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ANAIS DO 2.° CONGRESSO BRASILEIRO DE AGUAS SUBTERRANEAS Salvador (BA) setembro de 1962 PROJETO DE UM FILTRO ESPECIAL PARA GRANDES VAZOES Joaquim Xavier Cerq Joaquim Lacerda Leite Programa de Pesquisa e Pés-Graduagao em Geofisica e Departamento de Geologia e Geofisica Aplicada do IGUFBA 1. INTRODUCAO © provimento de Agua, para a experiéncia prevista no Projeto Reservatérios Naturais de Agua Subterranea, serA feito mediante a aducdo a partir do acude de Cocorobé-8a. Para que a injecdo —seja conduzida com éxito, sem problemas de obstrugdo do aquifero na vizi nhanga do poco de injecdo, é fundamental que a Agua superficial se- ja convenientemente filtrada. Os filtros convencialmente adotados ‘em Engenharia, consistem em se fazer passar Agua através de um lei- to de areia ou carvdo. Estes filtros tém a desvantagem de exigirem grandes reas, em consequéncia da baixa taxa de filtragem desses ma teriais, especialmente, quando se deseja uma grande eficiéncia, no que se refere a qualidade da agua filtrada, e grandes vazdes. Para a vazio requerida na experiéncia (200 1/s, aproximadamente) necessi tariamos de uma drea de 40 m’, para um leito filtrante constituido de areia grossa com diametro efetivo, dj, = 0,5 mm, coeficiente de uniformidade C, 1976). Outro inconveniente refere-se 4 manutencdo desses filtros 5 ek = 0,25 cm/s (Cerqueira Neto, Leite e Lima , feita, geralmente, por remocgdo, ou por lavagem do leito filtrante, mediante a inversdo do fluxo de dgua, o que sempre exige um reserva tério elevado especial. Ambas essas desvantagens incidem no custo de construgao e manutencdo do sistema de tratamento da agua. Este projeto resulta da preocupacdo de se criar um tipo de eit tro que apresentasse, simultaneamente, caracteristicas de alta efi- ci€ncia na reducéo da turbidez da agua e que fosse o mais possivel econdmico, para atender as necessidades da pesquisa. Para tanto, es 501 tamos utilizando um novo material filtrante, a manta poliester BIDIM recentemente langada no mercado pela empresa Rhodia Indistrias Qui- micas e Texteis S.A. 0 protétipo do filtro devera ser submetido a uma série de testes e ensaios destinados 4 verificacdo de sua efici ncia e desempenho, bem como da variacdo da vazdo com o tempo, para uma dada altura de carga hidraulica, e dos intervalos de tempo de limpeza. Principalmente, deveré ser testado o valor de carga hidrau lica maxima para a qual o filtro nao perca a sua eficiéncia, como a expulsdo do material retido nos poros da manta anticolmatante. © filtro, embora tenha sido dimensionado para atender a taxa de injecdo da experiéncia, inicialmente prevista em 200 1/s, podera ser padronizado para uso em sistemas de adutoras de grande porte, dada A facilidade de associacdo de varias unidades em paralelo, ou de construcdo de cdmaras com maior capacidade. A vantagem principal desse filtro é a sua reduzidissima area, correspondente a 1/20 da rea requerida para filtros convencionais de areia, projetados para a mesma vazdo. Apresenta, ainda, uma excepcional facilidade de manu tencéo, podendo a limpesa ser feita manualmente e com grande rapi- dez, através das escotilhas (Figura 1). Alternativamente, a limpeza poder ser feita, automaticamente, por meio de "backwash", necessi- tando, apenas, pequenas modificagées nas tubulagées. & importante acrescentar que, se confirmado pelos testes o bom desempenho deste sistema, a camara poderd ser fabricada em fibra resistente e leve, ao invés de concreto armado, com a vantagem de torné-la facilmente transportavel. Numa segunda fase de desenvolvimento, 0 sistema ora projetado deverd ser aperfeicgoado a fim de ter a operacdo de limpe— za totalmente automatizada. 