversavam entre si durante as atividades, ou seja, o BT permitiu
significativamente uma maior interação das crianças com o meio.
SANTOS, Valeska Dos comportamentos observados, no presente trabalho, as
Silva Souza, SILVA, crianças em idade pré-escolar, mesmo após o BTI, tiveram reações
Fernanda Lucia da e superiores aos escolares. Destacando-se conforme o valor de p os
CANTALICE, Anajás da comportamentos “protetor” e “tensão muscular”, uma vez que
Silva Cardoso. Brinquedo antes do BTI as reações das crianças pré-escolares eram as mais
terapêutico instrucional: evidentes. Desta forma, confirma-se as afirmações disponíveis na
preparando a criança
literatura (CAINÉ, 2011), que especifica que as crianças em idade
para a quimioterapia
endovenosa. SALUSVITA, pré-escolar reagem de maneira imediata quando submetidas a
Bauru, v. 38, n. 4, procedimentos dolorosos, gritando ou apresentado oposição física
p. 987-1000, 2019. ou verbal. Nota-se esta reação mesmo nas crianças que já tenham
experienciado o evento de punção - mais doloroso -, visto que,
devido à inquietação da criança, se faz necessário realizar uma
nova punção venosa.
Fundamentando que crianças pré-escolares reagem mais a
procedimentos dolorosos como de punção venosa, um estudo feito em
uma unidade de emergência de um hospital universitário da cidade
de São Paulo (MEDEIROS, et al., 2009) traz que as crianças pré-
escolares da pesquisa também foram preparadas com o BTI. Apesar
de ter ocorrido uma redução nas reações estudadas pelos autores,
ainda assim, as crianças apresentaram necessidade de proteção,
comportamento de insegurança e tensão muscular.
É importante destacar a relevância do BT no tratamento de crianças
oncológicas na intenção de compreendê-las em seus medos e emoções.
Nesse contexto, o BT atua como um recurso importante para revelar
como a criança com câncer se sente durante o tratamento e mostrar
sua dificuldade em interagir com um desconhecido (profissional da
saúde), deixando complexo seu equilíbrio entre momentos de saúde
e de doença, isto é, seus medos, emoções e desejos mais externados
de uma forma compulsiva (FONSECA et al., 2015).
A partir do exposto, verifica-se a relevância de adotar o BTI de
forma rotineira, uma vez que o período gasto para se executar a
punção venosa em uma criança sem a utilização do BT pode ser
igual ou superior se o profissional preparasse a criança antes do
procedimento por meio do BTI. Desta forma, se ganharia tempo
e recursos hospitalares, pois a criança ficaria menos estressada,
reduzindo a necessidade de punções repetitivas (CAINÉ, 2011).
É relevante ressaltar que a amostra da pesquisa foi limitada por
conta das peculiaridades específicas do público estudado, estando
condicionado ao reestabelecimento do estado físico (hemodinâmico)
e emocional para a segunda realização da QT endovenosa, necessária
para a aplicação do BTI em consonância com a pesquisa.

997
CONSIDERAÇÕES FINAIS SANTOS, Valeska
Silva Souza, SILVA,
Fernanda Lucia da e
O presente estudo evidenciou a importância da utilização do BTI CANTALICE, Anajás da
na prática clínica entre crianças hospitalizadas, o qual proporcionou Silva Cardoso. Brinquedo
a redução do comportamento “postura retraída”. Sendo assim, terapêutico instrucional:
confirma-se que se trata de um recurso capaz de minimizar preparando a criança
o sofrimento causado pela hospitalização e pelo tratamento para a quimioterapia
quimioterápico em si. endovenosa. SALUSVITA,
O BTI possibilitou às crianças uma maior compreensão sobre Bauru, v. 38, n. 4,
seu tratamento, funcionando como uma ferramenta que possibilita p. 987-1000, 2019.
a minimização das manifestações contrárias à quimioterapia
endovenosa a partir da utilização do lúdico, que contribui para o
crescimento e desenvolvimento da criança por meio do brincar,
permitindo-as vivenciar essa fase de maneira menos estressante e
com menos impacto em seu processo de hospitalização.
As crianças avaliadas passaram a interagir mais após a utilização
do BTI e a exteriorizar seus sentimentos referentes à internação
por meio de desenhos coloridos (BTD), considerando que a criança
oncológica sente a necessidade de expor suas emoções como forma
de amenizá-las, além de trazer informações relevantes para a equipe
de enfermagem em relação ao seu estado emocional.
Ressalta-se que o BTI, de modo geral, possui um valor relevante
no processo de internação por promover uma interação mais
efetiva entre as crianças e o profissional enfermeiro, além de tornar
os procedimentos invasivos menos assustadores, facilitando a
compreensão da criança acerca do tratamento ao qual está sendo
submetida. Nesta situação, sua permanência no hospital se torna
menos desagradável e mais descontraída, já que, ao brincar, o meio
ambiente é modificado, transfigurando-se em um lugar voltado à
realidade da criança. Nesse sentido, o presente trabalho aponta para
a necessidade de sistematizar e implementar protocolos assistenciais
envolvendo o BT na prática assistencial do enfermeiro, buscando
explorar cada vez mais os benefícios desse instrumento terapêutico
não farmacológico. Por fim, acredita-se que este estudo contribuirá
para a ampliação dos conhecimentos referentes à temática e sobre
os benefícios que o BT proporciona às crianças hospitalizadas,
possibilitando ainda, a formulação de novas pesquisas e a construção
de novos saberes.

998
SANTOS, Valeska REFERÊNCIAS
Silva Souza, SILVA,
Fernanda Lucia da e
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0546/2017. Revoga a Resolução Cofen n. 295/2004 - Utilização de
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999
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1000
O IMPACTO POSITIVO NA
PROMOÇÃO DE SAÚDE BUCAL EM
JOVENS ADOLESCENTES
The Positive Impact on Oral Health
Promotion in Young Adolescents

Jéssica Cristina Braz dos Santos¹


Karolyn Sales Fioravanti2
Karin Cristina da Silva Modena³
Camila Lopes Cardoso4
Thiago Amadei Pegoraro5
Patrícia Pinto Saraiva6
Aluna de Pré-Iniciação Científica,
1
Joel Ferreira Santiago Júnior7
Universidade do Sagrado
Coração – USC, Bauru, SP, Brasil.
2
Cirurgiã-Dentista pela
Universidade do Sagrado
Coração – USC, Bauru, SP, Brasil.
³Doutor em Odontologia,
Universidade do Sagrado
Coração – USC, Bauru, SP, Brasil.
4
Doutor em Odontologia,
Universidade do Sagrado
Coração – USC, Bauru, SP, Brasil. SANTOS, Jéssica Cristina Braz dos et al. O impacto positivo na
Doutor em Odontologia, promoção de saúde bucal em jovens adolescentes. SALUSVITA,
5

Universidade do Sagrado
Bauru, v. 38, n. 4, p. 1001-1017, 2019.
Coração – USC, Bauru, SP, Brasil.
6
Doutor em Odontologia,
Universidade do Oeste Paulista –
UNOESTE, Jaú, SP, Brasil. RESUMO
7
Doutor em Odontologia,
Universidade do Sagrado
Coração – USC, Bauru, SP, Brasil. Introdução: o conhecimento da importância dos cuidados em
saúde bucal é deficiente em âmbito escolar, ressalta-se que jovens
capacitados, partilham o aprendizado assumindo papel importante
Recebido em: 30/08/2019 na sociedade. Objetivos: capacitação de estudantes para difusão
Aceito em: 03/01/2019 do conhecimento sobre cuidados em saúde bucal. Os temas de

1001
higienização dentária/prótese dentária e/ou implantossuportadadas SANTOS, Jéssica Cristina
e manejo após o traumatismo dentário foram abordados em escola Braz dos et al. O impacto
pública. Métodos: Inicialmente, houve avaliação do conhecimento positivo na promoção
prévio dos alunos (n=25) por meio de questionários de saúde bucal, de saúde bucal em
os questionários (GOHAI, higienização oral e de prótese dentária jovens adolescentes.
e manejo de traumatismo dentário) foram aplicados na sala de aula SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1001-1017, 2019.
com supervisão. Em um próximo momento houve o treinamento dos
discentes por palestras e material didático. Finalmente, após 2 meses
do ciclo de formação os questionários foram aplicados novamente.
Os dados foram tabulados e análise estatística considerou o valor
significativo para p<0,05, a fim de verificar o conhecimento adquirido
durante o treinamento de todos os estudantes. Resultados: Identificou-
se pós-oficina que os jovens estavam mais satisfeitos com a aparência
da boca (p<0,05). Nos questionários de higienização de próteses
dentárias houve a conscientização do tempo para substituição das
mesmas. Para o reimplante dentário, houve significativa percepção
dos alunos como possibilidade de terapia real (p=0,016), após a
realização das oficinas. Conclusão: com base nos dados, a proposta
de promoção em saúde bucal para os adolescentes foi eficiente, e
mais eventos (oficinas) com esta finalidade devem ser realizados em
escolas de ensino médio.

Palavras-chave: Saúde Bucal. Questionários. Extensão comunitária.

ABSTRACT
Introduction: the knowledge of the importance of oral health
care is deficient in the school environment, it is emphasized that
empowered young people share learning, assuming an important
role in society. Objectives: This study aimed to enable the training
of students to disseminate knowledge about oral health care. The
subjects of dental hygiene / dental prosthesis and / or implant
supported and management after dental trauma were addressed in
a public school. Methods: Initially, the students’ prior knowledge
(n = 25) was assessed through oral health questionnaires, the
questionnaires (GOHAI, oral and dental hygiene and dental trauma
management) were applied in the classroom with supervision. In
a next moment there was the training of the students by lectures
and didactic material. Finally, after 2 months of the training cycle,
the questionnaires were applied again. Data were tabulated and
statistical analysis considered the value significant for p <0.05, in
order to verify the knowledge acquired during the training of all

1002
SANTOS, Jéssica Cristina students. Results: It was identified after the workshop that young
Braz dos et al. O impacto people were more satisfied with the appearance of the mouth (p
positivo na promoção <0.05). In the dental prosthesis cleaning questionnaires, there was a
de saúde bucal em time awareness for their replacement. For dental replantation, there
jovens adolescentes. was significant perception of students as a possibility of real therapy
SALUSVITA, Bauru, v. 38, (p = 0.016), after the workshops. Conclusion: Based on the data,
n. 4, p. 1001-1017, 2019.
the proposal for oral health promotion for adolescents was efficient,
and more events (workshops) for this purpose should be held in high
schools.

Keywords: Oral Health. Questionnaires. Community extension.

INTRODUÇÃO
A promoção da saúde bucal em ambiente escolar para os jovens
é um fator muito relevante que deve ser estimulado já que pode
apresentar um impacto positivo na qualidade de vida do jovem
(HONKALA, 2014; KAZEMIAN et al., 2014; KUPPUSWAMY
et al., 2014; MBAWALLA et al., 2013). De fato, a escola permite
uma abordagem coletiva dos estudantes por meio de livros/textos,
panfletos, jogos, atividades extramuros que podem conscientizar
e promover a saúde bucal entre os jovens e na própria família e
comunidade, na qual o jovem está inserido (KAZEMIAN et al.,
2014; SANADHYA et al., 2014; VOZZA et al., 2014).
Estudos recentes indicaram a importância e conscientização
na educação em saúde bucal (AYO-YUSUF e BOOYENS, 2011;
CHRISTIAN et al., 2015; HOU et al., 2014; NEAMATOLLAHI et
al., 2011; PRABHU et al., 2013), além disso, todo o conhecimento
ministrado pode causar uma ação positiva na comunidade. A literatura
indica que o nível de conhecimento de jovens em relação à saúde
bucal pode ser inadequado (HOU et al., 2014; NEAMATOLLAHI et
al., 2011), assim torna-se importante o estímulo de políticas públicas
que possam transmitir o conhecimento de saúde bucal nas escolas,
principalmente em locais menos favorecidos socioeconomicamente,
este tipo de ação pode ter um efeito significativo na promoção de
saúde bucal na sociedade (HOU et al., 2014; NEAMATOLLAHI et
al., 2011).
Neste contexto, há estudo recentemente publicado o qual
mostra que a realização de uma análise do conhecimento em
saúde bucal dos jovens por meio de um questionário e reavaliação
depois de um treinamento para saúde bucal, demonstrou melhoria
no conhecimento de saúde bucal dos jovens e que esta atividade

1003
poderia repercutir positivamente na vida do jovem (SANADHYA SANTOS, Jéssica Cristina
et al., 2014), todavia a literatura não é totalmente concordante Braz dos et al. O impacto
sobre este benefício (MBAWALLA et al., 2013). Além disso, este positivo na promoção
tipo de ação promove a saúde bucal e também auxilia a reduzir o de saúde bucal em
medo e ansiedade pelo atendimento no cirurgião dentista, tornando jovens adolescentes.
assim uma relação mais próxima do cirurgião dentista com o SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1001-1017, 2019.
jovem (BHOLA e MALHOTRA, 2014). A adolescência também é
analisada como um período importante que permite a sedimentação
de conhecimentos relacionados à saúde bucal e que terão impacto
na saúde geral do adolescente (HEDMAN et al., 2013). Isto é muito
relevante já que há estudo que sugere que pais ou respectivos
responsáveis que apresentam uma saúde bucal deficitária poderia
repercutir em jovens e crianças com baixa qualidade de saúde bucal
(PRABHU et al., 2013).
Outro ponto importante está relacionado com a remoção de
hábitos deletérios que podem prejudicar a saúde e causar doenças
crônicas. Um estudo recente indicou que o agrupamento de múltiplos
comportamentos que comprometem a saúde de adolescente pode
ser prejudicial em longo prazo, destacando a ação conjunta de
baixo consumo de frutas, menor frequência na escovação dentária
e menor ação de atividade física pode ter um impacto negativo na
saúde sistêmica do indivíduo (ALZAHRANI et al., 2014). Estudo
também identificou a importância dos programas de treinamentos
que incluam a promoção de saúde bucal para professores de escolas e
que esta medida poderia ser muito positiva para a promoção de saúde
nas escolas primárias (RAMROOP et al., 2011).
A inserção do conhecimento sobre o traumatismo dentário
na escola também é um assunto relevante, uma vez que é muito
importante que os cuidados iniciais no elemento dentário sejam
executados de forma adequada após uma avulsão dentária.
Anteriormente, um estudo avaliou em jovens o conhecimento
sobre o manejo em situação emergencial de trauma dentário,
identificando que há necessidade de estudos que propaguem este
tipo de conhecimento entre jovens (YOUNG et al., 2014) estudo
recente mostra que até mesmo entre os estudantes de Odontologia
há carência de um conhecimento adequado para prática de manejo
de trauma dentário (FUJITA et al., 2014).
Além disso, o aumento da população idosa no Brasil e outros
países amplia nossa responsabilidade social com este grupo de
pessoas. No Brasil, por exemplo, em 2013 a expectativa de vida,
de acordo com o Banco Mundial, aumentou para 73,8 anos, dado
que em 1993 era de 67,7 anos (MUNDIAL, 2013). Assim, como a
expectativa em outros países superam 75 anos, como por exemplo,

1004
SANTOS, Jéssica Cristina os Estados Unidos, que apresenta uma expectativa de no mínimo
Braz dos et al. O impacto 78 anos (OONG e AN, 2014). Assim, torna-se muito importante
positivo na promoção ministrar conteúdos aos jovens que irão conviver diretamente com
de saúde bucal em pessoas idosas, uma vez que há estudo que já indica que entre os
jovens adolescentes. jovens há falta de habilidade de comunicação e autoconfiança no
SALUSVITA, Bauru, v. 38, tratamento e cuidados de pacientes idosos (HATAMI et al., 2014).
n. 4, p. 1001-1017, 2019.
A literatura é escassa de estudos que abordem o treinamento e
formação dos jovens para promoverem a saúde bucal no ambiente
escolar e comunidade. Existindo relato de que escolas as quais
adotam medidas de promoção de saúde bucal, apresentariam alunos
mais capacitados e com melhor contexto de saúde (RAJAB et al.,
2002). Portanto, a elaboração desta pesquisa e extensão, teve o intuito
de capacitar e treinar uma aluna do ensino médio, e posteriormente
propagar esta informação para a sala de aula (n=25). A hipótese nula
deste estudo foi de que a estudante de ensino médio, assim como
sua turma, após treinamento e capacitação apresentaria um nível de
conhecimento em saúde bucal semelhante quando comparado ao seu
desempenho inicial.
O objetivo geral desta pesquisa foi analisar o nível de conhecimento
de uma aluna do ensino médio e inclusive a sala de aula oferecendo o
treinamento em relação às informações relacionadas ao traumatismo
dentário, higienização oral, saúde gengival, manutenção de próteses
dentárias e implantossuportadas.

METODOLOGIA
Para o desenvolvimento dessa pesquisa foi considerado um
período de 6 meses na escola estadual Profª. Ada Cariani Avalone
– Bauru – SP - Brasil. Inicialmente, a primeira etapa foi executada
nos três primeiros meses do projeto, o qual ofereceu uma avaliação
prévia da aluna e da sala em relação ao conhecimento básico de saúde
bucal, logo após organizou-se um material para o treinamento em
relação ao trauma dental, higienização, saúde gengival, manutenção
de próteses dentárias e implantossuportadas houve a conscientização
em sala de aula e novamente reavaliação do conteúdo.
A pesquisa iniciou após aprovação do comitê de ética da
Universidade do Sagrado Coração. Na primeira etapa, a aluna do
ensino médio foi entrevistada em relação à percepção de saúde
bucal (Questionário GOHAI - adaptado) (SHYAMA et al., 2013).
Com o intuito de identificar a importância de cuidados relacionados
à Odontogeriatria, a discente respondeu um questionário adaptado
específico para avaliação de cuidados de higienização oral em

1005
próteses dentárias e implantossuportadas (DE CASTELLUCCI SANTOS, Jéssica Cristina
BARBOSA et al., 2008; SADIG, 2010). Finalmente, também Braz dos et al. O impacto
respondeu um questionário exclusivo relacionado aos cuidados positivo na promoção
básicos de primeiros socorros e intervenção em caso de traumatismo de saúde bucal em
dentário, questionário de AL-ASFOUR et al., 2008. jovens adolescentes.
O intuito desta etapa foi tirar as dúvidas em relação ao conteúdo, SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1001-1017, 2019.
aos tópicos de saúde bucal, buscar entender as dificuldades que a
aluna teve em compreender uma possível questão, realizamos assim
adaptações nos questionários para serem levados em sala de aula.
Na segunda etapa o grupo envolvido aplicou os questionários na
sala de aula. Na terceira, a equipe envolvida organizou uma estratégia
para ministrar os conhecimentos de saúde bucal para a sala de aula
da discente. Houve a distribuição de folders e banners (Oral-B, P &
G, São Paulo, Brasil), assim como houve treinamento de escovação
dentária e distribuição de dentifrícios e escova de dentes para os
alunos após o treinamento. Após a finalização do ciclo e capacitação
da aluna de iniciação científica, assim como dos alunos da sala de
aula, os questionários foram aplicados novamente a fim de permitir
uma comparação dos dados antes e depois da oficina.
Os dados provenientes da aplicação de cada questionário
foram organizados em tabela em formato Excel (Microsoft Office
Excel, Redmond, WA, Estados Unidos) e submetidos ao software
SigmaPlot (SigmaPlot, San Jose, CA, EUA) versão 12.0 e analisados
em relação à distribuição normal e, posteriormente foi adotado o
teste estatístico mais adequado com nível de significância de 5%
conforme os resultados iniciais encontrados. Como foi analisado, um
período antes e depois, utilizou-se o teste t pareado para dados com
distribuição normal e teste de Wilcoxon para dados com distribuição
não normal. Os principais resultados também foram apresentados
em gráficos a fim de facilitar a visualização e análises conforme
realizado por outros estudos anteriores da área (AL-ASFOUR et al.,
2008; FRUJERI e COSTA, 2009)

RESULTADOS
Em relação aos questionários do tipo GOHAI modificado, 27
alunos responderam o questionário na primeira entrevista e 25 alunos
responderam o questionário na segunda entrevista, portanto dois
alunos que responderam somente em um período foram excluídos.
O questionário buscou mensurar a percepção de higiene bucal
dos jovens antes e depois da promoção de saúde. Ao se analisar o
conjunto de questões no período prévio e posterior a palestra de saúde

1006
SANTOS, Jéssica Cristina bucal observa-se que há uma redução na pontuação dos scores de
Braz dos et al. O impacto uma forma geral (mediana), isto pode ser interpretado positivamente
positivo na promoção para algumas questões, todavia não foi identificado uma diferença
de saúde bucal em significativa quando avaliamos todos os domínios conjuntamente,
jovens adolescentes. p≥0,05, conforme pode ser identificado na figura 1.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1001-1017, 2019.

Figura 1 - Gráfico Box Plot – indicando as pontuações gerais para o


questionário (GOHAI) antes e depois da promoção de saúde bucal. (A,A:
p≥0,05).

Fonte: elaborado pelos autores.

Alguns domínios foram mais marcantes antes e depois da


realização da oficina. Identificou-se que houve após o treinamento
uma redução no quesito: ``sentir-se nervoso por causa de problemas
na boca``, isto foi observado em 10 alunos que apresentaram uma
redução neste quesito, a figura 2 abaixo permite visualizar esta
diferença no segundo período, porém não foi identificado uma
diferença significativa na comparação dos grupos (p>0.05).

1007
SANTOS, Jéssica Cristina
Braz dos et al. O impacto
positivo na promoção
de saúde bucal em
jovens adolescentes.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1001-1017, 2019.

Figura 2 - Análise do estado emocional do jovem em relação a saúde bucal.


Questão 10 do questionário. Nos últimos 3 meses chegou a sentir-se nervoso por
causa dos problemas na sua boca? (a,a: p≥0,05)

Fonte: elaborado pelos autores.

Em relação ao quesito se nos últimos 3 meses o jovem havia sentido


satisfeito ou feliz com a aparência de sua boca, foi identificado que
houve um aumento no score para o segundo período analisado após
a ação extramuro de média inicial: 3,16 para média final: 3,84 e foi
encontrado uma diferença significativa na comparação dos grupos,
conforme figura 2, p<0.05. Esta segunda análise demonstra que no
segundo período os jovens encontraram-se mais satisfeitos com a
saúde bucal, conforme figura 3.

Figura 3 - Análise do estado emocional do jovem em relação a saúde bucal.


Questão 7. Nos últimos 3 meses sentiu-se satisfeito ou feliz com a aparência da
sua boca? (a,b: p<0,05).

Fonte: elaborado pelos autores.

1008
SANTOS, Jéssica Cristina Em uma avaliação específica do questionário envolvendo o
Braz dos et al. O impacto conhecimento em relação a higienização e importância de manutenção
positivo na promoção nas próteses implantossuportadas, o maior desconhecimento dos
de saúde bucal em jovens identificado na primeira etapa representa a necessidade dos
jovens adolescentes. adultos utilizarem próteses totais e idealmente substituí-las em um
SALUSVITA, Bauru, v. 38, período menor a 5 anos, isto ficou evidenciado e após a palestra
n. 4, p. 1001-1017, 2019.
houve redução no tempo considerado ideal para substituição de uma
prótese total. Todavia, os jovens apresentaram um conhecimento
prévio satisfatório em relação a importância de não dormir com as
próteses totais, ou ainda sobre a importância da higienização das
próteses, já que estas variáveis apresentadas não indicaram uma
diferença significativa no período antes e depois da oficina (p≥0,05).
Em relação a aplicação de questionário relacionado ao
conhecimento do jovem sobre a higienização e cuidados de uma
prótese, observou-se para o quesito uso da prótese total, que alguns
jovens consideraram a utilização até acima de 10 anos. Após as
atividades de treinamento e promoção de saúde bucal, houve uma
redução do tempo, uma vez que os jovens indicaram que o tempo
médio seria de 3,8 anos, diferentemente da situação inicial, o qual
foi relatado uma média mais elevada (6,9 anos), conforme figura 4.

Figura 4 - Análise do questionário voltado para conhecimento de prótese total.


Questão: Quantos anos você considera normal a utilização de uma prótese total,
dentadura, por um membro da família?

Fonte: elaborado pelos autores.

Em relação ao questionário aplicado sobre conhecimentos de


trauma dentário, foi possível analisar na aplicação prévia e depois
da oficina, que houve uma diferença significativa no padrão das

1009
respostas no quesito possibilidade dos dentes avulsionados serem SANTOS, Jéssica Cristina
reimplantados. Isto ocorreu no segundo período, após a realização Braz dos et al. O impacto
da promoção de saúde bucal, conforme figura 5 positivo na promoção
de saúde bucal em
jovens adolescentes.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1001-1017, 2019.

Figura 5 - Análise sobre a possibilidade do reimplante após a perda do


elemento dentário por traumatismo. Em função da ação educativa aumentou
significativamente a quantidade de jovens, o qual indicou esta possibilidade ser
real, p=0,016. (A,B: p<0,05).

Fonte: elaborado pelos autores.

Uma das perguntas foi se existiria a possibilidade em um acidente


do dente sofrer um trauma e ``sair`` ou ser ``expulso`` de seu lugar
(avulsão dentária), nesta ocasião (primeira vez), 25% indicaram que
``NÃO`` e 75%, que sim. No segundo, momento após atividade de
promoção de saúde bucal, identificamos que 96% identificaram que
SIM e apenas um indivíduo respondeu que ``Não``: 4%, conforme
pode ser observado nas figuras 6 e 7.

1010
SANTOS, Jéssica Cristina
Braz dos et al. O impacto
positivo na promoção
de saúde bucal em
jovens adolescentes.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1001-1017, 2019.

Figura 6 - Gráfico do tipo setor indicando resultado de questionamento se um


dente poderia sofrer avulsão dentária, antes do treinamento de promoção em
saúde bucal

Fonte: elaborado pelos autores.

Figura 7 - Gráfico do tipo setor indicando resultado de questionamento


se um dente poderia sofrer avulsão dentária, após treinamento de promoção
em saúde bucal.

Fonte: elaborado pelos autores.

discUssÃo
A transmissão de conhecimento e promoção de saúde bucal
para jovens e adolescentes representa atos importantes. Assim,

1011
identificamos que um grupo de jovens apresentou maior disposição SANTOS, Jéssica Cristina
em relação ao esclarecimento de dúvidas após o treinamento Braz dos et al. O impacto
realizado pela nossa equipe, isto permitiu até mesmo diálogos para positivo na promoção
eventuais dúvidas. De fato, este tipo de ação deve ser estimulado de saúde bucal em
principalmente em locais com menor nível socioeconômico, portanto jovens adolescentes.
a hipótese nula foi rejeitada, uma vez que o treinamento trouxe ação SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1001-1017, 2019.
benéfica para os jovens da sala de aula.
A literatura tem demonstrado a importância de políticas de saúde
pública voltada para promoção de saúde bucal, principalmente
em regiões desfavorecidas socialmente, o qual pode estimular
a modificação de hábitos deletérios nos alunos (HOU et al.,
2014; NEAMATOLLAHI et al., 2011; PRABHU et al., 2013).
Neste contexto, estudo realizado no Brasil identificou que jovens
adolescentes o qual residem em áreas de menor nível social podem
apresentar piores índices de qualidade de vida (VAZQUEZ et al.,
2015), isto fortalece a necessidade de atuações para promoção de
saúde bucal nestas regiões.
Outro fator importante analisado foi de que os jovens se
apresentaram mais satisfeitos ou felizes com a aparência de sua
boca após realizado o treinamento de saúde bucal. É possível
assim indicar um aspecto positivo da promoção em saúde bucal
realizada, uma vez que se demonstrou o incentivo na promoção
de saúde. Este fator como agente estimulante ao jovem também
é de grande impacto, a literatura tem indicado a importância da
conscientização no período da infância ou adolescência sobre os
conceitos de promoção de saúde bucal e como isto pode repercutir
na vida do jovem quando adulto (ALZAHRANI et al., 2014;
BHOLA e MALHOTRA, 2014; HEDMAN et al., 2013). Estudo
de revisão sistemática, o qual analisou 13 estudos experimentais
permitiu indicar a importância de programas de educação com
medidas preventivas não somente como uma forma de melhoria
de saúde bucal, mas também como um indicador para melhoria de
qualidade de vida (CASTILHO et al., 2013).
Por outro lado, ao buscar analisar se os jovens apresentavam algum
conhecimento em relação ao cuidado da saúde bucal de idosos, o
grupo indicou no início das avaliações que o uso de uma prótese
deveria ser em média de 7 anos, isto demonstra a desinformação,
inclusive outros estudos já advertiram que há pacientes que utilizam
até 20 anos (COELHO et al., 2004), porém entende-se como adequado
um período máximo de 5 anos. Assim, medidas de divulgação deste
tipo de conhecimento são muito importantes para o jovem também,
uma vez que ele pode transmitir este conhecimento em sua família e
comunidade local. Portanto, políticas de saúde pública devem atuar

1012
SANTOS, Jéssica Cristina na conscientização pela promoção de saúde bucal entre idosos e o
Braz dos et al. O impacto incentivo a visitas regulares ao dentista. Estas medidas se tornam
positivo na promoção muito relevantes principalmente considerando um cenário de uma
de saúde bucal em população menos favorecida socialmente (PRABHU et al., 2013).
jovens adolescentes. Além disso, a literatura mostra que o conhecimento de jovens
SALUSVITA, Bauru, v. 38, em relação ao tema traumatismo dentário é inadequado e que
n. 4, p. 1001-1017, 2019.
campanhas educativas nas escolas dedicadas aos estudantes devem
ser recomendadas e executadas. Sugerindo-se até mesmo que é
importante adicionar informações de gestão do trauma dental em
publicações de primeiros socorros para serem ministradas aos
estudantes do segundo ano (YOUNG et al., 2014). Estudo tem
indicado que quando jovens realizam leitura e estudo em manuais de
prevenção e manejo de traumatismo dentário, esta medida confere
melhores índices de conhecimento em relação ao manejo do trauma
dentário (LEVIN et al., 2010).
Conclui-se, que houve um efeito positivo na promoção de saúde
bucal em uma sala de aula de jovens do ensino médio público da
cidade de Bauru-SP. Estudos também indicaram a importância da
promoção de saúde bucal entre jovens adolescentes, refletindo no
aumento de sua consciência em relação a importância dos cuidados
de saúde bucal (ALSUMAIT et al., 2015). Acredita-se que medidas
como estas devam ser estimuladas a fim de que possamos aumentar
a qualidade de vida dos jovens e adultos, assim como outras medidas
de impacto social devem ser consideradas com o intuito de se
promover saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados apresentados é possível concluir que:

a) O treinamento da jovem de ensino médio na sala de aula foi


um método adequado que ampliou os conceitos de qualidade
de saúde bucal.
b) A oficina realizada foi útil agregando o conhecimento dos
alunos na área de higienização de saúde bucal pessoal, assim
como higienização de próteses orais.
c) A oficina permitiu ampliar os conhecimentos na área de
traumatismo dentário, incluindo conhecimento sobre manejo
e cuidados primários após o evento de trauma dentário.

1013
AGRADECIMENTOS SANTOS, Jéssica Cristina
Braz dos et al. O impacto
positivo na promoção
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e de saúde bucal em
Tecnológico - CNPq através do Programa Institucional de Bolsas de jovens adolescentes.
Iniciação Científica para o Ensino Médio – PIBIC-EM. SALUSVITA, Bauru, v. 38,
A empresa Oral-B (P & G, São Paulo, Brasil) por fornecer folders n. 4, p. 1001-1017, 2019.
e banners para promoção de saúde bucal, assim como os dentifrícios
do kit de higiene bucal.

1014
SANTOS, Jéssica Cristina REFERÊNCIAS
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positivo na promoção
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1017
ATIVIDADE FÍSICA DE AVENTURA
NA NATUREZA (AFAN) NAS AULAS
DE EDUCAÇÃO FÍSICA
DO ENSINO FUNDAMENTAL I:
UMA PERSPECTIVA CULTURAL
Physical Activity of Adventure in Nature (AFAN) in
classes of Physical Education of Elementary School:
a cultural perspective

Vinicius Aparecido Galindo1


Jederson Garbin Tenório2

1
Graduado em Educação Física- GALINDO, Vinicius Aparecido e TENÓRIO, Jaderson Garbin.
FIPA (Catanduva-SP). Mestre em Atividade física de aventura na natureza (afan) nas aulas de
Ciências do Movimento Humano-
UNIMEP. Docente do curso
educação física do Ensino Fundamental I: uma perspectiva cultural.
de Educação Física do Centro SALUSVITA, Bauru, v. 38, n. 4, p. 1019-1038, 2019.
Universitário do Norte Paulista-
UNORP
RESUMO
São José do Rio Preto-SP, Brasil.
2
Graduado em Educação Física-
Introdução: a busca pela conscientização do corpo na prática de uma
UFMT. Mestre em Ciências do
Movimento Humano-UNIMEP. Educação Física humanista e igualitária, como construção da cultura
Rede de Ensino de Mato Grosso de movimento humano contemporâneo, é de suma importância
Cláudia/MT, Brasil. para a formação do ser humano no ambiente escolar, pois “escola
é lugar de circular, de reinventar, de estimular, de transmitir, de
produzir, de usufruir, enfim, de praticar cultura”. Objetivo: verificar
Recebido em: 18/08/2019 como a prática de atividade física no meio ambiente pode levar
Aceito em: 12/11/2019

1019
à conscientização dos educandos sobre preservação ambiental. GALINDO, Vinicius
Métodos, Resultados e Discussão: Em um primeiro momento Aparecido e TENÓRIO,
do projeto, buscamos sensibilizar os alunos para participarem das Jaderson Garbin.
AFAN, a partir das informações coletadas pelo professor nas aulas Atividade física de
de EF. A 2ª etapa consistiu na realização das atividades organizadas aventura na natureza
dentro de uma programação para o dia de cada turma. Na 3ª etapa, (afan) nas aulas de
educação física do
que foi a finalização e a reflexão das atividades propostas, os alunos
Ensino Fundamental I:
ouviram a fala da Coordenadora Pedagógica, estimulando os alunos uma perspectiva cultural.
por meio do diálogo e da reflexão sobre as atividades realizadas no SALUSVITA, Bauru, v. 38,
dia. Conclusão: a mediação pedagógica teve a intencionalidade de n. 4, p. 1019-1038, 2019.
dar sentido e significado às aulas, ao tornar suas ações relevantes de
acordo com o contexto do aluno, ao promover a abertura de novos
caminhos para a experiência das manifestações da cultura corporal
de movimento nos ambientes naturais e a consolidação de conceitos
como sustentabilidade, consumismo e alimentação saudável,
articulando os saberes locais com os globais.

