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Charbel Niño El Hani
Cleise Furtado Mendes
Evelina de Carvalho Sá Hoisel
José Teixeira Cavalcante Filho
Maria do Carmo Soares Freitas
Maria Vidal de Negreiros Camargo
Gestão Cultural
saladeaula 13
Salvador
EDUFBA, 2019
2019, autores.
Direitos para esta edição cedidos à EDUFBA.
Feito o depósito Legal. Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.
Projeto gráfico
Alana Gonçalves de Carvalho Martins
Imagem da capa
www.freeimages.com – by Ray van Zeijst
Revisão
Elber Lima
Normalização
Cecília Nascimento
ISBN 978-85-232-1893-5
CDD – 306.4
Editora afiliada à
EDUFBA
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Sumário
Introdução...7
Sobre os Autores...223
Histórico da gestão
cultural no Brasil
Taiane Fernandes
Introdução
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mento, execução e gerenciamento. Seus objetos de atuação podem
ser as artes, o patrimônio, a memória, as manifestações da cultura
popular, a cultura de massa. E essas diferentes formas de expressão
cultural não competem, exclusivamente, ao poder público. A ges-
tão cultural pode (e deve) ser competência da sociedade civil, seja
através de organizações lucrativas, não lucrativas, ou profissionais
independentes.
A gestão de um teatro, um centro cultural, uma biblioteca, um mu-
seu, é gestão cultural, gestão de um equipamento cultural. A gestão
de uma companhia, de uma organização cultural, de um grupo de
samba de roda, de uma orquestra, de uma banda, é gestão cultural.
A gestão de edifícios históricos, de áreas tombadas como patrimônio
cultural, sítios ou parques arqueológicos, também é gestão cultural.
Assim como a gestão de projetos culturais, com tempo de vida pré-
-definidos, como uma peça teatral, um curso, um festival, uma
feira, um show, também não deixa de ser gestão cultural, embora se
confunda, muitas vezes, com a produção cultural.
Todas essas formas de exercício da gestão cultural, que podem
ser praticadas por uma diversidade de atores da sociedade civil
e do mercado, estão contidas na gestão pública da cultura. Por-
que a gestão cultural é a política cultural em marcha, ou seja,
corresponde ao seu processo de execução. (BARBALHO, 2005)
E a depender da abrangência dessa política cultural, sua gestão se
incumbirá de mobilizar suas diferentes modalidades, formatos,
mecanismos e instrumentos de sua atuação.
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o funcionamento de tais empresas. “Homens de negócio”,
acionistas, por sua vez, criariam uma sociedade de cotas (ou
ações), muito semelhante às sociedades anônimas atuais.
Estes acionistas comprariam ações – que variavam entre
200$000 e 1.000$000 – podendo optar por reaver o capital
empregado com juros acrescidos de 7%, ou tornarem-se
proprietários, compartilhando assim os eventuais lucros
da empresa.
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de uma ambiciosa gestão cultural na esfera do município [...]”.
(BOTELHO, 2007, p. 112) Nesse mesmo período, no governo
federal, outro nome fundador da política e gestão culturais é o
do Ministro da Educação e Saúde Pública Gustavo Capanema
(1934-145), que criou os primeiros órgãos governamentais de
cultura dedicados a desenvolver a política cultural federal em se-
tores específicos, como a Superintendência de Educação Musical
e Artística, o Instituto Nacional de Cinema Educativo e o Serviço
de Radiodifusão Educativa, em 1936, e o Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, o Serviço Nacional de Teatro e o
Instituto Nacional do Livro, em 1937.
A institucionalização da cultura, a partir da década de 1930, cria
um campo de atuação formal da gestão cultural, de dentro do es-
tado republicano, ainda que autoritário. A cultura era reconhecida
como arte e patrimônio, fundamentalmente, e a política cultural
estava atrelada à política educacional, devendo cumprir um papel
civilizador e construtor da nação. Muitos artistas e intelectuais
foram cooptados pelo estado varguista para colaborar com a gestão
cultural, a exemplo do próprio Mário de Andrade, que elaborou
o anteprojeto do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Na-
cional (SPHAN), o músico e compositor Heitor Villa-Lobos que
criou e dirigiu a Superintendência de Educação Musical e Artística,
ou mesmo o poeta Carlos Drummond de Andrade, que exerceu a
função de chefe de gabinete de Gustavo Capanema.
É nessa época que a cultura de massa começa a ganhar corpo num
país que dava os primeiros passos na sua industrialização e urba-
nização. A radiodifusão exerceu papel importante na construção
de uma nova cena artística e um novo circuito cultural no Brasil.
