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Bianca Rocha

NACIF
2018/2

Direito de Família e Sucessões


DIR 317

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Novo Curso de Direito Civil, Vol.6. Pablo Stolze Gagliano & Rodolfo Pamplona Filho (2018).

Caio Mário da Silva Pereira: Instituições de Direito Civil. Vol. 5 (2017).

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PARTE PRIMEIRA: DIREITO DE FAMÍLIA

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0) NOÇÕES PARA COMPREENSÃO DO DIREITO DE FAMÍLIA
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SENSO COMUM E COMPLEXIDADE


Crenças e Mitos
A primeira dificuldade enfrentada é: boa parte dos estudantes já tem alguma opinião formada
sobre o tema. Nesse sentido, tendem a se fechar a novos conhecimentos novos por crer já saber as
respostas para as questões, como óbvio. Isso acontece porque o aluno cria, com o pouco que sabe,
uma quantidade de crenças e mitos, e traz para dentro da ciência, bloqueando os novos
ensinamentos dados a ele.
Essa forma anterior de perceber o mundo é uma crença, um mito, construído através de um
modelo de mundo baseado em concepções recebidas por familiares, amigos, etc. Isso compõe a
moral, trazida por esse grupo seleto de convivência.
Vide exemplo: “O meu grupo todo é a favor da legalização da maconha, por que eu seria
contra?”. Para entender direito de família nós temos que desconstruir, para depois construir.
Devemos aprender a pensar como direito de família, em que tratamos de uma outra estrutura
do direito que é bastante diferente do estudado até agora, pois o direito aqui é pautado no
afeto, não de um contrato, não de uma obrigação, nem de uma oponibilidade erga omnes.

Daniel Kahnmannam: Duas Formas de Pensar


Sistema 1 de raciocínio: A primeira é a forma rápida, por exemplo, estou atravessando a
rua, mas escuto o barulho de freio de um carro e eu corro, pois isso indica que um carro vem em
minha direção e eu tenho que sair dali urgentemente. Pensar rápido é uma reação essencial para a
sobrevivência. A forma rápida é chamada de sistema 1 de raciocínio.
Sistema 2 de raciocínio: Mas nem tudo pode ser solucionado através dessa forma de
pensar, imagine se me perguntam se eu sou a favor da descriminalização da maconha e
prontamente eu respondo que não, sem uma reflexão acerca do tema? Isso é um mal, pois tem
coisas que devemos parar para pensar sobre. E quando o pensamento se dá mediante uma reflexão
caracteriza-se a forma devagar. Corresponde ao Sistema 2 de raciocínio, um pensamento reflexivo.
A forma rápida de dar uma resposta conforme a sua visão de mundo, vai àquela questão de
que para todo problema complexo existe uma solução fácil, porém muitas vezes errada. Como
enfrentar cada um desses problemas? A primeira forma é dar a opinião que é particular a mim, e
essa devemos evitar: a de dar respostas pré-prontas na sua cabeça, porque estas podem ser
lapidadas. Essa visão pessoal corresponde a uma ilusão da verdade, construída com os conceitos de
vida trazidos pela experiência de cada um. A dignidade da pessoa humana se resume ao livre
desenvolvimento da personalidade (deixa eu ser o que eu quero ser). Aonde achar a solução? O
direito não vai dar a resposta, ele tem a tendência muito grande a ser autopoiético — sistema que se
cria, se distingue por si mesmo — e não consigo ter um bom direito sem refletir esses problemas na
sociedade, e nos ramos de estudo em que mais isso diz respeito. “Quem conhece só direito, nem o
direito conhece”.

O viés: Já o viés diz respeito a tendência que temos de utilizar o sistema 1, quando a
situação mereceria, na verdade, a utilização dos sistema 2. É aquela opinião pré-julgada, um pré-
juízo, sobre todas as questões da vida, e há quem não mude isso nunca, nem se for demonstrado o
contrário. As pessoas se fecham dentro dessa redoma, porque, se o mundo faz sentido com a história
coerente que estamos contando, para que mudar? É o conservadorismo. O problema é que estar
funcionando “bem” (para você) não significa que seja certo. É preciso abandonar esse tipo de
posição para evoluir, e se dispor a reflexões até acerca das temáticas tidas como certas.

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A Liberdade: Somente com o reconhecimento de nós como seres humanos falíveis, é que
alcançamos um padrão de liberdade. O método a ser discutido é bem psicanalítico.
A liberdade pela construção trinitária tinha a ideia de livre arbítrio. Nessa estrutura cristã
nasce o indivíduo, que é ímpar, único, pois todos, e cada um tem o desígnio enviado de Deus. Isso é
poderoso, cada um poder-ser do jeito que quiser. A individualização da pessoa aqui deságua na
concepção da liberdade como condição essencial da elaboração dos valores morais. Então a
liberdade passa, pela necessidade de confrontar racionalmente os argumentos, todos eles baseados
na razão, a aceitar a diferença e a diversidade. Numa sociedade democrática, não se admite
nenhum cerceamento às liberdades, especialmente à liberdade de expressão e à liberdade de viver
conforme a minha visão de mundo (cosmogonia).
Daí vem Kant, e diz que isso não é bem assim. Por exemplo, Nacif não poderia dar aula
tomando um uísque ou fumando maconha, pois ele não pode deixar que a sua vontade reine sobre
os seus atos. Já para Freud a vontade é o id – uma parte do nosso psiqué, e ele influencia na outra
parte do nosso psique que é o ego. O que freia Nacif é uma força supressora, que se chama super ego,
que o impede de fazer qualquer das suas vontades a todo momento.
Esse “viver conforme a minha visão de mundo” – qual é seu limitador?
O meu direito termina onde começa o do outro (autonomia privada). Essa autonomia privada
é trazida como princípio para o direito civil, que é o meu impulso ao ato cerceado pelo direito
privado. Eu posso fazer tudo, desde que a lei não me proíba. Quando a gente entra no direito de
família entram outras forças, que não sejam somente as forças da racionalidade, porque isso envolve
afeto, e consequentemente: minha moral, religião, amigos. Isso é mais complicado.

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1) A FAMÍLIA
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1.1 Objetivos
Uma família pode se formar por vários motivos: (a) afetividade; (b) sexo; (c) ter um futuro
juntos e conhecimento pessoal; (d) paz, tranquilidade e segurança.
O sexo e a afetividade tendem a diminuir com o tempo, e consequentemente a não ser
suficientes para uma família duradoura. Para que perdure é preciso haver um projeto de vida em
comum. Para o direito é essencial detectar os projetos de vida em comum para a
diferenciação de um mero namoro e a constatação da existência de uma união estável.
Exemplo: um casal de namorados mora junto em Viçosa, e um deles ganha um prêmio da
mega-sena, o outro não teria direito. Pois não existe uma exteriorização da posse que se altere a de
uma relação de namorados que apenas moram juntos para uma situação factual de união estável.
Eu tenho que conseguir distinguir se havia ali a intenção de formar uma família. Não vai ser o sexo nem a afetividade
que vai mostrar isso, mas o projeto de vida juntos. Objetivamente: se você identifica os objetivos da família,
você identifica que ali houve uma família, e se o prêmio da mega-sena foi adquirido por um dos
companheiros, e se for comprovado que ali tinha um interesse de família, o prêmio deverá ser
dividido entre o casal.
Exemplos de ações que demonstram interesse em formar uma família:
(1) conta conjunta no banco, (2) comprar casa financiada junto, (3) conta de clube onde um
coloca o outro como dependente, (4) seguro de vida em nome do outro, (5) tratamento contra
infertilidade, (6) plano de saúde. Mas esse rol não é taxativo, por isso é complexo.
Os objetivos de família devem ser identificados objetivamente.

1.2 Paradigma
Definição: muito básica, um paradigma é o prisma pelo qual eu enxergo o mundo.
Já para a ciência, o paradigma tem uma outra concepção, criada por Thomas Kuhn: para
ele, esse prisma vai me mostrando como que o mundo funciona e eu vou adaptar a história que eu
conto do mundo através daquele prisma, alterando ele. Até que chega o momento em que aquele
paradigma não explica mais o mundo e a partir daí, eu excluo esse prisma, mudando de paradigma.
1. ROMA: em direito de família, nosso primeiro paradigma vem de Roma: estruturas
como por exemplo, o pater familias, a adoção, o casamento, a união estável, já estavam
presentes no direito romano.
2. RELIGIÃO: o segundo prisma será a religião, quando a Igreja Católica consubstancia o
sexo apenas ao casamento (e com isso ganha dinheiro). A família só se constituía pelo
matrimônio, e fora dele não existia ninguém, não existia nem filho. A religião dominou o
direito de família no Brasil até 1988, quando da constituição federal. Em alguns lugares do
mundo a religião ainda manda no direito de família.
✦ 1977: Esse paradigma religioso foi “extinto” do direito brasileiro porque houve uma
evolução no país, especialmente nas décadas de 60 a 80. Até 1977 não existia o divórcio, casar
era para sempre, e as pessoas ficavam num limbo jurídico chamado desquitado — esse termo
era até pejorativo. A partir de 1977 veio a lei de divórcio e foi preciso mudar a constituição.
3. CRFB/88: Esse processo de mudança de paradigmas foi gradual, e a partir da
Constituição de 1988, surge novo paradigma orientador.

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CCB 1916 CRFB/88 // CCB 2002
Família só se dava pelo matrimônio. Traz a família monoparental.
A formação de família é livre.
Família patriarcal. Caráter igualitário, fundado no princípio da
Ou seja, o pai era o chefe de família. isonomia.
Formação de família era institucionalizada. A formação de família tem um caráter mais
Havia apenas duas formas de casamento: contratual.
1. Religioso Traz consigo alguns problemas jurídicos, especialmente a
2. Civil publicidade dos atos jurídicos.
Caráter mais público. Caráter privado.
O Estado vigiava o direito de família. Esse interesse se Você casa com quem quiser, desde que não desrespeite os
dava pela herança paradigmática da religião, e pelo princípios do direito (como não locupletamento,
conservadorismo (que levava a tratar pessoas com dignidade, proteção dos incapazes, adoção, tutela). Se
infantilização). ofendidos, trazem a proteção do Estado para a formação
familiar. Em suma, interfere protetivamente.
Característica da transpessoalidade. Característica eudemonista. **
Quer dizer que o direito de família estava acima A partir do momento que CF trouxe princípio da
dos interesses das pessoas. * dignidade humana, e isso é captado pelo direito de
família, cria condições para que as pessoas busquem ter
uma vida feliz, na esfera das suas decisões pessoais.

✴TRANSPESSOALIDADE: interesses e dimensão da instituição famílias tem primazia, de modo que


ante choque entre interesses eventuais de algum de seus membros componentes (ou que poderiam vir a
compô-la) e ‘interesse familiar’, prevaleceriam os interesses da família. Por exemplo, se um homem casado
engravidasse uma mulher solteira na década de 50/60, esse filho seria um bastardo não reconhecido. A mulher não tinha sequer
o direito de pedir uma investigação de paternidade de um homem casado, pois aquilo poderia vir a destruir a família.
✴✴ EUDEMONISTA: é a doutrina que considera a busca de uma vida feliz, seja em âmbito
individual seja coletivo, o princípio e fundamento dos valores morais, julgando eticamente positivas todas as
ações que conduzam o homem à felicidade.

1.3 Direito de Família


É o efeito da norma jurídica de transformar em fato jurídico a parte do seu suporte fático que
o direito considerou relevante para o ingresso no mundo jurídico.
Preceito: constitui a parte da norma jurídica em que são prescritos os efeitos atribuídos aos
fatos jurídicos. Isso nos leva ao fenômeno da juridicização dos fatos.
Juridicização dos fatos: ocorre quando eu percebo que um determinado fato social é
juridicamente relevante, e eu crio um preceito — que antes não existia — para aquele fato. Antes
da CRFB/88 morar juntos sobre o mesmo teto, mantendo relações sexuais, e objetivos em comum,
não era um fato juridicizado. A partir de 88 esse fato passou a se constituir como união estável.
Obviamente, isso tem que ser fundado num valor social.
Ao mesmo tempo, o direito de família sofreu uma forte desjuridicização, que é a retirada
de juridicidade de fatos que já não convém como valor social — foi o caso do adultério, que era
considerado um time penal, até que isso foi retirado do código, porque não era relevante
judicialmente. A atual discussão sobre a descriminalização do aborto, por exemplo, se aprovado,
será uma desjuridicização.
1.3.1 NATUREZA JURÍDICA:

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Não existe mais a função de cédula básica da sociedade na concepção de uma natureza
jurídica de família, essa ideia institucionalizada encontra-se em desuso. Mas nós ainda não temos
uma natureza jurídica especifica para a família. No Direito brasileiro ela não é um sujeito de direito,
não sendo a família dotada de uma personalidade jurídica. A família hoje é plural, e é um núcleo de
afetividade.
1.3.2 CONCEITOS:
A doutrina fundamenta família no meu núcleo de afetividade, são as pessoas a quem eu me
ligo pelo afeto, e isso gera direitos e deveres, as vezes sem a gente querer, e as vezes por vontade. Em
suma: o direito de família são as regras normativas que incidem sobre as relações de afeto.
Clóvis Beviláqua(1859/1944): É o complexo de normas que regulam a celebração do
casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e econômicas da
sociedade conjugal, a dissolução desta, as relações entre pais e filhos, o vínculo de parentesco e os
institutos complementares da tutela, da curatela, e da ausência.
Nessa percepção conceitual de 1916 era muito importante a validade do casamento. Hoje, é o
direito pertinente às relações nascidas do núcleo de afetividade do ser humano, bem como os
institutos complementares e conexos a ele.
1.3.3 IMPORTÂNCIA
O tema do direito de família é importante devido ao impacto na vida pessoal, carregado de
interesses das pessoas com seus aspectos psicológicos e sociais. Também é de interesse do estado um
núcleo familiar com a função da criação das crianças — provimento aos filhos, e pelo caráter
migratório desse direito. É importante ressaltar a importância da publicidade do estado civil, bem
como sua importância para os aspectos negociais.

1.4 Características
a) De Caráter Privado: normas que permitiam ao indivíduo a consolidação e a
estabilidade do seu núcleo de afetividade, com efeito direto sobre sua felicidade, e
consequentemente dignidade.
b) De Caráter Público: normas que permitem a intervenção do estado onde houverem
pessoas hipossuficientes na relação jurídica; por exemplo casamento de maior de 70 anos dever
ser por regime de separação de bens.
c) Representação: há uma representação imprópria. No direito de família os atos são, via
de regra, pessoais. Mas não personalíssimos. Qualquer procuração feita deve conter todas as
características dos atos, do representado e do negócio jurídico a ser feito, uma vez que diferente
do direito civil, no direito de família o representante não tem margem para negociação. Por
exemplo, é possível o casamento por mandato impróprio (contrato pelo qual se outorga outra
pessoa poderes para participar ou contrair obrigações).
d) Não cabem: termo, ou condição. Em nenhum de seus atos. Condição esta, seja
resolutiva ou suspensiva. Não posso casar mediante condição (coação) ou adotar a prazo. Uma
situação excepcional é a de doação propter nuptiae.
e) Não são aceitas renúncias ou transmissões. A hipótese de renúncia de paternidade
por exemplo, é absurda.
f) Há intervenção de autoridade pública sempre que determinado por lei. Por
exemplo, porque não basta a vontade dos noivos para se casar, é necessário um juiz de paz que
os declare marido e mulher. Esse juiz de paz é a autoridade pública, cujo ato dá anuência e

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constituição ao casamento. Outro caso, geralmente situações relacionadas a um menor
necessitam autorização, como divórcio quando há filhos que carece de procedimento judicial.

1.5 Princípios do Direito de Família


Com a CF o direito de família passou de um caráter predominantemente público para um
caráter privado, mas ainda mantém proteção ao incapaz, ao menor, ao idoso. Todo direito civil, na
verdade, tem um caráter dúplice, público e privado, o que muda é para onde pende o pêndulo.
A CRFB/1988 foi a grande mudança do paradigma transpessoal (família acima de tudo)
para o eudemonista (o que importa é ser feliz). Mas não foi apenas a CF, foi uma constituição
acompanhada de um comportamento social. O mundo já tinha mudado, as pessoas já tinham
mudado e a o direito acompanhou isso.
O constitucionalismo alemão pregava que a constituição se dirigia ao legislador e o
legislador é que fazia as leis que o povo iria seguir. No entanto, havia pressa, pois tínhamos um
código de 1916. Assim, rapidamente, a doutrina e os juízes procuraram um constitucionalismo
mais efetivo: o constitucionalismo norte-americano, com a eficácia imediata das normas
constitucionais.
Fundamento republicano:
O primeiro fundamento da CRFB é o princípio da dignidade da pessoa humana. Qual o conteúdo
desse fundamento? Não era sabido, teve de ser desenvolvida doutrina amparada no direito norte-
americano. Um artigo que definiu muito bem esse conteúdo foi de Paulo Motta Pinto, que definiu o
que o conteúdo da dignidade seria: que o Estado me permita viver como eu acho que devo viver.
Ou seja, levar a vida conforme a minha cosmogonia, desde que eu não ofenda o outro. É o direito
que eu tenho de dar à minha vida os desígnios que achar conveniente. Isso revela um caráter de
direito privado.
Casamento a três, por exemplo, ainda não é possível nem mesmo no pais mais liberal para o
direito de família, que é o EUA. O que os cartórios começaram a fazer era uma pacto de
convivência para regulamentar essas situações, de ‘união estável poliafetiva’ mas o CNJ proibiu (em
junho de 2018). Agora eles fazem por instrumento particular. Dessa forma, a gente tem que o limite
dessa cosmogonia vai ser testado no cotidiano, pois ainda não se sabe até onde podemos ir para
atingirmos a nossa felicidade (pelos menos teoricamente, porque na prática essa cosmogonia é
criticada socialmente).

.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: III - a dignidade
da pessoa humana; CRFB/88 art 1º, III.
.2 ISONOMIA:
A partir da constituição fica sedimentada a regra de que homens e mulheres são iguais
perante a lei. Outra isonomia seria a dos filhos, no CCB anterior havia várias configurações de
filhos (legítimos, ilegítimos, legitimados – de pessoas não casadas, adotado (simples, pleno, etc.)). A
CRFB acabou com isso: filhos são todos iguais sendo o vínculo afetivo ou jurídico.
.3 IGUALDADE:
Quando eu tenho pessoas desiguais, eu tenho que tratá-las na medida de sua desigualdade,
porque isso se trata então da promoção de uma igualdade material.

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Só que para fazer isso precisamos de alguns parâmetros, e o mais conhecido dentro da doutrina
brasileira é o de Celso Bandeira de Mello:
“As discriminações devem ser, cumulativamente: (i) ter por base diferenças reais, não sendo dado
à lei tratar desigualmente os iguais; (ii) não ser especifica a ponto de singularizar uma pessoa; (iii)
estabelecer um nexo lógico entre as diferenças consideradas pela norma, e pelo tratamento dispensado
aos diferentes; (iv) somente discriminar para proteger valores privilegiados pelo sistema constitucional
ou pelo sistema legal.”
Toda vez que eu me deparar com um comportamento diferente, eu tenho que procurar um nexo
lógico, se eu não fizer isso estarei agindo pelo sistema 1, correspondente ao pensamento rápido.

Três questionamentos:
(1) Artigo do código de processo civil de 73 fala que nas ações de alimentos em caso de
divórcio, a ação poder ser proposta na cidade de domicilio da mulher, mas do homem não
pode. Ela está discriminando ou tratando de forma igual? A igualdade formal é utópica, pois
no caso concreto isso não se dá. Já a igualdade material implica reconhecimento de que a lei
pode e deve tratar desigualmente os desiguais, na medida da sua desigualdade, para corrigi-la.
Assim, essa lei busca promover uma igualdade material.
(2) O Código civil de 2002 colocava 16 anos para mulher se casar e 18 para os homens
(CCB 1517). Isso era justo?
(3) Homens e mulheres tem idades diferentes para se aposentar, por que?
Porque a mulher tem jornada tripla de trabalho: cuidar da casa, dos filhos e trabalhar fora. Isso
é justo? Dentro da sociedade que a gente vive é justo, mas o ideal seria que as mulheres não
precisassem desse “beneficio” e que as tarefas fossem divididas igualmente entre o casal. Mas
não são todas mulheres que tem essa jornada, por isso é muito difícil lidar com essas questões.
Vamos nos lembrar da “regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente
aos desiguais, na medida em que se desigualam. (…) Tratar com desigualdade a iguais, ou a
desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real.” Oração aos moços,
Rui Barbosa .

.4 OUTROS PRINCÍPIOS
Caio Mario traz como princípios: o princípio da equiparação dos filhos; princípio da
solidariedade familiar; o princípio jurídico da afetividade jurídica (com ênfase objetiva); o princípio
do melhor interesse da criança (norteador principalmente em questões como adoção, visitação,
competência da lide, alimentos); o princípio da prioridade absoluta (diz respeito a ECA e ao
Estatuto do Idoso); o princípio do cuidado (principalmente no que diz respeito aos filhos); e por fim
a diretriz do venire contra facto proprium pautada na boa-fé objetiva.
Foi trazida para o curso a leitura da tese de Rodrigo da Cunha Pereira, “Princípios
Fundamentais e Norteadores para a Organização Jurídica da Família”. Na qual ele traz os
princípios (além dos destacados): da monogamia, igualdade e respeito às diferenças; autonomia e da
menor intervenção estatal; da pluralidade das formas de família; da afetividade.

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2) PARENTESCO
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2.1 Conceito
Falamos que o direito civil trata das relações sociais entre pessoas. Essas relações podem ser de
direitos reais, obrigacionais ou de direito de família. O direito de família trata de relações de afeto
com efeito jurídico. Mas se extende a quem esse vínculo jurídico pelos laços familiares?
O que é? “É a relação jurídica congentemente determinada pela lei, que vincula certas
pessoas a uma mesma família em função dos elos geracionais havidos entre si. É uma relação de
procedência o fator eleito juridicamente para nomear os familiares parentes.” Renata Barbosa

COMO ESTABELECER ESSE VÍNCULO?


Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem.
✦ Consanguíneo: basta que eu nasça naquela família para pertencer a ela (nascimento).
✦ Civil: fui eleito judicialmente para compor aquela família (como a adoção).
✦ Afinidade: vínculo dado pela lei a partir do casamento.

2.2 Linhas e contagem


Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral,
também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o
outro parente.

1. ASCENDENTE/DESCENDENTE
Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação de
ascendentes e descendentes.

Essa linha é ad infinitum. É uma linha reta, que vai considerar partindo de mim todos aqueles
que na minha árvore genealógica foram diretamente responsáveis por eu ter sido gerado, e todos os
que vou gerar a partir de mim. Meus ascendentes em linha reta são meus pai e mãe, avô e avó,
bisavô e bisavó, e assim sucessivamente (parte de pai e de mãe). Meus descendentes são meus filhos,
netos, bisnetos.

2. COLATERAIS
Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de
um só tronco, sem descenderem uma da outra.

Não é uma linha infinita, apenas considera-se família para o direito civil, aqueles que são
colaterais até quarto grau. Começo a contar sempre a partir do meu vínculo mais próximo, até o
parente. Desse modo, meu primo “legítimo" é o único dos primos que é considerado parente, ele é
de grau IV assim como meu tio-avô.

E por afinidade, como funciona?


Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade.
§ 1o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou
companheiro.
§ 2o Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável.

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Se me casar, eu conto a partir do meu cônjuge quem será meu parente por afinidade. Dessa
forma, minha sogra será minha parente em linha reta, por afinidade em grau I. Aqui só posso ter
parentes colaterais até o segundo grau. Por exemplo, minha cunhada, será parente colateral por
afinidade grau II, já seus filhos, não. Quando finda meu vínculo de por afinidade? Ele cessa com o
divórcio. Tanto o divórcio quanto o fim da união estável quanto o falecimento de qualquer parte,
extingue o vínculo com o antigo cônjuge e com todos os colaterais. Já em linha reta a afinidade não
se extingue, então o vínculo com a sogra e com a enteada não termina com o fim do casamento.

2.3 Espécie
Irmãos: Unilaterais (o “meio-irmão") ou bilaterais (germanos).
Podendo ser uterinos (parte de mãe) ou fraternais (parte de pai).
Legítimo e ilegítimo são termos que não existem mais devido ao princípio da isonomia.

