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ana de Exot Contra, amenduteae Tors do Orato (RECHTD) 1(2:98-116, rmaio-gosto 2015 (© 2015 by Unsinos - or: 10.4013ieched. 2015.72.01 A tese de doutorado em Direito: do projeto a defesa! ‘The doctoral thesis in Law: From the project to the defense Francois Ost? Université Ssine-Lous, Béigea francolsost@huslacbe Resumo Palavras-chave: pesquisa juridica, doutrnajuridica, tse de doutorado, Abstract Ziming to examine the process of elaboration ofa doctoral thesis in Law the arcle Mote han ein phases ofthis journey. com the project to che posthess period ofthe thesis as an instrumene for doctrinal creation i a pone addr oneca through this Paper especially regarding the condition of legal doctrine nowadays, ~ Keywords: legal research, legal doctrine, doctoral thesis. ‘Sem entrar nas motivagées pessoais de cada um, Pode-se constatar una multiplicacio de teses, em todas A primeira questio que cada um se faz & por a8 dreas de conhecimencaA cose s evidentemente, uma | aie se lansar em um empreendimento longo, com condisio indipensivl para omeagio académica e | [esultidos ncertos, que € a redacio de uma tese de corresponde a wma certs reavaliacio para os cientistas, | doutorado, Para além do interesse pessoal que se pode Mas isso nio expiea nua Constata-se, tambem,do lado Fara de ee tube Conti e na excita esta é uma dos administradores universtition ane fence pressio Fe demices ae no i func clentifias e acs empregos para aumentar 6 nimero de eaetars oe doutora- académicos de forma defintiva? mento, Hoje em dia, como todos sabem, as universida. Por que uma tese? 17 rier ogc ce eb er «Ora Hor Agr wr pre dees gemma contra em “Umer een ecaa iumetr tte Eco Orstraee Cos se ss Sa ea seuss Ure Seu Bourdain Boanue 8,54 EP It bch Noe sana one Sr ena Cee Cannes Aevbnon ie CC BY 3 sedoyomin epee sivaio «ab dee ‘iso are fore ins sam chines (Ost A tese de doutorado em Direto: do projeto 8 defesa des sio objeto de avalagdes cada vez mals precisas & de comparacées internacionais (‘onkng internacional). ro de diplomas de dottorado expedides cons- i impartane de avalagio.Acrescen- te-se 6 exemplo dé caso da universidade em Flandres aque passou a ser financiada em fongio da sua eficiéncia em matéria de pesquisa Um diploma de doutorado significa garantia de uum emprego académico? Essa seria a motivacio, Ainda one, teses erar ras. rlagio entre os resultados da tese © a perspectiva de um emprego académico era muito fore-Era uma espécie de" contrato moral” entre Sorientador do doutorado e o dovtorando. Sem que © rienaor se comprometesse realmente a garantr um emprego 20 seu doutorando, ele poda vslumbrar, em tim prazo razcavl.boas expectatvasprofsionas. Hoje a reagio “mestre com discipulo” & diuida na univesi- dade de massa, cada ver tais aberta 208 itercimbios, ‘nternacionas, © seus programas algumas vezes sofrem flucuagdes bruscs. Nesse sentido as coisas devem ser dts como elas siozas tess se mulipicam e as perspectvas profs: Por outro lado, devemos também salientar que a tese deixou de ser ~ se 6 que alguma ver foi—"a obra de uma vida". que se quer dizer € que, hoje em ci fe exerce também uma pressio sob a forma da dimi- nuigio no nimero de paginas © reducio dos prazos de redagio.Sabe-se que o mandaco dos aspirantes 20 ENIRS. ¢ de quatro anos, prazo esperado para termi- iF sua tese.A funcao do doutorando como assistente: fem tempo integral na universidade, acompanhads dos beneicios da orientacio da tse, € de seis anos —tem- po previo para a fializagio da tere, Mas, exemplo do que acontece no exterior e também da stuacio nas fncias exatas,o tempo fo! diminuido para quatro ou Cinco anos, como se este tempo represeniasse 0 ter po normal da apresentagio dos resultados dos testes nedessirios para a tere. ‘Ao mesmo tempo howe uma limiago no nr mero de piginas da tese: 400) 450, 500, considerando ue teses de mil piginatSou mais nfo. sio raras no Direito Em resumo: menos paginas, menos tempo. (su- pondo uma escolha do tema mais rapidamente pelo outorando e uma orientagao mals ripide), sem que se sista feizmente! =a uma reducio dos padrées de {qualidade esperados do trabalho Escotha do tema e do orientador © encurtamento dos prazos para conch teses tem 0 eta de tormar ainda ras crucal a questo ds Sicdha do tema. O periodo de “osclagio" (retledo) que era tracicionalmente uilado para idenificar um tema espectco dentro de um campo de pesquisa nio pode agora ser demorado, e os consehos do orient Gor sero ites para drecionar © doutorando 20 Seu Dito isto, gostariamos particularmente de insis- tir na leitima diversidade de temas e, por conseguinte, nas abordagens que