2. DIMENSIONAMENTO DO FILTRO tendo em vista que a camara de filtragem devera ser a mais eco- némica e pratica possivel, sem nenhum sacrificio da qualidade da 4- qua filtrada, projetamo-la com uma geometria bastante adequada, que permitisse a maxima utilizacdo da area itil dos elementos filtran- tes, bem como a facilidade de limpeza do filtro. Constitui-se, basi camente, de um reservatério prismatico de concreto armado, onde os elementos drenantes esto dispostos verticalmente e de tal modo a poderem ser removidos com grande simplicidade. Como material fil- trante foi escolhido a manta de poliester anticolmatante OP-30, a 502 qual apresenta alta permeabilidade, da ordem de 1,5x107'cm/s (valor médio), de acordo com os testes realizados pelo IPT $.Paulo (1975 e reportados por Silva (1976 a e b). Esta manta devera ser envolvi- da em tubos drenos preexistentes, tipo Polyarm, com 1,5 m de exten- so, 200 mm de diametro, abertura de 5 mm. 0 reduzido peso desses tubos (= 13 kg) permite que eles sejam facilmente removidos da cama ra de filtragem, para a limpeza ou substituicao da manta Bidim., Es- ta operacdo é facilitada pelas janelas existentes na parte superior da camara. As figuras numeradas de 1 a 10 mostram todos os detalhes do filtro. A placa intermediaria de madeira tem a dupla finalidade de formar os compartimentos de Agua filtrada e de agua bruta, e de manter os tubos-drenos apoiados verticalmente. 0 fundo da camara de filtragem apresenta uma inclinacdo de 5%, projetada para permitir a remogdo das particulas em suspensdo na 4gua que venham a se deposi- tar por gravidade. 0 lodo, acumuladc na camara, sera entéo expurga— do através da descarga de fundo, mediante a abertura do registro. 0 sistema pode funcionar com pressdes hidraulicas equivalentes a2 mca na parte superior da cdmara. 0 dimensionamento da armadura (Figuras 7,8,9 e 10) e do concreto foi feito no Estadio II, considerando as tensées admissiveis 0, = 50 kg/cm? 9, = 1.200 kg/cm? respectivamente para 0 conereto e para 0 aco CA-24. HIPOTESES E MARCHA DE CALCULO As hipdteses adotadas no dimensionamento foram a validade da lei de Darcy e da equacdo da continuidade do fluxo de Agua. Dado: = material filtrante: Bidim OP-30, com permeabilidade média k = 1,5 x 10 cm/s e espessura e = 0,354 cm. = vazdo de projeto Q = 0,2 m/s. = tubo-dreno: PP-2, com as seguintes caracteristica: comprimento = 1,5 m diametro interno = 200 m diametro externo = 222,7 mn abertura = 5 mm rea aberta = 21,3% a)- CAlculo da area do tubo: A = 29 Rh = 2 x 3,14 x 0,1114 x 1,0 = 0,6996 m?/m Area efetiva = 0,6996 x 0,1490 m?