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ETE Droge LUCAS AVELAR Uso se branco, abuso se preto Cachaca, tabaco, cacau, amendoim... Na coloni as “drogas” foram estimuladas ou proibidas ao sabor de seus beneficios ou riscos sociais AAGUARDENTE FOI A PRINCIPAL DROGA em circula: Sa0.¢ ingestio na América Portuguesa durante todo © Periodo colonial. Usada como moeda de troca ns fertio americano ¢ pels traficantes de escraves no litoral aficano, 0 coo! se espathou nos dois lados Go Atlantico Sul. 0 tabaco produzido na Bahia e em Pemambuco também entrou nas transacdes do te fico negreio, Juntos, aguardente e tabaco serving, Para adquirir 48% dos escravos que chegaram vives 4 América Portuguesa entre 1701 e 1810, ‘Tals substancias estimulavam a erecio da “ch ilzacio do acicar". Mesmo no auge da extracie i minérios, 0 lucro da produgio agricola sempre, Essas drogas estavam presentes em diferentes ocasides do cotidiana dos escrs FINDS, COMO festa, batizados, casamentos. No engenho, em dias dh enor, era mis ‘car € limo ou senhores ofertavam, os padres cond Vinhos portugueses perdi iia. Os Entre os afticanos da Bahia, a aguardente era trocada por feijes,aipins ¢ batatas. No Pari, os Indigenas que trabathavam no plantio do gengibre ecebiam pagamento com cacau que, assim como o.cravo.ea salsa, era moeda corente na Amazinia, Misturado com aguardente, 0 gengibre era wsado “para mezinhas de dores frase lias” Matera. prima do chocolate ocacau competi com o café © ch nos mercados de produtos de xo na Europa durante 0s séculos XVI e XVI © cult do algodio, qu jf era conhecdo pelos indigenas ants da chegada dos portigueses,desen volvese na capitania de tamaree, A Cora também, incentivou sua produgio ma capitania do Maranhio para que a Fazenda Real eof moradores aumentas sem suas rendas. 0 algodo maranhense era usado como vesturio, género comerialzivel ¢ moeda. Os Portuguesestinham a expecativa de transformar a ‘Amardnia numa font forecedora de especiaras que substitusse a nia tomada pelos holandesex. ‘As drogastinham também sua importncia para 2 saide da popula, Distantes das boticaseuro- Peis, vulneriveis as moléstias tropicals © pouco familiarzados com as plantas medicinais da flora brasileira, os colonos tinham de se submeter 20s ensinamentos naturais, procurando combinslos (com as vagas nocies terapeuticas que traziam da ‘metrépole. As férmulas milenares «ue conheciam ‘nem sempre eram suficientes para combater os ‘males causados por bichos e planta tipicos da mata ‘topical. Dentre os géneros medicinais do Brasi di vulgados na Europa, destacavamse aqueles dotados de propriedades contravenenosas, como a “raiz de ‘mil homens”: misturada a0 vinho ou & aguandente, fra recomendada também para dores de barriga, ‘A mordida por cobras era tratada com raiz-preta, ‘gualmente imersa nas bebidas alcoslicas. Se serviam para curar, as drogas também cola- bboravam para a reproducio da sociedade colonial. A Igreja exigia virlidade do homem para que ele, pds © matrimdnio, realizasse a funcio reservada a0 marido pela Biblia: gerar prole, Para estimular a “elasticidade” masculina, Guilherme Piso (1611- 1678), naturalista holandés que escreveu sobre 0 Brasil no século XVI, registro algumas plantas afrodisiacas, como a pacoba, a banana ¢ 0 amen- doim, Por outro lado, como os padres também con- ‘tolavam os excessos sexuais, contavam com wma lista de plantas antierdticas classificadas nos her- bios, que incluia sementes de alface, melancia «€ melio, a maior parte extraida do conhecimento {dos povos indigenas. vetodo de dest so da agree pubicado no oro 8 Jodo Manso Pere. No ato da pégra plana Cores medieval de herbo- lop mésea tao suo VLA maconha hoje seu pana Abana, tomar, 4: 1822 apresenea © Merado de crm no Ro de jrero. Ce most scent 0 taco « S&S See eis oa (1675 fea armn eonee feat oom renal eon Sepa negocio com orenare me Gore ai Snap (ae 16 Nes