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JOSE PAULO DA FONSECA Luto PV e| ea (As experiéncias Neti Le familiares e sociais diante PPMP Mite CMU Cee CC) ie Digitalizado com CamScanner Unle Diederichson do Brtto Pelostoge CRP: 07719,363 i NDICE Apresentagao evs Prefacio Intrdito...... O ESTABELECIMENTO DE VINCULOS SEGUNDO A TEORIA DO APEGO DE JOHN BowLby... FAMILIA NUMA OTICA SISTEMICA.... Teoria Geral dos Sistemas... A Terapia Familiar Sistémica .. IDIMENTO TERAPEUTICO DomiciLiAnIo.. ATEN PsICco-ONCOLOGIA... Luro ANTECIPATORIO.: Perdas e Lutos na Familia Morte Suibita e Morte Anunciada.. Luto Antecipatério propriamente dito... bo PsicoLoGo [ALGUMAS CONSIDERAGOES ACERCA DO PAPE: DIANTE DO Luro ANTECIPATORIO.... REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.. 161 SoBRE O AUTOR... Digitalizado com CamScanner Luto ANTECIPATORIO PROPRIAMENTE DITO Nesta época ele observou que acontecia um fenémeno com as esposas dos soldados que iam para a guerra: elas experienciavam as reacdes de luto quando da separagio fisica de seus maridos e diante da perspectiva deles morrerem em batalha. Ele analisou 0 fenédmeno e 0 entendeu como uma rea¢io adaptativa das esposas face 4 iminente possibilidade da perda de seus maridos, periodo em que elas vivenciavam fases como depressao, raiva, desorgani- zacio e reorganizacio, antecipando o desligamento afetivo deles. Elas, ento, assim reagindo, protegiam-se contra a possibilidade de se defrontarem com uma morte repentina, cujos efeitos eram mais devastadores. Face a estas constatag6es, Lindemann con- cluiu que este fendmeno, o qual denominou Luto Antecipatério, tinha uma funcio adaptativa para as esposas. A partir daf o fendmeno passou a ser estudado com pessoas que recebem um diagnéstico e enfrentam as doengas terminais e a ameaga da morte iminente em suas familias. Dentre as definigdes de Luto Antecipatério encontra- das na literatura, destacamos: * LINDEMANN (1944): reagio de pesar genuina em pessoas que nfo estio enlutadas pela morte em si mas pela experiéncia de uma separagiio onde ha a ameaca de morte. Digitalizado com CamScanner Luo Anreciparorio 89 * Atpricu (1974): qualquer luto que ocorre antes de uma perda e que é distinto do luto que ocorre “na” ou apés a perda. a : * Lexow (1976): conjunto de reagdes cognitivas, afeti- vas, culturais e sociais experienciadas pelo paciente ¢ pela familia quando a morte é esperada. * Furron e GorresMaN (1980): mecanismos de en- frentamento utilizados, pelos familiares e pelo paciente frente 4 possibilidade de uma perda an- tecipada, tais como reagées de choque, negacio, sentimentos de desvalor, preocupacio com o pas- sado, ansiedade pela separacio, sintomas somiati- cos, culpa, esperanga e aceitacio. Para eles, o luto antecipatério esta sujeito a fatores psicoldgicos, in- terpessoais € socioculturais. PINE (1986): sugere uma dimensio temporal com respeito ao luto. Por isso, é parte de um processo global de enlutamento em que, uma vez estando a Pessoa consciente ¢ emocionalmente percebendo a realidade da iminéncia de uma perda, lhe ocorre antecipacao do luto e, conseqlientemente, todas as reagdes a ele associadas. Ranpo (1986 e 2000): conjunto de processos de- flagrados pelo paciente ¢ pela familia a partir da Progressiva ameaga de perda. B um ativo Processo Psicossocial de enlutamento empreendido pela fa- milia € pelo paciente na fase entre o diagnéstico ea morte propriamente dita, Worden (1998); © luto que ocorre antes da perda real ¢ tem as mesmas ca racteristicas do proceso de luto normal, Quan com aviso prévio, é nesse 2 Pessoa enlutada em p luto e comega a vivencia: € sintomatologia ido ha uma morte Periodo que a antecede que