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Sexta-feira, 9 de abril de 2021 I Série


Número 37

BOLETIM OFICIAL
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ÍNDICE
ASSEMBLEIA NACIONAL
Republicação nº 71/2021:
Republicando a publicação feita de forma inixata no Boletim Oficial nº 35, I Série, de 5 de abril de 2021,
a Lei nº 122/IX/2021 que Procede à terceira alteração ao Código de Processo Penal, aprovado pelo
Decreto- Legislativo nº 2/2005, de 7 de fevereiro, alterado pelo Decreto-Legislativo nº 5/2015, de 11 de novembro
e pela Lei nº 112/VIII/2016, de 1 de março,...........................................................................................1142
CONSELHO DE MINISTROS
Decreto-Regulamentar nº 3/2021:
Aprova a delimitação do Parque Natural da Baía do Inferno e do Monte Angra, na ilha de Santiago........1250
Resolução nº 46/2021:
Procede à primeira alteração à Resolução nº 161/2019, de 30 de dezembro, que aprova a subsidiação de
habitação a jovens e pessoas com deficiência inscritas no cadastro social único.................................1252
Resolução nº 47/2021:
Autoriza a transferência de dotações orçamentais dentro do Ministério da Economia Marítima para
reforçar o projeto de apoio à instalação da Escola do Mar.....................................................................1253
Retificação nº 72/2021:
Retificando a publicação feita de forma inixata no Boletim Oficial nº 7, I Série, de 25 de janeiro de 2021, a
Portaria nº 6/2021 que aprova o Regulamento de Tarifas das Áreas Dominiais enquadradas nas Zonas
de Jurisdição Portuárias.......................................................................................................................1254
Ministério da Economia Marítima e Ministério das Finanças:
Republicação nº 73/2021:
Republicando a publicação feita de forma inixata no Boletim Oficial nº 7, I Série, de 25 de janeiro de 2021,
a Portaria conjunta nº 7/2021 que aprova o Regulamento de Tarifário da ENAPOR, S.A...................1255

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1142 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

ASSEMBLEIA NACIONAL Neste sentido, um Direito Processual Penal moderno de


um Estado Democrático de Direito e de cariz marcadamente
–––––– social, como é o caso de Cabo Verde, deve sempre procurar
o referido o equilibro.
Republicação nº 71/2021
de 9 de abril Atualmente, ninguém duvida que a sociedade cabo-
verdiana, como qualquer outra, integrada num mundo
Por ter sido publicado de forma inexata no Boletim completamente dominado pela globalização e pelas novas
Oficial nº 35, I Série, de 5 de abril de 2021, a Lei tecnologias de informação, vem evoluindo de forma
nº 122/IX/2021 que Procede à terceira alteração ao Código positiva. Mas essa evolução, como é natural, é sempre
de Processo Penal, aprovado pelo Decreto-Legislativo nº acompanhada de fatores, endógenos e exógenos, que a
2/2005, de 7 de fevereiro, alterado pelo Decreto-Legislativo tornam cada vez mais complexa.
nº 5/2015, de 11 de novembro e pela Lei nº 112/VIII/2016,
de 1 de março, republica-se na íntegra. Como qualquer organização social, a sociedade cabo-
verdiana sofre influências de outras sociedades, de modos de
Lei nº 122/IX/2021 ver, encarrar e lidar com a realidade e, consequentemente,
de 1 de abril cria e importa valores novos que, por vezes, surpreende as
autoridades públicas encarregues da defesa dos valores
PREÂMBULO comunitários, constitucionais e legais, nomeadamente
o legislador.
As leis são instrumentos normativos que encontram o
seu fundamento e finalidade no Homem, em particular, Daí que os novos valores e comportamentos devam ser
e, em geral, na comunidade em que se encontra inserido. permanentemente avaliados para que as autoridades
competentes possam, em tempo oportuno, estabelecer ou
Por isso, elas devem estar permanentemente aptas restabelecer os instrumentos normativos de proteção e
a servir, de forma mais eficaz possível, o Homem e a promoção, obviamente no quadro constitucional.
sua comunidade, protegendo e promovendo os valores
fundamentais subjacentes e comummente aceites por todos. Ora, a evolução da sociedade cabo- verdiana, a
experiência de aplicação do atual Código de Processo Penal
O Direito Processual Penal não foge a esse enunciado. e a experiência comparada revelam que, na atualidade,
Sobretudo um Direito Processual Penal de um Estado as leis, por mais consolidadas que sejam, não tendem a
constitucionalmente assumido como sendo de Direito permanecer imutáveis durante largos anos.
Democrático e cariz marcadamente social.
Efetivamente, a evolução e a mutação dos valores e
O Direito Processual Penal Cabo- Verdiano é, desde comportamentos das sociedades modernas ocorrem com
logo, por imposição constitucional, garantístico, na mais frequência e rapidez, o que requer uma atenção
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exata medida em que coloca o Homem no centro da sua permanente do legislador.


regulação, especialmente a partir do momento em que
lhe é atribuído o estatuto de arguido. Cabo Verde também, como se frisou, cresceu, evoluiu e vem
Assim se compreende e se aplaude o disposto no artigo mudando rapidamente os seus valores e comportamentos
31º da Constituição da República, que só admite a prisão sociais, o que requer uma adaptação permanente e sem
preventiva como medida de coação pessoal de última ratio e complexos das suas instituições e das suas leis.
sujeita a prazos fixos, e estabelece as principais obrigações Deste modo, a presente revisão constitui o resultado
do juiz perante o arguido. Do mesmo modo, também se de um olhar atento sobre esta evolução e mutação sociais
compreende e se aplaude o que se estipula no artigo 35º que vêm ocorrendo e visa melhorar o equilíbrio entre os
da Lei Magna relativo aos princípios estruturantes do estatutos do arguido e da vítima e a eficácia prática e
processo penal. E, um desses princípios é o da assunção de processual. E essa tentativa de encontrar esse equilíbrio
um processo penal de estrutura basicamente acusatória, baseou- se pelas seguintes linhas gerais de reforma:
superiormente comandada pelo princípio do contraditório.
- Introduzir as soluções normativas que visam suprir
Ora, a estrutura basicamente acusatória, por afastamento as omissões ou insuficiências detetadas na aplicação
inequívoco de um processo penal de estrutura inquisitória, prática do Código de Processo Penal pelos operadores
implica a existência de um equilíbrio, durante toda a judiciários, em especial pela magistratura judicial e pela
tramitação do processo penal, entre os direitos fundamentais magistratura do Ministério Público;
do arguido e o direito do Estado de investigar e punir, na
medida da culpa, os agentes do crime. - Estudar e ponderar, no quadro constitucional, soluções
novas inovadoras ou oriundas de experiências comparadas
E a busca desse equilíbrio deve ser permanente, para e adaptáveis à realidade nacional, que possam contribuir
que o processo penal se mantenha estruturado de tal forma globalmente para aumentar a eficácia prática e processual,
que, aos agentes do crime possam ser garantidos todos sem colocar em crise ou diminuir o núcleo essencial dos
os seus direitos fundamentais, em particular os direitos direitos fundamentais do arguido;
à defesa, ao contraditório e à presunção da inocência até
ao trânsito em julgado da sua condenação, o Ministério - Ponderar a possibilidade de integração no Código do
Público e os órgãos de polícia criminal possam, iniciar, núcleo essencial regulador do estatuto da vítima;
conduzir e concluir a investigação do crime, com eficácia
e eficiência, e o juiz, em representação e em nome do - Reavaliar as medidas de coação pessoal e os pressupostos
povo, possa exercer o direito subjetivo público do Estado da prisão preventiva;
de punir tais agentes, no limite do respetivo grau de
culpa, através de uma decisão justa ou, pelo menos, - Introduzir medidas de celeridade processual,
tendencialmente justa. nomeadamente ponderando a possibilidade de alargamento
do âmbito dos processos sumário e abreviado;
Assim, o binómio proteção dos direitos fundamentais
dos agentes do crime e o exercício ponderado e justo do jus - Introduzir soluções que visam facilitar o julgamento
puniendi são, as duas faces da mesma moeda que, em Direito de arguidos ausentes;
Processual Penal, estão (e devem estar) permanentemente - Corrigir situações de gralhas manifestas.
em avaliação e ponderação, em função da evolução dos
comportamentos dos membros da comunidade Estadual. Foi com base nessas linhas gerais que foram alteradas

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1143

várias disposições do atual Código de Processo Penal que, como dos procedimentos necessários, tais como, o dever de
de seguida, são justificadas, de forma resumida. pagar o imposto devido, com indicação do seu montante, e a
necessidade de constituir advogado. Ora, tais informações,
Em matéria dos princípios fundamentais e garantias do geralmente, não são do conhecimento dos funcionários
processo penal, foram introduzidas alterações aos artigos dos órgãos de polícia criminal encarregues de receber as
3.º e 5.º, alinhando os respetivos conteúdos reguladores denúncias, queixas ou participações, nem mesmo dos seus
com o disposto nos números 3, 4 e 6 do artigo 35.º da superiores hierárquicos ou, pelo menos, de todos eles.
Constituição da República. Além disso, ainda que fosse possível fornecer informações,
No que se refere à suficiência do processo penal e as mesmas poderiam constituir fator de desmotivação
questões prejudiciais, alterou- se pontualmente o artigo dos denunciantes, queixosos ou participantes, levando
30.º, em decorrência da incorporação dos deveres do termo a desistências prematuras. Assim, entendeu- se que só
de identidade e residência no estatuto do arguido. o Ministério Público e os órgãos de polícia criminal em
quem este delegar a competência instrutória estão em
No que tange ao Título relativo à acusação e defesa, o condições de qualificar os factos denunciados e informar
artigo 60.º, foi alterado, tornado obrigatória a denúncia adequadamente o denunciante, queixoso ou participante
ao Ministério Público nos casos de crime de violência acerca da necessidade de se constituir assistente e das
baseada no género, no prazo máximo de 48 horas, em consequências de sua não constituição. Acresce- se, ainda,
virtude da incorporação da mesma regra constante da Lei que as procuradorias da república têm vindo a acumular
nº 84/VII/2011, de 10 de janeiro, regra essa que passou, inúmeros processos pendentes que têm por objeto queixas,
também, a ser extensiva a crimes sexuais contra menores. denúncias e participações por crimes particulares, a
aguardar o decurso do prazo de prescrição das infrações e
Também, foi incorporado neste artigo o leque de sem poderem realizar quaisquer diligências de instrução
entidades e profissionais sujeitos a esse dever de denúncia, por falta de legitimidade processual, exatamente porque
designadamente os médicos, enfermeiros ou técnicos de o direito de queixa foi exercido, mas o titular não se
saúde. diligenciou no sentido de se constituir como assistente
no processo. Ora, hoje, é facto notório que a demora
Igualmente, foi introduzido o dever dos órgãos de na realização da justiça, em geral, e da justiça penal,
polícia criminal de instruir as denúncias ao Ministério em particular, constitui a maior e mais unânime crítica
Público com informação disponível nos seus registos, social em matéria da realização da justiça. A verdade é
contendo o histórico de denúncias, queixas ou participações que, o combate à morosidade depende de muitos fatores.
apresentadas contra o denunciado que estejam pendentes De entre eles, está, sem dúvida, a colaboração de quem
de investigação ou remetidos a uma autoridade judiciária. demanda o serviço da justiça. No que respeita a crimes
Ainda, neste artigo, foi introduzido o afastamento das particulares, devido às suas caraterísticas, especialmente
regras deontológicas relativas ao dever de confidencialidade à sua potencial danosidade familiar e social, o legislador
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a que o denunciante possa estar legalmente sujeito como reservou ao titular do direito de queixa o leme da
obstáculo à denúncia, sempre que estejam em causa iniciativa, orientação e condução do processo. Por isso, o
suspeitas fundadas de crimes sexuais contra menores e titular tem de apresentar a queixa e declarar que deseja
crime de violência baseada no género. constituir- se como assistente para que o Ministério Público
possa promover o processo. Assim sendo, as alterações
O artigo 61.º, nº 1 foi alterado no sentido de introduzir introduzidas ao número 2 do artigo 61.º visam, pois,
a presunção da declaração do denunciante, queixoso ou não, facilitar e acelerar o exercício do direito de queixa
participante de se constituir assistente como efeito da e de constituição de assistente, mas também, evitar
apresentação da denúncia, queixa ou participação. E pendências desnecessárias, colocando na esfera do titular
esta esta presunção apenas se aplica àqueles que, nos do direito de queixa, o ónus de decidir, sem prejuízo para
termos do número 1 do artigo 71.º, podem constituir- se a morosidade processual, se, efetivamente, quer que o
como assistentes. Na verdade, quem tenha legitimidade Estado exerça o jus puniendi. Até porque, quanto mais
legal para se constituir assistente, quando faz aos órgãos próximo da data da ocorrência do facto punível, maior
de polícia criminal ou ao Ministério Público a denúncia, é o desejo do titular do direito de queixa de solicitar a
queixa ou participação, é porque decidiu exercer o seu intervenção penal, para ver realizada a justiça, e quanto
direito de ação penal, demandando os serviços da justiça, mais tempo decorrer sobre a data daquele facto, maior é
concretamente o procedimento criminal, deve presumir- tendência para o esquecimento e o perdão. Daí, o prazo de
se que deseje constituir- se como assistente. E, esta dez dias (o maior prazo legal em matéria de constituição
alteração, fundamenta- se, ainda, no facto de grande de assistente é o previsto no número 4 do artigo 67.º)
parte dos denunciantes, queixosos ou participantes serem para se constituir assistente. E, se o não fizer, estando
pessoas iletradas ou de baixa escolaridade, desconhecendo já exercido o direito de queixa, não parece justificável
o significado jurídico do estatuto de assistente e das manter a pendência do processo até à prescrição, sem
consequências jurídicas de sua não constituição. quaisquer possibilidades de o Ministério Público agir.
Esse prazo é concedido, é certo, em defesa da promoção
Alterou- se, também, o número 2 do artigo 61.º, da celeridade processual, mas sobretudo em defesa do
relativamente a crimes particulares, por se entender interesse do titular do direito de queixa, que seguramente
que a solução anteriormente em vigor não é realista, pretende uma justiça rápida. Entretanto, considerando
designadamente por não prever qualquer sanção em caso o perfil da sociedade cabo- verdiana, entendeu- se que
de incumprimento da obrigação de constituição como a cominação do arquivamento do processo, em caso de
assistente. A verdade é que, a maioria das denúncias, não constituição de assistente, deve ser precedida de
queixas ou participações são apesentadas nos órgãos de advertência prévia e escrita, acompanhada de informações
polícia criminal de competência genérica – Polícia Nacional e adequadas e suficientes ao denunciante, queixoso ou
Polícia Judiciária - , perante funcionários que, geralmente, participante no ato da denúncia, queixa, participação
não têm conhecimentos jurídicos para, no ato, descortinar ou da sua primeira intervenção processual, por forma a
se o facto ilícito em causa é passível de enquadramento lhe habilitar a uma consciente tomada de decisão sobre
jurídico como crime público, semi- particular ou particular. a promoção do processo.
Deste modo, exigir que o denunciante, queixoso ou
participante preste obrigatoriamente perante esses órgãos Incorporou- se no artigo 66.º a regra constante da Lei
uma declaração de constituição de assistente, implicaria nº 84/VII/2011, de 10 de janeiro, relativa ao crime de
que, previamente, soubessem ou fossem informados sobre violência baseada no género, segunda a qual a declaração
o significado e as consequências dessa declaração, bem de desistência por parte da vítima apenas pode ser

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1144 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

atendida no momento da determinação da pena concreta de coação pessoal, apenas formal, traduzia- se numa
a aplicar, quando se verifiquem os pressupostos exigidos mera comunicação escrita ao arguido de alguns deveres
para a suspensão da pena, nos termos da alínea b) do nº de conduta, de insignificante compressão da sua liberdade
3 do artigo 53.º do Código Penal. pessoal. Daí que se tenha entendido que esses deveres
de conduta devam ser deslocados para o artigo 77º, no
No artigo 68.º foram incorporadas injunções ao Ministério âmbito do estatuto do arguido.
Público, no sentido de, logo que receber a denúncia de
casos suspeitos de crimes de violência baseada no género, Na verdade, como se colhe com facilidade do teor do
maus tratos a menor ou pessoa vulnerável, maus tratos artigo 77º, o estatuto de arguido comporta uma componente
a cônjuge e unido de facto, maus tratos a ascendente e ativa, que incluem os seus principais direitos – os previstos
pessoas em economia doméstica e crimes sexuais contra nos seus números 1 e 2, e uma componente passiva, que
menores, aferir da necessidade de aplicação de quaisquer abrange os deveres elencados no seu número 3.
das medidas de assistência às vítimas previstas neste
Código e na respetiva legislação e proceder a imediata Assim, a deslocação dos deveres de conduta, que antes
apresentação do arguido ao juiz, para primeiro interrogatório eram comunicados ao arguido, no âmbito do termo de
e aplicação de medidas de coação pessoal e de garantia identidade e residência, apenas alarga a componente
patrimonial que se mostrarem adequadas. passiva do seu estatuto. Essa deslocação reforça, é certo,
essa componente passiva, mas em nada agrava o seu
No artigo 71.º foi alterada a alínea c) do nº 1, permitindo estatuto de forma constitucionalmente inadmissível, nem
às pessoas coletivas ou associações de proteção, em caso de os pressupostos necessários à aplicação das restantes
morte do ofendido, constituírem- se como assistentes no medidas de coação pessoal.
processo, nos casos de crimes violentos ou especialmente
violentos, de crimes de maus tratos e crimes sexuais No artigo 78º foram introduzidas duas alterações
contra menor ou pessoa vulnerável e de crime de violência relevantes: a primeira, no seu número 2, que visa alinhar
baseada no género, na falta ou não atuação dos familiares. o seu conteúdo com o disposto no artigo 35.º nº 4 da
De igual modo, foi alterado o seu número 4, com vista a Constituição da República e com o estatuto da Ordem dos
garantir a sua harmonização com a solução introduzida Advogados de Cabo Verde, nomeadamente os seus artigos
no número 2 do artigo 61.º. 153.º, 155.º e 179.º, em particular o seu número 4). Com
efeito, a Lei Magna não admite a nomeação de defensor
Nos artigos 74.º e 75.º clarificou- se o conceito de oficioso que não seja advogado, a não ser que seja pessoa
arguido, implicando para essa qualidade necessariamente a da livre escolha do arguido. Nesse sentido, também, vai a
constituição desse estatuto, diferenciando- se de suspeito, alteração introduzida no artigo 89.º. A segunda alteração
independentemente do grau dos indícios do facto ilícito prende- se com as situações excecionais que podem
e da sua comprovação ou não. ocorrer, como é o caso de arguido detido que tenha de
ser apresentado ao juiz competente de uma outra área
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No artigo 76º foram introduzidas duas alterações judicial ou ilha e isso não se mostre possível dentro do
relevantes: a primeira diz respeito à constituição de prazo de 48 horas, por razões relevantes de vária ordem.
arguido, que deixará de poder ser verbal, passando a
assumir sempre a forma escrita, devido à obrigatoriedade No artigo 91.º foram densificadas as situações de
de comunicação escrita ao arguido dos deveres decorrentes assistência obrigatória ao arguido e no artigo 96.º permite-
do seu estatuto. A segunda refere- se ao arresto preventivo, se a dedução do pedido civil em separado quando o processo
quando houver sério risco quanto ao seu fim ou à sua penal correr sob a forma especial e o assistente ou quem
eficácia. Nesta situação, a constituição como arguido tenha legitimidade para se constituir como tal manifestar
poderá ocorrer em momento imediatamente posterior, num interesse na separação. E isto é compreensível, já que,
prazo não excedente a 48 horas após a aplicação dessa nos processos especiais, pela sua celeridade, pode não ser
medida de garantia patrimonial, sob pena de sua nulidade. possível colher em tempo oportuno a prova da totalidade
Caso a constituição como arguido para efeitos de arresto dos danos causados pelo crime.
preventivo se tenha revelado comprovadamente impossível, Esta revisão pretendeu, também, dar especial relevância
por o visado estar ausente em parte incerta e se terem ao Direito Penal da Vítima. Por isso, foram adicionados
frustrado as tentativas de localizar o seu paradeiro, pode os artigos 94º- A a 94º- J, contendo uma verdadeira
a medida ser dispensada, mediante despacho devidamente regulação do estatuto da vítima, importada da Diretiva nº
fundamentado do juiz, quando existam, cumulativamente, 2012/29/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25
indícios objetivos de dissipação do respetivo património de outubro de 2012, que estabeleceu normas relativas aos
e fundada suspeita da prática do crime. direitos, ao apoio e à proteção das vítimas da criminalidade
A alteração ao artigo 77º pretende acomodar os deveres e que substituiu a Decisão- Quadro nº 2001/220/JAI do
que, anteriormente eram comunicados ao arguido sujeito Conselho, de 15 de março de 2001.
a termo de identidade e residência e que constavam do No artigo 97.º alterou- se o seu nº 4, visando alargar o
artigo 282º, nº 2. âmbito da legitimidade do Ministério Público, permitindo-
Efetivamente, o termo de identidade e residência estava se que, nos casos de crime de violência baseada no género
concebido como a primeira medida de coação pessoal, nos e crimes sexuais contra menores, possa, a todo o tempo
termos do artigo 272º. Acontece que, o termo de identidade após a receção da denúncia, deduzir em separado junto
e residência, por um lado, não era da competência do tribunal competente, o pedido de fixação de alimentos
exclusiva do juiz, podendo, portanto, ser aplicado, quer provisórios.
pelo Ministério Público, quer pelas autoridades de polícia Relativamente às partes civis e ao pedido civil, foram
criminal, sem necessidade de qualquer despacho, já que introduzidas algumas clarificações nos artigos 100.º e
está excluído do âmbito do artigo 275º. Por isso, poderia 101.º em matéria de pedido civil recomendado pela prática
ser aplicado verbalmente, sem qualquer fundamentação vivenciada e compatibilizar esses dois artigos entre si.
dos pressupostos previstos no artigo 276º, bastando um
simples termo lavrado no processo, como prevê o artigo Também, foi introduzida alteração ao número 2 do
282º, nº 1. artigo 109º, no sentido alargar ao Ministério Público o
especial dever oficioso de iniciativa probatória dos danos
Por outro lado, o termo de identidade e residência causados pelo crime, em homenagem à promoção do
não consubstanciava uma medida de coação pessoal em direito penal da vítima, tanto mais quanto é certo que,
sentido material, mas tão- somente formal, sem qualquer muito dificilmente um crime não deixa danos, por vezes
eficácia prática e processual. Efetivamente, essa medida irreparáveis.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1145

Na parte relativa a atos processuais, sua publicidade defesa e o direito à ação reparatória. É assim em Direito
e segredo de justiça, foi introduzida uma alteração ao Processual moderno e de estrutura acusatória, como é o
artigo 111.º, estabelecendo a possibilidade de exclusão da cabo-verdiano. Contudo, o Estado não tem de garantir
publicidade nos processos por crime de tráfico de órgãos a notificação na própria pessoa, quando esta se furta à
humanos, tráfico de pessoas, ou contra a liberdade e ação da justiça ou quando, sem comunicar aos serviços
autodeterminação sexual. da justiça onde corre o processo, muda ou ausenta- se
do local da residência ou outro declarado no processo
Foi ampliado o âmbito do artigo 113.º em relação à para efeitos de notificação pessoal e não comunica essa
proibição de divulgação de peças processuais ou identidade, mudança ou ausência. Por isso, entendeu- se que, nessas
designadamente através de fotografias ou imagens, de situações, deve se aplicar o mecanismo da notificação
vítimas de crimes de tráfico de órgãos humanos, tráfico edital, impondo- se, entretanto, na esfera jurídica da
de pessoas, contra a liberdade e autodeterminação sexual, pessoa a notificar a obrigação de, previamente, indicar
a honra ou a reserva da vida privada, exceto se houver no processo o local que entenda conveniente e apropriado
o consentimento expresso da vítima ou se o crime for para o efeito.
praticado através de órgão de comunicação social.
No artigo 146.º foram introduzidas alterações em matéria
No que tange à forma dos atos, o artigo 124º foi de notificação por editais e anúncios, estabelecendo- se a
alterado no sentido de permitir que os atos processuais regra de sua publicitação no Diário da Justiça Eletrónico,
orais, ainda que legalmente tenham de ser reduzidos regulado em diploma especial de tramitação eletrónica de
a escrito, possam ser praticados ou realizados através processos judiciais, sem prejuízo, enquanto esse Diário
das novas tecnologias de informação, como é o caso de não estiver operacional, da publicação em jornais de maior
videoconferência e outros meios análogos, o que permite ao circulação na localidade da última residência do arguido
Estado e aos intervenientes processuais poupar recursos, ou do País e de afixação de editais em lugares do costume.
que são sempre poucos num País como Cabo Verde. E
esta alteração é importante, sobretudo quando houver No Título relativo às nulidades, o artigo 151.º foi alterado
necessidade de deslocações dos intervenientes para uma no sentido de incluir no leque das nulidades insanáveis,
área judicial (comarca ou círculo) diferente, com custos a falta de audição prévia do arguido na fase de instrução,
dos transportes, alojamentos e alimentação inerentes. dando, assim, cabal cumprimento do preceituado no número
6 do artigo 35.º da Constituição da República, que impõe
No artigo 135.º foi introduzida uma alínea c) ao seu uma estrutura basicamente acusatória do processo penal
número 2, visando incluir entre os processos urgentes os e o direito de audiência do arguido em todas as fases desse
relativos a crime de violência baseada no género, crimes processo, designadamente antes da acusação.
de maus tratos e crimes sexuais contra menores, crimes
de maus tratos a cônjuge ou unido de facto e crimes de O artigo 228º, em matéria tão relevante como é a
maus tratos a ascendente e pessoa em economia doméstica, identificação de suspeitos, foi alterado, acolhendo soluções
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preservando sempre os direitos de defesa do arguido, de experiência comparada perfeitamente compatíveis


a proteção da vítima e salvaguarda dos seus direitos à com a realidade do País, designadamente sujeito a fluxos
imagem, integridade física e psicológica e identidade, migratórios decorrentes da sua integração na CEDEAO
bem como a sua intimidade da vida privada. e composto por ilhas. Porém, essas alterações asseguram
as mais elementares garantias quando os suspeitos
O número 2 do artigo 137.º foi alterado, alargando- se o forem sujeitos a determinadas provas destinada à sua
prazo para 30 dias, nas situações de prorrogação dos prazos identificação. Em qualquer dos casos, a detenção para
de prisão preventiva, e em decorrência do alargamento identificação não poderá ultrapassar 4 horas.
do prazo de recurso de dez para 15 dias.
Permite- se, também, a recolha de informações junto do
Foi, igualmente, alterado o número 5 do artigo 139.º - suspeito, mas tal diligência é será sempre nula se o mesmo
B, em matéria de tramitação do pedido de aceleração do não for previamente advertido do seu direito constitucional
processo, completando seu âmbito, já que, esse preceito e legal ao silêncio essa advertência for reduzida a escrito,
era omisso quanto à decisão de, se for o caso, deferir o sendo certo que, tal pedido de informações é dirigido a
pedido de aceleração, mandando proceder imediatamente quem nem sequer tenha ainda o estatuto de arguido.
a prática do ato omitido em tempo útil, e para efeitos do
cumprimento do prazo processual e realização da fase Foi introduzido um novo artigo, o artigo 229.º- A,
processual em atraso. que regula a localização celular, enquanto medida
de polícia. Esta alteração permite às autoridades
Em matéria de notificações, as alterações ao número judiciárias e de polícia criminal, no âmbito de execução
1 do artigo 141º visam alargar as formas de notificação de ações de prevenção ou de investigação criminal, ou de
em processo penal, introduzindo o correio eletrónico, a tramitação de processo criminal, ou, ainda, na sequência
telecópia e outros meios telemáticos. Quanto ao número de uma denúncia, proceder a localização celular, mas em
2, foi alargado o seu âmbito, designadamente para as situações excecionais e muito limitadas: (i) nos crimes de
situações de arguidos ausentes, em que as notificações na terrorismo, (ii) na criminalidade violenta ou altamente
sua própria pessoa serão substituídas por notificações na organizada (iii) quando houver fundados indícios da
pessoa dos seus advogados ou defensores ou por via edital. prática iminente de crime que ponha em grave risco a
vida ou a integridade física de qualquer pessoa (iv) e nos
Ao artigo 142º foram introduzidas importantes alterações, crimes contra a propriedade mediante o consentimento
com vista a combater a fuga à justiça e precaver as do titular. A solução apresentada inspira- se no disposto
situações de grande mobilidade que ocorrem no País, no número 3 do artigo 17º da Lei nº 8/IX/2017, de 20
composto por ilhas. Efetivamente, como dão conta os de março, sobre a cibercriminalidade, sujeitando- se a
Relatórios sobre a situação da justiça dos Conselhos medida à comunicação e validação judicial. Esta alteração
Superiores das Magistraturas, Judicial e do Ministério confere, pois, às autoridades competente mais um meio
Público, os tribunais e as procuradorias da república de prevenção e combate aos crimes mais graves contra as
vem enfrentando dificuldades para efetivarem as pessoas e crimes contra a propriedade, em especial os que
notificações, em particular aos arguidos, nos casos em visam, por exemplo telemóveis, tablets e computadores
que o presente Código impõe a notificação pessoal. A portáteis, sem ferir os direitos constitucionais.
notificação de determinados atos e decisões penais, bem
como de certas datas, devem ser feitas na própria pessoa Nos casos de terrorismo, criminalidade violenta ou
em cumprimento de direitos processuais fundamentais altamente organizada ou quando haja fundados indícios
das partes, em particular os direitos ao contraditório e à da prática iminente de crime que ponha em grave risco a

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1146 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

vida ou a integridade física de qualquer pessoa, a tomada (d) se tratar de pessoa que tiver penetrado ou permaneça
da medida deve, sob pena de nulidade, ser comunicada irregularmente em território nacional, ou contra a qual
imediatamente à autoridade judiciária competente e estiver em curso processo de extradição ou de expulsão.
por esta apreciada em ordem à sua validação e nos três
dias úteis subsequentes, elaborar e remeter à autoridade No que se refere aos órgãos de polícia criminal, manteve-
judiciária competente um relatório no qual se menciona, se o regime vigente, com os requisitos cumulativos, mas
de forma resumida, os seus resultados. alargou- se a possibilidade de poderem efetuar a detenção
fora de flagrante delito nas situações em que ao crime
O artigo 234.º foi alterado para viabilizar revistas e seja aplicável a medida de prisão preventiva.
buscas nas situações em que houver fundado motivo para
crer que estejam a ser preparados ou cometidos crimes Em decorrência da supressão do termo de identidade
a bordo de navios ou aeronaves nas áreas marítimas e e residência como medida de coação pessoal autónoma,
aéreas que, por força de legislação interna ou instrumentos alterou- se, igualmente, o artigo 274º, adaptando- o a
internacionais, estejam sob a jurisdição penal ou permite essa circunstância, concentrando, deste modo, no juiz a
intervenção penal do Estado cabo- verdiano, quando não competência exclusiva para a aplicação de todas as medidas
se mostre possível obter previamente a autorização da de coação pessoal, reforçando, deste modo, a posição do
autoridade judiciária competente em tempo útil. arguido no processo penal. Permite- se, agora, a notificação
do despacho de aplicação de uma medida de coação pessoal
A realização da diligência será comunicada ao juiz ou de garantia patrimonial ao denunciante, assistente,
competente e por este apreciada em ordem à sua validação, lesado ou ofendido, quando a medida aplicada lhe disser
sob pena de nulidade, no prazo de 48 horas após o término respeito. E esta solução é importante, designadamente
da diligência e a chegada a um porto ou aeroporto do País. quando for imposta ao arguido determinadas proibições
ou deveres de conduta que lhes dizem respeito, como, por
As alterações aos artigos 236.º e 237.º visam, por um exemplo, o não contato.
lado, alinhá- los com a alteração operada ao artigo 234.º e,
por outro lado, clarificar a inclusão de navios e aeronaves O artigo 276º foi alterado, densificando melhor as
no conceito de veículos. situações que constituem as exigências cautelares gerais
das medidas de coação pessoal, cuja ponderação, em cada
O artigo 243º foi, também, alterado para a introdução caso concreto, permite concluir pela suficiência e adequação
de algumas novas situações que possam legitimar as da concreta medida de coação a aplicar ao arguido.
apreensões da competência dos órgãos de polícia criminal
e acautelar o prazo especial de validação das revistas, O artigo 279º foi alterado no sentido de alargar e
buscas e apreensões realizadas a bordo de navios ou densificar algumas situações que justificam a alargamento
aeronaves. É preciso sublinhar que, não raras vezes, dos prazos de prisão preventiva e em relação aos quais
as intervenções dos órgãos de polícia criminal no meio possa haver complexidade processual.
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marinho, normalmente são executadas no alto mar, a partir A alteração ao artigo 283.º densifica os critérios que
do limite externo do mar territorial, e a longa distância devem presidir a fixação da caução.
da terra, sendo certo que o regresso nem sempre ocorre
de forma rápida e fácil, devido, designadamente, a fortes A alteração introduzida no artigo 284º visa conferir
ventos, chuvas e correntes e falta de visibilidade. eficácia prática e processual à caução, estabelecendo- se uma
ordem preferencial das modalidades para a sua prestação,
Introduziu- se um novo artigo, o artigo 254.º - A, visando com a concentração em garantias reais, afastando- se,
acautelar a defesa de direitos de terceiros, que não sejam assim, as garantias pessoais, como a fiança pessoal de
agentes do facto ilícito, quando atingidos na titularidade terceiros que, na prática, não tem tido qualquer eficácia.
do seu direito por buscas e revistas que resultarem em
apreensões. O titular atingido pode deduzir impugnação O artigo 289.º foi alterado no sentido de alargar o âmbito
contra a apreensão, sendo a matéria processada e decidida da medida de coação pessoal de proibição e obrigação de
por apenso ao processo crime, sem prejuízo do cumprimento permanência prevista no artigo 272.º, nº 1 – al f), para
dos prazos processuais. Por isso, permite- se que haja acomodar a proibição expressa de contato com vítima e a
separação do processado a todo o tempo. proibição de permanência em casa de morada da família,
nos casos em que o arguido haja sido indiciado da prática
No que tange às medidas cautelares processuais, a de crimes de violência baseada no género, maus tratos
alteração ao artigo 261.º visa compatibilizá- lo com a a menor ou pessoa vulnerável, maus tratos a cônjuge e
introduzida ao artigo 76.º, em virtude do arresto preventivo unido de facto, maus tratos a ascendente e pessoas em
antecipado à constituição de arguido. economia doméstica e de crimes sexuais contra menores,
quando o arguido e a vítima residam nesse lugar.
A alteração introduzida ao artigo 262º visa clarificar
os critérios de escolha das medidas de coação pessoal Os números 4 e 5 introduzidos resultam da incorporação
ou de garantia patrimonial, apelando à adequação às das mesmas regras que já constavam da Lei nº 84/VII/2011,
exigências cautelares gerais previstas no artigo 276.º, o de 10 de janeiro, relativa ao crime de violência baseada
que não estava claro na redação anterior. no género.

O artigo 264º foi alterado, introduzindo, à semelhança Relativamente ao artigo 290º, em matéria dos pressupostos
do direito americano, a obrigação de comunicar e advertir da prisão preventiva, as alterações introduzidas são no
ao detido, em determinados casos (alíneas a) e b) do sentido de, no quadro das orientações constitucionais,
número 1), no momento da sua detenção, além do motivo densificar as situações em que o juiz, quando não considere
da sua detenção, o seu direito de se manter em silêncio e adequadas ou suficientes as restantes medidas de coação
de que as declarações que prestar poderão ser utilizadas pessoal, possa aplicar a prisão preventiva, sempre como
no processo contra ele. medida de coação de última ratio.
O artigo 297º foi alterado no sentido de alargar o
No artigo 268.º foram alargadas as situações permissivas âmbito de cobertura da caução económica a situações de
de detenção fora de flagrante delito por parte do Ministério declaração de perda a favor do Estado de objetos, bens ou
Público: (a) nos casos em que for admissível a prisão vantagens do crime e demais responsabilidade do agente
preventiva ou a detenção pelos órgãos de polícia criminal, do facto ilícito para com o Estado.
(b) quando a aplicação da medida de detenção se mostrar
imprescindível para a proteção da vítima, (c) no âmbito Relativamente às fases preliminares do processo, foi
da cooperação judiciária internacional em matéria penal e acrescentado mais um número ao artigo 301º, visando

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1147

o reforço do estatuto da vítima e demais lesados do provisória do processo mediante injunções e regras de
crime, impondo- se ao Ministério Público a obrigação conduta ou se encontre expressamente prevista na lei
de oficiosamente investigar e recolher a prova dos danos penal a possibilidade de dispensa da pena ou (e) nos
causados pelo crime. processos de transação.
A alteração ao artigo 309.º visa alargar o seu âmbito às A Alteração pontual ao artigo 352º visa adaptar o
vítimas de crimes de tráfico de órgãos humanos. preceito à realidade do País de parcos recursos e às novas
tecnologias de informação, como a videoconferência e outros
A alteração ao número 2 do artigo 305.º visa alinhar meios análogos, com ganhos, quer de eficácia prática e
o preceito com o disposto no artigo 35.º, nºs 6 e 7 da processual, quer em termos de poupança de recursos do
Constituição da República e a alteração ao artigo 307.º Estado e dos particulares intervenientes no processo.
adapta o preceito à revogação do artigo 282.º.
Ainda, em sede de julgamento, os Relatórios dos Conselhos
A alteração introduzida ao artigo 318º visa conferir o Superiores das Magistraturas, Judicial e do Ministério
caráter injuntivo ao Ministério Público, no sentido da Público, têm revelado a preocupação dos tribunais e das
promoção da medida de suspensão provisória do processo procuradorias da República, no sentido de o legislador
sempre que estiverem reunidos os pressupostos. Também encontrar as soluções que visam facilitar o julgamento
a alteração pretende alargar o leque das situações de arguidos ausentes. A solução encontrada abrange os
passíveis de conduzir a essa suspensão, sendo certo arguidos que se encontrem em quatro situações de ausência
que são inúmeras as situações em que é do interesse possíveis: (i) os arguidos que, por razões pessoais relevantes
do próprio arguido que o processo- crime seja suspenso e a eles imputáveis – nomeadamente , idade, doença grave
provisoriamente, na condição de o mesmo se submeter a e mudança de residência - não possam estar presentes
injunções e regras de condutas diversas, designadamente no julgamento, mas requeiram ou aceitem ser julgados
tratamento, eliminando, assim, o fator que o impulsiona na sua ausência, (ii) os arguidos ausentes em flagrante
para a prática de crimes. violação dos seus deveres estatutários, em especial o dever
Permitiu- se, também, que o arguido, o assistente ou de comparência e de se manter à disposição da justiça,
quem tenha legitimidade para se constituir como tal, (iii) os arguidos que, tendo comparecido à audiência de
possam ter a iniciativa de requer ao Ministério Público a julgamento mas, no decurso dela venham a se ausentar
promoção da medida de suspensão provisória do processo, e (iv) os arguidos sob a declaração de contumácia.
mediante imposição judicial de regras de condutas ou Assim, em relação à ausência do arguido a pedido,
injunções. foi aditado o artigo 364.º- A. Neste caso, o arguido não
De igual modo, foi introduzido um número 6 para está a fugir à justiça, mas por razões pessoais relevantes
incorporar a regra, já constante da Lei nº 84/VII/2011, (idade, doença grave, residência ou ausência fora da área
de 10 de janeiro, relativa ao crime de violência baseada judicial onde corre o processo ou no estrangeiro ou, ainda,
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no género, sobre a suspensão provisória do processo por qualquer outro motivo que entender relevante), não
mediante injunções, quando estiverem preenchidas as pode estar presente. O julgamento sem a presença do
condições para a suspensão da pena de prisão previstas arguido é requerido ou consentido pelo próprio, por isso,
na alínea b) do número 3 do artigo 53.º do Código Penal. sujeito as regras diferentes e específicas: (a) identificação
prévia do seu defensor, respetivo endereço ou contato do
As alterações aos artigos 320.º e 321.º decorrem das escritório ou domicílio, (b) autorização para que o mesmo
outras introduzidas para reforçar o estatuto da vítima, receba todas notificações que, nos termos deste Código,
desfazendo- se algumas incongruências existentes em devem ser feitas na sua própria pessoa e (c) a declaração
matéria de intervenção processual do assistente ou de de aceitação de que essas notificações valerão como sua
quem tenha legitimidade para se constituir como tal notificação pessoal. Entretanto, mesmo por essas razões,
no processo e procedendo a sua harmonização com as se o tribunal considerar absolutamente indispensável a
alterações introduzidas nos artigos 61.º, nº 2 e 71.º, nº 4. presença do arguido para a descoberta da verdade material,
ordena- a, interrompendo ou adiando a audiência, se isso
No artigo 327.º foi introduzido um nº 3, impondo ao for necessário, podendo, ainda, o arguido ser ouvido no
juiz um prazo máximo de 72 horas a contar da receção local onde se encontrar, se a ausência for devida à idade
do respetivo requerimento, para designar a data para ou doença grave.
a realização da Audiência contraditória preliminar
- ACP, a qual deverá ter o seu início dentro de dez dias Quanto ao artigo 364.º- B, a alteração diz respeito ao
subsequentes, sempre que se trate de processos relativos julgamento de arguido que se encontre em violação de
a crimes de violência baseada no género, maus tratos a deveres do seu estatuto. A constituição de arguido confere-
menor ou pessoa vulnerável, maus- tratos a cônjuge e lhe um estatuto que permanece até ao fim do processo,
unido de facto, maus tratos a ascendente e pessoas em implicando para o mesmo direitos e deveres, sendo estes,
economia doméstica e de crimes sexuais contra menores. os previstos nas alíneas a), c) d) e e) do número 3 do
Trata- se de mais um mecanismo de garantir a celeridade artigo 77.º. Violando injustificadamente esses deveres,
no julgamento de processos que têm por objeto crimes o arguido não pode esperar benefícios do Estado. Assim,
dessa natureza. seja qual for a forma do processo, incluindo no caso do
reenvio para a forma comum, se o arguido não puder ser
No concernente à fase de julgamento, o artigo 339º notificado do despacho que designa o dia para a audiência
foi alterado no sentido de introduzir um mecanismo de ou não justificar a falta no ato ou estiver evadido do
aceleração processual e de gestão do tempo de todos os estabelecimento prisional onde se encontrava a cumprir a
intervenientes processuais. prisão preventiva ou a pena de prisão em outro processo,
o tribunal pode determinar que a audiência tenha lugar
No artigo 340.º foram introduzidas alterações com vista na sua ausência. O julgamento terá lugar sempre com a
a alargar o âmbito de sua aplicação, permitindo ao juiz, presença do defensor do arguido já constituído no processo
oficiosamente ou a requerimento do Ministério Público, ou, se for o caso, nomeado oficiosamente pelo juiz, devendo
do arguido ou do ofendido, procurar o acordo entre estes, todas as notificações pessoais ser feitas na pessoa do seu
com a presença dos respetivos mandatários, nos processos advogado ou defensor ou, na impossibilidade, por via edital.
para o julgamento de (a) crimes cujo procedimento criminal
depende de queixa ou cuja prossecução do processo depende O artigo 365.º foi alterado para acomodar a situação
de acusação particular, (b) crimes em relação aos quais em que o arguido tenha comparecido à audiência, mas
se mostrem verificados os pressupostos de suspensão dela se ausente antes ou depois de ser interrogado. A

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1148 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

solução vai no sentido de interromper a audiência por As alterações introduzidas no artigo 417º visam alargar
cinco dias, durante os quais a falta poderá ser justificada. o prazo de julgamento em processo sumário para 60 dias,
Entretanto, se o arguido não justificar a falta, o juiz dando, assim, coerência ao alargamento do seu âmbito e
designará nova data para a continuação da audiência e evitar engarrafamentos indesejáveis de processos sumários
tomará as medidas necessárias e legalmente admissíveis nos tribunais. A alteração ao artigo 419º impõe ao juiz um
para obter a sua comparência, incluindo a sua detenção prazo limite para proferir sentença em processo sumário,
ou prisão preventiva e, não sendo possível, o julgamento não superior a três dias.
continuará como se o arguido estivesse presente. Trata-
se de uma situação específica de julgamento na ausência No artigo 429.º, em processo de transação, foi introduzida
do arguido, diferente das outras consagradas nos artigos a possibilidade de o juiz, antes de fazer o reenvio, usar
364.º- A, 364.º B e 365.º- C. da faculdade prevista no artigo 340.º, no sentido de obter
o acordo, desde que estejam verificados os pressupostos
O artigo 365.º- A regula o julgamento de arguido previstos nesse artigo. O reenvio só poderá ocorrer, em
declarado contumaz, aplicando- se as regras relativas caso de frustração do acordo. Trata- se de uma solução que
ao julgamento de arguido que se encontra em violação privilegia a realização efetiva da justiça em detrimento
dos seus deveres estatutários. da forma.
Para completar o regime de julgamento de arguidos No artigo 430º foram, igualmente, introduzidas
ausentes, foram introduzidos os artigos 365.º- B a 365.º- E, importantes alterações aos pressupostos do processo
regulando, respetivamente, os pressupostos, a declaração, abreviado, no sentido, não só, de alargar o seu âmbito,
os efeitos, a caducidade e o registo de contumácia. mas também, de reforçar a sua natureza principal para
No que se refere ao Capítulo relativo à sentença, a efeitos de julgamento da média criminalidade, subsidiária
alteração ao artigo 401º decorre das alterações introduzidas e de pronto socorro ao processo sumário para o julgamento
em outras disposições, nomeadamente ao artigo 352º, com da pequena criminalidade. Na verdade, os casos de
vista a viabilizar o uso dos meios disponibilizados pelas pequena criminalidade que, em princípio, poderiam ter
novas tecnologias de informação, reduzir os custos de sido julgados em processo sumário e que, por alguma
justiça e promover a celeridade processual. Entretanto, razão não o foram, nomeadamente por se ter ultrapassado
tratando- se de leitura de uma decisão penal, em que o o prazo de 60 dias, poderão, ainda, ser julgados em
arguido tem o sacrossanto direito de recorrer, obriga- se, processo abreviado nos 60 dias subsequentes, uma vez
agora, ao juiz, além do depósito dessa decisão na secretaria, que alargou- se, também, o prazo de julgamento nesta
a enviar ao arguido, por qualquer meio de comunicação forma de processo especial para 120 dias. Para a contagem
previsto neste Código, designadamente correio eletrónico, deste prazo deixou- se de tomar com referência a data do
uma certidão ou cópia integral certificada da mesma, cometimento do facto típico e ilícito, para ser a data da
em suporte papel ou digital, nas 24 horas subsequentes. distribuição do processo correspondente ao magistrado
do Ministério Púbico encarregue da sua investigação.
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A alteração ao artigo 409º visa reforçar a posição da Não se desconhece o eventual argumento segundo o qual
vítima e demais lesados no processo penal, impondo a a data facto justifica- se pela necessidade de garantir a
sanção de nulidade da decisão penal que não os arbitre frescura da prova. Porém, não parece ser um argumento
indemnização, pondo, assim, cobro, à prática reiterada decisivo, sendo certo que muitos processos quando chegam
dos tribunais de não arbitrarem essa indemnização. ao Ministério Público para o início da investigação quase
Recorde- se que, grande parte das vítimas e doutros no limite do prazo para o julgamento, considerando a data
lesados são iletrados ou de baixa escolaridade, sem da prática do facto ilícito. Esta circunstância obriga ao
possibilidades de constituir advogado e sem os meios reenvio dos factos para o processo comum e aguardar a
necessários para produzir, da sua iniciativa, a prova dos sua vez, ficando consequentemente frustrado o argumento
danos sofridos. Obviamente que o juiz só tem o dever de da frescura da prova. Por isso, se entendeu ser melhor
arbitrar a indeminização, se estiverem presentes nos solução tomar com referência para o início da contagem do
autos os pressupostos fixados nas alíneas a) e b) do artigo prazo, a data da distribuição do processo para a instrução.
105.º ou do número 1 do artigo 109.º. E é só para esses Esta solução tem a seu favor o princípio da celeridade
casos que se comine a sanção de nulidade. processual e da rapidez da realização da justiça.
Em matéria de processos especiais, várias alterações Permite- se, ainda, o julgamento em processo abreviado
foram introduzidas. dos crimes de furto de energia elétrica, furto e roubo, na
sua forma simples ou agravada, mas nestes casos apenas
As alterações ao artigo 412º constituem uma das mais quando existir prova clara ou de fácil perceção.
profundas desta revisão. Com efeito, sem aumentar ou
reduzir as formas especiais do processo penal, mantendo- Densificou- se e clarificou- se o conceito de prova clara
se a tradição o âmbito do processo sumário, que passa a e de fácil perceção.
poder julgar arguidos detidos em flagrante delito: (i) por
crimes puníveis com pena de prisão, cujo limite máximo As alterações ao artigo 431º são a consequência das
seja superior a 5 anos, mesmo em caso de concurso de introduzidas no artigo 430.º. O Ministério Público, caso
infrações, quando Ministério Público, na sua promoção não dispense a instrução, deve investigar os crimes e estar
ao julgamento, entender que não deve ser aplicada ao em condições de deduzir a acusação no prazo máximo de
arguido, em concreto, pena de prisão superior a 5 anos. 60 dias. Deste modo, encerrada a instrução, consoante a
prova recolhida, o Ministério Público arquivará o processo
Com estas alterações pretende- se imprimir mais ou deduzirá a sua acusação, se o crime não for particular.
celeridade da justiça penal em relação à pequena e média O assistente poderá aderir à acusação do Ministério
criminalidade. Público ou deduzir a sua própria acusação e o pedido
civil no prazo de cinco dias após receber a notificação da
No artigo 414.º foram introduzidas precisões relevantes acusação deduzida contra o arguido. O arguido, após a
em matéria de notificação direta aos intervenientes notificação da acusação do Ministério Público e, se for o
processuais, na sequência de detenção em flagrante delito, caso, da acusação do assistente, deduzirá e apresentará
precisões essas destinadas fundamentalmente a orientar a sua contestação até ao início da audiência de discussão
a entidade que efetuar a detenção. Também, alterou- se e julgamento.
o número 5 do mesmo artigo no sentido de o detido ser
advertido de que a sua não comparência no tribunal na Também, foi incorporado neste artigo a regra oriunda
data e hora indicadas, será julgado sem a sua presença, da Lei nº 84/VII/2011, de 10 de janeiro, relativa ao crime
para além do cometimento do crime de desobediência.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1149

de violência baseada no género, que permite ao Ministério No artigo 458.º, a norma obrigava a notificação ao
Público, em despacho fundamentado, deduzir acusação no arguido do parecer do Ministério Público apenas quando
prazo máximo de setenta e cinco dias, quando entender este tivesse suscitado questões que pudessem agravar a
que, por motivos relativos ao estado de saúde, física ou posição processual do arguido. A alteração introduzida
mental da vítima, ou por outros, não seja possível naquele vem alargar a notificação a todos os sujeitos processuais
momento a apresentação de todas as provas necessárias afetados pela interposição do recurso, sempre que aquele
para a conclusão da instrução. magistrado não se limitar a apor o seu visto. E isto mesmo
que a questão suscitada não agrave a posição processual
No artigo 433.º foram introduzidas alterações para do arguido.
incorporar e alargar o âmbito de aplicação da regra prevista
no artigo 35.º da Lei nº 84/VII/2011, de 10 de janeiro, relativa As alterações aos artigos 461º e 463º visam mudar o
ao crime de violência baseada no género, que impõe ao atual figurino da realização da audiência contraditória
juiz a obrigação de proferir o despacho de concordância nos Tribunais da Relação, plasmada no artigo 463.º,
ou não concordância com a forma de processo abreviado de modo a que deixe de ser a regra – presentemente a
no prazo de 48 horas. Assim, alargou- se o âmbito do audiência deve ser realizada, desde que o recorrente nada
artigo 433.º em relação aos crimes de violência baseada diga a respeito, nas respetivas alegações escritas - , para
no género, maus tratos a menor ou pessoa vulnerável, passar a ser a exceção. Isto quer dizer, como decorre da
maus tratos a cônjuge e unido de facto, maus tratos a alteração introduzida, que tal audiência só poderá ter
ascendente e pessoa em economia doméstica e crimes lugar, se: (i) houver um pedido expresso do recorrente
sexuais contra menores. Igualmente, foi incorporada a ou do recorrido inserido nas suas alegações ou contra-
regra de imposição do prazo de 90 dias para o julgamento alegações de recurso, com a indicação dos concretos
desses mesmos crimes, quando houver reenvio dos autos pontos que pretende ver debatidos nessa audiência e (ii)
para a forma de processo comum. naqueles casos de renovação da prova.
No artigo 435º foram introduzidas várias melhorias, O artigo 470.º foi alterado para permitir o reenvio
com vista a garantir que o processo abreviado, tal como do processo para novo julgamento, quando, em sede
o sumário, possa contribuir para a celeridade da justiça do recurso, se depare com a falta de prova, por falta
penal de baixa e média criminalidade, reservando o de registo em qualquer tipo de suporte. Trata- se de
processo ordinário para a alta criminalidade ou mais encontrar uma solução para as dúvidas que os tribunais
grave. O alargamento do prazo de julgamento para 120 vêm enfrentando na prática. Além disso, alterou- se o
dias (três meses) após a distribuição do processo visa, seu número 2, precisando que o novo julgamento será
por um lado, viabilizar a instrução e defesa do arguido realizado por um juiz ou coletivo de juízes diferente e
adequadas e, por outro lado, evitar engarrafamentos na não por tribunal diferente, por ser impraticável face à
galeria dos julgamentos, além de considerar as contingências atual realidade do País.
imprevisíveis de tramitação, designadamente no processo
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de notificações dos intervenientes. Crê- se, assim, que a revisão ora introduzida, contribuirá
significativamente para prosseguir as finalidades de um
Em sede de recursos, o artigo 437º foi, de igual modo, Direito Processual Penal cada vez mais moderno e eficaz,
alterado, visando acrescentar as situações de dupla adaptado à realidade do País e em defesa da celeridade
conforme, impedindo o recurso quando estiver garantido e eficácia da justiça criminal.
o cumprimento do duplo grau de jurisdição. Assim, dos
acórdãos condenatórios dos Tribunais de Relação proferidos Assim,
em recurso, que confirmem as sentenças penais dos tribunais Por mandato do Povo a Assembleia Nacional decreta,
de primeira instância e apliquem pena de prisão não nos termos da alínea b) do artigo 175.º da Constituição,
superior a 8 anos não haverá recurso. Na verdade, nestas o seguinte:
situações, admitir o recurso para o Supremo Tribunal de
Justiça seria abrir um terceiro grau de jurisdição, que Artigo 1º
em nada contribuiria para a celeridade da justiça penal.
Objeto
Ademais, sempre se manterá a possibilidade do recurso
de amparo para o Tribunal Constitucional que, em Cabo- A presente Lei procede à terceira alteração ao Código
Verde, até tem funcionado, e bem, como um verdadeiro de Processo Penal, aprovado pelo Decreto- Legislativo nº
terceiro grau de jurisdição em matéria criminal. 2/2005, de 7 de fevereiro, alterado pelo Decreto- Legislativo
No artigo 452º foi alterado o prazo de recurso de dez nº 5/2015, de 11 de novembro e pela Lei nº 112/VIII/2016,
para quinze dias, visando dar mais tempo às partes para de 1 de março.
prepararem os seus recursos, auscultar as provas gravadas, Artigo 2º
selecionar e indicar os extratos relevantes e elaborar as
suas alegações e contra- alegações, sem qualquer pressão Alterações
injustificável de tempo. São alterados os artigos 3º, 5º, 30º 43º, 60º, 61º, 63º,66º,68º,
O artigo 452º- A, no seu número 6, tal como estava 70º, 71º, 74º, 75º, 76º, 77º, 78º, 89º, 91º, 96º, 97º, 100º, 101º,
redigido, não era consequente, já que o não cumprimento 109º, 111º, 113º, 124º, 135º, 139º- B, 141º, 142º, 146º, 151º,
dos requisitos formais não tinha qualquer consequência 152º, 183º, 227º, 228º, 234º, 236º, 237º, 243º, 261º, 262º,
legal. Assim, o aperfeiçoamento agora introduzido visa 264º, 268º,272º,273º, 274º, 275º, 276º, 279º, 281º, 283º,
evitar a queda imediata do recurso, dando possibilidades 284º, 289º, 290, 297º, 298º, 301º, 305º, 307º, 309º, 318º,
ao recorrente de corrigir o seu articulado, como, aliás, 320º, 321º, 324º, 327º,339º, 340º, 352º, 358º, 363º, 364º,
tem sido jurisprudência uniforme do Supremo Tribunal 365º, 388º, 393º, 399º, 401º, 408º, 409º, 412º, 414º, 417º,
de Justiça nesta matéria. 419º, 429º, 430º, 431º, 432º, 433º,435º, 437º, 452º, 452º- A,
458º, 461º, 463º, 464º e 470º todos do Código de Processo
A alteração ao artigo 456.º visa alargar o prazo de Penal, aprovado pelo Decreto- Legislativo nº 2/2005, de
resposta ao recurso de dez para quinze dias, na sequência 7 de fevereiro, alterado Decreto- Legislativo nº 5/2015,
da alteração operada no artigo 452.º, e permitir a de 11 de novembro e pela lei nº 112/VIII/2016, de 1 de
possibilidade de aperfeiçoamento em relação ao recorrido, março, que passam a ter a seguinte redação:
quando as conclusões das suas contra- alegações forem
deficientes. Efetivamente, trata- se de colocar as partes “Artigo 3º
em igualdade nas duas situações. […]

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1150 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

1. O direito de audiência e de defesa em processo penal, 2- […]


em qualquer das suas fases, é inviolável e será assegurado
a todo o arguido. 3- […]
2- […] 4- […]
3- […] 5- […]
Artigo 5º 6- […]
[…] 7. As denúncias ao Ministério Público pelas autoridades
de polícia criminal devem ser sempre instruídas com o
O processo penal, em qualquer das suas fases, subordina- histórico disponível de todas as denúncias, queixas ou
se ao princípio do contraditório. participações apresentadas contra o denunciado que
estejam pendentes de investigação ou remetidos a uma
Artigo 30º autoridade judiciária competente.
[…] 8. Nos casos de suspeitas fundadas de crimes sexuais
1- […] contra menores e crimes de violência baseada no género, as
regras deontológicas relativas à confidencialidade impostas
2- […] por lei a determinados profissionais que trabalham em
contato direto com as vítimas, não constituem obstáculos
a) […] à obrigatoriedade da denúncia ao Ministério público, aos
b) […] órgãos de polícia criminal ou às instituições nacionais
responsáveis pela proteção da criança e do adolescente
3- […] e das vítimas da violência baseada no género.
4- […] Artigo 61º
5- […] […]
6- […] 1- A apresentação da denúncia, queixa ou participação
perante a autoridade competente para a receber nos termos
7- […] deste Código pelo denunciante, queixoso ou participante
8- Quando suspenda o processo, para julgamento em que pode constituir- se assistente ao abrigo do nº 1 do
outro tribunal da questão prejudicial, pode o juiz ordenar artigo 71.º, constitui presunção de sua declaração de se
constituir assistente, sem prejuízo de a poder manifestar
3 703000 000000

a libertação do arguido preso, mediante medida de coação


pessoal que se mostrar adequada. no ato.

Artigo 43º 2- Tratando- se de crime relativamente ao qual a


prossecução do processo dependa de acusação particular,
[…] sem prejuízo do disposto no artigo 67.º, o Ministério
Público, quando receber a denúncia, queixa ou participação
1- […] ou inquirir quem tenha legitimidade para se constituir
assistente, na sua primeira intervenção processual
a) […] adverti- lo- á da obrigatoriedade de se constituir como
b) […] tal no processo, devendo constar dessa advertência que:
c […] a) O pedido de constituição como assistente pode
ser feito por meio de declaração no processo
d) Houver declaração de contumácia ou o julgamento ou requerimento dirigido ao juiz competente,
decorrer na ausência de um ou alguns dos arguidos apresentando na secretaria da procuradoria
e o tribunal considerar como mais conveniente da república e ter lugar no prazo de dez dias
a separação de processos. a contar da advertência;
2- […] b) Deve pagar o imposto devido, especificando o
correspondente valor, e constituir advogado,
Artigo 60º podendo, caso necessitar, requerer o benefício
[…] da assistência judiciária, indicando- se- lhe
para o efeito os endereços físicos e eletrónico,
1. A denúncia ao Ministério Público é obrigatória, bem como os contatos telefónicos do organismo
devendo, nos casos de crimes de violência baseada no representativo dos advogados ou da sua estrutura
género e crimes sexuais contra a menores, ser efetuada orgânica mais próxima;
no prazo máximo de 48 horas:
c) A falta de constituição de assistente no prazo
a) Para as autoridades policiais, quanto aos crimes indicado determina o arquivamento dos autos.
de que tomem conhecimento;
3- O disposto no número anterior é aplicável aos órgãos
b) Para quaisquer outras autoridades ou funcionários de polícia criminal quando lhe for delegada a competência
da Administração Pública, tal como definidos pelo Ministério Público.
no artigo 362.º, quanto a crimes de que tomem
conhecimento no exercício das suas funções e 4- Nas situações previstas nos números 2 e 3 far- se-
por causa delas; á, constar nos autos a advertência e a consequência do
incumprimento da obrigação.
c) Os médicos, enfermeiros ou técnicos de saúde,
quanto a crimes de violência baseada no género Artigo 63º
e crimes sexuais contra a menores que tomem
conhecimento no exercício das suas funções e […]
por causa delas. 1- […]

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1151

2- […] 1- […]
3- O auto de notícia será obrigatoriamente remetido a) […]
ao Ministério Público no mais curto prazo e valerá como
denúncia, sendo correspondentemente aplicável o disposto b) […]
no nº 7 do artigo 60º. c) Se o ofendido morrer, o cônjuge sobrevivo não
4- […] separado judicialmente de pessoas e bens ou a
pessoa que com o ofendido vivesse em condições
5- […] análogas às de cônjuge, os descendentes e adotados,
ascendentes e adotantes ou, na falta ou não atuação
Artigo 66.º deles, os irmãos e seus descendentes, salvo se
[…] alguma destas pessoas houver comparticipado no
crime, bem como as associações e outras pessoas
1. Salvo na situação prevista no número 4, nos casos coletivas, legalmente reconhecidas, de proteção
previstos nos artigos 64.º e 65.º, a intervenção do Ministério às vítimas de crimes violentos ou especialmente
Público no processo cessará com a homologação da violentos, de crimes de maus tratos e crimes
desistência da queixa ou da acusação particular. sexuais contra a criança ou pessoa vulnerável
e de crimes de violência baseada no género,
2- […] como tais definidos no Código Penal;
3- […] d) […]
4. Nos crimes de violência baseada no género, a declaração, e) […]
por parte da vítima, de que pretende desistir da queixa,
apenas pode ser atendida no momento da determinação f) […]
da pena concreta a aplicar, quando se verifiquem os
pressupostos exigidos para a suspensão da pena, nos 2- […]
termos da alínea b) do nº 3 do artigo 53.º do Código Penal. 3- […]
Artigo 68.º 4- Tratando- se de procedimento dependente de
[…] acusação particular, o pedido terá lugar no prazo de dez
dias, a contar da advertência comunicada nos termos do
1- […] número 2 do artigo 61.º.
2- Competirá, em especial, ao Ministério Público: 5- […]
3 703000 000000

a) Receber as denúncias, as queixas e participações e 6- […]


apreciar o seguimento a dar- lhes, nomeadamente
abrindo a instrução e, nos casos de indícios de Artigo 74º
crimes de violência baseada no género, maus […]
tratos a criança ou pessoa vulnerável, maus
tratos a cônjuge e unido de facto, maus tratos 1- […]
a ascendente e pessoas em economia doméstica
e crimes sexuais contra criança, aferir da 2- É arguido todo aquele sobre quem recaia forte
necessidade de aplicação de quaisquer das suspeita de ter cometido um crime, cuja existência esteja
medidas de assistência às vítimas previstas suficientemente comprovada e como tal seja constituído
neste Código e na respetiva legislação e proceder nos termos do artigo 76º.
a imediata apresentação do arguido ao juiz, para Artigo 75º
primeiro interrogatório e aplicação de medidas
de coacção pessoal e de garantia patrimonial […]
que se mostrarem adequadas;
1- Assumirá a qualidade processual de arguido, todo
b) […] aquele que, como tal, for constituído nos termos do artigo
seguinte.
c) […]
2- […]
d) […]
Artigo 76º
e) […]
[…]
f) Exercer outras competências previstas em leis
especiais. 1- […]
Artigo 70.º a) [...]
[…] b) [...]
1. São órgãos de polícia criminal de competência genérica: c) [...]
a) […] d) [...]
b) A Polícia Nacional, nos limites da lei. e) [...]
2. (…) 2- […]
Artigo 71.º 3- A constituição de arguido operar- se- á através da
comunicação escrita feita ao visado por juiz ou magistrado
[…] do Ministério Público, ou, ainda, por um órgão de polícia
criminal, de que a partir desse momento aquele deverá

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1152 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

considerar- se arguido num processo penal e da entrega 4- Ao arguido deve ser, também, obrigatoriamente
no próprio ato de documento que contenha a identificação comunicado no mesmo escrito a que se refere o número
do processo e do defensor, se este tiver sido já nomeado, anterior de que o incumprimento de qualquer dos deveres
a sumária descrição dos factos que lhe são imputados e previstos nas alíneas a), d) e e) do número anterior
a enumeração dos seus direitos e deveres processuais legitimará:
referidos no artigo seguinte.
a) A continuação do processo e sua representação por
4- […] defensor em todos os atos processuais, incluindo
aqueles em relação aos quais tenha o direito ou
5- No caso do arresto preventivo, sempre que a prévia o dever de estar presente, com a realização de
constituição como arguido puser em sério risco o seu fim todas as notificações na pessoa do defensor por
ou a sua eficácia, pode a constituição como arguido ocorrer ele escolhido ou nomeado oficiosamente, ou na
em momento imediatamente posterior ao da aplicação da impossibilidade deste as receber, por qualquer
medida, mediante despacho devidamente fundamentado motivo, por editais e anúncios nos casos em que,
do juiz, sem exceder, em caso algum, o prazo máximo de normalmente, o seriam pessoalmente;
quarenta e oito horas a contar da data daquela aplicação.
b) A sua declaração de contumácia ou a realização
6- A não constituição como arguido no prazo máximo da audiência de julgamento na sua ausência,
previsto no número anterior determina a nulidade da nos termos do artigo 364º- A.
medida de arresto preventivo, sem prejuízo do disposto
no número seguinte. Artigo 78º
7- Caso a constituição como arguido para efeitos de […]
arresto preventivo nos termos do nº 5 se tenha revelado
comprovadamente impossível por o visado estar ausente 1- […]
em parte incerta e se terem frustradas as tentativas de 2- […]
localizar o seu paradeiro, pode a mesma ser dispensada,
mediante despacho devidamente fundamentado do juiz, 3- Quando o arguido tiver advogado constituído, deverá
quando existam, cumulativamente, indícios objetivos de ele ser notificado e, não comparecendo ou nem enviando
dissipação do respetivo património e fundada suspeita advogado substituto, será nomeado defensor oficioso um
da prática do crime. advogado ou na falta deste por qualquer outra pessoa da
sua livre escolha.
Artigo 77º
4- […]
[…]
5- Quando não seja possível a sua apresentação ao juiz
3 703000 000000

1- […] competente dentro do prazo fixado no nº 1, designadamente


a) [...] por razões de descontinuidade territorial ou em caso
de detenção efetuada em espaço marítimo ou aéreo do
b) [...] território nacional, o arguido detido, será interrogado
por aquele juiz através de videoconferência ou outros
c) [...] meios análogos, podendo, em caso de impossibilidade de
d [...] utilização destes meios, ser apresentado e interrogado pelo
juiz da área judicial da sua detenção ou mais próxima do
e [...] aeroporto ou porto de chegada.
f [...] 6-No caso previsto na parte final do número anterior,
seguir- se- á a imediata remessa do processo e, se for
g [...] o caso, a apresentação presencial do arguido ao juiz
competente que, reavaliará o despacho de validação da
h [...] detenção.
2- […] Artigo 89º
3- Recaem em especial sobre o arguido os deveres que […]
se seguem, os quais lhe são obrigatoriamente comunicados
por escrito e em duplicado: 1- Nos casos em que a lei determinar que o arguido
seja assistido por defensor advogado e aquele o não tiver
a) Comparecer perante a autoridade competente, constituído, ou o não constituir, a autoridade judiciária ou
em especial o juiz, o Ministério Público ou os o órgão de polícia criminal nomear- lhe- á defensor, que
órgãos de polícia criminal e manter- se à sua será um advogado ou na falta deste por uma pessoa da
disposição sempre que a lei o exigir ou para tal sua livre escolha, não podendo, contudo, em caso algum
tiver sido devidamente convocado ou notificado; tal nomeação recair sobre qualquer autoridade, agente
b) [...] ou funcionário do organismo por onde corre o respetivo
processo.
c) [...]
2- […]
d) Não mudar de residência nem dela se ausentar
por mais de cinco dias sem comunicar a nova Artigo 91º
residência ou o lugar onde possa ser encontrado; […]
e) Quando residir ou for residir para o estrangeiro 1- […]
ou no País para fora da área judicial onde o
processo corre os seus termos, indicar o defensor a) [...]
escolhido e o respetivo endereço de domicílio
profissional que, residindo nessa área judicial, b) [...]
tome o encargo de receber as notificações que
lhe devem ser feitas na sua própria pessoa. c) [...]

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1153

d) [...] até ao encerramento da instrução, sem prejuízo, no


entanto, de o poder fazer em outro momento processual,
e) Nos casos em que a lei permitir prestação antecipada nos termos do presente Código.
de depoimento, designadamente para a memória
futura; Artigo 101º
f) Nos interrogatórios de arguidos realizados por […]
órgãos de polícia criminal, nos processos cuja
investigação tenha sido delegada pelo Ministério 1- […]
Público;
2- Se, fora dos casos previstos no número antecedente, o
g) Na audiência de julgamento realizada na ausência lesado tiver manifestado no processo o propósito de deduzir
do arguido; pedido de indemnização ou de se constituir assistente,
nos termos do nº 2 do artigo antecedente, a secretaria, ao
h) Nos demais casos que a lei determinar. notificar o arguido do despacho de acusação, ou, não o
2- […] havendo, do despacho de pronúncia ou, ainda, se a este
não houver lugar, do despacho que designar o dia para a
Artigo 96º audiência, notifica igualmente o lesado para, em sete dias,
a contar da receção da notificação, deduzir o pedido civil.
[…]
1- […] 3- Nos restantes casos, o lesado ou quem tenha
legitimidade para se constituir assistente poderá deduzir
a) [...] o pedido até sete dias depois de ter sido comunicado a
notificação ao arguido, conforme os casos, de um dos
b) [...] despachos mencionados no número antecedente.
c) [...] Artigo 109º
d) [...]
[…]
e) [...]
1- […]
f) O processo penal correr sob a forma especial e o
assistente ou quem tenha legitimidade para a) [...]
se constituir como tal manifestar interesse na
separação; b) [...]

g) [...] c) [...]
3 703000 000000

2- […] 2- Para efeitos do disposto no número anterior, o juiz e


o Ministério Público têm o dever de assegurar, na medida
Artigo 97.º do possível, a prova dos danos durante o julgamento, com
respeito pelo contraditório, sem prejuízo do disposto no
[…] artigo 105º.
1- […]
3- […]
2- […]
Artigo 111º
3- […]
[…]
4. Ao Ministério Público competirá:
1- […]
a) Deduzir o pedido civil no processo penal relativamente
a qualquer lesado que lhe caiba legalmente 2- […]
representar, bem como a todo aquele que
expressamente lho tiver solicitado; neste último 3- […]
caso, porém, cessará a intervenção do Ministério
Público se o lesado vier a fazer- se representar 4- […]
por advogado, tendo de aceitar todos os atos 5- […]
processuais por aquele já praticados;
6- O tribunal poderá, verificando- se as circunstâncias
b) Nos casos de crimes de violência baseada no género, descritas no artigo 10º, ou em caso de processo por crimes
crimes de maus tratos e crimes sexuais contra sexuais que tenha por ofendido um menor de dezasseis
menores ou pessoa vulnerável, deduzir, a todo o anos ou crime de tráfico de órgãos humanos e tráfico de
tempo após a receção da denúncia, em separado pessoas, ordenar a restrição, total ou parcial, da publicidade
junto do tribunal competente, pedido de fixação de ato processual, restrição que nunca poderá abranger
de alimentos provisórios, nomeadamente quando a leitura de sentença final.
entre arguido e vítima haja filhos menores ou
quando a vítima deles careça, desde que se 7- […]
verifiquem os pressupostos para a sua atribuição.
Artigo 113º
5- […]
[…]
Artigo 100º
[…] É proibida, sob cominação de desobediência qualificada,
salvo outra incriminação estabelecida em lei especial:
1- […]
a) A divulgação ou publicitação, ainda que parcial
2- Quem tiver legitimidade para deduzir pedido de ou por resumo, por qualquer meio, de atos ou
indemnização civil poderá manifestar, no processo, o peças processuais quando cobertos pelo segredo
propósito de o fazer ou de se constituir como assistente, de justiça;

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1154 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

b) A divulgação ou publicitação, por qualquer meio, b) […]


de identidade, fotografias ou imagens de vítimas
de crimes sexuais, de tráfico de órgãos humanos, c) Mandar proceder a inquérito, em prazo que não pode
tráfico de pessoas, a honra ou a reserva da exceder 15 dias sobre os atrasos e as condições
vida privada, exceto se a vítima consentir em que se verificaram, suspendendo a decisão
expressamente na revelação da sua identidade até à realização do inquérito;
ou se o crime for praticado através de órgão de d) […]
comunicação social.
e) Deferir o pedido, mandando proceder imediatamente
Artigo 124º a prática do ato omitido em tempo útil, e para
[…] efeitos do cumprimento do prazo processual e
realização da fase processual em atraso.
1- […]
6. […]
2- […]
Artigo 141º
3- […]
[…]
4- […]
1- A notificação poderá ser feita por contato pessoal
5- […] com o notificando e no lugar onde este for encontrado,
por via postal, através de carta ou aviso registados ou
6- Os atos processuais orais, ainda que tenham de ser não, ou mediante editais e anúncios, correio eletrónico,
reduzidos a escrito, podem ser praticados ou realizados telecópia ou outros meios telemáticos.
através de videoconferência ou outros meios análogos,
designadamente quando a presença física implique a 2- […]
deslocação para uma área judicial diferente daquela onde
a pessoa visada se encontra, salvo quando a autoridade 3- É tida como notificação ao próprio notificando:
judiciária determinar como sendo imprescindível essa a) Aquela que é feita na pessoa, com residência ou
presença. domicílio profissional na área de competência
Artigo 135.º territorial do tribunal, respetivamente indicada
ou indicado pelo notificando para receber as
[…] suas notificações pessoais;
1- […] b) Aquela que é feita na pessoa do advogado ou
3 703000 000000

defensor por ele indicado para receber as suas


2- […] notificações pessoais;
a) […] c) A notificação edital nos casos de arguidos ausentes
b) […] e noutros casos especialmente previstos neste
Código.
c) Os atos em processos relativos a crimes de violência
baseada no género, crimes de maus tratos e crimes sexuais 4- […]
contra menores, crimes de maus tratos a cônjuge ou unido 5- […]
de facto, crimes de maus tratos a ascendente e pessoa em
economia doméstica, preservando sempre os direitos de defesa 6- […]
do arguido e de proteção da vítima, bem como a salvaguarda
dos seus direitos à imagem, integridade física e psicológica, 7- […]
identidade e intimidade da vida privada. Artigo 142º
3. […] […]
Artigo 137º 1- […]
[…] 2- Porém, deve ser feita na própria pessoa do arguido,
1- […] assistente ou da parte civil, e igualmente ao respetivo
mandatário, a notificação da acusação, da dedução de pedido
2- Verificando- se as circunstâncias referidas na parte de indemnização civil, do despacho de pronúncia ou não-
final do nº 2 do artigo 279º o prazo será de trinta dias. pronúncia ou do despacho materialmente equivalente, do
despacho que designa dia de julgamento e da decisão penal,
3- […] bem como do despacho relativo à aplicação de medida de
4- […] coação pessoal ou de garantia patrimonial, contando- se
o prazo para a prática de ato processual subsequente a
Artigo 139.º- B partir da data da notificação feita em último lugar.
[…] 3- Nas situações previstas no número anterior,
quando não for possível notificar pessoalmente o arguido,
1- […] o assistente ou a parte civil na residência declarada no
processo ou noutro local especialmente, também nele
2- […] indicado, para receber as notificações que legalmente
3. […] devem ser feitas na sua própria pessoa, ordenar- se- á
a notificação edital, nos termos deste Código.
4- […]
4- O arguido, o assistente ou a parte civil ou quem
5- […] tenha legitimidade para se constituir como parte civil
ou assistente, quando não residem na área da sede do
a) […] tribunal, devem obrigatoriamente, na sua primeira

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1155

intervenção processual, escolher o domicílio para receber d) [...]


as notificações que legalmente devem ser feitas na sua
própria pessoa, sob pena de ser efetuada a notificação e) [...]
edital, nos termos deste Código. f) [...]
Artigo 146º Artigo 183º
[…] […]
1- A notificação por editais e anúncios far- se- á 1- […]
mediante a publicação de editais e anúncios no Diário da
Justiça Eletrónico, e sua afixação na porta do tribunal e a) [...]
no lugar destinado para o efeito pelo órgão executivo do
poder local respetivo. b) [...]
2- Na impossibilidade de notificar por meio do Diário c) [...]
da Justiça Eletrónico, a publicação referida no número
anterior far- se- á em dois números seguidos de um d) Os peritos, em relação às perícias que tiverem
dos jornais de maior circulação na localidade da última realizado no mesmo processo ou em processo
residência do arguido ou do País e de sua afixação na conexo.
porta do tribunal e no lugar destinado para o efeito pelo 2- […]
órgão executivo do poder local respetivo.
Artigo 227º
Artigo 151º
Outras medidas preventivas e de polícia
[…]
1- […]
[…]
2- […]
a) [...]
a) [...]
b) [...]
b) [...]
c) [...]
c) [...]
d) Obrigatoriedade de presença ou intervenção do
arguido e ou do seu advogado ou defensor em 3- […]
3 703000 000000

ato processual, designadamente a sua audição


prévia antes da acusação; 4- Compete, igualmente, aos órgãos de polícia criminal,
mesmo antes de receberem ordem da autoridade judiciária
e) [...] competente para procederem a investigações, tomar as
medidas de polícia previstas na lei e no presente Código
f) [...] necessários e urgentes para prevenir os atos de terrorismo,
g) [...] criminalidade violenta ou altamente organizada ou quando
haja fundados indícios da prática iminente de crime que
h) [...] ponha em grave risco a vida ou a integridade física de
qualquer pessoa.
i) [...]
Artigo 228º
j) [...]
Identificação de suspeitos e pedido de informações
k) Falta de audição prévia do arguido antes da acusação.
1- Os órgãos de polícia criminal podem proceder à
Artigo 152º identificação de qualquer pessoa encontrada em lugar
público, aberto ao público ou sujeito a vigilância policial,
[…] sempre que sobre ela recaiam fundadas suspeitas da
1- […] prática de um facto punível, da pendência de processo
de extradição ou de expulsão, de que tenha penetrado ou
2- […] permaneça irregularmente no território nacional ou de
haver contra si mandado de detenção.
a) [...]
2- Antes de procederem à identificação, os órgãos de
b) [...] polícia criminal devem provar a sua qualidade, comunicar
c) [...] ao suspeito as circunstâncias que fundamentam a obrigação
de identificação e indicar os meios por que este se pode
d) [...] identificar.
e) [...] 3- O suspeito pode identificar- se mediante a apresentação
de um dos seguintes documentos:
3. […]
a) Bilhete de identidade ou cartão nacional de
a) [...] identificação ou passaporte, no caso de ser
cidadão cabo- verdiano;
b) [...]
b) Título de residência de estrangeiros, passaporte
c) Tratando- se de nulidade respeitante à instrução ou documento que substitua o passaporte, no
ou à audiência contraditória preliminar, até caso de ser cidadão estrangeiro.
ao encerramento desta ou, não havendo lugar
aquela audiência, até cinco dias após a notificação 4- Na impossibilidade de apresentação de um dos
do despacho que tiver encerrado a instrução; documentos referidos no número anterior, o suspeito

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1156 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

pode, também, identificar- se mediante a apresentação do Estado de Cabo Verde, quando não se mostre
de documento original, ou cópia que contenha o seu nome possível obter previamente a autorização da
completo, a sua assinatura e a sua fotografia. autoridade judiciária competente em tempo útil.
5- Se não for portador de nenhum documento de 5- O despacho referido no nº 3 tem o prazo de validade
identificação, o suspeito pode identificar- se, ainda, por máxima de sessenta dias, sob pena de nulidade, salvo
um dos seguintes meios: prorrogação.
a) Comunicação com uma pessoa que apresente os 6- A realização da diligência a que se refere o nº 4 será
seus documentos de identificação; comunicada ao juiz competente e por este apreciada em
ordem à sua validação, sob pena de nulidade:
b) Deslocação, acompanhado pelos órgãos de polícia
criminal, ao lugar onde se encontram os seus a) Imediatamente nos casos previstos nas alíneas
documentos de identificação; a) e b);
c) Reconhecimento da sua identidade por uma pessoa b) No prazo de quarenta e oito horas após o término da
identificada nos termos do nº 3 ou do nº 4 que diligência e a chegada a um porto ou aeroporto
garanta a veracidade dos dados pessoais indicados do País, no caso previsto na alínea c).
pelo identificando. Artigo 236º
6- Se a pessoa não for capaz de se identificar nos termos […]
dos n.ºs 3, 4 e 5 ou se recusar ilegitimamente a fazê- lo,
os órgãos de polícia criminal podem conduzir o suspeito 1- Antes de se proceder a revista, que deverá sempre
ao seu estabelecimento mais próximo e compeli- lo a respeitar a dignidade pessoal e, na medida do possível,
permanecer ali pelo tempo estritamente indispensável o pudor do visado, é entregue a este, salvo nos casos do
à sua identificação, em caso algum superior a três, nº 4 do artigo 234.º, cópia da decisão que a determinou,
realizando, caso se mostre necessário, provas adequadas no qual se faz a menção de que aquele pode indicar, para
à sua cabal identificação, nomeadamente, fotográficas, presenciar a diligência, pessoa da sua confiança e que se
datiloscópicas, ou de natureza análoga e de reconhecimento apresente sem delonga.
físico, desde que não ofendam a sua dignidade pessoal,
e convidando o identificando a indicar residência onde 2- […]
possa ser encontrado e receber comunicações. Artigo 237º
7- Os atos de identificação levados a cabo nos termos […]
do número anterior são sempre reduzidos a auto, que será
transmitido, no mais breve prazo possível, a autoridade 1- Salvo nos casos previstos no nº 4 do artigo 234º,
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judiciária, porém, tal remessa é desnecessária e as provas antes de se proceder a busca em lugares ou em veículos,
de identificação do suspeito constantes daquele auto são incluindo navios e aeronaves, será entregue a quem
destruídas na presença do identificando, a seu pedido, se tiver a disponibilidade do lugar ou veículo em que a
a suspeita não se confirmar. diligência se realiza, cópia da decisão que a determinou,
aplicando- se correspondentemente o disposto no nº 2 do
8- O suspeito tem o direito de se fazer acompanhar ou artigo antecedente.
de comunicar com seu advogado e ao mesmo será sempre
facultada a possibilidade de contactar com pessoa da sua 2- […]
confiança. 3- […]
9- Os órgãos de polícia criminal podem pedir ao suspeito 4- […]
informações relativas a um crime, nomeadamente, quanto à
descoberta e à conservação de meios de prova que poderiam Artigo 243º
perder- se antes da intervenção da autoridade judiciária,
desde que, sob pena de nulidade, o advirtam previamente […]
de que não é obrigado a prestar tais informações. 1- […]
10- Na situação prevista no número anterior, se o 2- […]
suspeito aceitar prestar informações, estas e a advertência
a que se refere o número anterior são obrigatoriamente 3- Os órgãos de polícia criminal poderão efetuar
reduzidas a escrito, sob pena de nulidade. apreensões nos seguintes casos, as quais deverão ser
validadas pela autoridade judiciária competente no prazo
Artigo 234º de quarenta e oito horas, sob pena de nulidade:
[…] a) No decurso de buscas e de revistas, nos termos
previstos neste Código para tais diligências;
1- […]
b) Quando haja urgência ou perigo na demora na
2- […] obtenção da prova;
3- […] c) Quando haja fundado receio de desaparecimento,
destruição, danificação, inutilização, ocultação ou
4- […] transferência de elementos de prova, designadamente
a) [...] de objetos, produtos ou vantagens provenientes
da prática de um facto ilícito típico suscetíveis
b) [...] de serem declarados perdidos a favor do Estado.
c) Houver fundado motivo para crer que estejam a 4- […]
ser preparados ou cometidos crimes a bordo 5- […]
de navios ou aeronaves nas áreas marítimas
e aéreas que, por força de legislação interna 6- […]
ou instrumentos internacionais, estejam sob a
jurisdição penal ou permite intervenção penal 7- […]