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3) CASAMENTO
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3.1 O Casamento na História


A noção de família é anterior ao instituto do casamento, porque na antiguidade não se
pressupunha necessária ritualização aos núcleos familiares. Já o casamento como instituição, deriva
de um estabelecimento de regras formais, de cunho religioso ou laico.
As referências ao Direito Romano e ao Direito Canônico se fazem fundamentais para a
compreensão do casamento no mundo ocidental.
Em Roma havia cinco tipos de casamento. A confarreatio (1), era o casamento dos patrícios, de
fundo religioso; a coemptio (2), que era o casamento da plebe; o usus (3) referente a toda vez que você
tirava uma mulher de casa e não a devolvia por três noites, era a usurcapio trinoctii; a sine manus (4) era
aquele casamento no qual a mulher permanecia na casa paterna, seja porque o marido havia ido
para a guerra, ou porque o seu pai era muito rico e podia lhe dar uma vida melhor, assim ainda
exigia o poder sobre a filha mesmo depois de casada; e a justae nuptiae (5) que é referente ao
casamento informal, matrimônio livre, comparável ao que hoje é a união estável. A concepção se
aproximava mais a de negócio jurídico, pela vontade dos nubentes, nuptias consensus facit.
Na idade media todo esse sistema ruiu e com a força do Cristianismo no renascimento
europeu e a ideia de “um só corpo e um só espírito”, a Igreja percebe que precisa estabelecer o
vínculo entre a relação sexual e as pessoas: então a Igreja Católica Sacramentaliza e institucionaliza
o casamento, noção que se reafirma em 1545 no Concílio de Trento.
Os ritos necessários para tal: proclamas, celebratio, solemnitas; os mesmos ritos ainda são
realizados. Países perceberam que dar esse poder a Igreja era muito, e o primeiro a retirar a
exclusividade da Igreja nesse poder foi a Inglaterra, onde o primeiro-ministro do rei, Cromwell,
apoia o divórcio de Henrique VIII sem necessidade permissão do papa, no século XVI.
No Brasil hoje o casamento é civil, uma vez que pressupõe-se o Estado Laico. Mas, até 1861 o
casamento só poderia ser feito pela Igreja Católica. Só em 1861 que nós tiramos essa exclusividade
da Igreja para o casamento — Lei de 11/09/1861 previa o casamento civil de não católicos.
Finalmente, em 1890 é regulamentada a solenidade do casamento civil, que coexistiu paralelamente
com o religioso até 1973, ano em que o casamento religioso passou a não bastar, e ter que cumprir
requisitos ao registro para reconhecimento dos efeitos civis.

3.2 Conceito
Caio Mario trazia uma conceituação ultrapassada: “União de duas pessoas de sexos diferentes,
realizando uma integração físiopsíquica permanente”. Essa percepção mudou, foi acrescida do
argumento de que sendo a família um organismo em lenta e constante transformação, o casamento
que a legitima há de afeiçoar-se às condições ambientes e contemporâneas.
“Casamento é um contrato especial de direito de família, por meio do qual os cônjuges
formam uma comunidade de afeto e existência, mediante a instituição de direitos e deveres
recíprocos e em face dos filhos, permitindo assim a realização dos seus projetos de vida.”
Stolze & Pamplona

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Hoje, o casamento não é fim em si mesmo, mas tão somente o locus de realização e busca da
felicidade dos seus integrantes (e esta corresponde à função social da família). Já o código, traz
também sua própria definição: Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

3.3 Tipicidade do Ato


O ato é típico, na medida que exige uma celebração conforme estipulado na lei. Tem que
seguir os seguintes passos, na ordem: habilitação, proclamas, celebração, atermação e certificação.

3.4 Natureza Jurídica


Casamento é o ato de maior solenidade do direito civil a partir do qual se forma uma família.
Antes o casamento era uma verdadeira instituição, tinha uma característica publicista, mas a partir
da CRFB/88 tomamos outro caminho, o privatista, que deixa que as pessoas tomem a rédea da sua
própria vida afetiva.

Qual será a natureza jurídica do casamento?


Não é mais instituição pura, agora tem um caráter contratual, que se volta para o direito
privado, à autonomia da vontade. Não é apenas um contrato, mas como tem esse caráter
contratual, privatista, não pode mais ser encarado como uma instituição pura.
Caio Mário considera o casamento como um contrato especial, e pontifica: o que se deve
entender ao assegurar a natureza do matrimônio, é que se trata de contrato especial dotado de
consequências peculiares, mais profundas e extensas do que as convenções de efeitos puramente
econômicos, ou contrato de direito de família, em razão das razoes específicas por ele criadas.

Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o
juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados.

As pessoas declaram sua vontade para selar o casamento; e o juiz de paz deve ter a última
fala, como chancelar do estado. Então em qual desses momentos o casamento se realiza?
A partir disso, temos três teorias:
✦ Corrente Supra-individualista: ou institucionalista, o casamento é uma instituição
social que nasce da vontade dos contraentes, mas que da autoridade da lei recebe sua forma, suas
normas e seus efeitos.
✦ Corrente Individualista: também chamada de corrente clássica, ou contratualista,
para qual o casamento é um contrato.
✦ Corrente Eclética: casamento é um ato complexo. Precisa da manifestação de vontade
das partes & da chancela estatal. É esse o entendimento que prevalece hoje.

Qual a consequência prática dessa estrutura?


Antes de 1977 com o casamento como instituição, não havia outra maneira de formar uma
família, o que deus uniu o homem não separa, era um sacramento. Nessa instituição, sacramental ou
estatal, não cabe renúncia, o laço era indissolúvel. Contudo, muda-se a sociedade.
Em 1977 surge o divórcio (infra) — era possível celebrar um divórcio apenas, depois de 5 anos
de casamento, o juiz deveria ser convencido e no processo deveria haver um culpado, que sofreria

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consequências em face de sua responsabilidade pelo término dessa relação conjugal — e desde
então, houve uma série de degraus no caminho, mas hoje há um avanço na esfera privada, com
vários divórcios, e podendo ser celebrado a qualquer tempo.

3.5 Caracteres do Casamento (Caio Mário)


O casamento é ato solene, ritualístico;
Suas características:
(A) Solenidade;
(B) desconsiderado;
(C)Dissolubilidade, desde a Lei 6.512 que regulamentou o divórcio em1977.

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4) ESPONSAIS
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4.1 Promessa de Casamento e Responsabilidade Civil por Ruptura de Noivado

O que é o noivado? É um resquício da promessa de contratação.


E o que é o anel de noivado?
Lembre de arras, que é o valor entregue para garantir que aquele contrato vai ser feito, se o
contrato não fosse concretizado por quem entregou esse arras, ele o perdia, e se for quebrado pela
parte que recebeu, deveria devolver esse valor em dobro. O anel de noivado poderia ser equiparado
a esse arras, a partir da entrega desse anel esperava-se que esse casamento ia de fato acontecer, e daí
costumava-se marcar a data.
Bifurcando esse raciocínio, qual a natureza do anel de noivado? É uma doação propter nuptiae,
carregando consigo uma condição suspensiva. Então não posso dizer ser um arras? Essa é uma
discussão acadêmica. Tenho esses dois caminhos para desenvolver meu argumento, a depender de
quem eu estiver defendendo.

Qual o efeito jurídico da ruptura de um noivado?


Atualmente nenhum. No direito imperial, ainda tinha. Hoje não há, entretanto, como todo
contrato, quando você cria falsa expectativa na outra parte isso pode acarretar em ausência de boa-
fé objetiva, portanto “é melhor cuidar para encontrar a melhor maneira de desistir do casamento,
sempre atuando conforme o princípio da eticidade, para minorar ou evitar os efeitos da ruptura, sob
pena de responsabilidade civil” (S & P).
Qualquer um dos nubentes pode, até o último minuto, desistir do casamento, mas é evidente
que um ato desse gera danos. Que tipo de dano posso ter na não conclusão de um casamento tão de
última hora? Com certeza danos materiais, de tudo que foi investido (festa, etc).
Desistir do casamento é uma potestividade: se não quero, não sou obrigado. Entretanto, todo
contratante deve se pautar pela boa-fé objetiva, que diz respeito a manter-se em relação ao outro
contratante de forma honesta, transparente. Se estiver conforme a boa-fé objetiva, eu tenho
responsabilidade acerca do dano material, mas o dano moral só será indenizável se for observada
ausência de boa-fé objetiva, ou pior, se o agente atuou com manifesta má-fé subjetiva.

4.2 Danos morais nos esponsais:


Os danos morais para rompimento de noivado, conforme explicação supra, não existem mais
como regra própria, podendo ser aplicadas:

✦ As regras gerais para o dever de não causar danos.


Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.

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✦ Observância à situação de doação em contemplação a casamento futuro, propter nuptiae, e o efeito
suspensivo.
Art. 546. A doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer
pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, a ambos, ou aos filhos que, de futuro, houverem um do
outro, não pode ser impugnada por falta de aceitação, e só ficará sem efeito se o casamento não se realizar.
Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não
verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.

✦ A aplicação de regras jurídicas sobre os esponsais e a indenização em caso de descumprimento da promessa


de casamento deve ser considerada em relação ao meio social em que vivem os nubentes.
Em comunidades interioranas, e mais humildes, algumas dessas virtudes ainda são bastante
cultivadas, ou seja, os costumes são diferentes e o juiz tem que olhar as pessoas e o tamanho do
dano que vão sofrer diante disso.

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5) HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO
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Stolze & Pamplona

Conceito: É um procedimento administrativo, disciplinado pelo CCB e pela Lei de Registros


Públicos, pelo qual as partes se habilitam a um casamento, quando o Oficial do Registro Civil afere
os pressupostos de existência e validade do ato matrimonial. Transcorre no Registro Civil de Pessoas
Naturais do local de residência de um dos nubentes. Ao final, resulta em emissão de certificado para
que as partes se casem em 90 dias.

OBS.: Art. 1.512. Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão
isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da lei.

5.1 Requerimento da Habilitação


O pedido deverá ser dirigido ao Oficial da Comarca de residência de um dos nubentes
(para que haja uma maior publicidade ao ato) contudo se o processo for tramitado em lugar diverso,
mas sem impedimento ou prejuízo aferido, há convalescimento do defeito. Não precisa mais de
homologação da habilitação pelo juiz, processando-se direta e imediatamente perante o oficial do
Registro.

Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de
próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes documentos:
I - certidão de nascimento ou documento equivalente;
II - autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra;
III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem não
existir impedimento que os iniba de casar;
IV - declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem
conhecidos;
V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de
casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio.
Preparada a habilitação, os autos serão remetidos ao MP.
(Nos termos da Lei 12.133/2009)
Art. 1.526. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audiência do
Ministério Público.
Parágrafo único. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiro, a habilitação será
submetida ao juiz.

5.2 Edital de proclamas


É o ato administrativo expedido por oficial do cartório em que tramita a habilitação, por meio
do qual os nubentes são qualificados e é anunciado o casamento para a sociedade.

Art. 1.527. Estando em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante quinze dias
nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa
local, se houver.
Parágrafo único. A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a publicação.

Art. 1.528. É dever do oficial do registro esclarecer os nubentes a respeito dos fatos que podem
ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens. — O não
esclarescimento, para S&P poderia acarretar em falha do oficial, e até mesmo ser argumento pró manutenção em
casos de invalidação.

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5.3 Oposição à Habilitação
Art. 1.529. Tanto os impedimentos quanto as causas suspensivas serão opostos em declaração escrita e
assinada, instruída com as provas do fato alegado, ou com a indicação do lugar onde possam ser obtidas.

Art. 1.530. O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus representantes nota da oposição, indicando os
fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu.
Parágrafo único. Podem os nubentes requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos fatos alegados,
e promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé.

5.4 Certificado de Habilitação


Art. 1.531. Cumpridas as formalidades dos arts. 1.526 e 1.527 e verificada a inexistência de fato obstativo,
o oficial do registro extrairá o certificado de habilitação.

Art. 1.532. A eficácia da habilitação será de noventa dias, a contar da data em que foi extraído o
certificado.

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6) CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO
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Art. 1.512. O casamento é civil e gratuita a sua celebração — essa gratuidade é para celebração no RCPN.

Reverte-se de enorme importância a solenidade de realização do casamento. Assim, a lei a


reveste de solenidades especiais, publicidade ostensiva e gravidade notória. Daí uma indagação
doutrinária: o matrimônio considera-se realizado no momento em que o juiz pronuncia a
declaração, ou naquele em que lhe respondem os contraentes à indagação?

MOMENTO
Temos duas teorias sobre isso.
Art. 1.535. Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador especial, juntamente com as
testemunhas e o oficial do registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de que pretendem casar
por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento, nestes termos:"De acordo com a vontade que
ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro
casados.”

I. Pela corrente do casamento como uma instituição, sobre esse aspecto o momento do
casamento será o momento em que a autoridade competente, ou seja, o juiz de paz, vai proferir
aquela frase “De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos
receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados”.
II. Se a corrente for a de que o casamento é um contrato, o momento de celebração do
casamento se dá quando da manifestação da vontade, ou seja, o ‘sim’.

Art. 1.533. Celebrar-se-á o casamento, no dia, hora e lugar previamente designados pela autoridade que
houver de presidir o ato, mediante petição dos contraentes, que se mostrem habilitados com a certidão do art.
1.531 — ou seja, munido de certificado de habilitação.

LOCAL DA CELEBRAÇÃO
No registro civil aonde houver, a princípio, sido a habilitação. Que pode ser: no local de
residência de qualquer um dos nubentes. Se houver mais de um cartório na minha cidade, eu só
posso me casar na circunscrição do meu registro de habilitação.

Art. 1.534. A solenidade realizar-se-á na sede do cartório, com toda publicidade, a portas abertas,
presentes pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes, ou, querendo as partes e
consentindo a autoridade celebrante, noutro edifício público ou particular.
§ 1o Quando o casamento for em edifício particular, ficará este de portas abertas durante o ato.
§ 2o Serão quatro as testemunhas na hipótese do parágrafo anterior e se algum dos contraentes não souber
ou não puder escrever.

Dentro da circunscrição o juiz de paz pode celebrar o casamento em qualquer imóvel,


sendo obrigatório que se mantenham as portas abertas — porque é um ato público contra o qual
podem ser opostas objeções.
Além disso é possível o casamento nos consulados brasileiros. OBS.: qual a diferença entre
uma embaixada e um consulado? Só tenho uma embaixada por país, e consulado é elemento de
conexão entre o estrangeiro e o direito do seu país, então posso ter vários consulados brasileiros nos
EUA, são como se fosse um cartório, só que naquele país.

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E se a pessoa quiser se casar em algum lugar aleatório? Ela pode se casar, faz
habilitação na sua cidade, e quem fará a cerimônia será um ministro da sua igreja, cuja celebração
vai gerar uma certidão.
Mas em regra: o casamento é civil e a celebração será feita pelo juiz de paz, vide art. 98, II da
CRFB, da circunscrição onde ocorreu a habilitação. A celebração fora da circunscrição é
incompetência ratione loci o que torna o casamento nulo, fora se dele resultou a atermação nos livros
públicos. Ou seja, o casamento feito por autoridade incompetente é nulo. Entretanto, se o juiz de
paz fez esse casamento fora da sua circunscrição, mas desse casamento resultou uma atermação
nesse caso o casamento será nulo, porém válido. A eficácia do ato retroage à data da celebração.

Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes:
I - recusar a solene afirmação da sua vontade; — ou permanecer em silêncio gélido.
II - declarar que esta não é livre e espontânea;
III - manifestar-se arrependido.
Parágrafo único. O nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à suspensão do
ato, não será admitido a retratar-se no mesmo dia.

Por fim, completando o ciclo formal de realização do casamento é feita atermação. O termo
circunstanciado perpetua o ato e dele constitui prova (apesar de a falta do termo não macular a
validade do casamento).

Art. 1.536. Do casamento, logo depois de celebrado, lavrar-se-á o assento no livro de registro. No
assento, assinado pelo presidente do ato, pelos cônjuges, as testemunhas, e o oficial do registro, serão
exarados:
I - os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento, profissão, domicílio e residência atual dos cônjuges;
II - os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento ou de morte, domicílio e residência atual dos pais;
III - o prenome e sobrenome do cônjuge precedente e a data da dissolução do casamento anterior;
IV - a data da publicação dos proclamas e da celebração do casamento;
V - a relação dos documentos apresentados ao oficial do registro;
VI - o prenome, sobrenome, profissão, domicílio e residência atual das testemunhas;
VII - o regime do casamento, com a declaração da data e do cartório em cujas notas foi lavrada a escritura
antenupcial, quando o regime não for o da comunhão parcial, ou o obrigatoriamente estabelecido.

Finalmente, frisamos que o registro de casamento religioso com efeitos civis opera-se de forma
semelhante, mas diferencia-se pela circunstância da autoridade celebrante, que nesse caso é uma
autoridade religiosa, ministro representante da religião seguida ou acolhida pelos nubentes. Nesse
contexto, os art. 71 a 75, em especial art. 74 da Lei de Registros Públicos, e os art. 4, 5, e 6 da Lei
1.110/1950.

Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil,
equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua
celebração.
Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para o casamento
civil.
§ 1o O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de noventa dias de sua realização,
mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde
que haja sido homologada previamente a habilitação regulada neste Código. Após o referido prazo, o
registro dependerá de nova habilitação.
§ 2o O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste Código, terá efeitos civis se, a
requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação
perante a autoridade competente e observado o prazo do art. 1.532.
§ 3o Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos consorciados houver
contraído com outrem casamento civil.

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Dessa forma, há duas opções. A primeira é fazer a habilitação antes da celebração, regra geral
do casamento civil, assim como opção de reconhecimento civil do casamento religioso. E tenho a
segunda opção, pela qual eu resolvo me casar antes de fazer a habilitação.
Celebro um casamento religioso, ele é válido? Por enquanto, não tem efeito civil. Poderia
eventualmente ter o efeito de prova para o início de uma união estável, por exemplo, mas para um
casamento não. O que fazer? Eu vou ter que abrir um processo de habilitação a partir daqui, aberto
no RCPN — domicílio de um dos nubentes. Com a habilitação pronta, insere-se a celebração
anterior (aquela do religioso) como prova. Isso acontece porque casamento religioso não tem
validade sozinho, para ter efeitos civis deve passar pelo reconhecimento.
Em suma: a celebração religiosa do casamento (casamento religioso com efeitos civis) pode ter
a sua habilitação prévia ou posterior à celebração. Havendo celebração mas não havendo registro
civil, o ato poderá servir de prova de uma união estável.

6.1 Formas Especiais de Casamento

.1 CASAMENTO URGENTE
Em caso de moléstia grave de um dos nubentes o presidente do ato faz esse casamento no
local necessário, qualquer que seja, independente da circunscrição, na frente de duas testemunhas
que saibam ler e escrever.
Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se
encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e
escrever.
§ 1o A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento suprir-se-á por qualquer
dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do
ato.
§ 2o O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro dentro em cinco
dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado.

.2 CASAMENTO NUNCUPATIVO
É aquele realizado in extremis momento vitae, ou seja, em momento extremo da vida.
Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da
autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença
de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo
grau.

É aquele contraído por nubente que se encontra moribundo. Nesse caso, o casamento poderá
ser celebrado na presença de 6 testemunhas que com os nubentes não tenham parentesco em linha
reta, ou colateral em segundo grau.
Dois detalhes:
(1) não se falou em autoridade celebrante, o nuncupativo é autocelebrado;
(2) essa regra de parentesco é uma regra geral das testemunhas para o direito civil, vide art.
228, excepcionalmente para efeitos de direito de família, que preza o afeto, as testemunhas
podem ser parentes, e é até aconselhável que as testemunhas apresentadas pelo casamento na
habilitação sejam, isto posto esse caso de “não poder ser parente” no nuncupativo é a exceção
da exceção.

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Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade
judicial mais próxima, dentro em dez dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de:
I - que foram convocadas por parte do enfermo;
II - que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo;
III - que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por marido e
mulher.
§ 1o Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às diligências necessárias para verificar se
os contraentes podiam ter-se habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o requererem,
dentro em quinze dias.
§ 2o Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o decidirá a autoridade competente,
com recurso voluntário às partes.
§ 3o Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar dos recursos interpostos, o juiz
mandará registrá-la no livro do Registro dos Casamentos.
§ 4o O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao estado dos cônjuges, à data da
celebração.
§ 5o Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo antecedente, se o enfermo convalescer e puder
ratificar o casamento na presença da autoridade competente e do oficial do registro.

Realizado o casamento, as testemunhas devem fazer o registro. Instaura-se assim


procedimento de jurisdição voluntária com participação do MP. A ausência desse registro implicará
a nulidade absoluta do matrimônio contraído.

.3 CASAMENTO POST MORTEM


Não é possível no direito brasileiro. Existe no direito francês, em respeito a seus veteranos de
guerra, que é o contexto em que esse tipo de casamento faz mais sentido. Como funciona? Precisa
que uma das pessoas tenha se manifestado inegável direito de casar e um dos cônjuges tenha
falecido a serviço da pátria. Ao final do processo, o casamento é celebrado pelo presidente. Existe
no direito francês, em respeito a seus veteranos de guerra, que é o contexto em que esse tipo de
casamento faz mais sentido.

.4 CASAMENTO REALIZADO FORA DO PAÍS (S&P)


Perante autoridade diplomática brasileira: na forma do art. 18 da LINDB. Deve ser
registrado em até 180 dias a contar da volta (com animus de permanência) de um, ou ambos,
cônjuges ao Brasil, no cartório de seu domícilio, ou no 1º Ofício da Capital do Estado que passarem
a residir. Esse prazo é decadencial.
Perante autoridade estrangeira: no caso de brasileiros entre si, ou brasileiro com
estrangeiro, para que possa produzir os efeitos civis correspondentes no território brasileiro, deve
tomar as providencias como se tratasse de qualquer matrimônio civil realizado no estrangeiro,
devendo ser autenticado em Consulado brasileiro do país, traduzido por tradutor juramentado para
que possa ser registrado no Brasil.

OBS.: PROVA: Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas
autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em cento e oitenta dias, a contar da volta de um ou de
ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1o Ofício da Capital do
Estado em que passarem a residir.

.5 CASAMENTO POR PROCURAÇÃO


Preciso estar lá para casar? Não, posso casar por MANDATO.
Ou seja, através de um contrato de representação voluntária (a procuração é configurada
apenas como instrumento delimitador dos poderes do procurador ou mandatário).

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Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por instrumento público, com
poderes especiais.
§ 1o A revogação do mandato não necessita chegar ao conhecimento do mandatário; mas, celebrado o
casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da revogação, responderá o
mandante por perdas e danos.
§ 2o O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá fazer-se representar no casamento
nuncupativo.
§ 3o A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias.
§ 4o Só por instrumento público se poderá revogar o mandato.

Mas o documento lavrado tem que conter todos os elementos necessários para o ato em si:
nome do cônjuge, regime de bens adotado, data provável para o casamento, local onde se processa a
habilitação, etc. Isso porque o mandatário não pode negociar.
Chamamos esse tipo de mandato de mandato impróprio. Seu funcionamento é em quase
tudo idêntico aos demais, exceto por uma circunstância, sua revogação é diferente.
O mandato público serve também para mandatos particulares, mas um mandato particular
nunca serve para atuar para um ato público. Para um mandato público, a sua revogação também
deve ser pública. Por exemplo, se o mandato de alguém comprar algo para mim é público, sua
revogação deve ser pública também. Mas veja bem, fiz mandato para que terceiro realizasse compra
e venda por mim. Mas depois desisti, e revoguei o mandato — fiz isso ontem, na hora que o cartório
estava fechando. Hoje de manhã, a pessoa assina uma compra e venda, dependendo de uma
revogação que eu assinei ontem, é válido? Sim. Porque a revogação que ainda não teve tempo de ter
publicidade eficiente não é eficaz. No caso do casamento não é assim.
O casamento por mandato precisa do documento que é público, na figura de mandato
impróprio e esse mandato pode ser revogado. Mas e se esse casamento está acontecendo no interior
de Portugal e o representante do noivo não sabe que esse mandato foi revogado? A celebração não
será válida, e o casamento será tido como inexistente. Por que isso? Porque aqui, ao contrário da
regra, a revogação não precisa ser eficaz para que ela tenha validade.
No direito de família as coisas funcionam diferente: casamento nulo feito por autoridade
incompetente pode convalescer se dele resultar registro; e um casamento feito com mandato
revogado, ainda que sem publicidade adequada, torna inexistente o ato jurídico, se não sobrevier
convivência dos nubentes (de maneira pouco ortodoxa, é como se o encontro sexual
convalidasse o ano anulável).

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7) PROVA DO CASAMENTO
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Como todo ato jurídico o casamento está sujeito à comprovação, pela necessidade de
demonstrar o estado civil. Mas como provar um casamento? O meio prioritário de prova se dá pela
certidão de casamento emitida no Registro Civil. Pode faltar, contudo, esse meio probatório.

Art. 1.543. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do registro.


Parágrafo único. Justificada a falta ou perda do registro civil, é admissível qualquer outra espécie de
prova.

Os artigos que se seguem falam de “casamento de pessoas na posse de estado de casadas”.

Art. 1.545. O casamento de pessoas que, na posse do estado de casadas, não possam manifestar
vontade, ou tenham falecido, não se pode contestar em prejuízo da prole comum, salvo mediante certidão
do Registro Civil que prove que já era casada alguma delas, quando contraiu o casamento impugnado.
Art. 1.547. Na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias, julgar-se-á pelo casamento, se os cônjuges,
cujo casamento se impugna, viverem ou tiverem vivido na posse do estado de casados.

O que é posse?
A exteriorização, que pela teoria da aparência vejo nos olhos de quem vê. É a posse de
Ihering, cuja teoria venceu a posse de Savigny no nosso ordenamento — a de Savigny era o corpus +
animus. Animus quer dizer alma, é o elemento subjetivo. Só que esse artigo e diz “posse de estado”.

E como tenho a posse de num estado?


A partir do momento que aos olhos de outras pessoas eu me comporto como tal, ou seja, me
comporto como se casado fosse. Percebam que pode haver um engano aqui.
Por exemplo, posso ter um vizinho de porta que vive com uma mulher. Conheço o vizinho,
mas o que eu sei sobre essa mulher? Que parece ser esposa dele. Contudo, para que essa posse de
estado se concretize, eu não posso apenas achar, mas a pessoa em questão tem que confirmar sua
intenção, a sua verdade.

