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ESTILOS DE RESPIRAÇÃO
 David Boadella

INTRODUÇÃO

Wilhelm Reich desenvolveu sua vegetoterapia caractero-analítica na Dinamarca e na Noruega,


entre 1934 e 1936.

Enquanto seus colegas psicanalistas trabalhavam com pacientes essencialmente com a análise
dos conteúdos de suas comunicações, Reich analisava também a forma da comunicação. Isto levou-o
ao estudo detalhado do tônus muscular, postura e padrões de respiração.

Reich encontrou um padrão de respiração perturbado em todos os pacientes que tratou, e


chegou à conclusão que inspiração reduzida ou expiração reduzida ou ambas, eram o mecanismo
central da represssão neurótica.

Por volta de 1934 começou a enfrentar a respiração disfuncional com um estilo especial de
massagem e manipulação, e tipicamente seus clientes liberavam uma variedade de emoções reprimidas.
A liberação emocional
era seguida por uma respiração mais rítmica

O sistema nervoso autônomo tem forte influência nos ritmos respiratórios e também no
equilíbrio emocional de uma pessoa. Na Alemanha este sistema é chamado " sistema vegetativo”, e o
termo de Reich "vegetoterapia" derivou daí.

Muitas abordagens modernas de psicoterapia envolvendo o corpo, inclusive a Gestalt-terapia,


a Bioenergética e a Terapia Primal, foram profundamente influenciadas por Reich.

Quase todas as emoções fortes  choro, raiva, medo e prazer , envolvem aumento da
respiração. Assim não é de surpreender que se uma pessoa quer reprimir essas emoções, a redução da
respiração seja uma dinâmica central.

No trabalho reichiano o terapeuta busca aprofundar a respiração do paciente além do limite da


repressão. Ao fazê-lo, tem que estar sensível aos ritmos naturais do ciclo respiratório, e aos limiares de
ansiedade no cliente. Reich preveniu que alterar os padrões respiratórios de uma pessoa é semelhante a
uma cirurgia emocional e deveria ser tentado apenas por aqueles com experiência nos métodos de
Reich.

Terapeutas inexperientes, tentando provocar respiração profunda num paciente, podem


facilmente induzir a uma crise de hiperventilação e não reconhecê-la como tal. É necessário
habilidade neste trabalho, pois um paciente com respiração cronicamente reduzida pode facilmente
entrar em hiperventilação em resposta à situação terapêutica . Evita-se a crise estabelecendo-se a
mudança respiratória em etapas cuidadosas, ou levando o paciente a ser mais expressivo, seja
muscularmente, emocionalmente, ou ambos.

As tensões dos músculos respiratórios são encontradas nos peitorais, nos intercostais e em
outros músculos do alto do peito e das costas. Tensão diafragmática é extremamente freqüente em
muitos estados neuróticos. Como o diafragma se liga à coluna, métodos de mobilização da coluna e do
músculo psoas são utilizados como os meios mais eficazes para abrir o diafragma. Este trabalho não é
apenas "exercícios", e não pode ser feito mecanicamente. Há sempre um contexto emocional para a
repressão que precisa ser sentido, eliciado e resolvido, antes que padrões respiratórios disfuncionais
possam ser alterados.

Quando olhamos para os ritmos respiratórios de um bebê saudável ou de um ser humano cheio
de vida, vemos todo o tronco expandir-se na inspiração e desinflar-se na expiração. Há quatro padrões
mais comuns de distúrbio deste ritmo saudável.
2
1. Super-expansão do peito na inspiração, com pouca expansão do abdômen.

2. Super-expansão do abdômen na inspiração, com pouca expansão do peito.

3. Pouquíssima expansão do peito e abdômen na inspiração. A respiração é quase


imperceptível.

4. Pouca deflação do peito na expiração. O peito é duro e firme e parece uma gaiola. Este
padrão tem sido correlacionado de perto com os caracteres tipo A com tendência para ataques
cardíacos.