implicam (0 que, aliés, conduz a lientar a difculdade de comparacio entré o¥ diferentes estados de evolugio dos trabalhos. Atencio para uma comparacio causadora de panico e desencorajamento: ns, trabalhando sobre um tema que € muito “delim tado", conseguem avangar a grandes passos, ¢ outros, concentrando-se em um dominio de investigacio mais amplo, passam longos meses a desbravar 0 trabalho) Da experiéncia pessoal do orientador de tese {que & autor destas linhas, posso definir os perfis (tipos) de doutorandos, dentre muitos outros: + 0 jovem doutorando, aspirante a bolsa do ENRS, lanca-se de corpo ¢ alma a uma tese monumental sobre 0 principio da proporcion ralidade na jurisprudéncia da Corte Europeia de Direltos Humanos, tese de mil paginas, pes- ‘uisa de quatro anos, aalisa 08 casos com um “pente fino” a luz de uma teoria da decisio que é elaborada 20 mesmo tempo em que as decisées sio analisadas. #0 diretor de um centro de pesquisas em dirito ambiental, beneficiado com uma longa experién- cla no tema, depois de dez anos de exercicio de sua profissio de consultor juridico, prope uma rmetarrefiexdo sobre os principios fundamentais cde um tema juridico muito técicor principio da precausio, da prevencio e do poluidor/pagador. ‘Aqui a tese pode ser muito menor e,em segun- do grav, pode se basear ern muitos estudos notas de jurisprudénciarealizados pelo douto- rando no correr dos anos anteriores. Em que medida, perguntasse muitas veres, de- ver intervir as andlses de ura lei criada (lege lta) e as consideragdes sobre uma lei a ser criada (lege erondo) Na realidade, é da natureza da dourina juridica combi- [TIO PNAS (ads oo echo Soran) vespeto una rarcnora dos dos de pesqusdores na Bulge Sabla gr xs dotnrs de ce gens) dexnon x erns tospeauandarestebtengio ere ecoutando em gq cg de pesgua cnta, Revista de Estudos Consttucionis, Mermenéutic eTeria do Diteto (RECHTD), 7(2)98- 116 9 — ‘nar, em proporsao variavel, sem prejuizo, os dois tipos de abordagem: é impossivel descrever uma instituicio ‘ou procedimento juridico sem argumentar, mesmo que 33 um pouco, em favor de uma ou outra melhor solucio. inspirada pelos ensinamentos do direito comparado ou. levando em consideracio a mais realista das necessida- es da prética. Por outro lado, niio vemos como se po- era argumentar a favor de tal ou tal reforma legislativa sem primeiro fazer uma andlise do estado das coisas tio. ‘exata © completa quanto possivel. Assim, propésito da questo do contrato de locagio e da problematica da moradia, fazem-se necessarias discusses sensiveis 208 Principios juridicos do direito civil, da sua evolugio his ‘6rica e sua evolugio jurisprudencial (abordagem classi- (2), seguindo mais de perto a politica de habitagio das, autoridades regionais, acompanhando de maneira critica, ‘05 instrumentos recentemente elaborados em vias de dar corpo ao direito 4 moradia, fazendo proposigées sobre o tema (abordagem interdisciplinar: Direito ¢ Ci- éncia Politica); contudo, a aproximacao clissica deverd ‘ela mesma integrar os elementos destas novas politicas Publica, considerando que a segunda abordagem terd, do plano em duas partes e, nessa ocasiio, do descriti= vismo redutor de ua cera dourna juridca francesa, / coloca o seu dedo no ponto essencial: uma case &, em ‘ou um manual fazendo um balanco sobre o estado atual primero lugar, uma obra de pesquisa ( nfo um ms) 0 conhecimento). 7 —_Qem fala em pesquisa, fala em questio: isto & qUuéStionamento, percurso. Sem resposta predefiida, ‘nem método absolutamente assegurado. ‘A teoria do conhecimento (epistemologia)ajuda- snot a excarecer esta situagio gragas 4 teoria dos para digmas proposta por Thomas Kuhn. Permivo-me integrar aqui algumas partes de ideias expostas na introdusdo de ura obra minha (Ost e Kerchove, 2002 p. 13-17). "Meu objetivo ao evocar esta teoria dos paracig- ras (das modalidades de sua adocéo, da ocorréncia de ‘anomalias” que um dia © colocardo em xeque, das rea Bes da comunidade cientifica em face destas anomalias: acolhimento entusiasta, uma feroz resisténcia ou andlse critica ¢,finalmente, as “revolucaes cientifias” que con- duziram a adogio de um novo paradigma) é mostrar que a ciénca juridia encontra-se hoje perante uma cri- se de paradigmas dominantes (legalista,estatista € po- sitvista),e isto tanto no Direito como um todo como ros seus ramos particulares (0 que resta do principio da legalidade estrita no Direito Penal? Do dogma da so- berania dos Estados no Direito Piblico? Da autonomia da vontade no Direi de outra Instituigao especifica (a indisponibilidade dos direitos de personalidade,a nio retroatvidade da Ie.) Portanto, a questio muito especifica que