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ConstRUGAO DE IDENTIDADE SOCIAL DE TUTORES DE EAD por MEIo DA SocioLoGiA FENOMENOLOGICA DE Scnitz Luis Gabriel Abravanel dos Santos’ Cleverion Renan da Cunhat Resumo © presente artigo visa identifcar, por melo de metadologia de grupos facaie © do uma abordagem sociolégica de Shiitz, como se dé a construcéo da Identidade social de tutores de ensino a distancia que estao veiculados a luma institulede federal de ensino. Para lss0, primeltamonte & diseutide o procetzo de formagéo da identidade do individue nos grupos socials e entdo S80 opresentadas varlévels que oxtdo reloclonadas com a construgée da Idontidade social. A seguir é descrito 0 métode fenomenolégice, fecando-se 1na fenomenclogia sociolagica de Shiitz,Entéo so descrites os atores socials, Precentes na educacée a distancia, principalmente os tuteres © alunos, que 220 0 foce de pesquisa, No sequdncia 6 apresentade 0 azo extudado, sua rmetedologia e aplicacdo da técnica de grupo fecal. A anélize de dados segue © modelo fenomenolagice de Schite (1962), que telaciona os elementos propostos por Husserl com a sociologia compreensiva de Max Waber, A tandlise é composta em descri¢do, redueao e interpretacao fenomenolégica ‘A deserigao fenomenolégica apresenta o: dados obtider durante © grupe fecal, divididos em cinco categorias. A reducéo fenomenolégica é conde ccerre a redefinigéo 2 a comproensao dos pesquisadores por melo de ‘\zpecificagdes prociea das experiénciasvividas pelo grupe, dina Interpretagao fenomenclégica ecerre a redefinigdo do significade do fato do s de enzino a distancia, A reducdo 0 @ interpretagao fonomenolégicas +20 ‘presentadas em conjunto, sendo que mostram os confltos de identidede dos Intropuséo No ambito psicolégico, lade costuma ser descrite como um conceite relativamento ostével do individuo come tinice, que {Mestre em administra pela UFPR « doutorando em adminstrocao pela UP Profesor ‘ubtuto da UFPR. E-mail utrlas@hotrmal om 22 Doutor em edminitraga0 pela UFMC. Profeoradhunt IV da UFPR, E-mail levenion ‘unhagmallcam 251 Construgde... - Luiz Gabriel A. dos Santos e Cleverson R. da Cunha ‘vem acompanhado de uma “adogao de uma ideologia ou sistema de valores” que fornece um senso de diragao és acaes (WEITEN, 2002, p. 328). Esse concoite é olaborade por meio de um proceso no quol é formada a auto imagem do sujeite, ocorrendo a integragao das ideias sobro si mesmo © sobre a imagem que os outros tom sobre esse sujeito (SCHULTZ; SCHULTZ, 2002, p. 211). Ou seja, a identidade no campo psicolégico visa a elaboracao de uma estrutura psicolégica e emocional relativamente estével que fornece algumas nocoes nerteadoras nas atitudes, nas crencas @ nos valores. Nesse processo sécio histérico, a identificagéo com o outro ou com algum modelo de referéncia é um dos componentes que viabilizaria a “auto afirmacao, a assuncao de papéis e a insercao cfetiva na estrutura social” (NASCIMENTO, 2006, p. 154). A partir do ontao 6 que 0 individuo estabolecord sous principios @ valores que iréo orientar suas cognicao @ consequentemente sua auto imagem, seu auto conceito © seus comportamentos, que serdo refletidos na sua acdo na vida cotidiana. Esse suj sociedade como alguém, constituindo entao sua individualidade, Obviomente esse nao é um processo simples e linear, pois no desenvolvimento da sua identidade o individuo rompe com sou Proprio pasado e estrutura seus préprios caminhos e conceitos, delincando objetivos o valores. (TELES, 2001, p.123) Na construgéo dessa identidade ocorre um processo contraditério, pois ao mesmo tempo em que o individue busca sua individualidade © autonomia, ele também busca alguma roferéncia nos grupos. Ele entao busca a independéncia a partir da dependéncia nos outros. Jacques (1998, p.164) afirma que "o vocdbulo identidade