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ASSESSORIA PARA RELAÇÕES INTERNACIONAIS & POLÍTICA EXTERNA PORTUGUESA

V. Exa. Sr. Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.

O seguinte position paper apresenta uma análise multidimensional da realidade


de escalada do conflito entre a Ucrânia e Rússia, bem como a posterior invasão da
Ucrânia no dia 24/02/2023, fazendo mais de um ano, cuja qual abalou a recente
estabilidade pós-pandémica um pouco por todo o mundo e principalmente na Europa.
Este conflito que começou há mais de 8 anos, após uma escalada ilegal por parte
da Rússia com a anexação da Crimeia, as repercussões deste conflito têm sido deixadas
por toda a Europa, marcando em primeiro lugar em território ucraniano, onde os
padrões de violência e atrocidades por ambas as partes têm-se vindo a agravar com a
escalada da guerra e por inerência a este conflito, o surgimento no resto do continente
uma espiral inflacionista na economia global, afetando as populações mais
desfavorecidas, criando crises energéticas em resposta ao corte de relações económicas
– por via de sanções - com a Federação Russa que foi ganhando poder neste setor ao
longo dos anos, criando uma dependência energética ambivalente – oferta e procura.
Será tido em conta nesta mesma análise o interesse nacional de Portugal,
alinhado com as políticas conjuntas e coordenadas da União Europeia, bem como a
segurança nacional e internacional, observando a integração de Portugal na Aliança
Atlântica (NATO) como membro fundador da Organização de Defesa coletiva desde 28
de Julho de 1949.
O seguinte documento será útil para a ponderação do Senhor Presidente da
República Marcelo Rebelo de Sousa, na reavaliação do posicionamento internacional
face a este conflito, visando e priorizando o interesse e segurança nacional português.

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Índice
Contextualização Histórica ........................................................................................ 3
Independência da Ucrânia ................................................................................................. 3
Reacendimento das tensões .............................................................................................. 4
NATO e Rússia o crescer das tensões ................................................................................. 5
Caracterização do conflito desde 2014: .............................................................................. 6
Conflito Armado: ................................................................................................................................ 6
Apoio Russo: ....................................................................................................................................... 6
Escalada do Conflito: .......................................................................................................................... 6
Sanções Internacionais:...................................................................................................................... 7
Acordos de Paz: .................................................................................................................................. 7
Impacto Humanitário: ........................................................................................................................ 7
Segurança e Interesse nacional .......................................................................................... 7
Posição e ações de Portugal ............................................................................................... 9
Apoio e receção de refugiados ucranianos: ...................................................................................... 9
Envio de tropas para a Roménia: .................................................................................................... 10
Envio de equipamento militar:........................................................................................................ 10
Treino de Ucranianos: ..................................................................................................................... 11
Aumento no orçamento de segurança: .......................................................................................... 11
Avaliação do posicionamento do Estado Português: ..................................................................... 11
Posição apresentada ....................................................................................................... 13
Bibliografia e Webgrafia .................................................................................................. 16

