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ACÚSTICA E V IBRAÇÕES

no. 53, dezembro 2021 1

Alexandre Maiorino

1D
Festival Internacional de Música em Casa

News & Reviews


Universidade Federal do Fimuca Áudio
Rio Grande do Norte
Resumo: Em razão da pandemia do coronavírus no ano de 2020, prati-
Campus Universitário camente todas as atividades educativas foram canceladas no primeiro
Lagoa Nova semestre, incluindo atividades culturais, como os festivais de música.
CEP 59078-970 Nesse contexto, nasceu o Festival Internacional de Música em Casa -
Caixa postal 1524 Fimuca, que reuniu, em três edições, profissionais, professores de mú-
Natal - RN sica e mais de 36 mil participantes para compartilhar experiências e
{alexandre.maiorino} conhecimentos. O Fimuca proporcionou um momento ímpar de imersão,
@musica.ufrn.br
interação e criação, atualização e compartilhamento de conhecimentos,
que em meio à pandemia da COVID-19 gerou possibilidades de diálogos
Júlio César de Melo e reflexões sobre as formas contemporâneas de se apreciar, consumir,
Colabardini

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criar, compartilhar, aprender e ensinar música. Nesse contexto, o ob-
Universidade Federal do jetivo desse trabalho é relatar as atividades desenvolvidas durante o
Rio Grande do Norte Fimuca, por meio do olhar dos coordenadores dessa ação.
Campus Universitário International Music Festival at Home – Fimuca Audio
Lagoa Nova
Abstract: Due to the coronavirus pandemic in 2020, practically all edu-
CEP 59078-970
cational activities were cancelled in the first half of the year, including
Caixa postal 1524
cultural activities such as music festivals. In this context, the Internati-
Natal - RN
onal Music Festival at Home (Fimuca) was born. Over three editions
{juliomelo10}
@gmail.com
Fimuca brought together, in three editions, professionals, music teachers
and more than 36 thousand participants together to share experien-
ces and knowledge about music. Fimuca provided a unique moment of
Flavio Gabriel Parro immersion, interaction and creation, updating and sharing knowledge,
da Silva

1D
which in the midst of the COVID-19 pandemic generated possibilities
Universidade Federal do for dialogues and reflections on contemporary ways of enjoying, con-
Rio Grande do Norte suming, creating, sharing, learning and teaching music. In this context,
Campus Universitário the objective of this work is to report the activities developed during
Lagoa Nova Fimuca, through the eyes of the coordinators of this action.
CEP 59078-970
Caixa postal 1524 1. Introdução
Natal - RN Em março de 2020 a pandemia do novo coronavírus se alastrou rapida-
{contato} mente por todo o mundo e, em função do isolamento físico imposto, as
@flaviogabriel.com.br
práticas educativas presenciais foram deslocadas abruptamente e emer-
gencialmente para os mais diversos cenários e ambientes virtuais de
aprendizagem, demandando estratégias para a atuação no ciberespaço.
O momento era de incertezas quanto à doença e suas consequências.
Hoje, no momento da escrita deste relato, o mundo passa pela terceira
onda de uma variante altamente contagiosa.

fimuca.musica.ufrn.br

@fimuca /Fimuca Figura 1: Festival Internacional de Música (em Casa) – Fimuca Áudio.

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Dentro do contexto inicial da pandemia, muito se discutiu a respeito do futuro dos processos de ensino
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e aprendizagem, a possibilidade do ensino remoto emergencial como alternativa, e iniciativas nesse


