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quaisquer meios ― tangível ou intangível ― sem o devido consentimento. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Esta obra literária é uma ficção. Qualquer nome, lugar, personagens e situações são produtos da
imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Quando criança, o que mais ouvia sair dos lábios de meu pai era que o
amor é uma fraqueza.
Uma emoção inútil, feito para aqueles que não sabem o poder que tem
em mãos, que não sabem como a sujeira do mundo pode contaminar esse
sentimento tão frágil, chegando a disputá-lo e transformá-lo naquilo de mais
cruel. Por isso eu teria que me abdicar de sentir.
Naquela época, enquanto criança e ingênuo, discordei desse
pensamento, sempre achando que aquele vazio que meu pai carregava nos
seus intensos olhos verdes era algo reparável. Mas, eu estava equivocado.
Ele não tinha reparo, nunca poderia ter.
Contudo, meu pai estava certo em uma coisa.
O amor é de fato uma fraqueza.
Eu aprendi essa terrível lição quando tinha apenas oito anos e todo o
meu mundo foi tirado de mim sem aviso prévio.
Certa vez, me disseram que eu não poderia morar dentro da minha
cabeça para sempre, que meus traumas não poderiam me impedir de viver.
Eu acreditei nisso.
Tranquei meu passado a sete chaves dentro de um baú e atirei em
meio a um oceano, deixando bem escondido na parte mais profunda do meu
coração.
E então, me permiti sobreviver.
Fiz disso um motivo para que eu continuasse a sentir as sensações.
Mas, por baixo de tudo isso, por baixo dos sorrisos doces e das palavras
gentis, eu ainda continuava sendo a mesma. Continuava sendo a menina de
onze anos que sentiu na pele o que os monstros fazem, o que eles
conseguem destruir quando têm uma única oportunidade.
Eu aprendi que os verdadeiros monstros não ficam embaixo das
nossas camas, nem escondidos atrás da porta do nosso armário. Às vezes,
eles se sentam à nossa mesa, tomam de nosso vinho e depois nos destroem.
O que porra nós éramos?
Não me diga éramos só amigos
Isso não faz muito sentido
Mas eu não estou machucado, estou tenso
Pois eu vou ficar bem sem você, garota
Friends | Chase Atlantic
Medidas drásticas.
Elas são algo que eu odeio tomar, contudo também são algo que devo
fazer.
E, nesse momento, enquanto estou parado em frente ao enorme prédio
espelhado, localizado na 34th Street, perto do enorme prédio da Brackwell
Enterprise, sei que o que estou prestes a fazer, pode ser o que tanto almejo
ou o que irá foder com o resto de sanidade que ainda carrego comigo.
Por esse motivo, desvio brevemente o olhar da paisagem para o meu
celular que emite um bipe fraco, indicando uma nova mensagem e fazendo
com que eu foque na imagem da minha melhor amiga estampada no visor
do objeto.
— Eu aceito.
São as únicas palavras proferidas por Summer na minha direção
quando abre a porta do seu apartamento vazio, por Josh e Levi decidirem
visitar seus familiares e Hazel e Logan ainda estarem na casa dos
Blackwell.
Abaixo meu olhar, estranhando o porquê dela ainda não estar trajada
para sairmos ou se nem ao menos acreditou em minhas palavras quando
disse que a buscaria.
Ela não concordaria com meu plano tão facilmente. Não depois da
nossa conversa amigável mais cedo, a qual não descobri como sai vivo e
ileso.
— Ok — murmuro numa voz desconfiada. — Isso foi mais fácil do
que eu esperava.
— Não seja presunçoso.
— Não estou sendo — digo a verdade — Mas, se me lembro bem,
quando saí daquele quarto pela manhã, você queria me matar da maneira
mais tortuosa que encontrasse, então, estou curioso pelo motivo pelo qual
topou meu plano.
— Acredito que eu deva exigir que me conte os seus próprios
motivos também — contrapõe erguendo uma sobrancelha. — Já que é o
único responsável por estarmos nessa situação.
Touché.
Solto uma lufada de ar, tentando não proferir algo que a fará desistir
do nosso plano insano.
— Eu vou precisar de comida para te contar todos os detalhes. —
Tomo uma respiração alta e volto a encarar aqueles lindos olhos castanhos.
— Para ser sincero, acho que iremos precisar de álcool. Muito álcool.
Summer fecha os olhos por um segundo e logo após, inclina a
cabeça para o lado, derrotada, deixando a impressão de que desde que nos
conhecemos no Oásis, ela não quis entrar em nossas pequenas brigas.
Trégua. É isso que sua linguagem corporal me indica.
É isso que teremos essa noite.
Deixo meus ombros caírem e indico com o queixo para ela liberar a
minha passagem enquanto refaço todo o plano da noite. Talvez não seja
uma boa ideia levá-la a um restaurante para jantar e acertar tudo. Sum,
parece preferir o conforto de sua cama a ter de sentar-se em um
estabelecimento ao meu lado por algumas horas.
— Eu preciso de alguns minutos para me arrumar e podemos ir —
ela enfim diz algo.
— Não é necessário. — Encaro seu rosto, percebendo minha voz
sair calma, apaziguadora. — Já que você está certa de que quer aceitar, nós
podemos conversar aqui mesmo.
Ela solta um sorriso pequeno sem mostrar os dentes e passa a mão
pelo rosto, preocupada. Summer não se importa com nada além de seus
amigos. Apenas por estar disposta a entrar em um falso relacionamento
comigo, mesmo me odiando, me faz querer ir até Levi e esmurrá-lo, para
que acorde e perceba a situação de merda que ele a colocou desde o ano
novo.
Mas, qual direito eu tenho de fazer isso, se também estou a um passo
de mentir para todos, apenas por que quero ficar o mais longe possível do
meu pai?
— Você está bem?
Summer ergue o rosto, tentando me dar uma de suas lindas caretas e
falha miseravelmente.
— Eu pareço mal?
Um sorriso sarcástico cruza meus lábios.
— Péssima.
— Ótimo. — Dá de ombros. — Não é minha intenção parecer bem
para você.
Quase solto uma gargalhada.
— Cuidado, loirinha — brinco com a pulseira do meu relógio,
proferindo minhas palavras com luxúria. — Ou vou realmente acreditar que
está perdidamente apaixonada por mim.
Ela abre os lábios para retrucar, sem dúvidas, com uma resposta
ácida, porém, ignoro-a e caminho até a ampla cozinha do apartamento,
escorando meus cotovelos no balcão e fito o ambiente. Summer não diz
nada, apenas anda até a banqueta ao meu lado e se senta, perdida em seus
próprios pensamentos.
Observamos em silêncio o ambiente calmo, até meus olhos
repousarem em uma fotografia ao lado da TV plana da sala. Demoro um
pouco para reconhecer, mas, quando tenho a certeza, solto um sorriso
disfarçado. Sum apenas se limita a fixar seu olhar na foto que tiramos na
festa de ano novo, alguns minutos antes de todo o caos acontecer. Era
perceptível o quanto estávamos felizes e tudo parecia estar nos eixos. Por
isso, queríamos aproveitar a noite em família.
Poder nos observar desta forma, faz um sentimento não nomeável
crescer em meu peito. Mesmo aqui pensando em como lidar com assuntos
complexos, tenho a convicção de que dará tudo certo.
Eu e Summer faremos isso funcionar.
— Eu não quero que eles saibam — sussurra ainda encarando a foto.
— Eu também não.
— Por quê?
Sinceridade.
É isso que me pede ocultamente nessa pergunta. É isso que devemos
um ao outro se realmente queremos que isso dê certo, porque durante todo o
nosso acordo estarei à mercê de Summer, assim como ela estará a minha.
— Porque se eu contar a Vee, ela precisará esconder um segredo de
todos e principalmente de Logan — digo, me erguendo e cruzando as mãos
em frente ao corpo, arrastando meu olhar até Summer. — E eu vi em
primeira mão o que os segredos fizeram com ela durante todo esse tempo.
Não posso machucar minha melhor amiga, Summer. Eu nunca vou colocá-
la em uma situação como essa, uma em que precisa escolher um lado.
— Eu entendo — balbucia, deixando seus olhos vagarem por todos
os cantos, menos em mim.
— E por que você não quer que eles saibam? — devolvo a pergunta,
curioso. Ela poderia contar a Hazel ou a Josh, eles guardariam um segredo
por ela.
— Porque a confiança é a base da nossa amizade. É isso que nos
manteve unidos até hoje. Seguramos um ao outro — suas palavras estão
regadas a um sentimento fraterno, o mero pensamento de machucá-los,
fosse o pior ato de sua existência. — Nós somos uma família, Oliver,
mesmo que não compartilhando o mesmo sangue, nós somos. Talvez você
ainda não entenda, porque sei que não se considera parte dela, mas, somos
tudo um para o outro. Quando tudo desaba, quando merdas acontecem, nós
entendemos que nada é maior que isso.
— Sum... — minha voz é quase um murmúrio inaudível.
— Então, Oliver, eu estou traindo a confiança deles pela primeira
vez desde que nos conhecemos, porque eu não quero que eles precisem
escolher um lado entre eu e Levi — ela continua. — Estou fazendo isso,
para eles acharem que estou tão apaixonada por você, que só irão se
preocupar em apenas cuidar do coração machucado do meu melhor amigo.
Encaro Summer por alguns segundos em silêncio. Não respondo.
Não emito nem mesmo uma nota da minha respiração. Eu a entendo. Eu sei
que mesmo não me encaixando totalmente no meio de nossos amigos, por
não deixá-los chegar até mim, eu faria de tudo para protegê-los, sabendo
que fariam o mesmo se um dia eu precisasse.
Certa vez, Verônica me disse que nós somos sua casa, seu porto
seguro. Eu espero um dia poder dizer isso, conseguir passar por todas as
barreiras que criei em volta de mim para me proteger do mundo e deixá-los
fazerem morada em meu peito.
Deixá-los me chamarem de família, algo que desaprendi a ter desde
que tudo aconteceu.
— Certo, então vamos fazer isso acontecer. — Maneio a cabeça
ainda sem acreditar que realmente estamos prestes a nos tornar um casal.
Um casal de mentira. — E como exatamente fazemos isso?
— Você nunca namorou, Oliver? — Summer enfim me encara,
perguntando com um tom debochado, abandonando toda a melancolia de
segundos atrás.
Ela sorri, um sorriso doce e ao mesmo tempo perigoso, daqueles que
poderiam fazer homens destruir a porra do mundo apenas para vê-lo. Nesse
momento, enquanto observo a mulher à minha frente, tenho a plena certeza
de que para conseguir a minha liberdade, eu terei que enfrentar um inferno
ao seu lado.
E nem mesmo me importo, porque a acompanharei nesse martírio de
bom grado.
— Eu não sou uma pessoa que curte monogamia, loirinha. — Sorrio
travesso, me levantando. — Sou gostoso o suficiente para ser apreciado por
mais de uma mulher.
Summer solta uma gargalhada, enquanto sigo até os armários, tendo
a melhor ideia para nossa noite, já que jantar em algum restaurante está fora
de cogitação.
— Seu ego, às vezes, me assusta — ela diz, enojada. — Talvez
possamos agir como Verônica e Logan? Eles são o casal de ouro da SVU.
Encaro-a por cima do ombro, tentando encontrar algum sinal de
insanidade em seu rosto delicado. Puxo um pano e o coloco em meu ombro.
— Você quer que eu entre em um carro e aposte uma corrida com
você? Ou pior, quer que eu cante em um karaokê? — Ergo uma sobrancelha
em sua direção, descrente.
Deus, Logan. Que padrões foram esses que você criou?
— É óbvio que não — nega, franzindo os lábios, segurando uma
risada. — Até porque você seria um péssimo cantor ou até mesmo um
piloto.
Vejo em Summer uma versão que nunca presenciei. Uma versão
engraçada e gentil. Uma parte de mim desejou que tivéssemos mais
momentos como esse: momentos com um lado engraçado e gentil de
Summer Miller.
— Disse a mulher que prefere ver um filme de super-herói a estar
em uma festa com pessoas da idade dela — debocho, soltando um sorriso
fraco e volto à minha busca.
— Isso deveria ser um elogio ou um insulto? Não consigo
diferenciar as palavras que saem de sua boa.
— Estou apenas constatando fatos.
Summer abre a boca para responder, porém, é impedida pelo meu
movimento na cozinha em busca de tudo o que preciso para colocar meu
plano em ação.
— O que diabos você está fazendo, Oliver? — questiona, confusa.
Volto minha atenção para a loira, erguendo uma sobrancelha.
— O nosso jantar? — respondo, mas a frase saí mais como uma
pergunta. — Aliás, levante sua bunda daí e me ajude a encontrar os
utensílios necessários. Isso aqui é uma bagunça!
Ela solta um pequeno ruído com a garganta seguido de algumas
palavras inaudíveis, porém, se levanta e segue até a geladeira, abaixando-
se.
— E do você precisa, Gordon Ramsay?[4]
— Quem? — pergunto, confuso.
— Céus, assista mais programas de entretenimento, Oliver —
Summer responde quase sorrindo e termina de se abaixar para pegar
algumas coisas, me dando a linda visão de seu traseiro tampado apenas por
um short de moletom. As longas pernas torneadas que poderiam se enroscar
em minha cintura, faz imagens promíscuas invadirem minha mente. — Pare
de encarar minha bunda.
Impossível.
— Eu não estou encarando — minto.
Ela solta um ruído, incrédulo.
— Diga-me logo do que precisa, Oliver — grunhe, ainda sem virar
para me encarar.
Te foder nessa posição.
Arranho minha garganta, expulsando a resposta e dobro o tecido do
meu pulôver até meus cotovelos, pensando em todas as situações
inconvenientes para meu pau não ficar duro e isso se tornar uma situação
constrangedora ou pior, ela desistir de nosso plano porque não sei controlar
a porra dos meus pensamentos inapropriados.
— Tudo o que tiver para conseguirmos fazer algo decente para
comermos — desvio o olhar e pego uma panela para levar ao fogo.
Summer deixa alguns potes sobre o balcão, depois abre alguns
armários e retira uma massa de espaguete, enquanto levo a panela até o
fogão para aquecer a água e cozinharmos o macarrão. Em todo processo,
ela me observa fascinada, como se não acreditasse que eu poderia ser capaz
de realizar tal feito.
— Então… — Gesticula para a panela em que estou preparando o
molho do nosso jantar. — Quem te ensinou a cozinhar?
Sinto a necessidade de encará-la. De observá-la a todo instante, por
isso, viro novamente em sua direção, segurando uma colher de pau.
— Minha casa não era movimentada e eu não tinha muita
companhia quando era criança — digo o básico. — Então, eu passava muito
tempo na cozinha com as empregadas e acabei aprendendo uma coisa ou
outra.
Dou de ombros. Não digo a ela que todas as vezes em que estava
junto delas, era para que meu pai não me achasse e fizesse na minha pele
uma nova pintura escarlate. Tampouco digo o quanto eu amava cozinhar
macarrão porque era a comida preferida de Andrew e sempre que ele
provava, ao observar aqueles olhos brilharem, me sentia completo.
— E você? — questiono, curioso. — Quem te ensinou?
— Como você sabe que eu sei cozinhar? — Summer indaga,
erguendo uma sobrancelha.
— Você pegou tudo o que precisávamos para fazer o macarrão sem
nem questionar, Sum — comunico, sorrindo e focando minha atenção em
nosso jantar.
Ela para por alguns segundos cogitando se deve me contar ou não e
quando acho que não falará, Summer responde de bom grado.
— Minha mãe. — Dá um meio sorriso. — Ela é uma Chef de
cozinha renomada. A melhor do condado. Então cozinhar sempre esteve na
minha vida.
Não respondo de imediato, apenas termino de cozinhar tudo e depois
preparo dois pratos e levo até a bancada, colocando-os um ao lado do outro
ao mesmo tempo que ela pega uma garrafa de vinho tinto e se senta ao meu
lado.
Tenho vontade de perguntar mais. De desvendar cada nuance da vida
dela, porém, me limito a colher o que está pronta para dividir comigo.
— E ainda sim você preferiu psicologia à gastronomia? — brinco,
pegando a garrafa de sua mão e abrindo-a.
Ela solta uma pequena gargalhada e percebo que realmente não
estamos brigando ou nos provocando. Estamos tentando fazer isso
funcionar, deixando toda a nossa aversão de lado e focando em nosso
objetivo. Desejei que essa trégua se estendesse, se findasse entre nós dois.
— Não me culpe por não ter herdado o talento da minha mãe — ela
devolve, divertida.
Encaro Summer de relance soltando um sorriso fraco. Diferente de
todos aqueles que eu já soltei para alguém.
— Nunca poderia te culpar por algo, loirinha.
Permito apreciar a sua companhia sem que o peso do que estamos
forjando recaia sobre nós. Aprecio como seu rosto é uma arte devastadora
embriagando meus olhos, e faz até mesmo que as cores do céu e do mundo
sejam poucas para conseguir acertar a perfeição de seus traços.
— Eu... — ela gagueja. — Deveria esperar uma intoxicação
alimentar?
