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captanahoradesemastur

Arquivo do Autor série Desejos 42

Vidas Conectadas
Sumário
Capítulo 1 – Nicole 2
Capítulo 2 – Henrique 14
Capítulo 3 – Bianca 30
Capítulo 4 – Carla 44
Capítulo 5 – Rachel 60
Capítulo 6 – Sofia 72
Capítulo 7 – Peterson 89
Capítulo 8 – Roque 104
Capítulo 9 – Janete 118
Capítulo 10 – Aline 134
Capítulo 11 – Luiz 153
Capítulo 12 – Angélica 166
Capítulo 13 – Beto 184
Capítulo 14 – Rodrigo 195
Capítulo 15 – Frederico 208
Capítulo 16 – Robson 217
Capítulo 17 – Nalanda 232
Capítulo 18 – Elisa 250
Capítulo 19 – Eduardo 262
Capítulo 20 – Danilo 282
Capítulo 1 – Nicole

EU ESTAVA MORANDO há quase um ano em Vitória, no Espírito Santo, mas ainda


não tinha conseguido me adaptar completamente à cidade. Meu pai me levava para
conhecer os principais pontos turísticos durante as suas folgas como gerente da Vecchio
Tour, eu tinha feito algumas amizades tanto no prédio onde morava na Moacir Avidos
quanto no colégio, porém, não era raro me ver morrendo de saudades da minha vida em
São Paulo e de todos que eu havia deixado para trás desde que havia me mudado de
estado.

A minha rotina diária como a filhinha preferida — e única — do papai não era nada
entediante e eu me mantinha ocupada em grande parte do tempo. Pela manhã, eu
frequentava as minhas aulas de ensino médio, de tarde, três vezes por semana, me
exercitava na academia do prédio para manter a minha forma e, depois, saía para bater
papo com Beth ou Camille, as duas vizinhas do andar de baixo do meu apartamento.

Ambas as garotas eram nascidas e criadas em Vitória, por isso, sabiam sobre cada canto
que podíamos visitar na cidade, bem como aqueles que devíamos evitar por sermos
adolescentes bonitas com um nível social diferenciado. Seja em São Paulo, Vitória ou
qualquer lugar do mundo, ser uma mulher ainda representava perigo iminente pelo
simples fato do que tínhamos entre as pernas… e isso era bem frustrante. Às vezes, o
mundo do patriarcado me enojava.

Na minha nova vida, parte da minha rotina exigia que eu frequentasse pelas manhãs o
colégio Valentina Legenfelder, um dos mais caros da cidade. Depois que havia me
acolhido em seu lar devido todas as confusões em que eu havia me metido em São
Paulo, meu pai estava decidido a me proporcionar tudo de melhor que podia pagar e não
queria poupar nenhum centavo comigo, em especial, no que se referia aos meus estudos.
No Valentina estudavam alguns dos herdeiros mais ricos de todo o estado do Espírito
Santo e, entre eles, estavam os irmãos gêmeos Anderson e Emerson García, aqueles que
viriam a ser a minha melhor companhia na sala de aula.

Podia parecer soberba da minha parte, como se agora que era bancada inteiramente por
meu pai eu tivesse me tornado uma burguesinha nojenta que só se relacionava com
quem tinha mais de cem milhões no banco, mas, o fato era que, apesar de serem filhos
de um dos engenheiros mais requisitados da região, os dois meninos eram realmente
carismáticos e a gente criou laços de amizade muito rapidamente, pelo menos, mais
rápido do que aquilo costumava acontecer comigo.

Eu conheci os pais de Anderson e Emerson numa tarde quando fui convidada a visitar a
tremenda mansão onde os dois moravam num bairro chique localizado a uns dois ou três
quilômetros do Valentina Legenfelder. Eles eram levados para cima e para baixo por um
motorista contratado exclusivamente pela família e, aquele dia, para não soar vulgar da
minha parte, chamei a Beth para me acompanhar. A mãe dos gêmeos era uma senhora
na casa dos quarenta e tantos anos, loira, cabelos lisos cortados estilo Chanel, quadril
largo e sorriso fácil no rosto retocado por botox. Ela era simpática e deu para perceber
logo de onde vinha todo o carisma dos filhos. Já em nosso primeiro encontro, elogiou
muito os meus olhos azuis e disse que eu era uma das meninas mais bonitas que os
gêmeos já haviam levado para que ela conhecesse. Pelo visto, a rotatividade de garotas
atraídas ali para o “abatedouro” dos gêmeos parecia ser grande!

Por coincidência ou não, algum tempo depois daquela conversa com a mãe deles, o
clima acabou esquentando num dos quartos da casa entre os irmãos, eu e Beth. Não
dava para negar que os dois eram muito atraentes com sua pele bronzeada de sol e os
cabelos compridos até a base do pescoço. Ambos tinham olhos castanhos bem claros,
braços e pernas definidas por academia, além de um charme inegável. Eu nunca tinha
prestado muito a atenção em surfistas, mas, como aquele tipo de menino era o “modelo”
mais comum em Vitória, tive que começar a rever os meus conceitos.

Anderson e Beth acabaram transando no quarto do menino, mas eu não consegui passar
muito dos beijos e amassos com o Emerson. Ele era bonito, tinha pegada e beijava
incrivelmente bem, mas eu não soube explicar o motivo pelo qual não consegui passar
para uma etapa mais íntima, já que tudo ali favorecia o clima. Depois dos cumprimentos
iniciais, Najara, a mãe dos gêmeos, tinha desaparecido num dos inúmeros cômodos
daquele casarão gigantesco e não havia qualquer sinal dos vários empregados que se
espalhavam pela casa. Estávamos muito à vontade naquele andar da casa e, em especial,
no quarto, mas eu não consegui ir além. Apesar de visivelmente frustrado, Emerson
acabou entendendo que eu não estava no clima e respeitou a minha decisão.

Naquele mesmo dia, durante o jantar, eu fui apresentada ao pai de Anderson e Emerson,
o senhor Teodoro García Castilho, e ele gastou algum tempo à mesa falando sobre a sua
descendência espanhola e a influência da sua família no ramo da engenharia civil e
urbana no Brasil. Eu não tinha muito interesse por aquela área, uma vez que estava
inclinada a seguir os passos do meu pai no turismo, mas foi outra coisa que me chamou
a atenção durante aquela conversa. A certa altura, Teodoro disse que era filho de Juanita
Castilho e que a sua mãe possuía mais quatro irmãos, um deles chamado Jaime. Fiquei
muito curiosa e não tive como conter aquela pergunta:

— Por acaso, o seu tio Jaime fundou uma construtora em São Paulo chamada
Construtora Castilho?

Todos voltaram os olhares para a minha direção à mesa e se viram surpresos com a
minha pergunta. Eu não era profunda conhecedora de construção civil ou urbana, mas
tinha convivido tempo suficiente em São Paulo com Micaela Alencar Castilho, a filha
de Carla Castilho, uma das quatro herdeiras de Jaime, para saber um pouco sobre a
história daquela família. Assim como eles, eu também estava bastante surpresa que
havia uma relação entre todos eles e o Teodoro me confirmou com um tom de
curiosidade na voz:

— Isso mesmo, o meu tio Jaime foi um dos primeiros da família a enveredar para o lado
da construção civil… mas como você sabe disso, Nicole? Você é jovem demais para ter
conhecido o homem!
Anderson e Emerson agora estavam atentos esperando a minha resposta.

— Vai parecer muita coincidência, mas eu estudei em São Paulo com uma das netas do
senhor Jaime. Eu conheço boa parte da história da família Castilho por causa dessa
minha amiga, a Micaela. Ela nem vai acreditar que eu conheci os seus primos de
Vitória!

Teodoro e Najara sorriram com a incrível coincidência e, depois, quiseram saber mais
sobre a minha história com os Castilho. Apesar do parentesco que os conectava, eles
não eram muito próximos e não se viam há muitos anos, desde a morte de Jaime e
Juanita. O casal García Castilho tinha visitado o meu antigo estado algumas vezes e era
dessas viagens que conheciam Renato, Mauro, Elisa e Carla, os filhos de Jaime. Sabiam
muito pouco sobre a Suares & Castilho, a atual companhia da família, mas depois que
comentei que era uma das maiores construtoras de São Paulo, eles pareceram
interessados em se reaproximar dos primos.

— Quem sabe qualquer dia desses nós não viajamos todos para São Paulo e visitamos
os nossos primos?

Najara e os gêmeos pareceram animados com a ideia do pai e eu também, já que estava
incluída em seus planos de turismo.
Capítulo 2 – Nicole (PARTE 2)

NO DIA SEGUINTE À VISITA aos García Castilho, o meu pai chegou do trabalho
acompanhado da nova namorada que ele havia arranjado naquele meu período de
adaptação à Vitória e, por conta disso, o meu humor mudou levemente. Valdete era uma
mulher bastante animada e divertida que fazia de tudo para se enturmar comigo desde
que havíamos sido apresentadas, mas que eu simplesmente não ia com a cara. Ela tinha
surgido numa época em que eu ainda estava bastante fragilizada por conta da mudança
drástica de cidade e pela perda das pessoas a que eu estava acostumada a conviver. Eu
não queria dividir a atenção do meu pai com mais ninguém.

Por um tempo, Lúcio era tudo que eu tinha de familiar em Vitória e foi um golpe muito
duro saber que ele estava namorando há algum tempo e que eu não o teria me
mimando100% do meu tempo — como eu achava que seria — em nosso apartamento.
Eu sabia que era egoísmo puro pensar daquela maneira e que, assim como a minha mãe
Silvana havia refeito a sua vida depois do divórcio ao lado do babaca do Victor, o meu
pai também tinha esse direito, mas era bem difícil para mim separar aquele fato das
minhas fantasias infantis de ter o meu pai só para mim. Eu tinha plena consciência que
Valdete não tinha qualquer culpa naquela história, mas isso não fez com que eu a
tratasse melhor.

— Como foi o seu dia, fadinha? Foi ao curso de inglês?

Eu estava matriculada numa ótima escola de idiomas a uma quadra do prédio e


frequentava as aulas todas as quartas e sextas. Quando os dois chegaram da rua, eu
estava sentada no sofá central da sala fuçando as redes sociais enquanto passava uma
série de comédia na TV. Acenei que sim sem verbalizar nada.

Lúcio deixou as chaves do carro e da casa sobre a mesa de vidro ao centro da sala e me
deu um beijo na testa. Valdete disse um “oi” com os dentes brancos e alinhados
arreganhados no rosto cor de ébano e eu apenas movi a sobrancelha. Papai notou a
minha costumeira animosidade à presença da namorada e me repreendeu com um olhar.

— Hoje vamos ao mercado fazer algumas compras, fadinha — disse ele, indo em
direção ao corredor dos quartos e me fazendo desviar a atenção da tela do meu
smartphone —, faremos um almoço especial amanhã, teremos visita.

Valdete se sentou ao meu lado no sofá e cruzou as pernas, começando a prestar a


atenção na TV. Antes mesmo que ela puxasse conversa, eu me levantei e segui o meu
pai até o seu quarto. O encontrei tirando as meias sentado em sua cama de casal e da
soleira da porta, o indaguei:

— Visita? Que visita?

Seu olhar então voltou-se para mim e o seu rosto se irradiou antes dele responder:
— O seu tio Luiz foi contratado para um trabalho aqui em Vitória e ele virá nos fazer
uma visita em nosso apartamento. Ele vai trazer a Bárbara e eu decidi servir um almoço
especial a eles.

Meu pai Lúcio tinha dois irmãos mais novos com o qual eu continuei em contato — a
uma distância razoável — apesar do divórcio entre ele e a minha mãe. Mesmo ela que
tinha ficado toda ranzinza por conta da separação, não via qualquer problema em
receber Luciano e Luiz em nossa casa no Itaim Bibi de vez em quando na época em que
eu ainda morava com ela. Eu adorava a visita dos dois, em especial a do mais novo, o
Luiz.

Quando eu fui expulsa de casa pela minha própria mãe por conta do meu caso com o
meu padrasto Victor1 — o que depois até eu mesmo condenei —, Luciano e Luiz
continuaram sendo os meus melhores tios e nós até chegamos a partilhar um final de
semana todos juntos em um hotel-fazenda em São Paulo2, onde estreitamos ainda mais a
nossa relação parental. Naqueles dias, pela primeira vez em muito tempo, eu tinha sido
notada não só como a “boneca em forma de sobrinha” que os dois sempre me viam
antes e eu pude perceber os seus olhares de desejo sobre o meu corpo enquanto eu
nadava com Bárbara, a namorada de Luiz, na piscina. Eu não estava acostumada aquilo
vindo deles, mas depois daquele final de semana, comecei a ter certeza que, afinal,
homem era tudo igual… MESMO.

Luiz e Bárbara chegaram ao nosso apartamento por volta das dez horas da manhã do
sábado e a conversa com o meu pai e a grudenta da Valdete se estendeu até o horário do
almoço, onde nos esbaldamos com uma deliciosa moqueca capixaba preparada pelo
próprio Lúcio com a ajuda da namorada. À mesa, o meu tio explicou que havia sido
contratado por uma empreiteira chamada Solar para o serviço de engenharia de uma
concessionária pelo período de um mês e que Bárbara, que era designer de interiores, o
iria auxiliar.

— Vou receber em um mês o que costumo receber em seis lá em São Paulo — disse ele,
entusiasmado ao lado da namorada a quem apelidamos de “Barbie” pela semelhança
óbvia com a boneca —, além do mais, ouvi falar que Vitória tem praias ótimas e
ficamos muito animados para conhecer.

A namorada jovem e loira o encarou sorridente comendo, como sempre, em porções


miseráveis para não aumentar a silhueta esguia. Bárbara não tinha nem vinte e cinco
anos, mas pesava míseros cinquenta quilos desde a adolescência. Era extremamente
rígida com sua alimentação e sempre reclamava de frequentar locais onde a comida era
servida como maneira de confraternização. A minha mãe a odiava por isso.

— A Solar é uma das principais empresas de construção aqui do Espírito Santo, mano
— disse o meu pai —, fico muito feliz que o seu trabalho como engenheiro elétrico
tenha chamado a atenção dos diretores.
1
Toda a história envolvendo o caso com o padrasto Victor Henrique e a expulsão da casa onde morava
no Itaim Bibi em São Paulo aconteceu em Desejos 34 – Prazer, Nicole!
2
Esse passeio é brevemente citado em Desejos 34 – Prazer, Nicole! e em A História até aqui…
Luiz era um cara muito bonito com um tremendo alto-astral, característica que eu mais
admirava nele. Além de comunicativo, era extremamente bem-humorado e era o
contraste exato da entojada da namorada magrela, sempre com aquela cara amarrada e
feição de poucos amigos. O rosto dele se iluminou quando respondeu papai.

— A diretora de marketing viu o meu portfólio online e me chamou para uma conversa
informal via Skype. Conversamos por uns vinte minutos e foi o suficiente para que ela
enxergasse a minha experiência no ramo e me convidasse para conhecer pessoalmente a
Solar. Quando ela me falou o valor da negociação, aceitei na hora!

E ele soltou uma gargalhada gostosa que me contagiou. Luiz ficava ainda mais bonito
sorrindo.

— Imagino então que vai ser um mês de bastante trabalho para você e a Bárbara aqui na
cidade.

Luiz assentiu e, em seguida, emendou:

— Vai sim e eu vou poder visitar vocês mais vezes enquanto eu e a Barbie estivermos
por aqui.

Eu não sabia dizer muito bem a razão daquilo, mas a notícia havia me animado mais do
que devia.

Depois daquela primeira visita, papai começou a receber o irmão de duas a três vezes na
semana em nosso apartamento para conversas animadas na sala. Enquanto tomavam
cerveja e assistiam a jogos da NFL ou da Champions League na TV, os dois puderam
retomar por um tempo a amizade que sempre tiveram na época em que moravam
próximos em São Paulo. Luciano e Luiz moravam no Jardim Europa a poucos
quilômetros do Itaim Bibi onde os meus pais e eu morávamos, por isso, a convivência
deles era muito menos rara. Enquanto eu crescia, me lembrava de vários finais de
semana animados na presença dos três irmãos e do meu avô Licurgo, que era dono de
uma empresa de engenharia elétrica no bairro. Aquela agitação me fazia muita falta e eu
sentia saudades de ter uma família grande.
Capítulo 3 – Nicole (PARTE 3)

ERA UM DOMINGO QUANDO a campainha do interfone tocou e eu atendi o porteiro


do prédio dizendo que Luiz estava lá embaixo querendo subir para falar com o papai.
Naquele dia, Lúcio tinha saído para um almoço em família na casa dos pais de Valdete e
eu estava sozinha em casa. Não vendo problema algum naquilo, imaginando que ele
estivesse acompanhado da namorada, eu o autorizei a subir e, minutos depois, o atendi à
porta.

— Como vai a minha sobrinha preferida?

Ele me deu um beijo estalado na bochecha ao me cumprimentar e percebi que estava


sozinho. Pelo menos aquele dia, eu estaria livre da presença antipática e esquálida de
Bárbara.

— Que surpresa, tio Lú — Era como eu o chamava —, por que não disse que viria? O
papai saiu com a namorada e só deve voltar mais tarde.

Ele então lançou um olhar pela sala de casa e constatou o óbvio:

— Está sozinha então…

Assenti e o deixei entrar. Ofereci uma bebida a ele do bar particular do meu pai no canto
sul da sala de estar do apartamento. Luiz aceitou um Chandon dizendo que havia
chegado de Uber e que, portanto, podia beber álcool. O convidei para se sentar comigo
no sofá e enquanto os diálogos da minha série favorita de comédia na TV servia como
plano de fundo, ficamos a conversar.

— Vitória é realmente uma cidade encantadora. Até deixei o meu celular de lado
enquanto o carro me conduzia até aqui. A vista é maravilhosa!

Eu não levei aquilo na malícia, mas quando o meu tio falou sobre “vista maravilhosa”,
os seus olhos se cravaram no meu decote. Eu estava usando um cropped de alças finas e
o decote era bastante generoso. Naquele momento, pensei que deveria ter me trocado
antes de receber um homem dentro de casa, depois, relaxei.

Ainda durante o bate-papo, entre um comentário divertido e outro que ele sempre fazia
em nossas conversas, tio Lú me falou um pouco mais sobre o seu trabalho de
engenheiro elétrico e as pessoas para quem estava executando aquele serviço atual. Qual
não foi a minha surpresa em saber que um dos diretores da Solar era ninguém menos
que Teodoro García Castilho, o pai dos meus amigos gêmeos do colégio!

— Está brincando! Sério?

Disse Luiz, surpreso ao meu lado.


— É sério — completei —, eu os conheci tem algum tempo. Visitei a mansão onde eles
moram num bairro aqui perto e descobri que o senhor Teodoro é parente dos donos da
Suares & Castilho, aquela construtora de São Paulo.

— É muita coincidência! — exclamou Luiz, um instante entre mirar os meus peitos


novamente pelo decote e voltar a sua atenção à taça de Chandon. Aquilo estava
começando a ficar estranho. — O seu tio Luciano já trabalhou para a Suares & Castilho
durante um tempo, num serviço que ele fez há alguns anos. Incrível como as coisas se
conectam no mundo das grandes corporações!

Falar com o tio Luiz era realmente muito divertido e o tempo passou depressa em sua
companhia. Além de trabalho, falamos sobre família, escola e relacionamentos, e foi
após uma pergunta minha acerca do seu namoro com Bárbara que veio o desabafo:

— Eu amo a Bárbara, mas, às vezes, até eu me irrito com algumas das suas manias…

Eu o deixei continuar e apoiei um dos cotovelos no encosto do sofá para ouvi-lo.

— Tem quase um mês que a gente não transa — E ele deu uma risadinha meio
envergonhada, o que não era típico dele —, ela meio que entrou em uma neura de não
querer engravidar agora. Mal me deixa encostar em seu corpo quando dormimos juntos
e isso tem me irritado bastante.

Aquela era a conversa mais sincera que já havíamos tido e eu logo comecei a pensar em
onde ele estava querendo chegar com aquele assunto tão íntimo.

— Mas, tem tantas formas de se impedir uma gravidez… por que vocês não usam?

— A Barbie é alérgica ao material da camisinha e não toma anticoncepcionais por conta


dos efeitos colaterais que eles costumam causar no organismo da mulher. Como você
sabe, ela morre de medo de ficar gorda e não há Cristo que a convença a tomar esses
remédios, mesmo com prescrição médica!

Havia desconforto em seu rosto e eu comecei a entender o drama do meu tio. A magrela
é mais neurótica do que eu imaginava, pensei eu, com uma quantidade pequena de
veneno escorrendo pelos meus lábios.

— Vocês precisam conversar para chegar a um senso comum do que é melhor para os
dois nesse caso, tio. Ela está sendo um pouco egoísta!

Ele assentiu e agora os olhos castanhos se desviaram para as minhas coxas, expostas no
short que eu estava usando. Desta vez, Luiz não quis disfarçar e foi mirando dali até de
volta ao meu decote, pouco antes de tomar o resto da bebida em seu copo. Me senti
completamente despida, como da vez em que ele e Luciano ficaram me secando na
piscina daquele hotel-fazenda.

— Mas, e você, Nic? Está namorando alguém, dando uns beijinhos?


Desde que havia chegado à Vitória, o fato é que eu não havia me relacionado mais
firmemente com ninguém e mal tinha passado dos beijos e amassos pelos cantos. Vivia
passando vontade ouvindo a cama de casal do meu pai batendo contra a parede todas as
noites em que Valdete dormia em nosso apartamento e até cenas de sexo em filmes e
séries andavam me tirando o juízo ultimamente. Depois de toda a história com meu
padrasto e o meu antigo professor de Educação Física3, eu havia ficado um pouco
desiludida com homens, o que não queria dizer que o meu corpo não sentia mais
desejos. Eu os tinha e muito!

— Nada muito sério — respondi rapidamente —, apenas ficadas.

Os olhos de Luiz focaram nos meus durante um tempo e, depois de pousar a taça vazia
na mesa de vidro sobre o tapete, ele foi direto:

— Chega a ser um pecado! Você se tornou uma mulher muito linda, Nic. Quase nem
reconheço mais aquela bebezinha rosada e chorona que eu pegava no colo há alguns
anos.

Uma leve deslizada de quadril para o meu lado e eu senti a perna dele tocar a minha.
Meu tio estava começando a flertar comigo de uma maneira mais direta.

— Eu não sou uma bebezinha rosada já tem alguns anos, tio Lú. Você que não
percebeu!

Eu dei uma risada forçada ainda um pouco sem jeito com aquele assunto e, mais uma
vez ele secou os meus peitos. Seja lá o que ele estivesse enxergado no meu decote, o
safado parecia bastante interessado porque não parava de olhar.

— Aqueles dias no hotel-fazenda me deram uma ideia disso… quando você botou
aquele biquíni verde… Uau!

Luiz chegou a lamber os lábios antes de desviar os olhos do meu rosto. Senti as minhas
bochechas esquentarem e eu me vi transformada em um pimentão em sua frente. Ele
nunca tinha me elogiado daquela maneira tão… rasgada.

— Para, tio! Assim eu fico sem jeito!

— Estou falando sério… quando bati os olhos em seu corpo dentro daquela roupa de
banho, senti como se tivesse entrado em uma máquina do tempo e ido para o futuro. Eu
nem tinha visto a sua evolução. Foi como se a bebê rosada tivesse se transformado num
mulherão em um piscar de olhos!

Eu, um mulherão? pensei, começando a me sentir lisonjeada.

— Até o Luciano percebeu e comentou comigo depois o quanto nossa sobrinha tinha
ficado linda.

3
Nicole se relacionou brevemente com o professor de Educação Física Robson Ribeiro durante os
treinos para o intercolegial do ano anterior em Desejos 34 – Prazer, Nicole!
Eu ri, envergonhada. Não sabia bem o que dizer. Ele voltou a me encarar.

— Como eu disse… um pecado uma mulher tão linda estar sozinha.

Ele não avançou de uma vez e cobriu a distância que nos separava centímetro a
centímetro, como que pedindo permissão. Eu ainda estava em choque depois de toda
aquela sinceridade e não consegui reagir quando Luiz se aproximou para me beijar. Sem
me encostar um dedo, ele tocou os meus lábios com os seus e eu simplesmente o deixei
continuar. Deu para sentir o gosto do Chandon em sua língua e aquilo me acendeu de
uma maneira muito particular e extremamente perigosa.

— É muito melhor do que eu imaginava.


Capítulo 4 – Nicole (PARTE 4)

EU ABRI OS MEUS OLHOS um instante quase não conseguindo manter o contato


visual e, então, a sua mão grande envolveu o meu rosto para que voltássemos a nos
beijar. Luiz sabia mexer a língua muito bem e os seus lábios eram quentes e úmidos.
Cada pelinho da minha coxa se eriçou naquele momento.

— Você é realmente muito linda, Nic…

Aquela confissão foi seguida de um deslizar de mão pelo meu flanco que terminou num
apalpar de coxa. Eu estava insegura sem saber exatamente o que fazer naquela situação,
mas decidi me deixar levar pelo desejo que estava explodindo em mim. Os amassos na
casa de Anderson e Emerson tinham sido bons, mas não tinham sido nada comparados a
estar ali naquele momento com o tio que eu mais considerava atraente. Eu nunca tinha
admitido para mim mesma, mas eu sentia certa inveja de Bárbara em tê-lo à noite na
cama e aquela era a primeira vez que aceitava aquele fato.

— Você é tão macia…

Aqueles dedos firmes deslizaram mais uma vez em minhas pernas e se fecharam em
torno do meu quadril enquanto eu enlaçava os meus braços em seu pescoço. Luiz tinha
ombros rijos e braços fortes. Me senti segura abraçada a ele e não me contive em
continuar aceitando os seus beijos. Sem nenhuma afobação como os adolescentes com
quem eu havia ficado em Vitória, ele me beijava de maneira paciente e sem qualquer
pressa. Eu tinha experiência com homens mais velhos e descobri logo que não era falta
de conexão física com os meninos que eu estava sentindo: Era carência de uma boa
pegada!

— É tão quente…

Aquelas mãos não demoraram a segurar com alguma firmeza na minha bunda e,
enquanto ele começava a me apalpar lá embaixo, eu me excitei. Nossos beijos passaram
a ficar mais intensos e ainda mais molhados. Já era possível ouvir os nossos suspiros
ecoarem pela sala de casa. Eu ainda não tinha realizado o fato, mas eu estava dando uns
pegas no meu próprio tio.

O que eu estou fazendo? pensei, um segundo antes de me desencostar dele, levemente


embaraçada.

— O que foi, Nic? O que houve?

Eu estava agora em pé diante da mesa de centro e começava a ajeitar os fios dourados


que caíam em meu rosto. Enquanto refazia o coque desarrumado em meus cabelos,
disse, meio gaguejante:

— E-Eu estava prestes a fazer uma loucura… Eu sou sua sobrinha, tio Lú… isso é meio
errado…
Ele então se levantou e segurou as minhas mãos de maneira delicada.

— Ei, calma. Não há nada errado no que estamos fazendo. Você não é mais uma
garotinha. Somos dois adultos aqui… não há nada errado nisso.

Eu dei uma risada meio histérica.

— A Bárbara… o meu pai… eles… eles não vão gostar de saber…

Luiz se aproximou mais e me encarou firmemente.

— Eles não precisam saber. Esse pode ser um segredo entre nós.

Aquilo soava incrivelmente imoral.

— Eu senti que você também quer, Nic… o seu corpo me disse.

Eu não tinha como negar.

— A gente querer não torna o ato menos desprezível…

Eu tinha entrado em choque, mas deixá-lo me tocar novamente estava começando a


desarmar as defesas que o meu cérebro havia criado para me tirar da iminência de mais
um caso de incesto em minha vida. Quando ele segurou os meus ombros e senti o seu
hálito bem de perto, amoleci.

— Não diga uma coisa dessas, Nic. Não há nada de desprezível em duas pessoas adultas
se darem um pouco de amor.

Eu estava caindo numa das cantadas mais antigas que os homens usavam para se dar
bem com meninas da minha idade, mas, quando ele firmou novamente aquele olhar
hipnótico em mim, eu o agarrei e voltei a enfiar a língua dentro da sua boca. Quer fosse
aquilo errado ou não, eu estava cheia de tesão no meu próprio tio e, depois daquilo, as
coisas acabaram evoluindo naturalmente.

Quando chegamos em meu quarto, eu estava eufórica demais para prestar a atenção no
trinco da porta e só o empurrei de passagem. Eu sabia que o meu pai estaria bastante
ocupado visitando os sogros aquela tarde e não me preocupei que ele acabasse flagrando
a sua filhinha na cama com o tio. Diante da minha queen size, enquanto Luiz abaixava a
calça jeans que usava, eu despi o meu short curto e me aproximei da beirada vestindo
apenas uma calcinha preta e a blusinha decotada sobre o meu corpo. Enquanto andava
trêmula até ele, aproveitei para lhe dar uma manjada entre as pernas e algo bastante
interessante se escondia por baixo da boxer azul.

— Você é perfeita, Nic!

Sem muita cerimônia desta vez, o meu tio alisou as minhas costas quando me encaixei
em pé entre as pernas dele e senti as suas mãos apalparem a minha bunda conforme ele
aplicava beijos em meus seios pelo decote. A blusinha resistiu pouco e, num instante, os
meus peitos estavam pulando para fora.
— Você tem seios maravilhosos… bicos rosados…

Ele enfiou um deles imediatamente na boca e ficou alternando entre sugadas suaves e
fortes. Os dois eram grandes o suficiente para não lhes caber inteiros na boca, mas Luiz
não viu qualquer problema em tentar fazê-lo por mais de uma vez. Enquanto ele se
divertia com o alvo do seu desejo, comecei a me soltar mais e lhe esfreguei um dos
joelhos entre as pernas. Luiz estava bem duro e dava para sentir pelo tato que ele era
razoavelmente bem servido ali embaixo. Eu descobriria o quanto em breve.

As preliminares duraram uma eternidade e, enquanto eu esperava quase em desespero


para que o meu tio finalmente estivesse entre as minhas pernas, eu gozei o que não
gozava em anos em poucos minutos e foi muito gostoso descobrir que, além de bonito,
alto-astral e brincalhão, Luiz era extremamente talentoso com a língua no lugar certo.

Entre elogios tarados à minha vagina e chupadas barulhentas de puro desejo no meu
clitóris, ele conseguiu me satisfazer enormemente bem durante aquele tempo e eu não
tive do que reclamar. Há muito tempo ninguém me dava um banho de língua como
aquele e eu estava naquele momento ainda mais sedenta. Ainda não tínhamos tanta
intimidade ao ponto de eu poder pedir que ele me comesse logo, mas, quando
finalmente enfiou a camisinha naquele pau duro, eu até abri um sorriso.

— Vou guardar esse momento na memória para sempre…

Ele ficou alguns instantes ajoelhado na cama se masturbando enquanto me olhava


inteira nua sob o seu corpo e me ouviu soltar um gemido de pura satisfação quando,
enfim, me penetrou. Eu estava bastante lubrificada, mas pela falta de prática nos últimos
meses, aquilo doeu pra diabo.

— Um pouco mais devagar, tio… tá doendo.

Ele obedeceu e começou a meter mais lentamente, me fazendo acostumar primeiro com
a sua grossura. Luiz não era dono de um dos paus mais avantajados que eu já havia tido
o prazer de receber entre as pernas, mas ele era extremamente grosso e cabeçudo e
aquilo era inédito para mim.

— Assim está bom, meu amor?

Fechei os olhos, gemi mais um pouco e depois assenti, segurando-o pelos ombros.

— Assim, tio… assim está gostoso!

Transamos por mais de uma hora dentro daquele quarto e alternamos apenas entre o
“papai e mamãe” tradicional e o “cachorrinho”, posição em que ele me fez ver estrelas e
me concedeu as melhores gozadas da noite. Luiz era bastante carinhoso no sexo e
parecia sempre preocupado com o meu bem-estar, o que, de certa maneira, acabou me
cativando. Dono de uma resistência invejável, bombou dentro de mim em sequências
dignas de maratona e nem sequer chegou perto de ejacular. Quando o fez, grunhiu alto
dentro do quarto e deixou todo o seu peso cair em cima de mim, no que eu o abracei e
fiquei a fazer carinho em seus cabelos castanhos por vários minutos.
Depois da transa, ficamos conversando normalmente sobre a cama e, ao contrário do
que eu imaginava, não rolou nenhum momento constrangedor entre nós, do tipo que
seria comum após sexo incestuoso. Eu tinha acabado de dar para o irmão de sangue do
meu pai e não havia qualquer culpa em mim. Em meu rosto estava apenas a satisfação
de uma garota que havia sido muito bem tratada na cama e nada além disso. Enquanto
conversávamos sobre coisas aleatórias, eu só pensava que a minha abstinência sexual
tinha acabado e que era hora de arrumar uma companhia fixa para as noites de carência.
Só queria saber quem eu teria para escolher.
Capítulo 5 – Henrique

OS NEGÓCIOS ANDAVAM MUITO bem naquele início de ano e, como não podia
deixar de ser, eu e o meu sócio, Andreas Napolitano Neto, estávamos rindo à toa com o
sucesso do Delta Sky, o nosso clube para prática e aulas de esportes radicais.

Mesmo fora da época de férias, onde o público costumava se avolumar, estávamos


faturando alto com as aulas de paraquedismo, saltos de asa-delta e voos de parapente
pelos céus da Barra da Tijuca. Os agendamentos para os cursos de alpinismo e escalada
já estavam completamente preenchidos desde dezembro e nenhum dos instrutores —
incluindo a mim mesmo — tinha mais horários disponíveis no calendário. Aquela
prometia ser uma das melhores temporadas do clube e muito disso estava sendo
potencializado pelo nosso canal no Youtube.

Por conta daquele sucesso, eu precisei contratar mais dois instrutores para assumir o
meu lugar com as aulas na Delta a fim de que me sobrasse tempo de tocar a produção
dos vídeos para a internet, algo da qual eu não abria mão. As visualizações no canal
aumentavam dia a dia conforme publicávamos semanalmente as nossas aventuras
radicais pelo país — e o mundo — e os desafios aumentavam exponencialmente
conforme fazíamos mais sucesso.

Eu e Andreas havíamos contratado uma equipe muito fera para editar e produzir os
vídeos que agora tinham uma cara mais profissional, mesmo assim, eu ainda me divertia
botando a mão na massa e aparecendo diante da câmera. Mais do que só pela vaidade de
dar a cara para o programa e me tornar famoso com os vídeos, eu realmente ficava feliz
de produzir aquele material esportivo e não queria que nada estragasse a minha vibe.

O último vídeo publicado, que me filmava em primeira pessoa com o auxílio de uma
câmera Go-Pro descendo de uma montanha coberta de neve em uma estação de esqui
chilena, tinha alcançado mais de cem mil visualizações e tínhamos ciência de que
aquele tipo de publicação atraía mais views e comentários. A galera tinha pirado com as
acrobacias que eu havia aprendido a fazer em pouco tempo com um instrutor muito bom
da estação El Arpa, a cento e oito quilômetros de Santiago, a capital do Chile, e o meu
tombo também tinha feito sucesso. Apesar da dor no quadril que aquilo me rendeu — e
o medo de quase ter morrido naquela montanha —, valeu muito a pena me arriscar para
produzir aquelas imagens e eu estava feliz com o retorno do público.

Naquele final de semana, a minha equipe e eu estávamos nos preparando para


acompanhar de perto o Circuito Nacional de Surfe que aconteceria em dois dias na
Costeira do Pirajubaé, em Santa Catarina, e queríamos filmar tudo na íntegra, além de
produzir lives com imagens da competição para que as pessoas nas redes sociais
pudessem acompanhar. Pelo que se sabia, poucas emissoras de TV iriam transmitir
aquele campeonato considerado “caseiro” e o canal do Youtube da Delta iria ganhar
bastante destaque sendo um dos únicos a apostar nos novos talentos que a modalidade
traria aquele ano.
Uma das jovens atrações da temporada, não coincidentemente, era um moleque de
quatorze anos que eu conhecia muito bem desde que ainda mijava nas fraldas e que
também atendia por “meu primo”.

Johann Schneider praticava surfe desde os oito anos de idade e estava concorrendo
aquele ano na categoria juvenil com outros moleques feras do esporte de todo o Brasil.
Ele era filho de Marie Urich Schneider, uma prima-sobrinha de meu pai Augusto e era
neto de Klaus Schneider, um dos herdeiros do velho Adler Schneider. Foragido da
Alemanha nazista na época da Segunda Guerra Mundial, Adler atravessou o oceano
ainda criança com os pais e a irmã caçula — a minha avó paterna Mayla — e construiu
toda a sua vida nos trópicos. Desde a sua chegada ao Brasil na década de quarenta, os
Schneider tinham se espalhado pelo país quase inteiro, mas boa parte da família havia se
estabelecido mesmo no Rio de Janeiro, em locais como Ipanema e Barra da Tijuca.
Johann era praieiro de nascença e não era para menos que tinha escolhido o surfe como
profissão, mesmo tão jovem.

Eu havia alugado um jatinho particular em nome dos patrocinadores esportivos da Delta


Sky para levar não só a minha equipe de filmagem como também o próprio Johann, o
seu pai Albert Urich — que era também o seu empresário — e mais um grupo de quatro
adolescentes, todos amigos do moleque que haviam pegado carona com a gente para
assistir à competição em Floripa. Uma outra prima minha, Angélica, filha de Ângelo
Bismarck Schneider — também primo de primeiro grau de Marie — estava entre eles.
Tinha praticamente a mesma idade do garoto e era uma das mais animadas no voo que
partiu de São Paulo de madrugada. Eu estava acompanhado, como quase sempre
naquelas viagens de cobertura esportiva, pelo meu cunhado Fred, irmão da minha noiva
Valéria, e tinha certeza que aquele seria mais um final de semana de muita aventura.

Logo que chegamos a Florianópolis na manhã daquele sábado, tratamos de fazer o


check-in em uma pousada que havíamos reservado com bastante antecedência e toda a
equipe e a garotada que nos acompanhava se dividiu em cinco dos quartos, ocupando
praticamente todo um andar da estalagem.

Fred, que me ajudava com a produção dos vídeos e making off, aproveitou para deixar
parte dos seus equipamentos de filmagem e fotografia em meu quarto por segurança —
toda aquela parafernália valia uma grana alta —, mas quis ficar com os colegas da
edição de vídeo em outro aposento. Sem querer bancar a estrela do esporte, Johann
topou dividir o seu quarto com mais dois dos amigos que trouxera com ele e, já na
chegada, deu para ouvir de onde eu estava o quanto os moleques estavam
entusiasmados. Aquela era a primeira competição a nível nacional que o meu primo
participaria e não tinha como avaliar o quão bagunçada devia estar a mente do guri
naquele momento. Os gritos e o falatório no quarto deles duraram horas manhã a dentro.

O primeiro dia de competição começou por volta das treze horas na Baía Sul de Santa
Catarina e a movimentação na orla da praia da Costeira do Pirajubaé era contagiante.
Johann iria competir com outros garotos da mesma faixa etária logo numa das primeiras
baterias do circuito e eu preparei tudo com Fred para transmitir as emoções ao vivo pela
internet. Para nosso azar, naquele dia, a recepção de sinal estava uma bosta e foi bem
difícil estabilizar tudo para que pudéssemos mostrar imagens dos surfistas pegando
onda no mar azul e agitado já no começo do campeonato. Apesar disso, o pessoal da
produtora que havíamos contratado conseguiu imagens aéreas excelentes fazendo uso de
um drone que eles haviam levado para a praia, e a transmissão pelo canal do Youtube
chegou a quinhentos likes logo nos primeiros vinte minutos.

— Tá bombando, moleque!

Fred estava ao meu lado entusiasmado com o celular em mãos acompanhando de perto a
repercussão do vídeo sendo transmitido e eu não tive como conter um sorriso de plena
satisfação.

Algum tempo depois, a equipe e eu conseguimos entrevistar alguns dos garotos que
estavam competindo e o bate-papo diante das câmeras foi gravado para o vídeo mais
bem produzido que pretendíamos lançar já no dia seguinte. Além dos atletas,
entrevistamos também outros espectadores da praia e até mesmo os familiares dos
surfistas que estavam ali para prestigiar o talento dos meninos. Havia muita gente em
torno do evento e não foi nada difícil conseguir interessados em falar com o nosso
pessoal. Como eu tinha dito, o nosso canal estava ficando muito popular e todo mundo
estava querendo dar as caras por lá.

Em paralelo ao meu trabalho, eu estava de olho na pontuação que as manobras do meu


primo tinham conseguido junto aos juízes especializados na orla da praia e notei que o
moleque havia alcançado boas notas, obtendo chances reais de levar para o Rio de
Janeiro a taça de campeão juvenil da modalidade. Ele havia conquistado três notas
superiores a sete e apenas um dos juízes tinha lhe atribuído um seis, ponto que seria
descartado na média final. O outro moleque mais bem posicionado só tinha alcançado
notas cinco em sua tentativa e faltavam apenas mais dois competidores até que fosse
encerrada a primeira bateria.

O mar se estendia à nossa frente, uma multidão se aglomerava para assistir aos demais
competidores na areia da praia e o sol estava a pino sobre as nossas cabeças. Me
aproximei de Urich que parabenizava antecipadamente o filho com palmadas nos
bíceps. O sujeito era neto de alemães nascidos e criados em Berlim, ostentava olhos
grandes e azuis na cara amarrotada, tinha uma gordura abdominal evidente por baixo da
camisa havaiana que usava e era bastante calvo. Parecia orgulhoso enquanto abria um
sorriso rasgado logo que comecei a falar com Johann.

— Se mais nenhum desses garotos alcançar nota sete, você leva o caneco, Johann.

Os seus olhos azuis estavam voltados para o mar, a uma distância de uns cem metros.
Estava sorridente e parecia tranquilo atento às manobras de um dos seus adversários que
se apresentava com habilidade naquele instante. Ele se virou um segundo para mim ao
seu lado e respondeu, confiante:

— Mesmo se alguém igualar a minha média, a minha nota de corte é oito e isso vai me
garantir o primeiro lugar.
Urich abraçou o garoto e bagunçou os seus cabelos loiros e molhados, igualmente crente
que Johann estava prestes a conseguir o seu primeiro troféu a nível nacional. A poucos
metros dali, o quarteto de amigos que havia nos acompanhado desde o Rio e a minha
prima Angélica estavam exultantes com a iminência dos próximos resultados dos juízes.
Num misto de nervosismo e alegria, eles riam, batiam palmas e urravam. Faziam parte
de uma das torcidas mais animadas que eu já tinha visto de perto e estava muito bom de
acompanhar.
Capítulo 6 – Henrique (PARTE 2)

POUCO ANTES DOS JUÍZES anunciarem o pódio da competição, a praia já estava


tomada pelas atletas femininas e as suas equipes técnicas para o início da próxima
bateria. O vento e as ondas estavam ainda mais favoráveis aquele horário do que
durante a competição juvenil masculina e todo mundo esperava um grande espetáculo
de manobras nas águas da Costeira do Pirajubaé.

Um dos cinegrafistas e o editor de vídeos do meu canal estavam posicionados para


registrar imagens da movimentação pré-apresentação das meninas enquanto eu e Fred
gravávamos alguns takes extras com a molecada que esperava ansiosa o resultado da
bateria masculina. Além de Johann, mais dois competidores tinham se destacado no
circuito e havia uma verdadeira multidão de garotas alvoroçadas ao redor deles perto de
um quiosque que vendia água de coco. Anderson e Emerson García eram dois irmãos
gêmeos capixabas que tinham começado a surfar ainda na infância e que acumulavam
vários troféus regionais, títulos que tornava possível que eles disputassem o circuito
nacional.

— Parece até que os moleques estão besuntados de leite condensado…

O comentário de Fred ao meu lado era irônico, mas era realmente impressionante a
quantidade de garotas que rodeava efusivamente os dois moleques naquele momento.
Eles eram idênticos e só se diferenciavam pela cor do calção que usavam. Quando eu e
meu cunhado nos aproximamos com a câmera digital em punho, eles pareceram nos
reconhecer do canal e abriram um sorriso.

— Vocês são do Ação Radical, não é? — perguntou o primeiro deles, o que se chamava
Anderson. Eu assenti devolvendo o sorriso. As meninas que rodeavam os dois
começaram a emitir suspiros e a tecer comentários sobre a gente. Eu estava usando uma
camiseta regata e os meus braços estavam suficientemente expostos para apreciação. —
A gente é inscrito no seu canal. Os vídeos que vocês fazem são irados!

Simpaticamente, Fred e eu cumprimentamos os dois meninos e perguntamos se eles


topavam dar uma entrevista. Faltavam mais alguns minutos até que os jurados
anunciassem quem havia vencido a etapa catarinense do circuito nacional e eu queria
aproveitar a adrenalina deles para produzir um vídeo mais espontâneo.

— Vocês podem nos dizer qual a expectativa para esse campeonato e o que acharam das
condições do mar hoje?

De maneira despojada e sem qualquer timidez, os gêmeos expuseram a sua opinião


sobre como as ondas da Costeira do Pirajubaé haviam favorecido as suas manobras por
alguns minutos diante da nossa câmera e o Fred aguentou firmemente enquanto as
meninas atrás de nós davam gritinhos excitados para os surfistas. Segundos após
fazermos uma pausa para conferir se o vídeo tinha ficado bom através da tela da câmera,
uma voz amplificada por um microfone reverberou na praia para anunciar o resultado da
primeira bateria do dia. Os gêmeos abriram espaço pela multidão que os pajeava para
conferir o que estava sendo dito e um homem alto e atlético se juntou aos dois mais à
frente. Era o empresário dos García e ele os acompanhou até perto do palco de onde um
apresentador apontava para os troféus encimando uma mesa e o pódio para primeiro,
segundo e terceiro lugar na areia. Eu e Fred acompanhamos toda a movimentação e o
meu cunhado se prontificou a filmar a reação dos atletas ao anúncio. Meu primo estava
a poucos metros de nós, rodeado pelo pai, os amigos e Angélica.

— Com média sete vírgula setenta e cinco, nota de corte oito descartada pelos juízes e
uma nota mínima seis igualmente anulada, o campeão da etapa catarinense do Circuito
Nacional de Surfe é JOHANN SCHNEIDER do Rio de Janeiro!

Naquele momento, uma explosão de aplausos e gritos ecoou na Costeira do Pirajubaé e


tanto eu quanto Fred fomos engolfados pela multidão de espectadores que, de repente,
correu para parabenizar o moleque Schneider. Rapidamente, Urich levantou o filho nos
ombros e o conduziu pessoalmente até a frente do pódio onde ele seria condecorado
vencedor. Uma modelo gostosíssima vestindo um biquíni cobrindo os peitos médios e
um shortinho curto na parte de baixo veio caminhando pela areia, a quatro metros do
palco de onde o apresentador continuava agitando a galera para mais aplausos. Em
seguida, a moça colocou uma medalha dourada em torno do pescoço de Johann e lhe
deu um beijo no rosto. Um dos gêmeos havia ficado em segundo lugar, com nota seis
ponto setenta e nove e o terceiro lugar, um garoto cearense, conquistou nota seis ponto
cinquenta e três, completando o pódio.

— Esses são os nossos campeões da classe juvenil do Circuito de Surfe. Uma salva de
palmas a eles!

A voz ao microfone incitou uma nova explosão de aplausos e os três garotos se


posicionaram em seus devidos degraus no pódio, exibindo felizes as medalhas no peito
e os troféus em mãos. Fred estava a pouquíssimos metros dos surfistas registrando tudo
para o canal e o drone da nossa equipe sobrevoava a região, gravando imagens aéreas
para a nossa montagem de mais tarde. A etapa juvenil feminina estava prestes a
começar e ainda tínhamos muito trabalho a fazer naquele primeiro dia.

Sabendo que os meninos que tinham nos acompanhado do Rio de Janeiro até Santa
Catarina estariam sendo vigiados de perto por Urich, após o registro das imagens para o
canal, Fred e eu saímos pela região para conhecermos melhor a Costeira do Pirajubaé e
fomos surpreendidos positivamente pela beleza natural do local. Um paredão de
vegetação circundava boa parte da ilha e, apesar do calor de quase trinta graus 30° que
estava fazendo aquele dia, o clima era muito fresco por ali por conta dos ventos que
eram soprados das árvores e da mata ao nosso redor. Ainda comentando sobre a
competição de surfe que havíamos acompanhado ao longo daquela tarde, nos sentamos
em uma mesa à beira-mar, depois, pedimos uma porção de camarão num quiosque
instalado a poucos metros de nós e cerveja para ajudar a descer.

O céu já estava ficando escuro no horizonte e o sol já se posicionava a oeste perto do


cair da noite. Eu falava ao telefone com Valéria contando a ela parte do que havíamos
feito no primeiro dia de trabalho e, como não podia deixar de ser, minha gata vibrou ao
saber da vitória de Johann.

— Do caralho! Eu sabia que esse moleque iria detonar!

A voz rouca de Val escapava pelo autofalante do meu iPhone, mas à minha frente, o
irmão dela nem estava prestando a atenção em nossa conversa. Os olhos dele estavam
vidrados em direção norte da nossa mesa, mais especificamente na bunda de uma garota
branquinha que passava parafina numa prancha branca, agachada na areia e
acompanhada de uma outra garota vestindo biquíni.

— Uma dupla de irmãos deu algum trabalho ao meu primo na apuração dos pontos, mas
ele acabou ganhando até com certa folga. — Eu falei, com o smartphone no ouvido
esquerdo, as costas reclinadas na cadeira de metal e os olhos voltados para a gatinha
surfista que, naquele momento, já começava a se movimentar em direção ao mar para
aproveitar o restante de iluminação do sol e as ondas que quebravam fortes na praia. —
É o que eu sempre digo — me gabei —, o sangue Schneider sempre fala mais alto!

Algum tempo depois, após me despedir carinhosamente da minha noiva que estava
naquele momento no Rio voltando do seu trabalho na empresa que o seu tio Phillip
Weber gerenciava, eu voltei toda a minha atenção ao Fred e no alvo dos seus olhares
libidinosos.

— Tremenda gatinha aquela de cabelos castanhos, hein, brother?

A menina e a sua amiga estavam agora a uns dez metros da praia remando de bruços
sobre suas pranchas, tentando embocar uma onda. De onde estávamos, era possível
apreciar com certa nitidez a desenvoltura da jovem surfista e não era difícil perceber que
ela tinha algum talento.

— Enquanto você falava com a Val ao telefone, ela estava me dando o maior mole,
mané!

Fred deu um riso nervoso. Estava visivelmente empolgado com a tal menina e parecia
confiante para dar em cima dela tão logo retornasse para a areia. Eu já tinha convivido o
suficiente com o garoto de vinte anos para saber que ele não era de se arriscar muito
com mulher, se aproximando delas só se sentisse mesmo firmeza que haveria algum tipo
de reciprocidade de sentimentos. Diferente de mim que era malhado, olhos claros e
cabelos loiros naturais, Fred fazia mais o estilo magriça e precisava se esforçar muito
mais com a lábia para conquistar as garotas, o que o deixava em desvantagem às vezes.
Apesar disso, não era raro que o meu cunhado conseguisse arrastar para a cama uma ou
outra das tietes que conhecíamos pelo caminho em nossas viagens para o Ação Radical,
o que queria dizer que ele possuía algum talento para a azaração.

— Só toma cuidado com a idade dela, mané — aconselhei ele —, ela parece ser bem
novinha. Se for comer, come antes que seja tarde para ela voltar pra casa ou você vai
acabar tendo que lidar com algum pai bravo dando tiro por aí!
Senti tensão em seu rosto por algum tempo, mas aquela rusga de preocupação logo se
esvaiu quando a menina e a sua amiga de pele escura começaram a nadar de volta para a
areia. Meu cunhado estava encantado e eu não o culpava. A novinha tinha um corpo
realmente muito gostoso.
Capítulo 7 – Henrique (PARTE 3)

A NOITE JÁ TINHA CAÍDO por completo do lado de fora quando eu me certifiquei


com Urich se todos os nossos acompanhantes tinham retornado com segurança para a
pousada e descobri que o cara parecia levemente alcoolizado, tendo exagerado no goró
durante a comemoração pela vitória do filho. Às gargalhadas, ele garantiu que, apesar
de um pouco alto, conseguia tomar conta da molecada e, então, aliviado por não
precisar servir de babá, eu fui para o meu quarto descansar um pouco.

O dia seguinte seria recheado de competições com a etapa principal do Circuito


Nacional, e a Costeira do Pirajubaé iria receber em seu território alguns dos maiores
nomes do surfe brasileiro, incluindo o campeão do Hang Loose Pro Contest do ano
passado Jonathan Castilho e o atual vencedor da WSL Latin America, o pernambucano
Iran Azevedo, que não só havia derrotado o jovem Castilho superando a sua pontuação
recorde, como também o havia tirado do pódio no começo de fevereiro daquele ano. A
briga deles pela hegemonia sobre as ondas prometia ser alucinante em Santa Catarina.

Enquanto eu conversava com alguns amigos via WhatsApp, a minha equipe estava
dividida nos outros quartos daquele andar agilizando a produção do vídeo com o
material colhido naquele sábado. A boa recepção da live que havíamos feito ao longo do
dia tinha mostrado a nós e aos patrocinadores do canal que o público estava ligado em
nossos lançamentos, por isso, eu queria publicar o vídeo já editado na tarde do domingo.
Valéria também estava online aquele horário e conforme eu respondia um dos editores
do canal via mensagem, foi ela quem me chamou a atenção para um detalhe que eu não
fazia ideia.

— Você disse que os irmãos gêmeos que competiram contra o Johann se chamavam
Anderson e Emerson García, certo?

Mandei um “aham” em resposta na mensagem de texto e a Val escreveu em seguida:

— Dá uma conferida no link que eu estou te enviando e olha a legenda da segunda foto
que ilustra a matéria.

Val me mandou o link para a página de um dos portais de notícia mais conceituados do
Brasil e fiz o que ela pediu. Na foto, os irmãos gêmeos apareciam um de cada lado do
atual campeão da WSL Latin America e posavam como que o ajudando a segurar o seu
troféu de primeiro lugar. Na legenda, eles eram creditados como “Anderson e Emerson
Castilho, promessa de títulos no surfe nacional”.

— Castilho? Eles foram apresentados para mim como os irmãos García!

Eu estava levemente confuso e foi a própria Val quem elucidou o mistério sobre o real
nome dos gêmeos.
— Eu dei uma pesquisada aqui. Os dois são filhos de Teodoro García que é primo de
primeiro grau do Renato Castilho, o pai do campeão de surfe Jonathan Castilho. Os
meninos são primos de segundo grau do Jonathan.

Eu havia conhecido brevemente Jonathan há um ano quando acompanhei a etapa do


WSL Latin America em Fernando de Noronha e tinha sido apresentado — entre outras
coisas — também à irmã do cara, a beldade Janete Castilho4. Eu não fazia ideia que
haviam mais dois candidatos a atletas dos mares em sua família e saber daquele
parentesco entre os gêmeos e Jonathan foi bastante surpreendente.

— Esse é mais um motivo para eu falar com o Jonathan amanhã nos intervalos da sua
bateria no Circuito Nacional. Vai ser interessante saber o que ele tem a dizer dos primos
mais novos, uma vez que eles nunca apareceram juntos na mídia.

Depois da conversa esclarecedora com a minha noiva, eu me despedi dela por


mensagem e comecei a me preparar para descansar para o próximo dia. A temperatura
ainda estava alta na cidade e, como a pousada não disponibilizava ar-condicionado nos
quartos, achei por bem manter a janela aberta. Não gostava de dormir com nada me
apertando as bolas e abri mão da cueca, deitando relaxado sobre o lençol. Eu não olhei
no relógio, mas devia estar batendo quase onze da noite quando ouvi alguém me chamar
da porta com toques suaves na madeira.

— Rique? Ainda está acordado?

Era uma voz feminina do outro lado e reconheci logo o tom delicado da minha prima
Angélica.

— Estou acordado, Angélica. Precisa de alguma coisa?

Antes que eu a autorizasse a entrar, a menina girou a maçaneta e entrou com tudo, o que
me obrigou a esconder minhas partes com o lençol, o puxando rapidamente para cima.
Eu conhecia a garota desde criança, mas não tinha intimidade suficiente para me
permitir ficar sem roupa em sua frente. Não fazia ideia o que ela poderia pensar daquilo.

— Ai, me desculpa… eu já fui entrando…

O quarto estava bem iluminado e ela sacou na hora que eu estava pelado por baixo do
lençol. Ficou constrangida e estacou entre a soleira e a entrada.

— O que você quer, prima? Eu já estava indo dormir…

Sem mais cerimônias, a menina fechou a porta atrás de si e caminhou apressada até o
meu lado na cama de casal instalada no aposento. Estava usando um pijaminha branco
largo sem sutiã por baixo e o short agarrava-lhe as coxas. Ainda não havia reparado
direito nela desde que havíamos desembarcado em Floripa, mas percebi logo o que
estava perdendo. Apesar de novinha, a minha prima estava ficando bem jeitosa.

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Esse encontro foi mostrado em Desejos 35 – A Herdeira
— Eu posso usar o seu celular, primo? — Ela trazia o seu próprio aparelho protegido
por uma capinha de borracha cor-de-rosa e apontou-me a tela, mostrando as barras do
sinal no canto superior. — Eu tentei retornar para a minha mãe a noite toda, mas a
minha operadora está sem sinal. Posso tentar do seu?

Ainda sem um convite, Angélica se aproximou de maneira bem atrevida e se sentou


flexionando uma das pernas na beirada da minha cama. Ajeitei o lençol outra vez para
que não escapasse nada à sua vista e indiquei a cabeceira, onde ela enxergou o meu
iPhone carregando em uma tomada.

— A maioria das operadoras tem o sinal bem ruim por aqui mesmo, mas você pode usar
o meu celular.

Com um gesto, eu autorizei que ela tirasse o aparelho do carregador e a menina se


ergueu para o apanhar. Foi um movimento rápido, mas ela chegou a empinar a bunda
em minha direção para alcançar o telefone. Dava para ver as polpinhas por baixo da
barra na parte traseira e aquilo foi o suficiente para acordar o meu pau dormente entre as
pernas. Porra! pensei, um pouco distraído.

Angélica tornou a se sentar na cama e já teclou o número da mãe na esperança de falar


com ela no Rio de Janeiro. Eu conhecia a mulher das reuniões de família que
aconteciam semestralmente na antiga casa de minha avó Mayla, mas não éramos
íntimos.

— Ela deve ter tentado falar comigo o dia todo — justificou-se a garota com o celular
no ouvido, aguardando que a mãe atendesse —, mas como o meu celular estava sem
sinal, nem ela e nem o papai devem ter conseguido.

Minha prima era uma menina de beleza comum e quase não se destacava entre os
descendentes de alemães da família. Entre todos os meus parentes por parte de pai, era
uma das únicas que não era loira e nem possuía olhos azuis ou verdes. Tinha puxado em
quase tudo a própria mãe, uma brasileira nativa sem raízes estrangeiras como nós. Tinha
a pele clara, cabelos e olhos castanhos escuros e lábios grossos. Quem a via de longe,
não reconhecia qualquer um dos traços mais característicos dos Schneider, mas mesmo
assim, tinha se tornado uma adolescente bastante atraente. Eu quase não conseguia
desviar os olhos daquele par de coxas lisas.

— Alô, mãe? É a Angel…

Ela então abriu um sorriso e se levantou para falar mais à vontade com a mãe.
Conforme se deslocava até a janela do meu quarto, fixei os olhos em sua traseira e o
shortinho tinha entrado um pouco mais, o que me ajudou a apreciar melhor aquela
delícia de rabinho. Não era nada exuberante, mas tinha certa saliência e parecia macia.
Lhe dei outra manjada e tive que ajeitar os bagos sob o lençol. Eu já estava ficando
duro.

— É sim, o telefone do primo… ele me emprestou…


Angélica estava à beira da janela olhando para o lado de fora. Eu mantinha o volume do
aparelho sempre no máximo e quase dava para ouvir a conversa toda da distância de
quatro metros que nos separava.

— Comi sim, mãe. Aqui é muito gostoso. Está abafado agora, mas eu tomei bastante
água o dia todo…

Os olhos castanhos se voltaram para mim e ela permaneceu em silêncio um instante,


apenas ouvindo aquilo que eu imaginava ser as instruções maternas de uma mãe longe
da cria. Mesmo com o primo Urich de prontidão cuidando do seu filho e os demais
adolescentes, eu sabia que estavam todos ali meio que sob a minha responsabilidade
como o organizador da viagem e era comum que os pais de Angélica quisessem se
certificar que tudo estava correndo bem.

— Ele está aqui sim… aham…

A menina percorreu de volta o caminho da janela até a cama e me passou o telefone,


sussurrando que a sua mãe queria falar comigo. Angélica quis ficar bem perto para
ouvir a conversa e senti a sua coxa resvalar na minha quando se sentou ao meu lado.
Talvez ela não tivesse reparado o quão à vontade eu estava ali a poucos centímetros do
seu corpo e, por isso, tenha continuado agindo normalmente.

Nem todo mundo é tão pervertido quanto eu, que só penso em sexo, imaginei por um
instante, já ouvindo a voz de Aretuza do outro lado.

— Oi, Henrique. Eu tentei ligar a tarde toda para o celular da Angel, mas ela não me
atendeu. Eu e o Ângelo já estávamos aflitos aqui imaginando que algo ruim tivesse
acontecido.

Então eu a acalmei, colocando no viva-voz para que a sua filha também ouvisse:

— Fica despreocupada, Aretuza. A Angel e os outros meninos estão seguros aqui. Eu e


o Urich estamos dando conta de tudo como prometido antes da nossa viagem. O sinal de
celular aqui é realmente péssimo, por isso as suas ligações não se completaram…

Segundo Aretuza, o meu primo Ângelo, o pai de Angélica, também havia tentado se
comunicar comigo, mas admiti que estava bastante ocupado ao longo do dia para notar
as chamadas recebidas. Novamente a confortei dizendo que a garota estava bem e que
tanto ela quanto o primo Johann estavam se divertindo bastante.

— Não sei se acompanhou pela internet, mas o Johann ganhou a etapa juvenil do
Circuito Nacional de Surfe. Todos nós fizemos uma grande festa por aqui para
comemorar.

Angélica sorriu para mim me ouvindo dizer aquilo e mexeu nos cabelos ondulados, os
empurrando para trás, soltos.
— Deve ter sido uma festa e tanto mesmo. Fico muito feliz pelo Johann. Ele se dedicou
muito para conseguir esse troféu. Amanhã cedo tento falar diretamente com o Urich
para dar os parabéns aos dois.

Antes de concluir a conversa com a filha, Aretuza me pediu para que eu cuidasse bem
da menina em sua ausência e que eu a levasse “inteira” para sua casa no Rio. Aproveitei
para brincar que ficaria de olho caso algum lobo aparecesse na pousada na calada da
noite e Angel gargalhou ao meu lado, alisando o meu ombro por reflexo. Naquele
ínterim, os seus olhos acabaram se fixando no volume entre as minhas pernas, sob o
lençol e, quando percebeu o que estava acontecendo, disfarçou. Deu para sacar que ela
não era tão ingênua quanto eu estava imaginando e que estava gostando do que via.

O sangue incestuoso dos Schneider sempre fala mais alto, pensei, outra vez cheio de
malícia na cabeça.
Capítulo 8 – Henrique (PARTE 4)

MINUTOS DEPOIS, ANGÉLICA estava reconectando o meu iPhone no carregador da


tomada e, como a sua tarefa ali estava concluída, me ofereci para acompanhá-la até o
seu quarto, o primeiro do corredor, a uns dez metros do meu. Enquanto pensava em
como sairia de baixo do lençol sem causar-lhe muito espanto com a minha nudez, ela
tornou a se sentar ao meu lado e apoiou as duas mãos em meu ombro esquerdo, sobre a
minha tatuagem tailandesa.

— Não precisa se incomodar, já está tarde. Eu volto sozinha…

Ela me presenteou com um sorriso de lábios e alisou um pouco mais o meu ombro,
encarando a tatuagem. Seus dedos finos começaram a acariciar a minha pele e ela meio
que passou a tentar decifrar os ideogramas que eu havia mandado fazer há alguns anos
numa visita a Bangkok.

— Eu tinha reparado a sua tatoo… fiquei curiosa em saber o que estava escrito nela…

A mensagem era subjetiva e cada ideograma tinha o seu próprio significado, mas eu
improvisei uma resposta, tentando voltar ao assunto anterior:

— Está escrito “a Angélica precisa voltar para o quarto agora”.

Ela me olhou de maneira curiosa, depois, desatou a rir. Não quis perder o contato com a
minha pele e continuou me alisando o ombro. Eu já fazia menção de sair de baixo do
lençol.

— Nossa! Você quer mesmo se livrar de mim! Estou te incomodando tanto assim?

Angélica inclinou o corpo em minha direção e me encarou fixamente. Seu tom de voz
apresentava certo nível de manha e estava bem claro que o próximo passo seria fazer
chantagem emocional.

— Não me incomoda, mas é que eu realmente preciso te deixar em segurança antes de


dormir. Amanhã vai ser um longo dia de competição na praia e o seu primo precisa estar
inteiro para acompanhar tudo…

Nova menção de puxar o lençol e ela foi mais rápida:

— Eu ouvi a sua conversa com a minha mãe. Você prometeu a ela que iria tomar conta
de mim direitinho… nada mais justo que eu fique aqui então essa noite, bem debaixo
dos seus olhos!

Agora era óbvio o que a minha priminha estava querendo com aquele jogo. Ela tinha
chegado ali com um objetivo único em mente e eu havia sido engambelado.

— Nem pensar, mocinha… só tem uma cama no quarto e não é certo você ficar aqui…

Ela pareceu esquadrinhar o colchão por um instante e respondeu sagazmente:


— Tem bastante espaço… e eu sou magrinha, não vou te atrapalhar!

Estava começando a ficar perigoso.

— Melhor não, Angel…

Bastante persuasiva, a menina então ergueu as duas pernas sobre o colchão e se


espremeu ao meu lado, me empurrando da beirada da cama. Sua pele em contato com a
minha parecia ferver e, como eu achava, Angélica era bem macia.

— Você prometeu. Pode ser perigoso voltar sozinha agora para o meu quarto. O
corredor está escuro, pode aparecer algum tarado!

Podia ter um tarado bem ali ao seu lado, mas ela não parecia considerar aquela hipótese.
Seja por eu ser um adulto e o seu primo mais velho, a menina parecia ter plena
confiança em mim… ou estava realmente louca para me abrir as pernas.

— Eu levo você até a porta, Angel… já disse.

Ela então abriu um sorriso malicioso no rosto bonito e indicou entre as minhas pernas
com o queixo antes de dizer:

— Você nem está vestido. Vai me levar até o quarto pelado?

E eu achando que ela era inocente, pensei, começando a me sentir menos culpado.
Angélica agora estava me olhando com desejo e, mais uma vez, se esperneou ao meu
lado para me convencer a ir mais para o centro do colchão. Enquanto ganhava espaço
sobre o lençol, não perdia contato com o meu corpo, sempre me segurando com aqueles
dedos finos.

— Eu estou mesmo sem roupa… mais um motivo para você não estar aqui tão perto de
mim.

Os faróis castanhos se cravaram nos meus azuis.

— Por que? Você vai me atacar se eu chegar muito perto?

Propositalmente, ela encostou um dos peitinhos em meu ombro. Por cima do decote do
pijama dava para perceber que eram pequenos e pontudos. Quase conseguia distinguir a
textura do mamilo com aquele toque. Ela está mesmo querendo me abrir as pernas,
pensei, já quase totalmente duro. Tentei voltar à razão:

— Eu prometi à sua mãe te levar inteira para casa, garota, e pretendo cumprir.

Ela arranhou de leve a superfície da minha tatuagem. Tinha unhas curtas, mas
suficientemente compridas para eu senti-las riscando a minha pele.

— Se você arrancar só um pedacinho de nada ela nem vai saber…

Eu já tinha passado por inúmeras situações muito semelhantes àquela e não costumava
titubear nem um pouco ante as chances que a vida me dava. Em geral, eu não precisava
me esforçar para ter quem eu quisesse em minha cama e, na grande maioria dos casos,
eram as garotas que se atiravam sobre mim pedindo que eu as possuísse. Angélica não
era a primeira novinha que me dava mole — e provavelmente não seria a última — e eu
só estava tanto na defensiva por receio que o meu primo Urich ou qualquer outro dos
nossos vizinhos de quarto acabassem ouvindo alguma coisa ou somassem “um mais
um” percebendo que a minha prima não estava em seu quarto e que eu estava
acompanhado.

— Você tá brincando com fogo, menina…

Angélica estava agora a menos de um palmo de distância. Ela tinha se inclinado sobre
mim e uma de suas mãos alcançou a minha coxa, centímetros do meu pau duraço.

— Não ligo se queimar só um pouquinho…

Angélica deu um risinho safado antes de avançar em meu rosto para me dar um beijo
nos lábios. Agarrei o seu pulso firmemente e tentei mantê-la à distância, em vão. Outra
risadinha soou perto do meu ouvido e ela conseguiu mordiscar meu lóbulo.

— Você faz tanto jogo duro assim com as outras meninas que leva para a cama ou é só
porque eu sou a sua priminha?

Eu estava surpreso que ela soubesse das outras meninas que eu eventualmente levava
para a cama, já que tentava manter minhas relações extraconjugais longe do
conhecimento de Valéria ou dos demais parentes. Ela estava sussurrando agora em meu
ouvido e, no momento seguinte, conseguiu se desprender e segurar o meu peito,
voltando a me arranhar a pele.

— Todas as primas são loucas para ficar contigo nem que seja uma noite, Rique… eu
não me importaria se eu fosse a primeira.

Parecia que eu estava sendo agarrado agora por um polvo de tanto que ela estava se
esforçando para me apalpar em todos os cantos. A risadinha marota não parava de soar e
eu não estava me esforçando tanto quanto devia para mantê-la à distância.

— Até a Luara ficou te secando a viagem inteira — Luara era a outra única menina que
havia embarcado no jatinho do Rio até Santa Catarina e era uma das amigas de Johann
—, ela me disse que te acha um gostoso… o que eu só posso concordar!

Outra tentativa de beijo e, desta vez, estalou em meus lábios. O braço direito fino se
enlaçou em torno do meu pescoço e quando reparei, as nossas línguas já estavam em
contato.

Foda-se tudo! Essa novinha está pedindo! pensei aquilo um segundo antes de deslizar
minhas mãos por suas costas e cravar os meus dedos naquela bundinha macia. Embora
estivesse querendo que aquilo acontecesse desde que chegara ao quarto, Angélica ficou
surpresa com a intensidade da pegada e se arrepiou inteira.

— Hum, primo… nossa!


Um beijo agora sem barreiras aconteceu entre nós e eu tratei de deixá-la sem fôlego.
Ofegante, com o peito subindo e descendo rápido por dentro do pijama, a menina parou
um instante me encarando e falou, num tom de cansaço:

— Você beija bem, primo… acho que vou deixar você me tirar aquele pedaço.

Com a língua exposta, Angélica avançou outra vez em meu rosto e voltei a dançar
dentro da sua boca com a minha. Intensifiquei ainda mais a pegada em seu bumbum
durinho e a fiz se sentar em meu colo, aberta sobre o meu pau duro. Ela até gemeu.

— Caraca! Isso tudo é você?

Naquele momento, eu saquei que a minha prima era inexperiente em sexo apesar de
estar me atiçando aquele tempo todo e parte de mim sentiu culpa. Não era bem
deflorando uma virgem que eu planejava passar aquela madrugada e todo o lance do
sangue e da dor poderia acabar nos gerando algumas dores de cabeça. Interrompi o beijo
e a massagem em sua bunda. Eu precisava saber:

— Você é virgem, Angel?

Ela parecia não saber o que dizer num primeiro momento. Achou que podia me enganar
dizendo que “não”, mas o seu rosto enrubesceu na mesma hora, entregando toda a
verdade.

— Você ainda é virgem, prima?

Ela então assentiu, abaixando os olhos como se estivesse envergonhada. Afrouxei as


mãos em sua bunda. Eu ainda estava ereto, mas tinha perdido a vontade de meter até o
talo dentro daquela novinha.

Ela vai sangrar, vai sujar o lençol, vai ser um saco explicar isso para a camareira e
para o Fred… ele vai querer saber o que houve e vai acabar descobrindo que eu traí a
irmã dele… outra vez.

— Você não me quer mais só porque eu sou virgem?

Deslizei o polegar pelo rosto delicado de Angélica um instante antes de explicar de uma
maneira que ela entendesse.

— Eu não sei o que você pensa sobre virgindade, prima, e não faço ideia se tinha
planejado alguma coisa especial ou mais carinhosa para a ocasião, mas eu já passei por
situações parecidas e sei bem que, às vezes, acaba não acontecendo da maneira como a
menina quer…

Havia confusão em seus olhos. Seu corpo deu uma relaxada em meu colo e eu também
relaxei.

— Mas eu quero que seja especial… fazer aqui e agora contigo vai ser muito especial
pra mim!
Sorri e continuei tentando explicar:

— Entendo isso e eu não me importo de ser o seu primeiro numa outra ocasião, num
lugar menos público, com menos pessoas conhecidas ao nosso redor…

Ela estava decepcionada, mas ainda tentou argumentar:

— Eu tento gemer bem baixinho. Ninguém nem vai ouvir…

Só vai sangrar no meu lençol e mostrar no dia seguinte para todo mundo que eu passei
a madrugada fodendo uma florzinha virgem! pensei, cheio de ironia.

— Acredito em você, prima, mas esse não é o melhor lugar para fazermos isso. Tenta
entender.

Eu indiquei que ela recolhesse as pernas finas um instante e, em seguida, ergui o lençol
a deixando se espalhar sobre o colchão ao meu lado. Ela já estava se sentindo rejeitada,
mas quando viu meu gesto de gentileza, entendeu que aquilo era um sinal de que
poderia dormir ali comigo aquela noite.

— Mas eu pensei que não íamos mais…

A interrompi.

— E não vamos. Não hoje. Já está tarde para retornar ao seu quarto sozinha de qualquer
maneira. Vou te deixar dormir aqui comigo e amanhã cedo te levo para o seu aposento
antes que alguém perceba que estávamos juntos.

Estava em seu rosto juvenil que aquilo não era nem de longe o que ela estava esperando
ali naquela cama comigo, mas tive que ignorar a sua decepção e a deixei se acomodar
sob o lençol. Nos deitamos com uma certa distância nos separando, mas pouco depois,
eu mesmo me encostei para que ela soubesse que não estava sendo rejeitada.

— Se você quiser, podemos dormir de conchinha…

Seu rosto se iluminou virado em minha direção.

— Mas é só dormir, viu? Nada de safadeza.

Ela agora parecia mais conformada e me deixou enlaçar a sua cintura por trás,
recostando o quadril em minha cintura de maneira carinhosa. Eu estava usando de todo
o meu autocontrole para não ter novas ereções em contato com aquela bundinha
gostosa, mas era necessário me manter firme agora que já tinha me convencido que
dormiria sem sexo por uma noite. Angélica me desejou boa noite e, algum tempo
depois, estávamos os dois ressonantes sobre a cama enquanto a fauna local estrilava na
mata que circundava toda a Costeira do Pirajubaé.

Não se esqueça de deixar um comentário após a leitura do capítulo. É sempre bom para
o autor saber a sua opinião para que ele possa sempre melhorar a sua obra! NAMASTE!
Capítulo 9 – Bianca

AS GAROTAS ESTAVAM ALVOROÇADAS no camarim aquela tarde e nenhuma


delas parava de falar um só minuto enquanto se aprontavam para a próxima sessão de
fotos. Eu estava diante de um espelho elíptico ajeitando o adesivo que pressionava o
meu mamilo para que ele e o seu irmão gêmeo não marcassem a blusa que eu vestiria
dali a pouco tempo. Fazia aquilo tantas vezes por dia que já estava até me acostumando
a ficar nua e a me vestir na frente das minhas colegas. Seis meses tinham passado bem
rápido e agora eu era uma das modelos fotográficas contratadas da Shine Model, a
agência comandada por Sylvia Mascarenhas, uma das mulheres mais poderosas do ramo
da moda.

— Acham que o gloss vai avantajar demais os meus lábios? — perguntou Adele,
sentada diante da sua penteadeira a se maquiar. Estava usando apenas uma calcinha fio-
dental branca e os seios médios sacudiam ao ar.

— Gloss é tão anos noventa! — desdenhou Sabrine, a ruiva de rosto sardento e cabelos
Chanel na cadeira ao lado. Já tinha se enfiado dentro do modelo de camisa e calça que
usaria na sessão e ajeitava o cós de cintura-alta.

— A Vicky Novaes usa quase sempre… — Adele disse aquilo em tom de carência,
voltando a enfiar o pincel de gloss em sua embalagem.

— A vagabunda da Vicky Novaes ficaria linda até com bosta de cavalo na cara. Não se
compare com ela! — Foi a vez de Marcela elevar o tom, como que dando uma bronca
em Adele, mas rindo de maneira sarcástica. A garota desbocada tinha a pele escura feito
ébano, mantinha os cabelos afro bem armados e era a mais experiente de todas nós.
Com vinte e dois anos, já tinha posado para os maiores fotógrafos de moda do país e
tinha até mesmo desfilado em um evento em Milão, como ela sempre gostava de se
gabar. Todas a respeitavam bastante.

Enquanto as demais garotas ainda caçoavam Adele pelo comentário feito por Marcela
com urros e rosnados, uma cabeça miúda e redonda surgiu pela porta do camarim e a
voz afetada de Gusta, o assistente gay de mademoiselle Sylvia antecipou o que todas
nós já sabíamos.

— Mais rápido, suas piranhas! O fotógrafo não vai esperar por vocês a tarde toda!

O mundo da moda não era nem sequer um terço do que eu imaginava quando ouvia
falar nos programas de TV. Por ali, a competição para estar sempre no topo das
atenções e brilhar o mais ofuscantemente possível do que as adversárias era constante, o
que fazia dos campeonatos de voleibol que eu participava na escola e a concorrência em
quadra parecerem meras birrinhas infantis. No começo, aquilo havia me assustado um
bocado, mas com o tempo, já estava quase que totalmente adaptada. Assim como as
demais, eu também gostava de ser bastante competitiva e, apesar de inexperiente, eu
sabia que era muito mais linda que qualquer outra ali dentro e aquilo permitia que eu me
destacasse.
É claro que passava longe de ser saudável um ambiente onde uma colega queria quase
que o tempo todo puxar o tapete da outra para levar vantagem, por isso, amizades que se
formavam dentro da agência acabavam sendo mais valiosas do que o cachê que
recebíamos ao final de cada trabalho.

No início, por chamar muito a atenção com os meus olhos cor-de-mel, os meus cabelos
alourados e o meu corpo mais sinuoso, eu era destratada pelas garotas a maior parte do
dia e o jogo só virou quando acabei ganhando a confiança de Marcela ao conversar
francamente com ela e lhe pedir auxílio. Eu era a “virgem”, como a moça de cabelo afro
havia me apelidado. Era desajeitada, não sabia fazer as poses que me mandavam fazer e
quase sempre demorava demais para me aprontar para o casting. Foi ela quem me tirou
daquela situação, me adotando e me orientando.

— As outras têm inveja porque você é a mais gostosa de nós — Me disse ela numa de
nossas primeiras conversas após uma das sessões de foto mais longas que eu já havia
participado. Estávamos em um bar a duas quadras da Shine após o expediente e
bebíamos cerveja feito dois estivadores numa mesa ao fundo do lugar —, quer dizer,
olha só para você! Esses peitões, essa bunda maravilhosa!

E ela apalpou os meus peitos por cima da blusa grossa que eu usava. Eu estava alta por
conta da quantidade exagerada de cerveja que havia bebido, mas não o suficiente para
não corar com toda aquela sinceridade. As pessoas em volta estavam prestando a
atenção em nós duas. Marcela falava alto e não parecia se importar com o que os demais
frequentadores podiam pensar.

— Você é a mais gostosa da agência…

Tentei retribuir os elogios, mas não consegui me fazer convincente o bastante.

— Você é a mais linda, Cela…

— Porra nenhuma! — E ela meio que cuspiu cerveja com um riso forçado. — Eu te vi
tomando banho dia desses… não tenho nem metade dessa tua raba empinada!

Era sinceridade demais. Nem as minhas amigas Carina e Cíntia falavam daquele jeito
em nossa intimidade… quer dizer… pensando bem…

— Eu não tenho culpa se a minha genética me favoreceu… eu só quero poder fazer bem
o meu trabalho sem atrapalhar ninguém. É tão difícil assim me deixar posar para as
fotos, participar do casting, aparecer diante das câmeras e ganhar o meu dinheiro em
paz?

Aquele era um desabafo e as palavras que eu estava guardando há alguns meses


pareceram querer explodir todas de uma vez pela minha boca. Na época, as outras
garotas estavam sendo bem maldosas comigo. Trancavam a porta para me prender
dentro da sala, colavam a minha bolsa na mesa com chiclete e até desligavam a água
quente do chuveiro enquanto eu tomava banho. Aquilo estava me afetando de maneira
muito particular. Eu não estava acostumada a tanta rivalidade e estava a ponto de
desabar em choro. Marcela segurou a minha mão e resolveu me apoiar.

— Olha, eu não costumo passar a mão na cabeça de ninguém. Eu fiz isso com outras
pessoas em começo de carreira e elas só me foderam por eu querer ser boazinha. Eu vou
te ajudar porque gostei mesmo de você e também porque enxergo o mesmo potencial
que a Sylvia reconheceu quando a dona daquela agência de fotografia, a Infinite, te
indicou para o trabalho. A partir de amanhã, você não vai mais ser a minha virgem.
Você está oficialmente descabaçada e eu vou botar pra foder em quem te tratar mal de
novo dentro daquela agência.

Dito e feito. Depois daquele dia, como tinha dito que faria, Marcela passou a me
defender do ataque invejoso das outras dez modelos que compunham o casting da Shine
Model e eu nunca mais tive problemas para me relacionar no trabalho. Com o passar do
tempo, acabei conquistando a confiança sincera das meninas e se não éramos melhores
amigas, pelo menos conseguíamos nos tolerar facilmente. O que já era uma grande
vantagem.

Nos três primeiros meses de agenciamento pela Shine, eu passei a trabalhar quase em
período integral e aprendi na prática a maioria das tarefas que era orientada a
desempenhar como modelo. Por conta da profissão, fui obrigada a cuidar muito melhor
do meu instrumento de trabalho e o meu corpo passou a ser o meu santuário. Marcela
me ensinou uma pá de truques de beleza e me passou listas completas de cremes, óleos
aromatizantes, pomadas e até mesmo chás que fariam bem à minha pele, a deixando
sempre com a aparência mais hidratada e cuidada para os flashes das câmeras. Como
jogadora de vôlei no período da escola, eu já tinha uma alimentação bastante regrada e
saudável, mas para ser uma modelo, era necessário perder um pouco de massa e
caprichar mais na tonificação dos meus músculos.

— Você vai precisar perder uns quatro ou cinco quilos, Bia — recomendou-me Sylvia
em seu escritório em minha primeira semana de trabalho —, não que você esteja acima
do peso, mas é que para as fotos, curvas muito acentuadas podem acabar passando uma
imagem errada para o tipo de trabalho que mais aparece para a Shine.

Sylvia estava falando dos catálogos de lingerie para os quais ela tinha contrato
exclusivo e, já naquele mesmo mês, eu posei para dois deles usando apenas calcinha e
sutiã, espartilho, cinta-liga e mais um monte de roupas íntimas que eu jamais havia
vestido na vida. Não dava para negar o quanto aquilo me deixava sexy e me olhando no
espelho antes e depois das sessões de foto, confesso que ficava um pouco tímida me
vendo trajada daquela maneira.

Quem dera eu tivesse um namorado para que ele me visse vestida assim tão linda!
Capítulo 10 – Bianca (PARTE 2)

NO SEGUNDO MÊS DE trabalho na agência, Sylvia recomendou que eu me mudasse


para algum bairro mais próximo da Vila Mariana, onde ficava localizada a Shine Model,
por conta do tempo que eu perdia para me locomover todos os dias de Cotia até lá e os
meus pais quase piraram quando eu anunciei que estava saindo de casa por um tempo.

— Você acabou de completar dezoito anos, Bianca. Eu sou o seu pai e ainda sou o
responsável por você. Não vou permitir que saia de casa assim sem um planejamento
prévio, como se estivesse fugindo de alguém.

Estávamos os três sentados em torno da mesa da cozinha. Papai já tinha se curvado em


minha direção da cabeceira e o seu rosto estava vermelho, com ele prestes a sofrer um
infarto. Mamãe estava sentada ao meu lado direito e já dava para ver o brilho em seus
olhos cor-de-mel, com as lágrimas prestes a rolarem por seu rosto. Aquilo partia o meu
coração.

— A Line saiu de casa para jogar vôlei e vocês nem sequer a questionaram. Por que
comigo, que sou mais velha que ela, é diferente?

Minha irmã caçula estava morando com duas amigas de time em um apartamento
próximo do centro de treinamento do clube de vôlei onde jogava profissionalmente.
Depois do Caíque, que tinha ido embora de casa para jogar pelo Inter de Milão na
Europa, Aline tinha ido logo depois. Eu e meu outro irmão, o Diogo, éramos os únicos a
ainda fazerem companhia aos nossos pais, mas aquilo estava prestes a mudar e o seu
Francisco e a dona Edna estavam sofrendo com todas aquelas mudanças tão repentinas.
Eu não os podia culpar.

— A Aline não decidiu sair de casa da noite para o dia. Eu a acompanhei para assinar o
contrato com o clube de Barueri, inspecionei a estalagem onde ela iria morar com as
colegas de time, acertei tudo com o senhorio sobre o aluguel… você só está me
comunicando agora, Bianca!

Eu ainda não tinha grana suficiente para bancar sozinha um apartamento numa das
regiões mais caras de São Paulo, por isso, tinha aceitado rachar o aluguel com Marcela,
cuja antiga colega de quarto havia mudado de estado recentemente. A moça estava
começando a suar para pagar o valor integral que era cobrado no prédio onde morava, a
menos de trinta minutos da Shine. Expliquei a situação para papai e mamãe. Ela
entendeu, ele preferiu fazer bico feito uma criança birrenta.

— Não é definitivo, pai — Me aproximei dele e dei-lhe um abraço por trás. Ele ficou
um tempo se fazendo de durão, se recusando a me encarar —, é só por um tempo até
que eu me ajeite pela cidade ou que o meu contrato com a Shine termine. A vida de
modelo não é tão preto no branco quanto ter uma carteira assinada, com direito a FGTS,
INSS, essas coisas… eu ainda nem sei se vou me adaptar. Se isso não acontecer, eu
volto pra casa. Não quero que fique bravo.
O senhor Francisco parou de fazer jogo duro e se virou, me aninhando em seu peito.
Depois de me apertar forte, com a voz embargada, ele disse:

— Essa vida desregrada que está querendo levar não foi o que sonhei para você, minha
filha… Mas se é o que vai te deixar feliz, eu te dou a minha benção. Se precisar de
qualquer coisa até se adaptar por lá, saiba que estarei aqui para ajudar.

A dona Edna se juntou a nós dois no abraço carinhoso e confesso que, por um
momento, eu quase desisti de tudo e corri para ficar entre os dois na cama do casal
assistindo TV, como fazia quando tinha sete anos. Aquela foi uma das despedidas mais
intensas da minha vida.

Cinco meses após me instalar no apartamento de três cômodos da minha amiga Marcela
na Vila Mariana, a Shine Model assinou contrato exclusivo com uma grife francesa de
lingeries que estava vindo para o Brasil fazer a sua divulgação e a agora modelo
internacional — e embaixadora da marca — Vicky Novaes tinha sido convidada para
estrelar a campanha.

Eu tinha sido selecionada no casting para as fotos e os vídeos do comercial por dois
representantes da própria marca francesa e aquele foi um dos dias mais felizes da minha
vida. Além de mim, Marcela e a ruiva Sabrine também haviam sido selecionadas e, dois
dias depois, estávamos embarcando para um chalé em Campos do Jordão, onde toda a
campanha seria produzida.

Durante a preparação para as fotos no camarim amplo e todo equipado que a empresa
havia montado exclusivamente para a gente, não houve qualquer contato nosso com a
grande estrela brasileira do mundo da moda e, por um tempo, chegamos a acreditar que
nem a veríamos pessoalmente durante os dois dias que duraria o trabalho.

— Provavelmente, ela vai tirar as fotos em um estúdio separado, depois, vão nos juntar
digitalmente usando Photoshop!

Aquele era o palpite de Sabrine que estava se maquiando diante do espelho, já trajada
com a lingerie de renda vermelha com a qual posaria primeiro nas fotos. Ao meu lado
direito, enquanto reforçava o rímel, Marcela era de outra opinião:

— Essa vagabunda nem sequer vai posar pra foto alguma. Se bobear, ela só vai deixar
usarem o seu nome para engrandecer a campanha e nem vai dar as caras por aqui.

Marcela tinha uma mágoa profunda de Vicky desde a época em que ela ainda se
chamava Virgínia e ambas eram jovens modelos em começo de carreira. As duas tinham
trabalhado juntas por algum tempo e eram grandes amigas com chances iguais de
deslanchar na carreira internacional, passando a ser agenciadas por grandes companhias
da Europa. Elas sonhavam com as passarelas de moda de Milão, Paris e Londres, mas
tudo ruiu quando Vicky acabou sendo a única escolhida pelo diretor de uma agência
italiana que visitara o Brasil e também a única a embarcar para o estrangeiro ao lado do
milionário.
Segundo Marcela, havia vaga para duas delas na tal agência, mas Vicky havia
convencido o novo patrão a excluir a amiga dos seus planos, com medo que ela
acabasse ofuscando o seu brilho com sua beleza negra brasileira. Uma outra menina
acabou sendo escolhida no lugar de Marcela e aquilo a deixou arrasada.

— Depois daquela traição, eu nunca mais quis confiar em ninguém. Eu e Virgínia


éramos grandes amigas, simplesmente não havia motivo para que tivéssemos inveja
uma da outra. Trabalhávamos juntas há anos, éramos parceiras… foi como levar uma
facada nas costas.

Aquele foi o desabafo de Marcela numa tarde de preguiça no apartamento que agora
rachávamos o aluguel. Eu comecei a entender porque ela era tão desconfiada com as
novatas que entravam para a Shine e porque eu mesma tinha sido alvo de seu desdém e
de sua indiferença.

— Mas, você disse que já desfilou em Milão… — Eu estava curiosa.

— E desfilei. Alguns meses depois da traição de Virgínia, eu fui escalada para


acompanhar a chefe da minha antiga agência em uma viagem para a Itália e, durante o
evento de moda que estava rolando lá, os patrocinadores disseram que estavam
precisando de uma modelo preta para o casting, foi quando acabei sendo destacada…
Foi um desfile apenas, nada comparado à carreira internacional consolidada que hoje a
“Vicky” Novaes tem.

No dia das fotos em Campos do Jordão, ao contrário do que pensávamos, a própria


Vicky estava presente para a sessão no estúdio montado dentro de um belíssimo chalé
muito bem localizado em meio a um bosque frondoso que criava todo um clima
bucólico da qual os fotógrafos queriam explorar. Já estávamos nos preparando eu,
Marcela e Sabrine diante de uma lareira sobre um tapete felpudo usando ainda nossos
roupões por cima das lingeries, quando ela surgiu pelo corredor, linda e loira.

— … confio no seu bom gosto Armand. Tenho certeza que vai escolher os meus
melhores ângulos, oui!

Armand Chevèlle era um dos fotógrafos de moda mais conceituados da Europa e era
fluente em três línguas, entre elas, o português. Tinha passado uma temporada longa em
Portugal e, por lá, havia aprendido o nosso idioma. Com seu cavanhaque fino no rosto
simétrico, o sujeito pequeno acompanhou a estrela até onde nós estávamos no aguardo
do início da sessão e ela nos cumprimentou gentilmente uma a uma.

Vicky era alta, tinha ombros magros e seios médios, porém, firmes. O quadril era
levemente acentuado e a sua pele parecia brilhar de tão hidratada. Era ainda mais bonita
do que parecia nas fotos e estava com os cabelos loiros compridos a cair nas costas.

— Como você é linda, Bianca! — Me elogiou enquanto me cumprimentava com um


beijo no rosto. — O seu biotipo é perfeito para as lingeries da Valissère. Vão cair muito
bem no seu corpo.
Era a primeira vez que eu conhecia uma estrela brasileira internacional e o meu coração
estava disparado dentro do peito, por baixo do sutiã Valissère que devia valer sozinho
mais do que o carro do meu pai. Ao cumprimentar Sabrine, ela também elogiou a sua
beleza ruiva e, pouco depois, deu para sentir o ar se solidificando em torno das duas
quando foi a vez de ela e Marcela se darem as mãos.

— Que bom vê-la por aqui, Cela — disse Vicky, sem demonstrar por sua entonação
qualquer sinal de estresse —, quando eu soube que a Shine estava fazendo parceria com
a Valissère, eu fiquei muito feliz de poder participar. Estava empolgada para rever a
minha boa amiga.

Marcela não soube disfarçar a tensão em seu rosto, e vê-las interagindo de maneira tão
falsa foi um tanto quanto constrangedor.

Por sorte, o clima pesado entre as duas não interferiu em nada durante os dois dias em
que todas nós tivemos que trabalhar juntas e aquela foi uma das campanhas mais árduas
e bem-executadas que eu já havia acompanhado. Vicky era uma das mulheres mais
maravilhosas que eu já tinha visto de perto e quase não conseguia explicar o quanto ela
parecia perfeita em todos os sentidos; não só pela pele incrivelmente bem tratada, os
cabelos loiros sedosos e aquele belíssimo par de olhos cor-de-mel quase como os meus,
mas também pelo seu profissionalismo e a postura altiva e decidida que ela nos
transmitia. Se ela havia mesmo trapaceado Marcela para ficar sozinha com a vaga de
modelo internacional, eu não tinha como ter certeza, mas que Vicky tinha se tornado
uma estrela em toda a concepção da palavra, isso não dava para negar.
Capítulo 11 – Bianca (PARTE 3)

A CAMPANHA DA VALISSÈRE me proporcionou um reconhecimento que eu não


imaginava e as minhas fotos ao lado de Vicky Novaes passaram a estampar uma
quantidade imensa de lugares, incluindo outdoors fora de São Paulo, banners e até
mesmo placas publicitárias pela cidade. Além das páginas de revistas femininas onde as
fotos foram publicadas, o comercial de trinta segundos para a TV e internet também fez
bastante sucesso e gente de tudo quanto era canto começou a me ligar e a me mandar
mensagem dizendo que tinha me visto.

— Eu não acredito, vadia! Você apareceu num comercial ao lado da Vicky Novaes! —
Era a minha amiga Carina Monterey, que me ligou no intervalo de uma das suas aulas
da faculdade de Gestão de Negócios que estava cursando.

— São só alguns segundos… eu nem apareço direito!

Eu ficava extremamente tímida com elogios rasgados e tinha a tendência a diminuir


todos os feitos grandiosos a qual realizava de vez em quando.

— Pois eu te vi direitinho lá toda gostosa com aquela lingerie preta maravilhosa que eu
já até encomendei uma para usar com o boy. Ai, meu Deus! A minha amiga virou top
model famosa!

Naquele mesmo dia, Cíntia Lacerda, a minha outra melhor amiga, também me ligou de
sua casa no bairro do Ipiranga para me dar os parabéns pela campanha e disse que
estava compartilhando o vídeo do comercial em todas as redes sociais e me marcando
para que todos soubessem que éramos amigas.

— Eu estou muito orgulhosa da minha putinha loira preferida! — disse ela efusiva ao
telefone. — Eu quase chorei te vendo naquele comercial, tão perfeita, tão radiante. Que
bom que a sua carreira está deslanchando, miga.

— Foi só um comercial, Cíntia. Ainda tenho muito trabalho pela frente até realmente
deslanchar na carreira.

Eu estava sendo modesta, mas sabia que a campanha com Vicky Novaes poderia
proporcionar uma guinada em minha carreira de modelo fotográfica e estava apostando
nisso.

Depois daquele trabalho, todas as meninas da agência foram engolfadas por mais uma
dúzia de campanhas publicitárias diversas e eu não pude voltar para Cotia a fim de
receber os parabéns pessoalmente dos meus pais e do meu irmão Diogo. Mamãe me
ligou na segunda noite de veiculação do comercial em horário nobre da TV e foi difícil
conter as minhas próprias lágrimas ao ouvi-la tão emocionada do outro lado da linha
dizendo que estava orgulhosa de mim. Papai foi mais sucinto ao me parabenizar e,
claro, não perdeu a oportunidade de dizer que estava um pouco bravo porque todo
mundo agora estava vendo a sua filhinha “pelada” por aí.
— Eu não tô pelada, pai. É um comercial de lingerie e todo mundo falou que eu tô
bonita.

Ele resmungou alguma coisa indecifrável do outro lado, mas depois, deu o braço a
torcer:

— Você é a minha filhinha e eu sempre vou te achar a mais linda de todas as modelos.

Se eu tinha conseguido conter as lágrimas com mamãe, aquele comentário de papai me


derrubou e eu fiquei bastante emocionada. Dava um dente de trás para receber aquele
abraço de urso que só o seu Francisco sabia me dar naquele momento, mas para minha
infelicidade, eu estava impossibilitada de voltar para Cotia por aqueles dias.

Um mês depois da viagem a Campos do Jordão, Sylvia pediu para que eu, Adele e
Marcela subíssemos até a sua sala no segundo andar da Shine para uma conversa
particular. Lá dentro, a encontramos na companhia do seu assistente Gusta e de trás da
sua escrivaninha, com seu tradicional copo de uísque pousado ao lado, ela nos revelou
qual seria o nosso próximo trabalho.

— A agência foi contratada para compor o time de modelos que farão presença VIP
durante o Salão do Automóvel que a concessionária Diamond Motors vai realizar no
próximo final de semana em Interlagos. O evento vai contar também com garotas de
outras agências que estarão espalhadas pelo salão fazendo a exibição dos veículos
importados que são a especialidade da Diamond e eu destaquei vocês três por estarem
mais familiarizadas com esse tipo de trabalho.

Eu tinha feito algo parecido logo num dos primeiros meses de agenciada pela Shine,
mas a própria Sylvia havia me falado que aquele tipo de serviço não era o mais comum
e que eu estaria sendo melhor explorada em sessões de fotografia. A questionei:

— Achei que eventos presenciais não fossem o forte da Shine, Sylvia.

A mulher loira de olhos redondos me encarou de trás da mesa e, após dar um gole em
seu uísque, disse, sem qualquer cerimônia:

— Não é a nossa especialidade, Bianca, mas quando nos contratam, temos que mostrar
serviço.

Eu engoli em seco e senti o meu rabinho entrando entre as pernas.

— E depois, a sua carinha branca está fazendo muito sucesso com a campanha da
Valissère e o nosso patrocinador quer que eu envie as minhas melhores meninas para
esse salão de carros de luxo. Vocês três são as melhores que eu tenho disponível.

Marcela e Adele deram beijos nos próprios ombros, cheias de si e causaram risinhos em
Gusta, que nos observava em pé ao lado da patroa.
— O Gusta vai coordenar vocês nesse evento e eu também estarei lá para segurar as
pontas, caso precisem. Vamos ser muito bem pagas por esse trabalho, por isso,
caprichem na maquiagem, garotas. Quero ver as três impecáveis.