ovoca tanto © que 6 idéntico, igual, como a nogéo de um conjunto de caracteres que fazem reconhecer um individuo come diferente aos demais”. Para compreender esse processo é necesséria uma interacao toérica entre © desenvolvimento individual do sujeito o a rolacao entre as pessoas em grupo, ou seja, uma leitura interdiseiplinar entre a psicologia o a sociologia, Jacques (1998, p. 160) aponta que a identidade psicologia “é gerada pela socializacéo e gerantida pela individualizagao". Ou seja, 0 proceso de socializagéo iré delinear 08 meios de insercao social, cultural ¢ ideolégico, enquanto a lontidade psicolégica serviré come roferéncia na construcgao 0 se afirma na 252 cnn: a Pon cat 3825. 208 Construgéo... - Luiz Gabriel A. dos Santos e Cleverson R. da Cunha da diferenca entre os individuos @ na constituigao de valores ntidade do individuo std relacionada como reconhecimente, sondo que oste esté constituide pole auto reconhacimento ¢ pelo alter reconhecimento. Vale lembrar que ace 0 individualizacéo na vida cotidiana & separacéo. Dentro da criagae de identidads, tanto no dm idual quanto grupal, Gouveia (1993, p.100) aponta o processo de identificagée como fundamental, sendo que identificacao 6 definida “como um processo em que se toma 0 outro como modelo implica necessariamente a formagéo [...], enquanto insténcias que internalizam normalizacées e regulacées culturais” Além do concsito de identificagae, Gelveia (1993) retine outros elementos como: a) 0 aspacto conscionte, ou a identidade ‘enquanto verbalizada polo sujeito; b) a consisténcia dos olementos que representam 0 sujeito, ou seja, a légica que a envelve; c) a continuidade referente ao “dinamismo temporal na elaboragéo da identidade como algo que se estrutura no pasado, ze atualiza no presente o se projeta no futuro” (p.103); d) semelhancas © diferencas, compartilhadas entre individuos que compartilham ounde a mosma identidade. Todos esses elementos estae ligados com a construcdo e manutangao da identidade do sujcito. © proceso de socializagao ocorre ao longe de toda a vida do individuo, mas em contextos diferentes. Berger e Luckmann (2000) izagao como sendo primdria ou secundaria. A socializacdo priméria 6 quando a crianca interioriza as ragras mais basicas da sociedade, como a linguagom, @ moral 0 os modelos comportamentais mais gorais no convivio om grupo. Nosso Proceso a familia cumpro um papel primordial. Jé a socializagao secundaria engloba os processos que introduz o individuo jé socializado aos setores do mundo objetivo da sociedade, como na escola, nas amizados, @ no ambito profissional, por exemple Borger © Luckman (2000, p 184-185) entao afirmam que 6 a secializagéo secundaria que faz com que os individuos intoriorizem “submundos" institucionais, sendo que “a socializagdo secundéria 6 a aquisicdo do conhecimento das funcdes especificas, ligadas dirstamente ou indiretamente com @ divisao do trabalho”. A partir do conceite de socializacdo secundaria que é desenvolvido © conceito do elaboragao da identidade profissional. unin 38 253 Construgde... - Luiz Gabriel A. dos Santos e Cleverson R. da Cunha Outros autores, come Moita (1992), acreditam que a identidade profissional ocorre a partir da percepcao de caracteristicas do suieito. esse modo, aiidentidade pessoal é construida a pela auto porcepsao, sendo que a identidade social é construida a partir da percepgdo que 05 outros possuem sobre o individuo, Jé Penna (1992) faz uma separagéo entre identidade social © pessoal. A identidade pessoal, objeto de estudo da psicolos diz respeito a propria construcdo pessoal do sujeite, enquanto a idontidade social esta ligada a individues de mesma categoria, independente de conviverem junto, Isso faz com que @ identidade profissional soja um tipe de identidade social, no qual individuos com