otencial inicia as tarefas do aS varias respostas a ele, Digitalizado com CamScanner 90 Jost: Pauto Da Fonseca * RoLtanp (1998): processo pelo qual as familias an- tecipam perdas futuras. Ocorre uma reagio sisté- mica interacional pela perda antecipada no curso de uma doenga que abrange a influéncia matua da dinamica familiar na ameaga de perda da pessoa do- ente, a antecipagio a pessoa doente da perda de sua familia e a perspectiva de incapacitagao e morte da pessoa doente. Rando (2000) identificou, em seus estudos, grupos de pesquisadores com opiniées diferenciadas sobre 0 Luto Anteci- patério: a) Agueles que consideram haver umm efeito positivo no luto pés- morte quando a pessoa teve wma prevengiio antecipada, por meio da experiéncia do Luto Antecipatério. Para estes pes- quisadores, este tipo de Iuto oferece a oportunidade de uma prevengao priméria de modo a-evitar o luto complicado no ‘pés-morte, Segundo a autora, alguns deles sio: Ball, 1976-1977; Binger, Ablin, Feuerstein, Kushner, Zoger & Mikkelsen, 1969; Burton, 1974; Chodoff, Fiedman & Hamburg, 1964; Friedman, 1967; Fried- man, Chodoff, Mason & Hamburg, 1963; Fulton & Fulton, 1971; Futterman et al., 1972; Gass, 1989; Glick et al,, 1974; Goldberg, 1973; Hegge, 1991; Huber & Gibson, 1990; Kramer, 1996-1997; Leh- rman, 1956; Lundin, 1984; Natterson & Knudson, 1960; O’Bryant, 1990-1991; Parkes, 1972, 1975; Parkes & Weiss, 1983; Rando, 1983; Raphael, 198: Raphael & Maddison, 1976; Rees & Lutkins, 1967; Richmond & Waisman, 1955; Sanders, 1982-1983; Shanfield, Swain & Benjamin, 1986-1987; Vachon, Formo, Freedman, Lyall, Rogers & Freeman, 1976; Vachon, Rogers, Lyall, Lancee, Sheldon & Free- Digitalizado com CamScanner Luto ANTECIPATORIO ” man, 1982; Wiener, 1970; Zisook, Shuchter & Ly- ons, 1987. b) Aqueles que consideram nio haver relagio entre 0 Lato An- tecipatirio ¢ 0 luto pés-morte. Benfield, Leib & Reuter, 1976; Bornstein, Clayton, Halikas, Maurice & Rob- bins, 1973; Clayton, Desmarais & Winokur, 1968; Gerber, Rusalen , Hannon, Battin & Arkin, 1975; Hill, Thompson & Gallagher, 1988; Kennel, Slyter & Klaus, 1970; Maddison & Viola, 1968; Maddison & Walker, 1967; Parkes, 1970; Schwab, Chalmers, Conroy, Farris & Markush, 1975; Wolff, Friedman, Hofer & Mason, 1964. ©) Agueles que julgam negativo 0 Luto Antecipatirio por consi- derar que ele pode conduzir a uma separagao prematura, pri- vando o paciente ¢ a familia das possibilidades de ainda per- manecer no relacionamente: Levitz, 1977; Lindemann, 1944; Peretz, 1970; Rosenbaum, 1944; Travis, 1976. Rando (2000) afirma que o Luto Antecipatério é um fenédmeno real e considera que as discrepfncias existentes sio fruto de diferengas nas defini¢ées, falhas na apreciaciio da com- plexidade do fendmeno, m4 formulagio conceitual ou a combi- nagio de alguns destes fatore: de ene D Tanto 0 individuo quanto o seu sistema familiar e social sofrem os sen- timentos relacionados a dor da noticia e da perda iminente que se avizinha. A este conjunto de sentimentos podemos denominar Digitalizado com CamScanner 92 Jost Pauto pa Fonseca de luto. Contudo, trata-se de um luto que ocorre ainda quando © doente encontra-se vivo. Por isso, independente das opinioes controversas quanto & denominagio que se dé a este fendmeno, assumimos neste trabalho o ponto de vista dos varios autores que optaram por denomini-lo de Luto-Antecipatério, 0 mesmo que luto antecipado, de acordo com as definig6es jé a c iferencia uto vivido pés-morte? Para Rando (1986), o Luto Antecipatério diferencia-se do luto pés-morte quando se discute este fenémeno pelo seu cariter psicossocial. As caracteristicas que envolvem as pessoas que enfrentam uma doenga terminal influem