Um pavilhão gigantesco e muito bem localizado no centro de Interlagos havia sido


alugado para aquele Salão do Automóvel e eu tive que chegar bem cedo com as
meninas para poder conhecer melhor o lugar e estudar sobre os veículos que iríamos
demonstrar. O nosso trabalho ali era bem simples: tínhamos que sorrir o tempo todo,
movimentar os braços suavemente em direção ao carro em exposição, posar para as
fotos que os visitantes, porventura, quisessem bater e tirar algumas dúvidas mais
simples a respeito do veículo. Eu não entendia nada do assunto, mas para executar bem
a minha tarefa e não parecer apenas uma boneca linda e burra ali parada sobre aquela
plataforma giratória, acabei decorando alguns detalhes sobre potência do motor, tipo de
direção, câmbio e outros acessórios.

Logo que cheguei, fui direcionada até a plataforma circular onde ficaria girando quase
que o dia todo ao lado de um Koenigsegg Agera, um carro de fabricação sueca e que
custava mais de cinco milhões. Eu tinha sido previamente instruída quanto aos cuidados
que deveria ter posando tão perto de algo que valia o preço do prédio inteiro onde eu
morava e passei a primeira hora ali simplesmente apavorada, com medo de fazer
qualquer coisa que riscasse ou manchasse a lataria. O carro era realmente lindo e tudo
nele cheirava a riqueza; desde a parte externa à interna, que eu tive o privilégio de
conhecer.

— Se eu fosse a vaca da Vicky Novaes e tivesse dado para o cara certo, eu poderia ter
um desses na garagem agora!

Marcela estava ao meu lado quando um dos organizadores do evento permitiu que
entrássemos no Agera para que tivéssemos uma noção de o quão luxuoso ele era e isso
aconteceu algumas horas antes dos portões do salão serem abertos para o público.
Enquanto ela alisava o volante como que tocando um cálice sagrado, eu só consegui dar
risada.

Duas horas após a abertura dos portões, eu já podia sentir os músculos da face doloridos
de tanto que eu tinha sorrido. Eu estava usando um vestido vermelho justo para
combinar com a cor do veículo que eu expunha e o sapato de salto estava acabando com
o meu tornozelo. Era permitido que eu me sentasse discretamente sobre o capô de vez
em quando enquanto a plataforma rodava e os visitantes tiravam fotos do carro comigo
em cima, mas, mesmo daquela maneira, me fingir de boneca em vitrine era bastante
cansativo.

— A modelo vem com o carro?

Aquela foi a frase que mais ouvi ao longo daquele dia e cansei de sorrir e acenar que
“não” enquanto fingia simpatia para os idiotas que me perguntavam aquilo o tempo
todo. A minha roupa era suficientemente longa para cobrir bem o meu quadril, mas as
minhas pernas estavam expostas e o decote que usava era bem exagerado, o que me
tornava alvo de cantadas, piadas e até mesmo comentários misóginos. Eles não podiam
me tocar, mas é claro que aquilo não era o bastante para que, às vezes, a experiência da
exposição fosse extremamente desagradável.

A certa altura do evento, o salão estava bastante avolumado de visitantes e quase não se
podia mais ver o chão do pavilhão de tanta gente que circulava pelo estande da
Koenigsegg. O Agera era considerado, na época, um dos carros mais rápidos do mundo
— chegando a atingir quatrocentos e quarenta quilômetros por hora — e era um dos
modelos mais atraentes da exposição que, além dele, contava também com Ferraris,
Lamborghinnis e McLarens.

— É realmente uma beleza!

Eu estava em pé diante do Agera quando um moço de cabelos castanhos penteados para


trás trajando roupa social sem gravata se aproximou. Ele estava acompanhado de um
outro moço de cavanhaque ruivo e olhar de tarado na cara, mas, enquanto o seu colega
me secava os peitos, ele parecia mesmo interessado no carro.

— Acha que é feito de que material? Fibra de carbono?

Ele encarou o ruivo por um segundo ao perguntar aquilo, depois, fez contato visual
comigo pela primeira vez. Estava querendo me testar.

— A carroceria e o Chassi são inteiramente fabricados com fibra de carbono e reforços


estruturais de baixo peso.

Eu já tinha dito aquilo centenas de vezes no dia e nem precisava mais me esforçar para
me lembrar dos detalhes. Os dois se entreolharam achando que eu entendia mesmo do
assunto e o de rosto fino alargou um sorriso antes de me perguntar:

— E as rodas?

— São de alumínio. Tem um parafuso único de fixação, medem dezenove polegadas na


frente e vinte polegadas atrás.

O ruivo estava de olho agora em meu quadril.

— São muitas polegadas!

O seu amigo desviou o olhar e começou a andar em torno da plataforma, demonstrando


bastante interesse no Agera. Ao contrário do outro, era educado, gentil e aparentava ser
de classe. Era bastante bonito também, apesar do físico esguio.

— Pagaria um valor alto só para fazer um test drive nessa máquina!

Os dois estavam agora separados por alguns metros. Eu estava de lado para o ruivo que
foi rápido em completar, de olho na minha bunda:

— Eu também!
Depois de um breve aceno em minha direção, o moço educado se afastou acompanhado
do amigo ruivo inconveniente e eu não voltei mais a vê-lo até o final do evento.
Capítulo 12 – Bianca (PARTE 4)

PERTO DAS OITO DA NOITE, Gusta veio me liberar da exposição e eu sai dali direto
para os bastidores no andar de cima, onde estava louca para fazer xixi e para tirar
aqueles malditos saltos do pé. Sentada na privada do banheiro, sentia cada um dos
músculos do rosto doloridos como se eu tivesse saído de uma luta de octógono contra o
próprio Anderson Silva, mas relaxei achando que a minha tarefa ali estava cumprida.
Estava saindo do toalete quando dei de cara com Sylvia a me esperar do lado de fora.

— Ainda está por aqui, Sylvia? Achei que já tivesse ido embora. Não a vi quase que a
tarde toda…

A minha chefe tinha um cartão de visitas em mãos e não se preocupou em ser polida
com a notícia que tinha para me dar. Foi direta ao assunto.

— O filho de um empresário muito rico da cidade ficou bastante encantado com você ao
te ver na exposição do salão mais cedo, Bia, e ele me pediu para te dar o seu cartão.

Ela me estendeu o cartão branco e eu senti a sua textura antes de ler os dizeres gravados
ali em cor dourada. Roberto Suares – Suares & Castilho - Construtora. Eu já tinha
ouvido o nome daquela empresa em algum lugar, não me lembrava de onde.

— Muito gentil da parte dele — respondi, um tanto quanto desinteressada —, mas o que
eu devo fazer com esse cartão?

Sylvia me cravou o seu olhar mais fulgurante, aquele que usava quando queria me dar
alguma bronca ou me desestabilizar emocionalmente, depois, disse:

— Ele quer te conhecer melhor, menina. Está disposto a te levar daqui para um jantar
num restaurante. Quer um encontro contigo.

Eu tinha ficado surpresa e não soube bem como reagir.

— Tipo… hoje? Agora?

Sylvia olhou para os meus pés descalços e os meus cabelos já um pouco desalinhados e
falou, em tom de ordem:

— Calce os seus sapatos de volta e dê um jeito em seus cabelos. O homem a está


esperando no estacionamento e disse que não vai arredar o pé desse pavilhão até que
você esteja lá com ele.

Me senti profundamente ofendida e, enfim, soube como reagir.

— Espera, Sylvia. Eu não sou como um daqueles carros em exposição lá fora. Eu não
estou à venda desse jeito. Esse cara não pode simplesmente levantar a mão e me pedir
numa bandeja.

Sylvia deu dois passos e estacou a um metro de mim.


— Para de show, menina! O rapaz foi muito cortês comigo. Ele não está te comprando,
só pediu para que eu intermediasse um encontro cordial entre vocês dois. Ele realmente
ficou interessado quando te viu mais cedo e como sabia que você era contratada de uma
agência de modelos, entrou em contato comigo para falar pessoalmente com você.

— E-Ele… Ele quer que eu faça um programa, é isso?

Sylvia não esboçou qualquer negativa.

— O senhor Suares é um dos jovens empresários mais cobiçados da cidade, Bianca. É


rico, bonito, inteligente… tenho certeza que as suas amigas estão morrendo de inveja de
você agora e dariam tudo para estar no seu lugar. Eu sou a sua chefe e prometi a ele que
faria a conexão entre os dois. Não quero passar por uma mulher que não honra com as
promessas que faz, por isso, você vai sim até o estacionamento encontrar aquele moço.
Não me interessa o que vai rolar entre vocês depois disso, mas hoje, você será uma boa
menina e vai fazer companhia a ele.

Eu estava muito injuriada e senti o meu estômago queimar de nervoso.

— Você… Você está me vendendo…

Lágrimas começavam a ameaçar escorrer dos meus olhos quando a voz rude de Sylvia
voltou a soar no camarote, com ela bem perto de mim. Dava para ver com detalhes as
marcas de expressão da sua pele envelhecida que ela tentava mascarar com corretivos e
o seu hálito era de uísque.

— Não chore, senão vai borrar a maquiagem.

Como tinha sido me orientado, Roberto estava me esperando à porta de um Mercedes


c180 preto no estacionamento do pavilhão de eventos e só quando o encarei pela
primeira vez é que o reconheci. Ele era o visitante gentil de roupa social que havia me
perguntado sobre o material que era feito o Agera da exposição e o amigo do ruivo
tarado que tinha me secado de cima a baixo enquanto conversávamos.

— Então é você…

Roberto abriu um sorriso e esperou que eu entrasse pelo banco de trás do carro para só
então me acompanhar. Um motorista uniformizado esperava por suas ordens ao volante
à nossa frente e, pouco depois, foi orientado a seguir até um restaurante francês recém-
inaugurado no bairro da Consolação. O carro de motor silencioso partiu de Interlagos
como se flutuasse e demorou até que aquela sensação de angústia deixasse o meu peito.

— Espero que não esteja assustada, Bianca. Achei que se a Sylvia intermediasse o nosso
encontro seria mais fácil para a sua aceitação do que eu aparecer lá feito um stalker
maluco te convidando para sair.

Não parecia mesmo que havia nenhuma má intenção da sua parte, mas eu continuava
me sentindo como uma peça de mostruário vendida a quem pagasse mais.
— Eu… Eu achei um pouco indelicado, só isso. — respondi, insegura.

Roberto tinha a voz suave e não a alterou em nenhum instante, o que me ajudou a passar
um pouco mais de confiança. Ele estava me levando para um dos pontos mais seguros
da cidade e tudo em sua presença me transmitia tranquilidade. Durante o percurso até o
restaurante, me falou um pouco sobre quem ele era, quem eram os seus pais e sobre a
empresa onde trabalhava com o pai desde que havia concluído a sua graduação em
Gestão de Negócios.

— Pode ficar despreocupada. Eu não sou nenhum pervertido querendo arrastar uma bela
moça para um beco escuro. Eu realmente a achei interessante e quis marcar um encontro
após o seu trabalho para nos conhecermos melhor. Você não vai fazer nada que não
queira.

Exceto ser obrigada a acompanhar um riquinho metido no meio da noite só para


agradar a vaca da minha chefe, pensei naquele instante, ainda incomodada com toda
aquela situação. Estava louca para voltar para casa, mas antes precisava cumprir mais
aquela tarefa até que pudesse, enfim, ser liberada… Se é que seria.

Apesar do meu desconforto, o jantar com Roberto foi bastante agradável e, por incrível
que aquilo pudesse parecer, o rapaz conseguiu me deixar um pouco mais à vontade na
sua presença. Enquanto degustávamos à mesa iguarias das quais eu nem era capaz de
pronunciar os nomes numa área do estabelecimento onde só quem era VIP podia
frequentar, ele voltou a me falar da sua família e soube que a sua irmã também era
apelidada de “Bia” e que a garota estudava Gestão Agro, algo que eu nem sabia do que
se tratava.

— Meu pai é herdeiro de algumas fazendas no interior do estado e ele quer que a
Beatriz tome conta dessa parte do patrimônio uma vez que a Suares & Castilho, como o
nome já diz, não pertence totalmente à nossa família.

Os sócios de João Suares, o pai de Roberto e o CEO da empresa, eram Renato e Mauro
Castilho, coincidentemente, pais de Janete e Priscila Castilho, duas meninas que eu
havia enfrentado em quadra durante o último torneio intercolegial de vôlei que havia
participado no ensino médio5. Depois de toda a competitividade a qual havíamos sido
expostas durante os jogos, nós voltamos a nos encontrar em outras oportunidades e as
nossas famílias até chegaram a se relacionar melhor. O meu irmão Diogo estava
namorando Priscila e o garoto agora vivia enfurnado na casa milionária que Mauro
Castilho tinha no bairro de Indianópolis6.

— Conheci algumas das filhas dos sócios do seu pai. Sabia que já tinha ouvido falar do
nome “Castilho” em algum lugar, só não me lembrava de onde.

Durante a sobremesa servida por um garçom trajando branco e que parecia ter saído
diretamente da tela de algum desenho animado, Roberto me falou um pouco sobre a sua
5
Bianca enfrentou as duas primas Castilhos em quadra em Desejos 32 – O Destino dos Ferretis e a
mesma história também foi contada pela visão de Janete Castilho em Desejos 35 – A Herdeira
6
Esse relacionamento foi melhor explorado em Desejos 40 – Prazeres e Pecados
vida amorosa e como ele se sentia desafortunado por, até aquele momento da vida,
ainda não ter encontrado a garota ideal. Ele tinha vinte e quatro anos, era rico, tinha
acesso às mulheres mais desejadas do país, mas não tinha o amor que tanto almejava.

— Pode parecer piegas a você, mas quando eu a vi lá em cima daquela plataforma, tão
linda e elegante, o meu coração balançou de uma maneira muito particular. Eu não
acredito em amor à primeira vista nem nada disso, mas se acreditasse, diria que fiquei
apaixonado por você assim que bati os olhos em seu sorriso.

Fazia muito tempo que ninguém me dizia nada sequer parecido com aquilo e não pude
negar que parte de mim deu uma balançada com aquela declaração, especialmente, pela
maneira inusitada com que ela havia sido feita. Eu tinha acabado de encher a boca de
um Crème Brûlée delicioso. Depois de passar o dia inteiro apenas à base de água, eu
estava faminta.

— Você deve estar me zoando…

Eu tinha ficado verdadeiramente tímida e senti o meu rosto esquentar.

— Deve parecer curioso a você um completo estranho chegar e dizer que se apaixonou
no primeiro instante que te enxergou ali, no meio de uma exposição de carros, mas eu
não saberia explicar de outra maneira o que eu senti.

Roberto passou a hora seguinte tentando me convencer que aquilo que ele dizia sentir
por mim era real e, seja por carência afetiva ou simplesmente pelo fato de que eu o
estava mesmo achando encantador, acabei aceitando a ideia de que aquele moço não
tinha razões para mentir tão descaradamente. Rico e bonito do jeito que era, ele poderia
comprar a garota que quisesse e eu nem deveria estar entre as cem mais interessantes da
sua lista de possíveis conquistas. Ele devia ter mesmo sentido algo especial por mim e
nos próximos dias, eu estava disposta a saber o que era de verdade.
Capítulo 13 – Carla

O MEU CASAMENTO DE QUINZE ANOS com o engenheiro civil Roque Alencar


começou a naufragar quando ele começou a preferir se refestelar à noite com meninas
da idade da nossa filha, Micaela, do que a me satisfazer sexualmente e, quando isso
aconteceu, a minha autoestima foi a primeira das vítimas, depois, foi a minha vergonha
na cara.

Em resposta às subsequentes traições do meu marido, eu acabei encontrando


acolhimento nos braços de um rapaz — quase dez anos mais novo — que eu tinha
conhecido nos corredores da agência de arquitetura e design que eu mantinha com as
minhas duas melhores amigas dos tempos de faculdade, Marina “Nana” Martins e Maria
Eduarda “Duda” Silva. Gilson Lins, o moço em questão, era o irmão mais velho da
minha secretária Nádia e foi numa visita sua ao prédio na Vila Mariana, onde estávamos
instaladas no nono andar, que eu me senti bastante interessada por seu porte atlético e a
sua cara de menino levado.

Não demorou para que nós dois estivéssemos nos relacionando amorosamente, longe
dos olhares de todos ao nosso redor — incluindo as minhas sócias e a minha secretária
— e, com Gilson, eu voltei a ser a Carla Castilho da juventude: forte, determinada,
cheia de si e me achando incrivelmente sensual.

Aquele atleta judoca tinha me ajudado a recuperar tudo aquilo que eu havia perdido
enquanto era preterida por Roque e as suas novinhas e, não tinha como negar que era
muito bom voltar a ter orgasmos reais, intensos, daqueles que me deixavam até tonta.
Eu sentia falta de fazer sexo, gostava da sensação de ser possuída com a gula com que
Roque me possuía no início do nosso casamento e, por um tempo, Gilson foi o melhor
amante que eu poderia ter. Eu estava totalmente realizada7.

Tinha se passado quase um ano daquela relação de adultério entre mim e o judoca. Eu
estava feliz, ele parecia muito satisfeito em seu papel de amante, mas claramente nada
era o que parecia.

A nossa relação foi para o inferno quando descobri que, assim como o meu marido,
Gilson também tinha predileção por meninas mais jovens e eu o flagrei se divertindo
com uma garota que eu conhecia muito bem e que já havia recebido em minha própria
casa.

Michele Souto era amiga de escola da minha filha e, pelo que eu soube depois, havia
seduzido Gilson durante uma aula de judô. Na cama, eu dava a ele tudo que o cretino
pedia, mas como como homem — e pervertido — é claro que ele acabou não resistindo
à tentação representada por aquela bucetinha cheirando a leite. Era a segunda vez que eu
me via sendo trocada daquela maneira tão repugnante e diferente do que eu havia feito
com Roque, decidi não perdoar o judoca, me afastando dele para sempre.

7
A história da juventude, do casamento e do caso extraconjugal de Carla Castilho foi contado em
detalhes em Desejos 36 – Ligações de Sangue
Gilson me procurou várias vezes depois para pedir perdão e, embora eu sentisse mesmo
que não estava em posição de julgá-lo, uma vez que eu também estava traindo meu
marido com ele, preferi ignorar os seus pedidos de desculpa para dar uma segunda
chance ao meu casamento. Tive uma conversa franca com Roque a respeito das traições,
confessei que estava saindo com um garoto mais novo — sem lhe revelar a real
identidade para impedir possíveis represálias — e o meu marido acabou confessando
alguns dos seus casos. Nós nos perdoamos de nossos erros e decidimos juntos
reconstruir a bela relação que tínhamos antes de tudo aquilo nos separar. Por um tempo,
eu e Roque voltamos a nos entender em todos os sentidos — inclusive na cama — e eu
pude, enfim, voltar a me dedicar ao meu trabalho, coisa que estava começando a
negligenciar por conta dos meus problemas pessoais.

Uma das primeiras decisões que tomei assim que retornei com força total à A3 – Design
e Arquitetura foi firmar uma parceria de trabalho fixa com a empreiteira Ao Cubo, que
pertencia ao milionário engenheiro Pedro Augusto de Alcântara e Albuquerque, um dos
profissionais mais respeitados na indústria de construção civil. Eu o conhecia desde
antes do meu casamento com o Roque e, de certa maneira, tinha sido por causa dele que
eu havia conhecido, me apaixonado e me casado com o meu marido.

Foi durante comemoração das bodas de prata de Pedro Augusto com sua esposa que eu
vi Roque pela primeira vez e, como não podia deixar de ser, fiquei extremamente
atraída por sua virilidade e aquela beleza ruiva que chamava todas as atenções. Na
época, Roque era um jovem engenheiro que trabalhava para a Ao Cubo e foi só depois
do nosso casamento que ele decidiu aceitar o convite dos meus irmãos Renato e Mauro
para fazer parte do quadro de funcionários da empresa da família e deixar Pedro
Augusto.

Como éramos velhos conhecidos, o CEO da empreiteira mais requisitada de São Paulo
aceitou o meu pedido de parceria e, a partir de então, começamos a trabalhar juntos em
todos os projetos que ele tinha nas imediações, com planos prósperos de que o braço da
Ao Cubo se estendesse também para outras regiões do país, algo no que a ajuda da A3
seria de fundamental importância.

Uma das exigências de Pedro Augusto para firmar aquela parceria de trabalho com a
minha agência era a de que eu empregasse a sua filha mais nova Bárbara, uma recém-
formada designer de interiores que estava precisando ganhar experiência de mercado
enquanto se adaptava ao mundo corporativo. A moça tinha vinte e quatro anos, era loira,
alta, magra e tinha o biotipo de uma modelo de passarela, embora pouco se interessasse
em brilhar diante de câmeras. Tinha temperamento difícil, vivia de cara emburrada, mas
havia nela uma grande sede de aprendizado, algo da qual tanto eu quanto a Nana e a
Duda podíamos auxiliá-la com a nossa experiência de alguns anos de mercado.

— Nós somos agora quatro mulheres envolvidas num mundo predominantemente


masculino — e machista — de construção, engenharia e projetos estruturais, Bárbara —
disse a ela numa de nossas primeiras reuniões com as demais garotas da A3 —, por isso,
eu quero que entenda que não vai ser nada fácil enfrentar todo o preconceito, a zombaria
e o desdém de homens que estão nesse ramo há muito mais tempo que a gente e que não
vão nos respeitar apenas porque temos um diploma na parede. Quero saber se você está
realmente disposta a encarar todas essas dificuldades e deixar o seu porto seguro
embaixo das asas do seu pai.

A moça não esboçou um sorriso sequer antes de responder com tom firme:

— Eu sou a única filha mulher do meu pai, os meus dois irmãos mais velhos decidiram
seguir o mesmo ramo dele e eu já venho sofrendo um bocado de preconceito em minha
própria casa desde sempre pelo simples fato de ter uma vagina entre as pernas e não um
pinto. Eu sempre fui diminuída e desprezada por meus irmãos machistas. Estou mais do
que acostumada a lidar com homens que se acham superiores apenas porque podem
mijar em pé. Não tenho medo deles. Quero mergulhar nessa com vocês de cabeça.

Naquele momento, eu, Nana e Duda nos encaramos e desatamos a rir, cientes que
Bárbara estava mais do que pronta para fazer parte da nossa equipe. Apesar de toda a
sua rigidez, a menina era uma profissional excelente e demonstrou isso com o passar
dos meses.

Algum tempo depois da contratação da filha de Pedro Augusto, eu me reuni com a


minha cunhada Solange, a esposa do meu irmão Mauro, para conversarmos sobre como
seria a nossa relação de trabalho agora, uma vez que teríamos uma outra designer de
interiores fixa na agência e que não precisaríamos mais dos freelas que ela nos fazia de
tempos em tempos. Segundo ela, aquela notícia tinha sido um alívio já que as coisas
andavam bastante conturbadas na Suares & Castilho e que toda a sua equipe de design
andava bastante atarefada por lá.

— Depois que o Renato decidiu abandonar a diretoria da S&C e vendeu a sua parte das
ações para o Mauro, todos nós tivemos que redobrar os nossos esforços para provar que
ainda merecíamos fazer parte da companhia que o seu pai fundou, Carlinha — Me disse
ela, enquanto tomávamos um drinque num bistrô da Vila Mariana —, o João Suares
anda à nossa espreita feito um gavião mirando a sua presa, só esperando um passo em
falso para nos tirar de vez da diretoria e assumir 100% do controle da construtora.
Agora, mais do que nunca, eu preciso mostrar serviço trabalhando nos projetos deles a
todo vapor e odiaria te deixar na mão com a A3.

Solange era a designer de interiores a quem eu apelava sempre que algum de nossos
contratantes exigia um nível maior de requinte em seus projetos e eu ficava feliz em
poder contar com ela. Como minha cunhada havia explicado gentilmente, os tempos
eram outros nos corredores da Suares & Castilho e eu entendia que não tinha mais
como contar com ela — pelo menos até que as coisas voltassem ao normal com João
Suares — e até que o meu irmão, Mauro, provasse àquele velho ranzinza que os
Castilhos ainda mereciam a parte da empresa que nos cabia.
Capítulo 14 – Carla (PARTE 2)

NOS MESES QUE SE SEGUIRAM, Nana ficou responsável pela realização do


showroom de uma imobiliária que iria expor um projeto de condomínio de luxo na
região dos Jardins durante um final de semana e toda a arquitetura dos apartamentos das
duas torres daquele condomínio levavam a nossa assinatura. Aquele também tinha sido
o primeiro trabalho de design realizado por Bárbara com a A3 e foi engraçado vê-la
animada com alguma coisa pela primeira vez e esboçando o sorriso lindo que quase
nunca revelava no rosto perfeito.

Naquela tarde, Nana e eu tínhamos ido até a sede da imobiliária que ficava localizada na
quadra ao lado do prédio onde trabalhávamos na Vila Mariana para acertarmos os
pormenores do showroom e fomos recepcionadas pelo próprio diretor administrativo do
lugar, alguém que eu já conhecia há algum tempo e que nos levou até o décimo andar
onde despachava.

— Carla Alencar Castilho! Quanta honra recebê-la aqui na Sol Nascente!

Danilo Reis se sentou confortavelmente em sua cadeira executiva logo após pedir que a
sua secretária nos servisse um café e eu ainda estava surpresa em saber que era ele quem
gerenciava as coisas por ali. Eu tinha conhecido Danilo num bar musical por intermédio
de Claudia Ferraz8, a minha amiga pessoal e mãe de uma das melhores amigas da minha
filha, a linda e adorável Kelly, mas não fazia ideia que os nossos destinos voltariam a se
cruzar agora profissionalmente.

— Eu sabia que você administrava uma corretora de imóveis, mas não tinha ciência que
trabalhávamos praticamente a uma esquina de distância!

Nana estava perdida no assunto e, por um tempo, ficou só a degustar o café expresso em
sua xícara, a nos observar enquanto conversávamos. Danilo estava usando uma camisa
branca muito bem asseada e uma gravata azul royal pendendo sobre o seu peito. Ele
ficava bastante elegante de roupa social e era bem mais bonito daquele jeito do que
usando camisetas de banda de Rock e calça jeans, como o havia visto pela primeira vez.
Até dá para entender porque a Claudia se interessou um dia por ele9, pensei, levemente
distraída.

— Trabalho aqui há alguns anos graças ao pai da Claudia que me indicou como corretor
— explicou ele —, eu já tinha ouvido falar da sua agência A3, Carla, mas também não
sabia que você era a dona.

— Eu e a Carla somos sócias, na verdade, ela não é a dona. — Interrompeu Nana um


pouco seca, indicando que voltássemos ao assunto principal de nossa visita ali.

8
Isso aconteceu durante os eventos mostrados em Desejos 40.3 – Prazeres e Pecados
9
Claudia Ferraz, a mãe de Kelly, teve um caso de uma noite com Danilo Reis algum tempo antes da
moça se casar com Charles Ferraz, o melhor amigo de Danilo dos tempos de faculdade e isso também
foi mostrado em Desejos 40.3.
— Bem, chega de nostalgia. Vamos falar sobre o showroom então. — disse Danilo
prontamente, com um sorriso meio enviesado no rosto. — Quero saber os detalhes do
que vocês têm em mente para o próximo fim de semana.

No sábado seguinte, alguns dias depois de acertar os detalhes com Danilo Reis, eu,
Nana e Bárbara seguimos da Vila Mariana aos Jardins para acompanharmos de perto o
trabalho dos agentes imobiliários na exposição. Eles iriam apresentar aos visitantes do
showroom os apartamentos decorados e mobiliados que a Sol Nascente teria à
disposição no projeto arquitetônico construído pela Ao Cubo com a assinatura da A3.
Logo pela manhã, quando chegamos a bordo do meu carro, o lugar estava apinhado de
pessoas interessadas no empreendimento e ficamos as três muito animadas em ouvir o
que os possíveis compradores dos imóveis tinham a dizer a respeito do nosso trabalho.

— Estou muito nervosa. E se as pessoas não gostarem do meu trabalho e criticarem as


minhas escolhas estéticas para o espaço interno dos apartamentos?

Eu estava usando um par de óculos de sol e fiz questão de retirá-los antes de responder
com sinceridade à loira inexperiente ao nosso lado, adentrando o hall do showroom:

— As críticas fazem parte do nosso trabalho, Bárbara. Aprenda a escutar o que há de


construtivo nelas e deixe todo o resto sair pelo outro ouvido.

Até onde pudemos acompanhar de perto, não houve críticas ao estilo arquitetônico ou
ao design interior dos imóveis e a maioria dos clientes parecia bastante encantada com
tudo que podiam ver enquanto eram conduzidos pelos cômodos pelos melhores
corretores que as três unidades da Sol Nascente tinham à disposição em São Paulo.

Duas das funcionárias que trabalhavam diretamente com Danilo na sede da Vila
Mariana eram extremamente profissionais, além de simpáticas, e não havia quem não se
sentisse totalmente à vontade no espaço dos apartamentos enquanto elas apresentavam
os detalhes de cada ambiente. Depois de algum tempo, eu e Nana fomos cumprimentar
pessoalmente Edna Ferreti e Érica Falcão, as corretoras, por seu trabalho incrível e a
minha amiga admitiu:

— Quando for escolher o lugar onde vou morar com o meu futuro marido, quero que
uma de vocês me apresentem as opções. Adorei a maneira como vendem um imóvel que
vale milhões de reais como se fossem bananas na feira!

Estávamos cochichando para que as outras pessoas não nos ouvissem, mas as nossas
gargalhadas ecoaram pelo salão.

— O segredo é justamente esse — disse Edna, uma quarentona que ostentava lindos
olhos cor-de-mel no rosto —, tratar todos esses ricaços como se o que eles têm dentro
da carteira não passasse de trocados sem muito valor. Assim eles gastam tudo sem
qualquer remorso!
Entre todas elas, eu era com certeza a mais rica da roda pela herança que meu pai havia
deixado após a sua morte, mas até eu consegui achar graça no comentário de Edna. Era
exatamente daquela maneira que éramos induzidos a gastar os nosso milhões.

A certa altura do evento imobiliário, eu e minhas colegas estávamos satisfeitas com o


resultado do nosso trabalho e já planejávamos sair para comemorar o sucesso do
empreendimento quando alguém muito familiar me abordou na saída do salão onde a
exposição havia sido montada. Um moço alto de porte elegante se aproximava de nós
três e estava acompanhado de um outro colega de cabelos claros e olhos azuis. Ele me
deu uma piscada, depois, estendeu a sua mão em minha direção com um sorriso na cara.

— Carla Castilho… se lembra de mim?

O rapaz educado com uma sombra de barba no rosto simétrico e cabelos molhados
penteados para trás era Rodrigo Monterey, o herdeiro de uma das principais
concorrentes de ramo da Suares & Castilho.

— Rodrigo! Como poderia me esquecer?

Nós nos cumprimentamos com beijos no rosto além do aperto de mão e, em seguida, eu
o apresentei à Nana e à Bárbara, que pareceram levemente empolgadas na presença do
moço bonito e de seu amigo charmoso. O de olhos azuis acompanhava tudo de maneira
observadora e, pouco depois, Rodrigo nos apresentou a ele.

— Esse é o Raphael Volfgang, um amigo da família de longa data, advogado e filho do


diretor jurídico da construtora do meu pai.

O rapaz era alguns centímetros menor que Rodrigo, tinha ombros largos, braços finos e
era extremamente perfumado. Por um momento, tentei reconhecer aquela fragrância
adocicada que exalava do seu corpo e quase ignorei o que ele disse em seguida.

— Vocês são representantes da agência de arquitetura que assina o projeto que


acabamos de ver, certo? — E ele apontou em direção ao salão, a uns cinco metros atrás
de nós. — Quero aproveitar para parabenizá-las pelo trabalho excelente. Foi tudo
projetado com um requinte e um bom gosto extremo. Fiquei bastante interessado pelos
imóveis planejados e quero trazer a minha noiva aqui em breve para conhecer melhor o
empreendimento quando ele estiver pronto. Pretendo me casar dentro de um ano e
comprar um apartamento assinado por uma equipe que entende tanto de design de
interiores seria um ótimo investimento a longo prazo!

A palavra “noiva” jogava um balde de água fria no assanhamento de Nana, a minha


amiga solteira de cabelos castanhos que chegou a abanar o rabo em direção ao advogado
após cumprimentá-lo. Profissionalmente, no entanto, foi Bárbara quem ficou bastante
envaidecida pelo comentário dele.

— A Bárbara é a nova designer da nossa agência — Aproveitei o ensejo para


mencionar. —, você pode dar os parabéns pelo refino do projeto diretamente a ela.
Ele estendeu novamente a mão direita em direção à loira que, sorridente, aceitou os
cumprimentos dados por ele.

— Nós estávamos saindo daqui para comemorar o sucesso do showroom, meninos —


comentei despretensiosamente, pouco antes de nos despedirmos dos dois. —, não
querem nos acompanhar num chopinho?

Rodrigo encarou Raphael por um instante e os dois pareceram se decidir em consenso


que não haveria mal algum em nos acompanhar naquela social. A casa dos pais do
jovem Monterey ficava naquela região dos Jardins e, como conhecia o bairro como a
palma da mão, foi ele quem indicou um bar bastante aconchegante onde nos reunimos
os cinco para algumas horas de bate-papo muito animado e que serviram para nos tirar,
por algum tempo, da nossa normalidade profissional rígida. Durante aquela reunião, a
rivalidade entre os Castilho e os Monterrey parou de nos importar e passamos a ser
apenas bons amigos de profissão.
Capítulo 15 – Carla (PARTE 3)

UMA SEMANA DEPOIS daquele encontro casual com Rodrigo, o jovem Monterey
apareceu repentinamente no andar que ocupávamos do prédio vizinho à sede da
construtora que ele ajudava a administrar e foi realmente surpreendente vê-lo fazer uma
visita ao estúdio que trabalhava quase que diretamente com a grande concorrente da sua
família no mundo dos negócios. Quando saí da minha sala para recebê-lo aquele dia,
após dar um tapa rápido no visual para não parecer desleixada, ele estava de papo com a
minha secretária e foi então que descobri que os dois já se conheciam há muito tempo.

— Eu conheço a Nádia desde a época do colégio — dizia ele à Bárbara e à Nana que o
cercavam em torno da escrivaninha da minha secretária, na antessala. —, ela era amiga
da namorada de um dos meus colegas de sala e a gente saiu algumas vezes para se
divertir.

A moça de cabelos castanhos atrás da mesa sacudiu a cabeça para cima e para baixo,
assentindo àquela informação. Nádia trabalhava comigo há algum tempo e eu não fazia
ideia que ela era de frequentar as mesmas rodas sociais que caras como Rodrigo
Monterey. Achei aquela informação tão inesperada quanto curiosa.

— Eu e a Gina somos amigas até hoje — explicou a moça. —, ela está estudando
Direito e nós ainda nos falamos por mensagem com bastante regularidade.

Os dois ficavam se encarando sorridentes, claramente com lembranças boas dos tempos
de colégio. Por algum motivo, eu estava enciumada com aquele entrosamento todo entre
eles e, então, veio a confirmação de um dos meus temores.

— Eu encontrei o seu irmão Gilson algumas vezes depois da formatura no colégio,


Nádia — mencionou Rodrigo. —, eu soube que ele se tornou professor de judô, é isso
mesmo?

Um novo aceno positivo e a confirmação dela.

— Ele dá aula numa academia perto de casa e já veio aqui me visitar algumas vezes. A
Carla, a Duda e a Nana conheceram o Gil pessoalmente.

Conheço bem até demais aquele canalha gostoso! pensei, sem poder verbalizar o que
estava óbvio em minha expressão. Antes que alguém percebesse o meu desconforto em
falar de Gilson, cortei logo o assunto.

— Que surpresa vê-lo novamente em tão pouco tempo, Rodrigo.

Ele me cumprimentou com um beijinho no rosto e o seu perfume atingiu em cheio o


meu olfato. Era um Bleu de Chanel, inconfundível.

— Prometi que viria visitar a sua agência um dia e resolvi aparecer hoje. Estou
incomodando?
Bárbara e Nana disseram em uníssono um “não” prolongado e as duas não paravam de
sorrir para o nosso visitante que, rapidamente, passou a se sentir extremamente à
vontade em nosso escritório.

Depois de mostrar a ele todo o nosso ambiente de trabalho, nós nos reunimos em minha
sala para falarmos um pouco sobre um dos projetos de arquitetura que estávamos
realizando para uma concessionária chamada Diamond Motors e que abriria uma filial
no Espírito Santo em breve. Tínhamos falado sobre o assunto muito por alto durante o
nosso animado encontro há uma semana e ele tinha ficado particularmente interessado,
uma vez que possuía conhecidos na cidade de Vitória que poderiam intermediar o nosso
acesso à cidade.

— Eu me tornei sócio do diretor executivo de uma agência de viagens que tem uma
filial em Vitória e eu conheço a filha do gerente dessa unidade capixaba10. Se vocês
quiserem, eu consigo fazer uma ponte entre a A3 e as empreiteiras que farão a obra
dessa concessionária por intermédio desse pessoal. Tenho certeza que seria bem fácil
conseguir isso, na verdade.

Já tínhamos tudo esquematizado sobre aquele projeto e o nosso contato com a


empreiteira — que era afiliada a Ao Cubo — era bem solidificado, mas eu gostei de
fingir que precisávamos de Rodrigo para nos ajudar a enfrentar todos os perigos que nós
“pobres donzelas perdidas no mundo dos negócios” não éramos capazes de enfrentar
sozinhas. Como todo homem, ele devia achar que não podíamos nos virar sem o auxílio
de alguém dotado de um pênis, mas não queria ser grosseira jogando aquela verdade em
sua cara. O herdeiro dos Monterey estava só querendo ser fofo e eu estava interessada
em saber porquê.

— É muito bom saber que podemos contar com o apoio de alguém tão influente quanto
você — disse, de trás da minha mesa. —, mas não quero que a sua aproximação da
nossa agência acabe criando algum desconforto com a diretoria da Monterey. O seu pai
pode acabar não gostando muito de saber que você tem se aliado a uma das
concorrentes da construtora dele.

Nana e Bárbara se entreolharam, sentindo que a minha frase tinha assumido uma
conotação um pouco incisiva demais, porém, Rodrigo levou na esportiva.

— As minhas relações fora da construtora não são da conta do meu pai ou de nenhum
dos demais acionistas da Monterey, Carla. Eu a considero uma amiga e estou aqui
oferecendo o meu auxílio como a pessoa Rodrigo e não como o empresário Rodrigo. Eu
não confundo as duas coisas.

Deu para sentir que ele estava sendo sincero e eu decidi me desarmar um pouco. Logo
depois, voltamos a falar do tal negócio com a empreiteira capixaba e a construção do
prédio da concessionária Diamond e, como administrador, ele até nos deu uma ou outra

10
Rodrigo Monterey está se referindo nesse trecho a Ralph Vecchio, o diretor da Vecchio Tour e de
Nicole Rodrigues, a menina que ele descobriu em Desejos 34 – Prazer, Nicole! se tratar da filha de Lúcio
Rodrigues, o gerente da Vecchio Tour do Espírito Santo.
dica que aceitamos de boa-fé. Acima de tudo, Rodrigo parecia ser um rapaz de muito
boa índole e aquilo me encantava… mais até do que devia.

Algum tempo depois da visita do herdeiro Monterey, foi impossível conter os


comentários particulares das garotas a respeito do rapaz e, diante da Nádia que o
conhecia melhor que nós, fomos obrigadas a desabafar.

— Acho ele um gostoso! — Foi o comentário de Bárbara que raramente se dava ao luxo
de fazer fofocas ou despir-se do personagem da loira chata e amarga. A garota estava se
abanando com um catálogo de papel de parede que anteriormente estava encimando a
mesinha de centro da antessala e havia um meio-sorriso de malícia em seu rosto pálido.

— Muito tesudo! Viram aquela bundinha naquela calça social apertada? — Nana nem
conseguia disfarçar a excitação e teve que se sentar de pernas cruzadas no sofá, ao lado
de nossa designer, para aproveitar o vento que ela estava produzindo sacudindo o
catálogo junto ao próprio rosto.

— Vocês não prestam!

Rimos após o meu comentário e todas as atenções se voltaram para Nádia em sua mesa
que, naquele momento, continha um sorriso já indisfarçável no rosto.

— Deu pra ver pela cara dos dois que já rolou alguma coisa entre vocês… — Acusou-a
Nana, direta. — Ficaram de sorrisinhos enquanto ele falava que já te conhecia de outros
carnavais… pode confessar, dona Nádia Lins. Você já pegou o herdeiro dos Monterey,
não é?

A moça parou de se conter e riu até corar, levando um tempo para admitir:

— Eu visitei a casa de praia da família dele no litoral uma vez com a minha amiga Gina.
Na época, ela namorava o César que era um dos melhores amigos do Digo…

Eu e Nana nos entreolhamos e foi impossível não a interromper de maneira jocosa:

— Olha só a intimidade… “Digo”! É assim que você o chama na intimidade? “Digo


Monterey”?

Nádia teve que conter novamente a sua risada antes de continuar, tímida.

— Nós fazíamos parte do mesmo grupo de amigos na época… tínhamos alguma


intimidade para nos tratar por apelidos…

Nana estava curiosa e foi direta:

— Eu quero saber se você deu pra ele ou não. Para de enrolar!

Um novo riso e a confissão:

— Eu não, mas a minha amiga deu… rolavam várias festinhas sexuais nesses encontros
na casa de praia da família dele e, digamos, que eu tenha visto o senhor Monterey
peladinho mais de uma vez…
Nádia ficou enrubescida ao dizer aquilo e, depois daquela confissão, nós passamos o
resto da noite querendo saber mais detalhes sobre as tais festas animadas no litoral e, em
especial, sobre os dotes físicos de Rodrigo. Eu ainda não sabia, mas eu estava ficando
mais interessada naquele rapaz do que devia. Quando pensei no assunto, me senti
envergonhada.
Capítulo 16 – Carla (PARTE 4)

QUINZE DIAS DEPOIS da visita de Rodrigo à A3, a Bárbara saiu em viagem para
acompanhar de perto a construção onde a concessionária Diamond Motors iria instalar a
sua nova unidade em Vitória, no Espírito Santo, e ela foi acompanhada do namorado
Luiz que era engenheiro e que havia sido contratado pela empreiteira local para ser o
responsável por toda a instalação elétrica do prédio. Ficaríamos por mais de um mês
sem a presença física da nossa designer mal-humorada em nossa agência e, para que
não atrasássemos a entrega de nenhum dos nossos outros projetos em andamento, nos
reuníamos com a loira duas vezes por semana via videoconferência.

Naquele período, eu, Nana e Duda nos redobramos para dar conta de todo o trabalho
acumulado e passamos a chegar cada vez mais cedo e a sair cada vez mais tarde da
agência. Não era raro que eu chegasse em casa e já encontrasse Roque dormindo em
nossa cama, além disso, eu quase não estava tendo tempo para ver a minha filha que
andava cada vez mais distante de mim por conta da minha ausência.

Conforme eu me afundava em meu trabalho, a carência afetiva voltou a me afetar de


maneira pungente e comecei a procurar por uma válvula de escape que viesse a aplacar
aquele sentimento de abandono que ameaçava me engolfar o tempo todo. Da última vez
que aquilo havia acontecido, eu havia encontrado Gilson para me acompanhar nas
noites de solidão e, como o judoca não era mais uma opção, reverti toda a minha energia
para alguém que estava mais perto desta vez. Exatamente na esquina ao lado do meu
trabalho.

Depois da sua visita à A3, nós dois tínhamos trocado contatos e usei daquilo para
convidar Rodrigo para tomar um drinque comigo num fim de expediente estressante
daqueles. Assim como eu, ele também andava estendendo o seu tempo dentro da
empresa mais do que o normal e era quase nove da noite quando nos encontramos no
mesmo bistrô que eu havia conversado com a minha cunhada Solange há alguns meses,
ali mesmo na Vila Mariana.

— Dia difícil? — indaguei a ele, o vendo com o colarinho da camisa aberto e o olhar de
cansaço no rosto mal barbeado. O bistrô estava relativamente bem frequentado aquela
noite e a maioria das mesas ao nosso redor estavam ocupadas.

— Um pouco — respondeu forçando um sorriso —, estamos enfrentando alguns


problemas de segurança na construtora nos últimos meses e isso tem me dado certa dor
de cabeça.

Ele parecia precisar de algo forte para relaxar um pouco e pediu um copo de uísque para
me acompanhar com meu Dry Martini. Enquanto nosso pedido não chegava, apoiei o
meu cotovelo na mesa e o fiquei encarando, tentando decifrar o que ele estava pensando
naquele exato momento a meu respeito.

Esse garoto tem me rodeado bastante nas últimas semanas, mas eu sei que ele tem uma
namorada muito linda, que é herdeiro da maior concorrente da empresa da minha
família e que costumava promover orgias com os amigos de escola… o que será que ele
pensa sobre mim? Será que aquela história de “somos amigos” é sincera e que todo o
resto é invenção da minha cabeça? Será que eu estou tão carente a ponto de projetar
uma história que não existe só para me manter ocupada?

Tudo aquilo se passou em minha cabeça no meio segundo que ele demorou para me
elogiar, ali sentado de frente para mim à mesa.

— Eu estou aqui com uma aparência péssima de quem não dorme direito há algumas
semanas, mas você continua impecável e linda como sempre. Nem parece que está
fazendo hora-extra na própria empresa que comanda!

Rimos em uníssono e desviei o olhar um instante, fingindo leve timidez.

— Não sabia que você me achava linda.

Eu não tinha como negar. Era delicioso ouvir de um homem tão jovem e tão gato que eu
era uma mulher linda. Eu tinha ficado envaidecida e queria ouvi-lo dizer mais vezes.

— E tem como não achar?

Eu estava usando uma blusa com decote discreto e, por um momento, me xinguei
mentalmente por não ter ousado mais para aquele encontro. Eu o queria me secando de
cima a baixo naquele momento, tentando adivinhar o que se escondia sob a minha
roupa, mas ele não tinha muito o que espiar por minha escolha errada de figurino.
Burra!

— Você deve conhecer pelo menos uma dúzia de menininhas mais bonitas e mais
atraentes que eu por aí. Sei que só está sendo educado.

Nádia, a tal de Gina, a namorada fotógrafa, a filha da minha amiga Claudia… até a
minha própria filha… ele vivia rodeado de garotas jovens de pele fresca e eu não me via
como uma opção. De repente, me senti mais deprimida ainda e aquilo pareceu ter
transparecido ao rapaz, que se prontificou a dizer:

— Há um certo charme na maturidade que nenhuma “menininha”, como você diz,


jamais vai conseguir emular, Carla. Não tem porque ficarmos comparando esse tipo de
coisa.

— “Maturidade”… — E eu fiz uma careta ao repetir aquilo. — Estou me sentindo uma


idosa agora!

Ele segurou a minha mão sobre a mesa e foi direto, me olhando nos olhos:

— Eu já te disse. Eu acho você uma das mulheres mais lindas que já conheci e não há
nada de errado em você ser mais madura. Eu é que sou um pirralho perto de você!

Naquele momento, senti pela primeira vez um clima diferente entre nós dois e as
minhas dúvidas com relação às intenções de Rodrigo pareceram se desvanecer feito
serração ante o brilho do sol. O garçom nos interrompeu trazendo as nossas bebidas e,
depois disso, nos recompomos e aproveitamos o ensejo para falar sobre relacionamentos
até altas horas da noite. Fazia uma temperatura agradável do lado de fora e as pessoas
na calçada andavam de bermuda, short e outras roupas mais confortáveis em seu passeio
noturno. Era um dia perfeito.

Algum tempo depois, na saída do bistrô, Rodrigo informou que havia chegado de carro,
mas que preferia não dirigir de volta para casa porque tínhamos os dois bebido um
pouco além da conta, empolgados com a nossa conversa. Chamei um veículo pelo
aplicativo para me conduzir dali até o bairro da Saúde, já que também estava sem
condições de dirigir e ele me acompanhou até o ponto de encontro com o motorista.
Aguardamos por dez minutos e na hora da despedida, sem que soubéssemos de quem
havia sido a iniciativa, nós nos beijamos rapidamente em vez de um aperto de mão ou
um abraço e foi aquele tipo de beijo que me acendeu todo o corpo instantaneamente.

Voltei para casa feito uma adolescente apaixonada e, no caminho, não me segurei em
lhe mandar uma mensagem de texto dizendo que havia adorado o encontro e que já
estava ansiosa para repeti-lo em outra noite. Já era madrugada quando o meu celular
notificou da cabeceira que tinha chegado mensagem e, enquanto Roque ressonava ao
meu lado na cama, li a mensagem de Rodrigo.

“Também adorei a sua companhia. Que tal mais um drinque amanhã?”.

Eu tinha adorado a ideia.


Capítulo 17 – Carla (PARTE 5)

AQUELE DIA PASSOU caprichosamente lento por conta da minha ansiedade em rever
Rodrigo e podia jurar que o expediente nunca tinha sido tão longo em tantos anos de
trabalho na agência. Era como se tivéssemos que resolver cada um dos pormenores
envolvendo os nossos projetos em andamento ao mesmo tempo e só naquele dia, eu,
Nana e Duda arranjamos uma solução para um problema técnico da concessionária
capixaba, contratamos uma equipe para ajudar o namorado engenheiro de Bárbara em
Vitória, entramos em videoconferência com Pedro Augusto que estava em Londres,
conversamos por telefone com o dono da Diamond Motors — em inglês — reforçando
os valores de nosso budget e conseguimos estender o prazo de entrega do seu projeto.

Eu estava exausta ao cair da noite, mas tratei de reforçar a maquiagem. Acertei no


figurino daquela vez e sai pela porta recebendo elogios das minhas sócias que, curiosas,
estavam em cólicas para saber a razão da minha produção.

— Nada especial, meninas. É só um drinque com um amigo.

Elas riram e ouvi as suas zombarias até o elevador. Nos conhecíamos há muito tempo
para que eu ainda conseguisse esconder algo das duas, mas daquela vez, eu não queria
que ninguém soubesse o que eu estava prestes a aprontar.

Aquela noite combinamos que eu dirigiria e Rodrigo pegou uma carona em meu SUV
Tiguan na saída da Construtora Monterey. Já ao nos cumprimentarmos dentro do carro,
não houve qualquer cerimônia em tocarmos nossos lábios. Por um instante, parecíamos
recém-namorados empolgados em nos reencontrar. Ele estava usando uma camisa social
cor-chumbo aberta até a segunda casa sobre o peito e o seu Bleu de Chanel chegou a me
excitar recendendo o ambiente fechado. Ele estava sorridente no banco do passageiro e
percebi que me olhou de cima a baixo logo que dei a partida.

— Toda essa produção só para tomar um drinque comigo?

Dirigi com cautela dando a volta por uma rotatória na quadra em frente ao prédio
espelhado da Monterey. Pisei mais fundo no acelerador atenta aos outros carros que
saíam da mesma direção e abri um sorriso largo, confessando:

— Quando a companhia merece, vale a pena me produzir um pouquinho mais.

Estávamos flertando agora um com o outro descaradamente e eu quase podia sentir os


seus olhos mirando o meu decote pelo vestido de alças finas e a sua atenção focada em
minhas coxas pelo cumprimento do vestido fino que eu usava. Tinha sido traída por
Gilson, ele tinha preferido comer uma vaquinha com quase metade da sua idade do que
ter uma mulher como eu em sua cama todos os dias, mas uma coisa aquele cretino tinha
feito de bom: ele havia reacendido a minha autoestima. Naquele momento, enquanto
Rodrigo me comia com os olhos, eu estava me sentindo a mulher mais gostosa do
universo.
— Quer escolher o bistrô desta vez?

O meu celular estava no painel aguardando que ele me indicasse a rota que queria que
eu seguisse e, educadamente, ele sugeriu um bar musical que ficava no Itaim Bibi e da
qual ele tinha ouvido falar muito bem. No trajeto até lá, deixamos de lado assuntos
sobre trabalho e família e nos reservamos a conversar apenas sobre amenidades. Ele me
falou sobre a sua comida preferida, eu contei a ele sobre o meu medo de altura. Ele me
falou sobre uma viagem inesquecível, eu lhe falei sobre a primeira vez que chorei vendo
um filme no cinema… Quanto mais eu o conhecia, mesmo que superficialmente, mais
eu me sentia eufórica, mais desejava compreendê-lo por inteiro.

O bar sugerido por Rodrigo estava bem cheio aquela noite. Era uma sexta-feira e boa
parte das pessoas estavam querendo fazer a mesma coisa que nós: relaxar, beber e ouvir
boa música. Foi por um breve instante que nos encaramos com o meu Volkswagen
estacionado do outro lado da calçada do bar. Naquele momento, tínhamos tomado a
decisão juntos e sem precisar dizer nada um ao outro. O meu coração estava disparado
dento do peito e a expressão no rosto dele dizia que também estava apreensivo.

Eu sou casada, tenho uma filha… ele tem uma namorada jovem… meu Deus! O que
estamos prestes a fazer?

Eu dirigi com a perna bamba até o flat onde costumava me encontrar às escondidas com
Gilson e subimos meio nervosos a distância que nos separava do térreo até o andar do
apartamento. O cartão magnético demorou a reconhecer na maçaneta e os meus dedos
tremiam. Entramos, eu acendi as luzes, ele me olhou mais uma vez com os olhos
brilhando e eu pulei em seu colo.

— Foda-se! Vem cá, vem! Me beija. ME BEIJA!

Aquelas mãos firmes não esperaram nada para arranjarem espaço em minha bunda e ele
me segurou com bastante vontade. Indiquei a direção do quarto e ele me carregou até lá
comigo enganchada de frente ao seu quadril sem parar de me beijar. A sua língua
dançava deliciosamente com a minha e eu estava tão sedenta que cheguei a salivar.
Trombamos com um abajur que se espatifou no chão, ele bateu com as costas na
madeira de lei da porta e ao se descalçar, um dos seus sapatos voou sobre a cama onde
ele me deitou pouco depois. Com pressa, Rodrigo arrancou a sua camisa e eu quase não
consegui me segurar em ir até aquele peito coberto por pelos finos e castanhos para
começar a passar a minha língua.

— Gostoso como eu imaginava. Oh, meu Deus!

Com cuidado, desci o zíper da sua calça e com os meus dedos, senti a fera enjaulada já
pronta para sair para fora. Era grande e grosso como Nádia havia propagandeado há
alguns dias em nosso escritório. Eu já estava com inveja dela e de todas as garotas que o
haviam experimentado antes de mim, mas tinha chegado a minha vez.

— Oh, senhor! Como é grande! Que delícia!


Botei na boca antes que ele sequer me autorizasse, certa que o moço não se importaria
nem um pouco de ser tomado daquela maneira tão afoita. Eu ainda estava sedenta, mas
também estava começando a ficar faminta. Chupei uma, duas vezes, depois o encarei
nos olhos. Estavam vidrados nos meus. Ele começou a gemer.

— Uau, Carla… você… é boa!

Puxei a sua calça com mais força e a deixei escorregar pelas suas pernas torneadas. Ele
era inteiro depilado do quadril para baixo e engolir o monstro que tinha entre as pernas
foi tarefa tão dura quanto prazerosa. Era mesmo muito grande e eu não conseguia dar
conta de tudo.

— Tão grosso… Hum! Tão duro!

Ele não resistiu em me agarrar pelos cabelos e, no instante seguinte, estava empurrando
o meu rosto em direção ao seu pau. Agarrei-o firmemente com meus dedos e dei o
máximo de mim para engoli-lo todo. Era uma tarefa quase impossível. O compensei
dando chupadas mais fortes e lambidas em torno da glande, deixando-o maluco.

— Cacete! Você é MUITO BOA!

Depois de amaciá-lo, o gostoso se despiu por completo e não demorou nada a avançar
em meu vestido para tirá-lo de cima do meu corpo. Por mim, ele o podia fazê-lo em
pedaços, mas Rodrigo era gentil e me virou de bruços para me despir devagar. Estava
um pouco envergonhada por aquela ser a primeira vez que ele me veria nua, mas não
demonstrei insegurança. O quarto estava muito bem iluminado e ele seria capaz de me
ver como eu era aos trinta e poucos anos: gostosa, mas imperfeita.

— Isso que eu chamo de bunda!

Eu estava com uma calcinha fio-dental por baixo e a primeira coisa que ele fez ao
descer o meu vestido foi alisar a minha bunda, depois, passou a cobri-la de beijos
molhados. Desde que começara o meu relacionamento com um atleta que praticamente
cultuava o próprio corpo, eu tinha voltado a malhar também e tinha perdido vários dos
quilos que se aglomeravam em minha silhueta desde que perdera a minha autoestima, na
época em que estava sendo trocada por meninas sem nenhuma celulite, estrias ou
marcas na pele. Rodrigo parecia ter aprovado o meu corpo e não se importava com os
meus defeitos.

— Gostou? Ela é toda sua. Pode abusar!

Sem demonstrar que tinha ficado intimidado pela voracidade com que o tinha atacado,
Rodrigo soube dar conta perfeitamente do recado e o seu sexo oral foi tão caprichado
que eu cheguei a sentir meu corpo flutuar sobre aquela cama. Ele alternava muito bem
entre lambidas nos lábios internos e em meu clitóris, sem falar que os sons de chupada
que emitia me deixavam ainda mais excitada, louca para que ele não tirasse mais a cara
do meio da minha vagina.

— Não para, por favor… continua! CONTINUA!


Depois de me castigar por quase uma hora com a sua língua, o garoto quis, enfim, me
presentear com aquela maravilha ereta que ele manteve daquele jeito todo o tempo em
que havíamos decidido transar. Ele tinha conseguido me deixar encharcada lá embaixo e
mesmo desacostumada e sem prática nas últimas semanas, minha vagina se abriu toda
para recebê-lo. Foi extremamente gostoso foder com o jovem Monterey.

— Caralho, menino… como você é… gostoso! Nossa!

Me dando trancos fortes, me comendo de frente, Rodrigo me proporcionou na primeira


meia-hora uma das melhores transas de toda a minha vida e eu estava realmente
impressionada de o quanto ele sabia usar bem aquela coisa entre as pernas. Roque e
Gilson eram tão bem-dotados quanto aquele rapaz, mas a maneira como ele usava seu
instrumento era diferente e foi aquilo que me cativou.

— Você é tão molhada, tão quente… tão gostosa…

Enquanto arfava e começava a suar sobre mim, mantendo as minhas pernas bem abertas
sobre a cama, o herdeiro dos Monterey não parava nem para tomar fôlego e me brocou
feito um animal faminto, cavando a minha vagina da maneira como eu mais queria.

— Não para… assim… isso é muito bom… assim!

Pouco depois, ele me deixou de quatro sobre o colchão macio da cama de casal que eu
havia escolhido para as minhas noites de sexo com o Gilson, mas os meus pensamentos
estavam totalmente focados no moço me pegando por trás naquela hora. Não havia
Roque, não havia Gilson… apenas Rodrigo, o dono da minha buceta.

— Isso, safado! Me fode… assim… Oh, Deus! Como isso é bom!

Apertando a minha bunda, o menino socou fundo dentro de mim e é difícil descrever o
que senti naquele momento. Com o rosto colado no lençol de seda amarfanhado, com o
rabo muito empinado, a vagina ensopada e sentindo os músculos das pernas trêmulos,
eu estava sendo realizada sexualmente e só conseguia sentir prazer. Eu estava em êxtase
e se havia mesmo um Nirvana, como os budistas acreditavam, eu o havia alcançado em
cima daquela cama.

— Não para de me foder, por favor. NÃO PARA!

E ele não parou mesmo.


Capítulo 18 – Rachel

EU MAL TINHA ENTRADO NO ENSINO MÉDIO, mas o meu pai já estava firme em
sua intenção de me enfiar nos negócios da família e me fazer de exemplo para os seus
outros filhos que haviam preferido não se tornarem engenheiros civis como ele.

Os Vecchio descendiam de italianos exploradores de petróleo na América do Sul e a


família estava acostumada desde sempre a ter muito dinheiro. O meu avô Roman tinha
sido, como o papai me dizia, um “magnata do petróleo” dos anos setenta e havia
deixado uma herança milionária para ele e os meus dois tios, Paulo e Cláudio. Entre os
bens herdados por meu pai Júlio depois da morte do vovô, estava uma ilha no litoral
norte de São Paulo que eu cheguei a conhecer graças ao meu irmão mais velho, o
Ralph11.

— Quero que estude as plantas do projeto que o papai está trabalhando e tente criar um
modelo 3D com aquele software que tem instalado em meu computador no escritório,
Rachel.

O meu pai fazia parte da equipe de engenharia que estava desenvolvendo um novo
parque temático gringo que seria construído nos próximos anos em Santa Catarina e, de
vez em quando, me deixava “brincar” de engenheira com os planos técnicos que recebia
em seu trabalho, me fazendo modelar construções em seu computador. Ele encarava
aqueles exercícios como uma maneira de fazer com que eu me acostumasse ao mundo
em que ele vivia quase que 100% do seu tempo, mas eu não levava muito a sério.

— Ai, papai! É muito difícil! Tem todos esses cálculos… eu não consigo!

Mesmo com a ajuda do software 3D que ele costumava usar em suas obras, eu tinha
imensa dificuldade em construir as coisas perfeitamente como ele desejava e eu sempre
ficava parecendo uma tonta diante da tela de vinte e cinco polegadas do seu iMac. De
três a quatro vezes por semana, nós nos trancávamos dentro do escritório que o papai
mantinha em nosso apartamento no centro de Campeche e tentava me introduzir à força
os seus próprios conhecimentos de matemática e física que eram a base primordial da
engenharia.

— Não adianta choramingar, Rachel. Senta, presta a atenção nos projetos, executa os
cálculos e começa a trabalhar. Eu já te ensinei a mexer com o AutoCAD, você só precisa
se concentrar na modelagem dos objetos. Deixe de preguiça!

Papai estava bastante frustrado porque tanto Ralph quanto Rarissa, os filhos que ele
havia tido antes de se casar com a minha mãe, não queriam seguir a sua carreira
profissional. O Ralph era agora dono de uma agência de viagens em São Paulo e para a
ira do senhor Júlio ser completa, a Rari também tinha começado a estudar Turismo na
faculdade. Aos seus olhos, eu como a filha caçula, era a única que ainda podia lhe dar a
alegria de ser a primeira dos seus herdeiros a segui-lo no ramo da engenharia, mas
11
A Ilha Itajubá, tão bem conhecida em Desejos 28 – Sex Point e Desejos 33 – O Último Sex Point, onde
Rachel, enfim, visitou o lugar
aquela forçada de barra comigo sendo obrigada a estudar os trabalhos dele toda semana
estava me deixando muito infeliz. Eu tinha outros sonhos e eles nada tinham a ver com
matemática.

Naquela semana, iria acontecer o Circuito Nacional de Surfe nas praias da Costeira do
Pirajubaé, Baía Sul de Santa Catarina, e simplesmente os maiores nomes do esporte
aquático estariam desembarcando em nosso estado nos próximos dias. Literalmente no
quintal da casa de praia dos Vecchio. Papai tinha uma casa de dois andares em um
espaço amplo de muitos metros quadrados à beira da praia da Costeira e saber do
torneio de surfe me deixou incrivelmente eufórica.

— Nós precisamos estar na praia no próximo fim de semana, papai, por favor!

Estávamos jantando em torno da mesa aquele horário e eu fiz questão de ser bastante
barulhenta para que o meu pai soubesse que eu queria muito estar respirando o mesmo
ar que os melhores surfistas brasileiros das últimas décadas. Ele odiava aquela minha
predileção pelo esporte. Dizia que o surfe tirava o meu foco nos estudos e que me
deixava preguiçosa para outras coisas, o que não era nem de longe uma verdade.

— Por que essa urgência, Rachel? O que vai ter de bom na praia no final de semana?

Papai me olhou da cabeceira com o seu rosto sério, sem esboçar qualquer sentimento.
Sentada do outro lado da mesa a degustar a sua rúcula sem sabor de frente para mim, a
minha mãe já sabia sobre o que eu estava falando antes mesmo de eu dizer.

— Vai acontecer um torneio de surfe. Simplesmente os maiores surfistas do país vão


disputar na praia da Costeira e eu preciso muito assistir de perto, entendesse?

A simples menção a surfe o deixou desgostoso. Após um resmungo, ele já veio logo
com negativa.

— Preciso viajar na sexta até Joinville para cuidar de alguns projetos para a Onyx, filha.
Não sei se volto de lá a tempo no sábado para nos levar até a Costeira.

Para ele, os compromissos com a empresa onde trabalhava sempre estavam em primeiro
lugar e até mesmo a sua família ficava em segundo plano. Eu tive que apelar para
chantagem emocional.

— É sempre trabalho, sempre estudo… eu nunca tenho tempo para me divertir. Só me


estrova12!

Minha mãe me repreendeu com apenar um olhar segurando os talheres de maneira


elegante, com a postura ereta, mas ficou ao meu favor.

— Você não pode antecipar ou adiar essa viagem a Joinville, Júlio?

Ele sacudiu a cabeça após limpar os lábios com um guardanapo que largou de lado.
Minha mãe sabia o quanto o surfe era importante em minha vida, o quanto o esporte

12
Expressão catarinense que quer dizer “empecilho”, algo que “atrapalha”, “incomoda”.
estava ajudando a eu desenvolver o meu físico de adolescente e como eu era fascinada
pelos atletas que disputavam torneios internacionais pelo mundo.

— É um calhau de projeto que eu, como engenheiro-chefe, preciso supervisionar de


perto. Não posso antecipar e nem adiar uma obrigação como essa.

O choro já estava subindo pela minha garganta. Perder aquele campeonato sendo ele
realizado praticamente no quintal de casa seria um desastre para mim.

— Por favor, pai!

Meus olhos já marejavam e, ante a passividade de meu pai, outra vez a minha mãe
entrou em ação.

— Então leve o Camaro para a viagem a Joiville e deixe o Tucson disponível. Eu


mesmo levo a Rachel até a praia, já que você estará ocupado esse sinal de semana.

Levantei na mesma hora e dei a volta na mesa para cobrir a dona Rosália de beijos,
contente. Era muito raro que ela tomasse qualquer decisão que desagradasse o meu pai,
mas ela tinha sido firme daquela vez, o que o deixou com cara azeda.

— Não acho uma boa ideia… você não vai saber lidar com o caseiro e a casa nem deve
estar em condições de receber ninguém…

Eu ainda estava abraçada à minha mãe por trás da cadeira e quase nem estava ouvindo o
meu pai e seu “mimimi”. Ela fez um carinho em meu braço e, então, o respondeu:

— Eu sei lidar muito bem com o Moacir. Eu sou a sua patroa e ele tem que me
obedecer. Quanto à organização da casa, eu ligo amanhã cedo e peço para que deem
uma geral por lá antes da nossa chegada. Serão só dois dias, a maresia não vai nos matar
em tão pouco tempo.

Seu Júlio ainda estava pensando em argumentos bons o suficiente para rebater mamãe,
mas nós duas tínhamos ganhado aquele round dele.

— Eu posso chamar a Anabela para ir com a gente, mãe?

Ela fez um aceno com a cabeça depois de me encarar e eu lhe dei outro beijo estalado
no rosto.

— Você é a melhor mãe do mundo!

A viagem do centro de Campeche até a Costeira do Pirajubaé levava menos de vinte


minutos e a organização da minha bagagem demorou bem mais que isso. Minha amiga
de condomínio, Anabela Roriz, também frequentava as aulas de surfe que eu fazia toda
quinta-feira e a morena estava tão pilhada quanto eu para acompanhar de perto o
Circuito Nacional. Como teríamos dois dias inteiros à beira-mar, nós duas resolvemos
levar as nossas pranchas com a gente e a mamãe as amarrou com segurança sobre o teto
da nossa SUV branca. No banco de trás, durante o percurso até a praia, fizemos bastante
algazarra, excitadas com a possibilidade de pegar autógrafo ou tirar selfies com os
nossos ídolos.

— O Jonathan Castilho e o Iran Azevedo vão disputar o circuito no domingo, mas eu


estou doida para ver a Rosa Macedo disputando a prova feminina no sábado.

Anabela era uma garota linda de pele marrom, cabelo afro e corpo sinuoso que deixava
os meninos hipnotizados quando ela passava. Eu a conhecia desde criança e, pelo menos
uma vez por mês, os nossos pais jogavam golfe juntos num clube em Camboriú. Éramos
as duas únicas garotas na escolinha de surfe e sonhávamos juntas em disputar
campeonatos pelo mundo, encarando paredões de cinco, dez e até vinte metros, como as
ondas gigantes que se formavam em Nazaré, ao norte de Lisboa.

— Ouvi dizer que o Jonathan está solteiro de novo… quem sabe não tenho chances com
ele?

A minha amiga estava mesmo assanhada com aquela possibilidade, mas eu não estava
pensando naquele tipo de aproximação. Embora conhecesse de ouvir falar dos dotes
físicos avantajados do moço, depois de bater um papo cheio de safadeza com uma das
primas mais novas dele13, para mim, se eu conseguisse uma foto ao seu lado já seria
uma grande vitória, assim como vê-lo levantar mais um troféu de campeão.

13
Rachel está se referindo à Micaela Alencar Castilho a quem conheceu melhor durante os eventos de
Desejos 40.1 – Prazeres e Pecados – Parte 2
Capítulo 19 – Rachel (PARTE 2)

CHEGAMOS BEM CEDO na Costeira aquela manhã e os primeiros raios de sol já


apareciam a leste, por de trás do paredão de vegetação que circundava a ilha. Mamãe
estacionou o SUV na garagem e o Moacir veio nos receber, se ocupando da nossa
bagagem. Eu mesma quis cuidar da minha prancha nova e já dei uma olhada em direção
ao mar, curiosa para saber as condições das ondas aquele horário. Estava calmo e dali só
dava para espiar o baixio.

Um palco alto de uns oito metros da areia tinha sido montado mais a leste da Costeira e,
por lá, os organizadores já começavam a testar os equipamentos de som conforme o
horário do início do torneio se aproximava. Havia outdoors imensos rodeando a área
onde os juízes estariam julgando as manobras dos atletas na água e o logotipo do evento
aparecia em todos os cantos. Víamos vans estacionadas a uns vinte metros da
arrebentação com as equipes de TV e internet que iriam cobrir o campeonato naquele
dia e muitas pessoas já se amontoavam por trás do cordão de isolamento montado pela
Guarda Marítima para impedir que os espectadores acabassem invadindo o espaço onde
as provas iam ser disputadas.

— É o meu primeiro campeonato de surfe, amiga!

Disse Anabela, dando pulinhos na areia com um anel em torno do dedo prendendo a
capa do seu smartphone. Ela estava ansiosa para registrar cada detalhe da competição e,
assim como eu, os seus olhos estavam bastante atentos para identificar pessoas famosas
dentre as torcidas individuais. Nós sabíamos que a primeira bateria seria competida
pelos atletas juvenis e eu tinha lido que dois deles se destacam em sua categoria.

— Olha lá os gêmeos! Ai, meu Deus! Eu vou morrer!

O grito de minha amiga desviou a minha atenção para além do cordão de isolamento,
onde dois meninos praticamente idênticos, pele morena, cabelos alourados caindo no
pescoço e sorriso largo no rosto começaram a acenar para a plateia que já festejava a sua
chegada. Ambos estavam sem camisa, um deles usava um calção azul-marinho e o outro
vestia um verde-escuro. Anderson e Emerson García eram lindos e todas as meninas da
nossa idade ficavam úmidas só em vê-los nas entrevistas após as competições e ao ouvi-
los falar com seu sotaque capixaba delicioso.

— GOSTOSO!

Anabela se inclinou no ombro de um moço alto que assistia à apresentação dos atletas à
nossa frente e ele se virou surpreso mandando um “meu pau” quando se viu sendo
usado de apoio pela garota e com o grito estridente que ecoou em seu ouvido esquerdo.

Depois disso, nos enfiamos pela multidão que já ganhava cada vez mais espaço num dos
cinturões da areia e, como éramos pequenas, conseguimos bons lugares para ver mais de
perto os demais atletas.
— Aquele é o Phelipe Nogueira — Me apontou Anabela, mais inteirada dos nomes e
títulos dos participantes —, ele foi campeão juvenil de surfe na última etapa cearense e
vai disputar pau a pau com os gêmeos García.

A uns nove metros, um garoto de dezesseis anos, cabelo parafinado e pele escura batia
palmas enquanto corria pela areia com passos leves após o anúncio do seu nome ao
microfone. Ele vestia uma lycra preta curta nas pernas e acenou alegremente em direção
aos espectadores, onde uma bandeira do seu estado era sacudida por um de seus
torcedores. O apresentador do evento estava no alto do palco usando óculos de sol,
camiseta branca estampada com o logotipo do Circuito e estava acompanhado de três
moças muito bonitas que serviam de assistente para ele. Mais à esquerda do palco, um
outro integrante da equipe de apresentação arremessava frisbees coloridos em direção à
plateia. Um passou raspando por cima de mim.

Apesar do favoritismo dos gêmeos García e do cearense Phelipe Nogueira, quem


acabou surpreendendo e conseguindo as maiores notas do dia foi o novato em circuitos
nacionais Johann Schneider, que logo em sua primeira manobra arrancou um oito
vírgula três dos juízes e foi muito aplaudido após mandar muito bem em um Backdoor,
entrando em um tubo pela parte contrária do pico.

— És um monstro — elogiou Anabela ao meu lado, com os braços apoiados na corda


que separava a plateia da areia e a área de prova —, só ele conseguiu esse Backdoor
nessa praia. A nota foi merecida.

Depois da sua pontuação inicial já em sua primeira bateria, o menino natural do Rio de
Janeiro manteve a sua regularidade e conseguiu boas notas em suas tentativas de uma
Back-Paddling14 nas costas de Phelipe Nogueira e um Backside15, tirando onda — nesse
caso, literalmente — dos outros concorrentes. Como os próprios cariocas costumavam
dizer, “o moleque era sinistro”.

Enzo “Fininho”, o representante catarinense do torneio não fez uma boa apresentação
em suas baterias e terminou a competição em sexto lugar, atrás do competidor de
Salvador e três décimos abaixo do atleta capixaba que também chegava à Costeira
bastante hypado. A praia toda agora estava rendida ao talento de Johann Schneider. O
carioca conquistou o título juvenil desbancando Anderson García — que tinha ficado
em segundo lugar — e o próprio Phelipe Nogueira, cujas notas o deixaram com a
medalha de bronze.

Na hora da comemoração pelo título, eu e Anabela conseguimos nos livrar da multidão


e chegamos bem perto de onde o campeão, o seu empresário e alguns dos seus
familiares comemoravam efusivamente. Johann ostentava uma medalha dourada no
peito nu e ele estava sendo carregado nos ombros por um rapaz loiro de olhos azuis com
uma tatuagem no bíceps esquerdo.

14
Back-Paddling é roubar uma onda do outro surfista remando por trás dele, “serpenteando”, para
conseguir a melhor posição.
15
Backside é quando o surfista desce a onda de costas para a parede.
— É campeão, moleque! Meu primo é CAMPEÃO!

O da tatuagem era incrivelmente gato e tinha um sotaque que era uma mistura entre o
paulista, que o meu irmão Ralph também falava e o carioca. Era inteiro torneado e tinha
uma cara de safado que me fez ficar de olho nele, mais até do que do seu primo mais
novo em seus ombros.

Na cara-de pau pura, Anabela conseguiu se enfiar entre as pessoas que rodeavam
Johann e o puxou para uma selfie. Assanhada, ela agarrou-se à cintura do menino e
colou o rosto no dele enquanto mirava a câmera frontal do celular, do alto. Outras
meninas que gritavam para chamar a atenção do novo campeão se sentiram à vontade
para também tirarem foto com ele e a farra só teve fim quando o pai de Schneider, que
também era o seu empresário, dispersou todo mundo, incluindo nós duas.

Começamos a caminhar de volta para a praia ofegantes e sorridentes, mas a Anabela


mostrava as fotos com Johann em sua galeria como se fossem troféus.

— Ai, amiga! Mesmo todo suado, ele é muito cheiroso. E você viu aqueles olhos azuis
lindos que ele tem?

Minha amiga era uma tremenda safada.

O dia de competições se encerrou com a bateria feminina, cujas atletas puderam


aproveitar as melhores ondas que o mar havia proporcionado desde cedo. Rosa Macedo
confirmou o seu favoritismo e a paranaense arrasou as adversárias conquistando uma
nota quase perfeita em um Frontside16 que ela conseguiu dropar na segunda bateria.
Como ela pertencia ao alto-escalão do surfe, não conseguimos chegar nem perto para
tirarmos algumas fotos antes que um paredão de seguranças viesse para nos manter
longe e, depois disso, demos o nosso dia de emoções por encerrado.

— Que tal pegarmos uma onda antes da hora do jantar, Rachel?

Eu tinha achado a ideia massa e, pouco depois, estávamos correndo de volta para casa a
fim de nos equiparmos com nossas lycras, o leash17 e, claro, as nossas pranchas. O sol
ainda brilhava no céu, seguindo para oeste, mas ainda havia iluminação suficiente para
tomarmos alguns caldos e tentarmos algumas manobras.

16
Frontside é quando o surfista desce a onda de frente para a parede.
17
Leash Cordinha que prende a prancha ao surfista, em geral, pelo tornozelo.
Capítulo 20 – Rachel (PARTE 3)

ESTÁVAMOS A CERTA distância da praia onde as competições do primeiro dia do


Circuito Nacional haviam ocorrido e nos abaixamos juntas na areia para parafinar as
nossas pranchas antes de encararmos o mar. A areia estava razoavelmente frequentada
aquele horário e mais alguns garotos nadavam a uns trinta metros da arrebentação. Atrás
de nós, havia um quiosque de camarão com duas pessoas fazendo seus pedidos para
viagem direto com o vendedor e, a uns três metros do balcão, haviam dois rapazes
sentados em torno de uma mesa de metal prestando a atenção em nós.

— Estamos sendo observadas, Ana.

Sem qualquer intenção de ser discreta, Anabela virou o pescoço para trás ainda de
quatro na areia passando a parafina na prancha branca e ela identificou logo os nossos
vigias. Um deles eu já tinha reconhecido como o bonitão tatuado que se dizia primo do
Johann Schneider e que o havia levantado nos ombros fortes durante a comemoração da
vitória, o outro, era menor que ele, tinha cabelos castanhos e parecia particularmente
interessado em mim, me olhando quase sem parar.

— Nossa, amiga! Que gato!

Eu não queria me fazer de oferecida e apenas desviei o olhar discretamente para a mesa
de camarão. O loiro lindo estava distraído falando ao telefone, mas o mais magro
continuava me secando à distância.

— Um deles é primo do Johann Schneider…

Anabela não sabia disso e os seus olhos se arregalaram na mesma hora. Eu dei um
sorrisinho de canto de boca e comecei a ter ideias mirabolantes para que nos
aproximássemos ainda mais de um surfista famoso.

— Se dermos sorte e se ele tiver alguma influência no meio além de ser parente de
atleta, talvez o bonitão possa nos levar direto ao campeão de surfe e nos apresentar ao
próprio Jonathan Castilho quando ele chegar à Costeira amanhã.

Anabela havia captado toda a malícia em meu tom de voz e, no momento seguinte, a
fim de atrair ainda mais os olhares dos dois rapazes para nós duas, corremos em direção
ao mar com as nossas pranchas e passamos a nos divertir com as ondas ao mesmo
tempo que nos exibíamos. Eu tinha certeza que a estratégia funcionaria e dentro de
algum tempo tiraríamos a prova.

O de cabelos castanhos se chamava Frederico Weber, era cinegrafista/fotógrafo,


trabalhava em um canal de Youtube chamado Ação Radical produzindo vídeos e era
cunhado do outro ao seu lado, Henrique Schneider, simplesmente um dos sócios de um
clube de esportes radicais no Rio e primo de segundo grau de Johann Schneider.

— Vocês nunca ouviram falar do nosso canal?


Desviei o olhar um instante daquele par de globos azuis que Henrique tinha no rosto e
tive que ser sincera em dizer que não era familiarizada com o tal canal. Frederico então
sacou o seu celular do bolso e ajeitou a cadeira ao meu lado em torno da mesa para me
mostrar alguns dos vídeos que eles produziam juntos. Me fingi de interessada e colei
meu ombro no dele enquanto espiava a sua tela. O primeiro vídeo da lista, lançado a
menos de duas semanas, já tinha batido a marca de cento e cinquenta mil visualizações.

— Viemos pra Floripa cobrir o Circuito Nacional de Surfe e conseguimos bastante


material nesse primeiro dia.

Frederico tinha um sotaque carioca mais carregado que Henrique e, enquanto ele falava,
fiquei prestando a atenção no chiado dos seus “esses”. Anabela tinha se colocado mais
perto de Henrique e nem disfarçava os olhares que dava para os bíceps do moço, ali,
expostos na camiseta regata que ele estava vestindo. Ele parecia um deus grego de tão
gostoso.

— Vi que vocês gostam de pegar onda — disse o cinegrafista, perdendo o foco um


instante desviando os olhos para as minhas coxas. Eu estava usando lycra longa em
cima, mas embaixo estava só com um biquíni preto e ele não escondia muito do meu
corpo —, pretendem se profissionalizar?

— É nosso sonho — respondi, mexendo um pouco em meus cabelos molhados —, mas


a minha família é contra. O meu pai quer que eu seja engenheira como ele e os meus
tios.

Henrique fez uma careta de frente para mim e pareceu se solidarizar com o meu
desabafo.

— Sei bem como é. O meu velho também abominava qualquer tentativa minha na
adolescência de me enfiar no mundo dos esportes e só consegui realizar o meu sonho de
viver disso depois de adulto.

— Ah, mas você ainda é jovem — disse Anabela o encarando —, deve ter o que, uns
vinte e dois, vinte e três anos?

Ele acenou que sim e confirmou que tinha vinte e quatro anos, prestes a fazer vinte e
cinco. Uma mão marota deslizou o antebraço do moço loiro, que percebeu logo as más
intenções da minha amiga vaca e se retesou.

— Nós torcemos muito da plateia pelo Johann, não foi, Ana? — indaguei em direção a
ela, que assentiu efusivamente. Eu precisava entrar logo no assunto e parei de me fazer
de tansa antes de perguntar, embora já soubesse a resposta: — Você é parente dele,
Henrique? Vocês são tão parecidos!

— O Johann é meu primo de segundo grau… o moleque arrasou mesmo hoje mais
cedo!

Aquela era a deixa perfeita.


— Vocês devem estar hospedados próximos então… eu adoraria conhecê-lo mais de
perto, tirar uma foto… — Tentei usar do meu tom mais confiado, querendo vencer me
fazendo de fofa. — Será que você não conseguiria isso pra mim e pra minha amiga?

Anabela sacudiu a cabeça como que concordando com o que eu havia dito e, pouco
depois, percebi que o peixe havia abocanhado a isca com anzol e tudo.

— Nós estamos hospedados em uma pousada a poucos minutos daqui. Acho que o meu
primo não vai se importar em tirar algumas fotos com duas gatinhas feito vocês. Pelo
contrário, aliás… ele vai até me agradecer depois!

A pousada Porto Marítimo ficava localizada a exatos vinte minutos da Costeira do


Pirajubaé e o Henrique nos levou até lá a bordo do carro que ele havia alugado para usar
durante a sua estadia em Santa Catarina. A Delta Sky, empresa que ele administrava,
ficava na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e ele e o cunhado retornariam de viagem
no domingo à noite, após a cobertura completa do Circuito.

Os dois tinham chegado à nossa cidade de jatinho e estavam acompanhados na


estalagem de Johann, o seu pai e empresário Urich, uma prima mais nova de nome
Angélica e mais quatro amigos deles que tinham pegado carona para assistir de
camarote à competição esportiva. Quando eu e Ana pisamos na pousada, sem saber
exatamente como agir, Henrique nos levou até Urich e nos apresentou a todo mundo da
sua comitiva, incluindo o próprio Johann.

— Parabéns, és um monstro!

Anabela praticamente se atirou nos braços do menino, o abraçando com força. Éramos
as suas únicas tietes num raio de muitos quilômetros e nenhuma outra garota havia
conseguido acesso irrestrito a ele como nós.

— Dei o meu melhor e saí com a vitória.

Johann sorria lisonjeado com o abraço e, em seguida, veio para o meu lado. Dei-lhe um
beijo no rosto e também o abracei, confirmando o que Ana tinha me dito mais cedo; ele
era realmente muito cheiroso.
Capítulo 21 – Rachel (PARTE 4)

ALGUM TEMPO DEPOIS, Urich nos convidou para jantar com ele, o filho, os seus
amigos e o Frederico na cozinha da pousada e não tivemos como recusar. Estava sendo
servido um pescado bastante suculento e eu não botava nada no estômago desde o café
da manhã em Campeche. Três dos amigos de Johann eram bastante efusivos e
comandaram toda a festa ainda em torno da vitória do menino loiro, que voltou a
ostentar no peito a medalha que ganhara junto do troféu de primeiro lugar.

— Temos que fazer um brinde ao nosso brother campeão — disse o menor deles, um
garoto com dentes incisivos salientes e que rosnava sempre que ria. Ele se virou em
direção a Urich e a sua calvície bem evidente, depois, emendou: —, aí tio, traz lá aquele
garrafão de champanhe que tu trouxe pra gente comemorar em caso de vitória.

O homem viu que não havia hora mais apropriada e se retirou, voltando em seguida com
a tal garrafa em mãos. Uma taça foi estendida também a mim e a Ana que, de repente,
estávamos nos vendo totalmente integradas ao momento de comemoração em família.
Johann foi puxado pelo braço pela menina que acompanhava os três amigos, uma tal de
Luara e, a seguir, foi colocado em pé para um discurso de agradecimento.

Com sinceridade, o menino loiro agradeceu ao apoio do pai, cujo empenho havia feito
com que ele levasse a sério o esporte e conquistasse o seu primeiro título a nível
nacional, depois, ele homenageou também os amigos presentes, o Frederico que havia
registrado cada um dos momentos de sua disputa pelo troféu e a nós duas, que fazíamos
parte da legião de fãs que ele conquistaria a partir de então.

— Um brinde a todos nós!

As taças começaram a se chocar fazendo “tim tim” ao redor da mesa e tanto eu quanto
Ana estávamos nos sentindo muito privilegiadas em poder prestigiar aquele momento
tão bonito de comemoração. Tínhamos caído de paraquedas bem no meio daquelas
pessoas que mal conhecíamos, mas o nosso pouso tinha sido com tanto estilo, que nem
tínhamos como reclamar da nossa sorte.

Outra chance como essa nunca mais vamos ter, pensei, momentos antes de atacar o
pescado à nossa frente. Nunca tinha comido um peixe tão saboroso.

Como era esperado, Frederico não demorou a demonstrar que tinha más intenções
comigo ao me levar para o meio do seio familiar dos Schneider e ele me convidou para
conhecer o seu quarto na pousada algum tempo depois do jantar. As outras pessoas
haviam dispersado da cozinha, o Henrique tinha desaparecido tão logo botou o pé na
estalagem e mesmo a tal prima Angélica não tinha sido mais vista depois que chegamos
ao andar dos quartos. Como bem queria, a minha amiga Anabela tinha ficado de papo
sozinha com Johann na sala da hospedaria e se eu bem a conhecia, até o final da noite a
danada estaria na cama com o surfista.

— Enfim sós!
A frase clichê foi dita por Frederico tão logo ele fechou a porta atrás de nós e eu lancei
um olhar pelo quarto, enxergando um ambiente bastante organizado, limpo e claro, com
o luar iluminando boa parte da área perto da janela sem precisar que as luzes fossem
acesas.

— Você tem um quarto só pra você?

Eu estava um pouco tensa em estar ali apenas com a intenção de me aproximar da


família de um campeão de surfe e a simples ideia de usar Fred para atingir o meu
objetivo me deu um certo desconforto estomacal. Eu estava começando a me sentir uma
vagabunda, uma tiete inconsequente dessas que fazia tudo para chegar em seu ídolo e eu
nem ao menos sabia se ele e o Henrique poderiam mesmo me levar até a Jonathan
Castilho ou a Iran Azevedo, na última das hipóteses.

Qual é! Eu conheço a prima mais nova do cara… eu não preciso ir pra cama com
alguém só pra chegar perto do Jonathan…

Eu senti as mãos de Fred enlaçarem a minha cintura por trás enquanto eu andava pelo
quarto até a janela e, quando me virei para encará-lo, eu já não sabia se queria mesmo
fazer aquilo. Por outro lado, o carioca até que era bonitinho e ele tinha sido gentil
comigo o tempo todo.

— Logo que eu botei os olhos em você lá na praia, eu fiquei amarradão, sabia?

A mão subia quente agora pela minha coluna. Eu havia tirado a lycra do surfe e usava
uma camiseta baby-look em cima, enquanto embaixo tinha botado um short para cobrir
a bunda. Ele estava usando uma camiseta larga e um calção. Tinha canelas e braços
finos, mas exalava um cheiro muito bom. Perfume masculino amadeirado.

— É mesmo?

Me fiz de tansa. Ele assentiu sem parar de me encarar.

— Mas eu sou tão comum… tinham várias meninas mais bonitas que eu lá na praia
aquele horário!

Foi sem aviso nenhum e o Fred me deu um beijo, intensificando o seu agarrão e me
mantendo mais perto do seu corpo quente. Eu já não sabia mais o que estava querendo
ali dentro, mas o beijo me desarmou as defesas de maneira inédita. Quando os nossos
lábios se separaram, protestei sem muita firmeza:

— Que jaguara! Eu não te dei permissão!

Ele não tinha entendido a expressão local para “cafajeste” que eu tinha usado, mas não
titubeou. Antes de voltar a me beijar, disse, sorrindo:

— Perdão… então deixa eu pegar o beijo de volta.

A partir de então, Fred tinha conseguido me deixar no clima e eu parei de me preocupar


sobre o que estava fazendo para simplesmente deixar rolar. Apesar da ousadia de me
roubar aquele beijo, o rapaz era muito gentil e não fez mais nada que eu não quisesse ou
o autorizasse. Como um bom menino, tinha aprendido cedo a lição de que quem
mandava em tudo eram as mulheres e eu comecei a me sentir mais à vontade quando
assumi o controle. O deixei tirar a minha blusa, arrancou a sua própria camisa e nos
deitamos na cama continuando a nos beijar. Em cima de mim, pressionando o meu
corpo, começou a me acariciar com mais liberdade e não demorou a estar com os meus
peitos enfiados em sua boca gulosa.

— Perfeitos… pequenos, mas perfeitos!

Fred era quente e todo aquele calor que ele transmitia começou a me queimar no
momento em que percebi que íamos mesmo transar dentro daquele quarto de pensão. De
onde eu estava, dava para ouvir o som de gemidos vindo do cômodo vizinho e soube na
hora que a Anabela também estava se divertindo com o surfista Johann. Fred se despiu
inteiro, massageou o pau em minha direção antes de o encapar com um preservativo e
puxou o meu biquíni de lado antes de se deitar em cima e me olhar nos olhos.

— Você não é virgem, é?

Acenei que não, mas segurei em seus ombros ossudos antes de recomendar:

— Mas faz com jeitinho, tá?

Ele assentiu e, pouco depois, estávamos fazendo sexo com bastante vigor, testando
todos os limites do colchão sob nós.

Com jeito e força ao mesmo tempo, Fred me arrancou gemidos genuínos da garganta e
tive que me abrir toda para suportar a pressão nos primeiros minutos. Ele não era
nenhum calhau como alguns caras que eu já tinha experimentado até então, mas dava
conta do recado direitinho. Eu estava na seca há um bom tempo e quando percebi,
estava me divertindo com aquilo que tinha começado com uma relação de puro
interesse. Se o Fred me levaria até o Jonathan Castilho, eu não sabia, mas por um
momento, pouco estava me importando.

— Isso, Fred… tá fazendo direitinho… Hum! Que bom!

Cheguei ao gozo algumas vezes com ele e aquela foi uma experiência maravilhosa.
Minha mãe não podia nem sequer desconfiar do que eu estava fazendo àquela hora e
precisava voltar para casa o mais cedo possível, antes que ela começasse a desconfiar.
Capítulo 22 – Sofia

EU ESTAVA PASSANDO POR PROBLEMAS pessoais muito sérios que andavam


desgastando a minha saúde mental nos últimos meses. Os meus pais estavam em um
processo de divórcio que já estava se arrastando mais do que devia e tudo aquilo, de
certa maneira, era por minha culpa.

Há quase um ano, eu tinha descoberto de maneira chocante que Regina, a minha mãe,
estava traindo o meu pai, Robson, com um vizinho de casa. O tal vizinho se chamava
Ralph e eles tinham se conhecido numa tarde em que a minha mãe tinha pedido a ajuda
dele com uma viagem que nós pretendíamos fazer em família. Ralph era dono de uma
agência de turismo e era, naquele momento, a escolha mais óbvia para auxiliar com as
passagens, hospedagem, transporte e todas essas coisas.

Mamãe tinha muito tempo livre depois que havia abandonado a sua profissão de
professora de português em um colégio particular chamado Dom Pedro II e, por isso,
gostava de fazer trabalhos voluntários junto à comunidade de nosso bairro. Os encontros
e as feiras beneficentes para ajudar os mais necessitados ocorriam em Perdizes, na
Igreja do Menino Jesus e era o próprio padre quem organizava aqueles serviços
voluntários junto das pessoas que se dispunham a colaborar.

Tinha sido numa daquelas feiras de fim de semana que mamãe havia conhecido a dona
Laura, que era nossa vizinha de rua e que morava a menos de uma quadra com os dois
filhos Ralph, que na época tinha uns vinte e três anos e de Rarissa, de dezessete. A dona
Laura frequentava aqueles bazares beneficentes há muito tempo e não demorou para que
ela e a minha mãe se tornassem próximas. Foi por intermédio dessa mulher que a dona
Regina soube que o Ralph tinha uma agência de viagens e que podia nos ajudar com o
passeio que queríamos fazer para o Nordeste do país.

Eu não sei como aconteceu, se foi ele quem deu em cima ou se ela quem tinha se
insinuado com aquele corpo lindo que sempre cultivava, mas o fato é que os dois
começaram a ter um caso bem debaixo dos narizes de todo mundo. Enquanto eu
estudava de tarde e o meu pai dava aula de Educação Física na mesma escola onde ele
havia conhecido a mamãe, ela estava transando com o agente de viagem em nossa casa
e, numa daquelas tardes em que cheguei mais cedo, eu os flagrei em pleno ato através
da fresta da porta. O que eu vi, jamais esqueci: mamãe estava algemada na cama com o
corpo nu inteiro besuntado de óleo e ele a estava pegando por trás, igualmente sem
roupa e fazendo muito barulho. Era uma tremenda cena de sexo explícito e eu fiquei
chocada18.

Meses mais tarde daquele flagra — que mamãe não soube na época —, eu acabei me
tornando amiga da Rachel, a irmã caçula de Ralph que era fruto de um caso
extraconjugal do pai deles. Como eu frequentava bastante a casa dos Vecchio por conta
dessa minha amizade, numa daquelas tardes, eu decidi revelar ao Ralph que eu o tinha
visto em cima da minha mãe naquela tarde e ele ficou branco com o susto. Apesar de
18
O flagra citado por Sofia aconteceu em Desejos 33 – O Último Sex-Point
todo aquele conflito de sentimentos que tive descobrindo que a minha mãe estava
traindo o meu pai, eu não queria que aquele caso estragasse o casamento deles e ambos
viessem a se separar, por isso, conversei com o vizinho e prometi que jamais contaria
nada sobre o que tinha visto aquela tarde. Ele não tinha outra opção além de confiar em
mim e, depois disso, criamos um pacto de silêncio. Eu sabia muito bem o tamanho da
desgraça que a revelação daqueles segredos poderia ocasionar nas vidas de todos, ele
também.

A convivência com Rachel e a sua família, em especial com o Ralph, desencadeou um


efeito inesperado em mim. Depois de vê-lo daquele jeito tão viril em cima de mamãe,
pelado e tão incrivelmente gostoso, passei a sentir desejo por ele e a coisa só piorou
quando a sua meia-irmã me confessou que também era atraída sexualmente por ele e
que até tinha vontades impróprias de estar na cama com o próprio irmão.

Aquilo tudo me soava muito maluco e, ao mesmo tempo, tentador. Ele morava a poucos
minutos do meu endereço e eu vivia enfiada no meio do seu seio familiar. O via
andando de um canto para outro da confortável casa dos Vecchio, falava com ele
praticamente todos os dias, em especial, durante as férias, que era quando Rachel vinha
de Santa Catarina — onde morava com os seus pais — para passar um tempo com os
irmãos. Era muito natural que aquela atração se intensificasse e foi exatamente o que
aconteceu. Chegou um ponto que eu não estava mais aguentando e precisava aliviar
aquela pressão de alguma forma.

A gente passou a se falar com certa regularidade por mensagem de texto e o Ralph
costumava ser bastante atencioso comigo daquela maneira. Numa tarde, resolvi usar de
toda a minha lábia para atraí-lo até a minha casa aproveitando que os meus pais não
estavam e ele acabou aparecendo à minha porta pouco depois de chegar do trabalho.

Eu não tinha qualquer experiência sexual e mal sabia beijar na época, mas quando me vi
ali sozinha com ele ao meu lado assistindo filme na TV, eu precisei avançar os vários
sinais que nos separavam. O agarrei, me declarei a ele dizendo todas as coisas que
estava sentindo nos últimos meses em segredo e tasquei um beijo em sua boca. Por um
momento, foi a coisa mais maravilhosa que já tinha acontecido em minha vida, mas,
pouco depois, também se tornou a mais terrível.

Sem que eu pudesse prever, a dona Regina resolveu aparecer em casa antes da hora e
me flagrou quase no colo do Ralph. Eu estava agarrada a ele e os seus braços fortes
envolviam a minha cintura enquanto a gente se beijava. Ela fez um escândalo e ficou
enlouquecida ao se sentir duplamente traída. Por muito pouco eu não apanhei da minha
mãe pela primeira vez na vida e ela expulsou o Ralph da nossa casa com ódio
estampado na cara. Nunca mais queria saber do moço e eu até conseguia entender o
motivo.

Os meses se passaram e a relação entre a minha mãe e o Ralph esfriou de vez conforme
o trabalho dele o consumia todo o tempo e a vigilância do meu pai em casa aumentava.
Embora ele não soubesse que estava levando chifre, mas como se tivesse algum tipo de
sexto sentido, o senhor Robson abriu mão das aulas de personal trainer que ele dava à
noite e foi naquele período que ele acabou descobrindo da pior maneira possível que a
esposa o estava traindo.

Eu não sei os detalhes porque estava no colégio enquanto eles tentavam se matar em
nossa casa, mas quando cheguei, fui obrigada a intervir antes que eles se pegassem aos
tapas. Aos berros, os dois se acusavam de várias coisas, mas, embora eu não tivesse
acompanhado tudo desde o início, estava claro que ele sabia que era o Ralph quem
estava se deitando com mamãe.

Sem revelar o que eu também tinha feito no sofá de casa com o vizinho, tentei defendê-
lo de todas as acusações ainda apaixonada demais para querer vê-lo ferido, e foi nessa
hora que o papai tomou a decisão de ir acertar as contas pessoalmente com Ralph. Eu
esperneei, chorei e implorei para que ele não machucasse o agente de viagens a quem eu
amava, mas ele saiu de casa furioso.

