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8/5/2021 Operação Acolhida?

Venezuelanos sofrem abusos em programa federal | Thomson Reuters Foundation Long Reads

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Operação Acolhida?
Venezuelanos sofrem
abusos em programa
federal
BY FABIO TEXEIRA AND EMILY COSTA . 20 JULY 2021

HUMAN RIGHTS . ECONOMIES

Share Após atravessar a fronteira da Venezuela, país que passa por uma crise, para entrar no Brasil
no final de 2019, Henrique tinha um objetivo: encontrar trabalho para sustentar sua esposa e
filhos e enviar dinheiro para os parentes que ficaram em casa.

O homem de 45 anos conseguiu um emprego em fevereiro de 2020 como motorista de


Subscribe caminhão através da Operação Acolhida, programa governamental que oferece ajuda
humanitária aos venezuelanos que fugiram da crise, auxiliando-os a se reassentar no Brasil e
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8/5/2021 Operação Acolhida? Venezuelanos sofrem abusos em programa federal | Thomson Reuters Foundation Long Reads

Refugiados venezuelanos chegam em abrigo da Acnur em Manaus, Brasil, 4 de maio, 2018. REUTERS/Bruno Kelly

No entanto, o alívio de Henrique se transformou em desespero depois que ele deixou Boa
Vista - a capital do estado de Roraima - e viajou para começar a trabalhar para a
Transportadora Sider de Limeira, no estado de São Paulo.

Conforme auditores-fiscais do trabalho descobririam mais tarde, Henrique e outros


venezuelanos foram obrigados a trabalhar longos períodos ilegalmente, de até 18 horas por
dia, não recebiam folgas e eram obrigados a dormir em seus caminhões.

A Thomson Reuters Foundation analisou seis desses casos em que foram levantadas
reclamações ou iniciadas investigações sobre suspeita de exploração ou trabalho escravo
envolvendo venezuelanos contratados por empresas através do programa de interiorização da
Operação Acolhida.

Entrevistas com vários agentes governamentais, testemunhos de trabalhadores, dados e


documentos obtidos com exclusividade revelam como o programa está falhando
rotineiramente em fiscalizar as empresas contratadas, coordenar com as autoridades locais ou
monitorar o bem-estar dos venezuelanos.

"Eu dormi por 11 meses e 20 dias em um caminhão", disse Henrique, que se demitiu de seu
emprego antes de uma operação de auditores-fiscais em março, que encontrou 23
venezuelanos trabalhando para a Sider em condições análogas às de escravidão.

"Todas as minhas roupas estavam sujas... eu não tinha tempo nem de me barbear... (as
condições) eram aterrorizantes", disse Henrique - que não informou seu verdadeiro nome por
medo de represálias - por telefone, do estado de São Paulo, onde agora está procurando um
novo emprego.

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Caminhões
brasileiros voltam
para o Brasil após
serem autorizados a
cruzar a fronteira em
Pacaraima, Brasil, 27
de fevereiro, 2019.
REUTERS/Ricardo
Moraes

Um advogado da Sider disse que as constatações dos auditores foram "temerárias", e negou
que as condições eram inadequadas ou que as jornadas de trabalho fossem excessivas. A
intenção da empresa ao empregar os venezuelanos através da Operação Acolhida foi
"altruísta", disse ele.

Em resposta a uma lista de perguntas e detalhes dos seis casos, o Comitê Federal de
Assistência Emergencial (CFAE) - que supervisiona a Operação Acolhida no Brasil - disse que
os ajustes no programa de reassentamento, "podem e devem ser feitos", eventualmente.

"Mas é inegável a importância desse processo para a paz social de nosso país", declarou a
CFAE por e-mail.

A Operação Acolhida é tocada por militares, com o apoio de organizações sem fins lucrativos,
do setor privado e de agências das Nações Unidas.

Funcionários do governo e do Exército disseram que o programa custa ao Estado cerca de 300
milhões de reais por ano, e recebe financiamento de grandes doadores, como os Estados
Unidos.

O Brasil já recebeu mais de 250.000 venezuelanos que fugiram da crise política e econômica
desde 2018. Pelo menos 50.000 deles foram interiorizados por meio da Operação Acolhida e
cerca de 4.000 receberam apoio para conseguir emprego, segundo os dados do governo.