Palavras-chave: Atividades Físicas de Aventura na Natureza.


Cultura Corporal de Movimento. Educação Física Escolar. Educação
Ambiental.

ABSTRACT
Introduction: Searching for body awareness in the practice
of a humanistic and egalitarian Physical Education (PE), as a
construction of the culture of contemporary human movement, is
of paramount importance for the formation of the human being in
the school environment, since “school is a place to circulate, to
reinvent, stimulate, transmit, produce, enjoy, finally, practice culture
”. Objective: To verify how the practice of physical activity (AFA)
in the environment can lead to the awareness of the students about
environmental preservation. Methods, Results and Discussion: In
the first moment of the project, we sought to sensitize students to
participate in AFA, from the information collected by the teacher in
PE classes. The second stage consisted of the activities organized
within a schedule for the day of each class. In the third stage, which
was the finalization and reflection of the proposed activities, where
the speech of the Pedagogical Coordinator was followed by dialogue
and reflection on the activities carried out in the day. Conclusion:
the pedagogical mediation had the intention of giving meaning to
the classes, making their actions relevant according to the student’s
context, promoting the opening of new ways for the experience of

1020
GALINDO, Vinicius the manifestations of the body culture of movement by the students
Aparecido e TENÓRIO, in natural environments and the consolidation of concepts such as
Jaderson Garbin. sustainability, consumerism and healthy eating, linking local and
Atividade física de global knowledge.
aventura na natureza
(afan) nas aulas de Keywords: Physical Adventure Activities in Nature. Body Movement
educação física do
Culture. School Physical Education. Environmental Education.
Ensino Fundamental I:
uma perspectiva cultural.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1019-1038, 2019. INTRODUÇÃO
Na contemporaneidade, a busca pela conscientização do corpo
na prática de uma Educação Física (EF) humanista e igualitária,
como construção da cultura de movimento humano contemporâneo,
é de suma importância para a formação do ser humano no ambiente
escolar. Segundo Vago (2009, p. 28), “[...] escola é lugar de circular,
de reinventar, de estimular, de transmitir, de produzir, de usufruir,
enfim, de praticar cultura”.
Desenvolvemos nossa pesquisa em um colégio no interior do
estado de São Paulo, que tem como mantenedora uma entidade
beneficente de assistência social e educacional de direito privado,
de fins não econômicos. Trata-se de uma instituição confessional
(católica), que atende à Educação Básica, nos níveis de Educação
Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Além disso, orienta
e promove atividades de dimensão religiosa e, especialmente, a
identidade agostiniana e cristã. Em termos de supervisão, a referida
instituição está vinculada ao sistema estadual de ensino.
O colégio, fundamentado pelo seu Projeto Político Pedagógico
(PPP), tem como missão uma educação integral e evangelizadora,
ou seja, a sua proposta é desenvolver atividades de cunho educativo,
tornando seus alunos mais humanos, livres, críticos e participativos.
Desse modo, compete ao professor, articulado com a comunidade
local, a partir dessa realidade, criar um ambiente favorável para o
desenvolvimento das relações sociais positivas. Dessa maneira,
formando cidadãos conscientes, críticos e autônomos a partir de um
planejamento com embasamento teórico contextualizado, respeitando
as fases sensíveis de aprendizagem dos alunos, considerando seu
estágio de desenvolvimento e propiciando condições para uma
aprendizagem significativa.
A EF no colégio busca desenvolver a formação integral1 dos

1 Esse trecho consta no PPP da escola associado às expectativas que a EF deve buscar no
processo de ensino-aprendizagem.

1021
educandos ao atuar nos aspectos motor, cognitivo, afetivo e social. GALINDO, Vinicius
Deve ser um espaço para manifestação, observação e transformação Aparecido e TENÓRIO,
de princípios educativos e de valores ligados ao respeito a regras, Jaderson Garbin.
atitudes, companheirismo, diálogo, cooperação e valorização da Atividade física de
aventura na natureza
natureza, incentivando os educandos a compartilharem tais reflexões (afan) nas aulas de
para além da escola. Isso requer a estruturação de procedimentos educação física do
didáticos com intencionalidade, promovendo sentido e significado Ensino Fundamental I:
nas ações didáticas, a fim de tornar o caminho possível no processo uma perspectiva cultural.
de aprendizagem, ao valorizar o lúdico e o aluno em sua totalidade. SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1019-1038, 2019.
Para Vago (2009, p. 35):

A intervenção pedagógica do professor de Educação Física


comporta assim um desafio: organizar o ensino para que
seus estudantes realizem o direito de conhecer, de provar, de
criar, de recriar e de reinventar, de fazer de muitas maneiras,
de brincar com estas práticas, garantindo-lhes a expressão de
suas experiências com esse rico patrimônio cultural. Em outras
palavras: a Educação Física tem potência para ser um tempo de
fruir, de usufruir, de viver e de produzir essa cultura, um lugar
de enriquecer a experiência humana, posto que essas práticas são
possibilidades afetivas, lúdicas e estéticas de aprender e entender
o mundo – e de agir nele.

Esse mesmo autor recomenda que os professores de EF estejam


atentos ao pesquisar, refletir e ensinar práticas como essas, com
o propósito de problematizar os valores nelas impregnados e as
questões éticas envolvidas. Ou seja, elas são expressão da essência
do ser humano, revelando muito do que pensamos, do que queremos
e de como agimos. Possibilitam a abertura da nossa exploração
inventiva, ao envolverem os sujeitos em um contexto de trocas
diversas, partilhando vivências no e com o corpo.
Os motivos para a realização deste trabalho foram identificados
pelo professor nas aulas de EF, nas quais percebeu que alguns alunos
tinham dificuldades relacionadas às suas habilidades motoras e
físicas (destreza corporal, percepção espacial/temporal, agilidade,
dentre outras) e à socialização com seus colegas. Ao dialogar com
os educandos, o professor observou que os jogos ou brincadeiras no
dia a dia passaram a ser realizados em apartamentos, condomínios,
festas infantis, shoppings centers, etc., confinando as crianças em
espaços artificializados. Além disso, outro relato dos alunos foi que,
no cotidiano, eles utilizavam continuamente os meios tecnológicos
(celulares, tablets, videogames) ou estavam envolvidos em outras
atividades, não sobrando muito tempo para brincar ou para praticar

1022
GALINDO, Vinicius alguma atividade física. Conforme atesta Marcellino (2002, p. 36),
Aparecido e TENÓRIO, seria interessante que o período da infância:
Jaderson Garbin.
Atividade física de [...] continuasse a ser o domínio do lúdico, do brinquedo, da
aventura na natureza brincadeira, enfim de criação de uma cultura da criança. Mas o
(afan) nas aulas de que ocorre é que, até mesmo para criança, as atividades lúdicas
educação física do vêm sendo, cada vez mais precocemente, subtraídas do cotidiano.
Ensino Fundamental I:
uma perspectiva cultural. Diante dessas informações, notamos que a constante transformação
SALUSVITA, Bauru, v. 38, que o mundo atual apresenta, impulsionada pelo capitalismo global,
n. 4, p. 1019-1038, 2019. tem mudado o comportamento das pessoas nas suas ações diárias.
Mello e Campos (2010) destacam que gestos e ações do ser humano
variam de acordo com sua história de vida e seu contexto sociocultural.
Pela linguagem corporal infantil, podemos compreender melhor suas
necessidades, angústias, desejos e conceitos. Para Oliveira e Daolio
(2011, p. 4): “A cultura é dinâmica, não faz sentido que a escola ignore
diferentes saberes, valores e interpretações da realidade presentes
nestes espaços”.
Nesse sentido, foi necessária uma modificação da nossa estratégia
didática nas aulas de EF do Colégio, ao buscar contemplar atividades
diversificadas, que os alunos não vivenciavam no seu cotidiano,
buscando, ainda, desenvolver no sujeito o respeito pela natureza e
a conscientização ambiental na prática das Atividades Físicas de
Aventura na Natureza (AFAN).
As transformações e mudanças da sociedade contemporânea nos
conduzem a refletir acerca dos conteúdos específicos da disciplina,
sendo necessário manter um ambiente curioso e diversificado
em relação às aulas. A escola, ‘lócus’ inserido nesse contexto
sociocultural, possui uma dinâmica que se relaciona histórica e
socialmente com as próprias relações pedagógicas e aprendizagens
que circulam no currículo escolar. Conforme Libâneo (1994), o
processo educativo é contextualizado socialmente, havendo uma
subordinação à sociedade, que estabelece influências políticas,
econômicas e culturais.
A inserção das AFAN pode ser uma estratégia de explorar
a temática do meio ambiente nas aulas de EF, além de ser um
conhecimento que vem ocupando um espaço significativo na difusão
de valores ligados aos conteúdos culturais, sociais, físico-esportivos
e turísticos do lazer, sendo por meio de competições ou vivências em
parques temáticos.
Sabe-se que a educação pode trazer o desenvolvimento pleno ao
aluno e a emancipação do sujeito, visto que ela tem a capacidade de
transformar as ações humanas. De acordo com Vago (2009), o que
fundamenta a existência da escola é a responsabilidade de valorizar a

1023
experiência do ser humano considerada cultura. Então, da Educação GALINDO, Vinicius
Física, espera-se que faça: circular, transmitir, produzir, reinventar, Aparecido e TENÓRIO,
estimular e praticar cultura. Jaderson Garbin.
Considera-se também que o professor de EF e outros educadores, Atividade física de
juntamente com a Coordenação Pedagógica e a Direção, ao atuarem aventura na natureza
de uma forma interdisciplinar neste projeto sobre as AFAN, através (afan) nas aulas de
educação física do
de uma atividade diversificada, permitem ao educando, por meio
Ensino Fundamental I:
do desenvolvimento de suas habilidades motoras, criar situações de uma perspectiva cultural.
análise e de reflexão de suas ações e das ações dos colegas, ampliando SALUSVITA, Bauru, v. 38,
sua visão de mundo a partir da conquista de valores humanistas e n. 4, p. 1019-1038, 2019.
culturais. Segundo Coimbra et al. (2009, p. 118), “hoje assistimos
as consequências do desprezo pela natureza, como o aquecimento
global e o impacto na vida dos seres humanos com relação à poluição,
o acesso à água e aos alimentos”.
Com o crescimento e a expansão dos grandes centros e das cidades,
ocorreu uma diminuição do acesso dos sujeitos aos ambientes
naturais para a prática de tais atividades. A identidade do homem
como ser que faz parte da natureza tem se perdido e, nos dias atuais,
existe um movimento em busca de aproximação do ser humano com
o meio ambiente através da atividade física.

O mundo que acompanhou a urbanização da civilização pela


industrialização e valorização das cidades, com o passar dos
anos, está revendo a questão da qualidade de vida, e em nova
tendência avalia o meio natural como uma válvula de escape
para alívio das tensões geradas nos centros urbanos (COIMBRA
et al., 2009. p. 121).

Este projeto justifica-se por trabalhar a cultura corporal de


movimento aliada à educação ambiental para desenvolver a
consciência corporal e ambiental, possibilitando a relação entre ser
humano e meio ambiente e suas reflexões. Para Daolio (2005, p.
217), “[...] todos os humanos fazem cultura o tempo todo, porque
estão manipulando símbolos e atualizando significados para
orientar suas ações. Enfim, estão ressignificando continuamente
suas ações no mundo”.
Os seres humanos produzem e reproduzem cultura nas suas
experiências dia após dia, ou seja, também podem se apropriar dos
patrimônios culturais dando sentido e significado às suas ações
cotidianas. Além disso, esses sujeitos compartilham suas vivências
culturais uns com os outros, tornando-se aprendizes e enriquecendo-
se dos diversos tipos de culturas.
Segundo Schwartz (2000), atividades diversificadas e
de sensibilização favorecem a curiosidade, a criatividade, a

1024
GALINDO, Vinicius sensibilidade, a afetividade e a aproximação natural, componentes
Aparecido e TENÓRIO, indispensáveis para mudanças de atitudes. Essas transformações
Jaderson Garbin. buscam colaborar para um equilíbrio consciente entre o interno
Atividade física de (corpo) e o externo (meio ambiente), caracterizando um novo
aventura na natureza
(afan) nas aulas de significado do próprio corpo, bem como do meio ambiente no qual
educação física do as atividades se desenvolvem.
Ensino Fundamental I: A EF baseada em um referencial cultural e articulada ao contexto
uma perspectiva cultural. local pode transformar a realidade dos indivíduos que a vivenciam
SALUSVITA, Bauru, v. 38, (DAOLIO, 2006). Essa EF plural, abordada no colégio, valoriza o
n. 4, p. 1019-1038, 2019. repertório corporal (cultural) que cada aluno possui quando chega à
escola (conhecimento prévio). Assim, o professor pode aprofundar,
ampliar e qualificar o acervo motor dos educandos, explorando outros
espaços através dos ambientes naturais, propiciando uma aquisição
cultural maior por parte deles, transformando seu contexto social.
De acordo com Rodrigues Júnior e Lopes da Silva (2008), refletir
as possibilidades de intervenção na EF que tenham como objetivo
a construção de conhecimento sobre temas específicos da área, de
maneira sistematizada, implica considerar as representações dos
educandos, ou seja, as referências prévias que eles possuem acerca
dos temas tratados.
Os conteúdos curriculares foram desenvolvidos pelos professores,
acompanhados pela Coordenação Pedagógica do Ensino
Fundamental I do 2º ao 5º ano, alinhados com o PPP do colégio,
em uma perspectiva interdisciplinar, nas áreas de: EF (vivências
corporais), Português (leitura de texto e relato dos alunos) e Ciências
da Natureza (consumismo e sustentabilidade). Segundo Fazenda
(2011), um trabalho em uma perspectiva interdisciplinar deve
considerar a interação entre as disciplinas científicas, seus conceitos,
seus procedimentos, suas diretrizes, suas metodologias, seus dados e
sua organização do ensino, isto é, a interação vai além da socialização
e cooperação entre disciplinas, contemplando todos os aspectos que
envolvem o processo de aprendizagem.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,
1997), a interdisciplinaridade questiona a fragmentação entre os
diferentes campos do conhecimento produzidos por uma abordagem
que não considera a interação e a influência entre eles. Ou seja,
questiona-se a visão fragmentada do contexto da escola na qual está
inserida, referindo-se a uma articulação e compartilhamento entre
as disciplinas. Assim, a interdisciplinaridade é o diálogo permanente
entre as disciplinas em que pode haver questionamento ou não, com
o propósito de valorizar as experiências cotidianas.
É preciso considerar que contemplar essa abordagem da EF plural
no colégio, por meio de um diálogo permanente entre as disciplinas,

1025
que visou a humanização do processo de aprendizagem, favorece GALINDO, Vinicius
a socialização, o espírito crítico e a autonomia dos alunos. Este Aparecido e TENÓRIO,
processo se dá através de atividades diversificadas, com o intuito de Jaderson Garbin.
sensibilizá-los sobre os diversos tipos de experiências no ambiente Atividade física de
natural (por exemplo: visita prévia a um espaço com uma ampla aventura na natureza
área verde, conhecido como campão, realizada pela professora de (afan) nas aulas de
educação física do
Ciências com os alunos, para discutir a utilização do espaço das
Ensino Fundamental I:
AFAN; leitura e discussão de textos sobre meio ambiente, aplicados uma perspectiva cultural.
pelo professor de Português na sala de aula com os educandos; SALUSVITA, Bauru, v. 38,
vivências desenvolvidas pelo professor com os alunos nas aulas de n. 4, p. 1019-1038, 2019.
EF sobre as AFAN).
Através da prática de atividades físicas desenvolvidas nesse
ambiente, pode-se promover a abertura para novos caminhos,
visando a conscientização sobre a importância de se preservar o
meio ambiente. Desse modo, essas atividades vividas por meio
dessas práticas são uma possibilidade para o surgimento de novas
atitudes e sentimentos, com o intuito de aproximar as experiências
corporais e o respeito pelo meio ambiente (LUCENTINI, 2010).
Assim, a disciplina de EF escolar é propícia para ampliar saberes,
através da temática ambiental, enfatizando as AFAN, a relação entre
corpo e espaço.
Para Zimmermann (2001, p. 9), “como a própria nomenclatura
sugere, as Atividades Físicas de Aventura na Natureza têm no
ambiente uma característica fundamental, [...] o enfoque principal
está na relação com a natureza, justificado pela quantidade de
questões suscitadas por este tema atualmente”.
Este trabalho tem como finalidade verificar como a prática de
atividade física no meio ambiente pode levar à conscientização dos
alunos sobre a preservação do ambiente natural.

MÉTODO
Este artigo fundamenta-se em uma metodologia de pesquisa
qualitativa. De acordo com Goldenberg (1997), tal abordagem
tem como característica a interpretação de um grupo social, sua
organização, e não a preocupação com a representatividade numérica.
Busca-se, também nesta experiência, compreender o processo de
aprendizagem da prática das AFAN no ambiente escolar nas séries
iniciais do 2º ao 5º ano no Ensino Fundamental I. Segundo Minayo
(1994), um trabalho de natureza qualitativa consiste numa pesquisa
que busca compreender o universo de significados, aspirações,
motivos, crenças, atitudes e valores. Ou seja, equivale a um espaço

1026
GALINDO, Vinicius mais aprofundado dos fenômenos, dos processos e das relações, que
Aparecido e TENÓRIO, não podem ser reduzidos à execução e a variáveis.
Jaderson Garbin. Com relação aos procedimentos, a pesquisa pautou-se no
Atividade física de levantamento bibliográfico e documental. Com base em Severino
aventura na natureza (2007), as obras levantadas na pesquisa bibliográfica foram lidas
(afan) nas aulas de e investigadas através da análise textual (buscar informações
educação física do
sobre o autor do texto, verificar o vocabulário, estilo e método
Ensino Fundamental I:
uma perspectiva cultural. de escrita temática (ouvir o autor e aprender, sem intervir no
SALUSVITA, Bauru, v. 38, conteúdo da mensagem apresentada por ele), interpretativa
n. 4, p. 1019-1038, 2019. (compreender e interpretar as ideias do autor) e crítica (formular
pensamento e posicionamento crítico, problematizando o texto
e questionando as ideias do autor). Já na pesquisa documental,
procedeu-se à sistematização de dados obtidos, os quais tiveram
como fonte ou referência documentos como: projeto político
pedagógico, planos de ensino e planejamento curricular do
colégio (SEVERINO, 2007).
Também embasada pelas ideias de Fonseca (2002), a pesquisa
bibliográfica foi realizada através do levantamento de referências
teóricas já publicadas, em meios eletrônicos e meios escritos, como
livros e documentos da biblioteca do Colégio Agostiniano São José, e
de instituições de ensino superior, como UNORP e UNILAGO. Já os
periódicos eletrônicos, artigos científicos, livros e outros materiais,
tiveram busca realizada nos Sistemas de Bibliotecas da UNESP e
de outras instituições de ensino superior ─ como UNICAMP, USP
e UNIMEP ─ e no Google acadêmico ─ a partir das obras relativas
aos termos-chave do trabalho, separadas ou relacionadas entre si:
“Atividades Físicas nos Ambientes Naturais”; “Cultura Corporal de
Movimento”; “Educação Física Escolar”; “Educação Ambiental”.
Assim, no desenvolvimento deste trabalho, foram pesquisados
artigos científicos eletrônicos relacionados ao tema deste estudo e
que auxiliaram no cumprimento dos objetivos desta pesquisa.

DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES


O planejamento deste projeto compreendeu 3 etapas. Na 1ª etapa,
com um mês de antecedência, iniciou-se a organização do evento com
as turmas do colégio, crianças do EF I (2º ao 5º ano), na faixa etária
de 7 a 10 anos, envolvendo 650 alunos nos 4 dias de AFAN, com a
participação de 28 professores do ciclo e com o acompanhamento da
Coordenação Pedagógica e da Direção da instituição de ensino. A
escolha do local deveu-se ao fato de ser um espaço amplo da escola,
conhecido como “Campão”, que contém uma área verde (com

1027
árvores e plantas), onde são desenvolvidas atividades pedagógicas GALINDO, Vinicius
nos diversos segmentos dessa instituição de ensino. Aparecido e TENÓRIO,
Jaderson Garbin.
Ação pedagógica 1 Atividade física de
aventura na natureza
(afan) nas aulas de
Em um primeiro momento do projeto, buscamos sensibilizar
educação física do
os alunos para participarem das AFAN, a partir das informações Ensino Fundamental I:
coletadas pelo professor nas aulas de EF. Observou-se que, em uma perspectiva cultural.
algumas atividades, os educandos tinham dificuldades sobre as SALUSVITA, Bauru, v. 38,
suas habilidades motoras. Daí o propósito de vivenciar atividades n. 4, p. 1019-1038, 2019.
diversificadas que podem melhorar o repertório motor, vinculadas
ao ambiente natural. E também foi explicado para os alunos como
seria a rotina do dia (abertura do evento, canto do Hino Nacional
com hasteamento da bandeira, oração, música, explicação com a
explanação de vídeos das atividades, lanche coletivo, atividade com
o barro, banho, reflexão do dia e encerramento).
Com relação às outras disciplinas, os professores responsáveis
foram trabalhando alguns conteúdos, alinhando as ideias
relacionadas ao evento em uma perspectiva interdisciplinar: na
área de Português, foram feitas leituras de textos relacionados
ao meio ambiente; na disciplina de Ciências, realizou-se um
trabalho abordando temas como meio ambiente, consumismo e
sustentabilidade; na disciplina de EF, foram desenvolvidas vivências
corporais; na disciplina de Artes, cartazes sobre atividades de
preservação do meio ambiente foram confeccionados e fixados em
murais e paredes da escola; na disciplina de Geografia, conduziram-
se estudos sobre área geográfica, contextualizando com as AFAN;
e os demais professores foram elaborando questões relacionadas
aos conteúdos que os alunos estavam aprendendo na sala de aula
para utilizar na gincana cultural. De acordo com Fazenda (2011, p.
48-49), o exercício da interdisciplinaridade deve abordar um novo
jeito de ensinar: “passa-se de uma relação pedagógica baseada na
transmissão do saber de uma disciplina ou matéria, que se estabelece
segundo um modelo hierárquico linear, a uma relação pedagógica
dialógica, na qual a posição de um é a posição de todos”. Assim, o
educador passa a ter uma postura efetiva, crítica e criativa, com uma
atitude interdisciplinar que pode colaborar para que as dificuldades
sejam superadas e as soluções para os desafios na modernidade
possam ser encontradas.
Foram enviadas autorizações para os responsáveis, contendo
informações sobre a rotina das atividades, a concentração e a
organização das turmas no período. Em relação aos alunos do 2ª
ano ao 5º ano dos períodos da manhã e da tarde todos realizaram as
atividades na data definida, conforme a sua faixa etária. Houve uma

1028
GALINDO, Vinicius solicitação para o setor de monitoria do Colégio para disponibilizar
Aparecido e TENÓRIO, as fichas médicas dos 2º, 3º, 4º e 5º anos (turmas da manhã e da
Jaderson Garbin. tarde). Como estaríamos em um espaço próximo a árvores ─ área
Atividade física de verde ─ para não termos nenhum imprevisto com os educandos,
aventura na natureza foi importante termos acesso a essas informações. Foi requisitado
(afan) nas aulas de também, para o departamento de marketing (mídia interna), divulgar
educação física do informações do evento na fanpage do Colégio e, além disso, contamos
Ensino Fundamental I: com o suporte do analista de tecnologia da informação, e também
uma perspectiva cultural. com a mobilização dos funcionários da manutenção e da limpeza
SALUSVITA, Bauru, v. 38, para nos ajudarem antes, durante e após o evento.
n. 4, p. 1019-1038, 2019. Simultaneamente a essa etapa, o professor de EF contou com
a ajuda dos outros educadores físicos que trabalham no Colégio,
os quais iniciaram os trabalhos de organização do espaço para a
abertura e para o lanche, de montagem dos recursos (tirolesa, parede
de escalada, falsa baiana adaptada/slackline e corda, atividade
com barro e gincana cultural) e de instalação dos equipamentos de
segurança a serem utilizados no evento. Todos os dias, os professores
de EF do Colégio chegavam com antecedência ao horário previsto
e, como medida de segurança para os alunos, faziam os testes com
recursos e equipamentos de segurança, e realizavam os ajustes
pertinentes para as turmas do dia, conforme perfil da faixa etária de
idade (por exemplo: a tirolesa era instalada numa altura mais baixa
para os alunos dos 2ºs anos em relação aos dos 5ºs anos).

O papel dos profissionais de lazer, incluindo aqueles com


formação em Educação Física que trabalham nesta área, tornam-
se decisivos para que as experiências pessoais e educativas neste
campo estejam ao alcance de todos, favorecendo um aprendizado
de valores, atitudes e condutas, que possibilite ao ser humano
desfrutar dos prazeres, emoções e dos riscos que a atividade
na natureza pode oferecer (TAHARA; CARNICELLI FILHO,
2009, p. 196).

No caso dessas atividades, despertar nos alunos hábitos em relação


a essas práticas indica a possibilidade de desenvolverem hábitos para
fora dos muros da escola, oportunizados pela convivência em grupo,
representando possibilidades de aquisição de experiências e vínculos
com ambientes naturais.

Ação pedagógica 2

A 2ª etapa consistiu na realização das atividades organizadas


dentro de uma programação para o dia de cada turma. Os alunos
chegaram ao colégio, foram acolhidos e acompanhados pelo seu

1029
professor até o “campão”, onde foi feita a abertura do evento pela GALINDO, Vinicius
Coordenadora Pedagógica. Em seguida, foi realizado o canto do Hino Aparecido e TENÓRIO,
Nacional e o hasteamento da bandeira, com a participação de todos Jaderson Garbin.
(professores e alunos), uma oração e uma música, executada pelo Atividade física de
setor da pastoral educativa. Logo após, a explicação e a exposição aventura na natureza
de vídeos das atividades foram feitas pelos professores de EF, além (afan) nas aulas de
educação física do
da explanação da rotina: o lanche coletivo, a atividade com barro, o
Ensino Fundamental I:
banho, o encerramento e a reflexão do dia. uma perspectiva cultural.
Após esse momento, os alunos foram organizados em quatro SALUSVITA, Bauru, v. 38,
grupos de 20 componentes. A média diária de participantes foi de n. 4, p. 1019-1038, 2019.
80 alunos por período. Os professores, junto com os educadores
físicos, acompanharam todos os alunos nas atividades que foram
desenvolvidas, como estratégia didática, no formato de circuito de
estações, em que os educandos realizavam o rodízio após orientação
do educador, para que todos tivessem a experiência de participar
de atividades diferentes. O circuito foi organizado desta forma: 1ª
estação: falsa baiana; 2ª estação: tirolesa; 3ª estação: escalada; e
4ª estação: gincana cultural. Logo após um determinado tempo, o
professor de EF passava em cada estação e orientava os alunos a
mudarem de atividade.
A falsa baiana foi uma atividade em que o aluno apoiava os pés
no slackline, uma atividade de equilíbrio realizada sobre uma fita
de nylon, estreita e flexível, fixada em duas árvores distantes uma
da outra, numa altura baixa. Logo acima, havia uma corda esticada,
amarrada nas duas árvores, a qual seria a base para apoiar as mãos.
Além disso, o professor colocava uma cadeirinha no corpo do aluno,
que tinha um mosquetão (anel de alumínio que possui um segmento
móvel, conhecido como gatilho, que se abre para permitir a passagem
da corda), que era amarrado por outra corda e sustentado pela corda
de cima, como equipamento de segurança. Esse procedimento era
realizado antes da atividade. Esta consistia em um percurso que o
educando realizava, trabalhando equilíbrio e coordenação motora.
Observamos que os alunos se contagiavam com a alegria de terminar
o percurso, sendo um sentido ligado ao interesse e à atração que a
atividade proporcionou em função de se constituir em uma novidade
aos alunos, com características lúdicas. “O lúdico estimula o desejo
da sua continuação” (PINTO, 2007, p. 179).
A estação da tirolesa continha um cabo de aço fixado entre duas
árvores, em que o aluno iria deslizar de um plano alto até um plano
baixo. A atividade seguia o mesmo procedimento de segurança da
estação anterior, em que o professor instalava a cadeirinha no aluno
com o mosquetão fixo na corda e, além disso, existia um guidão de
bicicleta, adaptado com uma roldana, que deslizava no cabo, no qual

1030
GALINDO, Vinicius o educando apoiava as mãos. Nessa estação, havia dois professores,
Aparecido e TENÓRIO, um no ponto alto e outro no baixo, com uma corda de segurança.
Jaderson Garbin. Percebemos que os alunos, ao realizarem a atividade, no momento
Atividade física de da descida, tinham uma sensação diferente: gritavam diante da
aventura na natureza emoção vivida.
(afan) nas aulas de Já na estação escalada, a qual seguia os procedimentos de
educação física do
segurança (cadeirinha, corda de segurança, dentre outros), dois
Ensino Fundamental I:
uma perspectiva cultural. professores orientavam os alunos para apoiarem os pés e as mãos,
SALUSVITA, Bauru, v. 38, alternando-os nas agarras fixadas na parede. À medida que eles iam
n. 4, p. 1019-1038, 2019. progredindo, aumentava o desafio em cada subida. Notamos, nessa
estação, que a maioria dos alunos interagia e socializava com alegria
e espontaneidade, divertindo-se. Observamos também que, em
todas essas estações, os educandos partilhavam suas experiências e
realizavam os movimentos na atividade de acordo com o seu ritmo, e
alguns, com mais facilidade, ajudavam, com algumas dicas, aqueles
que apresentavam certa dificuldade. Para Tahara e Carnicelli Filho
(2009, p. 202), “com isso, é natural que haja um contato intenso
e um favorecimento no processo de integração, no sentido do
desenvolvimento da solidariedade e do espírito de cooperação entre
os indivíduos participantes”.
Identificamos que as atividades diversificadas em formato
de estações (circuito) possibilitaram uma manifestação corporal
diferente em cada espaço, o que tornou a vivência enriquecedora e
atrativa, mostrando-se interessante para quem participou e tornou
os alunos aprendizes do brincar. Segundo Machado (2003, p. 27):
“brincar é viver criativamente no mundo. Ter prazer em brincar é
ter prazer em viver.” Ou seja, através do brincar, o sujeito obtém o
prazer e a realização de criar.
Na gincana cultural, eram abordados os conteúdos das
disciplinas regulares, os quais os alunos já tinham aprendido em
sala de aula. As perguntas eram projetadas em um telão e, ao sinal
do professor, os educandos teriam que apertar um dispositivo com
um botão que acendia uma luz em um receptor para responder à
questão lançada. Observamos que, a cada questão, acertada ou
não pelos alunos, eles participavam com intensidade na atividade,
querendo sempre responder questões das outras disciplinas. As
questões foram elaboradas pelos professores de acordo com a
proposta trabalhada no evento.
Ao término das 4 estações do circuito, os alunos foram
encaminhados pelos professores para o lanche coletivo, sendo um
momento em que todos socializavam as diversas experiências do
dia. Cada turma foi orientada e organizada pelo professor de sala
para trazer o seu lanche (sanduíche natural e suco), e também sua

1031
caneca plástica, representando conceitos trabalhados em sala de GALINDO, Vinicius
aula, como alimentação saudável, consumismo e sustentabilidade, Aparecido e TENÓRIO,
em atividades que visaram a uma intencionalidade pelos docentes, Jaderson Garbin.
com sentido e com significado para a conscientização do aluno nos Atividade física de
aspectos relacionados ao corpo e ao meio ambiente. aventura na natureza
Logo após, os alunos foram preparados e organizados pelos (afan) nas aulas de
educação física do
professores para realizarem a atividade lúdica com o barro. Antes
Ensino Fundamental I:
de iniciarem a vivência, o professor de EF fez uma intervenção com uma perspectiva cultural.
os alunos sobre essa atividade e perguntou para eles se alguém já SALUSVITA, Bauru, v. 38,
tinha brincado com barro e o que eles faziam no seu tempo “livre”. n. 4, p. 1019-1038, 2019.
Alguns alunos relataram que já tinham ouvido falar, mas que nunca
tinham brincado, pois, devido a outras atividades cotidianas (cursos,
horas de estudo, etc.) não tinham muito tempo para essa experiência
e, no tempo disponível, brincavam muito com jogos eletrônicos.
O professor comentou que essa atividade existia antigamente com
muita frequência, mas, na atualidade, poucas crianças têm acesso a
ela, e que a brincadeira com o barro é uma maneira de descobrir e de
criar novas formas de brincar. Para Schwartz (1992, p. 318):

A intenção lúdica que tem seu próprio valor, que não produz nada
que não seja o prazer de brincar “a sério” precisa ser dinamizada
e resgatada, especialmente no âmbito da educação, para que esta
possa tornar-se um elemento facilitador das expressões, tanto
culturais como individuais.

O conceito de lúdico é entendido como manifestação humana.


Pode-se entender o lúdico não “em si mesmo”, ou de forma
fragmentada nessa ou naquela outra atividade (jogo, brincadeira),
mas como um componente da cultura historicamente acumulada,
e a cultura não somente como produto, mas enquanto processo
(MARCELLINO, 2012). Esse mesmo autor relata que o lúdico
deve ser observado nessa dupla perspectiva: como produto e como
processo, conteúdo e forma. Essa é uma observação no sentido amplo
de cultura em relação aos significados produzidos pelos sujeitos e a
sua compreensão, já que esse processo é dinâmico, e não estático.
Interpretar ou compreender a cultura na sua essência é considerar
que a atividade realizada pelo sujeito está voltada à construção de
sentidos e significados que dão sentido à sua existência.
Por meio da fala dos alunos, notamos que, nos dias de hoje, as
crianças têm obrigações cada vez mais precoces e intensivas, tais
como participação em vários cursos e a criação de extensas rotinas
de estudo, fomentadas pela preocupação dos pais em prepararem
seus filhos para que tenham um futuro profissional bem-sucedido.
Para Marcellino (2012), ocorre a proletarização da criança por meio

1032
GALINDO, Vinicius do furto do lúdico, ou seja, a funcionalidade, a cobrança de assumir
Aparecido e TENÓRIO, papéis sociais e de produtividade, as quais precisam ser manifestadas
Jaderson Garbin. cada vez mais precocemente (prematuramente) na vida das crianças.
Atividade física de Isso leva a criança a consumir seu tempo e espaço, nada lhe sobrando
aventura na natureza para a vivência do brincar; em virtude disso, notamos as dificuldades
(afan) nas aulas de nas habilidades motoras e no vínculo afetivo nas aulas de EF.
educação física do
Na dinâmica da atividade, em que os alunos tinham contato com
Ensino Fundamental I:
uma perspectiva cultural. o barro, as crianças se envolveram com espontaneidade, intensidade
SALUSVITA, Bauru, v. 38, e alegria, ou seja, extravasando-se, pois, para muitos, foi uma
n. 4, p. 1019-1038, 2019. oportunidade de ter a experiência de ressignificar conhecimentos, de
desenvolver autonomia, de construir regras e de explorar habilidades
manipulativas. Em seguida, os alunos foram orientados a tomarem
um banho com mangueira para tirar a parte mais concentrada do
barro no corpo. Na sequência, foram direcionados a tomarem banho
para organizarem-se para o encerramento do evento.
Para Campos e Mello (2010), a ludicidade é a base para a formação
do ser humano, pois, através dela, o sujeito extravasa e demonstra sua
condição plena humana. Assim, o ser humano age de forma criativa
e espontânea e movimenta-se de maneira livre e emocional: grita, ri,
fantasia, fala e pula.
Por fim, encerramos essa ação pedagógica, já que atingimos a
finalidade de oportunizar as vivências relacionadas às AFAN, como
uma forma de considerar os novos saberes possíveis que ampliassem
as experiências dos alunos em relação à EF plural, conforme
sugerido por Daolio (2006). Na sequência, apresentamos a etapa de
complementação das atividades, em que visualizamos o caminho
trilhado na experiência.