Feito um bicho enraivecido, ele tirou o carro da garagem e partiu em direção ao bairro
da Vila Madalena, onde ficava localizada a Vecchio Tour. Aquelas horas de espera
foram as piores da minha vida toda e eu achava que o papai ia mesmo matar o Ralph.
Eu me sentia muito culpada.

Depois daquela confusão toda, eu descobri através de mamãe que o papai tinha dado
uma surra em Ralph, mas que não o tinha matado19. Eu tentei contato com ele por vários
dias seguidos, mas nem o seu celular e nem o telefone da sua casa em Perdizes atendia.
Fiquei isolada e fui proibida tanto por papai quanto por mamãe a sequer chegar perto da
casa dos Vecchio. Ambos deixaram claro que se eu o fizesse, seria punida e fisicamente.

Naquele período, Rachel tinha voltado para Santa Catarina e ela sabia tanto quanto eu
sobre a briga entre o seu irmão e o meu pai. Dias depois, tive que apartar outra das
brigas escandalosas entre Robson e Regina, só que desta vez, era ele quem estava sendo
colocado contra a parede. Mais uma vez, eu não sabia os detalhes, mas a mamãe havia
descoberto que o papai a estava traindo há vários meses com alunas da academia onde
dava aulas de personal e, pior ainda, com meninas do colégio Dom Pedro II, a maioria,
com a mesma idade que eu. Aquela briga foi ainda pior que a anterior e, daquela vez, eu
senti que não tinha volta. Os meus pais iam se divorciar e não havia mais nada que eu
pudesse fazer.

Embora eu tivesse tentado muito contatar Ralph, eu e ele não voltamos a nos falar
pessoalmente até o Natal daquele ano quando, numa tentativa de pedir perdão a ele,
mamãe decidiu aparecer comigo ao seu lado na ceia que a sua família estava realizando
na casa em Perdizes. Muito tempo tinha se passado e durante todo aquele período,
Ralph tinha se mudado para um apartamento na Vila Mariana, tinha arranjado uma
namorada mais velha — com a mesma idade da minha mãe — e já a tinha apresentado à
dona Laura.

O clima, como não podia deixar de ser, foi um dos piores entre todos nós e sentados à
mesa, em torno do chester maravilhoso que Laura havia preparado para ela, Rachel,
19
A camaçada-de-pau que Ralph levou aconteceu em Desejos 37 – Um Novo Sex-Point
Ralph, a namorada mais velha dele e a filha dela, uma garota muito bonita de olhos
verdes chamada Kelly — que devia ter a minha idade —, tivemos que fingir por mais de
uma hora que nada tinha acontecido. Enquanto eu encarava Claudia, a nova namorada
de Ralph, eu só conseguia ter pensamentos venenosos que quase estavam me sufocando.
Capítulo 23 – Sofia (PARTE 2)

DEPOIS DAQUELE ENCONTRO na ceia de Natal, eu não voltei a falar com o Ralph e
tive que me conformar que, afinal, a vida tinha que prosseguir. Logo no começo do ano
seguinte, a minha mãe resolveu me matricular em um colégio técnico que, além das
aulas de ensino médio normais, também se dedicava a ensinar informática e
administração financeira aos alunos.

As minhas duas amigas, Kailane e Nyele, que eu também havia conhecido por meio dos
amigos de trabalho do Ralph, decidiram me acompanhar naquele colégio e os seus pais
as matricularam para que continuássemos juntas por mais três anos. Por ser um ensino
mais técnico e mais puxado, o período de aula se tornou integral e eu saía de casa bem
cedo e só voltava no início da noite, após um dia inteiro de aula. Eu não tinha mais
tempo para nada, mas, pelo menos daquela maneira, eu tentava não pensar em Ralph
mais por vinte e quatro horas seguidas.

Com o divórcio e a divisão dos bens, a minha mãe ficou com a casa e os móveis em
Perdizes, enquanto o papai ficou com o carro. Para manter as contas de casa
equilibradas, ela teve que voltar a lecionar Língua Portuguesa, mas não quis retornar
para o Dom Pedro II para não ter que conviver com o meu pai por lá. Em vez disso, ela
tinha arranjado um trabalho de meio-período em uma escola pública a dois quarteirões
da nossa casa e passou a trabalhar lá de segunda a sexta todas as manhãs.

Papai continuou trabalhando no Dom Pedro II como professor de Educação Física de


manhã e, à tarde, às vezes, era instrutor em uma academia de musculação no centro de
São Paulo. Ele alugou um apartamento de três cômodos para morar após o divórcio e,
segundo a minha mãe, “ele agora ia ter um espaço todo seu para levar as suas
menininhas para a cama”. Eu não sabia bem o que pensar daquilo uma vez que eu
mesma tinha ficado atraída por um moço mais velho que eu, mas só em pensar em ver o
meu pai transando com garotas da minha idade aquilo me causava enjoo.

O divórcio dos meus pais, a saudade de Ralph e de Rachel, a nova escola, os novos
amigos, os novos professores e todas as mudanças que estavam acontecendo em minha
vida me causaram um abalo psicológico muito grande que começou a afetar o meu
apetite. Todas as manhãs, a minha mãe me preparava um lanche reforçado para que eu
comesse durante os intervalos entre o médio e o técnico, mas eu nem tinha coragem de
tirar de dentro da bolsa.

Eu tinha dinheiro suficiente na carteira para comprar alguma outra coisa na cantina, mas
era como se simplesmente eu não tivesse mais vontade de comer nada. Kailane e Nyele
ficavam no meu pé dizendo que eu estava ficando anêmica e que estava emagrecendo,
mas eu estava cada dia mais alheia àquela conversa. As ignorava e seguia em frente,
esperando que as aulas acabassem logo e eu pudesse voltar para casa. Eu só pensava em
dormir o dia todo.
Com as aulas do médio e do técnico, nós tínhamos agora durante a semana um batalhão
de professores e estava difícil até mesmo de decorar os nomes de todos. Um caderno de
vinte matérias estava sendo pouco para dar conta de todo o conteúdo que eles passavam,
mas certamente, uma das minhas aulas preferidas, mesmo com todo o meu desinteresse
pela escola, era a de Administração Financeira, lecionada pelo professor Danilo.

O Danilo era diretor administrativo de uma imobiliária que ficava na Vila Mariana, mas
dizia que gostava de lecionar e que fazia aquilo mais por prazer do que por necessidade.
Nós tínhamos aula com ele toda terça e quinta e Danilo tornou-se rápido um dos
professores mais queridos da turma, em especial, pelas meninas que o adoravam.

— Eu acho ele tão inteligente… — Suspirou a Nyele um dia ao meu lado. Ela tinha
traços asiáticos no rosto e era neta de japoneses. — Dá vontade de só ficar assistindo ele
falando e falando e falando…

Danilo tinha acabado de chegar à sala e, como de costume, pediu silêncio à turma de
mais de trinta alunos com o seu assovio agudo característico. Andou até o meio da lousa
às suas costas, gesticulou e anunciou o que teríamos para o dia.

— Apertem os cintos que hoje eu vou ensinar a vocês a diferença entre juro simples e
juro composto.

Houve um ruído de pesar vindo dos meninos sentados ao fundo da sala ampla e Danilo
os ignorou, virando agilmente e escrevendo com giz branco as palavras “simples” e
“composto” no quadro negro. Kailane me puxou pelo braço ao meu lado direito e a
minha outra amiga de pele escura e cabelo afro foi direta em me chamar a atenção:

— Ai, olha essa bundinha apertada nessa calça social… Hum!

Olhei e conferi o que ela estava falando. Dei uma risadinha e Nyele quis saber na
mesma hora sobre o que estávamos cochichando do meu lado esquerdo.

— A bunda do professor… olha que delícia!

Nyele se virou rápido para olhar também, mas quando ela o fez, o Danilo já estava de
frente. Nos vendo cheia de risinhos, ele direcionou a pergunta a nós três.

— As três mocinhas aí no canto direito. Qual a diferença das palavras “simples” e


“composto”… e lembrem-se: ainda nem estamos falando de juros, só das palavras.

Nos entreolhamos sem saber exatamente o que dizer, mas foi Nyele quem arriscou uma
resposta:

— Simples é “algo sozinho” e composto é “algo em conjunto”…

Ele franziu o cenho sem dizer nem que sim e nem que não. Se virou para outros alunos
na sala e fez a mesma pergunta. Respostas mais inteligentes começaram a surgir e
também um monte de absurdos foram respondidos, o que causou um clima alegre de
risos e gargalhadas na aula. Nyele e Kailane já tinham entrado no clima da aula, mas por
alguma razão, me peguei prestando mais a atenção em nosso professor e em como ele
era charmoso.

Na quinta-feira, devido ao meu novo distúrbio alimentar, eu saí de casa sem tomar o
café da manhã e corri para pegar o ônibus que me deixava à porta do colégio. Cheguei
em cima do horário do fechamento dos portões e passei todo o período das aulas do
ensino médio com uma sensação incômoda no estômago e uma náusea que não me
permitia sentir o cheiro de nenhuma comida.

Na hora do intervalo, preferi ficar na sala de aula estudando matemática com meus
livros em vez de papear com Nyele e Kailane no pátio, mas por algum motivo, não
estava conseguindo me concentrar. Um misto de sensações estava me atingindo há
alguns dias e eu sentia vontade de chorar o tempo todo. O meu corpo também estava
reagindo àquele meu estado emocional e eu passei a ter dores fortes de cabeça.

Depois do intervalo, a sala voltou a se encher com os meus colegas de turma e o Danilo
não demorou a aparecer com o seu bom-humor característico, deixando as garotas que
sentavam na primeira fileira ainda mais assanhadas. Ele não era do tipo bonitão com
corpo malhado ou olhos claros, mas mesmo com o seu nariz meio grande, os braços
finos e os cabelos começando a rarear na testa, o professor de Administração Financeira
tinha o seu charme e era aquilo que atraía as meninas — sem falar naquele sorriso!

Kailane e Nyele estavam preocupadas comigo dizendo que eu estava pálida, mas preferi
dizer que não havia nada de errado. Danilo escreveu o conteúdo da aula em metade da
lousa e eu comecei a copiar em meu caderno com uma esferográfica azul.
Particularmente, eu sabia que tinha uma caligrafia muito caprichada, mas aquele dia,
tudo estava saindo como se eu estivesse com as juntas dos dedos travadas. Parei um
instante para olhar a lousa e a letra do professor saiu de foco, o que me obrigou a
esfregar os olhos. Podia ser cansaço, podia ser estresse ou estava começando a ter algum
tipo de problema de vista… porém, nada daquilo explicaria a minha mão travando.

Foi muito de repente. Nyele se virou para falar comigo e ela percebeu que eu estava
riscando a folha do caderno aleatoriamente. A sua voz foi ficando cada vez mais longe.
Senti alguém me sacudindo do meu lado direito, mas a última coisa que vi foi um breu
total e eu desmaiei em cima da mesa.
Capítulo 24 – Sofia (PARTE 3)

DESMAIOS E QUEDAS na escola, no meio de todas as pessoas com quem você


convivia todos os dias, sempre era motivo de zoação, mas naquele dia, pela maneira
como caí sobre a carteira — segundo os relatos — e a forma como eu não respondia a
nenhum estímulo depois disso, deixou todo mundo preocupado. Eu acordei algum
tempo depois na enfermaria do colégio e não fazia ideia o que havia acontecido. A
enfermeira que atendia os alunos estava ao lado direito do que parecia uma maca e o
Danilo estava segurando a minha mão com firmeza do outro lado.

— Sofia? Está me ouvindo?

A minha primeira reação foi colocar a mão na testa onde estava sentindo uma dor
incômoda e, algum tempo depois, o professor me explicou que eu tinha caído de cara na
mesa e que, depois disso, eu tinha desmaiado.

— Eu… Eu desmaiei?

Ainda estava confusa. Quando tentei me levantar, a enfermeira segurou o meu braço e
pediu que eu o fizesse devagar para não sentir vertigem.

— Nós achamos que você sofreu uma queda de pressão muito forte e que por isso
desmaiou, Sofia. Você se alimentou direito hoje?

Não dava para mentir uma hora daquelas e fiz que não. Os dois me encararam de
maneira reprovativa e o Danilo foi o primeiro a reagir.

— Vou pedir pra alguém comprar um lanche na cantina. Você não pode ficar esse
tempo todo sem comer nada, mocinha.

Ele foi até a porta da enfermaria para dar a ordem a um dos assistentes da diretoria e,
naquele ínterim, a enfermeira me informou:

— Nós pegamos o seu telefone da secretaria e ligamos para a sua mãe. Ela ficou muito
preocupada e já está a caminho.

— M-Minha mãe…?

Um pouco desorientada, eu me sentei na maca e vi o Danilo retornar com semblante


preocupado no rosto fino. Eu estava sentindo muito calor e percebi que havia suor por
baixo dos meus cabelos. Minhas mãos estavam trêmulas e aquela sensação estranha na
barriga continuava.

— Quando percebi que não estava acordando na sala, a carreguei até a enfermaria e a
Silene me ajudou a te socorrer. Foi um baita susto!

Eu estava morrendo de vergonha daquela situação e não o conseguia encarar direito.

Ai, que merda! Ele me carregou desmaiada nos braços pela escola? Que mico!
Devido ao trânsito pesado daquele horário, a minha mãe demorou cerca de quarenta e
cinco minutos para sair de Perdizes e chegar até a minha escola na Barra Funda. Como
ela não tinha mais carro, teve que pegar um Uber para chegar ali e me encontrou ainda
na enfermaria, esbaforida.

— Oh, meu amor! Como você está? Você está bem?

Ela nem reparou direito no meu professor que a ficou encarando de uma maneira meio
pasma, mas a enfermeira a inteirou de tudo que tinha acontecido desde o meu desmaio à
sua suspeita de pressão baixa.

— Ela disse que não tem se alimentado bem, dona Regina, acho que por isso acabou
sofrendo o desmaio.

Os olhos azuis de mamãe me encararam e ela franziu a testa.

— Como assim “não tem se alimentado bem”, Sofia? Eu deixo um lanche pronto em
sua mochila todos os dias e te dou dinheiro para comprar alguma coisa para comer na
cantina… por que não está comendo?

— Não tenho vontade, mãe…

Eu estava sendo alvo da preocupação excessiva da minha mãe naquele momento, mas
não dava para lhe tirar a razão totalmente. Faziam dias que eu não comia e nem bebia
nada direito. O meu estômago andava afetado e eu nem conseguia sentir o cheiro de
nada sem que tivesse ânsia de vômito. Ela não sabia de nada daquilo e achei que não era
o momento certo de dizer.

— A sua filha desmaiou durante a minha aula e eu a trouxe para a enfermaria às


pressas…

A minha mãe finalmente encarou o meu professor ali no canto da enfermaria e de


repente, os seus olhos se arregalaram.

— Dan? D-Danilo?

Os dois se deram um abraço meio desajeitado na sequência e se afastaram rapidamente,


como se tivessem tomado um choque com seu contato. Eu estava bastante surpresa que
ambos se conheciam, mas nem tive tempo de perguntar de onde, quando minha mãe o
agradeceu por seu “ato heroico” e por ter agido tão rápido.

— Eu… Eu nem sei como agradecer na verdade…

A enfermeira Silene tomou a palavra e emendou:

— É melhor a senhora levar a sua filha para um hospital ou uma clínica e pedir exames
mais detalhados. Estamos supondo que seja apenas uma queda de pressão, mas é melhor
nos certificarmos que não seja nada mais grave.
Mamãe ficou desconcertada, ainda parecendo de alguma maneira incomodada com a
presença do meu professor Danilo. Ela segurou a minha mão, me ajudou a descer da
maca e disse, decidida:

— Nós… Nós vamos daqui direto para um hospital sim. Eu… Eu pedi para que alguém
me substituísse na escola onde dou aula e vou dar mais atenção à Sofy.

— Você está de carro aí, Regina?

Ele a chamou de “Regina” e não de “dona Regina”, o que deixou claro que já a conhecia
de fora da escola, embora ambos fossem professores.

— N-Não… na verdade, eu vou pedir um carro por aplicativo…

Ele foi rápido em oferecer:

— Eu mesmo levo vocês duas, não se preocupe. Eu deixei um instrutor no meu lugar
assim que a Sofia desmaiou e a turma não vai ficar abandonada. Eu levo vocês.

Mamãe não recusou a oferta e, algum tempo depois, estávamos indo os três a bordo do
Crossfox de Danilo para o hospital onde ela e papai tinham convênio. O clima entre eles
não tinha melhorado enquanto viajavam sentados lado a lado na frente do carro, mas eu
estava prestes a descobrir o que havia no passado daqueles dois ouvindo a sua conversa
do banco de trás.

— Eu não tinha ideia que você estava dando aula para a Sofy nessa escola técnica, Dan.
Eu… Eu achei que você tinha virado administrador, que estava gerenciando alguma
empresa por aí…

O tom dela era mais de admiração do que de rancor, o que parecia ser algo bom.

— Mas eu estou gerenciando uma empresa. Sou o diretor administrativo de uma rede de
imobiliárias de segunda, quarta e sexta e dou aula de Administração Financeira no
colégio às terças e quintas. — Ele abriu um sorriso, parecendo orgulhoso. — Fiz um
acordo com o diretor da escola para lecionar poucos dias por conta do meu trabalho
principal, mas estava planejando voltar a dar aula há bastante tempo. Estava sentindo
falta do calor humano que os alunos trazem.

Naquele momento, pensei se ele também comia as aluninhas como o cachorro do meu
pai fazia, mas não disse nada, continuando a prestar a atenção na conversa dos dois.

— A gente não se vê há tanto tempo… eu… eu nem sei dizer quando foi a última vez.

Fez-se silêncio depois da fala dela. Ele estava concentrado no trânsito à sua frente e
freou suavemente ante uma faixa de pedestres. Uma verdadeira multidão começou a
atravessar num cruzamento da Barra Funda.

— No aniversário da Patrícia Alvim. Reencontro da turma de Administração da


faculdade…
Ele pareceu dizer aquilo com certa tristeza. Eu estava me sentindo excluída na parte de
trás e, então, pigarreei para que eles voltassem a se lembrar que eu também estava ali.
Mamãe me encarou pelo espelho retrovisor resolveu falar:

— Eu e o Dan nos conhecemos desde a faculdade, Sofy. Ele fazia ADM no campus de
exatas enquanto eu estudava Letras no campus de humanas. A gente se trombou por
puro acaso uma vez, numa festa de fraternidades mistas e nos tornamos… — Ela o
encarou rapidamente ao seu lado, depois, continuou: — amigos. A gente não se vê há
um tempão. Muita coincidência ele agora ser o seu professor, filha.

Pouco depois, após o fichamento na portaria do hospital e a triagem, demorou mais de


uma hora para que eu fosse atendida por um médico e fizesse os exames preliminares
para descobrir o que eu tinha. Já em sua sala, o homem de jaleco branco atrás da mesa e
pele parda disse sem muitos rodeios:

— É um princípio de gastrite. — Ele estava sério e segurava uma pilha pequena de


exames em mãos. — Como o ferimento no estômago ainda é bem pequeno, é possível
tratar com medicação leve e uma rotina alimentar regrada. Vou passar a você, dona
Regina, uma lista de alimentos que a sua filha deve evitar de agora em diante para que o
quadro de saúde não se agrave.

Minha mãe estava com olhar preocupado sentada ao meu lado na cadeira e disse ao
doutor que me atendera:

— O meu marido… — E então pensou melhor, corrigindo a frase: — o meu ex-marido


é professor de Educação Física. Tenho certeza que ele vai poder ajudar a Sofia a seguir
uma rotina alimentar mais saudável, doutor.

— É importante que a Sofia consulte também uma nutricionista a partir do momento


que o resultado dos exames mais detalhados que pedi hoje saiam. Depois disso, é
possível seguir uma vida absolutamente normal.

Eu não queria adoecer nem preocupar os meus pais, mas tinha esperança que aquele
susto causado pelo meu desmaio fosse aproximá-los novamente de alguma forma, o que
acabou não acontecendo.
Capítulo 25 – Sofia (PARTE 4)

NAQUELA MESMA NOITE, o Danilo nos levou gentilmente até a nossa casa em
Perdizes e, enquanto eu entrava, mamãe e ele ficaram conversando por alguns minutos à
porta, às vistas do casal Portinari, dois velhinhos que moravam de frente para a gente e
que eram conhecidos como “os donos da rua” pela maneira vigilante com que sempre se
sentavam diante da sua varanda para observar a vizinhança. Depois de se se despedir do
meu professor, mamãe entrou em casa e me deu várias broncas por conta da minha falta
de alimentação.

— Eu não posso mais tomar conta de você vinte e quatro horas por dia, Sofia. Eu
preciso que você aprenda a se virar sozinha a partir de agora. Não tem mais o seu pai
para ficar te mimando e te dando tudo que você quer!

Aquele comentário foi bastante intenso e eu senti toda a mágoa na voz de minha mãe.
Ela tentava não demonstrar, mas o divórcio a tinha abalado bastante. De certo modo, ela
também estava sofrendo por ter sido abandonada daquela maneira por meu pai. Depois
disso, tratei de tomar um banho e quando saí, a ouvi falando com ele pelo telefone a
respeito do meu mal-estar na escola. No próximo final de semana, como tinha sido
acordado pelo juiz que tratou da separação, eu teria que ficar com papai em seu
apartamento na Vila Guilherme e vê-los separados ainda me causava muita tristeza.

Depois dos primeiros meses daquela rotina de passar os finais de semana na nova casa
do meu pai, embora ainda me chateasse, comecei a me acostumar com a situação e até
planejava toda a programação que faríamos juntos a cada sábado e domingo. Como
mamãe havia dito, ele mesmo criou todo um cardápio com alimentos saudáveis que eu
devia seguir por conta da gastrite e, todas as vezes que saíamos para comer fora, ele
controlava o que eu ia pedir e não me deixava nem chegar perto de hambúrguer, batata
frita ou qualquer outra coisa processada. Ao lado do meu pai, eu era obrigada a comer
muito legume e verdura, sem me esquecer de me hidratar muito.

— Você está em fase de crescimento, Sofy, precisa se alimentar bem para não se tornar
essas adultas flácidas e gordas que só comem porcarias!

Via de regra, eu e ele também começamos a praticar exercícios juntos no parque Vila-
Lobos e era muito gostoso sair para pedalar quilômetros e quilômetros em nossas
bicicletas em meio a todo aquele verde, sentindo o ventinho em minha pele. Papai
cuidava muito bem de mim e eu não podia negar que aquela separação de mamãe o
havia tornado ainda mais prestativo comigo, uma vez que ele tinha medo de me perder
para sempre.

Nos finais de semana que não saíamos para comer fora ou para pegar um cinema, papai
passou a permitir que as minhas amigas Kailane e Nyele me visitassem em seu
apartamento e, depois que ele reformou inteiro o quarto de hóspedes para que pudesse
me receber em todas as semanas, eu conquistei o meu próprio espaço ali e passei a
convidar as meninas mais vezes para me fazer companhia.
Num sábado daqueles, o meu pai havia convidado dois professores da sua escola para
comer pizza e para assistir futebol na TV da sala com ele e a casa estava bastante
barulhenta. Eu, Nyele e Kailane estávamos em meu quarto nos divertindo em frente à
televisão dançando com o Just Dance e, por ali, os risos, gritos e os comentários bobos
também estavam frenéticos.

Papai tinha me dado o videogame de presente em meu aniversário de treze anos, há dois
anos, e aquele jogo estava pegando poeira em meu armário até que a espevitada Kailane
mencionou que queria muito jogar. Eu achei aquela uma oportunidade muito boa.

— Essa coreografia é muito rápida! Não consigo!

Eu era a mais desengonçadas das três, mas estava aprendendo várias das coreografias
que apareciam na tela com a ajuda delas. Nyele passava horas dançando em seu próprio
quarto e, por isso, só tirava pontuações altas no jogo, em especial, com músicas pop
japonesas.

— Esse é o meu mundo, queridinhas… Apenas observem!

Ela ficava cheia de si, mas tinha motivos para isso. A japonesinha era mesmo muito boa
na dança em frente ao Kinect.

Os mundos do futebol e da dança colidiram quando o meu pai nos chamou para comer
pizza na sala e aquela foi a primeira vez em muito tempo que ele me liberou da minha
dieta de legumes e verduras. Depois que apresentou a mim e a minhas amigas aos
colegas dele, eu pude, enfim, pegar uma fatia caprichada de borda recheada de catupiry
e a pizza de pepperoni até derreteu na minha boca. Eu ainda não sabia bem o que era
um orgasmo e nem sabia se já havia sentido, mas duvido que fosse uma sensação mais
prazerosa do que aquela de comer porcaria depois de semanas de abstinência.

Os amigos da escola de papai foram bastante educados com a gente e um deles, o menor
de cabelos ralos no alto da cabeça e barba, quis saber os cursos extras que a gente
estudava no colégio São Francisco de Assis, o que Kailane, a mais comunicativa das
três, explicou muito bem. O outro professor estava sentado no segundo sofá da sala. Era
troncudo, tinha braços malhados por debaixo da camiseta justa que usava e me olhou
uma ou duas vezes de uma maneira estranha, me deixando insegura. Ele parecia
interessado nas matérias de nosso colégio técnico conforme a minha amiga morena
explicava, mas não perdia a oportunidade de me secar, o que me fez querer sair logo
dali. Eu ainda estava suada por conta da dança no quarto e o short que eu usava era bem
curto, o que devia ter atraído seus olhos pervertidos.

Mais próximo da noite, Armando e Otávio, os dois professores, se despediram na sala e


foram embora. Deixei as meninas jogando um jogo de corrida de carros no quarto e me
prontifiquei a ajudar o meu pai com a bagunça. Tinha pedaço de pizza, caixas de
papelão vazias e latas de cerveja para todo o canto e a sala estava parecendo um
chiqueiro.
— Pode deixar que eu arrumo tudo aqui, Sofy. — disse o meu pai, enquanto ouvíamos
os gritinhos animados das minhas amigas no quarto.

— Eu ajudo, papai. Não tem problema.

Nós limpamos tudo em uns trinta minutos e, quando terminamos, Nyele apareceu na
sala dizendo que precisava ir embora porque estava ficando tarde.

— Você mora para os lados do Itaim Bibi, não é? — Nyele acenou que sim para meu
pai. — Então eu te levo de carro.

Eu sabia a quantidade de cerveja que ele havia tomado aquela tarde e que aquilo não o
tornava apto para andar nem de bicicleta. O meu pai raramente bebia álcool, a não ser
em reuniões com os amigos nos finais de semana. Eu bronqueei:

— Você bebeu cerveja, papai. Nada de dirigir hoje.

Nyele fez sua pose característica de anime japonês fofa com as duas mãos unidas diante
do colo e comentou logo em seguida da nossa discussão:

— Meu pai vai vir me pegar aqui em frente ao prédio. Já combinamos tudo.

Quando o senhor Ken Kanamaru estacionou o seu veículo diante do prédio, o meu pai
fez questão de acompanhar Nyele até lá embaixo para cumprimentar o seu colega de
reunião de pais em minha antiga escola. Os dois se encontravam com frequência em
época de entrega de boletim e tinham ficado muito próximos quando as nossas famílias
foram convidadas para um churrasco na casa de Celso Moraes20, o sócio de Ralph
Vecchio na Vecchio Tour, antes de toda a tempestade que devastou o casamento dos
meus pais e a minha paixão pelo rapaz. Eu ainda sentia muito a falta do Ralph e eram
aqueles pequenos detalhes e fragmentos de memória que me deixavam triste.

Não era comum que Kailane dormisse ali comigo e me fizesse companhia nos dois dias
do final de semana, mas aquele sábado, ela aproveitou que estava ficando muito tarde
para retornar ao bairro da Freguesia do Ó onde morava com os pais e pediu permissão
ao meu pai para ficar.

— Claro, Kailane… mas você trouxe roupa para dormir aqui?

A menina me olhou e disse, mesmo antes da minha confirmação:

— A Sofy me empresta alguma roupa dela, não é miga?

Acenei que sim e o problema foi resolvido.

20
Esse churrascão aconteceu durante os eventos de Desejos 33 – O Último Sex Point e na versão
editada do mesmo conto em Um Novo Paraíso
Capítulo 26 – Sofia (PARTE 5)

OS PAIS DE KAILANE também haviam conhecido o meu pai durante o mesmo


churrasco citado anteriormente e tinham plena confiança em sua índole a ponto de
deixar que a sua filha menor de idade dormisse em seu apartamento. Antes de nos
desejar boa noite, papai passou em frente ao meu quarto para saber se estávamos bem
instaladas e ele viu que a minha amiga dormiria comigo na cama de solteiro. Já
estávamos deitadas de pijama quando ele apareceu sem camisa e usando um calção à
porta.

— A Kailane não vai ficar desconfortável aí nessa cama com você, Sofy? Se quiser, as
duas podem dormir na minha cama de casal hoje e eu me ajeito lá no sofá.

Nós nos entreolhamos e chegamos à conclusão que cabíamos as duas ali e que não o
queríamos tirar do quarto dele por nossa causa.

— Está tudo bem, papai. A gente está bem confortável.

— Ok, então. Boa noite, meninas!

Ele apagou a luz e saiu encostando a porta. Ficamos as duas iluminadas apenas pelo luar
que entrava pela janela, deitadas lado a lado. A Kailane esperou até que a porta do
quarto de papai se fechasse antes de comentar com um risinho:

— Seu pai é um gostoso!

Nunca tínhamos tido nenhuma conversa parecida com aquela e eu me virei para o seu
lado surpresa. Dei-lhe um tapa na nádega que estava virada para mim e ela soltou um
“ai”.

— Que nojo, menina! Cala a boca!

Mas ela insistiu:

— Por que “nojo”? Você nunca olhou pra ele? Ele tava sem camisa… não viu aquele
tanquinho, aquele peitoral?

— Ele é meu pai, para de ser nojenta!

Eu já tinha visto o meu pai sem camisa inúmeras vezes e nunca tinha tido sequer um
único pensamento libidinoso sobre ele. Provavelmente, Robson era o cara com o corpo
mais definido que eu conhecia e superava e muito a plástica do Ralph, do Celso e do
próprio Wagner, o irmão mais velho de Kailane que era o gerente administrativo da
Vecchio Tour.

— Duvido que nunca tenha dado nem sequer uma olhada nele… na época que era
casado com a sua mãe… os dois sem roupa no quarto…
Kailane virou de bruços e começou a se divertir me torturando com aquelas coisas. Eu
tinha visto os meus pais sem roupa juntos uma vez quando era bem pequena, mas na
época, nem tinha entendido bem o que estava acontecendo, com medo demais de trovão
para que soubesse que, provavelmente, estava interrompendo uma transa deles. Os dois
não tinham muita neura com nudez e não ficavam pilhados quando, sem querer, eu os
acabava flagrando sem roupa, mas jamais tinha pensado em nada que fosse
minimamente impróprio a respeito dos meus pais.

— Para, Kailane! Isso é muito podre!

E ela riu. Olhou em direção à porta, depois, continuou:

— O meu pai é barrigudo e feio… mas se eu tivesse um pai todo malhado, forte e
gostoso como o seu, acho que não me importaria em visitar ele de vez em quando à
noite pra dormir agarradinha.

Aquela conversa estava começando a ficar muito estranha, mas, ao mesmo tempo,
estava me provocando sensações que eu não sentia desde que havia me envolvido com
Ralph e pensava em transar com ele toda hora.

— Você… está falando de incesto!

Kailane agora sacudia as duas pernas flexionadas, com a bunda grande virada para cima
e um sorriso safado na cara.

— Pensa só… todo final de semana, você e o seu pai sozinhos nessa casa… ele é um
tremendo gostoso… deve ter um pauzão… com certeza ele te faria muito feliz!

Lembrei na mesma hora a predileção do meu pai pelas alunas jovens da academia onde
trabalhava e pelas meninas da escola que a mamãe o tinha acusado de fazer sexo e a
minha cabeça enlouqueceu.

— Não é certo isso… eu sou a filha dele… eu nunca faria isso com a minha mãe!

Kailane foi taxativa.

— Mas eles estão separados e ela nem iria saber…

Aquela noite, depois daquela conversa, acabei tendo insônia e virei a madrugada com
vários pensamentos conturbados, entre eles, relações impróprias entre pessoas do
mesmo sangue.

Na semana seguinte, tudo voltou ao normal em minha vida e eu passei a frequentar as


aulas com mais animação, embora os meus problemas com a separação dos meus pais e
a falta de Ralph continuassem.

Eu andava bastante carente por conta daquele afastamento dos Vecchio e eu até cheguei
a mandar mensagem de texto para Rachel que, por alguma razão, me ignorou. Naquela
terça-feira, revi o Danilo em sala de aula e ele ficou fazendo piadinhas com o meu
desmaio, me deixando sem jeito na frente dos demais colegas. Como Kailane e Nyele
também estavam me zoando, acabei levando na esportiva e, ao fim da aula, o professor
me chamou de canto para saber se eu tinha me alimentado bem aquele dia e se não
queria que ele me comprasse nada da cantina.

— Não, obrigada. Eu tomei café hoje de manhã e já me alimentei na hora do intervalo.


Está tudo bem agora.

Em casa, notei que a minha mãe estava menos rabugenta e mais de bem com a vida e
até a ouvi cantarolando as músicas da Marisa Monte que ela adorava. Quis saber a razão
de tanta felicidade e como tínhamos decidido já há algum tempo que íamos ser o mais
transparente possível uma com a outra — já que os nossos segredos tinham ocasionado
toda a nossa dor de cabeça —, após o banho, ela se sentou comigo no sofá e começou a
dizer algo da qual eu já estava desconfiada.

— Filha, eu não fui totalmente honesta com você a respeito da minha antiga relação
com o Dan… o Danilo, o seu professor.

Me ajeitei sentada sobre uma das pernas e a deixei continuar.

— Eu e o Dan não fomos apenas amigos nos tempos de faculdade, nós dois namoramos
por um tempo e foi muito bom. Nós nos conhecemos naquela festa de fraternidades,
como eu disse aquele dia e, depois disso, trocamos telefones e decidimos nos conhecer
melhor. Ele era solteiro e eu também, por isso, nos demos uma chance. O Dan sempre
foi um cara muito divertido e gentil, eu gostava muito dele…

Eu não tinha como negar. Como professor, ele era pontual em suas técnicas de ensino,
era justo e direto. Mas como pessoa, demonstrava ser um cara muito dedicado, do tipo
que daria um companheiro para a vida toda… era o que eu imaginava. Eu precisava
perguntar:

— E por que vocês terminaram?

Os seus olhos azuis que eu havia herdado desviaram um instante dos meus e ela disse
aquilo com um claro incômodo na voz:

— Eu o traí com um outro menino da faculdade…

Levei um tempo para digerir aquilo.

— A minha turma de amigas era muito popular no campus de humanas e nós éramos
convidadas para um número grande de festas todas as sextas-feiras. Eu gostava de beber
bastante e, aquela noite, o Dan tinha uma prova de ADM para fazer no campus dele e eu
fui à tal festa com as minhas amigas. Um garoto apareceu por lá querendo ficar
comigo… Ele insistiu tanto… Eu… Eu achei que não ia passar de alguns beijos e
amassos… mas a gente acabou transando dentro do carro dele. Eu não sei como, mas o
Dan acabou descobrindo e, depois disso, ele terminou comigo.
Eu estava bastante chocada com aquela história. A minha mãe já tinha histórico de
traição no currículo muito antes de decidir ficar com o Ralph mesmo sendo casada. De
repente, eu não sabia mais quem era a mulher à minha frente.

— Eu me senti muito mal por ter feito aquilo com uma pessoa tão legal como o Dan…
eu tentei pedir desculpas um milhão de vezes, mas ele era orgulhoso demais para sequer
considerar aquilo. A gente continuou se vendo pelas festas do campus, continuamos
frequentando as mesmas rodas de amigos, mas nunca mais tivemos a oportunidade de
nos acertar…

— Você se arrependeu de ter ficado com aquele outro garoto?

Mamãe assentiu, cabisbaixa.

— Eu e o Dan podíamos ter dado muito certo. Ele sempre foi um homem íntegro,
honesto, batalhador e eu via futuro na nossa relação. O meu pai o adorava, dizia que ele
tinha cara de bom moço… eu que era uma cadela!

As lágrimas brotaram nos seus olhos e eu a consolei. Estava bastante surpresa em saber
sobre o caso entre a minha mãe e o meu professor de Administração Financeira, mas
decidi que não iria julgar mamãe por sua atitude inconsequente quando ela ainda era
uma garota recém-apresentada à vida adulta. Ficamos juntas um tempão no sofá e eu lhe
cobri de carinho, que era o que ela estava precisando naquela hora.

Naquela sexta-feira, Kailane ficou no meu pé o dia inteiro para que eu a convidasse
outra vez para visitar o apartamento do meu pai e quando eu perguntava a razão daquele
desespero todo, ela só sabia repetir: “Eu comprei um jogo novo e estou louca para jogar
com você”.

No sábado, Nyele mandou mensagem que não poderia aparecer no apartamento do meu
pai porque, segundo ela, estava menstruada e as cólicas “a estavam matando”. Como ela
queria, com a autorização do meu pai, convidei a Kailane para me fazer companhia no
sábado e a garota até quis andar de bike com a gente no parque, para manter a forma.

De tarde, jogamos em meu videogame o tal jogo que ela tanto queria me mostrar, mas
estava visivelmente distraída o tempo todo de olho na porta como que esperando que
mais alguém se juntasse a nós.

— Por que olha tanto para a porta do quarto? Está esperando alguém?

Ela deu risada e fez que não. Depois, continuou jogando, perdendo uma partida atrás da
outra, desatenta.

A certa altura da noite, papai apareceu à porta com uma bandeja encimada por uma jarra
e dois copos. Ele tinha batido um suco de cupuaçu com morango no liquidificador para
a gente e me lembrou pela milésima vez no dia que eu precisava me hidratar.

— Pelo menos dois litros de água por dia e mais um litro de suco de fruta, filha.
Lembre-se da sua dieta.
— Eu seeeei, pai!

Tomei metade de um copo de uma vez, sedenta e vi a Kailane cheia de sorrisos em


direção ao meu pai. Alguma coisa estava estranha, mas eu não tinha percebido o que era
ainda.

Por volta das nove da noite, como no fim de semana anterior, a Kailane ligou para os
pais na Freguesia do Ó pedindo autorização para dormir comigo mais uma vez e o seu
Hugo e a dona Paula permitiram, depois de pedir para falar pessoalmente com papai.

— Pode deixar, Hugo. A Kailane dorme aqui no quarto com a Sofia. As duas ficam
fofocando a noite toda, nem veem o tempo passar. — disse o meu pai ao telefone com o
pai da Kailane. — Fica tranquilo que a sua filha estará em ótima companhia e
totalmente segura.

Depois do sim, Kailane abriu um sorriso por trás dos lábios grossos e soltou um gritinho
de felicidade. Daquela vez, tinha vindo preparada e tirou da bolsa um conjuntinho fino
que usaria para dormir em minha cama.

— Nada contra os seus pijaminhas, amiga, mas hoje eu trouxe o meu!

Como papai havia previsto, eu e Kailane tínhamos muito assunto para botar em dia e
ficamos até de madrugada papeando sobre a cama. Perto das duas horas, eu
simplesmente capotei de sono e fui despertada algumas horas depois com a garganta
seca e o barulho de um grilo que estrilava do lado de fora da janela. Por estar dividindo
espaço com outra pessoa sobre o colchão, eu estava deitada bem na beirada e todo o
lençol estava amontoado ao pé da cama. Ao meu lado, não havia nem sinal da Kailane e
a parte que lhe cabia nem estava quente. Senti o meu coração disparar dentro do peito e,
pela primeira vez, aquela possibilidade passou pela minha cabeça.

— Isso não tá acontecendo…

Saí do quarto fazendo o mínimo de barulho possível, mas a dobradiça rangeu quando
abri a porta. Fiquei estática alguns segundos, depois, andei na ponta dos pés descalços
até o quarto ao lado, parando para ouvir através da porta. O corredor estava bastante
escuro e não dava para ver nada pelo buraco estreito da fechadura. O relógio na sala
batia quase cinco horas e lá dentro, eu ouvia suspiros, um resvalar de pele sobre tecido
fino e um som molhado, como se dois objetos úmidos estivessem em atrito. Eu não
queria acreditar, mas era exatamente o que eu suspeitava.

Eu saí arrasada de perto daquela porta e andei até o balcão da cozinha americana para
tomar uma água fresca. A minha garganta continuava seca e eu precisava arejar um
pouco as ideias. A história de que meu pai era um gostoso e que eu devia começar a
pensar nele como homem eram dicas que Kailane estava me dando de que ela mesma
estava querendo pegar o Robson.

E esse tarado topou! Ele tá comendo a minha amiga bem do meu lado!
Eu voltei para a cama e me cobri com o lençol. Não consegui mais dormir depois
daquela constatação e exatamente uma hora depois, ouvi a porta do quarto do meu pai
ranger e dois pés pequenos caminhando até o meu. Kailane ofegava e deitou-se ao meu
lado se esforçando para não balançar o colchão, achando que eu ainda dormia. Quando a
sua coxa tocou a minha por baixo do lençol, deu para sentir que estava suada e o cheiro
do perfume do meu pai exalava de toda a sua pele. Virada para o outro lado, eu me
encolhi e chorei por todo o resto de madrugada. O sol já estava incidindo em meu rosto
e somente o seu calor conseguiu secar as minhas lágrimas.
Capítulo 27 – Peterson

O MEU CASAMENTO COM ELISA sofria de altos e baixos desde o nascimento dos
nossos filhos e, durante um bom período de tempo, eu precisei lidar de maneira paciente
com ela para que um divórcio longo, desgastante e oneroso não acabasse destruindo de
vez a nossa família construída há quase dezessete anos.

O nosso tempo de solteiro era regado a muito sexo. Eu a tinha conhecido durante a
nossa graduação numa das universidades mais caras de São Paulo e quando começamos
a namorar, não havia tempo ruim para nenhum de nós. Onde fosse possível, estávamos
sempre atracados e a Lisa não era de se recusar a nada.

Certa vez, o tesão era tão intenso, que resolvemos transar num dos bancos do corredor
da reitoria. Ela se abaixou, pagou um dos boquetes mais incríveis da minha vida, depois,
se sentou em meu colo para que eu finalizasse. Fomos advertidos por comportamento
inadequado dentro das dependências da instituição alguns dias mais tarde, mas tinha
valido a pena cada minuto daquela nossa putaria.

Quando Elisa ficou grávida dos nossos gêmeos, o seu comportamento passivo/agressivo
se potencializou e tornou-se praticamente impossível convivermos. Ela chegou a passar
mal durante uma discussão entre nós e eu a tive que levar para o hospital com uma
suspeita de aborto espontâneo. Depois disso, a sua família achou melhor que nos
mantivéssemos afastados até que os bebês nascessem e ela voltou para a casa da mãe
por um tempo, sendo cuidada por ela e por sua irmã mais nova.

Depois do nascimento de Cleide e Cleber, os nossos filhos, as portas para o sexo se


fecharam por um longuíssimo período e, embora eu entendesse os motivos dela que
ficou se achando feia e fora de forma por conta da gravidez, eu quase não estava
suportando aquela situação. Carla, a minha cunhada, agora vivia enfurnada dentro da
nossa casa em Moema para paparicar os bebês e a Elisa tornou-se praticamente
dependente da irmã para tudo, fragilizada por todo o estresse que havia vivido desde
que se descobrira grávida.

Por mais que eu quisesse lhe dar suporte em meu papel de pai das crianças, era como se
a minha esposa não me quisesse mais por perto e demorou uma eternidade para que ela
voltasse a me tratar como o mesmo Peterson que ela conhecera na faculdade e por quem
tinha se apaixonado. A nossa reconciliação foi um dos períodos mais intensos de nosso
casamento, porque logo após Elisa conseguir voltar à forma de antes — algo que era
mais psicológico do que físico, já que ela quase não havia engordado nada durante
aqueles nove meses — e se sentir segura consigo mesma, nós dois voltamos a nos amar
como no período da faculdade e aquilo foi muito bom.

Nossos filhos agora eram dois adolescentes cursando o ensino médio, a Elisa continuava
sendo a diretora financeira da Suares & Castilho — a construtora herdada do seu pai
Jaime — e eu, trabalhava de segunda a sexta-feira como um dos engenheiros da
companhia da família, dando duro para que Cleide e Cleber tivessem um futuro
confortável sem dívidas.

Depois da saída de um dos meus cunhados da diretoria da empresa por conta de ações
fraudulentas à frente do cargo, o clima tinha fechado com o CEO da construtora, o cara
que havia entrado em sociedade com os Castilhos para salvar a companhia de uma
quase falência. Após o acordo de parceria com João Suares — o agora presidente —, os
meus cunhados, Renato e Mauro, tinham mantido juntos 30% das ações em nome da
empresa, sobrando outros 19% que eram divididos entre Elisa, Carla e os demais
acionistas. Suares sozinho mandava na porra toda com 51% das ações e com os deslizes
de Renato em sua gestão, o olho do velho tinha crescido em cima da parte que ainda
restava aos Castilhos, que eram quem tinham erguido a construtora do nada nos idos
anos oitenta.

A saída de Renato deixava Mauro com a batata-quente inteira nas mãos, com a missão
árdua de manter os Castilhos no poder e honrar o legado criado por seu pai. Elisa o
estava ajudando como podia, mas o clima tinha piorado muito nos corredores da Suares
& Castilho e todo mundo estava tendo que mostrar serviço para que a construtora não
passasse a se chamar apenas “Suares” em um futuro muito próximo.

Eu e Elisa quase nem estávamos nos vendo. Ela saía de casa antes de mim bem cedo,
nos encontrávamos esporadicamente no décimo quinto andar da torre noroeste do
complexo de onde ela despachava e eu raramente ficava no prédio por conta das minhas
funções como engenheiro. À noite, eu já chegava bem depois do jantar com as crianças,
após supervisionar obras e comandar projetos o dia inteiro, e deitávamos em nossa cama
exaustos. Fazia mais de dois meses que eu não sabia o que era sexo com ela e, para o
meu azar, ela não parecia sentir falta.

Logo no começo de fevereiro, perto do Carnaval, o meu supervisor dentro da Suares &
Castilho me incumbiu de acompanhar de perto uma obra que estava sendo realizada em
Vitória, Espírito Santo, em parceria com uma das empreiteiras que prestavam serviço
para nós, a Ao Cubo. A construção em questão era a de uma nova concessionária de
luxo de um grupo chamado Diamond Motors e, segundo o meu chefe, eu era “o cara”
para o trabalho.

— Mas estamos perto do Carnaval, feriado nacional…

Eu tentei argumentar ainda pensando em ficar alguns dias em casa na companhia de


Elisa e os meus filhos, mas não houve conversa. Eliéser Valentim era um sujeito sisudo
de cabelos grisalhos e barriga proeminente apelidado nos corredores de “Cérbero” por
ser um dos principais “cães de guarda” de João Suares ali dentro do setor de engenharia.
Ninguém ousava debater com o cara em hipótese alguma. Formado em Engenharia
numa universidade dos Estados Unidos, liderava equipes de obra muito antes de eu
sequer pensar em faculdade e era muito experiente no cargo, além de ser famoso por seu
mau humor constante.

— E você vai botar uma roupa de baiana e desfilar no sambódromo por acaso, Peterson?
Estávamos acompanhando uma obra em Vila Nova Conceição na ocasião e vi os peões
e serventes dando risinhos de deboche ao nosso redor com o seu comentário
“espirituoso” ao meu respeito.

— Não senhor, é que eu pensei…

— Você é um dos melhores que tenho na ativa, rapaz e essa construção em Vitória é
muito importante para a saúde financeira da companhia. Não quero os engraçadinhos da
Ao Cubo e nem da outra empreiteira capixaba que está cuidando do suporte
superfaturando notas ou fazendo qualquer outra merda que venha a manchar a nossa
imagem com o mercado. Você embarca para o Espírito Santo amanhã à noite e estamos
conversados.

Naquele mesmo dia, voltei ao complexo da construtora em Moema para dar a notícia
pessoalmente à Elisa e ela nem sequer titubeou em dizer:

— São só alguns dias, Peter. Você sobrevive.

No lugar de contrariedade e recusa a aceitar o afastamento do marido bem em época de


Carnaval, recebi incentivo em forma de sarcasmo e aquilo me deixou bastante
contrariado. Por conta do trabalho, estávamos nos afastando novamente como na época
do nascimento dos gêmeos e eu temia que daquela vez não tivesse volta.

Eu aprontei as minhas malas na quinta-feira com a ajuda da minha filha Cleide e,


diferente da mãe, ela estava muito sentida em ficar longe de mim por quase uma
semana. Estávamos planejando uma viagem ao litoral de São Paulo para aquele feriado
e dava para ver em seu rosto cheio de sardas — como o meu — a sua decepção.

— Não é justo, papai! Você prometeu a mim e ao Cleber que a gente ia passar o
Carnaval na praia.

Eu estava dobrando algumas camisas e calças sobre a cama antes de enfiar na mala. Ela
estava sentada ao lado, ajeitando o meu nécessaire com a lâmina de barbear, o creme e a
colônia pós-barba que eu usava. Ela sabia bem tudo que eu costumava carregar na
bagagem quando fazia viagens a trabalho pela Suares & Castilho e sempre gostava de
me ajudar com aquela tarefa. Dizia que eu tinha cabeça-de-vento e que me esquecia
sempre do essencial.

— Eu sei que prometi, meu amor, mas as coisas andam tensas no trabalho. Não posso
simplesmente me indispor com o meu chefe.

Cleide estava com feição emburrada e empurrou alguns cachinhos dos cabelos ruivos
para trás antes de fechar o zíper do nécessaire com força e me encarar com os seus
olhões verdes que herdara da minha família.

— Por que eles não mandam o tio Roque no seu lugar? Aposto que ele não se
importaria!
Roque era o meu cunhado, marido de Carla e pai da minha sobrinha Micaela. Assim
como eu, ele também era um dos engenheiros da companhia e, normalmente,
viajávamos juntos para resolver os problemas com obras que estavam sendo realizadas
fora de São Paulo. Daquela vez, no entanto, ele não estava disponível e o Valentim tinha
outros planos para ele em São Paulo.

— O tio Roque está ocupado com outras coisas, amor. Infelizmente, o seu pai é o único
que pode resolver esse pepino lá em Vitória.

Ela se levantou de um pulo da cama e agitou-se com os pezinhos descalços sobre o


tapete do meu quarto.

— Uma amiga minha que está morando lá contou que tem praias ótimas em Vitória. Por
que você não me leva contigo? Pelo menos assim, enquanto você trabalha, eu poderia
visitar essa minha amiga, a Nicole, e nós duas podíamos curtir a praia juntas, passear,
conhecer gente nova…

— Infelizmente não dá, filhota — respondi, tirando dela qualquer esperança de diversão
praieira para aquele feriado. —, o papai não vai ter qualquer tempo de se divertir e eu
ficaria preocupado em te largar numa cidade que não conhece direito. Não posso
permitir.

Ela emburrou de novo e correu para me abraçar. Aninhou a cabeça vermelha em meu
peito e me apertou forte.

— Vou ficar com saudades, papai. Muitas!

Fiz-lhe um carinho nos cachos e respondi, após dar-lhe um beijo no topo da cabeça:

— Eu também, meu neném, mas o papai promete que volta assim que der.
Capítulo 28 – Peterson (PARTE 2)

O VOO DE GUARULHOS com destino ao Aeroporto Eurico Aguiar Salles em Vitória


estava marcado para decolar às vinte e uma horas e, por incrível que aquilo pudesse
parecer, ele não atrasou nem sequer um minuto. Eu tinha despachado a maior parte da
minha bagagem e tinha ficado apenas com uma bolsa onde carregava um tablet, o meu
celular e um livro de ficção policial que estava lendo. A classe executiva estava bem
tranquila aquela noite e, entretido em minha leitura, demorei a lançar um olhar pelas
demais poltronas. Duas risadas femininas constantes acabaram me chamando a atenção
quase uma hora depois do avião ter decolado e eu marquei a página em que estava para
conferir de onde vinham.

— … o seu irmão nunca daria essa tarefa a mim se ele não confiasse plenamente na
pretinha aqui.

Três fileiras atrás da minha, duas moças batiam papo alegremente e as suas risadas
soavam discretas enquanto boa parte dos demais passageiros descansava num voo
previsto para durar duas horas e quarenta minutos. A que falava de maneira mais
expansiva era uma negra linda de cabelos encaracolados loiros e um par brilhante de
olhos verdes naturais. A outra, também tinha cabelos cacheados, era dona de uma pele
morena de sol e esbanjava um sorriso gracioso no rosto jovem. Deviam ter vinte anos no
máximo, era a minha aposta.

— Será que vai sobrar algum tempo para curtirmos uma praia em Vitória? Tenho ótimas
referências da Praia dos Padres em Guarapari. Tenho amigos que visitaram e amaram!

Fiquei com os ouvidos atentos na conversa das duas. A morena tinha uma voz
melodiosa, a outra, uma entonação firme e sexy.

— Talvez no feriado… a Vecchio Tour não vai abrir na terça-feira de Carnaval. De


repente, nós duas podemos nos arrancar para Guarapari e curtir um pouco.

Novas risadas ecoaram na classe executiva e foi então que me permiti virar em direção a
onde estavam e me levantei do meu assento. Não costumava fazer aquele tipo de
abordagem considerada mais invasiva a moças, mas tinha ficado bastante atraído por
elas e tentei puxar assunto, com a desculpa que estava indo ao banheiro.

— Me desculpem. Eu estava lendo na poltrona ali em frente e a sua conversa acabou


chegando aos meus ouvidos…

A de olhos verdes brilhantes me encarou de maneira intensa esperando que eu


concluísse, mas a outra se antecipou, pedindo desculpas.

— Perdão, moço… a gente não queria atrapalhar.

Acenei negativamente com um sorriso e completei:


— Não, de maneira alguma. Vocês não estavam me atrapalhando, é que eu fiquei
curioso a respeito da praia que mencionaram e eu só queria fazer uma pergunta.

Eu tinha pensado naquela estratégia de abordagem de improviso e, por um momento,


achei que tinha me precipitado. A de cabelos loiros fechou o cenho parecendo brava e
foi direta:

— Estava prestando a atenção na nossa conversa?

Um sujeito meio gorducho sentado na poltrona atrás delas se mexeu e me encarou de


maneira ressabiada. Fez cara de insatisfação e, depois, tornou a ler em seu Kindle.

— Não, é que eu ouvi por acaso quando mencionaram Guarapari e eu queria saber se
vocês conhecem o lugar ou se recomendam.

A negra continuou com feição fechada, mas a outra estava mais disposta a conversar e
sacudiu a amiga.

— A Nalanda aqui é supervisora de vendas da agência de viagens do meu irmão. Ela


sabe tudo sobre o Espírito Santo, não é, amiga?

Havia agora um par de sobrancelhas levemente curvadas sobre os olhos verdes daquela
moça que encarou a amiga de maneira indisfarçavelmente incomodada. Aproveitei a
deixa.

— Que sorte a minha encontrar uma supervisora de vendas de uma agência de turismo
bem pertinho do meu assento!

A morena de rosto bonito riu como que debochando da outra, que logo voltou a me
encarar com expressão séria.

— A minha amiga aqui ao lado fala demais. — E a repreendeu com uma cotovelada de
leve. — Eu não sei tudo sobre o Espírito Santo. Só estou indo supervisionar uma equipe
nova de vendas na filial da agência em Vitória, só isso.

Uma comissária de bordo já me encarava feio perto da porta de acesso para a classe
econômica, incomodada em me ver ali levemente encurvado sobre a poltrona das duas
moças bem no meio do corredor do avião. Eu precisava abreviar o papo e ver se
conseguia o contato de pelo menos uma delas… ou das duas.

— De qualquer maneira, acredito que possa me ajudar com as minhas dúvidas. É a


minha primeira vez em Vitória e gostaria de visitar alguns lugares interessantes por lá.

Eu não queria parecer um tarado assediador, por isso, tentei levar o assunto o mais
profissionalmente possível. Nalanda, a negra de cabelos loiros, era incrivelmente
atraente e dona de uma beleza exótica que não se via muito por aí. A sua amiga não
deixava nada a dever e ostentava um belo par de coxas pelo short curto que usava além
de pés delicados por entre as tiras da sandália de couro que calçava.
— Você pode entrar em contato com a nossa agência em Vitória — e ela me estendeu
um cartão de visitas com o seu nome, telefone e o site da tal agência —, tenho certeza
que alguém lá vai querer ajudar.

Depois daquilo, não tive mais como manter o assunto com as meninas e agradeci o
cartão, saindo em direção ao banheiro. Aquele par de coxas com o shortinho de uma e o
decote da outra tinham me deixado realmente excitado.

Eu não voltei a falar com as duas amigas durante o voo e as perdi de vista no
desembarque do Eurico Aguiar Salles. As minhas malas demoraram a aparecer nas
esteiras e eu perdi mais de vinte minutos dentro do táxi tentando chegar ao hotel que
havia reservado. A Suares & Castilho bancaria a minha estadia de cinco dias na cidade
capixaba e, por conta disso, não quis economizar, pegando um dos quartos mais
confortáveis — por isso mais caros — da hospedaria. Tinha muita coisa a fazer na
manhã seguinte e precisava estar descansado.

O meu primeiro encontro com os representantes da Ao Cubo e a empreiteira Solar, que


era quem dava todo o suporte à obra em Vitória, aconteceria logo cedo e um dos
subordinados me levou pessoalmente até o local onde a construção da concessionária já
estava em estágio avançado. O canteiro ocupava bem mais de um quarteirão numa das
vias de acesso mais bem localizadas da cidade e assim que me equipei com os
acessórios de segurança de praxe — como capacete e luvas — fui levado a visitar o
prédio que teria quatro andares, estacionamento amplo privativo no subsolo e até
mesmo um heliponto no telhado central.

O dono da Diamond Motors era um holandês radicado no Brasil de sobrenome


impronunciável que estava estendendo a sua rede europeia para vários pontos do nosso
país. Além da concessionária que ficava em São Paulo, o empresário já havia instalado
uma no Rio de Janeiro, outra na Bahia e tinha planos para expandir a sua franquia para
mais três estados além do Espírito Santo. Pelo menos dois daqueles projetos estavam
agora sobre a supervisão da Suares & Castilho e aquela conta tinha sido bastante
disputada com outras construtoras como a Monterey e a Constrular, as nossas duas
maiores rivais.

— Senhor Tomazzi, eu quero lhe apresentar ao nosso engenheiro-chefe da obra,


Teodoro García. É ele quem vai lhe passar os detalhes sobre o projeto que veio
supervisionar em nome da Suares & Castilho.

O sujeito de sotaque capixaba que me acompanhou até ali me apresentou a um homem


alto, largo e de barba espessa no rosto. Tinha um aperto de mão tão firme quanto eu
imaginava que seria e parecia ser alguém prático, com pouco tempo a desperdiçar. Tão
logo fomos apresentados, andou comigo até o escritório em anexo numa cabine vizinha
ao prédio em construção e me mostrou todas as plantas do lugar, me colocando a par de
cada um dos pormenores. Do lado de fora da janela de vidro, era possível ver um sem-
número de trabalhadores andando de um lado para outro da obra, além de tratores
empilhando tijolos, vigas de aço, pedra e areia. No alto das nossas cabeças pairava um
guindaste de torre que estava sendo usado para fixar as placas de concreto no piso
principal do primeiro andar e o som lá fora era ensurdecedor.

Depois de me colocar a par de grande parte do projeto e de me inteirar com a sua equipe
financeira quanto ao orçamento que estava sendo dispendido para a obra, o próprio
García me apresentou a outras pessoas importantes que estavam trabalhando com a
Solar na construção daquela concessionária, entre elas, o engenheiro elétrico que
chefiava a equipe, um tal Luiz Rodrigues. Ele era um sujeito de corpo esguio e cabelos
castanhos que estava acompanhado de uma loira muito linda de olhos escuros e porte de
modelo chamada Bárbara de Alcântara e Albuquerque. Ela era designer de interiores e,
além de herdeira de Pedro Augusto de Alcântara e Albuquerque — simplesmente o
CEO da empreiteira Ao Cubo com a qual a Suares & Castilho estava trabalhando —, a
moça também estava ali como representante da agência de arquitetura e design de
propriedade da minha cunhada Carla Alencar Castilho, a A3, que também era parte
daquela equação.

— Prazer em conhecer, senhor Tomazzi.

Eu e Bárbara não nos conhecíamos e a moça não fazia ideia que estava tratando com o
cunhado da sua atual patroa.

— O prazer é todo meu, senhorita Bárbara — disse, apertando suavemente a sua mão
direita —, eu conheci o seu pai num jantar de negócios há alguns anos e admiro muito o
trabalho dele.

Ela estava usando um capacete sobre as madeixas platinadas e vestia uma camisa polo
por cima de uma calça jeans. Mulheres costumavam ser tratadas sempre com bastante
misoginia naquele “clube do Bolinha” que era a área da construção civil, mas em face
de todos os comentários machistas que ela já devia ter ouvido por ali, a moça parecia
bastante segura de si.

— Meu pai é bastante reverenciado na área que atua, mas estou aqui representando a
empresa de arquitetura em que trabalho atualmente.

Ela era bastante sisuda e não demonstrava qualquer simpatia com seu tom de voz. Era a
caçula de Pedro Augusto e se eu bem conhecia o velho, a coitada devia ter sofrido um
bocado para conseguir chegar aquela posição de supervisora de obra. Eu entendia muito
bem a razão dela não viver de sorrisos ou agir de maneira mais expansiva o tempo todo.

— Esse é um projeto muito importante para a nossa construtora. — disse eu, pouco
depois, em meio aos meus demais colegas que incluíam o García, a senhorita
Albuquerque e o engenheiro elétrico Luiz Rodrigues. — Quero que o nosso
relacionamento seja o mais profissional possível enquanto estivermos trabalhando
juntos. Ainda temos muita coisa para fazer nos próximos dias, por isso, vamos voltar às
atividades e deixar de conversa.

Não era fácil chefiar uma equipe a qual eu não estava nem um pouco familiarizado e
aquele primeiro contato com os representantes da obra foi um tanto quanto truncado,
visto que eu estava ali para encontrar possíveis erros que eles poderiam estar
cometendo. Apesar da minha experiência em engenharia, eu estava lidando com caras
que estavam na estrada há bem mais tempo — como era o caso do próprio García — e
aquilo acabava mexendo com os brios de um profissional. Com certa resistência, ele
ouvia os meus conselhos quanto as melhorias que podiam ser feitas no desenvolvimento
da obra em andamento há alguns meses, mas estava claro em seu semblante o quanto
aquilo o incomodava.

Até mesmo a equipe de engenharia elétrica chefiada por Luiz Rodrigues — que mais
tarde descobri ser o noivo de Bárbara de Alcântara — me olhava com certo ar de
escárnio ante as minhas sugestões para as instalações de energia e, já no primeiro dia,
foi bem difícil conseguir algum avanço com toda aquela picuinha entre as partes
envolvidas, embora eu tivesse que apresentar relatórios para a diretoria da S&C no
começo da noite.
Capítulo 29 – Peterson (PARTE 3)

AO ANOITECER, EU JÁ estava em meu quarto de hotel quando fui mexer na calça


com que tinha viajado de São Paulo até Vitória e acabei encontrando o cartão de visitas
de Nalanda Venâncio, a negra maravilhosa que havia conhecido durante o voo. Eu
estava sozinho em uma cidade praieira bem longe do meu habitat natural paulistano e,
por um momento, pensei que podia conseguir alguma companhia para diminuir a
solidão. Além dos contatos da empresa onde ela trabalhava, havia um número de
WhatsApp particular no tal cartão e tentei a sorte puxando papo. Me deitei em minha
cama apenas com um roupão sobre o corpo depois de um banho relaxante na banheira
do quarto e ela respondeu algum tempo depois.

— Quem é?

— Você deve se lembrar de mim. Nos conhecemos durante o voo, falamos brevemente
sobre as praias de Vitória, sobre o seu trabalho na agência…

Eu tinha medo de estar sendo muito indiscreto, tendo em vista que ela não parecia ter
simpatizado muito comigo à primeira vista, mas estava esperançoso que pelo menos a
sua amiga quisesse tomar um drinque comigo uma noite daquelas.

— O ruivo de olhos verdes?

Me perguntei quantos outros caras ela teria conhecido durante o mesmo voo lhe fazendo
perguntas sobre viagens para que ela ainda precisasse perguntar aquilo, mas confirmei,
com educação.

— Ele mesmo. Eu estou aqui em meu quarto de hotel e estava pensando se não
podíamos marcar um encontro dia desses para falarmos um pouco mais sobre viagens e
pontos turísticos.

O meu ataque tinha sido incisivo, mas o máximo que poderia acontecer era eu ser
esnobado e ela bloquear o meu contato para sempre. A meu ver, valia a tentativa.

— Desculpe, eu não me envolvo com clientes da agência que represento.

— Eu só estava pensando em tomar um drinque com você e a sua amiga. Estamos os


três visitando uma cidade que não nos é familiar, longe das pessoas que conhecemos…
achei que fosse um bom programa curtirmos uma noite animada de bate-papo fora do
trabalho.

Ela demorou um instante maior para responder. Nalanda estava sorridente em sua foto
de perfil diante de uma praia de mar azul e céu idem. Era ainda mais linda mostrando os
dentes e tinha peitos empinados saltando pelo biquíni.

— Em que hotel você está?

Eu digitei o nome da minha hospedagem e, em seguida, ela respondeu com risadinhas.


— O mesmo que o nosso!

Era bastante coincidência, mas tínhamos nos hospedado no mesmo lugar. Qual era a
chance de aquilo acontecer, tendo em vista as inúmeras opções que tínhamos
disponíveis no entorno de Vitória?

— É mesmo o destino querendo nos juntar!

Ela mandou novas risadinhas, em seguida, disse de maneira bastante categórica:

— Tem um bar seguindo o hall de entrada do hotel. Nos encontre lá em trinta minutos e
eu deixo que pague alguns drinques pra gente.

Tinha sido melhor do que eu esperava e, no instante seguinte, comecei a me aprontar


para descer até o térreo. Aquela noite eu não passaria sozinho.

Vesti uma camisa social de mangas dobradas, botei uma calça jeans e calcei um
sapatênis antes de pentear os cabelos com gel para encontrar as garotas. Não sabia se as
duas tinham prestado a atenção em minha mão esquerda durante o voo, mas por
segurança, deixei a minha aliança de casamento no quarto. Elas já estavam lá quando eu
cheguei e eu as encontrei junto ao balcão do bar conversando alegremente como no
avião. Pareciam se conhecer há muito tempo dado o grau de intimidade que tinham uma
com a outra e eu me apresentei formalmente.

— Muito prazer, Peterson Tomazzi.

Nalanda foi a primeira a me cumprimentar com um beijinho e foi inevitável não sentir
aquele perfume afrodisíaco que emanava do seu pescoço. Ela tinha prendido os cabelos
cacheados para trás e aquilo dava uma ideia ainda maior de o quanto o contorno de seu
rosto era simétrico. A blusa que vestia era ainda mais decotada que a primeira que a
tinha visto usar e ela tinha peitos médios, porém, bem empinados.

— Oi, prazer, me chamo Rarissa.

A de pele morena era levemente menor que a amiga e se empinou um pouco para
alcançar o meu rosto durante o cumprimento. Seus cabelos estavam soltos nas costas,
usava um top e uma saia justa cobrindo o quadril sinuoso. Era tão cheirosa quanto à
amiga e exibia um sorriso bastante contagiante no rosto bonito.

— O prazer é todo meu, Rarissa.

Do balcão, seguimos para uma mesa mais privativa ao fundo do bar e pedimos junto ao
garçom que nos atendeu as nossas bebidas. Tinha que trabalhar na manhã seguinte,
portanto, era bom não exagerar no álcool. Pedi um Bourbon on the rocks e elas ficaram
no Bloody Mary.

Nalanda estava mais comunicativa e menos arredia depois da nossa conversa amistosa
por mensagem e parecia não me enxergar mais como um perseguidor tarado. Descobri
por nossa conversa que ela tinha vinte e três anos, era formada em Turismo e que
trabalhava na mesma agência de viagens desde que ainda era uma estudante graças ao
convite dos amigos de faculdade. Ralph Vecchio e Celso Moraes eram dois jovens
empreendedores com praticamente a mesma idade que ela que haviam se juntado para
realizar o sonho de serem donos do seu próprio negócio numa das cidades mais caras do
Brasil e, depois de um tempo, haviam aberto uma filial de sua agência em Vitória,
deixando a gerência por conta de um amigo. O que tinham de jovens, tinham também de
talentosos.

Rarissa, por sua vez, era mais nova e mal tinha acabado de completar seus dezoito anos.
Era irmã do tal Ralph e tinha escolhido fazer a mesma faculdade que ele para ajudá-lo a
administrar os negócios. Era filha de um engenheiro civil que morava em Santa Catarina
e foi surpreendente descobrir que eu já havia feito negócios com o seu pai, Júlio
Vecchio, há muitos anos, quando eu ainda era um iniciante na área.

— O seu pai prestava serviço para uma multinacional chamada Onyx Corporation na
época e eu fui contratado como auxiliar de obra por uma das empreiteiras a que ela era
filiada. Foi um projeto de uns três dias apenas em São Paulo, mas eu me lembro bem
dele. Sujeito parrudo, olhos castanhos, cabelos cacheados assim como os seus…

Ela bebericou o seu coquetel e abriu um sorriso largo à minha frente por saber que eu
conhecia o seu velho. Era incrivelmente bonita e o rosto inteiro se irradiava conforme
sorria.

— O papai ainda trabalha para a Onyx. A vida dele é praticamente dedicada a essa
empresa e ele é um dos melhores no que faz lá em Florianópolis.

Depois de revelar que havia trabalhado com o pai de uma das garotas, aprendi que não
as conseguiria mais convencer de que eu tinha menos idade do que realmente tinha e
toda a minha jogada de “pagar de gatinho” foi para o espaço quando Nalanda,
observadora, olhou bem para o meu dedo anelar esquerdo e perguntou, após esgotar o
seu copo de Bloody Mary:

— Esqueceu a sua aliança no quarto, Peterson?

Eu encarei a minha própria mão notando que a marca de sol em torno do lugar onde
ficava a aliança era indisfarçável. Dei um sorriso amarelo e confirmei:

— Devo ter esquecido na pia quando fui tomar banho…

Eu não podia mais fingir que era um solteirão em busca de aventuras sexuais em Vitória
e, depois disso, tive que responder a várias perguntas sobre a minha esposa. Eu podia ter
dito que era divorciado há pouco tempo, mas preferi não me arriscar mentindo, já que
era fácil elas encontrarem o meu perfil nas redes sociais e ver que eu ostentava milhares
de fotos ao lado de Elisa, Cleide e Cleber, num clima de família feliz por lá.

Melhor evitar o constrangimento, pensei.


Capítulo 30 – Peterson (PARTE 4)

A CONVERSA NÃO PERDEU o ritmo apesar da revelação que eu era casado há quase
dezessete anos e que tinha um casal de filhos gêmeos. Pelo contrário. As garotas até
pareciam que estavam curtindo falar com um cara mais velho e, à certa altura do papo,
começaram a me chamar de “papai” por conta da minha idade com relação à delas, o
que acrescentou uma conotação bastante incestuosa ao que eu estava pretendendo com
as duas.

Ambas eram solteiras e confessavam abertamente que não se deixavam prender


facilmente a relações que lhe colocariam amarras quanto ao seu desejo crescente de
curtir a vida. Eu estava bastante ciente que aquela conversa podia resultar apenas em
cada um seguindo para o seu próprio quarto depois de algumas horas de bebedeira e eu
sendo obrigado a me masturbar antes de dormir para me aliviar, mas o que veio a seguir
mudou o rumo de tudo.

— Agora que a gente sabe que você só nos abordou no avião com aquele papo de
viagem como um pretexto para se aproximar de nós duas, por que a gente não corta logo
a parte da enrolação e vai para os finalmente, “papai”?

Nalanda estava me encarando de maneira bastante sensual e Rarissa a imitou. Era bem
óbvio que ambas já tinham discutido aquilo em seu quarto antes de topar se encontrar
comigo no bar e que todo o mise-en-scène de boas moças que estavam praticando ali
desde que se sentaram era uma espécie de teste que estavam fazendo comigo.

— Eu e a Nalanda apostamos quanto tempo você ia demorar para insinuar suas


intenções de nos levar juntas ou uma de cada vez para a cama, papai, e eu confesso que
perdi. — disse Rarissa.

Elas sorriram uma para outra e Nalanda emendou:

— A Rari apostou que você não ia apresentar qualquer intenção mais ousada para com a
gente e eu apostei que você não conseguiria ficar sentado aqui mais do que uma hora
sem demonstrar segundas intenções.

Eu me ajeitei em meu assento com um sorriso de quem não sabia do que elas estavam
falando na cara.

— E que tipo de segundas intenções eu apresentei?

Outra encarada cúmplice entre elas e Rarissa respondeu:

— Se formos até aí e constatarmos que você não está tendo uma ereção olhando para o
decote da minha amiga ou nos ouvindo te chamar de “papai”, desejamos boa noite e
cada um segue para o seu quarto.

Aquele era o jogo mais erótico que já tinham feito comigo num primeiro encontro. Até
mesmo a Elisa tinha pegado mais leve. O bar estava relativamente pouco frequentado
aquele horário, mesmo assim, estávamos tomando o cuidado de moderar nosso tom de
voz devido o teor da conversa.

— Agora — disse Nalanda —, se confirmarmos que você está duro enquanto falamos,
você vai ter que me compensar de alguma maneira, pois eu terei ganhado a aposta.

Eu não tinha como me negar àquele teste. No momento seguinte, acenei para ambas,
que discretamente arrastaram as suas cadeiras para o meu lado e sem qualquer
hesitação, enfiaram as suas mãos ao mesmo tempo por baixo da mesa, entre as minhas
pernas. Como Nalanda previa, eu estava tendo uma ereção completa naquele instante e
as duas puderam constatar aquele fato esfregando seus dedos delicados em mim por
sobre a calça e me deixando ainda mais ereto.

— Uau, papai! — Interjeitou Rarissa, agora com uma tremenda cara de safada e
afastando a mão do meu pênis. — Está melhor do que eu imaginava!

Nalanda aproveitou para segurar com um pouco mais de firmeza antes de largar de vez.

— E parece ser um belo instrumento de aferição, senhor engenheiro!

Estávamos além das insinuações agora e provoquei:

— Vocês podem conferir de perto lá no meu quarto.

Elas riram e, após dar uma piscada para a amiga, Nalanda disse:

— Não queremos problemas com a nossa mamãe, papai.

Respondi no mesmo tom:

— A mamãe não precisa ficar sabendo.

Eu estava achando toda aquela situação incrível demais para acreditar que fosse verdade
e confesso que quando retornei para o meu quarto a fim de esperar que as duas viessem
me visitar juntas, um monte de coisas absurdas passou pela minha cabeça.

E se tudo isso for uma pegadinha e elas trouxerem câmeras para me humilharem ao
vivo em algum tipo de desafio de internet? E se elas só estiverem querendo tirar um
sarro da minha cara, me acusando de assediador barato ou algo do tipo? E se elas
simplesmente me deixarem esperando?

Eu havia conhecido Nalanda e Rarissa melhor a bem menos do que quatro horas e,
naquele momento, as estava esperando em meu quarto só de roupão com a expectativa
de viver uma noite de muito sexo num picante ménage à trois. Estava bastante
esperançoso e ansioso ao mesmo tempo, mas tinha ciência que uma noite solitária de
masturbação era uma possibilidade.

As batidas na porta foram suaves e quando abri, elas estavam lá como haviam
prometido, apenas cinco minutos após o combinado.

— Achou que a gente não vinha, papai?


— Estamos aqui para a diversão!

Elas tinham mudado de roupa e estavam ainda mais gostosas. Usavam cada uma delas
um vestido curto de alças e Nalanda tinha apostado numa sandália confortável de tiras
nos pés. Eu as deixei entrar com um sorriso de orelha a orelha e, enquanto caminhava
até o frigobar onde havia deixado um champanhe dentro do balde de gelo, dei uma
checada para me certificar que elas não seguravam nenhuma câmera ou celular. Parecia
que minhas suspeitas eram infundadas.

— Que tal uma bebida para comemorarmos o nosso encontro?

Eu já estava me preparando para estourar o champanhe quando a Nalanda se aproximou


de mim por trás e deslizou a sua mão por minha barriga, alcançando o meu pau.

— E que tal se a gente começar logo o que viemos fazer aqui hoje?

Podia-se dizer que eu estava à flor da pele depois de passar semanas inteiras sem sequer
tocar num corpo feminino — ou qualquer corpo — e não foi nada difícil me dirigir com
as duas à cama king size que nos esperava ali a poucos metros de distância em minha
suíte. Dava para sentir com as mãos o fogo que ardia naquela negra maravilhosa e ela se
precipitou logo a me beijar a boca, com gula, com ardor. Agarrei-a pela cintura tão logo
se projetou em cima do meu colo na cama e, em seguida, senti uma bunda rija que eu
mal conseguia cobrir inteira com os meus dedos.

Olhei para o lado e a mais nova tinha começado a se despir. Estava só de calcinha por
baixo do vestidinho e tinha peitos lindos, médios, empinados e de aréolas castanhas.
Não havia sequer uma marca de biquíni em seu corpo o que mostrava que ela devia
estar acostumada a tomar banho de sol peladinha. Acenei para Rarissa e a menina se
aproximou, me deixando dar uma chupada naqueles peitinhos.

— Olha isso, que delícia!

Ela segurou os meus cabelos enquanto eu enfiava a cara no meio dos seus peitos e,
então, Nalanda também tirou a sua roupa em meu colo.

— Gosta de peitos, papai? Que tal os meus?

Como dava para ver pela blusa que usava mais cedo, eram dois montes médios de bicos
salientes e as aréolas escuras me deram água na boca.

— São perfeitos!

Era difícil de acreditar, mas estava mesmo acontecendo. Eu as tinha convencido a ir


para a cama comigo sem nem me conhecerem direito, apenas pela lábia, e aquela noite
era com certeza uma das melhores da minha vida.

— Olha só quem está nos dando um “alô”, Rari!

Nalanda arrancou o meu roupão e, logo em seguida, começou a masturbar o meu pau
que já estava no ápice da rigidez.
— Caralho, papai! Como é grande!

Rarissa quis brincar também e, logo depois, o empunhou com os dedos delicados e ficou
masturbando enquanto me olhava com uma tremenda cara de safada. Ela fazia as vezes
da típica ninfeta atrevida com os seus trejeitos e maneirismos quando se expressava e
aquilo me deixava maluco. Tinha um dos corpos mais magníficos que eu já tinha visto
pessoalmente e era toda durinha ao toque. Quando deslizou a língua em minha glande,
quase acabei com a festa mais cedo, mas me segurei.

— Acho que o papai quer uma chupada, Rari. Capricha, amiga!

Rarissa se botou de quatro vestida só com uma calcinha branca e, após o pedido da
amiga, começou a chupar a minha cabecinha devagar, saboreando as minhas reações de
prazer. Como num filme pornô, como que tirando os cabelos cacheados do rosto para
que ele aparecesse diante das câmeras, ela os empurrou para trás antes de intensificar a
mamada e outra vez foi difícil segurar o gozo.

— Oh, meu cacete! Você é maravilhosa!

Quando Nalanda deu a ideia de nós três irmos para cima da cama e ambas começaram a
tirar toda a roupa, foi uma experiência transcendental. Nada que eu já tinha feito em
matéria de sexo se comparava a ter aquelas duas garotas comigo.

Num dado momento, enquanto esfregavam os corpos nus contra o meu, as duas
começaram a dar indícios de que queriam se beijar e se acariciar, eu incendiei ainda
mais o seu desejo.

— Façam o papai feliz, filhinhas. Se beijem para eu ficar olhando.

As duas me olharam por um instante sorridentes e, então, como que para aumentar ainda
mais o prazer que eu estava sentindo, elas começaram a insinuar beijos, tocando apenas
levemente os seus lábios. A mão de Rarissa continuou me acariciando o pau, comigo
deitado ali entre as duas. Logo depois, decidiram parar de provocar e trocaram um beijo
de língua bem tórrido.

Daquele momento em diante, não demorou até que estivéssemos, enfim, partindo para a
penetração e as duas não pararam mais de se tocar e de se beijar na minha frente.
Rarissa tinha insistido para que eu botasse um preservativo e eu atendi a sua exigência
pouco antes de ela se sentar em cima de mim de frente e me permitir meter dentro
daquela bucetinha maravilhosa e inteira depilada.

— Devagar, papai. Eu sou virgem.

Aquilo me deixou atônito um momento, em seguida, ela encarou Nalanda que lhe
acariciava os seios ao seu lado e as duas começaram a rir. Rarissa então ajeitou o meu
pau dentro dela e começou a se sentar com força, provando que o que acabara de dizer
era só um blefe. Enquanto a mais nova esfregava o grelinho sentando em cima de mim,
Nalanda lambeu o ombro da amiga e, olhando para mim, disse, em sussurro:
— Vamos ver se o papai é capaz de aguentar mesmo nós duas a noite toda ou se ele
acabou abocanhando mais iscas do que pode comer.

Me senti desafiado com aquele comentário e mais do que nunca estava decidido a
mostrar serviço. Agarrei os quadris de Rarissa e deixei a novinha se esbaldar sobre o
meu pau. Ela era bastante experiente no assunto, mas eu estava louco para experimentar
o que Nalanda seria capaz de fazer quando assumisse a sua posição em meu colo.
Capítulo 31 – Roque

EU TRABALHAVA COMO ENGENHEIRO para a Suares & Castilho há vários anos,


mas nunca tinha visto a construtora em uma crise de egos tão grande quanto a que
estava afetando a empresa naquele período.
João Suares era o presidente do grupo com 51% das ações desde que os meus cunhados,
Renato e Mauro, quase haviam levado a companhia à falência nos anos noventa 90,
após a morte do pai Jaime, o seu fundador.
Suares era um administrador com “A” maiúsculo e, apesar do seu gênio forte e da sua
reconhecida arrogância, sabia bem o que estava fazendo à frente dos negócios. O
problema é que ele tinha se sentido enganado por Renato que, por debaixo dos panos,
tinha tentado boicotar as outras construtoras rivais praticando espionagem industrial 21 e
aquilo havia enfurecido o velho a ponto da sua quase inexistente paciência se esgotar
totalmente.
Eu era casado com a Carla, detentora de 5% das ações da empresa e a herdeira mais
jovem do velho Jaime Castilho. Estava relativamente longe do nível hierárquico da
diretoria que os irmãos da minha esposa ocupavam, mas mesmo assim, os respingos da
merda feita por Renato estavam caindo em mim no setor de engenharia.
O simples fato de eu ser casado com a caçula dos Castilho me tornava o alvo
preferencial do meu supervisor imediato, Eliéser Valentim, que estava me mantendo
sobre rédeas curtas em meu trabalho, me adestrando feito um potro recém-nascido.
Em uma semana, o cara tinha me feito viajar três vezes para o interior do estado a fim
de que eu acompanhasse a mesma obra que já estava em fase de conclusão e, por lá, não
havia nada efetivamente prático que eu pudesse supervisionar. Eu estava sendo mantido
longe do prédio-sede como uma medida punitiva e não pegava nenhum projeto decente
há mais de um mês. Não tinha qualquer culpa de ser cunhado de um imbecil ganancioso
e toda aquela situação estava me estressando.
No retorno a São Paulo de uma das minhas viagens inúteis para Campinas, onde
acompanhei a entrega de um edifício de apartamentos assinados pela S&C em parceria
com uma empreiteira de nome Velásquez e CIA, eu visitei a minha esposa em sua
agência de design e arquitetura na Vila Mariana para lhe contar sobre a tremenda perda
de tempo que estavam me fazendo passar na empresa de seu pai.
Carla estava bastante ocupada com um projeto envolvendo outra das parceiras de
construção da S&C chamada Ao Cubo — onde eu havia começado a minha carreira
trabalhando como assistente de projeto —, por isso, não me demorei dentro da sua sala
envidraçada no nono andar. Do lado de fora, as duas sócias dela ficaram me encarando
como sempre faziam desde que as conheci no campus de exatas da faculdade e eu
disfarcei para que não rolasse ciúmes por parte da minha mulher. Eu e Carla estávamos
em um período de reconciliação bastante delicado e, embora eu sentisse muita atração
por Nana e Duda, que mesmo trintonas ainda eram bem gostosas, não queria estragar
aquilo com desconfianças desnecessárias.
21
Renato Castilho implantou um espião dentro da Construtora Monterey em Desejos 35 – A Herdeira,
história publicada pela Buenovela como A Herdeira Rebelde
Na saída da A3 – Design e Arquitetura, me dirigi com o meu SUV Corolla até Moema
para entregar o meu relatório sobre a obra em Campinas nas mãos da secretária de
Valentim na torre noroeste do complexo e resolvi finalizar a noite com uma visita à
minha cunhada Elisa na zona de finanças do prédio. Tinha ouvido comentários que o
Peterson, marido dela, tinha sido enviado às pressas para o Espírito Santo e queria saber
detalhes do que estava acontecendo.
Me aproximei discretamente da sala no décimo quinto andar de onde Elisa comandava
toda a área financeira e deu para sentir da antessala o vapor quente que estava
escapando pelos ouvidos e pelas ventas da mulher que era quatro anos mais velha que a
minha esposa e que era casada com Peterson há quase dezessete — se eu não tivesse
perdido as contas.
Mariana, a secretária e assistente pessoal de Elisa, se ergueu de trás da sua escrivaninha
para me recepcionar ao me reconhecer e, do lado de fora, pelas paredes de vidro,
enxerguei a minha cunhada gesticulando com feição séria diante da tela do computador.
— Ela está em uma videoconferência com o CEO — informou-me a moça de cabelos
curtos até a orelha e sobrancelhas grossas —, ela vai demorar mais alguns minutos.
Aceita um café ou um chá, senhor Roque?
— Um chá gelado, Mari. Obrigado.
Me sentei numa das poltronas de espera na antessala e, enquanto Mariana me preparava
o chá, me entretive com um vídeo enviado por minha filha Micaela no celular, me
mostrando um novo conjuntinho que havia comprado na Gucci e que queria estrear em
uma festa de debutante no final de semana.
— Não é muito curto, Mica? — Escrevi em mensagem após ver o vídeo dela se
exibindo para a câmera com uma saia bem acima da linha das coxas e com uma
blusinha sem alças com um decote profundo na frente.
— Não mostra a calcinha, então acho que não é curto o bastante!
A minha filha estava se desenvolvendo fisicamente muito rápido e ela tinha passado de
uma adolescente mirradinha e de cabeça grande aos dez anos para uma mulher cheia de
curvas e saliências aos quinze.
— Se você acha isso, então eu aprovo, mas tenho certeza que a sua mãe vai te gongar.
— Ela sempre me gonga… já estou até acostumada! — respondeu ela, após mandar
vários emojis insatisfeitos revirando os olhos. — Mas eu vou com esse conjunto assim
mesmo à festa da Michele. Eu fiquei muito gostosa com ele!
Elisa me recebeu em sua sala exatos vinte e cinco minutos após a minha chegada ao seu
escritório e, como me mantive entretido por Micaela ao celular, quase nem vi o tempo
passar. Ainda da porta de seu “aquário”, ela dispensou Mariana das suas funções aquele
horário — já estava bem tarde e a moça estava cumprindo hora-extra —, depois, me
chamou gentilmente até a sua sala. Estava com olheiras e os cabelos castanhos jaziam
um pouco desgrenhados presos num rabo de cavalo. Não parecia em seus melhores dias.
— Enfrentou o poderoso chefão e conseguiu sair com vida, cunhada?
Disse, enquanto me sentava na poltrona confortável em tom carmesim em frente à mesa
envernizada da diretora financeira. Ela fechou a porta transparente atrás de nós, esperou
até que Mariana juntasse as suas coisas para sair do lado de fora e, em seguida, soltou
todo o peso que parecia carregar nas costas em sua cadeira presidencial, desabafando:
— Viva, mas com alguns pedaços a menos… aquele velho arrogante anda impossível!
Elisa passou os próximos dez minutos contando alguns detalhes da sua conversa com
João Suares, a quinta que ela era obrigada a ter em menos de três dias. O CEO andava
insatisfeito com o trabalho feito por Mauro, o único irmão de Elisa que ainda restava na
empresa depois do afastamento de Renato e o estava criticando abertamente, querendo
também forçar a sua saída. Mauro detinha sozinho agora os 30% que ainda restava aos
homens Castilhos naquela sociedade que estava prestes a completar uma década e se ele
abrisse mão das suas ações, seria o fim para todos da família.

— Por conta dos erros do Renato, o Suares está querendo forçar a barra para cima do
coitado do Mauro achando que, assim, ele vai desistir da sociedade e vender a sua parte.
Se o meu irmão fizer isso, os Castilho estarão acabados. Tudo que o papai lutou por
anos para conquistar à frente dessa construtora vai escoar pelo ralo e seremos todos
chutados para fora desse prédio feito cães sarnentos.

Aquilo, obviamente, me incluía e não estava em meus planos perder o emprego que
mantinha tanto a minha vida como a de minha família estável e confortável.
Precisávamos nos unir para impedir que as garras de Suares alcançassem a jugular de
Mauro Castilho e aquilo precisava ser feito de imediato.

— Nunca fui com a cara do sujeito — disse de maneira despojada, mas já vendo os
olhos castanhos de Elisa brilharem com lágrimas recém-brotadas. —, mas agora, ele
está indo longe demais com toda essa pressão. Os Castilho juntos ainda detém 40% —
Elisa e Carla detinham 5% cada uma delas — das ações o que é mais do que suficiente
para que vocês se mantenham fortes à frente do negócio. Não é hora de fraquejar,
cunhada. Saiba que eu apoio vocês.

Elisa estava quase desabando e correu as palmas das mãos do rosto até os cabelos.
Suspirou demonstrando todo o seu cansaço e soltou os cabelos de vez. Acariciou a base
do pescoço com uma careta e me olhou de maneira carente.

— Você ainda sabe fazer aquela massagem no pescoço, cunhado? Acho que estou
precisando dela agora.

Estávamos sozinhos naquele andar e até mesmo a molecada que trabalhava no setor de
TI, a algumas portas dali, já tinha se mandado. Tirei o meu paletó, botei sobre o encosto
da poltrona e dei a volta na mesa de Elisa para me posicionar atrás dela. Senti ao
primeiro toque na região o quanto ela estava tensa e comecei a massagear o seu pescoço
com cautela, me estendendo para a área do seu trapézio.

— Ai, que gostoso, Roque… como eu tava precisando disso!


Eu e ela tínhamos nos conhecido bem antes do meu namoro com Carla na faculdade.
Tínhamos ficado atraídos um pelo outro em um cruzeiro que as nossas universidades
haviam proporcionado para que fizéssemos networking com outros estudantes e
profissionais das áreas em que desejávamos atuar.

A viagem estava sendo um saco até o momento em que vi aquela gata de pele clara
vindo em minha direção. Elisa tinha a cintura fina, pernas longas, quadril sinuoso e os
seios pequenos estavam guardados dentro de um biquíni cor-de-rosa. Estava com os
cabelos lisos soltos e vestia uma canga em torno da cintura. Senti o meu pau ficar duro
dentro do calção no momento em que ela me falou “oi” com aquela voz firme e
passamos boas horas daquele cruzeiro trepando em uma das cabines, ignorando
completamente a reunião de boçais metidos a empresários de sucesso que continuava
acontecendo do lado de fora. Nunca tinha sentido tesão por alguém de maneira tão
imediata quanto senti por Elisa naquela viagem e ela demonstrou que aquela atração
também tinha sido inédita.

— As suas mãos continuam exatamente como antes — disse ela, em sussurro, com os
olhos fechados e a coluna ereta —, você me fez uma massagem parecida naquele
cruzeiro, se lembra?

Eu me lembrava muito bem. Tínhamos acabado de fazer sexo por quase duas horas
seguidas e Elisa estava reclamando de dor no corpo. Dizia com todas as letras que eu
“havia acabado com ela na cama” e, lisonjeado, fiz questão de lhe fazer uma massagem
como “cortesia da casa”. Às vezes, eu tinha a impressão que a minha atual cunhada
nunca havia me superado, tanto que ela tinha casado com um cara que era muito
parecido comigo; ruivo, olhos verdes e sardas espalhadas pelo corpo. Algo me dizia que
ela ainda sentia desejo por mim e a forma como me olhava sempre que nos
encontrávamos comprovava essa cisma.
Capítulo 32 – Roque (PARTE 2)

DEPOIS DA MASSAGEM na sala do seu escritório, Elisa olhou para o relógio de pulso
e percebeu que já era bem tarde. Sem Peterson em casa, os filhos do casal estariam por
conta apenas do motorista e as empregadas no endereço onde moravam em Moema e ela
se apressou em deixar o prédio comigo de companhia.

Enquanto descíamos por um dos elevadores da torre noroeste, minha cunhada me


explicou que o marido tinha viajado para Vitória a fim de se juntar à equipe de
engenheiros que estava projetando e construindo uma nova concessionária da rede
Diamond Motors no local e que a agência de arquitetura da minha mulher também
estava envolvida. Eu havia visitado o Salão do Automóvel patrocinado por aquela
mesma concessionária há pouco tempo, na companhia do filho mais velho de João
Suares, o garoto chamado Roberto, e achei curiosa aquela coincidência.

— Eu fiquei sabendo que a A3 estava envolvida nesse projeto hoje à tarde quando
visitei a Carlinha no escritório. Só não sabia que o Peterson também tinha sido enviado
para essa mesma obra. — Revelei, já chegando ao térreo com Elisa.

— Esse contrato com a Diamond tem sido tratado pelo Suares como a galinha dos ovos
de ouro da construtora e ele quer os melhores envolvidos nisso para garantir que o
grupo holandês que comanda a concessionária queira continuar fazendo negócios com a
gente.

Eu tinha me sentido desprestigiado com aquele comentário de “ele quer os melhores


envolvidos nisso…” e eu me ressenti ainda mais com o Eliéser Valentim que só parecia
a fim de me fazer perder tempo com viagens desnecessárias para o interior do estado no
meio da semana, enquanto mandava o meu cunhado para supervisionar simplesmente
uma das contas mais importantes da companhia. Eu não achava Peterson melhor que eu
em nada e estava ansioso para botar aquela pauta na mesa de Valentim o mais rápido
possível.

Assim como todos da família nos últimos meses, eu sabia que a Carla sairia tarde do
escritório na Vila Mariana aquela noite e que a Mica estaria bem em nossa casa na
Saúde, cuidando para que estivesse linda no próximo final de semana, para a festa de
quinze anos da amiga. Pensando nisso, quando a Elisa me convidou para acompanhá-la
em um drinque em sua casa em Moema, decidi aceitar e me pus a seguir o seu Toyota
Prius novo de perto, rumando para o caminho que eu tantas vezes já tinha feito com
Carla ao meu lado.

No caminho até lá, ouvindo a minha rádio de clássicos do Rock preferida, tentei botar na
cabeça que não havia nada demais em visitar a casa da minha cunhada sem que a minha
esposa soubesse ou sem a presença do marido dela no local, mas nem a mim mesmo
estava conseguindo enganar. Eu estava mesmo querendo “colocar o meu carro na vaga
de garagem” de Elisa depois de vê-la se desmanchando inteira com a minha massagem
no escritório e aquela era uma ótima oportunidade.
Peterson havia reformado a parte de fora da casa há algum tempo e achei de muito bom
gosto a nova decoração mais voltada para o Art Déco que tanto ele quanto Elisa haviam
impresso na fachada. O jardim extenso que ladeava o corredor de entrada estava muito
bem cuidado e a piscina azul parecia convidativa para um mergulho.

A minha cunhada caminhou na frente após entrarmos pelo portão elétrico com os nossos
carros e deixá-los a cargo do motorista Valmir que, de vez em quando, também prestava
os seus serviços para Carla e eu.

Por alguma razão, Elisa parecia querer que eu prestasse a atenção no gingado natural
dos seus quadris enquanto andava na minha frente e eu fiquei hipnotizado até chegar à
porta, olhando para aquela bunda carnuda por debaixo da saia social justa que vestia.
Continuava empinada mesmo depois de tanto tempo e senti muita vontade de pegar,
mesmo sem a sua prévia autorização.

Uma vez dentro da casa, Elisa pediu que eu me sentisse à vontade e caminhou em
direção ao bar particular sob as escadas que davam para os dormitórios enquanto eu me
sentava no sofá. Ouvi dali ela colocando algumas pedras de gelo no Bourbon que
pensava em me servir para que conversássemos por algumas horas sem as amarras de
nossos cargos dentro da S&C e foi então que ouvi os passos vindo dos andares
superiores.

— Mãe? É você?

Uma ruivinha de cabelos cacheados descia as escadas descalça e usando um pijaminha


curto. Quando me viu sentado em seu sofá, deu um berro e correu para me
cumprimentar.

— TIO, ROQUE!

Cleide era apenas alguns meses mais velha que a minha Micaela e as duas tinham
crescido praticamente juntas. Ela e o seu irmão gêmeo, Cleber, viviam transitando entre
a casa deles e a nossa na Saúde, sem falar que sempre visitavam a avó ali mesmo em
Moema, na mansão onde a coroa ainda morava desde a morte do marido Jaime.

— Ei, pequena. Como você está?

Ela me deu um abraço forte e não se importou em se sentar em meu colo enquanto dizia
que estava com saudades. O shortinho de seda praticamente sumiu conforme ela se
apertava contra mim e não havia sinal de sutiã por baixo da blusinha fina que fazia
conjunto com ele.

— A gente não se vê desde o Natal. Estava sentindo a sua falta.

E me deu um beijo estalado no rosto. Elisa já vinha caminhando com seu salto alto
trazendo as bebidas.

— Espero que tenha usado aquele kit de maquiagem que te dei de presente de Natal. Ele
foi trazido de Paris especialmente pra você!
Os olhos verdes até brilharam antes de ela dizer, gesticulando bastante e fazendo os
peitos firmes sacudirem por baixo da blusinha:

— Eu uso sempre! Foi o melhor presente!

Ela aproveitou para me dar um novo beijo e aquele passou bem perto dos meus lábios, o
que prontamente me causou uma ereção que Cleide percebeu. Elisa já estava perto o
suficiente de nós e me estendeu o copo de uísque enquanto a filha se erguia do meu colo
e a cumprimentava também com um beijo molhado na bochecha. Tomei um gole da
bebida e tentei disfarçar a minha paudurecência cruzando as pernas.

— Onde está o teu irmão, Cleide? — indagou-lhe a mãe, notando a ausência do menino
em casa.

— De novo na casa do Pedrinho. — respondeu a menina com feição entediada. — Os


dois agora não se largam mais!

Pedrinho era outro dos primos dela, o filho mais novo de Mauro Castilho com a
designer Solange Antunes.

— Desde que eles não estejam usando drogas escondido, não vejo problema nessa
aproximação. Agora anda. Suba que eu quero conversar um pouco com o seu tio Roque.

Elisa deu um tapa de leve na nádega da filha que entendeu o recado e me acenou mais
uma vez antes de se precipitar às escadas. Cleide tinha um rosto infantil e ao mesmo
tempo exalava lascívia quando sorria. Era uma cópia física quase que exata do próprio
pai, mas tinha o sorriso da mãe. Olhando para a menina, quase conseguia enxergar a
Elisa louca por sexo que tinha me abordado naquele cruzeiro há quase vinte anos.