sentido começaram a ser tomadas. Um dos grandes desafios era o ensino de música, uma vez que
instrumentos musicais, especialmente os de sopro, eram potenciais propagadores do vírus.
Além disso, a maioria das práticas musicais em conjunto acontecem em ambientes fechados, isolados
e com ventilação mecânica. É importante ainda destacar que, tocar um instrumento musical envolve
conhecimento procedimental. Para ensinar e aprender um instrumento, as ações do corpo — postura,
gesto e empunhadura — fazem parte dos conhecimentos que queremos construir. Dessa forma, no
âmbito do ensino-aprendizagem de instrumentos a distância ou do ensino remoto emergencial (ERE),
surgem diversas necessidades de construção e atualização de conhecimentos sobre metodologias de
aprendizagem, sobre a utilização de recursos tecnológicos, mas talvez, seja ainda mais importante
destacar as diversas reestruturações cognitivo-afetivas necessárias para lidar com esse cenário. Em
2020, a educação musical a distância, apesar de contar com pesquisas, estratégias metodológicas e
com cursos estabelecidos em âmbito público e privado, ainda era uma temática considerada periférica
em se tratando das discussões sobre música e seu ensino. Embora muito antes da pandemia houvessem
ações de educação musical a distância, como os exemplos de Gohn [1], Penalba et al. [2], Riley [3] e
Salvadori [4], o sentimento geral, em particular sentido pelos autores diante da experiência na Escola
de Música da UFRN (EMUFRN), era de total paralisação das atividades musicais. Tradicionalmente, o
mês de julho é um mês importante de festivais musicais, como por exemplo o Festival de Inverno de
Campos do Jordão, e em 2020 os festivais não iriam acontecer. Muitas universidades e escolas iniciaram
experiências de ensino por meio remoto e a UFRN iniciou um semestre opcional para que professores e
alunos pudessem explorar possibilidades do ensino remoto emergencial. Em geral, muitos professores
de instrumento optaram por não oferecer disciplinas remotas, focando em conteúdos teóricos.
Ainda no mês de abril, o professor de trompete da EMUFRN, Flávio Gabriel, iniciou os contatos e
discussões para viabilizar o que viria se tornar uma iniciativa pioneira e, que, de certa forma, possibilitou
um suspiro de alívio a muitos músicos durante o período inicial da pandemia. Assim nasceu o Festival
Internacional de Música em Casa, mais conhecido como Fimuca, veja a Figura 1. A seguir, traremos
uma pequena discussão que enfocará educação musical, tecnologias e educação a distância, temas que
ajudam a compreender o contexto em que o Fimuca está inserido e trazem um olhar para as discussões
que permeiam esse cenário. Em seguida, será apresentado um breve relato sobre as três edições do
festival no ano de 2020, com ênfase na sua última edição, o Fimuca Áudio, e em especial sobre as
palestras voltadas à acústica de salas e acústica musical.

2. Tecnologias e educação musical a distância


A pesquisa em educação musical brasileira, voltada para o uso de tecnologias digitais e da Internet, se
divide em vários assuntos. Alguns autores abordam como ela pode ser usada na Educação Musical a
Distância [5, 6]; outros mencionam a importância da internet e das comunidades virtuais [7, 8][9]; ou
aspectos da tecnologia que podem ser utilizados em sala de aula por professores e alunos [10–12]. Isso
mostra que o assunto apresenta inúmeras maneiras de ser estudado e que as implicações nas práticas
musicais são as mais diversas.
Um tema muito recorrente nos artigos é o domínio das ferramentas tecnológicas pelos profissionais
da Educação Musical [5–8, 11]. Isso fica claro quando os autores defendem que o estudo desse tipo
de tecnologia deveria estar presente na universidade, nos cursos superiores de música, não apenas em
disciplinas ou conteúdos específicos, mas de forma transversal, em atividades de ensino, pesquisa e
extensão.
No Brasil, atualmente, a Educação a Distância (EaD) encontra-se em relativa expansão, apesar de essa

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modalidade não ser nova no país, tendo dado seus primeiros passos até os anos de 1970, passando,