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Contextualização Histórica

Independência da Ucrânia

Em 1991, com o fim da União Soviética, cada ex-república tornou-se um estado


independente. Pela primeira vez desde a idade média, os ucranianos puderam constituir
seu próprio estado soberano a partir de um referendo, com 90% dos ucranianos votando
a favor da sua independência. A independência do Estado ucraniano constituía numa
relevância enorme para a segurança internacional, já que o recém Estado Ucraniano
herdou da União Soviética um enorme arsenal militar, incluindo armas de destruição
maciça. Rapidamente em 1994, após a negociação e ratificação do Memorando de
Budapeste, a Ucrânia entregou as antigas ogivas nucleares soviéticas em seu solo à
Rússia, sob a garantia de comprometimento pelo total respeito á independência, á
soberania e ás fronteiras da Ucrânia. Este mesmo acordo bilateral que constituíra numa
Declaração da Soberania Estatal da Ucrânia proclamava que a república seria "um
estado permanentemente neutro que não participa de blocos militares", e que armas
nucleares não seriam aceites, produzidas, nem obtidas.
Em 31 de maio de 1997, Rússia e Ucrânia assinam um tratado de amizade e
cooperação, no mesmo passo, também foi possível concluir os acordos entre os dois
Estados sobre a partilha da antiga esquadra soviética do mar Negro e o arrendamento
da base naval da Rússia em Sebastopol. (Diário de Notícias, 2022)
Atendendo aos objetivos definidos pela política externa da Federação Russa, esta
declara no âmbito da produção e assinatura do Memorando de Budapeste, a sua forte
oposição a qualquer influência da Aliança Atlântica na Ucrânia e ainda nas restantes ex-
repúblicas soviéticas, porém, esta, não foi suficiente para eliminar, a ambiguidade das
relações de Kiev com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).
As negociações entre a Rússia e a Ucrânia serviram para consolidar o quadro
tradicional de cooperação entre as duas grandes potências nucleares no domínio do
controle das armas estratégicas, a partir do qual se tomaram decisões para a segurança
regional. Nesse contexto, ficou confirmado que o status quo nuclear não seria alterado
com o fim da guerra fria: a Rússia continuaria a ser a única potência nuclear herdeira da

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União Soviética. Paralelamente, garantiu-se o status quo das fronteiras entre a Rússia e
a Ucrânia, segundo a linha de demarcação existente entre as duas antigas repúblicas
soviéticas, num quadro de garantias bilaterais e multilaterais da independência da
Ucrânia. Esses passos foram, evidentemente, muito importantes para estabilizar o
estatuto da Rússia como grande potência nuclear, neutralizar as tendências de
proliferação, e conter os riscos de conflito entre a Rússia e a Ucrânia. (MEDEA BENJAMIN
& NICOLAS J. S. Davies)

Reacendimento das tensões

Já no Século XX foram reavivadas as tensões dentro do Estado da Ucrânia,


paralelamente sob a ação de Estados terceiros que foram prevaricando e tentando
influenciar a Ucrânia na sua tomada de decisões internas e de politica externa. – neste
caso os a Rússia e os EUA.
Em 2004, dá-se uma crise politica interna na Ucrânia quando o candidato pró-
Russo Viktor Yanukovych, oligarca que controlava as indústrias ucranianas na região do
Dombass com fortes ligações económicas com a Rússia, vence as eleições presidenciais.
Sendo relevantemente contestada por parte da população, denunciando as eleições
como fraudulenta pela oposição, manifesta-se assim uma mobilização em massa, a
chamada Revolução Laranja, conseguindo que a eleição seja anulada pela Suprema
Corte, mesmo que imprevista na constituição. (PCP, 2022)
Estas eleições poderão ser consideradas o primeiro ato de divisionista interno da
população ucraniana quanto á influencia do ocidente e da rússia, cujas quais demarcam
origem do conflito na Ucrânia. Neste sentido, a vontade democrática do povo ucraniano,
de acordo com as eleições, elegeu em 26 de dezembro, o líder da Revolução Laranja, o
opositor pró-Ocidente Viktor Yushchenko, que sofreu um misterioso envenenamento
durante a campanha, abrindo uma nova era política no país. Viktor Yushchenko reiterara
a vontade da Ucrânia de aderir à União Europeia, apesar das objeções de Bruxelas e da
NATO, prevendo as repercussões que neste ato constaria. (MEDEA BENJAMIN &
NICOLAS J. S. Davies, 2022)

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Apenas passaram 4 anos para que a posição mais reservada da NATO se
alterasse, já que a ambição e vontade ucraniana manteve-se, concordando com vocação
da Ucrânia para integrar na Aliança Atlântica.