caracteristicas semelhantes compartilham um campo de identidade No presente trabalho, foi analisado como se formou a identidade do um tutor de ensino a distancia om nivel coletivo segundo a fenomenologia de Schiitz (1962). Essa escolha teérica 50 justifica pelo fato da fonomonologia de Schiitz atuar em um nivel mais zociolégico, significado de um objeto. Essa identidade socialmente construida seria a esséncia desse fondmeno. O métode de aproximacao do fonémeno foi 0 métedo de grupo focal, pois ¢ uma forramenta qualitativa que permite que conceitos @ idéias sojam discutidos entre © grupo, favorecendo a busca do sentido de objeto estudado. Pode-se concluir que a identidade possui basicamente doi niveis de andlise, « identidade pessoal (ou individual) e a identidade social (ou coletiva), que também inclui a identidade profissional. No prosonte ostudo serd abordade mais especificamente 0 conceito de identidade social, que é construida pelo meio, porém muitos elementos da identidade individual e social acabem se confundindo. Por isso, a seguir serdo mais bem trabalhados os elementos que serao abordades na identificagao da identidade. identificando as construcdes coletivas acerca do (Qs Euementos ba IDeNTIDADE Para definir 0 os elementos que integram 0 conceito de identidado, seré utilizado 0 critério do Golveia (1993), que constitu quatro elementos principais jd descritos anteriormente, que é 0 aspecto consciente da identidade; a consisténcia dos elementos que roprosentam o sujeito; a continuidade roferente ao dinamismo temporal 254 ammate Papn Doa Construgéo... - Luiz Gabriel A. dos Santos e Cleverson R. da Cunha 1na elaboracao da identidade, as semelhancas compartilhadas entre individuos que compartiham ou a mesma identidade e finalmente 0s diforencas entre os sujeitos que compartilham com os que néo compertilham a mesma identidade. Com relacao a0 aspecto consciente da identidade, 0 conceito std ligado com o auto percepeao da identidade que cada individuo ‘tom, Pela teoria da auto percepcao, Bem (1972) diz que a percepcao de cada individuo sobre si é na verdade sua atitude perante algo Essa atitude 6 desenvolvide por meio da observagde do proprio comportamento e pelas conclusées que o sujeito chega sobre suas causas, Vale lombrar que otitude é uma predisposicée @ acdo, que estd inerente a0 sujeito. J4 comportamento é 0 que ¢ manifestado, Desse modo, pode-se dizer que 0 aspecto consciente da identidade esta ligado com as atitudes do sujeito que foram construidas pela ‘ute observagao do préprio compertamente 0 por suas causes Jé.aconsisténcia dos clementos que representam o sujeito pode sor analisada de vérias manciras. Golvoia (1993) sugere quo esses elementos fagam parte da légica que envolve 0 sujeito. A idéia de papel social esté intimamente relacionada a essa consisténcia. Berger (1976) diz que © papel social pode ser conceituado como a jungso do comportamento esperade com 0 adotado, ou soja, as normas, os deveres © as prticas realizadas pelo ator social. A continuidade roferente ao dinamismo temporal na elaboracéo da identidade se refered construgdo desse papel social ao longo do tempo. Finalmente, com relagao as diferencas © semelhancas compartilhadas entre individuos que compertilham ou néo a mesma identidade, pode-se dizor que as diferoncos entre © papel social, ou soja, nas praticas, nas normas e nos deveres desenvolvidos. O arcabouco epistemolégico escolhide para a explicagéo de identidade social foi a fenomenologia sociolégica de Schitz, que procura os fundamentos fenomenolégicos para a sociologia da acao © da compreensao, que 6 descrita a seguir. Métopo FENoMENOLécIco A fenomenologia, segundo Silva (2000), teve como fonte filoséfica a obra Kant (2003), principalmente “A pura”. Kant critica a metafisica, visto que para autor a razao néo possui