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1157

8- Tratando- se de apreensões efetuadas no decurso de c) [...]


buscas e revistas a bordo de navios ou aeronaves, o prazo
previsto no nº 3 conta- se a partir da data da chegada ao Artigo 272º
porto ou aeroporto do País do navio ou aeronave objeto de
buscas e ou das pessoas revistadas ou das autoridades de […]
polícia criminal que efetuarem as diligências. 1- São medidas de coação pessoal:
Artigo 261º a) Caução;
[…]
b) Apresentação periódica a autoridade;
1- A detenção de um suspeito imporá a sua imediata
constituição como arguido, sendo que a aplicação de c) Suspensão do exercício de função, profissão ou
qualquer das medidas cautelares processuais previstas direitos;
neste Livro dependerá da prévia constituição como arguido, d) Interdição de saída do país;
nos termos deste Código, da pessoa que delas for objeto,
salvo na situação excecional prevista no nº 5 do artigo 76º. e) Proibição e obrigação de permanência;
2- […] f) Obrigação de permanência na habitação;
3- […] g) Prisão preventiva.
4- […]
2- […]
Artigo 262º
a) [...]
[…]
b) [...]
1- As medidas de coação pessoal e de garantia patrimonial
a aplicar em concreto deverão ser necessárias e adequadas Artigo 273º
às exigências cautelares gerais previstas no artigo 276º
que o caso requer e proporcionais à gravidade do crime e […]
às sanções que previsivelmente venham a ser aplicadas. 1- […]
2- […] 2- [revogado]
3- […]
3- […]
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4- […]
4- A prisão preventiva não será cumulável com outra
Artigo 264º medida de coação pessoal.
Conceito, finalidades e formalidades 5- […]
1- […] Artigo 274º
a) [...] […]
b) [...]
1- As medidas de coação pessoal e de garantia patrimonial
c) [...] serão aplicadas por despacho do juiz:
d) [...] a) Na sequência de uma detenção para o primeiro
interrogatório judicial ou com vista à sua aplicação;
2- No momento da detenção, quem a efetuar deverá
comunicar e advertir ao detido o motivo da sua detenção b) Durante a instrução, a requerimento do Ministério
e, nos casos previstos nas alíneas a) e b) do número Público ou do assistente;
anterior, de que tem direito de se manter em silêncio e
que as declarações que prestar poderão ser utilizadas no c) Depois da instrução, mesmo oficiosamente, ouvido
processo contra ele. o Ministério Público e o assistente.
Artigo 268º 2- Durante a instrução, o juiz poderá fundamentadamente
aplicar uma medida de coação pessoal ou de garantia
[…] patrimonial diversa, ainda que mais grave, quanto à sua
1- Fora de flagrante delito, a detenção só poderá ser natureza, medida ou modalidade de execução, da que foi
efetuada por mandado do juiz ou, nas seguintes situações, requerida pelo Ministério Público, exceto nas situações
do Ministério Público: previstas na alínea b) do nº 1 do artigo 276º.
a) Nos casos em que for admissível prisão preventiva; 3- […]
b) No âmbito da cooperação judiciária internacional 4- […]
em matéria penal, nos termos da respetiva
legislação; 5- O despacho de aplicação de uma medida de coação
ou de garantia patrimonial será, também, notificado ao
c) Quando se tratar de detenção da pessoa que tiver denunciante, assistente, lesado ou ofendido quando a
penetrado ou permaneça irregularmente em medida nele aplicada lhe disser respeito.
território nacional, ou contra a qual estiver em
curso processo de extradição ou de expulsão. Artigo 275º
2- […] […]
a) [...] O despacho que mandar aplicar a medida de coação
pessoal ou de garantia patrimonial conterá, sob pena de
b) [...] nulidade:

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1158 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

a) [...] ou, ainda, com elevado grau de mobilidade,


especialidade técnica ou dimensão internacional;
b) [...]
d) Crimes previstos nos artigos 291º, 306º, 307º, 308º,
c) [...] 309º, 311º, 313º e 314º do Código Penal;
d) [...] e) Crimes de falsificação de moeda, títulos de crédito,
valores selados, selos e equiparados ou da
e) [...] respetiva passagem;
f) [...] f) Crimes abrangidos por instrumentos jurídicos
internacionais subscritos por Cabo Verde sobre
Artigo 276º a segurança da navegação marítima ou aérea.
[…] 3- […]
Nenhuma medida de coação pessoal prevista no capítulo 4- […]
antecedente poderá ser aplicada se, em concreto e no
momento da sua aplicação, não tiver a finalidade de 5- […]
assegurar o cumprimento de qualquer uma das seguintes 6- […]
exigências cautelares gerais:
7- […]
a) Garantir que o arguido se mantenha à disposição
da justiça e evitar a sua fuga ou perigo de fuga; Artigo 281º
b) Assegurar o normal decurso da instrução do […]
processo, bem como a aquisição, conservação
e veracidade da prova já recolhida ou a recolher, 1- […]
designadamente impedir pressões, ameaças a) [...]
ou intimidações a intervenientes ou sujeitos
processuais, vítimas e seus familiares, bem b) [...]
como a concertação fraudulenta; c) [...]
c) Garantir a proteção da vítima; 2- [...]
d) Pôr fim ao crime ou prevenir o perigo de continuação 3- […]
de atividade criminosa;
4- As medidas de garantia patrimonial não se extinguem
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e) Assegurar, em razão da natureza e das circunstâncias em caso decisão absolutória contra a qual tenha sido
do crime ou da personalidade do arguido, a ordem, interposto recurso e, tratando- se de caução, se o arguido
segurança e tranquilidade públicas, preservando vier a ser condenado em prisão, a medida só se extinguirá
a paz social ou mitigá- la consideravelmente. com o início da execução da pena.
Artigo 279º Artigo 283º
[…] […]
1- […] 1- [...]

a) [...] 2- […]
3- Na fixação do montante da caução tomar- se- ão
b) [...] em conta as exigências específicas de natureza cautelar a
c) [...] que se destina, a natureza e gravidade do crime imputado,
o dano e outras consequências por este causado ou que
d) [...] com toda a probabilidade causará e a situação económica
do arguido.
e) [...]
Artigo 284º
2- Os prazos referidos no número antecedente poderão
ser elevados, respetivamente, até seis, doze, dezoito, […]
vinte e quatro e trinta meses, quando o processo tiver 1- A caução será prestada por meio de depósito,
por objeto crime punível com pena de prisão cujo limite garantia ou fiança bancária ou seguro caução à primeira
máximo seja superior a oito anos ou alguns dos crimes solicitação, penhor ou outras garantias reais sobre bens
previstos nas alíneas a) a f) deste número e se revelar móveis previstos na lei, e hipoteca, preferencialmente
de especial complexidade, devido, nomeadamente ao pela ordem aqui indicada e nos concretos termos em que
elevado número de intervenientes ou ao caráter altamente o juiz o admitir.
organizado do crime:
2- […]
a) Cibercriminalidade e criminalidade fiscal ou
económica e financeira, bem como os crimes 3- […]
de terrorismo, tráfico de estupefacientes e
substâncias psicotrópicas, tráfico de pessoas 4- […]
e tráfico de órgãos humanos; 5- […]
b) Crimes de corrupção, peculato e participação Artigo 289.º
ilícita em negócios previsto no nº 2 do artigo
369º do Código Penal, bem como os crimes de […]
responsabilidade e de lavagem de capitais; 1- […]
c) Crimes executados de forma altamente organizada a) […]

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1159

b) A proibição de contatar com determinadas pessoas, na respetiva legislação;


designadamente a vítima, sem aquela autorização;
g) Crimes dolosos pertencentes ao âmbito da criminalidade
c) […] violenta, alta ou especialmente organizada;
d) A proibição de permanência em casa de morada h) Crimes de furto qualificado, roubo e dano qualificado,
da família, nos casos em que o arguido haja previstos nos artigos 196º, 198º, 199º e 205º do
sido indiciado da prática de crimes de violência Código Penal;
baseada no género, maus- tratos a criança
ou pessoa vulnerável, maus tratos a cônjuge i) Crimes de burla qualificada, abuso de incapazes,
e unido de facto, maus tratos a ascendente e previstos nos artigos 213º e 216º do Código Penal
pessoas em economia doméstica e de crimes e de extorsão e chantagem, previstos nos artigos
sexuais contra menor, quando o arguido e a 217º e 218º do Código Penal;
vítima residam nesse lugar; j) Crimes de incêndio, inundação e outras condutas
e) A proibição de contato com a vítima, nos casos em especialmente perigosas, previstos no artigo
que o arguido haja sido indiciado da prática 296º do Código Penal;
de qualquer dos crimes previstos na alínea k) Crimes contra a fé pública previstos no Título III,
precedente, independentemente do lugar em do Livro II do Código Penal, puníveis com pena
que a mesma reside. de prisão, cujo limite máximo seja superior a
2- […] três anos;

3- […] l) Crimes de armas, de comércio ilícito de armas e de


tráfico internacional e transferência de armas,
4. Independentemente das demais medidas aplicáveis, na sua forma simples ou agravada, bem como
presume- se sempre necessária a aplicação da medida de de detenção de armas e outros dispositivos,
proibição de permanência em casa de morada da família, produtos ou substâncias em locais proibidos,
quando o arguido e a vítima habitem a mesma residência, como tais classificados e previstos do regime
enquanto cônjuge ou unido de facto. jurídico de armas e munições;
5. O juiz pode afastar a aplicação da medida de proibição m) Crimes contra a comunidade internacional
de permanência em casa de morada de família, mediante previstos no Título IV do Livro II do Código
despacho especialmente fundamentado. Penal, puníveis com pena de prisão de máximo
superior a três anos;
Artigo 290º
3 703000 000000

n) Crimes de traição e sabotagem e contra a defesa


[…] nacional, previstos nos artigos 306º e 307º do
1- Poderá o juiz sujeitar o arguido a prisão preventiva, Código Penal;
quando houver fortes indícios de prática de crime doloso o) Crimes de recebimento indevido de vantagem,
punível com pena de prisão cujo limite máximo seja superior corrupção passiva, corrupção ativa, tráfico de
a três anos, se considerar inadequadas ou insuficientes, influência e peculato, previstos nos artigos 362º-
no caso, as outras medidas de coação pessoal referidas A, 363º, 364º, 365º e 366º do Código Penal;
nos artigos antecedentes.
p) Crimes de tráfico de estupefacientes e substâncias
2- Se, face a qualquer das exigências cautelares psicotrópicas, previstos na respetiva legislação;
gerais previstas no artigo 276º, considerar inadequadas
ou insuficientes, no caso, as outras medidas de coação q) Crimes de lavagem de capitais, bens, direitos e
pessoal, o juiz pode impor ao arguido a prisão preventiva, valores, previstos na respetiva legislação.
nos casos previstos no número seguinte ou quando houver
fortes indícios de prática de: 1- Pode, ainda, o juiz decretar a prisão preventiva:

a) Crimes de homicídio doloso, previstos nos artigos a) No âmbito da cooperação judiciária internacional
122º, 123º e 124º do Código Penal e de ofensa em matéria penal, regulada pela respetiva
à integridade física ou psíquica, previstos nos legislação;
artigos 129º e 130º do Código Penal; b) Se o visado for pessoa que tiver penetrado ou
b) Crimes sexuais contra menor ou pessoa vulnerável, permaneça irregularmente em território nacional,
com ou sem penetração, previstos nos artigos ou contra o qual estiver em curso processo de
142.º, nº 3, 143.º, nº 2, 144.º, 145.º- A, 146.º, n.ºs extradição ou de expulsão.
2 e 3, 147.º, nº 2, 148.º, nºs 1 e 2, 149.º, 150.º, 4- É sempre ilegal a detenção ou a prisão preventiva
nºs 1 e 3, 150.º- A ,150.º- C, e 152.º - A, bem destinada a obter os indícios referidos no número 1.
como os crimes de violência baseada no género
previstos no artigo 131.º - C. Artigo 297º
c) Crime de substituição fraudulenta de recém- nascido, […]
previsto no artigo 282º do Código Penal;
1- […]
d) Crimes de organização, associação ou grupo criminosos
ou de quadrilha ou bando, previstos nos artigos 2- Havendo fundado receio de que faltem ou diminuam
291º e 291º- A do Código Penal; substancialmente as garantias de pagamento da pena
pecuniária e das custas do processo, bem como da efetivação
e) Crimes de tortura, tratamentos cruéis, degradantes da declaração judicial de perda de objetos, produtos e
ou desumanos, previstos nos artigos 162º e 163º vantagens de facto ilícito típico ou do pagamento do
do Código Penal; valor a estes correspondente ou de qualquer outra dívida
para com o Estado relacionada com o crime, o Ministério
f) Crimes de rebelião previsto no artigo 313º do Código Público, requererá que o arguido preste caução económica,
Penal e os crimes relativos ao terrorismo, previstos nos termos do número antecedente.

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1160 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

3- […] b) Proceder à aplicação de uma medida de coação


pessoal ou de garantia patrimonial, ou tomar
4- A caução económica é prestada pelos meios previstos quaisquer decisões que impliquem a alteração
no nº 1 do artigo 284º, mas manter- se- á distinta e ou revogação daquelas medidas;
autónoma relativamente à caução referida no artigo
283º e subsistirá até ao trânsito em julgado da decisão c) […]
absolutória ou até à extinção das obrigações que garante.
d) […]
5- […]
e) […]
Artigo 298º
f) […]
[…]
g) […]
1- Para garantia do cumprimento das responsabilidades
referidas no artigo anterior, a requerimento do Ministério h) […]
Público ou do lesado, pode o juiz decretar o arresto
preventivo, nos termos da lei do processo civil. i) […]
2- Se o arguido ou o civilmente responsável não 2- […]
prestarem a caução económica que lhes tiver sido imposta,
poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou 3- […]
do lesado, decretar arresto preventivo, nos termos da lei 4- […]
processual civil.
Artigo 309º
3- Se tiver sido previamente fixada e não prestada
caução económica, fica o requerente dispensado da prova […]
do fundado receio de falta ou diminuição substancial da
garantia patrimonial. 1- […]
4- O arresto preventivo referido nos números antecedentes 2- […]
poderá ser decretado mesmo em relação a empresários,
pessoa singular ou coletiva ou equiparada. 3- […]

5- A oposição ao despacho que tiver decretado arresto 4- O disposto nos números antecedentes será
não terá efeito suspensivo. correspondentemente aplicável a vítimas de crimes
sexuais, de tráfico de órgãos humanos e tráfico de pessoas.
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6- Em caso de controvérsia sobre a propriedade dos


bens arrestados, poderá o juiz remeter a decisão para 5- […]
o processo civil, mantendo- se, entretanto, o arresto Artigo 318º
decretado.
[…]
7- O arresto será revogado a todo o tempo, desde que
se mostre que o arguido ou o civilmente responsável tenha 1- Se o crime for punível com pena de prisão cujo limite
prestado a caução económica. máximo não seja superior a cinco anos, ou com sanção
8- Decretado o arresto, é promovido o respetivo registo diferente de prisão, o Ministério Público, oficiosamente
nos casos e nos termos previstos na legislação registral ou a requerimento do arguido, do assistente ou de quem
aplicável, promovendo- se o subsequente cancelamento tenha legitimidade para se constituir como tal, proporá
do mesmo quando sobrevier a extinção da medida. ao juiz a suspensão provisória do processo, mediante a
imposição ao arguido de injunções e regras de conduta, se
Artigo 301º se verificarem cumulativamente os seguintes pressupostos:
[…] a) [...]
1- […] b) [...]
2- […] c) [...]
3- Para efeitos de determinação da responsabilidade d) [...]
dos agentes do facto punível a que se refere o nº 1, incumbe
ao Ministério Público realizar as diligências necessárias e) [...]
para apurar as consequências do facto punível, em especial 2- [….]
os danos causados às vítimas e demais lesados.
Artigo 305.º a) [...]

[…] b) [...]

1. […] c) [...]

2. O Ministério Público interrogará o arguido sempre d) [...]


que o julgar necessário ou sempre que este o solicitar e e) [...]
obrigatoriamente antes de deduzir a acusação.
f) [...]
Artigo 307.º
g) Tratamento ou qualquer outra injunção ou regra
[…] de conduta que preencha os requisitos previsto
1- […] no número seguinte determinada pelo juiz ou
acordada entre o arguido e ofendido e aceite
a) […] pelo juiz.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1161

3- […] 5- […]
4- […] 6- […]

5- […] Artigo 324º

6- Nos crimes de violência baseada no género, o juiz […]


pode determinar a suspensão provisória do processo 1- […]
mediante injunções, nos termos deste artigo e preenchidas
as condições para a suspensão da pena de prisão previstas a) [...]
na alínea b) do número 2 do artigo 53.º do Código Penal.
b) [...]
Artigo 320º
2- […]
[…]
3- O requerimento previsto nos números antecedentes
1- […] é dirigido ao juiz e entregue na secretaria do Ministério
Público, no prazo de oito dias a contar da data em que o
2- Encerrada a instrução e deduzida a acusação contra requerente for notificado da:
o arguido, o Ministério Público notificará o assistente a) [...]
ou quem tenha legitimidade para se constituir como tal
para, no prazo de sete dias, querendo, deduzir acusação b) [...]
pelos factos acusados por aquele magistrado, por parte
deles ou por outros, desde que não tenham como efeito a 4- […]
imputação ao arguido de um crime diverso ou a agravação
dos limites máximos da pena aplicável. 5- […]

3- Quando a prossecução do processo penal depender Artigo 327.º


de acusação particular, finda a instrução, o Ministério […]
Público notificará o assistente para, no prazo de sete dias,
querendo, deduzir acusação particular. 1- […]
4- O Ministério Púbico poderá, nos cinco dias posteriores 2- […]
à apresentação da acusação particular, acusar pelos
mesmos factos, por parte deles ou por outros, desde que 3. Tratando- se de processos relativos a crimes de
violência baseada no género, maus- tratos a criança
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não tenham por efeito o disposto na parte final do nº 2


do presente artigo. ou pessoa vulnerável, maus tratos a cônjuge e unido de
facto, maus tratos a ascendente e pessoas em economia
5- […] doméstica e de crimes sexuais contra menores, o despacho
que designa a data para a realização da ACP deverá
Artigo 321º ser proferido no prazo máximo de 72 horas, a contar da
receção do requerimento, a qual deverá iniciar- se dentro
[…] de dez dias subsequentes.
1- […] Artigo 339º

a) [...] […]

b) [...] 1- Resolvidas as questões referidas no artigo antecedente,


o juiz despachará, designando o dia, hora e local para a
c) A narração discriminada e precisa dos factos que audiência, a qual será fixada para a data mais próxima
integram a infração ou infrações, com inclusão possível, mas nunca depois de quarenta e cinco dias após
dos que fundamentam a imputação subjetiva, a receção dos autos no tribunal e, simultaneamente, a
a título de dolo ou de negligência, e, sempre data da nova audiência, em caso de adiamento, nos termos
que possível, o lugar, tempo e motivação da estabelecidos no presente Código.
sua prática, o grau de participação que o 2- […]
agente neles teve, os factos que suportam as
consequências do facto punível, em especial a) [...]
os danos provocados às vítimas e aos demais
lesados e as vantagens obtidas e os respetivos b) [...]
valores, bem como quaisquer circunstâncias
relevantes para a determinação da gravidade c) [...]
dos factos, da culpa do agente e da sanção que d) [...]
lhe deverá ser aplicada;
3- […]
d) [...]
Artigo 340º
e) [...]
[…]
f) [...]
1- Até à data do início da audiência de julgamento,
g) [...] o juiz, oficiosamente ou a requerimento do Ministério
Público, do arguido ou do ofendido, procurará obter o acordo
2- […] entre estes, com a presença dos respetivos mandatários,
nos casos de:
3- […]
a) Crimes cujo procedimento criminal depende de
4- […] queixa;

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1162 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

b) Crimes em relação aos quais se mostrem verificados 3- […]


os pressupostos de suspensão provisória do
processo mediante injunções e regras de conduta; Artigo 365º
c) Crimes relativamente aos quais se encontre Audiência de arguido que se ausentar e deixar
expressamente prevista na lei penal a possibilidade de comparecer
de dispensa da pena; 1- Se o arguido, antes ou depois de ser interrogado
d) Processo de transação, nos termos do artigo 422º. na audiência de julgamento, se ausentar e deixar de
comparecer à mesma ou a outras sessões, será a audiência
2- […] interrompida por cinco dias, durante os quais a falta
3- […] poderá ser justificada.

4- […] 2- Se a falta não for justificada, o juiz designará


nova data para a continuação da audiência e tomará as
Artigo 352º medidas necessárias e legalmente admissíveis para obter
o comparecimento do arguido, incluindo a sua detenção
[…] ou prisão preventiva e, não sendo possível, o julgamento
1- O arguido, ainda que se encontre detido ou preso, continuará como se o arguido estivesse presente.
assistirá à audiência livre na sua pessoa ou através de Artigo 388º
videoconferência ou outros meios análogos, salvo se forem
necessárias cautelas para prevenir o perigo de fuga ou a […]
prática de atos de violência.
1- O tribunal poderá ordenar o afastamento do arguido
2- […] da sala de audiência, durante a prestação de declarações
de outros intervenientes, se:
3- […]
a) Houver razões para crer que a presença do mesmo
4- […] é suscetível de inibir o interveniente de dizer
Artigo 358º a verdade;
[…] b) O interveniente for menor de dezasseis anos e
houver razões para crer que a sua audição
1- […] na presença do arguido poderia prejudicá- lo
gravemente;
2- Quando houver lugar a registo áudio ou audiovisual
o juiz deve assegurar a consignação na ata o início e o
3 703000 000000

c) Houver razões para crer que a audição do interveniente


termo da gravação de cada depoimento ou declaração, na presença do arguido poderia colocar gravemente
com referência à hora e minutos em cada um dos casos. em perigo a sua integridade física ou psíquica.
Artigo 363º 2- Nos casos previstos no número anterior será
correspondentemente aplicável o disposto no nº 3 do
[…] artigo 364º.
1- […]
Artigo 393º
2- O arguido que deva responder perante determinado
tribunal, segundo as regras de competência aplicáveis ao […]
caso, e esteja preso em área judicial diferente pela prática 1- A reprodução ou leitura de declarações do assistente,
de outra infração, será requisitado à entidade que o tenha da parte civil e de testemunhas só será permitida, tendo
à sua ordem, podendo ser ouvido e assistir a audiência sido prestadas perante o juiz, se as declarações tiverem
através de videoconferência ou outros meios análogos. sido tomadas nos termos do artigo 309º ou se o Ministério
3- […] Público, o arguido e o assistente estiverem de acordo na
sua leitura.
4- Se a situação de impossibilidade do arguido tiver
sido por ele criada, por dolo ou negligência, o tribunal 2- […]
poderá determinar que o julgamento prossiga até final a) [...]
se o arguido tiver sido já interrogado ou exercido o seu
direito ao silêncio e o tribunal não considerar indispensável b) [...]
a sua presença.
c) [...]
5- Sempre que, para efeitos do julgamento, o arguido
tenha de se deslocar para uma área judicial diferente d) [...]
daquela onde se situa o estabelecimento prisional onde se e) Tratando- se de declarações obtidas mediante
encontra detido ou preso, a sua participação na audiência precatórias ou rogatórias previstas neste Código.
poderá ser assegurada através de videoconferência ou
outros meios análogos, desde que estejam reunidas as 3- […]
condições adequadas para o efeito, salvo se o juiz entender
imprescindível a sua presença física para a descoberta 4- […]
da verdade material. 5- […]
Artigo 364º 6- […]
[…] Artigo 399º
1- […] […]
2- Se, não obstante o disposto no número antecedente,
o arguido se afastar da sala de audiência, aplicar- se- á 1- […]
o disposto nos n.ºs 2 e 3 do artigo seguinte. 2- […]

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1163

3- Em seguida, se a apreciação do mérito não tiver Artigo 412º


ficado prejudicada, apreciará sempre especificadamente os
factos alegados pela acusação e pela defesa, e bem assim […]
os que resultarem da discussão da causa, desde que não 1- […]
conduzam aos efeitos descritos no n.°1 do artigo 396º- A,
relevantes para as questões de saber: a) Quando à detenção tiver procedido qualquer
a) [...] autoridade judiciária ou de polícia criminal;

b) [...] b) [...]

c) [...] 2- Serão, ainda, julgados em processo sumário, nos


termos do número anterior, os detidos em flagrante delito
d) [...] por crime punível com pena de prisão cujo limite máximo
seja superior a cinco anos, mesmo em caso de concurso de
e) [...] infrações, quando o Ministério Público, na sua promoção
f) [...] a que se refere o artigo 415º, entender que não deve ser
aplicada, em concreto, pena de prisão superior a cinco anos.
4- […]
3. Porém, na situação prevista no número anterior, pode
Artigo 401º o juiz ordenar a prossecução de outra forma de processo
que julgar adequada, nos termos do artigo 418.º, nº 1.
Elaboração, assinatura e leitura da sentença
Artigo 414º
1- […]
2- […] […]

3- A sentença será lida publicamente na sala de 1- A entidade que efetuar a detenção ou a quem o
audiência pelo juiz que presidir o julgamento, podendo detido for entregue notificará verbalmente, nesse ato, as
ser omitida a leitura do relatório, porém é obrigatória a testemunhas da ocorrência, em número nunca superior a
leitura da fundamentação ou, se esta for muito extensa, de dez, para comparecerem no tribunal respetivo à hora que
uma sua súmula, e do dispositivo, sob pena de nulidade. logo lhes será indicada, e informará ao arguido de que
poderá apresentar testemunhas de defesa até ao mesmo
4- […] número, devendo lavrar no auto de detenção informação
sobre as notificações realizadas e a identificação das
5- […] pessoas notificadas.
6- Quando necessário e estejam reunidas as condições
3 703000 000000

2- Se o arguido as apresentar nesse ato, serão elas


técnicas para o efeito, a sentença poderá ser lida através verbalmente notificadas para comparecerem, cumprindo-
de videoconferência ou outros meios análogos. se as formalidades previstas na parte final do número
7- Quando a sentença for lida ao arguido através dos anterior.
meios previstos no número anterior, nas vinte e quatro 3- O ofendido será igualmente notificado para
horas subsequentes, deve o tribunal, além do depósito comparecer, quando a sua comparência seja considerada
previsto no nº 5, enviar- lhe certidão ou cópia integral necessária, cumprindo- se as formalidades previstas na
certificada da mesma em suporte papel ou digital, por parte final do nº 1.
qualquer meio de comunicação previsto neste Código,
designadamente correio eletrónico. 4- […]
Artigo 408º 5- Se o tribunal não se encontrar aberto ou não puder
[…] desde logo tomar conhecimento da infração, o detido é
constituído arguido e libertado, sendo advertido de que
1- […] deverá comparecer no primeiro dia útil, à hora que lhe
for indicada, sob pena de, se faltar, incorrer no crime de
2- Sem prejuízo do disposto no artigo seguinte e de casos desobediência e ser julgado na sua ausência.
de sentença inexistente, será lícito, porém, ao tribunal,
oficiosamente ou a requerimento, suprir nulidades, retificar 6- Serão igualmente notificados as testemunhas e o
erros materiais ou quaisquer omissões, inexatidões ou ofendido, se disso for caso, cumprindo- se as formalidades
lapsos manifestos, esclarecer dúvidas existentes na previstas na parte final do nº 1.
decisão e reformá- la quanto a custas, aplicando- se
subsidiariamente as normas do Código de Processo Civil. 7- No caso previsto no nº 5, o auto será remetido ao
tribunal no primeiro dia útil imediato.
3- […]
Artigo 417º
4- […]
[…]
5- […]
1- […]
Artigo 409º
2- […]
[…]
3- Se o tribunal, oficiosamente ou a requerimento do
[…] Ministério Público, do assistente ou do arguido, considerar
a) [...] necessário alargar o prazo para a preparação da defesa do
arguido ou proceder a realização de quaisquer diligências
b) [...] de prova essenciais à descoberta da verdade e que não
possam realizar- se previsivelmente no prazo referido
c) Que não condenar em indemnização às vítimas e no nº 1, a audiência, sem que se afaste a forma sumária,
demais lesados, quando estejam verificados os poderá ter início ou ser adiada até que seja apresentada a
pressupostos previstos nas alíneas a) e b) do defesa no prazo fixado ou realizada a diligência, desde que
artigo 105º ou no nº 1 do artigo 109º. se não ultrapasse o sexagésimo dia posterior à detenção.

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1164 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

4- Em quaisquer casos de adiamento, o arguido será d) O arguido tenha admitido a prática do facto ilícito
advertido de que o julgamento será realizado na sua típico;
ausência, caso não comparecer pessoalmente, sendo
representado pelo defensor constituído ou nomeado. e) A prova assenta em testemunhas presenciais com
versão uniforme dos factos.
Artigo 419º
3. Podem, igualmente, ser julgados em processo abreviado
[…] os crimes de furto de energia elétrica, furto e roubo, na sua
forma simples ou agravada, quando estejam preenchidos
1- [...] os pressupostos previstos no número anterior.
2- [...] Artigo 431º
3- [...] Instrução ou sua dispensa
4- [...] Verificados os pressupostos mencionados no artigo
antecedente, o Ministério Público:
5- [...]
a) Se não se mostrar necessária a realização de quaisquer
6- [...] diligências de investigação e não houver razões
7- A sentença poderá ser proferida verbalmente e para arquivar o processo, dispensa a instrução,
ditada para a ata, imediatamente após o encerramento deduzirá e remeterá ao tribunal a acusação
da audiência ou, excecionalmente, num prazo máximo no prazo máximo de cinco dias ou, se o crime
de três dias. depender de acusação particular, notificará ao
assistente ou quem tenha legitimidade para o
Artigo 429º efeito, querendo, se constituir como tal e deduzir
a sua acusação no prazo de cinco dias;
[…]
b) Se se mostrar necessária a investigação e recolha de
1- O juiz rejeita o acordo quando não seja aplicável ao mais provas, ainda que se traduzem em diligências
caso a forma processual adequada ou a pena aplicada se expeditas e sumárias, designadamente a audição
mostre desconforme ao previsto no artigo 426º, porém, em do arguido, realiza a instrução, a qual deverá
qualquer caso, se estiverem verificados os pressupostos ser concluída no prazo máximo de sessenta dias;
previstos no nº 1 do artigo 340º, o juiz, antes do reenvio,
procurará obter o acordo entre o arguido e ofendido, com c) Encerrada a instrução, consoante a prova recolhida,
a presença dos respetivos mandatários, seguindo- se os o Ministério Público arquivará o processo ou
3 703000 000000

termos estabelecidos nos n.ºs 2 a 4 do referido artigo. procederá nos termos previstos na alínea a);

2- [...] d) Em caso de factos indiciadores de crimes de violência


baseada no género, o Ministério Público pode,
3- [...] mediante despacho fundamentado, deduzir
acusação no prazo máximo de setenta e cinco
Artigo 430º dias, quando entender que, por motivos relativos
ao estado de saúde, física ou mental da vítima,
[…] ou por outros, não seja possível naquele momento
1- São julgados em processo abreviado, desde que se a apresentação de todas as provas necessárias
verifiquem os seguintes pressupostos: para a conclusão da instrução.

a) O crime seja punível com pena de multa ou com Artigo 432º


pena de prisão cujo limite máximo não seja Acusação e contestação
superior a oito anos, bem como o crime punível
com pena de prisão de limite máximo superior 1. A acusação do Ministério Público deverá conter os
a oito anos, mesmo em caso de concurso de elementos descritos no número 1 do artigo 321.º, podendo,
infrações, quando o Ministério Público, na no entanto, a identificação do arguido e a narração dos factos
acusação, entender que não deve ser aplicada, ser efetuadas, no todo ou em parte, por mera remissão
em concreto, pena de prisão superior a 8 anos; para o auto de notícia ou para a participação ou denúncia
que contenham tais factos minimamente individualizados.
b) Não terem decorrido mais de cento e vinte dias
desde a data da distribuição do correspondente 2. O assistente poderá aderir à acusação do Ministério
processo ao magistrado do Ministério Púbico Público ou deduzir a sua própria acusação e o pedido
encarregue da sua investigação; cível no prazo de cinco dias após receber a notificação
da acusação deduzida contra o arguido.
c) [...]
3. O arguido, após a notificação da acusação do
d) [...] Ministério Público e, se for o caso, do assistente, deduzirá
e apresentará a sua contestação até ao início da audiência
2- Serão considerados, nomeadamente, como casos de discussão e julgamento.
de existência de prova clara ou de fácil perceção, aqueles
em que: Artigo 433.º
a) Haja detenção em flagrante e não caiba ou não […]
foi possível julgar em processo sumário e se
enquadre nos pressupostos previstos no número 1- […]
anterior;
2- O juiz pronunciar- se- á, em dez dias, por despacho
b) A prova seja, no essencial, documental; de concordância ou não concordância com a forma de
processo abreviado, porém, esse prazo é reduzido para
c) A prova possa ser recolhida no prazo previsto para 48 horas quando se tratar de crimes de violência baseada
a dedução da acusação; no género, maus tratos a menor ou pessoa vulnerável,

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1165

maus tratos a cônjuge e unido de facto e maus tratos a não superior a oito anos.
ascendente e pessoa em economia doméstica, bem como
de crimes sexuais contra menor. 2- Sem prejuízo do disposto nos artigos 470º- B
e 470º- C, o recurso da parte da decisão relativa à
3- […] indemnização civil só é admissível desde que o valor do
pedido seja superior à alçada do tribunal recorrido e a
4- Nos casos de reenvio dos autos para a forma de decisão impugnada seja desfavorável para o recorrente
processo comum ordinário, quando se trate de crimes em valor superior a metade desta alçada.
de violência baseada no género, maus tratos a menor
ou pessoa vulnerável, maus tratos a cônjuge e unido de Artigo 452º
facto e maus tratos a ascendente e pessoa em economia
doméstica, bem como de crimes sexuais contra menor, […]
o prazo para o julgamento não poderá exceder 90 dias. 1- O prazo de interposição do recurso é de quinze
Artigo 435.º dias e contar- se- á a partir da notificação da decisão
ou da data em que deva considerar- se notificada, ou,
[….] tratando- se de decisão oral reproduzida em ata, da data
em que tiver sido proferida, se o interessado estiver ou
1- […] dever considerar- se presente.
2. A data da audiência de julgamento será marcada 2- No caso referido na parte final do número antecedente,
para uma mais próxima possível, mas nunca depois de a fundamentação será apresentada no prazo de quinze
cento e vinte dias após a data prevista na alínea b) do dias, contado da data da interposição.
número 1 do artigo 430º, sendo que, nos casos de crimes
de violência baseada no género, maus tratos a menor Artigo 452º- A
ou pessoa vulnerável, maus tratos a cônjuge e unido de
facto, maus tratos a ascendente e pessoa em economia […]
doméstica, e crimes sexuais contra menor, em data nunca 1- [...]
superior a vinte dias após o termo do prazo previsto no
número 2 do artigo 433.º. 2- [...]
3- […] a) [...]
4- […] b) [...]
5. O juiz, oficiosamente ou a requerimento do Ministério c) [...]
Público, do arguido ou do ofendido, poderá utilizar a
3 703000 000000

faculdade prevista no artigo 340.º. 3- [...]


6. O juiz poderá prescindir da produção de provas e a) [...]
decretar a absolvição do arguido dos fatos que lhe são
imputados, quando resultar manifesta atipicidade, b) [...]
comprovada existência de causa excludente da ilicitude c) [...]
ou da culpa, salvo quando, neste último caso, for aplicável
qualquer medida de segurança. 4- [...]
7. Excecionalmente, a audiência, sem que se afaste a 5- [...]
forma abreviada, poderá ser adiada, oficiosamente ou a
requerimento do Ministério Público, do assistente ou do 6- Em caso de omissão dos requisitos formais previstos
arguido, pelo prazo determinado pelo juiz, se considerar nos números anteriores, o relator convida o recorrente
o adiamento necessário para se proceder a quaisquer a completar ou esclarecer as conclusões formuladas, no
diligências de prova complementar essenciais à descoberta prazo de cinco dias, sob pena de o recurso ser rejeitado
da verdade, designadamente garantir a presença no ou não ser conhecido na parte afetada, sendo que, o
julgamento de testemunhas que o Ministério Público, o aperfeiçoamento não permite modificar o âmbito do
assistente ou o arguido não prescindem. recurso que tiver sido fixado na motivação.
Artigo 437º 7- […]
[…] Artigo 456º
1- […] […]
a) [...] 1- [...]
b) [...] 2- Os sujeitos processuais afetados pela interposição
do recurso poderão responder no prazo de quinze dias,
c) [...] contados da data da notificação da apresentação das
alegações do recorrente.
d) [...]
3- [...]
e) [...]
4- É correspondentemente aplicável o disposto no nº
f) [...] 3 do artigo 442º e no nº 6 do artigo 452º- A.
g) [...] Artigo 458º
h) [...] […]
i) Dos acórdãos condenatórios proferidos em recurso, 1- [...]
pelas relações, que confirmem as decisões de
primeira instância e apliquem pena de prisão 2- [...]

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1166 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

3- Se, na vista o Ministério Público não se limitar a Artigo 3º


apor o seu visto, o arguido e os demais sujeitos processuais Aditamentos
afetados pela interposição do recurso são notificados para,
querendo, responder no prazo de sete dias. São aditados ao Código de Processo Penal, aprovado
pelo Decreto- Legislativo nº 2/2005, de 7 de fevereiro,
Artigo 461º alterado pelo Decreto- Legislativo nº 5/2015, de 11 de
[…] novembro e pela Lei nº 112/VIII/2016, de 1 de março, os
artigos 94º- A, 94º- B, 94º- C, 94º- D, 94º- E, 94º- F,
1- [...] 94º- G, 94º- H, 94º- I, 229º- A, 254º- A, 364º- A, 364º-
B, 365º- A, 365º- B, 365º- C, 365º- D, 365º- E e 379º- A,
2- [...] com a seguinte redação:
a) [...] “Artigo 94º- A
b) [...] Conceito de vítima
c) [...] 1- Para efeitos penais, considera- se vítima:
d) Não tiver sido requerida a realização de audiência a) A pessoa singular que sofreu um dano, nomeadamente
contraditória e não seja necessário proceder à um atentado à sua vida e integridade física ou
renovação da prova nos termos do artigo 467º. psíquica, um dano emocional ou moral, ou um
dano patrimonial, diretamente causado por ação
Artigo 463º ou omissão, no âmbito da prática de um crime;
[…] b) Os familiares de uma pessoa, cuja morte tenha
sido diretamente causada por um crime e que
1- O recurso, é julgado em audiência contraditória, tenham sofrido um dano em consequência dessa
quando houver lugar à renovação da prova nos termos do morte.
artigo 467º ou mediante pedido expresso do recorrente ou
do recorrido inserido nas respetivas alegações e contra- 2- De igual modo, para efeitos penais, consideram- se:
alegações de recurso, com a indicação dos concretos pontos,
de facto e de direito, que pretende ver debatidos. a) Vítima especialmente vulnerável, vítima cuja
especial fragilidade resulte, nomeadamente,
2- A audiência contraditória é regulada pelas disposições da sua idade, do seu estado de saúde ou de
dos artigos subsequentes e, subsidiariamente, pelas deficiência, bem como do facto de o tipo, o grau
disposições aplicáveis à audiência de julgamento em e a duração da vitimização haver resultado
3 703000 000000

primeira instância. em lesões com consequências graves no seu


equilíbrio psicológico ou nas condições da sua
Artigo 464º integração social;
[…] b) Familiares, o cônjuge da vítima ou a pessoa que
convivesse com a vítima em união de facto,
1- [...] legalmente reconhecido ou reconhecível, os seus
2- Serão sempre convocados para a audiência o parentes em linha reta, os irmãos e as pessoas
Ministério Público, o defensor, os representantes do economicamente dependentes da vítima, vivendo
assistente e da parte civil e, quando tiver sido julgado ou não em comunhão de habitação;
sem a sua presença nos termos deste Código, o arguido. c) Menor, criança ou jovem, uma pessoa singular
3- [...] com idade inferior a dezoito anos.

4- [...] 3- Para os efeitos previstos na alínea b) do nº 2 integram


o conceito de vítima, pela ordem e prevalência seguinte:
5- [...] a) O cônjuge sobrevivo não separado judicialmente de
6- [...] pessoas e bens ou o unido de facto, legalmente
reconhecido ou reconhecível;
Artigo 470º
b) Os descendentes e os ascendentes, na medida
[…] estrita em que tenham sofrido um dano com
a morte, com exceção do autor dos factos que
1- O Tribunal a que o recurso se dirige determinará o provocaram a morte.
reenvio do processo para novo julgamento relativamente à
totalidade do objeto do processo ou a questões concretamente 4- As vítimas de criminalidade violenta e de criminalidade
identificadas na decisão de reenvio: especialmente violenta, de crimes de maus tratos a
menores ou pessoa vulnerável, a cônjuge e unido de facto
a) Sempre que, por existirem os vícios referidos nas e a ascendente e pessoa em economia doméstica, bem
alíneas do nº 2 do artigo 442º, não for possível como de crimes sexuais e crimes de violência baseada no
decidir a causa; género são sempre consideradas vítimas especialmente
vulneráveis para efeitos penais.
b) Quando a prova produzida no tribunal de cuja
decisão se recorre não ficou registada em ata Artigo 94º- B
e nem qualquer outro suporte.
Direitos gerais da vítima
2- Salvo na situação prevista na alínea b) do número
anterior, o novo julgamento competirá ao juiz ou coletivo 1- O Estado assegura à vítima a prestação de informação
de juízes diferente do recorrido, de preferência de categoria adequada à tutela dos seus direitos, em especial no
e composição idênticas. âmbito penal.

3- [...] 2- Sem prejuízo de outros legalmente previstos, assistem

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1167

à vítima os direitos de informação, de assistência, de a) O seguimento dado à denúncia, incluindo:


proteção e de participação ativa no processo penal,
previstos neste Código. i) A decisão de arquivamento ou de não pronúncia
ou materialmente equivalente ou de rejeição
3- A vítima tem, ainda, direito a colaborar com as da acusação, bem como a decisão de suspender
autoridades judiciárias e as autoridades de polícia criminal provisoriamente o processo;
competentes, prestando informações e facultando provas
que se revelem necessárias à descoberta da verdade e à ii) A decisão de acusação ou de pronúncia.
boa decisão da causa. b) Os elementos pertinentes que lhe permitam, após a
Artigo 94º- C acusação ou a decisão instrutória, ser inteirada
do estado do processo, incluindo o local e a data
Direito especial de informação da realização da audiência de julgamento, e da
situação processual do arguido, por factos que
1- É garantida à vítima, desde o seu primeiro contato com lhe digam respeito, salvo em casos excecionais
as autoridades e funcionários competentes, inclusivamente que possam prejudicar o bom andamento dos
no momento anterior à apresentação da denúncia, e sem autos;
atrasos injustificados, o acesso às seguintes informações:
c) A sentença do tribunal.
a) O tipo de serviços ou de organizações a que pode
dirigir- se para obter apoio; 7- Para os efeitos previstos no número anterior, a
b) O tipo de apoio que pode receber; vítima pode de imediato declarar, aquando da prestação
da informação aludida na alínea l) do nº 1, que deseja ser
c) Onde e como pode apresentar denúncia; oportunamente notificada de todas as decisões proferidas
no processo penal.
d) Quais os procedimentos subsequentes à denúncia
e qual o seu papel no âmbito dos mesmos; 8- As informações prestadas nos termos das alíneas
a) e c) do nº 6 devem incluir a fundamentação da decisão
e) Como e em que termos pode receber proteção; em causa ou um resumo dessa fundamentação.
f) Em que medida e em que condições tem acesso a 9- Devem ser promovidos os mecanismos adequados
consulta jurídica, a assistência judiciária e a para fornecer à vítima, em especial nos casos de reconhecida
outras formas de aconselhamento; perigosidade do arguido, de informações sobre as principais
g) Quais os requisitos que regem o seu direito a decisões judiciárias que afetem o estatuto deste, em
indemnização; particular a aplicação de medidas de coação.
10- Deve ser dado conhecimento à vítima, sem atrasos
3 703000 000000

h) Em que condições tem direito a interpretação e


tradução; injustificados, da libertação ou evasão da pessoa detida,
acusada, pronunciada ou condenada.
i) Quais os procedimentos para apresentar uma
denúncia, caso os seus direitos não sejam 11- Deve ser assegurado à vítima o direito de optar
respeitados pelas autoridades competentes que por não receber as informações referidas nos números
operam no contexto do processo penal; anteriores, salvo quando a comunicação das mesmas for
obrigatória nos termos das normas do processo penal
j) Quais os mecanismos especiais que pode utilizar em aplicável.
Cabo Verde para defender os seus interesses,
sendo residente em outro Estado; Artigo 94º- D
k) Como e em que condições podem ser reembolsadas as Direito à proteção
despesas que suportou devido à sua participação 1- É assegurado um nível adequado de proteção à vítima
no processo penal; e, sendo caso disso, aos seus familiares elencados neste
l) Em que condições tem direito à notificação das Capítulo, nomeadamente no que respeita à segurança e
decisões proferidas no processo penal. salvaguarda da vida privada, sempre que as autoridades
competentes considerem que existe uma ameaça séria
2- A extensão e o grau de detalhe das informações a de represálias e de situações de revitimização ou fortes
que se refere o número anterior podem variar consoante indícios de que essa privacidade possa ser perturbada.
as necessidades específicas e as circunstâncias pessoais
da vítima, bem como a natureza do crime. 2- O contato entre vítimas e os seus familiares e os
suspeitos ou arguidos em todos os locais que impliquem
3- No momento em que apresenta a denúncia, é a presença de uns e de outros no âmbito da realização de
assegurado à vítima o direito a assistência gratuita e à diligências processuais, nomeadamente nos edifícios dos
tradução da confirmação escrita da denúncia, numa língua tribunais ou procuradorias da república, deve ser evitado,
que compreenda, sempre que não entenda português ou sem prejuízo da aplicação das regras estabelecidas neste
o crioulo. Código.
4- Podem ser fornecidas, em fases posteriores do 3- O juiz ou, durante a instrução, o Ministério Público
processo, informações complementares das prestadas nos pode determinar, sempre que tal se mostre imprescindível
termos do nº 1 em função das necessidades da vítima e da à proteção da vítima e obtido o seu consentimento,
relevância dessas informações em cada fase do processo. que lhe seja assegurado apoio psicossocial através dos
5- A vítima tem direito a consultar o processo e a obter serviços competentes, designadamente na prestação de
cópias das peças processuais nas mesmas condições em informações, assistência social, jurídica, psicológica e
que tal é permitido ao ofendido nos termos previstos neste patrocínio judiciário, devendo tais serviços apresentar
relatório final sobre a sua situação, antecedentemente à
Código. acusação, quando esta seja deduzida.
6- Sempre que a vítima o solicite junto da entidade 4- O disposto nos números anteriores não prejudica a
competente para o efeito, e sem prejuízo do regime do aplicação do regime especial de proteção de testemunhas,
segredo de justiça, deve ainda ser- lhe assegurada nomeadamente no que se refere à proteção dos familiares
informação, sem atrasos injustificados, sobre: da vítima.

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1168 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

Artigo 94º- E e) Exclusão da publicidade das audiências, nos termos


do presente Código.
Direitos a uma decisão relativa a indemnização
e a restituição de bens f) Outras previstas na lei.
1- À vítima é reconhecido, no âmbito do processo penal, 7- Os órgãos de comunicação social, sempre que divulguem
o direito a obter uma decisão relativa a indemnização por situações relativas à prática de crimes, quando as vítimas
parte do agente do crime, dentro de um prazo razoável, especialmente vulneráveis, não podem identificar, nem
nos termos do presente Código. transmitir elementos, sons ou imagens que permitam a
sua identificação, sob pena de os seus agentes incorrerem
2- Os bens pertencentes à vítima que sejam apreendidos na prática de crime de desobediência.
em processo penal devem ser de imediato examinados e
restituídos, salvo quando assumam relevância probatória 8- Sem prejuízo do disposto no número anterior, os
ou sejam suscetíveis de ser declarados perdidos a favor órgãos de comunicação social podem relatar o conteúdo
do Estado. dos atos públicos do processo penal relativo ao crime em
causa, nos termos deste Código.
Artigo 94º- F
9- As vítimas especialmente vulneráveis estão isentas
Direitos das vítimas especialmente vulneráveis de taxa de justiça, despesas ou encargos ou quaisquer
outras despesas previstas na legislação relativa a custas
1- Apresentada a denúncia de um crime, não existindo judiciais.
fortes indícios de que a mesma é infundada, as autoridades
judiciárias ou os órgãos de polícia criminal competentes Artigo 94º- G
podem, após avaliação individual da vítima, atribuir- lhe Direitos das crianças vítimas
o estatuto de vítima especialmente vulnerável.
1- Todas as crianças vítimas têm o direito de ser ouvidas
2- No mesmo ato é entregue à vítima documento no processo penal, devendo para o efeito ser tomadas em
comprovativo do referido estatuto, compreendendo os consideração a sua idade e maturidade.
seus direitos e deveres.
3- Os depoimentos e declarações das vítimas especialmente 2- Em caso de inexistência de conflito de interesses,
vulneráveis, quando impliquem a presença do arguido, a criança pode ser acompanhada pelos seus pais, pelo
são prestados, sem prejuízo dos direitos de defesa do representante legal ou por quem tenha a guarda de facto
arguido, se se revelar necessário para garantir a sua durante a prestação de depoimento.
prestação sem constrangimentos antecipadamente, sem a
presença do arguido, ou através de videoconferência ou de 3- É obrigatória a nomeação de patrono à criança quando
os seus interesses e os dos seus pais, representante legal
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teleconferência, por determinação do Ministério Público,


oficiosamente ou a requerimento da vítima, durante a fase ou de quem tenha a guarda de facto sejam conflituantes
de instrução, e por determinação do tribunal, oficiosamente e ainda quando a criança com a maturidade adequada o
ou a requerimento do Ministério Público ou da vítima, solicitar ao tribunal.
durante as fases de audiência contraditória preliminar 4- A nomeação do patrono é efetuada nos termos da
ou de julgamento. lei relativa à assistência judiciária.
4- A vítima é acompanhada, se necessário, na prestação 5- Não devem ser divulgadas ao público informações
das declarações ou do depoimento, por técnico especialmente que possam levar à identificação de uma criança vítima,
habilitado para o seu acompanhamento previamente sob pena de os seus agentes incorrerem na prática de
designado pelo Ministério Público ou pelo tribunal. crime de desobediência.
5- Deve ser feita uma avaliação individual das vítimas 6- Caso a idade da vítima seja incerta e existam motivos
especialmente vulneráveis, a fim de determinar se devem para crer que se trata de uma criança, presume- se, para
beneficiar de medidas especiais de proteção e, em caso de efeitos de aplicação do regime aqui previsto, que a vítima
ameaças, pressões ou intimidações, as autoridades devem é uma criança.
assegurar a aplicação dos mecanismos de proteção, nos
termos da lei. 7- É correspondentemente aplicável o disposto nos
n.ºs 7 a 9 do artigo anterior.
6- As medidas especiais de proteção referidas no
número anterior são as seguintes: Artigo 94º- H

a) As inquirições da vítima devem ser realizadas pela Garantias de comunicação


mesma pessoa, se a vítima assim o desejar, e 1- Devem ser tomadas as medidas necessárias
desde que a tramitação do processo penal não para garantir que as vítimas compreendam e sejam
seja prejudicada; compreendidas, desde o primeiro contato e durante todos
os outros contatos com as autoridades competentes no
b) A inquirição das vítimas de crimes sexuais, âmbito do processo penal.
violência baseada no género ou violência em
relações de intimidade, salvo se for efetuada por 2- Para efeitos do disposto no número anterior, a
magistrado do Ministério Público ou por juiz, comunicação com a vítima deve ser efetuada numa linguagem
deve ser realizada por uma pessoa do mesmo simples e acessível, atendendo às suas caraterísticas
sexo que a vítima, se esta assim o desejar e pessoais, designadamente a sua maturidade e alfabetismo,
desde que a tramitação do processo penal não bem como qualquer limitação ou alteração das funções
seja prejudicada; físicas ou mentais que possa afetar a sua capacidade de
compreender ou ser compreendida.
c) Medidas para evitar o contato visual entre as
vítimas e os arguidos, nomeadamente durante 3- Salvo se tal for contrário aos interesses da vítima ou
a prestação de depoimento, através do recurso prejudicar o bom andamento do processo, a vítima pode
a meios tecnológicos adequados; fazer- se acompanhar de uma pessoa da sua escolha no
primeiro contato com as autoridades competentes, caso
d) Prestação de declarações para memória futura, devido ao impacto do crime a vítima solicite assistência
nos termos previstos no presente Código; para compreender ou ser compreendida.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1169

4- Nas situações referidas no número anterior, são deve notificar pessoalmente o titular para, querendo,
aplicáveis as disposições legais em vigor relativas à deduzir impugnação no prazo de oito dias.
nomeação de intérprete.
2. A notificação a que se refere o número anterior é feita
Artigo 94º- I por edital ou anúncio quando o titular não for encontrado.
Condições de prevenção da vitimização secundária 3. A impugnação é autuada, processada e decidida por
apenso, sem prejuízo para o cumprimento dos prazos
1- A vítima tem direito a ser ouvida em ambiente processuais, podendo o juiz, a todo o tempo, ordenar a
informal e reservado, devendo ser criadas as adequadas separação do processo.
condições para prevenir a vitimização secundária e para
evitar que sofra pressões. Artigo 364º- A

2- A inquirição da vítima e a sua eventual submissão a Audiência na ausência do arguido a pedido


exame médico devem ter lugar, sem atrasos injustificados, do próprio
após a aquisição da notícia do crime, apenas quando sejam 1- Sempre que o arguido se encontrar praticamente
estritamente necessárias às finalidades do inquérito e do impossibilitado de comparecer à audiência, nomeadamente
processo penal e deve ser evitada a sua repetição. por idade, doença grave, residência ou ausência fora da
área judicial onde corre o processo ou no estrangeiro ou,
Artigo 229.º- A ainda, por qualquer outro motivo que entender relevante,
Localização celular pode requerer ou consentir que a audiência tenha lugar na
sua ausência, devendo no requerimento ou consentimento
1. No âmbito da execução de ações de prevenção ou de identificar o seu defensor, o respetivo endereço ou contato
investigação criminal ou de tramitação de processo penal, do escritório ou domicílio, a autorização para que o mesmo
ou na sequência de uma denúncia, queixa ou participação, receba todas notificações que, nos termos do presente
as autoridades judiciárias e as autoridades de polícia Código, devem ser feitas na sua própria pessoa e a
criminal podem obter dados sobre a localização celular: declaração de aceitação de que essas notificações valerão
como sua notificação pessoal.
a) Quando, nos crimes contra a propriedade, a medida
e o prazo de sua duração forem voluntariamente 2- Nos casos previstos no número anterior, se o tribunal
solicitados ou consentidos pelo titular do celular, vier a considerar absolutamente indispensável a presença
desde que a solicitação ou o consentimento fique, do arguido para a descoberta da verdade material,
por qualquer forma, documentado; ordena- a, interrompendo ou adiando a audiência, se isso
for necessário, podendo, ainda, o arguido ser ouvido no
local onde se encontrar, se a ausência for devida à idade
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b) Nos casos de terrorismo, criminalidade violenta ou


altamente organizada ou quando haja fundados ou doença grave.
indícios da prática iminente de crime que ponha 3- Aplica- se ao julgamento previsto neste artigo o
em grave risco a vida ou a integridade física disposto nos n.ºs 2 a 4 do artigo seguinte.
de qualquer pessoa, desde que, sob pena de
nulidade, a realização da medida e o prazo de Artigo 364º- B
sua duração sejam previamente solicitados ao
Ministério Público, que os submete ao juiz do Audiência na ausência do arguido em violação
processo penal em tramitação ou, não existindo de deveres do seu estatuto
processo penal em tramitação, ao juiz de turno,
para a validação e autorização judicial imediata. 1- Fora dos casos previstos no nº 2 do artigo 365º e
do nº 5 do artigo 414º, em qualquer forma do processo,
2. No prazo máximo de três dias úteis após o termo do incluindo no caso do reenvio para a forma comum, se o
prazo de duração da medida é elaborado um relatório no arguido não puder ser notificado do despacho que designa
qual se menciona, de forma resumida, os fundamentos o dia para a audiência ou não justificar a falta no ato, o
da medida, a sua duração e os seus resultados. tribunal pode determinar que a audiência tenha lugar na
sua ausência, se o mesmo estiver em violação dos deveres
3. Se os dados sobre a localização celular previstos no previstos nas alíneas a), c) d) e e) do nº 3 do artigo 77º ou
número 1 se referirem a um processo penal em curso, o evadido do estabelecimento prisional onde se encontrava
relatório a que se refere o número anterior é remetido a cumprir a prisão preventiva ou a pena de prisão em
ao juiz do processo. outro processo.
4. Se os dados sobre a localização celular previstos no 2- No caso previsto no número anterior, aplica- se o
número 1 não se referirem a qualquer processo penal em disposto no artigo 368º e o julgamento tem lugar sempre
curso, o relatório a que se refere o número 2 é remetido ao com a presença do defensor do arguido já constituído no
Ministério Público e ao juiz que, respetivamente solicitou processo ou, se for o caso, nomeado oficiosamente pelo juiz
e autorizou a medida, podendo dar origem a investigação e todas as notificações que nos termos do presente Código
criminal ou instauração de processo penal. devam ser feitas na própria pessoa do arguido sê- lo- ão
na pessoa do seu defensor ou por via edital em caso de
5. É nula a obtenção de dados sobre a localização celular impossibilidade do defensor receber a notificação, por
com violação do disposto nos números anteriores. qualquer motivo, designadamente extinção do mandato,
impedimento ou ausência definitiva ou temporária do
Artigo 254.º - A País ou da área judicial onde corre o processo, que seja
incompatível com as necessidades da realização do
Notificação a titulares e impugnação julgamento.
1. Quando se revele ou fundadamente se suspeite 3- Em caso de conexão de processos, os arguidos
que o objeto das apreensões realizadas nos termos das presentes e ausentes são julgados conjuntamente, salvo
disposições do presente Capítulo não pertence ao agente se o tribunal tiver como mais conveniente a separação.
do facto ilícito, no prazo de quarenta e oito horas, o
Ministério Público, na fase da instrução, ou o juiz, na fase 4- É correspondentemente aplicável o disposto nos n.ºs
de audiência contraditória preliminar ou de julgamento, 1 e 2 do artigo 148º e no artigo 264º.

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1170 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

Artigo 365º- A artigo 348º ou do prosseguimento do processo para efeitos


da declaração da perda de objetos, produtos e vantagens
Audiência de julgamento de arguido declarado a favor do Estado.
contumaz
Artigo 365º- D
À audiência de julgamento de arguido declarado
contumaz aplica- se o disposto no 364º- B. Caducidade da declaração de contumácia
Artigo 365º- B 1- A declaração de contumácia caduca logo que o arguido
se apresentar ou for detido ou preso preventivamente, sem
Pressupostos e declaração de contumácia prejuízo da separação de processos que eventualmente
1- Fora dos casos previstos nos artigos anteriores, haja tido lugar.
se, depois de realizadas as diligências necessárias à 2- Logo que se apresente ou for detido, o arguido é sujeito
notificação, não for possível notificar pessoalmente o a medidas de coação pessoal adequadas, observando- se
arguido do despacho que designa o dia para a audiência o disposto nos n.ºs 2 e 3 do artigo 76º e no nº 3 do artigo
de discussão e julgamento, ou executar a sua detenção 77º, ou à sua revisão caso estivesse sujeito a elas.
ou prisão preventiva referidas no nº 2 do artigo 148º e no
artigo 264º, ou em consequência de sua evasão, o mesmo Artigo 365º- E
é notificado por editais para se apresentar pessoalmente
em juízo, num prazo até trinta dias, sob pena de ser Registo de contumácia
declarado contumaz.
O despacho que declarar a contumácia, com especificação
2- Os editais contêm, sempre que possível, o nome, dos respetivos efeitos, e aquele que declarar a sua
estado civil, profissão e última morada do arguido ou cessação são registados no registo criminal do arguido,
quaisquer outros elementos ou sinais que permitam ou por averbamento.
favoreçam a sua identificação, o crime que lhe é imputado,
as disposições legais que o punem, o valor global dos Artigo 379º- A
danos que lhe são imputados, a comunicação de que, não
se apresentando pessoalmente no prazo assinalado, será Declarações de terceiros
declarado contumaz e os demais efeitos da contumácia 1- Sempre que se revelar necessário, são, também,
previstos no nº 1 do artigo 365º- C. tomadas declarações de terceiros titulares dos objetos,
3- A declaração de contumácia é da competência do produtos ou vantagens suscetíveis de serem declarados
juiz do julgamento, devendo o correspondente despacho, perdidos a favor do Estado.
com a especificação dos seus efeitos, ser publicitado nos
2- Aos terceiros titulares de direitos incidentes sobre
3 703000 000000

termos do artigo 146º e notificado ao advogado ou defensor


e, quando possível, a parente ou pessoa da confiança do os objetos, produtos ou vantagens suscetíveis de serem
arguido. declarados perdidos a favor do Estado é garantido o exercício
do direito de contraditório e a prestação de declarações,
Artigo 365º- C em qualquer fase do processo, por decisão do juiz ou a
solicitação dos próprios, do Ministério Público, do defensor
Efeitos de declaração de contumácia ou dos advogados do assistente ou das partes civis.
1- A declaração de contumácia implica para o arguido: Artigo 4º

a) A passagem imediata de mandado de detenção Sistemática


para efeitos de aplicação de uma medida de
coação que se mostrar adequada; 1- O Título V, sob a epígrafe “Acusação e defesa, do
Livro Preliminar da Parte Primeira do Código de Processo
b) A representação em todos os atos do processo pelo Penal, aprovado pelo Decreto- Legislativo nº 2/2005,
seu advogado constituído ou defensor nomeado de 7 de fevereiro, alterado pelo Decreto- Legislativo nº
oficiosamente; 5/2015, de 11 de novembro e pela Lei nº 112/VIII/2016,
de 1 de março, passa ter como epígrafe “Acusação, defesa
c) A substituição de todas as notificações pessoais e vítima”.
impostas por lei, inclusive a notificação da decisão
penal, na pessoa do seu advogado constituído 2- No Título V do Livro Preliminar da Parte Primeira
ou defensor nomeado oficiosamente; do Código de Processo Penal, aprovado pelo Decreto-
Legislativo nº 2/2005, de 7 de fevereiro, alterado pelo
d) A anulabilidade dos negócios jurídicos de natureza Decreto- Legislativo nº 5/2015, de 11 de novembro e
patrimonial celebrados após a declaração. pela Lei nº 112/VIII/2016, de 1 de março, é introduzido, a
seguir ao artigo 94º, o Capítulo III, sob a epígrafe “Vítima”,
2- A anulabilidade é deduzida perante o tribunal seguido dos artigos 94º- A a 94º- I.
competente pelo Ministério Público até à cessação da
contumácia. Artigo 5º

3- Quando a medida se mostrar necessária para Revogações


desmotivar a situação de contumácia, o tribunal pode
decretar a proibição de obter determinados documentos, São revogados:
certidões ou registos junto de autoridades públicas, bem a) Os artigos 282.º, 366º, 367º, 369.º, 370.º e 371.º
como o arresto, na totalidade ou em parte, dos bens do do Código de Processo Penal, aprovado pelo Decreto-
arguido, nos termos do artigo 298º. Legislativo nº 2/2005, de 7 de fevereiro, alterado pelo
4- A declaração de contumácia implica, também, Decreto- Legislativo nº 5/2015, de 11 de novembro e pela
a suspensão dos termos ulteriores do processo até ao Lei nº 112/VIII/2016, de 1 de março;
termo do prazo referido no nº 1 do artigo 365º- B ou b) Os artigos 29.º, 30.º, 33.º, 34.º. 35.º, 36.º, 37.º e 38.º
da apresentação ou detenção ou prisão preventiva do da Lei nº 84/VII/2011, de 10 de janeiro, que estabelece
arguido, sem prejuízo da separação de processos, em caso as medidas destinadas a prevenir e reprimir o crime de
de conexão, da realização de atos urgentes nos termos do violência baseada no género.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1171


Artigo 6º Dentre as orientações contidas nessa autorização
Republicação cumpre destacar a referente à necessidade de se dar corpo
normativo ao princípio, hoje irrefragável, da presunção
É republicada na integra, em anexo a presente lei, da inocência de todo o arguido ou acusado, enquanto não
da qual faz parte integrante, o Decreto- Legislativo houver sentença judicial já transitada em julgado.
nº 2/2005, de 7 de fevereiro, alterado pelo Decreto- Legislativo
nº 5/2015, de 11 de novembro e pela Lei nº 112/VIII/2016, Princípio esse que arrasta outro, o do in dúbio pro reo
de 1 de março, com a redação atual. e, uns e outros, implicando uma estruturação diferente do
processo penal, a começar desde logo, pela possibilitação
Artigo 7º máxima do contraditório e pelo direito a uma defesa eficaz
Entrada em vigor para todos os sujeitos processuais.

A presente Lei entra em vigor no prazo de noventa dias Mas seguro de se seguir fielmente as instruções da
após a data sua publicação. delegação de legiferar que o Parlamento atribuiu ao
Governo, o Código de Processo Penal que agora se aprova
Aprovada em 12 de março de 2021. — O Presidente da por intermédio do presente Decreto-Legislativo, preocupa-se
Assembleia Nacional, Jorge Pedro Maurício dos Santos em assegurar a concordância prática entre as finalidades
ou interesses tendencialmente conflituantes na realização
Promulgada em 23 de março de 2021. da justiça penal, quando se tem por certo a permanente
Publique-se. existência de uma tensão dialéctica entre o interesse na
descoberta da verdade e a punição exemplar e efectiva
O Presidente da República, JORGE CARLOS DE dos criminosos, por um lado, e o respeito pelos direitos
ALMEIDA FONSECA fundamentais, por outro, sem olvidar a particular atenção
que merece a vítima.
Assinada em 26 de março de 2021. — O Presidente da
Assembleia Nacional, Jorge Pedro Maurício dos Santos Assim, a descoberta da verdade penalmente relevante,
Anexo
sendo o desígnio das autoridades judiciárias, sofre diversas
compressões num processo penal democrático, onde se
Republicação impõe claramente o princípio jurídico constitucional da
proporcionalidade, vinculante em matéria de restrição
Decreto-legislativo nº 2/2005
de direitos fundamentais, conferindo que se deva obter
de 7 de fevereiro a citada concordância prática dos interesses em colisão,
traduzida numa mútua compressão por forma a atribuir
O Código de Processo Penal que se acha vigente entre a cada um a máxima eficácia possível.
nós é ainda aquele que foi aprovado pelo Decreto nº 16 489,
3 703000 000000

de 15 de Fevereiro de 1929 e mandado vigorar na então Pretende-se outrossim, com o diploma que ora se aprova,
colónia de Cabo Verde pelo Decreto nº 19 271, de 24 de que a perseguição penal criminal seja, a um tempo, segura,
janeiro de 1931. rápida e eficaz, reparando a violação dos bens jurídicos
protegidos, garantindo a não impunidade, desencorajando
Esse Código, apesar de ter sofrido inúmeras e dispersas os comportamentos desviantes e servindo de referência
alterações, nas sete décadas da sua existência, mantém-se tranquilizadora para a comunidade.
no essencial, inalterado na sua estrutura e, mais do que
isso, nos princípios jurídico-filosóficos que então lhe haviam Assim:
dado corpo, mostrando-se refractário a todo e qualquer
esforço da hermenêutica com vista à sua compaginação Ao abrigo da autorização legislativa concedida pela Lei
com a contemporaneidade. nº 43/VI/2004, de 7 de Junho, cujo prazo foi prorrogado
pela Lei nº 52/VI/2004, de 13 de dezembro;
Constata-se, com efeito, um enorme desfasamento do
Código de Processo Penal actual, face às correntes do No uso da faculdade conferida pela alínea b) do nº 2, do
pensamento jurídico-penal hodierno, consubstanciadoras artigo 203º da Constituição, o Governo decreta o seguinte:
de novos princípios e valores que dizem respeito ao pleno
gozo da cidadania em democracia, tanto no que concerne a Artigo 1.º
direitos individuais como a deveres para com a comunidade. Aprovação do Código de Processo Penal
Princípios e valores esses, exaustivamente consagrados
na Constituição da República e recentemente densificados É aprovado o Código de Processo Penal que faz parte
no novo Código Penal, o qual, em vigor desde Julho do do presente Decreto-Legislativo.
ano transacto, demanda agora a necessária adequação Artigo 2.º
do direito adjectivo.
Remissões
Evidente, também a desadequação desse vetusto
Código do Processo Penal com as realidades nacionais Consideram-se efetuadas para as correspondentes
e internacionais deste dealbar do terceiro milénio, no disposições do Código de Processo Penal aprovado pelo
concernente à preservação do tecido social, face ao presente diploma as remissões para o código anterior
surgimento de novas formas de criminalidade e recrudescer contidas em leis avulsas.
de outras, organizadas e violentas, que atentam contra Artigo 3.º
a vida, a dignidade humana, a liberdade das pessoas e o
estado de Direito Democrático. Revogações

É nesse contexto que foi o Governo autorizado pela 1. É revogado o Código de Processo Penal aprovado
Assembleia Nacional para aprovar um novo Código de pelo Decreto nº 16 489, de 15 de fevereiro de 1929, com
Processo Penal. a redação que lhe foi dada pelo Decreto nº 19 271, de 24
de janeiro de 1931 e demais legislação subsequente.
Constitui propósito do novo Código respeitar escrupulosamente
as concretas e detalhadas instruções que constam do 2. São igualmente revogadas as disposições legais que
sentido e extensão da autorização legislativa emitida pela contenham normas processuais penais em oposição com
Lei nº 43/VI/2004, de 7 de Junho, cujo prazo foi prorrogado as previstas neste Código, nomeadamente as seguintes:
pela Lei nº 52/VI/2004, de 13 de dezembro.

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1172 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

a) Decreto-lei nº 35007, de 13 de outubro de 1945 e E como corolário de tal regime apresenta o processo
a Portaria nº 17076, de 20 de março de 1959; penal cabo-verdiano uma feição marcadamente secreta
em relação ao arguido, o qual se acha quase arredado
b) Decreto-lei nº 85/72, de 31 de maio e a Portaria da colaboração na investigação e de todo o andamento
nº 340/74, de 25 de maio; do processo, bem como segregado do contacto com a sua
própria defesa, mesmo quando surpreendido com uma
c) Decreto-lei nº 398/74, de 28 de agosto e a Portaria medida preventiva de coacção.
nº 582/74, de 11 de setembro;
Esse regime está claramente nos antípodas daquilo
d) Decreto-lei nº 182/91, de 28 de dezembro; que se pode conceber para um País que, como o nosso,
e) Decreto-lei nº 70/92, de 19 de junho; tem por bandeira o funcionamento de um Estado de
Direito Democrático, onde refulge na Lei Fundamental
f) Decreto-Legislativo nº 6/95, de 26 de setembro; o primado da presunção da inocência do arguido até que
em sentença definitiva seja comprovada a prática de uma
g) Lei nº 13/V/96, de 11 de novembro; infracção penal.
h) Lei nº 14/V/96, de 11 de novembro; Primado esse que traz subjacente para o processo penal
uma estrutura acusatória, temperada pelos princípios de
i) Lei nº 111/V/99, de 13 de setembro; investigação a cargo do tribunal, da contraditoriedade, da
publicidade do processo, da liberdade pessoal do arguido e
j) Decreto-Legislativo nº 1/97, de 10 de fevereiro. tendencial igualdade de armas entre a defesa e a acusação.
Artigo 4.º
Ora, para além de ser o Código de Processo Penal
Contravenções e transgressões vigente um código dos inícios do século passado, que não
pode reflectir os valores, os conceitos e a própria evolução
As contravenções e transgressões previstas em legislação dogmática de um direito processual penal moderno,
avulsa serão processadas sob a forma de processo sumário, o facto é que há já uma trintena de anos que sucedeu
sempre que forem puníveis só com multa ou medida de a independência do país, se procedeu à normação da
segurança não detentiva ou ainda quando puníveis com estrutura e configuração jurídica e política do Estado e
pena de prisão tenha havido a prisão em flagrante delito. se pôs a vigorar, desde 1992, uma nova Constituição da
Nos restantes casos serão processados sob a forma de República.
processo abreviado.
Lei Fundamental, esta última, que proclama organizar-
Artigo 5.º se a República de Cabo Verde em Estado de Direito
Entrada em vigor Democrático e que consagra, no respeitante aos direitos,
3 703000 000000

liberdades e garantias dos cidadãos, um conjunto de


O presente diploma e o Código de Processo Penal por ele regras e princípios relativos ao processo criminal, de
aprovado entram em vigor no dia 1 de outubro de 2005. imediata aplicabilidade, que são verdadeiras injunções
para o legislador ordinário.
Visto e aprovado em Conselho de Ministros.
Ao mesmo tempo, e no quadro de um Estado de Direito
José Maria Pereira Neves – Maria Cristina Fontes Lima. onde o processo penal tem por fim alcançar a realização
da justiça e a paz jurídica, a Constituição da República
Promulgado em 4 de fevereiro de 2005. impõe ao legislador ordinário o dever de estabelecer
procedimentos judiciais que assegurem a tutela efectiva
Publique-se. e em tempo útil do cidadão contra ameaças ou violações
O Presidente da República, PEDRO VERONA RODRIGUES daqueles mesmos direitos, liberdades e garantias.
PIRES. Ora, nessa tensão dialéctica entre o dever de assegurar
Referendado em 4 de fevereiro de 2005. em simultâneo a paz jurídica e a preservação dos direitos,
liberdades e garantias, importa que um processo penal,
O Primeiro Ministro, José Maria Pereira Neves que se queira consentâneo com os valores democráticos da
era contemporânea, evite a todo o custo erigir qualquer
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL uma dessas duas obrigações em finalidade exclusivamente
PREÂMBULO
determinante, ou sequer dominante da sua estruturação,
em detrimento da outra.
I
Acresce a circunstância de se achar praticamente
O Código de Processo Penal vigente em Cabo Verde concluída a reforma global da legislação penal, com a
é basicamente o Código de Processo Penal português recente promulgação e publicação do Código Penal de
aprovado pelo Decreto 16489, de 15 de fevereiro de Cabo Verde, aprovado pelo Decreto - Legislativo nº4/2003
1929, com as alterações e incorporações levadas a cabo de 18 de novembro.
em Portugal, tornadas extensivas ao antigo Ultramar
português e poucas outras introduzidas pelo legislador Este último Código, que se sustenta nos valores
cabo-verdiano após a independência do país. fundamentais consagrados na Lei Fundamental de
Cabo Verde, acha-se sintonizado com os mais recentes
Uma análise, mesmo que perfunctória, desse Código ensinamentos e conquistas da dogmática jurídico-penal.
e das subsequentes alterações que foi sofrendo ao longo Por conseguinte o novo Código Penal é refractário à
do tempo, incluindo as produzidas já conseguidas a convivência com o Código de Processo Penal de 1939, que
emancipação política, levam facilmente à constatação se traduz numa «manta de retalhos», como unanimemente
de que, na sua estrutura e finalidade, o processo penal o apoda o corpo jurídico nacional, e que, para mais, contém
ainda consagrado entre nós assume como característica múltiplas orientações contraditórias e dissonantes face
fundamental a adopção de um regime de investigação aos valores da modernidade no campo do direito penal,
penal do tipo inquisitório, onde toda a investigação é tanto substantivo, como adjectivo.
dirigida pela autoridade pública, indiferente quanto à
possibilidade de contribuição do arguido para a descoberta Importará outrossim ter em devida conta que o Direito
da verdade. Internacional - seja o geral ou comum, seja o convencional,

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este quando devidamente adoptado - é parte integrante ao juiz competente para efeitos de manutenção ou não
do ordenamento jurídico nacional e que o Direito Pátrio da prisão e reformula-se a providência extraordinária do
ainda acolhe no seu seio os preceitos constantes dos habeas corpus para os casos de detenção e prisão ilegais,
instrumentos internacionais a que Cabo Verde se encontra com a fixação do prazo máximo de 5 dias para ser proferida
vinculado, relativos ao direito processual penal e aos a decisão judicial sobre o respectivo pedido.
direitos humanos, sendo que a Comunidade Internacional
aponta novos caminhos na realização da justiça penal, Porque há que acautelar no máximo o princípio da
com particular realce na intransigente defesa do princípio presunção da inocência, está contemplada a obrigatoriedade
da presunção da inocência. da realização de actos judiciais para apreciação da
legalidade da detenção ou prisão do arguido mesmo fora
Perante todos estes novos valores, princípios e regras das horas normais do expediente em dias úteis e também
que, verdade seja dita, vêm constituindo de longa data aos sábados, domingos, dias feriados e de tolerância de
preocupação da República, mesmo antes da emergência ponto.
do novo estatuto constitucional, apenas não positivados 2. Para além da adequação aos princípios e valores da
em normas jurídicas pela necessidade do amadurecimento Constituição, também tem-se em conta a necessidade da
e afirmação das nossas instituições, e perante a ingente modernização da lei processual penal, particularmente
necessidade de adopção de medidas normativas com o no que diz respeito à sua actualização face aos novos
propósito de se alcançar maior celeridade e eficiência na conceitos, aos novos princípios, às novas formas de combate
administração da justiça penal, é agora chegado o momento à pequena criminalidade e à criminalidade violenta ou
de trazer à luz do dia o que se pode com rigor apelidar-se organizada.
do primeiro Código de Processo Penal de Cabo Verde.
Nessa linha da modernidade que o direito comparado
II
contempla, estão previstas regras precisas que preenchem
1. Pretende-se, assim, adequar o processo penal à a finalidade da realização da justiça e a descoberta
Constituição do País, a qual é balizada e atravessada da verdade material e que promovem a segurança na
por princípios e valores conaturais ao Estado de Direito aplicação do direito através da reafirmação da norma
Democrático. jurídica violada.

Adequação que se abraça, designadamente através 3. A simplificação e a aceleração processuais atravessam


da expressa consagração do princípio da presunção de todas as fases e momentos de tramitação do processo
inocência do arguido, da garantia a todos do direito de penal, neste presente diploma.
obter em prazo razoável a tutela efectiva dos seus direitos 4. A necessidade da explicitação do conteúdo garantístico
junto dos tribunais, do direito de defesa e do patrocínio dos princípios fundamentais do processo penal impôs a
judiciário, do direito de todos se fazerem acompanhar por previsão de disposições específicas contendo o postulado
advogado perante qualquer autoridade; do contraditório,
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segundo o qual a prova da culpabilidade deverá ser feita


da regra do juiz natural, da cominação com a nulidade por quem acusa e pelo tribunal e que em caso de dúvida
das provas obtidas por meio de tortura, coacção, ofensa razoável sobre quaisquer factos relativos à existência da
à integridade física ou moral e outros meios ilícitos; da infracção ou à responsabilidade pela sua prática, ela será
publicidade das audiências; da inviolabilidade do domicílio resolvida em favor do arguido.
e de correspondência.
Ainda no âmbito da sua preocupação garantística, proíbe-se o
Ainda dentro desta necessidade da adequação do processo julgamento do arguido pelo juiz que tenha, contra aquele,
penal aos valores constitucionais, deixa-se expresso e proferido despacho de pronúncia.
claramente assegurado que ninguém pode ser privado Igualmente, essa mesma preocupação leva a que esteja
da liberdade, total ou parcialmente, senão em virtude plasmado o dever de fundamentação das decisões proferidas
de sentença judicial condenatória pela prática de actos em processo penal e que essa fundamentação será feita
punidos por lei com pena de prisão ou de aplicação judicial com precisão e clareza, tanto no que se refere a questões
de medidas de segurança, salvo nos casos de prisão em de facto, quanto no que diz respeito à argumentação
flagrante delito, fortes indícios de prática de crime doloso jurídica na proferição de qualquer decisão, que não seja
a que corresponda pena de prisão cujo limite máximo de mero expediente.
seja superior a dois anos e insuficiência ou inadequação
das medidas de liberdade provisória, incumprimento das 5. Consagra-se um modelo de perseguição processual
condições impostas ao arguido em regime de liberdade criminal de estrutura acusatória, mas que entretanto se
provisória e detenção ou prisão para assegurar a obediência apresenta compatível com o princípio de investigação,
a decisão judicial ou a comparência perante autoridade que também se acolhe, entendido este no sentido do
judicial competente para prática ou cumprimento de poder-dever que ao tribunal pertence de esclarecer e
acto judicial. instruir oficiosamente – isto é: independentemente das
contribuições da acusação e da defesa – o facto sujeito a
A restrição da liberdade, está condicionada à obrigatoriedade julgamento, criando ele próprio as bases necessárias à
de toda a pessoa detida ou presa ser informada, de forma sua decisão.
clara e compreensível das razões da detenção ou prisão
e dos seus direitos constitucionais e legais e autorizada A adopção do regime processual de pendor acusatório
a contactar advogado, da proibição da pessoa detida ou fez com que, no modelo concreto de estrutura do processo
presa ser obrigada a prestar declarações, com o direito do novo Código, se haja atribuído ao Ministério Público a
à identificação dos responsáveis pela sua detenção ou condição de órgão de topo da investigação pré-acusatória,
prisão e pelo seu interrogatório, da adopção do principio (assistido pelos órgãos de polícia criminal); se tenha
segundo o qual a detenção ou prisão de qualquer pessoa e estabelecido uma única fase preliminar de investigação
o local onde se encontra são comunicados imediatamente processual criminal, que se convencionou apelidar de
à família do detido ou preso ou a pessoa por ele indicada, «instrução»; e se tenha estabelecido ser a acusação o
com a descrição sumária das razões que a motivaram e da único modo ou meio de introdução do facto em juízo,
proclamação da natureza subsidiária da prisão preventiva. assegurando-se contudo a máxima contraditoriedade
possível numa tal fase.
Preceitua-se mais, sempre nessa linha de adequação, que
qualquer pessoa detida ou presa sem culpa formada terá Não obstante a opção feita de pertencer ao Ministério
que ser obrigatoriamente apresentada, o mais rapidamente Público a direcção do processo na fase instrução, acudindo-se
possível, até o prazo máximo de quarenta e oito horas, a imperativos constitucionais tendentes a assegurar a

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máxima independência e imparcialidade na adopção A fim de se acelerar a marcha do processo, tal


de medidas processuais susceptíveis de causar danos como acontece com a instrução, estabelece-se que a
nos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos ACP fica sujeita a prazos, e que a mesma deverá ser
cidadãos, preconizam-se um conjunto de actos que no encerrada no prazo máximo de um ou dois meses,
decorrer da instrução apenas podem ser praticados, consoante haja ou não arguidos presos, excepcionalmente
ordenados ou autorizados por um juiz. Designadamente, prorrogável, respectivamente, por mais dois ou três meses.
o primeiro interrogatório de pessoa detida ou presa; a Ainda, no que respeita a essa fase, que antecede o
aplicação de medida de coacção pessoal ou de garantia julgamento, especifica-se que a ACP deve ser encerrada
patrimonial; a decisão sobre o habeas corpus por detenção com a proferição, consoante os casos – recolhidos ou não
ilegal; a realização de revistas e buscas; apreensões de indícios suficientes da prática do crime – de um despacho
correspondência, intercepções ou gravações de conversações de pronúncia ou de não-pronúncia.
ou comunicações telefónicas, telemáticas ou outras do teor.
9. Com vista à salvaguarda das condições para uma
Tendo presente a necessidade da concordância prática investigação criminal eficaz, livre de intromissões que
entre a eficácia na realização da justiça e na preservação possam comprometer a realização de uma justiça isenta,
da paz jurídica e a preocupação garantística da presunção tanto face aos sujeitos e outros participantes processuais,
da inocência - esta a recomendar que se não deva manter quanto face a terceiros, consagram-se limitações ao
alguém por tempo indeterminado sob a espada da suspeição conhecimento, acesso ou divulgação de actos processuais ou
criminal- o novo Código estabelece de modo preciso qual dos seus termos, designadamente através da preservação
a duração máxima da instrução, quando o arguido se do segredo de justiça, desde o início do processo, até o
encontre submetido a qualquer medida restritiva da sua despacho de pronúncia.
liberdade, apenas permitindo a reabertura da instrução,
esgotados que estejam os prazos legalmente fixados, se Porém na configuração do segredo de justiça tem-se
surgirem novos elementos de prova que invalidem os bem presente a necessidade de compaginar o interesse da
fundamentos do Ministério Público invocados no despacho investigação com outros interesses que o processo penal
de arquivamento. também tem o dever de prosseguir.