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O venezuelano Frank Mendoza usa um boné com as bandeiras do Brasil e da Venezuela, que diz “bem vindo”, na
cidade fronteiriça de Pacaraima, Roraima. Brasil, 21 de fevereiro, 2019. REUTERS/Ricardo Moraes

No entanto, acadêmicos, auditores-fiscais do trabalho e autoridades estatais disseram que a


falta de coordenação e supervisão do governo significa que os trabalhadores venezuelanos
estão vulneráveis a abusos em um momento em que a pandemia do coronavírus alimenta a
exploração e dificulta a fiscalização.

As atas das reuniões dos comitês governamentais que supervisionam a Operação Acolhida -
obtidas através de um pedido feito pela Lei de Acesso à Informação - mostram preocupação
com o processo de interiorização por meio do trabalho, e com o fato de muitos migrantes
terem perdido seus empregos logo após começarem.

Uma análise de diferentes conjuntos de dados também revelou que das mais de 250 empresas
- tanto brasileiras quanto multinacionais - que se inscreveram para empregar venezuelanos,
cerca de 41 estão sendo investigadas por suspeita de violações trabalhistas.

Não se sabe se estas investigações estão relacionadas aos migrantes contratados através da
Operação Acolhida. Embora uma investigação não impeça as empresas de empregar
venezuelanos, tais descobertas levantam questionamentos sobre a ausência de qualquer
processo de fiscalização por parte do Exército, disseram as autoridades trabalhistas.

Apesar de ser impossível examinar cada empresa, afirma Cristiane Sbalqueiro, procuradora do
Ministério Público do Trabalho (MPT), as empresas de setores como agricultura e construção
deveriam ser sempre inspecionadas devido ao maior risco de más condições nestes locais.

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Militares servem café com leite em copos plásticos, enquanto um menino venezuelano os observa, na área de
controle da fronteira de Pacaraima, em Roraima. Brasil, 8 de agosto, 2018. REUTERS/Nacho Doce

"O Exército tem soldado em tudo que é lugar do Brasil. Eles podem mandar verificar, ver se as
condições ... são dignas", acrescentou Sbalqueiro, que acompanha de perto a Operação
Acolhida e falou sobre o programa em vários eventos públicos.

A CFAE disse que não pode tirar conclusões até que as investigações estejam completas, mas
que seguirá a orientação dos auditores-fiscais do trabalho caso eles desaconselhem que certas
empresas contratem trabalhadores venezuelanos através da Operação Acolhida.

Na fronteira com o Brasil

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Em Boa Vista, capital de Roraima, dezenas de milhares de venezuelanos vivem em centros de


acolhimento de refugiados, em abrigos ou nas ruas, enquanto aguardam interiorização através
da Operação Acolhida ou procuram oportunidades e empregos na região.

Desde 2018, a operação tem supervisionado a ajuda humanitária e um programa de


reassentamento que ajuda os venezuelanos a se mudarem para abrigos melhores em outras
partes do Brasil, a morar com a família ou amigos, ou a encontrar trabalho em empresas que
se inscrevem para participar.

Antes da pandemia, os venezuelanos que atravessaram a fronteira para o Brasil recebiam


documentos básicos e o direito a trabalhar, além de abrigo e assistência médica em Roraima,
e eram encorajados a solicitar a interiorização - um processo que pode levar vários meses.

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Migrantes
venezuelanos jogam
futebol em meio a
tendas da Acnur em
um abrigo em Boa
Vista. Brasil, 3 de
maio, 2018.
REUTERS/Ueslei
Marcelino

O Brasil fechou sua fronteira com a Venezuela em março de 2020 - antes disso mais de 300
pessoas atravessavam diariamente - mas reabriu-a no mês passado.

No total, cerca de 19.390 venezuelanos foram interiorizados através da Operação Acolhida no


ano passado, 12,8% a menos que em 2019. Até agora, este ano, o número é de pelo menos
5.145, segundo as estatísticas do governo.

Dessas pessoas, cerca de 1.480 foram empregadas em 2020, e mais de 785 conseguiram
trabalho através do programa até agora em 2021.

Julio Cesar Vivas deixou para trás a mãe, filha e três netas quando cruzou a fronteira no ano
passado, na esperança de encontrar trabalho no Brasil para mandar dinheiro para sua família
em casa.