— Elas crescem rápido hoje em dia, né?

Comentou Elisa enquanto observávamos a adolescente subir as escadas com o seu


shortinho curto. Acenei que sim e tomei mais um gole daquele uísque. A minha cunhada
se sentou bastante à vontade ao meu lado no sofá de couro preto e cruzou as pernas se
virando em minha direção. Estava dando sinais óbvios do real motivo pela qual havia
me chamado ali. Eu só tinha que saber o momento certo de agir.

O nosso primeiro copo de Bourbon acabou cedo enquanto falávamos mal de João
Suares e toda a corja que o havia acompanhado da sua antiga sociedade, quando ele
ainda era parceiro de negócios de Fausto Monterey o atual CEO da principal
concorrente da S&C. Estávamos ambos bastante estressados pelos últimos
acontecimentos na empresa e tínhamos tirado aquela folga para extravasar.

— Tem dia que eu saio de fininho da minha sala, ando até o banheiro do andar e
começo a gritar e a estapear o suporte de papel de tanta raiva. Eu realmente nem
imagino o que os outros funcionários que ouvem os meus surtos devem pensar, mas às
vezes, é realmente difícil estar em minha posição dentro da construtora. Vivo sob muita
pressão desde que o Renato se desligou da empresa e isso tem me consumido.
Os olhos de Elisa a tornavam muito transparente e, enquanto ela desabafava comigo,
eles voltaram a brilhar cheios de lágrimas. Dava para imaginar o quanto ela estava
sofrendo em ser a diretora financeira de uma empresa à beira de um colapso e quase
senti vontade de lhe abraçar.

— Por conta de toda essa coerção infligida pelo Suares, eu tenho deixado até de me
alimentar direito… eu quase nem vejo os meus filhos, exceto nos finais de semana… E
o Peterson… coitado do Peterson!

Elisa desviou o olhar recostando no sofá atrás de si. Enxugou as lágrimas que
ameaçavam transbordar e esperou um instante para continuar o raciocínio.

— O meu marido e eu não temos relações há várias semanas… temos chegado tarde em
casa, exaustos… sinceramente, eu nem sinto mais vontade de fazer amor com ele. Me
sinto seca, vazia…

Elisa estava implorando por carinho e atenção. Deixei o copo vazio sobre a mesa de
centro a um metro de nós e me aproximei. Segurei a sua mão e deixei bem claro que ela
podia contar comigo para qualquer coisa que precisasse.

— Estamos nesse corredor polonês todos juntos, cunhada. Se é para levar porrada,
vamos fazer isso unidos até encontrarmos uma saída dele…

Ela ficou um tempo só me encarando sem dizer nada. Senti o seu polegar acariciar a
minha mão enquanto eu a segurava e a sua explosão me pegou desprevenido. Elisa se
aproximou me puxando pela camisa que eu estava usando, enfiou uma das mãos entre
as minhas pernas e avançou com a boca em direção à minha para me dar um beijo. Sem
perder tempo, enfiou a língua dentro da minha boca e começou a apertar o meu pau com
os dedos lá embaixo.

— Posso contar com você para qualquer coisa que eu precisar, cunhado?

As lágrimas agora escorriam em seu rosto hidratado, borrando o que havia restado de
uma maquiagem que se aguentava intacta ao longo de um dia inteiro. Ela estava a
poucos centímetros do meu rosto, ofegante, e eu assenti à sua pergunta.

— Então sobe comigo até o meu quarto e me fode com força, com vontade. Me fode
como me fodeu naquela cabine de cruzeiro quando nos vimos pela primeira vez. Me
fode como eu quero que você me foda!

Elisa estava sussurrando aquelas coisas e, ao mesmo tempo, não parava de massagear o
meu falo por cima da calça. Um perfume delicioso exalava do seu corpo inteiro e, de
onde eu estava, dava para ver os seus seios pelo decote da blusa branca cujos botões
estavam abertos três casas.

— E a Cleide?

Ela me apertou com mais força lá embaixo e novamente sussurrou, agora em meu
ouvido:
— As paredes do meu quarto são grossas. Ela não vai ouvir os meus gemidos.

Eu não era nenhum garotinho juvenil que nem desconfiava das reais intenções da minha
cunhada ao me arrastar para a sua casa no meio da noite um dia após a viagem do
marido para outro estado, por isso, agi com certa naturalidade quando subimos as
escadas e entramos feito dois ladrões sorrateiros em seu quarto no segundo andar.

De uma maneira ou de outra, transar com a irmã da minha mulher era exatamente o que
eu estava planejando aquele dia, ainda mais quando percebi o quanto ela estava
fragilizada. Como ela queria, estava pronto para lhe dar de presente a melhor foda dos
últimos anos.
Capítulo 33 – Roque (PARTE 3)

ANTES DE COMEÇARMOS, ela esperou que eu tomasse um banho em sua suíte e, a


seguir, quando me viu sair do banheiro apenas enrolado em uma toalha, ela fez mesmo.
Levou menos de dez minutos lá dentro. Saiu e me encontrou completamente nu sobre a
sua cama, com uma ereção completa entre as pernas. Ela estava de roupão e com os
cabelos castanhos molhados nas costas. Arregalou os olhos.

— Oh, meu Senhor!

Mal subiu na cama, me deixou tirar o seu roupão e se pôs nua em minha frente. Não era
mais a mesma menina com quem eu havia transado muito antes de nossos casamentos e
dos filhos, há vários anos, mas não deixava nada a dever a qualquer garotinha de
dezoito anos. Os seios pequenos ainda eram rijos, ainda tinha pernas alongadas bem
cuidadas e tinha uma das bundas mais lindas que eu tinha visto de perto.

— Esse rabo continua delicioso como antes, Lisa. Que tesão!

Dei-lhe um tapa e, em resposta, ela agarrou os meus ombros, me arranhando de joelhos


sobre a king size.

— E olha só pra você! Todo malhado, musculoso… todo durinho. Um tremendo


gostoso! Que inveja da Carla!

Eu a agarrei na sequência dando-lhe um beijo cheio de saliva e ela sentou de frente em


meu colo. Aproveitou para sarrear de maneira prazerosa o meu pau duro com aquela
buceta quase inteira coberta de pelinhos castanhos e a senti umedecer ao toque.

— Estou cheia de tesão… tantos dias sem um carinho, sem um chamego… oh, Roque!
Como eu quero você!

Elisa não esperou muito para encaixar ela mesma a minha glande dentro da sua xota e,
na primeira estocada, se contorceu em cima de mim.

— Oh, Senhor! Assim mesmo!

Agarrou-me os ombros e me encarando nos primeiros segundos, forçou o seu quadril


contra o meu. O som do choque das nossas coxas ecoou no quarto e torci para que o que
ela havia dito sobre as paredes fosse apurado ou a Cleide estaria agora ouvindo o som
da cópula entre a sua mãe e o seu tio de camarote.

— Me aperta, Roque… me aperta e me fode. Me fode!

Em desespero com o próprio prazer, Elisa se ajeitou melhor em meu colo e deixou que
eu a segurasse forte pela bunda enquanto ela continuava sentando ininterruptamente em
cima. Ela tinha coxas grossas e os peitos pequenos davam saltos discretos conforme ela
se jogava.

— Oh, esse pau duro… como eu queria… Oh, Senhor!


Num dado momento, ela virou de lado e ficou apenas a friccionar a vagina em meu
pênis, encarando os nossos sexos se tocando lá embaixo. Quando se recuperou da
primeira meia-hora de penetração, voltou a me engolir quase inteiro e me castigou mais
um pouco, agora alternando entre me beijar a boca e sussurrar sacanagens em meu
ouvido.

— Fode a minha buceta, seu cachorro! Eu sei que você quer me foder inteira, eu sei que
você quer!

Eu não tinha como negar que estava sendo uma experiência fora do comum transar com
alguém ao mesmo tempo tão reprimida quanto cheia de fogo, e mesmo depois de tantos
anos, Elisa continuava sendo uma das melhores amantes com a qual havia
compartilhado a cama.

Enquanto estivemos transando ali naquela suíte escura, em nenhum momento chegou a
passar pela minha cabeça o tamanho da merda que daria se, por algum acaso, a Carla ou
o Peterson viessem a saber daquele nosso “deslize” e, mesmo depois que já estávamos
exaustos sobre a cama e aqueles pensamentos, enfim, começaram a me assombrar, eu
procurei os afastar e apenas curti o pós-transa ao lado da lindíssima irmã da minha
esposa.

Num dos intervalos que fizemos, Elisa chegou a sair do quarto só de robe para buscar
mais bebidas para a gente e, depois, quando voltou a se deitar nua ao meu lado,
começou a falar coisas que eu não estava a fim de ouvir.

— Depois de tanto tempo casada com o mesmo cara, eu acho que perdi boa parte do
tesão que sentia pelo Peter em nossa juventude…

Aquelas coisas passavam pela minha cabeça de vez em quando ao pensar em meu
próprio casamento, mas eu ainda nutria uma parcela de desejo por Carla. Nossa relação
não era mais como antigamente, mas mantínhamos parte da chama de nossa juventude
acesa.

— Eu nunca mais transei com outro homem além do meu próprio marido… isso matou
um pouco do meu desejo sexual. Me sinto necessitada de novas aventuras, algo que me
tire do comum, que me empurre para o desconhecido…

E ela deu um gole em seu uísque, vindo em minha direção em seguida para me dar um
beijo de língua.

— Você não está insinuando que o que aconteceu aqui essa noite vai se tornar rotineiro,
está?

Como ela estava fragilizada, achei que aquela seria uma desculpa perfeita para que eu
conseguisse o que queria e depois desse o fora, mas estava em dúvida se a Elisa queria
que voltássemos a nossas vidas comuns depois daquela transa. Os seus olhos estavam
estranhamente brilhantes em minha direção.
— Não nos faria mal uma trepada ou outra por semana, assim, só para aliviarmos a
pressão — E ela dedilhou os dedos molhados do gelo no copo em meu peito. —, com a
fúria com que me comeu hoje, acredito que a minha irmã também tem te deixado de
lado ultimamente. Ficarmos juntos de vez em quando seria unir o útil ao agradável, não
acha?

Eu achava aquela ideia péssima, ainda mais durante aquilo que eu queria que fosse a
reconstrução do meu casamento. Trair Carla com a irmã dela por tempo indeterminado
era a pior coisa que eu podia fazer naquele momento.

— Melhor irmos com calma, Lisa. O que fizemos hoje foi maravilhoso, mas…

Ela não estava disposta a ouvir o resto e me interrompeu com um novo beijo. O copo de
uísque rolou já vazio pelo colchão e em seu ímpeto de voltar a subir sobre mim,
disposta a mais algumas horas de sexo, Elisa o derrubou sem querer no chão e o vidro se
espatifou.

— Cala a boca e me fode de novo. Eu ainda não terminei com você!

Já era quase onze da noite quando acordei sobressaltado na cama de Elisa e encarei o
meu relógio de pulso. Tínhamos ambos cochilado após o meu último orgasmo e eu tinha
perdido completamente a noção do tempo. Ela ainda estava ressonante sob o lençol de
seda com um sorriso óbvio no rosto bonito e nem percebeu quando saí da cama
apressado e comecei a recolher a minha roupa do chão. Tinha me esquecido do copo
quebrado e quase pisei no vidro ao puxar a minha calça. Comecei a me vestir já com a
mente trabalhando a toda no intuito de arranjar uma desculpa boa o bastante para dar
para Carla quando chegasse em casa, mas nada me ocorria.

Eu estava na casa da sua irmã. A coitadinha estava tão deprimida por causa das coisas
que andam acontecendo na construtora… Não, isso é péssimo! Carla sabe que eu
sempre tentei tratar Elisa com indiferença por conta do nosso envolvimento no
passado. Ela morria de ciúmes da irmã quando o assunto era aquele cruzeiro em nossa
juventude, ela ia sacar na hora que transamos, ainda mais se ela souber que o Peterson
viajou. Meu Deus, o que eu vou dizer para a minha esposa?
Capítulo 34 – Roque (PARTE 4)

COM A CABEÇA CHEIA, saí apressado do quarto procurando não fazer barulho para
não acordar Elisa e cheguei ao corredor esbaforido. Ainda nem tinha abotoado a minha
camisa e desci as escadas segurando os sapatos nas mãos. A casa estava bastante escura
com exceção da luz que entrava de fora pela porta do pátio e da luminária em torno do
jardim. Me abaixei ao pé da escadaria para calçar os sapatos e foi aí que a vozinha soou
do sofá:

— Tava consolando a minha mãe, tio Roque?

Um rosto sardento surgiu iluminado pela tela de um iPhone no meio da sala e enxerguei
Cleide a rir maliciosamente apoiada no braço do sofá.

— Ela estava… nós estávamos… conversando…

A menina deu uma risadinha.

— Conversando no quarto a portas fechadas? Sei!

Ela então começou a sacudir o pezinho que pendia ao lado do sofá. A luz do iPhone
refletida em seu rosto debochado deixava claro o quanto ela estava acreditando naquela
minha mentira deslavada e, em seguida, se pôs de pé para vir em minha direção.

— Eu não sabia que eram tão íntimos… pelo visto, vocês até tiraram a roupa para
conversar melhor!

E ela apontou o meu peito nu com a camisa ainda aberta e os arranhões das unhas de
Elisa evidentes em minha pele. Eu estava completamente sem argumentos e pensei que
estaria completamente ferrado quando chegasse em casa e Carla percebesse os mesmos
sinais de uma traição anunciada.

— Cleide, não é bem o que você está pensando. A sua mãe está passando por alguns
problemas e eu me ofereci para ajudar…

Ela riu na minha cara e me olhou entre as pernas. O zíper da calça estava aberto.

— A tia Carla sabe que você anda prestando esse tipo de ajuda para a irmã dela?

Aquele era um xeque-mate bem dado. Não havia mais o que dizer em meu favor.

— Tudo bem, você está certa. A sua mãe e eu transamos, mas isso não pode chegar aos
ouvidos de mais ninguém, está me entendendo?

Ela estava com a intenção clara de me chantagear.

— Nem do papai?

Meu coração disparou no peito.


O Peterson me considera como um irmão. Seria um vacilo muito grande da minha
parte vir em sua casa comer a sua esposa enquanto ele viaja… se ele descobrir, vai dar
muita merda, pensei, enquanto olhava para Cleide com cara de idiota.

— Olha, Cleide — e eu a segurei pelos ombros, a encarando ali à meia-luz da sala —,


eu te dou de presente o que você quiser se me prometer que vai guardar esse segredo
entre nós. Você quer um novo estojo de maquiagem importado? Eu te dou! Pode pedir
qualquer coisa.

Ela fez cara de quem estava pensando no assunto e ficou a bater de leve a sola do pé no
assoalho.

— Qualquer coisa?

Assenti apressado. A hora continuava passando no relógio e mesmo que eu voasse com
o meu Corolla da garagem até a Saúde, ainda assim, não chegaria rápido o bastante em
casa.

— E se eu pedir uma coisa imprópria?

Eu não tinha entendido a princípio e externei a minha dúvida.

— Coisa imprópria? Como assim?

Cleide parou de sacudir o pé e fez um movimento rápido, descendo uma das alças da
blusinha que vestia em seu ombro. Mordeu o lábio de leve e repetiu:

— É, imprópria. Tipo o que você e a mamãe fizeram lá em cima.

Depois de horas matando o desejo da mãe, nem se eu quisesse conseguiria dar conta da
filha adolescente com fogo no rabo àquela hora.

— Não é hora pra brincadeiras, Cleide…

Ela então desceu a outra alça e com mais um movimento, botou os seios para fora da
blusa. Eram grandes e pesados. Tinham aréolas avermelhadas e eram salpicados de
sardas na sua parte mais superior. Lindos em sua plenitude.

— Eu sei que te deixei com tesão quando sentei em seu colo mais cedo ali no sofá.
Você não parou de olhar os meus peitos. Gosta deles?

Houve um esboço de reação dentro das calças, mas ainda não era o suficiente para que
eu conseguisse satisfazer mais ninguém pela próxima hora pelo menos.

— São lindos, Cleide, mas essa não é a hora certa. A sua tia Carla está me esperando em
casa e eu preciso mesmo ir…

A menina se aproximou mais e com o iPhone enfiado agora no cós do short de dormir,
segurou de leve o meu pau sobre a calça e, como a mãe mais cedo, o apertou com força.
— Ou você me come agora ou eu conto tudo que vi e ouvi de você e a minha mãe lá no
quarto nas últimas horas. Eu tenho áudios gravados no celular que comprovam a
safadeza dos dois. A tia Carla ficaria bastante surpresa em ouvir ainda hoje…

Ela espremeu um sorriso sem dentes na cara sardenta e me vi pego no pulo por uma
garota que tinha a idade para ser a minha filha. No instante seguinte, eu estava sendo
puxado para o sofá e a luz do jardim continuava iluminando a sala com um tom azulado,
projetando sombras sobre o cômodo espaçoso e arejado. Cleide jogou de lado a blusinha
que usava e fez eu pegar em suas tetas macias. Aquilo causou novas reações em mim.

— Eu não sei se consigo… a sua mãe me esgotou agora há pouco…

A garota estava agora abrindo a minha calça e começava a puxá-la para baixo quando se
deparou com o meu pau meia-bomba entre as pernas. Abriu um novo sorriso e mexeu os
dedos com firmeza, tentando acordá-lo.

— Pelo que ouvi através da parede, você deve ser uma máquina de trepar, tio Roque.
Quero experimentar!

No instante seguinte, eu senti aquela língua úmida circundando a minha glande sensível
e me agarrei ao couro do sofá. A filha de Elisa e Peterson estava mesmo me pagando
um boquete no meio da sala da casa dos Tomazzi e eu estava começando a gostar.

— Viu só? Já tá duro de novo… e é bem grosso, nossa!

Cleide voltou a me chupar com bastante talento, depois, me encarou lá de baixo com
olhar de malícia. Quando o meu pau já estava completamente ereto outra vez, a menina
se levantou e desceu o short até os tornozelos. Não era nada sinuosa como a mãe, tinha
pernas finas, quadril ossudo sem saliência, mas estava usando uma calcinha bem
pequena e cor-de-rosa.

— Se botar em mim e me fizer gozar bem gostoso, prometo que ninguém vai saber das
suas putarias com a minha mãe. Prometo.

Deixei que ela se posicionasse e, no momento seguinte, a menina estava puxando a


calcinha de lado e deixando que eu a penetrasse. Devia estar se exercitando há algum
tempo porque estava bem molhada e não tive qualquer dificuldade em meter para
dentro.

— Oh, tio Roque…

Ela fechou os olhos e se apoiou em meus ombros. Senti na mesma hora os arranhões
feitos por Elisa mais cedo naquela região arderem e compensei segurando Cleide pela
cintura. Como vi que não havia resistência dentro daquela bucetinha apertada, empurrei
com mais força e a trouxe para perto, dando-lhe um beijo.

— Q-Que gostoso… cacete! Ohh!


Agarrado agora à sua bunda magrinha, a fiz se sentar com força em cima de mim e o
som das nossas coxas se batendo ecoou na sala. Desci a boca em seus peitos grandes e
os mamei um a um, puxando com os lábios e chupando os bicos.

— Continua que eu vou… gozaaaaar!

A espremi contra o meu corpo quando ela se contorceu com o seu primeiro orgasmo e
senti a sua bucetinha encharcar lá embaixo. Calei o seu gemido enfiando a língua dentro
da sua boca e, depois, ela me abraçou forte, permitindo que eu continuasse a socar
dentro.

— Mais uma vez, só mais uma vez, por favor!

Segurei Cleide um instante e a deitei no sofá. Com jeito, ergui uma de suas pernas e a
botei sobre o ombro menos arranhado. Voltei a tirar a calcinha agora molhada da frente
e tornei a penetrar aquela bucetinha avermelhada e depilada. Meu pau ainda estava
duraço e enfiei até metade. Ela se contorceu e pôs a mão na boca abafando um
“caralho” que queria soltar.

— Assim tá bom pra você, neném? Está bom assim?

Continuei fodendo aquela delícia de xoxota ruiva e ela mal teve forças para assentir.
Ficou fazendo cara de choro enquanto apertava os próprios peitões e deitou a cabeça na
almofada mais próxima quando sentiu o segundo orgasmo chegando.

— Tá vindo, tá vindo…oh, meu Deeeeeeus!

A xoxota voltou a se molhar e eu tirei de dentro sentindo o meu pau inteiro melado.
Cleide ainda queria que eu a penetrasse de novo, mas outra vez eu estava em meu limite
e não consegui passar daquele instante de ímpeto sexual libertino. A menina teve que se
contentar com o que eu havia lhe dado e, pouco tempo depois, me acompanhou até a
garagem e acionou ela mesma o portão eletrônico para que eu arrancasse com o carro.
Por uma noite, tinha sido bastante estimulante a visita aos Tomazzi Castilho, mas eu não
pretendia retornar tão cedo.
Capítulo 35 – Janete

ESTÁVAMOS COMBINANDO UMA ESTICADA até a praia num feriado prolongado


há muito tempo, mas quando chegou o momento de nos reunirmos mais uma vez após o
nosso passeio ao Rio de Janeiro no final do ano, uma das minhas melhores amigas, a
Rarissa, acabou furando e se desculpou comigo via mensagem de áudio:

— Eu vou viajar para Vitória a trabalho pela agência do meu mano, Jane. É uma
oportunidade muito boa para eu começar a aprender um pouco mais sobre a profissão
que escolhi seguir. Me perdoa.

Eu era boa em fazer pressão psicológica e usei tudo que tinha em minha resposta:

— Poxa, Rari! Arranjei tudo para que passássemos alguns dias juntas na casa de praia
da minha família no litoral norte. O Max até conseguiu pegar emprestada a lancha do
pai dele para nos levar do porto até lá e você fura assim com a gente?

Eu estava sendo um tanto quanto egoísta e tinha certeza disso. Rarissa havia começado
o seu curso de Turismo na faculdade para seguir os passos do Ralph, o seu irmão.
Aquela viagem para Vitória significava muito para o seu lado profissional e o nosso
passeio era apenas por diversão. Não havia nada além disso programado para aquele
final de semana prolongado de Carnaval.

Além de nós duas, eu havia chamado também a outra perna do nosso tripé, a Rafaela
Albuquerque e ela iria arrastar com ela o irmão Maxwell para pilotar a lancha que nos
levaria até a casa de praia que os Castilho mantinham em pé há várias gerações, desde
que o meu avô Jaime a usava para promover as suas orgias regadas a sexo, drogas e
Rock N’ Roll. Senti por seu tom de voz que Rarissa estava triste em não poder nos
acompanhar e, depois, acabei me arrependendo da minha chantagem emocional.

— Eu queria mesmo estar com as minhas piranhas favoritas nesse feriado, mas eu
preciso mostrar à minha família que estou empenhada a assumir uma cadeira ao lado do
meu irmão na Vecchio Tour. Não fica triste comigo.

— Eu não estou triste, amiga, fica tranquila. Eu só estava sendo escrota com você
fazendo chantagem emocional… eu sei como essa viagem pro Espírito Santo é
importante e quero que aproveite bastante, viu?

Como Rarissa já estaria em Vitória quando chegássemos na Praia da Vila, Max decidiu
de última hora incluir uma substituta para a minha amiga morena e chegou ao cais
acompanhado da namorada, a Carina Monterey. Eu tinha levado Rafaela comigo a
bordo do Peugeot que a minha mãe havia me dado de presente em substituição ao Mini
Cooper que eu havia ganhado em meu aniversário e que eu quis devolver à
concessionária após uma tentativa de sequestro que eu havia sofrido há vários meses22.

22
Janete quase foi raptada pelos homens que seu pai, Renato, havia contratado para espionar e hackear
os servidores da Monterey Construtora e a qual ele devia dinheiro. Na ocasião, o carro dirigido por
Janete era o Mini Cooper citado e ele havia ficado avariado após uma batida frontal. Isso foi mostrado
Nem a minha amiga sabia que o irmão dela carregaria a namorada para o nosso passeio
e foi bastante surpreendente ver a menina descer do carro toda animada.

— Eu mencionei com a Cá que eu desceria para o litoral para passar alguns dias e ela
quis vir junto. Vocês não se importam se ela for com a gente, não é?

Eu não conhecia praticamente nada a respeito de Carina, exceto que ela era a mais
jovem das herdeiras de Fausto Monterey, o cara que era o CEO da principal concorrente
na construção civil da Suares & Castilho, empresa que, até muito pouco tempo, o meu
pai dirigia ao lado do meu tio. Os Albuquerque, no entanto, eram amigos íntimos da
família e a minha amiga Rafaela tinha praticamente crescido com a menina.

— Claro que não! Vou adorar ter a minha cunha por perto nesse feriadão!

A garota de pele cor-ébano agarrou a outra dando-lhe um abraço e, em seguida, Carina


veio para o meu lado para me dar um beijo na bochecha.

— Uma pena a Rari não ter podido vir. Acho que se ela fosse com a gente, o meu irmão
Rodrigo até dava um jeito de descer para a praia também. Os dois se adoram!

Eu tinha sentido todo o clima de sedução que rolava entre a minha amiga Rarissa e o
irmão de Carina durante a festa à fantasia onde havíamos nos encontrado no último mês
de setembro23, mas até hoje, sabia pouco sobre o que verdadeiramente havia acontecido
entre eles, além de um certo encontro em uma praia deserta24.

— É mesmo uma pena…

Depois do meu lamento, estacionei o meu Peugeot 208 ao lado do Audi A3 de Max
numa parada vizinha ao cais do porto e seguimos dali até onde a lancha que nos levaria
à Praia da Vila estava ancorada. Como era esperado, estávamos todos trajados com
roupas adequadas para o verão e aquele dia fazia um calor intenso de quase trinta e oito
graus no litoral.

— Olha só essa belezinha! Do jeitinho que deixei da última vez.

Max abriu um sorrisão por trás dos lábios grossos e a cabeça raspada reluziu a luz do sol
quando ele deu um salto do cais até a proa da lancha, onde começou a desamarrar a
corda que a prendia no atracadouro. Segundo ele, aquela era uma Bayliner 310 Cruiser
cabinada de trinta e um pés e que comportava até dez pessoas. Embora eu pertencesse à
uma família de habilidosos pilotos de barcos e lanchas — o meu pai, o meu irmão e
todos os meus tios entendiam bastante do assunto — eu admitia que era noob em temas
náuticos e sabia apenas o básico do básico.

— Subam a bordo da Black Mermaid, minhas sereias, porque hoje é o papai aqui que
vai conduzi-las pelo mar até o seu destino!

em Desejos 35 – A Herdeira Rebelde


23
Janete está falando da festa à fantasia de Kelly Ferraz em Desejos 39 – Kelly faz anos
24
A primeira vez foi em Sex Point – Em Busca do prazer PARTE 2 (inédito nas mídias digitais) e Rarissa e
Rodrigo voltaram a se encontrar em Desejos 28 - Sex Point
Rafa e Carina deram gritinhos excitados chamando todas as atenções ao nosso redor.
Mais de uma dúzia de marujos que perambulava pelo porto àquela hora entre os
corredores solados de madeira — prontos para botar para funcionar os seus barcos —,
esticaram o pescoço em nossa direção e alguns deles começaram a assoviar, além de a
fazer comentários maliciosos ao nosso respeito. Rafa e eu vestíamos biquínis na parte de
cima e short por baixo, já a Carina, se sentindo mais à vontade, despiu logo a saia para
ficar de biquíni assim que pisou na lancha, mesmo antes de Max dar a partida no motor,
o que animou mais os machistas à nossa volta.

— Arranca logo com esse barco antes que comam a gente com os olhos, Max.

Foi a minha recomendação e, pouco depois, a Black Mermaid estava deixando o


atracadouro em direção ao mar, como tinha que ser.

As primeiras semanas em minha faculdade de Gestão de Negócios tinham servido


apenas para que os estudantes tivessem alguma ideia do que iriam encarar nos próximos
quatro anos e eu ainda não me sentia cansada pelo ritmo intenso a que seria apresentada
depois do Carnaval. Por outro lado, todas as mudanças que haviam acontecido em meu
seio familiar nos últimos meses tinham feito a minha vida virar do avesso, o que me
deixou ansiosa para arranjar logo algo que eu pudesse usar como uma fuga daquela
realidade.

Depois que o meu pai tinha decidido vender a sua parte das ações da Suares & Castilho
ao meu tio Mauro e abandonar a construtora por conta do escândalo envolvendo
espionagem industrial, minha mãe e ele tinham resolvido se mudar juntos para o litoral,
a fim de se afastar por um tempo de toda a vergonha que havia coberto o legado dos
Castilhos.

Renato tinha sofrido um AVC leve, havia sido vítima de uma coronhada aplicada pelos
mesmos bandidos que o haviam ajudado a hackear a Construtora Monterey para roubar
dados sigilosos da empresa e ainda tinha sido obrigado a encarar o próprio João Suares,
o detentor da fatia majoritária das ações da companhia iniciada por meu avô, admitindo
tudo que tinha feito. Aquele tinha sido, de longe, o maior golpe que o meu pai havia
sofrido em sua vida inteira e levariam anos até que ele se recuperasse. Agora que eu
estava descendo em direção à praia vizinha de onde meus pais estavam morando, era
impossível não voltar os meus pensamentos para os dois e a tudo que estavam
enfrentando juntos.

— Tá pensativa, amiga. — Rafa se aproximou de mim no deque, apoiada numa das


grades laterais enquanto Max pilotava a lancha acompanhado da namorada na cabine.
Assim como a cunhada dela, a minha amiga já tinha aberto mão do short jeans e exibia
sua plástica perfeita dentro de um biquíni fio-dental azul. — O que tá passando nessa
cabecinha, hein?

— Meu pai…

Eu estava usando óculos de sol, mas a Rafa percebeu que eu estava olhando através
deles para Carina, a rir intensamente enquanto o namorado ensinava alguns comandos
de direção de lancha a ela na cabine. O olhar de minha amiga seguiu o meu e ela me
esperou continuar o raciocínio.

— Você acha que a Carina e o irmão dela, o Rodrigo, sabem que o meu pai usou uma
gangue de terroristas virtuais para hackear a empresa da família deles?

Rafa era uma das minhas confidentes e agora sabia cada detalhe de todos os perrengues
que eu havia vivido o ano passado desde o meu estágio como auxiliar administrativa na
S&C, passando pela minha tentativa de sequestro e culminando com o pedido de
demissão do meu pai da diretoria da construtora. Em contrapartida, ela era também uma
das melhores amigas da menina Monterey e eu não a culparia de estar dividida naquela
história e nem que acabasse pendendo para o lado da família, já que ela considerava os
Monterey como os seus próprios irmãos.

— Nenhum deles sabe por enquanto, Jane. O assunto foi abafado pela direção da Suares
& Castilho na tentativa de impedir um processo judicial longo e caro, mas é possível
que alguém dentro da Monterey acabe descobrindo o que houve mais cedo ou mais tarde
e aí, minha amiga… vamos ter uma guerra pela frente entre os Castilho e os
Monterey…

Meu estômago chegou a gelar naquele instante. Embora não soubessem ainda, Carina e
Max estariam automaticamente do lado de lá do front de batalha e Rafaela ficaria bem
no meio, apaziguando os dois lados enquanto as nossas famílias tentavam matar uma à
outra. Eu tinha certeza que alianças e amizades seriam desfeitas com uma possível
guerra entre os dois clãs e muita dor seria causada se o que meu pai tinha feito viesse à
tona.

Eu estava descendo para o litoral para esquecer aquele tipo de assunto e aproveitar um
fim de semana comum, mas aonde eu fosse, descobri que continuaria sendo atormentada
pelos meus problemas. Sentia como se um Dementador25 estivesse pairando o tempo
todo sobre a minha cabeça sugando a minha felicidade e que Expecto Pactronum26
nenhum no mundo o conseguiria mandar embora. Estava desolada.

25
As criaturas fantasmagóricas que guardam Azkaban, a prisão dos bruxos praticantes de artes das
trevas no universo criado por J.K. Howling nos livros de Harry Potter.

26
É o único feitiço conhecido capaz de espantar um Dementador. Em geral, usa a figura luminescente de
um animal que representa a essência e a bondade do praticante do feitiço.
Capítulo 36 – Janete (PARTE 2)

O CASEIRO QUE COSTUMAVA tomar conta da casa na praia deu um trato


caprichado no lugar e, quando chegamos, encontramos tudo muito limpo e
aconchegante. Como o homem do rolê, o Max fez questão de carregar do barco até a
casa a maior parte das nossas bagagens e coube a nós três apenas a organização dos
mantimentos que havíamos levado para a cozinha. A Rafa tinha se incumbido de
preparar o nosso almoço no primeiro dia e como eu era meio desastrada com facas e
outros objetos cortantes, me encarreguei apenas de amassar, triturar ou enrolar os
condimentos e temperos.

Depois do almoço, saímos para explorar o entorno da praia e encontrei alguns dos
vizinhos costumeiros que recebiam a mim e a minha família cada vez que passávamos
alguns dias por ali. Além da reunião anual dos Castilho, festa que servia para que a
família perdesse todas as amarras impostas pela sociedade uma vez ao ano, a cada seis
meses ou menos, o meu pai costumava nos levar até o local para passearmos feito uma
família normal e foi só eu pôr o pé no cais, no atracadouro onde deixávamos o barco
ancorado, para eu me lembrar imediatamente de Eduardo Faustini, o idiota que havia
roubado os dados da Monterey… e o meu coração. A última vez que eu havia estado ali,
estávamos juntos e aquele dia tinha sido muito especial para mim.

A Praia da Vila era um dos lugares mais bonitos que eu conhecia do litoral de São Paulo
e, embora não chegasse nem aos pés de lugares como Fernando de Noronha ou as praias
de Florianópolis e Vitória, era um bom refúgio para quem vivia rodeado de parede frias
de cimento vinte e quatro horas por dia na grande metrópole. Levei Max, Rafa e Carina
para pontos da praia onde gostávamos, eu e as meninas da família, de se isolar quando
visitávamos aquele lugar e a ideia da menina Monterey foi bem aceita quando ela
sugeriu que fizéssemos topless.

— Aqui é bem longe da vizinhança que mora perto da casa e eu já estou com saudades
de tomar um solzinho…

Carina era bem despojada e não esperou muito para desamarrar a parte de cima do
biquíni branco que usava em nossa frente, deixando os peitos pequenos livres. A menina
tinha exatamente a mesma idade que eu e tinha o corpo bem esguio, além de pernas
torneadas e uma bunda arrebitada que ficava linda em um biquíni fio-dental.

— Já que é assim…

Rafa se animou em seguir a cunhada e logo estava botando as peitolas grandes para fora
também. Entre nós três, era a mais bem servida de corpo e olhando para ela, quase dava
para morrer de inveja de o quanto era gostosa.

— Assim você mata o seu irmão, maninha!

Max fez uma graça sacudindo os ombros da irmã para que os seios dela balançassem
com o movimento e ela o repreendeu de maneira pouco convincente. Eu sabia que os
dois eram dados a brincadeiras incestuosas desde a adolescência e eu não era inocente
em acreditar que eles não tinham feito entre si mais do que insinuações sexuais.

— Tá esperando o que, vaca? Só falta você!

O comentário da Rafa fez com que todos os olhos se voltassem para mim e fui impelida
a tirar o meu biquíni também, seguindo as outras duas. Apesar de compartilhar a minha
vida inteira com a irmã dele, eu não tinha tanta intimidade com o Max e fiquei um
pouco envergonhada em fazer topless perto dele.

— Agora sim o paraíso está perfeito!

Disse ele, encarando os meus seios com olhar de malícia. Toda a cor que eu havia
conseguido nas praias do Rio de Janeiro, há alguns meses, já havia se esvaído e eu tinha
voltado a minha “branquitude” costumeira. Estava mesmo precisando tomar um sol e,
depois de um tempo, acabei me acostumando em ficar seminua na praia. Apesar das
secadas do Max, foi gostoso me sentir tão livre em meio a toda aquela natureza. Algum
tempo depois, um banho de mar coroou aquele momento.

Max e Carina prepararam um cação assado acompanhado de batatas e brócolis para o


jantar e, depois daquele rango caprichado, me vi tirando uma sonequinha enquanto
balançava na rede estirada na varanda do segundo andar da casa, o lugar preferido do
meu pai.

Quando acordei assustada com um pesadelo em que eu me afogava no mar, me vi


obrigada a espantar alguns pernilongos que teimavam em chupar o sangue das minhas
canelas e ouvi os outros três se divertindo num dos quartos daquele mesmo corredor.
Podia jurar que eles estavam fazendo mais do que apenas jogando algum tipo de jogo de
tabuleiro, mas preferi não pensar muito no assunto. Desde que havia terminado com o
Eduardo e que havia decidido não dar continuidade ao romance entre o Roberto Suares
— o filho do CEO da Suares & Castilho — e eu, eu andava bastante carente e a simples
menção a sexo do meu lado me acendia o fogo.

Em vez de prestar a atenção no ménage à tróis — ou o que quer que aquilo fosse — no
quarto vizinho, peguei o meu celular e liguei para a minha mãe. Antes de sair de São
Paulo, eu a havia alertado que estaria na praia aquele fim de semana e a dona Vânia se
animou para me rever após algumas semanas longe de mim. A recepção de sinal ali era
péssima, mas consegui ouvir a sua voz.

— Já jantou direitinho, Jane? Passou protetor solar nessa pele? Você sabe que se
queima fácil, precisa se proteger…

— Já jantei sim, mãe. O Max preparou um cação delicioso e a minha pancinha até
inchou de tanto que comi… e é claro que eu passei protetor solar, não se preocupa.

Eu precisava perguntar dele. Foi então que toquei no assunto:

— E o seu Renato, como ele está?


Dava para ouvir o som do mar na arrebentação a menos de um quilômetro da casa e a
maresia trazida pela corrente de ar estava me atingindo ali naquela altura da sacada. Um
barulho meio oco e meio surdo ecoava do outro quarto. Max, Rafa e Carina estavam se
divertindo muito, pelo visto.

— Ainda deprimido, mas tá se recuperando. Outro dia, pegou um barco e saiu sozinho
para velejar e pescar. Está com saudades dos filhos, mas ainda não diz com todas as
palavras. Já instalei a TV aqui no quarto para assistirmos à competição de surfe amanhã.
Estamos loucos para ver o Johnny!

O meu irmão estava naquele momento em Florianópolis e iria disputar o Circuito


Nacional de Surfe em uma praia chamada Costeira do Pirajubaé, na Baía Sul de Santa
Catarina. Eu também estava empolgada para vê-lo disputar mais um troféu na carreira e
tinha certeza que mamãe e papai também estavam ansiosos para verem seu primogênito
na TV.

— A primeira coisa que fiz assim que cheguei na casa foi conferir se a internet estava
boa. Não perco a competição do Johnny por nada, nem que tenha que trepar no telhado
para conseguir uma barra sequer de sinal!

E eu ri, no que mamãe me acompanhou. Logo depois, o assunto principal voltou.

— Você vai vir nos visitar aqui, Jane?

Estava morrendo de saudades do abraço caloroso da minha mãe, mas ainda não estava
pronta para rever o senhor Renato depois de todo o mal que ele havia causado à nossa
família. Por causa dele, o tio Mauro tinha se tornado alvo dos ataques de João Suares
que estava fazendo pressão para que ele também se afastasse de seu cargo de diretor, a
tia Elisa estava passando por um perrengue atrás do outro para manter as finanças da
empresa no lugar e até a tia Carla tinha sido obrigada a fazer parceria com uma
empreiteira ligada à construtora para que não perdesse os seus clientes da agência de
arquitetura que comandava.

A mamãe já tinha visto o primogênito se mudar para o Rio de Janeiro por conta de suas
atividades com o surfe e agora ela também estava longe de mim, que havia ido morar
com Rafaela para ficar mais perto da faculdade e até mesmo distante da minha irmã
caçula Jéssica, que tinha fugido de casa antes de ser obrigada a morar no litoral e que
agora estava enfiada na casa de amigas da escola. Eu amava a minha mãe, mas nem por
ela eu topava ver meu pai de novo tão cedo.

— Acho melhor não mexer nessa ferida por agora, mãe. O pai ainda está muito
envergonhado e eu não quero ser mais um motivo de fazê-lo se sentir mal com a sua
própria consciência. Quando ele estiver melhor quanto a todos os problemas que
causou, eu faço questão de visitar vocês. Estou morrendo de saudades da senhora!

Aquela noite se arrastou e enquanto os irmãos Albuquerque “brincavam” no quarto com


a herdeira dos Monterey, eu aproveitei para colocar a leitura em dia e adiantei três dos
cinco capítulos que tinha que ler para uma das aulas de Gestão da facul.
Capítulo 37 – Janete (PARTE 3)

AINDA DE MADRUGADA, chamei o meu antigo colega de estágio na S&C, o


Gabriel, para trocar ideia, já que ele estava online jogando LoL com os parceiros e foi
muito bom botar as nossas “nerdices” em dia. Eu sentia uma falta danada de matar o
tempo do cafezinho e do almoço na porta do setor de TI da empresa falando com o
Michael, o Gabriel e o Marco Túlio, e sentia muitas saudades das nossas conversas
aleatórias sobre videogame, séries de TV, filmes e qualquer outra bobagem. A minha
faculdade era muito ligada ao lado mais chato da minha família e eu me perguntava
todos os dias se tinha feito a melhor escolha de carreira. Às vezes, eu só queria ser nerd,
mas agora estava cada dia mais longe daquele mundo que eu amava, infelizmente.

No dia seguinte, demorou até que o Max e eu conseguíssemos espelhar a tela do meu
celular para a TV velha de vinte e cinco polegadas que encontramos num dos quartos
superiores e que arrastamos juntos para a sala da casa. Prevendo que algo do tipo fosse
necessário, eu havia trazido um Chromecast em minha bagagem e somente daquela
forma podíamos sintonizar na tela da televisão o que víamos nas poucas polegadas do
iPhone. Pelo menos daquela maneira, eu ia poder ver o meu maninho surfando numa
tela razoavelmente grande e com imagem nítida.

— Alguém se lembrou de trazer pipoca? — perguntou a Rafa, já se posicionando num


dos sofás de frente para TV.

— Eu trouxe a minha piroca, serve?

Max riu após a sua piadinha digna de um aluno de quinta série e recebeu uma almofada
na cara como prêmio de consolação, atirada pela Rafa. Um dos canais de esporte de TV
a cabo estava transmitindo o torneio de surfe direto pela internet e as câmeras já
mostravam de maneira ampla todo o entorno da Costeira do Pirajubaé e a riqueza
natural do ambiente.

— Que lugar lindo. Lembra bastante Fernando de Noronha!

Eu tinha que concordar com Carina, já que havia visitado a ilha nordestina há um ano
com a Rarissa e havia visto o meu irmão sair vencedor do WSL Latin America com os
meus próprios olhos enquanto o sol intenso de lá me bronzeava.

— O Johnny vai competir em qual das baterias, Jane?

Antes da pergunta da Rafa, eu havia pesquisado em meu celular quem seriam os


concorrentes de Jonathan e em que posição eles iriam disputar o Circuito. Ele estaria na
terceira bateria e pegaria onda com seu principal adversário do dia, o surfista
pernambucano Iran Azevedo, que havia tirado do meu irmão a chance de conquistar o
bicampeonato no começo do ano, durante o Hang Loose Pro Contest. Se eu bem
conhecia o Johnny, ele devia estar com “sangue no zóio” para dar o seu melhor e vencer
Azevedo com as melhores pontuações do dia.
As câmeras de longo-alcance estavam posicionadas em direção ao mar que estava
propício para a prática do surfe naquele começo de tarde em Floripa. A competição
estava prestes a começar e, pelas imagens aéreas feitas pelo canal de TV, já dava para
ver os primeiros concorrentes ao título nacional mais importante da categoria remando
em direção às ondas mais altas. A praia estava repleta de espectadores além de um
cordão de isolamento feito pela Guarda Marítima e tinha um palco no canto leste da
zona de competição onde estavam os troféus de primeiro, segundo e terceiro lugar
aguardando a festa do pódio de mais tarde. Eu estava tão nervosa que estava roendo as
unhas.

— Vou pegar uma biritinha pra tomar enquanto assisto. Mais alguém quer?

Todas nós levantamos a mão em resposta à pergunta de Max e, pouco depois, ele estava
retornando com copos de caipirinha em mãos. Nunca antes o álcool havia sido tão bem-
vindo em minha língua.

A hashtag CNS, como era mais conhecido o Circuito Nacional de Surfe, já tinha
alcançado os trending topics dos assuntos mais comentados da internet quando o meu
irmão entrou na água para enfrentar o Iran Azevedo. Eu tinha ficado tão agitada que
nem consegui ficar sentada no sofá e assisti a disputa inteira em pé, gritando a meio-
metro da TV. O meu celular não parava de vibrar com as mensagens que chegavam de
todos os cantos, com os meus amigos e familiares comentando sobre o desempenho de
Johnny que estava bastante inspirado aquela tarde e que tinha resolvido enfrentar
Azevedo de igual-para-igual.

— Teu irmão mandou um Backside irado pra cima do Iran! Deixou o moleque até torto!

Eu já tinha conversado com o Jonathan o suficiente sobre surfe para saber que a
manobra comentada por Max era uma das mais ousadas e mais difíceis de executar, com
o surfista descendo de costas para a parede formada pela onda. Aquela era a segunda
que o meu irmão fazia só naquela bateria e senti na hora que ele teria uma pontuação
maior do que a do pernambucano. Quando uma tabela gráfica apareceu na tela
mostrando para o público de casa as notas atribuídas pelos juízes de prova aos atletas
em cada bateria, até prendi o ar. Johnny tinha conseguido um nove vírgula setenta e seis
e aquela era a maior nota que um surfista já tinha atingido no CNS aquele ano. Eu vibrei
e soltei um grito.

— PUTA QUE PARIU! MEU IRMÃO É FODA!

A Rafa veio me abraçar e pulou junto comigo na sala. Quando voltei a prestar a atenção
na TV, vi que Iran Azevedo também havia se saído bem nas demais baterias e que
estava a poucos pontos abaixo de Jonathan, praticamente empatado com o terceiro
colocado que, naquele momento, era o catarinense Pietro Gama, duas vezes campeão do
CNS e segundo lugar no Hang Loose Pro Contest de 2012.

— Ainda tem mais uma bateria — alertou Max, de olho na TV —, o teu irmão só perde
o primeiro lugar se algum dos dois próximos surfistas forem perfeitos na execução das
manobras o que, honestamente, acho bem improvável!
Juntei as minhas mãos como numa prece silenciosa e, enquanto isso, as mensagens não
paravam de chegar em meu celular. Eu não queria ler nada até que sagrassem Jonathan
campeão e ainda faltava bastante tempo até que aquilo acontecesse.

Eu pulei feito uma maluca quando o narrador anunciou que Jonathan Castilho era o
campeão da etapa catarinense do Circuito Nacional de Surfe daquele ano e, contagiados
pela minha alegria, Max, Rafa e Carina vieram me abraçar, gritando comigo. Ver meu
irmão com aquele sorriso lindo no rosto no degrau mais alto do pódio outra vez era
muito gratificante e fiquei me comunicando com ele em frente à TV como se ele
pudesse me ver do outro lado. Estávamos a quilômetros de distância um do outro, mas
naquele momento, enquanto uma loira peituda entregava o troféu dourado para ele sob
uma chuva de confetes que caía do alto, eu estava enviando todas as emanações
positivas que tinha em meu poder para ele e, de uma forma ou de outra, eu sabia que
meu mano as estava recebendo.

Eu mal cabia em mim de felicidade e só sentei a bunda no sofá para ler e responder as
mensagens da galera passada uma hora da loucura pela comemoração da vitória de
Johnny. Gente de tudo quanto era lugar estava me mandando links de entrevistas, de
fotos e vídeos com o meu irmão após a coroação e mais um bocado de pessoas estava
me felicitando por eu ter um irmão campeão.

Rarissa estava em Vitória num compromisso da Vecchio Tour, mas até ela tinha tirado
um tempinho para dar uma olhada na internet e ver a prova do Jonathan.

— O Johnny arrasou mais uma vez, amiga. O seu irmão é muito foda! — disse ela por
mensagem.

— Ele é sim, o melhor do mundo! — respondi, orgulhosa.

A minha irmã Jéssica, que não falava comigo há quase um mês, resolveu aparecer para
também comentar a vitória do Jonathan e, quando tentei fugir do assunto um pouco para
saber exatamente onde ela estava enfiada, a danada escapuliu feito uma enguia.

— Estou segura, não se preocupa!

Quem também me deu os parabéns por mensagem foi o Eduardo e não deu para evitar
que o meu coração sacudisse dentro do peito quando vi a sua foto de perfil no chat. Ele
tinha deixado crescer uma barbinha no rosto e estava muito charmoso.

— Eu assisti toda a prova do Jonathan, Jane. Ele é muito bom mesmo. Você deve estar
orgulhosa.

Eu estava e não conseguia esconder.

— Já estou sem voz aqui de tanto que gritei diante da TV. O Johnny mandou benzaço!

Sempre cuidadoso comigo, mesmo após o nosso atribulado término de relacionamento,


Dado quis saber como eu estava depois de todo o rolo envolvendo o meu pai e os meus
sequestradores, mas eu fugi daquele assunto. Estava feliz demais para voltar naquela
conversa e deixei isso claro a ele.

— Onde quer que esteja, espero que esteja bem, Jane. Você sabe que, apesar de tudo, eu
a amo muito e quero que seja feliz.

Aquela mensagem mexeu comigo e fui obrigada a me afastar por algum tempo dos
demais na sala para que eles não me vissem lacrimejar feito uma boba. Eu queria odiar
o Eduardo, mas eu ainda me sentia muito ligada àquele idiota. Embora não admitisse
nem para mim mesma, eu morria de vontade de voltar a cair em seus braços, mas era
orgulhosa demais para me permitir aquele tipo de coisa.
Capítulo 38 – Janete (PARTE 4)

ALGUM TEMPO DEPOIS do final da transmissão do CNS, sugeri uma volta de lancha
pela orla da Praia da Vila e os outros se animaram a me acompanhar. Eu, Carina e Rafa
botamos os nossos biquínis e, enquanto o Max pilotava da cabine, ficamos as três a
tomar sol do deque, bastante à vontade.

Como tínhamos feito no dia anterior, nos empolgamos com outro topless e até passamos
filtro solar uma na outra conforme a Black Mermaid transitava pelas belezas exóticas do
lugar. Nos cobríamos apenas quando algum outro barco surgia no horizonte pronto para
cruzar o espaço à nossa frente, mas aquele horário aquilo foi bem raro. Lá de cima da
cabine, Max estava tendo um belo banquete visual com certeza nos vendo ali seminuas,
mas eu tinha parado de me importar com o seu olhar de tarado.

O sol estava em seu ápice e nós quatro estávamos reunidos conversando no deque
enquanto a lancha flutuava com o motor desligado sobre o mar. Carina ainda estava
curiosa quanto a veia esportiva dos Castilho e me encheu de perguntas acerca da
carreira do meu irmão no surfe e da minha no vôlei. Ainda estávamos sem sutiã e até o
Max já tinha se acostumado a me ver com os peitos de fora. Ele já nem estava me
olhando com cara de pervertido a cada cinco segundos.

— Por que desistiu do vôlei, Jane? Eu te assisti jogar no campeonato intercolegial do


ano passado e você era uma das melhores do time.

A Rafa a encarou naquele momento com a sobrancelha arqueada e Carina se retratou a


tempo:

— Eu disse que a Jane era uma das melhores, não que era a melhor!

A menina de pele escura então sossegou em seu canto e prestou a atenção no que eu ia
responder.

— Desde menina, a nossa treinadora da escola vivia me pressionando para que eu


começasse a jogar vôlei profissionalmente. Dizia que eu tinha talento e que apostava em
mim, mas eu mesma nunca me senti boa o suficiente para tornar o que era um hobby em
algo mais sério, assim como o surfe sempre foi para o meu irmão. Não me sentia pronta
para ser jogadora e, por isso, não quis decepcionar a minha professora e os meus pais.
Na verdade, papai teria tido um infarto se outro dos filhos dele virasse esportista e não
quisesse seguir no ramo de negócio da família.

Carina embalou uma risada que Rafa e Max compartilharam.

— Sei bem como é — disse a menina de cabelos castanhos —, lá em casa, o papai meio
que renega o meu irmão do meio, o Lucas, por ele ter seguido a profissão de TI e não a
de gestão como o Rodrigo. Eu meio que também sou obrigada a querer ser uma
executiva se ainda quiser o meu nome no testamento do velho.

Mais risadas.
Todo mundo que o conhecia dizia que Fausto Monterey, o pai de Carina, era do tipo
linha-dura até mesmo com os filhos e eu me arrepiei toda só em imaginar o que ele faria
quando descobrisse o que o meu pai tinha feito à sua empresa com a ajuda de um de
seus próprios empregados.

Deus nos proteja! pensei, com um frio na barriga.

— Além do Johnny, tem mais algum atleta na família Castilho? — quis saber Carina, já
se besuntando de mais filtro solar. Ela tinha a pele mais clara que a minha e o seu fator
de proteção era ainda maior que o meu.

— Tem a minha prima Priscila que você conheceu durante o intercolegial do ano
passado. Ela também é praticante de vôlei por hobby, mas muita gente a incentiva a se
tornar profissional, já que leva muito jeito e é bem mais jovem que eu. Além dela, a
minha irmã começou a treinar arquearia há algum tempo e tenho dois primos que
também são surfistas, mas que não tenho muito contato. Eles moram no Espírito Santo e
são filhos de um primo do meu pai, uma parte mais afastada da família.

Anderson e Emerson García Castilho tinham se classificado para a etapa juvenil do


CNS em algumas das melhores posições e haviam disputado o título um dia antes de
Jonathan, enfrentando as mesmas ondas e os mesmos desafios em sua categoria. Pelo
que eu tinha acompanhado nos sites de notícia, um dos meninos tinha conseguido um
segundo lugar no campeonato, mas era bem óbvio que ambos tinham um futuro
promissor no esporte, assim como o primo mais famoso.

Carina estava me elogiando pelo sangue vencedor que corria em minhas veias quando o
motor de outro barco se aproximando nos alarmou. Esticamos os nossos pescoços para
ver de onde vinha a embarcação e senti a pulsação acelerar quando reconheci o iate que
chegava perto da gente. Era um motor a cruzeiro branco de cinquenta e dois pés e eu só
conhecia uma pessoa que andava se mostrando por aquelas mesmas bandas em cima de
um daqueles.

— Parece que ele está manobrando para se aproximar da nossa lancha.

Max correu escada acima em direção à cabine e fez sinal para o comandante no iate. A
embarcação enorme começou a chegar mais perto devagar e foi só eu dar uma olhada
para a cabine para reconhecer o meu ex-namorado Beto Suares dentro dela. Ele estava
acompanhado de uma menina de cabelos alourados muito bonita e, conforme os gritos
de Carina no nosso deque ecoavam efusivos, eu quase me esqueci que estava com os
peitos de fora. Pouco antes do iate emparelhar com a lancha, eu me cobri com as minhas
mãos e o vi me encarando lá de cima.

— Bianca? É você mesma?

Os berros de Carina chegaram até a acompanhante de Beto e a moça não demorou a


descer da cabine e se aproximar da lateral do barco. Bianca Ferreti estava com uma
canga em torno da cintura e um biquíni branco cobria os seios volumosos em cima. Ela
abriu um sorriso ao reconhecer a amiga de colégio em nossa lancha e as duas
começaram a se comunicar à certa distância.

— Carina, sua louca! O que está fazendo aqui também?

Rafa já estava amarrando o laço do seu biquíni para se tornar mais apresentável para os
visitantes e eu estava lá parecendo uma tonta segurando os peitos com as mãos, sem
saber sequer onde tinha deixado o meu biquíni. Naquele ínterim, Beto seguia a
acompanhante escada abaixo da cabine e com os olhos fixados em mim, me
cumprimentou.

— Oi, Janete. Há quanto tempo!

Senti o seu olhar me queimar entre os peitos amassados pelos meus dedos finos e ele
deu um risinho antes de desviar a sua atenção para Carina, que também parecia o
conhecer de outros carnavais.

— Então quer dizer que o todo poderoso Roberto Suares raptou a minha amiga e a
trouxe para o alto-mar a bordo dessa belezinha de iate?

Uma mão me tocou as costas naquele momento e, enquanto eu prestava a atenção na


conversa de Beto e Carina, Max segurava o meu biquíni gentilmente querendo me
ajudar a me vestir. Agradeci, sem graça, e tal qual uma contorcionista, consegui me
cobrir sem que ninguém acabasse vendo os meus mamilos. O próprio Max me ajudou
com o laço em minhas costas.

— Então você já conhece a Bianca? — perguntou Beto à Carina, ao que a menina


assentiu. — Mundo pequeno, hein!

— Eu e a Carina estudamos juntas durante o ensino médio todo. — justificou-se Bianca,


sorridente. — Nos tornamos grandes amigas esse período.

Dava para sentir no ar que estava acontecendo algo mais íntimo entre aqueles dois e,
seja por ciúmes ou pura inveja, os meus pensamentos se tornaram altos demais em
minha cabeça.

De todas as garotas do mundo, ele tinha que se engraçar justo com essa?
Capítulo 39 – Janete (PARTE 5)

BIANCA E EU TÍNHAMOS sido rivais em quadra durante o intercolegial do último


ano do ensino médio e o time dela não só tinha limpado o chão com o meu, como
também havia nos tirado pela primeira vez de uma final. Com nossa treinadora Vera
Martel, as meninas da equipe e eu havíamos vencido três campeonatos seguidos e nunca
antes tínhamos sido derrotadas em quadra… até a chegada de Bianca Ferreti e o seu
bando de piranhas.

— Que surpresa ver você aqui também, Janete — disse a loira, olhando em minha
direção —, o Beto me contou que tinha alguns conhecidos que moravam nessa região,
mas jamais imaginei que fosse você.

Você é a única intrusa aqui, sua vaca! pensei, enraivecida.

— Pois é…

— Por que não aportamos os barcos e sentamos um pouco para conversar todos juntos?

A ideia de Carina era péssima. A última coisa que eu queria era ter que compartilhar
novamente o mesmo espaço com o Beto e as coisas só pioravam com a Bianca por
perto. Mas como eu poderia dizer que nenhum deles era bem-vindo à casa de praia da
minha família sem que aquilo soasse extremamente desagradável?

— Ótima ideia. — Menti. — A casa dos meus pais fica a poucos minutos da praia. Se
você quiser, Beto, pode atracar o iate lá. Tenho certeza que conhece bem o caminho.

Ele havia me dito uma vez que já havia estado na Praia da Vila e até já tinha pilotado
um dos barcos do meu pai, por isso, sabia que o caminho lhe era familiar. Beto parecia
bastante empolgado em esfregar a sua aparente nova conquista amorosa em minha cara
e nem sequer titubeou ao convite, aceitando antes mesmo de pedir a opinião de Bianca.
Eu esperava por paz e tranquilidade em meio à natureza do litoral, mas de repente, o
meu final de semana estava começando a ficar tortuoso e intragável.

Não tínhamos trazido mantimentos suficientes para mais do que quatro pessoas, por
isso, Max teve que improvisar um churrasco vegano de algas para alimentar os nossos
dois novos convidados e ele abriu mais duas garrafas do nosso vinho para que
bebêssemos durante o jantar. Carina estava agarrada à Bianca e as duas demonstravam
um grande entrosamento, assim como eu tinha com a Rafa e a Rarissa. Quando uma
contava uma piada, a outra já emendava o riso e até mesmo as suas frases se
completavam, como se uma lesse os pensamentos da outra.

Assim como eu, a Rafa também tinha grandes razões para odiar a loira peituda por conta
da nossa desclassificação no vôlei e, embora aquele parecesse ser um motivo fútil, uma
história que agora tinha ficado no passado assim como nossa vida colegial, algo no rosto
perfeito da menina nos irritava e encará-la era como ver a nossa derrota materializada.
Uma coisa difícil de explicar.
— Os nossos pais estariam se rasgando de ódio se nos vissem agora compartilhando
uma taça de vinho, meninas…

E Beto direcionou o seu olhar primeiro para a Carina e, finalmente para mim.
Estávamos sentados em torno da mesa de jantar da cozinha da casa e todos já tinham
comido as suas porções de algas servidas por Max, que nos observava em pé, perto da
porta.

— Consigo enxergar o senhor meu pai arrancando a gravata do pescoço, jogando no


chão e pisando em cima. — E Carina engrossou a voz, imitando um tom mais
masculino para simular o pai Fausto. — “Uma filha minha bebendo com um Suares?
Jamais permitirei um despautério como esse! ”.

E ela riu alto, reclinando as costas na cadeira.

— Pois o meu pai diria algo parecido. Ele deve me preferir morto do que trocando ideia
com você ou com o Rodrigo… nunca entendi todo esse ódio entre eles!

Beto bebericou o vinho em sua taça e os seus olhos se viraram para mim, esperando a
minha opinião sobre a eterna “guerra dos tronos” entre os Suares, os Monterey e os
Castilho. Assim como na série de livros27, parecíamos em um combate eterno para saber
quem conquistaria primeiro Westeros e eu tinha muito medo que nós, os Castilho,
acabássemos sendo como os Stark, degolados, achincalhados e humilhados em praça
pública. Enquanto divagava nas minhas analogias nerds, fui direta:

— Tenho certeza que você não vai querer saber o que eu acho sobre essa briga, Roberto.

Eu estava pisando sobre terreno de vidro e achava arriscado tecer qualquer que fosse a
minha opinião acerca da recente briga entre a minha família e a dele. Se eu falasse
demais, podia acabar revelando detalhes delicados sobre a espionagem dentro da
Monterey, algo que eu não queria que fosse do conhecimento da Carina. Além disso, eu
tinha plena consciência que o grande culpado de todo aquele mal-estar era o meu pai e
eu não queria me tornar alvo dos possíveis comentários maldosos que Beto poderia
tecer sobre mim, falando com a voz do próprio pai, o homem que vinha atacando os
meus tios dentro da construtora querendo que eles abrissem mão das suas ações de
mercado.

— Acho melhor mudarmos de assunto. — disse Rafaela, a mais sensata de todos nós. —
Que tal as algas preparadas pelo meu maninho?

O prato tinha sido feito no improviso pelo Max, mas havia sido aprovado com
unanimidade.

Duas horas tinham se passado daquela confraternização forçada entre os Castilho, os


Monterey, os Suares, os Albuquerque e os Ferreti, mas para mim, era como se fosse
uma eternidade. Eu mal conseguia encarar o Beto sem me lembrar da maneira covarde

27
Aqui, Janete está se referindo à série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo escritas por George R. R.
Martin
com que a sua irmã Beatriz havia me tratado numa das últimas vezes que tínhamos nos
encontrado naquele mesmo iate com que ele estava passeando com Bianca. Era difícil
para mim tratá-lo de maneira casual como se nada tivesse acontecido.

Embora fossemos diferentes em gostos, estilos e maneirismos, eu estava mesmo


disposta a ignorar o que nos fazia distintos para apostar na química incrível que exalava
entre nós, mas a sua irmã ciumenta e possessiva havia estragado tudo.

“Você não é especial como acha que é. Eu conheço o meu irmão. Ele vai usar e abusar
de você, logo depois, vai enjoar como sempre faz com as vadias em sua vida. E sabe o
que ele vai fazer depois? Te trocar por outra. É isso que vai acontecer. Tem sido assim
nos últimos anos e não vai ser você e esses peitos enormes que vão fazer ele mudar”.

Cada uma daquelas palavras ditas na sacada da guesthouse dos Suares ainda ecoava em
minha mente como ditas recentemente e elas tinham me machucado para valer.

— Você nunca vai me perdoar, não é?

Bianca já estava caminhando de braços dados com Carina em direção ao cais a uns vinte
metros de nós. Max e Rafa também estavam seguindo em direção ao atracadouro para
se despedirem dos nossos convidados, mas o Beto tinha ficado para trás
propositalmente. Emparelhado comigo, ficou me olhando com cara de cachorrinho que
caiu do caminhão de mudança e eu evitei encará-lo.

— Perdoar? Você não me fez nada que merecesse perdão, Roberto. Estamos bem.

Eu tinha usado o meu tom mais seco. Naquele momento, a areia do Saara teve pelo que
sentir inveja.

— Você nunca me disse o que conversou com a minha irmã naquela noite e porque quis
voltar para São Paulo daquela nossa viagem mais cedo. Mesmo quando eu implorei para
saber o que tinha acontecido, você nunca me disse. Preferiu se afastar e ignorar todas as
minhas tentativas de contato depois disso. Só pude supor que eu havia feito algo de
errado… algo que eu nunca tive a chance de saber o que era.

Eu lancei um olhar para Bianca mais à frente e percebi que ela tinha tudo o que mais
atraía Beto. Pensei em quanto tempo ela cairia na real que, por melhor que fosse, ainda
assim, ela jamais seria tão boa quanto a irmã dele.

Em quanto tempo a megera também afastaria a Bianca do Beto? Um mês? Dois meses?
Mais? Menos?

— Eu apenas não era boa o bastante para você e a sua família, Roberto. Só demorei para
me dar conta disso.

Algum tempo depois, quando o iate começou a se afastar do cais, eu senti um alívio
muito grande e pude voltar ao meu humor de antes do encontro infeliz com Beto e a sua
nova namorada em alto-mar. Voltamos os quatro para a casa na praia e colocamos um
filme para assistir na TV.
A noite já tinha caído do lado de fora, mas ainda tínhamos muitas horas para aproveitar
daquele domingo quente. Carina se aninhou no peito do Max num sofá e, no outro, eu
deitei a minha cabeça no colo aconchegante da Rafa que ficou me fazendo carinho nos
cabelos enquanto assistíamos a uma comédia romântica. Depois das emoções daquele
dia, era uma péssima escolha de tema, mas mesmo enquanto eu via as minhas próprias
ações — e os meus erros — refletidos na mocinha inocente do filme, pensando no
desastre que tinha sido as minhas relações com o Eduardo e o Roberto, ainda assim era
bom estar na companhia de amigos e longe, pelo menos por um instante, das agruras do
mundo real.

Ali deitada no colo de Rafa, eu estava tranquila e nem tive vergonha quando as lágrimas
rolaram por meu rosto ao ver o casal da história se beijando no final e terminando num
clichê “felizes para sempre”.

Quem dera a vida também fosse tão clichê!


Capítulo 40 – Aline

EU ESTAVA MORANDO NO ALOJAMENTO do time de voleibol onde havia


começado a minha tão sonhada carreira profissional como atleta há alguns meses, mas
ainda não tinha me acostumado à rotina fora da casa que eu chamara de “minha” a vida
toda em Cotia. As duas amigas de quarto, Nanny e Estela, tinham me ajudado a fazer
com que eu me sentisse melhor em relação ao afastamento da minha família, mas a
realidade era apenas uma: eu morria de saudades do meu lar.

Eu era a reserva do Barueri Volleyball Club na posição de levantadora e o meu treinador


ainda não havia ganhado confiança suficiente em mim para me botar na equipe
principal. Naquele começo de ano, ainda estávamos esquentando os motores na
Superliga Brasileira de Voleibol Feminino, mas já estávamos enfrentando times muito
fortes como o Osasco, o Minas e o Pinheiros em nossa chave. Eu estava muito feliz em
fazer parte de um clube de vôlei de verdade e não somente um time de alunas
descompromissadas em um torneio estudantil, por isso, eu não via a hora de ter a minha
posição assegurada e poder dizer para todo mundo que eu estava brilhando no mundo
dos esportes, como o meu irmão mais velho Caíque.

O município de Barueri ficava a apenas trinta minutos de Cotia de carro com o trânsito
moderado e uns quarenta e cinco minutos do centro de São Paulo. Em dias sem jogos
marcados e com apenas treinamentos agendados no ginásio da equipe, eu recebia folga e
podia sair para fazer o que quisesse, desde que não comprometesse a minha saúde física,
nem tampouco o meu rendimento dentro de quadra. Brigas de rua, parkour e bater uma
pelada descalça no asfalto quente, por exemplo, era proibido.

Há Há Há. Como eu sou engraçada!

A minha primeira visita ao que eu agora chamava de “a casa dos meus pais” soou com
um clima de choradeira generalizada e foi difícil querer sair do abraço envolvente de
papai e escapar da chuva de beijos no topo da cabeça dada pela mamãe. Os dois agora
só tinham ao meu irmão Diogo para sanar a sua “corujisse” de pais exemplares que
sempre foram para todos nós e aquelas mudanças bruscas com a saída de Caíque para
jogar futebol no exterior, comigo indo para Barueri jogar vôlei e posteriormente a saída
de Bianca para modelar no centro de São Paulo estavam deixando o senhor Francisco e
a dona Edna abalados.

Por sorte, além de cuidar do Diogo — o meu irmão cabeçudo que ainda não tinha
escolhido o que queria fazer da vida —, os dois tinham os seus próprios trabalhos e era
aquela ocupação que não os deixava pirar de vez com a ausência dos filhos.

Depois da minha ida definitiva para o alojamento das atletas que era vizinho ao centro
de treinamento do Barueri, eu decidi dar por encerrado de uma vez o meu
relacionamento com o Heitor Almeida, o vizinho da frente de casa. Comigo fora de
Cotia e com ele trabalhando até bem tarde, seria impossível que mantivéssemos o rolo
que tínhamos antes, com as escapadas costumeiras um para o quarto do outro a fim de
fazer sexo. Numa daquelas minhas visitas esporádicas ao meu antigo bairro, eu resolvi
me abrir francamente para ele sobre a minha nova condição de jogadora profissional e,
como sempre compreensivo, ele entendeu perfeitamente. Tínhamos sido melhores
amigos a vida inteira — mesmo com os benefícios que a nossa relação aberta
proporcionava — e a amizade prevaleceria apesar da distância física. Eu o continuava
achando o menino mais fofo que eu já tinha conhecido na vida e o amava muito. Nada
tinha mudado.

Com o fim do “namoro” com o Heitor, eu andava à flor da pele da carência e não era
fácil como eu imaginava me ver tão privada de uma vida amorosa.

Do time principal de vôlei em que eu jogava, boa parte das meninas resolviam as suas
carências e privações sexuais entre si, uma vez que metade era homossexual assumida e
outros 20% se dizia bissexual. Eu estava há pouco tempo no alojamento feminino, mas
naquele período, já tinha aprendido como a coisa funcionava na calada da noite com as
meninas passando de um quarto para outro de maneira sorrateira e retornando suadas e
esbaforidas para as suas camas.

Das minhas colegas de quarto, a Nanny era heterossexual como eu e a Estela se dizia bi,
embora nunca tivesse feito sexo com nenhum homem na vida. Após os treinos e jogos,
era muito comum vê-las falando abertamente de sexo uma com a outra e eu ficava lá só
ouvindo, aprendendo com elas.

— E você, Line? Já ficou com alguma menina? Beijos, linguadas, dedadas, essas
coisas?

Nanny era uma garota de pele morena e olhos castanhos. Usava o cabelo crespo bem
curto e prendia os cachos que escapavam com presilhas para não atrapalhar a visão
durante as partidas. Tinha pernas longas e era uns seis centímetros mais alta que eu, que
tinha um metro e setenta de altura.

— Só por curiosidade mesmo, mas eu não curto muito. — respondi naturalmente.

— Prefere uma piroca? — perguntou a Nanny.

Acenei que sim e, em seguida, caímos no riso.

— Me deixa te dar uma chupada de verdade um dia desses pra ver se você não começa a
pensar no assunto, Line. Te vi no banho ao final do treino semana passada. Você tem a
xana do jeito que eu curto: lisinha e rosada!

Era difícil aquele tipo de conversa me deixar com vergonha, mas depois que Estela me
disse aquilo, eu fiquei com o rosto corado e emudeci por alguns minutos.

Estela era uma preta de cabelo afro e “corpuda” como costumávamos dizer. Tinha quase
um metro e oitenta e três de altura e as suas mãos eram bem grandes. Era a mais bocuda
de nós três e, em quadra, vivia arranjando encrenca com as adversárias, xingando e se
estranhando com quem ficava do outro lado da rede. Sua posição entre as quatro linhas
era a de oposta e tinha uma batida mortal com o braço direito.
— Se eu mudar de ideia, qualquer dia a gente se pega no chuveiro!

Eu tinha dito aquilo para aliviar o clima de perversão que havia se criado e sabia bem
que Estela não me forçaria a nada e nem tinha qualquer interesse real em mim, além de
querer me deixar na berlinda por pura zoação. Éramos companheiras de quarto há pouco
tempo, mas eu já adorava aquelas duas.

Na semana seguinte, o Barueri teve um jogo duríssimo contra o Maringá, time que
contava com duas jogadoras da Seleção Brasileira de vôlei, e levamos uma lavada de 25
a 13 no primeiro set. Paty Donato, a levantadora oficial do nosso time, tinha sentido o
tornozelo após aterrissar de mal jeito em quadra depois de um salto e o treinador me
chamou imediatamente para cobrir a posição até que a garota de vinte e três anos se
recuperasse. Fiz o aquecimento de praxe e entrei como titular na sequência do jogo,
tentando cadenciar as jogadas para os dois lados da quadra, buscando sempre a atacante
menos marcada pelo bloqueio rival o que, num primeiro instante, deu certo. O Barueri
estava conseguindo manter uma vantagem de dois pontos e boa parte dos saques das
rivais estava sendo enviado para fora ou parando na defesa, o que nos permitiu vencer o
set e empatar o jogo.

No intervalo entre o segundo e o terceiro tempo, o treinador decidiu apostar no retorno


ao jogo de Paty Donato e, assim, eu voltei ao banco. Nanny estava ao meu lado e
enquanto assistíamos ao jogo de camarote da quadra, nós duas urrávamos e torcíamos
juntas.

O Maringá tinha voltado com a mesma força do primeiro set e a nossa defesa não estava
vivendo um dos seus melhores dias. O ginásio estava relativamente cheio e dois canais
de TV por assinatura estavam transmitindo a partida ao vivo para todo o Brasil. Dava
para ver as câmeras sobrevoando a quadra com uma grua filmando cada momento e era
bem emocionante pensar que eu estava mesmo ali oficialmente e que não era um sonho.
Por um instante, eu olhei para o símbolo em meu peito, o logotipo de nosso
patrocinador esportivo em meu short e concretizei pela primeira vez: eu tinha mesmo
me tornado uma jogadora profissional.

A derrota para o Maringá nos jogou para a penúltima posição da tabela classificatória,
mas ainda teríamos cinco jogos após a pausa para o Carnaval e o time tinha boas
chances de passar para a próxima fase e disputar o troféu. O Barueri jamais havia sido
campeão da Superliga, mas o nosso treinador tinha fé no time e dizia todos os dias no
vestiário para que acreditássemos com ele e que trabalhássemos dobrado para realizar
mais aquele sonho. Eu tinha fé em mim e se ele me desse a oportunidade, eu provaria de
uma vez por todas que o meu lugar não era esquentando o banco.
Capítulo 41 – Aline (PARTE 2)

NA SEXTA-FEIRA APÓS aquele jogo contra o Maringá, as meninas do clube foram


dispensadas para curtir o feriado e, assim como Nanny e Estela, eu também fui passar os
meus dias de folga com a minha família. Cheguei em Cotia por volta das oito da noite e
vi uma movimentação diferente em frente de casa assim que alcancei a entrada da nossa
rua. Haviam dois carros estacionados em frente ao portão e um deles, o Crossfox preto,
me era familiar, embora não me lembrasse de onde o reconhecia.

Antes de entrar em casa, notei que o Renault Clio de mamãe não estava na garagem
aquele horário e vi o senhor Almeida, pai do Heitor, do outro lado da rua. Acenei para
ele dizendo que estava com saudades e, gentilmente, ele disse que a rua não era mais tão
alegre como antes sem a minha presença. Eu enchi o meu rabo de vaidade enquanto
dizia, soberba:

— Eu sei, seu Almeida. Eu sou a estrela mais brilhante desse lugar!

Ele achou graça levando o comentário na brincadeira e, no instante seguinte, eu voltei a


me sentir um lixo.

Grandes merdas de estrela, pensei, reserva no time de vôlei, sem namorado, sem
amigos… tô mais para estrela cadente!

Assim que fechei o portão velho com um rangido em suas dobradiças, ouvi vozes
acaloradas do lado de dentro da casa e pensei em descobrir quem estava nos visitando
antes de entrar, porém, estava cansada demais para ficar bisbilhotando. Quando abri a
porta da sala, dei de cara com ele e o meu coração disparou dentro do peito.

— Olha quem chegou, a nossa princesa!

Mamãe estava em pé perto da TV e me anunciou quando cheguei. Os meus olhos, no


entanto, agora estavam fixados no moço alto de rosto fino e sorriso fácil à minha frente.

— Oi, Line, há quanto tempo!

Eu ainda estava meio boba de vê-lo ali reunido na sala com a minha mãe, a minha irmã
Bianca, o meu irmão Diogo e a Érica Falcão, uma das funcionárias do setor de
corretagem da Sol Nascente, mas eu não hesitei em dar um abraço terno em Danilo
Reis, o cara que tinha alugado um condomínio inteiro na minha mente nos últimos
meses.

— Surpresa boa te ver aqui, Dan.

Depositei um beijo em seu rosto e, em seguida, educada, cumprimentei as demais


pessoas presentes. Eu já conhecia Érica tanto da imobiliária em que mamãe trabalhava
quanto de uma reunião informal na casa do Danilo, na Lapa, e a mulher me apertou
forte, dando tapinhas em minhas costas. Dei um beijo na testa de Diogo tão logo passei
por ele sentado no sofá e nos sacaneamos, como era de praxe; ele me chamando de
“zoada” e eu o xingando de “feioso”. O abraço em minha irmã foi mais especial, uma
vez que não nos víamos no que parecia uma eternidade e vi aqueles olhos dourados
lacrimejarem assim como os meus quando nos cumprimentamos.

— Tenho tanta coisa pra te contar… — cochichou ela em meu ouvido, discreta.

— Eu também. — respondi no mesmo tom, mal podendo me conter para estar logo a
sós com Bianca e fofocar com ela, como nos velhos tempos.

Depois da minha chegada, a dona Edna me explicou que o seu velho Renault a havia
deixado na mão em plena 23 de Maio, no centro de São Paulo, e que como Danilo,
como o perfeito cavalheiro que era, ofereceu-lhe uma carona até Cotia, a Érica tinha
resolvido segui-los para fazerem juntos uma reunião pós-expediente. Pela sala, eu via
espalhados alguns copos de batidas especiais sem álcool além de latas de refrigerante.
Aproveitei para roubar alguns brigadeiros que estavam dando mole em cima de uma
bandeja no alto da geladeira.

— Quer dizer que vocês resolvem dar festa bem quando eu não estou em casa, é isso?

Reclamei me fazendo de preterida. Fui acolhida por mamãe que me deu um abraço
apertado, me chamando de neném.

— Para de ser carente, Line — bronqueou Bianca, sentada no sofá maior da sala —,
agora que não moramos mais aqui, a mamãe deve dar essas festinhas o tempo todo pelas
nossas costas. Acho bem errado isso!

Perdi espaço no abraço da dona Edna que correu para dar carinho à filha mais velha lhe
dando dezenas de beijos em sua cabeça alourada.

— Que festival de carência, meu Deus!

Após dizer aquilo, Érica virou um copo da batida que havia aprendido a fazer na casa de
Danilo e ele estava ali só nos observando, sorridente. Eu tinha ficado estranhamente
eufórica em sua presença e, sempre que dava, tentava botar o meu cabelo despenteado
no lugar conferindo também se a minha roupa desportiva não estava muito feia em mim.
Ele era o único cara no mundo que me deixava daquele jeito, apalermada e, até então,
eu não sabia explicar o que exatamente sentia por ele. Estava louca para descobrir.

A conversa na sala rolou até altas horas da noite e, quando o papai estacionou o seu
Honda Civic na garagem após o trabalho, o clima de bagunça que há tanto não
permeava aquela casa só fez aumentar. As piadas “de tio” que ele sabia contar tão bem
potencializaram a reunião em torno da nossa sala e ele fez uma dupla imbatível no
humor com Érica, a mulher que tinha quase a mesma idade que os meus pais, mas que
tinha um espírito muito jovem e que se exacerbava quando ela bebia um pouco a mais.

Assim que o estoque de batida sem álcool e a bandeja de brigadeiros se esgotou bem
perto das onze da noite, os visitantes resolveram levantar âncora e, àquela altura,
estávamos todos com os ossos e os músculos da face doloridos de tanto rir com os
“causos” contados por Érica e as piadocas de papai. Até o Danilo tinha entrado no clima
de zoeira generalizada e o rapaz sempre contido aproveitou para contar algumas
histórias engraçadas de sala de aula, o que gerou em todos nós bons momentos de
diversão.

Na hora da despedida, eu acompanhei o Danilo até a porta do seu Crossfox preto e


mamãe fez o mesmo com Érica em seu Ford Ka vermelho. Os dois ainda teriam longos
minutos até chegarem em São Paulo, mas nenhum deles estava reclamando de nada.
Tinham gostado de sair da sua rotina, às vezes, regrada em excesso na imobiliária que
trabalhavam com a minha mãe e não viam a hora de repetir aquela farra. Já com ele ao
volante, eu me abaixei ao lado da janela do motorista e indaguei, como quem não queria
nada, mas cheia de más intenções:

— Quando a gente volta a se ver agora?

Ele me olhou bem dentro dos olhos e respondeu sem nem titubear:

— Sempre que você tiver uma folga do clube, nós podemos marcar um sorvete ou uma
pizza…

Fui rápida.

— Estou livre do clube até a Quarta-feira de Cinzas.

Ele fez sinal de que tinha ouvido uma boa notícia.

— Vou estar em casa amanhã e domingo. Se quiser, podemos marcar alguma coisa.

Meu coração disparou outra vez e finalizei dizendo que eu entraria em contato pelo
WhatsApp. Ele assentiu e eu me curvei para beijá-lo no rosto. Danilo me deu uma
piscadinha, depois, estavam ele e Érica deixando Cotia rumo a São Paulo.

Depois da partida de nossos visitantes, os Ferreti — menos o Caíque, infelizmente —


voltou a se reunir na sala de casa e estávamos tão felizes que não queríamos mais
desgrudar um do outro. Eu e Bianca nos revezamos em contar para o papai, a mamãe e
o Diogo o que as nossas vidas profissionais estavam exigindo de nós duas fora de casa e
como era difícil sobreviver sem o carinho da nossa família. A Bia aproveitou para
mostrar para a gente as fotos que tinha feito ao lado de Vicky Novaes, umas das top
models mais badaladas dos últimos tempos, e como ela estava feliz com aquele ensaio.

— No estúdio era tudo produzido com o maior capricho e todos nos bastidores nos
tratavam como estrelas internacionais. A equipe da Vicky é superprofissional e, ao
contrário do que dizem dela, a garota é bastante humilde. Não foi nada arrogante com as
iniciantes.

Diogo soltou uma risada irônica sentado num dos braços do sofá, de ouvido na
conversa.

— Claro, muito humilde! Ela só comprou uma casa em Miami que vale quase cem
milhões de dólares e dirige uma Maserati que custa mais que esse bairro aqui inteiro!
Vicky Novaes era uma das modelos brasileiras de passarela mais bem pagas da
atualidade e voltava ao Brasil só de passagem para algumas campanhas em parceria
com marcas nacionais. Era quase inacreditável que a minha irmã tivesse mesmo
dividindo espaço com alguém tão famosa.

Na minha vez de contar sobre a minha vida fora de casa, falei sobre o set em que joguei
como titular e como tinha sido empolgante saber que a partida tinha sido transmitida
inteira ao vivo na TV.

— Eu gravei o seu jogo, Line. Depois a gente assiste juntos ao set em que você entrou.

Cumprimentei o meu irmão com um soquinho em seu punho fechado e foi a vez de
mamãe externar a sua felicidade.

— Eu não pude assistir ao seu jogo inteiro, meu amor, mas consegui uma pausa entre
uma venda e outra na imobiliária para dar uma olhada na partida. Aquelas bruacas do
Maringá jogaram muito bem. Uma pena que o seu time não conseguiu virar depois do
set de empate.

A Bianca quase virando uma modelo internacional, o Caíque brilhando ao lado de


feras do futebol como Brozovic e Icardi e eu, uma fracassada engordando a bunda no
banco de reservas… a minha vida é uma droga!

Eu estava ficando deprimida, mas papai percebeu que eu tinha ficado meio down de
repente e me botou logo para cima.

— Desfaz esse bico, filhota. Você está só começando. Logo surge uma oportunidade
para você mostrar todo o seu potencial no time principal e aí as vitórias vão começar a
aparecer. Cadê a minha Aline guerreira? Onde está aquela minha gata vibrante e cheia
de energia que gritava aos quatro cantos que ia detonar com as rivais?

Papai me deu um abraço de quebrar costelas e eu dei razão a ele. Por mais que a
situação não parecesse favorável agora, eu ainda era muito jovem e inexperiente. Se
tivesse paciência, a minha chance ia aparecer mais cedo ou mais tarde e, foi pensando
nisso que terminamos a reunião familiar naquela sexta-feira. Ainda teríamos todo o fim
de semana para sermos os Ferreti de sempre e eu estava muito animada em poder estar
em casa outra vez.
Capítulo 42 – Aline (PARTE 3)

JÁ ERA PERTO DA MEIA-NOITE quando Bianca e eu voltamos ao nosso antigo


quarto no andar de baixo da casa, vizinho ao de Diogo, quando vestimos os nossos
pijamas e ficamos fazendo uma guerrinha de travesseiro, feito duas crianças bobas.
Tudo tinha mudado radicalmente em nossa vida nos últimos meses, mas a coisa que
mais sentia falta era da companhia da minha irmã.

Nós duas sempre tínhamos sido muito mais do que só parentes ligadas por sangue.
Éramos a melhor amiga, a confidente, a parceira e até mesmo a mãe uma da outra.
Depois de gastarmos alguma energia com a nossa brincadeira infantil, ela se deitou em
sua cama vestindo um baby-doll que tinha encontrado numa das nossas gavetas do
armário e eu me deitei em cima dela, pousando a minha cabeça entre os seus peitos
macios. A pulsação dela estava acelerada e dava para sentir uma camada de suor em sua
pele.

— Está fora de forma, vadia! — Provoquei, a sentindo ofegante sob mim.

— Tô nada, vaca! Só me esforcei mais pra te acertar o travesseiro na cara.

— Nem me encostou, otária!

— Encostei sim!

Paramos de nos provocar um instante e eu me apertei mais contra ela. Bia estava
cheirosa e, enquanto eu lhe alisava o braço de maneira carinhosa, ela fazia cafuné na
minha cabeça. De vez em quando, fazíamos aquilo na época que morávamos ali. Eu
gostava de saber que tinha a minha irmã mais velha por perto mesmo quando tudo em
minha vida parecia desmoronar.

— Agora falando sério, Bia… Cê emagreceu bastante! O que aconteceu? Precisou fazer
regime por conta das fotos?

Ela resmungou alguma coisa inaudível e só me respondeu direito quando me mexi e a


encarei.

— Quando me viu a primeira vez, a Sylvia Mascarenhas, que é a dona da Shine Model,
disse que eu tinha um corpo bonito, mas que para as fotos, era necessário que eu
afinasse um pouco a minha silhueta.

Peguei em seus flancos lhe causando cócegas e senti os ossos das costelas bem
evidentes.

— Tinha mesmo necessidade? Consigo contar os ossinhos!

Ela se esperneou rindo e a saia do pijama subiu inteira lá embaixo. Já dava pra ver a sua
calcinha azul.
— Perdi quatro quilos, mas ainda preciso perder mais dois — respondeu ela ao retomar
o fôlego —, a Sylvia diz que, dependendo do ângulo, eu fico parecendo “meio cheinha”
diante das câmeras.

A minha irmã tinha entrado no ramo da moda após um convite feito por uma fotógrafa
de renome chamada Natalie Schneider. Tínhamos visitado a casa de praia de Rodrigo
Monterey com os nossos irmãos na época28 e, pelas fotos tiradas no local pela irmã dele,
a Carina, que era também a melhor amiga da Bia, a Natalie tinha decidido que nós duas
tínhamos jeito para a coisa e nos chamou para um teste em seu estúdio, o Infinite.
Acabamos fazendo dois ensaios para um catálogo de biquínis e, depois disso, a própria
fotógrafa indicou a minha irmã para a agência onde ela trabalhava atualmente.

Até então, ninguém tinha falado nada em perda de peso e eu tinha ficado um pouco
preocupada com a sua saúde, já que Bianca sempre fora linda naturalmente, do tipo
“corpuda” e nunca havia precisado fazer dieta. Antes que eu a interrogasse sobre o tal
regime, no entanto, ela mudou o foco para mim, me dando uma apertada na bunda por
cima do meu short de dormir.

— Já você ganhou massa, Line… Olha essa bunda dura!

E ela apalpou mais, estendendo o movimento também para a minha coxa flexionada em
cima dela.

— Ganhei três quilos de massa… treino todos os dias na academia de musculação além
dos fundamentos do próprio vôlei há quase quatro meses… não tem como não ficar
sarada!

Ela me alisou mais um pouco sentindo a minha musculatura mais rígida e me senti
lisonjeada por minha irmã achar que eu estava bem fisicamente. O problema era o meu
psicológico. Desabafei:

— Sarada, gostosa… porém, sozinha.

Amorosa, Bianca me apertou contra o seu peito e, por baixo do decote do baby-doll a
sua pulsação já tinha voltado ao normal.

— Soube que terminou com o Heitor…

Assenti com um “aham”.

— Deve estar sendo difícil pra você… Ainda mais sem o nosso irmão por perto para te
fazer uns cafunés de vez em quando.

A simples menção ao nosso irmão mais velho me causava certa melancolia.

— Eu tenho tantas saudades do Íque — desabafou a Bia com tom choroso —, eu sei que
ele está realizando o sonho dele que é jogar futebol profissionalmente num clube

28
Os Ferretis visitaram a casa de praia dos Montereys em Desejos 22 - As minas de Minas – PARTE 2
grande, mas às vezes, só às vezes, queria que tudo não passasse de um sonho e eu
pudesse encontrá-lo aqui sempre que visitássemos a mãe e o pai.

Ajeitei a cabeça nas tetas da Bia concordando com aquela sua afirmação e, depois, ela
voltou a me fazer carinhos entre os fios de cabelo. Ficamos um tempo ainda naquela
posição e, então, veio a confissão:

— Saí com um cara um dia desses. Nós vamos nos encontrar de novo nesse fim de
semana.

Ergui a cabeça e a olhei com expressão surpresa.

— Sério? Conte-me tudo!

Bianca tinha feito um trabalho de modelo num Salão do Automóvel promovido por uma
grande marca de concessionárias europeias com filial no Brasil e um filho de
empresário chamado Roberto a havia abordado em meio ao evento e a convidado para
jantar. Os dois tinham se conhecido melhor ao longo daquele encontro e ela havia
sentido firmeza suficiente no papo do cara para que aceitasse passear de barco com ele
naquele final de semana.

— Um filho de milionário? Uau!

Ela deu uma risadinha tímida.

— Eu ainda não sei bem onde isso tudo vai parar, mas eu tô indo devagar. Não quero
me machucar como aconteceu com o imbecil do Jonas.

Jonas tinha sido o primeiro namoradinho de Bianca ainda na época de adolescência e,


depois dele, ela nunca mais tinha se relacionado a sério com nenhum outro menino.

— E você, vadia — Ela me cutucou o braço. —, eu percebi um clima diferente entre


você e o patrão da mamãe ou eu tô louca?

Um frio ártico tomou a minha barriga naquele momento e eu mexi as pernas,


incomodada.

— Ai, nem sei, Bia…

Uma nova punhalada com o indicador dela entre as minhas costelas e eu confessei.

— Eu gosto dele. Quando tô com o Dan eu me sinto… não sei… encantada, enfeitiçada.

Bianca emitiu um som de rara desconfiança, depois, falou a sua opinião.

— Ele é tão mais velho, Line… não acho que isso possa dar certo…

Murchei e senti toda a minha euforia escorrer ralo a baixo.


— Tipo… não é como se vocês dois fossem formar o único casal com uma diferença
gritante de idade, mas é que eu penso no futuro dos dois… ele vai ter setenta anos
quando você tiver cinquenta…

Me aninhei melhor no colo da minha irmã. Tinha ficado levemente entristecida, mas
ainda estava animada o suficiente para encontrá-lo no dia seguinte. Danilo era um cara
que valia o risco de eu me jogar de cabeça numa possível relação e, na pior das
hipóteses, eu ainda o teria como amigo e um amigo muito inteligente e companheiro.

Droga! A quem eu estou tentando enganar? pensei no mesmo instante. Eu não quero
nenhum amigo, eu quero um namorado!

— Acho que vamos sair amanhã — disse à Bia, já começando a me levantar pronta para
seguir rumo à minha própria cama —, não sei o que vai dar, mas não quero ficar muito
ansiosa. Quero deixar rolar.

Dei um beijo de boa noite na testa de Bia e, pouco depois, apagamos a luz do quarto. O
cheiro da roupa de cama limpa lavada por mamãe causava uma sensação de
tranquilidade inexplicável e ali, entre as sombras do meu antigo aposento em Cotia, eu
decidi mandar mensagem para o Danilo e marcar o nosso tão sonhado encontro. Ainda
estava elétrica.
Capítulo 43 – Aline (PARTE 4)

NA TARDE DAQUELE SÁBADO, após um almoço caprichado feito por mamãe, eu


tomei um banho e vesti uma das minhas melhores roupas a fim de me encontrar — até
aquele momento — secretamente com Danilo. Embora a Bianca soubesse das minhas
intenções românticas com o cara que era o chefe de departamento da dona Edna dentro
da imobiliária Sol Nascente, eu ainda não queria que a minha mãe soubesse por
enquanto.

Eu tinha insistido para que ele não se deslocasse da Lapa, Zona Oeste da cidade onde
morava, para me buscar em Cotia, que ficava a quase quarenta quilômetros do caminho
natural dele, mas o moço era um pouco teimoso e apareceu para me pegar na esquina de
casa, pouco após o Bar do Alemão, que era um dos “points” mais fervilhantes da Vila
Nodário, lugar onde eu tinha nascido e crescido.

— Por que não me esperou dentro de casa? — indagou-me ele tão logo me
cumprimentou com um beijo no rosto.

— Tentando evitar vizinhos fofoqueiros. — Menti para não dizer na lata “não quero
que minha mãe saiba que eu tô a fim do chefe dela”.

Enquanto manobrava para deixar o bairro, ele deu uma conferida no meu look e os seus
olhos brilharam quando me elogiou.

— Você está perfeita.

Naquela hora, começou um ribombar de chimbau, pedais e bumbo dentro do meu peito,
como se o Neil Peart29 estivesse fazendo um solo no meu coração.

— Obrigada — agradeci timidamente —, é bom caprichar de vez em quando!

Eu tinha botado uma saia preta na metade das coxas e estava usando em cima uma
blusinha branca sem manga com um decote discreto. Não tinha exagerado na
maquiagem preta como costumava fazer e dei apenas uma esfumada de sombra nas
pálpebras, além de um delineado de gatinho nos olhos. O meu batom era num tom de
vermelho claro e quando me olhei no espelho, nem me reconheci.

A Aline Rock N’ Roll morreu? pensei, me divertindo sozinha respondendo um alongado


“nããão” a mim mesma.

— ‘Bora para o MIS então? — Ele perguntou, após ficar me encarando meio abobado
por um tempo.

— ‘Bora!

Eu tinha sugerido a ele por mensagem que fossemos visitar o MIS – Museu da Imagem
e do Som no Jardim Europa e o Danilo achou uma ótima ideia, uma vez que o lugar

29
Lendário baterista da banda canadense Rush, falecido em 2020
estava com uma exposição maravilhosa sobre a história do Rock N’ Roll, tema que mais
nos aproximava desde que havíamos nos conhecido há alguns meses. Eu não sabia se
estava mais animada em ir para a exposição ou pela companhia do moço, mas ambos
estavam me deixando com aquele friozinho gostoso na barriga, o que acabou soltando a
minha língua durante a nossa viagem até o museu, comigo falando mais do que minha
boca dentro do carro.

Danilo estava vestindo uma camiseta preta com o logotipo do Van Halen no peito e,
além da calça jeans escura e o par de All-Star nos pés, ele tinha deixado os cabelos
crespos molhados, o que lhe conferia toda uma aura mais juvenil. Ele tinha passado dos
trinta anos, mas conservava em si aquilo que lhe conferia quase que uma juventude
eterna. Não tinha rugas evidentes, não tinha quilos a mais e a única coisa que
denunciava a idade eram as entradas nos cabelos, apregoando uma futura calvície. O
bom era que eu gostava de carecas.

Conforme o Crossfox se aproximava do bairro do museu, nós dois fomos esquentando


os motores ouvindo a playlist de Heavy Metal que o Danilo gostava de escutar em seus
passeios de carro, e tinha que admitir que eu curtia todas as bandas e músicas que ele
amava. De Iron Maiden, passando por Black Sabbath e Megadeth, eu já tinha ouvido de
tudo e até mesmo os clássicos do Hard Rock que ele ouvia, eu também gostava. No
caminho, até fizemos um joguinho de resposta ou tapa e testamos a agilidade um do
outro.

— Melhor baterista. — Ele perguntou

— Neil Peart!

— Um baixista.

Titubeei e ele me deu um tabefe no bíceps.

— Ai! — Choraminguei, fazendo charme. Nem tinha doído.

— Uma banda anos oitenta.

— Kiss!

E tomei tapa.

— Ai, por que apanhei?

— Kiss é de setenta e três!

E ele riu, atento na direção e já bolando nova pergunta.

— Um vocalista.

— Freddie Mercury!

Ele abriu um sorrisão concordando comigo, depois, falou que era a minha vez de
perguntar. Eu me preparei, mas antes, disse debochada:
— Vou bater de leve pra você não perder a direção e acabar matando nós dois num
acidente de carro, tá?

Ele caiu no riso e quase fez exatamente o que eu tinha dito. Um Peugeot cinza passou
buzinando alto ao nosso lado e preferimos maneirar nas brincadeiras enquanto ele
estivesse ao volante. Eu queria estar viva para beijar outra vez na boca e acreditava que
ele também.

O passeio pelos corredores do MIS foi o nosso primeiro programa juntos e enquanto
visitávamos os estandes montados homenageando o Rock através das décadas, desde os
anos cinquenta, passando por ícones como Chuck Berry e Elvis Presley, chegando aos
anos sessenta com os Beatles, os agitados anos setenta com Jimmy Hendrix e Led
Zeppelin e alcançando o seu auge na década de oitenta com o Metallica e o Guns N’
Roses, ele ia me contando pequenas histórias que tinha com cada banda e cada música
que víamos e ouvíamos na exposição.

Danilo tinha sido um menino muito retraído na infância e aprendeu a gostar de Rock por
conta própria, sintonizando as rádios da época e produzindo as suas próprias fitas
cassetes com um velho gravador do pai. Ele tinha chegado à adolescência se achando
feio e excluído e tinha encontrado no Rock uma forma de alento, uma vez que as letras
das músicas que ele mais gostava falavam um pouco sobre os seus próprios sentimentos.
Ao ouvir aquilo dele, eu senti uma vontade enorme de abraçá-lo e guardá-lo num
potinho só pra mim. Estava começando a ficar apaixonada.

