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ccoppagh 0 ny wee Press ADIN! Serra asishers. a cutee Poli Pema te Regn ton xe brik bo Air pel apse epee Pt rorroucho PETES sono Se ienenauAS rmoyee cnc n CAPA. sen en, Se abe dete dt ec vd tee rattan os tetonng _ nace nan carfruto ¢ cariruto captruLo it caviruto 1 cartruto V PREFACIO A EDIGAO BRASILEIRA ° PREFACIO E AGRADECIMENTOS DA EDIGAO ORIGINAL EM INGLES n 1wTRODUGAO oolina Dagnind “hrturo Excobar 15 CIDADANIA, DEMOCRACIA B ESTADO: Geia,Ozs ENTRE CULTURA E POLITICA ‘CULTURA, CIDADANIA E DEMOCRACIA faquenon LATINO-ANEEICANS etina Dagino 61 DiREITOS SOCIAIS ONTOS E NEGOCGDES NO AST. Marta Gala Paolt vera da Sis Teles 103 NOVOS SUJEITOS DE DIREITOS? a ronrn ros Be MUSES EA CONSTRUGRO Verénien Sebild 149 fh EXPLOSAO DA EXPERIENCIA 4 Doothein be nt novo rntelro TC-FOUTICO Gregiro Batele 185 cartruto vt cartruto vit captruto vit cartruto 1x cariTuto xt captruto xt TNICIDADE, RAGA & GENERO: Cuntena & POLITICA NOS DISCURSOS FE PRATICAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS AMBIGUIDADE E CONTRADIGAO NO. MOVIMENTO POPULAR 1 exrtitycia DA "costZH0 OF OPERKRIOS, Goce no sesaco Jelfey Rubin 221 (05 MOVIMENTOS INDIGENAS COMO UM DESAFIO AO PARADIGMA DO MOVIMENTO SOCIAL UNIFICADO NA GUATEMALA kay B. Warren (© PROCESSO DE ORGANIZAGAO DA COMUNIDADE NEGRA NA COSTA MERIDIONAL DO PACIFICO Da COLOMBIA Lib Gruso Carlos Rosero Arturo Ficobar 301 DEFOIS DA FESTA NovMESTOS sEcnGE & “POLITICS DE DENTIDADE Olivia Maria Gomer da Cunba 333 GLOBALIZAGHO, TRANSNACIONALISMO E SOCIEDADE Cit ‘A “GLOBALIZAGAO” DOS FEMINISMOS LATINO-AMERICANOS TENDENCIAS 605 ANOS 50 F DESAMIOS PARA Sonia £. Alvarez 383 A GLOBALIZAGAO DA CULTURA E A NOVA SOCIEDADE CIVIL George Viidice 427 POLITICA CIBERCULTURAL srivisuo rourico A ostANctA NA cOMUMOADE Gustavo Lins Ribeiro 465 castruto str REPENSANDO AS ESPACIALIDADES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ‘QuESTOES DE FRONTEINAS, CULTURA E avid Stator SOBRE OS AUTORES 503 335 sessdes de ostras em Sambaqui € os churrascos no Santinho), A medida que © projeto progredia, trazendo novos sentidos 0 CULTURAL E 0 pound NOS. HOVIMENTOS 20 coleguismo ¢ & colaboragio intelectual Sonta B, Alvarez SOCIAIS LATINO-AMERICANOS Fvelina Dagnino Arturo Escobar Sonia E. Alvarez Evelina Dagnino Arturo Escobar A medida que entramos no novo milénio, que futuro aguarda as sociedades latino-americanas? Niveis sem precedentes de violéncia, pobreza, discriminaglo e exclusto parecem indicar que o “desempenho" e o préprio projeto das “novas" demo ceracias da América Latina estdo longe de satisfatrios. & precisa- mente sobre 0s possiveis projetos aliernativos para a democracia que se trava boa parte da Inta politica na América Latina de hoje. Vamos sustentar que 08 movimentas sociais desempenham ‘um papel critico nessa luta. © que esti fundamentalmente em disputa so os parimetros da democracia, slo as proprias fronteiras do que deve ser definido como arena politica: seus participantes, instituig6es, processos, agenda e campo de aca0, (Os programas de ajuste econdmico e social, inspiracias pelo neoliberalismo, entraram nessa disputa como poderosos ¢ ubiquds competidores. Em resposta 4 suposta l6gica “inevi- tavel” imposta pelos processos de globalizagio econdmica, as polficas neoliberais introduziram um novo tipo de relacio entre 0 Estaclo e a sociedade civil ¢ apresentaram uma defi distintiva da esfera publica e seus participantes, baseada numa concepeo minimalista do Estado e da democracia Enquanto a sociedade civil € obrigada a assumir as respon- sabilidedes sociais evitadas agora pelo Estado neoliberal em processo de encolhimento, sua capacidade como esfera pol crucial para 0 exercicio da cidadania democritica esté cada vez mais desenfatizada. Nessa concepcio, os cidadaos devem fazer-se por seus proprios esforcos particulares e a cidadania é cada vez mais equiparada 2 integracao individual no mercado. Uma concep¢ao alternativa de cidadania — apresentada por virios dos movimentos discutidos neste volume — vé as lutas democriticas como contendo uma redefinigio nao 56 do sistema politico, como também das praticas econémicas, sociais ¢ cultu- rais que possam engendrar uma ordem democritica para a sociedacle como um todo. Essa concepgio chama nossa atengi0 ara uma ampla gama de esferas publicas possiveis onde a cidadania pode ser exercida e os interesses da sociedade nto somente representados, mas também fundamentalmente re/ modelados. © campo de agio das lutas democratizantes se estende para abranger nfo s6 0 sistema politico, mas também 0 futuro do “desenvolvimento” e a erradicacto de desigualdades sociais tais como as de raca e género, profundamente moldadas or priticas culturais e sociais. Essa concepgao ampliada reco- mnhece ainda que o processo de construgio da democracia no & homogéneo, mas intemamente descontinuo e desigual: esferas ¢ dimensoes diferentes tém ritmos distintos de transformacao, levando alguns analistas a afirmar que esse processo é ineren- temente “disjuntivo" (Holston, Caldeira, 1999; ver também Jelin, Hershberg, 1996). Em alguns casos, 08 movimentos sociais io somente conse- guiram traduzir suas agendas em politicas pablicas ¢ expandir as fronteiras da politica institucional, como também lutaram de maneira significativa para redefinic 0 proprio sentido de nogdes convencionais de cidadania, representaclo politica e yacdo €, em conseqtiéncia, da propria democracia, Amos os processos de traduciio das agendas dos movimentos ‘em politicas € de redefinicio do significado de “desenvolvi- mento” ou “cidacko”, por exemplo, acarretam o estabelecimento. de uma “politica cultural” — conceito desenvolvido no campo dos estudos culturais que, vamos sustentar, pode lancar uma luz ova sobre os objetivos culturais ¢ politicos dos movimentos sociais na luta contemporanea pelo destino da democracia na América Latina. UM NOVO CONCEITO DO CULTURAL NAS PESQUISAS SOBRE MOVIMENTOS SOCIAIS LATINO-AMERICANOS DA CULTURA A POLITICA CULTURAL Este livro pretende antes de mais nada ser ua is sobre-a.relagao.entre cultura e politica. Afirmamo: relag4o pode ser explorada produtivamente sondando a natureza das politicas culturais postas em pritica — com mais ‘ou menos clareza e em maior ou menor extensio — por todos ‘0s movimentos sociais ¢ examinando o potencial dessa politica ‘cultural para promover a mudanga social. A nogio inglesa de cultural politics é dificil de traduzic em portugués. Na América Tatina, 2 expressao "politica cultural” designa normalmente as agbes do Estado ou de outras insttuigées com relagao 3 cultura, considerada um terreno especifico e separado da politica, muito freqdentemente reduzido & producio e consumo de bens cul- turais: arte, cinema, teatro etc. Aqui, uilizamos “politica cultural para chamar a atencio para o lago constitutivo entre cultura € politica, ¢ a redefinic’o de politica que essa visto implica Esse lago constcutivo significa que a cultura entendida como concepeio do mundo, como canjunto de significados que integram priticas sociais, nilo pode ser entendida adequada- mente sem a consideragio das relacdes de poder embutidas nessas priticas. Por outro lado, a compreensio da configuracao dessas relagées de poder nio é possivel sem o reconhecimento de seu cardter “cultural” ativo, na medida em que expressam, produzem e comunicam significados. Com.a expressio “politica cultural” nos referimos entio 20 processo pelo qual o cultural se torna fato politico As cigncias sociais convencionais no tém explorado siste- maticamente as conexdes entre cultura ¢ politica. Aludime esse fato em trabalhos anteriores (Escobar, Alvarer, 1992; Dagnino, 1994. £ importante discutira mudanga das concepebes de cultura e politica na antropologia, na literatura e em outras disciplinas como pano de fundo para entender como 0 conceito de politica cultural surgiu de um intenso diflogo interdisciplinar € de uma diluigio de fronteiras que ocorreu na éltima década, promovide por varias correntes pés-estruturalistas. Em nossa ” antologia anterior, salientamos que © conceit convencional da cultura em varias disciplinas como estitica — embutida num conjunto de textos, crengas e artefatos candnicos — contr buiu muito para tomar invisfvel as praticas culturais cotidianas como um terreno para —e fonte de — priticas politicas. ‘Te6ricos da cultura popular como De Certeau (1984), Fiske (1989) € Willis (1990) transcenderam essa compreensio estatica para {ressaltar como a cultura compreende um processo coletivo ¢ incessante de producao de significados que molda a experiéncia social e configura as relagdes sociais. Assim, os estudos de cultura popular afastaram a pesquisa das humanidades da énfase nna “alta cultura", origindria da literatura e das artes, © a apro- ximaram de uma compreenstio mais antropolégica da cultura sa aproximagio jf fora propiciada pela caracterizagao feita por Raymond Williams da cultura como “o sistema significante pelo qual necessariamente (embora entre outros meios) uma ordem social € comunicada, reproduzida, experimentada € explorada” (1981: 13). Como observam Glenn Jordan ¢ Chris Weedon, "Nese sentido, cultura nfo é uma esfera, mas uma dimensao de todas as instituigdes — econdmicas, sociais € politicas. Cultura € um conjunto de priticas materiais que constituem significados, valores e subjetividades" (1995: 8). Em obra recente, a defini¢ao de Williams & aprofundada para concluir que nos estudos culturais...a cultura € entendida ao mesmo tempo ‘como um modo de vida — abrangendo idéias, atitudes, lingu: gens, priticas, Insituigdes e estruturas de poder — © como ‘uma ampla gama de