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Direito de Familia e Sucessoes PARTE PRI
Direito de Familia e Sucessoes PARTE PRI
NACIF
2018/2
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Novo Curso de Direito Civil, Vol.6. Pablo Stolze Gagliano & Rodolfo Pamplona Filho (2018).
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0) NOÇÕES PARA COMPREENSÃO DO DIREITO DE FAMÍLIA
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O viés: Já o viés diz respeito a tendência que temos de utilizar o sistema 1, quando a
situação mereceria, na verdade, a utilização dos sistema 2. É aquela opinião pré-julgada, um pré-
juízo, sobre todas as questões da vida, e há quem não mude isso nunca, nem se for demonstrado o
contrário. As pessoas se fecham dentro dessa redoma, porque, se o mundo faz sentido com a história
coerente que estamos contando, para que mudar? É o conservadorismo. O problema é que estar
funcionando “bem” (para você) não significa que seja certo. É preciso abandonar esse tipo de
posição para evoluir, e se dispor a reflexões até acerca das temáticas tidas como certas.
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1.2 Paradigma
Definição: muito básica, um paradigma é o prisma pelo qual eu enxergo o mundo.
Já para a ciência, o paradigma tem uma outra concepção, criada por Thomas Kuhn: para
ele, esse prisma vai me mostrando como que o mundo funciona e eu vou adaptar a história que eu
conto do mundo através daquele prisma, alterando ele. Até que chega o momento em que aquele
paradigma não explica mais o mundo e a partir daí, eu excluo esse prisma, mudando de paradigma.
1. ROMA: em direito de família, nosso primeiro paradigma vem de Roma: estruturas
como por exemplo, o pater familias, a adoção, o casamento, a união estável, já estavam
presentes no direito romano.
2. RELIGIÃO: o segundo prisma será a religião, quando a Igreja Católica consubstancia o
sexo apenas ao casamento (e com isso ganha dinheiro). A família só se constituía pelo
matrimônio, e fora dele não existia ninguém, não existia nem filho. A religião dominou o
direito de família no Brasil até 1988, quando da constituição federal. Em alguns lugares do
mundo a religião ainda manda no direito de família.
✦ 1977: Esse paradigma religioso foi “extinto” do direito brasileiro porque houve uma
evolução no país, especialmente nas décadas de 60 a 80. Até 1977 não existia o divórcio, casar
era para sempre, e as pessoas ficavam num limbo jurídico chamado desquitado — esse termo
era até pejorativo. A partir de 1977 veio a lei de divórcio e foi preciso mudar a constituição.
3. CRFB/88: Esse processo de mudança de paradigmas foi gradual, e a partir da
Constituição de 1988, surge novo paradigma orientador.
1.4 Características
a) De Caráter Privado: normas que permitiam ao indivíduo a consolidação e a
estabilidade do seu núcleo de afetividade, com efeito direto sobre sua felicidade, e
consequentemente dignidade.
b) De Caráter Público: normas que permitem a intervenção do estado onde houverem
pessoas hipossuficientes na relação jurídica; por exemplo casamento de maior de 70 anos dever
ser por regime de separação de bens.
c) Representação: há uma representação imprópria. No direito de família os atos são, via
de regra, pessoais. Mas não personalíssimos. Qualquer procuração feita deve conter todas as
características dos atos, do representado e do negócio jurídico a ser feito, uma vez que diferente
do direito civil, no direito de família o representante não tem margem para negociação. Por
exemplo, é possível o casamento por mandato impróprio (contrato pelo qual se outorga outra
pessoa poderes para participar ou contrair obrigações).
d) Não cabem: termo, ou condição. Em nenhum de seus atos. Condição esta, seja
resolutiva ou suspensiva. Não posso casar mediante condição (coação) ou adotar a prazo. Uma
situação excepcional é a de doação propter nuptiae.
e) Não são aceitas renúncias ou transmissões. A hipótese de renúncia de paternidade
por exemplo, é absurda.
f) Há intervenção de autoridade pública sempre que determinado por lei. Por
exemplo, porque não basta a vontade dos noivos para se casar, é necessário um juiz de paz que
os declare marido e mulher. Esse juiz de paz é a autoridade pública, cujo ato dá anuência e
Três questionamentos:
(1) Artigo do código de processo civil de 73 fala que nas ações de alimentos em caso de
divórcio, a ação poder ser proposta na cidade de domicilio da mulher, mas do homem não
pode. Ela está discriminando ou tratando de forma igual? A igualdade formal é utópica, pois
no caso concreto isso não se dá. Já a igualdade material implica reconhecimento de que a lei
pode e deve tratar desigualmente os desiguais, na medida da sua desigualdade, para corrigi-la.
Assim, essa lei busca promover uma igualdade material.
(2) O Código civil de 2002 colocava 16 anos para mulher se casar e 18 para os homens
(CCB 1517). Isso era justo?
(3) Homens e mulheres tem idades diferentes para se aposentar, por que?
Porque a mulher tem jornada tripla de trabalho: cuidar da casa, dos filhos e trabalhar fora. Isso
é justo? Dentro da sociedade que a gente vive é justo, mas o ideal seria que as mulheres não
precisassem desse “beneficio” e que as tarefas fossem divididas igualmente entre o casal. Mas
não são todas mulheres que tem essa jornada, por isso é muito difícil lidar com essas questões.
Vamos nos lembrar da “regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente
aos desiguais, na medida em que se desigualam. (…) Tratar com desigualdade a iguais, ou a
desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real.” Oração aos moços,
Rui Barbosa .
.4 OUTROS PRINCÍPIOS
Caio Mario traz como princípios: o princípio da equiparação dos filhos; princípio da
solidariedade familiar; o princípio jurídico da afetividade jurídica (com ênfase objetiva); o princípio
do melhor interesse da criança (norteador principalmente em questões como adoção, visitação,
competência da lide, alimentos); o princípio da prioridade absoluta (diz respeito a ECA e ao
Estatuto do Idoso); o princípio do cuidado (principalmente no que diz respeito aos filhos); e por fim
a diretriz do venire contra facto proprium pautada na boa-fé objetiva.
Foi trazida para o curso a leitura da tese de Rodrigo da Cunha Pereira, “Princípios
Fundamentais e Norteadores para a Organização Jurídica da Família”. Na qual ele traz os
princípios (além dos destacados): da monogamia, igualdade e respeito às diferenças; autonomia e da
menor intervenção estatal; da pluralidade das formas de família; da afetividade.
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1. ASCENDENTE/DESCENDENTE
Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação de
ascendentes e descendentes.
Essa linha é ad infinitum. É uma linha reta, que vai considerar partindo de mim todos aqueles
que na minha árvore genealógica foram diretamente responsáveis por eu ter sido gerado, e todos os
que vou gerar a partir de mim. Meus ascendentes em linha reta são meus pai e mãe, avô e avó,
bisavô e bisavó, e assim sucessivamente (parte de pai e de mãe). Meus descendentes são meus filhos,
netos, bisnetos.
2. COLATERAIS
Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de
um só tronco, sem descenderem uma da outra.
Não é uma linha infinita, apenas considera-se família para o direito civil, aqueles que são
colaterais até quarto grau. Começo a contar sempre a partir do meu vínculo mais próximo, até o
parente. Desse modo, meu primo “legítimo" é o único dos primos que é considerado parente, ele é
de grau IV assim como meu tio-avô.
2.3 Espécie
Irmãos: Unilaterais (o “meio-irmão") ou bilaterais (germanos).
Podendo ser uterinos (parte de mãe) ou fraternais (parte de pai).
Legítimo e ilegítimo são termos que não existem mais devido ao princípio da isonomia.
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3.2 Conceito
Caio Mario trazia uma conceituação ultrapassada: “União de duas pessoas de sexos diferentes,
realizando uma integração físiopsíquica permanente”. Essa percepção mudou, foi acrescida do
argumento de que sendo a família um organismo em lenta e constante transformação, o casamento
que a legitima há de afeiçoar-se às condições ambientes e contemporâneas.
“Casamento é um contrato especial de direito de família, por meio do qual os cônjuges
formam uma comunidade de afeto e existência, mediante a instituição de direitos e deveres
recíprocos e em face dos filhos, permitindo assim a realização dos seus projetos de vida.”
Stolze & Pamplona
Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o
juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados.
As pessoas declaram sua vontade para selar o casamento; e o juiz de paz deve ter a última
fala, como chancelar do estado. Então em qual desses momentos o casamento se realiza?
A partir disso, temos três teorias:
✦ Corrente Supra-individualista: ou institucionalista, o casamento é uma instituição
social que nasce da vontade dos contraentes, mas que da autoridade da lei recebe sua forma, suas
normas e seus efeitos.
✦ Corrente Individualista: também chamada de corrente clássica, ou contratualista,
para qual o casamento é um contrato.
✦ Corrente Eclética: casamento é um ato complexo. Precisa da manifestação de vontade
das partes & da chancela estatal. É esse o entendimento que prevalece hoje.