Ação pedagógica 3

Na 3ª etapa, que foi a finalização e a reflexão das atividades


propostas, os alunos estavam aguardando, sentados, a fala da
Coordenadora Pedagógica, que iniciou o encerramento do evento,
estimulando os alunos por meio do diálogo e da reflexão sobre as
atividades realizadas no dia. Um aluno relatou que: “Era um momento
em que ele parava de jogar vídeo game e brincava de verdade”.
Outro aluno comentou: “Não precisava destruir a natureza”. Uma
aluna mencionou que: “Foi um momento de se divertir e de aproveitar
melhor a infância”, e, por fim, outra aluna falou: “Nós tivemos
liberdade para brincar”. Após a fala dos alunos e as considerações da
coordenadora pedagógica, o professor de EF explicou que atividades
corporais praticadas na natureza desenvolvem a criatividade, o prazer,
as habilidades motoras, e permitem a reflexão sobre outras questões,

1033
como a preservação do meio ambiente, que pode influenciar no seu GALINDO, Vinicius
contexto social. A partir daquele momento, eles não teriam apenas Aparecido e TENÓRIO,
uma opção para o brincar (por exemplo: jogos eletrônicos). Todos Jaderson Garbin.
poderiam buscar alternativas de jogos ou de brincadeiras para se Atividade física de
divertirem, explorando diversos espaços, sem destruí-los. De acordo aventura na natureza
com Machado (2003), as crianças, na mais tenra idade, quando são (afan) nas aulas de
educação física do
incentivadas a brincar, podem transformar sua realidade e ampliar
Ensino Fundamental I:
seus horizontes. Ou seja, elas irão crescer com menos rigidez e ter uma perspectiva cultural.
uma maior abertura para o novo, conseguindo ter opinião própria SALUSVITA, Bauru, v. 38,
e crítica, observando-se por meio de um olhar amplo da realidade. n. 4, p. 1019-1038, 2019.
Desse modo, as crianças terão liberdade para arriscar, encontrar
soluções, buscando seus caminhos com autoconfiança e criatividade.
Observa-se que o evento resultou em um ambiente profícuo,
capaz de sensibilizar e incentivar a adesão à cultura de atividades
no ambiente natural e ao brincar de forma espontânea, explorando
múltiplas possibilidades de diversão, sem degradação do meio
ambiente. Kishimoto (2010) comenta que, ao facilitar as condições
para a manifestação do jogo ou da brincadeira, ou seja, uma ação
intencional do aluno para brincar, o professor está potencializando
um compartilhamento de experiências entre todos nas situações de
aprendizagem. É importante que os educandos, no ambiente escolar,
sejam incentivados às vivências de atividades diversificadas, dando
aos sujeitos a possibilidade de criarem e de se divertirem, ou seja, de
se enriquecerem, atuando de maneira efetiva-ativa e educativa em
todas as facetas do aluno.
Sobre a avaliação desta proposta das AFAN como parte integrante
das ações pedagógicas, foi desenvolvida de acordo com Zabala
(2001), em uma perspectiva construtivista e fundamentada por
diferentes fases: avaliação inicial, avaliação reguladora (formativa)
e avaliação final (somatória). Considera-se esse momento reflexivo
como parte da experiência, indicando possibilidades de revisão do
processo educativo, bem como a apreensão de elementos que foram
significativamente vivenciados pelos educandos.
Com relação às fases avaliativas do projeto, podemos identificar
o seguinte percurso: inicialmente, foram detectadas, pelo professor,
por meio da observação nas aulas, as dificuldades e limitações que
os alunos apresentavam nas atividades corporais, ou seja, foi feita
uma avaliação diagnóstica da realidade. A partir desse momento,
surgiu a ideia e foi adotada uma estratégia pelo educador para
a elaboração e a construção de um projeto (planejamento das
atividades em uma perspectiva interdisciplinar) por meio das AFAN.
No decorrer das atividades práticas, teve-se como propósito uma
avaliação reguladora, que permitiu identificar as insuficiências e os

1034
GALINDO, Vinicius acertos obtidos através das atividades propostas, levando em conta
Aparecido e TENÓRIO, a valorização do conhecimento prévio do aluno e as expectativas
Jaderson Garbin. de aprendizagem inicialmente definidas. E a avaliação final teve
Atividade física de como intenção descobrir se os procedimentos didáticos realizados
aventura na natureza colaboraram para enriquecer o repertório de conhecimentos dos
(afan) nas aulas de alunos sobre as manifestações de cultura de movimento humano
educação física do
trabalhadas nas AFAN. A avaliação final foi constituída pela
Ensino Fundamental I:
uma perspectiva cultural. observação das atividades realizadas pelos alunos, que deverá ser
SALUSVITA, Bauru, v. 38, considerada para a elaboração de projetos futuros.
n. 4, p. 1019-1038, 2019.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das atividades realizadas no projeto e dos resultados
observados, considera-se que, buscando atividades diversificadas ou
novos arranjos pedagógicos, promove-se uma modificação das ações
das crianças, além de despertar a curiosidade e o interesse dos alunos,
tornando a aprendizagem significativa. Um trabalho pautado em uma
perspectiva interdisciplinar favoreceu a troca de informações entre
as disciplinas, associando teoria e prática, em um esforço dialógico,
possibilitando novos conhecimentos para o educando.
O processo de aprendizagem nas AFAN possibilitou a
experiência, para os alunos, da manifestação da cultura corporal de
movimento no ambiente natural, da conscientização da preservação
do meio ambiente e da sensibilização dos aspectos relacionados ao
consumismo. Também como avaliação, utilizamos os recursos de
observações nas aulas, e outro dispositivo foi os relatos das falas dos
alunos, registrados pelos outros professores, sobre as vivências no
evento, visando buscar os dados da realidade, para verificar o que
eles aprenderam.
Os critérios utilizados para avaliar o impacto das AFAN no
desenvolvimento dos educandos, durante as atividades propostas
nas aulas ocorridas após o evento foram: a) a socialização com os
colegas; b) o respeito às regras; c) a participação e o envolvimento
nas atividades propostas; d) a cooperação e a adaptação a diferentes
espaços. Em algumas turmas, percebemos que ocorreu uma evolução
significativa, ou seja, um salto qualitativo na dinâmica das aulas
em relação ao envolvimento e à curiosidade dos alunos. Nas outras
disciplinas, os professores relataram que os alunos progrediram nas
atividades propostas em sala de aula, principalmente em relação a
assuntos sobre sustentabilidade, desperdício de materiais, e suas
famílias incentivaram seus filhos a participarem de forma mais
efetiva em algumas atividades, como, por exemplo, a hora da

1035
fruta2. Os educadores do Colégio, por meio do diálogo e da reflexão, GALINDO, Vinicius
entendem que ações com sentido e com significado propiciam Aparecido e TENÓRIO,
condições e alternativas para que os educandos estejam motivados Jaderson Garbin.
e sensibilizados para aprender. Esse foi o desafio para os professores Atividade física de
envolvidos nesse projeto, tornando-se agentes de transformação aventura na natureza
social num processo contínuo e reflexivo, ou seja, no aprimoramento (afan) nas aulas de
educação física do
de suas ações, buscando ampliar a visão do ser humano para seu
Ensino Fundamental I:
desenvolvimento sociocultural e para uma visão crítica acerca da uma perspectiva cultural.
sua realidade. SALUSVITA, Bauru, v. 38,
As aprendizagens, no decorrer do trabalho, foram enriquecedoras n. 4, p. 1019-1038, 2019.
e significativas, pois, na observação da participação dos alunos nas
aulas de EF, foram identificadas algumas dificuldades dos alunos
em suas habilidades motoras. A partir desse diagnóstico, buscamos,
adotar um trabalho diversificado, com novos olhares, mobilizando
educadores nessa proposta desafiadora.
Portanto, a mediação pedagógica teve a intencionalidade de dar
sentido e significado às aulas, ao tornar suas ações relevantes de
acordo com o contexto do aluno, ao promover a abertura de novos
caminhos para a experiência das manifestações da cultura corporal
de movimento nos ambientes naturais e a consolidação de conceitos
como sustentabilidade, consumismo e alimentação saudável,
articulando os saberes locais com os globais.
Compreendemos que, pelas limitações deste estudo, é importante
que outros trabalhos possam contribuir para a aproximação das
relações entre a EF e o ambiente natural. Todavia, acreditamos que
os argumentos apresentados nessa experiência possam contribuir
para a compreensão das aulas de EF em estreita relação com as
atividades físicas nos ambientes naturais, e para a continuação dos
debates e reflexões sobre as práticas escolares.

2 O aluno leva uma fruta ao Colégio e é propiciado um momento para se alimentar junto com
seus colegas, sendo uma ação adotada nesta instituição, com finalidade de incentivar hábitos
saudáveis de vida. Em relação às AFAN, a “hora da fruta” foi melhor associada com práticas
de preservação e cuidados com o meio ambiente, unindo vivencias e conceitos acerca do tema.

1036
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1038
REABILITAÇÃO ORAL COM PRÓTESE
TOTAL EM PACIENTE PROGNATA:
RELATO DE CASO
Oral rehabilitation with total prosthesis
in prognata patient: case report

Julia de Oliveira dos Santos Cavestro1


Daniela Porto da Cunha2

1
Graduanda em Odontologia CAVESTRO, Julia de Oliveira dos Santos e CUNHA, Daniela Porto
pela Faculdade Independente do da. Reabilitação oral com prótese total em paciente prognata: relato
Nordeste.
de caso. SALUSVITA, Bauru, v. 38, n. 4, p. 1039-1059, 2019.
2
Professora do curso de
Odontologia da Faculdade
Independente do Nordeste;
Cirurgiã- Dentista Mestre em RESUMO
Prótese Dentária.
Introdução: Indivíduosedêntulos apresentam diversas alterações
que comprometem as funções do sistema estomatognático (SE),
como a diminuição da capacidade mastigatória, alteração fonética
e comprometimento estético. A reabilitação oral protética assume
uma função de grande importância para o paciente edêntulo
prognata, podendo ser considerada primordial para a sua condição
de saúde geral e qualidade de vida, reabilitando as funções do SE e
Recebido em: 19/08/2019
Aceito em: 10/01/2019 reinserindo o indivíduo no ambiente social. Objetivo: Apresentar

1039
um relato da técnica protética realizada no intuito de promover CAVESTRO, Julia de
ao paciente prognata uma reabilitação tanto funcional quanto Oliveira dos Santos e
estética após a confecção das próteses totais, utilizando a CUNHA, Daniela Porto
técnica convencional de moldagem. Métodos: Trata-se de um relato da. Reabilitação oral
de caso, envolvendo um paciente voluntário que necessitava de uma com prótese total em
nova prótese total. Utilizaram-se passos clínicos e laboratoriais. paciente prognata: relato
de caso. SALUSVITA,
Resultados: Constataram-se melhorias significativas na retenção,
Bauru, v. 38, n. 4, p.
estabilidade e estética do aparelho protético, bem como uma 1039-1059, 2019.
melhora na oclusão do paciente. Conclusão: A técnica proporcionou
facilidade de adaptação em virtude da grande melhora nas funções
de mastigação e fonação, principalmente, quando consideradas as
condições desfavoráveis da discrepância significativa do tamanho
do interarco presente em pacientes prognatas.

Palavras-chave: Prótese total. Prognatismo. Reabilitação. Estética.


Oclusão.

ABSTRACT
Introduction: Individuals with different functions such as the
functions of the stomatognathic system (SE), such as decreased
chewing capacity, phonetic alteration and aesthetic impairment. The
prosthetic oral rehabilitation assumes a function of great importance
for the patient with prognosis, being able to be paramount for general
health and quality of life. Rehabilitation as functions of SE and
reinserting the individual into the social environment. Objective:
to establish a prosthetic technique performed with no intention to
promote the prognosis of a person over a series of years after the
creation of a conventional molding technique. Methods: This is a
case report, reporting a volunteer patient who needs a new total
prosthesis. Clinical and laboratory stepswere used. Results: It as
found to improve the retention, stability and aesthetics of the device
as an improvement in patient occlusion. Conclusion: An issue that
maybe easier to correct on a large scale in the chewing and phonation
functions is greater than the disadvantages to dental discrepancy of
the inter-arch size present in prognostic patients.

Keywords: Total prosthesis. Prognathism. Rehabilitation. Aesthetics.


Occlusion.

1040
CAVESTRO, Julia de INTRODUÇÃO
Oliveira dos Santos e
CUNHA, Daniela Porto
da. Reabilitação oral
O sistema estomatognático (SE) é composto por estruturas que
com prótese total em pertencem aos sistemas digestório e respiratório, responsável por
paciente prognata: relato desempenhar funções como deglutição, mastigação, fala e respiração
de caso. SALUSVITA, (PACHECO et al., 2012). A relação harmoniosa entre os componentes
Bauru, v. 38, n. 4, p. desse sistema permite um crescimento satisfatório e desenvolvimento
1039-1059, 2019. adequado das bases ósseas da face. Atores ambientais ou mesmo
a interferência em algum órgão desse sistema podem influir no
crescimento craniofacial, alterando, assim, seu desenvolvimento
(COUTINHO et al., 2009).
O paciente desdentado total, pela sua própria condição bucal,
apresenta desequilíbrio do sistema estomatognático, que, também,
pode ser agravado pela utilização de próteses totais deficientes
(FURTADO et al., 2011). Dessa forma, o prognatismo nesses pacientes
resulta em uma série de efeitos colaterais, tais como: interferência na
oclusão, deficiência na mastigação e, consequentemente, na digestão,
além da deterioração da saúde bucal e deficiências na fonação.
Segundo Zere et al. (2018), a aparência desagradável do rosto traz,
como consequência, alterações psicológicas e sociais na maioria dos
casos, fato este que, por si só, afeta de maneira direta a qualidade de
vida desses pacientes.
A relação entre arcos superiores e inferiores é favorável quando
eles são harmoniosamente alinhados e desfavorável em caso de
maxila ou mandíbula proeminentes. Essa desarmonia entre os arcos
pode ter implicações negativas para o prognóstico, criando problemas
mecânicos e estéticos (MAC-KAY et al., 2015).
A reabilitação protética assume uma função fundamental no
paciente desdentado, podendo ser considerada primordial para sua
saúde geral e qualidade de vida (SILVA et al., 2010).
O sucesso nesse tratamento requer um exame detalhado dos
fatores físicos e psicológicos que permeiam essa situação, de modo
que o trabalho a ser executado se situe dentro das suas necessidades
(MARTINS et al., 2014). Desta maneira, é necessário que o aparelho
protético esteja em harmonia plena com o sistema neuromuscular
desses pacientes, o que, segundo Torato et al. (2012), depende das
relações horizontal e vertical da mandíbula para com a maxila.
É importante salientar que todos os passos clínicos e laboratoriais
são decisivos e importantes para o sucesso da peça reabilitadora,
visto que influenciam, diretamente, nos resultados satisfatórios,
tanto estéticos quanto funcionais (FREITAS et al., 2012). A posição
de trabalho utilizada como referência para execução do tratamento
odontológico é uma etapa primordial para definir a estabilidade

1041
e retenção da prótese. Segundo MUKAI et al. (2010), a relação CAVESTRO, Julia de
cêntrica é a posição de trabalho ideal para tratamentos reabilitadores Oliveira dos Santos e
em pacientes que não possuam uma oclusão estável em Máxima CUNHA, Daniela Porto
Intercuspidação Habitual (MIH), por ser uma posição músculo da. Reabilitação oral
esqueletal fisiológica passível de reprodução. Isso é de extrema com prótese total em
importância, principalmente em pacientes prognatas ou Classe paciente prognata: relato
de caso. SALUSVITA,
III esquelética que possuem uma variação anatômica acentuada
Bauru, v. 38, n. 4, p.
(OLIVEIRA, 2010). 1039-1059, 2019.
Diante disso, o presente estudo tem o objetivo de apresentar um
relato de caso clínico, no qual se realizou uma reabilitação oral com
prótese total dupla removível, em um paciente com discrepância
significativa do tamanho do interarco devido ao prognatismo
mandibular e retrusão maxilar.

RELATO DE CASO
Paciente do gênero masculino, leucoderma, 50 anos, portador de
deficiência visual, edêntulo, usuário de próteses totais convencionais.
Procurou a Clínica Escola de uma Instituição Privada de Ensino
Superior do Sudoeste Baiano, no intuito de submeter-se a um
tratamento reabilitador para troca de prótese, visto que o paciente
utilizava as peças por mais de 15 anos e essas já não apresentavam
oclusão e estética favorável.
No que diz respeito ao histórico médico, o paciente foi
diagnosticado como ASA II, fazendo uso rotineiro de medicamentos
para controle da glicemia. Desta forma, foi realizado todo o
planejamento para uma nova reabilitação protética devolvendo
função e estética. O tratamento foi plenamente aceito pelo paciente
e, portanto, executado.
Na primeira sessão, foi realizada a anamnese e, posteriormente,
os exames físico e clínico intra e extraoral. Ao exame intraoral,
observou-se rebordo superior com grânulos de fordyce, exostose e
língua saburrosa. O rebordo inferior apresentava-se irregular em
lâmina de faca, bridas e inserções normais. Ao exame extraoral,
pôde-se observar simetria facial, perfil oval e lábios ressecados.
Tal exame também demonstrou perda de suporte labial e linha do
sorriso baixa.
O exame clínico foi salutar para diagnosticar a discrepância
caracterizada por um “excesso anteroposterior” no crescimento
mandibular, sendo este denominado prognatismo (Figura 1).
Realizados os exames, constatou-se que os rebordos estavam em
perfeitas condições para receber uma nova prótese, apresentando

1042
CAVESTRO, Julia de estruturas uniformes, regulares e consistentes, tendo uma
Oliveira dos Santos e fibromucosa de aspecto sadio e coloração rósea (Figura 2). A
CUNHA, Daniela Porto peça protética apresentava dentes ausentes, com perda de retenção
da. Reabilitação oral e estabilidade, o que interferiu, significativamente, na fonética e
com prótese total em estética, comprometendo suas funções, logo havendo a necessidade
paciente prognata: relato de substituição.
de caso. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, p.
1039-1059, 2019.

Figura 1 - Vista extraoral frontal da face com as próteses antigas

Figura 1 A: Vista extraoral do sorriso da paciente sem as próteses

1043
CAVESTRO, Julia de
Oliveira dos Santos e
CUNHA, Daniela Porto
da. Reabilitação oral
com prótese total em
paciente prognata: relato
de caso. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, p.
1039-1059, 2019.

Figura 1 B: Vista extraoral do sorriso da paciente com as próteses antigas

Figura 1 C: Vista de perfil paciente prognata

1044
CAVESTRO, Julia de
Oliveira dos Santos e
CUNHA, Daniela Porto
da. Reabilitação oral
com prótese total em
paciente prognata: relato
de caso. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, p.
1039-1059, 2019.

Figura 2: Vista intraoral oclusal do rebordo superior

Figura 2 A: Vista intraoral oclusal do rebordo inferior

Na segunda sessão, foi feita a seleção da moldeira (S-2 e I-2) para,


posteriormente, executar-se o procedimento de moldagem anatômica,
om Alginato Hydrogum (Zhermack, Badia Polinésia, Itália), e
moldeiras metálicas perfuradas (Tecnodent, Indaiatuba, Brasil).
Estas foram individualizadas, com a adaptação de cera periférica
(Lysanda, São Paulo, Brasil) nas bordas, a fim de que o material de
moldagem extravasasse, copiando mais fielmente a região de fundo
de vestíbulo (Figura 3). Foi feito o vazamento imediato com gesso
comum tipo II (Asfer, São Caetano do Sul, Brasil).

1045
CAVESTRO, Julia de
Oliveira dos Santos e
CUNHA, Daniela Porto
da. Reabilitação oral
com prótese total em
paciente prognata: relato
de caso. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, p.
1039-1059, 2019.

Figura 3: Moldeiras metálicas com o molde do paciente

Na terceira sessão, foram adquiridos os modelos anatômicos e,


com isso, realizada a marcação com lápis, no contorno do rebordo, e
os alívios com cera 7 (Technew, Rio de Janeiro, Brasil) nas áreas
de rugosidades palatinas, rafe palatina e forame palatino maior no
modelo superior, e região de Trígono-Retro-Molar e crista alveolar no
modelo inferior. Assim, foram confeccionadas moldeiras individuais
com cabo, utilizando isolante Cel-lac (S. S. White Duflex, Rio de
Janeiro, Brasil) e resina acrílica autopolimerizável (Jet – Clássico,
São Paulo, Brasil), com os devidos ajustes (Figura 4).

Figura 4: Moldeiras individuais

1046
CAVESTRO, Julia de Na quarta sessão, realizou-se a moldagem funcional. Executou-se,
Oliveira dos Santos e portanto, o vedamento periférico com godiva de baixa fusão (Godiva-
CUNHA, Daniela Porto Kerr, EUA) na moldeira superior e cera periférica na moldeira
da. Reabilitação oral inferior. A moldagem funcional foi realizada com o material poliéter
com prótese total em (Impregum Soft Kit - 3M, Sumaré, Brasil), e a desinfecção,
paciente prognata: relato com hipoclorito a 1% (Macela Dourada Farmácia de manipulação
de caso. SALUSVITA,
LTDA, Vitória da Conquista, Brasil).
Bauru, v. 38, n. 4, p.
1039-1059, 2019. Foi confeccionado o encaixotamento, que consiste no preparo do
molde para vazar o gesso e se obter o modelo com as características
necessárias, permitindo a máxima extensão da base sem que se
interfira na movimentação muscular e se garanta o selado periférico.
O vazamento foi feito com gesso tipo IV Durone (Dentsply Sirona,
Pensilvânia, EUA), e, posteriormente, executou-se o recorte dos
modelos para a confecção da base de prova (Figura 5).

Figura 5: Modelos recortados para confecção de base de prova

Na quinta sessão, foi realizada a base de prova superior com o


rolete de cera, com base em medidas determinadas por Freitas et
al., (2011), ou seja, na parte anterior o rolete, a altura era de 20 mm
do fundo de vestíbulo, na posterior, 5 mm, havendo a espessura de
10 mm. A base de prova inferior foi confeccionada com as medidas
de 18 mm do fundo de vestíbulo, 0 mm na região posterior, com
espessura de 10 mm (Figura 6).

1047
CAVESTRO, Julia de
Oliveira dos Santos e
CUNHA, Daniela Porto
da. Reabilitação oral
com prótese total em
paciente prognata: relato
de caso. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, p.
1039-1059, 2019.

Figura 6 – Base de prova superior e inferior com os roletes de cera

Na sexta sessão, com a musculatura do paciente em estado de


relaxamento, mediu-se a dimensão vertical de repouso (DVR) com
o compasso de Willis (JON, São Paulo, Brasil). O valor registrado
foi de 72 mm em Dimensão Vertical Oclusão (DVO) (sem a prótese
inferior) e 82 mm em repouso (com a prótese inferior). (Figura 7).

Figura 7 - Compasso de Willis para medir Dimensão Vertical de Respouso25

1048
CAVESTRO, Julia de A próxima etapa consistiu na orientação dos planos de cera,
Oliveira dos Santos e demarcação das linhas de referência (Figura 8) (linha média,
CUNHA, Daniela Porto linha canina, suporte labial, corredor bucal, altura do sorriso
da. Reabilitação oral e distância intercomissural), linha bipupilar, com auxílio da Régua
com prótese total em de Fox (Bio-Art, São Carlos, Brasil). O registro intermaxilar foi
paciente prognata: relato realizado em relação cêntrica, uma vez que o paciente não apresenta
de caso. SALUSVITA,
estabilidade em Máxima Intercuspidação Habitual (MIH) devido
Bauru, v. 38, n. 4, p.
1039-1059, 2019. às perdas dentárias; a manipulação consistiu na tentativa de levar-se
a mandíbula para a posição mais retruída com o auxílio de uma
ou duas mãos do operador. A base de prova inferior manteve-
se apoiada sobre o rebordo para não comprometer a precisão do
registro e o paciente manteve-se na posição reclinada (TORCATO
et al., 2012).

Figura 8 - Definição da linha média

Portanto, os ajustes foram feitos por meio de canaletas no plano


de cera superior e registro oclusal com poliéter (Impregum Soft
Kit - 3M, Sumaré, Brasil). Foram fixados os dois planos de cera
com auxílio de grampos, e procedeu-se à montagem do modelo
mandibular em articulador semi-ajustável (Bio-Art, São Carlos,
Brasil) (Figura 9).

1049
CAVESTRO, Julia de
Oliveira dos Santos e
CUNHA, Daniela Porto
da. Reabilitação oral
com prótese total em
paciente prognata: relato
de caso. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, p.
1039-1059, 2019.

Figura 9 - Demarcação das linhas de referência

Figura 9 A - Planos de orientação registrados em RC

Na sétima sessão, foi realizada a seleção dos dentes. Levou-se em


consideração que o paciente é deficiente visual, e, consequentemente,
a escolha foi realizada visando a proporcionalidade do rosto do
paciente, que possui perfil oval, sem masseter proeminente; dessa
forma, deu-se preferência ao tamanho V14. Outros aspectos do
paciente, como cor dos olhos, cabelo e tom de pele, também, foram

1050
CAVESTRO, Julia de levados em conta para se optar pela cor V66 da escala de dentes
Oliveira dos Santos e BIOLUX (VIPI, Pirassununga, Brasil). Posteriormente, a prótese foi
CUNHA, Daniela Porto encaminhada ao laboratório (Figura 10).
da. Reabilitação oral
com prótese total em
paciente prognata: relato
de caso. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, p.
1039-1059, 2019.

Figura 10 - Prótese em cera no articulador semi-ajustável

Figura 10 A - Paciente com prótese em

1051
Após a montagem dos dentes artificiais, foi realizada a prova CAVESTRO, Julia de
estética e funcional da prótese. As correções necessárias foram Oliveira dos Santos e
realizadas, e a opinião do paciente registrada em relação às próteses. CUNHA, Daniela Porto
Os resultados foram avaliados de forma satisfatória pelo paciente da. Reabilitação oral
e pelos profissionais envolvidos, visto que a estética e função com prótese total em
foram restabelecidas de forma eficaz. A seguir, selecionou-se a paciente prognata: relato
de caso. SALUSVITA,
cor da gengiva pela escala de Tomaz Gomes (VIPI, Pirassununga,
Bauru, v. 38, n. 4, p.
Brasil). As informações e as próteses com os dentes montados 1039-1059, 2019.
em cera foram repassadas ao protético para serem acrilizadas e
futuramente instaladas.
Na oitava sessão, realizou-se a prova da prótese, os devidos ajustes
oclusais e alívios. Posteriormente, esta foi entregue ao paciente.
Foram repassadas as devidas instruções de higiene, adaptação e
cuidados para longevidade da PT ao paciente (Figura 11).

Figura 11 - Prótese acrilizada em oclusão

1052
CAVESTRO, Julia de
Oliveira dos Santos e
CUNHA, Daniela Porto
da. Reabilitação oral
com prótese total em
paciente prognata: relato
de caso. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, p.
1039-1059, 2019.

Figura 12 - Paciente de perfil com as próteses acrilizadas

Figura 12 A - Vista lateral do sorriso do paciente

1053
CAVESTRO, Julia de
Oliveira dos Santos e
CUNHA, Daniela Porto
da. Reabilitação oral
com prótese total em
paciente prognata: relato
de caso. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, p.
1039-1059, 2019.

Figura 12 B - Vista frontal do paciente em oclusão

DISCUSSÃO
A perda dos elementos dentários modifica o padrão de fala, estética,
mastigação, deglutição e, até mesmo, as relações interpessoais do
indivíduo, implicando, de forma direta, no seu comportamento
social, emocional e psicológico. A necessidade do paciente no
caso descrito foi mais do que restabelecer a função. Ao procurar o
tratamento reabilitador, este buscou reconstituir sua autoimagem e
bem-estar social, que, de acordo com Agostinho (2015) a ausência
de dentes afeta o cotidiano do indivíduo e, consequentemente, a sua
qualidade de vida.
O paciente utilizou prótese total superior e inferior por mais de 15
anos, com higienização deficiente. Além disso, a oclusão e estética
estavam desfavoráveis, contribuindo, para a necessidade de troca
das mesmas. Segundo TURANO (2012), a prótese total deve ser
substituída a cada 5 anos, porém, depende dos hábitos de vida, da
saúde e do cuidado do paciente com a mesma.
TRENTIN et al. (2016) cita que o tratamento com PT tem sido,
por muito tempo, a escolha para reabilitar pacientes desdentados
totais, objetivando o restabelecimento da harmonia do SE perdida

1054
CAVESTRO, Julia de com a ausência dos dentes naturais. Entretanto, diversas são as
Oliveira dos Santos e dificuldades quando o paciente apresenta padrão esquelético
CUNHA, Daniela Porto classe III, devido ao severo prognatismo mandibular e retrusão
da. Reabilitação oral maxilar. No presente caso, essa condição desfavorável foi solucionada
com prótese total em de acordo com cada etapa da reabilitação.
paciente prognata: relato O paciente apresenta uma desarmonia esquelética, que pode
de caso. SALUSVITA,
ser resultante de uma deficiência maxilar, de um excesso mandibular
Bauru, v. 38, n. 4, p.
1039-1059, 2019. ou mesmo de uma combinação de ambos. Os autores Bittencourt
(2009) e Mac-Kay et al. (2015) relatam que essas alterações podem
levar ao comprometimento do perfil facial, frequentemente,
com consequências psicossociais, podendo acarretar, também, em
alterações morfológicas e funcionais, interferindo na estabilidade da
prótese. Desse modo, cada sessão foi plenamente bem planejada
e executada diante dos desafios apresentados.
De acordo com Reis et al. (2017), a reprodução das estruturas
anatômicas da área chapéavel representa um dos pontos de maior
importância para a confecção de uma prótese total removível, uma
vez que sua correta realização implicará no êxito ou fracasso da
peça protética. Nesse estudo apresentado, a técnica de moldagem
funcional possibilitou que a prótese total maxilar fosse
confeccionada de forma que as forças mastigatórias fossem
distribuídas por toda área chapeável, evitando pressão excessiva
em todas as regiões. Regis e colaboradores (2013) salientam que,
durante a moldagem funcional, deve-se preconizar a realização
dos movimentos funcionais exercidos pelo paciente, onde o registro
dos tecidos em posição compressiva permitirá observar a força de
deslocamento dos tecidos e de retenção da prótese, em que deverá
haver um equilíbrio de ambas.
Para Mac-Kay et al. (2015), o rebordo ósseo residual de pacientes
edêntulos sofre uma reabsorção óssea irreversível devido a
fatores anatômicos, metabólicos e funcionais – esses fatores,
quando combinados, resultam numa taxa maior de reabsorção
óssea. Segundo Silva et al. (2010) esse processo pode projetar a
mandíbula, ocorrendo uma protusão mandibular, associada à
destruição da área basal – mudanças essas que influenciam,
de maneira direta, na estabilidade e retenção da prótese dentária.
A reabilitação oral com próteses totais, quando confeccionada
respeitando o plano oclusal e altura de dimensão vertical, é de suma
importância no processo de devolução dessas funções perdidas
(FURTADO, et al.,2011).
BITTENCOURT (2009) relata que, a localização da área chapeável
de acordo com as técnicas comumente utilizadas dificulta a obtenção
dos registros intrabucais, comprometendo, assim, amontagem e

1055
reprodução no articulador, interferindo, d maneir direta, na correta CAVESTRO, Julia de
reconstituição da oclusão normal desejada nos dentes artificiais. Oliveira dos Santos e
No entanto, o registro intermaxilar feito com o paciente em relação CUNHA, Daniela Porto
cêntrica foi fundamental par compensar a protrusão mandibular e da. Reabilitação oral
retrusão maxilar no articulador semi-ajustável, proporcionando com prótese total em
assim uma prótese total estável e retentiva, considerada adequada paciente prognata: relato
de caso. SALUSVITA,
pelo paciente e pelo Cirurgião- Dentista.
Bauru, v. 38, n. 4, p.
A posição de trabalho em relação cêntrica é referência para 1039-1059, 2019.
este tipo de reabilitação (TELLES, 2014), e esta fez-se necessária
para o planejamento, visto que o paciente edêntulo não apresentou
estabilidade em MIH, possibilitando que a prótese consequentemente
se manteria em mordida topo a topo ou cruzada. A execução correta
da técnica favoreceu para que a prótese total permanecesse com
estabilidade e retenção. Fretias et al., (2011) frisa que a transferência
da relação intermaxilar do paciente para o articulador, durante a
reabilitação oral é imprescindível para o sucesso do caso. Partindo
dessas premissas, tornou- se relevant a descrição do relato de caso
clínico que demonstrou a importância do cumprimento de tais
princípios.
De acordo com Trentin et al. (2016), as medidas definidas
determinarão o reestabelecimento correto devolvendo ao SE
uma função harmoniosa aos músculos do terço inferior da
face, melhorando a aparência facial, devolvendo a função de
mastigação, da fala e da deglutição do paciente proporcionando
melhor qualidade de vida.
Deve-se salientar que, após o término do tratamento e da entrega
da peça protética, foi feita a consulta de adaptação e o retorno de
12 meses, e nestas constatou-se melhora na qualidade de vida do
paciente, obtendo assim o sucesso do tratamento a longo prazo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A reabilitação protética de pacientes edêntulos prognatas é
sempre uma tarefa complicada para o Cirurgião-Dentista, entretanto,
quando executada seguindo os protocolos clínicos e laboratoriais
se torna gratificante, uma vez que, ao reabilitá-la, conseguimos
devolver autoestima e função do SE, favorecendo o seu engajamento
na sociedade.
Uma das etapas cruciais para o determinado tipo de reabilitação
é o registro intermaxilar, que requer uma boa execução. Sendo
de escolha, a posição de trabalho em relação cêntrica, pois esta é
referência para o planejamento para casos de pacientes desdentados

1056
CAVESTRO, Julia de prognatas. Portanto, tornou-se relevante a descrição da importância
Oliveira dos Santos e do cumprimento de tais princípios.
CUNHA, Daniela Porto Sendo assim, no presente estudo observou-se a satisfação do
da. Reabilitação oral paciente ao receber as novas próteses, melhorando a sua saúde
com prótese total em em geral, visto que, o mesmo, apresenta limitações por conta da
paciente prognata: relato deficiência visual.
de caso. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, p.
1039-1059, 2019.

