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x Torso) Seat REVISTA DO ENSINO SECRETARIA DA EDUCACAO DEPARTAMENTO DE EDUCACAO SERVICO DE DIFUSAO CULTURAL DIRECAO DA REVISTA: Elisabeth Vorcaro Horta REVISAQ: Magdah Soares Guimaraes =< COLABORARAM NESTE NOMERO Aipa Costa — Professéra da Faculdade de Filosofia de S. Paulo ¢ Catedrdtica da Faculdade de Filosofia da U.M.G. AuaibE Lispoa bE OLIvena — Catedrdtica da Faculdade de Filosofia Da U.M.G. ANTONIo AUGUSTO MELLo CancApo — PFrofessor da Faculdade de Direito da U.M.G. e Ditetor da Faculdade de Direito da Universidade Catélica, Ditetor do Departamento de Educacéo. 5: BENEDITA ANTUNES Gomes — Inspelora de Ensino. EvtsasetH Vorcaro Horra — Professéra da Faculdade de Filosofia Santa Maria e da Faculdade de Filosofia da U.M.G. — Ins- petota de Ensino. HELENA ANTIPOFF — PYofesséra de Psicologia da Faculdade de Filosofia. Hipa Soares Fonseca — do Departamento de Educagéo da Se- eretaria de Educacdo. ~ MacpaH Soares Guimaraes — Assistenle de Ensino da Faculdade de Filosofia da U.M.G. Macpata Lispoa Baca — Professéra de Metodologia do P.A.B.A.E.E. Manta pa Concercio Passos — Professéra. f Pimare Wei, — Psicélogo e Professor. Sanvaporn Pines Pontes — Inspelor Regional do Ensino e Oficial Farmacéutico da Resetva do Servico de Satide do Exército Nacional. TeREZINHA ALVES PEREIRA — Jornalisia e bolsista de Ensino Supe- rior nos EE. UU. * oR Nossa Capa: Fotografias da maquete dos novos Grupos Escolates em consttugéo pelo Govérno do Sr. Magalhdes Pinto, sendo Secretério da Educagéo o St. Oscar Dias Corréa. REVISTA DO ENSINO DA SECRETARIA DE EDUCACAO DEPARTAMENTO DE EDUCAGAO INTRODUCAO Aparece agora o segundo ntimero da nova fase da Revista do Ensino e que leva o n.? 210. Nela o leitor encontrard as segdes costumeiras que vao desde a Conceituagao Educacional em que sGo tratados assuntos furdamentais, origindrios e de base dos sistemas educacionais, aos Problemas Educativos, a problemdtica pro- priamente da educacao, que neste niimero vem apresentada com artigos de Pierre Weil, Helena Antipoff, Aida Costa, Alaide Lisboa de Oliveira e Magdah Guimarées. Encontraré ainda as secées de Entrevista, agora com Eduardo Frieiro, A Ciéncia Para Todos e ainda A Arte Na Escola e Verificacaéo Escolar, preenchidas por competentes especialistas. Na secGo Atualidades trazemos a palavra de Mello Can- ado a propdsito das enciclicas papais, na oportunidade do aparecimento da Mater et Magistra de que voltaremos a tratar no préximo nimero. E para concluir, chamamos a atencdo dos leitores para @ secao bibliogrdfica que neste nimero veio preenchida cont uma lista de publicagées francesas de todos os assuntos, orga- nizada a propésito da Exposicéo de revistas e publicagdes Irancesas que a Associagado de Cultura Franco-Brasileira, sob 0 patrocinio da Universidade de Minas Gerais, levou 4 efeito na Biblioteca do Estado. Nao é preciso encarecer @importdncia da bibliografia em geral como auziliar susten- ldculo do trabalho educativo em todos os niveis do ensino- Quase podemos dizer: Dize-me o que lés e saberei quem és. REVISTA DO ENSINO Ai estd pois, caro leitor, a sua Revista do Ensino, a nossa revista de Minas, sébre educacao, para todo o Brasil. Depois que a tenha lido, fale sébre ela com os outros pro- fesséres da sua escola, com seus alunos e com seus amigos, passe-a adiante para ser lida e escreva para ela o que pensa dela, o que poderia melhorar ou corrigir. Pela diregao. E.V-H. CONCEITUACAO EDUCACIONAL Aos que pretendem ser professéres Terei Exito no Magistério? Magpara Lispoa BacHA De modo geral, o estudante que ainda nao lecionou acha o magistério coisa muito simples. Pois nao é?'E. Ele tem certeza. Ele ja teve varios professéres, ja passou di- yersos anos na escola e portanto sabe, por observagao com- provada, que o trabalho do professor é bastante facil. A propésito, lembro-me de um fato pitoresco. Um pai repre- endia o filho que nfo tirara boas notas e dizia-lhe: — Mas meu filho, que é que vocé fica fazendo en- quanto seus colegas trabalham? Cruza’ os bragos? ‘Senta-se quieto? Fica distraido, pensando em outras coisas? Olhando os outros? Perde 0 seu tempo? — Nao, papai, eu nao. O senhor esta confundindo. Quem toma esta atitude, em minha classe, na hora de trabalho, € o professor... E assim que a maioria dos alunos yé os. professores, até que comece a meditar sobre suas funcoes, até que entre em contato direto com o magistério, mudando sua posigao de aluno para professor e mudando também seu ponto-de- yista. fles descobrem, assim, que a realidade é diferente, e que, nos dias de hoje, muito se espera do professor. * Antigamente, 0 unico requisito para. que se fésse professor era o conhecimento da matéria a lecionar. Qual- quer pessoa que soubesse fer, escreyer e contar estaya qua- lificada para ser professéra, Sdmente no século XX € que 8 REVISTA DO ENSINO se compreendeu que o preparo do professor devia envolver mais do que o dominio da matéria. Comecou-se entao a dar énfase a certos aspectos, como: 1. Qualidades de personalidade e de auto-contréle, possuidas pelo candidato a professor; 2. Compreensao da natureza da crianga e de. seu desenvolvimento; 3. Sensibilidade cultural; 4. Habilidade para aprender e para aplicar pri cipios: psicolégicos no ensino; 5. Dominio da matéria e habilidades de ensino. Tal revolugao na educacéo do professor resultou de estudos sdébre a psicologia da crianga e da tese de que o professor néo apenas ensina a matéria, mas, sobretudo, ensina através da matéria. Mais do que nunca, os pais e a comunidade, de modo geral, reconhecem a importancia, na vida de um individuo, de sua infancia e de suas experiéncias juvenis. Os anos passados na escola séo considerados como um periodo du- rante o qual as criancgas desenyolvem atitudes, habilidades e conhecimentos que os beneficiario nao apenas quando adultos, mas que também os prepararao para ajustamentos na adolescéncia. Como a férga de uma nacaio depende do tipo e da qualidade da educagao dos jovens, a eficiéncia do professor é, antes de mais nada, uma preocupacao social. Para que