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Alexandre Maiorino
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Festival Internacional de Música em Casa
fimuca.musica.ufrn.br
@fimuca /Fimuca Figura 1: Festival Internacional de Música (em Casa) – Fimuca Áudio.
Dentro do contexto inicial da pandemia, muito se discutiu a respeito do futuro dos processos de ensino
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É possível caracterizar o Fimuca como uma atividade de extensão universitária, que, por sua vez,
pode ser entendida como uma das dimensões acadêmicas que, indissociável do ensino e da pesquisa,
sedimenta a universidade. Podemos caracterizar a extensão como a necessidade de aproximação com
as demandas sociais, educativas, culturais e tecnológicas que se fazem presentes. É nessas demandas
que a universidade encontra o estímulo e o motivo para produzir “ciências” que sejam respostas aos
problemas da sociedade. Nessa interação dialógica, docentes, técnicos e estudantes com os diferentes
saberes, conceitos e experiências dos mais diversos grupos, aprendem e ensinam em um movimento
constante, o que Santos [9] denomina de “ecologia de saberes”.
Nesse sentido, compreendemos que o Fimuca fez extensão, buscando a construção, ampliação e
atualização de conhecimentos junto com os grupos que a universidade dialoga, valorizando todo o
conhecimento historicamente construído, mas também aquilo que possa vir a ser produzido, difundido,
refletido ou reinventado, o que é bem diferente de transpor para tais grupos um saber hierarquizado e
já denunciado por Paulo Freire nos moldes de uma “educação bancária”.
3. Breve relato
O Festival Internacional de Música em Casa - Fimuca, foi idealizado pelo Prof. Flávio Gabriel e contou
com a colaboração na coordenação geral do festival dos professores Júlio César de Melo Colabardini e
Alexandre Maiorino, todos da Escola de Música da UFRN. O Festival também só foi possível graças
à colaboração de dezenas de professores, músicos e artistas, que gentilmente cederam seu tempo e
conhecimento sem qualquer tipo de remuneração. Fez parte de um projeto de extensão da Escola
de Música da UFRN e contou com o suporte institucional no uso da estrutura de informática da
universidade, que possibilitou a participação online simultânea de um grande número de participantes.
O Fimuca teve três edições. A primeira, entre os dias 29 de junho a 3 de julho de 2020, foi uma tentativa
de replicar um grande festival de música (observe a Figura 3 (a)). Nessa edição, foram oferecidas
21 salas simultâneas de aulas e palestras: composição, regência, canto, piano, harpa, violão, violino,
viola, violoncelo, contrabaixo, flauta, oboé, clarinete, fagote, saxofone, trompete, trompa, trombone,
eufônio, tuba e percussão. Essa edição, carinhosamente chamada de Fimuca Erudito, contou com
a participação de grandes nomes da música de concerto, ministrando aulas de instrumento, aulas
teóricas, palestras, conversas e muita troca de informação e experiência. Foram também oferecidas
mesas-redondas no período da noite com temas da atualidade do universo musical e do ensino de
música. A ideia era a mesma dos festivais presenciais, a de uma imersão profunda no universo da
música por uma semana inteira: o dia se iniciava com a transmissão do podcast Música Viva, produzido
pela Escola de Música da UFRN e se encerrava à noite com as mesas-redondas do festival. Em todas
as edições foram designados coordenadores de sala, que eram responsáveis por convidar e montar o
calendário de atividades específicas de cada classe oferecida. Para auxiliar os coordenadores durante o
festival, foram selecionados diversos alunos, da EMUFRN e de outras instituições. Os coordenadores
de sala eram em geral professores e músicos de cada área específica, que montaram as atividades,
convidando professores e palestrantes que apresentaram durante o festival temáticas pertinentes aos
assuntos abordados.
Em todas as edições as aulas aconteceram pela plataforma Zoom e foram transmitidas para o YouTube.
Apenas os alunos inscritos possuíam acesso aos links, mas a organização estava ciente que especial-
mente os links do YouTube certamente seriam vazados para não inscritos. Entretanto, isso de fato não
seria um problema, pelo contrário, o número de visualizações das aulas na plataforma do YouTube
mostra o enorme alcance obtido pelo festival. Vale destacar que em se tratando da plataforma Zoom, a
escolha se deu devido a algumas possibilidades interessantes, como a alternativa de retirar a compressão
A EMUFRN disponibilizou também a plataforma Moodle, instalada em seus servidores, para propiciar
um ambiente virtual de ensino e aprendizagem, em que eram disponibilizados os links das aulas,
materiais de apoio ao ensino como links de vídeos, materiais escritos, exercícios, entre outros. Pelo
Moodle foram feitas também as listas de presença e emissão dos certificados de participação do
festival. Outro fato importante a ser mencionado é que todas as edições do Fimuca foram gratuitas aos
participantes, mostrando a importância do ensino público de qualidade e a enorme generosidade dos
professores e músicos que colaboraram com o festival. Para uma visão completa das classes oferecidas
na primeira edição do Fimuca e ainda a oportunidade de assistir a transmissão das mesas redondas,
acesse o link: https://fimuca.musica.ufrn.br/fimuca-2020-erudito/.
