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1 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO

FICHA TÉCNICA

Direção Geral
Silvio Nobuyuki Akiyoshi

Diretor Comercial
Vagner Cauneto

Diretor Financeiro
Wilson Hara

Coordenação do Curso
Neir Moreira da Silva

Coordenação de Educação a Distância


Elizandra Jackiw

Revisão Editorial
Wanderlane Gurgel do Amaral
Jacqueline Morissugui Cardoso

Diagramação
Renata Ballarini Troiani Vicentini
Lucas Gomes

Catalogação na fonte da Biblioteca da Faculdade São Braz

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Indicações de ícones
Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e facilitar a organi-
zação e a leitura hipertextual.

VOCABULÁRIO: indica a utilização de um termo, palavra ou expressão no texto.

SAIBA MAIS: Oferece novas informações que inriquecem o assunto,


ou “curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao tema estudado.

ATENÇÃO: Indica pontos de maior relevância no texto.

MÍDIAS INTEGRADAS: indica o uso de diferentes mídias: vídeos, filmes,


jornais, ambiente de aprendizagem entre outras.

ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM
1) Apresenta atividades em diferentes níveis de aprendizagem
para que o estudante possa realizá-las e conferir o seu domínio
do tema estudado.

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GUIA DA DISCIPLINA

Este guia da disciplina e as rotas de aprendizagem fornecem um direcionamento


para os seus estudos, por isso, podem ser acessados a qualquer momento do percurso
da disciplina. Lembramos que o tutor online é o seu primeiro ponto de apoio nesse
processo educacional, por isso, conte com ele sempre que desejar.

1- Título da Disciplina
Filosofia da religião

2- Carga Horária
2.1 Carga horária total: 40 horas

2.2 Carga-horária presencial: encontros obrigatórios realizados uma vez por mês
na instituição. Este momento é destinado à interação com o tutor presencial e colegas
de turma para a discussão e socialização das temáticas estudadas. Para integração dos
conhecimentos, serão propostas atividades em equipe (como apresentações, pesquisas,
discussões e outros).

2.3 Carga-horária a distância: horas de estudos com orientação dos tutores


on-line. Esses estudos incluem vídeo aulas, participação em fóruns, chats e outras
atividades no ambiente virtual de aprendizagem.

3- Ementa

Paralelos conceituais entre filosofia, religião e ciência. A Religião como objeto


da reflexão filosófica. Clássicos da Filosofia da Religião. Estudo filosófico do fenômeno
religioso e caracterização das diversas formas de expressão do sagrado.

4- Objetivos Geral

Compreender o estudo da dimensão espiritual do homem com uma perspectiva


filosófica.

4.1 Objetivos Específicos:

Compreender os paralelos conceituais entre filosofia, religião e ciência.


Conhecer a Religião como objeto da reflexão filosófica e os clássicos da Filosofia
da Religião.
Entender o estudo filosófico do fenômeno religioso e caracterização das
diversas formas de expressão do sagrado.

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5- Programa

6- Metodologia

Você estará em contato com os colegas e com os tutores por meio de uma sala
de aula virtual de aprendizagem – (AVA), exclusiva para esta disciplina, disponibilizada
na Plataforma Moodle, que é um programa computacional conectado à Internet.
No AVA a disciplina está organizada em rotas de aprendizagem. A rota de
aprendizagem é um aprofundamento detalhado desse plano de ensino da disciplina.
Cada etapa das rotas de aprendizagem tem duração semanal e iniciam com atividades
de sensibilização e contextualização sobre as temáticas a serem estudadas disciplina.
Após a semana destinada à sensibilização e contextualização da temática,
você inicia a leitura do material didático (livro) e assistirá as vídeoaulas. É importante
observar os horários dos chats para a discussão e interação com os colegas do curso e
com o tutor online.
Nas rotas de aprendizagem também estão previstas atividades online. Você
poderá realizar as atividades sugeridas e, dialogar com os seus colegas de estudo e
tutores. A organização das rotas de aprendizagem prevê, por módulo, dois encontros
presenciais obrigatórios no polo de apoio. Durante os encontros presenciais com sua
turma, serão propostas atividades para você resolver, seja individualmente ou em
grupo, com a supervisão do tutor do seu polo.

7- Avaliação

A avaliação da aprendizagem se efetiva no percurso da disciplina, a partir das


atividades realizadas no ambiente virtual de aprendizagem, por meio dos registros das
análises críticas das leituras, participação nos fóruns, desenvolvimento de pesquisa,
produção de textos e outros.
Nos encontros presenciais, a partir das atividades desenvolvidas.
Avaliação escrita ao término da disciplina, na modalidade presencial e sem
consulta.
A média para a aprovação em cada disciplina deve ser igual ou superior a 7,0 e
é composta da seguinte maneira:

(Soma das atividades online) X 4 + (Nota prova presencial) X 6 : 10 = MÉDIA

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Caso não atinja essa média, você poderá realizar uma avaliação de exame final,
desde que tenha frequência mínima de 75% e média não inferior a quarenta (40). No
exame final será aprovado o aluno que obtiver grau numérico (nota) igual ou superior a
50 na média aritmética entre o grau do exame final e a média do conjunto das avaliações
realizadas. Alunos que não obtiverem a nota mínima de 50 estarão reprovados. A
frequência mínima de 75% compreende a presença nas atividades presenciais previstas
e as atividades descritas nas rotas de aprendizagem. A frequência das atividades
presenciais é apreciada e monitorada pelo tutor do polo via portal acadêmico (relatório
de chamada). Para as atividades a distância, a frequência é aferida através do sistema
acadêmico da FSB (sala de aula virtual Moodle) no qual é possível retirar relatórios
a respeito dos acessos dos estudantes, downloads realizados, mensagens enviadas e
recebidas, postagens nos fóruns e participação nos chats.

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Sumário

AULA 1 10

1.1 Filosofia 11
1.2 Senso Comum 12
1.2 Ciência 13
1.2.2 Novo Testamento 13
1.3 Religião 14

AULA 2 19

2.1 A filosofia da religião 19


2.2 O Olhar filosófico para a religião 21

AULA 3 24

3.1 Santo Agostinho (354-430) 24


3.2 Santo tomás de Aquino 28

AULA 4 32

4.1 O Fenômeno religioso 33


4.2 O sagrado 34
4.2.1 Émile Durkheim 34
4.2.2 Rudolf Otto 35
4.2.3 Mircea Eliad 37
4.3 A expressão do sagrado 38
4.3.1 Judaísmo 38
4.3.2 Cristianismo 39
4.3.3 Islamismo 40
4.3.4 Hinduísmo 41
4.3.5 Budismo 42

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FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 8
Palavra da professora-autora

Diante do desafio de escrever um livro sobre filosofia da religião,


optamos por um percurso que leve você aluno, você aluna a refletir
conosco sobre alguns conceitos. Assim, nas próximas páginas você
encontrará uma apresentação das temáticas propostas para perceber o
caminho conceitual que foi escolhido, e com abertura para sua reflexão,
críticas e questionamentos que auxiliarão na construção e ampliação do
seu conhecimento.
Essa obra não se apresenta como um tratado filosófico sobre a
religião, tão pouco, esgotamos todas as possibilidades de reflexão sobre
os temas propostos.
Esperamos que essa obra auxilie o seu percurso formativo na área
de Teologia. É com essa expectativa que desejamos uma excelente leitura
e bons estudos!

Profa. Roseane Almeida da Silva

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Aula 1
Paralelos conceituais entre filosofia, senso comum, ciência e religião

Nesta aula você irá compreender o conceito, semelhanças e divergências entre


o pensamento filosófico, o senso comum e o conhecimento científico e religioso.
Conhecerá a etimologia da palavra Filosofia e a religião a partir de diversas áreas do
conhecimento.

Figura: Filosofia, senso comum e religião


Fonte: © Web Gallery of Art / Domínio Público dos EUA / Wikimedia Commons

Muitos são os preconceitos e equívocos quando se tenta conceituar filosofia.


Apesar de não ser o nosso objetivo principal construir um percurso introdutório à
filosofia ou a sua história, não podemos deixar de compreender o conceito de filosofia,
distinguindo-o de senso comum e traçando um paralelo com os conceitos de ciência e
religião.
E por que esses conceitos são tão importantes? Ora, a grande maioria dos
preconceitos e, principalmente, equívocos que a filosofia carrega ao ser conceituada
refere-se diretamente a um desses três elementos que acabamos de mencionar. Por
isso, reservamos esse primeiro capítulo para essa conceituação. Vamos lá!