tal eficiéncia seja uma realidade, influi, sem dtvida, a qualidade dos estudos preparatérios do jovem ‘estudante, mas, sobretudo, influira o tipo de pessoa que éle 6. & éste aspecto que gostaria de focalizar. Que. é essencial a um individuo para obter bons resultados como professor? Como podera uma pessoa, antes de ingressar no magistério, verificar se tem as qualidades essencidis para tal funcio? Quais sao as qualidades pessoais que uma aluna’ do Curso de Formacao deve procurar desen- volver para ter resultado no magistério? REVISTA DO ENSINO 9 A “National’ Association of Manufacturers” preparou, com a finalidade de auxiliar os jovens que desejam ser professéres, um questionario de auto-avaliacao, agrupando as perguntas em quatro tépicos: 1. Grande desejo de aprender; 2. Grande desejo de ensinar; 3. Habilidade para conviver com pessoas, principal- mente com criangas; 4. Bom carater. Se a maioria das perguntas for respondida afirma- tivamente, é muito provavel que a pessoa dé, no futuro, um 6timo professor. Algumas respostas ‘negativas, contu- do, nao devem desencorajar o candidato. Ao contrario: diagnosticadas as falhas, deye procurar supera-las. Para medir o primeiro aspecto — desejo de aprender — sao feitas estas perguntas: 1. Vocé gosta de ler livros, revistas, jornais? 2. Gosta de folhear livros em bibliotecas? 3. Quando vocé olha jornal, acha algo interessante em quase tédas as paginas? 4. Quando procura o significado de uma _ pala- vra no dicionario, é freqiiente vocé se intercssar por outros térmos também? 5. Vocé faz muitas perguntas a adultos, cuja inteli- géncia admira? 6. Vocé gosta de resolver quebra-cabegas, principal- mente os do tipo que lhe podem ensinar algo, como as palavras cruzadas? 7. Vocé gosta de desarmar e armar objetos, para verificar como funcionam? 8. Quando esta realmente interessado em um assunto vocé o estuda e o aprende com facilidade? 10 REVISTA DO ENSINO 9. Quando estuda, vocé o faz profundamente, sem pensar apenas em passar de ano? 10. Suas notas sdo geralmente acima da média, principalmente quando vocé acha o assunto e o professor interessantes? O segundo aspecto — desejo de ensinar — pode ser medido através de perguntas como: 11. Seus amigos recorrem a yocé quando precisam de ajuda? 12. Vocé os ajuda com presteza? 13. As pessoas, geralmente, gostam de seus conse- lhos? 14. Vocé da conselhos de maneira simpatica, sem indirctas, sem ridicularizar e sem fazer comentarios sar- casticos? 15. As criancas lhe interessam tanto, a ponto de vocé nao se cansar de responder a suas perguntas sem fim? 16. Vocé é chefe de algum grupo, como o de esco- teiros, bandeirantes ou de jecistas? 17. Vocé gosta de dar explicagées a seus pais, irmaos menores ou amigos? 18. Quando alguém parece ter “cabe¢a dura” e nao entender o que vocé falou, vocé mantém a paciéncia e con- tinua tentando explicar? O terceiro aspecto — convivéncia com outras pessoas — é medido pelas perguntas: 19. exaltar? 20. Vocé combina bem com seus pais e seus irmios? 21. Vocé sabe manter 0 bom humor, mesmo quando alguém brinca com vocé? . 22. Vocé sabe perder? 23. Vocé tem muitos amigos? 24. Vocé é bom jogador de um time, mesmo quando nao Ihe concedem o lugar principal? Vocé sabe manter a calma, sem se irritar ou se REVIsTA DO ENSINO i O quarto aspecto — bom cardter — pode ser verifi- cado por perguntas como: 25. Vocé se sente firme em relacgao a aspectos como: yalor humano, dignidade, respeito 4 propriedade particu- lar, deveres civicos, liberdade de participacdo? 26. Vocé acredita na fraternidade dos homens e tem a Deus como Pai? 27. Vocé deixaria de mentir ou de roubar mesmo que soubesse que isto poderia beneficia-lo? 28. Vocé evita se vangloriar? 29. Vocé cuida bem de sua aparéncia? De sua satide? De seu estado fisico? 30. Vocé freqiienta a igreja regularmente? A pessoa que possui qualidades como essas, certa- mente tera experiéncias satisfatérias e sauddveis no ma- gistério, ajustar-se-4 bem as suas fungdes de professor. De modo geral, o motivo que impele qualquer ser humano a ingressar no magistério é o fato de gostar de trabalhar com criancas. Possuindo éste amor, embora as vézes surjam dificuldades, se éle aprendeu a reagir bem, sabera vencé-las. Tera o que chamamos de satide mental. Satide mental nao significa nao ter problemas — pois que problemas nés en- contramos em qualquer parte — mas saber enfrenta-los e resolvé-los. O fator mais importante para a felicidade pessoal e para rendimento de um individuo é sua habilidade para conviver com outras pessoas e esta habilidade depende cer- tamente de sua capacidade para amar e ser amado, capa- cidade esta que deve superar a de odiar. Dificuldades e problemas sao quase sempre relacionados com 0 fato de a pessoa nfo dar e nao receber amor suficiente para contra- balancar o édio. Para ter boa satide mental e para ajudar as criancas a ganharem-na, o professor deve saber encontrar alegrias na vida. Alegrias originam-se na satisfagao de necessida- 12 REVISTA DO ENSINO des pessoais, na realizagiio de desejos. Pode-se, por exem- plo, ter alegrias criando algo belo, executando um plano, realizando um trabalho valioso ou trabalhando para con. seguir alcangar um objetivo. A quantidade de alégria que Uma pessoa tem na vida depende grandemente de sua auto-suficiéncia e boa-vontade. As que esperam que a vida Ihes traga alegrias, sem sua cooperagao, de modo geral, acabam se aborrecendo. Para ter muitas e grandes alegrias vocé pode, por exemplo: Refletir sébre a maneira como vocé pode contribuir para sua propria felicidade. Fazer algo diferente do costumeiro, de vez em: quan- do. Usar sua imaginag&o para explorar idéias novas e novas atividades. Fazer grande esférgo para realizar suas responsa- bilidades principais da melhor maneira_possivel. Procurar se distrair e se recrear. Quanto mais gosto vocé'tiver em seu tempo livre, melhor sera para vocé. Todos nés precisamos de tempo para fazer 0 que desejamos, com inteira liberdade e certeza de que somos felizes. Cultivar a arte da amizade. A maior parte das ale- grias e tristezas da vida dependem da