a capacidade de conhecer a prio -a da razéo Porém também criticou o ash we 208 255 Construgde... - Luiz Gabriel A. dos Santos e Cleverson R. da Cunha conhecimento ligado apenas ao empitico, pois quem conhece algo 6 © sujeito. Entéo Kant justificou que o conhecimento se dé na relagao entre © sujeito © 0 objeto, do um modo transcendente. Inspirado nessas premissas, Husserl (2002), no final do século XIX e no inicio do século XX, apresenta conceito de fonomenologia, que 6 uma postura epistemolégica que descreve © mundo como aparece na consciéncia, O objeto de estudo da fenomenologia é 0 fenémeno, ou sej0, aquilo que se revela, mostra-se ao sujet. Ele visava descobrir as struturas essonciais 0 0s rolacionamentos do fenémeno, assim como 05 atos da consciéncia pelos quais os fenémenos se revelam. Husser! (2002) também descrove um método de pesquisa fenomenclégica, pelo qual concebe a epoqué, ou seja, uma suspensao do juizo de volores do pesquisador quando ole encara o fenémeno. A seguir 0 pesquisador entra em contato com 0 fenémeno e posteriormente realiza a rodugde eidética, que 6 eliminar © que nao é esséncia, sentido, e © que néo concorre para conhecer esse sentido. Para isso, 6 necessério coletar dados sobre vivéncias, sobre o objeto, reconhecer contetidos de sentido e de ndo sentido desse objeto ‘entao, categorizar @ analisor, ou seja, interpretar. O passo seguinte 6 a reducdo transcendental, que se consiste na busca do saber quem 6 0.0 quo tom/toma consciéncia de algo. Reduzir significa “oliminar” © que nao é invaridvel. Desse modo que o individue pode tomar consciéncia do fenémone. ‘Aabordagem de Schiitz (1962) relaciona os elementos propostos por Husserl com a sociologia compreensiva de Max Wober. Schiitz (1962) se apropriou de interesses de Husserl, no sentido do entender como os membros comuns da sociedade constroom @ reconstroom © mundo da vide didria, assumindo que aquilo que é verdade para © individuo esta om suas agées © 6 a esséncia de suas experiéncias. Para Schultz (1962), a relacdo com 0 outro é troca e consciéncia do “si” @ do “outro” @ dos “outros”. Além do ego que hé dentro do sujeito, existe o alter ego, ou soja, hé a con: do outro. Isso supde quo a porcepcao subjetiva esta assontada no mundo da realidade social, ou seja, a relagao entre pessoas compée 0 compartilhamento da vide social, ¢ essa experiéncia consciento reside no intersubjetivo, passivel de andlise fenomenolégica pela reducao e descricao de sous elementos permanentes. Esse arcabouco teérico justifica a sua utilizagao na percepgao da identidade sociolmente construida, visto que a tarefa da sociclogia fenomenolégica de Schiitz sncia da existéncia 256 amore Duna oan nant Cnt 8626 a 200 Construgéo... - Luiz Gabriel A. dos Santos e Cleverson R. da Cunha (1975) 6 descrever os processos de estabelecimente e interpretacao. de significado tal come realizado pelas pessoas em sou mundo social ‘Arorss po ENsiNo A DistANcIA Matus (1996, p.204) diz que ator social é aquele que possui copacidade de intervangao em um grupe social, tondo presenca forte © estével nesse grupo. Por isso a denominacao de “atores” para os cenvolvides om um programa de ensino a distancia. Moran (1997) conceitua ensino a distancia (EAD) como um proceso de ensino aprendizagem que ¢ mediado por tecnologias, onde 0 educadores e alunos esto separados espacial e/ou temporalmente. Entre os educadores, podem-se citar varios atores, como coordenadores, professores, pedagogos e tutores, sendo que 0s trés pilares fundamentais do procosso de ensino © aprendizagom sG0: professores; tutores e alunos. ‘Almeida (2001) diz que o papel do professor é de um agente organizador, dinamizador eorientador da construgéo do conhecimento do aluno e até da sua auto-aprendizagem. Segundo Niskier (1999), © professor participa na producéo