"Trabalho é o principal e mais necessário, porque deixamos nossas famílias na Venezuela",


disse o homem de 52 anos em um abrigo em Roraima, onde ele está esperando o
reassentamento e na esperança de conseguir trabalho. "Aqui (no abrigo) ... estamos
deprimidos".

No entanto, para os venezuelanos que encontram um emprego através da Operação Acolhida,


a realidade nem sempre corresponde às expectativas ou promessas feitas.

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Venezuelanos entram em fila para mostrar seus passaportes ou documentos de identidade, na área de controle da
fronteira, em Roraima. Brasil, 8 de agosto, 2018. REUTERS/Nacho Doce

Quando Rodrigo entrou na empresa Transzape Transportes Rodoviários em 2019, os


trabalhadores tinham que dormir nos caminhões, o salário era deduzido sem explicação e eles
não recebiam nenhuma ajuda para trazer seus parentes para morar com eles como havia sido
prometido, disse ele.

"Eles (Transzape) diziam: 'você tem que trabalhar muito, porque no seu país você estava
passando fome, e aqui nós estamos te ajudando'", afirmou Rodrigo, que não usou seu nome
verdadeiro, contou por telefone de São Paulo.

"Mas não nos ajudaram em nada. Nos cobraram... pelo diesel, nos cobraram o pedágio. Nos
cobraram por tudo."

Rodrigo foi demitido em setembro de 2020 e entrou com uma ação trabalhista contra a
Transzape em busca do dinheiro devido. A empresa não comentou sobre a natureza da
demissão ou o mérito do processo.

A Transzape, que está atualmente sendo investigada por procuradores do trabalho, negou ter
tratado mal qualquer trabalhador e disse que muitos venezuelanos ainda estão felizes na
empresa.

“É gratificante saber que muitos dos migrantes contratados encontram-se com uma nova
vida graças a essa oportunidade", disse um porta-voz.

Reassentamento e responsabilidade

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As empresas que desejam contratar venezuelanos através da Operação Acolhida podem colocar
anúncios de emprego online, ou falar com representantes do Exército.

Muitas das empresas participantes têm vínculos com militares ou apoiaram publicamente o
presidente Jair Bolsonaro, que elogiou o programa e procurou aumentar a interiorização, de
acordo com várias fontes com conhecimento do assunto.

Os militares brasileiros disseram que exigiam que as empresas solicitantes enviassem


documentação comprovando sua legitimidade, incluindo um documento assinado declarando
que a empresa não utiliza mão-de-obra escrava.

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Um military faz patrulha enquanto Venezuelanos caminham em direção a Santa Elena para dormir, após mostrar
seus passaportes ou documentos de identidade na área de controle da fronteira em Pacaraima, Roraima. Brasil, 19
de agosto, 2018. REUTERS/Nacho Doce

"(Um documento) dizendo que prometem não empregar trabalho escravo, não tem efetividade
alguma", disse Luiz Scienza, auditor fiscal do trabalho e presidente do Instituto Trabalho
Digno, uma organização sem fins lucrativos voltada para os direitos dos trabalhadores.

Vários especialistas em trabalho questionaram a falta de um sistema de verificação das


empresas interessadas ou de auditoria após a contratação de venezuelanos.

"Mandar estas pessoas... é algo que se consegue gerenciar", disse Joao Carlos Jarochinski,
professor da Universidade Federal de Roraima e especialista em migração, incluindo de
venezuelanos.

"Mas monitorar elas depois que foram interiorizadas demanda muitas esferas
administrativas, o que é bastante complicado".

Em resposta, a CFAE disse que, uma vez reassentados, os venezuelanos passam a estar sob a
responsabilidade das autoridades locais.

Quando uma empresa no Brasil contrata alguém de fora do local do emprego, é necessário
apresentar um documento aos auditores-fiscais do trabalho com detalhes sobre o transporte
para o trabalho e as condições oferecidas ao funcionário.

Um militar entrega
passaportes para
uma família
venezuelana, junto
com uma consulta
médica, antes deles
aplicarem um pedido
de refúgio por meio
da Polícia Federal e a
Acnur, na área de
controle de fronteira
de Pacaraima. Brasil,
9 de agosto, 2018.
REUTERS/Nacho
Doce.