mancira como se vive com outras pessoas. Os amigos podem ser uma fonte de alegria ¢ um apoio numa hora amarga. Finalmente, encarar os objetivos de sua vida; Se yocé tem um objetivo suficientemente clevado e valioso, scu rendimento acompanhara seu _interésse. Para ser professor, vocé precisa ser bastante, ama- durecido emocionalmente, a fim de encontrar maior satis- fagdio em dar do que em receber; a fim de ser leal em suas relagdes de amizades; a fim de usar seu tempo livre de ma- neira criadora; a fim de contribuir para o desenvolvimento de sua casa, de sua escola, de sua comunidade, da nacio e do mundo; a fim de aprender a tirar proveito de seus erros € sucessos; a fim de ser relativamente livre de ansiedade e temores. REVISTA DO ENSINO 13 Ninguém precisa mais de maturidade emocional do que os pais e os profess6res. Se esperamos ter uma’ gera- cio futura mais saudavel, mais feliz, mais eficiente, mais amadurecida, precisamos, nds, atingir a maturidade. As responsabilidades do professor sao grandes. Nao se limitam mais apenas A avaliacio de aprendizagem teé- rica, Espera-se déle que ajude os alunos a terem auto= controle, que oriente seus estudos, que mantenha seu inte- résse, que meca seu progresso, que eslimule o seu pensa- mento, que use recursos da comunidade, que use técnicas aperfeicoadas de ensino, que se utilize de mate iais apro- priados e especificos, que motive o trabalho de maneir eficaz, que seja amigo das criangas e participante das _ati- vidades de dentro e de fora da sala de aula. Henry Yan Dyke descreveu de maneira admiravel as fungGes do professor em sua pagina em homenagem ao mes- tre desconhecido. Disse éle: “Eu louvo o professor desconhecido. Grand rais ganham campanhas mas é 0 soldado desconhecido que ganha a guerra. Educadores famosos planejam novos si temas pedagégicos, mas é o professor desconhecido que di- rige e guia a crianca. Ele vive na obscuridade e luta contra a fadiga. Por éle nem uma corneta é tocada, nem uma carruagem espera, nem medalhas de ouro sao decretadas. Ble fica de guarda nas fronteiras da escuridao e ataca as trincheiras da ignorancia e da tolice. Paciente em seu dever diario, éle esforga-se por vencer os poderes daninhos que sao inimigos da juventude. Ele desperta espiritos adormecidos. Estimula o indolente, encoraja o que tem vontade e da firmeza ao inseguro. Transmite sua alegria pelo aprender e partilha com os alunos os tesouros de sua mente. Acende muitas velas que, anos mais tarde, conti- nuardo brilhando para seu prazer. Esta é sua recompensa. Conhecimentos podem ser ganhos em livros, mas 0 amor ao saber sé 6 transmitido por contato pessoal. Ninguém nunca teve mais mérito em uma reptiblica do que o pro- fessor desconhecido. Ninguém é mais valioso em uma de- es gene- 14 REVISTA DO ENSINO Lee ica, rei de si mesmo e escravo do género J& disse alguém que nesta vida hd pessoas que esco- lheram ser espectadores e outras participantes. Vocé esco- Theu ser participante? Escolheu bem. Ninguém pode ser feliz vivendo apenas como espectador ou vivende apenas para si mesmo. A alegria do viver origina-se na imersao em algo que sabemos ser maior, melhor e mais duradouro do que nés mesmos, como, por exemplo, o magistério. BIBLIOGRAFIA CANTOR, N. — ; AN. — The Teaching-Learning Process — The Dryden Press, New York, CROW, LESTER e CROW, ALICE — Ham. zearni American Book Company — New York, 19000 Pment and Beis NATIONAL ASSOCIATIO? ac IN OF MANUFACTURERS — Your Career in Teaching -- SHARP, LOUISE — Why Teach — Henry Holt and Company — New York. Reflexdes Sobre Problemas Filosdficos do Século XX ExisaserH Vorcaro Horra Talvez seja o signo de nosso tempo — a auséncia de esperanga. As geracdes que nos antecederam esperaram de- masiado do homem e nos legaram a marca da sua desespe- ranga. Compara Charles Peguy a fé a uma imensa catedral, a caridade a uma arvore frondosa em cuja sombra se abri- gam todos os sofrimentos — e a esperanga a uma pequenina crianga fragil e débil. & ela que falta ao nosso tempo, que deixou de acre- ditar no préprio homem, quando duvidou no século XIX que éle pudesse alcangar pela ciéncia o absoluto dominio sébre o universo. Ao sentir 0 homem que, além de tédas as conquistas no tempo e no espaco que possa realizar, se colocaré sempre o problema de sua origem e finalidade sébre a terra — 0 século XX aténito se detém mas continua a renegar espe- ranga nas crengas herdadas. Fica vazio o lugar que a fé ocupava, simples e in- génua em séculos passados. E o que restou em seu lugar senfio um punhado de conceitos esfacelados que em vao tentariam reconstituir a face eterna do homem? O homem de nossos dias carece da esperanga que existiu trangiiila no desenvolvimento natural das civiliza- ¢ées pré-racionalistas mas que se perdeu ao impacto das concepgdes filoséficas radicais sébre a constituicfo da ma- téria e o aparecimento da vida. 16 REVISTA DO ENSINO Desde o Renascimento que o homem se vinha fir- mando num humanismo antropocéntrico que foi a sua base espiritual — a sua auto-afirmacio. : : Lembremos o sentido dos térmos: existe um huma- nismo teocéntrico, cristaéo, e um humanismo antropocéantrico No primeiro o homem reconhece que Deus estA no centro de suas concepcées, isto implicando a prépria colocacio do homem no universo. No segundo o homem, éle mesmo, é o centro e isto coloca uma concepca i : 40 naturalista do homem e da liberdade. is ° humanismo antropocéntrico é desumano e sua dia- lética € vista por Jacques Maritain como a tragédia do hu- manismo. Foi éste desumanismo que condicionou o espi- rito do Renascimento, o da Reforma e o dos tltimos séculos. : O humanismo antropocéntrico foi mais que um re- nascimento da antigitidade grega e romana, foi mais do que uma nova moral e que uma atividade intensa nas ciéncias — foi também um nove sentimento da vida. Nos nossos dias chega a seu térmo éste processo que desde o renascimento vinha regendo a histéria Diz 0 filésofo russo Berdiaev que “caminhamos até ao fim das vias do humanismo; nao se pode ir mais além por essa via”. Teria sido, segundo éle, téda a histéria moderna