/m Area efetiva do tubo de 1,5 m = 0,2235 m? 503 b)- CAlculo da Grea necessaria: A equacdo da continuidade estabelece que A = Q/v, onde v = ve- locidade média do fluxo nas aberturas, limitada aqui em l0cm/s, para reduzir os efeitos devidos a turbuléncias. Entéo, i A = 0,2/0,1 = 2,0 m?. €)- CAlculo do niimero de tubos requeridos: N = 2,000/0,2235 2 9 tubos a)- CAlculo do gradiente hidraulico e da altura de carga: De acordo com a lei de Darcy, estabelecer uma velocidade para o fluxo de Agua nos filtros implica, necessariamente, em se limi- tar o valor do gradiente hidraéulico (ou da altura de carga), ad mitindo-se constante 0 valor do coeficiente de permeabilidade. Isto é, v = ki; v = k h/e:. h = ev/k, onde"i"é o gradiente’ hi- draulico e "e" a espessura da manta Bidim. Assim, para v = 10 cm/s k = 1,5 x 107! cm/s e = 0,354 om Teremo i= 66,7 © h = 23,6 cm A curva experimental de variagéo da vazéo com o tempo, Silva , 1976a), sugere que ha uma redugdo do fluxo através da manta, admi- tindo-se o gradiente hidraulico constante. Deste modo, pode-se espe rar que a permeabilidade, igualmente, tenderd para um valor assinté tico, depois de determinado tempo de funcionamento do filtro, con- forme esta ilustrado na figura abaixo: ko= permeabilidade inicial VARIAGAO SUPOSTA DA PERMEABILIDADE DO BIDIM 504 Espera-se que o valor da permeabilidade considerada no cAlculo da altura de carga (1,5 x 107! cm/s) esteja préximo deste valor assin- tético, pois foi tomado igual Aquele obtido no ensaio realizado pe- lo IPT, com a manta parcialmente colmatada. Naturaimente, quando o sistema entrar em operacdo, havera uma vazdo inicial maior do que 200 1/s, a qual ira decrescendo para es- te valor de acordo com a redugdo gradativa da permeabilidade do Bidim 1,5 x 107! cm/s). Quando K para o valor assumido no cdleulo, (k atingir este valor, o gradiente hidrdulico sera igual a 66,7. conti nuando esta redugdo do valor da permeabilidade devido A obstrugdo progressiva dos poros da manta filtrante, a vazdo decrescera daque- le valor projetado (200 1/s) e, entdo, sera necessdrio aumentar a carga hidraulica a fim de restabelecé-la. £ neste recurso que basea mos para a concep¢do basica do sistema aqui desenvolvido. Durante a fase de testes do sistema deverd, portanto, ser pesquisado qual o valor m4ximo a que podemos elevar esta carga sem que haja prejuizo da eficiéncia do filtro com a expulsdo do material retido na estru- tura da manta anticolmatante. 3, ESPECIFICACOES Armadura - As ferragens das armaduras detalhadas na tabela 1 se rao em aco CA 24A. As emendas, os ganchos, raios de curvas, etc, de vero ser feitos dentro do que estabelece a BB-4. A tensdo admissi- vel no ago & de 1200 kg/cm. Concrete - Deverd ser feito com cimento, areia grossa e brita 1 e 2, satisfazendo As recomendagées da NB-1. A tensdo admissivel no concreto é de 50 kg/cm*. Tubos: Entrada ¢ saida - a tubulacdo de entrada e de saida da camara devera ser “nipes" de ferro fundido, ou de outro material re sistente, com aproximadamente 1m de comprimento, nos diametros in- dicados nas figuras 1 e 2 e com extremidade externa provida de flan ge para juntas flexiveis (gibault ouwitaulic). Tubos-drenos - deverdo ser utilizados 9 tubos drenos do tipo.ra nhurado com as seguintes caracteristicas: comprimento - 1,5 m; dia metro interno - 200 mm; didmetro externo 222,7 mm; abertura - 5 mm; area aberta - 21,38. Descarga - 0 tubo de descarga do fundo terd na sua extremidade 505 um registro de gaveta que deverd ser instalado para funcionar hori- zontalmente. Janelas de inspecdo - deverdo ser executadas em chapa metaiica de 1/4", conforme Figura 1. 