No modelo de acusatório, temperado com o da investigação, Assim, para além da preocupação com o conteúdo
o Ministério Público não é tido verdadeiramente como “parte” irredutível dos demais princípios e valores que presidem
no processo, mas sim como uma autoridade encarregue a um processo penal de um Estado de direito, enfatiza-se,
da investigação criminal que tem por missão a busca nesse particular, o respeito pela preservação da presunção
da «verdade material». Por isso deixa-se expressamente da inocência do arguido, da intimidade da vida privada
consagrado no Código que o Ministério Público não tem dos cidadãos e da liberdade de informação.
que sustentar “a todo o custo” a acusação e que nem tão Isso sucede, designadamente, para efeitos de impugnação
pouco seja a referida Magistratura titular de um “dever da aplicação da medida de prisão preventiva, admitindo-se
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de acusação”. ao arguido e ao seu defensor o acesso às provas que


6. Com vista à realização da justiça em tempo útil, fundamentaram a aplicação da medida e, bem assim, àquelas
a que se alia ainda preocupação outra, da finalidade que lhe permitam contrariar a referida fundamentação.
ressocializadora das medidas penais, o novo Código Permissão essa que deverá ser acompanhada do inerente
confere ao Ministério Público a faculdade de renunciar dever de sigilo, sob cominação da lei.
provisoriamente à perseguição penal de pequenos crimes,
cometidos com culpa diminuta, quando o interesse público Situa-se o âmbito de vinculação do segredo de justiça
naquela perseguição possa ser suprido pelo cumprimento nas entidades oficiais que, em virtude do exercício de suas
de regras de conduta ou injunções impostas ao arguido, funções, participem ou tomem contacto com o processo, nos
dependentes porém do prévio assentimento dele e dos sujeitos processuais e nas pessoas que forem chamadas
restantes sujeitos processuais e da subsequente homologação a intervir a qualquer título no processo.
judicial.
Ainda no que respeita ao regime de segredo de justiça, vem
7. Define-se com minúcia os requisitos da acusação, estabelecido que antes de se deduzir acusação, o arguido,
com realce para a exigência de narração discriminada e o assistente (se o procedimento criminal não depender
precisa dos factos que integram a infracção, inclusivamente de acusação particular) e as partes civis, apenas podem
daqueles que fundamentam a imputação subjectiva a ter acesso aos autos na parte respeitante a declarações,
título de dolo ou negligência. requerimentos e memorandos por eles apresentados, bem
como, a diligências de prova a que pudessem assistir ou
8. Prevê-se, terminada a instrução, e em seguida à questões incidentais em que pudessem intervir e desde que
acusação, a existência de uma nova fase de investigação tal não ponha em causa a eficácia da investigação e haja
criminal, agora inteiramente judicial, de audiência, para tanto expressa autorização do Ministério Público.
facultativa, e que se convencionou denominar-se “audiência
contraditória preliminar” (ACP). Permite-se às autoridades judiciárias alguma maleabilidade
relativamente à gestão do segredo do processo, com a
Esta outra fase, presidida e dirigida por um juiz, excepcional divulgação de peças processuais, de forma
consubstancia-se numa autêntica audiência oral e a que, nalgumas situações concretas, por exemplo, nas
contraditória, em que participam o Ministério Público, admissíveis hipóteses de verdadeiras “investigações
o arguido, o defensor, o assistente e o seu advogado, e jornalísticas paralelas”, não se torne perverso (precisamente
destina -se a obter uma decisão de submissão, ou não, da em atenção ao interesse da investigação criminal) o efeito
causa a julgamento, através da comprovação da decisão pretendido com a adopção processual desse mesmo segredo.
de deduzir acusação, ou de arquivar o processo.
Aqui cabe realçar, de bastante inovador com relação ao
Por tal motivo estabelece-se que na ACP se produzirá que se passa noutros quadrantes jurídicos, a ruptura do
toda a prova requerida previamente ou no decurso da diploma com o regime até agora vigente de imputação da
respectiva audiência, gozando o respectivo juiz dos responsabilidade penal aos profissionais da Comunicação
poderes correspondentes aos conferidos àquele que Social que no exercício da sua função divulguem factos em
preside à fase da audiência de julgamento, podendo ser segredo de justiça, obviamente, quando não se encontrem
repetidos nela, quaisquer actos e diligências de prova a isso vinculados na qualidade de sujeitos processuais
praticados na instrução; naturalmente, desde que se ou de, qualquer outro modo, participantes no processo
revelem indispensáveis à realização das suas finalidades. respectivo.

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10. Na ideia de evitar que a pronúncia, momento crucial 14. Adere-se ao chamado princípio da vinculação
da tramitação da acção penal, seja uma mera repetição e temática, enquanto expressão do acusatório, segundo
preenchimento de um seco formulário, explicita-se que ela o qual o julgador não pode surpreender o arguido com
deve obedecer, com as devidas adaptações, aos requisitos factos substancialmente diferentes dos que constam da
impostos à acusação. acusação e da pronúncia.
Nomeadamente impondo-se ao juiz o dever da narração Assim, prevê-se que se durante a audiência de julgamento,
discriminada e precisa dos factos que integram a infracção se fizer prova de factos não constantes da pronúncia
cuja prática se imputa ao arguido, incluindo daqueles (ou da acusação, ou acusações) e importarem eles crime
que consubstanciam a imputação subjectiva (a título de diverso ou uma agravação dos limites máximos da pena
dolo ou negligência). aplicável, o juiz comunicará isso ao Ministério Público
para que, entendendo-o oportuno, proceda à perseguição
11. Em ordem à legitimação das decisões penais, criminal pelos novos factos.
proferidas pelos tribunais, assume-se que o processo
penal é público a partir do despacho de pronúncia ou, se Se os novos factos não impuserem os efeitos acima
a ele não houver lugar, a partir do despacho que designa referidos, o juiz que preside ao julgamento concederá ao
dia para audiência de julgamento e define-se em que se arguido, a requerimento deste, prazo para a apresentação
traduz a publicidade do processo. da defesa, com o consequente adiamento da audiência,
se necessário.
Isso sem deixar contudo de se estabelecer limitações 15. No que concerne aos requisitos da sentença, regula-se com
à regra geral de publicidade a partir daquele momento minúcia o modo da fundamentação da decisão do julgador.
processual. A saber: a proibição de transmissão de imagens Nomeadamente vem estabelecido que na fundamentação,
ou tomada de som relativamente a interveniente processual para além da enumeração dos factos provados e não
que a tal se opuser; a proibição, antes de proferida provados, deve-se proceder à indicação discriminada
sentença em primeira instância, de reprodução de peças e tanto quanto possível completa, ainda que concisa,
ou documentos do processo, salvo em casos excepcionais dos motivos de facto e de direito que fundamentaram a
devidamente autorizados pela entidade que presidir à decisão, com a indicação das concretas provas que serviram
fase processual no momento da publicação: a proibição para formar a convicção do tribunal e ao enunciado das
de publicidade de dados relativos à intimidade da vida razões pelas quais o tribunal não considerou atendíveis
privada que não constituam meios de prova (aqui mesmo ou relevantes as provas contrárias.
na fase da instrução).
16. Relativamente às formas de processo, assume-se
12. A recomendação relativa à consagração de uma como modelo padrão, e comum, o “processo ordinário”.
estrutura basicamente acusatória levou a um modelo de
audiência de julgamento em que o sistema de interrogatório Mas, no quadro de respostas processuais aos problemas da
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das testemunhas se aproxime do cross-examination do pequena criminalidade, seguindo-se a tradição do ordenamento


direito anglo-americano. vigente, adopta-se no presente diploma a figura do “processo
sumário”, modelado como processo especial. Porém, com
No que se refere ao interrogatório do arguido nesta fase, a preocupação de não se perder de vista a necessidade da
prevê-se que as perguntas e pedidos de esclarecimento preservação, sempre, das garantias de defesa do arguido,
sobre as declarações que ele tenha prestado, sejam baliza-se esta forma especial de a um quantum de pena,
feitas pelo presidente do tribunal, apenas aceitando-se correspondente a um certo grau de criminalidade (pena
a intervenção directa do advogado do sujeito processual de prisão até 3 anos) e destina-se unicamente aos casos de
em determinados condicionalismos. detenção ou prisão em flagrante delito.
13. O princípio da oralidade, vem consignado com o Ainda com a preocupação da celeridade e também com
sentido actual e garantístico: o de que a formação da o da simplificação processuais, conjugados com o objectivo
convicção do tribunal só poderá fundamentar-se em provas da consecução de decisões conciliatórias, onde penalmente
produzidas ou examinadas em audiência de julgamento. admissível, consagra-se mais uma outra modalidade
de processo especial a do “processo de transacção”- na
É de resto com a finalidade da ponderação entre a linha do que já fora anteriormente instituído através do
eficácia processual e a garantia dos direitos fundamentais Decreto- Legislativo nº 5/95, de 27 de Junho, no domínio
que em determinadas situações se faz recuar o interesse da lei sobre as infracções fiscais e aduaneiras.
justificador do segredo de justiça, razão pela qual também
se consagra a regra da inadmissibilidade de julgamento Fica estabelecido no entanto, com igual preocupação
de arguido ausente. Neste caso, ciente o legislador dos que norteou a adopção do processo sumário, que tal forma
argumentos habitualmente invocados para a imposição da especial de processo apenas deverá ter lugar em caso de
sua presença geralmente os atinentes à realização do direito crime punível com pena de prisão cujo limite máximo
de defesa e ao respeito pelos princípios do contraditório, da não seja superior a três anos. A iniciativa para esta
imediação e da verdade material. Estabelece-se ainda, em modalidade de transacção processual cabe em exclusivo
respeito ao princípio da oralidade, caso o julgamento não ao Ministério Público, antecedida de audição prévia dos
se possa realizar por virtude da ausência do pronunciado restantes sujeitos do processo; os quais também devem
(ou do acusado) que o processo deverá ficar suspenso até dar a sua concordância relativamente às sanções e à
que seja possível obter a sua comparência. indemnização propostas.
Não obstante, admitem-se algumas situações particulares Ainda para os casos de pequena criminalidade e para os
em que o julgamento se pode fazer sem a presença física de média criminalidade (crimes puníveis com pena de prisão
do arguido, cabendo recortar, nomeadamente, a hipótese até os cinco anos), em situações marcadas pela simplicidade
em que ao crime não caiba pena de prisão. da matéria de facto e existência de provas claras e de fácil
percepção de que resultem indícios suficientes da prática
Procedendo-se à suspensão do processo por virtude da do facto e de quem foi o seu agente, em que haja detenção
ausência do arguido, para além da aplicação de medidas em flagrante, mas não caiba a instauração do processo
cautelares de garantia patrimonial, estabelece o Código sumário ou em que a prova seja, no essencial, documental,
que poderão ser anulados os actos de disposição de bens adoptou-se mais uma outra forma expedita de realização
do arguido faltoso, praticados após o crime e que tenham da justiça penal, com a designação de “processo abreviado”.
prejudicado o pagamento de indemnização por danos, de
imposto de justiça e custas. Esta outra modalidade aplica-se nas situações em que,
por um lado não tenha decorrido mais de sessenta dias

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desde a data em que o facto foi praticado e, por outro lado, Ainda no que ao regime probatório diz respeito reiteram-se
não seja aplicável ao caso outra forma de processo especial. os mesmos termos do Decreto-lei nº 70/92, de 19 de junho,
atribuindo-se valor probatório à confissão do arguido,
A sua tramitação obedece aos seguintes parâmetros: desde que ela seja feita sem reservas, integralmente e
O Ministério Público remeterá a acusação ao tribunal sem que haja suspeita do seu carácter livre.
competente, sem necessidade de instrução ou realizando Compagina-se o tradicional valor probatório do auto
expeditas e sumárias diligências de investigação, de notícia com o princípio da presunção de inocência do
nomeadamente a audição do arguido. arguido e seu corolário «in dubio pro reo», fazendo aplicar-se,
O juiz pronunciar-se-á por despacho de concordância, na circunstância, o regime processual penal geral de
ou não concordância com essa forma de processo, sendo avaliação da prova.
o seu despacho irrecorrível.
20. O Código disciplina a questão relativa às partes
Se o despacho for de concordância, o juiz que profere civis e ao pedido civil no processo penal, nomeadamente
tal despacho não poderá depois proceder ao julgamento a referente à reparação dos danos causados pela prática
e este far-se-á com recurso às regras do processo comum, do crime, com a expressa previsão da possibilidade do
mas com especialidades marcadas pela redução dos prazos arbitramento oficioso da indemnização.
e relativa simplificação de procedimentos.
21. No que concerne a “medidas cautelares processuais”
17. Em obediência ao postulado constitucional que o Código define e enumera, tipificadamente, que não de
manda preservar o princípio do «juiz natural» acham-se modo exemplificativo, quais devam ser as providencias
previstas no Código disposições que visam disciplinar a provisórias que as autoridades judiciárias e judiciais
matéria da competência por conexão, de forma a evitar-se estão autorizadas a adoptar para acautelar o normal
qualquer discricionariedade na determinação do tribunal andamento do processo crime.
competente.
Desde logo em tal conceito estão incluídas a detenção,
Contudo vem estabelecido que sempre que esteja ou as medidas de coacção pessoal e as medidas de garantia
possa estar em causa a ideia central da presunção de patrimonial, num tratamento normativo que abrange
inocência, nomeadamente através de previsível atraso um conjunto de disposições comuns, a par de estatuições
no processo derivado da conexão, poderá haver separação próprias para cada uma das figuras, do mesmo passo
de processos. que se admite a possibilidade de uma outra modalidade
de restrição da liberdade: a detenção para identificação
18. Relativamente ao estatuto do arguido, para além de suspeito, claramente distinta dessas três outras
de se definir com rigor, o momento de constituição de modalidades cautelares.
alguém como arguido, o novo Código, na sua preocupação
garantística, diferencia esta figura da de «suspeito», Rodeia-se o conceito homónimo, de detenção, de natureza
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assegurando obviamente melhores meios de defesa àquele estritamente policial, das maiores cautelas, de molde a
por sobre ele caírem, com um grau mais acentuado de que tal medida apenas possa ocorrer tratando-se de pessoa
certeza, os indícios da prática do crime. meramente suspeita da prática de qualquer ilícito e que
não seja capaz ou se recuse ilegitimamente de fazer a
Disciplina-se o regime do primeiro interrogatório de sua identificação, não podendo nunca essa modalidade
arguido detido e o modo como o mesmo deve ser efectuado, de restrição da liberdade ultrapassar, na sua duração,
permitindo-se que, findas as perguntas do juiz, a fazer- três horas.
se sem qualquer interferência por parte do Ministério
Público ou do defensor, estes possam também formular as Quanto às medidas de coacção pessoal o Código estabelece
perguntas que entenderem convenientes para a descoberta que se regerão pelos princípios da tipicidade, necessidade,
da verdade, sem prejuízo dos poderes de direcção e subsidiariedade, adequação e proporcionalidade, que são
condução da audiência que cabe ao juiz. De registar como o corolário do princípio constitucional da presunção de
medida francamente inovadora na garantia do direito inocência do arguido que, reafirma-se uma vez mais, se
de defesa do arguido, o estabelecimento da faculdade da deve preservar até que se obtenha o trânsito em julgado de
apresentação de breves alegações orais pelo Ministério decisão condenatória de todo o indiciado do cometimento
Público e pelo advogado do arguido, a antecederem a de um crime.
produção do despacho judicial de apreciação da detenção
ou prisão efectuadas. É deste modo que se consagra que as medidas de coacção
pessoal (e aliás também as de garantia patrimonial)
19. No que respeita à matéria da prova, define-se o deverão ser adequadas à natureza e ao grau das exigências
regime relativo aos “métodos proibidos de prova”, em cautelares a satisfazer no caso concreto e proporcionais
consonância com o que a Constituição da República à gravidade do crime e às sanções que previsivelmente
estipula no domínio de proibição de provas por meios virão a ser aplicadas.
ilícitos, impondo-se a cominação da nulidade das que forem
obtidas com violação de postulados legais concernentes Para além das exigências materiais de necessidade,
à sua recolha e produção judiciais. subsidiariedade, adequação e proporcionalidade, determina-
se que o despacho que manda aplicar medida de coacção
Estão regulados, de forma minuciosa, cada um dos meios pessoal ou de garantia patrimonial deve conter, sob pena
de prova admitidos e as medidas e meios de protecção e de nulidade, para além de outros requisitos, “ a indicação
de obtenção de prova, tendo-se sempre em consideração sumária dos factos que motivaram a aplicação da medida
as exigências constitucionais nesta área, em especial as e das circunstâncias que legalmente a fundamentam”. E
relativas à exclusividade da competência do juiz para a ainda, a “exposição sumária das específicas exigências
prática ou autorização de determinados actos. cautelares e dos indícios que justificam, no caso concreto,
Proíbe-se também o chamado «testemunho de ouvir dizer», a adopção da medida, a partir da indicação dos factos
melhor, do depoimento indirecto, e elimina-se a diferença que revelam tais indícios e dos motivos pelos quais se
normativa entre testemunha e declarante, estatuindo- mostram relevantes, tendo em conta, nomeadamente,
se que poderão ser ouvidas como testemunhas todas as o tempo decorrido desde a realização do facto punível”.
pessoas que possam contribuir, com o seu depoimento, Define-se com rigor aquelas exigências que, a não se
para a descoberta da verdade e que qualquer pessoa não verificarem, inviabilizam a aplicação de qualquer medida
interdita por anomalia psíquica tem capacidade para ser cautelar e, no que respeita às medidas de coação pessoal,
testemunha.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1177

excepto o termo de identidade, pondo-se termo ao regime saber se efectivamente houve a prática de um determinado
da incaucionalidade abstracta em razão da prática de crime, quem é o seu agente e qual a consequência jurídica
determinados crimes previamente enumerados na lei, que deve extrai-se de tal facto, levaram a que esteja
o Código estabelece categoricamente a proibição da sua relegado para legislação avulsa a apreciação de matérias
aplicação, se não for possível à autoridade que detém ou respeitantes à competência dos tribunais, à execução das
ordena a detenção de alguém ou que procede judicialmente condenações penais, a custas judiciais e a cooperação
à sua apreciação, comprovar: a fuga ou perigo concreto extra territorial na prática de actos processuais penais.
de fuga; o perigo concreto e actual para a aquisição,
IV
conservação ou veracidade de prova que se mostre exigência
específica e inderrogável para as investigações em curso; Com as linhas orientadoras acabadas de enunciar, julga-se
perigo, em razão da natureza e das circunstâncias do que se tem assegurado, neste Código de Processo Penal
crime ou da personalidade do arguido, da continuação que agora se aprova, uma equilibrada opção entre, por
da actividade criminosa. um lado, o interesse público da descoberta da verdade,
Definem-se os prazos de duração máxima para cada punição dos criminosos e reafirmação das normas violadas,
uma das medidas de coacção pessoal, relativa a cada fase de forma a garantir a paz jurídica e, por outro lado, a
ou momento processual relevante (acusação, pronúncia, necessidade de se preservar e assegurar no máximo o
condenação em primeira instância e trânsito em julgado), gozo e o exercício dos direitos liberdades e garantias
com a inerente consequência da imediata extinção da fundamentais por parte do cidadão, quando arguido do
respectiva medida, ultrapassado que seja o prazo a ele cometimento de qualquer conduta violadora das regras
concernente. básicas da sã e pacífica convivência na comunidade.
PARTE PRIMEIRA
Ainda no que concerne à prisão preventiva reafirma-se
a regra constitucional de que, em caso algum, ela deve LIVRO PRELIMINAR
ultrapassar os trinta e seis meses, contados a partir da detenção. FUNDAMENTOS DO PROCESSO PENAL
E a tal propósito estabelece-se que quem for detido ou
preso preventivamente poderá requerer, no tribunal TÍTULO I
competente para o efeito, que seja indemnizado pelos danos Princípios fundamentais e garantias
sofridos com a privação da liberdade, ultrapassados os do processo penal
prazos constitucionais ou legais estabelecidos ou quando
a prisão preventiva seja determinada ou mantida em Artigo 1.º
situações que a não admitam. Direito fundamental à presunção de inocência
Possibilita-se também o direito a requerer a indemnização 1. Todo o arguido se presume inocente até ao trânsito
por quem tiver sofrido prisão preventiva, motivada por em julgado de sentença condenatória.
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erro grosseiro na apreciação dos pressupostos que a ela


conduziu se a privação da liberdade vier a revelar-se 2. A presunção de inocência do arguido exige que a
injustificada e tiver causado prejuízos de particular prova de sua culpabilidade seja feita por quem acusa
gravidade ao lesado. e pelo tribunal, na obediência das regras estabelecidas
pelo presente Código ou outras leis de processo penal.
22. No que diz respeito aos recursos, tem-se a preocupação
de equilíbrio entre a exigência de aceleração do processo e 3. Havendo dúvida razoável sobre quaisquer factos
a procura da justiça da decisão final, pelo que se explicita relativos à infracção cuja existência se procura verificar
que, salvo disposição especial da lei, qualquer decisão ou à responsabilidade que se pretende apurar, ela será
proferida em processo penal é recorrível e que o recurso resolvida em favor do arguido.
poderá ter como fundamento quaisquer questões de que
Artigo 2.º
pudesse conhecer a decisão recorrida, sempre que a lei
não restrinja expressamente os poderes de cognição do Exigência de processo
tribunal de recurso.
Nenhuma sanção criminal poderá ser aplicada, sem
Consagra-se a possibilidade da realização haver um processo em que se prove a existência da
de audiência contraditória em sede de recurso. infracção e a responsabilidade criminal do acusado, em
Abandona-se a tradição normativa, prevalecente até conformidade com as regras definidas no presente Código
agora, da imposição ao Ministério Público da obrigação ou outras leis de processo penal, e em virtude de decisão
de recorrer de determinadas sentenças, em atenção ao proferida por um juiz competente.
desenho constitucional dessa Magistratura, preservando-
Artigo 3.º
se contudo, e como é evidente, a legitimidade para de
o Ministério Público i recorrer de quaisquer decisões Direito de audiência e de defesa
judiciais com as quais não se conforme, ainda que o faça
no interesse exclusivo do arguido. 1. O direito de audiência e de defesa em processo penal,
em qualquer das suas fases, é inviolável e será assegurado
Procura-se evitar a utilização abusiva do recurso, a todo o arguido.
sobretudo como manobra dilatória, pela faculdade que
é dada aos tribunais da rejeição liminar do recurso, em 2. O arguido tem o direito de escolher livremente o seu
casos da sua manifesta improcedência, sem prejuízo da defensor para o assistir em qualquer acto do processo.
faculdade de impugnação do respectivo despacho.
3. Sempre que e enquanto o arguido não estiver assistido
Na linha de simplificação processual, entende-se por defensor, todas as autoridades e funcionários que
bastante, para uma eficiente realização da justiça penal intervenham no processo criminal estarão, nos limites da
a consagração de apenas uma modalidade de recurso respectiva competência, obrigados, na falta de disposição
extraordinário: o de revisão. expressa em contrário, a informá-lo sobre os seus direitos
processuais e a forma de seu exercício.
III
Artigo 4.º
Razões que se prendem particularmente com o
Celeridade processual e garantias de defesa
entendimento que um Código de Processo Penal apenas
visa a prática de actos processuais que se destinam a 1. Todo o arguido tem o direito de ser julgado no mais

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1178 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

curto prazo, compatível com as garantias de defesa. Artigo 12.º

2. O andamento dos processos em que haja arguidos Juiz de pronúncia e juiz de julgamento
privados de liberdade, seja por aplicação de medida cautelar Não poderá proceder ao julgamento do arguido o juiz
processual, seja por efeito de condenação transitada em que, no processo respectivo, tenha, contra ele, proferido
julgado, tratando-se de recurso extraordinário de revisão, despacho de pronúncia.
terá precedência sobre todos os outros.
TÍTULO II
Artigo 5.º
Habeas corpus e indemnização em virtude
Princípio do contraditório de privação ilegal da liberdade
O processo penal, em qualquer das suas fases, subordina- CAPÍTULO I
se ao princípio do contraditório.
Artigo 6.º Habeas corpus em virtude de prisão ilegal
Direito a intérprete Artigo 13.º

1. O arguido tem direito a que a autoridade judiciária, a seu Habeas corpus em virtude de detenção ilegal
requerimento ou oficiosamente, lhe nomeie um intérprete, 1.Os detidos ilegalmente, à ordem de qualquer autoridade
sempre que não se fizer acompanhar de um, quando não se não judicial, poderão requerer que se ordene a sua imediata
exprima em língua portuguesa ou cabo-verdiana. apresentação ao tribunal competente.
2. O disposto no número antecedente aplicar-se-á, com
as devidas adaptações, ao arguido que sofra de surdez 2. A ilegalidade da detenção terá algum dos seguintes
ou mudez. fundamentos:
Artigo 7.º a) Estar excedido o prazo para entrega ao poder
judicial;
Direitos de pessoa detida ou presa
b) Manter-se a detenção fora dos locais para esse
1. Toda a pessoa detida ou presa deverá ser imediatamente efeito autorizados por lei;
informada, de forma clara e compreensível, das razões da
sua detenção ou prisão e dos seus direitos constitucionais e c) Ter sido a detenção efectuada ou ordenada por
legais, e autorizada a contactar advogado, directamente ou autoridade, agente da autoridade ou qualquer
por intermédio da sua família ou de pessoa da sua confiança. outra entidade para tal incompetente;
2. A pessoa detida ou presa não poderá ser obrigada a
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d) Ser a detenção motivada por facto pelo qual a lei


prestar declarações, salvo nos casos e nos termos previstos a não permite.
neste Código.
Artigo 14.º
3. A pessoa detida ou presa tem direito à identificação
dos responsáveis pela sua detenção ou prisão e pelo seu Competência para decidir habeas corpus
interrogatório.
É competente para apreciar e decidir o pedido de habeas
4. A detenção ou prisão de qualquer pessoa e o local corpus previsto no artigo antecedente, o tribunal da área
preciso onde se encontra serão comunicados imediatamente onde se encontrar o detido, ou donde proveio a ordem de
à família do detido ou preso ou a pessoa por ele indicada, detenção, ou, ainda, do local donde provêm as últimas
com a descrição sumária das razões que a motivaram. notícias sobre o paradeiro do detido.
Artigo 8.º Artigo 15.º

Direito à presença de advogado Subscrição e impulso processual

Todo o interveniente em acto de processo penal, que nele O pedido de habeas corpus poderá ser subscrito pelo
seja chamado a prestar depoimento, terá o direito de se detido, pelo Ministério Público ou por qualquer outra
fazer acompanhar de advogado, seja perante autoridade pessoa no gozo dos seus direitos políticos.
judiciária, seja perante autoridade de polícia criminal.
Artigo 16.º
Artigo 9.º
Penalidades
Fundamentação de decisão proferida em processo penal
Será punível com a pena prevista para o crime de
Toda a decisão de autoridade judiciária, seja ela juiz obstrução à actividade jurisdicional qualquer autoridade
ou agente do Ministério Público, proferida no âmbito de que, ilegitimamente, levantar obstáculo à apresentação
processo penal, deverá ser fundamentada com precisão e do pedido referido no artigo antecedente ou à sua remessa
clareza, tanto no que se refere a questões de facto, quanto ao tribunal competente.
no que diz respeito à argumentação jurídica.
Artigo 17.º
Artigo 10.º
Procedimento
Publicidade da audiência
1. Recebido o pedido, o tribunal, se não o considerar
As audiências de julgamento em processo penal são manifestamente infundado, ordenará, pelo meio mais
públicas, salvo quando a defesa da intimidade pessoal, expedito possível, a apresentação imediata do detido,
familiar ou social determinar a exclusão ou a restrição sob pena de desobediência qualificada.
da publicidade.
Artigo 11.º 2. Juntamente com a ordem referida no número
antecedente, o tribunal mandará notificar a entidade que
Juiz natural tiver o detido à sua guarda, ou quem puder representá-la,
para se apresentar no mesmo acto munida das informações
Nenhuma causa poderá ser subtraída ao tribunal cuja e esclarecimentos necessários à decisão sobre o pedido,
competência esteja fixada em lei anterior.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1179

nomeadamente cópia da ordem de detenção, data e hora 4. Se o Supremo Tribunal de Justiça se julgar de posse
em que esta se efectuou, razões que justificaram a detenção dos elementos indispensáveis à decisão da causa, adoptará,
e local onde o detido se encontra. consoante os casos, as seguintes medidas:
3. O tribunal decidirá, ouvidos o Ministério Público e o a) Restituição do preso à liberdade;
defensor constituído ou nomeado para o efeito, num prazo
máximo de cinco dias a contar da apresentação do pedido. b) Manutenção da prisão de acordo com as disposições
legais aplicáveis em concreto, inclusivamente,
4. Se o tribunal concluir que não se verifica qualquer se disso for o caso, em outro estabelecimento
das circunstâncias que fundamentam a ilegalidade da ou à ordem de entidade outra que não aquela
detenção, mandará arquivar o processo, declarando a que estava sujeito o preso;
ser conformes ao direito a privação da liberdade e as
circunstâncias em que ela se efectiva. c) Ordem de apresentação do preso no tribunal
competente e no prazo de vinte e quatro horas,
5. Se o tribunal entender que está verificada alguma das sob pena de desobediência qualificada;
circunstâncias que fundamentam a ilegalidade da detenção,
adoptará, consoante os casos, as seguintes medidas: d) Indeferimento do pedido por falta de fundamento
bastante.
a) Restituição do detido à liberdade;
5. Se o Supremo Tribunal de Justiça não se considerar
b) Colocação imediata do detido em outro estabelecimento munido de todos os elementos indispensáveis à decisão
ou à ordem de entidade outra que não aquela a que estava da causa, mandará colocar imediatamente o preso à sua
sujeito o detido ou ainda a colocação imediata do detido ordem e no local por ele indicado, designando um dos seus
à disposição de autoridade judicial competente. membros para proceder a averiguações, dentro do prazo
CAPÍTULO II que lhe for fixado, sobre as condições de legalidade da
prisão. Findas as averiguações, o tribunal decidirá nos
Habeas corpus em virtude de prisão ilegal termos do número antecedente.
Artigo 18.º 6. A decisão será tomada num prazo máximo de cinco
Habeas corpus em virtude de prisão ilegal dias, contados da data de apresentação do pedido.
Artigo 21.º
Será admitido pedido de habeas corpus a favor de
qualquer pessoa que se encontrar ilegalmente presa por Incumprimento da decisão
qualquer de uma das seguintes razões:
É punível, com a pena prevista no Código Penal para o
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a) Manter-se a prisão fora dos locais para esse efeito crime de desobediência qualificada, o incumprimento da
autorizados por lei; decisão do Supremo Tribunal de Justiça sobre a petição de
b) Ter sido a prisão efectuada ou ordenada por entidade habeas corpus, relativa ao destino a dar à pessoa presa.
para tal incompetente; Artigo 22.º
c) Ser a prisão motivada por facto pelo qual a lei a Petição infundada
não permite;
Se a petição de habeas corpus for recusada por
d) Manter-se a prisão para além dos prazos fixados manifestamente infundada, o requerente será condenado
pela lei ou por decisão judicial. ao pagamento de uma quantia entre dez e oitenta mil
Artigo 19.º escudos, ou entre quinze mil e cem mil escudos, consoante
se trate, respectivamente, de detenção ou prisão ilegal.
Subscrição e impulso processual
CAPÍTULO III
A petição será formulada pelo preso, pelo Ministério
Público ou por qualquer outra pessoa no gozo dos seus Indemnização por privação ilegal da liberdade
direitos políticos e dirigida, em duplicado, ao Presidente
do Supremo Tribunal de Justiça. Artigo 23.º

Artigo 20.º Modalidades

Procedimento 1. Quem for detido e nessa situação se mantiver para


além dos prazos constitucionais ou legais estabelecidos,
1. O Presidente do Supremo Tribunal de Justiça fará ou quem for sujeito a prisão preventiva pela prática de
logo remeter o duplicado ou cópia do requerimento à crime que não a admita ou nessa situação se mantiver
entidade responsável pela prisão, para responder no mais para além dos prazos estabelecidos, poderá requerer,
breve prazo possível, nunca podendo exceder quarenta e perante o tribunal competente, indemnização pelos danos
oito horas. sofridos com a privação da liberdade.
2. Se na resposta se informar que a prisão se mantém
ou se não for dada qualquer resposta no prazo referido no 2. O disposto no número antecedente aplicar-se-á ainda
número antecedente, o Presidente apresentará o pedido a quem tiver sofrido prisão preventiva motivada por erro
em sessão do Supremo Tribunal de Justiça, nas quarenta grosseiro na apreciação dos pressupostos de que dependia,
e oito horas seguintes, notificando-se o Ministério Público se a privação da liberdade vier a revelar-se injustificada
e o defensor e nomeando este, se ainda não estiver já e tiver causado prejuízos de particular gravidade.
constituído. 3. O disposto no número antecedente não se aplicará
3. O relator fará uma exposição da petição e da resposta, no caso de o preso ter concorrido, por dolo ou negligência,
após o que será concedida a palavra, por quinze minutos, para aquele erro.
ao Ministério Público e ao defensor, seguindo-se reunião
para deliberação, a qual será imediatamente tornada 4. Para efeitos de aplicação do disposto nos números
pública. antecedentes presumir-se-á ilegal a privação de liberdade,

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1180 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

sempre que a entidade que a tiver efectuado ou ordenado CAPÍTULO II


não elaborar auto, relatório ou despacho de onde constem
os pressupostos que a fundamentam. Suficiência da acção penal e questões
prejudiciais
Artigo 24.º
Artigo 29.º
Prazo e legitimidade
Suficiência da acção penal
1. O pedido de indemnização não poderá, em caso
algum, ser proposto depois de decorrido um ano sobre 1. A acção penal poderá ser exercida e julgada
o momento em que o detido ou preso foi libertado ou foi independentemente de qualquer outra acção; no processo
definitivamente decidido o processo penal respectivo. penal resolver-se-ão todas as questões que interessem à
decisão da causa, qualquer que seja a sua natureza, salvo
2. Em caso de morte da pessoa injustificadamente privada nos casos exceptuados por lei.
da liberdade e desde que não tenha havido renúncia da sua
parte, poderá a indemnização ser requerida pelo cônjuge 2. O tribunal penal, quando conheça de questão prejudicial
não separado de pessoas e bens, pelos descendentes e não penal, aplicará as regras de direito próprias da relação
pelos ascendentes. jurídica em causa.
Artigo 30.º
3. A indemnização arbitrada às pessoas que a houverem
requerido nos termos do número antecedente não poderá, Questões prejudiciais
no seu conjunto, ultrapassar a que seria arbitrada ao
detido ou preso. 1. Quando, para se conhecer da existência da infracção
penal, seja necessário resolver qualquer questão de
TÍTULO III natureza não penal que não possa convenientemente
A lei processual penal e sua aplicação decidir-se no processo penal, pode o juiz suspender o
e suficiência da acção penal processo, para que se intente e julgue a respectiva acção
no tribunal competente.
CAPÍTULO I
2. Presume-se a inconveniência do julgamento da
Aplicação da lei processual penal questão prejudicial no processo penal:
Artigo 25.º a) Quando incida sobre o estado civil das pessoas;
Aplicação subsidiária
b) Quando seja de difícil solução e não verse sobre
factos cuja prova a lei civil limite.
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Salvo disposição legal em contrário, o preceituado no


presente Código será aplicável subsidiariamente aos 3. A suspensão poderá ser requerida pelo Ministério
processos de natureza penal regulados em lei especial. Público, pelo assistente ou pelo arguido em qualquer
Artigo 26.º altura do processo, ou ser ordenada oficiosamente pelo
juiz, após a acusação ou o requerimento para abertura
Integração de lacunas da Audiência Contraditória Preliminar.
Nos casos omissos, quando as disposições deste Código 4. A suspensão não deverá, porém, prejudicar a realização
não puderem aplicar-se por analogia, observar-se-ão as das diligências urgentes de prova.
normas do processo civil que se harmonizem com o processo
penal e, na falta delas, aplicar-se-ão os princípios gerais 5. O juiz marcará o prazo da suspensão, que poderá
do processo penal. ser prorrogado até um ano, se a demora na decisão não
for imputável ao assistente ou ao arguido.
Artigo 27.º

Aplicação da lei processual penal no tempo


6. Quando não tenha competência para intentar a acção
sobre a questão prejudicial, o Ministério Público poderá
1. A lei processual penal é de aplicação imediata, sem sempre intervir no processo não penal para promover o
prejuízo da validade dos actos realizados na vigência da seu rápido andamento e informar o juiz penal.
lei anterior.
7. O juiz penal deverá nos casos previstos na alínea
2. O disposto na parte final do artigo antecedente não b) do nº 2, fazer cessar a suspensão, quando se mostre
se aplicará relativamente aos pressupostos e condições de inconveniente ou de excessiva duração ou quando a acção
aplicação das medidas de coacção restritivas da liberdade. não for proposta no prazo de um mês.

3. A lei processual penal não se aplicará aos processos 8. Quando suspenda o processo, para julgamento em
iniciados anteriormente à sua vigência quando da sua outro tribunal da questão prejudicial, pode o juiz ordenar
aplicabilidade imediata puder resultar: a libertação do arguido preso, mediante medida de coação
pessoal que se mostrar adequada.
a) Agravamento da situação processual do arguido,
TÍTULO IV
nomeadamente uma limitação do seu direito de defesa;
Jurisdição e competência
b) Quebra de harmonia e unidade dos vários actos do
processo. CAPÍTULO I
Artigo 28.º Disposições gerais
Aplicação da lei processual penal no espaço Artigo 31.º
A lei processual penal é aplicável em todo o território Função jurisdicional
de Cabo Verde e fora dele nos limites definidos pelas
convenções internacionais aplicáveis em Cabo Verde e Apenas os tribunais têm competência para decidir as
pelos acordos firmados no domínio da cooperação judiciária. causas penais e aplicar penas e medidas de segurança.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1181


Artigo 32.º relevante para a determinação da competência territorial,
Exercício da função jurisdicional penal será competente para dele conhecer o tribunal sediado em
qualquer das áreas, preferindo o daquela que em primeiro
1. Os tribunais decidirão as causas penais de acordo lugar tiver tomado conhecimento do crime.
com a lei e o direito.
2. Se for desconhecida a localização do elemento relevante
2. Todas as entidades públicas e privadas são obrigadas ou se, pela aplicação das regras definidas nos artigos
a prestar aos tribunais a colaboração por estes solicitada antecedentes, não for possível determinar a competência
no exercício de funções, com preferência sobre qualquer territorial, será competente o tribunal da área do domicílio
outro serviço. ou residência do arguido ou do que, em primeiro lugar,
tiver tomado conhecimento do crime, no caso de o arguido
Artigo 33.º não ter residência certa ou for ignorado o seu paradeiro.
Disposições aplicáveis Artigo 38.º
A competência dos tribunais em matéria penal será regulada Crime cometido no estrangeiro
pela legislação relativa à organização judiciária, em tudo
quanto não venha regulado pelas disposições deste Código. 1. Se o crime for cometido no estrangeiro, será competente
para dele conhecer o tribunal da área onde o agente tiver
Artigo 34.º sido encontrado ou o do seu domicílio.
Determinação da pena aplicável 2. Não sendo possível determinar a competência pelo
critério referido no número antecedente, ela pertencerá ao
Para efeitos do disposto na lei sobre competência tribunal que, em primeiro lugar, tiver tomado conhecimento
material e funcional dos tribunais e sempre que esteja do crime.
em causa determinação da pena aplicável, serão levadas
em conta todas as circunstâncias que possam elevar o 3. Se o crime for cometido apenas parcialmente no
máximo legal da pena a aplicar no processo. estrangeiro, será competente para dele conhecer o tribunal
cabo-verdiano onde tiver sido praticado o último acto
CAPÍTULO II relevante, nos termos dos artigos antecedentes.
Competência territorial CAPÍTULO III
Artigo 35.º Competência por conexão
Regras gerais Artigo 39.º
1. É competente para conhecer de um crime consumado Casos de conexão
o tribunal em cuja área se tiver verificado a consumação.
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1. Haverá conexão de processos quando:


2. Tratando-se de crime que compreenda como elemento
do tipo a morte de uma pessoa, é competente o tribunal a) O mesmo agente tiver cometido vários crimes;
em cuja área o agente actuou ou, em caso de omissão, b) O mesmo crime tiver sido cometido por vários agentes
deveria ter actuado. em comparticipação, ou, independentemente de
comparticipação, através de comportamentos que
3. Se o crime se consumar por actos sucessivos ou concorrem para a produção do resultado típico.
reiterados, ou por um só acto susceptível de se prolongar
no tempo, será competente o tribunal em cuja área se tiver 2. Haverá ainda conexão de processos quando vários
praticado o último acto ou tiver cessado a consumação. agentes tiverem cometido diversos crimes:
4. Se a consumação se tiver verificado em lugar a) Em comparticipação;
diferente daquele onde se tenha verificado o resultado
que, apesar da consumação, a lei quer evitar se verifique, b) Reciprocamente;
será competente o tribunal em cuja área se verificou a c) Na mesma ocasião e lugar;
consumação ou aquele resultado.
d) Sendo uns causa ou efeito dos outros;
5. Tratando-se de crime tentado ou de acto preparatório
punível enquanto tal, será competente, respectivamente, e) Destinando-se uns a continuar ou a ocultar os outros;
o tribunal em cuja área se tiver praticado o último acto
de execução ou o último acto de preparação. f) Quando a prova de um crime ou de suas circunstâncias
essenciais puder ter influência decisiva na prova
Artigo 36.º de outro crime.
Crime cometido a bordo de navio ou aeronave Artigo 40.º

1. É competente para conhecer de crime cometido a Limites à conexão


bordo de navio, o tribunal da área do porto cabo-verdiano 1.A conexão só operará relativamente a processos que se
para onde o agente se dirigir ou onde ele desembarcar. encontrarem simultaneamente na mesma fase processual
2. Se o agente do crime não se dirigir para território preliminar ou de julgamento.
cabo-verdiano ou nele não desembarcar, ou, ainda, se fizer 2. A conexão não operará:
parte da tripulação do navio, será competente o tribunal
da área da matrícula. a) Entre processos que sejam e processos que não
sejam da competência do Supremo Tribunal
3. O disposto nos números antecedentes será correspon- de Justiça ou das Relações, sempre que estes
dentemente aplicável a crime cometido a bordo de aeronave. funcionem em primeira instância e se tratar
Artigo 37.º
de conexão prevista na alínea b) do nº 1 ou do
nº 2 do artigo antecedente;
Regras supletivas
b) Entre processos que sejam da competência de
1. Se o crime estiver relacionado com áreas diversas diferentes tribunais ou juízos de competência
e houver dúvidas sobre aquela em que situa o elemento especializada ou específica.

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1182 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021


Artigo 41.º Artigo 44.º
Competência determinada pela conexão Prorrogação da competência

1. Nos casos em que opera a conexão, a competência A competência determinada pela conexão, nos termos
material e funcional será determinada pelas seguintes regras: dos artigos antecedentes, manter-se-á ainda que:
a) A competência do Supremo Tribunal de Justiça a) Seja ordenada a separação de processos nos termos
prevalecerá sobre a dos restantes tribunais; do artigo antecedente;
b) A competência do plenário do Supremo Tribunal b) Seja proferida sentença absolutória relativamente
de Justiça prevalecerá sobre a das secções, a qualquer dos crimes abrangidos pela conexão;
quando estas existam; c) Ocorra a extinção da responsabilidade criminal
c) A competência dos tribunais de competência genérica relativamente a qualquer dos crimes abrangidos
prevalecerá sobre a dos tribunais ou juízos de pela conexão.
competência especializada ou específica; CAPÍTULO IV
d) A competência do tribunal colectivo, quando exista, Conflitos de competência
prevalecerá sobre a do tribunal singular.
Artigo 45.º
2. Se os processos devessem ser da competência de
Casos de conflito e sua cessação
tribunais com jurisdição em diferentes áreas ou
com sede na mesma comarca, será competente 1. Haverá conflito, positivo ou negativo, de competência
para conhecer de todos: quando, em qualquer estado do processo, dois ou mais
a) O tribunal competente para conhecer do crime a tribunais se considerarem competentes ou incompetentes
que couber pena mais grave; para conhecer do mesmo crime imputado ao mesmo arguido.
2. O conflito cessará logo que um dos tribunais se declarar,
b) Em caso de crimes de igual gravidade, o tribunal mesmo oficiosamente, incompetente ou competente,
da área em que tiver ocorrido o maior número segundo o caso.
de crimes; ou, não havendo maior número de
crimes em nenhuma das áreas de conexão, o Artigo 46.º
tribunal a cuja ordem o arguido estiver preso Tribunal competente
ou, havendo vários arguidos presos, aquele à
ordem do qual estiver preso o maior número; O conflito será dirimido pelo tribunal de menor hierarquia
que tenha jurisdição sobre os tribunais em conflito.
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c) Se não houver arguidos presos ou o seu número for


igual, o tribunal da área onde que, em primeiro Artigo 47.º
lugar, tiver tomado conhecimento de qualquer Denúncia do conflito
dos crimes.
1. O juiz, logo que se aperceber do conflito, suscitá-lo-á
Artigo 42.º
junto do tribunal competente para o decidir, remetendo-
Unidade e apensação dos processos lhe cópia das decisões contraditórias e de todos os actos
e elementos necessários à sua resolução, com indicação
1. Para todos os crimes determinantes de uma conexão, do Ministério Público, do arguido, do assistente e dos
nos termos dos artigos antecedentes, organizar-se-á um advogados respectivos.
só processo.
2. O conflito poderá ser suscitado também pelo Ministério
2. Se tiverem sido instaurados processos distintos, logo Público, pelo arguido ou pelo assistente, mediante requerimento
que a conexão for reconhecida proceder-se-á à apensação dirigido ao presidente do tribunal competente para a
de todos àquele que respeitar ao crime determinante da resolução, ao qual se juntam os elementos mencionados
competência por conexão. na parte final do número antecedente.
Artigo 43.º 3. A denúncia ou o requerimento previstos nos números
Separação dos processos antecedentes não prejudicarão a realização dos actos
processuais urgentes.
1. Oficiosamente, ou a requerimento do Ministério Artigo 48.º
Público, do arguido, do assistente ou do lesado, o juiz
fará cessar a conexão e ordenará a separação de algum Procedimento para a resolução do conflito
ou alguns dos processos sempre que:
1. Recebida a denúncia serão notificados os tribunais
a) Houver na separação um interesse ponderoso e em conflito, o Ministério Público e os demais sujeitos
atendível de qualquer arguido, nomeadamente processuais interessados, para, querendo, se pronunciarem
no não prolongamento da prisão preventiva; no prazo de cinco dias.
b) A conexão puder representar um grave risco para a 2. Juntamente com as respostas serão transmitidas
pretensão punitiva do Estado ou para o interesse as cópias e os elementos a que se refere o nº 1 do artigo
do ofendido ou do lesado; antecedente.
c) A conexão puder retardar excessivamente o julgamento 3. Terminado o prazo referido no nº 1, e depois de
de qualquer dos arguidos; recolhidas as informações e provas necessárias à resolução,
será proferida decisão.
d) Houver declaração de contumácia ou o julgamento
decorrer na ausência de um ou alguns dos arguidos 4. A decisão será imediatamente comunicada aos
e o tribunal considerar como mais conveniente tribunais em conflito e ao Ministério Público junto deles
a separação de processos. e notificada ao arguido e ao assistente.

2. É competente para fazer cessar a conexão a autoridade 5. É correspondentemente aplicável o disposto no nº 3


judiciária que dirigir a fase em que tiver lugar. do artigo 162.º.

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CAPÍTULO V 4. Os actos praticados por juiz impedido serão nulos,


salvo se a sua repetição se mostrar inútil e se verificar
Impedimentos, suspeições e escusas que deles não resultará prejuízo para a justiça da decisão
Artigo 49.º do processo.
Artigo 52.º
Impedimento do Juiz
Recurso
1. Nenhum juiz efectivo ou substituto poderá funcionar
em processo penal: 1. A decisão relativa à declaração de impedimento só é
recorrível se o juiz não se reconhecer impedido.
a) Quando for ou tiver sido, arguido ou assistente, ou 2. Será competente para o recurso o tribunal hierarquicamente
tiver legitimidade para se constituir assistente superior àquele em que o juiz visado exercer funções.
ou parte civil;
3. Se o juiz em causa for membro do Supremo Tribunal
b) Quando for ou tiver sido, cônjuge ou representante de Justiça, será este o competente, de acordo com as
legal do arguido, do assistente ou da pessoa com regras previstas nas leis de organização judiciária, mas
legitimidade para se constituir assistente ou o recurso será sempre decidido sem a presença do visado.
parte civil, ou com algum deles viver ou tiver
vivido em condições análogas às de cônjuge; 4. O recurso tem efeito suspensivo, sem prejuízo de os
actos urgentes serem praticados, pelo juiz visado, se tal
c) Quando ele, o seu cônjuge ou a pessoa que com for indispensável.
ele viva em condições análogas às de cônjuge, Artigo 53.º
ascendente, descendente, for ou tiver sido parente
até ao terceiro grau, tutor ou curador, adoptante Suspeições e escusas
ou adoptado do arguido, do assistente ou de 1. A intervenção de um juiz no processo poderá ser
pessoa com legitimidade para se constituir recusada quando correr o risco de ser considerada suspeita,
assistente ou parte civil, ou afim destes até por existir motivo, sério e grave, adequado a abalar a
àquele grau; confiança sobre a sua imparcialidade, nomeadamente:
d) Quando tiver intervindo no processo como representante a) Quando houver reconhecida inimizade entre o
do Ministério Público, órgão de polícia criminal, juiz e o arguido, o assistente ou a parte civil;
defensor ou perito;
b) Quando exista parentesco ou afinidade até ao quarto
e) Quando tiver publicamente expressado opinião grau entre o juiz ou seu cônjuge e o arguido,
reveladora de um juízo prévio em relação ao ou o assistente ou a parte civil;
objecto do processo;
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c) Quando o juiz fizer parte da direcção ou da administração


f) Quando tiver recebido dádivas antes ou depois de de qualquer pessoa colectiva que seja assistente
instaurado o processo e por causa dele ou tenha ou parte civil no processo em causa, ou, ainda,
fornecido meios para as despesas do processo; seja arguido, assistente ou parte civil algum dos
outros membros da direcção ou administração
g) Quando tiver no processo sido ouvido ou dever por factos a ela respeitantes.
sê-lo como testemunha.
2. A declaração de suspeição poderá ser requerida pelo
2. Para efeitos do disposto nas alíneas a) a c) do número Ministério Público, pelo arguido, pelo assistente ou pela
antecedente, não releva a legitimidade para se constituir parte civil.
assistente conferida pela alínea f) do nº 1 do artigo 71.º. 3. O juiz não poderá declarar-se voluntariamente
3. Se o juiz tiver sido oferecido como testemunha, suspeito, mas poderá pedir ao tribunal competente
declarará, sob compromisso de honra, por despacho nos escusa de intervenção quando se verificarem as condições
autos, se tem conhecimento de factos que possam influir referidas no nº 1.
na decisão da causa; em caso afirmativo, verifica-se o 4. Os actos processuais praticados por juiz, declarado
impedimento; em caso negativo, deixa de ser testemunha. sob suspeição ou cujo pedido de escusa seja aceite até ao
Artigo 50.º
momento em que a declaração de suspeição ou a escusa
forem solicitadas só serão anulados quando se verificar
Impedimento por participação em processo que deles resultará prejuízo para a justiça da decisão do
processo; os praticados posteriormente só serão válidos
Nenhum juiz poderá intervir em recurso ou pedido de se a sua repetição se mostrar inútil e se verificar que
revisão, relativos a uma decisão que tiver sido proferida deles não resultará prejuízo para a decisão do processo.
por si ou por algum seu parente ou afim em linha recta
ou até ao 2.º grau da linha colateral ou em que qualquer Artigo 54.º
deles tiver participado. Prazos
Artigo 51.º O requerimento de declaração de suspeição e o pedido
de escusa são admissíveis até que seja proferido despacho
Declaração de impedimento e seu efeito
de pronúncia ou despacho materialmente equivalente
1. O juiz que tiver qualquer impedimento nos termos ou até ao início da conferência nos recursos; só o serão
dos artigos antecedentes declará-lo-á imediatamente por posteriormente, até ao início da audiência ou até à sentença,
despacho nos autos. quando os factos invocados como fundamento tiverem
tido lugar, ou tiverem sido conhecidos pelo invocante,
2. A declaração de impedimento poderá ser requerida respectivamente, após aquele despacho e antes do início
pelo Ministério Público, pelo arguido, pelo assistente ou da audiência ou depois de esta se ter iniciado.
pela parte civil logo que sejam admitidos a intervir no Artigo 55.º
processo, em qualquer estado deste.
Processo e decisão
3. Ao requerimento previsto no número antecedente
serão juntos os elementos comprovativos, devendo o juiz 1. A declaração de suspeição deverá ser requerida e
visado proferir despacho no prazo máximo de cinco dias. a escusa pedida, a ela se juntando logo os elementos

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1184 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

comprovativos, perante o tribunal competente de acordo Artigo 60.º


e nos termos correspondentemente aplicáveis dos n.ºs 2 Denúncia ao Ministério Público
e 3 do artigo 52.º.
2. Tratando-se de juiz pertencente ao Supremo Tribunal 1. A denúncia ao Ministério Público é obrigatória,
de Justiça, este decidirá sem a participação do visado. devendo, nos casos de crimes de violência baseada no
género e crimes sexuais contra menores, ser efetuada no
3. O juiz visado pronunciar-se-á sobre o requerimento, por prazo máximo de 48 horas:
escrito, em 5 dias, juntando logo os elementos comprovativos.
a) Para as autoridades policiais, quanto aos crimes
4. O tribunal, se não recusar logo o requerimento ou de que tomem conhecimento;
o pedido por manifestamente infundados, ordena as
diligências de prova necessárias à decisão. b) Para quaisquer outras autoridades ou funcionários
da Administração Pública, tal como definidos
5. É correspondentemente aplicável o disposto no nº no artigo 362.º, quanto a crimes de que tomem
4 do artigo 52.º. conhecimento no exercício das suas funções e
6. Se o tribunal recusar o requerimento do arguido, do por causa delas;
assistente ou da parte civil por manifestamente infundado,
condena o requerente ao pagamento de uma soma entre c) Os médicos, enfermeiros ou técnicos de saúde,
quinze e cem mil escudos. quanto a crimes de violência baseada no género
e crimes sexuais contra menores que tomem
Artigo 56.º conhecimento no exercício das suas funções e
Termos posteriores por causa delas.
O juiz impedido, declarado suspeito ou cuja escusa seja 2. Quando várias pessoas ou autoridades forem obrigadas
aceite remeterá logo o processo ao juiz que, de harmonia à denúncia do mesmo crime, a sua apresentação por uma
com as leis de organização judiciária, deva substituí-lo. delas dispensará as restantes.
Artigo 57.º 3. Qualquer pessoa poderá denunciar ao Ministério
Extensão do regime de impedimentos, suspeições e escusas Público os crimes de cuja prática tenha conhecimento,
desde que o procedimento não dependa de queixa ou
1. As disposições do presente capítulo são aplicáveis, com participação ou a prossecução do processo não dependa
as necessárias adaptações, nomeadamente as constantes de acusação particular.
dos números seguintes, aos magistrados do Ministério
Público, e aos peritos, intérpretes e funcionários de justiça. 4. A denúncia feita a qualquer outra entidade diferente da
2. A declaração de impedimento e o seu requerimento, competente para promover o processo será imediatamente
transmitida a esta.
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bem como o requerimento de suspeição e o pedido de escusa,


são dirigidos ao superior hierárquico do magistrado em 5. A denúncia poderá ser feita verbalmente, por escrito
causa e, por aquele, apreciados e definitivamente decididos, ou qualquer outro meio de comunicação, e conterá,
sem obediência a formalismo especial. sempre que possível, a exposição sucinta dos factos e das
3. Sendo visado o Procurador-Geral da República, a circunstâncias em que eles se deram e possam interessar
competência caberá ao Supremo Tribunal de Justiça, nos ao processo penal, a identificação e outros elementos
exactos termos previstos nas leis de organização judiciária. relevantes dos agentes do crime, a identidade dos ofendidos
e os nomes, a residência e quaisquer outros elementos
4. Tratando-se de peritos, intérpretes e oficiais de justiça, relevantes das testemunhas que existam ou relativos a
a declaração de impedimento e o seu requerimento, bem outros meios de prova.
como o requerimento de suspeição e o pedido de escusa, são
dirigidos ao juiz do processo em que o incidente se suscitar 6. A denúncia verbal será reduzida a auto e assinada
e serão por ele apreciados e imediata e definitivamente por quem a receber e pelo denunciante, devidamente
decididos, sem submissão a formalismo especial. identificado, observando-se, correspondentemente o
disposto no nº 3 do artigo 123.º.
5. Se não houver quem legalmente substitua o impedido,
recusado ou cuja escusa tenha sido aceite, a entidade 7. As denúncias ao Ministério Público pelas autoridades
competente nos termos dos n.ºs 2 ou 4 deste artigo, de polícia criminal devem ser sempre instruídas com o
consoante os casos, designará o substituto. histórico disponível de todas as denúncias, queixas ou
TÍTULO V participações apresentadas contra o denunciado que
estejam pendentes de investigação ou remetidos a uma
Acusação e defesa e vítima autoridade judiciária competente.
CAPÍTULO I 8. Nos casos de suspeitas fundadas de crimes sexuais
Ministério Público e assistente contra menores e crimes de violência baseada no género, as
Secção I
regras deontológicas relativas à confidencialidade impostas
por lei a determinados profissionais que trabalham em
Ministério Público e Promoção da Acção Penal contato direto com as vítimas, não constituem obstáculos
Artigo 58º à obrigatoriedade da denúncia ao Ministério público, aos
órgãos de polícia criminal ou às instituições nacionais
Legitimidade para a promoção do processo penal
responsáveis pela proteção da criança e do adolescente
O Ministério Público tem legitimidade para promover o e das vítimas da violência baseada no género.
processo penal, nos termos e com as restrições constantes Artigo 61.º
dos artigos seguintes.
Denúncia e Declaração de constituição como assistente
Artigo 59.º
Aquisição da notícia do crime 1- A apresentação da denúncia, queixa ou participação
perante a autoridade competente para a receber nos termos
O Ministério Público adquirirá notícia do crime por deste Código pelo denunciante, queixoso ou participante
conhecimento próprio, por intermédio das entidades que pode constituir-se assistente ao abrigo do nº 1 do artigo
policiais competentes ou mediante denúncia, nos termos 71.º, constitui presunção de sua declaração de se constituir
dos artigos seguintes. assistente, sem prejuízo de a poder manifestar no ato.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1185

2- Tratando-se de crime relativamente ao qual a prossecução Artigo 64.º


do processo dependa de acusação particular, sem prejuízo Legitimidade do Ministério Público em caso de procedimento
do disposto no artigo 67.º, o Ministério Público, quando dependente de queixa ou de participação
receber a denúncia, queixa ou participação ou inquirir
quem tenha legitimidade para se constituir assistente, 1. Quando o procedimento penal depender de queixa
na sua primeira intervenção processual adverti-lo-á da ou de participação, será necessário que a pessoa ou
obrigatoriedade de se constituir como tal no processo, a autoridade com legitimidade para a apresentar dê
devendo constar dessa advertência que: conhecimento do facto ao Ministério Público, para que
este promova o processo.
a) O pedido de constituição como assistente pode
ser feito por meio de declaração no processo 2. Para o efeito previsto no número antecedente,
ou requerimento dirigido ao juiz competente, considerar-se-á feita ao Ministério Público a queixa ou
apresentando na secretaria da procuradoria participação dirigida a qualquer outra entidade que tenha
da república e ter lugar no prazo de dez dias a obrigação legal de a transmitir àquele.
a contar da advertência; 3. A queixa ou participação poderá ser apresentada pelo
b) Deve pagar o imposto devido, especificando o titular do direito respectivo, por mandatário judicial ou
correspondente valor, e constituir advogado, por mandatário munido de poderes especiais.
podendo, caso necessitar, requerer o benefício Artigo 65.º
da assistência judiciária, indicando-se-lhe para o
efeito os endereços físicos e eletrónico, bem como os Legitimidade do Ministério Público em caso de prossecução
dependente de acusação particular
contatos telefónicos do organismo representativo
dos advogados ou da sua estrutura orgânica 1. Quando o procedimento penal depender de queixa
mais próxima; ou participação e a prossecução de processo depender
de acusação particular, será necessário que a pessoa
c) A falta de constituição de assistente no prazo ou autoridade com legitimidade para tal se queixe, se
indicado determina o arquivamento dos autos. constitua assistente e deduza acusação particular.
3- O disposto no número anterior é aplicável aos órgãos 2. No caso referido no número antecedente, o Ministério
de polícia criminal quando lhe for delegada a competência Público poderá proceder oficiosamente a quaisquer
pelo Ministério Público. diligências que julgar indispensáveis à descoberta da
verdade e couberem na sua competência, participar em
4- Nas situações previstas nos números 2 e 3 far-se-á, todos os actos processuais em que intervier a acusação
constar nos autos a advertência e a consequência do particular, acusar conjuntamente com esta e recorrer
incumprimento da obrigação. autonomamente das decisões judiciais.
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Artigo 62.º 3. A acusação do Ministério Público só poderá, porém,


Registo e certidão de denúncia
versar sobre os factos por que tenha havido acusação
particular.
1. O Ministério Público procederá ou mandará proceder ao 4. É correspondentemente aplicável o disposto no nº 3
registo de todas as denúncias que lhe forem transmitidas. do artigo antecedente.
2. O denunciante poderá, a todo o tempo, solicitar ao Artigo 66.º
Ministério Público certidão do registo da denúncia por
Homologação da desistência da queixa ou da acusação
ele feita. particular
Artigo 63.º 1. Salvo na situação prevista no número 4, nos casos
Auto de notícia previstos nos artigos 64.º e 65.º, a intervenção do Ministério
Público no processo cessará com a homologação da
1. Sempre que uma autoridade judiciária, um órgão desistência da queixa ou da acusação particular.
de polícia criminal ou outra entidade policial presenciar 2. Conhecida a desistência, a entidade competente para
qualquer crime de denúncia obrigatória, levantará ou a homologação notificará o arguido para, em três dias,
mandará levantar auto de notícia, onde mencionará os declarar, sem necessidade de fundamentação, se a ela
factos que constituem a infracção, o dia, a hora, o local se opõe; a falta de declaração equivalerá à não oposição.
e as circunstâncias relevantes em que foi praticada, o
que puder averiguar sobre a identificação do infractor e 3. A homologação caberá à entidade que dirigir a fase
dos ofendidos, bem como os meios de prova conhecidos, processual em que tiver lugar a desistência.
nomeadamente as testemunhas que puderem depor
sobre os factos. 4. Nos crimes de violência baseada no género, a declaração,
por parte da vítima, de que pretende desistir da queixa,
2. O auto de notícia deverá ser assinado por quem o apenas pode ser atendida no momento da determinação
levantou e mandou levantar, pelas testemunhas quando da pena concreta a aplicar, quando se verifiquem os
for possível e pelo infractor, se o quiser fazer. pressupostos exigidos para a suspensão da pena, nos
termos da alínea b) do nº 3 do artigo 53.º do Código Penal.
3. O auto de notícia será obrigatoriamente remetido
ao Ministério Público no mais curto prazo e valerá como Artigo 67.º
denúncia, sendo correspondentemente aplicável o disposto Legitimidade do Ministério Público em caso de concurso
no nº 7 do artigo 60º. de crimes

4. Em caso de conexão de processos, poderá levantar-se 1. Em caso de concurso de crimes, o Ministério Público
um único auto de notícia. promoverá imediatamente o processo por aqueles para que
tiver legitimidade, se o procedimento ou a prossecução do
5. Ao auto de notícia levantado nos termos do presente processo pelo crime mais grave não depender de queixa
artigo aplicar-se-ão as regras de avaliação da prova ou de acusação particular, ou se os crimes forem de igual
previstas no presente Código. gravidade.

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1186 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

2. Se o crime pelo qual o Ministério Público pode Secção II


promover o processo for de menor gravidade, as pessoas O Assistente e a Acusação Particular
com legitimidade para apresentar queixa ou acusação
particular serão notificadas para declararem, em três Artigo 71.º
dias, se querem ou não usar desse direito. Quem poderá constituir-se assistente

3. Se as pessoas referidas no número antecedente 1.Poderão constituir-se assistentes no processo penal,


declararem que não pretendem apresentar queixa, ou além das pessoas a quem leis especiais conferirem esse
nada declararem, o Ministério Público promove o processo direito:
pelos crimes que puder promover.
a) O ofendido, considerando-se como tal o titular do
4. Se os notificados declararem que pretendem apresentar interesse que a lei especialmente quis proteger
queixa, considerar-se-á esta apresentada. Se declararem com a incriminação, desde que maior de 16 anos;
que pretendem deduzir acusação e o não fizerem em dez b) A pessoa de cuja queixa ou acusação particular
dias, o Ministério Público promoverá o processo pelos depender o procedimento penal ou a prossecução
crimes que puder oficiosamente promover. do processo;
Artigo 68.º
c) Se o ofendido morrer, o cônjuge sobrevivo não
Posição e atribuições do Ministério Público no processo separado judicialmente de pessoas e bens ou a
pessoa que com o ofendido vivesse em condições
1. Competirá ao Ministério Público, no processo penal, análogas às de cônjuge, os descendentes e
colaborar com o tribunal na descoberta da verdade e na adoptados, ascendentes e adoptantes ou, na
realização do direito, obedecendo em todas as intervenções falta ou não atuação deles, os irmãos e seus
processuais a critérios de estrita objectividade. descendentes, salvo se alguma destas pessoas
houver comparticipado no crime, bem como as
2. Competirá, em especial, ao Ministério Público: associações e outras pessoas coletivas, legalmente
reconhecidas, de proteção às vítimas de crimes
a) Receber as denúncias, as queixas e participações e violentos ou especialmente violentos, de crimes
apreciar o seguimento a dar-lhes, nomeadamente abrindo de maus tratos e crimes sexuais contra a criança
a instrução e, nos casos de indícios de crimes de violência ou pessoa vulnerável e de crimes de violência
baseada no género, maus tratos a criança ou pessoa baseada no género, como tais definidos no Código
vulnerável, maus tratos a cônjuge e unido de facto, maus Penal;
tratos a ascendente e pessoas em economia doméstica e
crimes sexuais contra criança, aferir da necessidade de d) Se o ofendido for incapaz, o seu representante legal
aplicação de quaisquer das medidas de assistência às e as pessoas indicadas na alínea antecedente,
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vítimas previstas neste Código e na respetiva legislação segundo a ordem aí referida, salvo se alguma
e proceder a imediata apresentação do arguido ao juiz, dessas pessoas houver comparticipado no crime, ou
para primeiro interrogatório e aplicação de medidas ainda as associações ou outras pessoas colectivas,
de coacção pessoal e de garantia patrimonial que se legalmente reconhecidas, de protecção às vítimas
mostrarem adequadas; de crimes violentos, estes definidos por lei;
b) Dirigir a instrução; e) As associações ou outras pessoas colectivas legalmente
reconhecidas, tratando-se de crimes que ponham
c) Deduzir acusação ou abster-se de acusar, verificados directamente em causa os interesses colectivos
os respectivos pressupostos definidos no presente por elas prosseguidos;
Código;
f) Qualquer pessoa, nos crimes contra a paz e a
d) Interpor recursos, ainda que no exclusivo interesse humanidade, crimes de tráfico de influência,
da defesa; favorecimento pessoal praticado por funcionário,
denegação de justiça, peculato, corrupção,
e) Promover a execução das penas e medidas de participação ilícita em negócio e maus-tratos
segurança. a menores ou a incapazes.
Artigo 69.º 2. O pedido de constituição de assistente far-se-á por
meio de declaração prestada no processo ou por meio de
Ministério Público e cooperação dos órgãos de polícia requerimento.
criminal
3. O assistente poderá intervir em qualquer altura
1. No exercício das suas funções e com vista à realização do processo, aceitando-o no estado em que se encontrar,
das finalidades do processo penal, o Ministério Público desde que o pedido seja feito até cinco dias antes do início
terá direito à coadjuvação das outras autoridades, da audiência de julgamento.
nomeadamente dos órgãos de polícia criminal.
4. Tratando-se de procedimento dependente de acusação
2. Nos limites do disposto no nº 1, os órgãos de polícia particular, o pedido terá lugar no prazo de dez dias, a
criminal actuarão, no processo, sob a orientação do contar da advertência comunicada nos termos do número
Ministério Público e na sua dependência funcional. 2 do artigo 61.º.
Artigo 70.º 5. O juiz, depois de dar ao Ministério Público e ao arguido
a possibilidade de se pronunciarem sobre o pedido, decidirá
Órgãos de polícia criminal
por despacho, que é logo notificado àqueles.
1. São órgãos de polícia criminal de competência genérica: 6. Nos casos previstos na alínea f) do nº 1 não poderá
haver no processo mais do que cinco assistentes.
a) A Polícia Judiciária;
Artigo 72.º
b) A Polícia Nacional, nos limites da lei. Posição processual e atribuições do assistente
2. São órgãos de polícia criminal de competência 1. O assistente terá a posição de colaborador do Ministério
específica, todos aqueles a quem a lei confira esse estatuto. Público, a cuja actividade subordina a sua intervenção

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1187

no processo, salvas as excepções da lei, nomeadamente o b) Tenha de ser aplicada a qualquer pessoa uma medida
disposto em matéria de prossecução processual dependente de coacção pessoal ou de garantia patrimonial;
de acusação particular.
c) Um suspeito for detido, nos termos e para os efeitos
2. Competirá, em especial, ao assistente: previstos nos artigos 264.º a 271.º;
a) Intervir nas fases preliminares do processo penal, d) For levantado auto de notícia que dê uma pessoa
oferecendo provas e requerendo as diligências como agente de um crime e aquele lhe for
que se afigurarem necessárias; comunicado;
b) Deduzir acusação independente da do Ministério e) Durante qualquer inquirição feita a pessoa que
Público e, no caso de procedimento dependente não é arguido, surgir fundada suspeita de crime
de acusação particular, ainda que aquele a não por ela cometido.
deduza;
2. A pessoa sobre quem recair suspeita de ter cometido
c) Interpor recurso das decisões que o afectem, mesmo um crime tem direito a ser constituída, a seu pedido,
que o Ministério Público o não tenha feito. como arguido sempre que estiverem a ser efectuadas
diligências, destinadas a comprovar a imputação, que
3. Será garantida, nos termos da lei, a protecção pessoalmente a afectem.
do assistente ou do lesado contra ameaça, pressão ou
intimidação, nomeadamente nos casos de criminalidade 3. A constituição de arguido operar-se-á através da
violenta ou organizada. comunicação escrita feita ao visado por juiz ou magistrado
Artigo 73.º
do Ministério Público, ou, ainda, por um órgão de polícia
criminal, de que a partir desse momento aquele deverá
Representação judiciária do assistente considerar-se arguido num processo penal e da entrega
no próprio ato de documento que contenha a identificação
1. O assistente será sempre representado por advogado. do processo e do defensor, se este tiver sido já nomeado,
2. Havendo vários assistentes, são todos representados a sumária descrição dos factos que lhe são imputados e
por um só advogado; se divergirem quanto à escolha, a enumeração dos seus direitos e deveres processuais
decidirá o juiz. referidos no artigo seguinte.