Ou seja, a posse de Estado é uma concessão do direito brasileiro à posse de Savigny,


porque nesse caso não basta apenas o corpus, eu preciso do {corpus + animus}.
Caio Mário coloca três itens para que se comprove a posse de estado.
(1) Nome: ou seja, um trazer o nome do outro.
(2) Tratactus: tratar um ao outro como casal.
(3) Fama: ser tido na sociedade como tal.

O que o juiz vai procurar para confirmar a existência de uma família?


Ele tem que procurar um elemento objetivo. Por exemplo, para confirmar uma União Estável
no caso de alguém que ganhou na loteria, como distinguir um casal de namorados que mora juntos
de um casal em união estável fática? Tenho que ir atrás dos elementos objetivos, que estão no 22,
§3º, DEC-Lei 3.048/99. Devem ser levados pelo menos três dentre os presentes no rol:

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§ 3º Para comprovação do vínculo e da X - conta bancária conjunta;
dependência econômica, conforme o caso, devem XI - registro em associação de qualquer
ser apresentados no mínimo três dos natureza, onde conste o interessado como
seguintes documentos: dependente do segurado;
I - certidão de nascimento de filho havido XII - anotação constante de ficha ou livro de
em comum; registro de empregados;
II - certidão de casamento religioso; XIII - apólice de seguro da qual conste o
III - declaração do imposto de renda do segurado como instituidor do seguro e a pessoa
segurado, em que conste o interessado como seu interessada como sua beneficiária;
dependente; XIV - ficha de tratamento em instituição de
IV - disposições testamentária. assistência médica, da qual conste o segurado
VI - declaração especial feita perante como responsável;
tabelião; XV - escritura de compra e venda de imóvel
VII - prova de mesmo domicílio; pelo segurado em nome de dependente;
VIII - prova de encargos domésticos XVI - declaração de não emancipação do
evidentes e existência de sociedade ou comunhão dependente menor de vinte e um anos; ou
nos atos da vida civil; XVII - quaisquer outros que possam levar à
IX - procuração ou fiança reciprocamente convicção do fato a comprovar.
outorgada;

A lógica do direito civil é diferente da do direito previdenciário. O direito previdenciário


identifica os direitos a partir do dependência financeira, dessa forma ele anda na frente da
constituição da família, porque ele não fica procurando afeto ou vontade de um futuro comum. O
direito previdenciário foi o primeiro a reconhecer direitos numa união estável; chamo esse tipo de
situação de decisão de plano, em que aplico o direito num caso determinado. O direito
previdenciário foi alimentando um valor social que deu origem a uma decisão de fundo — como a
lei que autorizou o casamento homoafetivo.
Por fim.

Art. 1.546. Quando a prova da celebração legal do casamento resultar de processo judicial, o registro da
sentença no livro do Registro Civil produzirá, tanto no que toca aos cônjuges como no que respeita aos filhos,
todos os efeitos civis desde a data do casamento.
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8) CAPACIDADE PARA O CASAMENTO
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IDADE NÚBIL: 16.


É a idade em que as pessoas podem se casar. No direito brasileiro, como é ato para vida civil
pressupõe-se que a capacidade para os demais atos é a mesma capacidade que para os atos do
casamento. Como funciona? Tenho a faixa dos dos 16 aos 18.
✦Antes dos 16: sou incapaz. Casamento: excepcionalmente, vide autorização judicial.
Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil
(art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez.
✦Dos 16 aos 18: sou relativamente incapaz, preciso de representação. — casamento apenas
com autorização dos responsáveis.
✦Dos 18 em diante: capacidade civil plena.
Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos
os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil.
Parágrafo único. Se houver divergência entre os pais, aplica-se o disposto no parágrafo único do art. 1.631.
Para o menor na faixa de 16 e 17 anos, a autorização concedida é revogável a qualquer tempo
até o casamento, a do juiz também.
Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os pais ou tutores revogar a autorização.

E se um pai concorda e o outro não?


Precisamos então de intervenção judicial. No código de 1916 não tinha como um pai
autorizar e o outro não por essa ideia de unicidade do poder familiar se situava na figura do pai.
Contudo a partir do novo código o poder passou a ser de ambos os pais. Ou seja: precisa da
autorização de AMBOS.
Art. 1.631. Parágrafo único. Divergindo os pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a
qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo.
O juiz vai analisar esse caso como? O juiz vai avaliar a permissão dos dois pais, então vai
decidir se a negativa dos pais foi injusta ou não para decidir.
Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz.
Toda vez que o juiz atuar, em regra se aplica:
Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: III - de todos os que dependerem,
para casar, de suprimento judicial.

A jurisprudência aceita como justificativa para negativa:


i. Costumes desregrados ou mal procedimento do pretendente;
ii. Não ter aptidão para sustentar a família;
iii. Grave risco de saúde para incapaz.
iv. Rapto e condução à casa de tolerância (lupanar; casa de prostituição).
Essa obrigatoriedade será atenuada vide Súmula 377 STF: No regime de separação legal de bens,
comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.

Quem se casa entre os 16 e 18 anos, obtém no casamento a emancipação.


Quem casa antes dos 16? Não se emancipa, porque não completou a idade núbil, nesse caso
não há a maioridade e o infante deve permanecer na casa dos pais até os 16 anos, mesmo casado.
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9) IMPEDIMENTOS
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9.1 Permissões Especiais


A ninguém é dado o direito de interferir nos projetos de vida de outras pessoas, e o casamento
é um projeto de vida. No 1513 eu tenho o início dessa ideia:
Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida
instituída pela família.

Não se permite interferir na comunhão de vida instituída pela família, não sendo permitido
por exemplo ter um contrato de trabalho que te impeça de casar. Contudo, há aqueles que só
podem casar mediante autorização especial, e são dois os casos:
I. LEI 11.440/2006 - Art. 33-34: Diplomatas não podem se casar com pessoas estrangeiras,
exceto com expressa autorização do ministro das relações exteriores, sob pena de demissão.
II. LEI 6.880/1980 que diz respeito a militares de determinada patente, por exemplo os
cadetes, que não podem se casar com ninguém; e oficiais militares não podem se casar com
estrangeiros exceto com autorização do ministro da defesa.
Por que? Há um interesse público gritante na ocupação desses cargos.

OBS.: Há algumas outras profissões que geralmente não contratam casados, e há outras que
só aceitam casados, mas isso se dá por tradição, não havendo proibições, ou vedações expressas, vide
conformidade com o disposto no art. 1513. Por exemplo, mergulhadores de grandes profundidades
são tradicionalmente solteiros, miss não pode ser casada, e o AETQ , pessoa qualificada para lidar
com finanças, é comumente casado.

9.2 Impedimentos
Apesar do 1513, há aqueles que são impedidos de casar.
Dirimentes: interesses protegidos que podem ser públicos ou privados.

.1 IMPEDIMENTOS DIRIMENTES PÚBLICOS


São aqueles sobre os quais eu não posso negociar, não posso ultrapassar, estão elencados no
quadro. A consequência desse casamento é de que ele é NULO. Ou seja, se acontecer, vai causar
uma nulidade.
Art. 1.521. Não podem casar:
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; — o DEC-LEI
3200/1941 permite o casamento entre parentes colaterais em 3º grau desde que haja um exame pré-nupcial. Getúlio
Vargas, ideologia alinhada com fascismo, preocupações da época eram de eugenia, ou seja interessante evitar doenças
geneticamente transmissíveis. Esse decreto nunca foi revogado.
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte — Em ambos os casos, evidentemente doloso, e exige a condenação. E se for culposo? Aí pode.

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Pelo art. 1522, qualquer pessoa pode se opor apresentando algum desses impedimentos até o
casamento ser celebrado.
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: II - por infringência de impedimento.

Passado o casamento, só quem pode se manifestar é interessado, ou Ministério Público. Essa


oposição é feita em declaração assinada.
Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente,
pode ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público

.2 IMPEDIMENTOS DIRIMENTES PRIVADOS


Nesses casos do quadro a seguir, o casamento feito não é nem nulo nem anulável, mas gera a
mesma penalidade contida no Art. 1641, I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas
suspensivas da celebração do casamento; o regime obrigatório da separação de bens.

Art. 1.523. Não devem casar:


I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der
partilha aos herdeiros;
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do
começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal; — Turbatio Sanguinis: para evitar que houvesse dúvida quanto a
paternidade, presume-se a paternidade do falecido.
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal;
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa
tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. — esse
caso busca evitar um conflito de interesses.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas
previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro,
para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de
filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo.

No caso do 1523, as partes podem pedir ao juiz que não aplique a penalidade, demonstrando
que não houve prejuízo aos filhos ou a terceiros. A preocupação desse artigo é, por exemplo, uma
vez que exista um viúvo com filhos qual obrigação ele tem? Fazer a partilha dos bens, entregando a
meação do cônjuge falecido aos seus filhos, a lei tenta evitar que essa pessoa case de novo e leve esse
patrimônio que na verdade pertence aos seus filhos para um novo patrimônio, privando seus filhos
disso. Como se prova que não vai causar prejuÍzos? Provando que o falecido não deixou bem
nenhum, e isso se faz através de um inventário negativo, que na verdade é mera declaração daquele
cônjuge de que não existe patrimônio a ser inventariado (demonstração dada ao oficial é suficiente).

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10) PLANO DE VALIDADE DO CASAMENTO: INVALIDADES
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10.1 Casamento Inexistente


Ocorre somente a aparência do negócio jurídico, em casos onde exista a ausência de um
requisito essencial. Caio Mario traz dois: (1) falta de celebração, (2) ausência total de consentimento
e adicionamos um terceiro, (3) ausência da autoridade competente. Se o casamento inexistente
deixar rastro material, o direito deve se encarregar de normalizar a situação.

10.2 Invalidades
Para o direito de família, a teoria das nulidades de direito civil procede? NÃO.
Então como o ato jurídico do casamento sofre alguma invalidação?
Vamos começar pela análise do direito civil.
Teoria das nulidades do direito civil:
✦Ato Inexistente: não gera efeitos, porque é um ato que não ocorreu.
✦Ato Nulo: aquele com infringência dos impedimentos dirimentes, ou quando a solenidade
for ausente, portanto nula. Qual efeito de um ato nulo? Efeito zero, ou seja, efeito ex tunc.
✦ Ato anulável: gera efeitos, efeitos ex nunc — gerou efeitos até a anulação.
Já no direito de família os atos nulos, anuláveis e até mesmo inexistentes PODEM GERAR
EFEITOS SIM, fundamentados em outros princípios gerais de direito civil, como o principio da
boa-fé, da confiança e o princípio do não locupletamento.
Então como vou saber quando um ato sofreu efeito ou não? É argumentativo, assim tenho que
saber argumentar que baseado nesses princípios aquele ato gerou efeitos. Ou seja, até mesmo o
casamento nulo, em determinadas circunstâncias vira casamento. Sendo assim, é uma teoria das
nulidades completamente independente da apresentada pela Teoria Geral de Direito Civil.
CASAMENTO NULO CASAMENTO ANULÁVEL
Interesse público Interesse privado
Imprescritível Prescritível
Não cabe retificação Cabe retificação.

NULIDADES & ANULABILIDADES


Hipóteses destacáveis: (1) O art 1554 traz exceção: é o casamento nulo que vale, já
previsto no código. Diz respeito à incompetência em razão do local (rationi loci); ou por rationi
materiae. (2) Pessoa que revoga o mandato para o casamento antes do casamento mas ocorre a
celebração assim mesmo. Esse casamento é nulo, porque não se exige a eficácia. Por que? Pelo
direito de família, ainda que nulo, se os nubentes coabitarem ele é válido.
As anulabilidades se dão naqueles casos em que é possível uma correção do ato mantendo
assim a integridade do negócio jurídico — do casamento. Hipóteses: os casos gerais do art. 171, e
coação via art. 151 e 156.

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10.3 CASAMENTO ANULÁVEL

A) REGRA GERAL:
Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de ambos os
cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde
e a honra, sua ou de seus familiares.
OBS.: Não se admite o mero temor reverencial.
B) ERRO ESSENCIAL:
É a falsa ideação sobre aspectos importantes ou preponderantes do negócio jurídico.

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:


I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu
conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; — Erro quanto à boa fama: é a
estima social de que goza a pessoa.
Além disso, a jurisprudência aceita o débito conjugal. Homoafetividade do cônjuge em um
casamento heteroafetivos (e vice versa) pode ser erro essencial? Eu casei com uma pessoa acreditando que a
sua orientação sexual era uma, e descobri depois que na realidade é outra, é erro essencial em relação a pessoa? Não
existe nenhuma decisão nesse sentido, mas é plausível a persistência desse aspecto. Também se fala
em nubente estelionatário; perversão do instinto sexual (muito relativo, evidentemente nem toda
perversão é aceita pela outra parte, justificaria desde que aquela prática existisse antes do casamento
e foi ocultada); induzimento ao casamento pela afirmação de paternidade frente a gravidez da
mulher e posterior paternidade excluída por perícia; união inspirada por amigos com açodamento
das partes — comum em grupos muito fechados, especialmente grupos religiosos, o próprio grupo
força de alguma maneira esse casamento entre membros participantes; atividade de meretriz
anterior ao casamento; simulação de gravidez. Não são aceitos: crença religiosa, cônjuge que se
casa sem dar ouvidos a relatos desamoradores.
Requisitos:
1. Devem ser desconhecidos quando do casamento.
2. Devem ser anteriores ao casamento.
3. Devem afetar o cônjuge, não sendo cabíveis à sua família.
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida
conjugal; — Exceção: se o crime foi cometido por menor de 18 anos, tornando-o criminalmente inimputável não se
aperfeiçoa a hipótese legal (distinção demasiado legalista).
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável — como deformações genitais,
infantilismo ou gigantismo sexual; casos de impotência* coeundi, instrumental — que não caracterize deficiência ou
de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou
de sua descendência;

Legitimidade ad causam:
Texto do Art. 1.559.: Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode
demandar a anulação do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses
dos incisos III e IV do art. 1.557.

Prazos:
Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da celebração,
é de:
I - cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550; — incapaz que não manifestou consentimento.
II - dois anos, se incompetente a autoridade celebrante;
III - três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557;
IV - quatro anos, se houver coação.

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§ 1o Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o casamento dos menores de dezesseis anos,
contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa idade; e da data do casamento, para seus
representantes legais ou ascendentes.
§ 2o Na hipótese do inciso V do art. 1.550 — mandatário sem que ele ou o contraente soubesse da revogação do mandato
— , o prazo para anulação do casamento é de cento e oitenta dias, a partir da data em que o mandante
tiver conhecimento da celebração.

10.4 CASAMENTO PUTATIVO


É um dos casos de nulidade do casamento.
Putativo é o que parece mas não é. Ou seja, é um casamento que existiu, mas não existiu.
Quando isso pode acontecer? Principalmente quando o casamento ou união estável decorre de uma
formação de família em violação ao art. 1521, ou seja, as hipóteses de impedimento dirimente
público. A nulidade não é afetada pela boa-fé ou má-fé dos contraentes, isso porque o art. 1521 diz
respeito a um interesse público. Temos duas opções nesse casamento:
I. Todos estão cientes e então o casamento não vai se realizar; ambos estão de
boa fé — nesse caso, o casamento está nulo, como todo casamento feito em desrespeito ao
1521, de modo que vai gerar seus efeitos, de direito de família e sucessórios, para ambas as
partes até a data da declaração de nulidade. percebam: apesar do casamento ser nulo ele gerou
efeitos (nesse caso ele retroage ex tunc, ainda que pela teoria das nulidades fosse ex nunc).
II. Uma das partes sabia do impedimento, mas o ocultou, ou seja, um dos
cônjuges está de má-fé. Quando comprovada essa má-fé, para ele vai se operar uma
exceção jurídica. Em algumas situações, o princípio da reciprocidade é quebrado, e esse caso em
que o cônjuge está de má-fé é uma delas. Se ele precisar de alimentos, por exemplo, ele não
pode pedir para o cônjuge de boa fé, mas o de boa-fé pode pedir pra ele.

Dentro do direito de família e do direito sucessório esses direitos operam com um princípio
muito próprio que é o da reciprocidade. Esse princípio funciona assim: tenho uma relação
paterno-filial com uma pessoa e isso implica que essa pessoa tem a mesma relação comigo, dentro
do vínculo familiar temos os mesmos direitos um para com o outro, então se um dia eu estiver
necessidade e pedir alimentos de alguém eu só posso fazer isso de quem também pode pedir de
mim; o mesmo no direito sucessório, só posso herdar quem pode herdar de mim.

Tempo de duração desses direitos: permanecem nos cônjuges de boa fé até a


declaração. Para o cônjuge de má-fé não permanece direito nenhum.
O direito aos alimentos: permanece para o cônjuge de boa-fé mesmo depois da
declaração de nulidade e da constatação da má-fé. Evidentemente esses alimentos estão submetidos
a regras próprias (necessidade e possibilidade; não existe pagamento de alimentos como uma
punição civil).
OBS.: Alimentos compensatórios: me casei com uma mulher, ajudei ela a pagar sua faculdade,
ela se formou e se tornou uma advogada de grande sucesso; depois de 10 anos nos divorciamos. Lá
nos EUA há grande discricionariedade nessa situação, se eu ajudei ela nesse enriquecimento ela
deveria me pagar depois alimentos compensatórios, mas no direito brasileiro não.

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11) PLANO DE EFICÁCIA DO CASAMENTO: EFEITOS
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11.1 Efeito Social do Casamento


Fora o substrato biológico dos filhos que vem com o tempo, como instituição jurídica a
constituição de família é o primeiro grande efeito. Há uma alteração do estado civil da pessoa. Isso
significa que negociavelmente eu me apresento como fazendo parte de um patrimônio que pertence
a duas pessoas, me apresento agora fazendo parte de uma sociedade conjugal.
O que é sociedade em termos jurídicos? Quando uma ou mais pessoas unem esforços e
recursos para um fim comum. Tudo pertence à sociedade conjugal, não posso por exemplo vender
um imóvel sem anuência do meu cônjuge mesmo que ele tenha sido cedido a mim particularmente.

Eu vou alterar o estado civil de quem Está em união estável?


Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada
na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
Casamento e União Estável são iguais perante a lei, porque não existe hierarquia na formação de
família, então claro que sim, já que os efeitos são os mesmos. Então toda vez que uma pessoa for
vender um imóvel ela tem que declarar-se solteira — e se tiver união estável mas não for
documentado? Deve fazer prova para gerar efeitos perante terceiros, a união estável é 90% fato e
10% contrato. Contudo, há parte da doutrina que diz que ‘companheiro’ não é estado civil, coisa
que Nacif não concorda, porque é formalizar uma situação que na verdade é instrumental. Essa parte
da doutrina não se atém à finalidade e a instrumentalizado do estado civil, uma vez que ser
companheiro altera a condição negocial da pessoa, visto que os efeitos patrimoniais da união estável
e do casamento são os mesmos.
I. Gera uma presunção de paternidade:
Quando sou casado, se maternidade é um fato médico, paternidade é uma presunção jurídica.
Todo filho nascido da minha mulher, pressupõe-se ser meu.
III. Criação de um vínculo de afinidade:
Forma de parentesco estabelecida entre o cônjuge e os parentes em linha reta (ascendente,
descendente) e colateral de segundo grau do cônjuge.

11.2 Efeito Pessoal do Casamento


Num campo mais modesto, das núpcias originam consequências pessoaIs. Se pensar em
tradição, a família se organizava verticalmente, e o detentor do poder familiar era o pater famílias. Por
óbvio, a historia mais recente aponta para o sentido da horizontalização. E os direitos e deveres
(que para Nacif no contexto atual são obsoletos) referentes à sociedade conjugal são exercidos pelo
homem e pela mulher, um para com o outro (CRFB, 226, §5º). Nesse sentido:

Adoção voluntária de sobrenome:


Os dois podem receber o sobrenome um do outro, em qualquer ordem, e qualquer dos
sobrenomes; essa já é uma evolução legal, uma vez que o sobrenome foi por muito tempo uma certa
imposição à esposa, no qual o marido tinha uma afirmação do seu poder marital — o 1º preceito
normativo nesse sentido surgiu na França em 1555, se referia aos privilégios da nobreza, e à

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regulamentação do direito ao nome e às armas. No CCB/1916 pelo casamento a mulher assumia “com
os apelidos do marido condição de companheira”.
Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes,
companheiros e responsáveis pelos encargos da família. — entra também outro instituto que é o da
paternidade responsável.
§ 1o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro.
§ 2o O planejamento familiar — quantos filhos eu quero ter, e quando (principalmente) — é de livre decisão
do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito,
vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas.

Planejamento Familiar:
- Direção conjunta da família com administração dos bens.
Essa direção da sociedade conjugal traz o poder familiar, que é aquela possibilidade de
emancipação dos filhos, que antes era só do pai, passou a ser do pai ou da mãe, e hoje pertence aos
dois.
- Cooperação.
Suporte moral e material, e assistência que tem o caráter marcadamente econômico, que será
substituído pelos alimentos ao fim da sociedade conjugal, devendo ao cônjuge que tem necessidade
exigi-lo daquele que tem possibilidade.
Art. 1.570. Se qualquer dos cônjuges estiver em lugar remoto ou não sabido, encarcerado por mais de
cento e oitenta dias, interditado judicialmente ou privado, episodicamente, de consciência, em virtude de
enfermidade ou de acidente, o outro exercerá com exclusividade a direção da família, cabendo-lhe a
administração dos bens.

Mas e os tais deveres matrimoniais?


Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
I - fidelidade recíproca; — para Kant, fidelidade é a posse exclusiva das faculdades sexuais; outros autores
colocam inclusive a fidelidade no âmbito do desejo), atualmente a fidelidade exigida é aquela acordada entre as partes.
Até a Lei 6.515/1977 o divórcio era proibido, mas para você se separar era exigido que uma
das partes fosse culpada por aquela situação, porque não cabia a ideia de que um casamento poderia
acabar, por exemplo, por falta de amor. Culpa, na cultura católica é importante. A separação era o
fim da sociedade conjugal (dividia os bens), e o divórcio era o fim do vínculo matrimonial — e para
haver a incidência de culpa eu deveria estabelecer em lei os deveres a ser cumpridos.
EC-66/2010: mudou o art. 226, §6º. O casamento civil pode ser separado pelo divórcio. Foi o
ponto que a doutrina queria para eliminar do ordenamento brasileiro a questão da culpa, porque
essa culpa não é uma questão ética, é uma questão moral. Como a emenda afastou a necessidade da
separação, não temos mais que falar em culpa. Contudo, ao eliminar a culpa eu tenho que jogar ao
limbo os deveres do art. 1566; a doutrina se desenvolveu nesse caso mais rápido que a
jurisprudência, e hoje a maioria dos tribunais não mais admite discutir culpa. O código civil ainda fala em
separação, e ela existe, mas não é mais um caminho obrigatório para o divórcio.
II - vida em comum, no domicílio conjugal; — não há mais a exigência de morar na mesma casa para que
você constitua uma família. *
* Art. 1.569. O domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas um e outro podem ausentar-se
do domicílio conjugal para atender a encargos públicos, ao exercício de sua profissão, ou a interesses particulares
relevantes. — a fixação de domicílio é um dos efeitos, domicílio é onde tenho meu centro de interesse, voto, recebo, pago

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impostos) do casal. Quem estabelecia o domicílio do casal era o chefe de família, ou seja o marido. Evidentemente com
o principio da isonomia conjugal o domicílio do casal será estipulado pelo casal.
III - mútua assistência; — contribuir e atender uma pessoa a outra.
IV - sustento, guarda e educação dos filhos; — não é um dever como casal, mas de ser pai e mãe.
V - respeito e consideração mútuos.

11.3 Efeito Patrimonial do Casamento


Diretriz: esforço comum entre os cônjuges. Ao casar, juntam recursos e esforços para um
determinado fim, formando uma sociedade conjugal, e assim se tornando sócio de uma outra
pessoa através desse contrato social, que vai ditar as regras dessa sociedade. Por isso, ao fazer essa
sociedade conjugal devo estipular um regime patrimonial, que chamamos de regimes de bens.
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12) REGIME DE BENS
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Quanto ao seu objeto, há duas classes de regimes de bens: comunitários e não comunitários.

COMUNITÁRIOS NÃO COMUNITÁRIOS


Regime de Comunhão Parcial de Bens Regime de Separação de Bens
Regime de Comunhão Universal de Bens Regime de Partilha Final dos Aquestos
TEM PATRIMÔNIO COMUM,
NÃO TEM PATRIMÔNIO COMUM
PODE TER PATRIMÔNIOS PARTICULARES

Para evitar mais uma burocracia, houve uma estipulação standard do que seria o Regime
Legal, ou seja, se eu antes do casamento não optar por fazer nenhum desses, estarei
automaticamente enquadrado no Regime da Comunhão Parcial de Bens. Esse regime mudou com a
lei 6.515/77 que é a lei do divórcio, antes dessa lei o regime legal era o da comunhão universal.
Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os
cônjuges, o regime da comunhão parcial.
Além disso, tenho algumas situações em que terei o regime obrigatório, ou compulsório,
naqueles casos de pessoas que precisam do suprimento judicial para se casar, tendo que se casar pelo
regime da separação de bens — Maiores de 70 anos devem se casar pela separação de bens também — assim,
o Regime de Separação de Bens pode se dar dois tipos: obrigatório ou convencional.

Mas qual a necessidade da estipulação e adoção de um regime de bens?