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1.1 Filosofia

Vamos olhar, primeiramente, para a etimologia da palavra Filosofia, ou seja,


seu significado, em grego. Ela é constituída por dois termos gregos, a saber, philos que
significa “gostar de algo” e sophia que significa sabedoria.
Tomando apenas esses conceitos filosofia, significa gostar da sabedoria. Mas, o
que significa esse “gostar da sabedoria”? Parece-nos estranho, não? Então, tentaremos
compreender esse “gostar da sabedoria”, já que a análise etimológica não deu conta de
lançar uma compreensão do termo.
É difícil precisar, mas a palavra filosofia teria sido utilizada pela primeira vez
por Pitágoras, por volta do século VI a.C. Pitágoras era reconhecido como um “sábio”
(sophos) na Grécia Antiga, mas ele mesmo não se considerava assim, já que um sábio
possui o conhecimento. Então, Pitágoras preferiu denominar-se “filósofo”, apontando
para uma definição de uma pessoa que “gosta da sabedoria” e que, diferentemente do
“sábio” não detém toda a sabedoria.
Ter sabedoria pressupõe ter respostas, poder apontar caminhos seguros, pois,
a sabedoria detém o conhecimento sobre aquilo a que se propõe dar uma resposta. A
filosofia, ao contrário, não detém a sabedoria, tenta se aproximar dela, vive em busca
do conhecimento. Segundo Gallo (2014) a filosofia implica em um movimento de busca
ao saber.
Esse movimento acontece na prática por meio de questionamentos. A vontade,
o desejo de saber, de conhecer alguma coisa nos faz colocar perguntas sobre essa “coisa”
que desejamos conhecer. Mas, não basta fazer perguntas, é necessário a reflexão sobre
elas.
A busca pela resposta a uma pergunta deve passar pelo campo da reflexão.
Isso porque não devemos aceitar qualquer resposta para a questão colocada ao objeto
que estamos tentando conhecer. Não devemos aceitar prontamente uma resposta sem
antes refletir sobre a mesma, sem antes pensar profundamente sobre a essa resposta
dada. É a reflexão que nos levará mais próximo do conhecimento.
Ainda fundamentados em Gallo (2014, p. 13) podemos afirmar que “na reflexão
em busca do conhecimento, a filosofia elabora conceitos.” (grifo do autor). Essa é uma
definição possível sobre o que é filosofia, a busca de conceitos.
A filosofia elabora conceitos à medida que coloca as questões e reflexões
sobre um determinado tema. Por exemplo, vamos pensar o que é religião. Para pensar
reflexivamente sobre o que é religião muitas outras questões podem ser colocadas.
Podemos pensar sobre em que contexto estamos falando de religião, como as pessoas
se relacionam com a religião, quais os tipos de religião existentes no mundo, quais os
tipos de religião existentes em nossa sociedade, porque as pessoas procuram uma
religião, como a religião se manifesta ou como as pessoas manifestam sua religião, entre
outras.

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 11


Vejam que uma série de perguntas são colocadas para tentarmos compreender
um dado conceito. Essa é uma atitude filosófica. Refletir criticamente e profundamente
sobre todas as questões que cercam e que se interpõem àquilo que pretendemos
conhecer é uma atitude filosófica. Com essa atitude de pensamento temos condições
mais seguras de elaborarmos os conceitos para as coisas do mundo. Não somente coisas
concretas, objetos, mas também ações, atitudes, comportamentos, ou seja, questões
subjetivas em nós mesmos em nossas vidas.
Ao nos colocarmos essas questões estamos praticando a filosofia. Nesse sentido,
devemos sempre considerar que os conceitos não estão prontos, não se constituem em
verdades absolutas. Os conceitos já dados no mundo podem ser revistos, podem passar
por reflexão filosófica e serem ressignificados. (GALLO, 2014).
Por tudo isso que falamos até aqui é que podemos afirmar que a atitude
filosófica não é exclusiva há um grupo de pensadores, intelectuais que se dedicam ao
estudo da filosofia. O filósofo Antonio Gramsci (Gramsci, 2001, C11, §12, p. 93), afirmou
que “todos os homens são filósofos”. Ora, se todos nós em alguns momentos refletimos
criticamente e profundamente sobre situações de nossas vidas, se em alguns momentos
de nossas vidas nos colocamos questionamentos para tentar entender uma situação
problema e chegar a uma conclusão como saída desse problema, então assim, podemos
nos considerar também filósofos.

Você sabia?
Antonio Gramsci foi uma das referências essenciais do pensamento de
esquerda no século 20, co-fundador do Partido Comunista Italiano. Nascido
em uma família pobre e numerosa, foi vítima, antes dos 2 anos, de uma
doença que o deixou corcunda e prejudicou seu crescimento. No entanto, foi
um estudante brilhante, e aos 21 anos conseguiu um prêmio para estudar
Letras na Universidade de Turim. Entrou para o Partido Socialista em 1913.
Transformou-se num jornalista notável. Em 1919, rompeu com o partido.
Militou em comissões de fábrica e ajudou a fundar o Partido Comunista
Italiano em 1921. Em 8 de novembro de 1926, a polícia fascista prendeu
Gramsci. Durante a prisão escreveu mais de 30 cadernos de história e análise.
Conhecidas como “Cadernos do Cárcere” e “Cartas do Cárcere”, contêm seu
traço do nacionalismo italiano e algumas ideias da teoria crítica e educacional.
Fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/antonio-gramsci.htm

1.2 Senso comum

Muitos dos conceitos que fundamentam nossas vidas nas ações mais diversas
no dia a dia são conceitos do senso comum. O senso comum é um tipo de conhecimento
que nos fornece conceitos ou verdades transmitidas de geração em geração sem
quaisquer questionamentos. Simplesmente são ensinados em uma sociedade e essa
sociedade aprende e os aplica sem fazer uma análise do seu porquê.

12 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO


Agimos apoiados no senso comum quando realizamos as atividades do
cotidiano sem pensar. Dissemos que agimos no automático. Estamos tão acostumados
a realizar uma tarefa de uma maneira que não paramos para pensar se haveria uma
maneira melhor de fazer aquela atividade.
Da mesma forma acontece com nossos pensamentos. Acreditamos em coisas
sem nos questionar. Pensamos estar corretos sobre algo pelo simples fato de pensar
assim há muito tempo, de observar da mesma maneira o mundo há muito tempo.
Acreditamos em coisas e fatos, pelo simples fato de terem sido ditas pelos nossos pais,
nossos avós, por um amigo, por um professor, por um membro da igreja, por uma pessoa
que confiamos e respeitamos. Todas essas pessoas também acreditam nas coisas que
acreditam, porque foram ditas e ensinadas pelos seus pais, seus avós, um amigo, um
professor, um membro da igreja, enfim, por uma pessoa que eles também confiavam e
respeitavam.
Chamamos essas ações, esse modo e agir e acreditar nas coisas do mundo, de
senso comum.
Será que se parássemos a refletir sobre os conceitos do senso comum ainda
assim continuaríamos acreditando neles? Será que se nos colocarmos em uma atitude
filosófica, como vimos na secção anterior, ainda aceitaríamos como verdade o conceito
do senso comum?
Bem, fica o convite para esse exercício filosófico.

1.2 Ciência

Vamos partir da definição apresentada por Damião, (2003, p. 39) que define
ciência como o “conhecimento organizado das leis naturais gerais, principalmente
aquelas obtidas através do método científico”. Segundo o mesmo autor, método
científico:
[...] são os princípios e modos de buscar o conhecimento
sistemático, incluindo o reconhecimento de um problema e
sua consequente formulação, a soma de informações obtidas
através da observação e das experiências, a apresentação e
comprovação das hipóteses. (DAMIÃO 2003, p. 39).

Outro importante conceito para nossos estudos é o conecimento. Salientamos


que o conhecimento:

Provém do latim sciens (entis), conhecimento e sua forma


verbal scire, conhecer. Mas a ciência, como uma disciplina,
destaca o caminho empírico do conhecimento. A ciência
consiste no conhecimento dos fatos, fenômenos, leis e causas
aproximadas, obtido e averiguado mediante observações exatas
(...). (CHAMPLIN, 1995, p.641)

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 13


Mas, temos que ter cuidado com essa afirmação de que o conhecimento
científico é fruto de “observações exatas”. Não queremos dizer com isso que a ciência
é absolutamente verdadeira. As verdades científicas também podem ser alteradas.
Um conceito ou teoria científica pode ser superado por outra. É um conhecimento
“exato” no sentido de ter passado por um rigoroso método de observação e testagem.
A comprovação empírica de um fenômeno, objeto, conceito ou teoria é que identifica
esse elemento como uma verdade científica.
Vejam que, nesse sentido, ciência é diferente de filosofia, pois, essa última
não comprova empiricamente os fenômenos, objetos, conceitos ou teorias estudadas.
A investigação filosófica é crítica e reflexiva e como vimos, pretende elaborar conceitos,
porém, não comprova suas verdades por meio de observações e testagens, empíricas.
Podemos afirmar também como a ciência é completamente o oposto do
senso comum, uma vez que esse, como já dissemos anteriormente é um conhecimento
absorvido de geração em geração que não é questionado nem testado.
Assim, vamos observar agora o que é religião, caminhando para a compreensão
final das diferenças entre filosofia, senso comum, ciência e religião.

1.3 Religião

A religião pode ser pensada e conceituada a partir de diversas áreas do


conhecimento. Do ponto de vista antropológico, a religião é uma das expressões
culturais mais antigas presentes em todas as culturas.
Nos fragmentos do pré-socrático Xenófanes (séc. VI a.C.) encontramos
relatos sobre a religião. Esse filósofo critica a ideia de que os deuses tenham as
mesmas características dos seres humanos. Assim, afirmava Xenófanes que a visão
antropomórfica da religião grega, de sua época, é um erro.

Glossário
O antropomorfismo é uma forma de pensamento que atribui características ou
aspectos humanos a deuses, elementos da natureza, animais e constituintes
da realidade em geral. Nesse sentido, toda a mitologia grega, por exemplo, é
antropomórfica.