1057
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Oliveira dos Santos e
CUNHA, Daniela Porto
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1059
ABORDAGEM CIRÚRGICA DE LESÕES
VASCULARES DA CAVIDADE ORAL
Surgical approach of vascular lesions
in the buccal cavity

Thiago Ballalai Lopes1


Nathalia de Souza Oliveira2
1
Graduado em Odontologia,
Aluno de Aperfeiçoamento em Letícia Fantin Ferreira3
Cirurgia Oral, Universidade Maria Flávia Milagre Rodrigues4
Do Sagrado Coração - USC/
BAURU, SP, Brasil. Andréia Aparecida da Silva5
2
Graduada em Odontologia, Paulo Domingos Ribeiro-Júnior6
Aluno de Aperfeiçoamento em
Cirurgia Oral, Universidade
Camila Lopes Cardoso7
Do Sagrado Coração - USC/
BAURU, SP, Brasil.
3
Graduanda em Odontologia,
Universidade Do Sagrado
Coração - USC/ BAURU, SP,
Brasil.
4
Mestranda em Cirurgia Oral,
Departamento de Cirurgia,
Universidade do Sagrado
Coração, Bauru, São Paulo. LOPES, Thiago Ballalai et al. Abordagem cirúrgica de lesões
5
Professora Doutora, Patologista, vasculares da cavidade oral. SALUSVITA, Bauru, v. 38, n. 4, p. 1061-
Departamento de Cirurgia, 1073, 2019.
Universidade do Sagrado
Coração, Bauru, São Paulo.
6
Professor Doutor,
Departamento de Cirurgia, RESUMO
Universidade do Sagrado
Coração, Bauru, São Paulo.
Introdução: As lesões vasculares da cavidade bucal são representadas
7
Professora Doutora,
Departamento de Cirurgia, por hemangiomas ou más-formações vasculares, varizes e menos
Universidade do Sagrado comumente flebotromboses. Os sítios de maior acometimento são:
Coração, Bauru, São Paulo. lábios, mucosa jugal e língua. Os aspectos clínicos são de lesões
nodulares ou papulares, pequenas e bem circunscritas, de coloração
avermelhada, consistência resiliente, superfície lisa ou moriforme.
Recebido em: 02/09/2019
A diascopia é uma manobra semiotécnica utilizada na diferenciação
Aceito em: 12/12/2019

1061
entre lesões vasculares e máculas. As principais modalidades LOPES, Thiago Ballalai et
de tratamento para as lesões vasculares são: excisão cirúrgica, al. Abordagem cirúrgica
crioterapia, uso de corticóides, escleroterapia e eletrocoagulação. de lesões vasculares
Objetivo: Relatar três casos clínicos de lesões vasculares pequenas da cavidade oral.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
na cavidade bucal, tratadas através da excisão cirúrgica das lesões. n. 4, p. 1061-1073, 2019.
Resultados e Discussão: Todos os casos evoluíram com um ótimo
trans e pós-operatório. O exame anatomopatológico das mesmas
revelou dois casos de hemangiomas e um de flebotrombose. A decisão
de abordar cirurgicamente as lesões vasculares foi considerada
frente aos aspectos clínicos de lesões bem circunscritas, pequenas,
palpáveis, boa localização, sem comprometer estruturas nobres
anatômicas. Conclusão: A excisão cirúrgica, abordada através de
biópsia excisional de lesões pequenas vasculares, é uma opção viável
de tratamento, sem complicações trans e pós-operatórias quando
corretamente indicadas e executadas.

Palavras-chave: Lesões vasculares; Hemangioma; Flebotrombose;


Excisão cirúrgica.

ABSTRACT
Introduction: Vascular lesions of the buccal cavity are represented
by hemangiomas or vascular malformations, varicose veins and,
less commonly, phlebotrombosis. The sites of major involvement
are: lips, jugal mucosa and tongue. Clinical features are small, well
circumscribed nodular or papular lesions of reddish color, resilient
consistency, smooth or moriform surface. Diascopy is a semi-technical
maneuver used in the differentiation between vascular lesions and
macules. The main treatment modalities for vascular lesions are:
surgical excision, cryotherapy, use of corticoids, sclerotherapy,
electrocoagulation. Objective: of this present study was to report
three clinical cases of small vascular lesions in the oral cavity, which
after a well done clinical examination, the team planned the surgical
excision of the lesions and the anatomopathological examination
revealed two cases of hemangiomas and one of phlebotrombosis.
Method: The decision to surgically approach the vascular lesions
of this study was considered against the clinical aspects of well
circumscribed and small, palpable lesions, good location, without
compromising anatomical noble structures. Results: All cases
evolved with a good postoperative period. Conclusion: that surgical
excision, treated as an excisional biopsy of small vascular lesions,

1062
LOPES, Thiago Ballalai et is a viable treatment option, without trans and postoperative
al. Abordagem cirúrgica complications when correctly indicated and performed.
de lesões vasculares
da cavidade oral. Keywords: Vascular lesions; Hemangioma; Phlebotrombose;
SALUSVITA, Bauru, v. 38, Surgical excision.
n. 4, p. 1061-1073, 2019.

INTRODUÇÃO
Lesões vasculares podem ser comuns na região de cabeça
e pescoço, sendo mais raras na cavidade bucal. Elas podem
ser divididas basicamente entre más-formações vasculares,
varizes e hemangiomas. Uma classificação baseada no método
celular classificou dois tipos de lesões vasculares em boca: a
de proliferação endotelial e a sem proliferação no endotélio. Na
primeira, será formado o hemangioma, em que a maioria dos casos
acontece antes dos nove anos, sendo que ocorre um crescimento
rápido e uma diminuição de tamanho com o passar do tempo. Na
segunda, as proliferações estão presentes desde o nascimento, com
persistência por toda a vida, tendo uma ocorrência de 0,3 a 1% no
nascimento (MULLIKEN E GLOWACKI et al., 1982; NEVILLE
et al., 2009).
O hemangioma é mais comum na infância, sendo mais raro em
adultos e idosos. A principal queixa dos pacientes é em relação à
estética: dependendo de sua localização e seu tamanho, pode até
causar problemas na fala e na deglutição, além da assimetria facial.
Na cavidade bucal, os sítios mais acometidos são lábios, mucosa
jugal e língua (TANAKA et al., 1999). Estudos relatam que existe
uma maior prevalência em gêmeos, crianças prematuras e pessoas
do gênero feminino (65%) (ROCHA et al.,2000; NEVILLE et al.,
1998; GAMPPER E MORGAN et al., 2002).
As lesões vasculares na cavidade bucal clinicamente se apresentam
como lesões nodulares ou papulares de coloração avermelhada,
superfície lisa ou moriforme, com bordas bem delimitadas, séssil
ou pedunculada, de consistência resiliente, sem sintomatologia
dolorosa. No entanto, dependendo do seu tamanho podem se tornar
superficialmente ulceradas, resultando em dor, hemorragia, infecção
secundária e deformidades teciduais (CORRÊA et al., 2007;
FONSECA et al., 2008).
O tratamento proposto para as lesões vasculares tem sido descrito
na literatura de muitas formas, como: excisão cirúrgica, crioterapia,
aplicação de corticóides, escleroterapia, eletrocauterização e
aplicação de laser (JOHANN et al., 2005; CORRÊA et al., 2007;

1063
FONSECA et al., 2008; SOBRINHO et al., 2003; ODA et al., 2005; LOPES, Thiago Ballalai et
BUCCI et al., 2008; ASSIS et al., 2009). al. Abordagem cirúrgica
O objetivo deste trabalho foi apresentar três casos clínicos de de lesões vasculares
lesões vasculares que foram tratadas através de excisões cirúrgicas. da cavidade oral.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1061-1073, 2019.

METODOLOGIA
Trata-se de relato de casos clínicos, realizado através de análise de
prontuários e documentação fotográfica autorizada pelos pacientes
atendidos na Extensão de Estomatopatologia da Universidade do
Sagrado Coração, em Bauru/SP.

RELATO DE CASOS

Caso Clínico 1

Paciente leucoderma do gênero masculino, 54 anos, com queixa


principal: “Lesão no lábio”. Na história médica, ele fazia uso de
anticoagulante (AAS) diariamente. No exame físico intraoral,
apresentava um nódulo circunscrito, 8mm, no lábio superior,
coloração arroxeada, resiliente à palpação, assintomático, mais de
3 meses de evolução. Considerando seu aspecto bem circunscrito,
optou-se por realizar uma biópsia excisional, sob anestesia local
e com o consentimento do médico após conduta de remoção do
AAS (Figura 1-3).

1064
LOPES, Thiago Ballalai et
al. Abordagem cirúrgica
de lesões vasculares
da cavidade oral.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1061-1073, 2019.

Figura 1 - Nódulo circunscrito, 8mm, no lábio superior, coloração arroxeada,


resiliente à palpação, assintomático, mais de 3 meses de evolução.

Fonte: o autor.

Figura 2 - Imagem ilustrativa da biopsia excisional. Observa-se durante à


divulsão, a coloração roxa da lesão que era bem circunscrita.

Fonte: o autor.

1065
LOPES, Thiago Ballalai et
al. Abordagem cirúrgica
de lesões vasculares
da cavidade oral.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1061-1073, 2019.

Figura 3 - Região suturada com fio Vicryl 4.0.

Fonte: o autor.

A cicatrização após 7 dias foi compatível com a normalidade. O


exame microscópico, após envio da peça, revelou a presença de um
trombo no interior de um vaso sanguíneo, portanto o diagnóstico foi
de flebotrombose (Figura 4).

Figura 4 - Fotomicrografia ilustrando um coágulo na luz de um


vaso sanguíneo HE 10X.

Fonte: o autor.

1066
LOPES, Thiago Ballalai et caso clínico 2
al. Abordagem cirúrgica
de lesões vasculares
Paciente leucoderma do gênero feminino, 40 anos, com queixa
da cavidade oral.
principal: “Bolinha no lábio”. Na história médica, não havia nada
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1061-1073, 2019. digno de nota. Ao exame físico intraoral, foi observado um nódulo
circunscrito, 6mm, no lábio inferior, coloração arroxeada, resiliente
à palpação, assintomático, mais de 6 meses de evolução. Diante do
aspecto circunscrito optou-se por fazer a excisão cirúrgica da lesão
(Figura 5-7).

Figura 5 - Nódulo circunscrito, 6mm, no lábio inferior, coloração arroxeada,


resiliente à palpação, assintomático, mais de 6 meses de evolução.

Figura 6 – Imagem ilustrativa da biópsia excisional. Observa-se, durante a


divulsão, a coloração roxa da lesão que era bem circunscrita.

Fonte: o autor.

1067
LOPES, Thiago Ballalai et
al. Abordagem cirúrgica
de lesões vasculares
da cavidade oral.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1061-1073, 2019.

Figura 7 - Região suturada com fio seda 4.0.

Fonte: o autor.

No pós-operatório, a paciente evoluiu bem, com ótima cicatrização


observada após sete dias. O exame microscópico foi compatível com
hemangioma.

caso clínico 3

Paciente leucoderma do gênero feminino, 68 anos, queixa


principal: “Bolinha na bochecha”. Na história médica, não havia
nada digno de nota. Ao exame físico intraoral, foi observada uma
pápula circunscrita, 4mm, em região retrocomissural esquerda,
coloração arroxeada, resiliente à palpação, assintomático, mais de 2
meses de evolução (Figura 8). Diante dos aspectos clínicos, foi feita
uma biópsia excisional e o diagnóstico também foi hemangioma,
similarmente ao caso anterior.

1068
LOPES, Thiago Ballalai et
al. Abordagem cirúrgica
de lesões vasculares
da cavidade oral.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1061-1073, 2019.

Figura 8 - Pápula circunscrita, 4mm, em região retrocomissural


esquerda, coloração arroxeada, resiliente à palpação, assintomático,
mais de 2 meses de evolução.

Fonte: o autor.

Figura 9 – Foto feita biópsia excisional da lesão e sutura com Vicryl 4.0.

Fonte: o autor.

O paciente evoluiu bem, com boa cicatrização e ausência de


recidiva num tempo de seis meses de acompanhamento.

1069
DISCUSSÃO LOPES, Thiago Ballalai et
al. Abordagem cirúrgica
de lesões vasculares
O conhecimento das lesões vasculares é de grande importância para da cavidade oral.
o cirurgião dentista, pois elas servem como diagnóstico diferencial SALUSVITA, Bauru, v. 38,
de várias outras patologias. É importante o conhecimento técnico n. 4, p. 1061-1073, 2019.
e científico dessas lesões para o profissional saber qual a melhor
maneira de abordá-las e realizar um correto diagnóstico. Um recurso
semiotécnico utilizado na diferenciação de lesões vasculares e lesões
pigmentadas é a manobra de diascopia, que consiste em pressionar
uma lâmina de vidro sobre a lesão e observar se há um conteúdo
sanguinolento no seu interior. No caso de lesões pigmentadas, não é
observada alteração de coloração, entretanto, nas lesões vasculares
observa se um conteúdo avermelhado compatível com sangue se
movimentando no interior dos tecidos.
As lesões vasculares são caracterizadas por lesões avermelhadas
ou arroxeadas, indolores, de superfície lisa ou moriforme, com
bordas bem delimitadas e de consistência amolecida (CORRÊA
et al., 2007; FONSECA et al., 2008). As classificações das lesões
vasculares mudam conforme a categoria dos vasos e da potência do
fluxo sanguíneo. Podem ser divididos em capilar, misto e cavernoso
(JOHANN et al., 2005; ENJOLRAS et al., 1997). O de maior
prevalência é o capilar, podendo se desenvolver de forma congênita
ou traumática.
Lesões vasculares grandes, difusas e mal definidas, com um
diagnóstico presuntivo de hemangioma, não se devem biopsiar.
Porém, em lesões vasculares pequenas, bem circunscritas, pode ser
feita uma abordagem excisional, sem incisar no interior da lesão
(CARDOSO et al., 2010). No presente trabalho, todas as lesões
eram pequenas, delimitadas e um aspecto importante foi a palpação
das lesões, a qual sempre permitiu a observância de um tecido
capsular envolvendo a lesão. Quando se tem essa característica bem
delimitada, é possível, através da dissecção dos tecidos, atingir a
lesão e separá-la inteiramente sem fragmentar a cápsula, como foi
feito nos três casos clínicos descritos.
Considerando o comportamento e prognóstico dos hemangiomas,
tratam-se de lesões benignas, que apresentam um crescimento auto
limitante. Às lesões grandes, não se indica tratamento cirúrgico,
ao menos que comprometa a estética ou a função. Quando seu
tratamento é indicado, o ideal é que o paciente seja operado num
centro cirúrgico, sob anestesia geral, por uma equipe de cirurgiões
de cabeça e pescoço.
Os tratamentos existentes são diversificados, sendo que as lesões
grandes, quando requerem tratamento, indica-se escleroterapia.

1070
LOPES, Thiago Ballalai et Referente aos casos clínicos citados, utilizamos a técnica da excisão
al. Abordagem cirúrgica cirúrgica, por se tratar de lesões bem delimitadas, pequenas, de massa
de lesões vasculares palpável, fácil acesso e sem comprometer áreas anatômicas nobres,
da cavidade oral. trazendo um melhor pós-operatório para os pacientes (CARDOSO
SALUSVITA, Bauru, v. 38, et al., 2010).
n. 4, p. 1061-1073, 2019. Considerando a escleroterapia para lesões vasculares pequenas,
é um recurso possivelmente mais caro que a excisão cirúrgica,
pois se usa um produto comercial esclerosante, além da resolução
não ser garantida ao final da aplicação. Esses casos requerem
acompanhamento de todo processo cicatricial que pode demorar
semanas. Outra desvantagem é que, quando se faz nos lábios, o
processo cicatricial fica exposto e pode comprometer a estética do
paciente. Nos três casos relatados neste trabalho, foi obtida ótima
cicatrização em menos de uma semana e não houve recidivas, visto
que as lesões foram totalmente excisadas.
Além dos hemangiomas, outras alterações vasculares podem
também requerer tratamento quando causar incômodo ao paciente.
Como foi o caso da Flebotrombose, ocorrência incomum que pode
estar associada à condição sistêmica do paciente de formar trombos.
Importante explicar para a situação para o paciente e encaminhá-lo
ao devido cuidado médico.
Por fim, é importante enfatizar que todas as opções devem ser
consideradas e discutidas com os pacientes. O acompanhamento
também pode ser uma sugestão ao paciente quando ele não se
incomodar com a presença da lesão, pois se sabe que essas alterações
são benignas. Em caso de alterações ao longo do tempo, pode ser
feita abordagem cirúrgica, considerando a evolução da lesão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste trabalho, concluímos que a excisão cirúrgica
de lesões vasculares pequenas na cavidade bucal é uma opção
viável, segura, sem complicações trans e pós-operatórias quando
corretamente indicadas e executadas.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Extensão da USC, que possibilitou a
atividade do atendimento aos pacientes com patologias bucais citados
neste trabalho. Este artigo é fruto de um trabalho de conclusão de
curso da Odontologia da Universidade do Sagrado Coração.

1071
REFERÊNCIAS LOPES, Thiago Ballalai et
al. Abordagem cirúrgica
de lesões vasculares
ASSIS GM, et al. Hemangioma de língua: relato de caso. Rev Cir da cavidade oral.
Traumatol Buco-Maxilo-fac., Camaragibe, v.9, n.2, p.59-66, Abr/ SALUSVITA, Bauru, v. 38,
Jun.2009. n. 4, p. 1061-1073, 2019.

BUCCI T, et al. Cavernous haemangioma of the temporalis muscle:


case report and review of the literature. Acta Otorhinolaryngol
Ital., Pisa, v.28, n.2, p.83-86, Abr.2008.
CARDOSO CL, et al. Relato de caso: Abordagem cirúrgica de
hemangioma intraoral. Odontol. Clín.Cient., Recife, v.9, n.2, p.177-
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caso. Arq Bras Oftalmol., São Paulo, v.71, n.3, p.423-426, Maio/
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GAMPPER TJ, et al. Vascular anomalies: hemangiomas. Plast
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Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod., St. Louis,
v.100, n.5, p.579-584, Nov.2005.
MULLIKEN JB, GLOWACKI J. Hemangiomas and vascular
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endothelial characteristics. Plast Reconstr Surg., Baltimore, v.69,
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NEVILLE BW, et al. Patologia epitelial. In: Neville BW, et al.
Patologia oral & maxilofacial. Tradução de Danielle Resende
Camisasa. 3rd ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009. p.363-453.
ODA D. Soft-tissue lesions in children. Oral Maxillofac Surg Clin
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ROCHA LB, et al. Hemangioma da cavidade bucal. RGO, Campinas,
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SOBRINHO FPG, et al. Hemangioma de úvula: relato de um caso.
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Aug.2003.

1072
LOPES, Thiago Ballalai et TANAKA N, et al. Clinical features and management of oral and
al. Abordagem cirúrgica maxillofacial tumors in children. Oral Surg Oral Med Oral Pathol
de lesões vasculares Oral Radiol Endod., St. Louis, v.88, n.1, p.11-15, Jul.1999.
da cavidade oral.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1061-1073, 2019.

1073
TRATAMENTO DA MÁ OCLUSÃO
DE CLASSE II ASSIMÉTRICA COM
PROPULSOR MANDIBULAR
Treatment of an asymmetrical Class II malocclusion
with mandibular protraction appliance

Renan Morais Peloso1


Renata Cristina Gobbi de Oliveira2
Ricardo Cesar Gobbi de Oliveira2
Karina Maria Salvatore Freitas3
Fabricio Pinelli Valarelli3

1
Especialista e Mestrando
em Ortodontia pelo Centro
Universitário Ingá, UNINGÁ, PELOSO, Renan Morais et al. Tratamento da má oclusão de classe II
Maringá – PR, Brasil. assimétrica com propulsor mandibular. SALUSVITA, Bauru, v. 38, n.
2
Doutora em Ortodontia pela 4, p. 1075-1091, 2019.
Universidade de São Paulo,
Bauru – SP, Brasil. Docente
do Centro Universitário Ingá –
UNINGÁ, Maringá – PR, Brasil. RESUMO
3
Doutor em Ortodontia pela
Universidade de São Paulo, Introdução: As más oclusões de classe II apresentam diversos
Bauru – SP, Brasil. Docente protocolos de tratamento, sendo que a cada dia mais estamos
do Mestrado em Odontologia
do Centro Universitário Ingá –
caminhando para uma ortodontia mais conservadora, fugindo sempre
UNINGÁ, Maringá – PR, Brasil. que possível de extrações dentárias. Uma ótima alternativa para o
tratamento em pacientes padrão II tem sido o uso de propulsores
mandibulares, que promovem uma correção dessa má oclusão. No
Recebido em: 09/09/2019 artigo em questão, será relatado o uso do aparelho Twin Force Bite
Aceito em: 26/12/2019

1075
Corrector na correção de uma classe II unilateral. Objetivo: relato PELOSO, Renan Morais
de caso de má oclusão com uso de propulsor mandibular. Método: et al. Tratamento da
tratamento em uma fase com a utilização de aparelho ortodôntico fixo má oclusão de classe
associado a um aparelho ortopédico fixo de propulsão mandibular, II assimétrica com
Twin Force Bite Corrector (TFBC). Resultado e Conclusão: O propulsor mandibular.
tratamento foi capaz de promover a redução do overjet, obtenção SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1075-1091, 2019.
de uma relação Classe I molar e canina estável com linhas médias
coincidentes e a melhora do perfil do tecido mole.

Palavras-chave: Má Oclusão de Classe II. Avanço mandibular.


Ortodontia. Técnicas de movimentação dentária.

ABSTRACT
Introduction: Class II malocclusions have several treatment
protocols, and we are increasingly moving towards more conservative
orthodontics, avoiding dental extractions whenever possible. A
great alternative for treatment in standard II patients has been the
use of mandibular protraction appliance, which promote correction
of this malocclusion. In the article in question will be reported the
use of the Twin Force Bite Corrector appliance in the correction of
a unilateral class II. Objective: case report of malocclusion with
mandibular propellant. Method: One-phase treatment with the use
of a fixed orthodontic appliance associated with a fixed mandibular
propulsion orthopedic appliance, Twin Force Bite Corrector (TFBC).
Result and Conclusion: The treatment was able to promote the
reduction of the overjet, obtaining a stable Class I molar and canine
relationship with coincident midlines and the improvement of the
soft tissue profile.

Keywords: Class II Malocclusion; mandibular advancement;


orthodontics; tooth movement

INTRODUÇÃO
A cada dia, mais indivíduos almejam uma harmonia do sorriso,
sendo que uma das maneiras mais utilizadas para isso é o tratamento
ortodôntico, que busca individualizar cada má oclusão para que o
tratamento mais eficaz seja eleito.
Dentre os problemas oclusais mais frequentes na população
ocidental, temos a oclusão classe II, que se caracteriza por uma

1076
PELOSO, Renan Morais relação incorreta entre a mandíbula e a maxila, podendo ser de
et al. Tratamento da origem esquelética, dentária ou ambas (PRAKASH et al., 2013;
má oclusão de classe SOOD, 2011). Sua característica mais comum é a presença de uma
II assimétrica com retrusão mandibular conforme demonstrado em estudos anteriores
propulsor mandibular. (BACCETTI et al., 1997; CLARK, 1988; FREITAS et al., 2005;
SALUSVITA, Bauru, v. 38, MCNAMARA, 1981; SOOD, 2011). Além disso, tem sido relatado
n. 4, p. 1075-1091, 2019.
que, na maioria das situações, a discrepância esquelética de Classe
II não se autocorrige com o crescimento e, portanto, o tratamento
ortodôntico visando corrigir a discrepância esquelética entre as
bases ósseas se torna necessário (STAHL et al., 2008).
Atualmente, os tratamentos da má oclusão de Classe II na
dentadura permanente em uma fase vêm se mostrando mais
eficientes em comparação ao protocolo de tratamento em duas
fases, com resultados oclusais e cefalométricos semelhantes em um
tempo de tratamento consideravelmente menor (CANÇADO et al.,
2009; CANÇADO et al., 2008; LIMA et al., 2013; LIVIERATOS;
JOHNSTON, 1995).
Neste artigo serão relatadas as diversas fases do tratamento de
uma paciente com má oclusão de Classe II assimétrica através da
ortodontia fixa convencional associada ao aparelho funcional fixo
Twin Force Bite Corrector (TFBC).

DIAGNÓSTICO
A paciente S. S. B. de 23 anos e 3 meses de idade apresentava
má oclusão de classe II divisão 1 subdivisão esquerda dentária,
trespasse vertical de 3,5 mm e trespasse horizontal de 4 mm. A
maxila e a mandíbula apresentavam-se retruídas, com grau maior
na mandíbula, sendo uma ANB de 5,13. O perfil facial é convexo.
Os arcos superiores e inferiores não apresentavam apinhamento,
apenas pequenos giros dentários. A queixa principal da paciente era
o espaço entre os dentes de cima e de baixo (trespasse horizontal).
Imagem 1 Imagem 2 Imagem 3

1077
Imagem 4 PELOSO, Renan Morais
et al. Tratamento da
má oclusão de classe
II assimétrica com
propulsor mandibular.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1075-1091, 2019.

Imagem 5

Imagem 6

1078
PELOSO, Renan Morais Imagem 7
et al. Tratamento da
má oclusão de classe
II assimétrica com
propulsor mandibular.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1075-1091, 2019.

Imagem 8

Imagens 4, 5, 6, 7, 8: fotos intra orais.

Imagem 9

1079
Imagem 10 PELOSO, Renan Morais
et al. Tratamento da
má oclusão de classe
II assimétrica com
propulsor mandibular.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1075-1091, 2019.

Imagens 9 e 10: raio-x panorâmico e cefalometria.

ALTERNATIVAS DE TRATAMENTO
Três opções de tratamento foram apresentadas à paciente:
1º opção - tratamento em uma fase com a utilização de aparelho
ortodôntico fixo associado a um aparelho ortopédico fixo de
propulsão mandibular, Twin Force Bite Corrector (TFBC), que foi
sugerido por apresentar algumas vantagens em relação a outros
aparelhos funcionais fixos, como não necessitar de fase laboratorial,
maior conforto para o paciente por permitir a execução dos
movimentos de lateralidade com ampla liberdade e menor tempo
de tratamento.
2º opção - tratamento através do uso de elásticos intermaxilares
para classe II.
3º opção – Exodontia dos primeiros pré-molares superiores.

A opção 1 foi eleita por ser eficiente, não necessitar da colaboração


do paciente e por dispensar extrações dentárias, preservando as
características do perfil facial.

1080
PELOSO, Renan Morais O PROPULSOR MANDIBULAR TWIN FORCE
et al. Tratamento da
má oclusão de classe BITE CORRECTOR (TFBC)
II assimétrica com
propulsor mandibular. O TFBC é um aparelho fixo de pressão fixado bilateralmente nos
SALUSVITA, Bauru, v. 38, arcos superior e inferior. Cada unidade é composta por dois cilindros
n. 4, p. 1075-1091, 2019. paralelos de 15 mm, que abrigam molas helicoidais de níquel-titânio.
Um êmbolo é incorporado em cada cilindro, em extremidades opostas.
Nas extremidades livres dos êmbolos, as porcas sextavadas fixam o
aparelho aos arcos, mesialmente aos molares superiores e distais aos
caninos inferiores. Uma força constante de aproximadamente 210g é
entregue em cada lado na compressão total. Uma vez que o aparelho
é movido por músculos, no entanto, sua magnitude de força exata é
difícil de quantificar.
Imagem 11

Imagem 11: apresentação do Aparelho Twin Force.

RELATO DE CASO
Foi realizada a instalação do aparelho fixo com braquetes
metálicos (prescrição Roth slot 0.022”) incluindo a colagem de
tubos nos segundos molares. Após 15 meses de tratamento os
dentes estavam alinhados e nivelados seguindo a progressão dos
fios até que arcos retangulares de aço de dimensão 0.019” x 0.025”
superior e inferior.
É necessário escolher o tamanho do aparelho Twin Force. Para
isso, colocamos o paciente na posição de máxima intercuspidação
habitual (MIH), medindo a distância da mesial do tubo do primeiro
molar superior até a distal do braquete do canino inferior. Se a medida
for entre 27 mm e 36 mm, utiliza-se o tamanho padrão, caso seja de
23 mm a 32 mm, utiliza-se o tamanho pequeno. No caso, usamos o
tamanho padrão.
Os arcos retangulares de aço foram dobrados 90º na distal dos
tubos dos primeiros molares superiores e inferiores, com a finalidade
de evitar que o fio corra e que a força do aparelho seja distribuída para

1081
todos os dentes superiores e inferiores (unidade dentária completa). PELOSO, Renan Morais
Os molares, pré-molares e caninos inferiores foram conjugados et al. Tratamento da
com um amarrilho metálico 0.010’’. Elásticos em forma de corrente má oclusão de classe
também podem ser utilizados no arco inferior, para minimizar a II assimétrica com
inclinação para vestibular dos incisivos inferiores. propulsor mandibular.
Tomados esses cuidados, seguimos com a instalação do Twin SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1075-1091, 2019.
Force, de modo que ele foi preso no fio, na região mesial ao primeiro
molar inferior e distal ao canino inferior. Na paciente em questão,
temos uma classe II assimétrica, então iremos posicionar no lado
esquerdo o aparelho fixado o mais próximo possível do dente 25 e do
dente 34, isso aliado ao fato de o lado da classe II apresentar menor
distância se comparado ao lado da classe I, promovendo assim ação
maior neste lado. A paciente foi alertada sobre os cuidados e as
consultas seguiram uma vez ao mês até atingir o resultado esperado.

Imagem 12

Imagem 13

1082
PELOSO, Renan Morais Imagem 14
et al. Tratamento da
má oclusão de classe
II assimétrica com
propulsor mandibular.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1075-1091, 2019.

Imagens 12, 13 e 14: aparelho Twin Force instalado na paciente.


(15 meses de tratamento)

O aparelho propulsor foi removido quando o paciente apresentou


a mandíbula em posição de relação cêntrica (RC), uma relação molar
sobrecorrigida, ou seja, uma relação de Classe III (1 a 2 mm da
relação de Classe I) (JANSON et al., 2003).
Foi relatada uma tendência de recidiva e retorno à má oclusão de
Classe II, da sobremordida e da sobressaliência (PANCHERZ, 1997;
WIESLANDER, 1993). Por isso, necessitamos dessa sobrecorreção.
O Twin Force foi utilizado por quatro meses.

Imagem 15

1083
Imagem 16 PELOSO, Renan Morais
et al. Tratamento da
má oclusão de classe
II assimétrica com
propulsor mandibular.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1075-1091, 2019.

Imagem 17

Imagem 18

1084
PELOSO, Renan Morais Imagem 19
et al. Tratamento da
má oclusão de classe
II assimétrica com
propulsor mandibular.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1075-1091, 2019.

Imagem 20

Imagem 21

1085
Imagem 22 PELOSO, Renan Morais
et al. Tratamento da
má oclusão de classe
II assimétrica com
propulsor mandibular.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1075-1091, 2019.

Imagens 15, 16, 17. 18, 19, 20, 21 : Fotos intra bucais e raio-x com
20 meses de tratamento.

Após 20 meses de tratamento, foram usados elásticos


intermaxilares 5/16’’ de intercuspidação por mais três meses para
manter a relação dentária de classe I. Durante essa fase final,
foram feitas dobras de primeira e segunda ordem para melhor
finalizar o caso, sendo o aparelho fixo removido com 25 meses de
tratamento. Como contenção, foi utilizada uma placa de Hawley
com arco vestibular contínuo na arcada superior e uma contenção
fixa 3x3 inferior.

1086
PELOSO, Renan Morais Imagem 23 Imagem 24
et al. Tratamento da
má oclusão de classe
II assimétrica com
propulsor mandibular.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1075-1091, 2019.

Imagem 25

Imagem 26

1087
PELOSO, Renan Morais
et al. Tratamento da
Imagem 27 má oclusão de classe
II assimétrica com
propulsor mandibular.
SALUSVITA, Bauru, v. 38,
n. 4, p. 1075-1091, 2019.

Imagem 28

Imagem 29

Imagens 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29,: Fotos finais da face e intra bucais.

1088
PELOSO, Renan Morais CONCLUSÃO
et al. Tratamento da
má oclusão de classe
II assimétrica com
O tratamento foi capaz de promover a redução do overjet, obtenção
propulsor mandibular. de uma relação Classe I molar e canina estável com linhas médias
SALUSVITA, Bauru, v. 38, coincidentes e a melhora do perfil do tecido mole.
n. 4, p. 1075-1091, 2019. A correção da má oclusão de Classe II com o aparelho funcional
fixo se mostrou eficaz e de fácil uso, ocorrendo correção da oclusão,
principalmente por conta das alterações de natureza dentoalveolar
(SOOD, 2011; UPADHYAY et al., 2012.). Havendo verticalização
dos incisivos superiores, vestibularização dos incisivos inferiores,
movimento para distal dos dentes superiores e movimento para
mesial dos dentes inferiores.