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OBS.: Art. 1.512. Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão
isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da lei.
Art. 1.525. O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de
próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes documentos:
I - certidão de nascimento ou documento equivalente;
II - autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra;
III - declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem não
existir impedimento que os iniba de casar;
IV - declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem
conhecidos;
V - certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de
casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença de divórcio.
Preparada a habilitação, os autos serão remetidos ao MP.
(Nos termos da Lei 12.133/2009)
Art. 1.526. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com a audiência do
Ministério Público.
Parágrafo único. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiro, a habilitação será
submetida ao juiz.
Art. 1.527. Estando em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante quinze dias
nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa
local, se houver.
Parágrafo único. A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a publicação.
Art. 1.528. É dever do oficial do registro esclarecer os nubentes a respeito dos fatos que podem
ocasionar a invalidade do casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens. — O não
esclarescimento, para S&P poderia acarretar em falha do oficial, e até mesmo ser argumento pró manutenção em
casos de invalidação.
Art. 1.530. O oficial do registro dará aos nubentes ou a seus representantes nota da oposição, indicando os
fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu.
Parágrafo único. Podem os nubentes requerer prazo razoável para fazer prova contrária aos fatos alegados,
e promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé.
Art. 1.532. A eficácia da habilitação será de noventa dias, a contar da data em que foi extraído o
certificado.
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Art. 1.512. O casamento é civil e gratuita a sua celebração — essa gratuidade é para celebração no RCPN.
MOMENTO
Temos duas teorias sobre isso.
Art. 1.535. Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador especial, juntamente com as
testemunhas e o oficial do registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de que pretendem casar
por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento, nestes termos:"De acordo com a vontade que
ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro
casados.”
I. Pela corrente do casamento como uma instituição, sobre esse aspecto o momento do
casamento será o momento em que a autoridade competente, ou seja, o juiz de paz, vai proferir
aquela frase “De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos
receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados”.
II. Se a corrente for a de que o casamento é um contrato, o momento de celebração do
casamento se dá quando da manifestação da vontade, ou seja, o ‘sim’.
Art. 1.533. Celebrar-se-á o casamento, no dia, hora e lugar previamente designados pela autoridade que
houver de presidir o ato, mediante petição dos contraentes, que se mostrem habilitados com a certidão do art.
1.531 — ou seja, munido de certificado de habilitação.
LOCAL DA CELEBRAÇÃO
No registro civil aonde houver, a princípio, sido a habilitação. Que pode ser: no local de
residência de qualquer um dos nubentes. Se houver mais de um cartório na minha cidade, eu só
posso me casar na circunscrição do meu registro de habilitação.
Art. 1.534. A solenidade realizar-se-á na sede do cartório, com toda publicidade, a portas abertas,
presentes pelo menos duas testemunhas, parentes ou não dos contraentes, ou, querendo as partes e
consentindo a autoridade celebrante, noutro edifício público ou particular.
§ 1o Quando o casamento for em edifício particular, ficará este de portas abertas durante o ato.
§ 2o Serão quatro as testemunhas na hipótese do parágrafo anterior e se algum dos contraentes não souber
ou não puder escrever.
Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes:
I - recusar a solene afirmação da sua vontade; — ou permanecer em silêncio gélido.
II - declarar que esta não é livre e espontânea;
III - manifestar-se arrependido.
Parágrafo único. O nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à suspensão do
ato, não será admitido a retratar-se no mesmo dia.
Por fim, completando o ciclo formal de realização do casamento é feita atermação. O termo
circunstanciado perpetua o ato e dele constitui prova (apesar de a falta do termo não macular a
validade do casamento).
Art. 1.536. Do casamento, logo depois de celebrado, lavrar-se-á o assento no livro de registro. No
assento, assinado pelo presidente do ato, pelos cônjuges, as testemunhas, e o oficial do registro, serão
exarados:
I - os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento, profissão, domicílio e residência atual dos cônjuges;
II - os prenomes, sobrenomes, datas de nascimento ou de morte, domicílio e residência atual dos pais;
III - o prenome e sobrenome do cônjuge precedente e a data da dissolução do casamento anterior;
IV - a data da publicação dos proclamas e da celebração do casamento;
V - a relação dos documentos apresentados ao oficial do registro;
VI - o prenome, sobrenome, profissão, domicílio e residência atual das testemunhas;
VII - o regime do casamento, com a declaração da data e do cartório em cujas notas foi lavrada a escritura
antenupcial, quando o regime não for o da comunhão parcial, ou o obrigatoriamente estabelecido.
Finalmente, frisamos que o registro de casamento religioso com efeitos civis opera-se de forma
semelhante, mas diferencia-se pela circunstância da autoridade celebrante, que nesse caso é uma
autoridade religiosa, ministro representante da religião seguida ou acolhida pelos nubentes. Nesse
contexto, os art. 71 a 75, em especial art. 74 da Lei de Registros Públicos, e os art. 4, 5, e 6 da Lei
1.110/1950.
Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil,
equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua
celebração.
Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para o casamento
civil.
§ 1o O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de noventa dias de sua realização,
mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde
que haja sido homologada previamente a habilitação regulada neste Código. Após o referido prazo, o
registro dependerá de nova habilitação.
§ 2o O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste Código, terá efeitos civis se, a
requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação
perante a autoridade competente e observado o prazo do art. 1.532.
§ 3o Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos consorciados houver
contraído com outrem casamento civil.
.1 CASAMENTO URGENTE
Em caso de moléstia grave de um dos nubentes o presidente do ato faz esse casamento no
local necessário, qualquer que seja, independente da circunscrição, na frente de duas testemunhas
que saibam ler e escrever.
Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se
encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e
escrever.
§ 1o A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento suprir-se-á por qualquer
dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do
ato.
§ 2o O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro dentro em cinco
dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado.
.2 CASAMENTO NUNCUPATIVO
É aquele realizado in extremis momento vitae, ou seja, em momento extremo da vida.
Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da
autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença
de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo
grau.
É aquele contraído por nubente que se encontra moribundo. Nesse caso, o casamento poderá
ser celebrado na presença de 6 testemunhas que com os nubentes não tenham parentesco em linha
reta, ou colateral em segundo grau.
Dois detalhes:
(1) não se falou em autoridade celebrante, o nuncupativo é autocelebrado;
(2) essa regra de parentesco é uma regra geral das testemunhas para o direito civil, vide art.
228, excepcionalmente para efeitos de direito de família, que preza o afeto, as testemunhas
podem ser parentes, e é até aconselhável que as testemunhas apresentadas pelo casamento na
habilitação sejam, isto posto esse caso de “não poder ser parente” no nuncupativo é a exceção
da exceção.
OBS.: PROVA: Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as respectivas
autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em cento e oitenta dias, a contar da volta de um ou de
ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1o Ofício da Capital do
Estado em que passarem a residir.
Mas o documento lavrado tem que conter todos os elementos necessários para o ato em si:
nome do cônjuge, regime de bens adotado, data provável para o casamento, local onde se processa a
habilitação, etc. Isso porque o mandatário não pode negociar.
Chamamos esse tipo de mandato de mandato impróprio. Seu funcionamento é em quase
tudo idêntico aos demais, exceto por uma circunstância, sua revogação é diferente.
O mandato público serve também para mandatos particulares, mas um mandato particular
nunca serve para atuar para um ato público. Para um mandato público, a sua revogação também
deve ser pública. Por exemplo, se o mandato de alguém comprar algo para mim é público, sua
revogação deve ser pública também. Mas veja bem, fiz mandato para que terceiro realizasse compra
e venda por mim. Mas depois desisti, e revoguei o mandato — fiz isso ontem, na hora que o cartório
estava fechando. Hoje de manhã, a pessoa assina uma compra e venda, dependendo de uma
revogação que eu assinei ontem, é válido? Sim. Porque a revogação que ainda não teve tempo de ter
publicidade eficiente não é eficaz. No caso do casamento não é assim.
O casamento por mandato precisa do documento que é público, na figura de mandato
impróprio e esse mandato pode ser revogado. Mas e se esse casamento está acontecendo no interior
de Portugal e o representante do noivo não sabe que esse mandato foi revogado? A celebração não
será válida, e o casamento será tido como inexistente. Por que isso? Porque aqui, ao contrário da
regra, a revogação não precisa ser eficaz para que ela tenha validade.
No direito de família as coisas funcionam diferente: casamento nulo feito por autoridade
incompetente pode convalescer se dele resultar registro; e um casamento feito com mandato
revogado, ainda que sem publicidade adequada, torna inexistente o ato jurídico, se não sobrevier
convivência dos nubentes (de maneira pouco ortodoxa, é como se o encontro sexual
convalidasse o ano anulável).
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Art. 1.545. O casamento de pessoas que, na posse do estado de casadas, não possam manifestar
vontade, ou tenham falecido, não se pode contestar em prejuízo da prole comum, salvo mediante certidão
do Registro Civil que prove que já era casada alguma delas, quando contraiu o casamento impugnado.