Saiba mais
Nascido em 570 a.C. na cidade de Cólofon, na Jônia, atual Turquia, Xenófanes
foi um poeta e filósofo grego que viveu de forma errante durante a maior
parte de sua vida. Como a Grécia havia sido invadida e dominada pelo povo
persa no ano de 546 a.C., ele se tornou um nômade exilado de sua cidade
natal, o que o ajudou a exercitar a prática de escrever poesias.
Fonte: http://www.estudopratico.com.br/biografia-de-xenofanes/

14 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO


Mas, temos que ter cuidado com essa afirmação de que o conhecimento
científico é fruto de “observações exatas”. Não queremos dizer com isso que a ciência
é absolutamente verdadeira. As verdades científicas também podem ser alteradas.
Um conceito ou teoria científica pode ser superado por outra. É um conhecimento
“exato” no sentido de ter passado por um rigoroso método de observação e testagem.
A comprovação empírica de um fenômeno, objeto, conceito ou teoria é que identifica
esse elemento como uma verdade científica.
Podemos afirmar também como a ciência é completamente o
oposto do senso comum, uma vez que esse, como já dissemos anteriormente é um
conhecimento absorvido de geração em geração que não é questionado nem testado.
Assim, vamos observar agora o que é religião, caminhando para a compreensão
final das diferenças entre filosofia, senso comum, ciência e religião.
Mesmo com essa compreensão, não podemos nos afastar de um conceito mais
didático, lembrando que cabe a nós neste momento compreender a religião em paralelo
à compreensão de filosofia, senso comum e ciência, elementos já apresentados.
Nesse sentido, vale ressaltar que a palavra religião é derivada do latim religio,
formada pelo prefixo re - que significa outra vez ou de novo - e o verbo ligare - que
significa ligar, unir, vincular. Assim, podemos afirmar que a religião é um vínculo, uma
ligação e/ou uma união.
Podemos pensar também em re-unir, re-ligar e re-vincular, no sentido mesmo
de fazer a união, ligação ou vinculação entre o homem e Deus, o mundo profano e o
mundo divino.
Esse vínculo ou ligação entre o homem e Deus, entre o mundo profano e o
mundo divino se concretiza por meio da crença. Geralmente, independente da religião,
a crença está sempre fundamentada em escritos (textos, livros). As crenças descritas
nesses textos são observadas, compreendidas e, consequentemente, transmitidas
como manifestação divina, onde Deus se revela e revela seus desígnios.
Como esses desígnios são revelados pelo próprio Deus, tais propósitos,
juntamente com todo o projeto divino descritos nos textos que fundamentam cada
religião, não são questionados, interpelados, ou sequer analisados com alguma
profundidade. Por ser uma revelação divina, tais textos apresentam verdades absolutas,
imutáveis e incontestáveis.
Ora, uma verdade absoluta que não pode ser contestada é um dogma. Nesse
sentido, podemos dizer que as religiões são dogmáticas.
Além de dogmáticas as religiões possuem rituais. Os ritos religiosos impõem uma
maneira de se comportar, um modo de uma cerimônia, uma maneira de realizar as
orações ou determinadas orações. Esses ritos compreendem movimentos corporais,
gestos, utilização da voz com certa tonalidade como demonstração da concretização
do ritual. Os rituais são normas institucionalizadas, uma vez que as religiões se tornam
instituições que organizam e controlam um grupo.
O funcionamento ordenado de um grupo religioso demanda do trabalho de

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 15


pessoas que exercem diversas funções para a manutenção da religiosidade (fenômeno
que vamos discutir nas aulas 3 e 4) e manutenção da religião enquanto instituição
social. São pessoas que recebem diferentes nomes de acordo com cada religião, a saber,
sacerdotes, padres, pastores, bispos, obreiros, rabinos, mulá, pajé, profetas, gurus,
monges, enfim, pessoas com saber e autoridade religiosa para exercer certas funções.
Todos têm em comum o ofício e objetivo de organizar, controlar e fazer funcionar a
religião, liderando um grupo de pessoas e respeitando uma hierarquia de trabalho
própria de cada religião.

Resumo

Nesta aula conceituamos filosofia, senso comum, ciência e religião. Foi possível
compreender que a filosofia não responde às dúvidas e inquietações do ser humano.
Ela é uma reflexão crítica que nos leva a elaboração de conceitos. Essa compreensão já
nos afasta do senso comum que é transmitido de geração em geração sem quaisquer
questionamentos.
Percebemos também que o conhecimento científico é fruto de observações,
experimentos e testagens que segue um método rigoroso para comprovar suas
verdades.
Mesmo que a religião seja discutida nos demais capítulos, sendo objeto de
reflexão filosófico neste livro, já foi possível entender que religião é um vínculo ou
uma ligação entre o homem e Deus, entre o mundo profano e o mundo divino que se
concretiza por meio da crença.
Assim, traçamos um paralelo conceitual entre filosofia, senso comum, ciência
e religião compreendendo as diferenças presentes em cada um desses conceitos.

Atividade de aprendizagem
1) Você acredita que em alguma situação passou do conhecimento
do senso comum para um conhecimento filosófico? E do senso
comum para o conhecimento científico? Ainda, já passou do
conhecimento religioso para o científico ou filosófico? Reflita e
escreva uma síntese de 10 a 15 páginas.

16 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO


Aula 2
A religião como objeto da reflexão filosófica

Na aula anterior apresentamos a necessidade de a filosofia ser observada como um


diálogo construtivo (lembrando que esse vai muito além de uma crítica construtiva).
Assim, o que pretendo é fazer nesta aula um diálogo sobre a religião como objeto de
reflexão filosófica. Acompanhe!

Figura 2.1: Religião e Filosofia


Fonte: © 2004 by Tomasz Sienicki / Wikimedia Commons

2.1 A filosofia da religião

Pensar na religião como objeto de reflexão filosófica é pensar justamente na


filosofia da religião, uma área da filosofia que se propõe a estudar a dimensão espiritual
do homem. Porém, como se trata de um estudo filosófico e não teológico, a religião é
observada sob o ponto de vista metafísico, antropológico e ético.
Sob o ponto de vista metafísico a filosofia da religião busca a essência dos

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 17


conceitos, distanciando das questões práticas da vida humana e aspectos históricos que
esses conceitos podem carregar.
No que se refere ao aspecto antropológico, quando a filosofia da religião
pergunta o que é a religião, vai buscar como esse fenômeno nasceu, se formou e evolui
no homem, junto com seu nascimento, formação e evolução. Por isso, sob o aspecto
filosófico-antropológico a religião é observada como manifestação cultural, como
fenômeno manifestado pelo homem.
Quando falamos do ponto de vista ético, a filosofia da religião se preocupa em
analisar os valores e moral constituídos na religião, bem como a apropriação, a prática
e a perpetuação desses valores e dessa moral religiosa pelo homem.
Como área da filosofia, a filosofia da religião pretende questionar sobre o
que é a religião, como é constituída, suas representações e manifestações, a existência
de Deus, as influências da religião no cotidiano do homem, a constituição do homo
religiosus, dentre outros elementos.

Glossário
Homo religiosus – palavras latinas que significam homem religioso.

Esses questionamentos formam a base de sustentação da religião enquanto


objeto da filosofia. Também podem ser a base de sustentação de estudos teológicos,
mas, com o olhar filosófico, primeiro a religião é colocada na esfera do racional e
portanto, passível de reflexão e entendimento humano. Assim, um fenômeno religioso
que para a teologia tem um caráter espiritual, sentimental envolvendo a fé, para a
filosofia tem um caráter prático, objetivo e racional.
Vimos na aula anterior que a filosofia busca, por meio da reflexão, elaborar
conceitos, nesse sentido, a filosofia da religião tem como objetivo elucidar conceitos
que por ventura estejam implícitos e/ou ocultos. Tornar explícito o que está implícito,
evidenciar o que se oculta sobre a religião é característico dos estudos da filosofia da
religião. De forma mais didática, podemos afirmar que explicitar os conceitos religiosos
evidenciando o que está oculto na religião quando esta é tratada teologicamente é um
dos maiores objetivos da filosofia da religião.

Saiba mais
Dentre as diversas religiões existentes, as mais estudadas são encontradas no
ocidente: o judaísmo, o islamismo e o cristianismo. Saiba mais sobre cada uma
delas consultando o site: <http://brasilescola.uol.com.br/religiao/judaismo.
htm>.

18 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO


As religiões orientais como, o budismo, hinduísmo, taoísmo, xintoísmo se
direcionam mais para uma filosofia de vida. Muitas vezes não apresentam um sistema
lógico de representação e organização do homem e do mundo.
Podemos nos perguntar neste momento: como um filósofo observa as
religiões? Qual o método de estudo que a filosofia se utiliza para realizar suas reflexões
acerca da religião? Muito bem. Esses questionamentos são pertinentes nesse momento
para compreendermos a religião como objeto de estudo da filosofia.
A filosofia utiliza, geralmente o método histórico-crítico comparando as
diversas religiões, dando fundamental importância ao local e momento histórico em
que nasceram. Da mesma forma, ao estudar a perpetuação, evolução e disseminação
de uma determinada religião, também vai considerar o espaço e o tempo em que esses
acontecimentos se deram. Nessa metodologia histórico-crítica comparativa de estudo,
a filosofia vai buscar auxílio na metafísica, antropologia e ética, como já mencionamos.
Nesse sentido, os filósofos que se debruçaram a investigar a religião ou o
fenômeno religioso e mesmo aqueles que, mais contemporaneamente estudam a
filosofia da religião, apresentam conceitos e reflexões diferentes entre si, mesmo
utilizando o mesmo método de investigação. Isso se deve ao fato de que alguns podem
tender mais para os aspectos metafísicos, outros para os aspectos éticos e outros para
aspectos antropológicos.
A partir de agora vamos compreender de maneira mais próxima a religião
sobre o olhar filosófico.

2.2 O olhar filosófico para a religião

Não é de hoje que a filosofia observa o fenômeno religioso. Ainda enquanto


área, enquanto disciplina filosófica a filosofia da religião seja mais recente, os pré-
socráticos já observavam e questionavam a religião nos séculos VII, VI, V... antes de
Cristo.

