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Apostila Introducao A Criminalistica Instituto Forense
Apostila Introducao A Criminalistica Instituto Forense
Criminalística
SUMÁRIO
1.1. Histórico
A partir da segunda metade do século XIX foi quando se observou uma maior
preocupação com a busca de alguma prova material de acontecimentos. Isso se
deu pela publicação do “Manual Prática de Instrução Judiciária”. Entretanto,
sabe-se que tal busca acontece há muito tempo, mais precisamente desde a
Roma Antiga, como afirma o professor Gilberto Porto em seu livro “Manual de
Criminalística” de 1969.
O Imperador César, na Roma Antiga, foi o primeiro aplicar o que hoje
conhecemos como perícia. O “exame do local” foi requisitado quando seu servo
Plantius Silvanius foi acusado de assassinar sua mulher Apronia, atirando-a de
uma janela. Ao examinar o quarto do casal, encontrou claros sinais de violência.
Considerando que um dos aspectos mais importantes da Criminalística é o
exame do local do delito, este ato de César foi, talvez, a primeira aplicação do
método do exame direto de um local de crime, para a constatação do ocorrido.
A seguir, tem-se de forma bem detalhada e cronológica todas as etapas da
evolução da Criminalística e seus diferentes ramos, especialmente a
Papiloscopia e Medicina Legal:
▪ Em 1560, na França, Ambroise Paré falava sobre os ferimentos produzidos
por arma de fogo;
▪ Em 1563, em Portugal, João de Barros, cronista português, publicou
observações feitas na China sobre tomadas de impressões digitais, palmares
e plantares, nos contratos de compra e venda entre pessoas;
▪ Em 1651, em Roma, Paolo Zachias publicou “Questões Médicas”, sendo
considerado, assim, o “pai da Medicina Legal”;
▪ Em 1665, Marcelo Malpighi, Professor de Anatomia da Universidade de
Bolonha, Itália, observava e estudava os relevos papilares das polpas digitais
e das palmas das mãos; em 1686, novamente Malpighi fazia valiosas
contribuições ao estudo das impressões dactilares, tanto que uma das partes
da pele humana leva o nome de “capa de Malpighi”;
▪ Em 1753, na França, Boucher realizava estudos sobre balística, disciplina
que mais tarde se chamaria Balística Forense;
▪ Em 1805, na Áustria, teve início o ensino da Medicina Legal; na Escócia,
ocorreu em 1807 e na Alemanha, em 1820; por essa época também se
verificou na França e na Itália;
▪ Em 1809, a polícia francesa permitiu a inclusão de Eugene François Vidocq,
um célebre delinquente dessa época, originando, para alguns, o maior
equívoco para a investigação policial, mas, para outros, a transformação em
uma das melhores polícias do mundo, já que muitos de seus sistemas de
investigação foram difundidos a muitos países; em 1811, Vidocq fundou a
Sûretê (Segurança);
▪ Em 1823, Johannes Evangelist Purkinje, num elevado acontecimento da
história da datiloscopia, apresentou um tratado como um ensaio de sua tese
para obter a graduação de Doutor em Medicina, na Universidade de Breslau,
na Alemanha; em seus escritos, discorreu sobre os desenhos digitais,
agrupando-os em nove tipos, assinalando a presença do delta e admitindo a
possibilidade destes nove tipos serem reduzidos a quatro;
▪ Em 1829, na Inglaterra, Sir Robert Peel fundou a Scotland Yard (este nome
é originário do fato de a polícia de Londres estar ocupando uma construção
que antes havia servido de residência aos príncipes escoceses, quando
visitavam Londres);
▪ Em 1840, o italiano Orfila criou a Toxicologia e Ogier aprofundou os estudos
em 1872; esta ciência auxiliava os juízes a esclarecer certos tipos de delitos,
principalmente naqueles em que os venenos eram usados com frequência;
esta ciência, ou disciplina, também é considerada como precursora da
Criminalística;
▪ Em 1858, William James Herschel, Delegado do Governo inglês na Índia
(Bengala) iniciou seus estudos sobre as impressões digitais, concluindo pela
sua imutabilidade; nessa mesma época, o Dr. Henry Faulds, médico inglês,
que trabalhava em um hospital de Tóquio, observou impressões digitais em
peças de cerâmica pré-histórica japonesa, iniciando, desse modo, seus
estudos sobre impressões digitais, apresentando, finalmente, as seguintes
sugestões: que as impressões digitais fossem tomadas com tinta preta, de
imprensa; que fossem examinadas com lente; que existe certa semelhança
entre as impressões digitais dos homens e dos macacos;
▪ Em 1866, Allan Pinkerton, em Chicago, nos EUA, colocava em prática a
fotografia criminal para reconhecimento de delinquentes, disciplina que,
posteriormente, seria chamada Fotografia Judicial e atualmente se conhece
como Fotografia Forense;
▪ Em 1877, nasceu um dos maiores nomes da Criminalística da história:
Edmond Locard. Estudou Medicina Legal com o grande médico-legista
Alexandre Lacassagne; realizou estudos sobre impressões digitais e suas
classificações, desenvolveu a poroscopia, estudo de diversos outros
vestígios, criador do Princípio da Troca, dentre outras áreas de estudo.
