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Coração de Atleta
Coração de Atleta
Artigo de Revisão
Correspondência:
Emanuel Filipe Eufrásio Ferreira
Rua do Buxo Lote-17, 3040-792 Cernache
imanuel_@hotmail.com
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Professora Doutora Maria João Vidigal Ferreira por me ter sugerido o tema
deste trabalho, pela total disponibilidade e dedicação que sempre revelou, e pela
sabedoria com que me soube orientar.
Agradeço ao Ivo por ter sido a minha bússola durante os últimos seis anos.
Agradeço à minha família por todo o carinho, incentivo e apoio que sempre têm
demonstrado, e sobretudo ao meu irmão pela compreensão que evidenciou durante este
último ano.
Por último, agradeço à Inês por todo o amor, atenção, motivação, alegria, companhia,
compreensão e paciência que demonstrou em todos os momentos.
2
ÍNDICE
Abreviaturas ......................................................................................................................4
Resumo .............................................................................................................................5
Abstract .............................................................................................................................6
I) Introdução .....................................................................................................................7
V) Conclusão ..................................................................................................................52
3
Abreviaturas
ABREVIATURAS
4
Resumo
RESUMO
patológicas potencialmente fatais das adaptações fisiológicas normais e sem risco para o
Pretendeu-se com este trabalho rever bibliografia sobre o tema “Coração de Atleta”,
mecanismos que a elas conduzem; as causas mais frequentes de morte súbita no atleta,
adoptados pela American Heart Association e pela European Society of Cardiology para
5
Abstract
ABSTRACT
enlargement of the heart chambers. These changes are secondary to regular and
The practice of exercise has obvious benefits in terms of the cardiovascular system and
therefore in the personal health. However, in the presence of cardiac disease, the
Our purpose was to review recent bibliography under the subject the athlete’s heart,
focusing on the following points: the most common physiological changes in the athlete
and the mechanisms that lead to them, the most common causes of sudden death in
6
Introdução
I) INTRODUÇÃO
O termo “Coração de Atleta” surgiu em 1899, após um estudo realizado pelo Dr.
S.Henschen. Neste estudo, o Dr. S. Henschen utilizou a percussão torácica para avaliar
alargamento das cavidades cardíacas e o aumento da massa cardíaca, que podem ter
intensidades diferentes entre os vários atletas. Na maior parte dos casos, os valores
A morte súbita do atleta é um evento raro. Nos Estados Unidos da América existem
durante a prática desportiva é inferior a 300 atletas por ano (4). Neste país, a
hipertrofia ventricular esquerda de causa desconhecida, o que, por vezes, torna difícil a
sua distinção com o Coração de Atleta. Estas duas entidades podem ter apresentações
7
Introdução
forma simultaneamente eficaz e económica (6). Por este motivo, as orientações dadas
ainda não existe um consenso sobre a forma como esta avaliação dos atletas deve ser
efectuada.
elas conduzem; as causas mais frequentes de morte súbita no atleta, dando particular
8
O Coração de Atleta
DESPORTO PRATICADO
a) Tipo:
movimento (8).
b) Intensidade:
1. Ligeira
2. Moderada
3. Elevada
9
O Coração de Atleta
oxigénio que o atleta consegue captar/utilizar (VO2 máx). Por isso, quanto maior for a
percentagem de contracção muscular voluntária. Por isso, quanto maior for esta
A distinção dos dois tipos principais de exercício físico (isotónico e isométrico) ajuda a
classificar mais facilmente os desportos. No entanto, estes dois tipos de exercício devem
diz-se que um maratonista pratica exercício isotónico, mas o treino destes atletas
física praticada.
10
O Coração de Atleta
Exercício isotónico
o aumento da tensão arterial sistólica média, com ligeira diminuição da tensão arterial
(12).
