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Danilo Gandin[2]
Considerações Gerais
1. É fundamental pensar o planejamento como uma ferramenta para dar mais
eficiência à ação humana. É claro que é uma ferramenta de organização, de decisão. Não
é, por exemplo, uma ferramenta para a execução de alguma tarefa material, como a faca o
é para cortar batatas. Mas o princípio é o mesmo: assim como a faca auxilia a tarefa de
cortar batatas (sem ela seria muito mais difícil) o planejamento facilita as decisões e lhes
dá consistência e auxilia na organização da prática.
1. não descobrem com clareza quais são os problemas; em geral, julgam que
é problema aquilo que o senso comum assim estabelece; se os professores,
por exemplo, tem, em sua sala, um aluno inquieto, que não se contenta com
estas disciplinas sem significado e com este “saber” que não faz as pessoas
crescerem, dizem que este é o problema;
2. não constroem conjuntos de idéias e de ideais bem claros; adotam
elementos teóricos que estão no dia-a-dia, mas que não têm fundamento
real; acreditam, por exemplo, como muita gente diz, que quem se esforça,
consegue; não conseguem compreender coisas tão simples como a relação
entre dinheiro e resultado na escola: se ouvirem que os reprovados são
sempre os pobres e os que vão adiante na escola são os ricos, pensam que
quem diz isto é doido ou subversivo;
Todo o fazer humano está ligado a ser um conjunto de ações, rotinas, regras e
atitudes para transformar idéias em realidades[6].
1. Só pensamos a partir de problemas, isto é, a partir de algo que nos causa mal-
estar. Algumas vezes este mal-estar diz respeito a coisas que diretamente nos afetam, tanto
pessoas ou instituições, e outras vezes a coisas que, infligindo sofrimentos a pessoas e a
grupos longe de nós[7], passam a ser da nossa preocupação ou do nosso interesse.
Poderíamos, talvez, caracterizar os primeiros como internos e os outros como externos.
Assim, os primeiros seriam coisas como uma doença pessoal, uma escola com diminuição
constante de alunos… Os segundos seriam situações como a degradação do planeta, a
violência, o terrorismo… Por isto, há sempre uma dose de esperança, de desejo e de amor
em qualquer pessoa ou grupo que inicia um processo de planejamento.
Pode-se chegar a pensar que escolas e professores não planejam, isto é, não
instituem processos novos, porque não têm problemas. Dizendo melhor: não planejam
porque os problemas para os quais abrem os olhos são insignificantes e têm soluções pré-
determinadas. Tais soluções não funcionam, mas são tentadas sempre por dois motivos:
desenvolveu-se todo um discurso de culpabilização que parece explicar os maus resultados
e a escola perdeu a relação entre prática e resultado, de modo que fica mais importante
trabalhar do que conseguir resultados.
2. Não pode haver idéias transformadas em processos se não houver idéias. É
um terrível engano, mais comum do que parece, a prática de partir do problema para
o processo. No caso da mãe com que abri o texto, um problema (desarmonia mãe/filha)
suscitou, sem pensamento e sem análise da realidade, um processo: briga e xingamento.
Existem até correntes de planejamento que se basearam (não tão grosseiramente, é
verdade) nesta relação direta problema-processo. Nada se consegue, evidentemente, desta
maneira; os resultados podem ser desastrosos, como ainda hoje acontece nas escolas: o
menino incomoda muito na sala de aula (problema) e é posto de castigo ou enviado à direção
da escola (processo, solução). Observe-se que não será suficiente analisar o problema sob
vários ângulos; é necessário chegar a ele com um conjunto de idéias e de crenças sobre o
processo educativo, a fim de descobrir qual é a necessidade ou quais são as
necessidades[9] que deve(m) ser satisfeita(s) para solucionar ou diminuir o problema. Agir
com a ligação direta problema/processo seria como se fôssemos ao médico com a mão
doendo e ele nos mandasse cortar a mão para que não doesse mais.
3. Ouso dizer que o ponto mais fraco desta cadeia de construção de novos processos
pedagógicos nas escolas é a falta de análise da prática. Não sabemos o que é um
diagnóstico e temos medo de fazê-lo. É imprescindível avaliar a prática, comparando-a
com o projeto pedagógico que se elaborou, e analisar a realidade para descobrir a
distância que se está daquele ideal proposto e para ver que possibilidade e que limites
temos para a caminhada na direção daquele horizonte.
Já estou eu, de novo, a falar em situações mais complexas! Quero acentuar que esta
necessidade de diagnóstico assim entendido é válida para as práticas simples também. Se
alguém quer ver um filme, examina a realidade (sem, muitas vezes, dar-se conta disto) para
ver a que distância está, de que meios dispõe, quais são as dificuldades, se pode ir ao
cinema ou alugar o filme ou esperar quando passe na televisão…
É preciso desenvolver clareza sobre educação. Mas cada vez é mais necessário
desenvolver ou apropriar-se de ferramentas de planejamento adequadas para construir
processos, permitindo, assim, que educadores sejam sujeitos do seu desenvolvimento.
Vale a pena, por isto, verificar alguns tipos de situação humana[13] e analisar a
especificidade do planejamento por ela exigido. Claro que cada exemplo abaixo é uma
possibilidade entre muitíssimas parecidas ou iguais.
A – O Conserto de um Automóvel
Muito parecido com o caso anterior é a administração de alguns serviços públicos, não
necessariamente governamentais, cujo padrão esteja quase totalmente dado. Há idéias de
segurança, bem-estar, bom atendimento, rapidez, etc. que devem ser realizadas. Estas
idéias dão os critérios – pode-se falar aqui de indicadores – para a prática.
• Além da compreensão do padrão básico do serviço que é dado pela cultura dos usuários e
pelo costume que se cria, é necessária aqui a complementação deste padrão, no sentido de
buscar mais contentamento para os que usam o serviço, incluindo ou não maneiras próprias
de servir. O levantamento de sugestões junto ao público é a forma primeira de participação
dos usuários na fixação deste padrão.
• O diagnóstico, além de verificar a existência e a extensão de problemas, incluirá o grau de
satisfação das pessoas que trabalham no serviço e dos que usufruem seus benefícios.
• A decisão sobre o que se vai fazer é mais abrangente em virtude dos acréscimos anteriores.
Além disto, estas decisões insistirão mais em estratégias, visando aos modos de ser e de
se comportar que aumentem a qualidade do serviço, dentro do padrão estabelecido. Pode
contar com mais mudanças, algumas estruturais, que são geradas pela modificação do
padrão referencial estabelecido.