0s contornos dessa chapa serdo reforca~ dos por cantoneiras de 8,89 cm x 6,35 cm (3 1/2" x 2 1/2"), padrao CSN, fixados mediante soldagem da aba maior & chapa met@lica. A aba menor da cantoneira formara a borda que envolvera o ressalto de con creto das aberturas da lage (Figuras 3 e 4). Estas janelas — serdo travadas por um dispositivo dotado de dobradica, numa extremidade , e de abertura de encaixe e parafuso, na outra. A trave devera ser confeccionada com 6,5 cm de espessura aproximadamente, e 8 cm de largura, a fim de resistir a um grande aperto da porca, é garantir uma boa vedacao. A superficie do ressalto de concreto em torno das aberturas da lage devera receber uma junta retangular (de couro ou borracha) ,con tinua, de largura igual 4 do ressalto e de espessura conveniente.As dobradicas e os parafusos deveréo ser firmemente ancorados no con~ creto, por meio de ganchos (Figura 3). TABELA 1 - FERRAGEM DAS ARMADURAS v 9 | quant.} comp.unit.] Comp. total] Peso | Peso Total “im (n) Unit. + 10% 1 EVA alle 7,60 91,20 E 6.60 9.60 z= 6 8,60 1,60 4 a 8 10 6.80 = 5. Re: Oo io 10 0 00 = " 4 a.10 32,40 | " a 6.50 8.50 8 - 8 6.10 60 £. s 5 1 10. 0,40 lo = ati 10. &. 0 a a 9 6,10 4,90 Li a 0. 0,80 16,00 729,70 452 kg 506 BIBLIOGRAFIA CERQUEIRA NETO, J.X., LEITE, J.L., LIMA, 0.A.L., 1976, Caracteriza- G0 Sumaria do Sistema Desejado de Aducio e de Injegdo de Agua na Area Teste de Cocorobé-Bahia, relatério PPPG/UFBa. I.P.T., S80 Paulo, 1975, Bidim-ensaios de permeabilidade e col ata~ cao. LIMA, O.A.L. e DIAS, C.A., 1975, Reservatérios Naturais de Agua Sub terranea - Estado Atual, relatério PPPG/UFBa. SILVA, L.M., 1976a, Bidim como meio filtrante em hidrogeologia. SILVA, L.M., 1976b, A utilizac&o de manta poliester Bidim como pré- filtro em obras de captaco de Aguas subterraneas. STEEL, E.W., 1960, Water Supply and Sewerage, McGraw Hill Book Company, New York. 507 | Parte superior da cdmara do filtro 1 FIGURA Detalhe dos escotilhas @ trancas 508 ea pasties << RN 1 mane oN Ne yO Ol, O f NOON ION rh et ae tte yO S| ae SSSAIAISAARAASSSS r=} Ft El NIL A AMA IASI, SNS NAAANAN NC 4] fase 124 Lala i gem 4) i Z) i | NAAN NISRA © = Asce oF maoeie @ ~ swess oe sonntcha 510 FIGURA 3 — Representacdo da seccdo A-A’ r At 7 J rt Z wy yyy Ay TF Y . ae == Y / — ~ eZ [paar] ee i a LA ie 4 lA a LA “ Y | J 4 J iM Va HINO AO | ge 4 ey SLL Le kdoheflfifedadaieipasnly FIGURA 4 Representacdo da secgéo 8-6 511 512 Secedo a-w ceases ere a FIGURA 5 - Detalhe do fundo do filtro 513 T693/8"e/810 _1783/8"c/6,50 SSS emt a 4 Treg 3/8"e/@0 cS 3 = ! TAMPA 00 FILTRO S . betaine do ermadure_ inferior re Ey Live 0€ UNDO render \ i G i TFT -T y . T623/8"c/810 1783/8" CA24 ¢/6,50 FIGURA 7- Detalhe de armadura do filtro. 514 515 ah VN XY ee N O9L/7,B/E BLL 08'9/9,8/e921 094 /2,8/e B11. ae 99/98/2921 092/2,8/e BIL eae arse eee + fee et jie oe i= fale e ee aa ® ae a = ‘ll @ aie ee uz gt : , ta + 4— : 22 i Ll seste=t hee 22 pd z t/ eRry FNS} | pets AHP fe ke +4 ete 2b tees 5 O44 Fit ie a Ht 3 K<--4 nea * ee [ ale Hj—-t-+ me ie 218 hy fr a-4 2 fae role meg yt toe nels y fbrt+-+t4-t4-—-------- tas AP t beg 4-4 kof ~ 4448 ae & © & S o i 516 ra 82/6" es 720m 1383/6" ¢/6.60m wp 12 TH gs/te/e.om| FIGURA 9 Detalhe dos armaduros do filtro Secgdo 8 B TES 3/e/asomupl20 TIOWA'e/TEOMMR 2D TEBE 660m wp. 18,0 reps/e'es%30 V ¥ 39 3/0"«/8.60n rs8/t'e/660m FIGURA 10 Secgdo A-A Detathe das armaduras 517

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