na natureza do luto vivido neste periodo. Um exemplo disto é a ambivalénciade sen- timentos dos familiares que é deslocada ao paciente que ainda vive, gerando reagdes de negacio e culpa em ambas as partes. Outro exemplo é a esperatiga que sempre estar presente en- quanto o paciente estiver vivo, Devemos considerar também que axesolugio e elaboragaoTdo Lato Antecipatério no implica em oo Rando 5000) o Luto Antecipatério se organiza por meio de seis dimensdes pertencentes a dois grandes grupos subdivididos em varios aspectos como mostra o quadro abaixo: I — DETERMINANTES DO CONHECIMENTO TEORICO E DA PRATICA: 1. Perspectiva: a do paciente b) das pessoas intimas ©) de outros envolvidos 4d) do cuidador Digitalizado com CamScanner Luro ANTECIPATORIO 93 2. Foco Temporal: a) passado b) presente c) futuro 3, Fatores que influenciam 0 Luto Antecipatéri a) psicolégicos b) sociais ©) fisicos Il — DETERMINANTES DAS AREAS DE INTERVENGAO: 4. Origem basica das demandas adaptativas: a) perda b) trauma 5. Operagées gerais: a) enlutamento b) enfrentamento c) interagao d) reorganizacio psicossocial ¢) planejamento f) balango das demandas conflitivas g) facilitacio para uma morte apropriada 6, Niveis Contextuais: a) processos intrapsiquicos Processos interacionais com o doente processos familiares e sistemicos Digitalizado com CamScanner 4 Jost: Pauto DA Fonseca Para entender, analisar ¢ intervir junto As pessoas que vivenciam um Luto Antecipatério, necessitamos considerar as posigGes especificas de cada uma delas em relagao a cada um dos aspectos supramencionados ¢ que serio detalhados a se- guir. 1.1 — Perspecriva O Luto Antecipatério pode ser entendido, analisado e experienciado por quatro perspectivas distintas cada uma é pertinente a cada pessoa que o experimenta. a) Perspectiva do Pacente: ele & quem desempenha o pa- pel principal, é a figura central do drama da sua propria perda iminente de vida. Nesta perspectiva, o paciente desempenha simultaneamente os pap: de doente ¢ enlutado. b) Perspectiva dos Intimos: refere-se 20s membros da familia ou amigos da rede social do paciente que tenham intimidade, forte vinculo e contato com o mesmo. Parentes que nfo tenham-esta intimidade nao se incluem neste item. ©) Perspectiva de Outras Pessoas Envoliidas, aqui se enqua- dram aquelas pessoas que, de alguma forma, tém algum vinculo e interesse com o paciente mas niio tém grande intimidade com ele. Pode ser uma pes- soa da familia extensa, um vizinho, um colega de trabalho, dentre outros. Em alguns casos, o enluta- do envolvido aqui pode conhecer 0 Paciente a dis- tincia, como por exemplo, através da midia (fis de um artista, politico, figura eminente, escritor, poeta, etc). 4) Perspectva do Cuidador: 0 Lato Antecipatorio do cui- dador pode variar enormemente, dependendo do Digitalizado com CamScanner LuTo ANTECIPATORIO 95 grau de envolvimento e do nivel e significado do relacionamento dele com o paciente. Cada uma destas perspectivas tem suas prdprias im- plicagdes quanto as necessidades, preocupagées, demandas ¢ intervengGes. Elas exigem atengio por parte da equipe de sati- de de modo a propiciar aos envolvidos um Luto Antecipatério saudavel. Sistemicamente falando, precisamos sempre estar atentos 4 perspectiva de cada um dos elementos que participa do Luto Antecipatério, Cada um, a seu tempo, tem suas razGes, seus pensamentos, seus sentimentos, seus valores, principios ¢ cren- cas que precisam ser ouvidos ¢ respeitados. Quando, contudo, algum destes valores interfere no tratamento do doente, precisa- mos tomar muito cuidado para que nio se entre em choque num. momento tao critico. Porisso a énfase precisa ser dada ao doente em primeiro lugar, principalmente se ele estiver consciente. Um exemplo disto é quando alguém da relacio intima ou cuidador resolve chamar um religioso para falar com o doente sem que este sequer o queira. 