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Data 24 de Agosto de 2009

Para Sr. Fulano ABC – ABC Equipamentos Industriais Ltda.


De Consultor Beltrano
CC

Info. adicional

Re Contribuições Previdenciárias, IRRF e FGTS – Questionamentos quanto à incidência


sobre reembolso de medicamentos e Auxílio Instrução.

Prezados Sr.,

Vimos pela presente formalizar nosso entendimento quanto à necessidade de


recolhimento de Contribuições Previdenciárias, IRRF e FGTS sobre os valores pagos
pela empresa a seus funcionários a título de reembolso de gastos com medicamentos e
com despesas de educação conforme o programa de Auxílio à Instrução promovido
pela empresa.

Como forma de apresentação do problema, nos foi colocado que a ABC Equipamentos
Industriais Ltda. (doravante denominada “Sociedade”) efetua o reembolso, diretamente
no contracheque de seus funcionários, das despesas relativas a despesas com
medicamentos e de auxílio educação.

Ademais, foi-nos informado que ambas as espécies de reembolso são estendidas a todos
os funcionários da Sociedade, sendo que as referentes ao Auxílio Instrução são realizadas
de acordo com o Programa de Auxílio à Instrução da Sociedade.

Assim, pergunta-nos a Sociedade sobre a incidência de Contribuições Previdenciárias,


FGTS e IRRF sobre os valores relativos a estes reembolsos.

Todas as informações levadas em consideração no presente memorando e abaixo


mencionadas decorreram de reuniões havidas com a Consulente. Nenhuma outra fonte
foi utilizada para certificação da veracidade das informações e fatos sobre os quais o
presente memorando se debruça.

I – Fundamentos Jurídicos

Para melhor compreensão do presente parecer, passaremos a tratar separadamente cada


um dos reembolsos questionados pela Sociedade.

I.1 – Reembolsos relativos a despesas com Medicamentos

Conforme previsão do art. 43 do Regulamento do Imposto de Renda (RIR/99), “são


tributáveis os rendimentos provenientes do trabalho assalariado, as remunerações por
trabalho prestado no exercício de empregos, cargos e funções, e quaisquer proventos ou
vantagens percebidos”.

Sendo assim, e considerando que o pagamento ou o reembolso de medicamentos se


enquadra no conceito das “vantagens percebidas” previsto na legislação, verifica-se que
os pagamentos realizados pela Sociedade a título de reembolso de medicamentos estão
sujeitos à incidência do Imposto de Renda, o qual deve ser retido na fonte pela pessoa
jurídica pagadora, conforme determina o art. 7º da Lei nº 7.713/88.

Corroborando com o até então exposto, cita-se elucidativa jurisprudência administrativa:

“Processo de Consulta nº 168/05


Órgão: Superintendência Regional da Receita Federal - SRRF / 9a. Região
Fiscal
Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte – IRRF
Ementa: REEMBOLSO DE DESPESAS FARMACÊUTICAS. No caso de Plano
de Assistência Farmacêutica, está sujeito à incidência do imposto de renda na
fonte o reembolso, aos beneficiários, das despesas com medicamentos.
DISPOSITIVOS LEGAIS: arts. 39, XLV, e 623 do RIR/99; ADN Cosit nº 35, de
1993; PN CST nº 22, de 1977.
MARCO ANTÔNIO FERREIRA POSSETTI – Chefe
(Data da Decisão: 10.06.2005 19.07.2005)”