priticas culturais: formas artstcas, textos, cfnones, arquitetura, mercadorias de produgio em massa € assim por diante. (Nelson, Treichler, Grossberg, 1992: 5) === Isso explica, acreditamos, varias criticas fellas aos estudos culturais, tais como a dependéncia excessiva, aparentemente problemitica, em etnografias “rdpidas” (quickand dirty), @ procminéncia das anilises textuais e a importincia atvibuida as indistrias culturais € aos paradigmas de recepgio ¢ consumo de produtcs culturais. Seja qual for a validade dessas 18 crticas — como vamos explicar adiante — é justo dizer que os estudos culturais nlo deram importancia suficiente aos movi mentos socials como aspecto vital da produgao cultural Anogiio de cultura é também debatida ativamente na antro- pologia. A antropologia clissica aderiu a uma epistemologia realista © a uma compreensao relativamente fixa da cultura como encarnada em instituigdes, priticas, rituais, simbolos ica sfreugolpes sgnfcaves cot anopolgi eta. Lipase = eee oem pela economia poles. Apolando-se na hermendutca ena semictia, v antropologie nterpretativa avangou part uma cexmmpreensio ndo-posiviaa, parcial da cullwa, em parte impolalonada pela neitfar Zan Na metade da década de 1980, umn ote deslocamento dr nordo Ge cultura buseou levarem conta o ato de que “ninguém pode Iialsescrever eobre os outses como se fossem ebjetoe ot tentosseparados" e pastou a desenvolver “concrpobes novas da cultura como interatva e histrlea" Celifor, Marcus, 1986-29) Desde eta, 3 conscncia crescern da lcblizagao da produto cultural © econbmica levou os antopslogos aquestionar nogtes espacats de cultura, dleocomlas ent um “ns homogenco ¢ “outros” separados,e qualquer iusto de fronteiras claras entre grupos, o eu ¢ 0 outro (ver Fox, 1991; Gupta, Ferguson, 1992).* Ti dog appecie mats Geis da Souiprecnste poses rls da cultura na antopologia€ sua insstnc na anise dh proto edasignficaga, de signficadose prea, como aspectos simultaneos ¢€ inextricavelmente ligados da realidade foctnl. Nessa inka, Kay Warren Crest volume) sustenta qUE Ee condigees mateiats a visas com freqhencla como “mais uromas, reals ¢ blsieas do que qualquer otra cost Mas henploragao” ea resposa comum dos cries, por melo da | qual eles buscam transmitir uma urgéncia materialista que supera as questécs culturais, por mais valiosas que sejam.” ‘Warren prossegue sugerindo que a 19 Enquanto os antropdlogos tém geralmente tentado, entelacar as andlises “do simbélico € do material", os avancos na teoria do discurso e da representaco tém proporcionado ferramentas para exposigdes mais matizadas da constituigao mitua — e inseparavel — de significados e praticas (ver Comaroff, Comaroff, 1991 para um exemplo excelente dessa abordagem), Esse desenvolvimento traz ligdes dteis para os estudos culturais; na verdade, combina bem com o que € percebido como sendo um tema central do campo, a saber, 0 que as metéforas da cultura € textualidade ao mesmo tempo ajudam a explicar e no conseguem resolver. A questio esti expressa com eloqiéncia na exposicio retrospectiva que Stuart Hall faz do impacto da “virada lingafstica’ nos estudos culturais. Para Hall, a descoberta da discursividade e da textualidade levou a percepeaio da 1992: 283). Foi assim que se viram sempre “condu Contudo, apesar da importincia da zidos de volta & cultura metifora do discursivo, para Hall hi sempre algo descentrado em relagao a cultura, a linguagem, a texualidade e a signficagio, que escapa e se evate As tentalvas de ligt-lo, diveta e imediatamente, com outras estruturas (... (Devemos supor quel 2 cultura funcionars sempre através de suas textualidades — e, a0 mesmo tempo, que a textualidade nunca é suficiente (... A ndo ser que e aié que se respeite 0 deslocamento necessirio da cultura e, contudo, se fique sempre tertado pelo seu fracasso em reconciliar-se com outras questoes importantes, com outras quesides que no podem nunca ser plenamente recuperadas pela textwalidade critica em suas elabo- fagdes, os estudos culturais como projeto, como intervencio, ermanecem incompletas? (1992: 284) nossa opinido, o dito de Hall de que cultura ¢ textuali- 20 278). Hall reintroduz assim a politica no ambito dos estudos culturais, no somente porque sua formulacio proporciona um meio de manter as quest6es teéricas e politicas em tensto, mas porque exorta os tedricos — em particular, os propensos demais a permanecer no nivel do texto e da politica da repre- sentaglo — a se engajarem no “algo asqueroso I embaixo como uma questio tanto teérica como politica Em outras palavras, a tensdo entre o textual e o que the € subjacente, entre representacao ¢ seu fundamento, entre signi- ficados e priticas, entre narrativas e atores sociai, entre discurso € poder, jamais pode ser resolvida no terreno da teoria. Mas 0 “nunca é suficiente” tem mao dupla. Se ha sempre “algo mais” além da cultura, algo que nio € bem captado pelo textual/ iscursivo, hi também algo mais além do assim chamado mate inl algo de € sempre elie txhal Veer pornca dessa inversio nos casos dos movimentos sociais dos pobres € marginalizados, para quem o primeiro objetivo da luta € amidde demonstrar que sto pessoas com direitos, de forma a recuperar sua dignidade e estatuto de cidadaos e até de seres humanos, Em outras palavras, essa tensio é resolvida apenas provisoris DA POLITICA CULTURAL A CULTURA POLITICA Apesar de seu. compromisso com uma compreensio mais ampla de cultura, boa parte dos estudos culturais, em particular nnos Estados Unidos, continua a ser fortemente orlentada para o textual. Isso tem a ver com fatores disciplinares, hist6ricos institucionais (Yudice, neste volume). Esse viés penetra também 0 so do concen - tal como recolhida de formas e anlises textuais ~-tem um vineulo direto e claro com 0 exercfcio do poder e, de modo correspondente, com a resisténcia a ele. No entanto, riem sempre esses vinculos sio explicitados de modo a iluminar as posicBes reais ou potenciais © as estratégias politicas de determinados atores sociais. Sustentamos que cesses vinculos so evidentes nas priticas, nas agdes concretas dos movimentos sociais latino-americanos ¢, portanto, queremos estender 0 conceito de politica cultural para analisar suas intervencoes politicas. # importante enfatizar o fato de que na América Latina de hoje, todos os movimentos sociais poem em pritica uma politica uleural, Seria tentador restringir 0 conceito de politica cultural queles movimentos que sio mais claramente culturais. Nos anos 80, essa restricto resultou numa divisto entre movimentos sociais “novos” e “velhos". Os novos eram aqueles para os quais a identidade era importante, aqueles engajados em “novas formas de fazer politica” € as que contribuiam para formas 2 novas de sociabilidade. As opges favoritas eram os movimentos indigenas, étnicos, ecol6gicos, femininos, homossexuais ¢ de direitos humanos. Ao con:virio, oS movimentos urbanos, ‘camponeses, operirios ¢ de bairro, entre outros, eram vistos ‘como lutas mais convencionais por necessidades ¢ recursos. ‘capitulos seguintes mostram claramente que @§ moviment©S populares urbanos de favelados, de mulheres e outros, também (poem em movimento foreas culturais, Em suas lutas continuas contra os projetos dominantes de construcio da nagio, desen- volvimento e repressio, os atores populares mobilizam-se coleti- vamente com base em conjuntos muito diferentes de significados € objetivos. Dessa forma, as identidades € estratégias coletivas de todos os movimentos socials esto inevitavelmente vinculadas & cultura Nossos colaboradores exploram as maneiras como poltticas culturais diversas entram em ago quando atores coletivos se mobilizam. Elas sto talvez mais evidentes em movimentos que fazem reivindicagdes com base na cultura — como no caso do movimento negro colombiano discutido por Libia Grueso, Carlos Rosero @ Arturo Escobar, ou no movimento Pan-Maia analisado por Kay Warren — ou naqueles que utilizam 2 cultura como meio de mobilizar ou engajar participantes, como ilustram 0 caso dos movimentos afro-brasileiros discu- tidos por Olivia Cunha € 2 COCEI (Coalizao de Operaios, Camponeses ¢ Estudantes do Istmo) do México, examinada por Jeffrey Rubi Porén:, queremos sublinhar que @)poltiess eulUnS Bae) também postas em ago quando os movimentos intervém em debates roliticos, tentam dar novo significado is interpretagdes culturais ominantes da politica, ou desafiam priticas politicas festabelecidas, George Yadice, David Slater e Gustavo Lins Ribeiro, For exemplo, chamam nossa atencio para a *habilidosa guerra de guerrilhas na mfdia” desencadeada pelos zapatistas ‘no combate 20 neoliberalismo € na promocio da democrat Zagi0 0 México, Sonia Alvarez enfatiza que as batalhias polis ticas travadas pelas feministas latino-americanas que em anos recentes penetraram no Estado ou no establishment do desen- volvimento internacional devem ser entendlidas também como lutas para dar novo significado a nogdes predominantes de ¢idadania, desenvolvimento € democracia. Jean Franco (1998) defende posicao semelhante a0 sublinhar que o feminismo 23 deveria ser descrito como (RRA POBIES (n2o exclusiva das mulheres) que desestabiliza tanto o fundamentalismo como as novas estruturas opressivas que esto surgindo com 0 capita- lismo tardio”, e que a confrontacao do feminismo com essas estruturas “envolve mais urgentemente do que nunca a luta pelo poder interpretative”, A anilise de Sérgio Baierle dos ‘movimentos populares urbanos em Porto Alegre, Brasil, concei tua-os como “espagos estratégicos oncle se debatem concepgoes diferentes de cidadania e democracia”, ¢ Maria Célia Paoli € Vera Telles enfatizam da mesma forma @S\diferenites mouos en que movimentos populares e sindicatos se engajam simultanea- ‘mente em lutas por diteitos € significagées. Como afirma Evelina Dagnino(@ eonceits We) polities ealtara 6 importante para avaliar o alcance das lutas dos movimentos sociais pela democratizagio da sociedade e para destacar as implicagdes menos visiveis € amitide negligenciadas dessas Jutas) Ela sustenta que as contestagées culturais no sao meros “sub-produtos” da luta politica, mas 20 contrério, sto const tutivas dos esforgos dos movimentos sociais para redefinir 0 sentido e os limites do proprio sistema politico. Jean Franco (4998) observa que as discussdes sobre 0 uso de palavras parecem muitas vezes ccataglo de piolho; a linguagem parece ser irelevante para as lutas “reais”. Contudo, 0 poder de interpretar € a invengio € apropriagao ativa da linguagem slo instruments cruciais para (05 movimentos emergentes que buscam visibilidade reco- Iihecimento para as conceprdes © agdes que se fram de seus discursos dominantes. Com efeito, como David Slater sugere em seu artigo, lucas sociais podem ser vistas como ‘guerras de interpretago!”