3. Ressalva-se do disposto no número antecedente 4. A omissão ou violação das formalidades previstas


o caso de haver entre os vários assistentes interesses nos números antecedentes implicará que as declarações
incompatíveis, bem como o de serem diferentes os crimes prestadas pela pessoa visada não poderão ser utilizadas
imputados ao arguido, caso em que cada grupo de pessoas como prova contra ela.
a quem a lei permitir a constituição como assistente por
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5. No caso do arresto preventivo, sempre que a prévia


cada um dos crimes poderá constituir um advogado, constituição como arguido puser em sério risco o seu fim
não sendo todavia lícito a cada pessoa ter mais de um ou a sua eficácia, pode a constituição como arguido ocorrer
representante. em momento imediatamente posterior ao da aplicação da
CAPÍTULO II medida, mediante despacho devidamente fundamentado
do juiz, sem exceder, em caso algum, o prazo máximo de
Suspeito, arguido e defensor quarenta e oito horas a contar da data daquela aplicação.
Secção I 6. A não constituição como arguido no prazo máximo
Suspeito e Arguido previsto no número anterior determina a nulidade da
medida de arresto preventivo, sem prejuízo do disposto
Artigo 74.º no número seguinte.
Conceitos de suspeito e de arguido 7. Caso a constituição como arguido para efeitos de
1. É suspeito, todo aquele relativamente ao qual exista arresto preventivo nos termos do nº 5 se tenha revelado
indício sério de que cometeu ou se prepara para cometer comprovadamente impossível por o visado estar ausente
um crime, ou que nele participou ou se prepara para em parte incerta e se terem frustradas as tentativas de
nele participar. localizar o seu paradeiro, pode a mesma ser dispensada,
mediante despacho devidamente fundamentado do juiz,
2. É arguido todo aquele sobre quem recaia forte quando existam, cumulativamente, indícios objetivos de
suspeita de ter cometido um crime, cuja existência esteja dissipação do respetivo património e fundada suspeita
suficientemente comprovada e como tal seja constituído da prática do crime.
nos termos do artigo 76º. Artigo 77.º
Artigo 75.º Estatuto processual do arguido
Qualidade de arguido
1. O arguido gozará, em especial, para além do disposto
1. Assumirá a qualidade processual de arguido, todo nos artigos 1.º a 12.º deste Código, em qualquer fase do
aquele que, como tal, for constituído nos termos do artigo processo e salvas as excepções da lei, dos direitos de:
seguinte.
a) Estar presente em todos os actos processuais que
2. A qualidade de arguido conservar-se-á durante todo directamente lhe disserem respeito;
o decurso do processo.
b) Ser ouvido pelo juiz sempre que este deva tomar
Artigo 76.º qualquer decisão que pessoalmente o afecte;
Constituição de arguido c) Não responder a perguntas feitas, por qualquer
1. Sem prejuízo do disposto no artigo antecedente, será entidade, sobre os factos que lhe forem imputados
obrigatória a constituição de arguido logo que: e sobre o conteúdo das declarações que acerca
deles prestar;
a) Correndo instrução contra pessoa determinada, esta
prestar declarações perante juiz ou magistrado do d) Escolher defensor ou solicitar ao juiz que lhe
Ministério Público ou órgão de polícia criminal; nomeie um;

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1188 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

e) Ser assistido por defensor em todos os actos processuais funcionário de justiça e o intérprete, quando necessário,
em que participar e, quando detido, comunicar, sem prejuízo do disposto no nº 4.
mesmo em privado, com ele;
3. Quando o arguido tiver advogado constituído, deverá
f) Intervir nas fases preliminares do processo, oferecendo ele ser notificado e, não comparecendo ou nem enviando
provas e requerendo as diligências que se lhe advogado substituto, será nomeado defensor oficioso um
afigurarem necessárias; advogado ou na falta deste, por qualquer outra pessoa
da sua livre escolha.
g) Ser informado, pela autoridade perante a qual
seja obrigado a comparecer, dos direitos que 4. Não será admitida a presença de qualquer outra
lhe assistem; pessoa, a não ser que, por motivo de segurança, o detido
deva ser guardado à vista, observando-se, nesse caso, o
h) Recorrer, nos termos da lei, das decisões que lhe disposto no nº 2 do artigo antecedente.
forem desfavoráveis.
5. Quando não seja possível a sua apresentação ao juiz
2. A comunicação em privado, referida na alínea e) do competente dentro do prazo fixado no nº 1, designadamente
número antecedente ocorrerá à vista quando assim o por razões de descontinuidade territorial ou em caso
impuserem razões de segurança, mas em condições de de detenção efetuada em espaço marítimo ou aéreo do
não ser ouvida pelo encarregado da vigilância. território nacional, o arguido detido, será interrogado
3. Recaem em especial sobre o arguido os deveres que se por aquele juiz através de videoconferência ou outros
seguem, os quais lhe são obrigatoriamente comunicados meios análogos, podendo, em caso de impossibilidade de
por escrito e em duplicado: utilização destes meios, ser apresentado e interrogado pelo
juiz da área judicial da sua detenção ou mais próxima do
a) Comparecer perante a autoridade competente, aeroporto ou porto de chegada.
em especial o juiz, o Ministério Público ou os
órgãos de polícia criminal e manter-se à sua 6. No caso previsto na parte final do número anterior,
disposição sempre que a lei o exigir ou para tal seguir-se-á a imediata remessa do processo e, se for o caso,
tiver sido devidamente convocado ou notificado; a apresentação presencial do arguido ao juiz competente
que, reavaliará o despacho de validação da detenção.
b) Responder com verdade às perguntas feitas por Artigo 79.º
entidade competente sobre a sua identidade;
Como se efectuará o interrogatório
c) Sujeitar-se a diligências de prova e a medidas
de coacção pessoal e de garantia patrimonial 1. O arguido será perguntado pelo seu nome, filiação,
especificadas na lei e ordenadas e efectuadas naturalidade, data de nascimento, estado civil, profissão,
por entidade legalmente competente; residência, local de trabalho, se necessário, a exibição de
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documento oficial que permita a identificação, devendo


d) Não mudar de residência nem dela se ausentar ser advertido de que a falta de resposta a estas perguntas
por mais de cinco dias sem comunicar a nova ou a falsidade da mesma o poderá fazer incorrer em
residência ou o lugar onde possa ser encontrado; responsabilidade penal.
e) Quando residir ou for residir para o estrangeiro 2. Seguidamente, o juiz informará o arguido:
ou no País para fora da área judicial onde o
processo corre os seus termos, indicar o defensor a) Dos direitos referidos no nº 1 do artigo 77.º,
escolhido e o respetivo endereço de domicílio explicando-lhos se isso for necessário;
profissional que, residindo nessa área judicial,
tome o encargo de receber as notificações que b) De que não exercendo o direito ao silêncio as declarações
lhe devem ser feitas na sua própria pessoa. que prestar poderão ser utilizadas no processo,
mesmo que seja julgado na ausência, ou não
4- Ao arguido deve ser, também, obrigatoriamente preste declarações em audiência de julgamento,
comunicado no mesmo escrito a que se refere o número estando sujeitas à livre apreciação da prova;
anterior de que o incumprimento de qualquer dos deveres
previstos nas alíneas a), d) e e) do número anterior c) Dos motivos da detenção;
legitimará: d) Dos factos que lhe são concretamente imputados,
a) A continuação do processo e sua representação por incluindo, sempre que forem conhecidas, as
defensor em todos os atos processuais, incluindo aqueles circunstâncias de tempo, lugar e modo; e
em relação aos quais tenha o direito ou o dever de estar e) Dos elementos do processo que indiciam os factos
presente, com a realização de todas as notificações na pessoa imputados, sempre que a sua comunicação não
do defensor por ele escolhido ou nomeado oficiosamente, ou puser em causa a investigação, não dificultar
na impossibilidade deste as receber, por qualquer motivo, a descoberta da verdade nem criar perigo para
por editais e anúncios nos casos em que, normalmente, a vida, a integridade física ou psíquica ou a
o seriam pessoalmente; liberdade dos participantes processuais ou das
b) A sua declaração de contumácia ou a realização vítimas do crime, ficando todas as informações,
da audiência de julgamento na sua ausência, à excepção das previstas na alínea a), a constar
nos termos do artigo 364º-A. do auto de interrogatório.
Artigo 78.º 3. Prestando declarações, o arguido poderá confessar
ou negar os factos ou a sua participação neles e indicar
Primeiro interrogatório judicial de arguido detido as causas que possam excluir a ilicitude ou a culpa, bem
1. O arguido detido que não deva ser de imediato julgado como quaisquer circunstâncias que possam relevar para
será interrogado pelo juiz competente, no prazo máximo a determinação da sua responsabilidade ou da medida
de quarenta e oito horas após a detenção, logo que lhe da sanção aplicável.
for presente com a indicação dos motivos da detenção e 4. Durante o interrogatório o Ministério Público e o
das provas que a fundamentam. defensor, sem prejuízo do direito de arguir nulidades
2. O interrogatório será feito pelo juiz, com assistência ou de pedidos de esclarecimento das respostas dadas
do Ministério Público e do defensor e estando presentes o pelo arguido, abster-se-ão de qualquer interferência;

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1189

findo o interrogatório, poderão também requerer ao juiz Artigo 86.º


que formule ao arguido as perguntas que entenderem Decisão judicial sobre detenção
convenientes para a descoberta da verdade, decidindo
aquele sobre a relevância delas. Encerrados o auto e a audiência, nos termos previstos
Artigo 80.º nos artigos antecedentes, o juiz verificados ou não os
pressupostos fácticos e legais justificativos da detenção,
Respostas do arguido decidirá pela validação, ordenando a recolha do arguido
1. O arguido nunca será obrigado a responder precipitadamente ao estabelecimento prisional, pela aplicação de qualquer
às perguntas, que lhe serão repetidas sempre que tal solicite outra medida de cocção, ou pela restituição do arguido à
ou pareça que as não tenha perfeitamente compreendido. liberdade, conforme couber nos termos da lei, sem prejuízo
da continuação eventual do processo penal. Em qualquer
2. Em caso de repetição de pergunta apenas se registará dos casos a decisão do juiz deverá ser fundamentada com
a resposta à pergunta reformulada. clareza e precisão e com observância do mais que dispõe a lei.
Artigo 81.º
Artigo 87.º
Providências quando o arguido confessa
Outros interrogatórios
1. Se o arguido confessar a prática dos factos constitutivos
da infracção que se lhe imputa, será especialmente 1. Os subsequentes interrogatórios de arguido preso e
perguntado pelo lugar, tempo, modo e meios utilizados os interrogatórios de arguido em liberdade serão feitos
para a cometer. na instrução pelo Ministério Público e no julgamento pelo
respectivo juiz, obedecendo, em tudo quanto for aplicável,
2. Se o arguido confessar a prática dos factos mas tiver às disposições deste capítulo, e, no que respeita à audiência
alegado quaisquer circunstâncias que excluam a ilicitude contraditória preliminar, às disposições próprias dessa
daqueles ou a sua culpa ou, ainda, que possam atenuar a fase processual.
sua responsabilidade penal, será perguntado sobre tais
circunstâncias e as provas que possa oferecer. 2. Na instrução, os interrogatórios referidos no número
antecedente poderão ser feitos pelo órgão de polícia
3. Se, para comprovação de suas declarações, o arguido criminal no qual o Ministério Público tenha delegado a
oferecer documentos ou indicar testemunhas, deverão ser sua realização.
recebidos os documentos e ser tomada nota das testemunhas
e dos actos sobre que possam depor. As testemunhas assim Secção II
arroladas serão ouvidas sempre que possível e conveniente O defensor
para o esclarecimento da verdade dos factos.
Artigo 82.º Artigo 88.º
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Continuidade da audiência Defensor

A audiência de interrogatório é contínua, sem prejuízo 1. O arguido poderá constituir um ou mais advogados
das interrupções estritamente necessárias, em especial em qualquer altura do processo.
para alimentação e repouso dos intervenientes.
2. Tendo o arguido mais de um defensor constituído,
Artigo 83.º as notificações serão feitas àquele que for indicado em
Providências em caso de negação dos factos primeiro lugar no acto de constituição.
1. Se o arguido negar a prática dos factos constitutivos da Artigo 89.º
infracção, será perguntado sobre quaisquer circunstâncias Defensor oficioso
ou provas que possam contrariar aquelas em que se funda a
imputação, observando-se o disposto no nº 3 do artigo 81.º. 1. Nos casos em que a lei determinar que o arguido
2. Se o arguido negar factos que constam já de depoimentos seja assistido por defensor advogado e aquele o não tiver
de testemunhas, de respostas de outros arguidos ou de constituído, ou o não constituir, a autoridade judiciária
depoimentos de outros intervenientes processuais, poderão ou o órgão de polícia criminal nomear-lhe-á defensor, que
ser-lhe lidos esses depoimentos, respostas ou declarações. será um advogado ou na falta deste por uma pessoa da
sua livre escolha, não podendo, contudo, em caso algum
Artigo 84.º tal nomeação recair sobre qualquer autoridade, agente
Redacção das respostas e leitura e assinatura de auto ou funcionário do organismo por onde corre o respetivo
processo.
1. O arguido poderá ditar as suas respostas e, não o
fazendo, serão ditadas pelo juiz, conservando quanto possível 2. O defensor nomeado, nos termos do número antecedente,
as expressões usadas pelo arguido, de maneira a que cada cessará as suas funções logo que o arguido constituir
palavra ou expressão possa ser bem compreendida por ele. advogado.
2. O auto será lido ao arguido, antes de encerrado, Artigo 90.º
consignando-se expressamente que este o ratificou ou as
alterações que fez ou sugeriu. Direitos do defensor

3. O Ministério Público e o defensor poderão fazer 1. O defensor exercerá os direitos que a lei reconhece
anteceder as suas assinaturas de breves alegações orais, ao arguido, salvo os que ela reservar pessoalmente a este.
de duração não superior a dez minutos, para arguição de 2. O arguido poderá retirar eficácia ao acto realizado em
qualquer nulidade. seu nome pelo defensor, desde que o faça por declaração
Artigo 85.º expressa anterior à decisão relativa àquele acto.
Perguntas em caso de pluralidade de arguidos Artigo 91.º

Se houver vários arguidos a que se imputa a prática Obrigatoriedade de assistência


da mesma infracção, os interrogatórios far-se-ão em
separado, sem prejuízo de, se tal se afigurar necessário 1. É obrigatória a assistência do defensor:
para a descoberta da verdade, se proceder depois à prova a) Em qualquer interrogatório de arguido detido ou
por acareação. preso;

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1190 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

b) Na audiência de transacção, na audiência contraditória absolutamente necessário, por um adiamento do acto


preliminar e na audiência de julgamento; ou da audiência, que não poderá, porém, ser superior a
cinco dias.
c) Em qualquer acto processual, sempre que o arguido
for surdo, mudo, analfabeto, menor de 18 anos, CAPÍTULO III
desconhecedor seja da língua portuguesa, seja
do crioulo, ou se suscitar a questão da sua Vítima
inimputabilidade ou imputabilidade diminuída; Artigo 94º-A

d) Nos recursos; Conceito de vítima

e) Nos casos em que a lei permitir prestação antecipada 1. Para efeitos penais, considera-se vítima:
de depoimento, designadamente para a memória a) A pessoa singular que sofreu um dano, nomeadamente
futura; um atentado à sua vida e integridade física ou psíquica,
f) Nos interrogatórios de arguidos realizados por órgãos um dano emocional ou moral, ou um dano patrimonial,
de polícia criminal, nos processos cuja investigação diretamente causado por ação ou omissão, no âmbito da
tenha sido delegada pelo Ministério Público; prática de um crime;
b) Os familiares de uma pessoa, cuja morte tenha sido
g) Na audiência de julgamento realizada na ausência diretamente causada por um crime e que tenham sofrido
do arguido; um dano em consequência dessa morte.
h) Nos demais casos que a lei determinar. 2. De igual modo, para efeitos penais, consideram-se:
2. Fora dos casos previstos no número antecedente a) Vítima especialmente vulnerável, vítima cuja
poderá o juiz nomear defensor ao arguido sempre que especial fragilidade resulte, nomeadamente,
as circunstâncias do caso revelarem a necessidade ou a da sua idade, do seu estado de saúde ou de
conveniência de o arguido ser assistido. deficiência, bem como do facto de o tipo, o grau
Artigo 92.º e a duração da vitimização haver resultado
em lesões com consequências graves no seu
Assistência a vários arguidos equilíbrio psicológico ou nas condições da sua
integração social;
1. Sendo vários os arguidos no mesmo processo, poderão
eles ser assistidos por um único defensor, se isso não b) Familiares, o cônjuge da vítima ou a pessoa que
contrariar a função da defesa. convivesse com a vítima em união de facto,
legalmente reconhecido ou reconhecível, os seus
2. Se um ou alguns dos arguidos houverem constituído
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parentes em linha reta, os irmãos e as pessoas


advogado e outros não, o juiz poderá nomear, de entre os economicamente dependentes da vítima, vivendo
advogados constituídos, um ou mais que tomem a defesa dos ou não em comunhão de habitação;
outros arguidos, se isso não contrariar a função da defesa.
Artigo 93.º
c) Menor, criança ou jovem, uma pessoa singular
com idade inferior a dezoito anos.
Defensor nomeado
3. Para os efeitos previstos na alínea b) do nº 2 integram
1. A nomeação de defensor ser-lhe-á notificada quando o conceito de vítima, pela ordem e prevalência seguinte:
não estiver presente no acto.
a) O cônjuge sobrevivo não separado judicialmente de
2. O defensor nomeado poderá ser dispensado do pessoas e bens ou o unido de facto, legalmente
patrocínio se alegar causa que o juiz julgue procedente. reconhecido ou reconhecível;
3. O juiz poderá sempre substituir o defensor nomeado, b) Os descendentes e os ascendentes, na medida
a requerimento do arguido, por causa justificativa. estrita em que tenham sofrido um dano com
a morte, com exceção do autor dos factos que
4. Enquanto não for substituído, o defensor nomeado provocaram a morte.
para um acto manter-se-á para os actos subsequentes
do processo. 4. As vítimas de criminalidade violenta e de criminalidade
especialmente violenta, de crimes de maus tratos a criança
5. O exercício da função de defensor nomeado será menores ou pessoa vulnerável, a cônjuge e unido de facto
sempre remunerado, nos termos da lei. e a ascendente e pessoa em economia doméstica, bem
como de crimes sexuais e crimes de violência baseada no
Artigo 94.º género são sempre consideradas vítimas especialmente
Substituição de defensor vulneráveis para efeitos penais.
Artigo 94º-B
1. Se o defensor, relativamente a um acto em que a
assistência for necessária, não comparecer, se ausentar Direitos gerais da vítima
antes de ter terminado ou recusar ou abandonar a
defesa, o juiz nomeará imediatamente outro defensor; 1. O Estado assegura à vítima a prestação de informação
mas poderá também, quando a nomeação imediata se adequada à tutela dos seus direitos, em especial no
revelar impossível ou inconveniente, decidir-se por uma âmbito penal.
interrupção da realização do acto. 2. Sem prejuízo de outros legalmente previstos, assistem
2. Se o defensor for substituído durante a audiência à vítima os direitos de informação, de assistência, de
contraditória preliminar ou na audiência de julgamento, proteção e de participação ativa no processo penal,
poderá o juiz, oficiosamente ou a requerimento do novo previstos neste Código.
defensor, conceder uma interrupção, para que aquele 3. A vítima tem, ainda, direito a colaborar com as
possa conferenciar com o arguido e examinar os autos. autoridades judiciárias e as autoridades de polícia criminal
3. Em vez da interrupção a que se referem os números competentes, prestando informações e facultando provas
antecedentes, poderá o juiz decidir-se, se isso for que se revelem necessárias à descoberta da verdade e à
boa decisão da causa.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1191


Artigo 94º-C audiência de julgamento, e da situação processual do
Direito especial de informação arguido, por factos que lhe digam respeito, salvo em casos
excecionais que possam prejudicar o bom andamento
1- É garantida à vítima, desde o seu primeiro contato com dos autos;
as autoridades e funcionários competentes, inclusivamente
no momento anterior à apresentação da denúncia, e sem c) A sentença do tribunal.
atrasos injustificados, o acesso às seguintes informações: 7. Para os efeitos previstos no número anterior, a
a) O tipo de serviços ou de organizações a que pode vítima pode de imediato declarar, aquando da prestação
dirigir-se para obter apoio; da informação aludida na alínea l) do nº 1, que deseja ser
oportunamente notificada de todas as decisões proferidas
b) O tipo de apoio que pode receber; no processo penal.
c) Onde e como pode apresentar denúncia; 8. As informações prestadas nos termos das alíneas a)
d) Quais os procedimentos subsequentes à denúncia e c) do nº 6 devem incluir a fundamentação da decisão em
e qual o seu papel no âmbito dos mesmos; causa ou um resumo dessa fundamentação.
e) Como e em que termos pode receber proteção; 9. Devem ser promovidos os mecanismos adequados para
f) Em que medida e em que condições tem acesso a fornecer à vítima, em especial nos casos de reconhecida
consulta jurídica, a assistência judiciária e a perigosidade do arguido, de informações sobre as principais
outras formas de aconselhamento; decisões judiciárias que afetem o estatuto deste, em
particular a aplicação de medidas de coação.
g) Quais os requisitos que regem o seu direito a
indemnização; 10. Deve ser dado conhecimento à vítima, sem atrasos
injustificados, da libertação ou evasão da pessoa detida,
h) Em que condições tem direito a interpretação e acusada, pronunciada ou condenada.
tradução;
11. Deve ser assegurado à vítima o direito de optar
i) Quais os procedimentos para apresentar uma por não receber as informações referidas nos números
denúncia, caso os seus direitos não sejam anteriores, salvo quando a comunicação das mesmas for
respeitados pelas autoridades competentes que obrigatória nos termos das normas do processo penal
operam no contexto do processo penal; aplicável.
j) Quais os mecanismos especiais que pode utilizar em Artigo 94º-D
Cabo Verde para defender os seus interesses,
sendo residente em outro Estado; Direito à proteção
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k) Como e em que condições podem ser reembolsadas as 1. É assegurado um nível adequado de proteção à vítima
despesas que suportou devido à sua participação e, sendo caso disso, aos seus familiares elencados neste
no processo penal; Capítulo, nomeadamente no que respeita à segurança e
salvaguarda da vida privada, sempre que as autoridades
l) Em que condições tem direito à notificação das competentes considerem que existe uma ameaça séria
decisões proferidas no processo penal. de represálias e de situações de revitimização ou fortes
2. A extensão e o grau de detalhe das informações a indícios de que essa privacidade possa ser perturbada.
que se refere o número anterior podem variar consoante
as necessidades específicas e as circunstâncias pessoais 2. O contato entre vítimas e os seus familiares e os
da vítima, bem como a natureza do crime. suspeitos ou arguidos em todos os locais que impliquem
a presença de uns e de outros no âmbito da realização de
3. No momento em que apresenta a denúncia, é diligências processuais, nomeadamente nos edifícios dos
assegurado à vítima o direito a assistência gratuita e à tribunais ou procuradorias da república, deve ser evitado,
tradução da confirmação escrita da denúncia, numa língua sem prejuízo da aplicação das regras estabelecidas neste
que compreenda, sempre que não entenda português ou Código.
o crioulo.
3. O juiz ou, durante a instrução, o Ministério Público
4. Podem ser fornecidas, em fases posteriores do pode determinar, sempre que tal se mostre imprescindível
processo, informações complementares das prestadas nos à proteção da vítima e obtido o seu consentimento,
termos do nº 1 em função das necessidades da vítima e da que lhe seja assegurado apoio psicossocial através dos
relevância dessas informações em cada fase do processo. serviços competentes, designadamente na prestação de
5. A vítima tem direito a consultar o processo e a obter informações, assistência social, jurídica, psicológica e
cópias das peças processuais nas mesmas condições em patrocínio judiciário, devendo tais serviços apresentar
que tal é permitido ao ofendido nos termos previstos neste relatório final sobre a sua situação, antecedentemente à
acusação, quando esta seja deduzida.
Código.
4. O disposto nos números anteriores não prejudica a
6- Sempre que a vítima o solicite junto da entidade aplicação do regime especial de proteção de testemunhas,
competente para o efeito, e sem prejuízo do regime nomeadamente no que se refere à proteção dos familiares
do segredo de justiça, deve ainda ser-lhe assegurada da vítima.
informação, sem atrasos injustificados, sobre:
Artigo 94º-E
a) O seguimento dado à denúncia, incluindo:
Direitos a uma decisão relativa a indemnização
i) A decisão de arquivamento ou de não pronúncia ou e a restituição de bens
materialmente equivalente ou de rejeição da acusação, bem
como a decisão de suspender provisoriamente o processo; 1. À vítima é reconhecido, no âmbito do processo penal,
o direito a obter uma decisão relativa a indemnização por
ii) A decisão de acusação ou de pronúncia. parte do agente do crime, dentro de um prazo razoável,
nos termos do presente Código.
b) Os elementos pertinentes que lhe permitam, após a
acusação ou a decisão instrutória, ser inteirada do estado 2. Os bens pertencentes à vítima que sejam apreendidos
do processo, incluindo o local e a data da realização da em processo penal devem ser de imediato examinados e

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1192 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

restituídos, salvo quando assumam relevância probatória 8. Sem prejuízo do disposto no número anterior, os
ou sejam suscetíveis de ser declarados perdidos a favor órgãos de comunicação social podem relatar o conteúdo
do Estado. dos atos públicos do processo penal relativo ao crime em
causa, nos termos deste Código.
Artigo 94º-F
Direitos das vítimas especialmente vulneráveis 9. As vítimas especialmente vulneráveis estão isentas
de taxa de justiça, despesas ou encargos ou quaisquer
1. Apresentada a denúncia de um crime, não existindo outras despesas previstas na legislação relativa a custas
fortes indícios de que a mesma é infundada, as autoridades judiciais.
judiciárias ou os órgãos de polícia criminal competentes Artigo 94º-G
podem, após avaliação individual da vítima, atribuir-lhe
o estatuto de vítima especialmente vulnerável. Direitos das crianças vítimas

2. No mesmo ato é entregue à vítima documento 1. Todas as crianças vítimas têm o direito de ser ouvidas
comprovativo do referido estatuto, compreendendo os no processo penal, devendo para o efeito ser tomadas em
seus direitos e deveres. consideração a sua idade e maturidade.
3. Os depoimentos e declarações das vítimas especialmente 2. Em caso de inexistência de conflito de interesses,
vulneráveis, quando impliquem a presença do arguido, a criança pode ser acompanhada pelos seus pais, pelo
são prestados, sem prejuízo dos direitos de defesa do representante legal ou por quem tenha a guarda de facto
arguido, se se revelar necessário para garantir a sua durante a prestação de depoimento.
prestação sem constrangimentos antecipadamente, sem a
presença do arguido, ou através de videoconferência ou de 3. É obrigatória a nomeação de patrono à criança quando
teleconferência, por determinação do Ministério Público, os seus interesses e os dos seus pais, representante legal
oficiosamente ou a requerimento da vítima, durante a fase ou de quem tenha a guarda de facto sejam conflituantes
de instrução, e por determinação do tribunal, oficiosamente e ainda quando a criança com a maturidade adequada o
ou a requerimento do Ministério Público ou da vítima, solicitar ao tribunal.
durante as fases de audiência contraditória preliminar 4. A nomeação do patrono é efetuada nos termos da lei
ou de julgamento. relativa à assistência judiciária.
4. A vítima é acompanhada, se necessário, na prestação 5. Não devem ser divulgadas ao público informações
das declarações ou do depoimento, por técnico especialmente que possam levar à identificação de uma criança vítima,
habilitado para o seu acompanhamento previamente sob pena de os seus agentes incorrerem na prática de
designado pelo Ministério Público ou pelo tribunal. crime de desobediência.
5. Deve ser feita uma avaliação individual das vítimas
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6. Caso a idade da vítima seja incerta e existam motivos


especialmente vulneráveis, a fim de determinar se devem para crer que se trata de uma criança, presume-se, para
beneficiar de medidas especiais de proteção e, em caso de efeitos de aplicação do regime aqui previsto, que a vítima
ameaças, pressões ou intimidações, as autoridades devem é uma criança.
assegurar a aplicação dos mecanismos de proteção, nos
termos da lei. 7. É correspondentemente aplicável o disposto nos
n.ºs 7 a 9 do artigo anterior.
6. As medidas especiais de proteção referidas no número
anterior são as seguintes: Artigo 94º-H

a) As inquirições da vítima devem ser realizadas pela Garantias de comunicação


mesma pessoa, se a vítima assim o desejar, e
desde que a tramitação do processo penal não 1. Devem ser tomadas as medidas necessárias para garantir
seja prejudicada; que as vítimas compreendam e sejam compreendidas, desde
o primeiro contato e durante todos os outros contatos com
b) A inquirição das vítimas de crimes sexuais, as autoridades competentes no âmbito do processo penal.
violência baseada no género ou violência em
relações de intimidade, salvo se for efetuada por 2. Para efeitos do disposto no número anterior, a
magistrado do Ministério Público ou por juiz, comunicação com a vítima deve ser efetuada numa linguagem
deve ser realizada por uma pessoa do mesmo simples e acessível, atendendo às suas caraterísticas
sexo que a vítima, se esta assim o desejar e pessoais, designadamente a sua maturidade e alfabetismo,
desde que a tramitação do processo penal não bem como qualquer limitação ou alteração das funções
seja prejudicada; físicas ou mentais que possa afetar a sua capacidade de
compreender ou ser compreendida.
c) Medidas para evitar o contato visual entre as
vítimas e os arguidos, nomeadamente durante 3. Salvo se tal for contrário aos interesses da vítima ou
a prestação de depoimento, através do recurso prejudicar o bom andamento do processo, a vítima pode
a meios tecnológicos adequados; fazer-se acompanhar de uma pessoa da sua escolha no
primeiro contato com as autoridades competentes, caso
d) Prestação de declarações para memória futura, devido ao impacto do crime a vítima solicite assistência
nos termos previstos no presente Código; para compreender ou ser compreendida.
e) Exclusão da publicidade das audiências, nos termos 4. Nas situações referidas no número anterior, são
do presente Código. aplicáveis as disposições legais em vigor relativas à
nomeação de intérprete.
f) Outras previstas na lei.
Artigo 94º-I
7. Os órgãos de comunicação social, sempre que divulguem Condições de prevenção da vitimização secundária
situações relativas à prática de crimes, quando as vítimas
especialmente vulneráveis, não podem identificar, nem 1. A vítima tem direito a ser ouvida em ambiente
transmitir elementos, sons ou imagens que permitam a informal e reservado, devendo ser criadas as adequadas
sua identificação, sob pena de os seus agentes incorrerem condições para prevenir a vitimização secundária e para
na prática de crime de desobediência. evitar que sofra pressões.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1193

2. A inquirição da vítima e a sua eventual submissão a expressamente lho tiver solicitado; neste último
exame médico devem ter lugar, sem atrasos injustificados, caso, porém, cessará a intervenção do Ministério
após a aquisição da notícia do crime, apenas quando sejam Público se o lesado vier a fazer-se representar
estritamente necessárias às finalidades do inquérito e do por advogado, tendo de aceitar todos os atos
processo penal e deve ser evitada a sua repetição. processuais por aquele já praticados;
TÍTULO VI b) Nos casos de crimes de violência baseada no género,
Partes Civis e Pedido Civil crimes de maus tratos e crimes sexuais contra
Artigo 95.º menores ou pessoa vulnerável, deduzir, a todo o
tempo após a receção da denúncia, em separado
Adesão do pedido civil ao processo penal junto do tribunal competente, pedido de fixação
O pedido de indemnização civil, ou qualquer outro de de alimentos provisórios, nomeadamente quando
natureza patrimonial, derivado da prática de um crime entre arguido e vítima haja filhos menores ou
será deduzido no processo penal respectivo, só o podendo quando a vítima deles careça, desde que se
ser em separado, em acção cível, nos casos previstos na lei. verifiquem os pressupostos para a sua atribuição.
Artigo 96.º 5. Não cessará a competência do tribunal penal para
Pedido em separado apreciar e decidir o pedido civil de indemnização contra
todos os responsáveis pelos danos causados pelo crime o
1. O pedido poderá ser deduzido em separado, mediante facto de o arguido chamar à demanda pessoas só civilmente
acção cível, quando: responsáveis.
a) O processo penal não tiver conduzido à acusação Artigo 98.º
dentro de um ano a contar da notícia do crime, estiver
sem andamento durante esse lapso de tempo, tiver sido Poderes processuais da parte civil
arquivado provisória ou definitivamente, sido extinguido 1. O lesado, não sendo assistente, não terá qualquer
antes do trânsito em julgado da sentença ou tiver terminado intervenção em matéria especificamente penal, restringindo-
pela absolvição do arguido; se a sua intervenção processual à sustentação e à
b) O procedimento penal depender de queixa; prova do pedido de indemnização civil, competindo-lhe,
correspondentemente, os direitos que a lei confere ao
c) Não houver ainda danos ao tempo da acusação, estes assistente.
não forem conhecidos ou não forem conhecidos
em toda a sua extensão; 2. O demandado e o interveniente voluntário têm posição
processual idêntica à do arguido quanto à sustentação
d) A sentença penal não se tiver pronunciado sobre e à prova das questões civis julgadas no processo, sendo
o pedido de indemnização civil, nos termos da
3 703000 000000

independente cada uma das defesas.


alínea c) do artigo 105.º;
e) For deduzido contra o arguido e outras pessoas com 3. O interveniente voluntário não poderá praticar actos
responsabilidade meramente civil, ou somente que o arguido tiver perdido o direito de praticar.
contra estas e o arguido for chamado à demanda; Artigo 99.º
f) O processo penal correr sob a forma especial e o Representação
assistente ou quem tenha legitimidade para
se constituir como tal manifestar interesse na A parte civil é representada por advogado, nos termos
separação; previstos na lei processual civil.
g) Correr o processo penal perante tribunal que, em Artigo 100.º
razão do valor do pedido, não tenha competência Dever de informação
em matéria cível.
2. No caso de o procedimento depender de queixa ou a 1. No primeiro acto que intervier pessoa que se saiba
prossecução depender da acusação particular, a dedução ter legitimidade para deduzir pedido de indemnização
do pedido em acção cível separada pelas pessoas com civil, deve aquela ser informada pela autoridade judiciária
direito de queixa ou de acusação particular valerá como ou pelos órgãos de polícia criminal da possibilidade de
renúncia a esse direito. deduzir pedido de indemnização civil em processo penal
e das formalidades a observar.
Artigo 97.º
Legitimidade
2. Quem tiver legitimidade para deduzir pedido de
indemnização civil poderá manifestar, no processo, o
1. O pedido civil será deduzido no processo penal pelo propósito de o fazer ou de se constituir como assistente,
lesado, entendendo-se como tal a pessoa que sofreu danos até ao encerramento da instrução, sem prejuízo, no
ocasionados pelo crime ou o titular do direito ou interesse entanto, de o poder fazer em outro momento processual,
violado com a prática do crime, ainda que se não tenha nos termos do presente Código.
constituído ou não possa constituir-se assistente. Artigo 101.º
2. O pedido de indemnização civil poderá ser deduzido Momento de apresentação do pedido
contra pessoa com responsabilidade meramente civil e
esta poderá intervir voluntariamente no processo penal. 1. Quando apresentado pelo Ministério Público ou pelo
3. Têm igualmente legitimidade para o pedido civil, assistente, o pedido de indemnização civil será deduzido na
as entidades referidas no n° 1, alínea e) do artigo 71.º, acusação ou no prazo em que esta deverá ser formulada.
ainda que se não tenham ou não possam constituir-se 2. Se, fora dos casos previstos no número antecedente, o
assistentes. lesado tiver manifestado no processo o propósito de deduzir
4. Ao Ministério Público competirá: pedido de indemnização ou de se constituir assistente,
nos termos do nº 2 do artigo antecedente, a secretaria, ao
a) Deduzir o pedido civil no processo penal relativamente notificar o arguido do despacho de acusação, ou, não o
a qualquer lesado que lhe caiba legalmente havendo, do despacho de pronúncia ou, ainda, se a este
representar, bem como a todo aquele que não houver lugar, do despacho que designar o dia para a

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1194 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

audiência, notifica igualmente o lesado para, em sete dias, Artigo107.º


a contar da receção da notificação, deduzir o pedido civil. Prossecução da acção em caso de amnistia
3. Nos restantes casos, o lesado ou quem tenha A requerimento do Ministério Público ou do lesado,
legitimidade para se constituir assistente poderá deduzir poderá, em caso de amnistia, prosseguir-se a acção penal
o pedido até sete dias depois de ter sido comunicado a para efeitos de apuramento da responsabilidade civil
notificação ao arguido, conforme os casos, de um dos conexa.
despachos mencionados no número antecedente.
Artigo 108.º
Artigo 102.º
Caso julgado
Formulação do pedido, contestação e oferecimento de provas

1. O pedido será deduzido em requerimento articulado A sentença penal, ainda que absolutória, que conhecer
e acompanhado de duplicados para os demandados e do pedido civil ou arbitre uma indemnização pelos danos
para a secretaria. causados pelo crime constituirá caso julgado nos termos
em que a lei atribui eficácia de caso julgado às sentenças
2. Se o lesado não estiver representado por advogado, civis.
nos casos em que tal seja permitido por lei, o pedido não Artigo 109.º
estará sujeito a formalidades especiais e poderá consistir
em mera declaração em auto, com a indicação do prejuízo Arbitramento oficioso de reparação
ou do interesse violado e respectivas provas.
1. Não tendo sido deduzido pedido de indemnização civil
3. A pessoa contra quem for deduzido o pedido civil será no processo penal respectivo ou em acção cível separada,
notificada para, querendo, contestar no prazo de dez dias. nos termos deste Código, o juiz arbitrará na sentença,
ainda que absolutória, uma quantia como reparação pelos
4. A contestação será deduzida por artigos. danos causados, quando:
5. A falta de contestação não implicará confissão dos a) Ela se imponha para uma protecção razoável dos
factos. interesses do lesado ou particulares exigências
6. As provas são requeridas com os articulados. de protecção da vítima o imponham;
7. Cada requerente, demandado ou interveniente poderá b) O lesado a ela se não oponha;
arrolar até cinco testemunhas.
c) Do julgamento resulte prova suficiente dos
Artigo 103.º pressupostos e do quantitativo da reparação
a arbitrar, segundo os critérios da lei civil.
3 703000 000000

Comparência no julgamento

As partes civis apenas serão obrigadas a comparecer 2. Para efeitos do disposto no número anterior, o juiz e
no julgamento quando tiverem de prestar declarações a o Ministério Público têm o dever de assegurar, na medida
que não puderem recusar-se. do possível, a prova dos danos durante o julgamento, com
respeito pelo contraditório, sem prejuízo do disposto no
Artigo 104.º artigo 105º.
Renúncia e conversão do pedido civil 3. A quantia arbitrada a título de reparação será tida
O lesado poderá, em qualquer altura do processo, em conta em acção que venha a conhecer de pedido civil
renunciar à realização do seu pedido civil ou requerer de indemnização.
a conversão do seu objecto, nos termos consentidos na LIVRO I
lei civil.
ACTOS PROCESSUAIS
Artigo 105.º
TÍTULO I
Liquidação em execução de sentença e reenvio para acção
cível separada Publicidade do processo e segredo de justiça
Oficiosamente ou a requerimento do Ministério Público, Artigo 110.º
do arguido ou do lesado, poderá o tribunal:
Publicidade do processo
a) Atendendo à insuficiência de provas para fixar
a indemnização, condenar no que se liquidar 1. O processo penal é, sob pena de nulidade, público
em execução de sentença, servindo de título a partir do despacho de encerramento da instrução,
executivo a sentença penal; vigorando até esse momento o segredo de justiça.

b) Estabelecer uma indemnização provisória por 2. A publicidade do processo implica, em especial, nos
conta da indemnização a fixar posteriormente, termos dos artigos seguintes, os direitos de:
se dispuser de elementos bastantes, e conferir- a) Assistência, pelo público em geral, à realização
lhe o efeito previsto na alínea c); dos actos processuais;
c) Remeter as partes para acção cível separada b) Narração dos actos processuais, ou reprodução dos
quando as questões suscitadas pelo pedido de seus termos, pelos meios de comunicação social;
indemnização civil inviabilizarem uma decisão
rigorosa ou forem susceptíveis de gerar incidentes c) Consulta do auto e obtenção de cópias, extractos
que retardem intoleravelmente o processo penal. e certidões de quaisquer partes dele.
Artigo 106.º Artigo 111.º
Exequibilidade provisória Limitações à publicidade
A requerimento, do lesado, o juiz poderá declarar a 1. A publicidade do processo não abrangerá os dados
condenação em indemnização civil, no todo ou em parte, relativos à intimidade da vida privada que não constituam
provisoriamente executiva, nomeadamente sob a forma meios de prova, podendo a autoridade judiciária, oficiosamente
de pensão. ou a requerimento, determinar, por despacho, os dados

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1195

relativamente aos quais vigora a proibição de divulgação, tráfico de pessoas, a honra ou a reserva da
ordenando, se for caso disso, a sua destruição ou que sejam vida privada, exceto se a vítima consentir
entregues à pessoa a quem disserem respeito. expressamente na revelação da sua identidade
ou se o crime for praticado através de órgão de
2. Não é permitida, antes de proferida sentença em comunicação social.
primeira instância, a reprodução de peças ou documentos
do processo, salvo se houver autorização expressa da Artigo 114.º
entidade que presidir à fase processual no momento da Limites ao segredo de justiça
publicação ou se tiverem sido obtidos mediante certidão
solicitada e autorizada. 1. O segredo de justiça não impedirá que os sujeitos
processuais possam, mediante requerimento devidamente
3. Não é permitida a transmissão de imagens ou a fundamentado sobre o interesse na sua aquisição, obter
tomada de som relativas à prática de qualquer acto cópias, extractos e certidões autorizados por despacho,
processual, nomeadamente da audiência de julgamento, na parte respeitante a declarações prestadas e a
a não ser que haja expressa autorização da autoridade requerimentos e memorandos por eles apresentados, bem
judiciária competente. como, a diligências de prova a que pudessem assistir ou
4. Não poderá ser autorizada a transmissão de imagens a questões incidentais em que devessem intervir.
ou tomada de som relativamente a interveniente processual 2. O segredo de justiça não prejudica o esclarecimento ao
que a tal se opuser. arguido, aos assistentes e aos ofendidos sobre o andamento
5. Não é permitida a publicação, por qualquer meio, da das investigações.
identidade de vítimas de crimes sexuais, contra a honra 3. Tratando-se de procedimento dependente de acusação
e de devassa da vida privada, antes da audiência, ou particular haverá sempre acesso aos autos para efeitos
mesmo depois, se o ofendido for menor de 16 anos, a não de dedução da acusação.
ser que se verifiquem as circunstâncias mencionadas no
nº 1 do artigo seguinte. Artigo 115.º

6. O tribunal poderá, verificando-se as circunstâncias Acesso às provas por arguido detido ou preso
descritas no artigo 10º, ou em caso de processo por crimes 1. O juiz autorizará ao arguido a quem seja aplicada
sexuais que tenha por ofendido um menor de dezasseis medida de prisão preventiva e que o requeira para efeitos
anos ou crime de tráfico de órgãos humanos e tráfico de de impugnação em sede de recurso, o acesso às provas que
pessoas, ordenar a restrição, total ou parcial, da publicidade fundamentaram a confirmação da detenção ou aplicação
de ato processual, restrição que nunca poderá abranger judicial da medida e, bem assim, àquelas que lhe permitam
a leitura de sentença final. contrariar os fundamentos da mesma decisão.
3 703000 000000

7. Não implica restrição de publicidade qualquer decisão 2. O requerimento a que se refere o número antecedente
do juiz ou do agente do Ministério Público de impedir a especificará a que elementos de prova é que o arguido
assistência de pessoa a todo ou a parte de acto processual pretende aceder e o pedido será apreciado com urgência,
público, no quadro das atribuições relativas à manutenção sem suspensão do andamento do processo.
da ordem e disciplina no decurso de actos processuais.
Artigo 112.º 3. Em caso de deferimento do pedido, o acesso às provas
será obtida mediante entrega pela secretaria ao arguido
Conteúdo e vinculação ao segredo de justiça ou seu defensor de cópia das correspondentes peças do
processo, recaindo sobre o requerente o encargo pelas
1. O segredo de justiça implicará: custas e ficando ele sob o dever de sigilo, nos termos do
a) A proibição de assistência à prática ou tomada de artigo 113.º.
conhecimento do conteúdo de acto processual 4. Não sendo deferido o pedido de acesso às provas, o
ao qual não se tenha o direito ou o dever de recurso contra a respectiva decisão apenas seguirá com o
assistir; que vier a ser interposto contra o despacho de confirmação
b) A proibição de divulgação, pelas pessoas a ele da detenção ou da aplicação da medida de prisão.
vinculados, da ocorrência de acto processual 5. É correspondentemente aplicável ao arguido que
ou dos seus termos. obtenha o acesso ás provas nos termos do presente artigo,
2. O segredo de justiça vincula as autoridades judiciárias, o disposto no nº 3.º do artigo 117.º.
os órgãos de investigação criminal, os sujeitos processuais, 6. Poderá o juiz que autorizar o acesso às provas
bem como, as pessoas que forem chamadas, a qualquer mandar omitir, na cópia destinada ao requerente, a
título, a intervir no processo. identificação do denunciante e das testemunhas e, bem
3. A violação do segredo de justiça pelas pessoas a ele assim, a proveniência de documentação contida no
vinculado é punida nos termos da lei penal. processo, quando tiver fundadas razões para crer que tal
omissão se mostra aconselhável para garantir a segurança
Artigo 113.º desses intervenientes, ou para evitar que possam eles
Divulgação de peças processuais ou da identidade do arguido
ser coagidos pelo arguido a modificarem ulteriormente
o seu depoimento.
É proibida, sob cominação de desobediência qualificada, Artigo 116.º
salvo outra incriminação estabelecida em lei especial:
Alargamento excepcional da publicidade
a) A divulgação ou publicitação, ainda que parcial
ou por resumo, por qualquer meio, de atos ou 1. A autoridade judiciária competente poderá autorizar
peças processuais quando cobertos pelo segredo ou ordenar, excepcionalmente, que seja divulgado o teor
de justiça; de actos processuais em segredo de justiça, ou que dele
seja dado conhecimento a determinadas pessoas, ou,
b) A divulgação ou publicitação, por qualquer meio, ainda, que sejam prestados esclarecimentos públicos,
de identidade, fotografias ou imagens de vítimas se tal for exigido pelo interesse do arguido, da vítima do
de crimes sexuais, de tráfico de órgãos humanos, facto punível, da manutenção da ordem pública ou da

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1196 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

própria investigação, nomeadamente nos casos em que a) Ao surdo formulam-se as perguntas por escrito,
decorrem investigações jornalísticas paralelas. respondendo ele oralmente;
2.Poderá ainda a autoridade referida no número b) Ao mudo formulam-se as perguntas oralmente,
antecedente autorizar a passagem de certidão em que respondendo ele por escrito;
seja dado conhecimento de teor de acto ou documento em
segredo de justiça, desde que necessária a processo de c) Ao surdo-mudo formulam-se as perguntas por
natureza criminal ou à instrução de processo disciplinar, escrito, respondendo ele também por escrito.
bem como à dedução de pedido de indemnização civil. 2. Se o surdo, o mudo ou o surdo-mudo não souberem ler
Artigo 117.º ou escrever, a autoridade competente nomeia intérprete
idóneo, escolhido de preferência entre pessoas habituadas
Consulta de auto e obtenção de cópia ou certidão noutros
casos a lidar com ele, o mesmo sucedendo se as declarações
deverem ser prestadas em audiência e o juiz considerar
1. Qualquer pessoa que nisso revelar interesse legítimo preferível a intervenção de intérprete.
pode pedir que seja admitido a consultar auto de um
processo que não esteja em segredo de justiça e que lhe 3. O disposto nos números antecedentes é correspondentemente
seja fornecida, à sua custa, cópia, extracto ou certidão aplicável aos requerimentos orais, à prestação de juramento,
de uma parte dela. às advertências e admoestações.
Artigo 120.º
2. Sobre o pedido decide, por despacho, a autoridade
judiciária que presidir à fase em que se encontra o processo Requisitos formais dos actos escritos
ou que nela tiver proferido a última decisão.
1. Os actos e certidões do processo serão escritos de modo
3. A permissão de consulta do auto e de obtenção de que sejam perfeitamente legíveis, não contendo espaços
cópia, extracto ou certidão realiza-se sem prejuízo de em branco que não sejam inutilizados, nem entrelinhas,
proibição, que no caso se verificar, de narração dos actos rasuras ou emendas que não sejam ressalvadas.
processuais ou de reprodução dos seus termos através
dos meios de comunicação social. 2. Poderão ser utilizados máquinas de escrever ou
processadores de texto, caso em que serão rubricadas todas
TÍTULO II as folhas, fazendo-se menção, antes da assinatura, de que
Forma dos actos e sua documentação o documento foi integralmente revisto e identificando-se
a entidade que o elaborou.
Artigo 118.º
3. Poderão igualmente ser utilizados modelos impressos
Língua dos actos e nomeação de intérprete ou carimbos, que serão devidamente preenchidos ou
3 703000 000000

1. Nos actos processuais escritos utilizar-se-á a língua completados, rubricados e assinados por quem os deva
portuguesa. escrever

2. Nos actos processuais orais poder-se-á ainda utilizar 4. Em caso de manifesta ilegibilidade do documento,
a língua materna cabo-verdiana. qualquer participante processual interessado poderá solicitar,
sem encargos, a respectiva transcrição dactilográfica ou
3. Para a redução a escrito de declarações prestadas por forma equivalente.
em que não tenha sido utilizada a língua portuguesa, Artigo 121.º
será obrigatório nomear intérprete, salvo se tiver sido
utilizada a língua materna cabo-verdiana, caso em que Abreviaturas
a nomeação de intérprete apenas se fará mostrando-se
tal necessário, nomeadamente por haver interveniente Nos autos, termos e certidões do processo poderão ser
processual que desconheça aquela língua. utilizadas abreviaturas, desde que tenham significado
inequívoco.
4.Quando houver de intervir no processo pessoa que Artigo 122.º
não conhecer ou não dominar a língua de comunicação,
é nomeado, sem encargo para ela, intérprete idóneo, Data e local dos actos processuais
ainda que a entidade que preside ao acto ou qualquer
dos participantes processuais conheçam a língua por 1. As datas e os números poderão ser escritos por
aquela utilizada. algarismos, ressalvada a indicação por extenso quando
lhes estejam ligados ou traduzam direitos ou deveres.
5. Será igualmente nomeado intérprete quando se tornar
necessário traduzir documentos em língua não oficial e 2. É obrigatória a menção do dia, mês, ano e lugar da
desacompanhados de tradução autenticada. prática do acto, bem como, tratando-se de acto que afecte
liberdades fundamentais das pessoas ou para o qual a
6. O intérprete é nomeado por autoridade judiciária ou lei tal exija, da hora da sua ocorrência, com referência
autoridade de polícia criminal. ao momento do respectivo início e conclusão.
7. Ao desempenho da função de intérprete será 3. Se a lei prescrever, para a falta de indicação de data
correspondentemente aplicável o disposto nos artigos ou lugar do acto, nulidade ou irregularidade tal vício
205.º, 206.º, 207.º, 209.º n.º1, e 218.º. apenas subsistirá se dos próprios elementos contidos no
acto não resultar com segurança aquela indicação.
8. Sem prejuízo do disposto nos artigos 151.º e seguintes,
a inobservância do estatuído nos n.ºs 1 e 2 do presente Artigo 123.º
artigo implica nulidade. Assinatura
Artigo 119.º
1. O escrito a que houver de reduzir-se um acto processual
Participação de surdo, mudo ou surdo-mudo em actos será, no final lido, e ainda que este deva continuar-se em
processuais momento posterior, assinado por quem a ele presidir,
por aquelas pessoas que nele tiverem participado e pelo
1. Quando um surdo, um mudo ou um surdo-mudo funcionário de justiça que tiver feito a redacção, sendo as
quiserem ou deverem prestar declarações, observam-se folhas que não contiverem assinatura rubricadas pelos
as regras seguintes: que tiverem assinado.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1197

2. As assinaturas e as rubricas são feitas pelo próprio 5. Poderá ser ainda utilizada a reprodução audiovisual,
punho, sendo, para o efeito, proibido o uso de quaisquer se tal se mostrar indispensável e tecnicamente possível.
meios mecânicos de reprodução. Artigo 127.º
3. No caso de qualquer das pessoas cuja assinatura Auto por súmula
for obrigatória não puder ou se recusar a prestá-la, a
autoridade ou o funcionário presentes declaram no auto 1. O juiz ou o agente do Ministério Público competente
essa impossibilidade ou recusa e o motivo que para elas poderá autorizar que se faça auto apenas por súmula, quando
tenha sido dado. os actos a serem documentados revelem simplicidade ou
diminuta relevância, ou, ainda, quando os meios técnicos
Artigo 124.º disponíveis sejam limitados.
Oralidade dos actos
2. Quando o auto se fizer por súmula, a autoridade que
1. Salvo disposição legal em contrário, a prestação de presidir ao acto velará por que a súmula corresponda
quaisquer declarações processar-se-á por forma oral, ao essencial do que se tiver passado ou das declarações
não sendo autorizada a leitura de documentos escritos prestadas, fazendo-se, se necessário para garantir a
previamente elaborados para aquele efeito. credibilidade do auto, a reprodução das partes essenciais
das declarações na sua genuína e directa expressão e a
2. A entidade que presidir ao acto poderá autorizar que indicação das circunstâncias em que foram feitas.
o declarante se socorra de apontamentos escritos como
adjuvantes da memória, fazendo consignar no auto tal 3. Em caso de alegada desconformidade entre o teor
circunstância. do que for ditado e o ocorrido, são feitas consignar as
declarações relativas à discrepância, com indicação das
3. No caso a que se refere o número antecedente deverão rectificações a efectuar, após o que a entidade que presidir
ser tomadas providências para defesa da espontaneidade ao acto profere, ouvidos os participantes processuais
das declarações feitas, ordenando-se, se for caso disso, a interessados que estiverem presentes, decisão definitiva
exibição dos apontamentos escritos, sobre cuja origem o sustentando ou modificando a redacção inicial.
declarante será minuciosamente perguntado.
Artigo 128.º
4. Os despachos e sentenças proferidos oralmente serão
Conteúdo do auto
consignados em auto.
5. O disposto nos números antecedentes aplicar-se-á 1. O auto deverá conter menção dos elementos seguintes:
sem prejuízo das normas relativas às leituras permitidas a) Lugar e data da prática do acto, incluindo a hora
e proibidas em audiência. em que se iniciou e findou;
6. Os atos processuais orais, ainda que tenham de ser b) Identificação das pessoas que intervieram no acto;
reduzidas a escrito, podem ser praticados ou realizados
3 703000 000000

através de videoconferência ou outros meios análogos, c) Causas, se conhecidas, da ausência das pessoas
designadamente quando a presença física implique a cuja intervenção no acto estava prevista;
deslocação para uma área judicial diferente daquela onde d) Descrição especificada das operações praticadas,
a pessoa visada se encontra, salvo quando a autoridade da intervenção de cada um dos participantes
judiciária determinar como sendo imprescindível essa processuais, das declarações prestadas, dos
presença. documentos apresentados ou recebidos e dos
Artigo 125.º resultados alcançados e de quaisquer outros
elementos que possam a garantir a genuína
Actos decisórios
expressão da ocorrência ou sejam relevantes para
1. Os actos decisórios dos juízes tomarão a forma de: apreciação da prova ou da regularidade do acto.
a) Sentenças, quando conhecerem a final do objecto 2. Relativamente às declarações, far-se-á sempre o
do processo; registo do modo como foram feitas, nomeadamente se de
forma espontânea ou a solicitação, reproduzindo-se, neste
b) Despachos, quando conhecerem de qualquer questão caso, os termos da solicitação ou pergunta.
interlocutória ou quando puserem termo ao processo
fora do caso previsto na alínea antecedente; 3. Far-se-á igualmente menção se a declaração foi ou
não ditada pelo próprio declarante e se este consultou ou
c) Acórdãos, quando se tratar de decisão de um não elementos escritos.
tribunal colegial.
Artigo 129.º
2. Os actos decisórios do Ministério Público tomarão a
Redacção e assinatura de auto
forma de despachos.
3. Os actos decisórios referidos nos números antecedentes 1. O auto será redigido pelo oficial de justiça ou pelo
obedecerão aos requisitos formais dos actos escritos ou funcionário de polícia criminal, consoante os casos, sob
orais, consoante o caso. a direcção da entidade que presidir ao acto.
Artigo 126.º 2. Quando o auto for redigido com uso de meios mecânicos,
a entidade que presidir ao acto poderá autorizar que o oficial
Modalidades de documentação dos actos processuais encarregado da redacção seja auxiliado por técnico estranho
1. Salvo disposição legal em contrário, os actos processuais aos serviços, mesmo tratando-se de serviços privados.
são documentados em auto. Artigo 130.º
2. O auto respeitante à audiência de julgamento Transcrição
denominar-se-á acta.
1. Quando forem utilizados meios estenográficos,
3. O auto será redigido na forma integral ou por estenotípicos ou outros diferentes da escrita comum,
súmula, com a utilização, sempre que possível, de meios o funcionário que deles se tiver socorrido, ou, na sua
estenográficos, estenotípicos ou outros meios mecânicos; não impossibilidade ou falta, pessoa idónea, fará a transcrição
sendo isso possível, poder-se-á fazer uso da escrita manual. no prazo mais curto possível, devendo a entidade que
4. Quando o auto é redigido por súmula, far-se-á presidiu ao acto certificar-se, antes da assinatura, da
igualmente, sendo possível, a reprodução fonográfica. conformidade da transcrição.

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© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida.

1198 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

2. As folhas estenografadas e as fitas estenotipadas TÍTULO III


ou gravadas serão apensas ao auto juntamente com Tempo dos actos
a transcrição, ou, se isto for impossível, devidamente
guardadas depois de seladas, numeradas e identificadas Artigo 135.º
com o processo a que se referem; de toda a abertura e Quando se praticam os actos
encerramento dos registos guardados será feita menção
no auto pela entidade que proceder à operação. 1. Os actos processuais praticam-se nos dias úteis,
Artigo 131.º às horas de expediente dos serviços de justiça e fora do
período de férias judiciais.
Declarações orais
2. Exceptuam-se do disposto no número antecedente,
Quando a lei não imponha a forma escrita, os intervenientes devendo ser praticados mesmo fora das horas de expediente
processuais farão as suas declarações, depoimentos ou e também aos sábados, domingos, dias feriados e de
requerimentos sob a forma oral, os quais serão documentados tolerância de ponto:
em auto, observando-se correspondentemente o disposto
nos artigos antecedentes. a) Os actos processuais relativos a arguidos detidos ou
presos, ou indispensáveis à garantia da liberdade
Artigo 132.º
das pessoas, ou, ainda, os que se mostrarem
Substituição de originais impostos por necessidade urgente;
1. Salvo quando a lei dispuser o contrário, se o original b) Os actos relativos às fases preliminares do processo
de sentença ou de outro acto processual, cuja utilização ou à audiência de julgamento, sempre que for
se mostre necessária ou útil, estiver, por qualquer causa, reconhecido, por despacho de quem a ela presidir,
destruído, total ou parcialmente, ou extraviado, e não vantagem em que o seu início, prosseguimento
for possível recuperá-lo, a cópia autêntica terá valor do ou conclusão ocorra sem aquelas limitações.
original e será colocada no lugar em que deveria estar
o original. c) Os atos em processos relativos a crimes de violência
baseada no género, crimes de maus tratos e
2. Para tal fim, o tribunal, oficiosamente ou a requerimento crimes sexuais contra a criança menores, crimes
do Ministério Público, do arguido, do assistente ou da parte de maus tratos a cônjuge ou unido de facto,
civil, ordenará por despacho que a pessoa ou entidade crimes de maus tratos a ascendente e pessoa
que detenha a cópia faça dela entrega na secretaria do em economia doméstica, preservando sempre
tribunal, sem prejuízo do direito dessa pessoa ou entidade os direitos de defesa do arguido e de proteção
de obter gratuitamente outra cópia autêntica. da vítima, bem como a salvaguarda dos seus
direitos à imagem, integridade física e psicológica,
3 703000 000000

Artigo 133.º
identidade e intimidade da vida privada.
Reconstituição de autos
3. O interrogatório do arguido não poderá, sob pena de
Se não for possível proceder nos termos dos números nulidade, ser efectuado entre as 0 e as 7 horas, salvo em
antecedentes, o tribunal mandará proceder à substituição acto seguido à detenção.
dos autos destruídos ou extraviados nos termos previstos
Artigo 136.º
na lei processual civil, com as seguintes especialidades:
Contagem dos prazos de actos processuais
a) Na conferência intervirão o Ministério Público, o
arguido, o assistente e a parte civil; 1. Os prazos processuais, salvo disposição especial
da lei em contrário, são contínuos, começando a correr
b) O acordo dos intervenientes, lavrado em auto, só independentemente de qualquer formalidade.
suprirá o processo em relação à matéria civil,
sendo meramente informativo em matéria penal. 2. Os prazos processuais serão fixados em horas, dias,
Artigo 134.º meses e anos, segundo o calendário comum.
Tribunal competente 3. O prazo que terminar em sábado, domingo, dia feriado
ou de tolerância de ponto será prorrogado até ao dia útil
Para efeitos do disposto nos artigos antecedentes será seguinte; se terminar no decurso de férias judiciais será
competente o tribunal em que o processo tiver corrido ou prorrogado até ao dia útil seguinte ao término daquelas
dever correr termos em primeira instância, ainda mesmo férias.
quando nele tiver havido algum recurso.
4. O prazo fixado em semanas, meses ou anos, a contar
Artigo 134.º-A de certa data, termina às 24 horas do dia que corresponda,
Manutenção da ordem nos actos processuais dentro da última semana, do último mês ou ano, a essa
data; se no último mês não existir dia correspondente, o
1. Compete às autoridades judiciárias, às autoridades prazo termina no último dia desse mês.
de polícia criminal e aos funcionários de justiça regular
os trabalhos e manter a ordem nos actos processuais a 5. Salvo disposição legal em contrário, na contagem
que presidirem ou que dirigirem, tomando as providências de qualquer prazo não se conta o dia, nem a hora, se o
necessárias contra quem perturbar o decurso dos actos prazo for de hora, em que tiver ocorrido o evento a partir
respectivos. do qual o prazo começa a correr.
2. Verificando-se, no decurso de um acto processual, 6. O prazo para fazer uma declaração, entregar um
a prática de qualquer infracção, a entidade competente, documento ou praticar outro qualquer acto na secretaria
nos termos do número 1, levanta ou manda levantar auto judicial considera-se esgotado no momento em que, segundo
e, se for caso disso, detém ou manda deter o agente para a lei ou os regulamentos, aquela fechar ao público.
efeito de procedimento. Artigo 137.º
3. Para manutenção da ordem nos actos processuais Prazo para a prática de actos
requisita-se, sempre que necessário, o auxílio da força
pública, a qual fica submetida, para o efeito, ao poder de 1. Salvo disposição legal em contrário, é de oito dias o
direcção da autoridade que presidir ao acto. prazo para a prática de qualquer acto processual.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1199

2. Verificando-se as circunstâncias referidas na parte 3. O Procurador-Geral da República profere despacho


final do nº 2 do artigo 279.º o prazo será de trinta dias. no prazo de cinco dias.
3. Os funcionários de justiça lavrarão os termos do 4. Se a decisão competir ao Conselho Superior da
processo e passarão os mandados no prazo de dois dias. Magistratura, uma vez distribuído o processo vai à
primeira sessão ordinária ou a sessão extraordinária se
4. O disposto no número antecedente não se aplicará nisso houver conveniência, e nela o relator faz uma breve
quando neste Código se estabelecer prazo diferente, nem exposição, em que conclui por proposta de deliberação.
quando houver arguidos detidos ou presos e o prazo ali Não há lugar a vistos, mas a deliberação pode ser adiada
fixado afectar o tempo de privação da liberdade; neste até dois dias para análise do processo.
último caso os actos serão praticados imediatamente e
com preferência sobre qualquer outro serviço. 5. A decisão é tomada, sem outras formalidades especiais,
no sentido de:
Artigo 138.º
a) Indeferir o pedido por falta de fundamento bastante
Renúncia ao decurso de prazo ou por os atrasos verificados se encontrarem
1. A pessoa em benefício da qual um prazo for estabelecido justificados;
poderá renunciar ao seu decurso, mediante requerimento b) Requisitar informações complementares, a serem
endereçado à autoridade judiciária que dirigir a fase do fornecidas no prazo máximo de cinco dias;
processo a que o acto respeitar.
c) Mandar proceder a inquérito em prazo que não pode
2. Se o prazo tiver sido estabelecido em benefício de exceder 15 dias sobre os atrasos e as condições
mais de uma pessoa, caberá a todas elas em conjunto em que se verificaram, suspendendo a decisão
decidir sobre a renúncia. até à realização do inquérito;
3. A autoridade referida no número antecedente decidirá d) Propor ou determinar as medidas disciplinares,
em vinte e quatro horas. de gestão, de organização ou de racionalização
Artigo 139.º
de métodos que a situação justificar;
Restituição de prazos e) Deferir o pedido, mandando proceder imediatamente
a prática do ato omitido em tempo útil, e para
1. Os actos processuais só poderão ser praticados efeitos do cumprimento do prazo processual e
fora dos prazos estabelecidos por lei, por despacho da realização da fase processual em atraso;
autoridade referida no artigo antecedente, a requerimento
do interessado e ouvidos os outros sujeitos processuais a 6. A decisão é notificada ao requerente e imediatamente
quem o caso respeitar, desde que se prove caso fortuito comunicada ao tribunal ou à entidade que tiver o processo
a seu cargo. É-o igualmente às entidades com jurisdição
3 703000 000000

ou de força maior.
disciplinar sobre os responsáveis por atrasos que se
2. O requerimento referido no número antecedente é tenham verificado.
apresentado no prazo de cinco dias, contado da cessação TÍTULO IV
do facto constitutivo de caso fortuito ou de força maior.
Notificações
3. A autoridade que defira a prática de acto fora do Artigo 140.º
prazo procederá, na medida do possível, à renovação dos
actos aos quais o interessado teria o direito de assistir. Notificação

Artigo 139.º-A 1. A convocação para comparência ou participação


em qualquer acto processual e a transmissão do teor de
Aceleração de processo atrasado acto realizado ou de decisão proferida em processo será
1. Quando tiverem sido excedidos os prazos previstos efectuada por meio de notificação.
na lei para a duração de cada fase do processo, podem o 2. A notificação será executada por funcionário de
Ministério Público, o arguido, o assistente ou as partes justiça, agente policial ou outra autoridade a quem a lei
civis requerer a aceleração processual. confira tal competência, e tanto poderá ser precedida de
despacho de autoridade judiciária ou policial competente,
2. O pedido é decidido: como efectuada pela secretaria.
a) Pelo Procurador-Geral da República, se o processo 3. Na notificação dar-se-á conhecimento da decisão que
estiver sob a direcção do Ministério Público; a ordena e do fim da convocação, e, se o convocado for
b) Pelo Conselho Superior da Magistratura, se o arguido, será ainda a notificação feita com a obrigação
processo decorrer perante o tribunal ou o juiz. de apresentação de bilhete de identidade ou outro meio
legalmente admissível de identificação.
3. Encontram-se impedidos de intervir na deliberação Artigo 141.º
os juízes que, por qualquer forma, tiverem participado
no processo. Formas de notificação

Artigo 139.º- B 1. A notificação poderá ser feita por contato pessoal


com o notificando e no lugar onde este for encontrado,
Tramitação do pedido de aceleração por via postal, através de carta ou aviso registados ou
1. O pedido de aceleração processual é dirigido ao não, ou mediante editais e anúncios, correio eletrónico,
presidente do Conselho Superior da Magistratura, ou telecópia ou outros meios telemáticos.
ao Procurador-Geral da República, conforme os casos, 2. A convocação ou comunicação feita ao notificando
e entregue no tribunal ou entidade a que o processo presente a um acto processual pela entidade que a ele
estiver afecto. presidir valerá como notificação, desde que documentada
em auto.
2. O juiz ou o Ministério Público instruem o pedido com
os elementos disponíveis e relevantes para a decisão e 3. É tida como notificação ao próprio notificando:
remetem o processo assim organizado, em três dias, ao
Conselho Superior da Magistratura ou à Procuradoria- a) Aquela que é feita na pessoa, com residência ou
Geral da República. domicílio profissional na área de competência

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1200 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

territorial do tribunal, respetivamente indicada 2. Entre a data que se considera presumidamente feita
ou indicado pelo notificando para receber as a notificação e a data da realização do acto processual,
suas notificações pessoais; que é objecto de notificação, deve mediar um prazo de
sete dias.
b) Aquela que é feita na pessoa do advogado ou
defensor por ele indicado para receber as suas 3. Se a notificação tiver sido feita por via postal registada,
notificações pessoais; o rosto do sobrescrito ou do aviso deverá indicar com
precisão a natureza da correspondência, a identificação
c) A notificação edital nos casos de arguidos ausentes do tribunal ou do serviço remetente e as normas de
e noutros casos especialmente previstos neste procedimento referidas no número seguinte.
Código.
4. Se:
4. A notificação ao Ministério Público será efectuada
por termo no processo. a) O destinatário se recusar a assinar, o agente dos
serviços postais entregará a carta ou o aviso e lavrará
5. A notificação de quem estiver detida ou presa será nota do incidente, valendo o acto como notificação;
requisitada ao director do respectivo estabelecimento, que
a mandará executar por funcionário prisional através de b) O destinatário se recusar a receber a carta ou o
contacto pessoal com o notificando. aviso, o agente dos serviços postais lavrará nota
do incidente, valendo o acto como notificação;
6. A pessoa que, dependendo de superior hierárquico, tiver
sido notificada para comparecer em acto processual não c) O destinatário não for encontrado, a carta ou o
carece de autorização, mas deve informar imediatamente aviso serão entregues a pessoa que com ele
da notificação o seu superior e apresentarlhe documento habite ou trabalhe, fazendo os serviços postais
comprovativo da comparência. menção do facto;
d) Não for possível, pela ausência de pessoas ou por
7. Tratando-se de órgão de polícia criminal, a comparência outro qualquer motivo, proceder nos termos
é requisitada através dos serviços respectivos. das alíneas antecedentes, os serviços postais
Artigo 142.º cumprirão o disposto nos respectivos regulamentos.
Notificação a arguido, assistente ou parte civil Artigo 145.º

1. A notificação a arguido, assistente ou parte civil Notificação urgente por telefone ou outros meios
de telecomunicações
poderá ser feita, pelos meios previstos neste Código, ao
respectivo defensor ou advogado. 1. Em casos de manifesta urgência na convocação
de alguma pessoa, que não seja o arguido, para acto
3 703000 000000

2. Porém, deve ser feita na própria pessoa do arguido, processual, o tribunal, oficiosamente ou a requerimento,
assistente ou da parte civil, e igualmente ao respetivo poderá ordenar que a notificação seja substituída por
mandatário, a notificação da acusação, da dedução de pedido convocação telefónica, telegráfica ou por outro meio de
de indemnização civil, do despacho de pronúncia ou não- telecomunicação que assegure o conhecimento.
pronúncia ou do despacho materialmente equivalente, do
despacho que designa dia de julgamento e da decisão penal, 2. Da convocação telefónica lavrar-se-á cota no processo,
bem como do despacho relativo à aplicação de medida de sendo registados o número de telefone chamado, o nome,
coação pessoal ou de garantia patrimonial, contando-se as funções ou a ocupação da pessoa que atendeu a
o prazo para a prática de ato processual subsequente a chamada, a sua relação com o notificando, o dia e a hora
partir da data da notificação feita em último lugar. do telefonema.
3. Nas situações previstas no número anterior, quando não 3. A entidade que efectuar a chamada deverá identificarse
for possível notificar pessoalmente o arguido, o assistente e dar conta das funções ou do cargo que exerce, bem como
ou a parte civil na residência declarada no processo ou dos elementos que permitam ao notificando inteirarse
noutro local especialmente, também nele indicado, para do acto para que é convocado e efectuar, caso queira,
receber as notificações que legalmente devem ser feitas a contraprova de que se trata de telefonema oficial e
na sua própria pessoa, ordenar-se-á a notificação edital, verdadeiro, e, ainda, advertir a pessoa chamada para
nos termos deste Código. o facto de o telefonema constituir para todos os efeitos
como notificação.
4. O arguido, o assistente ou a parte civil ou quem
tenha legitimidade para se constituir como parte civil 4. A chamada será feita para o domicílio ou o local de
ou assistente, quando não residem na área da sede do trabalho do notificando, ou, ainda, para o local de sua
tribunal, devem obrigatoriamente, na sua primeira temporária residência, não valendo como notificação se
intervenção processual, escolher o domicílio para receber ela não for atendida pelo notificando ou por quem com
as notificações que legalmente devem ser feitas na sua ele viva ou resida, ainda que temporariamente.
própria pessoa, sob pena de ser efetuada a notificação 5. Verificando-se os requisitos mencionados nos
edital, nos termos deste Código. números antecedentes, a convocação telefónica valerá
Artigo 143.º como notificação a contar da data de sua realização, desde
que confirmada de seguida por telegrama, telex, telefax
Casos de notificação por via postal simples ou qualquer outro meio escrito.
Quando a notificação se destinar a convocar pessoa Artigo 146.º
que não seja arguido, assistente ou parte civil, poderá
Notificação por editais e anúncios
ser feita por via postal.
Artigo 144.º 1. A notificação por editais e anúncios far-se-á mediante
a publicação de editais e anúncios no Diário da Justiça
Regime da notificação por via postal Eletrónico, e sua afixação na porta do tribunal e no lugar
destinado para o efeito pelo órgão executivo do poder
1. Quando a notificação for feita por via postal, ela local respetivo.
presumir-se-á feita no sexto ou no oitavo dia útil posterior
ao envio, consoante haja ou não registo, devendo a 2. Na impossibilidade de notificar por meio do Diário
cominação constar do acto de notificação. da Justiça Eletrónico, a publicação referida no número

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1201

anterior far-se-á em dois números seguidos de um dos testemunhas, aplicando-se sempre as regras de avaliação
jornais de maior circulação na localidade da última previstas neste Código.
residência do arguido ou do País e de sua afixação na
TÍTULO V
porta do tribunal e no lugar destinado para o efeito pelo
órgão executivo do poder local respetivo. Nulidades, irregularidades e demais excepções
Artigo 147.º CAPÍTULO I
Comunicação entre serviços de Justiça e entre outras
autoridades Nulidades
1. A comunicação entre vários serviços de Justiça e Artigo 150.º
entre as autoridades judiciárias e os órgãos ou autoridades Princípio da legalidade
policiais efectuar-se-á mediante:
1. A violação ou a inobservância das disposições da
a) Mandado: quando se determinar a prática de acto lei processual penal só determinará a nulidade do acto
processual a uma entidade com um âmbito de quando ela for expressamente cominada na lei.
funções situado dentro dos limites da competência
territorial da entidade que proferir a ordem; 2. Com ressalva das situações de inexistência jurídica
do acto, nos casos em que a lei não cominar a nulidade,
b) Carta: quando se tratar de acto a praticar fora o acto ilegal será irregular.
daqueles limites. Esta será precatória ou rogatória,
conforme o acto deva ser praticado no território Artigo 151.º
nacional ou no estrangeiro; Nulidades insanáveis
c) Ofício, aviso, carta, telegrama, telex, telefax, Constituem nulidades insanáveis, que devem ser
comunicação telefónica ou qualquer outro meio oficiosamente declaradas em qualquer fase do procedimento,
de telecomunicação: quando estiver em causa além das que como tal forem cominadas noutras disposições
um pedido de notificação ou qualquer outro legais, as que constituam violação das disposições relativas a:
tipo de transmissão de mensagens.
a) Competência do tribunal e número de juízes que o
2. A comunicação telefónica é sempre seguida de devam constituir, ou, ainda, o modo de determinar
confirmação por qualquer meio escrito. a respectiva composição;
Artigo 148.º
b) Iniciativa do Ministério Público no exercício da
Falta injustificada de comparecimento acção penal e sua participação obrigatória em
1. Toda a pessoa devidamente notificada que não actos de processo;
3 703000 000000

comparecer no dia, hora e local designados, nem justificar c) Competência das autoridades e agentes policiais;
a falta, será condenada ao pagamento de uma quantia
entre dois mil a trinta mil escudos. d) Obrigatoriedade de presença ou intervenção do
arguido e/ou do seu defensor em acto processual
2. Sem prejuízo do disposto no número anterior, o designadamente a sua audição prévia antes
juiz ou o Ministério Público pode ordenar, oficiosamente da acusação;
ou a requerimento, a detenção de quem tiver faltado
injustificadamente, pelo tempo indispensável à realização e) Proibições de métodos e meios de obtenção de prova;
da diligência e, bem assim, condenar o faltoso ao pagamento
das despesas ocasionadas pela sua não comparência. f) Obrigatoriedade de designação de intérprete;
3. A justificação é requerida até cinco dias após a falta, g) Obrigatoriedade de realização de fase processual;
não se executando a condenação até que tenha decorrido h) Notificação da acusação, do despacho de pronúncia
esse prazo. Se a justificação se fizer e for aceite, declararse- ou despacho materialmente equivalente;
á sem efeito a condenação.
4. O requerimento deverá, sempre que possível, ser i) Publicidade da audiência;
logo acompanhado dos elementos de prova respectivos, j) Casos em que cabe o emprego de forma de processo
não podendo ser indicadas mais de três testemunhas. comum e, não, uma das formas de processo especial;
5. Se a falta for cometida pelo Ministério Público ou por k) Falta de audição prévia do arguido antes da acusação.
advogado constituído ou nomeado no processo, dela é dado
conhecimento, respectivamente, ao superior hierárquico Artigo 152.º
ou ao organismo representativo da profissão. Nulidades dependentes de arguição
6. Provada a impossibilidade ou grave inconveniência no 1. Qualquer nulidade diversa das referidas no artigo
comparecimento, poderá o faltoso ser ouvido no local onde antecedente deverá ser arguida pelos interessados e
se encontrar, sem prejuízo da realização do contraditório ficará sujeita à disciplina prevista neste artigo e no
legalmente admissível no caso. artigo seguinte.
Artigo 149.º
2. Constituem nulidades dependentes de arguição,
Atestado médico além das que forem cominadas noutras disposições legais:
1. Se, para a falta de comparecimento, for invocada a) O emprego de uma forma de processo quando a lei
doença, o interessado deverá apresentar atestado médico determinar a utilização de outra, sem prejuízo
que descreva sumariamente o estado de saúde e as razões do disposto na alínea j) do artigo antecedente;
que impossibilitam o comparecimento, bem assim o
tempo previsível de impedimento, podendo porém o valor b) A ausência, por falta de notificação, do assistente
probatório do atestado ser abalado por qualquer meio de ou da parte civil, nos casos em que a lei exigir
prova admissível. a respectiva comparência;
2. Não sendo possível a apresentação de atestado médico, c) A insuficiência da investigação nas fases preliminares
será admissível outro meio de prova, nomeadamente, do processo, por não terem sido praticados actos

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1202 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

legalmente obrigatórios, ou a omissão posterior de 3. A declaração de nulidade não obstará ao aproveitamento


diligências que, pudessem reputar-se, essenciais de todos os actos que ainda puderem ser salvos do efeito
para a descoberta da verdade; daquela.
d) A não observância dos requisitos da acusação, nos Artigo 155.º
termos do artigo 321.º; Irregularidades
e) O despacho de pronúncia na parte em que pronuncia 1. Qualquer irregularidade do processo só determinará
o arguido por factos que, relativamente aos que a invalidade do acto a que se refere e dos termos
constam da acusação do Ministério Público ou subsequentes que possa afectar quando tiver sido arguida
do assistente, ou, ainda, do requerimento para a pelos interessados no próprio acto ou, se a este não tiverem
audiência contraditória preliminar, constituam assistido, nos três dias seguintes a contar daquele em que
crime diverso ou agravem os limites máximos tiverem sido notificados para qualquer termo do processo
da pena aplicável. ou intervindo em algum acto nele praticado.
3. As nulidades referidas nos números antecedentes 2. Poderá ordenar-se oficiosamente a reparação de
deverão ser arguidas: qualquer irregularidade, no momento em que da mesma
se tomar conhecimento, quando ela puder afectar o valor
a) Tratando-se de nulidade de acto a que o interessado do acto praticado.
assista, antes que o acto esteja terminado;
CAPÍTULO II
b) Tratando-se da nulidade prevista na alínea b)
do número antecedente, até cinco dias após a Excepções
notificação do despacho que designar dia para Artigo 156.º
a audiência;
Enumeração e remissão
c) Tratando-se da nulidade respeitante à instrução
ou à audiência contraditória preliminar, até ao 1. São excepções, para além das previstas na lei e
encerramento desta ou, não havendo lugar a noutros capítulos deste Código:
aquela audiência, até cinco dias após a notificação a) A ilegitimidade do Ministério Público e do assistente;
do despacho que tiver encerrado a instrução;
b) A incompetência do tribunal;
d) Tratando-se da nulidade referida na alínea d),
até cinco dias após a data da notificação da c) A litispendência;
acusação, sem prejuízo do disposto sobre a
rejeição da acusação pelo juiz de julgamento; d) O caso julgado;
3 703000 000000

e) Tratando-se da nulidade referida na alínea e), no e) A prescrição do procedimento criminal.


prazo de cinco dias a contar da data de notificação 2. Em tudo quanto não contrariar as disposições
do despacho; seguintes ou outras do presente Código, particularmente
f) Logo no início da audiência nas formas de processos as que respeitam às nulidades, aplicar-se-á às excepções
especiais. o disposto nas leis do processo civil compatíveis com a
natureza do processo penal e seus princípios.
Artigo 153.º
Artigo 157.º
Sanação de nulidades
Quem poderá deduzir as excepções
1. Salvo disposição legal em contrário, as nulidades As excepções enumeradas no artigo antecedente deverão
ficarão sanadas se os participantes processuais interessados: ser deduzidas pelo Ministério Público e poderão sê-lo pelo
a) Renunciarem expressamente a argui-las; assistente e pelo arguido, devendo também os tribunais
conhecer delas oficiosamente.
b) Tiverem aceite expressamente os efeitos do acto Artigo 158.º
anulável;
Quando poderão ser deduzidas
c) Se tiverem prevalecido de faculdade a cujo exercício
o acto anulável se dirigia. As excepções poderão ser deduzidas e conhecidas em
qualquer altura do processo até ao trânsito em julgado da
2. As nulidades respeitantes a falta ou a vício de decisão final, salvo o caso de incompetência do tribunal
notificação ou de convocação para acto processual ficarão em razão do território, que deverá ser deduzida até ao
sanadas se a pessoa interessada comparecer ou renunciar início da audiência de julgamento em primeira instância.
a comparecer ao acto.
Artigo 159.º
3. Ressalvam-se do disposto no número antecedente Modo de dedução
os casos em que o interessado comparecer apenas com a
intenção de arguir a nulidade. 1. Quem deduzir uma excepção deverá oferecer logo os
meios de prova, sem prejuízo de o juiz poder ordenar as
Artigo 154.º
diligências que se mostrarem necessárias.
Efeitos da declaração de nulidade
2. Deduzida a excepção, serão ouvidos a parte contrária
1. As nulidades tornarão inválido o acto em que se e o Ministério Público, se não for ele o requerente, para,
verificarem, bem como os que dele dependerem e aquelas no prazo de três dias, dizerem o que se lhes oferecer,
puderem afectar. seguindo-se a produção da prova.
2. A declaração de nulidade determinará quais os actos 3. As excepções de litispendência e de caso julgado
que passam a considerar-se inválidos e ordena, sempre que apenas poderão provar-se por documentos.
necessário e possível, a sua repetição, pondo as despesas
respectivas a cargo do arguido, do assistente ou da parte 4. A prova testemunhal apenas será admitida em
civil que tenha dado causa, ilícita e culposamente, à primeira instância, não podendo produzir-se mais de três
nulidade. testemunhas por cada facto útil para se decidir a excepção

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1203

e, se for deduzida depois do despacho de pronúncia ou do Artigo 165.º


que designa dia para julgamento, serão as testemunhas Caso julgado por falta de tipicidade ou extinção da acção
ouvidas na audiência de julgamento.
5. A prova testemunhal será reduzida a escrito, mas 1. Se, num processo penal, se decidir que os factos
poderá ser dispensada se o juiz reputar suficiente a constantes dos autos não constituem um facto punível, ou
constante dos autos. que a acção penal se extinguiu quanto a todos os agentes,
não poderá propor-se nova acção penal pelos mesmos
6. O tribunal conhecerá da excepção logo que se factos contra pessoa alguma.
produzam as provas.
2. Se o tribunal decidir que não há prova bastante da
Artigo 160.º
existência de qualquer facto punível, não poderá prosseguir
Efeitos da ilegitimidade para o exercício da acção penal o processo com a mesma prova contra qualquer arguido.
1. Se a excepção de ilegitimidade para o exercício da Artigo 166.º
acção penal for julgada procedente antes do julgamento,
o processo apenas poderá prosseguir se intervier pessoa Força de caso julgado de decisão prejudicial não penal
com legitimidade para assegurar aquele exercício. No caso previsto no artigo 30.º, a decisão proferida
2. Se a excepção for julgada procedente com o fundamento pelo tribunal não penal constituirá caso julgado para a
em falta de queixa ou participação que legitime o exercício acção penal que dessa decisão ficou dependente, ainda
da acção penal, o processo será arquivado, a não ser que que as partes do processo em que teve lugar não sejam
as pessoas que tenham aquela legitimidade declararem as mesmas do processo penal cuja suspensão se ordenou.
que dele se tome conhecimento em juízo. Artigo 167.º
3. Se, com o fundamento mencionado no número Caso julgado de decisão penal condenatória
antecedente, for julgada procedente a excepção na sentença
final, será o arguido absolvido da instância. 1. A condenação definitiva proferida na acção penal
4. Quando a prossecução do processo penal não depender constituirá caso julgado relativamente à existência e
de acusação particular, se for admitido como assistente quem qualificação do facto punível e à determinação dos seus
não o deva ser, será julgado parte ilegítima, mas apenas agentes, mesmo nas acções não penais em que se discutam
serão anulados os actos do processo que exclusivamente direitos ou interesses legítimos cujo reconhecimento
lhe digam respeito ou os que, tendo sido por ele requeridos, dependa da existência da infracção.
não sejam ratificados pelo Ministério Público ou julgados 2. O disposto no número antecedente não obstará a
necessários para o apuramento da verdade. que, por meio de nova acção penal, sejam perseguidos
Artigo 161.º criminalmente outros agentes do mesmo facto punível
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Conhecimento e dedução da incompetência que não tenham sido pronunciados ou sujeitos a despacho
materialmente equivalente no mesmo ou em outro processo.
Sem prejuízo do disposto no artigo 158.º, a incompetência
do tribunal será por este conhecida e declarada oficiosamente Artigo 168.º
e poderá ser deduzida pelo Ministério Público, pelo Caso julgado em caso de absolvição
arguido ou pelo assistente até ao trânsito em julgado da
decisão final. 1. Quando se tenha decidido que, o arguido não praticou
Artigo 162.º certos factos ou que não é por eles responsável, que a
acção penal respectiva se extinguiu ou que há falta ou
Efeitos da declaração de incompetência insuficiência de provas, e, por isso, seja absolvido, não
1. Declarada a incompetência, o processo será remetido poderá propor-se contra ele nova acção penal por infracção
para o tribunal competente, se for cabo-verdiano, o qual constituída, no todo ou em parte, pelos factos de que foi
anulará apenas os actos que se não teriam praticado se acusado e por que respondeu, ainda que se lhe atribua
perante ele tivesse corrido o processo e ordenará a repetição comparticipação de diversa natureza.
de quaisquer actos que tenham sido praticados pelo tribunal
incompetente e possam influir na decisão da causa. 2. É correspondentemente aplicável o disposto no n° 1 do
artigo antecedente às decisões absolutórias relativamente
2. As medidas de coacção pessoal ou de garantia patrimonial à inexistência do facto punível ou à sua não imputação
ordenadas pelo tribunal declarado incompetente devem ao arguido.
ser convalidadas ou infirmadas pelo tribunal competente.
Artigo 169.º
3. Se para conhecer de um crime não forem competentes
Eficácia da sentença penal no processo disciplinar
os tribunais de Cabo Verde, o processo será arquivado,
sem prejuízo do disposto nas convenções ratificadas por A sentença penal definitiva de absolvição terá força
Cabo Verde. de caso julgado em processo disciplinar relativamente
Artigo 163.º às circunstâncias referidas no n°2 do artigo antecedente.
Actos processuais urgentes Artigo 170.º
O tribunal perante o qual se suscitar a questão de Eficácia de caso julgado de sentença penal que conheça
incompetência praticará os actos processuais urgentes. de pedido civil
Artigo 164.º
A sentença penal, ainda que absolutória, que conhecer
Litispendência do pedido civil ou oficiosamente arbitre uma indemnização
1. Mostrando-se que, em outro tribunal, corre, contra pelos danos causados pelo crime, constituirá caso julgado
o mesmo arguido um processo penal pelo mesmo facto nos termos em que a lei atribui eficácia de caso julgado
punível, suspender-se-á a marcha do processo até que se às sentenças civis.
averigúe em que tribunal deverá o processo ter andamento. Artigo 171.º
2. Quando se conclua que deve preferir outro tribunal, Irregularidade na nomeação de defensor e mandatário
ou, quando, no caso de conflito de competências, assim
se tenha decidido, será o processo remetido para esse Se no processo tiver figurado como mandatário do
tribunal. arguido ou do assistente quem não tenha sido legalmente

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1204 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

constituído ou oficiosamente nomeado, serão declarados ou condicionar a sua liberdade de autodeterminação, a


sem efeito os actos por ele requeridos, podendo, no perturbar ou alterar a sua capacidade de memória ou
entanto, o arguido e o assistente, em qualquer momento de avaliação de factos, ou, em geral, através de ofensa à
do processo e até à sentença final, ratificar tais actos integridade física ou moral da pessoa.
praticados em seu nome.
2. São nulas, nomeadamente, as provas obtidas através de:
Artigo 172.º
a) Tortura, coacção física ou moral, maus-tratos, ofensas
Prescrição do procedimento criminal corporais, produção de estados crepusculares,
administração de meios de qualquer natureza,
Os termos, prazos e efeitos da prescrição do procedimento uso de detectores de mentiras, narco-análise,
criminal, as causas de sua suspensão e interrupção e hipnose ou utilização de quaisquer meios cruéis
respectivos regimes e efeitos serão os estabelecidos na ou enganosos;
lei penal.
LIVRO II b) Ameaça com medida legalmente inadmissível e,
bem assim, com denegação ou condicionamento
PROVA da obtenção de benefício legalmente previsto;
TÍTULO I c) Promessa de vantagem legalmente inadmissível.
Disposições e princípios gerais 3. Ressalvados os casos previstos na lei, são igualmente
Artigo 173.º nulas as provas obtidas mediante intromissão na vida privada,
no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações
Objecto da prova sem o consentimento do respectivo titular.
Constituirão objecto da prova todos os factos juridicamente 4. A proibição de utilização da prova obtida pelos
relevantes para o apuramento da existência ou inexistência métodos referidos no presente artigo poderá ser declarada
do facto punível, a determinação da responsabilidade penal oficiosamente pelo tribunal, em qualquer estado ou fase
do arguido e da pena ou medida de segurança aplicável, do processo.
ou, ainda, a da responsabilidade civil conexa com a penal.
5. Se o uso dos métodos de obtenção de provas previstos
Artigo 174.º no presente artigo constituir crime, poderão aquelas
Liberdade e legalidade da prova ser utilizadas com o fim exclusivo de proceder contra os
agentes do mesmo.
Em processo penal a prova é livre, podendo ser feita por TÍTULO II
qualquer meio admitido em direito e sem dependência de
sua apresentação prévia, salvo disposição legal expressa
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Meios de prova
em contrário.
CAPÍTULO I
Artigo 175.º
Prova testemunhal
Produção de prova
Artigo 179.º
1. Sempre que o entender necessário para a descoberta Admissibilidade da prova testemunhal
da verdade e a boa decisão da causa, poderá o tribunal,
independentemente do oferecimento ou requerimento por 1. A prova testemunhal será admitida em todos os
parte de outros sujeitos processuais, ordenar a produção casos em que não seja directa ou indirectamente afastada.
de quaisquer meios de prova legalmente admissíveis.
2. Poderão ser ouvidas como testemunhas todas as
2. O tribunal dará disso conhecimento, com a antecedência pessoas que possam contribuir, com o seu depoimento,
possível, aos demais sujeitos processuais. para a descoberta da verdade, salvo se a lei dispuser
expressamente em contrário.
3. O requerimento de prova será indeferido quando a
Artigo 180.º
prova ou o respectivo meio não for legalmente admissível,
for notório que o requerimento tem finalidade meramente Objecto, extensão, regras e limites do depoimento
dilatória ou, ainda, quando a prova requerida for
manifestamente irrelevante ou o meio for manifestamente 1. A testemunha será inquirida pessoalmente sobre
inadequado ou de obtenção impossível ou muito duvidosa. factos que constituam objecto da prova.
Artigo 176.º 2. O depoimento da testemunha iniciar-se-á com a sua
identificação e poderá estender-se, antes da prestação de
Contraditoriedade da prova juramento, às relações de parentesco ou de interesses
Todo o elemento de prova apresentado deverá ser, que mantenha com o arguido, o ofendido, o assistente
nos termos e condições definidos no presente Código, ou outras testemunhas, bem assim às circunstâncias
submetido à regra do contraditório. cujo apuramento se mostre necessário para avaliar a
credibilidade do seu depoimento.
Artigo 177.º
3. Salvo disposição legal em contrário, a inquirição
Livre apreciação da prova sobre factos relativos à personalidade moral do arguido,
bem como às suas condições pessoais e à sua conduta
Salvo disposição legal em contrário, a prova será anterior, só será permitida na medida estritamente
apreciada segundo as regras da experiência e a livre indispensável para a prova de elementos constitutivos
convicção de quem, de acordo com a lei, a deve valorar. do crime, nomeadamente da culpa do agente, ou para a
Artigo 178.º verificação dos pressupostos de aplicação de medida de
coacção pessoal ou de garantia patrimonial.
Métodos proibidos de prova
4. O depoimento sobre factos relativos à personalidade
1. São nulas, não podendo ser utilizadas por qualquer moral ou às condições pessoais do ofendido apenas será
tribunal ou autoridade, as provas obtidas, mesmo com o admitido quando o facto imputado ao arguido deva ser
consentimento, expresso ou presumido da pessoa, mediante valorado com relação ao comportamento do ofendido.
processos e técnicas idóneos a neutralizar, restringir

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1205

5. A testemunha será inquirida sobre factos determinados, b) Quem tiver sido cônjuge do arguido ou quem com
não valendo como depoimento a reprodução de vozes ele tiver convivido em condições análogas às
correntes ou rumores públicos, nem as meras convicções de cônjuge, relativamente a factos ocorridos
pessoais, salvo se for impossível cindi-las dos factos durante o casamento ou a coabitação.
concretos objecto de depoimento.
2. O disposto no número antecedente deixará de ter
6. São proibidas perguntas sugestivas, impertinentes, aplicação no caso de o cônjuge ou quem viva em condições
vexatórias ou capciosas ou que, de qualquer forma, possam análogas às dos cônjuges, parente ou afim ter apresentado
prejudicar a espontaneidade ou sinceridade da resposta. denúncia ou queixa.
Artigo 181.º 3. A entidade competente para receber o depoimento
Depoimento indirecto advertirá, sob pena de nulidade, as pessoas referidas no
número antecedente da faculdade que lhes assiste de
1. Se o depoimento resultar do que se ouviu dizer a recusarem o depoimento.
pessoas determinadas, o juiz poderá, a requerimento ou
por iniciativa própria, chamar estas a depor; se o não fizer, Artigo 185.º
o depoimento produzido não poderá, naquela parte, servir Segredo profissional e de função
como meio de prova, salvo se a inquirição das pessoas
indicadas não for possível por morte, anomalia psíquica 1. Não poderão ser obrigados a depor sobre factos que
superveniente ou impossibilidade de serem encontradas. lhes tenham sido confiados ou de que tenham tomado
conhecimento por virtude do exercício de seu ministério,
2. O disposto no número antecedente aplicar-se-á ao caso profissão ou função:
em que o depoimento resultar da leitura de documento
da autoria de pessoa diversa da testemunha. a) Os ministros de confissão religiosa, cujos estatutos
3. As autoridades policiais não poderão depor sobre o ou fins não contrariem ou violem os fundamentos
conteúdo das declarações obtidas através de testemunhas. da ordem jurídica cabo-verdiana;

4. Não poderá, em caso algum, servir como meio de b) Os advogados, solicitadores, procuradores, notários,
prova o depoimento de quem recusar ou não estiver em médicos, auxiliares de medicina, farmacêuticos,
condições de indicar a pessoa ou a fonte através das quais jornalistas, membros de instituições de crédito e
tomou conhecimento dos factos. demais pessoas a quem a lei permitir ou impuser
que guardem segredo profissional;
Artigo 182.º
c) Os funcionários públicos relativamente a factos que
Capacidade para testemunhar
constituam segredo, nos termos da lei, ou que,
1. Qualquer pessoa que se não encontrar interdita por por obediência devida, não estão autorizados
3 703000 000000

anomalia psíquica tem capacidade para ser testemunha. a revelar.