NATO e Rússia o crescer das tensões

Em 1999, três países que tinham feito parte do Pacto de Varsóvia juntam-se à
aliança transatlântica: Checoslováquia, Hungria e Polónia. Nos anos seguintes, também
se lhes juntaram a Bulgária, a Estónia, a Letónia, a Lituânia, a Roménia, a Eslováquia, a
Eslovénia, a Albânia, a Croácia, o Montenegro e a Macedónia do Norte.
Esta expansão é vista por Moscovo como a quebra de uma promessa feita no
final da Guerra Fria pelo então secretário de estado norte-americano James Baker ao
líder soviético, Mikhail Gorbachev. Putin alega que na altura ficou prometido que a
NATO não se ira expandir para o leste da Europa. Não há apenas uma versão do que foi
falado na altura, mas o que se sabe é que não há nenhum acordo escrito com este
princípio. O acordo final assinado entre a Rússia e o ocidente em Setembro de 1990
refere apenas o território da antiga República Democrática Alemã. (CNN, 2022)
No entanto os EUA, fazendo uma análise da política externa a Rússia (Realpolitik),
baseada na corrente teórica realista, fundamentada e potencializada pelo Presidente
Russo Vladimir Putin, claramente tinha em conta que a expansão da NATO para países
fronteiriços no leste da Europa poderiam ser considerados uma ameaça á luz dessa
mesma perspetiva russa da política internacional. “Moscovo não pode suportar a perda
da Ucrânia e usará todos os meios possíveis para evitar a derrota”. (Mearsheimer, 2022)
Por muito que os objetivos da Organização do Tratado do Atlântico Norte se
prendam na segurança coletiva internacional e manutenção da paz no Ocidente, com a
ambição de adesão por parte de Estados a leste da Europa, os EUA com a sua extensão
de poder militar da NATO, foram desafiando e prevaricando a Rússia que afirmara a sua
posição quanto a essa mesma expansão, considerada de carácter imperialista Ocidental.
Esta expansão da NATO, considerar-se-á uma afronta ao status quo mundial,
traduzindo-se na consolidação e propagação da hegemonia dos Estados Unidos da
América no Sistema Internacional Neoliberal assente na paz democrática,

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materializando a sua política externa em benefício da sua politica interna, priorizando
os seus interesses nacionais. Por muito boa que seja a intenção desta doutrina, com a
convicção de que este é o sistema mais seguro, justo e democrático, deve-se ter em
conta os confrontos de interesses com potências emergentes, nomeadamente dos
BRICS, já que têm uma posição relevante e um peso bastante considerável na economia
global.

Caracterização do conflito desde 2014:

A invasão da Rússia à Ucrânia teve início em 2014, com a anexação da península


da Crimeia. A anexação foi uma resposta à destituição do então presidente ucraniano,
Viktor Yanukovych, que era considerado pró-Rússia, e à crescente aproximação da
Ucrânia com a União Europeia.
Após a anexação da Crimeia, a Rússia começou a apoiar grupos separatistas nas
regiões de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, que buscavam autonomia ou
anexação à Rússia. Esses grupos declararam a independência das chamadas "Repúblicas
Populares" de Donetsk e Lugansk, em um movimento não reconhecido pela comunidade
internacional. A situação político-militar desde então tem sido marcada por uma série
de eventos:
Conflito Armado: O conflito armado entre as forças ucranianas e os grupos
separatistas ganhou intensidade. As forças ucranianas lutaram para conter o avanço dos
separatistas e recuperar o controle das áreas ocupadas.
Apoio Russo: A Rússia tem fornecido apoio militar e logístico aos separatistas,
incluindo armas, treinamento e suprimentos. Além disso, houve relatos de presença
direta de tropas russas no leste da Ucrânia, embora a Rússia tenha negado oficialmente
sua intervenção militar.
Escalada do Conflito: O conflito escalou com o aumento do número de baixas e a
intensificação dos combates. Ambas as partes foram acusadas de violações dos direitos
humanos, incluindo o uso de armas pesadas em áreas densamente povoadas e
alegações de crimes de guerra.