dos materiais, seleciona os meios mais adequados para sua distribuicae © mantém uma avaliagdo continua a fim de aperfeicoar © préprio sistema. © tutor, de acorde com Sé (1998), iré exorcor duas funcdes pertantes: « informativa e a orientadora. A funcéo informativa provocada pela elucidacao das dtividas levantadas pelos alunos, enquanto a orientadora se consiste em ajudar nos dificuldades © na promogae do estudo © aprondizagom auténoma. Niskior (1999, p.393) diz que entre as funcées do tutor esté comentar os trobalhos realizados polos estudantes; corrigir as avaliacses dos alunos; ausiliar os alunos a entender os materiais do curso por meio das discussoes @ explicacées; responder as questoes técnicas sobre a instituicdo; auniliar os alunos a planejarem seus trabalhos © estudos; fornecer informacées por meios oletrénicos; supervisionar atividades, trabalhos préticos e projetos; acompanhar informagoes sobre o progresso dos estudantes; fomecer feedback aos professores, coordenadores e instituicdo sobre os materiais dos cursos © as dificuldades dos estudantes o principalmente servir de intermedidrio entre a instituicao, professores © os alunos. ash we 208 257 Construgde... - Luiz Gabriel A. dos Santos e Cleverson R. da Cunha J6 © aluno a de ensine @ distancia 6 aquele aluno que, per diversas razées, se matriculou em um curso da modalidade de EAD. Belloni (2006) aponta algumas caracteristicas do aluno om EAD, sendo que a principal, ou pelo menos a mais desejével, é a capacidade de busca auténoma da aprondizagom, na qual o aluno fosse ativo, sendo que 0 professor ¢ 0 tutor seriam recursos desse aprendiz. A partir desses atores, foi analisado como que ocorreu proceso de formacao da identidade social do papel de tutor de ensino a distancia no case descrito a seguir. Caso Estupapo Para a identificagao da construgao da identidade de tutor em EAD, foi analisado © caso do curso de administragao a distancie de lume instituigéo de ensino superior federal na cidade de Curitiba, io em 29 de setembro de 2006 e faz parte de um projeto da Universidade Aberta do Brasil que foi criado pelo Ministério da Educacao, em 2005. O curso possui como pablico alve qualquer cidaddo que concluiu a educacde bésica © que foi aprovado no processo seletivo, atendendo aos requisites exigides pela instituigao publica vinculada ao Sistoma Universidade Aberta do Brasil. Todos 0s alunos fazem parte de alguma instituicée publica, sendo que metade das 250 vagas foi destinada a funciondrios de um banco de economia misto, que co financiou © projeto. ja descrito na modalidade de EAD, possui encontros presenciais periédicos, sendo que ocorrem no minimo dois encentros por médulo, que duram na média de um a trés meses. ‘Todos os professores 0 coordenadores do curso possuem vinculo com a instituigao, sendo também professores dos cursos proser ‘Amaioria néo possuia experiéncias anteriores em er Os tutores foram selecionados nos cursos de mestrado e doutorado O curso teve O curso embora ex de administragdo da instituigao © embora a maioria nao tivesse experiéncia com ensino a disténcio, todos realizaram cursos de aperfeicoamento na drea oferecide pela prépria universidade, Durante « realizado da pesquisa 0 curso estava ne quarto ano letivo, sendo que a provisdo de término ¢ de quatro anos ¢ meio. O curso possuia corea de com alunos matriculados, dividides em sete turmas, cada uma com um tutor responsdvel. O ntimero de alunos 258 amore Duna oan nant Cnt 8626 a 200 Construgéo... - Luiz Gabriel A. dos Santos e Cleverson R. da Cunha pelos quais cada tutor era responsével variava entre 12.