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Capitulo 10 Taw haere Fundamentos da Optica geométrica 1. Luz:uma forma de energia radiante Energia radiante é aquela que se propaga por meio de ondas eletromagnéticas. Dentro dessa con- cepcao, podemos destacar as ondas de ridio, de TV e de radar, os raios infravermethos, a luz, os raios ultravioleta, os raios X, os raios gama etc. Sol envia & Terra energia radiante, constituida de radiagdes infravermelhas (denominadas “ondas de calor” por interagirem com a matéria aumentando 0 stado de agitacdo das particulas), luz e radiagdes ul- travioleta, entre outras, Essa energia chega a0 nosso planeta & taxa de 1,92 caloria por minuto, em cada centimetro quadrado de superficie normal aos raios solares, denominada constante solar. Uma caracteristica importantissima da energia ra- diante ¢ sua velocidade de propagacao, que, no vacuo, vale aproximadamente: 108 ms ,00 - 10° km/s = 3,00 Nos meios materiais, como o ar, a égua e 0 vidro, a velocidade de propagagao da energia radiante & me- nor que c. No diamante, por exemplo, chega a 0,4c, aproximadamente. Pelo exposto, vimos que a luz & uma forma de cenergia radiante, Sabe-se, ainda, que a luz difere das demais radiagdes eletromagnéticas por sua frequéncia caracteristica, que se estende desde 4 - 10" Hz (ver- melho) até 8 - 10"* Hz (violeta), aproximadamente. Entretanto, o conceito de luz que utilizaremos em nosso estudo de Optica tem um carster mais especifi- co, Diremos que: Luz ¢ 0 agente fisico que, atuando nos 6rgaos vi suais, produz a sensacao da visdo. ‘A vida na Terra esté subordinada & energiaracianterecebida do So. “Todos os seresvivos se nutrem dessa energia, produzda pela fuss nuclear do hidrogénio, que, 20 ser submetido a temperaturas de milhées de graus Celsius, se transforma em helio 2. Optica: divisdo e aplicagoes A Optica é a parte da Fisica que trata dos fend- ‘menos que tém como causa determinante a energia radiante, em particular a luz Por questdes de ordem didatica, costuma-se estu- di-la em dois grandes capitulos: éptica geométrica ¢ éptica fisica. + Optica geométrica: estuda os fendmenos épticos com enfoque nas trajetérias seguidas pela luz, Fun- damenta-se na nogao de raio de luz € nas leis que regulamentam seu comportamento. + Optica fisiea: estuda os fendmenos dpticos que exi- ‘gem uma teoria sobre a natureza constitutiva da luz. A Optica é um ramo da Fisica que tem largo em- prego pritico. Dos simples éculos aos sofisticados dispositivos de observagio, a Optica, aliada a outros Capitulo 10 Fundamentos da 6ptica geométrica_ 277 campos do conhecimento cientifico, dé sua contribui- cio por meio de seus principios e leis. Algumas apli- cagées da Optica sao: + corregdo de defeitos da visio; + construgio de instrumentos de observagio: lupas, ‘microscépios, periscépios, Iunetas e telescépios; + fixagdo de imagens (fotografia e cinematografia), construgdo de equipamentos de iluminagao; medidas geométricas de alta precisdo (interferd- metros); estudo da estrutura do étomo, 3. Fontes de luz s diversos corpos que nos cercam podem ser vis- tos porque deles recebemos luz, que, incidindo sobre nossos érgios visuais, promove os estimulos gerado- res da sensagdo da visio. © Sol, a Lua, uma pessoa € um livro, por exemplo, enviam luz aos olhos, 0 que Ihes permite enxerga-los. No entanto, 05 corpos absolutamente negros nao sio visiveis. Desses corpos ndo emana luz de espécie alguma e, eventualmente, nota-se sua presenga em ra- Zo do contraste com as vizinhangas. Sao considerados fontes de luz todos os corpos dos quais se pode receber luz. Dependendo da procedéneia da luz distribuida para o meio, os corpos em geral podem ser classifi cados em duas categorias: fontes primdrias c fontes secundarias, * Fontes primarias: sio 0s corpos que emitem luz propria. Por exemplo: o Sol, 2 chama de uma vela, as lampadas (quando acesas) ete. + Fontes seeundirias: sio os corpos que enviam a luz que recebem de outras fontes. O processo ocorre