Publicou diversas obras como “L'enquête criminelle et les méthodes
scientifiques” (“A Investigação Criminal e os Métodos Científicos”) e “Traité
de Criminalistique” (“Tratado da Criminalística”), dentre outras.
▪ Em 1882, Alfonso Bertillón criava, em Paris, o Serviço de Identificação
Judicial, em que ensaiava seu método antropométrico, outra das disciplinas
que se incorporaria à Criminalística geral; nessa mesma época, Bertillón
publicava tese sobre o Retrato Falado, outra das precursoras disciplinas
Criminalísticas, constituindo-se na descrição minuciosa de certos
característicos cromáticos e morfológicos do indivíduo;
▪ Em 1888, na Inglaterra, Sir Francis Galton foi convidado pelo “Real Instituto
de Londres” para opinar sobre o melhor sistema de identificação; deveria
proceder a estudos comparativos entre os sistemas de Bertillón
(Antropométrico) e o das impressões digitais. Galton concluiu pela
superioridade deste último e esboçou um sistema de classificação
datiloscópico, adotando três tipos, denominados arcos, presilhas e verticilos,
publicado na revista Nature;
▪ Em 1892, em Graz, Áustria, o mais ilustre e distinguido criminalista de todos
os tempos, o doutor em direito Hans Gross publicou sua obra: Manual do
Juiz de Instrução – todos os sistemas de Criminalística; em 1893, utilizando
pela primeira vez o termo “criminalística”, sendo considerado o pai desta
disciplina. Do conteúdo científico desta obra se depreende que o Doutor Hans
Gross, em sua época, constituiu a Criminalística com as seguintes matérias:
Antropometria, Contabilidade, Criptografia, Desenho Forense,
Documentoscopia, Explosivos, Fotografia, Grafologia, Acidentes de Trânsito
Ferroviário, Hematologia, Incêndios, Medicina Legal, Química Legal e
Interrogatório; Avaliação e Reparação de Danos; Exames de Armas de Fogo;
Exames de Armas Brancas; Datiloscopia; Exame de Pegadas e Impressões;
Escritas Cifradas (uso de símbolos para a formação de frases) etc.
▪ Em 1896, Juan Vucetich (nascido na Croácia, Yugoslávia), consegue que a
Polícia do Rio da Prata, Argentina, deixe de utilizar o método antropométrico
de Bertillón; ainda, reduz a quatro os tipos fundamentais da Datiloscopia,
determinados pela presença ou ausência de delta;
▪ Em 1899, na Áustria, Hans Gross criou os Arquivos de Antropologia e
Criminalística;
▪ Em 1902, em Portugal, começou a utilização das impressões plantares e
palmares como complemento da identificação datiloscópica;
▪ Em 1903, no Rio de Janeiro, Brasil, foi fundado o Gabinete de Identificação,
onde já estava estabelecido o Sistema Datiloscópico de Vucetich;
▪ Em 1910, Locard criou o “Laboratório de Polícia” ou “Laboratório de Polícia
Técnica”, em Lyon, na França, sendo o primeiro laboratório forense do mundo
▪ Em 1913, no Brasil, o professor da Universidade de Lausanne, Rudolph
Archibald Reiss, ministrou o primeiro curso de Polícia Científica para a Polícia
de São Paulo.
▪ Em 1925, ocorreu a fundação da Delegacia de Técnica Policial em São Paulo,
a qual foi transformada no ano seguinte em Laboratório de Polícia Técnica
pelo Dr. Carlos de Sampaio Viana, considerado um dos pioneiros do estudo
técnico-policial no país, sendo difundido posteriormente para outros estados.
▪ Em 1933, nos Estados Unidos, foi criado o F.B.I. (Federal Bureau of
Investigation), em Washington, por iniciativa do Procurador Geral da
República, Mr. Homer Cummings.