“O matrimônio cria para os cônjuges relações patrimoniais especialmente objetivadas no
direito sucessório, nos regimes matrimoniais e nas doações recíprocas. Os efeitos patrimoniais, em
última análise, condizem com o regime de bens adotado. Quanto ao seu objeto, do regime de bens
pode resultara comunicação, total ou parcial dos haveres dos cônjuges, ou sua separação. Não se
pode conceber um casamento sem regime de bens.
Os regimes de bens constituem os princípios jurídicos que disciplinam as relações econômicas
entre os cônjuges, na constância do matrimônio, ou, pela definição de Roguin “Um conjunto de
regras determinando as relações pecuniárias que resultam do casamento”. ” Caio Mário
Três princípios fundamentais informam esse sistema: liberdade de escolha (do regime que
quiserem), variabilidade (o ordem jurídica deve dar mais de uma opção, e aceitar o escolhido) e
mutabilidade (inserida no código de 2002, admitindo a mudança de regime no curso do
casamento desde cumpridos os requisitos legais).

Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que
lhes aprouver.
§ 1o O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento.
§ 2o É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos
os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.

Nesse diapasão, a escolha de regime de bens opera-se por meio da celebração de um negócio
jurídico especial e solene, denominado pacto antenupcial.

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12.1 PACTO ANTENUPCIAL

Art. 1.640. Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos
regimes que este
código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto
antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas.

É contrato em que os cônjuges estipulam um regime de bens diverso do legal, podendo


escolher qualquer uma das fattispecies contidas no código civil. Posso criar as regras que julgar
conveniente, nclusive punições, desde que as cláusulas não infrinjam os princípios direito (gerais e
cíveis) — Obs.: Alguns pactos antenupciais ficaram muito famosos, como o do Alexandre Pato e da
Stephane Britto; esses pactos, em regra, são sigilosos e por isso não viram jurisprudência.
Caio Mario afirma ser lícito aos nubentes fazer estipulações acerca do regime de bens, mas
subordinada sua validade a dois requisitos:
(1) indispensável adoção de forma pública do instrumento, exigida ad substantiam;
(2) como é um pacto antenupcial, não tem validade se o casamento se lhe não seguir
(condição suspensiva). Assim concluímos: o pacto ante-nupcial tem que ser obrigatoriamente
feito por instrumento público, não que seja defeituoso caso contrário, mas só assim terá efeitos
erga omnes.
Como? Ele é dirigido ao processo de habilitação, já na lavratura do termo após a celebração,
vem na certidão de casamento obrigatoriamente qual é o regime de bens. Tanto o pacto quanto a
certidão são registrados no livro 3, o Registro Auxiliar do Registro de Imóveis. Obs.: a habilitação, e
a certidão de casamento são registradas e emitidas pelo RCPN ➡ uma vez emitida essa certidão,
deve ser feito o registro no Cartório de Registro de Imóveis, no livro 3 (registro auxiliar) ➡ uma vez
registrado no livro 3, se houver imóveis, é feita averbação no livro 2, correspondente ao Registro
Geral (matrículas).
Art. 1.653. É nulo o pacto antenupcial se não for feito por escritura pública, e ineficaz se não lhe seguir o
casamento.
Art. 1.657. As convenções antenupciais não terão efeito perante terceiros senão depois de registradas, em
livro especial, pelo oficial do Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges.
Embora o regime de comunhão parcial não dependa de estipulação, o cônjuge que trouxer
para o casamento valores que pretende preservar deverá precaver-se, por via de escritura
antenupcial devidamente formalizada, como instrumento probatório dos valores que não se
comunicam.
Qual é a natureza jurídica do pacto antenupcial?
É um negócio jurídico solene, inequivocamente contratual, condicionado ao casamento, e por
ele as partes escolhem o regime que lhe convir, vide princípio da autonomia privada. As partes tem
tanta liberdade para tal que podem conciliar regras de regimes diversos em um tipo de hibridismo,
ainda que a prática seja incomum.
O pacto antenupcial é acessório ao casamento, anulando-se o casamento, invalida-se o pacto,
mas o contrário não acontece. Segundo Caio Mario, enquanto subsistir o matrimônio é irrevogável.
Pode ser feito por menor?
Sim, pode, desde que assistido pelo detentor do poder familiar. É válido, porém sem eficácia.

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Art. 1.654. A eficácia do pacto antenupcial, realizado por menor, fica condicionada à aprovação de seu
representante legal, salvo as hipóteses de regime obrigatório de separação de bens.

! Por óbvio, a eficácia do pacto vai se dar a partir do casamento.


Termo a quo: a data do casamento;
Termo ad quem: fim da sociedade conjugal, se dá pela separação (CCB 1649 §1º).

SITUAÇÕES:
1ª - Não fez o pacto ante-nupcial e o registrador resolveu colocar comunhão universal:
resultado, o casamento é celebrado por regime legal.
2ª - Sim tem um pacto, que está no processo de habilitação, mas o lavrador esqueceu de
registrar na certidão de casamento: o que vale é o pacto, então posso pedir para o juiz mudar o
registro dizendo que houve esse erro material, e desde que ele faça parte do processo de habilitação
pode ser feita essa correção mediante decisão judicial.

12.2 REGIME DA SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE BENS


Há situações em que a lei impõe a o Regime de Separação de Bens.

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos;

Essa norma não é uma norma restritiva de direitos, deve ser encarada como uma norma
protetiva. Para entender essa proteção, vamos falar de Kierkegaard: o filósofo dinamarquês
escreveu sobre a angústia humana, da qual traçou a evolução do ser humano, dividindo isso em três
estádios da vida: (1) somos seres estéticos, pautando a vida pelos interesses do belo, do bom, o
que vai ao encontro do princípio do prazer de Freud; a partir de determinado período da vida das
pessoas elas percebem certas responsabilidades, não podendo viver apenas pelo lúdico do belo,
devendo se portar de maneira conforme ao esperado pela sociedade, e assim passamos a seres
éticos (2); mas no momento que o ser humano encara a possibilidade real da morte ele transforma
sua vida, e nesse momento tem duas opções, ele pode se revoltar com isso e regredir a etapa estética,
ou pode aceitar essa situação e fazer as pazes com a vida que viveu, se tornando um ser religioso
(3). Pense na situação de homem de 70 anos pós viuvado, ele tem uma tendência à frustração, e assim retroagir para a
etapa estética, e por isso, há essa medida protetiva acerca dos bens pelos quais trabalhou por quase toda a vida.
Há posição doutrinária como a de Caio Mario, que é contrária a norma, e a taxa como um
atentado contra a liberdade individual. Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona também discordam
veementemente, alegando que a preocupação com um “golpe do baú” não convence, além de ser
uma violência ao princípio da isonomia, e até mesmo da dignidade humana, uma vez que o idoso é
maior e capaz. Esses (assim como Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald) alegam que apesar de boa
intenção legislativa, é flagrada inconstitucionalidade nesse inciso. NACIF DISCORDA.
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.
Por conta do contra-argumento mencionado, e pelo fato de que como o regime obrigatório
era um regime que atingia pessoas que precisavam de autorização judicial para casar, assim acabava
lidando com pessoas muito no início da vida, para mitigar a aridez do dispositivo 1641, e para evitar
o enriquecimento sem causa por parte de um dos cônjuges, o STF emitiu a Súmula 377: No regime de
separação legal de bens comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.

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Essa se dirige aos bens adquiridos pelos esforços comuns, independente de prova desses
esforços. Nessa linha de intelecção, concluímos que por força dessa súmula a separação obrigatória
é muito mais próxima da comunhão parcial do que da separação convencional de bens, é o que
S&P chamam de “conversão jurisprudencial forçada do regime de separação em comunhão parcial
de bens”.

12-A REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS


O direito brasileiro disciplina como regime de comunhão parcial de bens o que Teixeira de
Freitas, adequadamente denominava “regime misto”, e que segundo Caio Mario poderia se chamar
de “comunhão de aquestos” (a palavra aquestos significa ‘que foi adquirido na vigência do
matrimônio’). Esse regime também é chamado de “Regime Legal Supletivo”, ou apenas “Regime
Legal”, uma vez que não havendo pacto antenupcial válido, é o regime adotado como regra, vide
supra.
É da sua essência que os bens que cada um dos cônjuges trouxer para o casamento
permaneçam como de sua propriedade exclusiva. Os que forem adquiridos na constância do
casamento constituem bens comuns, for mando patrimônio pertencente a ambos
indiscriminadamente. Genericamente, é como se houvesse uma separação do passado e uma
comunhão do futuro. A comunicabilidade desse regime não é absoluta.
Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na
constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes.

Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: Art. 1.660. Entram na comunhão:


I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os I - os bens adquiridos na constância do
que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por casamento por título oneroso, ainda que só em nome de
doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; um dos cônjuges;
II - os bens adquiridos com valores II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou
exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub- sem o concurso de trabalho ou despesa anterior;
rogação dos bens particulares; III - os bens adquiridos por doação, herança ou
III - as obrigações anteriores ao casamento; legado, em favor de ambos os cônjuges;
IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, IV - as benfeitorias em bens particulares de cada
salvo reversão em proveito do casal; cônjuge;
V - os bens de uso pessoal, os livros e V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares
instrumentos de profissão; de cada cônjuge, percebidos na constância do
VI - os proventos do trabalho pessoal de cada casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a
cônjuge; comunhão.
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras Art. 1.661. São incomunicáveis os bens cuja
rendas semelhantes. aquisição tiver por título uma causa anterior ao
Essa comunhão representa uma intersecção. E o casamento.
que é individual de cada um? Os bens onerosamente Art. 1.662. No regime da comunhão parcial,
presumem-se adquiridos na constância do casamento os
adquiridos antes do casamento, e os bens adquiridos bens móveis, quando não se provar que o foram em data
gratuitamente antes ou depois. anterior.
Art. 1.663. A administração do patrimônio
Nesse caso, para vender um bem, ainda que comum compete a qualquer dos cônjuges.
particular, preciso da anuência do cônjuge (ou seja, da § 1o As dívidas contraídas no exercício da
outorga uxória/marital/conjugal). Essa anuência pode administração obrigam os bens comuns e particulares do
ser suprida por concessão judicial; esse dinheiro cônjuge que os administra, e os do outro na razão do
proveito que houver auferido.
adquirido passa a ser do casal? Não, segue particular § 2o A anuência de ambos os cônjuges é
porque há uma sub-rogação, inclusive as aplicações do necessária para os atos, a título gratuito, que impliquem
dinheiro adquirido na venda, como a compra de um cessão do uso ou gozo dos bens comuns.
apartamento, vai seguir sendo só dela (exceto se houver § 3o Em caso de malversação dos bens, o juiz
poderá atribuir a administração a apenas um dos
comunicabilidade de recursos do outro cônjuge, aí divide cônjuges.
essa diferença em 50%).

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É um tipo comunitário, implicando que existe um patrimônio comum. Caracteriza-se pela
comunicação de determinados bens e valores, e pela exclusão de outros. Em suma, o que há dentro
desse patrimônio comum é principalmente os bens adquiridos onerosamente durante o
casamento (ou união estável). Essa comunhão representa uma intersecção.
E o que é individual de cada um?
Os bens onerosamente adquiridos antes do casamento, e os bens adquiridos gratuitamente
antes ou depois, ou seja, aqueles recebidos por doação ou herança, e os sub-rogados em seu lugar.
Também se excluem aqueles recebidos como legados, independente do autor da herança em
cláusula testamentária.
Cada um dos cônjuges responde pelas dívidas contraídas anteriormente ao casamento
também. Sobre o 1659, V, um exemplo seria de livros e instrumentos de trabalho, e até mesmo
instrumentos de manifestação artística, roupas, direitos autorais, montepio, todos de cunho pessoal,
o princípio de comunhão não pode despersonalizar descaracterizar a individualidade humana.
Observe, direito ao salário não integra o regime de comunhão parcial de bens, mas os bens
comprados com esses valores, sim intgra, e caso esse valor seja aplicado em poupança, previdência
privada, investimentos, os rendimentos são comunicáveis, isso porque é contra legem divisão de
crédito trabalhista, que é direito pessoal e exclusivo. Jurisprudencialmente essa questão é
controversa, e o entendimento do STJ tem sido de que uma vez recebida a contraprestação do labor
de casa um, ela se comunica (por exemplo, do cônjuge que trabalha na manutenção do lar).

Art. 1.664. Os bens da comunhão respondem pelas obrigações contraídas pelo marido ou pela mulher
para atender aos encargos da família, às despesas de administração e às decorrentes de imposição legal.
Art. 1.665. A administração e a disposição dos bens constitutivos do patrimônio particular competem ao
cônjuge proprietário, salvo convenção diversa em pacto antenupcial.
Art. 1.666. As dívidas, contraídas por qualquer dos cônjuges na administração de seus bens particulares e
em benefício destes, não obrigam os bens comuns.

12-B REGIME DE COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS


Esse regime tende a unicidade patrimonial. Assim, salvo as exceções legais ocorre uma fusão
do patrimônio anterior dos cônjuges, assim como a comunicabilidade dos bens avisos durante o
casamento. Era o regime legal até a lei do divórcio, adotado desde o costume do Reino, e na vida
familiar a consideração de outro regime era até considerada desairosa. É vedado a um ou a outro se
apossar de qualquer bem, privando o consorte de sua utilização. A comunhão universal termina:
pela morte, anulação do casamento, separação judicial, divórcio.
O STJ tem sido unânime em reconhecer a indenização trabalhistas-mo integrante a
comunhão por corresponder a direitos adquiridos durante o tempo do casamento sob esse regime,
os proventos só serão particulares dentro da necessidade de proporcionar subsistência imediata ao
titular, as verbas excedentes integram patrimônio comum do casal. Toda incomunicabilidade
enumerada por lei não se extende aos frutos percebidos durante o casamento (art. 1669).
Comunicam-se todos os bens adquiridos gratuitamente ou onerosamente antes ou durante o
casamento. Conforme Caio Mario, é uma forma de aquisição de propriedade. Os bens particulares
existem definidos pela pessoa do doador, e só a partir de transferências gratuitas. Assim, serão bens
particulares aqueles recebidos gratuitamente, antes ou durante o casamento, desde que gravados
com a cláusula da incomunicabilidade e cláusula de inalienabilidade (visto que a cláusula de

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inalienabilidade contém a impenhorabilidade e a incomunicabilidade), exclusividade de uma
transferência gratuita, ou seja, por doação ou por testamento.

Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a comunicação de todos os bens presentes e futuros
dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do artigo seguinte.
Art. 1.668. São excluídos da comunhão:
I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar;
II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição
suspensiva;
III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem
em proveito comum;
IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade;
V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.

12-C REGIME DE SEPARAÇÃO (CONVENCIONAL) DE BENS


Convencional ou contratual, também chamado por Caio Mario de regime da separação pura,
guarda íntima conexão com o princípio da autonomia privada, sem prejuízo do reconhecimento da
formação de uma família. Sua premissa é a incomunicabilidade dos bens, anteriores e posteriores ao
casamento.
Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva de cada um
dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real.
Art. 1.688. Ambos os cônjuges são obrigados a contribuir para as despesas do casal na proporção dos
rendimentos de seu trabalho e de seus bens, salvo estipulação em contrário no pacto antenupcial.
Na separação de bens, ao me casar eu vou negar a formação de sociedade conjugal, de modo
que vou ter dois patrimônios completamente independentes um do outro, cada qual pode
administrar e vendar cada um de seus bens, independente de perguntar para seu cônjuge. Podem
livremente, alienar ou gravar de ônus real os seus bens, inclusive imóveis, permanecendo sobre
administração exclusiva de cada um.
Como uma sociedade conjugal se finda? Separação, divórcio ou morte — se comprarem juntos
uma casa na praia, por exemplo, a mulher pagar 60% e o homem pagar 40% do valor, então haverá um condomínio,
no qual cada um terá para si sua fração ideal correspondente ao capital investido. Se houver divórcio ou
separação não há que se falar em meação, uma vez que neste regime existirá inequívoca
independência patrimonial. Mas e se um cônjuge morrer, e não tiver descendentes nem
antecedentes? Quem vai herdar é o outro cônjuge, não havendo previsão de ultravidade do regime
patrimonial, inapto a emprestar eficácia póstuma, pois diz respeito apenas ao curso do casamento.

Regra.1.: o fim da sociedade conjugal por separação implica em que cada cônjuge receberá
o patrimônio que levou para o casamento.
Regra.2: o regime de bens não tem influência sobre o direito sucessório, mas somente para o
fim da sociedade pelas causas do direito de família (separação e divórcio).

OBS.: Atenção!
Caio Mario ressalta que as regras dos artigos 1643 e 1644 INDEPENDEM do tipo de regime.
Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro:
I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir.
Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo antecedente obrigam solidariamente ambos os
cônjuges.

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12-D REGIME DE PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS
Esse regime foi introduzido no código de 2002, como opção objeto de pacto antenupcial. A
doutrina aparenta certa resistência a esse regime é sua falta de amparo na tradição brasileira,
também por ser dotado de intrínseca complexidade, e acaba acarretando em inconveniências. É um
regime europeu, tendo sua origem histórica contextualizada no direito costumeiro Húngaro, e sendo
adotado posteriormente pelos países escandinavos; é o regime supletivo na Alemanha; depois foi
inserido no código Francês sob uma nova forma. Sua recepção no ordenamento brasileiro é sob a
face de um regime híbrido, com características ora de separação, ora de comunhão parcial de bens.

Art. 1.672. No regime de participação final nos aqüestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio,
consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à
metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento.
Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía ao casar e os por ele
adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento.
Parágrafo único. A administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge, que os poderá livremente
alienar, se forem móveis.

Para esse regime durante o casamento o cônjuge possui patrimônio próprio e administração
exclusiva dos seus bens, cabendo-lhes apenas à época de dissolução conjugal a meação sobre os
bens, visando nessa situação consagrar um regime de compensação, para evitar locupletamento de
um às custas do outro, porém aqui cabe exigência de “valor equivalente”, ou seja, não se forma uma
massa a ser partilhada, o direito de meação se relaciona com um direito de crédito. Além disso, há
exigência de autorização conjugal para a prática de determinados atos no curso do casamento.

Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o montante dos aqüestos,
excluindo-se da soma dos patrimônios próprios:
I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram;
II - os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade;
III - as dívidas relativas a esses bens.
Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos durante o casamento os bens móveis.
Art. 1.675. Ao determinar-se o montante dos aqüestos, computar-se-á o valor das doações feitas por um
dos cônjuges, sem a necessária autorização do outro; nesse caso, o bem poderá ser reivindicado pelo
cônjuge prejudicado ou por seus herdeiros, ou declarado no monte partilhável, por valor equivalente ao da
época da dissolução.
! Os artigos 1.676 - 1.684 dizem respeito às minúcias de como será feita a meação.

Caio Mario critica ao afirmar que o legislador ao buscar subsídios na Doutrina Estrangeira,
quis trazer experiência internacional não coerente com a estrutura econômica do país, onde, por
mais otimistas que sejam os discursos oficiais, vivemos o fantasma da inflação, a qual será sempre o
vilão das partilhas de bens neste novo regime matrimonial.

OBS.1: O direito a meação não é renunciável. (1.682)


OBS.2: A dissolução da sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges não altera o critério de
participação nos aquestos. (1.685)
OBS.3: as dívidas maiores que o valor da meação não obrigam o outro, ou herdeiro. (1.688)

No nosso regime, ele se encaixa como não unitário, ou seja, não há a criação de um
patrimônio comum, permanecendo cada cônjuge na administração do seu patrimônio, que
aumentará com as aquisições gratuitas ou onerosas durante a sociedade conjugal. Seu desenho
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gráfico é conforme o da separação de bens. Mas aqui nasce ao final da sociedade conjugal, por
separação ou divórcio, para o outro cônjuge o já mencionado direito de crédito sobre a metade dos
bens adquiridos onerosamente pelo outro cônjuge, e vice versa.

Exemplo em sala: João entrou no casamento com um patrimônio de 400k, casou-se com
Maria, que entrou no casamento com 200k. Durante o casamento João ganhou gratuitamente
herança e doação dos pais no valor de 600k, e Maria ganhou gratuitamente 200k. Só que Maria
ganhava bem mais do que João, e ao longo do casamento investiu em um bem no valor de 1K,
enquanto João que não ganhava tanto assim adquiriu onerosamente um bem de 400k.
Como é feita a meação nessa participação final dos aquestos? Joao teria para o patrimônio de maria
direito a 500k, enquanto Maria teria direito a 200k do patrimônio de João. Ou seja, na diferença
temos {500-200 = }300k, que é o valor que Maria deve dar para João; seja em bens, seja via
apreciação pecuniária (dinheiro) — ela pode entrar em acordo e entregar bem que ela quiser,
porque não nasce para João direito sobre nenhum dos bens de Maria, o que nasce para ele é direito
de crédito de 300k, que preferencialmente se satisfaz em dinheiro.

Se assemelha à comunhão parcial por existir um direito de crédito (não direito ao bem)
equivalente a metade dos bens, quitado em dinheiro ou pela entrega de um ou mais bens no valor
equivalente e em comum acordo. A administração dos bens pertence ao cônjuge proprietário
que deverá obter a outorga do outro cônjuge em caso de alienação, exceto no caso de haver
previsão no pacto ante-nupcial de que os cônjuges poderão livremente alienar os seus bens sem a
interveniência do outro.

QUADRO RESUMO DOS EFEITOS:


✦ Dois patrimônios particulares independentes, administração e alienação pelas partes (1673

p. único) e sem outorga (1656).


✦ Direito à metade dos bens adquiridos onerosamente apurados até o dia que cessou a

convivência do casal (1672 e 2683)


✦ Patrimônio próprio igual ao regime da separação (1673). Os bens imóveis pertencem

àquele cujo nome se encontra no registro (1681).


✦ No divórcio, divisão feita pela demonstração matemática financeira, vide exemplo (1674).

12.3 REGIME DOTAL


É aquele em que os pais doavam aos filhos bens para que começassem a vida; essa ideia vem
do dote, historicamente oferecido, tradicionalmente pela família da mulher para o marido em prol
do casamento (apesar de poder ser oferecido por qualquer das duas famílias e ser dedicado, em tese,
ao filho não ao cônjuge).

12.4 CONSEQUÊNCIAS NEGOCIAIS DOS REGIMES DE BENS


Independentemente do regime de bens podem os cônjuges:
Praticar atos de disposição e administração da profissão; administrar os próprios bens, exceto
aliená-los; reaver os bens onerados ou alienados sem o seu consentimento, ou suprimento judicial;
rescindir contrato de fiança e doação; ou invalidar aval dado por somente um cônjuge; reivindicar
os bens comuns doados ou transferidos ao concubino do outro cônjuge; praticar todos os atos não
expressamente vedados.
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Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente:
I - praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão, com
as limitações estabelecida no inciso I do art. 1.647;
II - administrar os bens próprios;
III - desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou alienados sem o seu consentimento
ou sem suprimento judicial;
IV - demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo outro
cônjuge com infração do disposto nos incisos III e IV do art. 1.647;
V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao
concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal
estiver separado de fato por mais de cinco anos;
VI - praticar todos os atos que não lhes forem vedados expressamente.

Art. 1.645. As ações fundadas nos incisos III, IV e V do art. 1.642 competem ao cônjuge prejudicado e a
seus herdeiros.
Art. 1.646. No caso dos incisos III e IV do art. 1.642, o terceiro, prejudicado com a sentença favorável ao
autor, terá direito regressivo contra o cônjuge, que realizou o negócio jurídico, ou seus herdeiros.

Não podem, independente do regime, sem autorização do outro:


Alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; pleitear como autor ou réu os bens imóveis;
prestar fiança ou aval; fazer doações que não sejam remuneratórias de bens comuns, ou dos que
possam integrar futura meação. Exceção: regime da separação de bens; e no regime da
participação dos aquestos se houver estipulação em pacto antenupcial.
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro,
exceto no regime da separação absoluta:
Art. 1.656. No pacto antenupcial, que adotar o regime de participação final nos aqüestos, poder-se-á
convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares.

REGRA GERAL: em todos os regimes eu sou obrigado especialmente a fiança, aval,


alienação de bens imóveis e participar como autor ou réu de ações que envolvam bem imóvel ainda que
seja bem particular. Exceção: regime da separação.

12.5 CAUSA AQUISITIVA


Dentro do regime de bens, não pode faltar trazer uma ideia muito importante, chamada causa
aquisitiva. Como funciona?
Toda vez que vou precisar o direito do cônjuges sobre determinado bem, eu vou ter que
procurar primeiro qual a causa aquisitiva daquele bem. Então, no por exemplo, se as pessoas forem
casadas pela comunhão universal de bens, todos os bens se comunicam, e a exceção é a cláusula de
incomunicabilidade em transmissão gratuita (doação, testamento), e nos exemplos dos de sub-
rogação real.

Exemplo.1: uma pessoa se casou pelo regime de comunhão parcial, e antes desse casamento
havia adquirido um casamento. Daí ela se casa, e troca depois esse apartamento por um de 300 mil
reais, então teve que vender o primeiro pra comprar o segundo. Qual vai ser o caráter jurídico desse
novo apartamento? Esses 200k se sub-rogam, e causa aquisitiva desse apartamento que é comum é a
diferença, de 100k; então esse apartamento vai ser 66,66% bem particular, e os outros 33,33%
como bem comum. Se eventualmente eles vierem a se separar, a parte que sofre meação é apenas a
parte que é bem comum, ou seja, de 100k seriam 50k dela e 50k dele. Se ela falecer, e não tiver
filhos e nem pais, então fica tudo para o marido (mesmo que tenha irmãos).