Art. 1.547. Na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias, julgar-se-á pelo casamento, se os cônjuges,
cujo casamento se impugna, viverem ou tiverem vivido na posse do estado de casados.
O que é posse?
A exteriorização, que pela teoria da aparência vejo nos olhos de quem vê. É a posse de
Ihering, cuja teoria venceu a posse de Savigny no nosso ordenamento — a de Savigny era o corpus +
animus. Animus quer dizer alma, é o elemento subjetivo. Só que esse artigo e diz “posse de estado”.
Art. 1.546. Quando a prova da celebração legal do casamento resultar de processo judicial, o registro da
sentença no livro do Registro Civil produzirá, tanto no que toca aos cônjuges como no que respeita aos filhos,
todos os efeitos civis desde a data do casamento.
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Não se permite interferir na comunhão de vida instituída pela família, não sendo permitido
por exemplo ter um contrato de trabalho que te impeça de casar. Contudo, há aqueles que só
podem casar mediante autorização especial, e são dois os casos:
I. LEI 11.440/2006 - Art. 33-34: Diplomatas não podem se casar com pessoas estrangeiras,
exceto com expressa autorização do ministro das relações exteriores, sob pena de demissão.
II. LEI 6.880/1980 que diz respeito a militares de determinada patente, por exemplo os
cadetes, que não podem se casar com ninguém; e oficiais militares não podem se casar com
estrangeiros exceto com autorização do ministro da defesa.
Por que? Há um interesse público gritante na ocupação desses cargos.
OBS.: Há algumas outras profissões que geralmente não contratam casados, e há outras que
só aceitam casados, mas isso se dá por tradição, não havendo proibições, ou vedações expressas, vide
conformidade com o disposto no art. 1513. Por exemplo, mergulhadores de grandes profundidades
são tradicionalmente solteiros, miss não pode ser casada, e o AETQ , pessoa qualificada para lidar
com finanças, é comumente casado.
9.2 Impedimentos
Apesar do 1513, há aqueles que são impedidos de casar.
Dirimentes: interesses protegidos que podem ser públicos ou privados.
No caso do 1523, as partes podem pedir ao juiz que não aplique a penalidade, demonstrando
que não houve prejuízo aos filhos ou a terceiros. A preocupação desse artigo é, por exemplo, uma
vez que exista um viúvo com filhos qual obrigação ele tem? Fazer a partilha dos bens, entregando a
meação do cônjuge falecido aos seus filhos, a lei tenta evitar que essa pessoa case de novo e leve esse
patrimônio que na verdade pertence aos seus filhos para um novo patrimônio, privando seus filhos
disso. Como se prova que não vai causar prejuÍzos? Provando que o falecido não deixou bem
nenhum, e isso se faz através de um inventário negativo, que na verdade é mera declaração daquele
cônjuge de que não existe patrimônio a ser inventariado (demonstração dada ao oficial é suficiente).
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10.2 Invalidades
Para o direito de família, a teoria das nulidades de direito civil procede? NÃO.
Então como o ato jurídico do casamento sofre alguma invalidação?
Vamos começar pela análise do direito civil.
Teoria das nulidades do direito civil:
✦Ato Inexistente: não gera efeitos, porque é um ato que não ocorreu.
✦Ato Nulo: aquele com infringência dos impedimentos dirimentes, ou quando a solenidade
for ausente, portanto nula. Qual efeito de um ato nulo? Efeito zero, ou seja, efeito ex tunc.
✦ Ato anulável: gera efeitos, efeitos ex nunc — gerou efeitos até a anulação.
Já no direito de família os atos nulos, anuláveis e até mesmo inexistentes PODEM GERAR
EFEITOS SIM, fundamentados em outros princípios gerais de direito civil, como o principio da
boa-fé, da confiança e o princípio do não locupletamento.
Então como vou saber quando um ato sofreu efeito ou não? É argumentativo, assim tenho que
saber argumentar que baseado nesses princípios aquele ato gerou efeitos. Ou seja, até mesmo o
casamento nulo, em determinadas circunstâncias vira casamento. Sendo assim, é uma teoria das
nulidades completamente independente da apresentada pela Teoria Geral de Direito Civil.
CASAMENTO NULO CASAMENTO ANULÁVEL
Interesse público Interesse privado
Imprescritível Prescritível
Não cabe retificação Cabe retificação.
A) REGRA GERAL:
Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de ambos os
cônjuges houver sido captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde
e a honra, sua ou de seus familiares.
OBS.: Não se admite o mero temor reverencial.
B) ERRO ESSENCIAL:
É a falsa ideação sobre aspectos importantes ou preponderantes do negócio jurídico.
Legitimidade ad causam:
Texto do Art. 1.559.: Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação, pode
demandar a anulação do casamento; mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses
dos incisos III e IV do art. 1.557.
Prazos:
Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da celebração,
é de:
I - cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550; — incapaz que não manifestou consentimento.
II - dois anos, se incompetente a autoridade celebrante;
III - três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557;
IV - quatro anos, se houver coação.
Dentro do direito de família e do direito sucessório esses direitos operam com um princípio
muito próprio que é o da reciprocidade. Esse princípio funciona assim: tenho uma relação
paterno-filial com uma pessoa e isso implica que essa pessoa tem a mesma relação comigo, dentro
do vínculo familiar temos os mesmos direitos um para com o outro, então se um dia eu estiver
necessidade e pedir alimentos de alguém eu só posso fazer isso de quem também pode pedir de
mim; o mesmo no direito sucessório, só posso herdar quem pode herdar de mim.
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Planejamento Familiar:
- Direção conjunta da família com administração dos bens.
Essa direção da sociedade conjugal traz o poder familiar, que é aquela possibilidade de
emancipação dos filhos, que antes era só do pai, passou a ser do pai ou da mãe, e hoje pertence aos
dois.
- Cooperação.
Suporte moral e material, e assistência que tem o caráter marcadamente econômico, que será
substituído pelos alimentos ao fim da sociedade conjugal, devendo ao cônjuge que tem necessidade
exigi-lo daquele que tem possibilidade.
Art. 1.570. Se qualquer dos cônjuges estiver em lugar remoto ou não sabido, encarcerado por mais de
cento e oitenta dias, interditado judicialmente ou privado, episodicamente, de consciência, em virtude de
enfermidade ou de acidente, o outro exercerá com exclusividade a direção da família, cabendo-lhe a
administração dos bens.
Para evitar mais uma burocracia, houve uma estipulação standard do que seria o Regime
Legal, ou seja, se eu antes do casamento não optar por fazer nenhum desses, estarei
automaticamente enquadrado no Regime da Comunhão Parcial de Bens. Esse regime mudou com a
lei 6.515/77 que é a lei do divórcio, antes dessa lei o regime legal era o da comunhão universal.
Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os
cônjuges, o regime da comunhão parcial.
Além disso, tenho algumas situações em que terei o regime obrigatório, ou compulsório,
naqueles casos de pessoas que precisam do suprimento judicial para se casar, tendo que se casar pelo
regime da separação de bens — Maiores de 70 anos devem se casar pela separação de bens também — assim,
o Regime de Separação de Bens pode se dar dois tipos: obrigatório ou convencional.
Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que
lhes aprouver.
§ 1o O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar desde a data do casamento.
§ 2o É admissível alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos
os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros.
Nesse diapasão, a escolha de regime de bens opera-se por meio da celebração de um negócio
jurídico especial e solene, denominado pacto antenupcial.
Art. 1.640. Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos
regimes que este
código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto
antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas.
SITUAÇÕES:
1ª - Não fez o pacto ante-nupcial e o registrador resolveu colocar comunhão universal:
resultado, o casamento é celebrado por regime legal.
2ª - Sim tem um pacto, que está no processo de habilitação, mas o lavrador esqueceu de
registrar na certidão de casamento: o que vale é o pacto, então posso pedir para o juiz mudar o
registro dizendo que houve esse erro material, e desde que ele faça parte do processo de habilitação
pode ser feita essa correção mediante decisão judicial.
Essa norma não é uma norma restritiva de direitos, deve ser encarada como uma norma
protetiva. Para entender essa proteção, vamos falar de Kierkegaard: o filósofo dinamarquês
escreveu sobre a angústia humana, da qual traçou a evolução do ser humano, dividindo isso em três
estádios da vida: (1) somos seres estéticos, pautando a vida pelos interesses do belo, do bom, o
que vai ao encontro do princípio do prazer de Freud; a partir de determinado período da vida das
pessoas elas percebem certas responsabilidades, não podendo viver apenas pelo lúdico do belo,
devendo se portar de maneira conforme ao esperado pela sociedade, e assim passamos a seres
éticos (2); mas no momento que o ser humano encara a possibilidade real da morte ele transforma
sua vida, e nesse momento tem duas opções, ele pode se revoltar com isso e regredir a etapa estética,
ou pode aceitar essa situação e fazer as pazes com a vida que viveu, se tornando um ser religioso
(3). Pense na situação de homem de 70 anos pós viuvado, ele tem uma tendência à frustração, e assim retroagir para a
etapa estética, e por isso, há essa medida protetiva acerca dos bens pelos quais trabalhou por quase toda a vida.
