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Resistência ao Cisalhamento do Solo pelos Ensaios de Cisalhamento Direto e


DSS: Análise Experimental e Aplicação na Estabilidade de Taludes

Conference Paper · October 2019

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Lucas Ghion Zorzan


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XII Simpósio de Práticas de Engenharia Geotécnica da Região Sul
GEOSUL 2019 – 17 a 19 de Outubro, Joinville, Santa Catarina, Brasil
©ABMS, 2019 _ Prêmio Samuel Chamecki 2019

Resistência ao Cisalhamento do Solo pelos Ensaios de


Cisalhamento Direto e DSS: Análise Experimental e Aplicação na
Estabilidade de Taludes
Lucas Ghion Zorzan
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, lucasghionzorzan@gmail.com

Roberta Bomfim Boszczowski


Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, roberta.bomfim@ufpr.br

RESUMO: A resistência ao cisalhamento do solo é uma das propriedades geotécnicas de maior


importância no contexto da Engenharia.. Para tanto, diversos ensaios laboratoriais foram
desenvolvidos para englobar diferentes condições que podem influenciar na resistência do solo.
Com o objetivo de fornecer contribuições ao processo de especificação de ensaios de resistência, o
presente trabalho visa explorar o comportamento mecânico do solo em dois ensaios: Cisalhamento
Direto e Direct Simple Shear. Foram ensaiados dois solos distintos: o Solo A, de granulometria
arenosa, e o Solo B, com características silto-arenosas. A análise dos resultados experimentais
possibilitou apontar grandes diferenças entre os parâmetros de resistência obtidos por cada ensaio.
A fim de apresentar o efeito destas diferenças com finalidade prática, foram realizadas análises
paramétricas de estabilidade de taludes variando-se o ensaio de resistência, o critério de ruptura e a
inclinação do talude. Essas análises ratificaram as diferenças nos modos de ruptura observados.
PALAVRAS-CHAVE: Geotecnia Experimental, Direct Simple Shear, Resistência ao Cisalhamento,
Estabilidade de Taludes.