Exercício isométrico
11
O Coração de Atleta
durante a sístole, ocorre um aumento marcado da pressão intraventricular, que vai ser
squash, hóquei em
campo, orientação,
marcha
Moderada Tiro com arco, Futebol americano, rugby, Basquetebol, hóquei no
(20-50% automobilismo, surf, natação sincronizada, gelo, atletismo(meia
CVM) equitação, motociclismo, atletismo(velocidade),patin maratona), natação,
mergulho agem artística andebol
12
O Coração de Atleta
Consumo
VO2 (mL/min/Kg)
VO2 (mL/min/Kg)
de oxigénio
Minutos Minutos
Débito
D.C. (L/min)
D.C. (L/min)
cardíaco
Minutos Minutos
Frequência
F.C. (b.p.m.)
F.C. (b.p.m.)
cardíaca
Minutos Minutos
Volume
V.S. (mL/bat)
V.S. (mL/bat)
sistólico
Minutos Minutos
Tensão
T.A. (mmHg)
T.A. (mmHg)
arterial
sistólica,
média e
diastólica
Minutos Minutos
Resistência
R.P.T (URP)
R.P.T (URP)
vascular
periférica
Minutos
Minutos
Quadro II: Resposta aguda do sistema cardiovascular à actividade física.VO2(mL/min/kg) – Volume de
oxigénio(mL/minuto/peso corporal em Kg); D.C.(L.min) – Débito cardíaco(Litros/minuto); F.C.(b.p.m) – Frequência
cardíaca(batimentos por minuto); V.S.(mL/bat) – Volume sistólico(mL/batimento); T.A.(mmHg) – Tensão
arterial(mmHg); R.P.T. (URP) – resistências periféricas totais (em unidades de resistência periférica). [Adaptado de
“36th Bethesda Conference: Eligibility Recommendations for Competitive Athletes with Cardiovascular
Abnormalities”, (4)]
13
O Coração de Atleta
Tendo por base a diferente resposta do sistema cardiovascular ao tipo de exercício físico
alterações encontradas no atleta que pratica exercício isotónico e o atleta que pratica
exercício isométrico. No entanto, alguns estudos revelaram que este processo adaptativo
(18). A diferença na intensidade destas alterações varia entre os vários atletas, o que se
deve em 75% a factores não genéticos como o tipo de desporto praticado, o sexo, a
ainda desconhecidos, mas que se pensa poderem estar relacionados com aspectos
genéticos (13).
14
O Coração de Atleta
gene da enzima conversora da angiotensina (ECA), ao qual tem sido atribuído um papel
15
O Coração de Atleta
sopro cardíaco. A etiologia deste sopro difere com a idade do atleta. Nos atletas jovens,
geralmente não existem alterações degenerativas dos anéis valvulares. Por isso, o sopro
elevado volume sistólico ejectado por um coração “hiperfuncionante”. Nos atletas mais
aórtica. Por isso, a auscultação de um sopro cardíaco nestes atletas deve suscitar uma
avaliação mais cuidada, porque pode tratar-se de um processo fisiológico (tal como
esquerdo (20).
ventricular (20).
16
O Coração de Atleta
prática de exercício físico (23). Estas alterações estão presentes em mais de 80% dos
a) Distúrbios de ritmo:
volume sistólico ( ).
atleta. No entanto, quando em repouso estes valores são muito semelhantes em ambos.
Visto que o volume sistólico está geralmente aumentado no atleta, para que o débito
Assim, é comum a existência de atletas com bradicardia sinusal (definida como uma
17
O Coração de Atleta
Outros distúrbios do ritmo, tais como o ritmo juncional e o ritmo do seio coronário.
b) Bloqueio aurículo-ventricular
atletas (26);
ventricular de 3º grau não fazem parte do Coração de Atleta. Por isso, a presença deste
tipo de bloqueios em atletas deve fazer suspeitar de outras causas, devendo apenas ser
c) Alterações morfológicas
18
O Coração de Atleta
O bloqueio completo de ramo direito ou esquerdo não fazem parte das alterações típicas
d) Anomalias da repolarização
Alterações do segmento ST
frequente em atletas que praticam exercício isotónico, que não devia ser
A depressão do segmento ST é pouco comum no atleta. Por isso, caso esteja presente
Alterações da onda T
o complexo QRS está a alterar de uma deflexão primariamente negativa das derivações
direitas, para uma deflexão primariamente positiva das derivações esquerdas (20).
jovem, não atleta e saudável. Por isso, não é obrigatório que ocorra o processo de
19
O Coração de Atleta
principal diferença é que, geralmente, no atleta as alterações são mais acentuadas (20).
normalidade (8).