se co- loca 20 doutorando ¢ saber se ele vai desenvolver a sua tese como “defesa e ilustracio” do paradigma cléssico, ‘ou se dard énfase ao exame sério das anomalas que se apresentam em seu dominio ~ seja porque ele conclu 2-de mudar 0 paradgmane de uma andlise mais qu menos séria dos dogmas estabe- lecidos, sea porque na verfieagio de fto a anomala ao singiri.a fecundidade explicativa do paradiginaanalisado, Penso que essa teoria dos paradigmas fornece um quadro muito rico para a pesquisa juridca. Em cada caso, traarse-d de: (i) Identificar o sistema dominante de ideias den 120 de um dominio (definir os contornos do paradigra). Revista de Estudos Consttucionais, Hermenutic ¢Teria do Dieto(RECHTD), 7(2)98-1 16 ) ou ainda Ge ura ou (i) Detectar de modo rapido as eventuais ano- rmalias que poderiam mostrar os limites do cardter explicativo do paradigma ou até mes- mo derrubé-lo. (ii) Idencficar as eventuals reagdes da doutrina (de juizes, legisladores etc.) em face dessas anomalias e as avaiar (iv) Tomar uma posigo sobre a possibilidade de © paradigma resistir a essa evolugio em ‘questo ou sobre a necessidade da sua subs- tituigdo por um quadro teérico mais amplo mais explicativo. Por isso, trago aqui algumas ideias presentes no meu livo recém-citado, Propomo-nos a estudar essas transformacées, profundas do Estado e do Direito moderno, que Gus- tavo Zagrebelskey (2000, p. 35) foi capaz de qualificar de imutages genéticas”, com a ajuda da teoria da subs- ‘ituigdo de paradigmas elaborada por Thomas Kuhn (1972) no ambito de sua anilise das revolugées cienti- ficas, Kuha (1972, p10) explica que, durante o periodo das" ciéncias normals", os pesquisadores pertencentes a uma disciplina ou subdisciplina aderiam a um quadro te rico comum que “durante um periodo de tempo, pelo ‘menos, previu a solucao dos problemas-tipo".O acordo feito em torno de um paradigma que, na forma de um ‘mapa ou uma bussola, orienta a pesquisa rumo a uma solucio, Um dia, porém, produzir-se-io as anomalias ~ 0 fatos observados nio se encaixario mais no mode- lo explicativo -, que, se se multiplcarem, provocario © colapso do paradigma dominance. Néo sem resisténcia antes: em um primeiro momento, hipéteses ad hoc” @ “obsticulos epistemoldgicos” tentario remover in- {ruso e restaurar © primado do modelo em questio. No entanto, esse espirito crtico, caracteristica da evo- lugio cientifica, preponderaré para continvar a busca por uma teoria mais abrangente ~ esta é uma fase pré- -paradigmatica da “guerra de escolas" — e triunfara, 20 fim de uma “revolucio cientifica”, um novo paradigma instaurador de um nove perfodo da ciéncia normal”, Se bem que nas ciéncias humanas,e também nas cincias juridicas, jamais se tenham constatado 0 "con- senso sélido” e a pesquisa “altamente convergente” ca- racteristicos da adesio a um paradigma incontestivel, no podemos negar que o modelo hierrquico (estatista, positivista, monolégico) caracteristico do senso comum dos juristas & hoje fortemente contestado de todos os lados, observando-se varias tentativas de formular teo- Flas alternativas. Este & por conseguince, um period ca racteristico de crise de transicio de um paradigma para 105 outro, Nossa tese fundamental & que, da erste do mo- deo piramidal emerge progressivamente um paraigmne concorrente, do direito em rede, sem que Jerapareeom residuos importantes do prime 0 que nso deh de complcar masa situagio, Com a rede'o Estado detxou de sero Unico foco da soberaia (esta ita no abran- 8 apenas ourras escaas, entre poderes pubs ira € supraesiais, redisribuiseiguimente ere poderes privados poderosos):a vontade do leglador eer de ser entendida como um dogma (no se amie mal esta imposigio do que sob condigdes ao termo de proce dimentos complexos de avalagio tanto na eaboragao quanto na promulgacio da le as froneeras do fats © do direito se misturam os poderesinverager entre si (0sjuiestornam-se coautores dae eas subdeleagses do poder normasvo, em principio proibdas, agers se ‘ulpicam)os sistema jridicos (@, mais amplamente, os sstemas normativos) se entrelagamo conhecmente do dirit, que reivindicou ontem sua pureza metogolS, Ba (monodisciplna), decina-se hoje sobre @ mitod interdscpiar © resuita mais da experiéncla contox, tualzada (processo de aprentivagem) do que de sees 2iomas o prea juste, faimente, que pelo modelo Piramal devera resabelacer as hieraquits de valores Previstos nae passou a pensar hoje em dia em termos de balangas entre incerestese equlibrio de valores tao diversos quanto variéveis Como neger que a8 “anomaias” (em termos do paracigma piramidal)tenham se mukipleaco ao longo das cimas décadss? Em primeira lugar poderiams