1089
REFERÊNCIAS PELOSO, Renan Morais
et al. Tratamento da
má oclusão de classe
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1091
TERAPIA FOTODINÂMIA COMO
COADJUVANTE NO TRATAMENTO
DA OSTEONECROSE DOS
MAXILARES ASSOCIADA AO USO DE
MEDICAMENTOS (OMAM)
Photodynamic therapy as a coadjuvant
in the treatment of medication-related
osteonecrosis of the jaw (MRONJ)

Smyrna Luiza Ximenes de Souza1


Manoel Pereira de Lima2
José Almeida de Lima Júnior2
Ruth Venâncio Fernandes Dantas2
Raimundo Euzébio da Costa Neto2

1
Especialista e Mestrando
em Ortodontia pelo Centro
Universitário Ingá, UNINGÁ, SOUZA, Smyrna Luiza Ximenes de et al. Terapia fotodinâmia como
Maringá – PR, Brasil. coadjuvante no tratamento da osteonecrose dos maxilares associada
2
Doutora em Ortodontia pela ao uso de medicamentos (OMAM). SALUSVITA, Bauru, v. 38, n. 4,
Universidade de São Paulo, p. 1093-1105, 2019.
Bauru – SP, Brasil. Docente
do Centro Universitário Ingá –
UNINGÁ, Maringá – PR, Brasil.
RESUMO
Introdução: Osteonecrose dos Maxilares Associada ao Uso de
Medicamentos (OMAM) foi diagnosticada pela primeira vez em
2003. É caracterizada pela presença de osso necrosado exposto
na região maxilofacial com persistência de mais de oito semanas
em pacientes que não tenham história de radioterapia em cabeça
Recebido em: 29/07/2019 e pescoço e que tenham feito uso prévio ou atual de bisfosfonatos
Aceito em: 01/10/2019

1093
ou terapias antiangiogênicas. Tem significativa morbidade, afetando SOUZA, Smyrna Luiza
negativamente a qualidade de vida de seu portador, pois pode Ximenes de et al.
haver dor, exposição óssea, edema, infecção, parestesia, halitose, Terapia fotodinâmia
mobilidade dentária e secreção purulenta. Como não há ainda como coadjuvante
no tratamento da
uma etiologia totalmente definida, não existe um padrão ouro de osteonecrose dos
protocolo para seu tratamento. Desta forma, a terapia fotodinâmica maxilares associada ao
(PDT) surge como um tratamento alternativo devido ao seu efeito uso de medicamentos
antimicrobiano. Objetivo: trata-se uma revisão de literatura acerca (OMAM). SALUSVITA,
do uso da PDT como tratamento auxiliar ou coadjuvante da OMAM. Bauru, v. 38, n. 4, p.
1093-1105, 2019.
Método: Para tal, foi realizada uma busca de artigos científicos
publicados entre 2014 e 2018 em língua inglesa e portuguesa,
disponíveis nas bases de dados Medical Publications e Scientific
Eletronic Library Online. Conclusão: verificou-se que, apesar de
não se ter clareza acerca de um protocolo definido para tratamento
da OMAM, a PDT tem se mostrado como uma terapia promissora,
na medida em que tem levado a reiterados sucessos no auxílio para
a cura desta enfermidade.

Palavras-chave: Osteonecrose. Terapia fotodinâmica. Laser.

ABSTRACT
Introduction: Medication-related osteonecrosis of the jaw
(MRONJ) was first diagnosed in 2003. It is characterized by the
presence of exposed necrotic bone in the maxillofacial region with
persistence of more than eight weeks in patients with no history of
head and neck radiotherapy and that have made prior or current use
of bisphosphonates or antiangiogenic therapies. It has significant
morbidity, negatively affecting the quality of life of its bearer, since
there may be pain, bone exposure, edema, infection, paresthesia,
halitosis, dental mobility and purulent secretion. As there is not
yet a fully defined etiology, there is no gold standard protocol for
its treatment. Thus, photodynamic therapy (PDT) emerges as an
alternative treatment due to its antimicrobial effect. Objective:
The aim of this study was a literature review about the use of PDT
as an auxiliary or co-adjutant treatment of MRONJ. Method: It
was made a search of scientific papers published between 2014
and 2018, in English and in Portuguese, available in Medical
Publications and Scientific Electronic Library Online databases.
Conclusion: In this way, although a define protocol for treatment
of MRONJ is not clear yet, it was verified that the PDT has shown

1094
SOUZA, Smyrna Luiza as a promising therapy as far as it has led to repeated successes in
Ximenes de et al. the aid for the cure o this disease.
Terapia fotodinâmia
como coadjuvante Keywords: Osteonecrosis. Photochemotherapy. Lasers.
no tratamento da
osteonecrose dos
maxilares associada ao
uso de medicamentos INTRODUÇÃO
(OMAM). SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, p. A American Association of Oral and Maxillofacial Surgeons
1093-1105, 2019. (AAOMS) definiu, em 2009, a Osteonecrose dos Maxilares
relacionada aos Bisfostonatos (OMB) como sendo a presença
de osso exposto e necrosado na região maxilofacial que tenha
persistência de mais de oito semanas em pacientes sem história de
radioterapia em cabeça e pescoço e com tratamento prévio ou atual
com bisfosfonatos ou terapias antiangiogênicas (FLORES et al.,
2016; HEGGENDORN et al., 2016; KOTH, et al., 2016; CASTRO
et al., 2016). Os achados clínicos mais comuns são a presença de
dor, exposição óssea, edema em tecido mole, infecção, parestesia,
halitose, mobilidade dentária e secreção purulenta (HEGGENDORN
et al., 2016; KOTH et al., 2016).
Posteriormente, em 2014, devido a inúmeras pesquisas e
também ao se relacionar a osteonecrose não somente com o uso
de bisfosfonatos, mas também ao uso de terapias antiangiogênicas,
a AAOMS mostrou outro posicionamento, alterando o nome da
condição para Osteonecrose dos Maxilares Relacionada ao uso de
Medicamentos (OMAM). Mesmo tendo havido esta mudança de
nomenclatura, a osteonecrose dos maxilares é considerada ainda
como um efeito colateral da terapia com bisfosfonatos (FLIEFEL et
al., 2015; ALTAY et al, 2018). A OMAM é associada com significante
morbidade, afeta negativamente a qualidade de vida de seu portador
e é um desafio no que se refere ao tratamento (BETH-TASDOGAN
et al., 2017).
Bisfosfonatos são similares sintéticos do pirofosfato endógeno,
que se trata de um regulador fisiológico da calcificação e
da reabsorção óssea. Tem capacidade de induzir direta ou
indiretamente a apoptose dos osteoclastos ou até mesmo inativá-
los, inibindo assim sua função de reabsorção, causando redução da
densidade óssea (FLORES et al., 2016). Quando administrados, os
bisfosfonatos se dirigem rapidamente em direção óssea devido a sua
alta afinidade por hidroxiapatita e se acumulam através do tempo
(HEGGENDORN et al., 2016).
Devido a tal capacidade, os bisfosfonatos são utilizados no
tratamento de osteoporose, doença de Paget, mieloma múltiplo,

1095
metástases ósseas de tumores malignos como cânceres de mama, SOUZA, Smyrna Luiza
próstata, rim e pulmão, com a finalidade de redução no acometimento Ximenes de et al.
de fraturas ósseas pela melhora na qualidade mineral (FLORES et Terapia fotodinâmia
al.,2016; KOTH et al., 2016). A depender da patologia a ser tratada, os como coadjuvante
bisfosfonatos podem ser prescritos de forma mais ou menos potente. no tratamento da
Por exemplo, na osteoporose uma possível escolha é o alendronato, osteonecrose dos
maxilares associada ao
que, sendo menos potente, restringe a função dos osteoclastos de
uso de medicamentos
uma forma menos severa. Já nas metástases ósseas, o pamidronato (OMAM). SALUSVITA,
e o zolendronato, mais potentes, são os de escolha, já que inibem Bauru, v. 38, n. 4, p.
os osteoclastos irreversivelmente, causando toxicidade direta que os 1093-1105, 2019.
leva à morte celular.
O Ácido Zoledrônico é um bisfosfonato de terceira geração, de
grande potência (se comparado ao Etidronato, é 10.000 vezes mais
potente), nitrogenado e administrado por via endovenosa. É, por
estas razões, o principal associado à OMAM (HEGGENDORN et
al., 2016; FLORES et al., 2016).
Medidas preventivas da OMAM são o melhor caminho a seguir.
Deve haver uma completa avaliação odontológica antes que a terapia
com bisfosfonatos seja iniciada, a fim de se identificar e debelar a
presença de infecções e dentes com comprometimentos e assim
se possa minimizar quaisquer chances de sua manifestação. É
importante solucionar todas as condições que requeiram remodelação
óssea ou o risco de dano na mucosa neste período pré-terapia com
bisfosfonatos. Manter uma ótima higiene oral é de suma importância
(FLORES et al., 2016; HEGGENDORN et al., 2016).
Ainda não há um padrão ouro para o tratamento da OMAM visto
que, mesmo com tantos estudos desde o seu surgimento, sua etiologia
não foi ainda totalmente delineada. O manejo para seu controle tem
sido centrado nos esforços para eliminar ou reduzir a gravidade dos
sintomas, para diminuir ou prevenir a progressão da doença e para
erradicar o osso afetado (FLIEFEL et al., 2015). Salienta Weber et
al. (2015) que o principal objetivo do tratamento da OMAM deveria
ser a melhora da qualidade de vida do paciente através da gerência
da dor e da infecção, a fim de prevenir o desenvolvimento de novas
lesões e de diminuir a progressão das lesões já existentes.
Pacientes tratados com antibioticoterapia local ou sistêmica,
oxigenação hiperbárica ou mesmo debridamento cirúrgico não tem
tido sucesso a ponto de se afirmar que houve sua cura. Rodrigues et
al. (2016), relataram um caso de uso de ozonioterapia com aplicações
ao redor da lesão de necrose e também no conduto do elemento
dentário que estava sob tratamento, fazendo-se uso das propriedades
bactericidas e regenerativas do ozônio, com regressão da lesão e
recuperação de densidade óssea.

1096
SOUZA, Smyrna Luiza A terapia fotodinâmica (PDT) surge como um tratamento
Ximenes de et al. alternativo ao uso de agentes antimicrobianos tradicionais, ainda
Terapia fotodinâmia mais na cavidade bucal, na qual a superfície óssea exposta nos casos
como coadjuvante de OMAM está em constante contato com a saliva, impedindo assim
no tratamento da que o meio se mantenha estéril favorecendo a cura da infecção. Já está
osteonecrose dos estabelecida como um método associado ao tratamento de infecções
maxilares associada ao
bacterianas orais, como periodontites e periimplantites (HAFNER et
uso de medicamentos
(OMAM). SALUSVITA, al., 2015). Corroborando o aumento de microrganismos resistentes à
Bauru, v. 38, n. 4, p. terapia antibiótica, a PDT tem surgido como uma terapia alternativa
1093-1105, 2019. promissora (CASTRO et al., 2016).
A PDT se caracteriza pelo uso de um agente cromóforo
(normalmente azul de metileno) no local afetado que atraia para
si a luz LASER (Light Amplification by Stimulated Emission of
Radiation) de baixa potência e inicie a reação fotoquímica que levará
à danificação de componentes essenciais das células ou à alteração
das atividades metabólicas de maneira irreversível, resultando assim
na morte bacteriana. O LASER apresenta vantagens quando utilizado
na terapia fotodinâmica, por ser uma luz colimada e coerente e
possuir mais de 90% de eficiência (PRAZMO et al., 2016).
Sobre o desenvolvimento da OMAM, ainda não é totalmente claro
se a necrose precede ou se vem após o processo infeccioso, mas é
certo que há a presença de microrganismos do biofilme na superfície
do osso necrosado. Assim sendo, uma vez que várias pesquisas
têm demonstrado os efeitos antimicrobianos da PDT (WEBER,
CAMILOTTI, PONTE, 2015; PRAZMO et al., 2016), esta pode
representar uma terapia adjuvante no tratamento da osteonecrose.
Entretanto, a evidência científica atual sobre o uso desta terapia na
osteonecrose se resume a poucos estudos. Portanto, mais estudos são
necessários a fim de comprovar o efeito da PDT na OMAM.
Diante disto, o presente estudo objetiva proceder a uma revisão de
literatura acerca da utilização da PDT como um meio de tratamento
auxiliar nos casos de OMAM, enfatizando suas vantagens, aplicações
e estudos realizados.

MATERIAIS E MÉTODO
O presente estudo se caracteriza como uma revisão de literatura
com abordagem relacionada ao uso da PDT na prevenção de OMAM.
Realizou-se uma revisão de literatura fundamentada em artigos
científicos publicados entre 2014 e 2018. Para a sua execução foi
utilizada a ferramenta de busca existente no próprio ambiente virtual
das bases de dados Medical Publications (PubMed) e Scientific

1097
Electronic Library Online (SciELO) com descritores extraídos da SOUZA, Smyrna Luiza
terminologia Descritores em Ciências da Saúde (DECs), quais sejam: Ximenes de et al.
Medication-related Osteonecrosis of the Jaw, Photochemotherapy e Terapia fotodinâmia
Laser, tendo como operador booleano “AND”. como coadjuvante
Os artigos que atenderam aos critérios de elegibilidade (resumo no tratamento da
relacionado ao tema e texto em inglês ou em português) foram osteonecrose dos
maxilares associada ao
selecionados para leitura. Primeiramente, a seleção dos artigos foi
uso de medicamentos
realizada de acordo com sua relevância para o tema proposto, por (OMAM). SALUSVITA,
meio de leituras exploratórias dos respectivos resumos. Após, o Bauru, v. 38, n. 4, p.
conteúdo dos artigos foi analisado integralmente e as informações 1093-1105, 2019.
pertinentes foram separadas. Excluíram-se artigos cujos resumos
não demonstraram relação com o tema e os artigos escritos em
outras línguas que não a inglesa ou a portuguesa.

Resultados e discussão
Mesmo com muitos estudos já publicados sobre a OMAM desde
seu primeiro relato, sua patogenia exata ainda não é claramente
conhecida. Algumas teorias têm sido propostas para explicá-la,
como, por exemplo, a que seria induzida pelo sucessivo acúmulo
dos bisfosfonatos nos ossos, o que levaria à total inibição da função
osteoclástica. Também poderia ser resposta a alguma infecção – os
bisfosfonatos agem na modulação da resposta imune a diferentes
tipos celulares, e isto poderia facilitar uma reação a patógenos
presentes no biofilme. Não obstante, as espécies do gênero
Actinomyces são encontradas em muitos dos casos de OMAM, o
que corrobora esta teoria. Outra possibilidade teria a OMAM como
resultado de uma isquemia provocada pelo efeito antiangiogênico
dos bisfosfonatos. Além destas, é possível que o acúmulo e a
toxicidade dos bisfosfonatos poderiam, se combinados com
medicações antineoplásicas, levar a danos na mucosa que causariam
exposição óssea e consequente OMAM (HEGGENDORN et al.,
2016; BARROS SILVA et al., 2015).
Barros Silva et al. (2015), assim como Flores et al. (2016), denotam
que o principal fator de risco da OMAM é o trauma cirúrgico advindo
de procedimentos odontológicos cruentos. Da mesma forma, salienta
Fliefel et al. (2015), que lesões de OMAM ficam silenciosas até que
ocorra um fato gerador, um gatilho. A maioria dos casos relatados
da patologia ocorre após exodontias, que elevam seu risco em até
dezessete vezes. Outro fator de risco é a doença periodontal que
pode aumentar a quantidade de bisfosfonato liberado, e eleva o
risco em mais de doze. Pode-se, desta forma, pensar num cenário

1098
SOUZA, Smyrna Luiza em que o trauma aos tecidos moles da boca representaria o evento
Ximenes de et al. inicial de OMAM, e a liberação de bisfosfonato da camada óssea
Terapia fotodinâmia subjacente para a mucosa ao redor resultaria em uma inibição local
como coadjuvante da cura da ferida, com subsequente espalhamento ósseo. A American
no tratamento da Association of Oral and Maxillofacial Surgeons (AAOMS) diz que
osteonecrose dos os fatores de risco para o desenvolvimento da OMAM podem ser
maxilares associada ao
agrupados em relacionados a droga, locais, demográficos, sistêmicos,
uso de medicamentos
(OMAM). SALUSVITA, genéticos e preventivos.
Bauru, v. 38, n. 4, p. Não havendo uma clareza na etiologia da OMAM, ainda não
1093-1105, 2019. existe um padrão ouro para seu tratamento. A American Association
of Oral and Maxillofacial Surgeons estabeleceu estratégias de
manejo para a OMAM de acordo com estágios de gravidade da
doença, como mostra a Quadro 1.

Quadro 1 - Estágios e estratégias de manejo da OMAM


Estágios Estratégias de Manejo
Categoria de risco: ausência de
exposição óssea em pacientes Nada a fazer; somente orientar
tratados com bisfosfonato oral o paciente quando ao uso da
ou intravenoso. medicação.

Estágio 0: Ausência de aparente


osteonecrose e presença de Manejo sistêmico com
sinais e sintomas clínicos antibióticos e analgésicos, se
inespecíficos necessários.

Enxaguante bucal com


Estágio 1: Presença de antibióticos; acompanhamento
osso necrótico em paciente mensal; orientações ao paciente e
assintomático e ausência de considerações sobre manutenção
infecção do uso de bisfostonatos.

Enxaguante bucal com


Estágio 2: Presença de osso antibióticos; manejo da dor;
necrótico e de infecção, com dor prescrição de antibióticos e
e edema na área afetada, com analgésicos; debridamento ósseo
ou sem coleção purulenta para alívio de tecido mole

1099
Estágio 3: Presença de osso SOUZA, Smyrna Luiza
necrótico e de infecção, e Ximenes de et al.
também presença de um Terapia fotodinâmia
ou mais dos seguintes: Enxaguante bucal com como coadjuvante
osteonecrose se estendendo antibióticos; manejo da dor; no tratamento da
pelo osso alveolar, fratura óssea prescrição de antibióticos e osteonecrose dos
patológica, fístula extraoral, analgésicos, debridamento ósseo maxilares associada ao
comunicação oronasal, cirúrgico ou ressecção óssea. uso de medicamentos
osteólise se estendendo pela (OMAM). SALUSVITA,
borda mandibular inferior ou
Bauru, v. 38, n. 4, p.
assoalho sinusal
1093-1105, 2019.
Fonte: American Association of Oral and Maxillofacial Surgeons

Há sugestões de protocolos que têm sido aceitas (HEGGENDORN


et al., 2016; KOTH et al., 2016; CASTRO et al., 2016). Flores et al.
(2016) vão um pouco além e afirmam que nem mesmo a interrupção
do uso do bisfosfonato parece trazer resultado, já que ele se acumula
no tecido ósseo, tendo uma meia-vida longa. Pacientes tratados
com antibioticoterapia local ou sistêmica, oxigenação hiperbárica
ou mesmo debridamento cirúrgico não tem tido sucesso a ponto de
evoluir para a cura da patologia, o que a torna uma condição ainda
mais complexa para o paciente, porque a exposição óssea aumenta a
chance de instalação de infecção local, que por sua vez não cede ao
uso de antibióticos, especialmente em pacientes oncológicos que já
possuem imunidade comprometida.
Hortobagyi et al. (2018) avaliaram o potencial de acúmulo do
bisfosfonato do tipo zolendronato no tecido ósseo, considerando
que ele é utilizado como tratamento padrão de metástases ósseas
em pacientes com tumores sólidos, como os dos cânceres de mama
e de próstata, e é utilizado por períodos maiores que um ano. Esse
tempo de administração desta droga pode levar a reações adversas
como fraturas ósseas e OMAM. Sugeriram que este tempo não
leva à saturação óssea e que sua administração pode ser feita de
forma segura.
Hafner et al. (2016) afirmam não ser claro se a infecção da OMAM
é primária ou secundária, mas dizem não haver dúvidas de que o
seu tratamento deve incluir terapia antimicrobiana sistêmica. Como
biofilmes associados ao osso necrótico em pacientes com OMAM
são resistentes a tal terapia, deve-se combinar a remoção cirúrgica
de tal tecido ósseo. Salientam também a importância da PDT como
um método de tratamento adjuvante às doenças orais bacterianas.
Em sua pesquisa utilizaram uma cepa de Actinomyces naeslundii
isolada de um paciente portador de OMAM para determinar a ação
bactericida do PDT contra a mesma. Conseguiram demonstrar a

1100
SOUZA, Smyrna Luiza efetiva morte bacteriana no grupo tratado com PDT, em comparação
Ximenes de et al. com os grupos tratados com clorexidina e com polihexadina.
Terapia fotodinâmia A pesquisa de Statkievicz et al. (2014) objetivou avaliar o efeito
como coadjuvante da PDT e da terapia com laser de baixa intensidade no processo de
no tratamento da reparo alveolar em ratas que receberam administração de zoledronato
osteonecrose dos a cada dois dias por sete semanas e nas quais foi realizada exodontia
maxilares associada ao
do primeiro molar inferior esquerdo ao final da terceira semana
uso de medicamentos
(OMAM). SALUSVITA, (como fator de risco para a instalação da OMAM). O laser de baixa
Bauru, v. 38, n. 4, p. intensidade ou a PDT foram realizadas por três vezes, nos dias 0, 2 e
1093-1105, 2019. 4 após as exodontias. Perceberam que ambas as terapias são capazes
de melhorar os eventos que se relacionam ao processo de reparo
alveolar, porém a PDT se mostrou mais efetiva, chegando os autores
a sugeri-la como uma alternativa de terapia preventiva para que se
evite o desencadear da OMAM após exodontias.
Dois casos de OMAM tratados de forma complementar com
PDT e com a colocação de membranas autólogas de plasma rico
em fibrina (PRF) no tecido ósseo afetado, visando a estimulação e
a aceleração da sua regeneração foram relatados por Castro et al.
(2016). Em ambos os casos, as pacientes eram do sexo feminino,
haviam feito uso de bisfosfonato (Alendronato 70mg) e foram
diagnosticadas como portadoras de OMAM. A paciente do primeiro
caso apresentava uma fístula extraoral na região submentoniana,
dor e história de extração de um dente inferior dois anos antes. Foi
medicada com antibiótico e anti-inflamatório e teve melhora clínica.
Porém houve a necessidade de debridamento cirúrgico da lesão com
a aplicação de PDT no momento da cirurgia e colocação de PRF no
local afetado antes da sutura. Já a paciente do segundo caso tinha
presença de coleção purulenta, exposição de osso necrótico e dor na
região anterior da mandíbula e história de tratamento endodôntico
nos elementos 42 e 43. Seguiu o mesmo protocolo de medicamentos
e cirurgia, mas não fez uso da PDT – após quatro meses, uma nova
intervenção cirúrgica foi necessária, desta vez com o uso da PDT.
No primeiro caso houve cura da área cirurgiada com neoformação
óssea 10 meses após o tratamento realizado; no segundo, 14 meses
após a segunda cirurgia. Os autores constataram que a PDT e a PRF
aceleraram significativamente a cura da lesão óssea.
Assim como Castro et al. (2016), Gaudice et al. (2018) avaliaram
a eficácia da PRF comparando um grupo de pacientes que a utilizou
após tratamento cirúrgico com um grupo de pacientes que somente
teve tratamento cirúrgico. Porém sem a utilização de PDT. Foram
avaliados: integridade da mucosa, ausência de infecção e dor em
acompanhamentos de um mês, seis meses e um ano. Verificaram
que os pacientes do grupo tratado com PRF tiveram uma diferença

1101
significativa de melhora no quadro clínico no primeiro mês de SOUZA, Smyrna Luiza
acompanhamento, sugerindo, desta forma, que a aplicação de PRF Ximenes de et al.
após cirurgia óssea pode aumentar a qualidade de vida a curto prazo, Terapia fotodinâmia
além de reduzir a dor e infecções pós-operatórias. como coadjuvante
Embora a laserterapia tenha sido usada juntamente com o no tratamento da
corante, caracterizando a PDT, Heggendorn et al. (2016) relataram osteonecrose dos
maxilares associada ao
uma abordagem terapêutica utilizando somente a luz LASER de
uso de medicamentos
baixa intensidade sem o corante em uma paciente com uma lesão (OMAM). SALUSVITA,
mandibular de exposição de osso necrosado com progressão de sete Bauru, v. 38, n. 4, p.
meses que apareceu após a paciente fazer a instalação de uma nova 1093-1105, 2019.
prótese parcial inferior. Não coincidentemente, a paciente estava
fazendo uso de zolendronato há quase três anos. O tratamento
constou do uso tópico de clorexidina a 0,2% duas vezes ao dia e
interrupção do uso da prótese por dois meses. No entanto, como
houve aumento da lesão, foi utilizada irrigação semanal de uma
solução de 1:1 de iodato de potássio e peróxido de hidrogênio e
uso diário de enxaguante bucal de clorexidina a 0,12%. Na terceira
semana, houve um sequestro ósseo espontâneo e a paciente se
disse assintomática. Após 35 dias, foi iniciado protocolo com cinco
sessões de Laserterapia de baixa intensidade. Com isso, após dois
meses, houve redução da área óssea exposta e reepitelização parcial
da mucosa.
Partindo do pressuposto do uso da Laserterapia de baixa
intensidade, Minamisako et al. (2016) propuseram, em seu estudo
de caso controle, avaliar a sua efetividade e a da PDT no manejo
da OMAM. Um paciente do sexo masculino, 85 anos de idade,
apresentou exposição óssea de aproximadamente 1.5 centímetros
em sulco vestibular direito da maxila juntamente com dor e coleção
purulenta. Fazia uso de alendronato 70mg uma vez por semana
nos últimos oito anos. Foi realizado tratamento conservador com
antibioticoterapia e aplicação tópica de clorexidina a 0,12% na lesão
diariamente. Ademais, como terapia coadjuvante, foi realizada
semanalmente PDT e aplicação de laser de baixa intensidade.
Houve cura da lesão óssea após doze meses. O paciente teve
acompanhamento quinzenal durante seis meses e foi observado que
não houve recorrência da OMAM.
Minamisako et al. (2016) ainda salientam que a Laserterapia
de baixa intensidade promove bioestimulação tecidual, analgesia e
otimiza a evolução clínica da lesão quando comparada ao tratamento
convencional realizado sozinho. Aliada à PDT, traz ao paciente
também o benefício da morte microbiana sem causar a resistência
bacteriana característica dos antibióticos. Ambas as terapias não têm
efeitos colaterais associados.

1102
SOUZA, Smyrna Luiza Poli et al. (2018) reportaram um caso com uma paciente de 62 anos
Ximenes de et al. de idade que fez uso de injeções de clodronate 100mg /semana por
Terapia fotodinâmia três anos. Ela apresentou osso necrótico exposto, mucosa inflamada
como coadjuvante e dor quatro meses após uma extração dentária na região de forame
no tratamento da mandibular. O tratamento proposto foi antibioticoterapia por vinte
osteonecrose dos dias, sequestromia com debridamento e PDT para descontaminação
maxilares associada ao
dos tecidos duros e moles uma vez por semana por dois meses. O
uso de medicamentos
(OMAM). SALUSVITA, resultado foi satisfatório com cura da lesão e não houve recidiva em
Bauru, v. 38, n. 4, p. um acompanhamento de seis meses.
1093-1105, 2019. A presença de microrganismos e consequente biofilme nas lesões
de osso necrosado, características da OMAM, por si só já mostram a
importância que a PDT pode vir a ter em seu tratamento, na medida
em que ela leva à morte destes microrganismos, favorecendo, desta
forma, a cura de tais lesões.

CONCLUSÕES

Os fatores chave para o sucesso no tratamento da OMAM ainda
não foram identificados com precisão. Além do mais, a comparação
de inúmeros tratamentos e pesquisas não parece trazer mais clareza,
na medida em que a própria definição de sucesso no tratamento não
está bem definida na literatura.
A PDT tem se mostrado como uma terapia alternativa
promissora, não invasiva e que não gera desconforto ao paciente.
Além do mais, é um comprovado tratamento antimicrobiano
que não traz consigo a possibilidade de resistência bacteriana
observada na antibioticoterapia.

1103
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Ximenes de et al.
Terapia fotodinâmia
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1105
Repercussão da anquiloglossia
em neonatos: diagnóstico,
classificação, consequências
clÍnicas e tratamento
Repercussion of ankyloglossia in neonates:
diagnosis, classification, clinical consequences
and treatment

Érica Maria Gomes de Arruda¹


Fernanda Campos²
Rodrigo Gadelha Vasconcelos²
Marcelo Gadelha Vasconcelos²

1
Acadêmico do curso de ARRUDA, Érica Maria Gomes de et al. Repercussão da anquiloglossia
graduação em odontologia em neonatos: diagnóstico, classificação, consequências clÍnicas e
da Universidade Estadual da tratamento. SALUSVITA, Bauru, v. 38, n. 4, p. 1107-1126, 2019.
Paraíba-UEPB, Araruna-PB,
Brasil.
2
Professor(a) Doutor(a)
efetivo(a) da Universidade RESUMO
Estadual da Paraíba-UEPB,
Araruna-PB, Brasil.
Introdução: A anquiloglossia é uma anomalia congênita que
envolve alterações morfofuncionais no frênulo lingual e que pode
estar atrelada às condições genéticas; apresentando-se em maior
frequência no sexo masculino; e caracteriza-se por limitar os
movimentos linguais. Com isso, pode contribuir na disfunção do
sistema estomatognático, desencadear prejuízos na amamentação e
Recebido em: 19/09/2019 comprometer o desenvolvimento craniofacial do neonato. Objetivo:
Aceito em: 22/12/2019

1107
As divergentes opiniões encontradas promovem um quadro de ARRUDA, Érica
incerteza na escolha do protocolo de avaliação ou na intervenção, Maria Gomes de et
impulsionando assim a realização deste artigo. O presente artigo al. Repercussão da
objetivou revisar a literatura de modo a desenvolver o conhecimento anquiloglossia em
nos protocolos de avaliação para o diagnóstico da anquiloglossia, neonatos: diagnóstico,
analogamente verificar as interferências condicionadas por esta classificação,
consequências clÍnicas e
anomalia no sistema estomatognático e observar as formas de
tratamento. SALUSVITA,
tratamento para liberação do frênulo lingual. Materiais e Métodos: Bauru, v. 38, n. 4,
Foi realizada uma revisão de literatura de estudos anteriores com p. 1107-1126, 2019.
acesso possibilitado pelo PubMED/Medline, Lilacs, Scielo, Scopus;
estabelecido o critério de artigos recém-publicados, no intervalo
de 2015-2019. Conclusão: Assim, a ausência de um método de
identificação que se enquadre em um padrão ouro revela a necessidade
de realização de mais estudos sobre um protocolo mais eficaz
para diagnóstico e classificação dessa anomalia, pois um método
com maior nível de exatidão evitará intervenções inoportunas, e
promoverá o conhecimento básico para realização do tratamento
adequado para cada quadro de anquiloglossia.

Palavras-chaves: Anquiloglossia. Frênulo lingual. Frenectomia.


Frenotomia.

ABSTRACT
Introduction: Ankyloglossia is a congenital anomaly involving
morphofunctional changes in the lingual frenulum and which may be
linked to genetic conditions; presenting more frequently in males; it
is characterized by limiting lingual movements, which can contribute
to the dysfunction of the stomatognathic system, triggering losses
in breastfeeding and compromising the craniofacial development of
the newborn. Objective: The divergent opinions found promote a
picture of uncertainty in the choice of the evaluation protocol or
intervention, thus driving the realization of this article. This article
aimed to review the literature in order to develop knowledge in the
assessment protocols for the diagnosis of ankyloglossia, similarly
to verify the interferences conditioned by this anomaly in the
stomatognathic system and to observe the forms of treatment for
release of the lingual frenulum. Materials and Methods: A literature
review of previous studies with access made possible by PubMED /
Medline, Lilacs, Scielo, Scopus; the criterion for newly published
articles in the 2015-2019 range was established. Conclusion: Thus,
the absence of a gold-standard identification method reveals the

1108
ARRUDA, Érica need for further studies on a more effective protocol for diagnosing
Maria Gomes de et and classifying this anomaly, as a more accurate method will avoid
al. Repercussão da inappropriate interventions, and will promote the basic knowledge
anquiloglossia em for carrying out the appropriate treatment for each ankyloglossia
neonatos: diagnóstico, picture.
classificação,
consequências clÍnicas e
Keywords: Ankyloglossia. Lingular pendulum. Frenectomy.
tratamento. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, Frenotomy.
p. 1107-1126, 2019.

INTRODUÇÃO
A língua é um órgão constituído por feixes de grupos musculares
intrínsecos e extrínsecos. Está localizada na cavidade oral,
representando grande parte do assoalho bucal. A ação dos músculos
da língua reflete na capacidade dinâmica.
O frênulo lingual é prega conjuntiva fibrinodensa permite
a aproximação do ventre da língua ao assoalho bucal. Caso,
ocasionalmente, surjam alterações durante o desenvolvimento
embrionário nesse frênulo, pode-se levar ao surgimento de um
quadro de anquiloglossia, o qual pode ser compensado com o
desenvolvimento das estruturas anatômicas ou interferência na ação
mecânica da língua (POMPEIA et al., 2017).
De acordo com Mundool et al. (2017), a aquiloglossia é uma
anomalia congênita, responsável por restringir movimentos
de protrusão ou de lateralidade da língua. Caracteriza-se por
um frênulo lingual curto e espesso. Abrange uma taxa de 1,7%
a 10,7% dos neonatos, e pode apresentar relação com fatores
genéticos, sendo comumente encontrados em recém-nascidos do
sexo masculino, podendo variar quanto ao grau de severidade
(NEVILLE et al., 2016).
Autores como Pompeia et al. (2017) apontam a relação entre a
anquiloglossia e o desencadeamento de prejuízos morfofuncionais
no sistema estomatognático decorridos do inadequado movimento
dos músculos, sobretudo no momento da amamentação. A sucção
realizada pelo bebê, que ainda se constitui retrognata, promove o
desenvolvimento de estruturas faciais, tornando-se indispensável
uma adequada mobilidade muscular.
Yoon et al. (2017) ressaltam que a língua está envolvida no
desenvolvimento maxilofacial e que a extensão e a espessura do
frênulo lingual são capazes de atuar em sua motricidade (YOON et al.,
2017). Há um vasto debate acerca da interferência da anquiloglossia
no processo de amamentação (WALSH, TUNKEL, 2018).

1109
Portanto, dada a importância dessa patogenia ao cirurgião- ARRUDA, Érica
dentista, o presente artigo objetivou realizar uma revisão literária Maria Gomes de et
sobre os métodos de identificação e tratamento da anquiloglossia, bem al. Repercussão da
como as suas repercussões clínicas, possibilitando o conhecimento anquiloglossia em
de quais medidas podem fazer parte na tomada de decisão frente ao neonatos: diagnóstico,
quadro desta anomalia. classificação,
consequências clÍnicas e
tratamento. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
MATERIAIS E MÉTODOS p. 1107-1126, 2019.