¢ 20. Desses tutores, rés estao desde o inicio do curso. Um deles ests he dois anos, outros dois hé dois anos @ cinco moses @ outro hé um quatro moses. Apopulacde estudada se consiste nos sete tutores atuantes no curso, sendo que durante o grupo focal foram tomados como amostragem seis tutores. Uma das tutoras, que esté desde o inicio do curso, néo Patticipou da coleta de dados. Os sujeitos foram identificados por sigles, que vo de $1 a S6, sendo que © mederador foi identificado como MO. A descrigae dos sujeitos 6 apresentada na Tabela 1. ‘TABELA | - DESCRICAO DOS PARTICIPANTES Curso de Suistos dade Sexo sraduogse 31 29 Masculine Economia 2 31 Mazeutin Pricologla 33 30 Feminine Adminstrasio sa 26 Masculine Adminintragao s5 8 Feminino, Adminitrerto 6 24 Feminine Adminintragao Fonte Dado primar CoLeTA be Dapos Como técnica de acess9, foi feito uma solicitacée formal ao coordenador do curso para a realizagdo da pesquisa. Entéo foi feito © pedide de participagdo aos tutores. A coleta de dados ocorreu apés ‘uma reuniao realizada entre a coordenacao de curso com os tutores. Como técnica de coleta de dados, que visou identificar a construcao da identidade dos tutores do curso de administragao em EAD, foi utilizada a motodologia qualitativa de grupo focal. Carlini-Cotrim (1996) dofine grupo focal como uma técnica do pesquisa em ciéncia social, na qual os dados sao colotados pro meio de interagéer grupais, nas quais edo discutidos tépicos sugeridos polo pesquisador. A escolha desse método se justifica pelo fato de ser uma técnica que permite compreender como se dé 0 processo tan 08. 259 Construgde... - Luiz Gabriel A. dos Santos e Cleverson R. da Cunha de construgao de percepcees, atitudes @ de representacoes sociais em grupos (VEIGA e GONDIM, 2001). Para a identificagao da identidade entre ateres de um doterminado grupo, © grupo focal se mostrou uma ferramenta adequada, pois visa estabelecer discussées que emorgom om no grupo, ou zeja, no jogo de influéncias intra grupal da formacao de opinies sobre um determinade tema. Além disso, © grupo focal se destina a analisar 0 conjunto de dimensoes que iré cobrir cada varidvel, que no coso ostd rolacionada com a construgao da identidade, onvolvendo também a visdo zocialmente construida @ compartithada do fenémeno estudado, podendo entéo se chegar a esséncia acerca do objeto estudado, tal como propée a sociologia fenomenolégica de Shultz (1962). Embora a unidade de anélise seja individual, os conceitos compartilhados pelo grupo. Foi realizado um grupo focal dia 25 de marco de 2010, cenvolvando seis dos sete tutores envolvides no curso. O encontro durou cerca de duas horas. Foram abordados os seguintes temas: a) (© que caracteriza um tutor de ensino a distancia? b) O que significa ser tutor? <) Come ou quando vocés s8 sentiram come um tutor? d) © que diferencia um tutor de outros atores do ensino a distancia? ©) Como os domais atores de EAD porcobom o tutor? [Nosses tépicos foram abordadas varidvais propostas por Golvaia (1992), abordando a construcio da identidade social, come © aspecto consciante relative @ identidade, a sua auto percepca dos elementos que representam 0 sujet, ralacionada a seu papel social; @ continuidade temporal no construco desse papel social ¢ 4s semelhangas @ diferencas, compartilhadas entre individuos que compartilham ou nao © mesmo papel social. ANAuse DE Dapos A andlise dos dados obtides durante © grupo focal pode ser dividida conforme as questoes abordadas, que envolvem as dimensoos da formagao da identidade social de um tutor do EAD, de acordo com a fenomenologia sociolégica. Inicialmente ocorreu a codificacée da transcricao do contetido do grupo focal e os tomas foram agrupados e por unidades teméticas. A seguir foi realizada a descricao fenomenolégica, que busca fazer uma sintese descritiva das unidades de andlise agrupadas em unidades tematicas. 