“Onde quer que ele pise, qualquer coisa que ele toque, tudo o que quer
que seja que ele deixe, mesmo inconscientemente, servirá como uma
testemunha silenciosa contra ele. Não somente suas impressões digitais
ou suas pegadas, mas o seu cabelo, as fibras de suas roupas, os vidros
que porventura ele parta, a marca da ferramenta que ele deixe, a tinta
que ele arranhe, o sangue ou o sêmen que deixe – tudo isto e muito mais
é uma testemunha muda contra ele. Esta prova não se esquece. Não é
confundida pelo calor do momento. Não é ausente como as testemunhas
humanas são. É evidência efetiva. A evidência física não pode estar
errada; não pode cometer perjúrio por si própria; não se pode tornar
ausente. Apenas a sua interpretação pode enganar. Somente a falha
humana em encontrá-la, estudá-la e entendê-la, pode diminuir seu valor.”
• Ter cautela;
• Registrar todos os vestígios antes da coleta e constatações;
• Analisar criticamente se os vestígios são vulneráveis à degradação;
• Utilizar materiais adequados para coletar os vestígios;
• Embalar e transportar os vestígios adequadamente;
A cadeia de custódia tem uma importância fundamental na perícia em locais
de crime, visto que, a documentação cronológica dos vestígios poderá ser
utilizada como prova.
Principais equipamentos utilizados pelos peritos no local de crime:
Para executar a perícia em locais de crime em ambiente físico, os peritos
contam com uma maleta composta com os seguintes materiais e ferramentas:
Para realizar esse trabalho o perito precisa pertencer a algum órgão de perícia
oficial competente, ser capacitado e treinado com as técnicas de investigação
em local de crime, ser observador, dinâmico, detalhista, ter cuidado, atenção,
preparo físico e psicológico e saber trabalhar em equipe.
Mas afinal, o que seriam as ditas “provas” que os peritos tanto buscam nos
locais de crime e que serão extremamente necessárias para elaborar o laudo
pericial?
Ao examinarem o local do crime, os peritos criminais procuram todos os tipos
de objetos, marcas e até mesmo sinais sensíveis que possam ter relação com o
que está sendo investigado. Estes elementos são o que denominamos
vestígios. Algumas infrações penais deixam vestígios (delita facti permanentis)
e outras não (delita facti transeuntis). Crimes como a injúria verbal (art. 140 do
CP) ou o desacato (art. 331 do CP), nada deixam de material que possa ser
analisado e consubstanciado em um trabalho pericial, devendo ser constatados
por outros meios de prova.
Para que o vestígio exista é necessário que haja o agente provocador, o
suporte e o vestígio em si. O agente provocador é quem produziu o vestígio – ou
contribuiu para tal. O suporte é o local onde foi produzido tal vestígio, já que
estamos falando de algo material. E o vestígio nada mais é do que o produto da
ação do agente provocador.
Ao chamar uma coisa qualquer de vestígio, se está admitindo que sua
situação foi originada por um agente ou um evento que a promoveu. Um vestígio,
portanto, seria o produto de um agente ou evento provocador. Nesta dinâmica,
pressupõe-se que algo provocou uma modificação no estado das coisas de
forma a alterar a localização e o posicionamento de um corpo no espaço em
relação a uma ou várias referências fora e ao redor do dele. O correto e
adequado levantamento de local de crime, por exemplo, revela uma série de
vestígios.
Assim, podemos dizer que vestígio é tudo o que encontramos no local do
crime que, depois de estudado e interpretado pelos peritos, possa vir a se
transformar – individualmente ou associado a outros – em prova. Ressalta-se,
que nem sempre é possível, no local dos fatos, os peritos procederem a uma
análise individual de todos os vestígios para saber de sua importância e se estão
ou não relacionados com o crime. Somente durante os exames nos Institutos de
Criminalística é que os peritos terão condições de proceder a todas as análises
e exames complementares que se fizerem necessários e, com isso, saber quais
os vestígios que verdadeiramente estarão relacionados com o crime em questão.
Alguns desses vestígios são visíveis a olho nu, outros dependem de
equipamento específico ou outro método para serem percebidos. Alguns
dependem ainda de sua correta identificação para serem considerados. Todos
eles, porém, são apenas vestígios, havendo necessidade de análise e de
interpretação do perito para seu aproveitamento na instrução do processo.
Então, o vestígio é o material bruto que o perito constata no local do crime ou
que integra o conjunto de um exame pericial qualquer. Somente após examiná-
lo adequadamente é que os peritos poderão saber se aquele vestígio está ou
não relacionado ao evento periciado.