. Nossa definiga0 de politica cultural € ativa ¢ relacional. Interpretamos politiea cultural como 0 processo posto em acto quando conjuntos de atores sociais moldados por € encar- nando diferentes significados € priticas culturais entram em. conflito uns com os outros. Essa definicio supoe que signi ‘eados-€ priticas — €m particular aqueles teorizados como marginais, oposicionais, minoritirios, residuais, emergentes, altemativos, dissidentes e assim por diante, todos concebides em relagio a uma determinada ordem cultural dominante — podem ser a fonte de processos que devem ser aceitos como politicos. Que isso seja raramente visto como tal reflexo das definigbes entranhadas do politico, abrigadas nas culturas politicas dominantes, do que uma indicagao da forca social, eficicia politica ou relevncia epistemolégica da politica cultural. 4 cultura € politica porque os significados sito consti~) tutivos des processos que, implicita ou explicitamente, buscam | redefinir © poder social. isto €, quando apresentam concepe5es_ alternativas de mulher, natureza, raga, economia, democracta ou| cidadania, que desestabilizam os significados culturais domi-| nantes, 0s movimentos péem em acto uma politica cultural. Falamos de formagoes de politica cultural neste sentido: elas sao oresultado de articulagées discursivas que se originam em prtices culturais existentes — nunca puras, sempre hibridas, ‘mas apeser disso, mostrando contrastes significativos em relago as culturas dominantes — e no contexto de determinadas condigdes hist6ricas. Evidentemente, a8 politicas culturais existem em movimentos sociais da direita ¢ até mesmo dentro de formagées estatais; os neo-conservadores, por exemplo, pretendem “re-sacralizar a cultura politica” por meio da “defesa ‘ou seeriagio de um mundo da vida tradicionalista © autoritario” Cohen, Arato, 1992 24). Da mesma fornia, Jean Franco (1998) ‘mostra camo, durante os preparativos para a Quarta Conferéncia Mundial das Mulheres, os movimentos conservadores ¢ funda ‘mentalistas uniram-se ao Vaticano para solapar o feminismo *pondo em cena um espetculo aparentemente sccundatio, a saber, um ataque a0 uso da palavra ‘género". O artigo de Verénica Schild neste volume chama a atencio para os esforcos do neoliberalismo no Chile para reestruturar a cultura tanto como a economia. Mas © angulo mais importante para analisar as politicas culturais dos movimentos sociais talvez seja em relagaio com seus efeitos sobre a(s) cultura(s) politica(s). Cada sociedade € marcada por uma cultura politica dominante. Para os prop6- sitos deste livro, definimos cultura politica como a construclo social particular em cada sociedade do que conta como “poli- Gico" (ver também Slater, 1994a; Lechner, 1987a). Desse modo, ‘a cultura poltica € 0 dominio de praticas e instituigdes, reti- radas da totalidade da realidade social, que historicamente vém a ser consideradas como propriamente politicas (da mesma 25 maneira que outros dominios sto vistos como propriamente teconémicos®, “culturais", € “sociais"). A cultura politica domi- nante do Ocidente foi caracterizada como “racionalista, uni- versalista e individualista" (Mouffe, 1993: 2).* Como veremos, as formas dominantes de cultura politica na América Latina diferem um pouco — em alguns casos, talvez de modo signifi- cativo — dessa definicao. {As politicas culturais dos movimentos sociais tentam amide desafiar ou desestabilizar as culturas politics dominantes, Na medida em que os objetivos dos movimentos sociais contem- pporiineos As vezes vio além de ganhos materials e institucionais percebidos, na medida em que esses movimentos sociais afetam as fronteiras da representacio politica e cultural, bem como a pritica social, pondo em questio até © que pode ou nao pode ser considerado politico; finalmente, na medida em que as politicas culturais dos movimentos sociais reatizam contes- tagdes culturais ou pressupdem diferencas culturals — ento devemos aceitar que 0 que esti em questio part os movi- mentos sociais, de um modo profundo, € uma transformagao da cultura politica dominante na qual se movern € se constituem como atores sociais com pretensdes politicas. Se os movi- mentos socials pretendem modificar 6 poder socitt se 7 cultura politica também abrange campos institucionalizados para a negociacao do poder, entio os movimentos sociais necessariamente enfrentam a questo da cultura politica. Em muitos casos, 0s movimentos sociais ndo exigem inclusio, mas antes buscam reconfigurar a cultura politica dominante. A anilise de Baierle dos movimentes populares — que encontra eco nos capitulos de Dagnino e Paoli e Telles — sugere que esses movimentos podem, as vezes, desempenhar um papel fundacional, “destinado a transformar a propria ordem politica na qual atuam" e destaca que os “novos cidadiios” que emergem dos foruns de participagto e conselhos populares de Porto ‘Alogre © outras cidades brazileiras questionam radicalmente © modo como © poder deve ser exercido, em vez de tentar meramente “conquisté-lo" As politicas culturais dos movimentos sociais podem ser vistas também como fomentadoras de modernidades altesnativas. Como diz Fernando Calder6n, alguns movimentos colocam a questo de como ser ao mesmo tempo moderno ¢ diferente — ‘como entrar en la modernidad sin dejar de ser indios” (1988: % 225). Eles podem mobilizar construgdes de individuos, direitos, economias © condicdes sociais, que no podem ser definidas esiritamente dentro dos paradigmas da modernidade ocidental (ver Slater, 1994a € Warren, neste volume; Dagnino, 19942, 1994b)5 ‘As culturas polticas da América Latina so muito influenciadas Por aquelas que prevaleceram na Europa ¢ na América do Norte «, contudo, se diferencia delas. Essa influéncia esta claramente expressa nas referéncias recarrentes 2 principios ‘ais como (fieionalistia)) Universalismo| = individvalismo, Porém, na América Latina, esses principios combinaram-se historicamente de maneira contraditéria com outros principios destinados a garantir a exclusio social e politica e até a controlar a definigao do que conta como politico em sociedades extrema. mente hierarquizadas e injustas. Essa hibridizaco contraditria alimentou a anilise sobre a adogio peculiar do liberalismo como “idéias fora do lugar” (Schwarz, 1988) e, com respeito a tempos mais modemnos, a andlise das democracias de “fachada” (Whitehead, 1993). Esse liberalismo “fora de lugar” serviu as elites latino-ame- ricanas do século XIX ao mesmo tempo como resposta ’s pres- 38es internacionais e como meio de manter um poder politico excludente, na medica em que se baseava € coexistia com ‘uma concepsio oligérquica de politica, transferida das praticas ‘SGeiais © politieas do latiftindlio (Salles, 1994, onde os potteres pessoal, social e politico se superpunham, constituindo uma finiea e mesma realidade, Fssa falta de diferenciacao entre © Pblico e 0 privado — onde nao s6 o piblico é apropriado pelo privado, como as relag6es politicas sio pereebidas como extensbes das relagdes privadas — toma as relagoes de favor, © personalismo, 0 clientelismo € 0 paternalismo, praticas politicas-comuns. Além disso, ajudadas por mitos como o da racial”, essas priticas obscureceram a desigualdade a exclusio. Em conseqiéncia, grupos subalternos, excluidos, passaram a ver a politica como “negécio privado” das elites (como diz Baierle, como ‘0 espaco privado dos doutores"), resultando numa imensa distancia entre sociedade civil € politica — até mesmo em momentos em que os mecanismos dominantes de exclusao deveriam ser aparentemente redefinidos, como, por exemplo, no advento da Repiiblica (Carvalho, 1991). Quando, nas primeiras clécadas do século XX, a urbanizagao € a industrializacio tornaram inevitivel a incorporagao das n massas, nao surpreende que essa mesma tradig’o tenha jrado 0 novo arranjo politico-cultural predorinante: 0 ‘Tendo de compartilhar seu espaco politico com participantes anteriormente excluidos, as elites latino-ameri- canas criaram mecanismos para uma forma subordinada de inclusao politica na qual relagdes personalizadas com os Iideres politicos garantiam 0 controle ¢ a tutela sobre ‘uma participacdo popular heterdnoma, Mais do que a alegada “irracionalidade das massas", 0 que estava por tras do surgimento da lideranga populista — identificada pelos excluidos como seu “pai” € salvador — era ainda a l6gica dominante do personalismo. Associada a esses novos mecanismos de representagao politica e as reformas