— Não me ofenda, loirinha — brinco, levando a mão no meu
coração. — Apenas prove.
Ela enrola a massa em seu garfo lentamente, e sem nunca deixar
meus olhos, leva o objeto até seus lábios carnudos, provando a comida.
Summer fecha os olhos por um segundo e solta um gemido. O som desce
direto para um lugar o qual não deveria ser acordado a esse momento. Um
lugar que estou tentando fortemente não fazer com que foda todos os meus
planos.
— Deus, Oliver, isso é muito bom! — exclama e esse som faz com
que pensamentos indecentes, obscenos e muito, muito sujos vagueiem pela
minha mente, me perturbando.
Solto um ruído com a garganta, puxando um guardanapo de tecido e
colocando-o em meu colo e foco, sempre, na minha própria comida.
— Isso não deve ser difícil de fingir, certo? — questiono de repente,
mudando de assunto.
— Como vou saber disso, Oliver? — Seu foco está em seu
macarrão. — Eu nunca fingi um namoro ou tinha a pretensão de fazer algo
semelhante.
— Isso soa desesperador — digo, por fim levando o garfo à boca.
Summer esquece o macarrão e percebo seu rosto emitir uma
expressão de descrença.
— E, não é?
Não, é mais do que isso. É algo o qual nem deveríamos cogitar a
realizar, porque tenho medo de, em algum momento, essa farsa fazer nossa
pequena desavença ser apenas a ponta do iceberg.
— O que você está ganhando com essa farsa, Oliver? — ela
pergunta, quando vê que não respondo a sua provocação anterior.
A verdade.
É o que tenho vontade de dizer. Mas, ela não entenderá. Se eu disser
isso, terei que explicar o porquê voltei a Saint Vincent e o porquê estou
hospedado na mansão que era dos meus pais — que agora é apenas um
lugar vazio, composto por memórias dolorosas e dores enraizadas em
nossas almas.
E não estou pronto para compartilhar isso, talvez nunca esteja.
— Porque preciso de um tempo longe de Nova York e preciso de
uma desculpa convincente para que meu pai me deixe permanecer em Saint
Vincent.
Não é bem uma mentira, mas, também não é a verdade completa.
— Eu não acredito nisso.
— É uma pena, porque estou sendo sincero.
Mentiroso. Mentiroso. Mentiroso.
Uma voz grita dentro de mim. A ignoro com afinco, não posso me
agarrar a isso. Não posso deixá-la ver mais do que estou disposto a mostrar.
— Você já pensou em confrontar o seu pai? Dizer que é adulto e não
irá seguir suas regras de merda?
Minha sobrancelha se ergue.
— Você já pensou em dizer ao Levi que não tem pretensão de gostar
dele ou melhor, já foi sincera consigo mesma, do porquê está fugindo dos
seus próprios sentimentos?
Summer fica em silêncio e me estuda por alguns segundos,
deixando-me estudá-la de volta. Não dizemos nada, apenas ficamos aqui,
sentados, ignorando nossa comida e nos encarando como se a qualquer
momento, fôssemos nos levantar e nos atirar mutuamente da sacada por
derramar nossas merdas um no outro,com o intuito de nos proteger.
— Isso vai ser complicado — ela afirma.
— Por quê?
— Porque nós não gostamos um do outro.
Summer tem um ponto, porque mesmo que estejamos
compartilhando um momento de paz, isso não significa que a nossa aversão
um pelo outro acabou.
— Vamos ficar bem, Summer, só não agirmos de forma estranha na
frente dos nossos amigos.
— Ok — concorda, erguendo uma sobrancelha. — Então o que
exatamente iremos fazer para que acreditem que estamos juntos?
Como diabos eu vou saber disso? Eu nunca precisei apresentar uma
garota para ninguém e os poucos encontros que eu tive não duraram nem
duas semanas para eu criar experiência em namoros.
— Eu não acho que se aparecermos juntos hoje eles vão acreditar. —
Suspiro fundo, deixando que um plano se crie em minha mente. — Talvez...
talvez se tirarmos alguns dias para fingirmos que estamos nos aproximando
e usamos a próxima festa para anunciarmos que estamos... juntos?
A expressão de Summer foi de neutra para preocupada. E eu a
entendo. Afinal, teremos que nos conhecer, saber o que o outro gosta, como
devemos agir e principalmente como vamos lidar com essa atração que
sempre paira entre nós.
— A festa é em duas semanas, Oliver.
Sorrio.
— Bem, então temos duas semanas para aprendermos como
funcionamos juntos.
Com calma, surpreendentemente, ela apenas acena com a cabeça.
Não profere nenhuma palavra ofensiva ou me lança seus olhares
fulminantes. Somente suspira fundo, pega seu garfo e envolve a massa
cremosa nele, levando a boca. O que me dá a certeza de que ela está
totalmente dentro.
— Então... temos um acordo? — pergunta, baixinho.
— Nós temos, loirinha.
Faríamos isso!
Nós. Eu e Summer. Dois polos opostos, duas matérias que não
deveriam se combinar, estamos nesse momento nos tornando um casal.
Um falso casal.
Acontece que as pessoas mentiram
Eles disseram: É só estalar os dedos
Como se fosse fácil assim
Conseguir te superar
SNAP | Rosa Linn
Solto outra gargalhada, desta vez mais sincera do que achei que
poderia um dia por causa dele, sabendo que ele está sorrindo
condescendente do outro lado da tela.
Encaro meu celular por mais alguns segundos, lendo e relendo sua
última mensagem, ainda sem acreditar que Oliver está realmente lendo um
dos livros que compramos ou pior, que está me provocando com uma das
cenas mais clichês que existem nesses livros.
itssummermiller: NUNCA!
PASSADO
A casa está silenciosa e isso não é normal.
Mamãe já deveria estar tocando aquele piano que papai odeia e ele
já deveria estar gritando sobre como esse som é insuportável.
Mas hoje não há som. Não há gritos.
Isso é muito estranho.
Olho de relance para a janela do meu quarto onde meus livros estão
e encaro o tempo nublado. É como se até mesmo ele sentisse que algo não
está certo, como se fosse um presságio para algo ruim prestes a acontecer.
Como na noite passada, quando escutei gritos vindo da sala de piano onde
mamãe sempre fica e, logo após, pude observar alguns funcionários
passarem por mim com os olhos tristes e as feições regadas a pena.
Um olhar que, sem dúvidas, faria papai os demitir, já que ele deixa
claro para todos que ninguém pode olhar para um Wright com esse
semblante, porque nós somos fortes e indestrutíveis. Essa definição é uma
que mamãe sempre faz questão de negar. Todas essas vezes, ela olha nos
meus olhos e escancara sua aversão a essa vida, a pessoas que são sujas e
covardes.
Eu não sou isso, certo? Eu não posso ser covarde. Eu até enfrentei
Mike Burhan na escola esses dias quando ele disse que eu era um pacote de
merda, só porque não queria fazer dupla com ele. E mamãe sabe que não
sou sujo, nunca poderia ser, não quando minhas babás me obrigam a tomar
tantos banhos por dia, quando fujo para brincar com Vee no lago próximo a
nossa casa.
Passo as mãos pelos meus cabelos que insistem em cair pelos meus
olhos e jogo minhas pequenas pernas para fora da minha cama, calçando
minhas pantufas e sigo para o banheiro. Não demoro muito porque sei que
Alicia, minha babá, deve chegar em pouco tempo para me arrumar para o
colégio e eu odeio quando ela quer me ajudar. Isso mostra ao meu pai que
não sou capaz de ser independente e não preciso dele me encarando com
aquela expressão nervosa de novo.
Então, por isso, visto meu uniforme e me sento na janela,
observando o enorme jardim localizado na parte perto da piscina, esperando
Alícia vir me buscar para o café da manhã.
Passo meus olhos para a extensão do lugar e percebo que não há
nada ali, a não ser o cachorro de mamãe e alguns funcionários que correm
de um lado para outro, antes que papai chegue.
— Ollie? — a voz suave de mamãe que invade meu quarto. — Por
que está sentado sozinho aí?
— Oi, mamãe! — Sorrio, mesmo sabendo que ela não devolverá o
gesto. — Estou esperando Alícia, ela não vem?
Olho para ela a espera por sua resposta. Mamãe é linda. Seus
cabelos loiros caem pelos seus ombros finos, tampados pelo tecido amarelo
de seu vestido longo. Os olhos acinzentados estão frios, distantes e mesmo
assim possuem uma beleza que pertence apenas a ela. Mas, dessa vez, não é
para seus olhos que minha atenção vai e sim para sua maquiagem que
escondem os hematomas.
Sempre me perguntei como seria se ela pudesse, ao menos, uma vez,
poder andar sem seus produtos. Sem se esconder atrás de seus machucados.
Mamãe merece que as pessoas vejam o quão forte e invencível ela é.
Abigail Victória Wright é a mulher mais linda que eu já vi em todo o
universo.
— Sim, Oliver, ela vem — diz, calma, e junta as mãos em frente ao
corpo, destacando a aliança fina de ouro em seu dedo. — Ela só está
ocupada com o seu irmão.
— Oh, ela precisa de ajuda? — Pulo da beirada da janela onde estou
sentado e caminho até ela. — Andi sabe irritá-la quando quer.
— Não se preocupe com Andrew, Ollie, ela sabe lidar com ele… —
sussurra se abaixando. Pela primeira vez em muito tempo, ela levanta a mão
e mexe no meu cabelo. Seus olhos são tão vazios, tristes. Não há brilho
algum ali. Seu lábio inferior tem uma marca de corte que mesmo com
inúmeras camadas de maquiagem, ainda é perceptível. — Você é tão doce,
meu pequeno super-herói, tão altruísta.
— O que é altruísta, mamãe?
— É alguém que coloca as necessidades dos outros na frente das
suas, meu amor, e isso é lindo. — Ela sorri com lágrimas nos olhos. — Tão
lindo que eu tenho medo de que o nosso mundo tire isso de você.
— Mas você não vai deixar que isso aconteça, certo?
— Você precisa aprender a lutar sozinho, meu pequeno super-
herói… — Uma lágrima desce pelo seu rosto e, mesmo com medo, de que
ela me xingue por estragar sua maquiagem, ergo a mão e a enxugo. Mamãe
inclina a cabeça, aproveitando o carinho que faço em sua pele macia e solto
um sorriso feliz por ela não me afastar. — Você precisa aprender a ser forte
por você e por Andi, ok? Você pode me prometer que fará isso por mim,
Ollie?
Balanço a cabeça, concordando, mesmo sem saber exatamente o
significado de suas palavras. Mas, algo em seu rosto, talvez seja como seus
olhos brilham com as lágrimas a brigarem para derramar primeiro ou o
machucado em seus lábios, que ela faz de tudo para esconder de nós, me diz
que esta conversa não é algo banal ou uma conversa de bom dia, é algo a
mais. Algo que eu não compreendo.
Da mesma forma como fazemos todas as noites quando a encontro
no seu quarto, sentada em frente ao seu piano, eu sorrio e balanço a cabeça
em concordância.
— Eu posso fazer isso, mamãe. — Abro um sorriso escancarado,
sabendo sobre a falta de um dente. — Eu posso fazer qualquer coisa por
você.
Porque minha mãe é a minha pessoa preferida do mundo. É ela
quem amo, quem sempre está ao meu lado, quem eu faria qualquer coisa.
Se é isso preciso fazer para ela poder sorrir para mim como nas noites que
passamos juntos em seu piano, eu farei com prazer.
— Quero que seja feliz, Ollie, quero que ame e se decepcione — ela
continua. — Quero que mostre ao mundo quem você é. Quero que se
aventure, faça amigos e o principal, meu pequeno super-herói, eu quero que
nunca deixe seu pai o destruir.
— Ele não pode fazer isso…
Mamãe balança a cabeça, mordendo o lábio inferior, com pressa
para poder esperar pela minha resposta. Mas tudo bem, eu sei que ele nunca
fará nada contra mim, mesmo sendo frio e poderoso. Acredito que não fará,
nós somos seus filhos e ele nos ama.
— Quando a saudade for maior que tudo, Ollie, quando você achar
que o mundo desabará em cima de sua cabeça e não suportará a dor, quero
que lembre-se do nosso lugar favorito. Lembre-se de todas as noites que
compartilhamos no piano, de todas as vezes que eu tentei protegê-lo e de
todas as vezes que você foi a pessoa que eu mais amei em toda a minha
existência, meu pequeno super-herói — murmura e percebo que seu queixo
treme, como se segurasse para não partir bem aqui, na minha frente. —
Você e Andi são a minha vida, são tudo o que eu tenho de mais precioso,
mas, às vezes é necessário fugir de tudo aquilo que pode te quebrar.
Minha mãe se inclina e beija o topo da minha cabeça e, quando
volta a se levantar, me encara por mais alguns segundos para se virar,
caminhando até o final do corredor onde fica seu quarto.
No instante que Alícia chega para me arrumar, não vejo mais minha
mãe. Nem quando desço para o café da manhã ou quando volto do colégio.
Então, eu a esperei, dia após dia.
Esperei em nosso piano, esperei em todas as manhãs após aquela
pequena conversa que tivemos e esperei em seu quarto, que possuía seu
cheiro floral.
Eu esperei.
E continuei esperando.
Mas mamãe nunca voltou.
PASSADO
Eu não vi Oliver durante todo o dia. A não ser pelo nosso rápido
café da manhã, quando praticamente me engoliu com os olhos e mal
conversou com qualquer pessoa da mesa. É como se todo o mal humor do
universo tivesse se personificado no loiro.
Além disso, de ter que observá-lo daquela maneira, também havia o
fato de que não conseguimos nem ao menos conversar sobre a noite
passada, ou chegarmos a um acordo que tudo não se passou de um maldito
erro que não podemos cometer outra vez.
Todavia, isso claramente não aconteceu. No momento em que ele
terminou seu desjejum, Brandon o interceptou e o obrigou a acompanhá-lo
até a empresa da família, a fim de participar de vários compromissos.
— Você está me evitando — a voz de Oliver soa atrás de mim,
fazendo eu ter um sobressalto e o encare sobre meu ombro. — E está
fazendo isso desde a madrugada.
Estamos em seu quarto e nem ao menos sabia que havia chegado.
Para ser sincera, achei que iríamos nos encontrar apenas no baile, já que
está quase na hora de sairmos. Suspiro fundo, me virando e apoiando as
mãos em minha cintura, o encarando com o cenho franzido.
— Não, não estou.
— Você está — afirma, convicto. — Depois que Amber me ligou
para dizer que Andi estava chegando mais cedo em casa, você
simplesmente evaporou. E quando acordei você havia saído. — Um sorriso
falso nasce em seu rosto. — Então, sim, loirinha, você está me evitando.
Dou de ombros, ignorando-o e caminhando até o enorme closet, a
fim de realmente começar a me arrumar. Porém, não me surpreendo quando
sinto Oliver vindo atrás de mim, abrindo um maldito relógio em seu pulso e
me encarando com os olhos envoltos a labaredas de fogo.
— Eu estava cansada. Apenas fui dormir — minto, por fim. — E,
nós nos vimos no café da manhã, Oliver. Pare de ser dramático.
— Mentirosa — joga a palavra fazendo com que eu o encare.
— Não estou entendendo o seu ponto aqui. Muito menos o motivo
pelo qual voltou tão estressadinho da empresa de seu pai. Porém, não me
importo, porque precisamos nos preparar para o baile e você está nos
atrasando — gotejo as palavras nervosamente. — Então, por favor, me
poupe de seu surto involuntário e vá se arrumar.
Ele solta uma maldita risada que me faz meu rosto transformar-se
em um semblante irritado.
Oliver havia me deixado com Andrew durante o dia todo. Não que
eu me importasse de ficar com Andi, ele é uma boa companhia. Nós até
mesmo conseguimos descobrir que temos vários livros em comum, como a
distopia de Maze Runner[21] e Jogos Vorazes[22].
Porém, mesmo que houvesse Andi para me fazer companhia, uma
sensação incômoda se apossou de mim. Afinal, esse não é meu habitat
natural, não é a minha casa e a cada vez que eu andava pelos corredores, me
sentia como se eu fosse uma intrusa em terras inimigas. Então, Oliver que
me desculpe, mas a única pessoa que poderia estar totalmente irritada nesse
âmbito, sou eu.
Não, fodidamente ele.
— Nós somos os malditos donos do baile, Miller. Podemos chegar
quando desejarmos! — exclama, indo até onde está seu smoking. — Então,
se quisermos chegar no final dele, nós chegaremos.
Ergo uma sobrancelha, cruzando os braços frente ao corpo.
— Me desculpe, mas pontualidade é algo que prezo, Wright.
Oliver solta uma gargalhada fria.
— É sério? Não é o que está demonstrando ultimamente! — ele
debocha, olhando-me por cima do seu ombro.
Solto uma lufada de ar.
— Por que caralhos você está tão nervoso? — praticamente rosno.