1.2 — Foco TemporaL O termo Luto Antecipatério sugere que h4 somente uma perda iminente a ser enfrentada. Ha, contudo, trés focos temporais envolvidos: passado, presente ¢ futuro, Ao receber um diagnéstico de terminalidade, a experiéncia de enlutamento € alavancada por perdas que ocorreram no passado, pelas perdas atuais que esto ocorrendo ¢ também por aquelas que virio. Diante de uma doenga terminal, as perdas que j4 ocor- reram no passado reemergem, mobilizando um novo e diferente enlutamento, Um exemplo: para uma esposa cuidando do mari- do na sua fase final com cAncer, nfo sera incomum ela enfrentar um luto também pela perda do homem saudavel e vibrante que Digitalizado com CamScanner Jost: Pauo DA FONSECA 96 e enfrentar a relagao alterada da e dos sonhos para © futu- Zo realizados. Nao sera raro ela Jembrar-se das quando ele estava saudavel, relembrar ntraste com sua atual vidas € cle era antes da doenca. Ela ter qu snare eles, a mudanga do estilo de vi atividades que eles tinham smo ele era forte ¢ independente co! situagio. Quantas limitagdes esto agora ocupando suas interferindo nos seus planos. Bla precisa enfrentar tudo o que Jhes foi tirado ov Jimitado pela atual doenca. A atengao desta esposa as perdas passadas nao significa que ela nao esteja envol- vida com seu marido no seu estado presente. De fato, por causa de sua preocupagio com o temo restante que ela terd junto ‘ele e de seu desejo de protege-lo, ela pode nem mesmo expli- titamente lidar com estas outras perdas no presente momento. Ela precisaré esforcar-se para manté-las fora de sua mente, CO- Jocando-as de lado momentaneamente para poder enfrentar a situacdo presente ¢ Futura. ‘isto pode-se concluir que & sombra de uma perda iminente, outras perdas compelem 20 enlutamento, mesmo que cate jf tenha ocortido no passado proximo ov distante. ao ser chamada para ‘Lembro-me de uma colega que, stendiento psicoterapéutico de uma senhora em estigio avan- sadode cfncer que se encontsav2 internada num hospital em So aulo, nao entendia o porque chorou copiosamente ao sair do quarto onde havia feito a sessio. Falando por telefone com ela, identificamos 0 motivo de sua rea¢io emocional: ela havia perdi- do sua mie recentemente em situago muito idéntica 4 daquela senhora que agora comegava 2 acompanhar. Esta colega, além de petite que sua manifestagio emocional emergisse, procurou Fi 0 atamente sua psicoterapeuta para uma melhor elaboraga le seu luto de modo que pude: Es sse prestar seus servigos a senhora da melhor forma possivel. ai Além das perd: las do pa sneionnen ctpekena conlgies ove mebizam oe ta a ee e enfrentamento ni ae mobilizam © seu Tuto 0 tempo atual, presente. Ela ac -ompanha o do- Digitalizado com CamScanner Luto ANTECIPATORIO 97 ente rumo & terminalidade enfrentando sua progressiva debilita- Gio, perda de independéncia ¢ controle da situagio, Aqui é fanda- mental que 0 luto ¢ o enfrentamento se direcione para a situagio Presente ¢ futura. Este luto é diferente daquele que ocorrer4 no periodo pés-morte pois aqui o doente ainda est presente. Esta mesma mulher também se enluta e precisaré en- frentar as perdas futuras, aquelas que estio por vir. Seu luto nio € apenas pela morte iminente do marido, mas também pelas per- das que originar-se-Zo antes de sua motte, Isto pode requerer um Luto Antecipatétio por cada coisa que de fato ela e o matido no mais serio capazes de realizar, como por exemplo aquela viagem de férias anual. Assim, observa-se que o luto ocorre