2. Sempre que, para uma correcta avaliação do depoimento, 2. Havendo dúvidas fundadas sobre a legitimidade da
se mostre necessário verificar a aptidão física ou mental escusa, a autoridade judiciária perante a qual o incidente
de qualquer pessoa para prestar testemunho, poderá a se tiver suscitado procede às averiguações necessárias
autoridade judiciária, a requerimento ou oficiosamente, e, se após estas, concluir pela ilegitimidade da escusa,
ordenar a realização das indagações ou exames adequados, ordenará ou requererá ao tribunal que ordene a prestação
através dos meios legalmente consentidos. do depoimento.
3.As diligências referidas nos números antecedentes e 3. O tribunal superior àquele onde o incidente se tiver
ordenadas anteriormente ao depoimento não impedem suscitado, ou, no caso de o incidente se ter suscitado
que este se produza. perante o Supremo Tribunal de Justiça, o plenário deste
tribunal, poderá decidir da prestação do depoimento com
Artigo 183.º
quebra do segredo profissional ou de função sempre que
Incompatibilidades esta se mostre justificada face às normas e princípios
aplicáveis da lei penal.
1. Não poderão depor como testemunhas:
4. A intervenção prevista no número antecedente é
a) O arguido e o co-arguido no mesmo processo ou em suscitada pelo juiz, oficiosamente ou a requerimento, e
processo conexo, enquanto mantiverem aquela poderá ser precedida da audição de organismo representativo
qualidade; da profissão relacionada com o segredo em causa.
b) A pessoa que se tiver constituído assistente, a Artigo 186.º
partir do momento da constituição;
Segredo de Estado
c) A parte civil;
1. As testemunhas não poderão ser inquiridas sobre factos
d) Os peritos, em relação às perícias que tiverem que, de acordo com a lei, constituam segredo de Estado.
realizado no mesmo processo ou em processo
conexo. 2. Se a testemunha invocar segredo de Estado, deve este
ser confirmado, no prazo de trinta dias, por intermédio
2. Em caso de separação de processos, os arguidos de da autoridade legalmente competente; decorrido este
um mesmo crime ou de um crime conexo poderão depor prazo sem a confirmação ter sido obtida, o testemunho
como testemunhas, se nisso expressamente consentirem. deve ser prestado.
Artigo 184.º
Artigo 187.º
Recusa de depoimento
Informadores da polícia judiciária e fontes dos serviços
1. Poderão recusar-se a depor como testemunhas: de informações

a) O descendente, ascendente, irmão, afim até ao 2.º 1. O tribunal não poderá obrigar as autoridades e os
grau, adoptante, adoptado e cônjuge do arguido agentes da polícia judiciária, bem como o pessoal dos
e quem com ele viver em condições análogas serviços de informações militares ou civis, a revelar a
às de cônjuge; identidade das suas fontes.

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1206 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

2. Se tais agentes não forem inquiridos como testemunhas, 4. O juramento e o compromisso, uma vez prestados,
as informações por eles fornecidas não poderão ser não necessitam de ser renovados na mesma fase de um
admitidas e valoradas como prova. mesmo processo.
Artigo 188.º 5. Não prestam o juramento e o compromisso referidos
Imunidades e prerrogativas nos números anteriores:
1. Terão aplicação em processo penal as imunidades a) Quem ainda não tiver completado dezasseis anos
e prerrogativas estabelecidas na lei ou em convenções ao tempo da prática ou verificação dos factos
internacionais quanto ao dever de testemunhar e ao modo sobre que depõe;
e local de prestação dos depoimentos.
b) Os peritos e os intérpretes que forem funcionários
2. Ficará assegurada a possibilidade de realização do públicos e intervierem no exercício das suas
contraditório legalmente admissível no caso. funções.
Artigo 189.º Artigo 190.º
Direitos e deveres gerais da testemunha Redacção dos depoimentos
1. A testemunha tem direito, para além do que se As testemunhas terão a faculdade de ditar os seus
dispuser noutras disposições legais, de: depoimentos; se não usarem de tal faculdade ou o fizerem
a) Não responder a perguntas quando alegar que das de forma inconveniente, serão redigidos por quem presidir
respostas poderá resultar a sua responsabilização ao acto, conservando sempre que possível as próprias
penal; expressões, de maneira que possam compreender bem
o que ficou escrito.
b) Ser tratada com urbanidade durante o interrogatório; Artigo 191.º
c) Apresentar, para que sejam juntos ao processo ou Formalidades
devidamente acautelados, os objectos, documentos
ou outros meios de prova que possam corroborar 1. Os depoimentos serão escritos em auto e assinados
o seu depoimento; pela respectiva testemunha, assinando as demais pessoas
que o devam fazer no fim do auto.
d) Ser compensada, mediante requerimento seu, das
despesas feitas por causa exclusiva da prestação 2. Os depoimentos, antes de assinados, serão lidos
do depoimento. às testemunhas, fazendo-se, disso, menção no auto. As
2. Salvo disposição legal em contrário, incumbem à testemunhas poderão confirmar os seus depoimentos,
fazer-lhes acrescentos ou alterações.
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testemunha os deveres de:


Artigo 192.º
a) Se apresentar, no tempo e no lugar devidos, à
autoridade por quem tiver sido legitimamente Recusa a depor e depoimento falso
convocada ou notificada, mantendo-se à sua
disposição até ser por ela desobrigada e obedecer 1. Se a testemunha se recusar a depor, fora dos casos
às prescrições processualmente exigíveis; em que legalmente o possa fazer, será advertido pela
autoridade que presidir ao acto das consequências penais
b) Prestar juramento ou compromisso de honra, como de tal comportamento. Se persistir na recusa, será
desejar, se não estiver isento de o fazer; processado criminalmente pelo Ministério Público, que
de tal acto será informado caso a ele não assista.
c) Responder com verdade às perguntas que lhe forem
dirigidas. 2. O disposto no número antecedente é correspondentemente
aplicável aos casos em que a testemunha se recusa a
3. A testemunha que ainda não tiver completado prestar juramento ou compromisso de honra ou presta
dezasseis anos ao tempo da prática ou verificação dos depoimento falso.
factos sobre que depõe não prestará juramento.
4. Sempre que entender adequado, a autoridade judiciária CAPÍTULO II
pode determinar que durante na audição do menor de Declarações do arguido, do assistente
18 anos de idade haja intervenção ou a assistência de e das partes civis
médicos psicólogos ou outro especialista adequado ou de
pessoa de confiança do menor. Artigo 193.º

Artigo.º 189.º - A Regras gerais e remissão


Juramento e compromisso 1. As declarações do arguido só constituirão meio de
1. As testemunhas prestam o seguinte juramento ou prova quando decidir prestá-las, o que poderá fazer a todo
compromisso: «Juro, por minha honra, dizer toda a verdade o tempo até ao encerramento da audiência de julgamento.
e só a verdade» ou «Comprometo-me, por minha honra, 2. O arguido não prestará juramento ou compromisso
dizer toda a verdade e só a verdade.» de honra em caso algum.
2. Os peritos e os intérpretes prestam, em qualquer fase 3. Às declarações do arguido é correspondentemente
do processo, o seguinte compromisso: «Comprometo-me, aplicável o disposto no artigo 180.º, salvo disposição legal
por minha honra, a desempenhar fielmente as funções em contrário, para além das disposições do presente
que me são confiadas». Código sobre o estatuto do arguido.
3. O juramento ou compromisso referido no nº 1 é Artigo 194.º
prestado perante a autoridade judiciária competente e
o compromisso referido no número anterior é prestado Regra geral e remissão
perante a autoridade judiciária ou a autoridade de polícia
criminal competente, as quais advertem previamente 1. Ao assistente e à parte civil poderão ser tomadas
quem os dever prestar das sanções em que incorre se os declarações, a requerimento seu ou do arguido e sempre
recusar ou a eles faltar. que a autoridade judiciária o entender conveniente.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1207

2. O assistente e a parte civil não prestam juramento 3. São aplicáveis as disposições contidas nos números 2
ou compromisso de honra mas ficarão sujeitos ao dever e 3 do artigo antecedente.
de verdade e a responsabilidade penal pela sua violação. Artigo 199.º
3. A prestação de declarações pelo assistente e pela Reconhecimento de objectos
parte civil fica sujeita ao regime de prestação da prova
testemunhal, salvo no que lhe for manifestamente 1. Quando houver necessidade de proceder ao reconhecimento
inaplicável e no que a lei dispuser diferentemente. de qualquer objecto relacionado com o crime, proceder-
se-á de harmonia com o disposto no artigo 197.º, em tudo
CAPÍTULO III quanto for correspondentemente aplicável.
Prova por acareação
2. Se o reconhecimento deixar dúvidas, juntar-se-á o
Artigo 195.º objecto a reconhecer com pelo menos dois outros semelhantes
Pressupostos e perguntar-se-á à pessoa se reconhece algum de entre
eles e, em caso afirmativo, qual.
1. É admissível acareação entre co-arguidos, entre o
arguido e o assistente, entre testemunhas ou entre estas, 3. É correspondentemente aplicável o disposto no nº 3
o arguido e o assistente sempre que houver contradição do artigo197.º.
entre as suas declarações e a diligência se afigurar útil Artigo 200.º
à descoberta da verdade.
Pluralidade de reconhecimento
2. O disposto no número antecedente é correspondentemente
aplicável às partes civis. 1. Quando houver necessidade de proceder ao reconhecimento
da mesma pessoa ou do mesmo objecto por mais de uma
3. A acareação apenas será admitida entre pessoas já pessoa, cada uma delas fá-lo-á separadamente, impedindo-
inquiridas ou interrogadas. se a comunicação entre elas.
Artigo 196.º 2. Quando houver necessidade de a mesma pessoa reconhecer
Procedimento várias pessoas ou vários objectos, o reconhecimento será
feito separadamente para cada pessoa ou cada objecto.
1. A acareação terá lugar oficiosamente ou a requerimento.
3. É correspondentemente aplicável o disposto nos
2. A entidade que presidir à diligência esclarecerá aos artigos precedentes.
acareados os aspectos da contradição entre depoimentos
ou declarações, e depois solicita-lhes que os confirmem CAPÍTULO V
ou modifiquem ou contestem a posição contrária, Prova por reconstituição do facto
formulandolhes em seguida as perguntas que entender Artigo 201.º
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convenientes para o esclarecimento da verdade.


Pressupostos
CAPÍTULO IV
Prova por reconhecimento 1. Quando houver necessidade de determinar se um
facto poderia ter ocorrido de certa forma, será admissível
Artigo 197.º a sua reconstituição.
Actos preliminares
2. A reconstituição consistirá na reprodução, tão fiel
1. Quando houver necessidade de proceder ao reconhecimento quanto possível, da situação em que se afirma ou se supõe
de qualquer pessoa, solicitar-se-á à pessoa que deva fazer ter ocorrido o facto e na repetição do modo de realização
a identificação que a descreva, com indicação de todos do mesmo.
os pormenores de que se recorda; em seguida, ser-lhe-á Artigo 202.º
perguntado se já a tinha visto antes e em que condições,
inclusivamente através de fotografia ou meio afim; por Procedimento
último, ser-lhe-á perguntado se a pessoa a identificar já lhe 1. O despacho que ordenar a reconstituição do facto
tinha sido antes descrita ou indicada e interrogada sobre deverá conter uma indicação sucinta do seu objecto, do
outras circunstâncias que possam influir na credibilidade dia, hora e local em que ocorrerão as diligências e da
da identificação. forma da sua efectivação, eventualmente com recurso a
2. Proceder-se-á ao registo dos procedimentos e declarações meios audiovisuais.
mencionados no número antecedente. 2. No mesmo despacho ou noutro poderá ser designado
3. O reconhecimento que não obedecer ao preceituado perito para execução de operações determinadas.
neste artigo não terá valor de meio de prova. 3. A decisão sobre a publicidade da diligência ou sobre
Artigo 198.º o seu âmbito e limites deverá, na medida do possível, ser
Realização da prova por reconhecimento evitada, de forma a salvaguardar o regular cumprimento
do acto.
1. Se a identificação não for cabal ou consistente,
afastarse- á quem dever proceder a ela e chamam-se 4. Ao determinar as modalidades de efectivação das
pelo menos duas pessoas que apresentem as maiores diligências, o despacho poderá ordenar as medidas que
semelhanças possíveis, inclusive de vestuário, com a assegurem o respeito pelos sentimentos das pessoas
pessoa a identificar; esta última será colocada ao lado envolvidas e a observância da tranquilidade pública.
delas, devendo, se possível, apresentar-se nas mesmas CAPÍTULO VI
condições em que poderia ter sido vista pela pessoa que
procede ao reconhecimento; esta é então chamada e Prova pericial
perguntada sobre se reconhece algum dos presentes e, Artigo 203.º
em caso afirmativo, qual.
Objecto da prova pericial
2. Se houver razão para crer que a pessoa chamada a
fazer a identificação poderá ser intimidada ou perturbada 1. A prova pericial terá lugar quando a realização de
pela efectivação do reconhecimento e este não tiver lugar investigações, o conhecimento, a percepção ou a valoração
em audiência, deve o mesmo efectuar-se, se possível, sem dos factos exigirem especiais conhecimentos técnicos,
que aquela pessoa seja vista pelo identificando. científicos ou artísticos.

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1208 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

2. A missão do perito limitar-se-á ao exame de questões que incumbiam ao substituído, o juiz, oficiosamente ou a
técnicas, científicas ou artísticas. requerimento, condená-lo-á ao pagamento de uma soma
entre cinco mil e vinte mil escudos.
Artigo 204.º
Nomeação do perito 4. O perito será igualmente substituído quando for
aceite declaração de impedimento, escusa ou recusa.
1. A perícia será deferida a estabelecimento, laboratório
ou serviço oficial apropriados ou, quando tal não for possível 5. O perito substituído deverá pôr à disposição da
ou conveniente, por perito nomeado de entre pessoas autoridade judiciária competente a documentação e os
constantes de listas de peritos existentes no tribunal, ou, resultados das diligências entretanto já efectuadas.
na sua falta ou impossibilidade de resposta em tempo útil, Artigo 208.º
por pessoa de idoneidade moral e reconhecida competência
na matéria em causa. Despacho que ordena a perícia e a realização de diligências

2. O tribunal poderá deferir a perícia a várias pessoas, 1. A perícia será ordenada, oficiosamente ou a requerimento,
quando ela se mostrar de especial complexidade ou por despacho fundamentado, contendo a indicação da
importar o conhecimento de distintas matérias. instituição ou o nome dos peritos e a indicação sumária
do objecto da perícia, bem como, precedendo audição dos
Artigo 205.º peritos, sempre que possível, a indicação do dia, hora e
Incapacidades e incompatibilidades
local em que se efectivará.

Não poderão ser nomeados como peritos: 2. O despacho será notificado ao Ministério Público,
quando não for o seu autor, ao arguido, ao assistente e à
a) Os menores e os portadores de anomalia psíquica; parte civil, com a antecedência mínima de três dias sobre
a data indicada para a realização da perícia.
b) Os interditados ou suspensos do exercício de
função pública, profissão ou ofício, ainda que 3. Ressalvam-se do disposto no número antecedente
temporariamente, enquanto durar a interdição os casos:
ou a suspensão; a) Em que a perícia tiver lugar no decurso da instrução
c) Os que, de acordo com o presente Código, não e houver razões para crer que o conhecimento
possam depor como testemunha ou possam a dela ou dos seus resultados pelo arguido, pelo
tal escusar-se; assistente ou pela parte civil poderia prejudicar
as finalidades da instrução;
d) Os que tenham sido, no mesmo processo ou em
processo conexo, chamados a depor como b) Em que a perícia tiver lugar no decurso de instrução e
tenha sido deferida a estabelecimento, laboratório
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testemunha ou a servir de intérprete.


ou serviço oficial apropriados;
Artigo 206.º
c) Em que a perícia se revele de manifesta simplicidade;
Desempenho da função e regime de impedimentos,
recusa e escusa d) De urgência ou de perigo na demora.
1. O perito é obrigado a desempenhar a função para 4. Com o despacho que ordena a perícia ou por despacho
que tiver sido competentemente nomeado, salvo se posterior serão ordenadas as diligências necessárias
houver impedimento ou ocorrer algum dos motivos à comparência das pessoas envolvidas nos exames e à
legalmente previstos para a escusa ou recusa, aplicando- execução das operações periciais.
se correspondentemente as disposições sobre o regime de
impedimentos, recusas e escusas do juiz. Artigo 209.º
Procedimento
2. O perito nomeado poderá ainda alegar como escusa
a falta de conhecimentos especiais para exame que os 1. A autoridade judiciária perguntará ao perito se
exija e poderá, com o mesmo fundamento, ser recusado se encontra ou não numa das situações legalmente
pelo Ministério Público, pelo arguido, pelo assistente ou configuradoras de incapacidade, incompatibilidade,
pelas partes civis. impedimento ou possibilidade de escusa, adverti-lo-á das
obrigações e das responsabilidades a que está sujeito e
3. Alegada a escusa ou oposta a recusa, no prazo de convidá-lo-á de seguida a prestar compromisso de honra
quarenta e oito horas a contar da data da notificação da sobre o fiel desempenho das funções que lhe foram confiadas.
nomeação ou do conhecimento dela, consoante o caso,
ela será imediata e definitivamente decidida, ouvido o 2. Feito o compromisso, oficiosamente ou a requerimento
perito se assim se entender necessário, sem prejuízo da dos peritos, do Ministério Público, do assistente ou do
realização da diligência, se for urgente. arguido, formular-se-ão quesitos quando a sua existência
Artigo 207.º se revelar necessária ou conveniente para a descoberta
da verdade.
Substituição do perito
3. A autoridade judiciária assistirá, sempre que possível
1. O perito poderá ser substituído pelo juiz ou pelo e conveniente, à realização da perícia, podendo permitir
Ministério Público, consoante o caso, quando, por causa também a presença do arguido e do assistente, salvo se
que lhe for imputável, não apresentar o relatório no prazo a perícia for susceptível de ofender o pudor de terceiros.
fixado, quando não for deferido pedido de prorrogação do
prazo, ou ainda quando desempenhar de forma negligente 4. Se os peritos requererem a realização de quaisquer
o encargo que lhe foi cometido. diligências ou esclarecimentos, ela poderá ser deferida
se se afigurar necessária podendo para tanto ser-lhes
2. A decisão de substituição do perito é irrecorrível e mostrados quaisquer actos ou documentos do processo.
será comunicada à instituição a que pertence.
Artigo 210.º
3. Operada a substituição, o substituído será notificado Relatório pericial
para comparecer perante a autoridade judiciária competente
e expor as razões por que não cumpriu o encargo; se aquela 1. Finda a perícia, os peritos procederão à elaboração
autoridade considerar ter havido grave violação dos deveres de um relatório, no qual mencionarão e descreverão as

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1209

suas respostas e conclusões devidamente fundamentadas 4. Nas autópsias, nos exames e análises de vísceras ou
e que não poderão ser contraditadas; aos peritos poderão, de produtos humanos, e nos exames periciais de natureza
porém, ser pedidos esclarecimentos pela autoridade sexual, além do que neste Código se dispõe, seguir-se-ão
judiciária, pelo arguido, pelo assistente e pela parte civil. as disposições constantes das leis e regulamentos que
lhes são próprios.
2. O relatório, elaborado logo em seguida à realização
da perícia, poderá ser ditado para o auto. Artigo 214.º

3. Se o relatório, em razão da complexidade ou Exame para reconhecimento de letra


dimensão dos quesitos não puder ser elaborado logo em 1. O exame para reconhecimento de letra terá por base
seguida à realização da perícia, será marcado um prazo, a comparação da letra que se pretende reconhecer com
não superior a 60 dias, para a sua apresentação, o qual outra que se saiba pertencer à pessoa a quem aquela é
poderá ser excepcionalmente prorrogado, a requerimento atribuída.
fundamentado dos peritos, por mais 30 dias.
2. Para se fazer a comparação poderão ser requisitados
4. Se o conhecimento dos resultados da perícia não for documentos que existam em arquivos ou repartições
indispensável para o juízo sobre a acusação ou sobre a públicas.
pronúncia, poderá a autoridade judiciária competente
autorizar que o relatório seja apresentado até à abertura 3. O exame realizar-se-á no arquivo ou na repartição,
da audiência. se os documentos não puderem daí sair.
5. Se a perícia for realizada por mais de um perito e 4. Se os documentos necessários para o confronto se
houver discordância entre eles, apresentará cada um o seu encontrarem em poder de particulares que não sejam o
relatório, o mesmo sucedendo na perícia interdisciplinar. cônjuge ou pessoa que viva em condições análogas às do
cônjuge, os ascendentes, descendentes e colaterais até
6. Tratando-se de perícia colegial, poderá haver lugar ao terceiro grau ou afins nos mesmos graus do arguido,
a opinião vencedora e opinião vencida. poderá ordenar-se que sejam apresentados, sob pena de
Artigo 211.º desobediência qualificada.
Perícia médico-legal e psiquiátrica 5. Não havendo escrito com o qual possa comparar-se
a letra a examinar, a pessoa a quem seja atribuída será
1. A perícia relativa a questões médico-legais e psiquiátricas notificada pessoalmente para escrever, na presença dos
será deferida a peritos médicos ou, quando isso não for peritos, as palavras que eles indicarem.
possível ou conveniente, a quaisquer médicos especialistas
ou clínicas médicas da especialidade adequada. Artigo 215.º
3 703000 000000

2. Sem prejuízo do disposto nos artigos seguintes, lei Nova perícia


especial regulamentará o regime da perícia médico-legal
e psiquiátrica, incluindo o da revisão ou recurso dos Em qualquer altura do processo poderá a autoridade
relatórios de exames. judiciária competente determinar, oficiosamente ou a
requerimento, quando isso se revelar de interesse para
Artigo 212.º a descoberta da verdade, que:
Autópsia e reconhecimento do cadáver a) Os peritos sejam convocados para prestarem
1. A autópsia será sempre precedida de reconhecimento esclarecimentos complementares, devendo
do cadáver e, se este não for logo reconhecido, não se serlhes comunicado o dia, hora e local em que
procederá ao exame senão passadas vinte e quatro horas, se efectivará a diligência; ou
durante as quais, sendo possível, o cadáver estará exposto b) Seja realizada nova perícia ou renovada ou prosseguida
em estabelecimento apropriado ou em lugar público, a a perícia anterior a cargo de outro ou outros
fim de ser reconhecido, salvo se houver perigo para a peritos.
saúde ou ordem pública ou se houver urgência no exame.
Artigo 216.º
2. Se o cadáver não for reconhecido, descrever-se-ão
no auto as particularidades que o possam identificar e Perícia sobre a personalidade
só depois se procederá à autópsia. 1. Para efeitos de avaliação da personalidade e da
Artigo 213.º perigosidade do arguido poderá haver lugar a perícia sobre
as suas características psíquicas independentes de causas
Exames nas ofensas à integridade física, nos crimes sexuais
e em cadáveres patológicas, bem como sobre o seu grau de socialização.

1. Nos crimes contra a integridade física os peritos 2. A perícia referida no número antecedente poderá
deverão descrever os ferimentos e as lesões no corpo relevar nomeadamente para a decisão sobre a revogação
ou na saúde, indicar as causas e instrumentos que as da prisão preventiva, a determinação da capacidade ou do
produziram e a duração da doença ou impossibilidade grau de culpa do agente e a escolha e fixação da sanção.
de trabalho que causaram. 3. A perícia deve ser deferida a serviços especializados
2. Se não for possível fixar tais elementos definitivamente, ou, quando isso não for possível ou conveniente, a
indicar-se-á a duração mínima previsível e proceder-se-á especialistas em criminologia, em psicologia, em sociologia
a novo exame findo esse prazo. ou em psiquiatria.

3. O novo exame referido no número antecedente terá 4. Os peritos poderão requerer informações sobre os
sempre lugar antes de findo o prazo das fases preliminares antecedentes criminais do arguido, se delas tiverem
do processo e nele indicarão os peritos, além da duração necessidade.
ainda previsível da doença ou impossibilidade de trabalho, Artigo 217.º
a duração já comprovada, com base na qual poderá ser
deduzida acusação. A alteração do tempo de duração da Destruição de objectos
doença ou impossibilidade de trabalho por novos exames
que se mostrem ainda necessários permitirá a alteração 1. Se os peritos, para procederem ao exame, precisarem de
da acusação e ainda da pronúncia, se a tiver havido. destruir, alterar ou comprometer gravemente a integridade

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1210 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

ou a identidade de qualquer objecto, pedirão autorização 2. Se o documento for dificilmente legível é feito
para tal à entidade que tiver ordenado a perícia. acompanhar de transcrição que o esclareça e, se for cifrado,
é submetido a perícia destinada a obter a sua decifração.
2. Concedida a autorização, ficará nos autos a descrição
exacta do objecto e, sempre que possível, a sua fotografia; 3. Se o documento consistir em registo fonográfico será,
tratando-se de documento, ficará a sua fotocópia sempre que necessário, transcrito nos autos, nos termos
devidamente conferida. do nº 1 do artigo 130.º, podendo o Ministério Público, o
arguido, o assistente ou a parte civil requerer a conferência,
3. Sendo possível, deverá conservar-se na posse do na sua presença, da transcrição.
tribunal parte dos objectos para que, sendo necessário,
se possa proceder a novas análises. Artigo 223.º

Artigo 218.º Valor probatório das reproduções mecânicas

Remuneração do perito Quando não se puder juntar ao auto ou nele conservar


o competente original de qualquer documento, mas
1.Sempre que a perícia for feita em estabelecimento ou unicamente a sua reprodução mecânica, esta terá o
perito não oficiais, a entidade que a tiver ordenado fixa a mesmo valor probatório do original se com ele tiver sido
remuneração do perito em função das tabelas aprovadas identificada nesse ou noutro processo.
pelo Ministério da Justiça ou, na sua falta, tendo em
atenção os honorários correntemente pagos por serviços Artigo 224.º
do género e do relevo dos que foram prestados. Documento falso
2. Em caso de substituição do perito, poderá a entidade 1. O tribunal poderá, oficiosamente ou a requerimento,
competente determinar que não haverá lugar a remuneração declarar no dispositivo da sentença, mesmo que esta seja
para o substituído. absolutória, um documento junto dos autos como falso,
3. Das decisões sobre a remuneração caberá, conforme devendo, para tal fim, quando o julgar necessário e sem
os casos, reclamação hierárquica ou recurso. retardamento sensível do processo, mandar proceder às
diligências e admitir a produção da prova necessárias.
Artigo 219.º
2. Do dispositivo relativo à falsidade de um documento
Valor da prova pericial poderá recorrer-se autonomamente, nos mesmos termos
A discordância face ao juízo técnico, científico ou artístico em que poderia recorrer-se da parte restante da sentença.
contido no parecer dos peritos terá que ser fundamentada 3. No caso previsto no nº 1 e, ainda, sempre que o
com juízo de igual valor técnico, científico ou artístico tribunal tiver ficado com a fundada suspeita da falsidade
para que aquele possa ser afastado. de um documento, transmitirá cópia deste ao Ministério
3 703000 000000

CAPÍTULO VII Público, para os efeitos da lei.


Artigo 225.º
Prova documental
Valor probatório
Artigo 220.º
Admissibilidade e momento de apresentação 1. Considerar-se-ão provados os factos materiais
constantes de documento autêntico ou autenticado
1. É admissível prova por documento, entendendo-se enquanto a autenticidade do documento ou a veracidade
por este o que integra a respectiva definição na lei penal. do seu conteúdo não forem postas em causa mediante
arguição de falsidade.
2. O documento deverá ser junto, oficiosamente ou
a requerimento, no decurso das fases preliminares do 2. Os documentos particulares serão apreciados
processo e, não sendo isso possível, deverá sê-lo até ao livremente pelo tribunal.
encerramento da audiência de julgamento. TÍTULO III
3. Ficará assegurada, em qualquer caso, a possibilidade Medidas preventivas e meios de protecção
de contraditório, para realização do qual o tribunal poderá e de obtenção de prova
conceder um prazo não superior a cinco dias.
CAPÍTULO I
4. O disposto nos números antecedentes será correspondentemente
aplicável a pareceres de advogados, de jurisconsultos ou Medidas preventivas
de técnicos, os quais poderão sempre ser juntos até ao Artigo 226.º
encerramento da audiência de julgamento.
Medidas preventivas contra as pessoas presentes
Artigo 221.º no local dos indícios
Documento anónimo 1. Logo que se tenha conhecimento da prática de um
facto punível, deverá a autoridade judiciária ou o órgão
1. Não poderá juntar-se ou ser utilizado como prova de polícia criminal competentes, ou qualquer agente da
documento que contiver declaração anónima, salvo se for, autoridade, se aqueles não se encontrarem presentes no
ele mesmo, objecto ou elemento do crime. local e de outro modo houver risco de perda ou alteração
2. O disposto no número antecedente aplicar-se-á dos vestígios do crime, providenciar no sentido de evitar,
correspondentemente a documentos que incorporem quando possível, que tal se verifique, proibindo-se, se
rumores públicos à volta de factos de que se trata no necessário, a entrada ou o trânsito de pessoas estranhas
processo ou que se refiram a aspectos da conduta moral no local do crime ou quaisquer outros actos que possam
de intervenientes processuais. prejudicar a posterior descoberta da verdade.
Artigo 222.º 2. As entidades mencionadas no número antecedente
Tradução, decifração e transcrição de documentos
poderão determinar que alguma ou algumas pessoas se
não afastem do local do exame e obrigar, com o auxílio da
1. Se o documento for escrito em língua não oficial será força pública, se necessário, as que pretenderem afastarse
ordenada, sempre que necessário, a sua tradução, nos a que nele se conservem enquanto o exame não terminar
termos do nº 5 do artigo 118.º. e a sua presença for indispensável.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1211


Artigo 227.º b) Deslocação, acompanhado pelos órgãos de polícia
Outras medidas preventivas e de polícia criminal, ao lugar onde se encontram os seus
documentos de identificação;
1. Compete aos órgãos de polícia criminal, mesmo
antes de receberem ordem da autoridade judiciária c) Reconhecimento da sua identidade por uma pessoa
competente para procederem a investigações, praticar os identificada nos termos do nº 3 ou do nº 4 que
actos cautelares necessários e urgentes para assegurar garanta a veracidade dos dados pessoais indicados
os meios de prova. pelo identificando.
2. Compete-lhes nomeadamente, nos termos do número 6. Se a pessoa não for capaz de se identificar nos termos
anterior: dos n.ºs 3, 4 e 5 ou se recusar ilegitimamente a fazê-lo,
os órgãos de polícia criminal podem conduzir o suspeito
a) Proceder a exames dos vestígios do crime e assegurar ao seu estabelecimento mais próximo e compeli-lo a
a manutenção do estado das coisas e dos lugares; permanecer ali pelo tempo estritamente indispensável à
b) Colher informações de pessoas que facilitem a descoberta sua identificação, em caso algum superior a três horas,
dos agentes do crime e a sua reconstituição; realizando, caso se mostre necessário, provas adequadas
à sua cabal identificação, nomeadamente, fotográficas,
c) Proceder a apreensões no decurso de revistas ou datiloscópicas, ou de natureza análoga e de reconhecimento
buscas ou em caso de urgência ou perigo na físico, desde que não ofendam a sua dignidade pessoal,
demora, bem como adoptar as medidas cautelares e convidando o identificando a indicar residência onde
necessárias à conservação ou manutenção dos possa ser encontrado e receber comunicações.
objectos apreendidos.
7. Os atos de identificação levados a cabo nos termos do
3. Mesmo após a intervenção da autoridade judiciária, número anterior são sempre reduzidos a auto, que será
cabe aos órgãos de polícia criminal assegurar novos meios transmitido, no mais breve prazo possível, a autoridade
de prova de que tiverem conhecimento, sem prejuízo de judiciária, porém, tal remessa é desnecessária e as provas
deverem dar deles notícia imediata àquela autoridade. de identificação do suspeito constantes daquele auto são
destruídas na presença do identificando, a seu pedido, se
4. Compete, igualmente, aos órgãos de polícia criminal, a suspeita não se confirmar.
mesmo antes de receberem ordem da autoridade judiciária
competente para procederem a investigações, tomar as 8. O suspeito tem o direito de se fazer acompanhar ou
medidas de polícia previstas na lei e no presente Código de comunicar com seu advogado e ao mesmo será sempre
necessários e urgentes para prevenir os atos de terrorismo, facultada a possibilidade de contactar com pessoa da sua
criminalidade violenta ou altamente organizada ou quando confiança.
haja fundados indícios da prática iminente de crime que
9. Os órgãos de polícia criminal podem pedir ao suspeito
3 703000 000000

ponha em grave risco a vida ou a integridade física de


qualquer pessoa. informações relativas a um crime, nomeadamente, quanto à
descoberta e à conservação de meios de prova que poderiam
Artigo 228.º perder-se antes da intervenção da autoridade judiciária,
Identificação de suspeitos e pedido de informações desde que, sob pena de nulidade, o advirtam previamente
de que não é obrigado a prestar tais informações.
1. Os órgãos de polícia criminal podem proceder à
identificação de qualquer pessoa encontrada em lugar 10. Na situação prevista no número anterior, se o
público, aberto ao público ou sujeito a vigilância policial, suspeito aceitar prestar informações, estas e a advertência
sempre que sobre ela recaiam fundadas suspeitas da a que se refere o número anterior são obrigatoriamente
prática de um facto punível, da pendência de processo reduzidas a escrito, sob pena de nulidade.
de extradição ou de expulsão, de que tenha penetrado ou
Artigo 229.º
permaneça irregularmente no território nacional ou de
haver contra si mandado de detenção. Extensão do regime
2. Antes de procederem à identificação, os órgãos de É correspondentemente aplicável o disposto no artigo
polícia criminal devem provar a sua qualidade, comunicar antecedente ao caso de pessoa sobre a qual recaiam
ao suspeito as circunstâncias que fundamentam a obrigação fundadas suspeitas de ter penetrado ou de permanência
de identificação e indicar os meios por que este se pode ilegal no território nacional, ou, ainda, relativamente à
identificar. qual esteja pendente processo de extradição ou expulsão.
3. O suspeito pode identificar-se mediante a apresentação Artigo 229.º- A
de um dos seguintes documentos:
Localização celular
a) Bilhete de identidade ou cartão nacional de
identificação ou passaporte, no caso de ser 1. No âmbito da execução de ações de prevenção ou de
cidadão cabo-verdiano; investigação criminal ou de tramitação de processo penal,
ou na sequência de uma denúncia, queixa ou participação,
b) Título de residência de estrangeiros, passaporte as autoridades judiciárias e as autoridades de polícia
ou documento que substitua o passaporte, no criminal podem obter dados sobre a localização celular:
caso de ser cidadão estrangeiro.
a) Quando, nos crimes contra a propriedade, a medida
4. Na impossibilidade de apresentação de um dos e o prazo de sua duração forem voluntariamente
documentos referidos no número anterior, o suspeito solicitados ou consentidos pelo titular do celular, desde
pode, também, identificar-se mediante a apresentação de que a solicitação ou o consentimento fique, por qualquer
documento original, ou cópia, que contenha o seu nome forma, documentado;
completo, a sua assinatura e a sua fotografia.
b) Nos casos de terrorismo, criminalidade violenta ou
5. Se não for portador de nenhum documento de altamente organizada ou quando haja fundados indícios
identificação, o suspeito pode identificar-se, ainda, por da prática iminente de crime que ponha em grave risco
um dos seguintes meios: a vida ou a integridade física de qualquer pessoa, desde
a) Comunicação com uma pessoa que apresente os que, sob pena de nulidade, a realização da medida e o
seus documentos de identificação; prazo de sua duração sejam previamente solicitados ao

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1212 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

Ministério Público, que os submete ao juiz do processo Artigo 233.º


penal em tramitação ou, não existindo processo penal em Exame de lugares e coisas
tramitação, ao juiz de turno, para a validação e autorização
judicial imediata. Havendo lugar a exame de lugar ou coisa, antes de a ele
se proceder, deverá ser apresentada ao suspeito ou arguido
2. No prazo máximo de três dias úteis após o termo do e à pessoa que tenha habitualmente a disponibilidade do
prazo de duração da medida é elaborado um relatório no lugar ou coisa, cópia da decisão que autoriza ou ordena
qual se menciona, de forma resumida, os fundamentos o acto.
da medida, a sua duração e os seus resultados.
CAPÍTULO III
3. Se os dados sobre a localização celular previstos no
número 1 se referirem a um processo penal em curso, o Revistas e buscas
relatório a que se refere o número anterior é remetido
Artigo 234.º
ao juiz do processo.
Conceitos e pressupostos
4. Se os dados sobre a localização celular previstos no
número 1 não se referirem a qualquer processo penal em 1. Quando houver indícios de que alguém oculta na sua
curso, o relatório a que se refere o número 2 é remetido ao pessoa quaisquer objectos relacionados com um crime ou
Ministério Público e ao juiz que, respetivamente solicitou que possam servir de prova, é ordenada revista.
e autorizou a medida, podendo dar origem a investigação
criminal ou instauração de processo penal. 2. Quando houver indícios de que os objectos referidos
no artigo anterior ou o arguido ou outra pessoa que deva
5. É nula a obtenção de dados sobre a localização celular ser detida, se encontram em lugar reservado ou não
com violação do disposto nos números anteriores. livremente acessível ao público, é ordenada busca.
CAPÍTULO II 3. As revistas e as buscas serão autorizadas ou ordenadas
pela autoridade judiciária competente.
Exames
4. Ressalva-se da exigência contida no número anterior
Artigo 230.º as revistas e as buscas efectuadas por órgão de polícia
Pressupostos e formas criminal nos casos de:

1. Por decisão fundamentada terá lugar o exame de a) Crimes de terrorismo, organização criminosa ou
pessoas, lugares e coisas, quando se pretender apurar punível com pena de prisão cujo limite máximo
os vestígios deixados pela prática de um facto punível seja superior a 8 anos, praticado com violência
e que possam indiciar o modo e o lugar onde terá sido ou ameaça de violência, ou, ainda, de suspeitos
3 703000 000000

praticado e as pessoas que o cometeram ou sobre as quais em fuga iminente;


foi cometido. b) Haver motivo fundado para crer que a demora pode
2. Se o facto punível não tiver deixado vestígios ou se representar grave perigo imediato para a vida, a
estes se mostrarem removidos, alterados, destruídos ou integridade física, a liberdade ou a subsistência do
dispersos, a autoridade judiciária ou o órgão de polícia Estado de direito constitucionalmente protegido.
criminal competentes descreverão a situação existente c) Houver fundado motivo para crer que estejam a
e, na medida do possível, aquela que a terá antecedido, ser preparados ou cometidos crimes a bordo
procurando individualizar o modo, o tempo e as causas das de navios ou aeronaves nas áreas marítimas
eventuais alterações havidas, fazendo uso, se necessário, e aéreas que, por força de legislação interna
de instrumentos de sinalização, descrição, registo sonoro, ou instrumentos internacionais, estejam sob a
fotográfico ou outro. jurisdição penal ou permite intervenção penal
Artigo 231.º do Estado de Cabo Verde, quando não se mostre
possível obter previamente a autorização da
Sujeição a exame autoridade judiciária competente em tempo útil.
Se alguém pretender eximir-se ou colocar obstáculos 5. O despacho referido nº 3 tem o prazo de validade
a qualquer exame devido, poderá a tal ser compelido por máxima de sessenta dias, sob pena de nulidade, salvo
decisão da autoridade judiciária competente. prorrogação.
Artigo 232.º 6. No A realização da diligência a que se refere o nº 4
Exame de pessoas
será comunicada ao juiz competente e por este apreciada
em ordem à sua validação, sob pena de nulidade:
1. Antes de se proceder a exame de pessoa, esta será a) Imediatamente nos casos previstos nas alíneas
advertida pela autoridade competente de que poderá a) e b);
fazerse acompanhar por pessoa de sua confiança, desde
que esta não seja menor de catorze anos, portador de b) No prazo de quarenta e oito horas após o término da
anomalia psíquica ou esteja em manifesta situação de diligência e a chegada a um porto ou aeroporto
embriaguez ou intoxicação por uso de estupefacientes do País, no caso previsto na alínea c).
ou outras substâncias psicotrópicas ou outra situação de
manifesta inidoneidade para o efeito pretendido. Artigo 235.º
Ordem de entrega de coisa
2. O exame deverá sempre ser feito com respeito pela
dignidade pessoal do examinado, e, nos limites do possível, 1. Se, com a revista ou a busca se pretende obter um
pelos seus sentimentos de pudor. ou vários objectos determinados, poderá a autoridade
judiciária competente ordenar a sua entrega.
3. Quando o exame deva ser realizado por médico, a
autoridade judiciária e os acompanhantes do examinado 2. Se a ordem for voluntária e prontamente cumprida,
poderão ser impedidos de assistir è diligência, caso a sua não se efectuará a revista ou a busca, a não ser que
presença seja tida por inconveniente na efectuação do sejam tidas como úteis para a ultimação das diligências
acto médico. de investigação.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1213


Artigo 236.º estatutariamente a segredo, será, sob pena de nulidade,
Formalidades da revista presidida pessoalmente pelo juiz, o qual avisará previamente
o presidente do organismo representativo da respectiva
1. Antes de se proceder a revista, que deverá sempre profissão, se um tal organismo existir, para que o mesmo,
respeitar a dignidade pessoal e, na medida do possível, ou um seu delegado, possa estar presente.
o pudor do visado, é entregue a este, salvo nos casos do
nº 4 do artigo 234.º, cópia da decisão que a determinou, 2. Tratando-se de busca em estabelecimento oficial
no qual se faz a menção de que aquele pode indicar, para de saúde, o aviso a que se refere o número antecedente
presenciar a diligência, pessoa da sua confiança e que se será feito ao director, ou a quem legalmente o substituir.
apresente sem delonga. Artigo 240.º
2. Serão correspondentemente aplicáveis as disposições Busca em estabelecimentos de comunicação social
contidas nos números 1 a 3 do artigo 234.º.
A busca em estabelecimentos de comunicação social
Artigo 237.º será, sob pena de nulidade, presidida pessoalmente pelo
Formalidades de busca em lugares e veículos juiz que garantirá que as investigações e diligências
levadas a cabo não atentam contra o livre exercício da
1. Salvo nos casos previstos no nº 4 do artigo 234º, profissão dos jornalistas e não constituem um obstáculo
antes de se proceder a busca em lugares ou em veículos, nem importarão um atraso injustificado à difusão da
incluindo navios e aeronaves, será entregue a quem informação.
tiver a disponibilidade do lugar ou veículo em que a
Artigo 241.º
diligência se realiza, cópia da decisão que a determinou,
aplicando-se correspondentemente o disposto no nº 2 do Busca em estabelecimentos universitários
artigo antecedente.
A busca em estabelecimentos universitários será, sob
2. Faltando as pessoas referidas no número antecedente, pena de nulidade, presidida pessoalmente pelo juiz e na
a cópia será, sempre que possível, entregue a um parente, presença do responsável do estabelecimento em causa ou
a um vizinho, ao porteiro ou a alguém que o substitua. de um seu representante.
3. Juntamente com a busca em lugares e veículos ou Artigo 242.º
durante ela poderá proceder-se à revista de pessoas que
Apreensão consequente a busca ou revista
se encontrem no lugar.
4. É correspondentemente aplicável o disposto no nº 2 Os objectos obtidos através de busca ou de revista serão
do artigo 226.º. apreendidos nos termos dos artigos seguintes.
3 703000 000000

CAPÍTULO IV
Artigo 238.º
Busca em domicílio Apreensões
Artigo 243.º
1. A busca em casa habitada ou numa sua dependência
fechada só poderá ser ordenada ou autorizada pelo juiz. Objecto, formalidades e regime

2. Não é permitida a busca no domicílio de uma pessoa 1. Por decisão fundamentada de juiz ou do Ministério
antes das sete nem depois das vinte horas, salvo: Público, consoante for o caso, poderão ser apreendidos os
objectos que tiverem servido ou estivessem destinados a
a) Com o seu consentimento; servir a prática de um crime, os que constituírem o seu
b) Para prestar socorro ou em casos de desastre ou produto, lucro, preço ou recompensa, e bem assim todos os
outros que configurem estado de necessidade objectos que tiverem sido deixados pelo agente no local do
nos termos da lei; crime ou quaisquer outros susceptíveis de servir a prova.

c) Em flagrante delito, ou com mandado judicial 2. Sempre que possível a apreensão será feita na
que expressamente a autorize, em casos de presença de autoridade judiciária.
criminalidade especialmente violenta ou 3. Os órgãos de polícia criminal poderão efetuar apreensões
organizada, designadamente, de terrorismo, nos seguintes casos, as quais deverão ser validadas pela
tráfico de pessoas, de armas e de estupefacientes. autoridade judiciária competente no prazo de quarenta
3. O despacho judicial que ordenar as buscas domiciliárias e oito horas, sob pena de nulidade:
nocturnas deverá explicitar com clareza os factos e as a) No decurso de buscas e de revistas, nos termos
circunstâncias que especialmente as motivam. previstos neste Código para tais diligências;
4. As buscas domiciliárias nocturnas determinadas nos b) Quando haja urgência ou perigo na demora na
termos da alínea c) do número 2 deverão ser presididas obtenção na obtenção da prova;
por um magistrado do Ministério Público, salvo quando
a lei processual penal imponha a presença de magistrado c) Quando haja fundado receio de desaparecimento,
judicial. destruição, danificação, inutilização, ocultação ou
transferência de elementos de prova, designadamente
5. As buscas domiciliárias poderão também ser ordenadas de objetos, produtos ou vantagens provenientes
pelo Ministério Público ou ser efectuadas por órgãos de da prática de um facto ilícito típico suscetíveis
polícia criminal em caso de detenção em flagrante delito, de serem declarados perdidos a favor do Estado.
ou para prestar socorro.
Artigo 239.º 4. Cópia da decisão será apresentada ao interessado,
caso esteja presente durante a apreensão.
Busca em escritório, gabinete ou consultório de profissionais
5. Os objectos apreendidos serão juntos ao processo,
1. A busca em escritório ou domicílio de advogado, quando possível, e, quando não, confiados à guarda do
em consultório médico ou em escritório, gabinete ou funcionário de justiça adstrito ao processo ou de um
consultório de outros profissionais vinculados legal ou depositário, de tudo se fazendo menção no respectivo auto.

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1214 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

6. A apreensão que for autorizada, ordenada ou validada depositados em bancos ou outras instituições de crédito,
pelo Ministério Público é impugnável, no prazo de 5 dias, mesmo que em cofres individuais, quando tiver fundadas
perante o juiz competente. razões para crer que eles estão relacionados com um crime
e se revelarão de grande interesse para a descoberta da
7. A impugnação referida no número antecedente será verdade ou para a prova, mesmo que não pertençam ao
deduzida em separado, com efeito meramente devolutivo. arguido ou não estejam depositados em seu nome.
8. Tratando-se de apreensões efetuadas no decurso de 2. O juiz poderá examinar a correspondência e qualquer
buscas e revistas a bordo de navios ou aeronaves, o prazo documentação bancárias para descoberta dos objectos a
previsto no nº 3, conta-se a partir da data da chegada ao apreender nos termos do número antecedente.
porto ou aeroporto do País do navio ou aeronave objeto
de buscas e ou das pessoas revistadas ou das autoridades 3. O exame referido no número antecedente será feito
de polícia criminal que efetuarem as diligências. pessoalmente pelo juiz, coadjuvado, quando necessário,
por órgãos de polícia criminal e por técnicos qualificados,
Artigo 244.º ficando ligados por dever de segredo relativamente a tudo
Apreensão de correspondência aquilo de que tiverem tomado conhecimento e não tiver
interesse para a prova.
1. A apreensão, mesmo nas estações de correios e Artigo 247.º
telegráficas, de cartas, encomendas, valores, telegramas
ou qualquer outra correspondência só será possível, sob Dever de apresentação e segredo profissional, de função
pena de nulidade, quando autorizada ou ordenada por e de Estado
despacho judicial e desde que haja fundadas razões para
crer que: 1. As pessoas indicadas nos artigos 185.º e 186.º
apresentarão à autoridade judiciária, quando esta o
a) A correspondência foi expedida pelo suspeito ou ordenar, os documentos ou quaisquer objectos que tiverem
lhe é dirigida, mesmo que sob nome diverso ou na sua posse e devam ser apreendidos, salvo se invocarem,
através de pessoa diversa; por escrito, segredo profissional, de função ou de Estado.

b) Está em causa crime punível com pena de prisão 2. Se a recusa se fundar em segredo profissional ou de
de limite máximo superior a 3 anos; e função, será correspondentemente aplicável o disposto
nos números 2 e 3 do artigo 185.º.
c) A diligência se revelará de grande interesse para
a descoberta da verdade ou para a prova. 3. Se a recusa se fundar em segredo de Estado, será
correspondentemente aplicável o disposto no número 2
2. É proibida, sob pena de nulidade, a apreensão e do artigo 187.º.
qualquer outra forma de fiscalização da correspondência
3 703000 000000

Artigo 248.º
entre o arguido e o seu defensor, exceptuado o caso de a
correspondência respeitar a facto criminoso relativamente Cópias e certidões
ao qual o advogado seja arguido.
1. Aos autos poderá ser junta cópia dos documentos
3. Quando a apreensão for feita por entidade que não apreendidos, restituindo-se nesse caso o original;
seja o juiz, ela deverá imediatamente fazer entrega dos tornandose necessário conservar o original, dele poderá
objectos apreendidos ao juiz competente, sem abrir e sem ser feita cópia ou extraída certidão e entregue a quem
tomar conhecimento do conteúdo da correspondência. legitimamente o detinha; na cópia e na certidão será feita
menção expressa da apreensão.
4. Se o juiz considerar a correspondência apreendida
relevante para a prova, fá-la-á juntar ao processo; caso 2. Do auto de apreensão será entregue cópia, sempre que
contrário, restitui-a a quem de direito, não podendo ela solicitada, a quem legitimamente detinha o documento
ser utilizada como meio de prova, e fica ligado por dever ou o objecto apreendidos.
de segredo relativamente àquilo de que tiver tomado 3. Se o documento apreendido fizer parte de um volume
conhecimento e não tiver interesse para a prova. ou registo de que não possa ser separado e a autoridade
Artigo 245.º judiciária não fizer cópia dele, ficará o volume ou registo
em depósito no tribunal.
Apreensão em escritório de profissionais vinculados a
segredo, estabelecimentos de comunicação social e locais 4. Os funcionários, com a prévia autorização da autoridade
universitários
judiciária, poderão, a requerimento dos interessados,
1. À apreensão operada em escritório ou em domicílio de ceder cópia ou certidão de partes do volume não sujeitas
advogado, em consultório médico, em escritório, gabinete à apreensão.
ou consultório de profissionais vinculados a segredo, Artigo 249.º
ou, ainda, em estabelecimentos de comunicação social e
universitários é correspondentemente aplicável o disposto Guarda dos objectos apreendidos
quanto ao regime respectivo da revista. 1. Os objectos apreendidos, não se verificando o disposto
2. Nos casos referidos no número antecedente não no nº 5 do artigo 243.º, serão, sendo possível, guardados
será permitida, sob pena de nulidade, a apreensão de na secretaria ou outro local adequado do tribunal. Não
documentos abrangidos pelo segredo profissional, salvo sendo isso possível ou oportuno, a autoridade judiciária
se eles mesmos constituírem objecto ou elemento de um poderá ordenar que a custódia seja feita noutro local,
crime. nomeando-se, para o efeito, um fiel depositário.

3. É correspondentemente aplicável o disposto nos n.ºs 2. No acto de entrega, o depositário ficará ciente da
3 e 4 do artigo antecedente. obrigação de conservar e apresentar o objecto sempre
que para tal seja solicitado pela autoridade judiciária
Artigo 246.º competente e será advertido das consequências penais a
que fica sujeito em caso de violação do dever de custódia,
Apreensão em estabelecimento bancário
podendo ser imposta caução.
1. O juiz poderá proceder à apreensão de documentos, 3. De tudo o que vem referido nos números antecedentes
títulos, valores, quantias e quaisquer outros objectos far-se-á menção em auto.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1215


Artigo 250.º Artigo 254.º - A
Aposição de selos Notificação a titulares e impugnação

Sempre que possível, serão apostos aos objectos 1. Quando se revele ou fundadamente se suspeite
apreendidos o selo da autoridade judiciária e inscrita que o objeto das apreensões realizadas nos termos das
indicação, subscrita pela autoridade judiciária e por disposições do presente Capítulo não pertence ao agente
oficial de justiça, do vínculo imposto para fins de justiça. do facto ilícito, no prazo de quarenta e oito horas, o
Ministério Público, na fase da instrução, ou o juiz, na fase
Artigo 251.º de audiência contraditória preliminar ou de julgamento,
Objectos de difícil custódia, deterioráveis ou perecíveis deve notificar pessoalmente o titular para, querendo,
deduzir impugnação no prazo de oito dias.
1. Tratando-se de documentos e outros objectos que
possam sofrer alterações ou que sejam de difícil custódia, 2. A notificação a que se refere o número anterior é feita
a autoridade judiciária mandará extrair cópias e executar por edital ou anúncio quando o titular não for encontrado.
fotografias ou outras reproduções, e ordenará a sua guarda, 3. A impugnação é autuada, processada e decidida por
em observância do disposto no artigo 249.º. apenso, sem prejuízo para o cumprimento dos prazos
processuais, podendo o juiz, a todo o tempo, ordenar a
2. Se a apreensão respeitar a coisas de custódia separação do processo.
dispendiosa, perecíveis, deterioráveis ou perigosas, a
autoridade judiciária poderá ordenar, conforme os casos, CAPÍTULO V
a sua venda, destruição ou afectação a fins de utilidade Intercepção e gravação de comunicações telefónicas,
social. telemáticas e outras

Artigo 252.º Artigo 255.º


Admissibilidade
Remoção e reposição de selos
1. A intercepção e a gravação de conversações ou
1. Quando se tiver que proceder à remoção de selos, comunicações telefónicas por meio de correio electrónico
a autoridade judiciária verificará se os selos não foram ou outras formas análogas só podem ser ordenadas ou
violados nem foi feita qualquer alteração nos objectos autorizadas, por despacho do juiz, se houver razões para
apreendidos. crer que a diligência se revelará de grande interesse para
2. Completado o acto que motivou a remoção dos selos, a descoberta da verdade ou para a prova quanto a crimes:
proceder-se-á de novo à aposição de selos na presença da a) Puníveis com pena de prisão superior, no seu
autoridade judiciária e observância dos termos descritos máximo, a três anos;
no artigo 249.º.
3 703000 000000

b) Contra a liberdade e autodeterminação sexual;


3. Havendo lugar ao levantamento definitivo dos selos, c) Terrorismo, criminalidade violenta ou altamente
proceder-se-á em conformidade com o disposto no nº 1. organizada;
Artigo 253.º
d) Contra a protecção devida aos menores;
Duração da apreensão e restituição dos objectos apreendidos
e) Relativos ao tráfico de estupefacientes;
1. Logo que se tornar desnecessário manter a apreensão f) De contrabando; ou
para efeitos de prova, os objectos apreendidos serão
restituídos a quem de direito, podendo, no entanto, a g) De injúria, de ameaça, de coacção, de devassa da
autoridade judiciária prescrever que, sempre que solicitado, vida privada e perturbação da paz e do sossego,
aquele apresente de novo o objecto restituído. quando cometidos através de telefone.
2. Para o efeito referido na parte final do número 2. A intercepção e a gravação de conversações ou
antecedente, poderá ser exigida caução. comunicações telefónicas só podem ser ordenadas ou
autorizadas relativamente a suspeitos ou a pessoas em
3. Logo que transitar em julgado a sentença, os objectos relação às quais seja possível admitir, com base em factos
apreendidos serão restituídos a quem de direito, salvo determinados, que recebem ou transmitem comunicações
se tiverem sido declarados perdidos a favor do Estado. provenientes dos suspeitos ou a eles destinadas, ou que
os suspeitos utilizam os seus telefones.
4. Ressalva-se do disposto nos números antecedentes
o caso em que a apreensão de objectos pertencentes ao 3. O despacho que ordena ou autoriza a intercepção e a
arguido ou ao responsável civil deva ser mantida a título gravação de conversações ou comunicações telefónicas é
de arresto preventivo, nos termos do artigo 298.º. fundamentado e fixa o prazo máximo da sua duração, por
um período não superior a três meses, sendo renovável por
Artigo 254.º períodos idênticos desde que se mantenham os respectivos
Diligências em caso de dificuldade ou impossibilidade pressupostos de admissibilidade.
de restituição
4. É proibida a intercepção e a gravação de conversações
1. A decisão que ordena a restituição será notificada ou comunicações entre o arguido e o seu defensor ou pessoas
ao titular dos objectos em causa. obrigadas a segredo profissional, exceptuado o caso de
a intercepção respeitar a facto criminoso relativamente
2. Se, dentro de sessenta dias após a notificação, não se ao qual recaia igualmente sobre o defensor do arguido,
puder, por qualquer motivo, proceder à restituição, serão forte suspeita de autoria, instigação ou cumplicidade.
depositados os títulos, valores e quantias e vendidos os
restantes objectos, fazendo-se igualmente depósito do 5. O disposto no presente e nos artigos seguintes
produto da venda, deduzido o montante das despesas feitas aplicarse- á, correspondentemente, às comunicações
com a guarda e conservação dos objectos apreendidos. entre presentes.
Artigo 256.º
3. Não serão vendidos os objectos que possuam elevado
valor científico, histórico ou artístico, os quais serão confiados Formalidades das operações
à guarda do membro do departamento governamental 1. Da intercepção e gravação a que se refere o artigo
encarregado da Cultura. anterior será lavrado auto, o qual, junto com as fitas

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1216 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

gravadas ou elementos análogos, e com a indicação Artigo 260.º


das passagens das gravações ou elementos análogos Determinação da pena
considerados relevantes para a prova é no prazo de
quinze dias levado ao conhecimento do juiz que as tiver Se a aplicação de uma das medidas cautelares processuais
ordenado ou autorizado e do Ministério Público que tiver depender da pena aplicável, atender-se-á na sua
promovido as operações. determinação ao máximo da pena correspondente ao
crime que justifica a medida.
2. O disposto no número anterior não impede que o
Artigo 261.º
órgão de polícia criminal que proceder à investigação tome
previamente conhecimento do conteúdo da comunicação Condições gerais de aplicação
interceptada a fim de poder praticar os actos cautelares
necessários e urgentes para assegurar os meios de prova. 1. A detenção de um suspeito imporá a sua imediata
constituição como arguido, sendo que a aplicação de
3. Se o juiz considerar os elementos recolhidos, ou qualquer das medidas cautelares processuais previstas
alguns deles, relevantes para a prova, ordenará a sua neste Livro dependerá da prévia constituição como arguido,
transcrição em auto e fá-lo-á juntar ao processo. nos termos deste Código, da pessoa que delas for objeto,
salvo na situação excecional prevista no nº 5 do artigo 76º.
4. O arguido e o assistente, bem como as pessoas cujas
conversações tiverem sido escutadas, poderão examinar o 2. A aplicação de qualquer das medidas cautelares
auto de transcrição a que se refere o nº 3 para se inteirarem processuais previstas neste Livro pressuporá ou dependerá
da conformidade das gravações e obterem, à sua custa, da comprovada existência de fortes indícios de prática de
cópias dos elementos naquele referidos. um crime por parte do suspeito ou do arguido, consoante
se tratar, respectivamente, da primeira ou das restantes
5. Ressalva-se do disposto no número antecedente o medidas previstas no artigo 259.º.
caso em que as operações tiverem sido ordenadas no
decurso de fase preliminar do processo e o juiz que as 3. Nenhuma medida cautelar processual será aplicada
ordenou tiver razões para crer que o conhecimento do quando houver fundadas razões para crer que o facto
auto ou das gravações pelo arguido ou pelo assistente punível foi cometido ao abrigo de uma causa de exclusão
poderia prejudicar as finalidades da instrução ou da ACP. da ilicitude, ou que existe causa de desculpa, de isenção
ou dispensa da pena ou de extinção da responsabilidade
6. Sem prejuízo do disposto nos artigos 110.º e 115.º, criminal, nos termos da lei penal.
o arguido e o assistente, bem como as pessoas cujas
conversações tiverem sido escutadas, poderão requerer 4. O disposto no nº 1 do presente artigo não excluirá
ao juiz que ordene a transcrição de elementos não a aplicação ao responsável meramente civil de medida
transcritos, especificando os factos relevantes para a cautelar de natureza patrimonial, nos termos deste Livro.
prova que considerem omitidos ou descontextualizados Artigo 262.º
3 703000 000000

no auto a que se refere o nº 3.


Critérios de escolha da medida
Artigo 257.º
Conservação e destruição da documentação
1. As medidas de coação pessoal e de garantia patrimonial
a aplicar em concreto deverão ser necessárias e adequadas
1. Os elementos recolhidos que não forem transcritos às exigências cautelares gerais previstas no artigo 276º
em auto ficarão na exclusiva disponibilidade do Ministério que o caso requer e proporcionais à gravidade do crime e
Público, sendo destruídos com o trânsito em julgado da às sanções que previsivelmente venham a ser aplicadas.
decisão final, ficando todos os participantes nas operações
ligados por dever de segredo relativamente àquilo de que 2. A execução e a aplicação das medidas cautelares
tiverem tomado conhecimento. processuais não poderão prejudicar o exercício de direitos
fundamentais que se mostrar compatível com a natureza
2. Todavia, os interessados, quando a documentação se e o grau das exigências cautelares a satisfazer no caso
mostrar desnecessária para o processo, poderão requerer a concreto.
sua destruição ao juiz que ordenou ou autorizou a gravação.
3. Será sempre dada preferência à medida que, sendo
3. A destruição, nos casos em que é prevista, será adequada às exigências cautelares, menos interfira ou
executada sob fiscalização do juiz, sendo a operação limite o normal exercício dos direitos fundamentais.
registada em auto.
4. A prisão preventiva e a obrigação de permanência
Artigo 258.º na habitação só poderão ser aplicadas quando as outras
Nulidade medidas de coacção pessoal se mostrarem inadequadas
ou insuficientes.
Todos os requisitos e condições referidos nos artigos 255.º
Artigo 263.º
a 257.º são estabelecidos sob pena de nulidade.
Recurso
LIVRO III
MEDIDAS CAUTELARES PROCESSUAIS Sem prejuízo do disposto neste Código sobre habeas
corpus, da decisão que aplicar ou mantiver qualquer das
TÍTULO I
medidas processuais cautelares de restrição de liberdade
Disposições gerais previstas neste diploma, o recurso que dela se interpuser
Artigo 259.º será julgado no prazo máximo de trinta dias a partir do
momento em que os autos derem entrada no tribunal
Princípio da tipicidade para onde se recorre.
1. As medidas cautelares processuais de natureza TÍTULO II
pessoal ou patrimonial são exclusivamente as previstas
no presente Livro deste Código. Detenção

2. São medidas cautelares processuais: Artigo 264.º

a) A detenção; Conceito, finalidades e formalidades

b) As medidas de coacção pessoal; 1. Detenção é o acto de privação da liberdade por período


nunca superior a quarenta e oito horas, dirigido a uma
c) As medidas de garantia patrimonial. das seguintes finalidades:

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1217

a) Submeter o detido a julgamento sob forma sumária Artigo 268.º


ou garantir a sua presença ao juiz competente Requisitos da detenção fora de flagrante
para primeiro interrogatório judicial ou para
aplicação de uma medida de coacção pessoal; 1. Fora de flagrante delito a detenção só poderá ser
efetuada por mandado do juiz ou, nas seguintes situações,
b) Assegurar a presença imediata do detido perante do Ministério Público:
as autoridades judiciárias em acto processual.
a) Nos casos em que for admissível prisão preventiva;
c) Assegurar a notificação de sentença condenatória
proferida, nos casos excepcionais previstos neste b) No âmbito da cooperação judiciária internacional
Código, em julgamento sem a presença do arguido; em matéria penal, nos termos da respetiva
legislação;
d) Assegurar a execução de pena de prisão ou de
medida de segurança de internamento. c) Quando se tratar de detenção da pessoa que tiver
penetrado ou permaneça irregularmente em
2. No momento da detenção, quem a efetuar deverá território nacional, ou contra a qual estiver em
comunicar e advertir ao detido o motivo da sua detenção curso processo de extradição ou de expulsão.
e, nos casos previstos nas alíneas a) e b) do número
anterior, de que tem direito de se manter em silêncio e 2. As autoridades de polícia criminal poderão também
que as declarações que prestar poderão ser utilizadas no ordenar a detenção fora de flagrante delito, por iniciativa
processo contra ele. própria, quando, cumulativamente, se verifiquem os
Artigo 265.º
seguintes requisitos:
Detenção em flagrante delito a) Se tratar de crime doloso punível com pena de prisão
cujo limite máximo seja superior a três anos;
1. Em flagrante delito por crime punível com pena
de prisão, ainda que com pena alternativa de multa, b) Existirem indícios fortes de que a pessoa a deter
qualquer autoridade judiciária ou entidade policial deverá, se prepara para fugir à acção da justiça;
e qualquer pessoa poderá, se uma dasquelas entidades
não estiver presente nem puder ser chamada em tempo c) Não for possível, dada a situação de urgência e de
útil, proceder à detenção. perigo na demora, esperar pela intervenção da
autoridade judiciária.
2. A pessoa que tiver procedido à detenção entregará Artigo 269.º
imediatamente o detido a uma das entidades referidas
no número antecedente, a qual redigirá auto sumário Requisitos dos mandados de detenção
da entrega e informará de imediato o juiz do qual tiver
3 703000 000000

dimanado a ordem de detenção, no caso da alínea b) do 1. Os mandados de detenção serão passados em triplicado
artigo 264.º, ou o Ministério Público, nos restantes casos. e conterão, sob pena de nulidade:

3. Tratando-se de crime cujo procedimento dependa de a) A identificação da pessoa a deter, com menção do
queixa, a detenção só se manterá quando, em acto a ela nome e, se possível, a residência e mais elementos
seguido, o titular do direito respectivo o exercer, devendo que possam identificá-la e facilitar a detenção;
a autoridade judiciária ou a entidade policial levantar ou b) A identificação e a assinatura da autoridade
mandar levantar auto em que a queixa fique registada. judiciária ou de polícia criminal competente;
4. Tratando-se de crime cujo procedimento dependa c) A indicação do facto que motivou a detenção e das
de acusação particular, não haverá lugar a detenção em circunstâncias que legalmente a fundamentam.
flagrante delito, mas apenas à identificação do infractor.
Artigo 266.º
2. Nos casos previstos nas alíneas c) e d) do artigo 264.º, o
mandado conterá ainda a indicação da infracção cometida,
Flagrante delito a pena ou medida de segurança aplicada e a sentença
que a decretou.
1. É flagrante delito todo o facto punível que se está
a cometer. 3. Em caso de urgência e de perigo na demora será
admissível a requisição da detenção por qualquer meio de
2. Considerar-se-á ainda flagrante delito o facto punível telecomunicação, seguindo-se-lhe imediatamente confirmação
que se acabou de cometer. por mandado, nos termos do número antecedente.
3. Presumir-se-á igualmente flagrante delito o caso 4. Ao detido será exibido o mandado de detenção e entregue
em que o infractor for, logo após a infracção, perseguido uma das cópias; no caso do número antecedente, é-lhe
por qualquer pessoa, ou encontrado a seguir à prática da exibida a ordem de detenção donde conste a requisição, a
infracção com objectos ou sinais que mostrem claramente identificação da autoridade que a fez e os demais requisitos
que acabou de o cometer ou de nele participar. referidos no nº 1 e entregue a respectiva cópia.
4. Em caso de crime permanente, o estado de flagrante Artigo 270.º
delito só persistirá enquanto se mantiverem sinais que
mostrem claramente que o crime está a ser cometido e o Exequibilidade dos mandados de detenção
agente está nele a participar. 1. Os mandados de detenção serão exequíveis em todo
Artigo 267.º o território nacional e serão cumpridos imediatamente
pelos oficiais de diligências do tribunal.
Entrada em domicílio para detenção
2. O oficial de diligências passará no mandado que
Havendo flagrante delito punível com pena de prisão cujo tiver de ser junto ao processo certidão da detenção,
limite máximo seja superior a seis meses será permitida mencionando o dia, a hora e o local em que a efectuou e a
a entrada, durante o dia, tanto na casa ou no lugar onde entrega de cópia.
o facto se está cometendo, ainda que não seja acessível
ao público, como naquele em que o infractor se acolheu, 3. Quando não tenha sido possível efectuar a detenção,
independentemente de qualquer formalidade. o oficial certificará a razão por que não pôde cumprir os

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1218 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

mandados, entregando-os ao Ministério Público para serem 2. Durante a instrução o juiz poderá fundamentadamente
juntos ao processo. O Ministério Público determinará aplicar uma medida de coação pessoal ou de garantia
então se os mandados deverão também ser entregues patrimonial diversa, ainda que mais grave, quanto à sua
a qualquer outra autoridade para que os faça cumprir. natureza, medida ou modalidade de execução, da que foi
Artigo 271.º requerida pelo Ministério Público, exceto nas situações
previstas na alínea b) do nº 1 do artigo 276º.
Libertação imediata do detido
3. A aplicação referida no número antecedente será
1. Qualquer entidade que tiver ordenado a detenção ou precedida, sempre que possível e conveniente, de audição
a quem o detido for presente, nos termos deste capítulo, do arguido e poderá ter lugar no acto do primeiro
procederá à sua imediata libertação logo que se tornar interrogatório judicial.
manifesto que a detenção foi efectuada por erro sobre a
pessoa ou fora dos casos e condições em que era legalmente 4. O despacho referido no nº 1 será notificado ao
admissível ou que a medida se tornou desnecessária. arguido e dele constará advertência das consequências
do incumprimento das obrigações impostas.
2. Tratando-se de entidade que não seja autoridade
judiciária, fará relatório sumário da ocorrência e transmitilo- 5. O despacho de aplicação de uma medida de coação
á de imediato ao Ministério Público; se for autoridade ou de garantia patrimonial será, também, notificado ao
judiciária, a libertação será precedida de despacho. denunciante, assistente, lesado ou ofendido quando a
TÍTULO III medida nele aplicada lhe disser respeito.
Artigo 275.º
Medidas de coacção pessoal e de garantia
patrimonial Requisitos do despacho
CAPÍTULO I O despacho que mandar aplicar a medida de coação
Disposições comuns pessoal ou de garantia patrimonial conterá, sob pena
de nulidade:
Artigo 272.º
Enumeração a) A identificação do arguido, com menção do nome
e, se possível, a residência e mais elementos
1. São medidas de de coacção pessoal: que possam identificá-lo;
a) Caução; b) A identificação e a assinatura da autoridade que
b) Apresentação periódica a autoridade; mandou aplicar a medida;

c) Suspensão do exercício de função, profissão c) A indicação sumária dos factos concretos imputados
3 703000 000000

ou direitos; ao arguido, se possível com indicação do tempo,


lugar e modo dos mesmos;
d) Interdição de saída do país;
d) A exposição sumária das específicas exigências
e) Proibição e obrigação de permanência; cautelares e dos indícios que justificam, no
f) Obrigação de permanência na habitação; caso concreto, a adopção da medida, a partir
da indicação dos factos que revelam aqueles
g) Prisão preventiva. indícios e dos motivos pelos quais se mostram
relevantes, tendo em conta, nomeadamente o
2. São medidas de garantia patrimonial: tempo decorrido desde a realização do facto
a) Caução económica; punível;
b) Arresto preventivo. e) A qualificação jurídica dos factos imputados;
Artigo 273.º f) A referência aos factos concretos que preenchem os
Cumulação de medidas pressupostos de aplicação da medida, incluindo
os previstos nos artigos 262.º e 276.º.
1. As medidas de coacção pessoal e de garantia patrimonial
poderão aplicar-se simultaneamente à mesma pessoa. CAPÍTULO II
2. A aplicação de qualquer medida de coacção pessoal, Medidas de coacção pessoal
à excepção da prisão preventiva, poderá ser cumulada
com a prestação de caução. Artigo 276.º

3. A prisão preventiva não será cumulável com outra Exigências cautelares gerais
medida de coação pessoal. 1. Nenhuma medida de coação pessoal prevista no
4. A interdição de saída do país e a proibição e obrigação capítulo antecedente poderá ser aplicada se, em concreto
de permanência poderão ser cumuladas entre si e com a e no momento da sua aplicação, não tiver a finalidade de
apresentação periódica a autoridade. assegurar o cumprimento de qualquer uma das seguintes
exigências cautelares gerais:
Artigo 274.º
Competência para proferição e notificação a) Garantir que o arguido se mantenha à disposição
da justiça e evitar a sua fuga ou perigo de fuga;
1. As medidas de coação pessoal e de garantia patrimonial
serão aplicadas por despacho do juiz: b) Assegurar o normal decurso da instrução do
processo, bem como a aquisição, conservação
a) Na sequência de uma detenção para o primeiro e veracidade da prova já recolhida ou a recolher,
interrogatório judicial ou com vista à sua aplicação; designadamente impedir pressões, ameaças
b) Durante a instrução, a requerimento do Ministério ou intimidações a intervenientes ou sujeitos
Público ou do assistente; processuais, vítimas e seus familiares, bem
como a concertação fraudulenta;
c) Depois da instrução, mesmo oficiosamente, ouvido
o Ministério Público e o assistente. c) Garantir a proteção da vítima;

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1219

d) Pôr fim ao crime ou prevenir o perigo de continuação vinte e quatro e trinta meses, quando o processo tiver
de atividade criminosa; por objeto crime punível com pena de prisão cujo limite
máximo seja superior a oito anos ou alguns dos crimes
e) Assegurar, em razão da natureza e das circunstâncias previstos nas alíneas a) a f) deste número e se revelar
do crime ou da personalidade do arguido, a ordem, de especial complexidade, devido, nomeadamente ao
segurança e tranquilidade públicas, preservando elevado número de intervenientes ou ao caráter altamente
a paz social ou mitigá-la consideravelmente. organizado do crime:
Artigo 277.º
a) Cibercriminalidade e criminalidade fiscal ou
Violação das obrigações impostas económica e financeira, bem como os crimes
de terrorismo, tráfico de estupefacientes e
Em caso de violação das obrigações impostas por aplicação substâncias psicotrópicas, tráfico de pessoas
de uma medida de coacção pessoal, o juiz, tendo em conta e tráfico de órgãos humanos;
a gravidade do crime imputado e as circunstâncias e
os motivos da violação, poderá impor outra ou outras b) Crimes de corrupção, peculato e participação
medidas de coacção pessoal previstas neste Código e ilícita em negócios previsto no nº 2 do artigo
admissíveis no caso. 369º do Código Penal, bem como os crimes de
responsabilidade e de lavagem de capitais;
Artigo 278.º
Revogação e substituição das medidas
c) Crimes executados de forma altamente organizada
ou, ainda, com elevado grau de mobilidade,
1. As medidas de coacção pessoal serão imediatamente especialidade técnica ou dimensão internacional;
revogadas, por despacho do juiz, sempre que se verificar
terem sido aplicadas fora das hipóteses ou das condições d) Crimes previstos nos artigos 291º, 306º, 307º, 308º,
gerais previstas na lei ou terem deixado de subsistir as 309º, 311º, 313º, 314º do Código Penal;
exigências cautelares que concretamente justificaram a e) Crimes de falsificação de moeda, títulos de crédito,
sua aplicação. valores selados, selos e equiparados ou da
2. As medidas revogadas poderão de novo ser aplicadas, respetiva passagem;
sem prejuízo da unidade dos prazos que a lei estabelecer, f) Crimes abrangidos por instrumentos jurídicos
se sobrevierem motivos que legalmente justifiquem a internacionais subscritos por Cabo Verde sobre
sua aplicação. a segurança da navegação marítima ou aérea.
3. Quando se verificar uma atenuação das exigências 3. A elevação dos prazos prevista no número antecedente
cautelares que determinaram a aplicação de uma medida deverá ser decidida pelo juiz, a requerimento do Ministério
3 703000 000000

de coacção pessoal, o juiz substitui-la-á por outra menos Público ou oficiosamente, consoante a fase de processo em
grave ou determinará uma forma menos gravosa da sua causa, devendo ser sempre particularmente motivados o
execução. requerimento e a decisão.
4. A revogação e a substituição previstas neste artigo 4. Sem prejuízo do disposto no número seguinte, os
terão lugar oficiosamente ou a requerimento do Ministério prazos referidos nas alíneas c) e d) do nº 1, bem como os
Público ou do arguido, devendo estes ser ouvidos, sempre correspondentemente referidos no nº 2, serão acrescentados
que necessário. de seis meses se tiver havido recurso para o Tribunal
5. Independentemente do disposto no artigo antecedente, Constitucional ou o processo penal tiver sido suspenso
se se verificar uma agravação das exigências cautelares para julgamento em separado de questão prejudicial.
que determinaram a aplicação de uma medida de coacção 5. A prisão preventiva não poderá, em caso algum, ser
pessoal, o juiz poderá, oficiosamente ou a requerimento superior a trinta e seis meses a contar da data da detenção.
do Ministério Público, substituí-la por outra mais gravosa
ou determinar uma forma mais gravosa da sua execução, 6. As medidas de apresentação periódica a autoridade e
desde que legalmente admissíveis. de suspensão do exercício de função, profissão ou direitos
extinguir-se-ão quando, desde o início da sua execução,
6. Será aplicável correspondentemente o disposto no tiverem decorrido os prazos referidos no nº 1 do presente
número antecedente, quando deixarem de se verificar as artigo, elevados de um terço.
circunstâncias referidas no n.º1 do artigo 291.º.
Artigo 279.º
7. Às medidas de interdição de saída do país e de proibição
e obrigação de permanência é correspondentemente
Prazos de duração máxima das medidas de coacção pessoal aplicável o disposto nos números 1 a 4 do presente artigo.
1. A prisão preventiva extinguir-se-á quando, desde o Artigo 280.º
seu início, tiverem decorrido: Contagem do tempo de detenção
a) Quatro meses sem que tenha sido deduzida acusação; A medida cautelar processual de detenção sofrida pelo
b) Oito meses sem que, havendo lugar à audiência arguido contar-se-á como tempo de prisão preventiva para
contraditória preliminar, tenha sido proferido efeitos do disposto no artigo antecedente.
despacho de pronúncia; Artigo 281.º

c) Catorze meses sem que tenha havido condenação Extinção das medidas
em primeira instância;
1. As medidas de coacção pessoal extinguir-se-ão de
d) Vinte meses sem que tenha havido condenação imediato, para além dos casos em que se esgotarem os
em segunda instância; respectivos prazos máximos de duração:
e) Vinte e seis meses, sem que tenha havido condenação a) Com qualquer decisão ou sentença que tenha posto
com trânsito em julgado. fim ao processo;
2. Os prazos referidos no número antecedente podem b) Com a sentença absolutória, mesmo que dela tenha
ser elevados, respetivamente, até seis, doze, dezoito, sido interposto recurso;

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1220 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

c) Com a sentença condenatória, ainda que dela Artigo 285.º


tenha sido interposto recurso, se se declarar Quebra da caução
a suspensão de execução da pena ou esta for
declarada extinta, nos termos da lei penal. 1. A caução considerar-se-á quebrada quando se verificar
falta injustificada do arguido a acto processual a que deva
2. A medida de prisão preventiva extinguir-se-á igualmente comparecer ou incumprimento de obrigações derivadas
de imediato quando tiver lugar sentença condenatória, de medida de coacção que lhe tiver sido imposta.
ainda que dela tenha sido interposto recurso, se a pena
aplicada não for superior à prisão já sofrida. 2. Quebrada a caução, o seu valor reverterá para o
Estado.
3. Se, no caso da alínea c) do nº 1, o arguido vier a ser
Secção III
posteriormente condenado no mesmo processo, poderá,
enquanto a sentença condenatória não transitar em julgado, Apresentação Periódica a Autoridade
ser sujeito a medidas de coacção pessoal previstas neste Artigo 286.º
Código e legalmente admissíveis no caso.
Apresentação periódica a autoridade
4. As medidas de garantia patrimonial não se extinguem
em caso decisão absolutória contra a qual tenha sido 1. Se o crime imputado for punível com pena de prisão
interposto recurso e, tratando-se de caução, se o arguido cujo limite máximo seja superior a um ano, o juiz poderá
vier a ser condenado em prisão, a medida só se extinguirá impor ao arguido a obrigação de se apresentar a uma
com o início da execução da pena. autoridade judiciária ou a um certo órgão de polícia
criminal em dias, horas e local preestabelecidos, tomando
Secção I em conta as exigências profissionais e familiares do
arguido e o local em que habita.
Termo de Identidade e Residência
2. A entidade a quem o arguido se apresentar preencherá
Artigo 282.º
folha própria para o efeito, que remeterá ao tribunal finda
Termo de identidade e residência ou extinta a medida.
Revogado 3. A entidade referida neste artigo comunicará ao
tribunal as faltas injustificadas do arguido, num prazo
Secção II de três dias contados da sua verificação.
Caução Secção IV

Artigo 283.º Suspensão do Exercício de Função, Profissão ou Direitos


Artigo 287.º
3 703000 000000

Caução
Suspensão do exercício de função, profissão ou direitos
1. Se o crime imputado ao arguido for punível com pena
de prisão cujo limite máximo seja superior a um ano, o juiz 1. Se o crime imputado for punível com pena de prisão
poderá impor ao arguido a obrigação de prestar caução. cujo limite máximo seja superior a 3 anos, o juiz poderá
impor ao arguido, cumulativamente, se disso for caso, com
2. Se o arguido estiver impossibilitado de prestar caução qualquer outra medida legalmente cabível, a suspensão
ou tiver graves dificuldades ou inconvenientes em prestála, do exercício da função, profissão, actividade ou direitos
poderá o juiz, oficiosamente ou a requerimento, substituí- nos precisos e correspondentes termos em que a lei penal
la por qualquer ou quaisquer outras medidas de coacção prevê a respectiva pena acessória de interdição.
pessoal que legalmente possam ser aplicadas ao caso, as
quais acrescerão a outras que já tenham sido impostas. 2. Não caberá em nenhum caso suspensão do exercício do
direito de sufrágio activo ou passivo, sem prejuízo do que,
3. Na fixação do montante da caução tomar-se-ão em constitucionalmente, se achar estabelecido sobre a perda
conta as exigências específicas de natureza cautelar a que ou suspensão do mandato do Presidente da República e
se destina, a natureza e gravidade do crime imputado, dos deputados à Assembleia Nacional.
o dano e outras consequências por este causado ou que Secção V
com toda a probabilidade causará e a situação económica
do arguido. Interdição de Saída do País
Artigo 288.º
Artigo 284.º
Interdição de saída do país
Prestação da caução
1. Se o crime imputado for punível com pena cujo limite
1. A caução será prestada por meio de depósito, máximo seja superior a três anos, o juiz poderá impor ao
garantia ou fiança bancária ou seguro caução à primeira arguido a proibição de se ausentar do território nacional
solicitação, penhor ou outras garantias reais sobre bens sem a devida autorização do tribunal do processo em causa.
móveis previstos na lei, e hipoteca, preferencialmente
pela ordem aqui indicada e nos concretos termos em que 2. A autorização referida no número antecedente
o juiz o admitir. poderá em caso de urgência, ser requerida e concedida
verbalmente, lavrando-se cota no processo.
2. Precedendo autorização do juiz, poderá o arguido
que tiver prestado caução por qualquer um dos meios 3. Com a decisão de interdição o juiz ordenará as
referidos no número antecedente substituí-lo por outro. diligências necessárias à sua execução, nomeadamente para
impedir a utilização de passaporte e outros documentos
3. A prestação de caução será processada por apenso. válidos para a saída do país.
Secção VI
4. Posteriormente à prestação da caução, esta poderá ser
reforçada ou modificada se novas circunstâncias assim o Proibição e Obrigação de Permanência
justificarem ou exigirem, aplicando-se correspondentemente Artigo 289.º
o disposto no nº 2 do artigo antecedente.
Proibição e obrigação de permanência
5. Ao arguido que não preste caução será correspondentemente 1. Se o crime imputado ao arguido for punível com
aplicável o disposto neste Código sobre arresto preventivo. pena de prisão cujo limite máximo seja superior a três