VENTRÍCULO ESQUERDO
normalidade é 54 mm. Num estudo de Pellicia et al, o valor médio do LVID foi de
posterior livre do ventrículo esquerdo, este valor apenas é ultrapassado em 0.3% dos
atletas (8).
20
O Coração de Atleta
ventrículo esquerdo no final da diástole. Visto que em atletas estes dois parâmetros
estão geralmente aumentados, a sua massa cardíaca vai também ser superior à dos
indivíduos não atletas. Num estudo de Pluim et al, o valor médio da massa cardíaca
identificado em atletas foi de 249g, enquanto em indivíduos não atletas foi de apenas
174g (11).
A massa ventricular esquerda é considerada normal quando se encontra abaixo dos 294g
AURÍCULA ESQUERDA
atletas. Pensa-se que este aumento esteja sobretudo relacionado com a dilatação do
ventrículo esquerdo e com a sobrecarga de volume a que este é sujeito durante a prática
37 4mm, e no sexo feminino foi de 32 4mm. Em apenas 20% dos atletas o diâmetro
21
O Coração de Atleta
(11).
atleta.
SEXO
MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO
Diâmetro do
ventrículo
esquerdo no 54 mm 55 mm 48 mm
fim da diástole
(LVID)
Espessura da 15 a 20% superior a indivíduos não atletas;
parede Septo Interventricular: apenas 1.1% dos
miocárdica atletas têm parede com mais de 12mm de
espessura;
12 mm 11 mm Parede posterior livre do ventrículo esquerdo:
apenas 0.3% dos atletas têm parede com mais
de 12mm de espessura;
Relação entre parede septal e parede posterior
livre do ventrículo esquerdo: inferior a 1.3
Massa
ventricular 294 g 198 g 249 g
esquerda
Forma do
ventrículo Ventrículo esquerdo de forma alongada
esquerdo
Diâmetro 48.9 mm 37 4 mm 32 4mm
transversal da
aurícula
esquerda
Quadro III – comparação entre as alterações frequentes no ventrículo esquerdo dos atletas e os valores
considerados como limite máximo da normalidade.
22
O Coração de Atleta
não têm sido tão bem avaliadas, o que torna menos claro o seu envolvimento no
Coração de Atleta. No entanto, sabe-se que, tal como acontece no ventrículo esquerdo,
CIRCULAÇÃO CORONÁRIA
uma melhoria da sua resposta à nitroglicerina, o que torna a perfusão miocárdica mais
eficaz (8).
PROCESSO FISIOLÓGICO
situam-se dentro dos limites da normalidade, o que sugere que a hipertrofia do atleta
estímulo exercido sobre o ventrículo esquerdo durante a prática desportiva ser apenas
23
O Coração de Atleta
atletas de ambos os sexos, mas as alterações são geralmente mais acentuadas em atletas
do sexo masculino (19). É aceitável considerar que esta diferença se deve a maiores
com dimensões corporais semelhantes, a intensidade das alterações é sempre maior nos
A explicação para esta pergunta reside essencialmente nas alterações que ocorrem ao
a duração do potencial de acção ser superior na camada sub-endocárdica faz com que
24
O Coração de Atleta
Fibrilhação auricular
que importa esclarecer porque em alguns casos pode estar subjacente a um processo
patológico (20).