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Sanções Internacionais: A Rússia enfrentou sanções econômicas e políticas por
parte de vários países e organizações internacionais em resposta à sua intervenção na
Ucrânia. Essas sanções visam pressionar a Rússia a buscar uma solução pacífica e
respeitar a integridade territorial da Ucrânia.
Acordos de Paz: Vários acordos de paz foram propostos e negociados ao longo
dos anos, como o Processo de Minsk. No entanto, a implementação desses acordos tem
sido problemática, com violações frequentes do cessar-fogo e falta de progresso na
resolução do conflito.
Impacto Humanitário: O conflito causou um impacto humanitário significativo,
com milhares de mortes, deslocamentos em massa, destruição de infraestrutura e crise
humanitária. Organizações internacionais têm enfrentado dificuldades para fornecer
assistência humanitária adequada às áreas afetadas

Segurança e Interesse nacional

As politicas de segurança e defesa são orientadas pela promoção dos interesses


nacionais: pela afirmação da presença de Portugal no mundo e pela consolidação das
suas alianças internacionais; pela defesa da reputação e da credibilidade externas de
Portugal; pela valorização do papel das comunidades portuguesas no mundo; pela
contribuição para a promoção da paz e da segurança humana, com base no primado do
direito internacional.
No principio do seculo XXI, Portugal, membro da UE, da OTAN e da CPLP, está no
centro geográfico da comunidade transatlântica e é um elo natural nas relações entre a
Europa Ocidental e a América do Norte e com a América do Sul e a África Austral, regiões
com as quais se pretende aprofundar o nosso relacionamento. Essa é uma realidade que
valoriza a nossa importância estratégica, mas que impõe, em simultâneo, que sejamos
capazes de estar à altura de contribuir ativamente para a estabilidade e para o progresso
de todas as áreas em que se joga a afirmação dos nossos interesses estratégicos.
Estas parcerias são relevantes para consolidar a autonomia nacional e defender
os interesses e os valores nacionais numa área geográfica de interesse estratégico para
Portugal. Essas iniciativas são uma forma de demonstrar o empenho de Portugal na

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defesa da unidade do Atlântico, cuja consolidação é crucial para o reforço dos vínculos
entre os membros da CPLP.

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Posição e ações de Portugal

O governo português tem adotado uma postura de solidariedade com a Ucrânia,


expressando preocupação com a escalada do conflito e apoiando medidas diplomáticas
para buscar uma solução pacífica. Portugal tem participado ativamente em fóruns
internacionais, como a União Europeia (UE) e a Organização das Nações Unidas (ONU),
na busca de uma resposta coordenada para o conflito.
"Esta invasão rompeu com os princípios fundamentais do direito e da ordem
internacional, como os constantes na Carta das Nações Unidas ou do Memorando de
Budapeste de 1994, em que a Rússia reconhece as fronteiras da Ucrânia. Representa um
verdadeiro terramoto no sistema internacional, nas relações entre países, na economia
internacional, na segurança alimentar", afirmou João Gomes Cravinho na sua
intervenção inicial em sede da Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros e
Comunidades Portuguesas.

Apoio e receção de refugiados ucranianos:

Portugal tem agido com velocidade e eficiência no acolhimento aos cidadãos


ucranianos que têm deixado o país desde o começo dos ataques russos. Entre as
medidas adotadas pelo governo, a agilidade na concessão de vistos para os
ucranianos foi especialmente recomendada pelo primeiro-ministro António Costa às
Embaixadas de Portugal.
Até a primeira semana de março de 2022, Portugal já havia recebido mais de 670
pedidos de proteção de cidadãos ucranianos que saíram de seu país natal. O primeiro-
ministro português deixou claro que os cidadãos ucranianos são bem-vindos no país e
eles têm recebido a proteção temporária solicitada.
Ainda por todo país há ações de acolhimento, oferta de alojamento e
recolhimento de doações destinadas aos ucranianos que chegam ao país. As ações têm
sido criadas pelo governo, por organizações e por membros sociedade civil portuguesa,
todos motivados pela empatia e pela preocupação com a situação dos ucranianos mais
afetados pelos ataques empreendidos pela Rússia
O governo de Portugal lançou a plataforma Portugal for Ukraine para organizar

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o acolhimento dos recém-chegados e as ações de apoio humanitário.