citar a este respeito © que, na teoria dos sistemas, & ‘chamado de “lagos externos” (Hofstadter, 1985, p. 799): 3s exemplos de“hierarquia crizadas" en que a orp ‘menor” inferior, dependendo da logica ds heraeua) tora-se mestre do padrio adotado por um corpo str perior” que, em principio, deve ainda determinar a sua Prépia aio. E.assim,em parteuar quando o minster Piblco, consderado 0 “fiscal da ll" (e seu executor fie), decide, em virwude do principio da adequngio de acusagio,ndo apear, ou faz ua apiagio sles, de uma ov outa leislagdo penal Uma outra forma de anomalla consste a apie Tisfo do que chamamos, com uma certa dose de Me nor de “objetosjuridicos nao identfcados” ssi por ‘exemplo.asnovas“autoridades administra indepen: ences” (ais como a Comistio Bancira ¢ Financela) Ov ainda o Conselho Superior da Jusiga, © Colegio de Procuradores Gerais, os comes de eta, cua siteagio, (Ost |A tese de doutorado em Direto: do projet & defesa na interface dos podereslegisiativo, executivo @ jude irio,instala um conjunto de novos problemas que se ‘raduzem notadamente em uma hesitagdo sobre a nati rezajuridica exata das decises que eles adocam, A multplcagio de modelos hibridos revela uma terceira forma de anomala: aceita-se hoje. que a8 s0- beranias seam “partilhadas” ou ‘mesma “relativas’, que 5 Gidadanias sejam malciplas ou “tragmentadas” (Coutu, 1999)-que-a-validade das normas juridicas sela cor: cional'¢ proviséria, que a racionalidade seja “limitada”: Cortona por és anomalas,a ciéncia rl «2 pode opor diversas formas de reacio. Uma primeira atitude, is vezes excepcional,consiste em abandonar 9 paradigma antes dominante e reservar um espaco en, tusiistico a esse ou aquele novo modelo, ajudando de forma evidente as anomalias observadis. Teubner (2001, . 197 e s) iustra bem esse primeito tipo de reasio, ‘eferindo-se ao passado, sobretudo a0 direito estatl e 205 seus métodos de“comando e controle" ee celebra © surgimento do que chamou de um “dirito espontd neo", no quadro de uma sociedade “heterdrquica" ago. £2 mundiaizada. Em um sentido muito préximo, quatro autores finlandeses (Eriksson etal, 1998) assinaram um “manifesto poco” (se), anunciando,além do plural ‘mo juriico, o aparecimento de um direito polcéntrico que renuncia a qualquer pretensio integradora ou fun. ante Dirigindo uma obra coletva sob o titulo Droit So luble, Belle (1996) evoca aitima @) passager 20 limite {ue consstiia na dilugio da normatividade jridica em uma “solusdo” da regulagio social global. Esses traba thos de vanguarda possuem, sem divida, o mérito da rlatvidade intelectual, no entanco, demonstram © pe- Figo de subestimar a sobrevida, por vezes considerivel {assie como todos os retornos sempre sio possives), do modelo anterior. Bes no estio mais questionando, no plano ético-poltice, desta ver, acerca de questSes relacionadas ao eventual desaparecimento dos valores Positives associados ao modelo piramidel (digamos, muito brevemente,a constelacio de valores liberals re- lacionados com o Estado de Direito e,em especial,com a segurancajuridica) Na maioria dos casos, no entanto, o paradigrna ddominante opée uma resisténcia feroz a respeito das Xeorias divergentes, sendo empregado para fazer de suas “hipéteses ad hoc” uma tentativa de dar conta dat anomafas sem contestar a prépria teoria, formulando por vezes,“obsticulos epistemolégicos” afm de refutar qualquer vantagem ao paradigm concorrente! sSgent Zee 200. 2s se sar ue" lot uriics esr etn 3 mada A sober eiges’ do ptvana eis um col rh denis panes arepe tes Ge cons fohenenete ap nose choad anes ees "ato debra virude da modieago dat candor qe h itenan rs cpen 106 Revista de Estudos Consttuconas, Hermenéurica eTevia do Direito(RECHTO), 7(2):98-1 16 (Os | A cose de doutorado em Direita: do projeto A defesa Podem-se apresentar as “hipéteses ad hoc” como excecdes (pelo que se diz que elas confirmam a regra), como bricolagens, para a Teoria do Direito,a fim depreencher as lacunas", 20 mesmo tempo em que se defende a revisio das premissas da propria teoria. Pode- se sustentar, por exemplo, que a construao europeia configura um modelo sui generis por nio ter que ques- onar os desmentidos que ela relaciona aos conceites @ representagées clissicos da Teoria do Direito. No en- tanto, chega-se a um momento em que as excecdes se rmultiplicam e a teoria se torna, neste momento, compli- cada porque a excesio vira regra... Quando isso ocorre, 6 tempo de mudancas no paradigma. Uma outra estratégia de defesa do paradigma oficial consiste em elaborar “obsticulos epistemold- gicos" (Bachelard, 1980) em torno do paradigma que (© ameaca, a fim de estender (indevidamente) seu po- der