Através das bases de dados eletrônicos PubMED/Medline,


Lilacs, Scielo e Scopus, foi realizada a pesquisa de trabalhos
acadêmicos, utilizando-se descritores DeCS, palavras chaves como:
anquiloglossia, frênulo língual, frenectomia, e seus correspondentes
na língua inglesa “ankylogossia”, “tonguebraking” e “ frenectomy”.
Foram encontrados e selecionados trabalhos em maior parte na
língua inglesa, e foi realizada uma análise por meio do ato de leitura
dos artigos. Ao todo, foram 29 estudos elegíveis, sendo os demais
excluídos por não apresentarem relações direta com o tema ou por
não se enquadrarem no período de publicação definido pelos autores.
O levantamento dos trabalhos selecionados ocorreu entre o período
do mês de janeiro ao mês de setembro, no ano de 2019.
O critério estabelecido pelos autores contou com pesquisas
científicas, publicadas no intervalo entre o ano de 2015 e 2019.
Ainda assim, foi realizada, como estratégia de pesquisa, a busca
de referências dos artigos selecionados, privilegiando com escolha
os que se enquadrassem nos mesmos padrões dos artigos que o
antecederam.
Foram utilizados três livros da área odontológica, sendo
essas obras literárias de grande importância na patologia oral,
cirurgia buco-maxilo-facial e na odontopediatria; como também
foram realizadas pesquisas em sites de busca da Associação
Brasileira de Odontopediatria, e no site da Associação Brasileira
de motricidade orofacial.

REVISÃO LITERÁRIA
Diagnóstico e Classificação

A atenção dos profissionais quanto à aquiloglossia tem se


voltado aos relatos de dificuldade de amamentação referida pelas

1110
ARRUDA, Érica mães. Esse desconforto pode ocasionar um desmame precoce
Maria Gomes de et e a perda de peso do bebê (PATEL, ANTHONAPPA, KING,
al. Repercussão da 2018). Devido às dificuldades observadas durante a sucção e a
anquiloglossia em deglutição, Walsh e Tunkel (2018) afirmam que os protocolos de
neonatos: diagnóstico, diagnóstico e de tratamento para anquiloglossia objetivam evitar
classificação, consequências desfavoráveis.
consequências clÍnicas e
Lisonek et al. (2017) demonstraram que a preocupação com a
tratamento. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, importância da amamentação pode ter influenciado diretamente no
p. 1107-1126, 2019. aumento do número de diagnósticos, como também o número de
intervenções cirúrgicas, mesmo diante de uma não concordância no
que diz respeito ao método de diagnóstico, notando-se uma larga
variação nas taxas de anquiloglossia e possíveis realizações de
frenectomias inoportunas.
Embora tenha sido sancionada e decretada em 2014 uma lei
brasileira que obriga a realização de um protocolo de avaliação
de frênulo lingual em neonatos, a Associação Brasileira de
Odontopediatria (2017), em um parecer técnico-científico, apresenta-
se contrária à ideia da obrigatóriedade da realização de um protocolo
de avaliação do frênulo lingual em neonatos e cita alguns motivos:
- Baixa prevalência no diagnóstico da anquiloglossia resultante
da ausência de métodos (protocolos) consistentes;
- Dúvidas sobre os efeitos da anquiloglossia na amamentação;
- Ausência de validação satisfatória do método de triagem
proposto;
- Dúvidas em relação aos benefícios do programa obrigatório de
rastreamento para anquiloglossia;
- Impasse da efetuação do teste;
- As despesas envolvidas na execução do protocolo;
- A legitimidade dos benefícios decorrentes da cirurgia é
fundamentada em estudos clínicos de pequena relevância.

O método de avaliação mais recente encontrado na literatura é


a Ferramenta de Avaliação da Língua de Bristol (BTAT). O BTAT
surgiu do intuito de simplificar a avaliação do frênulo em neonatos e,
desse modo, conta com quatro itens de avaliação do frênulo lingual.
O primeiro item é aparência da ponta da lingua; o segundo é a análise
da fixação na parte inferior da gengiva; o terceiro é o levantar da
língua; o quarto corresponde ao movimento de protusão da língua
(INGRAM et al., 2015).
Outro método é o protocolo de avaliação do frênulo lingual em
bebês, validado por Martinelli (2015), no qual se pondera três itens:
a história clínica, a avaliação anatomofuncinal e a avaliação de
sucção não nutritiva e nutritiva; considerado o teste de triangem

1111
-“teste da linguinha”. Nas primeiras 48h de vida, realiza-se o ARRUDA, Érica
diagnóstico da aquiloglosia através da avaliação anatomofuncional Maria Gomes de et
com protocolo de triagem neonatal apresentado na figura 2 e 3. A al. Repercussão da
avalição é obtida por meio do preencimento de um questionário. anquiloglossia em
Nesse questionário, considera-se no item 1: a postura do lábio em neonatos: diagnóstico,
repouso; no item 2: a tendência do posicionamento da língua durante classificação,
consequências clÍnicas e
o choro; no item 3: a forma da ponta da língua quando elevada
tratamento. SALUSVITA,
durante o choro ou manobra de elevação; no item 4:o frênulo da Bauru, v. 38, n. 4,
língua, e suas subclassificações: 4.1: a espessura do frênulo; 4.2: a p. 1107-1126, 2019.
fixação do frênulo na face sublingual ventral da língua; 4.3: fixação
do frênulo no assoalho da boca. A soma dos itens do questionário
resulta em escores, que podem ser: 0-4 (normal), 5-6 (duvidoso) e
7 ou mais (alterado); no escore igual ou superior a 7 considera-se a
necessidade da liberação do frênulo lingual.
Decorridos 30 dias após o nascimento, se eventualmente o
teste de triagem não foi realizado, torna-se inviável a obtenção do
diagnóstico através do teste de triagem neonatal. Um questionário
mais detalhado é imprescindível para a obtenção do diagnóstico da
anquiloglossia; dessa forma, será aplicado o protocolo de avaliação
do frênulo lingual em bebês, no qual apresenta os seguintes pontos:
história clínica, avaliação anatomofuncinal e avaliação de sucção
não nutritiva e nutritiva; caso a soma dos três itens correspoda a
13 ou mais, é recomendada a liberação do frênulo. Este protocolo
será apresentado adiante nas figuras 1, 2, 3 e 4 (MARTINELLI,
2015). De Lima et al. (2017) enfatizam a necessidade de uma equipe
multidisciplinar para a aplicação do protocolo, tendo em vista uma
maior exatidão.

1112
ARRUDA, Érica
Maria Gomes de et
al. Repercussão da
anquiloglossia em
neonatos: diagnóstico,
classificação,
consequências clÍnicas e
tratamento. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 1107-1126, 2019.

Figura 1 - Protocolo de avaliação do frênulo lingual em bebês: história clínica.


Fonte: MARTINELLI R. L. C. Validação do protocolo de avaliação do frênulo
da língua em bebês Tese (doutorado). Bauru: Faculdade de Odontologia de
Bauru, Universidade de São Paulo; 2015.

1113
ARRUDA, Érica
Maria Gomes de et
al. Repercussão da
anquiloglossia em
neonatos: diagnóstico,
classificação,
consequências clÍnicas e
tratamento. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 1107-1126, 2019.

Figura 2 - Protocolo de avaliação do frênulo lingual em bebês: exame clínico.


Parte I avaliação anatomofuncional. Fonte: MARTINELLI R. L. C. Validação
do protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês. Tese (doutorado).
Bauru: Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; 2015.

1114
ARRUDA, Érica
Maria Gomes de et
al. Repercussão da
anquiloglossia em
neonatos: diagnóstico,
classificação,
consequências clÍnicas e
tratamento. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 1107-1126, 2019.

Figura 3 - Protocolo de avaliação do frênulo lingual em bebês: exame clínico.


Parte I avaliação anatomofuncional. Fonte: MARTINELLI R. L. C. Validação do
protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês. Tese (doutorado). Bauru:
Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo; 2015.

1115
ARRUDA, Érica
Maria Gomes de et
al. Repercussão da
anquiloglossia em
neonatos: diagnóstico,
classificação,
consequências clÍnicas e
tratamento. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 1107-1126, 2019.

Figura 4 - Protocolo de avaliação do frênulo lingual em bebês: exame clínico.


Parte II avaliação da sucção não nutritiva e nutritiva. Fonte: MARTINELLI R.
L. C. Validação do protocolo de avaliação do frênulo da língua em bebês. Tese
(doutorado). Bauru: Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São
Paulo; 2015.

A Associação Brasileira de Motricidade Orofacial (2018),


em um parecer técnico científico esclarece que a Avaliação da
Língua de Bristol (BTAT) não alcança os processos de validação
dos quais são preconizados pela comunidade acadêmica, pois
consiste em uma literatura internacional disponível na versão

1116
ARRUDA, Érica traduzida para o Brasil, não apresentando nenhuma adequação
Maria Gomes de et transcultural. Em contrapartida, o protocolo de avaliação do
al. Repercussão da frênulo lingual em bebê, “teste da linguinha”, desenvolvido por
anquiloglossia em Martinelli, apresenta validação e adaptação à cultura brasileira,
neonatos: diagnóstico, já que foi desenvolvido no Brasil.
classificação, Alguns autores trazem em suas pesquisas o método de
consequências clÍnicas e
classificação de Kotlow quanto à anatomia do frênulo, em relação
tratamento. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, ao comprimento da língua livre, em que classe I é considerada leve,
p. 1107-1126, 2019. medindo de 12 a 16 mm; classe II corresponde a moderada, medindo
de 8 a 11 mm; a classe III classificada como grave, medindo de 3 a
7 mm; valores menores que 3 mm se enquadram em anquiloglossia
completa do tipo IV (WALSH, TUNKEL, 2017); (BELMEHDI,
HARTI, WADY, 2018).
Já Ferrés-Amat et al. (2017) realizaram um estudo no Hospital
de Barcelona, utilizando o método de Coryllos, que consiste na
análise da espessura do frênulo lingual, bem como o local no qual
o frênulo está inserido, sendo categorizados em 4 tipos. O tipo I
consiste em um frênulo fino e elástico, fixado na ponta da língua
ao rebordo alveolar. O tipo II, por sua vez, é inserido próximo ao
rebordo alveolar, um pouco posterior. O tipo III consiste em um
frênulo que se apresenta fibroso, inelástico e espesso. O tipo IV tem
características não elásticas, grosso e fibroso com inserção na base
da língua. Os tipos I e II são mais comuns e mais evidentes. Ao
contrário dos casos III e IV, que são mais de difíceis visualização,
podendo passar desapercebidos e, com isso, são mais predisponentes
a ficarem sem tratamento.
Nessa pesquisa, foram também considerados três critérios
clínicos: mamadas longas, dor nos seios materno e quadros de baixo
peso. Através dos tipos e critérios clínicos, foram estabelecidos três
parâmetros: suave, moderado e grave.
- Suave: Coryllos Tipo III-IV e critérios clínicos (excluindo dor);
- Moderado: Coryllos Tipo I-II e critérios clínicos ou Coryllos
Tipo III-IV e 2 critérios clínicos ou com apenas dor;
- Grave: Coryllos Tipo I-II mais 2 ou 3 critérios clínicos, ou
Coryllos Tipo III-IV e 3 critérios clínicos.

Dessa forma, independentemente do parâmetro estabelecido,


o protocolo de tratamento inicial era a orientação para correção
postural durante o processo de aleitamento materno. Se não houvesse
remissão das complicações, era estabelecido um segundo tratamento
de terapia miofuncional. Por fim, caso não houvesse melhoria no
quadro, era realizado um terceiro tratamento, o cirúrgico.
A anquiloglossia pode ser identificada como anquiloglossia
anterior, restringindo os movimentos de protução e conferindo um

1117
aspecto no formato de “coração”, decorrente do envolvimento do ARRUDA, Érica
ápice lingual; e anquiloglossia posterior, de difícil identificação, ao Maria Gomes de et
contrário da anterior não há envolvimento da ponta, porém constata- al. Repercussão da
se um espessamento do frênulo com características fibrosada. anquiloglossia em
Ambas podem alterar os movimentos e prejudicar o processo de neonatos: diagnóstico,
amamentação (MANIPON, 2016). classificação,
consequências clÍnicas e
Por outro lado, Walker (2018) defende que “nenhuma medida é
tratamento. SALUSVITA,
simples, confiável e validada para uso clínico”. Martinelli (2015) Bauru, v. 38, n. 4,
ressalta a necessidade de profissionais treinados e capacitados p. 1107-1126, 2019.
para a aplicação do protocolo de triagem. Ainda assim, não existe
um “padrão ouro” para diagnóstico da anquiloglossia (DE LIMA
et al., 2017).

Consequências Clínicas
Segundo Neville et al. (2016), a anquiloglossia pode repercutir
clinicamente desde casos mais simples sem muita interferência
clínica, assim como pode se expressar em casos mais complexos de
modo a unir por completo a língua ao assoalho bucal, com extensão
da membrana mucosa até o ápice, porém são casos mais incomuns
de serem constatados. Com isto, esta condição limita a elevação
da língua até a região de palato, favorecendo o desenvolvimento
de mordida aberta.
Com o objetivo de avaliar se distância entre a ponta da língua até a
fixação do frênulo ligual seria um instrumento útil de identificação
de normalidade, Walker et al., (2018) realizaram um estudo de
coorte prospectivo, tendo vista analisar a associação entre as
complicações durante a amamentação e o comprimento do frênulo
lingual. Assim, evidenciou-se que as mães que vivenciaram um
maior sensação de dor no processo de amamentação tinham seus
bebês com menores valores de distância entre a ponta da língua e
a fixação do frênulo.
A língua facilita o encaixe entre a boca do bebê e o seio da
mãe para amamentação, cooperando com adequados movimentos
de sucção. Desse modo, o encurtamento do frênulo lingual limita
a mobilidade da língua podendo interferir na correta retenção do
neonato ao seio da mãe, como consequência pode ocasionar em dor
e rachaduras nos mamilos e longo período de amamentação. Esses
fatores podem desmotivar as mães a amamentarem, contribuindo
para um desmame precoce e a busca por métodos alternativos de
alimentação, como o uso mamadeira (MANIPON, 2016).
Com a grande atenção voltada para esta área do processo de
aleitamento materno, Pransky, Lago e Hong, (2015) afirmaram que

1118
ARRUDA, Érica determinados casos de anquiloglossia contribuem negativamente
Maria Gomes de et na qualidade da amamentação. Alterações nos padrões rítmicos do
al. Repercussão da processo de sucção podem ser ocasionados pelas variações anatômicas
anquiloglossia em ocorridas no frênulo por causa da anquiloglossia. De acordo com
neonatos: diagnóstico, Ghaheri et al., (2016), complicações que envolvem as atividades de
classificação, sucção podem desencadear uma inapropriada transmissão de leite da
consequências clÍnicas e
mãe para o bebê, e consequentemente interferir no ganho nutricional
tratamento. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, do neonato. Segundo Patel, Anthonappa e King, (2018), o processo
p. 1107-1126, 2019. de aleitamento tem sua importância mediante ao suprimento
nutricional, ao sistema imunomodulatório e na ligação afetiva entre
o neonato e a mãe.
Diante dos benefícios da amamentação, Campanha et al., (2019)
afirmaram que os profissionais da área da saúde devem colaborar
com a díade mãe/bebê de forma a atuar na prevenção do desmame
precoce. Mediante a isso, a preocupação quanto os prejuízos
promovidos pela anquiloglossia têm se voltado com uma atenção
especial ao processo de amamentação.
Hipóteses são levantadas quanto ao envolvimento da
anquiloglossia na redução dinâmica da língua, a prejuízos na fala,
complicações durante a amamentação, má oclusão e problemas
periodontais (PATEL, ANTHONAPPA, KING, 2018; NEVILLE
et al., 2016). Uma membrana mucosa com prolongamento acima
do rebordo alveolar, pode ocasionar complicações periodontais e
diastemas nos incisivos centrais inferiores (MILORO et al., 2016),
bem como estresse psicológico (CHINNADURAI et al,. 2015).
De acordo com Pompeia et al., (2017), a anquiloglossia pode
ocassionar a disfunção do sistema estomatognático, e com isso pode
contribuir para o desenvolvimento e o crescimento incorreto do
crânio e da face dos neonatos que apresentam o frênulo unido ao
assoalho da boca.

TRATAMENTO
Há uma discordância na literatura quanto a indicação na
liberação do frênulo com interveção cirúrgica diante de um
quadro de anquiloglossia. Autores afimam que deve ser realizado
o mais cedo que puder (TECCO et al., 2015) e que são incomuns
eventos de complicações relacionados à correção do frênulo
(WAKHANRITTEE, KHORANA, KIATIPUNSODSA, 2016). Em
contapartida, pesquisadores afirmam que com o uso e a idade há
um alongamento do frênulo lingual, o que torna desnecessário a
indicação de um tratamento (CHINNADURAI et al., 2015).

1119
Neville et al., (2016) apontam a relevância da frenotomia em
recém nascidos com problemas no processo de aleitamento. A
frenectomia é indicada para casos clínicos de limitação funcional
e periodontopatias, cujos benefícios refletem na amplitude dos
movimetos linguais. Ademais, Fancis et al., (2015) menciona a
possível melhoria na mamentação após a realização da frenectomia.
Ferrés-Amat et al. (2017), realizaram em uma unidade de patologia
de sucção em um hospital Espanhol um estudo de prevalência. Foi
constatado que dos neonatos com anquiloglossia a maior parcela não
manifestava sintomas, nem interferência na amamentação; sendo
assim, os casos que não apresentam implicações clínicas não há a
necessidade de intervenção cirurgica. Ainda sim, no estudo Ferrés-
Amat et al. (2017), ultilizou-se do método de Coryllos e distribuiu os
níveis de anquiloglossia em três grupos, dos quais eram classificados
em: suave, moderado ou grave. Assim o tratamento inicial realizado
em todos os neonatos consistia em três sessões de amamentação,
caso os problemas na amamentação permanecessem, o neonatos
eram submetidos a um segundo tratamento de terapia miofuncional
com um total de quatro sessões de 30 minutos, ainda sim, se
as dificuldades persistissem, os bebês passavam por um último
tratamento, uma frenectomia. Ferrés-Amat et al., (2017) constataram
a melhoria no processo de amamentação em todos os grupos. Desse
modo, demonstraram que há alternativas de tratamento além da
cirúrgica, isso a depender do grau de severidade da anquiloglossia.
A terapia miofuncional consiste em uma técnica de estimulação
muscular através de exercícios intraorais e extraorais. Na técnica
extraoral tem a estimulação do músculo masseter e região perioral;
através da utilização dos dedos polegar e indicadores, bilateralmente
realiza-se movimentos circulares no músculo masseter. Em região
perioral realiza-se movimentos alternados anteriores e inferiores
ao lábio superior, bem como movimento em torno de todo o lábio.
A técnica intraoral consiste na estimulação das seguintes regiões:
língua, palato, superfície interna das bochechas e o reflexo de sucção.
Isso se dá por meio da utilização do dedo indicador, motivando o
neonato a sugá-lo (FERRÉS-AMAT et al., 2016).
A frenectomia é mais ultilizada em neonatos, é executada
de modo a promover uma incisão no frênulo lingual, já a
frenuloplastia envolve o alongamento dessa membrana mucosa,
sendo mais realizada em crianças acima de um ano, ambos são
procedimentos mais ultilizados para tratamento da anquiloglossia
(O’SHEA et al., 2017).
De acordo com Miloroet et al., (2016), a frenectomia, apresenta-se
como uma técnica mais rápida e com melhor resultado pós-operatorio.
ARRUDA, Érica Isso explica sua predileção frente as demais opções. Outras técnicas
Maria Gomes de et de fechamento citadas por Miloro et al., (2016), das quais visam
al. Repercussão da alcançar o aumento do comprimento da superficie ventral da ligua,
anquiloglossia em são os fechamentos em V-Y, e a zetaplastia.
neonatos: diagnóstico, Toledo et al., (2012), apresentam duas técnicas cirúrgicas, ambos
classificação, os procedimentos devem considerar a complexidade da região
consequências clÍnicas e
anatômica, que é intensamente vascularizada; uma das técnicas
tratamento. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, envolve a remorção de tecido fibroso que integra o frênulo lingual,
p. 1107-1126, 2019. essa técnica consiste na frenectomia; a outra técnica equivale a
frenotomia, da qual não há necessidade da remorção de tecido, sendo
essencial em recém-nascido. É recomendado que o paciente esteja
anestesiando antes dos procedimentos.
Na frenectomia por meio do fio de sutura 3-0 realiza-se a elevação
da língua através transfixação, tendo em vista ampliar o campo de
acesso; logo após, através de uma pinça de Halsted reta ou uma pinça
mosquito fixa e limita superiormente o frênulo lingual de modo que
este fique paralelo a face vental da língua; em seguida, fixa de forma
paralela o segmento inferiormente, sobre as carúnculas com a pinça
reta ou curva. Em ambas as pinças perpassa o bisturi com lâmina de
número 15, objetivando remover o tecido mucoso do frênulo lingual.
Posteriormente, remove-se as pinças, realiza-se dissecção bilateral e
executa a sutura, de modo que antes de concluí-la o paciente realiza
movimentos livres com a língua. A sutura deve ser realizada com
pontos isolados (TOLEDO et al., 2012).
Quanto a frenotomia deve suspender o apice lingual para que
se obtenha um acesso direto, e apreender a porção mais superior
do frênulo com uma pinça de Halsted reta, dessa forma realiza-se
a incisão linear no sentido anteroposterior por meio de bisturir com
a lamina de número 15, perpassando sobre a face inferior da pinça
Halsted reta. Em seguida, realiza-se a sutura com média de cinco
pontos isolados e fechamento com nó cirurgico (Toledo et al., 2012).
Nicoloso et al., (2016) embora em sua literatura cite três
alternativas de cirurgias para liberação de frênulo lingual: a técnica
convencional, a laser e a eletrocirurgia, optou pelo laser para
realização uma frenulotomia em um paciente com anquiloglossia,
defendendo que este procedimento é menos invasivo e apresenta um
melhor pós-operatorio; demonstrando bons resultados.
O’shea (2017) levanta como uma incerteza a necessidade da
utilização de anestesia nos procedimentos de frenotomia. Quanto
aos riscos envolvidos na realização de um tratamento cirúrgico de
frenectomia, Tracy et al. (2017), enfatizam que embora sejam raros
os relatos publicados na literatura, os profissionais que realizam essa
técnica devem ter conhecimento sobre os possíveis riscos no pós-

1121
operatório; a exemplo dois casos relatados por Tracy et al. (2017) de ARRUDA, Érica
choque hipovolêmico. Maria Gomes de et
al. Repercussão da
anquiloglossia em
neonatos: diagnóstico,
CONSIDERAÇÕES FINAIS classificação,
consequências clÍnicas e
A anquiloglossia é uma anomalia congênita que envolve o frênulo tratamento. SALUSVITA,
lingual, o seu desenvolvimento é decorrente dos remanecentes de Bauru, v. 38, n. 4,
tecidos embrionários que não sofreram apoptose. Esta condição p. 1107-1126, 2019.
compromete a morfologia, pois, o frênulo apresenta-se com
alterações no comprimento e espessura; e consequentemente tem-se
o comprometimento funcional dos movimentos da língua.
De acordo com a literatura a anquiloglossia esta associada à
quadros clínicos de má oclusão, problemas periodontais, diastemas
e prejuízos na fala. Observa-se ainda, repercussões no aleitamento
materno gerando desconforto para a mãe/bebê provocando o
desmame precoce, podendo comprometer o desenvolvimento
craniofacial do neonato.
É importante enfatizar a necessidade de realização de um
método de diagnóstico que se enquadre em um padrão ouro, tendo
em vista aumentar o nível de exatidão nos resultados e viabilisar o
conhecimento básico para o tratamento da anquiloglossia. Ademais, a
terapia miofuncional e as intervenções cirúrgicas como a frenectomia
e frenotomia, representam formas de tratamentos destinadas a
reduzir os prejuízos dessa anomalia no sistema estomatognático
do neonato, portanto, o cirurgião-dentista deve ter o conhecimento
e sempre optar pela técnica mais adequada, menos invasiva e que
possibilite o melhor pós-operatório.

1122
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1126
OS EFEITOS DAS METALOPROTEINASES
DA MATRIZ EXTRACELULAR - MMPs
E CLOREXIDINA NO MECANISMO DE
ADESÃO DENTÁRIA
The effects of metaloproteinases of the extracellular
matrix - MMPs and chlorexidine in the dental
adhesion mechanism

Ayala Formiga Medeiros1


Wellinton Venâncio Avelar1
Dayannara Alípio da Silva Lima1
Andreza Mirelly de Queiroz1
Fernanda Campos2
Rodrigo Gadelha Vasconcelos2
Marcelo Gadelha Vasconcelos2

1
Graduando em Odontologia MEDEIROS, Ayala Formiga et al. Os efeitos das metaloproteinases
pela Universidade Estadual da da matriz extracelular - mmps e clorexidina no mecanismo de
Paraíba (UEPB), Campus VIII, adesão dentária. SALUSVITA, Bauru, v. 38, n. 4, p. 1127-1149, 2019.
Araruna – Paraíba.
²
Professor Doutor do curso de
Odontologia da Universidade
Estadual da Paraíba (UEPB), RESUMO
Campus VIII, Araruna – Paraíba.
Introdução: A adesão da resina composta à dentina ocorre pela for-
mação da camada híbrida. Assim, sua degradação ocasiona a perda
da resistência de união na interface resina/dentina, influenciando na
longevidade da restauração. Após o condicionamento ácido e aplica-
ção do sistema adesivo na dentina desmineralizada, fibras colágenas
não envolvidas por sistema adesivo ficam desprotegidas e suscetíveis
Recebido em: 12/09/2019 ao ataque das metaloproteinases (MMPs). Objetivos: Esta revisão
Aceito em: 16/12/2019

1127
buscou esclarecer o efeito das MMPs na degradação da camada hí- MEDEIROS, Ayala
brida e os efeitos da clorexidina no processo de adesão. Materiais e Formiga et al. Os efeitos
métodos: Foi realizada uma revisão da literatura por meio de uma das metaloproteinases
busca bibliográfica nas bases de dados Pubmed/ Medline, Scielo e da matriz extracelular -
mmps e clorexidina no
Google Acadêmico, utilizados estudos publicados nos anos de 2005 mecanismo de adesão
a 2018. Foi realizada a busca pelos seguintes descritores: Dentistry, dentária. SALUSVITA,
MMPs, Chlorhexidine. Resultados: Estas enzimas, presentes na pró- Bauru, v. 38, n. 4,
pria dentina, são reativadas pelo ácido fosfórico ou pelos monômeros p. 1127-1149, 2019.
ácidos dos adesivos autocondicionantes e iniciam a degradação. A
aplicação da clorexidina (CHX) na dentina, após o condicionamento
ácido, impede ou retarda a degradação das fibras de colágeno da ca-
mada híbrida. Conclusão: Concluiu-se que a ligação adesiva à den-
tina diminui com o passar dos anos devido à ação das MMPs que de-
gradam o colágeno não infiltrado por monômeros adesivos na parte
mais profunda da camada híbrida. Além disso, a clorexidina como
inibidor terapêutico em sistemas adesivos convencionais é capaz de
inibir as MMPs e assim a ligação adesiva à dentina pode ser mantida
estável por um período de tempo mais longo.

Palavras-chave: Odontologia. MMPs. Clorexidina.

ABSTRACT
Introduction: The adhesion of the composite resin to the dentin occurs
by the formation of the hybrid layer. Thus, its degradation causes
loss of union resistance on interface resin / dentin interface, directly
influencing the longevity of the restoration. After the acid etching
and the application of the adhesive system into demineralized dentin,
collagen fibers not involved by adhesive system get unprotected and
susceptibles to attack by metalloproteinases (MMPs). The enzymes,
present in the dentin itself, are rehabilitated by phosphoric acid
or by the acids monomers of the self-etching adhesives initiating
degradation. The application of chlorhexidine (CHX) in the dentin,
after acid conditioning, prevents or slows down the degradation of
the collagen fibers of the hybrid layer. This literature review sought
to clarify the effect of MMPs on the degradation of the hybrid layer
and the effects of chlorhexidine on the adhesion process. It was
concluded that the adhesive bonding to dentin decreases with the
passage of years due in part to the action of MMPs, which degrade
collagen not infiltrated by adhesive monomers in the deepest part of
the hybrid layer. In addition, the use of chlorhexidine as a therapeutic

1128
MEDEIROS, Ayala inhibitor in conventional adhesive systems is capable of inhibiting
Formiga et al. Os efeitos the MMPs and thus the adhesive bonding to the dentin can be kept
das metaloproteinases stable for a longer period of time.
da matriz extracelular -
mmps e clorexidina no Key words: Dentistry, MMPs, Chlorhexidine.
mecanismo de adesão
dentária. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 1127-1149, 2019. INTRODUÇÃO
Antes do surgimento do condicionamento ácido do esmalte e do
desenvolvimento dos sistemas adesivos dentinários, a fixação das
restaurações em preparos cavitários era conseguida por meio de
retenções macromecânicas. Isto limitava a preservação de tecido
dental sadio, pois as cavidades precisavam ser adequadas em
extensão e profundidade de modo a permitir uma melhor retenção do
material restaurador. Portanto, os sistemas adesivos modificaram a
prática da odontologia alterando não apenas os conceitos relacionados
aos preparos cavitários, como também possibilitaram uma maior
preservação da estrutura dental remanescente sadia (ANUSAVICE
et al., 2013; SOFAN et al., 2017).
Afirma-se que o primeiro e grande impulso da era adesiva foi
a partir da realização do condicionamento ácido em esmalte, que
aumentou o selamento marginal nas restaurações de resina composta
com margens localizadas em esmalte. Já o sucesso da técnica adesiva
em dentina demorou mais tempo para se consolidar, devido às
diferenças morfofisiológicas existentes entre os dois tecidos (REIS,
A.; LOGUERCIO, AD., 2007; MARTINS, et al., 2008).
Nesse contexto, a adesão ao esmalte, devido à sua composição
inorgânica, faz com que após o condicionamento ácido ocorra
uma penetração profunda dos monômeros do adesivo, ocorrendo
a formação dos tags resinosos. Já na dentina, a união adesiva
ocorre através da formação da camada híbrida, que se dá a partir
da desmineralização da dentina e exposição da rede de fibrilas
colágenas pelo condicionamento ácido. Porém, para que a formação
dessa camada seja eficaz, os monômeros resinosos do adesivo
devem penetrar completamente nas fibrilas colágenas expostas pelo
condicionamento ácido, e para isso o controle da umidade se torna
um fator crítico (LOBO, 2013).
Caso a rede de fibrilas colágenas fiquem expostas, ou seja,
não esteja completamente infiltrada pelos monômeros resinosos
do sistema adesivo, elas estarão mais susceptíveis ao processo de
degradação por enzimas da matriz extracelular, as metaloproteinases
(MMPs), que permaneceram presas no interior da dentina logo após

1129
a sua formação e se encontram na forma latente. Estas MMPs podem MEDEIROS, Ayala
ser reativadas pelo ácido láctico produzidos pelas bactérias durante Formiga et al. Os efeitos
o processo de formação da cárie, no momento do condicionamento das metaloproteinases
com ácido fosfórico a 37% ou pelos monômeros ácidos presentes da matriz extracelular -
nos sistemas adesivos autocondicionantes e assim tornam-se capaz mmps e clorexidina no
de promover a degradação do colágeno presente na camada híbrida mecanismo de adesão
dentária. SALUSVITA,
(SANTANA, 2017). Além das MMPs existem as cisteínas catepsinas
Bauru, v. 38, n. 4,
(CCs), que são enzimas que também vão afetar a ligação adesiva p. 1127-1149, 2019.
entre dentina e resina (BRESCHI et al., 2018).
Estudos demonstraram que o uso da clorexidina, em dentina
condicionada por ácido, previamente à aplicação do sistema adesivo
tem a capacidade de inibir a ação das MMPs e consequentemente
parece retardar a degradação da interface resina/dentina, mantendo
a integridade da restauração por mais tempo (FERREIRA, 2016).
Tendo em vista esses aspectos, este trabalho objetiva realizar
uma revisão da literatura sobre o papel das metaloproteinases da
matriz extracelular (MMPs) encontradas na matriz dentinária no
processo de degradação da camada híbrida, enfatizando os fatores
que colaboram para essa degradação, como se dá a ação das MMPs
nas técnicas adesivas e os efeitos da clorexidina sobre o mecanismo
de adesão dentinária.

MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizada uma revisão da literatura por meio de uma busca
bibliográfica nas bases de dados PUBMED/ MEDLINE, SCIELO
e GOOGLE ACADÊMICO, sendo utilizados estudos publicados
nos anos de 2005 a 2018. A estratégia de busca foi realizada por
meio da utilização dos seguintes descritores: Dentistry, MMPs,
Chlorhexidine.
Foram incluídos nesse estudo trabalhos completos publicados
em inglês, espanhol e português, que tratavam da influência das
metaloproteinases da matriz extracelular e da clorexidina no
mecanismo de ligação adesiva das resinas compostas ao substrato
dentário.
Foram excluídos da amostra os artigos que não apresentaram
relevância clínica sobre o tema abordado; os artigos não condizentes
com o assunto; artigos não disponíveis de forma gratuita; artigos
duplicados; artigos com falta de clareza no detalhamento metodológico
utilizado e aqueles que não se enquadraram nos critérios de inclusão.
Também foram utilizados como forma de consulta livros
específicos que tratam da temática da pesquisa (quadro 1).

1130
MEDEIROS, Ayala
Formiga et al. Os efeitos AUTORES TÍTULO ANO
das metaloproteinases
ANUSAVICE, J. K; SHEN, Phillips Materiais Dentários 2013
da matriz extracelular -
mmps e clorexidina no C; RAWLS, H, R.
mecanismo de adesão
dentária. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, RUSSO, E. M. A. Fundamentos de 2010
p. 1127-1149, 2019. odontologia: Dentítica
restauradora direta

MONDELLI, J. Fundamentos da dentística 2017


operatória.
Quadro 1 - Distribuição dos livros utilizados com a temática da revisão.
Fonte: próprio autor

REVISÃO DE LITERATURA

FATORES ENVOLVIDOS DA DEGRADAÇÃO DA


CAMADA HÍBRIDA

O mecanismo responsável pela degradação da camada híbrida


ainda não foi completamente compreendido. Porém, acredita-se que
a primeira fase da degradação envolve a presença de água em espa-
ços de tamanho nanométricos dentro da camada híbrida e o ataque
enzimático às fibras colágenas dentinárias, levando à sua degrada-
ção (BISPO, 2016; HUANG et al., 2018).
Nos sistemas adesivos de três passos, os valores de resistência de
união apresentam pequena ou nenhuma diminuição com o tempo,
em contraste com adesivos de dois passos, que mostram diminuição
significativa durante um período de 4 a 5 anos. Pesquisas laboratoriais
também demostraram que a adesão periférica ao esmalte, que
sela a interface adesiva do contato com a água, tem a capacidade
de aumentar a durabilidade de adesão de maneira significativa.
Observações com microscopia eletrônica de transmissão (MET)
demonstraram que as fibrilas colágenas da camada híbrida sofrem
degradação, ao mesmo tempo em que a diminuição de resistência de
união é observada, sugerindo que a degradação da camada híbrida
contribui para o desafio à integridade adesiva em dentina. Isso é muito
provavelmente causado pela ação das MMPs (metaloproteinases da
matriz extracelular) que desnaturam o colágeno da camada híbrida
(NAGEM et al., 2014; MARTINS; VASCONCELOS; PORTELA,
2014; GIROTTO, 2015).