— E não venha me dizer que é porque estou te evitando. Nós dois sabemos
que será uma maldita mentira. Se algo está acontecendo, esse é o momento
para me dizer, Oliver. Antes que eu me irrite ainda mais, abandone essa
farsa e volte para casa.
Ele sorri um sorriso perigoso, frio. Caminha até onde estou, parando
a poucos centímetros longe de mim e me encara ferozmente. Posso dizer
que suas pupilas me entregam tudo o que guarda para si e mesmo que eu
tente lutar contra, seus olhos travam uma batalha contra os meus.
— Você quer a maldita verdade, Summer? — o tom sarcástico de
Oliver, me faz perder os nervos. — Quer saber o que ficou na minha mente
o dia todo? O que está rondando a minha cabeça nesse exato momento?
Me aproximo dele, sustentando o olhar que ele me direciona.
— Não há nada no mundo que eu deseje mais do que isso, Wright!
— sibilo. — Então, por favor, esclareça-me o porquê está agindo assim.
Ele me fuzila com o olhar.
Há uma guerra dentro dele.
Há tudo o que não estou pronta para saber, porém quero.
Quero saber o que o está afligindo, quero saber se aquele momento,
se a nossa pequena aproximação desde que pousamos em Nova York está
mexendo com sua cabeça como está com a minha.
— Porque eu estou ficando maluco, Summer — ele devolve, rouco,
passando as mãos pelo cabelo e fechando os olhos por um segundo. —
Estou ficando completamente maluco.
Capturo o vislumbre de suas íris verdes, engolindo em seco na
medida que me perco nelas. Desejo que a próxima pergunta não saia dos
meus lábios, desejo que o mundo se exploda e que o tempo pare, porque sei
que isso que está acontecendo é, nada menos, que o começo da nossa
queda, o paradoxo de tudo o que acreditamos.
— Maluco pelo quê?
— Por você.
Não sei como agir, talvez até mesmo como respirar.
Apenas sei que a tensão dentro desse closet se intensifica. Sei que
mesmo se o mundo se partisse em um milhão de coisas como desejei há
segundos atrás, não seria suficiente para quebrar essa conexão similar a
todas as estrelas do universo, alinhadas a uma sentença com o brilho de cem
mil sóis.
Nada seria suficiente, porque a intensidade arrebatadora das pupilas
de Oliver se mistura com a compreensão do castanho das minhas,
mostrando o quanto estamos prestes a transbordar, prestes a derrubar a
muralha que moldamos após a noite na fraternidade.
É o começo do nosso fim.
A farsa se emaranhando a realidade.
A guerra pedindo passagem para a paz.
O desejo sucumbindo a todos os outros sentimentos que
escondemos.
— Bem, isso é um problema que eu convivo desde o maldito beijo
naquela festa — ralho, dando um passo para trás, me afastando, mas ainda o
encarando-o. — Então, Wright, sinto muito em lhe dizer que você terá que
aprender a lidar com essa maldição como eu fiz.
Ele me encara por alguns segundos, dando um passo em minha
direção.
— Bem, eu fodidamente irei fazer isso! — exclama.
— Ótimo!
Nossos olhos travam uma batalha e, no meio de um suspiro regado a
passos rápidos de Oliver, nossos lábios se chocam.
Não é um beijo como aquele que compartilhamos na festa ou no
parque. Esse é diferente de todos os outros. É animalesco, possessivo. É tão
quente que chega a queimar toda minha pele. É uma dança bem
coreografada, uma que vibra dentro de mim. E faz o êxtase interno se
multiplicar. Sinto a dor da intensidade me invadir e me queimar com força
sobrenatural.
Oliver se afasta por um mísero segundo, caminhando até que minhas
costas se colidem com uma parede lisa em um baque surdo. Ele leva a mão
até meu pescoço, segurando com uma força que não me impede de respirar,
contudo, me faz desejar por mais. Por ele. Oliver sabe disso e eu tenho
certeza no momento que abaixa a cabeça, rumo a minha clavícula, raspando
os dentes e trazendo consigo uma sensação desesperadora.
Uma sensação que o sinto em todos os lugares. Sinto minha boceta
pulsar e implorar por atenção. Sinto-o com tanta sede e voracidade, que
chego a acreditar, que estou à beira de colapsar. E não é apenas isso. A cada
toque de sua pele contra a minha, posso sentir a corrente elétrica, a
adrenalina correr sob minhas veias e todas as minhas cargas sendo
descarregadas em meu peito com precisão.
Meus dedos sobem até seu cabelo, e prende os fios entre eles,
puxando-os com força, para que chegue mais perto e se funda a mim. Solto
o ar pela boca, quando suas mãos seguram a borda da minha camiseta e a
sobe, retirando-a do meu corpo e me deixando apenas com o sutiã de renda.
Oliver aproveita a minha pele nua e arrasta o dedo pela extensão do meu
abdômen e então sobe lentamente, arrastando o tecido do sutiã para baixo e
apertando meu seio com força, enquanto um dedo se arrasta pelo meu
mamilo eriçado.
A fricção é suficiente para me fazer perder a sanidade, no momento
seguinte, estou desabotoando sua camisa, com um movimento rápido que
até mesmo posso ter certeza de que alguns botões foram arrancados no
caminho. Contudo, Oliver não me deixa retirá-la e, de repente, ele segura a
minha cintura como se eu não pesasse nada, e suspende meu corpo,
posicionando-se entre minhas pernas e fazendo com que minhas pernas
rodeiem seu corpo, caminhando comigo até a ilha no centro do cômodo,
que acomoda todos os seus relógios e me deita sobre ela.
— Porra, eu quero te foder tanto — Sua voz sai num rosnado e ele
quase arranca minha calça no processo. — Eu quero comer você com tanta
força que cada partícula sua vai me sentir no próximo dia. E eu vou fazer
isso. Não agora, mas eu vou. E quando acontecer, você pode ter certeza de
que quando terminamos, estaremos arruinados para outras pessoas, linda.
Cada palavra proferida faz com que os pelos da minha nuca se
erricem.
Todos os meus pensamentos somem quando ele termina de retirar
minha calça jeans me deixando apenas de calcinha e então se inclina para
frente, sorrindo como uma onça prestes a atacar sua presa e posiciona
minhas pernas sobre seus ombros, fixando-me no lugar, sem nenhuma
chance de fuga.
O primeiro toque de seus lábios veio no topo da minha barriga lisa,
o outro um pouco acima do umbigo e então seus dedos estão subindo
lentamente em minhas pernas, passando pelas minhas coxas e por fim,
segurando a parte interna delas com uma força que faz desejar por mais.
Ansiar pelo que está por vir.
Ele arrasta dois dedos devagar pelo tecido da minha calcinha
encharcada e solta um sorriso convencido, erótico.
— Sempre tão molhada para mim, loirinha — murmura, fazendo
uma pequena pressão, enquanto seu dedo indicador roça levemente a borda
do tecido. — Eu lhe disse que iria acabar com você de um jeito que
ninguém mais será capaz de te dar o que precisa. Agora… estou prestes a
começar a cumprir com a minha palavra.
Ele não dá tempo para que eu possa processar suas palavras, porque
no momento seguinte, Oliver arrasta a calcinha para o lado e projeta sua
língua para fora, umedecendo o lábio inferior de modo predatório. Então,
sua boca está em mim, lambendo minha carne, sugando tudo, me levando
ao limite.
É impossível controlar o gemido que escapa da minha garganta
quando ele segura fortemente minhas coxas, elevando minha bunda,
abrindo-me mais e me deixando completamente exposta para que possa
tomar tudo e me levar ao limite.
— Você é deliciosa! — Ele beija o caminho entre meu clitóris,
lambendo a extensão de toda a minha intimidade. — Agora, por favor, abra
mais essa boceta para mim, linda.
Eu o obedeço.
Deus. Eu poderia fazer qualquer coisa que me pedisse nesse
momento, contanto que ele não pare, que me fizesse sentir essa sensação
que me levasse ao limite.
Oliver percebe que estou perdendo o controle, no segundo em que
arqueio minhas costas e me esfrego descaradamente em seu rosto,
obrigando-o a me foder com a língua de forma brutal. Ele acrescenta um
dedo a nossa dança, em um movimento de vai e vem.
O fôlego é roubado dos meus pulmões e outro dedo me penetra,
enquanto a língua dele me saboreia como se eu fosse um oásis e ele
estivesse faminto.
Sucumbo a invasão tortuosamente deliciosa e me arqueio. Pedindo
por mais, suplicando para que ele me foda como sempre quis, e me deixe
cair nessa doce agonia.
Oliver me encara sobre a nossa nuvem de luxúria e então solta um
sorriso perverso, como se soubesse que estou a ponto de implorar por mais,
por ele.
Movimento meu quadril, montando em seus dedos, desesperada por
fricção, assim que sua língua impetuosa se arrasta pela minha fenda, me
devorando lentamente. Ofego, desesperada por mais, ao passo que os dedos
de Oliver se movimentam, fazendo-me estremecer e cair para trás,
levantando a cabeça e entreabrindo os lábios.
— Oh, meu Deus! — grito, segurando fortemente o móvel abaixo de
mim. — Ollie, eu vou...
De repente, sou tomada por espasmos, em um êxtase brutal que
desce pela minha espinha, fazendo-me explodir em mil pontos brilhantes,
no instante que me desfaço em sua boca, jorrando todo meu orgasmo nele e
esquecendo as palavras que estavam prestes a sair dos meus lábios.
Ainda estou me recuperando do meu orgasmo quando ele me senta
no móvel se colocando entre minhas pernas e afasta o cabelo suado do meu
rosto, delicadamente. Nossos olhares colidem e uma sensação diferente de
tudo o que já senti, enche o meu peito.
A gentileza em seu toque está totalmente em desacordo com a
selvageria com que ele fode. E mesmo assim, quase ronrono em
contentamento, porque, como da outra vez, esse mesmo homem me deu o
melhor orgasmo da minha vida, fez as vozes em minha cabeça se
silenciarem e me fez esquecer da sensação de sujeira que sempre me
acompanhou quando permitia que alguém me tocasse.
Oliver, mesmo que não saiba, me fez sentir viva. Ajudou-me a me
entregar verdadeiramente ao prazer e a me deleitar com todas as sensações,
sem que as lembranças sejam como uma nuvem sobrecarregada sobre
minha mente.
— Vamos, linda — ele murmura. — Nós temos um baile para ir.
Oh minha querida, você parece Hollywood, hm
Eu acho que você vai me machucar mesmo que você disse que nunca faria,
ah, ah
Eu tenho medo que você vai amar e me deixar aqui esta noite, eu
Você pode ser a paranóia em minha mente
Be The One | James Arthur
Eu a quero.
Eu a quero não apenas em um parque vazio durante uma madrugada
ou em um closet, enquanto proferimos maldições um para o outro, porque
estamos malucos demais para perceber o que está acontecendo entre nós
desde que forjamos esse acordo.
Eu a quero completamente. Corpo e alma. Quero tanto que até
mesmo estou cogitando a ideia de acabar com toda essa farsa apenas para
tê-la por inteiro, para que enfim possamos parar de fingir que não nos
desejamos, que essa desculpa de que vamos quebrar as regras apenas uma
única vez, é uma besteira.
Até mesmo ela sabe disso. Nunca poderemos fingir que não
sentimos essa atração infernal ou superemos todos os momentos posteriores
ao dia em que nossos olhos se encontraram no Oásis.
— Nós estamos atrasados — sua voz preocupada invade meu
subconsciente.
Viro-me lentamente, sorrindo, pronto para proferir alguma coisa que
a fará sorrir para mim. Um daqueles sorriso que solta quando está irritada e
encaminha uma pontada costumeira em meu peito.
Porém, todos os pensamentos me abandonam quando meus olhos
focam no patamar da escada, onde Summer está segurando o corrimão e
encarando-me com uma sobrancelha arqueada.
Ela joga os cabelos claros por cima do ombro, fazendo as mechas
onduladas se estendam pelas suas costas, me dando a visão do topo de seu
decote acentuado, do vestido vermelho que desce até seus pés e possui uma
abertura lateral.
É a mais bela das obras primas já feitas no mundo.
Sum leva a mão ao seu rosto, prendendo uma mecha solta de seu
cabelo atrás da orelha, continuando a descer lentamente os degraus, me
permitindo ver o pequeno brilho do brinco que aderna sua pele.
Assim que para em frente a mim, minha respiração fica presa na
garganta. Porque a mulher que é meu maior vício e que sei que possui todos
os meus pensamentos, é incrivelmente deslumbrante.
Não, ela é mais que isso.
Porra, não há palavras para descrever Summer nesse momento.
Tenho a convicção de que nem mesmo o mais inimaginável dos adjetivos
chegaria aos pés dela.
Summer é como uma arte que é guardada nos cofres dos maiores
museus do mundo, protegida de todos e que possuem uma beleza
incomparável. E confirmo isso, quando seus olhos brilhantes que são como
uma poesia oculta, feita para lermos calmamente, trecho por trecho,
decorando rimas e apreciando a beleza, seus lábios se transformam em um
sorriso tímido.
Um maldito sorriso extraordinário.
— Se você não parar de me encarar assim — diz, franzindo o cenho,
porém o sorriso ainda se faz presente em seu rosto. — Serei obrigada a ir lá
em cima e colocar uma blusa com a estampa do Peter Parker ou até mesmo
do Hulk.
Solto uma gargalhada, dando um passo à frente, me aproximando
dela.
— Eu não me importaria. — Inclino a cabeça, arrumando a minha
gravata borboleta. — Acho que até mesmo vou implorar para que faça isso.
Uma sobrancelha dela se ergue.
— Você vai? Por quê?
— Porque talvez ter o rosto do Homem-Aranha ou do Hulk
estampado em sua blusa, pode me ajudar a espantar todos os riquinhos de
merda que vão tentar te roubar de mim — conto, sorrindo abertamente.
Summer ergue o rosto, me encarando intensamente.
— Está dizendo que minhas roupas serão mundanas demais para o
baile do seu pai?
Balança a cabeça, soltando uma risada nasal.
— Nada é mundano quando se trata de você, loirinha — afirmo,
passando a língua pelo meu lábio inferior e percebo que Summer
acompanha o gesto. — Você se destacaria até mesmo se estivesse vestindo
apenas uma roupa em frangalhos.
Ela me encara por alguns segundos.
Há algo nublando suas pupilas que leva cada fragmento de
autocontrole do meu corpo. É como se a sensação que queima meu peito
fosse familiar. Como se atrás de toda luxúria, todo sentimento confuso,
houvesse algo que ela deseja me confessar, contudo não consegue.
— Eu acho que está enganado — murmura, no mesmo instante que
percebo que suas bochechas ficam rosadas.
Sorrio.
— Nunca. E sabe o por quê?
— Não — sua voz sai em um murmúrio. — Mas, por favor, diga-
me.
— Porque você e esse acordo estão me estragando para as outras
pessoas, loirinha — conto, fechando o espaço restante entre nós e tocando o
seu queixo, apenas para levantá-lo e obrigá-la a encarar meus olhos. — E
ninguém nunca foi capaz disso.
Summer franze o cenho, porém não quebra a nossa conexão.
— Eu estou?
— Sim, mas quer saber um segredo? — pergunto retoricamente. —
Eu não me importo. Não me importo se quando isso acabar estarei
arruinado para outras pessoas. Porque você, Summer Miller, é inigualável.
Não estou mentindo, porque sei que após Summer, todas as outras
bilhões de pessoas que habitam o planeta, serão apenas simplórias perto do
que ela está sendo capaz de fazer comigo.
E mesmo que isso me apavore, me pego desejando por mais.
PASSADO
Suspiro uma.
Duas.
Três vezes.
As ruas deste lado estão iluminadas e não há riscos de algo
acontecer. Não, não há como. Não quando meu pai praticamente nos
deslocou para esse lado da cidade depois que tudo aconteceu comigo e
mamãe. Não quando ele preza mais a nossa segurança do que nossa
felicidade.
Dou um impulso com meu pé esquerdo, virando uma das esquinas e
corro pelas ruas pouco movimentadas, a fim de espairecer todo o caos que
ronda a minha mente. Depois de mais algumas quadras, vou por uma trilha
ao lado de um enorme jardim, em direção ao píer que sempre está vazio
desde que nos mudamos para cá, há alguns meses.
Depois que ultrapasso algumas árvores e faço o caminho, chego ao
lugar que venho todos os dias à noite para pensar, para tentar engolir todos
os monstros que gritam em meu peito para serem libertos. Dou um passo
para descer o único degrau de madeira que liga ao deque e sinto meu corpo
todo relaxar por estar em um lugar onde ninguém pode me achar, onde
posso me esconder da minha realidade por algumas horas.
Porém, assim que meus pés pisam no ambiente que deveria estar
vazio, minha respiração fica presa em minha garganta e meus braços se
arrepiam com o medo; não há nada aqui para me salvar, não há ninguém
que possa escutar meus gritos se caso tudo aconteça novamente. Dou mais
um passo à frente, mesmo que errado, mesmo que tudo dentro de mim diga
para correr e voltar para a segurança da minha casa, para onde os
seguranças irão me proteger caso eu diga a eles, mesmo que seja errado, a
curiosidade de averiguar quem está ali, escondido no escuro, é maior que
tudo, maior até mesmo que a necessidade de me proteger.