Arritmias Ventriculares
foram associados a quaisquer tipos de eventos clínicos e a sua frequência reduziu com a
25
O Coração de Atleta e a Miocardiopatia Hipertrófica
MIOCARDIOPATIA HIPERTRÓFICA
que o risco de morte súbita é 2.5 vezes superior em atletas do que em indivíduos
que não é a prática desportiva a responsável pela morte dos atletas, mas sim os
atletas estão sujeitos (31) (32)(33)(34). Este facto explica porque é que mais de 90% das
Apesar do risco de mortalidade ser superior durante a prática desportiva, a morte súbita
do atleta é um evento raro. Em Itália, a incidência anual de morte súbita no atleta jovem
América (EUA) este valor é inferior a 1/100000 (35). No atleta mais velho (com mais
26
O Coração de Atleta e a Miocardiopatia Hipertrófica
A morte súbita de origem cardiovascular no atleta pode ter várias causas: doenças
jovens (<35 anos) nos EUA deve-se a patologias tão diversas como as que se encontram
Quadro IV – Causas de morte súbita nos EUA em atletas jovens (< 35 anos), de acordo com os dados do
Minneapolis Heart Institute Foundation. [Adaptado de Maron B.J. et al,(13)]
27
O Coração de Atleta e a Miocardiopatia Hipertrófica
Os dados do Minneapolis Heart Institute Foundation indicam que a maior parte dos
casos de morte súbita em atletas estão associados a patologia cardíaca prévia e que,
entre estas causas, as que têm maior incidência são a MCH e as anomalias das artérias
commotio cordis, que não está associado a patologia cardíaca prévia. Este evento
ocorre, por exemplo, nos jogadores de hóquei no gelo, após o impacto violento do disco
no peito destes atletas, o que induz uma taquiarritmia ventricular sem causar lesão
cardíaca estrutural. Para além do commotio cordis, a asma brônquica não controlada, a
foram as outras causas não cardíacas responsáveis pela morte dos atletas.
Apesar dos dados apresentados pelo MHIF, a incidência das diferentes causas de morte
súbita nos atletas varia a nível geográfico e etário. Por exemplo, no jovem atleta
americano, e tal como já foi referido, a MCH é a causa de morte súbita com maior
incidência. Nos atletas americanos mais velhos (> 35 anos), a etiologia mais frequente é
a doença coronária aterosclerótica (responsável por mais de 80% dos casos) (30)(37).
de morte súbita (valor que se encontra bastante distante dos 3% verificados em atletas
causa desta variabilidade a nível geográfico ainda não está completamente esclarecida,
mas pensa-se que esteja relacionada com factores genéticos e com a forma como cada
28
O Coração de Atleta e a Miocardiopatia Hipertrófica
Figura 1: comparação da etiologia da morte súbita em atletas nos EUA e em Itália. MCH –
miocardiopatia hipertrófica; HVE ind. – hipertrofia ventricular esquerda de causa indeterminada; C.C. –
commotio cordis; DAVD – displasia arritmogénica do ventrículo direito; anom. Coronárias – anomalias
das coronárias; DCA – doença coronária aterosclerótica; VMM – válvula mitral mixomatosa; Dist. Cond.