1131
As MMPs presentes na saliva e na dentina são ativadas pelas MEDEIROS, Ayala
subsequentes desmineralizações e remineralização existentes du- Formiga et al. Os efeitos
rante o desenvolvimento das lesões cariosas, promovendo a destrui- das metaloproteinases
ção da matriz do colágeno dentinário e consequente progressão da da matriz extracelular -
cárie dentária. O mesmo processo pode ocorrer na interface ade- mmps e clorexidina no
siva (STROBEL; HELLWING, 2015; TEZVERGIL-MUTLUAY; mecanismo de adesão
dentária. SALUSVITA,
PASHLEY; MUTLUAY, 2015; BISPO, 2016).
Bauru, v. 38, n. 4,
Dessa maneira os fatores responsáveis pela degradação das fi- p. 1127-1149, 2019.
brilas de colágeno da camada híbrida são: a penetração incompleta
dos monômeros resinosos em toda a profundidade da desminerali-
zação produzida pelo ácido fosfórico ou alguns adesivos autocon-
dicionantes, em especial os mais acídicos; a ativação das MMPs
(envolvidas na degradação dos componentes orgânicos da camada
híbrida); pelo condicionamento ácido e pelos sistemas adesivos; e a
atividade das proteases, como as catepsinas (PEREIRA; ANAUA-
TE-NETTO; GONÇALVES, 2014; STROBEL; HELLWING, 2015;
BRESCHI, et al., 2018).
A durabilidade, manutenção e estabilidade da camada híbrida es-
tão intimamente relacionadas à técnica operatória, ao material res-
taurador utilizado e as particularidades da cavidade bucal (RUSSO,
2010). Dentre as particularidades da cavidade bucal temos os fato-
res físicos (forças oclusais, repetidas alterações de temperatura) e
fatores químicos (ação da saliva, fluído dentinário, ação de ácidos
alimentares e provenientes de bactérias) (MARTINS; VASCONCE-
LOS; PORTELA, 2014; RUSSO, 2010).

METALOPROTEINASES DA MATRIZ
EXTRACELULAR (MMPS)
As Metaloproteinases da Matriz Extracelular (MMPs) consti-
tuem-se de um grupo de enzimas (endopeptidases) responsáveis
pela degradação dos componentes da matriz extracelular (MEC) e
das membranas basais (STROBEL; HELLWING, 2015; PEREIRA,
et al., 2016).
A descoberta das MMPs provavelmente ocorreu no ano de 1962,
quando Gross, Lapièrre encontraram uma enzima ativa na cultura
de fragmentos da pele de ratos, a qual degradou a tripla hélice do
colágeno tipo I maduro. Inúmeros trabalhos vêm se desenvolvendo
a fim de elucidar e aprimorar o conhecimento sobre as MMPs (NA-
VARRO et al., 2006).
As MMPs degradam as macromoléculas da matriz, incluindo o
colágeno intersticial, a fibronectina, à laminina e a proteoglicana, en-

1132
MEDEIROS, Ayala tre outras. Coletivamente, as MMPs são capazes de degradar todas
Formiga et al. Os efeitos as proteínas componentes da matriz extracelular e das membranas
das metaloproteinases basais. As MMPs são quase onipresentes em todo o corpo nos tecidos
da matriz extracelular - e foram encontrados na saliva, fluido gengival e dentina. Na dentina,
mmps e clorexidina no o conjunto completo de 25 MMPs humanas que são classificadas em
mecanismo de adesão 6 grandes grupos de acordo com a especificidade do substrato e a sua
dentária. SALUSVITA,
homologia interna são as colagenases (MMP-1, MMP-8, MMP-13,
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 1127-1149, 2019. MMP-18), as gelatinases (MMP – 2 e MMP - 9), as estromelisinas
(MMP – 3 e MMP – 10), as colagenases tipo IV (MMP – 7 e MMP
– 26), as metaloproteinases do tipo membrana (MMP-14, MMP-15,
MMP-16, MMP-17, MMP-24, MMP-25) e a metaloelastase que in-
clui a MMP – 12 (STROBEL; HELLWING, 2015; ZHENG; CHEN,
2017; HUANG et al., 2018).
Essas enzimas são incorporadas na matriz dentinária durante a
odontogênese. (STANISLAWCZUK, et al., 2009). Segundo Pelá, et
al., (2014) a matriz extracelular da dentina contém principalmente
MMP - 2, -8, -9 e -20 e estas MMPs são endopeptidases capazes de
atacar (degradar) o colágeno desprotegido da camada híbrida. Bres-
chi, et al.; (2018) também cita que as MMPs mais abundantes na
dentina são a MMP-2 e a MMP-9.
As MMPs da dentina são produzidas por odontoblastos duran-
te a dentinogênese e posteriormente incorporadas na dentina em
uma conformação inativa. Em pH ácidos inferiores a 4,5, elas são
ativadas e tornam-se enzimas totalmente funcionais (STROBEL;
HELLWING, 2015), sendo assim ativadas com o uso do condicio-
namento com ácido fosfórico, dos adesivos autocondicionantes e
também pelo ácido láctico das bactérias patogênicas orais (LI F et
al., 2015).
Em termos gerais, a estrutura das MMPs é constituída por um
pró-domínio, um domínio catalítico com um sítio de ligação com o
zinco, uma região chamada hinge (região de união) e um domínio he-
mopexina carboxi-terminal. No domínio catalítico, são identificadas
repetições de resíduos de cisteína diretamente relacionadas ao poten-
cial de atividade dessas proteases. As MMPs requerem a presença
de cálcio para manter sua estrutura terciária estável, bem como de
zinco para conservar a funcionalidade do sítio ativo. Como a maio-
ria das proteases, as MMPs são secretadas na forma de proenzimas
inativas, denominadas zimógenos (zimogênios), que são mantidas
inativas pela conservação na forma reduzida de um grupo de sulfi-
drila da cisteína que compõe o propeptídeo e também pela ligação de
um elemento zinco no domínio catalítico. Dessa maneira, a ativação
da enzima depende da remoção do propeptídeo e rompimento dessa
ponte de ligação cisteína-zinco. Este processo faz com que os zimó-

1133
genos (inativos) se tornem MMPs (ativas). Isso tem sido largamente MEDEIROS, Ayala
descrito para os animais vertebrados, porém também ocorrem em Formiga et al. Os efeitos
plantas, animais de pequeno porte e bactérias (PEREIRA; ANAUA- das metaloproteinases
TE-NETTO; GONÇALVES, 2014; BRESCHI et al., 2018). da matriz extracelular -
As principais células que produzem MMPs são os polimorfonu- mmps e clorexidina no
cleares, leucócitos, os queratinócitos, os monócitos, os macrófagos, mecanismo de adesão
dentária. SALUSVITA,
os fibroblastos e as células mesenquimais. Essas células são capa-
Bauru, v. 38, n. 4,
zes de responder aos fatores de crescimento e citocinas, incluindo p. 1127-1149, 2019.
a Interleucina 1 (IL-1), a TNF-α e a TGF-α. Na presença desses fa-
tores de crescimento e de algumas citocinas, essas células liberam
as MMPs de grânulos específicos de armazenamento para o meio
extracelular. De acordo com a literatura, diferentes tipos de células
expressam diferentes complementos de MMPs, diferentes citocinas
levam a diferentes efeitos transcricionais no mesmo tipo de célula
e diferentes tipos de células não agem necessariamente da mesma
forma em resposta à mesma citocina. Todas as MMPs contêm íons
zinco (Zn++) no sítio de ação catalítica e requerem íons cálcio (Ca++)
para sua estabilidade e atividade, sendo, por isso, denominadas enzi-
mas metaldependentes (NAVARRO et al., 2006).
Em condições de homeostasia, o balanço atividade/inatividade
das MMPs é regulado em diversos níveis, começando pela inter-
venção na transcrição da proteína e passando pela interferência na
secreção e degranulação de suas formas inativas. Uma vez ativas no
tecido, as MMPs podem ter funções controladas por interações com
inibidores extracelulares da matriz (PEREIRA; ANAUATE-NET-
TO; GONÇALVES, 2014).
Segundo Navarro et al., (2006), a atividade das MMPs no substra-
to da matriz extracelular é regulada por quatro vias: 1) por regulação
na transcrição nos genes das MMPs; 2) por ativação de precursores;
3) por diferenças de especificidade de substrato; e 4) por inibidores
de MMPs. Os genes promotores são regiões que controlam a trans-
crição dos genes que codificam a síntese de MMPs. Os polimorfis-
mos de DNA têm sido encontrados na região promotora de várias
MMPs. O polimorfismo representa sequências variantes naturais
(alelos), que podem ocorrer com mais de uma forma, em uma fre-
quência maior que 1% na população humana.
A atividade das MMPs é controlada também por meio dos inibi-
dores específicos, conhecidos como inibidores teciduais de MMPs
(TIMPs). As TIMPs são proteínas glicosiladas de baixo peso
molecular que regulam ambas as funções das MMPs, o nível de sua
ativação e sua habilidade de hidrolisar um determinado substrato. O
equilíbrio entre a produção de MMPs e a de TIMPs representa um
ponto principal para manter a homeostase da matriz extracelular. É

1134
MEDEIROS, Ayala conhecido que um processo patológico da matriz extracelular pode
Formiga et al. Os efeitos se instalar quando houver excesso de atividade das MMPs nos teci-
das metaloproteinases dos. Por essa razão, há um grande interesse em desenvolver inibido-
da matriz extracelular - res sintéticos das MMPs que possam ser usados em terapias médicas
mmps e clorexidina no e odontológicas. Uma maior atenção tem sido dada para os agentes
mecanismo de adesão quelantes do zinco (NAVARRO et al., 2006; PEREIRA; ANAUA-
dentária. SALUSVITA,
TE-NETTO; GONÇALVES, 2014; STROBEL; HELLWING, 2015).
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 1127-1149, 2019. Dessa maneira, as MMPs ativadas se ligam ao colágeno e / ou as
MMPs próximas ao colágeno podem degradar progressivamente as
fibrilas de colágeno que não foram cobertas por adesivo durante a
formação da camada híbrida. A degradação do colágeno pode au-
mentar o teor de água, causando uma maior degradação do colágeno
e deteriorar a ligação dentina-restauração (LI F et al., 2015).

MMPS EM TÉCNICAS ADESIVAS


Técnicas adesivas modernas são empregadas tanto para
restaurações em resina direta e indireta como em cimentação adesiva
de restaurações indiretas. O principal problema neste processo é o
processo de união entre a dentina hidrofílica e o adesivo hidrofóbico.
Geralmente observa-se um considerável declínio na força de união
e estabilidade durante os primeiros seis meses aos cinco anos
(PASHLEY et al., 2010). Uma razão para essa perda de união é a
hidrofilicidade dos sistemas adesivos, levando à absorção de água
e a dissociação de monômeros. Assim, a absorção de água pode
dar origem à degradação hidrolítica de monômeros por estearases
salivares. Além disso, a força de ligação é afetada negativamente
pelo fluido dentinário, o que também pode prejudicar a ligação
adesiva do composto resinoso à dentina (LIU et al., 2011; STROBEL;
HELLWING, 2015).
Em relação às MMPs, elas afetam a ligação adesiva na dentina
de forma diferente em relação aos tipos de sistemas adesivos, sendo
estes: 1) sistemas adesivos convencionais (condicione e lave) e (2)
sistemas adesivos autocondicionantes (LIU et al., 2011; STROBEL;
HELLWING, 2015).

(1) MMPs X Sistemas adesivos convencionais

Ao usar sistemas adesivos convencionais o esmalte e a dentina são


desmineralizados pelo ácido fosfórico a 37%. Como consequência, a
rede de colágeno da dentina é exposta, o que idealmente é infiltrada

1135
completamente pela aplicação do sistema adesivo, formando assim MEDEIROS, Ayala
a camada híbrida. No entanto, a água restante na rede de colágeno Formiga et al. Os efeitos
e o gradiente de difusão química de ligação dos agentes impedem das metaloproteinases
uma infiltração completa do colágeno exposto. Na parte inferior da da matriz extracelular -
camada híbrida, sempre existem áreas pobres em adesivos e ricas mmps e clorexidina no
em água, onde o colágeno não infiltrado permanece, sendo assim mecanismo de adesão
dentária. SALUSVITA,
a rede de fibras colágenas fica exposta (PASHLEY et al., 2010).
Bauru, v. 38, n. 4,
Este fenômeno resulta na formação de espaços vazios de tamanho p. 1127-1149, 2019.
nanométricos entre a dentina e o material, como consequência
observa-se a presença de porosidades na região basal da camada
híbrida (STROBEL; HELLWING, 2015).
Este aspecto pode ser agravado, ainda mais, por um
condicionamento muito longo com ácido fosfórico ou por excesso de
secagem da dentina após o processo de condicionamento. A excessiva
secagem resulta no colapso (colabamento) da rede de colágeno, o
que prejudica significativamente a penetração do agente de ligação
e, portanto, a formação da camada híbrida. O tempo prolongado
durante o condicionamento ácido resulta em uma desmineralização
mais profunda e numa maior exposição de colágeno, assim, o agente
de ligação utilizado a partir daí pode infiltrar-se na camada profunda
da rede de colágeno de forma menos eficiente, aumentando os espaços
vazios (MOBARAK; SEVAM, 2013; STROBEL; HELLWING, 2015).
Nesta camada profunda e basal de colágeno que não é infiltrada
pelo agente de ligação, a ação das MMPs existentes é facilitada as
quais podem ser ativadas pela aplicação do ácido fosfórico (pH = 0,4)
e por monómeros ácidos (pH = 2-2,8) contidos no agente de ligação
(PASHLEY, et al., 2010). Consequentemente, o colágeno exposto é
degradado pela ativação das MMPs na parte profunda da camada
híbrida, que gradualmente se desintegra devido ao crescimento e à
fusão de porosidades de tamanhos manométricos (MAZZONI et al.,
2012). Clinicamente, esta degradação resulta em perda de retenção
da restauração, cáries secundárias e hipersensibilidade (MOON;
WEAVER; BROOKS, 2010).
Para evitar a degradação da camada híbrida pela ação das MMPs,
as técnicas adesivas devem promover uma infiltração completa
do sistema adesivo no colágeno exposto pelo ácido fosfórico ou
a inibição de MMPs localizadas na área desmineralizada (LIU et
al., 2011).
Para a inibição das MMPs, o uso de clorexidina (CHX) provou
ser adequado, sendo esta aplicada depois do procedimento de
condicionamento com ácido fosfórico a 37% e antes da aplicação do
sistema adesivo (MOON; WEAVER; BROOKS, 2010; PASHLEY,
et al., 2010).

1136
MEDEIROS, Ayala A CHX atua como inibidor inespecífico de MMPs alterando sua
Formiga et al. Os efeitos estrutura tridimensional e quelando íons metálicos (Ca++, Zn++),
das metaloproteinases que são necessários para a sua função (MOON, 2014; STROBEL;
da matriz extracelular - HELLWIG, 2015). In vitro, a CHX é capaz de inativar todas as
mmps e clorexidina no MMPs existentes na dentina em uma concentração de apenas 0,02%.
mecanismo de adesão Além disso, a CHX detém a vantagem de possuir uma elevada
dentária. SALUSVITA,
substantividade, que é a capacidade de se manter ativa por mais
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 1127-1149, 2019. tempo (LIU et al., 2011).
Ademais, as recomendações de uso variam de clorexidina a 2%
com aplicação de 30 segundos à clorexidina de 0,2% com aplicação
de 60 segundos (MOON et. al., 2010). Assim, em relação à forma de
aplicação: a CHX deve ser sempre usada como solução aquosa pura,
em vez de na forma convencional de soluções para enxaguamento
bucal, que podem conter conservantes o que pode afetar
negativamente a ligação adesiva. Assim, soluções puras de CHX
podem ser compradas ou preparadas em farmácias de manipulação
(STROBEL; HELLWIG, 2015).
Quanto ao manuseio da CHX, ela pode ser administrada com
muita facilidade com a ajuda de uma bolinha de algodão após
o processo de condicionamento e remoção completa do ácido
fosfórico. Seguindo o apropriado tempo de exposição, a cavidade é
relativamente seca e assim é aplicado o sistema adesivo selecionado.
O enxágue com água após a aplicação da CHX deve ser evitado,
porque a água pode remover a CHX da dentina (KIM et. al., 2010).
Adicionalmente, componentes do sistema adesivo como o álcool ou
HEMA não dissolvem a CHX e vice-versa. A CHX não prejudica
as propriedades da ligação adesiva e permite a formação de uma
camada híbrida (MOON et. al., 2010).
De imediato, a força de união adesiva não é alterada pela aplicação
da CHX, no entanto, após períodos mais longos, a estabilidade das
ligações adesivas associadas ao uso de clorexidina é até mesmo,
consideravelmente, melhorada (MOON et. al., 2010). Assim, a
aplicação da CHX após o processo de condicionamento resulta em
uma diminuição significativa da degradação da camada híbrida,
de modo que a ligação adesiva à dentina seja preservada por um
longo tempo e os espaços vazios diminuam de forma considerável
(BRESCHI et. al., 2010). No entanto, pouco se sabe sobre quanto
tempo a CHX pode manter seu efeito inibidor sobre as MMPs
(STROBEL; HELLWIG, 2015).
Neste contexto, há tentativas de se integrar a clorexidina ao
ácido fosfórico ou no próprio sistema adesivo apresentando como
grande vantagem a não adição de mais um passo de trabalho para a
criação de uma ligação adesiva mais estável (MOON et. al., 2010). À

1137
exemplo, um estudo in vitro, demonstrou que a incorporação da CHX MEDEIROS, Ayala
a 2% em ácido fosfórico a 37% resulta em achados semelhantes aos Formiga et al. Os efeitos
obtidos com o uso de CHX como agente terapêutico. Em ambos os das metaloproteinases
aspectos da aplicação da CHX, a união do sistema adesivo à dentina da matriz extracelular -
manteve-se estável nos seis primeiros meses, enquanto que no grupo mmps e clorexidina no
controle desprovidos de CHX, foi verificado sinais de desintegração mecanismo de adesão
dentária. SALUSVITA,
da camada híbrida (STROBEL; HELLWIG, 2015).
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 1127-1149, 2019.
(2) MMPs X Sistemas adesivos autocondicionantes

Sistemas autocondicionantes são menos suscetíveis aos problemas


de manipulação do que os sistemas de condicionamento ácido prévio,
mas são inferiores a estes em relação à força da ligação adesiva, qua-
lidade das margens da restauração e estabilidade em longo prazo
(STROBEL; HELLWIG, 2015).
Nos sistemas autocondicionantes, o condicionamento ácido
e a infiltração do agente de ligação acontecem simultaneamente
(PASHLEY et. al., 2010). Como resultado, o colágeno é menos ex-
posto por baixo da camada híbrida, porque não há diferença na pro-
fundidade de penetração entre o ácido e os monômeros do adesivo.
Assim, à primeira vista, parecem existir menos problemas relacio-
nados aos espaços vazios para sistemas autocondicionantes do que
para sistemas convencionais. No entanto, os espaços vazios também
podem ocorrer nos sistemas autocondicionantes que utilizam ácidos
fortes (STROBEL; HELLWIG, 2015).
Em contraste com os sistemas adesivos convencionais, sistemas
autocondicionantes geralmente contêm mais monômeros hidrofíli-
cos, produzindo um aumento da permeabilidade de água na camada
híbrida e aumento da dissociação dos monômeros. Portanto, também
durante o uso dos sistemas adesivos autocondicionantes há colágeno
exposto que pode ser degradado hidrolíticamente por ativação das
MMPs (LIU et. al., 2011).
Apolonio, et. al. (2017) investigaram os processos enzimáticos
que potencialmente contribuem para a degradação da interface ade-
sivo-dentina criada por um adesivo autocondicionante de um passo
clínico. Nesse estudo foi demonstrado que as atividades de MMP-2
e MMP-9 dentro da camada híbrida aumentaram, significamente,
após a aplicação do adesivo autocondicionante de um passo (Adper
Easy Bond). Além disso, esse estudo também realizou a zimografia
in situ para localizar e identificar as atividades de MMPs presentes
na camada híbrida criada pelo sistema adesivo autocondicionante de
uma etapa. Os dados indicam claramente que as MMPs estão pre-

1138
MEDEIROS, Ayala sentes na camada híbrida e permanecem ativas após o procedimento
Formiga et al. Os efeitos de hibridização.
das metaloproteinases Nos sistemas autocondicionantes apenas a integração dos inibido-
da matriz extracelular - res de MMPs no agente de ligação permitiria uma inibição eficaz das
mmps e clorexidina no MMPs. No entanto, um estudo verificou que a incorporação da CHX
mecanismo de adesão
(0,05%) em um sistema adesivo autocondicionante não conseguiu
dentária. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4, evitar a diminuição da ligação adesiva durante 12 meses (STROBEL;
p. 1127-1149, 2019. HELLWIG, 2015). Além disso, demonstrou-se que a integração da
CHX em sistemas adesivos autocondicionantes podem prejudicar as
propriedades mecânicas dos agentes de ligação e da ligação adesiva
à dentina (LIU et. al., 2011). Assim, até agora, ainda não foi escla-
recido de forma conclusiva em que grau as MMPs influenciam os
sistemas adesivos autocondicionantes.

OUTRAS ENDOPEPTIDADES: CISTEÍNAS


CATEPSINAS
A camada híbrida e, portanto, a força adesiva entre a resina
composta e dentina é ainda mais afetada por um grupo de enzimas
além das MMPs, nomeadas de cisteínas catepsinas (CCs), que são
endopeptidases produzidas por vários tipos de células, incluindo os
odontoblastos e células de tecido pulpar. Sua presença na dentina
foi recentemente relatada e desempenha um papel na progressão da
cárie, bem como na degradação da camada híbrida (BRESCHI et.
al., 2018). As CCs, degradam hidrolíticamente a matriz extracelu-
lar, em particular o colágeno, e, como as MMPs, elas parecem estar
envolvidas na degradação de colágeno exposto na parte inferior da
camada híbrida (LIU et. al., 2011; STROBEL; HELLWIG, 2015). As
CCs também participam em múltiplos sistemas relacionados à saúde
e doença no hospedeiro (por exemplo, remodelação tecidual e tur-
nover da MEC e função do sistema imune). As CCs podem também
participar em cascatas proteolíticas que ampliam a capacidade de-
gradativa, potencialmente levando a danos patológicos e facilitando
a invasão dos tecidos por células cancerígenas (PELÁ et. al., 2014).
Existem 11 cisteínas-catepsinas humanas conhecidas atual-
mente: B, C, F, H, K, L, O, S, V, X e W. As CCs são enzimas que
desempenham sua função em pH ácido (4,5 a 5,5), apesar dessa
característica algumas CCs têm mostrado efetiva função enzimática
em meio extracelular, hidrolisando e digerindo componentes da
matriz orgânica não somente em pH ácido, quando se mostram mais
estáveis e efetivas, mas também em pH próximo do neutro. Um

1139
exemplo dessa característica está representado pela cisteína catepsi- MEDEIROS, Ayala
na-B que, além de atuar como uma exopeptidase em pH ácido pode Formiga et al. Os efeitos
também desempenhar papel de endopeptidase em pH próximo ao das metaloproteinases
neutro (6,5 a 7,4) (PEREIRA, et. al., 2014). da matriz extracelular -
A cisteína catepsina-K compreende 98% da atividade das ca- mmps e clorexidina no
tepsinas contra o colágeno e difere das MMPs e das outras CCs em mecanismo de adesão
dentária. SALUSVITA,
sua capacidade de clivar o colágeno helicoidal em múltiplos locais
Bauru, v. 38, n. 4,
e gerar múltiplos fragmentos de colágeno. Especulou-se que CCs e p. 1127-1149, 2019.
MMPs podem trabalhar sinergicamente e que esses dois grupos de
enzimas estão localizados muito próximos de seus substratos alvo
(BRESCHI et. al., 2018).
Além disso, E-64 é uma molécula sintética que é capaz de inibir
irreversivelmente catepsinas e, portanto, atua como inibidor especí-
fico das CCs. No entanto, estudos mostraram que a CHX, devido à
sua atividade inespecífica, não apenas inativa MMPs, mas também
CCs. Portanto, a CHX como agente inibidor ainda possui a vantagem
de evitar a necessidade de um inibidor extra, específico, para cisteí-
nas catepsinas (STROBEL; HELLWIG, 2015).

DISCUSSÃO
Liu et. al. (2011) afirmam que os sistemas autocondicionantes em
contraste com os sistemas adesivos convencionais, geralmente con-
tém mais monômeros hidrofílicos, produzindo um aumento da per-
meabilidade de água na camada híbrida e aumento da dissociação
dos monômeros. Portanto, também durante o uso dos sistemas adesi-
vos autocondicionantes há colágeno exposto que pode ser degradado
hidrolíticamente por ativação das MMPs. Corroborando com esta úl-
tima afirmação, Apolonio, et. al. (2017), identificaram atividades de
MMP-2 e MMP-9 presentes na camada híbrida criada pelo sistema
adesivo autocondicionante de uma etapa. Os dados indicaram clara-
mente que as MMPs (MMP-2 e MMP-9) estão presentes na camada
híbrida e permanecem ativas após o procedimento de hibridização.
Ademais, a redução da resistência de união na interface é fre-
quentemente acompanhada por alterações morfológicas que revelam
a desnaturação parcial ou completa de seus constituintes, isto é, dos
compósitos de resina, dos sistemas de união e da dentina modificada
pelo procedimento adesivo. O comprometimento isolado, ou em con-
junto, desses componentes são os responsáveis por reduzir a sobre-
vida das restaurações adesivas (CARRILHO et. al., 2007). A água
é o maior causador da degradação do colágeno. Dentro da camada
híbrida, dois modos de degradação são observados: falta de resina

1140
MEDEIROS, Ayala e sistema adesivo entre os espaços interfibrilares e fibras colágenas
Formiga et al. Os efeitos desprotegidas (HUANG et. al., 2018).
das metaloproteinases O conhecimento de que a ação das metaloproteinases da matriz
da matriz extracelular - extracelular degrada a camada híbrida, possibilitou a realização de
mmps e clorexidina no estudos com substâncias capazes de interferir nessa degradação.
mecanismo de adesão As MMPs são secretadas como pró-enzimas inativas e, quando
dentária. SALUSVITA,
ativadas, atuam na degradação da fibrila de colágeno, da elastina e
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 1127-1149, 2019. de componentes da matriz extracelular (CARRILHO et. al., 2007).
Sabe-se que este grupo de enzimas (MMP-2; MMP-8; MMP-9 e
MMP-20), zinco e cálcio dependentes, são ativadas pela queda do pH,
dessa maneira quando o condicionador ácido ou os monômeros ací-
dicos dos sistemas autocondicionantes são aplicados essas enzimas
se tornam ativas (MARTINS; VASCONCELOS; PORTELA, 2014).
Strobel & Hellwig (2015), confirmou que as MMPs são ativadas em
pH ácido abaixo de 4,5 o que as tornam enzimas totalmente funcio-
nais e capazes de degradar as fibras colágenas da camada híbrida.
Dessa forma, as MMPs existentes são ativadas tanto pela aplica-
ção do ácido fosfórico (pH = 0,4) quanto pelos monômeros ácidos
(PH = 2-2,8) contido no adesivo. No entanto, Pereira; Anauate-Netto;
Gonçalves, (2014) e Ou, Q. et al. (2018) falam que a atividade das
MMPs é inicialmente inativada pelo ácido fosfórico ou pela aplica-
ção de sistemas adesivos autocondicionantes, e que posteriormente
é ativada pela lavagem do ácido ou pela polimerização do adesivo.
Consequentemente, o colágeno exposto é degradado por ativação
das MMPs na parte inferior da camada híbrida, que gradualmente
se desintegra devido ao crescimento e à fusão de porosidades de ta-
manho nanométrico. Sugere-se com base na participação das MMPs
na progressão da cárie dentária, que alterações no pH podem ativar
as MMPs. Segundo Pereira; Anauate-Netto; Gonçalves, (2014), es-
tudos de zimografia revelam que a exposição de MMPs a condições
de relativa acidez (pH 2,3 a 5,5) seguida da neutralização (pH 6,0 a
7,5) conduz ao aumento relativo da atividade gelatinolítica dessas
enzimas.
Além disso, foi descoberto que a atividade colagenolítica não
acorre somente por ação das MMPs, mas também da atividade de
outro grupo de proteases chamadas de cisteína catepsinas (PEREI-
RA; ANAUATE-NETTO; GONÇALVES, 2014).
A degradação das fibrilas de colágeno expostas na união resina-
dentina, embora inevitável, pode ser atenuada por substâncias sin-
téticas que mimetizam a ação dos inibidores biológicos das MMPs.
Uma dessas substancia é a clorexidina. O digluconato de clorexidi-
na é um eficaz agente antimicrobiano, de amplo espectro, que tem
se mostrado efetivo na inibição de pelo menos três tipos de metalo-

1141
proteinase MMP-2, MMP-8 e MMP-9 (KOVALEK, 2008). Inibindo MEDEIROS, Ayala
as metaloproteinases, ocorrerá redução da solubilidade das fibrilas Formiga et al. Os efeitos
de colágeno em meio aquoso. A aplicação da clorexidina à dentina das metaloproteinases
entre o condicionamento ácido e a aplicação do sistema adesivo pa- da matriz extracelular -
rece impedir, ou pelo menos retardar, a degradação das fibras co- mmps e clorexidina no
lágenas expostas na parte inferior da camada híbrida. Isto resulta mecanismo de adesão
dentária. SALUSVITA,
numa união mais estável entre resina e dentina ao longo do tempo
Bauru, v. 38, n. 4,
(RICCI et. al., 2010). p. 1127-1149, 2019.
A clorexidina também pode ser um complemento útil para a rei-
dratação da dentina, preservando a umidade necessária para manter
a rede de colágeno expandida (SOARES, 2008). Quando a clorexi-
dina é aplicada após o condicionamento ácido o resultado é a pre-
servação da integridade do colágeno dentro da camada híbrida in
vivo confirmando o envolvimento direto das metaloproteinases no
processo de degradação do colágeno (MAZZONI et. al., 2013).
Estudos in vitro e in vivo demonstraram bons resultados na inibi-
ção da degradação sub-clínica de camadas híbridas quando há apli-
cação de soluções de clorexidina a 2% sobre a dentina condicionada
com ácido fosfórico e previamente a utilização de um sistema adesi-
vo convencional de dois passos. Também tem sido demonstrado que
a aplicação de soluções de clorexidina sobre a dentina condicionada
não influencia negativamente na resistência de união imediata de sis-
temas adesivos a este substrato (CARRILHO et. al., 2007; CAMPOS
et. al. 2009).
No estudo in vitro de Zheng & Chen (2017) foram comparados
diferentes inibidores de MMPs, sendo um deles a clorexidina 2%,
que foi aplicada após o condicionamento ácido e antes da aplicação
do adesivo e assim foram testadas a força de ligação e a atividade das
MMPs. Os resultados revelaram que o grupo da clorexidina apresen-
tou fibras colágenas mais constantes e protegidas no período de 24
horas e após 3 meses. Além disso, o adesivo foi capaz de penetrar
ainda mais na rede de colágeno aumentando o vínculo de adesivida-
de e melhorando a força de ligação. Dessa maneira, essas caracte-
rísticas revelaram que, ao impedir a atividade das MMPs, podemos
alcançar uma camada híbrida mais espessa e resistente.
Em contraste, Ou, Q. et al. (2018) realizaram um estudo in vitro
para analisar os efeitos inibitórios da clorexidina 2% sobre as MMPs
e a nanoinfiltração da camada híbrida quando a clorexidina foi apli-
cada sobre a dentina condicionada. O estudo revelou que a clorexi-
dina pode preservar a integridade do colágeno durante pelo menos
6 meses, mas esta integridade colágena foi degradada após 1 ano,
diminuindo, portanto, a força de adesão e aumentado a nanoinfiltra-
ção na camada híbrida.