explicativo e, assim, desqualificar as interpreta (GBes divergentes. Aqui as ilustracées nio faltam. Por exemplo, em vez de tomar conhecimento da forca criadora da jurisprudéncia, muitos ainda estio, pelo menos em alguns casos, tentando apresentar este fe- némeno como um derivado patolégico do sistema, uma ameaga total para a democracia, uma demons- tragio de inaceitavel “governo dos juizes”. Outro ‘exemplo: em vez de tomar a medida exata do fend- meno da autorregulagio que determinados setores econémicos poderosos se atribuiram (pense-se, em especial, na lex mercatoria, ou mesmo na lex numerica que rege as relagdes do ciberespago), finge-se acre- ditar que essa normatividade & privada, sendo apenas. uma ilustracio do principio elissico da “autonomia”, e que, afinal de contas,a aplicacao do artigo 1.134 do ‘Cédigo Civil francés nao perturba, de qualquer modo, a pirdmide juridica. Ou ainda: em vez de conviver com a multiplicagdo de fontes do direito e tentar introdu- zir um pouco de ordem por meio de alguns principios juridicos de sintese, fnge-se acreditar na possiblida- de de uma extensa codificagio, sem entender que as condigdes favordveis a esses esforgos no século XIX Ji no so atendidas atualmente. Talvez, por essas razées que Ihe so préprias, a doutrina juridica tem interesse em manter essas re- Presentagdes enganosas, bem como as ilus6es que as alimentam.A verdade & que a ciéncia critica do direito, livre desses interesses, deve ser capaz de enfrencar es- ses paradigmas estiticos, entando formular, no entanto, dde qualquer modo, um novo quadro teérico mais abran- gente que o anterior, suscetivel de dar conta daquilo que sobrevive do modelo anterior, das causas de suas virias transformages e das novas formas que as revestem. Tese juridica e interdisciplinaridade i ipl Sentir a solidez de um paradigma juridico, pondo ‘em questio os quacros explicativos tradicionas, implica que se multipiquem os angulos de ataque, que saiba- ‘mos analsar © tema "por todos os lados", no hesitando fem submeté-lo a toda sorte de provaces destinadas “alsficar” (Karl Popper), isto é, a colocar em teste, a “solidez” de todas as hipéteses explicativas. Para este efeito, é de bom método colocar seu objeto de pesquisa + Em perspectiva histériea: perguntando como, fem termos histéricos,a necessidade social a que responde hoje tem sido atencida e satisfeta. ‘© Em perspectiva comparatista: como, no Direito Comparado, os problemas anélogos tém sido abordados? No entanto, para além da interdisciplinaridade, ineernamente nas ciéncias juridicas e sociais (Historia do Direito ¢ Direito Comparado), ser muito itil abor- dar também 0 tema “do lado de fora”: esta instituicio juridica, que pretende atender esta ou aquela necessi- dade socioeconémica (ou politica ou criminolégica) vi- sando satisfazer uma ou outra necessidade social, como funciona na realidade? Como & compreendida,apreciada € colocada em pritica por todos os seus destinatirios? ‘Trata-se de praticar ~ com prudéncia e modéstia, sem divida, de modo marginal, certamence — uma aborda- ‘gem interdiscipinar. Este ultimo conceito deve ser seriamente distin- ‘uido do pluri (ou mule) disciplinar e da transdisciplina- ridade. Pode-se dizer, em suma, que: A pluri ou (multi)disciplinaridade se contenta fem justapor as aproximagées te6ricas a pro- pésito de um objeto que, neste caso, serd "co- ‘mum somente em sua aparéncia. Na realidade, cada um construiu este objeto de acordo com 10 conceitos, métodos e valores espeeificos de sua disciplina. De fato, essa troca mais parece tum didlogo de surdos, uma espécie deTorre de Babel cientifica. A. transdisciplinaridade, em contrapartida, acredita ser capaz de superar desde o inicio as fronteiras entre as disciplinas e propée um novo e comum objeto, resultante da hibrida- ‘o dos métodos presentes, que perderio sua autonomia e especialidade (exemplo:a socio- biologia). Neste caso, nio se trata de didlogo, ‘mas de uma Gnica lingua: uma espécie de es- peranto cientifico, Revista de Estudos Consttucionls, MermenéuticaeTerlo do Dieta (RECHTD},7(2):98-1 16 107 Em igual distancia de um ou de outro (da pluri- isciplinaridade, que nao fala jamais do mesmo objeco,¢ da transdisciplinaridade, que sacrifica as pressas as espe- cificidades das disciplinas presences), a interdisciplinari- dade, 20 contrério, tomou a forma de um pacience did- logo cooperativo e progressive que se desenvolve entre ensaios e erros, tentativas e ajustes progressivos. Desta vez, eratacse da tradugio de um idioma 20 outro sem abrie mio das suas préprias regras de composicio, nem do seu léxico.A tradusio paciente permitirs, no entan- ©, uma progressiva reformulacdo