Há posição doutrinária como a de Caio Mario, que é contrária a norma, e a taxa como um
atentado contra a liberdade individual. Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona também discordam
veementemente, alegando que a preocupação com um “golpe do baú” não convence, além de ser
uma violência ao princípio da isonomia, e até mesmo da dignidade humana, uma vez que o idoso é
maior e capaz. Esses (assim como Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald) alegam que apesar de boa
intenção legislativa, é flagrada inconstitucionalidade nesse inciso. NACIF DISCORDA.
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.
Por conta do contra-argumento mencionado, e pelo fato de que como o regime obrigatório
era um regime que atingia pessoas que precisavam de autorização judicial para casar, assim acabava
lidando com pessoas muito no início da vida, para mitigar a aridez do dispositivo 1641, e para evitar
o enriquecimento sem causa por parte de um dos cônjuges, o STF emitiu a Súmula 377: No regime de
separação legal de bens comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.
Art. 1.664. Os bens da comunhão respondem pelas obrigações contraídas pelo marido ou pela mulher
para atender aos encargos da família, às despesas de administração e às decorrentes de imposição legal.
Art. 1.665. A administração e a disposição dos bens constitutivos do patrimônio particular competem ao
cônjuge proprietário, salvo convenção diversa em pacto antenupcial.
Art. 1.666. As dívidas, contraídas por qualquer dos cônjuges na administração de seus bens particulares e
em benefício destes, não obrigam os bens comuns.
Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a comunicação de todos os bens presentes e futuros
dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do artigo seguinte.
Art. 1.668. São excluídos da comunhão:
I - os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar;
II - os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição
suspensiva;
III - as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos, ou reverterem
em proveito comum;
IV - as doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de incomunicabilidade;
V - Os bens referidos nos incisos V a VII do art. 1.659.
Regra.1.: o fim da sociedade conjugal por separação implica em que cada cônjuge receberá
o patrimônio que levou para o casamento.
Regra.2: o regime de bens não tem influência sobre o direito sucessório, mas somente para o
fim da sociedade pelas causas do direito de família (separação e divórcio).
OBS.: Atenção!
Caio Mario ressalta que as regras dos artigos 1643 e 1644 INDEPENDEM do tipo de regime.
Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de autorização um do outro:
I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à economia doméstica;
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição dessas coisas possa exigir.
Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo antecedente obrigam solidariamente ambos os
cônjuges.
Art. 1.672. No regime de participação final nos aqüestos, cada cônjuge possui patrimônio próprio,
consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à
metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do casamento.
Art. 1.673. Integram o patrimônio próprio os bens que cada cônjuge possuía ao casar e os por ele
adquiridos, a qualquer título, na constância do casamento.
Parágrafo único. A administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge, que os poderá livremente
alienar, se forem móveis.
Para esse regime durante o casamento o cônjuge possui patrimônio próprio e administração
exclusiva dos seus bens, cabendo-lhes apenas à época de dissolução conjugal a meação sobre os
bens, visando nessa situação consagrar um regime de compensação, para evitar locupletamento de
um às custas do outro, porém aqui cabe exigência de “valor equivalente”, ou seja, não se forma uma
massa a ser partilhada, o direito de meação se relaciona com um direito de crédito. Além disso, há
exigência de autorização conjugal para a prática de determinados atos no curso do casamento.
Art. 1.674. Sobrevindo a dissolução da sociedade conjugal, apurar-se-á o montante dos aqüestos,
excluindo-se da soma dos patrimônios próprios:
I - os bens anteriores ao casamento e os que em seu lugar se sub-rogaram;
II - os que sobrevieram a cada cônjuge por sucessão ou liberalidade;
III - as dívidas relativas a esses bens.
Parágrafo único. Salvo prova em contrário, presumem-se adquiridos durante o casamento os bens móveis.
Art. 1.675. Ao determinar-se o montante dos aqüestos, computar-se-á o valor das doações feitas por um
dos cônjuges, sem a necessária autorização do outro; nesse caso, o bem poderá ser reivindicado pelo
cônjuge prejudicado ou por seus herdeiros, ou declarado no monte partilhável, por valor equivalente ao da
época da dissolução.
! Os artigos 1.676 - 1.684 dizem respeito às minúcias de como será feita a meação.
Caio Mario critica ao afirmar que o legislador ao buscar subsídios na Doutrina Estrangeira,
quis trazer experiência internacional não coerente com a estrutura econômica do país, onde, por
mais otimistas que sejam os discursos oficiais, vivemos o fantasma da inflação, a qual será sempre o
vilão das partilhas de bens neste novo regime matrimonial.
No nosso regime, ele se encaixa como não unitário, ou seja, não há a criação de um
patrimônio comum, permanecendo cada cônjuge na administração do seu patrimônio, que
aumentará com as aquisições gratuitas ou onerosas durante a sociedade conjugal. Seu desenho
BIANCA ROCHA DIR 317 AULAS 1 - 14 P. 4! 0
gráfico é conforme o da separação de bens. Mas aqui nasce ao final da sociedade conjugal, por
separação ou divórcio, para o outro cônjuge o já mencionado direito de crédito sobre a metade dos
bens adquiridos onerosamente pelo outro cônjuge, e vice versa.
Exemplo em sala: João entrou no casamento com um patrimônio de 400k, casou-se com
Maria, que entrou no casamento com 200k. Durante o casamento João ganhou gratuitamente
herança e doação dos pais no valor de 600k, e Maria ganhou gratuitamente 200k. Só que Maria
ganhava bem mais do que João, e ao longo do casamento investiu em um bem no valor de 1K,
enquanto João que não ganhava tanto assim adquiriu onerosamente um bem de 400k.
Como é feita a meação nessa participação final dos aquestos? Joao teria para o patrimônio de maria
direito a 500k, enquanto Maria teria direito a 200k do patrimônio de João. Ou seja, na diferença
temos {500-200 = }300k, que é o valor que Maria deve dar para João; seja em bens, seja via
apreciação pecuniária (dinheiro) — ela pode entrar em acordo e entregar bem que ela quiser,
porque não nasce para João direito sobre nenhum dos bens de Maria, o que nasce para ele é direito
de crédito de 300k, que preferencialmente se satisfaz em dinheiro.
Se assemelha à comunhão parcial por existir um direito de crédito (não direito ao bem)
equivalente a metade dos bens, quitado em dinheiro ou pela entrega de um ou mais bens no valor
equivalente e em comum acordo. A administração dos bens pertence ao cônjuge proprietário
que deverá obter a outorga do outro cônjuge em caso de alienação, exceto no caso de haver
previsão no pacto ante-nupcial de que os cônjuges poderão livremente alienar os seus bens sem a
interveniência do outro.
Art. 1.645. As ações fundadas nos incisos III, IV e V do art. 1.642 competem ao cônjuge prejudicado e a
seus herdeiros.
Art. 1.646. No caso dos incisos III e IV do art. 1.642, o terceiro, prejudicado com a sentença favorável ao
autor, terá direito regressivo contra o cônjuge, que realizou o negócio jurídico, ou seus herdeiros.
Exemplo.1: uma pessoa se casou pelo regime de comunhão parcial, e antes desse casamento
havia adquirido um casamento. Daí ela se casa, e troca depois esse apartamento por um de 300 mil
reais, então teve que vender o primeiro pra comprar o segundo. Qual vai ser o caráter jurídico desse
novo apartamento? Esses 200k se sub-rogam, e causa aquisitiva desse apartamento que é comum é a
diferença, de 100k; então esse apartamento vai ser 66,66% bem particular, e os outros 33,33%
como bem comum. Se eventualmente eles vierem a se separar, a parte que sofre meação é apenas a
parte que é bem comum, ou seja, de 100k seriam 50k dela e 50k dele. Se ela falecer, e não tiver
filhos e nem pais, então fica tudo para o marido (mesmo que tenha irmãos).
13.2 E a Culpa?
A advinda ideia de culpa desde a época do desquite, era essencial para o divórcio, vide
requisitos da lei, especialmente na etapa primeira que é a correspondente à separação, porque
trazia consequências.
(1) O cônjuge culpado perdia o direito de usar o nome do outro. Uma situação
muito famosa foi a da Luíza Brunet. Quando eles se separaram, o marido quis o Brunet de
volta, até que se decidiu judicialmente que não, que o sobrenome já havia se integrado parte da
personalidade dela, não devendo assim abrir mão do nome — foi uma quebra de paradigma na
época. Com o novo código, o nome da pessoa é considerado direito da personalidade, não
podendo seu exercício sofrer limitação voluntária (art.16) — Nacif traz inda a situação excepcional o
caso da Carola Scarpa, que não permaneceu com o direito ao nome, porque pela adequação ao caso concreto foi
percebido que como ficou 3 meses casada apenas e considerava-se que não tinha feito uso suficiente do nome para
que ele fosse incorporado como parte de sua personalidade, e pelo fato de estar usando esse sobrenome para extorquir
a família, seria o mais certo. (art.19; art. 1.578 CCB; + art.17 Lei de divórcio).