1 INTRODUÇÃO fundamentos da Mecânica dos Solos referentes


ao primeiro quarto do século XX. Esses
A estabilidade de taludes é um dos temas mais princípios estão quase que completamente
recorrentes da Engenharia Civil. Embora sua embasados na prática laboratorial, a partir da
aplicação se estenda desde obras de qual são obtidos parâmetros de projeto para
infraestrutura até a estabilização de encostas qualquer atividade dentro da Engenharia
naturais, seu impacto é notavelmente Geotécnica. Na atualidade, um considerável
identificado em inúmeros movimentos de solo número de ensaios se propõe a fornecer valores
cujos impactos provocam incontáveis perdas de de resistência do solo utilizando métodos e
vidas humanas e recursos econômicos no Brasil. equipamentos diversos. A compreensão dos
Fatores como pluviometria, condições mecanismos de deformação e mobilização da
geológicas e geotécnicas influenciam resistência mostra-se, portanto, essencial no
diretamente os problemas relacionados a processo decisório a fim de garantir análises
taludes. seguras, econômicas e precisas.
Dentre as propriedades geotécnicas do solo, Pouco difundido no Brasil, o Direct Simple
a resistência é talvez a mais importante na Shear (DSS) é um ensaio de resistência que
problemática da estabilidade de taludes. O submete o solo a condições muito semelhantes
entendimento da resistência do solo é às por ele experimentadas em uma potencial
consideravelmente recente, sendo os principais superfície de ruptura. Sua aplicabilidade em
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projetos de fundação, estabilidade de taludes, Terzaghi (1925) e mais tarde formalizado como
contenções e obras offshore, especialmente em Princípio das Tensões Efetivas. Basicamente,
solos moles, reforça a importância da melhor este Princípio refere-se ao fato de que a
compreensão dos mecanismos e procedimentos resistência ao cisalhamento dos solos é
envolvidos neste ensaio. A proposta deste diretamente controlada pelo contato efetivo
estudo é estabelecer uma análise crítico- entre os grãos.
comparativa acerca dos resultados obtidos para
a resistência ao cisalhamento de solos 2.1.1 Comportamento Tensão-Deformação
submetidos ao Cisalhamento Direto e ao Direct
Simple Shear, fornecendo contribuições para a O comportamento tensão-deformação dos solos
difusão deste último como alternativa para a é dependente de inúmeras variáveis, tais como
avaliação da estabilidade de taludes. granulometria, histórico de tensões,
mineralogia, cimentação e presença de água no
solo. A fim de prever o comportamento tensão-
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA deformação do solo, diversos modelos
constitutivos foram desenvolvidos, embasados
2.1 Resistência ao Cisalhamento dos Solos em conceitos físicos e matemáticos.
Considerando as inúmeras variáveis que
A deformação de uma massa de solo é influem sobre a curva tensão-deformação, a
controlada pela interação entre seus elementos calibração dos modelos com resultados
constituintes, especialmente pelo deslocamento experimentais é a maneira mais adequada para
relativo entre as partículas de solo (LAMBE; obtenção de resultados confiáveis no
WHITMAN, 1969). Dessa forma, a resistência dimensionamento de qualquer obra geotécnica
dos solos está diretamente relacionada com a (DELL’AVANZI, 2014).
resistência ao cisalhamento existente no contato
entre suas partículas. 2.1.2 Condições de Carregamento e Drenagem
A resistência ao movimento relativo entre
partículas de solos é composta, basicamente, A resistência do solo é dependente, dentre
por duas parcelas: a friccional e a coesiva. outros fatores, das condições de drenagem e da
Terzaghi (1925) apresentou as bases para a trajetória de carregamento (DELL’AVANZI,
compreensão de como é mobilizada a parcela 2014).
friccional a partir do contato e relacionou a Devido à elevada permeabilidade das areias e
força normal no contato entre os grãos e a solos granulares, o volume do solo pode variar
resistência ao cisalhamento. livremente durante o processo de ruptura
O solo é constituído por duas fases distintas: (LAMBE; WHITMAN, 1969). Esse fenômeno
a fase sólida, representada pelo esqueleto caracteriza uma resposta drenada, na qual é
mineralógico, e a fase fluida, constituída de ar e permitida a saída da água presente nos vazios
água (DAS, 2013). Quando uma massa de solo do solo e a parcela friccional de resistência é
encontra-se saturada, a água ocupa todo o imediatamente mobilizada.
volume de vazios e qualquer tensão aplicada Em solos argilosos ou cuja parcela de finos é
sobre ela será suportada tanto pela porção sólida significativa, a resposta do solo é denominada
quanto pela pressão desenvolvida na água não drenada (LAMBE; WHITMAN, 1969).
(ABRAMSON et al., 2002). Esse conceito, Nessa situação, ocorre um compartilhamento do
denominado compartilhamento de cargas por carregamento: parte da tensão é suportada pelo
Lambe e Whitman (1969), foi introduzido por esqueleto mineralógico e parte pela água
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existente nos vazios do solo. Com o passar do


tempo, a tendência de a água sair da massa de 2.1.4 Respostas do Solo ao Cisalhamento
solo solicitada faz com que o carregamento seja
transferido ao esqueleto pelo fenômeno de Conforme exposto anteriormente, a resistência
adensamento. do solo está essencialmente ligada com seu
Um paralelo direto entre o tipo de resposta comportamento ao cisalhamento. Nesse
mecânica do solo – drenada ou não drenada – e processo são desenvolvidas distorções angulares
a velocidade de carregamento pode ser e mobilizadas tensões cisalhantes (Figura 2).
facilmente traçado. Uma resposta drenada é Este estado de tensão e deformação é conhecido
desenvolvida pelo solo durante a mobilização como cisalhamento simples.
da resistência no caso de carregamento lento. O
contrário é observado para carregamentos
aplicados sob altas taxas.