Saiba mais
No estudo da história da filosofia, os primeiros filósofos são chamados de pré-
socráticos. Apesar de passar a ideia de que existiram antes de Sócrates, o termo
pré-socrático indica uma tendência de pensamento, estando relacionado
também com filósofos que viveram na mesma época de Sócrates e até mesmo
depois dele. Aquilo que une os filósofos pré-socráticos é a preocupação em
perguntar e compreender a natureza do mundo (a physis). Queriam entender
a origem, aquilo que originou todas as coisas, o princípio delas.
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/filosofia/presocraticos.htm

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 19


Analisando o pensamento de Epicuro, podemos encontrar uma origem
naturalista de Deus. Para esse filósofo o fato de o homem não compreender a natureza,
ou seja, os fenômenos naturais como a chuva, o frio, a intensidade do sol em alguns
momentos, o movimento das marés, entre outros, precisa acreditar em deuses que
sabem e controlam tais fenômenos.

Glossário
Epicuro - considerado um filósofo grego do período helenístico, Epicuro de
Samos teve uma obra tão influente que fez com que diversos e numerosos
centros epicuristas fossem construídos no Egito, mais precisamente em Jônia.
Seu maior divulgador foi Lucrécio, que começou a espalhar sua filosofia em
Roma no século I. (Fonte: InfoEscola: disponível em: http://www.infoescola.
com/filosofos/epicuro/

Como esses deuses têm a capacidade de controlar os fenômenos naturais,


existe também a convicção de que eles podem proteger a vida dos homens beneficiando-
os. Nesse sentido, Jordão (1993, p. 2) afirma que “na sua essência, a religião será, para
todos os epicuristas, apenas uma arte de captar os favores dos deuses e a sua proteção
contra todo o género de perigos com que se sentem ameaçados”.

Importante
Quando falamos de um olhar filosófico para a religião não podemos deixar de
mencionar as críticas que a religião (e que fique muito claro que são todas as
religiões e não somente uma) recebem da filosofia. Sem se enquadrar dentre
filósofos da religião, diversos são os filósofos que teceram suas críticas ao
fenômeno religioso, principalmente à existência de Deus. Dentre eles destacamos
Feuerbach (2007), Nietzsche (1974), Mark, Engels (1987), Schopenhauer (2005).

Não vamos nesta obra adentrar ao pensamento de cada um desses filósofos,


mas, considerando a importância de aprofundar seus estudos a respeito do fenômeno
religioso como objeto de estudo da filosofia, indicamos a leitura desses pensadores.

Saiba mais
Para saber mais sobre o pensamento e influências dos filósofos Feuerbach,
Nietzsche, Mark, Engels e Schopenhauer, leia o texto “Por que Nietzsche não
é cristão?”, disponível em: <http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-
sabedoria/30/artigo219564-1.asp>.

20 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO


Resumo

Nesta aula você aprendeu que a filosofia da religião é uma área da filosofia
que se propõe a estudar a dimensão espiritual do homem. Nesse sentido a religião foi
observada aqui sob o ponto de vista metafísico, antropológico e ético.
Tomando a religião como fenômeno religioso ficou evidente que diversas são as
manifestações religiões, as de maiores destaques no mundo foram aqui apresentadas, o
que nos possibilitou um olhar abrangente e não tendencioso, como se propõe a própria
filosofia da religião.
No próximo capítulo serão apresentados os principais filósofos da religião,
esses, sim, desenvolveram uma teoria religiosa e você terá mais compreensão do que
estamos falando aqui.

Atividade de aprendizagem
1) Realize uma pesquise sobre as religiões orientais destacando sua
crença, modo de manifestação religiosa, onde possui mais adeptos,
seu surgimento enfim, os elementos que caracterizam cada uma
delas para maior compreensão das diferentes manifestações
religiosas.

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 21


Aula 3
Clássicos da filosofia da religião

Nessa aula vamos conhecer a vida e obras de pensadores que se debruçaram sobre
tema da religiosidade, isso torna-se importante uma vez que fundamentam muitos
conceitos sobre esse tema.

Alguns filósofos passaram a vida tentando compreender e ensinar a relação


do homem com Deus. Esses filósofos acabaram por se tornar clássicos da filosofia
da religião e suas obras são amplamente estudadas por teólogos que procuram se
fundamentar cada vez mais nessa relação com Deus em um aspecto mais filosófico e
histórico. Dentre eles Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino que desenvolveram uma
obra colossal sobre o pensamento religioso, religiosidade, enfim, sobre essa relação do
homem com Deus.
Conheceremos a partir de agora esses filósofos.

3.1 Santo Agostinho (354-430)

Figura 3.1: Santo Agostinho


Fonte: © Los Angeles County Museum of Art / Wikimedia Commons

22 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO


A história de vida de Aurelius Augustinus (Agostinho de Hipona em latim)
reflete seu pensamento filosófico religioso, conforme ele mesmo narra na obra
Confissões. Com a vida desregrada que teve na adolescência e juventude, com exceção
de sua mãe, Mônica, que desde criança insistia com a leitura da bíblia e ensinamentos
cristãos, ninguém mais diria que um dia ele se converteria ao cristianismo, por meio do
catolicismo da época.
Teve uma boa educação escolar, com muito sacrifício do seu pai que pediu ajuda
há um amigo rico, e o enviou aos estudos superiores em Cartago. Seu pai morreu antes
dos seus vinte anos. Não era bom aluno, detestava a língua grega e, por não aprendê-la,
ficou impossibilitado de ler os clássicos helênicos. Ainda não se preocupava com a vida
e muito menos com questões filosóficas e intelectuais. Queria mais era “roubar peras
no quintal do vizinho pelo puro prazer de enfrentar o proibido”. (PESSANHA, 1999, p. 6).
Mais proibido que isso era a sua vida amorosa com uma mulher de outra classe
social, o que o impedia de casar, de acordo com a leis e padrões da época. Ainda assim,
teve um filho com sua amada. Adeodato que faleceu ainda na adolescência.
Quando teve que deixar a mulher que amava, por pressão da sociedade e
principalmente de sua mãe, arrumou uma concubina, pois, na vida que levava não
conseguia resistir aos apelos da sensualidade.
De acordo com Pessanha (1999, p. 6) “foi a leitura do clássico Cícero (106-
43 a.C), que lhe abriria as portas do saber. Chamava-se Hortensius e era um elogio da
filosofia.”
Interessado pela filosofia, voltou à sua terra natal e abriu uma escola. Logo
depois voltou a Cartago para ocupar o cargo de professor de retórica. Depois de dez
anos trabalhando com jovens, resolveu mudar para Roma, contrariando sua mãe. Na
intenção de mergulhar cada vez mais na filosofia assumiu a cadeira de retórica em
Milão, onde conheceu discípulos de Plotino. Esse contato com o neoplatonismo trouxe
a compreensão de que poderia ser capaz de aliar a racionalidade à fé cristã.
Não poder ficar com a mulher amada era uma das angustias existenciais de
Agostinho, angústia essa que começa a ter um fim quando lê Santo Ambrósio (c. 340-
397). O bispo de Milão “indicaria a Agostinho o caminho da fé.” (Abrão, 1999. p. 98).
Foi o início do fim de sua angústia, mas a revelação que teve em seguida foi a ação
definitiva para sua conversão.
Para compreender esse momento decisivo não somente na vida de Agostinho,
mas também para a filosofia cristã, quiçá, para a teologia, recorremos a uma bela
passagem de Pessanha (1999, p.5) no prefácio da obra Confissões (em uma de suas
traduções e edições).
Em Milão, num dia qualquer de agosto de 386 da era cristã,
um homem de 32 anos de idade chorava nos jardins de sua
residência. Deprimido e angustiado, estava à procura de uma
resposta definitiva que lhe desse sentido para a vida. Nesse
momento ouviu uma voz de criança a cantar como se fosse um
refrão: ‘Toma e lê, toma e lê’.

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 23


Levantou-se bruscamente, contente e torrente de lágrimas,
olhou em torno para descobrir de onde vinha o canto, mas
não viu mais que um livro sobre a pequena mesa. Abriu e leu
a página caída por acaso sob seus olhos: ‘Não caminheis em
glutonarias e embriaguez, não nos prazeres impuros do leito e
em leviandades, não em contendas e emulações, mas revesti-
vos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e não cuideis da carne com
demasiados desejos’.
Não quis ler mais. Uma espécie de luz inundou-lhe o coração,
dissipando todas as trevas da incerteza, e ele correu à procura
da mãe para lhe contar o sucedido. Ela exultou e bendisse ao
Senhor, pois o filho estava convertido pelas palavras de Paulo
de Tarso, e as portas da bem-aventurança eterna abriam-se
finalmente para recebê-lo.” (PESSANHA, 1999, p. 5)

Como falei no início da aula, ninguém além da mãe de Agostinho acreditava


que ele se converteria ao cristianismo. Ela não somente creu, como também viu seu
filho e seu neto Adeodato serem batizados no mesmo dia. Mônica faleceu meses depois.
Depois da morte de sua mãe, Agostinho vendeu as propriedades do pai e organizou uma
sociedade monástica para viver em recolhimento. Porém, em 391 em uma assembleia,
foi aclamado presbítero. Não ficou recolhido como queria, mas pode conhecer a fé
popular. Seus sermões foram recolhidos e chegaram aos dias de hoje.
Apesar da intensa atividade como bispo, catequese, defesa dos pobres e
oprimidos e administração do patrimônio da igreja, conseguiu produzir uma extensa
obra que reinaria no Ocidente durante sete séculos até que outros pensadores se
debruçassem sobre o cristianismo.
No que se refere às ideias desse filósofo, é impossível falar sobre o pensamento
de Santo Agostinho e não mencionar a patrística, a filosofia dos padres. A patrística surgiu
a partir do séc. II, com a decadência do Império Romano e expansão do Cristianismo.
Os primeiros padres dedicados à reflexão filosófica da religião além de
desejarem justificar racionalmente a fé, também trabalhavam pela conversão dos
pagãos e esforçavam-se em combater as heresias. Assim, se por um lado dedicaram-
se às reflexões filosóficas sobre os textos bíblicos, por outro, trabalharam para a
manutenção do poder e ordem eclesiástica daquela época.
E mesmo quando se trata da reflexão filosófica sobre os textos bíblicos, está
implícito o esforço para a manutenção do poder e ordem da igreja, pois, essa reflexão
consistia em uma apologia ao cristianismo. Por esse motivo dissemos que a patrística
desenvolveu a apologética, textos em defesa do cristianismo.
A patrística inaugura, para a história da filosofia, um período de aliança entre
fé e razão, aliança essa que durou por toda a Idade Média. O pensamento dos filósofos
para manter essa aliança considerava a razão subordinada à fé, como se a razão fosse
uma auxiliar da fé. A ideia privilegiada é que é preciso acreditar, no sentido de ter fé,
para que se possa compreender qualquer coisa. Assim, nesses primeiros séculos do
cristianismo a filosofia serviu (no amplo sentido da palavra servir) à religião.