das suas préprias hi- Poteses, um enriquecimento des seus conhecimentos € uma compreensio mais precisa do seu objeto. Assim serd, por exemplo, quando do didlogo do jurista com o economista no Direlte Societério, com 0 criminélogo no Direito Penal, com o clentista politico no Direito Pblico, com 0 ecologista no Direito Ambiental ee Pés-tese © empreendimento da tese ro termina no da da defesa pila. Este ponto merece ser sublinhado porque uto(a)ssio of doutorando(a)s que, esgotados pelo «forgo eenjoados do seu tera, aparencemente, no cue. ‘em mais ouvir falar dele. No entanto.esta atte parece «uate um absurdo, quando se rata de uma cosa com que voeé se ocupou por anos e que Ihe di uma habiidade quase que exclusiva. € importante, portato, valoricar © conhecimento adquirido e refltir'o mals cedo possivel sobre o"servgo de pés-venda” da tose Essa valorizacao pode se revestr das seguintes formas: () Publeagdo da tese. Durante a fase de defesa piblies, apenas um punhado de colegas ¢ os membros de sua banca avaliadora terdo tido conhecimento co seu trabalho. € verdadeiramente um absurdo que uma obra desta importancia permanesa desconhecida, Dito ist, a edo tem os seus préprios requsitos expec fos: um lvro destinado somente aos especalistes da. fea apresenta exigéncas diferentes das que 0 exare cio académico estabelece como parimetros do dor no do tema para fazer valer 0 titulo de doutor. Por tanco, compreendemos perfeitamente que as edicoras Juriicas (is quais devernos ser gratos por ainda publi carem teies de doutorado: © que nio é mals o caso em um bom nimero de paises) devam impor certos ‘equisitos aos autores. Nao é inti pensar jt no decur $0 da elaborasio da tase, em identicar por si mesmo 0s desenvolvimentos que poder ser sacrfcados por ‘ocasiéo de uma posterior publiagio, (iA redagio de artigos em revistas especaliae as Também no € ini despertar ointeresse da coma. (Ost A tese de doutorado em Direto: do projeto a defesa nidade ciensifica para a sua problemética, publicando as. suas “boas folhas”, mais ou menos revistas e atualizadas pode ser um resumo geral (por exemplo, de sua defesa Pdblica) assim como uma parte especifica da tese (ll) A apreseneacio de trabalhos em coléquics, seminérios ou jornadas de estudo. Isso € como dar um rosto para suas ideas: expé-las e enviéelas para 0 con. fronto e a controvérsia, para testar a aplicacio a assun- fos contiguos ou a questdes concretas e relevantes da atualidade jurdica.Ainda que voé tenha a impressio de ter esgotado o tema, deverd dar continuidade a0 trae balho: por vezes, © objetivo ser o de estender a sum metodologia em questdes conexas, as vezes, retomar ‘novas premissas pendentes para o desenvolvimento da ‘ese, ds vezes, sera o de discutir as objedes que a publi- ‘agdo da obra tera sido capaz de gerar. Em uma palavras desenvolver 0 conhecimento adquirido sem limitar toda a sua carreira na veia aberta pela tese, Anexo A tese: um trabalho doutrinério, submetido, como tal, a uma série de evolucées probleméticas Para encerrar, e em complemento a essa muito breve evocagio da tese de doutorado em Direito, eu gostaria de salientar 0 fato de que a tese, como emprei- ‘ada doutrinéria, esta sujeta ela mesma as evolugdes da Prépria doutrina. Uma doutrina juriica que esta enfren= tando, atualmente, uma série de transformacées (acele- Faso, especializacio, sobrecarga de informacao, consul {2) que so todas plenas de abusos ou possiveis ameacas a ciemtificidade de seu propésito, Permito reproduzi- ‘aqui, com alguns ajustes pontuais para esta tradugio a0 Portugués, uma parte do estude que eu havia dedicado 8 esta questio no contexto de um artigo em conjunto ‘om Michel Van de Kerchove (Ost e Kerchove, 1997) Philippe Jestaz (1994, p. 89) explica que “Tal como Jano, doutrina tem duas faces: uma que olha para ‘a ciéncia, enquanto a outra esti voltada para a acio, Sua Imissio 6 de ‘compreensio! e ‘opiniio™. Nesse sentido, 4 doutrina pode ser comparada 4 técnica: guada pela cigncia, ela desenvolve produtos processos (aqui "so~ luses" e “procedimentos") suscetiveis de aplicacdes Priticas ~ para atender as necessidades socials clara- mente identificadas e se inserindo nos circuitos eco- némicos do mercado em questio (aqui, o mercado dos Servigos juridicos).Esta fungi prética da doutrina ainda {que gere uma certa tensio em relagio ao ideal de uma 108 Revista de Estudos Constuconas, Hermenéutica e Teoria do Direlto (RECHTO). 