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depois, por uma estagnação. Apenas na década de 1990 iniciativas foram retomadas com o incentivo
de políticas públicas [13]. Essa expansão, sobretudo no ensino superior, ocorreu nos primeiros anos do
século XXI em universidades públicas — atualmente parece haver um certo desinvestimento — e, nos
últimos anos, há uma expansão clara nas universidades privadas. Porém, há de se ressaltar que foi a
implantação do sistema de formação superior da Universidade Aberta do Brasil, criado pelo Ministério
da Educação (MEC) em 2005, que impulsionou as instituições de ensino superior (IES) federais a
aderirem efetivamente à modalidade a distância. Outras iniciativas ainda merecem destaque como a
Fundação Cecierj (Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro)
e o Prolicenmus (vinculado ao Programa Pró-Licenciaturas do MEC, estabelecido pela Resolução
CD/FNDE 34 de 9 de agosto de 2005). Na área da Educação Musical a Distância, temos a implantação,
entre 2005 e 2007, dos três primeiros cursos de Música do Brasil ministrados na modalidade EaD —
UFSCar, UnB e UFRGS — que fazem parte das iniciativas do MEC para expansão do ensino superior,
estando UFSCar e UnB inseridas no âmbito do Sistema da Universidade Aberta do Brasil e UFRGS no
âmbito do PROLICENMUS.
Mas não é apenas nos cursos formais a distância, ofertados pelas universidades, que se encontram as
formas de construção online de conhecimentos na contemporaneidade. Entendemos nesse cenário que
a internet deu origem a diversas possibilidades para a aprendizagem e trabalhos diversos com música,
gerando uma grande quantidade de oportunidades que potencializam a criação, edição e educação
musical.
Nos últimos anos, temos observado o surgimento de novas plataformas para aprendizagem musical,
com enfoques diferenciados, muitos desses sites funcionam como “pontos de encontro” para alunos
que desejam conhecer o trabalho de professores que oferecem cursos online; outros, disponibilizam
vídeos pré-gravados, com acompanhamento de tutores que indicam materiais e dão feedbacks para
vídeos enviados pelos alunos; existem ainda outros modelos, como plataformas que não contemplam a
possibilidade de feedback, mas apresentam um vasto repositório de videoaulas.
Em um mundo no qual o contato com a música está facilitado, devemos trabalhar a qualidade desses
contatos, desenvolver e incentivar escutas ativas, atentas e críticas, valorizando e buscando a compreen-
são da diversidade, de culturas e características de cada estilo musical. Há um certo grau de exigência
de se admitir que é necessária a criação de filtros individuais e coletivos para selecionar o que pode ser
realmente importante, pois há um grande risco de se perder o foco do que se deseja conhecer.
Uma questão muito importante nesse contexto é o acesso a ambientes online e atividades ou cursos
desenvolvidos por universidades e institutos federais, o que demonstra a necessidade de ocupação dos
espaços online por instituições como escolas, centros de formação e principalmente por universidades
e institutos federais. Essas são instituições reconhecidas pela qualidade de suas atividades de ensino,
pesquisa e extensão e, ao ocupar também o ciberespaço, elas podem ofertar conteúdos de qualidade,
confiáveis e com metodologias adequadas, atuando em duas frentes que nos parecem urgentes na
atualidade: o trabalho com a seleção de materiais disponíveis, caminhos de aprendizagem e filtros
possíveis no ciberespaço; e o estabelecimento de metodologias que levem a uma práxis educativa
nos espaços online e que sirvam de base para concepções de educação musical online a serem
desenvolvidas nos mais diversos espaços formativos possíveis, que não obedeçam apenas aos interesses
mercantilistas de exploração econômica mas caminhem no sentido de uma educação musical ativa,
crítica e libertadora.