econdmicas necessirias 2 modernizagao — em relagio 8s quais o liberalismo econémico tinha revelado seus limites (Risfich, Lechner, Moulian, 1986) — uma redefinic2o do papel do Estado tornou-se um elemento crucial nas culturas politicas latino-americanas. Concebido como o promotor de mudangas a partir de cima e assim, como o agente primario da transformagio social, o ideal de um Estado forte e inter- vencionista, cujas fungdes eram vistas como incluindo a “organizagio” —e, em algumas concepgies, a propria “criaca — da sociedade, passou a ser compartilhado por cultur politicas populistas, nacionalistas e desenvolvimentistas, em suas versbes tanto conservadoras como de esquerda, A dimensio assumida por essa centralidade do Estado na maioria dos projetos politicos inspirou os analistas a falar de um “culto do Estado’, ou estadolatria (Coutinho, 1980; Weffort, 1984). A definicao do que conta como “politico” tinha agora uma referéncia nova e concreta, agravando as dificuldades para © surgimento de novos sujeitos politicamente auténomos e, dessa forma, aumentando a exclusio que 0 populismo pretendia resolver por meio da concessio de direitos poli- ticos socials Sob presses internacionais para “manter vivos a cemocra 0 capitalismo na América Latina’, surgiram nas décadas de 1960 © 70 regimes militares em quase toda a regio, numa reag as tentativas de radicalizar as aliancas populistas ou de explorar alternativas socialistas democraticas Procedimentos burocriticos e tecnocriticos de tomada de decisdes ofereceram um fundamento adicional para restringir ainda mais a definicio de politica e seus participantes. Orgaitizadas basicamente em tomo da administracao da exclusio, significative que os movimen‘os sociais que surgiram da sociedade civil na América Latina ao longo das duas tiltimas décadas — tanto em paises sob regime autoritirio como em nagdcs formalmente democriticas — tenham desenvolvido versbes plurais de uma cultura politica que vo muito além do (reJestabelecimento da democ-acia formal liberal. Assim, A RECONCEITUACAO DO POLITICO NO ESTUDO. DOS MOVIMENTOS SOCIAIS LATINO-AMERICANOS ‘Ao explorar 0 politico nos movimentos sociais, devemos ver a politica como algo mais que um conjunto de atividades especificas (votar, fazer campanha ou lobby) que ocorrem em espagos institucionais claramente celimitados, tais como parla ‘mentos € partidos; ela deve ser vista como abrangendo também 2» ua resto sock eis por tds os expag” (Ge Canclini, 1988: 474). No entanto, uma concepgao descentrada do poder € da politica no deve desviar nossa atengiio do modo como as movimentos sociais interagem com a sociedade politica e 0 Estado e “nao deve nos levar a ignorar a mancira como 0 poder se seciimenta ¢ se concentra em instituiges © agentes sociais” (475). Desse modo, nossos autores dio a devida atengo as relagdes dos movimentos com os poderes sedimentados de partidos, ins- tituigdes e com 0 Estado, a0 mesmo tempo em que sugerem que 0 exame dessa relagto “nunca é suficiente” para aprender © impacto politico ou 2 significagio dos movimentos sociais.© Como argumenta convincentemente David Slater (neste volume), 1 afirmacao de que os movimentos sociais contemporaneos desafiaram ou refizeram as franteiras do politico pode signifcar, por exemplo, que os movimentos podem sub: verter 08 dados tradicionais do sistema politico — poder estatal partidos politicos, instituigdes Formais — a0 contestar 2 legit mmidade ¢ 0 funcionamento aparentemente normal e natural de seus efeitos na sociedade. Mas também papel de alguns movimentos socias foi o de revelar os significados ocultos do politico encerrados no social Da mesma forma que buscam avancar para além da com- preensio estatica da cultura € da politica (textual) da repre- sentago, 08 capitulos seguintes transgridem as concepsoes esireitas € reducionistas de politica, cultura politica, cidacania e democracia, que predominam tanto na ciéncia politica tradi- ional como em algumas versdes das abordagens que enfatizam seja a mobilizac2o de recursos ou 0 processo politico.” Em vez de avaliar ou medir o “sucesso” dos movimentos sociais principal ou exclusivamente com base no modo como suas demandas sto processadas — ¢ se 0 s10 — no interior da politica de representacao (institucional), nossos autores se empenham em langar nova luz sobre o modo como 0s discursos € priticas dos movimentos sociais podem desestabilizar © assim — pelo menos parcialmente — transformar os discursos dominantes € as priticas excludentes da “democracia llatino- americana realmente existente” (Fraser, 1993). Tendo experimentado uma espécie de renascimento nos campos da ciéncia politica e da sociologia em anos recentes 30 Cinglehart, 1988), 0 conceito de cultura politi ‘as preconceitos “ocidentalizantes" do passado (Almond, Verba, 1963, 1980). Contudo, ele permanece em larga medida restrito Aquelas atitudes € crencas sobre aquele Ambito restrito (0 jstema politico estritamente delimitado) que a cultura domi- nante definiu historicamente como propriamente politico ¢ aquelas crengas que sustentam ou solapam as regras estabe- lecidas de um determinada *jogo politico" A cultura politice envolve varias orientagdes psicologicas dife- rentes, incluindo elementos mais profundos de valor e crengs sobre 0 modo como 2 autoridade politica deveria ser esruturada € como 0 eu deveria se relacionar com ela, e atiudes, sent mmentos © avaliages mais temporirias © mutaveis relacionadas com 0 sistema politico. (Diamond, Linz, 1989: 10) Assim, para muitos cientistas politicos como Larry Diamond ¢ Juan Ling, “valores e disposigBes comportamentais (em parti cular, no nivel da elite) de compromisso, flexibilidade, tole- Fincia, conciliaglo, moderago € contencdo” contibuem signif- cativamente para a'“manutengao da democracia” (12-13) Essas concepgdes de cultura politica tomam o politico como dado e no enfrentam um aspecto chave das lutas dos movi mentos explorado por varios dos capitulos aqui reunidos. Como observa Slater (19942), com muita freqiéncia, IE concordamos com a avaliaglo Norbert Lechner de que “a anilise das questoes politicas levanta necessariamente a questo de por que uma determinada questo E politica. Assim, iver também Avritzer, 5 J i Dagnino, 1994). Rubin (neste volume) afirma, por exemplo, que foi “o fomento de uma cultura politica nova ¢ hibrida que permitiu 2 COCET manter seu poder mesmo quando a reestruturacao econdmica neoliberal e a desmobilizacao dos movimentos populares dominavam a politica no resto do México ¢ da América Latina". 3a ‘Ademais, embora as disposigdes culturais da elite observadas por Diamond e Linz pudessem sem diivida ajudar a fortalecer a democracia representativa com base na elite, elas nos dizem pouco sobre como padrées € priticas culturais mais amplos que promovem 0 autoritarismo social e a desigualdade notoria obstruem 0 exercicio da cidadania democritica significativa para cidadiios que nao pertencem a elite (Sales, 1994; Telles, 1994; Oliveira, 1994; Hanchard, 1994). AS Rigid NiGrargqura sociais de classe, raga € genero que caracterizam as relacoes sociais latino-americanas impedem que a vasta maioria dos cidadios de jure imagine e multo menos reivindique publica- mente a prerrogativa de ter direitos, Como sustentamos em outro lugar, 08 movimentos populares, a0 lado dos feministas, afro-latino-americanos, de lésbicas € homossexuais, assim como ambientalistas, foram instrumentais na construgao de uma nova concepsio de cicdadania democritica, que reivindica dircitos na sociedade ¢ no apenas do Estado ¢ que contesta as rigidas hierarquias sociais que ditam lugares fixos na socie- dade para seus (no) cidadios com base em critérios de classe, raga © genero: © autoritarismo social engendra formas de sociabilidade numa cultura autoriiria de exclusio que subjaz ao conjunto das priticas socials © reproduz a desigualdade nas relagtes sociais em todos 0s seus niveis. Nesse sentido, sua eliminago constitui um desafio fundamental para a efetiva democratizagio da sociedade. A consideragio dessa dimensto implica desde ogo uma redefi- nlgio daquilo que € normalmente visto como o terreno da politica e das relagdes de poder a serem transformadas. E Fundamentalmente, significa uma ampliaglo e aprofundamento da concepeio de democracia, de modo a incluir 0 conjunto das priticas sociais e culturals, uma concep¢io de democracla que transcende o nivel institucional formal e se debruca sobre © conjunto das relagoes sociais permeadas pelo autoriiarismo soctal e ndo apenas pela exclusto politica no sentido esti. (Dagnino, 19942: 105-105) A anilise de Teresa Caldeira (a sair) de como € por que a defesa dos direitos humanos dos criminosos comuns continua 2 ser vista como “algo ruim e condenavel" pela maioria dos cidadaos no Brasil democritico ilustra pungentemente por que — a luz do constante autoritarismo sécio-cultural — “a anilise social deveria olhar para além do sistema politico” 20 2 sone teorizar sobre as transigdes democriticas ¢ explorar 0 modo ‘como “os limites da democratizagio esto profundamente incru tados nas concepgdes populares do corpo, da punicio e dos direitos individuais". A penetragio das nogdes culturais do “corpo € individuo ilimitadas”, sustenta Caldeira, impede seriamente a consolidagio dos direitos civis e individuais bisicos no Brasil: “Essa no¢ao € reiterada ndo somente como meio de exercicio do poder nas relagoes interpessoais, mas também como um instrumento para contestar de modo explicico 0 princfpias da cidadania universal e dos direitos individuais.” ‘A politica cultural dos movimentos de direitos humanas deve entdo trabalhar para re-significar