A visita ao MIS levou cerca de duas horas e, após assistirmos a um filme em película
com imagens da época do surgimento do ritmo nos anos cinquenta, nós estendemos o
passeio para uma gelateria que ficava vizinha ao prédio do museu. Lá, sentados à mesa
e tomando sorvete, continuamos o assunto musical.

— Quer dizer então que você descende de uma família mais voltada para o samba? —
Quis saber ele após se lembrar um detalhe que eu havia contado ainda dentro do MIS.
— E como foi que aflorou esse seu gosto pelo Heavy Metal?

Eu ri, sentada toda educada de pernas cruzadas à mesa circular pequena que abria pouco
espaço entre nós, tomando o meu sundae de abacaxi com granola.

— O meu pai tinha um disco de vinil do Elvis em casa e, quando eu era pequena, com
uns seis ou sete anos, ele botava na vitrola pra gente ouvir. Eu já curtia a sonoridade,
gostava da batida envolvente do ritmo, e todas as vezes que ouço “Don’t Be Cruel”, eu
me lembro dele com o controle-remoto em mãos fingindo que era um microfone,
cantando a letra toda errada na minha frente para me entreter. Foi assim que germinou a
sementinha do Rock dentro de mim.

Eu fiz um movimento da mão indo em direção ao meu peito ao dizer aquilo e ele
acompanhou com os olhos, parando bem no meio do meu decote. Arrepiei toda.

— E você tocava numa banda, né?


Ele tinha me contado aquela história uma vez quando o visitei em sua casa com a minha
mãe, a Érica Falcão e o filho dela, o Thomas, mas queria ouvir de novo.

— Não era bem uma banda. Era mais uma reunião de amigos sem noção que não
entendiam quase nada de música querendo fazer barulho. Eu só fui aprender partitura e
violão algum tempo depois.

— A gente podia ir na sua casa pra cantar juntos “And I Love Her” de novo…

Naquele mesmo dia mencionado por mim, ele tinha resolvido desenferrujar os dedos
nas cordas do seu violão e nós cantamos juntos a letra dos Beatles que falava de amores
possíveis diante daquela mesma plateia, além da Kelly Ferraz, uma garota que eu havia
conhecido no estúdio de fotografia de Natalie Schneider e uma amiga dela chamada
Michele.

— Só se você tocar “More Than Words” do Extreme pra mim primeiro. — disse ele em
tom de ameaça.

— Feito. Desafio aceito.

A noite já estava caindo sobre a cidade quando o Danilo rumou do Jardim Europa até a
sua casa na Lapa. No caminho, ele decidiu me mostrar as bandas que dizia ter vergonha
de admitir que ouvia.

— Essas eu só ouço no chuveiro, escondido de todo mundo…

Na lista tinha bandas como Skid Row, Silverchair e até Coldplay que eu admitia que
também era o meu calcanhar de Aquiles. Era quase um consenso entre os roqueiros que
Coldplay era uma banda mais pop do que Rock, mas eu curtia ouvir de vez em quando
uma ou outra das suas composições. Arriscamos cantar de modo desafinado, a nosso
jeito, “Clocks” e foi um desastre. Difícil foi parar de rir depois.

Aquele era um dos dias mais divertidos da minha vida dos últimos meses e, com
certeza, eu não queria que acabasse.
Capítulo 44 – Aline (PARTE 5)

ESTRANHAMENTE, QUANDO chegamos ao bairro onde ele morava, uma chuva de


verão começou a desabar sobre São Paulo e nos molhamos bastante enquanto ele,
desastrado, tentava pegar a chave da porta que derrubara no chão momentos antes. A
chuva estava adicionada a um vento intenso e as gotas d’água grossas que caíam me
molharam quase toda. Entramos em casa esbaforidos e não conseguíamos parar de rir,
quase como se tivéssemos embriagados tamanha era a nossa felicidade.

— O que botaram naquele sorvete?

Eu perguntei, segurando os meus cabelos molhados em frente ao rosto, ainda sem


fôlego de tanto dar risada.

— Eles devem colocar álcool na composição da massa!

Mal ele acabou de dizer aquilo, um Fox Paulistinha surgiu do corredor dos quartos
pronto a festejar a chegada do seu dono e o filhote deu um salto até o colo de Danilo.

— Ei, Johnny, garoto! Papai chegou!

O cachorrinho começou a lamber o rosto de Danilo que, pouco depois, o colocou no


chão pedindo que ele esperasse. Eu só tinha estado ali uma vez antes, o que não era o
bastante para que Johnny me reconhecesse. Enquanto o seu dono caminhava em direção
ao banheiro para me buscar uma toalha, fiquei meio trêmula de frio sobre o tapete de
entrada, com o bicho de pelo branco e marrom me olhando meio esquisito.

— Vai rápido, Dan… essa fera tá querendo me comer!

Abaixei e me equilibrei sobre os tornozelos para tentar ganhar a confiança do cãozinho.


Comecei coçando entre as suas orelhas.

— Você gosta disso?

Ele se afastou rápido e deixei que ele farejasse a minha mão para se acostumar com o
meu cheiro. Naquele momento, enquanto o Johnny me “sentia”, o seu pai voltou do
corredor e me entregou uma toalha para que eu me secasse.

— Já está cheirando as visitas, né, seu safado?

Johnny abanou o rabo para Dan e perguntei a ele se podia tirar a minha bota para ir até o
banheiro me secar. Gentilmente, o moço se ofereceu de apoio para que eu deslizasse o
zíper comprido do calçado cano longo e eu me equilibrei em seu ombro para me
descalçar. Danilo estava tão perto de mim que aquilo me deixou nervosa. Eu tinha gotas
d’água escorrendo pelas pernas e foi então que ele ofereceu:

— Não prefere tirar a roupa para eu botar pra secar na secadora?


Eu estava tão no cio que o meu cérebro travou na parte do “tirar a roupa” e fiquei
encarando ele totalmente atrapalhada. Danilo não tinha entendido nada e me olhou um
pouco constrangido.

— Eu não quis dizer aqui… na minha frente…

Eu comecei a rir nervosamente e apoiei a mão no peito dele.

— Ai, perdão, Dan… eu não tinha entendido direito…

Ele deu um riso sem graça, depois, me acompanhou até o banheiro. Quando me fechei
sozinha lá dentro, através da porta, ele informou que havia um roupão limpo ao lado do
box e que era para eu me vestir com ele se preferisse. Ainda excitada, pensei o que ele
queria dizer com “se preferisse”.

Quer dizer que eu poderia sair nua de dentro do banheiro então? O meu fogo só
aumentava.

Quando retornei do corredor dos quartos e do banheiro com minhas roupas molhadas
entrouxadas em mãos, encontrei o Danilo vestido com um moletom seco a me esperar e
ele tratou de levar tudo para a lavanderia, afim de botar na secadora. Àquela altura, a
minha maquiagem já estava toda borrada e eu tinha tirado um pouco do excesso de
frente para o espelho. Me sentei no sofá para esperá-lo com as roupas e conferi se o laço
do roupão macio que eu usava estava bem amarrado. Eu estava só de calcinha ali
embaixo e, por mais que eu quisesse me exibir toda a ele, não podia ser tão óbvia. Ou
podia?

Gentilmente, o dono daquela casa térrea agradável me ofereceu um chá de erva-cidreira


bem quentinho para compensar o banho gelado que eu tinha tomado contra a minha
vontade e ficamos conversando mais um pouco no sofá. Johnny tinha retornado para o
quarto do dono, onde dormia em sua própria caminha e, por incrível que pudesse
parecer, Danilo e eu ainda tínhamos bastante assunto. Ele falou um pouco da família
que morava em Campinas, no interior do estado, contou que as ensinava violão quando
visitava as sobrinhas pequenas por lá e me falou um pouco da experiência de voltar a
dar aula de Administração Financeira depois de uma pausa de alguns anos.

— Hoje eu dou aula por opção mesmo. Eu me sinto muito bem transmitindo
conhecimento para essa molecada mais jovem e acho que a docência é algo que acaba
enraizado na gente. Uma vez experimentado, é impossível se desligar disso.

Entre vários assuntos, tentei manter um contato mais próximo ao meu alvo de interesse
e, depois de algum tempo ensaiando, consegui perguntar o que ele achava sobre
relacionamentos entre pessoas de idades diferentes. Com muita segurança, o Danilo me
contou que não achava certo se a relação partisse do controle emocional de uma das
partes sobre a outra, mas que não via problemas se o relacionamento fosse de comum
acordo entre os dois, de maneira limpa, saudável e principalmente divertida.
Eu não queria ser a garota atirada que me jogava para cima de homem daquela maneira,
mas o momento era tão propício e estávamos nos tratando com tanta naturalidade, que
decidi parar de enrolação. Controlei a minha pulsação e o fitei bem de perto antes de
perguntar:

— Com sinceridade, você começaria um relacionamento com alguém como eu?

Ele não pareceu surpreso com a questão e nem tentou fugir da resposta, mas eu percebi
que tinha algo o incomodando com relação ao tema abordado. Me senti desconfortável
com o tempo que levou para eu ouvir o que ele queria dizer, mas escutei com atenção.

— Muito recentemente, eu passei por uma situação semelhante e acho que isso me
afetou um pouco, Aline. Uma garota bem mais jovem acabou se apaixonando por mim
e, de certa maneira, eu contribuí para isso alimentando essa paixão com troca de
carinho. Não posso dizer que eu também não fiquei balançado por ela, porque fiquei,
mas isso acabou causando um problema muito grave na minha e na vida de outras
pessoas.

— Que tipo de problema?

— Do tipo que não podia ter acontecido.

Ele estava sendo misterioso como da primeira vez que o vi em meio à festa de
aniversário da menina Kelly Ferraz, na Vila Madalena30. Empurrei o meu quadril para
mais perto do dele no sofá e tentei reformular a pergunta.

— Independente da nossa diferença de idade e dos outros problemas que isso possa ter
lhe causado antes, você namoraria a pessoa Aline, essa que está na sua frente?

Meu coração estava palpitando e parecia mesmo que tinha um baterista mandando ver
num solo longo e descompassado dentro do meu peito.

— Quer saber? Eu acho essa pessoa Aline que está na minha frente uma das mulheres
mais divertidas, inteligente e especiais que já conheci e eu gostaria muito de ter uma
namorada como ela.

Ao ouvir aquilo, eu fiquei mole e senti os meus olhos lacrimejarem como numa cena
boba de comédia romântica, daquelas bem clichês. Eu tinha vivido por anos achando
que relacionamentos amorosos deviam ser todos baseados apenas em sexo e que aquele
“te amo” que os caras mandavam ao pé do nosso ouvido após se esvaírem em sêmen era
o ápice da declaração de amor que uma mulher podia ter na vida. Naquele momento, no
entanto, eu descobri que eu não sabia de nada. Aquela tinha sido a maior declaração que
alguém já havia feito para mim e senti que eu precisava retribuir a Danilo de alguma
maneira. Sem que ele me impedisse ou sem que houvesse bloqueios de qualquer tipo
entre nós, eu fui até aquele moço e colei os meus lábios nos dele.

— Ai, Dan, isso foi tão… fofo!

30
Também durante os eventos de Desejos 39 – Kelly faz anos
Enlacei os meus braços delicadamente em torno do pescoço de Dan e inclinei a cabeça
do lado contrário à dele, sentindo a sua boca abrir para receber a minha língua. As mãos
dele deslizaram suavemente pelas minhas costas e encontraram lugar em meu cóccix,
prontas para ganharem território. Senti o meu corpo ferver durante o beijo e quando nos
afastamos alguns instantes antes de encaixarmos as nossas línguas de novo, eu sorri e
ele me seguiu.

— Que beijo bom!

Ele arregalou os olhos sem desmanchar a cara de bobo e concordou:

— Muito bom mesmo!

Eu me ajoelhei e me projetei mais em cima dele, no que Dan me recebeu em seu colo,
me sentando de lado. As minhas coxas agora estavam expostas pela barra do roupão
para que ele as alisasse, mas as suas mãos não saíram da minha cintura. Eu segurei o seu
rosto e senti a barba nascente pinicar os meus dedos. Dei-lhe selinhos estalados antes de
provocar um novo encaixe de boca e ele caiu direitinho na armadilha. A mão firme de
dedos grossos se encaixou na base do meu pescoço, quase alcançando a minha orelha
direita. A outra, mais ousada, entrou, enfim, por baixo do roupão e me alisou até bem
perto do limite da minha calcinha. Era óbvio que, àquela altura dos fatos, com toda a
minha carência afetiva, eu já estava encharcada lá embaixo e tinha medo de afogar o
menino caso ele quisesse ir mais a fundo com aquela boca gostosa.

Que o Johnny não me resolva aparecer agora, pensei, quase em desespero.

Eu sabia que faltava muito pouco para que ele caísse totalmente em tentação e decidi
ajudá-lo a se decidir a morder ou não a maçã do pecado. Enquanto ele me beijava, ainda
alisando a minha coxa esquerda, dei um jeito de soltar o nó do roupão e permiti que o
traje deslizasse por meu ombro naturalmente, descortinando o meu busto. Quando viu
que meus seios estavam quase à mostra pelo decote do roupão aberto, ele parou um
instante e afastou apressadamente a mão da minha perna. Depositou mais um beijo em
meus lábios e disse, sem margem para qualquer interpretação errônea:

— Estamos prestes a dar um passo muito apressado em nossa relação e quero propor um
tempinho pra gente analisar com calma o que estamos fazendo.

Eu estava me sentindo uma criança de quem alguém havia acabado de tirar o doce da
boca.

— Tá tudo bem, Dan. Eu quero, não fica grilado…

Ele acariciou meu rosto com delicadeza e continuou.

— Eu também… só Deus sabe o quanto eu quero, mas a gente acabou de viver um dia
incrível juntos, sentimos uma conexão enorme um com o outro… realmente não quero
botar tudo a perder com mais uma noite de sexo que pode quebrar com a magia da
coisa…
Eu pensei em fazer uma piada sobre Harry Potter, mas julguei que soaria muito
sarcástica, até mesmo para mim.

— Tem certeza, Dan? Tá tão… bom…

A minha frase soou com um tom quase infantil e, gentilmente, ele ajeitou o meu roupão
de volta acima do ombro e me envolveu em seu abraço de maneira terna. Me senti uma
puta oferecida por querer insistir tanto em dar para ele, mas na hora, confesso que fiquei
brava, ainda com minha amiguinha lá embaixo em chamas.

Demorei um pouco para perceber que ele estava certo em não querer estragar o dia
maravilhoso que havíamos desfrutado juntos. O sexo poderia vir num segundo ou num
terceiro encontro, mas naquele primeiro, empobreceria um pouco o encanto da coisa
toda. Ao admitir aquilo para mim mesma, eu senti que eu estava amadurecendo… ou
pelo menos, que queria guardar todo o fogo que estava sentindo para uma nova noite
explosiva de sexo a dois. Danilo tinha potencial e eu achei que valia a pena esperar.
Capítulo 45 – Luiz

O CANTEIRO DE OBRAS DO PRÉDIO da concessionária em construção estava


paralisado por tempo indeterminado em decorrência da chuva de verão que resolveu
desabar em Vitória naquela segunda-feira.

Parte dos peões estava alojada nos trailers instalados do lado oeste assistindo TV,
jogando cartas ou vendo pornografia no celular. Os supervisores estavam reunidos na
cabine de um dos caras que haviam me contratado como o engenheiro elétrico chefe e
eu estava coordenando os eletricistas que fariam com que a energia chegasse a cada
lâmpada e a cada tomada que seria instalada nos quatro andares daquela filial da
Diamond Motors, uma das maiores empresas de venda de automóveis da Europa.

O meu trabalho ali era tão importante quanto qualquer outro e, exatamente por isso, eu
precisava fingir que não ligava em estar sendo vigiado quase que todos os minutos em
que passava naquele canteiro por um dos empregados de Teodoro García, o diretor
comercial da empreiteira capixaba Solar.

Em geral, nos serviços em que trabalhava com o meu pai Licurgo ou com o meu irmão
Luciano em São Paulo, eu costumava ter certa autonomia para comandar cada uma das
funções das minhas equipes durante as instalações, mas ali, eu estava me sentindo como
um novato em teste. Para onde eu me mexia, havia um sujeito diferente me
acompanhando de longe, fazendo anotações em um tablet e, às vezes, achava que até
mesmo em minhas paradas para me aliviar no banheiro químico eu estava sendo
observado. Aquilo estava me incomodando em um grau bastante elevado, mas precisava
relevar.

Se eles não confiavam em minhas capacidades, por que então tinham me oferecido toda
aquela grana e me tirado do meu conforto em São Paulo?

A chuva se arrastou em intensidades irregulares por todo aquele dia e o cronograma da


obra teve que ser alterado outra vez. Era a terceira ou quarta vez que o engenheiro-chefe
responsável tinha sido obrigado a mudar a data de entrega do prédio, o que aumentava
também em alguns dias a minha estadia no Espírito Santo. Dos quatro andares previstos
no projeto, três deles estavam em fase de acabamento e o quarto ainda carecia de
telhado e das placas de concreto que fechariam suas laterais.

A minha parte era seguir o desenho esquemático que a A3 – Design e Arquitetura havia
feito para o salão principal da concessionária, o andar de exposição dos veículos
importados e os escritórios, o que eu estava executando com perfeição auxiliado por
minha namorada Bárbara. Com chuva, neve ou nuvem de gafanhotos, o meu trabalho
tinha que continuar sendo feito e eu não costumava fugir das minhas responsabilidades.

Eu cheguei ao hotel onde estava hospedado em Vitória por volta das oito da noite e
resolvi tomar um banho aproveitando que a Bárbara ainda não havia retornado da
reunião a que tinha sido convocada com os empreiteiros da Ao Cubo e da Solar, as duas
empresas que estavam prestando todo o suporte técnico e pessoal para a Suares &
Castilho, a construtora que assinava a obra.

Ela chegou exausta ao quarto cerca de uma hora e meia depois, com cara de poucos
amigos.

Eu estava vendo um noticiário esportivo com o resumo do final de semana dos


campeonatos de futebol pelo mundo na sala. Do sofá, a acompanhei tirando as botas
ainda à porta, jogando a bolsa de lado sobre uma cadeira e indo até a geladeira beber
uma água.

— Dia difícil, amor?

Barbie me encarou um segundo com os seus olhos castanhos. Empurrou os cabelos


loiros para trás e fez um bochecho breve com a água que enfiara na boca da garrafa de
500 ml. Revirou os olhos, engoliu o líquido e veio em minha direção.

— Horrível. Três horas de discussões sobre extensão do cronograma, aumento do


orçamento e grosserias sem fim daquele bando de machistas idiotas…

Bárbara me deu um selinho rápido e, quando tentei saber mais sobre o assunto, ela se
desvencilhou de mim e continuou andando em direção ao quarto.

— Me solta. Eu tô suja, amor. Preciso de um banho relaxante, só isso.

A água do chuveiro ainda estava caindo após meia-hora de banho e me coloquei perto
do box para perguntar o que ela queria comer aquela noite.

— Estou em jejum, Luiz, esqueceu? Pede alguma coisa pra você. Eu vou tomar só um
chá daqui a pouco.

A voz firme de Bárbara ecoou lá de dentro e me lembrei que ela tinha começado há
algumas semanas uma das práticas de jejum intermitente, o que fazia com que ela, às
vezes, ficasse sem se alimentar direito por quase um dia inteiro. Eu não entendia muita
coisa do assunto, mas basicamente, ela havia começado aquilo no intuito de acelerar a
queima de gordura corporal, potencializar as suas funções cognitivas e aumentar a sua
energia física.

— Tem certeza, Barbie? Eu posso pedir algum prato mais leve, sem carboidratos…

— Não insiste, Luiz. Peça algo pra você. Vou ficar só com meu chá.

Eu conhecia Bárbara há quase dois anos e nunca a tinha visto ingerir nenhum tipo de
comida que contivesse gordura saturada ou mesmo carboidratos em excesso. Ela pesava
um pouco menos de cinquenta quilos, tinha uma silhueta esguia como uma modelo de
passarela, mas estava sempre preocupada com seu peso e aumento de massa.

— Ok, então. Você que sabe.


Eu havia estudado pouco sobre o jejum intermitente, porém, algumas informações
contraditórias diziam que para o período fértil da mulher aquilo funcionava quase como
um modo contraceptivo, pois interferia diretamente nas funções hormonais do corpo por
conta da falta de uma nutrição mais reforçada. Para a Barbie era perfeito, uma vez que
para ela, a palavra gravidez tinha um único significado: “Vou ficar gorda”.

Algum tempo depois de jantar sozinho na cozinha americana um arroz à grega com
batata sauté, voltei a encontrar Bárbara em nossa cama e ela estava com o notebook
aberto estudando algumas plantas do projeto da concessionária. Desde que havíamos
chegado à Vitória, há quase duas semanas, ela parecia obcecada por aquela obra e só
falava nisso o pouco tempo que tínhamos a sós no quarto do hotel.

— O García disse pra eu repensar a iluminação da fachada da loja porque, segundo ele,
“ficou parecendo a frente de uma casa noturna”. Barbudo idiota! O que ele entende de
design?

Ela passava metade do seu tempo irritada e, quando não estava de cara emburrada,
parecia entediada ou infeliz. Barbie tinha um dos sorrisos mais lindos que eu já tinha
visto, mas ele estava quase sendo excluído da sua personalidade por falta de uso. Eu
tinha saudades de quando a minha garota era mais bem-humorada e menos estressada.

— Amor, você precisa fazer isso agora? Já está tarde, você precisa descansar um pouco.

Ela continuou lá sentada sobre o lençol fazendo movimentos circulares no touchpad do


laptop, redefinindo o modelo 3D da planta criticada pelo cara que havia me contratado.
O meu conselho foi ignorado com seu silêncio, então, comecei a chamar-lhe a atenção
de outra maneira. Me aproximei dela, comecei a fazer carícias em suas coxas nuas no
short de dormir que usava, depois, apliquei beijos carinhosos em um de seus braços. Por
um instante, ela nem se mexeu.

— Ei, está me ouvindo?

Os dedos finos continuaram movendo o maldito teclado, então, fui mais incisivo.
Deslizei a mão por sua barriga e a enfiei por baixo da sua regata. Senti a sua pele quente
e macia e aquilo a arrepiou os pelos das pernas.

— O que está fazendo, amor? Para!

Fui me aproximando mais, tentando tirá-la um pouco do trabalho e Barbie começou a


fazer malabarismo para se desvencilhar das minhas mãos e dos meus beijos.

— Eu tô querendo um pouco da minha namorada. Só um tiquinho!

Ela assumiu um tom de recusa e ainda tentou manter o notebook aberto por mais alguns
instantes, no que a acabei vencendo pelo cansaço, a deitando na cama e começando a
beijar sua boca rosada.

— Sai, amor! Eu preciso terminar isso.


— Termina amanhã.

Dos seus lábios, desci até o seu pescoço e passei a língua com delicadeza. Outro arrepio.

— Não dá. Tenho que mostrar o projeto redesenhado pro García logo cedo. Sai!

Agarrei a sua coxa e deslizei quadril acima, puxando seu short. Ela estava
deliciosamente cheirosa, impregnada com o óleo hidrante que sempre passava na pele
após o banho. Usava uma calcinha de algodão por baixo e nenhum sutiã em cima. Beijei
um de seus seios pequenos por sobre a regata e o mamilo me deu um “olá”.

— Manda aquele gordo idiota à merda!

Meu pau já estava latejando dentro da bermuda e senti Barbie ofegar embaixo de mim
quando uma carícia mais concentrada entre as suas pernas, por um momento, quase a
rendeu. Infelizmente, um momento muito breve.

— Eu não quero, Luiz. Para! Eu tô ovulando. Hoje não. Espera só mais alguns dias.

Ela me empurrou e eu fui obrigado a me sentar na cama, contrariado. Rapidamente, ela


apanhou o computador que havia deixado de lado um momento e voltou a trabalhar
depois de ajeitar os cabelos e a roupa que eu quase havia tirado.

— Se masturba. Alivia um pouco lá no banheiro. Eu preciso terminar isso aqui.

Me levantei totalmente frustrado e fui fazer o que ela havia me mandado. Em minha
mente, em vez dela, visualizei a minha sobrinha Nicole e, enquanto me masturbava,
relembrei cada um dos momentos incrivelmente excitantes que havia passado com ela
em seu apartamento.

Oh, Nic, como você é macia! Como é gostosa!


Capítulo 46 – Luiz (PARTE 2)

NA TERÇA-FEIRA DE CARNAVAL, eu fui até o canteiro da obra apenas para levar


Bárbara de carro e para entregar o meu relatório sobre a engenharia elétrica do hall e
dos escritórios no terceiro andar. Boa parte da infraestrutura já estava bem adiantada e a
minha equipe e eu só voltaríamos às atividades na quinta-feira, logo cedo, após o
feriado.

Vitória não possuía desfiles carnavalescos grandiosos como os do Rio de Janeiro, do


Amazonas e de São Paulo, mas aconteciam muitas festividades nas ruas com os blocos.
Aquele era o primeiro ano que passava longe do meu estado e das festas que costumava
frequentar durante o feriado, mas estava animado para conhecer o que o Espírito Santo
tinha a oferecer em matéria de diversão.

No início daquela tarde, dirigi do canteiro da obra até o apartamento do meu irmão
Lúcio e a Bárbara me acompanhou. Ela estava um pouco menos enfezada depois que
havia resolvido o tal problema com a “fachada de casa noturna”, mas ainda não estava
em seu melhor humor.

— Essa cidade precisa ser tão quente? Liga esse ar-condicionado, pelo amor de Deus!

Estava sacudindo a blusinha que usava, calorenta, e a obedeci antes que começasse a
xingar Deus e o mundo por conta da temperatura. Fazia quase trinta e dois graus aquele
dia e a previsão era de céu limpo até o entardecer.

No apartamento de Lúcio, o clima era bastante animado e o encontrei com a namorada


Valdete e a filha Nicole se preparando para um bloco carnavalesco que aconteceria a
duas quadras de seu prédio da Moacir Avidos.

Ele estava vestindo uma camisa havaiana bastante colorida, chapéu fedora na cabeça e
uma bermuda branca. Valdete estava com um abadá estampado com o nome do bloco
que eles iam seguir, um short de malha e tênis, look parecido com o de Nicole, que me
cumprimentou de maneira distante com um aceno, inibida pela presença de Bárbara.

— Vocês vêm com a gente? — indagou o meu irmão a mim e à minha namorada. — O
bloco segue por meio quilômetro até a Praça da Matriz e de lá, anda até o cruzamento
central. Fizemos esse percurso o ano passado, eu e uns amigos da empresa e foi muito
divertido. Vocês deviam vir!

Olhei para a Bárbara com a certeza de que ela iria recusar, mas então, veio a surpresa:

— Eu vou adorar conhecer um bloco de carnaval, cunhado. Eu nunca fui em um. Deve
ser bem animado.

Ela estava até esboçando um sorriso e a ideia partiu de Valdete, com seu jeitão bastante
espirituoso:

— Eu tenho um abadá extra que trouxe na bolsa. Se quiser, você pode usar, Bárbara.
A roupa era adaptável e cada um podia vestir como bem quisesse. Valdete tinha
preferido usar como um vestido por cima do short, já Nicole, tinha feito um cropped, o
que deixava bem visível a bermudinha agarrada ao corpo que estava usando por baixo.
Salivei só de lembrar da garota peladinha em cima da cama.

— Vem, Barbie. Eu te ajudo a customizar o abadá lá no quarto.

Nic convidou Bárbara que aceitou, indo direto para o corredor dos quartos com a
menina. Naquele ínterim, Lúcio me chamou para tomar uma cerveja com a Val e ele na
cozinha e, claro, eu topei.

Uma banda muito animada conduzia a passagem do bloco pelas ruas da cidade num trio
elétrico que tocava clássicos da MPB que iam de Chico Buarque a Tim Maia em ritmo
de samba. Era impossível ficar parado enquanto a multidão contagiada pela batucada e
pelo som alto dançava, pulava e se divertia à nossa volta. Em meses, era a primeira vez
que eu via minha namorada tão eufórica e confesso que estava bastante feliz em tornar a
vê-la rindo e brincando, como no começo do nosso namoro.

Havia muita gente bonita ao nosso redor e a cada olhar lançado era uma pintura nova,
um colorido diferente ou uma fantasia inovadora que se percebia. À certa altura da
movimentação do bloco pela cidade, Valdete entreteve Barbie com a sua desenvoltura
no samba, a ensinando alguns passos de dança e o Lúcio se afastou com alguns colegas
que encontrou no caminho. Nic encostou junto a uma barraca que vendia caldo de cana
e achei o momento oportuno de abordá-la.

— Você está linda hoje, Nic.

A loirinha estava com uma pintura dourada nas bochechas e tinha prendido os cabelos
em duas Marias-chiquinhas, o que lhe conferiu um caráter ainda maior de ninfeta.

— Obrigada, tio Lú.

O seu sorriso irradiava o seu rosto e tivemos que conversar quase ao pé do ouvido
devido o barulho ensurdecedor do trio elétrico que agora fazia os seguidores do bloco
pularem e cantarem ao som de “País Tropical” do Jorge Ben Jor.

— Não parei de pensar na gente junto no domingo, sabia?

O dono da barraca estendeu o copo de caldo de cana a ela, que pagou em dinheiro.
Tinha um grupo de quase dez pessoas prontas para fazerem os seus pedidos ao vendedor
e começamos a nos afastar dali. Ela tomou um gole e me ofereceu. Beberiquei e lhe
devolvi o copo.

— Acho melhor a gente não falar disso agora.

As pernas torneadas de Nic não paravam de se mexer ao som da música que reverberava
e era muito difícil não encarar aquele triângulo perfeito entre as pernas dela, naquele
shortinho de malha.
— Você se arrependeu?

Ela deu outro gole no caldo e fez que não, com feição de desdém.

— Não é isso. É que aqui tem muita gente e alguém pode acabar ouvindo.

Eu concordava com ela e, em seguida, me curvei um pouco para alcançar o seu ouvido.

— Estou louco pra ficar sozinho com você de novo — sussurrei. —, vamos fazer
acontecer?

O bloco agora vibrava no refrão. ♪Moro, no país tropical, abençoado por Deus e bonito
por natureza…♫. Nic me encarou alguns segundos com os seus olhos azuis brilhantes e
o seu semblante era indefinível. De repente, ela me puxou pela camisa e disse, perto da
minha orelha:

— O papai vai passar a noite na casa da Valdete. Eu vou estar sozinha de hoje até
amanhã.

Aquele era o convite perfeito para uma noite que tinha tudo para ser de muita
adrenalina. Enquanto a Nic sorria, acenando para que eu a acompanhasse de volta ao
bloco, ainda sacudindo os quadris ao som das batidas da música, comecei a pensar uma
maneira eficaz de despistar Bárbara e sair do hotel sem que ela desconfiasse de nada.
Até à noite, eu teria um plano, só não sabia qual.

Ao escurecer, após acompanharmos o bloco de carnaval, dançarmos, pularmos e


suarmos juntos, nós todos voltamos para o apartamento do Lúcio e foi inevitável aceitar
mais uma rodada de cerveja oferecida por meu irmão.

Nos acomodamos próximos um do outro no sofá para assistir ao compacto do desfile


das escolas de samba do Rio de Janeiro da noite anterior e, enquanto comentávamos
sobre as belas passistas sambando na tela da TV, Valdete e Bárbara conversavam na
cozinha. Eu não sabia qual era o segredo da mulher do meu irmão, mas ela era uma das
poucas pessoas no mundo que conseguiam tirar gargalhadas da minha namorada. Era
até surpreendente ouvi-la se dobrando de rir lá dentro, suprimindo o som da televisão.

— Eu preciso saber o segredo da Val, mano. Só ela consegue fazer a Barbie rir desse
jeito. Qual é a receita? Eu preciso muito saber!

Lúcio tinha acabado de dar um gole na sua cerveja e após me dar um tapa na coxa
esquerda, sentado ao meu lado no sofá, ele comentou em cochicho:

— Mulher só ri assim por dois motivos: Quando está satisfeita sexualmente ou quando
está ganhando muito dinheiro. Eu tenho dado conta da Val na cama… quanto à sua
Barbie, eu não sei, mano. Será que ela tá gozando mais ou ganhando mais dinheiro?

Eu ri do comentário debochado do meu irmão, mas na mesma hora me lembrei da noite


anterior e toda a recusa de Bárbara em fazer sexo. “Se masturba. Alivia um pouco lá no
banheiro. Eu preciso terminar isso aqui”. Com certeza, ela não está feliz porque está
gozando bastante, pensei, desanimado.
Capítulo 47 – Luiz (PARTE 3)

DEPOIS DA VISITA AO meu irmão, deixei Bárbara dirigir o carro alugado até o nosso
hotel e, uma vez lá, tive que insistir muito para que ela me acompanhasse no jantar.
Como sempre, ela apenas ciscou o arroz e a alface em seu prato, depois, deu-se por
satisfeita. Eu estava bastante faminto depois da maratona de samba no bloco de carnaval
e repeti duas vezes o frango grelhado que havia pedido ao serviço de quarto.

Algum tempo depois, sondei Bárbara para saber o que ela queria fazer em nosso fim de
noite e ela reclamou de enxaqueca. A critiquei dizendo que era aquele jejum que a
deixava sempre tão indisposta e nós acabamos discutindo por conta disso.

Como estávamos irritados um com o outro, pensei que aquela era a deixa perfeita para
que eu saísse de casa sem ter que dizer a ela onde eu iria e, segui de carro de volta ao
apartamento de Lúcio. Eu estava contando os minutos para reencontrar Nicole e cheguei
eufórico na portaria do prédio.

Após o anúncio junto ao porteiro, Nic me recebeu à porta com os cabelos molhados e
vestindo uma camiseta comprida até as coxas. Estava descalça e me cumprimentou com
um beijo no rosto, ficando na ponta dos pés para me alcançar.

— Entra, tio Lú. O papai já saiu com a Val.

A minha sobrinha estava bastante cheirosa e tinha acabado de sair do banho. A


acompanhei até o sofá imaginando que fossemos perder uma meia-hora de conversa em
frente à TV antes de partirmos para a ação, mas ao que constava, ela não estava muito a
fim de enrolação.

— Trouxe camisinha? Eu não faço mais sem…

Enquanto me puxava para o sofá, a Nic segurou o cinto da minha calça e começou a
abrir. Puxou o botão, abriu o zíper e agarrou o meu pau sem grande cerimônia.

— Está animadinha hoje, hein?

Seus faróis azuis brilharam lá de baixo e ela deu uma risadinha sacana enquanto
abaixava a minha cueca.

— Você me deixou com fogo, tio Lú!

O meu pau pendeu para fora ainda meio mole e Nic não perdeu tempo em massageá-lo
com delicadeza. Me masturbou comigo sentado sem jeito no sofá ao seu lado e quando
me viu razoavelmente endurecido, fez o que ainda não tinha feito desde então.

— Oh, meu Deus… Uau!

Nic se abaixou entre as minhas pernas e enquanto segurava o meu pau com a mão
direita, começou a me chupar. Sua boca era lascivamente quente e, naquele momento,
eu imaginei que seria exatamente aquela sensação a de receber sexo oral de um anjo.
— Cacete… Nossa!

Sem fazer qualquer barulho, mexendo os lábios e a língua ao mesmo tempo, a minha
sobrinha dominou o meu pau quase inteiro e o deixou completamente espigado dentro
da boca. Ela fazia tudo com delicadeza, sem pressa, sem afobação. Chupava como se
tivesse saboreando um sorvete bem gostoso e dava sorrisinhos de tempos em tempos,
encarando a glande ensopada da sua própria saliva.

Nic mamou por mais uns dez minutos sem parar e o meu tesão já estava no máximo
quando segurei o seu rosto e a fiz ficar em pé diante de mim. Ela limpou a saliva no
canto da boca e deu um passo para frente, me deixando começar a acariciar o seu
quadril por debaixo da camiseta comprida. Vestia só uma calcinha e comecei a apalpar
o seu bumbum macio. Eu ainda estava com o pau rijo no meio das pernas, à vista do seu
olhar guloso.

— Por que a gente não começou a fazer isso mais cedo, Nic? Estávamos perdendo o
nosso tempo.

Ela deu uma risadinha e colou o seu corpo em mim, esfregando o joelho entre as minhas
pernas. Levantei a sua camisa e apertei a sua bunda com força. Ela gemeu.

— Antes, você achava que eu era só um bebê rosado, não se lembra, tio Lú?

— Ainda bem que o bebê cresceu!

Nic segurou o meu rosto e nós nos beijamos. A nossa segunda vez estava sendo bem
mais intensa e até a volúpia dela tinha aumentado. Me beijou sedenta, mexendo a língua
com vontade e suspirou alto, aprovando cada segundo do nosso contato físico.

— Você não me acha mais um bebê?

Respondi erguendo a sua camisa e lhe dando uma chupada demorada num dos seios. Ela
gemeu mais uma vez e os seus pelos se arrepiaram.

— Não. Você agora é uma mulher. Uma mulher maravilhosa!

Levou pouco tempo até que eu estivesse descendo a sua calcinha por suas pernas firmes
e eu estivesse me posicionando no sofá para recebê-la por cima. Havia um quê de
iminência perigosa em transar com ela bem no meio da sala, a poucos metros da porta
de entrada, e aquilo estava me excitando. Arranquei-lhe a camisa pouco antes de puxá-
la para o meu colo lhe lambendo os seios durinhos e rosados. Estava cada vez mais
louco para lhe penetrar, mas ela me avisou outra vez:

— A camisinha…

Deu para sentir aquela cavidade quente e úmida tocando o meu pênis por um segundo e
eu continuei a apertando contra mim, minando a sua resistência.

— Cadê a camisinha, tio Lú? É perigoso sem!


A puxei para mim e a fiz esfregar a sua vagina em mim, no que ela soltou um miado.
Ela estava com o rosto corado e abriu a boca de desejo. Os seios lindos saltitavam
delicadamente ante o movimento brusco e um cheiro de pecado muito bom atingia o
meu nariz, saindo direto daquele corpo macio e jovem.

— Como você é gostosa, Nic! Como eu quero você!

A minha glande deu um beijo nos grandes lábios inferiores de Nic e ela estava quase se
entregando quando a campainha da porta tocou.

— Puta que pariu!

A nossa reação intempestiva fez com que nos sobressaltássemos no sofá e a minha
primeira reação foi me cobrir com a almofada mais próxima. Nic correu desesperada em
direção à camiseta jogada no chão e se vestiu o mais rápido que conseguiu.

— Vai pro meu quarto. — disse ela em um sussurro nervoso.

— Quem é? — perguntei, nu sobre o sofá, com o pau coberto pela almofada.

— Vai agora! Vai!

Eu recolhi a minha roupa do chão e corri em direção ao corredor dos quartos, me


enfiando por entre a última porta. Enquanto me vestia em pânico, achando que o meu
irmão tivesse voltado antes do previsto para casa e eu estivesse na iminência de ser
descoberto escondido ali, encostei o ouvido na madeira e tentei ouvir o que se passava
do outro lado.

O que eu vou dizer ao Lúcio? “Foi mal, mano, mas é que a sua filhinha é muito
gostosa, eu não resisti! ” Ele vai me matar. Eu nunca ganhei uma só briga contra ele
desde que éramos moleques. Ele vai me liquidar!

Minha mente estava em polvorosa e o meu coração tamborilava tanto dentro do peito
que eu mal conseguia ouvir o que as vozes na sala diziam. Nic estava acompanhada por
alguém que falava baixo e eu ainda não conseguia saber se era o meu irmão ou não.

Mas, por que o meu irmão tocaria a campainha? Ele tem a chave do apartamento…
Será que largou no carro? Será que voltou só pra buscar alguma coisa que esqueceu
ou… será que alguém do prédio avisou a ele que eu resolvi visitar a Nic bem quando
não tinha mais ninguém em casa?

Aquele era o meu desespero falando mais alto dentro da cabeça e, então, resolvi abrir
uma fresta na porta para tentar ouvir melhor o que estava acontecendo. Um alívio tomou
o meu corpo quando percebi que não era o Lúcio acompanhando a Nic na sala e uma
outra risadinha feminina ecoava do começo do corredor, além do som inconfundível da
TV ligada em algum canal de variedades.
Não dava para entender boa parte do diálogo das duas, mas dava para sacar que era
alguém bem próximo da minha sobrinha, uma vez que elas agora estavam no sofá
conversando alegremente.

— Que hora pra visita!

Sem ter muito o que fazer, voltei a fechar a porta e resolvi esperar até que Nic
despachasse a tal companhia e pudéssemos continuar o que estávamos fazendo… Se é
que ainda teríamos tesão suficiente após o susto.

Por sorte, o meu celular estava no bolso da calça jeans e eu pude me entreter com um
jogo de cartas que havia baixado enquanto esperava. Naquele ínterim, a notificação de
mensagem fez o celular vibrar em minhas mãos e vi que era a Bárbara perguntando
onde eu estava.

— Porra! E agora?

Abri o chat e após alguns segundos para inventar uma desculpa, disse a ela que eu havia
saído para dar uma volta e espairecer de carro pela cidade. Bárbara respondeu que tinha
ficado preocupada pela maneira enérgica com que eu havia saído do quarto e que estava
se sentindo culpada.

— Não quero que nada de ruim aconteça a você por minha causa. Você bebeu o dia
inteiro. Não devia ter saído de carro. Você nem conhece as ruas de Vitória direito!

Eu não queria saber da falsa preocupação dela enquanto eu me escondia no quarto de


uma adolescente prestes a ser flagrado em pleno ato incestuoso com a minha própria
sobrinha, mas tive que responder Bárbara de uma maneira que ela não se preocupasse
com a minha segurança.

— Estou na casa do meu irmão. Qualquer coisa, eu durmo por aqui essa noite e volto
para o hotel amanhã cedo.

Eu não estava raciocinando direito e devia ter parado um segundo para pensar melhor
antes de enviar aquela mensagem.

— Achei que o seu irmão não estaria em casa a essa hora. A Valdete me contou que o
Lúcio ia dormir na casa dela essa noite.

MERDA!

As duas tinham tagarelado o dia inteiro. Era bem óbvio que numa conversa ou outra,
Valdete poderia ter lhe dito os seus planos para aquela noite. Eu estava estático diante
do celular com os dois polegares a meio centímetro do teclado virtual sem saber o que
escrever. Outra mensagem chegou naquele momento.

— Você não está aí sozinho com a sua sobrinha, está?

MERDA!
Capítulo 48 – Luiz (PARTE 4)

O SISTEMA DE AR-CONDICIONADO estava ligado, mas era como se eu estivesse


em uma sauna. O suor começou a escorrer em minha testa e, de repente, eu não fazia
ideia do que responder para minimizar o rio de excremento em que começava a me
afogar.

Se eu saio daqui e corro para casa, a pessoa na sala com a Nicole vai saber que ela
estivera escondendo dentro do quarto um cara mais velho com quem estava prestes a
transar, mas se eu continuar aqui, a Barbie vai continuar desconfiada e é capaz dela
sair do hotel e vir direto pra cá, descobrindo toda a verdade. E agora?

Bloqueei a tela do smartphone por um minuto tentando fazer o cérebro trabalhar rápido
numa maneira eficaz de sair daquela enrascada, mas acabei voltando ao chat assim que
percebi que o meu silêncio era sinônimo de culpa e que eu precisava dizer alguma coisa.

— O seu irmão está aí ou não, Luiz? Por que parou de responder? O que está
acontecendo?

Eu precisava acalmar a Bárbara antes que ela resolvesse ligar para meu irmão, o que
criaria uma reação em cadeia da qual seria impossível escapar.

A Bárbara liga para Lúcio, ele confirma que não está em casa. Ao desconfiar que eu
estaria em seu apartamento sem ele no local, o meu irmão entraria em contato com a
portaria e poderia confirmar facilmente a minha entrada no prédio. Ele sabe que a Nic
está sozinha e o nosso caso estaria mais do que escancarado. Eu não tenho como
escapar disso.

— Eu não estou na casa do meu irmão. Eu menti.

Aquilo me dava algum tempo para sair dali e levar o carro para qualquer outro ponto da
cidade. Era noite de feriado e, provavelmente, ainda deviam ter inúmeros bares abertos
até tarde com muita gente bebendo e se divertindo.

— E onde você está? É noite de carnaval. As pessoas bebem demais, ficam loucas… é
perigoso andar por aí a essa hora.

— Estou num bar. — Menti. — Não sabia para onde ir, passei de carro, vi um pessoal
animado na frente, resolvi entrar e tô aqui passando o tempo.

Voltei a colar o ouvido na porta e as vozes lá fora pareciam mais agitadas agora. O eco
vinha de um ponto mais afastado da sala, de perto da porta de saída. A visita de Nic
estava prestes a ir embora.

— Você me deixou sozinha aqui pra ir a um bar qualquer, Luiz? Você não tem
vergonha?

Ouvi a porta da sala bater enquanto lia a mensagem de Barbie e, pouco depois, os pés de
Nic ecoaram pelo corredor e ela deu uma batidinha na porta. Abri e vi os seus olhos
azuis arregalados. Ela estava mais pálida que o normal e falou tudo de uma vez, ainda
assustada:

— Era uma amiga minha do condomínio, a Camille. Tava precisando desabafar comigo
sobre um boy que ela pegou no bloco de carnaval e tal… Coisa de menina.

Ela estendeu a mão pequena para que eu segurasse e voltamos juntos para a sala. Com a
mão livre, ergui o celular para ler a nova mensagem de Bárbara e percebi que ela estava
estressada.

— Volta pra casa agora ou quando chegar aqui amanhã, vai encontrar as suas malas
feitas do lado de fora da porta. Eu não vou querer mais dividir espaço com alguém que,
na primeira oportunidade, me larga sozinha numa cidade que não conheço e vai pra um
bar atrás de vagabundas.

Nic parecia disposta a continuar do ponto de onde havíamos parado e até me mostrou a
calcinha entrouxada sob uma das almofadas. Deu uma risadinha maliciosa.

— Nem tive tempo de vestir. Tava torcendo para que a Camille não resolvesse olhar
embaixo da almofada!

Ela levantou rapidamente a camisa comprida exibindo a sua nudez por baixo, me
atiçando os desejos, mas eu não podia mais ficar ali se ainda quisesse ter uma namorada
no dia seguinte.

— Eu… Eu tenho que ir, Nic… É a Bárbara — E mostrei o chat ativo na tela do celular
—, ela surtou depois que eu saí do hotel. Tá ameaçando jogar as minhas coisas pela
janela se eu não voltar… Me desculpa.

Ela ficou nitidamente decepcionada e o seu semblante vivaz murchou na mesma hora.
Me aproximei dela para lhe fazer um carinho no rosto, mas ela não voltou a me encarar.

— Eu achei que conseguiria ficar aqui até tarde… A Bárbara estava dormindo quando
saí, eu…

— Tudo bem, tio — disse ela, de olhos baixos —, a Barbie é sua prioridade. Você
precisa mesmo voltar pro hotel.

Comecei a me encaminhar para a porta, mas estava me sentindo mal em deixar Nic ali
tão decepcionada. Eu ainda estava morrendo de vontade de repetir as horas incríveis de
sexo que havíamos compartilhado há poucos dias, mas como ela havia dito, naquele
momento, a Bárbara era a minha prioridade.

— Eu ainda vou ficar na cidade até o final do mês. De repente, a gente…

— Melhor ir agora, tio Luiz. A Barbie tá esperando.

Nic me acompanhou até a porta e ainda tentei lhe dar um beijo de despedida, o que ela
rechaçou. Bateu a porta com certa firmeza e acabei saindo em direção ao elevador me
sentindo muito mal por dentro, com uma terrível sensação de que havia traído aquela
menina de alguma maneira.

Até chegar ao carro no estacionamento, não conseguia esquecer aquele olhar desiludido
em direção ao chão e, por um momento, tive a certeza que a minha sobrinha não iria
mais me dar qualquer outra chance como a que eu havia tido anteriormente de estar em
sua cama, com ela me acompanhando inteiramente nua.

Quando entrei pela porta do quarto do hotel, a Bárbara estava me esperando na cama
com a luz apagada. Mesmo sem enxergar um palmo diante do nariz, conseguia ouvir a
sua respiração e sabia que ela estava acordada. No caminho, tinha pensado mil e uma
maneiras de começar aquela conversa, mas antes que eu dissesse qualquer coisa, ela
acendeu a luz do abajur do seu lado da cabeceira e os meus olhos se arregalaram com a
surpresa.

— Eu tenho sido egoísta nas últimas semanas. Tenho colocado trabalho, estudo,
amizade e tudo mais acima do nosso namoro. Agora percebo o quanto isso tem te
deixado infeliz…

Barbie estava sentada na cama completamente nua e conforme eu me aproximava dela,


a minha namorada começou a afastar as pernas vagarosamente.

— Eu confesso que entrei numa neurose de não engravidar e tenho evitado você o
máximo que posso porque conheço bem o namorado insaciável que tenho. Isso não é
certo com você e nem comigo… Eu não quero ter um filho agora, nem daqui a um ano
ou dois, mas não é por isso que vou te privar daquilo que melhor fazemos juntos.

Eu me sentei ao seu lado na cama e, então, a Barbie afastou as suas pernas o suficiente
para que eu enxergasse a sua vagina em detalhes. Estava úmida e ela fez questão de me
mostrar o quanto acariciando de leve com o dedo médio.

— Eu quero transar com você hoje, amor… E vou querer amanhã também e depois…

Me projetei em direção a ela e nós nos beijamos com ardor. Barbie segurou os meus
ombros e deslizou uma das mãos até a minha nuca. Percorri o caminho dos seus lábios
até o pescoço e dali, desci até os seus seios pequenos de aréolas castanhas.

— Eu não vou querer mais parar de transar com você…

No instante seguinte, eu estava me livrando da minha calça e botei para fora todo o
ímpeto que havia sido recolhido há algumas horas, quando aquela campainha havia
interrompido o que seria minha segunda vez com a Nicole. Naquele momento, éramos
só eu e Bárbara e, pela primeira vez em muito tempo, voltei a sentir o desejo que
sempre ardera em nós dois. Era bom saber que ela ainda me queria e era muito bom
senti-la novamente por completo.
Capítulo 49 – Angélica

A PRAIA ESTAVA LOTADA PARA acompanhar as baterias da etapa catarinense do


Circuito Nacional de Surfe naquele domingo. Pra onde eu olhava, dava para ver uma
montoeira de cabeças viradas na direção da água assistindo aos melhores surfistas do
país desafiando as ondas da Costeira do Pirajubaé.

A Luara e eu tínhamos trepado em cima do carro do meu primo Urich para enxergar
melhor a competição daquela distância e torcemos feito duas malucas por Jonathan
Castilho, um dos favoritos a ganhar o troféu de campeão.

As imagens do desafio de surfe também estavam sendo transmitidas em um telão


colocado perto do palco do evento para que a plateia não perdesse nenhum detalhe e à
nossa esquerda tinham algumas vans da imprensa trabalhando para gravar os melhores
momentos e publicar tudo na internet.

O que eu e a minha amiga de escola não conseguíamos ver a olho nu, a gente
acompanhava pelo telão e foi muito emocionante a briga sobre a prancha entre Jonathan
e o Iran Azevedo, que era o seu principal adversário naquela praia durante a
competição. Os dois tinham se enfrentado há pouco tempo num campeonato de surfe
internacional e, daquela vez, o Azevedo tinha se saído melhor. Aquela era a grande
chance de nosso ídolo dar o troco e ele não fez feio.

Uma verdadeira multidão se aglomerou em torno do palco e da área de premiação


quando o Jonathan foi anunciado o vencedor do CNS daquele ano e eu estava lá no meio
com a Luara. Mal dava pra ver o pódio de onde a gente tava e até o telão estava
encoberto pelo monte de cabeças na nossa frente. Apesar disso, foi bem divertido fazer
parte daquele momento de glória.

Após a execução do hino nacional no sistema de som e o estouro do champanhe, os três


melhores surfistas do dia gastaram algum tempo tirando fotos com os fãs e depois de
quase uma hora de espera, eu consegui a minha. A tonta da Luara tinha esquecido de
desligar o flash da câmera do celular, mas mesmo assim, a minha foto ao lado do
Jonathan ficou boa e eu compartilhei nas redes sociais na mesma hora. Eu nunca tinha
estado ao lado de um campeão mundial antes.

Depois do encerramento das competições naquele domingo, eu e a Lú nos juntamos ao


Urich, o filho dele Johann, o Mathias, o Jean e o “Pintinho” e seguimos para o carro.
Todos nós tínhamos ido à Santa Catarina para assistir de perto à competição do meu
primo surfista — que havia vencido a etapa juvenil um dia antes —, mas terminado o
campeonato, a gente tinha que voltar para o Rio de Janeiro, onde todos moravam.
Quando chegamos ao estacionamento, ele já estava lá nos esperando com a sua equipe
de filmagem e quando o ouvi falar, até senti uma coisa no estômago.

— Está todo mundo aqui? — E ele pareceu contar nossas cabeças com um olhar,
conferindo que ainda éramos seis, somados ao Urich. — Beleza. A gente vai daqui de
volta para a pousada. Arrumem as suas malas e tomem cuidado para não esquecer nada
no quarto. O jatinho está marcado para chegar às nove no aeroporto.

Henrique era outro dos meus primos mais velhos. Era filho de um tio-avô meu chamado
Augusto e fazia parte de um lado da família com que eu tinha menos contato…
infelizmente.

Ele era lindo. Já o conhecia de outras reuniões entre os Schneider, daquelas que
costumavam acontecer aos finais de ano, mas não tinha tido a oportunidade de conviver
de uma maneira mais próxima. Ele ainda me via apenas como a prima de segundo grau
pirralha que alguma vez tinha visto brincar de boneca na casa de algum parente e
praticamente me ignorava o tempo todo.

— Muito bem… Quem vai no carro de quem?

Quando ele disse aquilo, eu puxei a Luara pelo braço e quase quebrei a sua varetinha me
oferecendo pra ir junto dele e do cunhado Frederico em seu carro. Nos enfiamos no
banco de trás sem dar muito tempo de que outra pessoa ocupasse a vaga e deu pra ver
Henrique dando uma risadinha debochada do lado de fora.

As imagens da noite anterior ainda estavam na minha cabeça e era só olhar para aquele
corpo sarado e bronzeado para que eu sentisse coisas. Eu tinha praticamente invadido o
seu quarto na pousada com a desculpa que precisava falar ao telefone com a minha mãe
no Rio e usei de todas as minhas armas de sedução para que conseguisse pelo menos um
beijo na boca. Eu até tinha conseguido fazer com que ele me agarrasse em cima da cama
e estava sentindo que ia rolar de tudo, quando fui obrigada a dizer a ele que eu ainda era
virgem.

“Você ainda é virgem, prima? ”, ele perguntou, ao que eu disse sim, com vergonha.
“Você não me quer mais só porque eu sou virgem? ”, perguntei, me sentindo um monte
de cocô de cachorro lá em cima dele. Foi quando ele disse, com bastante sinceridade:
“Eu não sei o que você pensa sobre virgindade, prima e não faço ideia se tinha
planejado alguma coisa especial ou mais carinhosa para a ocasião, mas eu já passei
por situações parecidas e sei bem que, às vezes, acaba não acontecendo da maneira
como a menina quer…”.

Nada tinha acontecido como eu queria, mas ao final daquela noite, ele me encheu de
esperança, dizendo que não teria problema se a gente voltasse a se pegar numa outra
situação, longe dos olhares de nossos parentes e em segredo. Desde então, sempre que
eu o encontrava, a gente ficava se encarando e ele não perdia a chance de jogar um
charme, só para me deixar ainda com mais vontade. Ele era o cara mais gostoso que eu
conhecia de perto e não tinha como negar que andava cheia de fogo por sua causa.

O avião particular alugado pela Delta Sky, a escola para a prática de esportes radicais do
Henrique, saiu do aeroporto catarinense alguns minutos depois do combinado e deu uma
dorzinha no coração deixar pra trás aquela cidade tão bonita e acolhedora. Além de
mim, todos ali também estavam com aquele sentimento de perda e saudade antecipada
pelas emoções que a gente tinha vivido nos últimos dois dias e ficamos compartilhando
pelo celular, durante algum tempo, as fotos e vídeos que a galera havia feito na Costeira.

O Johann ainda ostentava orgulhoso no peito a medalha de primeiro lugar que tinha
ganhado no sábado e eu podia jurar que ele tinha até dormido abraçado àquela coisa. Ele
e a Luara tinham se pegado há alguns meses numa festa que a gente tinha ido em
Botafogo e ela era doida pra ficar com o meu primo de novo. Estávamos em pé fazendo
bagunça no avião como se estivéssemos em um ônibus interurbano seguindo pra praia e
ela estava lá, sentada no braço da poltrona, com a perna colada no braço dele, fingindo
que estava interessada nas fotos que o garoto mostrava no iPhone.

— Pessoal! Trata de sentar aí atrás cada um na sua poltrona. A gente quer chegar vivo
no Rio!

A bronca tinha sido do Urich que meteu a sua cabeça careca por entre a cortina que
separava as poltronas de trás das VIPs lá da frente. Luara foi obrigada a sair de perto de
Johann e todos nós também nos ajeitamos, incluindo o Pintinho, que estava fazendo até
batuque com as mãos no encosto de um dos assentos.

— Senta aí, Pintinho, caraio!

Ele sempre ouvia o que o Johann dizia. Eles eram amigos desde o pré-escolar, mas
rolava meio que uma hierarquia entre os meninos. O meu primo era meio que o líder do
bando, o Pintinho, uma espécie de segundo em comando e os outros dois obedeciam a
tudo que eles diziam.

— Já sentei, já sentei!

O Pintinho era o mais esquisito dos garotos. Tinha os dentes da frente saltados, era
pequeno, magrelo e tinha uma cabeça desproporcional ao resto do corpo. Tinha aquele
apelido por causa do sobrenome de família, mas todo mundo gostava de zoar que era
por causa do tamanho do que ele tinha dentro das calças. Eu não fazia ideia se aquilo era
verdade, mas nunca me interessei em saber.

O Mathias era dois meses mais novo que o Johann. Era alto, magro, tinha a pele
queimada de sol e toda semana mudava o corte de cabelo. Para a viagem até Santa, tinha
tingido os cabelos crespos de azul, mas sete dias antes, tinha passado uma tintura
laranja, o que rendeu o apelido a ele de “água de salsicha”. Tinha pedido pra ficar
comigo duas vezes e vivia me dando alguma coisa de presente, achando que podia me
comprar. Não era o caso. Ele tinha bafo e eu o achava feio.

O terceiro deles era o Jean. Cabelo na régua, sombrinha de bigode em cima dos lábios
grossos e pele escura. Aquariano, era o mais good vibe da turma e vivia fazendo rima
com tudo em cada lugar que visitava. Estudava na mesma escola que eu e a gente
costumava andar de skate juntos numa praça pública em Ipanema, perto da estação de
trem. Compartilhávamos a mesma turma no horário do intervalo e ele frequentava tanto
a minha casa quanto a do Johann. Queria ser cantor de Hip-Hop e já tinha um caderno
cheio de letras de sua própria autoria, falando sobre a vida na cidade, violência urbana,
skate e até surfe. Ele era o mais divertido da galera.

A Luara tinha se juntado ao grupo por último, mas como eu sempre contava dos meus
rolês com os meninos pra ela, era como se já conhecesse todos eles muito antes de
entrar pra turma.

Órfã de mãe, morava com o pai e a madrasta a duas quadras do meu apartamento, num
bairro vizinho. Arriscava algumas manobras no skate também, mas levava mais jeito no
surfe, razão pela qual ela era doida pelo Johann.

Eu tinha colaborado muito para que os dois ficassem juntos a primeira vez, servindo de
Cupido, mas o meu primo era difícil de se apegar a alguém e tinha entrado numa vibe de
se focar no esporte bem na época que a minha amiga estava a fim de namorar. Enquanto
todo o resto era considerado uma distração para o seu objetivo final, o menino não ia
querer saber de se amarrar tão cedo.

— Descola um refri pra gente lá com o Rique, Angel. Faz essa pra Deus ver!

— Sou sua empregada?

— Coé, prima! Quebra essa! Fortalece a amizade aê!

— Saco!

Apesar da implicância um com o outro, eu considerava o Johann o meu melhor amigo,


além de sermos da mesma família. Os nossos pais eram primos de primeiro grau e,
desde criança, nós havíamos aprendido a conviver feito irmãos transitando entre as duas
casas.

Ele era filho único e, como tal, era mimado até as tampas por Marie e Urich. Às vezes,
eu me irritava com a maneira melosa que os dois lidavam com o menino e eu não perdia
nunca a oportunidade de chama-lo de “filhinho da mamãe” por querer sempre tudo na
mão e de maneira fácil.

De certo modo, o surfe era a única coisa que ele realmente levava a sério e enquanto ele
começava a disputar os torneios no Rio, aquela foi a primeira vez que vi Johann se
esforçando para conseguir algo para si próprio, com foco e determinação. Eu achava
que ele seria um encostado no pai empresário pro resto da vida, um riquinho mimado
vivendo às custas da grana da família, mas o vendo campeão do surfe, eu agora estava
muito orgulhosa do meu bebê.

— Aê, Angel! Descola uns amendoins lá também!

Me levantei um pouco indignada com a ordem do Pintinho, me sentindo explorada, mas


quando saí em direção à área VIP do avião, respirei fundo antes de encontrar Henrique e
me aproximei com cautela.
Ele estava sentado numa das poltronas mais próximas da cabine do piloto e estava
relaxando de olhos fechados ouvindo música no fone bluetooth. Usava uma regata e os
arranhões que eu tinha feito em seu braço no sábado à noite ainda estavam visíveis em
seu braço forte.

— Oi, Angel…

Ele se ajeitou no assento quando me viu lá parada com uma tremenda cara de vacilona,
quase babando. Tinha ido buscar refrigerante pros meninos, mas por um tempo, nem
sabia mais o que estava fazendo ali. Henrique era incrivelmente gostoso e eu ficava
acesa só de estar perto dele.

— Tem refri ainda? Os meninos estão pedindo lá atrás…

Ele deixou o fone de lado e se levantou. Caminhou até o lado direito do avião e se
abaixou junto ao frigobar. A duas poltronas dali, o Frederico roncava com um boné
sobre o rosto e os outros três caras da equipe de filmagem do canal de Youtube da Delta
Sky também tiravam uma soneca.

— Tem alguns ainda, Angel… Pode pegar.

Após conferir as bebidas, o meu primo me abriu espaço para que eu fosse até o frigobar,
mas dei um jeito de resvalar nele enquanto passava. Cada pedacinho do seu corpo era
duro feito pedra e eu chegava a suar em lembrar que ele havia dormido agarrado a mim
por trás, na conchinha mais gostosa da minha vida. Até aquele momento, não acreditava
que tinha dividido a mesma cama com ele pelado ao meu lado e nada havia acontecido.
Henrique devia me achar muito criança mesmo…

— Obrigada, Rique.

Segurei as latas junto ao peito e senti o gelo me arrepiar os pelos. Sorri em direção a ele
e depois, voltei para a parte de trás do jatinho, contente só por tê-lo visto de perto mais
uma vez.
Capítulo 50 – Angélica (PARTE 2)

NA CHEGADA AO RIO DE JANEIRO, voltamos a dividir o grupo de onze pessoas


para seguirmos cada qual ao seu destino. A equipe da Delta Sky seguiu junta de carro
para a direção norte, após se despedir de Henrique e ele começou a decidir com Urich
quem levaria a minha galera para casa.

— A maioria dos meninos mora para os lados de Ipanema, Henrique — disse Urich,
com a sua voz grossa —, o meu carro é bem espaçoso e eu posso deixar todo mundo em
casa antes da meia-noite.

Estávamos reunidos do lado mais interno do estacionamento do aeroporto do Galeão e a


SUV Hyundai prata que ele havia mencionado estava estacionada a menos de dois
metros de nós, ao lado do Nissan Kicks do Rique. Eu tinha ficado extremamente
animada em saber que passaria mais alguns minutos em sua companhia, mas quando ele
confirmou, as minhas pernas até tremeram.

— Eu prometi à mãe da Angel lá em Santa que a traria com segurança de volta pra casa,
então, eu mesmo levo ela e a Luara, que mora perto, de carro.

Ele então me deu uma piscada de olho e, no momento seguinte, estávamos eu e a minha
amiga assumindo um assento em seu carro, enquanto o Fred ajudava o meu primo com a
bagagem no porta-malas.

A Luara me deu um beliscão e cochichou, enquanto eu ainda massageava a pele


marcada:

— Será que agora que estamos no Rio ele vai cumprir com a palavra de que vai te pegar
quando não tiver ninguém olhando?

Durante a manhã daquele domingo, eu não tinha conseguido conter a minha euforia
após a noite com Henrique e tinha contado cada detalhe para Luara, incluindo a rejeição
por eu ser virgem. Disfarçamos quando ele e Fred entraram juntos no carro, prontos
para nos levar a Ipanema, mas eu consegui cochichar a ela sem que percebessem:

— Tô contando com isso. Espero que ele seja homem suficiente pra cumprir com o que
diz!

Algum tempo depois de deixar a minha amiga no portão da sua casa e de estacionar o
Kicks diante do prédio onde eu morava com os meus pais, mandei mensagem lá pra
cima avisando que tinha chegado e o meu pai desceu até a portaria para me recepcionar
e cumprimentar o Rique.

— Fez boa viagem, filhota?

Meu pai, Ângelo, era um coroa rechonchudo de cara rosada e olhos azuis que tinha
puxado boa parte das características físicas dos meus avôs, que eram descendentes de
alemães. Dos Schneider, em sua grande maioria loiros de pele clara e olhos azuis, eu era
uma das únicas herdeiras que havia nascido morena com cabelos e olhos escuros. Tinha
puxado a minha mãe em praticamente tudo e eu nem parecia fazer parte da família.
Todas as vezes que nos reuníamos na casa de um dos tios ou primos, eu me destacava e
nunca era de um jeito positivo. Morria de inveja das meninas Schneider, todas loiras e
lindas ostentando olhos claros e brilhantes.

— Fiz sim, pai. O Henrique cuidou muito bem de mim.

Ao dizer aquilo, lancei um olhar para o meu primo que sabia bem do que eu estava
falando, mas que não demonstrou nenhum sinal de desconforto, cuidando para que o
meu pai não desconfiasse de nada.

Papai me enforcaria se soubesse que eu dormi na cama de um cara adulto pelado!

— O Urich levou os demais meninos que nos acompanharam pra casa — disse
Henrique ao meu pai — e aposto que todo mundo vai ter bastante história pra contar por
alguns dias.

Meu pai riu com a sua risada de Papai Noel característica e eu desgrudei um pouco de
seu abraço para acompanhar a partida do Henrique que já voltava para o carro pronto a
levar o cunhado em casa antes de seguir até o apartamento onde morava com a noiva
dele Valéria, a vaca mais sortuda da Barra da Tijuca!

— Vai passar o Carnaval no Rio, primo? — indagou o meu pai ao Henrique, um minuto
antes dele ligar o motor do Nissan. Eu já tinha atravessado o portão do prédio e fiquei
um instante parada dando uma última olhada naquele par de olhos azuis.

— Vou, com certeza. A escola vai fazer uma pausa até quinta-feira e eu vou dar uma
descansada nesses dias.

— A Aretuza, a Marie e a Patrice foram convidadas para assistir a Banda de Ipanema


depois de amanhã e nós vamos levar as crianças no bloco de carnaval. Se tiver
interessado, você pode ir com a gente. Aposto que a Valéria também deve ficar animada
em ir.

O rosto dele se iluminou antes de responder:

— Parece ótimo, Ângelo. Vou verificar com a patroa em casa e te dou um retorno
amanhã cedo, beleza?

Meu pai acenou que sim e, pouco depois, começamos a subir juntos até o décimo
segundo andar onde a gente morava. Um bloco de carnaval em família não era bem a
oportunidade que eu estava esperando de voltar a ficar perto de Henrique como ele
havia me prometido, mas qualquer coisa era melhor do que não vê-lo mais por um longo
período, como era costume. Eu estava ainda sob efeito do encantamento exercido por
meu primo mais gostoso e não sossegaria enquanto não conseguisse o que eu mais
queria.
Na terça-feira de Carnaval, as ruas de Ipanema estavam tomadas por pessoas que
estavam ali para acompanhar a Banda de Ipanema, um dos blocos de rua mais
tradicionais do Rio de Janeiro. Eu estava acompanhada da Luara no meio da bagunça,
mas quase toda a minha família também estava por perto, incluindo a minha mãe
Aretuza com as primas Patrice e Marie — que era a mãe do Johann —, o Urich, o meu
pai e mais uns três vizinhos nossos de apartamento.

Como era de se esperar, estava todo mundo fantasiado para festejar o feriado e os
homens da família estavam travestidos de mulher. A minha mãe tinha feito uma
maquiagem superexagerada em papai e ele estava parecendo um concorrente do
RuPaul’s Drag Racer. O Urich também tinha entrado na brincadeira e estava usando
uma peruca loira e uma meia-arrastão por baixo do calção.

— Hoje eu vou arrasar, mona!

Urich era naturalmente engraçado com o seu jeito fanfarrão de agir quase sempre, mas
vestido de mulher, estava demais. Toda vez que eu olhava pra ele, sentia vontade de rir
e já estava quase fazendo xixi nas calças.

O Johann era o único que não tinha deixado aflorar o seu lado feminino e não tinha se
enfeitado, mas quando começou a ser assediado pelas tietes que o reconheceram do
campeonato de surfe do final de semana, tive a certeza que ele se arrependeu.

A cada passo que dávamos, era uma menina diferente que chilicava e se atirava em seu
pescoço pedindo uma selfie. Depois que chegamos ao ponto de onde a banda começaria
a tocar, o coitado não teve mais paz e foi obrigado a aprender a lidar com a sua fama
repentina, gastando o seu estoque de sorrisos forçados enquanto posava para as fotos.

O Henrique resolveu dar as caras no meio do bloco umas duas horas depois que já
estávamos nos acabando ali de dançar, pular e gritar. O som da Banda de Ipanema com
seus instrumentistas era muito contagiante e eu não me divertia daquele jeito há muito
tempo.

Foi a Luara quem o viu primeiro e a menina me puxou o braço para me avisar de sua
chegada. Como os demais, estava fantasiado e até de peruca e vestido curto nas coxas
ele ainda era uma delícia.

Estava lado a lado com a noiva e foi só bater os olhos nela para eu morrer de inveja
mais uma vez. A moça tinha prendido os cabelos loiros quase prateados num rabo de
cavalo, usava um batom vermelho na boca e ostentava os peitos gigantes em um
cropped decotado. Como se não bastasse, assim como eu e a Luara, ela tinha passado
um óleo com glitter na pele e estava toda brilhante. Chamava todas as atenções.

— Essa banda arrasa! — disse ela, ao se aproximar do nosso grupo. Cumprimentou um


a um dos familiares com beijos no rosto, depois, voltou para o lado do Rique, se
apoiando em seu ombro. — Tem dois anos que não acompanho o bloco, mas sempre
que venho, eu volto pra casa quebrada de tanto dançar.
Valéria era pequena, mas a sua presença era tão expansiva, que era como se ela
ocupasse todos os lugares ao mesmo tempo, bem como puxasse todos os holofotes para
si. Eu tinha visto o papai e o Urich olharem disfarçadamente para o meio daqueles
melões redondos que ela tinha dentro da blusa e fazerem comentários em cochichos um
para o outro. Eu achei uma falta de respeito com a mamãe e a Marie, que estavam logo
ali do lado.

— Vamos lá pro meio — sugeriu a prima Patrice, irmã de Marie, apontando para o
ponto onde a multidão estava mais concentrada —, assim, podemos ficar mais perto do
trio elétrico.

Os demais aceitaram a sugestão e depois disso, nos deslocamos pra lá. Fazia um calor
de quase trinta e cinco graus no Rio e a festa de carnaval estava só começando.

Não houve qualquer chance de eu ficar a sós com o Rique durante a tarde de bloco
carnavalesco e eu voltei pra casa novamente frustrada. Começava a achar que jamais
teria outra oportunidade tão boa quanto aquela no quarto da pousada em Florianópolis e
estava me sentindo enganada por meu primo.

“… Eu não me importo de ser o seu primeiro numa outra ocasião, num lugar menos
público, com menos pessoas conhecidas ao nosso redor…”.

Ele tinha dado aquela desculpa só para que eu não ficasse chateada e aquela verdade
começou a me incomodar mais do que eu queria.
Capítulo 51 – Angélica (PARTE 3)

DEPOIS DO BLOCO, Marie e Urich seguiram Patrice até um bar para dar uma esticada
nas festividades e o Johann aceitou o convite da minha mãe para dormir em casa aquela
noite, como de vez em quando fazia.

Nós dois nos dávamos muito bem e os meus pais confiavam muito no primo a ponto de
não se importarem em deixá-lo sozinho comigo. Todo mundo sabia que nos víamos
mais como irmãos do que como primos e nunca rolava aquela tensão familiar de que a
gente acabasse se pegando pelos cantos.

Assim que chegamos, a minha mãe serviu uma salada de fruta que a moça que fazia a
nossa comida tinha deixado preparada antes de ir embora para curtir o feriado e, depois,
enquanto os meus pais relaxavam na sala assistindo TV, eu e o Johann fomos para o
meu quarto jogar videogame.

Ficamos um bom tempo nos batendo virtualmente em várias partidas de Street Fighter e
quando cansamos, eu me deitei no chão colocando a cabeça no colo do urso de pelúcia
gigante que o meu pai tinha me dado de presente de aniversário.

Eu era muito transparente e como me conhecia bem, o meu primo notou logo que tinha
algo me incomodando. Começou a puxar os pelinhos da minha perna de maneira
irritante, até que eu decidisse falar o que era.

— Ai, garoto! Isso dói!

Ele riu e se encolheu quando levantei o tronco para estapeá-lo.

— Você bate que nem uma mulherzinha…

Fechei o punho e dei-lhe um soco no bíceps. Ele continuou rindo, me vendo emburrada.

— Fala logo o que você tem, Angel. Está com essa cara de bunda sem lavar desde que
saímos do bloco. O que aconteceu?

Eu controlei a minha ira e voltei a me deitar sobre o urso que eu chamava de Biroleibe.
Johann controlou o riso e veio se deitar do meu lado, sobre o tapete felpudo estirado no
chão. Acomodou a cabeça numa almofada que estava jogada ali e empurrou o controle
do videogame para o lado.

— Se eu te contar uma coisa, promete que guarda segredo?

Estávamos com as nossas cabeças a menos de um palmo de distância. Os olhos azuis


dele brilhavam quase violetas com a luz do meu quarto. Ele fez que sim, me passando
confiança.

— Se contar pra alguém, eu roubo a sua medalha e jogo descarga abaixo!


Ele tocou a medalha do campeonato de surfe sob a camisa, como se certificando que
ainda estava lá e me olhou arregalado.

— Já prometi que não conto, agora fala logo!

A porta do quarto estava fechada e eu sabia que os meus pais estavam entretidos na sala
com a televisão. Mesmo assim, abaixei o tom e confessei ao meu primo:

— Eu dormi com o Henrique lá em Santa.

Johann pareceu confuso por um instante e esticou o pescoço em minha direção. Fez uma
careta e indagou:

— Aquele de cabelo bagunçado na praia? O que estava andando com a Luara?

Não fazia ideia de quem ele achava que eu estava falando e, então, eu dei um tapa em
sua testa.

— O nosso primo Henrique, idiota!

A ficha caiu e ele fez uma careta ainda mais feia.

— Mas ele é velho demais pra você… Credo!

Henrique era quase dez anos mais velho que eu, mas eu confesso que não pensava muito
na nossa diferença de idade. Eu me sentia atraída por ele e a mim, era tudo que
importava.

— Eu não fiz nada com ele… a gente só dormiu junto mesmo. Não aconteceu mais
nada.

Johann ainda parecia surpreso.

— Mas você, tipo… dormiu mesmo com ele na mesma cama? Um do lado do outro?

— Foi — Eu me virei para Johann e continuei usando o meu tom mais baixo. —, na
verdade, eu entrei no quarto dele com outras intenções, mas ele não quis fazer nada
comigo quando descobriu que eu sou virgem…

Eu nunca tinha visto o Johann tão perplexo. O sangue sumiu do seu rosto e ele acabou
falando alto demais.

— Como assim você é virgem?

Coloquei a mão em sua boca na mesma hora, forçando o idiota a falar mais baixo. Ele
ainda repetiu a mesma frase mais duas vezes.

— Sou virgem, e daí? O que tem demais nisso?

Ele se sentou no chão e os seus olhos desceram em direção ao meio das minhas pernas,
como que conferindo de alguma maneira mágica o que eu tinha dito. Eu estava usando
um short curto e puxei a barra mais pra baixo depois das suas olhadas indecentes.
— Mas o Jean disse que vocês ficaram na casa dele uma vez… como ainda pode ser
virgem?

Senti o meu rosto ficar quente e o sangue subir pescoço acima.

— A gente ficou, mas foram só beijos… nada além disso.

Ele ainda estava chocado, mas voltou a se acomodar do meu lado. Ficamos alguns
instantes quietos, depois, veio a pergunta:

— Você foi lá pra transar com o primo Henrique?

Mordisquei o lábio e fiz um “uhum”.

— Mas ele é velho!

Dei um cotovelada em Johann. Aquela insistência em chamar Henrique de velho estava


me chateando.

— Todo aquele clima quente de praia, todo aquele suor, aquele mar azul… eu fiquei
meio empolgada demais com o Henrique. Estava ficando excitada só de ver ele andando
pra lá e pra cá com aqueles braços musculosos… aquela cara de homem safado…

Johann fez um som de nojo ao meu lado. Estava incrédulo.

— Vocês meninas são tão pervertidas! O cara podia ser o seu pai!

Pensar no meu pai em meio às minhas fantasias amorosas sim era algo um tanto quanto
nojento. Aquela barriga, aquela barba… Eca!

— Mas ele me rejeitou. Descobriu que eu era virgem, aí não quis nada comigo.

Novo silêncio e, então, eu quis saber dele:

— Eu sou muito feia? Acha que ele não me quis só porque sou virgem ou porque não
sou interessante?

Ele ficou me olhando esquisito, depois riu.

— Você também me acha feia, Johann? É isso?

Me sentei ao seu lado e ajeitei os meus cabelos ondulados tentando parecer sexy. Ele
não parava de rir.

— Custa me responder, seu idiota? Eu sou feia?

Ele apoiou uma das mãos atrás da nuca e em cima da almofada, depois, respondeu,
controlando o riso.

— Você é normal, Angel…


Comecei a bater nele, irritada. “Normal” não era bem o que eu esperava ouvir do meu
melhor amigo. Se ele me achava apenas “normal”, o que os outros meninos deviam
pensar de mim?

— Tá bom, tá bom… você é bonita. Mas é que eu nunca parei pra pensar nisso. Você é
tipo a minha irmã. Se eu tivesse uma irmã de verdade, eu não olharia pra ela pensando
se é bonita ou não… Mas você até que não é feia!

Bati com força desta vez e os meus dedos doeram quando atingi um osso do braço dele.

Voltamos a nos deitar no chão com ele massageando a área atingida e eu segurando a
minha mão dolorida. Aí voltamos ao assunto.

— Se é isso que os meninos pensam de mim, que eu “sou normal” e que “até que não
sou feia”, vou acabar morrendo virgem!

Ele esboçou um novo riso, mas se conteve quando percebeu que eu tinha ficado sentida
pra valer. Se aproximou mais e mexeu em meus cabelos tentando parecer carinhoso.

— Eu não quis dizer isso. Se eu não fosse o seu primo e a gente não tivesse crescido
junto feito irmãos, eu te acharia gatinha. Não ia te rejeitar de jeito nenhum só porque é
virgem.

O encarei com os olhos marejados.

— Mesmo?

Ele sacudiu a cabeça.

— A Luara era virgem quando ficamos a primeira vez e eu não vi nenhum problema
quando dormimos juntos na casa dela. Só demora mais tempo que o normal, mas é tão
bom quanto com uma “não-virgem”.

Aquilo tinha me interessado e me virei de bruços para encará-lo melhor.

— E doeu? Tipo… sangrou?

Ele fez que sim.

— Ela reclamou um pouco, mas aí, trocamos a camisinha e depois continuamos.


Normal.

O meu primo não queria se apegar a ninguém mais seriamente, mas a lista de conquistas
amorosas dele desde a oitava série era bem extensa. Eu conhecia pelo menos uma dúzia
de garotas com quem ele tinha ficado só em Ipanema e a Luara havia me contado, no
dia seguinte, que ele havia transado com uma garota que tinha conhecido no sábado em
Santa e que os dois tinham ficado juntos no quarto da pousada que ele estava dividindo
com o Pintinho. Apesar da idade, o moleque era experiente e, de repente, vi ali uma
solução para o meu problema.

— Se eu te pedisse uma coisa, você me ajudaria?


— Ajudar com o que? — Ele perguntou.

— Com a minha virgindade. Você me ajuda a perder a minha virgindade?

Capítulo 52 – Angélica (PARTE 4)

AQUILO TINHA ME OCORRIDO subitamente e não perdi muito tempo entre o pensar
e o dizer. Quando percebi, já tinha falado e o Johann não parecia ter compreendido
totalmente a minha proposta.

— E o que eu faço? Coloco uma banana em você?

Ele riu, mas a risada foi perdendo a força conforme ele percebeu que eu estava séria,
olhando pra sua cara morena de sol. Johann ajeitou a franja que caía nos olhos claros
um instante e fechou o semblante.

— Espera… Você quer que eu… que a gente…?

Ele não conseguia nem completar a frase. Me sentei novamente, ansiosa.

— É, Johann! Tô pedindo pra você tirar o meu selinho, me transformar numa “ex-
virgem”… É tão difícil de entender?

Ele tinha voltado a ficar perplexo.

— Você não pode tá falando sério… Eu e você?

Bati nele outra vez e a minha mão voltou a doer.

— Isso é nojento… Tipo… você é minha prima…

Aquilo estava se tornando embaraçoso, mas eu realmente enxergava ali uma


possibilidade. Johann era experiente, já tinha tirado a virgindade de outras meninas e
sabia bem o que fazer. Por mais que fossemos parentes e muito próximos, eu enxergava
aquilo mais como uma ajuda entre primos e não necessariamente sexo. Eu não pensava
nele com desejo. Era mais como se ele fosse um fim para justificar os meios.

— Eu sou a sua prima, mas também sou uma menina. Você estaria me ajudando com o
meu problema e ninguém mais ia precisar saber, só nós dois.

Ele estava horrorizado, como se fazer aquilo comigo fosse mesmo a pior coisa do
mundo, a mais repugnante. Eu estava começando a ficar com vergonha de ter levantado
a possibilidade, mas insisti.

— É só uma vez, Johann… pra você seria mais uma apenas. Você já está acostumado.

Ele começou a se levantar, pronto a se afastar.

— Mas eu nunca tive que fazer isso com nenhuma prima… Ainda mais você!
O segurei e pedi que ele segurasse a bola. Estava falando muito alto e eu não queria que
os meus pais escutassem aquela conversa de forma nenhuma.

— Por favor, Johann! Eu nunca te pedi nada que fosse tão importante. Se eu deixar de
ser virgem, o Henrique não vai mais ver problema em ficar comigo… você vai estar me
ajudando. Por favor!

Fiz a minha cara mais piedosa e ele começou a pensar a respeito. Me olhou, desceu os
olhos para o meu quadril outra vez, depois, encarou a minha cama, atrás de nós.

— Tipo… Você quer agora?

Acenei que sim, ainda com cara de cachorrinho carente. Andei rápido até a porta e
passei a chave.

— Os meus pais estão entretidos. Eles nunca vêm aqui saber se estou bem depois desse
horário e os dois confiam em você. Sabem que não vamos aprontar nada aqui dentro.

— E mesmo assim você quer… Fazer… Comigo?

O empurrei em direção à cama e o fiz se sentar nela comigo. Segurei o seu braço e
continuei o convencendo.

— Olha, a gente se conhece desde criança, sabe exatamente do que o outro gosta. A
gente já tem a intimidade certa. Não vai ser tão difícil.

— Vai sim!

Ele continuava relutante.

— Eu deixo você me tocar um pouco pra ir se acostumando, o que acha?

Ele não respondeu. Continuava arregalado.

— Vem, pega nos meus peitos, eu deixo!

Eu segurei a sua mão e a enfiei em meu peito direito, por cima da blusinha de alça que
estava vestindo. Ele segurou com os dedos moles e mandei que pegasse com força.

— Vai, Johann. Faz um esforço!

Eu tinha peitos pequenos e ele encheu a mão com facilidade. Estava sem sutiã e senti
meu mamilo intumescer.

— Cara… Isso é muito errado!

Tentei ousar um pouco mais e levei a minha outra mão entre as pernas dele, no que
Johann deu um pulo.

— Você quer que eu pegue um pouco nele?


Johann tava usando uma bermuda larga e se afastou, acenando que não. O puxei de
volta pela camisa e insisti.

— Você tá agindo como se eu fosse um bicho. Para de me tratar assim. Vem! Pega mais
um pouco pra se acostumar antes da gente fazer.

Johann foi induzido a alisar as minhas pernas e senti os meus pelos arrepiarem com o
seu toque quente. Ele estava muito sem graça com a situação e obviamente não estava
aproveitando nada dela. Demorou até que estivesse me fazendo carícias por conta
própria e quanto mais ele avançava, mais nervosa eu estava ficando.

— O que você faz para relaxar a menina antes de começar?

Ele me olhou fazendo movimentos circulares em torno do meu mamilo esquerdo com o
dedo, ainda sobre a blusinha.

— Beijo… passo a língua no pescoço…

Eu então desci uma das alças da blusinha e ofereci o meu pescoço como se fosse uma
vítima proposital de um vampiro. Ele ficou parado só olhando e tive que tirá-lo da
inércia.

— Anda. Me beija no pescoço então!

Eu nunca tinha feito nada sequer parecido com aquilo na companhia do meu primo e foi
bastante estranho senti-lo se aproximando de mim tão intimamente e começar a
depositar beijos em meu pescoço. Eu estava agora inteiramente arrepiada e aquele
contato começou a ficar melhor do que devia.

A mão dele me pegou pela cintura e, quando percebi, a sua língua estava passeando do
meu ombro até bem perto da orelha. Johann era bastante cuidadoso e tirou os meus
cabelos da frente para ter a área toda à sua disposição. Senti uma pressão entre as pernas
e soltei um gemido sem querer.

— Tá tudo bem?

Fiz que sim e acenei para que ele continuasse. A mão agora estava em minha barriga e
começava a subir costela acima. Johann tinha passado para o outro lado do pescoço e eu
agora sentia as minhas pernas trêmulas. Aquelas carícias estavam realmente me
deixando num estado de relaxamento, mas eu estava começando a ficar ansiosa para o
que viria a seguir.

Eu me deitei na cama algum tempo depois e o Johann me acompanhou meio


embaraçado. O deixei me dar mais alguns beijos no pescoço e ele viu que eu tava inteira
arrepiada. Dei uma espiada e percebi que tinha um volume diferente dentro do seu
short. Ele estava excitado com aquela situação e achei oportuno perguntar:

— Você quer que eu tire a roupa agora?

O meu primo me olhou nos olhos um instante e pareceu sem ação.


— Não prefere com as luzes apagadas?

Eu não tinha vergonha dele e falei que não queria. Além disso, a iluminação por baixo
da porta indicaria aos meus pais que não estávamos fazendo nada errado ou imoral.
Exceto, que estou prestes a transar com o meu próprio primo! pensei na hora.

Johann se virou para o outro lado enquanto esperava que eu tirasse o meu short. Ele
também desceu a bermuda e eu o assisti ficar de cueca na minha frente. Era um modelo
boxer na cor preta e o volume por baixo agora era bem mais nítido.

— Você tem camisinha?

As aulas de reprodução humana na escola sempre reforçavam a importância do uso


correto do preservativo masculino e a última coisa que eu queria era ficar grávida já no
meu primeiro contato sexual… e do meu primo!

Johann desceu da cama um instante e apanhou a carteira guardada no bolso traseiro da


bermuda. Sacou um pacote cinza de dentro e voltou para cima da cama. Dei uma nova
olhada entre as suas pernas e fiquei um pouco receosa. Ele parecia grande e eu tinha
medo que doesse.

Se bem que o do Henrique parecia ser o dobro! pensei, me lembrando do meu primo
encostando aquela coisa em mim em nosso encontro no quarto da pousada.

Johann se ajoelhou e pediu permissão para me tocar novamente. Eu fiz que sim e,
daquela vez, ele estava pronto para me ajudar com a calcinha. Senti um frio na barriga
quando ele escorregou os primeiros dois centímetros e quando chegou nas minhas
coxas, finalmente realizei o que estava acontecendo ali.

Ai, meu Deus! A gente vai transar!

Os olhos dele se perderam um instante entre as minhas pernas e engoli em seco achando
que ele tinha visto algo de errado. Johann prendeu a respiração, abriu levemente a boca
e depois me encarou de novo, parecendo surpreso.

— É toda depilada…

Ficou sem graça em dizer aquilo, mas depois, puxou um pouco mais a minha calcinha
abaixo dos meus joelhos. Eu estava agora tremendo e as minhas pernas demonstravam o
meu nervosismo.

Eu não quis olhar enquanto ele encapava o peru com a camisinha e fiquei olhando para
o teto, esperando ele vir por cima. A sua mão deslizou a minha coxa um segundo e o seu
quadril afastou um pouco as minhas pernas. Senti o primeiro beijo lá embaixo e a
textura do preservativo me assustou.

— Você tem que relaxar, Angel. Se não… você sabe… não entra.
Mexi a cabeça pra cima e pra baixo, depois, ele segurou o pinto o posicionando mais
perto da minha vagina. Eu tinha ficado meio úmida com aquela brincadeira em meu
pescoço, mas eu ainda não sabia se aquilo era bom ou não.

A primeira espetada aconteceu logo que Johann fez um movimento de encontro ao meu
quadril e senti como se tivesse algo muito grande querendo passar por um buraco muito
apertado.

— Dói um pouco…

— Desculpa.

Eu o senti meio nervoso e, então, ele começou a fazer movimentos com as mãos em seu
pênis. Estava se masturbando e tinha tirado o pouco que enfiou em mim.

— Me desculpa… espera um pouco.

A Luara dizia que os homens, às vezes, ficavam moles e precisavam de um tempo para
se recuperar. Eu só não sabia que acontecia logo no começo.

— Levanta a blusa, Angel… mostra os peitos pra mim. Eu não tô conseguindo…

Eu não tinha entendido direito, mas obedeci. Puxei a blusinha para cima e exibi os meus
peitos. Johann continuou se masturbando, agora mais rápido, e ficou olhando pra mim
com uma cara esquisita.

Sou tão feia assim que ele não consegue ficar duro comigo? pensei, um pouco insegura.

Algum tempo depois, o amigo de Johann voltou a endurecer e ele tentou outra vez me
penetrar. Urrou, fez força e passou com algum jeito para dentro de mim. Ainda doía,
mas conforme ele mexia mais lá dentro, ficava gostoso.

— Do outro jeito, Johann… mais de lado.

— Assim?

— Isso… assim, assim!

Ele pediu que eu abrisse mais as minhas pernas e foi muito estranho ouvi-lo me dar
aquela ordem. Ficou mexendo lá dentro do jeito que eu gostava e conforme eu me sentia
relaxada, mais ele me penetrava.

— Tô te machucando?

— Um pouco…

Eu sentia aquela coisa entrar bem fundo e depois sair de mim, mas todas as vezes que
voltava, ficava um pouco melhor. Eu ainda não sabia que quanto mais lubrificada
estivesse a vagina, melhor era a penetração, mas Johann estava se esforçando para que
não doesse tanto em mim.
— Se doer, você pode me apertar bem forte.

Ele me preparou para o momento fatídico e com jeito, desceu até o meu limite. Senti
como se tivesse sido perfurada por uma agulha bem lá dentro da minha xota e o meu
desejo foi de gritar bem alto.

— Tá doendo, Johann…

Eu o apertei e abafei o meu grito em seu peito. Ele esperou eu me recuperar, me vendo
com lágrimas nos olhos. Fez um carinho em meu rosto empurrando os meus cabelos
para trás e esperou que eu desse a ordem para continuar. Me penetrou mais uma vez e
senti algo se desprendendo dentro de mim. Agora era mais uma ardência do que dor,
mas eu já não tinha mais vontade de berrar.

— Aconteceu, Angel…

Ele sorriu pra mim e eu retribuí. Tinha cumprido a sua missão e já fazia menção de se
afastar quando eu segurei o seu ombro.

— Não, não vai. Pode continuar.

Ele pareceu estranhar o pedido, mas continuou entrando e saindo de dentro de mim. Eu
estava ainda mais úmida e eu morria de medo que, naquele momento, estivesse me
esvaindo em sangue sobre o lençol branco. Por sorte, não era bem sangue que estava
saindo das minhas partes íntimas. Johann ficou em cima de mim ainda um bom tempo e
eu o deixei lá até que estivesse acostumada àquele movimento estimulante que estava
deixando o meu corpo relaxado como ele nunca tinha estado antes. Transar era gostoso
e eu entendi rápido que ia gostar de repetir aquilo muitas e muitas vezes.
Capítulo 53 – Beto

MEU PAI ODIAVA VIDEOCONFERÊNCIAS ou qualquer tipo de tecnologia que o


mantivesse à distância da pessoa com quem ele queria conversar. Raramente usava o
telefone, tinha aversão a WhatsApp e dificilmente mandava e-mails. Era bem verdade
que ele tinha funcionários que faziam aquilo tudo em seu lugar, mas quando era
necessário um contato mais próximo, gostava de encarar as pessoas nos olhos. Dizia que
só daquela maneira tinha certeza se podia confiar ou não nelas. Era um homem prático e
todos ao seu redor sabiam disso.

Naquela manhã de segunda-feira, eu o acompanhei à cobertura da torre sudoeste da


Suares & Castilho apenas para que nos comunicássemos com os encarregados da obra
de uma concessionária que estava sendo construída em Vitória, a capital capixaba. Em
torno da mesa de reunião, de frente para um telão conectado a um projetor, estavam
também a diretora financeira da construtora Elisa Tomazzi, a secretária de papai
Vanessa Lourenço, o diretor jurídico Edgar Romagnolli e o chefe de engenharia Eliéser
Valentim. Aquele não era um dia comum de trabalho, mas estávamos todos trajados a
rigor conversando há mais de uma hora com o pessoal do Espírito Santo.

Meu pai parecia um bicho enjaulado presidindo aquela conferência à distância. Havia
pedido um copo d’água à Vanessa há menos de dez minutos, mas já havia esvaziado o
recipiente, nervoso. Não gostava da impessoalidade da tela grande e, por conta disso,
tinha mandado que eu assumisse a frente da reunião e me dirigisse diretamente aos
encarregados da obra que nos assistiam em uma cabine de vidro. Eu não estava à par
dos negócios, mas devido à resistência que João Suares tinha em lidar com a tecnologia,
não tinha outra escolha a não ser ajudar.

A Suares & Castilho tinha assinado um contrato bastante robusto com a importadora
holandesa de veículos de luxo Diamond Motors para a construção de cinco novas
concessionárias da marca no Brasil. Além daquela sendo montada em Vitória, haviam
mais duas em fase de projeto, o que renderia à construtora um lucro muito alto, algo da
qual não podíamos abrir mão depois da crise que havia se abatido sobre todos nós no
último ano.

Papai era o sócio majoritário da construtora há quase dez anos e trabalhava diretamente
com a família do antigo fundador da empresa, o velho Jaime Castilho. Os dois filhos do
homem detinham juntos 30% das ações e tinham voz ativa no que se referia a boa parte
dos contratos assinados pelo grupo como um todo. Renato, o filho mais velho de Jaime,
na tentativa inconsequente de ganhar maior notoriedade e alavancar o seu já não tão
grande prestígio dentro da companhia, tinha decidido agir de má-fé pelas costas de
papai e se juntou a um grupo de cibercriminosos com o intuito de espionar duas das
nossas principais concorrentes no ramo da construção, a Monterey e a Constrular.

Para a nossa sorte e o azar de Renato, a espionagem industrial e apropriação indevida de


informações acabaram sendo descobertas, porém, o plano mal engendrado quase havia
custado a vida da própria filha do homem, o nome da nossa empresa e a posição de
mercado que a construtora ocupava. A trapaça havia deixado o meu pai irado e o velho
não queria mais estar atrelado a uma pessoa de tão má-índole quanto o primogênito de
Jaime Castilho.

Após aquilo que só podia ser descrito como um grande fiasco, Renato acabou se
demitindo e vendeu a sua metade das ações para o irmão Mauro que continuou à frente
do cargo de diretor mesmo com toda a vergonha que a sua família havia passado. A
outra irmã deles, a nossa diretora financeira Elisa, detinha 5% das ações e, exatamente
por isso, os Castilho ainda podiam seguir firmes nos corredores da Suares & Castilho.
De outra forma, seria mais digno que tanto ela quanto o irmão vendessem a sua parte ao
meu pai e deixassem de enlamear a posição que tanto ele havia lutado para alcançar em
seus mais de trinta anos de trabalho árduo. Ninguém mais confiava nos Castilho e toda
aquela tensão estava criando um ambiente bastante desagradável para se trabalhar.

A reunião com os representantes da Ao Cubo e da Solar, as duas empreiteiras que


estavam prestando serviços à nossa construtora em Vitória, terminou em torno das onze
da manhã e, depois disso, o meu pai deu o expediente por encerrado já que estávamos
em uma segunda-feira pré-Carnaval e praticamente todo o país estaria de folga para sair
às ruas e curtir a folia.

O velho tinha planejado uma viagem rápida à Punta del Este com a minha mãe Maria
ainda aquela tarde, uma vez que odiava Carnaval e tudo que a festa popular
representava. João dizia que “o Carnaval só serve para externar a podridão das
pessoas, fazendo-as mostrar nos três dias de folia tudo que escondem nos outros 362
dias do ano” e, embora discordasse veemente do homem, eu entendia a razão pela qual
ele sempre buscava por tranquilidade em outros lugares do mundo naquela época.

— Vai passar o feriado na casa em Angra?

Estávamos a caminho do estacionamento do prédio quando ele me fez aquela pergunta.


Em geral, eu e a minha irmã Beatriz íamos para a casa de praia confortável que a família
dispunha no Rio de Janeiro durante o Carnaval, mas aquele ano, eu tinha outros planos.

— Vou ficar em São Paulo. Conheci uma garota e quero ficar próximo dela.

O meu pai andava preocupado com a minha promiscuidade aparente e dizia que, na
minha idade, ele já havia sossegado o facho ao lado de mamãe. Não era mais de me dar
conselhos sobre garotas desde a minha adolescência, mas sempre que eu comentava de
uma, torcia o nariz. Vi o seu cenho se fechar enquanto a testa se enrugava ao meu lado
no elevador.

— Tome cuidado com essas vagabundas, Beto. Não quero ter nenhum neto bastardo
correndo atrás de mim e da minha fortuna.

Eu senti que não valia a pena explicar quem era a garota em quem eu estava interessado
ou provar que ela não era nenhuma vagabunda, por isso, me calei. Chegamos ao térreo,
nos despedimos com um aperto de mão e cada um seguiu para o seu lado. Ele, rumo à
casa da família em Interlagos para buscar mamãe e a bagagem da viagem ao Uruguai e
eu, sentido Jardim Europa. Tinha um encontro com um dos gerentes da Diamond
Motors e um pedido muito especial ao próprio presidente da concessionária dias atrás
estava prestes a ser atendido.