5. Pouca deflação do abdômen na expiração. Sente-se o abdômen congestionado, tenso ou


esponjoso. Isto se associa ao temperamento masoquista na caracterologia reichiana: a pessoa que
tipicamente engoIe (swallows down) sentimentos e os retém (holds them in). Ocasionalmente este
padrão liga-se também à aerofagia  engolir o ar, assim como os sentimentos.

6. Expiração forçada, com tendência a estabelecer alguma forma de síndrome de


hiperventilação, como discutimos acima.

Estas são as escolhas fisiológicas básicas que os pacientes podem mostrar como desvios de um
ritmo respiratório muscularmente relaxado.

A seguir tentarei apresentar alguns destes padrões focalizando seus aspectos clínicos, com
ênfase para o contexto emocional do ritmo respiratório perturbado.

Em seu teste diagnóstico muscular Nic Waal (1) distinguiu diversas variedades de respiração.
Ela mostra como na respiração natural o peito e o abdômen sobem assincronamente na inspiração e
caem na expiração. As várias formas pelas quais este ritmo natural pode ser perturbado são assim
descritas por Nic Waal:

1. Respiração torácica, onde a respiração está principalmente no peito, e os movimentos


abdominais são mantidos em um mínimo.

2. Respiração abdominal, onde a respiração é principalmente diafragmática, de modo que se


pode ver a parede abdominal subir e cair, mas os movimentos do peito são mantidos num mínimo.

3. Respiração paradoxal, onde o peito e o abdômen se movem, mas sem sincronização e em


ritmos (ou fases) diferentes.

4. Flutter-Breathing  respiração rápida e superficial como o adejar de uma borboleta 


onde há total falta de ritmo, e os movimentos respiratórios são irregulares e desiguais.

RESPIRAÇÃO PRESA POR COURAÇA MUSCULAR (rígida)

0 tipo de respiração que Reich descreveu em primeiro lugar, foi a que se caracteriza por
enrijecimento dos músculos do peito e contração (apertar) das costelas, com uma correspondente
redução da livre mobilidade do diafragma:

—————————————————————————————
 Atitude infantil: agir "out of spite" - fazer algo só por maldade, para fazer a outra pessoa se sentir mal
ou má.

 "Stiff-neckedness": literalmente, pescoço duro. Atitude de orgulho, superioridade, arrogância, que


pode encobrir emoções de medo, dor, tristeza, anseio.

"Os músculos que atuam no encouraçamento do peito são os músculos intercostais, os grandes
músculos do peito (peitorais), os músculos dos ombros (deltóides) e os músculos sobre e entre as
escápulas. A expressão do encouraçamento do peito é essencialmente ‘autocontrole e
3
contenção/restrição’. Os ombros que são puxados para trás, literalmente expressam ‘holding-back’ 
segurar-se para trás. Junto com o encouraçamento do pescoço, o encouraçamento do peito expressa
‘spite’  e ‘stiff-neckedness’  (a ser compreendido no sentido literal). Na presença do
encouraçamento, a expressão é de ‘imobilidade’ ou ‘nada pode me atingir’" (2).

No capítulo "A Linguagem Expressiva da Vida", da qual provém esta citação, Reich não
distingue entre os variados estilos de respiração apresentados por pessoas com diferentes tipos de
couraça muscular, e diferentes tipos de experiência e background. 0 tipo de padrão defensivo descrito
acima é bastante específico dos padrões de encouraçamento rígidos, onde a característica mais evidente
é um endurecimento e tensão crônica das grandes "capas" musculares do corpo. A respiração dessas
pessoas é um respirar sem sentimentos. A respiração é reduzida pelas tensões e nem expressa emoções
fortes, nem responde facilmente às emoções dos outros. A respiração tem uma regularidade mecânica,
inspiração e expiração ocorrem de forma predizível; a respiração expande e contrai dentro dos limites
fixos impostos pela pressão da caixa torácica e da parede abdominal.