7(2)98-116 (Ost | tese de doutorado em Direit: do projeto a defesa ciénciapura' to antiga como legitima, uma vez que 0 conhecimento juridico tem por vocacio contribuir para «a regulacio social e para a resolusio de confltos. Depols de recordar broverente algumas carac- teristicas associadas a esta fungio pritica do conheci- mento doutrinirio, devemos observar certos desenvol Vimentos contemporaneos que podem muito bem fazer nascer uma nova figura na doutrina: menos diiplice, ce tamente, ¢ neste momento imersa nas emergéncias do cotidiano que a fario se perguntar se ainda pode ser "tecnologia" ou de“arte”,ou se ricolagem” ou qualficada de “técnica” ‘io sio mais do que meros rétulos de de"receitas” que Ihe convém. Notou-se ha muito tempo que a doutrina no esti limitada a uma atividade de conhecimento de seu objeto: cla convibui para transformar o intérprete.a sistemstica, a defnigio e a classifcacio. Além disso, embora a auto- ridade que se atribui a doutrina seja uma autoridade da razio, nfo devemos hesitar em conceder-the um papel criativo de fonte complementar do direito,em constante dialogo com a jurisprudéncia eo legistador. Na medida em que os conceitos juridicos nao so univocos, que os textos no podem prever todas as hipdeeses que surgem na vida social e que eles nio sio necessariamente coerentes entre si, é inevitavel que 0 trabalho de “descrigio” doutrinal leve a “tomadas de posigio” e que, portanto, o autor da doutrina seja tra- ztido para formular preferéncias e argumentar em sou favor ~ marcando, assim, a sua participacio no trabalho coletivo de criagdo de direito. A apresentagio de lege lata acaba deslizando, insensivelmente, para a argumen- tagdo de lege ferenda, O conceito de “dliscurso semie- rudito”, emprestado de Bourdieu (1984, p. 30), & ne- cessério aqui para denunciar uma atividade que mistura intimamente construgio teérica e visio prética, propé- sito descrtivo e perspectiva normativa, conhecimento © agdo (Rigaux, 1974, p. 113). Portanto, se a doutrina, entendida aqui como “técnica”, contribui para a criagZo do direito, deve-se, enti, observar que essa criagao no esté totalmente livre, na medida em que requer, normalmente, a adesio 8s finalidades inerences 8 ordem juridica estudada,a qual cla pretende seguir por meio da formagio légica da or- dem social que supostamente deve garantir Nada é mais revelador a este respeito do que a fixacio da dousrina a certos pressupostos, tis como os da racionalidade da soberania do legistador, cua natureza epistemolégica hibrida ~ a meio caminho entre a hipétese e a direti- va traduz bem 0 estatuto misto da prépria doutrina (cfr. Ost e Kerchove, 1985, p. 27-251). Afirmando, sem ‘entar em demasia verificar a validade da seguince afir- rmagio, que © legislador é racional (por resolver uma questio de interpretagio) ou que ele é soberano (por resolver uma questio de validacio),a doutrina pretende menos descrever um estado de fato do que confirmar © seu compromisso com principios priticos cujas fun- ‘es sio, em definitivo, menos tedricas do que socias. Sustentar © prejulgamento (hipétese? pressuposi¢ao? fiegio? dogma?) da racionalidade do legislador permitiré 20 autor da doutrina (como ao juiz, de resto) introduzir clareza, coeréncia e completude li onde possam fatar (nos casos previstos no artigo 6° do Cédigo Judiciério belga, em particular), dar seguranca juridica ld onde a incerteza prevalece, e mobilizar um argumento de 2u- toridade no centro da controvérsia.Igualmente, a nvo- cago (embora menos provavel) da soberania do legis: lador coneribui, sem divida, para reforcar a afirmagio de obediéncia incondicional lei ~ de modo a reafirmar a necessidade de uma ordem social que se esforga em construir a adesio. Consideradas do ponto de vista muito funda mental de ouvir esses grandes mitos politicos, que fa ‘em da doutrina a" guardi do templo” (Bernard e Poit= meur, 1993, p. 6), ou consideradas mais prosticamente no contexto do regramento cotidiano dos interesses, cessas analises confirmam a visio de Jean Dabin (1935, 1.200), para quem as‘teorias e as construcées juridicas Visam menos a um valor de verdade teérica do que @ um valor de utlidade pratica, no que concerne & aplica- io efetiva da regulamentacio"’ E se nos interrogarmos sobre a natureza dos interesses (no sentido de valores axiolégicos que Habermas di a este termo) que defen- de a doutrina, vamos concordar que se pode dizer que se trata de interesses “técnicos" (por oposi¢io aos in- teresses “emancipatérios", assumindo uma abordagem critca):0 que se busca €a melhor adequacio dos meios juridicos existentes em relagio a um conjunto de objeti- ‘vos sociais tidos como "dados" sto &, objetivos que, na, rmaioria das vezes, estio em conformidade com a racio- rnalidade social dominance (cf: Habermas, 1973, p. 145). ‘Assim progrediria, tradicionalmente, a doutrina centre fazer saber e saber fazer-A questo