nao apenas pelos fatos presentes gerados pela situagio mas também Por aqueles que deixario de ser realizados no futuro. Alpuns exemplos: solidio, inseguranca, desconforto social, incerteza econémica, alteracio ‘do estilo de vida, o fato do marido nao estar presente para entrar com a filha na igreja no dia de seu casamento, dentre tantos outros. Embora a realidade da auséncia da pessoa amada nao Possa ser completamente vivenciada até que a sua motte efetiva Ocorra € a pessoa no esteja mais disponivel, por um tempo a esposa do exemplo terd que estar presente a algumas atividades sociais sozinha e as criancas terio que enfrentar a auséncia do pai em alguma comemoragio escolar. Estas atividades serio o prenuncio da futura auséncia permanente deste marido e pai. De qualquer modo, este tipo de situagio pode ajudar a familia Se preparar para 0 novo mundo que esta por vir, quando o ente querido nao mais estiver vivo. Estas mudangas niio significam, contudo, que nfio haja uma continuidade do relacionamento ¢ do investimento afetivo com o paciente no presente, O desapego e ‘audavel nfo se referem eriéncia intrapsiquica na que esta por vir, onde a morte vai se aptoximando cada vez mai Digitalizado com CamScanner Md Jost: Pauto DA FONSECA IL.3 — FAToRrES QUE INFLUENCIAM 0 Luto ANTECTPATORIO O Luto Antecipatério tem uma mirfade de nuances. Como o enlutamento convencional pés-morte, 0 Luto Anteci- patdrio que uma pessoa experiencia ¢ idiossincritico, determina- do por uma combinagio impar de fatores psicolégicos'!, socials ¢ fisiolégicos. a) Fatores Psicoligios. subdividem-se em trés catego- rias: © Agueles cnjas caracteristicas pertencem @ natureza € significado de cada um com relagao ao doente: eles in- clue a natureza eo significado das perdas espe- cificas a serem experienciadas; as qualidades do relacionamento que se esti perdendo; os papéis que 0 doente ocupou na familia, com os amigos intimos e com o sistema social; as caracteristicas pessoais do doente; a somatétia dos aspectos ainda nio concluidos entre o enlutado e o do- ente; a quantidade, tipo e qualidade de perdas secundirias resultantes da doenga ¢ aquelas que ocorrerao apés a morte. + As caracteristicas do enlutade comportamento de enfrentamento, personalidade ¢ satide mental; © nivel intelectual e de maturidade; experién- cias passadas de perdas, doencas e mortes; caracteristicas culturais, sociais, religiosas e fi- loséficas de vida; condigdes de género; faixa etdria; presenga de outros tipos de estresses ou crises significativas; elementos pertencentes a uma nova realidade que esta por vir, tais como 11 Incluem-se aqui: emogdes, processos cognitivos, aspectos filos6 i pios, erengas,religiosidade /espiritualidade. Pectos filos6ficos, princi. Digitalizado com CamScanner Luto ANTECIPATORIO 99 necessidades, emogdes, cognigées ¢ compor- tamentos; critérios pessoais para uma morte aproptiada. * As caracteristicas da doenga e 0 tipo de morte que 0 en- Intado precisa enfrentar. temores especificos com relagio a perda, docnca, deficiéncias, morte morter; experiéncias prévias e expectativas com relagio aos mesmos itens; conhecimento da do- enga; significado pessoal da doenga especifica; tipo, freqiiéncia e intensidade do envolvimento com os cuidados e tratamentos do doente; per- cepcio de temporalidade da doenga e da morte iminente; periodo de duracio cronolégica da doenca; natureza da doenga; qualidade de vida do doente apés 0 diagnédstico; o local onde o doente se encontra (hospital, domicilio, clinica de repouso, casa de outros, etc.); avaliagio das experiéncias do doente e os cuidados, tratamen- to € recursos que o mesmo possui ou aos quais pode ter acesso. b) Fatores