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2.1 Sobre a extensão universitária


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É possível caracterizar o Fimuca como uma atividade de extensão universitária, que, por sua vez,
pode ser entendida como uma das dimensões acadêmicas que, indissociável do ensino e da pesquisa,
sedimenta a universidade. Podemos caracterizar a extensão como a necessidade de aproximação com
as demandas sociais, educativas, culturais e tecnológicas que se fazem presentes. É nessas demandas
que a universidade encontra o estímulo e o motivo para produzir “ciências” que sejam respostas aos
problemas da sociedade. Nessa interação dialógica, docentes, técnicos e estudantes com os diferentes
saberes, conceitos e experiências dos mais diversos grupos, aprendem e ensinam em um movimento
constante, o que Santos [9] denomina de “ecologia de saberes”.
Nesse sentido, compreendemos que o Fimuca fez extensão, buscando a construção, ampliação e
atualização de conhecimentos junto com os grupos que a universidade dialoga, valorizando todo o
conhecimento historicamente construído, mas também aquilo que possa vir a ser produzido, difundido,
refletido ou reinventado, o que é bem diferente de transpor para tais grupos um saber hierarquizado e
já denunciado por Paulo Freire nos moldes de uma “educação bancária”.

3. Breve relato
O Festival Internacional de Música em Casa - Fimuca, foi idealizado pelo Prof. Flávio Gabriel e contou
com a colaboração na coordenação geral do festival dos professores Júlio César de Melo Colabardini e
Alexandre Maiorino, todos da Escola de Música da UFRN. O Festival também só foi possível graças
à colaboração de dezenas de professores, músicos e artistas, que gentilmente cederam seu tempo e
conhecimento sem qualquer tipo de remuneração. Fez parte de um projeto de extensão da Escola
de Música da UFRN e contou com o suporte institucional no uso da estrutura de informática da
universidade, que possibilitou a participação online simultânea de um grande número de participantes.
O Fimuca teve três edições. A primeira, entre os dias 29 de junho a 3 de julho de 2020, foi uma tentativa
de replicar um grande festival de música (observe a Figura 3 (a)). Nessa edição, foram oferecidas
21 salas simultâneas de aulas e palestras: composição, regência, canto, piano, harpa, violão, violino,
viola, violoncelo, contrabaixo, flauta, oboé, clarinete, fagote, saxofone, trompete, trompa, trombone,
eufônio, tuba e percussão. Essa edição, carinhosamente chamada de Fimuca Erudito, contou com
a participação de grandes nomes da música de concerto, ministrando aulas de instrumento, aulas
teóricas, palestras, conversas e muita troca de informação e experiência. Foram também oferecidas
mesas-redondas no período da noite com temas da atualidade do universo musical e do ensino de
música. A ideia era a mesma dos festivais presenciais, a de uma imersão profunda no universo da
música por uma semana inteira: o dia se iniciava com a transmissão do podcast Música Viva, produzido
pela Escola de Música da UFRN e se encerrava à noite com as mesas-redondas do festival. Em todas
as edições foram designados coordenadores de sala, que eram responsáveis por convidar e montar o
calendário de atividades específicas de cada classe oferecida. Para auxiliar os coordenadores durante o
festival, foram selecionados diversos alunos, da EMUFRN e de outras instituições. Os coordenadores
de sala eram em geral professores e músicos de cada área específica, que montaram as atividades,
convidando professores e palestrantes que apresentaram durante o festival temáticas pertinentes aos
assuntos abordados.
Em todas as edições as aulas aconteceram pela plataforma Zoom e foram transmitidas para o YouTube.
Apenas os alunos inscritos possuíam acesso aos links, mas a organização estava ciente que especial-
mente os links do YouTube certamente seriam vazados para não inscritos. Entretanto, isso de fato não
seria um problema, pelo contrário, o número de visualizações das aulas na plataforma do YouTube
mostra o enorme alcance obtido pelo festival. Vale destacar que em se tratando da plataforma Zoom, a
escolha se deu devido a algumas possibilidades interessantes, como a alternativa de retirar a compressão

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sonora automática, transmitindo a sonoridade “real” do microfone utilizado, o que amplia o espectro

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de frequências sonoras e aumenta a qualidade. Há a possibilidade ainda de compartilhamento sonoro
de qualquer áudio, em estéreo, podendo o mesmo estar disponível em qualquer endereço da internet,
sendo acessado em qualquer navegador. É possível também compartilhar áudios disponíveis apenas no
computador do ministrante de uma aula. Nesse sentido, há grande diferença para outras plataformas
que permitem o compartilhamento sonoro apenas de determinados navegadores ou conteúdos online.
Destacamos a importância dessas questões, sendo esse um recurso essencial para aulas de música via
Internet. Um print da tela da plataforma Zoom com participantes do Fimuca pode ser visto na Figura 2.