(2) Principais motivos de culpa: eram traição, violência. Perdia o direito a guarda dos
filhos o cônjuge considerado culpado, e o culpado perdia ainda o direito a receber alimentos se
deles precisasse.
Hoje afastou-se a questão da culpa, e quanto os alimentos são percebidos pelo binômio
necessidade-possibilidade, pede quem precisa e paga quem pode, independente da culpa (art.
19 da lei 6.515 e 1.694 §1º e 1.702 CCB).
E a guarda dos filhos? É definida não mais como um prêmio ao não culpado, ela deve ser
criada por quem lhe oferece melhores condições, independente de ser pai ou mãe, devendo ser
decidia pelo princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.
6.515/77
Art 10 - Na separação judicial fundada no " caput " do art. 5º, os filhos menores ficarão com o cônjuge que
a e não houver dado causa.
§ 1º - Se pela separação judicial forem responsáveis ambos os cônjuges; os filhos menores ficarão em poder
da mãe, salvo se o juiz verificar que de tal solução possa adv prejuízo de ordem moral para eles.
§ 2º - Verificado que não devem os filhos permanecer em poder da mãe nem do pai, deferirá o juiz a sua
guarda a pessoa notoriamente idônea da família de qualquer dos cônjuges.
.2 Judicial e Extrajudicial
A partir de 2007, com a Lei 11.441, altera dispositivos do Código de Processo Civil,
possibilitando a realização de inventário, partilha, separação consensual e divórcio consensual por
via administrativa, ou seja veio instituir o divórcio, a separação e o inventário, todos eles feitos
em cartório.
Dessa forma, tirou isso da mão da justiça, tornando o procedimento fungível, podendo se dar
tanto no meio judicial quanto no extrajudicial. É mais um reflexo dessa característica contratualista.
Não mais tendo um caráter de confronto, porque aquela ideia de culpa está cada vez mais
enterrada, esse foi um passo muito grande — Nacif traz a curiosidade de quando os códigos de processo civil
eram estaduais, até 1939, já era feito assim. Ou seja, posso fazer o divórcio de forma extrajudicial da
mesma forma que faço judicial.
Só que há duas salvaguardas:
(1) Não pode ter filho menor;
(2) Não pode ter filho maior incapaz.
Porque vem aqui uma das situações de em que o Estado interfere para proteger, nesse caso há
interesse estatal pela proteção dos incapazes. Alguns estados exigem que a mulher não esteja grávida
inclusive, mas isso não está na letra da lei. Mas em suma: os divórcios que envolvem incapazes
devem se dar pela via judicial.
.3 Procedimento
O que eu tenho que fazer?
1º Qualificação — é a identificação das partes.
2º Prova do casamento — afinal, deve existir casamento para ser dissolvido.
3º O pedido.
Não tem que motivar, não tem que falar porquês.
O procedimento extrajudicial é o mesmo que o procedimento judicial. Tanto em um como no
outro precisa-se de advogado, que até costuma ser o mesmo para as duas partes quando o
divórcio é amigável. Mas quando não é, cada parte deverá apresentar o seu representante,
obviamente.
Percebam, o divórcio extrajudicial será sempre amigável, litigioso acontece quando o casal
não consegue chegar a um acordo sobre as condições da separação ou quando uma das pessoas não
.4 Consequências e Efeitos
As consequências do judicial e do extrajudicial são exatamente as mesmas: findar a sociedade
conjugal (efeito patrimonial da separação) e findar o vínculo matrimonial, findando com efeitos
pessoais (como o vínculo colateral por afinidade por exemplo) e efeitos patrimoniais. Com o
divórcio indireto, na etapa da separação havia a o fim dos efeitos patrimoniais, e só com a etapa de
divórcio findavam os efeitos pessoais. Com o divórcio direto, os dois efeitos findam de uma vez só.
Antes o divórcio direto só era possível se comprovada a separação de fato (2 anos). Como
provar a separação de fato? Os juízes estavam aceitando uma declaração, com duas testemunhas
desse fato. Mas o próprio judiciário foi atropelando essas inutilidades, o que contribuiu para o
divórcio direto sem a necessidade dessa separação como requisito, que foi eliminada.
Em que pese à falta de necessidade da separação, judicial ou de fato, para que se possa
divorciar, o código civil permanece com o instituto da separação. Quando isso pode ser necessário?
Quando eu precisar separar meu patrimônio, mas sem querer me divorciar é uma saída. Por exemplo,
um dos cônjuges pode estar respondendo uma ação de responsabilidade civil que está sujeita a uma grande indenização,
para proteger a meação, o patrimônio do outro, pode ser feita essa separação sem fazer o divórcio — Nacif não
considera fraude, porque um erro meu não deveria contaminar o direito da minha esposa, mas claro
que a prática pode ser vista como fraude, e se for, como eu combateria essa fraude? Provando que
houve uma mistura patrimonial, haja vista o art. 50, CCB — desconsideração da personalidade
jurídica, ou disregard doctrine).
Os efeitos sucessórios findam com a separação.
13.5 Reconciliação
É possível? Sim, desde que separados. É possível a reconciliação de pessoas separadas,
prevalecendo o casamento nos mesmos termos.
Posso me reconciliar depois de divorciado? Não, vou ter que casar de novo. Pode
reconciliar da separação de fato, por exemplo, ao voltar a coabitar, ou seja, reconciliando de fato; e
se você se separou judicialmente, deve se reconciliar judicialmente.
A reconciliação anula a separação civil, a qual se sobrepõe o casamento.
OBS.: a partilha dos bens de um casal só é exigida no divórcio. Não se exige a partilha
quando da separação judicial, em que pese ser esse o momento do fim da sociedade conjugal.
Prevê-se a possibilidade de uma reconciliação. Já no divórcio é que se exige a partilha dos bens,
lembrando que os bens adquiridos com causa aquisitiva ocorrida durante a separação serão bens
particulares, não se comunicando, qualquer que seja o regime de bens do casamento.
13. 6 Revelia
Anteriormente se considerava que para as ações de estado dentre eles, de estado civil, não
corriam os efeitos da revelia. Então não podia ser julgado separado ou divorciado se eu não
comparecesse ao processo, o que levava pessoas a ficar se escondendo. Isso é uma característica do
casamento como uma instituição — na década de 80 e 90, toda vez que havia um divórcio o MP
tinha a obrigação de recorrer da sentença, porque havia um duplo grau obrigatório. Ficaram essas
pessoas do limbo jurídico. Hoje o casamento tem um caráter mais contratual. E, desde que citada a
pessoa, ainda que seja por edital, se ela não aparece porque se recusa a assinar o divórcio, configura
a revelia e ainda assim correm os efeitos do divórcio, porque é uma potestividade.
Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. — é um
reflexo da isonomia filial proveniente da Constituição.
JOGO DE PRESUNÇÕES
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação
judicial, nulidade e anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção
artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.
Art. 1.598. Salvo prova em contrário, se, antes de decorrido o prazo previsto no inciso II do art. 1.523, a
mulher contrair novas núpcias e lhe nascer algum filho, este se presume do primeiro marido, se nascido
dentro dos trezentos dias a contar da data do falecimento deste e, do segundo, se o nascimento ocorrer após
esse período e já decorrido o prazo a que se refere o inciso I do art. 1597.
Paternidade Biológica
Nos anos 80, começou a aparecer o exame de DNA, o ADN.
Como eram feitos os exames antes do DNA? Eram os exames de compatibilidade sanguínea
(sistema ABO, MNO, e Rhesus), mas esses sistemas não confirmavam a paternidade, apenas
excluíam a paternidade. O DNA trouxe era diferença, porque é um exame confirmatório. E
nessa época não existia mais a impossibilidade de entrar com ação de paternidade de homem
casado, podia sim. Mas como era feita essa prova antes do DNA? Através da prova biológica ainda
que fosse apenas excludente (se não excluísse já havia um indício), e pelas demais provas aceitas em
direito (como testemunho — provando se havia uma relação de concubinato entre aquelas pessoas, por exemplo).
Com a chegada do exame de DNA tudo fica mas tranquilo, resolvendo-se aparentemente a
questão, porque em todos os casos descobria-se o indigitado pai. Claro, quando chegou no Brasil
era muito caro, então era uma solução para quem tinha como pagar. O que houve foi uma
biologicização da paternidade. O que trouxe problemas, porque associava a paternidade apenas ao
genitor. Daí entra a problematização, porque ser pai é mais do que gerar o filho.
João Batista Vilella traz essa questão: é o mesmo ser genitor e ser pai da criança? E a
adoção? Tão logo que essa biologicização teve um impacto muito grande a princípio, passou a ser
relativizada, inclusive pelo código, que traz a ideia de que pai é quem cria, não basta apenas ser o
genitor da criança. Na grande maioria das vezes são coincidentes, mas não se resume a isso.