Sociais: subdividem-se em trés categorias, podem encorajar ou desencorajar o Luto Anteci- patério ¢ ajudam a definir 0 contexto psicossocial envolvido na situagio. * Caracteristicas que se referem ao conhecimento que 0 doente tem a respeito da doenga e sen envolvimento com ela e com a iminéncia da morte: estes aspectos interferem no doente porque influem no seu modo de reagir, Inclui: a experiéncia subjetiva do doente sobre a doenga (ex.: curso da do- enga, tratamento e efeitos colaterais, grau de deterioragio, quantidade de sofrimento, etc. atitude € resposta face 4 doenga e suas ramifi- Digitalizado com CamScanner 100 Jost Pauto Da Fonseca cages (psicolégica, social, comportamental ¢ fisicamente); o significado pessoal da doenga ¢ sua localizagio corporal; os sentimentos, me- dos e expectativas sobre perda, doenga, defi- ciéncias, morte e morrer; 0 grau e exatidio do conhecimento sobre a doenga € suas ramifica- gGes; a coragem pata manifestar pensamentos, centimentos, necessidades, desejos, impulsos ¢ comportamentos assim como também o estilo de sua comunicacio; o nivel de satisfagao com © tratamento; o grau de aceitagao ou resignagao face 2 uma morte iminente; critérios pessoais sobre uma morte apropriada. Caracteristicas da familia ¢ respostas de seus componen- tes & doenga ¢ a morte iminente: 0 sistema familiar, sua formacio, fase no ciclo de vida, subsistemas, papéis, etc.; caracteristicas especificas do sistema familiar (grau de flexibilidade ¢ adaptabilidade, coesio, diferenciacio, estilo e modelo de comu- nicagio, etc.); histético familiar de premotbi- dades genéricas ¢ hist6ria especifica sobre per- das, doenga, deficiéncias, morte e morrer assim como expectativas a partir daf; andamento da consciéncia familiar e compreensio da doenca e suas implicagées; sentimentos especificos dos membros da familia, seus pensamentos ¢ me- dos sobre perdas, doengas, deficiéncias, morte ¢ morrer com relagio ao doente; quantidade e tipo de papéis desempenhados pelo doente na famflia eo grau de reorganizacio necessatio para assegurar 8 continuidade destes papéis; mudan- to siglo cocoa ieee ealot familiar face as een crescentes impossibilidades do Digitalizado com CamScanner Luto ANTECIPATORIO 101 doente; o grau de solicitagio que a doenga im- pde aos membros da familia e como esta reage no sistema; a participacio familiar nos cuidados ao doente; a extensfo e a qualidade da comuni- cago familiar sobre a doenca ¢ suas seqiielas; 0 relacionamento pessoal de cada membro da fa- milia com 0 doente a partir do diagnéstico; pre- senga de normas, valores, estilos e papéis fami- liares e experiéncias passadas que possam inibir © luto ou interferir na relagio terapéutica com 0 doente; o impacto total no sistema familiar da forma como cada membro enfrenta o Luto An- tecipatdrio, Categoria que engloba os fatores socioeconbmicos ¢ am- bientais e suas influéncias no Luto Antecipatério. ti- pos de rélacionamentos e comunicagio com os cuidadores; qualidade e quantidade do sistema de suporte social; aspectos sociais, culturais, ét- nicos, teligiosos, filosdficos; recursos financei- ros do doente ¢ da familia e suas expectativas de estabilidade; nivel educacional, econdmico e ocupacional dos enlutados; 0 grau de acesso a um tratamento de satide de qualidade; rituais da familia e da comunidade. ©) Fatores Fisicos: a satide fisica dos enlutados; sua quantidade de energia para reagir; sua quantidade € qualidade de descanso, sono e exercicios fisicos; a utilizagao de drogas, bebidas alcodlicas, nicotina e sua nutrigio em geral, Tenho observado em minha pritica clinica domicili- aria que um dos profissionais que mais softe influéncias, quer do