24 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO


É nesse contexto que Agostinho torna-se o principal representante dessa
forma de pensamento por ter sintetizado a patrística em uma “Filosofia Cristã”. Para
isso revisitou os clássicos gregos, em especial Platão.

Saiba mais
Platão foi um dos principais filósofos gregos da Antiguidade. Nasceu em
Atenas, por volta de 427/28 a.C., foi seguidor de Sócrates e mestre de
Aristóteles. O nome pelo qual ficou conhecido era possivelmente um apelido,
aparentemente ele se chamava Arístocles. Sua obra é um dos maiores legados
da Humanidade, abrangendo debates sobre ética, política, metafísica e teoria
do conhecimento. Ao contrário de Sócrates, que vinha de uma origem humilde,
Platão era integrante de uma família rica, de antiga e nobre linhagem. Depois
da morte de Sócrates fundou a Academia, que em breve se tornou conhecida
e frequentada por um grande número de jovens que vinha à procura de uma
educação melhor. Sua obra é estudada hoje em profundidade, apresentado
uma atualidade inimaginável, quando se tem em vista que ela foi produzida
há milênios, antes da vinda de Cristo. Seu pensamento influencia ainda em
nossos dias teorias políticas, psicológicas – como a junguiana -, filosóficas,
espirituais, sociológicas, entre outros segmentos do conhecimento humano.
http://www.infoescola.com/filosofos/platao/

Da filosofia platônica Santo Agostinho retoma a dicotomia ou dualismo


referente ao mundo sensível e ao mundo das ideias e, substitui esse último pelas ideias
divinas.
É preciso termos um pouco de calma para compreender essa retomada de
Platão por Agostinho na tentativa, por esse último, de racionalizar a fé, pois é preciso
que nesse momento primeiramente você compreenda o que é o dualismo platônico
para avançar no pensamento agostiniano.
O centro do pensamento platônico é a Teoria das Ideias. A partir dessa teoria
epistemológica e cosmológica surge o dualismo platônico. Para Platão existem dois
mundos: o mundo das ideias (da alma preexistente e imortal) e o mundo sensível (das
coisas, mundo material). Essa teoria está sintetizada no Livro VII de A República, onde
Platão descreve o famoso “mito da caverna” que é uma das passagens mais clássicas da
história da filosofia.

Saiba mais
Para saber mais sobre o Mito da caverna de Platão assista o filme disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=Rft3s0bGi78>.

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 25


O mundo sensível é o mundo dos sentidos. O mundo onde as coisas são
acessíveis, percebidas e compreendidas pelos sentidos humanos. Por isso mesmo, é um
mundo ilusório, pois, a multiplicidade de objetos (coisas, seres), com suas manifestações
e movimentos são como sombras, como cópias de um mundo verdadeiro e por serem
apreendidos pelos sentidos, podem não ser verdadeiramente aquilo que se mostram.
Segundo essa teoria ao ver (olhar) um livro só podemos afirmar que aquilo é um livro
porque a ideia de livro já preexiste no mundo intelectual, no mundo das ideias. Esse é o
mundo real. Esse é o mundo em que podemos confiar.
No mundo das ideias existe uma hierarquia das ideias e acima de todas elas,
está a ideia do bem. É a mais perfeita e mais geral. É o bem supremo. Está aí o Deus de
Platão.
Na retomada de Agostinho ao pensamento de Platão, ele considera o mundo
das ideias como o mundo das ideias divinas.
Surge assim a sua Teoria da Iluminação de Santo Agostinho. A ideia de que
o homem recebe de Deus, e apenas de Deus, a iluminação para o conhecimento. O
ato de conhecer somente se dá pela iluminação divina. De acordo com essa teoria
todo conhecimento verdadeiro é oriundo da iluminação divina. Todavia, o homem
pode pensar por si só, pode ter um intelecto próprio, mas, somente com a iluminação
divina sobre esse intelecto, sobre o seu pensamento, é que esse pensamento pode se
tornar um conhecimento verdadeiro. Deus ilumina a razão para que o pensamento seja
coerente, correto e, portanto, verdadeiro.
Ora, Santo Agostinho fundamentado na filosofia platônica encontra uma
maneira de racionalizar a fé em Deus.
Muitos outros são os temas abordados e discutidos por Agostinho: ética,
política, o universo enquanto princípio que o rege. No entanto, todos os temas de
sua reflexão estão sempre embutidos no pensamento cristão. Mesmo nas questões
religiosas, diversos são os temas tratados diretamente em sua vasta obra. Discute
com rigorosidade o pecado, a alma, o retorno do Messias, o juízo final, o livre-arbítrio,
salvação, o bem e o mal, o homem como imagem e semelhança de Deus.

3.2 Santo Tomás de Aquino (1225-1274)

Durante o século 13, São Tomás de Aquino procurou conciliar a filosofia


aristotélica com a teologia agostiniana. Ao contrário de Santo Agostinho, Tomás de
Aquino aceitou o cristianismo desde os primeiros anos de vida. Com cinco anos de idade
já estudava na abadia de Monte-Cassino, um tipo de comunidade monástica cristã,
originalmente católica, dirigida por um abade com a honoraria de pai espiritual da
comunidade. Pertencia à nobreza, era filho de conde. Todavia os pais não concordavam
com a intenção de Tomás de seguir vida religiosa.

26 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO


Figura 3.2: São Tomás de Aquino
Fonte: © DIRECTMEDIA Publishing GmbH / Domínio público dos Estados Unidos /
Wikimedia Commons
Mesmo assim, ingressou na ordem dominicana aos dezenove anos. Após o
falecimento do pai, a mãe continuou a se opor à vida religiosa do filho. Em uma viagem
que fez para Roma, a mãe mandou que os irmãos (que eram todos mais velhos) o
levasse de volta para casa e o enclausurasse na torre do Castelo de São João, próximo à
propriedade dos Aquino. Em reclusão se dedica à leitura da bíblia; de Aristóteles e outros
textos filosóficos. Nesse tempo evangelizou as duas irmãs que iam visitá-lo tentando
fazer com que desistisse da ideia de seguir a vida religiosa, e elas se converteram. Com
pouco mais de um ano de reclusão conseguiu fugir com ajuda de parentes e foi para
Paris, considerada na época a “cidade dos filósofos”.
Recusou ser abade de Monte-Cassino, recusou o arcebispado de Nápoles. Com
vinte e sete anos recebeu o título de bacharel e foi novamente para Paris com o objetivo
de ensinar. Nos quatro anos que lá ficou, dentre outros escritos escreveu seu primeiro
tratado filosófico, De ente et essentia. Em meio às desavenças dentro da igreja católica

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 27


entre as ordens dos franciscanos e dominicanos (ordens religiosas mais importantes
naquela época), escreveu vários textos e comentou o Evangelho segundo Mateus. Por
recomendação do Papa iniciou a escrita da Suma contra os Gentios, texto que tinha o
objetivo de catequisar os mulçumanos.
Abrão (1999, p. 117) destaca que “a vasta obra de Tomás de Aquino é o
resultado dessa vida dedicada ao ensino. Muitos de seus textos são comentários de
livros da Bíblia, dos santos padres, de Aristóteles e outros autores.” A Suma Teológica,
sua principal obra, sintetiza todo o pensamento tomista.
Sobre a composição da Suma teológica, Tomás de Aquino esclarece:
[...] sendo a principal função da ciência sagrada ministrar o
conhecimento de Deus, não apenas como é em si mesmo, mas
também como princípio e fim das escrituras, trataremos: 1º, de
Deus; 2º, do movimento da criatura racional para Deus; 3º, Do
Cristo que, enquanto homem, é o caminho pelo qual devemos
tender para Deus.