cca a parete rowia de roca felon teres de Cultivada pelos afticanos nos perfodos em que a canadeagicar crescia, a maconha era cons 4a por eles em rituais religiosos e como forma de “resisténcia nio violenta”: a absoreio do “fumode- Angola", como era chamada, contribula para esta bilizar a tensio latente entre senhores ¢ escravos. AA legislagio colonial que versava sobre todas essas_substincias era mais rigorosa_justamente contra a mais popular delas. Em meados do sécu Jo XVII, a Coroa portuguesa editou leis proibindo a producio e a venda de cachaga. O objetivo era evitar a concorréncia com o vinho portugués no trifico negreiro. © mercado ilegal logo tratou de Ariblar a restric. No final do século, porém, os portugueses sucumbiram 3 pressio dos trafic tes fluminenses ¢ legalizaram a venda da bebida, passando a taxar 0 comércio antes clandestino (ver RHBN n. 99, p. 20). Ao longo do século XVIil, a Co- roa portuguesa hesitou em permitir 0 constimo de aguardente no interior da colonia devido a0 medo de que propiciasse momentos de troca de ideias € informagbes entre os afticanos. De sua parte, 0 senhores percebiam que a bebida servia como esti ‘mulante para trabalhos mais érduos na mineracio, No inicio do século XIX, discutia-se a pro a embriaguez publica no Rio de Janeiro, "Se fo- rem a prender, prendese metade da sociedade", argumentou o visconde de Cairu, em 1827, contra proposta de prisio de pessoas flagradas embriaga- das. Seu interlocutor. © marqués de Caravelas, de~ fendia 0 encarceramento provisério para proteger 0 ébrio de acidentes como atropelamento ou pisadta de cavalo. Trés anos depois, ficou estabelecilo por Jel que o beberrio fosse recolhida & cadeia até que passassem 08 efeitos do dlcool, Hd varios registros de prisio de escravos por embriaguez nas décadas de 1820, 1830 € 1840, Aselites pretendiam transfor ‘mar a capital do Império num lugar em que os trate seuntes se comportassem de acordo com um moxlo de viver “civilizado", como 0 das grandes cidades europeias ~ até porque franceses, ingleses e outros estrangeiros chegavam para viver no Rio AA publicagio do Cédigo de Posturas. em 1830, fez parte desse proceso, Ele trazia recomendagoes acerca da limpeza de ruas, da regulamentagio de estabelecimentos comerciais, de modos de se tra Jar e se comportar em lugares como pragas € tea tros. 0 parigrafo 7, que regulamentava a venda de éneros ¢ remédios pelos boticirios, estabelecia: *Sio proibidos a venda e 0 uso do pito do pango, bem como a conservagio dele em casas publi Os contraventores sero multados, a saber: 0 Se venddedor em 205000, e os escravos ¢ mais pessoas, que dele usarem, em trés dias de cadeia”, “Pito do pango” era o cigarro de maconha, No intervalo entre os anos de 1811 ¢ 1830, ocor eu o maior desembarque de escravos nos portos brasileiros ao longo dos mais de trés séculos de tafico negreiro: dos quase 800 mil, grande parte esceut no Rio de Janeiro. A proclamagdo da Inde- pendéncia (1822) ocorreu em meio a esse aumento da chegada de africanes, ¢ os escraves apoiaram 4 libertagio de Portugal, acreditande que sua I bertagio dos senhores também entraria no jogo A repressio Ihes tolheu os movimentos: proibir a ‘embriaguez ¢ 0 “pito do pango* foram expedientes usados para aprisionar escravos que cirewlavam nas ruas por essa época ‘Um novo Codigo de Posturas, en 1854, estabele- ‘ceu que a prisio dos “escravos € mais pessoas” que ‘usassem o pito do pango aumentaria para ite dias, sanglo mantida no eddigo de 1894, Sob a Repub ‘a, a0 longo do século XX, ndo diminuiria a repres slo ao consumo das plantas, bebidas e fumagas. no Brasil e no mundo. Pelo contririo: ela atingiv i de “guerra”, Hi muito tempo, a proibicio forma de recusar o reconhecimento dos direitos individuals. No Brasil, ela provoca a segregacio que ‘nega direitos sociais aos nao brancos. H

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