Paternidade Sócio-Afetiva
Se eu não posso colocar a paternidade vinculada a uma presunção jurídica, e se eu
compreendo que ser pai é muito mais que dar o material genético necessário para a gravidez, então
eu continuo com a pergunta: ser pai é ser o que?
Começo a pensar no melhor interesse da criança. Existe uma relação que é social e afetiva e
extrapola o mero meio jurídico e o mero meio biológico, e essa paternidade tem que ser protegida
pelo meio jurídico a medida que ela vai sendo melhor compreendida.
Art. 1.545. O casamento de pessoas que, na posse do estado de casadas, não possam manifestar vontade,
ou tenham falecido, não se pode contestar em prejuízo da prole comum, salvo mediante certidão do
Registro Civil que prove que já era casada alguma delas, quando contraiu o casamento impugnado.
Art. 1.605. Na falta, ou defeito, do termo de nascimento, poderá provar-se a filiação por qualquer modo
admissível em direito:
I - quando houver começo de prova por escrito, proveniente dos pais, conjunta ou separadamente;
II - quando existirem veementes presunções resultantes de fatos já certos.
A prova da paternidade pode se dar através de uma posse de estado, que está nos olhos de
quem vê e também está no animus. Paternidade é essa coincidência de verdades interiores e
exteriores. É se comportar como pai e filho, e se sentir como pai e filho, ser pai é amar e cuidar,
completamente desvinculado de outro interesse — e é assim que se dá uma adoção.
É nas verdades coincidentes que se dá a paternidade: sócio (que se mostra) afetiva (que se sente).
Temos casos complexos, nos quais é necessário o uso de mais de um desses prismas para
determinação da paternidade. A sócio-afetividade tem uma preponderância em termos de melhor
interesse do menor, existindo uma prevalência dela sobre as demais. Então, se tenho um caráter
biológico, toda demanda em pesquisa é inaceitável, por outro lado se eu registrei a criança, mas
outro pai desenvolveu uma sócio-afetividade com essa criança, esse reconhecimento também conta.
Como resolver? Normalmente é definido por 2:1, se os prismas biológico e registral se
complementarem, o sócio-afetivo não vai simplesmente romper com ele.
João Batista traz o famoso exemplo do Rei Salomão, em que convocado como rei para
resolver quem seria a verdadeira mãe de um bebê se propõe a cortá-lo no meio, e dar a cada uma a
metade, situação em que uma aceita, a outra implora para que não o faça ainda que ela perca a
criança, e o Rei Salomão percebe ser aquela a verdadeira mãe: foi ela que demonstrou verdadeiro
afeto.
Contestação de paternidade
Uma das características do reconhecimento da paternidade é que ele é irretratável e
irrevogável art. 1ºda Lei 8560. Mas, cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos
filhos nascidos de sua mulher mesmo sendo a ação imprescritível, 1.601 — Continua sendo
irrevogável e irretratável mas pelos mesmos erros e defeitos jurídicos que anulam os negócios
jurídicos o reconhecimento de paternidade feito em erro, por exemplo consignação, ou coação, é
anulável, nos termos desse artigo. Questionar essa paternidade é ação exclusiva do marido. A única
forma para que a mulher possa ilidir essa paternidade é pelo 1.599, provando a impotência generandi.
Ter a posse de estado e o registro não dá condições dessa paternidade ser atacada, pelo motivo
de que a criança já tinha seu pai, e trocar esse pai é a pior coisa que pode acontecer para o melhor
interesse da criança. Aquele filho já tem pai, e que assim permaneça é o melhor para ele. Via antigo
art. 332 do C.C.Francês.
E na gravidez de substituição?
Se previamente houver acordo nesse sentido, então o direito é daqueles que inicialmente
queriam essa gravidez, esse filho — Princípio PACTA SUNT SERVANDA. No direito brasileiro
prevalece a paternidade sócio-afetiva do casal que deu início ao processo de gravidez, que investiu
no processo de gravidez. No direito brasileiro essa barriga de substituição tem que ser gratuita.
Sobre isso, Peter Singer traz a seguinte história: quando termina a gestação, os envolvidos em
prol disso ganham alguma coisa, os pais ganham uma vida, os médicos ganham remuneração
pecuniária, mas e a grávida substituta? Desse modo, quem teve o corpo usado nessa gestação
deveria ganhar alguma coisa também; Nacif traz a situação análoga na Indonésia e na Malásia
onde as pessoas são (muito bem) pagas para fazer transplantes de órgãos (uma ação regulamentar do
governo para combater o mercado negro)
A Doutrina brasileira lutou, desde meados dos anos 90 até 2010, para que a sócio-afetividade
fosse o grande paradigma da paternidade; o que importa mesmo para a criança é a sócio-
afetividade, é o afeto.
Acesso à procriação assistida: Até 2017 procriação assistida era considerada tratamento
médico, e quem tinha acesso a técnica? Um número restrito. Casais homossexuais não tinham, por
exemplo, ou pessoas solteiras, porque era um tratamento de infertilidade; então não seria feita
14.3 PLURIPARENTALIDADE
Qual é o tipo de contrato que era feito? É um contrato de sociedade, quando duas ou
mais pessoas concordam em despender esforços e recursos para a consecução de um determinado
fim (CCB 1.916). Nos EUA, no estado de Utah, foi julgado inconstitucional o ‘casamento’ com mais
de duas pessoas.
________________________________________________________________________________
Conceito:
É a autoridade jurídica dos pais em relação aos filhos menores no propósito de preservação e
promoção dos interesses destes. É múnus público e é único, sendo sua titularidade exercida de
forma conjunta entre os pais. É a responsabilidade que eu tenho para com meu filho, para com o
patrimônio do meu filho, e para com a orientação da vida dele. Antes ele era um poder descente, eu
tinha o direito de ter os filhos na minha guarda, a exigir o respeito e o trabalho, se fosse o caso. Com
a CRFB/88 esse poder veio em mão dupla, revelando tanto direitos com relação aos filhos, quanto
deveres. Hoje, poder familiar de pai e mãe é muito mais dever, um poder-dever.
15.2 Extinção
Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar:
I - pela morte dos pais ou do filho; — caso um só dos pais morra o poder familiar ficaria concentrada no outro
cônjuge.
II - pela emancipação, nos termos do art. 5o, parágrafo único; — só ir no cartório, mas tem que ser os dois
pais, desde que estejam vivos. Se eles tiverem discordância manda pro juiz.
III - pela maioridade;
IV - pela adoção;
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.
Formas de extinção
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
I - castigar imoderadamente o filho;
II - deixar o filho em abandono; — abandono material, como privá-lo de comida, ou intelectual, como privá-lo
de ir à escola ou de vacina.
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; — criar uma criança num prostíbulo.
IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.
V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção. — sobre isso:
A adoção no sistema brasileiro é feita para não funcionar, estão as criticas que se fazem ao
ECA é por conta dessas questões. A gente tem pais querendo adotar e crianças nascendo, só o
ordenamento que não entendeu isso. Na prática a mulher engravida e entrega essa criança para
quem quer adotar, só que ela não pode fazer isso, ela tem que entregar essa criança ao estado para
que ele abre uma espécie de licitação para adoção da criança. Então, nos estados desenvolvidos,
________________________________________________________________________________
16.3 Tipos
No CCB temos guardas unilateral e compartilhada.
Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada.
§ 1o Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua
(art. 1.584, § 5o) e, por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e
deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos
comuns.
§ 2o Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido de forma equilibrada
com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos:
I - afeto nas relações com o genitor e com o grupo familiar;
II - saúde e segurança;
III - (revogado).
§ 3º Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos filhos será aquela que melhor
atender aos interesses dos filhos.
§ 4o (VETADO).
Perda da guarda: não se perde a guarda pela separação, divorcio, novo casamento, ou infração
dos deveres conjugais. Só se perde a guarda por infrações no exercício do poder familiar.
.1 CAUSA: opção vingativa de uma das partes que geram um conflito de lealdade da criança
e outros comportamentos perturbadores da saúde emocional do menor, inclusive com criação
fictícia de abuso sexual — usam o argumento de abuso sexual na guarda unilateral para evitar que o
outro pai tenha contato com a criança. E o juiz nesse caso vai preferir não arriscar. E o resultado
disso é muito negativo, ainda mais para as crianças que tem que aprender que aquele é um pai
carinhoso.
A Lei 12.318/2010 veio tentar resolver esse problema, mas assumindo que o poder
judiciário não tem o poder de resolver isso, então passaram para uma análise técnica do psicólogo,
para conferir essas imagens plantadas na cabeça da criança.
.2 CONSEQUÊNCIAS
Se houver configuração de alienação parental as consequências mais graves são: Perda da
guarda, e afastamento da criança, dentre outras. Pode vir até uma astreinte para que se
chegue a ocorrer a configuração de alienação parental (cada ato não cumprido com a criança aplica
uma multa em face do parente devedor – como atrasar para pegar ou deixar a criança numa forma de birra
com o outro pai).