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1221

anos, poderá o juiz impor ao arguido, cumulativa ou punível com pena de prisão cujo limite máximo seja superior
separadamente: a três anos, se considerar inadequadas ou insuficientes,
no caso, as outras medidas de coação pessoal referidas
a) A proibição de permanecer, sem a autorização do nos artigos antecedentes.
tribunal do processo, em certas localidades ou
certos meios; 2. Se, face a qualquer das exigências cautelares gerais
previstas no artigo 276º, considerar inadequadas ou
b) A proibição de contactar com determinadas pessoas, insuficientes, no caso, as outras medidas de coação pessoal,
designadamente a vítima, sem aquela autorização; o juiz pode impor ao arguido a prisão preventiva, nos
c) A obrigação de permanecer em povoação, freguesia casos previstos no número seguinte ou quando houver
ou concelho do seu domicílio, salvo para locais fortes indícios de prática de:
predeterminados, nomeadamente para o local a) Crimes de homicídio doloso, previstos nos artigos
de trabalho, a não ser que haja autorização 122º, 123º e 124º do Código Penal e de ofensa
em contrário; à integridade física ou psíquica, previstos nos
d) A proibição permanência em casa de morada da artigos 129º e 130º do Código Penal;
família, nos casos em que o arguido haja sido b) Crimes sexuais contra menor ou pessoa vulnerável,
indiciado da prática de crimes de violência com ou sem penetração, previstos nos artigos
baseada no género, maus-tratos a criança ou 142.º, nº 3, 143.º, nº 2, 144.º, 145.º-A, 146.º, n.ºs
pessoa vulnerável, maus tratos a cônjuge e unido 2 e 3, 147.º, nº 2, 148.º, nºs 1 e 2, 149.º, 150.º,
de facto, maus tratos a ascendente e pessoas em nºs 1 e 3, 150.º- A, 150.º- C, e 152.º - A, bem
economia doméstica e de crimes sexuais contra como os crimes de violência baseada no género
menor, quando o arguido e a vítima residam previstos no artigo 131.º - C.
nesse lugar;
c) Crime de substituição fraudulenta de recém-nascido,
e) A proibição de contato com a vítima, nos casos em previsto no artigo 282º do Código Penal;
que o arguido haja sido indiciado da prática
de qualquer dos crimes previstos na alínea d) Crimes de organização, associação ou grupo criminosos
precedente, independentemente do lugar em ou de quadrilha ou bando, previstos nos artigos
que a mesma reside. 291º e 291º-A do Código Penal;
2. Proibição ou obrigação referidas nas alíneas a) a c) do e) Crimes de tortura, tratamentos cruéis, degradantes
número antecedente poderão ser condicionadas a certas ou desumanos, previstos nos artigos 162º e 163º
horas do dia e deverão ter em conta sempre as exigências do Código Penal;
de alojamento, trabalho e assistência do arguido. f) Crimes de rebelião previsto no artigo 313º do Código
3 703000 000000

3. Aplica-se correspondentemente o disposto no nº 2 Penal e os crimes relativos ao terrorismo, previstos


do artigo antecedente e, com adaptações, o disposto no na respetiva legislação;
nº 3 do mesmo artigo. g) Crimes dolosos pertencentes ao âmbito da criminalidade
4. Independentemente das demais medidas aplicáveis, violenta, alta ou especialmente organizada;
presume-se sempre necessária a aplicação da medida de h) Crimes de furto qualificado, roubo e dano qualificado,
proibição de permanência em casa de morada da família, previstos nos artigos 196º, 198º, 199º e 205º do
quando o arguido e a vítima habitem a mesma residência, Código Penal;
enquanto cônjuge ou unido de facto.
i) Crimes de burla qualificada, abuso de incapazes,
5. O juiz pode afastar a aplicação da medida de proibição previstos nos artigos 213º e 216º do Código Penal
de permanência em casa de morada de família, mediante e de extorsão e chantagem, previstos nos artigos
despacho especialmente fundamentado. 217º e 218º do Código Penal;
Artigo 289.º-A
j) Crimes de incêndio, inundação e outras condutas
Obrigação de permanência na habitação especialmente perigosas, previstos no artigo
296º do Código Penal;
1. Se considerar insuficientes ou inadequadas as medidas
previstas nas disposições anteriores o juiz poderá impor k) Crimes contra a fé pública previstos no Título III,
ao arguido a obrigação de não se ausentar, ou de não se do Livro II do Código Penal Código, puníveis
ausentar sem autorização, da habitação própria ou de com pena de prisão, cujo limite máximo seja
outra em que de momento resida ou, nomeadamente, superior a três anos;
quando tal se justifique, em instituição adequada a
prestar-lhe apoio social ou de saúde, se houver fortes l) Crimes de armas, de comércio ilícito de armas e de
indícios de prática de crime doloso punível com pena de tráfico internacional e transferência de armas,
prisão superior a três anos. na sua forma simples ou agravada, bem como
de detenção de armas e outros dispositivos,
2. A obrigação de permanência na habitação é cumulável produtos ou substâncias em locais proibidos,
com a obrigação de não contactar, por qualquer meio, com como tais classificados e previstos do regime
determinadas pessoas. jurídico de armas e munições;
3. Para fiscalização e cumprimento das obrigações m) Crimes contra a comunidade internacional
referidas nos números anteriores podem ser utilizados previstos no Título IV do Livro II do Código
meios técnicos de controlo à distância, nos termos previstos Penal, puníveis com pena de prisão de máximo
na lei. superior a três anos;
Secção VII n) Crimes de traição e sabotagem e contra a defesa
Prisão Preventiva nacional, previstos nos artigos 306º e 307º do
Código Penal;
Artigo 290.º
Prisão preventiva o) Crimes de recebimento indevido de vantagem,
corrupção passiva, corrupção ativa, tráfico de
1. Poderá o juiz sujeitar o arguido a prisão preventiva, influência e peculato, previstos nos artigos
quando houver fortes indícios de prática de crime doloso 362º-A, 363º, 364º, 365º e 366º do Código Penal;

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1222 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

p) Crimes de tráfico de estupefacientes e substâncias subsistência dos seus pressupostos, decidindo pela sua
psicotrópicas, previstos na respetiva legislação; manutenção, substituição ou revogação.
q) Crimes de lavagem de capitais, bens, direitos e 2. Sempre que necessário, o juiz ouvirá o Ministério
valores, previstos na respetiva legislação. Público e o arguido.
3. Sempre Pode, ainda, o juiz decretar a prisão preventiva: 3. Para os efeitos consignados no nº 1, o processo será
concluso ao juiz pela secretaria onde se encontrar a correr
a) No âmbito da cooperação judiciária internacional tramitação, independentemente de qualquer despacho.
em matéria penal, regulada pela respetiva
legislação; Artigo 295.º
Libertação do arguido sujeito a prisão preventiva
b) Se o visado for pessoa que tiver penetrado ou
permaneça irregularmente em território nacional, 1. O arguido sujeito a prisão preventiva será posto
ou contra o qual estiver em curso processo de em liberdade logo que a medida se extinguir, salvo se a
extradição ou de expulsão. prisão dever manter-se por outro processo.
4- É sempre ilegal a detenção ou a prisão preventiva 2. Se a libertação tiver lugar por se terem esgotado os
destinada a obter os indícios referidos no número 1. prazos de duração máxima da prisão preventiva, o juiz
Artigo 291.º poderá sujeitar o arguido a alguma ou algumas das outras
medidas de coacção pessoal previstas neste Código, desde
Excepções que legalmente admissíveis.
1. Salvo quando as exigências de natureza cautelar Artigo 296.º
se mostrarem de excepcional relevância, não poderá ser
Internamento em estabelecimento psiquiátrico
imposta prisão preventiva a:
a) Mulheres em estado de gravidez ou que tenham a Mostrando-se que o arguido a sujeitar a prisão preventiva
seu cargo filhos com idade inferior a três anos, sofre de anomalia psíquica que não exclua a capacidade de
ou a pai que tenha a seu cargo filho dessa idade, culpa nem diminua sensivelmente essa capacidade, o juiz
quando a mãe seja falecida ou, em todo o caso, poderá impor, ouvido o defensor e, sempre que possível,
esteja absolutamente impossibilitada de lhe um familiar, que, enquanto a anomalia persistir, em
prestar assistência; vez da prisão tenha lugar internamento preventivo em
hospital psiquiátrico ou outro estabelecimento análogo,
b) Pessoas que tenham mais de setenta anos de idade adoptando as medidas adequadas às exigências cautelares
ou cujo estado de saúde se mostre incompatível do caso concreto.
com a permanência em situação de privação
de liberdade; CAPÍTULO III
3 703000 000000

c) Toxicodependentes ou álcool dependentes que tenham Medidas de garantia patrimonial


em curso programa terapêutico de recuperação no Artigo 297.º
âmbito de uma estrutura reconhecida oficialmente, Caução económica
sempre que a interrupção da terapia possa pôr
em causa a desintoxicação do arguido. 1. Havendo fundado receio de que faltem ou diminuam
substancialmente as garantias de pagamento da
2. No caso previsto na alínea c) do número antecedente, indemnização ou de outras obrigações civis derivadas
o juiz, na mesma decisão, ou noutra posterior, estabelecerá do crime, o lesado poderá requerer que o arguido ou o
as medidas de fiscalização necessárias para se assegurar civilmente responsável prestem caução económica, em
que o paciente continua o programa de recuperação. termos e sob modalidade a determinar pelo juiz.
Artigo 292.º
2. Havendo fundado receio de que faltem ou diminuam
Inêxito das diligências para aplicação de prisão preventiva substancialmente as garantias de pagamento da pena
Se o juiz tiver elementos para supor que uma pessoa pecuniária e das custas do processo, bem como da efetivação
pretende subtrair-se à aplicação ou execução da prisão da declaração judicial de perda de objetos, produtos e
preventiva, poderá aplicar-lhe imediatamente, até que a vantagens de facto ilícito típico ou do pagamento do
execução da medida se efective, as medidas previstas nos valor a estes correspondente ou de qualquer outra dívida
artigos 286.º, 287.º e 289.º ou alguma ou algumas delas. para com o Estado relacionada com o crime, o Ministério
Público, requererá que o arguido preste caução económica,
Artigo 293.º nos termos do número antecedente.
Suspensão da execução da prisão preventiva 3. A caução económica prestada a requerimento do
1. Se, durante a execução da prisão preventiva, se Ministério Público aproveitará também ao lesado.
verificarem as circunstâncias previstas no nº 1 do artigo 4. A caução económica é prestada pelos meios previstos
291.º, o juiz poderá determinar a suspensão da execução no nº 1 do artigo 284º, mas manter-se-á distinta e autónoma
da medida. relativamente à caução referida no artigo 283º e subsistirá
2. A suspensão cessará logo que deixarem de se verificar até ao trânsito em julgado da decisão absolutória ou até
as circunstâncias que a determinaram e de todo o modo, à extinção das obrigações que garante.
no caso de puerpério, quando se esgotar o terceiro mês 5. Em caso de condenação serão pagos pelo valor da
posterior ao parto. caução económica, sucessivamente, a indemnização e
3. Durante o período de suspensão da execução da prisão outras obrigações civis decorrentes da prática do facto
preventiva o arguido ficará sujeito às medidas que se punível, a multa e as custas do processo ou outras dívidas
revelarem adequadas ao seu estado e compatíveis com ele. para com a Justiça.
Artigo 294.º Artigo 298.º
Reexame dos pressupostos da prisão preventiva e da Arresto preventivo
obrigação de permanência na habitação
1. Para garantia do cumprimento das responsabilidades
1. Durante a execução da prisão preventiva ou da referidas no artigo anterior, a requerimento do Ministério
obrigação de permanência na habitação o juiz procederá Público ou do lesado, pode o juiz decretar o arresto
oficiosamente, de três em três meses, ao reexame da preventivo, nos termos da lei do processo civil.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1223

2. Se o arguido ou o civilmente responsável não Artigo 302.º


prestarem a caução económica que lhes tiver sido imposta, Direcção da instrução
poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou
do lesado, decretar arresto preventivo, nos termos da lei 1. A direcção da instrução caberá ao Ministério Público,
processual civil. assistido pelos órgãos de polícia criminal.
3. Se tiver sido previamente fixada e não prestada 2. Para efeitos do disposto no número antecedente, os
caução económica, fica o requerente dispensado da prova órgãos de polícia criminal actuarão sob a directa orientação
do fundado receio de falta ou diminuição substancial da do Ministério Público e na sua dependência funcional.
garantia patrimonial. 3. O Ministério Público praticará ou mandará praticar
4. O arresto preventivo referido nos números antecedentes os actos de instrução e assegurará os meios de prova
poderá ser decretado mesmo em relação á empresários, necessários à realização das finalidades referidas no artigo
pessoa singular ou coletiva ou equiparada. precedente, nos termos e com as restrições constantes
dos artigos seguintes.
5. A oposição ao despacho que tiver decretado arresto
Artigo 303.º
não terá efeito suspensivo.
Número de testemunhas
6. Em caso de controvérsia sobre a propriedade dos
bens arrestados, poderá o juiz remeter a decisão para o Na instrução o número de testemunhas é ilimitado,
processo civil, mantendo-se, entretanto, o arresto decretado. sem prejuízo do disposto no n° 2 do artigo seguinte.
7. O arresto será revogado a todo o tempo, desde que se Artigo 304.º
mostre que o arguido ou o civilmente responsável tenha Impulso para a prática dos actos de instrução
prestado a caução económica.
1. Os actos de instrução serão ordenados pelo Ministério
8. Decretado o arresto, é promovido o respetivo registo Público, por iniciativa própria ou a requerimento do
nos casos e nos termos previstos na legislação registal arguido ou do assistente, podendo estes a todo o tempo,
aplicável, promovendo-se o subsequente cancelamento do antes do encerramento da instrução, indicar os factos
mesmo quando sobrevier a extinção da medida. que pretendem ver provados, requerer diligências ou a
PARTE SEGUNDA prática de actos de instrução, juntar documentos, oferecer
testemunhas e indicar ou requerer a produção de prova
FORMAS E TRAMITAÇÃO DO PROCESSO PENAL através de outros meios legalmente admissíveis.
Artigo 299.º
2. Por despacho fundamentado, o Ministério Público
Formas de processo deverá indeferir as diligências que manifestamente não
1. O processo penal será comum ou especial. interessem à instrução do processo ou sirvam apenas
3 703000 000000

para protelar o seu andamento.


2. O processo comum terá uma só forma, que é a de
processo ordinário. 3. Salvo indicação expressa de disposição deste Código,
as diligências de prova serão efectuadas pela ordem mais
3. Usar-se-á o processo comum sempre que a lei não conveniente para o apuramento dos factos e da verdade.
determine o uso de processo especial. Artigo 305.º
Artigo 300.º
Provas admissíveis e interrogatório do arguido
Processos especiais
1. Serão admissíveis na instrução todas as provas que
São processos especiais o processo sumário, o processo não forem proibidas por lei.
de transacção e o processo abreviado.
2. O Ministério Público interrogará o arguido sempre
LIVRO IV que o julgar necessário ou sempre que este o solicitar e
TRAMITAÇÃO DO PROCESSO COMUM obrigatoriamente antes de deduzir a acusação.
EM PRIMEIRA INSTÂNCIA
Artigo 306.º
TÍTULO I
Casos de delegação em órgãos de polícia criminal
Fases preliminares
1. O Ministério Público poderá delegar em órgãos de
CAPÍTULO I polícia criminal a realização de diligências de investigação
Instrução durante a instrução, salvos os casos de diligências e actos
reservados legalmente a um juiz e os seguintes:
Secção I
Disposições Gerais
a) Receber depoimentos ajuramentados;
Artigo 301.º b) Assistir a exame susceptível de ofender o pudor
da pessoa, nos termos deste Código;
Finalidades e âmbito da instrução
c) Ordenar ou autorizar buscas, sem prejuízo do
1. A instrução compreenderá o conjunto de diligências disposto no n°3 do artigo 234.º;
que têm por finalidade investigar a existência de um facto
punível, determinar os seus agentes e a responsabilidade 2. A delegação prevista no número anterior poderá
deles e descobrir e recolher as provas, em ordem a uma recair sobre tipos legais de crime, por despacho de
decisão sobre a introdução ou não do facto em juízo, através natureza genérica.
de acusação ou de abstenção de acusação. Secção II
2. Ressalvadas as excepções previstas neste Código, Actos de Instrução
a notícia de um crime dará sempre lugar à abertura de
Artigo 307.º
instrução.
Actos a praticar exclusivamente pelo juiz
3. Para efeitos de determinação da responsabilidade dos
agentes do facto punível a que se refere o nº 1, incumbe 1. Durante a instrução competirá exclusivamente ao juiz:
ao Ministério Público realizar as diligências necessárias a) Proceder ao primeiro interrogatório judicial de
para apurar as consequências do facto punível, em especial arguido detido;
os danos causados às vítimas e demais lesados.

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1224 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

b) Proceder à aplicação de uma medida de coacção 3. A inquirição será feita pelo juiz, podendo em seguida
pessoal ou de garantia patrimonial, ou tomar as pessoas referidas no número antecedente solicitar ao
quaisquer decisões que impliquem alteração juiz a formulação de perguntas adicionais e podendo ele
ou revogação daquelas medidas; autorizar que sejam aquelas mesmas a fazê-las.
c) Decidir o pedido de habeas corpus por detenção 4. O disposto nos números antecedentes será
ilegal; correspondentemente aplicável a vítimas de crimes
sexuais e de tráfico de órgãos humanos e tráfico de pessoas.
d) Proceder a buscas e apreensões em escritório ou
domicílio de advogado, consultório médico, 5. O conteúdo das declarações será reduzido a auto,
estabelecimentos de comunicação social, sendo aquelas reproduzidas integralmente ou por súmula,
universitários ou bancários, nos termos dos conforme o juiz determinar, tendo em atenção os meios
artigos 239.º a 241.º; técnicos disponíveis de registo e transcrição.
Artigo 310.º
e) Tomar conhecimento, em primeiro lugar, do conteúdo
da correspondência apreendida, nos termos do Convocação de interveniente processual para acto
de instrução
nº 3 do artigo 244.º;
1. A convocação para acto de instrução deverá ser
f) A admissão da constituição do assistente; feita, pelos meios previstos no presente Código, com uma
g) A condenação em quaisquer quantias, designadamente antecedência de, pelo menos, dois dias, salvo em casos de
a faltosos ou por conduta de ma fé por parte de extrema urgência, sempre que haja fundado motivo para
interveniente processual; recear que o cumprimento dessa exigência possa vir a pôr
em causa a subsistência de meios de prova.
h) Declarar a perda, a favor do Estado, de bens
apreendidos, quando o Ministério Público 2. Sempre que for necessário assegurar a presença de
proceder ao arquivamento da instrução nos qualquer pessoa em acto de instrução, com cominação
termos dos artigos 315.º, 317.º e 318.º; específica, a convocação será feita pelo Ministério Público
ou pela autoridade de polícia criminal em que tenha sido
i) Praticar quaisquer outros actos que a lei expressamente delegada a diligência, através de mandado de comparência
reservar ao juiz. do qual conste a identificação da pessoa, a indicação do
dia, local e hora a que deve apresentar-se e a menção
2. O juiz praticará os actos referidos no número das sanções em que incorre no caso de falta injustificada.
antecedente a requerimento do Ministério Público, de
autoridade de polícia criminal em caso de urgência ou de 3. A convocação deverá indicar com que qualidade é
perigo na demora, do arguido ou do assistente. solicitada a intervenção do chamado ao processo.
3 703000 000000

Artigo 311.º
3. O requerimento, quando proveniente do Ministério
Público ou de autoridade de polícia criminal, não está Autos de instrução
sujeito a quaisquer formalidades. 1. As diligências de prova realizadas no decurso da
4. Nos casos referidos nos números antecedentes, o instrução serão reduzidas a auto, salvo aquelas cuja
juiz decidirá, no prazo máximo de 24 horas, com base documentação o Ministério Público entender desnecessária.
na informação que, conjuntamente com o requerimento, 2. Os actos a que se referem os artigos 306.º a 309.º
lhe for prestada, dispensando a apresentação dos autos serão obrigatoriamente reduzidos a auto.
sempre que a não considere imprescindível.
3. Concluída a instrução, o auto ficará à guarda do
Artigo 308.º Ministério Público ou será remetido, consoante os casos,
Actos a ordenar ou a autorizar pelo juiz ao tribunal competente para a audiência contraditória
preliminar ou para o julgamento.
1. Durante a instrução competirá exclusivamente ao juiz Artigo 312.º
ordenar ou autorizar buscas domiciliárias, apreensões de
correspondência, intercepções ou gravações de conversações Instrução contra magistrado
ou comunicações telefónicas, telemáticas e outras, nos 1. Se for objecto da notícia do crime Magistrado Judicial
termos e com os limites previstos neste Código, e, ainda, a ou do Ministério Público, será designado para a realização
prática de quaisquer outros actos que a lei expressamente da instrução magistrado de categoria igual ou superior
fizer depender de ordem ou autorização do juiz. à do visado.
2. É correspondentemente aplicável o disposto nos n.ºs 2. Se for objecto da notícia do crime o Procurador-Geral
2 a 4 do artigo antecedente. da Republica, a competência para a instrução pertencerá ao
Artigo 309.º Magistrado do Ministério Público mais antigo na carreira.
Artigo 313.º
Prestação antecipada de depoimentos
Competência
1. Em caso de doença grave, de deslocação para o
estrangeiro ou de falta de autorização de residência À competência para a realização da instrução aplicarse-
em Cabo Verde de quem deva depor como testemunha, ão, correspondentemente, e com as necessárias adaptações,
assistente, parte civil ou perito ou de quem deva participar as disposições deste Código sobre competência territorial
em acareação, se for previsível o seu impedimento para do tribunal, sem prejuízo do estipulado nas leis de
comparecer em julgamento, o juiz, a requerimento do Organização Judiciária e do Ministério Público.
Ministério Público, do arguido, do assistente ou da parte Secção III
civil, poderá proceder à sua inquirição no decurso do Encerramento da Instrução
instrução, a fim de que o depoimento possa, se necessário,
ser tomado em conta na audiência de julgamento. Artigo 314.º
Prazos de duração máxima da instrução
2. Ao Ministério Público, ao arguido, ao defensor e aos
advogados do assistente e da parte civil serão comunicados 1. O Ministério Público encerrará a instrução, apreciando,
o dia, hora e local da prestação do depoimento, para que quando for o caso, o grau de colaboração do arguido nos
possam estar presentes se o desejarem. termos previsto no Código Penal, arquivando-a ou deduzindo

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1225

acusação, nos prazos máximos de quatro meses, se houver Artigo 318.º


arguidos presos, ou de dezoito meses, se os não houver. Suspensão provisória mediante injunções
2. O prazo de quatro meses referido no número antecedente
poderá ser elevado para oito meses quando a instrução 1. Se o crime for punível com pena de prisão cujo limite
tiver por objecto um dos crimes referidos no n°2 do artigo máximo não seja superior a cinco anos, ou com sanção
279.º, por despacho especialmente fundamentado do diferente de prisão, o Ministério Público, oficiosamente
Ministério Público. ou a requerimento do arguido, do assistente ou de quem
tenha legitimidade para se constituir como tal, proporá
3. Para efeitos do disposto nos números antecedentes, o ao juiz a suspensão provisória do processo, mediante a
prazo contar-se-á a partir do momento em que a instrução imposição ao arguido de injunções e regras de conduta, se
tiver passado a correr contra pessoa determinada ou em se verificarem cumulativamente os seguintes pressupostos:
que se tiver verificado a constituição de arguido.
a) Concordância do arguido, do assistente, do denunciante
4. No caso de ter havido recurso contra a aplicação da que tenha declarado na denúncia que desejava
medida de prisão preventiva para o Tribunal Constitucional constituir-se assistente e para tal tenha legitimidade
os prazos referidos nos números antecedentes serão e do ofendido não constituído assistente;
acrescidos de mais seis meses.
b) Ausência de antecedentes criminais do arguido;
Artigo 315.º
Arquivamento da instrução c) Não haver lugar a medida de segurança de
internamento;
1. O Ministério Público procederá, por despacho
fundamentado, ao arquivamento da instrução logo que d) Circunstâncias susceptíveis de, por forma acentuada,
tiver recolhido prova bastante de se não ter verificado atenuar a ilicitude do facto ou diminuir a culpa
crime, de o arguido não o ter praticado a qualquer título, do agente;
de a acção penal estar extinta ou de, por qualquer outra
razão, ser legalmente inadmissível o procedimento penal. e) Ser de prever que o cumprimento das injunções
e regras de conduta responda suficientemente às
2. A instrução será igualmente arquivada se não tiver exigências de prevenção que no caso se façam sentir.
sido possível ao Ministério Público obter indícios suficientes
da verificação de crime ou de quem foram os agentes. 2. São oponíveis ao arguido, isolada ou cumulativamente,
as seguintes injunções e regras de conduta:
3. O despacho de arquivamento será comunicado, pelos
meios estabelecidos no presente Código, ao arguido, ao a) Indemnizar o lesado;
assistente, ao denunciante com legitimidade para se
constituir assistente, ao ofendido, à parte civil e a quem, b) Dar ao lesado satisfação moral adequada;
3 703000 000000

no processo, tenha manifestado o propósito de deduzir c) Entregar a instituições de solidariedade social


pedido de indemnização civil, e, ainda, ao respectivo uma contribuição monetária ou prestação em
defensor e advogado constituídos. espécie de valor equivalente;
Artigo 316.º
d) Não exercer determinadas profissões;
Intervenção hierárquica
e) Não frequentar certos meios ou lugares;
1. No prazo de trinta dias, contado da data do despacho
de arquivamento, ou de sua notificação, o imediato f) Não ter em seu poder determinados objectos capazes
superior hierárquico do Ministério Público, oficiosamente de facilitar a prática de crimes;
ou a requerimento do assistente ou do denunciante com
legitimidade para se constituir assistente, se não tiver sido g) Tratamento ou qualquer outra injunção ou regra
requerida abertura de audiência contraditória preliminar, de conduta que preencha os requisitos previsto
poderá determinar que seja formulada acusação ou que no número seguinte determinada pelo juiz ou
as investigações prossigam, indicando, neste caso, as acordada entre o arguido e ofendido e aceite
diligências a efectuar e o prazo para o seu cumprimento. pelo juiz.
2. O prazo referido na parte final do número antecedente 3. As injunções e regras de conduta impostas não poderão,
nunca poderá ser superior a um terço do mencionado nos em caso algum, representar para o arguido obrigações
n°s 1 e 2 do artigo 279.º. cujo cumprimento não lhe seja razoável exigir ou seja
3. Esgotado o prazo referido no n° 1, ou o do nº 2, consoante susceptível de atentar contra a dignidade do arguido.
os casos, e sem prejuízo do disposto sobre a abertura de 4. Para fiscalização e acompanhamento do cumprimento
audiência contraditória preliminar, a instrução só pode das injunções e regras de conduta poderão o juiz e o
ser reaberta se surgirem novos elementos de prova que Ministério Público recorrer aos serviços de reinserção
invalidem os fundamentos invocados pelo Ministério social e às autoridades, se tal se mostrar necessário.
Público no despacho de arquivamento.
Artigo 317.º
5. O despacho de arquivamento, em conformidade com
o nº 1, não é susceptível de impugnação.
Arquivamento em caso de dispensa de pena
6. Nos crimes de violência baseada no género, o juiz
1. Se o processo for por crime relativamente ao qual pode determinar a suspensão provisória do processo
se encontre expressamente prevista na lei penal a mediante injunções, nos termos deste artigo e preenchidas
possibilidade de dispensa de pena, o Ministério Público, as condições para a suspensão da pena de prisão previstas
ouvido o assistente e o denunciante que tenha declarado na na alínea b) do número 2 do artigo 53.º do Código Penal.
denúncia que desejava constituir-se assistente e para tal
tenha legitimidade, poderá propor ao juiz o arquivamento Artigo 319.º
do processo se entender verificarem-se os pressupostos Duração e efeitos da suspensão provisória
daquela dispensa.
2. A decisão de arquivamento, proferida nos termos do 1. O arquivamento provisório do processo poderá ir até
número antecedente, é correspondentemente aplicável o dois anos, não correndo os prazos de prescrição durante
disposto no nº 3 do artigo 315º, sendo susceptível de recurso. o período do arquivamento.

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1226 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

2. Se o arguido cumprir as injunções e regras de conduta, e) A indicação das disposições legais aplicáveis;
o Ministério Público arquivará o processo, não podendo
ser reaberto. f) A indicação de provas a produzir ou a requerer,
nomeadamente o rol das testemunhas e dos
3. Se o arguido não cumprir as injunções e regras peritos a serem ouvidos em julgamento, com
de conduta, o processo prosseguirá os seus termos e o a respectiva identificação;
arguido não poderá exigir a restituição de prestações
que haja efectuado. g) A data e assinatura do acusador.

4. A quantia que, nos casos previstos no número 2. Tratando-se de acusação do assistente, no caso de ter
antecedente, tiver sido entregue ao lesado a título de havido primeiramente acusação do Ministério Público,
indemnização será descontada no montante indemnizatório ou da acusação deste em caso de prossecução processual
que for atribuído na sentença final. dependente de acusação particular, a acusação poderá
limitar-se a mera adesão, respectivamente, à do Ministério
Artigo 320.º Público ou à do assistente.
Quando há lugar à acusação 3. Nas hipóteses previstas no número antecedente,
1. Se durante a instrução tiverem sido recolhidos só serão indicadas provas produzidas, a produzir ou a
indícios suficientes da existência de um crime e de quem requerer que não constem da acusação formulada em
foi o seu agente, o Ministério Público deduzirá, no prazo primeiro lugar.
de oito dias, acusação contra aquele, se para isso tiver 4. Em caso de conexão de processos, será deduzida
legitimidade. uma só acusação.
2. Encerrada a instrução e deduzida a acusação contra 5. No despacho de acusação poderá o Ministério Público,
o arguido, o Ministério Público notificará o assistente nos crimes puníveis com pena de prisão de limite máximo
ou quem tenha legitimidade para se constituir como tal superior a oito anos requerer que a audiência de julgamento
o efeito para, no prazo de sete dias, querendo, deduzir da causa seja realizada perante o tribunal colectivo.
acusação pelos factos acusados por aquele magistrado,
por parte deles ou por outros, desde que não tenham 6. É correspondentemente aplicável o disposto no nº 3
como efeito a imputação ao arguido de um crime diverso do artigo 315.º.
ou a agravação dos limites máximos da pena aplicável.
Artigo 322.º
3. Quando a prossecução do processo penal depender Indícios suficientes
de acusação particular, finda a instrução, o Ministério
Público notificará o assistente para, no prazo de sete dias, Consideram-se suficientes os indícios sempre que deles
querendo, deduzir acusação particular.
3 703000 000000

resultar uma possibilidade razoável de ao arguido vir a


ser aplicada, por força deles, em julgamento, uma pena
4. O Ministério Púbico poderá, nos cinco dias posteriores ou medida de segurança.
à apresentação da acusação particular, acusar pelos
mesmos factos, por parte deles ou por outros, desde que CAPÍTULO II
não tenham por efeito o disposto na parte final do nº 2
do presente artigo. Audiência Contraditória Preliminar (ACP)
5. O Ministério Público poderá, nos cinco dias posteriores Artigo 323.º
à apresentação da acusação particular, acusar pelos mesmos Finalidade, âmbito e natureza da ACP
factos, por parte deles ou por outros, desde que não tenham
por efeito o disposto na parte final do nº 2 do presente artigo. 1. A ACP terá por finalidade obter uma decisão de
submissão ou não da causa a julgamento, através da
Artigo 321.º
comprovação da decisão de deduzir acusação ou de
Requisitos da acusação arquivar a instrução.
1. A acusação conterá, sob pena de nulidade: 2. A ACP tem carácter facultativo, só poderá ter lugar
por requerimento do arguido ou do assistente, nos termos
a) O nome do acusador, sua profissão e morada, se do artigo seguinte, e no processo ordinário.
não for o Ministério Público;
3. Não haverá lugar à abertura da ACP no caso previsto
b) O nome do acusado, sua profissão e morada, quando no n° 2 do artigo 319.º.
conhecidos, e quaisquer outras indicações
necessárias à sua identificação; 4. A ACP é uma audiência oral e contraditória, presidida
e dirigida por um juiz, em que poderão participar o
c) A narração discriminada e precisa dos factos que Ministério Público, o arguido, o defensor, o assistente e
integram a infração ou infrações, com inclusão o seu advogado.
dos que fundamentam a imputação subjetiva,
a título de dolo ou de negligência, e, sempre 5. O juiz será assistido, sempre que for necessário,
que possível, o lugar, tempo e motivação da pelos órgãos de polícia criminal.
sua prática, o grau de participação que o Artigo 324.º
agente neles teve, os factos que suportam as
consequências do facto punível, em especial ACP em caso de acusação
os danos provocados às vítimas e aos demais
lesados e as vantagens obtidas e os respetivos 1. Se a prossecução do processo não depender de acusação
valores, bem como quaisquer circunstâncias particular e tiver sido deduzida acusação, a realização
relevantes para a determinação da gravidade da ACP apenas poderá ser requerida:
dos factos, da culpa do agente e da sanção que a) Pelo arguido, relativamente a factos pelos quais
lhe deverá ser aplicada; o Ministério Público tiver deduzido acusação;
d) A indicação dos meios de prova que sustentam a b) Pelo assistente, ou por quem no acto se constitua
imputação ao arguido dos factos e circunstâncias assistente, relativamente a factos pelos quais o
referidos na alínea antecedente;

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1227

Ministério Público não tiver deduzido acusação e facto, maus tratos a ascendente e pessoas em economia
que consubstanciem crime diverso ou agravação doméstica e de crimes sexuais contra menores, o despacho
dos limites máximos da pena aplicável. que designa a data para a realização da ACP deverá
ser proferido no prazo máximo de 72 horas, a contar da
2. Se a prossecução do processo depender de acusação receção do requerimento, a qual deverá iniciar-se dentro
particular, a realização da ACP apenas poderá ser de dez dias subsequentes.
requerida pelo arguido, relativamente a factos pelos quais
o assistente tiver deduzido acusação. Artigo 328.º
Competência
3. O requerimento previsto nos números antecedentes
é dirigido ao juiz e entregue na secretaria do Ministério É correspondentemente aplicável o disposto no artigo 313.º.
Público, no prazo de oito dias a contar da data em que o
requerente for notificado da: Artigo 329.º
Adiamento da ACP
a) Acusação do Ministério público, no caso do nº 1;
b) Acusação do assistente, no caso do nº 2. 1. A ACP só poderá ser adiada por absoluta impossibilidade
de ter lugar, nomeadamente por grave e legítimo
4. Com o requerimento previsto nos números 1 e 2 deverá impedimento de o arguido estar presente.
o arguido ou o assistente, nos crimes puníveis com pena 2. Em caso de adiamento, o juiz designará imediatamente
cujo limite máximo seja superior a oito anos, indicar se nova data, a qual não poderá exceder em sete dias a
pretende que a audiência de discussão e julgamento seja anteriormente fixada; a nova data será comunicada aos
realizada em tribunal colectivo. presentes, mandando o juiz proceder à notificação dos
5. Não havendo lugar a audiência contraditória, ausentes cuja presença seja necessária.
o requerimento para que a audiência de discussão e 3. Se o arguido renunciar ao direito de estar presente, a
julgamento seja realizada em tribunal colectivo, deverá ACP não será adiada com fundamento na sua falta, sendo
ser efectuado no prazo a que se refere o número 3 do ele representado pelo defensor constituído ou nomeado.
presente artigo.
Artigo 325.º 4. A ACP só poderá ser adiada uma vez; se o arguido
faltar na segunda data marcada, será representado pelo
ACP em caso de arquivamento defensor constituído ou nomeado.
1. Se a prossecução do processo não depender de Artigo 330.º
acusação particular e a instrução tiver sido arquivada, Disciplina e organização dos trabalhos da ACP
apenas o assistente, ou quem no acto se constitua como
3 703000 000000

tal, poderá requerer a realização da ACP. 1. A disciplina da audiência e a sua direcção e organização
competirão ao juiz, detendo este, no necessário, poderes
2. O requerimento previsto no número antecedente correspondentes aos conferidos por este Código ao juiz
deverá ser apresentado no prazo de oito dias a contar da que preside à audiência de julgamento.
notificação do despacho de arquivamento.
2. A ACP decorrerá sem sujeição a formalidades especiais.
3. Se o requerente não tiver sido notificado do despacho
de arquivamento, a realização da ACP poderá ser requerida Artigo 331.º
no prazo de oito dias a contar da data em que o requerente Sequência dos trabalhos da ACP
dele tiver conhecimento.
1. O juiz abrirá a ACP com uma exposição sumária
Artigo 326.º
sobre os actos de instrução a que tiver procedido e sobre
Formalidades e rejeição do requerimento as questões de prova relevantes e que, em sua opinião,
apresentem carácter controverso.
1. O requerimento não está sujeito a formalidades
especiais mas deverá conter, em súmula, as razões, de 2. Em seguida concederá a palavra ao Ministério Público,
facto e de direito, de discordância relativamente à acusação ao advogado do assistente e ao defensor para que estes,
ou não acusação, bem como, sempre que disso for caso, a querendo, requeiram a produção de provas indiciárias
indicação das diligências que o requerente desejaria que suplementares que se proponham apresentar, durante a
fossem feitas, dos meios de prova que não tenham sido audiência, sobre questões concretas controversas.
considerados e produzidos na instrução e dos factos que,
através de uns e outros, se espera provar. 3. Seguir-se-á a produção da prova sob a directa
orientação do juiz, o qual decidirá, sem formalidades,
2. O requerimento para a abertura da ACP só poderá quaisquer questões que a propósito se suscitarem; o juiz
ser rejeitado por extemporâneo, por incompetência do poderá dirigir-se directamente aos presentes, formulando-
juiz ou por inadmissibilidade legal da ACP. lhes as perguntas que entender necessárias à realização
das finalidades da ACP.
Artigo 327.º
Despacho e notificação da data da ACP
4. O juiz assegurará a contraditoriedade na produção
da prova e a possibilidade de o arguido ou o seu defensor
1. O despacho proferido sobre o requerimento para a se pronunciarem sobre ela em último lugar.
realização da ACP será notificado ao Ministério Público,
ao arguido e seu defensor e ao assistente e seu advogado. 5. O juiz recusará qualquer requerimento ou diligência
de prova que manifestamente não interessem para o
2. Se o despacho não for de rejeição, nele será designada apuramento da verdade ou apenas sirvam para protelar
a data de realização da ACP, que igualmente será notificada o andamento do processo.
a quaisquer outros intervenientes processuais, sendo 6. Os actos e diligências de prova praticados na instrução
aplicável, correspondentemente, o disposto no artigo 310.º. poderão ser repetidos, desde que se revelem indispensáveis
3.Tratando-se de processos relativos a crimes de para a realização das finalidades da ACP.
violência baseada no género, maus-tratos a criança ou
pessoa vulnerável, maus tratos a cônjuge e unido de 7. É correspondentemente aplicável o disposto no nº 3 do
artigo 304.º, nº 1 do art. 305.º, e nos artigos 306.º e 309.º.

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1228 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021


Artigo 332.º 3. No despacho referido nos números antecedentes o
Alteração dos factos descritos na acusação juiz começará por decidir todas as questões prévias ou
ou no requerimento para a realização da ACP incidentais de que possa conhecer.
1. Se da ACP resultar fundada suspeita da verificação 4. A circunstância de ter sido requerida apenas por um
de factos não descritos na acusação do Ministério Público dos arguidos não prejudicará o dever de o juiz retirar da
ou do assistente ou no requerimento para a sua realização, ACP as consequências legalmente impostas para todos
o juiz, oficiosamente ou a requerimento, comunicará tal os arguidos.
suspeita ao defensor, interrogará o arguido sobre ela
Artigo 337.º
sempre que possível e conceder-lhe-á, a requerimento,
um prazo para preparação da defesa não superior a Notificação do despacho de pronúncia ou de não-pronúncia
cinco dias, com o consequente adiamento da audiência,
se necessário. 1. O despacho de pronúncia ou de não-pronúncia
será, sempre que possível, imediatamente lido após o
2. Se os factos referidos no nº 1 representarem, por relação encerramento da ACP, equivalendo a leitura à notificação
com os factos descritos na acusação ou no requerimento dos presentes.
para a realização da ACP, crime diverso ou uma agravação
dos limites da pena aplicável, e se revelar conveniente e 2. O despacho poderá ser proferido verbalmente e ditado
materialmente possível a sua investigação em processo para a acta, considerando-se notificado aos presentes.
autónomo, o juiz comunicá-los-á ao Ministério Público,
valendo tal comunicação como denúncia para efeitos de 3. Quando a complexidade da causa não permitir que
procedimento penal quanto a eles. se faça imediatamente leitura do despacho de pronúncia
ou de não-pronúncia, o juiz, no acto de encerramento da
3. O disposto no número 1 será correspondentemente ACP, ordenará que os autos lhe sejam feitos conclusos a
aplicável quando o tribunal alterar a qualificação jurídica fim de o proferir, no prazo máximo de cinco dias; neste
dos factos descritos na acusação ou no requerimento para caso, o juiz comunicará de imediato aos presentes a data
a realização da ACP. em que o despacho será lido, sendo correspondentemente
Artigo 333.º aplicável o disposto na parte final do nº 1.
Continuidade e encerramento da audiência 4. A notificação de pessoas não presentes far-se-á nos
termos previstos no presente Código.
1. A ACP será contínua, sem prejuízo do disposto neste
capítulo sobre adiamentos e das interrupções necessárias TÍTULO II
para a alimentação e repouso dos intervenientes. Fase do julgamento
2. O juiz igualmente interromperá a audiência, sempre
CAPÍTULO I
3 703000 000000

que, no decurso dela, se aperceber de que será indispensável


a prática de diligências ou actos que não possam ser Saneamento do processo e preparação
levados a cabo na própria audiência. do julgamento
3. A ACP deverá ser encerrada no prazo máximo de um Artigo 338.º
ou dois meses, contados da data de seu início, consoante
haja ou não arguidos presos, prazo que, nos casos previstos Saneamento do processo e hipóteses de rejeição da acusação
no nº 2 do artigo 279.º, poderá ser, respectivamente, de 1. Recebidos os autos no tribunal competente para o
dois ou três meses. julgamento, o juiz da causa ou o presidente do tribunal
Artigo 334.º colectivo caso tenha sido requerido, pronunciar-se-á
Auto da ACP por súmula
sobre as questões prévias ou incidentais susceptíveis
de obstar à apreciação do mérito da causa de que possa,
Os termos em que se desenrolarem os actos da ACP desde logo, conhecer.
serão lavrados em auto, o qual, sem prejuízo do disposto
no nº 5 do artigo 309.º, será redigido por súmula em tudo 2. Se o processo tiver sido remetido para julgamento
o que se referir a declarações orais, nos termos dos n.ºs sem ter havido ACP, o juiz despachará no sentido de não
2 e 3 do artigo 127.º. aceitar a acusação do assistente ou do Ministério Público
na parte que não obedeça, respectivamente, ao disposto
Artigo 335.º no n° 2 ou n° 5 do artigo 320.º, ou, ainda, se acusação
Conclusões do Ministério Público e da defesa não contiver a identificação do acusado, a narração dos
factos, a indicação das provas que a fundamentam ou das
Realizadas as diligencias que devam ter lugar na disposições legais aplicáveis, ou se os factos nela descritos
audiência, o juiz concederá a palavra ao Ministério não constituírem manifestamente um crime.
Público, ao advogado do assistente e ao defensor, para
que estes, querendo, em tempo não superior a quinze Artigo 339.º
minutos cada um, usem da palavra e formulem as suas Despacho que marca data da audiência
conclusões sobre a suficiência ou insuficiência dos indícios
recolhidos e sobre as questões de direito de que dependa 1. Resolvidas as questões referidas no artigo antecedente,
a decisão de submeter o arguido a julgamento. o juiz despachará, designando o dia, hora e local para a
Artigo 336.º audiência, a qual será fixada para a data mais próxima
possível, mas nunca depois de quarenta e cinco dias após
Despacho de pronúncia ou de não-pronúncia a receção dos autos no tribunal e, simultaneamente, a
1. Encerrada a ACP, o juiz proferirá despacho de data da nova audiência, em caso de adiamento, nos termos
pronúncia ou de não-pronúncia, consoante tiverem sido ou estabelecidos no presente Código.
não recolhidos indícios suficientes de se terem verificado 2. O despacho que designa dia para a audiência conterá,
os pressupostos de que depende a aplicação ao arguido sob pena de nulidade:
de uma pena ou de uma medida de segurança.
a) A indicação dos factos e disposições legais aplicáveis,
2. É aplicável ao despacho referido nos números o que poderá ser feito por remissão para a
antecedentes o disposto no artigo 322.º, e, com as devidas pronúncia ou, se a não tiver havido, para a
adaptações, o disposto nos n.ºs 1, 4 e 5 do artigo 321.º. acusação;

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1229

b) A indicação do lugar, dia e hora da comparência; arguido ou da parte civil, conforme os casos, desde que o
adicionamento ou a alteração requeridos por um possam
c) A nomeação de defensor ao arguido, se ainda não ser comunicados aos outros até três dias antes da data
estiver constituído no processo; fixada para a audiência.
d) A data e assinatura do presidente do tribunal.
2. Depois de oferecido o rol, não poderão ser oferecidas
3. O despacho, acompanhado de cópia da pronúncia novas testemunhas de fora da comarca, salvo se quem
ou, se a não tiver havido, da acusação ou acusações, será as oferecer se prontificar a apresentá-las na audiência
comunicado, por cópia, aos restantes juizes, se os houver de julgamento.
e disso for o caso, e notificado ao Ministério Público, bem
como ao arguido, ao assistente, à parte civil e aos seus 3. O disposto nos números antecedentes é correspondentemente
representantes, pelo menos vinte dias antes da data aplicável à indicação de peritos.
fixada para a audiência. Artigo 343.º
Artigo 340.º
Notificação de testemunhas e peritos
Tentativa de obtenção de acordo
As testemunhas e peritos indicados por quem se não
1. Até à data do início da audiência de julgamento, o juiz, tiver comprometido a apresentá-los na audiência serão
oficiosamente ou a requerimento do Ministério Público, notificados para comparência, com uma antecedência
do arguido ou do ofendido, procurará obter o acordo entre mínima de três dias.
estes, com a presença dos respetivos mandatários, nos
casos de: Artigo 344.º

a) Crimes cujo procedimento criminal depende de Pessoas residentes fora da comarca


queixa;
1. Se houver necessidade de inquirir testemunhas ou
b) Crimes em relação aos quais se mostrem verificados de tomar declarações a sujeitos ou outros intervenientes
os pressupostos de suspensão provisória do processuais residentes fora da comarca, expedir-se-ão
processo mediante injunções e regras de conduta; para o efeito, dirigidos ao juiz da respectiva Comarca, os
c) Crimes relativamente aos quais se encontre devidos ofícios precatórios ou rogatórios, telegramas ou
expressamente prevista na lei penal a possibilidade outros meios permitidos pelo presente Código.
de dispensa da pena; 2. A inquirição ou tomada de declarações nos termos do
d) Processo de transação, nos termos do artigo 422º. número antecedente será decidida pelo juiz, oficiosamente
ou a requerimento, se a presença de tais pessoas se não
2. O acordo poderá ainda abranger as matérias relativas revelar essencial para o apuramento da verdade e forem
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ao pedido civil, nomeadamente, uma eventual indemnização previsíveis graves ou inultrapassáveis dificuldades ou
pelos danos causados pelo crime, e às custas processuais. inconvenientes funcionais ou pessoais na sua deslocação
3. Se o acordo for obtido e não houver oposição, ouvido ao local da audiência.
o Ministério Público, o juiz homologará o acordo, sendo 3. A circunstância de a pessoa a inquirir ou a depor
a decisão assim obtida insusceptível de recurso. ter sido já ouvida no processo em qualquer de suas fases
4. O procedimento descrito nos números antecedentes preliminares não constituirá, por si só, elemento decisivo
poderá ser realizado pelo presidente do tribunal antes para uma tomada de posição do tribunal para os efeitos
da produção da prova em audiência. do disposto no número antecedente.
Artigo 341.º 4. Verificando-se a situação prevista nos números
Contestação e meios de prova antecedentes, o dia da audiência deverá, sempre que
possível, ser marcado com o intervalo necessário para que
1. O arguido, em dez dias a contar da notificação do possam ser cumpridos os ofícios ou outros meios expedidos.
despacho que designa dia para a audiência, apresentará,
querendo, a contestação, acompanhada do rol de testemunhas, 5. A inquirição e a tomada de declarações processar-
dos documentos de suporte da defesa e da indicação dos se-ão com observância das formalidades da audiência
peritos que deverão ser notificados para a audiência. que não forem incompatíveis com a particularidade de
realização do acto processual.
2. A contestação poderá ser apresentada na audiência
de julgamento, mas, neste caso, o rol de testemunhas 6. A solicitação a que se refere o número 1 é de imediato
será apresentado e a indicação dos peritos será feita no comunicada ao Ministério Público, ao arguido, bem como
prazo referido no n° 1. ao assistente e à parte civil.
3. Se, entre as testemunhas indicadas houver alguma Artigo 345.º
que tenha de ser ouvida por deprecada, mencionar-se-ão
logo os factos sobre que deverá depor. Tomada de declarações à distância em tempo real

4. A contestação não está sujeita a formalidades especiais. Sempre que estiverem disponíveis os indispensáveis
meios técnicos, a inquirição e a tomada de declarações,
5. Quando deduzida na audiência de julgamento, a referidas no artigo anterior, realizar-se-ão em simultâneo
contestação será apresentada por escrito pelo defensor. com a audiência de julgamento, com recurso a meios de
6. Se o defensor tiver sido nomeado ou constituído comunicação em tempo real.
durante a audiência de julgamento, poderá requerer Artigo 346.º
algum tempo para conferenciar com o arguido e elaborar
a contestação, sem que, por esse motivo, seja adiada a Tomada de declarações no domicílio
audiência.
1. Se, por fundadas razões, o assistente, a parte civil, uma
Artigo 342.º testemunha ou um perito se encontrarem impossibilitados
Adicionamento ou alteração do rol de testemunhas de comparecer na audiência, poderá o juiz ordenar,
oficiosamente ou a requerimento, que lhes sejam tomadas
1. O rol de testemunhas poderá ser adicionado ou alterado declarações no lugar em que se encontrarem, em dia e
a requerimento do Ministério Público, do assistente, do hora que lhes comunicará.

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1230 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

2. A ordem será de imediato comunicada ao Ministério declarações legalmente admissíveis, sempre que
Público, bem como aos representantes do arguido, o entender necessário à descoberta da verdade;
assistente e parte civil.
f) Ordenar a leitura de documentos ou de autos, nos
3. Quem tiver requerido a tomada de declarações informará, casos em que aquela leitura seja legalmente
no mesmo acto, quais os factos ou as circunstâncias sobre admissível;
que aquelas deverão versar.
g) Receber os juramentos e os compromissos;
4. É aplicável o disposto no n° 5 do artigo 345.º.
h) Garantir o contraditório e impedir a formulação
5. O conteúdo das declarações será reduzido a auto, de perguntas legalmente inadmissíveis;
sendo aquelas reproduzidas integralmente ou por súmula,
conforme o juiz determinar, tendo em atenção os meios i) Dirigir e moderar a discussão, proibindo, em
disponíveis de registo e transcrição. especial, todos os expedientes manifestamente
impertinentes ou dilatórios.
Artigo 347.º
2. As decisões relativas à disciplina da audiência e à
Exame do processo direcção dos trabalhos serão tomadas sem formalidades,
O processo deverá estar na secretaria do tribunal para podendo ser ditadas para a acta e precedidas de audição
aí poder ser examinado pelos representantes do arguido contraditória, se o juiz entender que isso não põe em
e do assistente nos três dias antecedentes à audiência de causa a tempestividade e a eficácia das medidas a tomar.
julgamento, durante as horas de expediente. Artigo 350.º
Artigo 348.º Publicidade da audiência
Realização de actos urgentes 1. A audiência de julgamento é pública, sob pena de
1. O juiz, oficiosamente ou a requerimento, procederá nulidade insanável, salvo nos casos em que o juiz que a ela
à realização dos actos urgentes ou cuja demora possa preside decidir a exclusão ou a restrição da publicidade,
acarretar perigo para a aquisição ou conservação da verificados os pressupostos mencionados no artigo 10.º.
prova ou para a descoberta da verdade, nomeadamente, 2. É correspondentemente aplicável o disposto no artigo 111.º,
à prestação antecipada de depoimentos, nos termos, e nomeadamente nos seus n.ºs 6 e 7.
com as necessárias adaptações, do artigo 309.º.
3. A decisão de exclusão ou de restrição da publicidade
2. É correspondentemente aplicável o disposto no artigo será, sempre que possível, precedida de audição contraditória
345.º e nos 2 a 5 do artigo 346.º. dos sujeitos processuais interessados.
CAPÍTULO II
4. Se a audiência não for pública, apenas poderão
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Audiência de julgamento assistir, além daqueles que nela tenham intervenção, os


Secção I advogados, os advogados estagiários ou outras pessoas que
nisso tenham comprovadamente interesse profissional e
Disposições Gerais que o presidente do tribunal admita.
Artigo 349.º Artigo 351.º
Disciplina da audiência e direcção dos trabalhos Deveres de conduta das pessoas que assistem à audiência
e dos intervenientes processuais
1. A audiência de julgamento será presidida e dirigida
pelo juiz onde o processo for julgado, ao qual competirá, 1. As pessoas que assistem à audiência deverão guardar
sem prejuízo dos poderes e deveres que por lei lhe forem o maior acatamento e respeito, não perturbando por
atribuídos, em especial: qualquer forma o seu regular funcionamento, a dignidade
da instituição e a liberdade de acção dos intervenientes
a) Dirigir os trabalhos da audiência, manter a ordem processuais.
e a disciplina, tomando todas as medidas
preventivas, disciplinares e coactivas, legalmente 2. É correspondentemente aplicável o disposto no
admissíveis, que se mostrarem necessárias ou número antecedente a todos os intervenientes processuais,
adequadas a fazer cessar os actos de perturbação nomeadamente ao arguido e ao assistente.
da audiência e a garantir a segurança de todos Artigo 352.º
os intervenientes processuais, requisitando a
força pública, se necessário; Situação e deveres de conduta especiais do arguido

b) Limitar a entrada na sala de audiência ou ordenar a 1. O arguido, ainda que se encontre detido ou preso,
saída de qualquer pessoa cuja presença não seja assistirá à audiência livre na sua pessoa ou através de
necessária, por motivos de ordem, segurança, videoconferência ou outros meios análogos, salvo se forem
dignidade ou de higiene, nomeadamente, de necessárias cautelas para prevenir o perigo de fuga ou a
quem esteja em estado notório de embriaguez prática de atos de violência.
ou de intoxicação por estupefacientes ou ainda
de anomalia psíquica; 2. Se, no decurso da audiência, o arguido faltar
ilicitamente ao cumprimento dos seus deveres de
c) Levantar ou mandar levantar auto, verificandose, conduta, será advertido com urbanidade e, se persistir no
no decurso da audiência, a prática de qualquer comportamento, poderá ser mandado recolher a qualquer
infracção, e, se for caso disso, deter ou mandar dependência do tribunal, sem prejuízo da faculdade de
deter o respectivo agente; comparecer ao último interrogatório e à leitura da sentença
e do dever de regressar à sala sempre que o juiz reputar
d) Proceder a interrogatórios, inquirições, exames e a sua presença necessária.
quaisquer outros actos de produção da prova,
mesmo que com prejuízo da ordem legalmente 3. O arguido afastado da sala de audiência nos termos
fixada para eles, sempre que o entender necessário do número antecedente considerar-se-á presente e será
à descoberta da verdade; representado pelo defensor.
e) Ordenar, pelos meios adequados, a comparência de 4. O afastamento do arguido valerá só para a sessão
quaisquer pessoas e a produção de quaisquer durante a qual ele tiver sido ordenado.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1231


Artigo 353.º a) Faltar ou ficar impossibilitada de participar pessoa
Conduta dos advogados e defensores que não possa ser de imediato substituída e
cuja presença seja indispensável, por força da
1. O advogado ou o defensor tem o dever de proceder com lei ou de despacho do tribunal;
urbanidade e respeito relativamente ao juiz que presidir
à audiência, demais magistrados, outros advogados ou b) For absolutamente necessário proceder à produção
defensores, funcionários e demais intervenientes processuais. de qualquer meio de prova superveniente e
indisponível, no momento em que a audiência
2. Será advertido com a devida urbanidade pelo juiz estiver a decorrer;
que preside ao julgamento o advogado ou defensor que se
afastar do respeito devido ao tribunal, procurar, manifesta c) Surgir qualquer questão prejudicial, prévia ou
e abusivamente, protelar ou embaraçar o decurso normal incidental, cuja resolução seja essencial para
dos trabalhos, usar de expressões injuriosas, violentas ou a boa decisão da causa e que torne altamente
agressivas contra a autoridade pública ou interveniente inconveniente a continuação da audiência.
processual, ou, ainda, fizer comentários ou explanações 4. Em caso de interrupção da audiência ou do seu
sobre assuntos alheios ao processo e que de modo algum adiamento por período não superior a cinco dias, a audiência
sirvam para esclarecê-lo. será retomada a partir do último acto processual praticado
3. Se, depois da advertência prevista no número na audiência interrompida ou adiada.
antecedente, o advogado ou defensor prosseguir com 5. O adiamento por tempo superior ao referido no
as condutas nele descritas, poderá o juiz retirar-lhe a número antecedente será sempre precedido de despacho
palavra, sem prejuízo do procedimento penal e disciplinar do juiz que preside ao julgamento; retomada a audiência,
a que haja lugar. o tribunal, oficiosamente ou a requerimento, decidirá de
4. Quando for retirada a palavra ao advogado constituído, imediato se alguns dos actos já realizados deverão ser
as pessoas por ele representadas serão imediatamente repetidos.
notificadas para constituírem novo advogado no prazo 6. O adiamento não poderá exceder trinta dias, perdendo
de vinte e quatro horas, ficando a audiência suspensa eficácia a produção de prova já realizada se não for possível
por esse período de tempo. Se o não fizerem, ser-lhes-á retomar a audiência neste prazo.
nomeado advogado oficioso.
7. O anúncio público em audiência do dia e hora para
Artigo 354.º
continuação ou recomeço daquela valerá como notificação
Conduta dos juízes e do Ministério Público das pessoas presentes ou que, como tal, devam por lei
ser consideradas.
1. É aplicável, correspondentemente, o disposto no n°
1 do artigo antecedente aos juízes, inclusivamente ao Artigo 357.º
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presidente do tribunal, e ao Ministério Público. Acta de audiência de julgamento


2. Em especial, o presidente do tribunal, demais juízes, se 1. O funcionário de justiça que assiste o tribunal na
os houver, e o representante do Ministério Público deverão audiência de julgamento redigirá a competente acta, da
assegurar aos advogados e defensores, durante a audiência, qual constarão:
tratamento compatível com a dignidade da função.
a) O lugar, data e hora de abertura e de encerramento
3. Em caso de reiterada violação dos deveres de conduta da audiência e das sessões que a compuseram;
por parte do representante do Ministério Público, o juiz
fará participação do infractor junto do órgão legalmente b) O nome dos juizes e do representante do Ministério
competente para procedimento disciplinar dos magistrados Público;
do Ministério Público, o qual decidirá no mais curto espaço c) A identificação do arguido, do defensor, do assistente,
de tempo possível. da parte civil e dos respectivos advogados;
Artigo 355.º d) A identificação das testemunhas, dos peritos e
Contraditoriedade na audiência de julgamento dos intérpretes;
1. Os requerimentos apresentados e as questões e) A transcrição dos requerimentos e protestos
incidentais sobrevindas no decurso da audiência de formulados oralmente na audiência, da posição
julgamento serão sempre submetidos e decididos com adoptada pelos outros sujeitos processuais sobre
obediência ao princípio do contraditório, devendo o tribunal tais requerimentos e protestos e da decisão que
ouvir o Ministério Público e o assistente sobre os meios sobre eles tiver incidido;
e as questões suscitadas pela defesa e os representantes
desta sobre o que aqueles tenham suscitado. f) Os termos da conciliação ou desistência, se existir;

2. O disposto no número antecedente será aplicável aos g) Os depoimentos e as alegações, quando devam
meios de prova mesmo que tenham sido oficiosamente ser escritos;
produzidos pelo tribunal. h) As decisões e quaisquer outras indicações que,
Artigo 356.º por força da lei, dela deverem constar.
Continuidade da audiência 2. O presidente do tribunal poderá determinar que a
transcrição dos actos referidos na alínea e) do n°1 deste
1. A audiência é contínua, sem prejuízo do disposto neste artigo seja efectuada no final da produção da prova quando
capítulo sobre adiamentos e das interrupções necessárias a transcrição imediata puser em causa o bom andamento
para a alimentação e repouso dos intervenientes. dos trabalhos.
2. Quando o julgamento não puder ser concluído no 3. As decisões proferidas oralmente pelo presidente do
dia em que se tiver iniciado, continuará nos dias úteis tribunal durante a audiência serão reproduzidas de forma
imediatos, até à sua conclusão. integral, pelos meios técnicos disponíveis.
3. O adiamento da audiência só será admissível, sem 4. Logo após o encerramento da audiência ou das sessões,
prejuízo dos demais casos previstos neste Código, quando, a acta, rubricada em todas as folhas pelo funcionário de
não sendo a simples interrupção bastante para remover justiça, será apresentada ao juiz para aposição da sua
o obstáculo: assinatura.

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1232 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021


Artigo 358.º 2. Em caso de falta do representante do assistente ou
Documentação de declarações orais – princípio geral da parte civil a audiência prosseguirá, sendo o faltoso
admitido a intervir logo que compareça.
1. A documentação das declarações prestadas oralmente
na audiência é efectuada, em regra, através de registo 3. Tratando-se da falta do representante do assistente
áudio ou audiovisual, só podendo ser utilizados outros nos casos em que a prossecução processual depende de
meios, designadamente estenográficos ou estenotípicos, acusação particular, a audiência será adiada por uma
ou qualquer outro meio técnico idóneo a assegurar a só vez; a falta não justificada ou a segunda falta valerão
reprodução integral daquelas, quando aqueles meios não como desistência da acusação, salvo se houver oposição
estiverem disponíveis. do arguido.
Artigo 362.º
2. Quando houver lugar a registo áudio ou audiovisual
o juiz deve assegurar a consignação na ata o início e o Falta do assistente, da parte civil, de testemunhas
termo da gravação de cada depoimento ou declaração, ou de peritos
com referência à hora e minutos em cada um dos casos. 1. Sem prejuízo do disposto neste Código sobre as
Artigo 359.º consequências da falta injustificada a acto processual, a
falta do assistente, da parte civil, de testemunhas ou de
Regras particulares e transitórias peritos não dará lugar ao adiamento da audiência, sendo
1. As declarações prestadas oralmente em audiência que o assistente e a parte civil representados para todos os
decorrer perante tribunal singular serão documentadas efeitos legais pelos respectivos advogados constituídos.
na acta, salvo se, até ao início das declarações do arguido 2. Ressalva-se do disposto no número antecedente o
previstas no nº 3 do artigo 375.º, o Ministério Público, caso de o juiz que preside ao julgamento, oficiosamente
o defensor ou o advogado do assistente estiverem de ou a requerimento, decidir, por despacho, que a presença
acordo, e, assim, o declararem para a acta, em prescindir de algumas pessoas ali mencionadas será indispensável
da documentação. à boa decisão da causa e não ser previsível que se possa
2. As declarações prestadas oralmente em audiência que obter o comparecimento com a simples interrupção da
decorrer perante tribunal colectivo serão documentadas audiência.
na acta sempre que, até ao início das declarações do 3. Por falta das pessoas mencionadas no nº 1 não
arguido referidas no número antecedente, o defensor poderá, em caso algum, haver mais do que um adiamento.
ou o advogado do assistente declarar que não prescinde
da documentação e puser à disposição do tribunal, se 4. O juiz poderá, oficiosamente ou a requerimento e com
necessário, meios técnicos idóneos a assegurar a reprodução vista a evitar a interrupção ou o adiamento da audiência
integral daquelas. nos termos do nº 2, alterar a ordem de produção da prova
referida no artigo 373.º.
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3. O disposto nos números antecedentes é correspondentemente Artigo 363.º


aplicável à parte civil, no tocante ao pedido de indemnização
civil. Obrigatoriedade de comparência do arguido

4. No caso previsto no nº 1, se não estiverem à disposição 1. É obrigatória a presença do arguido na audiência


do tribunal meios técnicos idóneos à reprodução integral de julgamento, sem prejuízo do disposto nos números e
das declarações, o juiz ditará para a acta o que resultar artigos seguintes.
das declarações prestadas, sendo correspondentemente 2. O arguido que que deva responder perante determinado
aplicável o disposto nos n.ºs 2 e 3 do artigo 127.º. tribunal, segundo as regras de competência aplicáveis ao
Secção II caso, e esteja preso em área judicial diferente pela prática
Actos Introdutórios e Comparência dos Intervenientes
de outra infração, será requisitado à entidade que o tenha
Processuais à sua ordem, podendo ser ouvido e assistir a audiência
através de videoconferência ou outros meios análogos.
Artigo 360.º
3. Se, durante a audiência, o arguido se mostrar
Abertura da audiência
impossibilitado de continuar a assistir a ela, por causa
1. Na hora em que deva ser realizada a audiência que lhe não seja imputável, será interrompida a audiência,
de julgamento, o funcionário de justiça, de viva voz e designando-se imediatamente novos dias e hora para a
publicamente, começará por identificar a causa e fará a sua continuação, sendo tal possível.
chamada do arguido e seu defensor, do assistente e seu 4. Se a situação de impossibilidade do arguido tiver
mandatário, das testemunhas, peritos e outras pessoas sido por ele criada, por dolo ou negligência, o tribunal
cuja comparência tenha sido ordenada. poderá determinar que o julgamento prossiga até final
2. Se faltar alguma das pessoas que devam intervir na se o arguido tiver sido já interrogado ou exercido o seu
audiência, o funcionário de justiça fará nova chamada, direito ao silêncio e o tribunal não considerar indispensável
após o que comunicará verbalmente ao juiz que a ela a sua presença.
preside o rol dos presentes e dos faltosos. 5. Sempre que, para efeitos do julgamento, o arguido
3. Seguidamente, o tribunal entrará na sala e o juiz tenha de se deslocar para uma área judicial diferente
que preside ao julgamento declarará aberta a audiência. daquela onde se situa o estabelecimento prisional onde se
encontra detido ou preso, a sua participação na audiência
Artigo 361.º poderá ser assegurada através de videoconferência ou
Falta do Ministério Público, do defensor ou do representante outros meios análogos, desde que estejam reunidas as
do assistente ou da parte civil condições adequadas para o efeito, salvo se o juiz entender
imprescindível a sua presença física para a descoberta
1. Se, no início da audiência, não estiver presente o da verdade material.
Ministério Público ou o defensor, o juiz que a ela preside
promoverá, sob pena de nulidade insanável, a substituição Artigo 364.º
do Ministério Público pelo substituto legal e do defensor Afastamento da audiência por parte do arguido
por outro advogado ou advogado estagiário, aos quais
poderá conceder, se assim o requererem, algum tempo 1. O arguido que tiver comparecido à audiência não
para examinar o processo. poderá afastar-se dela até ao seu termo, sendo tomadas

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1233

as medidas necessárias e adequadas para evitar o seu Artigo 365.º


afastamento, incluída a detenção durante as interrupções Audiência de arguido que se ausentar e deixar de
da audiência, se isso for indispensável. comparecer
2. Se, não obstante o disposto no número antecedente, 1. Se o arguido, antes ou depois de ser interrogado
o arguido se afastar da sala de audiência, aplicar-se-á o na audiência de julgamento, se ausentar e deixar de
disposto nos n.ºs 2 e 3 do artigo seguinte. comparecer à mesma ou a outras sessões, será a audiência
3. Nos casos previstos no n° 4 do artigo antecedente, interrompida por cinco dias, durante os quais a falta
no n° 2 do presente artigo, bem como no do nº 2 do artigo poderá ser justificada.
352.º, voltando o arguido à sala de audiência será, sob 2. Se a falta não for justificada, o juiz designará nova
pena de nulidade, resumidamente instruído pelo juiz que data para a continuação da audiência e tomará as
a ela preside do que se tiver passado na sua ausência. medidas necessárias e legalmente admissíveis para obter
Artigo 364º-A o comparecimento do arguido, incluindo a sua detenção
ou prisão preventiva e, não sendo possível, o julgamento
Audiência na ausência do arguido a pedido do próprio continuará como se o arguido estivesse presente.
1. Sempre que o arguido se encontrar praticamente Artigo 365º-A
impossibilitado de comparecer à audiência, nomeadamente
por idade, doença grave, residência ou ausência fora da Audiência de julgamento de arguido declarado contumaz
área judicial onde corre o processo ou no estrangeiro ou, À audiência de julgamento de arguido declarado
ainda, por qualquer outro motivo que entender relevante, contumaz aplica-se o disposto no 364º-B.
pode requerer ou consentir que a audiência tenha lugar na
sua ausência, devendo no requerimento ou consentimento Artigo 365º-B
identificar o seu defensor, o respetivo endereço ou contato Pressupostos e declaração de contumácia
do escritório ou domicílio, a autorização para que o mesmo
receba todas notificações que, nos termos do presente 1. Fora dos casos previstos nos artigos anteriores,
Código, devem ser feitas na sua própria pessoa e a se, depois de realizadas as diligências necessárias à
declaração de aceitação de que essas notificações valerão notificação, não for possível notificar pessoalmente o
como sua notificação pessoal. arguido do despacho que designa o dia para a audiência
de discussão e julgamento, ou executar a sua detenção ou
2. Nos casos previstos no número anterior, se o tribunal prisão preventiva referidas no n.ºs 2 do artigo 148º e no
vier a considerar absolutamente indispensável a presença artigo 264º, ou em consequência de sua evasão, o mesmo
do arguido para a descoberta da verdade material, é notificado por editais para se apresentar pessoalmente
ordena-a, interrompendo ou adiando a audiência, se isso em juízo, num prazo até trinta dias, sob pena de ser
3 703000 000000

for necessário, podendo, ainda, o arguido ser ouvido no declarado contumaz.


local onde se encontrar, se a ausência for devida à idade
ou doença grave. 2. Os editais contêm, sempre que possível, o nome,
estado civil, profissão e última morada do arguido ou
3. Aplica-se ao julgamento previsto neste artigo o quaisquer outros elementos ou sinais que permitam ou
disposto nos n.ºs 2 a 4 do artigo seguinte. favoreçam a sua identificação o crime que lhe é imputado,
Artigo 364º-B as disposições legais que o punem, o valor global dos
danos que lhe são imputados, a comunicação de que, não
Audiência na ausência do arguido em violação de deveres do
seu estatuto se apresentando pessoalmente no prazo assinalado, será
declarado contumaz e os demais efeitos da contumácia
1. Fora dos casos previstos no nº 2 do artigo 365º e do nº previstos no nº 1 do artigo 365º-C.
5 do artigo 414º, em qualquer forma do processo, incluindo
no caso do reenvio para a forma comum, se o arguido não 3. A declaração de contumácia é da competência do
puder ser notificado do despacho que designa o dia para a juiz do julgamento, devendo o correspondente despacho,
audiência ou não justificar a falta no ato, o tribunal pode com a especificação dos seus efeitos, ser publicitado nos
determinar que a audiência tenha lugar na sua ausência, termos do artigo 146º e notificado ao advogado ou defensor
se o mesmo estiver em violação dos deveres previstos nas e, quando possível, a parente ou pessoa da confiança do
alíneas a), c) d) e e) do nº 3 do artigo 77º ou evadido do arguido.
estabelecimento prisional onde se encontrava a cumprir a Artigo 365º-C
prisão preventiva ou a pena de prisão em outro processo.
Efeitos de declaração de contumácia
2. No caso previsto no número anterior, aplica-se o
disposto no artigo 368º e o julgamento tem lugar sempre 1. A declaração de contumácia implica para o arguido:
com a presença do defensor do arguido já constituído no a) A passagem imediata de mandado de detenção
processo ou, se for o caso, nomeado oficiosamente pelo para efeitos de aplicação de uma medida de
juiz e todas as notificações que nos termos do presente coação que se mostrar adequada;
Código devam ser feitas na própria pessoa do arguido sê-
lo-ão na pessoa do seu defensor ou por via edital em caso b) A representação em todos os atos do processo pelo
de impossibilidade do defensor receber a notificação, por seu advogado constituído ou defensor nomeado
qualquer motivo, designadamente extinção do mandato, oficiosamente;
impedimento ou ausência definitiva ou temporária do
País ou da área judicial onde corre o processo, que seja c) A substituição de todas as notificações pessoais
incompatível com as necessidades da realização do impostas por lei, inclusive a notificação da decisão
julgamento. penal, na pessoa do seu advogado constituído
ou defensor nomeado oficiosamente;
3. Em caso de conexão de processos, os arguidos
presentes e ausentes são julgados conjuntamente, salvo d) A anulabilidade dos negócios jurídicos de natureza
se o tribunal tiver como mais conveniente a separação. patrimonial celebrados após a declaração.
4. É correspondentemente aplicável o disposto nos n.ºs 2. A anulabilidade é deduzida perante o tribunal
1 e 2 do artigo 148º e no artigo 264º. competente pelo Ministério Público até à cessação da
contumácia.

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1234 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

3. Quando a medida se mostrar necessária para de obstar à apreciação do mérito da causa, acerca das
desmotivar a situação de contumácia, o tribunal pode quais não tenha ainda havido decisão e que possa desde
decretar a proibição de obter determinados documentos, logo apreciar.
certidões ou registos junto de autoridades públicas, bem
como o arresto, na totalidade ou em parte, dos bens do 2. A decisão sobre as questões referidas nos números
arguido, nos termos do artigo 298º. antecedentes poderá ser proferida oralmente, com
transcrição na acta.
4. A declaração de contumácia implica, também, a
suspensão dos termos ulteriores do processo até ao 3. Se houver testemunhas a inquirir sobre qualquer
termo do prazo referido no nº 1 do artigo 365º-B ou da das questões referidas neste artigo, o tribunal poderá
apresentação ou detenção ou prisão preventiva do arguido, julgálas finda a produção da prova; se não tiver elementos
sem prejuízo da separação de processos, em caso de suficientes para decidir logo, apreciará essas questões
conexão, da realização de atos urgentes nos termos do na sentença final.
artigo 348º ou do prosseguimento do processo para efeitos Artigo 373.º
da declaração da perda de objetos, produtos e vantagens
a favor do Estado. Exposições introdutórias e admissão de meios de prova

Artigo 365º-D 1. Realizados os actos introdutórios referidos nos artigos


antecedentes, o juiz que preside ao julgamento ordenará
Caducidade da declaração de contumácia a retirada da sala das pessoas que devam testemunhar,
podendo proceder de igual modo relativamente a outras
1. A declaração de contumácia caduca logo que o arguido pessoas que devam ser ouvidas, e fará uma exposição
se apresentar ou for detido ou preso preventivamente, sem sucinta sobre o objecto do processo.
prejuízo da separação de processos que eventualmente
haja tido lugar. 2. Em seguida o juiz dará a palavra, pela ordem indicada,
ao Ministério Público, aos advogados do assistente, do
2. Logo que se apresente ou for detido, o arguido é sujeito lesado e do responsável civil e ao defensor, para que cada
a medidas de coação pessoal adequadas, observando-se um deles indique, se assim o desejar, sumariamente, e
o disposto nos n.ºs 2 e 3 do artigo 76º e no nº 3 do artigo num tempo que indicará, consoante a complexidade da
77º, ou à sua revisão caso estivesse sujeito a elas. causa, os factos que se propõe provar e os meios de prova
Artigo 365º-E cuja admissão requerem.
Registo de contumácia Secção III
Produção de Prova
O despacho que declarar a contumácia, com especificação
dos respetivos efeitos, e aquele que declarar a sua Artigo 374.º
3 703000 000000

cessação são registados no registo criminal do arguido,


Ordem de produção da prova
por averbamento.
Artigo 366.º 1. A produção da prova deverá respeitar a ordem seguinte:
Julgamento de arguido ausente em casos a) Declarações do arguido;
de pequena criminalidade
b) Apresentação dos meios de prova indicados pelo
Revogado Ministério Público, pelo assistente e pelo lesado;
Artigo 367.º c) Apresentação dos meios de prova indicados pelo
Outros casos especiais de julgamento de arguido ausente
arguido e pelo responsável civil.
2. A ordem referida no n° 1 poderá ser alterada,
Revogado oficiosamente ou a requerimento, para além dos casos
Artigo 368.º previstos no artigo 362.º, desde que isso se mostre
conveniente para a descoberta da verdade, excepto no
Representação por defensor
que se refere às declarações do arguido que será sempre
Sempre que, nos termos previstos no presente capítulo, o primeiro a prestá-las.
o julgamento se fizer sem a presença do arguido, este será Artigo 375.º
representado pelo defensor.
Interrogatório do arguido
Artigo 369.º
1. O juiz que presidir ao julgamento começará por
Suspensão do processo e medidas coercivas interrogar o arguido nos termos previstos no n° 1 do artigo 79.º
Revogado para o primeiro interrogatório de arguido detido.

Artigo 370.º 2. Seguidamente, e antes de ser interrogado sobre os


factos, ser-lhe-á perguntado se conhece aqueles de que é
Recolha de provas acusado ou pronunciado, e, se declarar que os não conhece,
dar-se-lhe-á deles conhecimento claro e sumário.
Revogado
Artigo 371.º
3. O juiz informará o arguido de que tem direito a
prestar declarações em qualquer momento da audiência,
Prazos de prescrição desde que elas se refiram ao objecto do processo, sem que,
no entanto, a tal seja obrigado e sem que o seu silêncio
Revogado possa desfavorecê-lo.
Artigo 372.º 4. Sem prejuízo do disposto no n° 5, o tribunal ouvirá
Nulidades, excepções e questões prévias o arguido sem que haja interferências ou se possa, seja
pelo juiz, seja pelos restantes intervenientes processuais
1. Antes de começar a produção da prova, o tribunal presentes, manifestar qualquer opinião, tecer quaisquer
conhecerá e decidirá sobre as nulidades, excepções ou comentários ou emitir quaisquer sinais visíveis donde
quaisquer questões prévias ou incidentais susceptíveis possa inferir-se um juízo sobre a sua culpabilidade.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1235

5. Se, no decurso das declarações, o arguido se afastar do 2. É correspondentemente aplicável o disposto no artigo 194.º.
objecto do processo, reportando-se a matéria irrelevante
Artigo 379º-A
para a boa decisão da causa, o juiz que preside ao
julgamento adverti-lo-á com urbanidade, e, se aquele Declarações de terceiros
persistir, retirar-lhe-á a palavra.
1. Sempre que se revelar necessário, são, também,
6. O tribunal poderá em qualquer momento, durante a tomadas declarações de terceiros titulares dos objetos,
produção da prova, fazer ao arguido quaisquer perguntas produtos ou vantagens suscetíveis de serem declarados
sobre factos ou circunstâncias que interessem à descoberta perdidos a favor do Estado.
da verdade, ou confrontá-lo com outros arguidos ou outros
intervenientes processuais. 2. Aos terceiros titulares de direitos incidentes sobre
os objetos, produtos ou vantagens suscetíveis de serem
Artigo 376.º declarados perdidos a favor do Estado é garantido o exercício
Conselhos do defensor ao arguido do direito de contraditório e a prestação de declarações,
em qualquer fase do processo, por decisão do juiz ou a
1. O defensor poderá sempre aconselhar ao arguido solicitação dos próprios, do Ministério Público, do defensor
que não responda a alguma ou algumas perguntas feitas ou dos advogados do assistente ou das partes civis
durante o interrogatório.
Artigo 380.º
2. Para efeitos do disposto no nº 1, o arguido e o seu Declarações de peritos
defensor devem ser dispostos, no decorrer da audiência,
em lugar que lhes permita permanente comunicação 1. Às declarações de peritos serão aplicáveis as regras
entre si, sem perturbar o desenrolar do acto. gerais previstas nos artigos 203.º e seguintes, que não
Artigo 377.º contrariem as disposições do presente capítulo.
Pluralidade de arguidos 2. Durante a prestação de declarações os peritos poderão,
com autorização do juiz que preside ao julgamento, consultar
1. Respondendo vários co-arguidos, poderão ser interrogados notas, documentos ou elementos bibliográficos, bem como
separadamente ou uns na presença dos outros, consoante servir-se dos instrumentos técnicos de que careçam.
parecer mais conveniente para o apuramento da verdade.
Artigo 381.º
2. Em caso de audição separada, o juiz, uma vez todos Perícia sobre o estado psíquico do arguido
os arguidos ouvidos e regressados à audiência, dar-lhes-á
resumidamente conhecimento, sob pena de nulidade, do 1. Quando na audiência se suscitar fundadamente a
que se tiver passado na sua ausência. questão da inimputabilidade do arguido, o juiz que preside
ao julgamento, oficiosamente ou a requerimento, ordenará
3 703000 000000

Artigo 378.º
a comparência de um perito para se pronunciar sobre o
Confissão do arguido na contestação ou na audiência estado psíquico daquele.
de julgamento
2. O juiz poderá também ordenar a comparência do
1. No caso de o arguido ter declarado na contestação ou perito quando na audiência se suscitar fundadamente a
declarar na audiência que pretende confessar os factos questão da imputabilidade diminuída do arguido.
que lhe são imputados, o juiz que preside ao julgamento
perguntar-lhe-á, sob pena de nulidade, se o faz de livre 3. Se o perito não tiver ainda examinado o arguido ou
vontade e fora de qualquer coacção, bem como se se propõe a perícia for requisitada a estabelecimento especializado,
fazer uma confissão integral e sem reservas. a audiência será interrompida para o efeito ou, se for
absolutamente indispensável, adiada.
2. A confissão integral e sem reservas implicará:
Artigo 382.º
a) Renúncia à produção da prova relativa aos factos
imputados e consequente consideração destes Quem procederá ao interrogatório
como provados; 1. As perguntas ao arguido e os pedidos de esclarecimento
b) Passagem de imediato às alegações orais e, se sobre as declarações prestadas por ele serão feitas pelo
o arguido não dever ser absolvido por outros juiz que preside ao julgamento.
motivos, à determinação da sanção aplicável. 2. Se o tribunal for constituído por outros juizes, qualquer
3. Exceptuam-se do disposto no número antecedente, deles poderá igualmente fazer as perguntas necessárias
valendo, então, as regras gerais de avaliação da prova, para o esclarecimento da verdade.
os casos em que: 3. O Ministério Público, o advogado do assistente e
a) Houver co-arguidos e não se verificar a confissão o defensor poderão solicitar que o arguido esclareça as
integral, sem reservas e coerente de todos eles; respostas ou aspectos das respostas dadas ou que se
lhe sejam feitas novas perguntas, podendo o tribunal
b) O tribunal, em sua convicção, suspeitar fundadamente indeferir, se entender que as perguntas ou os pedidos de
da veracidade dos factos confessados ou do carácter esclarecimento são desnecessários ou proibidos.
livre da confissão, nomeadamente por dúvidas
sobre a imputabilidade plena do arguido ou a 4. O tribunal poderá permitir que as perguntas e os
existência de qualquer coacção; pedidos de esclarecimento referidos no n°3 sejam feitos
directamente pelo interessado, sem prejuízo de o presidente
c) O crime for punível com pena de prisão cujo limite poder, a todo o momento, suspender o interrogatório directo,
máximo seja superior a cinco anos. se entender que ele não é feito com urbanidade e respeito pelo
Artigo 379.º
arguido e com obediência à lei e a critérios de objectividade
e utilidade para o esclarecimento da verdade.
Declarações do assistente e das partes civis
5. O disposto nos números antecedentes será correspondentemente
1. Ao assistente e às partes civis poderão ser tomadas aplicável às declarações do assistente, das partes civis e
declarações em qualquer momento durante a produção dos peritos, podendo ainda as perguntas e os pedidos de
da prova, depois do interrogatório do arguido e todas as esclarecimento, nestes casos, ser também solicitados ou
vezes que forem necessárias. feitos pelo advogado das partes civis.