2.1.3 Critério de Mohr-Coulomb

Basicamente, a ideia do critério de Mohr-


Coulomb é que uma combinação de tensões Figura 2. Comportamento do Solo ao Cisalhamento
normais e de tensões de cisalhamento criam Simples (Budhu, 2008).
uma situação mais crítica do que a consideração
das máximas tensões individualmente. As Budhu (1984) afirma que o estado de
propriedades que parametrizam a combinação cisalhamento simples pode representar diversas
crítica são o intercepto coesivo (c') e o ângulo situações usuais da Geotecnia, como no caso de
de atrito interno efetivo (∅'). carregamento dinâmicos provocados por
Um estado plano de tensões pode ser terremotos e no cisalhamento do solo em fustes
representado por um conjunto de pontos que de estacas (RANDOLPH; WROTH, 1981). Para
mostrem a relação entre a tensão de aplicações usuais, o cisalhamento simples pode
cisalhamento (τ) e a tensão normal efetiva (σ'). ser observado nas superfícies de ruptura de
A reta que ajusta o comportamento desses taludes e muros de contenção e nos bulbos de
pontos define a Envoltória de Resistência de tensão gerados tanto em fundações rasas quanto
Mohr-Coulomb. Na Figura 1 são ilustradas a profundas (Figura 3).
envoltória real não linear, pouco aplicável, e o
ajuste proporcionado por Mohr-Coulomb.

Figura 1. Envoltória teórica e ajuste de Mohr-Coulomb


(Adaptado de Craig, 2013).
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2.2 Ensaios para Determinação da


Resistência

O presente estudo tem por objetivo avaliar dois


dos ensaios de resistência: o ensaio de
Cisalhamento Direto e o ensaio Direct Simple
Shear. As duas metodologias buscam
representar o mesmo mecanismo de ruptura do
solo, conhecida como cisalhamento simples.