por difusio, ou seja, a luz é espalhada alea~ toriamente, em geral por reflexdo ou mesmo por refragdo, para todas as diregdes dos arredores do corpo, Por exemplo: a Lua, as nuvens, uma érvo- impadas (quando apagadas) ete. Uma fonte de luz & considerada pontual (ou puntiforme) quando suas dimensdes sao irrelevan- tes em comparagdo com as distincias aos corpos ilu- minados por ela. A grande maioria das estrelas ob- servadas da Terra comporta-se como fonte pontual de luz. De fato, embora as dimensdes dessas estrelas sejam enormes, as distncias que as separam de nos- so planeta so muito maiores. Fontes de luz de dimensGes no despreziveis sto denominadas extensas. O Sol, observado da Terra, comporta-se como uma fonte extensa de luz. re, as 4. Meios transparentes, transliicidos e opacos Meios transparentes so aqueles que permitem que a luz os atravesse descrevendo trajetérias regula- res e bem definidas. 0 nico meio absolutamente transparente & 0 va~ cuo. Contudo, em camadas de espessura nao muito grande, também podem ser considerados transparentes oar atmosférico, a 4gua pura, 0 vidro hialino e outros. luz Esquema de meio transparente, Meios translicidos so aqueles em que @ luz descreve trajetérias irregulares com intensa difusio (espelhamento aleatério), provocada pelas particulas desses meios. £ 0 que ocorre, por exemplo, quando luz atravessa a neblina, 0 vidro leitoso, o papel vegetal © 0 papel-manteiga, cast tue Esquema de melo translicido. Meios opacos so aqueles através dos quais a luz no se propaga. Depois de incidir em um meio opa~ co, a luz é parcialmente absorvida e parcialmente re- fletida por ele, sendo a parcela absorvida convertida em outras formas de energia, como a energia té ca. Quando se apresentam em camadas de razoavel espessura, so opacos os seguintes meios: alvenaria, madeira, papelo, metais ete. luz Esquema de meio opaco 278 _UNvADE i -OPTICA GeoMErRICA 5. Frente de luz — Raio de luz Considere uma pequena limpada L acesa em uma regidio de vacuo. Nessas condigGes, da lampada ema- ‘nam ondas luminosas, que atingem todos os pontos de sua vizinhanga. Frente de luz é a fronteira entre a regio jé atin- gida por um pulso luminoso e a regido ainda néo atingida. No caso da kimpada Z, a propagacdo luminosa se faz por meio de ondas eletromagnéticas esféricas, concéntricas com a Kimpada. A figura seguinte repre- senta uma frente de luz em um instante ( Frente de luz ‘em um instante ¢ or ‘A regiao interna a superficie esférca (frente de uz) jf fo atingida pelo pulso luminoso, enquanto a regio externa ainda nao fi Cada frente de luz emitida pela limpada L se ex- pande através do vacuo propagando-se com velocida- de igual ac. Raio de luz é uma linha orientada que tem origem na fonte de luz e é perpendicular as frentes de luz. Os raios de luz indicam a diregdo eo sentido de propaga- Bo da luz em um meio ou sistema. Raio de luz ‘ct Frente de luz fem um instante t Para uma onda luminosaesfrica 0s ras de luz $50 retlineos eradais. Em pontos situados 2 grandes distancias da limpa- da L, as frentes de luz la recebidas tém raio de curva- tura muito grande, podendo, por isso, ser consideradas praticamente planas. Isso ocorre com a luz que a Terra recebe do Sol. Essa luz constitui-se de ondas eletromagnéticas esfé- ricas. Entretanto, 0 diémetro da Terra (aproximada- mente 12800 km) é desprezivel em comparagio com ‘adistancia do planeta ao Sol (cerca de 150 milhdes de quilémetros), permitindo-nos geralmente considerar planas as frentes de luz que nos atingem. Raios de luz provenientes do Sol 0s raiosslares que atingem a Terra geralmente podem ser corsiderados Paralelos ene i cracterzacio em cores fantasia. coast Uma frente de luz tem existéncia fisica, mas isso no ocorre com um raio de luz, que apenas indica a diregdo e o sentido da propagacao luminosa em certo local. 