No entanto, a Sider não apresentou a Certidão Declaratória de Transporte de Trabalhadores


(CDTT) para seus trabalhadores venezuelanos, disse a auditora-fiscal Livia Ferreira, uma
omissão que ela disse ter deixado os trabalhadores venezuelanos contratados vulneráveis à
exploração.

"(A Sider) abusou da condição de migrante dos trabalhadores", disse Ferreira, que esteve
envolvida na operação na empresa, em março.

A Sider é uma prestadora de serviços para a cervejaria brasileira Ambev e a gigante holandesa
Heineken NV que também foram consideradas responsáveis pelos auditores-fiscais, de acordo
com Ferreira.

A Heineken disse que apoia plenamente os trabalhadores venezuelanos que foram resgatados
e que iria rever sua política de contratação de prestadores de serviços.

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Um representante da Ambev disse discordar das conclusões dos auditores-fiscais, mas que
iria reavaliar suas políticas de contratação e manter contato com a Sider para colaborar com
os trabalhadores.

Em resposta, a CFAE disse que estava monitorando "a responsabilidade das empresas
envolvidas no caso".

A falta de uma CDTT foi citada em outra disputa sobre condições de trabalho envolvendo a
Operação Acolhida em Maringá, no estado do Paraná.

A empresa de caminhões Transpanorama Transportes contratou cerca de 30 venezuelanos


através do programa em julho de 2019, mas os trabalhadores disseram que a empresa não
cumpriu suas promessas de boa remuneração, moradia gratuita e um auxílio para
alimentação, segundo um relatório de maio de 2020 dos auditores-fiscais do trabalho.

Iarri Marcano, 40, um migrante venezuelano no Brasil, vende toalhas na Avenida Venezuela, uma rua em Boa Vista,
Roraima. Brasil, 16 de abril, 2021. Thomson Reuters Foundation/Emily Costa

Cerca de seis trabalhadores desistiram apenas meses depois de começarem a trabalhar, pois se
sentiram enganados, disse o procurador do trabalho Fábio Aurálio Alcure.

"Se estivesse documentado, não teria tido esse problema", disse ele, referindo-se à ausência
de uma CDTT.

Uma porta-voz da Transpanorama disse que, como o Exército era responsável pelo transporte
dos trabalhadores venezuelanos para Maringá, a empresa havia presumido que "estava tudo
correto".

Desde então, a empresa assinou um acordo com procuradores do trabalho para apresentar
uma CDTT sempre que contratar trabalhadores estrangeiros, acrescentou ela.

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A venezuelana
Liorkis Marke, 25,
posa para uma foto
segurando um cartaz
de pedido de
emprego, em
Manaus. Brasil, 14 de
janeiro, 2019.
REUTERS/Bruno
Kelly

Em resposta a uma pergunta sobre a falta de uma CDTT nos casos Sider e Transpanorama, a
CFAE se posicionou como intermediária sem responsabilidade pelos migrantes como
trabalhadores.

"A Operação Acolhida não faz transporte de empregados... ela oferece oportunidades para que
migrantes e refugiados sejam encaminhados para diversas partes do país de modo a facilitar a
contratação dessas pessoas pelas empresas", disse a CFAE.

'Calcanhar de Aquiles'

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Quando 60 venezuelanos chegaram a Venâncio Aires - uma pequena cidade no Rio Grande do
Sul - em janeiro de 2020 a fim de trabalhar para a Special Brazilian Tabacos, as autoridades
locais foram pegas desprevenidas.

"Só soubemos quando eles já estavam ali, pelo jornal da cidade", disse Leticia Wilges, então
funcionária Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Rural da cidade, que desde então
mudou de função.

Encarregada de verificar o bem-estar dos migrantes, Wilges disse que descobriu que eles
haviam sido alojados pelos militares em um prédio com abastecimento de água deficiente e
onde 30 pessoas dormiam por quarto.

Um abrigo da
Operação Acolhida
para venezuelanos,
perto do terminal
rodoviário de Boa
Vista. Brasil, 16 de
abril, 2021. Thomson
Reuters
Foundation/Emily
Costa

Quando os auditores-fiscais do trabalho visitaram o local meses depois para investigar relatos
de escravidão moderna, encontraram-no vazio e apenas seis dos venezuelanos ainda estavam
trabalhando para a empresa.