Eu tinha conhecido Bianca Ferreti há pouco mais de duas semanas, mas já podia dizer
que sentia uma conexão gigantesca com a garota. Ela era modelo fotográfica, filha de
uma corretora de imóveis e de um vendedor de seguros. Era poucos anos mais nova que
eu e estava começando a deslanchar na carreira.

A tinha visto a primeira vez como modelo diante de uma das máquinas mais desejadas
do Salão do Automóvel patrocinado pela Diamond Motors, a mesma empresa que
atualmente estava assinando os cheques milionários à Suares & Castilho para a
construção das novas lojas da marca no país. Ela tinha uma aparência de encher os olhos
e, trajada num vestido vermelho igual à cor do carro que exibia em uma plataforma
giratória, chamava todas as atenções, inclusive a minha.

Naquela mesma noite, eu a tinha levado para jantar no Boutique Bistrot da Consolação e
passamos algumas horas dentro do restaurante francês conversando sobre vários
assuntos, nos conhecendo melhor. Bianca tinha chegado ao lugar muito ressabiada.
Achava que tinha sido vendida pela dona da agência a que fazia parte. Pensava que eu
queria usar a minha posição social para pagar por um programa com ela e tinha ficado
reticente por boa parte do encontro. Só quando me apresentei melhor à garota é que ela
começou a desarmar as suas defesas. Tinha sido um início truncado de relação, mas eu
percebia que existia um futuro com a modelo e eu estava apostando nele.

Depois do jantar, fiz questão que o meu motorista Félix a levasse até o apartamento na
Vila Mariana onde ela morava temporariamente com uma das colegas modelos e a fiz
prometer que aquele não seria o primeiro e o último dos nossos encontros.

— Se você for menos indelicado e falar diretamente comigo da próxima vez, talvez eu
possa aceitar um novo convite.

Ela me disse aquilo à porta do prédio e o sorriso de canto de boca me deixou


esperançoso de que, afinal, a minha ideia de abordá-la por meio da sua chefe não havia
estragado completamente as minhas chances de conquistá-la. Eu havia ficado mesmo
atraído por Bianca e queria voltar a vê-la. Por sorte, aquilo aconteceria antes do que eu
imaginava.

Numa noite daquelas após o encontro com Bianca, eu estava em meu apartamento em
Interlagos relaxando no sofá diante da TV quando um comercial de lingerie francesa me
chamou a atenção. A estrela da campanha era a modelo brasileira de carreira
internacional Vicky Novaes, mas uma das suas acompanhantes em um cenário bucólico
de inverno era ninguém menos que Bianca, vestida com um conjunto preto de calcinha,
sutiã e cinta-liga, esbanjando sensualidade. Tínhamos falado pouco sobre a sua vida
profissional em nosso primeiro encontro, porém, fiz questão de elogiar a menina via
mensagem de texto, tão logo o comercial terminou.
— Confesso que nem prestei a atenção na outra modelo loira mais à frente do vídeo. Só
tinha olhos para você! — Escrevi.

Ela mandou um emoji de coração, em seguida, respondeu:

— Você é bem mentiroso, mas eu posso fingir que acredito que não viu a Vicky e só
olhou pra mim. O que acha?

Mal sabia ela o quanto estava errada.


Capítulo 54 – Beto (PARTE 2)

ALGUNS DIAS DEPOIS do Boutique Bistrot, marquei também por mensagem de


buscar Bianca na saída do seu expediente na Shine Model, local onde ela trabalhava na
Vila Mariana, e o Félix nos levou a um cinema em Higienópolis. Tínhamos falado
superficialmente sobre a sétima arte em nosso primeiro encontro e eu tinha prometido a
ela que a apresentaria aos filmes de um dos meus cineastas favoritos, o Pedro
Almodóvar.

Havia um festival acontecendo aquele mês que tinha recolocado em cartaz as principais
obras do diretor espanhol e fomos assistir juntos na sequência “A Pele que Habito” e
“Volver”, dois dos melhores da extensa carreira de Almodóvar. Minha acompanhante
não tinha como costume assistir filmes europeus, mas ao final das sessões, confessou
que havia gostado bastante e que perderia o preconceito que tinha com aquele tipo de
produto.

Depois do cinema, eu e Bianca caminhamos juntos um tempo pelas ruas de


Higienópolis visitando algumas delicatesses e boutiques. Aproveitamos o tempo para
conversar mais um pouco sobre a sua profissão e a modelo quis saber também um
pouco mais sobre o que eu fazia na Suares & Castilho.

— Basicamente, eu mando e os outros obedecem — brinquei, querendo ver a sua


reação. —, é mais ou menos assim que as coisas funcionam.

Ela me olhou com uma das sobrancelhas finas curvadas sobre os olhos cor-de-mel.

— A sua profissão então é a de filhinho de papai. É isso que está me dizendo?

Eu ri, depois, expliquei que estava sendo jocoso.

Expliquei todas as responsabilidades que envolviam o meu cargo de gestão de negócios


na construtora e como o meu papel lá dentro facilitava a relação entre os diversos
setores como o financeiro, o jurídico, o de engenharia e até mesmo o da chefia, liderado
por meu pai.

— Eu tenho certa autonomia para transitar entre os setores e oferecer soluções para que
todos eles consigam agir em conjunto, sempre visando aquilo que é melhor para o nosso
cliente. Nem sempre sou bem-sucedido, mas quando acontece, é bastante gratificante.

Bianca tinha entendido e achou a minha explicação bastante clara e objetiva.

Depois do segundo encontro, percebi que estávamos caminhando mais para uma relação
de amizade do que para algo amoroso. Até então, não tínhamos nem trocado um beijo
que fosse e senti que precisava esquentar as coisas entre nós dois. Além da casa em
Angra, o meu pai era dono de uma guesthouse no litoral norte de São Paulo que
costumava alugar ou emprestar para que amigos e parentes desfrutassem nas férias e,
como eu sabia que a casa estaria vazia aquele fim de semana pré-Carnaval, resolvi
convidar Bianca como minha acompanhante.
— É um final de semana prolongado e como imagino que não vá trabalhar na agência
de modelos até a Quarta-Feira de Cinzas, pensei que pudesse ir comigo até a guesthouse
como minha convidada.

Estávamos falando ao telefone e dava para ouvir uma outra voz feminina de fundo.
Imaginei que fosse Marcela Xavier, a colega de quarto com quem Bianca dividia o apê.

— Quem mais você convidou além de mim?

Ela continuava suspeitando das minhas reais intenções e devia estar imaginando que eu
faria uma reunião de mulheres em uma espécie de harém particular na praia.

— Por enquanto só você, mas já estou verificando se a Gisele Bündchen, a Alessandra


Ambrósio e a Isabeli Fontana vão estar disponíveis para eu convidá-las também.

Ela deu um risinho de escárnio do outro lado e me chamou de “palhaço”. Bianca era tão
educada que soava fofa até quando queria parecer rude.

— Parece perigoso ficar sozinha em uma ilha com alguém que praticamente me raptou
no primeiro encontro.

Eu não a podia julgar por ainda estar pensando aquilo de mim e tentei parecer um cara
confiável.

— Vão ter uns dois ou três empregados com a gente na casa e se isso te deixar mais
tranquila, você pode convidar a sua colega de quarto para nos acompanhar no passeio.

Eu não queria que a amiga estivesse entre nós naquilo que eu planejava ser uma viagem
romântica a dois, mas se aquilo a fizesse confiar mais em mim, eu não me oporia. A voz
no fundo da ligação tornou a ecoar e as palavras “diz a ele que eu não posso, que tenho
compromisso” foram nítidas. Eu ri.

— A Cela tem um compromisso com um boy, ela não vai poder ir.

— Então, se vamos ser só nós dois, prometo que farei de tudo para que se sinta
confortável. Se algo não estiver do seu agrado por lá, eu te trago de volta para São Paulo
na mesma hora. Fica melhor assim?

Ela concordou e no dia seguinte, estávamos embarcando para Ilhabela.

O passeio de iate pela costa foi um dos momentos mais divertidos entre nós dois e, pela
primeira vez, Bianca pareceu relaxada ao meu lado. Ela parecia ter decidido deixar para
trás toda a cisma que tinha comigo desde que me conhecera e começou a se abrir mais
comigo. Um dos assuntos que mais tratamos foi família e a garota me contou com um
intenso brilho no olhar sobre os seus três irmãos, Caíque, Diogo e Aline.

Caíque era um atleta profissional que tinha sido contratado há pouco tempo por um time
italiano e que estava jogando aquela temporada na Europa junto a estrelas do futebol de
vários pontos do mundo. A menina enchia a boca para falar do irmão mais velho e
parecia o admirar com todas as suas forças, de uma maneira muito particular.
— O Íque é o meu orgulho. Eu morro de saudades dele, mas só de pensar que está lá
realizando o sonho de infância, jogando futebol no maior celeiro de astros do mundo, eu
me encho de alegria por ele.

Diogo e Aline eram mais novos que ela e ainda estavam cursando o ensino médio. Ele
ainda não havia escolhido um rumo para a vida, mas a caçula também era atleta e estava
jogando vôlei profissionalmente em um time de Barueri, na região metropolitana de São
Paulo.

— E você não quis seguir a vida de esportista como os seus irmãos?

Estávamos passeando pela costa de uma das praias da ilha aquele momento e o sol ardia
a quase trinta e cinco graus sobre nós. Fazia um dia especialmente lindo no litoral e ela
me acompanhava na cabine, vestindo um biquíni branco no busto e uma canga em torno
da cintura.

— Eu joguei vôlei no ensino médio — respondeu —, inclusive, eu e a Aline fomos


treinadas pela mesma professora, mas eu já estava ficando velha para entrar no esporte.
Com dezessete anos, sabia que não teria muitas chances de iniciar carreira em nenhum
clube e, depois, eu tinha pegado gosto pela moda. Achava que valia a pena tentar uma
carreira de modelo fotográfica.

Por meio do seu celular, Bianca me mostrou algumas das fotos que tinha feito para um
estúdio chamado Infinite em que posava de biquíni com a irmã caçula e dava para se
dizer que a genética da família Ferreti era incrível. Aline era uma adolescente belíssima
de cabelos escuros e corpo esguio, bastante diferente da irmã, mas igualmente linda.

— Que bom que escolheu essa carreira. De outro modo, nós dois não teríamos nos
encontrado naquele Salão do Automóvel.

Ela sorriu enquanto voltava a bloquear a tela do celular.

— Com certeza não.

Algum tempo depois daquela conversa, tentei uma abordagem mais direta para dizer
que estava realmente bastante atraído por Bianca e ela se permitiu um beijo. Tinha
lábios carnudos e doces. Aquele primeiro contato foi extremamente prazeroso.
Estávamos começando a nos entender.
Capítulo 55 – Beto (PARTE 3)

O PASSEIO PELA COSTA após conhecermos a guesthouse dos Suares estava sendo
perfeito, até o momento que, de dentro da cabine do iate de cinquenta e dois pés, ela e
eu avistamos uma lancha ancorada a uns cinco quilômetros da praia mais próxima com
quatro passageiros a bordo. Diminuí a velocidade com o intuito de evitar um acidente e
também para cumprimentar as pessoas da outra embarcação, mas quando me aproximei
o bastante, reconheci duas das três moças no interior daquela Bayliner 310 Cruiser
cabinada.

Uma das passageiras da embarcação era Janete Castilho, minha ex-namorada e a filha
de Renato Castilho, o causador de todos os problemas que a Suares & Castilho vinha
enfrentando ultimamente. A outra garota era Carina Monterey, a filha caçula do CEO da
Construtora Monterey, a principal rival da nossa empresa e uma das mais prejudicadas
pelas ações de Renato. Eu nem conseguia acreditar, mas no instante seguinte, fui
obrigado a desligar o motor e falar com aquelas pessoas. Foi um momento bastante
constrangedor.

Após o encontro por acaso em alto-mar, Bianca e eu fomos convidados a nos juntar aos
amigos em uma casa de praia que ficava próxima, e lá, descobri que havia mais em
comum entre todos nós do que eu supunha. Carina tinha sido amiga de classe de Bianca
durante o ensino médio e as duas se conheciam há muitos anos, o que tinha reforçado
uma ligação quase familiar entre os Monterey e os Ferreti. O outro casal de irmãos que
as acompanhava eram Maxwell e Rafaela Albuquerque, filhos de Otto Albuquerque, o
braço-direito de Fausto Monterey — o pai de Carina — dentro da construtora que
levava o nome da família.

Em meio ao bate-papo descompromissado e ao jantar oferecido a nós por eles, não


demorei a entender que a minha ex não havia contado nada sobre a espionagem feita por
Renato Castilho há alguns meses na construtora do pai de Carina e que a menina
ignorava completamente aquele fato. Eu tinha conhecido Carina e o seu irmão mais
velho, o Rodrigo, quando ainda éramos adolescentes e numa época em que o meu pai e
o deles eram sócios na Construtora Monterey. Uma briga feia entre os dois os colocou
em lados opostos e, depois disso, o senhor João preferiu unir forças com os Castilho.

Aquela intrincada teia de relacionamentos só se tornava ainda mais enrolada pelo fato
de que Janete e eu havíamos nos relacionado brevemente depois que a conheci nos
corredores da Suares & Castilho31. Eu tinha ficado muito atraído por sua beleza morena
e fiz de tudo para deixá-la igualmente interessada por mim. Nós namoramos por um
tempo e fomos muito felizes juntos, até que ela decidiu terminar tudo após um final de
semana na mesma guesthouse onde eu agora estava hospedado. Ela nunca me disse o
motivo de ter posto um ponto final em nosso namoro, mas eu sabia que tinha a ver com
a minha irmã Beatriz e o ciúme doentio que ela sentia de mim.

31
Os dois se conheceram em Desejos 35 – A Herdeira Rebelde
Quando voltamos para o mar em meu iate, Bianca me questionou se havia acontecido
algo entre mim e Janete. Segundo ela, a tensão entre nós dois era óbvia e eu acabei
sendo sincero com a menina, contando sobre a relação conturbada que havia tido com a
herdeira dos Castilho. Depois disso, voltamos quase em total silêncio para a casa de
praia e ao encarar aquele olhar decepcionado em seu rosto, temi que ela estivesse
incomodada depois do nosso encontro com uma das minhas ex-namoradas e que agora
me achasse um promíscuo.

Aquela sensação de incômodo se desfez algum tempo depois de chegarmos à casa e,


após conversarmos animadamente até de madrugada, nós fizemos amor sobre a cama de
casal em meu quarto. Bianca era uma das mulheres mais maravilhosas que eu já tinha
tido o prazer de dividir os meus lençóis e estava verdadeiramente encantado.

No dia seguinte, na segunda-feira pré-Carnaval, eu mandei mensagem em seu celular e


pedi que ela olhasse pela janela do apartamento na Vila Mariana. Bianca não sabia bem
o que esperar, mas quando o seu rosto lindo surgiu entre as cortinas do quinto andar do
prédio, ela pareceu boquiaberta.

— Eu não acredito! Você comprou o carro da exposição? — Ela me mandou por


mensagem de áudio.

— Desça aqui para conversarmos melhor. — respondi, enquanto esperava por ela
encostado no Koenigsegg Agera vermelho de mil trezentos e quarenta e um cavalos de
potência. Aquele tinha sido o mesmo carro que ela havia ajudado a expor durante o
Salão do Automóvel onde nos conhecemos e achava justo levá-la para dar uma volta
naquela máquina.

— Minha nossa! Eu… Eu nem acredito… é incrível!

Eu não deixei que ela recusasse o meu convite para passear de Agera só porque, em
suas palavras, não estava apresentável. Bianca estava curtindo uma folga em casa, por
isso, estava usando uma blusinha caída no ombro e um short de malha simples embaixo.
Calçava uma sandália de dedo quando se sentou no banco do passageiro e os cabelos
loiros estavam presos num coque.

— Se bem me lembro, foi você quem me mostrou as razões para querer fazer um test
drive com essa máquina aqui.

Sorri, dando um tapinha no volante. Os demais motoristas abaixavam os vidros e


arregalavam os olhos enquanto eu passava dirigindo o modelo sueco pelas ruas da Vila
Mariana. Não era uma das visões mais corriqueiras por aquela bandas um carro que
valia mais de cinco milhões.

— Seu doido! Você comprou esse carro?

Ela estava boquiaberta ao meu lado.

— Conversei com o gerente da Diamond Motors e o convenci a me deixar fazer um test


drive antes de me decidir pela compra. Ainda não tenho nenhum esportivo vermelho na
minha coleção e achei que esse Agera ficaria bonito entre os meus Ferraris e os meus
Lamborghinis.

Ela riu nervosamente sem saber se o que eu dizia era verdade ou não, mas depois que
relaxou, aproveitou bastante o nosso passeio. Estava se sentindo bastante eufórica em
me acompanhar aquela manhã e eu a levei de carro até o meu apartamento em
Interlagos. Depois de tomar um vinho comigo, aceitou me fazer companhia também em
meu quarto e voltamos a transar sobre os meus lençóis de seda egípcia. Seja por termos
agora maior intimidade ou porque o cheiro do Agera novo a havia mesmo deixado
muito excitada, aquela tarde de sexo foi ainda mais fantástica que a primeira e Bianca se
soltou bem mais, mostrando que, afinal, ela não era a donzela tímida que eu estava
começando a suspeitar que fosse.

Algum tempo depois, estávamos repousando nus sobre a cama ouvindo uma playlist
sensual no sistema de som da casa quando ela se aconchegou em meu peito. Ficou me
fazendo um carinho próximo do mamilo com os dedos finos e sua voz soou
comprimida.

— Você não está querendo me comprar com esse carro de luxo, o iate, a casa de praia
chique e todas essas coisas, não é, Beto?

Eu sabia que Bianca descendia de uma família de classe média baixa em Cotia e que ela
não estava acostumada àquela vida de riqueza e ostentação. Mesmo frequentando a casa
dos Monterey, que em nível de poder aquisitivo quase se equiparavam aos Suares, eu
sentia que ela ainda trazia consigo muito da sua origem humilde e que aquele receio de
estar sendo comprada por ser menos favorecida era legítimo. Fiz uma carícia em seus
cabelos e desviei os olhos do seu quadril sinuoso um minuto.

— Eu estou verdadeiramente interessado em você, Bianca. Os passeios de carro, as


voltas de barco e os jantares nada mais são do que tentativas minhas de lhe gerar
simpatia por mim. Eu não sei agir de outra forma além de tentar cativar as pessoas que
admiro, mas se tiver achando exagero da minha parte, a gente passa a se encontrar
apenas em sorveterias, praças de alimentação lotadas de shopping…

Ela deu um risinho e voltou a enfiar a cara em meu peito. Enquanto me fazia carinho no
peito, voltou a dizer:

— É que nunca ninguém tão importante quanto você enxergou nada demais em mim.
Eu fico com medo que você esteja me enganando dizendo essas coisas bonitas e
exibindo a sua riqueza só pra me ter na cama de vez em quando. Isso me faria muito
mal. Eu não sou esse tipo de mulher.

Beijei-lhe o topo da cabeça e com o coração acelerado, repeti o que já havia dito a ela
em nosso primeiro encontro:

— Eu não sabia o que era se sentir apaixonado por alguém logo à primeira vista, mas
quando te olhei, percebi na mesma hora que tinha encontrado alguém muito especial,
alguém que eu ia querer ao meu lado para o resto da vida.
Bianca se virou de bruços sobre mim e os seus olhos dourados estavam marejados
quando ela me encarou.

— Não brinca assim comigo — pediu. —, eu não quero acabar magoada ao descobrir
que tudo não passou de um capricho do filho do milionário querendo enganar a pobre
plebeia.

Deslizei o polegar em seu rosto e mais uma vez os seus olhos brilharam intensos.

— Confia em mim. Eu não faria isso com alguém tão especial quanto você. Os nossos
encontros serviram para me mostrar que, além de toda a sua beleza, existe uma alma
ainda mais luminosa e bonita dentro de você. Foi isso que me encantou à primeira vista
e não somente esse seu corpo extremamente cheiroso — e eu senti o cheiro da sua pele
mais de perto, me aproximando do seu ombro esquerdo —, macio e gostoso.

Ela ficou enrubescida com os elogios e após aproveitarmos mais alguns instantes de
carinho terno mútuo, nós voltamos a nos entregar ao prazer.

Querendo provar à Bianca que eu queria mais com ela do que uma companhia sexual,
na semana seguinte ao test drive com o Koenigsegg Agera, marcamos um jantar para
que ela me apresentasse à parte de sua família e foi então que eu conheci a dona Edna, o
senhor Francisco e o irmão dela, o Diogo. Eu tinha reservado uma mesa numa das
cantinas italianas mais conceituadas da Santa Cecília, na região central de São Paulo, e
tinha botado o Félix a serviço deles para conduzi-los da sua casa em Cotia até o local.

A reunião foi muito animada e me senti envolvido por um clima familiar acolhedor que
nunca antes tinha experimentado na vida, principalmente em minha própria casa, com
toda a rigidez que havia sido criado por João e Maria.

Edna e Francisco formavam uma dupla imbatível no humor caseiro e eram dos dois a
maior parte dos comentários espirituosos sobre os diversos temas que abordamos à
mesa, de culinária, passando por corretagem, seguro de vida e até futebol, uma das
paixões dos Ferreti.

— Você torce pra que time, Roberto? — Me perguntou o garoto Diogo, tentando se
enturmar. Estávamos aproveitando a sobremesa e um saboroso canolli tinha sido
servido há pouco tempo.

— Eu não sou muito de acompanhar futebol, Diogo, mas gosto muito de basquete. Uma
vez, assisti a uma partida dos Lakers do Kobe Bryant em pleno Staples Center. Foi
bastante mágico.

O garoto pareceu levemente decepcionado, mas na sequência, voltou a falar de futebol e


a idolatrar o irmão mais velho. Sabia dizer de cabeça cada um dos jogos que ele já havia
feito defendendo as cores do Inter de Milão, quantos chutes ao gol ele havia dado e
quantas assistências. Assim como os demais membros da família, Diogo tinha Caíque
como um verdadeiro ídolo e aquilo tinha me dado uma ideia.

— Seria bacana se fossemos assistir a um jogo do Caíque todos juntos…


Diogo me lançou um olhar ressabiado, depois, encarou os pais e a irmã ao meu lado. O
seu Francisco achou que eu estivesse confuso e completou:

— Você sabe que o time do Caíque é italiano e que ele atua principalmente na Europa,
não sabe?

Acenei que sim limpando a boca num guardanapo. Bianca estava me encarando com os
olhos arregalados.

— É exatamente disso que estou falando. Não seria divertido fazermos uma viagem até
a Itália na véspera de alguma partida do Inter para assistirmos ao Caíque jogar?

Bianca tinha ficado agitada e segurou o meu braço.

— Beto, não precisa…

A interrompi e completei:

— O meu pai tem um jatinho particular. Podemos combinar tudo antes. A gente compra
os ingressos e fazemos uma visita à Itália. Conheço muitos lugares por lá, incluindo
hotéis e hospedagens. Não seria nada complicado. Se vocês quiserem, podemos ir ainda
esse mês enquanto a Copa da Itália está rolando por lá. Tenho certeza que deve ter
algum jogo que possamos assistir no estádio.

Eu tinha sentido que os quatro Ferreti tinham ficado extremamente animados com a
possibilidade de visitarem a terra onde o filho mais velho estava jogando futebol e foi
muito bom proporcionar a eles aquele momento de alegria. Bianca continuou ao meu
lado dizendo que eu não precisava fazer aquilo e que era um exagero gastar dinheiro
com uma viagem internacional para ela e a sua família, mas eu estava mais do que
decidido a dar aquele presente a eles.

No fim da noite, bebemos um vinho para comemorar a nossa futura viagem e, saindo
dali, eu já queria começar a planejar todos os pormenores que viabilizariam aquela ida à
Europa. Era a primeira vez que via Bianca sorrir daquela maneira tão relaxada e
despojada ao meu lado e foi muito prazeroso vê-la tão feliz. Eu estava cada dia mais
encantado por aquela moça e queria muito que aquela adoração fosse recíproca. No
caminho em que estava a nossa relação, aquilo não parecia que ia demorar.
Capítulo 56 – Rodrigo

EU NÃO TINHA CONTADO NO RELÓGIO, mas imaginava que tínhamos transado


por mais de duas horas consecutivas sobre aquela cama. Sentia os músculos das pernas
doloridos e as minhas costas estralavam cada vez que me mexia sobre o colchão.

Carla estava deitada ao meu lado. A pele suada, os cabelos lisos bagunçados e um
tremendo sorriso de satisfação no rosto bonito. O seu braço direito envolvia o meu
abdômen e daquela posição, eu podia enxergar em detalhes aquela perfeição de bunda.
Grande, empinada e rija.

— Se ficar me olhando assim eu fico com vergonha!

Não dava para disfarçar. Ela era uma mulher magnificamente gostosa. Os meus olhos
estavam simplesmente pregados em seu corpo.

— É impossível não te olhar. Você é muito perfeita!

Carla ficou lisonjeada e apoiou os braços no colchão para alcançar a minha boca,
depositando nela um beijo molhado.

— Está com sede?

Respondi que sim. Ela me deu um sorriso, começou a se afastar e desceu da cama.
Demorou-se de costas para que eu a apreciasse ainda mais, depois, abaixou-se para
apanhar a minha camisa social e a vestiu. Agarrou o colarinho o colocando perto do
nariz e elogiou:

— Adoro esse Bleu de Chanel.

Saiu do quarto ajeitando os cabelos e desapareceu pela porta entreaberta. Ainda estava
com o gosto de Carla em minha língua, mas de repente, comecei a pensar no que estava
fazendo dentro daquele flat e nas pessoas que magoaria com aquele ímpeto louco.

Ela é uma mulher casada, tem uma filha adolescente… e a Natalie, o que eu estou
fazendo? Prometemos fidelidade um ao outro depois da nossa reconciliação e na
primeira oportunidade eu a traio com uma mulher comprometida?

Minha mente tinha entrado em parafuso e foi difícil parar de me sentir culpado enquanto
as horas passavam em meu relógio de pulso. Eu queria me levantar para sair dali, voltar
para a Nat, mas quando Carla veio andando de volta para a cama trazendo uma garrafa
d’água e uma lata de leite condensado aberta, o meu cérebro travou outra vez. Ela tinha
uma leveza nos movimentos difícil de explicar. Às vezes, era como se dançasse
enquanto andava. Os seus braços serpenteavam rente ao corpo como os de uma bailarina
ensaiando uma coreografia. Era bonito de se ver.
— Não tem muita coisa na geladeira porque faz tempo que não uso esse flat — E ela me
passou a garrafa de 500ml. —, só achei essa lata de leite condensado. Não sei você, mas
eu fiquei faminta depois da nossa brincadeira.

Feito uma menina, ela subiu sobre a cama sacudindo muito o colchão. Se ajoelhou a um
palmo de mim, enfiou dois dedos dentro da lata e meteu o leite na boca. Tomei um gole
exagerado da água. Estava gelada. Desceu rasgando o meu esôfago.

— Minhas pernas ainda estão tremendo… de onde você tira todo esse vigor?

Ela fez uma pausa para lamber um dos dedos, depois, desceu os olhos ao meio das
minhas pernas. Eu tinha coberto o meu pau agora mole com o lençol.

— Era só energia acumulada.

Os dedos voltaram para dentro da lata e ela me ofereceu um pouco do doce. Chupei com
delicadeza. Ela correu a língua em seus lábios, excitada.

— Quer dizer que o peguei num dia inspirado então?

Acenei que sim, saboreando o leite condensado dentro da boca.

— Que mulher de sorte eu sou!

Carla não hesitou em se aproximar do meu rosto com a língua exposta, instigando outro
beijo. Agarrei-a com os meus lábios e ficamos um tempo passando aquele gosto doce de
uma boca para a outra. Ela gemia enquanto me beijava e aquilo foi me deixando
excitado mais uma vez.

— Eu não aguento…

Abri o único botão da minha camisa chumbo que ela havia fechado e a joguei de lado.
Tomei-lhe a latinha das mãos, virei a sua borda em direção ao seu seio esquerdo e
comecei a derramar o leite devagar. Uma gota desceu mamilo abaixo, o restante não
conseguiu acompanhar. Enfiei a língua no caminho melado que o doce fizera e comecei
a chupar aquele monte firme. Os mamilos duros me disseram “oi”, eu retribuí o aceno
com lambidas.

Despejei o restante do leite condensado entre as pernas e as coxas de Carla e, em


seguida, perdi um bom tempo limpando toda a área, com cautela, sem demora. Ela as
tinha mantido afastada para mim, o que facilitou o meu serviço de limpeza. A moça
mantinha uma porção fina de pelinhos castanhos em seu púbis e foi divertido deixá-los
molhadinhos com leite para depois lambê-los.

— Ai, isso é muito bom!

O seu clitóris se inchava cada vez que o massageava com a língua, então, me alonguei
naquele exercício. Ela tinha grandes e pequenos lábios avermelhados que se abriam com
facilidade ao toque. Me meti entre as suas pernas com os olhos cravados nos dela lá de
baixo. O seu rosto transparecia um tesão indescritível e um gemido delicioso de
desespero escapava da sua garganta.

— Tô quase, tô quase… não para!

Quando Carla gozou, decidi presenteá-la com mais algumas horas de penetração. A
virei de costas, pedi que afastasse bem as pernas e voltei a cobri-la. A primeira vez que
entrou fez até um som molhado. Ela estava bastante lubrificada. Sua vagina engolia com
voracidade o meu pau. Era difícil até raciocinar uma vez dentro dela.

— Ah, como é gostosa! Quente… molhada…

O som oco das estocadas preencheu o quarto. Agarrei firme naquela bunda deliciosa e a
vi sacudindo, indo e vindo em minha direção. Flap! Flap! Flap!

Carla gemia e se contorcia. Enfiava a cara no lençol. Inclinava as costas. Me dava


olhadas carentes. Pedia, excitada:

— Não para, por favor!

A primeira transa tinha me ensinado que ela curtia bombadas mais fortes e sequenciais.
Quanto mais fortes e com menos intervalos, melhor. Não era fácil segurar aquele ritmo.
Flap! Flap! Flap!

— Oh, meu Deus! Que delícia! Oh, meu Deus!

A queen size era de ótima qualidade porque nem sequer tremia ante o nosso esforço. Os
sons do quarto eram apenas os de nossa transa. As coxas se batendo. Os meus grunhidos
pelo esforço contínuo das bombadas. Os gemidos e sussurros de Carla.

— Continua, por favor. Não para… oh, Meu Deus!

Depois daquela posição, ela começou a sentir um desconforto nas pernas que eu
mantive abertas quase num espacate e solícita, quis me pagar um boquete antes de
continuarmos a foder. Aquela mulher mamava feito uma loba faminta e mesmo que o
meu pau não coubesse inteiro em sua boca, ela não se cansava de tentar.

— Que delícia esse pau… como você é gostoso, menino!

Carla fazia uma tremenda cara de pervertida enquanto me chupava e era impossível não
ficar extremamente excitado vendo a cena. Fazia uma sequência longa de chupadas
mantendo até a metade na boca, depois, salivava na glande, passava a língua fazendo
barulho, percorria toda a extensão até os testículos, mamava um a um e retornava para
as chupadas longas. Era uma máquina.

Num determinado momento, subiu do meu pau direto para a minha boca e me beijou de
língua com intensidade, gemendo com a pele toda arrepiada. Nunca tinha visto ninguém
tão excitado.
Virou-se de costas em cima de mim na cama. Encaixou-se em meu pau e começou a
subir e descer. Subir e descer. Subir e descer. Flap! Cada vez que ela subia, eu grunhia.
Flap! Cada vez que ela descia com força, eu gemia. Flap! Carla foi embalando o ritmo e
quando eu percebi, ela estava sentando com fúria em cima, me castigando da melhor
maneira possível. Flap! Flap! Flap!

Eu estava realmente dominado e a visão daquela bunda maravilhosa engolindo o meu


pau era uma das mais lindas que eu já tinha visto.

Carla se virou de lado, olhando por sobre os ombros. Deu uma risadinha sacana, jogou
os cabelos e perguntou, me encarando:

— É assim que você gosta? É assim que te deixo maluco?

Assenti sem nem consegui verbalizar e passamos mais de uma hora naquela posição,
com Carla surrando o meu pau com a sua xota molhada. Ao término, os dois estavam
exaustos, mas nenhum de nós ousou reclamar de qualquer dor ou desconforto. Tinha
valido a pena e muito.

Perto da hora de deixarmos o flat pelo avançado da hora, Carla me agarrou por trás
enquanto eu calçava os meus sapatos na beirada da cama e começou a falar fininho em
meu ouvido. Ainda não tinha botado o vestido e estava só de calcinha. Estava bastante
cheirosa após o banho que havíamos tomado juntos e os seus cabelos estavam
molhados.

— Vamos ficar aqui essa noite? Eu ligo para a minha casa, você liga para a sua. A gente
inventa alguma desculpa, diz que o trabalho nos atrasou, sei lá…

Ela não estava pensando direito no assunto, mas estava visivelmente empolgada com a
ideia de passarmos aquela noite de sexta-feira juntos.

— Não podemos, Carla — disse, erguendo o tronco por um segundo com os botões da
camisa abertos —, as pessoas iriam desconfiar. O seu marido não iria acreditar que você
esteve fora todo esse tempo por causa de trabalho e a minha namorada certamente
saberia que eu saí da Monterey há muitas horas.

Natalie e Natasha, a secretária executiva da Monterey, tinham ficado amigas. Uma com
certeza informaria à outra sobre a minha agenda. Já seria bastante difícil explicar onde
eu estivera todo aquele tempo desde que saíra da construtora. Passar uma noite fora era
praticamente impossível.

— O meu marido também tem chegado tarde em casa. Ele nem vai pensar que estou
mentindo. Eu digo que dormi na casa de uma das minhas sócias, que fui para um
hotel… dane-se! Vamos ficar juntos, por favor!

De repente, ela tinha começado a demonstrar uma carência muito grande, algo que não
estava presente enquanto transávamos na cama. Sobre o lençol, ela tinha sido, na maior
parte do tempo, uma amante selvagem, mas agora estava parecendo uma gatinha
adestrada.
— Eu queria muito — disse ao me virar para ela, encarando os seus olhos castanhos —,
mas nós dois temos responsabilidades fora desse flat. Seria muito gostoso passar mais
algumas horas na sua companhia, mas nós não podemos.

Ela ficou decepcionada. Os seus braços em torno do meu pescoço foram perdendo força
e ela engatinhou na cama para alcançar o seu vestido. O passou pelos ombros, o ajeitou
em frente aos seios e desceu da cama. Me pediu ajuda para fechar o zíper em suas
costas.

— Quando vamos nos ver de novo?

Aquela era uma pergunta difícil de responder. Eu ainda não sabia o que tinha me levado
a cometer aquele ato de pura insensatez juvenil e tinha que admitir que ainda não estava
pensando em me deixar levar pelo tesão novamente. Mas então, lá estava aquela bunda
empinada bem na minha frente, ao alcance dos meus dedos. Subi o zíper em suas costas
devagar e não consegui tirar os olhos daquela perfeição arredondada por baixo do tecido
fino.

— Temos que combinar direitinho. Não podemos magoar as pessoas que confiam em
nós.

Carla se virou de frente erguendo uma das alças do vestido. Acariciou o meu rosto,
sentiu a minha barba por fazer e se curvou para me beijar. Não poupou língua e saliva.
Gemeu como sempre fazia. Passou a língua em meus lábios pouco antes de me soltar.
Disse, com certeza no olhar:

— Com o trato que eu te dei hoje, tenho certeza que vai ser logo.

Pouco depois, nós nos despedimos discretamente perto de um ponto de táxi onde ela me
deixou a duas quadras do flat. O motorista me cobrou bandeira dois para me levar dali
até a Vila Mariana e eu entrei pelo portão dos moradores do meu prédio assim que fui
autorizado pelo porteiro. Ao chegar no décimo andar, entrei com cautela no apartamento
e tratei de tirar logo a camisa que usava. Estava impregnada do perfume adocicado do
óleo hidratante de Carla e eu não queria que Natalie sentisse aquele cheiro. Andei
devagar até o nosso quarto e dava para ouvir o som ressonante dela dormindo lá de
dentro. Aproveitei para botar toda a roupa na máquina de lavar, depois, fui tomar um
banho. Embora tivesse sido uma noite extremamente prazerosa, eu ainda estava me
sentindo sujo.
Capítulo 57 – Rodrigo (PARTE 2)

NO DIA SEGUINTE, acordei depois das dez horas aproveitando que teria todo um
feriado prolongado pela frente. As atividades na construtora só voltariam após a Quarta-
Feira de Cinzas e o meu pai havia dado folga para todos os funcionários.

A Nat não estava na cama quando despertei e só fui encontrá-la na sala, onde ela assistia
a um comercial de lingerie espelhado do seu celular para a TV via bluetooth. Caminhei
ainda sonolento até o sofá e a sua atenção se desviou um segundo da tela para me
desejar bom dia. Me sentei próximo o bastante para sentir o perfume do seu creme
corporal e depositei um beijo em seu rosto.

— Reconhece alguém nesse comercial?

Quando olhei para a TV, o comercial de trinta segundos já tinha acabado e ela o botou
do início novamente através do touchscreen do celular em sua mão. Prestei a atenção e
vi uma modelo muito bonita de cabelos loiros, seios firmes e a pele bronzeada
artificialmente por algum efeito digital trajada em um sutiã de renda branco. Haviam
mais três moças atrás dela, cada uma com um tipo e uma cor de lingerie diferente. Os
meus olhos focaram na que Nat me apontou, a do canto direito.

— Não conhece a de lingerie preta de nenhum lugar?

A ficha caiu fazendo um som metálico dentro do meu cérebro e eu arregalei os olhos.
Era Bianca Ferreti, a amiga mais próxima da minha irmã Carina. Estava com os cabelos
alourados esvoaçantes pela ação de algum tipo de ventilador e o corpo sinuoso parecia
ainda mais curvilíneo dentro de uma lingerie com cinta-liga preta.

— É ela mesma? Num comercial de lingerie francesa?

Nat acenou que sim parecendo orgulhosa. Bianca tinha feito um teste de modelo
fotográfica no estúdio que ela dirigia há quase um ano e também tinha sido graças a
minha namorada que a menina havia sido contratada por uma agência de modelos
bastante influente no meio. Vê-la num comercial de uma marca internacional não
chegava a ser surpreendente, mas eu tinha que admitir que a sua carreira tinha guinado
bem rápido.

— Ela me mandou o link para o vídeo do comercial essa semana — disse Natalie —,
estava toda orgulhosa por posar ao lado da Vicky Novaes para uma marca superfamosa.
Eu fiquei realmente feliz por ela.

Encarei melhor a tal Vicky Novaes e senti que também a reconhecia, mas não
exatamente das passarelas em que a moça devia estar acostumada a desfilar. Eu
raramente prestava a atenção naquele tipo de evento e quase nunca tinha em mãos os
catálogos de fotos que Natalie tinha aos montes em casa por conta do seu trabalho como
fotógrafa.

— A gente conhece essa tal de Vicky?


Nat me olhou com a sobrancelha curvada, depois, deu uma risada gostosa.

— O mundo inteiro conhece a Vicky, tonto!

Pedi para que Nat pausasse o vídeo no momento que um close fechava no rosto da
modelo e foi então que me lembrei.

— Antes de ela ser modelo, Nat… está um pouco diferente daquela época, os cabelos
mais claros, talvez… mas é ela mesma. A Vicky é a Virgínia, a prima daquele meu
amigo de escola, o Wesley.

Na época de ensino médio, eu estudava num colégio do Jardim Paulista chamado


Santos Dumont e lá, eu fazia parte de uma turma que era formada por José “Yankee”,
Michael Mantovanni, César Macedo, Paulo Alves e Wesley do Vale.

Wesley era um dos mais nerds do grupo e já naquela época, ele era fissurado numa
prima que morava no interior chamada Virgínia. Eu costumava promover festinhas
colegiais na casa de praia dos meus pais no litoral norte e sempre convidava os meus
amigos, além dos seus agregados.

O César costumava carregar com ele a namorada Gina e a cunhada Lisa. O Paulo levava
a namorada Silmara. O Michael já era enrabichado pela Lúcia desde criança e o Wesley
nos apresentou à Virgínia na época. Tinha sido apenas um fim de semana, mas eu me
lembrava dela e tinha ficado bastante surpreso em saber que aquela garota da casa de
praia, toda sisuda e arrogante, tinha se tornado a top model de maior sucesso no Brasil e
exterior.

— Ah… — Nat fechou o cenho um instante ao meu lado quando lhe expliquei de onde
conhecia Virgínia. — Ela é outro dos seus casinhos de adolescente…

Dei risada e reforcei o que já tinha dito.

— Ela era toda arrogante e presunçosa. Apenas o Wesley e o Michael tinham mais
intimidade com ela por serem amigos e por serem as duas únicas pessoas que ela
conhecia na casa de praia além da Lúcia. A menina praticamente ignorava todo o resto,
inclusive eu que era o dono da casa.

Nat me lançou um olhar desconfiado não parecendo acreditar muito no que eu dizia,
mas soltou o vídeo mais uma vez. Estava agora prestando a atenção em Vicky.

— Não dá pra negar que ela é muito linda. Entendo totalmente o fascínio desse seu
amigo Wesley por ela.

Algum tempo depois, o assunto mudou de foco e a Nat contou que o seu irmão
Henrique faria uma live através de seu canal do Youtube de esportes radicais direto de
Florianópolis. O meu cunhado e amigo de adolescência estava em Santa Catarina para
cobrir um evento de surfe que aconteceria naquele fim de semana e eu preparei uma
salada de frutas na cozinha para que Nat e eu pudéssemos comer enquanto dávamos
uma olhada na transmissão.
O Circuito Nacional de Surfe acontecia todos os anos há mais de uma década e
acontecia sempre em uma praia diferente do Brasil. A competição já tinha consagrado
grandes nomes do esporte e preparava terreno — e os atletas — para campeonatos
internacionais como o Hang Loose Pro Contest, entre outros.

— O Rique falou que o Ação Radical vai ser um dos únicos canais de internet a cobrir o
CNS desse ano.

Além de irmã dele, Nat era uma grande fã de Henrique Schneider e ela ficou bastante
animada em acompanhar a transmissão feita por ele direto da praia Costeira do
Pirajubaé. Nós dois não saímos de frente da TV até que a cobertura dele se encerrasse e,
depois, ainda procuramos por canais de televisão que estivessem comentando sobre o
campeonato em tempo real. Eu entendia muito pouco de surfe, mas era divertido assistir
às manobras que os atletas executavam encarando paredões de ondas num cenário
brasileiro paradisíaco. Nat também se amarrava.

Aquela cisma pela minha escapada com Carla Alencar Castilho se diluiu um pouco ao
passar aquele dia inteiro na companhia da Natalie. Por incrível que pudesse parecer, ela
não tinha percebido o cheiro de mulher na roupa que botei na máquina de lavar assim
que cheguei e nem sequer havia percebido o quanto eu tinha voltado tarde para casa. Por
conta do seu trabalho no estúdio, ela também havia demorado para chegar e quando o
fez, tomou logo um banho e desabou na cama, cansada.

Eu tinha arranhões nas costas causados pelas unhas de Carla e por precaução, evitei tirar
a roupa perto de Nat até que as marcas desaparecessem. Volta e meia, os meus
pensamentos flutuavam para o rompante que havia nos forçado a nos atacar feito dois
animais famintos ainda à porta daquele flat e tudo que havíamos feito juntos em cima
daquela cama. Carla não era uma mulher fácil de esquecer e eu percebi que tinha ficado
mais mexido com ela do que devia.

No dia seguinte, após fazer amor com Nat à noite e no escuro por conta dos arranhões,
me levantei bem cedo e fui buscar na padaria da esquina os croissants que ela gostava
de comer no café da manhã. Bati um papo rápido com o porteiro Alcides em seu posto
sobre a temperatura, o aumento do valor do condomínio e sobre o filho mais velho dele
que tinha entrado na faculdade de Psicologia. Segui de volta ao décimo andar e preparei
a mesa do café. Quando ela se levantou, ficou até surpresa e não perdeu a chance de me
alfinetar, desconfiada:

— Homem quando resolve agradar a mulher desse jeito é porque aprontou alguma…

Engoli em seco, mas tentei me fingir de desentendido. Puxei a cadeira para que ela se
sentasse, lhe servi o suco natural que ela mais gostava e tratei de afastar aqueles
pensamentos da sua cabeça.

— Estou apenas sendo um namorado prestativo. É algum crime, por acaso?


Ela acenou que não, bem-humorada. Se ergueu para me dar um selinho e, depois,
tomamos café tranquilamente. Do lado de fora da janela fazia um dia muito bonito de
sol ameno. Perfeito para uma descida ao litoral.
Capítulo 58 – Rodrigo (PARTE 3)

A PRIMEIRA MENSAGEM de Carla chegou depois do meio-dia. Eu estava assistindo


a um documentário sobre crimes sem solução numa plataforma de streaming e Nat
preparava a mesa para o almoço na cozinha. Tínhamos pedido comida tailandesa num
restaurante a dois quilômetros do nosso prédio e, enquanto esperávamos o delivery, via
chamada de vídeo, ela tagarelava com a cunhada Valéria no Rio de Janeiro.

“Depois de sexta-feira, você me deixou querendo mais”.

Dei uma olhada para saber se a Nat ainda estava distraída na cozinha e digitei com
pressa:

— Foi tão bom assim? O seu marido não conseguiu apagar o seu fogo?

Eu tinha conhecido o marido dela muito rapidamente durante a festa de aniversário de


Kelly Ferraz, no último mês de setembro32. Nós três tínhamos sentado à mesa do bufê
após sermos apresentados por Rafaela Albuquerque, e o casal nem sabia que eu era filho
de Fausto Monterey na época. As nossas famílias eram rivais nos negócios há muitos
anos, mas conseguimos nos entrosar bem, apesar desse fato. Roque Alencar era um cara
ruivo, olhos verdes e porte atlético. Parecia o tipo perfeito para uma mulher fogosa
como ela. Era difícil imaginar que Carla não estivesse sendo satisfeita na cama.

“Nós transamos hoje de manhã. Foi bom. O problema é que eu só conseguia pensar em
você em cima de mim… me possuindo daquele jeito tão gostoso… me amando com
aquela cara de safado! ”.

Era para ser apenas uma noite, mas ela tinha gostado mais do que eu imaginava. O
problema é que eu também.

— Eu também fiz amor com a Natalie — digitei —, foi no escuro, com as luzes
apagadas por causa dos arranhões que você me deixou nas costas…

Ela respondeu com emojis gargalhando.

“Gosto de marcar o meu território. Você quis brincar com uma leoa faminta, acabou
saindo arranhado".

Ouvi Nat encerrando a chamada da cozinha e, naquele momento, o interfone tocou. O


nosso almoço tinha chegado. Larguei o meu celular e não voltei a falar com Carla
aquele dia. Por via das dúvidas, apaguei toda a conversa e exclui até o backup da
nuvem. Depois dos meus deslizes passados, Nat vivia desconfiada de mim e eu não
podia mais me dar ao luxo de vacilar.

Os meus pais não pretendiam usar a nossa casa de praia aquele feriado e, por conta
disso, comecei a planejar uma descida ao litoral de dois dias naquele Carnaval. Nem eu
e nem Nat éramos de folia, por isso, era meio que costume procurarmos locais de
32
Esse encontro rolou durante o capítulo “Carla” em Desejos 39 – Kelly faz anos
tranquilidade naquela época do ano. Para o meu azar, a turma que sempre me
acompanhava à praia quando descia para o litoral estava dispersa aquele ano e eu senti
meus planos de fazer uma reunião de amigos frustrada.

Minha irmã Carina estava acompanhando o namorado Max e a cunhada Rafaela num
passeio de barco, Henrique estava em Floripa, Valéria no Rio e mesmo as primas de
Nat, Claudia e Kelly, estavam ocupadas. Achei que seria uma boa opção irmos só nós
dois para curtirmos uma espécie de lua de mel, mas ela tinha outros planos.

— Não vai dar, amor — disse ela já se arrumando para sair de casa naquela segunda-
feira de manhã —, combinei com o Ricardo que o ajudaria com as fotos que o Infinite
foi contratado para fazer com a temática Carnaval de rua para uma matéria da Vogue
Brasil. Eu sei que ele dá conta sozinho, mas ele quer a minha opinião sobre ângulo,
iluminação… essas coisas…

Ricardo Félix era o sócio de Nat no estúdio de fotografia Infinite. Os dois eram amigos
desde a época da faculdade e, naquele período de afastamento entre eu e ela por conta
das minhas traições, os dois tinham se aproximado mais. Ele era bissexual assumido,
havia namorado um modelo de revista por vários anos, mas já tinha confessado
inúmeras vezes a ela que se sentia atraído desde as aulas de Design de Moda. Os dois se
pegaram mais de uma vez naqueles últimos meses e era bem difícil não sentir ciúmes,
mesmo levando em conta o meu recente caso com a Carla.

— Achei que não fosse trabalhar no feriado…

Ela disse um “pois é” meio despretensioso e apanhou a bolsa em cima do móvel no


quarto. Estava apressada e de passagem por mim à porta, depositou um beijo em minha
boca.

— Vou com o seu Jeep, amor. Se precisar sair, vai com a moto… só não esquece o
capacete.

Nat estava usando uma calça jeans apertada e uma regata de alças finas. Tinha feito uma
franja e estava com os cabelos loiros soltos. Passou um perfume que eu não conhecia e
foi difícil não imaginar milhões de situações que poderiam acontecer entre ela e o amigo
durante a tal sessão de fotos para a Vogue. Decidi engolir o meu ciúme e tentei me
concentrar em outras coisas. Se ela me traísse, estaria no seu direito.

De tarde, tomado pelo tédio de ficar trancado no apartamento, resolvi dar umas voltas
pelo bairro com a Honda Rebel 500 importada que eu havia comprado recentemente e
foi gostoso sentir o vento entrando pela viseira do meu capacete. Desde que havia
voltado a morar comigo, Natalie tinha vendido o seu antigo Ford Focus e estávamos
dividindo o Jeep Renegade até que ela comprasse outro carro. Desde sempre, ela odiava
dirigir, mas às vezes, por conta do seu trabalho que nem sempre acontecia na agência da
Vila Olímpia, ela precisava circular pela cidade, e ter um veículo em mãos era mais
prático.
De passagem pelos Jardins, visitei o Raphael Volfgang no duplex que ele morava no
bairro e ficamos trocando algumas ideias. O cara era o filho mais velho de Marcelo
Volfgang, o advogado em que meu pai havia confiado para gerir o departamento
jurídico da Construtora Monterey. Eu e ele éramos colegas há algum tempo e
conversamos sobre os contratos de alguns empreendimentos que a companhia assinaria
após o feriado. Naquele ínterim, ele aproveitou para me contar que estava embarcando
com a noiva naquela tarde para assistir aos desfiles das escolas de samba da Sapucaí, no
Rio, e me chamou para ir com os dois.

— Eu adoraria — respondi sinceramente —, mas a Natalie está trabalhando no feriado e


eu não poderia ir sem ela. Fica pra uma próxima vez.

Ainda no mesmo bairro, visitei os meus pais em nossa casa a duas quadras do duplex de
Raphael e os encontrei em uma reunião social animada com alguns vizinhos. Num raro
momento de descontração, Fausto e Marina estavam jogando Buraco com um casal de
amigos que eu conhecia desde criança, por isso, depois de cumprimentá-los
discretamente, eu não os quis atrapalhar mais. Dei um beijo em minha mãe,
cumprimentei a empregada que trabalhava na mansão dos Monterey há bem mais de
sete anos — e que me deixou roubar um bolinho de queijo que havia acabado de fritar
— depois, fui bater um papo com o Jaques, o motorista gente-boa que passava um pano
para mim e para os meus irmãos quando fugíamos de casa em nossas aventuras de
adolescência. Falamos sobre a minha Rebel e ele me contou que nunca pensou que fosse
me ver pilotando uma daquelas.

— Sempre achei que carros esportivos fossem mais a sua cara, seu Rodrigo.

O chofer da família era um sujeito alto e calvo que ostentava um bigode grosso no rosto
magro. Tinha uma voz empostada de locutor de rádio AM e, às vezes, eu tinha a
impressão que ele agia mais como o meu pai do que o próprio Fausto. Era sempre
comedido no que falava, mas demonstrava sempre um carinho muito grande por mim,
por Lucas e Carina, além de uma preocupação constante com o nosso bem-estar.

— Eu conheci um cliente da construtora que trabalhava com importação de veículos e


acabei ficando encantado com essa belezinha quando ele me mostrou o catálogo de
venda — e dei duas palmadas na carenagem da Honda preta, parado a meio metro dela
—, não resisti!

Jaques deu um sorriso meio amarelo e coçou a cabeça quase toda sem cabelos. Tinha
envelhecido prestando serviço ao meu pai, mas ainda parecia sentir prazer em trabalhar
ali.

— Só tenha cuidado quando andar com essa coisa por aí. O trânsito em São Paulo é uma
loucura, você sabe disso.

Eu aceitei o seu conselho e disse a ele que teria cuidado sempre ao pilotar.

A conversa com Jaques não se estendeu muito mais e, depois disso, parti dali de volta à
Vila Mariana. A tarde começava a ganhar os seus primeiros contornos mais escuros no
céu e alguns pontos da cidade já começavam a ficar totalmente tomados pelos blocos
carnavalescos de rua. Mesmo de moto, as vias preferenciais que iam dos Jardins até em
casa logo estariam bloqueadas e eu decidi acelerar para chegar logo. Não tinha achado a
companhia que queria encontrar em meu passeio e os meus pensamentos continuavam
indo e vindo da pele macia e do corpo sinuoso de Carla. Eu estava aficionado.
Capítulo 59 – Rodrigo (PARTE 4)

PERTO DAS SETE DA NOITE, o interfone da portaria tocou e eu tinha acabado de


sair do banho. Nat havia me mandado mensagem há pouco tempo dizendo que só
voltaria mais tarde e eu corri para atender.

— Tem duas moças aqui embaixo querendo falar com o senhor, seu Rodrigo.

Eu não estava esperando visitas e tentei adivinhar de quem se tratava antes de perguntar
ao Alcides pelo fone:

— Elas disseram o nome?

Eu ouvi do fundo da ligação duas vozes falando quase ao mesmo tempo os nomes
“Carla” e “Nana”. Fiquei entusiasmado na mesma hora e me perguntei mentalmente
como as duas tinham descoberto o meu endereço. Nana era uma das sócias de Carla no
estúdio A3 de design e arquitetura e eu a tinha conhecido há pouco tempo no andar que
ocupavam dentro de um prédio vizinho à Monterey.

— Pode pedir para que elas subam, Alcides. São duas amigas minhas.

Era bastante arriscado levar Carla para dentro do meu apartamento, ainda mais depois
de tudo que havia rolado entre nós dois, mas eu não estava pensando muito naquele
momento. Corri para vestir uma bermuda e uma camiseta no quarto, borrifei o meu Bleu
de Chanel no pescoço e calcei um chinelo. Quando a campainha tocou, eu já tinha
penteado os cabelos e as recebi à porta, curioso para saber o motivo da visita.

— Carla, Nana, que surpresa!

As duas estavam paramentadas para curtir a folia do carnaval e ambas me


cumprimentaram com bastante entusiasmo. Carla vestia uma blusa decotada sem alças
com um short bastante curto embaixo. Estava com as pernas e os braços besuntados de
um óleo dourado brilhante, o mesmo que a amiga ao seu lado exibia nos membros
desnudos. Nana era dona de seios fartos e o seu decote era hipnotizante.

— Viemos te chamar pra curtir a folia com a gente, Digo. Tem um bloco passando bem
aqui perto do seu prédio e eu pensei em vir pessoalmente te convidar.

Carla estava sorridente e o seu tom soava levemente embriagado, como se ela tivesse
passado a tarde toda bebendo. Sem hesitar, agarrou o meu braço e começou a fazer
menção de que queria me puxar para fora do apartamento.

— Não sabia que você gostava de Carnaval. — Me admirei.

— Eu amo. Todos os anos eu dou um jeito de deixar o Roque em casa e fujo com a
Mica para algum bloquinho. Ele é mais do Rock N’ Roll, não curte essas coisas…

Naquele instante, senti um estalo em minha cabeça. O nome “Mica” me era muito
familiar e só então é que eu relacionei as duas coisas.
— Mica? — perguntei, meio atabalhoado.

— É, a Micaela, a minha filha. Você a conheceu. Ela é amiga da Kelly, a priminha da


sua namorada…

Nana ficou me encarando como que pronta a avaliar a minha reação à menção à Natalie
e, por um instante, imaginei se Carla havia contado à sócia o que tinha rolado entre nós
dois recentemente. Eu ainda estava chocado em me dar conta que Carla e Mica eram
mãe e filha. Eu conhecia agora as duas intimamente e nem tinha me ligado àquele fato 33.

— A Mica também está por aqui?

Indaguei à Carla, mas foi Nana quem respondeu, encostada no batente da porta:

— Está sim. Deixamos ela com a nossa amiga Duda lá no bloco e ficamos de nos
encontrar de novo daqui a pouco.

Senti os dedos de Carla fazerem carinho em meu bíceps por cima da camiseta e ainda
com a voz pastosa, ela disse:

— Como acha que chegamos ao seu prédio? A Mica disse que sabia onde você morava
por causa da Kelly e me deu o endereço.

Não era bem por causa da Kelly que a Micaela sabia onde eu morava, mas duvido que
Carla soubesse disso. A menina tinha prometido que guardaria o nosso segredo e, apesar
de ela ser meio tresloucada, eu confiava naquela ruivinha.

— Eu adoraria ir com vocês pular carnaval, mas é que a minha namorada deve voltar
pra casa em breve…

Carla deu uma espiada para dentro do apê como se certificando que eu estava mesmo
sozinho ali.

— Passando o feriado solitário? Que desperdício…

Agora era certo que Nana sabia o que tinha rolado entre eu e Carla. A moça de cabelos
castanhos até soltou uma risadinha maliciosa ao ouvir a sócia dizer aquilo e as duas se
entreolharam, cúmplices.

— Você bem que podia então chamar a gente pra um drinque rápido, Digo — disse
Nana, cheia de confiança. —, ainda mais agora que eu sei o que acontece depois que
você convida uma garota para beber alguma coisa.

Aquela tinha sido certeira e senti o rosto enrubescer. Carla devia confiar muito na amiga
para se permitir contar que estava traindo o próprio marido comigo.

— Não seja indiscreta, Nana — repreendeu Carla aos risos. —, assim, ele vai achar que
viemos aqui só pra dar em cima dele!

33
Rodrigo conheceu Micaela mais intimamente em duas ocasiões, na mansão dos pais nos Jardins em
Desejos 25 – As memórias de Kelly e em Desejos 30.2 - Poliamor
Nana colocou o dedo indicador entre os lábios e me encarando com os seus olhos
castanhos, disse, atrevida:

— Não seria má ideia!

Aquilo estava fugindo do controle e a minha barriga começou a gelar só em pensar que
Natalie poderia chegar a qualquer momento. Ser flagrado com duas mulheres fogosas
vestindo roupas curtas à porta de casa seria algo que eu não conseguiria explicar de uma
maneira suficientemente convincente.

— Infelizmente, vou ter que recusar o convite para o bloco, meninas.

Ambas me olharam com ar levemente decepcionado, mas Carla continuou alisando o


meu braço. Estava incrivelmente gostosa naquele jeans apertado e a maquiagem
colorida no rosto acentuava ainda mais a sua beleza. Em meus melhores dias, eu teria
arrastado ela e a amiga para dentro do apê e teria me acabado com as duas.

— Tudo bem então. Valeu a tentativa. Seria muito bom dançar agarradinha com você
atrás do trio…

Carla nem estava tentando disfarçar mais os ataques. Ao dizer aquilo, correu as unhas
por meu peito, por cima da camisa, e senti algo se mexendo dentro da minha cueca.

— A gente se encontra num outro dia então. Agora que sei onde mora, posso te visitar
mais vezes.

Carla ficou na ponta dos pés para alcançar o meu rosto e me deu um beijo na boca. Senti
a sua língua passear pelos meus lábios numa tentativa de me excitar ainda mais, depois,
saiu em direção ao corredor. Nana provou-se tão atrevida quanto a sócia e fez o mesmo,
também me dando um selinho. Andaram juntas em direção ao elevador e eu as fiquei
assistindo ir embora, risonhas e entusiasmadas. Carla estava deliciosa naquele shortinho
e quando finalmente entrou no elevador e desapareceu rumo ao térreo, eu senti que
estava tendo uma ereção. Aquela tinha sido uma das visitas mais inusitadas e
provocantes que eu já havia recebido naquele apartamento. Seria difícil de esquecer.
Capítulo 60 – Frederico

ERA QUASE ONZE DA NOITE QUANDO ESTACIONEI o carro alugado em frente à


casa de dois andares que a família de Rachel possuía na Costeira do Pirajubaé e as luzes
da frente estavam acesas. Ela tinha me contado brevemente que estava hospedada
naquele espaçoso endereço de frente para o mar com a mãe e a amiga Anabela, e que o
seu pai havia viajado para Joinville à trabalho. Rosália, a mãe, era bem compreensiva
quanto às suas saídas de casa, mas a garota já estava ciente que levaria bronca pelo
avançado da hora.

— Vem, Ana. A minha mãe deve estar arrancando os cabelos pela nossa demora.

Rachel e a amiga se despediram rapidamente de mim antes de saírem estabanadas pela


porta de trás do SUV. O meu Henrique e eu estávamos usando um utilitário da Hyundai
em Florianópolis para nos locomover entre a pousada e os eventos que cobríamos na
praia da Costeira e o veículo era bem confortável. De trás do volante, vi as meninas
correrem apressadas até a porta de entrada da casa e, depois, desaparecerem lá dentro.
Antes de saber o que aconteceria com elas e a mãe de Rachel, eu arranquei e segui de
volta para a Porto Marítimo, a pousada. Ainda tinha trabalho a fazer aquela noite e o dia
seguinte seria de muito trabalho com a produção dos vídeos do Ação Radical. O duro
seria parar de pensar no sexo delicioso que havia feito com Rachel, principalmente,
porque o cheiro dela ainda estava impregnado em meu corpo.

Já era quase meia-noite quando a equipe de edição do canal do Youtube finalizou o


primeiro corte do vídeo que publicaríamos no horário do almoço do dia seguinte. Me
sentei diante do MacBook com o fone de ouvido posicionado para fazer a primeira
revisão e o Otacílio, o videomaker do grupo, ficou do meu lado para ouvir as minhas
possíveis sugestões.

— Dá uma corrigida nesse GC. Tu escreveu “sufista”… faltou o “r”, mané.

O Otacílio estava com a gente há quase um ano e, normalmente, não nos acompanhava
nas viagens que Henrique e eu fazíamos pelo Brasil produzindo conteúdo sobre esportes
radicais. Era formado em Design Gráfico, tinha especialização em um monte de
softwares de edição de imagens e vídeos, mas era meio disléxico. Eu sempre tinha o que
corrigir quando o cara escrevia alguma coisa na tela. Fora isso, era um excelente
profissional. Fazia milagre sentado em frente ao computador e os nossos vídeos só
tinham ganhado em qualidade depois que o havíamos contratado.

Ainda no quarto, assistindo outros trechos do vídeo sobre o Circuito Nacional de Surfe
que havíamos produzido, os outros membros da equipe estavam divididos em mais dois
notebooks. Um deles era o Marcão, que tínhamos apelidado de “o mago dos efeitos
visuais” por sua habilidade impressionante de produzir qualquer efeito especial para os
vídeos com o After Effects, e o outro era o Ramiro, cinegrafista especialista em imagens
aéreas.
O cara tinha trazido na bagagem dois drones equipados com câmeras de longo-alcance e
com eles, havia gravado imagens incríveis do primeiro dia do torneio de surfe. Graças
às suas filmagens, a live que havíamos produzido aquele dia havia alcançado um
número expressivo de views e muito do material que ele havia conseguido gravar estava
em edição naquele momento.

— Aí, lek! A tomada aérea com o Backside do Johann ficou sinistra! Saca só!

E o Ramiro virou o notebook para o Marcão que arregalou os olhos em direção à tela,
empolgadão com as imagens.

O nosso trabalho de edição varou a madrugada, mas quando amanheceu, já tínhamos


concluído boa parte daquilo que iria ao ar no domingo.

Depois da nossa transa, eu havia marcado de reencontrar com a Rachel na praia no dia
seguinte, perto do cordão de isolamento, e logo que pisei na areia com o Henrique e a
equipe, me dirigi pra lá. Ela e a amiga estavam eufóricas para acompanhar de perto o
segundo dia de competições, em grande parte, pelas exibições dos campeões Jonathan
Castilho e Iran Azevedo, e eu tinha prometido que as levaria para bem perto da área de
prova.

Rachel e Anabela estavam usando biquínis quando as encontrei na multidão e vê-las


daquele jeito foi o bastante para me deixar duro dentro do calção. Tinham corpos
adolescentes, mas eram ambas bastante gostosinhas, do tipo que faziam os olhos não
quererem sair de cima. Eu só era quatro anos mais velho que as duas, mas mesmo
assim, já me sentia um tiozão só por conta daqueles pensamentos pervertidos.

As primeiras baterias do domingo aconteceram por volta das duas da tarde. O mar não
estava favorável aquele dia e as primeiras ondas mais altas só começaram a aparecer em
torno daquele horário. Como estávamos fazendo a cobertura do evento para o canal do
Youtube, a Guarda Marítima responsável pelo isolamento do público permitiu que nós
passássemos pelo cordão e eu levei Rachel e Ana comigo, alegando que ambas eram
“assistentes”. O Henrique não parava de me zoar, dizendo que eu havia tomado um “chá
de buceta” da menina branquinha de cabelos castanhos, mas tentei mentalizar que só
estava atendendo a um pedido feito por ela, nada além disso.

A competição masculina acabou durando quase duas horas e tanto eu quanto o Ramiro
conseguimos fazer imagens muito boas da rivalidade em mar entre Castilho e Azevedo.
Os dois surfistas tinham chegado à Floripa com contas a acertar depois que o
pernambucano havia tirado o paulista do pódio do último Hang Loose Pro Contest que
havia acontecido na Costa do Sauípe e foi bonito de assistir um tentando superar o outro
na água com manobras iradas. A plateia que enchia as areias da Costeira foi ao delírio
enquanto os dois digladiavam sobre as ondas e, ao nosso lado, Rachel e Ana pareciam
ainda mais entusiasmadas por estarem vendo tudo tão de perto.

A vitória de Jonathan Castilho com uma pontuação expressiva acabou surpreendendo


boa parte dos espectadores que esperavam uma dobradinha de Iran Azevendo na praia
de Santa Catarina. O pernambucano, que era o atual número dezessete do ranking
mundial da WSL, estava numa fase muito boa da carreira e uma das suas manobras
iniciais tinha lhe concedido uma nota dez dos jurados logo de cara. Apesar disso, quem
levantou o caneco foi o Jonathan e deu pra ver na cara do surfista de São Paulo radicado
no Rio toda a felicidade em ter conseguido superar o seu maior rival enquanto subia no
degrau mais alto do pódio. Boatos de bastidores diziam que a rivalidade entre os dois
não acontecia só dentro do mar e que os caras não se bicavam fora dele também. Na
tradicional comemoração com o garrafão do champanhe, eles nem se olharam direito e
esguicharam a bebida só na plateia e no terceiro colocado, o catarinense Pietro Gama.

Por conta do canal Ação Radical, Henrique e eu tínhamos certa influência no meio
esportista e não foi difícil conseguir uma aproximação do staff de Jonathan após o
pódio. Meu cunhado bateu um papo com o empresário do surfista e foi o próprio
homem quem permitiu que fizéssemos uma entrevista rápida com o campeão em frente
à câmera. Rachel e Ana ficaram coladas em nós para aproveitarem a deixa e dava para
ver o fascínio em seu rosto só em estarem respirando o mesmo ar do vencedor do CNS.

— Qual a sensação de voltar ao topo do pódio depois de amargar aquele quarto lugar no
Hang Loose Pro Contest, Jonathan?

A pergunta de Henrique atingiu logo a ferida do cara, mas ele respondeu com
tranquilidade. A um metro e meio da minha câmera, passou as mãos nos cabelos loiros
compridos os tirando do rosto, depois, colocou as mãos na cintura, olhando em direção
ao meu cunhado fora do quadro.

— A sensação é de alívio — E deu um sorriso. —, eu acabei cometendo alguns erros lá


na Bahia que, graças a Deus, não se repetiram aqui. O mar estava bastante favorável e
eu consegui aquele Backside logo de início, o que me rendeu uma pontuação boa e me
deu tranquilidade pra continuar ousando. Acho que saio daqui feliz, com sensação de
dever cumprido.

Jonathan Castilho era conhecido como antipático fora das câmeras, mas todas as vezes
que aparecia diante delas, parecia o moleque mais carismático do mundo. Aquela era a
segunda vez que o entrevistávamos e, pelo menos com a gente, ele nunca tinha sido
pela-saco.

— Vai ter comemoração com o Ney Júnior desta vez?

Ele gargalhou depois da pergunta de Henrique, que estava extravasando todo o seu alto-
astral, um dos motivos que fazia do Ação Radical um sucesso. Muitas coisas negativas
podiam ser ditas do meu cunhado, menos que ele era um cara sem graça. Os assinantes
adoravam aquele jeitão despojado que ele passava nos nossos vídeos.

— Acho que desta vez não — respondeu Jonathan, rindo. —, ele está na Europa
agora… mas se ele assistir a esse vídeo, eu mando um abraço. Moleque é gente boa!

Ney Júnior era um dos jogadores de futebol brasileiros de maior destaque naquela
temporada europeia e ele havia aparecido de surpresa durante a festa de comemoração à
última vitória de Jonathan no WSL Latin America em Fernando de Noronha, há um ano.
Eu e Henrique também estávamos lá na ocasião e tinha sido bem louco posar para fotos
ao lado do maior jogador de futebol da atualidade34.

34
O jogador Ney Júnior deu uma palhinha na festa de comemoração do título do WSL Latin America de
Jonathan em Desejos 35 – A Herdeira Rebelde
Capítulo 61 – Frederico (PARTE 2)

PARA PAGAR A MINHA promessa, aproveitando que estávamos no mesmo ambiente,


Henrique e eu conseguimos fazer com que Rachel e Ana conhecessem Jonathan. Depois
de uma troca rápida de elogios e muita tietagem por parte de ambas as ninfetinhas, o
cara topou tirar fotos com as duas e eu registrei o momento com a minha câmera.
Embora elas quisessem alongar mais o encontro, foi necessário que deixássemos o
campeão seguir para os bastidores e, pouco depois, voltamos para a praia a fim de
acompanhar o restante da competição de surfe. Estava rolando as baterias femininas na
Costeira e eu precisava fazer mais imagens. As duas ficaram até o fim do dia nas nuvens
e não pararam mais de falar de o quanto Jonathan era lindo, cheiroso e blá, blá, blá. Deu
até inveja.

A noite já estava caindo sobre a cidade quando me juntei aos caras do Ação Radical na
van alugada estacionada na praia e, da nossa ilha de edição improvisada, deu para sacar
com apenas uma espiada no material produzido que tínhamos com certeza o nosso
melhor vídeo em mãos. Havíamos filmado a maior parte das cenas com qualidade 4K e
era mesmo impressionante o nível de profissionalismo que as tomadas aéreas dos
drones do Ramiro haviam concedido ao nosso conteúdo.

Algum tempo depois de checar se tudo tinha dado certo com os vídeos, o Henrique
começou a se preocupar em levar a molecada que nos acompanhava na viagem de volta
para a pousada. O jatinho que nos levaria para o Rio de Janeiro estaria aterrissando em
território catarinense ainda aquela noite e era preciso estar atento para que nenhum dos
garotos ficasse para trás, já que éramos responsáveis por eles.

Eu tinha dito que daria uma carona para a Rachel e a Anabela novamente como na noite
anterior e, para deixar o carro comigo antes de o devolvermos para a locadora, Henrique
voltou para a pousada com os caras do Ação Radical. No banco de trás, o assunto ainda
era o encontro com Jonathan Castilho e enquanto eu espiava as duas pelo espelho
superior, dava para ouvir os suspiros.

— Ai, nossa! Ele é tão gostoso! — disse a menina de pele escura e cabelo afro.

— Viu aquele tanquinho? Ui! Até me molhei! — respondeu Rachel, cheia de fogo.

Emiti um muxoxo reprovativo chamando a sua atenção e ela me encarou pelo retrovisor.

— O que a gente pode fazer? — Me indagou ela, com um sorriso malicioso. — O


Jonathan é uma delícia! Não tem como negar!

Logo em seguida, Anabela se inclinou atrás de mim e me alisou o ombro direito.

— Não esquece de nos mandar ainda hoje as fotos que fez pra gente, Fred. Quero postar
no meu Insta e matar as minhas amigas de inveja porque fiquei coladinha com o gostoso
do Jonathan Castilho!
Dei uma risada meio forçada e confirmei que enviaria, voltando a prestar a atenção na
estrada que conduzia até a casa de Rachel. Ela voltou a me encarar pelo espelho.

— Não fica com invejinha, Fred. Você também é gostosinho!

Eu já tinha me ligado há algum tempo que aquelas meninas só tinham se aproximado de


mim e de Henrique com o intuito claro de serem apresentadas aos atletas que estariam
perambulando pela Costeira naqueles dois dias de competições. Não era segredo de
ninguém que, enquanto Rachel havia dividido a cama comigo na noite anterior, a sua
amiga tinha se divertido no quarto ao lado com Johann Schneider — o primo de
quatorze anos do Henrique — e um dos amigos dele, o Pintinho. Embora não parecesse
à princípio, elas eram aquele tipo de tiete que topavam qualquer coisa para se aproximar
do seu ídolo, incluindo ir para a cama com alguém que não gostavam muito. Eu tinha
sido usado, mas não estava me importando muito com isso. O sexo com aquela novinha
tinha sido bom e eu repetiria sem pestanejar se houvesse a possibilidade.

— Não precisa me agradar, Rachel. Eu sei que não sou nenhum Jonathan Castilho!

Ela fez uma carinha de pena e, em seguida, se projetou do banco. Suas mãos seguraram
os meus ombros e me fizeram uma massagem enquanto falava com tom dengoso:

— Não tô querendo te agradar, bobinho. Você é sim gostosinho. Eu curti bastante


ontem à noite.

Era claro que não haviam segredos entre ela e Anabela. Os olhos da menina pretinha se
arregalaram ao seu lado e ela puxou Rachel antes de perguntar:

— Ele te pegou de jeito, miga?

Rachel deu uma risadinha e confirmou:

— Pegou. Fez direitinho. Não tenho do que reclamar!

Eu estava começando a ficar excitado ao volante. As duas agora me olhavam de um


jeito mais malicioso pelo espelho. Os mamilos de Ana estavam durinhos por baixo do
biquíni amarelo que usava e era difícil voltar a prestar a atenção na pista. Estávamos a
menos de um quilômetro da casa dos Vecchio, a família de Rachel.

— Assim eu fico com vontade de experimentar também!

Ana falou aquilo com a ponta do indicador entre os lábios carnudos, depois, deu um
sorriso que Rachel imitou, parecendo concordar. A estrada que levava até o endereço
que eu seguia era meio deserta e só tinha iluminação pública de um dos lados. Comecei
a analisar as possibilidades. Pensei no que Henrique havia me dito no sábado e aquela
frase começou a ecoar na minha cabeça.

“…ela parece ser bem novinha. Se for comer, come antes que seja tarde para ela voltar
pra casa ou você vai acabar tendo que lidar com algum pai bravo dando tiro por aí! ”.

— Não quer perder uns dez minutinhos vindo aqui atrás com a gente, Fred?
Rachel estava provocando e voltou a massagear o meu ombro por trás do banco.

— Aposto que você nunca brincou assim com duas ao mesmo tempo dentro de um carro
espaçoso que nem esse…

A voz de Ana agora estava impregnada de sensualidade. Voltei a encarar aqueles peitos
redondinhos pelo biquíni e frenei devagar o SUV. As risadinhas explodiram atrás de
mim e virei o meu pescoço para olhá-las de frente.

— Estão brincando com fogo…

Elas se entreolharam. Rachel meteu o dedo indicador na boca como a amiga e abriu um
sorriso largo. Tinha boca grande, do jeito que eu gostava.

— É bom se queimar de vez em quando.


Capítulo 62 – Frederico (PARTE 3)

DEPOIS DAQUILO, foi difícil me manter atrás do volante e saí apressado do carro para
me juntar a elas no banco traseiro. Provando que não estava fazendo apenas
provocações vazias e ainda com o fogo queimando por conta do encontro com Jonathan
Castilho, as duas me puxaram para cima ao mesmo tempo e a brincadeira que eu não
estava esperando começou.

— Aproveita, Fred, porque eu tô cheia de amor pra dar! — disse Ana, me cedendo o
pescoço e começando a esfregar o meu pau por cima da bermuda.

— Eu também! — disse Rachel, me puxando para ela e me deixando beijar a sua boca.

— Já que é assim, por que não aproveitar?

Quando disse aquilo, eu me sentei entre as duas e abaixei a minha roupa junto com a
cueca. Tinha ficado ereto com aquele papo anterior e não foi surpresa alguma me
mostrar totalmente em alerta para as duas.

— Hum… que duro!

Ana agarrou o meu pau com uma das mãos e começou a me estimular com seus dedos
finos. A trouxe para mais perto a agarrando pela cintura e a beijei com certo tesão. Ela
tinha lábios quentes e salivava muito durante o beijo. Sua pele era macia e ela cheirava
a pecado.

— Assim fico com ciúmes!

Rachel não se conteve em se debruçar em cima de mim, me tomando da amiga. Enfiou a


língua dentro da minha boca se mostrando mais atrevida do que na noite anterior e me
segurou o rosto com as duas mãos. Ela estava toda empinada e aproveitei para descer
uma das mãos em sua bundinha arrebitada, apertando forte. Não demorou para que eu
estivesse descendo a boca em seus peitos pequenos, já puxando o biquíni de lado.
Quando reparei, estava começando a ser chupado por Ana.

— Nossa, novinha… como você mama gostoso!

Anabela era realmente boa no boquete. Me encarou lá de baixo curtindo o elogio e foi aí
que se empenhou mais, descendo quase tudo até a garganta. Rachel desamarrou o
biquíni para que eu ficasse à vontade chupando as suas tetinhas e aproveitei para sugar
bem gostoso, uma a uma.

— Ai, Fred! Que delícia!

Quando Ana engoliu o meu pau quase todo e se engasgou, eu quase jorrei em sua boca e
precisei de uma pausa. Eu estava no banco de trás do carro com duas novinhas
deliciosas, não podia me dar ao luxo de estragar a diversão com uma gozada fora de
hora.
— Vem cá, vem!

Puxei Ana para cima e voltei a beijar aquela boca carnuda. Rachel veio logo em seguida
e trocamos saliva também. Aquilo estava ficando melhor do que eu esperava. Parecia
até um sonho, daqueles bem molhados e pervertidos.

Eu queria muito Rachel, mas quando a puxei para a penetração, ela se mostrou receosa.

— Sem camisinha não…

Ela ainda me perguntou se eu não tinha nenhuma ali comigo, mas as minhas reservas
tinham sido usadas na noite anterior.

— Faz comigo…

Anabela não pareceu compartilhar da preocupação da outra e já foi se posicionando de


frente, de modo que eu a pudesse penetrar com ela em meu colo. Ana era pequena, tinha
coxas grossas. Encurvada em meu colo, a sua cabeça nem tocava o teto do carro. Ficaria
confortável. Agarrei aquela bunda carnuda e lisa assim que ela subiu em cima, depois,
nos beijamos outra vez. Aos olhos de Rachel, que massageava de leve a própria vagina,
Ana puxou o biquíni de lado e me deixou escorregar o meu pau para dentro dela, com a
ressalva:

— Só não faz dentro de mim, tá?

No instante seguinte, vi aquela pretinha linda fechar os olhos e gemer com a primeira
estocada. Com uma rebolada, ela aceitou com facilidade o meu pau e deu para sentir
que aquela caverninha estava bem úmida, além de infernalmente quente. Sabendo bem o
que estava fazendo, a menina comprimia as paredes vaginais como que me mastigando
e mal me deixava sair de dentro.

— Caralho, que delícia!

De boca aberta e olhos fechados, Ana massageava o meu pau com a vagina e, quando se
mexia mais rápido, deixava descer até o talo, voltando a gemer.

— Isso… assim tá gostoso! Nossa!

Olhei para o lado e a Rachel nos observava com certa inveja. A chamei com um gesto e
ela veio para mais perto a fim de me beijar. Me ofereci então para massagear a sua
vagina e ela deixou, ficando bem perto de mim. Deslizei os meus dedos por dentro do
seu biquíni e encontrei um grelinho bastante úmido para eu brincar à vontade. A menina
se desmanchou no banco à minha esquerda. Eu estava realizando um sonho antigo.

Respeitando o pedido de Ana, interrompi o coito pouco antes de me esvair em porra


dentro dela e, para não desperdiçar nada, a garota topou me pagar um novo boquete. Em
instantes, assim que aquela língua encostou na minha glande, jorrei com vontade e se
mostrando mesmo experiente, a pretinha nem sequer fez careta, começando a engolir
tudo que saía de mim. Rachel, ao meu lado, já tinha gozado também e ficou assistindo a
amiga me chupando até que o meu pau amolecesse entre as pernas. Estávamos os três
satisfeitos e concordamos que estava ficando tarde e que precisávamos seguir caminho.

Com aquela sensação gostosa pós-coito, dirigi até a casa dos Vecchio com os músculos
das pernas meio molengas, mas sem nenhum incidente. Parei bem em frente ao portão e,
como na noite anterior, as luzes da frente estavam acesas para recepcionar as meninas.
A diferença é que a mãe de Rachel a estava esperando a poucos metros da entrada
daquela vez e fechou o cenho quando viu a filha chegar de carro com um estranho.

— Ih, fodeu! — disse Rachel, com cara preocupada no banco de trás. Se ajeitou rápido
colocando os cabelos escuros no lugar e arrumou a parte de cima do biquíni.

Ambas se despediram de mim com certa pressa e já foram descendo do carro. A mãe de
Rachel se precipitou escada abaixo e passou pelo portão. Tinha cabelos castanhos como
os da filha e a iluminação da casa mostrava que tinha traços muito semelhantes aos de
Rachel. Era impossível dizer que não eram parentes. Veio andando na direção do carro e
fez sinal para que eu descesse o vidro elétrico do lado do passageiro.

— Oi, boa noite.

Antes que eu respondesse, Rachel tentou puxar a mãe de lado para lhe explicar algo,
mas a mulher voltou logo a atenção para mim. Era muito bonita e devia ter uns trinta e
poucos anos.

— Posso saber quem é o senhor?

Rachel insistiu em responder por mim:

— Ele é um amigo que eu conheci na praia, mãe. Tem um canal do Youtube…

Rosália fez sinal para que Rachel se calasse. Anabela já tinha descido do carro e
esperava do lado de fora, a um metro do portão. Parecia tensa.

— Eu sou o Frederico. Conheci a Rachel ontem, no torneio de surfe. Ela pediu uma
carona até em casa e eu a trouxe aqui antes de embarcar de volta pro Rio.

Rosália fez uma cara que não estava acreditando em nada do que eu dizia. Inclinou o
corpo e ficou segurando a porta do carro como que fazendo menção de querer me puxar
pra fora a qualquer momento.

— Você tem quantos anos?

Titubeei em responder, mas saiu.

— Dezenove. Faço vinte em alguns meses.

Ela arqueou a sobrancelha grossa, depois, desviou os olhos em direção à Rachel.

— Você não é muito velho pra minha filha não?


Tentei argumentar que eu não havia feito nada demais com nenhuma das garotas, mas
ainda estava sentindo a cabeça do pau sensível e o cheiro da bucetinha de Rachel não
tinha saído dos meus dedos.

— Eu não…

Rachel me interrompeu:

— Para, mãe! A gente é só amigo. Ele vai voltar pro Rio daqui a pouco. Não é meu
namorado nem nada.

Rosália parecia desconfiada, mas começou a se afastar do SUV. Deu dois passos,
encarou Rachel, deu uma olhada para Anabela mais atrás, depois, se voltou para mim
uma última vez.

— Acho bom mesmo. O pai dela ia querer te matar se tivesse encostado um dedo na
Rachel.

Enquanto eu engolia em seco, Rachel apareceu na janela uma última vez agradecendo a
carona e, em seguida, começou a puxar a mãe de volta para a casa, além do portão. Da
escada, Anabela também acenou para mim, eu apertei a buzina uma vez me despedindo,
dei a volta em frente à casa e comecei a rumar em direção à pousada Porto Marítimo.
Tinha ficado bastante cagado com aquele flagra da mãe logo no finalzinho do rolê, mas
não dava para negar que tinha sido bastante excitante pegar aquelas duas novinhas no
banco de trás a caminho dali. Eu teria boas lembranças da minha estadia curta em Santa
Catarina e vários motivos para sonhar acordado com um possível retorno à ilha no voo
de volta para casa.
Capítulo 63 – Robson

ESTAVA FAZENDO UMA NOITE DE MUITO calor naquele sábado e eu não estava
conseguindo dormir em meu quarto. O apartamento que eu tinha alugado para morar
após o meu processo de divórcio com Regina não tinha sistema de ar-condicionado e eu
estava tendo que me virar com um ventilador que, naquele momento, girava meio
barulhento a uns três metros da cama.

Eu tinha deixado a janela aberta e a porta fechada sem a tranca. Ainda estava meio alto
pela quantidade de cerveja que havia ingerido no começo da noite e as risadinhas que
ecoavam pelo corredor, vindas do quarto ao lado, só facilitavam a insônia. A minha
filha Sofia estava com visita e sempre que ela e as amigas dormiam juntas nos finais de
semana a que eu tinha o direito de passar com a menina, elas custavam a dormir.
Costumavam fofocar e brincar até altas horas da noite e aquela não era uma exceção. Já
estava quase saindo para dar uma volta de carro, mas em meu estado etílico, era bem
capaz que eu enfiasse o meu Citroën C4 Pallas em algum poste.

A certa altura da noite, parei de ouvir Sofia e Kailane, a sua amiga, no cômodo vizinho
e, pouco depois, a sonolência começou a me abraçar devagar. Eu tinha feito algumas
abdominais e várias flexões na intenção de deixar o corpo cansado, o que começou a
fazer efeito. Uma brisa leve sacudia as cortinas na janela e o zunido do motor do
ventilador serviu para me fazer adormecer.

Eu fui despertado por uma sensação prazerosa que vinha dos testículos e chegava a
cabeça do meu pênis, como se tivesse recebendo uma massagem. Por um momento,
achei que tivesse tendo um daqueles sonhos realistas que a gente costuma ter de vez em
quando e abri um sorriso. Estava deitado relaxado só de cueca, como costumava dormir
sempre. A minha cama era larga e eu gostava de me esparramar em cima do lençol. Na
época de casado, eu tinha que me limitar ao espaço que Regina tracejava muito bem ao
meio do colchão e quase sempre era acordado com cotoveladas que ela me dava no
meio da noite por violar aquela divisão sagrada.

— Continua, amor…

As palavras meio que foram cuspidas da minha boca. Eu tinha acabado de despertar,
nem sabia aonde estava, quanto mais quando estava. Por um momento, era como se eu e
Regina tivéssemos reatado o nosso casamento e fosse ela ali a me agradar em cima da
cama. Quando abri os meus olhos, vi que não era. Dei um pulo para o lado.

— Kailane? O que você tá fazendo?

A amiga adolescente de Sofia tinha invadido o meu quarto e estava ali deitada com uma
das pernas flexionadas a poucos centímetros de distância de mim. Estava sorrindo e uma
das suas mãos pequenas iam e viam em cima do meu pau, por cima da cueca.

— Você pediu pra continuar, eu continuei…


Kailane era só alguns meses mais velha que a minha filha. Tinha passado a dormir em
meu apartamento para fazer companhia à Sofia quase todo final de semana e eu
considerava o seu pai, Hugo, um grande amigo. Aquela situação era no mínimo
imprópria.

— Por que está no meu quarto… cadê a Sofia?

Kailane continuou com um riso cheio de safadeza no rosto de menina. Se mexeu rápido
e engatinhou para me alcançar em cima da cama. Senti a sua mão subindo por minha
coxa e tentando se fechar em meus bagos outra vez. A impedi.

— A Sofy tá dormindo. Eu vi o jeito que ficou me olhando hoje o dia todo e achei que
tava carente, precisando de companhia à noite.

O jeito que eu tava olhando pra ela? Me perguntei aquilo mentalmente enquanto
impedia outra de suas investidas lá embaixo. Seja pela minha ereção noturna natural ou
pelos carinhos que ela tinha feito anteriormente, eu já estava duro e a cabeça já estava
alcançando o cós da cueca.

— Não é hora pra brincadeira, menina. Volta pro seu quarto antes que a Sofy acorde.

Kailane então desistiu de tentar pegar em meu pau e se ajoelhou na cama. A luz que
entrava pela janela permitia que eu visse em detalhes os contornos do seu corpo ali bem
perto do meu e ela chamou a minha atenção para os seus seios, que fez questão de
massagear por um instante, ainda com aquela cara de safada.

— Vai negar que fica me secando toda vez que eu durmo aqui, Robson? Pensa que eu
não percebo quando fica olhando os meus peitos por cima da blusa ou quando olha a
minha bunda quando eu passo por você?

Aquilo era quase natural. Ela e a amiga Nyele, a japonesinha que também nos visitava
de vez em quando, estavam sempre vestidas com roupas curtas e os meus olhos se
mexiam quase que por reflexo. Não encarava aquilo como maldade ou perversão…
embora fosse. Kailane tinha saliências bem evidentes e era uma pretinha bem sinuosa de
encher os olhos… eu só não queria ter que admitir aquilo.

— Não olho nada, Kailane, para de brincar. Você já se divertiu, agora é melhor voltar
pro quarto.

A mão delicada então deslizou dos seios redondos embaixo da regatinha do pijama até a
barriga e dali chegou bem depressa entre as pernas. A menina agora estava simulando
uma masturbação e aquilo quase me fez perder a cabeça.

— Olha sim! Aposto que tá aí agora doido pra me ver tirar a roupa na sua frente.

Até aquele momento eu não tinha pensado no assunto, mas comecei a considerar.

— Para com isso…


Kailane então meteu um dedo na boca e com a mão livre, desceu o shortinho leve de
dormir alguns centímetros abaixo da linha da cintura, se exibindo. Já dava para ver
aquele sulco que descia entre o quadril e a pelve. Era nítido que estava sem calcinha por
baixo. A danada tinha vindo preparada.

— Olha só a sua cara! Nem consegue disfarçar que tá ficando doido por mim!

Eu estava há algum tempo sem transar. A minha vida sexual costumava ser bastante
ativa mesmo quando Regina não se demonstrava a fim de ter relações comigo, mas
depois do divórcio — que em partes, tinha sido motivado pela minha infidelidade —, eu
tinha dado um tempo na esbórnia. Andava um pouco desanimado para a prática
costumeira de exercícios sexuais, mas tinha sido pego desprevenido pela invasão
noturna daquela ninfetinha de pele escura e cabelo afro armado.

— Vou falar pela última vez, Kailane…

Antes que eu tivesse a chance de lhe dar a ordem para sair do meu quarto mais uma vez,
a menina simplesmente veio para o meu lado e se projetou sobre mim pronta a me
beijar. Deu um risinho malicioso, apertou os meus bíceps e colocou os seus lábios nos
meus.

— Você não quer que eu saia. Eu sei o que você tá querendo.

Sem hesitar, a menina começou a passar a língua carnuda e úmida na minha boca.
Insistiu por alguns segundos, até que foi impossível resistir mais. Abri a minha boca e a
beijei em retribuição. Era afoita, salivava em excesso, mas sentir novamente aquele
calor corporal que só um bom beijo causava foi bom demais.

— Isso não tá certo…

Kailane se sentou aberta em meu colo e, enquanto me beijava, com os braços apertando
com força o meu pescoço, passou a esfregar a xota em meu pau. Ela sabia muito bem o
que estava fazendo e ficou me provocando até o fim da minha resistência. Naquele
momento, eu estava com o tesão a mil e nem acorrentado eu teria evitado de me agarrar
àquela pretinha.

— Eu sabia, eu sabia! Me pega, Robson. Você é tão gostoso, me pega com força, vai!

Por mais que eu visse no dia a dia da nossa convivência o quanto a amiga da minha filha
tinha crescido e agora possuía a sinuosidade de uma mulher mais velha, nunca tinha me
passado pela cabeça estar na cama com ela daquele jeito. Eu já tinha passado a sua
blusinha pelos seus ombros e estava chupando os seus peitos feito um animal faminto,
circundando os mamilos grandes com a língua e sugando as suas aréolas escuras
enquanto rosnava.

— Isso, Robson! Assim mesmo! Pode me chupar! É isso que eu quero! Chupa!

A ergui do meu colo um instante para me livrar da cueca e ela ficou arregalada um
segundo encarando o meu pau. Eu não tinha do que reclamar e era muito bem servido
esteticamente falando. Ela não tinha sido a única a se admirar ao ver meu brinquedo a
primeira vez.

— Minha nossa… É… É enorme!

Foi a minha vez de curvar os lábios num sorriso mais malicioso e, no instante seguinte,
estava forçando Kailane a se sentar novamente em cima, sentindo toda a minha rigidez
através do shortinho.

— Não devia ter me provocado desse jeito. Agora vai ter que aguentar.

Senti o corpo de Kailane ficando trêmulo de repente e a sua pele se arrepiou inteira
quando voltei a passar a língua em seus peitos redondos, subindo até o seu pescoço e
alcançando a sua boca. A beijei tirando o seu fôlego e ela me olhou um pouco assustada
quando lhe dei algum espaço. Estava ofegante e tinha começado a suar.

— Eu não imaginava te ver assim um dia, Robson…

Apertei as suas nádegas. A bunda suculenta já tinha engolido mais da metade do pijama.
Ela suspirou com a carícia.

— Tá com medo de mim?

Os olhos grandes me encararam um momento com ela em silêncio. Logo depois,


sacudiu a cabeça pra cima e pra baixo.

— Um pouquinho, mas é um medo gostoso.


Capítulo 64 – Robson (PARTE 2)

SEGUNDOS DEPOIS, eu estava despindo Kailane completamente e voltei a sentá-la


em cima de mim. Chupei dois dedos os enchendo de saliva, visitei o meio das suas
pernas e constatei que estava bastante úmida. Ela tinha pelos grandes no púbis e uma
vagina beiçuda e quente. Se tremeu toda quando a penetrei com meu médio uma, duas,
três vezes.

— Você vai gostar, relaxa.

Eu tinha assumido o controle e ela já não parecia mais tão atrevida. Estava com cara de
medo quando suspendi o seu quadril alguns centímetros acima do meu e depois a fiz
sentar, agora encaixando a minha glande dentro dela.

Os lábios grandes se abriram para me receber e o primeiro toque fez um som molhado.
A menina agora chegava a escorrer tal era o seu desejo por mim e aquilo facilitou o
serviço. Era apertada e quase virginal, devia ter sido inaugurada há pouco tempo.

Caralho, isso deixam as coisas ainda mais erradas, pensei, com 5% da minha
consciência ainda agindo em meu juízo normal.

— Tá doendo um pouquinho…

Kailane gemeu e cravou as unhas em meus ombros. A agarrei pela bunda a trazendo
mais para perto e mandei que afastasse mais as pernas. Apertando aquela maravilha
carnuda, comecei a me mexer de encontro a ela e o som da penetração passou a ecoar.
Eu não queria que Sofia acordasse naquele momento, mas simplesmente não conseguia
maneirar.

— Devagar, por favor…

Ignorei e, em vez de diminuir o ritmo, beijei a sua boca. Quase sufocando, ela se afastou
e fez cara de choro.

— Tá muito forte…

Dei uma segurada e desci a boca naqueles peitos durinhos. Fazia muito tempo que não
via um par como aquele na minha frente e queria aproveitar. Tirei de dentro, Kailane
massageou a vagina um pouco e vi o que ela estava precisando naquele momento.

— Deita e abre as pernas.

Por mais que estivesse lubrificada, a menina ainda era inexperiente e não estava
aguentando o ritmo a que eu estava acostumado. Um banho de língua naquelas horas
sempre resolvia e eu a deixei mais relaxada chupando aquela bucetinha de pelinhos
pretos. Enquanto desfilava a língua do seu cuzinho até o seu grelo, eu alisava as suas
coxas e dali a um tempo, a danada estava se contorcendo na cama de prazer. Abafava os
gemidos botando o meu travesseiro na boca e me olhava com o cenho fechado, quase
não acreditando que eu a estava fazendo gozar daquela maneira. O líquido transparente
agora escorria de dentro e eu lambuzei a minha cara com ele.

— Você é demais, Robson!

Experimentei novas posições na tentativa de fazê-la aguentar toda a pressão da


penetração e de quatro ela gostou mais. Ela tinha uma bunda grande e era extremamente
excitante me esforçar para meter dentro enquanto as minhas coxas se chocavam naquele
travesseiro macio de carne.

— Tão apertadinha… que tesão!

Depois daquela posição, a segurei por trás, deitado às suas costas e levantei uma das
suas pernas sobre o meu quadril. De ladinho ela também conseguia aguentar e não me
poupei de socar quase tudo, tirando dela não só gemidos como grunhidos de prazer.
Kailane era a garota daquela idade mais gostosa com quem eu já havia transado e era
impossível não querer apalpar o seu corpo inteiro durante a trepada. A certo ponto, o
medo de que machucasse passou e ela começou a sorrir, me encarando com os olhos
semicerrados, colocando a língua para fora para mostrar que estava adorando.

— Ai, como é gostoso! Como é gostoso!

Por mais que eu quisesse e ela também não se opusesse que eu finalizasse dentro — o
que era uma loucura —, acabei ejaculando fora e o esguicho espirrou entre as suas
coxas e o meu lençol, fazendo uma lambança em minha cama. Kailane deu uma
risadinha quando viu o que aconteceu e não pareceu se importar. Caí ofegante sobre o
colchão e ela veio se aninhar perto de mim. Fazia tempo que eu não gozava daquele
jeito e estava pra lá de satisfeito.

— Agora é melhor voltar para o quarto…

Disse aquilo ainda meio afônico e ela se agarrou mais a mim. Pôs a cabeça em meu
peito e ficou acariciando o meu abdômen. Estávamos suados. O cheiro que agora
exalava dela era o de puro cio feminino.

— Agora não. Deixa eu ficar mais um pouquinho aqui agarrada ao seu corpo gostoso.

A cidade estava silenciosa do lado de fora da janela e, do meu andar, quase nem dava
para ouvir direito o motor dos carros que ainda passeavam por aquela área da Vila
Guilherme de madrugada. Não havia qualquer sinal de vida no quarto de Sofia e eu só
tinha a agradecer que a nossa farra ali não havia acordado a minha filha.

O que ela pensaria de mim se descobrisse que eu broquei uma das suas melhores
amigas? Aquele pensamento me preocupava.

— Transar com você é como ir pra Lua e voltar… nossa!