– distúrbio da condução; S. Marfan – síndrome de Marfan. [Adaptado de Mark S.Link et al, (38)]
A morte súbita é mais frequente em atletas do sexo masculino (numa proporção de 9:1),
na raça negra (mais de 50% dos casos) e em praticantes de futebol (a maioria dos casos
na Europa), basquetebol e futebol americano (cerca de 60% dos casos nos EUA). A
maior incidência de morte súbita no sexo masculino é explicada pelo maior número de
atletas deste sexo e, nalguns casos, pelas maiores exigências competitivas relativamente
29
O Coração de Atleta e a Miocardiopatia Hipertrófica
comum em todo o mundo, com uma prevalência de 0.2% (1:500) na população geral. A
origina uma obstrução dinâmica do fluxo de saída do ventrículo esquerdo, que pode
ausentes nas formas não obstrutivas e são pouco frequentes em repouso, a sua presença
A MCH está associada a uma grande variabilidade genética. Até ao momento, foram
sarcoméricas, as quais são responsáveis por cerca de 60% dos casos desta patologia. No
genética é uma das principais responsáveis pela diversidade fenotipica da MCH, que
30
O Coração de Atleta e a Miocardiopatia Hipertrófica
31
O Coração de Atleta e a Miocardiopatia Hipertrófica
MCH Coração de
Atleta
Padrões incomuns de hipertrofia ventricular esquerda
X
Cavidade ventricular esquerda <45 mm
X
Cavidade ventricular esquerda >55 mm
X
Alargamento da aurícula esquerda
X X
Alterações do traçado electrocardiográfico
X X
ALTERAÇÃO DA FUNÇÃO DIASTÓLICA
X
Sexo feminino
X
Regressão do processo com a paragem do treino
X
História familiar de MCH
X
VO2 máx. superior a 45-50 mL/Kg/min ou superior a
X
110%
Tabela I: Critérios clínicos utilizados para distinguir as formas não obstrutivas da MCH do Coração de
Atleta, em indivíduos com espessura da parede miocárdica entre os 13-15 mm. [Adaptado de Maron BJ,
(2)]
32
O Coração de Atleta e a Miocardiopatia Hipertrófica
Na maior parte dos casos de MCH a espessura da parede ventricular é igual ou superior
a 15mm, mas existem doentes com parede miocárdica de 13-14 mm ou até inferior a 12
mm. Por isso, nenhum valor de espessura da parede ventricular exclui completamente o
funcional da “New York Association”, e está presente em apenas 5-10% dos doentes
(40).
33
O Coração de Atleta e a Miocardiopatia Hipertrófica
Este é talvez o achado mais importante da distinção entre a MCH e o Coração de Atleta.
Atleta a função cardíaca mantém-se preservada (e melhorada), não existindo por isso
A função sistólica não auxilia na distinção entre a MCH e o Coração de atleta porque
11mm. Pellicia et al avaliaram 600 atletas deste sexo, e em nenhum caso a espessura da
parede ultrapassou os 13mm. Por isso, a existência de uma parede ventricular com 13-
34
O Coração de Atleta e a Miocardiopatia Hipertrófica
sugestivas de MCH. No sentido de esclarecer estas alterações, o atleta foi sujeito a uma
revelaram-se normais. Foram feitos estudos familiares, RMN e prova de esforço, que
Consumo de Oxigénio
oxigénio avaliado por espirometria encontra-se geralmente acima dos 45-50 mL/Kg/min
em atletas sem patologia. Em atletas com MCH, este valor é quase sempre inferior, mas
35
O Coração de Atleta e a Miocardiopatia Hipertrófica
Atleta
ventrículo esquerdo. Este exame pode ser útil na distinção entre a MCH e o Coração de
e da função ventricular esquerda e porque tem maior capacidade para estudar a extensão
através da avaliação do realce tardio com o gadolínio (47). O realce tardio está presente
em 80% dos doentes com MCH, está associado à existência de zonas de fibrose e tem
valor prognóstico (quanto mais extensa for a área de miocárdio anormal, maior é a
b) Exames laboratoriais
Testes genéticos para identificar mutações de ADN: caso o teste genético seja positivo
para alguma das 11mutações identificadas como causadoras de MCH, faz o diagnóstico
36
O Coração de Atleta e a Miocardiopatia Hipertrófica
aumento do stress sobre a parede miocárdica. O doseamento destes dois peptídeos pode
sujeito nestas situações), mas não se altera em processos fisiológicos como o Coração
de Atleta (50).
c) Biópsia miocárdica
destas duas entidades não está indicada, por se tratar de um método muito invasivo e de
37
Recomendações para a prática desportiva
DESPORTIVA
1. AVALIAÇÃO DO ATLETA
atleta (34)(35). Durante esta avaliação, três aspectos devem estar sempre presentes:
desconhecidos (21);
benefícios que a prática desportiva pode ter para si a nível físico, psicológico,
existem ainda poucos países com um protocolo bem definido e implementado, tal como
acontece em Itália (31). A principal explicação para este facto é a incerteza que existe
em relação à eficácia que esta avaliação pode ter na redução do número de casos de
A favor:
38
Recomendações para a prática desportiva
de um indivíduo jovem;
(31).