Envio de tropas para a Roménia:

No primeiro semestre de 2022 – 15 de abril de 2022 - foram enviadas a 1.ª Força


Nacional Destacada, composta por 222 militares portugueses, que partiram para a
Roménia para participar na missão ao abrigo da NATO - “Tailored Forward Presence”
Já no segundo semestre do mesmo ano, a 2ª Força, composta por 166 militares
da Marinha, do Exército e da Força Aérea, foi empenhada na mesma missão no âmbito
das "enhanced Vigilance Activities" da NATO, por forma a contribuir para o esforço de
dissuasão e defesa da Aliança no seu flanco sudeste

Envio de equipamento militar:

Portugal vai enviar mais 14 viaturas blindadas M113 e oito geradores elétricos
de grande capacidade para a Ucrânia, elevando "para 532 toneladas o total de
equipamento militar, letal e não letal".
O Ministério da defesa referiu que, "com este material, que se encontra em
preparação para envio, eleva-se para 532 toneladas o total de equipamento militar,
letal e não letal, fornecido por Portugal à Ucrânia desde o início da agressão levada a
cabo pela Rússia
o "Ministério da Defesa Nacional e o Estado-Maior-General das Forças Armadas"
estão "em constante contacto com as autoridades ucranianas e analisando as
solicitações de Kiev", comprometendo-se Portugal a responder a esses pedidos "na
medida das suas capacidades e disponibilidades".
"Portugal integra a nova missão da União Europeia de assistência militar à
Ucrânia, que vai proporcionar treino em áreas como a inativação de engenhos
explosivos, assistência médica em combate, defesa nuclear, biológica, química e
radiológica, e instrução militar. Os formadores portugueses estarão na Alemanha a
partir de fevereiro", informa-se no comunicado.
O Ministério refere ainda que "Portugal mantém a disponibilidade para receber
no Hospital das Forças Armadas 40 militares ucranianos feridos em combate".

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Treino de Ucranianos:

Portugal vai participa na missão de formação militar da União Europeia para as


Forças Armadas ucranianas, formalmente lançada na reunião dos Ministro da Defesa da
UE que se realizou em Bruxelas.
A missão da União Europeia deverá treinar 15 mil militares ucranianos contando
com a participação participação de até 20 militares portugueses.
Esta missão de formação tem como objetivo treinar, em solo europeu, –
designadamente na Alemanha e na Polónia – treino inicial, avançado e especializado às
forças armadas ucranianas nas áreas de instrução militar, inativação de engenhos
explosivos, defesa nuclear, biológica, química e radiológica, e assistência médica em
combate.

Aumento no orçamento de segurança:

Portugal vai reforçar o empenhamento das Forças Armadas em missões


internacionais ao longo de 2023, com incremento da participação nacional em missões
NATO e novas missões no âmbito da União Europeia e de caráter bilateral.
No seguimento do parecer favorável do Conselho Superior de Defesa Nacional,
prevê-se um reforço das capacidades ao serviço da Aliança Atlântica no quadro das
medidas de dissuasão e tranquilização no flanco Leste, no contexto da agressão da
Rússia à Ucrânia. Além da Força Nacional Destacada que atualmente se encontra na
Roménia, prevê-se um incremento dos meios da Marinha, do Exército e da Força Aérea.

Avaliação do posicionamento do Estado Português:

A continuidade do posicionamento Oficial do Governo Português com base na avaliação


das circunstâncias atuais do conflito, das decisões tomadas pelo governo português e
dos recursos disponíveis, adotando o posicionamento oficial de solidariedade com a
Ucrânia e apoio a medidas diplomáticas para uma solução pacífica tem algumas
implicações bem como os seus benefícios:

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Prós:
• Demonstra solidariedade com a Ucrânia e apoio à integridade territorial;
• Reforça a imagem de Portugal como defensor dos direitos humanos e do direito
internacional;
• Contribui para a estabilidade regional e a segurança europeia.
Contras:
• Repercussões político-económicas nas relações com a Rússia, que desempenha
e um papel-chave no conflito dissuasor;
• Possível distanciamento de países não alinhados, sem ingerência militar no
conflito, que focam os seus esforços por via diplomática;
• Limitações em termos de recursos militares (materiais e humanos) disponíveis
para uma intervenção direta.