Figura 2: Tela do Zoom mostrando participantes do Fimuca.

A EMUFRN disponibilizou também a plataforma Moodle, instalada em seus servidores, para propiciar
um ambiente virtual de ensino e aprendizagem, em que eram disponibilizados os links das aulas,
materiais de apoio ao ensino como links de vídeos, materiais escritos, exercícios, entre outros. Pelo
Moodle foram feitas também as listas de presença e emissão dos certificados de participação do
festival. Outro fato importante a ser mencionado é que todas as edições do Fimuca foram gratuitas aos
participantes, mostrando a importância do ensino público de qualidade e a enorme generosidade dos
professores e músicos que colaboraram com o festival. Para uma visão completa das classes oferecidas
na primeira edição do Fimuca e ainda a oportunidade de assistir a transmissão das mesas redondas,
acesse o link: https://fimuca.musica.ufrn.br/fimuca-2020-erudito/.
A segunda edição do Fimuca aconteceu entre os dias 27 e 31 de julho de 2020. Essa edição, cari-
nhosamente chamada de Fimuca Pop, teve foco especial na música popular (veja a Figura 3b. Ao
todo foram 23 classes oferecidas. Pela manhã, o participante poderia escolher entre quatro classes:
Composição e Arranjo; Harmonia e Improvisação; Teoria Musical e Música Popular. Pela tarde, foram
oferecidas 18 classes: canto, piano, guitarra, baixo elétrico e acústico, violão e 7 cordas, viola brasileira,
bandolim e cavaquinho, cordas populares, harmônica, acordeom, flauta, clarinete, saxofone, trompete,
trombone, bateria, percussão e música eletrônica. Pela noite, foi oferecida a classe de produção musical
e em seguida aconteceram as mesas redondas do festival. Nessa edição, participaram também na
coordenação do festival os professores da Escola de Música da UFRN Pollyana Guimarães, Anderson
Pessoa e Mário Cavalcanti Jr. As mesas redondas da segunda edição do Fimuca podem ser vistas no
link: https://fimuca.musica.ufrn.br/mesas/. Para conhecer cada uma das classes oferecidas na segunda
edição acesse a aba Fimuca –> 2020.2. Nela aparecerá o caminho para todas as classes ofertadas no
Fimuca Pop.

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(a) (b)

Figura 3: Material de divulgação das duas primeiras edições do Fimuca.