Contra:
o Existe um número muito elevado de atletas (por exemplo, nos EUA são mais
39
Recomendações para a prática desportiva
que a avaliação deve ser efectuada antes do início da prática desportiva e deve incluir a
divergem relativamente à forma como deve ser realizada a restante avaliação dos atletas
(32)(34).
A American Heart Association considera que a avaliação do atleta deve incluir apenas a
I. Antecedentes pessoais/familiares
a) História pessoal
5. Antecedentes de HTA.
40
Recomendações para a prática desportiva
b) História familiar
50 anos de idade;
12. Medição da tensão arterial braquial (se possível, nos dois braços).
Caso a história clínica se revele normal, o atleta é considerado apto para a competição.
deve ser alvo de uma avaliação mais detalhada, com os exames complementares que
Muitos autores consideram que a utilização isolada da história clínica não tem a eficácia
41
Recomendações para a prática desportiva
elevado. Isto acontece porque a maioria das causas de morte súbita de origem
cardiovascular é clinicamente silenciosa, o que faz com que 80% dos atletas que
morrem por este motivo sejam assintomáticos e o exame objectivo detecte muito poucas
alterações (17). Num estudo de Glower e Maron, em 134 atletas que morreram de causa
A AHA concorda com as críticas que lhe são feitas, e reconhece inclusivamente que a
avaliação periódica dos atletas. Por isso, esta organização não se opõe à realização
pontual deste tipo de exames na avaliação de alguns atletas, no caso de o médico que a
motivos que tornam impraticável realizar nos EUA uma avaliação de base mais extensa
42
Recomendações para a prática desportiva
atleta em quantidade suficiente para realizar uma avaliação tão extensa e em tão
muitos casos, a avaliação dos atletas neste país é realizada por médicos não
avaliação (4)(34).
recursos podem ser utilizados em outro tipo de problemas com maior incidência
na população (34);
irreal pensar que uma avaliação em tão grande escala possa ter capacidade para
Em suma, a AHA prefere a utilização isolada da história clínica por se tratar de uma
Em Itália, desde 1982 que está definido um protocolo que obriga à realização de uma
figura 2 ilustra, se esta avaliação inicial se revelar normal, o atleta é considerado apto
para a competição. Caso sejam detectadas alterações, o atleta deve ser alvo de uma
43
Recomendações para a prática desportiva
Atletas
normal anormal
Diagnóstico de
patologia
cardiovascular
todos os atletas…
alterações das vias acessórias e dos canais iónicos (ex. síndrome do QT longo e
44
Recomendações para a prática desportiva
síndrome de Brugada), que em conjunto são responsáveis por mais de 60% dos casos de
mais eficaz desta patologia do que a utilização isolada da história clínica e do exame
das vias acessórias e dos canais iónicos, o electrocardiograma tem uma reduzida
congénitas das artérias coronárias (uma das principais causas de morte súbita no atleta
incerteza que existe em relação ao número de falsos positivos que este exame origina.
positivos foi de apenas 5.5% e que, por isso, a ideia de que o electrocardiograma não
deve ser utilizado porque origina um grande número de falsos positivos é errada (6)(35).