A suma teológica é considerada um sistema teológico pelos tomistas, porém


recebe a crítica de muitos religiosos que não se trata de um sistema teológico por não
obedecer a uma conexão lógica ou mesmo a uma ordem lógica dos temas tratados.
Do ponto de vista filosófico observa-se a tentativa de fundamentação em Aristóteles,
apesar do pensamento pagão desse filósofo grego.
Contudo, nessa obra Tomás de Aquino não somente recupera o pensamento
de Aristóteles como também realiza adaptações com uma visão cristã, assim, “escreveu
uma obra monumental, a Suma Teológica, onde, uma vez mais, as questões de fé são
abordadas pela “luz da razão e a filosofia é o instrumento que auxilia o trabalho da
teologia”. ( ARANHA E MARTINS, 1995, p.143).
Aqui podemos observar que a aliança entre fé e razão inaugurada pela patrística
continua, agora, fundamentada no aristotelismo. Isso porque a extensa obra de Tomás
de Aquino resume-se, praticamente, a comentários dos textos da Bíblica e comentários
sobre a filosofia aristotélica. Isso ocorre devido ao objetivo maior de Aquino de ensinar
o pensamento cristão de forma racional.
E o ponto de partida para esse ensinamento é considerar que a razão vem
dos sentidos, como o próprio Aristóteles afirmava. Os sentidos captam o que ocorre
no mundo, portanto, há um movimento no mundo. Esse movimento para Aristóteles
tem uma causa. Tomás de Aquino afirma que há uma causa primeira, absolutamente
imóvel capaz de originar o movimento no mundo, essa causa é Deus. E é dessa maneira,
que o pensamento tomista vai ganhando espaço para consolidar o ensino da fé aliada à
razão.
Com o surgimento das universidades, na Europa do século XI, a reflexão
filosófica se intensifica. No século XII a obra de Aristóteles, como a de outros filósofos
passa a ser conhecida e cada vez mais comentada. Os estudos de Tomás de Aquino,

28 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO


vem também assegurar à Igreja uma interpretação do pensamento aristotélico que não
contrapõem fé e razão, mas a une colocando a razão a serviço da fé.
Como sua vida foi dedicada ao ensino, Tomás de Aquino tornou-se o principal
representante da Escolástica. A escolástica são ensinamentos filosóficos para uns,
especulação filosófica para outros, que se iniciou nas escolas ainda no século VIII e teve
seu apogeu com Tomás de Aquino.

Você sabia?
A Escolástica tem tanto um significado mais limitado, ao se referir às disciplinas
ministradas nas escolas medievais – o trívio: gramática, retórica e dialética;
e o quadrívio: aritmética, geometria, astronomia e música -, quanto uma
conotação mais ampla, ao se reportar à linha filosófica adotada pela Igreja
na Idade Média. Esta modalidade de pensamento era essencialmente cristã
e procurava respostas que justificassem a fé na doutrina ensinada pelo clero,
guardião das verdades espirituais. Esta escola filosófica vigora do princípio do
século IX até o final do século XVI, que representou o declínio da era medieval.
http://www.infoescola.com/filosofia/escolastica/

Por ocasião da canonização de Tomás de Aquino, em 1323, o Papa João XXII


teria dito “Tomás, sozinho, iluminou mais a Igreja do que todos os outros doutores...
[...] sua doutrina só pode provir de uma ação miraculosa de Deus.” (CORBISIER. 1988,
p. 173). Segundo o mesmo autor, em 1914, o Papa Pio X, reforçando o que já teria dito
papas anteriores ordena que a Suma Teológica seja utilizada nas Universidades, grandes
Escolas, Colégios, Seminários, Institutos, que são responsáveis pelo ensino da teologia
sagrada.

Resumo

Nesta aula foi possível entender a contribuição de Agostinho e Tomás de


Aquino para o Cristianismo. Além de observar a grandiosa obra ao longo da vida, uma
vida dedicada aos estudos sobre a relação do homem com Deus, compreendemos
também que nos primeiros séculos do Cristianismo foram os padres e bispos os grandes
escritores na constituição de uma doutrina cristã.

Atividade de aprendizagem
1) Como você descreveria a influência de Agostinho e Tomás de
Aquino no modo de pensar e fazer filosofia religiosa?

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 29


Aula 4
Estudo filosófico do fenômeno religioso e caracterização das diversas
formas de expressão do sagrado
Nesta aula vamos falar sobre o fenômeno religioso, ideias sobre o Sagrado, algumas
estudiosos da filosofia, bem como algumas peculiaridades das religiões mais antigas.

Figura 4.1: Émile Durkheim Figura 4.2: Rudolf Otto


Fonte: © Domínio público / Fonte: © EI206 / Wikimedia Commons
Wikimedia Commons

“Certa vez um cosmonauta e um neurologista russos discutiam sobre religião.


O neurologista era cristão e o cosmonauta, não. ‘Já estive várias vezes no espaço’, gabou-
se o cosmonauta, ‘e nunca vi nem Deus, nem anjos’. ‘E eu já operei muitos cérebros
inteligentes’, respondeu o neurologista, ‘e também nunca achei um único pensamento’.”
Jostein Gaarder, no livro Mundo de Sofia, (1995. p 250).
Para compreender a fundo a experiência religiosa, temos que retornar a origem
do homem. Esta experiência como fenômeno religioso, tem sido sua companheira e
expressa através de ritos, mitos, de monumentos e celebrações e tem sido estudada
por historiadores, sociólogos e psicólogos que dedicaram um espaço para investigação
e aprofundamento no tema.
Nesse sentido, esse capítulo faz esse percurso, fundamentado em três
interpretações que se tornaram clássicas no entendimento do sagrado, a saber, Émile
Durkeim, Rudolf Otto e Mircea Eliade.

30 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO


4.1 O fenômeno religioso

Por volta de 1600, astrônomos provaram que o Sol e as demais estrelas não
giravam ao redor da terra, como sustentava a igreja. Indiscutivelmente a Terra era só um
pequeno planeta em uma órbita de um Sol menor de uma galáxia que continha milhares
de estrelas semelhantes.
A humanidade “perdeu” seu lugar no centro do universo de Deus. Você
consegue se dar conta do efeito que essa informação teve? Pois bem, antes quando se
observava o clima, ou como crescem as plantas, ou quando morre alguém de repente,
o que as pessoas sentiam era um desconcerto cheio de angústia. Antes poderíamos
dizer que era responsabilidade de Deus ou do diabo, mas após essas descobertas, com
o surgimento da ciência moderna passamos a ter uma visão diferente do mundo e, as
certezas de antes começam a ser questionadas.
Todas as coisas que estavam esclarecidas necessitam agora de uma nova
definição, em especial a natureza de Deus e a relação de Deus com você.
Em tudo que deseja e faz, o ser humano manifesta que não
é um ser pleno: deve crescer biologicamente, aprender
intelectualmente, preparar-se para tudo, buscar metas,
melhorar a saúde, aspirar uma vida melhor, reiniciar uma outra
vez caminhos novos, ainda na véspera da morte, sente que tem
que fazer algo para ser o que ainda não é. É um ser que está
sempre em busca. Essa é a característica fundamental do ser
humano. (CROATO, 2001, p. 42).
O fenômeno religioso é um feito humano que tem sua origem no reconheci-
mento por parte do ser humano, de uma entidade suprema, salvadora, que confere
um novo sentido à sua própria existência, no conjunto de sua realidade e no curso de
sua história, ou seja, é dizer que a experiência religiosa é o encontro do homem com a
divindade que transforma sua maneira de compreender a si mesmo e o mundo ao seu
redor.
Esse fenômeno começa a existir quando o ser humano, a partir de uma
iniciativa enlaça a relação com essa realidade misteriosa que é transcendente, mas ao
mesmo tempo, intimamente presente. Entrar no âmbito do sagrado, para ter acesso ao
mistério, leva assumir uma maneira nova de existir (conversão), dando um sentido novo
para as perguntas do homem: Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Por que existe
dor e morte? Em que consiste a felicidade?
Percebemos que esse fenômeno pode ser afirmado, negado, questionado,
interrogado, exclamado, mas está sempre presente, manifestando-se em
particularidades. Estando manifestado implicitamente em elementos primários, tais
como: divindades, religiões, ritos e cultos, ora de maneira implícita, cifrado em textos
ou até dissimulados entre máscaras, ocultando-se em maior ou menor grau.

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 31


Esse fenômeno aparece dividido em duas partes, trazendo uma visão dualista,
um opondo-se a outro: o sagrado: o sagrado, a manifestação de Deus, e o profano, que
designa a vida cotidiana e corrente. Nesse estudo vamos nos ater ao sagrado.

4.2 O sagrado

Possuímos sem sombra de dúvidas, alguma ideia acerca do sagrado, mas é


conveniente precisa-la. No último século, muitos estudos foram produzidos a respeito
desse tema e como fruto desses esforços chegou-se a um certo consenso a respeito de
seu significado ou que tipo de experiência humana nos referimos quando mencionamos
“O Sagrado”.
As grandes religiões, marcam um ponto culminante na experiência do sagrado.
Sua estruturação hierárquica, seu acervo doutrinal, seu aspecto cultural e seu código
de vida, marcam e iluminam o caminho para o qual milhares de pessoas caminham ao
encontro de Deus, reconhecendo-o como seu Criador e Senhor. Tendo essas relações
ocorridas em diversos níveis: família, trabalho, reuniões, festas, cultos, igrejas, etc. Esse
caminho não está isento de riscos, pois com frequência o homem religioso se desvia
para as superstições e o fanatismo.
O sagrado atrai e causa ao mesmo tempo um certo temor, causando na pessoa
que se acerca dele uma sensação de que pode alcançar a salvação infinita, força e
energia.
No começo do século XX apareceram na Europa duas respostas contrárias
referindo-se ao sagrado e, até hoje representam as duas formas de interpretar e explicar
o sagrado.
Três interpretações tornaram-se clássicas no entendimento do sagrado. Émile
Dukheim (1996), Rudolf Otto (2005) e Mircea Eliade (2002). Nesses três autores, que
veremos a seguir encontramos uma conceituação e explicação para a experiência
religiosa e, consequentemente, sobre o “sagrado”, que é marcado como um fundamento
da religião.

4.2.1 Émile Durkheim

Émile Durkheim foi um sociólogo francês, estudioso das tribos primitivas da


Austrália central. Explica o sagrado como uma projeção simbólica de uma identidade do
grupo tribal (clã). Seus estudos sobre a experiência religiosa são reduzidos à sociologia.