doente, quer da familia, quer dos intimos, quer da empresa Digitalizado com CamScanner 102 Jost: Pavto pa Fonseca para a qual trabalha, sio os enfermeiros cuidadores. Refiro-me aos auxiliares e técnicos de enfermagem que sao designados ou contratados para acompanhar o paciente em seu domicilio ou onde quer que ele se interne, desde que com a devida autori- zacio. Estes profissionais so os cuidadores que acompanham © doente em seu dia-a-dia, participando nao apenas de sua in- timidade fisica e psicolégica como também da intimidade da familia e dos amigos que formam a sua rede social. Vejo com naturalidade o fato destes profissionais participarem da intimi- dade do paciente, pois este, de um modo ou de outro, acaba por considerd-lo ‘um amigo’, ja que o acompanha e 4s vezes acaba sendo seu confidente. Acho muito dificil uma pessoa ficar a0 lado de outra por horas, dias, semanas ou meses sem que uma participe da vida da outra. Estes cuidadores necessitam rece- ber um acompanhamento nfo apenas técnico de sua supervi- so, mas precisam também de um suporte emocional, de um profissional que possa ouvi-los e auxilis-los em suas questées relacionadas ao estresse inerente 4 sua atividade profissional e, principalmente, ao Luto Antecipatério que vivem i dade a cada novo paciente que acompanham, Minha sugestio 4s empresas de enfermagem especializada em home care € que contratem psicdlogos para dar suporte aos seus profissionais de ‘linha de frente’, como costumo denominar. Este suporte pode ser em forma de psicoterapia individual, psicoterapia em grupo, cursos vivenciais onde os participantes possam se ex por,’se tratar e aprender a lidar melhor com os aspectos emo- cionais envolvidos em sua atividade. Tenho observado muitas empresas ou mesmo profissionais auténomos desenvolvendo programas de treinamento do tipo ‘Cuidando do Cuidador’ que envolver todos os tipos de cuidadores existentes ¢ acho uma excelente iniciativa. Mas acho também que a equipe de enfer- magem precisa ter um espaco s6 seu para poder compartilhar, aprender @ lidar, se terapeutizar de modo a enfrentar melhor os varios lutos que experimenta em seu trabalho. Digitalizado com CamScanner 157 Luto ANTECIPATORIO Para Fulton e Gottesman (1980) 0 Luto Antecipatério esta sujeito a trés fatores: a) Psicolégicos: complexo interjogo de fatores como habilidades de enfrentamento, sentimento de cul- pa e responsabilidade pela condigio terminal do paciente. b) Interpessoais, 0 luto néo é uma experiéncia privada, pois as relagdes estabelecidas entre a familia, o pa- ciente ¢ a equipe de satide podem facilitar ou difi- cultar a comunicagio e expressiio de sentimentos. ©) Socioculturais: nio h4 uma institucionalizagio do Luto Antecipatério e nem esto prescritas normas de comportamento. O Luto Antecipatétio prové, aos membros da familia, de tempo para gradualmente absorver a realidade de uma perda iminente. Desta forma, torna-se Possivel a cada individuo fina- lizar situagdes incompletas com a Pessoa que esta por morrer, quer no nivel objetivo e concreto, como, por exemplo, a reso- lucdo de situagées do dia-a-dia, situagdes econdmicas, planos de aco, situagdes administrativas, dentre outras; quer no nivel subjetivo € pessoal, como por exemplo dizer ade seus sentimentos, falar sobre assuntos que gostaria de ter abor- dado anteriormente mas faltou oportunidad, perdoar ou pedir perdio, =e outras. Muitas familias raramente ot ages vinculadas ao Luto Antecipatéri ralmente plo fat destaspessons feaem sarin oe oe a a paralisadas na fase de us, falar sobre Digitalizado com CamScanner 158 Jost: Pauto pa Fonseca muitos sio os processos psicolégicos que uma pessoa enfrenta em sua vida ¢, portanto, eles