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pi Luis Licha* Na década de 1990 desenvolveu-se um Novo. Consenso (ou uma Nova Sintese Neoclassica) en- tre 0s macroeconomistas do mainstream, ao combi- nar modelos que analisam como as familias ¢ as firmas tomam decisées ao lon- go do tempo (ferramentas las inicialmen- te pelos Novos Classicos) com modelos nos quais os precos mudam de forma in- termitente (modelos Novos Keynesianos que supdem firmas monopolisticamente competitivas com algum poder de mer- cado). Este consenso ¢ considerado no ‘mainstream a melhor abordagem tedrica para explicar as flutuagées econémicas de curto prazo e o papel das politicas econémicas, mas esta sendo rediscutido devido a crise financeira de 2008. O rétulo de Novo Consenso des- creve inicialmente aqueles economistas que, na década de 1990, desenvolveram "E professor do IE/UFRU. Macroeconomia do Novo Consenso Vis a St uma resposta de natureza keynesiana aos autores chamados Novos Classicos (como Robert Lucas Jr., Thomas J. Sargent e Robert Barro). Entre esses economistas podemos citar John B. Taylor, Stanley Fischer, Ben Bernanke, N. Gregory Mankiw, David Romer, Olivier Blanchard, Nobuhiro Kiyotaki e Michael Woodford. O Novo Consenso procura fazer uma sintese entre os instrumentos te- éricos utilizados por autores Novos 57m Escolas da Macroeconomia Classicos (como o modelo de equilibrio geral dinamico) e elementos utilizados por keynesianos da Sintese Neoclassica (notadamente a ideia de que precos e saldrios se ajustam lentamente frente a desequilibrios nos mercados).' A inte- gracao desses elementos permitiu desen- volver um corpo tedrico sobre dinamica € politica macroeconémica. Essas reco mendagées de politica econémica foram adotadas por diversos paises, especial- mente pelos bancos centrais de paises desenvolvidos, gerando praticas e pro- cedimentos comuns a partir do final da década de 1990. Neste artigo descrevemos os ele- mentos tedricos mais importantes do Novo Consenso, suas recomendagées de politica econdmica e as alteragdes que vém acontecendo devido a crise financei- ra de final da década passada. Corpo teérico A macroeconomia do Novo Consenso é caracterizada do ponto de vista tedrico por dois pilares principais: 0 modelo de equilibrio geral dinamico e 0 conceito de rigidez nominal. Analisemos cada um desses pilares. O modelo de equilibrio geral dina- mico descreve 0 comportamento de uma economia ao longo do tempo. Nele, os agentes econémicos avaliam os custos € beneficios de suas decisdes analisando as consequéncias presentes e futuras dessas decisées. Do ponto de vista da raciona- lidade envolvida, 0 modelo considera que os agentes econémicos (familias, empresas e intermedidrios econémicos) conseguem determinar claramente suas preferéncias entre as alternativas a serem escolhidas e conhecem as consequén- cias de suas decisdes. Ainda que exista incerteza sobre os resultados exatos de suas decisdes, os agentes econdmicos co- nhecem as fungées de distribuicao des- ses resultados e utilizam corretamente a informacao disponivel. £ claro que 0 comportamento dos mercados deve ter caracteristicas especiais para que exista uma trajetoria nica ¢ estavel, levando a imposicao de um conjunto de hipéteses simplificadoras. O outro pilar é a suposigéo de que precos e/ou salarios nominais nao se ajustam instantaneamente, no sentido de que, se existe um excesso de deman- da (ou de oferta) nos mercados de bens ou de trabalho, os precos demoram a reagir. Isto pode ser explicado pela existéncia de custos de ajustamento de precos (chamados de “menu cost”) e de imperfeigdes nos mercados que levam a que o lucro aumente pouco se os pregos sao ajustados rapidamente (chamadas de “tigidez real”). Ao longo do tempo, os pre¢os terminam se ajustando até alcan- car seus niveis de equilibrio (igualdade de demanda e oferta) ¢ a trajetoria destes equilibrios é chamada de equilibrio com precos flexiveis. Essa trajetoria represen- ta uma tendéncia subjacente em periodos longos para a economia, no sentido que € a que predomina quando os merca- dos terminam seus ajustes. A tendéncia mostra as propriedades do crescimento econémico em periodos longos (longo prazo) e depende da taxa de crescimen- to da produtividade total dos fatores e do crescimento dos fatores produtivos (capi- tal e trabalho). Ao longo dessa trajetoria, as varidveis macroeconémicas se encon- tram em seu nivel normal (ou natural) e 58 m Escolas da Macroeconomia definem marcos de referéncia para cada varidvel, como o produto potencial e a taxa natural de desemprego. Eventos nao esperados pelos agentes econémicos (choques) podem afastar a economia do equilibrio com pregos fle- xiveis. Nessas circunstancias, as varia- veis macroeconémicas sero diferentes de seu marco de referéncia e os desvios sio interpretados como 0 componente ciclico, O ciclo econdmico é gerado por choques diversos. Os choques podem acontecer na de- manda de bens (como com- portamentos inesperados no consumo das familias ou na demanda de equipamento por par- te dos empresérios), na oferta de bens ¢ servigos (por exemplo, choques de pro- dutividade ou nos precos dos insumos) ou em segmentos do