e transformar as concepgOes culturais dominantes dos direitos e do corpo. No entanto, apesar da atengio renovada concedida & cultura politica em algumas anilises politicas recentes, o cultural continua a tocar 0 segundo violino nas cldssicas_harmonias eleitorais, partidarias e politicas que inspiram a anilise (neo) institucionalista liberal. (A) eiaiorial GOs tebrieos |traclicionais) conclui que 05 movimentos socials e as associagdes civicas desempenham, na melhor das hipéteses, um papel secundario zna democratizagio € tem, portanto, concentrado stia atencao 1a institucionalizagao politica, que € considerada “o fator mais importante e urgente na consolidacdo da democracia® (Diarnnd, 1994: 15), Em_conseqiiéncia, 4/QiSEUss08s SOB a MEMIOCHUZAETD Jatino-americana concentram-se hoje quase que exclusivamente ra estabilidade das instituigdes € processos politicos repre~ sentativos formais como, por exemplo, nos “perigos do presi- dencialismo® Clinz, 1990; Linz, Valenzuela, 1994),ma formagio € consolidagto de partidos € sistemas partidarios viiveis (Mainwaring, Scully, 1995), € mos ‘tequisiios da governabi- lidade®Wriuntington, 1991; Mainwaring, O'Donnell, Valenzuela, 1992; Martins, 1989). imi résumo, as andlises predotrinantes da’ democracia centram-se no que os clentistas politicos batizaram de “engenharia institucional”, requisito para a consolidagao da democracia representativa no Sul das Américas. Uma tendéncia recente no estudo dos movimentos sociais latino-americanos parece endossar esse foco exclusive sobre © formalmente institucional (ver Foweraker, 1995). Embora a literatura mais antiga sobre os movimentos dos anos 70 € 80 louvasse sua suposta abstengao da politica institucional, sua 3 defesa da autonomia absoluta sua énfase na democracia direta, muitas andlises recentes sustentam que esas posturas deram origem a um “etbos de rejcicdo indiscriminada do insti- tucional” (Doimo, 1993; Silva, 1994; Coelho, 1992; Hellman, 1994), que tornava dificil para os movimentos articular com eficacia suas reivindicagdes nas arenas politicas formais. Outros te6ricos destacaram as qualidaces paroquiais, fragmen- tirias, dos movimentos e enfatizaram sua incapacidade de trans- cender o local ¢ engajar-se na realpolitile ornada inevitével pelo retomno & democracia eleitoral (Cardoso, 1994, 1988; Silva, 1994; Coelho, 1992). Ainda que as relagdes dos movimentos sociais com os partidos, o Estado € com as instituigdes frigeis, elitistas, part cularistas e amitide corruptas dos regimes civis da América Latina meregam certamente atencio dos estudiosos, essas anilises negligenciam com frequénci ‘Ao chamar a atengio para as politicas culturais dos movimentos sociais e outras dimensdes menos mensuraveis, e, As vezes, menos visiveis ou submersas, da agio coletiva ‘contemporinea (Melucci, 1988), nossos autores oferecem leituras alternativas da maneira como os movimentos contribuiram para a mudanga cultural e politica desde que o neoliberalismo econdmico e a democracia representativa (limitada e em larga medida protoliberal) se converteram nos pilares da dominacio na América Latina, s varios artigos se cletém numa variedade de debates te6 ricos que podem nos ajudar a transcender algumas das insufi- clencias inerentes as leituras dominantes do politico e lancar uma luz diferente sobre suas imbricagdes com o cultural nas praticas dos movimentos sociais latino-americanos. Entre esses esto os recente: Ey CULTURA E POLITICA NAS REDES OU TEIAS DE MOVIMENTOS SOCIAIS ‘Uma maneira particularmente frutifera de explorar como as intervengdes politicas dos movimentos sociais se estendem para dentro e para além da sociedade politica e do Estado € analisar a configuracio das redes ou tcias dos movimentos sociais (Melucci, 1988; Doimo, 1993; Landim, 1993a; Fernandes, 1994; Scherer-Warren, 1993; Putnam, 1993; Alvarez, 1997). Por um lado, varios dos capitulos seguintes chamam atengio para as praticas culturais e redes interpessoais da vida cotidiana que sustentem movimentos sociais 20 longo dos fluxos € refluxos de mobilizagao ¢ que infundem novos significados culturais nas priticas politicas € na acio coletiva. Essas estruturas de significado podem incluir diferentes formas de conscié praticas relativas, por exemplo, & natureza, a vida de bairro ou a identidade. Rubin, por exemplo, descreve com elogiiéncia 0 modo como movimentos populares radicais em Juchitén, México, extraem forca dos lagos familiares, comunitirios € étnicos, Ee desaca como “locals fisicos e sociais" aparentemente apo- Iiticos, ‘ais como bancas de mercado, bares ¢ pitios familiares, “contribuiram para a reelaboragdo das crencas e praticas culturais locais” ¢ se tornaram “lugares importantes para a discussio e mobilizagio fem Juchitén] (..) com suas caracteris- ticas de género e classe (proporcionando] terreno fértil para ‘repensar a politica e levando as pessoas para as ruas”. A centra- lidade atribufda as redes submersas da vida cotidiana (Melucci, 1988) na modelagem da politica cultural dos movimentos encontra eco na discussio de Libia Grueso, Carlos Rosero Arturo Escobar das lutas afro-colombianas em tomo de natureza ¢ identidade, no tratamento de Sérgio Baierle dos movimentos urbanes brasileiros e no capitulo de Olivia Gomes da Cunha sobre os movimentos negros brasileiros neste volume. Por outro lado, vitios capitulos sublinham que os movi- mentos sociais nao apenas dependem e se baseiam em redes da vida cotidiana, mas também constroem e configuram novos vincules interpessoais, inter-organizacionais € politico-culturais com outros movimentos, bem como com uma multiplicidade de atores © espagos culturais e institucionais. Esses vinculos ita sri *] s expandem o aleance cultural e politico dos movimentos para muito além das comunidades locais patios familiares c, alguns de nossos autores sustentam, ajudam a contrabalangar as, supostas propensdes paroquiais, fragmentarias e efémeras dos movimentos. Ao avaliar o impacto dos movimentos sociais sobre pro- cessos mais amplos de mudanca politico-cultural, devemos entender que o alcance dos movimentos sociais se estende para além de suas partes constitutivas Obvias € manifestagdes visiveis de protesto. Como sugere Ana Maria Doimo em seu incisivo estudo sobre o "movimento popular” no Brasil: Em geral, quando estudamos of fenmenos relatives & patt- cipacdo explicitamente politica, tais como partidos, eleigdes, parlamento etc,, sthemos onde procurar dados e instrumentos Nao é este o caso do campo dos movimentos fem questio (..) um tal eampo baseia-se em relagdes inverpes- soais que ligam individuos a outros individuos, envolvendo conexdes que vao além de grupos especificos © atravessam ‘ransversalmente insituigSes sociais particulares, tis como a Igrefa catélica, 0 protestantismo — nacional ¢ internacional —, a academia cientifica, as organizagées no-govemamentais (ONG), a organizagdes de esquerda, os sindicatos e as partidos politicos, @oimo, 1993: 44) Alvarez sustenta que as demandas, discursos € priticas politicas, bem como as estratégias politicas e de mobilizagao de muitos dos movimentos atuais estio amplamente espalhadas, as vezes, de modo invisfvel, pelo tecido social, com suas redes politico-comunicativas atingindo os parlamentos, a academia, a Igreja, os meios de comunicagio ¢ assim por diante, Schild afirma: Vastas redes de profissionais e ativistas que Sao feministas, ov que #io pelo menos sensiveis ae questdes femininas, esto em acto atualmente no Chile e em outros paises latino-americanos. Essas redes no sio apenas responsiveis por sustentar 0 trabalho de organizagoes de base e (..) ONGs, mas estao também enga jadas na produgao de conhecimento, inclusive de categorias que se tormam parte dos repertérios morais usados pelo Estado. ‘Ademais, como demonstram as contribuigdes de Yédice, Slater, Lins Ribeiro ¢ Alvarez, muitas redes de movimentos 6 latino-americanos sao cada vez mais regionais e iransnacionais no seu aleance (ver também Lipschutz, 1992; Keck e Sikkink, 1992; Fernandes, 1994). (0 termo “teias de movimento social” (em contraste com © mais comum “rede") transmite 0 aspecto intrincado € precario dos maltiplos lacos ¢ imbricagdes estabelecidos entre organi zagoes dos movimentos, participantes individuais outros atores da sociedade civil € 0 Estado. A metifora da “teia" também nos permite imaginar mais vividamente os enteelags mentos em miltiplas camadas dos atores dos movimentos com os terrenos natural-ambiental, politico-institucional ¢ cultural-discussivo nos quais estao incrustades. Em outras palavras, as teias dos movimentos abrangem mais do que suas organizagbes ¢ seus membros ativos; elas incluem participantes ocasionais nos eventos ¢ agdes do movimento ¢ simpatizantes e colaboradores de ONGS, partidos politicos, universidades, outras instituigdes culturais ¢ conven Gionalmente politicas, a Igreja ¢ até o Estado que (20 menos parcialmente) apéia um determinado objetivo do movimento @ ajuda a difundir seus discursos ¢ demandas dentro ¢ contra as instituigSes e culturas politicas dominantes (Landim, 1993a © 1993b). Quando examinamos 0 impacto dos movimentos, devemos entio avaliar a extensio em que suas demandas, discursos ¢ praticas, circulam de modo capilar, como numa teia (por exemplo, como sto utilizados, adotados, apropriados, cooptados ou reconstruidos, conforme o caso), em arenas institucionais ¢ culturais mais amplas. Warren, por exemplo, critica a nogto predominante de que “a medida do sucesso de um movimento social é sua capacidade de conseguir mobilizagdes de massa e protestos piblicos", argumentando que nna avaliaga0 de um movimento como o