apenas uma dialética-imanente de auto-revelacio depois da auto-negacdo dos mesmos principios que haviam motivado oO seu aparecimento. Mas o humanismo nao fortaleceu o homem, debili- tou-o sOmente, é a concluséo paradoxal no término da his- toria moderna. O homem perdeu-se ao invés de se en- contrar. Estamos na época dos grandes coletivismos, nos quais desaparece a individualidade humana que nao ode suportar sua solidio. A O homem esta sé porque se dividiu. Perdeu-se a unidade cultural que fora o signo da época anterior, E uma experiéncia de dor e de catdstrofe tem instruido o REVISTA DO ENSINO 17 homem de nossos dias ao mesmo tempo que éle realiza in- contestavel enriquecimento da civilizacao. Mas o que chamamos civilizacio e cultura? Enten- demos que cultura e civilizacfio sio dois térmos correlatos que coexistem e se referem ndo somente ao desen- volvimento material necessério ao homem mas também ao desenvolvimento moral e ao desenvolvimento das atividades especulativas, das praticas, das artisticas que por obra do espirito e da liberdade completam o esforco da natureza. HA uma divergéncia de caminhos entre as idéias e sistematizagdes e as aplicagdes praticas. O Renascimento foi uma eclosao ainda repleta do cristianismo antecedente, carregado de idéias teocéntricas que se libertavam de seu centro espiritual. Mas o humanismo antropocéntrico que o substituiu ninguém poderia supor trouxesse a0 século XIX, com a industrializacio e 0 império da mAquina, 0 po- sitivismo e sua limitacio intrinseca, o socialismo e 0 anar- quismo e principalmente o materialismo que cresceu e sé infiltrou em tédas as concepgdes humanas e, quando nio as subjugou, deixou-Ihes a marca de sua passagem. Estaria em Leonardo da Vinci o primeiro esbéco do império da mAquina que depois existiria? Em Miguel Angelo eslaria a afirmaciio da libertacio das fércas eriadoras do homem? Assim como Lorenzo Ghiberti gravaria em bronze cenas tiradas do Antigo Testamento como motivo inspirador em pleno Renascimento, ou Benevenuto Cellini se inspiraria em motivos gregos (o Perseu, por exemplo), em que século buscariamos a semente que se desenvolyeu nos tempos mo- dernos da destruicio do homem espiritual, substituida pelo homem natural, sujeito 4 dura necessidade das fércas da natureza? O Renascimento vinha carregado do espiritualismo que permitiu seu advento — mas 0 que yira para o homem moderno depois do longo periodo de humanismo que se esyazia cada vez mais? O homem jungido 4 sua contingén- cia natural se esgota — sé o homem espiritual é capaz de 18 REVISTA DO ENSINO construir no sentido criador porque considera nao o tempo mas a eternidade. O humanismo que levou o homem ao individualismo deixou-o sem finalidade, porque a individua- ree se nutre da base espiritual que constréi a persona- idade. j Certamente que neste periodo o homem féz a con- quista da liberdade, mas essa conquista sé o engrandece se éle é capaz de colocar Deus como objetivo norteador dessa liberdade. Sem ésse objetivo fica sem sentido construtivo a liberdade humana e nela o homem se perde. 2 _Foi ainda neste tempo que o homem realizou a meca- nizaciéo da vida. A vida humana estava até entao ligada organicamente a natureza. A maquina desvinculou-a subs- tituindo os simbolos religiosos pelas partes desconexas e descentralizadas . : 9 homem se esqueceu que na ordem dos séres a pri- meira iniciativa nao Ihe coube e tomou o lugar que a um Criador pertencia. ¥ o érro fundamental do humanismo antropocéntrico: colocar o homem no centro de todas as coisas. z gE ainda aqui que esta o principal desvio das concepcées coletivistas — a inexisténcia de concepcées metafisicas ou religiosas substituidas por uma simples ética econdmico- social pragmatica ou racial. Ha ainda nas concepcées antropocéntricas um outro paradoxo existencial. O homem que se coletiviza parece sc aproximar mais dos outros homens — mas realmente os entagoniza porque nao caminham na mesma direcio. Se Deus é 0 centro da vida humana, ha um objetivo de perfei- ¢@o pessoal e de amor miituo que se estende a universali- dade dos homens. Assim sendo, nao ha lugar para o édio de um para outro. O que deixa propicio um aperfeicoa- mento de cada um como nenhuma técnica social nem ne- nhum trabalho de reeducacaio pode empreender. Diz Maritain que: “Por mais generoso que seja um ateu, 0 ateismo petri- fica certas fibras profundas de sua substancia; seu amor aos homens é uma reivindicag&o violenta de seu préprio REVISTA DO ENSINO 19 bem que surge antes de tudo como uma férga contundente yoltada para séres humanos que The sao impenetraveis”. S6 0 sentimento fraternal cujo centro esta em Deus é uma forca unificante e difusa do bem porque esquece a si mesmo para compreender o outro. No fim de uma época que é uma grande parte de um periodo histérico, perguntamos com muitos outros se sera possivel prever para a frente um novo renascimento. E a resposta mais exata é aquela que faz pensar numa época de preparacio disciplinada e tenaz, um novo recoméco pacientemente preparado das fércas espirituais. Sera a tentativa para fugir ao barbarismo ou ao aviltamento dos sistemas econémicos e sociais desumanos e das guerras fra- tricidas que ensangiientaram o séc. XX e cujas cicatrizes trazem a inspiracaio para novos recomecos. Essa prepara- Go disciplinada nao é uma yolta a um Estado teocratico. Nao ha regress&o possivel na marcha da historia, principal- mente para éle, que nfo realizou efetivamente seus objeti- vos — trazendo uma verdade superior. Apenas simulou-a sem que contudo o érro estivesse no estado prdépriamente. O caminho estara talvez, como quer Berdiaev, em uma nova época de £6 semelhante aquela das catacumbas para dali, no siléncio e na oracio, voltar a conquistar o mundo. “Ne- nhum simulacro de Estado cristio conduziria a realizagses © auténticas”. Nossa época traz da conquista da liberdade um outro caracteristico proprio — & o desnudamento das verdades. No nos 6 possivel viver mais senfio com reve- lacdes totais, ainda que tragicas e despojadas de qualquer consolacao. O lado construtiyo dessa caracteristica