Desde a segunda edição do Fimuca pensamos em abordar a área de áudio como uma classe. Entretanto,
entendemos que a área de áudio é ampla, e colocá-la na segunda edição do festival iria deixar a
coordenação geral ainda mais complexa, além de não trazer todo o espectro de temáticas que a envolve.
Assim, a projeção de uma terceira edição era quase inevitável. Por ser uma área bastante específica,
a coordenação geral da terceira edição ficou a cargo do Prof. Alexandre Maiorino, que coordena o
Estúdio Ritornello e é professor do curso técnico em Processos Fonográficos na Escola de Música da
UFRN. Tendo em vista uma colaboração interinstitucional, cinco professores do curso de Produção
Fonográfica da Fatec Tatuí em São Paulo foram convidados para pensar a estrutura do Fimuca Áudio
e atuarem como coordenadores de classe: Luana Muzille, José Carlos Pires Jr., Davison Pinheiro,
Fabrizio di Sarno e Lucas Meneguetti (Figura 4 (a)). O Fimuca Áudio também firmou uma parceria
com a Sociedade Brasileira de Acústica (Sobrac) e com isso foi cadastrado como um evento oficial
da programação do Ano Internacional do Som (IYS) promovido pelo International Commission for
Acoustics (ICA).
Assim, entre os dias 5 e 9 de outubro de 2020, aconteceu a terceira edição do Festival Internacional de
Música em Casa, desta vez em sua edição focada nos estudos em áudio. O Fimuca Áudio ofereceu
pela manhã a classe “Primeiros Passos com Áudio”, cujo objetivo era o de atrair o público de músicos
que não possuíam ou possuíam pouco conhecimento sobre o universo do áudio. A sala contou com
palestras na área de acústica, gravação, mixagem, técnicas de microfonação, produção e criação de
beats, operação de programas de áudio, técnicas de edição de áudio, gravação e mixagem específicas
para voz e dicas para se montar um home estúdio. Os palestrantes procuraram mostrar conceitos de
produção de áudio e acústica de maneira simples, clara e objetiva a todos os inscritos. Pela tarde, foram
oferecidas classes de: Acústica de Salas e Acústica Musical, coordenadas pelos professores Alexandre
Maiorino e Davison Pinheiro (Figura 4 (b)); Audiovisual e Games, coordenada pelo Professor Lucas
Meneguetti; Produção Cultural e Mídias, coordenada pela Professora Luana Muzille; Som ao vivo,
coordenado pelo Professor Fabrízio di Sarno; e Gravação, Mixagem e Masterização, coordenado pelo
Professor José Carlos Pires Jr.

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ACÚSTICA DE SALAS

Alexandre Maiorino
e Davison Pinheiro
COORDENADORES DE ÁREA
Áudio
@fimuca

(a) (b)

ACÚSTICA DE SALAS

Davison Pinheiro

Áudio
@fimuca

(c) (d)

ACÚSTICA DE SALAS ACÚSTICA DE SALAS

Stelamaris Maria Fernanda


Rolla Bertoli de Oliveira
Áudio Áudio
@fimuca @fimuca

(e) (f)

Figura 4: Coordenadores do Fimuca Áudio e Palestrantes sobre o tema acústica — Parte 1/2

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ACÚSTICA DE SALAS ACÚSTICA DE SALAS

Viviane Melo Bruno Masiero

Áudio Áudio
@fimuca @fimuca

(g) (h)

ACÚSTICA DE SALAS ACÚSTICA DE SALAS

Roberto Tenenbaum Tapio Lokki

Áudio Áudio
@fimuca @fimuca

(i) (j)

ACÚSTICA DE SALAS ACÚSTICA MUSICAL

Renato Cipriano Leonardo Fuks

Áudio Áudio
@fimuca @fimuca

(k) (l)

Figura 4: Coordenadores do Fimuca Áudio e Palestrantes sobre o tema acústica — Parte 2/2

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A classe de Acústica priorizou assuntos relativos à acústica de salas e acústica musical, abordando