Pan-Mait — baseado em educacio, idioma, reafirmagao cultural e direitos coletivos — devemos considerar que pode nao haver nenhuma smanifestag2o pata contar porque nio se trata de um movimento de massa que gere protesto. Mas haveri geragbes novas de esiudantes, lideres, professores, agentes de desenvolvimento © idosos da comunidade que foram tocados de alguma mancira pelo movimento pan-maia e sua produgio cultural Devemos levar em conta também como a dinamica e os discursos dos movimentos so moldados pelas instituigdes a7 sociais, culturais e politicas importantes que atravessam as redes ou teias € como os movimentos, por sua vez, modelam, a dinimica e 0 discurso daquelas instituigdes. Schild, por ‘exemplo, observa que “as agéncias governamentais € iniciativas partidirias sem fins lucrativos que trabalham a favor das mulheres contam fortemente com os esforgos de mulheres posi cionadas em redes [inspiradas no feminismol" no Chile contem- porineo. E Alvarez analisa a absore0, apropriagao e re-signifi- cacao relativamente répida, ainda que seletiva, dos discursos e demandas feministas latino-americanos por instiuigdes culturais dominantes, organizacdes paralelas da sociedade civil e politica, © Estado € 0 establishment do desenvolvimento, OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A REVITALIZAGAO, DA SOCIEDADE CIVIL Tal como a nog de cultura politica, o conceito de sociedade civil testemunhou também um renascimento, significativo, um verdadeiro boom conceitual, nas ciéncias sociais durante a ‘Shima década (Cohen, Arato, 1992: 15; Walzer, 1992; Avritzer, 1994; Keane, 1988). Andrew Arato atribui “o notavel ressurgic mento desse conceito” ao fato de que: Expressava as novas estratégias dualistas, radicas, reFormistas ou revolucionarias de transformagio das ditaduras, observadas primeiro na Furops oriental e depois na América Latina, para 35 quals proporcionou uma nova compreensio tedrica. Fssas estratégias se baseavam na organizagio auténoma da sociedade ena reconstrugio dos lagos sociais fora do Estado autoriario © a conceituagio de uma esfera pablica independente © separada de todas as formas de comunicagio oficial, controladss pelo Estado ou pelos partidos. (1995: 19) Com efeito, como diz. Alfred Stepan, “a sociedade civil tomou-se a celebridade politica” de muitas transig6es latino: americanas recentes do regime autoritério (Stepan, 1988: 5) € foi uniformemente vista como um ator significativo (embora secundirio) na literatura da democratizacio. Em seu artigo neste volume, Ytidice sustenta que, sob o Estado em proceso de encolhimento do neoliberalismo, a sociedade civil “floresceu’. Em outtas obras recentes, a sociedade civil tornou-se “interna ional” (Ghils, 1992), “transnacional” (Lins Ribeiro, 1994 € eo neste volume), “global” (Lipschutz, 1992; Leis, 1995; 1995) e até *planetéria” (Fernandes, 1994 € 1995). Embara os esforcos para delimitar esse conceito variem muito — indo de definigdes abrangentes (em algumas versoes, residuais) que incluem tudo o que 2doé 0 Estado ou o mercado, até concepgdes que restringem a nogio a formas de vida associa~ tiva organizadas voltadas para a expressio de interesses da sociedade —, a maioria inclui os movimentos sociais entre seus componentes centrais ¢ mais vitais, Ademais, analistas e ativistas, tanto conservadores como progressistas, tendem a louvar 0 potencial democratizador da sociedade civil em escala local, nacional, regional-e global. 'Nossos colaboradores endossam em geral essa visio posi tiva, na medida em que a sociedade civil constituiu amidide a nica esfera disponivel ou a_mais importante para organizar a contestagio cultural e politica. Porém, eles também chamam @ atengio para ts ressalvas importantes, mas nem sempre exploradas, Primeiro, destacam que a sociedade civil nao é uma familia ou uma “aldeia global” homogéneas € felizes, mas um terreno de luta, minado 3s vezes por relagbes de poder nio-democriticas e pelos problemas constantes de racisino, hetero/sexismo, destruig2o ambiental € outras formas de exclusio (Slater, Alvarez, Lins Ribeiro, Schild). Em particular, a crescente predomindncia das ONGs nos movimentos latino~ americans e sua relacio complexa com movimentos de base local, de um lado, e de outro, com agéncias bilaterais, mula terais e privadas, fundagdes e ONGs transnacionais com base nna América do Norte, so também assinaladas como questdes politicas ¢ te6ricas especialmente complicadas para os movi- mentos da regio atualmente (ver também MacDonald, 1992; Ramos, 1995; Mugoucah, 1995; Rielly, 1994; Walzer, 1992; Lebon, 1993). Lins Ribeiro destaca que "as ONGs podem ser de fato um sujeito politico efetivo fragmentado, descentrado em um mundo pés-modemno, mas 0 custo da flexibilidade, do prag- matismo € da fragmentago pode muito bem ser o reformismo — sua capacidade de promover mudangas radicais pode enfra- quecer". Alvarez analisa questdes de representatividade, leg timidade e responsabilidade que infestam amitide as ONGS eministas e, junto com Schild, chama a ateng2o para as maneiras » em que as ONGs parecem 2s vezes agir como organizagies “neo” ou “para” em vez de “nao” governamentais. E Yadice pergunta ~{ndo poderial a efervescéncia das ONGS [ter] dois sentidos: ajudar a sustentar um setor publica evacuado pelo Estado e, 20 mesmo tempo, tomar possivel para o Estado livrar-se do que antes era considerado de sua responsabilidade?” m segundo lugar, varios dos capitulos deste livro nos advertem contra 0 aplauso ingénuo as virtudes da sociedade civil em suas manifestagoes locais, ni , Fegionais ou globais. Slater observa que ‘nao poucas vezes, a sociedade civil foi essencializada em um marco positive, como o terreno do bom e do esclarecido”; seu capitulo, assim como os de Schild, Yédice, Lins Ribeiro e Alvarez, destaca que a socie- dade civil € um terreno minado por relagSes desiguais de poder em que alguns atores podem obter maior acesso a0 poder, bem como acesso diferenciado a recursos materiais, cultura e politicos. Uma vez que a democratizacao das retagdes culturais € sociais — seja a0 nivel micro do lar, do bairro ¢ da associagdo comunitaria, ou ao nivel macro das relagdes entre mulheres e homens, negros e brancos, ricos e pobres— é um objetivo expresso dos movimentos sociais latino-americanos, a sociedade civil deve ser entendida 20 mesmo tempo como © scu “terreno” ¢ um de seus “alvos” privilegiados (ver Cohen, Arato, 1992, esp. Cap. 10). Nesse sentido, ha uma conexto evidente entre a importncia das lutas pela democratizacao no interior da sociedade civil e a politica cultural dos movi- mentos sociais. Em terceiro lugar, varios capitulos examinam como a fronteira entre sociedade civil e Estado fica embacada muitas vezes nas priticas dos movimentos sociais latino-americanos. Schild enfatiza a freqiiente “transmigragao” cas ativistas feministas chilenas das ONGs para o Estado e vice-versa e chama ainda atengio para o fato de que 0 proprio Estado estrutura relacdes no interior da sociedade civil, afirmando que “essa estruturacio conta com recursos culturais importantes da propria sociedade civil". E Slater sustenta que hd conexdes entre o Estado © a sociedade civil que tornam ilus6ria a idéia de um confronto ‘ou mesmo de uma delimitagao entre os dois como entidades, completamente autnomas (Slater, neste volume), © capitulo de Rubin iustra o modo como as préticas hibridas dos movimentos sociais também cesafiam amitide as represen- tagdes dicot6micas de vida publica e vida doméstica ou privada, rr Rubin argumenta que as politicas culturais da COCEI cram freqiientemente postas em pratica nas “zonas intermedisrias de contoros que eram pouco claros’. No mesmo sentido, Diaz-Batriga (1998) sustenta que as colonas que participam dos movimentos urbanos da Cidade do México atuam de modo semelhante dentro de *fronteiras culturais". Afirma ainda que ‘clas “contestavam e 20 mesmo tempo reforcavam os significados politicos e culturais da subordinacio das mulheres, bem como habitavam um espaco social envoto em ambigiiidade, ironia e conflito” (OS MOVIMENTOS SOCIAIS EA TRANS/FORMAGAO DO PUBLICO Varias concepgdes do piblico — tais como esferas piblicas, espacos publicos e contraptblicos subaltemos — foram ecentemente propostas como aberdagens titeis para explorar ‘0 nexo entre cultura ¢ politica nos movimentos sociais contem- porineos (Habermas, 1987 e 1988; Fraser, 1989 ¢ 1993; Cohen, Arato, 1992; Robbins, 1993; Costa, 1994) e sto retrabalhiadas expostas de varias maneiras nos cepitulos que seguem. George Yidice afirma que os estudiosos das Américas precisam “enfrentar 0 desafio de (re)construir a sociedade Civil e, em particular, as esferas pcblicas em disputa nas quais as priticas culturais sio canalizadas ¢ avaliadas” (1994: 2) Jean Franco (citada em Yéidice, 1994) sugere ainda que devemos ‘examinar “espacos piblicos” em vez das esferas pablicas defi- nidas convencionalmente, a fim de identificar zonas de ago que apresentem possibilidades de participaco dos grupos subordinados que usam e se movem nesses espacos. f na re/ apropriagao de espagos piiblicos tais como centros comerciais, um dos exemplos de Franco, que se tora possivel aos grupos ‘marginais satisfazer necessidades nio previstas nos usos conven cionais de tais espagos (Viidice, 1994: 6-7). A anilise que Rubin faz dos quintais familiares € mercados locais como locais, importantes para a produgao de significados sobre cultura, politica e participaco; 0 uso pelos ativstas negros colombianos de ambientes fluvias eflorestais; € 0s usos criativos dos zapatistas do ciberespago sfo ilustrativos da re/construgio € apro- priagao desses