A expansão crônica do tórax cria uma série de problemas aos quais ficam sujeitas as pessoas
com tendência a encouraçamento muscular do tipo rígido (no sentido de Lowen). Reich menciona entre
elas, "a pressão alta, palpitações e ansiedade e, em estados mais severos de longa duração, também
aumento do tamanho do coração. Vários tipos de doenças cardíacas resultam diretamente da expansão
crônica ou indiretamente como resultado da síndrome de ansiedade. Enfisema pulmonar é um
resultado diretamente relacionado com a expansão crônica do tórax". (3)

Reich também aponta como o militarismo por toda a parte utiliza a expressão incorporada
neste tipo de encouraçamento. Mathias Alexander mostrou em seus livros sobre posturas do corpo,
como os métodos de educação física prevalecentes quando ele escreveu, enfatizavam a postura de
"barriga para dentro, ombros para trás, peito para fora” e reforçavam a atitude do rígido autômato
respondendo ao treinamento mecânico. Wilfred Barlow, um médico clinico, escreveu a respeito do
método Alexander que, em todos os casos de trombose coronária que encontrou "nunca viu um só caso
em que a parte superior do tórax não estivesse marcadamente erguida e super-controlada. A impressão
de ‘poderoso chefe’ é freqüentemente acompanhada pelo peito estufado super-inflado na posição
inspiratória”. (4)

RESPIRAÇÃO INTESTINAL (masoquismo)

Reich também descreve uma forma de encouraçamento centrada na pressão abdominal:

"Os pacientes queixam-se de uma intolerável ‘pressão’ na barriga, ou de uma cinta que
‘restringe’. Outros têm um certo ponto no abdômen que é muito sensível. Todos têm medo de levar um
soco na barriga. Este medo torna-se o centro de ricas fantasias. Outros têm a sensação de que ‘há algo
na barriga que não pode sair’; parece que há algo como um prato na minha barriga; minha barriga
está morta; tenho que me segurar na barriga, etc. A maioria das fantasias de crianças pequenas sobre
gravidez e parto centram-se nas sensações vegetativas em seus abdomens". (3)

Existem formas específicas de usar as vísceras  intestinos  como forma de suprimir


sentimentos. Os intestinos podem ser constritos por pressão abdominal, por contração do esfíncter anal,
por "engolir os sentimentos” e por tensão do diafragma, através do qual deve passar a parte superior do
canal alimentar, ligando o peito ao abdômen. Reich discute isto em relação à energética do vomitar:

"Em muitos casos de bloqueio diafragmático ocorre, junto com incapacidade para vomitar,
náusea mais ou menos constante. Não pode haver dúvida de que as chamadas desordens do estômago
‘nervoso’ são o resultado direto do encouraçamento nesta região. 0 vômito é um movimento de
expressão biológica cuja função alcança com êxito exatamente o que ela ‘expressa’: expulsão
convulsiva do conteúdo do corpo. É baseado em um movimento peristáltico do estômago e do esôfago,
na direção oposta da sua função normal, isto é, na direção da boca (antiperistaltismo). 0 reflexo de
engasgar dissolve rápida e radicalmente o encouraçamento do segmento diafragmático. 0 ato de
vomitar é acompanhado de uma convulsão do corpo que se dobra rapidamente no epigastro, levando a
cabeça e a pelve para a frente com os espasmos. Na cólica infantil, o vômito é acompanhado de
4
diarréia. Considerando-se do ponto de vista energético, fortes ondas de excitação partem do meio do
corpo, correndo para cima em direção da boca e para baixo em direção do ânus. Estas convulsões
desaparecem com expiração profunda".(7)

A criança que foi submetida a sentimentos de vergonha ou de culpa relativos à expulsão do


conteúdo corporal, aprende a engolir gostos ruins, em vez de cuspi-los fora; e a inibir os movimentos
peristálticos do cólon. Esta criança freqüentemente desenvolve um padrão específico de respiração que
acompanha e suporta o padrão peristáltico. Poderíamos falar de respiração intestinal. Notei isso em
uma paciente que, quando expirava, enchia e pressurizava o abdômen, mesmo enquanto seu peito se
relaxava e movia para baixo. Este é um exemplo de respiração paradoxal, mencionado por Nic Waal;
"as direções da movimentação no tórax e no abdômen ocorrem, neste caso, em oposição uma á outra.
'Quando o peito se expande para fora, o abdômen se retrai' e vice-versa. O abdômen é recolhido
durante a inspiração e durante a expiração ele é pressionado para fora e os movimentos
diafragmáticos não são coordenados como movimentos do peito”. (1)