O desconhecido está sentado no parapeito, de costas para mim, seu
smoking preto se mistura à escuridão da noite e percebo que seus
movimentos são lentos, quase como se não conseguisse mover seu braço
direito, enquanto levanta a garrafa de Jack Daniel’s até seus lábios. O
cabelo loiro cai um pouco em sua testa, me impedindo de observá-lo
completamente, porém tenho que ter certeza de que ele possui a minha
idade.
— Isso é uma propriedade privada — declara, com sua voz
arrastada, sem olhar para trás. — Sugiro que saia.
Franzo o cenho. Esquecendo todo o pânico que a segundos atrás
corria sob minha pele e sendo envolvida pelo incômodo causado pelo tom
de suas palavras.
— Não, não é.
O desconhecido vira seu rosto totalmente em minha direção. E o
mais incrível dos olhos verdes me encaram, suas pupilas dilatadas me
mostram algo, talvez um resquício de uma eternidade não compreendida,
talvez uma escuridão repleta de estrelas cadentes.
Contudo, o seu semblante abatido entrega o quanto algo o está
incomodando, e minhas dores sussurram em meu ouvido que talvez ele
tenha vindo até aqui para também encontrar algo que acabe com essa
aflição que percorre o seu ser.
De repente, nesse exato momento, eu quero dizer que não, não há
nada nesse lugar ou nesse mundo que mudará o que quer que esteja doendo,
porque, pela minha própria experiência, ainda vai doer por um bom tempo e
talvez nunca se cure.
— Então, você é nova neste lado da cidade — desdenha, engolindo
outro gole. — Porque todos que moram por aqui, sabem que este é o meu
local.
Sei que é mentira. Ninguém nem ao menos vem até aqui.
Dou de ombros, cruzando os braços em frente ao corpo, erguendo
uma sobrancelha.
— Sinto muito em decepcioná-lo e dizer que se o ambiente não
possui placas com o seu nome ou um documento que comprove tal fato —
constato, lhe lançando um sorriso frio. — Este lugar continua sendo de
propriedade pública.
Ele estala a língua no céu da boca, provavelmente me insultando
com todos os palavrões existentes no nosso idioma. Contudo, pende a
cabeça para trás e solta uma gargalhada. É um som rouco, que traz
vibrações para dentro do meu peito.
— Você fala como a minha avó quando está dando uma bronca em
seus funcionários — debocha, passando a língua no céu da boca. —
Patético.
Ergo uma sobrancelha, irritada. Sem perceber, dou um passo à frente
sentindo o cheiro lascivo de álcool e outra garrafa de licor vazia
abandonada ao seu lado. O meu companheiro está completamente bêbado e
não tenho a mínima ideia de como consegue suportar o seu peso enquanto
está sentado daquela forma.
— Você não deveria beber desta maneira.
Não é problema seu, Summer. Vire-se e volte para casa antes que
eles cheguem e sintam sua falta.
É o que meu subconsciente grita, é o que eu deveria fazer. Mas, há
algo na presença dele, algo que me faz sentir confortável em estar perto de
alguém depois de meses, eu não sei explicar, mas sinto e sem perceber já
almejo por mais.
— Você não deveria cuidar da sua vida?
— Estou tentando não ser testemunha de uma morte acidental, caso
caia desse píer e se afogue.
Ele gargalha novamente.
— Acho que seu complexo de heroína não me deixaria morrer
afogado — diz, simplesmente, levando a garrafa até a boca.
— Não seja tão confiante. — Dou de ombros. — Eu não pularia em
um lago praticamente congelado para salvar um estranho.
Ele me estuda por alguns segundos, passa as pernas pela mureta e
pula de lá, cambaleando em seus próprios pés até chegar onde estou. O
garoto desconhecido é mais alto que eu, o que me obriga a olhar para cima,
para seu rosto estupidamente bonito. A mandíbula marcada, os olhos verdes
e lábios carnudos, envoltos de uma pele clara e sedosa. Por algum motivo
inexplicável, não senti vontade de me encolher, de fugir ou de entrar em
pânico por estar tão perto de mim.
Não, eu inclinei a cabeça para o lado, estudando-o lentamente,
tentando entender quem era e o que fazia aqui. A poucos metros de uma
festa que toda a cidade gostaria de ser convidada, longe de pessoas da sua
idade que o ajudariam a ficar bêbado sem que precisasse implorar.
Eu o estudo, tentando chegar a uma conclusão. Porquê alguém tão
lindo e misterioso prefere a solidão a um lugar repleto de pessoas, sendo do
seu ciclo social ou não, mas que o bajulariam da mesma forma?
— Meu nome é Oliver — diz, por fim. — E definitivamente, não
sou um estranho.
Umedeço meus lábios, sem nunca desviar o olhar e maneio a
cabeça, concordando.
— Ainda sim, eu não o salvaria, Oliver — afirmo, convicta.
Ele sorri, um sorriso tão lindo e ao mesmo tempo perigoso. Um
sorriso que me lembrou o dia que eu recebi um parecido, de uma pessoa
totalmente diferente, e que no final foi o motivo pelo qual eu visitei o
inferno com os pés descalços.
— Eu não acredito nisso.
— É uma pena, porque é a verdade.
Dou de ombros, me escorando do outro lado do píer, longe o
suficiente dele e perto do degrau, para ter uma rota de fuga segura, caso o
meu julgamento sobre o garoto tenha sido incoerente.
Ele deixa seus ombros caírem e leva a bebida outra vez até seus
lábios, tomando outro gole exagerado. Assim que tenta dar um passo à
frente, na minha direção, tropeça em seus próprios pés, se desequilibrando.
Antes que eu possa pensar no que estou fazendo, ando rapidamente até ele e
o encosto no parapeito, mantendo seu peso em meu lado direito.
— Eu disse que seu complexo de heroína me salvaria — ele
sussurra arrastado, me lançando um sorriso que deveria ser sedutor, mas que
é apenas um resquício do estado que está nesse momento.
Mordo minha bochecha, tentando segurar uma risada, mas,
inconscientemente, meus lábios se curvam para cima, formando um enorme
sorriso.
Um sorriso verdadeiro, alegre.
Olho de relance para Oliver, que está me encarando sob sua névoa
embriagada e de repente, o seu rosto bêbado se ilumina, ao mesmo tempo
que solta outro lindo sorriso. Um sorriso que faz com que borboletas
dancem em meu estômago e um frio suba pelo meu esôfago.
Um ato impensado para dois desconhecidos.
Um sorriso verdadeiro entre duas pessoas que não se conhecem, mas
que sabem que estão machucadas.
Uma ação humana que não pertence ao meu cotidiano.
— Linda — murmura. — Linda pra caralho.
É um elogio simples, mas que por algum motivo se fixa em minha
alma e faz morada.
Talvez seja por isso, ou talvez seja pelo medo que vem logo em
seguida, que me desvinculo dele. Dou um passo para trás e respiro o ar
gelado da noite. Tento juntar todos os meus pensamentos, a fim de aplacar a
vontade de gritar com ele, exigindo uma explicação sobre ter despertado
esses sentimentos em mim, o porquê me sinto à vontade em sua presença
quando nos conhecemos há apenas cinco minutos e não sinto um pingo de
medo ou receio de suas intenções.
— Você não deveria estar no baile? — pergunto, ignorando sua frase
anterior.
Ele bufa, voltando a se sentar e a beber o whisky caro.
— É minha primeira noite aqui, após alguns anos — conta, e sinto
verdade em suas palavras. — Achei que um lugar tranquilo seria melhor do
que um baile com pessoas hipócritas.
— Ok.
— E você, loirinha, por que está aqui vestida em trajes que tenho
certeza de que minha madrinha não aprovaria para o seu baile? — ele
questiona, sarcasticamente.
Mordo meu lábio inferior, olhando para baixo, para minhas roupas e
para um papel amassado em uma das suas mãos.
— Não gosto de comemorações — digo uma meia verdade. — E
meus pais preferem que eu esteja na segurança de nossa casa.
— Acredito que está burlando o desejo deles.
Solto um pequeno sorriso. É fácil sorrir quando Oliver é o motivo
pelo ato, talvez ele mascare tão bem suas dores que me sinto bem em fazer
o mesmo.
Por uma noite, me permito não ser a pessoa que não consegue sair
do quarto ou que tem medo de todo o mundo.
Eu apenas me permito ser Summer, a versão que eu era, pelo menos.
A versão que sorria sempre que queria. Que confiava em si mesmo e
nos outros.
Eu apenas sou eu.
Sem mentiras, medos e anseios.
— Sim, eu estou.
Ele sorri, sem julgamentos. Apenas maneia a cabeça, como se
entendesse, como se tivesse encontrado algo pelo qual não sabia que estava
procurando.
— Bem, você não está sozinha nisso — conta, se virando para o
lago.
Dou um passo em sua direção, depois outro e quando percebo, estou
sentada ao seu lado. Nossas mãos quase se tocando, nossos corpos
enrijecidos pelo frio da noite. E mesmo que eu saiba que é momentâneo, eu
aproveito todas as sensações. Aproveito que Oliver não me trata como uma
boneca quebrada e sem conserto, como se me tocar significa que entrarei
em pânico. Aproveito a normalidade do momento, mesmo sabendo que
talvez seja a única e última vez que poderei desfrutar de tal ensejo.
— Você… — pauso, tentando encontrar a palavra certa para a frase
que irei proferir. — Está fugindo de algo?
Ele me encara de esgueira, refletindo sobre minha pergunta.
Assim que o silêncio se torna cômodo, Oliver deixa seus ombros
caírem, leva a garrafa outra vez até sua boca e ingere uma grande
quantidade da bebida. Logo após, estende o objeto em minha direção e
percebo que já está abaixo da metade, o que me preocupa. Ele pode entrar
em um maldito coma alcoólico nesse lugar deserto.
Nego com a cabeça e abro a boca para dizer que deve parar de beber
desta forma, mas ele é mais rápido e apenas responde a minha pergunta:
— Não estamos sempre fugindo de algo?
Olho para ele, tentando entender suas palavras. Compreendo que é a
verdade.
Nós sempre estamos fugindo de algo.
— Às vezes, fugir é a única alternativa — divago.
Como estou eu fazendo. Sei que não é a melhor escolha. Sei que
estou fugindo e sei que é inevitável. Mas, preciso dessas medidas
suportáveis, preciso fugir das minhas lembranças, dos meus martírios, fugir
de mim mesma, porque sempre que cruzo a linha, sempre que caio no velho
abismo conhecido, tenho a plena consciência de que é difícil sair de lá.
Ainda que no final todos achem que irei aparecer renovada, fica
sempre uma mancha, um medo, um assombro. Sempre que volto dessas
lembranças, volto com algo perturbador que incomoda até o fundo do meu
âmago.
Oliver suspira, tentando erguer os ombros. Percebo que seu rosto se
enrijece, como se estivesse sentindo dor ou algo similar. Seus olhos
encontram os meus e, por um milésimo de segundo, quero que esse
momento dure, quero manter essa imagem dele, relaxado e confiante em
minha mente. Quero que esse lago, esse lugar, esse momento, seja
permanente.
Contudo, não há nada no mundo que seja permanente em minha
vida.
— Quem te machucou, loirinha?
Todos.
— Quem te machucou, Oliver?
Mordo o lábio inferior quando ele fica me encarando. Há apenas o
silêncio pairando entre nós dois, enquanto nos encaramos. Há barulhos no
fundo, bem longe daqui, barulhos de carros, música, vida…
Mas aqui, nesse ínfimo lugar, há apenas nós.
Dois desconhecidos.
Dois adolescentes que precisaram superar dores ainda jovens.
Dois feridos que não sabem como se salvar.
— A vida — é a sua resposta.
— Sinto muito — é a minha.
— Eu também.
Oliver não está se referindo a ele mesmo, mas a quem me
machucou. A pessoa que é o motivo pelo qual preciso correr todas as noites,
para que meu corpo exausto possa dormir e descansar por algumas horas,
antes que os pesadelos me peguem, me façam regressar na noite que quero
e preciso esquecer.
— Eu tenho uma amiga. Sophie, o nome dela — ele diz, de repente.
— Ela sempre diz para Vee, sua irmã, que devemos continuar a dançar
mesmo quando não houver música.
É uma frase simples, uma metáfora que contém tantos significados
para pessoas machucadas. Sorrio. Sorrio por saber que ele tem amigas, por
saber que ele não está sozinho em seu próprio martírio.
— E por que você ainda continua dançando, Oliver?
Minha pergunta é tão baixa, que quase acho que ele não me escutou.
Todavia, seus olhos encontram os meus. Não há brilho, nem diversão. Eles
são vazios, distantes e quebrados.
— Porque se eu parar, se eu permitir me quebrar, significa que os
monstros venceram.
Sua frase tem mais impacto em mim do que qualquer outra palavra
que proferiu em todo o momento que nos conhecemos.
Se você parar, os monstros vencem.
É a verdade.
E eu parei.
Deixei que eles vencessem, deixei que eles triunfassem em minha
derrota. Mas, talvez esse momento seja tudo o que eu estava procurando,
seja o momento pelo qual esperei noite após noite.
Se você parar, os monstros vencem.
É um mantra, um mantra que Oliver me deu.
Um mantra que eu irei usar em minha próxima batalha.
Um que irei utilizar para me reerguer.
— Obrigada, Oliver — agradeço mesmo que ele não faça a mínima
ideia do que estou agradecendo.
Mesmo que não saiba o que ronda meus pensamentos, Oliver parece
compreender o que estou agradecendo. Parece saber que aquela frase,
aquela simples metáfora, acabou de transformar todo o meu futuro, acabou
de me mostrar que posso me reerguer, que posso, outra vez, ser uma pessoa
forte, guerreira. Ainda que isso signifique que eu precisarei mentir para
mim mesmo.
Precisarei dizer, dia após dia, que se eu parar, ele vence.
Se eu não for feliz, se não me permitir viver, ele vence.
E eu perco.
E não estou disposta a perder outra vez!
— Sempre ao seu dispor, loirinha.
Sorrio.
— Acho que está na minha hora — sussurro, sabendo que logo
meus pais irão chegar.
E eu preciso dizer a eles. Preciso dizer que o tempo de me lamentar
pelo que aconteceu, acabou.
Eu preciso viver.
Preciso que eles saibam que estou jogando meu passado para dentro
de um baú, trancando e atirando-o em meio a um oceano profundo dentro
do meu coração.
Estou cansada de apenas sobreviver.
Uma nova música se reinicia, uma nova dança, uma que não
permitirei que eles vençam.
— Foi um prazer te conhecer, loirinha — sinto verdades em suas
palavras.
— Continue dançando, Oliver — murmuro para ele.
— Volte a dançar, loirinha. — Ele se aproxima, deixando um beijo
rápido em minha bochecha. — E nunca, em hipótese alguma, se esqueça
desse momento.
Eu não esqueceria, nem se quisesse.
— Não se atreva a esquecer de mim, Oliver. Eu te salvei de um
possível afogamento — brinco sorrindo.
Ele sorri. Um sorriso lindo, incrível.
— Você sempre será a melhor memória desse lugar, loirinha.
Eu me levanto, seguindo até a pequena escada do píer sorrindo pois,
pela primeira vez, não estou saindo desse lugar com lágrimas nos olhos e
medo no coração. Não, eu estou saindo com um mantra e uma esperança.
Olho para trás, para Oliver. E percebo que ele já está me encarando.
— Eu não sei seu nome, loirinha.
Solto uma gargalhada.
— Da próxima vez que nos encontrarmos, eu te conto.
Me viro, começando a correr. Imaginando como seria a próxima vez
que nos encontraremos.
Mas há algo que ninguém me contou: não haveria uma próxima vez.
Nunca mais conversei com Oliver.
Ele nunca soube meu nome.
Porque Oliver se esqueceu de mim.
Mas eu voltei a dançar.
Bem, eu não quero perder também
Eu acho que não posso ficar sentado
Enquanto você está se machucando, amor
Então pegue minha mão
Fall | Justin Bieber
Verônica e Analu acharam que seria uma boa ideia dar uma festa.
Eu, claramente, fui contra essa ideia. Achei que Summer não precisava
de algo assim depois do que passou. Porém, nem ao menos tive como dar
uma opinião, porque a loira sorriu para as amigas quando elas deram a
ideia.
Summer Miller que tanto odeia festas, sorriu e concordou com uma
comemoração!
E, exatamente por isso, uma semana após tudo o que aconteceu, estamos
todos na sala de estar dos Blackwell, com uma música aleatória tocando por
toda mansão e praticamente todos os alunos da SVU espalhados pela casa.
De onde estou, tenho a visão de Vee e Analu no bar improvisado,
virando um shot de tequila. Do outro lado, Summer e Hazel estão descendo
as escadas, conversando animadamente. A loira tem apenas uma garrafa de
água em mãos, o que me indica, que assim como eu, não irá beber hoje.