é que os des- pojamentos de ilusdes externas levam a uma vida interior mais rica. % dessa vida interior que nosso século necessita como crescimento pessoal intenso que forme a personalidade e¢ nfo apenas a individualidade. A democracia nfo pode 20 REVISTA DO ENSINO ser apenas numero aritmético, nem manter um carat formalista que ignore sua esséncia... S e A expressio da vontade do povo nao se revela pela simples adig&o aritmética senio formalmente. As formas cultural e religiosa sio mais exatas como revelacio désse conjunto historico que significa 0 povo ligado pelas geracées que se sucedem. Os erros da civilizagao despojada de Deus do séc XIX e do XX foi que geraram as tltimas guerras e cavaram um defini ivo abismo com as formas anteriores de viver. Sera em vao que se pensarA em viver novamente a vida pacifica burguesa de nossos ancestrais com seus principi vigentes no século IX. 5 a i Nos nossos dias ninguém mais acredita dentro de sua propria consciéncia em nenhuma forma politica nem em nenhuma ideologia social. Ruiram as monarquias, e as democracias atravessam uma crise. O comunismo procura manter-se, no dizer de Berdiaev, “a custa de uma tensdo demoniaca da vontade e de um fanatismo sangrento”. A relig io vem sendo considerada um negocio privado como o queiram os tempos modernos. O comunismo veio colocar a questo num ponto crucial porque “rompeu com os sistemas de independéncia e laicismo dos tempos moder- nos e exigiu uma sociedade de natureza sagrada, uma submissao de todas as faces da vida a religifio do diabo, a religido do Anticristo.” (1) Perecem os conceitos do Estado e da economia e o problema politico cresceu até se tornar nao apenas politico, mas cultural e espiritual: é o pro- blema da formacio e da educaciio espiritual dos povos. wos A concepgao do poder como um dever e nfo como um direito deve substituir a nocdo do direito humano ao poder de determinadas classes. A concupiscéncia do poder ie bém uma forma errada que afasta o homem do uso do poder em nome da Verdade e de Deus. ; Por outro lado a democracia é um caminho que neces- sita uma yverdade como objetivo. Nao é sémente a quanti- (1) “Uma nova Idade Média”. REVISTA DO ENSINO ai dade que constréi a vida, é preciso saber qual a verdade a servir e qual a vida a obter. No aspeto econdmico, como regime social, 0 capitalis- mo se desmascara pelos seus préprios erros. Nao ha possibilidade de volta ao regime latifund: rio, nem o industrial — capitalista é o dese! el. Nao ha porém fé em que o regime socialista possa resolver os pro- plemas que o capitalismo suscitou. As bases morais do tra- palho determinam os motives que criam a vida econdmica dos povos. Aquéles do capitalismo ruiram e a divinizagao que o socialismo criou do trabalho leva a uma situacio espi- ritual que nfo basta em si mesma para o homem. Nao se pode pensar num socialismo cristaéo, senao como o reconhecimento da injustiga do regime individualista e capitalista. Além disso s6 existe o verdadeiro socialismo que é aquéle que por processos exteriores, violentos e mate- rialistas, quer converter as sociedades humanas em donas de seus destinos. A vida politica e social da humanidade, que tem sido ficticia e ilusoria, necessita da revivescéncia auténtica que so uma modificacao total na sua colocagéo pode trazer. “Q homem deve caminhar para a vida interior e espi- ritual nfo somente pessoal mas também supra-pessoal em nome da esséncia e do fim da vida”. Essas palayras pro- vindas de um grande pensador merecem a reflexdo de cada um naquele momento de pausa que fica a meio caminho, quando nos sentimos donos de nossas destinacdes escolhi- das livremente atrayés da meditagao e do discernimento no qual avaliamos nossa propria colocacao espiritual atras da qual todos os problemas se colocam. Qual a nossa colocagdo no mundo que nos rodeia e que posicfo tomaremos ante a sociedade? Qual é o fio nor- teador de nossas atividades e qual a verdade que nos ilumi- na como professéres ou pesquisadores em qualquer ramo da ciéncia? Em nossas mfos de qual instrumento da verdade fa- zemos uso para a educagao e a instrugéo da adolescéncia? REVISTA DO ENSINO Sera a palavra, veiculo de cultura, um instrumento de elevacio e aprimoramento da juventude para nés? E ainda para cada um de nds, no recesso de nosso pensamento, 0 exercicio da busca da verdade nos fara bem, pelo menos o bem em si mesmo de nos sentirmos compen- sados de nossa condicéo humana quando encontramos a solugao de cada problema e podemos sentir com Pascal: “O homem é apenas um canico, o mais fraco da natureza. Mas é um canico que pensa. Nao é preciso que o universo inteiro se arme para esmaga-lo: um vapor, uma gota d’dgua séo suficientes para mata-lo. Mas quando o universo o esmagar, 0 homem sera ainda mais nobre do que éle que o mata, porque sabe a vantagem que o universo tem sébre éle — e o universo nada sabe”. PROBLEMAS EDUCATIVOS Relagoes Humanas Entre Professéres e Alunos Prerre ~WEIL O ensino esta, nestes Ultimos anos, atravessando pe- riodo de crise, que pode ser considerado, provavelmente, como transicao entre duas maneiras diferentes e completa- mente opostas de educar: os métodos tradicionais e os mé- todos ativos: zt Nos primeiros, é o professor a figura central do ensi- no que consiste sobretudo em comunicar verbalmente os conhecimentos; nos segundos, a figura central é o aluno e © objetivo essencial é fazé-lo aprender. Em outras palavras: enquanto o ensino tradicional era essencialmente fundamentado na Didatica, os métodos modernos de educacdo tém as suas bases na Psicologia da Aprendizagem. Além disto, recentes descobertas da Psicologia Social colocaram em relévo outro lado importante: o professor esta REVISTA DO ENSINO lidando com grupos e com individuos e, por isto mesmo, as suas atitudes pessoais tém repercussdes profundas tanto no ambiente da classe como no comportamento de cada aluno. A Psicologia Social voltou a atrair a atengao sébre a impor- tancia do professor na cducagaéo; mas, desta vez, trata-se nao do seu método de ensino mas, sim, da sua Personali- dade. § 1— A PERSONALIDADE DO PROFESSOR OU PROFESSORA A maioria dos alunos tem tendéncia inconsciente a imitar os seus educadores, sejam os seus pais ou os seus professéres. S6 isto ja justificaria o cuidado que se deveria tomar na escolha e na formag&o dos membros do corpo do- cente. Ha, porém, mais ainda: os alunos sao extrema- mente sensiveis ao estado emocional do seu professor. Déste depende criar um ambiente de confianga, de cordia- lidade e de compreensao das dificuldades de aprendizagem de cada um, ambiente éste que favorece o rendimento do ensino além de consolidar a personalidade dos préprios alunos. Vamos enumerar algumas das qualidades indispen- sdveis ao exercicio do magistério e favoraveis ao estabele- cimento de boas relacgdes entre professor e aluno: REVISTA DO ENSINO 27 1 — PROFUNDO INTERESSE por pessoas, especial- mente por criancas, adolescentes ou adultos (conforme o tipo de educando) . 