45
Recomendações para a prática desportiva
Desde que foi implementado o protocolo italiano, a incidência anual de morte súbita de
causa cardíaca em atletas sujeitos à avaliação médica neste país diminuiu de 3.6/100000
para 0.4/100000, o que traduz uma redução de cerca de 90% da mortalidade. Pelo
para 9.4%). Tendo em conta que a prevalência destas patologias na população geral se
Figura 3: Comparação entre a incidência anual de morte súbita de causa cardíaca em atletas (sujeitos ao
protocolo de avaliação italiano) e indivíduos não atletas (população geral, não sujeita ao protocolo de
avaliação italiano), entre os 12 e os 35 anos de idade, na região de Veneto (Itália), desde 1979 a 2004.
[Adaptado de Hubert Seggewiss et al, (44)]
46
Recomendações para a prática desportiva
Ecocardiografia
atletas com MCH, pois permite o diagnóstico desta patologia e a estratificação do risco
outras patologias que podem ser causa de morte súbita durante a prática desportiva,
47
Recomendações para a prática desportiva
Após ter sido feito o diagnóstico de patologia cardíaca a um atleta, cabe ao médico
segundo estas entidades, se deve lidar com um atleta com patologia diagnosticada
essa informação com o tipo/intensidade de exercício que pode ser realizado pelos
atletas, de acordo com a sua patologia (23). Por exemplo, segundo a AHA, um atleta
com uma estenose aórtica ligeira pode participar em todos os tipos de actividades
desportivas, mas um atleta com uma estenose aórtica moderada deve reduzir a sua
As orientações dadas pela AHA e pela ESC são muito semelhantes, mas apresentam
algumas diferenças na forma como ambas avaliam o risco de morte súbita e nos critérios
48
Recomendações para a prática desportiva
clínicos que utilizam para proceder ao afastamento de atletas com doença cardiovascular
(quadro VI). Na maior parte dos casos, as decisões adoptadas pela ESC são um pouco
ESC dão também um importante apoio legal em caso de processos judiciais, o que é
relevante tendo em conta as pressões externas que, por vezes, são exercidas sobre o
médico (por familiares do atleta, equipas e patrocinadores), para que o atleta permaneça
em competição (60).
médico, é importante não esquecer que ainda existe uma grande incerteza e
desconhecimento em relação aos efeitos que a prática desportiva pode ter em atletas
com algumas patologias, e que esse facto leva a AHA e a ESC a adoptarem uma
dos atletas seja inferior a 0.2%, a percentagem de atletas afastados da competição após o
desnecessário dos atletas, é preciso ter em conta que cada caso tem a sua especificidade,
e que as guidelines da AHA e da ESC são apenas uma orientação em relação ao que
geralmente deve ser feito, e não uma conduta obrigatória a seguir. Por isso, a decisão
49
Recomendações para a prática desportiva
50
Recomendações para a prática desportiva
Quadro VI – exemplos de algumas das diferenças presentes nas recomendações da American Heart
Association e da European Society of Cardiology, em relação aos critérios clínicos utilizados para
proceder ao afastamento dos atletas e ao tipo de desportos que, de acordo com as suas patologias, lhes
será permitido realizar. MCH – miocardiopatia hipertrófica; DAVD – displasia arritmogénica do
ventrículo direito; MCD – miocardiopatia dilatada. [Adaptado de António Pellicia et al, (59)]
51
Conclusão
V) CONCLUSÃO
O Coração de Atleta pode, por vezes, assemelhar-se a alguns processos patológicos que
aumentam o risco de morte súbita durante a prática desportiva, como por exemplo, a
Em Itália, desde 1982 está definido um protocolo que, para além da história clínica,
resultados deste protocolo têm sido excelentes, com uma redução da mortalidade em
cerca de 90%, facto que, em 2005, levou a ESC a incluir também a realização do
nos EUA, é impraticável realizar outro tipo de avaliação que não seja a utilização
deve ser feita a avaliação dos atletas, o importante é que esta seja efectuada por médicos
52
Conclusão
capacidade para as distinguir dos processos patológicos que podem colocar em risco a
53
Referências bibliográficas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Referências bibliográficas
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Referências bibliográficas
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Referências bibliográficas
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Referências bibliográficas
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Referências bibliográficas
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