32 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO


Você sabia?
Émile Durkheim foi um dos responsáveis por tornar a sociologia uma matéria
acadêmica, sendo aceita como ciência social. Durante sua vida, publicou
centenas de estudos sociais, sobre educação, crimes, religião, e até suicídio.
Um dos focos de Durkheim era em como as sociedades poderiam manter a
sua integridade e coerência na era moderna, quando as coisas como religião
e etnia estavam tão dispersas e misturadas. A partir disto, ele procurou criar
uma aproximação científica para os fenômenos sociais. Descobriu a existência
e a qualidade de diferentes partes da sociedade, divididas pelas funções que
exercem, mantendo o meio balanceado. (fonte: http://www.infoescola.com/
sociologia/emile-durkheim/).

Durkheim (1996) observa que “o sagrado e o profano foram pensados pelo


espírito humano como gêneros distintos, como dois mundos que não têm nada em
comum” (p.51). O autor afirma ainda que onde “existe religião tão logo o sagrado se
distingue do profano” (p.50). Nesse sentido, o sagrado é tudo aquilo ligado à religião,
sejam os ritos, os símbolos, as músicas e cânticos, os objetos próprios da religião ou
de uma celebração, as vestimentas, enfim, tudo que se relaciona ou é parte integrante
de uma religião pode apresentar-se como sagrada. Da mesma maneira, quaisquer
objetivos, ações, musicalidade, gestos, vestimentas, enfim, tudo aquilo que não se
relaciona com a religião faz parte do profano.
No pensamento durkheimiano a experiência religiosa é compreendida e
apresentada como mais um elemento constitutivo e fundador de uma sociedade. Assim,
o sagrado e suas manifestações são sempre constitutivos dessa mesma sociedade.
Isso significa dizer que o sagrado não está relacionado a uma realidade independente,
sobrenatural e transcendente àquela a sociedade a qual está inserido. Ao contrário, o
sagrado se apresenta como um conjunto de forças e elementos criados pela sociedade,
um produto da consciência coletiva, ou seja, um conjunto de crenças que desperta
sentimentos comuns dentre os membros da sociedade.
O culto também é originado pela sociedade que crê no sagrado. Enquanto
recriam rituais e simbolicamente em ações coletivas. Assim, o indivíduo passa a perceber
a experiência do sagrado enquanto salvação.

4.2.2 Rudolf Otto

Para Otto (2005, p. 9), o sagrado é “um poder que se situa além do âmbito
do humano”. Essa é uma linha fenomenológica, exaltando a experiência, o fenômeno.
Nessa mesma linha de pensamento o sagrado reúne em si mesmo um conjunto de
elementos e características que ultrapassa a dimensão do humano, que transcende a
própria religião.

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 33


Esse fenômeno bem como a experiência desse fenômeno é chamado por esse
teólogo de “numinoso”.
[...] de uma categoria numinosa como de uma categoria especial
de interpretação e de avaliação e, da mesma maneira, de um
estado de alma numinoso que se manifesta quando esta
categoria se aplica, isto é, sempre que um objecto se concebe
como numinoso. Esta categoria é absolutamente sui generis;
como todo o dado originário e fundamental, é objecto não de
definição no sentido estrito da palavra, mas somente do exame.
Otto (1992, p. 15)
Para bem compreendermos esses termos que conceituam e explicam o que é o
sagrado na teologia ottoniana vamos primeiro destacar que se trata de um sentimento. O
numinoso pode assim ser compreendido como um estado afetivo específico provocado
pelo objeto próprio, objeto ou ser numinoso.
Vamos analisar separadamente os termos Mysterium, Tremens, Fascinans:

Mysterium: a presença do “numinoso” é um poder ou qualidade que está


além do indivíduo, que transcende a experiência de qualquer ser humano, não se trata
do produto do indivíduo, mas do objeto de sua experiência religiosa. O numinoso é
profundamente humano, mas não é universal enquanto experiência. Algo misterioso,
experimentado pelo humano.
Tremens: A experiência religiosa está ligada em um estado de ânimo intenso,
tremendo (na linha do surpreendente) que faz estremecer os fundamentos do próprio
ser humano, fazendo-o sentir-se pequeno e inseguro. O tremendo não ameaça o ser
humano no que possui se não ao seu próprio ser (sua raiz). É, portanto, um sentimento
de temor ao desconhecido, no inalcançável, na divindade.
Fascinans: O terceiro aspecto, complementar em contraste harmônico com
o temor, entende que o misterioso é fascinante, atraindo, captando, fascinando. O
numinoso se manifesta assim, como absolutamente fascinante, produzindo uma grande
atração no homem religioso. Algo que deixa o homem completamente “maravilhado”
diante da abertura do horizonte. É a dimensão que fragmenta e encanta o homem,
exaltando até que se sinta embriagado de sentimento religioso.
A vivência do sagrado como “Misterium Tremens et Fascinans” fornece ao
homem uma confiança maior, pois, descobre que sua inseguridade (limitação humana)
se vê protegida pelo que é misterioso.
Os estudos e publicações de Otto influenciaram muitos estudiosos da religião,
entre eles Mircea Eliade, que veremos a seguir.

Saiba mais
Para saber mais sobre Rudolf Otto, acesse o link:
<http://www.biografiasyvidas.com/biografia/o/otto_rudolf.htm>.

34 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO


4.2.3 Mircea Eliade

O estudo de Eliade (2002) é hermenêutico. Articula diversos métodos e áreas


do conhecimento como, história, sociologia, psicologia, etnologia, na tentativa de
explicar o que é o sagrado.
Esse estudioso utiliza a palavra sagrado com a mesma conotação de Otto,
teólogo que vimos subitem anterior. Está de acordo que o sagrado é uma realidade
absoluta que transcende o mundo, mas adiciona a condição de que esse sagrado que
transcende o mundo também se manifesta nele.
Eliade (2002) compreende o sagrado como uma maneira de ordenar o espaço,
o tempo, a cidade, o cosmos, o trabalho e o lazer. É um modo de ordenar e dar sentido
à vida humana em todos seus aspectos fundamentais.
Sendo o sagrado algo que transcende esse mundo, mas que também se
manifesta nele, o homem precisa estar muito atento para suas manifestações. Eliade
(2002) propõem o termo “hierofania” (algo sagrado nos é revelado), para denominar o
ato dessa manifestação.
Glossário
Hierofania – [do grego hieros, sagrado + phaino, mostrar]. Manifestação das
coisas sagradas em suas diversas modalidades.

O Sagrado significa “separado”, pois as coisas sagradas são distintas, porque


representam algo, não se tratando de uma veneração a uma pedra ou uma estátua
pelas mesmas.
A partir da mais elementar hierofania – por exemplo, a
manifestação do sagrado num objeto qualquer, urna pedra ou
uma árvore – e até a hierofania suprema, que é, para um cristão,
a encarnação de Deus em Jesus Cristo, não existe solução de
continuidade.
Eliade (2002) disserta sobre o misterioso: “A manifestação de algo
completamente diferente de uma realidade que não pertence ao nosso mundo, em
objetos que formam parte integrante de nosso mundo, “natural” “profano””. Ao se
manifestar o sagrado nesses objetos, adquirem uma dimensão sacral, tornando-os
mediadores do sagrado.
O estudo da religião é, portanto, fundamentalmente o estudo do sagrado
que, na visão de Eliade (2002) reduz-se ao estudo e compreensão do significado das
hierofanias.

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 35


4.3 A expressão do sagrado

Para o homo religiosus, o sagrado é um instrumento que serve para


compreender e expressar sua situação no mundo, buscando transformar o caos em
cosmos, descobrindo a verdadeira escala de valores.
Em nível religioso, denomina-se de rito, ou ritual, toda a expressão comunitária;
e é reconhecível também que essa ritualidade é uma ação concreta, não um sistema
de ideias ou pensamentos. Tomamos como exemplos dessa expressão: a celebração
de uma missa católica, o serviço litúrgico protestante, um culto evangélico pentecostal
ou tradicional, uma festa num templo hindu, uma circuncisão judaica, a peregrinação
muçulmana à Meca, uma cerimônia de iniciação nas religiões tradicionais africanas,
um ritual indígena. São todos comportamentos rituais, ou seja, formas de expressar o
sagrado, ações que adquirem um significado que por consequência tronam-se tradição
em cada religião.
Não há dúvida que o vocabulário é somente uma das formas de expressão
do sagrado, mas é um aspecto muito importante, porque, graças a essa expressão
verbal obtemos a chave do pensamento do homo religiosus, o que nos abre a via de
interpretação da expressão verbal do sagrado.
Nesse sentido, o homo religiosus utiliza todo um vocabulário de ordem
simbólica, utilizando-se de diversos elementos cósmicos, como, luz, vento, água, raios,
sol, lua, dentre outros. Também se servindo de várias figuras, por exemplo, círculo,
mandala, centro, árvore, cruz, labirinto, dentre outros. Ainda, recorre-se a elementos
de sua vida cotidiana como, corda, escada, ponte, criando caminhos para atingir o que
se busca, o saber, a salvação, a graça, a felicidade.
A partir de agora vamos apresentar a expressão do sagrada em grandes
religiões, complementando o que já foi exposto aqui.

4.3.1 Judaísmo

No judaísmo o culto é a expressão mais importante por meio do qual o povo


reconhece Deus como seu criador e salvador. O culto remete a ações e expressões que
se classificam em:
- Lugares sagrados - O altar (ara) e o templo;
- Coisas sagradas - Candelabro de 7 braços, a Estrela de Davi, A arca da Aliança,
- Ações sagradas - a oração, ritos de iniciação e purificação;
- Tempos sagrados - A páscoa, que recorda a libertação povo de Israel do Egito
no tempo de Moisés; a Festa de Pentecostes, que comemora a entrega da lei (tábuas); a
Festa dos tabernáculos (templos) que dura o período de dez dias de purificação de toda
a comunidade judaica e outras celebrações para pedir perdão; o sábado e a dedicação.