Este tipo de respiração também foi descrito independentemente por Lowen como paradoxal:
"Na respiração paradoxal, a inspiração é produzida antes por um movimento ascendente do que por um
movimento para fora... Assim a expansão do peito é acompanhada por um estreitamento da cavidade
abdominal. Às vezes observa-se que o abdômen é sugado e recolhido durante a inspiração e solto para
fora na expiração". (5)

Lowen descreveu um padrão semelhante em um paciente masoquista: "Quando o paciente


tentava fazer uma expiração profunda, como em um suspiro profundo, o peito se relaxava, mas a onda
descendente ia se acumulando até formar um duro nó no meio do abdômen.... Isso me fez pensar em
alguém se esforçando para defecar. Parecia que ele estava se esforçando por empurrar algo para fora,
esforçando-se contra algo que resistia”. (6)

Temos então aqui uma forma de respiração transferida do sistema intestinal para o sistema
respiratório, uma forma de respirar que seria de se esperar, particularmente, em pessoas expostas a
situações nauseantes que as façam sentir necessidade de vomitar (o “ veneno” da paranóia) ou com
pessoas expostas a situações de nojo e de humilhação anal relativos aos conteúdos abdominais (o
"pântano” do masoquista).

A RESPIRAÇÃO COMO “ATO DE SUGAR” (oral)

No caráter oral Lowen descreve o oposto do peito inflado do caráter rígido. "A tensão
muscular marcante do rígido parece ausente na parte frontal do corpo, mas isto ocorre apenas devido
à condição desinflada do peito e do abdômen". (6) Em contraste com o padrão já descrito, "o reflexo
de engasgar é bastante fácil de eliciar. Isto pode ser devido a distúrbios relativos à alimentação no
período inicial da vida, com tendências persistentes ao vômito”. (6) É como se a defesa oral fosse uma
aclimatização à sensação de vazio. "0 peito geralmente é desinflado, a barriga não tem turgor e,
quando palpada, mostra-se vazia."

As características de personalidade e a deflação da estrutura corporal oral, que Lowen


descreveu tão claramente, é encontrada no padrão respiratório: Podemos reconhecer um tipo
especifico de respiração oral distinguido pelo medo e relutância em expressar voracidade. Não é que
ele tenha medo da sensação do ar entrando em quantidade nos pulmões, como o paciente de Mott
mencionado na 1ª. Parte. Parece ser uma atitude aprendida, transferida do seu comportamento de
amamentação. A criança aprende a ser desapontada e a ser deixada com sensação de fome, não apenas
em relação à alimentação, mas em relação ao ar. A sua experiência de que ao procurar alcançar o que
você deseja não traz o que você precisa, de que você é deixado insatisfeito, vazio e descarregado, é
aprendida em relação ao fluxo de leite materno, um fluxo que a criança não pode regular. Quando isto
é transferido para a respiração, parece que tal pessoa vive esfomeada de ar, ela tem receio de tomá-lo
em grandes goles, sugá-lo para dentro. Quando se trabalha com a inibição da respiração de pessoas
que mostram esse problema eu acho que o gesto de colocar as minhas mãos em concha de cada lado do
pescoço da pessoa constitui um auxílio. A carga extra ajuda a puxar o ar através do bloqueio. A medida
que a pessoa começa a se abrir a um fluxo mais forte de ar e a sugá-lo vorazmente, eu posso às vezes
sentir o fluxo de energia enchendo o pescoço como uma planta que se torna túrgida ao ser regada. As
5
atitudes orais de sugar a alimentação de outras pessoas ou de substitutos proporcionados por várias
adições originam-se da recusa de deixar a nutrição que provem do ar invadir rapidamente o organismo,
e da incapacidade de se tornar um viciado em oxigênio.