Solto um suspiro, voltando a me encostar no sofá e olho para frente,
para meus amigos que, assim como eu, desejam estar dormindo ou fazendo
qualquer outra atividade a ter que suportar mais uma festa.
— Você precisa relaxar — Levi incentiva, me encarando. — Ela está
bem. Ela sempre fica bem!
Encaro-o de volta.
— Eu não quero que ela se machuque novamente.
— Ela não vai — afirma. — Summer precisa delas.
Ele aponta com o queixo para onde as quatro estão agora, sorrindo umas
para as outras e se levanta para ir até a cozinha, buscar mais um copo de
cerveja.
Continuo encarando-as, me certificando de que Summer está bem. Vejo
Vee sussurrar algo para ela que franze o cenho e volta a sua atenção para
sua água, enquanto Hazel encara Analu com uma expressão estranha, como
se soubesse de algo, porém não tem coragem de dizer.
— Dá próxima vez, alguém, por favor, proíba Verônica de dar uma festa
— Logan diz, se jogando ao meu lado no sofá.
Solto uma risada nasal.
— Boa sorte com isso, capitão — respondo, levando minha água até
meus lábios.
— Deus, eu odeio universitários! — Josh exclama, expulsando um
calouro do sofá a minha frente e se deitando nele.
— Você não é um? — Dylan questiona, batendo na perna dele, para dar
espaço para que possa se jogar ao seu lado.
— Deixe-me reformular: eu odeio calouros — diz, sorrindo e se
sentando direito. — Eles estavam reclamando da cerveja. A maldita cerveja
que eu tive que comprar!
Logan pende a cabeça para trás soltando uma gargalhada.
— O que está acontecendo? — Levi questiona, quando finalmente volta
a se jogar do meu outro lado.
— Josh está reclamando dos calouros — conto, erguendo uma
sobrancelha. — Por que tem uma marca de batom na sua bochecha? Você
saiu daqui a menos de cinco minutos.
Ele sorri maliciosamente.
— Cheerleards — conta. — Elas são boas pessoas.
Lanço-lhe uma careta.
— Deixe minha namorada sonhar que está mexendo com as garotas da
equipe dela e ela vai chutar a sua bunda — Logan diz, levando o copo até
os lábios. — E eu, definitivamente, não te defenderei, Johnson.
Ele dá de ombros, se escorando no sofá e pegando o celular.
— Oliver? — Josh me chama, fazendo com que eu me vire para ele.
— Sim?
— Quanto você pagou? — ele questiona.
— Pelo quê? — Franzo o cenho.
— Pelo cinema, é claro.
Solto um sorriso condescendente.
— Um.
— Um mil? — Logan pergunta, erguendo uma sobrancelha.
Meu sorriso aumenta.
— Puf! Me respeite, capitão — debocho, umedecendo meus lábios. —
Eu paguei um milhão.
A bebida que Levi havia ingerido salta de sua boca, enquanto ele me
encara com seus olhos arregalados.
— Você pagou um milhão de dólares por um encontro? — questiona,
perplexo.
Franzo o cenho.
— Não, o encontro foi de graça. Quer dizer, ela queria me matar, se isso
conta — confesso, dando de ombros. — O cinema foi só um presente meu
para ela mesmo.
— Você deu um maldito cinema de presente para Summer? — Josh
questiona, perplexo.
Dou de ombros, bebericando minha água.
— Ela ainda não sabe que é dela — conto. — Mas sim, eu dei.
Todos eles me encaram, como se estivessem esperando confissão de que
é apenas uma brincadeira ou que tinha perdido a sanidade.
Josh balança a cabeça, descrente.
Dylan é o único que me encara como se não se importasse. Afinal, o
idiota mimado seria capaz de pagar o dobro desse valor se isso significasse
que Hazel estaria feliz e sorrindo.
— E eu aqui achando que Logan havia exagerado em cantar One
Direction para Verônica em um maldito karaokê — Levi murmura,
gargalhando. — Que Deus nos proteja do próximo que começar um
relacionamento nesse grupo.
— Você pode ser o próximo — aponto para a mancha de batom.
Levi me lança uma careta enojada.
— Nem nos seus melhores sonhos! — exclama.
Solto uma gargalhada, observando o caçula dos Blackwell se aproximar.
— Nós deveríamos criar um grupo como o delas — Ed diz, de repente,
se jogando no sofá ao lado de seu irmão e erguendo o queixo na direção das
garotas que estão focadas em algo que Summer fala.
— Um grupo de cavalheiros abandonados pelas suas amigas? — Levi
debocha, levando a lata de cerveja até os lábios.
— Não, idiota — Logan adverte, revirando. — Acredito que seria mais
como o Clube do Livro dos Homens[25].
Dylan, Levi, Josh e Ed se viram para o capitão do time da SVU,
erguendo as sobrancelhas.
— E o que diabos seria isso? — Josh, questiona.
— É um livro — ele comunica, escorando um de seus cotovelos no
braço do sofá e relaxando as pernas. — Vocês deveriam ler mais, Jesus!
— Um livro? — Levi, questiona, emitindo uma careta.
— Aham, aquele objeto com folhas e palavras — zombo. — Conhece?
Ele me olha de esgueira.
Contudo, quando Levi abre a boca para responder, me distraio, sentindo
alguém atrás de mim, inclinando seu corpo até que uma cortina de cabelos
loiros tampe meu campo de visão e impeça que Levi me lance uma de suas
respostas.
Sorrio quando o cheiro, no qual sou completamente obcecado, invade
minhas narinas e um rosto bastante conhecido invade meu campo de visão:
— Oi, playboyzinho.
Ela sorri.
— Oi, loirinha.
Ela me lança um olhar cheio de significados.
— Você quer fugir daqui? — repete a mesma pergunta que eu havia dito
a ela no baile em Nova York.
— Você não deveria querer ficar até o final? — pergunto, sorrindo.
— Deus, não! — exclama. — Quero ir embora ter uma boa noite de
sono.
Pendo minha cabeça, soltando uma gargalhada no mesmo instante que
uma mão afasta o cabelo de Summer e um rosto entra em nossa bolha sem
ser convidado.
— Você está atrapalhando o papo do Clube dos Homens, Sum — Logan
diz, erguendo uma sobrancelha.
— Clube dos Homens? — ela questiona, confusa.
Levi aparece do meu outro lado sorrindo, acabando com a atenção que
Summer mantinha em mim.
— Céus, Sum, você nunca viu Clube da Luta[26]? — ele questiona,
ofendido. — A primeira regra do Clube da Luta é que você não fala sobre o
Clube da Luta!
— Eu achava que estávamos falando de um livro, não de um filme —
Josh fala ao fundo.
De repente, o som da gargalhada de Ed e Dylan irrompe o ambiente.
Fazendo todos nós os encararmos.
— O que está acontecendo? — Vee pergunta, se sentando no colo de
Logan.
De relance, vejo Hazel fazer o mesmo com Dylan e Analu se sentar ao
lado de Josh, levando uma garrafa de tequila até os lábios.
— Eles acabaram de inventar um clube — Summer conta, franzindo o
cenho. — Um Clube dos Homens.
Analu solta uma risada, enquanto Vee e Hazel inclinam a cabeça,
confusas. Porém não me atento ao restante da conversa. Apenas volto
minha atenção para Summer que faz o mesmo.
— Aquela proposta de ir embora... — começo.
— Sim, por favor — sussurra. — Eu preciso de descanso.
— Você está com fome?
Ela umedece os lábios.
— Por quê? — Sua pergunta tem um quê de segundas intenções.
Solto um sorriso, deixando um beijo em sua bochecha.
— Porque estou prestes a cozinhar para você na minha casa, linda.
Quero ser o rei da sua história
Eu quero saber quem você é
Eu quero que seu coração seja meu
Oh, Eu
Power Over Me | Dermot Kennedy
Quando criança, sabia que minha mãe tinha uma pianista favorita.
Eu me lembro de cada vez que ela colocou uma de suas partituras sobre
o piano e reproduziu todas aquelas melodias com afinco. Como se perdeu
nelas, de uma forma que pudessem salvá-la.
Essa mesma pianista foi a responsável por ajudá-la cada vez que se
destruía naquela casa.
E, agora, enquanto me sento em seu piano, sozinho na penumbra da
noite, é como se pudesse escutá-la claramente. Sua voz suave invade meu
subconsciente, e me lembra de prometer coisas que nunca poderia realizar.
De como me mandou ser forte quando estava me abandonando, indo em
busca de uma nova vida. Um novo caminho.
Dedilho meus dedos sobre as teclas, sentindo aquela queimação subir
pela minha garganta, ao mesmo tempo que olho para o papel revestido em
sangue em cima do piano. Eu passei anos procurando por ele, passei dias
ignorando a sensação de que sabia onde estava, porém, hoje, horas antes do
baile, tive coragem de finalmente abrir o compartimento escondido no
piano e retirá-lo de lá, para ler as últimas palavras dela. Para tentar entender
o que aconteceu naquele dia, naquela noite que é um vão em minha
memória.
Solto uma lufada de ar, puxando o papel amarelado e relendo novamente
suas palavras. Sinto as dores dela e como são a estaca final. O que precisava
para fazer o mundo ruir sobre a cabeça dos Wright.
Fecho meus olhos lembrando do sorriso da única pessoa que sairá disso
tudo com o coração magoado e um ódio irreversível por mim. Penso em
tudo o que construímos, em como saímos de uma farsa para algo maior.
Algo que nunca serei capaz de mensurar.
Penso em como a destruirei, mesmo não desejando.
Sempre soube que nunca fomos feitos para durar. Contudo desejei que
fossemos. Desejei tudo o que estava disposta a me dar. E aproveitei do
nosso tempo emprestado. Agora sinto como se cada pedaço que havia
sobrado de mim, cada resquício da boa pessoa que tentei ser, está se
diluindo e sumindo junto ao som das teclas do piano.
É o fim.
Sabia que ele chegaria e que quando me alcançasse, seria o pior dia da
minha vida. Mas nunca imaginei que ele se tornaria o dia que eu evitaria
por semanas.
— Você está aqui — uma voz cansada me faz esquecer o piano e
empurrar todos esses pensamentos para outro lugar da minha mente. — Por
que você está aqui?
Olho por cima do meu ombro, soltando um sorriso falso. Observo a
matriarca da família Wright entrar no cômodo que todos nós evitamos.
Lucy Wright tem os cabelos grisalhos amarrados em um coque chique e
traja um conjunto Dior perfeitamente alinhado em seu corpo pequeno e
magro. Ela não possui brilho em seus olhos, que são idênticos ao da minha
mãe quando se despediu.
— Oi, vovó — cumprimento, arrastando meu dedo pela tecla novamente
e abandonando o papel na superfície do instrumento.
Ela caminha até mim, beija minha testa e ergue o rosto para a foto da
mulher pendurada em uma das paredes. Seu suspiro é quase inaudível, mas
ao mesmo tempo entendo o que se passa em sua mente. Ou no porquê dela
estar na cidade, quando todos nós sabemos o que acontecerá em duas
semanas.
— Há uma lacuna entre o seu pensamento e o seu coração, Oliver — ela
diz, caminhando lentamente até onde estou e se senta ao meu lado. — Eu
sinto. Há algo que eu deva saber?
Encaro-a de relance.
— Se você pudesse voltar no tempo e dizer algo a minha mãe, o que
diria? — pergunto sem rodeios.
Ela solta uma risada fraca, se inclinando e começando a tocar uma
música que não compreendo.
— Que ela poderia ter confiado em mim. — Seu rosto não emite
nenhum sentimento, apenas fecha os olhos e continua a tocar. — Sua mãe
não precisava passar pelo que ela passou. Ela não precisava se casar com
seu pai, não precisava fugir com um homem que não tinha onde cair morto
e, também, não precisava esconder de todos nós a verdade.
Suas palavras bastam para que tudo se rompa dentro de mim.
— Eu não caí... Naquela noite, eu não caí da escada — suspiro,
derrotado. — Eu sempre soube, mas é como se as lembranças estivessem
voltando gradualmente. No tempo certo.
— Eu sei, meu querido. Quando cheguei ao hospital e o médico nos
disse que a queda havia infligido uma amnésia dissociativa[29], e, por isso,
você não se lembrava de nada o que havia acontecido naquela noite, a não
ser que estava bebendo em um píer sozinho, soube que algo estava errado.
Brandon estava aliviado demais — Sorri fracamente, ainda focada nas
teclas.
— Eu não me lembro de tudo, vovó — solto o ar com força — Mas eu
me lembro da dor. Da agonia. Me lembro dos gritos. Das lágrimas de vocês.
— As lembranças te faltam, Oliver, mas a força não — sua resposta
balbuciada me faz encará-la, percebendo que abandonou o piano. — Eu não
preciso ler essa carta para saber que ela te manda ser forte. Então, Ollie, a
pergunta que eu desejo saber é: por que você ainda está parado aqui, quando
deveria estar em Nova York acabando com aquele maldito monstro?
Porque eu não estou pronto para machucar Summer.
Estou tentando não magoá-la e não destruir a confiança que depositou
em mim. O pensamento disso tudo e de me afastar, sem que ela saiba que a
amo, dói mais que qualquer cicatriz.
— Do que você tem medo, Oliver?
Ergo meu rosto, encarando-a como se estivesse encarando minha mãe.
— Eu tenho medo de terminar sozinho, vovó.
Ela sorri tristemente.
— Há alguém — Não é uma pergunta, mas o tom penoso em sua voz
destrói algo dentro de mim. — Meu caro menino de ouro, você sabe que
não pode se ter as duas coisas, não é? — Vovó inclina sua cabeça para o
lado e me encara de forma severa. — Você não pode ter o amor quando se
escolhe a vingança, Oliver. Tampouco, ter a vingança quando se escolhe o
amor.
A dor ultrapassa meu rosto.
— Eu perdi tudo por causa dele — sussurro. — Cada pedaço de mim.
Cada memória que compartilhei com minha mãe. Eu não posso desistir.
— Essa pessoa é mais importante do que esse sentimento? — minha avó
indaga. — Ela é mais importante que sua a vingança, Oliver?
Sim.
Mas nunca saberá disso. Summer nunca poderá saber que me têm de
corpo e alma. Nunca poderá saber que eu a amo, como nunca amei nada em
toda a minha vida. Sempre será a minha luz, a minha memória favorita.
O amor que desejo viver, contudo jamais poderei.
Não se pode ter vingança e amor no mesmo jogo.
Não se pode ganhar a batalha estando em trincheiras diferentes.
E, no meio dessa guerra, nós dois perdemos. Nós dois sairemos
quebrados.
Porém, eu sou o responsável por cravar a faca, por fazê-la desistir.
Eu ganharei essa guerra de corações, porém, perderei o meu no
caminho.
— Não, ela não é.
PASSADO
Eu nunca pensei em suicídio.
Nunca ansiei por tal ato. Sempre amei a vida, as cores e a sensação de
calor.
Sempre amei viver.
Mas então, um dia, a gente acorda se sentindo mal. Péssimo. Como se a
vida pesasse de forma esmagadora sobre nossos ombros. Como se a
verdade sobre a nossa existência fosse um eco, que cada vez que gritamos,
o som é devolvido em uma cacofonia superior.
Percebemos que esse vazio corrosivo desgasta o corpo e a alma.
Desgasta tudo o que nos envolve. Esse vazio vem acompanhado de
memórias dolorosas. Palavras cruéis. Sentimentos desconexos. Esse vazio
vem acompanhado apenas de... vontade de parar de sobreviver. De fingir
que o mundo não desmoronou ao nosso redor.
Nunca pensei em suicídio, até a última surra que meu pai me deu. Até
que entendi o significado das palavras da minha mãe naquela noite. Até que
entendi que o piano não era apenas o nosso lugar, mas também o seu cofre
particular, onde guardou o seu bem mais precioso.
O seu último adeus. E a última pancada em minha vida.
Hesitante, desdobro o papel amarelado em minhas mãos, passando meus
dedos pelas letras delicadas que um dia pertenceram a ela. Em um ato de
coragem, leio suas últimas palavras:
“Meu pequeno super-herói,
Talvez você me odeie quando ler essas palavras. Talvez nem ao menos
irá querer lê-las. Mas quero que saiba, Ollie, que eu te amo. Eu te amei
desde o momento em que soube que crescia dentro de mim. Te amei desde
quando seus olhos se abriram pela primeira vez e você me encarou. Te amei
desde que sorriu para mim, quando deu seus primeiros passos.
Mas foi quando você completou cinco anos e foi à escola pela primeira
vez, que soube que era a minha salvação. Porque quando voltou estava
radiante, Ollie. Falava sobre números, possibilidades e em como adorava
aquele lugar, como queria que todos amassem como você amava. Foi a
primeira vez em dias que sorri de verdade, foi quando percebi que
precisava manter aquele sorriso em seu rosto.
Porque você, aquele sorriso, foi o meu pingo de esperança em um
mundo podre. Foi a minha força em meio ao choro. A minha luz em meio a
escuridão. Você me mostrou que mesmo que todo o nosso mundo ruísse,
você continuaria a me salvar. Me dando um motivo para continuar.