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1236 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021


Artigo 383.º Artigo 388.º
Exibição de pessoas, documentos, papéis ou outros objectos Afastamento do arguido durante a prestação de declarações

1. Poderão ser mostrados ao arguido, ao assistente, às 1. O tribunal poderá ordenar o afastamento do arguido
partes civis e aos peritos quaisquer pessoas, documentos, da sala de audiência, durante a prestação de declarações
papéis, instrumentos ou objectos relacionados com o tema de outros intervenientes, se:
da prova, bem como peças antecedentes do processo,
quando haja necessidade que ele os reconheça, ou dê a) Houver razões para crer que a presença do mesmo
esclarecimentos ou explicações. é suscetível de inibir o interveniente de dizer
a verdade;
2. A exibição de peças antecedentes do processo não se
fará com prejuízo do disposto neste Código sobre proibição b) O interveniente for menor de dezasseis anos e
de leitura, em audiência, de autos e declarações. houver razões para crer que a sua audição
na presença do arguido poderia prejudicá-lo
Artigo 384.º gravemente;
Produção da prova testemunhal
c) Houver razões para crer que a audição do interveniente
1. À produção da prova testemunhal na audiência de na presença do arguido poderia colocar gravemente
julgamento serão correspondentemente aplicáveis as em perigo a sua integridade física ou psíquica.
disposições gerais sobre aquele meio de prova, em tudo
o que não for contrariado pelo disposto neste capítulo. 2. Nos casos previstos no número anterior será
correspondentemente aplicável o disposto no nº 3 do
2. Enquanto não depuserem, as testemunhas não artigo 364º.
poderão assistir à produção da prova, devendo ser
Artigo 389.º
tomadas as cautelas necessárias para evitar que, antes
do depoimento, comuniquem umas com as outras acerca Exame no local
dos factos discutidos no processo.
O tribunal poderá sempre, oficiosamente ou a requerimento,
3. As testemunhas serão inquiridas, uma após a outra, quando o considerar necessário à boa decisão da causa,
pela ordem por que foram indicadas, salvo se o juiz que deslocar-se ao local onde tiver ocorrido qualquer facto
presidir ao julgamento, por fundado motivo, dispuser de cuja prova se mostre essencial e convocar para o efeito
outra maneira. os participantes processuais cuja presença entender
conveniente.
4. A testemunha será inquirida por quem a indicou,
sendo depois sujeita a contra-interrogatório; quando Artigo 390.º
neste forem suscitadas questões não levantadas no
3 703000 000000

Prova superveniente
interrogatório directo, quem tiver indicado a testemunha
poderá reinquirila sobre aquelas questões, podendo 1. Se durante a audiência de julgamento, e mesmo
seguir-se novo contrainterrogatório com o mesmo âmbito. durante as alegações orais, sobrevier o conhecimento de
5. Os juizes poderão, a qualquer momento, formular à novos elementos que possam influir na decisão final, o
testemunha as perguntas que entenderem necessárias tribunal poderá ordenar que se produzam, adiando-se,
para esclarecimento do depoimento prestado e para o se necessário e pelo tempo estritamente necessário, a
apuramento da verdade. audiência.

6. Mediante autorização do juiz que preside ao julgamento, 2. O tribunal poderá pronunciar-se sobre a admissão das
poderão as testemunhas indicadas por um coarguido ser novas provas logo que tal lhe seja requerido ou reservarse
inquiridas pelo defensor de outro co-arguido. para decidir depois de produzidas as restantes provas.
Artigo 385.º 3. Se a prova oferecida for de testemunhas que se
encontrem na sala de audiência ou de suas imediações,
Inquirição de testemunhas menores de 16 anos depois de ouvidos os representantes da acusação e da
À inquirição de testemunhas que ainda não tenham defesa, o tribunal decidirá se deverão ser imediatamente
atingido os dezasseis anos será aplicável correspondentemente admitidas a depor ou se deverá ser adiada a audiência.
o disposto no artigo 382.º. 4. Se a superveniência das provas ocorrer durante as
Artigo 386.º alegações orais, o tribunal poderá ordenar ou autorizar,
por despacho, a suspensão das alegações para produção
Retirada temporária de testemunhas
daqueles meios de prova.
O tribunal, oficiosamente ou a requerimento, poderá Artigo 391.º
ordenar que uma testemunha se retire momentaneamente
da sala de audiência após o seu depoimento, podendo Princípio da oralidade e valoração de provas
reentrar e ser inquirida de novo, se for caso disso, depois
da prestação de outros depoimentos. 1. A formação da convicção do tribunal apenas poderá
ser fundamentada em provas produzidas ou examinadas
Artigo 387.º em audiência de julgamento.
Retirada de testemunhas e outros declarantes 2. Ressalvam-se do disposto no número antecedente
1. O assistente, as partes civis, as testemunhas e os as provas contidas em actos processuais cuja leitura,
peritos só poderão abandonar o local da audiência por ordem visualização ou audição sejam permitidas, em audiência
ou com autorização do juiz que preside ao julgamento. nos termos dos artigos seguintes.
Artigo 392.º
2. A autorização será denegada sempre que houver razões
para crer que a presença poderá ser útil à descoberta da Reprodução ou leitura permitidas de autos e declarações
verdade.
Só será permitida a reprodução ou leitura em audiência
3. O Ministério Público, o defensor e os advogados do de julgamento de autos relativos a actos processuais levados
assistente e da parte civil serão ouvidos sobre a ordem a cabo nos termos dos artigos 346º e 348º, de autos de
ou a autorização. instrução ou do ACP e de documentos juntos no decurso

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1237

da investigação nas fases preliminares do processo. os mesmos aspectos relativos ao ofendido.


Artigo 393.º 2. A solicitação referida no número antecedente será
Reprodução ou leitura permitida de declarações obrigatória quando, existindo tais serviços, o arguido,
à data da prática do facto, tivesse menos de vinte e um
1. A reprodução ou leitura de declarações do assistente, anos e for de admitir que lhe venha a ser aplicada uma
da parte civil e de testemunhas só será permitida, tendo medida de segurança de internamento, uma pena de prisão
sido prestadas perante o juiz, se as declarações tiverem efectiva superior a três anos ou uma medida alternativa
sido tomadas nos termos do artigo 309º ou se o Ministério à prisão que exija o acompanhamento por técnico social.
Público, o arguido e o assistente estiverem de acordo na Artigo 396.º
sua leitura.
Alteração não substancial dos factos descritos
2. Será também permitida a reprodução ou leitura na acusação ou na pronúncia
de declarações anteriormente prestadas perante juiz,
Ministério Público ou órgão de polícia criminal, sempre que, 1. Se durante a audiência de julgamento se fizer prova
neste último caso, tenha havido assistência de advogado: de factos não descritos na pronúncia ou, se a não tiver
havido, na acusação ou acusações, e que não importem
a) Na parte necessária, e só nela, ao avivamento da crime diverso ou não agravem os limites máximos da
memória de quem declarar na audiência que pena aplicável e tiverem relevo para a decisão da causa,
já não recorda certos factos; o juiz que preside ao julgamento, oficiosamente ou a
requerimento, comunica a alteração ao arguido e concede-
b) Quando houver entre elas e as feitas em audiência, lhe, se ele o requerer, o tempo estritamente necessário
contradições ou discrepâncias sensíveis que não para a preparação da defesa.
possam ser esclarecidas de outro modo;
2. Ressalva-se do disposto no número anterior o caso de
c) Se os declarantes não tiverem podido comparecer a alteração ter derivado de factos alegados pela defesa.
por falecimento, anomalia psíquica superveniente
ou impossibilidade duradoura. 3. O disposto no nº 1 é correspondentemente aplicável
quando o tribunal alterar a qualificação jurídica dos factos
d) Se os declarantes referidos no nº 4 do artigo 309.º descritos na acusação ou na pronúncia.
forem menores de 18 anos de idade.
Artigo 396-A.º
e) Tratando-se de declarações obtidas mediante
precatórias ou rogatórias previstas neste Código. Alteração substancial dos factos descritos na acusação
ou na pronúncia
3. Será proibida, em qualquer caso, a leitura de depoimento 1. Se durante a audiência de julgamento se fizer prova
3 703000 000000

prestado em instrução ou na ACP por testemunha que, de factos não descritos na pronúncia ou, se a não tiver
em audiência, se tenha validamente recusado a depor. havido, na acusação ou acusações, e que importem crime
4. Os órgãos de polícia criminal que tiverem recebido diverso ou a agravação dos limites máximos da pena
declarações cuja leitura não for permitida, bem como aplicável, o juiz que preside ao julgamento comunicá-
quaisquer pessoas que, a qualquer título, tiverem los-á ao Ministério Público, valendo tal comunicação
participado da sua recolha, não poderão ser inquiridas como denúncia para que ele proceda pelos novos factos,
como testemunhas sobre o conteúdo daquelas. se eles, por si, constituírem outra infracção.

5. A permissão de uma leitura, visualização ou audição 2. Ressalvam-se do disposto no número antecedente os


e a sua justificação legal ficam a constar da acta, sob casos em que o Ministério Público, o arguido e o assistente
pena de nulidade. estiverem de acordo com a continuação do julgamento pelos
novos factos, se estes não determinarem a incompetência
6. A visualização ou a audição de gravações de actos do tribunal.
processuais só é permitida quando o for a leitura do
respectivo auto nos termos dos números anteriores. 3. Nos casos referidos no número antecedente, o juiz
que preside ao julgamento concederá ao arguido, a
Artigo 394.º requerimento deste, prazo para preparação da defesa
Reprodução ou leitura permitidas de declarações do arguido não superior a oito dias, com o consequente adiamento
da audiência, se necessário.
1. A reprodução ou leitura de declarações feitas pelo Artigo 397.º
arguido perante autoridade judiciária só será permitida
nas situações previstas nas alíneas a) e b) do número 2 do Alegações orais
artigo 393.º, quando lhe tenham sido feitas as advertências
constantes do artigo 79.º nº 2 alínea b). 1. Finda a produção da prova, o juiz que preside ao
julgamento concederá a palavra, sucessivamente, ao
2. Será ainda permitida a reprodução ou leitura de Ministério Público, aos advogados do assistente e da parte
declarações prestadas pelo arguido nas fases preliminares civil e ao defensor, para alegações nas quais formulem
do processo, à sua própria solicitação, seja qual for a as conclusões, de facto e de direito, que hajam extraído
entidade perante a qual tiverem sido prestadas, sendo da prova produzida.
correspondentemente aplicável o disposto nos números
4 e 5 do artigo antecedente. 2. Será admissível réplica, a exercer uma só vez, sendo,
porém, sempre o defensor, se pedir a palavra, o último a
Artigo 395.º falar, sob pena de nulidade.
Elementos sobre a personalidade e a vida familiar
e profissional
3. A réplica deverá conter-se dentro dos limites
estritamente necessários para a refutação dos argumentos
1. O tribunal poderá em qualquer altura do julgamento, contrários que não tenham sido anteriormente discutidos.
logo que o considerar necessário à correcta determinação
da sanção que eventualmente possa vir a ser aplicada, 4. As alegações orais não poderão exceder, para cada
solicitar aos serviços legalmente competentes elementos um dos intervenientes, uma hora, e as réplicas vinte
sobre a personalidade do arguido, incluindo a sua inserção minutos; o juiz que preside ao julgamento poderá, porém,
familiar e socioprofissional, bem assim elementos sobre excepcionalmente permitir que continue no uso da palavra

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1238 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

aquele que, esgotado o máximo do tempo legalmente existente nos autos sobre os antecedentes criminais do
consentido, assim fundadamente o requerer com base arguido, a sua personalidade individual e a sua inserção
na complexidade da causa. familiar e social.
Artigo 398.º 5. O acórdão final será lavrado pelo presidente do
Últimas declarações do arguido e encerramento da discussão tribunal, assinando em seguida cada um dos outros juízes
por ordem de antiguidade, a não ser que aquele tenha
Antes de declarar encerrada a audiência, o juiz que ficado vencido, caso em que o acórdão será lavrado pelo
preside ao julgamento perguntará ao arguido se tem mais que a seguir a ele assinaria se houvesse unanimidade.
alguma coisa a alegar em sua defesa, ouvindo-o em tudo Artigo 400.º-A
o que declarar a bem dela.
Abertura da audiência para aplicação retroactiva de lei
CAPÍTULO III penal mais favorável

Sentença Se, após o trânsito em julgado da condenação, mas


antes de ter cessado a execução da pena, entrar em vigor
Artigo 399.º
lei penal mais favorável, o condenado pode requerer a
Processo de formação da decisão reabertura da audiência para que lhe seja aplicado o
novo regime.
1. Salvo em caso de absoluta impossibilidade, declarada
em despacho, a sentença seguir-se-á ao encerramento Artigo 401.º
da discussão. Elaboração, assinatura e leitura da sentença
2. O tribunal começará por decidir separadamente as 1. Concluído o processo de decisão, o juiz que preside
questões prévias ou incidentais sobre as quais ainda não ao julgamento elaborará a sentença, e, se o tribunal for
tiver recaído decisão. colectivo, de acordo com as posições que tiverem feito
vencimento.
3. Em seguida, se a apreciação do mérito não tiver
ficado prejudicada, apreciará sempre especificadamente os 2. Em seguida, a sentença será assinada pelo juiz que
factos alegados pela acusação e pela defesa, e bem assim preside ao julgamento e, se for caso disso, pelos restantes
os que resultarem da discussão da causa, desde que não juízes.
conduzam aos efeitos descritos no n.°1 do artigo 396º-A,
relevantes para as questões de saber: 3. A sentença será lida publicamente na sala de audiência
pelo juiz que presidir o julgamento, podendo ser omitida
a) Se se verificaram os elementos constitutivos do a leitura do relatório, porém é obrigatória a leitura da
tipo de crime; fundamentação ou, se esta for muito extensa, de uma sua
3 703000 000000

súmula, e do dispositivo, sob pena de nulidade.


b) Se o arguido praticou o crime ou nele participou;
4. A leitura da sentença equivalerá à sua notificação
c) Se se verificou alguma causa que exclua a ilicitude; aos sujeitos processuais presentes na audiência, ou que,
d) Se o arguido actuou com consciência da ilicitude do como tal, devam ser considerados.
facto e se se verificou alguma causa de desculpa; 5. Logo após a leitura da sentença, o juiz que preside
e) Se se verificaram quaisquer outros pressupostos ao julgamento procederá ao seu depósito na secretaria,
de que a lei faça depender a punibilidade do apondo o secretário a data e subscrevendo a declaração
agente ou a aplicação a este de uma medida de depósito.
de segurança; 6. Quando necessário e estejam reunidas as condições
f) Se se verificaram os pressupostos de que depende técnicas para o efeito, a sentença poderá ser lida através
o arbitramento da indemnização civil. de videoconferência ou outros meios análogos.
7. Quando a sentença for lida ao arguido através dos
4. O tribunal indicará os concretos meios de prova que meios previstos no número anterior, nas vinte e quatro
serviram para formar a sua convicção e decidirá tendo horas subsequentes, deve o tribunal, além do depósito
em conta as questões de direito suscitadas pelos factos previsto no nº 5, enviar-lhe certidão ou cópia integral
referidos no n° 3. certificada da mesma em suporte papel ou digital, por
Artigo 400.º qualquer meio de comunicação previsto neste Código,
designadamente correio eletrónico.
Julgamento por tribunal colectivo
Artigo 402.º
1. Se o julgamento tiver sido realizado por tribunal
colectivo, a deliberação será tomada com a participação Casos de especial complexidade
de todos os juízes que integram o tribunal, sob a direcção Quando, atenta a especial complexidade da causa,
do presidente, sendo a deliberação tomada por maioria não for possível proceder imediatamente à elaboração
simples de votos e não sendo admitida abstenção. da sentença, o juiz que preside ao julgamento fixará
2. A deliberação relativa aos factos referidos no n° 3 publicamente a data, dentro dos sete dias seguintes, para
do artigo antecedente será feita de forma discriminada a leitura da sentença.
e especificada sobre cada uma das questões descritas Artigo 403.º
nas diferentes alíneas do mencionado número, o mesmo
sucedendo relativamente às questões de direito. Requisitos da sentença

3. Cada juiz enunciará sempre as razões do seu voto, 1. A sentença começará por um relatório, que conterá:
indicando sempre os meios de prova que sustentam a a) A proclamação de que a sentença é proferida “em
sua opinião. nome do povo de Cabo Verde” e a indicação da
4. A deliberação sobre a espécie e a medida da sanção autoridade que a profere;
aplicável será tomada após a proferida sobre os factos, b) As identificações tendentes à identificação do
procedendo-se à leitura e à consideração da documentação arguido, do assistente e das partes civis;

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1239

c) A indicação do crime ou dos crimes imputados 2. Se o responsável civil tiver intervindo no processo
ao arguido, segundo a pronúncia ou, se a não penal, a condenação em indemnização civil será proferida
tiver havido, segundo a acusação ou acusações; contra ele ou contra ele e o arguido solidariamente, sempre
que a sua responsabilidade vier a ser reconhecida.
d) A indicação sumária das conclusões contidas na
contestação e no pedido civil se tiverem sido 3. A condenação das partes civis em imposto de justiça,
apresentados. custas e honorários seguirá, na parte aplicável, os termos
previstos na legislação sobre custas.
2. Ao relatório seguir-se-á a fundamentação, que constará
da enumeração dos factos provados e não provados, bem Artigo 407.º
como de uma indicação discriminada e tanto quanto Publicação de sentença
possível completa, ainda que concisa, dos motivos, de
facto e de direito, que fundamentaram a decisão, com 1. Quando o considerar justificado, o tribunal poderá
indicação das concretas provas que serviram para formar ordenar a publicação integral ou por extracto da sentença
a convicção do tribunal e um enunciado das razões pelas condenatória em dois periódicos, ou a divulgação em
quais o tribunal não considerou atendíveis ou relevantes outro tipo de órgão de comunicação social, do lugar que
as provas contrárias. for determinado, se a pessoa com direito a indemnização
o requerer em acto seguido à leitura da decisão final.
3. A sentença terminará pelo dispositivo, que conterá:
2. As despesas serão pagas pelo arguido.
a) As disposições legais aplicáveis;
3. Se a sentença for absolutória, poderá o tribunal
b) A decisão condenatória ou absolutória; igualmente, quando o considerar justificado, ordenar
a sua publicação nos termos mencionados no número
c) A decisão sobre o pedido civil ou de arbitramento antecedente, a requerimento do arguido.
oficioso da indemnização por danos, se for caso
disso; 4. As despesas correrão a cargo do assistente e valerão
como custas, ou, não havendo assistente constituído, serão
d) A indicação do destino a dar a coisas ou objectos pagas pelo arguido.
relacionados com o crime;
Artigo 408.º
e) A ordem de remessa de boletins ao registo criminal; Poder jurisdicional e possibilidade de rectificações da
sentença
f) A data e a assinatura do juiz ou juizes.
1. Proferida a sentença, ficará esgotado o poder
4. A sentença observará o disposto na legislação sobre jurisdicional do tribunal relativamente à matéria da causa.
custas em matéria de imposto de justiça, custas e honorários.
3 703000 000000

Artigo 404.º
2. Sem prejuízo do disposto no artigo seguinte e de casos
de sentença inexistente, será lícito, porém, ao tribunal,
Sentença condenatória oficiosamente ou a requerimento, suprir nulidades, rectificar
erros materiais ou quaisquer omissões, inexatidões
1. A sentença condenatória, além do que se estipula ou lapsos manifestos, esclarecer dúvidas existentes
no artigo antecedente, especificará os fundamentos que na decisão e reformá-la quanto a custas, aplicando-se
presidiram à escolha e à medida da sanção aplicada, subsidiariamente as normas do Código de Processo Civil.
indicando nomeadamente, se for caso disso, o início do
seu cumprimento, outros deveres que ao condenado sejam 3. Em caso de recurso, a faculdade conferida no número
impostos e a sua duração. antecedente apenas poderá ser exercida antes da subida
do recurso, podendo recorrente e recorrido alegar perante
2. Para efeitos do disposto neste Código, considerar- o tribunal superior acerca da rectificação.
se-á também sentença condenatória a que tiver decretado
dispensa de pena, nos termos previstos na lei penal. 4. Se não houver recurso, a rectificação poderá ser feita
Artigo 405.º
a todo o tempo.
Sentença absolutória 5. O disposto nos números antecedentes e nos artigos
seguintes será correspondentemente aplicável aos
1. A sentença absolutória, para além do mencionado no despachos judiciais.
artigo 403.º, declarará extinta qualquer medida cautelar Artigo 409.º
processual e ordenará a imediata libertação do arguido
preso preventivamente, salvo se ele dever continuar Nulidade da sentença
preso por outro motivo ou sofrer medida de segurança Será nula a sentença:
de internamento.
a) Que não contiver as menções referidas no nº 2 e
2. A sentença absolutória condenará o assistente na alínea b) do nº 3 do artigo 403.º;
em imposto de justiça, custas e honorários, nos termos
previstos na legislação sobre custas. b) Que condenar por factos não descritos na pronúncia
ou, se a não tiver havido, na acusação ou acusações,
3. Se o crime tiver sido cometido por inimputável, fora dos casos e das condições previstos no artigo
a sentença será absolutória; mas se nela for aplicada 396º e 396.º-A.
medida de segurança, valerá como sentença condenatória
para efeitos do disposto no nº 1 do artigo antecedente e c) Que não condenar em indemnização às vítimas e
de recurso do arguido. demais lesados, quando estejam verificados os
pressupostos previstos nas alíneas a) e b) do
Artigo 406.º
artigo 105º ou no nº 1 do artigo 109º.
Decisão sobre a indemnização civil
Artigo 410.º
1. A sentença, ainda que absolutória, condenará o arguido Obscuridades e ambiguidades
em indemnização civil sempre que o pedido respectivo
vier a revelar-se fundado, sem prejuízo do disposto na Logo que proferida a decisão ou nos cinco dias imediatos,
alínea a) do artigo 105.º e o disposto neste Código sobre poderá ser requerido o esclarecimento de obscuridades
arbitramento oficioso de indemnização. ou ambiguidades naquela existentes.

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1240 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021


Artigo 411.º 3. O ofendido será igualmente notificado para comparecer,
Casos de sentença inexistente quando a sua comparência seja considerada necessária,
cumprindo-se as formalidades previstas na parte final
São, nomeadamente, casos de sentença juridicamente do nº 1.
inexistente aqueles em que: 4. Se a detenção se fizer a horas em que o tribunal esteja
a) Não conste da sentença qualquer decisão condenatória aberto e possa desde logo tomar conhecimento dos factos,
ou absolutória; as testemunhas e o ofendido, quando disso for caso, serão
notificados para comparecer em acto seguido no tribunal,
b) A sentença não tiver sido reduzida a escrito; onde o arguido será imediatamente apresentado ao juiz.
c) For proferida por tribunal sem competência para 5. Se o tribunal não se encontrar aberto ou não puder
apreciar e decidir causas penais; desde logo tomar conhecimento da infração, o detido é
constituído arguido e libertado, sendo advertido de que
d) For proferida por quem não seja titular do poder deverá comparecer no primeiro dia útil, à hora que lhe
jurisdicional. for indicada, sob pena de, se faltar, incorrer no crime de
desobediência e ser julgado na sua ausência.
LIVRO V
6. Serão igualmente notificados as testemunhas e o
PROCESSOS ESPECIAIS
ofendido, se disso for caso, cumprindo-se as formalidades
TÍTULO I previstas na parte final do nº 1.
Processo sumário 7. No caso previsto no n° 5, o auto será remetido ao
tribunal no primeiro dia útil imediato.
Artigo 412.º
Artigo 415.º
Pressupostos gerais
Comunicação ao Ministério Público
1. Serão julgados em processo sumário os detidos em Dos factos descritos no artigo anterior será dado
flagrante delito por crime punível com pena de prisão de sempre prévio conhecimento ao Ministério Público para
limite máximo não superior a 5 anos: promoção do que tiver por conveniente, se não tiver sido
a) Quando à detenção tiver procedido qualquer a autoridade que procedeu à detenção.
autoridade judiciária ou de polícia criminal; Artigo 416.º
Julgamento em casos normais
b) Quando à detenção tiver sido efectuada por outra
pessoa e, num prazo que não exceda a duas horas, 1. Apresentado o detido em juízo e dada a participação
3 703000 000000

o detido tenha sido entregue a uma autoridade do facto por escrito ou mandada transcrever na acta pelo
judiciária ou entidade policial, tendo esta redigido juiz, quando feita oralmente, proceder-se-á a julgamento,
auto sumário de entrega. estando presentes igualmente as testemunhas e o ofendido,
quando a presença deste seja considerada necessária.
2. Serão, ainda, julgados em processo sumário, nos
termos do número anterior, os detidos em flagrante 2. Se não for possível efectuar o julgamento no dia da
delito por crime punível com pena de prisão cujo limite apresentação do arguido, ele será realizado no primeiro
máximo seja superior a cinco anos, mesmo em caso de dia útil imediato, salvo em caso de adiamento nos termos
concurso de infrações, quando o Ministério Público, na e condições definidos no artigo seguinte.
sua promoção a que se refere o artigo 415º, entender Artigo 417.º
que não deve ser aplicada, em concreto, pena de prisão
superior a cinco anos. Adiamento do julgamento
1. O julgamento poderá ser adiado por cinco dias, se
3. Porém, na situação prevista no número anterior, pode o arguido solicitar novo prazo para preparação da sua
o juiz ordenar a prossecução de outra forma de processo defesa ou se ao julgamento faltarem testemunhas de
que julgar adequada, nos termos do artigo 418.º, nº 1. que o Ministério Público, o assistente ou o arguido não
Artigo 413.º prescindam.
Disposições aplicáveis 2. Não poderá haver adiamento por falta do ofendido.
O julgamento em processo sumário reger-se-á pelas 3. Se o tribunal, oficiosamente ou a requerimento do
disposições dos artigos seguintes e, nos casos omissos, Ministério Público, do assistente ou do arguido, considerar
pelas disposições relativas ao julgamento em processo necessário alargar o prazo para a preparação da defesa do
comum por tribunal singular e pelas disposições gerais. arguido ou proceder a realização de quaisquer diligências
de prova essenciais à descoberta da verdade e que não
Artigo 414.º possam realizar-se previsivelmente no prazo referido
no nº 1, a audiência, sem que se afaste a forma sumária,
Notificação directa
poderá ter início ou ser adiada até que seja apresentada a
1. A entidade que efetuar a detenção ou a quem o defesa no prazo fixado ou realizada a diligência, desde que
detido for entregue notificará verbalmente, nesse ato, as se não ultrapasse o sexagésimo dia posterior à detenção.
testemunhas da ocorrência, em número nunca superior a 4. Em quaisquer casos de adiamento, o arguido será
dez, para comparecerem no tribunal respetivo à hora que advertido de que o julgamento será realizado na sua
logo lhes será indicada, e informará ao arguido de que ausência, caso não comparecer pessoalmente, sendo
poderá apresentar testemunhas de defesa até ao mesmo representado pelo defensor constituído ou nomeado.
número, devendo lavrar no auto de detenção informação
sobre as notificações realizadas e a identificação das Artigo 418.º
pessoas notificadas. Inadequação da forma de processo sumário e reenvio para
outra forma de processo
2. Se o arguido as apresentar nesse ato, serão elas
verbalmente notificadas para comparecerem, cumprindo- 1. Se o juiz entender que ao facto imputado ao arguido
se as formalidades previstas na parte final do número não é aplicável, de acordo com a lei, o processo sumário,
anterior. assim o fundamentará nos autos, podendo e limitar-se-á

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1241

a interrogar o arguido e o ofendido, se estiver presente, a d) Crimes sexuais que tenham como ofendidos menores
inquirir as testemunhas, seguindo-se, depois, os ulteriores de 16 anos de idade;
termos do processo que for aplicável.
e) Extorsão e chantagem;
2. O disposto no n° 1 será correspondentemente aplicável
aos casos em que não possam ser respeitados os prazos f) Escravidão e tráfico de pessoas;
estabelecidos para julgamento em processo sumário, nos g) Crimes previstos no Título IV do Código; e
termos previstos neste capítulo.
h) Crimes Previstos no Capítulo I do Título VII do
Artigo 419.º Código.
Termos processuais do julgamento Artigo 423.º

1. Os actos e termos do julgamento serão reduzidos ao Comparticipação


mínimo indispensável ao conhecimento e boa decisão da Em caso de comparticipação criminosa só se aplica
causa, sem prejuízo do núcleo essencial das garantias de a presente forma processual quando houver acordo de
defesa do arguido. todos os arguidos.
2. Se o representante do Ministério Público não estiver Artigo 424.º
presente nem puder comparecer imediatamente, o tribunal Processo negocial
procederá à sua substituição, nos precisos termos legais.
1. Havendo a possibilidade dum acordo, o Ministério
3. O Ministério Público poderá substituir a acusação Público, por sua iniciativa ou à solicitação do arguido
pela leitura do auto de notícia ou da participação da ou do assistente nos crimes cuja prossecução dependa
autoridade que tiver procedido à detenção. acusação particular, marca uma sessão de negociação,
para o prazo mais curto possível, sem prejuízo do acesso
4. Salvo quando, nos termos previstos neste Código, do assistente e do arguido aos autos
não haja lugar à documentação dos actos da audiência,
a acusação, a contestação, o pedido civil e a respectiva 2. Promovido o processo negocial de transação, o
contestação, quando verbalmente apresentados, serão assistente e o arguido têm direito de acesso integral aos
igualmente registados na acta. autos, mediante consulta ou certidão
5. A apresentação da acusação e da contestação 3. Caso não se tenha logrado, na primeira sessão, o
substituirão as exposições mencionadas no artigo 373.º. acordo sobre a pena consensual, poderá ser marcada uma
outra sessão, no prazo de 10 dias.
6. Finda a produção da prova, será concedida a palavra,
por uma só vez, aos representantes da acusação e da defesa 4. As sessões de negociações não são públicas.
3 703000 000000

e das partes civis, os quais poderão alegar durante vinte 5. Não será permitido mais do que um procedimento
minutos improrrogáveis. negocial no âmbito do mesmo processo.
7. A sentença poderá ser proferida verbalmente e Artigo 425.º
ditada para a ata, imediatamente após o encerramento Assistência obrigatória de advogado
da audiência ou, excecionalmente, num prazo máximo
de três dias. O arguido será sempre assistido por advogado em todo
o processo negocial.
Artigo 420.º
Artigo 426.º
Arquivamento em caso de dispensa da pena e arquivamento
provisório Molduras e custas

É correspondentemente aplicável em processo sumário 1. Caso o acordo seja obtido na fase da instrução os
o disposto nos artigos 317.º e 318.º. limites mínimo e máximo da moldura aplicável serão
reduzidos de um terço e a taxa de Justiça será reduzida
Artigo 421.º a um quarto.
Assistente e parte civil 2. Fora da instrução, a moldura aplicável será reduzida
Em processo sumário, a pessoa com legitimidade para de um quarto no seu limite máximo.
tal poderá constituir-se assistente ou intervir como parte 3. O disposto nos números anteriores não prejudica a
civil se assim o solicitar, mesmo que só verbalmente, até aplicabilidade do regime da atenuação livre da pena se
ao início da audiência de julgamento. os respectivos pressupostos estiverem preenchidos.
TÍTULO II Artigo 427.º
Processo de transacção Delimitação dos factos, acordo e requerimento
de homologação
Artigo 422.º
1. A sessão começa pela delimitação dos factos e
Âmbito de aplicação averiguação da participação do arguido neles.
1. O Ministério Público, o arguido, o assistente ou quem 2. Fixada a factualidade, os intervenientes debatem
tenha legitimidade para se constituir assistente poderá sobre a pena principal e a acessória que eventualmente
requer que o processo siga os seus trâmites sob a forma se imponha e bem assim a indemnização a pagar.
de transacção para a aplicação duma pena consensual.
3. A falta de acordo sobre a indemnização não inviabiliza
2. Independentemente da natureza do crime, a transacção o procedimento, devendo, nesse caso, o pedido respectivo
em processo penal não pode ter lugar nos seguintes casos: ser deduzido em separado.
a) Crimes de genocídio, crimes de guerra e crimes 4. Obtido o acordo, lavrar-se-á o termo respectivo,
contra a humanidade; devendo mencionar-se a factualidade apurada e a sanção
acordada.
b) Homicídio doloso;
5. Não sendo possível o acordo, ficará a constar do
c) Sequestro; processo apenas o auto de realização de negociações.

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1242 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

6. Assinado o acordo pelo Ministério Público, arguido b) A prova seja, no essencial, documental;
e Advogado, o Ministério Público requererá ao juiz
competente a respectiva homologação. c) A prova possa ser recolhida no prazo previsto para
a dedução da acusação;
Artigo 428.º
d) O arguido tenha admitido a prática do facto ilícito
Audiência e homologação típico;
1. Recebido o processo ou o termo do acordo o juiz e) A prova assenta em testemunhas presenciais com
notifica o Ministério Público, o arguido e o defensor para versão uniforme dos factos.
comparecerem no dia que indicar.
3. Podem, igualmente, ser julgados em processo abreviado
2. Na data fixada, o juiz ouvirá o Ministério Público, o os crimes de furto de energia elétrica, furto e roubo, na sua
arguido e o defensor sobre os termos do acordo, explicando forma simples ou agravada, quando estejam preenchidos
ao arguido as consequências do mesmo. os pressupostos previstos no número anterior.
3. O juiz homologa, por despacho o acordo, aplicando Artigo 431.º
as sanções e a taxa de justiça.
Instrução ou sua dispensa
4. O despacho referido no número anterior vale como
sentença. Verificados os pressupostos mencionados no artigo
antecedente, o Ministério Público:
Artigo 429.º
a) Se não se mostrar necessária a realização de quaisquer
Rejeição do acordo e reenvio diligências de investigação e não houver razões
1. O juiz rejeita o acordo quando não seja aplicável ao para arquivar o processo, dispensa a instrução,
caso a forma processual adequada ou a pena aplicada se deduzirá e remeterá ao tribunal a acusação
mostre desconforme ao previsto no artigo 426º, porém, em no prazo máximo de cinco dias ou, se o crime
qualquer caso, se estiverem verificados os pressupostos depender de acusação particular, notificará ao
previstos no nº 1 do artigo 340º, o juiz, antes do reenvio, assistente ou quem tenha legitimidade para o
procurará obter o acordo entre o arguido e ofendido, com efeito, querendo, se constituir como tal e deduzir
a presença dos respetivos mandatários, seguindo-se os a sua acusação no prazo de cinco dias;
termos estabelecidos nos n.ºs 2 a 4 do referido artigo. b) Se se mostrar necessária a investigação e recolha de
2. Rejeitado o acordo, o juiz ordena o seu desentranhamento mais provas, ainda que se traduzem em diligências
dos autos e reenvia o processo para a forma processual expeditas e sumárias, designadamente a audição
adequada. do arguido, realiza a instrução, a qual deverá
3 703000 000000

ser concluída no prazo máximo de sessenta dias;


3. A posição tomada pelos intervenientes no acordo será
de todo irrelevante no desenrolar posterior do processo. c) Encerrada a instrução, consoante a prova recolhida,
o Ministério Público arquivará o processo ou
TÍTULO III procederá nos termos previstos na alínea a);
Processo abreviado d) Em caso de factos indiciadores de crimes de violência
Artigo 430.º baseada no género, o Ministério Público pode,
mediante despacho fundamentado, deduzir
Pressupostos gerais acusação no prazo máximo de setenta e cinco
1. São julgados em processo abreviado, desde que se dias, quando entender que, por motivos relativos
verifiquem os seguintes pressupostos: ao estado de saúde, física ou mental da vítima,
ou por outros, não seja possível naquele momento
a) O crime seja punível com pena de multa ou com a apresentação de todas as provas necessárias
pena de prisão cujo limite máximo não seja superior a para a conclusão da instrução.
oito anos, bem como o crime punível com pena de prisão Artigo 432.º
de limite máximo superior a oito anos, mesmo em caso
de concurso de infrações, quando o Ministério Público, Acusação e contestação
na acusação, entender que não deve ser aplicada, em
concreto, pena de prisão superior a oito anos; 1. A acusação do Ministério Público deverá conter os
elementos descritos no número 1 do artigo 321.º, podendo,
b) Não terem decorrido mais de cento e vinte dias no entanto, a identificação do arguido e a narração dos
desde a data da distribuição do correspondente factos ser efetuadas, no todo ou em parte, por mera
processo ao magistrado do Ministério Púbico remissão para o auto de notícia ou para a participação
encarregue da sua investigação; ou denúncia que contenham tais factos minimamente
individualizados.
c) Simplicidade da matéria de facto e existência
de provas claras e de fácil percepção de que 2. O assistente poderá aderir à acusação do Ministério
resultem indícios suficientes da prática do facto Público ou deduzir a sua própria acusação e o pedido
e de quem foi o seu agente; cívil no prazo de cinco dias após receber a notificação da
acusação deduzida contra o arguido.
d) Não ser aplicável ao caso, ou sendo abstractamente
aplicável, não ter sido aplicada, outra forma de 3. O arguido, após a notificação da acusação do
processo especial prevista neste Código. Ministério Público e, se for o caso, do assistente, deduzirá
e apresentará a sua contestação até ao início da audiência
2. Serão considerados, nomeadamente, como casos de de discussão e julgamento.
existência de prova clara ou de fácil perceção, aqueles
em que: Artigo 433.º
Despacho de concordância do juiz
a) Haja detenção em flagrante e não caiba ou não foi
possível julgar em processo sumário e se enquadre nos 1. Remetidos os autos ao tribunal competente, o juiz
pressupostos previstos no número anterior; pronunciar-se-á sobre a verificação dos pressupostos de

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1243

admissibilidade da forma de processo, nomeadamente, requerimento do Ministério Público, do assistente ou do


sobre a simplicidade da matéria de facto e a clareza e arguido, pelo prazo determinado pelo juiz, se considerar
fácil percepção dos meios de prova, não podendo emitir o adiamento necessário para se proceder a quaisquer
qualquer juízo sobre o mérito da causa. diligências de prova complementar essenciais à descoberta
da verdade, designadamente garantir a presença no
2. O juiz pronunciar-se-á, por despacho de concordância julgamento de testemunhas que o Ministério Público, o
ou não concordância com a forma de processo abreviado, assistente ou o arguido não prescindem.
porém, esse prazo é reduzido para 48 horas quando se
tratar de crimes de violência baseada no género, maus LIVRO VI
tratos a menor ou pessoa vulnerável, maus tratos a RECURSOS
cônjuge e unido de facto e maus tratos a ascendente e TÍTULO I
pessoa em economia doméstica, bem como de crimes
sexuais contra menor. Recursos ordinários

3. Se o despacho do juiz for de não concordância, serão CAPÍTULO I


os autos remetidos ao Ministério Público, seguindo os seus Disposições gerais
ulteriores termos de acordo com outra forma processual.
Artigo 436.º
4. Nos casos de reenvio dos autos para a forma de Princípio geral
processo comum ordinário, quando se trate de crimes
de violência baseada no género, maus tratos a menor Poderá ser interposto recurso de qualquer decisão
ou pessoa vulnerável, maus tratos a cônjuge e unido de proferida em processo penal sempre que a lei a não considere
facto e maus tratos a ascendente e pessoa em economia irrecorrível.
doméstica, bem como de crimes sexuais contra menor, Artigo 437.º
o prazo para o julgamento não poderá exceder 90 dias.
Casos de irrecorribilidade
Artigo 434.º
1. Não será admissível recurso, para além de outros
Saneamento do processo e designação do dia para
julgamento
casos previstos expressamente na lei:
a) Dos despachos de mero expediente;
1. Havendo concordância relativamente à verificação dos
pressupostos de processo abreviado, nos termos do artigo b) Das decisões sobre polícia de audiência;
anterior, o juiz pronunciar-se-á, no mesmo despacho, sobre
as questões referidas no n° 1 do artigo 338.º e designará c) Das decisões que ordenam actos dependentes da
dia para julgamento. livre resolução do tribunal;
d) Do despacho que tiver pronunciado o arguido pelos
3 703000 000000

2. O tribunal rejeitará a acusação se ela não obedecer


aos requisitos mencionados no artigo 432.º. factos constantes da acusação do Ministério
Público;
Artigo 435.º
e) Da decisão judicial de concordância com a existência
Regras especiais para o julgamento de simplicidade da matéria de facto e prova
1. A audiência de julgamento regular-se-á pelas indiciária clara e de fácil percepção que justifica
disposições aplicáveis ao processo comum, com as alterações a tramitação sob a forma do processo abreviado,
constantes deste artigo. nos termos dos artigos 430.º e seguintes;
f) Do despacho que marca dia para a ACP ou para
2. A data da audiência de julgamento será marcada a audiência de julgamento;
para uma mais próxima possível, mas nunca depois de
cento e vinte dias após a data prevista na alínea b) do g) Das decisões sobre a matéria de fato proferidas
número 1 do artigo 430º, sendo que, nos casos de crimes em processo especial de transacção;
de violência baseada no género, maus tratos a menor
ou pessoa vulnerável, maus tratos a cônjuge e unido de h) Das decisões proferidas em processo sumário, salvo
facto, maus tratos a ascendente e pessoa em economia se tratar de sentença ou despacho que puser
doméstica, e crimes sexuais contra a criança, em data termo ao processo;
nunca superior a vinte dias após o termo do prazo previsto i) De acórdãos condenatórios proferidos em recurso,
no número 2 do artigo 433.º. pelas relações, que confirmem as decisões de
primeira instância e apliquem pena de prisão
3. As alegações orais subsequentes à produção da prova não superior a oito anos.
não poderão exceder, para cada um dos intervenientes,
trinta minutos, e as réplicas, dez minutos, improrrogáveis. 2. Sem prejuízo do disposto nos artigos 470º-B e 470º-C,
o recurso da parte da decisão relativa à indemnização civil
4. A sentença poderá ser proferida verbalmente e só é admissível desde que o valor do pedido seja superior
ditada para a acta, e será lida imediatamente após o à alçada do tribunal recorrido e a decisão impugnada
encerramento da audiência, ou, excepcionalmente, num seja desfavorável para o recorrente em valor superior a
prazo máximo de três dias. metade desta alçada.
5. O juiz, oficiosamente ou a requerimento do Ministério Artigo 438.º
Público, do arguido ou do ofendido, poderá utilizar a Legitimidade e interesse em agir
faculdade prevista no artigo 340.º.
1. Têm legitimidade para recorrer:
6. O juiz poderá prescindir da produção de provas e
decretar a absolvição do arguido dos fatos que lhe são a) O Ministério Público, de quaisquer decisões, ainda
imputados, quando resultar manifesta atipicidade, que no exclusivo interesse do arguido;
comprovada existência de causa excludente da ilicitude
ou da culpa, salvo quando, neste último caso, for aplicável b) O arguido, o assistente e a parte civil, de decisões
qualquer medida de segurança. contra eles proferidas e na parte em que o forem;

7. Excecionalmente, a audiência, sem que se afaste a c) Aqueles que tiverem sido condenados em quaisquer
forma abreviada, poderá ser adiada, oficiosamente ou a sanções por infracção às disposições deste Código,
ao pagamento de quaisquer importâncias, ou

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1244 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

tiverem a defender um direito afectado pela a) A insuficiência para a decisão da matéria de facto
decisão, nomeadamente nos casos em que se provada;
decrete a apreensão, perda ou entrega de bens.
b) A contradição insanável da fundamentação ou
2. Não poderá recorrer quem não tiver interesse em agir. entre a fundamentação e a decisão, ou, ainda,
da matéria de facto dada como provada;
Artigo 439.º
c) Erro notório na apreciação da prova.
Âmbito pessoal do recurso
3. O recurso poderá ainda ter como fundamento a
Salvo se for fundado em motivos estritamente pessoais, inobservância de requisito cominado sob pena de nulidade
o recurso interposto: que não deva considerar-se sanada.
a) Por um dos arguidos, em caso de comparticipação, Artigo 443.º
aproveita aos restantes;
Desistência
b) Pelo arguido, aproveita ao responsável civil; 1. O Ministério Público, o arguido, o assistente e a
c) Pelo responsável civil, aproveita ao arguido, mesmo parte civil poderão desistir do recurso interposto, até
para efeitos penais. ao momento de o processo ser concluso ao relator para
exame preliminar.
Artigo 440.º
2. A desistência far-se-á por requerimento ou por
Âmbito material do recurso termo no processo e será julgada, quanto à validade, em
1. O recurso interposto de uma decisão abrangerá todo conferência.
o seu âmbito, salvo o disposto no número seguinte. Artigo 444.º

2. O recorrente poderá limitar o recurso a uma parte Recurso subordinado


da decisão recorrida, desde que ela possa ser separada 1. Em caso de recurso interposto por uma das partes civis,
da parte não recorrida, de forma a tornar possível uma a parte contrária poderá interpor recurso subordinado.
apreciação e uma decisão autónomas.
2. O recurso subordinado será interposto no prazo de
3. Para efeitos do disposto no número antecedente, é dez dias, contado a partir da notificação do despacho que
nomeadamente autónoma a parte da decisão que se referir: tiver admitido o recurso da parte contrária.
a) A matéria penal, relativamente àquela que se 3. Se o primeiro recorrente desistir do recurso, este
referir a matéria civil; ficar sem efeito ou o tribunal não tomar conhecimento
3 703000 000000

b) Em caso de concurso de crimes, a cada um dos dele, o recurso subordinado ficará sem efeito.
crimes; Artigo 445.º

c) Em caso de unidade criminosa, à questão da Modo de subida


culpabilidade, relativamente àquela que se 1. Subirão nos próprios autos os recursos interpostos
referir à questão da determinação da sanção; do despacho de pronúncia e das decisões que ponham
d) Dentro da questão da determinação da sanção, a termo à causa, e os que com eles devam subir.
cada uma das penas ou medidas de segurança. 2. Subirão em separado os recursos não referidos no
4. A limitação do recurso a uma parte da decisão não número antecedente que devam subir imediatamente.
prejudicará o dever de retirar da procedência daquele Artigo 446.º
as consequências legalmente impostas relativamente a Recursos que sobem imediatamente
toda a decisão recorrida.
Artigo 441.º
1. Subirão imediatamente os recursos interpostos:

Recusa de conhecimento parcial e renovação do recurso a) Das decisões que ponham termo à causa e das
que forem proferidas depois delas;
1. Se o recorrente limitar o âmbito do recurso nos termos
deste artigo e o tribunal superior entender que a parte b) Das decisões que apliquem ou mantenham medidas
da decisão recorrida não é susceptível de conhecimento e de coacção pessoal ou de garantia patrimonial,
decisão autónoma, decidirá pela recusa de conhecimento ou que imponham qualquer sanção por infracção
do recurso. às disposições deste Código ou, ainda, condenem
no pagamento de quaisquer importâncias;
2. Nos cinco dias imediatos à notificação da recusa, o c) Do despacho em que o juiz não reconhecer impedimento
recorrente poderá, por requerimento, renovar a instância contra si deduzido;
de recurso ampliando o seu objecto.
Artigo 442.º
d) Das decisões finais sobre excepções;
Fundamentos do recurso e) Do despacho que recusar ao Ministério Público
legitimidade para a prossecução do processo,
1. O recurso poderá ter como fundamento quaisquer que não admitir a constituição de assistente
questões de que pudesse conhecer a decisão recorrida, ou a intervenção de parte civil;
sempre que a lei não restrinja expressamente os poderes
de cognição do tribunal de recurso. f) Do despacho que indeferir o requerimento para a
abertura da ACP;
2. Mesmo nos casos em que, por disposição expressa
da lei, os poderes de cognição do tribunal de recurso se g) Do despacho de pronúncia ou de não-pronúncia, sem
devam limitar a matéria de direito, o recurso poderá ter prejuízo do disposto no nº 1, d), do artigo 437.º.
também como fundamentos, desde que o vício resulte dos h) De despacho que indeferir requerimento de
elementos constantes do texto da decisão recorrida, por submissão de arguido suspeito de anomalia
si só ou conjugados com as regras da experiência comum: mental à perícia respectiva.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1245

2. Subirão ainda imediatamente os recursos cuja 4. Se o recurso for restrito a matéria de direito, no
retenção os tornaria absolutamente inúteis. requerimento de interposição poderá o recorrente solicitar
que o julgamento do recurso se faça em conferência e,
Artigo 447.º
não, em audiência.
Recursos de subida diferida Artigo 452.º
Os recursos que não devam subir imediatamente serão Prazo de interposição e de fundamentação
instruídos e julgados com o recurso interposto da decisão 1. O prazo de interposição do recurso é de quinze dias
que tiver posto termo à causa. e contar-se-á a partir da notificação da decisão ou da
Artigo 448.º data em que deva considerar-se notificada, ou, tratando-
se de decisão oral reproduzida em ata, da data em que
Recursos com efeito suspensivo do processo
tiver sido proferida, se o interessado estiver ou dever
Terão efeito suspensivo do processo: considerar-se presente.

a) Os recursos interpostos de decisões finais condenatórias, 2. No caso referido na parte final do número antecedente,
sem prejuízo do disposto no artigo 281.º; a fundamentação será apresentada no prazo de quinze
dias, contado da data da interposição.
b) O recurso do despacho de pronúncia, quando Artigo 452.º-A
legalmente admissível.
Fundamentação do recurso e conclusões
Artigo 449.º
1. A fundamentação enuncia especificamente os
Recursos que suspendem os efeitos da decisão recorrida fundamentos do recurso e termina pela formulação de
conclusões, deduzidas por artigos, em que o recorrente
Suspenderão os efeitos da decisão recorrida: resume as razões do pedido.
a) Os recursos interpostos de decisões que imponham 2. Versando matéria de direito, as conclusões indicam
qualquer sanção pecuniária ou condenarem ao ainda:
pagamento de quaisquer importâncias, nos
termos deste Código, se o recorrente depositar a) As normas jurídicas violadas;
o seu valor; b) O sentido em que, no entendimento do recorrente,
o tribunal recorrido interpretou cada norma
b) O recurso do despacho que julgar quebrada a ou com a aplicou e o sentido em que ela devia
caução. ter sido interpretada ou com que devia ter sido
Artigo 450.º aplicada; e
3 703000 000000

Proibição de reformatio in pejus c) Em caso de erro na determinação da norma aplicável, a


norma jurídica que, no entendimento do recorrente,
1. Interposto recurso de decisão final somente pelo deve ser aplicada.
arguido, pelo Ministério Público no exclusivo interesse
daquele, ou pelo arguido e pelo Ministério Público no 3. Quando impugne a decisão proferida sobre matéria de
exclusivo interesse do primeiro, o tribunal a que o recurso facto, o recorrente deve especificar:
se dirige não poderá, em prejuízo de qualquer dos arguidos, a) Os concretos pontos de facto que considera incorretamente
ainda que não recorrentes: julgados;
a) Aplicar pena, principal ou acessória, ou medida b) As concretas provas que impõem decisão diversa
de segurança, que, pela sua espécie, natureza da recorrida;
ou medida, deva considerar-se mais grave do
que a constante da decisão recorrida; c) As provas que devem ser renovadas.
b) Revogar a suspensão da execução da pena ou o 4. Quando as provas tenham sido gravadas, as especificações
regime de prisão de fim-de-semana; previstas nas alíneas b) e c) do número anterior fazem-se por
referência ao consignado na acta, nos termos do disposto no nº
c) Aplicar pena acessória não contida na decisão 2 do artigo 358.º, devendo o recorrente indicar concretamente
recorrida; as passagens em que se funda a impugnação.
d) Modificar, de qualquer modo, a pena ou a medida 5. Havendo recursos retidos, o recorrente especifica
de segurança aplicada na decisão recorrida. obrigatoriamente, nas conclusões, quais os que mantêm
interesse.
2. Havendo dúvidas quanto à concreta gravidade relativa
da sanção ou do regime, será ouvido o arguido. 6. Em caso de omissão dos requisitos formais previstos
nos números anteriores, o relator convida o recorrente a
CAPÍTULO II completar ou esclarecer as conclusões formuladas, no prazo
de cinco dias, sob pena de o recurso ser rejeitado ou não ser
Tramitação do recurso ordinário
conhecido na parte afetada, sendo que, o aperfeiçoamento
Artigo 451.º não permite modificar o âmbito do recurso que tiver sido
fixado na motivação.
Requerimento de interposição
7. No caso previsto no nº 4, o tribunal procede à audição
1. O recurso será interposto por meio de requerimento ou visualização das passagens indicadas e de outras que
escrito dirigido ao tribunal cuja decisão se pretende considere relevantes para a descoberta da verdade e a boa
impugnar. decisão da causa.
2. O recurso de decisão proferida em audiência poderá Artigo 453.º
ser interposto por simples declaração na acta, mas neste Admissão e fixação do efeito e regime de subida do recurso
caso deverá ser feito em acto seguido à decisão.
1. Interposto o recurso ou findo o prazo para o efeito, o
3.O requerimento de interposição de recurso será processo será concluso ao juiz para fins de admissão do
fundamentado, sob pena de rejeição. recurso e fixação do seu efeito e regime de subida.

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1246 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

2. A decisão que admita o recurso, que determine o Artigo 459.º


efeito que lhe cabe ou o regime de subida não vinculará Exame preliminar
o tribunal a que o recurso se dirige.
Artigo 454.º
1. Colhido o visto do Ministério Público o processo será
concluso ao relator para exame preliminar.
Casos de não admissão do recurso no tribunal recorrido
2. No exame preliminar o relator apreciará todas as
O recurso apenas será rejeitado no tribunal da questões prévias ou incidentais que possam obstar ao
decisão recorrida quando esta for irrecorrível, falte a conhecimento do mérito da causa, nomeadamente se
fundamentação, for interposto fora de tempo ou, ainda, o recurso deverá ser rejeitado e se deverá manter-se o
em caso de ilegitimidade do recorrente. efeito que foi atribuído ao recurso, e, ainda, se há lugar à
Artigo 455.º renovação de prova e pessoas que devam ser convocadas.
Reclamação contra despacho que não admitir o recurso 3. Depois de haver procedido a exame preliminar, o
relator elaborará, em quinze dias, projecto de acórdão
1. Do despacho que não admitir ou que retiver o recurso, sempre que:
o recorrente poderá reclamar para o presidente do tribunal
a que o recurso se dirige. a) Aquele exame tiver suscitado questão que deva e
possa ser decidida em conferência;
2. A reclamação será apresentada na secretaria do tribunal
recorrido no prazo de oito dias, contado da notificação do b) O recurso deva ser julgado em conferência.
despacho que não tiver admitido o recurso ou da data em Artigo 460.º
que o recorrente tiver conhecimento da retenção.
Vistos
3. No requerimento o reclamante exporá as razões que
justificam a admissão ou a subida imediata do recurso 1. Concluído o exame preliminar, o processo irá a visto
e indicará os elementos com que pretende instruir a dos restantes juizes, acompanhado do projecto de acórdão,
reclamação. se disso for caso, e depois à conferência, na primeira
sessão que tiver lugar.
4. A decisão do presidente do tribunal a que o recurso
se dirige será definitiva quando confirmar o despacho de 2. Sempre que a natureza do processo e a disponibilidade
indeferimento; no caso contrário, não vinculará aquele de meios técnicos o permitirem, serão tiradas cópias para
tribunal. que os vistos sejam efectuados simultaneamente.
Artigo 456.º Artigo 461.º
Notificação e resposta Conferência
3 703000 000000

1. O requerimento de interposição ou a fundamentação 1. Serão decididas em conferência as questões suscitadas


serão, após o despacho de admissão do recurso, notificados em exame preliminar.
aos restantes sujeitos processuais afectados pelo recurso,
devendo ser entregues no número de cópias necessário. 2. O recurso será julgado em conferência quando:
2. Os sujeitos processuais afetados pela interposição a) Deva ser rejeitado;
do recurso poderão responder no prazo de quinze dias,
contados da data da notificação da apresentação das b) Exista causa extintiva de procedimento ou da
alegações do recorrente. responsabilidade penal que ponha termo ao
processo ou seja o único motivo do recurso;
3. A resposta será notificada aos sujeitos processuais
por ela afectados, observando-se o disposto no n° 1 quanto c) A decisão recorrida não constitua decisão final;
às cópias. d) Não tiver sido requerida a realização de audiência
4. É correspondentemente aplicável o disposto no nº 3 contraditória e não seja necessário proceder à
do artigo 442º e no nº 6 do artigo 452º-A. renovação da prova nos termos do artigo 467º.
Artigo 457.º Artigo 462.º

Despacho de sustentação ou reparação Rejeição do recurso

Se o recurso não for interposto de sentença ou de 1. O recurso será rejeitado sempre que faltar a
acórdão final, poderá o juiz, antes de ordenar a remessa fundamentação ou for manifesta a improcedência daquele.
do processo ao tribunal a que o recurso se dirige, sustentar 2. A rejeição exigirá a unanimidade de votos.
ou reparar a decisão.
Artigo 458.º 3. Em caso de rejeição do recurso, o acórdão limitar-
seá a identificar o tribunal recorrido, o processo e os seus
Vista ao Ministério Público sujeitos e a especificar sumariamente os fundamentos
da decisão.
1. Recebido no tribunal a que se dirige o recurso, e
cumpridas as formalidades da sua distribuição, o processo 4. Se o recurso for rejeitado, o tribunal condenará o
irá com vista ao Ministério Público, por oito dias. recorrente, se não for o Ministério Público, ao pagamento
de uma importância entre cinco a quarenta mil escudos.
2. O Ministério Público pronunciar-se-á no seu visto
inicial sobre a admissibilidade e o objecto do recurso, Artigo 463.º
excepto se, tratando-se de acção civil conexa, estiver
Julgamento do recurso em audiência contraditória
restrito à indemnização e não lhe couber representar
qualquer das partes. 1. O recurso é julgado em audiência contraditória,
3. Se, na vista, o Ministério Público não se limitar a quando houver lugar à renovação da prova nos termos do
apor o seu visto, o arguido e os demais sujeitos processuais artigo 467º ou mediante pedido expresso do recorrente ou
afetados pela interposição do recurso são notificados para, do recorrido inserido nas respetivas alegações e contra-
querendo, responder no prazo de sete dias. alegações de recurso, com a indicação dos concretos pontos,
de facto e de direito, que pretende ver debatidos.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1247

2. A audiência contraditória é regulada pelas disposições Artigo 468.º


dos artigos subsequentes e, subsidiariamente, pelas Deliberação
disposições aplicáveis à audiência de julgamento em
primeira instância. 1. Encerrada a audiência, o tribunal reunir-se-á para
Artigo 464.º deliberação.
Processo de julgamento do recurso 2. Serão correspondentemente aplicáveis as disposições
sobre deliberação e votação em julgamento no tribunal
1. Aberta conclusão ao presidente do tribunal, este colectivo, previstas neste Código, tendo em atenção a
marcará a audiência para um dos vinte dias seguintes, natureza das questões que constituem o objecto do recurso.
determinará as pessoas a convocar e mandará completar
os vistos, se for caso disso, sendo correspondentemente Artigo 469.º
aplicável o disposto no nº 2 do artigo 460.º. Acórdão
2. Serão sempre convocados para a audiência o Ministério 1. Concluída a deliberação e votação, será elaborado o
Público, o defensor, os representantes do assistente e da acórdão pelo relator ou, se este tiver ficado vencido, pelo
parte civil e, quando tiver sido julgado sem a sua presença primeiro juiz que tiver feito vencimento.
nos termos deste Código, o arguido.
2. Será admissível declaração de voto redigida pelo
3. Após o presidente ter declarado aberta a audiência, o vencido.
relator introduzirá os debates com uma exposição sumária
sobre o objecto do recurso, na qual enunciará as questões Artigo 470.º
que o tribunal entende merecerem um exame especial. Reenvio do processo para novo julgamento
4. À exposição do relator seguir-se-á a renovação da
prova quando a ela houver lugar nos termos deste Código. 1. O Tribunal a que o recurso se dirige determinará o
reenvio do processo para novo julgamento relativamente à
5. Seguidamente, o presidente dará sucessivamente totalidade do objeto do processo ou a questões concretamente
a palavra, para alegações, ao Ministério Público e aos identificadas na decisão de reenvio:
representantes dos recorrentes e dos recorridos, a cada
um por período não superior a trinta minutos, prorrogável a) Sempre que, por existirem os vícios referidos nas
em caso de especial complexidade. alíneas do nº 2 do artigo 442º, não for possível
decidir a causa;
6. Não haverá lugar a réplica, sem prejuízo da concessão
da palavra ao defensor, antes do encerramento da b) Quando a prova produzida no tribunal de cuja
audiência, por mais quinze minutos, se ele não tiver sido decisão se recorre não ficou registada em ata
e nem qualquer outro suporte.
3 703000 000000

o último a intervir.
Artigo 465.º 2. Salvo na situação prevista na alínea b) do número
anterior, o novo julgamento competirá ao juiz ou coletivo
Adiamento da audiência
de juízes diferente do recorrido, de preferência de categoria
1. A não comparência de pessoas convocadas só e composição idênticas.
determinará o adiamento da audiência quando o tribunal 3. Não sendo possível cumprir o disposto no nº 2, o
o considerar indispensável à realização da justiça. julgamento poderá ser feito pelo tribunal que proferiu a
2. Se o defensor não comparecer e não houver lugar decisão recorrida, mas com outro juiz, ou outros juízes
a adiamento, o tribunal nomeará novo defensor, sendo conforme couber.
correspondentemente aplicável o disposto no nº 2 do Artigo 470.º-A
artigo 94.º.
Recurso para a relação
3. Não será permitido mais de um adiamento da audiência.
O recurso das decisões proferidas por tribunal judicial
Artigo 466.º
de primeira instância, pelo Tribunal Militar de Instância
Composição do tribunal em audiência e pelos Tribunais fiscais e Aduaneiros interpõe-se para a
Relação, ressalvadas as excepções previstas na lei.
Não sendo possível a participação dos juizes que
intervieram na conferência, serão chamados outros juizes, “Artigo 470.º-B
designando-se outro relator ou completando-se os vistos. Poderes de cognição
Artigo 467.º
Os Tribunais de Relação conhecem de facto e de direito.
Renovação da prova
Artigo 470.º-C
1.Havendo registo da prova produzida perante o tribunal Recurso para o Supremo Tribunal de Justiça
recorrido, o tribunal de recurso admitirá a renovação da
prova se se verificarem os vícios referidos nas alíneas 1. Recorre-se para o Supremo Tribunal de Justiça:
do nº 2 do 442.º e houver razões para crer que aquela
permitirá evitar o reenvio do processo. a) Das decisões do Tribunal de Relação proferidas
em primeira instância;
2. A decisão que admitir ou recusar a renovação da
prova será definitiva e fixará os termos e a extensão com b) Das demais decisões da relação, desde que não
que a prova produzida em primeira instância poderá ser sejam irrecorríveis, nos termos da lei;
renovada.
c) Das decisões dos tribunais de primeira instância
3. Se for determinada a renovação da prova, o arguido que apliquem penas superiores a oito anos de
será convocado para a audiência. prisão desde que o recurso vise exclusivamente
o reexame da matéria de direito.
4. Salvo decisão do tribunal em contrário, a falta de
arguido regularmente convocado não dará lugar ao d) Das decisões interlocutórias que devam subir com
adiamento da audiência. os recursos referidos nas alíneas anteriores;

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1248 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

e) Nos demais casos especialmente previstos por lei. 2. O requerimento será sempre fundamentado e conterá
a indicação dos meios de prova oferecidos, nomeadamente
2. Nos casos previstos na alínea c) do número anterior dos documentos que se queiram juntar ao processo.
não é admissível o recurso prévio para o Tribunal de
Relação. 3. Se a revisão for pedida com fundamento nas alíneas a),
TÍTULO II b) ou c) do n° 1 do artigo 471.º, o requerimento só será
recebido quando acompanhado da certidão da sentença
Recurso extraordinário de revisão ou despacho em que se funda a revisão e do seu trânsito
Artigo 471.º em julgado.
Fundamentos e admissibilidade da revisão Artigo 474.º

1. A revisão da sentença transitada em julgado será Produção de prova


admissível quando:
1. Se o fundamento da revisão for o previsto na alínea d)
a) Uma outra sentença transitada em julgado tiver do nº 1 do artigo 471.º, o juiz procederá às diligências
considerado falsos os meios de prova que tenham que considerar indispensáveis para a descoberta da
sido determinantes para a decisão; verdade, mandando documentar, por redução a escrito
ou por qualquer meio de reprodução integral, todos os
b) Uma outra sentença transitada em julgado tiver depoimentos e declarações.
dado como provado crime cometido por juiz e
relacionado com o exercício da sua função no 2. O requerente não poderá indicar testemunhas que não
processo; tiverem sido ouvidas no processo, a não ser justificando
e provando que ignorava a sua existência ao tempo da
c) Em caso de condenação, os factos que serviram decisão ou que estiveram impossibilitadas de depor.
de fundamento à decisão forem inconciliáveis
com os que tiverem sido dados como provados 3. Se o fundamento da revisão for o da alínea e) do nº 1
noutra sentença e da oposição resultarem graves do artigo 471.º, poderá o juiz ordenar os exames periciais
dúvidas sobre a justiça da condenação; e demais diligências que se mostrarem necessários, antes
d) Se descobrirem novos factos ou meios de prova de fazer seguir o processo de revisão.
que, de per si ou combinados com os que foram Artigo 475.º
apreciados no processo, constituam elementos
susceptíveis de afastar a condenação ou de Remessa do processo e parecer
fundamentar, com uma probabilidade próxima 1. O juiz que receber o requerimento para revisão
da certeza, uma forte atenuação da pena, nos remeterá o processo ao Supremo Tribunal de Justiça no
termos do Código Penal;
3 703000 000000

prazo de cinco dias acompanhado de seu parecer sobre


e) For feita prova de que o arguido, por anomalia o mérito do pedido.
psíquica, não era susceptível de responsabilidade 2. Quando tenha que proceder a quaisquer diligências,
penal, por inimputabilidade, pelo crime por que nos termos dos artigos antecedentes, o prazo a que se
se encontra condenado. refere o número antecedente contar-se-á a partir do fim
2. Para o efeito do disposto no número antecedente, daquelas diligências.
à sentença será equiparado despacho judicial que, nos Artigo 476.º
termos deste Código, tiver posto fim ao processo.
Tramitação no Supremo Tribunal de Justiça
3. A revisão será admissível a qualquer tempo, ainda
que o procedimento se encontre extinto ou a pena prescrita 1. Recebido no Supremo Tribunal de Justiça, o processo
ou cumprida, salvo, nesta última hipótese, se se tratar do vai com vista ao Ministério Público, por cinco dias, e será
fim referido na parte final da alínea d) do nº 1. depois concluso ao relator, pelo prazo de dez dias.
Artigo 472.º 2. Com um projecto de acórdão, o processo irá, de
Legitimidade seguida, a visto dos restantes juizes competentes para o
julgamento, nos termos das leis de organização judiciária,
1. Têm legitimidade para requerer a revisão: por cinco dias.
a) O Ministério Público; 3. A decisão que autorizar ou denegar a revisão será
b) O assistente, relativamente a sentenças absolutórias tomada em conferência, nos termos das leis de organização
ou a despachos de não-pronúncia, com os judiciária.
fundamentos descritos nas alíneas a) ou b) do
n° 1 do artigo antecedente; 4. Se o tribunal entender que é necessário proceder a
qualquer diligência, poderá ordená-la, oficiosamente ou
c) O condenado ou seu defensor, relativamente a a requerimento.
sentenças condenatórias.
5. Se houver de se proceder nos termos do número
2. Têm ainda legitimidade para requerer a revisão e para antecedente, depois de cumprida a diligência, se o processo
a continuar, quando o condenado tiver falecido ou estiver tiver baixado, será remetido de novo o processo ao Supremo
incapacitado, o cônjuge, os descendentes, os adoptados, os Tribunal de Justiça, o qual deliberará de imediato, por
ascendentes, os adoptantes, a pessoa que com o condenado acórdão fundamentado, sem necessidade de novos vistos.
vivesse em condições análogas às de cônjuge, os parentes
Artigo 477.º
ou afins até ao 4.º grau da linha colateral e os herdeiros
que mostrem um interesse legítimo. Negação de revisão
Artigo 473.º
Se o Supremo Tribunal de Justiça negar a revisão,
Formulação do pedido condenará o requerente, que não seja o Ministério Público,
em custas e imposto de justiça e ainda, se considerar que
1. O requerimento será apresentado no tribunal onde o pedido era manifestamente infundado ou feito de ma
se proferiu a sentença que deve ser revista e a revisão fé, no pagamento de uma quantia entre quinze e cento
será processada por apenso. e vinte mil escudos.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1249


Artigo 478.º 2. A sentença que, após a revisão, absolver o arguido
Autorização da revisão será afixada por certidão ou cópia à porta do tribunal
da comarca da última residência do arguido e à porta
1. Se for autorizada a revisão, o Supremo Tribunal do que tiver proferido a condenação e, além disso, será
de Justiça mandará baixar os autos para que se efectue publicada em três números consecutivos de jornal da sede
novo julgamento, observando-se o disposto no n° 2 do da comarca deste último tribunal ou da localidade mais
artigo 470.º. próxima, se naquela não houver jornais, ou, se assim
for considerado mais eficaz, o seu teor será mandado
2. Se o condenado se encontrar a cumprir pena de prisão divulgar por estação de rádio ou de televisão com audiência
ou medida de segurança de internamento, o Supremo naquelas localidades.
Tribunal de Justiça decidirá, em função da gravidade
da dúvida sobre a condenação, se a execução deverá 3. A publicação ou divulgação será paga pelo assistente
ser suspensa ou não, e, no primeiro caso, se ao arguido e, não o havendo, pelo Cofre dos Tribunais, por conta do
deverá ser aplicada qualquer medida cautelar processual tribunal ou juízo que tiver proferido a condenação.
legalmente admissível no caso concreto.
Artigo 483.º
3. Aplicar-se-á o disposto na parte final do número
Indemnização
antecedente, no caso de o condenado não ter ainda iniciado
o cumprimento da sanção. 1. No caso referido no artigo antecedente, a sentença
Artigo 479.º atribuirá ao arguido indemnização pelos danos sofridos,
podendo deixar-se, quanto aos danos materiais, a liquidação
Anulação de sentenças inconciliáveis para a execução da sentença, fixando-se, desde logo, a
1. Se a revisão for autorizada com fundamento na alínea indemnização pelos danos não patrimoniais.
c) do nº 1 do artigo 471.º, por haver sentenças penais 2. A indemnização será paga pelo Estado, ficando este
inconciliáveis que tenham condenado arguidos diversos sub-rogado no direito do arguido contra os responsáveis
pelos mesmos factos, o Supremo Tribunal de Justiça por factos que tiverem determinado a decisão revista.
anulará as sentenças e ordenará que se proceda a novo
julgamento conjunto de todos os arguidos no tribunal, 3. Se o arguido tiver pago quaisquer quantias a título de
observando-se, igualmente, com as devidas adaptações multa, imposto de justiça ou custas, ser-lhe-ão restituídas.
o disposto no n° 2 do artigo 470.º.
Artigo 484.º
2. Para efeitos do disposto no número antecedente, os
processos serão apensos, seguindo-se os termos da revisão. Sentença condenatória após a revisão de decisão
condenatória
3 703000 000000

3. A anulação das sentenças fará cessar a execução das


sanções nelas aplicadas, mas observar-se-á o disposto no Se a decisão final revista for condenatória e se concluir,
n° 2 do artigo antecedente. após a revisão, pela procedência da acusação, será o
arguido condenado na sanção que se considerar cabida ao
Artigo 480.º caso, descontando-lhe a que já tiver cumprido, aplicando-
Meios de prova e actos urgentes se, correspondentemente, o disposto neste Código sobre
proibição da reformatio in pejus.
1. Baixado o processo, o juiz mandará dar vista ao
Ministério Público para, em três dias, declarar se tem Artigo 485.º
alguma diligência a requerer e qual, e notificará, para o Sentença condenatória após a revisão de decisão absolutória
mesmo fim e com igual prazo, o arguido e o assistente.
1. Se a decisão revista tiver sido absolutória, mas a
2. Se o juiz entender que as diligências requeridas decisão após a revisão for condenatória, será o arguido
são desnecessárias, assim o declarará em despacho condenado na respectiva sanção, imposto de justiça, custas
fundamentado, indeferindo os pedidos. e eventual indemnização por danos causados pelo crime.
3. Findo o prazo a que se refere o n° 1, o juiz praticará 2. Se tiver recebido indemnização será condenado a
os actos urgentes necessários, nos termos do artigo 348.º e restituí-la, e ao assistente serão restituídos o imposto de
ordenará, no prazo de três dias, a realização das diligências justiça e as custas que houver pago.
requeridas e as demais que considerar necessárias para
o esclarecimento da verdade. Artigo 486.º
Artigo 481.º Revisão de despacho que tiver posto fim ao processo
Novo julgamento
Nos casos em que for admitida a revisão de despacho
1. Praticados os actos a que se refere o artigo antecedente, que tiver posto fim ao processo, nos termos do n°2 do
será designado dia para julgamento, observando-se em artigo 473.º, o Supremo Tribunal de Justiça, se conceder
tudo os demais termos do respectivo processo. a revisão, declarará sem efeito o despacho e ordenará que
o processo prossiga os seus termos.
2. Se a revisão tiver sido autorizada com fundamento
nas alíneas a) ou b) do nº 1 do artigo 471.º, não poderão Artigo 487.º
intervir no julgamento pessoas condenadas ou acusadas Legitimidade para novo pedido de revisão
pelo Ministério Público por factos que tenham sido
determinantes para a decisão a rever. 1. Tendo sido negada a revisão, apenas poderá haver
Artigo 482.º nova revisão se for requerida pelo Procurador-Geral da
República.
Sentença absolutória após a revisão
2. Tendo sido mantida a decisão revista, terá aplicação
1. Se a decisão revista tiver sido condenatória e a decisão o disposto no nº 1, mas o Procurador-Geral apenas poderá
após a revisão for absolutória, a primeira decisão será requerer um segundo pedido de revisão.
anulada, sendo o respectivo registo trancado e o arguido
restituído à situação jurídica anterior à condenação. O Primeiro-Ministro, José Maria Pereira Neves

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1250 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

CONSELHO DE MINISTROS interesse paisagístico no mundo submarino do PNBIMA,


já que a diversidade aí existente é considerável e abarca
–––––– desde paredes coralíferas a grutas, túneis e canais, e até
montanhas com vistas para o abismo.
Decreto-Regulamentar nº 3/2021
de 9 de abril 2- Valores da Biodiversidade: A importância internacional
das falésias litorais da Baía do Inferno foi já reconhecida
O Decreto-lei nº 3/2003, de 24 de fevereiro, alterado há cerca de duas décadas, após a sua classificação como
pelo Decreto-lei nº 44/2006, de 28 de agosto, estabelece Important Bird and Biodiversity Area (IBA) CV003
o regime jurídico dos espaços naturais, paisagens, (Coastal cliffs between Porto Mosquito and Baía do Inferno)
monumentos e lugares que, pela sua relevância para a e também como Key Biodiversity Area (KBA). Cinco das
biodiversidade, pelos seus recursos naturais e serviços oito espécies de aves marinhas que nidificam em Cabo
ecológicos, e pelo seu interesse socioeconómico, cultural, Verde fazem-no na Baía do Inferno e as populações de
turístico ou estratégico, merecem uma proteção especial, duas dessas espécies, o alcatraz (Sula leucogaster) e o
passando a integrar a Rede Nacional das Áreas Protegidas. rabo-de-junco (Phaethon aethereus), são particularmente
Estabelece seis categorias de áreas protegidas: reserva numerosas e relevantes, tanto ao nível do arquipélago
natural, parque natural, monumento natural, paisagem como ao nível regional, no contexto da costa atlântica
protegida e sítio de interesse científico. africana. Do ponto de vista bioclimático o PNBIMA
cobre as classes térmicas infratropical e termotropical,
Os parques naturais, nos termos do Regime Jurídico as classes de humidade árida e semi-árida, e a classe de
das Áreas Protegidas, são espaços amplos que contêm continentalidade hiperoceânica, o que proporciona uma
predominantemente sistemas naturais com habitats, riqueza e diversidade da sua flora. São, assim, diversos
espécies ou amostras representativas da biodiversidade os valores existentes, alguns deles de interesse histórico-
do país, e onde podem existir pequenas comunidades cultural. Por exemplo, é possível encontrar extensas
humanas que aproveitem os recursos vivos segundo práticas manchas de uma espécie endémica e emblemática de
tradicionais e artesanais. São ainda caracterizados por Cabo Verde, o espinheiro-branco (Acacia caboverdeana).
conterem paisagens naturais, seminaturais e humanizadas Ali, ao contrário do que é habitual, perduram amplos
de interesse nacional, onde há uma integração harmoniosa povoamentos pouco perturbados pela mão humana e onde
da atividade humana com a natureza. não se encontram outras espécies de porte arbustivo e
A gestão dos parques naturais deverá ser orientada de arbóreo que foram introduzidas recentemente, como é o
modo a garantir a conservação das espécies, dos habitats caso da acácia comum (Prosopis juliflora). É igualmente
e dos valores ecológicos, a par da melhoria das condições possível encontrar outros endemismos cabo-verdianos, como
de vida das populações residentes, assim como o acesso o marmulano (Sideroxylon marginata), e até endemismos
de visitantes às respetivas áreas, com fins recreativos, insulares como os Daucus annuus e Limonium lobinii.
No ambiente marinho justificam referência endemismos
3 703000 000000

espirituais, educativos ou científicos, tendo em conta os


objetivos da conservação. nacionais como a benteia (Virididentex acromegalus), o
sargo branco (Diplodus sargus lineatus), a salema (Diplodus
No Parque Natural da Baía do Inferno e do Monte Angra prayensis) e a tainha preta (Chelon bispinosus). Por fim,
(PNBIMA), localizado na Ilha de Santiago, conjugam-se, não deve ser esquecida a ocorrência do coral-sol (Atlantia
com singular e acentuada identidade, e de uma forma caboverdiana) e do coral negro (Tanacetipathes wirtzi).
particularmente feliz, três grandes grupos de valores:
3- Valores da Ocupação Humana do Território e do
1- Valores Paisagísticos e Geológicos: A configuração Turismo de Natureza: na periferia do PNBIMA existem
atual da Ilha de Santiago foi fortemente influenciada três comunidades humanas. Duas delas, Porto Mosquito
por dois episódios vulcânicos regionais que ocorreram, e Porto Rincão, são comunidades situadas junto ao mar e
respetivamente, entre os 3,3 a 2,2 milhões de anos e os 1,1 onde as atividades económicas em torno da pesca artesanal
a 0,7 milhões de anos. Na escala geológica são episódios e da comercialização do pescado são dominantes. Porto
muito recentes, que imprimiram na paisagem a presença Rincão tem até um pequeno núcleo (Rincão de Baixo)
de orografias imponentes, vigorosas e abruptas. O território dentro dos limites do PNBIMA. Ali é possível encontrar
do PNBIMA, onde muito facilmente se observam os uma traça arquitetónica tradicional e, simultaneamente,
arcos de quatro crateras vulcânicas e todas as litologias uma população de cerca de duas centenas de habitantes
magmáticas intrusivas e extrusivas correspondentes, é um distribuída por cerca de duas dezenas de habitações.
excelente exemplo dessa realidade geomorfológica. O Monte São ainda fortes os laços familiares existentes e também
Angra, com 577 metros de altitude, é simultaneamente o é a identidade construída a partir da apropriação do
um dos pontos mais altos do PNBIMA, a maior falésia espaço marinho que lhes está particularmente próximo.
costeira de Cabo Verde e uma das mais altas de todo A terceira comunidade humana acima referida é Entre
o Atlântico Norte. Do cume do Monte Angra, onde em Picos de Reda, detentora de uma identidade serrana e
1957 foi instalado um Vértice Geodésico, é possível onde a pastorícia e alguma agricultura são as atividades
observar e compreender a geografia regional, apreciar económicas principais. Nenhuma das atividades económicas
a majestosidade do território, do oceano e até, quando a das três comunidades tem impactes ambientais que se
visibilidade o permite, da Ilha do Fogo. A subida ao Monte antecipe poderem vir a ameaçar, a curto prazo, os valores
de Angra, que pode ser feita tanto pela vertente virada ambientais e cénicos do PNBIMA, e os maiores problemas
para Entre Picos de Reda como pela virada para Porto que se identificam no presente estão relacionados com as
Mosquito, será sempre uma das mais cativantes atrações deficiências no abastecimento de água, no saneamento
do turismo de natureza e da paisagem em todo o PNBIMA. básico e na recolha do lixo urbano. Qualquer uma das
Mas o interesse paisagístico e geológico não se esgota nos comunidades acima referidas pode tornar-se numa porta
diversos pontos altos. Os canyons das Ribeiras de Santa de entrada no PNBIMA, através do turismo de natureza,
Clara e de Angra são igualmente valores únicos. Para os seja terrestre (por exemplo, através de caminhadas
investigadores e amantes da história natural ajudam a pedestres, passeios de burro ou de BTT), seja marinho
compreender o contexto geomorfológico do PNBIMA; aos (por exemplo, através de passeios de bote, mergulho
visitantes oferecem outros atrativos de inegável interesse. para observação dos ecossistemas subaquáticos, de aves
De igual forma, embora ainda a requerer investigação e mamíferos marinhos). A dinamização deste tipo de
aprofundada, os depósitos de um paleo-tsunami originado atividades, se concretizada de forma ambientalmente
a partir da Ilha do Fogo e a existência de paleo-dunas correta, será até muito positiva, porque poderá atenuar
motivam a existência de outros focos de atração científica a pressão sobre os recursos naturais e, especialmente,
e turística. Há, para além disso, outro motivo de grande sobre a ictiofauna).