ACÓRDÃO 102-46.114
Órgão: 1º Conselho de Contribuintes / 2a. Câmara
1º Conselho de Contribuintes / 2a. Câmara / ACÓRDÃO 102-46.114 em
09.09.2003
IRPF - Ex(s): 1999
IRPF. DESPESAS MÉDICAS. LEI N 9.250, de 1995, ART. 8, II, A . Por falência
de autorização legal não se incluem no conceito de despesas médicas,
reportadas no artigo 8, II, a, da Lei n 9.250, de 1995, gastos com paciente com
medicamentos ou outros, não integrantes de fatura hospitalar, ainda que
necessários durante a convalescença do contribuinte ou de seu dependente.
Recurso negado.
Por unanimidade de votos, NEGAR provimento ao recurso. Ausente,
momentaneamente, o Conselheiro José Oleskovicz. Antonio de Freitas Dutra -
Presidente
Publicado no DOU em: 02.09.2005
Relator: Geraldo Mascarenhas Lopes Cançado Diniz
Recorrente: SEBASTIÃO DE PAULA VIEIRA
Recorrida: 2ª TURMA/DRJ-CURITIBA/PR
(Data da Decisão: 09.09.2003 02.09.2005)

No que tange às contribuições para a Seguridade Social e ao Fundo de Garantia por


Tempo de Serviço (FGTS), por outro lado, verifica-se que os pagamentos ou reembolsos
realizados a título de medicamentos são isentos destas contribuições por expressa
determinação legal.

Com efeito, no que tange ao FGTS, o parágrafo 6º do art. 15 da Lei nº 8.036/90 dispõe
que não se incluem na base de cálculo do FGTS as parcelas elencadas no § 9º do art. 28
da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, o qual trata da incidência de contribuições
previdenciárias.

Ou seja, todos os benefícios e pagamentos elencados no § 9º do art. 28 da Lei nº


8.212/91 não devem ser incluídos na base de cálculo tanto das contribuições
previdenciárias, quanto do FGTS.

Sendo assim, veja-se o que dispõe a alínea “q”, do parágrafo 9º, do art. 28 da Lei nº
8.212/91:

“Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição:

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(...)
§ 9º Não integram o salário-de-contribuição para os fins desta Lei,
exclusivamente:
(...)
q) o valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico,
próprio da empresa ou por ela conveniado, inclusive o reembolso de despesas
com medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, despesas médico-
hospitalares e outras similares, desde que a cobertura abranja a totalidade dos
empregados e dirigentes da empresa; (...)” (Grifos nossos)

Desta forma, verifica-se que os pagamentos relativos a reembolso de despesas com


medicamentos, quando o benefício abranja a totalidade dos empregados e dirigentes da
empresa, estão expressamente excluídos da base de cálculo das contribuições
previdenciárias e da contribuição ao FGTS.

Neste sentido, cita-se elucidativa jurisprudência judicial:

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. SENTENÇA EXTRA PETITA.


REEMBOLSO DE MEDICAMENTOS. AUXÍLIO-FARMÁCIA.
Não há falar em sentença extra petita, porquanto, sendo o lançamento fiscal
relativo à contribuição previdenciária incidente sobre o auxílio-farmácia, a qual
foi declarada devida pela sentença, o fato de o Juízo a quo ter considerado a
autuação legítima nada mais é do que decorrência lógica do entendimento por
ele esposado.
O pagamento efetuado pela empresa a título de reembolso de medicamentos ou
auxílio-farmácia não integra o salário-de-contribuição desde que a cobertura
abranja a totalidade dos seus empregados e dirigentes (Lei nº 8.212/1991, art.
28, § 9º, letra "q").
Tendo as empresas autoras se comprometido a pagar o "auxílio-farmácia" tão-
somente aos empregados sindicalizados, a sua situação não se enquadra na
previsão do § 9º do art. 28 da Lei nº 8.212/1991, sendo devida a contribuição
incidente sobre tal verba.
(Apelação Cível nº 200772090011560, Primeira Turma do Tribunal Regional
Federal da 4ª Região, Relator Des. Vilson Darós, julgado em 29/10/2008)
Grifamos

Pelo exposto, conclui-se que o reembolso realizado pela Sociedade a título de gastos com
medicamentos está sujeito à incidência do IRRF e, desde que o benefício seja
estendido a totalidade dos empregados e dirigentes da empresa, não está sujeito à
incidência de contribuições previdenciárias e do FGTS.