2— INTERESSE pela biologia e, mais particularmen- te, prazer em fazer crescer e ver desenvolver séres vivos pelos seus préprios cuidados. Da mesma forma que o jardineiro gosta de ver crescer as suas plantas, o bom educador ficara satisfeitissimo em constatar o progresso dos seus alunos. 3 — EMPATIA ou capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa, compreender e mesmo prever as suas rea- ¢gdes em determinadas situagdes. O professor deve ser capaz, por exemplo, de “sentir” que determinada crian¢ga nao consegue resolver o seu problema de aritmética porque estA preocupada por algum motivo de ordem pessoal ou familiar. 4 — INTELIGENCIA SUFICIENTE para assimilar conhecimentos da sua especialidade, seja de matéria, seja de Pedagogia. Nao precisa ser um individuo excepcio- nalmente dotado. Parece mesmo que profess6res com inte- ligéncia demasiadamente distanciada da média dos seus alunos nao conseguem “descer” ao nivel do aluno. Alguns 28 REVISTA DO ENSING entende. \ ficam mesmo aborrecidos pela lentidaio de compreensio dos seus discipulos; ou, ent&o, falam uma linguagem inacessivel aos alunos, embora conyvencidos de que todo mundo os REVISTA DO ENSINO Iv 5 — BOM CONHECIMENTO DA MATERIA ou das matérias a serem ensinadas. Se éste conhecimento é necessdrio, 6, no entanto, mais importante ainda o saber fazer assimilar pelos alunos éste mesmo conhecimento. Nem sempre os melhores matematicos, filélogos. ou musicos sfio os melhores professéres. Pode-se ser dtimo conhecedor de Histéria e ter, no entanto, péssimas relacdes humanas com os seus alunos. 6 — EQUILIBRIO EMOCIONAL: esta qualidade ¢ provavelmente uma das principais. Professor deve ser pessoa calma, sobretudo capaz de dominar as suas reacées emocionais. Quando um aluno nao compreende algo ou tem atitudes de instabilidade e indisciplina, é indispensd- vel guardar o contréle de si mesmo a fim de poder pensar sébre a melhor atitude a tomar. Em outras palavras, é necessdrio ter PACIENCIA. REVISTA DO ENSINO a1 REVISTA DO ENSINO segunda coluna, as reagdes dos alunos observadas pelos psicélogos sociais em experiéncias consideradas, hoje, como classicas. we wits Vil 7 — IMPARCIALIDADE E ESPiRITO DE JUSTIGA: o professor tem de lutar contra uma série de impulsos que o fazem preferir certos alunos a outros. EF dificil nao ter preferéncias. E indispensdvel nao as demonstrar por atos de protecionismo, tais como dar melhores notas aos alunos preferidos. Além das qualidades que acabamos de descrever, depende do professor ter atitudes que provoquem no aluno desejo de aprender, pois nem t6das sao boas: § 2 — ATITUDES DE PROFESSORES E REACOES DOS ALUNOS As atitudes de professéres, em geral, podem ser classificadas em trés tipos principais: 1 — OS PROFESSORES SEM ATITUDES, que os psicédlogos sociais costumam chamar pela expressao fran- cesa de “laissez-faire”, deixam os alunos fazer o que querem. Limitam-se téo sémente a dar aula sem se preo- cupar com a participacéo dos alunos. 2 — OS PROFESSORES LiDERES que procuram compreender cada aluno e conseguir a cooperagio dos mesmos. 3 — OS PROFESSORES DITATORIAIS que obri- gam os alunos a render o maximo por meio de castigos, criticas, repreensdes e contréle rigoroso. O quadro, a seguir, apresenta um resumo das mani- festacdes das atitudes désses trés tipos de professéres. Na PROFESSOR “LAISSEZ-FAIRE” Conduta do Professor Nao toma atitudes. Sempre indeciso. Nao ajuda o aluno a resolver as suas dificuldades. Dé aula e vai embora sem saber do resultado. Nao se pronuncia quanto ao desenvolvimento dos alunos sob a sua guarda. ee Ix Reagao dos Alunos: Rendimento baixo. Desordem e indisciplina. Inde- cisdio. Desprézo ao professor indiferente. | BIBLIOTECA ] ARQUIVO PUBLICO MINEIRO!| | REVISTA DO ENSINO PROFESSOR “DITADOR” Conduta do Professor Considera todos os alunos como autématos, feitos para registrar sem érro tudo o que éle disser. Utiliza os castigos e repreensdes em alta dose. Procura controlar todos os gestos dos alunos. Nao tem confiancga nos alunos e os con- sidera incapazes de vontade propria. As vézes a sua natureza ditatorial aparece de maneira mais sutil: o professor procura obter o que quer, cultivando uma dependéncia afetiva com os alunos: “E& assim que eu gosto que vocés ajam”. “Sejam bonzinhos, assim gostarei de vocés” e “Nao facam isto comigo” — sao as chantagens afetivas mais freqiientes neste caso. REVISTA DO ENSINO 33 REACAO DOS ALUNOS: R Criam sentimentos de revolta. Muitos ficam angus- tiados. Passividade e submisséio. Os alunos passam a ser agressivos, sendo freqiientes os incidentes ¢ brigas. Quando © professor deixa a sala, a turma tOda deixa o estudo e fica de brincadeiras. PROFESSOR “LIDER” ee & 4 BY REVISTA DO ENSINO PAOANTA RDO OFDMA Conduta doSProfessor: Procura que os alunos encontrem as solucdes por si mesmos. Orienta os trabalhos de classe, incentivando a cria- ¢ao de equipes. Encoraja os minimos esforgos de cada um. Utiliza mais os louvores e recompensas. E as criticas sio perfeitamente aceitas. f x / i Reacdo dos Alurios she Gostam de participar dos trabalhos de classe. Pro- curam estudar e vg = ea ‘Pains por si mesmos. Ren- dimento maximo. fessor. Desenvolve: od he pginua: na