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1251

O artigo 10º do Decreto-lei nº 3/2003, de 24 de fevereiro, área, uma correta estratégia de conservação e gestão que
alterado pelo Decreto-lei nº 44/2006, de 28 de agosto, permita a concretização dos objetivos que presidiram à
estabelece no nº 1 que “para a Declaração de uma área sua classificação como parque natural.
protegida deve ser aberto, um processo de participação
cívica, no qual são informadas e implicadas as populações Assim,
da área envolvente e as suas associações, se existirem, Nos termos do nº 3 do artigo 10º conjugado com o nº 2
os municípios e as organizações não governamentais do artigo 34º do Decreto-lei nº 3/2003, de 24 de fevereiro,
que se dedicam à proteção do ambiente”; e no nº 2 que alterado pelo Decreto-lei nº 44/2006, de 28 de agosto; e
“a tramitação do expediente de declaração incumbe à
autoridade ambiental, por iniciativa própria, a pedido de No uso da faculdade conferida pela alínea b) do artigo
outros departamentos governamentais ou de particulares, 205º e pela alínea b) do nº 2 do artigo 264º da Constituição,
neste ultimo caso, reunindo o pedido um mínimo de 300 o Governo decreta o seguinte:
assinaturas”.
Artigo 1º
No caso, do PNBIMA a proposta partiu da sociedade civil,
Delimitação do Parque Natural da Baía
cumprindo todos os requisitos exigidos pelo Decreto-lei do inferno e do Monte Angra
referido, envolvendo diretamente as comunidades locais,
as autoridades locais e nacionais, duas universidades É aprovada a delimitação do Parque Natural da Baía do
nacionais, duas universidades estrangeiras e duas Inferno e do Monte Angra, da ilha de Santiago, passando a
organizações não governamentais. integrar a Rede Nacional das Áreas Protegidas, de acordo
com as coordenadas, referências e croqui cartográfico
O PNBIMA tem uma área total de 21.096 ha, sendo constantes do anexo ao presente diploma, do qual fazem
3.626 ha a parte terrestre e 17.470 ha a parte marinha, parte integrante.
situada a Sul da aldeia piscatória de Porto Rincão
(Concelho de Santa Catarina de Santiago) e a Noroeste da Artigo 2º
aldeia piscatória de Porto Mosquito (Concelho de Ribeira Entrada em vigor
Grande de Santiago).
O presente diploma entra em vigor no dia seguinte ao
Considerando, assim, o Decreto-lei nº. 3/2003, de 24 da sua publicação.
de fevereiro, alterado pelo Decreto-lei nº 44/2006, de
28 de agosto, e a Resolução nº 35/2016 de 17 de março Aprovado em Conselho de Ministros aos 4 de março
que aprova a Estratégia Nacional de Áreas Protegidas de 2021.
de Cabo Verde (ENAP) que estabelece de entre outros
objetivos, b) amplificar o papel das áreas protegidas na José Ulisses de Pina Correia e Silva e Gilberto Correia
adaptação às alterações climáticas; c) permitir a expansão Carvalho Silva
3 703000 000000

e consolidação da Rede Nacional de áreas Protegidas; e


d) permitir aos agentes da sociedade civil, comunidades Promulgado em 05 de abril de 2021
locais e Organizações não-governamentais participarem Publique-se.
nos processos de criação e seleção das áreas protegidas, o
Governo apoiou a consolidação da proposta com a finalidade O Presidente da República, JORGE CARLOS DE
de assegurar, à luz da experiência e dos conhecimentos ALMEIDA FONSECA
científicos adquiridos sobre o património natural desta

Anexo
(A que se refere o artigo 1º)

1. Referência:
Carta de Cabo Verde, reprodução a escala 1/50.000, da cartografia do serviço cartográfico do Exército Português
2.Croqui:
3. Coordenadas:

PONTO COORDENADAS NACIONAIS COORDENADAS GEOGRÁFICAS


id coord X coord Y lat wgs84 long wgs84
1 194925 31079 14,952533 -23,6901
2 188900 22500 14,87507 -23,74621
3 177345 37535 15,011049 -23,85348
4 186796 42840 15,058917 -23,76555
5 187128 43023 15,060569 -23,76246
6 187185 43331 15,063352 -23,76192
7 187077 43481 15,064705 -23,76293
8 187173 43572 15,065525 -23,76203
9 187488 43625 15,066005 -23,7591
10 187829 43886 15,068357 -23,75593
11 187933 44030 15,069657 -23,75496

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1252 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

12 188027 43987 15,069274 -23,75408


13 187946 43892 15,068409 -23,75484
14 188042 43794 15,067521 -23,75395
15 188186 43830 15,067845 -23,75261
16 188480 43692 15,066599 -23,74987
17 188478 43481 15,064692 -23,74989
18 188621 43428 15,064214 -23,74856
19 188720 43462 15,064519 -23,74765
20 189069 43305 15,063091 -23,74441
21 189714 43338 15,063382 -23,7384
22 190259 43076 15,061015 -23,73334
23 190652 43177 15,061919 -23,72968
24 191188 43085 15,061078 -23,7247
24 191874 42830 15,058767 -23,71832
25 192488 43094 15,061148 -23,71261
26 192851 43037 15,060627 -23,70923
27 193237 43473 15,064561 -23,70563
28 193726 43464 15,064474 -23,70109
29 194225 43254 15,062576 -23,69645
30 194253 42787 15,058348 -23,6962
31 193171 41493 15,046674 -23,70627
32 193150 41282 15,044765 -23,70647
3 703000 000000

34 193464 39426 15,027984 -23,70357


35 193939 39283 15,026683 -23,69916
36 194273 38645 15,020916 -23,69606
37 194010 37738 15,012722 -23,69852
38 194241 37129 15,007217 -23,69638
39 194350 36334 15,000026 -23,69538
40 194569 36206 14,998872 -23,69335
41 195099 36303 14,99974 -23,68841
42 194709 35729 14,994557 -23,69205
43 193956 35117 14,989034 -23,69906
44 193026 33756 14,976751 -23,70772
45 192965 33564 14,975016 -23,70829
46 193214 33298 14,972602 -23,70598
47 193671 32509 14,965469 -23,70174
48 194505 32133 14,962064 -23,69399
49 194621 31494 14,956281 -23,69293
50 194969 31251 14,954082 -23,68969
José Ulisses de Pina Correia e Silva e Gilberto Correia Carvalho Silva
––––––
Resolução nº 46/2021
de 9 de abril

Em 29 de janeiro de 2010, o Governo de Cabo Verde assinou com Portugal um financiamento de €200.000.000
(duzentos milhões de euros), acrescido de uma comparticipação do Governo de Cabo Verde em €20.000.000 (vinte
milhões de euros), para a construção de oito mil e quinhentos habitações de interesse social (HIS). Este financiamento
visava, essencialmente, a construção de novas habitações.
No processo de implementação do Programa Casa para Todos o Governo fez a retrocessão da linha de crédito,
conseguido junto de Portugal, para a Imobiliária, Fundiária e Habitat S.A (IFH, S.A), passando a empresa a ser

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1253

detentora dos ativos e passivos daí resultantes. O acordo 4. […]


de retrocessão foi assinado a 15 de julho de 2013, onde o
Governo de Cabo Verde retrocede à IFH, S.A. o montante de 5. […]
21,9 milhões de contos, que deve ser utlizado exclusivamente 6. O disposto no número 4 não se aplica aos casos em
para as despesas do Programa Casa para Todos. que o montante não subsidiado do valor da habitação
A IFH, S.A. depara com uma grande quantidade de seja obtido através de financiamento bancário, na sua
produtos em stock e alguma dificuldade no seu escoamento totalidade ou parcialmente.”
com a celeridade desejada, derivado dos preços praticados Artigo 3º
conjugada com a situação laboral e o endividamento das
famílias cabo-verdianas. Entrada em vigor

Por forma a responder às necessidades de um maior A presente Resolução entra em vigor no dia seguinte
número de famílias, a medida de subsidiação abrange um ao da sua publicação.
conjunto de produtos situados nas ilhas de São Vicente,
Santiago, Sal, Boa Vista e Maio. Aprovada em Conselho de Ministros aos 18 de março
de 2021. — O Primeiro-Ministro, José Ulisses de Pina
A referida medida destina sobretudo às ilhas que Correia e Silva
apresentam mais agregados em défice habitacional, com
destaque para os seguintes aspetos: (i) Contemplar os ––––––
jovens com idade até trinta e cinco anos e pessoas com
alguma deficiência inscritas no cadastro social único, que Resolução nº 47/2021
não sejam proprietárias de nenhuma habitação; (ii) São de 9 de abril
abrangidas por essa medida mil habitações, e o montante
do subsídio a aproximar os 800 mil contos, com impacto A importância que o Governo atribui ao setor da
médio no preço das habitações de 800 contos. economia marítima, enquanto um dos principais motores
de desenvolvimento económico, de geração de rendimento
Ao abrigo do número 4 do anexo a que se refere o artigo e de bem estar para a população de Cabo Verde, está
1º da Resolução nº 161/2019, de 30 de dezembro, sobre claramente expressa no Programa do Governo para a IX
o comprador recai o ónus de inalienabilidade, ficando Legislatura, onde preconiza, entre outros, a prospeção e
o mesmo proibido de alienar, arrendar ou transmitir exploração dos novos espaços e recursos, sustentadas no
qualquer direito real sobre o imóvel, por um período de conhecimento científico e no desenvolvimento tecnológico
cinco anos a partir de aquisição do imóvel. e visando dar corpo a um tecido empresarial privado de
No entanto, para as situações em que o financiamento, base tecnológica que tenha como centro da sua atividade
total ou parcial, seja bancário, entende-se que este ónus o mar.
3 703000 000000

não deve ser aplicável às instituições bancárias.


O alcance económico e social do Campus do Mar,
Assim, composto pela Universidade Técnica do Atlântico, Escola
do Mar e do Instituto do Mar, advém do alavancamento da
Nos termos do nº 2 do artigo 265º da Constituição, o economia marítima como um ramo da atividade económica
Governo aprova a seguinte Resolução. sustentável, de alto valor acrescentado, que envolve as
Artigo 1º comunidades locais no processo produtivo e nos benefícios.
Objeto A materialização da visão do projeto Campus do Mar
A presente Resolução procede à primeira alteração da leva a que o desenvolvimento da economia marítima em
Resolução nº 161/2019, de 30 de dezembro que aprova a Cabo Verde venha a ser suportado por um sistema de
subsidiação de habitação a jovens e pessoas com deficiência Ensino superior e de Formação Técnico-Profissional de
inscritas no cadastro social único. qualidade e excelência, uma Investigação Aplicada ao
desenvolvimento tecnológico e à inovação e que esteja
Artigo 2º alinhada com a utilização e conservação do capital natural,
Alteração valorizando os serviços dos ecossistemas marinhos.

É alterado o ponto I do anexo a que se refere o artigo 1º A Escola do Mar, Entidade Pública Empresarial, em
da Resolução nº 161/2019, de 30 de dezembro, que passa conformidade com os respetivos Estatutos, aprovados
a ter a seguinte redação: pelo Decreto-lei nº 2/2020, de 16 de janeiro, foi criada
como um dos meios para a concretização da estratégia
“Anexo do Governo de Cabo Verde no âmbito da implementação
da Zona Económica Especial de Economia Marítima em
[…] São Vicente (ZEEEM-SV), de capitalizar a centralidade
I […] atlântica de Cabo Verde, tendo como objetivo principal o
desenvolvimento e a implementação de ações de formação
[…] básica modular e técnico profissional nos domínios do
1. […] mar, da economia marítima e áreas afins.

a. […] Nos termos do artigo 11º dos Estatutos da Escola do


Mar, o Conselho de Administração (CA) é composto por
b. […] um Presidente e dois administradores, providos nos
termos da lei.
2. […]
a. […] Considerando que, com o plafond atribuído para o Orçamento
do ano de 2021, que ainda reflete as consequências da
b. […] mitigação dos efeitos sociais e económicos da COVID-19,
existe a necessidade de se reforçar o projeto de apoio à
c. [… instalação da Escola do Mar para suporte das despesas
d. […] de funcionamento, nomeadamente o pagamento dos
salários do CA.
3. […]

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1254 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

Assim,
Ao abrigo do nº 4º do artigo 67º do Decreto Lei nº 7/2021, de 18 de janeiro, que define as normas e os procedimentos
necessários à execução do Orçamento de Estado para o ano 2021; e
Nos termos do nº 2 do artigo 265º da Constituição, o Governo aprova a seguinte Resolução:
Artigo 1º
Autorização
É autorizada a transferência das dotações orçamentais, no valor global de 6.662.400$00 (seis milhões, seiscentos
e sessenta e dois mil e quatrocentos escudos) dentro do Ministério da Economia Marítima, para reforçar o projeto de
apoio à instalação da Escola do Mar, conforme o quadro anexo à presente Resolução, da qual faz parte integrante.
Artigo 2º
Entrada em vigor
A presente Resolução entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação.
Aprovada em Conselho de Ministros aos 06 de abril de 2021. — O Primeiro Ministro, José Ulisses de Pina Correia
e Silva
Anexo
(A que se refere o artigo 1º)

PILAR Unidade Orçamental Rubrica Económica Anulação Reforço


02.01.01.01.03-Pessoal Contratado 5 376 000,00
02.01.02.01.01-Contribuições Para A Segurança
60.01.01.04.126 - Insta- Social 806 400,00
Social lação Da Escola Do Mar 02.01.01.02.02 - Subsídios permanentes 480 000
(2020 DES)TES(Tes)
02.02.02.01.03.01-Assistência Técnica - Residentes
02.02.02.09.09-Outros Serviços
40.10.25.01 - Gabinete 02.02.02.00.09-Deslocação E Estadas 500 000
3 703000 000000

Do MEM (2021 DES)


TES(Rec_Ac) 02.02.02.01.03.01-Assistência Técnica - Residentes 300 000
02.02.01.01.03-Material De Limpeza, Higiene
E Conforto 200 000
40.10.25.02.02 - Pla- 02.02.02.00.02-Conservação E Reparação De Bens 1 000 000
neamento, Orçamento E
Gestão Do MEM (2021 02.02.02.00.03-Comunicações 600 000
DES)TES(Rec_Ac)
02.02.02.01.01-Limpeza Higiene E Conforto 250 000
02.02.02.09.09-Outros Serviços 200 000
02.02.02.00.01-Rendas E Alugueres 300 000
Economia 40.10.25.03.03 - Serviço
Dos Transportes Maríti- 02.02.02.01.00-Vigilância E Segurança 602 000
mos, Portos E Logística 02.02.02.01.01-Limpeza Higiene E Conforto 250 000
(2021 DES)TES(Rec_Ac)
02.02.02.09.09-Outros Serviços 200 000
02.02.02.00.03-Comunicações 300 000
02.02.02.00.09-Deslocação E Estadas 390 000
40.10.25.07.02 - Inspeção 02.02.02.01.00-Vigilância E Segurança 302 000
Geral Das Pescas (2021
DES)TES(Rec_Ac) 02.02.02.01.01-Limpeza Higiene E Conforto 619 040
02.02.02.01.03.01-Assistência Técnica - Residentes 500 000
02.02.02.09.09-Outros Serviços 149 360
TOTAL 6 662 400,00 6 662 400,00
––––––
Retificação nº 72/2021
de 9 de abril
Por ter sido publicado de forma inexata no Boletim Oficial nº 7, I Série, de 25 de janeiro de 2021, a Portaria nº
6/2021 que aprova o Regulamento de Tarifas das Áreas Dominiais enquadradas nas Zonas de Jurisdição Portuárias,
segue uma solicitação de retificação na parte que nos interessa:
Onde se lê:
“Artigo 1.º - Objeto”
O presente Regulamento visa instituir um conjunto de normas específicas complementares ao Regulamento
Tarifário da ENAPOR, S.A., aprovado pela Portaria Conjunta nº XX/2020, de XX de XX de 2020, conferindo

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1255

maior abrangência da incidência tarifária de Com o Plano Estratégico para o período 2018 a 2030,
contrapartida financeira exigível aos titulares do detetaram-se determinadas necessidades, sobretudo de
direito de uso de espaços dominiais portuários simplificação e de transparência do tarifário em vigor que
atribuídos e regime de licença, contrato de uso remonta a 2013, facilitando o pré-cálculo aos clientes dos
privativo e/ou subconcessão, de harmonia com portos, adaptando-se às realidades portuárias atuais das
o preceituado nas previsões dos artigos 7.º, 8.º diferentes ilhas, e procurando acompanhar os avanços
e 9.º da Lei dos Portos – Decreto Legislativo nº técnicos e tecnológicos e as grandes transformações no
1/2013, de 12 de setembro, conjugados ainda que diz respeito ao desenvolvimento global dos portos,
com o artigo 7.º do Decreto-lei nº 31/2015, de nomeadamente a infraestruturação, segurança, gestão,
18 de maio – Bases Gerais das Concessões e exploração e fornecimentos, para além da redução dos
Subconcessões Portuárias, assim como consagrado preços unitários na passagem de mercadorias e navios.
nas alíneas p) e s) do artigo 19.º dos Estatutos Assim, propõe-se a presente revisão do Caderno Tarifário
da ENAPOR, publicados no Boletim Oficial da ENAPOR, que preconiza os seguintes objetivos:
nº 14, II Série, de 2 de março de 2018.”
1. Otimizar a utilização conjunta dos recursos humanos,
Deve-ler se: das infraestruturas e dos equipamentos portuários;
“Artigo 1.º - Objeto” 2. Aumentar a competitividade através do crescimento
O presente Regulamento visa instituir um conjunto de da produtividade, da eficiência e da contenção dos custos
normas específicas complementares ao Regulamento fixos e variáveis;
Tarifário da ENAPOR, S.A., aprovado pela Portaria
Conjunta nº 7/2021, de 25 de janeiro, conferindo 3. Maximizar as receitas para que possam, de uma
maior abrangência da incidência tarifária de forma progressiva, assegurar a cobertura dos custos e
contrapartida financeira exigível aos titulares do contribuir para o financiamento dos investimentos;
direito de uso de espaços dominiais portuários 4. Reforçar a capacidade de proteção e segurança nas
atribuídos e regime de licença, contrato de uso áreas de jurisdição portuária;
privativo e/ou subconcessão, de harmonia com
o preceituado nas previsões dos artigos 7.º, 8.º 5. Focar a estratégia nos clientes e fidelizá-los;
e 9.º da Lei dos Portos – Decreto Legislativo nº
1/2013, de 12 de setembro, conjugados ainda 6. Promover e potenciar o transporte marítimo competitivo;
com o artigo 7.º do Decreto-lei nº 31/2015, de
18 de maio – Bases Gerais das Concessões e 7. Reduzir os custos de passagem pelos portos e alterar
Subconcessões Portuárias, assim como consagrado o equilíbrio das tarifas entre navios e mercadorias;
nas alíneas p) e s) do artigo 19.º dos Estatutos 8. Estimular práticas de cargas unificadas e promover a
da ENAPOR, publicados no Boletim Oficial
3 703000 000000

exportação, atraindo nichos de mercado de transshipment,


nº 14, II Série, de 2 de março de 2018.” barcos de pesca e navios de cruzeiro; e
Secretaria Geral do Governo, 06 de abril de 2021. — A 9. Influenciar o tráfego e a procura de forma agressiva.
secretária-Geral do Governo, Erodina Gonçalves Monteiro
A presente revisão estriba - se nas boas práticas
––––––o§o–––––– ambientais, logísticas, óticas e de relacionamento comercial
MINISTÉRIO DA ECONOMIA MARÍTIMA E transparente. Nesta perspetiva, e considerando os avanços
MINISTÉRIO DAS FINANÇAS pretendidos na simplificação dos processos logísticos,
atribui-se um papel mais relevante ao armador no suporte
–––––– dos custos portuários e posterior ligação com os agentes
de navegação e transitários, que se relacionam com o
Republicação nº 73/2021 cliente final, evitando, deste modo, a cobrança direta aos
de 9 de abril inúmeros pequenos clientes finais (carregadores), que não
têm dimensão e regularidade relevantes.
Portaria nº 7/2020
Por ter sido publicado de forma inexata no Boletim Com o presente instrumento, que estará em vigor
Oficial nº 7, I Série, de 25 de janeiro de 2021, a Portaria nº durante o ano de 2021, e que será atualizado e aprovado
conjunta nº 7/2021 que aprova o Regulamento de Tarifário anualmente, pretende-se, seguindo as melhores práticas,
da ENAPOR, S.A, segue uma solicitação de retificação adotar um quadro tarifário único e simplificado, com um
seguido de republicação na íntegra. número reduzido de tarifas e de tabelas, sendo os cálculos
de muito fácil compreensão por todos, incidindo estes
Secretaria Geral do Governo, 06 de abril de 2021. — A principalmente sobre o armador e o agente, reduzindo,
secretária-Geral do Governo, Erodina Gonçalves Monteiro assim, a burocracia e tornando as operações em terra
O sistema portuário nacional, constituído por nove mais eficientes.
portos, que deve promover a ligação entre si de forma Por outro lado, este tarifário é mais atrativo para os
eficaz e eficiente, bem como a ligação ao exterior para clientes estrangeiros dos mercados de transshipment,
a importação e a exportação competitivas de bens e a de pesca, de cruzeiros, de reparação naval e de bancas,
movimentação de passageiros, obriga a elevados custos de melhorando as ligações de Cabo Verde ao exterior, e
investimento, não proporcionando ou diminuindo mesmo tornando o país numa plataforma giratória de mercadorias,
as possibilidades e vantagens da economia de escala. criando valor acrescentado e emprego.
Esta fragmentação, que se constitui como uma dificuldade De igual modo, a presente revisão reflete fortes
adicional, obriga um trade-off inteligente constante em preocupações a nível social e ambiental, ao estimular
todos os aspetos da gestão do sistema portuário por parte e promover as boas práticas na proteção do mar e do
da ENAPOR, S.A., fazendo-se o equilíbrio através da meio ambiente, visando a adequação às possibilidades
contraposição entre a necessidade de massa crítica e escala. das populações, em especial no tráfego de cabotagem, e
Logo, o serviço a todas as ilhas terá de se pautar por via promovendo a minimização dos custos de passagem de
de subsídios cruzados, numa ótica de sustentabilidade, mercadorias e a livre circulação sem restrições e com
garantindo preços sociais e competitivos em cada ilha, os qualidade. Simultaneamente, contribui para a redução dos
quais são cobertos pelos resultados positivos dos principais custos de acesso a bens nos portos de menor dimensão, e
portos do país.

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1256 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

para o aumento da eficiência das ilhas menos povoadas e Gabinete dos Ministros das Finanças e da Economia
sem economias de escala, garantindo, desta forma, a sua Marítima, aos 29 de dezembro de 2020. — Os Ministros,
sustentabilidade e as condições para o seu desenvolvimento. Olavo Correia e Paulo J. Lima Veiga
Finalmente, pretende-se que o presente nível tarifário Anexo
seja o suficiente para manter a sustentabilidade do sistema
(a que se refere o artigo 1.º)
portuário nacional, mas com níveis competitivos em
relação aos concorrentes mais diretos, com um modelo de
cofinanciamento exterior que promova a sua competitividade, REGULAMENTO TARIFÁRIO DA ENAPOR, S.A.
garanta o equilíbrio, a manutenção dos portos e o seu
desenvolvimento, devendo a melhoria da eficiência da CAPÍTULO I
ENAPOR e dos serviços portuários com os privados e as Disposições Gerais
diversas entidades, constituir a chave principal para a
competitividade e redução da fatura portuária. Artigo 1.º

Assim, entre os pontos mais relevantes que constam da Âmbito de aplicação


presente revisão do Caderno Tarifário, pode-se destacar:
A Empresa Nacional de Administração dos Portos, S.A.,
1. Em matéria de preços, tendo em conta uma visão adiante designada por ENAPOR, S.A., cobrará, dentro da
comercial e operacional, a proposta de dar continuidade sua área de jurisdição, pela utilização das suas instalações
aos propósitos já anteriormente fixados, como sejam a e equipamentos, por fornecimento de bens e prestação
equidade perante as diferenças de porte dos navios, a de serviços relativos à exploração económica dos portos,
diferenciação mínima das tarifas aplicadas nos horários as tarifas previstas no presente Regulamento Tarifário.
normais de trabalho e horas extraordinárias, numa
indicação clara de que o porto é um espaço de trabalho Aos valores das tarifas previstas neste Regulamento
ininterrupto, a persuasão da unitização das cargas por aplica-se o IVA – Imposto sobre o Valor Acrescentado,
via da concessão de reduções, etc.; nos termos da legislação em vigor.
2. As tarifas para navios de cabotagem “licenciados” Artigo 2.º
como sendo de carreiras regulares ajustadas por forma Competência do Conselho de Administração da ENAPOR,
a corresponder aos objetivos de aumento do número de S.A.
escalas desses navios e de maior rotatividade e regularidade;
Sem prejuízo das situações previstas no presente
3. As tarifas de amarração atualizadas, com o alargar Regulamento Tarifário ou em legislação especial, observando
dos escalões de dimensão dos navios, passando aqueles as competências da Entidade Reguladora, compete ao
de maior dimensão a terem tarifas mais altas; Conselho de Administração da ENAPOR, S.A. deliberar,
3 703000 000000

4. A fixação de um novo escalão para o tráfego e o nomeadamente, sobre:


transporte de combustíveis com a utilização de contentores
maiores que 18m3, por forma a responder à realidade a) a prestação de serviços mediante ajuste prévio;
atual desse segmento de carga; b) serviços efetuados fora da zona do porto;
5. A tarifa de utilização de básculas atualizada por
forma a atender à alteração à Convenção Safety of Life c) serviços prestados em operações de salvamento,
at Sea (SOLAS), da IMO, que impõe a obrigatoriedade recolha e tratamento de resíduos, assistência
de pesagem de cada contentor para exportação que entre a embarcações em perigo, incêndios a bordo e
num navio; outros da mesma natureza;
6. O tráfego ro-ro de cabotagem ajustado e a tarifa d) a exigibilidade de pagamento antecipado de tarifas
de utilização dos portos atualizada, na decorrência do ou a garantia prévia do seu pagamento; e
reforço das medidas de controlo e de segurança a serem
introduzidas, nomeadamente a obrigatoriedade de pesagem e) a resolução de casos omissos.
dos veículos com carga e máquinas antes do embarque; e Artigo 3.º
7. A introdução de um conjunto de correções ao Regulamento Definições
Tarifário em vigor, com o objetivo de eliminar algumas
dúvidas, facilitar a sua compreensão pelos utentes e ainda Em anexo ao presente Regulamento Tarifário, para
tornar mais simples a sua aplicação. efeitos da sua aplicação, encontram-se as definições de
Nestes termos, ouvidos os serviços e os organismos determinados termos usados no respetivo texto.
competentes. Artigo 4.º
No uso da faculdade conferida pela alínea b) do artigo Utilização de pessoal
205° e pelo nº 3 do artigo 264°, ambos da Constituição;
1. As tarifas são válidas durante o horário normal de
Manda o Governo, pelo Ministro das Finanças e da funcionamento e incluem sempre o custo de utilização do
Economia Marítima e das Finanças, o seguinte: pessoal indispensável à execução do serviço.
Artigo 1.°
2. A utilização de pessoal para além do previsto no
(Objetivo) número anterior, por solicitação do requisitante do serviço
A presente Portaria aprova o Regulamento Tarifário ou por exigência das operações, será passível de aplicação
da ENAPOR, S.A., em anexo e que faz parte integrante da tarifa de pessoal prevista no presente Regulamento.
do presente diploma. Artigo 5.º
Artigo 2.º Unidades de medida
(Entrada em vigor)
1. As unidades de medida aplicáveis são:
A presente Portaria Conjunta entra em vigor 30 (trinta)
dias depois da sua publicação. a) quantidade – unidade de carga;

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1257

b) massa – tonelada métrica; 6. Em conformidade com os termos legais, a ENAPOR,


S.A. pode solicitar às autoridades competentes que não
c) volume – metro cúbico; autorizem a saída de qualquer navio cujo armador ou
operador seja responsável por pagamentos devidos à
d) área – metro quadrado; ENAPOR, S.A., enquanto os mesmos não forem liquidados
ou salvaguardados por garantia bancária, seguro de
e) comprimento – metro linear; caução ou fiança idónea.
f) tempo – hora, dia, mês e ano; e 7. A cobrança de tarifas poderá ser confiada a outras
entidades, em condições a fixar pelo Conselho de
g) capacidade – arqueação bruta (TAB) e dimensão Administração da ENAPOR, S.A.
dos navios ou embarcações.
2. Nos casos em que está prevista a aplicação da 8. As tarifas poderão ainda ser liquidadas por terceiros,
tonelada, será aplicado o metro cúbico sempre que esta em representação dos sujeitos passivos, nos termos legais.
medida determine um valor maior de tarifa, em função
da baixa densidade da mercadoria. Nos restantes casos 9. Em caso de cobrança coerciva, será debitada uma
em que estão previstas mais do que uma unidade de importância mínima para execução contenciosa, a fixar pela
medida, será escolhida aquela que a ENAPOR considerar ENAPOR, S. A., que acrescerá à importância da fatura.
mais conveniente.
10. O valor mínimo de faturação é de 300$00, de maneira
3. Para efeito da aplicação das tarifas, a arqueação a cobrir as despesas administrativas.
bruta (TAB), o comprimento de fora a fora, a boca de
Artigo 8.º
sinal e o calado máximo das embarcações e navios são
as constantes do Certificado de Arqueação emitido de Reclamação de faturas
acordo com a Convenção Internacional sobre a Arqueação
dos Navios, de 1969. 1. A reclamação do valor de uma fatura só será aceite
no prazo de 15 (quinze) dias de calendário, contados a
4. Salvo disposição em contrário, as unidades de medida partir da data da sua emissão, e desde que apresentada
estabelecidas para a aplicação do presente Regulamento por escrito e com razão devidamente fundamentada, não
Tarifário são indivisíveis, considerando-se o arredondamento tendo efeitos suspensivos, pelo que o montante total da
por excesso. fatura deverá ser pago dentro do prazo de pagamento,
5. As medições diretas, efetuadas pela ENAPOR, S.A. incluindo a parcela ou parcelas objeto da reclamação.
ou por outras entidades por ela reconhecidas, prevalecem
2. Expirando o prazo previsto para o pagamento de uma
3 703000 000000

sobre as medições declaradas.


fatura, a respetiva cobrança estará sujeita à aplicação
Artigo 6.º de juros de mora à taxa legal.
Requisição de serviços
CAPÍTULO II
1. A prestação de serviços será precedida de requisição a
efetuar pelos meios e nos termos definidos no Regulamento Tarifa de Porto
dos Portos de Cabo Verde, sendo da responsabilidade dos
Artigo 9.º
requisitantes o pagamento das respetivas tarifas.
Definição de Tarifa de Porto (TP)
2. As normas e os prazos para a requisição, alteração e
cancelamento de serviços e eventuais penalizações devem
observar os regulamentos portuários em vigor. 1. A TP é devida pela disponibilidade e uso dos sistemas
relativos à entrada, ao estacionamento e à saída de navios,
Artigo 7.º pela disponibilidade de infra-estruturas para a operação
de navios e de cargas, e pela segurança e conservação do
Cobrança de tarifas ambiente, nos termos do Regulamento de Exploração dos
Portos de Cabo Verde em vigor.
1. As tarifas serão cobradas imediatamente após a
prestação dos serviços, salvo se outro procedimento for 2. A Tarifa de Porto aplicada ao Navio (TP-N) aplica-
determinado pela ENAPOR, S.A. se a todos os navios e todas as embarcações que entrem
2. Antes de iniciar a prestação de qualquer serviço, nos limites de jurisdição dos portos de Cabo Verde, desde
a ENAPOR, S.A. pode exigir o pagamento antecipado, a hora da sua entrada até à hora da sua saída, com a
garantia bancária ou seguro de caução para salvaguardar exclusão das isenções previstas no presente Regulamento.
o pagamento do serviço requisitado.
3. A Tarifa de Porto aplicada à Carga (TP-C) aplica-
3. No caso de existirem faturas vencidas e não pagas ou se a todas as cargas movimentadas nos portos de Cabo
risco de boa cobrança de serviços prestados ou a prestar, Verde, com a exclusão das isenções previstas no presente
a ENAPOR, S.A. poderá tomar as medidas adequadas à Regulamento.
proteção dos seus créditos, designadamente as medidas
previstas nos números seguintes. 4. São sujeitos passivos das tarifas referidas neste
capítulo os armadores ou os respetivos representantes
4. Iniciada qualquer operação, a ENAPOR, S.A. pode não legais.
a concluir e, tratando-se do levantamento de mercadorias,
poderá determinar a sua retenção, se o cliente não tiver Artigo 10.º
efetuado o pagamento antecipado, a garantia bancária ou
Tarifa de Porto aplicada ao Navio (TP-N)
o seguro de caução de acordo com o disposto no número 2.
5. O valor das mercadorias retidas nos termos do 1. A TP-N a cobrar aos navios e embarcações é calculada
número anterior não deve exceder o montante das dívidas, por unidade de arqueação bruta (TAB), por período
salvo nos casos de mercadorias de natureza indivisível, indivisível de 24 (vinte e quatro) horas e por tipo de navio/
previstos nos termos legais. mercado, de acordo com o quadro seguinte.

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1258 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

Tipo de Navio/Mercado
Navio de cabotagem 1200$00 + 2$60 * TAB * Número de dias

8000$00 + 1$00
Navio de cruzeiro
* TAB * Número de dias

Navio de contentores de longo curso 6$00 * TAB * Número de dias

Navio de pesca de longo curso 15$00 * TAB * Número de dias

Outros navios de longo curso 5$00 * TAB * Número de dias

2. A TP-N aplicável aos navios militares será calculada em função do deslocamento do navio.
3. A TP-N aplicável aos navios-tanque destinados ao transporte de ramas e produtos petrolíferos com tanques de
lastro segregado será calculada em função da arqueação bruta reduzida.
4. Aos navios detidos no âmbito do controlo de navios pelo Estado do porto (port state control), é aplicada a TP-N
relativa aos restantes dias, agravada em mais 200% durante o período de detenção do navio, não sendo aplicáveis
descontos ou isenções.
5. Para efeitos de cálculo da TP-N, será aplicado o produto de LOA x Boca x Calado no caso de estruturas flutuantes
sem certificação.
6. As pequenas embarcações de pesca, de recreio e as embarcações afetas à atividade marítimo-turística, quando
autorizadas a utilizarem os postos de acostagem, ficam sujeitas ao pagamento da tarifa de 10$00 por metro quadrado
de área ocupada – comprimento de fora a fora (CFF) x boca máxima – e por período indivisível de 24 (vinte e quatro)
horas, considerando um máximo de 20 m2.
7. As embarcações a que se refere o número anterior, quando fundeadas ou acostadas em locais que lhes sejam
3 703000 000000

especificamente destinados, ficarão sujeitas às normas e tarifas específicas desses locais, caso as mesmas se encontrem
fixadas.
Artigo 11.º

Isenções e reduções da TP-N

1. Estão isentas da TP-N as seguintes embarcações ou navios:

a) os navios-hospital;
b) os navios da armada cabo-verdiana;
c) as embarcações em missão científica, cultural ou benemérita de carácter internacional, quando o requeiram;
d) os rebocadores e equipamentos flutuantes ao serviço do porto;
e) as embarcações de tráfego local, bem como as de pesca costeira, cujo produto do comprimento de fora a fora
pela boca de sinal e pelo calado máximo seja igual ou inferior a 45 m3;

f) os navios legalmente autorizados e exclusivamente destinados ao bunkering, quando equiparados a equipamentos


de prestação de serviço no porto; e

g) as embarcações em apoio a situações de emergência devidamente reconhecidas pelo Instituto Marítimo e


Portuário.
2. Os navios de cruzeiro que efetuem mais de 6 (seis) escalas nos portos de Cabo Verde terão uma redução acumulável
de 20% a partir da sexta escala.
3. Aos navios ferry, ro-ro e àqueles que se dedicam exclusivamente ao transporte de passageiros, será concedida
uma redução de 30%.
4. As embarcações que entrem no porto exclusivamente para troca de tripulação ou abastecimento de mantimentos,
água, lubrificantes e sobressalentes para uso próprio beneficiam de uma redução de 20% acumulável.
5. Os navios que entrem no porto para operações de bunkering beneficiam de uma redução de 50% acumulável.
6. Os navios, quando fundeados, beneficiam de uma redução de 40% da tarifa de uso do porto aplicável a navios.
7. As embarcações ou navios que estacionem em fundeadouro para receber ordens beneficiam de uma redução de 70%
da tarifa de uso do porto aplicável a navios, enquanto durar a situação e sempre que autorizada pela ENAPOR, S.A.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1259

8. Os navios pesqueiros de longo curso arribados ou estacionados no porto para receber ordens beneficiam de uma
redução de 50% na TP-N, enquanto durar a situação e sempre que autorizada pela ENAPOR, S.A.
Artigo 12.º

TP-N para navios de carreira regular

1. Os ferry-boats de passageiros e carga de cabotagem com carreira regular, desde que o requeiram, ficam sujeitos
ao pagamento de uma tarifa única de TP-N e tarifa de amarração e desamarração no porto, estabelecida da seguinte
forma:

a) escalas diárias

Navios (TAB) Escalas Diárias Tarifa Mensal


1 escala 130 000$00
Até 1000 2 escalas 170 000$00
+ 2 escalas 205 000$00
1 escala 150 000$00
De 1000 a 2000 2 escalas 210 000$00
+ 2 escalas 250 000$00
1 escala 190 000$00
Superior a 2000 2 escalas 270 000$00
+ 2 escalas 320 000$00
b) escalas semanais

Navios (TAB) Escalas Semanais Tarifa Mensal


1 escala 50 000$00
3 703000 000000

Até 1000 2 escalas 70 000$00


+ 2 escalas 110 000$00
1 escala 75 000$00
De 1000 a 2000 2 escalas 95 000$00
+ 2 escalas 150 000$00
1 escala 130 000$00
Superior a 2000 2 escalas 180 000$00
+ 2 escalas 200 000$00
2. Para efeitos de aplicação das tarifas acima referidas aos navios de carreira regular, é requerida a apresentação
prévia do itinerário das viagens, devendo dele constar, entre outros, as horas de chegada e saída.
3. A tarifa mensal acima referida poderá ser acrescida ao estabelecido nos números 4, 5, 6 e 7 do artigo 21.º do
presente Caderno Tarifário, quando aplicável.
Artigo 13.º

Tarifa de Porto aplicada à Carga (TP-C)

1. As cargas provenientes de ou destinadas a portos estrangeiros estão sujeitas à aplicação da TP-C fixada de
acordo com os tipos de carga descritos no quadro seguinte.

Descarga de Mer- Carga de Merca-


Tipo de Carga Unidade cadorias dorias
Granel líquido Tonelada 110$00 88$00
Veículos ligeiros Unidade 4000$00 3200$00
Outros veículos e contentores de Veículo ou contentor 8000$00 5600$00
20’/40’ cheios
Contentor vazio Contentor 3000$00 2100$00
Outra carga Tonelada/m3 200$00 160$00
2. As cargas provenientes de ou destinadas a portos nacionais estão sujeitas à aplicação da TP-C fixada de acordo
com os tipos de carga descritos no quadro seguinte.

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1260 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

Carga/Descarga de
Tipo de Carga Unidade Mercadorias
Granel líquido Tonelada 77$00
Veículos ligeiros Unidade 1200$00
Outros veículos Unidade 2800$00
Contentores de 20’/40’ cheios Contentor 2800$00
Contentor de Combustível
<=10 m3 cheio Unidade 420$00
>10 m3 e <=18 m3 cheio Unidade 1260$00
>18 m3 cheio Unidade 2800$00

<=10 m3 vazio Unidade 210$00


>10 m e <=18 m vazio
3 3
Unidade 630$00
>18 m vazio
3
Unidade 1400$00
Outra carga Tonelada/m 3
70$00
3. As tarifas para o embarque e desembarque de veículos em roll-on/roll-off do tráfego de cabotagem encontram-se
fixadas no quadro seguinte.

Veículos Unidade Valor


Veículos ligeiros, mistos e utilitários
1
Unidade 200$00
Veículos para carga2 e autocarros Unidade 1000$00
Pesados e/ou atrelados para contentores 3
Unidade 1700$00
3 703000 000000

Máquinas e equipamentos autopropulsores3 Unidade 1700$00


1
– Veículos de cabine dupla, podendo ser de caixa aberta ou fechada, “juvitas” e minibuses até 30 lugares, com
peso bruto até 2500 kg.
2
– Veículos com peso bruto até 7500 kg.
3
– Até 25 toneladas.
Os valores constantes do quadro acima englobam tanto o embarque como o desembarque e incluem a pesagem do
veículo, quando aplicável.
4. Pela baldeação de veículos (navio/cais/navio) em navios ro-ro, são devidas 35% das tarifas estabelecidas no
número 3 deste artigo.
5. O embarque de veículos com carga excedendo as dimensões ou a área para o transporte de cargas, quando
devidamente autorizado, está sujeito ao pagamento da tarifa estabelecida no número 3 deste artigo, acrescida do
fator 1,5.
6. Os veículos pesados, atrelados e máquinas que excedam as 25 toneladas de peso bruto ficam sujeitos à tarifa
estabelecida no número 3, acrescida de 150$00 por cada tonelada adicional.
7. Salvo o disposto no número seguinte, são sujeitos passivos das tarifas referidas neste capítulo os armadores,
agentes ou os seus representantes.
8. No caso de o navio carregar ou descarregar mercadorias de ou para um único carregador ou recebedor, são
sujeitos passivos desta tarifa os donos das cargas ou os respetivos representantes legais.
Artigo 14.º
Isenções e reduções da TP-C
1. Estão isentas da TP-C as seguintes cargas:
a) volumes de mão e bagagens dos passageiros, não devendo o total exceder os 50 kg por passageiro;
b) malas e outros recipientes de correio, cheios ou vazios;
c) pescado, redes e aparelhos de pesca pertencentes a embarcações;
d) mantimentos e sobressalentes para uso próprio das embarcações;
e) contentores normais de 20’ e de 40’ vazios, utilizados no tráfego convencional de cabotagem;
f) material científico destinado a embarcações de missões científicas e materiais utilizados por entidades oficiais
na instalação ou conservação de sinalizações a seu cargo; e
g) cargas comprovadamente destinadas a instituições de beneficência e caixões ou urnas funerárias com despojos
humanos.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1261

2. As operações de baldeação, transbordo, trânsito e shifting de contentores e veículos beneficiam de uma redução
de 60% nas tarifas de descarga, com excepção do tráfego de pescado.
CAPÍTULO III
Serviços de Tráfego e Estiva
Artigo 15.º
Tarifa de Tráfego e Estiva de Mercadorias (TTEM)

1. Por tráfego e estiva de mercadorias, entende-se todo o serviço relativo à movimentação de mercadorias,
designadamente carga, descarga, trânsito, baldeação ou transbordo nas áreas sob jurisdição da ENAPOR, S.A.
2. A TTEM é devida por todas as operações de carga e descarga de igual forma, independentemente de serem
operações diretas, indiretas ou semidirectas. Os encargos com as operações adicionais no terrapleno com equipamentos
e pessoal da ENAPOR, S.A. são cobrados à parte, conforme previsto no presente Regulamento Tarifário para o
fornecimento de equipamento e pessoal.
3. Sem prejuízo do disposto no número seguinte, as tarifas devidas pela movimentação de mercadorias incluem os
encargos com os meios necessários a uma operação normal, a definir pela ENAPOR, S.A.
4. Os encargos com pessoal adicional ou complementar que a operação específica ou excecional exija, ou decorrentes
da prestação de serviços fora do período normal de trabalho, são da responsabilidade do armador, agente ou
requisitante do serviço.
5. Os encargos referidos no número anterior são faturados de acordo com as condições de fornecimento de pessoal
previstas no presente Regulamento Tarifário.
6. Os tempos perdidos na operação de movimentação de cargas além do normal, por motivos imputáveis à carga
ou ao navio, serão penalizados em 5000$00 por hora e equipa de trabalho utilizada no navio, ou de acordo com as
condições de fornecimento de pessoal previstas no presente Regulamento Tarifário.
7. Quando na movimentação das mercadorias se tenha de recorrer a meios mecânicos e de elevação, designadamente
guindastes, gruas flutuantes e empilhadeiras pesadas, devido à configuração, às dimensões ou ao peso excessivo das
mercadorias, às tarifas aplicáveis acrescerá a tarifa de utilização destes equipamentos.
3 703000 000000

8. Tendo em conta os custos inerentes aos meios humanos integrados nas unidades operacionais prestadoras
dos serviços portuários, as tarifas estabelecidas neste capítulo estão sujeitas a atualização sempre que ocorram
ajustamentos salariais ou atualizações de acordo com o índice de preços do consumidor.
9. Salvo o disposto no número seguinte, são sujeitos passivos das tarifas referidas neste capítulo os armadores,
agentes ou os seus representantes.
10. No caso de o navio carregar ou descarregar mercadorias de ou para um único carregador ou recebedor, são
sujeitos passivos desta tarifa os donos das cargas ou os respetivos representantes legais.
11. As cargas movimentadas nos portos de Cabo Verde estão sujeitas à aplicação da TTEM, fixada de acordo com
os tipos de carga constantes dos quadros seguintes, por cada operação de tráfego e estiva de mercadorias.

Longo Curso
Tipo de Carga Unidade Descarga de Merca- Carga de Mercadorias
dorias
Granéis sólidos/Cereais Tonelada/m3 650$00 650$00
Granéis sólidos/Inertes Tonelada/m 3
(1) (1)
Sacaria – trigo ou cimento Tonelada 1100$00 1100$00
Sacaria – outros Tonelada 700$00 700$00
Ferro/Madeira Tonelada/m3 1100$00 1100$00
Outras cargas Tonelada/m 3
1000$00 1000$00
Veículos ligeiros Unidade 5900$00 5900$00
Outros veículos Unidade 13 000$00 13 000$00
Máquinas e equipamentos Unidade 13 000$00 13 000$00
pesados
Gado grosso Unidade 1000$00 1000$00
Contentores de 20' Unidade 21 500$00 12 000$00
Contentores >20' Unidade 34 000$00 20 400$00
Contentores vazios Unidade 9000$00 6400$00
(1) Valores a serem fixados de acordo com as condições especificas da operação.

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1262 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

Cabotagem
Lo-Lo Ro-Ro
Tipo de Carga Unidade
Descarga ou Carga de Mer- Descarga e Carga
cadorias de Mercadorias
Granéis sólidos Ton/m3 390$00 _______

Sacaria – trigo ou cimento Ton 660$00 _______

Sacaria – outros Ton 450$00 _______


Ferro/Madeira Ton/m 3
720$00 _______
Outras cargas Ton/m 3
600$00 _______
Veículos ligeiros Unidade 3270$00 300$00
Outros veículos Unidade 7200$00 500$00

Máquinas e equipamentos Unidade 7200$00 1100$00


pesados

Gado grosso Unidade 600$00 _______


Contentores de 20' Unidade 8800$00 _______
Contentores >20' Unidade 14 000$00 _______
Contentores vazios Unidade 3700$00 _______

Contentor de Combustível na Cabotagem Unidade Carga e Descarga de Mercadorias


3 703000 000000

<=10 m3 cheio Unidade 1850$00


>10 m e <=18 m cheio
3 3
Unidade 4000$00
>18 m cheio
3
Unidade 14 300$00
<=10 m vazio
3
Unidade 800$00
>10 m e <=18 m vazio
3 3
Unidade 2300$00
>18 m vazio
3
Unidade 4050$00

12. As tarifas aplicadas na cabotagem abrangem as seguintes operações:

a) mercadorias descarregadas – movimento da mercadoria do navio para a prumada no cais (com a grua do
navio); e

b) mercadorias carregadas – movimento das mercadorias da prumada no cais para o navio (com a grua do navio).
Artigo 16.º

Reduções e agravamentos

1. As operações de baldeação, transbordo, trânsito e shifting de contentores e veículos beneficiam de uma redução
de 60% nas tarifas de descarga, excluindo o tráfego de pescado.

2. As operações diretas ou semidirectas do tráfego de longo curso beneficiam de um desconto de 5%.

3. As operações de carga geral não unitizada, avulsa ou fragmentada têm um agravamento de 20%.

4. Na cabotagem, em caso de remoção das mercadorias doutros locais no cais para a prumada, para efeito de
embarque ou vice-versa, as tarifas terão um acréscimo de 20%.

5. As operações que decorram em turnos de trabalho extraordinário sofrem um agravamento de 15% nos dias úteis,
entre as 22h e as 8h, e de 30% aos sábados, domingos e feriados.
Artigo 17.º

Tarifa de movimentação de pescado

1. O pescado movimentado no porto em regime de tráfego direto está sujeito às tarifas constantes no quadro seguinte.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1263

Unidade Carga de Mercadorias Descarga de Mercadorias Transbordo


Pescado a Tonelada 3074$00 3074$00 3084$00
granel
Pescado unit- Tonelada 1529$00 1529$00 _______
izado
2. O pescado a granel descarregado dos navios pesqueiros e imediatamente colocado em contentores para posterior
embarque pagará uma tarifa única de 69 512$00 por contentor de 20’ e de 108 249$00 por contentor de 40’.
3. A tarifa referida no ponto anterior abrange as seguintes operações:
a) movimentação do contentor vazio para o costado do navio;
b) descarga do pescado e a sua colocação no contentor, incluindo os respetivos custos da estiva e demais trabalhadores
portuários;
c) retirada do contentor cheio para o local de armazenagem no porto; e
d) carga do contentor cheio.
4. A tarifa referida no número 2 é também aplicável aos mantimentos e iscas descarregados em contentores para
posterior embarque em navios pesqueiros.
CAPÍTULO IV
Tráfego de Passageiros
Artigo 18.º
Tarifa de serviço a passageiros

1. Por cada passageiro embarcado, é devida a tarifa de serviço fixada em 30$00.


2. A tarifa de serviço a passageiros é debitada aos transportadores ou seus representantes, não podendo a respetiva
3 703000 000000

importância ser cobrada separadamente do acto de emissão do bilhete ou de cobrança do seu preço.
3. Estão isentos do pagamento da tarifa de serviço a passageiros:
a) os passageiros em trânsito direto; e
b) as crianças com menos de 2 (dois) anos.
CAPÍTULO V
Serviços de Reboque e Amarração
Artigo 19.º
Tarifa de reboque

1. A tarifa de reboque é devida pelos serviços prestados às embarcações e aos navios nas seguintes manobras:
entrar e atracar ou fundear; largar ou suspender e sair; amarrar e desamarrar das boias; mudanças; experiências;
fundear ou suspender; deslocar ao longo do cais ou de outras estruturas de atracação.
2. A tarifa é cobrada por rebocador em função do tempo e por classes de arqueação bruta (TAB), de acordo com o
quadro seguinte.

Arqueação Bruta (TAB) do Navio Rebocador/Hora


Inferior a 5000 23 000$00
De 5000 a 9999 30 000$00
De 10 000 a 29 999 38 000$00
De 30 000 a 49 999 52 000$00
Superior a 50 000 73 000$00
3. Salvo disposição em contrário, todas as embarcações com tonelagem de arqueação bruta igual ou superior a
2000, na realização das manobras referidas no número 1, ficam obrigadas ao uso de rebocador, a menos que não
haja disponibilidade de rebocador.
4. As tarifas previstas no número 2 sofrerão um agravamento de 30% nos dias úteis, das 00:00 às 08:00 e das 18:00
às 24:00, e de 50% aos sábados, domingos e feriados.
5. Se os serviços forem cancelados ou alterados sem aviso, dado no mínimo com 2 (duas) horas de antecedência
relativamente à hora para que foram requisitados, será cobrada uma tarifa de cancelamento ou alteração equivalente
a 50% da tarifa aplicável à manobra e classe de TAB a que se refere o pedido. Caso a manobra seja cancelada depois
da hora marcada para o seu início, a mesma será cobrada como tendo sido efetuada.

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1264 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

6. Se, estando presente o rebocador, os serviços não forem iniciados até 60 (sessenta) minutos após a hora para
que foram requisitados, serão cobradas tarifas equivalentes a 50% da tarifa prevista para a respetiva classe de TAB,
por cada hora ou fração de atraso.
7. Os serviços que excedam uma hora serão cobrados por períodos de meia hora indivisíveis, de acordo com as
tarifas do número 2.
8. As tarifas referidas no número 2 serão agravadas em 50% sempre que o navio manobre exclusivamente com
recurso à força de tração de rebocadores.
9. Pela utilização de rebocadores em outras operações não referidas nos números anteriores, bem como em períodos
“à ordem”, aplicam-se as tarifas estabelecidas no artigo 28.º do presente Caderno Tarifário.
10. O número de reboques a utilizar em função da arqueação bruta da embarcação e as condições de utilização
serão objeto de regulamentação específica.
Artigo 20.º

Contagem do tempo

1. Para efeito de aplicação da tarifa de reboque, a contagem do tempo inicia-se a partir do momento em que o
equipamento seja disponibilizado até ao momento em que chegue ao ponto de partida.
2. A contagem do tempo é interrompida por motivos de avaria, falta de combustível ou outras causas que sejam
consideradas, por parte da ENAPOR, S.A., impeditivas para o funcionamento do equipamento.
Artigo 21.º
Tarifa de amarração e desamarração

1. A tarifa de amarração e desamarração é devida pelos serviços de amarração, desamarração e deslocação ao longo
do cais, e outros que envolvam a passagem ou substituição de cabos, bem como a colaboração na colocação de acessos
a navios, respetivo equipamento e a utilização de uma lancha para lançar cabos, quando previstos ou solicitados.
2. A tarifa de amarração e desamarração é estabelecida por classe de TAB do navio, sendo as respetivas quantias
fixadas por operação, efetuada no tempo limite de 2 (duas) horas, de acordo com a seguinte tabela.

Tarifa de Amarrar, Desamarrar e Deslocar ao


3 703000 000000

Classes de TAB Longo do Cais/por Operação


Inferior a 2000 1500$00
De 2000 a 9999 3000$00
De 10 000 a 19 999 4000$00
Superior a 20 000 5000$00
3. As tarifas previstas no número anterior sofrerão um agravamento de 50% nos dias úteis, das 00:00 às 08:00 e
das 18:00 às 24:00, e de 100% aos sábados, domingos e feriados.
4. Se os serviços de amarração, desamarração e deslocação ao longo do cais forem cancelados ou alterados sem
aviso dado, no mínimo, com 2 (duas) horas de antecedência relativamente à hora para que foram requisitados, será
cobrada uma tarifa de cancelamento ou alteração equivalente a 50% da tarifa aplicável à manobra e classe de TAB
a que se refere o pedido.
5. Caso a manobra seja cancelada depois da hora marcada para o seu início, a mesma será cobrada como tendo
sido efetuada.
6. Se, estando presente o pessoal da ENAPOR, S.A., os serviços não forem iniciados até 60 (sessenta) minutos,
no caso de amarração, ou 30 (trinta) minutos, no caso de desamarração, após a hora para que foram requisitados,
serão cobradas tarifas equivalentes a 50% da tarifa prevista para a respetiva classe de TAB, por cada hora ou fração
de atraso.
7. Se o pessoal permanecer em serviços de amarração ou desamarração para além de 2 (duas) horas a contar do
início efetivo de cada operação, será cobrada uma tarifa suplementar equivalente a 50% da tarifa prevista para a
respetiva classe de TAB por cada hora ou fração.
8. Quando prevista ou solicitada a utilização de lancha para lançar cabos, às tarifas aplicáveis acrescerá a tarifa
de utilização de lancha prevista no presente Regulamento Tarifário para o fornecimento de equipamentos.
CAPÍTULO VI
Pilotagem
Artigo 22.º
Tarifa de pilotagem

1. A tarifa de pilotagem é devida, por parte dos armadores ou dos respetivos representantes legais, pelos serviços
prestados ao navio pelas componentes dos sistemas de pilotagem de embarcações/navios em manobras à entrada,
saída e no interior e exterior do porto, incluindo a sua disponibilidade e uso, nos termos dos regulamentos em vigor.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1265

2. Integram as tarifas de pilotagem, para efeitos do seu cálculo e respetiva fixação, os serviços relativos a entrar
e atracar, entrar e fundear, desatracar e fundear, desatracar e sair, suspender e atracar, e suspender e sair.
3. Considera-se serviço de entrar e atracar, ou entrar e fundear, o conjunto de movimentos e manobras efetuados
pela embarcação/navio desde que, fora do porto, inicia o movimento de aproximação à entrada até que conclui a
manobra de estacionamento no local que lhe tiver sido destinado.
4. Considera-se serviço de desatracar e sair, ou suspender e sair, o conjunto de movimentos e manobras efetuados
pela embarcação/navio desde que inicia a manobra até que se encontra no limite exterior do porto.
5. As tarifas de serviço de pilotagem são as que constam do quadro seguinte.

Atracação/Desatracação Internacional Nacional Pesca


Navios até 3000 TAB 43 178$00 22 178$00 13 756$00
Navios com mais de 3000 TAB 54 828$00 25 703$00 16 028$00
Entrada ou saída de navios 19 878$00/opera-
(fundeados) ção

6. Em qualquer dos serviços mencionados nos números anteriores, estão incluídos os custos do transporte do piloto
desde a estação até bordo da embarcação/navio e respetivo regresso.
7. Sempre que a pilotagem for efetuada sem a presença do piloto a bordo, ou seja, com recursos e meios de
comunicação à distância, as tarifas acima estabelecidas têm uma redução de 50%.
8. Os navios de cruzeiro com menos de 3000 toneladas de arqueação bruta terão uma redução de 25% da tarifa
estabelecida no número 5.
CAPÍTULO VII

Armazenagem
Artigo 23.º
3 703000 000000

Tarifa de armazenagem a coberto e descoberto

1. A tarifa de armazenagem é devida pelos serviços prestados à carga, designadamente pela ocupação de espaços
descobertos, cobertos, armazéns e terraplenos dentro da área de jurisdição e exploração portuárias.
2. Pela armazenagem de cargas a descoberto ou a coberto, em terraplenos ou armazéns, após o 5.º dia e reportado
ao 1.º dia de armazenagem, são devidas, por tonelada, as tarifas apresentadas no quadro seguinte.

Período de Armazenagem

Do 6.º ao 15.º Dia aoD30.º


o 1 6 . º Do 31.º ao
Tipo de Armazenagem Primeiros 5 Dias Dia 60.º Dia A Partir do 61.º Dia

A descoberto Gratuita 8$00 13$00 21$00 42$00


Gratuita
A coberto em terrapleno 17$00 42$00 104$00
(abrigo ou telheiro)
26$00
A coberto em armazéns Gratuita 21$00 36$00 73$00 170$00
Artigo 24.º

Tarifa de armazenagem de contentores

1. Pela armazenagem de contentores nos terraplenos, parques ou terminais, após o 5.º dia e reportado ao 1.º dia
de armazenagem, são devidas, por unidade, as seguintes tarifas:
a) contentores cheios

Período de Armazenagem Contentor <= 20’ Cheio Contentor >20’ Cheio


Nos primeiros 5 dias Gratuita Gratuita
Do 6.º ao 15.º dia 208$00 270$00
Do 16.º ao 30.º dia 364$00 473$00
Do 31.º ao 60.º dia 520$00 676$00
A partir do 61.º dia 884$00 1149$00
b) contentores vazios

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1266 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

Período de Armazenagem Contentor <= 20’ Vazio Contentor >20’ Vazio


Nos primeiros 5 dias Gratuita Gratuita
Do 6.º ao 30.º dia 45$00 76$00
A partir do 31.º dia 52$00 88$00
Artigo 25.º
Tarifa de armazenagem de veículos e volumes
1. Pela armazenagem de veículos nos terraplenos, parques ou terminais, após o 5.º dia e reportado ao 1.º dia de
armazenagem, são devidas, por unidade e dia indivisível, as tarifas que constam do quadro seguinte.

Período de Armazenagem
Do 6.º ao 15.º Do 16.º ao Do 31.º ao 60.º A Partir do 61.º
Veículos Primeiros 5 Dias Dia 30.º Dia Dia Dia
Veículos ligeiros gratuita 110$00 190$00 240$00 328$00
Veículos pesados gratuita 160$00 260$00 336$00 458$00
2. Pela armazenagem de motociclos, são devidas 50% das tarifas aplicáveis a veículos ligeiros, estabelecidas no
número anterior.
3. A armazenagem de pequenos volumes de carga não comercial com peso até 200 kg, designadamente “bidões”,
“cartões”, caixas e volumes equiparados (encomendas), é isenta durante os primeiros 30 (trinta) dias após a descarga.
4. A partir do 31.º dia, por cada 30 (trinta) dias ou fração equivalente que permaneçam no porto ou armazém, é
devido o valor de 200$00 por cada volume.
Artigo 26.º
Aplicação da tarifa de armazenagem
1. Para efeitos de aplicação da tarifa, a contagem do tempo inicia-se no dia do desembarque da mercadoria ou da
sua receção ou colocação no porto, e termina no dia em que for levantada ou embarcada, considerando-se a última
situação de armazenagem, no caso de transferência do local de armazenagem.
3 703000 000000

2. As mercadorias em trânsito beneficiam de uma redução de 50%.


3. Pela armazenagem de unidades ro-ro e outras mercadorias do tráfego de cabotagem, são devidas tarifas duplas
das estabelecidas nos artigos anteriores, sem qualquer isenção, considerando-se o primeiro período de tarifação
extensivo aos dias de isenção.
4. Quando, na entrega das mercadorias (com exceção de contentores), se tenha de recorrer a meios mecânicos e de
elevação, designadamente guindastes, gruas flutuantes e empilhadores pesados, devido à configuração, às dimensões
ou ao peso excessivo das mercadorias, às tarifas aplicáveis acrescerá a tarifa de utilização destes equipamentos.
5. A ENAPOR, S.A. reserva-se ainda o direito de remover para parques de 2.ª linha todos os contentores e cargas
de importação que permaneçam no porto por períodos superiores a 30 (trinta) dias.
6. Nestes casos, os custos adicionais com o transporte para o parque de 2.ª linha, bem como as despesas de movimentação
e armazenagem no porto e no parque de 2.ª linha, serão debitados, aquando da entrega, aos consignatários ou seus
representantes.
7. A ENAPOR, S.A. poderá armazenar mercadorias especiais, em condições específicas a fixar, sendo devida uma
tarifa por tonelada em função da categoria da carga, do tipo de espaço e do tempo de armazenagem.
8. As tarifas a fixar nos termos do número anterior podem ser diferenciadas por tipo de armazenagem e por
categorias e tipos de carga, nos termos do presente Caderno Tarifário.
9. São sujeitos passivos das tarifas de armazenagem os donos da carga, os consignatários, os respetivos representantes
legais ou outras entidades requisitantes.
CAPÍTULO VIII
Uso de Equipamento
Artigo 27.º
Tarifa de uso de equipamento
1. A tarifa de uso de equipamento é devida pelos serviços prestados à carga ou ao navio com a utilização de
equipamentos de manobra e transporte marítimo, de manobra e transporte terrestre e de outros equipamentos de
apoio ao movimento de navios, cargas e passageiros no porto.
2. Para efeitos de aplicação da tarifa, a contagem do tempo para os equipamentos terrestres decorre desde o
momento em que o equipamento requisitado é colocado à disposição do utente, ou sai da base, até que o mesmo seja
dispensado e regresse à base.
3. A contagem do tempo para os equipamentos marítimos decorre a partir do momento em que o equipamento é
colocado à disposição do utente até que o mesmo seja dispensado ou volte ao ponto de partida.
4. A contagem do tempo de uso do equipamento é interrompida por motivos de avaria, falta de energia ou outras
causas que sejam consideradas, por parte da ENAPOR, S.A., impeditivas para o funcionamento do equipamento.
5. O equipamento “à ordem” é faturado com uma tarifa correspondente a 50% da tarifa normal.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1267


Artigo 28.º
Equipamento de manobra e transporte marítimo

1. Pelo uso de equipamento de manobra e transporte marítimo, bem como das instalações e estruturas afetas a
esse equipamento, são devidas, por unidade e período de tempo indivisível, segundo o tipo, as tarifas constantes do
quadro seguinte.

Tipo de Equipamento Tarifa


Rebocadores
Até 1000 HP 25 000$00/hora
De 1000 a 1999 HP 35 000$00/hora
Mais de 2000 HP 45 000$00/hora
Lanchas 7500$00/hora
Cábrea Flutuante 10 500$00/hora
Defensas Amovíveis 7000$00/24 horas
2. Pela prestação de serviços fora da zona portuária, as tarifas acima são acrescidas de 50%.
3. As tarifas previstas nos números anteriores sofrerão um agravamento de 30% nos dias úteis, das 00.00 às 08.00
e das 18.00 às 24.00, e de 50% aos sábados, domingos e feriados.
Artigo 29.º

Equipamento de manobra e transporte terrestre

1. Pelo uso de equipamento de manobra e transporte terrestre, bem como das instalações e estruturas afetas a esse
equipamento, são devidas, por unidade e período de tempo indivisível, segundo o tipo, as tarifas do quadro seguinte.

Tipo de Equipamento Tarifa Unitária Unidade


Guindastes (força de elevação)
≤15 t 10 000$00 Hora
3 703000 000000

>15 e ≤25 t 15 000$00 Hora


>25 t 20 000$00 Hora
Empilhadeiras (força de elevação)
≤10 t 3000$00 Hora
>10 t 10 544$00 Hora
Restante Equipamento Terrestre
Tractor 3000$00 Hora
Atrelado 1200$00 Hora
Aparelhos para Descarga e Carga
Veículos 426$00 Hora
Contentores e grandes pesos 1278$00 Hora
Demais apetrechos 149$00 Hora
2. Aos valores das tarifas para os equipamentos terrestres em serviço prestado fora do horário normal de funcionamento,
serão acrescidas as tarifas de fornecimento de pessoal, conforme previsto no artigo 36.º do presente Regulamento.
3. As tarifas relativas ao uso de básculas definem-se do seguinte modo:
a) por cada operação de pesagem, será aplicada a tarifa unitária de 800$00;
b) por cada operação completa de pesagem visando obter o peso da carga e da tara/veículo, é devida uma quantia
calculada pela fórmula B1 * ton + B2, na qual:
I. B2 = 800$00;
II. B1 = 5% * B2; e
III. ton = número de toneladas (tara/veículo + carga).
c) quando se trate da pesagem da totalidade de um lote de mercadorias em carga geral provenientes de ou
destinadas a um mesmo navio, será aplicada a tarifa de 30$00 por tonelada de carga pesada, para um
mínimo de pesagem de 100 toneladas;
d) nas situações descritas nas alíneas a), b) e c) do presente artigo, fora do período normal de trabalho, os valores
correspondentes aos números anteriores serão afetados pelo fator 2;
e) todos os contentores com carga destinados a exportação ficam obrigados a pesagem nas básculas; e

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1268 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

f) igualmente na cabotagem, salvo disposição em contrário, os contentores e veículos com carga no tráfego roll-
on/roll-off ficam obrigados a pesagem nas básculas quando não apresentam uma declaração certificada
da carga.
Artigo 30.º
Equipamentos para descarga e transporte de cereais a granel

1. Pela utilização de equipamentos para descarga e transporte de cereais a granel para o silo (garras, tremonha,
empilhadeira para porão e trator com vagão), é devida a tarifa de 204$00 por cada tonelada.
2. Pela utilização de garras, tremonha e empilhadeira para porão na descarga de cereais a granel, é devida a
tarifa de 93$00 por cada tonelada.
3. Pela utilização de equipamentos no transporte de cereais a granel, é devida a tarifa de 111$00 por cada tonelada.
Artigo 31.º
Utilização de equipamentos no manuseamento de contentores

1. Por cada movimentação de contentores com empilhadeira em cais ou em parque, e pela descarga ou carga de
veículo, é devida a tarifa de 1785$00 por contentor.
2. Por cada movimentação de contentores para embarque que, por motivos alheios à ENAPOR, S.A., voltem ao
local de armazenagem sem que cheguem a embarcar, é devida a tarifa de 2300$00 por contentor.
Artigo 32.º
Alteração e desistência

1. A ENAPOR, S.A. autoriza a desistência do pedido ou o adiamento da hora marcada para o início da operação,
sem encargo para o requisitante, desde que seja avisada dentro do seu horário normal de funcionamento com a
antecedência mínima de 4 (quatro) horas.
2. A desistência do aluguer do equipamento após o horário fixado no número anterior dá lugar ao pagamento de
2 (duas) horas “à ordem” do equipamento requisitado.
3. A alteração ou o adiamento da hora marcada para o início da operação após o horário fixado no número 1 dá
lugar ao pagamento de 1 (uma) hora “à ordem” do equipamento requisitado.
4. O equipamento requisitado e não utilizado ou os atrasos no início dos trabalhos serão considerados “à ordem”.
3 703000 000000

CAPÍTULO IX
Ocupação de Edifícios e Terrenos
Artigo 33.º
Tarifas de ocupação de edifícios e terrenos
1. Pelo uso ou ocupação de edifícios, armazéns e terrenos na área de exploração portuária, são devidas as tarifas
constantes do quadro seguinte.

Edifícios Unidade ECV


Escritórios m /mês
2
450$00
Armazéns m /mês
2
400$00
Silos portuários m /mês
2
500$00
Terrenos Unidade ECV
Instalações industriais, marítimas e m2/mês 300$00
portuárias
Silos portuários m2/mês 180$00
2. Pelo uso ou ocupação de outros edifícios e terrenos fora da área de exploração portuária, a tarifa será estabelecida
por ajuste direto, observando as condições de mercado.
Artigo 34.º
Licenças
1. Pela concessão de licença para a utilização das instalações destinadas a movimentação de combustíveis, é devida
a tarifa de 176 000$00/ano, sendo devida, por cada boca de fornecimento de combustível, a tarifa de 23 200$00/ano.
2. Pelo estabelecimento de cabos, tubos, caleiras e condutores de eletricidade, são devidas, por metro linear e ano
civil, as seguintes tarifas:
a) de diâmetro exterior inferior a 25 cm – 350$00/m/ano; e
b) de diâmetro exterior igual ou superior a 25 cm – 430$00/m/ano.
3. Por cada poste ou suporte, é devida a tarifa de 220$00/ano.
4. Os navios acostados em reparação, devidamente autorizados pela ENAPOR, S.A., estão sujeitos à tarifa de 1$00
por cada metro cúbico de área ocupada por dia, sendo o volume de área ocupada obtido pelo produto do comprimento
de fora a fora pela boca de sinal e pelo calado máximo do navio.

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1269

CAPÍTULO X
Fornecimentos
Artigo 35.º
Tarifa de fornecimentos

1. A tarifa de fornecimentos é devida pelo fornecimento de recursos humanos e de bens consumíveis, incluindo o
serviço inerente à natureza de cada fornecimento efetuado aos utilizadores do porto.
2. Por cada tipo de fornecimento, são devidas tarifas em função da natureza e quantidade dos bens fornecidos.
Artigo 36.º
Fornecimento de pessoal

1. Pelo fornecimento de pessoal além do normal previsto na TTEM ou na tarifa de equipamento ou em outras
prestações fora do horário normal de trabalho, incluindo a sua deslocação da base ao local da prestação de serviço
e o regresso à base, são devidas as tarifas constantes do quadro seguinte, expressas em escudos por homem e por
hora, segundo a qualificação profissional.

Qualificação Profissional 2.ª a Sexta-Feira Sábados, Domingos e Feriados

Pessoal operacional do quadro 618$00 1127$00

Trabalhador portuário 309$00 563$00


2. Para as solicitações de serviço em regime de tonelada ou unidade, o fornecimento de pessoal além do normal
referenciado no ponto 1 deste artigo será calculado com base nos valores das tabelas de remunerações, acrescido de
20%.
Artigo 37.º
Fornecimento de energia elétrica e água
3 703000 000000

1. Pelo fornecimento de energia elétrica a navios acostados ao cais, com carácter temporário, incluindo as operações
de ligar e desligar, bem como a utilização de contador, é devida a tarifa unitária composta pelo preço de venda do
fornecedor local mais uma comissão de 20%, sujeita a um fornecimento mínimo de 100 kWh.
2. Pelo fornecimento de energia elétrica a contentores frigoríficos, é devida, por contentor e hora indivisível, uma
tarifa unitária de 115$00/h. Tratando-se de contentores descarregados e destinados ao mercado interno, após os
primeiros 5 (cinco) dias, haverá um agravamento de 25%.
3. Havendo contadores disponíveis, poder-se-á aplicar ao preço de venda do fornecedor mais 20%, valor sujeito a
um fornecimento mínimo de 50 kWh.
4. Pelo fornecimento de água a navios, com carácter temporário, através de tomadas no cais, incluindo as operações
de ligar e desligar, bem como a utilização de contador, é devida a tarifa unitária composta pelo preço de venda do
fornecedor local mais 20%, sujeita a um fornecimento mínimo de 5 m3.
5. Em caso de fornecimento fora do horário normal de trabalho, os valores dos números anteriores serão acrescidos
dos encargos extraordinários de pessoal, faturados de acordo com o previsto no presente Regulamento Tarifário para
o fornecimento de pessoal.
CAPÍTULO XI
Entrada nos Recintos Portuários
Artigo 38.º
Tarifa de entrada nos recintos portuários
1. Para facilitar os procedimentos de acesso e entrada nos espaços portuários, será emitida uma licença anual
de 4000$00/viatura, por solicitação de clientes e utilizadores dos portos, mediante prévia apreciação por parte da
Administração Portuária.
CAPÍTULO XII
Diversos
Artigo 39.º
Tarifas de serviços diversos
1. Pela desconsolidação ou consolidação de contentores, é devida a tarifa de 460$00 por cada tonelada.
2. Tratando-se de desconsolidação com a colocação imediata em veículo, a tarifa referida terá uma redução de 15%.
3. Caso se trate de mercadoria especial, as tarifas devidas sofrerão um acréscimo de 40%.
4. Pela emissão de certidões, é devida a tarifa de 500$00 por unidade.
5. Por cada exame e vistoria de veículos e máquinas, é devida a tarifa de 1500$00/unidade.

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1270 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

6. Aos objetos de uso pessoal, encomendas e demais mercadorias sujeitas a exame prévio, serão aplicadas as
seguintes tarifas:
a) volumes e carga não comercial até 200 kg – 500$00 por unidade; e
b) carga diversa – 1700$00 por tonelada.
7. As tarifas acima fixadas abrangem todas as operações que tenham em vista a inspeção, controlo e verificação
aduaneiros, sendo sujeitos passivos das mesmas os armadores, agentes, transitários ou os seus representantes,
sempre que se tratar de carga não comercial, designadamente pequenos volumes e “encomendas”, objetos de uso
pessoal e mercadorias similares.
8. Pela recolha e transporte de resíduos sólidos no cais, são devidas as tarifas que constam do quadro seguinte.

Até 5 m3 9600$00
De 5 a 10 m3 14 400$00
De 10 a 15 m3 21 000$00
a) O serviço poderá ainda ser efetuado à ENAPOR, S.A. através da intervenção de um prestador de serviço, sendo
neste caso debitado ao requisitante o valor da respetiva fatura, acrescido de um montante adicional de 20%.
9. Pela prestação de serviços de bombeiros, é devida a tarifa unitária composta pelo custo do serviço acrescido de
20%.
10. O fornecimento de combustíveis às embarcações e o bunkering estão isentos do pagamento de tarifas portuárias.
11. Poderão ser prestados pela ENAPOR, S.A. serviços distintos dos das suas atividades habituais, dentro ou fora
das suas áreas de intervenção, desde que não se afigurem inconvenientes e não extravasem o objeto estatutário da
Empresa, sendo as respetivas tarifas estabelecidas por ajuste direto.
12. A ENAPOR, S.A. poderá também efetuar prestações de serviços e fornecimento de bens e materiais de consumo
não previstos nos seus regulamentos, a pedido dos interessados, sendo os mesmos faturados pelo seu custo, acrescido
de 20%.
13. Pela utilização do equipamento contentor “em túnel”, é devida a tarifa de 38$00/ton ou 550$00/hora.
Artigo 40.º
3 703000 000000

Infrações e penalidades
1. Pela realização de quaisquer operações sem prévia autorização ou em caso de infração ao que se encontra
regulamentado, ficam os infratores sujeitos à aplicação das seguintes sanções ou multas:
a) atraso na largada do cais (após a segunda hora) – 5500$00/hora;
b) limpeza do costado sem prévia autorização – 30.000$00;
c) abertura de máquinas ou imobilização sem prévia autorização – 50.000$00; e
d) por outras contravenções não mencionadas no Regulamento de Exploração dos Portos de Cabo Verde e no
presente Regulamento Tarifário, e que sejam da competência do Conselho de Administração, a multa será
fixada entre 20.000$00 e 100.000$00.
2. Sempre que se verifiquem danos provocados por terceiros em bens do património da ENAPOR, S.A. ou de terceiros,
a ENAPOR, S.A. promoverá a avaliação dos danos, sendo as quantias devidas pelos causadores ou responsáveis por
esses danos acrescidas, se for caso disso, das indemnizações a que haja lugar pela indisponibilidade das instalações
ou equipamentos deles resultantes.
CAPÍTULO XIII
Disposições Finais e Transitórias
Artigo 41.º
Aplicação de desconto de desenvolvimento regional
Enquanto for considerado necessário o contributo da ENAPOR, S.A. para a conectividade e coesão nacionais,
às tarifas TP-N e TP-C constantes e resultantes do presente Regulamento Tarifário – Capítulo II –, é aplicado
um desconto cumulativo, multiplicando a tarifa resultante por 1 (tarifa de desconto por tipo de porto), de apoio ao
desenvolvimento regional das ilhas de menor dimensão, população e escala de tráfego por tipo de porto: portos tipo
II e III – portos da Palmeira, Sal-Rei, Porto Novo, Tarrafal, Vale de Cavaleiros, Furna e Porto Inglês – 5%.
Artigo 42.º
Revogação
É revogada a Portaria-Conjunta nº 8/2019 de 25 de março, que aprova o Regulamento Tarifário da ENAPOR, S.A.,
e toda a legislação que contrarie direta ou indiretamente o disposto no presente Diploma.
Artigo 43.º
Legislação subsidiária e Casos Omissos
Em tudo quanto não venha especificamente regulado no presente Diploma, aplica-se, com as necessárias adaptações,
o disposto na legislação portuária e demais leis aplicáveis.
ANEXO 1 – Conceitos aplicáveis para efeitos do disposto no presente Regulamento

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I Série — no 37 «B.O.» da República de Cabo Verde — 9 de abril de 2021 1271

Baldeação: movimentação de cargas, por motivo de para depois serem carregadas nos meios de transporte
conveniência, dentro do navio ou do navio para o cais e que as conduzem para o exterior do porto ou vice-versa.
posterior embarque no mesmo navio.
Tráfego semidirecto: quando as mercadorias são
Cais: infra-estruturas e estruturas destinadas à atracação descarregadas das embarcações para o cais e, de seguida,
de navios, incluindo a faixa de terrapleno adjacente e carregadas nos meios de transporte que as conduzem
rodovias, defensas, cabeços de amarração e sistemas para o exterior do porto ou vice-versa.
auxiliares de energia e fluidos aí instalados.
VEÍCULOS
Carga de transbordo: toda a carga desembarcada e
imediatamente embarcada noutro navio, sem passagem Outros veículos: inclui todos os veículos pesados,
por terra, podendo os navios estar estacionados ao largo reboques e semi-reboques.
ou acostados. Veículos com carga: inclui todos os veículos aqui indicados,
Carga em trânsito: toda a carga desembarcada de um e a carga neles transportada, independentemente da sua
navio e posteriormente embarcada noutro navio, com natureza e quantidade.
passagem por terra, sem sofrer qualquer alteração ou Veículos ligeiros: inclui ciclomotores, todos os veículos
transformação durante a estadia no porto. automóveis ligeiros e respetivos atrelados.
Carga unitizada: designação conjunta de unidades de Classificação das Cargas Quanto ao seu Modo de
carga acondicionadas em contentores, caixas metálicas, Acondicionamento:
paletes ou em unidades pré-lingadas.
1. As cargas são classificadas, quanto ao seu modo de
Carregador: proprietário ou expedidor da carga que é acondicionamento, em carga geral e carga a granel.
parte num contrato de transporte.
2. A carga geral, ou convencional, considera-se fracionada
NAVIOS ou solta quando se apresenta avulsa, acondicionada ou
Navios de cabotagem: embarcações que podem operar não em embalagens.
no mar alto, em zonas cujos limites são estabelecidos na 3. A carga geral considera-se unitizada quando se
Portaria 31/2001, ou seja, entre os paralelos 10º N e 30º apresenta reunida em embalagens com características
N e o meridiano 25º 25’ W até à costa africana. especiais de tipo e dimensões uniformes, com vista à sua
Navios de longo curso: embarcações que podem operar eficiente movimentação por meios mecânicos, tal como
sem limites de área de operação. em caixas metálicas ou contentores, atrelados, paletes
ou unidades pré-lingadas.
Navios de passageiros: navios classificados para o
transporte de passageiros. 4. As mercadorias a granel são as que, possuindo
características uniformes, não são suscetíveis de serem
3 703000 000000

Navios roll-on/roll-off: navios classificados como ro-ro contadas à peça e não se apresentam embaladas.
e navios classificados como ferry-boat.
Classificação das Mercadorias Quanto à sua Natureza:
Deslocamento do navio (peso do navio, incluindo água,
combustível, guarnição, mantimentos consumíveis e 1. Relativamente à sua natureza, as mercadorias são
armamentos) classificadas em mercadorias normais e especiais.

OPERAÇÕES DE TRÁFEGO 2. Consideram-se:

Recebedor: proprietário ou destinatário da carga que a) mercadorias normais – as que para a sua
é parte num contrato de transporte. movimentação e armazenagem não requerem
precauções especiais; e
Resíduos sólidos: conjunto de materiais com consistência
predominantemente sólida, do tipo doméstico, operacional b) mercadorias especiais – as que, pela sua natureza
e resíduos embalados, excluindo o peixe fresco e partes e valor, pelos seus potenciais efeitos, requerem
do peixe, produzidos durante o funcionamento normal da precauções especiais na sua movimentação e
embarcação, incluídos no Anexo V da MARPOL 73/78 e armazenagem.
classificados em conformidade com a Lei. 3. As mercadorias especiais classificam-se em:
Sujeito ativo: entidade a quem, numa relação jurídico- a) mercadorias perecíveis – as suscetíveis de se
tributária, é devido o pagamento das tarifas. deteriorarem com facilidade;
Sujeito passivo: entidade sobre quem, numa relação b) mercadorias incómodas – as suscetíveis de provocarem
jurídico-tributária, recai a obrigação do pagamento das um ambiente desagradável;
tarifas.
c) mercadorias nocivas – as suscetíveis de provocarem
Tarifa: preço devido pelas prestações de serviços públicos. danos físicos, materiais ou doenças;
Tarifário: conjunto de normas que fixam as tarifas e d) mercadorias perigosas – as suscetíveis de provocarem
as regras da sua aplicação. explosões, incêndio, corrosão ou contaminação; e
Tonelagem de Arqueação Bruta (TAB): soma dos e) mercadorias de elevado valor – as particularmente
volumes internos de todos os espaços fechados e cobertos suscetíveis de serem objeto de ações criminosas,
que estejam abaixo ou acima do convés, convertidos em nomeadamente roubo e furto.
toneladas Moorsom, iguais a 2,832 m3 ou 100 pés cúbicos,
nos termos da Convenção Internacional sobre a Arqueação CONTENTORES
de Navios, de 23 de junho de 1969. 1. Entende-se por contentor o meio utilizado no
Tráfego direto: quando as mercadorias passam diretamente acondicionamento de mercadorias de carga geral ou granel
da embarcação para o meio de transporte que as conduz sólido ou líquido, incluindo combustíveis, para efeitos de
para o exterior do porto ou vice-versa, sem pousar no cais. transporte, que preencha os seguintes requisitos:
Tráfego indireto: quando as mercadorias são descarregadas a) constitua um compartimento total ou parcialmente
das embarcações para o cais e, de seguida, transferidas fechado, destinado a conter mercadorias;
para os locais de armazenagem a coberto ou a descoberto, b) tenha um carácter permanente, sendo, por este

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1272 I Série — n o 37 «B.O.» da República de Cabo Verde 9 de abril de 2021

motivo, suficientemente resistente para poder ser usado repetidas vezes;


c) seja especialmente concebido para facilitar o transporte de mercadorias, por um ou vários meios de transporte,
sem carregamentos intermédios;
d) tenha sido construído de forma a poder ser manejado com facilidade, particularmente aquando do seu transbordo
de um meio de transporte para outro;
e) seja suscetível de poder ser facilmente enchido e esvaziado; e
f) tenha volume interior de, pelo menos, 1 m3.
2. A definição de contentor abrange os respetivos acessórios e equipamento em conformidade com a sua categoria,
desde que com ele sejam transportados, e não compreende os veículos e respetivos acessórios ou peças separadas,
nem as embalagens.
3. As plataformas de carga são equiparadas a contentores.
ARMAZENAGEM
1. Considera-se armazenagem o depósito de mercadorias, contentorizadas ou não, colocadas ou não sobre veículos,
nos cais, terraplenos, armazéns e alpendres do porto, podendo revestir as seguintes modalidades:
a) armazenagem a coberto – aquela em que as mercadorias são recolhidas em armazéns, telheiros ou quaisquer
outros recintos onde ficam resguardadas da Acão das condições atmosféricas; e
b) armazenagem a descoberto – quando as mercadorias permanecem noutros locais sem as condições mencionadas
em a).
EQUIPAMENTOS
1. Equipamento terrestre – considera-se equipamento terrestre as máquinas, aparelhos e utensílios destinados a
serem utilizados em terra pelas embarcações, contentores, mercadorias e passageiros na sua movimentação no porto.
2. Equipamento marítimo – considera-se equipamento marítimo as embarcações, máquinas, aparelhos e instrumentos
destinados a serem utilizados em manobras e transporte por embarcações, mercadorias e passageiros.j

Gabinete dos Ministros das Finanças e da Economia Marítima, aos 29 de dezembro de 2020. — Os Ministros,
Olavo Avelino Correia e Paulo J. Lima Veiga
3 703000 000000

I SÉRIE

BOLETIM
OFICIAL
Registo legal, nº 2/2001, de 21 de Dezembro de 2001

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I.N.C.V., S.A. informa que a transmissão de actos sujeitos a publicação na I e II Série do Boletim Oficial devem
obedecer as normas constantes no artigo 28º e 29º do Decreto-lei nº 8/2011, de 31 de Janeiro.

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