I.2 – Reembolsos relativos a despesas com Educação

No que tange aos reembolsos relativos a despesas com Educação, novamente haverá
incidência do IRRF por força do disposto no art. 43 do RIR/99, eis que tais pagamentos
também correspondem a “vantagens percebidas” pelo trabalho assalariado.

Nesse sentido, já se manifestou a Receita Federal através de processo de consulta:

“Processo de Consulta nº 60/00


Órgão: Superintendência Regional da Receita Federal - SRRF / 1a. Região
Fiscal
Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte – IRRF
Ementa: Os valores pagos por pessoa jurídica a empregados a título de ajuda
de custo com educação estão sujeitos ao imposto de renda na fonte.

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DISPOSITIVOS LEGAIS: Lei nº 5.172, de 1966, art 111; RIR/1999, arts. 37 e
38, 43, incisos I e XVI, e 624.
WALBER JOSÉ DA SILVA - Superintendente Adjunto
(Data da Decisão: 21.09.2000 16.03.2001)” Grifamos

No que toca à incidência das contribuições previdenciárias e FGTS sobre os reembolsos


relativos a despesas com Educação, merece ser esclarecido, inicialmente, que, assim
como explicado no tópico “I.1” do presente parecer, o FGTS somente irá incidir sobre os
pagamentos em que houver incidência das contribuições previdenciárias.

Estabelecida esta premissa, cabe verificar a incidência de tais contribuições sobre os


pagamentos realizados pela Sociedade com base no seu Programa de Auxílio à Instrução.

Após a análise do programa de Auxílio à Educação desenvolvido pela Sociedade,


verificamos que existem alguns pontos do mesmo que representam risco de autuação
contra a empresa, por força do entendimento que o Fisco possui sobre a Lei nº 8.212/91.
Vejamos.

Representam risco de autuação os pagamentos (reembolsos) realizados a título de auxílio


educação para os seguintes casos:
- Cursos de Graduação;
- Cursos de Especialização;
- Cursos de Idiomas; e
- Cursos desvinculados da atividade fim da empresa, que no caso da Sociedade é
estendido apenas para os empregados com mais de 20 anos de empresa.

Conforme se verifica pelas recentes autuações realizadas pela Fiscalização


Previdenciária (recentemente incorporada à estrutura da Receita Federal), bem como pela
jurisprudência administrativa sobre o assunto, a previdência vem aplicando uma
interpretação mais restritiva do art. 28, § 9º, alínea "t", da Lei nº 8.212/91.
Veja-se o teor do referido artigo:

"Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição:


(...)
§ 9º Não integram o salário-de-contribuição para os fins desta Lei,
exclusivamente:
(...)
t) o valor relativo a plano educacional que vise à educação básica, nos termos
do artigo 21 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e a cursos de
capacitação e qualificação profissionais vinculados às atividades desenvolvidas
pela empresa, desde que não seja utilizado em substituição de parcela salarial e
que todos os empregados e dirigentes tenham acesso ao mesmo;"

De fato, segundo a lei previdenciária a isenção prevista no referido dispositivo legal


aplica-se unicamente para a educação básica, que no entendimento da fiscalização
restringe-se aos cursos de 1º e 2º grau, e para os cursos de capacitação técnica e
qualificação profissional, os quais, de acordo com o mesmo entendimento, resumem-se
aos cursos técnicos. Sendo assim, verifica-se que, no entendimento da fiscalização, os
cursos de graduação, especialização e idiomas acima relacionados não estariam
albergados pela isenção das contribuições sociais.

Entretanto, verifica-se que o entendimento da fiscalização previdenciária não é o que


vem sendo aplicado pelos Tribunais pátrios, de forma que uma impugnação a uma
eventual autuação realizada por força do pagamento dos cursos acima relacionados teria

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boas chances de êxito, pelo menos na esfera judicial. Veja-se, nesse sentido, uma
elucidativa jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 4ª Região:

EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS. INTERESSE RECURSAL. NÃO-