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O que é personalidade?
É a possibilidade jurídica — sobre esse aspecto toda personalidade é jurídica, e só dentro do
ordenamento jurídico vou poder dizer quem é pessoa e quem não é. Desdobramentos: pessoa
natural e pessoa jurídica.
Muitos autores misturam a pessoa na sua valoração como ser humano com os valores da sua
personalidade jurídica; Nacif julga como uma visão que mais atrapalha. E quem me diz a
possibilidade jurídica que eu tenho é o ordenamento jurídico que está por trás disso. No direito
argentino começa com a concepção; no direito inglês não existe o conceito de personalidade.
No direito brasileiro, a partir do momento que uma pessoa natural nasce com vida, ou que
uma pessoa jurídica é instituída ela passa a poder ser sujeito de direito (ser jogador no mundo
jurídico) — ou seja: já pode receber herança, direito filial, credor de alimentos, etc. Mas isso significa
que posso fazer tudo (posso jogar em qualquer posição?)?
Não, minha personalidade é restringida, limitada em alguns fatores, e essa limitação de
possibilidades é o que eu chamo de capacidade.
O que é capacidade?
Nada mais que uma limitação ao sujeito de direito, que nada mais é que uma medida da
personalidade. E que tipo de capacidade eu tenho? Tenho capacidade restrita, e capacidade plena.
A capacidade plena aparece em determinado ramo do direito e em circunstâncias e
momentos diferentes. Então, a capacidade civil é aos 18, a capacidade penal existe com algumas
medidas de segurança até os 12, se aprimora aos 18, e se torna plena aos 21; eleitoral? 16; militar?
17. A cada momento da minha vida vou ter essa capacidade maior ou menor, e no direito civil terei
capacidade plena a partir dos 18 anos.
Mas se eu tenho a capacidade restrita, alguém tem que exercer a capacidade plena por mim.
Quem?
Aquele detentor do poder familiar, normalmente o pai e a mãe, que vão me assistir dos 16 aos
18. Posso mudar esse poder familiar através de uma adoção — juiz permite que outra pessoa
assuma poder familiar. Isso também ocorre nos casos em que os detentores naturais desse direito
familiar não possam mais exercer esse poder, como em falecimento dos pais, ou prisão. Em casos
como esses, o juiz vai determinar um tutor, que é o caso da tutela (o poder familiar natural - pai e
mãe - é exercido por duas pessoas, mas ele é um só).
Então tenho essas duas transferências possíveis de poder familiar: adoção e tutela.
Art. 1.741. Incumbe ao tutor, sob a inspeção do juiz, administrar os bens do tutelado, em proveito deste,
cumprindo seus deveres com zelo e boa-fé.
Conceito
“É a transferência de um cargo conferido a alguém (tutor) para que dirija a pessoa e
administre os bens de menor que não incide no poder familiar dos pais, bem como representar,
educar, defender e prestar alimentos.”
✦ FUNÇÃO DO TUTOR: o tutor representa ou assiste o menor conforme o caso, dirigindo
a pessoa e administrando os bens.
Tal como a adoção a tutela é uma transferência do exercício do poder familiar. Mas
qual a diferença entre os dois? Na adoção eu transfiro o poder familiar, já na tutela eu transfiro o
exercício do poder familiar, a guarda imediata. Na adoção, após 18 anos cessa o poder familiar mas
resta o parentesco; já na tutela cessa o exercício do poder familiar.
O tutor só exerce o poder familiar, mas o poder familiar em si pertence ao estado, na
pessoa do juiz, de modo que todo tutor deve prestar contas ao juiz que concedeu a tutela e que tem
a obrigação de fiscalizar, porque o juízo fica na verdade com a guarda mediata do menor, ele
inclusive é responsável PESSOALMENTE por ele.
17.2 Espécies
O tutor é nomeado pelo juiz, mas ele pode ser indicado:
(1) Tutela Legal:
Tutela pode ser testamentária, pelos pais em testamento; ou tutela em escrito autêntico.
Art. 1.729. O direito de nomear tutor compete aos pais, em conjunto.
Parágrafo único. A nomeação deve constar de testamento ou de qualquer outro documento autêntico.
Sempre que os pais indicam quem são os tutores (testamentária e escrito autêntico), segundo
Caio Mario, o juiz deve obrigatoriamente acatar, porque a possibilidade dos pais errarem é muito
menor que a possibilidade do juiz errar. O juiz é pessoalmente responsável tanto pela indicação do
tutor, quanto pela fiscalização da tutela, então em qualquer problema quem paga o pato é o juiz
pessoalmente, e não o juízo ou o Estado.
17.3 Impedimentos
O 1.735 vem com 6 itens que impedem a pessoa de ser tutor.
Seção II
Dos Incapazes de Exercer a Tutela
Art. 1.735. Não podem ser tutores e serão exonerados da tutela, caso a exerçam:
I - aqueles que não tiverem a livre administração de seus bens; — como o pródigo.
II - aqueles que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se acharem constituídos em obrigação para com
o menor, ou tiverem que fazer valer direitos contra este, e aqueles cujos pais, filhos ou cônjuges tiverem demanda
contra o menor; — havendo um conflito de interesses, como ser devedor ou credor do pupilo.
III - os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido por estes expressamente excluídos da tutela;
— excluídos pela via testamentária, por exemplo.
IV - os condenados por crime de furto, roubo, estelionato, falsidade, contra a família ou os costumes,
tenham ou não cumprido pena;
V - as pessoas de mau procedimento, ou falhas em probidade, e as culpadas de abuso em tutorias
anteriores; — improbidade, estelionato, e abusos flagrados em tutorias anteriores.
17.3 Escusas
Percebam, o poder familiar retorna ao Estado, que defere o exercício do poder familiar a uma
pessoa qualquer, e essa pessoa que está cumprindo essa função está cumprindo uma função pública,
é deferido pelo juiz (assim como o mesário, o jurado) então vai exercer isso de graça, e é obrigado a
fazer isso. Contudo, em algumas situações é possível alegar ao juiz que você não pode, estas
possibilidades estão no 1.736. É uma circunstância de não ser impedido, mas se o indicado não
quiser, não precisa assumir essa responsabilidade.
Seção III
Da Escusa dos Tutores
Art. 1.736. Podem escusar-se da tutela:
I - mulheres casadas; — não deveriam poder se escusar nem o homem nem a mulher casada, de acordo com as
regras de igualdade material, vide opinião do Nacif.
II - maiores de sessenta anos;
III - aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos; — mais de 4 filhos menores.
IV - os impossibilitados por enfermidade;
V - aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela;
VI - aqueles que já exercerem tutela ou curatela;
VII - militares em serviço.
Percebam o seguinte: tenho 3 filhos, já estou exercendo a tutela a 1 ano, e ganhei mais um filho,
passando agora a ter 4 filhos, desde esse momento tenho 10 dias para me manifestar nessa escusa; nesse
sentido esse artigo 1.738 não atende o melhor interesse do menor, porque se o sujeito não se manifestar
nesses 10 dias do descobrimento do quarto filho ele perde a oportunidade de escusar-se depois.
Assim, fugindo do melhor interesse do menor, a lei está incentivando qual tipo de atitude? Por uma
análise consequencialista dessa atitude, percebemos que é uma consequência ruim, porque se não fosse esse
prazo às vezes o tutor poderia tentar manter os 5 filhos, e depois se não conseguisse manter os 5 desistir dessa
tutela — mas como essa oportunidade vem só uma vez do descobrimento do fato, na dúvida a pessoa pode
optar por já romper essa tutela (que é a estratégia dominante, aka o que geralmente acontece). Por isso, esse
artigo é permicioso ao melhor interesse do menor.
A tutela é indesejável e indivisível. Ou seja, não pode passar sua função para outras
pessoas. Contudo, o próprio código traz três casos que permitem atuação desses coadjuvantes,
participação de outras pessoas.
(1) Pró-tutor: para fiscalizar as ações do tutor — por exemplo, caso que veio a partir de
uma denúncia no DF, de caso ocorrido no Rio de Janeiro na década de 80, dois órfãos de filhos
de um casal donos de uma empresa de transporte urbana do rio de janeiro, que ao falecerem
deixaram muito dinheiro, mas os tutores gastaram todo patrimônio antes dos filhos
completarem 21 anos; mesmo caso dos filhos do PC Faria. O que aconteceu? percebam, como é
que um juiz vai fiscalizar um tutor que tem como função administrar uma empresa de ônibus?
Ele precisa de uma pessoa especializada que faça essa fiscalização; claro que em se tratando de
um patrimônio considerável, ele deve ter uma expertise na sua área de atuação e evidentemente
atua para isso. Esse pró-tutor tem responsabilidade profissional e pessoal.