As emissoras de rádio, comerciais ou estatais, congregavam numa
mesma atividade comunicação e cultura, especialmente na chama-
da era de ouro de 1940/1950. Mais do que um novo formato de
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a administração dos meios de comunicação de massa e investe
sobretudo na esfera do teatro (Serviço Nacional do Teatro), do
cinema (EMBRAFILME), do livro didático (Instituto Nacional
do Livro), das artes e do folclore (FUNARTE)”. (ORTIZ, 2006,
p. 87-88) Ao lado da retomada do processo de institucionalização
da cultura iniciado no período autoritário anterior, a era Vargas, o
governo militar atua na normatização da esfera cultural, quando
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execução e prestação de contas. Profissionais esses que deveriam
transitar entre a dinâmica do estado – leis, normas, procedimen-
tos, formulários, documentação etc. –, da iniciativa privada – ma-
rketing, publicidade, relações públicas, comunicação institucional
etc. – e do produto cultural – artista, grupo, espetáculo, festival,
publicação, filme etc.– para o qual buscavam apoio. A profissio-
nalização desta área parecia inevitável, o primeiro curso superior
em produção cultural brasileiro foi criado em 1995, na Univer-
sidade Federal Fluminense (UFF) no Rio de Janeiro e, no ano
seguinte, em 1996, na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Por sua vez, a gestão cultural se adaptava a este cenário passando
a ser exercida em departamentos e diretorias de comunicação,
marketing e de desenvolvimento cultural em empresas privadas; e
exigindo novas habilidades de captação de recursos e interlocução
com a legislação e burocracia estatal pelos gestores de equipamen-
tos culturais – inclusive aqueles que nascem associados a grandes
empresas financeiras, como bancos –, empresas cinematográficas
e de audiovisual e organizações artísticas e culturais.
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Esse “suspiro democrático” do ministério da cultura dura pouco
mais de uma década e produz impactos significativos em todo o
território nacional, porque mobiliza atores antes invisibilizados,
ativa o mercado cultural e promove, especialmente, avanços sig-
nificativos na organização do campo cultural. Por certo que deste
movimento emergiram novos desafios para a gestão cultural, a
exemplo da conciliação entre as conservadoras legislações do
estado burocrático brasileiro e as diversas expressões não mer-
cadológicas da cultura valorizadas pelo novo Minc; ou o recente
exercício de uma gestão compartilhada entre, de um lado, uma
sociedade civil que não reconhece o seu papel como protagonista
das políticas públicas e está habituada a um relacionamento com
o estado pautado em práticas clientelistas e, de outro, gestores
públicos que priorizam sua condição de representantes eleitos e
resistem a absorver uma interlocução constante com a sociedade
civil representada em conselhos e colegiados.
A crise política e econômica vivida no Brasil, a partir de 2014, reflete
duramente sobre a gestão cultural. Os baixos orçamentos públicos
reduzem os investimentos em cultura e o Minc passa por uma crise
interna, nada menos que oito ministros ocupam a função no decor-
rer de oito anos (2011 a 2018). Em 2016 o ministério voltou a ser
extinto e recriado, num intervalo de apenas 11 dias. Em 2019, depois
de empossado o presidente ultradireitista eleito, a cultura foi reduzi-
da a uma Secretaria Especial. A gestão cultural volta a ser desafiada.
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Notas
1
Acerca da diferenciação dos termos ver Costa e Rocha (2017).
2
Segundo Schwebel (1987), a primeira sociedade musical brasileira foi fundada
em 1848, em Salvador, Bahia, com o nome de Sociedade Philarmônica Euterpe.
Tal modelo de organização cultural se dissemina e desempenha um importante
papel no consumo e prática da música instrumental no Brasil com grande êxito
até a primeira metade do século XX. Em 2018, o cadastro nacional de bandas de
música da Fundação Nacional das Artes, que refere-se estas entidades, registrava
mais 2800 bandas em todo o país.
3
Segundo Calabre (2002, p. 142), a Rádio Tupi do Rio de Janeiro mantinha um
auditório com capacidade para 1600 pessoas.
4
Para mais informações acerca da gestão das rádios brasileiras em seu momento
áureo, ver a tese de doutorado de Lia Calabre (2002).
5
1972 – Conferência Intergovernamental sobre as Políticas Culturais na Europa,
Helsinki; 1973 – Conferência Intergovernamental sobre as Políticas Culturais
na Ásia, Yogyakarta; 1975 – Conferência Intergovernamental sobre as Políticas
Culturais na África, Accra; 1978 – Conferência Intergovernamental sobre as
Políticas Culturais na América Latina e Caribe, Bogotá; 1981 – Conferência de
Ministros dos Estados Árabes responsáveis pela Cultura, Bagdá.
6
A Lei Rouanet ou Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), além de
manter o incentivo a projetos culturais, cria outros dois mecanismos, o Fundo
Nacional de Cultura (FNC) e o Fundo de Investimento Cultural e Artístico,
que não cumpriram o papel para o qual haviam sido propostos.
Referências
ALBUQUERQUE JÚNIOR, D. M. Fragmentos do discurso cultural.
In: NUSSBAUMER, G. M. (org.). Teorias e políticas da cultura: visões
multidisciplinares. Salvador: EDUFBA, 2007. p. 13-24.
BARBALHO, A. Política cultural: um debate contemporâneo. In: RUBIM, L.
(org.). Organização e produção da cultura. Salvador: EDUFBA, 2005. p. 33-52.
BOTELHO, I. As políticas culturais e o plano das ideias. In: RUBIM, A. A. C.;
BARBALHO, A. (org.). Políticas culturais no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2007.
p. 109-132.
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Colofão
Formato 15 x 21 cm
Impressão EDUFBA