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uma série de temas relevantes e atuais. Para iniciar as atividades da semana, a arquiteta e diretora da
consultoria acústica AcustikaR, Rafaella Estevão da Rocha (Figura 4 (c)), abriu a classe de “Primeiros
Passos com Áudio” com a palestra “Espuma não isola, caixa de ovo não funciona — uma introdu-
ção à acústica arquitetônica”. Rafaella abordou de maneira dinâmica e em linguagem acessível os
erros comumente encontrados sobre diversos materiais como espumas e caixa de ovo, destacando
a importância de se distinguir condicionamento e isolamento, além de entender o projeto acústico
como apenas especificação de materiais. Em seguida, o Prof. Davison Pinheiro (Figura 4 (d)), da
Fatec Tatuí, palestrou sobre “Acústica de Home Estúdio”. Davison abordou as questões de isolamento
e condicionamento acústico, necessidades específicas de estúdios de gravação, além de exemplos
práticos. Importante ressaltar que ambas as palestras foram as que tiveram maior visualização medida
pela plataforma do YouTube, mostrando o enorme interesse pelos temas abordados.
No período da tarde, a Profa. da Unicamp, Stelamaris Rolla Bertoli (Figura 4 (e)), então presidente da
Sobrac, palestrou sobre a “História da Sobrac e Publicações de Acústica no Brasil”. A Profa. Stelamaris
relatou um pouco da história da Sociedade Brasileira de Acústica e mostrou um levantamento das
publicações em acústica ao longo dos anos em congressos e revistas brasileiras. Em seguida, a
Profa. Maria Fernanda de Oliveira (Figura 4 (f)), do ITT Performance/Unisinos abordou o tema
“Ensaios Acústicos e a necessidade de avaliação multicritérios de materiais acústicos”. Maria Fernanda
discorreu sobre ensaios acústicos e a importância em aferir outros critérios, que não apenas o acústico,
em materiais utilizados na construção civil, visando especialmente às questões de segurança, como por
exemplo o desempenho anti-chamas dos materiais.
Na tarde do segundo dia, a Profa. Viviane Melo (Figura 4 (g)), da UFSM, palestrou sobre “As diferenças
entre Psicoacústica e Acústica Subjetiva” e comentou, além do tema proposto, a respeito de aspectos
importantes sobre métodos de medição de limiares e supra limiares dentro da área da psicofísica,
característica sonora, qualidade sonora e projeto sonoro de um produto, funcionamento da audição
biauricular, entre outros temas importantes sobre o assunto.
No terceiro dia da classe de acústica, foram apresentadas duas palestras. O Prof. Bruno Masiero
(Figura 4 (h)), da Unicamp, ministrou a palestra “O que é som imersivo? Uma introdução ao Áudio 3D
– localização do som, estéreo, ambisonics e binaural”, em que introduziu conceitos sobre o assunto,
abordou a sensação da espacialidade sonora, gravação e reprodução de áudio imersivo além de
comentar sobre pesquisas em andamento sob sua orientação. Em seguida, o Prof. Roberto Tenenbaum
(Figura 4 (i)), da UFSM, palestrou sobre “Aurilização: tornando audível a acústica de uma sala virtual”,
em que abordou conceitos importantes sobre o tema e comentou sobre programas de simulação acústica,
o uso de machine learning e a geração de respostas impulsivas biauriculares no programa RAIOS 7.
No quarto dia, o Fimuca Áudio contou com a participação internacional do Prof. Tapio Lokki (Fi-
gura 4 (j)), da Aalto University na Finlândia, que ministrou a palestra “Loudspeaker orchestra and
spatial impulse response measurements for concert hall characterization”. Foram abordados temas
relacionados à medição de resposta impulsiva espacial em salas de concerto utilizando uma série de
caixas de som localizadas no palco simulando a posição e a direcionalidade de instrumentos de uma
orquestra sinfônica. Com esta abordagem, o Prof. Lokki mostrou principalmente como é possível
avaliar uma série de parâmetros acústicos, mostrando a direção da energia sonora que chega ao ouvinte.
Também abordou pesquisas subjetivas que podem ser realizadas utilizando os dados coletados.
No último dia, foram apresentadas duas palestras. A primeira, do consultor acústico Renato Cipriano
(Figura 4 (k)), diretor da Sonic Arts, consultoria em acústica no Brasil, que apresentou a palestra
“Acústica Arquitetônica para Estúdios de Produção Musical”. Foram discutidos temas relacionados
às necessidades acústicas de estúdios de gravação, além de mostrados diversos estudos de caso em