mercado financeiro (choques na oferta de crédito ou na de- manda de algum ativo financeiro). Como os precos podem demorar a se ajustar, os efeitos dos choques possuem certa persisténcia sobre o nivel de atividade e a taxa de desemprego (além das outras varidveis macroeconémicas). A amplitu- de e duragdo de cada ciclo dependem da natureza do choque, seu tamanho e dos mecanismos de transmissao no sistema econémico. Politica econdmica O Novo Consenso apresenta os fun- damentos intelectuais para a analise da politica monetaria e fiscal nos principais paises, destacando sua preponderancia nao so nos ambientes académicos como entre os formuladores de politica eco- némica nas tiltimas duas décadas. Nesse consenso a politica econdmica deve abordar cada componente da dinami- ca macroeconémica (tendéncia e ciclo econémico) em separado. Analisemos as recomendagées de politica para cada componente. Em relagao ao componente de ten- déncia, 0 objetivo da politica econémica € gerar o maior crescimento possivel do consumo per capita em periodos longos, porque esse é 0 principal determinante do bem-estar social. Esse objetivo esta associado ao pleno emprego da mao de obra, ainda que possa nao significar maior crescimento do produto poten- cial. As politicas devem estar voltadas para o progresso técnico (aumento de produtividade) e a acumulacao de capital (investimento). O estimulo do progres- 80 técnico esta associado, entre outros pontos, a melhoras dos sistemas de ino- vagao, ao estabelecimento de um marco institucional que estimule a atividade 59 m Escolas da Macroeconomia econémica e gere incentivos que me- Thorem a alocagio de recursos (como a regulagao de servicos de utilidade puibli- ca) e ao desenvolvimento do sistema de educagéo (que melhore a produtividade da mao de obra). O estimulo & acumu- lagao de capital depende de politicas que afetem a taxa de rentabilidade de longo prazo dos investimentos (produto mar- ginal do capital). Em relacao ao ciclo econémico, o objetivo da politica econd- mica é reduzir os desvios das variaveis relevantes em relagéo ao componente de tendéncia (suavizar 0 ciclo econémi- co). A politica monetaria ¢ 0 principal destaque para esta tarefa. Em geral, a taxa de juros utilizada em operagées do mercado interbancario € o instrumento de politica monetaria. Os bancos cen- trais definem como objetivo uma meta para a taxa de inflacdo, que procuram alcangar com alguma flexibilidade em relacdo a taxa de crescimento do produ- to. Em termos gerais, os bancos centrais deveriam manipular as taxas de juros de politica em relacdo ao seu nivel natural (ou neutro) para compensar os diver- sos choques que a economia sofre. No caso de acontecerem choques de oferta temporarios, os bancos centrais devem enfrentar um dilema entre combater os desvios da taxa de inflagio em relagio a sua meta ou gerar muita volatilidade no hiato do produto. A defini¢ao do dilema entre combate a inflagao ou volatilidade do produto depende das preferéncias do banco central. Estas praticas tém sido adotadas por bancos centrais im- portan- tes de forma explicita (regime de metas de inflacdo) ou de forma menos norma- tizada (como no caso do Federal Reserve ou do Banco Central da Europa). No caso de economias abertas, 0 con- senso tem sido de que as taxas de juros de politica respondam a choques cambiais. Por outro la do, se a economia entra numa depressio (como é 0 caso dos Estados Unidos, paises da comunidade europeia e Japao a partir do final de 2008), podem ser utilizados outros instrumentos de politica monetdria chamados de nao convencionais (como a compra de titulos puiblicos e priva- dos de prazos longos por parte dos bancos centrais). A politica fiscal é tida como coad- juvante da politica monetéria para ajustar a economia aos choques que acontecem. ‘As metas da politica fiscal costumam ser a taxa de crescimento do produto e cuidar da solvéncia da divida emitida pelo setor publico (evitando que a trajetéria dessa divida se torne instavel). O instrumento de politica fiscal, definido para calibrar 0 es- forgo fiscal, costuma ser o re sultado fiscal primario (que nao considera as receitas e despesas financeiras). Em caso da econo- mia se encontrar numa depressio, a poli- tica fiscal adquire a fungio de expandir a demanda agregada de forma conjunta as politicas monetarias nao convencionais. | Policy M: Granular Bibliografia BENIGNO, Pierpaolo, New-Keynesian Economics: An AS-AD View, Working Paper 14824, NBER Working Paper Series, Cambridge, March, 2009, BLANCHARD, Olivier, DELLARICCIA, Giovanni_¢ MAURO, Paolo. Rethinking Macro Policy II: Getting Granular, IMF Staff Discussion Note 13/03, International Monetary Fund, Research Department, April, 2013. GOODFRIEND, Marvin, KING, Robert. “The New Neoclassical Synthesis and che Role of Monetary Policy. In: Ben S. Bernanke Julio Rotemberg (eds.), NBER Macroeconomics Annual 1997, Cambridge: MIT Press, pp. 231-283, 1997. MANKIW, N. Gregory, ROMER, David (eds.) (1991), New Keynesian Economics, MIT Press, 2 volumes, Vol. 1: Imperfect competition and sticky prices; Vol. 2: Coordination Failures and Real Rigidities, 1991.

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