E eu continuei. Por você, por Andi, eu continuei, meu pequeno super-
herói.
Mas, enquanto continuava, não percebi que também falhava com vocês.
Falhava quando dizia para ser forte quando nem mesmo eu era. Falhava
quando te deixava me abraçar, noite após noite, quando eu quem deveria te
abraçar até dormir.
Eu falhei em tantos quesitos, Ollie.
Por isso, por não aguentar mais falhar com você e seu irmão, eu estou
indo embora. Estou indo recomeçar a minha vida. Porque se eu me curar,
se eu voltar a ser feliz, poderei voltar e buscá-los, poderei ser forte por mim
e por vocês. Poderei ser a mãe que merecem. Porque agora, eu não posso,
filho.
Eu não posso mais fingir que não estou definhando. Não posso mais
suportar a dor que essa casa me traz e não posso mais aguentar tudo o que
venho aguentando ao lado do homem no qual me casei. Não posso mais te
abraçar e permitir que você cuide dos meus machucados.
Você, Oliver, é a minha esperança. Porque sei que nunca desistirá como
eu. Que nunca abandonará seu irmão como estou fazendo.
Antes de ir, saiba que meu coração sempre será seu, meu pequeno
super-herói. Eu te amo com cada batida do meu coração.
Além disso, Oliver, quero que preste atenção nas minhas próximas
palavras:
Brandon não é o dono da Wright Enterprise. Você é, Ollie. Você e
Andrew são os herdeiros de tudo o que estou deixando.
Todos os documentos estão no apartamento escondido em Nova York.
Pegue-os. Então, quando tiver a idade certa e achar que a hora chegou,
procure por Jonathan. Diga a ele que está cobrando o que ele me deve.
Diga a ele que Amber o apoiará. E faça o que é necessário, Oliver. Pegue
de volta tudo o que Brandon nos tomou. Tire tudo o que ele valoriza, assim
como ele tirou tudo o que amamos.
E Oliver, as pessoas falarão de mim, vão tecer comentários falsos. Vão
dizer que morri. Mas lembre-se: um artista pode até morrer, mas as suas
obras? Elas serão eternizadas.
Eu te amo.
Amarei até meu último suspiro.
Mamãe.
Lágrimas descem pelo meu rosto, enquanto minha mente é um espiral
de pensamentos e emoções. Não sei o que fazer, não sei o que pensar.
Apenas suspiro fundo, secando as lágrimas e levando a garrafa aos meus
lábios.
E, então, eu bebo. Cada maldita gota do álcool desce queimando pela
minha garganta. Desconto tudo em algo que não fará mal a ninguém, a não
ser a mim mesmo. Faço isso por tanto tempo que quando termino, não sei
bem como poderei caminhar de volta ao baile, a casa de Verônica.
Porém, preciso. Preciso contar a minha amiga o que acabei de descobrir.
Contar a ela o que posso fazer para me livrar do que Brandon faz comigo,
desde que ela foi embora.
Eu preciso fazer isso.
Eu...
Uma movimentação na lateral do píer faz com que eu erga meu rosto,
me deparando com uma silhueta feminina.
— Isso é uma propriedade privada — declaro, sem olhar para ela. —
Sugiro que saia.
Não desejo companhia. Não desejo que ninguém me salve do meu
martírio. Eu preciso sentir cada dor. Preciso sentir tudo enquanto permito,
porque quando tudo isso acabar, não restará nada de bom em mim para
aproveitar.
— Não, não é.
Sua voz é doce, delicada. Porém, há uma tensão. Um medo escondido
em suas sílabas que me obriga a finalmente encará-la.
E me arrependo amargamente.
Porque no instante que faço isso. Encontro a garota mais linda que já
cruzou em meu destino. Os olhos castanhos assustados, o cabelo loiro
amarrado em um rabo de cavalo e a boca entreaberta.
Ela é incrivelmente linda.
Perfeita.
Eu deveria até mesmo dizer que poderia se comparar a uma deusa. Pois,
nesse instante, cada maldito resquício dos meus pensamentos é invadido por
ela.
Seus cílios batem levemente enquanto pisca e inclina a cabeça para o
lado me estudando, me observando, tentando entender quem sou ou o que
estou fazendo.
Prometo a mim mesmo que, mesmo sob a névoa bêbada, ela sempre será
inesquecível, única.
Porque a desconhecida acaba de salvar algo que nem imagina.
É estranho como uma coisa pode acontecer tão rápido, mas parecer tão
lento.
Eu não esperava que minha vida se tornaria uma sucessão de desastres
tão bem elaborados, como vem acontecendo desde a última semana. A cada
decisão que tomo, uma nova avalanche me atinge e tudo que planejo,
escorre pelos meus dedos, me levando a um beco sem saída.
Toda essa vingança, fez com que eu perdesse Summer. Meus amigos.
Minha vida.
Agora, enquanto observo as ruas de Nova York passarem pelos meus
olhos, mensuro se realmente valeu a pena. Não sinto a sensação de vitória, a
qual sempre achei que sentiria quando finalmente me libertasse. Apenas
sinto como se tudo dentro de mim estivesse vazio, sem nenhuma
importância.
— O que estamos fazendo aqui? — Andrew questiona assim que o táxi
para em frente a enorme estrutura.
— Você precisa saber de algo antes de voltarmos para casa — Estendo
meu braço, entregando ao taxista o valor cobrado e saio do automóvel. — E
também há alguém que quero que veja antes de tudo acontecer.
Observo junto a Andrew, o enorme prédio espelhado que abriga a
Blackwell Enterprise. A primeira vez que estive aqui, não entendia nada do
que nos esperava quando nos tornaríamos adultos. Porém, enquanto
caminhamos entre as inúmeras pessoas que correm de um lado para o outro,
entendo o porquê Dylan ama isso. Ama a atmosfera competitiva que este
lugar trás.
Sorrio fraco, mesmo que a hesitação queime em minhas veias. Estou
assustado de uma forma que mal consigo disfarçar. Não é como se fosse
fácil destruir um legado e ainda ser feliz. Trair meus antepassados com
afinco e findar o resto que resta minha família, para vingar toda a destruição
causada por alguém que não merecia carregar o mesmo sobrenome que o
meu e de Andrew, carrega um peso que nunca percebi que era esmagador.
Nem isso pertence a Brandon.
Ele se apossou de tudo. Roubou não só tudo o que meus avós
construíram, como também a vida e a felicidade de todos nós. Ele nos fez
reféns de suas falcatruas, de sua ambição e de sua psicopatia.
Agora está na hora dele nos devolver.
Subimos os inúmeros andares e assim que as portas do elevador
privativo se abrem, Amber está nos esperando. O vestido preto sob medida
se ajusta perfeitamente ao seu corpo. E, por um instante, vejo Verônica nela.
Vejo o brilho que poucos têm, a força envolta a dor e a gentileza.
— Oliver. Andi — Maneia a cabeça.
Meu irmão não hesita em dar um passo à frente e abraçá-la, recebendo
um aperto de volta. Amber cuidou do meu irmão após a morte de Sophie.
Ele foi a válvula de escape dela, enquanto ela era a figura materna que
nunca tivemos.
Nunca serei capaz de agradecê-la por isso.
— Oi, tia Amber — cumprimento.
— Jonathan está te esperando, querido — a voz dela sai baixa. — Eu
faço companhia a Andrew enquanto conversam. Os papéis que me pediu
estão prontos, assim que terminarem, basta me procurar na sala de reuniões.
Concordo brevemente. Erguendo a cabeça, me afasto deles, rumo ao
escritório presidencial, no fim do corredor.
É uma sensação estranha, saber que estou prestes a pedir ajuda de
alguém que machucou a minha melhor amiga. Mesmo que ela esteja a par
de tudo e tenha me encorajado a isso, sinto que estou traindo sua amizade
ao me juntar a seu pai.
O secretário de Jonathan abre a porta quando me aproximo e me limito a
balançar a cabeça em agradecimento, já que estou envolvido demais em
meus pensamentos para conseguir proferir qualquer coisa.
— Oliver — a voz rouca me faz olhar em direção a mesa de mogno e
encarar os seus olhos castanhos.
— Jonathan — Respiro fundo.
Jonathan Blackwell é praticamente idêntico a Dylan. Os rostos severos,
a mandíbula marcada e os olhos observadores e perigosos. Todavia,
diferente de Dylan, que mascara bem esse lado, seu pai não se importa em
escondê-lo.
Ele recosta-se em sua poltrona, apontando com queixo para que me
sente à sua frente. Ao seu lado, há um retrato de Verônica, Dylan, Ed e
Sophie. Eles ainda eram crianças, mas o sorriso estampado no rosto deles,
enquanto olham para seus pais, faz com que algo doa em meu peito.
Meu pai nunca se preocupou em ter algo meu e de Andrew. Ele nunca
teve um porta-retratos em sua mesa. Nunca participou de nossas
apresentações, formaturas ou aniversários.
Ele nunca foi um pai.
— Amber disse que precisava da minha ajuda — Jonathan profere,
cruzando os braços na altura do peito. — Você tem certeza de que quer
isso?
— Você me ajudará se eu disser sim?
— Minha filha sairá machucada? — é sua única pergunta.
— Nunca. — Ergo meu queixo, lançando-lhe um olhar convicto. — Eu
nunca machucaria a minha melhor amiga.
Jonathan apenas maneia a cabeça, concordando. Ele leva a mão até a
mandíbula, coçando a barba por fazer e fixa seus orbes em meu rosto.
— Eu devo um favor à sua mãe. Ela nunca me cobrou, mas sinto que
você será a minha forma de pagamento — declara. — Eu vou ajudá-lo a
destruir seu pai, Oliver. Você tem meu apoio e da minha empresa. Tudo o
que é dele, será seu se desejar. E não precisará mais se preocupar com o que
ele fará, porque se Brandon tocar em você ou em Andrew, ele terá que se
preocupar comigo.
— Qual foi o favor que ela te cedeu? — pergunto, curioso. — Para você
não hesitar em me ajudar?
Um sorriso frio cruza seus lábios, ao mesmo tempo que me encara.
— Amber, sua mãe e Theodora eram melhores amigas — declara, dando
de ombros. — Thea me odiava. Mas sua mãe se importava mais com os
sentimentos de Amber. Sabia que ela me amava tanto quanto eu. Sua mãe
era para Amber o que você é para Verônica. Abigail sabia que eu a amava,
então, me ajudou a conquistá-la.
Balanço a cabeça. Decidindo que não me importo com isso. A história
de Jonathan e Amber é mais complexa do que qualquer outra coisa.
— Há outra coisa — digo.
— Diga.
— Eu vou me tornar o CEO da Wright Enterprise.
Eu me tornaria. Reconstruiria o legado dos que vieram antes. Apagaria
Brandon da nossa vida.
— Não espero menos que isso.
— Mas para isso acontecer, eu vou expor todos os crimes de Brandon.
— Os olhos de Jonathan encontram os meus outra vez. — Em todas as
mídias. Quero que o mundo saiba quem ele é de verdade.
Jonathan sabe exatamente o que eu farei e sorri friamente quando
explico que após tudo sair na mídia, o escândalo fará com que as ações da
Wright Enterprise desmoronem. Então, pegarei tudo de volta. Farei com que
o mundo saiba que eu sou o novo proprietário.
Todavia, Jonathan será nomeado CEO temporário até minha formatura.
Ele cuidará de tudo, no mesmo tempo que farei a empresa que meu pai
tanto ama, ser destruída de dentro para fora, onde apenas ele será o culpado.
É a minha vingança final.
O que preparei por anos.
Eu não sou mais um mero peão no tabuleiro de Brandon.
Eu não sou aquele que recebe os socos.
Não é mais meu sangue que mancha os tapetes caros.
Eu sou Oliver Wright.
Herdeiro.
E, logo, dono de tudo o que meu progenitor mais ama.
Mostrarei a ele que desde aquela noite, em que me fez perder uma parte
da memória, ele despertou algo em meu âmago. Me fez perceber que não
deveria usar minhas tentativas para fazê-lo me amar. Mas, sim, para destruí-
lo.
Cada parte dele.
Durou anos, mas finalmente vingarei cada cicatriz em minhas costas.
É o fim do jogo.
E eu sou o vencedor.
itsverônicablackwell: MUITAS!!!
itsedmundblackwell: ZERO.
itsanaluparker: Como diabos eu vou decidir qual fantasia usar em um
dia, Oliver?
itshazelsmith: Fico com a Capitã-Marvel. Dylan vai usar a do Homem
de Ferro. Sem discussões!
itsdylanblackwell: Oliver, eu vou te matar!
itsjoshbrown: Como decidiu a sua fantasia tão rápido, Haz?
itshazelsmith: Google. Você encontra todas as fantasias lá, idiota.
Guardo meu celular, ignorando a conversa deles e volto meu olhar para
Logan, que está prestando atenção na estrada.
A música Do I Wanna Know? do Arctic Monkeys toca no rádio e o vento
entra pelas janelas. O silêncio dentro do automóvel é confortável e é como
se finalmente todas as catástrofes tivessem de fato acabado, e agora apenas
a sensação de paz prevalecesse.
Eu gosto disso. Gosto de não precisar me preocupar com tantos
problemas, segredos e desavenças.
— Você pode me levar até onde Levi está?
Sua cabeça se vira em minha direção.
— Eu devo me preocupar com isso?
— Não.
— Se você entrar em confusão, eu não vou te salvar — retruca,
semicerrando os olhos. — Estamos entendidos?
Reviro meus olhos, concordado.
Vinte minutos depois, estamos parando em frente à enorme mansão dos
Johnson.
A residência parece uma daquelas casas de filmes de comédias
românticas. Porém, não deixa de ser luxuosa e familiar. Toda a estrutura
tem um estilo americano, como as mansões de férias em Hamptons.
Embora, mesmo sendo que toda a fachada grite família, nenhuma outra
palavra poderia definir os Jonhson do que poder.
Eles são referência quando se trata da política da cidade. Sendo que a
Senhora Johnson é candidata a senadora e o Senhor Johnson é o juiz mais
respeitado do estado, tendo uma carreira invejável nos tribunais.
— Aconselho a ir até a piscina. — Logan dá de ombros, desinteressado.
Ele nem ao menos me segue. Apenas vai em direção a casa,
conversando animadamente com uma senhora sentada na sala de estar. Não
é novidade que Underwood têm acesso a casa dele como se fosse membro
da família.
Aceito o conselho, seguindo até a área da piscina e encontro Levi,
dentro da piscina, nadando de um lado para o outro. A estatura de seu corpo
sobe e desce na água. Inerte em tudo o que está acontecendo à sua volta.
Entretanto, quando, enfim, emerge da água, seu olhar se fixa ao meu.
Não me surpreendo quando as pupilas escuras se tornam severas, quase
que com raiva.
Johnson sai da água trajado apenas de uma sunga. A água escorre pela
pele escura e, assim que puxa uma toalha, secando o rosto e a joga por cima
dos ombros, caminhando em minha direção, sinto como se ele estivesse
pronto para começar uma guerra sangrenta.
— O que caralhos você está fazendo aqui? — grunhi, parando a minha
frente.
— Pedindo um favor.
— Vai se foder, Wright! — xinga, fuzilando-me. — Você magoa a
minha melhor amiga e ainda aparece na minha casa, pedindo um favor?
Logan aparece, de repente, segurando um prato com sanduíches e um
copo com suco de laranja. Ele nem ao menos olha em nossa direção, apenas
dá de ombros e se senta em uma das espreguiçadeiras, decidindo não
interferir.
— Eu não quero que faça o favor para mim. — Franzo o cenho. —
Quero que faça para Summer.
Confusão invade suas feições ao mesmo tempo que preciso respirar
fundo.
— Explique-se.
— Quero que use a fantasia de Homem-Aranha, na festa de aniversário
dela.
— Ela odeia festas.
Dou de ombros.
— Mas ama a Marvel — afirmo, convencido. — E o que melhor do que
os melhores amigos comemorarem o aniversário dela, trajados com os seus
personagens favoritos?
— Homem-Aranha é o personagem favorito dela.
— Eu sei.
Ele cruza os braços em frente ao corpo.
— Seria a sua chance de chamar a atenção dela — comenta baixinho. —
Seria a sua chance de ela te perdoar.
— Eu sei, mas vocês merecem mais isso — finalmente digo o
verdadeiro motivo pelo qual estou aqui. — Você merece estar vestido como
o personagem favorito dela, depois de tudo. Depois de quase perderem o
elo que tinham. Eu não quero estar entre vocês, Levi. Eu desejo que Sum
seja feliz e ela te ama. Por isso, sei que te ver vestido como o personagem
favorito dela, vai ser como um dos seus melhores presentes de aniversário.
Johnson finalmente entende o meu ponto.
— Você tem certeza? — a pergunta sai tão suave que até mesmo me
surpreende.
— Sem sombras de dúvidas. — Enfio as mãos nos bolsos da calça. —
Eu prometi não machucá-la, Levi, e quebrei essa promessa.
Os olhos de Levi me encontram.