CONHECIMENTO DE PARTE DO APELO. CONTRIBUIÇÕES
PREVIDENCIÁRIAS. AUXÍLIO ESCOLAR. DEPÓSITO RECURSAL.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
1. Julgado procedente o pedido, com a desconstituição do título executivo,
inexiste interesse recursal quanto às questões relativas à decadência e à
limitação da base de cálculo das contribuições ao INCRA e ao salário-
educação.
2. O auxílio escolar pago pela Embargante aos seus funcionários, de forma
eventual, para aqueles que estivessem freqüentando cursos regulares de 1º e 2º
graus, graduação, especialização e idiomas, tem natureza tipicamente
indenizatória, não se configurando como salário-de-contribuição.
3. A exigência de um período mínimo de trabalho na empresa não configura
discriminação, a afastar a aplicação do disposto no art. 28, § 9º, alínea "t", da
Lei nº 8.212/91.
4. O direito à devolução do depósito recursal deve ser discutido em ação
própria.
5. Tendo em conta o alto valor atribuído à demanda, os honorários advocatícios
são fixados em R$ 20.000,00, em consonância com o disposto no art. 20, § 4º, do
CPC e com os precedentes desta Turma.
(Processo nº 200372050043713, Rel. Des. Dirceu de Almeida Soares, Segunda
Turma do Tribunal Regional Federal - TRF da 4ª Região, DJU 10.08.2005 p.
612) Grifamos

Contudo, uma única ressalva merece ser feita em relação ao pagamento de cursos não
vinculados à atividade fim da empresa para funcionários com mais de 20 anos de
empresa, conforme previsto no tópico 5.1 da "Instrução de Trabalho" do Programa de
Auxílio a Instrução da Sociedade, uma vez que, segundo o dispositivo legal acima
transcrito, cursos não vinculados à atividade fim da empresa não estão albergados pela
isenção das contribuições previdenciárias e, consequentemente, à contribuição ao FGTS.

Sendo assim, em relação à incidência de Contribuições Previdenciárias e FGTS sobre os


reembolsos relativos a despesas com Educação, verificamos que a única espécie de
pagamento (reembolso) realizado a título de Auxílio a Instrução pela Sociedade que não
está de acordo com a legislação vigente é aquela destinada aos cursos não vinculados à
atividade fim da empresa para funcionários com mais de 20 anos de empresa.

Pelo exposto, conclui-se que o reembolso realizado a título de gastos com educação
através do Programa de Auxílio a Instrução da Sociedade está sujeito à incidência do
IRRF e, no que tange aos cursos não vinculados à atividade fim da empresa, também está
sujeito à incidência de Contribuições Previdenciárias e do FGTS.

II – Conclusão

Diante de todo o exposto, eis o resumo do nosso entendimento sobre a presente consulta:

No que tange aos reembolsos realizados pela Sociedade a título de gastos com
medicamentos, entendemos que o mesmo está sujeito à incidência do IRRF e, desde que
o benefício seja estendido a totalidade dos empregados e dirigentes da empresa, não está
sujeito à incidência de contribuições previdenciárias e do FGTS. Ainda, considerando
que a Sociedade informa que este benefício é estendido a todos os seus empregados e
dirigentes, entendemos que são remotas as chances de uma autuação neste aspecto.

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Já no que tange aos reembolsos realizados a título de auxílio educação, entendemos que
haverá incidência do IRRF em todos os casos. No que toca às Contribuições
Previdenciárias e ao FGTS, considerando o teor do Programa de Auxílio a Instrução da
Sociedade apresentado, entendemos que haverá incidência nos reembolsos realizados por
força dos cursos não vinculados à atividade fim da empresa, enquanto que os reembolsos
realizados a título de cursos de graduação, especialização e idiomas representam
prováveis risco de autuação por parte da Autoridade Fiscal. Contudo, entendemos que
eventual autuação realizada a tal título possui possíveis chances de ser derrubada na
esfera administrativa e prováveis chances de ser derrubada na esfera judicial, consoante
as razões acima expostas.

Sendo o que tínhamos para o momento, ficamos à disposição para quaisquer


esclarecimentos adicionais.

Atenciosamente,

Consultor Beltrano

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