260 cnn: ra Pon cat yt. 208 Construgéo... - Luiz Gabriel A. dos Santos e Cleverson R. da Cunha Em seguida 6 apresentada a redugdo fenomenolégica, que visa especificar partes da sintese descritiva apresentada anteriormente E © momento de rodefinir a compreonsdo dos pesquisadores por meio de especificacées precisa das experiéncias vividas pelo grupo. ‘A reduce também é 0 momento de voltar a literatura para iniciar uma endlise que possa levar a alguma identificacdo prética na formagao da identidade de um tutor em EAD. Porfim, apresentou-se a interprotagao fenomenolégice, que visa levar-nos a redefinicao do significado do fate do sor tutor de onsino a distancia. A pergunta da interpretagao fenomenclégica é em que medida a consciéncia que 0 sujeito tem da experiéncia de ser tutor de ensino o distancia. Descrigio Fenomenoiécica A descrigdo fenomenolégica se caracteriza pola descrigao precisa do fendmenos, do que aparece, do que acontece ante a consciéncia cognoscitiva, Nesse cazo, ela foi obtida pelo comportamento verbal © no verbal dos sujeites analisados durante o grupo focal. O grupo focal ocorreu pela manha, apés uma reunido realizada pelos tutores @ pela coordenagao do curso. O moderador e os tutores se reuniram ‘em uma sala de aula, sentaram-s0 om um semi circulo @ 0 moderador s0 apresentou o informou sobre os objotivos do encontro. A descrigao do grupo focal foi agrupada em cinco unidades de andlise que so opresentadas a seguir. (© Que Caracteniza um Turor pe EAD? Com relacae a caracterizacae do papel do tutor em ensino a distancia, foi colocade que essa depends principalmente do que & estabelecide pela IES em estdo. No cazo analisado, citou-se que © tutor possui um papel muito préximo a de um professor, devido 4s atividades por eles desempenhadas, como 0 acompanhamento pedagégico aos alunos. Porém muitas IES caracterizam 0 tutor como tum auniliar técnico, Sl: Depende da faculdade, da instituigdo. Aqui na iversidace os tutores tim um objetivo bem clara que Saaio muito préximo ao professor. Ajudarna cores dos atividedes, na elaboragio de provas, dos guios (208, 261 Construgée... - Luiz Gabriel A. dos Santos e Cleverson R. da Cunha didéticos, fazer o feedback dos alunos. Aqui tutor atua ‘como um professor. Mas tem faculdadas que o tutor & ‘apenas um ausiiar técnica. Aqui é um professor tutor Entéo depende do objetivo, © grupe comparou a caracterizagéo dos tutores do caso estudado com tutores de IES particulares. A formagao de mestrado © doutorado dos tutores foi apontado como um dos fatores de aproximagae do papel dos tutores com © papel dos professores, principalmente pelo conhecimento teérico da érea. Foi citado que em outras IES os tutores ocupam um papel mais técnico, ndo se envolvende com as questées pedagégicas. J4 em outras IES hé a denominacae de um “professor tutor”, ne qual hd um professor que acumula suas funcées com a de tutor, atuando apenas om sua érea de conhecimento. Desse modo, voltou-se o ressaltar a divergéncia na caracterizacao do papel de tutor conforme a IES. SI: Por isso que eu acho que o curso nosso devetia ter dois professores. O professor titular e o professor tutor Porque a gente tra dewida, responde os alunos. Aqulo pessoal jé pega aluno de mestrado e doutorado poraue ‘© potsoaljé tom um canhecimenta mais apurado, mas claro que nas faculdede particulares néo & assim que funciona. Lé tem, par exemplo, um professor tutor que s9)0, por exemplo, de administragéo, € urn cara que 6 aula de administragéo. Se for de economia, é um ‘cara que dé aula de economia. Ou soja, 6 um professor tutor, Aqui néo, tem um professor titular os professores tutores, que s00 apenas tutores aqui, mas é que tem ‘uma fungto de professor, ‘Também foi abordado © papel social do tutor, como um ator que media a relagdo entre outros atores no ambito académico, principalmente a relacdo entre os alunos e os professores, assim come a socrotaria. Essa ligagao fei apontada como uma das principais fungoes do tutor em