— Mas você está disposto a tudo para reconquistá-la, não é?
— Sim.
— Seja sincero — aconselha. — Summer não liga para festas, fantasias
ou qualquer outra coisa. Ela se importa com a verdade. Com confiança. De
qualquer modo, apenas seja você. Conte a ela a sua versão.
Sorrio fracamente em sua direção.
— Eu farei isso.
Levi, pela primeira vez desde que eu me lembro, sorri verdadeiramente
em minha direção. Não há aquele rancor, raiva, ciúme sem fundamento.
Superamos nosso desencontro; agora tenho certeza disso.
— Alguma chance dela nos confundir, se eu e você usarmos as mesmas
fantasias?
Balança a cabeça, soltando uma risada nasalada.
— Não. A minha fantasia e a dela são incomparáveis.
Sua sobrancelha se ergue em confusão.
— Como vocês vão se vestir?
Ergo o queixo, orgulhoso. Ansiedade correndo dentro de mim, meu
coração começando a bater descontrolado em meu peito.
— Como uma dupla.
Eu nunca me fantasiei.
Nem ao menos nas festas de Halloween.
Brandon não aceitava, achava que isso era perda de tempo. Porém, hoje
me encaro no espelho como se pudesse fazer isso todos os dias, se Summer
apenas me pedisse. Se ela desejasse, eu usaria esse traje quantas vezes fosse
necessário.
— Você está ridículo — a voz debochada de Andrew ressoa no meu
quarto.
Encaro-o pelo espelho do meu closet, franzindo o cenho.
— Você está vestido como Thor, Andrew. Me respeite! — bufo,
terminando de arrumar meu traje.
— A sua roupa é pior.
— Sim, Deus do Trovão, eu concordo com você — resmungo
sarcasticamente, caminhando até o outro lado do cômodo. — Agora ande
logo, não posso me atrasar.
— Jesus, Summer te transformou em um nerd completo! — Sua
gargalhada ecoa por todo o ambiente.
Paro por um segundo, encarando-o. Depois de tudo o que aconteceu em
Nova York, fiquei com receio de que Andrew ficasse traumatizado ou
machucado pelos acontecimentos. Porém, é como se, após a morte de
Brandon, tudo estivesse mais leve.
Finalmente ele pode ser a versão que éramos quando estávamos só nós
dois.
Andrew pode ter a boa vida que sonhei para ele.
— Ah, Ollie? — o tom hesitante, me faz encará-lo. — Eu quero que ela
te perdoe.
Solto um sorriso fraco.
— Eu também, Andi.
— Mas, se ela não te perdoar, Sum ainda continua sendo a minha
cunhada favorita.
Dou uma passo à frente, pegando o necessário e indicando o queixo para
que começasse a andar até o primeiro andar. Nós estamos atrasados e
pretendo chegar na casa de Verônica antes de Summer.
Quero estar lá para vê-la. Para ver o presente que enviei essa tarde para
casa dela, mesmo que não saiba que fui o remetente.
Quero apenas que seus olhos me encarem mais uma vez.
— Ela será a sua única cunhada, Andi! — exclamo, convicto. —
Ninguém antes ou depois. Summer é inigualável.
Andrew sorri. É um sorriso grande. Alegre.
Um que sempre quis que se mantivesse em seus lábios e que, agora, é
possível.
Após anos posso, enfim, dizer que mesmo isso custando mais do que
estava disposto, valeu a pena.
Valeu a pena, pois Andrew está feliz, minha mãe está bem e eu
finalmente estou livre.
Livre do meu passado. Livre dos segredos. E o principal: livre de
Brandon Wright e tudo o que ele representa.
Finalmente, eu sou o Ollie. O meu próprio super-herói.
O garoto de oito anos que teve seu mundo arrancado do eixo. O
adolescente de quatorze anos que teve a melhor memória roubada, mas que
agora retorna.
Eu sou apenas uma pessoa que fez de suas cicatrizes, um motivo para
voltar a dançar.
E hoje, ressignifico o dia vinte e um de março em minha vida e na vida
de Summer.
Vou enviar um exército para encontrá-lo
No meio da noite mais escura
É verdade, eu vou te resgatar
Eu nunca vou parar de marchar para chegar até você
No meio da luta mais difícil
É verdade, eu vou te resgatar
Rescue | Lauren Daigle
Fim.
Eu vou dar tudo de mim para você
Você é o meu fim e o meu começo
Mesmo quando eu perco, estou ganhando
Porque eu te dou tudo de mim
All Of Me | John Legend
— Vamos lá, Ollie. Isso vai ser fácil! — Verônica exclama, do outro
lado da sala.
Ok.
É fácil.
Só preciso entrar lá e dizer as palavras. Palavras que estão dentro de
mim desde aquela festa a fantasia, anos atrás. Palavras que apenas vão
concretizar tudo o que vivemos, durante todo esse tempo. Palavras que nem
ao menos imaginava que um dia estaria tão ansioso para proferi-las.
Além disso, programei tudo isso certinho. Nada pode dar errado.
Quer dizer, pode dar errado se Summer disser um belo não na minha
cara.
— Qual a chance dela dizer não? — pergunto nervoso.
Levi, que está do outro lado da sala, rola os olhos, entediado, e leva
o copo até os lábios, bebericando, antes de abandoná-lo na mesa e vir ao
meu encontro. Seus passos são lentos, ao mesmo tempo, alarga a gravata
borboleta.
Assim que para a minha frente, solta um suspiro, cruzando os
braços.
— Você é um dos maiores CEO’s de Saint Vincent e está com medo
de sua namorada? — Solta uma pequena gargalhada. — Vamos, Wright,
não seja um bundão!
Franzo o cenho incomodado.
— Você deveria me ajudar aqui, não atrapalhar.
— Eu estou te ajudando. — Ergue uma sobrancelha. — Faça essa
merda antes que Analu entre aqui, me arraste para aquela cadeira e me
obrigue a ficar lá, assistindo mais um filme dos Vingadores.
Endireito minhas costas, ao mesmo tempo que encontro um par de
olhos brilhando do outro lado da sala. Verônica está sorrindo para mim,
passando a mão pela barriga. Sei que está assim pelos hormônios da
gravidez, já que carrega dois monstrinhos que herdarão os seus genes e os
de Logan.
Atena e Noah nascerão em poucos meses e já estou ansioso para
esse momento. Acho que ver o nosso grupo crescendo, se tornando uma
nova geração, é de fato, algo que anseio. Anseio que eles cresçam longe de
todas as dores e machucados, que precisamos enfrentar para conseguir a
nossa felicidade.
Não apenas os filhos de Vee, mas os meus também. Caso a loira que
sou completamente apaixonado aceite o que irei propor hoje. O que desejo
há muito tempo.
Eu quero uma família com Summer.
Quero pequenos homens-aranhas correndo pela nossa sala.
Quero que Andrew e ela passem horas em nosso cinema.
Quero tudo.
Uma vida e mil e outras coisas.
Minha melhor amiga dá um passo à frente, vindo a nosso encontro.
Seu olhar nunca deixa o meu, assim que para ao lado de Levi, inclina a
cabeça para o lado.
— Você a ama?
É uma pergunta que todos sabem a resposta.
— Com cada átomo do meu corpo.
— Ela te ama? — pergunta mesmo sabendo a resposta.
Porém, mesmo assim, penso em todos os nossos momentos. Como
nos conhecemos anos antes, naquele píer. Como ela me esperou, segurou
nossas memórias, mesmo quando não sabia o que havia acontecido. Penso
em como me apaixonei perdidamente por ela, dia após dia. Em como seu
sorriso iluminou até mesmo as partículas mais escuras da minha alma.
Ela lutou por mim, mesmo quando eu não acreditava que havia
salvação.
Me segurou quando meu mundo desabava.
Me fez sentir que era suficiente.
Digno de amar e merecedor desse sentimento.
Eu penso em nosso acordo.
O acordo que deveria durar apenas meses e se transformou em algo
perpétuo em meu âmago.
Sem hesitar, um sorriso se estende pelo meu rosto.
— Mais do que pensei que um dia mereceria.
Verônica e Levi sorriem para mim, acompanhando o gesto.
— Ótimo, agora vamos lá. Você precisa pedir uma certa marvete em
casamento.
A primeira vez que meu coração foi partido, eu tinha sete anos.
Era natal. Me lembro que nossa casa estava toda decorada para a
ocasião. Havia uma enorme árvore decorada no centro da sala, guirlandas,
pisca-piscas e até mesmo bonecos de neve que Verônica, Dylan, Oliver e eu
havíamos feito no jardim da frente, pela manhã.
Eu amava aquela temporada.
Amava porque era nessa ocasião que todos nós fingíamos ser uma
família feliz. Mamãe abandonava seus saltos e vestidos, substituindo-os por
pulôveres temáticos. Sua maquiagem bem elaborada, dava lugar a uma
suave.
E, mesmo que não fosse amorosa, não poderia dizer que não
continuava linda. Porque Amara Parker era a mulher mais bela do universo.
A mulher que um dia prometi que seria igual. A cópia perfeita.
Todavia, naquele natal, tudo mudou.
Mudou como os segundos correm pelo relógio, quando pedimos
para o tempo ir devagar. Mudou como o estado da água em um dia
ensolarado. Como um estalar de dedos.
Estávamos sentados à mesa, poucos minutos antes da ceia. Papai
sorriu para mim, me lançando uma piscadela. Ele contou como foi o dia
dele na empresa, como o novo clube da cidade daria lucros em breve. Como
seria nossas próximas férias em uma das ilhas paradisíacas que amávamos.
Éramos uma família completa. Com seus defeitos, mas ainda assim, uma
família.
Então, o toque de telefone emergiu na sala e tudo mudou.
Papai levantou, caminhou até onde o aparelho estava e o levou até
seu ouvido, escutando atentamente quem estava na outra linha.
No primeiro momento, senti que algo estava errado. Levantei meus
olhos arrumando o laço em meu cabelo e tentei sorrir, mostrar que tudo
ficaria bem. Porém, no segundo momento, ele olhou para minha mãe com
os olhos vazios. Com decepção irradiando de suas feições.
Mas foi no terceiro momento, que percebi que meu coração seria
quebrado diversas vezes. Que compreendi que estaria sozinha a partir dali. e
precisava ser o suficiente para mim e por mim. Pois ninguém faria isso.
Porque Henrique Parker, meu pai, caminhou até o onde seu casaco
estava, segurou a chave do seu carro e encarou minha mãe.
— Você não deveria ter feito isso — foram suas últimas palavras
antes de sumir, na data mais importante do ano para nós.
Ele sumiu a noite toda. Não houve ceia. Nem história para dormir
naquela noite. Não houve nada. A não ser o choro doloroso de mamãe,
vindo de sua biblioteca. Apenas a maquiagem suave borrada e uma garrafa
de vinho vazia quando entrei no recinto.
Lembro-me que caminhei até onde ela estava e segurei sua mão,
perguntando o que estava acontecendo. O porquê estava tão triste. Todavia,
não esperava que quando seus olhos encontrassem os meus, não houvesse
aquele amor, aquele cuidado e zelo com que sempre tratou.
Havia uma mulher machucada, destruída por alguém que amava. A
casca da mulher de antes.
Havia só uma mulher que acreditava no amor e foi destruída sem
aviso prévio.
— Sabe onde seu pai está no momento? — ela me perguntou,
sarcástica, sem me dar tempo de responder. — Com a outra família dele,
Analu. Ele está com a mulher que é apaixonado desde a adolescência. Está
com os responsáveis que um dia te tirarão tudo, não só o amor do seu pai,
mas, seus amigos, sua casa, sua vida. Você será como a gata borralheira. A
filha não desejada.
Lembro-me também que dei um passo para trás, assustada pelo
sorriso diabólico que se estendeu pelo seu rosto.
— Papai não faria isso.
— Não? E onde ele está agora, querida? — Sua voz era puro
veneno. — Ah, lembrei! Ele está com a família que ama de verdade.
Eu pude escutar o barulho do meu coração sendo quebrado.
Era doloroso.
Cruel.
Eu tinha apenas sete anos.
Era uma criança.
E… ele escolheu outra pessoa a mim.
Nunca descobri quem era a minha meia-irmã. Nem a mulher pelo
qual meu pai era apaixonado. A mulher que foi responsável pela ruína da
minha mãe e por ela ter virado seu rancor contra mim, por não ter sido a
filha favorita.
Eu nunca descobri nada disso.
Até hoje, nesse momento
— Você está me ouvindo, Henrique? — Mamãe grita, mesmo que
seu corpo fraco dificulte seus passos. — Você está ouvindo uma porra das
palavras que estou falando?
Meu pai se vira para ela. Os olhos escuros encaram-a com desdém,
antipatia.
— Estou tentando não fazer tal ato — grunhe. — Mas sua voz
insuportável dificulta isso.
A risada histérica dela rompe a sala de estar onde estão. Não é
novidade para ninguém dentro desta casa que eles apenas brigam. Que se
odeiam. Porém, hoje é como se tudo estivesse por um fio. Como se
ninguém mais suportasse viver em corda bamba.
Por um momento, um sorriso cruza meus lábios.
Este é o fim.
Eles vão se separar. Eu e Theo vamos ser livres disso. Nós vamos ter
paz.
Mas, como sempre, estou enganada.
— Oh! Você está correndo para ir ver a sua garçonete? — A
pergunta de mamãe é frívola. — Diga a ela e aos bastardos que a verdadeira
Senhora Parker está mandando lembranças.
As narinas de papai se dilatam, seus olhos a fuzilam.
— Não. Fale. De. Amanda! — grita pausadamente. — Nunca fale
dela!
Sua risada aumenta, mas, desta vez, é desprovida de emoção.
— Por que não? Eu sou a mulher traída aqui, querido. Eu gerei seus
herdeiros. Eu! — Suas unhas compridas batem contra tecido do terno caro
dele. — No final do dia, eu ainda sou a esposa respeitada, a mulher que sai
ao seu lado nas capas de revistas, a que é convidada para os bailes e
almoços, com outras esposas de aristocratas. Eu, Henrique. Não ela. Ela é
apenas a prostituta que engravidou de um herdeiro milionário, para sair bem
na vida.
Engulo em seco, apertando o parapeito do segundo andar. Nenhum
deles percebeu minha presença. Nenhum deles sabe que escuto toda a
conversa. Até mesmo penso em voltar para meu quarto, mas, é como se
meus pés estivessem fincando raízes no piso e ignorasse meu comando para
sairmos.
— Você é uma hipócrita de merda! — Papai devolve, irritado. —
Você me deu Analu, apenas isso. Todos nós sabemos de quem realmente
Theo é filho.
Não.
Não.
Não.
Theo não.
— Vamos jogar na cara um do outro? Que ótimo! — Sua voz sobe
um decibel. — Vamos lá em cima e dizer a Analu que você também deu a
ela uma irmã fora do casamento. Vamos dizer que a bastarda está sempre
por perto. Que você a colocou no mesmo colégio e na porra da mesma
universidade. No mesmo ciclo de amigos. Vamos lá e contar a nossa filha
que o resultado da sua traição com a prostituta, se senta na mesa dos seus
amigos. Finge ser uma boa garota, depois de roubar o posto dela, de melhor
amiga de Verônica. E namora Dylan Blackwell? Ah, não vamos deixar de
fora que também rouba o papai em todos os natais?
Meu pai dá um passo à frente, encarando-a.
— Analu, querida, venha aqui! — Ela grita, sem se importar com
papai. — Temos uma novidade.
— Ama…
Tudo em mim dói.
Tudo rompe.
Respirar é algo que não consigo.
Hazel.
Hazel, que não gostava da minha presença.
Hazel, que se sentou ao meu lado horas atrás e sorriu.
Hazel, que teve todas as oportunidades de me dizer e nunca disse.
Hazel Grace… Grace como minha avó.
É minha irmã. Minha maldita irmã.
— Chega! — Grito.
O som ressoa pela mansão toda.
Meus pais olham para mim, com os olhos arregalados. Eles não
perceberam que eu estava aqui. Eles nunca olham para mim. Por isso, não
me surpreendo.
— Querida… — Henrique começa.
— Vocês são pais de merda! — exclamo, descendo as escadas. —
Vocês me negligenciaram. Me fizeram ter diversos traumas. Não me deram
suporte. Nem ao menos foram em alguma das minhas partidas, verem como
a filha de vocês é boa no esporte que pratica. Vocês são os piores pais.
Então… não me usem para aplacar a briga idiota de vocês. Nunca. Mais.
Me. Usem.
Não espero pela resposta.
Apenas me viro, batendo meus saltos no chão e seguindo para o
único lugar onde preciso estar. Para o único lugar onde sei que minha raiva
vai ser aplacada.
Chega de fugir dos meus problemas. De mascarar minhas dores.
Chega!
Estou cansada de fazerem isso comigo.
Cansada das pessoas acharem que podem pegar pedaços do meu
coração. Que podem me machucar e sair impunes. Que por ser insensível,
sou ingênua.