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Exemplo.2: João e Maria vão se casar num sábado meio dia. Jõao compra um bilhete de
loteria na quinta-feira. Domingo sai a notícia de que ele ganhou na mega-sena. A causa aquisitiva se
deu quando, na compra do bilhete ou no sorteio? Comprar o bilhete não garante nada, porque é a
partir do sorteio que ele ganhou na loteria. Se comunica? A causa aquisitiva se deu DEPOIS da
formação da sociedade conjugal, então comunica-se. Agora, se João ganhou o sorteio na sexta,
casou no sábado, mas só se deu conta que ganhou lá pra quarta feira, é comunicável? Não, porque a
causa aquisitiva se deu ANTES do termo a quo do casamento. E se, voltando para a situação inicial,
ele comprou sexta, casou sábado, foi sorteado domingo, e querendo o prêmio apenas para si,
divorciou-se na quarta, e buscou o prêmio em seguida? Ele tem que dividir o prémio, porque a
causa aquisitiva se deu depois de formada a sociedade conjugal, esse divórcio se deu de má-fé.

OBS.: Antes você não achava no código civil a palavra meação.


Meação é uma construção jurisprudencial de depois do código de 2002, o que acontecia?
Vinham muitos imigrantes com a característica de virem de uma cultura em que o standard era o
regime de separação de bens. Muitos desses imigrantes dedicavam-se ao comércio, e as esposas
auxiliavam na manutenção, ou num restaurante que o homem vende cozinhando por exemplo, mas
os bens normalmente ficavam apenas no nome do homem, e em caso de separação, a mulher ficava
sem nada. No caso de morte, quem eram os herdeiros desse homem? Os filhos, e a viúva não tinha
nada. Resultado: mulher sempre pobre, até na situação filho rico mãe pobre.
O Tribunal de São Paulo viu que essa era uma situação injusta, e criou uma ideia de que
apesar de o homem ter tirado dinheiro do bolso e pago o imóvel numa contribuição direta existia
por trás dessa sociedade conjugal alguém que numa participação indireta de certa forma criava um
ambiente de estabilidade emocional para que esse homem pudesse trabalhar, e passou a ser
considerada que essa contribuição é tão importante quanto a entrega direta do dinheiro. Diante
disso, criaram a ideia atual de meação, de que em todo casamento há essa divisão entre participação
direta e indireta, e isso foi incorporado ao direito brasileiro de tal forma que ninguém questiona.
É válida a contribuição direta e indireta de qualquer um dos cônjuges, em que pese a decisão
do STJ e alguns tribunais já terem decidido que o homem sem ocupação que não contribui para a
economia conjugal não tem direito à meação dos bens adquiridos onerosamente na constância de
casamento. A contribuição direta ou indireta é direito de família, mesmo que se aplique
posteriormente ao direito sucessório. Quando vou apurar os bens de determinada pessoa que vão
ser dirigidos à sucessão a primeira coisa que eu faço é tirar o direito de família, tirar a meação.
________________________________________________________________________________
CORREÇÃO DA 1ª PROVA - Princípios & Direito de Família
1ª Questão. A partir do reconhecimento da mulher como sujeito de direito, e de desejos, e como pessoa
jurídica plena e cidadã, o discurso jurídico passou a um patamar ético, com forte exercício da austeridade,
incorporando ao mundo jurídico outras minorias e pessoas, incorporadas em suas diferenças. Afastou-se a
abordagem moral do direito e especialmente no direito de família.
2ª Questão. Só é possível na diversidade, inserindo no discurso da igualdade o respeito às diferenças,
desfazendo o equívoco de que as diferenças significam necessariamente em hegemonia ou superioridade de um
sobre o outro.
3ª Questão. A indissolubilidade do casamento podia ser considerado como um princípio, posto que
refletia um valor social do Brasil católico, patriarcal e de família matrimonializada e transpessoal daquela época.
Lado outro, era um princípio notadamente valorizado em termos morais e, portanto, de um grupo, os católicos,
que em sua maioria se pretendiam hegemônicos.
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13) DISSOLUÇÃO DO CASAMENTO
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1969: A constituição de 1969 — tratada como Emenda Constitucional — trazia como
princípio a indissolubilidade do casamento. E havia um grande problema nisso: para que eu
tornasse um divórcio possível deveria antes ter quorum qualificado o suficiente para alterar norma
de valor constitucional, e só depois de alterada eu poderia fazer o divórcio (não bastava maioria no
congresso, mas um quórum de 3/5).
1977: Com a EC09/77, isso mudou, visto que o casamento passou a ser dissolvido, ainda
que somente nos casos previstos em lei e mediante prévia separação judicial por pelo menos 3 anos
(segundo Nacif, apesar de não haver disposição a respeito na lei supracitada, esse quórum passou a
ser de metade +1). E assim retiraram o princípio da indissolubilidade da Constituição. Por fim, isso
foi selado com a Lei do Divórcio (26/12/1977), e a dissolução passou a valer no Brasil.
Antes disso existia o desquite.
Ao casar, eu criava como efeito patrimonial uma sociedade conjugal — cujo fim dava ensejo a
uma partilha de bens, e no efeito pessoal havia também o vínculo matrimonial, esse vínculo era
indissolúvel, então você separava a sociedade conjugal mas mantinha o vínculo, não podendo casar
de novo, e tendo o chamado desquite. A lei do divórcio passou a promover o fim do vínculo
matrimonial também, ou seja: uma vez divorciado, findo vínculo material e efeito pessoal, e finda a
sociedade conjugal patrimonial.
Observe que quando a lei do divórcio foi inserida ela se dava por meio do que chamamos de
divórcio indireto, porque se dava em etapas. Primeiro vinha o desquite, passado um tempo
desquitado, concluía-se o divórcio. E depois, o divorciado só podia se casar de novo mais uma vez.
CRFB/88: na constituição de 1988 acabou o desquite, e passou a existir a separação, que é
aquele divórcio indireto no qual não havia desquite, mas a etapa “equivalente” era a separação, no
prazo de 1 ano, finda essa separação, a etapa seguinte era o divórcio, por fim. Uma vez divorciado,
podia me casar de novo quantas vezes quisesse. Traz também o divórcio direto, uma vez que os
cônjuges pudessem comprovar que já estavam separados de fato há 2 anos.
EC66/2010:
“Art. 1º. § 6º do art. 226 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 226. (…) § 6º
O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio."(NR)
A Emenda Constitucional Nº66 de 2010 acabou com o sistema dualista e com a exigência
desse 1 ano de separação anterior ao divórcio, podendo ser direto, porque é direito potestativo e
independe de prova. Antes disso, no regime dualista original, a separação era requisito do divórcio,
mas essa exigência foi derrubada. A separação judicial existe, mas não como o primeiro passo legal
do divórcio, não mais como essa etapa obrigatória.

13.1 SEPARAÇÃO DE FATO


As exigências da lei do divórcio eram muito pesadas, a primeira coisa que se procurava é
quem era o culpado, e esse culpado sofria as consequências — como a perda dos filhos, que eram
prêmio para o não culpado. Raramente existia uma separação que fosse consensual, era sempre
litigiosa (advogados lavando roupa suja na sala do juiz, tanto que o discutido era segredo de justiça).

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Daí, as pessoas para não passar por isso, preferiam fazer a separação de fato: cada qual ia pra um
lado, não gastavam dinheiro com separação judicial nem com advogado, e separavam-se.
Como você prova uma separação de fato?
É uma questão de prova. Por um aluguel de um outro apartamento em meu nome, plano de
saúde próprio (quase provar uma desunião estável, rs). Há outras formas de prova, especialmente as
judiciais, por exemplo: ação de guarda, busca e apreensão de menor, alimentos provisórios; ação
para entrega de bens pessoais, busca e apresentação de livros contábeis (medida cautelar por medo
de dilapidação do patrimônio antes dele ser dividido).
Efeitos: Seus efeitos estão no 1.683.
Art. 1.683. Na dissolução do regime de bens por separação judicial ou por divórcio, verificar-se-á o
montante dos aqüestos à data em que cessou a convivência.
Então mesmo que eu viesse a fazer uma separação dois anos depois, não se comunicavam os
bens adquiridos do fim da convivência até a separação judicial, porque nesse período já não existia
a ideia de sociedade, aquelas duas pessoas não mais estavam unindo recursos e esforços para um
determinado fim.
OBS.: Essa separação de fato pode ocorrer tanto no casamento, quanto na união estável.

13.2 E a Culpa?
A advinda ideia de culpa desde a época do desquite, era essencial para o divórcio, vide
requisitos da lei, especialmente na etapa primeira que é a correspondente à separação, porque
trazia consequências.
(1) O cônjuge culpado perdia o direito de usar o nome do outro. Uma situação
muito famosa foi a da Luíza Brunet. Quando eles se separaram, o marido quis o Brunet de
volta, até que se decidiu judicialmente que não, que o sobrenome já havia se integrado parte da
personalidade dela, não devendo assim abrir mão do nome — foi uma quebra de paradigma na
época. Com o novo código, o nome da pessoa é considerado direito da personalidade, não
podendo seu exercício sofrer limitação voluntária (art.16) — Nacif traz inda a situação excepcional o
caso da Carola Scarpa, que não permaneceu com o direito ao nome, porque pela adequação ao caso concreto foi
percebido que como ficou 3 meses casada apenas e considerava-se que não tinha feito uso suficiente do nome para
que ele fosse incorporado como parte de sua personalidade, e pelo fato de estar usando esse sobrenome para extorquir
a família, seria o mais certo. (art.19; art. 1.578 CCB; + art.17 Lei de divórcio).
(2) Principais motivos de culpa: eram traição, violência. Perdia o direito a guarda dos
filhos o cônjuge considerado culpado, e o culpado perdia ainda o direito a receber alimentos se
deles precisasse.
Hoje afastou-se a questão da culpa, e quanto os alimentos são percebidos pelo binômio
necessidade-possibilidade, pede quem precisa e paga quem pode, independente da culpa (art.
19 da lei 6.515 e 1.694 §1º e 1.702 CCB).
E a guarda dos filhos? É definida não mais como um prêmio ao não culpado, ela deve ser
criada por quem lhe oferece melhores condições, independente de ser pai ou mãe, devendo ser
decidia pelo princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.

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13.3 Guarda dos Filhos
O que é guarda? O direito de ter a posse dos filhos. Antes era sempre unilateral. Tinha
desdobramentos. A (i) guarda imediata, que é a posse dos filhos, e (ii) guarda mediata, que é o
poder de fiscalizar a guarda imediata — pense por exemplo aquele esquema de passar a semana com a
imediata, e os finais de semana com o mediato, e divisões em datas comemorativas.
Uma nova percepção acerca do tema traz a ideia de que essa guarda unilateral é na
verdade a guarda resultante da ideia trazida pela lei 6.515/77, a Lei do Divórcio, que era a
guarda do conflito, aquela guarda que premia quem ganha enquanto pune o culpado.

6.515/77
Art 10 - Na separação judicial fundada no " caput " do art. 5º, os filhos menores ficarão com o cônjuge que
a e não houver dado causa.
§ 1º - Se pela separação judicial forem responsáveis ambos os cônjuges; os filhos menores ficarão em poder
da mãe, salvo se o juiz verificar que de tal solução possa adv prejuízo de ordem moral para eles.
§ 2º - Verificado que não devem os filhos permanecer em poder da mãe nem do pai, deferirá o juiz a sua
guarda a pessoa notoriamente idônea da família de qualquer dos cônjuges.

Surge a ideia de guarda compartilhada quando ela é implementada no código de


2002. Essa exige não mais o conflito, mas uma verdadeira cooperação dos pais. Essa
cooperação não convive com um conflito liminar aberto. O que o código fez? Como eu exijo
essa cooperação, e com ela deve haver concordância, o código exige que as partes concordem
com a guarda compartilhada. Mas e se uma parte discordar? Nesse caso ela vai estar dando um
sinal de conflito, e correndo o risco de que o juiz tenda o pêndulo para o outro lado, para uma
guarda unilateral para a parte que colabora.

1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:


I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação autônoma de separação,
de divórcio, de dissolução de união estável ou em medida cautelar;
II – decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho, ou em razão da distribuição de
tempo necessário ao convívio deste com o pai e com a mãe.
§ 1o Na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o significado da guarda compartilhada, a
sua importância, a similitude de deveres e direitos atribuídos aos genitores e as sanções pelo
descumprimento de suas cláusulas.
§ 2o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos os
genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos genitores
declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor.
§ 3o Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob guarda
compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em orientação
técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar, que deverá visar à divisão equilibrada do tempo com o
pai e com a mãe.
§ 4o A alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado de cláusula de guarda unilateral ou
compartilhada poderá implicar a redução de prerrogativas atribuídas ao seu detentor.
§ 5o Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda
a pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferência, o grau de
parentesco e as relações de afinidade e afetividade.
§ 6o Qualquer estabelecimento público ou privado é obrigado a prestar informações a qualquer dos
genitores sobre os filhos destes, sob pena de multa de R$ 200,00 (duzentos reais) a R$ 500,00 (quinhentos
reais) por dia pelo não atendimento da solicitação.

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13.4 DIVÓRCIO
.1 Direto e Indireto
Indireto é aquele divórcio que é precedido pela separação. Direto, divórcio apenas. A partir
do fim da sociedade conjugal toda causa aquisitiva que se desse posterior a este fato, os bens
adquiridos não se comunicariam. Hoje, com nova redação graças à EC/66 não existe mais a
obrigatoriedade da separação para o divórcio. Então não existe mais a exigência do divórcio
indireto.
Eu continuo tendo divórcio direto e indireto? Sim, mas posso optar por qualquer um dos dois
na hora que eu quiser. Isso, na verdade, é um reflexo da passagem do direito público para o privado,
ou seja, da vertente mais contratualista do casamento. Tendo esse caráter, eu contrato e distrato
sempre que eu quiser.

.2 Judicial e Extrajudicial
A partir de 2007, com a Lei 11.441, altera dispositivos do Código de Processo Civil,
possibilitando a realização de inventário, partilha, separação consensual e divórcio consensual por
via administrativa, ou seja veio instituir o divórcio, a separação e o inventário, todos eles feitos
em cartório.
Dessa forma, tirou isso da mão da justiça, tornando o procedimento fungível, podendo se dar
tanto no meio judicial quanto no extrajudicial. É mais um reflexo dessa característica contratualista.
Não mais tendo um caráter de confronto, porque aquela ideia de culpa está cada vez mais
enterrada, esse foi um passo muito grande — Nacif traz a curiosidade de quando os códigos de processo civil
eram estaduais, até 1939, já era feito assim. Ou seja, posso fazer o divórcio de forma extrajudicial da
mesma forma que faço judicial.
Só que há duas salvaguardas:
(1) Não pode ter filho menor;
(2) Não pode ter filho maior incapaz.
Porque vem aqui uma das situações de em que o Estado interfere para proteger, nesse caso há
interesse estatal pela proteção dos incapazes. Alguns estados exigem que a mulher não esteja grávida
inclusive, mas isso não está na letra da lei. Mas em suma: os divórcios que envolvem incapazes
devem se dar pela via judicial.

.3 Procedimento
O que eu tenho que fazer?
1º Qualificação — é a identificação das partes.
2º Prova do casamento — afinal, deve existir casamento para ser dissolvido.
3º O pedido.
Não tem que motivar, não tem que falar porquês.
O procedimento extrajudicial é o mesmo que o procedimento judicial. Tanto em um como no
outro precisa-se de advogado, que até costuma ser o mesmo para as duas partes quando o
divórcio é amigável. Mas quando não é, cada parte deverá apresentar o seu representante,
obviamente.
Percebam, o divórcio extrajudicial será sempre amigável, litigioso acontece quando o casal
não consegue chegar a um acordo sobre as condições da separação ou quando uma das pessoas não

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quer que o divórcio aconteça de modo que existe um litígio, este será sempre judicial. É possível
ainda que após um início litigioso e judicial, um divórcio transforme-se em amigável e extrajudicial
(fungibilidade da forma). Caso haja migração de um para o outro, os atos feitos numa forma se
aproveitam na forma seguinte.
Alguns estados, como SP, tem aceitado que o divórcio seja feito extrajudicialmente ainda em
casos que envolvam menor — tanto a separação e o divórcio quanto o inventário, inclusive com
testamento; nesses casos o que ocorre é que vai brevemente para o judicial: o juiz recebe a proposta
pela petição que vem com qualificação, prova e pedido, de modo que nela já vem a proposta de
alimentos e guarda do melhor, e também nessa mesma proposta há solicitação de que seja enviado
ao extrajudicial, se o juiz concorda com isso e envia para o extrajudicial, o divórcio e seus
desdobramentos podem prosseguir então pelo viés administrativo. No estado de MG isso não é
uma prática prevista, mas alguns advogados têm usado como argumento ao pedir a anuência dos
juizes, mas ainda não é amplamente aceito como em SP.
OBS.: sempre será necessária autorização do juiz para que situação envolvendo incapaz vá
do judiciário para o extrajudiciário. Em Minas temos o Provimento 260 (CGJ/TJMG), no qual essa
possibilidade de transferência que é “positivada” no provimento de SP ainda não consta, porém
vem sendo aceita gradualmente.
Curiosidade: argumento ad hominem é um argumento que se voltava contra a pessoa, não à
combater o outro argumento. Nacif fala disso para ressaltar que muitas vezes quando o divórcio era
debatido, a guarda, etc., era esse o tipo de “argumento” que era majoritariamente utilizado de uma
parte contra a outra.

.4 Consequências e Efeitos
As consequências do judicial e do extrajudicial são exatamente as mesmas: findar a sociedade
conjugal (efeito patrimonial da separação) e findar o vínculo matrimonial, findando com efeitos
pessoais (como o vínculo colateral por afinidade por exemplo) e efeitos patrimoniais. Com o
divórcio indireto, na etapa da separação havia a o fim dos efeitos patrimoniais, e só com a etapa de
divórcio findavam os efeitos pessoais. Com o divórcio direto, os dois efeitos findam de uma vez só.
Antes o divórcio direto só era possível se comprovada a separação de fato (2 anos). Como
provar a separação de fato? Os juízes estavam aceitando uma declaração, com duas testemunhas
desse fato. Mas o próprio judiciário foi atropelando essas inutilidades, o que contribuiu para o
divórcio direto sem a necessidade dessa separação como requisito, que foi eliminada.
Em que pese à falta de necessidade da separação, judicial ou de fato, para que se possa
divorciar, o código civil permanece com o instituto da separação. Quando isso pode ser necessário?
Quando eu precisar separar meu patrimônio, mas sem querer me divorciar é uma saída. Por exemplo,
um dos cônjuges pode estar respondendo uma ação de responsabilidade civil que está sujeita a uma grande indenização,
para proteger a meação, o patrimônio do outro, pode ser feita essa separação sem fazer o divórcio — Nacif não
considera fraude, porque um erro meu não deveria contaminar o direito da minha esposa, mas claro
que a prática pode ser vista como fraude, e se for, como eu combateria essa fraude? Provando que
houve uma mistura patrimonial, haja vista o art. 50, CCB — desconsideração da personalidade
jurídica, ou disregard doctrine).
Os efeitos sucessórios findam com a separação.

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Em relação aos filhos, nenhum direito ou dever é alterado, nem pela separação,
nem pelo divórcio. Houve uma época que sim, inclusive a mãe viúva perdia o pátrio poder sobre
os filhos se casasse de novo.
!É possível o fim da sociedade conjugal mantendo-se o vínculo matrimonial. Como
separação sem divórcio, gerando os estados civis de separado judicialmente, separado de fato, ou
ainda desquitado. O inverso não é possível, o fim do vínculo matrimonial implica obrigatoriamente
o fim da sociedade conjugal concomitantemente ou simultaneamente.

13.5 Reconciliação
É possível? Sim, desde que separados. É possível a reconciliação de pessoas separadas,
prevalecendo o casamento nos mesmos termos.
Posso me reconciliar depois de divorciado? Não, vou ter que casar de novo. Pode
reconciliar da separação de fato, por exemplo, ao voltar a coabitar, ou seja, reconciliando de fato; e
se você se separou judicialmente, deve se reconciliar judicialmente.
A reconciliação anula a separação civil, a qual se sobrepõe o casamento.
OBS.: a partilha dos bens de um casal só é exigida no divórcio. Não se exige a partilha
quando da separação judicial, em que pese ser esse o momento do fim da sociedade conjugal.
Prevê-se a possibilidade de uma reconciliação. Já no divórcio é que se exige a partilha dos bens,
lembrando que os bens adquiridos com causa aquisitiva ocorrida durante a separação serão bens
particulares, não se comunicando, qualquer que seja o regime de bens do casamento.

13. 6 Revelia
Anteriormente se considerava que para as ações de estado dentre eles, de estado civil, não
corriam os efeitos da revelia. Então não podia ser julgado separado ou divorciado se eu não
comparecesse ao processo, o que levava pessoas a ficar se escondendo. Isso é uma característica do
casamento como uma instituição — na década de 80 e 90, toda vez que havia um divórcio o MP
tinha a obrigação de recorrer da sentença, porque havia um duplo grau obrigatório. Ficaram essas
pessoas do limbo jurídico. Hoje o casamento tem um caráter mais contratual. E, desde que citada a
pessoa, ainda que seja por edital, se ela não aparece porque se recusa a assinar o divórcio, configura
a revelia e ainda assim correm os efeitos do divórcio, porque é uma potestividade.

13. 7 Promessa de Doação


É comum o casal no momento da sentença de separação ou divórcio prometer doar um bem
imóvel para os filhos, o bem fica com os filhos e muitas vezes eles reservam o direito de usufruto.
Essa promessa não é obrigatória e não vincula a concessão (ou não) do divórcio ou da
separação, entretanto, pode ser exigida uma vez que as partes manifestarem livremente a sua
vontade perante o juiz. A doação se completa quando? Na tradição ou na escritura pública de
transferência de doação. É paradoxal nos próprios termos a promessa de doação, porque não posso
prometer doar, devo doar efetivamente. Contudo essa sentença em que consta a promessa perante
juiz é executável como título executivo. A dificuldade se dá com normalmente não haver nessa sentença os
requisitos mínimos de individualização do que estaria sendo doado, como por exemplo o endereço
desse bem imóvel.
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14) PATERNIDADE
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Baseada em tese de Luis Edson Fachin

Paternidade é o estabelecimento de uma relação de parentesco entre um homem e uma


criança. O direito distingue muito bem esses conceitos: porque não maternidade? Porque
maternidade é um fato médico, não havendo dúvidas quanto quem é a mãe, mater sempre certa est.
Mas e o pai? Pai fora quem justa núpcias demonstra, pater est quem justa nuptias. Ou seja, a princípio,
pai, em tese, é quem é casado com a mãe, pai é uma presunção jurídica.
Há uma série de presunções para definir quem é o polo ascendente dessa relação de
parentesco. Isso funcionou muito bem, desde o código de 1916 essa presunção vem copiada do
código civil francês, e toda essa estrutura na verdade é francesa. No código civil brasileiro atual, está
disposto no Capítulo de Filiação, do SUBTÍTULO II - Das Relações de Parentesco.

Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. — é um
reflexo da isonomia filial proveniente da Constituição.

JOGO DE PRESUNÇÕES
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação
judicial, nulidade e anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção
artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.

Art. 1.598. Salvo prova em contrário, se, antes de decorrido o prazo previsto no inciso II do art. 1.523, a
mulher contrair novas núpcias e lhe nascer algum filho, este se presume do primeiro marido, se nascido
dentro dos trezentos dias a contar da data do falecimento deste e, do segundo, se o nascimento ocorrer após
esse período e já decorrido o prazo a que se refere o inciso I do art. 1597.

Paternidade Presumida Jurídica


A única forma possível de reconhecimento de paternidade se dava pelo casamento.
É presumido. Por que precisávamos desse tipo de situação? Essa presunção jurídica da
paternidade se dava para evitar a turbatio sanguinis, então, por exemplo, pelo inciso I se aquele
casamento não tinha ocorrido em até 180 dias, a mulher era solteira e podia-se presumir que o filho
não era daquele marido.
Entretanto, nesse período que vai de 1916 até 1960 não podia haver um pedido de
reconhecimento de paternidade. Um filho fora do casamento, era um filho nascido de uma mãe
solteira, e como eu resolvia esse problema da paternidade de mãe solteira com filho? Eu tinha duas
possibilidades: (i) a primeira é que ela se casasse, a partir do momento que ela se case esse filho se
tornava legitimado, mas se não se casasse? Então (ii) o filho era só dela, e muitas vezes não podia
sequer registrar esse filho já que lá pela década de 60 quem registrava o filho era o pai.
E se o filho fosse de homem casado? Pela transpessoalidade do direito de família,
manter a família era a prioridades, uma mulher solteira não podia turbar a paz familiar imputando
a um homem casado a paternidade do seu filho, então um pedido de reconhecimento de
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paternidade não era nem aceito. E além disso, era uma forma de punir a mulher que fez sexo fora
do casamento.