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que o palestrante participou como consultor em estúdios nacionais e internacionais. Para encerrar
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a classe de acústica do Fimuca Áudio, o Prof. Leonardo Fuks (Figura 4 (l)), da UFRJ, ministrou a
palestra “Instrumento, Espaço, Corpo e Sentido: a Acústica aplicada à Música”. O Prof. Fuks abordou
temas relacionados à acústica musical como a construção de instrumentos musicais, acústica aplicada
à teoria musical como formação de escalas, harmonia, entre outros, acústica aplicada à ciência da voz,
especialmente relacionada ao canto, além de uma abordagem sobre sentido e significado dentro da
música sob a ótica da acústica musical. Com a palestra do Prof. Fuks foi encerrada a classe de acústica
e a terceira e última edição do Festival Internacional de Música em Casa, o Fimuca. As mesas-redondas
do Fimuca Áudio podem ser acessadas pelo link: https://fimuca.musica.ufrn.br/mesas-redondas/.

4. Desdobramentos
Entendemos que o Festival Internacional de Música em Casa - Fimuca - trouxe desdobramentos
relevantes ao panorama do ensino e aprendizagem da música e do áudio no Brasil. Em meio a um
momento de incertezas e ansiedades relacionadas à pandemia do coronavírus, o Fimuca proporcionou
um momento de união, diálogo, construção, ampliação e atualização de conhecimentos — além
de partilha de experiências em torno da paixão de seus participantes, a música. Mostrou também
possibilidades, potencialidades e possíveis limites para uma educação musical a distância, que carece
e merece pesquisas e iniciativas sérias. Proporcionou a diversos profissionais experientes da área o
contato com a tecnologia, seus benefícios e possibilidades, criando novas oportunidades de ensino e
aprendizagem.
O Fimuca Áudio, em particular, reuniu profissionais que são referências em suas atividades, proporcio-
nando uma imersão no universo do áudio, da acústica e da produção musical sem precedentes. Com
a sala “Primeiros passos com áudio” foi possível oferecer aos participantes uma introdução e uma
nova perspectiva de conhecimentos em tecnologia de uma área que aos poucos vem se solidificando
no Brasil. Com as demais salas foi possível proporcionar momentos únicos de interatividade entre
profissionais que, de certa maneira, podem parecer intangíveis e que estavam ali, dialogando e rela-
tando suas experiências, seu trabalho e conhecimento. A classe de acústica, especificamente, reuniu
uma comunidade de profissionais, alunos e professores discutindo e aprendendo sobre temas atuais e
relevantes dentro do universo da acústica de salas e acústica musical, expandindo o público interessado
no assunto e reunindo a comunidade da acústica, mesmo que de forma remota.
Outro desdobramento importante de registro foi a parceria com o Sistema Nacional de Orquestras
Sociais do Brasil - Sinos - com a organização do Fimuca. Dessa parceria, foi proposto o “Concurso
Sinos Jovens Solistas do Festival Internacional de Música em Casa” do qual jovens solistas de todo o
Brasil puderam participar de maneira virtual, com premiações em dinheiro em 20 categorias, em que
alunos oriundos de projetos sociais e escolas públicas também receberam premiações específicas. O
Fimuca, ao todo, teve mais de 36 mil inscritos e mais de 320 mil visualizações no YouTube nas suas
três edições. Apenas no Fimuca Áudio foram 3.500 inscritos e mais de 20 mil visualizações. O Fimuca
certamente deixou marcado seu lugar na história, além de orientar e incentivar diversas outras ações
semelhantes no país, contribuindo ainda mais para a consolidação do conhecimento sobre ensino e
aprendizagem musical no Brasil.

Referências
1. GOHN, Daniel Marcondes. A internet em desenvolvimento: vivências digitais e interações síncronas no ensino a distância de instrumentos musicais.
Revista da ABEM, v. 21, n. 30, p. 25–34, dez. 2013. ISSN 2358-033X. Disponível em: http://www.abemeducacaomusical.com.br/revistas/revistaabem/
index.php/revistaabem/article/view/79.
2. PENALBA, Francisco Alpiste; ROJAS-RAJS, Teresa; LORENTE, Pedro; IGLESIAS, Francisco; FERNáNDEZ, Joaquín; MONGUET, Josep. A
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