Mas, o que poucos sabem, é que por baixo de tudo isso; das
máscaras, das respostas e das atitudes, há uma garotinha que acreditava em
contos de fadas. Eu colocava o mundo na frente dos próprios desejos e me
doava mais do que recebia. Isso nunca me levou a ser a primeira opção,
sempre foi aquela que lembravam apenas quando precisavam.
Tive as primeiras decepções cedo. O primeiro coração partido não
veio de um garoto qualquer, veio do meu próprio pai. Depois vieram
inúmeros outros, porque é isso, quando não encontramos aquele amor em
casa, quando não somos enxergados e queridos no lugar onde chamamos de
lar, nós passamos a personificar isso em qualquer pessoa.
Nessa personificação, eu deixei que tirassem pedaços importantes
demais meus. Deixei que meus pais me odiassem por não ser aquilo que
queriam. Deixei que meu coração se apaixonasse por Mike Burhan, um
idiota que era obcecado na minha melhor amiga. Deixei que destruísse
minha amizade com a única pessoa que segurou meu mundo, apenas porque
meu pai foi ambicioso.
Deixei que o mundo acreditasse que eu era uma vadia sem coração.
Deixei tanto, porque, cada pessoa que um dia valorizei, me doei,
tirou um pedaço de mim, me estilhaçou lentamente, até que só restasse
minhas máscaras.
Então, todos podem me chamar de tudo. Vadia, insensível,
manipuladora… Mas há algo que ninguém poderá me chamar, de fraca.
Nunca, em hipótese alguma. Porque eu lutei uma batalha sozinha, sobrevivi
por mim e sempre me coloquei em primeiro lugar.
Agora, enquanto subo os degraus da mansão Blackwell, estou
fazendo o mesmo.
Estou retribuindo todas as vezes que fui negligenciada, martirizada e
feita como um experimento de um casamento fracassado.
Caminho a passos lentos, quase que parando, pela enorme sala de
estar vazia. Seguindo até a área externa, onde todos estão. Oliver e Summer
estão sentados em uma espreguiçadeira, rindo. Depois de tudo o que
passaram, realmente merecem a tranquilidade que emanam deles.
Do outro lado, Josh, está sorrindo para mim. Meu olhar rola pelo
ambiente, à procura de uma certa pessoa, mas apenas encontro Verônica,
Logan e Ed parados à beira da piscina conversando.
E há Levi. O idiota egocêntrico que havia me atingido em um lugar
bem profundo, quando disse que eu sempre era uma segunda opção. Bem,
ele estava certo.
Eu odeio quando me fazem sentir assim. Sem saída. Sem
escapatória.
Foi o que ele fez. Pela primeira vez, alguém me fez ficar sem
resposta. Sem reação. Tocou em algo inerte em meu peito e eu odeio isso.
Odeio que além de competir comigo, em tudo, ele ainda teve a audácia de
achar que era bom o suficiente para me diminuir.
De relance, a pessoa que estava procurando passa pelas portas
abertas, ao lado de Dylan.
Eu nunca havia reparado em Hazel. Nunca me chamou a atenção de
que ela poderia ser uma traidora de merda. Uma aproveitadora sem
escrúpulos. Mas é isso que acontece quando você abaixa a guarda, quando
permite que as pessoas adentrem seu peito.
Eles te traem. Te machucam e recolhem todas as partes boas.
— Parker? — Summer me chama, erguendo uma sobrancelha.
Olho-a de relance, sorrindo friamente. Oliver, que está ao seu lado,
apenas semicerra os olhos, encarando-me. É como se ele soubesse o que
estou prestes a fazer, como se me dissesse que se isso machucar Summer, o
meu problema será com ele.
Logan, por outro lado, entrelaça sua mão na de Verônica e
caminham rápido até onde estou. O casal de ouro de Saint Vincent sempre
aparece para salvar os amigos, sempre são a válvula de escape.
Percebo, então, que eles sempre foram assim.
Sempre foram família. A família dela. Sempre escolherão Hazel em
vez de mim.
Eu sou a penetra. A indesejada. A segunda opção.
Está com os responsáveis que um dia te tirarão tudo, não só o amor
do seu pai, mas, seus amigos, sua casa, sua vida.
A voz da minha mãe invade meu subconsciente.
Ela estava certa. Eles me tiraram tudo.
Cada coisa que acreditei ser minha.
Encaro Hazel com um sorriso sarcástico no rosto. Seus olhos
grandes e escuros me encaram confusa, mas ao mesmo tempo, é como se
ela soubesse. Dou um passo para trás, jogando meu cabelo por cima do
ombro. Mascarando todas as minhas emoções, até restar apenas frieza em
meu olhar. Apenas ódio por tudo o que passei. Por tudo que me tiraram.
Eu estou sozinha.
Para sempre a segunda opção.
— Hazel, querida, você já contou a eles que você é minha irmãzinha
bastarda?
Quando as primeiras linhas, da história do terceiro livro surgiram,
durante a minha última semana no estágio, num momento em que estava
perdida e com medo, eles me fizeram sorrir. Me fizeram entender que eles
eram os meus próximos protagonistas. E o sorriso que soltei foi maior do
que qualquer outra reação já esboçada, enquanto criava essa série.
Naquele momento compreendi que, sim, eles foram feitos para ficar
juntos.
Analu Parker e Levi Johnson são almas gêmeas. Eles não são fáceis,
não são o casal que todos imaginavam, mas a química foi instantânea e a
história logo nasceu em meu peito.
Por isso, digo que nós nos veremos logo em Saint Vincent 3, com a
história da garota insensível e o capitão do time de natação, que
conquistaram a todos.
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Escrever War of Hearts foi um desafio. Um desafio em que me
perguntei trocentas vezes se valeria a pena, se realmente deveria seguir com
a história de Oliver e Summer. E eu consegui. Consegui fazer com que eles
chegassem até vocês, que pudessem viver e sentirem essa história linda e,
ao mesmo tempo, dolorosa. Uma história que me fez repensar em vários
pontos da minha vida, me fez voltar a acreditar que todos somos
merecedores do amor e que mesmo machucados, podemos ser felizes.
E, para fazer isso, nunca estive sozinha. Tive pessoas incríveis ao meu
lado que surtaram, apoiaram e seguraram a minha mão durante todo o
trajeto. Por isso, por elas, eu estou escrevendo esses agradecimentos agora.
Em primeiro lugar, quero agradecer a minha mãe, meu braço direito, que
me apoiou quando disse que estava largando um emprego para me dedicar à
WOH. Eu te amo, obrigada por ser meu maior apoio, por me lembrar de
dormir e me xingar quando estou ultrapassando meus próprios limites. Você
é gigante, mãe!
À minha irmã, Maria Júlia, que se sentou ao meu lado inúmeras vezes,
me fez companhia, enquanto criava Saint Vincent, e me perguntou se eu
poderia escrever um livro sobre ela. Eu te amo, meu amor, até a lua, ida e
volta.
À minha tia Laisa, que me apoiou e sorriu em todas as minhas
conquistas. Você é incrível e eu te amo para sempre.
À April Jones, que enquanto escrevo essas linhas está criando um dos
meus livros favoritos. Que surtou comigo em cada processo desse livro,
virou noites ao meu lado para que ele chegasse até vocês. Amiga, quando
trocamos uma mensagem na DM pela primeira vez, nunca imaginei que ali
estava conhecendo uma das minhas melhores amigas. Eu te amo. Você é
gigante, merece todo o sucesso do mundo e obrigada por chutar a minha
bunda quando pensei em desistir de WOH, por virar noites comigo
enquanto tagarelava sobre Oliver me tirar do sério, e por sempre me apoiar.
À L. Júpiter, a criadora do meu velho favorito e esposa – não oficial –
do Oliver. Amiga, você chegou de repente na minha vida, mas, foi uma das
melhores amizades que conquistei em 2022. Obrigada por me apoiar, por
surtar e por ser tão incrível. Eu não terminaria WOH sem você e suas
risadas, sem nossos sprints da madrugada e sem que chutasse a minha
bunda todas as vezes que disse que não conseguiria. Eu te amo, Asteca. O
mundo é pequeno para você!
Ao Grupo do Cano (April e Júpiter), que me ensinou que amizades
podem ser construídas quando menos esperamos. Obrigada por
proporcionarem uma amizade como a da Vee e do Ollie. Por serem as
minhas pessoas e estarem dispostas a me ajudar, por terem virado noites e
noites, para que conseguíssemos entregar nossos projetos na data esperada.
Por soltarem pérolas insuperáveis. Obrigada também por salvarem o meu
2022, mesmo com quilômetros de distância nos separando. Conhecer vocês
tornou tudo mais suportável. Vocês me mostraram o significado de amizade
mesmo quando o mundo ruía ao nosso redor. Eu amo vocês por 24h, depois
disso já sabem, né?
À Ketlyn, minha beta e amiga. Quando você chegou na minha vida,
nunca imaginei que se tornaria tão especial. Os seus áudios – ofendendo
minorias e me xingando – tornou a escrita desse livro uma aventura
inigualável. Obrigada por tudo, pelos surtos, pelas mensagens, por ser
responsável pela metade da playlist e por tudo o que representa na minha
vida.
À minha assessora e revisora, Camille Gomes, que enquanto eu escrevia
este livro, lidava com todo o resto. Amiga, você é foi luz para minha vida.
Eu te amo e obrigada por tudo!
À minha equipe de adms do grupo de leitoras: Isabella Martins, Isabela
G., Lari e Lívia. Obrigada por me darem suporte. Vocês são incríveis.
À Pigmalateia, minha segunda revisora, que passou semanas revisando
War of Hearts para que ele chegasse até vocês da forma como imaginei.
Obrigada por ter embarcado nessa loucura que é Saint Vincent ao meu lado
quando gritei por ajuda. Você é incrível!
Ao meu time de betas: Bruna (a nossa marvete, assim como Sum),
Eduarda (que moraria em Saint Vincente, se pudesse), Esther Hadassa (a
memória de Dory que me mandava mensagem surtando com as teorias),
Isabella Martins (que queria guardar todos em um potinho - menos o
Brandon), Maria Eduarda Klazer (a presidente do jurídico do Oliver), Iza
Frazão (a maior fã de Oliver Wright), Ketlyn (que ofendeu dez minorias a
cada aúdio) e Thais (que surtou a cada frase e amou esse livro a cada
capítulo); Obrigada por terem tido paciência quando excluí tudo e comecei
do zero. A ajuda e o apoio de vocês foram essenciais para que Oliver e
Summer nascessem.
À Amanda e Larissa, minhas melhores amigas. Que mesmo que eu
tenha negligenciado a nossa amizade durante esses meses, apareceram na
minha casa e se sentaram ao meu lado, enquanto criava esse mundo, me
apoiaram e se orgulharam por tudo o que construí. Vocês são as melhores
amigas que eu poderia ter.
À Isadora Lacerda, minha leitora crítica e, Isamara Gomes, minha
leitora sensível, obrigada por terem embarcado nesse mundinho que é Saint
Vincent e me ajudado a escrever esse livro de forma responsável.
Às minhas parceiras de lançamento, que criaram conteúdos incríveis,
que fizeram WOH chegar até vocês. Obrigada a cada uma. Vocês foram
incríveis. Obrigada por tudo!
Por último e não menos importante, a todos os meus leitores, que me
acompanharam até aqui. Que são o motivo pelo qual ainda continuo
dançando. O apoio de vocês me incentiva a continuar a criar Saint Vincent.
Mesmo quando tudo o que desejo é correr no sentido contrário, vocês me
mostram o quão gigante a nossa cidade caótica é. Saint Vincent e todas as
histórias presentes nela, só existem por causa de vocês!
Com amor,
Annie Belmont.
SUMÁRIO
WAR OF HEARTS
NOTA DA AUTORA
AVISO DE GATILHO
PLAYLIST
PRÓLOGO
01 | CRIANDO LAÇOS
02 | MEDIDAS DRÁSTICAS
03 | PRIMEIRA FESTA
04 | ARRUINADO POR COMPLETO
05 | PROPOSTA
06 | UM CASAL DE MENTIRA
07 | PROPÓSITOS
08 | ESTAMOS NISSO JUNTOS
09 | LUGAR FAVORITO
10 | OITO ANOS
11 | REGRAS BÁSICAS
12 | INÍCIO DE SEMESTRE
13 | OÁSIS
14 | BEM-VINDO AO JOGO
15 | MALDITO DÉJÀ-VU
16 | ENCONTROS
17 | TEMPO EMPRESTADO – PARTE I
17 | TEMPO EMPRESTADO – PARTE II
18 | DEZ ANOS
19 | VESTIDO PERFEITO
20 | UMA CAMA SÓ
21 | CENTRAL PARK
22 | TODOS OS MEUS INSTANTES
23 | COMPLETAMENTE MALUCO
24 | INIGUALÁVEL
25 | O COMEÇO DO NOSSO DECLÍNIO
26 | EU ESTOU AQUI POR VOCÊ
27 | VOLTAR A DANÇAR
28 | QUATORZE ANOS – PARTE I
29 | VOCÊ É A MINHA DUPLA
30 | PARTE PERDIDA
31 | EU PRECISO DELAS
32 | MOTIVO DAS MINHAS PERDAS
33 | DESTRUÍDOS – PARTE I
34 | DESTRUÍDOS – PARTE II
35 | CLUBE DOS HOMENS
36 | CAÍMOS PELA ÚLTIMA VEZ
37 | QUER COMPANHIA?
38 | ÚLTIMO ENCONTRO
39 | BAILE ANUAL
40 | ÚLTIMA DANÇA
41 | ESTAMOS ACABADOS
42 | QUATORZE ANOS – PARTE II
43 | CORRIDA MATINAL
44 | FIM DE JOGO
45 | NÓS VANCEMOS
46 | VOCÊ PODE TUDO
47 | VINTE E UM DE MARÇO
48 | ÚLTIMA TENTATIVA
EPÍLOGO
BÔNUS: SEGUNDA OPÇÃO
NOTAS FINAIS
AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
[1]
Wall Street é uma rua que corre na região inferior de Manhattan, e é considerada o coração
histórico do atual Distrito Financeiro da cidade de Nova York.
[2]
Obra de Sarah J. Maas, autora de ACOTAR.
[3]
Você deve ser a loirinha?
[4]
Chef renomado, premiado com várias estrelas Michelin e uma estrela da telinha no Reino Unido e
internacionalmente, com programas como Kitchen Nightmares, Hell's Kitchen, Hotel Hell e
MasterChef US.
[5]
Obra da autora Elena Armas.
[6]
Obra da autora Ali Hazelwood.
[7]
Obra da autora Elle Kennedy.
[8]
Obra da autora Shelby Mahurin.
[9]
Obra nacional da autora L. Júpiter, disponível na Amazon e no Kindle Unlimited.
[10]
Obra da autora norte-americana Sarah J. Maas.
[11]
Personagens da série Grey 's Anatomy.
[12]
Lista emitida anualmente pela revista Forbes que destaca os mais brilhantes empreendedores do
mundo todo.
[13]
figura de linguagem que coloca palavras de significados opostos lado a lado, criando um
paradoxo que reforça o significado das palavras combinadas.
[14]
É uma série de filmes de animação da Disney, produzido pela Pixar.
[15]
Filme da franquia Marvel dirigido por Joss Whedon.
[16]
Wanda Maximoff é uma personagem fictícia interpretada por Elizabeth Olsen na franquia de
mídia Universo Cinematográfico Marvel (UCM).
[17]
Ator e produtor de cinema norte-americano.
[18]
Filme norte-americano de 1986, dirigido por Tony Scott, produzido pela Paramount Pictures e
estrelado por Tom Cruise.
[19]
Filme da franquia Marvel dirigido por Cate Shortland e estrelado Scarlett Johansson e Florence
Pugh.
[20]
O brunch recebe esse nome porque é a junção de breakfast e lunch, ou seja, é a junção do café da
manhã e do almoço.
[21]
The Maze Runner ou Maze Runner é uma saga de livros do escritor americano James Dashner
[22]
The Hunger Games é uma trilogia literária de aventura e ficção científica, escrita pela americana
Suzanne Collins.
[23]
Museu mais visitado de Nova York. É o sétimo no mundo, com mais de 6 milhões de visitas por
ano.
[24]
Série de televisão norte-americana de drama adolescente, baseada na série literária da escritora
Cecily von Ziegesar.
[25]
Obra da autora Lyssa Kay Adams.
[26]
Clube da Luta é um filme dirigido por David Fincher com Brad Pitt, Edward Norton.
[27]
O Empire State Building foi o edifício mais alto do mundo de 1931 a 1972. Atualmente é o sexto
prédio mais alto de Nova York.
[28]
Grey’s Anatomy é um drama médico norte-americano exibido no horário nobre da rede
ABC.
[29]
É um tipo de transtorno dissociativo que envolve a incapacidade de recordar importantes
informações pessoais que tipicamente não seriam perdidas pelo esquecimento normal. É geralmente
causada por trauma ou estresse.
[30]
Clea Strange ou somente “Clea” é uma personagem da Marvel Comics que foi criada pelo
famoso escritor Stan Lee e o artista Steve Ditko.