(2) Delegatário: é o mandatário, para exercer função específica e justificável acerca do
patrimônio do menor — então estou com meu sobrinho, os pais morreram, fico na tutela dessa
criança mas os pais deixaram uma fazenda no Mato Grosso. Diante de uma situação dessas eu
nomeio um procurador, delegando uma função específica para esse delegatário, que vai nesse
caso cuidar da fazenda. — via de regra o mandato do direito civil é gratuito, mas conforme o
contrato ele pode ser remunerado, dependendo do trabalho.
(3) O juiz: que é pessoalmente responsável nos termos do artigo 1.744 e 1745. Ditado: será
indireta e subsidiária se não exigir as garantias legais do tutor e nem o remover quando se
tornou suspeito (1.745 p. Único). Será direta e pessoal se não nomear o tutor ou se não o
nomear oportunamente.
OBS.: LER: 1753 A 1762 — que correspondem às seções V Dos Bens do Tutelado, e VI Da
Prestação de Contas, não merecem atenção especial em aula, mas é para ler e decorar.
18.1 O que é?
Percebam que pelo padrão temporal do direito brasileiro aos 18 anos toas as pessoas se
tornam plenamente capazes, então paro de ter uma medida da minha personalidade e tenho a
capacidade plena para todos os atos da vida civil — todas as pessoas, indistintamente. Entretanto,
algumas pessoas não tinham a condição de permanecer na orientação da sua própria vida, há
circunstâncias em que a pessoa perde a capacidade de gerenciar a própria vida. Nesses casos, essa
capacidade he é dada ope leges mas ela tem que ser imediatamente retirada, porque a pessoa pode
colocar em risco a si mesma e seu patrimônio. Por exemplo, imagine uma pessoa com a doença de
Alzheimer. Logo, deve se proceder com uma interdição (ação judicial de interdição), na qual se
retira a capacidade plena dessa pessoa, e entrega a uma pessoa, o curador, que a partir daí vai
cuidar dos bens e da vida do curatelado.
Conceito: é o encargo cometido pelo Estado para dirigir a pessoa e administrar os bens de
maiores incapazes.
Observe que o artigo está cortado. Então o que saiu desses casos?
Saiu as pessoas que de forma incompleta não podem exprimir sua vontade, mas que ainda
assim não podem exprimir sua vontade. Imaginem os senhores sua medida de capacidade civil
plena em uma escala que vai de 0 a 100%. 1% seria um bebê, 100% eu obtenho quando completo
meus 18 anos — por exemplo, uma pessoa que tinha 20% de capacidade, ao fazer 18 anos obteria 100% dessa
capacidade? Não, porque teria a necessidade de curatela. Mas imagine, o código entendeu que existe
um meio termo, de quem não precisaria de uma curatela, para os casos do estatuto dos deficientes
mentais, porque se entende que eles teriam discernimento parcial (de por exemplo, 60%).
Assim criou-se para esses deficientes mentais um outro instituto que não a curatela, porque
eles não precisam de um curador, eles precisam de uma orientação, e esse outro instituto é a
Tomada de Decisão Apoiada, que é a tomada de decisão por duas pessoas que vão junto a esse
deficiente mental permitir negócios jurídicos. Ainda existe a curatela, só não para os deficientes
jurídicos: foram revogados os incisos: II - aqueles que por outra causa duradoura não puderem exprimir sua
vontade; e IV - os excepcionais sem completo desenvolvimento mental. A tomada de decisão apoiada está
previsto no 1.783-A.
CAPÍTULO III - Da Tomada de Decisão Apoiada (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo
menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe
apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para
que possa exercer sua capacidade.
§ 1o Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem
apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores,
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SUBTÍTULO II
Do Usufruto e da Administração dos Bens de Filhos Menores
Art. 1.689. O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar: — ou seja: não pode na tutela.
Art. 1.690. Compete aos pais, e na falta de um deles ao outro, com exclusividade, representar os
filhos menores de dezesseis anos, bem como assisti-los até completarem a maioridade ou serem
emancipados.
Parágrafo único. Os pais devem decidir em comum as questões relativas aos filhos e a seus bens;
havendo divergência, poderá qualquer deles recorrer ao juiz para a solução necessária.
Art. 1.691. Não podem os pais alienar, ou gravar de ônus real os imóveis dos filhos, nem contrair,
em nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da simples administração, salvo por
necessidade ou evidente interesse da prole, mediante prévia autorização do juiz.
Não posso vender o bem do menor nem entregá-lo em garantia; que prévia autorização do juiz é essa? Se
chama alvará. Quais são os casos possíveis de necessidade e evidente interesse da prole? Percebam que é da
prole, não só do bem de menor, um motivo básico seria para investimento em ensino superior.
Parágrafo único. Podem pleitear a declaração de nulidade dos atos previstos neste artigo:
I - os filhos;
II - os herdeiros;
III - o representante legal.
Art. 1.692. Sempre que no exercício do poder familiar colidir o interesse dos pais com o do filho, a
requerimento deste ou do Ministério Público o juiz lhe dará curador especial.
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1º - Irrevogabilidade
Se dá pelo fato de que toda e qualquer adoção advém de uma sentença judicial. Alguns países
no mundo admitem a revogabilidade (como EUA e Suíça; inclusive nos dois você perde sua
cidadania nesses casos).
2º - O vínculo é do adotado com toda a família do adotante.
O que não era no CC/16. Hoje é uma situação potestativa, a partir do momento que meu
filho resolve adotar uma criança virei avô, antes não era assim que funcionava, eu não era vinculado
como avô se não quisesse. Se eu quiser adotar um filho e meu cônjuge não quiser adotar comigo,
então eu sou pai sozinho.
3º - Isonomia.
A partir da CRFB os filhos adotados possuem isonomia em todos os aspectos legais aos filhos
naturais.
4º - Família Biológica.
Nenhum vínculo permanecerá entre o adotado e a sua família biológica.
19.2 Características
✦ Quem pode adotar? Quem é maior de 18 anos e tem uma diferença de pelo menos 16
anos do menor a ser adotado. Art. 40 e 42 do ECA.
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil.
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.
§ 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham
união estável, comprovada a estabilidade da família.
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando.
§ 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente,
contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido
iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de
afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da
concessão.
5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demonstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada a
guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código
Civil.
§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer
no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.
- Leitura social refratária: Estado e Igreja de um lado, família do outro. São meios diversos de tal
sorte que, lançada nossa visão da última a partir dos primeiros, a representação que se alcança
sofre os desvios próprios da refração.
- Foram o poder político e a ordenação do culto que estenderam seus braços sobre a família e a
reconduziram para os seus quadros, impondo-lhe regras e a redesenhando sobposta a interesses
que transcendiam a seus próprios, vale dizer, interesses externos. Assim deu-se a politização e a
sacralização da família.
- Visão de família hoje está profundamente permeada não por aquilo que ela é, em sua essência,
mas no que o sagrado e o político tentaram e tentam dela fazer. Por isso, distinguir entre o fato e
a versão do fato é importante.
- Paradoxalmente o desenvolvimento do capitalismo moderno e o depuramento da fé religiosa, a
família começou a se libertar das forças extrínsecas de domínio e opressão: passagem de unidade
institucional a núcleo de companheirismo; se desvencilhar da imensa carga de atribuições que se
lhe tinham imposto (Funktionsverlust; Funktionsentlastung).
- “Perdendo função após função, acabou por encontrar a sua própria" que é a de ser locus de
amor, sonho, afeto e companheirismo, suas prestações específicas.
- A família antecede ao Estado, preexiste à Igreja e é contemporânea do direito, o poder jurídico
de um e de outra relativamente à família não pertence à ordem da atribuição. Pertence, ao
contrário, à ordem do reconhecimento. Ao Estado, assim como à Igreja, compete em grau a um
só tempo eminente e inabdicável reconhecer a família, assegurar sua faculdade de autonomia e,
portanto, de auto-regramento. O casamento e a família só serão o espaço do sonho, da liberdade
e do amor à condição de que os construam os partícipes mesmos da relação de afeto.
- O amor está para o direito de família assim como o acordo de vontades está para o direito dos
contratos.
- Não se pretende que o direito de família substitua-se à psicoterapia, mas seria redução
imperdoável de suas virtualidades concebê-lo ou praticá-lo com exclusão do aconselhamento
preventivo e reparatório, assim como da mediação extrajudicial: perspectiva - a de que o direito
de família está preordenado ao bem-estar pessoal
- O direito de família brasileiro é procriacionista (i), autoritário (ii), determinista, substitutivista,
invasivo e extremamente guloso — reconduzir às varas de família questões que de família nada
têm, desvios aberrantes de uma ordem familial saudável.
- (i) A função promocional do direito, juízes da infância e da juventude criam obstáculos, a bem
dizer insuperáveis, para a prática da adoção, Para procriar tudo é permitido. Para dar pais a
quem não os tem tudo é dificultado; (ii) Autoritárias nossas leis da família sempre que retiram às
pessoas as faculdades inerentes à capacidade negocial que se lhes reconhece; . patológico pendor
nacional para a regulamentação; "alimenta a infantilização das pessoas individualmente
consideradas e a castração da sociedade civil.