Paternidade Biológica
Nos anos 80, começou a aparecer o exame de DNA, o ADN.
Como eram feitos os exames antes do DNA? Eram os exames de compatibilidade sanguínea
(sistema ABO, MNO, e Rhesus), mas esses sistemas não confirmavam a paternidade, apenas
excluíam a paternidade. O DNA trouxe era diferença, porque é um exame confirmatório. E
nessa época não existia mais a impossibilidade de entrar com ação de paternidade de homem
casado, podia sim. Mas como era feita essa prova antes do DNA? Através da prova biológica ainda
que fosse apenas excludente (se não excluísse já havia um indício), e pelas demais provas aceitas em
direito (como testemunho — provando se havia uma relação de concubinato entre aquelas pessoas, por exemplo).
Com a chegada do exame de DNA tudo fica mas tranquilo, resolvendo-se aparentemente a
questão, porque em todos os casos descobria-se o indigitado pai. Claro, quando chegou no Brasil
era muito caro, então era uma solução para quem tinha como pagar. O que houve foi uma
biologicização da paternidade. O que trouxe problemas, porque associava a paternidade apenas ao
genitor. Daí entra a problematização, porque ser pai é mais do que gerar o filho.
João Batista Vilella traz essa questão: é o mesmo ser genitor e ser pai da criança? E a
adoção? Tão logo que essa biologicização teve um impacto muito grande a princípio, passou a ser
relativizada, inclusive pelo código, que traz a ideia de que pai é quem cria, não basta apenas ser o
genitor da criança. Na grande maioria das vezes são coincidentes, mas não se resume a isso.

Paternidade Sócio-Afetiva
Se eu não posso colocar a paternidade vinculada a uma presunção jurídica, e se eu
compreendo que ser pai é muito mais que dar o material genético necessário para a gravidez, então
eu continuo com a pergunta: ser pai é ser o que?
Começo a pensar no melhor interesse da criança. Existe uma relação que é social e afetiva e
extrapola o mero meio jurídico e o mero meio biológico, e essa paternidade tem que ser protegida
pelo meio jurídico a medida que ela vai sendo melhor compreendida.

Art. 1.545. O casamento de pessoas que, na posse do estado de casadas, não possam manifestar vontade,
ou tenham falecido, não se pode contestar em prejuízo da prole comum, salvo mediante certidão do
Registro Civil que prove que já era casada alguma delas, quando contraiu o casamento impugnado.
Art. 1.605. Na falta, ou defeito, do termo de nascimento, poderá provar-se a filiação por qualquer modo
admissível em direito:
I - quando houver começo de prova por escrito, proveniente dos pais, conjunta ou separadamente;
II - quando existirem veementes presunções resultantes de fatos já certos.
A prova da paternidade pode se dar através de uma posse de estado, que está nos olhos de
quem vê e também está no animus. Paternidade é essa coincidência de verdades interiores e
exteriores. É se comportar como pai e filho, e se sentir como pai e filho, ser pai é amar e cuidar,
completamente desvinculado de outro interesse — e é assim que se dá uma adoção.
É nas verdades coincidentes que se dá a paternidade: sócio (que se mostra) afetiva (que se sente).

Afinal, ser pai é ser o que?

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Tenho hoje dentro do direito brasileiro a coexistência desses três tipos de indicação de
paternidade, porque eles não se excluíram, se complementaram. São prismas diferentes pelos quais
vou enxergar esse fenômeno de paternidade. Mas como eu vou determinar qual utilizar? Vai
depender do caso concreto.
No direito francês anterior ao exame de DNA existia um artigo que dizia que se uma criança
não tem pai, a mãe pode indicar para efeitos patrimoniais todos os homens com quem ela teve
relacionamento no seu período de fertilidade. Hoje, isso é resolvido pelo prisma biológico. O prisma
biológico tem sua aplicabilidade principalmente naquelas situações que visam impedir a fuga da
responsabilidade paterna (ao menos patrimonial) alegando não ser seu o filho, posto que como há o
exame de DNA ele não pode fazer isso (inclusive, se o fizer, será presumido pai, entrando até outro
paradigma nessa questão, jurídico). Eu posso dar obrigações de caráter pecuniário a esse pai, mas
eu não posso obriga-lo a ter afeto.
Houve um julgamento famoso no MG que o advogado pediu indenização por danos morais a
um pai que havia afetivamente abandonado o filho, e o TJMG concedeu. Eu não posso obrigar
alguém a ter um afeto com outra pessoa, mas eu posso obrigar a ter obrigações pecuniárias, é o
dever de sustento pelo filho que ele gerou.

Temos casos complexos, nos quais é necessário o uso de mais de um desses prismas para
determinação da paternidade. A sócio-afetividade tem uma preponderância em termos de melhor
interesse do menor, existindo uma prevalência dela sobre as demais. Então, se tenho um caráter
biológico, toda demanda em pesquisa é inaceitável, por outro lado se eu registrei a criança, mas
outro pai desenvolveu uma sócio-afetividade com essa criança, esse reconhecimento também conta.
Como resolver? Normalmente é definido por 2:1, se os prismas biológico e registral se
complementarem, o sócio-afetivo não vai simplesmente romper com ele.
João Batista traz o famoso exemplo do Rei Salomão, em que convocado como rei para
resolver quem seria a verdadeira mãe de um bebê se propõe a cortá-lo no meio, e dar a cada uma a
metade, situação em que uma aceita, a outra implora para que não o faça ainda que ela perca a
criança, e o Rei Salomão percebe ser aquela a verdadeira mãe: foi ela que demonstrou verdadeiro
afeto.

14.1 Reconhecimento dos Filhos


O reconhecimento da paternidade se dá espontaneamente e pode ser feito por qualquer meio,
especialmente:
Art. 1.607. O filho havido fora do casamento pode ser reconhecido pelos pais, conjunta ou
separadamente.
Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito:
I - no registro do nascimento;
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto
único e principal do ato que o contém.
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu
falecimento, se ele deixar descendentes.

É possível investigação de paternidade?

BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. 5! 2


Sim, quando o indigitado pai não reconhece o filho espontaneamente eu tenho uma ação de
investigação. Essas ações que contestam a paternidade ou maternidade do filho estão nos art. 1599 a
1602.
Art. 1.599. A prova da impotência do cônjuge para gerar, à época da concepção, ilide a presunção da
paternidade.
Art. 1.600. Não basta o adultério da mulher, ainda que confessado, para ilidir a presunção legal da
paternidade.
Art. 1.601. Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher, sendo
tal ação imprescritível.
Parágrafo único. Contestada a filiação, os herdeiros do impugnante têm direito de prosseguir na ação.
Art. 1.602. Não basta a confissão materna para excluir a paternidade.

Como eu posso impugnar a maternidade?


Provando que não há vinculo entre a mulher e a criança nascida, ou seja, provando que a
mulher não é mãe da criança. Por exemplo, uma filha solteira engravidava, o pai pegava a menina, a esposa, e as
levava para uma fazenda de difícil acesso, no qual ficava por um ano, e corria a notícia de que a cria era da mãe. No
retorno, registravam a criança como se fosse filha da sua avó, não da mãe. Nesse tipo de situação caberia
impugnação de maternidade, ao provar que não há ligação entre criança nascida e a indigitada
mãe.
Investigação de paternidade: se resolve com exame de DNA como supracitado.

Contestação de paternidade
Uma das características do reconhecimento da paternidade é que ele é irretratável e
irrevogável art. 1ºda Lei 8560. Mas, cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos
filhos nascidos de sua mulher mesmo sendo a ação imprescritível, 1.601 — Continua sendo
irrevogável e irretratável mas pelos mesmos erros e defeitos jurídicos que anulam os negócios
jurídicos o reconhecimento de paternidade feito em erro, por exemplo consignação, ou coação, é
anulável, nos termos desse artigo. Questionar essa paternidade é ação exclusiva do marido. A única
forma para que a mulher possa ilidir essa paternidade é pelo 1.599, provando a impotência generandi.
Ter a posse de estado e o registro não dá condições dessa paternidade ser atacada, pelo motivo
de que a criança já tinha seu pai, e trocar esse pai é a pior coisa que pode acontecer para o melhor
interesse da criança. Aquele filho já tem pai, e que assim permaneça é o melhor para ele. Via antigo
art. 332 do C.C.Francês.

Enunciado 149 da SÚMULA STF:


“É imprescritível a ação de paternidade, mas não o é a de petição de herança.” O art. 1.601
traz essa imprescritibilidade da ação de paternidade, estabelecendo que ainda que o pai esteja
morto, e que não seja possível mover ação sucessória, ainda assim é possível mover a ação de
paternidade.

14.2 Procriação Assistida


Em 1979 nasceu na Inglaterra uma garotinha que se chamava Louise Brown, ela foi a
primeira criança a nascer via fecundação in vitro. Em 1984 nasceu Zoe, na Austrália, a primeira
gravidez de sucesso com óvulos fecundados congelados.

O que é fecundação in vitro?


É uma maneira de tratamento de casos de infertilidade, de um dos pais, ou ambos. Nesse
tratamento temos duas possibilidades de inseminação: na (i) inseminação homóloga os gametas dos pais

BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. 5! 3


é que geram as crianças, não tenho aqui nenhum gameta externo, nem da mulher nem do homem;
na (ii) inseminação heteróloga pelo menos um dos gametas pertence ao doador. Além disso, tenho a
gravidez de substituição, que é a famosa barriga de aluguel — implantação da inseminação
homóloga ou heteróloga na barriga de uma mulher que não a mãe.
Se um filho que nasce da minha mulher tem os gametas meus e dela, então os pais e os
genitores serão os mesmos. Se no meio dessa gravidez, por exemplo, eu desistir do meu casamento e
me divorciar da minha mulher, não perco o vínculo de genitor com esse filho. Imagine se for uma
inseminação heteróloga, e no meio eu desisto, sendo que aqueles gametas fecundantes não são meus? Complicado. E no
caso da barriga de aluguel, no caso em que a pessoa que leva a gestação não quer entregar a criança? Como posso
resolver esse tipo de situação à luz do Código Civil Brasileiro? O art. 1.597 vem para resolver uma
parte desses problemas.
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação
judicial, nulidade e anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, — no processo de
inseminação artificial são gerados 1K de gametas, mas há aqueles que sobram, permanecendo guardados por até 5
anos, período dentro do qual posso novamente promover a nidação desses embriões — decorrentes de concepção
artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido —
manifestação da vontade de ser pai, e é essa vontade de ser pai que representa a socioafetividade, a partir do momento
que eu autorizei cada passo tem que ter uma autorização nova; a partir desse momento não adianta querer pedir exame
de DNA e fugir da paternidade quando o mesmo der negativo.

E na gravidez de substituição?
Se previamente houver acordo nesse sentido, então o direito é daqueles que inicialmente
queriam essa gravidez, esse filho — Princípio PACTA SUNT SERVANDA. No direito brasileiro
prevalece a paternidade sócio-afetiva do casal que deu início ao processo de gravidez, que investiu
no processo de gravidez. No direito brasileiro essa barriga de substituição tem que ser gratuita.
Sobre isso, Peter Singer traz a seguinte história: quando termina a gestação, os envolvidos em
prol disso ganham alguma coisa, os pais ganham uma vida, os médicos ganham remuneração
pecuniária, mas e a grávida substituta? Desse modo, quem teve o corpo usado nessa gestação
deveria ganhar alguma coisa também; Nacif traz a situação análoga na Indonésia e na Malásia
onde as pessoas são (muito bem) pagas para fazer transplantes de órgãos (uma ação regulamentar do
governo para combater o mercado negro)
A Doutrina brasileira lutou, desde meados dos anos 90 até 2010, para que a sócio-afetividade
fosse o grande paradigma da paternidade; o que importa mesmo para a criança é a sócio-
afetividade, é o afeto.

Acesso à procriação assistida: Até 2017 procriação assistida era considerada tratamento
médico, e quem tinha acesso a técnica? Um número restrito. Casais homossexuais não tinham, por
exemplo, ou pessoas solteiras, porque era um tratamento de infertilidade; então não seria feita

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inseminação para quem não precisasse fazer esse tratamento. Até que veio a ADPF.132 do STF que
gerou alteração da Resolução 2168/2017 do conselho federal de medicina, redefinindo o acesso à
técnica.
Doação de gametas: Qual o vínculo existente entre o doador e o produto gerado na
fecundação? NENHUM VÍNCULO — Art. 7º da Convenção de NY de 20/01/1990: o doador é
anônimo, e é segredo juridicamente protegido, entretanto havendo legítimo interesse a justiça pode
determinar a revelação. Quais são os casos de legítimo interesse? (i) Doação de órgãos, doação de
medula; (ii) se sabe que é filho de uma reprodução assistida e vai se casar com outra pessoa também
fruto de inseminação. OBS.: os gametas de cada doador só podem ser usados 5 vezes.

14.3 PLURIPARENTALIDADE

O supremo, julgou o Recurso Extraordinário RE898.060-SP, com o seguinte caso: situação de


um marido e uma mulher que tem um filho, contudo o marido contou ao filho que não é seu pai biológico, que um
terceiro rico que é. Esse filho entrou com uma ação de reconhecimento de paternidade em face do pai
biológico. O STF reconheceu essa paternidade em face desse pai biológico, ainda que o filho já
tivesse seu pai sócio-afetivo e registral.
A decisão desse recurso traz uma cisão, com a possibilidade de ter o nome de mais de um
pai em registro, com todos os efeitos jurídicos daí recorrentes; o relator da ação foi Luis Fux, que
citou Fachin para a decisão, apesar do próprio Fachin ter votado contra — Nacif considera essa
possibilidade um retrocesso, porque trouxe um interesse financeiro (que é um interesse menor) para
esse vínculo, desconsidera o binômio {registro, sócio-afetividade}, desconsidera que paternidade é
vínculo de afeto e não um vínculo biológico para conceder algo de interesse menor, mas um vínculo
que busca atingir o melhor interesse da criança. De toda forma, a multiparentalidade passa a poder
ser registrada com base na decisão desse recurso.

E a multiconjugalidade e as formas plurais de família?


Podia ser feito contrato de sociedade com um objetivo familiar e responsabilidades, de dar
contribuições direta e indireta. No Rio Grande do Sul, já havia numa decisão reconhecida a
“triação” (meação+1). Mas o CNJ recentemente (junho) proibiu esse tipo de contrato como um tipo
de regulamentação desse tipo de família.

Qual é o tipo de contrato que era feito? É um contrato de sociedade, quando duas ou
mais pessoas concordam em despender esforços e recursos para a consecução de um determinado
fim (CCB 1.916). Nos EUA, no estado de Utah, foi julgado inconstitucional o ‘casamento’ com mais
de duas pessoas.

A multiparentalidade pode ser compreendida como razoável dentro de um


contexto de multiconjugalidade no qual a criança tem mais de um pai sócio-afetivo?
Nacif acredita que sim, que a gente deveria deixar as pessoas viveram conforme a sua cosmogonia
protegendo-as do não locupletamento. Aonde isso se dirige? Nas eventuais ações de separação, fim
da sociedade conjugal, e inventário ou partilha, ou seja, na prática, porque apesar de não se poder
mais fazer esse documento, os envolvidos terão margem para o reconhecimento dessa situação

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fática, sob pena de assim não ocorrendo descumprir o princípio do direito civil que veda o
locupletamento. Então uma criança pode ter dois pais e duas mães? Sim, a multiconjugalidade
poderia ser entendida dentro da relação paterna e materna, pois defenderia o interesse da criança
recebendo amor dos pais/mães. Mas não é regulamentado, não tem registro de vários pais/mães
com relação a criança, vai incidir somente em dissociação da sociedade conjugal e da partilha de
bens na herança — eu poderia alegar que seria um locupletamento em favor de um cônjuge que deu contribuição
direta, em face do que deu a contribuição indireta. Essa questão da multiconjugalidade não é o mesmo
contexto discutido no Res. onde era somente interesse financeiro, aqui tem um interesse dos pais em
dar amor a criança.

Multiparentalidade pode ser registrada, a multiconjugalidade não.

14.4 Reconhecimento Oficioso


Descrito na lei 8.560, simplificou o reconhecimento de paternidade: como funciona?
A mãe leva a criança ao registro (RCPN) e essa criança não tem pai, mas ela indica quem é o
pai da criança, ou seja mostra o indigitado pai. O registrador então remete isso ao juiz, que chama a
mãe, confirma a identidade do pai e cita o pai, que deve comparecer em juízo no prazo de 30 dias,
o que dá margem à três possibilidades:
(i) Pai não comparece (30 dias);
(ii) Pai comparece e nega — nesses dois casos o juiz remete ao MP para investigação de
paternidade;
(iii) Pai comparece ao juízo e aceita — nesse caso, o juiz já emite a ordem ao RCPN para que
seja inserido o nome do pai no termo de nascimento da criança.

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15) PODER FAMILIAR
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Daniela Patrícia
Uma vez definido o que é paternidade, eu consigo encontrar o que vem a ser o poder familiar.
A partir da criação do vínculo da paternidade eu tenho efeitos. Esses efeitos eram, desde o Direito
Romano, chamados de pátrio poder: é o direito de vida e morte que tinha o pater familias sobre todos
os integrantes de sua família. Esse pátrio poder era transmitido ao filho conhecido como
primogênito, com a finalidade de continuidade dos ritos religiosos. Evidentemente, esse pátrio poder
era referente unicamente ao homem, pois somente o pai tinha esse poder — apesar de em alguns
momentos do direito romano, especialmente no território do Egito, as mulheres eram extremamente importante, na
sociedade romana não eram. Todo esse Direito Civil veio pelo corpus iuris civilis, dominou a Europa e
depois chegou ao Brasil, onde permaneceu até o código de 1916, que manteve o poder do pai por
conta do patriarcalismo.
Nós tínhamos no direito civil o desquite, mas esta pessoa tinha uma condição pejorativa na
sociedade. E veio a Constituição e mudou o termo, passando de desquitado para separado judicial,
os efeitos não se alteraram, somente alterou-se nome, fato tal que alterou a visão que as pessoas
tinham daquela pessoa. Da mesma forma, o código civil trocou o termo de pátrio poder para poder
familiar. Logo, poder familiar nada mais é do que o pátrio poder só que agora exercido por pai e
mãe sem exceção (já era desde CRFB/88).

Conceito:
É a autoridade jurídica dos pais em relação aos filhos menores no propósito de preservação e
promoção dos interesses destes. É múnus público e é único, sendo sua titularidade exercida de
forma conjunta entre os pais. É a responsabilidade que eu tenho para com meu filho, para com o
patrimônio do meu filho, e para com a orientação da vida dele. Antes ele era um poder descente, eu
tinha o direito de ter os filhos na minha guarda, a exigir o respeito e o trabalho, se fosse o caso. Com
a CRFB/88 esse poder veio em mão dupla, revelando tanto direitos com relação aos filhos, quanto
deveres. Hoje, poder familiar de pai e mãe é muito mais dever, um poder-dever.

Quem está sujeito ao poder familiar?


Os filhos enquanto menores, CC 1630. Que significa que até 16 anos os menores são
absolutamente incapazes, por isso eles devem ser representados. Dos 16 aos 18 os menores são
relativamente incapazes, devendo ser assistidos. E a partir dos 18 são plenamente capazes.

Diferença entre ser representado e assistido?


Quando você é representado, é uma representação pura, o pai que assina pelo filho. Quando
você é assistido, o filho mesmo pode assinar, logo, quem faz o negócio é o maior de 16 anos, só que
assistido pelo seu representante legal.

CRITÉRIO TEMPORAL: no direito brasileiro adotamos o critério temporal em que


independentemente da pessoa, aos 18 anos ela se torna plenamente capaz, mesmo que ela não seja
capaz de forma nenhuma, completamente alienada, mesmo que não consiga nem se comunicar. O
que eu tenho que fazer aos 18 anos se ela não for plenamente capaz? Interditá-la.
Critério biopsicossocial adotado por Argentina e Alemanha. Por exemplo, negócio
jurídico de menor de 16 anos é valido? Depende do que é socialmente aceito, e esses países usam
muito esse critério do que é socialmente aceito. Alemanha ainda trata com a ideia de que se eu sou
pai da criança e dei o dinheiro para ela realizar o negocio, aquele negócio será valido.
A nossa maioridade penal, por exemplo, se dá acompanhando o critério temporal, a
maioridade penal do critério biopsicossocial se dá pela compreensão dos adolescentes sobre a
ocorrência dos fatos, e é por isso que em alguns Estados o menino de 14 tem essa maioridade.

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15.1 Efeitos
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do
poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I - dirigir-lhes a criação e a educação;
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584;
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior;
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro
Município;
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o
sobrevivo não puder exercer o poder familiar;
Esse poder-dever é um múnus público, você tem uma função pública, mas não é funcionário
público. Esse poder dentro da família é a princípio dos pais, quando eles não estão mais presentes
esse poder é transmitido ao estado, e este vai deferir um novo poder dever. Ele pode ser deferido: (1)
a outros pais, o que se dá por um processo de adoção; (2) o estado pode permanecer com esse
poder-dever mas deferir a gerencia a um tutor, que vai exercer a tutela daquele menor até que ele
complete 18 anos. Terceira pessoa sempre prestando contas ao Estado através do juiz. Os pais, em
decorrência desse poder-dever, percebendo que estão à beira da morte, pode nomear tutor ao filho
por testamento ou por escrito autentico (aqui você fazer um reconhecimento de firma, é um
documento com a firma reconhecida – o escrito autentico não é autenticado, ele tem a firma
reconhecida). Segundo Cairo Mario, o juiz que vai nomear esse tutor ele tem que seguir essa
indicação pois presume-se que os pais querem o melhor para os seus filhos.
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-
los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; — eu reclamo os filhos de quem ilegalmente o detenha
através de busca a apreensão. Nesse momento, uma criança se torna objeto de direito.
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição. — colocar o
filho menor para trabalhar com os pais não é problema desde que elas vão à escola.

15.2 Extinção
Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar:
I - pela morte dos pais ou do filho; — caso um só dos pais morra o poder familiar ficaria concentrada no outro
cônjuge.
II - pela emancipação, nos termos do art. 5o, parágrafo único; — só ir no cartório, mas tem que ser os dois
pais, desde que estejam vivos. Se eles tiverem discordância manda pro juiz.
III - pela maioridade;
IV - pela adoção;
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.

Formas de extinção
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
I - castigar imoderadamente o filho;
II - deixar o filho em abandono; — abandono material, como privá-lo de comida, ou intelectual, como privá-lo
de ir à escola ou de vacina.
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; — criar uma criança num prostíbulo.
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.
V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção. — sobre isso:
A adoção no sistema brasileiro é feita para não funcionar, estão as criticas que se fazem ao
ECA é por conta dessas questões. A gente tem pais querendo adotar e crianças nascendo, só o
ordenamento que não entendeu isso. Na prática a mulher engravida e entrega essa criança para
quem quer adotar, só que ela não pode fazer isso, ela tem que entregar essa criança ao estado para
que ele abre uma espécie de licitação para adoção da criança. Então, nos estados desenvolvidos,

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essas mães fazem uma adoção de tipo intuito persona: uma mãe engravida, quer ter o filho, mas não
quer criar o filho, ela procura uma instituição credenciada pelo governo que tem uma lista de casais
pré determinados. Nós temos os casais 1 a 30, então a mãe seleciona essas 3 famílias e conversa com
elas. Ela não fica sabendo a identidade daquelas pessoas e então ela decide para onde o filho vai.
Isso no direito brasileiro é proibido, se ocorrer é caso de perda do poder familiar.

Causa de suspensão prevista no CC 1638, IV


Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou
arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida
que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar,
quando convenha.
Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por
sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.
OBS.: A questão da vacina pode entrar aqui também, pois é mais fácil que o juiz suspenda o
poder familiar por conta disso, do que extinga, até porque para onde vai aquele filho né.

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16) GUARDA
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Daniela Patrícia
16.1 Conceito
Guarda é o direito de ter os filhos em sua companhia.
Enquanto o casal está junto, isso não é questão de problema pois ambos exercem a guarda,
que significa administrar a vida e o patrimônio desse menor, e tê-lo em sua companhia. O problema
vem quando esse casal se separa, e surge a pergunta: a guarda será deferida a favor de quem?
1977: Quando veio a lei 6.515 (lei do divórcio) nós vimos que a guarda dos filhos era deferida
ao cônjuge que não fosse culpado, a guarda não tinha nenhum interesse da criança, o culpado
perdia a guarda, os alimentos e o nome, e o vencido ganhava esses prêmios. Por isso que era muito
importante dentro de uma separação você imputar a outra parte o máximo possível de faltas
conjugais.
Voltemos à psicanálise: ela veio mostrar que já está a cem anos tentando encontrar um motivo
para que os casamentos acabem, como é que um juiz sem saber direito o que aconteceu vai
determinar de quem é a culpa? Completamente impossível. Logo, essa questão de culpa foi
entrando em regressão e com a EC66 esperamos ter encerrado essa questão.
Função da guarda: administrar a vida e o patrimônio dos filhos, educá-los, sustentá-los e tê-
los em sua companhia.

16.2 Evolução do Conceito


Se a guarda era um prêmio, ela deveria ser concedida a um dos dois, por isso chamamos de
guarda unilateral e por isso nós dividimos a guarda em: (i) imediata – ter a posse do filho; (ii)
mediata – poder de fiscalização da vida e do patrimônio daquele filho.
O ordenamento foi evoluindo e com a CRFB/88 viu-se que a guarda não deveria ser deferida
em interesse dos pais e sim no melhor interesse da criança. Essa evolução trouxe uma alternativa
chamada guarda alternada, que se traduz numa guarda unilateral, cujo os polos se trocavam
com maior rapidez. Isso se dava quando as partes entravam num acordo, ou quando o juiz não
achava o culpado. A partir da década de 90 o momento já não girava mais em volta da questão do
enfrentamento, era a de composição e da percepção de que o mais importante numa separação era
preservar a integridade psíquica dos filhos.
Decorrente desse novo giro, vem a guarda compartilhada, aqui não existe a cisão da
guarda em imediata e mediata, pois ambos os pais assumem a mesma responsabilidade sobre a
criação do filho, tanto ter os filhos em sua companhia quanto fiscalizar é função dos dois ao mesmo
tempo. Aqui não existe mais o conflito mas sim o consenso entre o casal. A guarda compartilhada
foi instituída no código em 2008.