2.2.1 Ensaio de Cisalhamento Direto

Em um ensaio de Cisalhamento Direto, uma


tensão vertical (σv) é aplicada ao corpo de
Figura 3. Possíveis Manifestações do Estado de prova, provocando confinamento e
Cisalhamento Simples: Ruptura de Taludes (A), consolidação do solo, para que em seguida o
Estruturas de Contenção (B), Carregamento de Estacas
(C) e Ruptura de Sapatas (D) (Budhu, 2008).
cisalhamento ocorra ao longo de uma superfície
de deslizamento horizontal por meio da
Nos ensaios laboratoriais mais utilizados na aplicação de uma força nesta direção. Devido à
Geotecnia, os mecanismos de ruptura para parede rígida da caixa de cisalhamento, não é
avaliação da resistência ao cisalhamento não permitida a ocorrência de distorções angulares
estão necessariamente associados a uma no solo e o cisalhamento ocorre apenas pelo
deformação cisalhante. Em geral, são impostas deslizamento entre dois planos.
condições que simulam a condição de Embora seja um ensaio com grande
cisalhamento, como a diferença de tensões versatilidade e relativa facilidade de execução, o
principais nos ensaios triaxiais. Cisalhamento Direto apresenta diversas
No caso dos ensaios de Cisalhamento Direto, limitações, dentre elas a mudança na área da
as deformações medidas não são cisalhantes e a seção transversal durante o ensaio, a não
superfície de ruptura é imposta pelo movimento uniformidade das tensões cisalhantes, a
horizontal. O DSS, por outro lado, é o único ocorrência da rutura progressiva e a pré-
ensaio laboratorial atualmente existente capaz determinação de um plano de ruptura.
de promover o desenvolvimento de
deformações cisalhantes e simular com mais 2.2.2 Ensaio Direct Simple Shear
fidelidade o cisalhamento simples.
A diferença entre os mecanismos de O Direct Simple Shear (DSS) é um ensaio para
mobilização em cada teste vem sendo estudada determinação da resistência ao cisalhamento
há décadas. Muitos autores afirmasm que o DSS dos solos. Em ensaios DSS, o solo é
fornece informações mais realistas sobre o consolidado no estado geoestático de tensões
comportamento tensão-deformação do solo em (ou seja, em K0) devido ao confinamento
eventuais superfícies de ruptura de taludes provocado por anéis metálicos e em seguida
(FAKHARIAN; EVGIN, 1995). cisalhado pela aplicação de uma força
horizontal (Figura 4). O DSS tornou-se
conhecido mundialmente para avaliação da
resistência de solos em situações específicas de
carregamento, como argilas moles (MEIL et al.,
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2016), solos marinhos (NOWACKI et al., 2003; realizou-se uma série de ensaios geotécnicos em
SCHROEDER et al., 2006) entre outros. solos com a finalidade de obter suas
características físicas e mecânicas,
possibilitando a análise dos mecanismos de
solicitação e ruptura intrínsecos a cada ensaio
de resistência.
Para realização da campanha de ensaios,
foram utilizados dois solos distintos em sua
constituição e estado natural (Solo A e Solo B).
Figura 4. Mecanismo de Ruptura em ensaios DSS De maneira geral, sobre o Solo A possui-se
(Budhu, 2008). maior controle das propriedades físicas
enquanto que o Solo B apresenta características
Mayne (1985) afirma que os parâmetros de usualmente encontradas na ampla maioria dos
resistência obtidos com o DSS possuem solos naturais (heterogeneidade e anisotropia).
significativa importância porque representam a O Solo A consiste em uma areia uniforme de
média das resistências mobilizadas na ruptura grãos angulare. Na Figura 5 é apresentada a
de taludes, fundações superficiais, rupturas em curva granulométrica pra o Solo B, o qual
solos moles e ao longo do fuste de fundações classificou-se como uma areia siltosa.
profundas. Especificamente para a problemática
da estabilidade de taludes, Abramson et al.
(2002) também afirmam que a resistência
mobilizada no estado de cisalhamento simples
representa a média entre a compressão triaxial e
a extensão triaxial desenvolvidas em uma
potencial superfície de ruptura (FIGURA 10).
Nessa perspectiva, a avaliação da segurança de
taludes utilizando parâmetros do DSS pode Figura 5. Curva granulométrica para o Solo B.
fornecer uma análise mais refinada e realística
das condições de campo (ABRAMSON et al., Para o Solo A, foram ensaiados 3 corpos de
2002). prova nas tensões de 100, 200 e 400 kPa para
Considerado uma evolução do ensaio de cada ensaio. Para o Solo B foram construídas
Cisalhamento Direto, o ensaio DSS permite o duas envoltórias para cada ensaio com CPs
desenvolvimento de um cisalhamento uniforme ensaiados nas tensões de 100, 200, 400 e
no solo, com manutenção da área constante, e 800 kPa.
pode fornecer resultados de resistência mais Todos os ensaios foram efetuados em duas
próximos aos observados em campo. Além fases: adensamento e cisalhamento. Durante a
disso, é permitida a rotação dos planos primeira fase, aplicou-se a tensão vertical de
principais durante o cisalhamento, o que ensaio na amostra. Na segunda fase, foi imposta
permite que a ruptura ocorra no plano de maior uma taxa de deslocamento horizontal que
fraqueza. provocou o cisalhamento do corpo de prova.
No presente trabalho, todos os ensaios DSS
foram realizados mantendo-se o volume do
3 INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL: corpo de prova constante durante o
METODOLOGIA cisalhamento. Isso torna-se possível por meio
de um controlador que alivia a tensão vertical
Para o cumprimento dos objetivos propostos,
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de modo a não se verificarem mudanças na


altura do corpo de prova nem excessos de
poropressão.

4 INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL:
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Figura 7. Envoltórias de Mohr-Coulomb para o Solo A –
4.1 Solo A
Ensaio de Cisalhamento Direto.