“Qualquer distúrbio na função do sugar", diz Lowen, "terá imediata repercussão sobre a
função da respiração". (5)

RESPIRAÇÃO DO NASCIDO E DO NÃO NASCIDO (esquizo)

Reich descreveu um padrão de respiração muito diferente, em um caso de esquizofrenia que


ele tratou; embora esse padrão também pareça ser baseado em uma relutância em inspirar, suas origens
e dinâmica são muito diferentes.
"Tentei abordar a disfunção respiratória da paciente. 0 problema não era, como no caso do
neurótico encouraçado, quebrar a couraça do peito. Parecia não haver couraça. 0 problema era,
como fazê-la aspirar e expirar o ar através da laringe. Ela começou a lutar fortemente sempre que eu
tentava provocar a respiração total. Eu tinha a impressão de que a função respiratória não era
impedida por qualquer imobilidade devido à couraça, mas era inibida como se fosse por um forte
esforço consciente”. (2)

Reich descreve como uma das funções dessa inibição de respiração é suprimir as correntes
vegetativas que se movimentam no corpo, e que sua paciente lutava contra estas correntes " não
permitindo a passagem do ar para dentro e para fora dos pulmões". Isto apresenta um paradoxo óbvio:
se a esquizofrênica se recusasse a deixar entrar o ar ela morreria de anóxia, da mesma forma que uma
pessoa que se alimentasse muito pouco morreria de anorexia. Mas os esquizofrênicos não morrem por
não respirarem. A dinâmica específica desta respiração parece envolver a minimização dos
movimentos da respiração. Em outras palavras, a entrada de ar e a sua expulsão ocorre, mas é feita de
maneira tão imperceptível quanto possível. É uma respiração interna, invisível, quando comparada
com a respiração de uma pessoa que, confiantemente, respira para fora exteriorizando-a para o mundo.
Não é que uma pessoa que viva desta forma não se sinta com direito a ser alimentada por via oral, e
portanto reduza sua necessidade de ar, como na situação descrita acima. A respiração imperceptível é
uma negação não do ar mas do próprio processo de respiração em si, o qual é um pre-requisito para a
vida fora do útero. Os movimentos respiratórios do esquizofrênico são uma duplicação tão aproximada
quanto possível da inatividade do aparelho respiratório quando dentro do útero. A respiração
imperceptível e suave descrita por Reich é a respiração "uterina". É a respiração de alguém relutante
ou impossibilitado de nascer. Devido ao conceito de "stress” transmarginal pode bem ser encontrada
alguma ambivalência: Lowen assim descreve um ataque de despersonalização em relação à respiração,
que aconteceu com um paciente seu: "Eu tinha às vezes a sensação estranha de que eu não tinha
controle sobre minha respiração. Eu tinha pensamentos de que se eu de repente parasse de respirar,
não conseguiria começar novamente. Eu parecia estar fora do meu corpo, olhando para ele, como se
não fosse meu. Eu tinha sensações de fraqueza e tontura e sentia-me como se fosse morrer. Então eu
gritava e desmaiava e as sensações desapareciam vagarosamente. Era muito amedrontador”. ( 6)

0 grito de medo que provocou o afastamento da sensação de despersonalização é na realidade o


grito do nascimento. Ele de certa forma, traz a pessoa despersonalizada de volta ao seu corpo. 0 medo
de que respirar provoca uma entrada de ar súbita, com o ofego, enquanto que o estado de
despersonalização é identificado com uma atitude emocional de não-respiração de estar não-nascido
(unborn). A respiração vigorosa, para uma pessoa esquizoide, pode despertar sensações de morte por
afogamento. Lowen explica isso da seguinte forma:

"0 ato de abrir amplamente a garganta para respirar, evocava sensações de afogamento em
muitos pacientes. Um paciente relatou esta sensação em diversas ocasiões. No entanto o paciente não
conseguia encontrar qualquer incidente em sua memória que pudesse dar motivo a tal experiência. A
interpretação lógica era que a sensação de afogamento representava sua reação a um mar de lágrimas
e tristeza que inundavam sua garganta quando suas tensões se relaxavam. Da mesma forma, as
sensações de sufocação comumente relatadas por pacientes poderia ser interpretada como o engasgar-
se e sufocar-se destes opressivos sentimentos de tristeza. Mas a sensação de afogamento, faz-nos
pensar em uma possível associação com a existência intra-uterina, onde o feto flutua em um ‘mar’ de
fluido. Sabe-se agora que o feto faz movimentos respiratórios dentro do útero, a partir do sétimo mês.
Estes movimentos não são funcionalmente significativos. No entanto, se um espasmo uterino cortasse o
6
fluxo de sangue oxigenado para a placenta durante um tempo significativo, julga-se que estes
movimentos respiratórios experimentais, poderiam tornar-se tentativas reais de respirar. Nesta
situação , a sensação de afogamento resultaria do fluxo de fluido amniótíco para dentro da garganta do
feto. Isto é pura especulação, mas a possibilidade de tais experiências intra-uterinas não pode ser
descartada". (5)

Outra forma de respiração de padrão esquizoide descrita por Lowen, parece ser o oposto do
mostrado pelo paciente de Reich e pelo paciente supra mencionado. É uma situação na qual a pessoa
imobiliza a respiração durante a fase da inspiração. "Este tipo de respiração esquizofrênica", escreve
Lowen, "tem um sinal emocional. Se você o duplicar em você mesmo (infle o seu peito e encolha a
barriga) você ouvirá um ofego enquanto entra o ar nos seus pulmões. Não é difícil reconhecer isso
como uma expressão de medo 0 esquizofrênico respira como se estivesse em estado de terror". (6)

Se este ofego, uma vez inspirado, é inspirado imperceptivelmente, então a expressão de medo
é congelada e retorna para dentro. O esquizofrênico respira como um homem que se finge de morto no
campo de batalha e que levará tiro se se trair deixando perceber que está vivo pelos seus movimentos
respiratórios. Ele pode respirar, mas
não pode demonstrar que está respirando. A respiração pelo menos prova que ele está vivo e fora do
útero, mas é uma respiração ansiosa e que mostra pânico, é a respiração de alguém que apenas está
conseguindo sobreviver. Ansiedade significa constrição, e a respiração histérica é uma respiração
constrita na qual o processo respiratório luta por se afirmar.

"Imaginemos" escreve Reich, "que se esteja amedrontado ou na expectativa de um grande


perigo. Instintivamente a pessoa susterá a respiração e a manterá nesta atitude. Como não se pode
continuar a fazer isso, logo se terá que expirar de novo. No entanto, a expiração será incompleta e
pouco profunda; não se expira completamente em uma expiração, mas em frações, em etapas. Qual é a
função desta atitude de ‘respiração superficial’? Se observarmos a posição dos órgãos internos e sua
relação com o plexo solar, veremos imediatamente do que estamos tratando. Em situação de medo,
involuntariamente, se aspira; como por exemplo no afogamento, quando a própria inspiração conduz à
morte”. (3)

Reich continua, descrevendo como as crianças aprendem a lutar contra estados de ansiedade
restringindo sua respiração e suprimindo os sentimentos de ansiedade. Se elas são bem sucedidas, o
padrão resultante do bloqueio do afeto e postura rígida, conduz ao bloqueio muscular torácico já
descrito. 0 padrão do corpo histérico enfrenta o "stress" expressando alguns dos sintomas de ansiedade,
aprendendo a manipular o ambiente através destes. 0 padrão de respiração aproxima-se do descrito por
Nic Waal como "respiração tremulante", e conduz a uma sensação de estar sem fôlego. Foi assim que
Katerina, a paciente de Freud respondeu à sua pergunta "do que você sofre?":

"Eu fico sem fôlego. Não é sempre. Mas às vezes o acesso é tal que penso que vou sufocar".