6. Pincel de luz — Feixe de luz Observe a figura a seguir, que representa uma lan- terna comum colocada diante de um anteparo que tem um orificio de diémetro relativamente pequeno (da ‘ordem de 2 mm). O conjunto encontra-se sobre uma ‘mesa, em um ambiente escurecido. nteparo i ig i a Se acendermos a lanterna ¢ espalharmos fumaga na regio da montagem, notaremos, & direita do ante- paro, uma regido cOnica do espago diretamente ilumi- nada. Essa regio, que tem pequena abertura angular em virtude do pequeno diametro do orificio, denomi- na-se pineel de luz. Capitulo 10 Fundamentos da 6ptica geométrica_ 279 Considere, agora, uma limpada instalada no in- terior de um globo difusor. Com a limpada acesa, * Cénicos divergentes: os raios de luz divergem a partir de um mesmo ponto P. partem de cada elemento de superficie do globo va rios pincéis de luz. Reunindo-se os pincéis emanados de um mesmo elemento de superficie, obtém-se uma regidio iluminada de abertura angular relativamente grande, que recebe o nome de feixe de luz. rat * Cénicos convergentes: 0s raios de luz convergem para um mesmo ponto P. + Cilindricos: os raios de luz. so paralelos entre si. Na figura estéo representados quatro feixes de luz emanados do f lobo ifusor. Cada feie & um conjunta de pincts de luz $ Os pineéis de luz (¢ também os feixes de luz) ad- ; mitem a seguinte classificaglo: : Telescépios e microscépios Os telescépios e os microscépios descortinaram aos olhos do ser humano um verdadeiro universo de conhecimento. Aquilo que era inacessivel a olho nu veio A tona por meio desses instrumentos, que possibilitaram reformular e ampliar conceitos e teorias. advento da luneta astronémica, idealizada originalmente pelo holandés Hans Lippershey, em 1606, permitiu que constelagdes inteiras tivessem sua existéncia registrada. Ao saber da novidade, Gali- leu aperfeigoou o instrumento, que the permitiu mapear as crateras lunares, observar os anéis de Satur- no, os satélites de Jipiter e estudar as manchas solares. Outros planetas, além dos jé conhecidos, foram descobertos, estendendo-se as fronteiras do Sistema Solar. O microscépio, por sua vez, inventado pelo também holandés Zacharias Janssen na mesma época da Juneta astronémica, desvendou, logo no inicio do século XVIII, muitos mistérios dos microrganismos. Iniciou-se o estudo da célula, o que trouxe um avango sem precedentes a Medicina. Conseguiu-se a cura para muitas doengas e varias delas foram erradicadas. Vacinas e métodos terapéuticos foram descober- tos, ampliando a média de vida do ser humano. se i } a i Fotografia de um telescépio de reflexdo do European Southem Observatory Microscépio do comego do século XIK 280 _UNDADE i -rICA GeoMEraICA 7. Principio da Independéncia dos Raios de Luz Considere a situagdo experimental seguinte, em que ha, sobre uma mesa no interior de um quarto escu- +o, duas lanternas dirigidas para os orificios existentes em dois anteparos. A figura representa a montagem vista de cima, Ligando-se as Janternas e espalhando-se fumaca na regio da montagem, dos anteparos “sairdo” dois pincéis de Iuz que se interceptardo, provocando na regio da intersegio o fenémeno de interferéncia. O experimento mostra no entanto que, apds essa interse- sto, cada pincel de luz segue seu caminho — como se no houvesse 0 cruzamento. Com base nesse e em outros experimentos simila- res, podemos enunciar que: A propagacao de um pincel de luz ndo é pertur- bada pela propagacao de outros na mesma regiao; um independe da presenca dos outros. Utilizando a nogio de raio de luz, podemos di- zer que: Quando ocorre cruzamento de raios de luz, cada um deles continua sua propagacao independente- mente da presenca dos outros. ‘A importincia pratica do Prineipio da Independén- cia dos Raios de Luz é que, nos problemas de Optica, podemos concentrar nossa aten¢o em determinado raio de luz sem nos preocuparmos com a presenga de outros, que certamente niio perturbam o raio em estudo. 