estario formando um pano-de-fun- do face as reagées ¢ atitudes que ela tomar em sua vida. patério é um fendmeno psiquico que _ cautavaindaibumtanes polbniiea entre os pesquisadores ¢ psico- SEIT do assunto. Isso acontece pois muitas ‘como um processo que prepara as pes-~ > impacto da morte: Ressaltamos, contudo, que nao é” ‘a essa preparacio que aqui n nos referimos. Utilizamos o termo- ‘preparagdo” como uma forma penis apaa aos familiares € 20 , que ele, se adequadamente processado, possa cau-» sar impactos atenuantes no luto pés-morte, Rando (1986) relata que no luto nfo antecipado, a capacidade de enfrentamento da perda é reduzida pelo fato desta ocorrer subitamente. Acrescen- tamos aqui aquelas situagdes onde a familia nio tem conheci- mento do diagnéstico ou prognéstico de uma doenga. No Luto’ Antecipatorio, entio, 2 morte esperada teta outro sentido por- “que ela pode ser experimentada como uma parte de um processo e Para Parkes (1998), 0 trabalho de luto é um processo de aprendizagem pelo qual cada mudanga resultante é progres- sivamente compreendida, ou seja, tornada real, ¢ é estabelecido um novo conjunto de concepgées sobre 0 mundo. Visto sob este enfoque, o processo de Luto Antecipatério se corrobora > e itiva emo NESE RARER SD: = - De acordo com Rolland (1998), avexperiéncia de an- » antecipadas que podem incluir ansicdade de separagio, solidio existencial, tristeza, desapontamento, raiva, ressentimento, cul-, Digitalizado com CamScanner Luto ANTECIPATORIO 159 pas, exaustio e desesperd, Estas emogées, vividas individualmen- te, influem poderosamente na dinamica familiar, a medida que esta tenta se adaptar a perda antecipada, No modelo sistémico, a experiéncia da perda antecipada é vista dentro de um referencial evolutivo e esclarece como o sentido da perda possivel evolui ao longo do tempo com a mudanga das exigéncias do ciclo de vida. ‘A experiéncia da perda antecipada varia também de acordo com situagdes vividas transgeracionalmente pelos membros da fam{- lia com perdas reais ou simbdlicas. A vivéncia da perda em uma familia varia com 0 tipo de doenga, suas exigéncias psicossociais ao longo do tempo e 0 grau de incerteza do prognéstico. Os va- lores, princfpios e crengas individuais, familiares e/ou sociocul- turais, influem significativamente sobre o modo como cada um e a familia vé e responde as situacdes de ameaga a vida. Ainda existem poucas pesquisas a respeito do Luto Antecipatério no Brasil. Jann (1998) pesquisou o tema num es- tudo de familias com pacientes oncoldgicos em estagio avangado em hospital. Neste estudo ela aborda a compreensio do enfren- tamento da ameaca de perda e a preparacio para a morte viven- ciada pelo paciente e seus familiares nos aspectos intrapsfquicos, interacionais, familiares e sociais. Por meio destes estudos de caso, a autora concluiu que a experiéncia do Luto Antecipatério pode ser observada quando constatado o interjogo de fatores psicossociais ¢ fisiolégicos que acompanham o paciente € seus familiares no enfrentamento da ameaga de perda e morte, Res- salta que nos casos em que os pacientes cujo tempo de doenga encontrava-se no intervalo entre 6 e 18 meses € seus respectivos familiares desenvolveram plenamente o Luto Antecipatério, esta experiéncia parece ter sido terapéutica para a preparagao para a morte. Ela ressalta ainda que os aspectos que contribuem para dificultar a experiéncia do Luto Antecipatério dos familiares sto © superenvolvimento com o paciente durante a doenga, através do exercicio do papel de cuidador, bem como 0 vinculo de c6n- juge entre o familiar e o paciente. Digitalizado com CamScanner

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