A segunda edição do Fimuca aconteceu entre os dias 27 e 31 de julho de 2020. Essa edição, cari-
nhosamente chamada de Fimuca Pop, teve foco especial na música popular (veja a Figura 3b. Ao
todo foram 23 classes oferecidas. Pela manhã, o participante poderia escolher entre quatro classes:
Composição e Arranjo; Harmonia e Improvisação; Teoria Musical e Música Popular. Pela tarde, foram
oferecidas 18 classes: canto, piano, guitarra, baixo elétrico e acústico, violão e 7 cordas, viola brasileira,
bandolim e cavaquinho, cordas populares, harmônica, acordeom, flauta, clarinete, saxofone, trompete,
trombone, bateria, percussão e música eletrônica. Pela noite, foi oferecida a classe de produção musical
e em seguida aconteceram as mesas redondas do festival. Nessa edição, participaram também na
coordenação do festival os professores da Escola de Música da UFRN Pollyana Guimarães, Anderson
Pessoa e Mário Cavalcanti Jr. As mesas redondas da segunda edição do Fimuca podem ser vistas no
link: https://fimuca.musica.ufrn.br/mesas/. Para conhecer cada uma das classes oferecidas na segunda
edição acesse a aba Fimuca –> 2020.2. Nela aparecerá o caminho para todas as classes ofertadas no
Fimuca Pop.
(a) (b)
Desde a segunda edição do Fimuca pensamos em abordar a área de áudio como uma classe. Entretanto,
entendemos que a área de áudio é ampla, e colocá-la na segunda edição do festival iria deixar a
coordenação geral ainda mais complexa, além de não trazer todo o espectro de temáticas que a envolve.
Assim, a projeção de uma terceira edição era quase inevitável. Por ser uma área bastante específica,
a coordenação geral da terceira edição ficou a cargo do Prof. Alexandre Maiorino, que coordena o
Estúdio Ritornello e é professor do curso técnico em Processos Fonográficos na Escola de Música da
UFRN. Tendo em vista uma colaboração interinstitucional, cinco professores do curso de Produção
Fonográfica da Fatec Tatuí em São Paulo foram convidados para pensar a estrutura do Fimuca Áudio
e atuarem como coordenadores de classe: Luana Muzille, José Carlos Pires Jr., Davison Pinheiro,
Fabrizio di Sarno e Lucas Meneguetti (Figura 4 (a)). O Fimuca Áudio também firmou uma parceria
com a Sociedade Brasileira de Acústica (Sobrac) e com isso foi cadastrado como um evento oficial
da programação do Ano Internacional do Som (IYS) promovido pelo International Commission for
Acoustics (ICA).
Assim, entre os dias 5 e 9 de outubro de 2020, aconteceu a terceira edição do Festival Internacional de
Música em Casa, desta vez em sua edição focada nos estudos em áudio. O Fimuca Áudio ofereceu
pela manhã a classe “Primeiros Passos com Áudio”, cujo objetivo era o de atrair o público de músicos
que não possuíam ou possuíam pouco conhecimento sobre o universo do áudio. A sala contou com
palestras na área de acústica, gravação, mixagem, técnicas de microfonação, produção e criação de
beats, operação de programas de áudio, técnicas de edição de áudio, gravação e mixagem específicas
para voz e dicas para se montar um home estúdio. Os palestrantes procuraram mostrar conceitos de
produção de áudio e acústica de maneira simples, clara e objetiva a todos os inscritos. Pela tarde, foram
oferecidas classes de: Acústica de Salas e Acústica Musical, coordenadas pelos professores Alexandre
Maiorino e Davison Pinheiro (Figura 4 (b)); Audiovisual e Games, coordenada pelo Professor Lucas
Meneguetti; Produção Cultural e Mídias, coordenada pela Professora Luana Muzille; Som ao vivo,
coordenado pelo Professor Fabrízio di Sarno; e Gravação, Mixagem e Masterização, coordenado pelo
Professor José Carlos Pires Jr.