16.3 Tipos
No CCB temos guardas unilateral e compartilhada.
Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada.
§ 1o Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua
(art. 1.584, § 5o) e, por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e
deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos
comuns.
§ 2o Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma equilibrada
com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos:
I - afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar;
II - saúde e segurança;
III - (revogado).
§ 3º Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos filhos será aquela que melhor
atender aos interesses dos filhos.
§ 4o (VETADO).

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§ 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos, e,
para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar informações
e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações que direta ou indiretamente
afetem a saúde física e psicológica e a educação de seus filhos.
Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:
I - requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação autônoma de separação,
de divórcio, de dissolução de união estável ou em medida cautelar;
II - decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho, ou em razão da distribuição de
tempo necessário ao convívio deste com o pai e com a mãe.
§ 1o Na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o significado da guarda compartilhada, a
sua importância, a similitude de deveres e direitos atribuídos aos genitores e as sanções pelo
descumprimento de suas cláusulas.
§ 2o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, será aplicada, sempre que
possível, a guarda compartilhada. — É antagônico, uma vez que o espirito da guarda compartilhada pressupõe
o consenso e a constante colaboração entre os pais.
§ 3o Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob guarda
compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em orientação
técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar, que deverá visar à divisão equilibrada do tempo com o
pai e com a mãe.
§ 4o A alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado de cláusula de guarda, unilateral ou
compartilhada, poderá implicar a redução de prerrogativas atribuídas ao seu detentor, inclusive quanto ao
número de horas de convivência com o filho.
§ 5o Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda à
pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferência, o grau de
parentesco e as relações de afinidade e afetividade.
§ 6o Qualquer estabelecimento público ou privado é obrigado a prestar informações a qualquer dos
genitores sobre os filhos destes, sob pena de multa de R$ 200,00 (duzentos reais) a R$ 500,00 (quinhentos
reais) por dia pelo não atendimento da solicitação.

Perda da guarda: não se perde a guarda pela separação, divorcio, novo casamento, ou infração
dos deveres conjugais. Só se perde a guarda por infrações no exercício do poder familiar.

16.4 A guarda do ECA


(Art. 33)
“É o estágio intermediário entre a adoção e a tutela, uma vez que é provisória, concedida
liminarmente ou incidentalmente nesses procedimentos, visando regularização da posse de fato.”
Ela é ligeiramente diferente, se revela como uma detenção provisória de uma criança ou
adolescente sem o exercício do poder familiar. A diferença entre esta, e a guarda do CCB, é que a
criança ou adolescente está com quem detém o poder familiar, no ECA não. Então normalmente
esta guarda é uma preparação para a adoção ou para alguma necessidade da criança/adolescente.
Por exemplo, uma criança perde os pais ou não tem por perto quem detenha o poder familiar.
Roda dos expostos era uma roda de madeira que ficava nos muros dos conventos, lá a mãe
colocava a criança naquela roda e girava colocando a criança para dentro do convento. Essa criança
ficava na guarda provisória dessas irmãs até ser dada em adoção. Por isso que essas irmandades
católicas foram os primeiros orfanatos do pais.
Essa necessidade da criança acontece ainda, como por exemplo, a família tem uma roça e lá tem uma
criança que não tem como estudar, aí manda a criança para a cidade para poder estudar, e na cidade ela precisa de ter
uma guarda um responsável por ela. O poder familiar permanece com os pais, mas ela precisa de um
responsável que olhe por ela. Se eu trago uma criança da roça para estudar na cidade, essa criança
tem o direito ao mesmo plano de saúde de meus filhos, tem direito a uma pensão. Mas ocorre muita
fraude nesse sentido, como caso do avô é aposentado e coloca os netos em sua guarda, mas na verdade eles estão
morando com os pais, faz isso para os netos poderem ter direito ao plano de saúde, mas como eles não contribuem pode
acontecer do plano quebrar.

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16.5 ALIENAÇÃO PARENTAL
É a interferência psicológica causa na criança/adolescente, promovida ou induzida por um
dos genitores, pelos avós ou por quem tenha a criança/adolescente sob sua autoridade, guarda
ou vigilância, para que repudie genitor (pai na verdade) ou que cause prejuízo ao estabelecimento
ou a manutenção de vínculos com este.
O juiz já não discute mais a culpa, mas os pais continuam discutindo a culpa com os filhos;
um cônjuge acaba jogando o outro cônjuge contra o filho. Este filho tem a mãe e o pai como
exemplo, e quando um começa a falar do outro causa um conflito na cabeça da criança que leva a
uma condição psicológica ruim. Gardner foi quem identificou essa síndrome (síndrome é um desajuste
caracterizado por uma série de sintomas) e essa alienação parental é esse conflito trazido aos filhos
no fim da conjugalidade.

.1 CAUSA: opção vingativa de uma das partes que geram um conflito de lealdade da criança
e outros comportamentos perturbadores da saúde emocional do menor, inclusive com criação
fictícia de abuso sexual — usam o argumento de abuso sexual na guarda unilateral para evitar que o
outro pai tenha contato com a criança. E o juiz nesse caso vai preferir não arriscar. E o resultado
disso é muito negativo, ainda mais para as crianças que tem que aprender que aquele é um pai
carinhoso.
A Lei 12.318/2010 veio tentar resolver esse problema, mas assumindo que o poder
judiciário não tem o poder de resolver isso, então passaram para uma análise técnica do psicólogo,
para conferir essas imagens plantadas na cabeça da criança.

Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do


adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao
estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados
pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:
I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou
maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente,
inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou
dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança
ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.

.2 CONSEQUÊNCIAS
Se houver configuração de alienação parental as consequências mais graves são: Perda da
guarda, e afastamento da criança, dentre outras. Pode vir até uma astreinte para que se
chegue a ocorrer a configuração de alienação parental (cada ato não cumprido com a criança aplica
uma multa em face do parente devedor – como atrasar para pegar ou deixar a criança numa forma de birra
com o outro pai).

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17) TUTELA
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O que é personalidade?
É a possibilidade jurídica — sobre esse aspecto toda personalidade é jurídica, e só dentro do
ordenamento jurídico vou poder dizer quem é pessoa e quem não é. Desdobramentos: pessoa
natural e pessoa jurídica.
Muitos autores misturam a pessoa na sua valoração como ser humano com os valores da sua
personalidade jurídica; Nacif julga como uma visão que mais atrapalha. E quem me diz a
possibilidade jurídica que eu tenho é o ordenamento jurídico que está por trás disso. No direito
argentino começa com a concepção; no direito inglês não existe o conceito de personalidade.
No direito brasileiro, a partir do momento que uma pessoa natural nasce com vida, ou que
uma pessoa jurídica é instituída ela passa a poder ser sujeito de direito (ser jogador no mundo
jurídico) — ou seja: já pode receber herança, direito filial, credor de alimentos, etc. Mas isso significa
que posso fazer tudo (posso jogar em qualquer posição?)?
Não, minha personalidade é restringida, limitada em alguns fatores, e essa limitação de
possibilidades é o que eu chamo de capacidade.

O que é capacidade?
Nada mais que uma limitação ao sujeito de direito, que nada mais é que uma medida da
personalidade. E que tipo de capacidade eu tenho? Tenho capacidade restrita, e capacidade plena.
A capacidade plena aparece em determinado ramo do direito e em circunstâncias e
momentos diferentes. Então, a capacidade civil é aos 18, a capacidade penal existe com algumas
medidas de segurança até os 12, se aprimora aos 18, e se torna plena aos 21; eleitoral? 16; militar?
17. A cada momento da minha vida vou ter essa capacidade maior ou menor, e no direito civil terei
capacidade plena a partir dos 18 anos.
Mas se eu tenho a capacidade restrita, alguém tem que exercer a capacidade plena por mim.
Quem?
Aquele detentor do poder familiar, normalmente o pai e a mãe, que vão me assistir dos 16 aos
18. Posso mudar esse poder familiar através de uma adoção — juiz permite que outra pessoa
assuma poder familiar. Isso também ocorre nos casos em que os detentores naturais desse direito
familiar não possam mais exercer esse poder, como em falecimento dos pais, ou prisão. Em casos
como esses, o juiz vai determinar um tutor, que é o caso da tutela (o poder familiar natural - pai e
mãe - é exercido por duas pessoas, mas ele é um só).
Então tenho essas duas transferências possíveis de poder familiar: adoção e tutela.

17.1 O que é tutela?


Art. 1.690. Compete aos pais, e na falta de um deles ao outro, com exclusividade, representar os filhos
menores de dezesseis anos, bem como assisti-los até completarem a maioridade ou serem emancipados.
Parágrafo único. Os pais devem decidir em comum as questões relativas aos filhos e a seus bens; havendo
divergência, poderá qualquer deles recorrer ao juiz para a solução necessária.

Art. 1.740. Incumbe ao tutor, quanto à pessoa do menor:

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I - dirigir-lhe a educação, defendê-lo e prestar-lhe alimentos, conforme os seus haveres e condição;
II - reclamar do juiz que providencie, como houver por bem, quando o menor haja mister correção;
III - adimplir os demais deveres que normalmente cabem aos pais, ouvida a opinião do menor, se este já
contar doze anos de idade.

Art. 1.741. Incumbe ao tutor, sob a inspeção do juiz, administrar os bens do tutelado, em proveito deste,
cumprindo seus deveres com zelo e boa-fé.

Art. 1.747. Compete mais ao tutor:


I - representar o menor, até os dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após essa idade, nos atos em
que for parte;
II - receber as rendas e pensões do menor, e as quantias a ele devidas;
III - fazer-lhe as despesas de subsistência e educação, bem como as de administração, conservação e
melhoramentos de seus bens;
IV - alienar os bens do menor destinados a venda;
V - promover-lhe, mediante preço conveniente, o arrendamento de bens de raiz.

Conceito
“É a transferência de um cargo conferido a alguém (tutor) para que dirija a pessoa e
administre os bens de menor que não incide no poder familiar dos pais, bem como representar,
educar, defender e prestar alimentos.”
✦ FUNÇÃO DO TUTOR: o tutor representa ou assiste o menor conforme o caso, dirigindo
a pessoa e administrando os bens.

Tal como a adoção a tutela é uma transferência do exercício do poder familiar. Mas
qual a diferença entre os dois? Na adoção eu transfiro o poder familiar, já na tutela eu transfiro o
exercício do poder familiar, a guarda imediata. Na adoção, após 18 anos cessa o poder familiar mas
resta o parentesco; já na tutela cessa o exercício do poder familiar.
O tutor só exerce o poder familiar, mas o poder familiar em si pertence ao estado, na
pessoa do juiz, de modo que todo tutor deve prestar contas ao juiz que concedeu a tutela e que tem
a obrigação de fiscalizar, porque o juízo fica na verdade com a guarda mediata do menor, ele
inclusive é responsável PESSOALMENTE por ele.

17.2 Espécies
O tutor é nomeado pelo juiz, mas ele pode ser indicado:
(1) Tutela Legal:
Tutela pode ser testamentária, pelos pais em testamento; ou tutela em escrito autêntico.
Art. 1.729. O direito de nomear tutor compete aos pais, em conjunto.
Parágrafo único. A nomeação deve constar de testamento ou de qualquer outro documento autêntico.

(2) Tutela judicial:


A tutela pode ser Legítima, em que a lei prevê quem serão os tutores legítimos, são os casos
do 1.731, em que há uma relação de parentesco e uma indicação legal nesse sentido.
Art. 1.731. Em falta de tutor nomeado pelos pais incumbe a tutela aos parentes consangüíneos do menor,
por esta ordem:
I - aos ascendentes, preferindo o de grau mais próximo ao mais remoto;
II - aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os mais próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os
mais velhos aos mais moços; em qualquer dos casos, o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer a
tutela em benefício do menor.
Ou ser uma Tutela Dativa, quando pressupõe na tutela exercida por um terceiro, diferente a
consangüinidade do menor, é quem irá nomear o tutor dativo seja o magistrado, e para ocorrer à

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nomeação, a pessoa a ser nomeada deverá ser uma pessoa de caráter idôneo e deverá residir no
domicílio do menor de idade. Pode haver nos casos do art. 1.732.
Art. 1.732. O juiz nomeará tutor idôneo e residente no domicílio do menor:
I - na falta de tutor testamentário ou legítimo;
II - quando estes forem excluídos ou escusados da tutela;
III - quando removidos por não idôneos o tutor legítimo e o testamentário.

(3) Tutela oficial:


Art. 1.734. As crianças e os adolescentes cujos pais forem desconhecidos, falecidos ou que
tiverem sido suspensos ou destituídos do poder familiar terão tutores nomeados pelo Juiz ou serão
incluídos em programa de colocação familiar, na forma prevista pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 -
Estatuto da Criança e do Adolescente.

(4) Outras formas de tutelas especiais:


1. ad hoc — as tutelas designadas para o caso concreto. Sempre que houver conflito de
interesses por exemplo, entre o pai e o filho, o juiz nomeará um tutor ad hoc;
2. oficial — quando o estado toma para si a tutela daquele menor, orfanatos por exemplo,
mais comum em países em condições de pós-guerra (art. 4º p. único);
3. de fato é aquele que gerencia a vida do menor e os seus bens sem a autorização judicial,
o que o torna mero gestor de negócios;
4. tutela precária — lembra da posse precária? Em direitos reais é aquela posse que se
inicia de forma justa mas por advento de uma circunstância ela se torna ilegítima — no caso da
tutela precária temos o caso da mãe binuba (CC/16), que evidente não existe mais, que era
aquela mãe viúva que ao casar de novo perdia a tutela legítima do filho, esta tutela ia para o
estado.

Sempre que os pais indicam quem são os tutores (testamentária e escrito autêntico), segundo
Caio Mario, o juiz deve obrigatoriamente acatar, porque a possibilidade dos pais errarem é muito
menor que a possibilidade do juiz errar. O juiz é pessoalmente responsável tanto pela indicação do
tutor, quanto pela fiscalização da tutela, então em qualquer problema quem paga o pato é o juiz
pessoalmente, e não o juízo ou o Estado.

17.3 Impedimentos
O 1.735 vem com 6 itens que impedem a pessoa de ser tutor.
Seção II
Dos Incapazes de Exercer a Tutela
Art. 1.735. Não podem ser tutores e serão exonerados da tutela, caso a exerçam:
I - aqueles que não tiverem a livre administração de seus bens; — como o pródigo.
II - aqueles que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se acharem constituídos em obrigação para com
o menor, ou tiverem que fazer valer direitos contra este, e aqueles cujos pais, filhos ou cônjuges tiverem demanda
contra o menor; — havendo um conflito de interesses, como ser devedor ou credor do pupilo.
III - os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido por estes expressamente excluídos da tutela;
— excluídos pela via testamentária, por exemplo.
IV - os condenados por crime de furto, roubo, estelionato, falsidade, contra a família ou os costumes,
tenham ou não cumprido pena;
V - as pessoas de mau procedimento, ou falhas em probidade, e as culpadas de abuso em tutorias
anteriores; — improbidade, estelionato, e abusos flagrados em tutorias anteriores.

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VI - aqueles que exercerem função pública incompatível com a boa administração da tutela. — por exemplo
funcionários públicos que tenham que se mudar constantemente por força da função.

17.3 Escusas
Percebam, o poder familiar retorna ao Estado, que defere o exercício do poder familiar a uma
pessoa qualquer, e essa pessoa que está cumprindo essa função está cumprindo uma função pública,
é deferido pelo juiz (assim como o mesário, o jurado) então vai exercer isso de graça, e é obrigado a
fazer isso. Contudo, em algumas situações é possível alegar ao juiz que você não pode, estas
possibilidades estão no 1.736. É uma circunstância de não ser impedido, mas se o indicado não
quiser, não precisa assumir essa responsabilidade.
Seção III
Da Escusa dos Tutores
Art. 1.736. Podem escusar-se da tutela:
I - mulheres casadas; — não deveriam poder se escusar nem o homem nem a mulher casada, de acordo com as
regras de igualdade material, vide opinião do Nacif.
II - maiores de sessenta anos;
III - aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos; — mais de 4 filhos menores.
IV - os impossibilitados por enfermidade;
V - aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela;
VI - aqueles que já exercerem tutela ou curatela;
VII - militares em serviço.

Prazo para manifestar a escusa: 10 dias.


Da designação, ou da ocorrência do motivo escusatório.
Art. 1.738. A escusa apresentar-se-á nos dez dias subseqüentes à designação, sob pena de entender-se
renunciado o direito de alegá-la; se o motivo escusatório ocorrer depois de aceita a tutela, os dez dias contar-se-ão
do em que ele sobrevier. — sobre isso:

Percebam o seguinte: tenho 3 filhos, já estou exercendo a tutela a 1 ano, e ganhei mais um filho,
passando agora a ter 4 filhos, desde esse momento tenho 10 dias para me manifestar nessa escusa; nesse
sentido esse artigo 1.738 não atende o melhor interesse do menor, porque se o sujeito não se manifestar
nesses 10 dias do descobrimento do quarto filho ele perde a oportunidade de escusar-se depois.
Assim, fugindo do melhor interesse do menor, a lei está incentivando qual tipo de atitude? Por uma
análise consequencialista dessa atitude, percebemos que é uma consequência ruim, porque se não fosse esse
prazo às vezes o tutor poderia tentar manter os 5 filhos, e depois se não conseguisse manter os 5 desistir dessa
tutela — mas como essa oportunidade vem só uma vez do descobrimento do fato, na dúvida a pessoa pode
optar por já romper essa tutela (que é a estratégia dominante, aka o que geralmente acontece). Por isso, esse
artigo é permicioso ao melhor interesse do menor.

17.3 Exercício da Tutela


É indivisível e indelegável, e no prazo de 2 anos. Pode ser renovado, e a partir do vencimento
do primeiro prazo a pessoa pode se escusar.
Art. 1.765. O tutor é obrigado a servir por espaço de dois anos.
Parágrafo único. Pode o tutor continuar no exercício da tutela, além do prazo previsto neste artigo, se o
quiser e o juiz julgar conveniente ao menor.

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São regras sempre presentes:
Sob a luz desses artigos, em suma: a Educação da criança se dá às expensas do tutor (ele quem
paga), ou do próprio menor se ele tiver dinheiro; Correções, que são punições e castigos, pelo juiz,
jamais pelo tutor; compete ao tutor cumprir o dever que cumprem aos pais; que devem atentar para
opinião do menor se ele tiver mais de 12 anos de idade — não quer dizer que vai atender a opinião dele,
mas deve considerar; Administrar os bens sob a inspeção do juiz, não lhe cabendo usufruto.
Art. 1.741. Incumbe ao tutor, sob a inspeção do juiz, administrar os bens do tutelado, em proveito deste,
cumprindo seus deveres com zelo e boa-fé.
Art. 1.742. Para fiscalização dos atos do tutor, pode o juiz nomear um protutor.
Art. 1.743. Se os bens e interesses administrativos exigirem conhecimentos técnicos, forem complexos, ou
realizados em lugares distantes do domicílio do tutor, poderá este, mediante aprovação judicial, delegar a
outras pessoas físicas ou jurídicas o exercício parcial da tutela.
Art. 1.744. A responsabilidade do juiz será:
I - direta e pessoal, quando não tiver nomeado o tutor, ou não o houver feito oportunamente;
II - subsidiária, quando não tiver exigido garantia legal do tutor, nem o removido, tanto que se tornou
suspeito.
Art. 1.745. Os bens do menor serão entregues ao tutor mediante termo especificado deles e seus valores,
ainda que os pais o tenham dispensado.
Parágrafo único. Se o patrimônio do menor for de valor considerável, poderá o juiz condicionar o exercício
da tutela à prestação de caução bastante, podendo dispensá-la se o tutor for de reconhecida idoneidade.
Art. 1.746. Se o menor possuir bens, será sustentado e educado a expensas deles, arbitrando o juiz para tal
fim as quantias que lhe pareçam necessárias, considerado o rendimento da fortuna do pupilo quando o pai
ou a mãe não as houver fixado.

A tutela é indesejável e indivisível. Ou seja, não pode passar sua função para outras
pessoas. Contudo, o próprio código traz três casos que permitem atuação desses coadjuvantes,
participação de outras pessoas.
(1) Pró-tutor: para fiscalizar as ações do tutor — por exemplo, caso que veio a partir de
uma denúncia no DF, de caso ocorrido no Rio de Janeiro na década de 80, dois órfãos de filhos
de um casal donos de uma empresa de transporte urbana do rio de janeiro, que ao falecerem
deixaram muito dinheiro, mas os tutores gastaram todo patrimônio antes dos filhos
completarem 21 anos; mesmo caso dos filhos do PC Faria. O que aconteceu? percebam, como é
que um juiz vai fiscalizar um tutor que tem como função administrar uma empresa de ônibus?
Ele precisa de uma pessoa especializada que faça essa fiscalização; claro que em se tratando de
um patrimônio considerável, ele deve ter uma expertise na sua área de atuação e evidentemente
atua para isso. Esse pró-tutor tem responsabilidade profissional e pessoal.
(2) Delegatário: é o mandatário, para exercer função específica e justificável acerca do
patrimônio do menor — então estou com meu sobrinho, os pais morreram, fico na tutela dessa
criança mas os pais deixaram uma fazenda no Mato Grosso. Diante de uma situação dessas eu
nomeio um procurador, delegando uma função específica para esse delegatário, que vai nesse
caso cuidar da fazenda. — via de regra o mandato do direito civil é gratuito, mas conforme o
contrato ele pode ser remunerado, dependendo do trabalho.
(3) O juiz: que é pessoalmente responsável nos termos do artigo 1.744 e 1745. Ditado: será
indireta e subsidiária se não exigir as garantias legais do tutor e nem o remover quando se
tornou suspeito (1.745 p. Único). Será direta e pessoal se não nomear o tutor ou se não o
nomear oportunamente.

Art. 1.747. Compete mais ao tutor: — sem necessidade de autorização judicial.

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I - representar o menor, até os dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após essa idade, nos atos em
que for parte;
II - receber as rendas e pensões do menor, e as quantias a ele devidas;
III - fazer-lhe as despesas de subsistência e educação, bem como as de administração, conservação e
melhoramentos de seus bens;
IV - alienar os bens do menor destinados a venda; — que bem de menor é destinado a venda, senhores? Por
exemplo, bois. Pertencem ao menor, o tutor não precisa consultar juiz para vender aquilo.
V - promover-lhe, mediante preço conveniente, o arrendamento de bens de raiz. — o que é bem de raiz?
São bens imóveis.
Art. 1.748. Compete também ao tutor, com autorização do juiz:
I - pagar as dívidas do menor;
II - aceitar por ele heranças, legados ou doações, ainda que com encargos;
III - transigir; — é uma forma de extinção de obrigações pelo qual se abre mão de algum dos direitos do menor.
IV - vender-lhe os bens móveis, cuja conservação não convier, e os imóveis nos casos em que for permitido;
— não são bens destinados a venda, então só pode vender com a autorização judicial.
V - propor em juízo as ações, ou nelas assistir o menor, e promover todas as diligências a bem deste, assim
como defendê-lo nos pleitos contra ele movidos.
Parágrafo único. No caso de falta de autorização, a eficácia de ato do tutor depende da aprovação ulterior
do juiz. — ou seja, pode ser autorização prévia, mas o juiz também pode autorizar depois.
Art. 1.749. Ainda com a autorização judicial, não pode o tutor, sob pena de nulidade: — ou
seja, não pode de jeito nenhum!
I - adquirir por si, ou por interposta pessoa, mediante contrato particular, bens móveis ou imóveis
pertencentes ao menor;
II - dispor dos bens do menor a título gratuito;
III - constituir-se cessionário de crédito ou de direito, contra o menor.

OBS.: LER: 1753 A 1762 — que correspondem às seções V Dos Bens do Tutelado, e VI Da
Prestação de Contas, não merecem atenção especial em aula, mas é para ler e decorar.

17.3 Cessação da Tutela


A) Em relação ao pupilo:
A tutela vai cessar quando o pupilo atingir a maioridade (completar 18 anos, emancipação,
casamento, qualquer dessas formas); nos casos de adoção (inclusive o tutor pode adotar o tutelado,
mas só depois de fechar a tutela, ou seja, depois que presta contas dos bens do menor e faz um
balanço dessa tutela, lembrando que não é a única forma de fechar a tutela o vencimento do prazo
de 2 anos, então ele pode fechar essa tutela antes desse prazo se diante dessa finalidade de adoção,
por exemplo).
B) Em relação ao tutor:
Quando este incorrer em um dos motivos de escusa; quando for removido pelo juiz; quando
expirar o tempo de dois anos do art. 1.765.
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18) CURATELA
________________________________________________________________________________

18.1 O que é?
Percebam que pelo padrão temporal do direito brasileiro aos 18 anos toas as pessoas se
tornam plenamente capazes, então paro de ter uma medida da minha personalidade e tenho a
capacidade plena para todos os atos da vida civil — todas as pessoas, indistintamente. Entretanto,
algumas pessoas não tinham a condição de permanecer na orientação da sua própria vida, há
circunstâncias em que a pessoa perde a capacidade de gerenciar a própria vida. Nesses casos, essa
capacidade he é dada ope leges mas ela tem que ser imediatamente retirada, porque a pessoa pode
colocar em risco a si mesma e seu patrimônio. Por exemplo, imagine uma pessoa com a doença de
Alzheimer. Logo, deve se proceder com uma interdição (ação judicial de interdição), na qual se
retira a capacidade plena dessa pessoa, e entrega a uma pessoa, o curador, que a partir daí vai
cuidar dos bens e da vida do curatelado.
Conceito: é o encargo cometido pelo Estado para dirigir a pessoa e administrar os bens de
maiores incapazes.