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Posição apresentada

O poder militar e o complexo industrial-militar dos EUA, com a NATO durante e após
a queda da União Soviética, tem-se vindo a alargar, confirmando a sua dominação bélica
um pouco por todas as zonas cinzentas do globo, levando a guerras catastróficas como
foi caso na ex-Jugoslávia, Afeganistão, Iraque, Somália, Palestina, Líbia, Síria e Iémen.
Muitas das operações militares executadas no âmbito da segurança imposta NATO,
violavam os princípios da Carta das Nações Unidas nomeadamente com a expressa
proibição do uso da força consagrados no artigo 2º nº4 deste mesmo documento. Nesse
sentido, Portugal como um Estado membro integrante e fundador desta Organização
militar, deve analisar as circunstâncias quando o assunto é ingerência numa guerra, já
que nem sempre servem os interesses nacionais e ou coletivos que a NATO muitas das
vezes alega ser o motivo das suas intervenções.
Verdade é que este conflito instiga num perigo enorme para a manutenção do Status
Quo, assegurado principalmente pelos EUA e as restantes potências europeias. Fazendo
uma leitura da história contemporânea, rapidamente se percebe que esta ingerência no
conflito mais se assemelha a uma “proxy war” – guerra por procuração. No caso da
NATO e EUA na tentativa de corresponder á vontade democrática de “libertar a
Ucrânia”, na construção de um Estado mais desenvolvido, democrático e integrado no
sistema neoliberal.
Mesmo tendo em conta a vontade democrática, que foi muitas vezes posta em causa
internamente quer por pró-russos quer por pró-ocidentais, deve-se ter presente numa
perspetiva estrutural das Relações Internacionais principalmente no que toca ao
equilíbrio de poderes no teatro internacional. Verdade é que esta expansão da NATO,
agregando um estado com elevada importância para a Federação Russa, implica um
desequilíbrio de poderes enorme para a ordem mundial, sendo que a Federação Russa
vê-se mais do que desprotegida sem o Estado que eles consideram “um estado tampão”.
Esta é talvez uma perspetiva mais realista do conflito e continuando a observar o
desenrolo do conflito nesta linha de análise o que se prevê não é o cenário mais pacifico.
Ao alimentar a Ucrânia como mais apoio bélico estaremos inviavelmente a desequilibrar
a balança de poderes, consequentemente só haverá paz quando esta terá que se