auséncia do pro- oa e de con- tréle de si mesmos , Nas relagdes_fu os processos de liderane: ‘Stiltados mais pro- dutivos e colocam o ensi Gy fi ado padrao. A atengo de quem ensina deve ser concentrada intei- ramente nos alunos. Passou @yépoca em que os professéres eram considerados bons quando falavam bem e tonheciam afundo amatéria.gue ensinayam, Est4.gppaprenaglos hoje, as a verdadeizg, sducastor fen. amg. abs, falarAamomenta SuEMAE SH ai LU Rigatoni ava. da uma. aula, que sabe, samba ealarse, RTRSY a aluno falar ow deixar os alunos’ débaterem, um, assjinto ¢ interésse coletivo, Cultivar no educando o senso de respon- sabilidade, o habito, de, tjabalhar, GARR. © gosto pela pesquisa e 0 pela objetividade cientifica, assim como o res- peito pelo préximo, nao se faz através de aulas verbais nem de §iSgursos, mas elo exemplo pessoal dos e ee P! . e pela participag| tye do aluno nos estudos. . t OS Dofsrg, sAacriancs, ° dar & R tian de Pierre Weil (fls. 50 a 59) nas, me, Fea e aluno sao ao Ps, outzaua oa aTetvang ae ereq Qhebilidiaass emu soadaviaq 0&1 2eusie 20unle 26 erauazog aarmlA aol kbujie eraq 9 eerie 26 basemen erey potaalanza mrelavey oe 2ottie viewed asobilqe eeod ortedaoond — estolniq 9 eeteiddaaeah oe aothin . nomi 9b oanse ont cn ab aabetoh soubizibai 214 eas ah 9 abehileay eh eahgevi9ade of arias 2sdyerred oW hifantia'Exeepeionat e-Servicos que Presta on Fidicacas ee eae Coihuny & jean cn ae olaedl gral 88 ihe o 9 Raber & von naeontia, Formacae.,de:Educadgres, qa92e gem zombies (oszizalaT eh eatolgeo 20 miejaz) len »1q Gontnlb wigdo, denna Mealesiondasd AROHT mm on oo ondbngontra Prost nsia Fecepeionat,, (Eazepda do obnerdinin9S8TIQn, Hg see SIRES EN aantaahire aormmiapaT eorliotes seriqerdg sae 20) & oy Bbee cits 1 Come sia reephidag crigneas, quien: ar Rea, Ugieito Lisico on, ae flesde, cede, 8% dist i merece, retardo de, dgsennolyingee a , contacting com, 0 pais, dessas; griapeas,, Ns, 9 nian Ae Hivemas; &.,URPSESRAD, cena i ae abit preggupades, PAMATS progenitores C ae ite toda a sua ternura aie possui o “dom fue i Buiter, ' psiddlbgal deterrajnada i oa aps rt ea mente,.os ¢d Fes, Soplam, ees sts Re oe 1 Taint le, se oF a ehaant tar, situaco ae aie .eingalnai ab -» inPessoalmenta .singa-me,abensi,emn, companhi abasen. sénes que, ao dadot ide, deficiéncias; e: .distirbies sAiYERSASs: mnuitas.vézes, xevelant aptidees,especiais, consideraveis: HMA: inteligéneia intuitina:pranunciada,. que adivinha sithagdes qUei 36 REVISTA DO ENSINO os alunos comuns nao percebem; uma sensibilidade para compreender os outros e para ajudé-los. Alguns possuem boas aptiddes musicais, outros se revelam excelentes cera- mistas; outros sao desenhistas e pintores. Encontramos, entre éles, individuos dotados de um fino senso de “humour”, e suas narragées, cheias de observagées da realidade e de situagdes cémicas, sio capazes de manter em atencio pro- longada um publico bem interessado. Hoje em dia, quando a moda e 0 artificialismo nivelam tanto 0 fisico e o vestus rio como o pensamento, a linguagem e a expressio emocio- nal (vejam os cantores da Televisao), sentimos nos excepcio- nais maior naturalidade e conservacdo de seu préprio jeito. Essas diferencas individuais, precisamente, s6 os auténticos educadores sabem bem explorar, encaminhando cada crianca para os seus préprios caminhos. Vejamos os edificantes exemplos de Iolanda Barbosa, Cora de Faria Duarte, Ester Assunc&io, Leopoldina Netto, Ivett: Vasconcelos etc...; cada crianga recebe dessas professéras tratamento individualizado. E um dom especial, nao resta duvida, mas robustecido pelo estudo, analise, experiment:- c&o constante, fazendo da educacio algo mais consciente « racional do que parece a primeira vista. Mostra, também, muita engenhosidade para inventar algo de bem adequado a cada caso e situacio. A invengio de métodos e processos para retardados, surdos-mudos, de- sajustados, etc., por médicos, psicélogos e educadores que lidaram com Géles, tais como o grande Séguin, Pestalozzi, Montessori, Decroly, Binet e Simon, Slawson, Parson e outro: dotou grandes massas de alunos comuns, os ditos nor- mais, nos jardins de infancia, nas escolas primarias, nos gindsios e clubes juvenis — de beneficios incalculaveis. Gragas aos anormais e aos “diferentes”, 6 que aparecem: nos jardins de infancia, 0 mobilidrio e equipamento adc- quado, o material de educag&o sensorial e o material de aritmética Montessori, hoje se estendendo para curso pri- mario e secundario; 0 método global de ensino de leitura, inventado por Decroly para os surdos-mudos — trazendo REVISTA DO ENSINO 387 alivio e alegria para classes de 1.° ano primario, para mi- Jhares de criangas comuns, de 7 anos de idade; os principios ea técnica da grupo-terapia, inicialmente aplicados a adc- lescentes viciados e de dificil reeducagio — hoje apare- cendo nas atiyidades dos centros sociais; os primeiros con- tactos de Parson, com adolescentes desordeiros e viciados nas ruas de Nova York, servindo-os em sua miséria e de- sajustamento, estenderam-se os processos de Parson a0 yasto campo de orientacao profissional, em sua fase inicial.. . Nao quero terminar sem tocar em mais um assunto que reputo importantissimo quanto ao beneficio que pode auferir a educagio em geral, partindo da educacio dos excepcionais. Refiro-me as atitudes que assumem os pro- prios educadores apds um estigio mais ou menos prolon- gado com criangas retardadas e de dificil educacdo. Desa- parecem as prepoténcias, o orgulho, os melindres, a rigidez, o pedantismo... Ao contrério, formam-se habitos de re- solver as dificuldades e novyas atitudes para com a crianga. Resumindo, podemos anotar algumas modificagoes que observamos pessoalmente na conduta de mestres e pro- fesséres, nessas condigées. E claro que os estagios foram dirigidos por especialistas competentes em matéria de en sino emendativo e reeducacao, podendo-se anotar nas ati- tudes dos estagidrios melhorados os seguintes tragos: a) interésse e amor 4 crianga; b) respeito ao ser humano; c) compreensao dos estados e necessidades; d) ajuda a crianga quando