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Figura 4.3: Candelabro de sete braços
Fonte: © Wikipedia Loves Art participant “shooting_brooklyn /
Wikimedia Commons
Candelabro de sete braços, ou menorah, em hebraico, é um antigo símbolo
judeu, na descrição bíblica. Para os judeus o Menorah simboliza os setes dias da criação
do mundo.
Em hebraico, a expressão Estrela de Davi é “Magen David”, que significa escudo
de Davi. Símbolo de realeza, e antigamente vários guerreiros do povo de Israel usavam
esse símbolo nos seus escudos durante as batalhas. Também é conhecida por algumas
pessoas como Selo de Salomão, que foi filho de Davi e considerado o rei mais rico e
sábio de Israel. É um símbolo de grande valor para os judeus e israelitas, e faz parte da
bandeira de Israel.

4.3.2 Cristianismo

Para os cristãos, o sagrado se expressa principalmente por textos sagrados,


que constituem a Bíblia. Esses trazem a história e as passagens de Jesus Cristo, visões
apocalípticas do fim dos tempos e retorno de Deus para o julgamento final.

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Porém, o cristianismo atualmente é bastante heterogêneo, ou seja, há diversas
vertentes teológicas dentro do cristianismo, por exemplo, catolicismo, protestantismo,
pentecostais entre outras. Assim, podemos dizer que a Bíblia é uma manifestação do
sagrado existente e pertencente a todas as vertentes teológicas do Cristianismo. Outro
elemento do sagrado pertencente a todas essas vertentes é o batismo. Independente do
ritual batismal toda religião cristão tem no ato do batismo a manifestação do sagrado.
O catolicismo é a vertente teológica cristã com maior número de elementos
(objetos e atos) que se constituem em expressão do sagrado. Por exemplo, as imagens,
a peregrinação, ritos dos sacramentos (eucaristia, unção dos enfermos, ordem e
matrimonio), momentos como Pentecostes (presença do Espírito Santos no nascimento
da igreja e do recebimento da graça) o Natal (celebra o nascimento de Jesus, a encarnação
de Deus no homem), Quaresma, (os quarenta dias de preparação para o tríduo pascal);
Sexta-feira Santa, (paixão e morte de Cristo); Vigília Pascal (mais importante celebração
e expressão do sagrado para os católicos, momento em que é celebrada a ressureição
de Jesus Cristo, vitória da vida sobre a morte).
Para a Igreja Católica o Santíssimo Sacramento proclama através da eucaristia,
“a fonte e o ápice de toda vida cristã”, onde a eucaristia ordena os demais sacramentos e
os liga. Contém todo o bem espiritual da igreja, o poder, o próprio Jesus Cristo. Significa
nossa “páscoa”. O pão e o vinho, como corpo e sangue de Cristo, renascido nas vidas
dos cristãos. (Fonte: http://www.paulinas.org.br/dialogo/pt-br/?system=news&id=664
6&action=read)
O Rosário de contas em geral é feito por cinquenta contas separadas de dez
mais uma conta. Usado por religiosos e leigos católicos. Ele ajuda na repetição de certas
preces durante a contemplação da vida de Jesus. (Fonte: http://www.paulinas.org.br/
dialogo/pt-br/?system=news&id=6646&action=read).

A cruz é um dos símbolos mais antigos do Cristianismo. Um dos significados


teológicos da cruz é o relacionamento da humanidade (representada pela haste
horizontal) com Deus (representado pela ponta superior da cruz) e o mundo material
(representado pela ponta inferior, que toca ao chão). Fonte: http://www.paulinas.org.
br/dialogo/pt-br/?system=news&id=6646&action=read

4.3.3 Islamismo

No islamismo a relação do Deus é personalizada, não necessitando de


intermediários como sacerdotes ou sacramentos. A submissão e a adoração são modos
de expressão da piedade. A liturgia se vive através de festas: Ano novo (dia da hégira),
fulga de Maomé de Meca 622 d.C.; nascimento do profeta durante todo o mês de Rabi
I 570 D.C.; Laila al-bar, a noite do perdão, preparação para o Ramadan (durante a luz do
dia não se bebe nem se come por um mês); Lailat al-gadr. A noite do poder, revelação

38 FACULDADE SÃO BRAZ FILOSOFIA DA RELIGIÃO


do Corão à Maomé. Id al-fitr. Festa do final onde conclui o Ramadan Bhu-hiyyia, Mês
do sacrifício de animais em Meca. Uma expressão para os islãs é a Hajj, peregrinação à
Meca pelo menos uma vez na vida.
O símbolo por excelência do Islã é o hilal , também chamado crescente. A Lua
representa o calendário muçulmano e a estrela representa Alá. Expressa a renovação
da vida e da natureza, a união com a estrela D’alva, as pontas das estrelas expressam o
os cinco pilares da religião islã, que são: oração, caridade, fé, jejum e peregrinação.
(Fonte https://issuu.com/antoniojosefonseca/docs/7ano_manual_aluno).

4.3.4 Hinduísmo

No hinduísmo as expressões se dão no cumprimento de três leis prioritárias:


as castas; estados de vida; comportamento individual, pureza, autodomínio pessoal,
desprender-se dos apegos, respeito e veracidade. A liturgia é uma expressão com doze
ritos sagrados que atravessam a vida do hindu. Segundo Poli e Sandhu (2011) o culto
inicial se vive em família, onde a mãe é a sacerdotisa e o pai seu primeiro funcionário
religioso. A peregrinação ao Rio Ganges também é feita por muitos fiéis como forma de
expressar sua devoção e alcançar e agradecer graças alcançadas. Nos ritos, a puja é uma
oração diária que se realiza em um altar ricamente decorado com imagens e esculturas
dos Deuses preferidos. Nesse ritual são oferecidos alimentos, flores e animais para
veneração das imagens divinas. Às vezes a puja se transforma é cerimônia solene, onde
a comida é distribuída dentre os participantes. (Poli e Sandhu, 2011) A oração da puja
inicia-se com um mantra que inclui a palavra sagrada “om” onde é possível entrar em
contato com a divindade.

Figura 4.4: Símbolo do Hinduísmo


Fonte: © Domínio Público / Wikimedia Commons

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Om ou Aum som mais sagrado para o hinduísmo, expressa a presença de Deus
além de formas e palavras, considerando o silêncio melhor que a fala. Recita o “Om”
como primeiro passo para se alcançar o silêncio. Representa a divindade suprema,
sendo Brahma seu criador, preservador e destruidor. Expressa o universo, passado,
presente e futuro. (Fonte: http://www.paulinas.org.br/dialogo/pt-br/?system=news&
id=6646&action=read)

4.3.5 Budismo

O Budismo representa mais um estilo de vida que uma religião, onde se


expressa em suas práticas rituais de caráter religioso com práticas pessoais de
meditação e purificação, encontradas e recorridas nos discursos e na roda da doutrina.
Mesmo a imagem de buda não sendo divinizada, o crente segue os passos de buda para
fazer o mesmo que o “iluminado”. O budismo se expressa também através de poesias,
sendo bastante vastas e tendo na Ásia seu principal reduto literário, onde se encontram
expressões artísticas: pinturas, esculturas e arquitetura.

Figura 4: Flor do lótus


Fonte: © Peripitus / Wikimedia Commons

É um símbolo não só do budismo, mas de todo o oriente. Simboliza a pureza


espiritual, que não é maculada pelo cotidiano, assim como as flores de lótus não se
mancham com o lodo sobre o qual crescem. Na simbologia oriental, o ser humano deve
se inspirar no exemplo da flor de lótus para permanecer puro, mesmo em meio à toda
a corrupção do mundo. ( Fonte: http://sobrebudismo.com.br/os-simbolos-do-budismo-
parte-1/).

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Mídias Integradas
Leia o livro O fenômeno religioso de Ivo Pedro Oro.
Nele você verá que a dimensão religiosa faz parte do cotidiano das pessoas.
O ‘mundo das religiões’ sofreu mudanças profundas nas últimas décadas.
O fenômeno religioso está aí, diante de nossos olhos. Em pleno século XXI,
as religiões continuam vivas, readaptando-se à mudança de época e, tantas
vezes, competindo na disputa por fiéis e crescimento econômico e midiático.
De modo claro e acessível, a obra apresenta informações e subsídios científicos
para a compreensão do que está acontecendo no campo religioso brasileiro.
Descreve aspectos importantes como as situações

Resumo

Na tentativa de nos aprofundarmos na compreensão da experiência religiosa,


nesta aula você conheceu o fenômeno religioso de um ponto de vista histórico,
sociológico e psicológico. Com a apresentação de como são expressos os ritos,
mitos, monumentos e celebrações em diferentes religiões, foi possível compreender
a expressão do sagrado, fundamentado nas interpretações de Émile Dukhein (1996),
Rudolf Otto (2005) e Mircea Eliade (2002). Assim, observamos ainda que o fenômeno
religioso está presente na vida das pessoas em todas as civilizações e em todas as
épocas.

Atividade de aprendizagem
1) Considerando as diversas expressões do sagrado (objetos,
músicas, gestos, textos, cultos) como vimos nesse capítulo. Escreva
um texto reflexivo apresentando seu posicionamento diante da
diversidade religiosa. Aponte como os estudos em teologia podem
contribuir para um mundo mais humano, mais igualitário, mais
solidário e menos violento.

FILOSOFIA DA RELIGIÃO FACULDADE SÃO BRAZ 41


Referências

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POLI, F. e SANDHU, R. L. Hinduísmo: ritos e práticas religiosas. Disponível em http://
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