1142
MEDEIROS, Ayala Segundo Favetti et al. (2017) e Breschi et al. (2018), a clorexidina
Formiga et al. Os efeitos aplicada na superfície da dentina em concentração igual a 0,1%, ou
das metaloproteinases maior, pode melhorar os valores de resistência de união a longo pra-
da matriz extracelular - zo, reduzindo a degradação mediada pelas MMPs. O estudo de Fave-
mmps e clorexidina no tti et al. (2017) ainda cita uma revisão sistemática que demonstrou na
mecanismo de adesão maioria dos estudos que o pré-tratamento da dentina condicionada
dentária. SALUSVITA,
com clorexidina apresentou uma menor redução na resistência de
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 1127-1149, 2019. união adesiva.
Ademais, Breschi et al. (2018) citaram que a inibição das MMPs
resulta na melhoria da integridade geral de camada híbrida, menor
aumento da nanoinfiltração e maior durabilidade da força de adesão.
Favetti et al. (2017) realizaram um estudo prospectivo randomiza-
do e controlado com o objetivo de avaliar o efeito do pré-tratamento
com digluconato de clorexidina 2% como coadjuvante na retenção de
restaurações de lesões cervicais não cariosas acompanhadas por um
período de 36 meses. Os achados deste estudo mostraram que não hou-
ve diferença na retenção da restauração e taxas de falha entre o grupo
que usou clorexidina e o grupo controle. Portanto, a hipótese de que a
inibição das MMPs pela clorexidina poderia proporcionar melhor de-
sempenho clínico nas restaurações não foi confirmada nesse estudo.
Os autores acrescentaram que mesmo a clorexidina apresentando um
efeito satisfatório na diminuição da degradação das fibras colágenas
da camada híbrida, ela não pode aumentar a retenção de restaurações
de lesões cervicais não cariosas, pois a falha desse tipo de restauração
não pode ser relacionada, exclusivamente, ao tratamento de inibição
de MMPs. Procedimentos restauradores em lesões cervicais não ca-
riosas envolve um tratamento multifatorial envolvendo hábitos orais e
remoção do fator etiológico e, portanto, conseguindo englobar todos
esses fatores pode-se ter o sucesso da restauração.
A adição de digluconato de clorexidina no condicionador ácido é
uma excelente ferramenta para aumentar a estabilidade das fibrilas de
colágeno na camada híbrida contra as MMPs, sem a necessidade de
medidas adicionais para o protocolo de ligação resina-dentina, isso
porque, a clorexidina pode inibir as proteases tanto em meio aquoso
quanto associado ao ácido (STANISLAWCZUK et. al., 2009).
Com relação ao uso da clorexidina associada aos sistemas adesi-
vos não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes
nos valores médios de resistência de união de um sistema autocondi-
cionante simplificado quando aplicado à dentina hígida na presença
de clorexidina 0,2% e 2%. O mesmo foi observado para um sistema
autocondicionante de dois passos (CAMPOS et. al. 2009).
No entanto, Strobel & Hellwig, (2015) verificaram que a incor-
poração da CHX (0,05%) em um sistema adesivo autocondicionan-

1143
te não conseguiu evitar a diminuição da ligação adesiva durante 12 MEDEIROS, Ayala
meses. Além disso, Liu et al. (2011) demonstraram que a integração Formiga et al. Os efeitos
da CHX em sistemas adesivos autocondicionantes podem prejudicar das metaloproteinases
as propriedades mecânicas dos agentes de ligação e da ligação ade- da matriz extracelular -
siva à dentina. mmps e clorexidina no
Sugere-se baseado nos estudos de Suzuki (2015), que a CHX pre- mecanismo de adesão
dentária. SALUSVITA,
judique a resistência de união desses adesivos da mesma forma que
Bauru, v. 38, n. 4,
ela prejudica a resistência de união do cimento autoadesivo U200 – p. 1127-1149, 2019.
3M ESPE, na qual, a interação da clorexidina (composto catiônico)
com o fosfato da hidroxiapatita (composto aniônico) formam precipi-
tados criando uma barreira física entre a dentina e o adesivo/cimento
ou material resinoso impedindo uma boa adesão. Porém, até agora,
ainda não foi esclarecido de forma conclusiva em que grau as MMPs
influenciam os sistemas adesivos autocondicionantes.
Segundo Hebling et al. (2005) e Carrilho et al. (2007), a aplicação
ou não da CHX a 2% não influenciou nos valores de resistência ime-
diata de união. Já quando a aplicação da CHX foi avaliada ao longo
do tempo, os autores destes estudos são unânimes em apontar os
benefícios causados pela sua aplicação, como menor degradação da
camada híbrida, e, consequentemente, longevidade da restauração.
Porém, Huang, B. et al. (2018) e Ou, Q. et al., (2018) relataram que o
uso de CHX como um inibidor da atividade de MMPs mostrou ape-
nas resultados positivos à curto prazo, sendo assim, a degradação da
camada híbrida torna-se inevitável e a longevidade da restauração
não influenciada pelo seu uso.
Soares et al. (2008) verificaram que a clorexidina promoveu uma
melhor exposição das fibrilas colágenas da camada híbrida devido a
hidratação melhorando a penetração do sistema adesivo e resultando
numa menor quantidade de fibrilas desprotegidas, menor degradação
e preservação da camada híbrida.
Em suma, as MMPs dentinárias desempenham um papel impor-
tante na degradação das fibras de colágeno expostas na camada hí-
brida e essas enzimas podem ser inibidas pela ação da clorexidina.
Apesar disso, o processo de degradação da camada híbrida é inevi-
tável, pois pode ser afetado por outros fatores incluindo atividade
salivar e bacteriana, absorção de água, contração de polimerização e
dissociação dos monômeros resinosos. Isso indica a importância de
novos estudos investigando os mecanismos de degradação interfa-
cial para definir estratégias visando melhorar a qualidade interfacial
e a bioestabilidade, e, em última análise, para aumentar a longevi-
dade das restaurações em resina composta (HUANG et. al., 2018).
Nesse contexto, pode-se sugerir que o uso da clorexidina no pro-
cedimento adesivo restaurador, além de sua conhecida ação antimi-

1144
MEDEIROS, Ayala crobiana e não afetar a resistência de união à dentina pode reduzir
Formiga et al. Os efeitos a degradação das fibras colágenas através da inibição das MMPs,
das metaloproteinases porém não há evidências científicas suficientes para assegurar que
da matriz extracelular - a inibição das MMPs pela clorexidina tem a capacidade de garantir
mmps e clorexidina no uma maior longevidade adesiva às restaurações de resina à longo
mecanismo de adesão prazo. Mais estudos precisam ser realizados para descobrir qual a
dentária. SALUSVITA,
melhor concentração, bem como, qual o melhor protocolo de clorexi-
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 1127-1149, 2019. dina a ser utilizado, em associação com os sistemas adesivos con-
vencionais e autocondicionantes e a sua influência na resistência de
união ao longo do tempo, já que até o momento o período máximo
foi de até mais ou menos 3 anos.

CONCLUSÃO
Ao usar sistemas adesivos convencionais podemos aplicar uma
solução aquosa pura de CHX (0,2% por 60s ou 2% por 30s) como
inibidor terapêutico após o condicionamento ácido e antes da
administração do adesivo que vai retardar o processo de degradação
da camada híbrida e melhorar a estabilidade em longo prazo da
ligação adesiva a dentina. Porém, a utilização da CHX não é capaz
de impedir completamente a degradação da camada híbrida, mas
é um importante passo para uma adesão mais duradoura e estável
entre a dentina e resina composta. Além disso, a CHX devido à sua
atividade inespecífica, não apenas inativa as MMPs, mas também as
cisteínas catepsinas (CCs). Portanto, a CHX como agente inibidor
ainda possui a vantagem de evitar a necessidade de um inibidor
extra, específico, para CCs.

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1149
ABORDAGEM DAS TÉCNICAS
DIAGNÓSTICAS DA DTM COMO UMA
DOENÇA BIOPSICOSSOCIAL: UMA
REVISÃO DE LITERATURA
Approach of diagnostic techniques of the DTM as a
biopsychosocial disease: a literature review

Geovanna Caroline Brito da Silva1


Marcelo Gadelha Vasconcelos2
Rodrigo Gadelha Vasconcelos2

1
Acadêmica do curso de SILVA, Geovanna Caroline Brito da, VASCONCELOS, Marcelo
graduação em Odontologia Gadelha e VASCONCELOS, Rodrigo Gadelha. Abordagem das
da Universidade Estadual técnicas diagnósticas da dtm como uma doença biopsicossocial:
da Paraíba – UEPB,
Araruna-PB, Brasil.
uma revisão de literatura. SALUSVITA, Bauru, v. 38, n. 4, p. 1151-
1167, 2019.
2
Professor Doutor efetivo
da Universidade Estadual
da Paraíba – UEPB,
Araruna-PB, Brasil.
RESUMO
Introdução: A disfunção temporomandibular (DTM) consiste em
um conjunto de condições musculoesqueléticas e neuromusculares
que envolve o complexo articular temporomandibular, a musculatura
e os componentes ósseos adjacentes. Sua etiologia inclui múltiplos
Recebido em: 13/10/2019 fatores desencadeantes biológicos, ambientais, emocionais, sociais
Aceito em: 28/12/2019

1151
e cognitivos. Objetivo: O trabalho objetivou realizar uma revisão SILVA, Geovanna
de literatura a respeito dos métodos de diagnóstico englobando uma Caroline Brito da,
visão biopsicossocial da DTM. Materiais e Métodos: Constitui- VASCONCELOS,
se em uma busca bibliográfica realizada em uma respeitada base Marcelo Gadelha e
de pesquisa online para a produção do conhecimento em saúde: VASCONCELOS, Rodrigo
PubMed – U.S. National Library of Medicin, limitando-se a busca Gadelha. Abordagem
das técnicas diagnósticas
ao período de 2005 a 2019. Resultados: Devido a diversidade
da dtm como uma
etiológica e características clínicas variadas, a análise biopsicossocial doença biopsicossocial:
individualizada associada à exames imaginológicos surge como uma uma revisão de
relevante ferramenta para o diagnóstico desse distúrbio. Conclusão: literatura. SALUSVITA,
Uma abordagem de diagnóstico com base em um modelo de doença Bauru, v. 38, n. 4,
biopsicossocial é fundamental para que seja possível avaliar o p. 1151-1167, 2019.
paciente em toda a sua integralidade física, psicológica e social com
o propósito de efetivar o planejamento de intervenções preventivas e
terapêuticas sob medida para cada caso clínico.

Palavras-chaves: Disfunção temporomandibular. Diagnóstico.


Métodos de diagnóstico.

ABSTRACT

Introduction: Temporomandibular dysfunction (TMD) consists of


a set of musculoskeletal and neuromuscular conditions that involve
the temporomandibular joint complex, the musculature and the
adjacent bone components. Its etiology includes multiple biological,
environmental, emotional, social and cognitive triggers. Objective:
This study aimed to perform a literature review on diagnostic
methods encompassing a biopsychosocial view of TMD. Materials
and Methods: This study is a bibliographic search conducted in
a respected online research base to produce health knowledge:
PubMed - US National Library of Medicine, limiting the search to
the period from 2005 to 2019. Results: Due to etiological diversity
and varied clinical characteristics, individualized biopsychosocial
analysis associated with imaging exams is a relevant tool for the
diagnosis of this disorder. Conclusion: A diagnostic approach based
on a biopsychosocial disease model is essential to assess the patient
in all their physical, psychological and social completeness with
the purpose of planning preventive and therapeutic interventions
tailored to each case. clinical.

Keywords: Temporomandibular dysfunction. Diagnosis. Diagnostic


methods.

1152
SILVA, Geovanna INTRODUÇÃO
Caroline Brito da,
VASCONCELOS,
Marcelo Gadelha e
A disfunção temporomandibular (DTM) é denominada pela
VASCONCELOS, Rodrigo American Academy of Orofacial Pain (2010) como um conjunto de
Gadelha. Abordagem condições musculoesqueléticas e neuromusculares que englobam
das técnicas diagnósticas as articulações temporomandibulares (ATM’s), os músculos
da dtm como uma mastigatórios e todos os tecidos associados (GREENE et al., 2010).
doença biopsicossocial: Nesse contexto, o crescimento do número de acontecimentos desse
uma revisão de distúrbio tem se tornado comum nos últimos anos, principalmente,
literatura. SALUSVITA, entre adultos jovens. Em virtude disso, é necessária uma ampla
Bauru, v. 38, n. 4,
compreensão a respeito da doença e as possíveis maneiras de sua
p. 1151-1167, 2019.
detecção, isto é, técnicas de diagnóstico eficientes e confiáveis
(MANFREDINI et al., 2006).
Historicamente, os trabalhos diagnósticos focalizaram em
causas isoladas e, consequentemente, não resultaram em evidências
concretas e suficientes. As DTM’s, portanto, não podem ser
entendidas somente como um distúrbio localizado, mas como um
produto da multiplicidade de determinantes de risco (SLADE et
al., 2013). Desse modo, a inclusão dessa condição em um grupo de
doenças de etiologia complexa implica na existência de uma atuação
conjunta de fatores de risco que originam uma ampla diversidade
casual do problema (OHRBACH e DWORKIN, 2016).
Dessa forma, a doença está inserida em uma perspectiva
biopsicossocial de diagnóstico, visto que para realização de tal
procedimento é feita a observação de sinais e sintomas físicos,
bem como mudanças comportamentais, aspectos emocionais e
interações sociais como manifestações da desregulação geral do
sistema nervoso central (SLADE et al., 2013). Em decorrência
disso, não só fatores etiológicos isolados merecem destaque para a
detecção, mas todos as esferas citadas devem englobar as técnicas
diagnósticas a fim de que o profissional avalie o paciente em
toda sua integralidade física, social e psicológica para conseguir
identificar a disfunção e encaminhar para o tratamento adequado
(VERKERK et al., 2015).
Portanto, devido à sintomatologia heterogênea, o diagnóstico
da DTM pode ser, algumas vezes, dificultado ou confundido
com outras condições patológicas. Paralelamente, tecnologias de
imagem auxiliam como métodos de identificação mais precisos
e complementares ao exame clínico (PETERSSON, 2010). Nesse
cenário, é relevante o entendimento das práticas diagnósticas
existentes com o propósito de minimizar resultados falso-positivos,
como também de direcionar o correto tratamento para a recuperação
do paciente (LIST; JENSEN, 2017).

1153
Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, por intermédio SILVA, Geovanna
de uma revisão sistemática de literatura, apresentar uma análise dos Caroline Brito da,
métodos utilizados para diagnosticar a disfunção temporomandibular VASCONCELOS,
(DTM). Esse conhecimento é substancial para que o clínico Marcelo Gadelha e
desempenhe uma melhor abordagem de exame e possa encaminhar VASCONCELOS, Rodrigo
o paciente para o tratamento apropriado. Gadelha. Abordagem
das técnicas diagnósticas
da dtm como uma
doença biopsicossocial:
MATERIAIS E MÉTODOS uma revisão de
literatura. SALUSVITA,
O presente estudo constitui uma revisão sistemática da literatura Bauru, v. 38, n. 4,
realizada em uma respeitada base de pesquisa online para a produção p. 1151-1167, 2019.
do conhecimento em saúde: PubMed – U.S. National Library of
Medicine, limitando-se a busca ao período de 2005 a 2019.
Os seguintes descritores foram utilizados para o rastreio dos
artigos: Disfunção temporomandibular (Temporomandibular
disorder), Diagnóstico e disfunção temporomandibular (Diagnosis
and temporomandibular disorder) e Métodos de diagnóstico de DTM
(TMD diagnostic methods).
A princípio, se fez necessária a tradução e leitura prévia do resumo
das publicações resultantes da busca com a finalidade de obter uma
perspectiva genérica de cada uma e, a partir disso, determinar os
artigos elegíveis (estudos que tinham relação com a temática a
ser abordada) que foram incluídos e artigos não elegíveis (estudos
que não tinham relação com a temática a ser abordada) que foram
excluídos. Outro recurso utilizado foi a procura manual em listas de
referências de artigos selecionados.
Dentre os critérios de inclusão observados para a escolha dos
artigos foram considerados: estudos que se enquadravam no enfoque
do trabalho, com mais clareza metodológica e mais pertinentes no
que se refere a abrangência de informações desejadas.

REVISÃO DE LITERATURA

DIAGNÓSTICO BIOPSICOSSOCIAL DA DTM

O diagnóstico de qualquer doença é essencial para traçar o


planejamento do seu tratamento. Prioriza-se que ele seja realizado
precocemente com o propósito de que se evite, com antecedência, a
extensão de comprometimentos negativos, como exemplo, severas
sequelas provocadas por alterações morfofuncionais permanentes e
até mesmo o óbito do paciente (DUGASHVILI et al., 2013).

1154
SILVA, Geovanna Nesse contexto, é evidente a necessidade e importância de um
Caroline Brito da, sistema de diagnóstico confiável para todas as doenças, incluindo
VASCONCELOS, a disfunção temporomandibular (DTM). Levando em consideração
Marcelo Gadelha e os múltiplos mecanismos causa-efeito do início da doença e a
VASCONCELOS, Rodrigo abordagem individual complexa, torna-se possível afirmar que
Gadelha. Abordagem ocorreu uma transição significativa dessa condição patológica de
das técnicas diagnósticas
um modelo biomédico centrado, predominantemente, na articulação
da dtm como uma
doença biopsicossocial: temporomandibular (ATM) para um modelo biopsicossocial
uma revisão de integrado a diversos outros fatores comportamentais, psicológicos e
literatura. SALUSVITA, sociais para determinação diagnóstica da disfuncionalidade (DEYO
Bauru, v. 38, n. 4, et al., 2014).
p. 1151-1167, 2019. Em virtude desse espelhamento voltado para uma perspectiva
biopsicossocial de diagnóstico, muitos fenômenos psíquicos, como
depressão, ansiedade, somatização e outros transtornos sociais,
a exemplo, o comprometimento no que se refere à realização de
atividades cotidianas, o uso contínuo de medicamentos e a frequência
na procura de tratamento tornaram-se importantes componentes do
aspecto clínico de muitas condições de dor crônica, incluindo a DTM
(CANALES et al., 2018).
Portanto, essa mudança foi fundamental não só para ampliar
clinicamente as observações que o cirurgião-dentista deve estar atento
durante a realização do diagnóstico, mas também para melhorar a
eficácia das intervenções preventivas e a projeção do tratamento
da doença, através, por exemplo, do uso da terapia patogênica na
reabilitação precoce de pacientes com DTM (KOSTIUK et al., 2018).

ANAMNESE

Dentre os principais impasses existentes para a definição do


diagnóstico da disfunção temporomandibular, encontra-se a expressão
multiforme de sintomas (BOENING et al., 2015). Sendo assim,
um indivíduo afetado pode desencadear diferentes características
sintomatológicas que são responsáveis por um forte e constante
desconforto, visto que se exteriorizam através da sensação dolorosa
na região da ATM e da musculatura mastigatória, limitação durante
a execução de movimentos mandibulares, produção de ruídos pela
ATM, até estados de dor comuns, como exemplo, dores auriculares
e cefaleia, que estão associados à outras doenças e em virtude disso,
podem dificultar tanto a procura de tratamento quanto o correto
diagnóstico por parte do profissional (SCHIFFMAN et al., 2014).
Predominantemente, a ocorrência de dor ilustra a queixa principal
de pacientes com disfunção da articulação temporomandibular durante

1155
a anamnese (LOOK et al., 2010). E, geralmente são provocadas por SILVA, Geovanna
alterações induzidas mediante fatores psicoemocionais e genéticos Caroline Brito da,
que rompem o equilíbrio morfofisiológico do sistema esquelético VASCONCELOS,
e como resposta a esse processo, o organismo busca formular uma Marcelo Gadelha e
reação negativa que se expressa através de uma sensação subjetiva VASCONCELOS, Rodrigo
e inconveniente, isto é, o estímulo doloroso que, no caso da DTM, Gadelha. Abordagem
das técnicas diagnósticas
apresenta-se de forma aguda ou crônica na face, difundindo-se
da dtm como uma
para estruturas localmente próximas, como olhos, ouvidos e região doença biopsicossocial:
occipital (PIHUT et al., 2014). uma revisão de
Diante disso, levando em consideração o trabalhoso processo literatura. SALUSVITA,
de detectar essa disfunção pela sua condensada sintomatologia Bauru, v. 38, n. 4,
que, muitas vezes, pode ser comum a várias outras condições, os p. 1151-1167, 2019.
dados coletados durante a anamnese surgem como um elemento
chave para a efetivação de um diagnóstico diferencial, visto que as
informações elucidadas para o cirurgião dentista, como exemplo, a
natureza, frequência e intensidade da dor apresentada pelo paciente,
além de aspectos básicos sobre seu histórico de vida, facilitam não
somente o encontro mais rápido e preciso do diagnóstico, mas
também a redução de ocorrência de resultados falso-positivos
(LIST; JENSEN, 2017).
Além disso, a anamnese possibilita o conhecimento da
história médica e isso é substancial para apurar e guiar o
profissional durante o processo de exame, uma vez que relatos
de comprometimentos sistêmicos, estresse, ansiedade e depressão
exacerbam movimentos gerais do sistema estomatognático e
intensificam a dor na ATM e músculos mastigatórios e por essa
razão, são eventos que estão intimamente relacionados com a
DTM (DE LEEUW et al., 2005).
Em virtude disso, torna-se cada vez mais concreto que a DTM
engloba fatores não apenas biológicos, mas também pode estar
vinculada a outras deficiências psicológicas e comportamentais
que exigem consideração durante o planejamento do tratamento e
prognóstico, visto que por si só podem influenciar na frequência e
intensidade da dor temporomandibular crônica (VELLY et al., 2010).

EXAME FÍSICO

O diagnóstico da DTM é mais constantemente fundamentado no


histórico do paciente e no exame físico. Assim sendo, esse processo
é gradativo e principalmente de observação no que diz respeito aos
sinais e sintomas dessa condição (PECK et al., 2015).

1156
SILVA, Geovanna Os achados obtidos com a realização da anamnese podem não
Caroline Brito da, fornecer um diagnóstico imediato, uma vez que são relatos de
VASCONCELOS, subjetividade que podem ser usuais em pacientes assintomáticos,
Marcelo Gadelha e como exemplo, as crepitações durante a movimentação mandibular
VASCONCELOS, Rodrigo (SCRIVANI et al., 2008). Diante dessa situação, faz-se necessário
Gadelha. Abordagem também o exame físico do paciente com o intuito de proporcionar
das técnicas diagnósticas
uma avaliação clínica completa e mais objetiva que permita não
da dtm como uma
doença biopsicossocial: apenas a detecção da doença, bem como a programação de medidas
uma revisão de preventivas e terapêuticas (MANFREDINI et al., 2006).
literatura. SALUSVITA, Nesse contexto, o exame físico odontológico emprega diferentes
Bauru, v. 38, n. 4, critérios avaliativos que integram a verificação dos movimentos
p. 1151-1167, 2019. excursivos da mandíbula e palpação dos músculos faciais e cervicais
(FERREIRA et al., 2016). Além disso, outros fatores como a
oclusão do paciente devem ser levados em consideração, uma vez
que situações como o edentulismo adquirido, assimetrias faciais e
reabilitação oclusal restaurativa podem favorecer a manifestação da
DTM (GAUER; SEMIDEY, 2015).
Essa etapa da avaliação clínica tem por objetivo estimar a
localização da dor relatada, a limitação do movimento mandibular,
os ruídos desenvolvidos pela ATM e a escala de dor mediante à
manobra semiotécnica da palpação dos músculos da mastigação
e da própria articulação (LIST; JENSEN, 2017). Os achados do
exame podem incluir, de maneira mais frequente, crepitações da
ATM e hiperalgesia, descoberta principalmente por intermédio
da pressão aplicada nos músculos mastigatórios e nas articulações
temporomandibulares. Assim, os subtipos mais comuns de DTM
integram distúrbios intrinsicamente relacionados à dor, como a dor
miofascial e artralgia, bem como distúrbios vinculados à ATM,
sobretudo desarranjos internos e doença articular degenerativa
(VERKERK et al., 2015).
O exame físico intraoral, assim sendo, requer do cirurgião dentista
muita precaução em casos de indivíduos que relatam dor na região
da articulação temporomandibular, visto que algumas circunstâncias
como cárie dentária, abscessos, bruxismo, má oclusão, neuralgia
do trigêmeo, síndrome da cefaleia primária, ulcerações orais e
distúrbios de glândulas salivares são capazes de mimetizar a DTM
(ZAKRZEWSKA, 2013). Sob outra perspectiva, os sintomas da DTM
são capazes de se manifestar em doenças autoimunes como o lúpus
eritematoso sistêmico, Síndrome de Sjögren e artrite reumatoide
o que dificulta ainda mais o processo de diagnóstico (OKESON;
LEEUW, 2011).

1157
EXAMES DE IMAGEM SILVA, Geovanna
Caroline Brito da,
VASCONCELOS,
Os exames de imagem representam um relevante meio
Marcelo Gadelha e
complementar de diagnóstico quando os achados do exame clínico
VASCONCELOS, Rodrigo
são ambíguos. Dessa forma, a recomendação da imagem diagnóstica Gadelha. Abordagem
representa, certamente, um componente integrativo da avaliação de das técnicas diagnósticas
pacientes com DTM e dor orofacial, uma vez que, através dela, torna-se da dtm como uma
possível comprovar ou descartar a doença, além de favorecer a coleta doença biopsicossocial:
de informações visuais adicionais quando o diagnóstico clínico não uma revisão de
é suficiente (HUNTER; KALATHINGAL, 2013). Por conseguinte, literatura. SALUSVITA,
múltiplas modalidades da imaginologia foram desenvolvidas e são Bauru, v. 38, n. 4,
acessíveis para investigar possíveis suspeitas etiológicas de DTM p. 1151-1167, 2019.
(TVRDY, 2007).
Diante do contexto, a solicitação da imagem da ATM deve ser
estabelecida posteriormente à obtenção do histórico completo e
exame físico detalhado do paciente. Sendo assim, a observação
de sinais e sintomas apresentados orientam o profissional para o
desenvolvimento de um diagnóstico diferencial provável de patologia
da ATM e, com base nisso, a definição do modo imaginológico mais
apropriado deve ser recomendado. Essa escolha depende também
de fatores extrínsecos, como a disponibilidade do equipamento
especializado, a relação custo-benefício, a dose de exposição à
radiação e outras contraindicações, como gravidez ou alergia a
substâncias de contraste intravenosas (LEWIS et al., 2008).
O estudo por imagem da articulação temporomandibular inclui
desde técnicas mais simples, como as radiografias convencionais
panorâmicas, até situações clínicas que exigem métodos de
maior precisão, como artrografia, tomografia computadorizada
e ressonância magnética (CHAMI et al., 2014). Esses exames
englobam uma parcela do processo de diagnóstico complementar à
análise clínica e podem ser solicitados em diferentes circunstâncias,
a exemplo de traumas, crepitações, limitações de abertura, mudanças
na oclusão, entre outras (HUNTER; KALATHINGAL, 2013).
Nessa perspectiva, a visualização da ATM é de extrema
utilidade clínica para o processamento diagnóstico, bem como para
o tratamento, visto que permite a avaliação das estruturas quando
existe a suspeição da doença e possibilita o estabelecimento de
fatores críticos como a sua extensão e seus efeitos, do mesmo modo
que se firma como um método significativo para o acompanhamento
da progressividade no paciente (LEWIS et al., 2008).
As radiografias convencionais apresentam limitações no que diz
respeito à avaliação da ATM, visto que, apesar de mostrar resultados
eficientes na análise de componentes ósseos dessa estrutura, não

1158
SILVA, Geovanna apresentam o mesmo desempenho para componentes não ósseos,
Caroline Brito da, como cartilagens e tecidos moles circundantes. Além disso, outro
VASCONCELOS, ponto desfavorável dessas radiografias é a sobreposição de estruturas,
Marcelo Gadelha e dificultando, portanto, a visualização (BAG et al., 2014).
VASCONCELOS, Rodrigo A radiografia panorâmica, no que se refere a pacientes
Gadelha. Abordagem sintomáticos de dor orofacial, apresenta-se como uma importante
das técnicas diagnósticas
técnica de monitoramento, visto que possibilita a visibilidade de
da dtm como uma
doença biopsicossocial: fraturas agudas, luxações e doença articular degenerativa severa
uma revisão de (LAMOT et al., 2013). Contudo, devido a retratar apenas os polos
literatura. SALUSVITA, laterais e a região central do côndilo e marcar minimamente
Bauru, v. 38, n. 4, alterações ósseas dessa estrutura, esse exame radiológico não
p. 1151-1167, 2019. representa uma forma de diagnóstico de confiabilidade aceitável
para avaliar pacientes acometidos pela DTM. Em contrapartida, a
tomografia computadorizada é mais favorável para avaliar variações
da morfologia óssea sutil (PETERSSON, 2010).
Para contornar os problemas de sobreposição de elementos
estruturais que ocorrem, ocasionalmente, nas radiografias
panorâmicas, a tomografia computadorizada apresentou-se como
uma boa alternativa para examinar a ATM (BARGHAN et al., 2012),
visto que permite a clara avaliação dos contornos da cortical óssea e
principalmente, das alterações ósseas da DTM (ZAIN-ALABDEEN
e ALSADHAN, 2012). Entretanto, esse método de diagnóstico possui
determinados fatores negativos que tem limitado sua execução, como
a acessibilidade ao equipamento, o elevado custo do exame e a dose
de exposição à radiação (BARGHAN et al., 2012).
Nesse cenário, a tomografia computadorizada por feixe cônico
foi desenvolvida na busca de reparar restrições da tomografia
convencional e tem alcançado esse objetivo, já que, diante de
comparações, comprova-se sua baixa taxa de radiação ionizante
(ZINMAN et al., 2010). O propósito das imagens da ATM obtidas
por essa técnica de diagnóstico é a avaliação de estruturas ósseas
para confirmar a extensão e progressão do distúrbio para traçar o
plano de tratamento mais adequado para o paciente (BARGHAN
et al., 2012). Contudo, os dois tipos de tomografia citados não são
eficientes para a análise de tecidos moles da ATM, como o disco
articular. Esse fato é, de certa forma, limitante para o diagnóstico de
deslocamento de disco que representa uma condição muito frequente
em pacientes acometidos pela DTM e pode servir, portanto, como
um fator considerável para aumentar a suspeita do profissional sobre
esse distúrbio (LARHEIM et al., 2015).
Dentre os exames de imagem existentes, a ressonância magnética
é configurada na literatura como o principal método de escolha e
que garante uma maior exatidão diagnóstica para pacientes com

1159
sinais e sintomas de DTM (LAMOT et al., 2013). Este fato se deve à SILVA, Geovanna
característica do procedimento de fornecer informações superiores Caroline Brito da,
das estruturas articulares de forma não invasiva (AIKEN et al., VASCONCELOS,
2012) e de viabilizar a obtenção de imagens de alta resolução da Marcelo Gadelha e
ATM em diferentes planos, além de possibilitar o contraste e a VASCONCELOS, Rodrigo
diferenciação de tecidos moles, o que facilita na investigação de Gadelha. Abordagem
das técnicas diagnósticas
possíveis transtornos e/ou anormalidades (CHAMI et al., 2014).
da dtm como uma
Diferentemente das outras técnicas de imagem, a ressonância doença biopsicossocial:
magnética possui um maior nível de segurança, visto que não utiliza uma revisão de
radiação ionizante, que pode significar um risco biológico para os literatura. SALUSVITA,
pacientes (LIN, 2010). Apesar disso, esse exame é ainda desvantajoso Bauru, v. 38, n. 4,
como ferramenta de triagem de DTM em virtude do seu alto custo, p. 1151-1167, 2019.
disponibilidade de equipamento relativamente baixa e demora de
execução (ALMEIDA et al., 2018).
A ultrassonografia é uma técnica não invasiva e de baixo
custo eficiente para o diagnóstico do desarranjo interno da ATM
quando, em alguma situação, a ressonância magnética encontra-se
indisponível. Um ponto diferencial dessa modalidade é a viabilidade
de observação do movimento do disco articular durante a abertura
e o fechamento da boca. Essa dinâmica auxilia o investigador a
detectar a posição do disco com mais precisão quando comparada a
modalidades que utilizam imagens estáticas, além de possibilitar que
a ultrassonografia seja utilizada como uma ferramenta de suporte
conveniente para a detecção de pacientes acometidos pela DTM
(BAS et al., 2011).
A artrografia é uma técnica que obtém imagens da ATM através
da injeção de uma substância de contraste radiopaco no espaço
articular que proporciona a análise dinâmica da ATM à medida que
esse agente de contraste flui pelo seu interior, tornando-se possível
explorar aderências, disfunções e perfurações de disco, além dos
movimentos das articulações. No entanto, essa modalidade, além de
ser invasiva, apresenta outras desvantagens, como o risco de reações
alérgicas e infecções, já que exige o uso de agulhas e a exposição à
radiação associada ao paciente (BAG et al., 2014).

OUTROS MÉTODOS DIAGNÓSTICOS

A aplicação de anestésico local em pontos desencadeantes


envolvendo os músculos mastigatórios é uma técnica menos
conhecida e utilizada, porém apresenta-se como um complemento
diagnóstico utilizado para distinguir a origem da dor mandibular.
As complicações desse procedimento são mínimas quando realizado

1160
SILVA, Geovanna de forma adequada, porém demanda precauções para sua possível
Caroline Brito da, execução, uma vez que o operador, seja médico ou cirurgião-
VASCONCELOS, dentista, deve possuir uma boa habilidade para anestesiar a região
Marcelo Gadelha e do nervo auriculotemporal. A persistência da dor após o bloqueio
VASCONCELOS, Rodrigo efetivo desse nervo serve como um sinal de alerta para que o clínico
Gadelha. Abordagem busque reavaliar os sintomas da DTM e considere um diagnóstico
das técnicas diagnósticas
alternativo (NASCIMENTO et al., 2013).
da dtm como uma
doença biopsicossocial: A termografia infravermelha é um método não invasivo que
uma revisão de identifica alterações funcionais, nervosas e vasculares através
literatura. SALUSVITA, de uma imagem fotográfica baseada na captura e transmissão da
Bauru, v. 38, n. 4, radiação infravermelha emanada pela pele humana que promove
p. 1151-1167, 2019. a reflexão da microcirculação local (MELO et al., 2019). Essa
modalidade, nos últimos anos, tem sido alvo de frequentes estudos
sobre seu uso alternativo como teste de diagnóstico auxiliar para
avaliação da DTM através de variações de temperatura na área da
ATM (CHRISTENSEN et al., 2012).
Apesar de ser um procedimento não ionizante e indolor, visto que
não necessita do contato direto com a área afetada, o que oferece
uma maior proteção para os pacientes, a termografia infravermelha
possui fatores dependentes que a classificam como uma técnica
imprecisa, como as condições do ambiente de trabalho que podem
alterar a temperatura da pele do examinado (MELO et al., 2019).
Nesse sentido, levando em consideração o aspecto etiológico
multifatorial da DTM, evidenciou-se a relevância de realizar estudos
para investigar o potencial dos métodos de detecção desse distúrbio
(BARÃO et al., 2011). Diante da produção de algumas revisões
sistemáticas, foi demonstrado que a termografia infravermelha possui
uma baixa eficácia e confiabilidade como técnica de diagnóstico de
DTM (RODRIGUES-BIGATON et al., 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na literatura pesquisada, é possível inferir que
pacientes com DTM podem apresentar, de maneira frequente,
comprometimentos psicoemocionais como o estresse, a ansiedade e
a depressão que podem elevar a intensidade da dor. Em virtude disso,
é fundamental que seja feita uma avaliação do perfil psicossocial dos
examinados como forma de auxiliar no diagnóstico desse distúrbio.
A disponibilidade de diferentes tipos de exames de imagem, por
outro lado, mostra-se relevante uma vez que contribui, de maneira
efetiva, na detecção de DTM quando as informações obtidas pelo
histórico e exame físico do paciente são insuficientes para fornecer

1161
uma exatidão diagnóstica. Além disso, as técnicas imaginológicas SILVA, Geovanna
desempenham um papel decisivo para a escolha da melhor forma de Caroline Brito da,
tratamento do paciente. VASCONCELOS,
Em suma, diante da natureza etiológica multifatorial aliada à Marcelo Gadelha e
sintomatologia heterogênea da DTM, é fundamental uma abordagem VASCONCELOS, Rodrigo
de diagnóstico com base em um modelo de doença biopsicossocial Gadelha. Abordagem
das técnicas diagnósticas
que permita avaliar o paciente em toda a sua integralidade
da dtm como uma
física, psicológica e social para que, dessa maneira, se permita, o doença biopsicossocial:
planejamento de intervenções tanto preventivas como de tratamento uma revisão de
sob medida para cada caso clínico. literatura. SALUSVITA,
Bauru, v. 38, n. 4,
p. 1151-1167, 2019.

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