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equilibrar. Poder-se-á prever com a escalada armamentista do conflito, a bipolarização
do mundo tal como aconteceu na Guerra Fria, mas desta vez com um carácter menos
ideológico, mais focado na procura de influência e poder na Ordem Internacional dentro
dos dois blocos. O reajustamento das Relações Internacionais irá ser inevitável quando
o cenário é de crescente escalada do conflito na Ucrânia. A China tendo o peso enorme
conhecido no comércio internacional e na influência externa de outros atores, poderá
ser crucial para esse mesmo realinhamento das Relações Internacionais. Um facto
concreto que pode justificar esta mesma possibilidade é a alegação de Lula da Silva,
atual Presidente do Brasil, quando na sua visita á China defende mais comércio nas
moedas dos países que integram o grupo de economias
emergentes BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e até mesmo uma divisa
comum. (Euronews, 2023)
Sendo que Portugal sofre ínfimos riscos de esta guerra se alastrar até seu território
nacional, apenas num cenários catastrófico de 3ª Guerra Mundial, não existe motivo no
âmbito da segurança interna para o envio de armamento ou tropas para território
Ucraniano já que irá contribuir para a escalada de um conflito, e como já verificado e
mencionado, nem todas as operações da NATO servem os reais interesses que são
pregados, sendo necessário avaliar mais a fundo todos os detalhes e interesses
envolvidos. Na realidade, no plano micro, esta guerra tem vindo a afetar a realidade
material dos portugueses com o aumento do custo de vida, inflação e barreiras
económicas para o desenvolvimento e investimento quer empresarial quer pessoal. Esta
guerra não serve Portugal nem os Portugueses. Se Portugal e os portugueses têm
intenção de ajudar os ucranianos, então que se reforce o apoio humanitário
nomeadamente na receção de famílias e refugiados ucranianos.
Os recentes ataques ao Kremlin, são mais uma evidência de que essas mesmas
armadas fornecidas pelo Ocidente poderão estar a ser usadas de forma imprudente,
abusando do Direito de Legitima Defesa, jus cogens no âmbito da Norma de Proibição
do Uso da Força da Carta das Nações Unidas, podendo ser caracterizado como um ato
que não respeita os princípios da necessidade e proporcionalidade. Mesmo que estes
atos não tenham sido cometidos pela Ucrânia, existe sempre a possibilidade de haver
diligências desta forma e magnitude, colocando seriamente em risco a segurança

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coletiva internacional. Em defesa dos interesses e das aspirações do povo português e
dos povos do mundo, Portugal não deve alinhar-se, com a estratégia de tensão
atlantista, que está na origem do agravamento da situação internacional. Desde logo
Portugal deve recusar envolver militares portugueses na escalada de confrontação que
está em curso.
Portugal possui uma rede diplomática e participa ativamente em organizações
internacionais, como a UE e a ONU, que podem ser mobilizadas para promover a
diplomacia e a mediação entre as partes envolvidas no conflito. Para tal, assume
importância prioritária o desenvolvimento de iniciativas e medidas que possibilitem um
cessar-fogo, uma solução política do conflito, a necessária resposta aos problemas
comuns de segurança na Europa, do desanuviamento e do desarmamento, o respeito
pelos princípios da Carta da ONU e do direito internacional, em particular da Acta Final
da Conferência de Helsínquia. É necessário defender o diálogo e a paz, olhando às causas
do conflito, e não alimentar e instigar uma escalada de consequências imprevisíveis.

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Bibliografia e Webgrafia

CNN, (2022), “Os receios da Rússia em relação á NATO”,


https://cnnportugal.iol.pt/ucrania/os-receios-da-russia-em-relacao-a-nato-explicados-
num-mapa/20220227/620e4cd40cf21a10a41fe047
Diário de Notícias, (2022), “Ucrânia anuncia que vai por termo ao tratado de amizade
com a Rússia”, https://www.dn.pt/mundo/ucrania-anuncia-que-vai-por-termo-ao-
tratado-de-amizade-com-a-russia-9858457.html
EuroNews, (2023), “BRICS Lula defende moeda alternativa ao dólar para os negócios”,
https://pt.euronews.com/2023/04/13/brics-lula-defende-moeda-alternativa-ao-dolar-
para-os-negocios
Oservador, (2022), “O dia da independência da Ucrânia”,
https://observador.pt/opiniao/o-dia-da-independencia-da-ucrania/

Medea Benjamin & Nicolas J. S. Davies, (2022), “War in Ukraine MAKING SENSE OF A
SENSELESS CONFLICT”

Mearsheimer J. J. (2022). “Playing With Fire in Ukraine. Foreign Affairs”,


https://www.foreignaffairs.com/ukraine/playing-fire-ukraine.

PCP, (2022), “Ucrânia”, https://www.pcp.pt/ucrania#ideias-chave


SIC Notícias, (2022), “Momentos chave para perceber o conflito Rússia Ucrânia”,
https://sicnoticias.pt/especiais/guerra-russia-ucrania/2022-02-26-2014-2022-
momentos-chave-para-perceber-o-conflito-Russia-Ucrania-b98943e6

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