Ela parecia genuinamente impressionada, mas aquilo nem poderia ser considerado um
elogio. Kailane era inexperiente e não devia ter feito sexo com nenhum outro cara da
minha idade para saber diferenciar as coisas. Assim que o tesão passou e eu realizei o
que realmente tinha acabado de acontecer ali, pensei numa das últimas coisas que tinha
dito ao Hugo pelo telefone, quando ele demonstrou certa preocupação de deixar que a
filha dormisse em meu apartamento mais uma vez.

Fica tranquilo que a sua filha estará em ótima companhia e totalmente segura.

Apesar de ser o cara mais carismático que eu conhecia, certamente, ele me mataria se
descobrisse o que eu havia tinha feito com Kailane aquela noite.

— Você já pegou alguma outra menina da minha idade, Robson?

A pergunta surgiu do nada e eu pensei um instante antes de responder. Depois do


divórcio, Regina havia me difamado para Sofia dizendo que eu andava transando com
algumas das minhas alunas da academia onde era personal trainer e na escola onde
dava aula de Educação Física. Era bem verdade que eu havia mesmo cometido deslizes
como aqueles ao longo dos últimos anos e que Sofia tinha descoberto da pior maneira
possível, eu só não sabia até que ponto a minha filha confiava nas amigas para lhes
confidenciar esse tipo de intimidade familiar e o que Kailane já podia saber ao meu
respeito.

— Por que quer saber?

Ela deu um risinho e me olhou com curiosidade.

— Não sei. Só queria saber se já tinha acontecido antes ou se eu sou especial por ter
sido a primeira…

Não é nem a décima primeira, pensei, de maneira canalha.

— Se for importante mesmo saber, você foi a minha primeira.

Ela pareceu duvidar, mas voltou a se aninhar em meu peito. Ficamos em silêncio um
instante e uma moto barulhenta passou lá embaixo, causando um som incômodo.

— E a Sofia? Você e ela nunca fizeram nada?

O meu coração disparou naquele momento e parei de fazer carinho nos cabelos macios
da garota. Ela percebeu que eu tinha ficado levemente alterado, mas completou assim
mesmo:

— Eu já ouvi histórias entre pais e filhas… tipo… Não é algo tão anormal. A Sofia é
linda… vocês ficam aqui nesse apartamento sozinhos, de repente…

Eu a interrompi antes que eu perdesse a minha paciência.

— A Sofia é uma criança e eu sou o pai dela. De onde você tirou uma ideia dessas?

Kailane se levantou com um olhar meio assustado no rosto. Parou um instante apenas
observando a minha expressão brava, depois respondeu:
— De lugar nenhum. Eu só fiquei curiosa…

Eu tinha ficado irritado com aquela insinuação, mas outra vez, a minha mente começou
a trabalhar criando imagens que eu não queria ver nem em sonhos.

“A Sofia é linda… vocês ficam aqui nesse apartamento sozinhos, de repente…”.

— Eu nunca faria nada com a Sofy… ela é um bebê…

Kailane então riu de maneira desdenhosa. Estava com o corpo apoiado a um dos braços
no colchão e os seios firmes continuavam à vista.

— Ela não é um bebê. Nem virgem mais ela é…

Uma das razões pelas quais eu e Regina havíamos nos separado era um vizinho do
bairro onde morávamos chamado Ralph Vecchio. A minha ex-esposa e esse cara tinham
começado a se relacionar pelas minhas costas enquanto eu trabalhava e, de alguma
maneira, o canalha tinha ficado muito próximo também da minha filha sem que Regina
soubesse. Assim como tinha seduzido a mãe, ele seduziu a filha e eu acreditava que
tinha sido com esse cara que a minha neném havia perdido a virgindade. O meu
estômago revirava todas as vezes que pensava nisso e tinha vontade de voltar a moer
aquela cara presunçosa de riquinho mimado de novo, de novo e de novo como tinha
feito da vez que descobri que estava sendo chifrado35.

— Não quero que fale mais nesse assunto, tá me ouvindo?

Kailane respeitou o meu pedido e, algum tempo depois, estava se vestindo para voltar
para o quarto da minha filha. Antes que ela saísse, fiz uma última recomendação, em
tom sério:

— Nem pense em contar para a Sofy o que aconteceu aqui essa noite, estamos
entendidos?

Ela acenou que sim e, pouco depois se foi, me deixando mergulhado em pensamentos
sujos e tormentosos.

35
Robson tentou acertar as contas com Ralph Vecchio fisicamente em Desejos 37 – Um Novo Sex-Point
Capítulo 65 – Robson (PARTE 3)

NO DIA SEGUINTE, me levantei bem antes das garotas apesar de ter dormido pouco e
fui até a padaria buscar o bolo de milho e os pães doces que Sofia gostava de comer no
café da manhã. Quando voltei, as duas já estavam acordadas na sala e as cumprimentei
de maneira casual, como sempre fazia. Kailane abriu um sorriso largo ao me ver e ficou
me olhando estranho, praticamente acusando o nosso segredo a quem quisesse perceber.
A minha filha estava com cara fechada e parecia não ter dormido bem.

— Como passou a noite, Sofy?

Ela me respondeu com um resmungo e considerei que fosse apenas efeito do sono.

Preparei o café e nos servi no balcão da cozinha americana que dividia a minha sala em
duas. Além dos doces que Sofia gostava, cortei um mamão para equilibrar a sua flora
intestinal e lhe preparei uma vitamina reforçada no liquidificador. Desde que ela havia
apresentado sintomas de gastrite, eu a estava ajudando a manter uma alimentação mais
saudável, coisa que Regina não estava mais prestando a atenção.

— Come o mamãozinho, filha. Tem fibra, é rico em Vitamina E, você tá precisando.

Ela estava mais calada que o normal e um frio na espinha começou a me tomar só em
imaginar que ela pudesse ter ouvido alguma coisa em meu quarto durante a noite ou que
tivesse percebido algo quando Kailane retornou para a sua cama de madrugada. A
minha filha era uma garota tímida e retraída na maioria das vezes, mas até para ela
aquele silêncio matinal estava um pouco demais.

Ainda assombrado pelas coisas absurdas que Kailane havia me perguntado depois da
nossa transa, de repente, os meus olhos fixaram no decote da blusinha do pijama de
Sofia e me vi reparando em seus seios pequenos. Aquilo me deixou automaticamente
culpado e quando desviei o olhar para Kailane, percebi que ela estava me encarando
com um sorrisinho pervertido na cara.

No meio da tarde de domingo, eu resolvi sair um pouco para correr pelo bairro e acabei
ficando de papo com alguns colegas que tinha conhecido há pouco tempo num bar de
esquina. Era véspera de feriado e as ruas da Vila Guilherme estavam enfeitadas para
receber um bloco que passaria por ali mais à tarde. Me lembrei que eu, Regina e Sofia
costumávamos frequentar o ginásio esportivo de Perdizes para curtir a folia na terça-
feira de Carnaval e cheguei a pensar em ligar para ela com o intuito de saber se aquele
ano minha mulher manteria a tradição. Desisti minutos depois de lembrar como tinha
sido a nossa última conversa por telefone, quando ela me falou da gastrite de Sofia: aos
gritos e palavrões.

No começo da noite, Hugo e a esposa Paula vieram buscar Kailane para levar a menina
a um bloco de rua que aconteceria na Freguesia do Ó, bairro onde a família Vieira
morava. O convite para que eu e a minha filha nos juntássemos a eles foi imediato, mas
Sofia não estava animada.
— Por que não vai com eles, amor? — perguntei, atenuando o meu tom de voz com
Hugo e Paula sentados em meu sofá, atentos à conversa. Naquele momento, Kailane
vestia a fantasia trazida pela mãe no quarto da minha filha. — Todos os anos você fica
toda animada pra pular carnaval. Por que agora é diferente?

— Não tô a fim, pai.

Havia dengo em excesso naquela resposta e achei que a recusa era por minha causa.
Paula ainda insistiu:

— Nós chamamos a Nyele também. Ela vai com o Ken e a Tomiko. Quase todos os
seus amigos da escola antiga vão estar lá, Sofia.

Ken e Tomiko eram os pais da menina Nyele. Assim como Hugo e Paula, eu os
conhecia das reuniões de pais em que frequentava na escola onde as meninas tinham
feito o ensino fundamental.

— Eu te levo, Sofy. Não tem problema. — falei, tentando fazê-la mudar de ideia, mas
novamente ela sacudiu a cabeça e respondeu que não estava a fim.

Algum tempo depois, Kailane saiu do quarto toda paramentada com uma roupa bastante
colorida, penacho na cabeça e plumas presas às costas. Parecia uma porta-bandeiras de
escola de samba.

— E aí, tô linda?

Ela disse aquilo olhando em minha direção antes de se voltar para os pais no sofá e eu
engoli em seco relembrando automaticamente a noite louca que havíamos tido juntos.
Estava difícil encarar Paula e Hugo depois do que tinha feito com a filha deles, mas fiz
o possível para que o casal não percebesse nada. O arrepio na espinha não passava e ele
só intensificava cada vez que aquela garota me olhava como se estivesse querendo me
comer com os olhos. Eu já estava quase arrependido do que tinha deixado acontecer,
mas agora era tarde demais.

Algum tempo depois da partida dos Vieira do meu apartamento, a Sofia voltou para o
quarto e não saiu mais de lá até bem perto das dez da noite. Eu tinha tomado um banho,
havia bebido algumas cervejas e estava assistindo a um filme na TV quando o celular
vibrou em cima da mesinha de centro. O display mostrava Regina se encarando no
espelho em uma selfie e eu me lembrava exatamente o momento em que ela havia tirado
aquela foto, no dia do casamento de uma das suas primas do interior de São Paulo.
Atendi.

— Oi, Regina.

Havia o som de música alta do outro lado, mas não era nenhuma marchinha de carnaval
ou qualquer samba-enredo que eu conhecesse.

— Tudo bem com a Sofia? Ela tá se alimentando bem?


Estava seca como sempre nos últimos meses. Só falava comigo quando queria saber da
nossa filha e mal me cumprimentava. Às vezes, eu sentia saudades dela. Do seu corpo
macio, do seu perfume adocicado, daquele sorriso lindo…

— Está sim. Abri exceção hoje no café da manhã porque ela gosta de comer um bolo de
milho que vende numa padaria aqui perto, mas na hora do almoço eu preparei só arroz
com legumes e verduras pra ela.

Ela fez um “uhum” e deu para ouvir melhor a música que estava tocando. Era um Rock,
tipo de som que há muito tempo ela não ouvia.

— Traz ela pra casa amanhã bem cedo. A noite quero ir com minha filha num bloco de
carnaval em Perdizes com uns amigos meus. Vamos no divertir um pouco.

Amigos? Que amigos? Ela tem amigos agora? pensei, um tanto enciumado. Regina
tinha ficado bastante caseira depois do casamento e raramente saía à noite, exceto na
minha companhia ou para visitar algum dos parentes que tinha em São Paulo.

— O Hugo e a Paula nos convidaram para um bloco na Freguesia do Ó, mas ela não
quis ir. — Informei casualmente. — Tava desanimada.

— Claro que ela não ia querer ir! — disse Regina, com tom arrogante. — Você ia ficar
controlando a menina a cada cinco minutos dizendo o que ela podia fazer, reclamando
da roupa dela, da maquiagem dela…

Regina agora me via como um ditador, alguém que tolhia cada movimento da Sofia,
algo que eu não achava que me enquadrava.

Eu nunca antes censurei a menina, muito menos quanto ao seu modo de vestir.

Assim que pensei aquilo, me lembrei que não era bem verdade. Desde que as suspeitas
de que ela não era mais virgem tinham começado, eu tinha passado a controlar as suas
redes sociais e morria de ciúmes quando a via sequer trocando olhares com qualquer ser
humano do sexo masculino na rua.

Droga! Será que virei mesmo esse ditador cruel? pensei, confuso.

— Tudo bem, Regina. Não vamos discutir por causa disso.

Pouco antes de desligar a ligação, não resisti à tentação de perguntar:

— Onde você está? Que música é essa?

Ela riu de uma maneira sarcástica e a sua resposta foi bem seca:

— Já tem um tempo que não te devo mais satisfações, Robson.

E a ligação caiu.
Capítulo 66 – Robson (PARTE 4)

PERTO DAS NOVE, escutei o chuveiro ser ligado no fundo do corredor e eu já tinha
matado quase um fardo inteiro de cerveja. Cuidava para não ingerir álcool ou comer
coisas muito calóricas durante a semana para manter o físico, mas aos finais de semana
não gostava de ser tão regrado. O filme de ação que assistia antes havia acabado e tinha
começado uma comédia das antigas protagonizada pelo Adam Sandler, um dos atores
preferidos da Sofia.

À certa altura da história, ouvi os pezinhos descalços da minha filha vindo em direção à
sala e antes mesmo de olhar, a alertei sobre o que estava passando na TV. Ela deu a
volta na minha frente e se sentou a um palmo de distância ao meu lado. Estava com os
cabelos molhados ainda e o aroma do seu creme para pentear chegou ao meu nariz.

— Faz tempo que não assisto esse.

Ela parecia um pouco menos emburrada do que mais cedo, mas ainda não dava para ver
o sorriso em seu rosto. Sentou-se de maneira confortável no sofá e enfiou uma almofada
entre as pernas. Já tinha botado um dos seus conjuntinhos para dormir e o shortinho
subiu inteiro quando flexionou o joelho. A blusinha em cima era decotada e os peitos
pontudos apareciam saltados por baixo do tecido fino. Os fios dourados caíam nos
ombros. Os olhos azuis estavam virados pra TV.

— Esse cara é muito engraçado!

Eu nunca tinha olhado pra Sofia daquele jeito, mas de repente, aquelas palavras
voltaram a ecoar na minha mente doentia.

“Eu já ouvi histórias entre pais e filhas… tipo, não é algo tão anormal…”.

Senti uma ereção ter início e tive vontade de me autoflagelar por isso.

Ela é o meu neném! Preciso parar com isso!

Alheia aos meus pensamentos sujos, Sofia começou a rir das micagens do personagem
principal do filme e eu me peguei encarando as suas coxas. A almofada estava agora
bem encaixada entre as pernas e, em cima, uma das alças da blusinha tinha caído no
ombro.

“A Sofia é linda… vocês ficam aqui nesse apartamento sozinhos, de repente…”.

Minha filha nunca havia demonstrado qualquer interesse impróprio quanto a mim e a
nossa relação sempre fora a mais pura possível. Eu não era cego a ponto de não notar as
mudanças físicas que haviam lhe ocorrido depois da puberdade, mas mesmo assim,
nunca a tinha olhado como um homem olha uma mulher.

Por um momento, me perguntei porque Kailane havia entrado no assunto e comecei a


remoer mentalmente se a própria Sofia havia lhe falado alguma coisa naquele sentido.
Ela teria demonstrado interesse sexual em mim? As duas teriam falado alguma coisa
sobre esse assunto no espaço reservado do quarto que dividiam aos finais de semana?
A minha Sofia estaria interessada em experiências incestuosas?

A vontade de mergulhar o meu pau num balde de gelo para diminuir aquela tensão só
aumentava. Aquilo não podia ser normal.

— Vou buscar uma cerveja.

Me levantei rápido antes que ela percebesse a minha ereção por baixo do calção. Eu
estava sem camisa e não havia muito com o que cobrir o volume.

— Traz uma pra mim?

Achei aquele pedido inusitado, mas querendo me afastar logo por conta da minha
paudurescência, achei melhor não a confrontar. Andei rápido para trás do balcão da
cozinha americana, fingi que estava sacando uma lata de dentro da embalagem do fardo
e enfiei entre as pernas, aliviando a intumescência. Estava trincando de gelada.

Álcool era um dos venenos para a gastrite e adverti Sofia antes de lhe passar a latinha.
Eu nunca a tinha visto beber antes, mas se era só para experimentar, achei que não
haveria problema. Assim que deixou a almofada que cobria o colo de lado, ela abriu as
pernas, esticou os braços à frente do corpo e sacou o lacre da lata. Deu um gole
pequeno, mas não fez careta alguma. Já parecia habituada ao gosto.

— Desde quando você bebe, mocinha?

Pela primeira vez no dia, ela esboçou um sorriso e admitiu, com um bigodinho de
espuma sobre os lábios rosados.

— A mamãe me deu para experimentar tem um tempo.

Eu não tinha do que reclamar já que eu mesmo era consumidor assíduo de álcool nos
fins de semana e fazia aquilo na frente dela. Desde que a garota não se tornasse uma
alcoólatra, eu não sentia que devia reprimir aquela sua vontade. A fiquei observando
enfiar a lata na boca e beber, depois, os meus olhos desceram novamente para as suas
coxas agora nuas, sem a almofada encobrindo a visão.

Tem pelinhos loirinhos… será que ela se depila lá embaixo ou é que nem a Kailane?

Nova ereção e nova vontade de enfiar gelo dentro da cueca. Sofia me viu agitado e se
virou para mim. Bebeu outro gole de cerveja e perguntou, desconfiada:

— O que você tem que tá esquisito hoje?

Eu não sabia o que responder e disse um “nada”, mandando mais cerveja para dentro. Já
estava difícil distinguir até que ponto o álcool estava tirando a minha capacidade de
raciocínio lógico e quanto daqueles pensamentos nojentos faziam parte da minha falta
de caráter.
Como posso pensar na Sofia desse jeito?

Quando o filme acabou, ela se espreguiçou e soltou um bocejo longo. Se levantou,


jogou a almofada de lado e pegou a latinha vazia de cima da mesa de centro, pronta a
levar para o cesto de lixo. Ao lado daquela, haviam mais meia dúzia que eu havia
consumido e ela resmungou:

— Tá bebendo demais, seu Robson!

Enquanto ela andava até o cesto e se abaixava para jogar todas as latas fora, encarei o
seu bumbum e não consegui mais esquecer aquela visão. O shortinho estava bem
enfiado dentro e por baixo da barra dava para ver com exatidão as polpinhas formando
um sorriso. Quando ela se voltou em minha direção, eu ainda estava encarando o seu
quadril e ela se aproximou.

— Cê tá bêbado, né, pai?

Senti a sua mão tocar o meu ombro e ela deu uma risada gostosa.

— Tá com cara de tonto. Você só fica assim quando bebe demais.

Sofia agora estava a menos de um palmo de mim. Estendeu a mão e falou, solícita:

— Nem consegue ir pro quarto sozinho pelo visto… vem apoia no meu ombro.

Tocar em seu corpo naquele momento era uma péssima ideia e ainda tentei resistir.

— Não tô bêbado… eu consigo. Pode deixar.

Tentei me erguer e caprichosamente perdi o equilíbrio. Estava pior do que eu


imaginava. Ela insistiu.

— Vem, tonto. Segura aqui. Eu te ajudo.

Ela botou o meu braço em torno do seu ombro e fez um grunhido de força quando
sentiu o meu peso a puxar para baixo. A minha mão estava vacilante e foi direto em seu
peito direito. Era macio e bicudo.

— Se eu contar isso pra mamãe, ela não me deixa mais dormir aqui…

Por um momento, achei que ela estivesse falando do toque acidental em seu seio e me
desculpei na mesma hora, assustado.

— Desculpa, Sofy… toquei sem querer, eu não queria…

Ela me olhou estranho, com o meu braço direito enlaçado em seu ombro por trás e senti
a sua mão quente me apoiando o corpo do outro lado. Demos dois passos em direção ao
quarto e ela riu.

— Tocou o que? Do que está falando?


Afastei a mão e só então entendi que ela estava falando da situação em si, do meu
estado alcoólico e não da minha mão boba.

Devagar, a minha filha me ajudou a chegar ao quarto. Sem aguentar o meu peso, acabou
caindo por cima de mim na cama e foi uma situação constrangedora quando ela
percebeu que eu estava duro lá embaixo. Sofia ficou sem graça, mas fingiu que não
tinha percebido. Perguntou se eu queria o lençol e eu falei com toda sinceridade:

— Nesse calor, preferia dormir pelado.

Ela deu um risinho e emendou:

— Isso vai ter que fazer sozinho, seu Robson.

Ela se esticou para alcançar o travesseiro e me enfiou ele embaixo da nuca. Outra vez,
senti o seio de Sofia em meu corpo e aquilo só fez a ereção aumentar. O volume entre as
minhas pernas era totalmente visível. Assim que endireitou a coluna ao lado da cama,
percebi o seu olhar desviar um instante lá para baixo e ela deu um sorriso.

— Vou ligar o ventilador pra refrescar um pouco. Quer mais alguma coisa?

Me limitei a dizer que não. Sofia ligou o ventilador, o vento começou a soprar em
minha pele suada e ela tornou a se aproximar, agora para me dar um beijo de boa noite.
Encostou os lábios na minha bochecha, mexeu em meus cabelos de leve e fez menção
de se afastar.

— Trata de dormir que você está muito bêbado. Boa noite.

Sofia saiu do quarto apressada pouco depois e, quando senti a minha cabeça afundar no
travesseiro uma última vez antes da sonolência me abraçar totalmente, eu me peguei
pensando se tudo aquilo tinha mesmo acontecido ou se eu tinha imaginado acordado.

O cheiro de Sofia continuou rodeando o quarto por algum tempo, mas logo depois, a
inconsciência me tomou e tudo que restou foi o som barulhento do ventilador girando e
girando a menos de três metros da minha cama.
Capítulo 67 – Nalanda

A IDEIA DA PARCERIA ENTRE A Vecchio Tour em São Paulo com uma operadora
de milhas aéreas surgiu durante uma reunião informal entre o Ralph, o presidente da
agência de turismo, o Celso, diretor comercial, o Wagner, que tinha se tornado o gerente
administrativo e eu, que agora estava supervisionando o setor de vendas.

O mercado de milhas aéreas tinha se tornado, em pouco tempo, muito lucrativo tanto
para quem vendia quanto para quem comprava em parceria com empresas
especializadas nesse tipo de serviço. Boa parte das agências de viagem se utilizavam da
prática a fim de oferecer passagens mais baratas para o consumidor e o lucro que se
obtinha em contrapartida era muito bom. Os meus dois patrões e amigos sabiam disso,
por isso, demorou pouco para que começassem a implantar o uso de milhas na empresa.

No começo de fevereiro daquele ano, eu fui encarregada de começar um treinamento


especial com os nossos vendedores para explicar melhor a eles como funcionaria, a
partir de então, a parceria com a operadora de milhas aéreas. Por ser bastante intensivo,
o treinamento durou dois dias e, ao final dele, os nossos agentes estavam prontos para
repassar as suas informações aos clientes, oferecendo a eles um tipo mais vantajoso de
compra de passagens com descontos que podiam chegar até a 80%.

Ralph e Celso tinham ficado muito satisfeitos com o meu desempenho perante a equipe
que antes eu mesma tinha feito parte como agente de viagens. Os dois tinham me
promovido ao cargo de supervisora há alguns meses e aquilo havia aumentado a
confiança em meu próprio trabalho, além de ter ampliado também as minhas
responsabilidades.

— A sua didática durante o treinamento foi realmente impressionante, Nalanda — disse


Celso à mesa do restaurante onde almoçávamos aquela tarde eu, ele e o Ralph. —, nós
sentimos que a equipe inteira de vendas ficou bastante entusiasmada com a ideia de
usarmos as milhas aéreas em nossas negociações, por isso, queremos expandir isso
também para a nossa unidade do Espírito Santo.

O Celso estava à minha frente com as mangas da camisa social arregaçadas, os cabelos
penteados de lado e o cavanhaque bem aparado no rosto quadrado. Tanto ele quanto o
Ralph estavam sorridentes e me olhavam com confiança.

— O Celso e eu conversamos mais cedo, Landa — disse o Ralph, usando uma Tommy
Hilfiger listrada sobre o peito estufado. — e nós concordamos em mandá-la para a nossa
filial em Vitória para que você faça o treinamento também com a equipe de lá.

Eu fiquei sem reação por um instante.

— A maneira como você motivou o pessoal de vendas foi único e não vejo motivo para
passar a responsabilidade desse treinamento para uma outra pessoa lá em Vitória. — O
Celso agora dava um gole num copo de suco e me olhava sério. — O Lúcio Rodrigues,
que é o nosso gerente da Vecchio Tour capixaba, concordou com a sua visita e estamos
pensando em enviá-la pra lá daqui a três dias para você aproveitar o fim de semana de
feriado prolongado.

Era uma segunda-feira e estávamos a uma semana do Carnaval, período em que a


agência fechava por dois dias a fim de que os funcionários descansassem e/ou curtissem
a folia.

— É uma responsabilidade muito grande… Eu… Eu nem sei o que dizer.

Nós três éramos parceiros de trabalho há muito tempo, desde a época da faculdade de
Turismo, e havia poucas coisas que ainda não conseguíamos discutir de maneira mais
despojada. A maneira como os dois demonstravam que confiavam cada dia mais em
mim era uma das coisas que ainda me deixavam um pouco insegura e, como leonina,
nada costumava me deixar insegura.

— Estamos esperando apenas o seu sim para organizarmos tudo com o Lúcio e a
supervisora de vendas dele lá em Vitória, Landa — confirmou Ralph. —, assim que
possível, você embarca para o Espírito Santo com todas as despesas pagas e, se quiser,
ainda pode ficar por lá durante o Carnaval para aproveitar as praias.

Como é que eu poderia dizer não com o Ralph me dando aquela encarada com aquele
sorriso sedutor no rosto?

Então, alguns dias depois, eu estava me preparando para a viagem e teria companhia.

Um dia antes da minha partida para Vitória, o Ralph teve uma conversa mais particular
comigo e contou que estava querendo incentivar a irmã mais nova, Rarissa, a entrar de
vez no mundo do Turismo. A garota tinha começado recentemente na faculdade o
mesmo curso que todos nós havíamos feito e andava deslumbrada com as possibilidades
infinitas de viver viajando pelo mundo e explorando novas culturas.

Ralph não queria que a irmã pensasse que Turismo era resumido a viagens sem fim pelo
globo e a queria situar quanto aos trâmites mais burocráticos que envolviam as
negociações de vendas de passagem, plano de marketing para campanhas publicitárias e
até mesmo o nosso recente acordo de milhagens.

— Eu quero que a Rari acompanhe você nessa viagem e assista com os demais
vendedores ao seu treinamento, Landa. Já que ela escolheu seguir o nosso ramo de
profissão, nada melhor que aprenda um pouco com quem sabe, para depois não acabar
se arrependendo.

Até saber que teria companhia para aquela minha primeira viagem a negócios eu estava
com um frio na barriga, com certo receio de decepcionar os meus amigos, mas quando
Ralph me contou que a Rarissa iria comigo, todo aquele mal-estar passou
imediatamente. Eu conhecia aquela menina desde os seus treze anos e tínhamos
convivido bastante por conta das excursões que os Vecchio organizavam para a ilha
deserta do litoral norte que chamávamos de “Ilha Paraíso”.
Rarissa e eu dividíamos o mesmo desejo de aproveitar a vida em seu grau máximo e
quase podíamos dizer que nos víamos refletida uma na outra. A nossa personalidade era
muito parecida — apesar dela ser do signo de libra — e nós duas adorávamos uma boa
farra. Quando nos encontramos no aeroporto de Guarulhos naquele início de noite de
quinta-feira, os nossos gritos de alegria podiam ser ouvidos de longe. Eu realmente
tinha ficado muito feliz de contar com a sua companhia e ela mais ainda, por poder
aprender um pouco mais de nosso ofício em uma viagem entre amigas para outro
estado.
Capítulo 68 – Nalanda (PARTE 2)

O NOSSO VOO PARA Vitória partiu de Guarulhos por volta das vinte e uma horas.
Ralph tinha descolado dois lugares na classe executiva e naquele horário havia poucas
pessoas nos acompanhando. Rarissa estava ainda mais excitada do que eu ao meu lado.
Me puxava, me segurava e dava risadas altas comentando sobre as suas expectativas
para o treinamento que ocorreria em duas etapas; uma já no dia seguinte ao nosso
desembarque e outra na segunda-feira.

Tínhamos à nossa disposição uma tela de led para que relaxássemos assistindo a algum
filme oferecido pela companhia aérea, mas nem era preciso. Nós duas tínhamos assunto
o bastante para nos ocupar ao longo das quase três horas de voo e éramos muito
entrosadas para que necessitássemos de qualquer outra distração.

— Foi muito legal da parte do meu maninho te oferecer a oportunidade de treinar toda
uma equipe de vendas em outro estado. O Ralph não faria isso se não tivesse certeza
que você seria capaz de executar a tarefa.

Eu ri de um jeito meio escandaloso e inflei o meu ego mais uma vez.

— O Celso e ele me amam. O seu irmão nunca daria essa tarefa a mim se ele não
confiasse plenamente na pretinha aqui.

Rarissa concordou com os olhos e voltamos a rir. Um sujeito meio gorducho sentado na
fileira atrás de nós pigarreou meio que sinalizando incômodo com a nossa
expansividade e resolvemos dar uma segurada nos ânimos. A minha parceira de viagem
então entrou em outro assunto e me indagou:

— Será que vai sobrar algum tempo para curtirmos uma praia em Vitória? Tenho ótimas
referências da Praia dos Padres em Guarapari. Tenho amigos que visitaram e amaram!

Teríamos um dia inteiro de trabalho na sexta, depois, mais dois dias de descanso no
final de semana até o próximo compromisso. Tinha certeza que era possível atender aos
desejos de Rarissa de conhecer melhor as belezas naturais do Espírito Santo e a alertei:

— Talvez no feriado… a Vecchio Tour não vai abrir na terça-feira de Carnaval. De


repente, nós duas podemos nos arrancar para Guarapari e curtir um pouco.

Eu não queria deixar a garota mais empolgada em conhecer os pontos turísticos


capixabas do que em prestar a atenção no trabalho, por isso, tentei mudar o foco da sua
atenção. Eu tinha prometido a Ralph que faria Rari entender o real cerne da nossa
profissão e não podia falhar com o meu amigo.

Algum tempo depois, ainda durante o voo, estava dando detalhes sobre o serviço de
milhas para a Rarissa quando um homem se aproximou do nosso assento e estacou ao
nosso lado.
— Me desculpem, eu estava lendo na poltrona ali em frente e a sua conversa acabou
chegando aos meus ouvidos…

Era um sujeito de um metro e oitenta mais ou menos, cabelos bem ruivos penteados
para trás, olhos verdes e sardas no rosto. Não o tinha visto durante o embarque e nem
fazia ideia de onde havia surgido.

— Perdão, moço… a gente não queria atrapalhar.

Rarissa tinha se prontificado a pedir desculpas a ele já que estávamos cientes que há
pouco tempo estávamos rindo um pouco alto demais. Os passageiros da primeira classe
costumavam ser mais sensíveis àquele tipo de manifestação mais extrovertida e se
incomodavam com facilidade.

— Não, de maneira alguma — respondeu ele, curvado em direção a nossa poltrona —,


vocês não estavam me atrapalhando. É que eu fiquei curioso a respeito da praia que
mencionaram e eu só queria fazer uma pergunta.

Para alguém que aparentava estar acostumado a frequentar classes executivas — o


sujeito tinha no pulso esquerdo um relógio que devia custar o valor integral do meu
apartamento —, aquela abordagem estava sendo bastante desagradável e respondi um
tom acima:

— Estava prestando a atenção em nossa conversa?

— Não — disse ele, um pouco desconcertado —, é que eu ouvi por acaso quando
mencionaram Guarapari e eu queria saber se vocês conhecem o lugar ou se
recomendam.

Eu continuava achando aquele papo bastante chato, mas a Rarissa quis ser gentil.

— A Nalanda aqui é supervisora de vendas da agência de viagens do meu irmão. Ela


sabe tudo sobre o Espírito Santo, não é, amiga?

Eu não achava que o avião fosse o local mais adequado para tratar de assuntos
profissionais com um completo estranho e demonstrei que não estava muito a fim de
estragar o meu momento de relaxamento em minha poltrona cinco estrelas explicando o
que quer que fosse para aquele cara. Sem saber disso, ele deu um sorrisinho e disse:

— Que sorte a minha encontrar uma supervisora de vendas de uma agência de turismo
bem pertinho do meu assento!

Rarissa deu uma risadinha de deboche ao meu lado e a presenteei com uma cotovelada.

— A minha amiga aqui ao lado fala demais e eu não sei tudo sobre o Espírito Santo. Só
estou indo supervisionar uma equipe nova de vendas na filial da agência em Vitória, só
isso.
— De qualquer maneira — continuou o ruivo —, acredito que possa me ajudar com as
minhas dúvidas. É a minha primeira vez em Vitória e gostaria de visitar alguns lugares
interessantes por lá.

Eu comecei a sacar que o papo sobre viagem era puro pretexto para se aproximar de nós
duas no voo quando o peguei olhando de maneira pouco discreta o meu decote e as
pernas da Rari que, naquele dia, estava usando um shortinho mais curto. Ele não parecia
fazer o tipo de assediador barato que costumava abordar menininhas quando desse na
telha e aquele era um forte sinal de que havia se interessado mesmo por nós mais que o
normal. Apesar disso, continuei fazendo jogo duro e, de cenho fechado, lhe estendi um
dos meus cartões de visita que tirei da bolsa ao meu lado.

— Você pode entrar em contato com a nossa agência em Vitória. Tenho certeza que
alguém lá vai querer ajudar.

O sujeito ruivo então agradeceu com um olhar e seguiu o seu caminho direto para o
banheiro do avião. Encarei Rarissa lhe dando uma bronca por seu comportamento
engraçadinho e ela me abraçou, rindo.

— Quando chegarmos ao hotel, vamos falar sobre esse papo de você sair dizendo o meu
nome e a minha profissão pra qualquer estranho por aí…

Recebi um beijo no rosto como compensação e a Rarissa emendou em cochicho:

— Vai me dizer que não achou aquele moço um gato? Maior porte de empresário sério,
bem-sucedido… e gostoso também!

Dei-lhe uma palmada na coxa esquerda por seu assanhamento, mas tive que admitir:

— Um pouco “vermelho” para o meu gosto, mas tem o seu charme.

Fiquei pensando mais um tempo no tal cara com sardas no rosto, mas quando
desembarcamos no aeroporto Eurico Aguiar Salles em Vitória, aquela história já tinha
sido esquecida.

Ralph e Celso haviam reservado um quarto muito espaçoso num dos hotéis mais caros
de Vitória e, assim que chegamos, Rarissa quis experimentar a banheira da suíte.
Enquanto a minha amiga tomava um banho de quase uma hora, eu acessei o wi-fi do
lugar e fiz uma vídeo-chamada para São Paulo através do meu notebook. Já era bem
tarde da noite e o Ralph me atendeu do seu apartamento na Vila Mariana. Diante da
câmera, apareceu de cabelos molhados e vestindo camisetinha justa com gola “v”.
Vaidoso, cuidava muito bem do físico com sessões diárias de academia e tinha os
braços definidos sem músculos exagerados, além de um peitoral que estufava em
qualquer blusa que usava. Ele era o meu chefe e um dos meus melhores amigos… mas
era impossível não reparar em como aquele homem era gostoso!

— Como foi a viagem, Landa?

Me sentei na cama de casal instalada no quarto e posicionei o notebook em meu colo.


— Correu tudo bem. — disse, sorrindo. — O serviço de bordo da primeira classe nunca
decepciona!

Ele devolveu o sorriso do lado de lá da câmera e, então, quis saber:

— E a Rari? Tá se comportando bem? Ela tá empolgada em conhecer a nossa agência


de Vitória?

Fui sincera.

— Ela tá um pouco deslumbrada com a viagem em si querendo conhecer os pontos


turísticos primeiro, mas prometo que a coloco na linha assim que começarmos a falar de
negócios.

— Ela não está por perto?

Olhei em direção ao banheiro e, lá de dentro, ainda dava para ouvir a água da banheira
sendo agitada.

— Tá tomando banho.

Ele continuou.

— O meu pai ficou bastante chateado quando soube que a Rari também não ia querer
seguir a carreira dele de engenheiro civil, preferindo fazer turismo. Eu não quero que ela
acabe se decepcionando achando que fez uma má escolha quando descobrir que a nossa
profissão não se resume a férias prolongadas em paraísos exóticos. A minha irmã
precisa entender a parte séria de gerenciar uma agência de viagens.

Ele só estava reforçando a conversa que havíamos tido há alguns dias quando me
informou que enviaria Rarissa como minha acompanhante. Me aproximei mais da
câmera e perguntei:

— Você confia na sua pretinha aqui?

Ele riu e assentiu de maneira efusiva.

— Sabe que sim, Landa.

— Então pode deixar com a mamãe. Eu vou botar a sua irmã no prumo. Ela vai voltar
outra pessoa para São Paulo. Você vai ver.

Rarissa já fazia menção de sair do banho quando começamos a nos despedir via vídeo.
Ele completou:

— Já conversei por telefone com o Lúcio. Ele vai esperar vocês duas amanhã bem cedo.
Tratem de descansar porque vai ser um longo dia de trabalho.

Mandei beijos em frente à câmera e ele fez uma última recomendação:

— Cuida da minha maninha aí. Você sabe que eu a amo muito.


— Pode deixar, irmão-coruja. Tá comigo, tá com Deus!

Capítulo 69 – Nalanda (PARTE 3)

A FILIAL DA VECCHIO TOUR no Espírito Santo ficava localizada no Jardim da


Penha, a mais ou menos doze minutos do Aeroporto Eurico Aguiar Salles e a dezoito
minutos da capital do estado, Vitória. Eu tinha carteira de motorista, Ralph havia me
sugerido uma locadora de veículos muito boa perto do nosso hotel, mas naquele
primeiro dia de trabalho preferi chamar um Uber.

A agência de viagens capixaba era relativamente menor que a nossa em São Paulo.
Ficava situada próximo a uma galeria de lojas populares, tinha dois andares e não
possuía estacionamento próprio. Os clientes tinham que parar os seus carros do outro
lado da rua, num estacionamento privado, e foi lá que nosso motorista nos deixou
alguns minutos antes das oito horas da manhã.

— Eu tô vem vestida, Landa? Essa calça não está marcando muito atrás, tem certeza?

Rarissa estava bastante nervosa depois de toda a pressão que eu havia lhe botado
durante a noite para que ela levasse a sério a tarefa a que Ralph nos havia confiado. Ela
não tinha qualquer costume de vestir roupas sociais e tinha comprado dois modelos
exclusivamente para a viagem. Naquela manhã, estava vestindo um conjunto de calça
social preta de cintura alta e uma blusa branca de manga longa. Tinha deixado um botão
aberto depois do colarinho e havia prendido os cabelos cacheados num rabo de cavalo.
Eu a tinha ajudado com a maquiagem e ela estava usando um delineado escuro sobre os
olhos castanhos e uma sombra esfumada discreta nas pálpebras.

— Já disse que não está marcando nada, Rari. Está ótimo. Não vai chamar nenhuma
atenção.

Eu tinha escolhido um conjunto parecido, mas a minha camisa social era azul-celeste.
Havia mantido os meus cabelos encaracolados tingidos de loiro soltos e tinha apostado
numa maquiagem que realçasse os meus olhos verdes naturais. Queria impor presença
já que estava ali para comandar uma equipe recém-contratada de vendedores e não
queria que ninguém me visse como uma funcionária qualquer.

— Bom dia, Nalanda. Gostei de ver! Bem pontual!

O próprio Lúcio Rodrigues veio nos recepcionar à porta da agência e nos cumprimentou
esbanjando bom-humor. Era um sujeito alto de cabelos castanhos lisos e cavanhaque
fino no rosto bronzeado de sol. Era paulista, mas tinha se mudado para Vitória há alguns
anos logo que surgira a oportunidade de gerenciar uma empresa de turismo recém-
inaugurada por uma dupla de jovens empreendedores de São Paulo. Tinha conhecido
Ralph e Celso ainda na faculdade, enquanto começavam a Vecchio Tour e ele fazia pós-
graduação. Tinha uma barriga mais inchada por baixo da camisa social que usava, mas
possuía o seu charme.
— A que horas chegam as equipes de vendas?

Quis saber, um tanto ansiosa para começar o meu trabalho de treinamento.

— Eles entram às nove. Temos tempo para um cafezinho na minha sala.

Algum tempo depois, Rarissa e eu fomos conduzidas ao andar superior do prédio


estreito no Jardim da Penha e o Lúcio falou um pouco sobre como andavam os negócios
por ali. Ele dizia que as vendas haviam estourado no final de janeiro por conta da
aproximação do feriado de Carnaval e que a procura por passagens aéreas para o
Nordeste, em especial, tinha se potencializado. Muita gente queria passar os dias de
folia em lugares como Salvador, Recife e João Pessoa, o que havia feito com que a
Vecchio Tour faturasse muito.

Depois da troca de informações sobre os negócios da agência, Lúcio nos apresentou à


supervisora de vendas que desempenhava ali o mesmo papel que eu em São Paulo.
Valdete Nascimento era uma moça de pele preta como a minha e que exalava alto-
astral. Além de bonita, tinha um sorriso constante no rosto e era tão comunicativa
quanto eu.

— Se me disser que é do signo de leão, vou dizer que somos irmãs gêmeas de mães
diferentes!

Brinquei com ela, a achando realmente muito parecida comigo em comportamento.

— Sou sagitário, mas o meu ascendente é leão!

Tinha sacado ali o motivo da nossa semelhança e simpatizei logo de cara com ela.

— Acho que vamos nos dar muito bem, Nalanda — disse a moça, já começando a me
conduzir até onde eu faria o treinamento com as suas equipes de vendas. —, percebi que
o nosso santo bateu na hora que entrei pela porta e isso é raro de acontecer.

Ela e eu tagarelamos mais um pouco até chegarmos na sala de audiovisual onde o Lúcio
costumava reunir o seu pessoal para projeções sobre vendas. Como havíamos
combinado, Rarissa se sentou numa das primeiras fileiras das seis longarinas que se
estendiam pela sala escura e se preparou para anotar tudo com um bloco de notas que
trazia em uma das mãos e a caneta esferográfica de superfície cor-de-rosa na outra.

Valdete me ajudou com o notebook que comandava o projetor e a tela interativa atrás de
mim. Espetei o meu pendrive com a apresentação inicial e os vídeos que iria utilizar ao
longo do treinamento no USB e, em instantes, comecei a ver os demais funcionários
assumirem os seus lugares nos assentos vagos. Assim que abri o arquivo da
apresentação, o logo da Vecchio Tour em prata preencheu o telão e segurei com firmeza
o apontador laser que usaria para passar os slides. Me posicionei de frente para os
vendedores, caixas e assistentes que ainda se posicionavam nas longarinas e comecei
desejando um bom dia. A resposta foi em uníssono.
Valdete caminhou até um dos lugares vagos e se sentou. Tinha um tablet em mãos e
cruzou as pernas, começando a prestar a atenção em mim.

Eu estava bastante segura do que tinha que fazer ali diante daquelas pessoas e comecei
andando da área mais próxima ao púlpito onde o notebook encimava até a parede lateral
que dava para a rua. Estávamos no segundo andar e o som do trânsito lá fora estava
sendo abafado pelos vidros reforçados da janela.

— Caso estejam se perguntando “meu Deus, quem é essa mulher incrível de cabelos
loiros e olhos verdes à minha frente? ”, eu me chamo Nalanda Venâncio e sim, eu sou
realmente incrível.

Era sempre bom começar quebrando o gelo e as risadas ecoaram dentro da sala de
vídeo. A equipe de vendas de Valdete era formada por jovens entre dezoito e vinte e três
anos e a maioria tinha ainda pouca experiência no ramo. Apesar de ter quase a mesma
idade que eles, eu tinha começado mais cedo no negócio e havia aprendido muito com
os erros e acertos de Ralph e Celso.

Os meus chefes hoje eram ótimos exemplos de jovens empreendedores que tinham tudo
para dar errado, mas que haviam perseverado pelo próprio esforço. Eu tinha muito
orgulho de ser amiga dos dois e mais ainda de fazer parte da sua história de sucesso.
Achei que valia a pena começar contando àquelas meninas e àqueles meninos a minha
origem dentro da Vecchio Tour e, depois disso, o treinamento fluiu perfeitamente bem.
Ganhar a audiência antes de falar das coisas mais sérias era sempre melhor e nunca
falhava.

Para que eu pudesse aplicar o treinamento para todos os funcionários e para que a
agência não acabasse desfalcada em horário comercial, Lúcio havia estabelecido turnos
especiais para as duas turmas de vendedores que se revezavam entre manhã e tarde.

O pessoal que trabalhava depois do meio-dia havia chegado mais cedo naquela sexta-
feira para que eu aplicasse a primeira parte do curso e, após o almoço, o grupo que já
tinha trabalhado pela manhã se reuniu na sala de projeção para que eu desse
continuidade ao treinamento. A palestra era basicamente a mesma nos dois horários,
mas sempre surgiam dúvidas diferentes em cada período, o que me proporcionava um
exercício mais estimulante para transmitir o meu conhecimento.

Ao final da tarde, Valdete quis ter uma conversa particular comigo e a moça de um
metro e cinquenta e oito me elogiou muito com relação à maneira criativa com que eu
havia optado por transmitir à sua equipe as novas diretivas sobre milhagens áreas.

— Menina, a gente precisa sair para tomar um café juntas e conversar mais um pouco!
Tem certeza que não quer se mudar para Vitória e ser a minha amiga?

Estava me sentindo lisonjeada.

— Eu adoraria, mas os meus chefes em São Paulo não conseguiriam viver sem mim por
perto.
E ela deu uma gargalhada que me contagiou a fazer o mesmo.

A ideia do café era ótima e após o expediente, nós fomos a um shopping que ficava a
duas quadras da agência. Como tinha prometido ao Ralph cuidar da sua irmã, levei a
Rarissa com a gente e nos juntamos na cafeteria também ao Lúcio que nos acompanhou.

Valdete e Lúcio tinham engatado um relacionamento amoroso há alguns meses e


formavam o típico casal feliz. Na empresa, eram patrão e empregada, mas fora dela, a
sua condição não parecia atrapalhar em nada o namoro.

Havia uma diferença de idade de cinco anos entre os dois. Lúcio tinha uma filha
adolescente advinda de seu antigo casamento com uma enfermeira chamada Silvana e
Valdete tinha ficado noiva por longos seis anos de um sujeito que vendia imóveis na
Enseada do Suá, um bairro do centro de Vitória. Levou tempo até que ela percebesse
que a tal venda era na verdade um golpe que ele aplicava em turistas desavisados, mas
quando aconteceu, ela desfez o noivado na mesma hora e nunca mais quis saber do tal
cara.

— Eu trouxe a minha filha Nicole para morar comigo aqui em Vitória depois de um
desentendimento que ela teve com a mãe em São Paulo e a bichinha ainda está se
adaptando ao jeitão do povo capixaba.

Disse Lúcio, parecendo orgulhoso em falar da cria.

— O seu irmão Ralph conheceu a minha Nic em São Paulo, Rarissa — disse ele,
voltado para a minha amiga ao meu lado. —, parece que ele começou a namorar uma
vizinha de bairro da minha ex-esposa e foi aí que os dois se conheceram.

Ralph tinha engatado, há algum tempo, um namoro mais sério com a publicitária e
empresária Claudia Ferraz que morava no bairro do Itaim Bibi em São Paulo. Claudia
era mãe de Kelly, uma menina adorável que vivia nos fazendo visitas à agência da Vila
Madalena. A filha de Lúcio, Nicole, era uma das melhores amigas de Kelly e as duas
eram praticamente vizinhas. A Rarissa também havia conhecido a menina e expressou a
sua surpresa em perceber tamanha coincidência.

— A Nicole fez parte de um time de vôlei que jogou em um torneio colegial em que eu
participei. Uma loirinha pequena de olhos azuis…

Lúcio acenou que sim e depois nos mostrou uma foto da filha em seu celular,
confirmando as suspeitas de Rarissa. A menina era incrivelmente linda e guardava
pouco dos traços mais rudes do pai.

— Ela comentou sobre esse torneio de vôlei na época. É mesmo incrível que você
também conheceu a minha menina em uma situação totalmente adversa a do seu irmão,
Rarissa. Essas coincidências da vida são incríveis!

Eu só podia concordar com Lúcio.


Capítulo 70 – Nalanda (PARTE 4)

APÓS O TREINAMENTO na Vecchio Tour e a conversa animada na cafeteria com


Lúcio e Valdete, Rari e eu retornamos ao hotel de carona com o gerente da unidade
capixaba e, mais tarde, aproveitei para relaxar na banheira da suíte. Rarissa abriu uma
vídeo-chamada com a mãe Laura em São Paulo para tranquilizá-la a respeito da viagem,
depois, se juntou a mim para traçarmos os planos para o final de semana.

— Eu pesquisei na internet a rota que devemos tomar para conhecermos a Praia dos
Padres — disse ela animada, segurando o celular de capa rosa em mãos. —, Guarapari
fica a cinquenta e quatro quilômetros do centro de Vitória, mais ou menos uma hora de
carro. A gente aluga um veículo e saindo cedinho amanhã, consegue chegar na praia
antes do sol estar muito forte. Vai ser maravilhoso!

Ela estava mesmo muito empolgada e tive pena de estragar o seu entusiasmo. A deixei
prosseguir com os seus planos enquanto eu enxugava os meus cabelos com uma toalha.

— Se você preferir um lugar mais perto — e ela me virou a tela do celular para que eu
olhasse o mapa —, podemos ir para a Praia das Castanheiras, na Ilha do Frade. Fica a
oito quilômetros daqui e é uma área residencial cercada de pedras com pequenas faixas
de areia transformadas em praias que ouvi falar muito bem. Seria legal conhecer.

A encarei um instante antes de dizer:

— Rari, você sabe que não viemos aqui só para nos divertir. Eu ainda tenho que fazer
alguns ajustes na minha apresentação de segunda-feira para a equipe da Valdete e você
também tem algumas coisas para estudar sobre o plano de milhagens que o seu irmão
criou.

Ela ficou levemente decepcionada.

— Mas, no avião você falou que a gente podia conhecer as praias do Espírito Santo nas
folgas…

— Disse, mas depois das nossas tarefas. — respondi com firmeza, mas sem querer
parecer chata. — O Ralph disse que, se quisermos, podemos passar o Carnaval aqui e,
depois de segunda-feira, teremos tempo livre para visitar as praias.

Feito uma criança ela emburrou. No fundo, Rarissa sabia que aquela não era uma
viagem a lazer, mas não estava querendo admitir.

— O que vamos ficar fazendo nesse hotel por dois dias seguidos?

Eu já estava pronta a responder quando o meu celular vibrou em cima da poltrona de


canto onde o havia deixado. Imaginei que fosse o Ralph ou o Celso querendo que eu
reportasse como havia sido o meu treinamento, mas quando peguei o aparelho, não
reconheci o remetente.
— Quem é? — perguntei por mensagem de texto.

Rarissa tinha se sentado na cama de casal do quarto com a cara amarrada e eu me


espalhei na poltrona aguardando a resposta da minha pergunta.

— Você deve se lembrar de mim. Nos conhecemos durante o voo, falamos brevemente
sobre as praias de Vitória, sobre o seu trabalho na agência…

O ruivo dono de um Rolex que valia mais que a minha casa tinha resolvido entrar em
contato comigo via mensagem e me vi sendo pega de surpresa. Aquele encontro em
pleno voo de São Paulo a Vitória nem me ocorria mais e perguntei, tentando parecer
desinteressada:

— O ruivo de olhos verdes?

A resposta veio imediata:

— Ele mesmo. Eu estou aqui em meu quarto de hotel e estava pensando se não
podíamos marcar um encontro dia desses para falarmos um pouco mais sobre viagens e
pontos turísticos.

Ele continuava tentando fingir que só estava interessado em falar de trabalho comigo,
que não havia ficado atraído por mim. Decidi me fazer de difícil.

— Desculpe, eu não me envolvo com clientes da agência que represento.

Assim que enviei a resposta, fiz sinal para que Rarissa se aproximasse e lhe mostrei a
conversa em meu celular. Ela reconheceu o ruivo pela foto de perfil e se animou de
novo, se sentando no braço da minha poltrona para acompanhar a conversa de perto.

— Eu só estava pensando em tomar um drinque com você e a sua amiga — escreveu o


moço —, estamos os três visitando uma cidade que não nos é familiar, longe das
pessoas que conhecemos… achei que fosse um bom programa curtirmos uma noite
animada de bate-papo fora do trabalho.

Rarissa cutucou o meu braço mandando que eu aceitasse o convite. Ela tinha ficado
mais empolgada do que eu com o ricaço atrevido, mas decidi dar corda.

— Em que hotel você está?

A resposta dele foi ainda mais surpreendente e quando li que ele estava hospedado no
mesmo lugar que nós duas, mostrei para a Rari, que gargalhou.

— Ele tá aqui no nosso hotel! Que coincidência! — falou a minha amiga.

Informei a ele a tal coincidência e o cara já foi logo mandando uma cantada das mais
baratas:

— É mesmo o destino querendo nos juntar!


Eu não gostava de ser abordada daquela maneira invasiva que o tal ruivo havia utilizado
tanto no avião quanto por mensagem de texto, mas estava realmente curiosa para saber
até onde iria o seu atrevimento. Ainda no voo, eu tinha percebido que ele usava uma
aliança dourada no anelar esquerdo e que o safado devia ter alguma esposa o esperando
em casa. Das duas uma: ou ele estava sendo sincero dizendo que só queria bater um
papo de fim de noite com duas conterrâneas num outro estado ou ele estava mesmo
querendo levar uma das duas para a cama, aproveitando que estava a quilômetros de
distância da mulher. Rarissa também estava curiosa, além de que tinha ficado com um
tremendo fogo no rabo por causa do homem.

— Diz que aceita o convite, Landa — berrou ela, dando pulinhos na minha frente. —,
ele não vai fazer nada que a gente não queira. Somos duas e, depois, o encontro vai ser
num ambiente fechado e controlado. O que pode dar errado?

A encarei com olhar desconfiado e mandei a real:

— Você tá querendo dar pra esse cara e fazer dele o seu Sugar Daddy, isso sim!

Ela riu e não negou as minhas suspeitas. Decidi fazer o que ela queria.

— Tem um bar seguindo o hall de entrada do hotel — respondi em mensagem —, nos


encontre lá em trinta minutos e eu deixo que pague alguns drinques pra gente.

Rarissa e eu nos produzimos bastante para o encontro no bar do hotel e chegamos


chamando bastante as atenções dos frequentadores àquela hora da noite. O lugar era
afastado uns quinze metros da porta de entrada, tinha um balcão para atender os clientes
do lado leste, mesas espalhadas ao fundo e um lounge do outro lado para recepcionar
presenças VIPs que não gostavam de ser incomodadas enquanto bebiam os seus
drinques.

Eu tinha vestido uma blusa de cetim decotada com um short social branco embaixo e
estava usando os meus cabelos presos para trás. A Rarissa tinha preferido apostar em
uma saia curta e usava os cabelos soltos às costas.

O moço que pagaria a conta no bar chegou algum tempo depois de nós e fez questão de
se apresentar mais formalmente. Ele se chamava Peterson Tomazzi, era engenheiro
civil, morava no bairro de Moema em São Paulo e estava em Vitória para prestar um
serviço de consultoria à construtora que representava. Após as apresentações, ele nos
convidou para uma mesa mais ao fundo do bar e, em seguida, pedimos as bebidas ao
garçom. Eu realmente não sabia o que esperar daquele encontro, mas a conversa franca
que tivemos acabou nos conduzindo a uma situação que tanto eu quanto Rarissa já
esperávamos.

Ficou bem claro após pouco mais de meia-hora as reais intenções de Peterson para com
nós duas e o engenheiro bem-sucedido foi incapaz de negar que tinha mesmo ficado
interessado na gente e que queria se dar bem na cidade capixaba. Como todo bom
cafajeste, o cara ainda tinha tentado nos enganar se fazendo passar por solteiro ao largar
a aliança de casamento no quarto do hotel, mas o peguei no pulo quando mencionei o
objeto que tinha visto em nosso primeiro encontro no avião e reparei na marca de sol
indisfarçável em seu dedo anelar esquerdo.

Assim que começamos a nos tratar de maneira mais honesta e alinhamos os nossos
interesses, não foi difícil fazê-lo admitir que só estava querendo levar duas moças lindas
e jovens para a cama com aquele papo manjado de “turista novato”. Rarissa e eu
partimos logo para o ataque fazendo um jogo bastante erótico com ele ainda no bar e,
depois disso, o convite para visitarmos o seu quarto foi quase que imediato. Àquela
altura, eu já havia comprado todo o charme que a maturidade de Peterson lhe concedia
— Ele não tinha falado a sua idade exata, mas eu julgava que devia ter uns trinta e seis
anos. — e decidi arriscar um encontro mais íntimo na companhia de Rarissa, que estava
ardendo em cio.

— Ele tem jeito de homem que tem pegada… tem mão grande, firme… Ai, e aqueles
olhos verdes!

Rarissa estava fogosa enquanto subíamos de elevador até o andar onde Peterson estava
hospedado. Após o bar, tínhamos retornado para o quarto a fim de colocarmos roupas
mais leves e seguimos de imediato ao nosso destino tão logo nos arrumamos.

— Ele sabe bem o que estamos planejando fazer naquele quarto. É bom mesmo que ele
possa dar conta de nós duas ou vai ser uma decepção muito grande!

Eu ainda tentava demonstrar certa desconfiança em relação ao Sugar Daddy que Rarissa
queria conquistar, mas quando chegamos à sua porta e ele nos recebeu só de roupão,
senti que o cara era mais do que só um falastrão. Aquele não era nem de longe o
comportamento típico de alguém que tinha dúvidas se daria conta ou não de duas
meninas com quase metade da sua idade e percebi que Peterson tinha bala na agulha.

— Achou que a gente não vinha, papai? — perguntei a ele abrindo um sorriso.

Ele me olhou de cima a baixo dentro do vestido soltinho de alças que tinha escolhido
para a ocasião, depois, se virou para a Rarissa, que disse assanhada:

— Estamos aqui para a diversão!

Eu não esperava muita coisa antes de chegar àquele quarto, mas horas depois, estava
surpreendida e tive que dar o braço a torcer quanto ao vigor do ruivo safado. Era
invejável.
Capítulo 71 – Nalanda (PARTE 5)

NA MANHÃ DE SÁBADO, acordei com dores nas costas e nas pernas devido a
maratona de sexo no quarto de Peterson e senti que precisava de uma massagem. Ao
contrário de mim, Rarissa parecia estar com a sua energia renovada logo cedo e já tinha
pedido o nosso café da manhã ao serviço de quarto, além de já ter se exercitado na
esteira da academia do hotel.

— Bom dia!

A menina me recepcionou com um beijo estalado no rosto e começou a servir o meu


café. Eu gostava de comer torradas com requeijão e leite puro no café, depois, reforçava
o desjejum com alguma fruta como pera, mamão ou maçã. Rarissa tinha me reservado
uma das metades de um papaia fresco.

— Que energia toda é essa logo cedo, garota? Caiu da cama?

Ao contrário dela, eu costumava acordar sempre mal-humorada pela manhã. Rarissa


sabia disso.

— Dar umazinha à noite me faz acordar animada no dia seguinte. Fico elétrica o dia
todo e preciso extravasar!

Passei o requeijão na torrada e dei uma mordida barulhenta. O copo ao meu lado estava
cheio de leite até quase a borda e dei um gole. Rarissa estava agora indo em direção a
uma das malas que havíamos deixado num canto do quarto e começou a mexer nos
biquínis que havia trazido. Ainda não tinha desistido da ideia de irmos à praia e queria
me fazer mudar de ideia.

— Assim que acordei, pesquisei mais alguns lugares que podemos visitar hoje e amanhã
aproveitando que estamos de folga. Achei uma ilha espetacular a uns quinze
quilômetros do hotel…

Demorava até que o meu humor voltasse ao normal pela manhã e até a tagarelice de
Rarissa estava me incomodando. Enquanto tomava o meu café, os meus pensamentos
divagaram de volta ao nosso acompanhante da noite anterior e interrompi minha
parceira.

— O Peterson chegou a mencionar os nomes da esposa e dos filhos dele na conversa de


ontem?

Rarissa estacou um segundo segurando um biquíni preto. Pensou um instante e


respondeu sem muita certeza:

— Acho que não. Ele tava tentando fugir do assunto. Só lembro que falou qualquer
coisa que os filhos eram gêmeos e que os dois pareciam com ele.
Meus olhos ficaram voltados para a janela do hotel enquanto eu divagava. O sol já
brilhava forte do lado de fora e o céu parecia limpo anunciando um dia perfeito de
verão.

— Peterson Tomazzi… — disse, verbalizando os meus pensamentos. — Você


pesquisou o nome dele nas redes sociais?

Rarissa fez que não com a cabeça. Largou o biquíni de lado e em segundos, estava se
debruçando em seu celular para começar a pesquisa.

— Eu não tinha pensado nisso, mas agora que falou, bateu curiosidade de saber mais
sobre a família do meu Sugar Daddy.

Enquanto eu terminava o meu café, Rarissa ficou me narrando as coisas que tinha
encontrado sobre o senhor Tomazzi numa rede social. Sua esposa se chamava Elisa, os
filhos gêmeos eram uma menina e um menino chamados Cleide e Cleber, ele trabalhava
para uma empresa de construção chamada Suares & Castilho e ele era também o
cunhado de um dos diretores comerciais da construtora.

— Ele parece ter muita grana — concluiu Rarissa espiando o álbum de viagens do cara.
—, tem fotos dele e da esposa em uma pá de lugares chiques… Praça de São Pedro no
Vaticano, Arco do Triunfo na França, Aspen nos Estados Unidos…

Eu estava de costas para ela naquele momento, mas uma interjeição de Rarissa me
chamou de volta a atenção. Ela tinha ficado pálida sentada na beirada da cama e colocou
uma das mãos sobre os lábios, encarando arregalada a tela do celular.

— Puta que pariu…

Aquilo me assustou um pouco e, então, me aproximei querendo saber o motivo de todo


o desconforto que ficou visível em seu rosto moreno de sol.

— O que foi, Rari? O que você achou aí?

Rari parecia agora em transe e eu sacudi o seu braço para que ela falasse alguma coisa.

— Mano, que merda! O Peterson…

Ela tinha dificuldade para falar. Me sentei ao seu lado e me voltei para as fotos que ela
via na tela do smartphone. Numa delas, o homem ruivo aparecia perfilado com um casal
mais velho, uma menina que devia ter a idade de Rarissa e um outro rapaz de cabelos
loiros compridos, estilo surfista.

— Quem são esses na foto com o Peterson, amiga?

Rarissa fez um gesto de pinça com os dedos para ampliar a foto e mirou no rosto da
mocinha de cabelos castanhos e pele clara.

— Não reconhece essa aqui?

Me parecia familiar, mas fiz que não.


— Essa é a minha amiga, a Janete Castilho — em seguida, ela puxou a foto mais para o
lado esquerdo. —, esse homem e essa mulher ao lado do Peterson são os pais da Jane e
o menino loiro aqui é o Jonathan, irmão mais velho dela.

Eu ainda não entendia a razão daquilo ter perturbado tanto Rarissa, mas em seguida, a
verdade veio à tona.

— A esposa do Peterson é a Elisa, irmã do Renato, o pai da Janete. A mulher é tia da


minha amiga, o que faz do Peterson igualmente tio dela.

Rarissa me encarou sem seu costumeiro ar alegre e jovial no rosto.

— Eu devia ter me atido aos detalhes… ele falou que era engenheiro, disse que
trabalhava para uma construtora de São Paulo… a Jane vivia me falando da família
dela… todo mundo praticamente trabalha com construção… ela já tinha me falado que
um de seus tios era ruivo de olhos verdes, que ela tinha primos gêmeos igualmente
ruivos… cara, como não saquei?

Ela estava mesmo chateada com aquela constatação e dava para entender o porquê.

— Eu transei com o tio da minha melhor amiga… você tem noção de o quanto isso é
errado?

Rarissa jogou o celular de lado e ficou cabisbaixa.

— Você não sabia, Rari. Não tinha como saber… esse cara não é o único engenheiro
ruivo que tem filhos gêmeos na face da Terra. Em algum lugar por aí deve ter alguma
pessoa que segue essas mesmas características. Você não tinha como adivinhar que ele
era um parente da sua amiga Janete.

— A Jane e eu somos mais que amigas, Landa. Eu a considero a minha irmã… eu tinha
que ter reconhecido o Peterson das milhões de fotos que ela já tinha me mostrada da sua
família. Não era pra eu ter deixado rolar o que aconteceu ontem naquele quarto…

Eu abracei Rarissa tentando lhe passar algum alento, mas sabia que ela não se
recuperaria rápido daquele baque.

— O que eu vou dizer a ela quando a Jane descobrir que eu fui pra cama com um dos
seus tios?

Fui firme:

— Peraí, garota. Ela não precisa saber de nada. Se você ou eu não dissermos uma
vírgula que seja do que nós três aprontamos juntos naquele quarto, a Janete jamais vai
saber. Ou você acha mesmo que o Peterson vai chegar em São Paulo contando pra todo
mundo que levou duas paulistas fogosas pra cama em Vitória?

Ela ficou me olhando com cara de choro.


— O cara é casado e, pelo que podemos ver nas fotos, bem casado! Ele não vai dizer
nada a ninguém e acho que você também não tem que dizer.

Rarissa coçou o nariz arrebitado, depois, mexeu os cabelos cacheados, os puxando de


lado.

— Mas, e a minha consciência? Eu sempre vou saber o que fui capaz de fazer. Agora,
todas as vezes que encontrar a Jane, vou morrer de vergonha pelo que fiz à tia dela…

— Para de tentar assumir toda a culpa, garota. O Peterson é adulto. Ele sabia muito bem
o que estava fazendo quando nos chamou pra transar. Você não sabia que ele era tio da
sua amiga até agora e é nisso que tem que se concentrar. Pare de querer carregar o peso
dessa culpa nas costas, não é justo com você.

Na tentativa de animar um pouco a Rarissa, algum tempo depois, eu decidi que iria com
ela até Guarapari visitar a Praia dos Padres como a menina tanto queria. Estava sendo
difícil fazer com que ela pensasse em outra coisa que não fosse o tio da amiga, mas no
final das contas, saímos do hotel e viajamos de carro os cinquenta e quatro quilômetros
que nos separavam do nosso destino. No caminho, ouvimos música, cantamos e
conversamos muito sobre assuntos aleatórios, o que ajudou a acalmar a minha amiga.

Enquanto aproveitávamos o sol de quase trinta e cinco grausº que fazia no Espírito
Santo aquela tarde de sábado, Peterson voltou a me chamar para conversar no
WhatsApp, mas eu decidi ignorar. O cara tinha curtido o nosso ménage à trois e estava
pedindo por um bis aquela noite, algo que eu não podia mais aceitar em solidariedade à
Rarissa.

Eu e ela não voltamos mais ao assunto depois disso e nos queimamos sob o sol de verão
até o cair da noite. Aquele era o primeiro programa que fazíamos juntas longe dos
meninos que costumeiramente nos acompanhavam naquele tipo de viagem e estava
sendo muito bom compartilhar o momento só com a Rarissa.
Capítulo 72 – Elisa

ACORDEI NO SÁBADO SEGUINTE após a noite de amor entre o meu cunhado


Roque e eu dolorida e me sentindo extremamente culpada pelo que tinha feito. Havia
misturado a minha carência afetiva ao turbilhão de emoções que vinha me arrebatando
nos últimos meses na empresa da família e acabei me jogando diretamente nos braços
do homem que era casado com a minha irmã há quase dezesseis anos.

Eu sabia que por conta da infidelidade dele, os dois tinham andado separados
ultimamente, mas que agora estavam tentando se reconciliar devagar. De uma hora para
outra, tinha me colocado bem no meio do casal e, por minha causa, uma tragédia
familiar podia se abater sobre os Castilho. Mais uma delas.

Logo que me levantei, caminhei até a cozinha e lá, encontrei a minha filha Cleide pronta
para o café da manhã. Ruth, a nossa doméstica, já havia preparado o desjejum como eu
mais gostava, com muitas frutas, sucos e cereais. Me sentei numa das cabeceiras da
mesa retangular e fui servida por ela como de costume. Cleide estava sorridente e tinha
um ar muito grande de satisfação na cara sardenta que herdara do pai.

— Dormiu bem, filha?

Ela assentiu com os olhos verdes brilhantes. Enfiou uma colherada de cereal na boca,
mastigou, limpou o canto dos lábios finos com um guardanapo e completou:

— Fazia tempo que não dormia tão bem quanto essa noite. — Em seguida, a menina se
inclinou em minha direção e cochichou algo íntimo. — Parece até que tive um orgasmo
daqueles de tremer as pernas… tô me sentindo com aquela sensação de relaxamento no
corpo.

Ela tinha falado alto o suficiente para que Ruth ouvisse e a mulher baixinha de olhos
curiosos se virou em nossa direção um instante antes de voltar a passar o café preto na
cafeteira sobre o balcão da pia.

— Isso lá é coisa de se dizer à mesa do café, menina!

Eu e Cleide tínhamos intimidade suficiente para falar sobre qualquer tipo de assunto,
incluindo sexo, mas não gostava que os empregados da casa tivessem acesso aquele tipo
de conversa entre nós.

— E você, mãe? Dormiu bem? Tá com uma pele ótima hoje. Foi a visita do tio Roque
ontem à noite que te deixou tão hidratada?

Eu tinha começado a entender as indiretas sobre sexo que Cleide estava fazendo e senti
um frio percorrer a minha espinha quando passei a suspeitar que, talvez, as paredes que
separavam o meu quarto do das crianças não fossem tão grossas como eu pensava.
Minha filha tinha visto o tio chegar em casa comigo depois do trabalho e sabendo o
quanto ela era observadora desde a infância, não era difícil concluir que talvez tivesse
ouvido algum dos meus gemidos na cama durante as horas em que estive acompanhada
por Roque.

— Cleide…

Meus olhos seguiram para Ruth que continuou de costas para onde estávamos, depois,
se voltaram para Cleide quando pensei em repreendê-la mais uma vez. Decidi que não
valia a pena antes que acontecesse e, então, me levantei da mesa a puxando pelo braço
comigo.

— A senhora não vai querer o café, dona Elisa?

— Agora não, Ruth. Termina de passar que eu tomo daqui a pouco.

Apertei com firmeza o braço magro de Cleide e praticamente a arrastei até o escritório
no andar de baixo onde Peterson e eu trabalhávamos em nossos projetos individuais de
vez em quando. A empurrei para dentro e pedi que sentasse diante da escrivaninha. Ela
chiou:

— Tá doendo, mãe!

Com uma careta no rosto, ficou massageando o ponto no braço que eu havia apertado,
enquanto isso, eu dei a volta na mesa e me sentei na cadeira presidencial, de frente para
ela.

— Muito bem, mocinha. Obviamente você tem algo a me dizer. Agora que estamos
sozinhas aqui, sem nenhum empregado ouvindo a nossa conversa, você pode
desembuchar.

Cleide parou de friccionar a pele sardenta do braço e apoiou uma das mãos sobre o
tampo liso da mesa retangular. Estava com as sobrancelhas alaranjadas arqueadas e os
olhos semicerrados.

— Você transou com o tio Roque ontem à noite. Eu sei. Eu ouvi tudo.

Eu devia ter imaginado que aquilo iria acontecer. O próprio Roque havia me alertado,
mas eu estava sedenta demais por meu próprio cunhado para que fosse capaz de
raciocinar direito.

— Nós não estávamos… Ele só… Nós só…

— Nem adianta negar, mãe. Eu encontrei ele assim que desceu do andar de cima. Estava
despenteado, a roupa aberta, descalço… até arranhões na pele ele tinha. Eu sei que
vocês transaram.

Roque tinha deixado o meu quarto na calada da noite após me deixar esgotada sobre a
minha própria cama. Eu não o tinha visto sair e nem sequer tinha certeza do horário que
aquilo tinha acontecido. Há muito tempo uma noite de sexo não me derrubava daquele
jeito e eu tinha me deixado levar pelo prazer, sem pensar em qualquer uma das
consequências dos meus atos.
Eu me aproveitei que o meu marido foi viajar para o Espírito Santo e, na primeira
oportunidade, o traí com o meu cunhado… eu não presto! pensei, no momento em que
realizei que não havia mais o que esconder de Cleide.

— Me perdoa, filha. Os últimos meses têm sido horríveis na construtora. Eu estou sob
muita pressão. Os sócios têm colocado a nossa família contra a parede querendo nos
tomar a nossa parte das ações… Eu… Eu quase não tenho conseguido dormir direito de
preocupação…

— E isso é motivo para transar com o marido da sua irmã?

— Não… É claro que não. Eu… Eu estava frágil… O seu pai e eu não fazemos amor há
muito tempo… Eu… Eu acabei me deixando levar… O seu tio foi tão atencioso, tão
prestativo…

Cleide riu de um jeito irônico sentada à minha frente, o que só serviu para me deixar
ainda mais culpada.

— Eu não tô aqui pra te julgar, mãe… Eu sei que a nossa família é meio estranha, que
faz coisas que a maioria das pessoas condenariam de olhos fechados, mas ir pra cama
com o tio Roque, o marido da sua irmã, uma noite após o papai sair de viagem? Até eu
acho um pouco demais!

Minha filha estava certíssima e eu não tinha mais o que argumentar em minha defesa.
Eu tinha sido infiel, tinha traído a confiança não só do meu próprio marido como
também a de Carla, a minha tão querida irmã caçula. Por mais que eu e Roque
tivéssemos uma história de amor que precedia o casamento dele com Carla, aquilo não
era motivo suficiente para que fossemos para a cama juntos, não nos tempos atuais.

— Eu errei, filha. Tenho consciência disso, mas eu preciso que você perdoe a sua mãe.
A nossa casa é sagrada e eu a violei trazendo outro homem para dentro dela, alguém
com quem eu tencionava de antemão dormir. Quando eu e o Roque saímos da Suares &
Castilho na noite passada, eu tinha certeza o que iria acontecer entre nós assim que
ficássemos juntos. Foi premeditado e eu me envergonho disso.

Cleide abaixou os olhos um instante e demorou a voltar a me encarar.

— Eu não vou dizer nada a ninguém, mãe, pode ficar tranquila. Cabe somente a você
decidir se o papai merece ou não saber desse seu momento de fraqueza. Tenho certeza
que ele ia ficar muito triste se descobrisse de outra maneira que não por sua própria
esposa, mas quero que fique ciente que, de mim, ele nunca vai ouvir nada sobre esse
assunto. Vou fazer silêncio total.

Por conta daquela conversa sincera com a minha filha adolescente logo pela manhã, eu
não tive qualquer ânimo de sair para caminhar como sempre fazia aos finais de semana
e preferi me enfurnar em meu quarto. Ali dentro, aumentando ainda mais aquela
sensação de culpa, tudo parecia que ainda tinha o cheiro do Roque e mesmo quando
arranquei os lençóis de cima do colchão e as fronhas dos travesseiros impregnados com
o seu perfume masculino, era como se o meu próprio cunhado estivesse ali, parado em
algum canto, me olhando com aquela cara de pervertido, me chamando de gostosa e me
dando palmadas na bunda.

“Esse rabo continua delicioso como antes, Lisa. Que tesão! ”.

Nenhum homem antes ou depois de Roque tinha me feito sentir o prazer que ele me
proporcionava e voltar a trepar com aquele cretino tinha me reacendido um desejo que
eu julgava escondido, que eu acreditava que nunca mais viria à tona.

Oh, Deus! Como faço para aplacar essa vontade que continuo sentindo de me entregar
ao meu cunhado mesmo sabendo o quanto isso é errado? Como?
Capítulo 73 – Elisa (PARTE 2)

NO DOMINGO À TARDE, o interfone da portaria do condomínio tocou e a Ruth


atendeu. Minutos depois, ela bateu à porta do meu quarto e informou que a minha irmã
Carla tinha chegado para me visitar com a filha Micaela. O meu coração disparou
dentro do peito.

A Carla? Por que ela está aqui? Será que ela descobriu?

Eu entrei em parafuso e quase pedi para que Ruth mentisse sobre a minha presença em
casa. Por fim, decidi encarar o problema de frente e fui recepcioná-la pessoalmente ao
portão. Estava com as pernas trêmulas e um frio no estômago, mas não queria que
ninguém percebesse.

Carla morava no bairro da Saúde, a poucos quilômetros de Moema e, desde os primeiros


anos dos nossos casamentos, era muito comum que uma visitasse a casa da outra para
trocarmos ideias a respeito dos nossos trabalhos, os filhos, os maridos e até mesmo
coisas mais íntimas como sexo.

A sua filha Micaela era apenas alguns meses mais nova que os meus gêmeos e os três
primos tinham crescido juntos. Eram muito mais próximos entre si do que eram com os
filhos dos meus irmãos Renato e Mauro, e eles se adoravam. Assim que me
cumprimentou, Mica foi direto se encontrar com Cleide e Cleber no andar de cima e eu
pedi que a Ruth nos servisse um chá enquanto eu me sentava no sofá com a minha irmã.

Eu conhecia Carla mais do que ela imaginava e só de bater os olhos em seu rosto, tive a
certeza que o meu caso recente com o seu marido não era a razão de ela ter me visitado.
Seja lá o que Roque tivesse usado de desculpa para chegar tão tarde em casa naquela
sexta-feira em que transamos, ela tinha acreditado.

— Eu tô angustiada, Lisa. Eu preciso desabafar com você uma coisa que está me
deixando engasgada desde sexta-feira e não podia ser por telefone. Preciso dos seus
conselhos e a nossa conversa tinha que ser cara a cara.

Ela também tinha me procurado quando o seu casamento com o Roque tinha começado
a ruir por conta das traições dele. O meu cunhado tinha desenvolvido certa predileção
sexual por garotas muito mais novas e aquilo estava abalando a relação do casal. Carla
estava se sentindo preterida e a sua autoestima vinha sendo bastante atingida desde
então. Sempre vaidosa e preocupada em manter a forma esbelta, eu tinha visto a minha
irmã engordar vários quilos em poucos meses e, deprimida, ela passou a andar por aí
desleixada com a própria aparência, algo que afetou e muito o seu amor próprio.

— Aconteceu alguma coisa entre você e o Roque?

Eu estava ansiosa para saber o que Carla tinha para me dizer e fui logo ao cerne da
questão. Desde o final do ano anterior, os dois tinham feito as pazes e Roque havia
prometido a ela que não a trairia mais com menininhas da idade dos nossos filhos. Ao
que constava, aquela promessa ele estava cumprindo, o problema era que as traições
continuavam e agora com pessoas muito mais próximas do que Carla podia imaginar.

— Não. Eu e ele estamos bem. A nossa vida sexual até voltou ao normal. Temos feito
amor mais vezes nas últimas semanas do que todo o último semestre… o problema é
que eu ando com um apetite sexual muito maior do que o normal e acho que acabei
fazendo uma loucura por causa disso.

Me ajeitei melhor no sofá e após deixar a xícara de chá sobre o tampo da mesa de
centro, flexionei uma das pernas. Carla estava muito bonita com os cabelos presos num
rabo de cavalo, a pele hidratada e um batom nude sobre os lábios. Tinha perdido todos
aqueles quilos que acumulara em seu período depressivo e agora até usava roupas mais
justas ao corpo violão.

— Que tipo de loucura?

Ela ficou desconfortável. Sorveu um pouco do chá que lhe ofereci, deixou a xícara de
lado sobre a mesinha e disse:

— Eu traí o Roque com um menino que conheci há alguns meses.

Aquela notícia foi como uma explosão nuclear em minha cabeça. Eu estava me sentindo
a pior das vagabundas por ter ido para a cama com o marido da minha irmã após um
momento de fragilidade emocional e lá estava ela me confessando que tinha feito a
mesma coisa com Roque e praticamente ao mesmo tempo em que ele me traçava no
andar de cima da minha casa. Aquilo era surreal demais e nem Nelson Rodrigues teria
pensado em algo tão absurdamente doentio.

— Você traiu o Roque? Como assim, Carla? Você disse que estava tudo bem entre
vocês dois, que ele tinha se endireitado…

Ela correu as mãos pelo rosto e ajeitou a coluna se posicionando melhor ao meu lado,
virada em minha direção.

— Está tudo bem. Ele não tem ficado com ninguém além de mim, não chega mais em
casa com cheiro de perfume de mulher nas roupas, não se demora mais na rua e nem
tem escondido conversas pelo telefone. O nosso casamento voltou ao normal, mas desta
vez, fui eu que dei uma escorregada. Eu saí para tomar um drinque com um rapaz e
acabei transando com ele… eu… não consegui me controlar.

Durante a crise do seu casamento, Carla tinha me contado sobre um garoto judoca com
quem ela tinha começado a se encontrar e nunca me disse exatamente como aquele caso
havia acabado.

— Foi aquele tal de Gilson de novo? O tal professor de judô?

Ela fez que não.

— É um pouco mais complicado desta vez…


Durante anos, a construtora criada por papai na década de oitenta disputava o mercado
da construção civil de maneira acirrada com outra companhia encabeçada por Fausto
Monterey, um descendente de espanhóis que comandava com pulso firme a maior
adversária nos negócios da Suares & Castilho. Monterey tinha três herdeiros, o mais
velho chamado Rodrigo, o filho do meio que nada tinha a ver com o universo das
construções de nome Lucas e a caçula, a garota chamada Carina. Eu conhecia o
primogênito dos Monterey muito por alto, de fotos da internet. Carla havia sido
apresentada a ele pessoalmente durante uma festa de aniversário há vários meses e os
dois tinham se reencontrado recentemente, no lançamento de um empreendimento
assinado pela agência de arquitetura da minha irmã, a A3.

— Você… Você dormiu com o filho do Fausto Monterey?

Carla enrubesceu à minha frente e assentiu, envergonhada.

— Aconteceu tudo muito rápido… nós dois já tínhamos saído para beber após o
expediente uma vez. A Construtora Monterey fica praticamente do outro lado da rua da
A3… eu o chamei para tomar um drinque, nós nos olhamos e, em vez de descer do carro
para ir até o bar, resolvemos sair dali para um lugar mais privativo. Eu não planejei
nada, mas quando percebi, estava nua embaixo dele…

Além de Gilson, eu nunca tinha ouvido Carla falar com tanta admiração de nenhum
outro amante. Enquanto descrevia boa parte do que tinha feito com o herdeiro dos
Monterey em um flat alugado por ela, a minha irmã parecia eufórica, quase como se
estivesse mesmo de quatro pelo tal rapaz. A traição de Carla não anulava o meu caso de
uma noite com o Roque, mas diminuía e muito o sentimento de culpa que estava me
corroendo até então.

— Do jeito que você fala desse rapaz, até parece que você ficou apaixonada por ele,
minha irmã…

Carla não desmentiu a minha teoria e, em vez disso, abriu um sorriso de felicidade.

— Sabe aquela sensação gostosa de início de relacionamento? Aquele calor que vem de
dentro e que transborda em forma de sorrisos apaixonados e brilho no olhar? Eu tô me
sentindo assim desde a noite em que fiquei com ele. Eu não sei explicar… o Rodrigo é
tão gentil, tão atencioso na cama… Ao mesmo tempo, é tão viril, tão másculo… Deus!
Ele é perfeito. Perfeito!

Era exatamente daquele jeito que eu me sentia com relação ao meu cunhado. Nenhum
homem tinha me completado sexualmente como ele me completava e era terrível chegar
àquela conclusão tantos anos depois da minha união com Peterson. Às vezes, eu
amaldiçoava a minha própria irmã por ter se casado com o Roque e todas as vezes eu
pedia perdão a Deus, porque ela era sangue do meu sangue e eu jamais deveria desejar o
seu mal.

— E você pensa em se encontrar outra vez com ele?


Ela não parecia saber a resposta.

— Depois daquela noite, nos falamos apenas por mensagens, mas nada muito sério. Ele
também é compromissado. Namora uma fotógrafa linda, jovem como ele. Os dois
pretendem se casar… eu não me encaixo em sua vida. Jamais me encaixaria.

Carla agora tinha assumido um tom voz entristecido e seu semblante murchou.

— Talvez isso seja bom, minha irmã. Ele é compromissado, você é casada… o que
aconteceu entre vocês foi só uma aventura, um caso passageiro. Isso não precisa
influenciar negativamente a sua decisão de reatar o casamento com o Roque.

Ela ficou pensativa.

— O problema é esse desejo ardendo dentro de mim… eu continuo querendo me


encontrar com o Rodrigo. Reviver aquele momento de prazer, aquele momento de
euforia… eu não sei se consigo ficar mais um dia sem experimentar aquilo de novo. É
como se ele tivesse me viciado… eu me sinto uma chapada em abstinência e isso tem
me deixado maluca.

Eu tentei aconselhar Carla da melhor maneira possível, a fazendo enxergar o quão


perigosa era aquela sua relação com o filho de Fausto Monterey, mas ao final da nossa
conversa, ela ainda não havia tomado uma decisão quanto a se afastar de vez ou não
daquele garoto. Quando deixou a minha casa na companhia de Micaela, a minha irmã
ainda estava confusa, mas eu estava absolutamente mais leve.
Capítulo 74 – Elisa (PARTE 3)

NA SEGUNDA-FEIRA, recebi um convite que se estendia para toda a família Tomazzi


Castilho para um baile de carnaval fechado que aconteceria numa casa noturna da Vila
Madalena. Apenas os mais enricados de São Paulo marcariam presença e, apesar dos
diversos contratempos que estávamos vivendo na Suares & Castilho em decorrência aos
crimes cometidos por meu irmão Renato à frente da diretoria, chamei o meu outro irmão
Mauro e a minha cunhada Solange para me acompanhar.

— Não estou muito com cabeça para bailes de carnaval, mana — disse o Mauro ao
telefone. —, eu até queria ter algum ânimo para me divertir um pouco em meio a essa
tempestade que nos abate, mas só consigo pensar em salvar a nossa parte da herança na
construtora do papai.

Por parte da família de Renato a resposta foi a mesma e a única representante com quem
consegui conversar foi taxativa:

— Os meus pais se isolaram no litoral, Elisa — falou Janete, a minha sobrinha de


dezoito anos ao telefone. — e com certeza não vão sair de lá tão cedo. Eu acabei de
chegar a São Paulo de uma viagem que fiz para a praia e não tô muito a fim de pular
carnaval. Me desculpa.

Acabei me voltando para a Carla e ela pareceu muito animada com o convite, apesar de
que ela tinha os seus próprios planos para o Carnaval.

— Vai ter um bloco de rua muito bom na Vila Mariana que eu tô louca pra conhecer,
mana. A Mica já está muito empolgada para ir e as minhas sócias da agência também
vão estar lá.

Torci o nariz por ligação.

— Um bloco de rua? Multidão? Pessoas bêbadas e suadas pisando em nosso pé,


esbarrando na gente? Sério?

Eu não tinha humor e nem paciência para encarar aquele tipo de comemoração mais
popular e não escondia isso.

— Para de frescura, Lisa! Você ia comigo aos bloquinhos de carnaval quando a gente
era mais nova. O que tem de mais?

Mijo na rua, música ruim, gente fedida e mal-educada… Respondi mentalmente.

— Não sei não…

— Aposto que o Cleber e a Cleide vão ficar animados para se juntar a nós. Fala com
eles pelo menos.

Como previsto pela tia deles, os meus filhos ficaram bastante interessados em conhecer
o tal bloco de carnaval e, por causa dos dois, decidi aceitar o convite de Carla e rejeitar
o do baile fechado na Vila Madalena. Seria uma noite de bastante estresse e eu tinha
certeza disso.

Os meus gêmeos e eu chegamos à Vila Mariana em torno das dezoito horas e, como se
dizia no populacho, “o bagulho estava fervendo”. Uma multidão já se estendia pelas
principais vias do bairro nobre de São Paulo e um trio elétrico alto e bastante colorido
seguia à frente, puxando as pessoas com músicas clássicas de Carnaval em ritmo
acelerado.

♪Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu…♫

Encontrei Carla perto da esquina da rua Capitão Cavalcanti como combinado e ela já
estava acompanhada de Micaela e as amigas Nana e Duda.

— Como você tá linda, Lisa!

A minha irmã sempre dizia aquele tipo de coisa, mas eu sabia que podia contar com a
sua sinceridade. Qualquer look que eu vestia que não me caía bem, ela fazia questão de
me falar, por isso, me senti envaidecida. Tinha saído de casa com uma calça legging
preta que desenhava bem a minha silhueta e uma regata cáqui que chegava até a cintura.
Tinha passado uma sombra azulada sobre os olhos e um delineado escuro combinando
com a calça. Meus cabelos estavam soltos e tinha botado os meus brincos de argolas da
Tiffany.

— Você também tá uma gata, mana.

Carla tinha se vestido como em nossa juventude e estava com o corpo ideal para isso.
Estava usando um shortinho jeans bastante agarrado acentuando o bumbum e uma blusa
sem alças bem decotada em cima. A pele estava bronzeada por um óleo brilhante
especial que refletia a luz natural e a sua maquiagem realçava a beleza morena da minha
irmã. Nana e Duda tinham apostado em modelitos parecidos aos dela.

— A gente vai se acabar nesse bloco hoje!

Comentou a elétrica Micaela assim que tomou a mão da minha filha Cleide. A menina
tinha prendido os cabelos ruivos lisos em duas Marias-chiquinhas e, como sempre,
usava um mini-short que deixava pouco a se imaginar do seu corpo adolescente. Ela era
meses mais nova que os meus filhos, mas tinha se desenvolvido fisicamente mais rápido
que a Cleide. Tinha um quadril sinuoso e uma bunda arrebitada que minha filha nem
sonhava em ter aos quinze anos. Cleide tinha puxado muito pouco das mulheres
Castilho, todas ostentando quadris largos e nádegas carnudas. Era a cópia exata da mãe
de Peterson, uma descendente de irlandeses alta e magra, do tipo varapau.

Assim como tinha declarado Micaela, ela e os meus gêmeos sumiram rapidamente no
meio do bloco e se afastaram para curtir muito aquela noite de Carnaval. Carla, Nana,
Duda e eu ficamos mais à margem da multidão, bebendo cerveja e conversando.

Para onde se olhava, via-se um número muito grande de jovens dançando e pulando ao
som das músicas agitadas que explodiam dos autofalantes do trio-elétrico. A maioria
eram pessoas que não moravam na Vila Mariana, mas que tinham vindo para conhecer o
tal bloco. E tinha todo tipo de gente.

♫Se a canoa não virar olê-olê-olá, eu chego lá!♪

Nana e Duda sacudiam os quadris ao som das marchinhas quase tanto quanto bebiam
cerveja e o seu ritmo era mesmo contagiante. Eu não dançava nada há muito tempo e,
apesar dos exercícios físicos regulares que fazia para não ganhar peso e para não me
tornar uma porca gorda como era a tendência da nossa família, me senti bastante
deslocada em meio às demais, além de um pouco desengonçada.

Eu estava chegando aos quarenta e admitia que a cada dia que passava, o medo de que a
idade avançada me tirasse os reais prazeres da vida era constante. Quanto mais
aniversários eu fazia, mais me batia um desespero de que, de repente, eu não fosse mais
capaz de correr sem sentir dores nos quadris, nadar com desenvoltura ou mesmo dançar
sem parecer uma velha trêmula e desajeitada. Eu não era mais jovem há muito tempo e
locais como aquele bloco de carnaval me faziam pensar nisso.
Capítulo 75 – Elisa (PARTE 4)

À CERTA ALTURA DA NOITE, Carla e Nana se afastaram do nosso grupo dizendo


que iam convidar um amigo que morava nas redondezas para cair na farra com a gente.
O estúdio em que elas trabalhavam ficava localizado naquele mesmo bairro e achei
natural que as duas conhecessem alguém da redondeza.

Pouco antes de elas se afastarem, eu tinha visto minha irmã cochichar algo com a filha e
assim que ela sumiu na multidão, senti vontade de assuntar com minha sobrinha o que
era. Micaela não tinha qualquer papa na língua e soltou o verbo.

— A minha mãe foi até a casa do tio Digo convidar ele para o bloco.

Eu não fazia ideia quem era “tio Digo”, mas a própria Mica me explicou.

— Eu sei o endereço porque já visitei o apartamento dele com a minha amiga Kelly. O
prédio fica pra aquele lado — e ela apontou na direção leste. —, ele mora com a
namorada, mas a essa hora, deve estar sozinho lá. A Natalie está trabalhando de
fotógrafa para uma revista, a Kelly me contou.

Naquele momento, as peças se encaixaram. Minha irmã estava mesmo atraída por
aquele moço a ponto de largar a própria filha no meio do bloco para visitá-lo em sua
casa. Kelly era a prima mais nova de Natalie e a menina chamava Rodrigo de “tio
Digo”, um hábito que tinha desde criança. Por ser amiga da menina, a minha sobrinha
também tinha começado a tratá-lo daquela forma e tudo começou a fazer sentido.

Fazia mais de vinte minutos que Carla tinha se afastado de nós e eu tinha ido buscar
mais uma cerveja num quiosque de calçada quando reparei que a Duda estava tomando
conta muito bem das crianças. Cleide, Cleber e Micaela continuavam dançando com a
mesma energia de quando havia começado o baile e vi ali uma oportunidade de também
realizar os meus próprios desejos proibidos.

O bairro da Saúde ficava a menos de doze minutos de distância da Vila Mariana e,


dependendo da via que eu acessasse de carro, poderia até chegar mais rápido. Eu tinha
bebido um pouco a mais que o normal, mas me considerava apta para dirigir o meu
Prius sem derrubar nenhum poste ou causar um acidente fatal.

A minha ligação para ele enquanto dirigia foi atendida dois minutos depois e a sua voz
parecia sonolenta.

— Estava dormindo?

Ele sabia que era eu do outro lado e respondeu sem qualquer cerimônia:

— Não, estava deitado vendo um filme. Aconteceu alguma coisa?

Eu estava agora a cinco minutos da Saúde. A avenida estava tranquila daquele lado.
Metade da cidade tinha se deslocado para o bloco da Vila Mariana ou outros pontos
onde a ferveção do carnaval também estava rolando. Eu precisava de outro tipo de
ferveção.

— Aconteceu. Estava no bloco de carnaval e senti uma vontade louca de ter você entre
as minhas pernas de novo.

Eu estava levemente alcoolizada, estava falando ao telefone enquanto dirigia e


provavelmente estava trafegando acima da velocidade permitida naquela área. Podia
perder alguns pontos em minha carteira de habilitação com toda aquela loucura, mas
não conseguia pensar em outra coisa a não ser em Roque e em todo aquele seu vigor de
macho selvagem.

Que não me apareça nenhum guarda de trânsito uma hora dessas!

— O que é isso, Elisa? Onde está a Carla? Ela não está aí com você?

Eu podia dizer a verdade, podia falar pra ele que a sua esposa tinha ido visitar o amante
enquanto o largava sozinho em casa, mas sabia que tinha o teto de vidro e que não era
de bom tom apedrejar a vizinhança.

— Não, ela não está. Agora dá uma olhada para o lado de fora de casa. Olha quem
chegou.

Eu estacionei o Toyota de maneira meio desleixada e, em seguida, o porteiro do


condomínio veio em minha direção ao me reconhecer.

— Boa noite, dona Elisa.

Eu odiava ser chamada de “dona”. Aquilo fazia com que eu me sentisse velha, mas eu
não tinha tempo para ralhar com subalternos. Larguei a chave na mão dele e comecei a
andar em direção à passagem de pedestres.

— Estaciona pra mim, por favor. Não vou demorar.

Andei apressada até a casa dos Alencar Castilho e como tinha pedido para ele, Roque
estava espiando pela janela. Antes que eu me aproximasse da soleira, a porta já estava
se abrindo e ele me recepcionou com surpresa no rosto. Os olhos verdes brilharam em
minha direção e a boca se arqueou num sorriso meio preocupado em meio ao
cavanhaque ruivo.

— O que está fazendo aqui, Lisa? A Carla…

Antes que algum vizinho nos visse, eu o empurrei para dentro da sala decorada e ouvi
um latido familiar. Steve, o Lulu da Pomerânia que a família criava veio correndo
estranhando a minha chegada abrupta e o cãozinho foi testemunha da voracidade com
que ataquei o seu dono.

— Cala essa boca e me fode. Me fode bem gostoso igual da última vez.
Caímos sobre o sofá de couro e eu comecei a beijá-lo na boca. Roque ainda parecia
reticente e “Carla” e “Mica” era tudo que conseguia balbuciar.

— Elas estão se divertindo sem nós. Para de pensar e age. Vem. Me pega. ME FODE!

Eu conhecia Roque e sabia que ele era incapaz de resistir a um comando como aquele.
No instante seguinte, estava levantando a minha blusa e chupando os meus seios com
vigor enquanto as suas mãos firmes massageavam a minha bunda por cima da legging.
Steve ainda rosnou e latiu mais algumas vezes assustado com a nossa conduta feroz
sobre o sofá, mas depois, decidiu se afastar, confuso. Ele seria a única testemunha da
nossa lascívia e eu agradecia por aquele cão estúpido não poder verbalizar o que estava
vendo ali.

— Acha que é assim? Você chega na minha casa dando ordens e eu tenho que acatar?
Acha?

Sorri em seu colo, de frente para ele e assenti.

— Acho. Eu ordeno que você coloque esse pau dentro de mim agora mesmo. Eu sou a
sua dona. Eu mando aqui!

Feito um vassalo da realeza, o cafajeste me fez erguer o quadril um instante e se despiu


da bermuda que usava. Aquela maravilha avermelhada e dura pendeu para fora da cueca
e, num instante, estava apontando para cima, pronta para entrar em ação.

— Oh, Senhor! Isso mesmo. Bota pra fora…

Ele puxou a minha calça tão rápido que a calcinha acabou descendo junto. Com uma
apertada forte em minha bunda, ele meteu dentro da minha vagina com tudo, de uma
vez só. Soltei um grito.

— Por que tá gritando? Não era isso que você queria, sua putinha?

— Era. Era sim! Continua, continua!

Agarrei Roque e ainda de frente para ele o deixei me penetrar com toda a força que
tinha, da maneira que mais gostava de fazer sexo, do jeito que mais me satisfazia.

— Era assim que queria, vadia? Bem forte, até o talo?

Ele estava me penetrando com fúria e, num instante, eu já estava me contorcendo toda
de prazer. Grunhi em cima dele e fui obrigada a fechar os olhos com a onda
impressionante que me arrebatou, fazendo com que os meus músculos se retesassem e
relaxassem rapidamente.

— Isso… bem forte… até o talo…

Roque era o meu amante perfeito e só ele sabia fazer do jeito que eu mais gostava. Eu
não sabia qual seria o desfecho daquela história proibida entre mim e o marido da minha
própria irmã, mas durante os trinta minutos que durou aquela transa, estava me sentindo
completamente realizada.
Capítulo 76 – Eduardo

A PORTA PANTOGRÁFICA DO ELEVADOR se abriu à minha frente com um ruído


irritante. O andar estava escuro como de costume. Das seis fileiras de lâmpadas no teto,
quatro estavam queimadas e outras duas piscavam em mau-funcionamento. Aquele
prédio devia ter uns duzentos e cinquenta anos. Me admirava que ainda estivesse em pé
depois de tanto tempo. Todas as vezes que um caminhão trafegava na avenida que
cruzava a esquina, eu rezava a Deus para que aquela pilha de tijolos velhos não
desabasse sobre o próprio peso… o mais curioso é que eu nem acreditava em Deus.

Eu costumava me chamar Eduardo H. Faustini e havia sido obrigado a me mudar do


bairro pacato onde morava com a minha família adotiva depois de ter a minha vida
devassada por um grupo de terroristas cibernéticos perigosos que queriam me pegar.
Um software-espião instalado por mim no servidor principal da Construtora Monterey
tinha sido rastreado e, com disso, os caras que tinham sido contratados pelo meu ex-
sogro chegaram facilmente a mim, colocando também em risco Wilson e Guilhermina,
as pessoas que haviam me adotado como filho ainda bebê. Eles eram tudo que eu tinha
na vida e não podia deixar que sofressem por conta de um erro que eu havia cometido.
Um dos piores possíveis.