Freud comenta: "Isto não parecia, à primeira vista, com um sintoma nervoso. Mas logo me
ocorreu que, provavelmente, isso era apenas uma descrição que revelava um ataque de ansiedade: ela
estava escolhendo a falta de ar, dentre o complexo de sensações que se manifestam com o estado de
ansiedade e estaria manifestando uma ênfase especial por aquele único fator". (7)

A conversação entre Freud e Katerina continua como segue:

"Sente-se aqui. Como é que você se sente quando fica ‘sem ar’?

"Desce sobre mim de repente. Primeiro é como se algo fizesse pressão sobre meus olhos.
Minha cabeça fica tão pesada, há um terrível zumbido e eu me sinto tão tonta que quase caio. Então
há alguma coisa que esmaga meu peito, impedindo-me de respirar".

"E você não nota nada na sua garganta?"

"Minha garganta se aperta e fecha, como se eu fosse sufocar".

"Acontece alguma coisa na sua cabeça?"

"Sim, há um martelamento, parece que vai estourar".


7

"E você não sente medo enquanto isso acontece?"

"Eu sempre penso que vou morrer. De modo geral sou corajosa e vou a qualquer parte sozinha,
tanto ao porão como através de montanhas. Mas no dia em que isso acontece não ouso ir a parte
alguma. Eu imagino sempre nessas situações que alguém está de pé atras de mim e vai me agarrar de
repente." (7)

Isto esclarece muito sobre a transição entre padrões de respiração histérica e esquizoide.
Quando ela se sente sufocar e não pode respirar, a pressão na cabeça aumenta. Reich descreve como
"se a atitude de antecipação ansiosa for mantida por algum tempo, aparece uma pressão na cabeça.
Tenho tido diversos pacientes nos quais não foi possível eliminar a pressão na cabeça até que eu
descobri as suas atitudes de antecipação ansiosa na musculatura do peito ." (3) A tendência histérica,
no entanto, é ab-reagir (abreact) um pouco do pânico, escapar da sensação de sufocamento para a
respiração tremulante (flutter breathing), flertando com a idéia de morrer mas sempre demonstrando
uma vivacidade vigorosa. O histérico respira da forma hesitante e cheia de pânico do bebê que passou
por uma luta difícil ao nascer.

Não estou sugerindo que possamos classificar rigidamente os estilos de respirar e alocá-los
mecanicamente em padrões de caráter específicos. As pessoas têm experiências únicas que conduzem a
todas as gradações de coloração por diferentes tendências de caráter e atitudes corporais. Estilos de
respiração se mesclam, e mesmo extremos polares podem existir na mesma pessoa quando elas
ultrapassam a margem de "stress", sob condições flutuantes de ansiedade ou tensão.

Mas, observando padrões de respiração em termos de experiências uterinas e de nascimento,


conflitos intestinais e encouraçamento muscular, parece-me que consegui ampliar a compreensão de
algumas das dinâmicas que vemos quando trabalhamos com pessoas que lutam com tensões, culpas e
crises existenciais relacionadas com a capacidade de expulsar o ar ou tomar e aspirar.

REFERÊNCIAS

1. Waal, Nic, Grieg, Anne & Rasmussen, Mogans, “Psychodiagnosis of the Body", Energy & Char-
acter, Vol. 7, N.º. 1, VoI. 10, N.º. 3
2. Reich, Wilhelm, "The Expressive Language of the Living", in Character Analysis, 1949.
3. Reich, Wilhelm, The Function of the Orgasm, New York, 1942
4. Barlow, Wilfred, The Alexander Principle, London, 1973
5. Lowen, Alexander, Betrayal of the Body, New York, 1967
6. Lowen, Alexander, Physical Dynamics of Character Structure, New York, 1958
7. Freud, Sigmund, Studies in Hysteria, Penguin Books, 1975

Traduzido por ODILA WEIGAND

 Traduzido de Embriology and Therapy — Collected Papers (I) —, de Energy and Character

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