4.1.1 Ensaios de Cisalhamento Direto 4.1.2 Ensaios DSS


A fase de cisalhamento foi conduzida até Os ensaios DSS foram realizados na condição
deformação horizontal de 20%, equivalente ao inundada (por percolação de água) a fim de
deslocamento de 12 mm. As curvas tensão- permitir a análise comparativa de seus
deformação obtidas neste processo (Figura 6) resultados com os obtidos pelo ensaio de
não apresentaram pico para nenhum nível de Cisalhamento Direto. As curvas tensão
tensões. Este comportamento era esperado cisalhante versus distorção angular são
considerando-se o nível de compacidade no mostradas na Figura 8.
qual os corpos de prova foram moldados. Para
todas as tensões normais pode-se identificar um
patamar dúctil bem definido.

Figura 8. Curvas tensão-deformação para o Solo A –


Ensaio DSS.

Figura 6. Curvas tensão-deformação para o Solo A – Percebe-se que o comportamento dúctil do


Ensaio de Cisalhamento Direto. solo é também verificado nas curvas obtidas
pelo ensaio DSS, embora a tensão cisalhante
As envoltórias de Mohr-Coulomb para as seja significativamente menor para os valores
deformações de 6% e 12% são apresentadas na de tensão normal equivalentes. Essa
Figura 7. Como esperado, percebe-se uma característica pode ser bem observada por meio
redução no intercepto coesivo com o aumento da trajetória de tensões (Figura 9) traçada para o
da deformação. Isso se deve ao fato de que para conjunto dos corpos de prova. Percebe-se que,
maiores níveis de deformação, a resistência por de modo geral, a tensão normal reduz-se até
atrito corresponde à maior parcela da resistência valores inferiores à metade da tensão de ensaio.
do solo ao cisalhamento.
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4.2 Solo B

4.2.1 Ensaios de Cisalhamento Direto

O Solo B também exibiu comportamento dúctil


(característico de argilas normalmente
Figura 9. Trajetória de tensões para o Solo A – DSS.
adensadas e areias fofas) como pode ser melhor
observado nas curvas da Figura 12. Alguns
A utilização da envoltória de Mohr-Coulomb ensaios foram desconsiderados na construção da
não mostrou-de adequada para obtenção dos envoltória de resistência por apresentarem
parâmetros de resistência utilizando o ensaio comportamento mecânico muito diferenciado na
DSS, como será discutido posteriomente. análise das curvas normalizadas pela tensão
Optou-se, portanto, pela construção da curva de vertical. As duas envoltórias de resistência são
variação da tensão de cisalhamento máxima apresentadas na Figura 13. Os coeficientes de
obtida no ensaio DSS (τDSS) com a correlação obtidos mostraram-se adequados e
profundidade (Figura 10). próximos à unidade. Percebe-se que o aumento
da deformação representa um ganho em termos
de ângulo de atrito efetivo e, em contrapartida,
uma redução no valor do intercepto coesivo.
Esse comportamento é esperado visto que uma
vez vencidas as forças devidas à coesão, a
resistência do solo é dada principalmente pela
parcela friccional em deformações acima de
10%.

Figura 10. Variação da resistência ao cisalhamento obtida


pelo DSS com a profundidade para o Solo A.

Uma vantagem exclusiva do ensaio de


cisalhamento simples é a possibilidade de
obtenção do módulo de elasticidade transversal
(G) por meio da realização do ensaio (Figura
11). Pode-se perceber a perda de rigidez do Figura 12. Curvas tensão-deformação para o Solo B –
material com o aumento do nível de Ensaio de Cisalhamento Direto.
deformação.

Figura 13. Envoltórias de Mohr-Coulomb para o Solo B –


Figura 11. Curvas de Rigidez para o Solo A. Ensaio de Cisalhamento Direto.
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inicial e final médios resultaram 0,856 e 0,707,


4.2.2 Ensaios DSS respectivamente. Para a reta vermelha, esses
valores foram 0,831 e 0,569. Ressalta-se, desse
De modo similar aos ensaios do Solo A, os modo, a alta influência da heterogeneidade
corpos de prova DSS1-B a DSS8-B foram espacial do estado do solo nas suas
cisalhados mantendo-se a altura constante. As propriedades mecânicas. Ainda assim, percebe-
curvas tensão cisalhante versus distorção se que ambas as curvas possuem fator de ajuste
angular são mostradas na Figura 14. apropriado. As curvas de rigidez para este solo
são apresentadas na Figura 17.