Wilson e Guilhermina possuíam parentes em Minas Gerais, destino que tomaram juntos
assim que vendi o meu Golf 2000 para comprar as passagens de ônibus. Eles não
entendiam direito o que estava acontecendo e nem porque estavam sendo obrigados a
deixar o sobrado onde moravam há mais de vinte e cinco anos. Para a sua segurança, eu
não podia contar os detalhes, mas tinha dito o suficiente para que os dois concordassem
em sumir de vista por um tempo. Com os meus pais fora de perigo, tratei de desaparecer
e a minha primeira providência foi conseguir uma identidade nova. Para todos os
efeitos, eu agora me chamava Roni Mota e era sob essa alcunha que estava empenhado
em derrubar a organização criminosa que me perseguia e que me queria morto.

O crime que eu havia cometido e que havia me colocado naquela enrascada tinha
deixado sequelas nas famílias de todas as pessoas envolvidas, mas principalmente na
minha. Coagido pelo pai da minha ex-namorada Janete Castilho, eu tinha aceitado servir
de espião dentro da Construtora Monterey onde trabalhava como estagiário de TI e, por
um tempo, roubei informações cruciais da empresa, em especial, aquelas sobre contratos
e clientes futuros que a companhia pretendia angariar.

Renato, o meu sogro na época, via em mim a oportunidade que ele precisava de se
antecipar à principal concorrente da construtora que ele mesmo dirigia, a Suares &
Castilho e, por minha causa, durante um longo período, as coisas deram muito certo
para ele e muito errado para os rivais.

Enquanto a Suares & Castilho se antecipava a fechar contrato com todos os clientes
pleiteados pela Monterey, os lucros da empresa só aumentavam e os da adversária
atingia o pré-sal de tão baixos. As minhas ações tinham feito com que vários setores da
empresa fizessem uma demissão em massa por semana e aquilo começou a pesar em
minha consciência. Conforme as pessoas eram mandadas embora dos seus empregos
pelas minhas ações sujas, o vírus que eu havia instalado nos computadores da rede
continuava sendo bastante eficaz e ficou incólume durante um período longo. A minha
sorte acabou, no entanto, quando um dos meus próprios amigos do curso de informática
descobriu o que eu estava fazendo e me entregou para a minha namorada, a garota que
eu mais amava na vida.

Sem outra opção por conta das contas de casa que não paravam de chegar e ainda
tentando corrigir o meu erro desinstalando o malware que havia me conseguido pontos
com o “sogrão”, eu ainda permaneci por um tempo no setor de TI da construtora que eu
tinha ajudado a destruir. Foi nesse ínterim que a empresa conseguiu retomar fôlego para
sair do buraco onde eu a havia enfiado. Sem os dados que eu roubava para Renato, a
Suares & Castilho não tinha mais como se antecipar aos clientes da Monterey e isso
acabou equilibrando o mercado de construção civil novamente.

Semanas depois, sem seu antigo genro na jogada, um desesperado Renato acabou
contratando os serviços de um pirata da internet de codinome “Mercur” que, detentor de
recursos infinitamente maiores que os que eu tinha como mero estagiário, contribuiu
para que o chefe dos Castilho voltasse a assumir a liderança da corrida das construtoras.
O grupo de Mercur tinha se beneficiado dos rastros deixados por meu vírus na rede e
passou a roubar eles mesmos os dados do servidor da Monterey sem que ninguém
percebesse.

Os meses tinham se passado e após uma briga com a filha Janete — que agora sabia que
eu tinha sido o meio que o pai encontrara para roubar as informações da Monterey —,
Renato se viu arrependido dos seus atos, o que fez com que o ambicioso empresário
quisesse quebrar a ligação com Mercur. Para seu azar, um contrato daquele calibre não
podia ser desfeito tão facilmente e, como retaliação, o pirata usou de força para
sequestrar Janete e obrigar Renato a pagar o valor que ainda devia pelos serviços a ele
prestado.

Com acesso ao servidor e aos dados roubados, eu acabei descobrindo em cima da hora
as pretensões de Mercur para com a inocente filha de Renato e, de maneira heroica —
ou extremamente burra — consegui impedir que a minha ex-namorada fosse levada
pelos criminosos fortemente armados que tinham sido contratados para o serviço.
Baleado e com o nariz quebrado, fui levado quase inconsciente ao hospital pela própria
Janete em meu carro, após salvar a vida dela. A menina ainda não era capaz de me
perdoar por tudo que eu havia feito, mas reconhecia o meu esforço em impedir que ela
fosse sequestrada. Por conta disso, ao menos, a herdeira dos Castilho era eternamente
grata a mim.

Passados alguns meses desde a última vez que havia visto Janete pessoalmente, a
situação ainda era preocupante. Renato havia pagado a dívida com Mercur, mas tinha
sido obrigado a abandonar a direção da empresa que comandava com o irmão Mauro.
Ele e a esposa haviam se mudado para o litoral, envergonhados demais para
continuarem em São Paulo depois de tudo que o homem havia feito com a própria
família e, por lá, permaneceram em segurança.
Sem a preocupação de estar sendo vigiada ou prestes a ser raptada novamente, Janete
tocou a vida e se tornou estudante de Gestão Empresarial, curso que sempre estivera
disposta a fazer desde a época em que era a minha namorada.

O irmão dela, o surfista Jonathan, quase nunca parava no mesmo lugar por mais de um
dia e estava sempre viajando pelo país e o mundo, procurando a melhor onda para
desafiar.

Eu, agora era um fugitivo. Tinha me tornado alvo de Mercur após me meter entre o
grupo terrorista e os sequestradores de Janete, mas não estava sozinho naquela
confusão. Os meus amigos da escola técnica Marco Túlio e Gabriel, que ainda
trabalhavam dentro da Suares & Castilho, eram os meus olhos e ouvidos na construtora.
De vez em quando, Michael Mantovanni, o chefe dos meninos no setor de TI, também
nos auxiliava e era bom saber que ainda existiam aliados naquela batalha cibernética
que eu estava travando, até mesmo aqueles que eu nem imaginava que teria…

A porta do apartamento onde eu estava morando desde que havia saído da minha casa
na Água Branca arrastou no chão tão logo destravei a fechadura. Esperei alguns
segundos sob o batente de olho no elevador ao fundo do corredor para me certificar que
não havia sido seguido até ali e só entrei quando tive essa certeza. Tão logo bati a porta
atrás de mim, ela veio andando do quarto de olhos arregalados. Ainda não tinha se
acostumado à nova vida de fugitiva e sempre que eu voltava da rua, se esgueirava no
escuro para ter certeza que não era nenhum sequestrador querendo pegá-la de novo. Ao
me ver, abria um sorriso.

— Por que demorou tanto? Já tava começando a ficar irritada aqui!

Jessica Castilho era a irmã caçula de Janete e estava morando comigo desde que tinha
sido resgatada por mim pela segunda vez de um sequestro. Na primeira ocasião, a sua
irmã e eu ainda éramos namorados e a menina tinha sido arrastada até um barracão
abandonado, onde permaneceu sob a mira de uma faca. Desesperado, um traficante
encurralado pela polícia a havia raptado durante um baile funk na Zona Sul da cidade e a
usou como escudo humano36.

— Achou que eu tinha te largado aqui sozinha, é? — perguntei, a vendo um tanto


empertigada a me observar entrando pela sala.

De maneira corajosa e inconsequente, eu invadi o barracão assim que tive a chance e saí
no braço com o tal traficante. Durante a briga, o cara acabou fazendo um corte na palma
da minha mão, mas eu tinha salvado a Jéssica.

— Sempre que você sai, eu fico com o coração na mão… — Ela mexeu os cabelos
loiros enfiando alguns fios atrás da orelha. Tinha feição preocupada no rosto
adolescente.

Da segunda vez, os homens de Mercur haviam levado Jéssica para me forçar a ajudá-los
a roubar as contas bancárias da Construtora Monterey e precisei criar um plano de
36
Esse sequestro foi descrito em Desejos 35 – a Herdeira Rebelde
guerra para salvar a menina mais uma vez. Eu, Gabriel, Marco Túlio, Michael e um
amigo seu de nome Wesley, tínhamos conseguido transferir o valor exigido para uma
conta estrangeira, mas o Mercur não tinha ficado com um centavo sequer.

— Pode ficar tranquila agora, Jessi — disse, a vendo apoiada no batente da porta do
quarto com olhar curioso em direção às sacolas que eu trazia —, eu voltei e trouxe
aquele cereal que você adora.

O dinheiro havia sido transferido de conta em conta por um algoritmo redundante


desenvolvido por Michael e Wesley. Enquanto a bufunfa ia de paraíso fiscal em paraíso
fiscal, uma força-tarefa se juntou para resgatar Jéssica e, com um pouco de sorte, nós
conseguimos tirar a garota das mãos de Mercur. Depois disso, eu não podia mais
permitir que a minha ex-cunhada fosse usada como isca para me pegar. Em comum
acordo com os meus demais amigos, decidi me tornar responsável por ela integralmente,
pelo menos até que aquele pesadelo acabasse e todos os caras maus fossem presos.

— Não precisa me tratar feito criança — Ela entortou o lábio com feição levemente
zangada. —, eu sei que você não pode me proporcionar a mesma vida que eu tinha antes
na casa dos meus pais e eu não tô reclamando do que tenho agora. Você me mantém
segura e isso é tudo que importa.

A família de Jéssica jamais soube da segunda tentativa de sequestro que ela sofrera e
aquele tinha sido um pedido da própria menina a mim. Renato tinha sido punido uma
vez por sua aliança com os piratas cibernéticos com o quase rapto de Janete e seria um
golpe ainda mais fatal se ele soubesse que, por sua causa, a filha caçula também estava
correndo risco de morte. O velho já tinha sido suficientemente castigado por seus atos e
eu concordei que não precisava sofrer mais.

— É temporário. — respondi, já botando sobre a mesa a caixa do tal cereal que ela
tomava no café da manhã. — Assim que conseguirmos provas da existência do Mercur
e entregarmos à justiça, você vai poder voltar para os seus pais e os seus irmãos, Jéssica.
Eu prometo.

Ela não parecia convencida e abaixou os olhos um segundo antes de se aproximar da


mesa da cozinha onde eu havia deixado as sacolas de compras. Após tirar um a um os
produtos de dentro das embalagens plásticas, Jéssica começou a guardar tudo no
armário e na geladeira. Haviam mantimentos suficientes para mais uma semana pelo
menos e, por ora, não seria necessário voltar para a rua. Quanto menos nos
expuséssemos agora, melhor.
Capítulo 77 – Eduardo (PARTE 2)

COM MEUS CONHECIMENTOS em informática e a ajuda dos amigos hackers, eu


tinha montado um servidor bastante compacto no apartamento e, através de um
notebook de segunda mão, comecei a procurar rastros digitais de Mercur e a sua gangue.
Era pouco provável que encontrasse alguma coisa mais sólida na internet usual, por
isso, boa parte das pesquisas que eu fazia era na Deep Web, camadas e camadas abaixo
do que havia de mais podre na web.

Eu tinha ensinado Jéssica a proteger os seus dados e a se comunicar com quem quer que
fosse sem a preocupação de entregar para possíveis espiões a nossa posição naquele
prédio antigo do bairro da República, em São Paulo, e a menina já andava bastante
experiente na navegação oculta. Além de um firewall potente, eu tinha construído uma
VPN37 com uma máquina virtual e, deste modo, nós podíamos acessar a maioria dos
sites costumeiros — incluindo redes sociais — sem o medo que fossemos rastreados.

— Eu achei um arquivo criado por um usuário anônimo que diz ter contratado um
hacker chamado “Mercur” há uns dois anos para derrubar um site do governo. Eu tentei
ler o documento, mas estava criptografado e não consegui abrir.

Depois de almoçarmos a comida congelada que eu havia trazido da rua, Jéssica se


sentou de frente para o notebook e comentou o que andara fazendo na minha ausência.
Ela tinha aprendido a navegar pelas camadas mais básicas da DW, mas ainda não
conseguia abrir todas as portas. Na velocidade com que ela pegava as coisas, era uma
questão de tempo até que a garota estivesse manjando de informática tanto quanto eu …
mesmo sem nunca ter feito um curso na vida.

— Tudo bem — respondi, sentado na única cama de solteiro do quarto. —, depois eu


vejo com o Michael se ele pode nos ajudar a descriptografar. Quanto antes chegarmos
ao Mercur, mais cedo deixamos essa porcaria de prédio.

Jéssica apoiou um dos braços no encosto da cadeira giratória diante da escrivaninha


velha perto da janela e olhou para o alto, avaliando o teto esgarçado sem forro acima
das nossas cabeças.

— Não é tão ruim assim…

Ela voltou a me encarar por alguns segundos mantendo uma expressão séria, mas logo
depois, nós dois caímos no riso. Aquela era a pior espelunca em que eu já havia vivido e
não via a hora de sair dali.

Faziam algumas semanas que eu estava dividindo aquele apartamento alugado com a
caçula dos Castilho, mas ainda era difícil para mim ter que viver sob o mesmo teto que
uma adolescente tão jovem e tão viciada na vida de riquezas que levava anteriormente.
Jéssica tinha completado dezesseis anos, mas ainda demonstrava muita imaturidade,
chegando a ser irritante na maioria das vezes agindo feito criança. Eu era três anos mais
37
Rede Privada Virtual ou Virtual Private Network
velho, mas a vida dura de subúrbio havia me ensinado a amadurecer mais rápido. Ela
era muito diferente da irmã e, quando dava os seus chiliques de filhinha de papai, eu me
pegava lembrando de Janete e o quanto ela era segura de si, além de menos mimada.

Quando a noite caía e nos recolhíamos para dormir, eu a deixava ficar com a única cama
disponível no dormitório e me ajeitava no sofá antigo de molas da sala. O móvel tinha
um cheiro forte de mofo e ainda era marcado por manchas desconhecidas deixadas
pelos moradores anteriores. Em dias mais quentes, o tecido me causava coceiras na pele
e era praticamente impossível me manter sobre ele. O chão acabava sendo o destino
mais certo das minhas noites insones, tudo para não tirar de Jéssica o único conforto que
havia naquele lugar e, também para não lhe causar novos ataques infantis.

Naquele começo de ano, o verão estava sendo intenso no país e, por um tempo, o
chuveiro gelado não nos incomodou. O banheiro não tinha box, as paredes eram
cobertas por azulejos apenas até a metade e a privada vivia entupindo. Eu não podia
reclamar muito pela ninharia que pagava de aluguel, mas conforme o tempo passava,
comecei a me preocupar com o bem-estar de Jéssica naquele muquifo. Ela era herdeira
de uma das maiores fortunas paulistas e agora estava dividindo um apartamento mofado
com um pé-de-chinelo feito eu. A menina não merecia passar por aquilo e eu sabia que
tinha que fazer algo a respeito.

Algum tempo depois de pensar que precisava tirar Jéssica daquela vida, eu mandei
mensagem para o Michael e pedi a sua ajuda.

— Tem certeza que quer fazer isso? — Me perguntou ele via texto, através de um chat
protegido por VPN.

— Eu dou um jeito de repor o dinheiro depois. Eu faço uns freelas, pego um


empréstimo… sei lá. Eu preciso arrumar um lugar melhor pra ficar.

Usando os seus conhecimentos, o Michael havia dado um jeito de reter uma parte do
dinheiro que o Mercur estava tentando roubar da Construtora Monterey e o manteve
guardado numa conta secreta a que só ele e o amigo Wesley tinham acesso. O plano era
usar a grana para potencializar os nossos recursos contra o pirata da internet, mas como
eu tinha dito que era uma emergência, o chefe do setor de TI da Suares & Castilho
concordou em me ajudar. No mesmo dia, eu tinha em conta valor suficiente para
arranjar um novo apartamento, mais arejado, menos sujo e mais seguro que aquele. Três
dias depois, Jéssica e eu estávamos nos mudando para o Anhangabaú.

Tinha sido difícil encontrar um local que já fosse mobiliado, mas após adiantar três
meses de aluguel para o senhorio, consegui até um apartamento com geladeira e fogão
instalados. O banheiro do lugar tinha box, ducha quente e um vaso sanitário em perfeito
estado de funcionamento. Pelo menos por causa disso, eu não teria mais que aguentar as
birras de Jéssica.

— Eu amei, Dado! Vamos ficar aqui pra sempre! — disse ela em nossa primeira visita
ao local, no terceiro andar do prédio antigo de esquina.
Ficar ali por tempo indefinido não era bem a ideia, mas eu podia compreender a
felicidade dela depois de passarmos por tão maus bocados em nosso último endereço.
Uma cama macia era tudo que eu precisava e o apê tinha duas. As minhas costas
agradeciam.

Na primeira semana de fevereiro, depois de acomodados em nosso novo esconderijo


temporário, Jéssica voltou a apresentar certa impaciência quanto a ficar presa no
apartamento e eu a alertei de que ainda corríamos perigo e que tínhamos que limitar as
vezes que nos ausentávamos de casa.

Pouco antes dos dois sequestros e da maré de estrume que havia varrido a sua família, a
caçula dos Castilho tinha começado a praticar arquearia e dizia que estava ficando
“enferrujada” ali parada todo aquele tempo. Ela tinha trazido para o apartamento o seu
arco composto trinta libras na bagagem, além da aljava e todo o conjunto de flechas.
Gostava de polir o limbo de fibra de vidro quando se sentia solitária e não era raro a
ouvir se gabar que podia atingir um alvo com perfeição a setenta metros de distância,
como nos jogos olímpicos.

— Pode nada! — Eu a provocava só para vê-la fazer beicinho e chilicar.

— Posso sim! O meu treinador disse que eu sou um prodígio. Foi ele que me sugeriu
treinar com um arco composto para adultos em vez de um recurvo.

Eu não entendia nada de arquearia, mas já a tinha visto atirar com aquele negócio e era
realmente impressionante a técnica de precisão que havia desenvolvido em tão pouco
tempo. Jéssica era realmente um prodígio.

Algum tempo depois, fizemos um acerto com o dono do prédio e improvisamos um


campo de treino para arco e flecha no telhado para que Jéssica, enfim, parasse de
resmungar pelos cantos. A cada três dias, ela subia as escadas até o último andar e,
costumeiramente ao cair da noite, ficava disparando as suas flechas a distâncias cada
vez maiores.

Ela carregava com ela um equipamento que valia quase doze mil reais e, por conta
disso, eu sempre ficava de olho para o caso de que algum malandro crescesse o olho
para o arco e a tentasse roubar. Ainda agíamos com muita cautela na tentativa de não
chamar muito a atenção das pessoas ao nosso redor, mas estava ficando cada vez mais
difícil conter Jéssica dentro de casa.

Na segunda semana de fevereiro daquele ano, ela apareceu na sala pronta para sair
vestindo calça jeans, blusa longa e um par de tênis nos pés. Eu estava acessando o
notebook no sofá de dois lugares que tinha vindo com o apê e me alarmei.

— Opa, opa, Jessi! Aonde pensa que vai?

Eram três da tarde. Fazia um calor agradável do lado de fora e a cidade na região do
Anhangabaú estava bastante movimentada, como de costume.

— Eu preciso sair pra comprar umas coisinhas pra mim. Não aguento mais ficar presa.
Tínhamos combinado que faríamos listas dos itens mais básicos ou de necessidade
primária e que eu compraria tudo ao cair da noite para evitar que muita gente me visse
andando por ali. Ela estava quebrando o nosso trato.

— Eu disse pra você botar na lista de compra o que estivesse precisando, Jessi. Posso
buscar tudo que você quiser à noite, não é bom que saia por aí nesse horário. Você não
conhece bem o lugar…

Ela explodiu.

— São coisas de mulher. Absorvente, sabonete íntimo, creme… você não sabe comprar
essas coisas. Traz sempre tudo errado!

O seu rosto ficou rosado e logo assumiu uma cor mais avermelhada. Estava muito
zangada.

— Se você anotar num papel a marca certa, eu consigo… você não precisa sair agora.

Jéssica simplesmente falou um palavrão e me deu as costas, saindo apressada da sala.


Bateu a porta do quarto tão forte que a parede velha estremeceu toda e, naquele
momento, eu percebi que teria um problema para conter os desejos da menina.

Ainda naquela noite, preparei um jantar leve para nós dois com bastante legume e
verdura. Estávamos vivendo praticamente à base de lasanha congelada e nuggets até
então e tinha a certeza que aquele não era o tipo de alimento certo para alguém em fase
de crescimento como a Jéssica.

Eu tinha batido na porta do nosso quarto mais de três vezes para que ela aparecesse para
comer, mas nenhuma resposta vinha lá de dentro. Já tinham se passado mais de cinco
horas desde o nosso último contato e comecei a me preocupar com o que ela podia estar
fazendo sozinha naquele lugar abafado.

A porta não estava trancada e eu entrei tentando não fazer muito barulho. A janela
estava fechada, o quarto estava mal iluminado e a Jéssica estava enfiada embaixo do
lençol da sua cama coberta até a cabeça, virada em direção à parede.

— Jess, eu fiz uma salada caprese com aquele arroz soltinho que você gosta… tem
certeza que não quer?

Não houve resposta, apenas um murmúrio.

— Está tudo bem? Você precisa de alguma coisa?

Eu fui me aproximando com cautela da cama de solteiro onde ela dormia. Era muito
raro que Jéssica dormisse fora do horário habitual e mais ainda vê-la quieta daquela
jeito, parada num mesmo lugar por tanto tempo. Hiperativa, costumava andar pela casa
toda ao longo do dia e quase nunca parava de falar ou cantar as suas músicas pops
coreanas favoritas de um modo desafinado.
O murmúrio foi ouvido mais uma vez. Eu estava agora a menos de meio-metro de
distância e o rosto de Jéssica estava pálido, além de que uma camada espessa de suor
molhava os seus cabelos na base da testa.

— Caracas, Jess! O que houve? Fala comigo!

A sua pele estava pelando ao toque. Puxei de leve o lençol de sobre os seus ombros e vi
que o restante da sua pele estava igualmente empapado de suor. Ela abriu os olhos
castanhos e me olhou com expressão doente.

— Eu… Eu não tô muito bem, Dado.

Me sentei na beirada da cama e tentei aferir a sua temperatura na base do tato. Segurei
por alguns segundos a região entre seu pescoço e a orelha, depois, examinei a sua testa.

— Você está queimando em febre.


Capítulo 78 – Eduardo (PARTE 3)

A CONSTATAÇÃO DE QUE ELA ESTAVA ardendo em febre me deixou meio


nervoso e voltei para a sala no mesmo instante. O meu celular estava carregando numa
tomada rente ao chão e acessei o site de uma farmácia vinte e quatro horas. Eu não sabia
o que havia ocasionado aquela febre na garota, mas era bem claro que era necessário
diminuir a sua temperatura antes que ela sofresse algum tipo de colapso. Enquanto eu
adicionava ao carrinho de compras um termômetro, um vidro de dipirona líquida e
alguns comprimidos antitérmicos, a ouvi me chamar de maneira manhosa do quarto.

— Daaaaado…

Percebi que a entrega dos medicamentos poderia demorar uma eternidade e eu estava
receoso de usar o meu cartão de crédito com o meu nome real no site da farmácia e ser
descoberto de alguma maneira por Mercur e a sua gangue. Eu não sabia até que ponto
estava sendo rastreado, mas não era bom vacilar.

— Dadooooo…

Decidi ligar para a farmácia e saber se eles faziam delivery. Por sorte, faziam e tinha
uma unidade a menos de uma quadra de distância do meu prédio. Encomendei todos os
itens.

Uma hora se passou até que um entregador meio magrelo e de aparência anêmica bateu
em minha porta com uma sacola em mãos. Paguei o que devia em dinheiro e voltei
imediatamente para o quarto. Usei o termômetro axilar em Jéssica e ela estava com
trinta e sete graus e meio de febre. Dei a ela dipirona líquida diluída em alguns
mililitros de água e, antes de esperar o remédio fazer efeito, decidi dar um banho gelado
na menina para diminuir a sua temperatura corporal.

— Eu tô morrendo, Dado…

Doente, ela era ainda mais dramática do que sã. Removi o lençol de cima dela e a
encarei nos olhos, pedindo permissão para o que eu faria a seguir.

— Eu preciso tirar um pouco da sua roupa, Jessi. Eu vou te levar ao banheiro para te
colocar embaixo do chuveiro. Um banho gelado vai ajudar a diminuir a sua temperatura.

Ela balbuciou alguma coisa, depois, ficou choramingando. Tirei a calça jeans que ela
ainda estava usando e, em seguida, a sua blusa de frio. Fazia um calor de quase trinta
graus lá fora e ela estava agasalhada demais para um dia de verão. Eu não notei na hora
o que era, mas vi um frasco de medicamento rolar do bolso frontal do agasalho e cair no
chão, vazio. Jéssica agora estava só de calcinha e sutiã e eu a carreguei nos braços até o
banheiro.

— Você vai ficar bem, viu? Um banho gelado vai ajudar a te refrescar um pouco.
Sem muito espaço dentro do box apertado, acabei me molhando inteiro também
enquanto deixava a água fria rolar corpo abaixo de Jéssica. Eu a estava apoiando em pé
e os seus braços e pernas tremiam sem parar.

— F-Frio… Frio…

Ela me segurou firme e eu comecei a desviar o jato de água que caia direto em seu rosto
com a minha mão. Com a outra, estava segurando o seu ombro e ela puxava a minha
camiseta sem controle dos dedos.

— Se eu morrer… fala pra minha mãe que eu sinto muito…

Tinha medo que ela começasse a delirar por conta da febre ou acabasse sofrendo uma
convulsão em meus braços. O melhor a fazer era levá-la ao hospital, mas já conseguia
prever todos os imbróglios que algo do tipo acabaria acarretando.

Ela é menor de idade, eu estou usando uma carteira de identidade falsa, sem emprego
fixo… é bem capaz de eu sair algemado de dentro do hospital.

Depois do banho, carreguei Jéssica de volta ao quarto e estendi uma toalha seca sobre a
cama antes de deitá-la. Pouco depois, com outra toalha em mãos, enxuguei o seu corpo.
Sua pele parecia menos quente agora e eu já estava indo preparar o termômetro para
aferir sua temperatura outra vez quando pedi que ela retirasse as roupas molhadas do
corpo para vestir algo seco.

— T-Tira pra mim, Dado… não… não consigo parar de tremer.

Era uma situação delicada. Estávamos morando juntos há algum tempo, mas não éramos
um casal. Parecíamos mais dois irmãos que viviam discutindo e eu nunca tinha
precisado tirar a sua roupa antes ou mesmo vê-la nua, embora Jéssica não fosse de
muitos pudores. Andava de calcinha pela casa o tempo todo e, às vezes, até costumava
sair do banho só de toalha na minha frente.

— Me desculpa…

Era a primeira vez que me desculpava por despir uma garota, mas assim que removi a
lingerie molhada de Jéssica após o banho, apanhei roupas secas no armário que
compartilhávamos e a ajudei a se vestir. O piercing que ela tinha atado ao mamilo
esquerdo ficava bem marcado por baixo da blusa e eu tive que fazer um esforço mental
muito grande para não achar aquilo sexy bem naquele momento.

— Trinta e cinco graus. Sua febre abaixou um pouco.

Eu deixei o termômetro de lado e já estava me voltando para Jéssica a fim de cobri-la


com o lençol da cama. Ela ainda estava trêmula e reclamava de frio. A sua pele estava
inteira arrepiada e ela ficava balbuciando coisas sobre a mãe que não via pessoalmente
há quase dois meses completos.
Enquanto recolhia as toalhas que havia jogado no chão, acabei chutando sem querer o
frasco vazio que havia caído de dentro da blusa de Jéssica mais cedo e o apanhei. O
rótulo indicava o nome de um ansiolítico usado em caso de ansiedade grave e estava
receitado em nome de Vânia Castilho Borges, a mãe da garota febril.

Eu não sabia há quanto tempo Jéssica estava se automedicando com aquele


antidepressivo ou se tinha sido ele que desencadeara a sua febre, mas aquilo me deixou
bastante nervoso. Ela não estava em condições de responder nada naquele momento e,
quando a encarei novamente, havia carência em seus olhos. Suas mãos começaram a se
abrir e fechar como que tentando agarrar algo à sua frente, depois, ela ficou repetindo
sem parar:

— Deita comigo, Dado. Eu tô com frio. Eu tô com muito frio. Dorme comigo hoje.

Aquela era uma noite abafada, mas como um dos sintomas da febre alta era o frio
excessivo, decidi fazer o que ela queria e me deitei a seu lado em sua cama. A deixei se
aninhar em meu peito e fiquei fazendo carinho em seus fios loiros até que adormecesse.
Se pela manhã o antitérmico que havia lhe dado ainda não tivesse produzido efeito, eu
seria obrigado a levá-la ao médico.

Eu acordei com o som das buzinas do trânsito de veículos que cruzava a esquina abaixo
e o sol já estava incidindo pela janela aberta. Os gritos de um vendedor de chip para
celular ecoavam três andares abaixo e o som de uma britadeira insistente poluía o ar da
metrópole mais movimentada — e infernal — do Brasil.

Sobressaltado, me lembrei do que havia acontecido com Jéssica na noite anterior e virei
para o lado. Ela estava de bruços sob o lençol e me olhava sorridente.

— Eu nunca tinha reparado como você dorme bonitinho, de boca aberta…

O meu relógio de pulso marcava quase nove da manhã.

— Eu… dormi demais. Você… Você está melhor?

Enfiei a mão em sua testa para conferir novamente a sua temperatura e ela parecia
estável.

— Tô sim. Aquele remédio amargo que me deu fez efeito.

Me lembrei da embalagem vazia de ansiolítico e me espreguicei sentado na cama antes


de me levantar, apanhar o frasco e voltar para próximo de Jéssica. Ela ficou tensa ao me
ver segurando o pote branco.

— Pode me explicar o que isso estava fazendo no bolso da sua blusa?

Ela abaixou os olhos e também se sentou na cama. Correu um dedo metendo os cabelos
desgrenhados atrás da orelha e disse, sem coragem de me encarar:

— Eu tomo só de vez em quando. É pra me acalmar quando fico muito agitada.


Sacudi o frasco bem perto do seu rosto.

— É um remédio com prescrição médica específica para a sua mãe, Jéssica. Não é uma
aspirina que você pode sacar da embalagem e meter garganta abaixo quando quer.

Ela estava visivelmente envergonhada.

— Eu sei disso. Você não precisa me dar bronca!

Os seus olhos me encararam por um segundo, mas voltaram para a direção do lençol sob
nós.

— Era por isso que queria sair de casa ontem? Pra comprar mais desses?

Ela não assentiu. Ficou mordendo o lábio como sempre fazia em situação de estresse.

— Você não pode se automedicar desse jeito, garota. Ainda mais com um remédio
receitado por um psiquiatra a outra pessoa. Foi isso que te causou febre. Você podia ter
um colapso, uma convulsão… você tem ideia disso?

Nenhuma resposta. Apenas a culpa no rosto adolescente.

— Se você fizer outra bobagem como essa, eu não vou ter alternativa a não ser te levar
para o litoral para a casa dos seus pais. Os dois que lidem com o Mercur e o exército de
assassinos profissionais que o cara colocou atrás da filha deles.

Eu me levantei levemente alterado pela discussão e Jéssica correu em minha direção.


Me alcançou antes que eu saísse do quarto e com os braços finos, envolveu a minha
cintura por trás, com força.

— Não, Dado! Eu não quero morar no litoral. A minha vida é toda aqui em São Paulo…
os meus amigos, os meus primos… não me manda pros meus pais. Eu juro que me
comporto a partir de agora. Eu juro!

— Difícil acreditar, Jéssica. Você disse no começo que faria de tudo para se adaptar
enquanto não pegássemos o Mercur, mas na primeira oportunidade, você quase se mata
tomando escondida um medicamento. Essa vida de fugitiva não é pra você. Os seus pais
vão saber lidar melhor com essa situação…

Ela começou a chorar às minhas costas e, ainda segurando a minha camiseta, me rodeou
para ficar de frente a mim.

— Eu não vou mais te desobedecer, eu prometo. Me deixa ficar com você. Eu gosto de
morar aqui. Eu não vou mais tomar remédio nenhum e juro que vou comer legumes e
verduras… não desiste de mim, por favor!

Eu fiquei com pena de Jéssica e, por um momento, pensei se não teria sido duro demais
com ela. A garota estava sob forte pressão, tinha sido arrancada da mansão confortável
onde vivia em Campo Belo, tinha parado de frequentar o colégio milionário que a
fortuna dos Castilho custeava e estava vivendo com um cara que, até pouco tempo, era
apenas o seu cunhado pobretão. Querendo eu concordar com aquilo ou não, ela tinha
vários motivos para estar pirando e eu não a podia julgar.

— Ok, eu não vou te mandar embora, mas eu preciso que se comporte a partir de agora,
está me ouvindo?

Ela fez que sim apressadamente com a cabeça e me abraçou, enfiando a cabeça em meu
peito. Por ora, tudo ficaria como estava antes.
Capítulo 79 – Eduardo (PARTE 4)

UMA SEMANA ANTES do feriado de Carnaval, em conversa com Marco Túlio via
chat privado, eu descobri que o cerco estava se fechando para os Castilho dentro da
Suares & Castilho por conta das ações criminosas de Renato à frente da diretoria. João
Suares, o CEO da companhia, estava pedindo numa bandeja as cabeças de Mauro e
Elisa, os tios de Jéssica, e não sossegaria até que tivesse extirpado dos corredores da
construtora todos os familiares do homem que havia traído a sua confiança implantando
espiões cibernéticos na empresa concorrente.

Naquela mesma semana, o site de uma importante financiadora alemã com sede em São
Paulo havia sido derrubado pela ação de hackers não-identificados e o próprio Marco
Túlio alegou que haviam fortes indícios de que o ataque tinha sido obra de Mercur pelo
modus operandi utilizado.

— Se conseguirmos provar que foi o Mercur quem atacou o site da financiadora —


disse Marco por mensagem de texto. —, nós vamos provar a sua existência de uma vez
por todas e teremos uma chance de entregá-lo pra Polícia Federal.

Eu estava contando com isso. Ansiava por ter a minha vida de volta e precisava levar
Jéssica para a sua casa o mais rápido possível.

No final de semana anterior ao feriado, Jéssica pareceu mais animada que de costume e
quando assuntei com ela o que estava havendo, a menina me informou que o seu irmão
Jonathan iria disputar um torneio de surfe em Florianópolis televisionado para todo o
país.

— Como soube disso? — perguntei informalmente.

— A mamãe me contou — respondeu sorridente. —, eu liguei pra casa ontem à noite e


ela me contou que o Johnny já tinha chegado à Floripa e que estava se preparando para
surfar no domingo.

Através de uma linha segura, eu e ela podíamos nos comunicar com os nossos parentes
distantes via discagem de internet e, para acalmá-la, Jéssica não ficava muito tempo sem
falar com a mãe Vânia na Praia da Vila, litoral norte. A mentira de que a menina estava
morando temporariamente na casa de uma amiga de escola era frágil, mas vinha
funcionando até aquele momento. Quando era necessário, eu me fingia do pai da tal
amiga fictícia para não levantar suspeitas e falava com Vânia na tentativa de tranquilizá-
la quanto ao bem-estar da sua filha.

— Você devia dizer logo à mamãe que estamos namorando e que eu moro com você de
livre e espontânea vontade!

Ouvir aquilo me causava até tremedeira e eu a repreendi.


— Para de brincar com essas coisas, Jéssica. A sua mãe acha que você está morando
numa casa de família respeitável. Se ela descobrir a verdade de onde você está, vai
surtar e mandar um exército de mercenários me matar.

O pior é que eu acreditava mesmo naquilo. Com o marido que tinha ao lado, não seria
difícil prever que Vânia fosse capaz de contratar assassinos profissionais para me
liquidar em nome da honra de Jéssica. Renato já tinha feito isso de maneira indireta e o
tiro que eu havia levado aquela vez ainda doía em meu ombro sempre que fazia frio.

— O que mais falta pra gente namorar? Você até já tirou a minha roupa e dormiu
comigo na cama!

Havia agora malícia em seu rosto de menina e eu tive que mudar logo o rumo da
conversa. Jéssica adorava me provocar e eu não queria cair em tentação.

No domingo, a transmissão do Circuito Nacional de Surfe direto da Costeira do


Pirajabué na Baía Sul de Santa Catarina seria feita oficialmente por um canal a cabo e
também pela internet, através de um canal do Youtube chamado Ação Radical.

Jéssica e eu nos sentamos no sofá diante do notebook com a transmissão ao vivo da


internet e a menina comentava com empolgação o “cartel” impressionante de vitórias
que o irmão mais velho tinha na carreira, no auge dos seus vinte e três anos.

Profissional desde os quinze, o herdeiro mais velho de Renato Castilho já tinha vencido
o Hang Loose Pro Contest etapa Brasil, o Billabong Pro Teahupoo no Taiti, o Fiji Pro
na ilha de Fiji e estava atrás da consagração nacional, conquistando o inédito Circuito
Nacional de Surfe, evento que acontecia uma vez por ano em praias brasileiras. Os
olhos da menina chegavam a brilhar de orgulho quando falava de Jonathan.

— Além de gostoso, o meu irmão é fera no surfe!

Não era raro ouvi-la se referir a Jonathan daquela maneira mais íntima e, sentado ao seu
lado no sofá, vendo-a empolgada a olhar a tela do computador à espera da aparição do
irmão, eu quis saber:

— Você fala de um jeito muito carinhoso sobre o seu irmão. Vocês devem ser muito
próximos, não é?

Jéssica se empertigou com as pernas flexionadas sobre o assento e os pés pequenos


virados em direção ao braço do sofá. Como se fosse me contar um segredo, abaixou o
tom de voz e, no momento em que o apresentador do evento na Costeira do Pirajubaé
anunciou o primeiro surfista da etapa máster, ela confessou:

— A Jane me mataria se soubesse que te contei isso, mas nós somos um pouco mais do
que só irmãos lá em casa…

Por um momento, eu não sabia mais se queria que ela me contasse o resto e como eu
suspeitava, veio a confirmação:
— A gente costumava ficar junto sempre quando não tinha ninguém olhando… e junto
que eu digo, é junto, sabe?

E ela juntou as mãos num claro sinal de acasalamento, cópula…

— Quer dizer você e o Jonathan?

Eu estava um pouco alarmado, mas não totalmente surpreso.

— Eu e o Johnny, o Johnny e a Jane… e com nossos primos também!

Eu havia conhecido Jonathan pessoalmente no início do meu namoro com Janete e o


ciúmes que ele demonstrara pela irmã na ocasião tinha me parecido verdadeiramente
excessivo. Agora eu entendia o motivo.

A Janete e o Jonathan… cacete!

O assunto morreu por um tempo quando Jonathan foi anunciado na praia e o público
local foi ao delírio. Jéssica aplaudiu e gritou como se o irmão a pudesse ouvir do outro
lado da tela, depois, ficamos a assistir juntos as baterias do campeonato que consagraria
como vencedor o melhor atleta da temporada. Além de Castilho, estavam no mesmo
patamar também o surfista catarinense Pietro Gama — vigésimo oitavo no ranking
mundial da WSL, a liga de surfe — e o pernambucano Iran Azevedo, o atual campeão
do WSL Latin America.

Como previsto por nove entre dez palpiteiros de internet, Jonathan Castilho ganhou o
CNS com folga e se sagrou campeão do torneio nacional. Jéssica quase entrou em êxtase
ao meu lado e não parou mais de pular e gritar em comemoração à vitória do irmão.
Antes que os vizinhos do prédio chamassem a polícia por perturbação da ordem, a puxei
de volta para o sofá e ficamos a assistir à festa do pódio com os demais colocados
naquela que tinha sido uma das etapas mais concorridas do surfe brasileiro.

— A Jane deve ter tido um orgasmo assistindo ao Johnny vencer! Vou mandar
mensagem pra minha irmã.

Jéssica pegou o celular e começou a se comunicar com Janete através do chat seguro.
Eu também estava interessado em saber qual tinha sido a sua reação com mais aquela
vitória de Jonathan e não me contive. Faziam algumas semanas que não nos falávamos e
eu não conseguia esconder de ninguém o quanto sentia a sua falta. O nosso
relacionamento havia terminado de uma maneira muito brusca, no auge da nossa paixão
um pelo outro e, depois disso, nunca mais tínhamos tido a chance de conversar para
botar as coisas de volta aos eixos. Eu sentia que ainda havia amor entre nós, um ansiava
em estar de volta aos braços do outro, mas havia algo nos impedindo, algo que eu não
sabia explicar o que era.

— Eu assisti toda a prova do Jonathan, Jane — escrevi na mensagem. —, ele é muito


bom mesmo, você deve estar orgulhosa.
A sua foto de perfil a mostrava com uma maquiagem suave no rosto claro, os cabelos
castanhos soltos sobre os ombros e aquele sorriso lindo aberto de frente para a câmera.
Janete continuava sendo a mulher mais bonita do mundo.

— Já estou sem voz aqui de tanto que gritei diante da TV. O Johnny mandou benzaço!

As nossas conversas ainda fluíam como antes. Continuávamos sendo parceiros, ainda
éramos amigos, mas faltava aquele pequeno detalhe. Eu era louco por Janete, mas
enquanto toda aquela história de espionagem corporativa, crimes cibernéticos e
sequestros continuasse vindo à tona, nós nunca teríamos uma chance juntos novamente.

— Onde quer que esteja, espero que esteja bem, Jane. Você sabe que, apesar de tudo, eu
a amo muito e quero que seja feliz.

Ela me enviou um emoji de coração depois daquela mensagem e senti um torpor me


invadir o corpo. Era difícil falar com ela sem que o assunto não enveredasse para o
nosso antigo relacionamento, por isso, o papo quase sempre era interrompido antes que
estivéssemos os dois trocando declarações melosas.
Capítulo 80 – Eduardo (PARTE 5)

JÉSSICA, AO MEU LADO, tinha visto que eu tinha ficado mexido após falar com a
sua irmã e comentou:

— Ela está na praia com alguns amigos. Deve estar se divertindo bastante por lá…

Na tela do notebook, os preparativos para a etapa feminina do CNS já começavam a


todo vapor e o cinegrafista mostrava imagens belíssimas da praia da Costeira, com o
mar num tom de azul bem claro e o sol ardendo no horizonte.

— Imagino que sim…

Respondi sem muita vontade de continuar no assunto, mas Jéssica insistiu. Deixou o
smartphone no braço do sofá ao seu lado esquerdo, escorregou alguns centímetros de
encontro a mim e avançou a mão em meus cabelos curtos. Eu tinha passado máquina
um para que ficasse mais prático pentear e lavar. Ela me fez um cafuné rápido entre os
fios.

— Você precisa esquecer a minha irmã de uma vez, Dado. Está bem claro que ela não te
quer mais. Depois de você, ela já ficou de rolo com dois caras diferentes… ela não liga
mais para o que você sente.

Eu tinha ouvido falar que Janete havia se envolvido com o filho do CEO da construtora
da família, um cara chamado Roberto Suares. Aquilo fazia muito sentido, uma vez que
durante a discussão do nosso término, ela tinha falado que a nossa classe social nos
diferenciava. Namorar um herdeiro ricaço estava mais de acordo a alguém da estirpe
dela e eu tinha que admitir isso.

— O que você sabe sobre amor, Jéssica? Você é só uma criança…

Ao me ouvir dizer aquilo, Jéssica avançou sobre mim e segurou o meu rosto firmemente
com as duas mãos. Os seus dedos acariciaram a região onde eu havia deixado crescer
uma barba rala que eu não aparava há uma semana e a menina cravou os seus olhos
castanhos dentro dos meus.

— Eu não sou mais uma criança. Eu posso parecer mimada e birrenta às vezes, mas eu
sei muito bem o que é amor. Desde o primeiro dia em que você pisou na minha casa, lá
no Campo Belo, eu senti algo diferente por você. No começo, pensei que fosse inveja
por minha irmã ter arranjado um cara tão inteligente e tão bonito, mas depois, eu saquei
que não era só isso…

A conversa começou a tomar um rumo muito diferente do que eu imaginava e tentei


interrompê-la, sem sucesso. Jéssica agora tinha se ajoelhado ao meu lado e estava quase
no meu colo.

— O meu coração dispara cada vez que você chega perto… todas as vezes que dá risada
por algo que eu digo, chego a ficar mole… aquele dia em que fiquei doente, eu estava
mal de verdade, mas só em saber que você estava cuidando de mim, eu quis ficar boa
logo só para que pudesse retribuir todo o carinho e a atenção que tem me dado desde o
início.

Eu não era ingênuo de pensar que aquilo não podia acontecer. Eu, um cara solteiro, ela,
uma adolescente carente, os dois juntos sob um mesmo teto, convivendo dia a dia, tendo
um ao outro apenas como única companhia… era a receita perfeita para uma atração
física.

— Jess, escuta. Eu sei que o seu emocional está abalado por todas as mudanças que
aconteceram na sua vida, mas você está confundindo as coisas. Eu e a sua irmã estamos
separados, mas eu ainda sinto que a amo…

Ela foi taxativa:

— Mas ela não te ama. Se te amasse, teria ficado do seu lado não importasse o que o
nosso pai fizesse a você. Ela agiu feito uma covarde e te chutou sem nem querer saber
de verdade o tamanho da encrenca que o nosso pai tinha arranjado dentro da empresa.
Você é um cara maravilhoso… e a Janete preferiu te excluir da vida dela ao invés de
agarrar o homem mais gentil e atencioso que ela jamais vai conhecer outro igual.

Aquelas palavras me afetaram de um jeito que eu não esperava e eu fui abaixando


minhas defesas. Jéssica agora estava a meio palmo de distância. O seu peito subia e
descia dentro da blusinha de alças que usava, com ela ofegante depois do desabafo.
Estava usando um shortinho jeans desfiado na barra e os cabelos estavam presos para
cima, num coque desleixado.

— Mesmo assim, Jéssica. Eu entendo que você goste de mim como mais do que o seu
cunhado, mas a gente não pode ficar junto. Não tem a mínima possibilidade…

Ela deslizou a mão delicada em meu rosto outra vez e disse, com firmeza no olhar:

— Então por que está olhando para a minha boca desse jeito, como se quisesse me
beijar?

Ela avançou sem esperar qualquer sinal positivo da minha parte. Enlaçou os braços
magros em torno do meu pescoço, empurrou o quadril para o meu colo e me beijou na
boca. Estava tão colada a mim que dava para sentir o batuque do seu coração através da
roupa. Não estava febril daquela vez, mas a sua pele fervia ao toque. Os pelinhos loiros
nas coxas finas eriçaram e os seus mamilos se intumesceram.

— Jéssica, o que está fazendo?

Ela não pesava nem cinquenta quilos. Era pequena, magra e eu podia me desvencilhar
dela sem me esforçar muito. Em vez disso, a segurei pela cintura e apenas afastei o rosto
alguns centímetros do seu.
— Eu sou completamente apaixonada por você, Dado. Acho que sempre fui. Nós
estamos os dois aqui sozinhos nesse apartamento. Não tem ninguém para nos impedir.
O que falta para a gente se amar feito homem e mulher?

Você ter idade legal para isso? pensei, irônico, ainda tentando evitar uma nova
investida romântica de Jéssica.

— Escuta, eu não quero abusar da confiança que você me deu e que os nossos amigos
me deram em te deixar morando comigo, apesar de tudo. Qualquer afeto entre nós além
do de amizade provocaria grandes problemas para a nossa futura relação. Eu não quero
misturar as coisas, tenta entender.

Ela estava corada. A respiração descompassada já tinha voltado ao normal e os seus


olhos demonstravam dúvida.

— Você me acha criança demais, é isso? Não sente tesão por mim? É por causa dos
meus rompantes, da minha malcriação?

Foi a minha vez de acariciar o seu rosto. Estava difícil concentrar com ela sentada
daquele jeito em cima de mim, mas fiz um esforço.

— Eu te acho uma tremenda gatinha, Jess, não é por isso. Nós só não podemos ficar
juntos de maneira nenhuma. Além da idade, tem a questão de eu estar no papel de uma
espécie de tutor temporário pra você. Não seria certo irmos para a cama… na verdade,
seria bem errado!

Ela pareceu magoada e começou a afrouxar os braços em torno do meu pescoço. Se


apoiou em meu ombro, se levantou do meu colo e começou a andar em direção ao
quarto, descalça.

— Jess… não faz assim. Não vai embora desse jeito. Vamos conversar…

A porta do quarto bateu com força atrás dela. Tinham se encerrado ali as chances de um
entendimento por aquela tarde.

Durante a noite, eu tentei entrar no quarto para dormir na cama que ficava paralela a
dela dentro do dormitório e me deparei com a porta trancada. Depois do evento com o
ansiolítico, tinha medo que ela arranjasse outro meio de se dopar e que isso a acabasse
levando a óbito, algo que eu não podia permitir.

— Jess, abre essa porta. Nós combinamos que você não passaria mais o trinco na
fechadura. Me deixa entrar.

Não houve resposta alguma e eu já estava entrando em desespero.

— Sei que está magoada comigo, mas pelo menos diz alguma coisa. Me xinga, me
manda para o inferno, sei lá…

Nada. Do lado de dentro do apê apenas o silêncio, do lado de fora, o barulho costumeiro
do tráfego veicular três andares abaixo.
— Se não abrir, eu vou arrombar. Tô falando sério.

Com a orelha rente à madeira, comecei a ouvir sons difusos do lado de dentro do quarto.
Havia agora um par de pés pisando um tapete e o farfalhar de tecidos. Havia sinal de
vida e aquilo me deu um alívio que durou pouco. A porta se abriu de repente e os meus
olhos se arregalaram ante a visão à minha frente.

— Então arromba…

Jéssica estava completamente pelada e, de maneira ousada, ficou a passear o dedo


indicador entre os seios pequenos, convidando os meus olhos a acompanhá-lo circundar
o mamilo com a joia dourada atravessada nele.

— Jess…

As mãos pequenas me puxaram pela camisa querendo arrancá-la e começamos a medir


forças. Ela queria me levar para a cama, eu tentava impedir sem querer tocar em sua
pele nua.

— Por que não prova antes de reclamar? Aposto que se provar só um pouquinho, vai
ver que não tenho nada de criança, que sou bem experiente até!

Daquela vez estava difícil controlar os meus próprios impulsos. Jéssica tinha rasgado a
minha camiseta enquanto me arrastava e arrancou os trapos com força quando nos
aproximamos da cama de solteiro. Sem intenção de me deixar pensar um segundo no
que estava prestes a fazer, começou a beijar o meu peito e lamber a região de um jeito
lascivo.

— Jess, é sério… não faz isso…

Ela foi descendo e quando alcançou o meu abdômen, senti que perderia totalmente o
controle se ela atingisse um centímetro além daquela área. A trouxe de volta para cima e
dum pulo só, a menina se enganchou em meu quadril, prendendo as pernas em minha
cintura.

— Não estava todo machão do lado de fora querendo arrombar alguma coisa? Por que
não arromba agora?

Aquele beijo destruiu o meu escudo de uma só vez e tal qual num jogo de RPG
medieval, toda a minha estratégia de defesa foi dissolvida. Só me restava agora o
contra-ataque. Eu tinha jogado o dado e ele havia caído com a face de um “vinte” virada
para cima.

Ainda serpenteando a minha língua na dela, deitei Jéssica sobre a sua cama e me
apressei em abaixar a bermuda, arrancando também a cueca no processo. Ao me ver
fazer um movimento de encontro ao seu quadril, ela sorriu e um brilho intenso surgiu
em seus olhos, além do desejo claro de me receber em seu sexo.

— Não devia ter provocado, menina…


Eu estava muito além de me controlar e, no instante seguinte, resolvi esquecer todos os
meus princípios e a moralidade que me faziam não querer enxergar aquela garota como
a mulher que tinha se tornado. Quando senti o seu sexo úmido se abrir para me receber,
todas as preocupações pela diferença de idade ou pelos problemas familiares que
haviam nos unido desapareceram. Por um breve instante, eu finalmente pude satisfazer
os meus desejos mais reprimidos.

Se Deus existir, que Ele me perdoe!


Capítulo 81 – Danilo

SEMPRE DEPOIS DOS NOSSOS passeios pelos shoppings, galerias e bares da cidade,
nós ficávamos ainda um tempo em frente ao portão da casa dela ouvindo música. O
alto-falante do Gol GTI ‘94 do Charles era ruidoso e a antena do lado de fora tinha
sempre que estar estendida ao máximo para sintonizar a rádio Rock que eu gostava de
escutar. A recepção no bairro era bem ruim, mas não dava para reclamar. A companhia
compensava.

♫Agora está tão longe ver

A linha do horizonte me distrai

Dos nossos planos é que tenho mais saudade

Quando olhávamos juntos na mesma direção

Aonde está você agora além de aqui, dentro de mim? ♪

Aquela era uma das preferidas da Regina. Alguém sempre pedia por telefone para tocar
por aquele horário na rádio, perto das dez da noite. Já tínhamos nos beijado com os
acordes daquele Lá Menor e do Mi Menor umas duas ou três vezes. A letra e a melodia
romântica ficavam na cabeça. Era fácil de decorar.

— Já reparou que quase sempre que você me traz em casa, toca essa música no rádio?

A luz da entrada já estava acesa do lado fora. A casa era em formato de “L” com uma
varanda em frente, quintal largo e telhado de beiral estreito. A mãe de Regina
costumava piscar a lâmpada três vezes seguidas sinalizando que já estava na hora da
filha entrar e parar de agarramento no portão. O bairro onde a família Dias morava era
pacato. As calçadas eram todas arborizadas e a sombra das árvores sobre o asfalto dava
um toque obscuro ao lugar. Eu gostava dali. Era silencioso e tranquilo.

— Essa vai acabar sendo a nossa “música de casal”.

O par de olhos azuis estavam refletindo um verde-esmeralda ali dentro do Gol. Eles se
voltaram para mim curiosos e as suas sobrancelhas se arquearam.

— Todo casal tem a sua música?

Aquelas bobagens eram ditas o tempo todo nas novelas e nos filmes. Era como se toda
história de amor tivesse que ter a sua própria trilha sonora. A nossa, seria composta de
muitas baladas românticas. “Vento no Litoral” da Legião Urbana, “Isso” dos Titãs, “Is
This Love” do Whitesnake, “Head Over Heels” do Tears For Fears… pena que não
tinha durado…

Eu namorei Regina Dias na época da faculdade. Era o começo do milênio, primeira


década dos anos 2000. Tínhamos nos conhecido numa festa de fraternidade do campus
de humanas e a afeição mútua aconteceu rápido.
Eu era um magrelo esquisito usando aparelho ortodôntico; ela, a garota mais linda da
turma de Letras. Eu estudava Administração no campo de exatas; ela, chamava todas as
atenções nas festas da faculdade com o seu gingado envolvente.

Não tínhamos nada em comum e, ao mesmo tempo, éramos feitos um para o outro.

O pai de Regina trabalhava com mercado financeiro e nas poucas vezes que o tinha
visitado em sua casa no bairro de Santo Amaro, tínhamos travado longuíssimas
conversas sobre economia. Eu estava tendo aulas específicas sobre o assunto com um
professor muito bom formado na área e estava entrosado. Regina dizia que chegava a
ficar com ciúmes de nós e que o velho parecia gostar mais de mim do que dela. Aquilo
me soava como um elogio.

A mãe de Regina era uma senhora simples e de bons modos, mas que não ia com a
minha cara não importasse o que eu fizesse para agradar. Pelas minhas costas, dizia que
eu não daria um futuro à filha e que um homem que precisava do carro de terceiros para
levar a namorada para passear não seria um bom marido.

Eu era um duro naquela época, essa era a realidade. Toda a minha família descendia de
empregados de lojas e fábricas e eu tinha sido o primeiro filho do meu pai a cursar uma
faculdade. Ganhava uma ninharia com o estágio que tinha começado a fazer numa
imobiliária do Paraíso e todo o dinheiro era revertido em minha subsistência. Pagava a
faculdade, comprava os meus livros e ainda tinha que me alimentar e custear a minha
parte no aluguel.

Dividia um apartamento fuleiro na Santa Cecília com meus três grandes amigos da
turma de ADM; Charles Ferraz, Eduardo Lima e Ademar dos Santos, e passava a maior
parte do mês sem um centavo no bolso. Eu não podia julgar a minha futura sogra. A
velha tinha uma visão além do alcance para identificar pobretões.

Algum tempo depois, as coisas acabaram se desenrolando sozinhas para a felicidade da


mãe de Regina. Apesar de muito apaixonado por aquela loira linda de um metro e
setenta e dois, corpo sinuoso e extremamente inteligente, o meu foco ainda era a minha
graduação. Eu tinha recebido uma chance de seguir uma carreira de administrador
dentro da imobiliária em que trabalhava e o único meio de agarrar aquela oportunidade
e não soltar era com um diploma em mãos.

Oito meses após o início do nosso namoro, eu tive que fazer uma prova de final de
semestre enquanto uma festa open-bar rolava na fraternidade de humanas. Regina era
muito popular e não havia quem não a desejasse. Enquanto a música explodia alta nas
caixas de som espalhadas pelo andar de Língua Estrangeira, um cara do curso de Letras
se aproximou durante a festa, a azarou e ela cedeu. O boato de que os dois tinham
transado dentro do carro no estacionamento percorreu todo o campus e, quando eu
soube, a minha decisão só podia ser uma: terminar o que mal tinha começado.

Os anos tinham se passado e eu havia perdido contato com Regina quase que
completamente. Eu tinha me formado em ADM, havia me mudado da unidade do
Paraíso da imobiliária onde antes estagiava e havia me tornado o diretor administrativo
do prédio na Vila Mariana. Ela também tinha se formado e, pouco depois, havia se
tornado professora de Língua Portuguesa num colégio particular próximo à Avenida
Paulista.

Pelas redes sociais de conhecidos, descobri, vários anos depois, que ela tinha se casado
com um professor de Educação Física — o que devia ter deixado a sua velha mãe
bastante infeliz — e que, pouco depois, tinha engravidado e dado à luz a uma menina.

Tinha guardado as lembranças boas do nosso tempo de namoro, mas não pensava nela
com frequência. A música da Legião Urbana que falava de saudades e que ela adorava
ainda me causava incômodo, mas não era nada com a qual eu não pudesse lidar. Regina
tinha se tornado uma página virada em minha vida… até aquele reencontro na
enfermaria do Colégio São Francisco.

Estar a menos de um metro de distância de Regina — agora divorciada do marido


atlético — era esquisito e eu não soube bem explicar qual era a sensação exata de rever
aquela mulher depois de tanto tempo.

Eu tinha voltado a lecionar Administração Financeira para alunos do ensino médio


apesar da minha agora estabelecida carreira de diretor na imobiliária Sol Nascente e o
destino tinha tratado de colocar Sofia, a filha de Regina, numa das minhas turmas.
Tinha sido por meio da menina que nós dois havíamos nos reencontrado.

— Foi muito bom te rever, Dan. Você parece… bem. Fica muito charmoso nessa roupa
social.

Estávamos à porta da casa onde ela morava com a filha em Perdizes. Retornávamos do
hospital onde Sofia havia sido examinada após um desmaio durante a aula de
Administração Financeira. A rua era menos sombria e muito mais plana do que aquela
dos seus pais em Santo Amaro. Só de bater o olho, dava para ver que o imóvel atrás dela
era muito bem localizado e devia custar bem mais que o salário de um casal de
professores podia pagar.

— Foi mesmo um dia de surpresas — disse, ainda fora do carro. —, jamais imaginaria
que a Sofia fosse sua filha!

Sofia era uma cópia quase exata da mãe. O mesmo par de olhos claros, o mesmo nariz
arrebitado e as mesmas bochechas rosadas. Se eu tivesse prestado mais a atenção na
menina dentro da sala de aula, teria percebido a semelhança. O rosto de Regina sempre
me fora muito nítido na memória.

— Agora que nos reencontramos, podemos retomar o contato. Jogar conversa fora,
beber, ouvir música…

O que ela tinha feito comigo não doía mais como na época, mas por mais que eu
tentasse ignorar, era difícil perdoar todo o sofrimento que aquela traição havia me
causado. Eu tinha sido extremamente apaixonado por apenas três mulheres em toda a
minha vida e Regina era uma delas.
♫ A vida continua e se entregar é uma bobagem

Já que você não está aqui

O que posso fazer é cuidar de mim

Quero ser feliz ao menos

Lembra que o plano era ficarmos bem? ♪

— Por que não?

Menti de maneira descarada, mas ainda assim, aceitei trocar telefone com a moça,
crente de que não a veria mais pessoalmente tão cedo. Liguei o rádio do carro e, pouco
depois, após deixar mãe e filha em casa, toquei com o meu Crossfox para a minha casa
na Lapa. Seria muita ironia se tocasse “Vento no Litoral” no alto-falante, mas até chegar
em casa, foram só as guitarras furiosas do Heavy Metal que embalaram a minha viagem.
Capítulo 82 – Danilo (PARTE 2)

UMA SEMANA DEPOIS de topar com Regina, voltei a dar aula para a turma do
primeiro ano onde Sofia estudava e a garota já parecia recuperada do mal-estar que a
havia abatido dentro da escola. Segundo o médico que a atendera, ela tinha sido
diagnosticada com um começo de gastrite e teria que fazer um tratamento à base de
remédios e alimentação regrada. Nós tínhamos nos aproximado mais devido o meu
antigo relacionamento com a sua mãe e, numa quinta-feira anterior ao feriado de
Carnaval, ela veio ter comigo ao fim da sua aula junto à minha mesa.

— A minha mãe me contou que você e ela namoraram na época da faculdade.

Os últimos alunos da turma barulhenta ainda se retiravam da sala aos empurrões e


gritos. As carteiras estavam desordenadas e havia bolinhas de papel espalhadas pelo
chão. Sofia agia de um jeito tímido. Estava com um fichário da Hello Kitty em frente ao
peito, uma bolsa pequena nas costas e tinha o cacoete de enfiar mechas dos cabelos
loiros atrás da orelha o tempo todo.

— Ah, ela disse?

Para mim, era uma surpresa que Regina confessasse sobre o nosso antigo
relacionamento para a menina que agora era a minha aluna. Algo do tipo me soava
impróprio e causaria mal-estar junto à diretoria da escola caso se tornasse público. Em
meu tempo de docência, já tinha visto vários casos entre professores e mães de alunos
terminarem em escândalo e demissão.

— Ela me falou também porque vocês terminaram. Eu sinto muito por isso. Vocês
deviam formar um lindo casal.

Sofia deslizou a mão pequena em meu braço rapidamente, depois, acenou indo em
direção à saída. Parecia sem jeito e o rosto se enrubescia com facilidade. Nesse quesito,
era bem diferente da mãe na juventude. Regina não se envergonhava de nada e adorava
chamar todas as atenções para si.

Alguns dias depois, já no domingo anterior ao Carnaval, eu estava em casa com os


pensamentos voltados para o meu passeio no MIS, o Museu da Imagem e do Som com
Aline Ferreti, a filha de uma das corretoras da Sol Nascente, e nem estava mais focado
em Regina, quando o meu celular vibrou sobre a escrivaninha dentro do quarto. A
mensagem no celular era de Regina e li sem entender o que exatamente ela queria que
eu respondesse.

“Convidei a Patrícia Alvim e o namorado dela para um café aqui em casa. Quer vir se
juntar a nós? ”.

Patrícia Alvim era uma das minhas colegas de curso da faculdade e também uma das
parceiras de farra de Regina nas festas do campus. Conhecia de perto os meus amigos
Charles, Duda e Dedé. A última vez que tínhamos nos encontrado havia sido no velório
e enterro do Charles, há quase nove anos. Eu seguia o seu perfil no Facebook e sabia
muito por alto que ela estava namorando um engenheiro elétrico chamado Luciano
Rodrigues.

Demorei um tempo lendo a mensagem sentado em frente ao meu PC sem saber ao certo
o que responder. Regina estava me convidando para a casa que havia dividido com o
marido durante mais de quinze anos e, depois de todo aquele tempo, estava querendo
forçar uma reaproximação. Aquela reunião certamente desencadearia um monte de
recordações dolorosas dos tempos de faculdade e eu não sabia se estava a fim de reviver
aquilo. Tentei sair pela tangente.

— Eu não sei se é uma boa ideia. Acho melhor eu deixar vocês mais à vontade sem a
minha presença por perto.

Larguei o celular depois de digitar aquilo e voltei aos meus afazeres frente ao
computador. Estava revisando um relatório da imobiliária para enviá-lo ao meu gestor
na empresa, Ederson Molina. Cerca de cinco minutos depois, uma nova notificação em
meu Motorola.

“Prometo que só vamos falar de coisas agradáveis. Nada de trabalho, nada de


constrangimentos do passado. Tenta aparecer, por favor! ”

Naquela mesma tarde, me vesti casualmente com uma camisa social para fora da calça
de sarja, penteei os cabelos com gel e mantive a barba por fazer. Não tinha qualquer
pretensão de causar boa impressão ou impressionar ninguém naquela reunião e saí de
casa após me certificar que o meu cachorro estaria bem alimentado em minha ausência.

Cheguei em Perdizes por volta das duas horas da tarde e fui recepcionado ainda no
portão por Regina. Ela estava estonteante para quem pretendia apenas receber alguns
amigos para um café em casa. Tinha se maquiado com um delineador, tinha passado
uma base discreta nas maçãs do rosto e estava usando uma blusa decotada de alças
finas. Era apenas alguns anos mais jovem que eu, já tinha passado dos trinta, mas entre
todos os meus conhecidos da faculdade naquela mesma idade, era com certeza a que
estava em melhor forma.

— Fico feliz que tenha vindo, Dan. O pessoal já está lá dentro.

Ela segurou a minha mão enquanto entrávamos portão adentro da casa de fachada azul.
Um casal de velhinhos nos espionava do outro lado da rua enquanto dois cãezinhos da
raça shi-tzu se esgoelavam de latir em seu quintal. Aquele encontro casual estava
tomando proporções que eu não esperava e aquilo me deixava inquieto.

Patrícia me cumprimentou ainda na sala espaçosa de arquitetura moderna e me deu um


abraço forte. Ainda guardava traços da mesma garota espevitada que eu havia
conhecido na faculdade, sempre a primeira da turma e a queridinha dos professores.
Assim como Regina, os anos tinham sido generosos para ela e a morena de cabelos
pretos encaracolados mantinha um rosto bastante jovem, embora tivesse acumulado
alguns quilos a mais em torno da cintura e do quadril.
— Você não mudou nada, Dan — disse ela em elogio. —, a mesma carinha de menino!

— Com um pouco menos de cabelo, talvez!

Era bem verdade que todos nós estávamos mais velhos. Naquela época de faculdade, os
meus cabelos eram bem mais fartos.

— Deixa eu te apresentar ao meu namorado, Dan. Esse aqui é o Luciano.

Luciano era um cara alguns centímetros menor do que eu, cabelos ondulados e
cavanhaque no rosto fino. Mantinha uma barriguinha de cerveja por baixo da camisa,
mas tinha postura ereta e ar de superioridade. Me cumprimentou com a mão direita e
deu duas palmadas sobre meu dorso com a outra mão sem desencravar o olhar fixo do
meu.

Depois dos cumprimentos, Regina ligou o aparelho de som na sala e nos convidou para
a cozinha. Tinha preparado biscoitos amanteigados para acompanhar o café e deixou
sobre a mesa também uma jarra de suco natural para que nos servíssemos.

Antes de me conhecer, a mãe de Sofia só ouvia MPB em seu discman ou nas rádios que
sintonizava. Era louca pela Marisa Monte. Tinha viajado até o Rio de Janeiro uma vez
aos dezesseis anos para assistir a um show que a cantora carioca faria no Maracanãzinho
num final de semana e precisou dormir na rua após a apresentação por falta de condução
naquele horário. Tinha sido a maior loucura que fizera por conta de um artista e me
contava aquilo com um sorriso no rosto.

O curioso era que, naquele domingo, ela tinha colocado uma playlist com as bandas que
ouvíamos juntos dentro do Gol do Charles à porta da sua casa em Santo Amaro. Não
estava entendendo qual era a sua intenção.

— Eu não pude ir ao casamento do Dedé com a Betina porque, no dia anterior, eu tinha
arrancado o meu siso e estava com a cara deste tamanho!

Patrícia fez um gestual simbolizando uma esfera frente ao rosto rechonchudo. Regina
gargalhou sentada do outro lado da mesa para quatro lugares e o Luciano continuou com
expressão blasé.

— Ninguém acreditou quando viu, mas na hora que a Betina entrou na igreja com um
vestido de noiva curto de calda longa, segurando o buquê frente ao corpo e o véu
cobrindo o rosto, o Dedé começou a chorar de emoção no altar. O Charles e eu tínhamos
combinado para que o tecladista dedilhasse as notas iniciais de “November Rain” no
lugar da marcha nupcial quando a noiva entrasse e teve gente se desmanchando em
lágrimas na cerimônia. Foi praticamente uma encenação do clipe do Guns N’ Roses.

Eu não queria admitir, mas tinha sido uma das pessoas a derramar algumas lágrimas
com a cena dentro da igreja. Betina estava mesmo linda apesar do escândalo que o seu
vestido de noiva “fora dos padrões” tinha causado nos católicos mais conservadores e
todo o clima proporcionado pela música tocada foi mesmo muito empolgante. O
casamento de Ademar tinha sido um dos últimos momentos em que ele, eu, o Duda e a
Betina passamos ao lado do nosso amigo Charles. Alguns meses depois, ele viria a
falecer em decorrência de um infarto fulminante.

— Queria muito ter ido. Todo mundo comentou no dia seguinte que tinha sido um
evento e não só um casamento.

Patrícia parecia emotiva por ter perdido o casamento do mais boêmio entre nós e a
Regina me viu contendo as lágrimas outra vez em recordar a cerimônia da união de dois
dos nossos amigos de faculdade. Deu um sorrisinho, depois, embocou um novo assunto
para incluir Luciano na conversa.

O namorado de Patrícia não era do nosso meio de ADM ou Letras e tinha se formado
em engenharia elétrica por influência do pai, que comandava uma empresa no ramo. Ele
morava no Jardim Europa, Zona Oeste de São Paulo, tinha um irmão mais novo que
trabalhava com a mesma coisa que ele e outro mais velho que havia enveredado para o
Turismo. Conhecera a minha colega de turma através de um aplicativo de
relacionamentos e eles estavam juntos há quase seis meses.

— Quem diria que esses aplicativos de namoro dão mesmo certo!

Disse Regina, desviando o olhar rapidamente da amiga para mim.

Desde que havíamos nos sentado à mesa da sua cozinha, ela não parava de me encarar e
sorria cada vez que reconhecia alguma das músicas que tocava num volume agradável
no mini system da sala. Naquele momento, era uma da carreira solo do David
Coverdale, “Love Is Blind”.

♪ They say time can heal the pain. But sooner or later it's back again♫

“Eles dizem que o tempo pode curar a dor. Mas cedo ou tarde voltará de novo”.
Aquele trecho tinha um significado forte para mim e Regina nem fazia ideia o quanto.
Capítulo 83 – Danilo (PARTE 3)

O ENCONTRO ENTRE AMIGOS durou até por volta das vinte horas e começamos a
caminhar em direção ao portão da casa todos juntos. Já do lado de fora, ainda feliz por
ter podido confraternizar com os antigos parceiros de faculdade, Patrícia convidou a
mim e a Regina para um bloco de carnaval que aconteceria a poucas quadras daquele
endereço, obviamente querendo estender um pouco mais a nossa reunião de fim de
semana.

— Ouvi dizer que é um dos blocos mais animados das redondezas e vai sair por volta
das dezessete horas da Praça Antônio Marques, em frente ao Atacadão — disse Patrícia,
empolgada —, o Luciano e eu vamos dar uma passada por lá amanhã. Seria muito legal
que vocês dois viessem com a gente.

Eu encarei Regina um instante e tive vergonha de recusar o convite logo de cara.


Carnaval e Samba não eram muito a minha praia, mas para não parecer chato, disse que
ia considerar o chamado.

Eu já estava com os dois pés para fora do portão com a chave do Crossfox em mãos
quando senti os dedos de Regina segurarem o meu braço. Luciano já havia assumido o
volante do Ford Fusion branco que dirigia e a Patrícia acenava para a gente entrando no
carona. A loira me olhou de maneira enigmática e pediu que eu lhe fizesse companhia
mais um pouco. Acabei cedendo.

De volta à sala da sua casa, Regina me ofereceu uma bebida e eu disse que aceitava
mais um copo do suco de manga que ela tinha feito mais cedo.

— Não quer um vinho no lugar do suco?

Eu não bebia nada alcoólico há muito tempo devido os erros que já havia cometido em
minha juventude por estar embriagado, mas a Regina não sabia disso.

— Fico com o suco, obrigado.

Nos sentamos no sofá lado a lado algum tempo depois e estar ali com ela depois de
tantos anos ouvindo as mesmas músicas que tocavam no rádio do Gol ’94 do Charles
era como entrar num DeLorean e viajar de volta para um dos momentos mais felizes da
minha vida.

— A Pat continua a mesma palhaça da época da faculdade. Não mudou nada!

Ela estava sentada com as pernas cruzadas voltadas em minha direção. Parecia nervosa
dedilhando o indicador direito sobre a coxa e não parava de me encarar como que
tentando decifrar as minhas expressões.

— A Pat sempre foi um amor de pessoa, mas o namorado dela é meio ranzinza…
Regina chegou a se inclinar para rir e colocou a mão na boca antes de admitir que havia
achado o mesmo. Assim como eu, ela também não o tinha conhecido pessoalmente até
aquele dia e havia ficado com a mesma impressão do rapaz.

O som estava tocando “Never Say Goodbye” do Bon Jovi quando percebi a dona da casa
ficar inquieta perto de mim. Estávamos trabalhando nossas mentes há quase trinta
minutos, nos esforçando para lembrar os nomes de alguns colegas costumeiros que
encontrávamos nos bares noturnos na rua da faculdade e, de vez em quando, nos
calávamos prestando a atenção nas letras das canções. Aquela do Bon Jovi estava
gravada num CD que eu tinha dado de presente a ela após um dos nossos encontros e
que após me agradecer com um beijo, tinha dito que guardaria para sempre como
recordação daquele dia.

Após interromper o assunto sobre os companheiros de bar, Regina disse, ainda se


mexendo agoniada:

— Você nunca me perdoou pelo que te fiz, não é?

Não havia uma resposta simples para aquela pergunta, mas eu não estava a fim de
argumentar o que eu pensava sobre o assunto. Tudo que eu dissesse acabaria
desenterrando sentimentos ruins e, decididamente, aquela não era uma noite para
lembranças negativas.

— Digamos que, depois de um tempo, eu parei de pensar no assunto.

Ela abaixou os olhos. Ficou encarando o próprio dedo irrequieto sobre a calça jeans
justa por alguns segundos, depois, falou sem mais delongas:

— Se eu dissesse que me arrependo até hoje de ter ficado com aquele garoto de Letras
naquela festa mudaria algo pra você?

A encarei sem lhe responder nada. A playlist continuou rolando no som. Agora era a
vez de “Amazing” do Aerosmith, uma das minhas bandas de Hard Rock prediletas.

— Acho que não tem necessidade alguma relembrarmos esse ponto das nossas vidas.
Não podemos mudar o que já foi escrito.

Regina se afastou alguns minutos com o celular em mãos depois da minha recusa em
tocar no assunto traição que ainda a atormentava. Pediu licença e comentou que
precisava ligar para o ex-marido. Voltou do quarto levemente irritada após a conversa e
desabafou:

— O Robson acha que ainda pode controlar a minha vida mesmo após a separação. Ele
ouviu as músicas que estavam tocando ao fundo da ligação e quis saber onde eu
estava…

Ela bufou e jogou todo o peso do corpo sobre o sofá. Ainda contrariada, tornou a cruzar
as pernas e ficou mexendo de maneira frenética os pés calçados com um tênis branco
baixo.
— Aos finais de semana, ele tem direito de ficar com a Sofia pelo acordo que fizemos
com o juiz e ficou me enchendo de perguntas depois que pedi que ele trouxesse a
menina pra casa amanhã bem cedo.

Se eu bem tinha entendido, ela tinha levantado aquele assunto comigo apenas para
mostrar que estava usando a minha presença ali para causar ciúmes no ex. A maior
ironia daquela história toda era que, assim como tinha feito comigo, Regina também
tinha sido traída pelo marido e aquele era um dos motivos do divórcio dos dois.

— E a Sofia sofreu muito com a separação de vocês?

Regina assumiu uma expressão mais tranquila antes de assentir.

— Ela ama o pai. Foi muito dolorido para a minha filha vê-lo sair de casa carregado de
malas e indo morar num outro lugar, longe daqui. Até hoje, ela choraminga pelos cantos
de saudades dele. Às vezes, é uma luta trazê-la de volta do apartamento onde ele está
morando sozinho. Eu sinto que qualquer dia, vou acabar perdendo a minha filha…

O par azul brilhou de modo mais intenso sinalizando o brotar de lágrimas e eu a


consolei, segurando a sua mão. Regina se voltou para mim como que surpresa e
agradeceu o gesto de carinho.

— É só uma fase. Assim que ela se acostumar que agora tem dois lares e que não
precisa escolher apenas um deles, a Sofia vai sossegar. Adolescentes agem por impulso,
mas depois acabam se conscientizando do que é certo a se fazer.

Era incrível como dávamos conselhos às outras pessoas bancando os especialistas na


psique humana, mas não éramos capazes de resolver os nossos próprios dramas. Eu
estava cheio deles em minha vida pessoal e profissional, mas não fazia ideia como
poderia solucioná-los. Grande ironia!

Depois das minhas palavras de hipocrisia reconfortante, Regina voltou a se animar e


reforçou a mim o convite feito por Patrícia mais cedo.

— Eu num bloco de carnaval? Sério?

Ri de maneira irônica. Ela puxou de leve a manga da minha camisa.

— Faz um esforcinho, senhor roqueiro! Eu ia gostar muito da sua companhia na


avenida. Foi tão bom reencontrar você e o seu jeito irreverente, o seu bom-humor. Eu
sentia falta disso e agora quero explorar um pouco mais a sua presença.

Ainda me soava ridícula a ideia de me ver tentando sambar atrás de um trio elétrico. Eu
nem tinha mais coluna vertebral para um esforço como esse.

— Não é a minha praia… — respondi, a deixando chateada.

— Finge que gosta de carnaval pelo menos um pouquinho, Dan. Eu vou levar a Sofia
com a gente. Se quiser, você pode convidar mais alguém para te acompanhar. Por
favor?
— Eu vou pensar então. — respondi por fim.

A noite já tinha caído do lado de fora e as estrelas salpicavam o céu limpo de luar. A
temperatura estava agradável e tudo indicava que a próxima segunda-feira pré-Carnaval
seria de muito sol e calor.

O papo estava realmente bom e Regina tinha sido uma companhia muito agradável, mas
já tinha chegado a hora de partir. Àquela hora, o Johnny já devia estar ganindo dentro de
casa sentindo a minha falta e eu precisava voltar antes que os vizinhos chamassem a
polícia por maus tratos aos animais.

— Fica mais um pouco, Dan. A conversa está tão boa!

Era óbvio que a minha ex-namorada da juventude estava a fim de relembrar os velhos
tempos comigo desde o momento em que eu pisara os pés em sua casa, mas aquilo não
tinha passado pela minha cabeça. Regina continuava linda como nos seus dezoito anos e
eu seria cego se não admitisse que ainda era capaz de me sentir atraído por sua beleza.
Apesar disso, ficar com ela de maneira mais carnal nem que fosse por alguns minutos
representaria uma traição ao meu próprio orgulho.

— Eu preciso mesmo voltar. O meu cachorro deve ter destruído a casa inteira enquanto
espera que eu volte.

Era um exagero, claro. Johnny era muito bem adestrado e nem sequer sujeira fora da
área reservada a ele o bichinho fazia. Os ganidos eram os únicos sons irritantes que ele
produzia quando eu ficava muito tempo fora e os vizinhos costumavam reclamar.

— Você vai embora sem me dar nem um beijo?

Ela agora estava tentando agir de maneira mais direta. Procurando me seduzir, veio
andando em minha direção com as sobrancelhas arqueadas e um meio-sorriso na face.
Eu a conhecia bem, e sabia que o próximo passo era morder o lábio inferior para me
provocar.

— Não seja por isso…

Segurei o seu rosto de maneira delicada e depositei um beijo em sua bochecha esquerda.
Ela se irritou e me estapeou o braço.

— Não se finge de desentendido, Danilo! Eu quero um beijo de verdade.

Regina se apoiou na ponta dos pés e me segurou pelos ombros para projetar a sua boca
na minha. Senti o gosto de frutas em seus lábios do suco que havia tomado
anteriormente e era o mesmo em sua língua. As suas mãos massagearam a minha nuca
me forçando a tornar o contato mais intenso, mas fui obrigado a parar antes que fosse
tarde demais para querer sair dali sem manchar o meu orgulho.

Algum tempo depois, já de trás do portão, Regina acenou em minha direção com um
tremendo sorriso de satisfação no rosto e eu deixei Perdizes com um sentimento
ambíguo dentro do peito. Éramos agora os dois solteiros e não devíamos nada a
ninguém, então por que eu ainda dava razão à minha vaidade de homem traído e não
voltava a cair nos braços de uma das mulheres com quem eu mais tinha sido feliz na
vida?

Eu não sabia a resposta e dirigi dali até a Lapa no mais profundo silêncio, lutando
contra os meus próprios demônios interiores.
Capítulo 84 – Danilo (PARTE 4)

NA SEGUNDA-FEIRA APÓS o almoço, Regina me mandou uma mensagem via


WhatsApp pedindo permissão para fazer uma vídeo-chamada comigo e, como estava
desocupado em meu sofá assistindo um filme, decidi autorizar. Eu achava que as coisas
tinham ficado subentendidas em excesso no dia anterior e estava a fim de colocar um
ponto final naquela história de revival amoroso… até que a via diante da câmera.

— A Sofia e eu já estamos nos preparando para o bloquinho. Já decidiu se vai com a


gente?

Regina aparecia em primeiro plano com o celular na vertical se filmando de um ângulo


superior e, dali, a visão do seu decote era algo de espetacular. Ela estava vestida com
uma espécie de abadá com as mangas cortadas e largo por cima, mas era possível ver o
sutiã esportivo preto que usava por baixo. Os seios grandes estavam espremidos dentro
da peça lisa e simplesmente não dava para desviar os olhos.

— Eu estou esperando a resposta de uma amiga para saber se ela quer ir também.

Era mentira, mas eu precisava dizer alguma coisa para cortar logo o papo. A minha ex-
namorada estava mesmo imbuída em me seduzir novamente e fez cara de brava
semicerrando os olhos maquiados com uma sombra azulada e um delineado preto.

— Amiga, é? Que amiga?

Estava simulando agora um ataque de ciúmes. Lá atrás, dava para ver a sua filha Sofia
fazendo uma maquiagem parecida à da mãe em frente ao espelho, concentrada em sua
tarefa, mas ouvindo a nossa conversa.

— Ninguém que você conheça…

Ela revirou os olhos em claro sinal de descontentamento, mas, em seguida, reforçou:

— Se você vier, vamos esperar na entrada da minha rua, na esquina que emboca numa
avenida. Você vai ter que estacionar o carro um pouco antes porque a via vai estar
bloqueada em razão do Carnaval. Espero que não tenha problema.

Acenei que não havia e ela já fazia menção de que encerraria a chamada de vídeo
quando sorriu e me mandou um beijo de maneira bem sensual diante da câmera. Aquilo
havia me excitado mais do que devia e comecei a considerar visitar o tal bloco tamanha
era a insistência da moça. Se quisesse mesmo fugir da tentação de voltar a ficar com
Regina, eu precisava ir muito bem acompanhado e, no instante seguinte, estava
acessando as minhas conversas recentes. Aline seria a minha salvação e se não fosse ela,
não sabia mais a quem recorrer.

A filha de Edna Ferreti me enviou um áudio com uns trinta segundos de risadas por
conta das menções de “bloco”, “carnaval” e “eu” na mesma frase. A garota sabia desde
o início da nossa amizade que o meu tipo de música preferida era o Rock N’ Roll e ela
fez questão de me sacanear quando comentei que havia sido convidado para a folia de
rua mais popular do país.

— Cara, eu quero te acompanhar só pra poder presenciar a cena do senhor Danilo Reis
vestido de folião no meio do Carnaval!

Tínhamos intimidade suficiente para brincarmos daquela maneira mais despojada e


aceitava ser zoado por ela.

— Se você me acompanhar, juro que fico te devendo um favorzão. Além do mais, eu


não quero passar essa vergonha de, provavelmente, ser o único brasileiro que não sabe
sambar durante o Carnaval!

Ela digitou na sequência:

— Isso com certeza, porque eu gosto de Rock, mas aprendi a sambar desde pequena
com a dona Edna. Sou praticamente uma passista de escola de samba, meu bem!

Eu queria muito ver aquilo e entre zoações e implicâncias, não foi difícil convencer a
Aline a me acompanhar até o bairro de Perdizes para o tal bloco de rua.

A fim de ganhar tempo, a caçula dos Ferreti saiu de Cotia — onde estava passando o
feriado — de Uber e a encontrei próximo a um shopping de grande circulação na Barra
Funda. Dali, seguimos no meu carro até Perdizes e como me havia instruído Regina,
tive que estacionar quase uma quadra antes por conta da movimentação do feriado.

A maior parte das ruas tinha sido bloqueada para a passagem do trio elétrico e, as
calçadas, os postes e as marquises estavam todas enfeitadas com muitas cores para
comemorar o Carnaval. Assim que pisamos no local, a uns cinquenta metros do ponto
de encontro com Regina, já dava para ouvir vozes soando por um alto-falante e a música
retumbante de uma marchinha carnavalesca.

Aline estava muito bonita em seu modelito de foliã. Tinha vestido um cropped
vermelho mais largo por cima de um top preto e estava usando um short jeans bem justo
e curto embaixo. Os pés estavam calçados num par de tênis esportivos e ela havia feito
uma maquiagem nos olhos para combinar com a cor da blusa.

— Já está preparado para mostrar o samba no pé, senhor Reis?

Ela não parou de me tirar sarro um só minuto desde que a havia apanhado mais cedo e é
claro que entrei na brincadeira.

— Dei uma olhada nuns tutoriais sobre samba para iniciantes. Acho que peguei o jeito.

Ela deu um riso gostoso e, em poucos minutos, estávamos chegando na tal esquina para
o encontro.

Regina estava acompanhada da filha, da nossa amiga Patrícia e do namorado antipático


dela. Apresentei Aline a eles como a filha de uma grande amiga e vi Regina comendo a
menina com os olhos, como que reprovando a sua presença. Para provar que estava
mesmo a fim de arrasar no Carnaval, tinha botado um short quase tão curto quanto o de
Aline, mas o seu recheio era incrivelmente mais volumoso.

— Meio novinha essa sua amiga…

Regina sussurrou aquilo em meu ouvido logo que começamos a nos deslocar a pé para
alcançar o bloco que seguia mais à frente e eu dei de ombros, como se aquilo não
tivesse importância.

Uma vez inseridos na multidão que acompanhava o bloco, foi difícil deixar de sentir a
adrenalina efervescente dos foliões ao nosso redor. Uma banda muito talentosa de
percussionistas ditava o ritmo do trio elétrico enquanto uma vocalista de voz grave e
potente entoava sucessos de Ivete Sangalo, Daniela Mercury e Margareth Menezes. Eu
conhecia um ou outro refrão muito por alto e fui alvo da diversão de Aline, que não
parava de rir me vendo tentando acompanhar as batidas envolventes do axé. Era
naquelas horas que eu percebia que a juventude tinha ficado para trás há muito tempo.
Não tinha mais qualquer desenvoltura para a dança.

A banda seguiu avenida a dentro angariando cada vez mais seguidores por onde passava
tal qual um digital influencer na internet. Perto de nós, Regina e Patrícia eram as mais
animadas e não paravam um só segundo de rebolar e dançar. Sofia seguia no seu próprio
ritmo mais tranquila e reservada e, a certo ponto, se juntou à Aline e as outras para
acompanhar uma coreografia instigada pela cantora no alto do trio.

— Agora eu quero ver todo mundo acompanhando o passinho. Mãozinha para o alto.
Cruza em frente ao peito. Desce rebolando até o chão. Até o chão! ATÉ O CHÃO!

Naquele momento, a percussão era intensa em batidas ritmadas. Um dois. Um dois. Um


dois três. Um dois três.

A multidão praticamente inteira atrás do carro alto de som imitava os gestos que a
vocalista e os seus bateristas ditavam lá de cima, a uns cinco metros do chão. Eu tentei
acompanhar, em vão. Até o Luciano estava entrando na dança. Mesmo com um copão
de cerveja em uma das mãos ele deu conta da “coreô” e eu fui o único a passar vexame.

Eu estava a uns três passos de Aline, um pouco atrás de Luciano. Como havia se gabado
por mensagem, ela tinha mesmo a cintura solta e era bonito de ver a menina
requebrando os quadris toda faceira. O sorriso no rosto de quem estava se divertindo
muito era lindo e, num breve instante, os nossos olhares se cruzaram. Ela se virou um
pouco de lado para a direção em que eu estava e começou a rebolar me encarando.
Terminou me lançando um olhar de puro desejo e me lembrei na hora de como havia
terminado o nosso primeiro encontro a sós.

…Só Deus sabe o quanto eu quero, mas a gente acabou de viver um dia incrível juntos,
sentimos uma conexão enorme um com o outro… realmente não quero botar tudo a
perder com mais uma noite de sexo que pode quebrar com a magia da coisa…

A magia não tinha sido quebrada e já me sentia pronto para começar um novo encanto.
Senhor, que eu não esteja cometendo mais um dos meus erros imperdoáveis, pensei,
instantes depois de retribuir a dança de Aline com um sorriso que queria dizer “sim, eu
quero”.
Capítulo 85 – Danilo (PARTE 5)

DUAS HORAS DEPOIS de empurra-empurra, pisadas no pé, banho de cerveja


acidental, cotoveladas e muito bate-coxa, eu já estava me sentindo exausto e me
aproximei de Regina comentando que tinha dado a minha cota de folião por um dia.

— Tá cedo, Dan. O bloco vai andar mais dois quilômetros e ainda nem são oito da
noite! Segue com a gente.

Regina estava suada, mas tanto ela quanto Patrícia pareciam capazes de aguentar mais
umas cinco horas de samba na avenida. Ali perto, Luciano matava o seu quinto ou sexto
copão de cerveja e até ele demonstrava ainda ter fôlego para mais tempo de bagunça.

— Eu preciso levar Aline até Cotia. Se ficar muito tarde, ela não consegue chegar em
casa.

Aquela era a desculpa perfeita para uma saída estratégica e a Aline estava ao meu lado
concordando com tudo. Ela estava bastante ofegante, mas como atleta profissional,
estava longe de estar cansada como eu. Regina a olhou feio sem nem disfarçar desta
vez. Se aproximou de mim, ficou na ponta dos pés e cochichou:

— Está acontecendo algo entre você e essa mocinha?

Aline sacou na hora que Regina estava falando dela, mas não esboçou nenhuma reação
mais enérgica. Acenei que não para a loira e comecei a me despedir das outras pessoas
no grupo. Luciano já estava tão bêbado que me deu tapinhas efusivos nas costas e me
chamou de “amigão”.

— A gente se vê na aula na próxima quinta, Sofia.

A menina loirinha me deu um abraço rápido e sacudiu a cabeça positivamente.

A vocalista não queria deixar ninguém parado e já emendava “Descobridor dos Sete
Mares” do Tim Maia com “Aquarela do Brasil” do João Gilberto em ritmo acelerado.
Conforme o público em torno de nós voltava a pular com o incentivo da voz ao
microfone, acenei para quem mais ficava uma última vez sem depois olhar para trás.
Segurei a mão de Aline para sairmos juntos dali sem nos perdemos na confusão e
começamos a ziguezaguear entre as pessoas procurando alcançar a calçada. Ela estava
tão agitada quanto eu e dava para perceber por sua mão que tremia em contato com a
minha.

O percurso de Perdizes até a Lapa não era longo e tomando um atalho por uma das vias
que não estava interditada aquele dia, consegui chegar em menos de vinte minutos em
minha casa.

Estávamos os dois ansiosos demais para conversar sobre qualquer outra coisa e Aline
aproveitou o ensejo para continuar me tentando.
— Acha que sexo num segundo encontro é cedo demais?

Ela deu um risinho nervoso ao final da frase.

— No nosso caso, acho que é no tempo certo!

Ela me olhou então com labaredas saltando dos olhos. Mordeu o lábio e virou o rosto
para o lado da janela com um sorriso quase diabólico estampado. Tinha a consciência
exata do que estávamos prestes a fazer e se mostrava inteiramente a favor de seguirmos
adiante.

A minha primeira providência ao chegar em minha casa foi encher o prato de Johnny de
ração, depois, segurei a mão de Aline e a conduzi até o meu quarto. Ela ainda não
conhecia o lugar e lançou um olhar rápido em direção à king size encimada com uma
colcha verde-oliva. Descalcei o meu tênis e ela me imitou. Queria tomar um banho
antes, me refrescar depois da maratona atrás daquele trio elétrico, mas ela estava
apressada.

— Eu esperei demais por isso, Dan. Chega de me deixar com vontade!

Aline veio em minha direção ofegante e me deu um beijo já cheio de saliva, fazendo
movimentos intensos com a sua língua. Respondi na mesma intensidade e ela me
apertou forte os ombros. Chutou para longe os sapatos, começou a puxar a minha
camiseta e a tirou sem muita paciência.

— Tem certeza que quer fazer isso?

Ela me olhou com os olhos semicerrados e me respondeu dando um sorriso malicioso.


Voltou a me beijar serpenteando a língua na minha e começou a arranhar as minhas
costas. Não resisti por mais nem um segundo e deslizei as mãos espalmadas do pescoço
até o seu cóccix, fechando os meus dedos na saliência das suas nádegas. Eram rijas e ela
interrompeu o beijo o suficiente para sussurrar:

— Achei que nunca ia fazer isso!

De modo lascivo, Aline prendeu os braços em torno do meu pescoço e sorriu de maneira
atrevida enquanto fazia movimentos circulares com os quadris, do jeito que tinha feito
na avenida mais cedo, para me provocar. Era a primeira vez que a via se comportando
daquela maneira na minha frente e eu estava adorando.

— Foi isso que te fez mudar de ideia, não foi?

Fui obrigado a assentir e a beijei mais uma vez sem soltar aquele bumbum empinado
por cima do shortinho que agora estava cada minuto mais enterrado.

Eu não tinha planejado como seria a nossa primeira vez. Onde seria, como seria e se
aconteceria, por isso, tive que improvisar. Quando pensava em Aline, imaginava que ela
gostasse de algo mais romântico e lento, mas estávamos os dois com tesão demais para
pensar em detalhes.
Quinze minutos de amassos cheios de promessas depois, eu estava descendo a minha
bermuda junto da cueca e Aline estava sentada na cama com as pernas abertas. O
shortinho já estava jogado num canto do quarto, perto do armário, e ela me esperava só
de top preto e calcinha da mesma cor.

Massageei o meu pênis para tornar a minha ereção completa e ela não conseguiu mais
desviar o olhar. Lambeu os lábios fazendo menção de que queria prová-lo entre os
lábios, mas não havia tempo. Desenrolei um preservativo, sentei-me ao lado de Aline e
a deixei vir por cima. Um novo beijo a botou no prumo. Acariciei o seu bumbum agora
sem a resistência do jeans sobre a sua pele e era ainda mais macio.

— Vai com cuidado, por favor… eu não faço isso já tem um tempo.

Segurei a glande em direção a abertura que ela me descortinou puxando a calcinha de


lado e fez uma careta quando sentiu a minha firmeza começar a invadir a sua
intimidade.

— Eu nem acredito… Hum, Dan!

Jogando os cabelos lisos de lado e mantendo as costas retas, Aline passou a gemer
conforme o meu pênis a penetrava mais. Deu um grunhido mais alto quando sentiu
descer quase até o fundo e ficou estática, com expressão de choro.

— Você é tão grande, Dan… Eu… Eu tô me sentindo como uma virgem…

Aquilo parecia um elogio ou podia ser apenas a citação de uma música da Madonna,
mas, por via das dúvidas, diminui a intensidade para não a machucar. Aline revezava
agora entre dar gemidos doloridos e sorrir, me presenteando com beijos. Não parecia
estar acontecendo como ela queria.

— Tô te machucando?

— Tá, Dan… Tira um pouquinho.

Aline enlaçou o meu pescoço com um dos braços e ficou a massagear a vagina com a
mão livre. Estava sentada aberta em cima de mim, com os pés apoiados na cama.
Estávamos na beirada da cama. Segurei a sua mão, a fiz apoiar em meu ombro e pedi
que ela se levantasse. Me olhou envergonhada, mas eu estava pronto para deixá-la mais
relaxada. Segurei o cós da sua calcinha de renda, a deslizei até o tornozelo e pedi que
ela confiasse em mim.

— Tem certeza? — Me perguntou. Eu apenas pisquei-lhe o olho.

Com ela ainda em pé diante da cama, usei a sua maleabilidade de atleta para apoiar uma
das suas pernas em meu ombro e me inclinei para alcançar a sua zona mais íntima. Com
a língua cheia de saliva, comecei fazendo uma massagem em seu clitóris e aquilo a
deixou com as pernas trêmulas.

— Minha nossa! Como isso é…


A vagina pulsante encheu-se de um líquido transparente que eu suguei e tornei a
espalhar na superfície dos grandes lábios, nos pequenos lábios e na parte ainda mais
interna daquela flor depilada.

Ao gozar, Aline se entregou a um gemido muito alto que ecoou no quarto inteiro,
depois, segurou a minha nuca e prendeu o meu rosto entre as pernas. Um suco cada vez
mais saboroso agora escorria de dentro dela, feito uma fonte doce de um néctar que só
podia ser produzido pelos deuses. Os deuses da luxúria.

Quando Aline voltou a se sentar em cima de mim, ela estava com os olhos marejados e
sorria com expressão inebriada. Me deixou voltar a lhe penetrar sem qualquer
resistência e, sem parar de me olhar dentro dos olhos. Quando sentiu descer até o fundo,
abriu a boca de desejo e começou ela mesma a fazer movimentos circulares com as
ancas, me engolindo mais e mais.

— Agora está gostoso?

Sorrindo, ela fez que sim com a cabeça bem devagar, tocando o meu maxilar com os
dedos machucados pelo vôlei, mas ainda delicados. Sem excessos, sem qualquer pressa,
ficamos a transar de uma maneira carinhosa. Não desgrudamos nossos olhares um só
minuto até o gozo e nos presenteávamos com beijos suaves a cada arrepio que
provocávamos um no corpo do outro. Aquela era a sensação mais maravilhosa que já
tinha sentido fazendo sexo com alguém e nunca antes havia sido tão especial.

Do lado de fora da janela, a noite já havia mergulhado a cidade num negrume intenso e
nuvens espessas cobriam o céu anunciando chuva para o próximo dia. A rua estava
tranquila mais que o normal e, por um tempo, tudo que se podia ouvir dentro do quarto
era o ranger do colchão reagindo aos nossos movimentos de intensa paixão.

05/03/22

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