esta, sdzinha, nao pode resolver suas dificuldades; e) ascendéncia moral; f) serenidade de animo e maior contréle emocional; g) capacidade inventiva para uso de novos processos quando a repetic&o dos antigos nao surte efeito; és REMISTA DO SNS itt 6th) diwhaiidgden paciénbiayde:lesperar,;rapacidade, ide eoigioniig perdbahi sémeoguardar co viameaors DAAGAS) 29:71 5<1] obs siyohayi lito? We cobdeivagRb1 edo desperimentagab sna “ong 9 {ePscola orate widiveldbs grupos tddvioriamyan est “Hoo coliomaorcindimidualizdgao dd) endinbivdecomentbado cobsiniy »methdrieorthecimenteldos alunoswzis ob zolont ob 9 syOdapatidady de progredir Hale secdperfeiguar em ob sociosets tematres com os-alundsz leo ol aompteu jie » -tninigyi 97g rata He; eenbNOre8ae eubeatn Odea poy olauees smsibilidadas desalunce deumelberaryup ofVi sboq 9up oisilyasd of olasup omieashogmi oluqet yup cob ofdlenms, mesesprepite, de.sstigig oe Qn pun ABkeRnalo DATARS OP AG, BI TFAO 25 ABS SOs REsRAE Soba: CAVCALAR Ay HAZE, HPV OAR SESRL Ib SPR f ional, dpRH OER RD Aue PSI Bn Ee oF Obey Ori onitseredé STU RAS UP Biidlogorg eu uigog ta “xt a a aR Ode cn tat oflantlsa'o tornar ol atorio 0 €: SRE STE SASS aah seas frolehd a elec Prinsdtidssde CursybiNomhuis Regioriais, heim¢omesdialunos dos} Gursoide Didaticandas saci dades deqFilosofia ztusetoy Pedagogiay pelocmengsoisl> A .evdzibnov eseeoa .eo1e091 a9 obTaisdeetigisg eséstidanupuradd! das cdiv eraaseahogiali> dades:6 niveissdezeniorntalidade, sdeidistinbiosi miemiais ede conduta):teriam}oimgeessériolnesmitado ad-figsana vealizaios em instituigdes de elevado padrao médico-pedagégico e sob orientacaio de um competenite pessoalsformanda see a diversos profissionais: pe euro-psiquiatra, ente- social, patents ista, e1 » DSGia in te Be aHES sah, sera certamenif 2 san ae hetep ah atheee GBA fidra foi criado paxaldimiziomdas conan dpgan especislizadd sem(iestudos e tratamentog.singHinorpiedagagiaos leespciBity BAaEstado du Guanabara. sleiont eee (9 sIeqoigh Asti 9 yard, fou letar 5 a existente na Prefeitura do. an as. sae ees ed Heap Sb iho le Pes- saRsIRC TH aeKeR Abie baasSdcAts no oHieabablapgae @nos de estéties apatRAio20all 1S oe adel Pgstaleazhadop Brasil, no DEMEGAA DO ANAM 9 Lawn, soubasy clisieatedrabalbainas Unadesnespaciais. BAS ofininns pedgsesiawsonosocutsesideynecreacdane de aspaniar Tiz9¢9.0 p31 RSIRDIBER » PHiGAAAIIaHRIA® hemysemeIS ASEH Gonsuligniad Drinehte comimaisls wasraseih tighss epcoRBhas, egisbAdPSoiogs obsixny 9 o9i1 oilAbib Lsitol Aqui, em Minas, apés:dldfapidaSEaqontvos Bite faa cia Excepcional, que se realizou entre 19 e 26 de fevereiro de 1961, na Fazenda do Rosario — ha sinais de que a obra pioneira da Sociedade Pestalozzi, nascida em 1932, em Belo Horizonte, ira para diante. Nao tardarao a vir colaboradores e os meios financeiros para atender a me- nores excepcionais, nao somente os retardados e deficientes mentais, como adolescentes sem deficit intelectual, porém, que sofrem de disttrbios emocionais, revelam condutas anti- sociais e necessitam de ambientes e de tratamentos adequa- dos. O meid rural é particularmente indicado para tais individuos, pois sfo grandes os recursos tanto para o ta- balho, para o estudo, como para a recreagéo ao ar livre, no regime de internato ou, melhor ainda, de semi-internato, no Instituto Rural Eduardo Claparéde, e nas Oficinas Peda- gogicas do Centro Artesanal, de Artes Populares ¢ de In- distrias Rurais. Certamente, 0 moyimento em prol de Excepcionais alingira o veterano Instituto Pestalozzi, de Belo Horizonte, orgao oficial da Secretaria de Educagao do Estado de Minas Gerais, criado em 1935, onde um numeroso grupo de dedica- das e competentes educadoras, sob a diregao da Prof. Ester Assungéo, munidas de um magnifico material didatico, ensi- mam a quase 600 alunos vindos de quase todos os Estados do Brasil. Este Instituto deve ter sua construgdo concluida, em prazo mais breve possivel, a fim de poder beneficiar, em am- biente melhor, tédas essas criangas excepcionais, e permitir estagios dirigidos a tédas as pessoas que precisam co- nhecer a técnica e a teoria do ensino emendativo. As Associagdes de Proteg&o a Excepcionais e, sobre- tudo, a nova Associag&o de Pais e Amigos dos Excepcionais, 40 REVISTA DO ENSINO ora criada em Belo Horizonte, teraéo um grande .e nobre trabalho a realizar, levantando os recursos para atender as necessidades de muitas criangas e adolescentes que exi- gem educadores especializados, ambientes apropriados, ma- terial diddtico rico e variado, apoio material e moral da sociedade e dos podéres publicos. Da Funcao Educativa do Ensino das Linguas no Curso Secundario Aipa Costa Na base do processo educativo — é pacifica a questao — deve estar uma filosofia que lhe dé os objetivos em direcio dos quais se oriente a formacgio do homem. Nao ha, pois, falar-se em fungao educativa das matérias do curriculo secundaério sem que ésses objetivos tenham sido estabelecidos . Principio existe em que sao concordes, em geral, os educadores: o de que a educagiio tem por fim dar condi- gdes ao jovem para satisfazer as suas necessidades vitais de ser humano, necessidades que sao aquelas que o mantém na sua integralidade, nfo apenas como scr biolégico, mas também como ser espiritual e livre. Educar sera, portanto, dar possibilidade ao educando de subsistir e de exercer convenientemente a sua liberdade. Para yir a usar convenientemente de sua liberdade, tornando efetiva a sua autonomia, precisa o jovem: pri- meiro, de exercitar-se na pratica dessa liberdade; segundo, de conhecer a estrutura e o funcionamento do mundo em que yive, e, portanto, em que afirme sua autonomia; terceiro, de manter adequadamente os necessarios contactos humanos, isto é, de ajustar-se socialmente, posto que nenhum homem se realiza, nenhum ser humano se afirma em sua autono- mia senao dentro duma sociedade. 0 ajustamento nao emo principalmente afetivo e intelectual, torna 86 bioldgico, possivel ao homem essa efetuagao da sua autonomia, possi- bilita a sua realizagdo como ser humano.

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