18.2 Casos de Curatela


Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:
I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
V - os pródigos.

Observe que o artigo está cortado. Então o que saiu desses casos?
Saiu as pessoas que de forma incompleta não podem exprimir sua vontade, mas que ainda
assim não podem exprimir sua vontade. Imaginem os senhores sua medida de capacidade civil
plena em uma escala que vai de 0 a 100%. 1% seria um bebê, 100% eu obtenho quando completo
meus 18 anos — por exemplo, uma pessoa que tinha 20% de capacidade, ao fazer 18 anos obteria 100% dessa
capacidade? Não, porque teria a necessidade de curatela. Mas imagine, o código entendeu que existe
um meio termo, de quem não precisaria de uma curatela, para os casos do estatuto dos deficientes
mentais, porque se entende que eles teriam discernimento parcial (de por exemplo, 60%).
Assim criou-se para esses deficientes mentais um outro instituto que não a curatela, porque
eles não precisam de um curador, eles precisam de uma orientação, e esse outro instituto é a
Tomada de Decisão Apoiada, que é a tomada de decisão por duas pessoas que vão junto a esse
deficiente mental permitir negócios jurídicos. Ainda existe a curatela, só não para os deficientes
jurídicos: foram revogados os incisos: II - aqueles que por outra causa duradoura não puderem exprimir sua
vontade; e IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental. A tomada de decisão apoiada está
previsto no 1.783-A.

18.3 Efeitos e Limites


Quem pode restringir essa capacidade plena?
Apenas o judiciário, através de uma sentença de interdição. Essa sentença deveria
obrigatoriamente trazer os limites dessa interdição, mas nunca traz. O interessante dessa sentença é
que ela é declaratória. Ou seja, ela não imputa uma restrição à pessoa, ela reconhece que a
pessoa não tem capacidade de fazer seus atos. A partir dessa sentença declaratória, todos os atos
jurídicos feitos a partir dela são nulos, essa sentença vai para o registro civil da pessoa (fica na
certidão de nascimento ou casamento; ou vai para o 1º RCTN daquela comarca); assim, ao tratar de
compra e venda por exemplo de pessoas de fora, sempre solicitam certidão de não interdição.
Como a sentença é declaratória os atos são anuláveis, porque se um ano depois essa
pessoa for interditada, esse ato retroage. Retroage até quando? É uma questão de prova, ou seja,
devo provar que já estava diante da circunstância dessa interdição.

BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. 6! 9


Limites da curatela: sempre especificado em sentença. Os artigos 1.772, e 1.782 que
traz o caso específico dos pródigos. Em determinada altura o código diz que: todo instrumento usado
para tutela, será usado para curatela, inclusive o balanço apresentado ao final do exercício, vide 1.783.
OBS.1: o juiz não é pessoalmente responsável na curatela, o curador sim.
OBS.2: pode haver curatela em relação à bens específicos.

18.4 TOMADA DE DECISÃO APOIADA


Curatela era esse deferimento judicial da administração da pessoa e dos bens de maior
incapaz. Precisava de uma decisão judicial, se a aquisição da capacidade plena se dá ipso factum a sua
retirada somente pode se dar de forma judicial, porque é uma agressão do estado, que invade e
retira esse direito, mas é uma retirada que ele faz para proteger. Quem eram as pessoas submetidas
à curatela? Os casos do antigo 1.767, acontece que os deficientes que estavam nos antigos incisos III
e IV desse artigo foram retirado. Nacif menciona o teste da nota de 10 reais que consiste na entrega de
10 reais pelo juiz para o interditado, que é questionado sobre tal: se ele não sabe o que fazer com
essa nota, já é um forte indício para o juiz realizar essa interdição; quando há, o juiz defere na
pessoa do curador, que vai tomar conta do curatelado.
Quando o estatuto do deficiente retirou esse grupo de pessoas do art 3º e 4º do código civil
brasileiro (deixaram de ser relativa ou absolutamente incapazes), e deixaram de estar sujeitos à
curatela. Foi criado o instituto da tomada de decisão apoiada, no qual serão nomeados pelo
deficiente 2 pessoas de sua confiança, apoiadores, e esses apoiadores que vão tomar as decisões
patrimoniais e existenciais da sua vida junto com ele.

O que a lei não disse?


Contexto debatido pelo filme ‘8º dia’ — o filme discute o casamento de pessoas deficientes que precisam
ser autorizadas para o casamento, e levanta um questionamento: será que todos tem o direito de ser feliz, mas o
deficiente não? — o ordenamento não deixou claro que era uma capacitação plena existencial, deixou
junto a questão patrimonial, sobre a qual não tem como eles terem uma capacidade plena, porque a
lei tem esses institutos para a proteção do deficiente. O brasil copiou essa estrutura principalmente
do direito francês e italiano.
Lei 49/2018: estruturas refeitas e esclarecimentos (lei portuguesa). No Brasil temos
regulamentação pelo 1.783-A. Nessa lei eles trazem dois tipos de representação: a representação
geral, que é paralela à nossa curatela, e a representação especial que é similar à tomada de decisão
apoiada mas com apenas um apoiador. Eles eliminaram a categoria/expressão relativamente
incapaz. Lembram da escusa? Cônjuge, ascendentes e descendentes não podem se escusar, eles tem
que necessariamente ser apoiadores do membro da família.

CAPÍTULO III - Da Tomada de Decisão Apoiada (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo
menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe
apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para
que possa exercer sua capacidade.
§ 1o Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem
apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores,

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inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que
devem apoiar.
§ 2o O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada, com indicação
expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste artigo.
§ 3o Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe
multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe
prestarão apoio.
§ 4o A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que
esteja inserida nos limites do apoio acordado.
§ 5o Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que os apoiadores
contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito, sua função em relação ao
apoiado.
§ 6o Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo divergência de
opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir
sobre a questão.
§ 7o Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as obrigações
assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao
juiz.
§ 8o Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de
seu interesse, outra pessoa para prestação de apoio.
§ 9o A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado em processo de
tomada de decisão apoiada.
§ 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de tomada de decisão
apoiada, sendo seu desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre a matéria.
§ 11. Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber, as disposições referentes à prestação de
contas na curatela.

Quem tem legitimidade para promover a interdição?


CPC - Art. 747. A interdição pode ser promovida:
I - pelo cônjuge ou companheiro;
II - pelos parentes ou tutores;
III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando;
IV - pelo Ministério Público.
Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição
inicial.

18.5 Sistema de Proteção à Criança e Adolescente


Logo depois da CRFB/88 pegaram todos os institutos conexos de proteção à criança e
adolescente e devido a sua especificidade se fez necessário um micro-sistema para tratar desse
assunto, nada mais são que micro-códigos para tratar de determinado assunto, porque dentro
daquele sistema tenho todos os ramos do direito pertinentes àquela matéria. Observe: temos
sistemas maiores, o direito material, processual, penal, administrativo, tudo dentro de um mesmo
sistema. Exemplos de micro-sistema: ECA, CDC — tudo a respeito daquele tema será discutido
dentro desses códigos específicos, o código civil só será consultado em tema que o específico não
fizer. Qual é a sugestão do Nacif para lidar melhor com a questão dos deficientes? Fazer isso, fazer
um micro-código.

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19) BEM DE MENOR
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SUBTÍTULO II
Do Usufruto e da Administração dos Bens de Filhos Menores
Art. 1.689. O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar: — ou seja: não pode na tutela.

I - são usufrutuários dos bens dos filhos;


Como usufrutuário dos bens dos meus filhos posso receber todos os frutos civis e não preciso
prestar contas deles; se meu filho tiver um apartamento eu posso, por exemplo, alugar esse apartamento, receber os
aluguéis e gastar esse dinheiro, porque presume-se que eu estou gastando em benefício dos meus filhos.
II - têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade.

Art. 1.690. Compete aos pais, e na falta de um deles ao outro, com exclusividade, representar os
filhos menores de dezesseis anos, bem como assisti-los até completarem a maioridade ou serem
emancipados.
Parágrafo único. Os pais devem decidir em comum as questões relativas aos filhos e a seus bens;
havendo divergência, poderá qualquer deles recorrer ao juiz para a solução necessária.

Art. 1.691. Não podem os pais alienar, ou gravar de ônus real os imóveis dos filhos, nem contrair,
em nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da simples administração, salvo por
necessidade ou evidente interesse da prole, mediante prévia autorização do juiz.

Não posso vender o bem do menor nem entregá-lo em garantia; que prévia autorização do juiz é essa? Se
chama alvará. Quais são os casos possíveis de necessidade e evidente interesse da prole? Percebam que é da
prole, não só do bem de menor, um motivo básico seria para investimento em ensino superior.

Parágrafo único. Podem pleitear a declaração de nulidade dos atos previstos neste artigo:
I - os filhos;
II - os herdeiros;
III - o representante legal.

Art. 1.692. Sempre que no exercício do poder familiar colidir o interesse dos pais com o do filho, a
requerimento deste ou do Ministério Público o juiz lhe dará curador especial.

CASOS DE EXCLUSÃO DO BEM DE MENOR


Art. 1.693. Excluem-se do usufruto e da administração dos pais:
I - os bens adquiridos pelo filho havido fora do casamento, antes do reconhecimento; — Pela lei
8.560 vimos que o vínculo do direito de família, como tudo, não pode ser submetido a termo, prazo ou condição, o
próprio artigo 1.693 exclui todos os bens adquiridos antes do reconhecimento de paternidade, na tentativa de evitar um
conflito de interesses.
II - os valores auferidos pelo filho maior de dezesseis anos, no exercício de atividade profissional e os
bens com tais recursos adquiridos;
III - os bens deixados ou doados ao filho, sob a condição de não serem usufruídos, ou
administrados, pelos pais;
IV - os bens que aos filhos couberem na herança, quando os pais forem excluídos da sucessão.

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20) ADOÇÃO
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A adoção faz parte do micro-sistema do ECA - Instituto da Criança e do Adolescente. Vimos


que a paternidade tem seu vínculo estabelecido de forma natural e de forma civil, e o
estabelecimento civil pode se dar por duas maneiras: pelas presunções em lei naqueles casos de
inseminação artificial e na adoção.
Conceito: é o estabelecimento civil de vínculos de filiação e paternidade, pautado pela
isonomia e pela irrevogabilidade (art. 227 CRFB c/c 48 ECA). É a ficção legal que estabelece laços
de paternidade entre um adotante e sua família, e o adotado.
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em
motivos legítimos.

1º - Irrevogabilidade
Se dá pelo fato de que toda e qualquer adoção advém de uma sentença judicial. Alguns países
no mundo admitem a revogabilidade (como EUA e Suíça; inclusive nos dois você perde sua
cidadania nesses casos).
2º - O vínculo é do adotado com toda a família do adotante.
O que não era no CC/16. Hoje é uma situação potestativa, a partir do momento que meu
filho resolve adotar uma criança virei avô, antes não era assim que funcionava, eu não era vinculado
como avô se não quisesse. Se eu quiser adotar um filho e meu cônjuge não quiser adotar comigo,
então eu sou pai sozinho.
3º - Isonomia.
A partir da CRFB os filhos adotados possuem isonomia em todos os aspectos legais aos filhos
naturais.
4º - Família Biológica.
Nenhum vínculo permanecerá entre o adotado e a sua família biológica.

Efeitos: Todos os efeitos patrimoniais e pessoas decorrentes do vínculo de paternidade.


Adoção internacional: Mediante estudo e autorização do CEJA, art. 51 e 52.

19.1 Regramento Legal:


Antes do ECA o Código Civil cuidava de todas as questões pertinentes à adoção, que se dava
em cartório. O ECA que se destina às crianças (0-12) e adolescentes (12-18) passou a cuidar da
adoção nessa faixa de 0-18 anos, e o CCB prosseguiu regulando a adoção de maiores de 18 anos. A
adoção de maiores de 18 depois passa a só poder acontecer mediante permissão judicial, e deixa de
ser disposta pelo CCB, porque como é excepcional vai ser feita de acordo com as regras do ECA,
vide art. 1.619.
Art. 1.619. A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da assistência efetiva do poder público e
de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras gerais da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 -
Estatuto da Criança e do Adolescente.

19.2 Características
✦ Quem pode adotar? Quem é maior de 18 anos e tem uma diferença de pelo menos 16
anos do menor a ser adotado. Art. 40 e 42 do ECA.

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Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a
guarda ou tutela dos adotantes.

Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil.
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.
§ 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham
união estável, comprovada a estabilidade da família.
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando.
§ 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente,
contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido
iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de
afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da
concessão.
5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demonstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada a
guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código
Civil.
§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer
no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.

✦ Procuração: é vedado, não cabe.


✦ Estado de convivência: de 30 dias (obs.: Nacif disse 30 dias, mas na lei está 90), vide
art. 46. Problema, especialmente para adoções internacionais, porque dificilmente em países fora
do Brasil se tem 30 dias de férias, então dificilmente um casal consegue vir ao Brasil e passar 30
dias aqui com a criança, o que é um empecilho muito grande.
✦ Deve ser evitada a separação de irmãos: art. 28, §4º.
Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente
da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.
§ 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta,
ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a
excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos
vínculos fraternais.

✦ Acima de 12 anos exige-se o consentimento do adotado: art. 45, §2º e 28 §2º.


Art. 28. § 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido
em audiência.
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando.
§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também necessário o seu
consentimento.

19.3 Adoção de homoafetivos


A suprema corte da Califórnia diz que essa não é uma questão jurídica, mas sócio-psicológica,
e convocou 3 amicus curiae: associação americana de psiquiatria, de psicologia e de assistência social.
As três associações fizeram um laudo: para a associação de psicologia, a proibição é injusta e
discriminatória aos casais com acesso legal ao casamento civil e não há evidência científica que a
efetividade parental esteja relacionada com a orientação parental: pais homoafetivos são
semelhantes aos pais heteroafetivos no que diz respeito à prover um ambiente saudável e de
desenvolvimento para as suas crianças (p. 3 e 70). A única condicionante que foi colocada é a
estabilidade, os casais, quaisquer que seja a orientação sexual, devem ter estabilidade relacional para
se candidatar à adoção.
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Repensando o Direito de Família
João Baptista Vilella

- Leitura social refratária: Estado e Igreja de um lado, família do outro. São meios diversos de tal
sorte que, lançada nossa visão da última a partir dos primeiros, a representação que se alcança
sofre os desvios próprios da refração.
- Foram o poder político e a ordenação do culto que estenderam seus braços sobre a família e a
reconduziram para os seus quadros, impondo-lhe regras e a redesenhando sobposta a interesses
que transcendiam a seus próprios, vale dizer, interesses externos. Assim deu-se a politização e a
sacralização da família.
- Visão de família hoje está profundamente permeada não por aquilo que ela é, em sua essência,
mas no que o sagrado e o político tentaram e tentam dela fazer. Por isso, distinguir entre o fato e
a versão do fato é importante.
- Paradoxalmente o desenvolvimento do capitalismo moderno e o depuramento da fé religiosa, a
família começou a se libertar das forças extrínsecas de domínio e opressão: passagem de unidade
institucional a núcleo de companheirismo; se desvencilhar da imensa carga de atribuições que se
lhe tinham imposto (Funktionsverlust; Funktionsentlastung).
- “Perdendo função após função, acabou por encontrar a sua própria" que é a de ser locus de
amor, sonho, afeto e companheirismo, suas prestações específicas.
- A família antecede ao Estado, preexiste à Igreja e é contemporânea do direito, o poder jurídico
de um e de outra relativamente à família não pertence à ordem da atribuição. Pertence, ao
contrário, à ordem do reconhecimento. Ao Estado, assim como à Igreja, compete em grau a um
só tempo eminente e inabdicável reconhecer a família, assegurar sua faculdade de autonomia e,
portanto, de auto-regramento. O casamento e a família só serão o espaço do sonho, da liberdade
e do amor à condição de que os construam os partícipes mesmos da relação de afeto.
- O amor está para o direito de família assim como o acordo de vontades está para o direito dos
contratos.
- Não se pretende que o direito de família substitua-se à psicoterapia, mas seria redução
imperdoável de suas virtualidades concebê-lo ou praticá-lo com exclusão do aconselhamento
preventivo e reparatório, assim como da mediação extrajudicial: perspectiva - a de que o direito
de família está preordenado ao bem-estar pessoal
- O direito de família brasileiro é procriacionista (i), autoritário (ii), determinista, substitutivista,
invasivo e extremamente guloso — reconduzir às varas de família questões que de família nada
têm, desvios aberrantes de uma ordem familial saudável.
- (i) A função promocional do direito, juízes da infância e da juventude criam obstáculos, a bem
dizer insuperáveis, para a prática da adoção, Para procriar tudo é permitido. Para dar pais a
quem não os tem tudo é dificultado; (ii) Autoritárias nossas leis da família sempre que retiram às
pessoas as faculdades inerentes à capacidade negocial que se lhes reconhece; . patológico pendor
nacional para a regulamentação; "alimenta a infantilização das pessoas individualmente
consideradas e a castração da sociedade civil.

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- O casamento ou qualquer outra forma de associação íntima entre pessoas só interessa ao Estado
sob dois estritos aspectos: a proteção dos filhos menores e a adequada liquidação de um eventual
patrimônio promíscuo que se tenha formado.
- Monopólio do Estado é a imposição do direito pela força. De resto, quanto mais evoluída é uma
socieda de, tanto menos carece ela do emprego da violência para ver cumpridas suas regras; ubi
societas, ibi jus.
- A consangüinidade tem, de fato e de direito, um papel absolutamente secundário na configuração
da paternidade. Não é a derivação bioquímica que aponta para a figura do pai, senão o amor, o
desvelo, o serviço com que alguém se entrega ao bem da criança.
- A verdadeira paternidade não é um fato da biologia, mas um fato da cultura. Está antes no
devotamento e no serviço do que na procedência do sêmen”; pater is est quem nuptiae
demonstrant - regra pater is est constitui, pois, na verdade, o triunfo da vontade sobre a causalidade
física.
- Ninguém, senão o próprio marido, pode dar-lhe a conseqüência jurídica gravíssima de excluir
uma paternidade, que a lei presume em razão dos vínculos que o ligam à sua mulher. Assim como
pode, só ele, fazer sua uma paternidade que não tem apoio na causalidade biológica e afirmar,
por esse modo, a transcendência do espírito sobre a matéria.
- A construção axiológica do Código Civil: aceleração da ciência faz esquecer que o destino do
homem não está ligado ao conhecimento que detém sobre a natureza, mas ao uso que faz de sua
liberdade.
- A própria família, só pode ganhar em concentrar-se no que constitui o seu fazer específico,
importará em tratamento mais adequado dos problemas submetidos à sua jurisdição. Ideal de
escuta e de expressão, se o magistrado não dispõe de tempo, porque os autos se empilham sobre
sua mesa e as partes se acotovelam na ante-sala das audiências.

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Desbiologização da Paternidade
João Baptista Vilella
- A paternidade não é um fato da natureza, mas um fato cultural. Reside antes no serviço e no
amor que na procriação. Transformações mais recentes (1999) por que passou a família
reforçaram o esvaziamento biológico da paternidade.
- A precedência histórica da natureza sobre a cultura é dominada de carga instintiva numa
expressão do determinismo. Já história da cultura é, em larga medida, a história da
superação dos determinismo, bem como história das técnicas de com eles se compor: matéria
e espírito.
- O fato da natureza é dado por uma relação de causalidade material: a fecundação e seus
necessários desdobramentos. Pergunta: o que é fato do homem e o que é fato da natureza? O
homem tem o poder de pôr em ação mecanismos da natureza de que decorre o nascimento
de uma pessoa, ou abster-se; e diante do nascimento da pessoa, tem de novo o poder de
comportar-se em relação a ela: acolhimento ou rejeição.
- Insidioso equívoco que se abriga na chamada Investigação de paternidade: responsabilidade
social da mulher pela procriação sempre esteve acautelada, a do homem, estaria caso o
associasse à mulher o vínculo de justas núpcias. Acontecia proteção da impunidade
masculina; exceptio plurium concumbentium, é exclusão da responsabilidade paterna ao
fundamento de ter a mãe coabitado com outros homens no tempo presumível da concepção,
cujo non liquet importava assim numa espécie de absolvição prévia, geral e indeterminada.
- Decadência teórica da exceptio plurium concumbentium. Direito francês: ação para fins de
subsídios — todo descendente natural cuja filiação paterna não esteja legalmente
estabelecida, pode reclamar subsídios daquele que manteve relações sexuais com sua mãe
durante o período legal da concepção. Se for mais de um? Estende-se a todos ou alguns
(questão de prova). Extravagante possibilidade: diversos pais-varões para uma só pessoa, co-
paternidade de fato. Mas o que visa simplesmente é impedir, por uma indevida aplicação da
exceptio plurium, que fique ao desamparo o descendente. Investigação de paternidade e a ação
para fins de subsídios são diferentes: trata-se simplesmente de exercitar sua responsabilidade,
afinal ele assumiu o risco de ser o pai, a ação tem ainda caráter indenizatório.
- O direito alemão não conhece a possibilidade de dupla paternidade, mas possui o conceito
de uma paternidade exclusivamente patrimonial, que é uma paternidade limitada a um fim,
que vale como paternidade sem o ser efetivamente. A istvaterschaft é a paternidade que é
efetiva, sem sofrer essas limitações de fins; Direito austríaco e suíço: constrangiam
energicamente o pai, Que não era absolutamente considerado sequer seu parente à
obrigação de sustentar o filho; mas era questão patrimonial, em atos delatais por exemplo o
pai que não era parente não respondia ao lado do filho, só a mãe. Ambos mostram essa
responsabilidade econômica do pai biológico, expressamente excluído de qualquer vinculo
de parentesco com o filho.

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- São inúmeras as situações previstas em lei, nas quais a paternidade é atribuída a quem bem
pode não ser o pai biológico ou a quem manifestamente não o é. Adoção: marcada pelos
propósitos de crescente assimilação com a paternidade de origem biológica; progressiva
redução da idade mínima para adotar; favorecimento da adoção por casais; redução da
idade mínima para ser adotado, a que se liga, em natural desdobramento, a sugestão de se
admitir o assentimento pré-natal à adoção; completa extinção do parentesco anterior do
adotado e sua integral inserção jurídica na nova família.
- O ser pai ou ser mãe não está tanto no fato de gerar quanto na circunstância de amar e
servir, sentença de salomão pôs à prova o amor à criança por parte das querelantes, o texto
bíblico, não nos dá nenhuma garantia de que a mãe atendida tenha sido a mãe biológica, ao
contrário, que deveria ter a guarda aquela que excedesse em amor, tivesse ou não gerado.
Fundamento: melhor interesse da criança.
- Círculo de giz: Cada uma das pretensas mães deve tomar a criança pelo braço e puxá-la para
fora do círculo. As duas ao mesmo tempo, é a renúncia à lesão do filho que vai indicar à
autoridade o deferimento da guarda.
- A filiação não é apenas o nascimento; a família não é apenas o sangue, mas crescer, viver,
envelhecer juntos. É a ligação de confiança e ternura, ingrediente fundamental de uma
verdadeira paternidade — primado da criança sobre os direitos do sangue. O apelo à
transcendência do conteúdo biológico da paternidade se manifesta também se liames do sangue
parecem insuficientes a assumir um relacionamento mais profundo entre pais e filhos.
- A importância do bebê de proveta, promover a reprodução sem atividade sexual e mais obter
gratificação sexual sem os riscos da gravidez), , tenderão a fazer da paternidade rigorosamente
um ato de opção. Caminha a condição de pai do signo da necessidade para o da autonomia.
- A paternidade na nova família: afirmar fundamentalmente como grupo de afetividade e
companheirismo. Posso obrigar alguém a responder patrimonialmente pela sua conduta, mas não
posso obrigar, quem quer que seja, a assumir uma paternidade que não deseja. Todo o direito de
família tende a se organizar, de resto, sob o principio basilar da liberdade, pai e mãe ou se é por
decisão pessoal e livre, ou simplesmente não se é.
- Não é "a voz mítica do sangue" que indica à criança quem são seus pais, "senão o amor e o
cuidado, que a conduzem do desvalimento para a autonomia. Suas relações de sentimento
surgem com base na satisfação de suas necessidades por alimento, cuidados, simpatia e estímulos.
Há um nascimento fisiológico e, por assim dizer, um nascimento emocional. É neste último,
sobretudo, que a paternidade se define e se revela.
- Função social: a consciência de que a paternidade é opção e exercício, e não mercê ou fatalidade,
pode levar a uma feliz aproximação entre os que têm e precisam dar e os que não têm e carecem
receber. A paternidade adotiva não é uma paternidade de segunda classe. Ao contrário: adoção
prefigura a paternidade do futuro, por excelência enraizada no exercício da
liberdade.
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