que se coloca ‘agora é saber se a doutrina ainda ocupa esta posig#0 no meio de ambos, se ela ainda assume a sua dupla face de Jano, ou se, levada por varias evolugées do direito, ela rio esti progressivamente rumando para desempenhar tum outro papel Por precausio em relagio a0 método, vamos ter © cuidado de falar, desde 0 inicio, de“declinio” (cr Atias, 1980, p. 2999) ou de “decadéncia” (cfr: Bredin, 1981, p. 115): um julgamento tal exigiria uma investigagio muito mais profunda do que aquela que se pode fazer Revista de Estudos Consttucona, Hermenéutcae Teele do Dito (RECHTD),7(2):98-116 109 aqui e & além disso, pelo menos invalidado pela soma de ompeténcias mobilizadas a servigo da explicagio dos ‘textos juridicos. Preferimos falar em termos de trans- formagées, de riscos e desvios,enfatizando, assim, a pas- sagem provavel de um modelo juriico para outro, Isso. os leva a um segundo ponto preliminar: a0 contririo de Jean-Denis Bredin (1981, p. 115), que fala de “auto- destruigio" da doutrina (sustentando que “os teéricos do direito foram os artifices conscientes de seu pro rio apagar”), consideramos que as metamorfoses que afetam hoje a doutrina atravessam 0 campo do direito Por completo, de modo que, em vez de imputar uma responsabilidade exclusiva apenas aos seus autores, & melhor considerar a medida do conjunto de desenvolv- mentos que poderiam bem conduzir a uma mudanga de paradigma. Qual mudanca de paradigma? Annick Perrot (1993, p, 184-185) sugere a passagem de um modelo “continental” 0 do famoso Professorenrecht —a um mo- elo anglo-americano caracterizado pelo pragmatismo € pela atengio dedicada aos precedentes, de modo que, fem ver de “crise da doutrina”, deveriamos falar de “de- linio do direito”, pelo menos de um modelo de direito, formal e sistematizado.A hipétese merece ser posta em iscussio. Para fazer isso, vamos seguir cinco caminhos diferentes: vamos considerar, por sua vez, a aceleracio do direito,o fenémeno da crescente especializacio rela- lonado com a fragmentagio do conhecimento juridico, © fendmeno da hiperinformacio relacionado A informa- tizagdo dos dados, a crescente participagio da consulta "os trabalhos de doutrina e, inalmente, a heterogenei- 2agdo do campo doutrinario correlatvo & diluigio do Préprio dominio juridico, Todas estas caracteristicas, pode-se perceber,referem-se a evolucées que nio se limitam a prépria doutrina: um direito cujas fronteiras se diluem, que nem bem consegue fazer suas estruturas fundamentais escaparem da Iégica do mercado, que se curva sob a massa de informagées disponiveis, que esté se diversificando em setores cada vez mais especializa- dos e cuja temporalidade esta se acelerando: bem, este € 0 contexto no qual a técnica doutrindria & agora cha- ‘mada a trabalhar, Aaceleragao As bibliotecas dos juristas do século passado. cheiravam a encadernacdes de bom couro, Podia-se, de ato, gastar algum dinheiro com a conservagio dos livros juridicos, desde obras de doutrina até cédigos, que se ddestinavam a ter autoridade por décadas. Hoje, o traba- ‘ho doutrinario © 0 cédigo se apresentam, na maioria das vyezes, 0b a forma de folhas solras:nés no relemos mais (Ost |A tese de doutorado em Direte: do projet & defesa esses livros. n6s lemos a suas atualzacSes,itegrando-os més apés més, trimestre apés trimestre, suplementos or meio de assinaturas. Uma corrida contra © tempo Surgiuassim, com 0 objetivo de continua atalizacio dos dados. Este é 0 novo mister do jurist: ser atualizado, dominar a documentacio as iltimas decisées, conhe. en antes mesmo de sua publicagio no Diirio Ofcal 4 Unido, a ima regulamentagio sobre dado assunto, © direito tornou-se"mével” como as flhas em que ele se encontrainscrito por alguns meses; o iret mutria a intengio de trabaihar em “tempo real, epondo, no Momento em que ocorresse, uma resposta normativa 4 toda e qualquer evolucio social, a todo evento. Nio & mais suficiente aqui notar, como i foi feito tancas vezes, a inflacio normative seu corolirio, o encurtamento da duragio da vida das eis. Se os cempos juridicos se encolhem, tornando-se, de fato, mesmo aleatoriose efé- eros, é porque se perde a prépria idea de “mediagi Juridica: a mediagio, ou sea, exatamente 0 oposto do imediatismo, Esta mediagao envolve tomar uma distancia ‘© um certo recuo: uma reagio diferida, que toma altura e © expressa por melo de uma disposicio gerakinspirada Por princiios, estes mesmos alimentados por uma capa- ‘idade de memorizacio (em diregdo ao passado) e pelo rojeto (em diregio ao futuro), a legislacéo mediada tem Por vocagio insticuir 0 socal ~ assim sendo, ela se torna

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