8. Principio da Propagacao Retilinea da Luz Observe a montagem da figura seguinte, em que a lampada L (presa ao suporte S) tem dimensdes muito pe- quenas. Os anteparos 4, ¢ A,, feitos de material opaco, sio dotados dos orificios O, ¢ O,, de diémetros também ‘muito pequenos. Para que o resultado do experimento seja mais pronunciado, admitamos que os componentes da montagem estejam no interior de um quarto escuro. Ao se acender a limpada L, um observador, com um dos olhos préximo de O,, perceberd luz direta da lampada somente se L, O, € O, estiverem alinhados. Esse e outros experimentos de mesma natureza for- ‘mam a base pritica que permite a seguinte conclusio: Nos meios transparentes e homogéneos, a luz pro- paga-se em linha reta, E importante observar que meio homogéneo & aquele que apresenta as mesmas caracteristicas em todos os elementos de volume. O ar contido em equipamentos 6pticos, como mi- croscépios e telescépios, ou mesmo aquele existente em ambientes pequenos, como uma sala de aula, pode ser considerado um meio transparente e homogéneo em que a luz se propaga em linha reta, Se pensarmos, no entanto, na atmosfera terres- ‘re como um todo, essa consideragao jé nao podera ser feita em virtude das diferentes constituigdes fisico-quimicas encontradas no ar. A medida que sobe, verifica-se que o ar vai ficando mais rarefeito (menos denso) e praticamente isento de vapor de gua. A temperatura e a pressdo vao se tornando diferentes das encontradas nas proximidades do solo e esses fatores bastam para dizer que a at- mosfera terrestre & um meio heterogéneo. Por isso, em geral, a luz nfo se propaga em linha reta 20 Capitulo 10 - Fundamentos da éptica geométrica_ 281 atravessar a atmosfera, realizando curvas espetacu- ares em situagdes de incidéncia obliqua. Isso ocor- re em razo da sucessio de refragdes que a luz sofre até sua chegada ao solo, 0 que seré explicado com mais detalhes no capitulo 12 (Refragdo da lu). Notas: + Do ponto de vista éptico, chama-se meio is6tropo (ou isotrépico) todo aquele em que a velocidade de propa- gago da luz e as demais proptiedades dpticas indepen- dem da diregdo em que ¢ realizada a medida + Chama-se meio ordinirio todo aquele que ¢ a0 mesmo tempo transparente, homogéneo e isétropo. O vacuo & um meio ordinario, 9. Sombra e penumbra Na montagem experimental sugerida na figura a seguir, F é uma fonte luminosa puntiforme, D é um disco opaco e A é um anteparo também opaco. Tendo em vista que a propagacio da luz é retili- nea no local do experimento, teremos, na regido en- tre D e A, um tronco de cone desprovido de ilumina- cio direta de F, Essa regido ¢ denominada sombra. Em A, notaremos uma regio circular também isenta o direta de F, Essa regiao é chamada de sombra projetad de ilumina E importante observar que o fato de a sombra de um corpo ser semelhante a ele atesta que a luz se pro- paga em linha reta no meio considerado. ‘Admita agora 0 esquema seguinte, em que L é uma fonte extensa de luz, D & um disco opaco e 4 é um anteparo também opaco. Penumbra projetada: Penumbra, Nesse caso, pelo fato de a fonte de fuz. ser extensa, além das regides de sombra e de sombra projetada teremos ainda regides de penumbra e de penumbra projetada. Nas regides de penumbra a iluminagao sera parcial, e ai se observard transigao entre sombra ¢ iluminagio total Sombra contornada por penumbra? Nesta fotografia, o boneco panda foi iluminado por uma fonte extensa de luz, Observe, na parede ao fundo, a sombra projetada pelo usinho,contornad por uma érea de semisluminagéo. ssa area coresponde & penumbra projetada, Eclipses so fendmenos astronémicos regulares e previsiveis, mas que aterrorizaram sobremaneira nos- sos ancestrais em eras no muito distantes. Acredita- vva-se que essas ocorréncias eram manifestagdes da ira dos deuses e que serviam de alerta quanto & chegada de pestes, pragas e catastrofes naturais. ‘A explicagao dos eclipses esta relacionada ao fato de a luz propagar-se em linha reta. E com base nesse princfpio que se justifica o desaparecimento tempora- rio da Lua em certas ocasiGes de lua cheia ou mesmo do Sol em algumas situagdes de lua nova.

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