EAD. '53:E, entdo, complementando o que e nosso colega (S1) folou, «trabalho do tutor & tentar fazer a apraximacia com o professor. Agente tem entrado em cantato com 262 cnn: a on atime, 20. Construgéo... - Luiz Gabriel A. dos Santos e Cleverson R. da Cunha (0 professores, a gente tem sentido que esse contato 6 importante, antéo quando a gente tem algum opine aqui o professor é mais distante @ sento mais diffculdade, # 0 alune frequentemente também, Entdo ‘eu acho que o papel principal do tutor sria ausiar 0 provesto de oprendizagem do aluno, fazer essa ponte de intermediagio com o professor, com a sacretaria @ fazor cam quoo aluno tonha acesso aquila quo necessita {tenho um aprendizado adequodo, satisttério o port dos acées dos tutores. Aprosenca humana foi colocada come um aspecto importante no processo de onsino aprondizagom, mesmo quando 6 foita a distdncia. Nesse processo, o tutor fei apontade como um dos Principais agentes, se colocande como uma figura representativa da instituigao a disposicdo dos alunos. Desse modo, o facil acesso 4 um representante da IES configuraria um dos elementos do tutor em EAD. Foi citado 0 fato da EAD ser uma modalidade no qual o ‘lune pode so sontir sozinho 0 consaquentomente desmotivado. Por isso 0 acompanhamento de um tutor se faz importante, pastando, por meio de um vinculo humano, seguranca e valerizagao do aluno, que garantiria uma maior participacdo dos um menor niimero de dosistancias. grupo citou que no curso estudado a relacao social entre os ‘alunos © tutoros é valorizada, citando-se 0 tormo “tutor amigo”, na qual o tutor conhece cada um dos seus alunos, valoriza suas virtudes © alerta sobre suas dificuldades, auxiliando 0 desenvolvimento dos alunos ao longo do tempo, papel que ndo & desempenhado pelos profossores. 4: Fu acho que ol da questo de ser tutor professor, tem também a questo de tutor amigo, que & bom volorizada aqui no curso. Pra ver os dficuldades, o¢ formas de inter, tombém pelo coro de ocomnponhar por longo pero, Se ose deere 6 do professor, ‘modelo de cso aquindo seni. Festronho que on tama relagbo, uma nova relagdo & bem volorzodo. O ‘elocionamanto também visa desenvchar 0 cline ao longo do curso. Eu acho quo nossa desonvahimento 0 tutor € mois fundomental ave 0 priprio profesor, ois imo 268 Construgée... - Luiz Gabriel A. dos Santos e Cleverson R. da Cunha ‘le conhece as habilidades de escrito, pode incentivar mais algum aspecto, 'S6: Eu no sei se posso folor muita coisa porque estou fd menos do um ane na tutaria, mas eu sont bom asso lima de amizade que 0 54 folou. Mes o que mois foi passado para mim @ 0 que mais os alunos sentram fata, principolmente da turma que entrou, 0 que mais fot possado foi de fazer esse papel, de estar mais préximo, docstar sompre.om contato com os alunos. Eu sent que ‘equi o principal ponto € esse, de estor mais presente. ‘t8 porque com questao de divides term manitores, tam professores que podem tirar eventuais dividos. Por isso foi justificado © acompanhamento em longo prazo de um tutor com os alunos, sendo que a idéia de um “professor tutor” que nao estabalacesse vinculo social com os alunos nado seria adequado no presente caso. Isso fei relacionado com a vise de uma educagée come processo continuo, Nesse processo os tutores fazem um acompanhamento préximo de cada aluno, nao s¢ restringindo apenas ao ambiente virtual, mas também com encontros ¢ supervisées presencia, goralmente realizadas de maneira informal « fora do hordrio estabelacide polo curso, como jogos de boliche © encontro om churrascarias. Entre os tutores que lecionam em instituigbes de ensino superior, tanto piblicas quanto privadas, foi comentado que no ensine presencial néo hé a proximidade que hé Si: E, a gente acompanha a vida dos alunas, 6 ha

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