espacos piblicos pelos movimentos sociais. a Para apreender © impacto politico-cultural dos movimentos sociais e avaliar suas contribuigdes para minar 0 autoritarismo social ¢ a democratizagio elitista, no € suficiente examinar as interagdes deles com ambientes pablicos oficiais (tais como parlamentos ¢ outras arenas politicas nacionais e transnacionais). ‘Devemos ampliar nosso olhar para abranger também outros ‘espacos piiblicos — construidos ou apropriados pelos movi- mentos sociais — nos quais politicas culturais sdo postas em pritica e se modelam as identidades, demandas e necessidades subalternas. Nancy Fraser argumenta persuasivamente que a anilise de Habermas da esfera pablica liberal traz tema premissa normativa subjacente, a saber, que 0 confina- ‘mento institucional da vida pdblica a uma esfera publica daica totalmente abrangente é um situagio positiva e desejivel, 20 ppasso que a proliferacio de uma multiplicidade de publicos ‘representa um afastamento da democracia, em vez de um avanco fem sua diregio, (1993: 13) Egsa critica é particularmente relevante no caso da América Latina, onde, mesmo em contextos politicos formalmente demo- raticos, as informagées, 0 acesso € a influéncia sobre as esferas governamentais em que se tomam as decisdes politicas que afetam toda a sociedade so restritos a uma fragio muito pequena € privilegiada da populacao € negados as classes © 4208 grupos subalternos. Uma vez que os subalternos tem sido historicamente relegados ao estatuto de nao-cidadios na América Latina — sustentam varios de nossos autores — a multiplicagto das arenas piiblicas, nas quais a exclusto sécio-cultural, de género, racial € econdmica, € no apenas politica, pode ser contestada e re-significada, deve ser vista também como parte integrante da expansi da democracia aprofundamento A proliferagio de “piblicos” alternatives dos mo’ sociais rentos — configurados, sugerem virios de nossos colabora- dores, a panir de redes ou teias politico-comunicativas intra & intermovimentos — é, portanto, positiva para a democracia, }O somente porque serve para "por em xeque o poder do Estado”, ou porque “d4 expressao" a “interesses populares” estruturalmente pré-ordenados, como diriam Diamond e Linz 2 ' j 2989: 35), mas também porque € nesses espacos piblicos alternativos que esses mesmos intcresses poclem ser continua- mente re/construidos. Fraser conceitua esses espagos alterna- tives cono ‘contrapiblicos subalternos”, a fim de assinalar gue eles sto “arenas discursivas paralelas onde membros dos [grupos sociais subordinados inventam e circulam contradis- ‘eurs0s, de modo a formular interpretacdes oposicionais de Suas identidades, seus interesses e necessidades’ (Fraser, 1995: 14) A contribuigio dos movimentos sociais para a demo- cracia latino-americana pode entlo ser encontrada também na proliferasao de miltiplas esferas piblicas ¢ ato apenas em ‘Seu sucesso no processamento de demandas no interior dos publicos oficiats. Como sustenta Baicrle, para além da luta pela realizagio de interesses, esses espagos tornam possivel o processamento de confltos em torno da construcio de identidades ea definigaio dle espagos nos quais esses confitos podem se expressar. Assim dlefinda, "a poltica incorpora, em seu momento supremo, a construct social do interesse, que jamais é dado a prion”. Para Paoli e Telles, as lutas socials dos anos 60 deixaram um legado mportarte acs anos 90; elas criaram espagos piiblicos plurais, informais e descontinuos, onde pode ocorrer o reconhecimento dos outros como portadores de direitos. Paoli e Telles afirmam que os movimentos populares ¢ operitios ajudaram fgualmente 2 constiuie arenas piiblicas nas quais os conflitos ganham vist bilidade, os sujetos coletivas se constituem como interlocutores vilidos 2 08 direitos estruturam uma linguagem piblica que delimita os critérios pelos quais as demandas coletivas por justica e igualdade podem ser problematizadas ¢ avaliadas. Tal como Baierle e Dagnino, elas sustentam ainda que essas novas esferas pablicas de representacio, negociagio ¢ intetlocu represeatam um “campo democritico em construgao” que assinala pelo menos a possibilidade de repensar e expandir os parimetros da democracia brasileira realmente existente. Como observamos acina, os piblicos com base em movi- mentos ou inspirados por eles estio marcados por relagdes de poder desiguais, Com efeito, em vez de retratar 0s movimentos sociais como “intrinsecamente virtuosos do ponto de vista politico’, camo escrevem Paoli ¢ Telles, virios de nossos capi- tulos exploram questbes cruciais relacionadas com a represen- taglo, a responsabilidade e a democracia intenna no interior 3 desses puiblicos alternatives construidos ow inspirados pelos movimentos sociais. Ainda assim, sustentamos que, embora contraditéria, a presenca piblica continuada mediante a proli- feragao de telas de movimentos sociais e de pablicos alternativos tem sido um desenvolvimento positivo para a democracia exis tente na América Latina. Nesse sentido, concordamos com a avaliagao de Fraser de que: (Os contrapablicos subalternos nem sempre so necessariamente virtuosos; alguns deles sao explicitamente antidemocriticos € ant-igualitrios; e mesmo aqueles com intengdes democriticas ¢ igualitérias nem sempre conseguem superar a pritica de seus préprios modos de exclusto € marginalizacio informal. Ainda assim, na medida em que surgem em reagio 2 exclusio no Interior de pablicos dominantes, esses contrapablicos ajudam 4 expandir o espaco discursivo. Em principio, os pressupastas ‘que eram antes isentos de contestacio serio agora publicamente ‘questionados, Em geral, a proliferagao de contrapUblicos subal- temos significa uma amplia¢io da contestacio discursiva, uma boa coisa em sociedades estraificadas, (1993: 15) Embora o papel supostamente democratizador dos pablicos se tome mais problemitico por quest6es de representatividade responsividade, exploradas em varios de nossos capitulos, a crescente imbricagao de piblicos alternativos e oficiais pode, todavia, ampliar a contestacio politica e de politicas no interior das instituigoes da sociedade politica e do Estado. Com efeito, como a pesquisa de Dagnino sobre os militantes de Campinas demonstra, os pasticipantes de movimentos sociais dificilmente “dao as costas” a partidos € instituigdes governamentais. Ao seu estudo revela que, enquanto a grande maioria dos cidadios brasileiros desconfia dos politicos e considera cs partidos mecanismos de defesa de interesses particulares, mais de setenta por cento dos que militam em movimentos sociais pertencem ou se identificam fortemente com um partido Ps arenas cruciais para promover a mudanga social Ainda assim, nossos capitulos sugerem que os militantes negros colombianos, as feministas na ONU, os lideres do movimento Pan-Maia e os zapatistas nao estto apenas lutando Por acesso, incorporagio, participaglo ou incluso na “nagio” 0u no “sistema politico” em termos pré-definidos pelas culturas politicas dominantes. Como sublinha Dagnino, 0 que também ico ¢ acreditam que as instituigdes representativas si0 “4 nares esti em jogo para os movimentos sociais de hoje é o direit de partcipar na propria definicao do sistema politico, 0 direito de definir aquilo no qual querem ser incluidos. GLOBALIZAGAO, NEOLIBERALISMO E A POLITICA CULTURAL DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ‘Ao encerrar, é necessirio levar em considerasao os miiltiplos modos pelos quais a globalizacio e 0 projeto econémico neoli- beral em voga em toda a América Latina afetaram a politica cultural dos movimentos sociais em anos recentes. Por um lado, a globalizagao e seu conceito correlato, o transnaciona- lismo (ver 0 capitulo de Lins Ribeiro sobre essa distingto), parecem ter aberto novas possibilidades para os movimentos Sociais — por exemplo, facilitando os esforcos para promover uma politica de democratizagio nao-territorial de questées sglobais, como sustenta Slater. Lins Ribeiro acha que as novas tecrologias de comunicagao, como a Internet, comaram possivel formas novas de ‘ativismo politico a distancia”, E YUdice observa que embora 4 maioria das visdes da esquerda sobre a globalizacio seja pessimista, a volta 2 saciedade civil no contexto de politicas neoliberais € os usos das novas tecnologias sobre as quals se baseia a globalizacao abriram formas novas de uta progressista ‘nas quais o cultural € uma arena crucial de tut Na Colémbia, as lutas étnicas encontram também na globa- lizago do meio ambiente — em particular, a importancia da conservacao da biodiversidade — uma conjuntura potencial- mente favorivel. Por outro lado, varios colaboradores sugerem que a globali- zaco € 0 neoliberalismo nio sé intensificaram a desigualdade ‘econémica — de tal forma que um nimero cada vez maior de americanos de ambos os lados do Equador vive em pobreza absoluta, com as do sul privados até da rede de seguranca minima e sempre precéria proporcionadas pelos Estados de mal-estar social do passado —, como redefiniram de modo significativo o terreno politico-cultural no qual os movimentos sociais devem empreender atualmente suas lutas. Com efeito, as politicas neoliberais esmagadoras que varreram o continente em anos recentes parecem, em alguns casos, ter enfraquecido os movimentos populares e abalado as linguagens exisientes de protesto, colocando os movimentos a merce de outros agentes articuladores, de partidos conservadores € narcotrafico a igrejas fundamentalists e consumismo transnacional. A foléncia assumiu novas dimensées como modeladora do social e do cultural em muitas regides; classes emergentes ligadas a negécios