A Special Brazilian Tabacos disse que não enganou os trabalhadores.

"A empresa entende que não houve qualquer falha sua de comunicação com os
venezuelanos", disse a companhia.

Funcionários de várias cidades disseram que havia pouca ou nenhuma transparência da


Operação Acolhida em relação aos empregos que ela arranjava, e que as informações dos
militares muitas vezes careciam de detalhes como a data de chegada dos imigrantes ou o
nome do empregador.

Marcia Ponce, presidente do Conselho estadual dos Direitos dos Refugiados, Migrantes e
Apátridas do Paraná, disse que a Operação Acolhida estava transferindo a responsabilidade
pelos migrantes venezuelanos para as autoridades locais "sem ter noção do impacto".

E Rebeca Almeida, coordenadora de Migração e Refúgio do estado do Rio de Janeiro, disse que
o processo de interiorização por meio do trabalho é o "calcanhar de Aquiles" do programa.

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Membros do povo indígena Warao, do leste da Venezuela, são vistos perto do terminal rodoviário de Manaus. Brasil,
14 de janeiro, 2019. REUTERS/Bruno Kelly

"A gente pede relatório, pede informação, pede qualquer coisa. E eles (Operação Acolhida)
dizem: não tem", disse ela, acrescentando que ela comunicou preocupação sobre o programa
desde 2018.

Em resposta, a CFAE declarou que muitas cidades assinaram acordos para receber migrantes
através da Operação Acolhida e receberam verbas para isso.

"Além do cofinanciamento federal, também foram organizados apoios técnicos para as


equipes locais", declarou.

Preocupação nos comitês

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As atas das reuniões dos comitês governamentais que supervisionam a Operação Acolhida
mostram elogios do então Presidente Michel Temer em maio de 2018, seguidas de uma ordem
de seu gabinete para aumentar a interiorização de migrantes venezuelanos.

Durante a reunião, o general do Exército Eduardo Pazuello disse que o principal objetivo do
programa não era acolhimento, mas reassentar migrantes e encontrar empregos para eles
com o fim de aliviar a pressão sobre Roraima.

No entanto, ante um cenário de metas cada vez mais altas de interiorização, funcionários de
alto escalão mais tarde levantaram preocupações em reuniões separadas do comitê sobre o
processo da Operação Acolhida.

"(A interiorização por meio do trabalho) tem efetividade num primeiro momento, contudo,
muitos interiorizados estão perdendo o emprego após o primeiro semestre de interiorização",
Antonio José Barreto, subchefe de Articulação e Monitoramento da Casa Civil da Presidência
da República, disse durante uma reunião da CFAE em janeiro de 2020.

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Venezuelanos caminham por uma trilha, em direção ao Brasil, na fronteira com a cidade de Pacaraima. Brasil, 13 de
abril, 2019. REUTERS/Pilar Olivares

Em outra reunião em janeiro deste ano, a chefe do subcomitê de Interiorização, Niusarete


Lima, disse que era "importante uma pesquisa preliminarmente ao envio dos imigrantes para
vaga de emprego", de acordo com a ata.

Em resposta, a CFAE disse que as observações de Lima - feitas quase dois anos após o início
do processo de interiorização - não foram críticas, mas delineavam medidas que já estavam
sendo tomadas pelo subcomitê.

No mesmo dia em que Lima se dirigiu ao subcomitê, freiras de um grupo católico em Breves,
uma cidade no Pará, receberam um alerta e pedido de ajuda para cuidar de venezuelanos que
haviam fugido de uma fábrica de palmito devido às condições de trabalho.

Os sete venezuelanos haviam sido empregados através da Operação Acolhida cinco meses
antes, em agosto de 2020, e enviados para trabalhar na Indústria e Comércio de Conserva
Moliz Palmeiral em uma fábrica remota localizada no interior da Amazônia.

Os migrantes tiveram que trabalhar longos dias sem pausas, e não foram pagos por dias não-
trabalhados, quando estavam doentes, de acordo com as freiras - que fazem parte da
Comissão de Justiça e Paz de Breves, uma instituição de caridade.

"(Eles) estavam visivelmente com medo, exaustos... sem dormir, e fazia três dias que não
tomavam banho", disseram as freiras.