No momento em que os peritos chegarem à conclusão que tal vestígio
esta – de fato – relacionado ao evento periciado, ele deixará de ser vestígio e
passará a denominar-se evidência. A evidência é a qualidade daquilo que é
evidente, que é incontestável, que todos veem ou podem ver e verificar. Desse
modo, no conceito criminalístico, evidência significa qualquer material, objeto ou
informação que esteja relacionado com a ocorrência do delito no campo da
materialidade.
Então, uma vez confirmado objetivamente este liame, o vestígio adquire a
denominação de evidência. As evidências, por decorrerem dos vestígios, são
elementos exclusivamente materiais e, por conseguinte, de natureza puramente
objetiva. Portanto, evidência é o vestígio que, após avaliações de cunho objetivo,
mostrou vinculação direta e inequívoca com o evento delituoso.
Processualmente, a evidência também pode ser denominada prova material.
Porém, ao contrário do vestígio e da evidência, o indício apresenta uma
conceituação legal prevista no Código de Processo Penal brasileiro. Neste
sentido, indício seria uma circunstância conhecida, provada e necessariamente
relacionada com o fato investigado, e que, como tal, permite a inferência de
outra(s) circunstância(s).
O termo "circunstância" é aqui utilizado como expressão próxima,
semanticamente, de "conjuntura", como a combinação ou concorrência de
elementos em situações, acontecimentos ou condições de tempo, lugar ou
modo.
Assim, as duas nomenclaturas (vestígio e evidência) tecnicamente são
usadas no âmbito da perícia. No entanto, tais informações tomam o nome de
indícios quando tratados na fase processual, contudo, ressalta-se que nessa
definição do que seja indício estão, além dos elementos materiais, outros de
natureza subjetiva, ou seja, todos os demais meios de prova.
Resumindo:
✓ Vestígio é todo objeto ou material bruto constatado e/ou recolhido em local
de crime ou presente em uma situação a ser periciado e que será
analisado posteriormente.
✓ Evidência é o vestígio que após as devidas análises constata-se, técnica
e cientificamente, sua relação com o fato periciado.
✓ Indício é expressão utilizada no meio jurídico que significa cada uma das
informações (periciais ou não) relacionadas com o conjunto probante
❖ Quanto à preservação:
Local idôneo, preservado ou não violado: é aquele em que a cena do crime
e os demais vestígios não foram alterados em absolutamente nenhum dos seus
aspectos. É um local de difícil ocorrência, vez que o simples acesso do primeiro
policial ao mesmo, seja para verificar as condições de segurança do mesmo,
seja para verificar o estado da vítima ou prestar socorro à mesma, já
descaracteriza o local, por deixar vestígios da passagem do mesmo;
Local inidôneo, não preservado ou violado: quando há a alteração de
características do local que não tenham por objetivo a preservação da segurança
ou da vida da vítima, esta alteração transformará este local em inidôneo, uma
vez que foi desnecessária e alterou as condições iniciais do local logo após o
crime.
Em resumo:
✓ Primeiro policial: verifica a existência da ocorrência e isola o local do
crime
✓ Demais policiais: isolam e preservam o local
✓ Autoridade policial: comparece ao local e solicita a perícia, devendo,
em todos os momentos, garantir a segurança dos seus peritos e
equipe, além de apreender objetos relacionados com o fato, uma vez
que já foram liberados pelo perito.
✓ Peritos: realizam a perícia local e documentam todas as informações
que possuam relação com o trabalho desenvolvido.
5. LAUDO PERICIAL
Gabarito: D
Gabarito: E
Gabarito: B
5. FUMARC - Perito Criminal (PC-MG)/2013
O estudo dos vestígios em um local de crime tem como objetivo, EXCETO:
a) estabelecer a dinâmica do evento.
b) trabalhar para a identificação da vítima.
c) reconstruir a cena do fato em apuração.
d) demonstrar subjetivamente a existência do fato delituoso.
RESOLUÇÃO: O examinador perguntou sobre a alternativa incorreta. As
alternativas A, B e C estão corretas quanto aos objetivos do estudo ou análise
dos vestígios em um local de crime. A alternativa D está incorreta, pois a análise
dos vestígios não demonstra subjetivamente a existência do fato delituoso, mas
sim OBJETIVAMENTE. A perícia é objetiva e imparcial em busca da verdade.
Gabarito: D
Gabarito: C
Referências Bibliográficas