Figura 14. Curvas tensão-deformação para o Solo B –


Ensaio DSS.
Figura 16. Variação da resistência ao cisalhamento obtida
As curvas obtidas para um mesmo nível de pelo DSS com a profundidade para o Solo B.
tensão normal apresentaram boa
correspondência. O comportamento do material
pode ser melhor observado pelas trajetórias de
tensões na Figura 15. Nota-se, novamente, uma
expressiva redução nas tensões verticais durante
o ensaio, embora em menor magnitude que para
as curvas do Solo A (Figura 9).

Figura 17. Curvas de Rigidez para o Solo B.

4.2 Comentários sobre os Ensaios


Realizados

Verificou-se, em termos de parâmetros de


resistência de Mohr-Coulomb, uma grande
diferença entre os ensaios de Cisalhamento
Direto e DSS. De modo geral, os ensaios DSS
Figura 15. Trajetória de tensões para o Solo B – DSS. forneceram valores de ângulo de atrito baixos e
interceptos coesivos pouco condizentes com as
As curvas que relacionam a resistência ao
características dos solos em estudo. A Figura 18
cisalhamento obtida pelo ensaio DSS (τDSS)
ilustra a envoltória de Mohr-Coulomb para
com a profundidade são apresentadas na Figura
ensaios DSS e CD para o Solo B. Mesmo o
16. A diferença na inclinação das duas retas é
fator de ajuste sendo adequado em ambos
provavelmente devida aos diferentes índices de
ensaios, os parâmetros obtidos são
vazios iniciais e finais dos corpos de prova do
consideravelmente diferentes.
Solo B.Para a reta azul, os índices de vazios
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variando de 30º a 50º. Variou-se, nas análises,


parâmetros de resistência vindos de ensaios de
CD e DSS.
De modo geral, observou-se que as análises
de estabilidade realizadas utilizando-se dados
provenientes dos ensaios Direct Simple Shear
considerando a variação da resistência do solo
(τDSS) com a profundidade (ET-06 a ET-10)
forneceu fatores de segurança mais elevados
(Figura 19). No caso da utilização do critério de
Figura 18. Envoltórias de Mohr-Coulomb obtidas para o Mohr-Coulomb para obtenção dos parâmetros
Solo B usando ensaios de Cisalhamento Direto (em azul)
e DSS (em vermelho).
de resistência (ET-11 a ET-15), observa-se
maior proximidade entre os F.S. obtidos com os
Para a correta compreensão das diferenças resultados provenientes dos ensaios CD (ET-01
observadas, diversos fatores devem ser levados a ET-05) e DSS, especialmente para inclinações
em consideração, especialmente o modo de inferiores a 40º.
ruptura durante o cisalhamento nos diferentes
ensaios realizados. Como o modo de
deformação e o desenvolvimento das tensões
cisalhantes ainda é objeto de discussão no que
tange ao ensaio DSS, o maior entendimento
destes mecanismos se faz necessário para
aumentar a confiabilidade dos resultados. Em
complemento, como explorado por Airey e
Wood (1987), o efeito cumulativo da rotação
dos planos em que atuam as tensões principais Figura 19. Variação do Fator de Segurança com a
pode levar a uma redução da resistência do solo inlinação do talude para diferentes critérios de resistência.
que ainda não é inteiramente compreendida.
Este fenômeno foi observado nos ensaios aqui Embora a resistência do solo seja
conduzidos. proveniente do mesmo ensaio para as análises
ET-06 a ET-15, são observadas variações
significativas nos fatores de segurança ligadas à
5 APLICAÇÃO NA ESTABILIDADE DE utilização de diferentes critérios de ruptura. De
TALUDES modo geral, o uso da variação da tensão
cisalhante (τDSS) com a profundidade fornece
Foi realizado um estudo de estabilidade de fatores de segurança maiores do que utilizando-
taludes em uma superfície genérica com o se parâmetros de resistência pelo ajuste de
objetivo de avaliar parametricamente a variação Mohr-Coulomb.
dos fatores de segurança a depender dos ensaios
de resistência adotados e da inclinação do
talude. Para este estudo, foram considerados os 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
resultados experimentais obtidos para o Solo B.
Utilizando o método de Morgenstern & Price, O objetivo do presente trabalho foi contribuir
foram rodadas 15 análises de estabilidade em para o entendimento da influência do
um talude com altura de 15 m com inclinação mecanismo de ruptura para a escolha de ensaios
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de avaliação da resistência do solo para fins de REFERÊNCIAS