Alexandre Maiorino
e Davison Pinheiro
COORDENADORES DE ÁREA
Áudio
@fimuca
(a) (b)
ACÚSTICA DE SALAS
Davison Pinheiro
Áudio
@fimuca
(c) (d)
(e) (f)
Figura 4: Coordenadores do Fimuca Áudio e Palestrantes sobre o tema acústica — Parte 1/2
Áudio Áudio
@fimuca @fimuca
(g) (h)
Áudio Áudio
@fimuca @fimuca
(i) (j)
Áudio Áudio
@fimuca @fimuca
(k) (l)
Figura 4: Coordenadores do Fimuca Áudio e Palestrantes sobre o tema acústica — Parte 2/2
que o palestrante participou como consultor em estúdios nacionais e internacionais. Para encerrar
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a classe de acústica do Fimuca Áudio, o Prof. Leonardo Fuks (Figura 4 (l)), da UFRJ, ministrou a
palestra “Instrumento, Espaço, Corpo e Sentido: a Acústica aplicada à Música”. O Prof. Fuks abordou
temas relacionados à acústica musical como a construção de instrumentos musicais, acústica aplicada
à teoria musical como formação de escalas, harmonia, entre outros, acústica aplicada à ciência da voz,
especialmente relacionada ao canto, além de uma abordagem sobre sentido e significado dentro da
música sob a ótica da acústica musical. Com a palestra do Prof. Fuks foi encerrada a classe de acústica
e a terceira e última edição do Festival Internacional de Música em Casa, o Fimuca. As mesas-redondas
do Fimuca Áudio podem ser acessadas pelo link: https://fimuca.musica.ufrn.br/mesas-redondas/.
4. Desdobramentos
Entendemos que o Festival Internacional de Música em Casa - Fimuca - trouxe desdobramentos
relevantes ao panorama do ensino e aprendizagem da música e do áudio no Brasil. Em meio a um
momento de incertezas e ansiedades relacionadas à pandemia do coronavírus, o Fimuca proporcionou
um momento de união, diálogo, construção, ampliação e atualização de conhecimentos — além
de partilha de experiências em torno da paixão de seus participantes, a música. Mostrou também
possibilidades, potencialidades e possíveis limites para uma educação musical a distância, que carece
e merece pesquisas e iniciativas sérias. Proporcionou a diversos profissionais experientes da área o
contato com a tecnologia, seus benefícios e possibilidades, criando novas oportunidades de ensino e
aprendizagem.
O Fimuca Áudio, em particular, reuniu profissionais que são referências em suas atividades, proporcio-
nando uma imersão no universo do áudio, da acústica e da produção musical sem precedentes. Com
a sala “Primeiros passos com áudio” foi possível oferecer aos participantes uma introdução e uma
nova perspectiva de conhecimentos em tecnologia de uma área que aos poucos vem se solidificando
no Brasil. Com as demais salas foi possível proporcionar momentos únicos de interatividade entre
profissionais que, de certa maneira, podem parecer intangíveis e que estavam ali, dialogando e rela-
tando suas experiências, seu trabalho e conhecimento. A classe de acústica, especificamente, reuniu
uma comunidade de profissionais, alunos e professores discutindo e aprendendo sobre temas atuais e
relevantes dentro do universo da acústica de salas e acústica musical, expandindo o público interessado
no assunto e reunindo a comunidade da acústica, mesmo que de forma remota.
Outro desdobramento importante de registro foi a parceria com o Sistema Nacional de Orquestras
Sociais do Brasil - Sinos - com a organização do Fimuca. Dessa parceria, foi proposto o “Concurso
Sinos Jovens Solistas do Festival Internacional de Música em Casa” do qual jovens solistas de todo o
Brasil puderam participar de maneira virtual, com premiações em dinheiro em 20 categorias, em que
alunos oriundos de projetos sociais e escolas públicas também receberam premiações específicas. O
Fimuca, ao todo, teve mais de 36 mil inscritos e mais de 320 mil visualizações no YouTube nas suas
três edições. Apenas no Fimuca Áudio foram 3.500 inscritos e mais de 20 mil visualizações. O Fimuca
certamente deixou marcado seu lugar na história, além de orientar e incentivar diversas outras ações
semelhantes no país, contribuindo ainda mais para a consolidação do conhecimento sobre ensino e
aprendizagem musical no Brasil.
Referências
1. GOHN, Daniel Marcondes. A internet em desenvolvimento: vivências digitais e interações síncronas no ensino a distância de instrumentos musicais.
Revista da ABEM, v. 21, n. 30, p. 25–34, dez. 2013. ISSN 2358-033X. Disponível em: http://www.abemeducacaomusical.com.br/revistas/revistaabem/
index.php/revistaabem/article/view/79.
2. PENALBA, Francisco Alpiste; ROJAS-RAJS, Teresa; LORENTE, Pedro; IGLESIAS, Francisco; FERNáNDEZ, Joaquín; MONGUET, Josep. A
telepresence learning environment for opera singing: distance lessons implementations over Internet2. Interactive Learning Environments, v. 21, n. 5, p.
438–455, out. 2013. ISSN 1049-4820. doi: 10.1080/10494820.2011.584322.
3. RILEY, Patricia E. Video-conferenced music teaching: challenges and progress. Music Education Research, v. 11, n. 3, p. 365–375, set. 2009. ISSN
1461-3808. doi: 10.1080/14613800903151580.