ilicitos ¢ empresas impulsionadas pelo mercado transnacional ganharam ascendéncia social € politica; €ecertas formas de racismo e sexismo se acentuaram em conexio ‘com a mudanga na divisto do trabalho que pde o peso do ajuste estrutural sobre as mulheres, os no-brancos ¢ os pobres. Esti ficando cada vez mais claro que uma dimensao politico- cultural importante do neoliberalismo econémico é 0 que se poderia chamar de “ajuste social", ou seja, 0 surgimento em muitos paises de programas sociais voltados para aqueles grupos mais claramente excluidos ou vitimizados pelas politicas de ajuste estrutural. Seja 0 FOSIS (Fondo de Solidariedad Inversi6n Social) no Chile, a Comunidade Solidaria no Brasil, a Red de Solidariedad na Colémbia, ou o PRONASOL (Programa Nacional de Solidariedad) no México, esses programas consti- tuem — sob a curiosa rubrica de “solidariedade” — estratégias de ajuste social que devem acompanhar necessariamente 0 ajuste cconémico (ver Cornelius, Craig, Fox, 1994; Graham, 1994; Rielly, 1994). Podemos, de fato, falar propriamente aqui de “aparatos e priticas cle ajuste social” (APAS). Com graus diferentes de alcance, sofisticagio, apoio estatal, ou mesmo cinismo, os varios APAS nfo s6 tornam manifesta mais uma vez a propensio das classes dominantes da América Latina para experimentar e improvisar com as classes populares — como sugerimos acima em nossa discussdo sobre a cultura politica dominante do século XX —, como evidenciam seu propésito de transformar a base social ¢ cultural da mobi- lizagao. Isso talvez fique mais claro no caso do Chile, onde © proceso de refundacio do Estado e da sociedade em termos neoliberais esti mais avangado; com efeito, 0 FOSIS chileno tem sido saudado como um modelo para outros paises latino-americanos (ver Schild neste volume). Como observamos no inicio deste capitulo, o neoliberalismo € um concorrente paderoso e ubiquo na disputa contemporinea “6 ; { | 1 pelo sipniiesdo de cidadaniae pelo projto de democracia Pane com o FOSIS funclonam ciando nova categoras ero aie trie os pobres« introduzindo novos discursos te utiles e atomlzadores, tis como o do “desenval- Fae cecal ca teapichaclo para oauto-desenvolimento" Ty auto ajcae, da “cidadanin aiva" c similares. Esses discuss ree Tals do_qus o auto-gerenciamento da pobrezt. De {ima maneira aparentemente foucaultiana (ver 0 tratamento Boe vide, Sater Seila dao ao conceito de “governaments- Ge jer ale Foucault), eles parecer introduzicnovas formas de auto-subjetivagao, formagio de ee disciplina. Ge patcpantes Gests programas acabam se vendo nos termos fpdlvidualizadores € economicistas do mercado. Os APAS vee acsin Gespolitzar a base para 2 moblizacto. Esse erie & fclliado as votes por ONGs profissionalizadas que sre ites casos atuam como mediadoras entre o Estado © 08 movimentos populares vorém, devemos ser cauteloses, quando confrontados por esses deyenvolvimentos, para evitar 0 catastofismo, Part ce esc assegura que o modelo chileno seré exportado cee ees para ouos pales — ou continuart a ter éxito corte eto na garantas de que o efeito da desmobil- ogo avd permanente. Com certeza, formas de resistencia wane aS eerdo enda vor mals clara. Schild sustenta que no aes amos prover "que forma a kdentidade do cidadao 'mercadi- ress de Hoje poderdassumir, ou em que contextos esa iden- ane peda por diferentes grupos socials, mas mesmo ies slate que vos termos em que a cidadania pode ser rata eontestada e disputada esto predeterminados” pela Sfensiva culturaeconémiea do neolieralisimo. Em contrast, Peoll elles sublinham que © neoliberalismo nto é um projeto coerente, homogeneo ou totalizador, que a Logica rretominante do ajuste esuutural est longe de ser inevitdve; pisve & preisamente nos interstices gerados por essas contra: Giddes que os movimentos sociais articulam As vezes suas polteas Contudo, permanece ofato de que o neolberalsmo ear globalizagao tansformam sigafcaivamente as condigoes Sob'as quais a agio eoletiva pode acontecer. tem que medida as reformulagbes neoliberas da ckdadania ¢ di democracia, bem como a agora dominante concepcao feats das polis socias encarnada nos novos APAS, prodzem reconversdes culturais importantes? Em que medida os grupos Populares € outros movimentos sociais serio capazes de negociar ou utilizar parclalmente os novos espacos sociais € politicos abertos pelos APAS ou pela celebragio professada pelo neoliberalismo da “sociedade civil? Por fim, devemos levantar uma questao relativa & possibili- dade de que as novas condigdes ditadas pela globalizagio neoliberal possam transformar o proprio significado de “movi- mento social". O que conta como movimento social esti sendo reconfigurado? Os movimentos sociais esto refluindo no contexto aparentemente desmobilizador das politicas de ajuste estrutural € dos APAS? Nao deveriamos olhar criticamente para a participagio de muitas organizagdes ¢ ONGs, antes Progressistas, nos aparatos de ajuste social? Alguns de nossos capitulos propdem respostas preliminares a essas questOes prementes Com efeito, € tarefa especialmente urgente investigar as relagdes entre as versdes neoliberais de cidadania, ajuste social e a politica cultural dos movimentos sociais. Sem dtvida, © que esti em jogo € muito importante e para nés — intelectuais, estudiosos ¢ miltantes intelectuais —, se imbrica com nossa percepeio do mundo ¢ do estado atual de nossas tradicoes de conhecimento. Nesta antologia, o que tentamos desenvolver € uma indagacio coletiva que possa nos permitis avaliar simulta- neamente ambos: referénciais teéricos e as questdes politicas que estio em jogo. (Tradugio de Pedro Maia Soares, revista pelos autores) NOTAS | Uma excegio recente € importante € Darnavsky, Epstein e Flacks, 1995 Essa antologia se concentra nos movimentos sociais contemporinecs nos Eatadoa Unidos © abigs prineipalmente debates elativos 2 “policas de Ken tidade” e demecracia radical. Mas enquanto alguns pedem 0 abendono de “cultura, a maior dos antro- _pOlogoscritcos ainda acredita que tanto o trabalho de campo como 0 estado de culturascootinuam a ser importantes e,talver, priticas analitieas, metodo, Jogicas¢ polticas exempiares para examinar 0 mundo no presente, mesmo ‘Que trbalho de campo e cultura — em seus modo reflex'vos, pés-estrute. ‘alistas — sejam entendidos agora de maneira significativamente diferente {de até apenas uma década atris. Na medida em que a cultura continua ser lum espapo para oexercicio do pader e dada forga persistence das dferengas 4 teorizagao dai culturs ¢ o trabalho de fos intelectuais poliicos vignrosos. snio assaciados & cultura e 30 discursive to da eallade poser sempre teil tera {a sempre cambiante semiose que Ihe d4 sentido forego matetial real Parapet nhieelda dos [ildsofcs € antropdlogos Fae ae ee Eisteayoesdasde o ompimenta da dso ba Ips vats dacs docu SIE eihdoe weoyporando no-cscursivo naulcoes sco. Pana Snes stricas essain por lant). Lau e Moule 1985 Tentaram radicelizar o insight foucaultiano dissolvendo a distinga0 afirmanco SE alorea fundamentalmente dacuiva da realdade soc ar ls, 080 ined ge ao oe mecca por ero eno deco ae Motaeaonadon mtraae Asim serene ee o ate Ze ductive so poe cer f, 4 tamto, com propéstes deans. {Xtal poe eden nto evdentement uma entdade monolics, dhs quer sc een 2 demtch de ete ou paripata, bers ou “atullcvome, eoczpyocs neocooeradons Ou de Benrenar socal, seo Stet etecepcsesdeputadas dente dos lms extbeledoe pa culia pollica nasa do Oeident moderna (Chen, 630, 992, Jipor ies que nto concordames com + opnito amplamente funda que tesingc¢ scans dos novinents sce a aprenden do inagidsin Scmocsico do Ocidene, Rejear a dar de sujet unio © expago pullico rico, como Moule C93) quer que fagamos a0 ends o ant esten- Eitlsmo pode exp Jogar fora mals ragos da mogeridade do que ela © tlw dss ebcospotics coups errno Pace eat erp pers conederDu mens fon, a smo tengo ea que Sancor amos com ofato de que os movimentos socials so um ‘wago exvencil de tim sociolae cl vale madera” dscrdamos da slmapio de que eles to deve ser vstos como ‘pefigursndo una forma de paripayto dos Glutce gic id cu deve sin ox sno tesco da Cece seprescnsva (Cohen Arto, 1998 19) Na Amin Latin ques cae ‘im pores hibit coma ferenclaao prec entre ao, economia Soe con cones pola ame cpa © papel que ie fol conflado, x nomads ea esraturpio qu ose icos elatpect cooncenctcuss ites risinar as seo joins ‘amelhordashipcise: chasis malsinrestte, porno a hipstess Gh existe do Sbes subaternos a pollc, prices esl dominant Caicos por eferenespritcseleloms de protest (Cu, 982. “rar una io ext erat extent sore as elas os mov tentos com os paridor co Estado na Amesea Latins, ve Powers, 195. "ava anes an hia deca 0 lars ‘iudioss a explomr co meno impos aces instinconal esta ecu turs-simbalco dos movimentos secs. Os tebrcos da EM cconecem cada Yezmals cue os procston cals tas como os marcos ea colts” de Taro i992, sncenves de dendade” de Fecnane Medan 992), “poltzagin das spreestagdes sinbOlcas ds vida calina” C1990) © & “Tansformag do tigalcadoshegeméncose lealdades de gro" luli, 1982: 10) ~ esto intimamenteenieagsdos com o desdobrmente das ® ‘oportunilades poles e das estratégias dos movimentessotais. Carol McClurg, [Mueller resume bem essa nova diego de pesquisa ao detacar como, enquanto ‘ator racional economicista da tear da mobilizago de recursos minimizava © papel das ideas, crencas € configuragoes cultrais, a novo ator da movi- ‘mento soclal consti os significados que designam, desde 0 inicio, os tipas relevantes de queixas, recursos e oportunidades (1992: 21-22). 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