Engenharia. Especificamente, foram abordados
os ensaios de Cisalhamento Direto – consagrado ABRAMSON, L.W. et al. Slope Stability and
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(DSS). AIREY, D. W.; WOOD, D. M.. An evaluation of direct
Na investigação experimental conduzida, simple shear tests on clay. Géotechnique, [s.l.], v. 37,
foram analisados dois solos com características n. 1, p.25-35, mar. 1987. Thomas Telford Ltd..
distintas. Para ambos observaram-se diferenças http://dx.doi.org/10.1680/geot.1987.37.1.25.
significativas entre a resistência do solo BUDHU, M. Nonuniformities imposed by simple shear
apparatus. Canadian Geotechnical Journal, v. 21, n.
proveniente de cada ensaio. Como essa 1, p. 125–137, 1984.
diferença foi observada tanto em um solo BUDHU, Muni. Soil Mechanics and Foundations. 3. ed.
coesivo-friccional (Solo B) quanto em um solo United States Of America: Wiley, 2010. 780 p.
puramente arenoso – o Solo A, no qual as CRAIG, R. F. Soil Mechanics. 8. ed. United States Of
diferenças entre ensaios drenados e não America: Crc Press, 2012. 584 p.
DAS, Braja. Advanced Soil Mechanics (English Edition).
drenados não são significativas –, a principal 4. ed. United States Of America: Crc Press, 2013. 634
hipótese levantada é a de que a variação da p.
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Na opinião do autor e com base na Advances in Geotechnical Earthquake Engineering
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podem resultar em parâmetros de resistência do LAMBE, T. William; WHITMAN, Robert V. Soil
Mechanics. New York: John Wiley & Sons, 1969.
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553 p.
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desenvolvido pelo solo quando solicitado. Isso direct simple shear. Soils And Foundations, [s.l.], v.
se deve ao fato de que o mecanismo de ruptura 25, n. 3, p.64-72, 1985. Elsevier BV.
por indução de distorções angulares aproxima- http://dx.doi.org/10.3208/sandf1972.25.3_64.
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Direto, podendo fornecer soluções de December, 2016.
Engenharia mais racionais. Para os estudos aqui NOWACKI, F.; SOLHJELL, E.; FARROKH NADIM,
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Sigsbee Escarpment. In: Offshore Technology
confirmação experimental. Conference. Offshore Technology Conference, 2003.
Por fim, ressalta-se a importante RANDOLPH, M. F.; WROTH, C. P.. Application of the
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ruptura e carregamento do solo no processo capacity of driven piles. Géotechnique, [s.l.], v. 31, n.
decisório de especificação de ensaios de 1, p.143-157, mar. 1981. Thomas Telford Ltd..
http://dx.doi.org/10.1680/geot.1981.31.1.143.
laboratório no contexto da Engenharia Civil. A SCHROEDER, K.; ANDERSEN, K. H.; TJOK, K.-M.
grande variedade de ensaios possibilita uma Laboratory Testing and Detailed Geotechnical Design
gama de escolhas para diversos casos práticos. of the Mad Dog Anchors. In: Offshore Technology
Ainda assim, a escolha da metodologia de Conference, 2006. Offshore Technology Conference,
ensaio correta está diretamente ligada a projetos 2006.
TERZAGHI, K. Erdbaumechanik auf
e obras mais viáveis, seguras e tecnicamente bodenphysikalischer Grundlage. Leipzig und Wien:
corretas. Verlag Franz Deuticke, 1925. 399 p.

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