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Venezuelanos são vistos próximos a terminal de ônibus em Manaus. Brasil, 14 de janeiro, 2019. REUTERS/Bruno
Kelly

O MPT do Pará disse que iniciou uma investigação preliminar sobre o assunto.

O proprietário da empresa, Mauricio Quagliato, disse que os trabalhadores eram


"bagunceiros", que faltavam muito ao trabalho e destruíram seus alojamentos. Segundo ele,
as queixas de abusos trabalhistas são "mentiras".

Depois que os trabalhadores fugiram da Moliz Palmeiral, Quagliato disse que foi a Roraima
para falar com os militares sobre o assunto, e lhe foi dito que ainda poderia contratar
venezuelanos através da Operação Acolhida, desde que eles trabalhassem em alguma outra de
suas empresas.

"As portas para nós continuaram abertas", disse Quagliato, que tem funcionários
venezuelanos em Santa Catarina e em São Paulo.

A CFAE disse que não tem conhecimento de nenhuma irregularidade por parte de Quagliato e,
portanto, não viu necessidade de alertar as autoridades trabalhistas sobre o fato de que ele
contava com trabalhadores venezuelanos contratados através da Operação Acolhida.

'Minha situação é crítica'

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Embora a pandemia tenha atrasado o reassentamento através da Operação Acolhida,


auditores-fiscais dizem que ela deixou os trabalhadores venezuelanos em todo o país sob
maior risco de abusos e infecção pela COVID-19, e com menor probabilidade de serem
descobertos ou de receber apoio.

O Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo passou por um congelamento de dois meses
nas operações, e teve restrições de viagem no ano passado, enquanto a auditoria-fiscal ficou
sobrecarregada devido a um alto número de violações trabalhistas relatadas ao longo da
pandemia.

"A pandemia agravou a situação, logicamente", disse Ludmila Paiva, coordenadora de


Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e ao Trabalho Escravo do estado do Rio de Janeiro.

Em um desses casos, cerca de 68 venezuelanos contratados pela empresa de caminhões Cia


Verde Logística foram encontrados em um hotel superlotado em Araucária, no Paraná, por
agentes da Vigilância Sanitária em maio do ano passado.

Alguns dos venezuelanos foram achados dormindo no chão do restaurante do hotel. Cada
quarto chegava a hospedar cinco pessoas. Cerca de 20 venezuelanos testaram positivo para a
COVID-19, disseram as autoridades.

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Um migrante venezuelano ao lado de um fogão em um acampamento improvisado na Praça Simon Bolivar, em Boa
Vista. Brasil, 3 de maio, 2018. REUTERS/Ueslei Marcelino

O MPT comunicou que a Cia Verde acabou por resolver as questões de forma satisfatória para
as autoridades sanitárias e trabalhistas. A empresa não respondeu a pedidos para comentar o
caso.

Em resposta ao caso da Cia Verde, a CFAE disse que "não há caso registrado sobre migrante
ou refugiado venezuelano que tenha testado positivo logo após o seu deslocamento para outro
município".

De freiras em Breves, até agentes governamentais e auditores-fiscais do trabalho em todo o


Brasil, há uma preocupação generalizada com o bem-estar dos venezuelanos que foram
interiorizados através da Operação Acolhida nos últimos anos, estejam eles empregados ou
desempregados.

Um membro do
Exército brasileiro
em guarda dentro de
um abrigo da Acnur
para migrantes
venezuelanos em Boa
Vista. Brasil, 3 de
maio, 2018.
REUTERS/Ueslei
Marcelino

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Henrique, o ex-motorista de caminhão da Sider, está na expectativa de receber uma


compensação da empresa, mas teme que o dinheiro não seja suficiente, pois ele está
desempregado e espera um bebê em breve.

"Eu não estou trabalhando, então não tenho dinheiro para enviar para minha família (na
Venezuela)", disse ele por telefone de São Paulo.

"Eu estou com a minha esposa aqui, ela está grávida. Já não tenho o suficiente para pagar o
aluguel, para comida. Minha situação é crítica".

Repórteres: Fabio Teixeira e Emily Costa


Edição de texto: Kieran Guilbert e Zoe Tabary
Ilustração: Chia Ho
Produtores: Amber Milne e Shanshan Chen

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